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MITO E CULTURA DOS INDÍGENAS COLOMBIANOS SANDRA RODRIGUES EITERER Membro do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos, da UFJF. Aluna do Curso de Filosofia da UFJF. [email protected] Dentre as comunidades indígenas conhecidas, vamos abordar, neste trabalho, os indígenas colombianos, com seus mitos, seus ritos e seus costumes. As etnias a serem estudadas são em número de seis e se intitulam: Catíos, Kogis, Mocoas, Muiscas, Paez e Úwas. Distribuídos pelo território colombiano, ali estavam povos sem escrita, sociedades sem Estado, povos cujas verdades fundamentais não eram buscadas através da reflexão filosófica , das descobertas científicas ou da revelação divina . Povos cuja noção sobre o homem, a natureza e o mundo sobrenatural era expressa, através de mitos, ritos e crenças mágicas, narrando fenômenos, situações e seqüências de fatos difíceis de serem tidos como verdades, de serem reconhecidos como algo relacional entre o homem e sua razão ou sua situação no mundo, entre o homem e a natureza, entre os homens e seus semelhantes. Seus comportamentos típicos, em nada lembravam o homem branco, nem tampouco sua forma de vestir, de comer, falar e de se

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MITO E CULTURA DOS INDÍGENAS COLOMBIANOS

SANDRA RODRIGUES EITERER Membro do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos, da UFJF.

Aluna do Curso de Filosofia da UFJF.

[email protected]

Dentre as comunidades indígenas conhecidas, vamos abordar,

neste trabalho, os indígenas colombianos, com seus mitos, seus ritos e

seus costumes. As etnias a serem estudadas são em número de seis e se

intitulam: Catíos, Kogis, Mocoas, Muiscas, Paez e Úwas.

Distribuídos pelo território colombiano, ali estavam povos sem

escrita, sociedades sem Estado, povos cujas verdades fundamentais não

eram buscadas através da reflexão filosófica , das descobertas científicas

ou da revelação divina . Povos cuja noção sobre o homem, a natureza e o

mundo sobrenatural era expressa, através de mitos, ritos e crenças

mágicas, narrando fenômenos, situações e seqüências de fatos difíceis

de serem tidos como verdades, de serem reconhecidos como algo

relacional entre o homem e sua razão ou sua situação no mundo, entre o

homem e a natureza, entre os homens e seus semelhantes.

Seus comportamentos típicos, em nada lembravam o homem

branco, nem tampouco sua forma de vestir, de comer, falar e de se

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relacionar. Estava aí proclamada a idéia de que todos os povos, apesar

das diferenças no modo de pensar, agir e viver , são parte de uma única

humanidade, pois toda a humanidade se define enquanto produtora de

linguagem e de cultura. Há uma população, encontrada em diversas

partes do nosso planeta, diversificada internamente, que compartilha o

fato de acreditar nos mitos e que os escolhe como forma de pensar o

mundo e se expressar, por entenderem que as narrativas míticas contam

verdades. E não quaisquer verdades, mas grandes e importantes

verdades, que todos precisariam conhecer.

O mito é um modelo, para que o rito aconteça, sacralizando o

profano. O fato de uma das características do mito estar na maneira de

formular e expressar as idéias e imagens pela qual se constitui, sugerem

uma relação particular entre o mito e a história daqueles povos

responsáveis por sua existência. Um dos recursos básicos para a

produção dos mitos era a metáfora, também os elementos concretos da

natureza como os astros, as intempéries, os animais, as plantas, as

montanhas, os rios, o céu, os cheiros, os sabores, ainda as experiências

da vida como o parto, a morte, o sexo, a troca, a caça, os filhos, as mães

e também as relações existentes como a obediência, a traição, a

generosidade, a timidez e a inveja. O debate sobre a racionalidade ou a

irracionalidade dos mitos marcou toda a história da antropologia do

século. Naquele período pensou-se nos mitos como explicações

inventadas por aqueles povos diante de fenômenos fortes e importantes

como a morte, o dilúvio, o eclipse ou a origem do mundo, que não eram

capazes de compreender. Eram, portanto, pensamentos como o próprio

mito, explicações falsas e deficientes, incapazes de compreender o que

a ciência, mais tarde, viria a fazer.

Mas à medida que a empresa colonial se expandia e que os

viajantes, missionários e pesquisadores registravam e difundiam, para o

ocidente as narrativas dos povos nativos dos continentes colonizados,

logo se constatou as relações entre o que os mitos diziam e o modo como

aquele povo estava organizado. Então se pensou nos mitos como

"modelos" para o comportamento das pessoas em sociedade, narrativas

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que explicavam a origem da ordem social e que contribuíam para a

preservação da paz e do equilíbrio social entre eles, evitando os conflitos.

O conhecimento de todos esses fatos mudou o ponto de vista dos

“civilizados” sobre os “não-civilizados”.

Conhecer o mundo é, pois, imensurável para a experiência humana

e, embora tal experiência seja vivida de maneira singular, por cada grupo

social, em tempos e condições particulares de existência, os mecanismos

que permitem conhecer o mundo são os mesmos. A mente humana opera

segundo os mesmos princípios em todos os lugares e, por isso, é

necessário aprender os novos significados e o constante diálogo entre

culturas diversas.

A linguagem mítica é essencialmente simbólica, com imagens

concretas, e se conhece pelas histórias narradas, que falam de temas e

questões que dizem respeito a toda a humanidade. Mitos são produzidos

por culturas específicas e expressam questões próprias aos contextos

sociais que lhes deram origem. As vivências e as imagens construídas

para falar deles são particulares, criadas em contextos culturais

específicos, mas as questões de que tratam os mitos são essencialmente

humanas, por dizerem respeito à própria condição humana no mundo e

ultrapassam as particularidades culturais de um povo ou de uma

sociedade específica..

Os mitos são, por tudo o que vimos, um lugar para a reflexão.

Através de símbolos, de histórias e personagens os mitos falam de

complexos problemas filosóficos que os homens, por sua própria

condição no mundo, deveriam conhecer. Aparentemente ingênuos ou

inconseqüente, os mitos são coisa séria. Como se constroem com

imagens familiares e símbolos do dia-a dia, os mitos têm muitas

significações diferentes e são repetidamente apresentados ao longo da

vida dos indivíduos que, à medida que amadurecem social e

intelectualmente, vão descobrindo novos significados nas mesmas

histórias de sempre, já compreendidas um dia. Isso mostra que os mitos

são de muito difícil compreensão. As verdades que contém são expressas

com valores e significados próprios a cada cultura. Para chegar até elas é

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necessário um conhecimento bastante denso dos contextos sócio-

culturais que lhes servem de referências. E assim as comunidades

indígenas conseguem mostrar suas verdades essenciais, em uma

linguagem acessível e ao mesmo tempo entram em contato com a

sociedade sobre questões cuja complexidade irá aos poucos descobrindo

e compreendendo.

Mas em algumas sociedades, os mitos são mais explícitos, em

suas referências à organização social ou a determinadas instituições

sociais . Os mitos, assim, falam sobre a vida social e o modo como ela

está organizada e foi concebida. Não a refletem simplesmente, mas

tornam-na objeto de questionamento e estimulam a reflexão sobre as

razões da ordem social. Bastante freqüentes são os mitos que se

articulam a ritos específicos, fazendo-o através de uma vinculação

explícita, como cenários, personagens e assuntos comuns ou

indiretamente em uma abordagem própria a um tema que é diversamente

mostrado em algum ritual. Algumas vezes, os rituais são dramatizações

do que é narrado nos mitos e outras vezes são linguagens próprias que,

cada uma a seu modo, trabalham temas centrais da vida social ou da

cosmologia do grupo, justificando o emocional coletivo e descortinando

toda a referência representativa e participativa do povo no mundo.

Outra forma de mostrar sua relação com a vida sempre foi através

da arte. Cada povo com sua simbologia, pintada em pedras, que serviam

de delimitação territorial, em peças cilíndricas de barro cosido , em peças

de cerâmica e em suas armas. Posteriormente começaram a trabalhar o

algodão e a tecer mantas. As figuras usadas para a concretização dessa

arte eram os triângulos, os círculos, as espirais, os cones, as figuras

humanas, o sol, a serpente e outros animais.Também o artesanato

confeccionado em ouro era algo maravilhoso, até hoje admirado em

museus. Mas o melhor gênero de pintura indígena foi o praticado em

seus próprios corpos, tal como tatuagens.

Atualmente muita coisa mudou. Alguns povos foram aculturados

como os Muiscas, outros desapareceram como os Catios, embora seus

descendentes contem suas histórias pelos departamentos de Chocó,

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Córdoba e Antioquia. Os Kogis, os Mocoas, Paeces e Úwas sobreviveram

e se encontram espalhados por todo território colombiano. Vejamos

algumas características de cada um deles.

Os Muiscas

Eram os mais organizados dentre todos, motivo pelo qual

terminaram aculturados. Eram inteligentes, valorosos, mas sofridos.

Foram basicamente agricultores e tiveram grande conhecimento sobre os

ciclos das chuvas, as fases da lua e o cuidado com o cultivo. Suas terras

eram planas, com irrigação natural apoiada pelos rios e lagoas que as

cercavam. Cultivavam batata, feijão, tomate, goiaba, milho, que usavam

para o preparo de bebidas embriagantes como a chicha, dentre outras

culturas. Eram muito trabalhadores e tinham como principais atividades

econômicas , além da agricultura, a mineração, a pesca, a caça, a

industria têxtil, a ourivesaria e o comércio. Na mineração se destacavam

na exploração do sal, do carvão e das esmeraldas. Da pesca tiravam seu

sustento e caçavam veados, tatus, coelhos e perus.

Eram cultivadores e consumidores de coca, tabaco e yopo,

principalmente em seus ritos religiosos. Na indústria têxtil produziam

suas mantas finas e coloridas, usadas como vestes. A arte com o ouro e a

cerâmica tinha duplo significado: o estético, com os “tunjos” que eram

peças de pequenas figuras humanas feitas de uma lâmina fina de ouro e o

religioso, que usavam para enfeitar seus cemitérios, como a patena, que

eram discos de ouro para cobrir vasos, além dos instrumentos

musicais.No comércio trocavam o sal por topázios, ametistas e ouro, que

logo eram polidos e talhados para, então, voltarem a comercializar.

Também trocavam suas terras frias por outras planas e boas para o

plantio. Obtinham o algodão nas trocas, para a elaboração de ponchos

decorados, o que, aliás, fazem até hoje, comercializavam largamente e

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chegaram a usar o disco de ouro como moeda. A base da organização

social chibcha foi a família.

Os matrimônios eram realizados entre pessoas da mesma tribo, os

chefes tinham várias esposas e surgiram as diversas classes sociais: os

nobres, os sacerdotes, os guerreiros, os comerciantes e o povo, que eram

os agricultores, mineiros e artesãos. Os sacerdotes eram também

médicos e bruxos, mas para alcançar esta posição o índio tinha que

estudar durante muitos anos, em uma espécie de seminário. Todos se

vestiam com túnicas e mantas amarradas pelas pontas no ombro,

fabricadas com telas grossas de algodão e adornadas com riscos

coloridos. Os personagens mais importantes vestiam mantos mais finos,

com cores mais sóbrias e usavam adornos feitos de cerâmica. Não

usavam calçados. Usavam plumas de aves coloridas na cabeça e também

braceletes, colares narigueiras e peitorais de ouro.

Na religião, representaram em diferentes animais suas divindades e

situaram o homem no centro da natureza. O homem representava a força,

o poder, a sabedoria, a prudência, enquanto a mulher representava a vida,

a fertilidade e a organização. Adoravam o sol e a lua, e rendiam culto à

água e ao arco-íris.O deus principal era Chimininchagua, que era a origem

de tudo ,o criador da luz, o protetor, mas também se lhe ofendesse ele se

tornava vingativo. Suas festas eram solenes, suas procissões

concorridas. Os índios, em geral, rendiam culto aos mortos e por

acreditarem na imortalidade da alma, os enterrava com alimentos, jóias e

vestes. A morte era concebida como o começo de uma viagem, que

conduziria a um mundo parecido com o deles e a vida por lá seria fácil ou

difícil de acordo com o comportamento tido na terra.

Os Catíos

Foram uma comunidade inteligente, organizada, valorosa e a mais

brava do Novo Reino de Granada. As etnias Catía foram mais lutadoras

que as etnias Chibcha. A economia se baseava em uma agricultura de

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muitos produtos e de um bom comércio com tribos aliadas da região.

Praticavam também a medicina com afinco. E até hoje seus descendentes

conservam ainda a instituição do “Jaibanismo”, que consiste em investir

em quem corresponde à dignidade médica. Esta unção se dá em uma

cerimônia cheia de ritos onde é entregue um bastão mágico, que jamais

poderá ser abandonado e que será usado para as curas de todas as

doenças. Os Catíos possuem uma fascinação por sua história, que

perpetuam com cantos e danças.

Já os conquistadores os acusavam de serem antropófagos, pois

diziam que os índios engordavam seus prisioneiros para depois devora-

los. Isso provocara a ira dos colonizadores que logo trataram de

extermina-los. Mas, de acordo com uma investigação da Universidade de

Antioquia concluiu-se que noventa por cento dos antinhoquenhos

descendem de uma mulher índia, somente um por cento descende de um

homem indígena e noventa e quatro por cento descende de um homem

europeu, testemunhando, portanto, um genocídio e um etnocídio, pois os

espanhóis aniquilaram os índios para tomarem-lhes as mulheres.

Os Úwas

Constituem um povo ameríndio de língua chibcha e encontram-se

assentados nos departamentos de Santander, Arauca e Boyacá. São

fundamentalmente agricultores, praticam a pesca, a caça e três vezes ao

ano habitam e exploram lugares com temperaturas diferentes. Em cada

estação e um entorno residencial específico, cantam seus diferentes

mitos. Estão divididos em clãs matrilineares. Cada pessoa procura casar-

se com integrantes do grupo onde se casaram seus antepassados. Daí,

esforça-se para que os filhos que tiver sejam a reencarnação da geração

de seus tataravôs. Desde 1993 eles estão em conflitos constantes com as

companhias petrolíferas, devido a discordância em relação à exploração e

exportação de hidrocarbonetos em seu território.

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Os Paeces

Têm como habitat Tierradentro, um dos espaços indígenas mais

importantes do país. São primordialmente agricultores e a terra para eles

é a razão da vida e da segurança. A base da organização social e política

deste povo é uma câmara, que é eleita anualmente e composta por um

governador, um secretário, um prefeito, um chefe de polícia e um fiscal.

Os eleitos recebem um bastão como símbolo de sua autoridade. Por volta

de 1920 os brancos se opuseram a essa organização por ser o centro da

autoridade dos índios, mas eles continuam a manter vivo esse ideal e têm

alcançado vitórias, como a formação do Conselho Regional Indígena de

Cauca, departamento onde vivem, que busca recuperar a autonomia

política, econômica e cultural dos indígenas em geral. Sempre foram

determinados e destemidos, por isso combateram ferozmente aos

conquistadores e atualmente estão dedicados a agricultura e a pecuária,

conservando vivas a tradição e a imagem de sua heroína, a cacica

Gaitana.

Os Kogis

Constituem um povo ameríndio que habita no norte, na região da

Serra Nevada de Santa Marta, distante cerca de sessenta kilometros do

mar. Falam a língua da família chibcha. Sua diferença dos demais é ser

uma sociedade feminina, do tipo matriarcal. Sua divindade suprema é

uma mulher, a mãe universal, criadora de tudo o que existe e da qual

nasceu o gênero humano, a terra, as plantas e os animais. É a mulher

que cultiva a terra, desde o plantio até a colheita. Vivem em povoados de

casas circulares, com alguma hierarquia e um templo feminino e outro

masculino, pois sua grande espiritualidade é uma de suas mais fortes

característica. Os sacerdotes Kogis recebem o nome de Mama, que

também significa sol, encarnam a lei sagrada e são as autoridades

centrais dessa cultura. Eles celebram grandes cerimônias em honra ao

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Sol e à Lua, festejando ritos em seu centro sagrado, cuja principal casa

simboliza o Cosmo. Festejam coletivamente, também, antes da

semeadura para consagrar a semente. Enfim, as famílias se reúnem nos

povoados para realizar trabalhos coletivos, celebrar festas ou discutir em

assembléia temas de interesse comum. Pela noite os homens celebram

reuniões no templo, fazem confissões e recebem conselhos de Mama. A

base da economia é a agricultura de subsistência e cultivam batata, yuca,

milho, feijão, banana e cana de açúcar. Também criam animais

domésticos, pescam e caçam em pequena escala. Produzem panelas para

uso próprio e da coletividade. Conservam as tradições culturais dos

Taironas, dos quais são descendentes, entre elas a de “mambiar”, que

significa mastigar folhas de coca, para resistir à fome e às duras e longas

jornadas de trabalho.

Os Mocoas

Vivem nas vertentes da bacia hidrográfica do Rio Mocoa, a uma

altura de até mil metros do nível do mar, junto à Cordilheira dos Andes.

Dedicam-se ao cultivo de frutas, à caça, à pesca, à tecelagem de fibras de

palma para a confecção de cestas e elementos de uso diário. Também se

dedicam à cerâmica e ao preparo de peles para o artesanato. À nação

indígena dos Mocoas se incluem os Kamsá, que têm procedência

polinésia , os Ingano e os Andaquí. Por ser um grupo pré-colombiano e

com antecedentes migratórios diversos, os Mocoas formavam uma nação

que acumulava aspectos relevantes de cada tribo e grupo social e os

adotavam em um processo de transculturação de médio

desenvolvimento, o que os fez avançar mais que as demais tribos

amazônicas. Viviam nus e pintados, tinham cabeleiras longas, usavam

flechas venenosas e uma arma feita com dentinhos afiados de peixes. A

organização política e social que caracterizou essa nação centro-se no

Conselho de Anciãos, que não podia ser renovado e nem deposto, pois

seus membros gozavam de um supremo poder e eram eles que

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nomeavam o chefe da tribo, realizavam as curas e decidiam os fatos mais

relevantes do grupo. Esse povo se caracterizou, sempre, por suas

superstições e por tomar o “yagé“ como rito espiritual, médico e

cabalístico. Sempre utilizaram o arco e a flecha como arma ofensiva, e

também, a zarabatana e outros elementos fabricados de ossos de animais

e madeira para a caça, a pesca e a colheita de frutas. Para animar suas

festas e cerimônias utilizavam a flauta, os tambores, os chocalhos e

outros instrumentos criados por eles mesmos. Eles sempre tiveram muito

medo dos espíritos dos mortos, dos wattis e curacas, que segundo eles

possuíam poderes sobrenaturais, realizavam encantamentos, rezas e

malfeitos; e para se defenderem efetuavam ritos contra os seus medos

ancestrais. Viviam na orla de rios para facilitar os trabalhos de pesca e

agricultura. A partir destes dados se pode recriar mentalmente o tipo de

cultura em geral da sociedade dos Mocoas, mas sua grande habilidade

para o artesanato, como as cestas, e para a cerâmica de uso doméstico

não há como mensurar.

Conclusão

A primeira grande observação a se fazer é quanto ao valor do mito

na vida de todos esses povos. Sem esses modelos, inspiradores dos

ritos, eles não teriam sequer como expressar seus pensamentos e

sentimentos, enfim, suas vidas não teriam o mesmo sentido . O contacto,

tão importante para eles, com as divindades, lhes proporcionava bom

desempenho em todas as áreas, as suas comemorações tinham como

símbolo a dança e a música e tudo era sempre baseado em algum tipo

de mito. Também o cotidiano simples refletia os diversos tipos de mitos

em cada detalhe, tanto na paz quanto na guerra. Isso mostra a grande

influência que esses mitos exerceram na sociedade indígena desde

sempre. Já na origem do mundo, contada pelo Mito Úwa, passando pela

origem do homem, contada pelo Mito Muisca, pelo tratado de educação,

contado pelo Mito Kogi, pela volta de Dabeiba ao céu, contado pelo Mito

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Catío, da origem da Água e da Lagoa da Cocha, contada pelo Mito Mocoa

até o nascimento do menino serpente Don Juan Tama, contado pelo Mito

Paez, tudo remete à idéia de que não há como imaginar a existência

desses povos sem os mitos, tão importantes para eles e tão encantadores

para os leitores.

BIBLIOGRAFIA RODRÍGUEZ, Ricardo Vélez (organizador). Seminário sobre a Filosofia dos Mitos Indígenas. 1a. ed., Juiz de Fora: Departamento de Filosofia, 2004. 54 pg. WIKIMEDIA Foundation, Inc. Categoría: Etnias de Colombia. Bogotá, 2007. 36 artículos.

Anexo:

INDÍGENAS SOBREVIVENTES DA COLOMBIA

Fala-se em uma cifra de 450 a 500 mil indígenas na Colômbia,

pertencentes a cerca de 81 etnias diferentes, com 64 distintas línguas

faladas. O grupo mais numeroso é o dos Paeces, cerca de cem mil,

que habitam o sudeste do país. Seguem os Guajiros ou Wayú, com

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uns 73 mil indivíduos, que ocupam as terras da península de La

Guajira.

Outros grupos demograficamente importantes são os Chócos,

habitantes das selvas úmidas do ocidente do país e de algumas áreas

limites da cordilheira. Com menor número de habitantes, mas com

variedade de grupos étnicos, se encontram os povoadores da

Amazônia, que se estima sejam 50 mil, repartidos em cerca de 50

grupos étnicos, entre eles estão os Ticunas, Witotos e Guahibos.

Outros grupos menos densos em povoação, mas igualmente

complexos em relação a suas formas culturais, são os Kogis, os

Guambianos, os Noananás ou Waunana, os Yagua, entre outros.

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