ministÉrio pÚblico do estado do paranÁ · desempenho de suas atribuições; viii – organizar...
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES
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1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª
SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO
IGUAÇU-PR.
“O POVO NÃO DEVE TERMER SEU ESTADO. O ESTADO DEVE TEMER SEU POVO” (Filme V de Vingança - no original, V for Vendetta - 2006, dirigido por James McTeigue e produzido por Joel Silver e pelos irmãos Wachowski - Warner Bros).
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas
atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição
Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º,
da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
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2 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
em face a:
JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, brasileiro, casado, Vereador, portador da
Cédula de Identidade R.G. nº 4.022.607-9 (SSPPR), devidamente inscrito no
CPF/MF nº 525.234.709-34, natural de Terra Roxa-Pr, nascido aos 12.01.1965,
filho de Aparecido Neves da Silva e de Ana Pintz da Silva, residente na Rua
Santos Dumont, nº 883, Edifício Residencial San Ignácio, Centro, apartamento
nº 103, domiciliado na Câmara Municipal sito na Travessa Oscar Muxfeldt, nº
81, nesta Cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
MARCOS DA SILVA, brasileiro, divorciado, advogado (OAB/Pr nº 49.370) e
assessor parlamentar1, natural de Boa Vista da Aparecidinha-Pr, nascido aos
18.07.1975, filho de Luiz Patrício da Silva e de Ivonete Fortunato da Silva,
portador da Cédula de Identidade R.G. nº 55832218 (SSPPR), e CPF/MF nº
023.652.139-01, residente na Rua Itajaí, nº 439, Jardim Petrópolis, nesta cidade e
Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
GERSON GUSTAVO, brasileiro, casado, comerciário e assessor parlamentar2,
natural de Primeiro de Maio-Pr, nascido aos 21.09.1964, filho de José Gustavo
Filho e de Maria Francisca Gustavo, portador da Cédula de Identidade R.G. nº
3.983.071-0 (SSPPR), e CPF/MF nº 546.599.739-72, residente na Rua Paraná, nº
13, Jardim Itaipu, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr; e
1 Vide Portaria nº 43/2013. 2 Vide Portaria nº 05/2013.
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3 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
JAILSON SOARES DA SILVA, brasileiro, casado, assessor parlamentar3,
natural de Salvador-Ba, nascido aos 12.04.1964, filho de Wilson Carvalho da
Silva e de Guilhermina Soares da Silva, portador da Cédula de Identidade R.G.
nº 8.142.631-7 (SSPPR) e CPF/MF nº 240.114.795-00, residente na Avenida
Felipe Wanscheer, nº 1.773, Jardim Naipi, nesta cidade e Comarca de Foz do
Iguaçu-Pr,
pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:
1. DOS FATOS:
A 6ª Promotoria de Justiça local instaurou o
Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 visando apurar suposto
descumprimento aos princípios da moralidade e proporcionalidade pela Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu, uma vez que havia 75 (setenta e cinco) servidores
comissionados e apenas 32 (trinta e dois) concursados, caracterizando, assim,
prática de ato de improbidade administrativa.
Com isso, o Ministério Público propôs, em
fevereiro de 2012, a ação buscando obrigação de fazer, com pedido liminar, para
que a Câmara Municipal exonerasse tantos ocupantes de cargos comissionados
quanto bastassem para atender ao princípio da proporcionalidade e moralidade
administrativa, a fim de que o número de tais servidores não fosse superior ao de
providos por concurso público e também para se abstivessem de manter
funcionários nomeados em quantidade superior ao de efetivos.
3 Vide Portaria nº 32/2009.
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4 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Deste feito foram extraídas cópias integrais e
instaurados outros 16 (dezesseis) Inquéritos Civis Públicos (um para cada
vereador e outro para os servidores da direção da casa de leis), tudo com o
escopo de apurar a sobredita improbidade (possível excesso de cargos
comissionados na Câmara Municipal), bem como suposto desvio de função e/ou
servidores comissionados irregulares.
Com efeito, conforme declarações prestadas no
presente Inquérito Civil Público, verificou-se que MARCOS DA SILVA,
GERSON GUSTAVO e JAILSON SOARES DA SILVA foram nomeados
para exercerem os cargos de assessores parlamentares do gabinete do vereador e
atual presidente da Câmara de Vereadores JOSÉ CARLOS NEVES DA
SILVA, durante o seu mandato compreendido entre os anos de 2009 a 2012
(nomeações constantes no CD de fls. 36).
Da análise dos autos, em especial do teor das
oitivas (fls. 06/08), infere-se haver manifesto desvio de função por parte dos três
assessores parlamentares (MARCOS DA SILVA, GERSON GUSTAVO e
JAILSON SOARES DA SILVA) vinculados ao vereador JOSÉ CARLOS
NEVES DA SILVA vez que não exerciam as atividades inerentes ao cargo a
que foram contratados.
A Resolução Legislativa nº 015, de
17/06/2003, que “dispõe sobre a organização administrativa da Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu”, em seu artigo 9º, prevê que:
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5 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
“Art. 9º. São atribuições do Assessor
Parlamentar:
I – prestar serviços ao vereador, em
atividades externas;
II – atender e prestar esclarecimentos a
pessoas que demandem ao gabinete;
III – agendar compromissos do titular do
gabinete;
IV – elaborar e expedir as
correspondências do gabinete;
V – manter arquivo das correspondências
recebidas e expedidas pelo gabinete e de
outros documentos de interesse deste;
VI - efetuar o controle das pautas de
sessões e de proposições legislativas de
interesse do gabinete;
VII - assistir o titular do gabinete no
desempenho de suas atribuições;
VIII – organizar as reuniões promovidas
pelo gabinete, providenciando a pauta e os
convites aos participantes;
IX – executar outras tarefas determinadas
pelo titular do gabinete, inerentes as
atribuições deste”.
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6 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Em sede de depoimento (arquivo de áudio e
vídeo em CD-ROM anexo), MARCOS DA SILVA declarou que foi4 assessor
jurídico do Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA no período
compreendido entre novembro de 2010 e dezembro de 2011. Informou, como
sendo suas funções: a) a correção dos projetos de lei elaborados; e b)
atendimento à população (fls. 06), bem assim que comparecia à Câmara de
Vereadores de (02) duas a (03) três vezes por semana, lá permanecendo das
8hs40min/9hs00min às 11hs30min. No período vespertino, realizava os serviços
particulares de advocacia, atuando na área trabalhista.
Indagado acerca de eventual propositura de
ação, na condição de patrono daqueles que compareciam à Câmara Municipal
em busca de atendimento/auxílio, respondeu afirmativamente, desde que não
litigiosas. Todavia, após mais alguns segundos de conversação, revelou: “as
ações que eu entrava só se fosse em relação a trabalho/acidente de trabalho (...)
tudo através do vereador”.
Por sua vez, GERSON GUSTAVO afirmou
que, nomeado assessor parlamentar no ano de 2010, trabalhou5 para o Vereador
JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, mas, atualmente, encontra-se afastado
por motivos de saúde. Indagado acerca do recebimento do salário alusivo à
assessoria, explicou que percebia R$ 4.349,00 (quatro mil trezentos e quarenta e 4 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em março de 2010 (Portaria nº 17/2010); Exonerado em março de 2010 (Portaria nº 23/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 199/2010); Exonerado em janeiro de 2012 (Portaria nº 04/2012); Nomeado em janeiro de 2013 (Portaria nº 43/2013). 5 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em março de 2010 (Portaria nº 19/2010); Exonerado em fevereiro de 2012 (Portaria nº 21/2012); Nomeado em janeiro de 2013 (Portaria nº 05/2013).
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7 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
nove reais). No que tange ao afastamento, asseverou: “a Câmara só paga os 15
primeiros dias, depois é com o INSS”. No decorrer da conversação, informou
que o acidente não ocorreu em razão do exercício de seu trabalho.
Revelou que anteriormente à nomeação para o
cargo, tinha amizade com o Vereador, decorrente de “trabalho que
desenvolvemos juntos, aí conseguimos elegê-lo”.
Assim, após a nomeação, passou a realizar
serviços externos para o vereador, atendendo aos pedidos da comunidade, tais
como “quebra-mola, segurança na vila, colégios, creches (...) essas coisas que a
comunidade precisa” (????). Na Câmara, comparecia em média 02 (duas) vezes
por semana (“eu ia lá às vezes”), e dos demais assessores do Vereador, conhecia
apenas Jailson e Jair.
JAILSON SOARES DA SILVA também
confirma a assessoria6 ao Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA.
Segundo ele, a função exercida era a de atendimento à população que procurava
o vereador, e visitas aos bairros da cidade, sem contar o auxílio ao vereador
durante as sessões. Informou que ia à Câmara quase todos os dias.
A atuação como assessor consistia, portanto,
na indicação ao vereador dos problemas da população, as reinvindicações
populares de que tinha conhecimento através das visitas que realizava em
bairros. A título de exemplo, contou acerca de uma visita ao Jardim Califórnia,
6 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria nº 32/2009).
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8 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
quando “um cidadão que é aluno da APAE, deficiente, me pediu para eu falar
com o vereador a respeito de uma faixa de pedestre ali próximo da APAE”. Aí
eu anotei, fiz o requerimento, pedi para o Vereador assinar... É o papel do
assessor”.
JAILSON, com insólita convicção de que sua
atuação parlamentar é permeada pela bondade e generosidade, passa a
contradizer-se: todos os dias está na Câmara, mas atende os populares em suas
residências. Aos populares é dado o atendimento raro, haja vista que as reuniões
não precisam ser agendadas por telefone: o assessor desloca-se à residência do
cidadão iguaçuense para marcá-la. No que diz respeito ao número de assessores
que atuam com o Vereador, à fata de mesas para todos os assessores trabalharem
no gabinete, engenhosa solução: cadeiras são 06 (seis), dividem-se as mesas.
Quanto ao controle da frequência mensal,
informou que ocorria mensalmente – e não diariamente -.
Denota-se, assim, que conforme as
transcrições acima, os assessores parlamentares MARCOS DA SILVA,
GERSON GUSTAVO e JAILSON SOARES DA SILVA não
desempenhavam as funções a eles inerentes, e sim, faziam assistencialismo ao
Vereador, caracterizando uma evidente artimanha para promoção política.
As atividades empreendidas de “atendimento
à população”, tal qual denominaram, incluíam, como bem ressaltou JAILSON
SOARES DA SILVA em seu depoimento, o pedido de votos. Em verdade,
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portanto, não se trata de atendimento à população, mas atendimento a eleitores
em potencial.
Assim, revela-se a assessoria legislativa do
Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, nítido clientelismo, negocismo
junto à população que, alicerçando-se no mandato, visa à continuidade do
parlamentar no poder legislativo.
Ressalte-se, nesse átimo, que a função de
tapar os buracos nas ruas, de melhorar a iluminação pública, constatar a
necessidade de faixas de pedestres, entre outras necessidades básicas da
comunidade em geral, não é típica do Poder Legislativo, mas sim do Executivo.
Sendo o Prefeito a figura máxima do
Executivo no âmbito municipal, deve atender os anseios da população, reunindo-
se constantemente com a sociedade a fim de aferir as reivindicações coletivas,
encontrando as possibilidades para a satisfação das necessidades do município.
Já o Poder Legislativo é responsável pela
elaboração e aprovação das leis. Além disso, tem como dever a fiscalização do
orçamento público e da administração do Poder Executivo.
Destarte, resta caracterizado o desvio de
função, id est, tudo acontecia com finalidade eleitoreira por parte de quem detém
o poder, ou seja, do Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA.
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10 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
O desvio de função é o desempenho pelo
funcionário público de serviços não inerentes ao cargo por ele ocupado.
Há dúvida, inclusive, se tais atividades foram
efetivamente prestadas pelas assessoras parlamentares, tendo em vista a falta de
informações, frequência e comprovação de eficiência em seu labor, já que suas
oitivas são confusas e vagas. Ademais, o labor seria realizado junto à residências
e bairros, o que, por certo, não é usual e causa estranheza.
Assim, é imperioso ressaltar que o trabalho
externo a ser desenvolvido por um assessor é mais do que fazer indicações nas
adjacências ou proximidades de sua residência, devendo auxiliar o Vereador no
exercício das funções típicas do Poder Legislativo.
Se assim fosse permitido, necessária a
autorização para contratação de 290 assessores nesta Comarca: um para cada
bairro do Município em tela.
Observa-se que as funções de assessor
parlamentar são por eles desempenhadas como cargos em comissão, de livre
nomeação e exoneração.
Há farta prova de que o então Vereador,
desvirtuando a função pública dos cargos em comissão postos a sua disposição,
atribuiu aos seus ocupantes o exercício de atividades de natureza privada e em
proveito próprio, o que caracteriza, da mesma forma, ato ímprobo previsto no
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11 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
artigo 9º, caput, e inciso IV, artigo 10, caput, e incisos I e XII, bem como artigo
11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.
Dos relatos acima descritos, frutos das
diligências realizadas nesta investigação ministerial que, embasadora da presente
ação, esteve pautada e atenta aos princípios da ampla defesa e contraditório,
infere-se a caracterização da conduta ímproba, consistente na atuação dos
assessores parlamentares em desconformidade com os princípios orientadores da
administração pública, mormente no que tange à honestidade, já que,
aproveitando-se do cargo e, em tese, a serviço da administração, agiram em
proveito exclusivo daquele que assessoravam.
O desvio de finalidade, compactuado por
aquele democraticamente eleito para representar os cidadãos iguaçuenses, revela
a engenhosa prática dos parlamentares que, perversamente, utilizam-se do cargo
político como ponte para a promoção pessoal e realização de interesses
puramente particulares.
E o desvio de finalidade do cargo de confiança,
por conseguinte, revela o desvirtuamento do erário destinado a este fim. O dano
à arca pública, portanto, verifica-se também configurado, como resultado da
improbidade – ou imoralidade administrativa qualificada -.
Se é legítima a existência dos cargos
comissionados, destinados ao assessoramento do vereador JOSÉ CARLOS
NEVES DA SILVA, o mesmo não se pode afirmar com relação à legalidade da
atuação prática dos mencionados assessores, já que finalisticamente desvirtuada.
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12 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
2. DOS FUNDAMENTOS:
2.1. DO DESVIO DE FINALIDADE:
A Carta Magna estabelece que os cargos em
comissão devem ser compatíveis com funções de confiança política para as quais
foram idealizadas. Infere-se desta assertiva que quando desprovidos destas
características configurar-se-á desvio de finalidade. Esta é a situação existente na
Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.
Leciona Celso Antônio Bandeira de Mello que
o desvio de poder se verifica:
“Quando o agente se serve de um ato para
satisfazer finalidade alheia à natureza do
ato utilizado. Há, em consequência, um
mau uso da competência que o agente
possui para praticar atos administrativos,
traduzida na busca de uma finalidade que
simplesmente não pode ser buscada ou,
quando possa, não pode sê-lo através do ato
utilizado7”.
7 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 1992. p. 126-127.
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13 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
A autoridade que pratica uma conduta com
finalidade diversa está praticando ato de improbidade administrativa, vez que o
desvio de finalidade nada mais é do que simulação, tentativa de mascarar a real
intenção da autoridade pública.
Ademais, preleciona a renomada doutrinadora
Maria Sylvia Zanella di Pietro8:
“O desvio de poder ocorre quando a
autoridade usa do poder discricionário
para atingir fim diferente daquele que a lei
fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder
Judiciário autorizado a decretar a nulidade
do ato, já que a Administração fez uso
indevido da discricionariedade, ao desviar-
se dos fins de interesse público definidos na
lei”.
No presente caso, o Vereador JOSÉ CARLOS
NEVES DA SILVA se valeu de seus funcionários, remunerados pelo Órgão
Legislativo, utilizando-os em flagrante desvio de função, isto é, com fim diverso
daquele previsto no artigo 9º da Resolução Legislativa nº 15/2003, que dispõe
sobre a organização administrativa da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu,
incidindo, desta forma, no tipo previsto no artigo 11º, caput, e inciso I, da Lei de
Improbidade Administrativa, conforme se verá adiante.
8 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8. ed., São Paulo: Atlas, 1997. p. 211.
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14 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Neste diapasão, dispõe a doutrina9:
“(...) o desvio de poder é, por definição, um
limite à ação discricionária, um freio ao
transbordamento da competência legal
além de suas fronteiras, de modo a impedir
que a prática do ato administrativo,
calcada no poder de agir do agente, possa
dirigir-se à consecução de um fim de
interesse privado, ou mesmo de outro fim
público estranho à previsão legal”.
A utilização de assessores parlamentares para
exercerem funções como “levar pessoas para atendimento médico no SUS”,
“solicitar limpeza de terrenos” ou “reparos em asfaltos”, caracteriza,
indiscutivelmente, desvio de finalidade, à vista da ausência de adequação do fato
ao seu fim legal.
Acrescenta, ainda, a sobredita lição:
“O poder foi conferido ao administrador
público para realizar determinado fim, por
determinados motivos e por determinados 9 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios
constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: <http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html>. Acesso em 05/12/2012.
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15 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
meios, toda ação que se apartar dessa
conduta, contrariando o desejo da lei,
padece do vício de desvio de poder ou de
finalidade e, como todo ato abusivo ou
arbitrário, é ilegítimo.
(...)
O desvio de finalidade ou de poder é, assim,
a violação ideológica da lei, ou, por outras
palavras, a violação moral da lei,
colimando o administrador público fins não
requeridos pelo legislador, ou utilizando
motivos e meios imorais para a prática de
um ato administrativo aparentemente legal.
O ato praticado com desvio de finalidade –
como todo ato ilícito ou imoral – ou é
consumado às escondidas ou se apresenta
disfarçado sob o capuz da legalidade e do
interesse público. Diante disto, há que ser
surpreendido e identificado por indícios e
circunstâncias que revelem a distorção do
fim legal, substituído habilidosamente por
um fim ilegal ou imoral não desejado pelo
legislador”.
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Destaca-se que uma das formas previstas em lei
para punição do agente responsável por tais ilegalidades, objeto deste pedido, veio
regulamentada pela Lei nº 8.429/92, que complementou o artigo 37, § 4º, da
Constituição Federal, prevendo sanções de natureza não criminal para a prática de
atos de improbidade administrativa, divididos em três espécies, ou seja: os que
importam em enriquecimento ilícito (previstos no artigo 9º), os que causam lesão
ao erário (previstos no artigo 10) e os que atentam contra os princípios da
Administração Pública (previstos no artigo 11).
2.2. DOS ATOS QUE IMPORTEM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO:
Reza o artigo 9º, caput, e seu inciso IV e XI,
da Lei nº 8.429/92:
“Art. 9º: Constitui ato de improbidade
administrativa importando enriquecimento
ilícito auferir qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício
de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades mencionadas no
artigo 1º desta lei, e notadamente:
(...)
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17 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
IV - utilizar, em obra ou serviço particular,
veículos, máquinas, equipamentos ou
material de qualquer natureza, de
propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei,
bem como o trabalho de servidores públicos,
empregados ou terceiros contratados por
essas entidades;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu
patrimônio bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei;”
Verifica-se que MARCOS DA SILVA,
JAILSON SOARES e GERSON GUSTAVO foram nomeadas para os cargos
em comissão de assessoras parlamentares, junto ao Gabinete do Vereador JOSE
CARLOS NEVES DA SILVA, sem que nunca tivessem exercido as funções
relativas a esse cargo, sendo que os vencimentos foram utilizados em proveito
daqueles.
Com isso, os requeridos enriqueceram-se
ilicitamente, pois auferiram vantagem patrimonial indevida em razão do
mandato do Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA e dos cargos de
assessores parlamentares, consistente no desvio da remuneração paga pela
Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu-Pr para o (simulado) desempenho de
funções que deveriam ter sido realizadas pelos réus.
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18 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Ainda, ocorreu a incorporação ao patrimônio
dos requeridos, de valores integrantes do acervo patrimonial da Câmara
Municipal. É que, como exaustivamente se afirmou, MARCOS DA SILVA,
JAILSON SOARES e GERSON GUSTAVO nunca trabalharam efetivamente
para as funções nas quais foram nomeados. E, em tendo os réus se aproveitado
de tal situação, vieram a incorporar, ilicitamente, valores pertencentes à Casa de
Leis local.
Os assessores réus receberam sem ‘trabalhar’,
enriqueceram ilicitamente à custa do erário e do suor do contribuinte, com
remunerações muito superiores à da maioria da população brasileira, que não
conta com o denominado "padrinho" ou "pistolão".
Assim sendo, os requeridos nunca
desempenharam as atribuições inerentes aos cargos para os quais foram
nomeados, aceitando participar de uma fraude contra a Administração Pública
para atingir finalidades particulares, desrespeitando o artigo 15, da Lei nº
8.112/90, aplicado analogicamente, in verbis: "efetivo desempenho das
atribuições do cargo público ou da função de confiança".
Destarte, ao fazerem promoção política para o
Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, este também enriqueceu
ilicitamente, na medida em que deveria arcar com suas próprias despesas em
trabalhos políticos, e não utilizar os cargos públicos de assessores parlamentares
para esta função.
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19 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Trata-se de experiência corriqueira no Estado
brasileiro totalmente reprovável, tanto do ponto de vista da autoridade que
nomeia quanto da pessoa que aceita ser favorecido por tal ilicitude.
As condutas dos requeridos, logo, encontram
plena e perfeita caracterização nos termos do que dispõem o caput e os incisos
IV e XI do artigo 9º, da Lei de Improbidade Administrativa.
O enriquecimento ilícito dos réus ocasionou
notório prejuízo ao erário municipal, o qual desembolsou valores para o
pagamento de serviços inúteis, desempenhados pelos assessores do Gabinete do
Vereador réu, não obstante a Casa de Leis local suportar o pagamento desses
comissionados.
O enriquecimento ilícito e consequentemente o
prejuízo do Poder Legislativo local, segundo Informação de Auditoria de fls.
32/35, foi de R$ 562.692,81 (quinhentos e sessenta e dois mil, seiscentos e
noventa e dois reais e oitenta e um centavos): R$ 94.609,2710 – MARCOS DA
SILVA; R$ 151.103,0711 – GERSON GUSTAVO; e R$ 316.980,4712 –
JAILSON SOARES DA SILVA.
Como se não bastasse, a evidente e reprovável
conduta ilícita é destacada nos seguintes julgados:
10 Mar/2010 e Nov/2010 a Jan/2012. 11 Mar/2010 a Fev/2012. 12 Jan/2009 a Dez/2012.
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20 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
CÂMARA MUNICIPAL. DESIGNAÇÃO
SIMULADA DE SERVIDORES. CARGOS
EM COMISSÃO. FALTA DE
PRESTAÇÃO REGULAR DE SERVIÇOS.
É procedente o pedido de ressarcimento,
formulado em ação civil pública, diante da
demonstração de que servidores
municipais, ocupantes, na época, de cargo
comissionado, não exerceram regularmente
suas funções. Nega-se provimento ao
agravo retido, rejeita-se a preliminar e
nega-se provimento aos recursos de
apelação” (TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação
nº 1.0035.00.003341-1/004, Relator DES.
ALMEIDA MELO, j. 06.09.2007, DJ
21.09.2007).
“Constitucional/Administrativo Ação de
improbidade administrativa. Legitimação
ativa do Ministério Público e demais
condições acionárias presentes.
Cerceamento defensório inocorrente.
Empresa pública municipal - Contratação
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21 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
de servidora sem a realização de concurso
público ou processo seletivo - Ausência de
efetivo exercício das funções respectivas,
apesar de assinado o ponto - Recebimento
dos salários - Infringência ao art. 37,
“caput” e inciso II, da CF -
Responsabilização de todos os envolvidos -
Penalidades bem impostas, incluso o
ressarcimento do erário - Procedência
parcial ampliada para total - Provimento
ao recurso ministerial e desprovimento dos
demais” (TJSP, 13ª Câmara de Direito
Público, Apelação com revisão nº
8944185100, Rel. Des. Ivan Sartori, j.
24.06.2009, DJ 18.08.2009).
Em razão disso, MARCOS DA SILVA,
GERSON GUSTAVO, JAILSON SOARES DA SILVA e JOSÉ CARLOS
NEVES DA SILVA ficam sujeitos às sanções previstas no artigo 12, inciso I, da
referida Lei nº 8.429/92.
2.3. DOS ATOS CAUSADORES DE PREJUÍZO AO ERÁRIO:
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22 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
A Lei nº 8.429/92 disciplina a repressão aos
atos de improbidade administrativa praticados por agentes públicos que
importem em enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e/ou atentem contra os
princípios da administração pública, estabelecendo as sanções aplicáveis aos
seus autores, dentre elas, a de ressarcimento integral do dano.
O artigo 10º, caput, e incisos I e XII, do
aludido diploma legal prevê:
“Art. 10. Constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,
que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação
dos bens ou haveres das entidades referidas
no art. 1º desta Lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma
para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de
bens, rendas, verbas ou valores integrantes
do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta Lei;
(...)
XII – permitir, facilitar ou concorrer para
que terceiro se enriqueça ilicitamente”
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23 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Assim, pode-se dizer que, ao contratar
MARCOS DA SILVA, GERSON GUSTAVO e JAILSON SOARES DA
SILVA em flagrante ofensa a Lei de Improbidade Administrativa, bem como à
Carta Magna, o réu JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA facilitou a
incorporação de verba pública ao patrimônio destes, o que resultou num
enriquecimento ilícito, apesar da supracitada vedação legal.
Ora, se tais verbas legalmente não deveriam
ser suportadas pela Administração Pública, em razão das funções exercidas por
estes não serem as legalmente previstas (em flagrante desvio de finalidade), tais
gastos configuram dano ao erário, gerando ao Poder Público o direito de ser
ressarcido do que ilicitamente pagou.
Desta forma, o requerido JOSÉ CARLOS
NEVES DA SILVA deu causa a pagamentos de verbas indevidas a tais
contratados, id est, o que representa perda patrimonial para a Administração
Pública (prejuízo aos cofres públicos) em razão deste possuir 03 (três) assessores
parlamentares que exerciam diariamente funções de assistencialismo no
Município de Foz do Iguaçu, conforme declarações às fls. 06/08.
Destarte, não podem os contribuintes do
Município de Foz do Iguaçu arcar com este ônus, pois o povo não deve sustentar
as ilegalidades praticadas pelos seus governantes. Assim, como o requerido
JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA foi o responsável pelas contratações
ilegais e pelos pagamentos das sobreditas verbas, bem como pelo prejuízo ao
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24 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
patrimônio público do Município de Foz do Iguaçu, deve ele restituir o dano
causado ao erário.
Aliás, assim têm reconhecido a doutrina e a
jurisprudência:
"(...) o dinheiro público, exatamente por ser res
publica, há de ser gasto dentro da estrita
conformidade legal.
(...)
'Quem quer que utilize dinheiros públicos terá
de verificar seu bom e regular emprego, na
conformidade das leis, regulamentos e normas
emanadas das autoridades administrativas
competentes', ou seja: 'quem gastar, tem de
gastar de acordo com a lei'
Isso quer dizer: quem gastar em desacordo com
a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e perigos.
Pois impugnada a despesa, a quantia gasta
irregularmente terá de retornar ao Erário
Público.
Não caberá a invocação, assaz de vezes
realizada, de enriquecimento ilícito da
Administração.
(...)
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25 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Se são 'nulos', ou, melhor expressão, 'não
convalidáveis', são retirados do mundo jurídico,
retroagindo os efeitos do desfazimento ex tunc.
Evidentemente, efeitos padrônomicos ao ato, já
acontecidos, não são suscetíveis de eliminação.
Daí por que os terceiros de boa fé devem ser
indenizados. Entretanto, não bastará a
invalidação administrativa do ato, sem
recomposição do Erário, para se excluir a ação
popular.
(...)
Demais disso, há que se enfatizar que,
suprimido do mundo jurídico o ato maculado
de ilegalidade, a conseqüência será a reposição
ao erário.
(...)
Aquele que praticou os atos terá agido por sua
conta, riscos e perigos13" (grifou-se e se
destacou).
“Como corretamente anotou o Min. Mílton
Pereira, ‘a escusar-se a responsabilidade do
administrador público, pela salvaguarda de que
o empregado, em contraprestação, prestou
serviços, será construir um estranho indene de
impunidade em favor do agente político que 13 FERRAZ, Sérgio e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit. p. 93, 106-107.
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26 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
praticou ato manifestamente contra a lei - nexo
causal das obrigações da relação de trabalho
nascida de ato ilegal - criando-se inusitada
convalidação dos efeitos de ato nulo. Será
estimular o ímprobo a agir porque, a final,
aquela contraprestação o resguardará contra
ação de responsabilidade civil’.
(...)
Está em questão um princípio: fazendo tabula
rasa da Constituição e da lei, pode o
administrador contratar impunemente, sem
concurso, ou em período defeso..., e ficar tudo
por isso mesmo? Pode cometer tais ilegalidades
gritantes e mandar a conta para os cofres
públicos? Pode ser a execução da própria
ilegalidade o bill de indenidade que irá
beneficiar o administrador ímprobo? Isto é
absurdo.
Se o administrador pudesse assim estar
garantido, poderia contratar impunemente seus
apaniguados para ardorosamente labutarem
em sinecuras ou fazerem obras que terceiros
poderiam fazer melhor e mais barato para a
Fazenda14” (grifou-se e se destacou).
14 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. p. 161-162.
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27 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
É inquestionável que a contratação dos ditos
assessores para exercerem integralmente funções meramente assistenciais, em
desacordo com a legislação pertinente, importa em prejuízo ao erário, já que
qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido caracteriza
dano e redunda no dever de ressarcir.
E é aí que se inclui o dever por parte do
requerido JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA em recompor à Administração
quanto aos prejuízos por esta suportados, consoante artigos 37, § 4º, da
Constituição da República e 4º e 5º da Lei Federal nº 8.429/92.
2.4. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
A Constituição da República estabelece, em
seu artigo 37, que:
“A administração pública direta, indireta
ou fundacional, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:”
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28 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
São os princípios da legalidade, moralidade,
impessoalidade, publicidade e eficiência, portanto, as vigas mestras de
orientação e regulamentação da Atividade Administrativa em qualquer dos
Poderes da República.
Diógenes Gasparini, no que se refere ao
princípio da legalidade, leciona que:
“(...) a este princípio também se submete o
agente público. Com efeito, o agente da
Administração Pública está preso à lei e
qualquer desvio de suas imposições pode
nulificar o ato e tornar seu autor responsável
e, conforme o caso, disciplinar, civil e
criminalmente15”.
Inequívoco, destarte, que todo ato de agente
público deve ser realizado nos termos e limites da lei e da Constituição Federal,
pois ao administrador e à própria Administração somente é permitido fazer o que
a lei expressamente autorize.
De igual forma, o princípio da moralidade
administrativa também restou lesado.
15 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 6.
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29 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Ao tratar do tema, leciona a doutrina16:
“A moralidade administrativa é um
princípio informador da ação
administrativa, devendo se pautar na
consciência do administrador a vedação do
agir dissociado dos conceitos comuns,
ordinários, válidos, respeitando as
diferenças históricas do honesto e justo.
(...)
Tal princípio poderia ser identificado com
o da justiça, ao determinar que se trate a
outrem do mesmo modo que se apreciaria
ser tratado. O “outro”, aqui, é a sociedade
inteira, motivo pelo qual o princípio da
moralidade exige que, fundamentada e
racionalmente, os atos, contratos e
procedimentos administrativos venham a
ser contemplados à luz da orientação
decisiva e substancial, que prescreve o
dever de a Administração Pública
observar, com pronunciado rigor e a maior
objetividade possível, os referenciais
valorativos basilares vigentes, cumprindo, 16 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios
constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: ,http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html> Acesso em 05/12/2012.
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30 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
de maneira precípua até, proteger e
vivificar, exemplarmente, a lealdade e a
boa-fé para com a sociedade, bem como
travar o combate contra toda e qualquer
lesão moral provocada por ações públicas
destituídas de probidade e honradez”.
Ao agente público não basta agir
expressamente dentro da lei, exige-se que atue conforme a moralidade e
sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé. A contratação de (03)
três assessores para funções meramente assistenciais, é, inevitavelmente, ato não
apenas ilegal, mas ainda, absolutamente imoral.
O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho,
ao estabelecer no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são
obrigados a velar pela estrita observância destes princípios.
Destarte, todo administrador público tem,
necessariamente, que ter sua conduta pautada pelo respeito a estes princípios,
deles não podendo se desviar, sob pena de anulação do ato praticado e de
punição pela prática de improbidade administrativa, conforme previsto no artigo
11, da Lei nº 8.429/92, que estabelece:
“Dos atos de improbidade administrativa
que atentam contra princípios da
administração pública:
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31 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra qualquer
ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade e
lealdade às instituições, e notadamente:”
No caso em exame, o requerido JOSÉ
CARLOS NEVES DA SILVA, no exercício do cargo de Vereador da Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu, em razão de haver admitido e pago de forma
irregular diversas pessoas no serviço público, ofendendo de morte a Lei de
Improbidade Administrativa, atentou contra os princípios da legalidade e
moralidade.
Ora, se houve inobservância da Constituição e
das leis nas contratações, houve ilegalidade e, portanto, ofensa/atentado contra o
princípio e o dever de legalidade, pois, como preleciona o saudoso Hely Lopes
Meirelles17:
"A legalidade, como princípio de
administração (CF, art. 37, caput, significa
que o administrador público está, em toda sua
atividade funcional, sujeito aos mandamentos
da lei e às exigências do bem-comum, e deles
não se pode afastar ou desviar, sob pena de
praticar ato inválido e expor-se à 17 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.
82/83.
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32 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
responsabilidade disciplinar, civil e criminal,
conforme o caso.
A eficácia de toda atividade administrativa
está condicionada ao atendimento da lei.
Na Administração Pública não há liberdade
nem vontade pessoal. Enquanto na
administração particular é lícito fazer tudo
que a lei não proíbe, na Administração
Pública só é perimido fazer o que a lei
autoriza. A lei para o particular significa
‘pode fazer assim’; para o administrador
público significa ‘deve fazer assim’”.
Repise-se, JOSÉ CARLOS NEVES DA
SILVA não respeitou a Constituição e as leis, admitindo funcionários em flagrante
desvio de função, segundo seus critérios pessoais de escolha. Pior: praticaram atos
vedados pela Constituição e pela legislação ordinária, ao admitirem funcionários
públicos sem a observância da obrigatoriedade do respectivo concurso.
Portanto, ofendendo-se o princípio e o dever de
legalidade, fica caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa,
atentando contra os princípios da Administração Pública, previsto no artigo 11
da Lei nº 8.429/92.
2.5. DA EXIGÊNCIA DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO EXERCÍCIO
DE CARGO EM COMISSÃO
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33 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
Nesse instante, merece especial destaque a
condição que acompanha o exercício de cargo em comissão.
Preleciona o artigo 6º da Lei Complementar
Municipal nº 9718, de 26 de janeiro de 2005:
"Art. 6º O exercício de cargo em comissão
exigirá de seu ocupante integral dedicação"
Referida condição, ou exigência - como
elencou o legislador - impõe ao ocupante regime de integral dedicação ao cargo,
o que significa, em outras palavras, que não poderá desempenhar o ocupante
qualquer outra atividade além daquela prevista para o cargo exercido.
A atuação profissional do assessor MARCOS
DA SILVA que, como declarou, dedicava o período vespertino para o exercício
da advocacia, constitui vítrea incompatibilidade com o cumprimento das funções
do cargo comissionado, por força do sobredito imperativo legal.
Em idêntico diapasão, é a situação do assessor
GERSON GUSTAVO, que é comerciante (profissão habitual de iniciativa
privada que, pela sua própria natureza exige também a dedicação integral à
18 Disponível em: http://www.leismunicipais.com.br/a2/pr/f/foz-do-iguacu/lei-complementar/2005/9/97/ lei-complementar-n-97-2005-dispoe-sobre-os-cargos-de-provimento-em-comissao-e-sobre-a-atribuicao-de-gratificacao-de-funcao-nos-orgaos-da-adminis-tracao-superior-e-centralizada-do-municipio-de-foz-do-iguacu-e-da-outras-providencias-2005-01-26.html (acesso em 26.06.2013).
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34 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
atividade desempenhada no estabelecimento comercial, já que visa o sucesso
financeiro).
Não bastasse a obscuridade com relação às
funções desempenhadas junto ao Gabinete do Vereador JOSÉ CARLOS
NEVES DA SILVA, no caso dos assessores MARCOS DA SILVA e
GERSON GUSTAVO, o descumprimento do regime de trabalho de dedicação
exclusiva, por si só, configura o ato ímprobo, destoante dos princípios da
administração pública.
Cinge-se, ademais, à míngua de possível
referência à eventual (in)compatibilidade de horários: a proibição à realização de
outra atividade laboral é inquestionável, não havendo lacuna para a relativização
do adjetivo usado pelo legislador para expressar a intenção de que o ocupante do
cargo comissionado a ele deverá se dedicar totalmente, por inteiro.
Por oportuno, é necessário destacar que as
atividades profissionais empreendidas pelos assessores MARCOS DA SILVA e
GERSON GUSTAVO não se enquadram nas exceções à regra de
inacumulabilidade de cargos e funções previstas na Constituição.
Ressalte-se, ainda, que a vedação à
acumulação de cargos ou à exigência de dedicação integral a função ocupada
justifica-se pela própria natureza do papel exercido: diz respeito à administração
e aos interesses da sociedade a ela vinculados. A execução das tarefas atribuídas
ao assessor parlamentar, portanto, deve ser traçada com exímio emprego do
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tempo e esforço, e a execução simultânea de dois labores – sejam públicos ou
privados –, por óbvio, verifica-se prejudicial a este aspecto ideal.
3. DO PEDIDO:
Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:
a) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que,
querendo, apresentem manifestações nos termos do §7º, do artigo 17, da Lei nº
8.429/92;
b) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas,
seja recebida a petição inicial e determinadas as citações dos requeridos na
forma do § 9o, do precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os
termos da presente, sob pena de revelia;
c) a notificação da Câmara de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Presidente, na
condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº
8.429/92, isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo,
suprindo eventuais omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar
provas de que disponham sobre os fatos;
d) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações
acrescentadas pela Lei de Improbidade;
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36 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8
e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o
depoimento pessoal dos réus, a juntada de novos documentos, a pericial e a
testemunhal, cujo rol será oportunamente apresentado;
f) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e
III, da Lei nº 8.429/92, em razão da prática autônoma de atos de improbidade
administrativa, que causou enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa aos
princípios informadores da Administração Pública;
g) a condenação ao ressarcimento do valor de R$ 562.692,81 (quinhentos e
sessenta e dois mil reais, seiscentos e noventa e dois reais e oitenta e um
centavos) pelos requeridos;
Atribui-se à causa o valor de R$ 562.692,81
(quinhentos e sessenta e dois mil reais, seiscentos e noventa e dois reais e oitenta
e um centavos).
Termos em que se
Pede e espera deferimento.
Foz do Iguaçu, 25 de junho de 2013.
Marcos Cristiano Andrade Promotor de Justiça
DOCUMENTOS ANEXOS:
Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000589-6 (01 volume).