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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da _____ Vara Cível da Seção Judiciária do Rio de Janeiro Ref.: Inquérito Civil nº 130.001.00444/2014-71 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República signatário, vem, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM DEFESA DA PROBIDADE ADMINISTRATIVA (Lei nº 7.347/85 c/c Lei nº 8.429/92) em desfavor de SÉRGIO LIBÂNIO DE CAMPOS, Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº , domiciliado na ; ÉDEN RODRIGUES NUNES JÚNIOR, Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº , domiciliado na

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da _____ Vara Cível da Seção Judiciária doRio de Janeiro

Ref.: Inquérito Civil nº 130.001.00444/2014-71

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República

signatário, vem, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

EM DEFESA DA PROBIDADE ADMINISTRATIVA

(Lei nº 7.347/85 c/c Lei nº 8.429/92)

em desfavor de

SÉRGIO LIBÂNIO DE CAMPOS, Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica

Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº , domiciliado na

;

ÉDEN RODRIGUES NUNES JÚNIOR, Professor do Centro Federal de Educação

Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº , domiciliado na

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SEBASTIÃO FÁBIO QUINTILIANO DE ARAUJO ROCHA, Professor do Centro Federal

de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº ,

domiciliado na

CAMILA AVELINO CARDOSO, Coordenadora Pedagógica do Centro Federal de Educação

Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº , domiciliada na

;

ANTONINO PEREIRA DA SILVA, Professor e Coordenador Acadêmico do curso de

Técnico em Manutenção Automotiva, da unidade Maria da Graça, do Centro Federal de

Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº ,

domiciliado na

ADRIANO GATTO LEMOS DE SOUZA, Gerente Acadêmico da unidade Maria da Graça,

do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº

, domiciliado na

;

SÉRGIO DE MELLO TEIXEIRA, Diretor da unidade Maria da Graça, do Centro Federal de

Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), CPF nº ,

domiciliado na

I- DOS FATOS

Trata-se de demanda proposta em razão da prática de atos de improbidade

administrativa reiteradamente perpetrados no âmbito do Centro Federal de Educação

Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), Unidade Maria da Graça, que chegaram ao

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conhecimento do Ministério Público Federal por meio de representações e depoimentos

prestados por alunos e professores da referida autarquia federal.

Em síntese, alegam os discentes do curso de Técnico em Manutenção

Automotiva ministrado na unidade Maria da Graça do CEFET, o que veio a ser

comprovado durante a tramitação do Inquérito Civil em epígrafe, que os professores

SÉRGIO LIBÂNIO, ÉDEN NUNES e SEBASTIÃO FÁBIO, ora Réus, vêm cometendo

reiteradamente uma série de graves condutas ímprobas, com a complacência dos Réus

ANTONINO SILVA, CAMILA AVELINO, ADRIANO GATTO e SÉRGIO MELLO,

respectivamente, Coordenador Acadêmico do curso de Manutenção Automotiva,

Coordenadora Pedagógica e Gerente Acadêmico e Diretor da unidade de ensino, que

quedaram-se inertes e/ou se recusaram a adotar providências nas diversas vezes em que

os estudantes procuraram a Direção da Autarquia de ensino para narrar as irregularidades

apuradas neste procedimento, incidindo igualmente, por conseguinte, em atos de

improbidade.

Com efeito, os alunos do mencionado curso apresentaram representação a este

órgão do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, na qual narraram, inicialmente, que o professor

SÉRGIO LIBÂNIO constrangeu publicamente o aluno Nelson Lins da Silva, dentro de sala

de aula, ao incentivar que outro aluno, ao qual chamou de “Negão”, “pegasse Nelson”,

utilizando-se de evidente conotação sexual (fls. 02/07).

Os alunos prosseguem afirmando, na representação de fls. 02/07, que o Réu

SÉRGIO LIBÂNIO ausentou-se das aulas por 03 (três) semanas consecutivas antes do

carnaval de 2014. Na ocasião, 02 (dois) abaixo-assinados exigindo providências foram

entregues pelos discentes ao Coordenador Acadêmico do curso, o Réu ANTONINO

SILVA. Porém, apesar de o Coordenador ter prometido a elaboração de um plano de

reposição das aulas perdidas, nenhuma medida concreta para reverter o prejuízo dos

alunos foi adotada.

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Aqui, cabe registrar que, ao ser cobrado pelos alunos, o Réu ANTONINO

SILVA afirmou que encaminhou os abaixo-assinados ao Diretor da Unidade, o Réu

SÉRGIO DE MELLO (fls.02/07). Contudo, recursou-se a fornecer cópia desses

documentos aos estudantes, alegando que só poderia fazê-lo mediante autorização do

Diretor (fls.02/07).

Ainda no documento de fls. 02/07, os representantes informam que o Réu

SÉRGIO LIBÂNIO constrangeu seus alunos a informar quem havia redigido tais abaixo-

assinados no qual os estudantes relataram as reiteradas ausências do professor às aulas

e, posteriormente, referiu-se a eles como “um bando de moleques”, dizendo-se

decepcionado e magoado com a turma e passando a ministrar aula por meio de ditado

acelerado, tirado de material didático usado no período anterior, ou seja, conteúdo já

estudado pela classe, sem que os discentes conseguissem fazer anotações e sem abrir

oportunidade para que fizessem perguntas ou esclarecessem dúvidas.

No decorrer da instrução probatória, os fatos alegados pelos alunos na

representação que inaugurou este procedimento foram atestados pelos depoimentos

prestados ao Parquet. Vejamos.

Péricles Azevedo, também professor do curso de Manutenção Automotiva,

corrobora tudo o que fora noticiado pelos alunos (fls. 10/29), acrescentando que o Réu

SÉRGIO LIBÂNIO é useiro e vezeiro em faltar às aulas que tem por obrigação ministrar

no CEFET, bem como em constranger moralmente seus alunos, contando com a conivência

do Gerente Acadêmico da unidade, o Réu ADRIANO GATTO, para manter impunes as

irregularidades por ele cometidas.

O representante afirma ainda que, desde o ano de 2013, os alunos reclamam

por escrito dos abusos cometidos pelo Réu SÉRGIO LIBÂNIO, sem que o Réu

ADRIANO GATTO adote qualquer providência a respeito (fls.10/29), tendo inclusive se

negado a receber documento elaborado pela turma do 5º período de 2014 (fls.28/29), no

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qual os alunos informavam as fatas reiteradas dos Réus SÉRGIO LIBÂNIO e

ANTONINO SILVA, solicitando a substituição destes professores.

A desídia do professor SÉRGIO LIBÂNIO com as matérias que leciona no

curso de Técnico em Manutenção Automotiva, na unidade Maria da Graça do CEFET, bem

como a inércia dos dirigentes da unidade em adotar providências, são apontadas nos

relatos de 02 (dois) professores da instituição ao Ministério Público Federal:

“QUE é professor do CEFET/RJ desde 2007, lecionando várias

matérias do curso técnico relativo ao automobilismo na

unidade de Maria da Graça; (...) QUE durante anos os alunos

vêm reclamando que o professor Sérgio Libânio não

comparece em muitas aulas, deixando que os alunos

terminem o curso sem aprender efetivamente as matérias de

Tratamento de Superfície I e II, Ar Condicionado Automotivo

e Projetos Automobilísticos; QUE o curso forma alunos como

Técnicos de Manutenção Automotiva, sendo que as matérias

que deveriam ser ministradas pelo professor Sérgio Libânio

são essenciais no curso; QUE confirma os fatos constantes

deste P.A às fls. 3 a 7, 10 a 12; QUE solicita a juntada aos

autos da Resolução nº 01/2014 do CEFET/RJ e e-mails; QUE o

artigo 4º da referida Resolução estabelece que a Equipe

Pedagógica elabore um relatório e apresente ao Conselho de

Classe, em que, dentre os itens existentes, consta a aferição

da pontualidade dos professores, e que haja a consulta prévia

aos alunos da turma; QUE no e-mail ora juntado aos autos, o

declarante solicitou à Equipe Pedagógica cópia do citado

relatório, mas recebeu a informação de que o relatório não

existe; QUE já formulou o pedido deste relatório durante

vários anos, porém sempre houve a negativa da Instituição;

QUE o professor Sérgio Libânio faltou ao serviço

consecutivamente por mais de 30 dias, sob o pretexto de

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estar concluindo o doutorado, porém, que o citado professor

não estava de licença; QUE o declarante está cursando o

doutorado e não deixa de lecionar, diferentemente do que

ocorreu com o professor Sérgio Libânio; QUE as

irregularidades apontadas são de ciência do Diretor e do

Gerente Acadêmico da unidade do CEFET/RJ em Maria da

Graça (Sérgio de Mello Teixeira e Adriano Gatto Lemos de

Souza, respectivamente), mas estes não adotaram nenhuma

providência; QUE os alunos procuraram o Gerente Acadêmico

para reclamar do professor Sérgio Libânio, sendo que o

referido Gerente se recusou a receber os alunos...”

(Depoimento do Professor Júlio Roberto Santos Bicalho, fls.

111/112).

“QUE confirma que o professor Sérgio Libânio deixou de

ministrar inúmeras aulas em prejuízo dos alunos, inclusive

faltando consecutivamente por mais de 30 dias...”

(Depoimento do Professor Péricles André de Assis Azevedo, fls. 141).

De outro giro, os alunos ouvidos pelo Parquet Federal relataram com detalhes

as condutas irregulares perpetradas pelo Réu SÉRGIO LIBÂNIO. Vejamos.

A aluna Debora Luíza Soares Fernandes afirmou (fls. 125/126):

“QUE são verídicos os fatos constantes neste Procedimento

no sentido de que o professor Sérgio Libânio falta com

frequência, inclusive chegou a faltar injustificadamente por

mais de 30 dias consecutivos; QUE no 4º período, o professor

Sérgio Libânio deixou de ministrar as aulas práticas de

Pintura Automotiva, informando que elas seriam efetuadas no

período seguinte, porém, a declarante está concluindo o 5º

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período e o citado professor disse que não irá lecionar a

citada disciplina neste período; (…) QUE os alunos já

procuraram o Gerente Acadêmico Adriano Gatto para

encaminhar requerimento solicitando diversas providências,

mas o citado Gerente sequer recebeu os alunos; QUE a Equipe

Pedagógica nunca procurou os alunos para perguntar acerca

do serviço prestado pela Instituição”.

Também a estudante Thatiana Santos Ferreira Pereira relatou que (fls.

127/128):

“QUE são verdadeiros os fatos narrados neste Procedimento

no sentido de que o professor Sérgio Libânio deixa de dar aula

com frequência, inclusive se ausentando sem justificativa por

mais de 30 dias consecutivos; QUE deveria ter aprendido com

o professor Sérgio Libânio a matéria de Pintura Automotiva no

4º período; QUE o referido professor ministrou pouquíssimas

aulas teóricas de Pintura Automotiva, mas não chegou a dar

nenhuma aula prática, encerrando-se o semestre sem a

conclusão do programa; QUE tal fato ocorreu em razão de

suas faltas;

(…)

QUE o Professor Adriano Gatto forneceu uma lista de

exercícios aos alunos mas não quis esclarecer as dúvidas que

eram levantadas pelos discentes; QUE o professor Éden Nunes

fez diversas grosserias contra os alunos, inclusive se dirigindo

a estes com palavras de baixo calão; QUE o professor Éden

Nunes ofende gravemente os alunos, e várias vezes mandou

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que os alunos ‘tomassem no cu’, usando ainda frases como

‘puta que pariu’ e ‘vocês só me fodem’.

(…)

QUE a equipe Pedagógica do CEFET/RJ nunca procurou a

declarante para obter informações a serem usadas no

Conselho de Classe”.

Lucas Monteiro Cavalcante, também aluno do CEFET, declarou que (fls.

129/130):

“confirma os fatos acostados neste Procedimento no tocante

às faltas praticadas pelo professor Sérgio Libânio, que

inclusive deixou de comparecer sem justificativa por mais de

30 dias consecutivos; QUE, certa vez, o professor Sérgio

Libânio ministrou apenas seis aulas no período de 6 meses,

sendo que estas 6 aulas ocorreram nos dias 05/09/2013,

12/09/2013, 19/09/2013, 07/11/2013, 14/11/2013 e

21/11/2013, conforme documento que ora requer a juntada

aos autos; QUE o professor Sérgio Libânio disse que faria

viagem de uma (01) semana mas deixou de lecionar por mais

de 30 dias; QUE o professor Sérgio Libânio posteriormente

chegou a sugerir à turma que ministrasse aulas apenas de 15

em 15 dias, porém, após reclamações dos alunos, desistiu da

ideia, consoante documento ora apresentado; (…) QUE os

alunos solicitaram providências diversas ao Gerente

Acadêmico Adriano Gatto, mas este não quis receber o

documento elaborado pelos alunos; QUE atualmente o citado

professor perguntou sobre o referido documento, mas que

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não poderia recebê-lo na qualidade de Gerente Acadêmico;

QUE o depoente encaminhou denúncia à Ouvidoria do

CEFET/RJ, consoante documento ora juntado aos autos; QUE

a Ouvidoria chamou os pais do depoente, perguntando-lhes se

estariam cientes da denúncia formulada, respondendo os pais

que estavam cientes e de acordo com as reivindicações, mas

que temiam algum tipo de represália; QUE o declarante e o

aluno Emanuel possuem problemas de saúde

(diabetes/convulsões e asma, respectivamente) e não podem

carregar peso, mas foram convocados pelo professor Sérgio

Libânio para transportar pesados equipamentos automotivos,

sendo o fato gravado; QUE o professor Sérgio Libânio tem

ciência dos problemas de saúde do declarante, inclusive pois

já teve crise de convulsão durante a aula do mesmo (…).”

O depoimento prestado pelo ex-aluno Eulleyr Morais da Silva (fl. 224) comprova

que as ausências consecutivas e reiteradas do professor SÉRGIO LIBÂNIO vêm de longa

data, de período bem anterior à instauração deste Inquérito Civil no âmbito da

Procuradoria da República no Rio de Janeiro. Confira-se (fls. 224):

“foi aluno do CEFET/RJ na unidade de Maria da Graça e se

formou em 2012 ; QUE o professor Sérgio Libânio deixou de

ministrar aulas práticas de Pintura Automotiva, alegando que

não havia material para tanto; QUE o declarante narrou o

acontecido ao Gerente Acadêmico Maciel Faragasso e este

afirmou que havia material disponível e suficiente para

ministrar as aulas; QUE, ao final, o professor Sérgio Libânio

não lecionou as aulas práticas, em prejuízo dos alunos; QUE o

declarante foi informado por outros alunos que o professor

Sérgio Libânio faltava de forma reiterada e que essas

ausências ocorriam de forma sistemática em várias outras

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turmas; QUE o professor Sérgio Libânio fuma durante as

aulas, na presença dos alunos (...)”.

O aluno Nelson Lins da Silva prestou depoimento bastante esclarecedor ao

Ministério Público Federal ao relatar que (fls. 227/229):

“o professor Sérgio Libânio possui frequentes faltas, sendo

que já se ausentou injustificadamente da Instituição por

período superior a 30 dias; QUE há reclamação generalizada

dos alunos em relação às faltas do citado professor; QUE há

quinze dias o professor Sérgio Libânio não compareceu ao

CEFET/RJ pelo período de uma semana, e na semana

seguinte informou aos alunos que faltou pois esteve na Bahia;

QUE falou isto com um tom de vanglória por ter viajado à

Bahia, e este dito foi proferido na presença de um aluno

baiano, chamado João Dias; QUE o declarante é alérgico e já

solicitou uma vez ao prof. Sérgio Libânio para que este não

fumasse durante a aula, porém, não foi atendido; QUE o prof.

Sérgio Libânio tem o hábito de fumar constantemente durante

as aulas; QUE o citado professor está bastante atrasado no

programa da disciplina Pintura Automotiva; QUE, em razão

das faltas do prof. Sérgio Libânio, é provável que seja

encerrado o curso sem que as aulas de Pintura Automotiva

tenham sido ministradas integralmente; QUE o professor

Sérgio Libânio chamou os alunos de “bando de moleques” em

razão de terem representado no Ministério Público Federal;

(...) QUE o declarante já se dirigiu por mais de dez vezes ao

Gerente Acadêmico Adriano Gatto para expor as

irregularidades narradas neste depoimento, porém o citado

Gerente não adotou nenhuma providência; QUE muitas vezes

não conseguiu encontrar o Gerente Adriano Gatto em função

de sua ausência (...)”.

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De fato, o professor SÉRGIO LIBÂNIO aparece fumando nas seguintes fotos

(constantes da mídia digital de fl. 238 e acostadas às fls. 770 e 771).

Como se não bastasse a inobservância aos preceitos da Lei n.º 9.296/1996, ao

acender um cigarro dentro de laboratório com produtos inflamáveis, como foi o caso, o

professor expôs a vida dos alunos - alguns ainda adolescentes - e a sua própria a perigo.

Em relação ao professor ÉDEN NUNES, ora Réu, restou claramente

configurado o constrangimento ao qual constantemente submete os estudantes,

humilhando-os, usando em sala de aula linguagem de calão, palavrões, e se dirigindo a

eles com rispidez e de maneira nada educada, atitudes inadmissíveis a quem se propõe a

ser educador, mormente se levarmos em conta que lida com alunos ainda adolescentes.

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Ficou cabalmente comprovado no bojo deste procedimento que o citado professor comete

assédio moral reiteradamente contra os alunos. Vejamos.

O relato mais contundente do assédio moral e da falta de urbanidade praticados

pelo Réu ÉDEN NUNES é da aluna Thatiana Santos Ferreira Pereira (fls. 127/128):

“(...) QUE o professor Edén Nunes faz diversas grosserias

contra os alunos, inclusive se dirigindo a estes com palavras

de baixo calão; QUE o professor Edén Nunes ofende

gravemente os alunos, e várias vezes mandou que os alunos

“tomassem no cu”, usando ainda frases como “puta que

pariu” e “vocês só me fodem”; QUE o citado professor

também não esclarece as dúvidas dos alunos (...)”.

Do depoimento da aluna Debora Luiza Soares Fernandes também se extrai o

absurdo constrangimento que o suposto “educador” impinge aos estudantes (fls.

125/126):

“(...) QUE o professor Edén Nunes é muito ríspido em relação

aos alunos, chegando a utilizar palavras de baixo calão para

ofender a honra dos alunos; QUE a declarante e outros alunos

se sentem constrangidos em esclarecer dúvidas com o

professor Edén Nunes em razão de sua ignorância (…)”.

Lucas Monteiro Cavalcante confirmou que (fls. 129/130):

“QUE o professor Edén Nunes é ríspido com os alunos,

proferindo ofensas verbais contra diversos deles, inclusive o

declarante; QUE o professor Edén Nunes se vale de palavras

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de baixo calão para insultar os alunos, como se pode inferir

do seguinte exemplo de declaração do referido professor:

‘Não quero dar aula, estou puto para caralho, não quero dar

aula nesta porra’ (…)”.

Às fls. 235/237, o aluno Lucas Monteiro Cavalcante apresentou representação

ao Ministério Público Federal em face do professor ÉDEN NUNES, ora Réu, por episódio

ocorrido em 12/09/2014, em que o docente constrangeu publicamente o estudante, no

pátio da instituição de ensino, ao adverti-lo de que não deveria ter entrado sozinho numa

sala, alegando que, se alguma coisa sumisse, a responsabilidade seria do aluno, que

contava com 17 (dezessete) anos à época do fato.

Além de assédio moral rotineiro, o Réu ÉDEN NUNES também costuma utilizar

a oficina da Unidade Maria da Graça para consertar seu próprio veículo e, para piorar, em

horário no qual deveria ministrar aula, conforme se comprova pelo depoimento de Nelson

Lins da Silva (fls. 227/229):

“(...) QUE ouviu do prof. Péricles a notícia de que o prof. Éden

Nunes teria usado a oficina do CEFET/RJ para a pintura de

seu próprio veículo particular; QUE o declarante já presenciou

o prof. Éden Nunes consertando o seu veículo particular na

oficina do CEFET/RJ; QUE este fato ocorreu em horário no

qual o prof. Éden Nunes deveria estar ministrando aula ao

declarante; QUE o depoente questionou ao citado professor se

haveria aula, recebendo como resposta um ‘sim’; QUE o prof.

Éden Nunes chegou a ministrar a aula, mas disse que ‘não

haveria aula’ somente para o declarante, insinuando que o

depoente estaria impedido de assistir à aula; QUE o prof.

Éden Nunes profere inúmeras palavras de baixo calão durante

a aula; QUE o prof. Éden Nunes ‘mais falta do que dá aula’;

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QUE os alunos reclamaram dessas faltas e receberam a

seguinte resposta: ‘Não adianta eu dar mais aulas, pois vocês

são burros e não têm capacidade de aprender’; QUE mais de

uma vez os alunos foram chamados de ‘burros’ pelo referido

professor (...).”

Todos os alunos que prestaram depoimento no bojo destes autos foram

uníssonos em afirmar a inassiduidade habitual e a falta de urbanidade por parte dos

professores, ora Réus, SÉRGIO ALBÂNIO, ÉDEN NUNES e SEBASTIÃO FÁBIO, o que

configura assédio moral.

No tocante a este último professor, o aluno Nelson Lins da Silva relatou grave

episódio de assédio moral contra um aluno idoso (fls. 227/229):

“(...) QUE o professor Sebastião Fábio gritou com os alunos,

ofendendo-lhes com as seguintes palavras: ‘Se sumir alguma

peça da oficina vocês serão presos’; QUE o aluno Ede falou

que o professor estaria equivocado e que não deveria tratar

os alunos daquela maneira, até em razão de o professor estar

atrasado para dar aula em aproximadamente uma hora; QUE

o prof. Sebastião Fábio começou a gritar com o aluno Ede, que

é pessoa idosa de sessenta e dois anos de idade; QUE o aluno

Ede possui problemas cardíacos ou de pressão, e começou a

passar mal; QUE este aluno abandonou o curso em função da

humilhação que sofreu”.

A situação narrada a seguir, envolvendo os Réus, narrada pelos alunos João

Paulo Dias Rocha e Nelson Lins da Silva, chega ao extremo da desídia com os deveres

funcionais de servidores públicos e professores. Vejamos.

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João Paulo Dias Rocha, em seu depoimento, relatou (fl. 303):

“(...) QUE certo dia estava com o aluno Nélson no CEFET/RJ

aguardando o início das aulas, mas nenhum professor

apareceu, havendo um atraso de aproximadamente vinte

minutos; QUE, em razão disso, foi com Nélson à lanchonete

próxima da unidade para comprar um lanche, e durante o

trajeto viram que vários professores do CEFET/RJ estavam em

um bar bebendo cerveja no horário de expediente; QUE

estavam bebendo neste bar os professores Sérgio Libânio,

Éden Nunes, Adriano Gatto, Antonino, Fabinho e outros; QUE,

depois disso, o professor Sérgio Libânio retornou ao

CEFET/RJ, ministrou vinte minutos de aula e novamente se

dirigiu ao bar para o consumo de bebida alcoólica; QUE

posteriormente o professor Fabinho chegou alcoolizado no

CEFET/RJ, e este fato terminou gerando um embate com o

aluno Nélson, que reclamou do fato de o professor

apresentar-se alcoolizado na instituição; QUE o professor

Antonino também chegou do bar alcoolizado no CEFET/RJ.”

O aluno Nelson ratificou às fls. 304 o depoimento de João Paulo:

“(...) QUE houve ocasião em que os professores do CEFET/RJ

não compareceram para dar aula, razão pela qual o

declarante e o aluno João foram a certa lanchonete, próxima

da instituição, para comprar lanche; QUE no caminho se

depararam com professores e agentes do CEFET/RJ em um

bar consumindo bebida alcoólica, ou seja, estavam no bar no

horário de expediente; QUE estavam no bar: Prof. Sebastião

Fábio, Prof. Sérgio Libânio, o secretário Fabinho, o Gerente

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Acadêmico Adriano Gatto, o Prof. e Coordenador Antonino e o

Diretor-Geral Sérgio de Mello (...)”.

Constitui absurdo inadmissível o fato de servidores públicos federais,

professores e administradores de instituição de ensino, aos quais foram atribuídos os

deveres de ensinar e bem gerir uma instituição pública de ensino, encontrarem-se num

bar para consumir bebida alcoólica, quando deveriam estar prestando serviço público

essencial, ensinando e administrando com eficiência uma repartição pública, e, o que é

pior, dando péssimo exemplo a estudantes, muitos ainda menores, em fase de formação

de caráter e personalidade.

As irregularidades anteriormente narradas se tornam ainda mais graves diante

da inércia e complacência daqueles que têm o dever de bem administrar o curso de

Técnico em Manutenção Automotiva e a instituição de ensino.

Com efeito, o que se extrai dos autos vai além de omissão, de um simples

“fechar os olhos”, por parte do Coordenador Acadêmico do curso, da Coordenadora

Pedagógica, do Gerente Acadêmico e do Diretor da unidade Maria da Graça do CEFET,

respectivamente, os Réus ANTONINO SILVA, CAMILA AVELINO, ADRIANO GATTO e

SÉRGIO DE MELLO. Muitas vezes, os responsáveis pela gestão do curso em testilha

atuaram não só de forma a proteger os Réus SÉRGIO LIBÂNIO, ÉDEN NUNES e

SEBASTIÃO FÁBIO, mas compactuaram com eles e até mesmo juntaram-se aos

referidos nas condutas ímprobas trazidas à baila pelos alunos, como no episódio em que

os representados, à exceção de CAMILA AVELINO, estavam consumindo bebida alcoólica

em um bar perto da instituição de ensino, durante o horário de expediente.

Todas as pessoas ouvidas durante o trâmite deste procedimento relataram que

o Gerente Acadêmico ADRIANO GATTO se recusa a receber os alunos para conversar

sobre as atitudes dos professores aqui representados, não tomando qualquer providência

no sentido de acabar com os abusos por eles cometidos, tampouco designando outros

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docentes para ministrar aulas às turmas prejudicadas, além de se recusar a receber os

documentos contendo reclamações sobre esses docentes e, quando recebe, nega o

fornecimento de cópia aos estudantes e deixa de dar o devido encaminhamento à questão

(fls.10, 111/112, 125/126, 127/128, 129/130, 141, 224 e 227/229).

Por sua vez, o Diretor SÉRGIO DE MELLO, ora Réu, apesar de reconhecer que

recebeu da Ouvidoria documentação narrando diversas irregularidades em relação aos

professores da unidade do CEFET que dirige, manteve-se inerte, sem adotar qualquer

providência para pôr fim aos graves desvios de conduta de parte do corpo docente da

instituição. E foi além: juntou-se aos demais num bar para consumir bebida alcoólica

quando deveria estar trabalhando.

Já a pedagoga da unidade Maria da Graça do CEFET, a Ré CAMILA AVELINO,

além de nunca ter procurado os alunos para ouvir suas demandas, recusou-se a fornecer

cópia de documento ao aluno Lucas Monteiro Cavalcante, constrangendo-o moralmente,

como se pode perceber na gravação contida na mídia digital de fls. 262 e depoimento de

fls. 240/241.

Todos os depoentes afirmaram (111/112, 125/126, 127/128, 224, 227/229 e

240/241) categoricamente que a Ré CAMILA AVELINO tinha ciência do comportamento

hostil e das frequentes faltas dos professores SÉRGIO LIBÂNIO, ÉDEN NUNES e

SEBASTIÃO FÁBIO, acrescentando que a pedagoga não só se manteve distante dos

problemas existentes na unidade, como deixava de agir para solucionar essas questões,

quando era instada a tanto pelos estudantes, compactuando, desta forma, com as

condutas ímprobas praticadas pelos demais Réus.

Prova contundente do atuar omisso da Ré CAMILA AVELINO e também do

Gerente Acadêmico ADRIANO GATTO consta em gravação feita pelo aluno Lucas

Monteiro Cavalcante, salva em mídia digital de fls. 262 (bem como do depoimento de fls.

240/241), da qual se extrai que o estudante procurou a Coordenação Pedagógica para

relatar assédio moral sofrido por ele no pátio da escola, vindo do professor ÉDEN NUNES.

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Seu relato foi reduzido a termo por CAMILA AVELINO num documento denominado

Relatório de Atendimento, assinado por ambos.

Posteriormente, Lucas procurou CAMILA AVELINO a fim de obter uma cópia

do referido Relatório de Atendimento, o que foi negado pela pedagoga, sob o argumento

de que aquilo seria documento de circulação interna, e que não poderia fornecer ao

estudante, a menos que alguém da chefia a autorizasse (mídia digital de fls. 262).

O Réu ADRIANO GATTO foi, então, chamado a participar da conversa e

referendou a recusa feita pela Ré CAMILA AVELINO, sob o mesmo argumento

totalmente inverossímil de que o documento é de circulação interna e que a Direção da

unidade e a Gerência Acadêmica estavam adotando as medidas mais adequadas no

encaminhamento do caso. No entanto, o aluno Lucas Monteiro Cavalcante afirma durante

a conversa que já se passara lapso temporal importante e nenhuma providência fora

tomada (mídia digital de fls. 262).

Após essa conversa, Lucas Monteiro procurou mais uma vez este Parquet para

narrar a recusa por parte dos Réus CAMILA AVELINO e ADRIANO GATTO em fornecer

cópia de documento contendo reclamação sobre o professor ÉDEN NUNES, entregue pelo

próprio aluno à Coordenadora Pedagógica da unidade Maria da Graça, ou seja, o aluno

Lucas Monteiro apenas queria obter cópia de sua reclamação contra o Réu ÉDEN NUNES,

mas este direito básico lhe foi negado. Eis suas declarações em depoimento prestado

perante o Ministério Público Federal (fls. 240/241):

“QUE surgiram novos fatos após o primeiro depoimento no

MPF; QUE outrora havia formulado reclamação no Apoio

Pedagógico do CEFET em desfavor do Professor Éden Nunes,

por lhe ter ofendido no pátio do colégio; QUE a reclamação foi

recebida pela Pedagoga Camila Avelino, porém, esta não lhe

forneceu o protocolo da reclamação, e o declarante percebeu

que o documento nem sequer chegou a ser protocolado; QUE

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dias depois o declarante, juntamente com o Professor Péricles

Azevedo, se dirigiu à Pedagoga Camila, e solicitou cópia do

protocolo de atendimento; QUE a funcionária Camila negou a

entrega do documento sob o pretexto de que seria

‘documento de circulação interna’; QUE, diante da insistência

do depoente, todos foram ao Gerente Acadêmico Adriano

Gatto, e este manteve a negativa de entrega do documento;

QUE o depoente registrou todos estes fatos por meio de áudio

de seu celular, requerendo a juntada aos autos de CD

contendo a mídia, bem como fotos diversas dos fatos em

apuração neste procedimento; QUE requereu a juntada aos

autos do artigo 2º do Manual do Aluno do CEFET, que garante

o acesso a documentos e informações por parte dos alunos;

QUE requereu a juntada aos autos de CD contendo arquivo

eletrônico da reunião do PDI (Programa de Desenvolvimento

Institucional) do CEFET (…).”

A conversa travada entre o aluno Lucas e os Réus CAMILA AVELINO e

ADRIANO GATTO, na presença do professor Péricles, foi gravada pelo estudante em seu

celular e se encontra na mídia digital de fls. 262.

Outra omissão de suma gravidade cometida pela Ré CAMILA AVELINO diz

respeito à inobservância do Regulamento de Conselho de Classe do Sistema CEFET/RJ (fls.

112/115), que em seu artigo 4º, I, determina que a Equipe Pedagógica apresente no início

do Conselho de Classe relatório com dados colhidos junto aos alunos sobre a

disciplina, pontualidade, assiduidade, desempenho, participação, problemas e

dificuldades dos docentes e discentes.

Como se verifica dos documentos acostados às fls. 121 e 123, a própria Ré

CAMILA AVELINO afirma não ter o referido relatório, e nas cópias dos Relatórios de fls.

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397/625 tampouco há qualquer referência aos docentes que ministraram aulas para as

turmas ali avaliadas, em patente omissão de dever funcional que acarreta sérios prejuízos

ao corpo discente, ainda mais diante das reiteradas reclamações feitas pelos alunos em

face dos professores ora demandados.

Sobre a omissão da direção da unidade como um todo, o aluno Nelson Lins da

Silva prestou depoimento bastante esclarecedor a este órgão ao relatar (fls. 227/229):

“(...) QUE o declarante já se dirigiu por mais de dez vezes ao

Gerente Acadêmico Adriano Gatto para expor as

irregularidades narradas neste depoimento, porém o citado

Gerente não adotou nenhuma providência; QUE muitas vezes

não conseguiu encontrar o Gerente Adriano Gatto em função

de sua ausência; (...) ”

Do depoimento da aluna Debora Luiza Soares Fernandes se extrai (fls.

125/126):

“(...) QUE os alunos já procuraram o Gerente Acadêmico

Adriano Gatto para encaminhar requerimento solicitando

diversas providências, mas o citado Gerente sequer recebeu

os alunos; QUE a Equipe Pedagógica nunca procurou os

alunos para perguntar acerca do serviço prestado pela

Instituição”

Também a estudante Thatiana Santos Ferreira Pereira relatou (fls. 127/128):

“(...) QUE a equipe Pedagógica do CEFET/RJ nunca procurou

a declarante para obter informações a serem usadas no

Conselho de Classe...”.

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O aluno Lucas Monteiro Cavalcante afirmou (fls. 129/130):

“QUE os alunos solicitaram providências diversas ao Gerente

Acadêmico Adriano Gatto, mas este não quis receber o

documento elaborado pelos alunos; QUE atualmente o citado

professor perguntou sobre o referido documento, mas que

não poderia recebê-lo na qualidade de Gerente Acadêmico;

QUE o depoente encaminhou denúncia à Ouvidoria do

CEFET/RJ, consoante documento ora juntado aos autos; QUE

a Ouvidoria chamou os pais do depoente, perguntando-lhes se

estariam cientes da denúncia formulada, respondendo os pais

que estavam cientes e de acordo com as reivindicações, mas

que temiam algum tipo de represália (…).”

Alguns dos documentos elaborados pelos alunos se encontram acostados às fls.

130/140, sendo que a recusa, por parte do Gerente Acadêmico ADRIANO GATTO, em

receber documento contendo solicitação dos alunos da turma 5BMAUT de 2014, registrada

às fls. 140, também foi objeto da representação de fls. 32/35.

Insta relembrar o depoimento do professor Júlio Roberto Santos Bicalho, às fls.

111/112, no qual o docente afirma que as irregularidades perpetradas pelos professores

requeridos são de conhecimento dos Réus ADRIANO GATTO e SÉRGIO DE MELLO,

acrescentado que o Gerente Acadêmico se recursou a receber os alunos:

“(...) QUE as irregularidades apontadas são de ciência do

Diretor e do Gerente Acadêmico da unidade do CEFET/RJ em

Maria da Graça (Sérgio de Mello Teixeira e Adriano Gatto

Lemos de Souza, respectivamente), mas estes não adotaram

nenhuma providência; QUE os alunos procuraram o Gerente

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Acadêmico para reclamar do professor Sérgio Libânio, sendo

que o referido Gerente se recusou a receber os alunos (…).”

II- DO DIREITO

Demonstrar-se-á, aqui e agora, que as condutas dos Réus, sejam por ação,

sejam por omissão, violam diversos princípios e regras jurídicas.

Dispõe a Lei 8.112/1991 sobre o regime disciplinar dos servidores públicos:

“ Art. 116. São deveres do servidor:

I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;

(...)

III - observar as normas legais e regulamentares;

(...)

VI - levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades

de que tiver ciência em razão do cargo;

(...)

IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa;

X - ser assíduo e pontual ao serviço;

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XI - tratar com urbanidade as pessoas;

XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder.”.

“Art. 117. Ao servidor é proibido:

(...)

II - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer

documento ou objeto da repartição;

(...)

IV - opor resistência injustificada ao andamento de documento e

processo ou execução de serviço;

(…)

XV - proceder de forma desidiosa;

XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços

ou atividades particulares

(...)”.

No caso concreto, restou comprovado que o Réu SÉRGIO LIBÂNIO DE

CAMPOS tem o costume de se ausentar de suas funções de professor junto à unidade

Maria da Graça do CEFET, por longos períodos, sem estar no gozo de qualquer licença, já

tendo faltado por mais de 30 (trinta) dias seguidos, violando, assim, os artigos 116, I, IX

e X, e 117, XV, da Lei n.º 8.112/91. Aliás, pelo fato de o referido Réu ter se ausentado

intencionalmente do serviço por mais de 30 (trinta) dias consecutivos, tal conduta

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configura abandono de cargo, punível com a pena de demissão (artigos 132, II, e 138 da

Lei nº 8.112/90)

Impende salientar que o professor SÉRGIO LIBÂNIO fazia parte do grupo que

certa vez se encontrou num bar a fim de ingerir bebida alcoólica no horário do expediente,

em vez de estar em sala de aula, conduta ímproba que também se adequa aos artigos

116, IX e X e 117, XV, do Estatuto dos Servidores Públicos Federais. Releva sublinhar que

se trata de conduta gravíssima, não só pela ausência do local de trabalho em horário de

expediente, mas também porque constituiu péssimo exemplo aos alunos, muitos deles

ainda adolescentes, que necessitam de especial atenção e cuidado, pois se encontram em

fase de formação de caráter e personalidade.

Tal fato gerou uma forte discussão entre SÉRGIO LIBÂNIO e o aluno Nelson

Lins da Silva, a quem o professor já tinha dirigido insinuações sobre ser “pego” pelo aluno

apelidado pelo docente de “Negão”, com evidente cunho sexual, atitude que também se

enquadra na violação do dever de urbanidade, insculpido no artigo 116, XI, da Lei

8.112/91.

Além disso, restou cabalmente provado que o Réu SÉRGIO LIBÂNIO

assediou moralmente toda uma turma de alunos, ao chamá-los de “bando de

moleques”, por terem apresentado abaixo-assinados junto à Gerência Acadêmica da

instituição de ensino, exigindo providências quanto aos abusos por ele cometidos, e por

terem representado ao Ministério Público Federal, o que também infringe o dever de

urbanidade previsto no artigo 116, XI, da Lei n.º 8.112/91.

Por fim, há prova contundente de que SÉRGIO LIBÂNIO costuma fumar nas

aulas ministradas, inclusive nas aulas práticas dadas em laboratório, perto de substâncias

inflamáveis, expondo a vida dos alunos e a sua própria a risco. Assim sendo, violou o

artigo 2º, caput e §1º, da Lei n.º 9.294/96, o que implica, consequentemente, em

inobservância ao disposto no artigo 116, III, e 117, XV, da Lei n.º 8.112/91.

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No tocante ao Réu ÉDEN RODRIGUES NUNES JÚNIOR, há farta prova do

assédio moral que o professor impõe reiteradamente aos alunos, constrangendo-os e

humilhando-os, como no episódio emblemático que envolveu o aluno Lucas Monteiro,

além de se dirigir a eles fazendo uso de palavrões e linguagem de calão, descumprindo o

dever de urbanidade previsto no artigo 116, XI, da Lei n.º 8.112/91.

Ademais, o mencionado Réu utilizou patrimônio público para fins

manifestamente privados, o que é vedado pelo ordenamento jurídico, ao utilizar a oficina

do CEFET para consertar seu próprio veículo, em horário no qual deveria ministrar aulas,

como comprova o depoimento de fls. 227/229.

Já no depoimento de fls. 127/128, constata-se que os alunos do curso de

Manutenção Automotiva já deixaram de ter aula com o professor SÉRGIO LIBÂNIO

porque, segundo informação do docente, a peça de ar-condicionado automotivo a ser

usada estava na residência do professor ÉDEN NUNES, ora Réu.

Tais condutas do Réu ÉDEN NUNES violam os artigos 116, III, IX, XI e 117, II,

XV e XVI, do Estatuto dos Servidores Públicos Federais.

Consoante a classificação do Código Civil (artigo 99), os bens do CEFET são

de natureza especial, uma vez que destinados à prestação do serviço público de

educação, conforme disposição legal (Lei nºs 11.892/2008 e 12.677/2012), razão pela

qual estão afetados à promoção única e exclusiva do interesse público definido

em lei, e esta em nenhum momento permite que bens públicos sejam utilizados para fins

pessoais.

Como se não bastasse, ainda há notícia nos autos de que o Réu ÉDEN NUNES

foi preso dentro da unidade Maria da Graça do CEFET, por transportar peças automotivas

roubadas, consoante o Registro de Ocorrência n.º 908-10877/2013 (fls. 328/329), fato

que chegou ao conhecimento dos alunos, segundo depoimento do estudante Nelson Lins

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da Silva às fls. 227/230, o que constitui mais um péssimo exemplo dado aos discentes do

CEFET, parte deles, repise-se, adolescentes.

Contra o Réu SEBASTIÃO FÁBIO QUINTILIANO DE ARAUJO ROCHA, há

prova suficiente de grave assédio moral imposto a aluno idoso e portador de problemas

cardíacos, após ter dirigido grave ameaça aos alunos no sentido de que, se sumisse

qualquer peça do laboratório, eles seriam responsabilizados, como ressai do depoimento

de Nelson Lins da Silva às fls. 227/229, além de o professor também ter participado do

encontro no bar com a finalidade de consumir bebida alcoólica, em pleno horário de

trabalho, tendo retornado à instituição bêbado e atrasado para lecionar, fato que constitui

péssimo exemplo aos alunos, em grande parte ainda adolescentes.

Tais condutas do Réu SEBASTIÃO FÁBIO violam os artigos 116, I, III, IX, X e

XI e 117, XV, da Lei n.º 8.112/91.

No que diz respeito à Ré CAMILA AVELINO CARDOSO, restou

suficientemente comprovada sua omissão intencional, na condição de Coordenadora

Pedagógica da Unidade Maria da Graça do CEFET, quedando-se inerte ante as inúmeras

irregularidades cometidas pelos professores, que foram levadas ao seu conhecimento

diversas vezes pelo corpo discente.

O fato é que todas as pessoas ouvidas na instrução do presente procedimento

sustentaram veementemente que CAMILA AVELINO tinha ciência do comportamento

inadequado e hostil, bem como das frequentes faltas dos professores SÉRGIO LIBÂNIO,

ÉDEN NUNES e SEBASTIÃO FÁBIO, acrescentando que a pedagoga não só se manteve

distante dos problemas existentes na unidade, como deixava de agir para solucionar essas

questões, protegendo os demais Réus, evitando que respondessem por seus gravíssimos

ilícitos funcionais.

Prova contundente do atuar omisso de CAMILA AVELINO e também do

Gerente Acadêmico ADRIANO GATTO consta em gravação feita pelo aluno Lucas

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Monteiro (mídia digital às fls. 262), da qual se extrai que o estudante procurou a

Coordenação Pedagógica para relatar assédio moral que sofreu no pátio da escola,

proveniente da conduta do professor ÉDEN NUNES, e se comprova o conluio de CAMILA

e ADRIANO para evitar, a todo custo, que as medidas necessárias à apuração dos fatos

levados pelo aluno e consequente punição do professor fossem adotadas. Ou seja, os réus

CAMILA AVELINO e ADRIANO GATTO deixaram de dar o devido andamento à questão

relevante, reduzida a termo, levada à direção pelo discente Lucas Monteiro Cavalcante,

recusando-se ambos a fornecer cópia do documento elaborado na presença do estudante,

no qual Lucas apôs usa assinatura, em evidente tentativa de obstar que o ofendido

procurasse outros órgãos a fim de defender seus direitos, acobertando conduta ilegal,

imoral e ímproba praticada por ÉDEN NUNES.

A segunda omissão dolosa de especial gravidade cometida pela Ré CAMILA

AVELINO, qual seja, a inobservância do artigo 4º, I, do Regulamento de Conselho de

Classe do Sistema CEFET/RJ (fls. 112/115), também se encontra evidenciada nos autos,

pelo teor dos documentos de fls. 121 e 123, em que a própria Ré afirma não ter o referido

relatório, e nas cópias dos Relatórios de fls. 397/625, nos quais não há qualquer

referência aos docentes.

Assim agindo, a Ré CAMILA AVELINO violou os artigos 116, I, III, VI, IX e XII

e 117, IV e XV, da Lei n.º 8.112/91.

Em relação ao Réu ANTONINO PEREIRA DA SILVA, as provas coligidas no

procedimento epigrafado indicam claramente que o Coordenador do curso de Manutenção

Automotiva se omitiu intencionalmente ao quedar-se inerte diante dos 02 (dois) abaixo-

assinados exigindo providências entregues pelos discentes ao demando, apesar de ter

prometido a elaboração de um plano de reposição das aulas perdidas, deixando de adotar,

na qualidade de Coordenador Acadêmico, medida concreta para reverter o prejuízo

causados aos alunos.

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Insta registrar mais uma vez que, ao ser cobrado pelos alunos, ANTONINO

SILVA afirmou que encaminhou os abaixo-assinados ao Diretor da Unidade, SÉRGIO DE

MELLO. Contudo, recursou-se a fornecer cópia desses documentos aos estudantes,

alegando que só poderia fazê-lo mediante autorização do Diretor.

Não de pode deixar de consignar também que o Réu ANTONINO SILVA foi

visto pelos alunos, em horário de trabalho, consumindo bebida alcoólica com os demais

demandados, tendo retornado às dependências do CEFET bêbado, o que foi percebido

pelos alunos.

Desta feita, o Réu ANTONINO DA SILVA violou os artigos 116 I, III, VI, IX, X,

XII, e 117, IV, da Lei n.º 8.112/91.

No tocante ao Réu ADRIANO GATTO LEMOS DE SOUZA, há prova robusta o

suficiente para caracterizar reiteradas omissões em atender as demandas levadas a seu

conhecimento pelos alunos, deixando intencionalmente de adotar medidas que

prejudicariam os demais Réus.

Com efeito, as testemunhas ouvidas pelo Parquet foram uníssonas ao sustentar

que o Gerente Acadêmico da unidade Maria da Graça do CEFET tinha pleno conhecimento

dos ilícitos praticados pelos professores aqui demandados e nada fazia para coibir os

abusos praticados.

A prova cabal das atitudes igualmente ímprobas e irregulares do Réu

ADRIANO GATTO repousa na gravação feita pelo aluno Lucas (mídia digital de fls. 262),

de onde se extrai que o Gerente Acadêmico se juntou à pedagoga CAMILA AVELINO na

recusa a fornecer documento de interesse do discente, vítima de assédio moral cometido

por ÉDEN NUNES, em evidente atuar visando proteger e acobertar o professor.

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Acrescente-se também que o Réu ADRIANO GATTO era mais um dos

presentes ao encontro para fins de consumo de bebida alcoólica em pleno horário de

expediente.

Desta forma, o Réu ADRIANO GATTO violou os artigos 116 I, III, IX, XII, e

117, IV, XV, da Lei n.º 8.112/91.

Por derradeiro, quanto ao Réu SÉRGIO DE MELLO TEIXEIRA, restou

comprovado pelos depoimentos que instruem este processo que o Diretor da unidade

Maria da Graça do CEFET tinha pleno conhecimento dos ilícitos funcionais cometidos pelos

professores aqui noticiados, omitindo-se no seu dever de agir para pôr fim às

irregularidades que eram reportadas pelos alunos à Direção da escola.

Vale lembrar que o Diretor também participou do noticiado encontro no bar, em

horário de trabalho, para consumo de bebida alcoólica.

Desta forma, o Réu SÉRGIO DE MELLO TEIXEIRA feriu os artigos 116 I, III,

IX, XII e 117, XV, da Lei n.º 8.112/91.

Em decorrência de todo o exposto, percebe-se com precisão que o princípio

da legalidade foi excomungado da unidade Maria da Graça do CEFET.

Com efeito, a Lex Fundamentalis de 1988 erigiu o princípio da legalidade

administrativa (artigo 37, caput), que se distingue do princípio da legalidade em relação

ao particular (artigo 5º, II). Em relação a este, o homem é livre para fazer tudo aquilo que

a lei não proíbe, porquanto “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma

coisa senão em virtude de lei”, máxima expressão do direito fundamental à liberdade

(artigo 5º, caput). Todavia, situação contrária se firma quanto ao princípio da legalidade

administrativa, uma vez que o administrador somente pode agir de acordo com as

atribuições que lhe são cometidas por lei.

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Enquanto o homem pode agir livremente em relação àquilo que não é vedado

por lei, o administrador está adstrito aos preceitos legais.

Transcreve-se a perfeita docência de Celso Ribeiro Bastos:

“Já quando se trata de analisar o modo de atuar das autoridades

administrativas não se pode fazer aplicação do mesmo princípio

segundo o qual tudo o que não for proibido lhe é permitido. É que,

com relação à Administração, não há princípio de liberdade nenhum

a ser obedecido. É ela criada pela Constituição e pelas leis como

mero instrumento de atuação e aplicação do ordenamento jurídico.

Assim sendo, cumprirá melhor o seu papel quanto mais atrelada

estiver à própria lei cuja vontade deve sempre prevalecer. Embora a

Administração se muna de agentes humanos de cujo processo

intelectual e volitivo vai se valer para poder manifestar um querer

seu, a verdade é que nesse campo os processos psíquicos humanos

não são prestigiados enquanto titulares de uma liberdade que se

quer ver respeitada, mas tão somente enquanto instrumentos da

realização dos comandos legais...”1.

No mesmo diapasão se manifesta Diogenes Gasparini:

“O princípio da legalidade, resumido na proposição suporta a lei que

fizeste, significa estar a Administração Pública, em toda a sua

atividade, presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo

afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de seu

autor”2.

1 Comentários à Constituição do Brasil, 1992, Saraiva, 3º Volume, Tomo III, página 26.

2 Direito Administrativo, Saraiva, 1989, página 6.

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No caso trazido à baila, os Réus violaram diversos preceitos da Lei n.º

8.112/91, definidores de deveres e proibições aos servidores públicos federais.

Logo, operou-se inequívoca transgressão ao princípio da legalidade

administrativa, já que os servidores não se submeteram à lei, descumprindo com

deveres e proibições legalmente impostas.

Continuam atuais, neste sentido, as lições de Hely Lopes Meirelles:

“A legalidade, como princípio da administração, significa que o

administrador público está, em toda a sua atividade funcional,

sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e

deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato

inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil, criminal,

conforme o caso”.

(Direito Administrativo Brasileiro, 2009, Malheiros, página 89).

Consequentemente, se pelo princípio da legalidade administrativa o

administrador somente pode realizar aquilo que está disposto em lei, e se esta não

autoriza as faltas injustificadas reiteradas ao trabalho, o assédio moral, a utilização do

patrimônio público para satisfação de interesse particular, a recusa em fornecer

documento, a omissão em coibir irregularidades cometidas nas repartições públicas e

tampouco o consumo de bebida alcoólica no horário do expediente, deduz-se facilmente

que os Réus extrapolaram os limites legais, agindo de forma ilícita.

De outro giro, é de nitidez vítrea que, à luz do princípio constitucional da

impessoalidade, não pode o agente público usar a máquina estatal para o benefício de

próprio, em detrimento do interesse público preconizado por lei, como fez o Réu ÉDEN

NUNES ao deixar de dar aula para consertar seu veículo na oficina do CEFET e ao levar

peça de ar-condicionado automotivo, que seria estudada pelos alunos, para sua casa.

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Vale consignar também que a moral comum é guiada pela noção de bem e mal,

e a moralidade administrativa refere-se à boa ou à má administração.

Obviamente, faltar injustificadamente e por longo período ao trabalho, assediar

moralmente qualquer pessoa e, mais grave ainda, adolescentes, utilizar patrimônio

público para satisfação de interesse particular e consumir bebida alcoólica no horário do

expediente consistem em ofensas ao princípio constitucional da moralidade

administrativa (artigo 37, caput).

Patente a gravidade da conduta dos Réus, uma vez que, como asseverado

anteriormente, ignoraram as proibições previstas em vários incisos dos artigos 116 e 117

da Lei nº 8.112/90, e tais faltas funcionais, além da improbidade administrativa, são

punidas com demissão pelo Estatuto dos Servidores Públicos:

“Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos:

(...)

IV - improbidade administrativa;

(...)

XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117”.

Conjuntamente, as condutas dos Réus também aviltam diversas normas

elencadas no Decreto nº 1.171/94 (Código de Ética Profissional do Servidor

Público Civil do Poder Executivo Federal):

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“II - O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento

ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o

legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente,

o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o

desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da

Constituição Federal.

III - A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção

entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o fim é

sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade,

na conduta do servidor público, é que poderá consolidar a

moralidade do ato administrativo.

XIV - São deveres fundamentais do servidor público:

(...)

c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do

seu caráter, escolhendo sempre, quando estiver diante de duas

opções, a melhor e a mais vantajosa para o bem comum;

(...)

f) ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios éticos

que se materializam na adequada prestação dos serviços públicos;

(...)

t) exercer com estrita moderação as prerrogativas funcionais que lhe

sejam atribuídas, abstendo-se de fazê-lo contrariamente aos

legítimos interesses dos usuários do serviço público e dos

jurisdicionados administrativos;

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u) abster-se, de forma absoluta, de exercer sua função, poder ou

autoridade com finalidade estranha ao interesse público, mesmo que

observando as formalidades legais e não cometendo qualquer

violação expressa à lei;

XV - É vedado ao servidor público:

a) o uso do cargo ou função, facilidades, amizades, tempo, posição e

influências, para obter qualquer favorecimento, para si ou para

outrem.

(...)

c) ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com

erro ou infração a este Código de Ética ou ao Código de Ética de sua

profissão;

d) usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o exercício regular

de direito por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou

material;

f) permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos,

paixões ou interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o

público, com os jurisdicionados administrativos ou com colegas

hierarquicamente superiores ou inferiores;

h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar

para providências;

(...)

l) retirar da repartição pública, sem estar legalmente autorizado,

qualquer documento, livro ou bem pertencente ao patrimônio

público;

(...)

n) apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele habitualmente”.

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Por derradeiro, as condutas ímprobas aqui versadas ganham especial destaque

por terem sido praticadas em detrimento de adolescentes, o que torna ainda mais graves

as irregularidades sub examine.

Como cediço, o ordenamento jurídico pátrio confere proteção específica a

crianças e adolescentes, havendo um microssistema de princípios e regras, positivado na

Lei 8.069/90, que se impõe sobre toda e qualquer relação travada com pessoa menor de

18 (dezoito anos).

A análise perfunctória dos fatos ora aduzidos à luz do Estatuto da Criança e do

Adolescente evidencia o desrespeito por parte dos Réus aos seguintes dispositivos:

“Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao

respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo

de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis,

humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

(...)

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da

integridade física, psíquica e moral da criança e do

adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade,

da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos

pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do

adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento

desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou

constrangedor.

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Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser

educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de

tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,

disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,

pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos

agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por

qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-

los ou protegê-los.

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:

(...)

II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel

de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que:

a) humilhe; ou

b) ameace gravemente; ou

c) ridicularize.

(...)

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,

visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo

para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,

assegurando-se-lhes:

(...)

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II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às

instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

(...)”

A Lei n.º 8.069/90, em seu artigo 2º, estabelece a faixa etária na qual a pessoa

é considerada adolescente:

“Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até

doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze

e dezoito anos de idade.”

É de clareza solar que os Réus, além de infringir as normas funcionais

anteriormente mencionadas, feriram também, com suas condutas ilícitas, os dispositivos

do Estatuto da Criança acima transcritos, o que, como já dito, confere aos atos ímprobos

apurados maior gravidade e exige, por conseguinte, punição mais rigorosa, o que ora se

requer.

Neste diapasão, cabe destacar o episódio em que todos os Réus, à exceção de

CAMILA AVELINO e ÉDEN NUNES, foram vistos pelos alunos consumindo bebida alcoólica

em horário de expediente, e SEBASTIÃO FÁBIO e ANTONINO SILVA entraram na

instituição de ensino alcoolizados para dar aula, sendo que SEBASTIÃO FÁBIO chegou a

discutir, bêbado, com o aluno Nelson Lins da Silva, conduta inadmissível a quem pretende

laborar como educador de pessoas menores, merecedora de veemente reprimenda.

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III - DA TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA

Diante dos fatos narrados, verifica-se que os atos dos Réus recebem a

tipificação a seguir descrita.

O Réu SÉRGIO LIBÂNIO DE CAMPOS violou os princípios constitucionais da

legalidade e da moralidade (artigo 37, caput, da CRFB/88), bem como os artigos 116, I,

III, IX, X, XI; 117, XV; 132, II, e 138, todos da Lei n.º 8.112/91, e os preceitos II, III,

IX, XIV, “c”, “f”, “t”, “u”, XV, “a” e “n”, do Decreto nº 1.171/94 (Código de Ética Profissional

do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal).

O Réu ÉDEN RODRIGUES NUNES JÚNIOR violou os princípios

constitucionais da legalidade, da moralidade e da impessoalidade (artigo 37, caput, da

CRFB/88), bem como os artigos 116, III, IX, XI, e 117, II, XV e XVI, da Lei n.º 8.112/91,

e os preceitos II, III, IX, XIV, “c”, “f”, “t”, “u”, XV, “a”, do Decreto nº 1.171/94 (Código de

Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal).

O Réu SEBASTIÃO FÁBIO QUINTILIANO DE ARAUJO ROCHA violou os

princípios constitucionais da legalidade e da moralidade (artigo 37, caput, da CRFB/88),

bem como os artigos 116, I, III, IX, X, XI, e 117, XV, da Lei n.º 8.112/91, e os preceitos

II, III, IX, XIV, “c”, “f”, “t”, “u”, XV, “a” e “n”, do Decreto nº 1.171/94 (Código de Ética

Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal).

A Ré CAMILA AVELINO CARDOSO violou os princípios constitucionais da

legalidade e da moralidade (artigo 37, caput, da CRFB/88), bem como os artigos 116, I,

III, VI, IX, XII, e 117, IV e XV, da Lei n.º 8.112/91, e os preceitos II, III, IX, XIV, “c”, “f”,

“t”, “u”, XV, “a”, do Decreto nº 1.171/94 (Código de Ética Profissional do Servidor Público

Civil do Poder Executivo Federal).

O Réu ANTONINO PEREIRA DA SILVA violou os princípios constitucionais da

legalidade e da moralidade (artigo 37, caput, da CRFB/88), bem como os artigos 116 I,

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III, VI, IX, X, XII, e 117, IV, da Lei n.º 8.112/91, e os preceitos II, III, IX, XIV, “c”, “f”, “t”,

“u”, XV, “a” e “n”, do Decreto nº 1.171/94 (Código de Ética Profissional do Servidor Público

Civil do Poder Executivo Federal).

O Réu ADRIANO GATTO LEMOS DE SOUZA violou os princípios

constitucionais da legalidade e da moralidade (artigo 37, caput, da CRFB/88), bem como

os artigos 116 I, III, IX, XII, e 117, IV, XV, da Lei n.º 8.112/91, e os preceitos II, III, IX,

XIV, “c”, “f”, “t”, “u”, XV, “a”, “c” e “n”, do Decreto nº 1.171/94 (Código de Ética

Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal).

O Réu SÉRGIO DE MELLO TEIXEIRA violou os princípios constitucionais da

legalidade e da moralidade (artigo 37, caput, da CRFB/88), bem como os artigos 116 I,

III, IX, XII, e 117, XV, da Lei n.º 8.112/91, e os preceitos II, III, IX, XIV, “c”, “f”, “t”, “u”,

XV, “a”, “c” e “n”, do Decreto nº 1.171/94 (Código de Ética Profissional do Servidor Público

Civil do Poder Executivo Federal).

Destarte, os Réus SÉRGIO LIBÂNIO DE CAMPOS, ÉDEN RODRIGUES

NUNES JÚNIOR, SEBASTIÃO FÁBIO QUINTILIANO DE ARAUJO ROCHA, CAMILA

AVELINO CARDOSO, ANTONINO PEREIRA DA SILVA, ADRIANO GATTO LEMOS DE

SOUZA e SÉRGIO DE MELLO TEIXEIRA, todos servidores públicos federais, praticaram

atos de improbidade administrativa, ex vi do disposto no artigo 11, caput, e inciso I, da

Lei nº 8.429/92:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou

omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,

legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou

diverso daquele previsto, na regra de competência”.

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IV - DO PEDIDO

Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:

1 – a notificação dos demandados para que apresentem manifestação por

escrito, no prazo de 15 dias, de acordo com o § 7º do artigo 17 da Lei nº 8.429/92;

2 – seja recebida a inicial e determinada a citação dos réus para oferecer

contestação, no prazo legal, sob pena de revelia;

3 – a procedência do pedido, condenando-se os Réus SÉRGIO LIBÂNIO

DE CAMPOS, ÉDEN RODRIGUES NUNES JÚNIOR, SEBASTIÃO FÁBIO QUINTILIANO

DE ARAUJO ROCHA, CAMILA AVELINO CARDOSO, ANTONINO PEREIRA DA SILVA,

ADRIANO GATTO LEMOS DE SOUZA e SÉRGIO DE MELLO TEIXEIRA nas penas

previstas no artigo 12, inciso III, da Lei nº 8.429/92, e ao pagamento das verbas de

sucumbência.

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000 (dez mil reais).

Protesta por todos os meios de prova admissíveis em Direito,

principalmente o testemunho dos professores e alunos qualificados às fls. 111, 125, 127,

129, 141, 224, 227, 264 e 303.

Nestes termos, pede deferimento.

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2017.

FÁBIO MORAES DE ARAGÃOProcurador da República