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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES ____________________________________________________ 1 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU-Pr. A Ministra Eliana Calmon já decidiu que: “(...) Diante das Leis de Improbidade e Responsabilidade Fiscal, inexiste espaço para o administrador 'desorganizado', 'desleixado', 'despreparado', e 'despido de senso de direção'. Não se pode conceber, principalmente na atual conjuntura política, que um Prefeito, legitimamente eleito, assuma a administração de um Município e deixe de observar as mais comezinhas regras de direito público e, o que é pior, tentar colocar tais fatos no patamar de meras irregularidades” (Superior Tribunal de Justiça - REsp nº 708.170/MG). O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º, da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

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Page 1: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ · Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6 HOTEL BELLA ITALIA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, cadastrada no CNPJ/MF

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

1 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª

SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO

IGUAÇU-Pr.

A Ministra Eliana Calmon já decidiu que: “(...) Diante

das Leis de Improbidade e Responsabilidade Fiscal,

inexiste espaço para o administrador 'desorganizado',

'desleixado', 'despreparado', e 'despido de senso de

direção'. Não se pode conceber, principalmente na atual

conjuntura política, que um Prefeito, legitimamente

eleito, assuma a administração de um Município e deixe

de observar as mais comezinhas regras de direito

público e, o que é pior, tentar colocar tais fatos no

patamar de meras irregularidades” (Superior Tribunal de

Justiça - REsp nº 708.170/MG).

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas

atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO

PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição

Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º,

da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante

Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

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2 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

em face a:

RENI CLÓVIS DE SOUZA PEREIRA, brasileiro, casado, Prefeito Municipal

de Foz do Iguaçu-Pr, portador do Título de Eleitor nº 060698110604, natural de

Santo Antônio do Sudoeste-Pr, nascido aos 13/01/1970, filho de Moacir de

Castro Pereira e de Fredolina de Souza Pereira, podendo ser localizado na Praça

Getúlio Vargas, nº 280, Centro, CEP 85851-340, nesta cidade e Comarca de Foz

do Iguaçu-Pr;

RICARDO VINICIUS CUMAN, brasileiro, solteiro, Secretário Municipal da

Administração e Gestão de Pessoas, natural de Curitiba-Pr, nascido aos

30/06/1983, filho de Antônio Ivo Cuman e de Marli Anita Manfron Cuman,

portador do Título de Eleitor nº 079444030620, podendo ser localizado na Praça

Getúlio Vargas, nº 280, Centro, CEP 85851-340, nesta cidade e Comarca de Foz

do Iguaçu-Pr;

CLAUDIA CANZI, brasileira, casada, Procuradora Municipal (matrícula nº

1128101), nascida aos 10/02/1960, inscrita no CPF sob o nº 042.391.199-60,

residente e domiciliada na Al Itai Chácara Lua Cheia, Loteamento Dom Emilio,

CEP 85.853-727 e/ou Rua Belarmino de Mendonça, nº 107, Sala 201, Centro,

CEP 85.851-100, ambos nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

LETTICE APARECIDA DIAS CANETE DE LIMA, brasileira, solteira,

então Secretária Municipal de Saúde, inscrita no CPF/MF sob o nº 041.914.449-

80, domiciliada na Avenida Brasil, nº 1.637, 3º andar, Sala 313, Centro, CEP

85.851-000, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

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3 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

HOTEL BELLA ITALIA LTDA, pessoa jurídica de direito privado,

cadastrada no CNPJ/MF sob o nº 81.257.156.0001-54, representada por Arnaldo

Bortoli, brasileiro, casado, portador da Cédula de Identidade RG nº 467.079

SSP/RS, inscrito no CPF/MF sob o nº 164.005.349-20, com sede à Avenida

República Argentina, nº 1.700, Centro, nesta cidade e Comarca de Foz do

Iguaçu-Pr; e

ARNALDO BORTOLI, brasileiro, casado, portador da Cédula de Identidade

RG nº 467.079 SSP/RS, inscrito no CPF/MF sob o nº 164.005.349-20, residente

à Avenida República Argentina, nº 1.700, Centro, nesta cidade e Comarca de

Foz do Iguaçu-Pr;

pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

1. DOS FATOS:

No dia 06 de novembro de 2013, a empresa

hoteleira HOTEL BELLA ITALIA LTDA celebrou o Contrato nº 177/2013

com o Município de Foz do Iguaçu-Pr - mediante dispensa de prévio

procedimento licitatório - o qual tinha como objeto “a prestação de serviços de

hospedagem incluindo 60 (sessenta) diárias, em apartamento duplo, com

fornecimento de café da manhã e jantar para atender aos profissionais

médicos contratados através do Programa Federal “Mais Médicos”, conforme

especificações constantes no Processo de Dispensa de Licitação nº 113/2013 e

seus anexos”, consoante documento de fls. 86/90.

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4 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

O sobredito pacto foi assinado pelo Prefeito

Municipal RENI CLÓVIS DE SOUZA PEREIRA, pela então Secretária

Municipal de Saúde LETTICE APARECIDA DIAS CANETE DE LIMA e

pelo representante legal da empresa hoteleira ARNALDO BORTOLI, restando

acordado o valor de R$ 105.000,00 (cento e cinco mil reais) para a prestação dos

serviços contratados pela urbe, nos termos da cláusula terceira da sobredita

avença.

No afã de inviabilizar o caráter competitivo na

contratação realizada pelo Poder Público, impossibilitando a participação dos

demais prestadores do serviço hoteleiro, CLAUDIA CANZI (Procuradora do

Município de Foz do Iguaçu-Pr) manifestou-se favoravelmente à dispensa de

prévio procedimento licitatório (fls. 54), utilizando esdruxulamente como

fundamento o art. 24, inciso X, da Lei Federal nº 8.666/93, que dispõe:

“Art. 24. É dispensável a licitação:

X - para a compra ou locação de imóvel

destinado ao atendimento das finalidades

precípuas da administração, cujas

necessidades de instalação e localização

condicionem a sua escolha, desde que o

preço seja compatível com o valor de

mercado, segundo avaliação prévia

(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)”.

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5 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Sendo assim, após parecer favorável da

sobredita Procuradora, distorcendo dolosamente a letra da lei, e mediante

simples cotação de preços com três fornecedores da cidade, quais sejam: Nadai

Confort Hotel (R$ 190,00), Águas do Iguaçu (R$ 160,00) e HOTEL BELLA

ITALIA LTDA (R$ 250,00) - em que somente este último atendeu as

exigências do Município de Foz do Iguaçu-Pr, conforme demonstra o documento

de fls. 63 -, instaurou-se o Processo de Dispensa de Licitação nº 113/2013, o

qual foi assinado pelo Secretário Municipal de Administração e Gestão de

Pessoas RICARDO VINICIUS CUMAN, sendo posteriormente ratificado pelo

Chefe do Executivo RENI CLÓVIS DE SOUZA PEREIRA (fls. 72/73).

É evidente que os requeridos visavam a

contratação da empresa HOTEL BELLA ITALIA LTDA, tanto que

escolheram outros dois hotéis que não poderiam cumprir as exigências impostas

pela urbe, conforme se infere na tabela constante no documento de fls. 63, assim

redigida:

Cotação Preços Hospedagem Programa Mais Médicos

Nome Hotel Diária Apto. Duplo Café Manhã Jantar Justificativa Nadai Confort Hotel R$ 190,00 SIM SIM Não tem

disponibilidade de

vagas para o período

contínuo de 60 dias.

Águas do Iguaçu R$ 160,00 SIM NÃO Não atende por não

ofertar jantar.

Bella Itália R$ 250,00 SIM SIM Atende todos os

requisitos.

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6 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Além disso, as certidões negativas

apresentadas pelo HOTEL BELLA ITALIA LTDA foram emitidas em data

posterior à celebração do instrumento contratual, conforme se infere nos

documentos de fls. 104/106 e 113.

De se observar que o mencionado contrato foi

celebrado em 06 de novembro de 2013 (fls. 83), muito antes da emissão das

sobreditas certidões, conforme a seguir demonstrado:

Certidão Data Emissão Fls. do ICP

Estadual 06 de dezembro de 2013 104

Municipal 07 de janeiro de 2014 113

FGTS 06 de dezembro de 2013 105

Trabalhista 06 de dezembro de 2013 106

Como se vê, a assinatura do contrato era

questão de mera formalidade, já que a contratação do HOTEL BELLA

ITALIA LTDA já estava previamente arquitetada pelos requeridos, tanto que

não se preocuparam em exigir prévia comprovação de quitação tributária,

ferindo de morte o princípio da impessoalidade.

Concluindo o intento ímprobo, RENI

CLÓVIS DE SOUZA PEREIRA e LETTICE APARECIDA DIAS

CANETE DE LIMA autorizaram que a sobredita empresa firmasse contrato de

prestação de serviços com a municipalidade sem comprovar que estaria

adimplente com os entes da Federação e sem demonstrar que não havia débitos

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7 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

trabalhistas ou previdenciários pendentes, tudo em conluio com RICARDO

VINICIUS CUMAN, CLAUDIA CANZI e ARNALDO BORTOLI.

Conforme demonstram os documentos de fls.

99/112, o pagamento do valor pactuado foi realizado em duas parcelas mensais

de R$ 52.500,00 (cinquenta e dois mil e quinhentos reais), consoante

comprovam as notas de empenhos nºs 11471/2013 e 13493/2013, ambas

assinadas pela Secretária Municipal de Saúde LETTICE APARECIDA DIAS

CANETE DE LIMA.

Como se não bastasse, a dispensa de licitação

para a prestação de serviços de acomodação dos médicos integrantes do

“Programa Federal Mais Médicos” também ofendeu o disposto na legislação que

rege a matéria, haja vista que tal hipótese não se enquadra em nenhum dos

incisos do art. 24 da Lei Federal nº 8.666/931.

Assim agindo, os requeridos praticaram atos de

improbidade administrativa que causaram prejuízo ao erário e que também

atentam contra os princípios da Administração Pública, já que tais condutas se

subsumem perfeitamente ao disposto no art. 10, inciso VIII, e art. 11, inciso I,

ambos da Lei Federal nº 8.429/922.

1 Art. 24. É dispensável a licitação: X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia. 2 Art. 10. (...) VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente; Art. 11. (...) I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência.

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8 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

No caso em tela, é incontestável a existência

de ilegalidade, imoralidade e impessoalidade no trato do Prefeito Municipal

RENI CLÓVIS DE SOUZA PEREIRA com a res pública, já que, em conluio

com os demais requeridos, dispensou, fora dos casos previstos em lei, a

realização de prévio procedimento licitatório para contratar a prestação de

serviços de hospedagem, fato que constitui ato ímprobo, passível de ensejar a

aplicação da Lei de Improbidade Administrativa.

Oportuno ressaltar que a cidade de Foz do

Iguaçu-Pr abriga uma ampla rede hoteleira, contanto com mais de (150) cento e

cinquenta estabelecimentos dedicados à hospedagem, superando a casa de (21)

vinte e um mil leitos, consoante dados extraídos da internet (documentos em

anexo).

De qualquer ângulo que se visualize a questão,

não havia justificativa para a dispensa de prévio procedimento licitatório para

escolha de determinado hotel desta cidade para prestar o almejado serviço.

2. DOS FUNDAMENTOS:

2.1. DOS ATOS QUE CAUSAM PREJUÍZOS AO ERÁRIO:

A Lei nº 8.429/92 disciplina a repressão aos

atos de improbidade administrativa praticados por agentes públicos que

importem em enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e/ou atentem contra os

princípios da administração pública, estabelecendo as sanções aplicáveis aos

seus autores, dentre elas, a de ressarcimento integral do dano.

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9 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

O artigo 10º, caput, e inciso VIII, do aludido

diploma legal prevê:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade

administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou

culposa, que enseje perda patrimonial,

desvio, apropriação, malbaratamento ou

dilapidação dos bens ou haveres das

entidades referidas no art. 1º desta lei, e

notadamente:

VIII - frustrar a licitude de processo

licitatório ou dispensá-lo indevidamente”.

Assim, pode-se dizer que, ao contratar de

forma direta a empresa HOTEL BELLA ITALIA LTDA, em flagrante ofensa

a Lei de Licitações (art. 24, inciso X), os requeridos RENI CLÓVIS DE

SOUZA PEREIRA (Prefeito Municipal), RICARDO VINICIUS CUMAN

(Secretário Municipal de Administração e Gestão de Pessoas), LETTICE

APARECIDA DIAS CANETE DE LIMA (Secretária Municipal de Saúde) e

CLAUDIA CANZI (Procuradora do Município), cada um cooperando de forma

relevante para a prática do ato ímprobo, dispensaram indevidamente prévio

procedimento licitatório e, consequentemente, inviabilizaram que os demais

prestadores de serviço hoteleiro pudessem oferecer propostas mais vantajosas

para a Administração.

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10 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

De se observar que o art. 24, inciso X, da Lei

nº 8.666/93 autoriza a dispensa de licitação “para a compra ou locação de

imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da Administração,

cujas necessidades de instalação e localização condicionam a sua escolha,

desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação

prévia”.

Veja-se que o dispositivo acima mencionado

permite a dispensa de prévio procedimento licitatório para locação de imóvel e

não para prestação de serviços hoteleiros como quis fazer crer a Procuradoria

do Município.

Com efeito, o objeto do Contrato nº 177/2013

“é a prestação de serviços de hospedagem, incluindo 60 (sessenta) diárias, em

apartamento duplo, com fornecimento de café da manhã e jantar para atender

aos profissionais médicos (...)” - fls. 74/83 -.

Oportuno ressaltar que sobre a sobredita

contratação constituiu fato gerador do imposto sobre serviços de qualquer

natureza (ISSQN), o qual foi descontado na fonte, conforme demonstram os

documentos de fls. 93/94.

Tal tributo tem previsão legal no Anexo I, do

Código Tributário Municipal (Lei Complementar nº 82, de 24 de dezembro de

2003), que elenca em seu item 9, os seguintes serviços como passíveis de

configurarem o fato gerador do ISSQN, in verbis:

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11 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

“9. Serviços relativos a hospedagem, turismo,

viagens e congêneres.

9.01 - Hospedagem de qualquer natureza em

hotéis, apart-service condominiais, flat,

apart-hotéis, hotéis residência, residence-

service, suíte service, hotelaria marítima,

motéis, pensões e congêneres; ocupação por

temporada com fornecimento de serviço (o

valor da alimentação e gorjeta, quando

incluído no preço da diária, fica sujeito ao

Imposto Sobre Serviços)”.

Assim, não pairam dúvidas que não houve

locação de imóvel (o que, em tese, poderia ensejar a dispensa de licitação), mas

sim a efetiva contratação de prestação de serviços por parte do HOTEL BELLA

ITALIA LTDA, que exigia o prévio procedimento licitatório.

Conforme dito alhures, a cidade de Foz do

Iguaçu-Pr é servida por uma vasta gama de hotéis e estabelecimentos similares

que prestam os mesmos serviços contratados pela urbe, os quais poderiam

ofertar propostas mais vantajosas para a Administração.

Além disso, há dúvidas quanto a

compatibilidade do preço oferecido pela empresa hoteleira com os parâmetros de

mercado, já que para aferição do quantum a ser despendido pelo município, os

requeridos se limitaram a realizar cotação de preço com apenas e tão somente

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12 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

três empresas - onde se constatou que o único fornecedor que poderia prestar o

serviço seria o HOTEL BELLA ITALIA LTDA - (fls. 63).

Em consulta ao endereço eletrônico do

mencionado hotel (www.hotelbellaitalia.com.br) é possível verificar que a

empresa fornece aos seus clientes um apartamento duplo pelo valor de R$

234,00 (duzentos e trinta e quatro reais) a diária - incluído face da manhã – (doc,

em anexo).

Ora, se de qualquer pessoa que queira se

hospedar no sobredito estabelecimento, cobra-se tal quantia, por que o município

de Foz do Iguaçu-Pr teve que arcar com um custo superior (R$ 250,00)?

É evidente que a contratação de (60) sessenta

diárias contínuas justificava a redução do valor pago pela urbe, no entanto, isto

não ocorreu, já que, os requeridos, em conluio, entenderam por bem fixar um

preço maior do que aquele normalmente cobrado.

De qualquer modo, a necessidade da

administração pública municipal não exigia a contratação de um hotel específico.

Aliás, o simples fato de ter sido realizada consulta de preços com outros hotéis

da cidade demonstra que era possível a realização de licitação, visto existir, com

as necessidades eleitas pela municipalidade, mais de um prestador de serviço

hoteleiro (mais de 150, como dito alhures).

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13 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Somente com a instauração do procedimento

licitatório, com transparência e publicidade, é que poderia se aferir, com certeza,

a oferta mais vantajosa ao erário, pois de acordo com o art. 3° da Lei Federal n.°

8.666/1993, “a licitação destina-se a garantir a observância do princípio

constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a

administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será

processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da

legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da

probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do

julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos”.

É inquestionável que a contratação da dita

empresa para prestar serviços hoteleiros, em desacordo com a legislação

pertinente, importa em prejuízo ao erário, já que qualquer diminuição do

patrimônio público advinda de ato inválido caracteriza dano e redunda no dever

de ressarcir.

E é aí que se inclui o dever por parte dos

requeridos em recompor à Administração quanto aos prejuízos por esta

suportados, consoante artigos 37, § 4º, da Constituição da República e 4º e 5º da

Lei Federal nº 8.429/92.

Aliás, assim têm reconhecido a doutrina3:

3 FERRAZ, Sérgio e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit. p. 93, 106-107.

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14 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

“(...) o dinheiro público, exatamente por ser

res publica, há de ser gasto dentro da estrita

conformidade legal.

(...)

'Quem quer que utilize dinheiros públicos

terá de verificar seu bom e regular emprego,

na conformidade das leis, regulamentos e

normas emanadas das autoridades

administrativas competentes', ou seja:

'quem gastar, tem de gastar de acordo com

a lei'

Isso quer dizer: quem gastar em desacordo

com a lei há de fazê-lo por sua conta, risco e

perigos. Pois impugnada a despesa, a

quantia gasta irregularmente terá de

retornar ao Erário Público.

Não caberá a invocação, assaz de vezes

realizada, de enriquecimento ilícito da

Administração (...)”

De se ressaltar que a efetiva prestação do

serviço é irrelevante, uma vez que é o ato de direcionar a licitação para a

contratação da empresa HOTEL BELLA ITALIA LTDA, dispensando o

processo licitatório fora dos casos previstos em lei, que causa dano ao erário.

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15 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Vale dizer: não se discute se o valor foi

cobrado estava dentro dos parâmetros usualmente praticados pelo mercado, pois

a lesão ao erário é presumida, caso demonstrada a irregularidade na contratação.

Isto porque o Poder Público deixa de, por

condutas de administradores, contratar a melhor proposta, ainda que

eventualmente esta pudesse ser da empresa contratada, pelo processo licitatório

frustrado.

Nesse sentido:

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL DE

IMPROBIDADE. INDEVIDA DISPENSA

DE LICITAÇÃO. DANO AO ERÁRIO.

RESSARCIMENTO. LEGITIMIDADE

ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

CARACTERIZAÇÃO DE CULPA DA

EMPRESA CONTRATADA. PROVA DO

PREJUÍZO. DANO IN RE IPSA.

NECESSIDADE DE PRÉVIO

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO,

INACUMULATIVIDADE DE PENAS E

IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO

INTEGRAL DO QUE FOI RECEBIDO

CARENTES DE PREQUESTIONAMENTO.

DISCUSSÃO DOS TEMAS NO VOTO

VENCIDO. SÚMULA 320/STJ. (...) 3. A

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16 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

indevida dispensa de licitação, por impedir

que a administração pública contrate a

melhor proposta, causa dano in re ipsa,

descabendo exigir do autor da ação civil

pública prova a respeito do tema.

Precedentes da Segunda Turma (...) 5. Recurso

especial conhecido em parte e não provido”

(STJ. REsp 817921/SP. Rel. Min. Castro

Meira. j. 27.11.2012. p. 6.12.2012) - grifei -.

Assim, é desnecessário aferir se o serviço foi

prestado ou não e se os valores pagos à empresa contratada foram superfaturados

com efetivo prejuízo pecuniário à Administração. O dano, neste caso, decorre da

simples fata de observância do trâmite legal e da impossibilidade da

Administração Pública colher a melhor proposta.

Desta forma, ainda que eventualmente a

empresa hoteleira não tenha superfaturado o valor cobrado do erário, a mera

dispensa ilegal do procedimento licitatório caracteriza o ato ímprobo.

Neste sentido, já decidiu o e. Tribunal de

Justiça do Estado do Paraná, in verbis:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. LESÃO AO

ERÁRIO. PONTO CONTROVERTIDO.

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17 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.

DESNECESSIDADE. FRAUDE À

LICITAÇÃO. DANO PRESUMIDO.

É desnecessário aferir se o serviço foi

prestado ou não e se os valores pagos à

empresa contratada foram superfaturados,

com efetivo prejuízo pecuniário à

Administração, pois o prejuízo decorre da

simples falta de observância do processo

licitatório e da impossibilidade de a

administração pública colher a melhor

proposta. RECURSO PROVIDO” (TJPR.

Agravo de Instrumento nº 1118530-3, Relator

Des. Nilson Mizuta, julgado em 03 de

dezembro de 2013) - grifei -.

Oportuno descrever trechos do julgado acima

mencionado: “O objetivo da lei, neste caso, é impedir que o Administrador

contrate a empresa que melhor lhe convier, ainda que o valor contratado seja

igual ou semelhantes às demais empresas do ramo. Possibilitar que o agente

público possa escolher, utilizando de critérios eminentemente subjetivos, com

quem contratar, configuraria flagrante violação ao princípio da

impessoalidade”.

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18 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Não se pode olvidar que toda a sistemática

prevista pela Lei Federal nº 8.666/93 baseia-se na presunção de que a obediência

aos seus ditames garantirá a escolha da melhor proposta em ambiente de

igualdade de condições.

Portanto, é desnecessário produzir provas

referentes à efetiva prestação ou não dos serviços ou relativas ao valor gasto com

a empresa contratada.

Ressalte-se que o parecer jurídico proferido

por CLAUDIA CANZI - favorável à dispensa de licitação - não exime os

demais requeridos de suas responsabilidades.

Neste sentido, já se manifestou o e. Tribunal

de Justiça do Estado do Paraná, in verbis: “O agente público deve respeitar e

fazer cumprir a Constituição Federal, as leis e os atos normativos. Qualquer

atuação desconforme ou incompatível com o alicerce legal o sujeitará à

responsabilização administrativa, mesmo que em obediência a uma ordem

superior hierárquica, pois o dever de obediência não pode ser ilimitado nem

cego” (Apelação Cível nº 759.222-1, Relator Des. Xisto Pereira, julgado em 30/05/2012).

Isso ocorre porque soa inadmissível a

obediência ilimitada ao parecer jurídico sem uma mínima reflexão ou

contraposição, impondo-se ao agente estatal, seja de que nível for, a obrigação

de examinar o conteúdo da ordem e avaliar sua adequação ao conjunto

normativo em vigor.

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19 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Assim, o fato de terem sido orientados pela

Procuradoria do Município não tem o condão de afastar a responsabilidade do

Chefe do Executivo e seus respectivos Secretários, haja vista que conforme já

decidiu o Superior Tribunal de Justiça, “pareceres de juristas e da própria

Procuradoria Geral do órgão público não têm o condão de transformar o que é

ilícito, irregular ou viciado em ato administrativo legal, nem dispensam,

extirpam, reduzem ou compensam a responsabilidade dos administradores no

sentido de zelar pelo patrimônio público e pelos princípios que regem a

Administração” (AgRg no AREsp 307583 / RN, Segunda Turma, Rel.: Min. Castro

Meira, DJe 28/06/2013).

RICARDO VINICIUS CUMAN (Secretário

Municipal de Administração e Gestão de Pessoas) e LETTICE APARECIDA

DIAS CANETE DE LIMAS (então Secretária Municipal de Saúde), por sua

vez, não podem alegar desconhecimento das normas constitucionais e das que

regem as licitações diante da relevância dos seus cargos.

Como se sabe, na escala de hierarquia da

Administração Pública os Secretários Municipais apenas encontram-se abaixo do

Chefe do Poder Executivo, sendo logicamente detentores de vasto conhecimento

na sua área de atuação.

Nesse sentido, é que se configura a

legitimidade passiva ad causam deles, pois nas condições analisadas não podem

alegar que tinham o irrestrito dever de obediência a um comando hierárquico

ilegal.

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20 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Com efeito, eles tinham o dever, em vista dos

princípios constitucionais que norteiam a administração pública, em especial os

da probidade, da legalidade e economicidade, de alertar e orientar o Prefeito

Municipal acerca da ilegalidade da dispensa do procedimento licitatório.

No entanto, nada disso fizeram, já que

preferiram contribuir com o ato ímprobo, tratando a res pública como se

particular fosse, o que não se pode admitir.

2.2. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

A Constituição da República estabelece, em

seu artigo 37, que:

“A administração pública direta, indireta

ou fundacional, de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios da

legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência e, também, ao

seguinte:”

São os princípios da legalidade, moralidade,

impessoalidade, publicidade e eficiência, portanto, as vigas mestras de

orientação e regulamentação da Atividade Administrativa em qualquer dos

Poderes da República.

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21 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Esses deveres são arrolados

exemplificativamente, a eles se podem acrescentar a boa-fé, igualdade,

proporcionalidade, dentre outros contidos nos princípios que norteiam a atuação

dos administradores.

Diógenes Gasparini, no que se refere ao

princípio da legalidade, leciona que:

“(...) a este princípio também se submete o

agente público. Com efeito, o agente da

Administração Pública está preso à lei e

qualquer desvio de suas imposições pode

nulificar o ato e tornar seu autor responsável

e, conforme o caso, disciplinar, civil e

criminalmente4”.

Inequívoco, destarte, que todo ato de agente

público deve ser realizado nos termos e limites da lei e da Constituição Federal,

pois ao administrador e à própria Administração somente é permitido fazer o que

a lei expressamente autorize.

A violação aos princípios norteadores da

Administração Pública, especialmente os da legalidade, moralidade e

impessoalidade, estão evidenciados em razão da desobediência do Prefeito

Municipal RENI CLÓVIS DE SOUZA PEREIRA às normas legais que

autorizam a dispensa de licitação, o qual, dolosamente, privou a concorrência e a

4 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 6.

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22 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

competitividade que deveria existir entre todos aqueles que tivessem interesse

em contratar com a municipalidade.

A Lei nº 8.666/93, que regulamenta o art. 37,

inciso XXI, da Constituição Federal, e instituiu normas para licitações e

contratos da Administração Pública, em seu art. 3º, define que: “A licitação

destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a

seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do

desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita

conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da

moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da

vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes

são correlatos”.

No entanto, nada disso foi observado, já que a

realização de dispensa de procedimento licitatório fora dos casos autorizados por

lei e a simples cotação de preços (em que somente a empresa HOTEL BELLA

ITALIA LTDA “atendeu aos anseios da urbe”) inviabilizou que as demais

empresas que prestam serviços hoteleiros pudessem ofertar propostas mais

vantajosas para o município iguaçuense.

Com efeito, a Administração deve ocorrer de

modo impessoal, pois serve aos interesses de todo o povo, pautando-se sempre

pela eficiência e estabilidade, não pelo benefício pessoal e pelo compadrio.

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23 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Ao contratarem o HOTEL BELLA ITALIA

LTDA, em detrimento dos demais estabelecimentos hoteleiros da cidade, os

requeridos RENI CLÓVIS DE SOUZA PEREIRA (Prefeito do Município de

Foz do Iguaçu), RICARDO VINICIUS CUMAN (Secretário Municipal de

Administração e Gestão de Pessoas), LETTICE APARECIDA DIAS

CANETE DE LIMAS (Secretária Municipal de Saúde) e CLAUDIA CANZI

(Procuradora do Município) certamente violaram os princípios da Administração

Pública - sobretudo os da Legalidade, Moralidade e Impessoalidade -.

O dolo do administrador, segundo

MAZZILLI5, se realiza na “vontade genérica de fazer o que a lei veda, ou a de

não fazer o que a lei manda” e prescinde de qualquer especial motivo, quer

mesmo o de beneficiar a si ou a outrem com seu ato, bastando que coexistam a

consciência e a vontade de se desviar da conduta preceituada pela norma.

E essa vontade consciente e dirigida ao fim de

vulnerar a norma é bastante lívida no caso em apreço, conforme amplamente

abordado anteriormente.

No caso, houve dolo de praticar a conduta que

satisfaça os elementos do tipo objetivo do art. 11, inciso I, da Lei de

Improbidade Administrativa. Vale dizer: RENI CLÓVIS DE SOUZA

PEREIRA, LETTICE APARECIDA DIAS CANETE DE LIMA,

RICARDO VINICIUS CUMAN e CLAUDIA CANZI, conscientes que a

5 MAZZILLI, Hugo Nigro A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. 22. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 201.

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24 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

contratação direta estaria em total desconformidade com disposição legal (art.

24, inciso X, da Lei nº 8.666/93), entenderam por bem dispensar licitação,

privilegiando o HOTEL BELLA ITALIA LTDA em detrimento dos demais

estabelecimentos hoteleiros desta cidade, o que não se pode admitir.

Registre-se que o HOTEL BELLA ITALIA

LTDA e ARNALDO BORTOLI não podem se furtar de suas

responsabilidades, já que o art. 3º da Lei nº 8.429/92 é claro ao dispor que “as

disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não

sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de

improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”.

Além disso, não há dúvidas que a sobredita

empresa se beneficiou da ilegalidade cometida, na medida em que recebeu o

valor de R$ 105.000,00 (cento e cinco mil reais) por ter contratado de forma

direta com a urbe, conforme demonstram os documentos de fls. 93/112.

Não se pode olvidar, ainda, que o princípio da

moralidade administrativa também restou lesado.

Ao tratar do tema, leciona a doutrina6:

“A moralidade administrativa é um

princípio informador da ação

administrativa, devendo se pautar na 6 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios

constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: ,http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html> Acesso em 05/12/2012.

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25 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

consciência do administrador a vedação do

agir dissociado dos conceitos comuns,

ordinários, válidos, respeitando as

diferenças históricas do honesto e justo.

(...)

Tal princípio poderia ser identificado com

o da justiça, ao determinar que se trate a

outrem do mesmo modo que se apreciaria

ser tratado. O “outro”, aqui, é a sociedade

inteira, motivo pelo qual o princípio da

moralidade exige que, fundamentada e

racionalmente, os atos, contratos e

procedimentos administrativos venham a

ser contemplados à luz da orientação

decisiva e substancial, que prescreve o

dever de a Administração Pública

observar, com pronunciado rigor e a maior

objetividade possível, os referenciais

valorativos basilares vigentes, cumprindo,

de maneira precípua até, proteger e

vivificar, exemplarmente, a lealdade e a

boa-fé para com a sociedade, bem como

travar o combate contra toda e qualquer

lesão moral provocada por ações públicas

destituídas de probidade e honradez”.

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26 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Ao agente público não basta agir

expressamente dentro da lei, exige-se que atue conforme a moralidade e

sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé.

A contratação direta de determinada empresa

para prestação de serviços hoteleiros em nítida violação ao disposto no art. 24,

inciso X, da Lei Federal nº 8.666/93 é, inevitavelmente, ato não apenas ilegal,

mas ainda, absolutamente imoral.

O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho,

ao estabelecer no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são

obrigados a velar pela estrita observância destes princípios.

Destarte, todo administrador público tem,

necessariamente, que ter sua conduta pautada pelo respeito a estes princípios,

deles não podendo se desviar, sob pena de anulação do ato praticado e de

punição pela prática de improbidade administrativa, conforme previsto no artigo

11, da Lei nº 8.429/92, que estabelece:

“Dos atos de improbidade administrativa

que atentam contra princípios da

administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade

administrativa que atenta contra qualquer

ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade e

lealdade às instituições, e notadamente:”

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27 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Ora, se houve inobservância de disposição legal,

houve ilegalidade e, portanto, ofensa/atentado contra o princípio e o dever de

legalidade, pois, como preleciona o saudoso Hely Lopes Meirelles7:

“A legalidade, como princípio de

administração (CF, art. 37, caput, significa

que o administrador público está, em toda sua

atividade funcional, sujeito aos mandamentos

da lei e às exigências do bem-comum, e deles

não se pode afastar ou desviar, sob pena de

praticar ato inválido e expor-se à

responsabilidade disciplinar, civil e criminal,

conforme o caso.

A eficácia de toda atividade administrativa

está condicionada ao atendimento da lei.

Na Administração Pública não há liberdade

nem vontade pessoal. Enquanto na

administração particular é lícito fazer tudo

que a lei não proíbe, na Administração

Pública só é perimido fazer o que a lei

autoriza. A lei para o particular significa

‘pode fazer assim’; para o administrador

público significa ‘deve fazer assim’”.

7 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.

82/83.

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28 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Não se pode esquecer também que houve lesão

ao princípio da economicidade, pois dentre as possíveis prestadores de serviço,

entendeu por bem eleger o mais dispendioso ao erário.

Quanto à valoração da economicidade,

oportunas são as lições de Paulo Soares Bugarin8, in verbis: “o gestor público

deve, por meio de um comportamento ativo, criativo e desburocratizante tornar

possível, de um lado, a eficiência por parte do servidor, e a economicidade

como resultado das atividades, impondo-se o exame das relações custo/benefício

nos processos administrativos que levam a decisões, especialmente as de maior

amplitude, a fim de se aquilatar a economicidade das escolhas entre diversos

caminhos propostos para a solução do problema, para a implementação da

decisão”.

Os princípios da moralidade e economicidade

são extremamente relevantes na análise dos atos praticados pela Administração,

que deve sempre buscar, a eficiência e eficácia, assim como a racionalização na

aplicação dos parcos recursos existentes.

Portanto, ofendendo-se ao princípio e ao dever

de legalidade, moralidade, impessoalidade e economicidade fica caracterizada a

prática de ato de improbidade administrativa, atentando contra os princípios da

Administração Pública, previsto no artigo 11, caput, e inciso I, da Lei nº

8.429/92.

8 BUGARIN, Paulo Soares. O Princípio Constitucional da Eficiência, um Enfoque Doutrinário Multidisciplinar. Brasília: revista do Tribunal da União – Fórum Administrativo, mai/2001, p. 240.

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29 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

Por fim, é importante destacar que a ninguém

é dado alegar o desconhecimento da legislação municipal, já que como todos

sabem, ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece,

consoante o disposto no art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito

Brasileiro.

3. DO PEDIDO:

Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:

a) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que,

querendo, apresentem manifestações nos termos do § 7º, do artigo 17, da Lei nº

8.429/92;

b) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas,

seja recebida a petição inicial e determinadas as respectivas citações, na forma

do § 9o, do precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os termos da

presente, sob pena de revelia;

c) a notificação do Município de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Procurador

Geral, na condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da

Lei nº 8.429/92, isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo,

suprindo eventuais omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar

provas de que disponham sobre os fatos;

d) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações

acrescentadas pela Lei de Improbidade;

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30 Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6

e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o

depoimento pessoal, a juntada de novos documentos, a pericial e a testemunhal,

cujo rol será oportunamente apresentado;

f) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos II e

III, da Lei nº 8.429/92, em razão das práticas autônomas de atos de improbidade

administrativa, que causaram prejuízos ao erário e que ofenderam os princípios

informadores da Administração Pública;

Atribui-se à causa o valor de R$ 105.000,00

(cento e cinco mil reais).

Termos em que se

Pede e espera deferimento.

Foz do Iguaçu, 17 de março de 2014.

Marcos Cristiano Andrade

Promotor de Justiça

DOCUMENTOS ANEXOS:

Inquérito Civil Público nº MPPR-0053.14.000016-6 (01 volume).