missÃo - conceito e história

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conceito e história Prof. Ms. Paulo Dias Nogueira Não se deve ignorar ou mesmo querer controlar a evolução semântica dos termos utilizados tradicionalmente pela igreja cristã para designar sua ação no mundo: Missão, Evangelização, Ministério e Pastoral. Respondendo a cada momento histórico, teólogos, missiólogos e pastoralistas (formais ou não) conceituavam estes termos, com vistas a apresentar horizontes de ação para a igreja. Dependendo do momento estes termos recebiam novos significados, por isso, conceituá-los, hoje, não é uma tarefa fácil. O que se pode afirmar é que todos estes termos foram utilizados pela igreja para designar sua ação no mundo. Porém, mais que uma discussão conceitual, a problemática em torno destes termos é uma questão “eclesiológica, com consequências missiológicas e praxiológicas”. 1 Neste sentido vale lembrar a crítica que Richard Shaull fez ao protestantismo histórico ao apresentar sua proposta de renovação eclesiológica fundamentada na máxima calvinista: Ecclesia reformata semper reformanda (Igreja reformada e sempre reformando): Em termos teológicos, a igreja pode ser uma comunidade missionária; nos fatos reais, constituiu-se num sério obstáculo à obra das missões. A congregação local tira a pessoa do mundo e absorve seu tempo num programa religioso, em lugar de deixá-la em liberdade para a sua missão no mundo. Nossas organizações eclesiásticas não são bons exemplos desse tipo de exército dinâmico e flexível que dirige suas energias principalmente para o testemunho e o serviço dos que se encontram fora. As juntas e organizações missionárias, e seu justificado desejo de transferir uma crescente responsabilidade 1 BARRO, Jorge Henrique. A Pastoral em perspectiva Latino-Americana: um ensaio à transformação da realidade. In: KOHL, Manfred W; BARRO, Antônio Carlos. Ministério Pastoral Transformador. Londrina: Descoberta, 2006. p. 37

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conceito e história Prof. Ms. Paulo Dias Nogueira

Não se deve ignorar ou mesmo querer controlar a evolução semântica dos

termos utilizados tradicionalmente pela igreja cristã para designar sua ação no mundo:

Missão, Evangelização, Ministério e Pastoral. Respondendo a cada momento histórico,

teólogos, missiólogos e pastoralistas (formais ou não) conceituavam estes termos, com

vistas a apresentar horizontes de ação para a igreja. Dependendo do momento estes

termos recebiam novos significados, por isso, conceituá-los, hoje, não é uma tarefa

fácil. O que se pode afirmar é que todos estes termos foram utilizados pela igreja para

designar sua ação no mundo.

Porém, mais que uma discussão conceitual, a problemática em torno destes

termos é uma questão “eclesiológica, com consequências missiológicas e

praxiológicas”.1 Neste sentido vale lembrar a crítica que Richard Shaull fez ao

protestantismo histórico ao apresentar sua proposta de renovação eclesiológica

fundamentada na máxima calvinista: Ecclesia reformata semper reformanda (Igreja

reformada e sempre reformando):

Em termos teológicos, a igreja pode ser uma comunidade missionária; nos fatos reais, constituiu-se num sério obstáculo à obra das missões. A congregação local tira a pessoa do mundo e absorve seu tempo num programa religioso, em lugar de deixá-la em liberdade para a sua missão no mundo. Nossas organizações eclesiásticas não são bons exemplos desse tipo de exército dinâmico e flexível que dirige suas energias principalmente para o testemunho e o serviço dos que se encontram fora. As juntas e organizações missionárias, e seu justificado desejo de transferir uma crescente responsabilidade

1 BARRO, Jorge Henrique. A Pastoral em perspectiva Latino-Americana: um ensaio à

transformação da realidade. In: KOHL, Manfred W; BARRO, Antônio Carlos. Ministério Pastoral Transformador. Londrina: Descoberta, 2006. p. 37

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a suas igrejas membros, chegaram a prender-se de tal modo a uma organização eclesiástica relativamente estática, que, com raras exceções, não conseguiram mostrar grandes possibilidades de pensar imaginativamente sobre as vastas e novas fronteiras da missão, nem se entregaram a novas aventuras nesse campo. E o movimento ecumênico a tal ponto se envolveu nas relações intereclesiásticas, que de pouco tempo dispõe para ocupar-se dos problemas cruciais que afetam a situação humana.2

Definir e conceituar esta ação da igreja no mundo tem sido a tarefa de muitos

missiólogos no decorrer dos tempos. Porém, a grande dificuldade encontrada é a de se

responder a duas perspectivas igualmente importantes, porém ambivalentes: ser uma

definição “simutâneamente concisa (que não se perca num emaranhado de idéias) e

abrangente (que não se perca na economia extrema de idéias)”. 3

Neste texto optaremos por utilizar a palavra Missão. Primeiramente, faz-se

necessário esclarecer que a utilização deste termo na atualidade, não é uma

exclusividade dos cristãos e muito menos do ambiente religioso. O termo tem sido

muito utilizado no mundo corporativo. Empresas, Instituições Sociais, Escolas,

Hospitais, Clubes deixam claros a seus clientes e usuários qual é a sua missão. Existem

no Mercado, empresas especializadas em consultoria e assessoria, onde um dos temas

é definir/conceituar qual a Missão da empresa/instituição.4 Muitas

2 SHAULL, Richard. De dentro do furacão: Richard Shaull e os primórdios da Teologia da

Libertação. São Paulo: Sagarana; CEDI; CLAI; Prog. Ec. De Pós-Grad. Em Ciências da Religião, 1985, p. 137. 3 CALDAS. Op. cit., p. 123.

4 Para exemplificar o que se afirmou, apresentamos uma propaganda da MGroup Consultores,

uma dessas empresas de consultoria, falando sobre a importância de se definir a missão de uma empresa. “Como Definir a Missão de Sua Empresa: Modismos à parte, definir a missão de sua empresa é uma boa solução para se evitarem desvios de planejamento que fatalmente poderiam reduzir seus ganhos e sua expansão dentro de seu mercado em médios e longos prazos. Ao contrário do que possa parecer, se analisarmos algumas frases que encontramos como exemplo de missão da empresa em buscas pela Internet e modernos livros de administração e marketing, a chamada “missão da empresa” não é apenas uma frase romântica que usamos para ludibriar clientes, escondendo em eufemismos nossas reais intenções de lucro - ah… você pode apostar que assim se parecem aos ouvidos da maioria dos clientes que as ouvem. A “missão da empresa” é uma espécie de carta magna da empresa, sua constituição, à forma americana de fazê-lo, sem excessos, e é responsável por definir os rumos que suas ações e decisões devem tomar durante seu planejamento e execução, na administração e no marketing. Definir a missão da empresa é definir aonde a sua empresa pretende chegar, que serviços ela pretende fornecer ao cliente, de que forma ela pretende

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empresas/instituições apresentam sua missão através de grandes banners pendurados

por suas dependências.5 Inclusive, muitas igrejas ao utilizarem as ferramentas do

Marketing em sua administração aderem a esta prática, pendurando banners em

várias partes de suas dependências, inclusive no altar.6

Para se fazer jus à relevância do tema missão para a igreja cristã, faz-se

necessário uma retrospectiva histórica que leve em conta uma abordagem

multidisciplinar.7 Devido ao enfoque deste trabalho, serão apresentadas apenas

algumas pontuações históricas, porém sem entrar numa discussão mais aprofundada

da trajetória do termo. 8

fornecer estes serviços. Gosto de acreditar que esta definição precisa ser realista, mais do que romântica, mas ainda assim conseguir inspirar todos aqueles que participarem desta missão. Para definir sua missão, leve em consideração os seguintes pontos: Que benefícios minha empresa vai oferecer ao mundo? Que produtos poderiam oferecer estes benefícios? Minha empresa pretende se focar nos produtos ou em seus benefícios (mantendo portas abertas para possíveis sub-divisões,expansões, mudanças de produto)? De que forma minha empresa quer entregar este produto ao mundo? Isto que eu quero para minha empresa é possível e palpável? (se não for, melhore suas respostas às perguntas anteriores) Como posso expressar isto tudo em poucas palavras, para que possa ser facilmente repetido e lembrado sempre que precisarmos tomar decisões na empresa? Respondendo a todas estas perguntas, sua empresa poderá criar uma frase mais ou menos parecida com esta: “A missão da MGroup Consultores é promover o questionamento e a divulgação de informações úteis e atuais para pequenos empreendedores em todo o mundo em linguagem, formatos e canais acessíveis a todos.” http://www.mgroupconsultores.com.br/2009/04/28/como-definir-a-missao-de-sua-empresa/ (acessado em 28/05/2009). 5 Ainda que se tenha citado apenas o banner, existem outras formas das empresas/instituições

apresentarem sua missão aos seus clientes e usuários: cartas (correio), e-mail, folders, panfletos, propagandas em jornais, revistas, rádios, sites e televisão. 6 Neste sentido vale consultar a dissertação de mestrado de Celso Alves da Ponte, cujo título é:

O uso das ferramentas de Marketing para administrar Igrejas. Ele fez um estudo de caso da Igreja Batista de Água Branca. Ao abordar o tema da missão ele afirmará: “Como disse David Packard, a Missão responde porquê estamos aqui? .1 Responde também a perguntas como: qual é a nossa tarefa? o que temos para oferecer ao mercado? qual é a atividade que justifica nossa existência? o que pretendemos Marketing para administrar Igrejas 7 fazer? qual o nosso propósito? qual é a razão pela qual existimos. Um bom caminho para encontrar a Missão é fazer a pergunta sobre a necessidade do mercado que a organização pretende suprir. Em outras palavras, perguntar: qual é o nosso negócio? qual é o nosso ramo de atividades?A Declaração de Missão, portanto, deve conter no mínimo duas informações, a saber: (1) cliente e (2) produto ou serviço”. http://www.bocc.ubi.pt/pag/ponte-celso-ferramentas-marketing.pdf (acessado em 28/05/2009). 7 CALDAS. Op. cit., p. 124.

8 Para uma maior compreensão da evolução histórica do conceito de missão da igreja conferir:

numa leitura protestante: BOSCH, David J. Missão Transformadora: mudanças de paradgma na teologia da missão. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2002. Numa leitura Católica Romana: SANTOS, Angel. Teologia Sistemática de la Missión Estela, Navarra: Verbo Divino, 1991.

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Bosch ao introduzir seu livro afirmará que o conceito de missão para os

cristãos, ainda que não fosse unívoco, teve um conjunto de sentidos relativamente

circunscritos até a década de 50 do século XX:

... designava: a) o envio de missionários a um território especificado; b) as atividades empreendidas por tais missionários; c) a área geográfica em que os missionários atuavam; d) a agência que expedia os missionários; e) o mundo não-cristão ou “campo de missão” (cf. Ohm 1962:52s). Num contexto ligeiramente diferente esse termo também podia designar: g) uma congregação local sem um pastor residente e que ainda dependia do apoio de uma igreja mais antiga, estabelecida; ou h) uma série de serviços especiais destinados a aprofundar ou difundir a fé cristã, em geral num ambiente nominalmente cristão. Se tentarmos elaborar uma sinopse mais especificamente teológica de “missão” assim como o termo tem sido usado tradicionalmente, observamos que ela foi parafraseada como: a) propagação da fé; b) expansão do reinado de Deus; c) conversão dos pagãos; e d) fundação de novas igrejas (cf. Muller 1987:31-34).9

Porém a partir de 1950 houve uma significativa ampliação do conceito. Porém

antes de nos atermos ao século XX, principalmente na segunda metade, faz-se

necessário um rápido olhar pelo retrovisor da história da Igreja.

Grande parte dos livros de introdução a missiologia, tendem a começar a

abordagem do tema pelos “fundamentos bíblicos da missão”. Após estabelecerem

estes fundamentos, os autores desenvolvem pesquisas exegéticas que os permitem

formular uma “teoria” ou “teologia” sistemática da missão.10 David Bosch, em seu livro

“Missão Transformadora: mudanças de paradigma na teologia da missão”,11 assumiu

9 BOSCH ( 2002). Op. cit. p. 17.

10 Ibid., p. 33.

11 Ibid., p. 09. Nas palavras de Gerald H. Anderson, é possível identificar a grande importância

da obra de Bosch: “Quando Missão Transformadora foi lançado, o livro foi recebido com aclamação crítica, reconhecido como uma obra monumental, magistral e uma excelente ferramenta de ensino. Foi escolhido como um dos ‘Quinze Livros de Destaque de 1991 para o

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uma abordagem diferente. Preferiu refletir sobre o tema, a partir do Novo

Testamento,12 analisando particularmente o ministério de Jesus e, depois, da igreja

primitiva, através dos textos de três importantes escritores bíblicos: Mateus, Lucas e

Paulo.13 Para ele, no Antigo Testamento, não há indícios de que o povo foi “enviado a

cruzar fronteiras geográficas, religiosas e sociais para conquistar outras pessoas para a

fé em Javé”.14 Contudo, o Antigo Testamento é fundamental para a compreensão de

missão na perspectiva do Novo.15 Mais do que buscar termos bíblicos ou mesmo uma

definição única de missão da Bíblia, Bosch se propôs a apresentar a percepção que três

importantes testemunhas da igreja primitiva (Mateus. Lucas e Paulo) tinham do

ministério de Jesus e respectivamente da responsabilidade da igreja frente ao mundo.

Portanto não há uma definição ou um modelo de missão bíblicos. Há, sim, percepções

diferentes da ação da igreja no mundo. Em lugares diferentes, com culturas diferentes,

em momentos diferentes, respondendo a desafios diferentes, a igreja precisou mudar

sua concepção e estratégia missionárias. Neste sentido afirma Emílio Castro:

Estudo da Missão’ pelo periódico international Bulletin of Missionary Research. Mas esta obra é mais que isso. Missão transformadora está numa classe toda própria. Tornou-se uma referência padrão no estuda da missão cristã mundial, sendo talvez o livro-texto mais usado em aulas e cursos de missão. O magnum opus de David Bosch transformou-se em seu legado permanente para todas as pessoas que procuram entender, servir e disseminar a causa de cristo no mundo”. 12

Bosch fez seu doutorado em Basiléia na área de Novo Testamento. 13

Ibid., p. 33-223 - No primeiro capítulo de seu livro, Bosch afirmará que Jesus é o fundamento da Missão, nele o ato redentor do reino de Deus se manifesta. No contexto do século I, Jesus choca o establishment religioso judaico com sua missão oniabrangente, anunciando salvação para os “pecadores” e para os fariseus, tanto aos ricos, quanto aos pobres. No segundo capítulo percorre o evangelho de Mateus, destacando que o conceito de missões está por todo o texto e não somente na Grande Comissão. Dentre os textos pode-se destacar: A parábola dos arrendatários em Mt 22, onde o reino é tirado de Israel e dado a um outro povo que produzisse mais frutos. No terceiro capítulo, analisando os dois escritos de Lucas (Lucas e Atos dos Apóstolos), No Evangelho, Bosch ressalta a preocupação de Jesus com os pobres e com a necessidade dos ricos se arrependerem de suas injustiças. Em Atos, a missão aos gentios mais especificamente nos textos que tratam dos samaritanos, apresenta a expansão da missão de Jerusalém a todas as nações. Apesar de ênfases diferentes os dois textos se correlacionam. O Espírito Santo é o ponto de ligação entre os dois volumes, pois foi através dele que Jesus iniciou e realizou sua missão, e também foi através dele que a igreja iniciou e realizou a sua missão. No quarto capítulo, apresenta a missiologia de Paulo. Faz uma distinção entre a apocalíptica paulina e a judaica. Define a judaica como pessimista diante do presente, enquanto a paulina trabalha em prol da redenção do mundo, aguardando a completa manifestação do reino de Deus. Nestas 190 páginas Bosch se propos a apresentar a percepção que três importantes testemunhas da igreja primitiva (Mateus. Lucas e Paulo) tinham do ministério de Jesus e respectivamente da responsabilidade da igreja frente ao mundo. 14

Ibid., p. 35. 15

Ibid., p. 35.

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Há um certo consenso de que Jesus concebia a sua missão, bem como a de seus discípulos, como estando confinada a Israel (Mt 10.5). Talvez ele partilha-se da esperança do Antigo Testamento de que as nações viriam render culto em Jerusalém... Nos Atos, a Igreja é apresentada aprendendo as implicações da vinda de Jesus para a sua vida no mundo. Foram necessários muitos acontecimentos inquietantes para que a Igreja Primitiva se convencesse de sua vocação transcultural. Quando o Espírito Santo desceu sobre eles no Pentecostes, os discípulos conseguiram comunicar-se com os peregrinos e fiéis de Jerusalém. A perseguição espalhou os cristãos; também lhes deu a oportunidade de explicar os acontecimentos de Jerusalém a grupos mais abrangentes. Uma revelação especial transformou Saulo, o odiado perseguidor, em Paulo, o apóstolo dos gentios. As visões de Pedro e Cornélio representaram uma verdadeira abertura na compreensão da abrangência do Reino de Deus. Como a sua compreensão do sentido e da expectativa da parousia mudou, aumentando a sua percepção do verdadeiro significado da cruz e da ressurreição, eles conseguiram articular uma visão do Reino abrangendo todo o oikoumene. Isso marcou o grande salto da missão centrípeda para a missão centrífuga.16

Para apresentar um conceito de missão relevante para a época atual, não se

deve saltar diretamente dos tempos bíblicos para hoje. Deve-se levar em conta os

vinte séculos de história. Apelar para os escritos bíblicos, aplicando-os literalmente à

sociedade atual sem uma pesquisa exegética apurada, pode gerar interpretações

equivocadas com resultados drásticos. Deve-se compreender que a(s) sociedade(s)

para qual Mateus, Lucas e Paulo dirigiram seus escritos, são profundamente

dessemelhantes da(s) sociedade(s) atual(is). Para Bosch,

16

CASTRO, Emílio. Servos Livres: missão e unidade na perspectiva do Reino, Rio de Janeiro: CEDI, 1986. p. 85-86

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As Escrituras vêm a nós em forma de palavras humanas, que já são “contextuais” (no sentido de terem sido redigidas para contextos históricos muito específicos) e, ademais, suscetíveis de interpretações distintas. Mas, ao fazer essa afirmação, estou sugerindo um “ponto de orientação” que todas as pessoas cristãs compartilham (ou deveriam compartilhar) e a partir do qual o diálogo entre elas se viabiliza. Nenhum indivíduo ou grupo possui aqui um monopólio. Assim, a igreja cristã deveria funcionar como uma “comunidade hermenêutica internacional” (Hiebert 1985b:16) em que cristãos (e teólogos) de diferentes contextos questionam, reciprocamente, seus vieses culturais, sociais e ideológicos. Isso pressupõe, entretanto, que vejamos os outros cristãos não como rivais ou adversários, mas como parceiros (Küng 1987:198), mesmo que possamos estar apaixonadamente convictos de que seus pontos de vista carecem de correções substanciais.

17

Esclarecer a impossibilidade de se obter um conhecimento absoluto e imutável

das coisas é uma preocupação de Bosch. Ele afirmará que em muitos momentos da

história, houve cristãos (e teólogos!) acreditando que sua compreensão da fé era

“objetivamente” exata e, portanto, a única interpretação autentica do cristianismo.18

Segundo ele,

Somente é possível apreciar a magnitude do desafio contemporâneo se o examinarmos tendo como pano de fundo quase vinte séculos de história eclesiástica. Além disso, necessitamos das perspectivas do passado a fim de avaliar o escopo do atual desafio e conseguir realmente compreender o mundo hodierno e a resposta cristã à sua situação. 19

17

BOSCH (2002). Op. cit., p. 235. 18

BOSCH (2002). Op. cit., p. 228. 19

Ibid., p. 237.

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Ao expor como a igreja cristã no decorrer da história interpretou e realizou sua

missão, Bosch subdividiu em seis paradigmas diferentes:

APOCALÍPTICO DO CRISTIANISMO PRIMITIVO: foi apresentado acima (analisou

a percepção missiológica de três importantes escritores bíblicos: Mateus, Lucas e

Paulo).

HELENÍSTICO DO PERÍODO DA PATRÍSTICA: foi o momento em que o

cristianismo passou de uma religião judaica a uma religião greco-romana, época esta

em que mesmo não havendo uma teologia homogênea, verifica-se “contornos de um

paradigma único e coerente”. Um texto bíblico que sintetiza este paradigma é o de

João 3:16, “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único Filho, para que todo

aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Para a igreja oriental o

fundamento da missão é o amor, e seu objetivo principal promover a vida. Estava mais

calcada numa teologia joanina, que paulina.

CATÓLICO ROMANO MEDIEVAL: um texto bíblico que sintetizaria este

paradigma é o de Lucas 14:23: “e os obrigue a entrar”. Mesmo não fazendo uma

alusão explícita ao texto de Lucas, durante a idade média a igreja, aplicou uma

metodologia missionária que obrigava a conversão dos pagãos e judeus (em certos

momentos pela força e em outros por lisonjas). A busca por conquistar ou reconquistar

as cidades tomadas pelo islamismo, levou a igreja-estado a implementar uma missão

de cruzada (guerra santa).

PROTESTANTE (da Reforma): esse paradigma pode ser sintetizado através do

texto bíblico de Rm 1:16-17, “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder

de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do

grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está

escrito: O justo viverá por fé”. Quem precipitou o início deste paradigma foi Martinho

Lutero. A Reforma Protestante não rompeu totalmente com o paradigma católico

medieval, porém, trouxe novidades que repercutiu na compreensão e realização da

missão. Pode-se destacar: a doutrina da justificação pela fé; doutrina do pecado

(catolicismo medieval se concentrava nos muitos pecados da humanidade, o

protestantismo fala do pecado ‘original’); subjetividade da salvação; sacerdócio de

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todos os crentes; a centralidade das Escrituras. Estes cinco traços acarretaram

importantes consequências, positivas e negativas, para a compreensão e

desenvolvimento da missão neste período.

MODERNO DO ILUMINISMO: antes do iluminismo, a vida em todos os seus

âmbitos era permeada pela religião (as leis, a ordem social, o etos privado e público, o

pensamento filosófico, a arte), porém com sua chegada foi assumido um

antropocentrismo radical. A partir deste período a fé cristã perdeu seu caráter de

tácita obviedade, levando-a a sentir-se num mundo estranho e hostil, onde deveria se

autoafirmar. Para demarcar a influência do iluminismo sobre a teologia cristã pode-se

apresentar sete características deste paradigma: a razão (passou a ser importante

também na teologia cristã); separação entre sujeito e objeto utilizado nas ciências

naturais foi aplicada à teologia; a eliminação do propósito da ciência e sua substituição

pela causalidade direta como chave para a compreensão da realidade; otimismo no

progresso foi aplicado à teologia e à igreja; distinção entre fato e valor (o iluminismo

permitia aos indivíduos selecionarem a seu bel-prazer valores entre uma ampla gama

de opções); todos os problemas, a princípio, são solucionáveis; os indivíduos são seres

emancipados e autônomos. Diferentemente dos paradigmas anteriores onde pode-se

encontrar um traço padrão e até uma referência bíblica que representasse o

pensamento e a prática missionária da igreja, neste, há um entendimento diversificado

e multifacetado do tema. Dentre várias pode-se citar pelo menos três referências

bíblicas, que representam grupos e entendimentos diferentes sobre a missão: a) At

16:9, “passa à Macedônia e ajuda-nos”, acreditando que os outros povos estavam em

trevas e que os ocidentais cristãos iriam salvá-los; b) Mt 24:14”E será pregado este

evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá

o fim”, os pré-milenaristas firmam a missão nesta visão; e, c) Jo 10:10, “Eu vim para

que tenham vida e a tenham em abundância”, alguns grupos comprometidos com o

Evangelho Social.

ECUMÊNICO EMERGENTE: Este paradigma ainda está emergindo não está claro

que configuração final assumirá. Até o momento falou-se do passado, agora no

entanto, ao falar do presente utiliza-se provisoriamente o paradigma da pós-

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modernidade. Este tempo é marcado pela contestação das máximas levantadas pelo

iluminismo (citadas no item anterior). Eventos da história mundial abalaram

profundamente a civilização ocidental: duas guerras mundiais; revoluções russa e

chinesa; horrores perpetrados por governantes em nome do nacional-socialismo,

fascismo, comunismo e capitalismo; colapso de grandes impérios coloniais ocidentais;

rápida secularização do ocidente e outras partes do mundo. A igreja, a teologia e a

missão, não ficam incólumes a tudo isso, são influenciadas e influenciam esta

sociedade. Neste novo paradigma, pós-moderno, a igreja necessita posicionar-se de

forma criativa diante da sociedade para cumprir sua missão.

Ao apresentar esta subdivisão, Bosch estava seguindo a proposta de Hans

Küng,20 quando apresentou a história do pensamento cristão em seis grandes eras.

Deve-se ressaltar que esta idéia não é original, pois Küng utilizou-se da divisão

apresentada por Thomas Kuhn21 ao desenvolver sua teoria das mudanças de

paradigmas em ciências.

20

KÜNG: Hans Küng nasceu na Suíça, em 1928, estudou na Universidade Gregoriana em Roma e Paris. sendo ordenado padre católico romano em 1954. Lecionou na Universidade de Tübigen (1960-96), onde também dirigiu o Instituto de Pesquisa Ecumênica a partir de 1963. Nomeado pelo papa João XXIII como consultor teológico, teve um papel central na redação do documento final do Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Modernizou radicalmente áreas essenciais do ensino e da prática católicos. Desde o início dos anos 1960, questiona doutrinas tradicionais da Igreja Católica, como a infalibilidade papal. Em 1979, foi censurado pelo Vaticano, que o proibiu de lecionar como teólogo católico, porém, a Universidade Gregoriana nomeou-o para uma cadeira de teologia ecumênica. Ao se aposentar, em 1996, tornou-se presidente da Fundação de Ética Global em Tübingen. (http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/642 - acessado em 29/05/2009). 21

Thomas Kuhn nasceu em 18 de Junho de 1922, em Cincinnati, em Ohio, EUA. Formou-se em Física (summa cum laude) em 1943, pela Universidade de Harvard. Recebeu desta mesma instituição o grau de Mestre em 1946 e o grau de Doutor em 1949, ambos na área de Física. Após ter concluido o Doutoramento, Kuhn tornou-se professor em Harvard. Leccionou uma disciplina de Ciências para alunos de Ciências Humanas. Segundo OLIVEIRA e CONDÉ: “Thomas Kuhn é tido como um divisor de águas na história das ciências. Sua noção de paradigma como algo que circunscreve o que o cientista observa e problematiza, e a consideração de que diferentes paradigmas científicos são incomparáveis (“incomensuráveis”) teria fomentado uma abordagem sócioconstrutivista das ciências, que procura compreender a prática e o desenvolvimento científico como equivalente ao de qualquer outra instituição social, isto é, como fruto de negociações e acordos entre grupos. Dessa forma, em vez da comparação analítica das teorias, que visa à análise da coerência, ou de sua abrangência e alcance, procura-se entender o sucesso das explicações científicas como vinculado à trama social, política e institucional na qual tais explicações são produzidas, mantidas e alteradas. OLIVEIRA, B. J. e CONDÉ, M. L. L. Thomas Kuhn e a nova historiografia da ciência. ENSAIO – Pesquisa em Educação em Ciências Volume 04 / Número 2 – dezembro de 2002. (http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v4_n2/4214.pdf - acessado em 29/05/2009)

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Após este salto histórico, deve-se reconhecer que o conceito de missão foi se

transformando, paulatinamente, no decorrer dos tempos. A cada momento histórico,

missiólogos e teólogos, em nome da igreja forjavam conceitos visando firmar o

significado de missão e a forma pela qual ela deveria ser realizada. Relembrando a

afirmação de Bosch, citada acima, o conceito de missão para os cristãos, ainda que não

fosse unívoco, teve um conjunto de sentidos relativamente circunscritos até a década

de 50 do século XX.

No início do século XX a história das missões mundiais foi marcada pela

Conferência Missionária de Edimburgo (1910). Na fase preparatória desta grande

conferência aconteceram três outras conferências mundiais de missão: Liverpool

(1860), Londres (1888) e Nova Iorque (1900). Aconteceram também conferências

continentais (Ásia, África e América Latina). Todas estas conferências (mundiais e

continentais) debateram sobre temas como: tradução da Bíblia; ajuda médica;

trabalho social; literatura em língua nativa; formação de pessoal em nível nacional,

continental e mundial; lugar e formação da mulher; evangelização de novas regiões;

crescimento da igreja.22

Na seqüência a Edimburgo também foram realizadas outras conferências: Lake

Mohonk (1921), quando foi fundado o Concílio Missionário Internacional (Comim),

responsável por convocar e realizar as demais conferências; Jerusalém (1928);

tambaram (1938); Whitby (1947); Willingen (1952); Achimota (1958); e Nova Délhi

(1961), momento em que as conferências foram incorporadas ao Conselho Mundial de

Igrejas (CMI), que a partir de então ficou responsável por convocar e realizar as

conferências posteriores através de sua Comissão de Missão e Evangelismo, a saber:

México (1963); Bangcoc (1972), Melbourne (1980), San Antonio (1989) e Salvador

(1996).

Ao refletir sobre as Conferências Missionárias Mundiais (Concílios Missionários

Internacionais) verificam-se mudanças no paradigma de missão.23 Cada Conferência

22

LONGUINI NETO. Op. cit., p. 69-70. 23

LONGUINI NETO. Op. cit., p. 69-70. As afirmações sobre os paradigmas assumidos pelos Concílios Missionários Internacionais, são baseados no estudo de Longuini, que pesquisou vários documentos e os citou em seu texto.

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procurava responder às demandas de sua época, dentro de sua visão de mundo. Em

Edimburgo (1910), a preocupação era alcançar os continentes não-cristãos. Em

Jerusalém (1928), questionou-se o avanço missionário em continentes não cristãos,

pois o maior desafio no momento era o secularismo. Em Madras (1938), discutiu-se

sobre a mensagem cristã num mundo não-cristão. Em Whitby (1947), primeira

conferência após a Segunda Guerra Mundial, firmou-se os ideais de Masdra, afirmando

que igreja e missão não se separam (missiones ecclesiae). Porém, com a formação do

CMI em 1948, verifica-se sua influência sobre o movimento missionário mundial. A

primeira Conferência a ser realizada é a de Willingen (1952), onde se firma que o

ponto de partida para a missão é a Santíssima Trindade, daí o conceito de Missio Dei.

Nas palavras de Longuini, tanto a missão como a igreja, deveriam viver da Missio Dei e

na Missio Dei.24 Nesta Conferência, foi questionada a hegemonia européia e norte

americana nas missões mundiais, permitindo assim, novas leituras e novos caminhos.

Em Anchimota (1958), reafirma-se o questinamento e pela primeira vez se afirma aos

europeus e americanos: “Antes a missão tinha problemas, hoje a missão em si é o

problema”.25 Em Nova Délhi (1961), discutiu-se se as igrejas não se colocariam como

um empecilho às sociedades missionárias na realização da missão. Em México (1963),

utiliza-se pela primeira vez a expressão missão mundial em seu sentido amplo, ou seja,

referindo-se aos seis continentes. A partir de então mudou-se a concepção de missão

como uma empresa missionária ocidental. Em Bangcoc (1972), diante das ditaduras

militares e da situação de exploração e miséria na qual vivia a maior parte da

população mundial, houve uma polarização ideológica na conceituação de missão,

dando-lhe um caráter extremamente social. Em Melbourne (1980), veio a reação à

conferência anterior, cuja preocupação principal era o pobre, só que a abordagem foi

de uma missão integral (holística) que levasse em conta os vários aspectos do ser

humano, não apenas o social. Em San Antonio (1989), deu-se continuidade na mesma

linha de pensamento da conferência anterior, porém o grande avanço foi na

composição do plenário, que recebeu 43% de mulheres participando oficialmente,

bem como, muitos leigos que não eram “funcionários da missão”. Em Salvador (1996),

24

Ibid., p. 71. 25

Ibid., p. 71.

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com o tema: “Chamados para uma mesma esperança: o evangelho em diferentes

culturas”, afirmou-se que participar da missão significa cumprir a obra de Deus em

Cristo e encarnar sua presença no mundo de hoje. Nas palavras de Longuini,.26

Isso significa, oferecer os dons de misericórdia, verdade, justiça e compaixão, de modo a proporcionar vida a outros. Para realizar esta obra em unidade com outras igreja é necessário dedicar tempo para refletir sobre as Escrituras e sobre as experiências das comunidades eclesiais. Requer também uma compreensão das realidades do mundo, de seus sistemas e tendências e dos conflitos que envolvem as populações.27

Até o momento, tratou-se do Concílio Missionário Internacional (Comin), ou

seja, as Conferências Internacionais de Missão ligadas à Edimburgo (1910), e que se

mantém, até hoje, ligado ao CMI através da Comissão de Missão Mundial e

Evangelização (CMME). Este concílio no decorrer de suas conferências foi articulando

um “conceito ecumênico” de missão ligado à prática social e a uma inserção cada vez

maior em meio aos povos do terceiro mundo ou mundo dos dois terços.28 Porém,

deve-se ressaltar que existem outras estruturas organizacionais, órgãos consultivos e

fóruns de debates sobre Missão Internacional, fora estes. Apresentar-se-á o

movimento evangelical contemporâneo.

O primeiro ponto a se destacar é que o movimento evangelical com o objetivo

de enfrentar o catolicismo revitalizado do século XIX, fundou a Aliança Evangélica

Mundial29 (AEM), isto muito antes da formação do CMI.30 Outro ponto, destaca

Longuini, é que:

26

LONGUINI NETO. Op. cit., p. 73. 27

Ibid., p. 73. 28

Ibid., p. 73. 29

Cujo nome em ingles é World Evangelical Alliance (WEA), antigamente, World Evangelical Fellowship (WEF). Para melhor compreender a história deste organismo, confira sua página oficial na Internet: http://www.worldevangelicals.org/aboutwea/history.htm. Segundo este site: “WEA é hoje uma rede composta por igrejas de 127 nações, representando 420 milhões de cristãos evangélicos”. 30

LONGUINI NETO. Op. cit., p. 73.

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na história das missões mundiais, foram os evangelicais que maior preocupação tiveram com o envio de missionários e com a formação das sociedades missionárias. Tal fato ficou patente na Conferência de Edimburgo (1910) e em seus desdobramentos, uma vez que, sem radicalidade nas posições e sem uma clara divisão entre evangelicalismo e ecumenismo, essas duas forças trabalhavam de maneira integrada.31

Até o momento, em que Concílio Missionário Internacional (Comin) era um

organismo independente, evangelicais e ecumênicos caminharam de forma integrada.

Porém, com a formação do CMI, este Concílio se tornou uma de suas divisões

(posteriormente chamada de Comissão de Missão Mundial e Evangelização - CMME).

Este novo momento, levou a crescente preocupação de articular a missão a partir da

prática social e da necessidade dos povos do terceiro mundo. Diante disso, houve uma

reação por parte do movimento evangelical. Com respeito a isso afirma Longuini:

Essa revitalização do movimento evangelical aconteceu com forças e dinamismo após a segunda guerra mundial e acentuou-se após os anos 1960. Originalmente, o movimento organizou-se com uma posição paralela aos órgãos ecumênicos de cooperação missionária existentes, mas, também, parcialmente, em oposição consciente a eles. O movimento evangelical recente apresenta uma alternativa conservadora ao movimento missionário ecumênico em termos de teologia, estratégia e organização.32

Dentre as várias instituições evangelicais dos últimos tempos, pode-se destacar:

Associação Interdenominacional para missão no exterior (Aime); Associação

evangelical para missão no exterior (Aeme); Associação Evangelística Billy Graham;

Comunhão Evangelical Mundial (CEM); Visão Mundial; Comunhão Cristã

31

Ibid., p. 73. 32

LONGUINI NETO. Op. cit., p. 73.

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Interuniversitária; Campus Cruzade International; escola de Missões do seminário de

Fuller; e a revista Christianity Today.33

Estes organismos evangelicais realizaram vários encontros, congressos e fóruns

para discutir a missão mundial. Dentre eles apresentar-se-á alguns. Em Wheaton (abril

de 1966) a Aime e a Aeme patrocinaram um congresso sobre missão mundial, com o

objetivo de possibilitar aos líderes evangelicais explicarem suas teologias e estratégias

missionárias em oposição ao movimento ecumênico. Em Berlim (outubro e novembro

de 1966), a revista Christianity Today patrocinou outro congresso. Porém, o objetivo

era definir um conceito bíblico de evangelização, realçando a urgência em estudar os

obstáculos e apresentar soluções para uma ação evangelizadora. Seguiu a mesma linha

do anterior, criticando o movimento ecumênico e apresentando o movimento

evangelical como uma melhor alternativa para a realização missionária. Este congresso

decidiu pela realização de congressos continentais sobre evangelização. Nesse sentido

foram realizados quatro Congressos Latino-americanos de Evangelização (Clade):

Bogotá (1969), Clade I; Lima (1979), Clade II; Quito (1992), Clade III; e Quito (2000),

Clade IV. Segundo Longuini, o Clade I foi de fundamental importância a conceituação e

a articulação de uma nova agenda pastoral para os setores eclesiásticos conservadores

do continente.34

Porém, o marco do redimensionamento da missão no movimento evangelical

contemporâneo aconteceu com o Congresso Mundial de Evangelização, realizado em

Lausanne (1974). Neste congresso os participantes (2700) assinaram um pacto (Pacto

de Lausanne), onde delineavam sua compreensão de missão e evangelização. A partir

33

Ibid., p. 74. 34

Ibid., p. 74. Afirma Longuini: “Nos corredores do Congresso surgiu uma articulação de teólogos autóctones, cujo objetivo foi a formação de uma fraternidade de teólogos, o que mais tarde veio a ser a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL)”. Em sua tese de doutorado, texto base de onde foi compilado este livro, Longuini afirma o seguinte: “Depois de participar por vinte anos de congressos, encontros de pastores, conferências, etc., tanto no “mundo” ecumênico, como evangelical ou fundamentalista, tenho um pequeno pressentimento de que os resultados relevantes são extraídos das conversas informais, aquelas dos corredores, as infindáveis articulações e o bate-papo nos quartos que entra madrugada adentro, os planos entabulados à mesa do café da manhã, no almoço, no jantar. No Clade I não foi diferente... nos corredores do Clade I gestou-se uma constelação usando uma plataforma de diálogo, tendo em vista a “fraternidade”de teólogos que era composta, em sua maioria, por: Plutarco Bonilla, Rubén Lores, Oswaldo Motessi, Orlando Costas, René Padilla e José Camacho. Outra constelação era formada por Emílio Antonio Nunes, Hector Espinoza e Ismael Amaya,que posteriormente recebeu a adesão de Pedro Savage, Ricardo Sturz e Pedro Wagner”.

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de então os evangelicais passaram a usar este documento como símbolo de unidade,

utilizando nomenclaturas como “movimento de Lausanne” ou “espírito de Lausanne”.

O Pacto de Lausanne apresenta os seguintes temas: o propósito de Deus, a

autoridade e o poder da Bíblia, a unicidade e a universalidade de Cristo, a natureza da

evangelização, a responsabilidade social cristã, a Igreja e a evangelização, cooperação

na evangelização, esforço conjugado de igrejas na evangelização, urgência da tarefa

evangelística, evangelização e cultura, educação e liderança, conflito espiritual,

liberdade e perseguição, o poder do Espírito Santo, e o retorno de Cristo. Logo após o

Congresso, foi organizado o Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial (Clem),

que se reuniu em 1976 na cidade do México criando três comissões de trabalho:

comunicação, teologia e estratégia. Nas palavras de Longuini, “desde então, o Clem

vem implementando, por meio de consultas no mundo todo, o conceito de missão à luz

do Pacto de Lausanne, as quais procuram relacionar as sessões do Pacto de acordo

com as necessidades de cada região”.35

Analisando os textos produzidos pelo Clem, verificam-se ambigüidades na

conceituação de missão. Pode-se ressaltar, pontos positivos e negativos da abordagem

evangelical. Dentre os negativos: 1) o fato dos termos evangelização e evangelismo

terem assumido contornos que poderiam ser identificados como proselitistas e de

desrespeito ao cristianismo tradicional; 2) a interpretação de diálogo inter-religioso e a

leitura ingênua que apresentam do homem e do mundo secularizado

contemporâneos.36 Deve-se ressaltar, também, as contribuições do conceito de missão

dos evangelicais para o movimento mundial de missões, que para Longuini são: um

estilo de vida simples37, relação do evangelho com a cultura38 e responsabilidade

social39.

35

LONGUINI NETO. Op. cit., p. 76 36

CLEM. O evangelho e o marxista. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 7); __________. O desafio das novas religiões. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 8); _________. Chamam-se cristãos. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 9); _________. Testemunho cristão junto aos muçulmanos. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 9); _________. O evangelho e o homem secularizado. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 6) 37

_________. Viva a simplicidade. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 5). Para Longuini, este tema nem sempre é abordado pelos países ricos quando se trata de missão nos países do Terceiro Mundo. LONGUINI. p. 76.

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Em 1980, ano em que a Comissão Mundial de Missão e Evangelismo do CMI

realizou a Conferência Missionária Mundial de Malbourne (maio) , o Comitê de

Lausanne para a Evangelização Mundial (Clem) realizou uma Conferência Missionária

em Pattaya na Tailândia (junho).40 Dois anos depois, 1982, 40 estudiosos se reuniram

em Michigan para uma “Consulta sobre a Relação entre Evangelização e

Responsabilidade Social” (CRESR), promovida pelo Comitê de Lausanne para

Evangelização Mundial (Clem) e a Comunhão Evangélica Mundial (CEM).41

Em 1983, em Wheaton, por patrocínio da Aliança Evangélica Mundial (AEM), foi

realizada mais uma Conferência Missionária Mundial por setores evangelicais. Foram

reunidos evangelicais, com posturas radicais, que faziam frente ao Clem, julgando-o

de desvincular a evangelização do compromisso e da ação em prol da justiça.42 Para

Bosch, esta foi a primeira vez que uma Conferência Missionária Evangelical, conseguiu

superar a dicotomia entre evangelização e responsabilidade social. A Declaração de

Wheaton 83 em seu parágrafo 36, afirma:

O mal não está apenas no coração humano, mas também nas estruturas sociais (...) A missão da Igreja inclui tanto a proclamação do evangelho quanto sua demonstração. Precisamos, pois, evangelizar, responder às necessidades humanas e pressionar por transformações sociais.43

38

_________. Evangelho e cultura. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 3). Segundo Longuini, a transmissão do Evangelho quase sempre foi encarada como um choque entre culturas e a destruição de culturas autóctones por outras que se impunham pela violência. LONGUINI. p. 76. 39

_________. Evangelização e responsabilidade social. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 2); _________. Tive fome. São Paulo: ABU/Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 1). 40

David Bosch faz um estudo comparativo sobre estas duas conferências no seguinte artigo: BOSCH, David. “Em busca da Missão: reflexões sobre Malbourne e Pattaya”. Boletim Teológico n

o 1, out./dez. 1983. p. 17-40.

41 BOSCH (2002). Op. cit., p. 486.

42 WEATON-83: la iglesia en respuesta a las necessidades humanas”. Pastoralia no 10-11,

jul./dez. 1983. p. 100-113. 43

DECLARAÇÃO DE WHEATON 83. apud. BOSCH (2002). p. 487.

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Durante a década de 80 parecia estar surgindo um novo paradigma no

evangelicalismo.44 Um documento que demonstra a nova postura adotada pelos

evangelicais neste momento é o “Testemunho Evangelical na África do Sul”, de 1986.45

Em janeiro de 1989, em Cingapura, foi realizada uma Consulta Global de

Evangelização Mundial de onde nasceu o movimento AD 2000, cujo slogan era: “Em

um espírito de serviço, buscar motivar, fomentar e fazer redes de homens e mulheres

lideres eclesiásticos, que sejam motivados pela visão de alcançar os não-alcançados

até o ano 2000”. Neste sentido, o enfoque principal do movimento AD 2000 é a janela

10/40, onde estão localizados os países no norte da África, sul da Ásia e todo o Oriente

Médio. Com forte ênfase no proselitismo, AD 2000, quer implantar o cristianismo em

todos os países não cristãos.

Neste mesmo ano, 1989, o Clem convocou mais um Congresso de

Evangelização Mundial, para Manilla (Filipinas), com o tema: “Proclamar a Cristo até

que Ele volte”. Com a participação de 3.600 líderes de 190 nações, este Congresso foi

denominado Lausanne II. Segundo Longuini, este congresso desejava retornar aos

pressupostos básicos do Pacto de Lausanne, porém foi um fracasso, por dois motivos:

o primeiro, porque deixou temas relevantes de Lausanne de fora da discussão; o

segundo, porque sofreu um grande boicote dos evangelicais com posturas radicais (os

engajados na linguagem de Bosch).46 Este Congresso foi convocado, organizado e

dirigido por missionários norte-americanos, com posturas radicalmente

fundamentalistas, isto demonstrou o rumo para o qual se dirigia a missão

fundamentada no evangelicalismo.

44

BOSCH (2002). Op. cit., p. 487. 45

Segundo Bosch este documento foi produzido por um grupo de evangelicais engajados que vivendo no contexto do sistema de apartheid e da experiência de repressão e brutalidade policial, sentiram-se obrigados a reavaliar suas posições sobre evangelização, missão, mal estrutural, responsabilidade da igreja e justiça social. Eles não tinahm dúvidas de que eram chamados a proclamar Cristo como o Salvador e a convidar pessoas a depositarem sua confiança nele, mas também estavam igualmente convictos de que o pecado era tanto pessoal quanto estrutural, que a vida constituía uma unidade, que o dualismo se opunha ao evangelho e que seu ministério deveria ser tanto ampliado quanto aprofundado. Isso representou uma importante alteração no evangelicalismo e não, simplesmente, um retorno às posições do século 19. Ibid., p. 487 46

LONGUINI NETO. Op. cit., p. 79.

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Em outubro de 1999, em Foz do Iguaçu (Brasil), a Aliança Evangélica Mundial

(AEM) reuniu 160 missionários, missiólogos e lideres de igreja de 53 países, numa

consulta missiológica internacional, cujos objetivos são apresentados no documento

resultante da Consulta, “A Declaração de Iguaçu”:

1. Refletir juntos acerca dos desafios e oportunidades diante das missões mundiais no limiar do novo milênio.

2. Rever as diferentes tendências desenvolvidas durante o século XX na prática missiológica evangélica, especialmente desde o Congresso de Lausanne em 1975.

3. Continuar desenvolvendo e aplicando uma missiologia bíblica pertinente que reflita a diversidade cultural do povo de Deus.47

Nos dias 16 a 25 de outubro de 2010, em resposta a mais convocação do Clem,

aconteceu o Terceiro Congresso Missionário (Lausanne) na Cidade do Cabo na África

do Sul, seguindo a mesma postura do anterior (Manilla).

Ainda que na década de 1980, na visão de Bosch, os evangelicais parecessem

reformular sua posição dicotômica (evangelismo versus envolvimento social), parece

que a partir de Manilla (1989) e cidade do Cabo (2010) o enfoque é a evangelização no

47 TAYLOR D. W. (organizador). Missiologia Global Para o Século XXI. Londrina: Descoberta, 2001. p. 35. Taylor ao introduzir o livro que apresenta os documentos que auxiliaram na discussão da Consulta e outros que foram escritos após a mesma, apresenta seis propósitos pelo qual se a AEM convocou este encontro: “1. Um chamado à reflexão internacional para identificar e cuidadosamente avaliar as mudanças globais radicais e culturais que tem moldado nossa história mundial contemporânea bem como a igreja e sua missão. 2. Uma ocasião que nos permitisse iniciar o processo de identificação e busca de definições dos conceitos chaves e da terminologia de uma missiologia evangélica globalizada, fielmente representando as diversas e bíblicas expectativas do ocidente e não-ocidente, Norte e sul. De um ou dois centros dominantes do Cristianismo, o espírito tem criado agora uma rica diversidade de centros de cristianismo globalizado. 3. Uma criação inicial de um mosaico/perfil desta missiologia evangélica internacional, e então uma possível comunicação efetiva de seu conteúdo e importação à igreja sem fronteiras e comunidade missionária. 4. Uma oportunidade para ajudar a formar os fundamentos missiológicos globais que sejam bíblica e culturalmente apropriados e que vão nos guiar por um longo tempo no futuro. 5. Uma ocasião que nos encorajasse a investir num processo de missiologia globalizada a fim de fazer-nos voltar às raízes, às nossas culturas, às nossas igrejas locais e aos nossos ministérios e relacionamentos. 6. Um “momento no tempo”que nos permitisse avaliar e também criticar as ênfases missiológicas primárias e atuais que influenciaram o movimento missionário nos últimos 50 anos do século XX”..

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sentido, mais conservador e fundamentalista do termo. Como se viu na citação acima,

a preocupação é proclamar o Evangelho e que as pessoas decidam pessoalmente por

Cristo.

Fez-se necessária esta caminhada histórica pelos últimos vinte séculos, para

que se reconheça a complexidade, bem como, a riqueza do termo Missão. Apelar para

a compreensão e percepção missionárias dos escritores bíblicos, aplicando-as

literalmente, sem uma pesquisa exegética aprofundada, pode gerar interpretações

equivocadas com resultados drásticos.

Durante toda a história da igreja, missiólogos e teólogos, forjaram conceitos

visando firmar o significado da missão e a forma pela qual ela deveria ser realizada.

Sabendo que nenhuma definição será completa, provisoriamente, acolheremos a que

Bosch conclui seu livro, por considerá-la, na concepção deste pesquisador, simples e

profunda: “missão é, simplesmente, a participação das pessoas cristãs na missão

libertadora de Jesus, apostando em um futuro que a experiência verificável parece

desmentir. Ela é a boa nova do amor de Deus, encarnado no testemunho de uma

comunidade, em prol do mundo”.48

48

BOSCH (2002). Op. cit. p. 619.