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Relatório Final PIBIC 2012_2013_Rosana Pereira Carvalho

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    DEPARTAMENTO DE APOIO PESQUISA

    PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAO CIENTFICA

    TTULO DO PROJETO DE PIBIC

    CRIMINALIDADE VIOLENTA E DIREITOS HUMANOS: OS DILEMAS DO

    SISTEMA DE JUSTIA CRIMINAL NO AMAZONAS

    BOLSISTA: ROSANA PEREIRA DE CARVALHO - FAPEAM

    MANAUS

    2013

  • 2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    DEPARTAMENTO DE APOIO PESQUISA

    PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAO CIENTFICA

    RELATRIO FINAL

    PIB-H/0088/2012

    CRIMINALIDADE VIOLENTA E DIREITOS HUMANOS: OS DILEMAS DO

    SISTEMA DE JUSTIA CRIMINAL NO AMAZONAS

    Bolsista: Rosana Pereira de Carvalho- FAPEAM

    Orientador: Prof. MSc. Davyd Spencer Ribeiro de Souza

    MANAUS

    2013

  • 3

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Fluxograma da Hierarquia do Sistema de Justia Criminal Brasileiro.

    Diagnstico do Sistema de Justia criminal 2008. Fonte: Pesquisa em Dados 2012.

    Adaptao do auto.

    Quadro 2. Diviso das varas criminais da Justia Estadual. Fonte: Pesquisa de campo na sede do Frum Henoch Reis - Tribunal de Justia do Amazonas, com a assistente judiciria Renata

    Alexandre Larrat em 14/10/13.

  • 4

    LISTA DE SIGLAS

    CF - Constituio Federal.

    DESIPE - Departamento do Sistema Penitencirio.

    IPEA - Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada no ano de 2008.

    MP - Ministrio Pblico.

    NEPS - Ncleo de Estudo e Pesquisas Sociais.

    SENAP - Secretaria Nacional de Segurana Pblica.

    DIP- Distrito Integrado de Polcia.

    FAPEAM- Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Amazonas.

    SENAI - Servio Nacional de Aprendizagem Industrial.

    SEBRAE - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas.

    SESC - Servio Social do Comrcio.

    CETAM - Centro de Educao Tecnologia do Amazonas

  • 5

    RESUMO

    Este trabalho teve por objetivo principal identificar os dilemas do sistema de justia criminal

    no Estado do Amazonas. Nesse contexto, a pesquisa procurou compreender a estrutura

    organizacional e poltico-institucional do sistema de justia criminal e sua atuao no

    enfrentamento da criminalidade violenta, buscando observar a efetividade dos direitos

    humanos. Por meio de entrevistas e anlise dos discursos dos agentes do sistema de justia

    criminal, buscou-se investigar as principais caractersticas do sistema estadual no que diz

    respeito ao da justia, bem como das demais instituies no enfrentamento da

    criminalidade urbana violenta. A pesquisa foi realizada nos anos de 2012 e 2013, procurando

    identificar a natureza de cada instituio que compe esse sistema e em face disso. Os

    resultados permitem observar a estrutura organizacional e poltico-institucional do sistema de

    justia criminal e sua atuao em termos da preveno e represso da criminalidade, isto , das

    infraes penais com vistas ao estabelecimento da ordem pblica. A pesquisa sugere que o

    Estado reivindica, por meio do poder judicirio, a exclusividade do uso legtimo da fora

    fsica, isto , da violncia, mas apresenta dificuldades para assegurar tal prerrogativa. Sugere

    tambm que o sistema de justia criminal estadual cumpre sua prerrogativa constitucional tal

    como no restante do pas, apresentando uma diversidade de varas criminais especializadas que

    atuam como instncias da justia criminal tentando dar respostas a criminalidade urbana

    violenta, isto , s diferentes modalidades de crimes na sociedade brasileira. Finalmente, a

    pesquisa trabalha a percepo de alguns dos agentes do sistema de justia criminal revelando a

    compreenso destes atores sobre a dinmica do sistema, os conflitos ou os problemas de

    integrao interinstitucional.

    _________________

    Palavras-chave: criminalidade violenta, sistema de justia criminal, direitos humanos,

    punio.

  • 6

    SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................................ 8

    2 FUNDAMENTAO TERICA .................................................................................13

    2.1 A dominao racional legal e o monoplio da violncia legtima pelo Estado ...........13

    2.2 Poder e disciplina na sociedade moderna ..................................................................... 16

    2.3 A criminalizao dos comportamentos sociais e a emergncia do Estado repressivo...19

    2.4 Beccaria e o Direito de Punir do Estado........................................................................ 23

    3 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................... 26

    3.1 O sistema de justia criminal brasileiro ....................................................................... 26

    3.2 O sistema de justia criminal no Amazonas ............................................................... 32

    3.2.1 As mudanas recentes na estrutura do sistema de justia

    criminal......................................................................................................................... 40

    3.2.2 As dificuldades poltico-institucionais do sistema de justia

    criminal............................................................................................................................. 43

    3.2.3 As demandas da populao brasileira por ordem e os desafios do Estado de Direito

    Democrtico...............................................................................................................46

    3.3O enfrentamento da criminalidade urbana violenta...................................................... 49

    4 CONCLUSO ............................................................................................................ 53

    5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................ 56

    6 CRONOGRAMA ........................................................................................................... 58

  • 7

    1. INTRODUO

    A temtica da violncia, da criminalidade e at mesmo os meios de control-la uma

    das questes que cabe ao funcionamento do Sistema de Justia Criminal como um todo

    includo Polcias, Ministrio Pblico, Judicirio e Sistema Penitencirio em diagnosticar esse

    fenmeno, controlando assim a criminalidade na sociedade. Com isso a pesquisa privilegia

    como foco de investigao as mudanas na estrutura do sistema de justia criminal face s

    mudanas da criminalidade urbana violenta na sociedade brasileira. Para tanto, toma como

    objeto de investigao os discursos dos atores vinculados ao prprio sistema de justia

    criminal no estado do Amazonas. A realizao dessa busca de pesquisa importante para

    maiores conhecimentos sobre a problemtica, pois, so poucas as pessoas e instituies

    dedicadas a estud-los seriamente, assim como so muito precrios os dados disponveis para

    fundamentar diagnsticos,incluindo uma, certa necessidade de polticas eficazes para

    encontrar solues na reduo da violncia e do crime.

    Srgio Adorno (2002) tem enfatizado a necessidade de compreender o crescimento da

    violncia urbana, em suas mltiplas modalidades e est no deve ser tratado apenas pelos

    operadores dos direitos como juzes, advogados, policiais e outros rgos, mas que se trata de

    um problema social, isso inclui a participao e interesses dos prprios cidados em poder

    compreenderem o fenmeno da violncia e o papel do Estado na preservao dos direitos

    humanos. Ele conceitua "que a conseqncia mais grave nesse processo [seja ela no sistema

    de justia criminal] em cadeia a descrena dos cidados nas instituies promotoras de

    justia, em especial encarregadas de distribuir e aplicar sanes para os autores de crime e

    violncia" (ADORNO, 2002:51). O que vem sendo observado que "no Brasil, no h ainda

    uma tradio de estudos nesta rea da vida social, tal como j h nos Estados Unidos, Canad

    e Europa ocidental. Embora tenha despertado o interesse acadmico e cientfico por

    problemas relacionados ao crescimento dos crimes, organizao das agncias encarregadas

    de exercer controle social, em especial polcia e prises, aos efeitos do crime organizado,

    sobretudo o narcotrfico, sobre as instituies da sociedade civil e da sociedade poltica, ainda

    o que se sabe pouco" (Idem, p.1).

    Nisso o aumento dos crimes tidos como violentos no Brasil caracterizado como

    "crimes violentos" como roubos, estupros, extorso mediante seqestro e trfico de drogas.

    Ento isso revela para ns uma necessidade de aprofundar um estudo com essa temtica sobre

    a importncia de compreender, questionar, refletir sobre o sistema de justia criminal e sua

  • 8

    ao na sociedade brasileira sobre questes que envolvem o crescimento da criminalidade

    urbana violenta.

    Michel Wieviorka (1997), por exemplo, apresenta uma formulao bastante

    interessante quando considera que as mudanas polticas, econmicas, e sociais que

    ocorreram a partir dos anos 60 e 70, terminaram por mostrar um novo paradigma da

    violncia. E que a "violncia no a mesma de um perodo a outro (Idem, p.5). Isso

    contextualiza as transformaes da prpria violncia que foram se modificando nas dcadas

    passadas. O autor procura redimensionar o conceito de violncia dentro do atual estado de

    globalizao mundial. A idia de um novo paradigma , portanto comportada pelo exame das

    mudanas que remetem durante a crise internacional, narcotrfico, derrocada do bloco

    socialista no leste europeu, polticas assistenciais de organismos internacionais, conceitos de

    desenvolvimento e de subdesenvolvimento, terrorismo, sectarismo poltico e religioso, novas

    conceituaes culturais e sociais, estabelecendo assim um novo paradigma da violncia.

    (WIEVIORKA, 1997:15).

    A obra de um dos clssicos da sociologia, Max Weber (1864-1920), constitui uma das

    importantes bases para a pesquisa. Analisando o poder do estado e o processo de

    racionalizao dos direitos, ele destacou-se em seus vrios estudos tendo com eixo

    fundamental o racionalismo ocidental. Procurando explicar o processo de organizao social

    e o poder alcanado pelo Estado moderno sobre os indivduos, chegando a defender de que o

    monoplio do uso da fora, tambm concebido como monoplio legtimo da violncia,

    constitui-se o apoio central da existncia desse Estado retirando a violncia da sociedade civil.

    A modernidade marcada pela luta interminvel entre formalidade e materialidade em

    torno do direito onde o desenvolvimento do sistema jurdico o responsvel por ambas as

    formas de racionalidade do direito. So sob a proteo de um Estado racional pautada em um

    direito racional e em uma burocracia profissional que ir se assentar o desenvolvimento do

    capitalismo moderno. Como Weber sustenta seu pensamento nesse debate sobre a

    racionalizao do direito. Diante dessa abordagem a pesquisa busca compreender o Estado

    moderno no enfrentamento da criminalidade urbana violenta.

    Foucault (1987) trata em sua obra Vigiar e punir, as transformaes das prticas

    penais na Europa e na Frana, o autor avalia o poder disciplinador como uma das

    fundamentais tecnologias do poder das sociedades contemporneas que seria o poder das

    normas.

    A preocupao principal em sua obra foi demonstrar, atravs da forma pela qual

    homens eram julgados em funo dos atos que haviam cometido como se sucederam diversas

  • 9

    formas de subjetividade e diversas formas de saber ao longo da histria do ocidente. Tais

    formas de punio esto estreitamente ligadas ao chamado poder de soberania que consiste no

    exerccio do poder de um governante sobre um territrio. O poder era, portanto, exercido e

    representado atravs dos suplcios, da fora e da violncia. Que se baseava em um novo

    processo, isto , no uso de um poder disciplinador. O poder disciplinar no se identifica a uma

    instituio poltica ou aparelho de Estado. Trata-se de um tipo de configurao de poder que

    perpassa as instituies e discursos, como uma espcie de tecnologia. No existe algo unitrio

    e global chamado poder, mas unicamente formas dspares, heterogneas, em constante

    transformao (FOUCAULT, 1979:10-29).

    Segundo Foucault, o poder no emana unicamente do sujeito, mas de uma rede de

    relaes de poder que formam o sujeito, dentre outros elementos, tal como o discurso, a

    arquitetura ou mesmo a prpria arte. Ento o poder concebido como uma rede, no nasce

    por si s, mas de relaes sociais. E que o poder foi exercido atravs de dispositivos

    disciplinares, o Estado ou mesmo a sociedade se utilizou do corpo, da vigilncia e do

    adestramento para garantir a obedincia e disciplinar os indivduos. O corpo s se torna fora

    til se ao mesmo tempo corpo produtivo e corpo submisso (FOUCAULT, 1979:26).

    Em seguida, Lic Wacquant (2003), observa a emergncia do Estado Repressivo e a

    crise do Estado-providncia mostrando as mudanas dos processos do Estado. Ele analisa

    sobre as exploses de violncia urbana e outros efeitos indesejveis do empobrecimento de

    amplos contingentes da populao nos EUA e na Frana demonstram a tendncia anloga a

    uma demonizao dessa massa de despossudos que, dando continuidade s representaes e

    ao tratamento institucional do problema, caracteriza no momento atual a criminalizao da

    pobreza (Idem, p.9).

    Loc Wacquant um dos principais estudiosos deste processo de desregulamentao

    econmica acompanhada de uma hiper-regulao penal. Para ele, o desinvestimento social

    implica no superinvestimento carcerrio, pois este representaria o nico instrumento capaz de

    fazer frente s atribulaes suscitadas pelo desmantelamento do Estado social e pela

    generalizao da insegurana material. Com isso percebe os desafios do Estado de direito

    democrtico na afirmao "plena" dos direitos humanos onde o problema no est apenas na

    preparao para julgar o delinqente, mas o problema se as normas esto sendo

    cumprida.1

    Palestra no Frum Permanente de Direitos Humanos da ESMAM-2012. Com Manuel Monteiro Guedes

    Valente (ICSP/Portugal). Sobre Os desafios do Estado Democrtico e de Direito na afirmao plena dos Direitos Humanos.

  • 10

    , portanto, a partir desses autores que se compreende a atuao do sistema de justia

    criminal em termos de resposta e enfrentamento da criminalidade urbana violenta.

    Principalmente no que se diz respeito do cumprimento das normas do Estado de direito

    democrtico.

    Ento numa abordagem sociolgica buscaremos compreender o processo do sistema

    de justia criminal, onde a pesquisa tem como objetivo geral compreender a estrutura

    organizacional e poltico-institucional do sistema de justia criminal no Estado do Amazonas

    e sua atuao no enfrentamento da criminalidade urbana violenta e garantia da efetividade dos

    Direitos Humanos. Visa tambm compreender em que medida as mudanas nos padres de

    violncia e criminalidade, bem como as demandas por lei e ordem na sociedade brasileira,

    contribuem para promover mudanas na estrutura do sistema de justia criminal e tambm

    para impor novas dificuldades institucionais e jurdicas aos operadores do direito e demais

    manipuladores tcnicos. E por fim, a pesquisa pretende problematizar a relao entre justia

    criminal e direitos humanos na ao do Estado de Direito Democrtico.

    Em relao aos objetivos especficos que situa em: a) compreender as mudanas

    recentes na estrutura do sistema de justia criminal na sociedade brasileira, refletindo acerca

    dos fatores condicionantes que tm corroborado com as mudanas na estrutura tecnopoltica

    do sistema de justia criminal. Neste caso, cabe investigar em que medida o movimento da

    criminalidade urbana violenta e de demanda por lei e ordem so responsveis pelas

    mudanas na esfera do direito penal e pelo recrudescimento e funcionamento das agncias de

    controle e represso ao crime; b) Compreender como as instituies jurdicas tm lidado com

    as dificuldades poltico-institucionais de imposio da lei e da ordem, abordando as

    dificuldades locais para os operadores do direito e para o sistema de justia criminal em

    apreender, classificar e punir as prticas de violncia e de criminalidade dada a

    multidimensionalidade com que acontecem; c) Finalmente, a pesquisa visa refletir sobre as

    demandas da populao brasileira por ordem e os desafios que se colocam ao Estado de

    Direito Democrtico. Trata-se de compreender como o Estado tem absorvido as demandas da

    populao por ordem e quais as formas de respostas dadas sociedade, tendo como horizonte

    balizador a promoo dos direitos humanos.

    Com relao metodologia, se fez uma investigao de coletas de informaes por

    meio dos discursos dos atores de direito sobre o papel sistema de justia criminal no estado do

    Amazonas. E tambm com base dos levantamentos bibliogrficos. A pesquisa buscou tambm

    desenvolver por meio nos noticirios em jornais, internet, entrevistas, leituras e palestras com

    objetivo de contribuir para um estudo acerca desta temtica. Pois ela uma das nossas

  • 11

    realizaes de estudo e se constituem numa ferramenta de suporte cientfico que em certa

    medida nos conduz na reflexo daquilo que a nossa pesquisa se prope a investigar.

    A sociedade brasileira vivencia constantemente atos de violncia e de crime, assim

    como tambm convive com a desigualdade social que se faz presente e tem-se generalizando

    em nosso dia-a-dia. Isso acaba mostrando e afirmando que o Estado no est conseguindo

    assegura os direitos humanos. Ser que o Estado ao prender e ao punir est garantindo os

    direitos dos presos. So questes que vem surgindo quando buscamos visualizar e

    compreender a complexidade da sociedade e seus mecanismos sociais. No caso aqui

    buscaremos compreender o sistema de justia criminal no Estado do Amazonas.

    Este projeto est vinculado a um projeto de pesquisa mais amplo intitulado

    Criminalidade Violenta, Segurana Pblica e Direitos Humanos: anlise das polticas de

    segurana pblica e de justia na Regio Metropolitana de Manaus, desenvolvido no mbito

    do Ncleo de Estudos e Pesquisas Scias (NEPS) e financiado pela Fundao de Amparo

    Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM. Apesar de estar vinculado a este projeto, o

    presente trabalho guarda sua autonomia quanto problemtica que aqui se pretende

    investigar.

    A pesquisa esta subdividida da seguinte maneira, com introduo da temtica em

    seguida com a fundamentao terica que dar suporte numa analise mais convincente sobre o

    problema da pesquisa, possuindo os seguintes tpicos: A dominao racional legal e o

    monoplio da violncia legtima pelo Estado; Poder e disciplina na sociedade moderna; A

    criminalizao dos comportamentos sociais e a emergncia do Estado repressivo. Em seguida

    se encontra o desenvolvimento da pesquisa, com as abordagens sobre; O sistema de justia

    criminal brasileiro; Sistema de justia criminal no Amazonas; A ao do direito penal no

    sistema de justia criminal; O enfrentamento da criminalidade urbana violenta.

    Esses tpicos definido posiciona a estrutura da pesquisa, buscando compreender o

    sistema de justia criminal. por fim a concluso com os resultados das analises que obtemos

    com o desenrolar da pesquisa. E no final as referncias bibliogrficas sobre o aprofundamento

    e o conhecimento da temtica estudada. Tendo tambm as notaes das atividades realizadas

    estabelecida no cronograma.

  • 12

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 A dominao racional legal e o monoplio da violncia legtima pelo Estado

    Em Weber (1864-1920) podemos identificar uma leitura interessante que sustenta

    precisamente no debate sobre racionalizao do direito procurando entender os fatos sociais.

    Mas o que essa racionalizao do direito que Weber aborda? onde a formalidade e

    materialidade so as principais categorias de referencias para entendemos o desenrolar desse

    processo que marca a singularidade da cultura ocidental, nisso a formalidade ligada ao

    modelo liberal e a materialidade, ao estado social. O processo de racionalizao do ocidente,

    o lugar onde o advento da tcnica e da cincia substituiu de maneira particular a f pela razo

    2. Na teoria e prtica jurdicas atuais, uma das distines, mas importante a entre o direito

    pblico e o direito privado, ou seja, um ponto da racionalizao de direito. (WEBER,

    1999:1). Nesse processo da racionalizao dessas duas esferas, identifica, por tanto, o

    desenvolvimento do Estado moderno. Agora uma das caractersticas do Estado moderno ele

    reivindicar para si o uso legtimo a violncia fsica, ou seja, que ningum mais a no ser o

    Estado no uso da violncia legal. Mas quando Weber fala em violncia fsica legtima,

    observa que essa violncia fsica legitima no se encontra sustentada em toda no nome do

    estado. Mas est identificando limites ao emprego da fora e essa identificao de toda sua

    abordagem se encontra em sua obra Economia e Sociedade, evidenciando os modos de

    racionalizao do direito. Portanto a violncia legtima proposta de acordo com o autor

    Weber, procurando legitimar todos os atos de violncia por agentes estatais que passam dos

    limites da racionalidade-legal. Para Weber o legtimo aquilo que aceitvel, aquilo que o

    povo aprova. E essa legitimidade tambm consiste em uma dominao legtima que significa

    aquela permitida pelo povo dominado. Portanto, a maior originalidade de Weber consiste na

    sua inteno de incluir suas observaes e as percepes subjetivas dos atores humanos no

    ncleo do estudo da sociedade. Nesse caso, o Estado representa a nica fonte do direito de uso

    violncia e se forma numa relao de homens dominando homens e essa relao

    mantida por meio da violncia considerada legtima. Agora para que o Estado possa existir,

    segundo nosso autor, indispensvel presena de um conjunto de pessoas obedientes uma

    autoridade alegada pelos poderes do Estado, e mais, para que os dominados venham a

    2 Revista Sociologia uma publicao bimestral da editora Escala, ano IV - edio 45 - Fevereiro/Maro de

    2013; So Paulo.

  • 13

    obedecer inevitvel que os quem faam parte desses detentores do poder tenham uma

    autoridade de fato reconhecida como legitima (FLORENZANO, 11-39, 2007).

    E continua: "o Estado consiste em uma relao de dominao do homem

    sobre o homem, fundada no instrumento da violncia legtima (isto , da

    violncia considerada como legtima), O Estado s pode existir, portanto,

    sob a condio de que os homens dominados se submetam autoridade

    continuamente reivindicada pelos dominadores" (p.57). (Da, sua clebre

    tese dos trs fundamentos legtimos da dominao: a tradio, o carisma e a

    legalidade (Weber 1970 [1918-19]), apud ADORNO, 2000:7-8).

    Para Weber, o Estado moderno estabeleceu-se como ncleo que detm o monoplio

    seja da soberania jurdica poltica", seja da violncia fsica legtima, e que a legitimidade do

    ordenamento jurdico sobrevive, de acordo com isso, na capacidade de um quadro de

    funcionrios responsveis pelo cumprimento da lei, de coagir os atores de maneira fsica ou

    psicolgica a respeitar as normas. Ele analisa a relao da legitimao da racionalizao do

    direito, das concepes a referente dos conflitos sociais e estatal. Quando Weber observa o

    processo de racionalidade do direito, compreende que quando os direitos se tornam campo

    autnomo, constri toda uma lgica de especifica, ou seja, constri toda uma estrutura de uma

    linguagem que possa a ser um monoplio daqueles que se dedicam ao direito (ADORNO,

    2000:5).

    Nela, possvel percorrer os meandros de um debate contemporneo: o impacto do

    crescimento e das novas modalidades de violncia sobre o futuro da democracia brasileira.

    Em particular, ela explora um dos objetos caros sociologia poltica - o monoplio estatal da

    violncia fsica legtima, em torno do qual gravitam outros temas tais como: 1- soberania

    poltica e o futuro do Estado-nao; 2- lei e da ordem versus direitos humanos; e 3 -

    legitimidades, autoridade e justia pblica (ADORNO, 2000:4).

    A ao social violenta , evidentemente, algo primitivo (...) toda comunidade

    recorre, desde sempre, coao fsica quando pode ou tem que faz-lo para

    defender os interesses dos participantes. So de um desenvolvimento

    somente a monopolizao do emprego legtimo de violncia pela associao

    territorial poltica e o estabelecimento de uma relao associativa racional

    que faz dela um regime com carter de instituio (...). Aquilo que

    atualmente consideramos as funes fundamentais do Estado - o

    estabelecimento do direito legtimo (legislao), a proteo da segurana

    pessoal e da ordem pblica (polcia), a proteo dos direitos adquiridos

    (justia) (WEBER, 1999:157-158).

    Por fim o Estado define-se como uma base estrutural e poltico que exigi, com xito, o

    monoplio do constrangimento fsico legtimo. A esse carter especfico do Estado,

    acrescentam-se outros traos, embora de um lado, estabelecida uma racionalizao do

  • 14

    Direito com as conseqncias que so a especializao dos poderes legislativa e judiciria,

    bem como a instituio de uma polcia encarregada de proteger a segurana dos indivduos e

    de assegurar a ordem pblica; do outro lado, se tem uma administrao racional baseada em

    regulamentos explcitos que lhe permitem intervir nos domnios os mais diversos, desde a

    educao at a sade, a economia e mesmo a cultura.

    Dessa forma, interessante observamos que para Weber existem dois elementos

    essenciais que constituem o Estado: a autoridade e a legitimidade. Desses dois elementos

    Weber apresenta trs tipos puros de dominao legtima, cada um deles gerando diferentes

    categorias de autoridade. Weber observa a existncia de trs tipos puros de dominao: legal,

    carismtica e tradicional. No comeo das relaes sociais, moldadas pelas lutas, Max Weber

    percebe de fato a dominao estar assentada em uma verdadeira constelao de interesses,

    monoplios econmicos, dominao estabelecida na autoridade, ou seja, o poder de dar

    ordens, por isso ele acrescenta a cada tipo de atividade tradicional, afetiva ou racional um tipo

    de dominao particular. Ele apresenta trs tipos puros de dominao legtima, cada um deles

    gerando diferentes categorias de autoridade. O domnio tradicional tem por base a crena na

    santidade das tradies em vigor e na legitimidade dos que so chamados ao poder em virtude

    do costume. A autoridade no pertence a um superior escolhido pelos habitantes do pas, mas

    sim a um homem que chamado ao poder em virtude de um costume. Weber entende por

    carisma a qualidade inslita de uma pessoa que parece dar provas de um poder sobrenatural,

    sobre-humano ou pelo menos desusado, de sorte que ela aparece como um ser providencial,

    exemplar, ou fora do comum. , por essa razo, agrupa em torno de si discpulos ou partidrios.

    Ela assenta sobre as crenas transmitidas por profetas, sobre o reconhecimento que

    pessoalmente alcanam os heris durante as guerras e revolues, convertendo a f.

    Agora, o domnio racional legal, tpico do Estado Moderno, tem por fundamento a

    crena na validade dos regulamentos estabelecidos racionalmente e na legitimidade dos chefes

    designados nos temos da lei. Neste sentido, todo direito, seja ele estabelecido por conveno

    ou por outorga, vale em virtude de um procedimento racional. O conjunto das regras de

    direito constitui um mundo abstrato de prescries tcnicas ou de normas, em que compete

    Justia a aplicao das regras gerais aos casos particulares, enquanto a administrao tem por

    objeto proteger os interesses nos limites das regras de direito, graas a rgos institudos para

    tal fim (Maliska, 2006:22-24).

    O processo de racionalizao do direito reflete no sistema de justia criminal que atua

    fortemente com base a uma racionalizao do direito penal, isso nos faz questionar sobre o

  • 15

    Estado na sua capacidade de responder as demandas de ordem e os desafios em controlar a

    criminalidades violentam principalmente os direitos humanos.

    2.2 Poder e disciplina na sociedade moderna

    A execuo pblica vista como uma fornalha em que se acende a violncia

    (Foucault,1987).

    Analisando o histrico do poder sobre o corpo, muita mudana obteve, pois, j no se

    faz como antigamente no sculo XIII, que tinha como representao ao corpo supliciado. A

    pena ou o castigo daqueles que no agiam de acordo com as normas do soberano eram

    executados em praa pblica. Isso mostrava que os suplcios eram mais uma forma de

    coroao do soberano, descartando toda e qualquer possibilidade de se fazer justia, mas com

    o desenvolvimento da sociedade isso deixou de existir totalmente entre sculo XIX. Ento,

    no mais se focalizava no suplcio como demonstrao espetacular de sofrimento.

    O interessante que o "crime" apresentado e voltado contra o corpo totalmente

    visvel do "criminoso", ilustra a violncia e a criminalidade j nesse perodo onde apresentava

    o "corpo" do condenado o "local" de aplicao da vingana do "soberano", o ponto na qual se

    "manifestava o poder", mostrando tambm a superioridade daquele que tinha o poder

    (soberano) (FOUCAULT, 1987:32).

    Esse poder, ou seja, o poder-saber, para entender a sua real finalidade tinha recordado

    da fala do palestrante3 que diz: "Quando eu posso mais saber mais poder, pois o poder

    corresponde o saber", mas no por ai que Foucault procurou analisar, e sim, com as

    pequenas "microfsica do poder" ressalta sobre o poder disciplinador, so os castigos agora

    como trabalhos forados, priso e disciplina prevenindo a liberdade, mas tem que funcionar

    com a funo punitiva referentes ao corpo. Nesse caso nunca deixou de existir a punio

    voltada ao corpo. Sendo assim a "reduo alimentar, privao sexual, expiao fsica,

    masmorra. Na realidade, a priso, nos seus dispositivos mais explcitos, sempre aplicou certas

    medidas de sofrimento fsico". A pena se desintegra totalmente de um complemento de dor

    fsica. Permanece, ento, um fundo "suplicante" que parece nos modernos mecanismos da

    justia criminal e que ainda no esta inteiramente sob controle (Idem, p.22).

    Quando analisamos na sociedade brasileira sobre as prises desde j questionamos

    ser que as atividades nas prises esto sendo de fato disciplinador? Capazes de encontrar

    3 Palestra no Frum Permanente de Direitos Humanos da ESMAM-2012. Com palestrante Edson Damas da

    Silveira sobre, Multiculturalismo e Direitos Humanos Universais.

  • 16

    solues por esse mecanismo, pois o que tem se visto em noticirios, televiso, sobre as

    prises que as grandes maiorias dos presdios esto totalmente lotadas. Foucault revela sua

    anlise que todas as formas de represso, que so mltiplas, se totalizam facilmente do ponto

    de vista do poder, mas as pessoas s percebem as realidades prximas, tais como escola,

    prises e etc. Mas o que poder, segundo Foucault, so coisas enigmticas, visvel e invisvel

    ao mesmo tempo, ento o poder e difuso, mas ha todo um investimento de desejo de poder.

    O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o

    desarticula e o recompe. Uma "anatomia poltica, que tambm igualmente uma "mecnica de poder", est nascendo; ela define como se

    pode ter domnio sobre o corpo dos outros, no simplesmente para que

    faam o que se quer, mas para que operem como se quer, segundo a rapidez

    e a eficcia que se determina (FOUCAULT, 1987:119).

    Quando observamos o objetivo de se disciplinar o corpo em Foucault, tratando dos

    chamados corpos dceis. A disciplina rgida sobre o corpo tem por finalidade fabricar

    indivduos dceis e submissos aos sistemas, e ao mesmo tempo, com facilidade de oferecer

    por meio desse individuo uma mo-de-obra de qualidade que ajude o desenvolvimento

    econmico da sociedade. Embora esse mecanismo disciplinador de fato no esta funcionando

    na sociedade brasileira, pois se tivesse trazendo resultados no teriam tanto presos. A prpria

    disciplina tem seu ambiente nico e definido ao produzir indivduos obedientes ao poder do

    Estado, garantindo o equilbrio e a ordem.

    O poder e a disciplina sobre o corpo facilitam o funcionamento de instituies e

    grupos sociais. Nisso, Foucault (1987) nos revela que o corpo passa a ser apreciado como um

    objeto do controle disciplinar. E que o "espao determinado" ser causador para a formao

    de uma sociedade disciplinar. E outro aspecto que autor diz, sobre a nova concepo de

    tempo e a sua organizao, ou seja, controlador.

    Ento, as disciplinas implicam no controle das atividades dos indivduos,

    principalmente coordenadas quanto a horrios, ao conjunto dos demais "movimentos

    corporais" e aos objetos a serem trabalhados, visando a obter uma utilizao de todas as

    atividades ao longo do tempo. O poder disciplinar tem com essencial o adestramento dos

    indivduos. assim, o poder disciplinador usara alguns mecanismos como: o "olhar

    hierrquico", a sano normalizadora" e o "exame (Ibidem).

    O exame est no centro dos processos que constituem o individuo como

    efeito objeto de saber. ele que, combinando vigilncia hierrquica e sano

    normalizadora, realiza as grandes funes disciplinares de repartio e

    classificao, de extrao mxima das forcas e do tempo, de acumulao

    gentica contnua de composies tima das aptides (FOUCAULT,

    1987:160)

  • 17

    A vigilncia hierrquica convence, por meio das analises do "olhar", efeitos de poder:

    o indivduo que est sendo adestrado deve pressentir-se permanentemente "vigiado". A

    sano normalizadora est relacionada em implicar uma "micropenalidade" do tempo, da

    atividade, tendo que visualizar os comportamentos desviantes. O exame, em sua finalidade,

    mostra uma tcnica de controle normalizadora que "qualificar, classificar e punir" onde os

    indivduos so objetos do poder disciplinador. E que analisa as praticas penais sendo como

    tecnologias de poder. Com essa nova economia do poder o sistema carcerrio, que seu

    instrumento de base, encareceu uma nova forma de lei: um misto de legalidade e natureza,

    de prescrio e constituio, a norma (FOUCAULT, 1987:251).

    Agora na compreenso sobre o papel que a priso passa a desempenhar na penalidade

    moderna, embora esteja na suavizao das penas. Pois se tornou a pena, no mais voltada para

    o suplcio ou o castigo, mas para a disciplina do corpo e da alma.

    Michel Foucault tratou as transformaes dessas prticas penais exclusivamente na

    Frana, na poca clssica ao sculo XIX, que definia no novo processo um "poder

    disciplinador", por meio desses dois tipos de pena, marcando a substituio do horror dos

    suplcios do corpo pelo tdio da priso inteiramente lotada.

    O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas os indivduos no s

    circulam, mas esto sempre em posies de exercer este poder e de sofre sua

    ao; nunca o alvo inerte ou concedido de poder, so sempre centros de

    transmisso (FOUCAULT, 1987:183).

    A sua preocupao maior no com a gnese das instituies de poder, mas sim em

    saber como as instituies e redes de poder puderam se formar num dado momento histrico.

    Em seus textos, Foucault observa que os seus trabalhos orientaram-se sobre trs modos de

    objetivao que transformam os humanos em sujeitosa saber: a formao do sujeito enquanto

    objeto de saberes; por exemplo, a objetivao do sujeito falante em gramtica geral, em

    filologia e em lingstica, do sujeito produtivo em anlise econmica e do sujeito vivo em

    biologia; a objetivao do sujeito em prticas divisrias, por exemplo, a diviso do louco e do

    so, do criminoso e do homem de bem, etc. A transformao do ser humano em sujeito. O

    primeiro modo de objetivao refere-se s pesquisas relativas s arqueologias do saber. E o

    segundo refere se s pesquisas denominadas genealogias do poder. O terceiro modo trata das

    suas pesquisas nos ltimos volumes da Histria da Sexualidade. Os trabalhos de Foucault so,

    pois, unidos pela preocupao acerca da constituio do sujeito.

  • 18

    Nesse sentido, o sistema de justia criminal e sua relao de punio mostram um

    aprofundamento desses direto penais e como que as prticas punitivas tm a revelar sobre o

    sujeito e com a prpria sociedade. De acordo com a teoria de Foucault, esta forma de poder

    nasce a partir de uma nova concepo da sociedade com a queda do chamado poder soberano

    predominante nos regimes absolutistas da Europa. A nova sociedade v o poder disciplinar

    como a forma mais eficaz de garantir a ordem, substituindo os suplcios e espetculos de

    execuo pblica. Ou seja, por meio do sistema de justia criminal, se pode obter a ordem

    social de uma forma, mais digna e humana.

    2.3 A criminalizao dos comportamentos sociais e a emergncia do Estado repressivo

    Loc Wacquant (2003), buscou aborda sobre o controle social, principalmente o do

    "Estado repressivo. Ao examinar a orientao de represso ao crime que resultou naquilo que

    o livro chama de "Estado penal". A definio da prpria violncia a ser combatida parte

    essencial da formulao da estratgia para combat-la. Em uma analise mais detalhista,

    segundo o Palestrante Jovacy Peter Filho4 a duas formas de o controle social, o controle social

    formal que esta estabelecida (inclui o Estado, poltica e economia) e o controle informal

    (inclui a igreja e famlia).

    O que problematiza essa mudana de estado repressivo esse grande processo de

    mudana na criminalidade e da violncia que identifica como a formao do Estado de

    controle social repressivo. Ou seja, um estado penal que surgi em prejuzo do estado

    providencia. Para ele, o desinvestimento social implica no superinvestimento carcerrio,

    pois este representaria o nico instrumento capaz de fazer frente s atribulaes suscitadas

    pelo desmantelamento do Estado social e pela generalizao da insegurana material.

    [...] o gueto viu-se ligado ao sistema carcerrio por uma tripla relao de equivalncia funcional, de homologia estrutural e de sincretismo cultural, transformando-se gueto e priso numa espcie de continuum como destino

    da populao negra e jovem (WACQUANT, 2003:13).

    O autor relata o mecanismo de criminalizao da misria, desse caso, os Estados

    Unidos passou por essa situao. Observando a descriminao, o racismo e a violncia

    urbana. Uns dos grandes objetivos da obra de Wacquant sobre Punir os Pobres (2003) poder

    servir de referncia onde quer que se apresentem discusses acerca de polticas que tomem

    4 Palestra no Frum Permanente de Direitos Humanos da ESMAM-2012. Com palestrante Jovacy Peter Filho

    sobre, Tenses em torno do novo regime jurdico da criminalidade organizada: um dilogo entre a criminologia e

    a dogmtica.

  • 19

    como modelo o desenvolvimento do Estado penal americanas. No entanto, As Prises da

    Misria estende-se, sobretudo, a um debate europeu. E a Gr-Bretanha identificada como a

    grande porta de entrada da estratgia policial-penal de excluso dos "indesejveis" na Europa

    Ocidental. O enfraquecimento do Estado social corresponde o aumento excessivo distpica do

    Estado penal: a misria e a extino de um tm como contrapartida direta e necessria a

    grandeza e a prosperidade insolente do outro. Numa anlise centrada na sociedade norte

    americano.

    A priso uma instituio fora -da - lei: devendo dar remdio insegurana e precariedade, ela no faz seno concentr-las e intensific-las, mas na

    medida em que as torna invisveis, nada mais lhe exigido (WACQUANT, 2003:15).

    O aumento da violncia estatal torna-se o remdio sugerido ao invs da resoluo dos

    problemas sociais gerados pelo prprio neoliberalismo. "As caractersticas do estado

    americano, na descentralizao e fragmentao do campo burocrtico, na diviso estanque

    entre a social insurance e o maldito welfare" [...] e residual [...] facilitando historicamente o

    declnio do estado caritativo" (WACQUANT, 2003:9). Nisso o autor buscou abordar, que

    embora que o neoliberalismo mostrasse idias polticas e econmicas capitalistas que defende

    a no participao do estado na economia, mas a realidade desse surgimento do liberalismo

    caracterizou por uma economia desregulada, especulativa e de incertezas com recolhimento e

    diminuio do Estado social para desenvolvimento do Estado penal, isso procedeu para

    justificar e controlar as desordens sociais. Demonstrando que, uma poltica social e

    econmica que promove a excluso de pessoas no inserida no mercado de consumo,

    refletindo assim, o aumento de criminalidade e do encarceramento dos que esto margem

    dos bens de produto.

    Se por um lado aumentou a desigualdade e a insegurana econmica nas

    ultimas dcadas, o Estado diminuiu paulatinamente suas intervenes

    sociais. A guerra contra a pobreza substituda por uma guerra contra os

    pobres (WACQUANT, 2003:9).

    A misso histrica do sistema penal dirigida "regulao da misria e ao

    armazenamento dos refugos do mercado". Atravs do modelo norte-americano, ele analisa a

    priso como substituto do gueto, bem como a relao de simbiose entre as duas instituies: o

    gueto como priso social e a priso como gueto judicirio, processo contemporneo do

    capitalismo tardio, na passagem do Estado de Bem Estar Social ao Estado Penal, num

    processo de criminalizao da pobreza. Trata-se de substituir a guerra contra a pobreza pela

    guerra entre os pobres. Os servios sociais vo sendo transformados em instrumentos de

  • 20

    vigilncia e controle das novas classes perigosas. As Prises da Misria so engajadas por

    apresentar-se clara e abertamente como uma interveno em um debate poltico. E esse um

    grande mrito seu, porque com isso trata tal debate como uma questo que vai muito alm da

    escolha tcnica da melhor estratgia para a resoluo de um problema social dado como

    evidente.

    O que se percebe, que o Estado sob a globalizao chamado a abandonar o seu

    perfil de welfare state para assumir uma funo meramente policial, do capital, garantidor das

    atividades de acumulao de "capital". Que acompanhada as mudanas considerveis no

    perfil do Estado. O controle formal das relaes sociais, visando assegurar o monoplio

    legtimo do uso da violncia fsica. Deste modo, o direito penal, tido como aparelho

    institucional da justia e do Estado, o principal agente definidor do crime. Onde Wacquant

    anlise e evidencia-seque a emergncia do chamado Estado penal, em detrimento do Estado

    social, situa-se no contexto da crise do capital, a qual afeta todas as instncias da vida social

    (WACQUANT, 2003:27).

    Outro autor que buscou, desta vez, compreender abordagem sobre o que de fato o

    crime, buscando analisar o surgimento do crime, quem so os criminosos e quais so os

    tipos de penas que o criminoso leva na sua condenao e em seguida verificar

    problematicamente as implicaes sociais, econmicas e polticas da forma de punio na

    sociedade. Conforme o autor, o crime sem dvida um comportamento, mas um

    comportamento valorado pelo direito, que ameaa seu autor de uma pena, ou seja: um

    comportamento tipificado (p.19). O interessante disso tudo que outro autor que

    compreendeu o problema sobre o crime foi o socilogo Emile Durkheim (1895), citado pelo

    Philippe Robert (2007):

    Falar de um comportamento penalizado nos faria retornar ao ponto de

    partida indicado por mile Durkheim (1895), quando definiu o crime como

    aquilo que sancionvel: no se pode sempre contar com a pena, longe

    disso. Dispe-se, ento, de um trao tpico comum a todos os crimes e a eles

    apenas (p. 24).

    Na sociologia de Durkheim, podemos observar que autor buscou uma anlise

    especfica, sobre a concepo de crime e sua conseqncia por meio as penas. Durkheim no

    dava os crimes um carter patolgico, mas sim os qualificava como fatos sociais, dentro da

    normalidade sade social principalmente em virtude de sua generalidade. Durkheim

    trata tal concepo de normalidade como resultado da aplicao do seu mtodo, para anlise

    dos fatos sociais, aos crimes. Verifica, portanto, que o crime, definido como conjunto de

    aes de um indivduo que valorado pelo direito e por meio desse direito percebe

  • 21

    advertncia ao seu autor surgindo uma pena determinado ao criminoso. Ento se

    compreende que direito penal caracteriza, ou melhor, dizendo, tipifica determinados

    comportamentos, considerada incompatvel com as normas de uma sociedade estabelecida, e

    essa ao do direito penal.

    Durkheim parte da premissa de que o crime normal porque uma sociedade isenta

    dele impossvel e j que este constitui uma ofensa a certos sentimentos coletivos, para

    que deixasse de existir seria necessrio que os sentimentos que chocam se encontrassem em

    todas as conscincias individuais e possussem a fora necessria para conterem os

    sentimentos contrrios, opostos, ao ato criminoso. Mas ainda, Durkheim afirma que o

    crime no desapareceria, mas apenas mudaria de forma; seria a prpria causa que assim

    eliminava as origens da criminalidade, que viria a gerar as novas fontes desta. (FABRETTI,

    2007:15)

    O sistema penal posiciona-se de forma central no Estado: ele manifesta a

    pretenso de monopolizar a fora no interior dum territrio, punindo e

    negando a legitimidade a qualquer manifestao de violncia que no

    controle (ROBERT, 2007:52).

    Nesse caso, o sistema de justia criminal exerce uma grande responsabilidade no

    enfrentamento da violncia e do crime, tendo por tarefa controlar as relaes sociais, assim

    como garantir o monoplio legitimo contra a violncia fsica. O Estado, portanto, tem o

    exerccio legtimo de controlar a violncia e por meio dele, o legitimo direito de punir. A

    punio ento , compreendida como uma forma de produo de justia referente a diversos

    crimes que no respeita a dignidade humana, inclusive a prpria vida.

    O estabelecimento duma economia penal pressupe que o poder pblico

    monopolize e em fora e legitimidade, recursos suficientes para realizar uma

    verdadeira demonstrao de fora: a consagrao da relevncia pblica dos

    atentados privados, a transformao dos delitos civis em delitos penais

    (ROBERT, 2007:28).

    A utilizao do poder pblico e de fazer com que a vtima ou o ofensivo no produza

    justia com suas prprias mos e sim contesta com a deciso judicial, utilizando instrumento

    punitivo para manter a ordem e contestando qualquer manifestao de violncia. Por tanto, o

    direito penal, visualizado desde modo como um aparelho institucional da justia, e

    principalmente revelador do crime. Para a Sociologia, o crime constitui um tema do qual

    difcil se furtar (). Sua notvel atualidade na viragem do sc. XX para o sc. XXI produz

    duas conseqncias para a pesquisa: uma positiva, outra negativa. A premente necessidade

    de conhecimento tem facilitado a criao de ramos de ensino, assim como a constituio

  • 22

    dum mercado permanente da formao profissional do desenvolvimento da pesquisa.

    Contudo, numa situao to apaixonante, o peso das modas e dos lugares-comuns se faz

    sentir sobre tudo o que diz respeito ao crime (ROBERT, 2007:9). A Sociologia do crime no

    pode evitar o desvio pelo direito, resta indagar, por outro lado, se ela poder ressalvar a

    autonomia dos atores sociais [] sem os engolir num juridicismo que reduza a anlise da

    ao social aquela das normas (Idem, p. 22).

    (...). No se pode confiar ao direito liberdade de definir o objeto de

    estudos. Pode-se observar que o crime um comportamento previsto pelo

    direito, consagrando-se anlise da ao do direito. O Estudo do crime um

    problema da Sociologia do Direito, e da Sociologia dum direito particular, o

    Direito Penal (Ibidem).

    Ento precisamos compreender o funcionamento das institucionais punitivas. Para

    termos resposta, sobre o fato, de que o instrumento punitivo produz beneficio sociais. Diante

    disso ser que esta tendo um controle real da criminalidade e da violncia?

    2.4 Beccaria e o Direito de Punir do Estado.

    Nesse tpico, analisaremos como o autor, Cesare Beccaria (1794) buscou influenciar a

    reformulao do direito criminal, buscando estabelece uma humanizao da pena, e com esse

    sentido podemos tambm compreender o surgimento do Direito de Punir do Estado, por meio

    dos comentrios aos trechos do Livro Dos Delitos e das Penas. Na sua obra o autor buscou

    desenvolver por meio de idias iluministas. Diante disso, o seu principal objeto de

    investigao os delitos e as aplicaes das penas. Pois o ser humano procurou estar ligado

    ao conjunto de normas reguladoras da sociedade, por causas das suas necessidades de

    sobreviver em sociedade, diante da qual aquele que no se enquadra em seus parmetros e

    no participa de sua manuteno, cumprindo seu papel social, marginalizado e elencado

    para fora do convvio com a mesma, seja por cumprir uma sano jurdica, ou atravs da

    sano velada, da excluso social. (SILVA, 2010:5)

    Pois diante disso o prprio homem criou um mecanismo que se tornou capaz de

    obrigar os outros a cumprir o seu papel na sociedade, no ficando satisfeito se aquele que no

    o fizer saia impune, pois isto deixaria margem ocorrncia de novos delitos e que a sociedade

    precisaria tomar certas atitudes no controle da ordem.

    que, para no ser um ato de violncia contra o cidado, a pena deve ser de

    modo essencial, pblica, pronta, necessria, a menor das penas aplicvel nas

    circunstncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei

    (BECARIA, 2000:107).

  • 23

    No passado os julgamentos eram suplcios, no era favorvel ao ser humano,

    mostrava limites entre a justia divina e a justia humana, no caso, entre os pecados e os

    delitos; tomando como por base do direito de punir a utilidade social. Tipos de punio como

    a vingana privada e a justia pelas mos prprias, no so justia correta do nosso

    ordenamento jurdico, de tal modo que o que deve prevalecer o Estado Democrtico de

    Direito, garantidor dos direitos humanos, e a legitimidade do Estado, o qual exercer o direito

    de punir, ou seja, aplicar as penas, em nome da sociedade, a qual se constituiu por tanto ,com

    base em um Contrato Social da sociedade.

    O autor [Becaria,1794] alerta sobre a importncia de que as penas sejam

    proporcionais aos delitos que as mesmas pretendem punir, j que em sua

    poca as penas eram extremamente cruis e desproporcionais. [...] o impacto

    que o crime provoca deve ser medido de acordo com a ameaa que a conduta

    produz sociedade e aos seus valores basilares, estabelecendo-se penas mais

    rigorosas para condutas que oferecem uma maior ameaa ao bem-pblico e

    penas menos rigorosas para as de menor potencial ofensivo (SILVA,

    2011:1).

    O autor buscou contribuir para atuao da justia de sua poca, empreendendo um

    estudo crtico das leis penais vigentes, para ele o Antigo Regime, elas tendiam sempre a ser

    as mais cruis possveis. Ento Becaria comea por estabelecer as bases do direito penal e

    processual, discorrendo, de forma original, sobre os elevados categoria dos princpios de

    direito. Ele chamou ainda a ateno para o fato de que a lei deve ser aplicada, e no

    interpretada pelo juiz, principalmente proibir as penas cruis e degradantes. Pois diante disso,

    o Estado em seu Art. 144, se dispe: A segurana pblica, dever do Estado, direito e

    responsabilidade de todos, exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade

    das pessoas e do patrimnio, [...] 5. Ento o Estado indubitavelmente o nico titular do

    direito de punir, e identificando, por tanto, que o direito de punir no s um direito, mas

    tambm um dever, o qual s pode realizar-se atravs do processo, pois contem dentro da

    constituio Federal de 88.

    O perfil de sua poca trouxe a Becaria um pouco da histria do direito, fazendo uma

    aluso crtica a forma de punio, principal compilao do direito romano, publicado pelo

    imperador Justiniano.

    Nos captulos II a IV, o Marqus de Beccaria vem investigar a origem das penas e do direito de punir do Estado, bem como criticar a m

    interpretao das leis em seu tempo. Com o intuito de investigar a origem do

    fundamento do direito de punir do Estado, o autor penetra na alma humana a

    fim de estabelecer o motivo que reside no ntimo de cada um e que o faz

    5 Fonte: http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10673132/artigo-144-da-constituicao-federal-de-1988,

    pesquisado no dia 15/11/13. Disponvel em:

  • 24

    abrir mo de um quinho de sua liberdade para colaborar com a manuteno

    da Ordem Social. [...] a adeso de cada indivduo ao Contrato Social deve-se a uma atitude poltica alimentada pelo instinto de sobrevivncia em

    sociedade, [...] alimentada pela Solidariedade Social (SILVA, 2011:5)

    O aumento nas aplicaes das penas ou considerar a mesma pena a dois delitos de

    caractersticas diferentes, traz resultado diferentes na reparao desses delinqentes. Estado

    no deveria apenas punir, mas ao mesmo tempo proporcionar um corpo de leis no qual seus

    efeitos tambm servissem como forma de preveno dos delitos (Idem, p.2).

    Ento segundo o auto, para fixas as penas somente por meio das leis, pois se no for

    dessa maneira esta se contradizendo ou negando a existncia de um Estado, que tem a voz da

    maioria, mediante do Contrato Social. Embora muitos delinqentes sejam uma ameaa a

    sociedade, ao bem comum e ordem social, seus julgamentos e sua sentena devem ser

    medidos de acordo com a proporcionalidade desse grau de ameaa, estabelecendo diviso de

    penas sobre quem mais feri a dignidade humana, ou seja, que ameaa a sociedade. E

    proporcionando penas menores diante daqueles [condutas] que oferecem menores risco a

    sociedade. Elegendo assim a proporcionalidade entre os delitos e as penas extremamente

    necessria para a manuteno da Ordem Social (Idem, p.6).

    Beccaria prope que para a determinao da prtica de crime por um

    indivduo, necessria a existncia de leis escritas e fixas, ou seja, que no

    possam ser mudadas por convenincia dos envolvidos, devendo ser

    elaboradas por homens livres, de maneira uniforme em cada territrio, a fim

    de que no ocorram interpretaes diferentes espalhadas ao longo do mesmo,

    evitando-se o arbtrio da minoria privilegiada. Dessa forma, o magistrado

    reservar-se- apenas a tarefa de determinar se o ato (conduta) praticado pelo

    acusado enquadra-se, molda-se ao comportamento que a lei prev para que

    se configure a prtica do delito (SILVIA, 2010:9).

    Nesse caso o magistrado representa um funcionrio ou oficial civil investido de

    autoridade jurisdicional (membros dos tribunais e das cortes etc.), administrativa (prefeito,

    subprefeito etc.) ou poltica (presidente, governador etc.). Designao geral dos juzes,

    desembargadores e ministros.6

    A importncia de compreender de fato, como Estado busca punir compreender a

    realidade de como o Estado vem enfrentado a criminalidade e quais so os mecanismos de

    atuao para combat-la, nesse caso, com instrumento da ao penal. Ento sem duvida

    Becaria um autor que contribuiu para a formao do direito penal, sendo importante para a

    histria de nossas sociedades, servindo de referncia para muitos estudiosos preocupados com

    essa temtica dos direitos.

    6 Dicionrio online de portugus. Disponvel, http://www.dicio.com.br/magistrado/,acesso no dia 15/11/13

  • 25

    3 DESENVOLVIMENTO

    3.1 O sistema de justia criminal brasileiro

    A importncia de compreender o sistema de justia criminal brasileiro tem sindo

    questionado por tericos como Sergio Adorno (2002), onde percebe como so poucas as

    investigaes sobre mbito desse sistema de justia criminal principalmente no que se diz

    respeito s presses sociais, inclusive das mudanas por investimentos promovidos pelos

    governos estaduais e federais e na renovao das diretrizes institucionais onde so

    responsveis pelo "controle da ordem pblica", e da justia (ADORNO, 2002:4). Nesse caso,

    buscaremos analisar como esta organizada o Sistema de Justia Criminal, bem como os

    paradigmas pelos quais se pode abordar o tema da criminalidade e da violncia.

    Desde j, analisaremos com base em pesquisas sobre os seus resultados e aes, nos

    estudos realizados por tcnicos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), no ano

    de 2008, que trazem algumas perspectivas de anlise de extrema importncia. Por exemplo, o

    sistema de justia criminal hoje constitudo por instituies que atua para manter a

    organizao em trs frentes principais de atuao: segurana pblica, justia criminal e

    execuo penal. Ou seja, abrange a atuao do poder pblico desde a preveno das infraes

    penais at a aplicao de penas aos infratores. (Sistema de justia criminal no Brasil: quadro

    institucional um diagnstico de sua atuao, 2008).

    Um trao caracterstico de extrema importncia na formao social brasileira, a

    permanncia de grandes contrastes e desigualdades sociais nas diferentes etapas de

    modernizao do pas, cria comparao entre pocas distantes e possibilita o encontro de

    vestgios de antigos modelos de opresso e violncia nas relaes sociais. Com isso

    observamos e questionamos, ser que o sistema de justia criminal brasileiro tem mostrado

    condies necessrias na ao no combate ou no controle da criminalidade violenta? Pois para

    combater a violncia e at mesmo a criminalizao da pobreza deve ser uma meta dos

    governantes que procurem uma soluo eficiente e inteligente para a segurana pblica,

    buscando as causas dos crimes e recusando-se a cair na armadilha da idolatria das penas

    privativas de liberdade.

    Na estrutura do sistema de segurana pblica brasileira organiza-se com base em

    rgos do Poder Executivo Federal, estadual e municipal. A Constituio Federal (CF) de

    1988 traz as diretrizes gerais para o sistema, prevendo o papel dos rgos policiais e dos entes

  • 26

    federativos em sua organizao. No art.144, a CF define a segurana pblica como dever do

    Estado e responsabilidade de todos. Define, ainda, que os rgos responsveis por sua

    manuteno so a Polcia Federal as Polcias Rodovirias e Ferroviria Federais; as Polcias

    Civis; as Polcias Militares; e os Corpos de Bombeiros Militares (Helder Ferreira, Natlia de

    Oliveira Fontoura, 2008:9).

    O IPEA (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada) tem analisado os rgos como

    federais de segurana pblica onde no mbito do governo federal, a segurana pblica

    assunto da rea de competncia do Ministrio da Justia, no qual se encontram vinculados os

    seguintes rgos: Secretaria Nacional de Segurana Pblica (Senasp), Departamento de

    Polcia Federal, e Departamento de Polcia Rodoviria Federal. Cabe mencionar, ainda, a

    existncia de conselhos ligados ao Ministrio da Justia, tais como o Conselho Nacional de

    Segurana Pblica, que tambm exercem papel importante para as definies e avaliaes da

    poltica. Os rgos estaduais de segurana pblica. Onde a Constituio Federal define o

    papel das Polcias Civil e Militar, que se subordinam ao Poder Executivo estadual. A Polcia

    Militar deve realizar o policiamento ostensivo e garantir a preservao da ordem pblica. A

    Polcia Civil tem como principal atribuio a investigao de crimes. Pode-se concluir que a

    organizao dual das foras policiais no Brasil se explica pela seguinte diviso: a ao da

    Polcia Militar se d enquanto o crime ocorre ou para evit-lo, ao passo que a ao da Polcia

    Civil se d prioritariamente aps a ocorrncia do crime.

    Agora na Constituio Federal est estabelecida uma srie de direitos individuais e

    limites para o funcionamento do sistema de justia criminal. So eles, entre outros: 1) Direitos

    individuais e limites gerais: todos so iguais perante a lei; so inviolveis os direitos vida,

    liberdade, igualdade, segurana e propriedade; proibida a tortura e o tratamento

    desumano ou degradante; so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

    pessoas; 2) Direitos individuais e limites para ao e abordagem policial: a casa asilo

    inviolvel do indivduo; ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e

    fundamentada de autoridade judiciria competente; a priso de qualquer pessoa e o local onde

    se encontre sero comunicados imediatamente ao juiz competente e famlia do preso; 3)

    Direitos individuais e limites no processo penal: nenhuma pena passar da pessoa do

    condenado; a lei regular a individualizao da pena; e 4) Direitos individuais e limites para o

    sistema penal: a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza

    do delito, a idade e o sexo do apenado; s presidirias sero asseguradas condies para que

    possam permanecer com seus filhos durante o perodo de amamentao (Helder Ferreira,

    Natlia de Oliveira Fontoura, 2008).

  • 27

    Conforme relatrio (IPEA) h trs nveis de preveno na anlise da capacidade

    preventiva desse sistema: 1) Preveno primria: estratgias dirigidas ao ambiente

    socioeconmico e a fatores que possam interferir nas taxas de violncia; 2) Preveno

    Secundria: estratgias que visam atingir pessoas mais propensas ao cometimento de crimes e

    mais suscetveis a serem vtimas; 3) Preveno terciria: estratgias direcionadas a evitar a

    reincidncia e promover tratamento, reabilitao e reintegrao de indivduos entre "autores

    ou vtimas" sociedade. Na preveno primria, o Sistema de Justia Criminal atua

    basicamente de trs maneiras. Primeiro, o policiamento ostensivo, parte do pressuposto que a

    presena policial aumenta o risco do criminoso ser pego em flagrante e reduz a possibilidade

    de violncia e tumultos. Contudo, no possvel garantir a presena de policiais em todas as

    localidades e no h um mapeamento dos locais que podem contar com o policiamento ou

    ronda policial, nem sobre a qualidade desse servio. Outra forma primria de preveno est

    na implementao e no apoio a programas educativos, como os de preveno do uso de

    drogas, aplicados pelas Polcias militares estaduais, mas quanto a essas aes tambm no h

    pesquisas avaliativas sobre seus resultados. Por ltimo, h a capacidade de punio da Justia

    Criminal, que se encontra totalmente defasada pela impunidade. Se a punio dos crimes

    fosse total, o risco para o criminoso seria aproximado de 100%, a menos que o bnus obtido

    com o crime fosse considerado pelos delinqentes maior que o nus da pena (Helder Ferreira,

    Natlia de Oliveira Fontoura, 2008).

    Em uma viso mais abrangente, por exemplo, nas ltimas dcadas, houve um

    agravamento das estratgias punitivo do Estado em quase todos os pases ocidentais, notada

    na Inglaterra e nos Estados Unidos. Legislaes que por fim, nada mais expressam do que o

    desejo de vingana pelo antigo discurso da lei e da ordem. Sob o expresso da proteo

    ofertada aos cidados de bem, se oculta impotncia dos governantes em face da purificao

    de conflitos e tenses aos quais no est disposto responder seno atravs de uma justificativa

    retrica opinio pblica, criando assim, uma falsa idia de unidade diante de um inimigo

    interno personificado na figura do outro, selecionado entre os membros dos setores

    socialmente vulnerveis.

    Analisaram-se em outros pases, no caso, na Amrica Latina, a preocupao com a

    violncia criminal tambm se tornou uma obsesso coletiva e toma propores que, de to

    graves, lembram os tempos sombrios das ditaduras militares, quando a doutrina de segurana

    nacional legitimava a tortura e todas as demais formas de violao dos direitos humanos, em

    nome da razo de estado.

  • 28

    Entre o conjunto de reformas no funcionamento da mquina estatal,

    realizadas nos pases da Amrica Latina a partir do final dos anos 80, e que

    tiveram por objetivo tanto a reconstituio e modernizao de uma

    institucionalidade democrtica quanto adequao ao chamado "Consenso

    de Washington", no sentido de uma reduo da atividade estatal s tarefas

    essenciais de promoo do crescimento econmico e manuteno da ordem,

    uma das reas em que tais mudanas vm ocorrendo, de forma pontual,

    fragmentada e muitas vezes contraditria, a que diz respeito ao poder de

    punir do Estado: a administrao do controle penal, desde a tipificao de

    novos delitos at o funcionamento dos rgos policiais, passando pelos

    procedimentos dos rgos oficiais de administrao da justia e o sistema

    prisional (AZEVEDO, 2004:39-41).

    As denncias de tortura e violncia, altas taxas de reincidncia, superpopulao

    carcerria, poder exercido pelas faces criminosas e impunidade so elementos recorrentes

    do sistema. Acaba mostrando, em todas as esferas de administrao (federal, estadual e

    municipal), que o problema da segurana pblica tem sido colocado como uma das principais

    demandas preocupante da opinio pblica, muitas vezes amplificada por via da atuao dos

    meios de comunicao de massa. O sentimento de insegurana crescente, com o aumento da

    percepo pblica a respeito das diversas esferas da criminalidade, desde a economia do

    trfico na favela e a criminalidade urbana violenta at os centros dos sistemas poltico e

    financeiro, e at mesmo onde ocorre a lavagem de dinheiro e o desvio de recursos pblicos

    para o enriquecimento privado. Mas afinal o que realmente queremos do sistema? Claro que

    a reduo da criminalidade e da violncia, mas afinal o que realmente est acontecendo na

    rea da justia criminal para que esses objetivos sejam atingidos? Pois altos ndices de

    encarceramento e penas at mais severas certamente no ajudaram nem ajudaro os cidados

    brasileiro a caminhar no sentido de uma justia mais humana, tal fato servir, talvez, para

    satisfazer a aflio punitiva de parte da populao, mas ao mesmo tempo, gerar mais

    perversidade no sistema.

    No domnio das prises, esses fatos so indicativos de uma crise h tempos

    instalada no sistema de Justia criminal. Todas as imagens de degradao e

    de desumanizao, de debilitamento de uma vida cvica conduzida segundo

    princpios ticos reconhecidos e legtimos, parecem se concentrar em torno

    dessas estufas de modificar pessoas e comportamentos. As prises revelavam a face cruel de toda essa histria: os limites que se colocam na

    sociedade brasileira implementao de uma poltica de proteo dos

    direitos fundamentais da pessoa humana, nela includo o respeito s regras

    mnimas estipuladas pela ONU para tratamento de presos (ADORNO,

    2002:156).

    A primeira responsabilidade de um governo democrtico na rea de justia criminal

    garantir que todos tenham condies de acesso justia. No Brasil, onde a imensa maioria da

  • 29

    populao que acaba encarcerada no tem recursos para arcar com uma defesa privada, este

    princpio torna-se ainda mais relevante. Desde 2005 se verifica um crescimento de 35% nas

    taxas de encarceramento no Brasil, e atingimos praticamente meio milho de presos. Altos

    ndices de encarceramento e penas mais severas certamente no ajudaram nem ajudaro o

    Brasil a caminhar no sentido de uma justia mais humana. Tal fato servir, talvez, para

    satisfazer a nsia punitiva de parte da populao e gerar mais perversidade no sistema, j

    marcado pela seletividade e criminalizando diretamente os pobres. O processo penal resume-

    se como um caminho para a aplicao da pena, e a necessidade de proteger os indivduos

    contra os abusos do poder estatal. To importante como a pena a funo de proteo do

    Direito Penal com relao aos indivduos, por meio do princpio da reserva legal, da prpria

    essncia do tipo penal e da complexa teoria da tipicidade. O processo, como instrumento para

    a realizao do Direito Penal, deve realizar sua dupla funo: de um lado, tornar vivel a

    aplicao da pena, e de outro, servir como efetivo instrumento de garantia dos direitos e

    liberdades individuais, assegurando os indivduos contra os atos abusivos do Estado. Nesse

    sentido, o processo penal deve servir como instrumento de limitao da atividade estatal,

    estruturando-se de modo a garantir plena efetividade aos direitos individuais

    constitucionalmente previstos, como a presuno de inocncia, contraditrio e defesa.

    O direito penal estabiliza a confiana na validade da norma na medida em

    que transmite os valores do Estado de Direito de um direito penal vinculado

    aos princpios da dignidade humana [...] (GUNTHER, 2004:201)

    Nesse aspecto, o direito penal, amparado pelo sistema de justia criminal, ocupa

    posio de destaque quando se trata da punio. As respostas partem da estrutura de todo o

    sistema penal (Leis, Polcia, Ministrio Pblico, Justia e Priso) Percebendo tambm a crise

    do sistema de justia criminal na sociedade moderna, pois segundo o autor Adorno:

    A face visvel desta crise do sistema de justia criminal , sem dvida, a

    impunidade penal. Ao lado do sentimento coletivo, amplamente difundido

    entre cidados comuns, de que os crimes cresceram, e vem crescendo e se

    tornando cada vez mais violentos, h igualmente o sentimento de que os

    crimes no so punidos; ou, quando o so, no o so com o rigor de que seria

    esperado diante da gravidade dos crimes que tm maior repercusso na

    opinio pblica (ADORNO, 2002:50).

    Percebe- se entre os noticirios e jornais a lotao nos presdios, violncias, mortes a

    insegurana e a incerteza dentro da sociedade, diante a essa face de que os crimes aparentam

    no serem punidos, dentro do ordenamento jurdico. Ate mesmo no sculo XIX, observemos

    que a convenincia da viso durkeimiana de controle para os interesses liberais. Sob essa

    tica, o delito seria um enfrentamento direto entre indivduo e coletividade, e a punio teria,

  • 30

    portanto, a funo de educar e reeducar para assegurar a coeso social. Mas na realidade, tal

    serventia j no se sustenta. Embora o grande modelo disciplinar de Foucault (1987), que

    atribuiu punio um carter estratgico de dominao, assente no domnio da alma e na

    produo da docilidade e da domesticao, foi de certa forma, suplantado.

    Nessa fase de compreender o sistema de justia criminal brasileiro buscou- se fazer um

    quadro, basicamente um fluxograma do sistema de justia criminal brasileiro, um mecanismo

    para tornar mais claro o funcionamento e o modo como se organizam as principais

    instituies do sistema Criminal.

  • 31

    Quadro 1. Diagnstico do Sistema de Justia criminal 2008. Fonte: Pesquisa em Dados 2012.

    Adaptao do autor.

    3.2 O sistema de justia criminal no Amazonas.

    No ordenamento jurdico brasileiro composto por uma srie de micros-sistemas

    normativos, cada um, voltado para disciplinar determinada seara de atuao social. Assim

    temos os Direitos Civil, Empresarial e Trabalhista (regulam, em regra, as relaes privadas),

    bem como o Direito Constitucional, Administrativo, Tributrio, Previdencirio, Processual,

    Ambiental, dentre outros, que moldam as condutas sociais onde o interesse pblico estatal

    possui uma maior ateno em evitar o descumprimento de tais preceitos. Ao conjunto de

    normas impostas de represso pelo Estado com a finalidade de manter a paz social, definindo

    crimes e impondo sanes ou medidas de segurana, denomina-se Direito Penal.

    De acordo com documentaes do tribunal de Justia do Estado do Amazonas,

    podemos analisar a diviso na estrutura judiciria, pois ao poder Judicirio foi determinado

    um papel de extrema importncia de garantir a efetividade dos direitos fundamentais

    cristalizando pelo texto constitucional e de assegurar, por tanto, a ordem democrtica. Diante

    disso, a diviso judiciria facilita na correspondncia lotao de um juiz. Com muitos

    processos a melhor forma de corresponder todos os processos que so encaminhados ao

    sistema criminal, , por meio das divises constitudas em Varas. Cada Vara est sob a

    responsabilidade de um juiz titular. Nelas as distribuies dos processos judiciais no Tribunal

  • 32

    de Justia do Amazonas so automticas, sendo aleatria dentre os juzos competentes para o

    julgamento da ao, observada, sempre que estabelecida em norma prpria, a compensao

    entre aes de classes diversas em virtude de especializao do juzo. (Manaus, maro/2011,

    manual de rotina das varas criminal).

    Nesse caso, buscamos estruturar o funcionamento das varas criminais para a melhor

    forma de organizar os processos, no caso no Amazonas esto divididas por meio da Justia

    Estadual do Amazonas:

    Justia Estadual

    Varas criminais (comuns)

    1 Vente

    Vara Especializada em Crimes de Uso e Trfico de Entorpecentes (Vente) 2Vente

    1 Tribunal de Jri 3Vente

    Tribunal de jri (crimes contra vida) 2 Tribunal de Jri

    3 Tribunal de Jri

    Vara Especializada em Crimes de Trnsito

    Vara criminal contra idoso, adolescente e criana

    1. Vara Criminal, (exemplo, Incidncia penal: Art. 14 da lei n. 10.826/2003 - Porte Ilegal de

    Armas);

    2. Vara (exemplo, Criminal Incidncia penal: art. 157, 2, I e II do CPB - Roubo

    qualificado);

    3. Vara Criminal (exemplo, Incidncia penal: Art. 33 da Lei 11.343/06 - Trfico de Drogas);

    4. Vara Criminal (exemplo, Incidncia penal: art. 157, 2, I, II e V c/c art.288 do Cdigo

    Penal e art.244-B do Estatuto da Criana e do Adolescente - Roubo qualificado, formao de

    quadrilha e submeter criana ou adolescente prostituio ou explorao sexual);

    5. Vara Criminal (exemplo, Incidncia penal: Art. 171, caput, do CPB - Estelionato),

    6. Vara criminal (exemplo, Incidncia penal: Art. 157, 2, incisos I e II c/c art. 71, ambos do

    CPB - Roubo qualificado),

    7. Vara criminal (exemplo, Incidncia penal: Art. 157, 2, incisos I, II e V, do CPB. Roubo

    qualificado.),

    8. Vara Criminal (exemplo, Incidncia penal: Art. 157, 2, II do CPB - Roubo

    Qualificado.);

    9. Vara Criminal (exemplo, Incidncia penal: art. 157, 2, I e II c/c art. 14, todos do Cdigo

    Penal - Tentativa de Roubo),

  • 33

    10. Vara Criminal (exemplo, Incidncia penal: Art. 157, 2, I, II e V do CPB Roubo),

    11. Vara Criminal (exemplo, Incidncia penal: Art. 157, 2, I e II c/c art.71, todos do

    Cdigo Penal. Roubo Qualificado).7

    Todas as varas so encarregadas de inmeros processos, mas para que todas possam

    ser correspondidas, necessrio essas divises em varas. Com o objetivo de no ficar

    sobrecarregado a s uma vara, e por facilitar, acelerar as anlises processuais recorrente da

    sociedade. Dessa forma, as varas representam a rea de atuao definida de cada juiz. Nisso a

    organizao judiciria fixa a competncia de cada vara, enquanto nas comarcas menores,

    comum haver uma nica vara, que rene variados tipos de ao, em comarcas maiores h

    diviso das varas conforme a sua atribuio: vara cvel, vara criminal, vara de execuo fiscal,

    vara da Infncia e Juventude, etc. Para explicar essa diviso de varas, procuramos especificar

    melhor como esto distribudas as varas criminais, com um quadro feito durante o

    desenvolvimento da pesquisa de campo;

    Vente (drogas)

    Vente (drogas

    Quadro 2. Fonte: Pesquisa de campo na sede do Frum Henoch Reis - Tribunal de Justia do Amazonas, com a assistente judiciria Renata Alexandre Larrat em 14/10/13.

    Analisando o quadro das divises das varas criminais da justia Estadual, podemos

    constata que as varas que esto mais especificadas, por exemplo, a vara especializada em

    crimes de uso e trfico de entorpecentes, a maioria dos casos que sero tratados nos processos

    7 Fonte: Sesso Ordinria da Segunda Cmara Criminal, pesquisado no dia 15/10/13. Disponvel em:

    Acesso em: Manaus, maro/2011, manual de rotina das varas criminal. Pesquisa de campo realizada sede do Frum Henoch Reis, do Tribunal de Justia do Amazonas, com a

    assistente judiciria Renata Alexandre Larrat, em 14/10/13.

    Diviso das varas criminais da Justia Estadual

    Vara Especializada em Crimes de Uso e Trfico de Entorpecentes (Vente)

    Varas criminais (comuns)

    Tribunal de jri (crimes contra vida)

    Vara criminal contra idoso.

    Vara criminal especializada em crime de transito.

    Vara criminal contra adolescente e criana.

    1. Vara Criminal, 2. Vara Criminal, 3. Vara Criminal, 4. Vara Criminal, 5. Vara

    Criminal, 6. Vara criminal, 7. Vara criminal, 8. Vara Criminal, 9. Vara Criminal, 10.

    Vara Criminal, 11. Vara Criminal.

  • 34

    vo ser sobre o uso de trfico e de entorpecentes. E assim feito aos demais especifico, agora

    isso no requer em todas, pois quando analisamos a primeira vara criminal at a dcima

    primeira, podemos observar que elas esto praticamente todas em um local s de acordo com

    o quadro j feito a cima, e todas elas tratam em diversos casos, como por exemplo, abandono

    de incapaz, ameaa (art.147), atentado violento ao pudor (art.214), crimes contra o

    patrimnio, crimes de tortura e etc. 8

    Durante o trabalho, desenvolvemos roteiros de entrevistas, buscando compreender os

    rgos que fazem parte do sistema de justia criminal no Estado do Amazonas. Diante de

    cada competncia, podemos observar o olhar de cada um desses agentes. Por exemplo, Emlia

    Ferraz9:

    Eu assumir mesmo como delegada titular. L na zona norte na Santa

    Etelvina, e que na verdade no era to boa assim, pois na poca que eu

    assumi nunca tinha tido uma delegacia por l, ento assim tivemos que fazer

    um trabalho antes de tudo comunitrio, conscientizando que agora avia uma

    delegacia e que tinha um lugar que elas [cidados] poderiam ir pra fazer uma

    ocorrncia, enfim fazer suas queixas. Foi muito complicado logo que eu

    assumir, em primeiro lugar, pela resistncia porque era um lugar meio

    dominado pelo crime, pelo silncio. E eram dois modos de problemas que eu

    tinha, a violncia domestica com relao ao estupro a violncia ao pudor e

    trafico de drogas (FERRAZ, 09/05/13).

    Durante a sua experincia como delegada, observou que apropria delegacia acaba se

    tornando centro de psicologia que muita da populao ia prestar suas queixas. Para ela, o

    iniciou sua carreira, sua trajetria, teve inicio na Santa Etelvina na zona norte, em 2000. E que

    no decorrer da sua carreira, Emlia assumiu tambm outras delegacias em Manaus, no caso, na

    zona norte atendia trs delegacias, na qual, identificava outros tipos de ocorrncia de crimes,

    outro princpio cronolgico, uma zona de prostituio. Com tudo isso, a delegada analisou

    que cada um desses locais ou ambientes, onde ela trabalhava, possua um perfil diferencial

    sobre certos crimes. E que muito da populao no entendia o papel ou aparentava que no se

    tinha essa proximidade com o ministrio Pblico, com Judicirio em defesa dos crimes que

    ocorriam naquele local.

    O que percebi, era isso, que existia um distanciamento entre o promotor o

    juzes e os cidados de modo comum e ns na verdade representava meio

    que um tudo pra eles naquele momento ns representava todo poder que aos

    poucos poderia almejar tanto que se voc tiver curiosidade de ver histrico

    de novela, essas coisas, sempre tem a familiaridade o delegado que esta l

    e ningum nem fala do juiz e do promotor uma coisa, que distante da

    populao. (FERRAZ, 09/05/13).

    8 Fonte: documentos de estatstica de processo em andamento, pesquisado no dia 11/07/13. Disponvel em:

    Acesso na sede do Hrum Ministro Henoch Reis. 9 Emlia Ferraz, delegada. Entrevista realizada na sede da UEA, no dia 09//05/13.

  • 35

    As delegacias se caracterizam, por tanto, como um ponto de esperana e de suporte

    para os cidados. Segundo Emlia, como se fosse UTI, onde os individuo que esto muito

    doentes vo para diagnosticar seus problemas de doenas. Nesse caso, a sociedade precisa ter

    muito mais, um mecanismo capaz de dar segurana e resolver conflitos sociais aproximados a

    populao, do que, apenas ter um breve conhecimento sobre como funciona o sistema de

    justia e no puder ter acesso.

    Para Darlan Benevides,10

    a sua experincia como promotor de justia, vem desde 89,

    respondendo por muitas comarcas tantos nos interiores como em Manaus. Cumprindo seu

    papel, em favor da sociedade. Sua funo definida em causas criminais, como desvio de

    dinheiro por parte de polticos e outras que atingem a sociedade como um todo: direitos do

    consumidor, meio ambiente, patrimnio cultural e pblico etc.

    Eu sou promotor de justia deste de 19junho de 1998, comarca inicial de

    rotao foi comarca de Manicor, primeira promotoria de campo em

    Manicor durante um ano e oito meses. Nessa poca ainda eu cheguei a

    responder pelas promotorias de justia de presidente Figueiredo, fiquei cerca

    de sete meses no ano de 2000 e presidente Figueiredo. Um ano em seguida,

    fui pra comarca de Tef e fiquei aproximadamente dez anos como titula

    comarca de Tef (QUEIROZ, 22/07/13)

    Embora atualmente se encontre como promotor de justia titular da qinquagsima

    promotoria de justia da promotoria criminal, assessor do procurado geral. J atuou em outras

    assessorias de promotorias de justia, assumindo tambm como secretario geral do ministrio

    pblico em 2007 e 2008. Foi promovido em outubro de 2011 pra promotoria de justia de

    juizado da violncia familiar contra mulher e logo seguida foi removido para qinquagsima

    promotoria de justia que tem atuao junto dcima primeira vara criminal.

    Durante a sua experincia no interior do Estado do Amazonas, o promotor de justia

    encontrou dificuldades, por ter tantos processos que vinham para serem respondidos, pois ele

    era responsvel em todas as reas, infncia juventude, trafico entorpecente violncia familiar

    a ao coletiva consumidor, meio ambiente propriedade administrativo, no tendo previso de

    tarefas.

    Um promotor de justia tem responsabilidade de define bem claramente que a funo

    do titular da ao penal, embora que alguns vem a funo de titular da ao penal com a

    funo de acusador. Confundindo a funo do promotor de justia com a funo perseguidora.

    10

    Darlan Benevides de Queiroz. Promotor de Justia, titular da qinquagsima promotoria de justia da

    promotoria criminal, assessor do procurado geral. Entrevista realizada na sede da UFAM, no dia 22/07/13.

  • 36

    Mas na posio dos processos os promotores precisam acusar de acordo com certas regras de

    acordo com certos limites de acordo com certos procedimentos, pois eles no podem acusar s

    por acusar sem provas no podem acusar sem um devido processo. Pois querendo ou no eles

    assumem muita responsabilidade social.

    No caso do advogado de policia Paulo Sampaio11

    , o seu papel adquire caractersticas

    essenciais, como ser justo, ser intransigente com a injustia e a ilegalidade. Ser solidrio com

    o inocente e ser duro com o infrator. Servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com

    caridade.

    Acho que ser um delegado cumprir uma funo social muito importante, eu

    me orgulho, e eu me vi dentro dela e percebi o quanto eu poderia ajudar a

    melhorar essa instituio, eu gosto de ser delegado, eu vou contribuir para

    que esse sistema, cada vez mais possa melhorar. Eu acho assim, quem busca

    uma delegacia, na verdade querem encontrar ali, ser acolhido querem ser

    ouvido querem ser atendido naquele problema. E [advogado] tem que saber

    acolher, saber ouvir, saber entender pra essa misso institucional que o

    rgo como esse dentro do sistema de justia. Sinto-me um servidor publico

    comprometido (SAMPAIO, 18/07/13).

    O art. 133 define: O advogado como indispensvel administrao da justia,

    sendo inviolvel por seus atos e manifestaes no exerccio da profisso, nos limites da lei.

    Constituio Federal, 1988.12Ento essa figura do advogado, possui uma das caractersticas

    do sistema de justia criminal em manter a ordem da sociedade. E uns dos pontos do sistema

    que busca identificar o crime, inclusive a porta de entrada para combater os crimes, por

    meio dela, comea todo um procedimento para poder chegar sentena de um infrator.

    Sobre o instrumento de exerccio do sistema de justia, Anagali13

    que compem a 6

    vara criminal no Estado do Amazonas, como juza de direito, corresponde atualmente vara

    de transito, comeou sua carreira como juza de direito desde o ano de 96, mas antes disso

    trabalhou como delegada de policia do Estado do Amazonas e depois assumiu a magistratura.

    Na sua competncia o sistema de justia tem como base o judicirio, mas que no se

    limita somente a ele.

    Entendendo o sistema de justia hoje, de acordo com o que tenho

    identificado. O que o sistema de justia? Ele no se resume to somente ao

    judicirio, o sistema de justia ele advm ao sistema de justia criminal

    11

    Paulo Afonso Sampaio. Delegado de Policia. Entrevista realizada na sede da policia civil, no dia 18/07/13.

    12

    Fonte: http://www.jusbrasil.com.br/topicos/1014783/artigo-133-da-constituicao-federal-de-1988, pesquisado

    no dia 08/11/13. Disponvel