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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES ____________________________________________________ 1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU-PR. O POVO NÃO DEVE TERMER SEU ESTADO. O ESTADO DEVE TEMER SEU POVO” (Filme V de Vingança - no original, V for Vendetta - 2006, dirigido por James McTeigue e produzido por Joel Silver e pelos irmãos Wachowski - Warner Bros). O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º, da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª

SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO

IGUAÇU-PR.

“O POVO NÃO DEVE TERMER SEU ESTADO. O ESTADO DEVE TEMER SEU POVO” (Filme V de Vingança - no original, V for Vendetta - 2006, dirigido por James McTeigue e produzido por Joel Silver e pelos irmãos Wachowski - Warner Bros).

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas

atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO

PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição

Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º,

da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante

Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

2 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

em face a:

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, brasileiro, casado, Vereador, portador da

Cédula de Identidade R.G. nº 4.022.607-9 (SSPPR), devidamente inscrito no

CPF/MF nº 525.234.709-34, natural de Terra Roxa-Pr, nascido aos 12.01.1965,

filho de Aparecido Neves da Silva e de Ana Pintz da Silva, residente na Rua

Santos Dumont, nº 883, Edifício Residencial San Ignácio, Centro, apartamento

nº 103, domiciliado na Câmara Municipal sito na Travessa Oscar Muxfeldt, nº

81, nesta Cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

MARCOS DA SILVA, brasileiro, divorciado, advogado (OAB/Pr nº 49.370) e

assessor parlamentar1, natural de Boa Vista da Aparecidinha-Pr, nascido aos

18.07.1975, filho de Luiz Patrício da Silva e de Ivonete Fortunato da Silva,

portador da Cédula de Identidade R.G. nº 55832218 (SSPPR), e CPF/MF nº

023.652.139-01, residente na Rua Itajaí, nº 439, Jardim Petrópolis, nesta cidade e

Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

GERSON GUSTAVO, brasileiro, casado, comerciário e assessor parlamentar2,

natural de Primeiro de Maio-Pr, nascido aos 21.09.1964, filho de José Gustavo

Filho e de Maria Francisca Gustavo, portador da Cédula de Identidade R.G. nº

3.983.071-0 (SSPPR), e CPF/MF nº 546.599.739-72, residente na Rua Paraná, nº

13, Jardim Itaipu, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr; e

1 Vide Portaria nº 43/2013. 2 Vide Portaria nº 05/2013.

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3 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

JAILSON SOARES DA SILVA, brasileiro, casado, assessor parlamentar3,

natural de Salvador-Ba, nascido aos 12.04.1964, filho de Wilson Carvalho da

Silva e de Guilhermina Soares da Silva, portador da Cédula de Identidade R.G.

nº 8.142.631-7 (SSPPR) e CPF/MF nº 240.114.795-00, residente na Avenida

Felipe Wanscheer, nº 1.773, Jardim Naipi, nesta cidade e Comarca de Foz do

Iguaçu-Pr,

pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

1. DOS FATOS:

A 6ª Promotoria de Justiça local instaurou o

Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 visando apurar suposto

descumprimento aos princípios da moralidade e proporcionalidade pela Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu, uma vez que havia 75 (setenta e cinco) servidores

comissionados e apenas 32 (trinta e dois) concursados, caracterizando, assim,

prática de ato de improbidade administrativa.

Com isso, o Ministério Público propôs, em

fevereiro de 2012, a ação buscando obrigação de fazer, com pedido liminar, para

que a Câmara Municipal exonerasse tantos ocupantes de cargos comissionados

quanto bastassem para atender ao princípio da proporcionalidade e moralidade

administrativa, a fim de que o número de tais servidores não fosse superior ao de

providos por concurso público e também para se abstivessem de manter

funcionários nomeados em quantidade superior ao de efetivos.

3 Vide Portaria nº 32/2009.

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4 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Deste feito foram extraídas cópias integrais e

instaurados outros 16 (dezesseis) Inquéritos Civis Públicos (um para cada

vereador e outro para os servidores da direção da casa de leis), tudo com o

escopo de apurar a sobredita improbidade (possível excesso de cargos

comissionados na Câmara Municipal), bem como suposto desvio de função e/ou

servidores comissionados irregulares.

Com efeito, conforme declarações prestadas no

presente Inquérito Civil Público, verificou-se que MARCOS DA SILVA,

GERSON GUSTAVO e JAILSON SOARES DA SILVA foram nomeados

para exercerem os cargos de assessores parlamentares do gabinete do vereador e

atual presidente da Câmara de Vereadores JOSÉ CARLOS NEVES DA

SILVA, durante o seu mandato compreendido entre os anos de 2009 a 2012

(nomeações constantes no CD de fls. 36).

Da análise dos autos, em especial do teor das

oitivas (fls. 06/08), infere-se haver manifesto desvio de função por parte dos três

assessores parlamentares (MARCOS DA SILVA, GERSON GUSTAVO e

JAILSON SOARES DA SILVA) vinculados ao vereador JOSÉ CARLOS

NEVES DA SILVA vez que não exerciam as atividades inerentes ao cargo a

que foram contratados.

A Resolução Legislativa nº 015, de

17/06/2003, que “dispõe sobre a organização administrativa da Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu”, em seu artigo 9º, prevê que:

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5 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

“Art. 9º. São atribuições do Assessor

Parlamentar:

I – prestar serviços ao vereador, em

atividades externas;

II – atender e prestar esclarecimentos a

pessoas que demandem ao gabinete;

III – agendar compromissos do titular do

gabinete;

IV – elaborar e expedir as

correspondências do gabinete;

V – manter arquivo das correspondências

recebidas e expedidas pelo gabinete e de

outros documentos de interesse deste;

VI - efetuar o controle das pautas de

sessões e de proposições legislativas de

interesse do gabinete;

VII - assistir o titular do gabinete no

desempenho de suas atribuições;

VIII – organizar as reuniões promovidas

pelo gabinete, providenciando a pauta e os

convites aos participantes;

IX – executar outras tarefas determinadas

pelo titular do gabinete, inerentes as

atribuições deste”.

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6 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Em sede de depoimento (arquivo de áudio e

vídeo em CD-ROM anexo), MARCOS DA SILVA declarou que foi4 assessor

jurídico do Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA no período

compreendido entre novembro de 2010 e dezembro de 2011. Informou, como

sendo suas funções: a) a correção dos projetos de lei elaborados; e b)

atendimento à população (fls. 06), bem assim que comparecia à Câmara de

Vereadores de (02) duas a (03) três vezes por semana, lá permanecendo das

8hs40min/9hs00min às 11hs30min. No período vespertino, realizava os serviços

particulares de advocacia, atuando na área trabalhista.

Indagado acerca de eventual propositura de

ação, na condição de patrono daqueles que compareciam à Câmara Municipal

em busca de atendimento/auxílio, respondeu afirmativamente, desde que não

litigiosas. Todavia, após mais alguns segundos de conversação, revelou: “as

ações que eu entrava só se fosse em relação a trabalho/acidente de trabalho (...)

tudo através do vereador”.

Por sua vez, GERSON GUSTAVO afirmou

que, nomeado assessor parlamentar no ano de 2010, trabalhou5 para o Vereador

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, mas, atualmente, encontra-se afastado

por motivos de saúde. Indagado acerca do recebimento do salário alusivo à

assessoria, explicou que percebia R$ 4.349,00 (quatro mil trezentos e quarenta e 4 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em março de 2010 (Portaria nº 17/2010); Exonerado em março de 2010 (Portaria nº 23/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 199/2010); Exonerado em janeiro de 2012 (Portaria nº 04/2012); Nomeado em janeiro de 2013 (Portaria nº 43/2013). 5 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em março de 2010 (Portaria nº 19/2010); Exonerado em fevereiro de 2012 (Portaria nº 21/2012); Nomeado em janeiro de 2013 (Portaria nº 05/2013).

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7 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

nove reais). No que tange ao afastamento, asseverou: “a Câmara só paga os 15

primeiros dias, depois é com o INSS”. No decorrer da conversação, informou

que o acidente não ocorreu em razão do exercício de seu trabalho.

Revelou que anteriormente à nomeação para o

cargo, tinha amizade com o Vereador, decorrente de “trabalho que

desenvolvemos juntos, aí conseguimos elegê-lo”.

Assim, após a nomeação, passou a realizar

serviços externos para o vereador, atendendo aos pedidos da comunidade, tais

como “quebra-mola, segurança na vila, colégios, creches (...) essas coisas que a

comunidade precisa” (????). Na Câmara, comparecia em média 02 (duas) vezes

por semana (“eu ia lá às vezes”), e dos demais assessores do Vereador, conhecia

apenas Jailson e Jair.

JAILSON SOARES DA SILVA também

confirma a assessoria6 ao Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA.

Segundo ele, a função exercida era a de atendimento à população que procurava

o vereador, e visitas aos bairros da cidade, sem contar o auxílio ao vereador

durante as sessões. Informou que ia à Câmara quase todos os dias.

A atuação como assessor consistia, portanto,

na indicação ao vereador dos problemas da população, as reinvindicações

populares de que tinha conhecimento através das visitas que realizava em

bairros. A título de exemplo, contou acerca de uma visita ao Jardim Califórnia,

6 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria nº 32/2009).

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8 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

quando “um cidadão que é aluno da APAE, deficiente, me pediu para eu falar

com o vereador a respeito de uma faixa de pedestre ali próximo da APAE”. Aí

eu anotei, fiz o requerimento, pedi para o Vereador assinar... É o papel do

assessor”.

JAILSON, com insólita convicção de que sua

atuação parlamentar é permeada pela bondade e generosidade, passa a

contradizer-se: todos os dias está na Câmara, mas atende os populares em suas

residências. Aos populares é dado o atendimento raro, haja vista que as reuniões

não precisam ser agendadas por telefone: o assessor desloca-se à residência do

cidadão iguaçuense para marcá-la. No que diz respeito ao número de assessores

que atuam com o Vereador, à fata de mesas para todos os assessores trabalharem

no gabinete, engenhosa solução: cadeiras são 06 (seis), dividem-se as mesas.

Quanto ao controle da frequência mensal,

informou que ocorria mensalmente – e não diariamente -.

Denota-se, assim, que conforme as

transcrições acima, os assessores parlamentares MARCOS DA SILVA,

GERSON GUSTAVO e JAILSON SOARES DA SILVA não

desempenhavam as funções a eles inerentes, e sim, faziam assistencialismo ao

Vereador, caracterizando uma evidente artimanha para promoção política.

As atividades empreendidas de “atendimento

à população”, tal qual denominaram, incluíam, como bem ressaltou JAILSON

SOARES DA SILVA em seu depoimento, o pedido de votos. Em verdade,

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9 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

portanto, não se trata de atendimento à população, mas atendimento a eleitores

em potencial.

Assim, revela-se a assessoria legislativa do

Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, nítido clientelismo, negocismo

junto à população que, alicerçando-se no mandato, visa à continuidade do

parlamentar no poder legislativo.

Ressalte-se, nesse átimo, que a função de

tapar os buracos nas ruas, de melhorar a iluminação pública, constatar a

necessidade de faixas de pedestres, entre outras necessidades básicas da

comunidade em geral, não é típica do Poder Legislativo, mas sim do Executivo.

Sendo o Prefeito a figura máxima do

Executivo no âmbito municipal, deve atender os anseios da população, reunindo-

se constantemente com a sociedade a fim de aferir as reivindicações coletivas,

encontrando as possibilidades para a satisfação das necessidades do município.

Já o Poder Legislativo é responsável pela

elaboração e aprovação das leis. Além disso, tem como dever a fiscalização do

orçamento público e da administração do Poder Executivo.

Destarte, resta caracterizado o desvio de

função, id est, tudo acontecia com finalidade eleitoreira por parte de quem detém

o poder, ou seja, do Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA.

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10 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

O desvio de função é o desempenho pelo

funcionário público de serviços não inerentes ao cargo por ele ocupado.

Há dúvida, inclusive, se tais atividades foram

efetivamente prestadas pelas assessoras parlamentares, tendo em vista a falta de

informações, frequência e comprovação de eficiência em seu labor, já que suas

oitivas são confusas e vagas. Ademais, o labor seria realizado junto à residências

e bairros, o que, por certo, não é usual e causa estranheza.

Assim, é imperioso ressaltar que o trabalho

externo a ser desenvolvido por um assessor é mais do que fazer indicações nas

adjacências ou proximidades de sua residência, devendo auxiliar o Vereador no

exercício das funções típicas do Poder Legislativo.

Se assim fosse permitido, necessária a

autorização para contratação de 290 assessores nesta Comarca: um para cada

bairro do Município em tela.

Observa-se que as funções de assessor

parlamentar são por eles desempenhadas como cargos em comissão, de livre

nomeação e exoneração.

Há farta prova de que o então Vereador,

desvirtuando a função pública dos cargos em comissão postos a sua disposição,

atribuiu aos seus ocupantes o exercício de atividades de natureza privada e em

proveito próprio, o que caracteriza, da mesma forma, ato ímprobo previsto no

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11 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

artigo 9º, caput, e inciso IV, artigo 10, caput, e incisos I e XII, bem como artigo

11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.

Dos relatos acima descritos, frutos das

diligências realizadas nesta investigação ministerial que, embasadora da presente

ação, esteve pautada e atenta aos princípios da ampla defesa e contraditório,

infere-se a caracterização da conduta ímproba, consistente na atuação dos

assessores parlamentares em desconformidade com os princípios orientadores da

administração pública, mormente no que tange à honestidade, já que,

aproveitando-se do cargo e, em tese, a serviço da administração, agiram em

proveito exclusivo daquele que assessoravam.

O desvio de finalidade, compactuado por

aquele democraticamente eleito para representar os cidadãos iguaçuenses, revela

a engenhosa prática dos parlamentares que, perversamente, utilizam-se do cargo

político como ponte para a promoção pessoal e realização de interesses

puramente particulares.

E o desvio de finalidade do cargo de confiança,

por conseguinte, revela o desvirtuamento do erário destinado a este fim. O dano

à arca pública, portanto, verifica-se também configurado, como resultado da

improbidade – ou imoralidade administrativa qualificada -.

Se é legítima a existência dos cargos

comissionados, destinados ao assessoramento do vereador JOSÉ CARLOS

NEVES DA SILVA, o mesmo não se pode afirmar com relação à legalidade da

atuação prática dos mencionados assessores, já que finalisticamente desvirtuada.

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12 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

2. DOS FUNDAMENTOS:

2.1. DO DESVIO DE FINALIDADE:

A Carta Magna estabelece que os cargos em

comissão devem ser compatíveis com funções de confiança política para as quais

foram idealizadas. Infere-se desta assertiva que quando desprovidos destas

características configurar-se-á desvio de finalidade. Esta é a situação existente na

Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.

Leciona Celso Antônio Bandeira de Mello que

o desvio de poder se verifica:

“Quando o agente se serve de um ato para

satisfazer finalidade alheia à natureza do

ato utilizado. Há, em consequência, um

mau uso da competência que o agente

possui para praticar atos administrativos,

traduzida na busca de uma finalidade que

simplesmente não pode ser buscada ou,

quando possa, não pode sê-lo através do ato

utilizado7”.

7 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo:

Malheiros, 1992. p. 126-127.

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13 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

A autoridade que pratica uma conduta com

finalidade diversa está praticando ato de improbidade administrativa, vez que o

desvio de finalidade nada mais é do que simulação, tentativa de mascarar a real

intenção da autoridade pública.

Ademais, preleciona a renomada doutrinadora

Maria Sylvia Zanella di Pietro8:

“O desvio de poder ocorre quando a

autoridade usa do poder discricionário

para atingir fim diferente daquele que a lei

fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder

Judiciário autorizado a decretar a nulidade

do ato, já que a Administração fez uso

indevido da discricionariedade, ao desviar-

se dos fins de interesse público definidos na

lei”.

No presente caso, o Vereador JOSÉ CARLOS

NEVES DA SILVA se valeu de seus funcionários, remunerados pelo Órgão

Legislativo, utilizando-os em flagrante desvio de função, isto é, com fim diverso

daquele previsto no artigo 9º da Resolução Legislativa nº 15/2003, que dispõe

sobre a organização administrativa da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu,

incidindo, desta forma, no tipo previsto no artigo 11º, caput, e inciso I, da Lei de

Improbidade Administrativa, conforme se verá adiante.

8 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8. ed., São Paulo: Atlas, 1997. p. 211.

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14 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Neste diapasão, dispõe a doutrina9:

“(...) o desvio de poder é, por definição, um

limite à ação discricionária, um freio ao

transbordamento da competência legal

além de suas fronteiras, de modo a impedir

que a prática do ato administrativo,

calcada no poder de agir do agente, possa

dirigir-se à consecução de um fim de

interesse privado, ou mesmo de outro fim

público estranho à previsão legal”.

A utilização de assessores parlamentares para

exercerem funções como “levar pessoas para atendimento médico no SUS”,

“solicitar limpeza de terrenos” ou “reparos em asfaltos”, caracteriza,

indiscutivelmente, desvio de finalidade, à vista da ausência de adequação do fato

ao seu fim legal.

Acrescenta, ainda, a sobredita lição:

“O poder foi conferido ao administrador

público para realizar determinado fim, por

determinados motivos e por determinados 9 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios

constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: <http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html>. Acesso em 05/12/2012.

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15 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

meios, toda ação que se apartar dessa

conduta, contrariando o desejo da lei,

padece do vício de desvio de poder ou de

finalidade e, como todo ato abusivo ou

arbitrário, é ilegítimo.

(...)

O desvio de finalidade ou de poder é, assim,

a violação ideológica da lei, ou, por outras

palavras, a violação moral da lei,

colimando o administrador público fins não

requeridos pelo legislador, ou utilizando

motivos e meios imorais para a prática de

um ato administrativo aparentemente legal.

O ato praticado com desvio de finalidade –

como todo ato ilícito ou imoral – ou é

consumado às escondidas ou se apresenta

disfarçado sob o capuz da legalidade e do

interesse público. Diante disto, há que ser

surpreendido e identificado por indícios e

circunstâncias que revelem a distorção do

fim legal, substituído habilidosamente por

um fim ilegal ou imoral não desejado pelo

legislador”.

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16 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Destaca-se que uma das formas previstas em lei

para punição do agente responsável por tais ilegalidades, objeto deste pedido, veio

regulamentada pela Lei nº 8.429/92, que complementou o artigo 37, § 4º, da

Constituição Federal, prevendo sanções de natureza não criminal para a prática de

atos de improbidade administrativa, divididos em três espécies, ou seja: os que

importam em enriquecimento ilícito (previstos no artigo 9º), os que causam lesão

ao erário (previstos no artigo 10) e os que atentam contra os princípios da

Administração Pública (previstos no artigo 11).

2.2. DOS ATOS QUE IMPORTEM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO:

Reza o artigo 9º, caput, e seu inciso IV e XI,

da Lei nº 8.429/92:

“Art. 9º: Constitui ato de improbidade

administrativa importando enriquecimento

ilícito auferir qualquer tipo de vantagem

patrimonial indevida em razão do exercício

de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade nas entidades mencionadas no

artigo 1º desta lei, e notadamente:

(...)

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17 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

IV - utilizar, em obra ou serviço particular,

veículos, máquinas, equipamentos ou

material de qualquer natureza, de

propriedade ou à disposição de qualquer das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei,

bem como o trabalho de servidores públicos,

empregados ou terceiros contratados por

essas entidades;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu

patrimônio bens, rendas, verbas ou valores

integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei;”

Verifica-se que MARCOS DA SILVA,

JAILSON SOARES e GERSON GUSTAVO foram nomeadas para os cargos

em comissão de assessoras parlamentares, junto ao Gabinete do Vereador JOSE

CARLOS NEVES DA SILVA, sem que nunca tivessem exercido as funções

relativas a esse cargo, sendo que os vencimentos foram utilizados em proveito

daqueles.

Com isso, os requeridos enriqueceram-se

ilicitamente, pois auferiram vantagem patrimonial indevida em razão do

mandato do Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA e dos cargos de

assessores parlamentares, consistente no desvio da remuneração paga pela

Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu-Pr para o (simulado) desempenho de

funções que deveriam ter sido realizadas pelos réus.

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18 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Ainda, ocorreu a incorporação ao patrimônio

dos requeridos, de valores integrantes do acervo patrimonial da Câmara

Municipal. É que, como exaustivamente se afirmou, MARCOS DA SILVA,

JAILSON SOARES e GERSON GUSTAVO nunca trabalharam efetivamente

para as funções nas quais foram nomeados. E, em tendo os réus se aproveitado

de tal situação, vieram a incorporar, ilicitamente, valores pertencentes à Casa de

Leis local.

Os assessores réus receberam sem ‘trabalhar’,

enriqueceram ilicitamente à custa do erário e do suor do contribuinte, com

remunerações muito superiores à da maioria da população brasileira, que não

conta com o denominado "padrinho" ou "pistolão".

Assim sendo, os requeridos nunca

desempenharam as atribuições inerentes aos cargos para os quais foram

nomeados, aceitando participar de uma fraude contra a Administração Pública

para atingir finalidades particulares, desrespeitando o artigo 15, da Lei nº

8.112/90, aplicado analogicamente, in verbis: "efetivo desempenho das

atribuições do cargo público ou da função de confiança".

Destarte, ao fazerem promoção política para o

Vereador JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA, este também enriqueceu

ilicitamente, na medida em que deveria arcar com suas próprias despesas em

trabalhos políticos, e não utilizar os cargos públicos de assessores parlamentares

para esta função.

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19 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Trata-se de experiência corriqueira no Estado

brasileiro totalmente reprovável, tanto do ponto de vista da autoridade que

nomeia quanto da pessoa que aceita ser favorecido por tal ilicitude.

As condutas dos requeridos, logo, encontram

plena e perfeita caracterização nos termos do que dispõem o caput e os incisos

IV e XI do artigo 9º, da Lei de Improbidade Administrativa.

O enriquecimento ilícito dos réus ocasionou

notório prejuízo ao erário municipal, o qual desembolsou valores para o

pagamento de serviços inúteis, desempenhados pelos assessores do Gabinete do

Vereador réu, não obstante a Casa de Leis local suportar o pagamento desses

comissionados.

O enriquecimento ilícito e consequentemente o

prejuízo do Poder Legislativo local, segundo Informação de Auditoria de fls.

32/35, foi de R$ 562.692,81 (quinhentos e sessenta e dois mil, seiscentos e

noventa e dois reais e oitenta e um centavos): R$ 94.609,2710 – MARCOS DA

SILVA; R$ 151.103,0711 – GERSON GUSTAVO; e R$ 316.980,4712 –

JAILSON SOARES DA SILVA.

Como se não bastasse, a evidente e reprovável

conduta ilícita é destacada nos seguintes julgados:

10 Mar/2010 e Nov/2010 a Jan/2012. 11 Mar/2010 a Fev/2012. 12 Jan/2009 a Dez/2012.

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20 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

CÂMARA MUNICIPAL. DESIGNAÇÃO

SIMULADA DE SERVIDORES. CARGOS

EM COMISSÃO. FALTA DE

PRESTAÇÃO REGULAR DE SERVIÇOS.

É procedente o pedido de ressarcimento,

formulado em ação civil pública, diante da

demonstração de que servidores

municipais, ocupantes, na época, de cargo

comissionado, não exerceram regularmente

suas funções. Nega-se provimento ao

agravo retido, rejeita-se a preliminar e

nega-se provimento aos recursos de

apelação” (TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação

nº 1.0035.00.003341-1/004, Relator DES.

ALMEIDA MELO, j. 06.09.2007, DJ

21.09.2007).

“Constitucional/Administrativo Ação de

improbidade administrativa. Legitimação

ativa do Ministério Público e demais

condições acionárias presentes.

Cerceamento defensório inocorrente.

Empresa pública municipal - Contratação

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21 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

de servidora sem a realização de concurso

público ou processo seletivo - Ausência de

efetivo exercício das funções respectivas,

apesar de assinado o ponto - Recebimento

dos salários - Infringência ao art. 37,

“caput” e inciso II, da CF -

Responsabilização de todos os envolvidos -

Penalidades bem impostas, incluso o

ressarcimento do erário - Procedência

parcial ampliada para total - Provimento

ao recurso ministerial e desprovimento dos

demais” (TJSP, 13ª Câmara de Direito

Público, Apelação com revisão nº

8944185100, Rel. Des. Ivan Sartori, j.

24.06.2009, DJ 18.08.2009).

Em razão disso, MARCOS DA SILVA,

GERSON GUSTAVO, JAILSON SOARES DA SILVA e JOSÉ CARLOS

NEVES DA SILVA ficam sujeitos às sanções previstas no artigo 12, inciso I, da

referida Lei nº 8.429/92.

2.3. DOS ATOS CAUSADORES DE PREJUÍZO AO ERÁRIO:

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22 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

A Lei nº 8.429/92 disciplina a repressão aos

atos de improbidade administrativa praticados por agentes públicos que

importem em enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e/ou atentem contra os

princípios da administração pública, estabelecendo as sanções aplicáveis aos

seus autores, dentre elas, a de ressarcimento integral do dano.

O artigo 10º, caput, e incisos I e XII, do

aludido diploma legal prevê:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade

administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,

que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação

dos bens ou haveres das entidades referidas

no art. 1º desta Lei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma

para a incorporação ao patrimônio

particular, de pessoa física ou jurídica, de

bens, rendas, verbas ou valores integrantes

do acervo patrimonial das entidades

mencionadas no art. 1º desta Lei;

(...)

XII – permitir, facilitar ou concorrer para

que terceiro se enriqueça ilicitamente”

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23 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Assim, pode-se dizer que, ao contratar

MARCOS DA SILVA, GERSON GUSTAVO e JAILSON SOARES DA

SILVA em flagrante ofensa a Lei de Improbidade Administrativa, bem como à

Carta Magna, o réu JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA facilitou a

incorporação de verba pública ao patrimônio destes, o que resultou num

enriquecimento ilícito, apesar da supracitada vedação legal.

Ora, se tais verbas legalmente não deveriam

ser suportadas pela Administração Pública, em razão das funções exercidas por

estes não serem as legalmente previstas (em flagrante desvio de finalidade), tais

gastos configuram dano ao erário, gerando ao Poder Público o direito de ser

ressarcido do que ilicitamente pagou.

Desta forma, o requerido JOSÉ CARLOS

NEVES DA SILVA deu causa a pagamentos de verbas indevidas a tais

contratados, id est, o que representa perda patrimonial para a Administração

Pública (prejuízo aos cofres públicos) em razão deste possuir 03 (três) assessores

parlamentares que exerciam diariamente funções de assistencialismo no

Município de Foz do Iguaçu, conforme declarações às fls. 06/08.

Destarte, não podem os contribuintes do

Município de Foz do Iguaçu arcar com este ônus, pois o povo não deve sustentar

as ilegalidades praticadas pelos seus governantes. Assim, como o requerido

JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA foi o responsável pelas contratações

ilegais e pelos pagamentos das sobreditas verbas, bem como pelo prejuízo ao

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24 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

patrimônio público do Município de Foz do Iguaçu, deve ele restituir o dano

causado ao erário.

Aliás, assim têm reconhecido a doutrina e a

jurisprudência:

"(...) o dinheiro público, exatamente por ser res

publica, há de ser gasto dentro da estrita

conformidade legal.

(...)

'Quem quer que utilize dinheiros públicos terá

de verificar seu bom e regular emprego, na

conformidade das leis, regulamentos e normas

emanadas das autoridades administrativas

competentes', ou seja: 'quem gastar, tem de

gastar de acordo com a lei'

Isso quer dizer: quem gastar em desacordo com

a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e perigos.

Pois impugnada a despesa, a quantia gasta

irregularmente terá de retornar ao Erário

Público.

Não caberá a invocação, assaz de vezes

realizada, de enriquecimento ilícito da

Administração.

(...)

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25 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Se são 'nulos', ou, melhor expressão, 'não

convalidáveis', são retirados do mundo jurídico,

retroagindo os efeitos do desfazimento ex tunc.

Evidentemente, efeitos padrônomicos ao ato, já

acontecidos, não são suscetíveis de eliminação.

Daí por que os terceiros de boa fé devem ser

indenizados. Entretanto, não bastará a

invalidação administrativa do ato, sem

recomposição do Erário, para se excluir a ação

popular.

(...)

Demais disso, há que se enfatizar que,

suprimido do mundo jurídico o ato maculado

de ilegalidade, a conseqüência será a reposição

ao erário.

(...)

Aquele que praticou os atos terá agido por sua

conta, riscos e perigos13" (grifou-se e se

destacou).

“Como corretamente anotou o Min. Mílton

Pereira, ‘a escusar-se a responsabilidade do

administrador público, pela salvaguarda de que

o empregado, em contraprestação, prestou

serviços, será construir um estranho indene de

impunidade em favor do agente político que 13 FERRAZ, Sérgio e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit. p. 93, 106-107.

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26 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

praticou ato manifestamente contra a lei - nexo

causal das obrigações da relação de trabalho

nascida de ato ilegal - criando-se inusitada

convalidação dos efeitos de ato nulo. Será

estimular o ímprobo a agir porque, a final,

aquela contraprestação o resguardará contra

ação de responsabilidade civil’.

(...)

Está em questão um princípio: fazendo tabula

rasa da Constituição e da lei, pode o

administrador contratar impunemente, sem

concurso, ou em período defeso..., e ficar tudo

por isso mesmo? Pode cometer tais ilegalidades

gritantes e mandar a conta para os cofres

públicos? Pode ser a execução da própria

ilegalidade o bill de indenidade que irá

beneficiar o administrador ímprobo? Isto é

absurdo.

Se o administrador pudesse assim estar

garantido, poderia contratar impunemente seus

apaniguados para ardorosamente labutarem

em sinecuras ou fazerem obras que terceiros

poderiam fazer melhor e mais barato para a

Fazenda14” (grifou-se e se destacou).

14 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. p. 161-162.

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27 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

É inquestionável que a contratação dos ditos

assessores para exercerem integralmente funções meramente assistenciais, em

desacordo com a legislação pertinente, importa em prejuízo ao erário, já que

qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido caracteriza

dano e redunda no dever de ressarcir.

E é aí que se inclui o dever por parte do

requerido JOSÉ CARLOS NEVES DA SILVA em recompor à Administração

quanto aos prejuízos por esta suportados, consoante artigos 37, § 4º, da

Constituição da República e 4º e 5º da Lei Federal nº 8.429/92.

2.4. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

A Constituição da República estabelece, em

seu artigo 37, que:

“A administração pública direta, indireta

ou fundacional, de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios da

legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência e, também, ao

seguinte:”

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28 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

São os princípios da legalidade, moralidade,

impessoalidade, publicidade e eficiência, portanto, as vigas mestras de

orientação e regulamentação da Atividade Administrativa em qualquer dos

Poderes da República.

Diógenes Gasparini, no que se refere ao

princípio da legalidade, leciona que:

“(...) a este princípio também se submete o

agente público. Com efeito, o agente da

Administração Pública está preso à lei e

qualquer desvio de suas imposições pode

nulificar o ato e tornar seu autor responsável

e, conforme o caso, disciplinar, civil e

criminalmente15”.

Inequívoco, destarte, que todo ato de agente

público deve ser realizado nos termos e limites da lei e da Constituição Federal,

pois ao administrador e à própria Administração somente é permitido fazer o que

a lei expressamente autorize.

De igual forma, o princípio da moralidade

administrativa também restou lesado.

15 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 6.

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29 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

Ao tratar do tema, leciona a doutrina16:

“A moralidade administrativa é um

princípio informador da ação

administrativa, devendo se pautar na

consciência do administrador a vedação do

agir dissociado dos conceitos comuns,

ordinários, válidos, respeitando as

diferenças históricas do honesto e justo.

(...)

Tal princípio poderia ser identificado com

o da justiça, ao determinar que se trate a

outrem do mesmo modo que se apreciaria

ser tratado. O “outro”, aqui, é a sociedade

inteira, motivo pelo qual o princípio da

moralidade exige que, fundamentada e

racionalmente, os atos, contratos e

procedimentos administrativos venham a

ser contemplados à luz da orientação

decisiva e substancial, que prescreve o

dever de a Administração Pública

observar, com pronunciado rigor e a maior

objetividade possível, os referenciais

valorativos basilares vigentes, cumprindo, 16 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios

constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: ,http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html> Acesso em 05/12/2012.

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30 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

de maneira precípua até, proteger e

vivificar, exemplarmente, a lealdade e a

boa-fé para com a sociedade, bem como

travar o combate contra toda e qualquer

lesão moral provocada por ações públicas

destituídas de probidade e honradez”.

Ao agente público não basta agir

expressamente dentro da lei, exige-se que atue conforme a moralidade e

sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé. A contratação de (03)

três assessores para funções meramente assistenciais, é, inevitavelmente, ato não

apenas ilegal, mas ainda, absolutamente imoral.

O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho,

ao estabelecer no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são

obrigados a velar pela estrita observância destes princípios.

Destarte, todo administrador público tem,

necessariamente, que ter sua conduta pautada pelo respeito a estes princípios,

deles não podendo se desviar, sob pena de anulação do ato praticado e de

punição pela prática de improbidade administrativa, conforme previsto no artigo

11, da Lei nº 8.429/92, que estabelece:

“Dos atos de improbidade administrativa

que atentam contra princípios da

administração pública:

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Art. 11. Constitui ato de improbidade

administrativa que atenta contra qualquer

ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade e

lealdade às instituições, e notadamente:”

No caso em exame, o requerido JOSÉ

CARLOS NEVES DA SILVA, no exercício do cargo de Vereador da Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu, em razão de haver admitido e pago de forma

irregular diversas pessoas no serviço público, ofendendo de morte a Lei de

Improbidade Administrativa, atentou contra os princípios da legalidade e

moralidade.

Ora, se houve inobservância da Constituição e

das leis nas contratações, houve ilegalidade e, portanto, ofensa/atentado contra o

princípio e o dever de legalidade, pois, como preleciona o saudoso Hely Lopes

Meirelles17:

"A legalidade, como princípio de

administração (CF, art. 37, caput, significa

que o administrador público está, em toda sua

atividade funcional, sujeito aos mandamentos

da lei e às exigências do bem-comum, e deles

não se pode afastar ou desviar, sob pena de

praticar ato inválido e expor-se à 17 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.

82/83.

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32 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

responsabilidade disciplinar, civil e criminal,

conforme o caso.

A eficácia de toda atividade administrativa

está condicionada ao atendimento da lei.

Na Administração Pública não há liberdade

nem vontade pessoal. Enquanto na

administração particular é lícito fazer tudo

que a lei não proíbe, na Administração

Pública só é perimido fazer o que a lei

autoriza. A lei para o particular significa

‘pode fazer assim’; para o administrador

público significa ‘deve fazer assim’”.

Repise-se, JOSÉ CARLOS NEVES DA

SILVA não respeitou a Constituição e as leis, admitindo funcionários em flagrante

desvio de função, segundo seus critérios pessoais de escolha. Pior: praticaram atos

vedados pela Constituição e pela legislação ordinária, ao admitirem funcionários

públicos sem a observância da obrigatoriedade do respectivo concurso.

Portanto, ofendendo-se o princípio e o dever de

legalidade, fica caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa,

atentando contra os princípios da Administração Pública, previsto no artigo 11

da Lei nº 8.429/92.

2.5. DA EXIGÊNCIA DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO EXERCÍCIO

DE CARGO EM COMISSÃO

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Nesse instante, merece especial destaque a

condição que acompanha o exercício de cargo em comissão.

Preleciona o artigo 6º da Lei Complementar

Municipal nº 9718, de 26 de janeiro de 2005:

"Art. 6º O exercício de cargo em comissão

exigirá de seu ocupante integral dedicação"

Referida condição, ou exigência - como

elencou o legislador - impõe ao ocupante regime de integral dedicação ao cargo,

o que significa, em outras palavras, que não poderá desempenhar o ocupante

qualquer outra atividade além daquela prevista para o cargo exercido.

A atuação profissional do assessor MARCOS

DA SILVA que, como declarou, dedicava o período vespertino para o exercício

da advocacia, constitui vítrea incompatibilidade com o cumprimento das funções

do cargo comissionado, por força do sobredito imperativo legal.

Em idêntico diapasão, é a situação do assessor

GERSON GUSTAVO, que é comerciante (profissão habitual de iniciativa

privada que, pela sua própria natureza exige também a dedicação integral à

18 Disponível em: http://www.leismunicipais.com.br/a2/pr/f/foz-do-iguacu/lei-complementar/2005/9/97/ lei-complementar-n-97-2005-dispoe-sobre-os-cargos-de-provimento-em-comissao-e-sobre-a-atribuicao-de-gratificacao-de-funcao-nos-orgaos-da-adminis-tracao-superior-e-centralizada-do-municipio-de-foz-do-iguacu-e-da-outras-providencias-2005-01-26.html (acesso em 26.06.2013).

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atividade desempenhada no estabelecimento comercial, já que visa o sucesso

financeiro).

Não bastasse a obscuridade com relação às

funções desempenhadas junto ao Gabinete do Vereador JOSÉ CARLOS

NEVES DA SILVA, no caso dos assessores MARCOS DA SILVA e

GERSON GUSTAVO, o descumprimento do regime de trabalho de dedicação

exclusiva, por si só, configura o ato ímprobo, destoante dos princípios da

administração pública.

Cinge-se, ademais, à míngua de possível

referência à eventual (in)compatibilidade de horários: a proibição à realização de

outra atividade laboral é inquestionável, não havendo lacuna para a relativização

do adjetivo usado pelo legislador para expressar a intenção de que o ocupante do

cargo comissionado a ele deverá se dedicar totalmente, por inteiro.

Por oportuno, é necessário destacar que as

atividades profissionais empreendidas pelos assessores MARCOS DA SILVA e

GERSON GUSTAVO não se enquadram nas exceções à regra de

inacumulabilidade de cargos e funções previstas na Constituição.

Ressalte-se, ainda, que a vedação à

acumulação de cargos ou à exigência de dedicação integral a função ocupada

justifica-se pela própria natureza do papel exercido: diz respeito à administração

e aos interesses da sociedade a ela vinculados. A execução das tarefas atribuídas

ao assessor parlamentar, portanto, deve ser traçada com exímio emprego do

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tempo e esforço, e a execução simultânea de dois labores – sejam públicos ou

privados –, por óbvio, verifica-se prejudicial a este aspecto ideal.

3. DO PEDIDO:

Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:

a) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que,

querendo, apresentem manifestações nos termos do §7º, do artigo 17, da Lei nº

8.429/92;

b) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas,

seja recebida a petição inicial e determinadas as citações dos requeridos na

forma do § 9o, do precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os

termos da presente, sob pena de revelia;

c) a notificação da Câmara de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Presidente, na

condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº

8.429/92, isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo,

suprindo eventuais omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar

provas de que disponham sobre os fatos;

d) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações

acrescentadas pela Lei de Improbidade;

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36 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000593-8

e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o

depoimento pessoal dos réus, a juntada de novos documentos, a pericial e a

testemunhal, cujo rol será oportunamente apresentado;

f) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e

III, da Lei nº 8.429/92, em razão da prática autônoma de atos de improbidade

administrativa, que causou enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa aos

princípios informadores da Administração Pública;

g) a condenação ao ressarcimento do valor de R$ 562.692,81 (quinhentos e

sessenta e dois mil reais, seiscentos e noventa e dois reais e oitenta e um

centavos) pelos requeridos;

Atribui-se à causa o valor de R$ 562.692,81

(quinhentos e sessenta e dois mil reais, seiscentos e noventa e dois reais e oitenta

e um centavos).

Termos em que se

Pede e espera deferimento.

Foz do Iguaçu, 25 de junho de 2013.

Marcos Cristiano Andrade Promotor de Justiça

DOCUMENTOS ANEXOS:

Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000589-6 (01 volume).