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Modernização e agronegócio: solução para a fome global? Magno da Conceição Peneluc Doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências. Instituto de Física (UFBA/UEFS). SALVADOR- BA, [email protected], Rua Bernadete Dias, nº 15B, Bairro Boca do Rio. CEP: 41.710-040. Edilson Fortuna de Moradillo Professor do Instituto de Química da Universidade Federa da Bahia (UFBA) Bárbara Carine Soares Pinheiro Professora do Instituto de Química da Universidade Federa da Bahia (UFBA) Resumo: A crise do modelo de produção agrícola, para ser analisada em sua materialidade, demanda a explicitação da relação dialética entre a produção convencional intensiva e monocultural; o sistema de circulação de capitais, de produção e de transporte das commodities e o consumo correlato; a relação entre as organizações de mega-produtores, suas corporações e a produção de Ciência e Tecnologia a seu serviço; a expansão da fronteira agrícola relacionada a impactos socioambientais decorrentes. Como sustentado por Altieri (2002), consideramos a questão do modelo industrial da agricultura moderna em relação direta com as tecnologias demandadas pelo setor produtivo, com os interesses comerciais dos centros de pesquisa, com a distribuição desigual dos benefícios e dos ônus decorrentes dos impactos socioambientais da exploração dos recursos genéticos, do solo e da água. Em decorrência desta assunção, elucidou-se a relação campo- cidade no atual cenário do capitalismo monopolista financeiro; o estatuto e princípio dito insopitável da propriedade privada da terra, a relação dialética entre produção-circulação-consumo e os impactos socioambientais decorrentes; a ideologia da relação direta e positiva entre tecnologia-produção-fim da fome global. O modelo mecanização-biotecnologia-propriedade privada de alto rendimento seria superior, portanto, ao latifúndio extensivista e às práticas produtivas do campesinato. Este modelo sustenta ideologicamente que para uma agricultura sustentável a modernização tecnológica e das relações de produção, é logicamente superior, até mesmo ao capitalismo industrial e sua forma de produção perdulária (LOUREIRO; LAMOSA, 2014). O presente artigo pretendeu discutir a evolução histórica da indústria agrícola, expondo relações de poder e condições materiais e históricas que conduziram a relações de produção continuamente desiguais, injustas e socioambientalmente insustentáveis. Palavras-chave: Modernização. Agronegócio. Segurança alimentar. Abstract: The crisis of the agricultural production model to be analyzed in its materiality, demand the explanation of the dialectical relationship between traditional production and intensive monocultural; the movement of capital system, production and transportation of commodities and the related consumption; the relationship between organizations of mega-producers, their corporations and the production of Science and Technology to its service; the expansion of the agricultural frontier related to environmental impacts. As supported by Altieri (2002), we consider the issue of the industrial model of modern agriculture in direct relation to the defendants technologies by the productive sector, with the commercial interests of research centers, with the uneven distribution of benefits and burdens arising from environmental impacts the exploitation of genetic resources, soil and water. As a result of this assumption, we elucidated the rural- urban relationship in the current scenario of the financial monopoly capitalism; the status and principle unquenchable said the private ownership of land, the dialectical relationship between production-circulation- consumption and environmental impacts; the ideology of direct and positive relationship between

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Page 1: Modernização e agronegócio: solução para a fome global ......Modernização e agronegócio: solução para a fome global? Magno da Conceição Peneluc Doutorando em Ensino, Filosofia

Modernização e agronegócio: solução para a fome global?

Magno da Conceição Peneluc

Doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências. Instituto de Física (UFBA/UEFS). SALVADOR-

BA, [email protected], Rua Bernadete Dias, nº 15B, Bairro Boca do Rio. CEP: 41.710-040.

Edilson Fortuna de Moradillo

Professor do Instituto de Química da Universidade Federa da Bahia (UFBA)

Bárbara Carine Soares Pinheiro

Professora do Instituto de Química da Universidade Federa da Bahia (UFBA)

Resumo: A crise do modelo de produção agrícola, para ser analisada em sua materialidade, demanda a

explicitação da relação dialética entre a produção convencional intensiva e monocultural; o sistema de

circulação de capitais, de produção e de transporte das commodities e o consumo correlato; a relação entre as

organizações de mega-produtores, suas corporações e a produção de Ciência e Tecnologia a seu serviço; a

expansão da fronteira agrícola relacionada a impactos socioambientais decorrentes. Como sustentado por

Altieri (2002), consideramos a questão do modelo industrial da agricultura moderna em relação direta com

as tecnologias demandadas pelo setor produtivo, com os interesses comerciais dos centros de pesquisa, com

a distribuição desigual dos benefícios e dos ônus decorrentes dos impactos socioambientais da exploração

dos recursos genéticos, do solo e da água. Em decorrência desta assunção, elucidou-se a relação campo-

cidade no atual cenário do capitalismo monopolista financeiro; o estatuto e princípio dito insopitável da

propriedade privada da terra, a relação dialética entre produção-circulação-consumo e os impactos

socioambientais decorrentes; a ideologia da relação direta e positiva entre tecnologia-produção-fim da fome

global. O modelo mecanização-biotecnologia-propriedade privada de alto rendimento seria superior,

portanto, ao latifúndio extensivista e às práticas produtivas do campesinato. Este modelo sustenta

ideologicamente que para uma agricultura sustentável a modernização tecnológica e das relações de

produção, é logicamente superior, até mesmo ao capitalismo industrial e sua forma de produção perdulária

(LOUREIRO; LAMOSA, 2014). O presente artigo pretendeu discutir a evolução histórica da indústria

agrícola, expondo relações de poder e condições materiais e históricas que conduziram a relações de

produção continuamente desiguais, injustas e socioambientalmente insustentáveis.

Palavras-chave: Modernização. Agronegócio. Segurança alimentar.

Abstract: The crisis of the agricultural production model to be analyzed in its materiality, demand the

explanation of the dialectical relationship between traditional production and intensive monocultural; the

movement of capital system, production and transportation of commodities and the related consumption; the

relationship between organizations of mega-producers, their corporations and the production of Science and

Technology to its service; the expansion of the agricultural frontier related to environmental impacts. As

supported by Altieri (2002), we consider the issue of the industrial model of modern agriculture in direct

relation to the defendants technologies by the productive sector, with the commercial interests of research

centers, with the uneven distribution of benefits and burdens arising from environmental impacts the

exploitation of genetic resources, soil and water. As a result of this assumption, we elucidated the rural-

urban relationship in the current scenario of the financial monopoly capitalism; the status and principle

unquenchable said the private ownership of land, the dialectical relationship between production-circulation-

consumption and environmental impacts; the ideology of direct and positive relationship between

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technology-production-end global hunger. The mechanization-biotechnology-owned private high-

performance model would be higher, so the extensivist landlordism and productive peasantry practices. This

model holds that ideologically for sustainable agriculture and the technological modernization of production

relations, is logically superior, even to industrial capitalism and its form of wasteful production

(LOUREIRO; LAMOSA, 2014). This paper aims to discuss the historical development of the agricultural

industry, exposing power relations and material and historical conditions that led to relations of production

continuously unequal, unfair and socially and environmentally unsustainable.

Keywords: Modernization. Agribusiness. Food security.

1.0 As implicações da assim chamada Revolução Verde

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou em 2014 o

relatório sobre o estado da insegurança alimentar global. As estimativas indicam que a fome foi reduzida em

mais de 100 milhões de pessoas na última década. O dado poderia ser alentador se não fosse acompanhado

com o incômodo número de 805 milhões de pessoas que ainda estão cronicamente subalimentadas em 2012-

2014, com prevalência de desnutrição diminuída de 18,7% para 11,3% no mundo e de 23,4% para 13,5%

nos países em desenvolvimento, isto no período de 1992 até 2014. O mesmo relatório, todavia, alerta que o

que se busca é uma segurança alimentar sustentável - a exemplo da Lei de Segurança Alimentar aprovada

recentemente na Índia, os programas de aquisição de alimentos devem se basear na aquisição a partir da

agricultura familiar e na transferência direta dos alimentos para o consumidor. Na África Subsaariana o

percentual de pessoas subnutridas é o maior do mundo, em 1990-1992 estava em 33,%, na América Latina

em 14,4%. Em 2014 o percentual africano diminuiu para 23,8% e na nos países latinos para 5,1% (FAO,

2014).

Na comunidade de países de língua portuguesa, o número de pessoas subnutridas é de cerca de 28

milhões: em Angola, 5,4 milhões; Brasil, 13 milhões; Cabo Verde, 44,5 mil; Guiné-Bissau, 13 mil;

Moçambique, 9,4 milhões; São Tomé e Príncipe, 12, 3 mil e Timor-Leste, 460 mil. No Brasil, em 2012 o

percentual de pessoas subnutridas era de 6,9%, 1992 era de 14,9%, mas a população aumentou em 12%

neste período (FAO, 2013). Os entusiastas do agronegócio, por certo, devem estar a comemorar. Como se

fosse aceitável, em qualquer período histórico, termos um percentual de 11,3% de pessoas desnutridas no

mundo. A que se deve esta diminuição nos percentuais da subnutrição global e em especial no Brasil? No

decorrer deste artigo procuraremos responder esta difícil, mas extremamente relevante pergunta.

A crise do modelo de produção agrícola, para ser analisada em sua materialidade, demanda a

explicitação da relação dialética entre a produção convencional intensiva e monocultural; o sistema de

circulação de capitais e de transporte das commodities e o consumo correlato; a relação entre as

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organizações de mega-produtores, suas corporações e a produção de Ciência e Tecnologia a seu serviço; e a

expansão da fronteira agrícola relacionada a impactos socioambientais decorrentes. O modelo mecanização-

biotecnologia-propriedade privada de alto rendimento seria superior, portanto, ao latifúndio extensivista e às

práticas produtivas de camponeses e demais trabalhadores. Este modelo sustenta ideologicamente que para

uma agricultura sustentável a modernização tecnológica e das relações de produção logicamente é superior

até mesmo ao capitalismo industrial e sua forma de produção perdulária (LOUREIRO; LAMOSA, 2014). O

presente artigo pretendeu discutir os impactos do processo de modernização da agricultura, explicitando

relações de poder e condições materiais e históricas que conduziram a relações de produção continuamente

desiguais, injustas e socioambientalmente insustentáveis.

1.1 Revolução Verde?

Nos anos de 1960, a produção de alimentos no campo se viu compelida a ceder a uma onda

progressista que visava modernizar a agricultura e extinguir a “decadente” produção camponesa tradicional,

tão ligada ao subdesenvolvimento, baixa produtividade e à pobreza. As variedades tradicionais deveriam ser

substituídas por aquelas melhoradas geneticamente, a mecanização tomaria o lugar do trabalho braçal.

Assim, o bem-estar social, a renda e a produção atingiriam patamares nunca vistos antes (ALTIERI, 2012).

A “Revolução Verde” contaria ainda com sementes selecionadas com a meta de se desenvolverem melhor à

aplicação de adubos químicos e de agrotóxicos, em sistemas monoculturais. Assim a fome mundial estaria

com seus dias contatados (LONDRES, 2011).

A industrialização da agricultura, na maioria das vezes, está associada à inserção de novas tecnologias

agrícolas no processo de cultivo, colheita e escoamento da lavoura e aos pacotes biotecnológicos de

sementes geneticamente modificadas (OGM) e agrotóxicos com todas as implicações de biossegurança e,

consequentemente, ética. Além disso, não podemos perder de vista que, dentro de relações capitalistas de

produção a modernização engendra necessariamente as relações sociais no campo, altera diretamente a

estrutura fundiária e as formas com que o trabalho é submetido ao capital. Assim sendo, as verdadeiras

razões da modernização são:

Elevação da produtividade do trabalho visando o aumento do lucro; redução dos custos unitários de

produção para vencer a concorrência; necessidade de superar os conflitos entre capital e o latifúndio,

visto que a modernização levantou a questão da renda da terra; possibilitar a implantação do

complexo agroindustrial no país (BRUM, 1988 apud TEIXEIRA, 2012, p. 23).

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Não obstante, a estrutura fundiária, caracterizada por propriedades concentradas nas mãos de uma

minoria, pela grande quantidade de terras privadas improdutivas e com a produção voltada eminentemente

para a exportação – acabou por submeter o camponês difíceis condições de manter sua subsistência

(TEIXEIRA, 2012).

A modernização das relações produtivas no campo resultou em impactos seríssimos, como descritos

por Altieri (2012): a Revolução Verde incluía variedades melhoradas, fertilizantes e irrigação, estímulos

creditícios aos agricultores que adotassem os pacotes de disseminação de sementes híbridas e agrotóxicos,

substituição de sementes crioulas por variedades clonais alteradas, com consequências deletérias á

diversidade genética e à diversidade cultural. Este quadro levou a uma expropriação ampliada dos

agricultores tradicionais no que se refere à renda; além de, gradativamente, conduziu a cooptação ideológica

que a agricultura industrial direcionou intencionalmente aos agricultores familiares: delírios de alta

produtividade e de renda astronômica.

2.0 O agronegócio e sua relação dialética com a ciência e com a modernização tecnológica

Na passagem do estado selvagem para a barbárie e daí para a civilização moderna, a humanidade

galgou progressos, especialmente no que se refere aos meios de produção de sua existência material. A

habilidade de produzir sua existência material é decisiva na definição da relação entre o ser humano e a

natureza, sendo o progresso da humanidade coincide, mais ou menos, com as épocas desenvolvimento

tecnológico, especificamente os meios gradativamente mais sofisticados de produção de alimentos

(ENGELS, 1984).

Considerando este fato, a Agronomia e a Biotecnologia passaram a ser as ciências que fundamentam e

validam o avanço dos modos tecnológicos de subsistência da humanidade. Enquanto ciências, buscam

explicitar os fatos agronômicos e moleculares relativos aos compartimentos solo-planta-atmosfera. O

conhecimento das relações existentes entre estes compartimentos conduziria a uma ação com o intuito de

implementar a produção e/ou controlar fatores estressantes a esta. Segundo Kratounian (2001), isto é o que

explica a ênfase na adubação, relações hídricas e variedades melhoradas. A abordagem integrada, por outro

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lado, sustentava que agricultura real relacionava a fisiologia vegetal, conservação do solo, controle do

ambiente e manejo de animais em ecossistemas agrícolas.

O aspecto técnico da produção de alimentos, ao se concretizar no processo produtivo, implicará em

alterações nas relações produtivas, pois delas deriva, já que no capitalismo, o alimento é de fato uma

mercadoria. Ou seja, o produtor produz um bem voltado à troca, e o trabalhador do campo contribui com sua

força de trabalho, alienado do resultado deste mesmo trabalho. “Ao transformar todas as coisas em

mercadoria, a produção capitalista destruiu todas as antigas relações tradicionais e substituiu os costumes

herdados e os direitos históricos pela compra e venda, pelo ‘livre’ contrato (Op. cit., p. 86)”. Mas este

contrato, frise-se, é uma relação social entre partes livres e iguais apenas formalmente. Na realidade, é um

contrato que ratifica uma relação entre desiguais, condição necessária para a existência das relações

capitalistas de produção, pressuposto para a geração de mais-valia¹.

A agricultura familiar, em consequência, subordina-se às cadeias agroindustriais por meio da

dependência de insumos e equipamentos industriais adquiridos via créditos públicos, pela integração de

cadeias mercantis de processamento e de distribuição de alimentos (ALTIERI, 2012).

A base material econômica é o ponto de partida que conduz a alterações ambientais que se manifesta

por uma diversidade de impactos deletérios à biodiversidade, à qualidade do solo, à água, ao clima e à

segurança alimentar humana. O crescimento econômico concebido de forma reducionista, sem ponderar a

degradação socioambiental infringido pela aliança entre uma ciência instrumental, não crítica, refém da

expressão monopolista do agronegócio, como é o caso da biotecnologia, poderá dar à agricultura um rumo

completamente insustentável, viável apenas aos modelos de eficiência industrial (ALTIERI, 1999).

__________________________________________

¹Sabemos que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor de uso, pelo

tempo de trabalho realmente necessário à sua produção. Porém, além de um valor de uso, o capitalista quer produzir mercadorias:

além de valor de uso, valor, mas também valor excedente (mais-valia) (MARX, 2008).

Há que se considerar, portanto, a questão do modelo industrial da agricultura moderna em relação direta com

as tecnologias demandadas pelo setor produtivo, com os interesses comerciais dos centros de pesquisa, com

a distribuição desigual dos benefícios e dos ônus decorrentes dos impactos socioambientais da exploração

dos recursos genéticos, do solo e da água.

No que se refere às questões éticas e à economia política, especificamente sobre a distribuição dos

ganhos e dos danos desta aliança, urge aqui a transposição na íntegra das questões inadiáveis levantadas por

Altieri:

Podemos alterar a estrutura genética de todos os seres vivos em nome da utilidade e do ganho

econômico?; existe um respeito pela vida ou todas as formas de vida, incluindo o homem, ou devem

ser vistas como simples bens no novo mercado da biotecnologia?; a manipulação genética de todos os

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seres vivos é uma herança acessível para todos ou é propriedade privada de algumas corporações?;

quem deu a algumas empresas o direito e o monopólio sobre diversos grupos de organismos?; os

biotecnologistas acreditam ser os mestres da natureza?; é essa uma ilusão surgida a partir da

arrogância científica e da economia convencional, que ignora a complexidade dos processos

ecológicos?; é possível minimizar as considerações éticas, reduzir os riscos ambientais e ao mesmo

tempo manter os benefícios?; quem se beneficia da biotecnologia? quem perde com ela?; quais são as

consequências ambientais e de saúde pública?; quais tem sido as alternativas propostas?; a

biotecnologia é uma resposta a quais necessidades?; de que forma a biotecnologia afeta o que está

sendo produzido, como é produzido, por quem e para quê?; quais são os objetivos sociais e os

critérios éticos que orientam as pesquisas?; que objetivos sociais e agronômicos atingem a

biotecnologia? (ALTIERI, 1999, p. 3).

A presente explanação não se propõe responder todas estas questões, mas procuraremos discutir as

relações dialéticas entre a objetivação da biotecnologia no seio do agronegócio, a forma de produção de

alimentos e as relações produtivas derivadas do modelo de divisão do trabalho inerente ao agronegócio. Sem

minimizar consequências à segurança alimentar e à resiliência dos agroecossistemas.

3.0 Luta de classes, renda da terra e sistema de propriedade: uma relação necessária

O fato econômico fundamental à produção de alimentos é único e o mesmo que se aplica à indústria: o

único processo que confere valor a algo é o trabalho humano. Em uma sociedade em que a relação entre o

dono dos meios de produção (o capitalista) e o dono da força de trabalho (o proletário, neste caso, o

camponês assalariado) é viabilizada pelo sistema de propriedade e pela renda da terra - faz-se mister que

compreendamos aspectos da luta de classes que se concretiza na relação entre o camponês (agricultor

familiar), o empresário do agronegócio e o movimento/sistema produtivo agroecológico. Desta relação

infere-se que a agricultura familiar é um campo de disputa, dada sua relevância na produção de alimentos,

em termos de variedade e de quantidade. Esta luta de classes é assim explicitada por Marx e Engels:

Os indivíduos isolados só formam uma classe na medida em que têm de travar uma luta comum

contra uma outra classe; de resto, contrapõem-se de novo hostilmente uns aos outros, em

concorrência. Por outro lado, a classe autonomiza-se, por seu turno, face aos indivíduos, pelo que

estes encontram já predestinadas as suas condições de vida, é-lhes indicada pela classe a sua posição

na vida e, com esta, o seu desenvolvimento pessoal —, estão subsumidos na classe. É este o mesmo

fenómeno que a subordinação [Subsumtion] de cada um dos indivíduos à divisão do trabalho, e só

pode ser eliminado por meio da abolição da propriedade privada e do próprio trabalho (MARX;

ENGELS, 1982, p. 30).

Deve-se então considerar esta subordinação que o capital impetra por meio da divisão do trabalho e da

propriedade privada da terra à agricultura familiar. A Agroecologia, a despeito de todas as proposições

positivas no tocante a novas técnicas ecológicas de cultivo e alternativas de organização social no campo,

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ainda possui um longo caminho a ser percorrido se quiser superar esta subordinação. A qual se dará pela

abolição da propriedade privada, do trabalho assalariado (trabalho sob a forma histórica imposta pelo

capitalismo) e da concentração dos meios de produção nas mãos de um punhado de mega-agricultores

industriais.

O capitalismo é um sistema planejado para que possibilite a troca de mercadorias (fusão entre valores

de uso e valores de troca) e a intensidade desta troca depende de como a produção é organizada. A

produção, a distribuição, a troca, o consumo, são idênticos, todos eles são membros de uma totalidade,

diferenças em uma unidade (MARX, 2007). Esta noção é essencial para a construção de uma alternativa

consistente ao agronegócio. Desenvolver alternativas ao sistema de produção, mesmo que ecologicamente

adequadas, será insuficiente se não incluir alterações estruturais na distribuição, na troca e no consumo, pois

estes complexos estão dialeticamente relacionados.

Outra característica das relações de produção no campo sob o modo capitalista de produção decorre do

fato de que a força de trabalho familiar tem um papel muito significativo na produção de alimentos e vem

aumentando numericamente de modo expressivo. Para exemplificar esse fato, basta lembrar o caso

brasileiro, em que ela representa mais de 80% da força de trabalho empregada na agricultura, ou então

recorrer ao exemplo norte-americano, cujas pesquisas recentes mostram uma participação massiva das

family farms, isto é, da produção baseada no trabalho familiar. Assim, a agricultura norte-americana também

não tem seu suporte nas corporate farms e sim nas family farms. Esse mesmo fenômeno ocorre também na

maioria dos países da Europa (OLIVEIRA, 2007).

O capital vem se inserindo no modo camponês de produção, que contraditoriamente, vem lutando pela

garantia da produção da existência das famílias camponesas. Isto quer dizer que o camponês não assalariado

mantém um sistema não-capitalista de produção, mas que gradativamente tem sido invadido pelo capital.

Esse processo passa por três fases distintas:

Haveria a destruição da chamada "economia natural", o que criaria o produtor individual, o agricultor

propriamente dito. Isso ocorreria em função da separação do camponês, pequeno produtor familiar de

subsistência, dos estreitos vínculos e hierarquias comunitárias tradicionais; uma vez criado pelo

processo anterior, o camponês, agora produtor individual, ver-se-ia forçado a abandonar a pequena

indústria doméstica, tornando-se exclusivamente agricultor. Esse processo dar-se-ia pela sua

introdução cada vez maior na economia de mercado. Assim, essa fase caracterizar-se-ia pela

separação da indústria rural e a agricultura; como produtor individual, o camponês agora estaria

integralmente inserido na agricultura de mercado, e isso o levaria ao endividamento, em função dos

baixos preços que recebe por seus produtos, e dos altos preços que tem que pagar pelas mercadorias

industrializadas. Essa realidade faz com que ele tenha que tomar dinheiro a juros, e, não conseguindo

pagar esses empréstimos, vê-se obrigado a vender a propriedade e tornar-se um trabalhador

assalariado. Haveria, pois, um processo de separação dos meios de produção do camponês; ele ficaria

sem esses meios de produção e conseqüentemente se proletarizaria, o que abriria caminho para a

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implantação da forma especificamente capitalista no campo. Essa forma seria o assalariamento

(OLIVEIRA, 2007, p. 10).

Agrega-se a este processo o fato da concentração de terras de alta fertilidade pelas corporações do

agronegócio, o que leva o agricultor familiar a trabalhar em terras de qualidade inferior. Os agricultores

transformam sua força de trabalho em renda e em produto para o consumo doméstico, por meio da terra que

dispõem. Todavia, a relação entre área para plantar, mão de obra e dinheiro gera conflito na economia

camponesa: produção para renda versus produção para o consumo doméstico (KRATOUNIAN, 2001). De

forma específica:

O agricultor se situa nos extremos da cadeia de compra de produtos agrícolas e de venda de produtos

industriais. Na compra de produtos agrícolas, os preços recebidos pelo agricultor são os mais baixos

da cadeia. Por outro lado, na venda de produtos para o consumo domésticos, os preços pagos pelo

agricultor tendem a ser os mais elevados (KRATOUNIAN, 2001, p. 74).

O desenvolvimento contraditório do capitalismo, ou seja, o próprio capital cria e recria relações não-

capitalistas de produção, em especial na etapa monopolista. A terra, portanto, sob o capitalismo, tem que ser

entendida como renda capitalizada (OLIVEIRA, 2007).

Segundo Marx (2008a, p. 62), “pode-se considerar renda da terra como o produto do poder da

natureza, cujo uso o proprietário empresta ao arrendatário”. Depende, portanto, da fertilidade do solo. Mas o

interesse do latifundiário não se confunde com o interesse da sociedade, e está igualmente, em oposição ao

interesse dos arrendatários, dos trabalhadores do campo, da manufatura e da indústria. E para o camponês a

situação se agrava, pois: “o trabalhador não tem apenas que lutar pelos seus meios de vida físicos, ele tem

que lutar pela aquisição de trabalho, isto é, pela possibilidade, pelos meios de poder efetivar sua atividade”

(IBIDEM, p. 24).

Se o trabalho é o único meio de incutir valor aos produtos da natureza, o latifundiário se aproveita

dos frutos do trabalho alheio e comoditiza² valores de uso. A renda da terra é o excedente, portanto, do

trabalho que o trabalhador é obrigado a ceder ao capitalista, é o que garante a mais-valia. Segundo Oliveira

(2007), considerado a concorrência capitalista, a renda da terra é assim chamada de renda diferencial;

quando resulta de monopólio, é chamada de renda absoluta. Esclarece que a renda da terra diferencial resulta

do caráter capitalista da produção e não da propriedade privada do solo, ou seja, ela continuaria a existir se o

solo fosse nacionalizado. Já a renda da terra absoluta resulta da posse privada do solo. Estas concepções

derivam do fato de que o capitalista já se confunde com o latifundiário, este é o fato que submete a produção

camponesa ao mercado onde predomina uma relação entre desiguais, corroendo o modo de produção do

campesinato. Isto se confirma pelo crescente assalariamento do trabalhador da terra.

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Além da propriedade privada da terra, há a apropriação dos saberes tradicionais, que acaba por

intensificar a ampliação global do capital por meio da cobrança pelo uso do patrimônio genético, por vezes

selecionados por populações tradicionais por centenas de anos. Desta forma:

(...) o conhecimento produzido em laboratórios de grandes empresas em associação cada vez mais

estreita com o Estado e, deste modo, passível de apropriação privada, a propriedade intelectual

individual (patentes) se coloca em confronto direto com o conhecimento patrimonial, coletivo e

comunitário característico das tradições camponesas, indígenas, afrodescendentes (PORTO-

GONÇALVES, 2004, p. 3).

__________________________________

² As fases dessa transformação constituem atos do dono da mercadoria: venda, troca da mercadoria por dinheiro; compra, troca do

dinheiro por mercadoria, e a unidade de ambas as transações, vender para comprar (MARX, 2008b).

A expropriação do patrimônio intelectual tradicional serve como estratégia propulsionadora do sistema

de concentração fundiária e de monocultura, ampliando também a dependência econômica do agricultor

familiar. O agricultor é obrigado a comprar apenas aquelas sementes produzidas pela mesma corporação que

vende os agrotóxicos e que controla o mercado de ações (que incide nos preços das comodities), o que é

deveras importante na atual fase financeira do capitalismo.

A relação do agricultor com a terra, entendida sob a ótica da degradação dos recursos naturais

necessários à produção, deve ser compreendida também sob a base da resiliência dos ecossistemas

submetida a processos tecnológicos de produção (agrotóxicos, mecanização e biotecnologia) e ao processo

de homogeneização dos cultivos. Deve-se ponderar também os efeitos de grandes áreas plantadas com uma

única cultura geneticamente modificada e comparar com a agricultura campesina multicultural e de baixo

impacto. A dialética resiliência/tecnologias modernas/monocultura, pensada à luz de um modelo industrial

que prima pela produção crescente de mercadorias, de mais-valor, deve estar no centro da discussão da

produção agroecológica de alimentos. Assim como a extinção da fome global e a distribuição equitativa de

riqueza - o que normalmente não se cogita, é um nonsense, incompatível com o modelo capitalista de

produção e de organização social.

4.0 A questão agrária atual e os impactos socioambientais correlatos

A relação sociedade-natureza se concretiza objetivamente por meio do trabalho, a forma que o ser

humano tem de mediar sua relação com a natureza. Inevitavelmente, qualquer ente natural que adentre o

mundo trabalho, seja a água ou o solo, por exemplo, passará ao status de recurso produtivo. Pois, por meio

do trabalho, este recurso será modificado em prol da satisfação das necessidades humanas, para dar conta da

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sua reprodução e existência. É por meio da troca que um indivíduo adquire um valor de uso necessário às

suas necessidades e no consumo este valor de uso produzido pelo trabalho desaparece da relação social,

satisfazendo a necessidade individual de desfrute. Este é o processo de circulação simples de valores de uso

(MARX, 2007). Entretanto, no capitalismo temos uma comutação das relações sociais. Onde, na circulação

simples, tínhamos M (mercadoria) – D (dinheiro) – M, no capitalismo temos D – M – D’ (dinheiro

capitalizado). Ou seja, se na circulação simples a circulação de mercadorias esta serve como meio para

satisfação de necessidades, no capitalismo, a circulação de dinheiro como capital tem uma finalidade em si

mesma. A expansão de valor é sua finalidade objetiva (MARX, 2008b). Para que possamos entender a

produção de alimentos de forma dialética não podemos analisar a produção isolada da distribuição e do

consumo. Assim:

O consumo é também imediatamente produção, do mesmo modo que na natureza o consumo de

elementos e das substâncias químicas é produção nas plantas. No consumo o homem faz seu corpo.

Esta é a produção consumidora. A produção é, pois, imediatamente consumo; o consumo é,

imediatamente, produção. Cada qual imediatamente o seu contrário. Ao mesmo tempo, opera-se um

movimento mediador entre ambos. A produção é mediadora do consumo, cujos materiais cria e sem

os quais não teria objeto. Mas consumo é também imediatamente produção enquanto procura para os

produtos o sujeito para qual são produtos (MARX, 2007, p. 244).

Transpondo este raciocínio para a relação cidade-campo, podemos agora inferir quanto o padrão de

consumo de alimentos engendra a produção no campo. Mesmo sendo o agronegócio dominado por

mercadorias como a soja, o milho e o café, ainda assim multiplicam-se propagandas de cunho ideológico

que fazem apologia ao agronegócio como sendo a solução da fome e do desemprego. Enquanto, na realidade

é a produção do agricultor familiar é que abastece o consumidor citadino, como veremos no próximo tópico.

A concentração dos meios de produção e a diminuição de variedades produzidas no campo está em

relação dialética com a distribuição e com o consumo de alimentos, com o exposto anteriormente por Marx.

Vejamos um exemplo:

(...) dos quatro principais grãos - trigo, arroz, milho e soja para o ano de 2001. Apenas cinco países –

Estados Unidos, Canadá, França, Austrália e Argentina - são responsáveis por 88% das exportações

mundiais de trigo Tailândia, Vietnã, Estados Unidos e China representam 68% de todas as

exportações de arroz. No caso da soja, apenas três países – EUA, Brasil e Argentina – são

responsáveis por 82% da produção mundial. No milho, a concentração é ainda maior, com os Estados

Unidos responsáveis por 78 das exportações e a Argentina por 12%. (...) nosso de cada dia. Cerca de

“90% de nossa alimentação procede de apenas 15 espécies de plantas e de 8 espécies de animais.

Segundo a FAO, o arroz provê 26% das calorias, o trigo 23% e o milho 7% da humanidade. As novas

espécies de cultivares substituem as nativas uniformizando a agricultura e destruindo a diversidade

genética. Só na Indonésia foram extintas 1.500 variedades de arroz nos últimos 15 anos. À medida

que cresce a uniformidade, aumenta a vulnerabilidade (PORTO-GONÇALVES, 2004, p. 3-4).

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Seguindo o mesmo raciocínio, a produção padronizada no campo claramente engendra os hábitos

alimentares da população. Isto sem falar que boa parte destes grãos são direcionados à alimentação animal

nos Estados Unidos e Europa.

A ciência e a tecnologia são decisivas neste processo, seja por meio da produção de transgênicos, de

agrotóxicos ou pela mecanização – acabam concretizando um papel acelerador da modernização agrícola, o

que se desdobra em profundas alterações ecológicas, sociais e culturais (Op. cit.).

A soja transgênica, por exemplo, se expandiu globalmente apoiada em argumentos altamente

questionáveis, os quais as pesquisas atuais começam a rebater. Andrioli (2012) explica que a base ideológica

da soja Roundup Ready (RR) se sustenta em promessas de aumento da produtividade, elevação das

exportações e combate à fome. A Monsanto argumenta que a soja resistente a herbicidas além de aumentar a

produtividade, diminuiria o volume de herbicidas utilizado, reduzindo a poluição e os perigos a saúde do

trabalhador. Que maravilha, hã?

Porém, o aumento da produtividade não foi constatado em pesquisas, ao contrário, as variedades

tradicionais mostraram-se mais produtivas, de 2% a 8% acima que a convencional (transgênica). No EUA,

as colheitas tradicionais foram de 5% a 10 % superiores à colheita da soja transgênica e em regiões como

Indiana, esta diferença chegou a 22%. E os custos de produção da soja Roundup foram 40% maiores nos

EUA, em dados de 1996. Some-se a estes custos também os Royalties e a competição com a soja tradicional.

A solução da Monsanto para isso? Eliminação global da soja tradicional (ANDRIOLI, 2012).

Os agricultores “associados” a corporações como a Monsanto acabam duplamente sacrificados: ao

comprar as sementes são obrigados também a comprar o herbicida. Além disso, estas corporações

encontraram um jeito de garantir suas patentes por meio do desenvolvimento da tecnologia Terminator³, a

qual extermina a possibilidade do agricultor semear e cruzar as sementes compradas por mais de um ciclo

produtivo.

Somos levados, portanto, considerando este contexto, a concordar com a afirmação de Séralini (2011,

p. 37):

Porque, efetivamente, no presente, a ciência serve muito mais e objetivamente à técnica e à economia

do que à sociedade; ora, a técnica e a economia podem se desconectar dos interesses societais em

curto, médio e longo prazo, como atestam exemplos múltiplos, simplesmente para os benefícios de

algumas empresas. Não existe sindicalismo da informação científica e isso é lamentável.

A ciência deve estar voltada para o progresso humano, em termos qualitativos, terá conhecido a

essência do espírito humano quando tiver aceitado substituir o progresso tecnológico pelo progresso

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humano. Séralini (op. cit) lembra então a relevância da pergunta de Corinne Lepage “É necessário ter medo

da ciência?”.

Os impactos do uso da soja RR são altamente deletérios aos invertebrados do solo e a organismos

aquáticos, além de ser fator seletivo das ervas adventícias (erroneamente denominadas de “daninhas”),

levando ao desenvolvimento de populações mais resistentes ao herbicida, o que repercute necessariamente

no aumento do uso do agrotóxico. A erosão genética também é consequência do cultivo concentrado de

poucas variedades geneticamente modificadas (ANDRIOLI, 2012).

No Brasil, mais de 75% das lavouras transgênicas cultivadas são de soja transgênica da Monsanto

tolerante ao Roundup (herbicida a base de glifosato). A soja transgênica no Brasil foi a principal responsável

pelo maciço aumento no uso de glifosato nos últimos anos, que saltou de 57,6 mil para 300 mil toneladas

entre 2003 e 2009 (LONDRES, 2011).

Os danos à biodiversidade causados pela agricultura industrial se manifestam das seguintes maneiras:

Expansão das áreas agrícolas com perda de hábitats naturais; conversão de vastas áreas em paisagens

agrícolas homogêneas com reduzido valor de hábitats para a vida silvestre; perda de espécies

benéficas e de agrobiodiversidade como consequência direta do uso de agroquímicos e outras

práticas; erosão dos recursos genéticos valiosos por meio do uso crescente de cultivares uniformes de

alto rendimento (ALTIERI, 2012, p. 24).

Ao sabor da ideologia da industrialização da agricultura e da mercantilização generalizada, casos

absurdos vêm à tona. O caso de Percy Schmeiser, um produtor de sementes canadense cujos campos foram

contaminados por canola transgênica patenteada. A Corte Suprema canadense sustentou que a canola GM

identificada nas lavouras de Schmeiser era de propriedade da Monsanto e, consequentemente, o agricultor

deveria ter pago royalties para a empresa. É o poluído que tem que pagar para o poluidor! (APOTEKER,

2011).

____________________________________

³As sementes terminated germinam normalmente, a planta cresce normalmente, floresce normalmente, o grão se desenvolve

normalmente e a planta produz uma colheita normal − à exceção do fato de um dispositivo transgênico ter destruído o germe do

grão. Se for plantado, o grão colhido não germinará (BERLAN, 2011).

Dentre as variedades tolerantes aos herbicidas (as famosas plantas RR, tolerantes ao Round Up da

Monsanto, por exemplo, ou que produzem seus próprios inseticidas (as plantas Bt), “sua distribuição atinge

hoje 99% das plantas geneticamente modificadas comercializadas no mundo (Op. cit., p. 86)”. Outra

conquista alcançada pelas corporações do agronegócio é a inserção na legislação americana do princípio da

equivalência substancial, o qual sustenta que a planta transgênica é equivalente à planta não transformada,

exceto para o gene introduzido. Ou seja, os impactos cumulativos e/ou sinérgicos da planta transgênica

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sobre o meio ambiente e sobre a saúde humana sempre estariam postos em cheque a partir deste argumento

jurídico-formal, que de científico não tem nada (IBIDEM).

Passados cerca de sessenta anos da assim chamada Revolução Verde, a solução da fome global está

longe de ser equacionada. A solução talvez esteja para além do problema da distribuição equitativa de renda,

mas na lógica própria do modo capitalista de produção. Assim, para que haja lucro, o capital tem de crescer

a uma taxa anual mais ou menos constante, o que incide na cadeia produtiva de alimentos. Desta forma:

Na base da longa cadeia de oferta que traz os meios de produção para o capitalista, esconde-se um

problema profundo dos limites naturais em potencial. O capitalismo, como qualquer outro meio de

produção, baseia-se no uso-fruto da natureza. O esgotamento e a degradação da terra e dos chamados

recursos naturais não fazem mais sentido no longo prazo do que a destruição dos poderes coletivos do

trabalho, pois ambos estão na raiz da produção de toda a riqueza (HARVEY, 2011, p. 66)”.

A questão central aqui é analisar dialeticamente os limites naturais, as relações de classe e a divisão

intensa do trabalho (que gera mais trabalho alienado) como corresponsáveis pela pobreza e pela fome. Esta

relação torna-se cada vez mais dramática na medida em que os recursos vão se tornando cada vez mais

escassos, o aquecimento global recrudesce, as florestas e hábitats são destruídos ou fragmentados. Estes

meios de produção sob estresse, por sua vez, tencionam as relações sociais e os sistemas de produção, pois

tornam-se mais caros e mais restritos a poucos detentores de poder social para explorá-los.

Cabe aqui então questionar não apenas o que é produzido, mas onde (China, Brasil ou Romênia), por

quem (por mão de obra escrava, prisioneiros ou por trabalhadores sindicalizados), como (em um ambiente

seguro ou em um tóxico) e quando é produzido (morangos no inverno ou no verão) são aspectos tão

relevantes como a poluição, a destruição de recursos naturais, os danos ao meio ambiente, à saúde dos

trabalhadores e consumidores (BERLAN, 2011).

6.0 Conclusão

No agronegócio, em tempos nos quais ser pop é sinônimo de modernidade e desenvolvimento, a

utilização de sementes transgênicas é comemorada pelos setores hegemônicos da mídia e da produção de

comodities agrícolas. Em dados fervorosamente publicados pelo site g1.com (2016), indicam que na safra

2016/17 este tipo de biotecnologia aplicada à produção alcançará 49 milhões de hectares, o que equivale a

93,4% da área total de milho, soja e algodão em todo o território nacional, o que representa um aumento de

7% em relação a 2015. Este avanço vertiginoso é percebido melhor ao compararmos com a safra 2003-2004,

quando o plantio foi regulamentado, a adesão era de 22,1% do total de terras cultivadas.

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Este panorama, é claro, não se construiu sem apoio maciço do Congresso Nacional, o qual atualmente

é composto por 162 deputados e 11 senadores da chamada Frente Parlamentar Agropecuária, maior e mais

poderosa bancada de políticos do congresso, a qual movimenta cerca de R$440 bilhões entre a produção

agrícola e pecuária, de acordo com a Carta Maior (2016). Este nexo finanças-estado (Harvey, 2011) é o que

tem sustentado a manutenção dos poderes e mantido de forma periférica as discussões socioambientais sobre

os direitos do agricultor familiar produzir de forma sustentável e economicamente justa. A luta fica com

certeza mais difícil com extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), do Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e demais políticas voltadas para obtenção de

crédito; das políticas de proteção da produção, como o Garantia Safra, o PGPAF (Programa de Garantia de

Preços da Agricultura Familiar) e o SEAF (Seguro da Agricultura Familiar); da política de assistência

técnica e extensão rural (Ater) voltada para as necessidades dos e agricultores e agricultoras familiares; do

Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF); do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e

Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae); da reforma agrária; do Programa Amazônia Legal

(CNATER, 2016).

De acordo com a FAO (2013), dentre os Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua

Portuguesa (CPLP), com cerca de 250 milhões de habitantes, prevendo-se que venha a contar com cerca de

323 milhões em 2050; o número de pessoas subnutridas ronda os 28 milhões, distribuídas da seguinte forma:

Angola – 5,4 milhões; Brasil – 13 milhões; Cabo Verde – 44,5 milhares; Guiné-Bissau – 13 milhares;

Moçambique – 9,4 milhões; São Tomé e Príncipe – 12,3 milhares; Timor-Leste – 460 milhares. No Brasil,

considerando o aumento de 12% da população entre 2000 e 2010, em levantamento realizado em 2012,

6,9% da população eram consideradas subnutridas. O relatório continua e enfatiza o papel da agricultura

familiar, mesmo e apesar da forte tensão econômica e fundiária exercida pelos empresários do agronegócio.

A categoria de produtores familiares está legalmente reconhecida no Brasil, mas o seu reconhecimento é

inexistente ou informal nos demais Estados-membros (sem prejuízo da inclusão destes produtores noutras

categorias, tais como “agricultores autónomos”, “pequenos produtores agrícolas” ou “camponeses”). Sua

relevância se reflete nos empregos e na gestão territorial:

São cerca de 11.500 milhões no conjunto da CPLP; explorando áreas pequenas (de 0,20 ha a 18 ha em

média em função do país) e com diferentes níveis tecnológicos, os produtores agrícolas familiares são

responsáveis pela produção de uma média de 70% dos alimentos básicos consumidos na maioria dos

países; este sector é também o maior empregador na maioria dos países (em Angola, Guiné-Bissau;

Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste entre 60% e 85% dos indivíduos em idade ativa se

ocupam no sector agrícola) (FAO, 2013, p.06).

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No Brasil a área agrícola corresponde à agricultura familiar é de 273,421ha, isto corresponde a 24% da

área cultivada total do país. A população agrícola ativa na agricultura familiar é de 74%, o que resulta na

contribuição de 38% da produção agrícola nacional (Op. cit.). Os dados mais atuais indicam que a

Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que inclui a produção familiar, respondem por 48% da

produção agropecuária nacional e por 21% da capacidade estática de armazenamento de produtos agrícolas

do Brasil (FAO, 2016).

Em outro relatório, a FAO (2014) alerta que a fome, a insegurança alimentar e a má alimentação são

questões complexas que não serão resolvidas privilegiando apenas um setor interessado. Uma série de

medidas devem ser coordenadas, desde a proteção social da agricultura familiar em articulação com a

agroecologia; políticas públicas e legislações mais inclusivas; recursos humanos e financeiros; mecanismo

de coordenação de inciativas estatais e associações; além de tomar decisões considerando a resiliência dos

socioambientes, em termos ecológicos e sociais.

Considerando o que até aqui explicitamos, a pergunta que motivou este artigo parece possível de ser

respondida. O agronegócio não se guia e nunca teve como propósito o extermínio da fome global. O estado

de insegurança alimentar é um sintoma grave de um modelo que não possui e não suporta a distribuição

equitativa de recursos. Isto porque o próprio conceito de distribuição equitativa é contraditório à concepção

produtiva do modelo capitalista, tornando-o inviável. A terra e todos os recursos dela provenientes são

capitais, os quais, na medida em que são alterados, por meio do trabalho humano objetivado, passam a estar

dotados de mais-valor. Este, ao entrar no mercado passa a ser uma mercadoria, um valor de troca. Desta

advém o lucro, ou seja, da mais-valia incutida na mercadoria, mais valia só materializada por meio da

relação de exploração do trabalho no campo.

Podemos especificar um pouco mais a pergunta sobre a solução da fome global e nos determos na

questão da biotecnologia aplicada à produção de mercadorias de consumo alimentar (considerando aqui

também alimentação de animais na pecuária), o que nos remete às relevantes e atuais questões levantadas

por Altieri (1999), citadas no segundo tópico deste artigo. Vejamos estas questões de forma comparativa

com o que o autor denomina de forma bem adequada de mitos:

Tabela 1: Questões e mitos da biotecnologia e do agronegócio.

MITO

A Biotecnologia beneficiará os agricultores nos Estados Unidos e nos Países

desenvolvidos

A Biotecnologia beneficiará os pequenos agricultores e favorecerá os famintos e os

pobres do Terceiro Mundo

A Biotecnologia não atentará contra a soberania ecológica do Terceiro Mundo

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A Biotecnologia estimulará a conservação da biodiversidade

A Biotecnologia é ecologicamente segura e constituirá o início de uma era de

agricultura sustentável livre de químicos.

A Biotecnologia estimulará o uso da biologia molecular em benefício de todos os

setores da população

...

Adaptado de Altieri (1999).

Poderíamos levantar mitos ad infinitum, contudo, mais interessante é mantermos a mente aberta e

criarmos também mútuas relações dialéticas entre um aspecto do real e um mito correlato, para assim

compreendermos melhor a materialidade destes fatores. Estas questões e mitos levantados por Altieri são

altamente relevantes, porém, insuficientes, se não nos concentramos na superação do modo capitalista de

produção. Os limites ecológicos serão sempre potenciais entraves e/ou impulsionadores da alimentação

humana, mas permaneceremos míopes se não enxergarmos para além da relação tecnologia-limites naturais,

se não mergulharmos dialeticamente na materialidade das relações sócio-produtivas prementes no

capitalismo. Concluímos com um pensamento de Karl Kautsky (1980):

O homem não é em todos os lugares tão limitado na escolha de sua comida como na vizinhança do

pólo. Mas em parte alguma ele tem a liberdade de escolher à vontade o alimento. O homem só

encontra em quantidade restrita a porção mais importante de sua comida, e não sem dificuldade e não

em qualquer tempo. Os gêneros suscetíveis de lhe assegurarem, de modo suficiente e regular, a sua

subsistência não dependem de um certo conteúdo de carbono, nem da sua necessidade deste elemento,

mas antes de tudo da espécie e do grau de seu saber técnico, da sua arte de dominar a natureza, numa

palavra - do seu modo de produção (Op. cit., p. 21).

Somamos aqui ao referido modo de produção, as relações de trabalho imersas em um sistema de

propriedade privada concentrada e na intensa divisão do trabalho. Em tempos atuais, este domínio da

natureza tem assumido caráteres de altamente deletérios para o ser humano e para a natureza.

Mas numa sociedade de produtores livremente associados, na qual todos são responsáveis pela

produção e pelos alimentos dela advindos, e que devem necessariamente ser distribuídos equitativamente, já

que o trabalho humano ali materializado não é alienado, o produto deste é de propriedade de todos. Ora,

pode-se visualizar que uma sociedade assim concebida ponderaria, em seu planejamento, os limites da terra

e dos demais ecossistemas, já que os riscos e os efeitos de se subsistir a partir de agroecossistemas com a

resiliência comprometida seriam vivenciados por todos.

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