mergulho

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ESTADO DO CEARÁ CORPO DE BOMBEIROS MILITAR CURSO: GESTÃO CONTRA SINISTRO Francisco Ronald Silva de Freitas O GERENCIAMENTO DE SEGURANÇA NAS ATIVIDADES DE MERGULHO DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO CEARÁ Fortaleza - Ce 2004

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Page 1: Mergulho

ESTADO DO CEARÁ

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR

CURSO: GESTÃO CONTRA SINISTRO

Francisco Ronald Silva de Freitas

O GERENCIAMENTO DE SEGURANÇA NAS

ATIVIDADES DE MERGULHO DO CORPO DE

BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO CEARÁ

Fortaleza - Ce

2004

Page 2: Mergulho

2

ESTADO DO CEARÁ

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR

CURSO: GESTÃO CONTRA SINISTRO

O GERENCIAMENTO DE SEGURANÇA NAS

ATIVIDADES DE MERGULHO DO CORPO DE

BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO CEARÁ

Monografia apresentada à Disciplina de MTP III

ao Curso de pós-graduação em Gestão Contra

Sinistro, da Universidade Estadual do Ceará

como requisito para a aprovação nesta

disciplina, orientada pelo TC Heraldo Maia

Pacheco.

Fortaleza - Ce

2004

Page 3: Mergulho

3

Dedico a todos os mergulhadores do Corpo de

Bombeiros que se aventuram por estes caminhos

submersos, colocando-se a disposição da comunidade

a executar missões insalubres e cheias de dificuldades

em ambientes não convencionais.

Page 4: Mergulho

4

EPÍGRAFE

Um mergulhador da marinha não é um homem de

combate, é um especialista em resgate, se tiver perdido

em baixo d’água ele encontra, se tiver afundado ele traz a

superfície, se estiver no caminho ele tira, se tiver sorte ele

morrerá jovem a 61 metros da superfície, pois isto é o

mais próximo que chegará de ser um herói.

Homens de Honra - Filme

Page 5: Mergulho

5

RESUMO

O Gerenciamento de Segurança nas Atividades de Mergulho do Corpo de Bombeiros como forma de minimizar os acidentes de mergulho. Busca de informações gerenciais de segurança no trabalho e nas empresas. Indicam-se as condições de trabalho para os mergulhadores do Corpo de Bombeiro, seus sentimentos para com o serviço, os acidentes e dificuldades. Faz uma abordagem histórica do processo de desenvolvimento desta atividade de mergulho no mundo, no Brasil, no Ceará e na Corporação. Descreve-se como funciona o gerenciamento da segurança durante as missões. Estabelece um modelo padrão para implantação de um gerenciamento das atividades de mergulho no Corpo de Bombeiros.

Page 6: Mergulho

6

SUMÁRIO

Resumo

1. INTRODUÇÃ.......................................................................................................

08

1.1. Apresentação...............................................................................................

08

1.2. Contextualização..........................................................................................

09

1.3. Problema de Pesquisa.................................................................................

11

1.4. Objetivos.......................................................................................................

11

1.4.1. Objetivo geral......................................................................................

11

1.4.2. Objetivos específicos...........................................................................

12

1.5. Justificativa....................................................................................................

12

2. REFERENCIAL TEÓRICO - UM MERGULHO NA SEGURANÇA......................... 13

2.1. Gerenciamento de Segurança do Trabalho..................................................

*13

2.2. Mergulhando na Segurança..........................................................................

16

2.2.1. Ponto de partida..................................................................................

16

2.2.2. Regras para um mergulho seguro.......................................................

18

2.2.3. Equipes de mergulhos.........................................................................

22

2.2.4. Exames médicos.................................................................................

13

2.3. UM MERGULHO NA HISTÓRIA..................................................................

25

2.3.1. Surgimento do mergulho no Mundo....................................................

25

2.3.2. Mergulhadores no Brasil......................................................................

27

2.3.3. Ceará e seus mergulhadores..............................................................

*28

2.3.4. Corpo de Bombeiros e trabalhos submersos ....................................

29

2.4. MERGULHADOR BOMBEIRO.................................................................... 30

2.4.1. Formação............................................................................................

30

2.4.2. Tipo de serviço executado.........................................................................

31

Page 7: Mergulho

7

2.5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.............................................

31

3. CONCLUSÃO......................................................................................................

34

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................

36

Page 8: Mergulho

8

1.INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação do Trabalho

Este trabalho foi realizado através de pesquisa de campo e

fundamentações teóricas. Buscou-se como laboratório de pesquisa o Núcleo de

Busca e Salvamento por se apresentar como local mais apropriado para a

pesquisa em questão.

Dividiu-se o trabalho em quatro etapas. A primeira o pesquisador buscou

fundamentação teórica a respeito de gerenciamento de segurança no trabalho,

procurando elucidar e entender como funciona nas empresas. A segunda etapa

buscou-se informações históricas sobre atividade de mergulho no mundo, no

Brasil e Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará com intuito de buscar

conhecimentos suficientes para entender o processo de formação de

mergulhador nesta Corporação. A terceira fase foi dedicada a pesquisa do

processo de formação do mergulhador do Ceará e como funciona a segurança

para estes trabalhos submersos. Ultima fase procurou-se verificar entre os

mergulhadores seu perfil, tipo de serviço que excuta, suas dificuldades e

sentimentos em relação a esta especialização em sua profissão.

Page 9: Mergulho

9

1.2 Contextualização

De acordo com relatos dos assírios, registrados no museu Britânico, um grupo de

guerreiros, em torno de 900 a.C. mergulhavam em atividades militares e de salvamento

com bexigas de animais, onde guardavam o ar para respirarem. (Bracony,1986, p. 09 )

No Brasil, os historiadores relatam que os indígenas já praticavam a pesca

utilizando técnicas de mergulho. Após arpoar com seus arcos e flechas, os peixes eram

perseguidos dentro da água para serem pescados. No entanto, os equipamentos de

mergulho foram trazidos para o Brasil por volta de 1947, tendo o Rio de Janeiro como

porta de entrada.

Ao longo dos anos, a necessidade humana de auto-superação fez com que o

homem desenvolvesse novas técnicas e equipamentos para mergulho, permitindo-o

ficar submerso em águas profundas por períodos de tempos mais extensos com

segurança.

Atualmente considerado um esporte, uma atividade explorada por vários tipos de

pessoas (homens e mulheres) e praticada em todo o mundo, sinônimo de aventura,

exploração, trabalho e pesquisa.

O Ceará possui vários adeptos desse esporte, escolas de mergulho e parques de

preservação no mar, onde se desenvolvem atividades freqüentes.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMEC) possui o Núcleo de

Busca e Salvamento, onde são lotados mergulhadores profissionais, formados

especialmente para situações críticas de ações de resgate, desde uma simples retirada

de objetos submersos em canais fluviais a resgates de cadáveres em cavernas.

Page 10: Mergulho

10

A formação dos mergulhadores do Núcleo do Corpo de Bombeiros e o meio civil

se distinguem em função do maior grau de dificuldade existente nas ações de busca e

resgate, onde esses profissionais são expostos a situações limites de respostas

positivas e pressões psicológicas e de stress.

Os treinamentos teóricos e práticos são elaborados em cima de situações de

emergências1, onde os mergulhadores da corporação são expostos a situações de

emergenciais, para que no momento da ocorrência, o salvamento ou a busca, saibam

aplicar a melhor solução possível.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará possui uma Unidade Militar, o

Núcleo de Busca e Salvamento que tem o maior poder operacional na área de

mergulho na corporação, em virtude de possuir numero maior de mergulhador e

equipamentos. Possui o núcleo uma subseção de atividades aquáticas na qual os

mergulhadores fazem parte. Esta é responsável pela execução das atividades de

mergulho na capital e de acordo com a necessidade poderá reforçar as demais

guarnições de outras unidades da capital ou interior. Estes bombeiros mergulhadores

são responsáveis por diversas missões subaquáticas, as quais são muitas vezes

repletas de riscos a saúde do bombeiro. Esta questão do perigo se materializa em

situações de emergências, no momento da execução dos serviços, quando o

mergulhador, por estar em ambiente cujos fatores condicionantes 2são os piores

possíveis para um mergulho seguro, é neste momento que se diferencia nossos

mergulhadores, pela calma, paciência, habilidade para passar pelas adversidades e

sobreviver. Este mergulhador se preparou para a missão mais difício no curso de

Mergulho Autônomo da corporação. Situações perigosas são freqüentes, para isso

seleciona -se não os melhores, mas os mais capacitados para este tipo de serviço em

situações muito criteriosas .

1 EMERGÊNCIA, neste caso, significa qualquer condição anormal capaz de afetar a saúde do mergulhador ou a segurança da operação de mergulho. 2FATORES CONDICIONANTES, para o mergulho são todos os fatores que influenciam na execução do mergulho tais como: Profundidade, temperatura, visibilidade, correntezas, etc..

Page 11: Mergulho

11

Em períodos de baixa estação as ocorrências são bem simples e em numero

reduzido, raras são as ocorrências que necessitam de número maior de mergulhadores

de serviço. Em contra partida, períodos de férias e feriados prolongados há uma escala

especial, onde se reforça em numero de mergulhadores, em razão dos índices de

ocorrências aumentarem sensivelmente. Excepcionalmente são as vezes onde se

convoca todos os mergulhadores para se reunirem, isso ocorre em virtude de

treinamentos, cursos ou uma grande tragédia onde seja necessário número maior de

mergulhadores para executar o serviço ( Ex: ônibus fundeado em açude com várias

vitimas ou a procura de avião desaparecido no mar, fatos estes verídicos). Estes

mergulhadores são preparados para mergulhar em águas de rio, açude, lagoas, mar,

bueiros, poço, caverna, comportas, galerias, áreas portuária, etc...

1.3. Problema de Pesquisa

Diante do exposto questiona-se: como funciona o gerenciamento da segurança

nas operações de busca e salvamento realizadas pelos mergulhadores da Corporação

de Bombeiros Militar do Estado do Ceará?

1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo geral

Identificar o funcionamento das operações de busca e resgate realizadas pelos

mergulhadores do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará.

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12

1.4.2 Objetivos específicos

Identificar as condições de trabalho a que são submetidos os bombeiros

mergulhadores;

Descrever os sentimentos e percepções dos mergulhadores quanto à segurança

do trabalho;

Descrever como funciona o gerenciamento da segurança durante as missões de

mergulho.

1.5 Justificativa

A gestão de segurança nas atividades de mergulho do Corpo de Bombeiros

Militar do Estado do Ceará surgiu como nosso tema de pesquisa a partir do momento

em o pesquisador conheceu os dois lados que dividem o mundo do mergulho:

o primeiro é habitado pela grande maioria das pessoas que vêem a

atividade como forma de lazer, simplesmente; pessoas mergulhando para

fazer novos amigos, estar em contato com a natureza, viver novas

experiências e conhecer lugares diferentes;

o segundo, ao mesmo tempo, perigoso e fascinante; os mergulhadores do

Corpo de Bombeiros Militar do Ceará - CBMCE trabalham sob tensão e

em condições que, muitas vezes, põem em perigo a vida dos militares

envolvidos na operação. Estes homens se submetem também em

mergulhos em águas turvas, em buracos de rua... Homens que descem

no mar à procura de corpos e bens desaparecidos, onde os fatores

condicionantes são adversos.

O interesse do pesquisador veio a partir do momento em que realizou o Curso de

Mergulho Autônomo do CBMCE, no ano de 2003, momento em que passou a participar

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13

e a conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido pelos bombeiros. Teve contato

com equipamentos, mergulhadores e com as condições de trabalho a que são

submetidos. Ao freqüentar o Núcleo de Busca e Salvamento, passou a conhecer o perfil

dos nossos mergulhadores e constatar que, apesar de não haver regras e normas para

a realização de um mergulho diferenciado, existe, no entanto, um cuidado por deveras

especial com a segurança do bombeiro. O bombeiro mergulhador da Corporação é

formado especificamente para essas situações, onde a segurança é fator

preponderante para o cumprimento eficaz das manobras de mergulho.

Este trabalho proporcionará uma análise dos procedimentos de segurança

realizados pelos mergulhadores bombeiros para o cumprimento das missões com mais

eficácia e eficiência. Contribuirá para revisão e padronização dos procedimentos

gerenciais de conduta e ações de segurança durante as fainas de mergulho da

Corporação. Servirá para despertar na Corporação o entusiasmo pela prática

constante da segurança, não só para o mergulho, mais para toda área de atuação da

Corporação.

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14

2. REFERENCIAL TEÕRICO - UM MERGULHO NA SEGURANÇA

2.1 Gerenciamento de segurança do trabalho

A humanidade adequou –se aos novos meios de produção, foi se transformando

a medida que estas necessidades, criada pela indústria emergente, revoluciona e cria

novos conceitos de meios de produção.

O homem adaptou-se a exigências cada vez maiores, pois a produção artesã

não supria a demanda exigida. Máquinas foram aos poucos inventadas, ao longo do

tempo aprimoradas. A princípio a produtividade seria voltada para os objetivos da

empresa e o homem aos poucos se tornava mera peça de uma engrenagem em

extinção, pois as máquinas grosseiras passaram a uma condição mais sofisticada.

As taxas de acidentes cresceram com o avançar tecnológico, assim como a

gravidade dos mesmos. A ótica da empresa, visando aumento de produção, era

priorizada e o trabalhador cada vez mais sujeito ao desconforto da insegurança do

trabalho exercido. Não se visualizava ainda questões como treinamento apropriado

para o trabalhador, visando profissionalização do empregado e dando-lhe

conhecimento técnico teórico.

O custo de acidente não era visualizado em razão do raciocínio lógico de custo +

lucro = Preço Final. Dentro desta forma de pensar o empregador procurava aumentar o

lucro sem aumentar o preço final. O trabalhador era quantificado apenas pelo salário

que recebia. Tudo isso por não haver legislação que protegesse o trabalhador e

ausência de uma forma mais lógica de se administrar.

Page 15: Mergulho

15

Teorias e medidas governamentais foram criadas e postas em prática. Através

destes procedimentos provou-se a eficiência do investimento em segurança, desta

forma poderia se tornar atividade lucrativa e resultando com isso uma diminuição de

custos. Resultado deste investimento é um trabalhador que não para de produzir,

aproveita melhor a matéria prima e sente-se protegido e trabalha mais.

No entendimento de Jorge Santos Reis, o serviço de segurança no trabalho da

Empresa é realizado por supervisor o qual deve ser Técnico de segurança, engenheiro

ou médicos do trabalho. Este profissional deverá conhecer todas as implicações

decorrentes da implantação do serviço especializado em segurança e medicina do

trabalho. A presença do técnico na empresa, orienta, é uma relação bem definida em

razão de ser importante que o responsável saiba seu papel na empresa. Os objetivos e

metas devem ser bem claros para que não prejudique sua atuação e a saúde do

trabalhador.

A gerencia de segurança é um trabalho inteiramente ligado a todos setores da

empresa. Dessa forma todo programa a ser desenvolvido depende fundamentalmente

da colaboração dos trabalhadores de qualquer nível. A segurança no trabalho é um

conjunto de recursos e técnicas aplicadas, preventiva ou corretivamente, para a

proteção do homem dos riscos de acidentes oferecidos num processo de trabalho ou

realização de uma tarefa. Assim é necessário o envolvimento de todos os setores e

funcionários da empresa no processo de implantação de um programa de segurança.

O gerenciamento de segurança no trabalho, para funcionar, exige que o

responsável tenha conhecimento amplo do trabalho que a empresa executa, para isso é

necessário um profundo estudo do ambiente visando detectar possíveis riscos ao

trabalhador, com isso obter resultados satisfatórios.

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16

2.2 Mergulhando na Segurança

2.2.1 Ponto de partida:

O mergulho é uma atividade difícil de se descrever, ela tem que ser

experimentada. Não é uma fotografia ou filme que vai transmitir a sensação de estar

submerso em águas que nos permite flutuar como astronautas. Isto tudo é que faz

com que mergulhadores do mundo inteiro sintam-se fascinados por este mundo,

contudo é cercado de várias normas de segurança as quais ao longo do

aperfeiçoamento das técnicas e equipamentos foram se desenvolvendo para tornar

cada vez mais seguras estas atividades.

Para compreendermos melhor a questão da segurança nas fainas de

mergulhadores na Corporação Bombeiro Militar do Estado do Ceará, faz-se necessário

uma abordagem de conceitos para melhor entendimento da relevância da segurança

para o trabalho desenvolvido por estes homens, mergulhadores de resgate, dentro do

Corpo de Bombeiros. Utilizaremos, pois, alguns conceitos de segurança para o

mergulho vistos da ótica de alguns autores e instituições.

A segurança para o mergulho é um tema estudado por vários autores e sobre ela,

ao longo do tempo, diversas teorias já foram formuladas e continuam num dinamismo

de mudanças vertiginosas, no entanto algumas ainda são regras básicas. Uma

definição interessante é apresentada no Manual Básico Salvamento, junho de 2000,

elaborado pelo Cap Albert e cadetes da Academia de Bombeiros Militar/CBM-Ce.

Segundo Albert (org.), - A segurança é realizada quando lançamos mão de

procedimentos, de materiais e ou equipamentos que possibilitem a permanência e

realização dos trabalhos em locais de risco”.

Este conceito é formulado a partir do ponto de vista de bombeiros que vivenciam

rotineiramente com situações de perigo. Este ponto de vista é fundamental para a

Page 17: Mergulho

17

segurança da equipe de bombeiros, vítimas e equipamentos, fator fundamental ao

cumprimento das várias situações de resgate e buscas.

À mesma idéia filia-se o Maj. BM Haroldo e Cap. BM Paulo José, Oficiais do

Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal / CBM-DF, no Manual Técnico

Profissional de Salvamento, volume II (Titulo I, Capitulo I Art. 1º - Administração de

Segurança).

Art. 1º - A segurança é necessária em todas as atividades da

corporação, seja em exercícios ou em operações de resgate e salvamento.

Visa reduzir a um mínimo aceitável os riscos existentes, garantindo, em

princípio, a vida do combatente e, depois, a realização das operações .

§ 1º O primeiro passo para se trabalhar com segurança é ter confiança

em si e no material para poder realizar um trabalho com pouco risco e

desenvolver a segurança para terceiros (vítimas e companheiros). Para tal, o

Bombeiro deve treinar constantemente e encarar esta situação como se fosse

real, atentando para o detalhe de estar sempre em forma, ou seja, livre de

qualquer problema psicológico, boa forma física e possuir bons reflexos.

§ 2º No ato de efetuar um salvamento, o Bombeiro não pode esquecer

de advertir o seu companheiro quanto a segurança e a de quem estiver a sua

volta. A segurança é um fator primordial nos serviços de resgate e salvamento,

do contrário, o socorrista coloca a sua própria vida em risco.

§ 3º Nas operações de resgate e salvamento a segurança do Bombeiro é

feita de acordo com a técnica dos “seis olhos” , isto é, ele deve verificar a sua

segurança, depois um segundo Bombeiro deverá fazer o mesmo e, finalmente,

o responsável pela operação deverá verificar se há segurança para a sua

realização.

Page 18: Mergulho

18

O mergulho autônomo3, por sua vez é uma atividade que requer exatamente

procedimentos dessa natureza, em virtude de envolver um grande suporte de

equipamentos e pessoas envolvidas em operação de mergulho4. Por ser o mergulho

realizado por bombeiros em ações de risco constante o cuidado com a segurança não

se restringe apenas a operações diárias, assim como cuidados com equipamentos,

revisão de plano de ação pelo responsável e técnicas que permitem o trabalho dentro

de níveis aceitáveis. O treinamento para os bombeiros é fundamental, a revisão

constante de conceitos e procedimentos é necessária para fortalecer o preparo físico e

psíquico do mergulhador, tudo isso para tornar o mergulho seguro e eficiente para

todos os envolvidos. Em todas os trabalhos submersos5, seja treinamento ou realidade,

a vinculação com a segurança é fundamental para garantir a integridade física do

bombeiro e torna-lo apto a realização de qualquer missão atinente ao trabalho do

mergulhador bombeiro. Em razão de estar trabalhando em ambiente fora de seu

ambiente natural, qualquer deslize com os equipamentos ou procedimentos será fatal

a sua vida e comprometendo a de terceiros.

2.2.2 Regras para o mergulho seguro.

O entendimento de Cesar Corazza é definido em 10 mandamentos do mergulhar

autônomo, Manual de Mergulho Autônomo - 2003.

MANDAMETOS DO MERGULHO SEGURO

1. Não mergulhe só;

2. Boas condições físicas;

3. Seja treinado para a atividade;

3 Mergulho realizado com o próprio suprimento de ar sem contato com a superfície 4 Toda aquela que envolve trabalhos submersos e que se estende desde os procedimentos iniciais de preparação até o final do período de observação. 5 Qualquer trabalho realizado ou conduzido por um mergulhador.

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19

4. Bons equipamentos

5. Conheça a área onde vai mergulhar;

6. Sinalize o local de mergulho;

7. Planeje o mergulho;

8. Equipamento de mergulho;

9. Cuidado com subida livre;

10. Obtenha assistência médica.

Os mandamentos do mergulho seguro servem como suporte básico para

mergulhadores sem muita experiência. Neste caso, a segurança é apresentada de uma

forma simples e de fácil entendimento, contudo a questão do gerenciamento da

segurança fica por conta dos instrutores e mergulhadores mais experientes. O autor

comunga com a mesma idéia central dos autores já abordados neste trabalho, em

razão de visualizar questões fundamentais no âmbito da segurança do mergulhador

antes durante e depois as fainas.

É de fundamental importância a questão dos conceitos para o entendimento do

problema apresentado, pois a segurança depende diretamente de um gerenciamento

eficaz. É possível tornar mais seguro os trabalhos submersos, a partir do momento que

o mergulhador tiver uma cultura fortalecida em procedimentos seguros, conhecimento

adequados visando o bom cumprimento das missões. Poderá defender o lema “Vidas

alheias e riqueza salvar” da Corporação de uma forma mais profissional e assim estar

sempre preparado para a missão de Mergulhador de Resgate .

A Consolidação das Leis de Trabalho - CLT, Atlas, 72. ed, 1987 vislumbra a

questão das regras de segurança6 para o trabalho em condições Hiperbárica7, em um

dos seus anexos a Norma Reguladora nº 15 (Trabalhos sob ar comprimido).

6 Os procedimentos básicos que devem ser observados nas operações de mergulho, de forma a garantir sua execução em perfeita segurança e assegurar a integridade física dos mergulhadores. 7 Qualquer condição em que a pressão ambiente seja maior que a atmosfera.

Page 20: Mergulho

20

“2.10.21 Todos os integrantes das equipes de mergulho, especialmente

os supervisores, deverão tomar as devidas precauções, relativas à segurança

das operações, no tocante ao planejamento, preparação, execução e

procedimentos de emergência, conforme discriminado a seguir:” (CLT, pág.

784)

Comunga esta abordagem da CLT com a afirmação de que segurança é fator

importante nas operações de mergulho, abordando de forma mais abrangente o que se

refere ao gerenciamento e controle geral de todos os procedimentos de mergulho e em

seus vários aspectos. Uma supervisão é condição fundamental para esse

gerenciamento, visando adequação responsável da segurança as operações. Para

essa função, por ser necessário conhecimento abrangente dentro da área e de muita

responsabilidade, é necessário pessoa com larga experiência nas fainas de mergulho.

Para as atividades de mergulho do CBM-Ce estas normas são totalmente viáveis em

razão de ser os mergulhadores bombeiros profissionais e dotados de experiência para

tornar viável todos os aspectos abordados pela NR-15.

A Norma pormenoriza situações de planejamento fundamentais para a execução

do mergulho seguro. Para o bombeiro parece - nos que a abordagem quanto a perigos

submarinos, incluindo ralos, bombas de sucção ou local onde a diferença de pressão

hidrostática possa criar uma situação de perigo para os mergulhadores, esta é uma

situação que bem se aproxima da rotina durante as missões de mergulho para o

bombeiro. Há também a questão da disponibilidade e qualificação do pessoal,

adequação dos equipamentos, profundidade e tipo de operação a ser realizada. Todos

estes fatores contribuem para o fortalecimento do planejamento nas operações de

mergulho seja no meio civil ou militar.

Quanto à preparação a norma aborda questões tais como: Verificação dos

sistemas e equipamentos, distribuição de tarefas entre os membros da equipe,

Page 21: Mergulho

21

procedimentos de sinalização e precauções contra possíveis perigo no loca de trabalho,

(...) . Estes atos preparatórios são passos importantes para o bom desempenho inicial

do serviço a ser executado pelos mergulhadores envolvidos.

No momento da execução orienta -nos a norma que devemos observar:

responsabilidade de todo o pessoal envolvido, uso correto dos equipamentos

individuais, identificação e características dos locais de trabalho, limites de

profundidade e tempo de fundo (...) A responsabilidade durante o serviço não se

restringe apenas ao comandante ou chefe de mergulho, todos comungam com a

mesma responsabilidade. Na execução os cuidados individuais devem ser priorizados e

devemos utilizar a técnica dos seis olhos.

Os Procedimentos de emergência também fundamentais para finalização a

contento da missão estão destacadas assim: sinalização, assistência na água e na

superfície, disponibilidade de câmera de superfície ou terapêutica, primeiros

socorros,(...) Nós, mergulhadores gestores de segurança, devemos não somente

realizar o serviço com procedimentos de segurança durante as fainas de mergulho,

como visualizarmos possíveis erros e nos preparamos para o imprevisto, trabalhando a

prevenção antes, durante e depois dos trabalhos

Sem dúvida a CLT é um aliado forte na prevenção de acidentes de mergulho,

combate a imprudência cometidas por mergulhadores desavisados e regulariza

procedimentos que devem ser adotados por empresas que trabalhão com pessoas sob

ar comprimido.

Page 22: Mergulho

22

2.2.3 Equipes de mergulhos

O mergulho é uma atividade cercada de cuidados, um deles é a formação da

equipe de mergulho. O Núcleo de Busca e Salvamento forma suas equipes com

número reduzido de mergulhadores, consta o número de 1 supervisor de mergulho e 2

(dois) mergulhadores contrapondo-se as normas da CLT que versa o seguinte sobre o

assunto:

2.8.1 A equipe básica para mergulho com “ar comprimido” até a

profundidade de 50,00m (cinqüenta metros) e na ausência das

condições perigosas definidas no inciso VIII do subitem 2.1 deverá

ter a constituição abaixo especificada, deste que esteja prevista

apenas descompressão na água:

a) 1 supervisor;

b) 1 mergulhador para a execução do trabalho;

c) 1 mergulhador de reserva de superfície;

d) 1 auxiliar de superfície.

Partindo-se do princípio de que a maioria dos serviços, em média, a

profundidade dos trabalhos realizados é de 10 metros. Este fator condicionante é

apenas um dentre vários que dificultam ou ajudam a execução dos serviços. Raras são

às vezes que o mergulho ultrapassa a profundidade de 40 metros. O problema são as

condições perigosas que são constantes, condições estas previstas na CLT, as quais

são praticamente as mesmas do dia a dia do bombeiro mergulhador. Consta na CLT o

seguinte: inciso VIII do subitem 2.1 .

Page 23: Mergulho

23

VIII - Condições perigosas: situação em que uma operação de

mergulho envolva riscos adicionais ou condições adversas, tais

como:

a) uso e manuseio de explosivo;

b) Trabalhos submersos de corte e solda;

c) Trabalhos em mar aberto;

d) Correnteza superior a 2 (dois) nós;

e) Estado de mar superior a ‘mar de pequenas vagas’ (altura

máxima das ondas de 2,00 m)

f) Manobras de peso ou trabalhos com ferramentas que

impossibilitem o controle da flutuabilidade do mergulhador;

g) Trabalhos noturnos;

h) Trabalhos em ambientes confinados.

De acordo com dados estatísticos fornecidos pelo Núcleo de Busca e Salvamento - NBS, a ocorrência de maior freqüência é o resgate de cadáver, para isso as condições de material e pessoal são favoráveis para a maioria dos trabalhos, contudo para outras a equipe não satisfazem os pré-requisitos de segurança para o mergulho seguro. Poderíamos citar os mergulhadores que se aventuram em serviços de busca de equipamentos perdidos em comportas e cavernas sem o devido prepara técnico. Aborda ainda a CLT que nos trabalhos previstos neste subitem 2.1 inciso VIII a equipe será acrescida de 1 (um) mergulhador e quando for empregado simultâneo de 2 (dois) ou mais mergulhadores na água, deverá existir, no mínimo, 1 (um) mergulhador de reserva para cada 2 (dois) submersos.

Deste ponto de vista, questiona-se a forma pela qual se organiza a equipe de mergulho no NBS, em razão de estar fora dos padrões mínimos para estas atividades ditas perigosas.

Page 24: Mergulho

24

2.2.4 Exames médicos

Por ser uma atividade onde se mergulha não só em águas cristalinas e limpas, é de suma importância o exame médico para o bombeio e fator fundamental para sua integridade física, pois se mergulha em qualquer local, seja no mar ou em esgotos a procura de cadáveres em estado de putrefação. Essa é a realidade deste mergulhador formado na Corporação, não se escolhe o local e hora para trabalhar, a ocasião é que diz como fazer o serviço.

Tem-se nos quadros de bombeiros vários Oficias médicos, em número de 10 (dez), em várias áreas de especialização, mas apenas um especializado em medicina Hiperbárica. Este também mergulhador, contudo não praticante das atividades de mergulho da Corporação.

A CLT em seu subitem 2.9.1. “É obrigatório a

realização de exames médicos, dentro dos padrões estabelecidos neste subitem, para o exercício da atividade de mergulho, em nível profissional.”

Nós não possuímos suporte médico especializado e câmeras Hiperbáricas para um plano de emergência de um acidente de mergulho durante um treinamento ou ocorrência. Contudo possuímos os meios necessárias para se planejar um entrosamento destes meios e fazer com que nossos mergulhadores estejam em dia com seus exames médicos. Não podemos impedir, mais podemos evitar os males dentro de uma prevenção proativa.

Page 25: Mergulho

25

2.3. UM MERGULHO NA HISTÓRIA

2.3.1 Surgimento do mergulho no Mundo

Desde a mais remota antiguidade , o homem se aventurou na exploração do mundo submarino, contando apenas com seus recursos naturais e sem qualquer equipamento, na primeira modalidade de mergulho praticada: O mergulho livre. Em cavernas pré—históricas, datando aproximadamente de 4500 ac, foram encontrados objetos de madrepérola e historiadores relatam que no ano de 2.200 a.C., o imperador Yu da China recebia seus tributos em perolas. As profundidades alcançada eram porem limitadas, não somente pela curta duração do mergulho, como pela constituição do organismo humano, incapaz de retirar do meio liquido o oxigênio indispensável para sua sobrevivência.

Descortinava-se para o homem entretanto, nessa primeira incursões, um mundo novo e cheio de aspectos interessantes a serem explorados, com possibilidades ilimitadas. Começaram a surgir então projetos de equipamentos rudimentares visando a manter o homem por mais tempo mergulhado e leva-lo a profundidades cada vez maiores. Um dos primeiros registros a respeito é um relevo, atualmente exposto no Museu Britânico, que mostra um grupo de guerreiros assírios, em torno do ano 900 a.C., mergulhando e trazendo consigo bexigas de animais cujo ar respiravam. Mais tarde, o historiador Heródoto nos fala de Scyllias, um mergulhador grego que, no ano 400 a.C., teria sido contratado por Xerxes, o imperador da Pérsia, para recuperar tesouros de navios persas submersos. Concluído o trabalho, o Imperador decidiu reter Scyllias pelos segredos que passou a conhecer mas o mergulhador conseguiu escapar durante uma tempestade, cortando as amarras dos navios fundeados no porto, lançando com isso a confusão e nadando imerso por uma distancia que, segundo o historiador, era de cerca de 9 milhas.

Alexandre, O grande, teria usado mergulhadores no cerco de Tiro, em 333 a.C e Aqristóteles descreveu a descida do próprio imperador, em uma espécie de sino, para observar o fundo do mar.

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Em 375 d.C., Vegetius escreveu um livro publicado em1500, onde projetou um

capacete abastecido de ar pela superfície, com o qual poderia mergulhar a pequenas profundidades. Em 1680, Giovanni Borelli projetou o ancestral do atual equipamento autônomo para mergulho.

Outros engenhos subaquáticos foram sendo inventados, como o de Lethbridge (1715), o de Klingert (1798) mas os primeiros escafandros realmente exequiveis foram os de August Siebe, na Inglaterra em 1819 e o Cabirol, na França, em 1855. Em 1860, os franceses Rouquayrol e Denayrouze prepararam uma válvula reguladora, capaz de reduzir a elevada pressão dos compressores para a pressão ambiente do mergulhador. Em 1924, o francês Lê Prieur introduziu novos aperfeiçoamentos, como os reservatórios de ar comprimido, que somados aos criados recentemente por Jacques Yves Custeau e Emile Gagnan, constituem o equipamento autônomo de nossos dias.

Atualmente, as profundidades atingidas exigem misturas gasosas especiais e os mergulhadores de saturação permitem uma permanência quase ilimitada do homem no fundo subaquático. Recordes de profundidade da ordem dos 600 metros em câmaras de recompressão, de 280 metros em mar aberto e a permanência de semanas em laboratórios submarinos, vão sendo incorporados à realidade de nosso dias e ultrapassados constantemente por novas façanhas. Entretanto, o mergulho livre, primeiro passo do homem nessa brilhante trajetória, é ainda a modalidade adotada oficialmente para a pratica da caça submarina, esporte que vem conquistando um número crescente de aficcionados.

Retornado ao ano de 1930, lembramos que nesse ano foi atirado pelo mar em uma das praias da Califórnia um “óculos” de bambu originário do Japão e encontrado por um grupo de americanos.Ao experimenta-lo, ficaram tão maravilhados que logo o aperfeiçoaram, dando origem à moderna mascara de mergulho. Mais ou menos na mesma época, surgiu o “ pé de pato”, lançando inicialmente por Louis de Collier e aperfeiçoado posteriormente por Owen Churchill. Para evitar que o homem, equipado com a mascara e o “pé de pato”, levantasse constantemente a cabeça para respirar, foi criado o “snorkel”, conhecido entre nós como “tubo”.

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2.3.2 Mergulhadores no Brasil

No Brasil, conta os nossos historiadores, os indígenas praticavam a pesca, não só como meio de subsistência mas também como diversão, organizando inclusive competições com prêmios para os vencedores. Usavam o arco e a flecha e, após atingirem o peixe, dependendo de seu porte, iniciavam uma perseguição que continuava co um mergulho para dominar a vítima ferida. De alguma forma, podemos afirmar que eram as primeiras demonstrações da caça submarina em nosso meio.

Somente após o advento da segunda Guerra Mundial, o material de mergulho foi conhecido por nós, sendo trazido ao Brasil em 1947, por pilotos comerciais e outros brasileiros que viajavam constantemente para a Europa.

O Rio de Janeiro foi a porta de entrada desse esporte em nossa Pátria e seus introdutores foram: Paulo Lefevre, André Semamá, João José Bracony e Jean Manzon. O equipamento trazido passava de mão em mão; na época, mergulhar era um ato considerado heróico e nosso plácido Atlântico, quase como o tão falado mar “tenebroso” do tempo das grandes navegações.

Após esta fase inicial em que o mergulhador era praticado utilizando –se material excedente de guerra, o esporte começou à difundir-se, cotando ainda co um pequeno número de adeptos. Todo o material era estrangeiro e seu custo bastante elevado, o que veio a retardar o desenvolvimento da Caça Submarina, ainda recém-nascida, trazendo-lhe a fama de “Esporte de Rico”.

Apesar de tudo, com os meios de difusão, rádio, cinema, televisão e jornais dando ampla cobertura, sua popularidade crescia dia a dia, despertando o interesse de todos os brasileiros e sendo cada vez mais praticada pelos jovens dos estados litorâneos.

Com a dificuldade de aquisição do material estrangeiro começaram a aparecer os nossos tradicionais improvisadores e na Praia de Botafogo surgiu um

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Torneio que veio a se tornar famoso pela armas que fabricava, chamado “Pingüim” o inventor da “Coca-Cola” de tiros múltiplos.

Paralelamente surgiram várias indústrias especializadas no fabrico de todo o material esportivo, entre elas destacamos a pioneira “ORCA” (Indústria de Equipamento de Caça Submarina e mais tarde a COBRA-SUB). Mais recentemente surgiram inúmeras outras empresas fabricantes de Equipamentos de Mergulho como a AIR-SUB, TA-SUB, a MORMAII e muitas outras que dotaram nosso país de uma diversidade de equipamentos satisfatória.

À partir de 1973 começaram a surgir no Brasil as ESCOLAS DE FORMÇÃO DE MERGULHADORES, primeiro ensinando “Mergulho Livre e Caça Submarina” e em seguida evoluindo até o ensino do “mergulho com Ar Comprimido”. A primeira Escola de Mergulho a funcionar foi ano Rio de Janeiro, a “CCS” do Club de Caça Submarina, hoje intitulado CBD- CLUBE BARRACUDA DE DESPOTOS, alteração de nome que fez em virtude da evolução do clube que passou a praticar outras formas de atividade subaquáticas ( Foto-Sub, Orientação, Natação Equipada, ect). O CBD continua ensinando o mergulho, formando mergulhadores de ótimo nível. Hoje, no Brasil, o mergulhador é reconhecido apenas se possui um BREVE DE MERGULHADOR e esse somente é obtido através das Escolas reconhecidas pela CBPDS-CMAS ( Confederation Mondial dês Activités Subaquatiques).

2.2.3 Ceará e seus mergulhadores

A atividade de mergulho no Ceará é bastante recente e se confunde com as manobras de mergulho do Corpo de Bombeiros. Não era comum as incursões nas águas com equipamentos para o mergulho Livre ( Mergulho sem equipamentos com ar comprimido), muito menos autônomo. Apesar de termos um parque aquático muito propício ao mergulho, a atividade só veio a se desenvolver a parti do momento que surgiram escolas de mergulho. O Corpo de Bombeiros contribuiu fortemente para este desenvolvimento, formando nas primeiras turmas de mergulhadores bombeiros e entre os militares estudantes que hoje possuem Escolas de mergulho.

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A partir deste momento da difusão de conhecimento, ainda não havia

normalização para um mergulho seguro, contudo os mergulhadores já davam seus primeiros passos a se aventurar em mergulhos para a caça sub marina. O desconhecimento os levou, muitas vezes a morte pelo apagamento e outras doenças até então desconhecidas para eles. Ao surgir os compressores de ar comprimidos a pesca recebeu um novo aliado que durante muito tempo foi motivo de muitos nordestinos morrerem. Hoje, apesar da difusão de informações, ainda nos deparamos com situações preocupantes como o caso de mergulhadores civis utilizando-se cilindros de Gás natural para utilizar como fonte de ar.

2.2.4 Corpo de Bombeiros e trabalhos submersos

Nossos bombeiros, num passado bem próximo, quando de serviço, muitas vezes eram surpreendidos com situações envolvendo trabalhos submersos. Em 1965 o Coronel da reserva José Ronald de Brito ao observar que pequeno número de bombeiros estava preparado para essa missão, criou o Pelotão de Salvamento, selecionando aqueles que possuíam afinidade com a atividade. Com o passar do tempo este pelotão deu origem a Subseção de Busca e Salvamento em 1982 quando se construiu as instalações e equipou-se esta subseção com equipamentos mais adequados para os serviços aquáticos.

Os primeiros bombeiros mergulhadores da Corporação realizaram cursos

em outros órgãos visando preparar posteriormente os demais bombeiros cearenses

para trabalhos submersos. A marinha foi um referencial por ser o órgão que dominava

técnicas e equipamentos adequados neste período. Após a Marinha buscou-se outras

unidades da federação que se apresentavam como referência na atividade.

As primeiras turmas do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará foram formadas por

estes bombeiros pioneiros que repassaram os conhecimentos fundamentais para o

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mergulho, através de cursos na instituição, viabilizaram assim que os bombeiros

Sapadores( denominação anterior aos Bombeiros Militares) realizassem com maior

eficiência e eficácias os trabalhos submersos que até então feitos empiricamente.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará hoje possui mergulhadores

no Núcleo de Busca e Salvamento, diariamente escalados. Equipes de sobreaviso

constituídas por três militares (mergulhadores), semanalmente se revezam para uma

eventual ocorrência na área de mergulho. Esses mergulhadores são formados

especialmente para situações críticas de ações de resgate, envolvendo, desde uma

simples retirada de objetos submersos em canais fluviais a resgate de cadáveres em

cavernas. Durante o curso de formação recebem fundamentos teóricos e práticos de

mergulho.

2.4 MERGULHADOR BOMBEIRO

2.4.1 Formação

O mergulhador de resgate do Corpo de Bombeiros é formado dentro de critérios

bem diferenciados visando o emprego do mergulhador nas mais diversas missões.

A diferenciação entre os cursos realizados no Corpo de Bombeiros e os do meio

civil se verifica em razão do maior grau de dificuldade existente nos cursos militares

que, além das dificuldades naturais, submetem os discentes a situações limites de

respostas positivas a pressões psicológicas e de stress. Cada prova funciona como

filtro que selecionam não os melhores mais os mais preparados para esse tipo de

serviço.

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Os treinamentos simulam situações de emergências para o bom

condicionamento técnico, visando o trabalho diário de busca e resgate. As ocorrências

envolvem situações de elevado risco que comprometem a vida do mergulhador e, para

isso, existem regras de segurança a serem seguidas pelas equipes de mergulho as

quais são repassadas exaustivamente.

O currículo é formulado dentro das seguintes disciplinas: Fisiologia do mergulho,

Física aplicada ao mergulho, Acidentes, Primeiros socorros, Equipamentos, Técnicas

de mergulho e Especialidades Técnicas. Tudo isso auxiliado por um excepcional

preparo físico. Acrescenta -se ainda manobras utilizando aeronaves (helicóptero),

embarcações, técnicas de Salvamento Aquático, Visitas à clínica que trabalham com

câmara hiberbáricas e Curso de Arrais Amador na Capitania dos Portos. Este nos

habilita a manobrar embarcações em águas restritas (açudes, lagoas, rios e portos)

facilitando e permitindo-nos trabalhar dentro da lei.

O Curso de Mergulho Autônomo - CMAUT é reconhecido através do ALVARÁ

que versa o seguinte em seu texto: “O presidente da Confederação Brasileira de Pesca

e Desportos Subaquáticos - CBPDS, com base no Artigo 5º, Letra J do Estatuto da

Entidade e, na Constituição da República Federativa do Brasil, Artigo 217, I, Reconhece

a(o): CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO CEARÁ como curso de mergulho livre e

Autônomo cadastrado na Confederação, o que lhe outorga o direito de requerer no

EXERCÍCIO DO ano em curso o brevet de mergulhador para seus alunos formados

pelo método CBPDS/CMAS”. O alvará é renovado anualmente através de requerimento

a CBPDS.

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2.4.2 Tipo de serviços executados

A formação destinada aos mergulhadores da corporação de bombeiros do ceará nos permite estar apto a realização de trabalhos submersos em situações normais de mergulho e geralmente em situações desfavoráveis para o mergulho seguro.

Com maior freqüência o resgate e busca de cadáveres são situações de rotina. Não se mergulha apenas em mar ou açudes e rios, estão freqüentemente mergulhando em canais, esgotos e poços. Em períodos de inverno a busca de cadáveres em bueiros é aumentada em razão destes estarem freqüentemente abertos e assim pessoas, principalmente as crianças, caírem em bueiros. A busca é realizada por equipes de salvamento e algumas vezes por mergulhadores dependendo da necessidade. Neste mesmo período os rios que transbordam inundando alguns trechos habitados, desavisados se afogam passando a ser mais um na estatística de desaparecidos para serem resgatados pelos mergulhadores. As ocorrências menos comuns de resgate de cadáver são as realizadas em naufrágio de embarcações.

2.5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Após análise dos resultados obtidos chegou-se aos seguintes resultados:

Verificou-se que os mergulhadores da Subseção do Núcleo de Busca e

Salvamento não se sentem valorizados, acham-se impotentes por não terem

oportunidade de realizarem cursos de especialização. Apesar de serem reconhecidos

profissionalmente na função e ao mesmo tempo desvalorizados, sentem-se realizados

por pertencerem ao grupo seleto de mergulhadores e por tudo isso ainda satisfeitos.

A segurança, na ótica dos mergulhadores, durante as fainas de mergulho,

mesmo as mais simples, são necessários todos os cuidados. São militares que

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procuram observar os requisitos adequados para o cumprimento da missão, pois

acreditam que uma ocorrência não é sempre igual a outra. Existe unanimidade em se

afirmar que procedimentos padronizados são necessários e há preocupação em manter

padronizadas as ações durante as ocorrências.

Com relação ao material de mergulho a disposição é de entendimento que seja

necessário investimento em qualidade e quantidade, apesar do existente suprir as

necessidades atuais. Por este fato, em algumas situações, são obrigados a improvisar.

A manutenção apresenta-se como fator positivo, mantendo-se dentro dos padrões

satisfatórios de manutenção.

Os gestores ou responsáveis pelo mergulho, com relação ao gerenciamento das

ocorrências e demais funções que lhe compete, identificou-se que sempre observam

antes, durante e depois das fainas a observância da segurança. Contudo se

enfraquecem ao conciliar técnica e prática de mergulho. Esse fator negativo é

equilibrado quando procura o entendimento com o grupo avaliando a área, o poder

operacional, as sugestões e experiência dos mergulhadores envolvidos nas operações.

O ideal para os mergulhadores, segundo a pesquisa, seria um gestor mergulhador

experiente e não um superior hierárquico.

As ocorrências estão centradas na maior incidência de resgate de cadáver e com

menor freqüência a busca de materiais submersos O mergulhador tem sofrido mais

com acidentes relacionados a barotrauma e doenças de pele. Parte dos mergulhadores

acha o mergulho executado pelo bombeiro, sob aspecto de segurança, um trabalho

dentro dos padrões, mais a maioria define como arriscado.

Apesar dos cursos serem considerados como de elevado nível e satisfatório,

nota-se a carência de realização de treinamentos para capacitação e troca de

experiências entre os mesmos. A incidência de falha de conduta para o mergulho

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seguro é pequena, contudo nota-se falta de empenho maior na fiscalização para

minimizar algumas falhas.

Nossos mergulhadores, a maioria, são largamente experientes, há necessidade

apenas de unir esta experiência dos que tem mais vivencia operacional aos

conhecimentos técnicos científicos dos menos providos de horas de mergulho.

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3. CONCLUSÃO

O desenvolvimento histórico do mergulho no mundo nos revela os desafios

enfrentados por mergulhadores até chegarmos aos equipamentos e técnicas existentes

hoje. O Brasil já possuía seus mergulhadores audazes, representados pelos indígenas.

Hoje possuímos condições técnicas suficientes utilizadas por militares e civis para os

mais diversos objetivos. O Ceará inverte no mergulho voltado para o turismo e o Corpo

de Bombeiros aos poucos torna-se referência na atividade de resgate .

Os mergulhadores do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará - CBMCE trabalham

sempre preocupados com a segurança, em razão das condições que, muitas vezes,

põem em perigo a vida dos militares envolvidos em operações. Estes homens se

submetem a mergulhos em águas turvas, buracos de rua, descem no mar à procura de

corpos e bens desaparecidos, onde os fatores condicionantes são adversos.

Medidas governamentais criadas para regular e disciplinar o trabalho insalubre

nas atividades hiperbárica podem ser postas em prática. Através destes procedimentos

a Corporação contribuirá na eficiência da segurança, podendo assim tornar atividade

segura e com resultados positivos na diminuição de acidentes. O resultado deste

investimento é um mergulhador satisfeito, protegido e trabalhando com mais

confiança.

Para o Núcleo de Busca e Salvamento gerenciar os trabalhos submersos, todos

os setores devem funcionar interligados e colaborarem mutuamente para obtenção de

resultados positivos. O emprego de um conjunto de técnicas e recursos preventivos ou

corretivos, em todos os níveis, é fundamental para a proteção do homem e seus

equipamentos dos riscos de acidentes durante a realização de um trabalho de mergulho

ou treinamento. Deve o Núcleo definir pessoas com conhecimento amplo na área de

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mergulho e de segurança, pois é fundamental para o funcionamento gerencial neste

trabalho, para isso é necessário um estudo do ambiente detectando possíveis riscos ao

mergulhador, para obter resultados satisfatórios.

Obtem-se a segurança quando lançamos mão de procedimentos, de materiais e

ou equipamentos que possibilitam a permanência e realização dos trabalhos em locais

de risco. Não obstante a necessidade de uma supervisão de bombeiros experientes e

capacitados, visando adequação responsável da segurança nas operações. O Núcleo

de Busca e Salvamento possui material e pessoas capacitadas para concretizar a

gestão desta segurança através de Normas e Regulamentações existente.

Os resultados obtidos, após investigação entre os mergulhadores, leva ao

entendimento que o mergulhador bombeiro sente-se reconhecido e satisfeito com a

missão, contudo desvalorizado. Espera dos gestores maior empenho em valorizar este

trabalho insalubre reconhecido pela Legislação trabalhista – Norma Reguladora nº 15.

Deve –se buscar sempre a perfeição, mesmo em situações adversas e ambiente de

recursos restritos, pois o homem não é mera peça de reposição de uma engrenagem

do sistema chamado mergulho.

Finalmente, conclui-se que a Corporação Bombeiro Militar do Estado do Ceará

realiza um trabalho de fundamental importância para a sociedade e vem melhorando o

serviço prestado com inovações. Por todo isso que se deve rever os treinamentos,

equipamentos e procedimentos para o gerenciamento eficaz e eficiente deste trabalho.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRACONY, Eduardo Paim. Manual do Mergulhador – Volume I, 1986. ed. EDIMIG

ALBERT, E. Manual Básico de Salvamento. Fortaleza-ce,1998

JÚNIOR, Haroldo Machado e SOUZA, Paulo José Barbosa. Manual Técnico

Profissional de Salvamento - Volume II, Distrito Federal. Brasília - DF, 1998.

CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Consolidação das Leis do Trabalho. CLT NR-15. 72 ed.

1987.

NIETO, Cesar Corazza. Manual de Mergulho Autônomo. 2º ed.São Paulo: Copy

Service Indústria Gráfica Ltda.

FUNDACENTRO, Curso de Supervisores de segurança do trabalho. 2º ed. 1983,

São Paulo:

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