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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS Mariarosa Fernandes de Sousa ESTRATIGRAFIA DO DOMÍNIO INTERNO DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO DE NOVA XAVANTINA, LESTE DE MATO GROSSO Orientador Profª. Dro Carlos Humberto da Silva Co-Orientadora Profª. Dra Ana Cláudia Dantas da Costa CUIABÁ 2012

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Mariarosa Fernandes de Sousa

ESTRATIGRAFIA DO DOMÍNIO INTERNO DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO DE NOVA XAVANTINA, LESTE DE MATO GROSSO

Orientador Profª. Dro Carlos Humberto da Silva

Co-Orientadora Profª. Dra Ana Cláudia Dantas da Costa

CUIABÁ

2012

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I

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

REITORIA Reitora

Profª. Drª. Maria Lucia Cavalli Neder Vice-Reitor

Prof. Dr. Francisco José Dutra Souto

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO Pró-Reitora

Profª. Drª. Leny Caselli Anzai

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA Diretor

Prof. Dr. Edinaldo de Castro e Silva

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS Chefe

Prof. Dr. Paulo César Corrêa da Costa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS Coordenador

Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz Vice-Coordenadora

Profª. Drª. Maria Zélia Aguiar de Sousa

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II

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N° 37

ESTRATIGRAFIA DO DOMÍNIO INTERNO DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO

DE NOVA XAVANTINA, LESTE DE MATO GROSSO ______________________________________________________________________

Mariarosa Fernandes de Sousa

Orientador Profª. Dro Carlos Humberto da Silva

Co-Orientadora Profª. Dra Ana Cláudia Dantas da Costa

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geociências do Instituto de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Geociências.

CUIABÁ 2012

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III

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IV

ESTRATIGRAFIA DO DOMÍNIO INTERNO DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO DE NOVA XAVANTINA, LESTE DE MATO GROSSO

______________________________________________________________________

Dissertação de Mestrado

MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profº. Dr. Carlos Humberto da Silva Orientador (UFMT)

_____________________________________________ Profº. Dr. Gerson Souza Saes Examinador Interno (UFMT)

____________________________________________ Profª Dr. Hardy Jost

Examinador Externo (UFG)

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V

“O estado contemplativo entre o autor e sua obra é um elo viciante. Por isso,

saber encontrar um fim para ele, deve ser coisa de mestre.” (Mariarosa)

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VI

Agradecimentos

Item que particularmente minhas ”mãos” apreciam escrever, e por não respeitar a diretriz de

uma página, indicada nas normas, intencionarei primeiramente meus agradecimentos ao Programa de

Pós-Graduação em Geociências, pelo acolhimento e atendimento à minha pessoa e às minhas

solicitações durante estes quase três anos de mestrado. À fomentadora CAPES pela concessão das 24

bolsas recebidas e bem aproveitadas. Ao curso de graduação em Geologia da Universidade Federal de

Mato Grosso, no qual “cordão eterno” me deixou integrar tranquilamente pelas salas de aulas (estágio

de decência), aulas campos (monitoria), laboratórios, coordenação, secretarias (DRM e DGG), salas de

professores e CEMATEGE.

À Nova Xavantina, cidade especial por vários sentidos. Belas paisagens, que durante as

pesadas etapas de campo funcionavam como combustível para o motor humano, que mesmo cansada

acordava para botar o pé da estrada, resistindo ao sol, chuva (poucas), mato, morros, e sede; Pela

geologia aflorada e inexplorada, que nos passos firmes e olhar atento estava sendo desbravada em

caminhos e conhecimentos; À população, principalmente a rural, das fazendas e comunidades, por aí

passei e ganhei sombra e água fresca, mesmo que por meros minutos (mas com efeito onírico); À

Mineração Caraíba, mineradora do famoso “Ouro do Araés”, na pessoa do gerente Junior Fráguas que

desde o início apoiou todas as investidas da Geologia UFMT em estudar região tão peculiar.

Em seguida, devoto à existência de certas pessoas, que me fazem viva e protegida tanto em

dias esplêndidos como em tempestivos. Minha família (mineiros de Minas Gerais e alguns com pé em

Poxoréu – Mato Grosso). A Mãe Dona Meire (espírito e pessoa), Pai Zé de Sousa (perseverança e

teimosia); Avós, Rosa (nome e gentileza herdados), Flauzina (guerreira de vida); irmãos, Neto

(amizade e risadas), e João Lucas (por ser o nosso Luquinha). Ao meu massoterapeuta Edilson, que

tem grande parcela para o lumiar desta dissertação, pois seu dom foi fundamental para meu equilíbrio

físico e mental, diante dos obstáculos corporais que tenho enfrentado.

Meus amigos e colegas de mestrado, Marcelo Galé (Estragado), Rone Marcos (Companheiro),

Vinicius Beal (Pelotas), Brena Verginassi (Sister), Danilo Queiroz (Paquito), Fernanda (Cu), Renan

Alex, Ana Flávia Brittes, Dalila Plens, Maria Aparecida (Cidoca), Ezenildes (Zê), Bárbara Becker, por

dividirmos anseios comuns, bem como cafés, e cigarros (já liberta). Aos “Quebra-Campo”,

inconfundíveis graduandos da turma de 2005, em especial, à lembrança da grande companheira Mirian

Rosseto, e do meu irmão de sangue e rocha, José Neto. Ao grupo Pedreiras, grandes amigas de maciça

união, comparada às ligações mineralógicas: Ludmila (Talud), Mariana Boreales (Mana), Brena,

Suelem (Estragada), Rosamaria, Maiara, Graciely (Cacerence), Raíza (Sagui), Luana (Geralda), Kátia

(Véia), Bárbara (Poconé), Nara Souza, Karine Krawer (filósofa) e Martyna (chapa & cruz). À base

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VII

das amizades: Cássia Verônica (a melhor), Cristina (Tininha), Juliana Castro, Inara Fonseca, Juliana

Abreu e Micela.

Aos grandes mestres da Geologia Brasil, Fernando Flávio Almeida, Eberhard Wernick,

Augusto Pedreira “em memória”, Fernando Alkimin e Hardy Jost, nos quais tive a honra de conhecê-

los e constatar a paixão, a mesma que cresce em mim. Meus professores da UFMT pela transmissão

do saber, em especial, Márcia Barros, Ana Cláudia Costa, Gerson Saes, Ricardo Weska, Francisco

Pinho, Jackson Paz, Zacarias, Amarildo Ruiz e claro, meu orientador Carlos Humberto pela coragem e

parceria em colocar NX no mapa.

Aos motoristas que asseguraram todo e qualquer movimento em prol da ciência (Seu Áurio,

João Batista, Dito Berto, e Seu Arlindo “em memória”). Aos meus ajudantes de campo, Luciano

Basílio (Carijó) e Ricardo Timm (Psy) pela força e companheirismo.

Por último, ao divino encanto mistificador do universo, onde está o meu Eu Superior, que me

atende sempre que, com esforço, alcanço a paz suprema. Também à companheira poesia que de vez

enquanto se manifesta nos caderninhos; bem como as belas canções que, seja na sala de pesquisa ou

mesmo nos ouvidos dos vizinhos, tocam.

Super agradecida, e disposta a retribuir, valeu gente!

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VIII

Sumário

AGRADECIMENTOS____________________________________________________________VII ABSTRACT______________________________________________________________________X

RESUMO________________________________________________________________________X

1-INTRODUÇÃO_______________________________________________________________01

1.1-APRESENTAÇÃO DO TEMA___________________________________________________01

1.2-OBJETIVOS__________________________________________________________________01

1.2.1-Objetivo Geral__________________________________________________________02

1.2.2- Objetivo Específico______________________________________________________02

1.3. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA__________________________________________02

1.4. MATERIAIS E MÉTODOS______________________________________________________03

1.4.1- Revisão Bibliográfica____________________________________________________03

1.4.2-Preparação de mapa base e foto interpretação__________________________________04

1.4.3-Etapa de aquisição de dados________________________________________________04

1.4.4-Etapa de tratamento e Sistematização dos Dados_______________________________05

1.4.5-Confecção e defesa da dissertação___________________________________________05

2-REVISÃO BIBLIOGRÁFICA____________________________________________________06

2.1. TRABALHOS ANTERIORES____________________________________________________06

2.2. SITUAÇÃO GEOLÓGICA REGIONAL___________________________________________07

2.2.1- Província Tocantins______________________________________________________07

2.2.2- Faixa Paraguai__________________________________________________________09

2.2.3. O Domínio Interno da Faixa Paraguai________________________________________12

2.2.3-1. Estratigrafia__________________________________________________________12

2.3.2-1A- Grupo Cuiabá____________________________________________12

2.2.3-1B- Sequências Meta-vulcanossedimentares_______________________15

2.2.3-2. Geologia Estrutural____________________________________________________17

2.2.3-4. Metamorfismo________________________________________________________18

2.23-3. Magmatismo__________________________________________________________19

3-ARTIGO SUBMETIDO_________________________________________________________21

Resumo___________________________________________________________________22

Abstract___________________________________________________________________23 Introdução_________________________________________________________________24 Materiais e Métodos_________________________________________________________24 Contexto Geológico Regional__________________________________________________24 Geologia Local______________________________________________________________29

Geologia Estrutural______________________________________________________29 Litoestratigrafia_________________________________________________________33

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IX

Formação Bacuri__________________________________________________33 Formação Antártico________________________________________________34 Formação Touro Branco____________________________________________43

Resultados e Discussão_______________________________________________________45 Conclusões_________________________________________________________________49 Referências Bibliográficas____________________________________________________51

4-CONSIDERAÇÕES FINAIS_____________________________________________________54

REFERÊNCIAS_________________________________________________________________57

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X

Resumo

______________________________________________________________________

Mapeamento geológico realizado na porção leste da Faixa Paraguai, região de Nova Xavantina (MT),

possibilitou a individualização de três unidades litoestratigráficas: (i) Formação Bacuri, composta por

formações ferríferas e metacherts bandados; (ii) Formação Antártico, definida por litotipos imaturos

arranjados em ciclos granodecrescentes de fácies heterolíticas de filito quartzoso, mármore, filito

calcífero, metarenito feldspático, metaconglomerado, metassiltito e metagrauvaca. As associações

exibem acamamento gradativo, estruturas internas do tipo laminações plano-paralelas, cruzadas e

convolutas, e estratificações em lentes, que refletem deposição controlada por processos mistos (ondas

e marés); (iii) Formação Touro Branco, representada por metarenito e quartzito com maturidade

composicional, estratificações planares e cruzadas tabulares de baixo ângulo e marcas onduladas e de

erosão. Acredita-se que parte destas rochas foi depositada em ambiente marinho transicional, o que

resultou um mega ciclo que culmina na progradação de ambiente marinho distal, e para o topo e

lateralmente, dá lugar à fácies de planície litorânea.

Abstract

______________________________________________________________________

The geologic mapping of the Paraguay estern portion, near the city of Nova Xavantina, allowed the

individualization of three lithostratigraphic units: (i) Bacuri Formation, constituted by banded iron

formations and bedded metacherts; (ii) Antártico Formation, defined by immature lithotypes arranged

in heterolytic facies growing-upward cycles of quartz-phyillite, metamarble, phyillite, calciferous

phyillite, metasandstone feldspathic, metaconglomerate, metasiltstone and metagraywacke. These

associations exhibit graded bedding, plane-parallel laminations, ripple-crossed and convolute and

linsen stratification, which reflect the deposition by mixed processes (waves and tides); (iii) Touro

Branco Formation, formed by mature quartz metasandstone and quartzite containing plane-parallel and

low angle cross- tabular stratification with waved and erosion marks. The data suggest that the these

units were deposited in a transgressive marine environment megacycle that envolvesd transitionally to

near shore shallow facies.

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA

A geologia das rochas metamórficas da Faixa Paraguai é relativamente bem conhecida nas regiões

da Baixada Cuiabana e Depressão do Rio Miranda, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,

respectivamente. Outras ocorrências são pouco estudadas, como as da região da Serra Azul em Barra do

Garças e Nova Xavantina, porção centro-leste do Mato Grosso, localidade selecionada para o

desenvolvimento desta pesquisa.

As rochas alvo de estudo afloram no município de Nova Xavantina e se destacam no contexto

geológico regional por estarem localizadas em uma porção pouco conhecida da Faixa Paraguai, faixa

inserida no domínio de cinturões Neoproterozóicos da Província Tocantins. Também, nas adjacências da

cidade, existem ocorrências de rochas metavulcânicas, que são consideradas um registro raro na evolução

deste cinturão. Em termos econômicos, o depósito do Araés, situado em Nova Xavantina, consiste em um

importante distrito aurífero do estado de Mato Grosso.

Ao buscar na literatura geológica o conhecimento existente sobre o leste da Faixa Paraguai, notou-

se uma carência de dados, o que implica em incertezas sobre o real significado das sequências existentes,

o que se deve principalmente à ausência de mapeamentos geológicos sistemáticos, essenciais para

modelagem estratigráfica, estrutural e tectônica. Os levantamentos geológicos realizados nesta região

abrangem estudos regionais: (Schobbenhaus Filho et al., 1975; Drago et al. 1981; Lacerda Filho et al.,

2004, Sousa, 2010), levantamentos aerogeofísicos (Silva, 2007), e os restritos ao depósito do Araés (Pinho

1990; Martinelli 1998; Silva 2007; Socio 2008; Maronesi & Callori 2011).

Desta maneira, a carência de dados de geologia básica despertou o interesse de se pesquisar a

região, tendo como foco de pesquisa as rochas metassedimentares do Grupo Cuiabá aflorantes na margem

sul do Rio das Mortes.

1.2. OBJETIVOS

1.2.1-Objetivo Geral

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A pesquisa visa caracterizar a geologia do domínio interno da Faixa Paraguai de uma área situada a

sudoeste da cidade de Nova Xavantina, margem sul do Rio das Mortes, leste do estado de Mato

Grosso.

1.2.2- Objetivo Específico

A partir do mapeamento geológico pretende-se: (a) definir o empilhamento lito-estratigráfico de

parte da seqüência aflorante; (b) abordar características deposicionais e petrográficas visando

compreender o ambiente de deposicional da bacia que origunou os metassedimentos estudados; (c) tentar

avaliar o significado do registro e correlacioná-lo com outros segmentos mais bem estudados.

1.3. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA

A área foi preliminarmente estudada pela autora em seu trabalho de conclusão de curso (Sousa,

2010), que reconheceu importantes aspectos fisiográficos para região de Nova Xavantina. Em relação à

hidrografia, há uma extensa rede de drenagens que está interligada ao sistema do Rio das Mortes, este, que

constitui um dos mais importantes cursos de água do estado de Mato Grosso, sendo o afluente mais

importante da margem esquerda do rio Araguaia. O principal distribuitário na área mapeada é Ribeirão

Antártico e o Córrego Antarquinho, que cobrem toda a porção central da área. Outros, os Córregos

Voadeira, Salgadinho, Capão do Coco e Buritizinh e, os Córregos Duas Pontes, Cachoeirinha e Tomba

Carro, que já estão associadas ao Rio Pindaíba, que não se mostra na área em questão (SE), mas que

recebe estes canais fluviais.

A região de Nova Xavantina localiza-se no centro-leste do estado de Mato Grosso (Figura 1.1C).

Para o acesso até Nova Xavantina, a partir de Cuiabá, toma-se a rodovia BR-251 em direção a Chapada

dos Guimarães, seguindo o percurso em direção a Campo Verde, onde em determinada altura, acha-se o

trevo onde se alcança a MT-140, percorrendo 12km pelas mesma até a cidade de Campo Verde, onde se

toma a BR-070. Segue-se pela mesma passando pelas cidades de Primavera do Leste e General Carneiro

em trajeto de oeste para leste até a entrada do município Barra do Garças marcado por um trevo, de onde

segue-se a direção Norte pela Rodovia Federal BR-158 até Nova Xavantina, perfazendo no total

aproximadamente 700 km (Figura 1.1B).

A área mapeada situa-se a sudoeste da Cidade de Nova Xavantina e tem aproximadamente 520 Km²

(Figura 1.1. A). O acesso à área é feito por duas estradas vicinais não pavimentadas. Uma, a partir do sítio

urbano, toma-se a rua lateral ao ginásio José Frederico Fernandes, ao final da qual que possui uma

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bifurcação. A estrada da esquerda conduz ao quadrante SW da área, e a da direita, conhecida como estrada

para Ilha do Coco, segue paralela ao Rio das Mortes, condusindo ao quadrante Norte da área. Outra, a

partir de cerca de 20 km de Nova Xavantina para Barra do Garças pela rodovia BR-158, toma-se via não

pavimentada à direita em direção ás fazendas Cachoeirinha e Progresso e por onde se alcança a porção

centro-sul da área.

Figura 1.1- Mapa de localização da área estudada.

1.4. MATERIAIS E MÉTODOS

Importante fase do trabalho onde são justificados os materiais e os métodos necessários para o

desenvolvimento da pesquisa, que neste trabalho foi dividida em cinco etapas principais:

1.4.1-Revisão Bibliográfica

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Revisão bibliográfica de teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias de conclusão

de curso, artigos em revistas periódicas e resumos publicados em anais de eventos. Consultas em livros

específicos que envolvem conceitos de sedimentologia, ambientes deposicionais e classificações de

petrográficas. As principais consultas tiveram como intuito:

(i) Compreender o conhecimento geológico da Faixa Paraguai;

(ii) Recuperação do acervo bibliográfico e cartográfico da região de Nova Xavantina;

(iii) Avaliar os tipos de rochas e suas relações com exemplos conhecidos.

1.4.2-Preparação de mapa base e foto interpretação

Etapa dita como pré-campo teve como objetivo a preparação dos mapas bases a serem utilizados

em campo. Foram realizados geoprocessamentos, em software Arc map, versão 10.0, de imagens de

satélites e fotografias aéreas, criando uma base cartográfica digital, o que permitiu identificação das

principais feições geológicas á serem analisadas no mapeamento geológico. Os materiais utilizados para a

confecção do mapa preliminar teve as imagens do tipo, Google Earth, TM-Landasat nas bandas 3, 4 e 5 e,

uma imagem Spot (cedida pela Mineradora Caraíba SA). As fotos utilizadas correspondem VM

1370PMW AST-10 R-327, nas numerações 41-142, 143, 144 e 145, do trabalho de levantamento

aerofotográfico realizado pela FAB/USAF, com data de 17 de Junho, ano de 1965, disponibilizadas, e

feita estereoscopia no Laboratório de Fotogeologia, do Departamento de Geologia Geral (DGG), Instituto

de Ciências Exatas e da Terra (ICET), Universidade Federal de Mato Grosso.

1.4.3- Etapa de aquisição de dados

A aquisição dos dados foi determinada em duas importantes fases:

(i) Etapa de Campo: mapeamento geológico sistemático com controle de pontos baseado em

informações de afloramento, e amostragem de quase todos. O levantamento e

empilhamento das rochas foram construídos com base na realização de seções geológicas

transversais à configuração da estruturação regional do terreno, identificado o trend

estrutural (ENE). Os equipamentos utilizados em campo foram: caderneta, martelo

geológico, lupa, bússola, GPS, máquina fotográfica, lápis preto e colorido, régua,

transferidor e esquadro, trena, saco e caixa para amostra, fita crepe, e pincel atômico.

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(ii) Etapa pós-campo: subdividida em, (1) adaptação dos dados obtidos nos campos em Nova

Xavantina, computados em duas etapas realizados pelo mestrado, dados do TCC (Sousa,

2010), e outros atribuídos ao mapeamento geológico que vem sido aplicados na região

pela disciplina de Geologia de Campo ocorrida em 2008 (como aluna), 2010 e 2011

(como monitora). (2) análise em laboratório, conseqüentes às amostragens realizadas em

campo foram selecionadas algumas para os estudos petrográficos, onde foi possível a

caracterização macro, que consiste em descrever aspectos de texturais e composicionais

observáveis a olho-nu em amostras de mão; e microscópicas, por meio das seções

delgadas, descrevendo com mais detalhe os aspectos como textura, granulação, grau de

seleção, mineralogia, conteúdo da matriz, tipos de alteração, e deformação. As devidas

classificações petrográficas e de ambiente deposicional foram baseadas em trabalhos

célebres. Para rocha sedimentares: seguindo a classificação de Folk (1974) e Pettjohn et

al. (1978), Embry e Kovon (1971), encontradas nos livros Tucker (1991), Adams et al.

(1984).

1.4.4-Etapa de tratamento e Sistematização dos Dados

Envolve a elaboração de um acervo de informações adquiridas na pesquisa e a forma na qual serão

apresentados. (1) sistematização do banco de dados, que consiste na integração das informações de campo

e de laboratório, com a confecção de planilhas contendo informações como: localização dos pontos de

afloramento com descrição sistemática, pontos amostrados, e pontos onde foram analisadas petrografia.

(2) confecção do mapa geológico digitalizado a partir do software Arcgis versão 10.0. (3) geração dos

diagramas estruturais, utilizando as medidas de acamamento e acamamento e foliação, adicionadas no

software Steronet versão 3.3. (4) edições das ilustrações, figuras e perfis, foram elaboradas no programa

Corel Draw versão 12.0.

1.4.5-Confecção e defesa da dissertação

Esta etapa compreende na interpretação e discussão final dos resultados obtidos na pesquisa, na

montagem da dissertação, e a submissão do artigo científico à revista Geologia USP - Série Cientifica, e

por último a apresentação do trabalho para a banca examinadora. A dissertação foi desenvolvida no

software Microsoft Office Word 2007, e apresentação no Office PawerPoint 2007.

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CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. TRABALHOS ANTERIORES

A geologia de Nova Xavantina marca a exposição de três segmentos geológicos principais, sendo

que Lacerda Filho et al. (2004), no mapa geológico da CPRM, descrevem para a região, filitos e

metarenitos do Grupo Cuiabá aflorando na forma de morros e serras com trend estrutural ENE-SW, com

rochas metavulcânicas associadas, balizadas por falhamentos inversos. Justapostos aos metamorfitos, no

limite oeste, estão rochas da seqüência paleozóica da Bacia do Paraná, e no limite leste, rochas

inconsolidadas do Terciário-Quaternário da Bacia do Bananal.

O levantamento geológico realizado teve como foco de estudo as rochas da Faixa Paraguai em seu

segmento tectônico interno, que tem como característica a exposição de metassedimentos na fácies xistos

verdes baixa, marcados por deformação tectônica por dobras e falhas de cavalgamentos. O Grupo Cuiabá,

como principal unidade lito-estratigráfica do domínio interno, agrupa sequências metassedimentares

dobradas cuja deposição se deu em ambiente marinho com instabilidade tectônica com consequente fluxo

de lamas e deposição de turbiditos com intercalações de rochas carbonáticas, que representariam períodos

de estabilidade tectônica (Luz et al.,1980).

Menezes e Silva (2008) descrevem duas ocorrências de calcário associadas ao Grupo Cuiabá no

município de Nova Xavantina, ocorrendo mármores calcíticos a dolomíticos, calcarenitos, calcissiltitos e

metamargas argilosas, litotipos bastantes recristalizados. As estruturas sedimentares mais comuns são

laminações, intraclastos, oóides, além de níveis brechados e silicificados.

Pinho (1990) descreve primeiramente registro de metavulcânicas desmembrando do Grupo

Cuiabá, atribuindo característica de sequência supracrustal da possível fase embrionária de formação da

Faixa Paraguai. O autor denominando de Sequência Metavulcanossedimentar Nova Xavantina e descreve

uma extensão do Grupo Cuiabá sugerindo uma contemporaneidade entre as unidades, e interpreta que a

origem estaria associada à um ambiente marinho raso a profundo, possivelmentedo tipo back-arc.

Martinelli et al. (1997) e Martinelli (1998) estudando a mesma sequência adotam a mesma nomenclatura

unidade, tendo Martinelli & Batista (2003) renomeada como Seqüência Metavulcanossedimentar dos

Araés, constituída da base para o topo por associação metavulcânica (metabasaltos, metatufos, xistos,

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metandesitos e lápili-tufos); associação química (formações ferríferas bandadas, filitos carbonosos e

metacherts); associação clástica (metassiltitos, metargilitos e quartzitos).

Silva (2007) levantou propriedades aerogeofísicas em escala regional, e também estudou a

sequência nas proximidades do depósito do Araés, com ênfase nas rochas vulcânicas, e concluiu que este

registro magmático conota a formação de rift continental do Neoproterozóico.

A relação das associações metavulcanossedimentares descritas na região do depósito aurífero do

Araés com os metassedimentos do Grupo Cuiabá em Nova Xavantina ainda não está esclarecida pelo fato

de carência de mapeamento geológico que individualize as unidades com clareza. Esta dificuldade se

expande também ao contexto regional, em correlacionar as diferentes ocorrências na Faixa Paraguai, pela

sua grandeza territorial.

2.2. SITUAÇÃO GEOLÓGICA REGIONAL

2.2.1- Província Tocantins

Na região de Nova Xavantina afloram rochas pertencentes a Faixa Paraguai, uma faixa móvel da

Província Tocantins desenvolvida durante o Ciclo Brasilianao Pan-Africano. O brasiliano na Província

Tocantins corresponde ao principal evento geotectônico formador dos registros estratigráficos, e o ápice

deste evento (=/~ 600 Ma) tem como significado geotectônico a formação do Supercontinente Gondwana

em seu contexto ocidental, que aconteceu pela aglutinação de grandes massas continentais e fechamentos

de bacias que se entendiam ao longo de blocos litosféricos pré-existentes, (Brito Neves e Cordani, 1991,

Almeida 2000), (Figura 2.1).

O desenvolvimento do ciclo supercontinental Brasiliano tem intervalo de duração, atualmente

entendido, que vai do Neoproterozóico ao Cambriano, perdurando aproximadamente 400 Ma (de cerca

880 a 480 Ma) de maneira diacrônica, de uma província a outra (Brito Neves, 1999; Almeida et al, 2000).

A origem das faixas brasilianas se inicia com a formação de uma bacia percussora, que para Brito Neves

(1999) a maioria das bacias Neoproterozóicas/Brasilianas tiveram instalação no Toniano (entre 1,05 Ga. e

0,9 Ga.) com a quebra do supercontinente Rodínia (Unrug, 1997). O estagio inicial para a ruptura do

Rodínia foi identificado por Ruiz et al. (2005) no Cráton Amazônico na região de Mato Grosso por

enxames de diques, derrames basálticos associados a magmatismo básico extensional.

A Província, ou Sistema Tocantins é integrante da evolução ocidental do Gondwana, e como

entidade tectônica que reúne três cinturões (Paraguai, Brasília, e Araguaia), que juntos configuram um

sistema de faixas móveis geradas pela interação de três blocos crustais, os crátons Amazônico, São

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Francisco-Congo e o bloco do Paranapanema que está encoberto pelas coberturas Fanerozóicas da Bacia

do Paraná, sendo seus limites então inferidos por meio de levantamentos gravimétricos de Mantovani &

Brito Neves (2005), (Brito Neves e Cordani 1991; Pimentel e Fuck, 1992; Trompette 1994; Almeida et al.,

2000) (Figura 2.1).

Figura 2.1- Paleogeografia presumida para o Oeste-Gondwana. Conjectura dos cinturões pan-africanos/

brasilianos e seus continentes (regiões cratônicas e blocos litosféricos). Retirado de Klein & Moura

(2008).

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Na Província Tocantins, registros de litosfera oceânica são desenvolvidos entre os blocos

cratônicos assim como os cinturões. Estas áreas provavelmente foram desenvolvidas durante uma série de

eventos orogenéticos e foram amalgamados mais tarde por um mosaico de faixas móveis. O maciço de

Goiás é considerado pequeno bloco a oeste do Cráton São Francisco, um microcontinente com rochas de

3.0-0,8 GA que posteriormente foi retrabalhado pelo o Arco magmático de Goiás em uma fase de

subducção no final do evento brasiliano (Pimentel & Fuck 1992). (Figura 2.2). Fonseca et al. (2004),

descrevem associações de rochas ofiolíticas do complexo Quatipuru e Serra da Tapa como parte da

evolução da Faixa Araguaia. Seer (1999) descreve melanges ofiolítica metamorfisadas na Faixa Brasília

associada ao Grupo Araxá. Na Faixa Paraguai é encontrado remanescentes oceânicos, na Sequência

Metavulcanossedimentar Nova Xavantina (Pinho, 1990; Martinelli, 1998), e anfibolitos da Seqüência

Metavulcano-sedimentar Rio Bacuri (Lacerda Filho et al., 2006).

Figura 2.2. Desenho esquemático da Província Tocantins (segundo Pimentel e Fuck, 1992; retirado de

Viana et al., 1995) A área delimitada pelo retângulo é representada na Figura 3.

2.2.2- Faixa Paraguai

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A Faixa Paraguai tem aproximadamente 1000 km de extensão e está disposta ao longo da borda

sudeste do Cráton Amazônico, e localizadamente do Bloco Rio Apa. Está em parte coberta pelas

coberturas sedimentares da Bacia do Paraná (Paleozoico), Parecis (Paleozoico-Mesozoico), e Pantanal e

Araguaia (Terciário-Quaternário), (Almeida, 1984, Alvarenga 2000). Na evolução da faixa Paraguai

autores admite que sua formação tenha tido início com processos de rifteamento no Criogeniano (0,8 Ga. a

0,7 Ga.), e o local da descontinuidade pode ter variado ao longo de todo o cinturão, e terminou com a

formação de bacias continentais e oceânicas.

A Faixa Paraguai é conhecida por suas rochas metamorfisadas e dobradas no interior da faixa que

em direção ao cráton Amazônico apresentam progressivamente variação no comportamento metamórfico

e estrutural. Do ponto de vista geográfico, está dividida em dois segmentos principais: o Norte, onde

aflora no estado de Mato Grosso; e ao Sul, as ocorrências de Mato Grosso do Sul. A região de estudo

situa-se no extremo leste do segmento Norte da Faixa Paraguai (Figura 2.3), aonde um conjunto de rochas

metassedimentares definem o embasamento da borda norte da Bacia do Paraná (Drago et al., 1981;

Lacerda Filho et al., 2004; Sousa, 2010).

Uma zonação tectônica foi proposta por Almeida (1964, 1984), discutida por Alvarenga (1990) e

Alvarenga & Trompette (1993), e Ruiz et al. (1999) eleva esta mesma compartimentação para domínios

tectônicos, sendo reconhecido: (i) Cobertura de Antepáis, onde afloram conjunto de rochas sedimentares

sub-horizontalizada a levemente basculadas que cobrem áreas cratônicas (pré-brasilianas); (ii) Domínio

Externo, com rochas com metamorfismo incipiente, dobramentos simétricos com falhamentos reversos

regionais com direção de vergência para o Cráton Amazônico; (iii) Domínio Interno, formado por rochas

metamórficas - fácies xisto verde, e evolução estrutural com deformação polifásica com dobramentos e

cavalgamentos marcando vergência principal contrária ao cráton; além dos importes registros vulcanismo

e granitogênese (Figura 2.3 e 2.4).

As rochas da Faixa Paraguai são reconhecidas por se estenderem pelos domínios tectônicos em

um tipo de equivalência faciológica, sendo considerado para determinadas unidades estratigráficas a

existência de uma passagem gradual entre ambientes distintos. São quatro as unidades litoestratigráficas

(Alvarenga 1988, 2000; Alvarenga & Trompette, 1993; Alvarenga & Saes, 1992): (i) Unidade Inferior-

sucessões de sedimentos pelíticos e carbonato subordinado (Grupo Cuiabá); (ii) Unidade Média

Turbidítica Glaciogênica- sedimentos glácio marinho turbidíticos, com características de sedimentação

em fácies proximal, intermediária e distal (Grupo Cuiabá, Formações Bauxi e Puga); (iii) Unidade Média

Carbonatada-calcários e dolomitos do Grupo Araras; (iv) Unidade Superior-arenitos, siltitos e arcóseos

do Grupo Alto Paraguai (Formações Raizama e Diamantino). Entre os domínios externo e interno, os

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sedimentos da Formação Puga e Bauxi estão acomodados em trecho do embasamento cratônico por

sedimentos glaciogênicos em ambiente marinho raso, enquanto que lateralmente, são cronocorrelatos com

os metassedimentos de nível intermediários e de topo do Grupo Cuiabá, já em um ambiente marinho

turbidítico controlado por fluxos gravitacionais, (Luz et al 1980; Alvarenga 1984, 1988, 1990, Alvarenga

& Trompette, 1992; Alvarenga & Saes 1992) (Figura 2.4).

Figura 2.3- Esboço tectôno-estratigráfico da Faixa Paraguai. Ao extremo leste do mapa está assinalada a

região de estudo. Modelo modificado de Godoy et al. (2007).

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Figura 2.4- Perfil esquemático da Faixa Paraguai apresentada em seus três compartimentos tecto-

estrutural, com as principais unidades estratigráficas definidas em equivalência faciológica entre

domínios. Modelo de Alvarenga (1988).

2.2.3. O Domínio Interno da Faixa Paraguai

As principais exposições deste domínio ocorrem nas regiões, da Baixada Cuiabana (MT),

depressão do rio Miranda (MS), e no Médio Araguaia, extremo leste de Mato Grosso, onde se localiza a

área de pesquisa. Estratigraficamente é representado pelas associações metassedimentares do Grupo

Cuiabá e corpos graníticos sin a pós-orogênicos do tipo São Vicente. Localizadamente, nas regiões de

Nova Xavantina (MT) e Bonito (MS), ocorrem rochas metavulcânicas e metavulcanoclásticas atribuídas à

prováveis remanescente de fundo oceânico (Pinho, 1990; Martinelli, 1998, Lacerda Filho et al., 2006). Na

cidade de Bom Jardim de Goiás (GO), associações vulcanossedimentares e plutônicas são relacionadas à

ambiente de arco magmático (Seer, 1985).

2.2.3-1 - Estratigrafia

2.3.2-1A- Grupo Cuiabá

Como mencionada, a estratigrafia da zona interna da Faixa Paraguai é relativamente bem

conhecida em seu segmento Norte na região da Baixada Cuiabana nas rochas do Grupo Cuiabá, aonde

pesquisas recentes vêm propondo uma revisão da estratigrafia com base nos levantamentos de trabalhos

clássicos da literatura geológica. O Grupo Cuiabá é formado por associação de metassedimentos pelíticos,

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psamíticos e psefíticos metamorfisados regionalmente na fácies xisto verde (Almeida, 1964; Luz et

al.,1980). Os mesmos autores agrupam as associações e as interpretam como uma seqüência depositada

em ambiente marinho redutor e profundo, possivelmente em posição de talude, distal em relação à

margem da continental cratônica.

Tokashiki & Saes (2008) e Beal (2013) propõem a utilização de unidades informais resgatando

denominações pré-existentes. Segundo estes autores a Formação Campina de Pedra, sugerida por Freitas

(2003), marca a base do Grupo Cuiabá, e que corresponde à Unidade Inferior de Alvarenga (1988) e as

subunidades 1 e 2 de Luz et al. (1980). A unidade aflora a noroeste da cidade de Poconé em uma

associação composta por filitos carbonosos, filitos, quartzitos, mármores dolomíticos e calcíticos, e

metagrauvacas. O ambiente deposicional destas rochas é do tipo lacustre rico em carbono orgânico, e as

metagrauvacas que ocupam o topo da sucessão representariam a progradação de lobos deltáicos que

assorearam a proto-bacia, bacia esta interpretada como percussora na evolução da Faixa Paraguai, tendo

como marco o resgistro do rifte da extensão e fragmentação da borda SE do paleocontinente Rodínia.

Recobrindo as rochas da Formação Campina Pedras em aparente discordância (Tokashiki & Saes,

op. Cit.), está a Formação Acorizal de Almeida (1964), correspondente à Seqüência Média Turbidítica

Glácio-marinha (fácies intermediária e distal) de Alvarenga (1988) e as subunidades 3 e 4 de Luz et al.

(1980). Beal (2012) descreve na base por metaconglomerados polimíticos, metarenitos líticos e

metapelitos arranjados em ciclos métricos granodecrescentes (Membro Pindaíval), que transicionam para

o membro superior constituído de metatilitos maciços cinza arroxeados (Membro Engenho), que mantém

ainda uma fácies distal (Membro Cangas), representado por metapelitos laminados e ritmitos com clastos

pingados. A divisão por membros denota uma transição de ambiente deposicional, que na base mostra

deposição controlada pela progradação de deltas, e ao topo, uma origem por ação glacial, e estas

ocorrências são consideradas depósitos da fase de expansão, sin-rifte da bacia (Figura 2.5).

Uma terceira unidade denominada pela primeira vez por Guimarães & Almeida (1972) de

Formação Coxipó, onde Tokashiki & Saes (op. cit.) correlacionam à Formação Marzagão de Almeida

(1964), e às subunidades 5, 6, 7 e 8 de Luz et al. (1980), e ainda à Fácies Proximal da Unidade Média

Turbidítica Glácio-marinha de Alvarenga (1988). Para a unidade é reconhecido na base o Membro Pai

Joaquim, que corresponde a ciclos granodecrescentes de metaconglomerados, metarcósios e filitos. A

porção intermediária, o Membro Marzagão, descrito por ritmitos areno-peliticos, filitos verdes e rosas,

metadiamictitos passando a lamito esverdeado, com uma fácies distal constituída de quartzitos (Unidade

Mata-Mata). Por último, as associações de topo, o Membro Guia que compreende os carbonatos

dolomíticos e calcíticos e ritmitos areno-pelítico. O ambiente da Formação Coxipó é condicionado na fase

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pós-rifte da bacia, onde os conglomerados depositados na base marcam os leques pós-glaciais, o

intermediário por fluxos de detritos e por último a estabilização da plataforma marinha (Figura 2.5).

Figura 2.5- Carta estratigráfica proposta para o Grupo Cuiabá na região da Baixada Cuiabana segundo

Beal (2013).

Na Faixa Paraguai Sul, Lacerda Filho et al. (2006) agrupam as rochas do domínio interno na

região da Depressão do rio Miranda, e Serra de Maracajú, na borda da Bacia do Paraná, região de Bonito.

Neste segmento importantes associações metassedimentares são atribuídas ao Grupo Cuiabá por filitos e

metassiltitos com intercalações de turbiditos distais representado por metaconglomerados polimíticos,

quartzitos, metaritmitos pelito-psamíticos, cujo ambiente deposicional é interpretado uma plataforma

profunda a transicional.

No Grupo Jacadigo (Cinturão Tucavaca) há registros de formações ferríferas, constituído por

depósitos mistos de componentes siliciclásticos e GIFs (granular iron formations), com aproximadamente

100m e, mais 300m de predomínio de BIFs (bandaded iron formations), descritas na cidade de Corumbá,

no maciço do Urucum (Freitas, 2010). Na Serra da Bodoquena, também em Mato Grosso do Sul, são

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encontradas camadas de 2 metros de espessura de formações ferríferas com diamictito de matriz

ferruginosa, que estão associadas à sedimentação glaciogênica da Fm. Puga (Piacentini et al. 2007).

Em Nova Xavantina, extremo leste da faixa, rochas ferríferas metamorfisadas são diferenciadas do

Grupo Cuiabá e inseridas na Sequência Metavulcanossedimentar Nova Xavantina por Pinho (1990), que

Martinelli (1998) descreve como a unidade química formações ferríferas bandadas, metachert

ferruginosos, filitos carbonosos e metachert quartzoso no topo.

O acervo de dados geocronológicos que retratam a sedimentação da Faixa Paraguai é limitado às

associações glaciais e carbonáticas. Alvarenga & Trompette (1992) atribuiu-lhes uma provável associação

ao período Criogeniano (670-630 Ma), que tem grande extensão na Faixa Paraguai nos sedimentos

glaciais depositados sobre o embasamento cratônico (domínio externo). Segundo Alvarenga (1990) e

Alvarenga e Trompette (op. cit), os sedimentos da Formação Puga são correlacionáveis à Glaciação

Marinoana (ca. 635 Ma). Babinski et al. (2008), na Faixa Paraguai Sul, sugerem idades Ediacarana para as

rochas carbonáticos do Grupo Bodoquena. Esta idade, obtida pelo método isotópico do carbono, e

condizente com a glaciação Marinoana. A mesma pesquisa datou com U-Pb zircões de diamicititos da

Formação Puga, obtendo idade mínima de 706 Ma, interpretada como a idade máxima de sedimentação da

sequência glaciogênica. Lembrando que o glacial da Faixa Paraguai (Fm Puga) é cronocorrelata com as

associações intermediárias e topo do Grupo Cuiabá (Alvarenga, 1988), e que Para Lacerda Filho et al.

(2004), o Grupo Cuiabá teria se formado entre 850 e presumivelmente 600 Ma.

Figueiredo (2010) apresentou diversas idades na Faixa Paraguai Norte, se valendo também, dos

carbonatos do Grupo Araras, e diamictitos glaciais da Formação Puga, e Formação. Serra Azul, esta

última, recém-individualizada por Alvarenga et al (2007) e Figueiredo et al (2008), que a inserem acima

dos carbonatos do Grupo Araras. Em sua tese, Figueiredo (2010) apresenta idade isocrônica Pb-Pb de 596

+/-26 Ma para a Formação Serra Azul, incluindo a sedimentação na segunda metade do Ediacarano. A

hipótese é de que tenha havido dois intervalos de eventos glaciais, o primeiro verificado nos tilitos e

metadimictitos da Formação. Puga, relacionado com glaciação Marinoana, já o segundo, nas associações

de metadiamictitos da glaciação Gaskiers (580 Ma).

2.2.3-1B- Sequências Meta-vulcanossedimentares

Eventos vulcânicos associados aos metasssedimentos do Grupo Cuiabá são raros, e têm

despertado atenção dos pesquisadores da Faixa Paraguai. Os registros são evidenciados por sequências

vulcanossedimentares encontradas no extremo leste da faixa norte, nas regiões das cidades de Bom Jardim

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de Goiás (GO) e Nova Xavantina (MT), e no segmento sul, na região de Bonito (MS), ambas com

situações homólogas: associções metabásicas extrusivas na base, e subordinadamente associações

sedimentares, formações ferríferas e filitos carbonosos no topo.

As primeiras descrições de rochas vulcânicas da faixa foram no estado de Goiás, ao sul da cidade

de Bom Jardim de Goiás por Fragomeni e Costa (1976) in Seer (1985), que interpretaram um conjunto de

rochas vulcânicas (lavas básicas com estruturas almofadadas, lavas e tufos andesíticos, riodacitos e

dacíticos, e aglomerados, além de conglomerados, siltitos ferruginos e chert), admitindo tais ocorrências

na base do Grupo Cuiabá. Seer (1985), na mesma região, denomina de Grupo Bom Jardim uma sequência

meta-vulcanossedimentar com evolução tecto-metamórfica similar ao Grupo Cuiabá (polideformação e

metamorfismo fácies xisto verde baixa, até biotita), em litotipos definidos por metabasaltos e

metandesitos, metariolito, metapiroclásticas básicas, intermediárias e ácidas, e pequenos corpos básicos

subvulcânicos; e como produto sedimentar, associação de metaconglomerados polimíticos,

metagrauvacas, metavulcaniclásticas, metasubarcósios, filitos e quartzitos. Já os metassedimentos da

Faixa Paraguai, que aflora a oeste do Grupo Bom Jardim, Seer (op. cit.) descreve contato por falhamento

(Falha Serra Negra), onde o Grupo Cuiabá registra produtos terrígenos, predominantes pelíticos, e menor

ocorrência, quartzo-filitos, metagrauvacas e metarenitos feldspáticos, cuja suas áreas fontes foram rochas

vulcânicas, metamórficas e graníticas.

Ao nordeste da cidade de Bonito, Nogueira & Oliveira (1976) descreveram pela primeira vez

rochas metabásicas. Bem posterior, Lacerda Filho et al., (2006) denominam de Sequência

Metavulcanossedimentar Rio Bacuri, desmembrando do Grupo Cuiabá ocorrências de associações

metavulcânicas (anfibolitos e clorita-xistos), e metassedimentares (xistos filitosos xistos grafitosos filitos

hematíticos e quartzitos ferríferos bandados). Assinatura geoquímica dos anfibolitos mostra filiação

toleítica do tipo MORB, e os sedimentos típicos de ambiente de fundo oceânico indicam ser um

remanescente de crosta oceânica.

Em Nova Xavantina, Pinho (1990) nomeia de Sequência Metavulcanossedimentar Nova

Xavantina e a posiciona estratigraficamente abaixo do Grupo Cuiabá. Em seguida, trabalhos de Martinelli

(1997, 1998), e Martinelli & Batista (2003) empilham esta sequência descrevendo um conjunto de rochas

metavulcânicas predominantemente de composição intermediária: metabasalto, metatufo, metandesito e

lapili-tufo. Estas rochas são recobertas por rochas sedimentares químicas, de natureza siliciclásticas,

carbonáticas e ferríferas. No topo são reconhecidos filitos, metarenitos e metaconglomerados, que

possivelmente teriam relação com as rochas do Grupo Cuiabá. Duas tentativas de explicar o ambiente

deposicional da SMVNX existem, sendo duas interpretações divergentes. Pinho (1999) interpreta

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assinaturas litogeoquímicas em metabasitos que a origem estaria associada a um ambiente marinho do tipo

back-arc. Já Silva (2007), concluiu em sua dissertação que este registro conota a formação de rift

continental Neoproterozóico.

Isótopos de Nd e idades modelos Sm/Nd de amostras das três unidades da Sequência

Metavulcanossedimentar Nova Xavantina foram obtidas por Dantas & Martinelli (2003), que analisam os

dados comparando-os entre si. Os resultados apresentaram idade entre 1,7 e 2,3 Ga. para a unidade

clástica, onde similares são os valores obtidos para as rochas químicas, porém, com maior fracionamento

Sm/Nd. Nas rochas metavulcânicas as idades mostram grande intervalo nas razões, entre 1,5 a 2,4 Ga, e

valores εNd altos, para metabásicas em especial. Com as datações, os autores concluíram que a fonte

dessas rochas é dominantemente Paleoproterozoico, tendo como provável fonte o Cráton Amazônico,

ressaltando uma mistura de fontes ou mesmo um tipo contaminação para rochas metavulcânicas, fato este

que sugere uma evolução mais complexa para o vulcanismo.

2.2.3-2 - Geologia Estrutural

O caráter da deformação mais intensa nas zonas internas, diminuindo em relação às zonas

cratônicas; o arcabouço estrutural com sistema de cavalgamentos regionais com vergências para zonas

cratônicas, e também sistemas transcorrentes, são características em comum dos cinturões brasilianos da

Província Tocantins. A geologia estrutural da zona interna da Faixa Paraguai na região da Baixada

Cuiabana tem sido objeto de inúmeros estudos, isto se deve a ocorrência de mineralizações de ouro com

forte controle estrutural associado às rochas do Grupo Cuiabá. Os principais trabalhos citam a presença de

mais de uma fase de deformação (Luz et al. 1980; Alvarenga & Trompette 1993; Del’Rey Silva (1990);

Silva 1999; Silva et al. 2002; 2006). Estes autores reconhecem que a principal feição estrutural está

relacionada à primeira fase de deformação (Dn), superimposta por outras três outras fases, Dn+1 e Dn+2,

Dn+3.

A fase Dn se manifesta por todo o domínio interno, sendo responsável pela estruturação do Grupo

Cuiabá, considerada a fase de maior intensidade deformacional e consequentemente responsável pelo pico

metamórfico. A principal estrutura da Dn é uma clivagem ardosiana (Sn), associado a dobras (Dn)

inclinadas a invertidas, abertas a fechadas com eixo orientado segundo N45-60E/50-60SE, e planos axiais

variando no mergulho entre 40-60° para SE, e 40- 60° para NW. Os principais indicadores cinemáticos

caracterizados por Silva (op cit) são as lineações de estiramento (elongação dos clastos e litoclastos),

mineral (orientação de minerais equidimensionais), e de intersecção (relação de corte da Sn com So). A

lineações de estiramento acompanha a distribuição em leque dos eixos das dobras (Dn), verificada pela

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mudança na orientação dos mergulhos: subvertical no domínio NW e sub-horizontais no domínio SE.

Assim, no domínio SE o transporte foi paralelo ao eixo das dobras sub-horizontais, enquanto no domínio

NW, o transporte foi sub-vertical (Silva, 1999)

Na segunda fase (Dn+1), a principal feição observada é uma clivagem de crenulação Sn+1 bem

desenvolvida nos pelitos e menos nas rochas arenosas, em porções localizadas e de menor intensidade, em

relação a Dn. Os dobramentos inclinados a invertidos, variando de suaves a apertados, com plano axial

com atitude N30-70E/30-50NW, e linha de charneira paralela à mesma da DN com caimentos suaves para

NE, às vezes SW. m, sendo impressa apenas nas rochas pelíticas.

A terceira fase (Dn+2) deforma a foliação Sn, e caracteriza-se por uma clivagem de crenulação

Sn+2 plano axial de dobras inclinadas, abertas, suaves e localizadamente inversas, com atitude N30-

70E/40. É mais bem observado no domínio SE sendo impressa em rochas de qualquer natureza, mas são

melhores evidenciadas nos pelitos aflorantes na cidade de Cuiabá. É mais frequente que a Dn+1, porém

menos prenetrativa. As dobras Dn+2 são, abertas a fechadas e raramente recubentes, e o sentindo da

vergência é para WNW.

A quarta fase (Dn+3) é descrita pelo seu caráter rúptil-dúctil, responsável por dobramentos suaves

e abertos, com ondulações de grande comprimento de onda, com eixos sub-horizontalizados e clivagem

sub-vertical não penetrativa, com plano axial de atitude N10E/N80W. Também é observado um forte

fraturamento de direção N50-70W com mergulhos verticais a subverticais para NE ou SW, e até mesmo

falhas de rejeito subvertical de direção NW-SE.

2.23-3 - Metamorfismo

Almeida (1964) reconheceu um metamorfismo regional de baixo grau na Faixa Paraguai

verificando nas rochas um tipo de polaridade na intensidade da deformação em relação à borda cratônica,

o que fez o autor dividir o cinturão em zonas tectônicas.

Posteriormente, a intensidade metamorfismo foi estudada por Alvarenga & Trompette (1993)

quando avaliou o grau de cristalinidade de illitas desenvolvidas nos planos de clivagem, ao longo de um

corte transversal W-E da Faixa Paraguai. Observaram que os índices são progressivamente menores a

leste, comprovando que as rochas deste local são mais metamórficas que aquelas situadas a oeste, o que

confirma a zonalidade metamórfica proposta por Almeida (1964). Alvarenga & Trompette (op. cit)

demonstraram também que o metamorfismo principal afetou quase toda a zona interna da Faixa Paraguai,

atingiu a epizona, enquanto na zona externa não ultrapassa os limites da anquizona.

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Na região da Baixada Cuiabana Silva (1999) identificou para o Grupo Cuiabá, paragêneses

minerais típicas das zonas da clorita e biotita, tendo agrupado em três associações minerais: (i) Clorita +

muscovita + quartzo; (ii) Clorita + biotita + muscovita + quartzo; e (iii) Biotita + muscovita + quartzo. A

distribuição dessas associações nas rochas, fez com que Silva (op cit) interpretasse um aumento

progressivo do gradiente metamórfico de NE para SW, ou seja das rochas mais novas para as mais antigas.

Geraldes et al. (2008) expõe idades platôs Ar-Ar de rochas metamórficas da Sequência

Metavulcanossedimentar Nova Xavantina da região do depósito aurífero Araés (venular). A primeira

idade foi obtida a partir de biotitas em metavulcânica (541 e 531 Ma). A segunda idade foi obtida por

mineral de argila (ilita) em zona de alteração do veio mineralizado (503 +/_ 3 Ma). Os valores foram

interpretados como sendo a idade de resfriamento do metamorfismo brasiliano na Faixa Paraguai, sendo a

última, a data de colocação do veio e mineralização.

2.2.3-4 - Magmatismo

O limite distal da Faixa Paraguai é marcado por um magmatismo granítico neoproterozoico, a

Província Granitóide Matogrossense, representado por sete corpos intrusivos, considerados de origem sin

a pós-colisionais desenvolvidos possivelmente durante o Ediacarano-Eocambriano 540 a 510 Ma (Godoy

et al., 2010).

O mais conhecido corpo granítico é o Batólito São Vicente, localizado a sudoeste da cidade de

Cuiabá, que foi primeiramente estudado por Almeida (1954), que o relata um corpo magmático, intrusivo,

de cor rosada, heterogranular fino a grosso. Seus contatos com as encaixantes do Grupo Cuiabá formam

auréolas termometamórficas, evidenciadas pela presença de hornfels (fácies andaluzita-cordierita)

(Alvarenga 1984). Na mesma região, na localidade do vilarejo Mimoso, Del’Arco et al. (1982) referem-se

à presença de rochas vulcânicas ácidas a intermediárias cogenético ao Batólito São Vicente.

Godoy et al (2007, 2010) descrevem o magmatismo da Faixa Paraguai em dois estágios,

separando os corpos existentes em dois grandes grupos. As suítes do Sul ocorrentes em Mato Grosso do

Sul, afloram nas formas de pequenas intrusões alongadas segundo NE-SW, pelos maciços Taboco, Rio

Negro, Coxim e Sonora; enquanto na suíte norte, aflorante em Mato Grosso, os corpos já apresentam

dimensões maiores, reconhecidos nos batólitos São Vicente, Araguaiana e Lajinha.

O estudo realizado por Godoy et al. (op cit) admite a disntinção deste magmatismo em dois

intervalos, confirmados pelas assinaturas geoquímicas e idades, de ambas as suítes. Características

comuns estão relacionadas à tipologia (tipo I), e à composição (cálcio-alcalina alto potássio predominante

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peraluminoso). Em relação ao ambiente, admite-se que os agrupamentos do sul foram gerados em

ambiente sin-colisional em arco continental; amostras do granito Rio Negro apresentam caráter

metaluminoso e consequentemente menos diferenciado (pré-colisional), considerados primitivos (idades

aproximadas de 540 MA). Ao norte, são tipos rapakivíticos, os batólitos São Vicente e Lajinha têm

tendência a granitos tipo A, calci-alcalinos de alto potássio a shoshonítico. Situa-se o ambiente em posição

intra-placa de colisão continental e/ou descompressão pós-colisional.Esta descompressão seria o fim da

colisão (idades de 510 MA), em fase extensional da Faixa Paraguai.

De Min et al (2012) na região de Planalto da Serra e Nova Brasilândia descreve intrusões de

rochas alcalinas Grupo no Cuiabá. São associações ultramáfica-alcalinas compostas principalmente de

glimmeritos, harzburgitos e carbonatitos, que afloram na forma de fluxo de lavas e diques ao longo de

uma área conhecida como Rift Rio dos Cavalos. Idada platô 40Ar/39Ar obtida em flogopita de diques e

plugs glimmeríticos rendeu uma idade de cerca 600 Ma, datado no período Ediacarano (630-542Ma). Esta

idade permite supor que o início da deformação do Grupo Cuiabá seja mais velho do que 600 Ma, pois

estas rochas não se mostram deformadas, porém situa-se no domínio interno do cinturão Paraguai. A partir

deste dado os autores sugerem que o início da deformação e metamorfismo do Grupo Cuiabá,

provavelmente aconteceu na transição do Criogeniano e os períodos de Ediacarano, e que a colocação

destas rochas, relacionada a estruturas de falhas normais, interpretado como o início da tectônica

extensional responsável pela separação dos Crátons Amazônicos e o Laurentia.

.

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21

ARTIGO SUBMETIDO

REVISTA GEOLOGIA USP

ESTRATIGRAFIA DO DOMÍNIO INTERNO DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO DE

NOVA XAVANTINA, LESTE DE MATO GROSSO.

STRATIGRAPHY OF THE PARAGUAY BELT INNER ZONE NEAR NOVA

XAVANTINA, EASTERN MATO GROSSO STATE

Mariarosa Fernandes de Sousa1, Carlos Humberto da Silva1, 2; Ana Cláudia Dantas da Costa1,2

1. Programa de Pós-Graduação em Geociências - Departamento de Recursos Minerais –

Instituto de Ciências Exatas e da Terra – Universidade Federal do Mato Grosso. Endereço

para correspondência: Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança.

Cuiabá - MT - 78060-900 Email: [email protected]

2. Departamento de Geologia Geral - Instituto de Ciências Exatas e da Terra – Universidade

Federal do Mato Grosso. Email: [email protected]; [email protected]

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RESUMO

Mapeamento geológico realizado na porção leste da Faixa Paraguai, região de Nova

Xavantina (MT), possibilitou a individualização de três unidades litoestratigráficas: (i) Formação

Bacuri, composta por formações ferríferas e metacherts bandados; (ii) Formação Antártico,

definida por litotipos imaturos arranjados em ciclos granodecrescentes de fácies heterolíticas de

filito quartzoso, mármore, filito calcífero, metarenito feldspático, metaconglomerado, metassiltito

e metagrauvaca. As associações exibem acamamento gradativo, estruturas internas do tipo

laminações plano-paralelas, cruzadas e convolutas, e estratificações em lentes, que refletem

deposição controlada por processos mistos (ondas e marés); (iii) Formação Touro Branco,

representada por metarenito e quartzito com maturidade composicional, estratificações planares e

cruzadas tabulares de baixo ângulo e marcas onduladas e de erosão. Acredita-se que parte destas

rochas foi depositada em ambiente marinho transicional, o que resultou um mega ciclo que

culmina na progradação de ambiente marinho distal, e para o topo e lateralmente, dá lugar à

fácies de planície litorânea.

Palavras-chave: Faixa Paraguai; Mapeamento geológico; Unidades litoestratigráficas; Ambiente

deposicional.

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ABSTRACT

The geologic mapping of the Paraguay estern portion, near the city of Nova Xavantina,

allowed the individualization of three lithostratigraphic units: (i) Bacuri Formation, constituted

by banded iron formations and bedded metacherts; (ii) Antártico Formation, defined by immature

lithotypes arranged in heterolytic facies growing-upward cycles of quartz-phyillite, metamarble,

phyillite, calciferous phyillite, metasandstone feldspathic, metaconglomerate, metasiltstone and

metagraywacke. These associations exhibit graded bedding, plane-parallel laminations, ripple-

crossed and convolute and linsen stratification, which reflect the deposition by mixed processes

(waves and tides); (iii) Touro Branco Formation, formed by mature quartz metasandstone and

quartzite containing plane-parallel and low angle cross- tabular stratification with waved and

erosion marks. The data suggest that the these units were deposited in a transgressive marine

environment megacycle that envolvesd transitionally to near shore shallow facies.

Keywords: Paraguay Belt; Geologic mapping; Lithostratigraphic units;

depositional environment

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INTRODUÇÃO

A geologia das rochas metamórficas da Faixa Paraguai é relativamente bem conhecida nas

regiões da Baixada Cuiabana em Mato Grosso e na Depressão do Rio Miranda, Mato Grosso do

Sul. Outras ocorrências são muito pouco estudadas, como na região de Nova Xavantina no Médio

Araguaia, leste do estado do Mato Grosso. Os dados existentes sobre esta região abrangem

estudos geológicos regionais (Drago et al., 1981; Lacerda Filho et al., 2004), levantamentos

aerogeofísicos regionais (Silva, 2007), e sobre o distrito aurífero de Nova Xavantina (Pinho,

1990; Martinelli, 1998; Silva, 2007; Socio, 2008; Sousa, 2010; e Callori e Maronesi, 2011). Há,

no entanto, uma carência de resultados de mapeamentos geológicos sistemáticos, implicando em

incertezas sobre correlações nas interpretações estratigráficas e dificuldades nos modelamentos

estruturais e tectônicos.

Buscando contribuir com o conhecimento geológico da zona interna da Faixa Paraguai o

presente trabalho visa apresentar os resultados de mapeamento geológico de semi-detalhe, definir

a estratigrafia e discutir o ambiente deposicional das rochas de uma área situada a sudoeste da

cidade de Nova Xavantina, margem sul do Rio das Mortes, centro-leste de Mato Grosso.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida em quatro etapas. Na etapa pré-campo foram efetuados

levantamentos bibliográficos que versam a geologia da porção leste da Faixa Paraguai.

Adicionalmente foi efetuada interpretação de imagens de satélite e de fotografias aéreas com

intuito de obter o mapa-base. Na etapa de campo, foi realizado mapeamento geológico em escala

1:50.000 a partir de seções geológicas transversais a estrutura regional (NNE), ao longo das quais

foram descritos afloramentos, contatos, estruturas sedimentares e tectônicas, e coleta de amostras

para os estudos laboratoriais. Na etapa pós-campo efetuaram-se as descrições mesoscópicas das

amostras, com seleção das mais representativas para confecção de seções delgadas para estudos

petrográfico.

CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL

O Ciclo Brasiliano/Pan-Africano é um dos principais eventos geotectônicos formadores

de registros estratigráficos do final do Neoproterozoico. O ápice deste evento tem como

significado a formação do Supercontinente Gondwana, que decorreu da aglutinação de grandes

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massas continentais e fechamento de bacias situadas nas margens dos blocos litosféricos pré-

existentes (Brito Neves e Cordani, 1991). Um dos principais elementos que compõem a parte

ocidental deste supercontinente é a Província Tocantins, que reúne três faixas móveis: Paraguai,

Brasília e Araguaia, nas quais nasceram da colisão dos crátons Amazônico, São Francisco-Congo

e o bloco do Paranapanema (Almeida et al., 1984, Pimentel e Fuck, 1992, Mantovani e Brito

Neves 2005). (Figura 1).

.

Figura 1. Desenho esquemático da Província Tocantins (segundo Pimentel e Fuck, 1992; retirado de Viana et al., 1995). Na porção oeste da figura, a área delimitada pelo retângulo representada a Faixa Paraguai, melhor observada na Figura 2.

A Faixa Paraguai ocupa a porção ocidental da Província Tocantins, possui

aproximadamente 1000 km de extensão com formato de um arco com concavidade voltada para o

sudeste do Cráton Amazônico (Almeida, 1984). Seus principais limites estão cobertos pelas

rochas sedimentares das bacias do Paraná, do Pantanal e Parecis. A Faixa Paraguai se divide em

dois segmentos. O segmento sul aflora nas regiões da Serra da Bodoquena e no vale do rio

Miranda no estado do Mato Grosso do Sul, e o do norte na Província Serrana, Baixada Cuiabana

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e Vale do Araguaia no estado de Mato Grosso. Um ramo NW-SE da faixa, interpretado como um

aulacógeno (Alvarenga et al., 2000), ocorre desde Corumbá ao interior da Bolívia, onde recebe a

denominação de Cinturão Tucavaca.

Uma zonação tectônica da Faixa Paraguai foi inicialemnte proposta por Almeida (1984) e

redefinida por Alvarenga & Trompette (1993), com sua subdivisão em três domínios: Cobertura

Cratônica, Domínio Externo, e Domínio Interno (Figura 2). A área estudada situa-se no domínio

interno, caracterizado por rochas depositadas mais afastadas da borda cratônica, metamorfizadas

na fácies xisto verde, evolução estrutural polifásica com dobras e cavalgamentos com vergência

tanto para o Cráton Amazônico (região de Jangada), quanto contrária (região de Cuiabá). Quanto

à sedimentação, Alvarenga & Trompette (1992) admitem uma evolução lateral para as

associações do Grupo Cuiabá com seus equivalentes cratônicos (formações Bauxi e Puga), que

para a paleogeografia, é compatível com o desenvolvimento de margem passiva situada na borda

oeste de um oceano brasiliano, ou da acumulação na borda de aulacógeno ou rift continental.

O domínio interno é representado pelas rochas metassedimentares do Grupo Cuiabá e

corpos graníticos sin a pós-orogênicos do tipo São Vicente. Localizadamente, como nas regiões

de Nova Xavantina (MT) e Bonito (MS), ocorrem rochas metavulcânicas e metavulcanoclásticas

atribuídas à remanescente de fundo oceânico (Pinho, 1990; Martinelli, 1998, Lacerda Filho et al.,

2006).

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Figura 2. Mapa esquemático da Faixa Paraguai com individualização dos domínios estruturais e intrusões graníticas (modificado de Godoi,, 2001).

A litoestratigrafia do Grupo Cuiabá na região da Baixada Cuiabana foi revisada por

Tokashiki e Saes (2008) que propuseram o emprego de unidades informais que resgatam

denominações clássicas na literatura geológica da Faixa Paraguai a partir do refinamento dos

trabalhos de Luz et al. (1980), Alvarenga (1988, 1990), Alvarenga e Saes (1992). Na concepção

de Tokashiki e Saes (2008) a Formação Campina de Pedra de Freitas (2003) marca a base do

Grupo Cuiabá na Baixada Cuiabana, composta por filitos carbonosos, filitos, quartzitos e

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dolomitos, além de mármores calcíticos e metagrauvacas feldspáticas, depositados em ambiente

lacustre rico em carbono orgânico. Sobre estas rochas, Tokashiki e Saes (2008) reconhecem a

Formação Acorizal, que corresponde a Seqüência Média Turbidítica Glácio-marinha de

Alvarenga (1988) e as subunidades 3, 4, e 5 de Luz et al. (1980). Esta formação é constituída por

metaconglomerados, filitos, metatilitos, metarcóseos e quartzitos de origem glácio-marinha.

Acima da Formação Acorizal ocorre a Formação Coxipó composta por filitos conglomeráticos,

metarenitos, quartzitos, mármores e metadiamictitos petromíticos, parcialmente correlacionada à

Formação Marzagão de Almeida (1964), e às subunidades 6 e 7 de Luz et al. (1980), e à Fácies

Proximal da Unidade Média Turbidítica Glácio-marinha de Alvarenga (1988), constituída por

metaconglomerados, metarenitos e filitos, ritmitos areno-peliticos, metadiamictito, metarenitos,

pelitos com mármores predominantemente calcíticos associados, como os da região de Guia e

Nova Brasilândia.

Na região do médio Araguaia Lacerda Filho et al. (2004) citam filitos e metarenitos

pertencentes ao Grupo Cuiabá. Menezes e Silva (2008) no município de Nova Xavantina

descrevem duas ocorrências de calcário, tendo mármores calcíticos a dolomíticos, calcarenitos,

calcissiltitos e metamargas argilosas, bastantes recristalizados, com laminações, intraclastos,

oóides, além de níveis brechados e silicificados. Na mesma região, aflora a Sequência

Metavulcano-sedimentar Nova Xavantina que foi estudada por Pinho (1990), Pinho e Pinho

(1990), Martinelli (1998), Martinelli e Batista (2003) e Silva (2007), no qual descreveram a

presença de associação de rochas metavulcânicas, metavulcanoclásticas e metassedimentares,

cuja base ocorre rochas metavulcânicas, tais como metabasalto, metatufo, metandesito e lapili-

tufo de composições intermediária e básica. Sobre estas ocorrem rochas silicáticas, carbonáticas e

ferríferas. No topo da sequência ocorrem rochas psamíticas e pelíticas. Pinho (1990) admite que a

sequência seja originada em fase embrionária de abertura oceânica em ambiente marinho,

possivelmente do tipo back-arc. Já Silva (2007), a partir de levantamento aerogeofísicos em

escala regional e dadoslitogeoquímicos de rochas metavulcãnicas concluiu que o vulcanismo

ocorreu sob o regime de rifte continental no Neoproterozoico.

As regiões mais distais da Faixa Paraguai são marcadas por magmatismo granítico

representado por sete corpos intrusivos. Godoy et al. (2007, 2010) separam este magmatismo em

dois grupos de acordo com suas assinaturas geoquímicas e idades. Os corpos situados no sul do

estado do Mato Grosso do Sul afloram na forma de pequenas intrusões alongadas segundo NE-

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SW, representados pelos granitos Taboco, Rio Negro, Coxim e Sonora, com características

geoquímicas de ganitos do tipo I, cálcio-alcalinos de alto potássio peraluminosos, gerados em

ambiente sin-colisional de arco continental em torno de 540 MA. Os situados no norte do estado

são representados pelos granitos São Vicente, Araguaiana e Lajinha, com características

geoquímicas de granitos do tipo A calci-alcalinos de alto potássio a shoshonítico, e intra-placa

com média de idades de 510 MA.

GEOLOGIA LOCAL

Na região do Médio Araguaia as rochas da Faixa Paraguai afloram em uma faixa junto à

orla da Bacia do Paraná ao oeste, e das coberturas detrito-lateríticas a leste. O levantamento

geológico realizado priorizou o domínio interno da Faixa Paraguai em uma área situada a SW da

cidade de Nova Xavantina, ao sul do Rio das Mortes, afluente do rio Araguaia. Na área verificou-

se a existência de rochas metassedimentares reunidas em três unidades denominadas de

formações: Bacuri, Antártico e Touro Branco, cuja distribuição territorial está representada na

Figura 3, e as principais características lito-estratigráficas na Figura 4.

Geologia Estrutural

O Domínio Interno da Faixa Paraguai na região de Nova Xavantina é marcado por

dobras e falhas geradas durante a fase de deformação Dn, de caráter dúctil-rúptil. As dobras desta

fase tem comprimento de onda centimétrica a quilométrica. Estas dobras são definidas pelo

acamamento sedimentar (S0) que por esse motivo apresenta orientação variável conforme

observado no estereograma de pólos (Figura 5a), onde é possível observar que S0 define dois

máximos estatísticos, um orientado N30E/80NW e o outro N70E/30NW que correspondem a

atitude preferencial dos flancos dessas dobras. Foram reconhecidas dobras apertadas, inclinadas a

invertidas, com linha de charneira preferencialmente orientada N60E/06 (Figura 5a). Associada

às dobras há uma clivagem ardosiana (Sn), definida por uma trama orientada de filossilicatos

tantos nas rochas pelíticas, quanto nas psamíticas, onde também é freqüente a orientação dos

grãos de quartzo.

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Figura 3- Mapa geológico e esboço lito-estrturual proposto para região de Nova Xavantina.

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Figura 4- Coluna estratigráfica e legenda referente à coluna e mapa geológico.

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A foliação em geral é paralela ao acamamento S0, orientando-se preferencialmente N45E/80NW

(Figura 5b). Ainda associados ao dobramento ocorrem falhas orientadas N70-80W com

mergulhos entre 40-70° para NE. Comumente paralelo aos planos dessas falhas ocorrem veios de

quartzo, com espessura entre 15 a 50 cm, podendo atingir 5 metros (Martinelli, 1998). Nos planos

de falha há uma lineação de estiramento definida por agregados monocristalinos de quartzo, e

indicadores cinemáticos que a movimentação principal das falhas foi aproximadamente paralela

ao mergulho do plano de falha, o que permite classificá-las como falhas reversas. Os veios

associados a estas falhas constituem o principal alvo das atividades mineradoras na região do

depósito do Araés, sendo esse, possivelmente, o principal controle estrutural das mineralizações

de ouro.

Figura 5. Estereogramas de pólos das estruturas da região SW de Nova Xavantina. Em (a) medidas de acamaento, e em (b) medidas da clivagem ardosiana (Sn).

Na área foram registradas falhas normais associadas à formação de grábens, um situado

na porção noroeste e outro na central, que são responsáveis pelo abatimento das rochas da base da

bacia do Paraná. Estas estruturas são definidas por falhas normais que colocam lado a lado os

arenitos da Bacia do Paraná e os heterolitos da Formação Antártico. Essas falhas orientam-se

N50-60E com mergulhos íngremes, com rejeito estimado de no mínimo de 80 metros para as

rochas da bacia. No plano de falha e em áreas próximas ocorre uma intensa silicificação e brechas

tectônicas, em outras áreas o plano de falha está coberto por sedimentos recentes.

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Litoestratigrafia

A partir da realização dos perfis geológicos transversais e do reconhecimento geopetais

foi possível estabelecer o empilhamento estratigráfico das rochas estudadas e reuní-las, da base

para o topo, nas formações, Bacuri, Antártico e Touro Branco, cujas características serão a seguir

descritas.

Formação Bacuri

A Formação Bacuri é definida por uma associação metassedimentar química. Estas rochas

ocorrem na porção norte da área junto ao rio das Mortes e também a nordeste, nas proximidades

da Fazenda Bacuri, onde a associação pode ser caracterizada com maior detalhe. Outras

ocorrências isoladas são observadas em direção à área urbana de Nova Xavantina, onde ocorrem

parcialmente encobertas por crosta leterítica (Figura 3).

O contato inferior da Formação Bacuri não foi observado, e o superior ainda não é

totalmente compreendido. Na região da Fazenda Bacuri este limite apresenta-se na forma de uma

superfície erosiva com filito e também na forma de contato transicional do metachert com

metarenito e metamargas da Formação Antártico. No extremo norte da área o contato é por falha

de empurrão.

O principal litotipo é o metachert, que aflora como blocos e lajedos expostos no topo e

nas encostas de morros e morrotes O comportamento estratiforme é mais bem caracterizado em

escala mesoscópica (centimétrica a métrica), onde pode ser observado um conjunto litológico de

metarcherts que variam entre metachert quartzoso, metachert ferruginoso ou metajaspelito e

metachert oolítico. Há também rocha ferrífera com bandamento milimétrico marcado pela

laminação plano-paralela definida entre bandas quartzosas e ferríferas, o que resulta na mudança

nas cores, de cinza a branca para bandas silicosas, e avermelhada nas bandas ferruginosas.

Feições de micro deformação (falhas e dobras), diaclasamento, e brechas intraclásticas.

O metachert quartzoso é branco a preto, apresenta discreto bandamento alternando entre

camadas brancas, cinzas e arroxeadas, às vezes separadas por níveis milimétricos ferríferos,

constituído por quartzo fino a muito fino (Figura 6A). Em seção delgada tem textura

microgranoblástica, constituído por quartzo microgranular poligonal, e em menor proporção

ocorrem palhetas de mica branca (Figura 6B).

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O metajaspelito (metachert ferruginoso) ocorre em blocos silicificados, coloração rosa a

vermelho, ora maciços, ora brechados, granulação fina a média. A textura é granular com

presença de grãos finos de quartzo, às vezes com matriz recristalizada, além de brechas e

venulações (Figura 6C). Em lâmina delgada possui bandamento gradado no qual predomina o

quartzo, também intraclastos, diminutos cristais de feldspato alterado, microporfiroblastos de

muscovita, e matriz muito fina composta de óxido de ferro. Há porções mais ricas em ferro que

parece substituir a matriz e grãos pré-existentes.

O metachert oolítico ocorre próximo á Fazenda Bacuri em camadas centimétricas

associadas ao metachert quartzoso, é rosa avermelhado, e contém oóides de estrutura concêntrica

assimétrica com núcleo constituído por quartzo microcristalino, por vezes óxido de ferro. Em

menor proporção está a matriz intergranular de quartzo ajustada aos contatos dos oólitos (Figura

6D). Em lâmina delgada os oólitos, são arredondados, por vezes ovais elípticos e truncados entre

si, apresentam diâmetro entre 0,25cm-0,4cm(areia grossa), circundados por matriz de quartzo

(Figura 6E).

O itabirito é um ritmito ferrífero com micro bandamento composicional, dado pela

alternância de bandas claras ricas em quartzo, e escuras, com abundante hematita. Em lâmina

delgada o itabirito contém, alem de quartzo (60% a 65%) e hematita (25% a 30%), também

moscovita (<5%) e rara pirita, (Figura 6F).

Formação Antártico As rochas da Formação Antártico ocorrem na maior parte da área mapeada, tendo as

principais ocorrências expostas ao longo do vale do Ribeirão Antártico, porção central da área,

caracterizada por morros de topo suaves e vales encaixados. A unidade é composta por rochas

cláticas, com química subordinadas. As camadas estão distribuídas de forma cíclica e acham-se

dispostas em fácies heterolíticas, quase sempre por contatos gradacionais, com possível variação

lateral de fácies. O contato superior com a Formação Touro Branco é transicional marcado pelo

aumento da frequência, em direção ao topo, de camadas de quartzitos.

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Figura 6- Formação Bacuri. A) Metachert branco, bandado, com níveis milimétricos ferríferos; ocorrem microfraturas e microfalhas ortogonais ao bandamento composicional, algumas preenchidas por material ferruginoso. B) Fotomicrografia do metachert da foto A mostrando o caráter microgranular do quartzo, em polarizador paralelo. C) Metajaspelito brechado, cimentados por quartzo leitoso. D) Textura oolítica em metachert quartzoso da Fazenda Bacuri. Em polarizador paralelo. E) Fotomicrografia de metachert oolítico. Destaca-se a textura concêntrica dos oóides, e “mosaica” para os cristais de quartzo da matriz (polarizador paralelo). F) Fotomicrografia do itabirito, marcado por bandamento composicional ondulado dado pela alternância de bandas ricas em quartzo microcristalino e em hematita.

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Os litotipos dominantes da formação compreendem filitos com intercalações de

metarenito, que dão lugar, em direção ao topo, para fácies clasto-química com mármore

dolomítico associado à metassiltito calcífero. Também ocorrem metarenito e calcirudito rico em

fragmentos de carbonato, que passam graduamente a metagrauvacas, filitos e metassiltitos

micáceos.

As estruturas primárias comuns nestas rochas são as estratificações paralelas, cruzadas e

onduladas, laminações plano-paralelas, onduladas e cruzadas, acamamento gradacional e

lenticular, fendas de ressecamento e de escavação, além de feições localizadas, como dobras

convolutas e de escorregamento, atribuídas à deformação sin-deposicional.

O filito é a rocha mais abundante e ocorre ao longo de toda seção da unidade em

associação com os demais litotipos. Na base ocorrem filitos marrom rosado, laminação planar

incipiente, grãos finos a médio, constituído por filossilicatos (muscovita, serecita e clorita) e

quartzo (Figura 7A). Há níveis ricos em óxido de ferro, possivelmente originado pelo

enriquecimento supérgeno da lixiviação das rochas ferríferas da Formação Bacuri, ou mesmo, ser

o ferro precipitado na deposição do pelito. Na porção intermediária, o filito ocorre em arranjos

rítmicos associados a metarenitos feldspáticos. Nesta situação o filito é rosa ou verde

esbranquiçado, com laminação evidente e micro-lentes intestratificadas. No topo da sucessão, o

filito é cinza e/ou roxo, sem laminação evidente, mas com estratificação gradacional com

metagrauvaca.

Os metarenitos da Formação Antártico afloram interstratificados ou passando

gradualmente para metapelitos, sendo identificados litotipos heterogêneos que variam na

granulação, composição e estruturas. As características comuns a estes metarenitos são o mal

selecionamento e a tendência à imaturidade composicional, em geral têm clivagem ardosiana

espassada nos metarenitos finos e uma discreta xistosidade nos metarenitos grauváquicos. Na

porção intermediária são descritos metarenitos feldspático a arcoseanos, diferenciados

principalmente pela proporção de feldspato em relação ao quartzo (Figura 7B). Ao topo ocorrem

metagrauvacas e metarenitos finos micáceis.

Na estrada para Ilha do Coco, noroeste da área, próximo da Fazenda Olho D’água, aflora

heterólito com gradação inversa composta por mármore dolomítico, metassiltito e metarcóseo

verdes, que transionam para metarenenito e metassiltito feldspático rosa. O metarcóseo e

metassiltito são verdes esbranquiçados, tem textura polimodal, granulação média a fina, com

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grãos de quartzo e feldspato branco e micas, e uma matriz fina de mesma composição com níveis

ricos em carbonato. Estas rochas possuem laminações plano-paralelas onduladas e cruzadas

cavalgantes de baixo ângulo e pequeno porte (Figura 7C). Outras estruturas observadas são

fendas de ressecamento na forma de planos irregulares com linhas escuras dispostas na horizontal

e vertical. Os mármores da unidade têm ocorrência restrita, são cinza claros a escuros, têm

laminação plano-paralela evidente, composição dolomítica, podendo ser mais calcífero na base,

possui expressivo conteúdo terrígeno, o que permeite classificá-los como metamargas (Figura

7D).

O metarenito feldspático que está associado aos mármores é rosa quando fresco, passando

a marrom amarelado quando alterado, granulação média, sendo constituído por quartzo, feldspato

branco, e fragmentos de rochas carbonáticas e ferríferas, ora apresentando cimento carbonático,

e/ou matriz fina caolinítica (Figura 7E).

Na porção central da área a mesma sucessão contém acamamento lenticular (linsen),

marcado por lentes de arenito em filitos e de conglomerados nos metarenitos. No filito roxo estas

lentes são centimétricas a milimétricas, mostram forma elípsióidal quando assimétricas com

distribuição contínua quando são simétricas (Figura 7F). Outras estruturas comuns são

laminações planares e onduladas, e subordinadamente laminações cruzadas e convolutas.

Microscopicamente, a lente apresenta bandamento definido pela alternância de camadas pelíticas

e psamo-pelíticas, a textura é granoblástica a lepidoblástica, a granulação entre fina a média,

sendo observadas marcas de escavação na base da lente. A composição é definida por quartzo, k-

feldspato e filossilicatos (muscovita, serecita, clorita), e ocorre intraclastos do mesmo material, os

quais se localizam próximo ao contato entre as bandas pelíticas e psamo-pelíticas, em situações

que sugere erosão.

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Figura 7. Formação Antártico. A) Afloramento de filito no qual se destaca clivagem ardosiana, a qual promove desplacamento. B) Afloramento de metarcóseo rosa, alterado com gradação normal para metassilito laminado. C) Afloramento de metarcóseo fino, branco esverdeado, com laminações onduladas cruzadas (wavy ripple). No lado esquerdo superior ocorre concentração de óxido de ferro. D) Amostra de mármore dolomítico cinza laminado. E) Metarenito feldspático rosa, com grãos de quartzo e feldspato. F) Afloramento de metassiltito roxo com estratificação lenticular e laminação ondulada (wavy linsen).

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As metagrauvacas da formação afloram no topo da seção, caracterizadas pela gradação

entre os metassiltitos e os metaparaconglomerado. Estas rochas são acinzentadas a esverdeadas e

têm como principal estrutura a estratificação gradativa centimétrica com granodecrescência e

espessamento ascendente, e também o aparente acamamento sigmoidal. Também ocorrem

laminações paralelas onduladas de baixo ângulo (waves) (Figura 8A), e cruzadas onduladas

(ripple waves) onde os contatos das camadas frontais (entre topo e base) se comportam de forma

tangencial junto aos limites curvilíneos (Figura 8B e C).

Figura 8- Formação Antártico. Afloramentos de metagrauvacas com laminações cruzadas do tipo Ripple Wave: A) laminações wavy ripple com espessamento ascendente. B) laminação cruzada acanadala ondulada em metagrauvaca, a escala centimétrica da estrutura define o tipo de grande porte para laminação.

Lentes métricas a decimétricas de arcabouço areno-conglomerático são descritas

interstratificadas nos ritmitos grauváquicos. A ocorrência mais comum é um

metaparaconglomerado polimítico de cor cinza esverdeado quando fresco, e/ou marrom

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amarelado quando alterado (Figura 9A e B). Possui uma trama inequigranular constituída por

fragmentos de rochas, quartzo, feldspatos e micas, dispersos em matriz de granulação fina a

média constituída de quartzo, feldspato, e filossilicatos, e acessórios de zircão, titanita e

turmalina.

A rocha é marcada por uma clivagem ardosiana, definida pela orientação dos clastos

alongados e semi-rotacionados, sombra de pressão nas orlas dos clastos, e pelo arranjo planar dos

minerais da matriz (Figura 9A). Foi possível notar feição originada por processos de dissolução

parcial, que imprime porosidade secundária, e também recristalização apresentada em níveis de

calcita microcristalina, e sílica na forma de metachert.

O tamanho do clastos varia entre grânulo a matacão, sendo que os fragmentos maiores são

angulares com baixa esfericidade e fraturas. Os fragmentos menores variam de angulosos a

moderadamente arredondados. Os principais fragmentos observados são de calcários

(calcarenitos e calcilutitos), também metachert, metajaspilito, quartzito, filitos, xistos e rochas

metavulcânicas (Figura 9D). Alguns desses fragmentos preservam estruturas reliquiares, como

laminação paralela e ondulada em mármores, e micro textura de fluxo em metavulcânicas. Ao

microscópio além dos clastos identificados macroscopicamente foram observados: xisto micáceo,

filito carbonoso e cristaloclastos de quartzo, plagioclásio (albita-ortoclásio), k-feldspato

(microclina).

Envolvendo os clastos é observada uma matriz heterogênea de granulação fina a muito

fina, constituída por quartzo, k-feldspato, plagioclásio, mica branca e carbonato, em menor

abundância ocorre clorita, epidoto e biotita. Detalhe para os clastos de plagioclásio que

apresentam geminação albita, forma arredondada e fraturas, k-feldspato exibindo geminação

xadrez, bordas corroídas e são parcialmente alterados por processos de saussuritização e

carbonatação, alguns exemplares estão totalmente substituídos por calcita. O carbonato por vezes

forma níveis lenticulares e venulações (Figura 9C). A origem do carbonato é incerta, pelo

processo de dissolução dos fragmentos calcários presente no arcabouço acredita-se que o mesmo

foi se acumulando nos interstícios cimentando a rocha, podendo ser então de origem autigênica.

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Figura 9. Formação Antártico. A) Afloramento de metaparaconglomerado constituído por fragmentos líticos alongados e uma matriz fina a média rica em carbonato. Dentre os fragmentos líticos destacam-se: metachert, mármores calcíticos e dolomíticos, quartzitos e filitos, alguns apresentam fraturas e/ou sombra de pressão. B) Afloramento de metaparaconglomerado alterado onde destaca-se a matriz fina de cor marrom amarelado rica em carbonato. As cavidades observadas são originadas a partir da dissolução do carbonato. C) Fotomicrografia do metaparaconglomerado, onde destaca-se um litoclasto de carbonato fino (micrito); a matriz tem granulação fina, predominando quartzo e carbonato. Na porção superior ocorre um nível rico em carbonato micro granular. D) Fotomicrografia do metaparaconglomerado, onde podem ser observados vários fragmentos de rochas e minerais, como por exemplo: metachert (1), carbonato, com borda de quartzo microcristalino(2), quartzito (3), metacalcário, com foliação incipiente (4).

As demais ocorrências de metagrauvacas são descritas na cor cinza esverdeada ou marrom

alaranjada quando alterada, apresenta granulação fina a média, com camadas centimétricas a

métricas marcadas pelas mudanças nas proporções de matriz e dos clastos, que são frequentes o

feldspato, quartzo, litofragmentos e micas (Figura 10A e B). Microscopicamente a rocha tem

textura inequigranular granolepidoblástica com cristaloclastos de quartzo, plagioclásio,

muscovita e líticos, envoltos por matriz fina a muito fina. Os cristaloclastos de plagioclásio têm

até 0,25 mm, são angulares, de albita e ortoclásio, alguns dos grãos parcialmente alterados para

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sericita, epidoto e carbonato. O quartzo ocorre em menor proporção que o feldspato, varia na

forma, predominando subédricos a anédricos, com baixo arredondamento, onde os grãos

apresentam extinção ondulante e às vezes recristalização. A muscovita detrítica ocorre em

palhetas euédricas a subédricas de até 0,2mm, orientadas segundo a foliação (Figura 10C e D).

Os minerais opacos são epidoto, turmalina e zircão como minerais acessórios. A matriz é

constituída por plagioclásio, quartzo, muscovita e clorita, e rara biotita. Estimativas visuais

permitem estabelecer a relação entre clastos e matriz seja da ordem de 70 para 30%.

Figura 10. Formação Antártico. A) Amostra de metagrauvaca feldspática, marcada por uma matriz fina a muito fina constituída por quartzo, feldspatos, clorita e muscovita, alem de clastos de feldspatos e rochas máficas. B) Amostra de metagrauvaca verde, com granulação fina a média. C) – D) Fotomicrografia de metagrauvaca fedspática, com textura granolepidoblástica com cristaloclastos de feldspato moderadamente selecionado e arredondado. Apresenta uma matriz fina composta por K-feldspato, quartzo, clorita, epidoto e muscovita orientada segundo a foliação principal da rocha. Foto obtida em polarizador paralelo em (C), e cruzado em (D).

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Formação Touro Branco

A Formação Touro Branco é definida por metarenitos e quartzitos que afloram

principalmente na porção centro-leste da área mapeada. Estas rochas sustentam relevo acidentado

formando cristas alongadas que permite, em fotos aéreas e imagens de satélites, o traçado da

unidade por dezenas de quilômetros. Estratigraficamente posiciona-se acima da associação

psamo-pelítica da Formação Antártico por contato gradacional, evidenciado pelo gradual

aumento na espessura das camadas arenosas em detrimento das pelíticas. Em locais menos

deformados destacam-se marcas onduladas simétricas (flaser), estratificações plano-paralelas e

cruzada de médio a grande porte e baixo ângulo, acamamentos tabulares a sigmóidais,

evsuperfícies de reativação (Figuras 11A, B e C).

O principal litotipo dessa unidade é o metarenito branco a cinza quando fresco, ou cinza

rosado quando alterado, fino a médio com bom grau de seleção dos grãos (Figura 11D). A

foliação é dada pela orientação da matriz metamórfica. Quartzito com distribuição restrita às

zonas de falha distinguiu-se do metarenito por não apresentar trama sedimentar preservada. Ao

microscópio o quartzo define uma textura poligonal com contatos retangulares.

A rocha constitui-se predominantemente por quartzo, em menor proporção o feldspato,

comumente o plagioclásio, e os fragmentos de rocha de quartzito, filito, metachert e

metajaspelitos (Figura 12D). A matriz é metamórfica, fina composta por quartzo, sericita e

moscovita. Microscopicamente o quartzo define a textura granular, que em função da intensidade

da deformação pode variar forma, desde arredondado a subangular com alta esfericidade e bom

grau de seleção com contatos pontuais (Figura 12A e B), até alongado, com evidências de

deformação interna expressa em extinção ondulante, lamelas de deformação, subgrãos, e sombras

de pressão e recristalização, principalmente nas bordas (Figura 12C).

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Figura 11. Formação Touro Branco. A) Afloramento de metarenito com estratificação plano-paralela. B) Camadas de

metarenito quartzoso com superfície de reativação. C) Afloramento de metarenito com estratificação cruzada médio

porte. D) Metarenito de base da formação; branco, médio, rico em fragmentos líticos ferríferos.

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Figura 12. Formação Touro Branco. Fotomicrografias dos metarenitos da Formação Touro Branco. A) e B) Quartzito de textura granular média, clastos de quartzo com trama sedimentar preservada com discreto bandamento (parte central da foto). C) Detalhe para o aspecto deformacional do quartzo, extinção ondulante, lamelas de deformação e sub-grãos restritos as bordas dos grãos. D) Ilustração de um fragmento de metachert na porção central da foto. Polarizador paralelo em A, e polarizador cruzado em B, C e D.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Evolução Sedimentar

O mapeamento geológico permitiu a individualização de três unidades lito-estratigráficas,

agrupadas em dois sistemas deposicionais, com esboço preliminar do paleoambiente. A

formulação detalhada do modelo ambiental foi dificultada pela escala do mapeamento e a

obliteração das características originais das rochas devido à deformação e metamorfismo do

Evento Brasiliano.

O Sistema inferior é composto por itabiritos e metacherts de comportamento estratiforme

da Formação Bacuri. O bandamento composicional se dá pela precipitação do ferro e da sílica na

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granulação fina a muito fina, e no metajaspelito de topo verifica-se contribuição detrítica

confirmada nos grãos de quartzo e mica, possivelmente metassiltitos e metarenitos com cimento

ferro-silicatado. O metachert oolítico é considerado como pseudofóssil, onde os oólitos teriam

como produto aloquímico restos de atividade orgânica, sendo bioacumulados derivados da morte

de organismos que depositam suas “conchas” lentamente no chão da bacia, junto à silíca que o

consolida. Outras feições como deformações localizadas tais como, microfalhas, dobras e

brechas, feições indicativas de existência de tectônica ativa sin-deposicional.

Segundo Tucker (1991) a deposição de cherts pode ocorrer de maneira inorgânica ou

orgânica. Quando depositada de maneira inorgânica originam-se da precipitação de sílica coloidal

em ambientes de fundo do mar. Nesta situação os cherts estão associados a emanações

vulcânicas, junto á pelitos de águas profundas. Outra forma de ocorrência independe de eventos

vulcânicos, onde a deposição é a partir da acumulação dos restos da sílica presente nas carapaças

de diatomáceas, radiolárias ou em espículas de espongiários, estando associados a calcários

pelágicos, sedimentos siliciclásticos e carbonáticos turbidíticos. Já as hipóteses de origem para as

formações ferríferas bandadas podem acontecer como resultado do oxigênio liberado na

fotossíntese pelas cianobactérias combinado com o ferro dissolvido nos oceanos. Outras hipótese

está relacionada com glaciações, que é conseqüência do acúmulo de Fe dissolvido nos oceanos,

isolados da atmosfera por espessa camada de gelo que recobriu a Terra, que teria se dado após o

degelo, com a mistura de águas ricas em Fe dissolvido com águas oxigenadas, provavelmente por

meio de circulações oceânicas associadas a correntes ascendentes.

No caso de Nova Xavantina, interpretação sobre o ambiente deposicional revela que os

tipos puramente químicos teriam se formados em águas calmas e profundas afastadas da borda

continental, onde a taxa de fornecimento de sedimentos terrígenos é baixa nas porções distais da

bacia. Porém, as ocorrências de oóides, intraclastos e grãos detríticos, são elementos

sedimentológicos relacionados à ambiente marinho de águas agitadas, consequentemente mais

rasas com contribuição terrígena. As ocorrências de rochas vulcânicas em áreas adjacentes à

estudada podem explicar que as emanações vulcânicas fossem a fonte para as soluções coloidais

que originaram os cherts e as formações ferríferas. Assim, é possível que as rochas da Formação

Bacuri estejam relacionadas ao vulcanismo, da mesma forma que as rochas descritas na unidade

química da Sequência Metavulcanossedimentar Nova Xavantina (Pinho 1990; e Martinelli 1998).

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O limite superior com a Formação Antártico é de forma brusca entre metachert e filito, e

em outros locais parece ser transicional com metarenito feldspático a ferrífero, e metamarga. A

imaturidade do metachert no topo pode evidenciar uma relação gradual entre estas duas unidades

Se as observações de coexistência forem verídicas, durante parte da deposição química ocorria

deposição terrígena, e passagem entre as duas unidades seria transicional com superfícies

erosivas intrabacinal.

O Sistema Superior agrupa as formações Antártico e Touro Branco. A unidade basal é

marcada por rochas metapelíticas (filitos e metassiltitos) com intercalações de metarenitos

quartzosos a feldspáticos, metarcósios, metagrauvacas, mármores e metaparaconglomerados. A

diversidade de litotipos e estruturas sedimentares refletem deposição controlada por processos

mistos, provavelmente influenciados pelo relevo, clima, morfologia do substrato bacinal e

proximidade das áreas fonte.

Os metapelitos apresentam comumente laminação plano-paralelo e discreto acamamento

gradacional, partindo da fração areia fina para fração argila. A predominância de sedimentos

finos permite inferir deposição pelágica ou hemi-pelágica em ambiente marinho. Um aparente

espessamento das camadas em direção ao sul da área, junto à escassez de areias, possibilita inferir

que tenha sido as porções mais profundas desta bacia marinha. Na porção intermediária os pelitos

estão associados a mármores calcíticos laminados e metamargas dolomíticas de natureza clasto-

química. Isto permite considerar que a bacia apresentava condições físico-químicas propícias a

precipitação de carbonato. Sendo os principais agentes, a profundidade e a temperatura da água.

Na parte superior da Formação Antártico as rochas pelíticas apresentam estratificações

lenticulares, onduladas e cruzadas, que evidenciam zona deposição influenciada por fluxos

superficiais sujeitos a flutuações periódicas do nível da água. Esta flutuação favoreceu a

alternância da energia da corrente e/ou fluxo. Já as marcas de ressecamento são atribuídas à

exposição ou subexposição da camada a atmosfera pela variação no nível da água, provavelmente

por ação de correntes de ondas e marés.

As rochas arenosas e conglomeráticas da Formação Antártico estão distribuídas ao longo

de todo o perfil. Predomina metarenito feldspático, e de modo mais restrito ocorrem

metagrauvacas, metarcósios e metaparaconglomerado, que comumente são imaturos com

fragmentos de fontes variadas predominando quartzo, com feldspato e fragmentos de rocha

(mármores, filitos, metabasaltos, metandesitos, dentre outros) em menor quantidade.

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Estruturalmente mostram geometria que varia de tabulares a sigmóidais, com acamamento

gradacional, originados por fluxos calmos, oscilatórios a turbulentos, evidenciado na passagem

gradual de metaparaconglomerados e metarenitos para metasiltitos ou filitos no topo.

Interpreta-se que as areias interstratificadas aos pelitos teriam se formado por fluxos de

detritos de maior densidade, fato este que revela período de intensa atividade sedimentar,

originada por correntes de massa gravitacional e/ou turbidítica. As lentes e/ou cunhas de

metaparaconglomerados e metagrauvacas teriam se formado a partir de massas com fluxos de alta

densidade (debris flows), atingindo porções distais da planície marinha. Nas porções proximais os

metarenitos e metassiltitos teriam sido mais retrabalhadados pelos agentes de ondas e marés,

revelado principalmente nas estruturas graduais com as metagrauvacas. A diminuição da lamina

com a diminuição da fração pode indicar fluxos oscilatórios e turbulentos, e até combinado de

deposição e retrabalhamento.

A origem das estratificações do tipo linsens, waves e ripples em rochas imaturas, pode ser

explicada por retrabalhamento rápido de sedimentos descarregados na bacia então rasa, o que

traduz um ambinte com porções elevadas próximo ao sítio de deposição, com fluxos de detritos

(grain flow) que teria progradado mar através de pequenos deltas.

Quanto à composição destas rochas, a presença de feldspato, que em alguns casos é mais

abundante que o quartzo, de fragmentos de rochas vulcânicas, mármores e filitos, permitem

afirmar que a área fonte dessas rochas era próxima, o suficiente para não alterar. Esta constatação

somada à presença de laminações convolutas, falhas e brechas intrabacinais sugerem que a

formação desses fluxos se deu pelo menos em parte a ação de falhas, com deposição em ambiente

marinho sob a influência de soerguimento e colapso de blocos e devido à ação de falhas que

expôs a base, constituída por rochas sedimentares químicas, vulcânicas e vulcanoclásticas, por

tectônica ativa na área fonte.

Para explicar a imaturidade composicional e o rápido soterramento destas rochas, há a

hipótese da origem associada a vulcanismo. Erupções vulcânicas são eventos que propiciam

rápida fragmentação, transporte e deposição, com interação entre os fragmentos vulcânicos e das

rochas encaixantes. Já a tectônica atua na geração de altos e baixos estruturais (horsts e grábens),

que elevam as rochas da bacia expondo-as criando fonte dos sedimentos, que podem ter origem

intra-bacinal com corpos vulcânicos associados aos altos topográficos. Já nas porções rebaixadas

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são canalizados estes detritos, com canalização de detritos para as áreas rebaixadas, propiciando

um rápido transporte e soterramento dos fragmentos, sendo assim uma deposição epiclástica.

O topo da sucessão superior é marcado pelas rochas psamíticas da Formação Touro

Branco, e associadas a essas rochas são observadas marcas onduladas simétricas, estratificações

cruzadas de baixo ângulo e médio porte, além de acamamentos tabulares a sigmoidais, com

superfícies de reativação, mostrando no topo de cada ciclo finas camadas de pelitos quartzosos,

que são provenientes da decantação do material em suspensão durante a paralisação da corrente

que depois foram sobrepostas por novas camadas de fluxos erosivos. Com base nestas

observações interpreta-se que as rochas da Formação Touro Branco foram depositadas em

plataforma marinha rasa, em fácies litorânea sob a influência de ondas e secundariamente de

marés.

O sistema deposicional da sucessão Superior está ligado a interação de ambientes, sendo

predominantemente marinho com presença de fluxos gravitacionais turbidíticos, plataforma ou

planície carbonática distal a rasa com ações de ondas e marés, até um ambiente do tipo litorâneo.

A sedimentação influenciada por falhamentos, pequenos deltas e até vulcanismo (interação de

processos e ambientes).

(i) Fácies distal > deposição pelágica com fluxos detrítico, movimentação de massas

de alta densidade (debris flow)- leques ou canhões submarinos (acumulações nas zonas de

desembocaduras em áreas de sopés de taludes continentais).

(ii) Fácies plataforma intermediária> ritmitos de metassiltitos, metarenitos e

mármores, com estratificações gradacionais, laminações planares a cruzadas

(iii) Fácies plataforma proximal> metapelitos e metarenitos grauvaqueanos, estruturas

centimétricas a milimétrica originadas pela erosão de rochas previamente expostas, que logo

foram retrabalhadas e neutralizadas pela ação de ondas e marés (gradativa, ripple, wavess e

lisens).

(iv) Fácies sub-litorânea> litotipos arenosos da Formação Touro Branco, com marcas

de onda (waves) e reativação denunciam a migração lateral dos corpos arenosos, evidências de

atuação de processos de retrabalhamentos por ondas e provavelmente marés à localização

costeira, face de praia inferior.

CONCLUSÕES

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O mapeamento geológico realizado na região de Nova Xavantina que teve como foco as

rochas metassedimentares do Domínio Interno da Faixa Paraguai, permitiu a subdivisão em três

unidades lito-estratigráficas. O empilhamento foi dificultado pela deformação das rochas que se

apresentam metamorfisadas e dobradas. Mesmo assim, as observações e as relações entre

estruturas permitiram o esclarecimento da disposição original das sucessões.

As unidades lito-estratigráficas definidas em Nova Xavantina são definidas por

metassedimentos siliciclásticos e secundariamente químicos e clato-químicos. Na base da

sucessão está a Formação Bacuri de natureza química com formações ferríferas bandadas e

metachert. Na porção intermediária, a Formação Antártico, de natureza clástica, com metapelitos

e metarenitos com tendência imatura com ocorrências restritas de metamargas e mármores. No

topo, representado por metarenitos quartzosos e quartzitos, está a Formação Touro Branco. O tipo

de relação entre estas unidades permitiu a interpretação sobre a reconstrução do paleoambiente

que geraram as rochas. O modelo preliminar definido consiste de um sistema deposicional

marinho transicional com limites distais a proximais.

A evolução sedimentar das rochas estudadas a sudoeste de Nova Xavantina se iniciou

com a deposição de sedimentos químicos da Formação Bacuri (sucessão inferior) em ambiente do

tipo marinho profundo e/ou plataforma distal rico em ferro e sílica. A deposição das rochas

ferríferas revela que os litotipos puramente químicos teriam se formados em águas calmas e

profundas afastadas ou restritas da planície abissal, ou nas porções distais da plataforma

continental, onde a taxa de fornecimento de sedimentos terrígenos é baixa. Porém, as ocorrências

de oóides, intraclastos e grãos detríticos nas rochas de topo são elementos sedimentológicos

relacionados ao ambiente marinho de águas não tão calmas, consequentemente mais raso,

indicando instabilidade durante a deposição de parte dos pacotes.

A sucessão superior possui duas unidades lito-estratigráficas, as formações Antártico e

Touro Branco, agrupadas assim no mesmo sistema deposicional. A Formação Antártico é

predominante com extensa distribuição espacial arranjada em três ciclos de litofácies

heterolíticas. A principal gradação dos ciclos é a granulação decrescente para o topo, e a origem

das estruturas sedimentares compreende por fluxos calmos, oscilatórios a turbulentos, o que

imprimiu um caráter misto para a distribuição e processos sedimentares, evidenciando uma zona

deposicional influenciada por fluxos superficiais sujeitos a flutuações periódicas do nível estático

do mar (marés e ondas). A Formação Touro Branco com seus metarenitos quartzosos têm menor

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expressão entre as unidades mapeadas e também mostra padrão de granodecrescência entre areias

e pelitos, secundariamente. As camadas com estruturas cruzadas, plano paralelas, flaser, e marca

de reativação, denuncia registro de acumulações de areias intensamente retrabalhadas por ondas,

considerado um registro deposicional originado principalmente por retrabalhamento de

sedimentos pré-existentes na bacia em uma porção proximal à margem continental,

provavelmente, a primeira evidência para identificação de um ambiente sub-litorâneo.

Admiti-se contato transicional em ambiente marinho entre as formações Antártico e

Touro Branco, sendo possível inferir sub-ambientes de interação, acreditando que na porção mais

proximal estejam frentes progradantes da plataforma, influênciada por ações de fluxos de marés e

ondas, interligadas às porções distais onde a deposição pelágica e hemi-pelágica prediminam.

Este sistema deposicional possivelmente tem natureza em trato transgressivo retrogradante nas

porções distais, e nas porções proximais, fase de progradação da plataforma continental,

afirmação confirmada pela frequente presença de camadas de lentes e sigmóides de metarenito.

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CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As unidades lito-estratigráficas definidas em Nova Xavantina são definidas por metassedimentos

siliciclásticos e secundariamente químicos e clato-químicos. Na base da sucessão está a Formação Bacuri

de natureza química com formações ferríferas bandadas e metachert. Na porção intermediária, a Formação

Antártico, de natureza clástica, com metapelitos e metarenitos com tendência imatura com ocorrências

restritas de metamargas e mármores. No topo, representado por metarenitos quartzosos e quartzitos, está a

Formação Touro Branco. O tipo de relação entre estas unidades permitiu a interpretação sobre a

reconstrução do paleoambiente que geraram as rochas. O modelo preliminar definido consiste de um

sistema deposicional marinho transicional com limites distais a proximais.

A evolução sedimentar das rochas situadas a sudoeste de Nova Xavantina se iniciou com a

deposição de sedimentos químicos da Formação Bacuri, em ambiente do tipo marinho profundo e/ou

plataforma distal rico em ferro e sílica. Em seguida, a Formação Antártico, com seu registro de rochas

metapelíticas e metareníticas depositadas nas porções distais à plataforma evidencia sedimentação

controlada por fluxos de turbidez em bacia marinha, que se transiciona em direção à margem nos

depósitos areno-pelíticos provavelmente pela elevação do nível do mar. Uma fase regressiva do sistema

está evidente de maneira progradacional sobre a plataforma, com agentes de ondas e marés gerando lentes

e sigmóides de metarenitos, também feições de retrabalhamento, que para o topo e lateralmente evolui

para quartzitos com maturidade e maior grau de seleção para os grãos de quartzo (Formação Touro

Branco).

A proposta de individualização e apadrinhamento das unidades litoestratigráfica em Nova

Xavantina procedeu de maneira informal por se tratar de uma pesquisa pioneira, onde à medida que se

avançou nos critérios de separação surgiu a necessidade de nomeá-las em formações, com intuito de

melhor situar as ocorrências no mapa e melhorar o entendimento e interpretação dos processos e

ambientes deposicionais. É provável que os nomes sugeridos não permaneçam nos futuros trabalhos da

geologia do leste da Faixa Paraguai, porém pretende-se redefini-las futuramente com base nas descrições

definidas das regiões bem estudadas.

A priori, as possíveis correlações litológicas e estratigráficas dentro do domínio interno da Faixa

Paraguai ainda são dificultadas pela carência de dados com descrições detalhadas, onde o arcabouço

estratigráfico é geralmente descrito em escala regional. Alvarenga & Trompette (1992) sobre a

sedimentação da Faixa Paraguai, definem uma margem passiva com influência glacial ao lado de uma

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bacia marinha relativamente profunda, com aporte e sedimentação vindos do continente através de leques

submarinos alongados de noroeste para sudeste, formando os depósitos do tipo fluxos gravitacionais.

Em Nova Xavantina, a deposição das rochas ferríferas revela que os litotipos puramente químicos

teriam se formados em águas calmas e profundas afastadas ou restritas da planície abissal, ou nas porções

distais da plataforma continental, onde a taxa de fornecimento de sedimentos terrígenos é baixa. Porém, as

ocorrências de oóides, intraclastos e grãos detríticos nas rochas de topo são elementos sedimentológicos

relacionados ao ambiente marinho de águas não tão calmas, consequentemente mais raso, indicando

instabilidade durante a deposição de parte dos pacotes. As rochas ferríferas bandadas (BIFs) da Faixa

Paraguai são registros geológicos de grandes discussões, principalmente na caracterização

cronoestratigráfica e paleoambiental em eventos no Neoproterozoico. Na Sequência Meta-

vulcanossedimentar Nova Xavantina também são descritas rochas ferríferas metamorfisadas constituída

por formações ferríferas bandadas, metachert ferruginosos, filitos carbonosos e metachert quartzoso no

topo. Assim, é natural que as rochas da Formação Bacuri estejam relacionadas em parte com a unidade

química da Sequência Metavulcanossedimentar Nova Xavantina (Pinho 1990; Martinelli 1998).

Na Formação Antártico são reconhecidas rochas areno-pelíticas de ciclos granodecrescentes

sujeitos a fluxos de detritos de densidade relativa, típicas de áreas localizadas em sopés da plataforma

continental, nas porções mais distais do mar, o que remete uma origem hemi-pelágica. Luz et al. (1980)

explica que a deposição do Grupo Cuiabá se deu em ambiente marinho com instabilidade tectônica, com

correntes de turbidez e consequentes fluxos de lamas com intercalações de rochas carbonáticas, o que

representaria períodos de calma tectônica. Em direção ao continente, metapelitos associados à presença de

mármores e margas é uma relação típica das associações de topo do Grupo Cuiabá, nos depósitos de

plataforma marinha, sendo a fácies Guia o registro no interior da faixa, interpretada como fácies basal da

sequência carbonática da Faixa Paraguai já relacionada Grupo Araras.

Em respeito às correlações das associações de topo da Formação Antártico e das areias da

Formação Touro Branco, depositadas em ambiente marinho raso influenciado por ondas e marés, não há

registro de descrições precisas destas ocorrências no Grupo Cuiabá, porém, este intervalo pode estar

relacionado às associações depositadas no domínio externo da Faixa Paraguai, em relação com o

continente cratônico, o que em Nova Xavantina já teriam sido envolvidas na deformação brasiliana mais

intensa (faixa interna).

Em outras discussões, acredita-se que o Grupo Cuiabá, em sua região exposta, e mais afastada do

antepaís apresenta manifestações vulcânicas associadas a seus metassedimentos. A relação com a

Seqüência Metavulcanossedimentar Nova Xavantina é pouco esclarecida. Pinho (1990) a posiciona abaixo

do Grupo Cuiabá, e discute a ideia de origem em modelo do tipo back-arc. Silva (2007) relata um

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magmatismo de assinatura geoquímica bimodal, com grupo de basaltos do tipo T-MORB representando

uma crosta oceânica com manto enriquecido, e outro grupo do tipo OIB constituído de álcalis basaltos

toleíticos formados em ambiente extensional, provocado pelo soerguimento de uma pluma mantélica.

Sobre as sugestões de pesquisa para região, afirma-se que o refinamento deste mapeamento, em

interação com dados geológicos de áreas adjacentes existentes, da Sequência Meta-vulcanossedimentar

Nova Xavantina, e novos dados que vêm sido obtidos na disciplina de Geologia de Campo, TCC’s pela

Universidade Federal de Mato Grosso, contribuirá com o avanço do conhecimento da porção leste da

Faixa Paraguai, tão carente de informações. Estudos envolvendo a tectônica e proveniência dos

metassedimentos, indícios sobre os tipos de ambiente e a tectônica que perdurou durante a edificação da

Faixa Paraguai, permitirão o conhecimento sobre a evolução e interação dos terrenos neoproterozóicos

durante o evento Brasiliano na Província Tocantins, favorecendo a apresentação de novos cenários e

hipóteses sobre a evolução do Oeste do Gondwana.

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