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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 METRÓPOLES REGIONAIS: REVISITANDO O CONCEITO NA PERSPECTIVA COMPARADA BRASIL-ARGENTINA Olga Lucia C. F. Firkowski Departamento de Geografia – Universidade Federal do Paraná (Curitiba/Brasil) olga.fi[email protected] Marta Delia Casares Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Nacional de Tucumán (Argentina) [email protected] INTRODUÇÃO A questão metropolitana está em destaque nos últimos anos, menos pela conscientização de que as cidades têm hoje uma outra escala e necessitam de uma atualização analítica e de intervenção e mais porque as mesmas são protagonistas de diferentes dinâmicas, na maioria das vezes com impactos negativos para o cotidiano de seus moradores: as dificuldades crescentes quanto à mobilidade, o aumento da violência, os riscos associados às inundações e deslizamentos, o déficit habitacional e as precárias condições de moradia, o abastecimento de água o destino dos resíduos, dentre tantos outros temas igualmente relevantes. Distintas redes de pesquisas têm se dedicado às metrópoles como objeto de análise, dentre outras, pode-se apontar o INCT/Observatório das Metrópoles no Brasil, o GaWC - Globalization and World Cities Study Group and Network para análises da rede urbana mundial; além de iniciativas como de Lorrain (2011) que conjuntamente com pesquisadores da China, Índia, África do Sul e Chile, analisaram comparativamente as metrópoles nos países emergentes. Dentre tais iniciativas, merecem destaque aquelas que trataram de priorizar visões comparativas sobre a realidade latino-americana, isto porque, partimos do pressuposto de que essa dimensão escalar foi por muito tempo negligenciada ou a ela se 4103

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METRÓPOLES REGIONAIS: REVISITANDO OCONCEITO NA PERSPECTIVA COMPARADA

BRASIL-ARGENTINA

Olga Lucia C. F. Firkowski

Departamento de Geografia – Universidade Federal do Paraná (Curitiba/Brasil)

[email protected]

Marta Delia Casares

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Nacional de Tucumán (Argentina)

[email protected]

INTRODUÇÃO

A questão metropolitana está em destaque nos últimos anos, menos pela

conscientização de que as cidades têm hoje uma outra escala e necessitam de uma

atualização analítica e de intervenção e mais porque as mesmas são protagonistas de

diferentes dinâmicas, na maioria das vezes com impactos negativos para o cotidiano de seus

moradores: as dificuldades crescentes quanto à mobilidade, o aumento da violência, os

riscos associados às inundações e deslizamentos, o déficit habitacional e as precárias

condições de moradia, o abastecimento de água o destino dos resíduos, dentre tantos

outros temas igualmente relevantes.

Distintas redes de pesquisas têm se dedicado às metrópoles como objeto de

análise, dentre outras, pode-se apontar o INCT/Observatório das Metrópoles no Brasil, o

GaWC - Globalization and World Cities Study Group and Network para análises da rede

urbana mundial; além de iniciativas como de Lorrain (2011) que conjuntamente com

pesquisadores da China, Índia, África do Sul e Chile, analisaram comparativamente as

metrópoles nos países emergentes.

Dentre tais iniciativas, merecem destaque aquelas que trataram de priorizar

visões comparativas sobre a realidade latino-americana, isto porque, partimos do

pressuposto de que essa dimensão escalar foi por muito tempo negligenciada ou a ela se

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deu menos atenção nos estudos acerca da realidade urbano-metropolitana, com nítida

priorização de referenciais analíticos oriundos da Europa e dos Estados Unidos.

No âmbito das pesquisas comparadas que têm a cidade como preocupação

central, podemos citar as coletâneas organizadas por Pereira e Hidalgo (2008) sobre a

relação entre produção imobiliária e reestruturação na América Latina que tomou como

objeto de análise as metrópoles de Santiago (Chile); São Paulo, Belo Horizonte e Recife

(Brasil); Cidade do México (México) e Buenos Aires (Argentina); por Lencioni,

Vidal-Koppmann, Hidalgo e Pereira (2011), que oferece uma visão comparada sobre as

transformações sócio-territoriais nas metrópoles de Buenos Aires (Argentina), São Paulo

(Brasil), Santiago (Chile); por Sposito, Elias e Soares (2012) e Elias, Sposito e Soares (2010),

que trataram, respectivamente, de modo comparado das cidades médias de Chillán (Chile) e

Marília (Brasil) e de Tandil (Argentina) e Uberlândia (Brasil).

Assim, vê-se como tendência positiva o aprofundamento das análises

comparativas sobre a realidade urbana e as cidades de diferentes portes, com destaque

para o sul da América do Sul.

No âmbito do presente texto, inserido nas preocupações motivadoras do

estabelecimento de projeto de cooperação internacional em andamento junto ao Programa

CAPES/MINyT1, o objetivo é analisar as dinâmicas que reestruturam não as metrópoles

principais de seus países, como São Paulo no caso do Brasil, Buenos Aires no caso da

Argentina ou Santiago no caso do Chile, nem as cidades intermédias, como Uberlândia,

Mossoró, São José do Rio Preto e Londrina no Brasil; Tandil e San Juan na Argentina ou

Chillan no Chile, mas um grupo de cidades que podem ser classificadas como metrópoles

regionais ou secundárias, como é o caso de Curitiba no Brasil e São Miguel de Tucumán, na

Argentina.

Tal proposição, se deve a inúmeras observações, dentre elas o fato de que a

realidade urbana latino-americana tem-se alterado rapidamente e faz-se mister ampliar as

perspectivas de análise, não limitando as conclusões a visões parciais da realidade em

questão, mas tentando abarcar, o quanto possível, sua totalidade. Daí a necessidade de

ampliação dos referenciais escalares de análise, não se restringindo a grupos específicos de

cidades, mas abarcando distintos grupos que possam revelar dinâmicas específicas em seu

1 Cooperação CAPES/MINCyT entre a Universidade Federal do Paraná – UFPR/Brasil e Universidade Nacional deTucumán – UNT/Argentina, Edital nº 029/2012, projeto “Para além das metrópoles globais: análise comparada dasdinâmicas metropolitanas em metrópoles secundárias no Brasil (Curitiba) e na Argentina (São Miguel de Tucumán)”.

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interior.

Segundo Cobos e López (2007), enquanto no ano de 1890 das 49 cidades mais

populosas domundo, 42 estavam no primeiro mundo, 7 no terceiro mundo e, dessas,

apenas 3 estavam na América Latina, no ano 2000 essa realidade se inverte: dentre as 50

maiores cidades do mundo, 39 estavam no terceiro mundo, sendo 7 na América Latina. Isso

demonstra uma importante alteração no quadro urbano-metropolitano latino-americano e,

sobretudo, a necessidade de ampliar e aprofundar as interações e as análises comparativas

no interior de tal realidade, tendo em vista suas especificidades em especial aquelas

advindas de sua origem e desenvolvimento histórico recentes, que faz com que as cidades

não sejam testemunho das mutações históricas de longo prazo, como ocorre na Europa, por

exemplo.

Retomar a discussão acerca das metrópoles regionais significa revisitar noções

que foram deixadas de lado em face do protagonismo das cidades globais, significa atribuir

novo sentido ao regional e à noção de hierarquia urbana. Significa compreender que,

embora submetidas à logica da globalização, as metrópoles objeto de análise no presente

texto não são cidades globais, mas estão inseridas no contexto da globalização, conforme

afirma Sassen (1998, p. 16-17), para quem, além das cidades globais, que são

(1) pontos de comando na organização da economia mundial; (2) lugares e

mercados fundamentais para as indústrias de destaque do atual período, isto é,

as finanças e os serviços especializados destinados às empresas; (3) lugares de

produção fundamentais para essas indústrias, incluindo a produção de

inovações. Várias cidades também preenchem funções equivalentes em

escalas geográficas menores, no que se refere a regiões transnacionais e

subnacionais. (grifo nosso)

Assim, parte-se da hipótese de que, embora Curitiba no Brasil e Tucumán na

Argentina não joguem papel principal na dinâmica econômica em seus respectivos países, e

tampouco ocupem as posições centrais nas respectivas hierarquias urbanas, ambas tem-se

inserido de modo importante no processo de globalização por meio da reprodução, nessa

escala secundária de metrópole, de processos e dinâmicas globalizadas e que resultam na

conformação de espaços metropolitanos similares, na perspectiva socioespacial.

Detectar tais dinâmicas e compreender as lógicas globalizadas que as

conformam é uma das razões do estabelecimento da pesquisa comparada em tela.

Revisitar o conceito de metrópoles regionais, que balizou importantes análises

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até os anos de 1990, se justifica por meio da afirmação de Di Meo (2008, p. 2), segundo a

qual as metrópoles possuem uma hierarquia entre si, desde aquelas “assentadas no coração

das regiões que dividem os territórios nacionais até as metrópoles mundiais e as cidades

globais que governam o planeta.”

Não se trata de reduzir a análise à noção de lugares centrais proposta por

Christaller, mas de reconhecer a complexidade das relações que ocorrem entre as cidades

na atualidade e dimensionar o papel de cada uma delas no conjunto da rede/sistema

urbano de seu respectivo país. Mais do que priorizar a perspectiva da rede/sistema urbano

per se, o que se pretende é verificar se nessa escala de metrópoles situadas em países

diferentes, podemos identificar a atuação dos mesmos agentes internacionalizados,

resultando na adoção de lógicas e estratégias espaciais similares.

Contudo, como se trata de um projeto em desenvolvimento, no âmbito do

presente texto, objetiva-se estabelecer uma visão comparativa entre a posição de ambas as

cidades no contexto da rede urbana de seus respetivos países. Reconhecendo tal esforço

como uma primeira providência no sentido do reconhecimento das realidades próximas e

por vezes tão distanciadas da perspectiva do pesquisador brasileiro e do argentino.

Evidenciando o contexto latino-americano, a Figura 01, baseada em importante

estudo sobre a realidade urbana argentina (MINISTERIO, 2011), permite visualizar a

realidade urbana nesse recorte espacial e a posição das principais cidades, mensuradas a

partir do número de habitantes, tomado aqui como uma proxy da importância de cada

grupo de cidade, embora se reconheça que o tamanho populacional não pode ser elemento

único considerado para a definição do papel da cidade num contexto territorial específico.

Na Figura 01 pode-se também observar a posição das duas metrópoles objeto

de pesquisa comparada em posição semelhante do ponto de vista da população,

respectivamente, Curitiba no Brasil e São Miguel de Tucumán na Argentina, além da

singularidade de localização de ambas as cidades, praticamente num mesmo paralelo,

contudo, a rede/sistema urbano no qual estão inseridas em seus respectivos países, revela

uma forte centralização nas metrópoles que capitaneiam ambas as realidades urbanas, qual

seja, Buenos Aires e São Paulo, resultando na exacerbação das ligações verticais dos fluxos

de transporte e na quase nula relação horizontal entre as cidades, o que revela uma posição

regional possível de ser ativada por meio de ações/intervenções de planejamento e

ordenamento territorial, caso se vislumbre e se deseje um real processo de integração

latino-americana.

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Figura 01: Rede urbana sul-americana, 2011.

Fonte: MINISTERIO (2011, p. 49)

Do ponto de vista das fontes de informação utilizadas para a construção do

presente texto, ressaltam-se dois estudos de significativa importância, respectivamente,

Região de Influência das Cidades – REGIC, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 2008), e para a Argentina o Plano Estratégico Territorial – Argentina Urbana,

produzido no ano de 2011 pelo Ministério de Planificación Federal, Inversión Pública y

Servicios.

Assim, tanto a definição da rede urbana na nomenclatura adotada no Brasil,

quanto do sistema urbano na nomenclatura adotada na Argentina, foram construídos por

meio de distinta metodologia, cujo resultado oferece uma visão geral da realidade urbana

de ambos os países, mas cuja comparação mais detalhada requer atenção, pelas

especificidades de cada um.

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No Brasil o REGIC/2007 (IBGE, 2008) esboça uma hieraquização das metrópoles

ao dividilas em três subníveis, como segue.

Metrópoles – são os 12 principais centros urbanos do País, que caracterizam-se

por seu grande porte e por fortes relacionamentos entre si, além de, em geral,

possuírem extensa área de influência direta. O conjunto foi dividido em três

subníveis, segundo a extensão territorial e a intensidade destas relações: a)

Grande metrópole nacional – São Paulo, o maior conjunto urbano do País, com

19,5 milhões de habitantes, em 2007, e alocado no primeiro nível da gestão

territorial; b) Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília, com população de

11,8 milhões e 3,2 milhões em 2007, respectivamente, também estão no

primeiro nível da gestão territorial. Juntamente com São Paulo, constituem foco

para centros localizados em todo o País; e c) Metrópole – Manaus, Belém,

Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre, com

população variando de 1,6 (Manaus) a 5,1 milhões (Belo Horizonte), constituem o

segundo nível da gestão territorial. (IBGE, 2008, p. 11).

A Figura 02 permite observar a rede urbana brasileira à luz do REGIC/2007 e nele

a posição de Curitiba como ‘metrópole’, conforme destacado anteriormente, com população

de cerca de 1.700.000 habitantes no município e mais de 2.500.000 na região metropolitana

segundo Censo de 2010 do IBGE.

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Figura 02: Níveis hierárquicos da rede urbana brasileira em 2007.

Fonte: REGIC, 2008.

Assim, muito embora não haja a explicitação de um nível hierárquico

denominado de metrópole regional no REGIC/2007, observa-se uma hierarquia subliminar,

na medida em que as 12 metrópoles identificadas no Brasil, são distribuídas em três níveis

distintos. Os demais níveis hierárquicos, além das metrópoles, são: Capital Regional A, B e C;

Centro Subregional A e B e Centro de Zona A e B.

Se observarmos as edições anteriores do REGIC, é possível notar a dimensão

regional sendo priorizada, assim, no estudo de 1966 os níveis hierárquicos estabelecidos

foram: Grande Metrópole Nacional (São Paulo), Metrópole Nacional (Rio de Janeiro) e Centro

Metropolitano Regional (Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife). À época, Curitiba

era classificada como Centro Macrorregional, ao lado de Goiânia, Fortaleza e Belém. Além

desses, havia ainda: Centro Regional A e B, Centro Sub-regional A e B e Centro Local A e B.

Embora a metodologia de definição da hierarquia urbana seja distintas, chama a

atenção a grande similaridade na atribuição dos nomes dos estratos urbanos adotados

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entre os estudos de 1966 e 2007.

Em 1978 nova classificação se fez, resultando na adoção de dois níveis

hierárquicos relacionados às metrópoles, a saber: Metrópole Regional (São Paulo, Rio de

Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém e

Manaus) e Centro Submetropolitano (São Luís, Teresina, Natal, Campina Grande, Maceió,

Aracaju, Vitória, Juiz de Fora, Ribeirão Preto, Campinas, Cuiabá, Campo Grande, Londrina).

Os demais níveis eram: Capital Regional, Centro Sub-regional e Centro de Zona.

No ano de 1993, nova denominação é adotada, segundo ela prioriza-se a

valoração da centralidade dos centros urbanos, que são classificados em nível: Máximo (São

Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Salvador, Recife e

Fortaleza), Muito Forte (Manaus, Belém, São Luís, Teresina, João Pessoa, Campina Grande,

Caruaru, Feira de Santana, Brasília, Uberlândia, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto,

Presidente Prudente, Marília, Bauru, Campinas, Londrina, Maringá, Florianópolis, Passo

Fundo, Santa Maria e Pelotas), Forte, Forte para médio, Médio, Médio para fraco e fraco.

Desse modo, enquanto no Brasil prevalece o enfoque hierárquico a partir da

adoção do conceito de rede urbana e da priorização, em termos de metodologia, da

definição dos centros de gestão do território (definidos pela presença de componentes da

gestão federal, gestão empresarial, além de equipamentos e serviços: comércio e serviços,

instituições financeiras, ensino superior, saúde, internet, redes de televisão aberta e

conexões aéreas), na Argentina, utiliza-se o conceito de sistema urbano, definido a partir da

ponderação das seguintes variáveis: infra-estrutura de serviços, transporte e comunicações,

atividades financeiras e comerciais, população e estrutura ocupacional. Tais variáveis

revelam a

variedad de oferta de bienes y servicios que proveen los distintos núcleos

urbanos, las interacciones de los nodos y sus entornos y de los nodos entre sí y

la multiplicidad de funciones que cumplen en la configuración y dinámica del

territorio. Esta caracterización articula aspectos de la organización interna de los

núcleos urbanos y aspectos relacionales que abarcan distintas escalas, desde los

entornos más inmediatos hasta las relaciones a distancia y la inserción en

sistemas urbanos regionales, supranacionales y globales. (MINISTERIO, 2011, p.

33)

El criterio básico para desarrollar la jerarquización ha sido la aplicación de un

índice de centralidad urbana, que remite al mayor o menor agrupamiento o

concentración de servicios y funciones: a mayor concentración de estas

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actividades, mayor centralidad del nodo. Este criterio tiende a cuantificar el

grado de los servicios directos e indirectos que presta a su población y al

entorno (MINISTERIO, 2011, p. 37)

Como resultado, o sistema urbano argentino é constituído pelos seguintes níveis

hierárquicos: 1 nó internacional que é Buenos Aires; 4 nós nacionais que são: Grande

Córdoba, Grande Rosário, Grande Mendoza e Grande San Miguel del Tucumán; 18 nós

regionais; 82 nós subregionais; 160 nós microrregionais A; 508 nós microrregionais B e 89

nós microrregionais C, como mostra o Quadro 01.

Os dois primeiros níveis do sistema urbano argentino, respectivamente

constituídos pela Região Metropolitana de Buenos Aires-La Plata, e pelas aglomerações de

Grande Córdoba, Grande Rosário, Grande Mendoza e Grande San Miguel de Tucumán,

concentram mais de 50% da população urbana argentina.

Quadro 01: Níveis hierárquicos do sistema urbano argentino, 2011.

Fonte: MINISTERIO (2011, p. 38)

A Figura 03, permite observar a espacialização do sistema urbano argentino por

níveis hierárquicos.

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Figura 03: Níveis hierárquicos do sistema urbano argentino, 2011.

Fonte: MINISTERIO (2011, p. 39)

Pelo exposto, observa-se papel semelhante de Curitiba e São Miguel de Tucumán

em suas respectivas redes/sistemas urbanos.

CURITIBA E SAN MIGUEL DEL TUCUMÁN: SIMILARIDADES

Curitiba é uma metrópole com papel de destaque no contexto brasileiro. Tal

destaque é proveniente não apenas de sua inserção no âmbito da economia, como também

– e talvez principalmente -, no âmbito de seu papel no campo da idealização de uma

realidade urbanometropolitana bem sucedida.

O protagonismo do processo de planejamento urbano em termos nacionais,

resultou em uma metrópole objeto de reconhecimento e admiração por parte não apenas

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das pessoas como da mídia.

Contudo, sua proximidade com São Paulo, grande centro econômico nacional,

em certos setores reduz e em outros potencializa sua atratividade. Exemplo de

potencialização pode ser apontado a partir da localização do parque automotivo, desde

meados da década de 1990, exemplo de redução pode ser apontado no âmbito de

atividades culturais e de espetáculos, cuja proximidade com São Paulo não estimula a

realização de empreendimentos dessa natureza.

Assim, parte das funções metropolitanas presentes em Curitiba encontram-se

como que sombreadas por aquelas oriundas de uma metrópole mais completa, como São

Paulo. Em contexto diverso está São Miguel de Tucumán, cuja distância física de Buenos

Aires lhe assegura maior astomia em termos de funções.

Historicamente, San Miguel de Tucumán teve papel importante na constituição

do território argentino, inclusive tendo sido o local de onde partiram os movimentos para a

proclamação da independência no ano de 1816. Contudo, ao longo do tempo, as lógicas

territoriais que foram se estabelecendo privilegiaram a região do pampa úmido e

paulatinamente o eixo de dinamismo econômico do país de moveu em direção a Buenos

Aires, a capital do país.

San Miguel de Tucumán está localizada na região Noroeste da Argentina e é a

capital da província de Tucumán, a menor província argentina em termos de área. Embora

não haja na Argentina o estabelecimento formal de regiões metropolitanas, atribui-se a

denominação de Gran, aos maiores aglomerados urbanos do país, que ocupam posição

similar ao que no Brasil reconhecemos como metrópole segundo o REGIC/2007. Dessa

forma, pode-se nomear de Grande Tucumán, o aglomerado metropolitano que contava com

cerca de 622 mil habitantes no ano de 1991, tendo alcançado 738 mil em 2001 e as

projeções do Censo 2010 apontam para um total de 900 mil habitantes na atualidade.

A principal atividade produtiva da província de Tucumán foi, ao longo do tempo,

o açúcar, contudo, na atualidade a produção de limão faz de Tucumán um dos maiores

produtores mundiais desse produto. A despeito de uma importante base econômica

assentada na agricultura, mais de 70% da População Economicamente Ativa, situa-se no

setor terciário da economia. (MINISTERIO, 2011)

A posição ocupada pelas cidades no conjunto da rede urbana (seja ela nacional

ou mundial), está intimamente relacionada ao momento histórico. Para Ferrier (2001), é

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possível estabelecer correlação entre os processos espaciais e os distintos períodos

históricos, o que expressa uma maior complexidade da realidade. Com isso, temos que na

primeira modernidade o processo espacial característico era a cidade/campo; na segunda

modernidade o urbano e na terceira modernidade a metropolização.

Essa generalização do metropolitano deve ser mais amplamente analisada e

incorporar suas distintas escalas de abrangência, daí porque entendemos como relevante

inserir as metrópoles regionais ou secundárias na presente proposta comparativa. Ainda

para o Autor, a metropolização apresenta-se como uma realidade territorial dominante e

sua pertinência analítica advém de várias razões, capazes de contribuir decisivamente para a

teoria da metropolização, dentre elas o autor destaca que é possível analisar a

metropolização a partir de três escalas, a saber: o território da vida cotidiana; o território

regional/macro-regional e o território-mundo (FERRIER, 2001, p. 43). É precisamente a escala

do território regional/macro-regional que se pretende aprofundar nos desdobramentos do

presente texto.

Segundo Benko (2002), o poder da metrópole no mundo atual está diretamente

relacionando aos processos de metropolização e de mundialização, concluindo que as

metrópoles atuais expressam de modo inequívoco a mundialização da economia, sendo,

portanto, lugares privilegiados de lógicas diversas que perpassam as maiores cidades do

mundo, criando um duplo processo de homogeneização e de diferenciação.

Homogeneização porque os mesmos agentes econômicos ou o mesmo tipo de agente, com

as mesmas lógicas estão em todas as cidades e em todos os países (internacionalização);

diferenciação porque acentua a importância das diferenças, na medida em que a

concorrência interurbana cresce e se torna mais aguda é preciso que se ofereça algo

diferente das demais cidades (ASCHER, 2004).

Tal relação produz, ao tempo em que é também produto, novas formas urbanas,

mais complexas e que só podem ser compreendidas à luz do processo de

internacionalização, uma vez que o avanço do processo de globalização tem papel decisivo

na modificação da organização e do funcionamento das aglomerações metropolitanas,

provocando transformações não apenas no âmbito de suas articulações externas, como

também de sua dinâmica e configuração interna.

Para Berry-Chikhaqui, Deboulet e Roulleau-Berger (2007, p. 8), parece claro que

numerosas metrópoles “do Sul” participam plenamente de variadas manifestações de

internacionalização que ultrapassam somente as trocas econômicas internacionais, tais

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como a circulação contínua e intensa, mas também as novas formas de coabitação entre as

populações originárias de continentes e de tradições migratórias diferentes.

Nesse texto, a internacionalização é compreendida como um processo capaz de

desencadear reestruturações socioeconômicas e urbanas, na medida em que permite a

rápida conexão entre os interesses globais e as possibilidades locais. Nesse processo as

lógicas locais se alteram em favor de uma lógica ditada a partir de uma ordem distante,

localizada nos centros de comando da economia globalizada.

Como decorrência, numa primeira mirada, prevalece uma certa homogeneização

de lugares, equipamentos urbanos, projetos. As metrópoles, dentre elas as regionais ou

secundárias, são cada vez mais parecidas entre si quando se observam elementos

constitutivos de sua vida cotidiana, na medida em que são, regra geral, as mesmas

empresas e/ou grupos que atuam mundo afora na criação desses novos padrões da vida

urbana/metropolitana.

Do mobiliário urbano à busca pelos eventos como forma de dinamizar e atrair

investimentos para as cidades, das pequenas às grandes intervenções urbanas, pautadas

por modelos exitosos mundialmente, da atuação das empresas e das soluções em TIC’s, da

padronização das formas de morar, das soluções pasteurizadas para a mobilidade urbana,

deixando de lado especificidades locais, ... tudo parece convergir para a criação de uma

metrópole única em termos de forma.

Contudo, uma visão mais detalhada da realidade pode nos mostrar importantes

diferenças, pois essas lógicas homogeneizantes são confrontadas com realidades

histórico-culturais distintas, decisivas para a produção de espaços urbanos singulares,

embora submetidos a processos parecidos.

Nesse sentido, entendemos como premente a busca daquilo que singulariza o

processo de reestruturação urbana e lhe confere uma espacialidade ímpar no mundo

subdesenvolvido, desafio maior ainda, quando colocamos como recorte espacial a análise

comparada entre Curitiba e Tucumán.

Recuperar o conceito de metrópole regional parece ser o caminho adequado

para compreender parte importante da realidade metropolitana latino-americana, e de

avaliar como ocorrem as manifestações da internacionalização nessa escala.

Embora a pesquisa não esteja concluída, espera-se que a análise comparativa

entre a realidade Brasil-Argentina, de modo geral, e mais especificamente entre a realidade

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de duas metrópoles regionais ou secundárias possa fornecer pistas acerca das similaridades

e/ou diferenças das repercussões dos processos de internacionalização sobre ambas, de

modo a que se possa contribuir com conclusões acerca da homogeneização ou não de

processos, capazes de uniformizar as dinâmicas urbano-metropolitanas na atualidade.

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METRÓPOLES REGIONAIS: REVISITANDO O CONCEITO NA PERSPECTIVA COMPARADA BRASIL-ARGENTINA

EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas

RESUMO

Embora sejam recorrentes as análises comparativas entre cidades da América Latina, a maioria

delas se dedica a analisar as dinâmicas que reestruturam as metrópoles principais de seus países,

como São Paulo no caso do Brasil, Buenos Aires no caso da Argentina ou Santiago no caso do

Chile. Poucas são as análises que buscam comparar um grupo de cidades que podem ser

classificadas como metrópoles regionais ou secundárias, como é o caso de Curitiba no Brasil e

Tucumán, na Argentina.

Nesse sentido, o presente texto dedica-se a revisitar o conceito de metrópole regional, com o

objetivo de qualificar o papel desempenhado por Curitiba e São Miguel de Tucumán, no âmbito de

suas respectivas redes urbanas. Tal proposição, se deve a inúmeras observações, dentre elas o

fato de que a realidade urbana Latino-Americana tem-se alterado rapidamente e faz-se mister

ampliar as perspectivas de análise, não limitando as conclusões a visões parciais da realidade em

questão, mas tentando abarcar, o quanto possível, sua totalidade. Para tanto, parte da hipótese de

que embora não joguem papel principal na dinâmica econômica em seus respectivos países, tais

metrópoles regionais tem-se inserido de modo importante no processo de globalização por meio

da reprodução, nessa escala secundária de metrópole, de processos e dinâmicas globalizadas e

que resultam na conformação de espaços metropolitanos similares, na perspectiva sócio-espacial.

Corrobora essa hipótese a afirmação de Di Meo (2008, p. 2), segundo a qual as metrópoles

possuem uma hierarquia entre si, desde aquelas “assentadas no coração das regiões que dividem

os territórios nacionais até as metrópoles mundiais e as cidades globais que governam o planeta”.

Assim, ambas as metrópoles, embora submetidas à lógica da globalização, não são cidades

globais, mas inserem na problemática da globalização. Para tanto, a rede urbana brasileira e o

sistema urbano argentino - conforme denominação adota em ambos os países -, serão analisados

na perspectiva de se compreender a posição ocupada pelas respectivas metrópoles, buscando

ressaltar suas similaridades e diferenças.

Enquanto para o Brasil a referência de análise será o estudo sobre a Região de Influência das

Cidades - REGIC (IBGE, 2008), para a Argentina as informações a serem analisadas serão

provenientes do Plano Estratégico Territorial – Argentina Urbana, produzido no ano de 2011 pelo

Ministério de Planificación Federal, Inversión Pública y Servicios. Espera-se oferecer uma leitura

comparada, não apenas no âmbito da problemática dos dois países como também a partir da

interação entre pesquisadores oriundos de ambas as realidades em tela.

Palavras-chave: assentamentos precários; favelas; estatística textual.

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