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FORMULÁRIO PARA APRESENTAR TRABALHOSIX Reunião da Red POP8 - 10 de avril de 2005Rio de Janeiro, Brazil
Título completo da apresentação
Mídia, Educação Científica e CidadaniaA experiência das revistas Eureca e ABC das Águas
Modalidade de apresentação: X Trabalho oral Cartaz
Área temática: 1. Educação não formal 2. Museus e centros
interativos de ciência 3. Produção de materiais X 4. Jornalismo científico 5. Profissionalização da divulgação científica
Dados pessoais do(os) autor(es):Nome do palestrante
GRAÇA CALDAS
Nome outros autoresInstituição Universidade Metodista de São Paulo-UMESP e
Labjor/UnicampDomicílio R. Ângelo Grigol, 407, Guará, Barão GeraldoCidade / Estado Campinas – São PauloCEP / País 13085-460 - BRASILTelefone Código: +55 (19)Número: 32-874424Fax Código: +55 (19) Número: 32874424Correio eletrônico [email protected] de outros autores
Dados da instituição:Nome da instituição Universidade Metodista de São Paulo (UMESP)Programa ou centro Pós-Gradução em Comunicação Social-FACOMDomicílio R. Sacramento, 230, Rudge RamosCidade /Estado São Bernardo do Campo – São PauloCEP / País 09640000 - BRASILTelefone Código: +55 (11) Número: 43665818Fax Código: +55 (11) Número: 43665823Página Web www.metodista.brMembro da Red Pop Titular Associado X Ad-Hoc
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SE PRETENDE PARTICIPAR DE UMA MESA DE TRABALHO:
Equipamento de apoio necessário para a apresentação (no caso de mesas de trabalho):
Projetor de transparências (retroprojetor) Projetor de slides
X Datashow para PC Computador (PC) com Office
TV + Vídeo PAL Outro ____________________________
Resumo da proposta de apresentação:(Extensão de meia lauda, em Word para Windows, em folha tamanho carta, com letra arial, tamanho 12 , sem notas de pé de página e com espaçamento simples. Os bordes deverão ser: superior e inferior de 2 cm e laterais de 2,5 cm).
Graça Caldas
Resumo: A busca da linguagem adequada, os temas escolhidos, as ilustrações, os suportes, são desafios permanentes na construção do conhecimento científico e sua interface mídia-escola, no processo de desenvolvimento de uma cultura científica cidadã. Este trabalho é um relato da experiência de produção da revistas paradiáticas de divulgação científica para crianças. Desenvolvidas na linha de pesquisa de Divulgação Científica, sob minha coordenação, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), as revistas em diferentes formatos: a impressa, Eureca e a eletrônica ABC das Águas foram desenvolvidas por alunos de graduação em Jornalismo da UMESP, como parte dos projetos experimentais de conclusão de Curso em 2002 e 2004.
Trabalho por extenso:
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9ª Reunião da Red-POP - 8-10 de abril de 2005
Rio de Janeiro-Brasil
Mídia, Educação Científica e CidadaniaA experiência das revistas Eureca e ABC das Águas
Ciência se aprende experimentando, pesquisando e brincando
Graça Caldas1
Resumo: A busca da linguagem adequada, os temas escolhidos, as ilustrações, os suportes, são desafios permanentes na construção do conhecimento científico e sua interface mídia-escola, no processo de desenvolvimento de uma cultura científica cidadã. Este trabalho é um relato da experiência de produção da revistas paradiáticas de divulgação científica para crianças. Desenvolvidas na linha de pesquisa de Divulgação Científica, sob minha coordenação, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), as revistas em diferentes formatos: a impressa, Eureca e a eletrônica ABC das Águas foram desenvolvidas por alunos de graduação em Jornalismo da UMESP, como parte dos projetos experimentais de conclusão de Curso em 2002 e 2004.
Introdução - A divulgação do conhecimento científico na mídia faz com que o
cidadão comum, seja ele criança, jovem ou adulto, tome contato cada vez mais
freqüente com o mundo da ciência, sem se dar conta do papel estratégico que ela
ocupa nas sociedades modernas. Questões de natureza polêmica como os alimentos
geneticamente modificados, os transgênicos; a clonagem terapêutica ou reprodutiva,
bem como discussões relacionadas ao meio ambiente ocupam o imaginário popular
construindo conhecimentos a partir de fragmentos de informações com qualidade às
vezes duvidosa e quase sempre destituída de seu contexto sócio-econômico e político.
Dessa forma, é comum encontramos pessoas de diferentes faixas etárias,
independente dos níveis culturais e econômicos, formando opiniões e assumindo
posições pró ou contra determinadas pesquisas, sem um conhecimento adequado para
isto. O mais grave, porém, face à utilização da mídia na sala de aula, é a reprodução
1 Graça Caldas é jornalista, especialista em Comunicação Integrada, Dra. em Ciências da Comunicação-ECA-USP. Trabalhou em diferentes veículos como Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, além da Assessorias de Imprensa da Prefeitura de Campinas e da Unicamp. Atualmente é professora e pesquisadora da área de Divulgação Científica e Políticas de C &T do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMNESP e professora dos cursos Lato Sensu em Jornalismo Científico do Labjor-Unicamp e PUC-Campinas.
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desse conhecimento veiculado pelos jornais, revistas, rádio, televisão e Internet, sem
uma visão crítica do processo de produção da ciência, tecnologia e inovação. Troca-se,
assim, a experimentação, a pesquisa para a construção do conhecimento pela
representação da informação científica construída culturalmente pela mídia, em
detrimento do aprendizado cidadão.
Sem negar a importância e o avanço da qualidade da informação científica na
mídia, ainda enfrentamos problemas de marketing científico, uma vez que o jornalista,
por deficiência de formação ainda limita-se a reproduzir o discurso do cientista sem
contextualizar a produção da ciência e tecnologia numa perspectiva sócio-econômica,
em que estão em jogo interesses que vão além da mera divulgação da C&T.
“A circulação da informação científica desmitificada, analisada, interpretada, tem o poder de acabar com o fetiche da mercadoria, da religião do consumo. A relação com os meios de comunicação não pode se dar de maneira unívoca. No mundo da informação rápida, fragmentária, a ilusão do conhecimento provoca uma busca desenfreada por notícias científicas que, veiculadas de forma apressada, pasteurizada, descontextualizada, prometem soluções rápidas para os problemas que afligem a humanidade” (CALDAS, 2003:76).
E é exatamente neste contexto de circulação fácil e rápida do
conhecimento científico e dos avanços tecnológicos que entra o papel do
educador científico, seja ele professor de ciências, divulgador científico,
jornalistas científicos ou monitores de museus e centros de ciências. Como
fazer para transformar a enxurrada de informações sobre o conhecimento
científico veiculados na escola ao lado dos avanços da C&T que chegam
diariamente pela mídia em algo que faça sentido e permita o desenvolvimento
de uma visão crítica da ciência, como processo, em lugar de uma postura
contemplativa?
“Aprender a aprender”, ensinava Paulo Freire. “Saber pensar”, complementa Pedro Demo. Como, porém, “aprender a aprender” e
“saber pensar”? Os caminhos são inúmeros. Entretanto, todos eles, não importam os atalhos ou percursos realizados, o fundamental é manter a curiosidade pelo conhecimento, ensinar a fazer perguntas, a pensar, a desenvolver argumentos, sejam eles contrários ou favoráveis ao tema em estudo. Nessa perspectiva, o jornalismo científico deve contribuir
além da divulgação
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9ª Reunião da Red-POP - 8-10 de abril de 2005Rio de Janeiro-Brasil
Mídia, Educação Científica e CidadaniaA experiência das revistas Eureca e ABC das Águas
Ciência se aprende experimentando, pesquisando e brincando
Graça Caldas2
Resumo: A busca da linguagem adequada, os temas escolhidos, as ilustrações, os suportes, são desafios permanentes na construção do conhecimento científico e sua interface mídia-escola, no processo de desenvolvimento de uma cultura científica cidadã. Este trabalho é um relato da experiência de produção da revistas paradiáticas de divulgação científica para crianças. Desenvolvidas na linha de pesquisa de Divulgação Científica, sob minha coordenação, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), as revistas em diferentes formatos: a impressa, Eureca e a eletrônica ABC das Águas foram desenvolvidas por alunos de graduação em Jornalismo da UMESP, como parte dos projetos experimentais de conclusão de Curso em 2002 e 2004.
Introdução - A divulgação do conhecimento científico na mídia faz com que
o cidadão comum, seja ele criança, jovem ou adulto, tome contato cada vez
mais freqüente com o mundo da ciência, sem se dar conta do papel
estratégico que ela ocupa nas sociedades modernas. Questões de natureza
polêmica como os alimentos geneticamente modificados, os transgênicos; a
clonagem terapêutica ou reprodutiva, bem como discussões relacionadas ao
meio ambiente ocupam o imaginário popular construindo conhecimentos a
partir de fragmentos de informações com qualidade às vezes duvidosa e
quase sempre destituída de seu contexto sócio-econômico e político.
Dessa forma, é comum encontramos pessoas de diferentes faixas
etárias, independente dos níveis culturais e econômicos, formando opiniões e
assumindo posições pró ou contra determinadas pesquisas, sem um
conhecimento adequado para isto. O mais grave, porém, face à utilização da 2 Graça Caldas é jornalista, especialista em Comunicação Integrada, Dra. em Ciências da Comunicação-ECA-USP. Trabalhou em diferentes veículos como Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, além da Assessorias de Imprensa da Prefeitura de Campinas e da Unicamp. Atualmente é professora e pesquisadora da área de Divulgação Científica e Políticas de C &T do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMNESP e professora dos cursos Lato Sensu em Jornalismo Científico do Labjor-Unicamp e PUC-Campinas.
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mídia na sala de aula, é a reprodução desse conhecimento veiculado pelos
jornais, revistas, rádio, televisão e Internet, sem uma visão crítica do processo
de produção da ciência, tecnologia e inovação. Troca-se, assim, a
experimentação, a pesquisa para a construção do conhecimento pela
representação da informação científica construída culturalmente pela mídia,
em detrimento do aprendizado cidadão.
Sem negar a importância e o avanço da qualidade da informação
científica na mídia, ainda enfrentamos problemas de marketing científico, uma
vez que o jornalista, por deficiência de formação ainda limita-se a reproduzir o
discurso do cientista sem contextualizar a produção da ciência e tecnologia
numa perspectiva sócio-econômica, em que estão em jogo interesses que vão
além da mera divulgação da C&T.
“A circulação da informação científica desmitificada, analisada, interpretada, tem o poder de acabar com o fetiche da mercadoria, da religião do consumo. A relação com os meios de comunicação não pode se dar de maneira unívoca. No mundo da informação rápida, fragmentária, a ilusão do conhecimento provoca uma busca desenfreada por notícias científicas que, veiculadas de forma apressada, pasteurizada, descontextualizada, prometem soluções rápidas para os problemas que afligem a humanidade” (CALDAS, 2003:76).
E é exatamente neste contexto de circulação fácil e rápida do
conhecimento científico e dos avanços tecnológicos que entra o papel do
educador científico, seja ele professor de ciências, divulgador científico,
jornalistas científicos ou monitores de museus e centros de ciências. Como
fazer para transformar a enxurrada de informações sobre o conhecimento
científico veiculados na escola ao lado dos avanços da C&T que chegam
diariamente pela mídia em algo que faça sentido e permita o desenvolvimento
de uma visão crítica da ciência, como processo, em lugar de uma postura
contemplativa?
“Aprender a aprender”, ensinava Paulo Freire. “Saber pensar”,
complementa Pedro Demo. Como, porém, “aprender a aprender” e “saber
pensar”? Os caminhos são inúmeros. Entretanto, todos eles, não importam os
atalhos ou percursos realizados, o fundamental é manter a curiosidade pelo
conhecimento, ensinar a fazer perguntas, a pensar, a desenvolver
argumentos, sejam eles contrários ou favoráveis ao tema em estudo. Nessa
perspectiva, o jornalismo científico deve contribuir além da divulgação da
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produção científica e do avanço do conhecimento, para a compreensão e
percepção pública de que não existem respostas imediatas, não existem
respostas prontas. Ajudar a opinião pública a entender que a ciência é uma
busca permanente e a formulação de questões relevantes para dirimir
dúvidas, em lugar de aceitar como verdadeiro e definitivo, tudo o que é
veiculado pela mídia sobre C&T. Cabe à mídia aceitar o papel de educador
não formal.
Da mesma forma, o professor na sala de aula, ao utilizar as
reportagens científicas, independente de seus formatos (impresso ou
eletrônico), precisam cultivar o hábito de também estimular os alunos a
formular perguntas a partir do material selecionado da mídia. Tomar a mídia
apenas como um ponto de partida no processo de aprendizado, numa
perspectiva crítica e analítica. Como fazer, porém, com que o ensino de
ciências na escola mantenha a curiosidade natural das crianças e o desejo de
aprender pela experimentação, por tentativa, erro e acerto? Como suprir as
dificuldades na formação dos professores e a ausência de laboratórios
adequados para a educação científica na escola?
Ciência, experimentação e brincadeiras - “Ciências se aprende com
experiências. A melhor maneira de aprender ciências é brincando. Não temos
experiências. A professora explica no quadro e por ditados”. São afirmações
de crianças na faixa etária de 8 a 11 cursando as 3ªs e 4ªs séries do Ensino
Fundamental de escolas públicas de São Bernardo do Campo, região do
ABC, no Estado de São Paulo. As opiniões das crianças sobre o aprendizado
de Ciências fazem parte de pesquisa realizada, sob minha orientação, por
alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, para
a produção de uma revista de ciências para as crianças: Eureca como parte
do trabalho de conclusão de curso.
Durante a pesquisa, que envolveu crianças, professores, psicólogos e
cientistas, os alunos de Jornalismo descobriram que, apesar da existência
de vários textos de caráter científico nos jornais dirigidos às crianças em
diferentes jornais, na maior parte deles a linguagem era inadequada. Isto
porque pretende abranger diferentes faixas etárias, em prejuízo da eficácia
do processo de comunicação.
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O mesmo problema ocorre com a revista Ciência Hoje das Crianças,
cuja qualidade é indiscutível, mas que pretende, também, atingir um público
infantil diversificado. A diversidade do público como fator prejudicial a
qualquer publicação e em especial à Ciência Hoje é reconhecido por sua ex-
editora jornalista Luisa Massarani, (MASSARANI, 2000:69-70).
(...) Ciência Hoje das Crianças enfrenta ainda a heterogeneidade do público leitor. Seu projeto inicial previa atingir o ensino fundamental, significando portanto a necessidade de fazer uma publicação atraente tanto para leitores de 7 anos
quanto para 14 anos. (...) Qual é a saída? Fazer uma revista que pode ser inteiramente lida por todos? Não existe isso. Um texto muito fácil vai matar de tédio a criança mais bem formada, que, conseqüentemente, perderá o interesse pela revista. Um estratégia foi misturar em uma edição alguns artigos mais fáceis, outros mais difíceis. Outra saída foi buscar soluções na composição do texto, por exemplo, criando uma hierarquia de dificuldades: a primeira parte pode ser entendida por todos e, à medida que vai se desenvolvendo, torna-se mais difícil. Pode-se também usar boxes explicativos
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ou, ao contrário, mais difíceis, nos quais aprofunda-se mais sobre um assunto.
A adequação da linguagem ao público-alvo é fator decisivo para que o
processo de comunicação-aprendizado se efetive, como verificado na
pesquisa de campo pelos alunos-editores do projeto de revista Eureca,
ALVAREZ, Luciana Pinto, CARVALHO, Paloma Cristina S.G., COSTA,
Cristine Noronha, CLETO, Thaise, GAGGINI, Eduardo Schwarz.
(...) Durante a visita do grupo à escola pública de São Bernardo do Campo, EMEB Professor Otílio de Oliveira, notamos que as crianças têm especial interesse em receber informação por meio de linguagem ilustrativa e por experimentos. Quando a informação é apresentada apenas em forma de texto, a dificuldade de compreensão é maior. O grupo também percebeu que essa faixa etária – 8 a 11 anos – é atualmente mal explorada dentro das revistas de Ciências, que insistem numa infantilização exacerbada dos termos e, ao mesmo tempo, subestima o potencial das crianças. Com os comentários das crianças, pudemos constatar a ineficiência de textos longos, palavras no diminutivo e a importância da linguagem ilustrada no processo de produção dos veículos de comunicação. (ALVARES et alli, 2002:24).
Educação Ambiental para crianças - Outra experiência de Jornalismo
Científico para crianças é o projeto de revista eletrônica “ABC das águas”,
desenvolvido também sob minha orientação, como trabalho de conclusão de
curso de graduação. Trata-se de um projeto de Educação Ambiental focado
na questão da água desenvolvido em 2004 pelos alunos Danille Castana,
Marcelo Rossi Coco, Mariana F. Demarchi e Marina Mussi Paolani.
Direcionado para crianças da 2ª às 4ªs séries, na faixa etária de 8 a 10 anos,
do Ensino Fundamental da região do ABC paulista (Santo André, São
Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), a revista, de natureza temática,
tem como objetivo despertar e educar as crianças para o problema da água.
Com uma linguagem simples, voltada para o público infantil, a revista tem como estímulo e grande atrativo ilustrações, fotos, animações e a presença da Família Gota, que atua como guia na aventura do conhecimento. Neste percurso, os diferentes personagens da Família Gota conta histórias e relatam experiências dos especialistas durante as visitas aos locais que tratam da água na região do ABC. De forma clara e objetiva, numa abordagem lúdica, mostra em diferentes conteúdos os cuidados necessários para a manutenção da qualidade da água, seu tratamento e maneiras de reduzir a poluição e desperdício. Orienta as crianças como preservar o meio ambiente e os cuidados necessários sobre esse recurso natural, fonte de vida e que também pode levar à morte (Relatório Técnico “ABC das Águas, 2004:7).
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Ao contrário do que aconteceu com a literatura infanto-juvenil, que vem
crescendo no país e atendendo a diferentes faixas etárias, no mercado
editorial de revistas, onde a segmentação é uma realidade, há um universo a
ser explorado no campo da divulgação infantil para crianças. Projetos dessa
natureza poderiam ser elaborados não só de forma profissional, mas com a
participação de escolas de Jornalismo de todo o país em conjunto com as
secretarias de Educação dos municípios. Outro exemplo de trabalho de
alunos é o jornal impresso Repórter na Escola, coordenado pela professora
Mônica Caprino, também da UMESP, mas que teve vida curta, apesar de sua
aceitação nas escolas, devido à falta de patrocínio.
A grande lição que fica da pesquisa e dos projetos experimentais da
revista Eureca e ABC das Águas é algo que todo mundo já sabe mas que os
educadores pouco praticam por falta de laboratórios nas escolas, de
criatividade dos professores (nem todas as experiências dependem de
estruturas laboratoriais) e por falta de incentivos institucionais (os professores
são mal remunerados e não têm tempo nem recursos para cursos de
reciclagem). Ciências se aprende experimentando e brincando.
A curiosidade é natural nas crianças e ciências é uma matéria em que
o processo educativo deve se dar de forma lúdica para a melhor
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compreensão do processo de construção do conhecimento. Ela pode ser feita
por meio de recursos de narrativa jornalística, história em quadrinhos, ou
qualquer outra forma de relato. Múltiplas são os formatos e linguagens. O que
importa é que “entrem” no mundo da imaginação das crianças, possibilitando
uma interação dialógica.
Repórteres Científicos - Outra possibilidade pouco explorada pelos
professores de Ciências, apesar da utilização dos meios de comunicação na
Educação ser hoje uma realidade incontestável, são as ferramentas da
comunicação para o aprendizado. Ainda são embrionários os projetos que
usam essas ferramentas como meio. Não se trata, obviamente, de refletir
sobre o uso das tecnologias da comunicação na sala de aula, mas da
utilização criativa dos recursos e procedimentos da produção da notícia para
o processo de aprendizado, a exemplo do que vem sendo feito pela equipe do
professor Ismar Soares, da USP, com o projeto rádio-escola, cujos resultados
de melhoria na capacidade de expressão e socialização de crianças e jovens
de escolas da periferia de São Paulo são estimulantes.
Trata-se, portanto, não só de dar voz aos excluídos, garantindo assim o
acesso aos meios de comunicação, como principalmente garantir, no caso do
conhecimento científico, o compartilhamento do saber para um aprendizado
cidadão. Ao possibilitar a alfabetização científica de crianças e jovens com o
uso dos recursos tecnológicos da comunicação, é possível usar a Educação
Científica para a promoção da cidadania. Não se trata apenas de ensinar os
conceitos das diferentes áreas, necessários na educação formal, mas usar na
educação informal os conceitos adquiridos na escola e reconstruí-los, em
formato jornalístico, para uma reflexão dos conteúdos.
A informação científica construída com a participação das crianças
permitirá seu aprendizado-cidadão, como explica Jorge Maranhão em seu
livro “Mídia e Cidadania - faça você mesmo”, onde discute a necessidade de
um jornalismo cidadão, idéia que retomamos para falar da Ciência-Cidadã.
Dessa forma seria possível inclusive “politizar” o papel da ciência e da
tecnologia no cotidiano das pessoas para um melhor entendimento da
importância do conhecimento para o exercício pleno da cidadania. “Nós não
seremos cidadãos enquanto não aprendermos a ocupar os espaços da mídia,
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que é a ágora moderna, e entendermos que ela está do nosso lado, é o
próprio espaço de nossa opinião” (MARANHÃO, 1993:276)
Além de aprender fazendo, experimentando, é preciso, também,
aprender a pensar. Acredito que as técnicas jornalísticas de relato dos “fatos”
ou reprodução do discurso das fontes possam ser utilizadas para a
compreensão do conhecimento científico. Explicando melhor: se o conteúdo
programático é transgênicos, nada melhor do que, além das pesquisas
necessárias e ou entrevistas para o conhecimento do assunto, utilizar as
técnicas da narrativa jornalística e seus diferentes suportes para demonstrar
seu aprendizado.
Como saber se a criança ou o jovem entendeu determinado conteúdo
abrindo mão dos tradicionais recursos de provas, seminários ou trabalhos
sobre o tema? Se, em lugar dos procedimentos convencionais utilizarmos as
ferramentas da comunicação para a demonstração do aprendizado,
estaremos ao mesmo tempo fazendo o aluno pensar, refletir, sintetizar o
conteúdo e escolher a melhor forma de divulgação para outros colegas da
mesma faixa etária. Além de tudo, o processo permite a participação do
grupo, de forma cooperativa, onde o processo de produção incluindo
conteúdo e formato serão discutidos por todos antes de sua veiculação.
Desta forma, estaremos de forma lúdica e participativa, associando
motivação por um produto com autoria das crianças, desenvolvendo
criatividade e garantindo a compreensão da essência do conteúdo a ser
construído em lugar de apenas repassado. Dessa forma, as crianças serão
sujeitas de suas próprias ações de aprendizado, em lugar de meros
espectadores do conhecimento alheio.
O uso da imprensa no processo de aprendizado não é novo. O
educador francês, Celestin Freinet (1986-1966) já compreendia o papel da
mídia no processo educativo e o usava, de uma forma dinâmica e
participativa. Sua proposta pedagógica era definida pela atividade e criação.
Acreditava no trabalho prático e cooperativo na educação prazerosa. Uma
das técnicas usadas era o jornal escolar, qualquer que fosse o formato,
impresso, mural, falado. À semelhança da necessidade de experiência para o
aprendizado científico, defendia a experiência do fazer para aprender. A
experiência da livre expressão em diferentes formas de comunicação
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(imprensa, teatro, música, histórias em quadrinhos, entre outras formas de
manifestações). Como explica Elias (1997:88),
Na Pedagogia Freinet, a linguagem e a escrita são vistas como meios expressivos não exclusivos do professor ou de um manual. A criança pode falar livremente, escrever o que deseja. A imprensa prolonga a expressão escrita permitindo-lhe ver o que escreve para ser lido pelos colegas e por outros. O texto livre, quando conduzido ao jornal escolar, ao relatório e à correspondência, muda a relação entre a criança e a escola, uma vez que se vê mergulhada numa realidade viva. A criança já domina muitos conhecimentos e os utiliza socialmente. A livre expressão manifesta-se em desenhos, pinturas, poemas, descrições, peças de teatro, criações musicais etc, que alimentam exposições, revistas, encontros...
Como explica Freinet, a imprensa é um dos recursos mais ricos e
produtivos no processo de construção da narrativa, momento em que a
criança pode explicar a experiência vivida. Desta forma, pode ser usada para
a construção do conhecimento científica de forma lúdica e cooperativa.E
continua:
É preciso tornar as crianças capazes de se organizar e dirigir, procurar por si os modos de organização possíveis de servir ao grupo e, posteriormente, à sociedade. O aluno pesquisa para descobrir uma postura necessária a toda ação coletiva. Realiza experiências, troca suas pesquisas com os colegas e toma consciência das abordagens diferenciadas de um mesmo problema, crescendo ao lado do outro através do diálogo, do confronto e da amizade. Possui uma verdadeira cultura: sabe refletir, ler, escolher e julgar. É formado para a vida (Idem:92).
Com base na percepção das crianças de que o aprendizado da ciência
deve ser pela experimentação, pesquisa, brincadeira, e na filosofia e postura
de vários educadores como Freire, Demo, Freinet, que ressaltam a
importância do fazer para aprender, é necessário ampliar, criativamente, as
ferramentas da comunicação e suas múltiplas linguagens, numa perspectiva
educativa, criando jornais, revistas, programas de rádio, TV ou Internet.
Aprender ciência fazendo ciência e reescrevendo ciência, utilizando
para isto diferentes linguagens, recursos e suportes da Comunicação, seja
imprensa (jornal, revista) ou eletrônico (rádio, TV e Internet). Possibilitar que
as crianças e jovens usem as técnicas narrativas “emprestadas” do
Jornalismo como forma de apreensão do mundo da ciência, seus feitos, suas
contradições é uma forma criativa e estimulante de aprendizado. Aprendizado
da ciência real e não a ciência idealizada.
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Dessa forma permitirá que as crianças e jovens de hoje possam
entender o caráter público ou privado da ciência e da tecnologia. Que possam
aprender os conteúdos científicos de forma crítica e autônoma reconstruindo,
reescrevendo o conhecimento, passo a passo, em lugar de apenas “recitá-lo”
ou “copiá-lo” na busca da memorização, do falso aprendizado. Só assim, a
alfabetização científica desejada por jornalistas, cientistas e cidadãos em
geral permitirá que a ciência e educação, ao lado da comunicação resultem
em exclusão zero. Na experiência de construção coletiva de um novo produto
direcionado à formação científica das crianças, a certeza de que é urgente a
viabilização de projetos como esses, entre tantos outros espalhados em
vários cantos do país para, em regime de parceria entre cursos de Jornalismo
e escolas públicas do Ensino Fundamental, possibilitar a formação de uma
cultura científica cidadã.
BibliografiaALMEIDA, Maria José P.M e SILVA, Henrique César. Linguagens, Leituras e Ensino de Ciência. Ed. Mercado das Letras, Campinas, Associação de Leitura do Brasil (ALB), 1998.ALVARES, Luciana Pinto et alli. Relatório Técnico – Revista Eureca. Projeto de Conclusão de Curso de Jornalismo da UMESP, 2002, sob a orientação de Graça Caldas.CALDAS, Graça. Comunicação, Educação e Cidadania: o papel do Jornalismo Científico. In GUIMARÃES, Eduardo (org.). Produção e Circulação do Conhecimento-Política, Ciência, Divulgação, V.II, Ed. Pontes, Campinas, SP, 2003, pp:73-80.CHARLOT, Bernard (org.). Os jovens e o saber. Perspectivas mundiais. Artmed Editora Ltda, Porto Alegre, 2001.DEMO, Pedro. Saber Pensar. Cortez, Instituto Paulo Freire, SP, 2001. ELIAS, Marisa Del Ciopp. Célestin Freinet. Uma pedagogia de atividade e cooperação. Vozes, RJ, 2001.FERREIRA, Nilda Teves. Cidadania, uma questão para a Educação. Nova Fronteira, 1993.GUARESCHI, Pedrinho (org.). Os construtores da informação: meios de comunicação, ideologia e ética. Vozes, Petrópolis, RJ, 2000.GREGORY, Jane and MILLER, Steve. Science in Public. Communication, Culture, and Credibility. Plenum Press, New York, 1998.MARANHÃO, Jorge. Mídia e Cidadania: faça você mesmo. Topboorks, RJ, 1993.MASSARANI, Luisa. Textos científicos para crianças (61-75). In ALMEIDA, Maria Jose P.M. e SILVA, Henrique Cesar (orgs.). FE,Unicamp, 2000: 61-75. Textos de Palestras e Sessões Temáticas. III Encontro de Linguagens, Leituras e Ensino da Ciência.MASSARANI, Luisa, MOREIRA, Ildeu de Castro e BRITO, Fátima (orgs.). Ciência e Público-caminhos da divulgação científica no Brasil. Casa da Ciência, RJ, 2002.MATOS, Caué (org). Ciência e Inclusão Social. Terceira Margem, SP, 2002.
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NATIONAL SCIENCE RESOURCES CENTER, National Academy of Sciences, Smithsonian Instituttion. Science for all Children. A guide to improving elementary Science Education in our School District. National Academy Press, EUA, 1996.REVISTA EURECA, 2002, Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da UMESP, SP.REVISTA ELETRôNICA “ABC das Águas”, 2004, Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da UMESP, SP.SOUSA, Cidoval, M, MARQUES, Nuno P. e SILVEIRA, Tatiana S (orgs.). A Comunicação Pública da Ciência. Cabral Editora, Taubaté, SP, 2003.ZAMBONI, Lilian Márcia Simões. Cientistas, Jornalistas e a Divulgação Científica. Subjetividade e heterogeneidade no discurso da divulgação científica. Autores Associados, Campinas, SP, 2001.
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