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XX Congresso Brasileiro de Fruticultura 54th Annual Meeting of the Interamerican Society for Tropical Horticulture 12 a 17 de Outubro de 2008 - Centro de Convenções – Vitória/ES ______________________________________________________________________________ MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES CAJÁ Bruno Calzavara Flores 1 ; José Edmar Urano de Carvalho 2 ; Walnice Maria Oliveira do Nascimento 2 ; Carlos Hans Müller 2 1. Acadêmico do curso de Engenharia Agronômica da UFRA; 2. Engº Agrº. Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]. INTRODUÇÃO A cajazeira (Spondias mombin L), fruteira nativa da Amazônia, pertence ao táxon genérico Spondias que compreende espécies frutíferas com significativa potencialidade, apesar da quase nula participação na comercialização de frutos no mercado interno e de exportação. Apresenta frutos do tipo drupóide, mais precisamente um nuculânio, com formato ovóide ou ligeiramente obovóide, com cerca de três a seis centímetros de comprimento. O epicarpo é delgado, de cor amarela, em alguns genótipos com coloração alaranjada, e representa 12,3% do peso do fruto. O mesocarpo, que se constitui na porção comestível, é suculento, de sabor ácido-adocicado, bastante aromático (CARVALHO; MÜLLER, 2005). A estrutura usada na propagação sexuada da cajazeira corresponde ao endocarpo também conhecido como "caroço", que é súbero-lignificado e rodeado por fibras esponjosas, dificultando o corte para a retirada das sementes. O seu interior contém de dois a cinco lóculos e de zero a cinco sementes (VILLACHICA, 1996), ocorrendo com maior freqüência (60%) a presença de somente uma semente. Todavia, a germinação é lenta, errática e desuniforme com início aos 160 dias e término aos 844 dias, atingindo 76% de germinação, em tempo médio de 456 dias após a semeadura, sendo que o grau de resistência à germinação, imposta por essa estrutura, varia dentro de um mesmo endocarpo (CARVALHO et al., 1998). Segundo Carvalho e Alves (2008), existem dois mecanismos de dormência que regulam a germinação das sementes de cajazeira. O primeiro, imposto pelo tegumento, que atua como fator limitante, promovendo resistência mecânica à expansão do embrião, como também às trocas gasosas. O segundo, de natureza fisiológica, que pode ser quebrado com pré- embebição dos caroços em solução de ácido giberélico (AG 3 ), já que o mesmo atua como um fitoregulador induzindo incremento na velocidade e uniformidade da germinação e no desenvolvimento de diversas plantas. Estudos desenvolvidos por Firmino et. al. (1997), com

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XX Congresso Brasileiro de Fruticultura 54th Annual Meeting of the Interamerican Society for Tropical Horticulture 12 a 17 de Outubro de 2008 - Centro de Convenções – Vitória/ES

______________________________________________________________________________

MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES CAJÁ

Bruno Calzavara Flores1; José Edmar Urano de Carvalho2; Walnice Maria Oliveira do

Nascimento2; Carlos Hans Müller2

1.Acadêmico do curso de Engenharia Agronômica da UFRA; 2.Engº Agrº. Pesquisador da Embrapa

Amazônia Oriental, Belém, PA, [email protected], [email protected],

[email protected], [email protected].

INTRODUÇÃO

A cajazeira (Spondias mombin L), fruteira nativa da Amazônia, pertence ao táxon genérico

Spondias que compreende espécies frutíferas com significativa potencialidade, apesar da

quase nula participação na comercialização de frutos no mercado interno e de exportação.

Apresenta frutos do tipo drupóide, mais precisamente um nuculânio, com formato ovóide ou

ligeiramente obovóide, com cerca de três a seis centímetros de comprimento. O epicarpo é

delgado, de cor amarela, em alguns genótipos com coloração alaranjada, e representa

12,3% do peso do fruto. O mesocarpo, que se constitui na porção comestível, é suculento,

de sabor ácido-adocicado, bastante aromático (CARVALHO; MÜLLER, 2005).

A estrutura usada na propagação sexuada da cajazeira corresponde ao endocarpo também

conhecido como "caroço", que é súbero-lignificado e rodeado por fibras esponjosas,

dificultando o corte para a retirada das sementes. O seu interior contém de dois a cinco

lóculos e de zero a cinco sementes (VILLACHICA, 1996), ocorrendo com maior freqüência

(60%) a presença de somente uma semente. Todavia, a germinação é lenta, errática e

desuniforme com início aos 160 dias e término aos 844 dias, atingindo 76% de germinação,

em tempo médio de 456 dias após a semeadura, sendo que o grau de resistência à

germinação, imposta por essa estrutura, varia dentro de um mesmo endocarpo (CARVALHO

et al., 1998).

Segundo Carvalho e Alves (2008), existem dois mecanismos de dormência que regulam a

germinação das sementes de cajazeira. O primeiro, imposto pelo tegumento, que atua como

fator limitante, promovendo resistência mecânica à expansão do embrião, como também às

trocas gasosas. O segundo, de natureza fisiológica, que pode ser quebrado com pré-

embebição dos caroços em solução de ácido giberélico (AG3), já que o mesmo atua como

um fitoregulador induzindo incremento na velocidade e uniformidade da germinação e no

desenvolvimento de diversas plantas. Estudos desenvolvidos por Firmino et. al. (1997), com

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escarificação de endocarpo de S. lutea, verificaram que esta acelerou a velocidade de

emergência dos mesmos, comprovando a existência do mecanismo de dormência nesta

espécie.

Deste modo, o presente trabalho objetivou analisar os efeitos de diferentes tratamentos

sobre a porcentagem de germinação, tempo médio, índice de velocidade de emergência e

no início da germinação em sementes de Spondias mombin L., com vistas a favorecer o

desenvolvimento de metodologia eficaz na superação da dormência.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em Laboratório e casa de vegetação do Laboratório de

Ecofisiologia e Propagação de Plantas da Embrapa Amazônia Oriental. Os "caroços" dos

frutos foram obtidos de uma única matriz de S. mombin, obtida na base física da Embrapa

Amazônia Oriental no município de Tomé Açú. Os endocarpos, foram extraídos dos frutos,

por meio de lavagem em água corrente até a completa eliminação de resíduos de polpa.

Posteriormente, foram submetidos à secagem em ambiente de temperatura e umidade

relativa do ar controladas, atingindo 7,6% de grau de umidade nessas condições em 13

dias. Após a secagem das sementes foram aplicados os seguintes tratamentos:

Testemunha, sem tratamento p/ quebra de dormência (T1); imersão dos endocarpos em

água a 80°C durante dois minutos e embebição em água por 24 horas (T2); exposição em

água a 80°C durante dois minutos e embebição em 1000 ppm de AG3 durante 24 horas (T3);

escarificação com esmeril na porção distal do caroço e embebição em água por 24 horas

(T4); escarificação com esmeril na porção distal do caroço e embebição em 1000 ppm de

AG3 durante 24 horas (T5); corte na porção basal com tesoura de poda e embebição em

água por 24 horas (T6); corte na porção basal com tesoura de poda e embebição em 1000

ppm de AG3 durante 24 horas (T7); exposição ao microondas durante vinte segundos e

embebição em água durante 24 horas (T8); exposição ao microondas durante vinte

segundos e embebição em 1000 ppm de AG3 durante 24 horas (T9); embebição em água

durante 24 horas (T10).

Foram realizadas as seguintes avaliações: taxa de germinação (G); início da germinação

(IG); tempo médio de germinação (TM); índice de velocidade de emergência (IVE). A

emergência das plântulas foi avaliada diariamente até 90 dias após a semeadura.

As médias foram comparadas utilizando o teste de Tukey (5%). O delineamento

experimental adotado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições de cinqüenta

sementes e dez tratamentos. Foi feito a semeadura em substrato esterilizado constituído da

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mistura de areia + serragem na proporção volumétrica de 1:1. Os dados de porcentagem de

germinação foram transformados em arco seno de raiz de x+ ∝. Os demais dados foram

transformados em raiz de x + ∝ (∝ = 0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A média dos dados obtidos 90 dias após a semeadura está apresentada na Tabela 1 e por

meio desta pode-se observar que os tratamentos aplicados nas sementes de cajazeira não

diferiram estatisticamente quanto ao tempo médio de germinação e índice de velocidade de

emergência. Contudo, com relação à porcentagem de germinação, identificou-se que o

tratamento 2 (imersão dos caroços em água quente + embebição em água por 24 horas) foi

estatisticamente superior aos demais com 22% das sementes germinadas no período

avaliado.

TABELA 1 - Porcentagem de germinação, início, tempo médio e índice de velocidade de emergência

em plântulas de Spondias mombin, avaliados 90 dias pós a semeadura.

Tratamento G(%)

IG(dia)

TM(dia)

IVE

T- 1 13 ABC * 58 AB 75 A 00138 AT- 2 22 A 61 AB 75 A 00137 AT- 3 12 ABC 60 AB 71 A 0,0146 AT- 4 16 AB 30 B 65 A 0,0175 AT- 5 13 ABC 35 B 60 A 0,0189 AT- 6 3 C 79 A 60 A 0,0095 AT- 7 3 BC 83 A 60 A 0,0096 AT- 8 3 C 77 A 55 A 0,0102 AT- 9 5 BC 72 A 55 A 0,0106 AT-10 3 BC 78 A 55 A 0,0103 ADMS 10,15 2,36 7,28 0,25* Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Os tratamentos T-4 e T-5, iniciaram a germinação mais cedo que os demais, aos 30 e 35

dias respectivamente. A escarificação mecânica na porção distal dos caroços antecipou o

processo germinativo nas sementes. Contudo, estatisticamente eles não diferiram dos

tratamentos T-1. T-2 e T-3, nos quais não foi feita a escarificação mecânica. Apesar de

comprovado o efeito acelerador da germinação, a escarificação mecânica não produziu

variações estatísticas satisfatórias durante o período de avaliação do experimento em

sementes de cajazeira.

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CONCLUSÕES

A imersão dos caroços de cajá em água a 80°C durante dois minutos e embebição em água

por 24 horas, é o tratamento mais efetivo no aumento da porcentagem de germinação

(22%) aos 90 dias após a germinação.

AGRADECIMENTO

Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio (processo 480760/2007-1).

REFERÊNCIAS

CARVALHO, J. E. U. de; NASCIMENTO, W. M. O. do; MÜLLER, C. H. Características

físicas e de germinação de sementes de espécies frutíferas nativas da Amazônia.

Belém: Embrapa-CPATU, 1998. 18 p. (Embrapa-CPATU. Boletim de Pesquisa, 203).

CARVALHO, J. E. U. de; MÜLLER, C. H. Biometria e rendimento percentual de polpa de

frutas nativas da Amazônia. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2005. 4 p. (Embrapa

Amazônia Oriental. Comunicado Técnico, 139).

CARVALHO, J. E. U. de; ALVES, R. M. Recursos genéticos de espécies do táxon

Spondias na Amazônia Oriental. Spondias no Brasil: umbu, cajá e espécies afins. Recife:

Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA / UFRPE, 180 p. 2008.

FIRMINO, J. L., ALMEIDA, M. C., TORRES, S. B. Efeito da escarificação e da embebição

sobre a emergência e desenvolvimento de plântulas de cajá (Spondias lutea L.). Revista

Brasileira de Sementes, Brasília, v. 19, n. 1, p. 125-128, 1997.

VILLACHICA, H. Ubos (Spondias mombin L.). In: VILLACHICA, H. Frutales y hortalizas

promisorios de la Amazonia. Lima: FAO/Tratado de Cooperacion Amazônica, 1996. p.

270-274.

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