modelo relatorio final pibic 2012 2013 pietro final

19
RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES DO ALUNO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (IC) PIBIC/UFPE/CNPq (Refere-se às atividades realizadas no período de agosto 2012 a julho 2013) IDENTIFICAÇÃO Nome do Orientador: Caio Augusto Amorim Maciel Nome do Aluno: Pietro Renato Felix de Queiroz Título do Projeto: Identidade e processos de territorialização de indivíduos em situação de rua no centro do Recife-PE RESUMO DO TRABALHO Este projeto foi proposto com a finalidade de compreender a dinâmica espacial e territorial dos grupos sociais e suas inter-relações com os outros grupos e com o poder público no centro do Recife a partir dos conceitos propostos pelo campo da Geografia Cultural, por esta possibilitar uma abordagem mais ampla das estratégias sócioespaciais desses atores sociais, buscando desmistificar o simbolismo e preconceito já existentes na sociedade. A pesquisa fez-se com o objetivo de identificar e mapear os espaços apropriados por esses sujeitos nos arredores da Praça do Diário, área eleita como escala espacial para o estudo de caso. As políticas públicas realizadas, no período estudado, que impactam direta ou indiretamente o espaço da praça e as atividades sociais nela desenvolvidas, foram observadas e problematizadas, se fazendo necessário o levantamento de informações acerca das transformações ocorridas no recorte espacial tomado, em relação às ações empregadas pelo poder público e as ocupações dos diversos grupos.

Upload: pietro-felix

Post on 24-Oct-2015

20 views

Category:

Documents


12 download

TRANSCRIPT

Page 1: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES DO ALUNO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (IC) PIBIC/UFPE/CNPq

(Refere-se às atividades realizadas no período de agosto 2012 a julho 2013)

IDENTIFICAÇÃO

Nome do Orientador: Caio Augusto Amorim MacielNome do Aluno: Pietro Renato Felix de QueirozTítulo do Projeto: Identidade e processos de territorialização de indivíduos em situação de rua no centro do Recife-PE

RESUMO DO TRABALHOEste projeto foi proposto com a finalidade de compreender a dinâmica espacial e

territorial dos grupos sociais e suas inter-relações com os outros grupos e com o poder público no centro do Recife a partir dos conceitos propostos pelo campo da Geografia Cultural, por esta possibilitar uma abordagem mais ampla das estratégias sócioespaciais desses atores sociais, buscando desmistificar o simbolismo e preconceito já existentes na sociedade. A pesquisa fez-se com o objetivo de identificar e mapear os espaços apropriados por esses sujeitos nos arredores da Praça do Diário, área eleita como escala espacial para o estudo de caso. As políticas públicas realizadas, no período estudado, que impactam direta ou indiretamente o espaço da praça e as atividades sociais nela desenvolvidas, foram observadas e problematizadas, se fazendo necessário o levantamento de informações acerca das transformações ocorridas no recorte espacial tomado, em relação às ações empregadas pelo poder público e as ocupações dos diversos grupos.

Page 2: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO P. 03

OBJETIVOS P. 07

METODOLOGIA DO TRABALHO P. 07

CONCLUSÕES P. 07

CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES P. 09

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS P. 10

DIFICULDADES ENCONTRADAS P. 12

ATIVIDADES PARALELAS DESENVOLVIDAS PELO ALUNO P. 12

Page 3: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

INTRODUÇÃO

O Recife é ocupado por diversos grupos sócio-culturais que agem nos espaços da cidade diferentemente, embora uns tenham mais poder na produção e fruição dos mesmos do que outros. Há, portanto, sujeitos sociais que são relegados a viver em espaços de terceiros ou nos espaços públicos, como no caso dos indivíduos em situação de rua. Na sociedade brasileira o debate recente sobre exclusão social encontra fundamento nas formas agudas de desigualdade” (BURSZTYN, 2003), assunto hoje bastante abordado pelas diversas ciências humanas. Acredita-se que a geografia também pode contribuir para esta reflexão de diversas formas, ajudando a entender e promover a cidadania e a inclusão dos diversos grupos que hoje se encontram à margem da sociedade.

Para esta pesquisa buscou-se utilizar das bases teóricas propostas pela Geografia Cultural, que possui como um de seus eixos norteadores a perspectiva de que as atividades humanas possuem mais que a simples dimensão material, abarcando também dimensões subjetivas que são primordiais na criação de formas de existência e de paisagens (COSGROVE, 2003). Esta compreensão da dinâmica da paisagem, que “possui tanto uma dimensão palpável, presente no mundo exterior, quanto um componente de imaginação, todavia inextricavelmente correlacionados pela ação cultural dos indivíduos” (MACIEL, 2009), leva-nos a uma perspectiva mais complexa do espaço urbano e especificamente da cidade do Recife e seus habitantes, e a uma análise da paisagem onde os indivíduos, com suas práticas, estariam inseridos. Ainda, Augustin Berque (1998) argumenta quanto ao objeto paisagístico a complexidade existente na relação entre homem e natureza e suas respectivas reproduções quando nos referimos não somente à materialidade da paisagem, como, as ações implícitas produzidas por essas tramas. Assim, afirma Berque sobre o estudo da paisagem:

Neste sentido, todas as ciências humanas e sociais têm a ver com o estudo da paisagem do ponto de vista cultural. Se ela deve se alimentar de sua contribuição (em diversos graus, segundo a especialização de cada um), a geografia cultural, certamente, não tem a pretensão de fazer a síntese de todas essas abordagens (nem tampouco de monopolizar o objeto “paisagem”) (p. 87).

Também, considera-se o efeito da cultura na configuração da paisagem de acordo com as observações obtidas em campo a respeito dos grupos estudados. Seguindo o pensamento do geógrafo Denis Cosgrove (1989, apud CORRÊA & ROSENDHAL, 2004) sobre a influência da cultura na paisagem, este diz:

a paisagem está intimamente ligada a uma nova maneira de ver o mundo como uma criação racionalmente ordenada, designada e harmoniosa, cuja estrutura e mecanismo são acessíveis à mente humana, assim como ao olho, e agem como guias para os seres humanos em suas ações de alterar e aperfeiçoar o meio ambiente.

Portanto, considerando os resultados, viu-se que os diferentes estilos de vida espacialmente circunscritos formam territorialidades, produzidas por relações e processos

Page 4: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

identitários entre os diversos grupos que compõem uma sociedade, que escolhem (ou são relegados a) determinados espaços para suas práticas e ações cotidianas. Para os grupos de indivíduos excluídos e marginalizados, a estes processos territoriais somam-se processos de desterritorialização, que marcam as formas de apropriação cultural do espaço.

As territorializações dos grupos marginalizados devem ser compreendidas criticamente, pois “é nessa perspectiva de cultura política, ao mesmo tempo material e simbólica, que percebemos a dimensão cultural dos processos de des-territorialização” (HAESBAERT, 2001). Os processos de (des)territorialização que os grupos de sem teto possuem ou empregam nos bairros do centro do Recife são compreendidos aqui como uma das formas pelas os quais as camadas mais desfavorecidas da sociedade se apropriam do espaço, e como estas apropriações possuem um conteúdo cultural, diferenciando-se de outras formas de territorializações tomadas por outras camadas/classes sociais. Assim é que “para os mais pobres, a des-territorialização é uma multiterritorialidade ou, no limite, a-territorialidade insegura, onde a mobilidade é compulsória” (Idem).

Para a compreensão dessa dinâmica territorial, que possui repercussões concretas na paisagem, se faz necessário compreender também o espaço no qual os grupos sociais em questão estão situados. O recorte utilizado como pano para esta pesquisa são os espaços públicos localizados no centro do Recife, mais especificamente a Praça da Independência (ou Praça do Diário, comumente conhecida), palco de dinâmicas de uso distintas. Considera-se aqui que o espaço público sob a conceituação feita pelo geógrafo Paulo Cesar da Costa Gomes onde este espaço “tem como uma de suas características essenciais a reunião de um universo quase infinito de diferenças próprio às pessoas que aí habitam” (GOMES, 2005). Pensando nas metrópoles contemporâneas, incluindo a cidade do Recife, deve-se compreender que “principalmente como produto cultural, a cidade é sempre o resultado convergente de distintas influências formais e cotidianas” (LEITE, 2007), expressas de maneira bastante evidente através dos espaços públicos.

Ao observar os grupos de indivíduos em situação de rua inseridos, na área estudada, percebemos o fruto dos processos acentuados de desigualdade social inseridos em tal espaço, compreendendo as diferenças culturais e sociais em relação a outros grupos marginalizados, unidos somente pelo fato de serem resultado de processos de exclusão social e desigualdade acentuada. É necessário considerar que “desigualdade e pobreza são conceitos diferentes entre si, mas igualmente distintos ao de exclusão social” (NASCIMENTO, 2003). Visualizando numa escala intra-grupal, é sabido que alguns grupos, como os sem-teto, não constituem uma população homogênea (SNOW; ANDERSON, 1998), embora possam ser analisados em suas características em comum, formando uma existência enquanto grupo social e cultural que se distingue dos demais. Sabe-se que algo que permeia a existência em grupo é que eles são “um grupo social que apresenta vulnerabilidades nos vínculos familiares e comunitários” (ESCOREL, 1999). Sendo assim, os grupos e a questão da exclusão social foram analisados em suas diferenças intrínsecas tanto internamente quanto em relação aos outros grupos que convivem no centro do Recife, em relação aos diversos extratos sociais ali localizados. Em acréscimo, numa abordagem eminentemente geográfica, tais diferenciações devem ser observadas em seus rebatimentos espaciais.

Em seu transcorrer, mostrou-se evidente a necessidade de subsidiar as ações de promoção de cidadania e acolhimento, além das reflexões já feitas sobre os processos de urbanização empregados no centro do Recife, no que concerne às aspirações e necessidades do grupo em questão, visto que “as sínteses interpretativas sobre uma cidade participam da construção de uma visão consensual dos problemas urbanos pelo menos entre os que compõem o aparelho técnico e político de gestão e de decisão” (BITOUN, 1994). A partir de

Page 5: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

reflexões acerca da dinâmica territorial na cidade do Recife através da perspectiva da Geografia Cultural, compreendendo a dimensão simbólica, imaginária e identitária contida na mesma, levantando, entre outros questionamentos, “discussões acerca do caráter hospitaleiro ou não desses espaços urbanos, em função do atendimento às necessidades psíquico-sociais dos indivíduos que nelas habitam ou que com elas interagem” (GOMES, 2007).

Diante das percepções já citadas no andamento deste relato, compreendemos que nas relações dos grupos sem teto com o recorte espacial e suas relações com outros grupos de mesma origem ganha características com o que GOMES (2010) define como nomoespaço (p.37). Sendo assim, o autor justifica sobre o conceito de nomoespaço:

O espaço é hierarquizado, assim como os poderes que sobre ele são exercidos. Sua estrutura é complexa, assim como o são as disposições formais (da lei) que regem e controlam a sua dinâmica. A esse tipo de relação social com o território demos o nome de nomoespaço, ou seja, uma extensão física, limitada, instituída e regida por lei. Trata-se de um espaço definido por uma associação de indivíduos, unidos pelos laços de solidariedade de interesses comuns e próprios, e pela aceitação e aplicação de certos princípios logicamente justificados.” (Idem).

Sendo assim, a partir de tal entendimento, foi possível perceber nas relações entre os grupos sem teto e o poder público uma relação de intenso conflito em virtude das ações realizadas por esta instância de poder. A valorização dos espaços no Centro do Recife mostra evidência da intensidade no temperamento dessa relação. Para isto convém observar alguns aspectos relatados em experiência de campo realizadas durante as oficinas de imagem, atividades inseridas no II Seminário Nacional do LECgeo, e relatadas recentemente por Gomes e Ribeiro (2012, p. 62-63).

A locação selecionada foi a Praça da Independência (conhecida como Pracinha do Diário), em pleno centro da cidade do Recife. No plano-sequência “Os pregadores” a estrutura básica descrita corresponde a territorializações resultantes de estratégias diversas de visibilidade e ocupação. Assim, passa-se de um pregador evangélico, com seu equipamento de som, e chega-se em um anunciante de crédito bancário, também munido de equipamento sonoro. Na exata transição entre essas duas esferas sonoras situa-se, silenciosamente, uma prostituta. No caso dela, a estratégia é construída pela expressão corporal, pela indumentária e essencialmente pela posição relativa que ela assume naquele espaço da praça. A narrativa da sequência chama a atenção para as diferentes formas de apropriação do espaço, seus limites e estratégias. De uma forma excepcionalmente eloquente e com grande economia de meios a sequência captura um sistema de classificação territorial, informalmente construído e revelado pelo simples percurso da câmera e sua captação sonora. O resultado global dessas atividades das oficinas nos pareceu muito rico. Em primeiro lugar, ele nos mune de elementos valorizados que não são definidos por nós, a priori. São elementos que surgem como centrais para as pessoas que estão envolvidas no imaginário da cidade. Esses

Page 6: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

elementos são mobilizados para demonstrar os conflitos e classificações que estruturam o espaço local naquele momento. Funcionam também como grandes categorias estruturais que organizam os comportamentos, os valores e as significações associadas aos lugares. Eles permitem o acesso à compreensão daquilo que está em jogo nas dinâmicas locais e que nos é comunicado através de imagens que são menos sensíveis aos filtros do controle daqueles que as apresentam” (p. 62-63).

Apesar da extensa citação, entendemos a sua relevância pois as duas características dos espaços públicos alertado pelos autores nos exercícios, correspondem a dois aspectos que mais chamaram a atenção da equipe de trabalho: o desenvolvimento de estratégias de visibilidade por cada grupo e de acordo com os objetivos que apresentam, assim como a co-presença de atores na praça.

Conforme a citação nota-se, também, como o espaço ocorre de maneira peculiar, por diversos fatores ainda por serem totalmente analisados pelas diversas disciplinas. A compreensão desta dinâmica territorial existente na relação entre os grupos de sem teto e o centro do Recife torna-se primordial por coincidir com um dos objetivos em comum entre as ciências humanas, que seria a promoção de cidadania e bem estar entre os diversos grupos que compõem a sociedade. A compreensão por parte da Geografia Cultural sobre os diversos processos espaciais e territoriais existentes nestes grupos só vem a somar com as diversas outras disciplinas que já estudam a exclusão social e os indivíduos em situação de rua, visto que existem poucos trabalhos que analisam a exclusão social sob esta perspectiva. A abordagem cultural permite, ainda, uma visão mais ampla das estratégias espaciais dos sem teto, contribuindo para superar o estigma e o preconceito que ainda sofrem na atualidade.

Sobre a sua formação, a Praça do Diário, originalmente chamada de Praça da Independência, já fazia parte da planta original da Cidade Maurícia, onde funcionava um mercado no período da invasão holandesa. Após algumas reformas estruturais por volta do séc. XIX e início do séc. XX a praça adquire o que é hoje seu nome original. Marcada pela presença de prédios de arquitetura moderna além da presença da Matriz de Santo Antônio e do prédio do jornal Diário de Pernambuco, este espaço surge como centralidade em seu tecido urbano por ser cenário de manifestações públicas e políticas e, futuramente, por novas práticas executadas em sua contemporaneidade (VAINSENCHER, 2013). Assim, o papel da praça na teia urbana da cidade assume seu protagonismo como espaço público, congregando os personagens desse cenário pulsante da vida urbana. Como afirma Gomes (2013, p. 97):

Praças, portanto, cumprem um papel fundamental na vida urbana desde então. Elas mantêm forte identidade com a ideia do público que a observa e se faz observar. Elas promovem também a ideia de que há uma quebra de ritmos que não é apenas morfológica. A abertura no tecido urbano causada pelas praças alarga o horizonte de visão, elas induzem à elevação do olhar e à permanência. São lugares onde se produz a vida moderna, de reconhecimento da publicidade, maneira de ser e de conviver.

Dessa forma, ao contemplarmos a imagem da praça e suas diferentes territorialidades, percebe-se o confronto entre signos comuns nos espaços públicos. Para o caso da Praça do Diário, nota-se em seu seio uma série desses signos ditos como “oficiais” como as estátuas do

Page 7: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

circuito da poesia, o bicicletário, stands de setores públicos. Em contrapartida, essas significações da praça como espaço público chocam-se com o que chamamos de signos “extra-oficiais” como os mendigos, a prostituição, comércio ambulante e até mesmo cultos evangélicos “informais” como já fora citado em experiência de campo.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho corresponde a compreender a dinâmica espacial e territorial dos grupos sociais presentes na Praça do Diário, dando enfoque especial ao grupo de sem-teto e suas inter-relações com os outros grupos e com o poder público no centro do Recife. Apresentamos como objetivos secundários identificar e mapear os espaços apropriados por estas pessoas no centro do Recife; analisar as políticas públicas que atingem direta ou indiretamente os grupos de sem teto, relacionando-as com seus efeitos na dinâmica espacial e territorial empregada pelo grupo em questão; Levantar informações acerca das transformações ocorridas no recorte espacial tomado, em relação às ações empregadas pelo poder público e as ocupações dos diversos grupos.

METODOLOGIA DO TRABALHO

Para o desenvolvimento da pesquisa, tratou-se de um estudo de caso exploratório e com abordagem calcada em métodos qualitativos. Para uma análise dos temas e conceitos sugeridos, foi realizado um levantamento bibliográfico, buscando-se nas diversas disciplinas sociais e humanas subsídios para o debate e a reflexão aqui feitas.

Para análise das dinâmicas espaciais que os grupos de indivíduos em situação de rua empregam no dia-a-dia, foram utilizados métodos como a observação participante, dirigidas tanto aos individuos dos grupos em questão como também a outros atores que possuem papel relevante na dinâmica territorial do recorte espacial, além de visitas de campo munidos de material audiovisual por motivo de realização de oficina de imagem no II Seminário Nacional do LECgeo (Laboratório de estudos sobre Espaço, Cultura e Política) e relatado por Gomes (2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Com esta pesquisa, pretende-se subsidiar as ações de promoção de cidadania e

acolhimento, além de produzir reflexões acerca dos processos de urbanização empregados no recorte espacial tomado, no que concerne às aspirações e necessidades do grupo em questão, visto que “as sínteses interpretativas sobre uma cidade participam da construção de uma visão consensual dos problemas urbanos pelo menos entre os que compõem o aparelho técnico e político de gestão e de decisão” (BITOUN, 1994). Também se pretende contribuir para uma reflexão da cidade do Recife a partir da perspectiva da Geografia Cultural, compreendendo a dimensão simbólica, imaginária e identitária contida na mesma, levantando, entre outros questionamentos, “discussões acerca do caráter hospitaleiro ou não desses espaços urbanos,

Page 8: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

em função do atendimento às necessidades psíquico-sociais dos indivíduos que nelas habitam ou que com elas interagem” (GOMES, 2007).

Sobre o termo que envolve o aspecto espaço e sociedade, convém mencionar a distinção feita por Souza (2008) acerca do seu uso com ou sem hífen, onde “sócio-espacial” apresenta um sentido diferente de “socioespacial”. Segundo este autor, o termo com o hífen “sócio-espacial” faz referência às relações sociais e ao espaço enquanto dimensões da sociedade concreta, onde ambas dimensões são interdependentes. Em suas palavras: “Ambas as dimensões (relações sociais e espaço) não se confundem ontologicamente, e por isso tampouco se sobrepõem conceitualmente, porque, embora seja um produto das relações sociais, o espaço social pode sobreviver às relações sociais que o geraram, ao menos como substrato material” (SOUZA, 2008, p. 160). Já o termo “socioespacial" faz referência apenas ao espaço social, encarando este enquanto um produto das relações sociais, fazendo referências apenas com o espaço social e não com a totalidade social. De acordo com esta distinção do autor, preferimos utilizar a grafia sócio-espacial, muito embora aceitemos a recomendação do referido autor, que determina que ambas grafias do termo estão corretas, mas que devemos perceber que o uso de um ou outro termo vai depender do contexto e dos propósitos do trabalho desenvolvido.

Enquanto para os aspectos paisagísticos, acreditamos que a análise da paisagem que desenvolvemos, vinculada ao debate dos territórios e territorialidades da Praça do Diário, permite-nos reconhecer, apoiado nos argumentos de Maciel (2004), que o estudo das paisagens deve procurar compreendê-las, ao invés de buscar uma explicação de suas morfologias. Reconhecemos junto com Maciel (2004) a necessidade de “compreender” a paisagem sem restringi-la a um simples entendimento científico embasado em explicações teóricas, mas abrangendo as atividades simbólicas que os atores desenvolvem nas suas construções cotidianas do mundo.Observamos na praça do Diário que, como todo espaço público, em especial no Recife, com sua desigualdade espacial gritante, o resultado do encontro dos indivíduos, inseridos em grupos distintos nas aglomerações da praça, com o coletivo da cidade nem sempre ocorre de forma harmonioso.

No entanto, há que se destacar neste momento que, ao reconhecermos os conflitos, a presença de atividades “informais” e os usos sociais desenvolvidos na praça que não se enquadram no padrão de “normalidade” da sociedade ocidental, não nos conduzirá a afirmar que o centro do Recife, e correlacionado, seus espaços públicos, se caracterizariam atualmente por uma desordem e/ou subutilização. Pelo contrário, longe de adotarmos este olhar “conservador” para os espaços públicos, preferimos seguir os caminhos abertos por Barbosa (1999) e olhar com cuidado as leituras e interpretações contemporâneas presenciadas na cidade do Recife, bem como em outras cidades, que aproveita o debate sobre essas questões para caracterizar a cidade como um espaço do caos, da desordem e fragmentação. Neste artigo, não vinculamos as territorialidades das praças às leituras da “cidade do caos”, pois conforme afirma Barbosa (1999, p. 61):

Tais leituras desenham cidades saturadas de objetos obsoletos, grafismos desviantes e simbologias decadentes, que são porta-vozes, com frequência, de apelos ao outro extremo da situação: as exigências de normas capazes de reconstituir a “sociabilidade perdida” e restituir os “direitos naturais” do indefeso contribuinte que paga seus tributos em dia (BARBOSA, 1999, p. 61).

Page 9: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

Buscamos com isto, reconhecer que se o debate sobre a forma como grupos de sem-teto, prostitutas e demais grupos que utilizam dos territórios da praça do Diário tomasse o rumo do debate sobre o “caos urbano”, estaríamos reforçando aquilo que Barbosa (1999, p. 60) admite existir nas leituras da cidade do caos: a existência de uma hierarquia social de construção dos espaços da cidade, que leva a mascarar a radicalidade presente na desigualdades social das cidades. Neste sentido, reforçamos que fugimos aqui de uma leitura da praça da Independência a partir do caos, acreditando que esta praça necessita de um ordenamento, pois “os apelos à normatização da cidade diante do caótico vêm orientando práticas de vigilância e disciplinarização de corpos indesejáveis” (BARBOSA, 1999, p. 60).

CONCLUSÕES

Considerando a discussão exposta, resultada dos últimos 12 meses aos quais foram desenvolvidos os diversos métodos de pesquisa cientifica, percebemos os conflitos existentes em um espaço de pequena extensão como a Praça do Diário e, ao mesmo tempo, as muitas territorialidades existentes em sua dimensão espacial. Mostrou-se evidente, as atribuições aos símbolos “oficiais” existentes àquela praça como a estátua de Carlos Pena Filho, ação da prefeitura do Recife que promovia compreender a identidade coletiva, os valores e sentidos que os habitantes do Recife apresentam sobre sua cidade (BARBOSA, 2011, p. 68). Somando a outras ações, notou-se a presença do bicicletário como elemento simbólico de uma cidade em desenvolvimento, em contradição à presença da prostituição, mendigagem e dos pequenos furtos.

CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

Meses→ Metas ↓

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

1) Bibliografia e dados secundários

OK OK OK OK OK OK OK OK

2) Campo e dados primários

OK OK OK OK OK OK OK OK OK

3) Síntese e análise

OK OK OK

4) Relatório final OK OKOBS. Mês 01 = agosto de 2012

Page 10: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, David Tavares. Pontes Imaginárias Sob O Céu Da Manguetown: Influências do Mangue Beat sobre as políticas públicas no entorno do Rio Capibaribe – Uma análise do Circuito da Poesia e do Carnaval Multicultural. 2011. 105p. Monografia (Graduação em Geografia) – Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2011.

BARBOSA, Jorge Luiz. O Caos com Imago Urbis: Um ensaio crítico a respeito de uma fábula hiperreal. In: GEOgraphia, Ano. 1, Nº 1, 1999, p. 59-69. Disponível em: <http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/6/5>. Acesso em: 13 out. 2012.

BERQUE, A. Paisagem-Marca, Paisagem-Matriz: Elementos para uma Geografia Cultural. In: CORRÊA, R.L., ROSENDAHL, Z. (orgs.) Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998, p. 84-91.

BITOUN, Jan. Recife: Uma interpretação geográfica. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org.) Os caminhos da reflexão sobre Cidade Urbano. 1ºEd. São Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo, 1994. 390p.

____________ Representações geográficas da desigualdade intra-urbana, crescimento econômico e violência urbana: uma reflexão a partir do Atlas De Desenvolvimento Humano Do Recife. In: Alcindo José de Sá. (Org.). Pelo direito à vida: A Construção de um espaço cidadão. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2008, v. 1, p. 55-62.

BURSZTYN, Marcel. Da pobreza à miséria, da miséria a exclusão in BURSZTYN, Marcel (Org.). No meio da rua: Nômades, excluídos e viradores. 2° Edição. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. 561p.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Lugar no/do Mundo. 1°Edição. São Paulo: Hucitec, 1996. 150p.

CANCLINI, N. G. Imaginários Culturais da Cidade: conhecimento / espetáculo / desconhecimento. In: COELHO, T. (Org.). A Cultura pela cidade. São Paulo: Iluminuras, 2008, p. 15-31.

CLAVAL, P. A geografia cultural. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999. 453 p.

CORRÊA, R. L. A Geografia Cultural e o Urbano. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (Org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 224p.

_____________. A paisagem geográfica - uma bibliografia. Espaço e Cultura nº 2 (jun. 96) - Rio de Janeiro: UERJ,NEPEC, 1996. Pág. 50 a 54.

COSGROVE, Denis. A geografia está em toda parte: Cultura e simbolismo nas paisagens humanas in: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny. Paisagem, tempo e cultura. 2° Edição. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004. 124p.

Page 11: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

_________________. Em direção a uma geografia cultural radical: problemas da teoria. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (Org.). Introdução à Geografia Cultural. 1ºEd. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2003.

ESCOREL, Sarah. Vidas ao léu: Trajetórias de exclusão social. 1° Ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora FIOCRUZ, 1999. 276p.

GOMES, Edvânia Tôrres Aguiar. Recortes de paisagens na cidade do Recife: Uma abordagem geográfica. 1°Ed. Recife, PE: Ed. Massangana, 2007. 356p.

GOMES, P. C. C. A condição urbana: ensaios de geopolítica da cidade. Rio de Janeiro, Bertand Brasil, 2002.

_______________. O silêncio das cidades: Os espaços públicos sob ameça, a democracia em suspensão. Cidades, Presidente Prudente, v. 2, p. 249-266, 2005.

LEITE, Rogério Proença. Contra-usos da cidade. 2º Edição. Campinas: Editora da Unicamp; Aracaju: Editora UFS, 2007.

MACIEL, Caio A. A. A retórica da paisagem: um instrumento de análise geográfico. Espaço e Cultura. Rio de Janeiro, v.26, n.3, p.33-50, Jul./Dez. 2009.

_________________. Metonímias Geográficas: Imaginação e Retórica da paisagem no semi-árido pernambucano. 2004. 527p. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, 2004.

NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do. Dos Excluídos necessários aos excluídos desnecessários in BURSZTYN, Marcel (Org.). No meio da rua: Nômades, excluídos e viradores. 2° Edição. Rio de Janeiro: Garamond, 2003.

SERPA, Angelo. O espaço Público na cidade contemporânea. 1º Edição. São Paulo: Contexto, 2007. 205p.

SNOW, David; ANDERSON, Leon. Desafortunados: um estudo sobre o povo da rua. 1º Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

SOUZA, Marcelo Lopes de. Em Torno de um Hífen. In: Revista Formação, nº 15, volume 1, 2008, p.159-161. Disponível em: <http://www4.fct.unesp.br/pos/geo/revista/artigos/13_souza.pdf>. Acesso em: 04 jun. 2013.

VAINSENCHER, Semira Adler. Praça do diário. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.phpoption=com_content&view=article&id=594&Itemid=195. Acesso em: 09/06/2013.

Page 12: Modelo Relatorio Final Pibic 2012 2013 Pietro FINAL

DIFICULDADES ENCONTRADAS

Para o desenvolvimento desta pesquisa algumas dificuldades surgiram para que pudéssemos eleger o objeto da pesquisa. A princípio, o projeto consistia em analisar as relações sócio-culturais dos grupos sem-teto e sua territorialidades nos espaços públicos do centro do Recife. Para isto, pensou-se em abranger para os grupos sociais existentes na Praça do Diário, uma vez que um único grupo não possibilitaria uma maior consistência quanto ao sumo desta pesquisa. Não obstante, a escolha pela Praça do Diário corre em caminho inverso ao anterior. Inicialmente, cogitou-se como escala espacial para análise os espaços públicos localizados no centro do Recife. Uma vez que ao escolher esses espaços como áreas de estudo, ampliaríamos a gama de variações culturais de cada grupo observado em suas respectivas minúcias. Para tanto, as dificuldades encontradas durante o processo de investigação consistiram, principalmente, na seleção das escalas e dos atores observados.

ATIVIDADES PARALELAS DESENVOLVIDAS PELO ALUNO

Durante o período da iniciação científica, o aluno desenvolveu atividades de pesquisa e extensão no Laboratório de estudos sobre espaço, cultura e política (LECgeo), lotado nas dependências do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE. Dentro das atividades laboratoriais, o aluno participou como organizador das exibições do Cineclube LECgeo tanto na UFPE como no projeto de extensão intitulado “Ação Cineclubista no Alto José do Pinho”, abordando o uso das imagens audiovisuais aliado sempre a um conceito geográfico.

_________________________________________Data e assinatura do orientador

_________________________________________Data e assinatura do aluno