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RELATÓRIO TÉCNICO CONCLUSIVO N o do projeto: 0980_20131 Título do projeto: Conciliando turismo e conservação nos Parques da Copa: mitigação do impacto do asfaltamento nas rodovias de a cesso a UCs Instituição Responsável: Instituto Curicaca Responsável Técnico(a): Andreas Kindel Assinatura Representante Legal : Assinatura Responsável Técnico: Data: RELATÓRIO CONCLUSIVO ( ) RELATÓRIO CONCLUSIVO COMPLEMENTAR ( X ) Neste relatório complementar, incluímos apenas alterarções obtidas nos resultados decorrentes da extensão do período de amostragem por 6 meses adicionais, em geral não reproduzindo informações já apresentadas no relatório conclusivo. 1. DESCREVER OS RESULTADOS (cumulativos) OBTIDOS PARA TODAS AS METAS ESTABELECIDAS NO PROJETO SEGUINDO A MESMA ORDEM DESCRITA NA PROPOSTA. Objetivo 1: Estimar a magnitude e composição da mortalidade e avaliar a sua variação espacial e temporal. Meta 1.1.1 Realizar 48 monitoramentos ao longo de 24 meses: Foram realizados 50 monitoramentos quinzenais ao longo dos 24 meses em quatro das cinco estradas avaliadas no projeto (exceto ERS-020; Figura 1; ver relatório conclusivo). O monitoramento da rodovia ERS-020 começou em outubro de 2014, pois através de monitoramentos não sistemáticos a equipe percebeu a necessidade de incluí-la no programa. A execução dos monitoramentos no período complementar teve como objetivo acumular maior período de amostragem nesta rodovia. Contudo, ao longo dos seis últimos meses, foram realizados apenas três monitoramentos nas estradas ERS-020, CS-012 e CS-007, pois a equipe dos PARNAs passou por dificuldades de infraestrutura e não pode nos receber por três meses. A rodovia CS-012 foi monitorada neste período para comparar a mortalidade da rodovia com o uso das passagens de fauna, que também continuou sendo avaliada. Já a CS-007 foi monitorada por ser a estrada controle do estudo. As demais rodovias estudadas não foram monitoradas durante o período complementar por já termos amostragem suficiente para caracterizar a mortalidade no período prévio ao “impacto” (asfaltamento), com três anos de trabalho (12 meses de monitoramentos quinzenais independentes e mais 24 meses de monitoramentos quinzenais com o financiamento da Fundação O Boticário de Proteção A Natureza). Composição e magnitude da mortalidade Durante o período complementar, foram registrados 17 atropelamentos nas rodovias ERS- 020 e CS-012, sendo eles três anfíbios, quatro aves, cinco mamíferos e cinco répteis (Tabela 1), totalizando 345 atropelamentos observados durante todo o projeto (Tabela 2). Não foram registrados atropelamentos na CS-007 (estrada controle) durante o período complementar. Dez espécies nativas foram registradas (Tabela 2), e as espécies Colaptes campestris, Coragyps atratus

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RELATÓRIO TÉCNICO CONCLUSIVO

No do projeto:

0980_20131

Título do projeto: Conciliando turismo e conservação nos Parques da Copa:

mitigação do impacto do asfaltamento nas rodovias de a cesso a UCs

Instituição Responsável: Instituto Curicaca

Responsável Técnico(a): Andreas Kindel

Assinatura Representante Legal : Assinatura Responsável Técnico: Data:

RELATÓRIO CONCLUSIVO ( )

RELATÓRIO CONCLUSIVO COMPLEMENTAR ( X )

Neste relatório complementar, incluímos apenas alterarções obtidas nos resultados decorrentes da

extensão do período de amostragem por 6 meses adicionais, em geral não reproduzindo

informações já apresentadas no relatório conclusivo.

1. DESCREVER OS RESULTADOS (cumulativos) OBTIDOS PARA TODAS AS METAS

ESTABELECIDAS NO PROJETO SEGUINDO A MESMA ORDEM DESCRITA NA PROPOSTA.

Objetivo 1: Estimar a magnitude e composição da mortalidade e avaliar a sua variação

espacial e temporal.

Meta 1.1.1 Realizar 48 monitoramentos ao longo de 24 meses:

Foram realizados 50 monitoramentos quinzenais ao longo dos 24 meses em quatro das cinco

estradas avaliadas no projeto (exceto ERS-020; Figura 1; ver relatório conclusivo). O

monitoramento da rodovia ERS-020 começou em outubro de 2014, pois através de monitoramentos

não sistemáticos a equipe percebeu a necessidade de incluí-la no programa. A execução dos

monitoramentos no período complementar teve como objetivo acumular maior período de

amostragem nesta rodovia. Contudo, ao longo dos seis últimos meses, foram realizados apenas

três monitoramentos nas estradas ERS-020, CS-012 e CS-007, pois a equipe dos PARNAs passou

por dificuldades de infraestrutura e não pode nos receber por três meses. A rodovia CS-012 foi

monitorada neste período para comparar a mortalidade da rodovia com o uso das passagens de

fauna, que também continuou sendo avaliada. Já a CS-007 foi monitorada por ser a estrada controle

do estudo. As demais rodovias estudadas não foram monitoradas durante o período complementar

por já termos amostragem suficiente para caracterizar a mortalidade no período prévio ao

“impacto” (asfaltamento), com três anos de trabalho (12 meses de monitoramentos quinzenais

independentes e mais 24 meses de monitoramentos quinzenais com o financiamento da Fundação

O Boticário de Proteção A Natureza).

Composição e magnitude da mortalidade

Durante o período complementar, foram registrados 17 atropelamentos nas rodovias ERS-

020 e CS-012, sendo eles três anfíbios, quatro aves, cinco mamíferos e cinco répteis (Tabela 1),

totalizando 345 atropelamentos observados durante todo o projeto (Tabela 2). Não foram

registrados atropelamentos na CS-007 (estrada controle) durante o período complementar. Dez

espécies nativas foram registradas (Tabela 2), e as espécies Colaptes campestris, Coragyps atratus

e Mazama guazoubira, encontrados na ERS-020, não tinham sido registradas em nehuma das

estradas nos monitoramentos anteriores.

Refizemos as estimativas de magnitude da mortalidade para as estradas monitoradas neste

período complementar. Realizamos as análises no Software SIRIEMA V2.0, considerando a taxa

de remoção (TR = 2,71) e detecção (p = 0,54) de carcaças (ver relatório conclusivo meta 1.2.1).

As estimativas de magnitude de mortalidade foram analisadas separadamente, em períodos que as

avaliações ocorreram quinzenalmente e em períodos nos quais os monitoramentos ocorreram

mensalmente. Para incorporar as duas análises, fizemos uma média dos resultados (Tabela 3).

Como esperado com o acúmulo dos dados, observamos um incremento na estimativa de

mortalidade na ERS-020 em relação ao relatório conclusivo, de 392 atropelamentos por ano para

730 atropelamentos estimados por ano (Erro padrão ± 290,5) neste um trecho de 12,8 km da ERS-

020.

Figura 1. Estradas monitoradas na região dos PARNAs dos Aparados da Serra e Serra Geral. Linhas coloridas

representam as estradas monitoradas ao longo dos 24 meses de projeto e a linha preta fina representa os limites dos parques.

Tabela 1. Número de indivíduos registrados atropelados por espécie e por rodovia durante o período complementar. Os nomes científicos seguem a Lista das Aves do Brasil do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2015), a lista de espécies de Répteis do Brasil (Costa & Bérnils, 2015) e a compilação Mammals Species of the World (Wilson & Reeder, 2005). NI – não identificado

CS-012 ERS-020 Total

Amphibia 1 2 3

Rhinella icterica Sapo-cururu 1 2 3

Aves 4 4

Colaptes campestris Pica-pau-do-campo 1 1

Coragyps atratus Urubu 1 1

Tyrannus melancholicus Suiriri 1 1

Ave NI 1 1

Mammalia 5 5

CS-012 ERS-020 Total

Cavia aperea Preá 1 1

Cerdocyon thous Graxaim-do-mato 3 3

Mazama guazoubira Veado-virá 1 1

Reptilia 3 2 5

Anisolepis grilli Lagartixa 1 1

Philodryas aestiva Cobra-cipó 1 1

Salvator merianae Teiú 2 2

Thamnodynastes strigatus Corredeira-lisa 1 1

Total 4 13 17

Tabela 2. Número de indivíduos registrados atropelados por espécie e por rodovia. Os nomes científicos seguem a Lista das Aves do Brasil do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2015), a lista de espécies de Répteis do Brasil (Costa & Bérnils, 2015) e a compilação Mammals Species of the World (Wilson & Reeder,

2005). NI – não identificado

CS-007 CS-012 ERS-020 ERS-427 SC-290 Total

Amphibia 2 109 5 69 23 208

Leptodactylus latrans Rã-crioula 2 2 Rhinella abei Sapo-cururu 4 4 Rhinella henseli Sapo-cururu 1 1 Rhinella icterica Sapo-cururu 2 109 5 67 7 190 Scinax granulatus Perereca-de-banheiro 1 1 Anuro NI 2 8 10

Aves 0 13 13 4 3 33

Caracara plancus Carcará 1 1 Colaptes campestris Pica-pau-do-campo 1 1 Conopophaga lineata Chupa-dente 1 1 Coragyps atratus Urubu 1 1 Donacospiza albifrons Tico-tico-do-banhado 1 1 2 Elaenia mesoleuca Tuque 1 1 Megascops choliba Corujinha-do-mato 1 1 Nothura maculosa Codorna-amarela 1 1 Pitangus sulphuratus Bem-te-vi 1 1 Microspingus cabanisi Quete-do-sul 2 2 Tangara preciosa Saíra-preciosa 1 1 Troglodytes musculus Corruíra 1 1 Tyrannus melancholicus Suiriri 2 2 Tyto furcata Coruja-da-igreja 1 1 Zonotrichia capensis Tico-tico 2 1 3 Ave NI 5 5 2 1 13

Mammalia 0 11 11 7 5 34

Cavia aperea Preá 1 2 1 4 Cerdocyon thous Graxaim-do-mato 2 4 2 1 9 Conepatus chinga Zorrilho 3 3 Dasypus hybridus Tatu-mulita 1 1

Didelphis albiventris Gambá-de-orelha-

branca 1 1 1 3

Euphractus sexcinctus Tatu-peludo 1 1 Lycalopex gymnocercus Graxaim-do-campo 1 1 Mazama guazoubira Veado-catingueiro 1

Oligoryzomys sp. Roedor 2 1 3 Mamífero NI 4 3 1 8

Reptilia 4 37 12 8 9 70

Amphisbaena sp. Cobra-cega 1 1 Amphisbaena trachura Cobra-cega 2 2

CS-007 CS-012 ERS-020 ERS-427 SC-290 Total Anisolepis grilli Lagartixa 3 3 Bothrops alternatus Cruzeira 4 4 Bothrops cotiara Cotiara 1 1 Bothrops jararaca Jararaca-pintada 1 2 3 Chironius bicarinatus Caninana-verde 1 1

Elapomorphus quinquelineatus Cabeça-preta-

grande 1 1

Enyalius iheringii Camaleãozinho 1 1 Erythrolamprus jaegeri Cobra-d'água-verde 6 1 7 Erythrolamprus miliaris Cobra-lisa 2 1 1 4 Erythrolamprus poecilogyrus Cobra-verde 1 1 Ophiodes fragilis Cobra-de-vidro 1 1 Ophiodes sp. Cobra-de-vidro 1 1 Oxyrhopus rhombifer Falsa-coral 2 2 Philodryas aestiva Cobra-cipó 3 2 5 Philodryas olfersii Cipó-listrada 1 1 Philodryas patagoniensis Papa-pinto 4 2 1 7 Salvator merianae Teiú 1 3 3 1 8

Sibynomorphus neuwiedi Dormideira-

cinzenta 1 1

Taeniophallus poecilopogon Corredeira-de-

barriga-vermelha

1

1

Tantilla melanocephala Falsa-cabeça-preta 1 1 Thamnodynastes strigatus Corredeira-lisa 1 2 3 Tomodon dorsatus Cobra-espada 1 1 Xenodon neuwiedii Boipeva 2 2 Réptil NI 4 2 1 7

Total 6 170 41 88 40 345

Tabela 3. Taxas de mortalidade (média atropelamentos/dia/km) e média da mortalidade total observadas e

estimadas (corrigidas por detecção e remoção de carcaças) com indicação do erro padrão para as estradas CS-012 (somente trecho asfaltado) e ERS-020 da região dos PARNAs.

CS-012 ERS-020

Asfalto (13,3 km) Asfalto (12,8 km)

Registros de atropelamentos 6 41

Média de atropelados observados/dia/km 0,007 (±0,0035) 0,0095 (±0,0005)

Média de atropelamentos estimados/dia/km 0,095 (±0,025) 0,096 (±0,026)

Média de atropelamentos estimados /ano 449 (±135) 730 (±290,5)

Variação espacial e identificação dos locais com agregação de atropelamentos

A análise K de Ripley 2D, realizada no Software SIRIEMA V2.0, aponta se há agregação

espacial de atropelamentos na rodovia em alguma escala. Nessa análise, utilizamos um raio inicial

de 300 metros e incremento de raio de 100 metros, realizamos 1000 simulações e adotamos um

Limite de Confiança de 95%. Esta análise não apresentou agrupamentos significativos para os

atropelamentosna rodovia ERS-020 (Figura 2). Ver relatório conclusivo para as análises das demais

estradas.

Figura 2: Gráfico da análise K de Ripley 2D para o conjunto dos vertebrados atropelados na ERS-020, onde

L é a intensidade de agregação (linha preta) e as linhas cinzas os limites de confiança superior e inferior e o

raio corresponde a escala analisada, em km.

Variação temporal e identificação dos períodos com maior mortalidade

A variação temporal e a identificação dos períodos com maior mortalidade para todas as

estradas com exceção da ERS-020 podem ser encontradas no relatório conclusivo. Os

monitoramentos na ERS-020 começaram em outubro de 2014 e foram até janeiro de 2016, porém

em alguns meses não houve amostragens por problemas de infraestrutura dos PARNAs. Como não

completamos um ano de amostragens com representatividade de todos os meses do ano, não foi

possível fazer uma análise estatística para avaliar a significância das diferenças entre os meses.

Contudo, apresentamos o número de atropelamentos para os meses em que realizamos

monitoramentos nessa estrada (Figura 3). As análises de variação temporal para a CS-012 foram

apresentadas no relatório conclusivo.

Figura 3: Número médio de vertebrados silvestres atropelados registrados por campanha por mês na ERS-020 (dados entre outubro de 2014 e janeiro de 2016, com o número de campanhas a cada mês variando entre uma e três campanhas).

Meta 1.2.1 Realizar um experimento de detecção e dois experimentos de remoção,

um na primavera/verão e outro no outono/inverno

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

4.5

mer

o m

édio

de

atro

pel

amen

tos

po

r ca

mp

anh

a

Ver relatório conclusivo.

Objetivo 2: Avaliar o efeito da pavimentação e do aumento do fluxo de veículos nos

padrões de mortalidade.

Ver relatório conclusivo.

Meta 2.1.1 realizar 48 monitoramentos:

Ver meta 1.1.1.

Meta 2.2.1 Realizar 24 meses de monitoramento do fluxo de veículos:

Os períodos de monitoramento do fluxo de veículos foram:

• CS-007: 22/12/2014 – 25/09/2015 (9 meses e 3 dias); 25/10/2015 - 17/11/2015 (24 dias);

12/12/2015 - 25/01/2016 (1 mês e 15 dias);

• CS-012: 31/03/2014 – 10/05/2014 (1 meses e 11 dias); 25/05/2014 – 21/06/2014 (1

mês); 03/08/2014 – 23/05/2015 (10 meses); 06/07/2015 – 25/01/2016 (6 meses e 20

dias)

• ERS-427: 02/08/2014 – 23/05/2015 (9 meses e 21 dias); 06/07/2015 – 25/01/2016 (6

meses e 20 dias)

• SC-290: 03/08/2014 - 30/01/2015 (5 meses e 28 dias); 17/02/2015 - 25/01/2016 (10

meses e 9 dias);

• ERS-020: 02/02/2015 – 24/08/2015 (6 meses e 22 dias); 11/09/2015 - 20/11/2015 (2

meses e 9 dias).

Em nenhuma das rodovias conseguimos atingir a meta de 24 meses de amostragem em

virtude do atraso na importação dos equipamentos e problemas de funcionamento de alguns dos

equipamentos. Contudo, realizamos estimativas de fluxo para cada uma das estradas e seguiremos

monitorando o fluxo para avaliar também a variação de fluxo entre os meses do ano e para a futura

comparação com o período pós “impacto” (asfaltamento da SC-290 e talvez CS-012), com provável

aumento de fluxo na região.

Com os dados de fluxo levantados, estimamos o fluxo diário em 29 veículos/dia na CS-007,

189 na CS-012, 807 na ERS-020, 341 na ERS-427 e 178 na SC-290. Em todas as estradas, o fluxo

se concentra bastante durante o dia, com fluxo noturno muito baixo (Figura 5). Com exceção da

ERS-020, o fluxo das outras estradas é maior nos sábados e domingos (Figura 6).

Objetivo 3: Avaliar a efetividade das medidas mitigadoras já implementadas (4 dutos e

6 passagens de dossel)

Meta 3.1.1 Amostrar cada estrutura durante 15 dias por mês por 24 meses:

Com o uso de armadilhas fotográficas, avaliamos o uso pela fauna de 7 passagens de dossel

(PFO) e 8 dutos (PFU) sob a estrada CS-012. Colocamos uma armadilha fotográfica em cada

estrutura, ficando ativa pelo menos 15 dias a cada mês de amostragem (Tabela 6). Contudo,

problemas nos equipamentos, o roubo de quatro armadilhas e a destruição de duas passagens do

tipo ponte de dossel fizeram com que o período de amostragem fosse diferente em cada passagem

de fauna (Tabela 6). A amostragem realizada serviu de base para considerações sobre o sistema

de mitigação implementado na CS-012 e como base comparativa para quando o sistema for

modificado de acordo com as adequações já solicitadas à Prefeitura de Cambará do Sul pelo

Ministério Público.

Obtivemos registros de uso em apenas três das passagens de dossel, onde registramos duas

espécies de roedores da família Echimyidae (ratos-de-espinho; Tabela 7 e Figura 7), provavelmente

Phyllomys sp. e Kannabateomys amblyonyx. Estas espécies são arborícolas, de atividade noturna

e possivelmente evitam cruzar estradas pelo chão. O número de registros destes roedores foi maior

na passagem PFO04, com um registro a cada quatro dias de amostragem, em média.

Nas passagens do tipo dutos sob a estrada, registramos 28 espécies de vertebrados, sendo

seis de aves, uma de réptil e 21 de mamíferos, sendo três domésticos (Tabela 7 e Figura 8).

Pequenos roedores (Roedor NI, espécies menores do que o preá) e morcegos foram registrados

também usando as passagens como abrigo, o que explica o grande número de resgistros destes

táxons. Os roedores, por exemplo, apresentaram um número muito maior de registros nas

passagens onde existem mais frestas entre as paredes ou o assoalho (todas, exceto PFU05 e

PFU08). Por isso, roedores e morcegos foram excluídos de algumas análises. As passagens de fauna

com maior taxa de uso por espécies nativas cursorias (excluindo-se Roedores NI) foram estas

mesmas PFU05 e PFU08, que não possuem blocos de concreto como assoalho. Das 22 espécies

cursoriais registradas atropeladas na CS-012, apenas 6 (graxaim-do-mato, teiú, preá, tatu-galinha,

gato-do-mato e veado-catingueiro – as duás últimas registradas atropeladas fora de

monitoramento) também foram registradas nas passagens de fauna. A maior parte dos

atropelamentos na CS-012 é de sapos (64%) e serpentes (14%), que não foram registrados nas

passagens.

O horário principal de uso das passagens do tipo duto pelas espécies cursoriais é durante a

noite (Figura 9, a), quando o fluxo na CS-012 é praticamente inexistente (Figura 5). Contudo, se

excluímos os pequenos roedores (espécies não identificadas e que aparecem usando as passagens

também como abrigo, como os morcegos) das análises, observamos que o uso das passagens

também ocorre em horários de maior fluxo, embora não apareçam períodos de maior uso

significativo(Figura 9, b)..

Tabela 6. Meses com amostragem das passagens de fauna da CS-012 através de armadilhas

fotográficas, entre março de 2014 e janeiro de 2016. PFO – ponte de dossel, PFU – duto sob a rodovia.

2014 2015 2016

Passagem de Fauna

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Total (dias)

PFO01 Câmera roubada

Passagem destruída 168

PFO02 228

PFO03 Passagem destruída 114

PFO04 Câmera roubada Câmera roubada 182

PFO05 Câmera roubada 323

PFO06 363

PFO07 336

PFU01 271

PFU02 320

2014 2015 2016

Passagem de Fauna

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 Total (dias)

PFU03 385

PFU04 385

PFU05 265

PFU06 253

PFU07 240

PFU08 267

Figura 7. Roedores da família Echimyidae registrados nas passagens de dossel da CS-012,

Cambará do Sul. A) cf. Kannabateomys amblyonyx e B) cf. Phyllomys sp.

Figura 8. Vertebrados registrados nas passagens de de fauna do tipo duto da CS-012, Cambará do Sul. A) Salvator merianae. B) Morcego NI. C) Cavia sp.

D) Roedor NI. E) Leopardus pardalis. F) Leopardus guttulus.

Tabela 7. Espécies registradas por armadilhas fotográficas e número de registros por espécie nas passagens de fauna da CS-012, Cambará do Sul, entre março de

2014 e janeiro de 2016. PFO – ponte de dossel, PFU – duto sob a rodovia. *Espécies de animais domésticos.

Passagens de dossel Dutos sob a estrada

PFO01 PFO02 PFO03 PFO04 PFO05 PFO06 PFO07 Total PFU01 PFU02 PFU03 PFU04 PFU05 PFU06 PFU07 PFU08 Total

Aves

Aramides saracura

1 22 23

Aramides NI 3 49 1 44 12 109

Crypturellus obsoletus

2 2

Lochmias nematura

1 1

Mimus saturninus

1 1

Penelope NI

1 1

Turdus NI

1 1 2

Ave NI

1 1 2 4 4 3 1 16

Mammalia

Bos taurus*

1 1 2

Canis familiaris*

1 1

Cavia NI

19 2 3 20 1 4 49

Cerdocyon ou Lycalopex

1 1 2

Chironectes minimus

1 1

Conepatus chinga

1 1

Dasyprocta azarae

151 151

Dasypus hybridus

9 9

Dasypus novemcinctus

1 1 2

Dasypus NI

70 14 84

Eira barbara

5 3 8

Felis silvestris catus*

4 4

Galictis cuja

4 1 1 2 2 10

Leopardus guttulus 3 4 12 9 2 1 31

Leopardus pardalis

3 3

Leopardus sp.

8 2 10

Lycalopex gymnocercus

1 1

Marsupial NI

1 1

Passagens de dossel Dutos sob a estrada

PFO01 PFO02 PFO03 PFO04 PFO05 PFO06 PFO07 Total PFU01 PFU02 PFU03 PFU04 PFU05 PFU06 PFU07 PFU08 Total

Mazama gouazoubira

3 3

Morcego NI

8 6 72 29 22 1 13 151

Procyon cancrivorus 7 47 1 4 1 60

Echimyidae NI 46 26 10 82

Roedor NI

84 22 138 246 4 64 41 599

Tamandua tetradactyla

1 1

Mamífero NI

1 2 5 5 8 21

Reptilia 0

Salvator merianae

5 1 5 11

Outros

NI

2 6 2 10 3 2 6 31

Total 0 0 0 46 26 10 0 82 138 140 221 347 134 152 62 208 1402

Dias de amostragem 168 228 114 182 323 363 336 1714 271 320 385 385 265 253 240 267 2386

Animais nativos cursoriais por dia

0.00 0.00 0.00 0.25 0.08 0.03 0.00 0.05 0.47 0.39 0.38 0.79 0.41 0.57 0.23 0.69 0.50

Animais nativos cursoriais (exceto Roedor NI) por dia

0.16 0.32 0.02 0.15 0.40 0.32 0.06 0.69 0.25

Figura 9. Horário de registro de espécies nativas cursoriais (a) e cursoriais exceto roedores NI (b)

nas passagens de fauna do tipo duto sob a rodovia CS-012. As barras azuis indicam o número de

registros para cada hora e a linha externa indica o período médio de concentração do uso das

passagens (preto = concentração significativa, vermelho = concentração não significativa).

Objetivo 4: Elaborar um plano de mitigação da mortalidade de fauna por atropelamento

para a região

Meta 4.1.1 Realização de pelo menos uma reunião com gestores das UCs e

licenciadores para discutir ações de mitigação emergenciais e definitivas:

Ver relatório conclusivo.

Meta 4.2.1 Apresentar uma versão definitiva do documento técnico:

O objetivo principal deste projeto era avaliar o efeito da pavimentação em parte das estradas

da região sobre a mortalidade de fauna nativa para elaboração de um Plano de Mitigação a este

impacto. A informação necessária para planejar essa mitigação seria obtida através de um estudo

do tipo BACI (“antes-depois-controle-impacto”), um estudo no qual se compara um local antes de

uma mudança com o mesmo local após a mudança e com um local similar (controle) onde a

mudança não ocorrerá a fim de avaliar o impacto desta mudança. As mudanças previstas para as

estradas da região são o término do asfaltamento da CS-012, o asfaltamento da SC-290 e

alterações no fluxo das estradas da região.

A iminência destas obras ocorrerem antes da Copa do Mundo de 2014, motivadas pelo projeto

Parques da Copa (Ministérios do Turismo e do Meio Ambiente), fez com que a coleta de dados para

caracterizar o período “antes da mudança” tivesse início em setembro de 2012. Para isso,

monitoramos quinzenalmente a mortalidade de vertebrados nativos em cinco rodovias de acesso

aos PARNAs, bem como passagens de fauna instaladas na rodovia CS-012 que dá acesso ao cânion

Fortaleza. Entretanto, as obras de pavimentação da estrada SC-290, com término previsto para

julho de 2014, foram inciadas somente em janeiro de 2016, e a finalização da pavimentação da

estrada CS-012 ainda não foi retomada pela Prefeitura de Cambará do Sul. Assim, concluímos a

primeira etapa do projeto, a avaliação anterior à pavimentação (e não com o desenho amostral

BACI previamente planejado) e apresentamos um diagnóstico e conclusões sobre a situação

anterior ao impacto de pavimentação, com a comparação entre trechos pavimentados e não

pavimentatos que existem na área de estudo. Contudo, esse diagnóstico prévio já demonstrou que

em alguns locais, mesmo antes das mudanças previstas, já há justificativa para que medidas sejam

tomadas visando a diminuição da mortalidade atual da fauna.

Neste cenário, optamos por restringir as recomendações desta primeira versão do Plano de

Mitigação à rodovia CS-012, que já possui trechos pavimentados com medidas de mitigação

instaladas que necessitam de uma série de adequações e trechos a serem pavimentados onde se

prevê o aumento do número de atropelamentos. Recomendações de mitigação para as outras

estradas da região, especialmente para a SC-290, serão incluídas em uma segunda versão do Plano

de Mitigação após análise do projeto de pavimentação (SC-290) e de ampla discussão com com a

equipe gestora dos PARNAs.

No anexo 1 é apresentada a primeira versão do Plano de Mitigação, proposto com base nos

resultados até aqui obtidos. Nossa intenção é apresentar essa versão do Plano aos gestores e ao

Conselho Consultivo dos parques para apreciação e eventuais ajustes após a entrega deste relatório

e, posteriormente, entregá-lo à Prefeitura Municipal de Cambará do Sul e ao Ministério Público

Estadual. Nossa expectativa é que o plano seja continuamente atualizado, incorporando as

atividades realizadas e eventuais novas recomendações resultantes de alguma mudança no

contexto, adotando, portanto, um dos princípios do Manejo Adaptativo que é a avaliação e revisão

recorrente. Não existirá uma versão definitiva (como escrevemos no projeto) mas sim uma versão

atualizada do plano. Assim que novas informações tiverem sido coletadas para as demais estradas,

elas também serão incorporadas ao Plano.

Objetivo 5: Difusão dos resultados entre gestores, licenciadores e consultores ambientais

Meta 5.1.1 Realizar pelo menos dois workshops com licenciadores, gestores e

consultores para elaboração de termos de referência incorporando as recomendações:

Ver relatório conclusivo.

Meta 5.1.2 Participar de pelo menos dois eventos nacionais/internacionais para a

apresentação dos resultados ao longo dos 24 meses:

Ver relatório conclusivo.

Meta 5.1.3 Apresentar no CONECTE as recomendações originadas no projeto:

Ver relatório conclusivo.

Meta 5.1.4 Apresentar e discutir o andamento e resultados do projeto em pelo

menos duas reuniões do conselho consultivo da unidade:

Ver relatório conclusivo.

2. DESCREVER E DISCUTIR AS CONCLUSÕES DO PROJETO.

Este projeto teve (e ainda tem) como objetivo caracterizar a mortalidade de fauna por

atropelamento na malha viária da região dos Parques Nacionais dos Aparados da Serra e da Serra

Geral, antes e depois do asfaltamento de grande parte dessas estradas, permitindo uma avaliação

do efeito deste asfaltamento (mais precisamente do aumento do fluxo e velocidade dos veículos)

sobre a mortalidade de fauna. Para isso, adotamos um desenho amostral do tipo BDACI (before-

during-after control-impact). Embora parte da CS-012 e pequenos trechos da SC-290 já estivessem

asfaltados antes do início deste projeto, as obras de asfaltamento de outros trechos (total da CS-

012 e SC-290) não foram realizadas no período previsto, considerado no presente projeto. Assim,

as conclusões a seguir apresentadas são referentes à caracterização dos atropelamentos no período

anterior ao impacto (asfaltamento), com previsões da magnitude desse impacto.

Também são apresentadas conclusões quanto a outro objetivo deste projeto, a avaliação

das medidas mitigadoras já implementadas na parte asfaltada da CS-012. Modificações na

estrutura das passagens de fauna foram propostas e seriam realizadas pela Prefeitura de Cambará

do Sul no segundo semestre de 2015. Mantivemos o monitoramento das passagens de fauna no

intuito de comparar o uso destas passagens antes e após as adequações previstas. Contudo, estas

obras também não foram realizadas, e aqui apresentamos as conclusões quanto à efetividade das

passagens de fauna na CS-012 com base na atual condição destas e na atual caracterização da

mortalidade por atropelamento.

A caracterização da mortalidade anterior ao asfaltamento, assim como a avaliação das

medidas mitigadoras já implementadas, são informações usadas para a primeira versão do Plano

de Mitigação ao Atropelamento de Fauna, um primeiro passo para o objetivo maior deste projeto

que é mitigar essa mortalidade na região dos PARNAs. Embora o financiamento deste projeto e o

contrato junto à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza estejam se encerrando em fevereiro

de 2016, a parceria entre o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF/UFRGS) e a gestão

das unidades de conservação (ICMBio) será mantida para avaliar os impactos após a conclusão das

obras de asfaltamento da rodovia SC-290 (recém iniciadas) e após a adequação das medidas

mitigadoras da rodovia CS-012, caso essas sejam de fato executadas pela Prefeitura de Cambará

do Sul, como exige o parecer do órgão estadual de meio ambiente (FEPAM-RS). A partir destas

adequações, os monitoramentos serão recomeçados pelo NERF/UFRGS e poderão indicar novas

adequações às estruturas, incentivando o manejo adaptativo das medidas mitigadoras na região

dos PARNAs. O apoio financeiro para estas atividades será buscado junto ao próprio ICMBio e

também cogitamos a submissão de uma Fase II do projeto à Fundação Grupo Boticário tão logo

se evidencie o início das obras. Para o dia 26 de janeiro de 2016 estava agendada uma reunião

entre a Prefeitura de Cambará do Sul, responsável pela CS012 e os gestores dos Parques para

discutir cronograma e outros aspectos da realização das adequações, contudo, mais uma vez houve

cancelamento.

A mortalidade de vertebrados nativos na atual malha viária da região dos PARNAs já é

ALTA do ponto de vista ético, e POTENCIALMENTE IMPORTANTE dos pontos de vista

conservacionista e de segurança dos usuários.

Existem três razões principais pelas quais uma sociedade possa desejar reduzir o

atropelamento de fauna em estradas: (1) Ética – o reconhecimento do valor intrínsico (de

existência) dos seres vivos nos obriga a perseguir a drástica redução na mortalidade, na expectativa

da sua eliminação; (2) Conservacionista – atropelamentos podem comprometer a viabilidade a

longo prazo das populações de espécies nativas em uma região e especialmente em áreas de

conservação ou seu entorno esse risco deve ser evitado; (3) Segurança dos usuários das estradas

– colisões com animais podem causar danos econômicos e/ou agravos de saúde aos usuários das

estradas. Considerando cada uma destas razões, podemos inferir um nível de importância de uma

taxa de mortalidade por atropelamento de uma determinada estrada ou região.

O atropelamento de vertebrados nativos na malha viária avaliada na região dos PARNAs é

estimado em um total de 1431 animais por ano, com registro de pelo menos 53 espécies diferentes.

A maior parte destes atropelamentos é composta por anfíbios, em especial o sapo-cururu. Os

principais locais e períodos de mortalidade atualmente observados são decorrentes do grande

número de registros do sapo-cururu, embora também existam hotspots de mortalidade para os

demais vertebrados na CS-012.

O total de 1431 animais por ano é um número que ainda representa uma subestimativa do

real número de atropelamentos, pois uma parte das carcaças é lançada longe da estrada no

momento da colisão ou os indivíduos atropelados acabam morrendo longe da estrada, sendo estas

carcaças nunca disponíveis para contagem. Um estudo estima que 24% das carcaças de raposas

atropeladas acabam ficando fora da área avaliada em um monitoramento de atropelamentos

realizado de carro pela estrada (Baker et al., 2004, Mammal Review 34), e este número pode ser

consideravelmente maior para aves, por exemplo, que colidem com veículos durante o voo.

Assim, do ponto de vista ético, a taxa de atropelamentos na região, mesmo antes do

asfaltamento, já pode ser considerada alta. Embora este projeto não tenha tido como objetivo

avaliar o impacto do atropelamento nas populações de cada espécie (o que implica em estimar

tamanhos populacionais de cada espécie, um trabalho com um custo extremamente elevado),

alguns casos observados nos podem fazer pensar sobre estes efeitos. Por exemplo, é possível que

mesmo o grande número de atropelamentos de sapos-cururu não represente um grande impacto

na população local desta espécie, pois esta é abundante na região. Contudo, o número de fêmeas

atropeladas é praticamente o dobro do número de machos, e uma alta mortalidade de fêmeas em

idade reprodutiva pode ter importante impacto em uma população. Em outro exemplo, os três

atropelamentos registrados para o lagarto Anisolepis grili, duas fêmeas ovadas na mesma data na

CS-012, já podem representar um importante impacto na população local desta espécie,

provavelmente mais rara na região. Embora fora dos registros das amostragens, temos

conhecimento sobre o atropelamento de um puma (Puma concolor, espécie considerada Em Perigo

de extinção no RS) na ERS-020 e de dois veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) um na CS-012

e um ERS-020 durante os anos de monitoramento. Estas são espécies de grande porte que podem

trazer danos aos usuários das estradas, bem como espécies de médio porte registradas (e.g.

graxaim).

As duas primeiras razões (ética e conservação) recebem amplo amparo na legislação

brasileira e ainda que nem todos os fatos (ex. risco à persistência das populações) sejam

conhecidos, o Princípio da Precaução recomenda, sobretudo em áreas que afetam unidades de

conservação, que nos antecipemos aos fatos, pois a reversão pode ser muito mais onerosa.

Sem uma efetiva mitigação associada, o asfaltamento da malha viária na região dos

PARNAs vai aumentar muito o número de atropelamentos de fauna nativa na região

Considerando a taxa de atropelamentos calculada para os trechos já asfaltados da SC-290

(0,08 ind/dia/km) e da CS-012 (0,12 ind/dia/km), podemos fazer uma estimativa do número de

atropelamentos se os demais trechos já estivessem asfaltados. Para a SC-290, é previsto um

aumento de 5 vezes no número de atropelamentos por ano, para a CS-012 um aumento de 9 vezes.

Estas estimativas certamente ainda representam uma subestimativa desse aumento na

mortalidade, pois estamos considerando que o fluxo de veículos vai se manter no mesmo nível

atual nessas estradas, mas provavelmente o fluxo será ser bem mais elevado com o asfaltamento

completo das estradas. Sem um planejamento e execução de medidas que possam diminuir este

aumento previsto nos atropelamentos, os impactos para as populações de diversas espécies e para

a segurança dos usuários das estradas podem ser grandes.

As medidas mitigadoras atualmente implementadas na CS-012 têm baixo potencial para

diminuir o atual número de atropelamentos nessa estrada

O laudo elaborado pela equipe NERF/ICMBio e entregue ao Ministério Público em 2013

aponta diversos problemas estruturais para a maioria das passagens sob a estrada, como cercas

ou declives acentuados nas saídas, placas de concreto a meia altura e com fendas como piso,

ausência de plataforma de acesso, entre outros. Este mesmo laudo sugere modificações estruturais

que favoreçam a travessia de espécies nativas cursoriais. Embora algumas espécies utilizem estas

pasagens para travessia da estrada nas atuais condições, é bem provável que modificações nessas

estruturas façam com que o número de registros seja bem superior ao atualmente observado. Esse

comparativo seria feito se as obras de adequação das passagens já tivessem sido realizadas, mas

um novo monitoramento será realizado assim que as passagens forem modificadas. Até o

momento, as duas passagens apontadas como em melhores condições de estrutura (PFU05 e

PFU08) apresentaram as maiores taxas de registro de animais cursorias.

O atual sistema de mitigação pode estar sendo importante para a travessia segura de

algumas espécies, como a cutia (registrada apenas na mais adequada das passagens, a PFU08, e

sem registro de atropelamento). Contudo, a maior parte dos atropelamentos atualmente

registrados na CS-012 é de sapos e serpentes (78% dos registros) e estes grupos não foram

registrados nas passagens de fauna. Assim, o sistema atual de mitigação não tem como diminuir a

mortalidade destes grupos. As modificações propostas pelo laudo técnico devem atender também

a estes grupos de fauna, que necessitam de passagens mais apropriadas e/ou outra medida de

mitigação mais efetiva. Considerando o provável futuro asfaltamento total da CS-012 e aumento

do fluxo de veículos e da velocidade dos mesmos, o sistema de mitigação precisa ser adequado

(ver Plano de Mitigação).

Em rodovias com baixa mortalidade observada e alta mortalidade estimada o

planejamento da mitigação deve utilizar outras abordagens

Embora consideremos a mortalidde estimada (levando em consideração os erros de

detecção e remoção) para a ERS-020, ERS-427 e SC-290 altas, o número de carcaças observadas,

ou seja, para as quais temos informações da localização do evento, é baixa. Disso resulta a

dificuldade de informar "onde" implantar ações de mitigação. Nesses casos outras abordagens

devem ser utilizadas. Essa conclusão será incorporada aos protocolos de mostragem e análise que

estão sendo discutidos com IBAMA e FEPAM no âmbito do Rio Grande do Sul. Uma abordagem

alternativa são modelos preditivos, que utilizam informações que afetam a letalidade da rodovia

(ex. velocidade, visibilidade do usuário) e de probabilidade de travessia (ex. atributos da paisagem

e comportamento das espécies). Essa é uma abordagem ainda não consolidada e passou a ser

objeto de um doutorado em execução no NERF, contudo neste projeto não previmos a coleta das

informações necessárias. Mas pretendemos fazer isso com a continuidade das atividades de

cooperação na região.

3. DESCREVER O IMPACTO CONCRETO OBTIDO POR ESTE PROJETO PARA A

CONSERVAÇÃO DO OBJETO DESTA PROPOSTA E PRÓXIMOS PASSOS PLANEJADOS PARA

A CONTINUIDADE DOS ESFORÇOS DE CONSERVAÇÃO CONDUZIDOS AO LONGO DESTE

PROJETO.

A execução deste projeto criou, ampliou e fortaleceu diversas relações interinstitucionais. A

cooperação entre Curicaca e NERF/UFRGS, oportunizada por este projeto, potencializa a atuação

técnica e política do Curicaca no tema rodovias nos parques objeto do estudo e em outras UCs nas

quais a ONG tem representação nos conselhos, várias das quais também são afetadas por estradas

no seu entorno. Além disso, após o início do projeto, a cooperação entre o NERF/UFRGS e a gestão

dos PARNAs (ICMBio) se fortaleceu e resultou em um apoio técnico à gestão das UCs no tocante

aos conflitos com as estradas que cruzam e contornam as unidades. Um exemplo disso foi a

participação da equipe do NERF/UFRGS em vistorias e reuniões realizadas envolvendo a gestão dos

PARNAs, o órgão licenciador (IBAMA), a construtora e a empresa de consultoria ambiental

responsáveis pela obra de pavimentação da SC-290. Essa colaboração teve como resultados a

influência do projeto na forma de coleta e análise de dados por parte da empresa de consultoria

ambiental responsável pelos estudos e monitoramento relacionados ao licenciamento desta obra

de pavimentação. Outro exemplo foi o suporte técnico dado pela equipe do projeto à gestão dos

PARNAs para a solicitação da adequação do sistema de mitigação já implantado na rodovia CS-012

através da elaboração de um laudo técnico. Embora as solicitações não tenham sido executadas

até o momento pela Prefeitura Municipal de Cambará do Sul, o laudo foi acatado pelo Ministério

Público Federal e pelo órgão licenciador estadual (FEPAM-RS), havendo expectativa por um

desfecho eminente da Ação Civil originada nesse processo.

O compromisso de não apenas produzir conhecimento, mas também traduzi-lo em alguma

transformação da realidade foi incorporado no projeto com a proposta de elaboração de um plano

de mitigação. Essa opção foi imaginada por esse tipo de documento tratar-se de instrumento mais

operacional que os tradicionais relatórios, com indicação clara das razões, objetivos e ações que

podem transformar a realidade. A expectativa é que essa opção facilite a sua implantação, e que

ao menos permita ao conselho da unidade o monitoramento do processo de implantação e a

cooperação com os gestores para viabilizá-lo. Nossa intenção é que o Plano de Mitigação seja

utilizado como um suporte técnico pela gestão dos PARNAs e que possa inspirar iniciativas similares

em outras unidades gerenciadas pelo ICMBio e também pela SEMA-RS. Nós sustentamos que

alguns dos procedimentos adotados na sua elaboração e uma estrutura lógica similar também

deveria ser adotada nos planos básicos ambientais dos projetos rodoviários em licenciamento e

estamos trabalhando para que isso aconteça junto a estas instituições. Existe um compromisso

entre as instituições envolvidas em dar continuidade às colaborações estabelecidas ao longo deste

projeto e ao monitoramento do impacto da pavimentação e aumento do fluxo nas estradas. Em

longo prazo, esses resultados permitirão que este Plano de Mitigação seja revisto sempre que

necessário, de forma a funcionar como uma base para um manejo adaptativo das medidas

mitigadoras, testando diferentes configurações e identificando as ações e intervenções que geram

de fato uma diminuição da mortalidade. Além da possibilidade de contribuição para a qualificação

das medidas mitigadoras aos impactos das estradas do entorno dos PARNAs, os resultados obtidos

ao longo deste processo podem servir como fonte de informação para a previsão de impactos de

estradas e planejamento da mitigação em outros locais. Pela primeira vez, pelo menos até onde

sabemos para o Brasil, foi possível obter alguma estimativa da implicação da pavimentação na

mortalidade, considerando variações na detectabilidade e remoção de carcaças associada a estas

superfícies. Ainda que essas estimativas por enquanto estejam baseadas em um desenho amostral

Controle-Impacto, a continuidade das amostragens (atualmente executadas pela equipe da

empresa de consultoria responsável pela supervisão ambiental das obras de pavimentação da SC-

290) permitirá a execução de um desenho amostral BACI (antes-depois-controle-impacto),

imaginado no início deste projeto, e a geração de melhores estimativas dos efeitos da

pavimentação. Estamos trabalhando, através dos Ciclos de Workshops para Qualificação do

Licenciamento de Empreendimentos Viários, com IBAMA-RS, FEPAM-RS, DAER-RS e SEMA-RS, para

que estes resultados e os procedimentos adotados para alcançá-los sejam incorporados nas rotinas

de licenciamento. A experiência deste projeto será relatada no ambito do Plano de Ação Nacional

para a Conservação da Fauna Afetada por Infraestrutura Viária (PAN Estradas). O PAN Estradas

vem sendo elaborado desde setembro de 2015 por iniciativa do Centro Brasileiro de Estudos em

Ecologia de Estradas (CBEE) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio), com a participação de múltiplas instituições de todos os setores envolvidos com avaliação

e mitigação de impactos de estradas. O PAN Estradas tem objetivos relacionados ao aprimoramento

do licenciamento ambiental e de políticas de mitigação de seus impactos, à formação de recursos

humanos, à pesquisa e à gestão do conhecimento e à sensibilização da sociedade. A publicação do

Sumário Executivo, com a síntese dos objetivos e as ações recomendadas para que todos sejam

alcançados, juntamente com os indicadores de efetividade da sua implantação, está prevista para

os próximos meses, e em outubro de 2016 está prevista a primeira oficina de avaliação do PAN

Estradas, da qual participarão membros da equipe deste projeto. Alguns dos resultados deste

projeto podem influenciar especificamente a ação 3.1. (Definir protocolos para estudos de fauna

integrados às análises de impactos de infraestrutura viária, exigidos pelos órgãos licenciadores)

relacionada ao objetivo 3 do PAN Estradas (aprimoramento dos procedimentos de licenciamento

ambiental de empreendimentos de infraestrutura viária).

4. PARECER DA FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA:

Analisado por: Data:

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