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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS FACULDADE MINEIRA DE DIREITO Mestrado em Direito MERCOSUL: UM CONTRAPONTO À ALCA E AO NEOLIBERALISMO EM UM CONTEXTO GLOBALIZADO. Dalvo Leal da Rocha Belo Horizonte 2007 PDF processed with CutePDF evaluation edition www.CutePDF.com

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

FACULDADE MINEIRA DE DIREITO

Mestrado em Direito

MERCOSUL: UM CONTRAPONTO À ALCA E AO NEOLIBERALISMO EM UM CONTEXTO GLOBALIZADO.

Dalvo Leal da Rocha

Belo Horizonte 2007

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Dalvo Leal da Rocha

MERCOSUL: UM CONTRAPONTO À ALCA E AO NEOLIBERALISMO EM UM CONTEXTO GLOBALIZADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Bruno Wanderley Júnior.

Linha de Pesquisa: Direitos Humanos, Processo de Integração e Constitucionalização do Direito Internacional.

Belo Horizonte 2007

2

Dalvo Leal da Rocha

MERCOSUL: UM CONTRAPONTO À ALCA E AO NEOLIBERALISMO EM UM CONTEXTO GLOBALIZADO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Direito e

aprovada, em 14 de Dezembro de 2008, pela Banca Examinadora constituída

pelos professores:

Profº Doutor Bruno Wanderley Júnior (orientador ) – PUCMINAS.

Profº. Doutor José Luiz Quadros - Professor da PUCMINAS.

Profº. Doutor Antonio Guedes – Professor da UFMG.

3

A meus pais que me proporcionaram a vida,A minha esposa Anacélia e a minha filha Karol que me ajudaram a construir este trabalho,A minha mãe, in memorian, que onde estiver, me protegeu na busca do melhor.

4

AGRADECIMENTOS

• À DEUS, presente em cada instante desta caminhada.

• À NOSSA SENHORA APARECIDA pela temperança com que me

agraciou nos momentos em que a caminhada se tornou árdua.

• Ao meu orientador, Professor Doutor Bruno Wanderley Junior,

pelo imensurável auxílio e inesquecível compreensão que

serviram como lição sobre a conduta que deve assumir aquele

que orienta e que com profissionalismo, amizade, dedicação,

carinho e ética, tornou possível a realização deste trabalho.

• À minha esposa Anacélia que muito contribuiu positivamente para

que esse trabalho fosse realizado, demonstrando uma paciência e

um carinho que lhe é peculiar para que o sonho do Mestrado se

tornasse realidade.

• À minha filha Ana Carolina que durante esses anos de sua

existência foi a principal razão dessa luta diária e que

compartilhou comigo os momentos alegres e difíceis dessa

caminhada e não permitiu que em momento algum me sentisse

só.

• Ao Professor Doutor. José Luiz Quadros que demonstrou

dedicação, compreensão e camaradagem além de um grande

conhecimento durante as aulas ministradas no Mestrado.

• Ao Dr. Ricarlos Almagro, Juiz Federal em Vitória, pela prazerosa

companhia e ensinamentos jurídicos transmitidos durante as

horas agradáveis em que passamos na PUCMINAS.

• Ao Dr. Mário Conceição, ilustre representante do Ministério

Público de Minas Gerais, a quem pude desfrutar de horas

agradáveis nas conversas sobre o Direito e em momentos difíceis

fora da academia.

• Ao Professor Júlio Aguiar Silva que na graduação e no Mestrado

mostrou o companheirismo e a camaradagem adquiridos em

prestigiosa Casa que anteriormente ambos freqüentamos.

5

• Ao Padre e Mestre Sebastien Kiwonghi Bisavu pelo carinho e

cooperação que ajudaram-me quando de suas observações e

correções nesse trabalho .

• Ao colega e Professor David França que durante os dias de aulas

do Mestrado, preencheu nossas mentes com seu profundo

conhecimento escandinavo.

• Ao colega Silvestre Rossi pela demonstração de amizade durante

o curso e a colaboração incansável nos momentos difíceis.

• Aos colegas do Mestrado pelos incentivos recebidos.

• Ao amigo Elísio Junior pelos momentos agradáveis que

desfrutamos na graduação e pela dedicação e carinho que me

atendia na secretaria do Mestrado.

• Aos funcionários da secretaria do Mestrado, André, Jackson,

Nicholas e Lorraine que nunca evitaram esforços para que a

nossa convivência nessa casa fosse agradável e proveitosa.

• Aos professores e mestres da graduação e do mestrado que me

incentivaram com suas aulas de qualidades e com atenção

desmedida na trajetória desse objetivo.

6

“..........Imagine there’s no country…....”

(Imagine que não haja países). John Lenon, in Imagine

7

RESUMO

Este trabalho possui o intuito de entender a posição do Mercosul em face da

Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e do neoliberalismo que hoje se

faz presente em todas as regiões do globo. A tendência mundial dos países em

se unirem em blocos econômicos com o objetivo de fazerem frente à acirrada

competitividade comercial entre as demais nações do mundo, se faz cada vez

mais acentuada, haja vista que a disputa por uma fatia do mercado mundial de

bens e serviços tem sido a tônica nos últimos anos do século XX. Nesse

sentido, nossas reflexões versam sobre: se o MERCOSUL tem atingido os

objetivos referente ao seu propósito inicial que visava o crescimento e o

equilíbrio econômico dos países membros. Busca-se avaliar o impacto do

MERCOSUL nas economias desses Estados-membros. Avaliar se a

consolidação do bloco econômico terá o condão de proteger os seus países

membros de forma a garantir uma estabilidade sustentável na região. No atual

contexto, percebe-se a importância e a necessidade desses blocos

econômicos internacionais, entretanto, não devem estar dissociados das outras

dimensões políticas, humanas, culturais que são peculiares a cada país.

Palavras-chave: Mercosul, neoliberalismo e globalização.

8

ABSTRACT

This work has the intention of understanding the position of Mercosul and

neoliberalism that it’s present today worldwide .The trend of all countries to be

linked in economic blocs with the intention to fight for a difficult commercial

quarrel among the others countries, it’s each time harder, due to the quarrel of a

slice of world market of goods, services which are the most important thing in

these latest years of twenty century. So, our reflections are about: If the

Mercosul has hit the goal that is the development of the its members countries.

If the interaction of Mercosul in the economy of its members countries has

showed that the Latin market is the hope that the states expect for. if the

structure of this economic group have conditions to protect its members

countries to assure the economic stability in the region. Nowadays, it is

important to watch the importance and the necessity of these international

groups so, they don’t have to be apart from the others politics, human and

cultural dimensions which are ones in each country.

Key words: Mercosul, neoliberalism, globalization.

9

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

• ADCT - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

• ALADI – Associação Latina Americana de Integração.

• ALALC – Associação Latina Americana de Livre Comércio.

• ALCA – Área de Livre Comércio das Américas.

• BIRD – Banco Internacional de Reforma e Desenvolvimento.

• CARICOM - Mercado Comum e Comunidade do Caribe.

• CEI - Comunidade de Estados Independentes.

• CEPAL – Comissão Econômica para América Latina.

• CF/88 – Constituição Federal de 1988.

• CMC - Conselho do Mercado Comum.

• CGT – Confederação Geral dos Trabalhadores.

• COMECON – Conselho de Cooperação Mútua Econômica.

• CPC - Comissão Parlamentar Conjunta.

• CUT - Central Única dos Trabalhadores

• EFTA - Associação de Livre Comércio Européia.

• FMI – Fundo Monetário Internacional.

• GATT – General Agreement on Tariffs and Trade.( Acordo Geral de Tarifas e Comércio).

• GMC – Grupo do Mercado Comum.

• GT – Grupos de Trabalho.

• IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

10

• MERCOSUL – Mercado Comum do Cone Sul.

• NAFTA – North American Free Trade and Agreement. ( Acordo de Livre Comércio Norte Americano)

• OMC – Organização Mundial do Comércio.

• ONU – Organização das Nações Unidas.

• OIT – Organização Internacional do Trabalho.

• PARLATINO – Parlamento Latino Americano.

• PIB – Produto Interno Bruto.

• PICE - Programa de Integração e Cooperação Econômica.

• POP – Protocolo de Ouro Preto.

• SDN – Sociedade das Nações.

• STF – Supremo Tribunal Federal.

• TEC - Tarifa Externa Comum.

• TICD – Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento.

11

LISTA DE FIGURAS

1) Mapa da A. Sul com os países membros do Mercosul ..............................53

2) Mapa do Mercosul incluindo a Venezuela....................................................88

12

LISTA DE TABELAS

1) Importações e exportações dos países do Mercosul....................................64

2) Países membros............................................................................................71

3) Países associados ........................................................................................72

13

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................18

CAPÍTULO I

O CONTEXTO POLÍTICO E ECONÔMICO EUROPEU APÓS A SEGUNDA GRANDE GUERRA

A Recuperação da Europa pelo Plano Marshall................23

CAPÍTULO II

MODELOS ECONÔMICOS PÓS - SEGUNDA GRANDE GUERRA

1. Globalização: Origem e evolução .............................31

2. Neoliberalismo ....................................................... ..38

3. A política externa do Brasil no século XXI................ 43

14

CAPÍTULO III

A TENDÊNCIA MUNDIAL NA FORMAÇÃO DOS BLOCOS

1. O Tratado da CECA - A comunidade do carvão e do aço.............................................................................49

2. O Processo de Integração da América Latina ..........50

CAPÍTULO IV

MERCOSUL – FORMAÇÃO E PERSPECTIVA

1. Aspectos físicos ........................................................53

1. A estrutura econômica dos países membros e associados ................................................................70

3. A estrutura orgânica do MERCOSUL........................74

3.1 O Conselho do MERCOSUL..............................74

3.2 O Grupo Mercado Comum.................................75

3.3 A Comissão Parlamentar Conjunta....................77

3.4 O Foro Consultivo Econômico e Social..............81

3.5 A Secretaria Administrativa do MERCOSUL......82

15

4. O Sistema de Soluções de Controvérsias no MERCOSUL .........................................................84

5 . A Venezuela como membro permanente do MERCOSUL .........................................................88

6. A Adesão do México ao MERCOSUL.....................92

CAPÍTULO V

ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS ALCA

1. A formação dos grupos e seus países......................96

2. O livre comércio.........................................................99

3. Globalização ou Imperialismo?................................102

4. As bases da ofensiva militar e política dos Estados Unidos .....................................................................104

5. A influência americana na economia mundial.........105

16

CAPÍTULO VI

CONTRAPONTO

1. O MERCOSUL como contraponto à ALCA............109 2. O MERCOSUL como contraponto ao neoliberalismo..........................................................114

Considerações Finais................................................117

Referências bibliográficas............. ..........................120

ANEXOS

1. Tratado de Assunção...............................................124

2. Protocolo de Ouro Preto..........................................142

3. Protocolo de Brasília ...............................................154

17

INTRODUÇÃO

Já faz alguns anos que a integração entre diversos países ocasionadas

por interesses econômicos vem se tornando uma realidade no âmbito mundial.

As integrações ocorreram primeiramente com um objetivo econômico

que visava dotar alguns países da Europa no pós – guerra de matéria prima

suficiente para movimentar as indústrias que tomavam cada vez mais a forma

de uma atividade econômica preponderante no mundo que emergia dos

escombros da destruição que ocorrera na Europa em meados da década de 40

do século XX.

Ë o surgimento da Comunidade do Carvão e do Aço1, em 1951 na

Europa, o embrião das demais integrações econômicas que surgirão em

diversas regiões do globo e que tempos depois se tornará a poderosa União

Européia.

Passados quase cinqüenta anos do Tratado do CECA, mais

precisamente no ano de 1991, a América Latina, depois de experimentar

algumas tentativas de integração, desponta para formação de um bloco

econômico que tem por meta obter uma integração econômica, indústrial e

comercial de forma a fortalecer a indústria local.

A assinatura do Tratado de Assunção2 representa a instauração de um

progressivo processo de integração econômica dos países do Cone Sul, que

pretende culminar com a constituição de um mercado comum latino-americano.

Porém, para alcançar tal objetivo, torna-se imperiosa a articulação de um

direito que discipline as relações entre os Estados, particulares e órgãos

próprios da Comunidade, tarefa essa destinada ao Direito Comunitário.

1 Tratado que institui a Comunidade Européia do Carvão e do Aço em 18 de Abril de 1951 e celebrado pela Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. 2 Tratado para constituição de um mercado comum entre a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai., em Assunção,em 26 de março de 1991.

18

Nos casos que tangem ao MERCOSUL, considerando o seu atual

estágio de desenvolvimento econômico entre os Estados - membros entre si e

mesmo com os demais fora da comunidade, percebe-se uma melhoria nos

resultados financeiros o que demonstra ter se tornado viável a implantação de

um mercado comum no cone sul do continente americano.

A formação desse mercado comum tem atualmente o objetivo de

garantir uma situação econômica e financeira de bloco a fim de fazer frente a

uma política econômica americana para a América Latina que vise a formação

de outro bloco, com 34 países na sua formação, e que seja liderado pelos

Estados Unidos da América.

Existe também a preocupação de se fazer frente ao neoliberalismo

intensamente propagado e difundido pelos principais países do primeiro

mundo, tais como a Inglaterra, os Estados Unidos, a França e a Alemanha. A

queda do Muro de Berlim em 1989 e o “desaparecimento” da União Soviética

no início dos anos 90 levaram os principais países do primeiro mundo a adotar

uma política neoliberal que estimulasse um estado mínimo permitindo , na

opinião deles, um melhor reestruturação das sociedades ocidentais.

O reaparecimento do liberalismo no mundo no fim do século XX e início

do século XXI, nos moldes que apareceu na Europa ao final do Absolutismo,

em 1688 na Inglaterra e em 1789 na França, tende a desestruturar o Welfare

State que o mundo ocidental consolidou ao término da Segunda Grande

Guerra em 1945.

Na atual situação social e econômica que a América Latina3 se encontra,

com indicadores sociais bem aquém dos índices dos países europeus e dos

Estados Unidos, o fim do Estado do Bem-estar Social representará uma

situação de penúria financeira e social que comprometerá toda a estabilidade

política que o continente sul-americano adquiriu ao longo dos últimos anos.

3 Parte do continente americano formado pela América do Sul e Central cuja população fala português no Brasil e espanhol nos demais países até o México.

19

Prosseguindo na seara da investigação e da pesquisa, busca-se estudar

a estrutura do MERCOSUL e dos demais países latinos que possam vir a fazer

parte do bloco econômico como forma de rechaçar essas ameaças econômica,

social, política que vêm travestida como ALCA e neoliberalismo.

Dada essa importância, as avaliações das economias dos países

membros visam determinar se a formação do Mercado do Cone Sul terá

estrutura suficiente para que o mercado se apresente como uma barreira

regional que tenha por objetivo fazer frente à Alca e a economia mais

consolidada dos países de primeiro mundo como os da Europa Ocidental,

Japão e ultimamente a China.

Nesse sentido, ou seja, no intuito de avaliar resultados, algumas perguntas

se fazem relevantes, tais como:

• O MERCOSUL tem atendido ao seu propósito inicial que visava o

crescimento e o equilíbrio econômico dos países membros?

• Qual é o impacto do MERCOSUL sobre a economia desses países

membros?

• A consolidação do grupo econômico terá o condão de proteger os seus

países membros de forma garantir uma estabilidade sustentável na

região?

À luz dessas indagações busca-se avaliar se a formação de uma

associação econômica destinada a fortalecer os países da região atingiu o

seu objetivo. Deve também levar a compreender o impacto do MERCOSUL

na Balança Comercial do Brasil e dos países que fazem parte do bloco

econômico no período de 1995 – 2005 e avaliar a real capacidade do

parque industrial dos países membros do grupo de forma a detectar os reais

entraves ao pleno desenvolvimento das indústrias que fazem parte do bloco

econômico.

20

Esse estudo visa também :

• Realizar um resgate histórico sobre a organização dos países em

blocos.

• Discutir a ocorrência de recursos e a capacidade de investimentos dos

países membros como forma de assegurar capital para consolidar esses

parques industriais.

• Discutir o impacto da política norte-americana como uma forma de

intervenção branca no MERCOSUL com o intuito de trazer esses países

membros para o bloco da Alca a ser liderado pelos Estados Unidos;

• Identificar quais os métodos de harmonização de investimentos que

assegurem um investimento eqüitativo dos países membros e que

podem ser utilizados para se fazer uma análise mais precisa da

repercussão da expansão aduaneira nos países membros do Mercosul

no período de 1995 a 2005;

• Levantar os índices da balança comercial dos países membros, no

período de sua criação até os dias atuais.

• Elaborar um quadro comparativo da balança comercial de todos os

membros do Mercosul antes e depois da implantação do bloco

econômico;

• Investigar quais índices sofreram maior ou menor impacto com o

MERCOSUL.

• Compreender o impacto da Globalização nas economias dos países

membros.

• Descrever a formação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

• Analisar a economia dos membros do MERCOSUL antes de depois de

suas adesões ao Tratado de Assunção.

É importante lembrar que o impacto não se limita somente a esfera

econômica-política, mas também de forma significativa no âmbito social e

ambiental.

21

Trabalhando nessa perspectiva de compreender e avaliar o MERCOSUL,

optou-se como método para realizar essa investigação a pesquisa exploratória

com uma abordagem predominantemente descritiva. Lançou-se mão ainda de

informações qualitativas e quantitativas.

Sendo assim, esse trabalho bibliográfico utilizará ainda:

• Documentos legais (Tratados, acordos, declarações)

• Publicações oficiais, estatísticas e tabelas de dados

• Livros, estudos e pesquisas publicadas.

O recorte temporal 1995 a 2005, se justifica devido a atualização de

dados oficiais disponíveis tanto do MERCOSUL quanto do Governo Brasileiro.

22

CAPÍTULO I

O CONTEXTO POLÍTICO E ECONÔMICO EUROPEU APÓS A SEGUNDA GRANDE GUERRA.

1. A Recuperação da Europa pelo Plano Marshall.

A situação econômica e social na Europa ao término da Segunda Guerra

Mundial era bastante precária e preocupante para dirigentes e sua população.

A chegada dos Estados Unidos pelo lado ocidental da Alemanha e a União

Soviética pelo lado oriental, combatendo o nazi - fascismo4 que se instalara na

Itália e Alemanha deixaram uma destruição em solo europeu sem precedentes

na história da humanidade. Os países da Europa enfrentaram uma grave

situação material e um desequilíbrio macroeconômico que colocava em perigo

a ordem liberal dos Estados Unidos. O receio do fantasma do comunismo

rondava a Europa como havia antecipado Marx exatamente um século anterior.

Segundo Sene, a situação de penúria absoluta e relativa em que viviam

as populações dos países destruídos pela guerra e a ameaça comunista

representada pelas tropas soviéticas no leste europeu e em Berlim Oriental e

os movimentos de protestos realizados pela esquerda local patrocinada pela

União Soviética, imprimiam nesses países os mais sérios problemas que os

Estados Unidos enfrentaram na Europa do Pós-Guerra.

A Aliança protagonizada pelos Estados Unidos e pela União Soviética

durante o período da Segunda Guerra com o objetivo de destruir o Nazismo na

4 Ideologia política que dominou a Alemanha e a Itália nos anos 20 e 30 do século XX, em decorrência da derrota sofrida por esses países durante a Primeira Grande Guerra, de 1914 à 1918.

23

Europa, foi-se deteriorando rapidamente entre 1945 e 1947. Os

desentendimentos se aprofundaram rapidamente seja pela discussão da

reunificação da Alemanha dividida, seja pela implementação das decisões de

Ialta5 nos países centro-orientais. Essas decisões consistiam em levar aos

países que vivenciaram durante a guerra os horrores do fascismo e do

nazismo, eleições livres, governos democraticamente eleitos, instalação de

congressos etc. As referidas decisões claramente não foram adotadas nos

países onde se instalaram os soviéticos e representou uma ameaça a

democracia desejada pelos Estados Unidos que seria apresentada a essas

nações.

O escritor francês Raymond Aron, dá a seu livro o título de o “Grande

Cisma” que é a divergência entre as democracias ocidentais e os países

socialistas que se desenvolve a despeito de uma vontade de entendimento de

colaboração entre os parceiros da guerra. A divergência ocorre, mormente em

relação à França que adota uma atitude colaboradora em conjunto com a

União Soviética e no desejo de diminuir a ajuda econômica à Alemanha e

subordiná-la militarmente haja visto ser ela a inimiga principal desde 1871,

quando da Guerra Franco-Prussiana6 e da formação do Estado Nacional da

Alemanha.

Apesar de todas as tentativas dos países vencedores, apenas dois

realmente desempenharam um papel de destaque no grande jogo mundial que

ora se iniciava, a saber, os Estados Unidos e a União Soviética que detinham

interesses antagônicos e que por essa razão se opunham de forma radical,

como descreveria George Kennan no “longo telegrama” 7. O relativo equilíbrio

geopolítico existente até a Segunda Grande Guerra foi substancialmente ao fim

da guerra. A bipolaridade russo-americana estava finalmente se impondo ao

mundo. Sobre isso diz o filosofo francês Tocqueville, citado por Almeida:

5 Cidade da União Soviética onde se reuniram Roosevelt, Stalin e Churchill ao término da Segunda Grande Guerra. 6 Guerra entre a Alemanha e a França em 1871 em que ocorre a anexação da Alsácia – Lorena, região rica em minério, à Alemanha. 7 Telegrama de 800 palavras enviado de Moscou em 1946, pelo diplomata americano George kennan, no qual ele argumentava que o poder soviético resultava de uma combinação de elementos ideológicos e circunstanciais.

24

Um conflito ideológico global, impensável em termos da política de poder tradicional, bem como uma completa e excepcional, dependência dos países europeus em face das potências ocupantes. (TOCQUEVILLE apud ALMEIDA, 1998, p.19).

A realidade da bipolaridade estrita apresenta-se como um fenômeno

novo no sistema internacional, já que nem nos antigos impérios, nem o

equilíbrio vestifaliano nascido com os modernos estados nacionais tinham

conseguido reduzir de tal maneira os atores da Machtpolitik8, para empregar

um conceito caro a Raymond Aron.

A reconstrução econômica e social do mundo pós-guerra a partir de

1945 tentou evitar os erros cometidos ao termino da Primeira Guerra Mundial

quando as cláusulas do Tratado de Versalhes9 imposto a Alemanha pelos

vitoriosos acabou servindo de estopim para o que seria a Segunda Grande

Guerra. A aliança vitoriosa na Primeira Guerra cobrou um tributo por demais

caro à Alemanha, o que serviu de combustível para surgir dentro de suas

fronteiras o germe do Nazi-facismo e sua doutrina de superioridade ariana e

ódio racial.

Assim Almeida descreve essa situação que, na época, era crucial para a

solução dos problemas sociais e econômicos para a Europa destruída da

época:

Objetivando encontrar uma solução aos problemas da reconstrução européia nos anos do imediato pós-guerra, um grupo de trabalho financiado pelo “Carnegie Endowent for Internacional Peace” que operava paralelamente aos esforços de coordenação suscitados pelo Plano Marshall (OECE) fez figurar num relatório preliminar algumas dúvidas quanto ao caminho a ser seguido naquela oportunidade . As primeiras conclusões eram razoavelmente pessimistas: “Uma união aduaneira não poderia ser a panacéia para os males atuais da Europa e não seria razoável tentar fazê-la cumprir esse papel. Um estudo mais aprofundado mostraria talvez que ela poderia trazer uma contribuição efetiva a prosperidade futura da Europa, mas é preciso considerar que os ajustes iniciais acarretariam, no período imediato, sacrifícios consideráveis para as nações as indústrias e os indivíduos,

8 Machtpolitik – É um estado de relações internacionais no qual os soberanos protegem seus próprios interesses ameaçando dos demais países com agressões militar, política ou econômica.9 Tratado de Versalhes – Tratado que em 1918 celebra a paz entre a Alemanha e os demais países que se envolveram em um conflito armado que originou a Primeira Grande Guerra.

25

sacrifícios que teriam de ser aceitos de maneira resoluta.(ALMEIDA, 1998, p.22)

A solução encontrada pelos países europeus para todos que estiveram

diretamente envolvidos com a guerra foi criar uma aliança econômica que

tivesse por objetivo favorecer a todos economicamente na parte relativa a

industrialização. Então, em janeiro de 1948, pela Convenção Benelux, firmada

em Londres, em 5 de setembro de 1944 e completada pelo protocolo de Haia

de março de 1947, entrava em vigor uma União Aduaneira entre a Bélgica,

Luxemburgo e os Países Baixos. O objetivo desses países era criar um

território econômico onde nada seria colocado como empecilho para a livre

circulação de bens, serviços, capitais e pessoas.

Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de integração econômica

foi marcado por momentos históricos de progresso muito rápidos que foram

impulsionados por vontade popular. A situação de destruição em que se

encontrava o território europeu e o trabalho de financiamento elaborado pelos

Estados Unidos através do Plano Marshall foram as condições inicias que

propiciaram a criação de um novo modelo econômico até então não

experimentado pela humanidade. Não era a criação de uma união aduaneira,

mas a formação de uma comunidade econômica que tinha por objetivo garantir

o desenvolvimento industrial dos países que estiveram em lados opostos na

guerra.

Relegando um princípio originário do tempo do Congresso de Vestfália10,

formam-se assim, as primeiras organizações de Direito Internacional que

superam o princípio da soberania nacional alterando de forma significativa os

métodos e os resultados da cooperação européia. Na seqüência dessa

evolução de cooperação econômica, surge em 1950 a Autoridade Internacional

do Ruhr11 que objetiva organizar a produção carbonífera da Europa Ocidental e

que logo após, no ano seguinte, teve a constituição da Comunidade do Carvão

e do Aço. Esses acontecimentos introduziram no Direito a idéia de

10 Congresso de Vestfália - “ Série de tratados que inaugurou o moderno sistema internacional ao acatar a noção de soberania estatal e de Estado - nação”. 11 Área metropolitana em Rhine-Westphalia, norte da Alemanha, consistindo em número de grandes cidades industriais, limitadas pelos rios Ruhr ao sul, Rhine a oeste, e Lippe ao norte.

26

comunidades que acarreta uma combinação do Direito Internacional com o

Direito Público Interno, devido a seus prolongamentos na ordem jurídica interna

dos seus Estados membros.

O Tratado da Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA)

celebrado em 1951 e devido a sua natureza e mecanismos de funcionamento

supranacional de uma “alta autoridade” foi uma preparação do que viria ser o

futuro Tratado de Roma de 1957 que se tornaria o embrião da atual

Comunidade Européia. Os países europeus que mais fizeram progresso na

trajetória integracionista foram sem sombra de dúvidas, a Alemanha e a França

que vivenciaram em menos de cem anos três grandes guerras que devastaram

seus territórios a partir de 1870 quando ocorre a Guerra Franco-Prussiana que

acarreta a formação do Estado Nacional da Alemanha.

A Guerra pela disputa da região da Alsácia-Lorena, em busca do minério

de ferro que alimentaria os fornos da emergente indústria alemã leva aos dois

países uma disputa que se prolongaria por mais duas guerras, deixando um

saldo de destruição e morte jamais visto em toda a história da humanidade.

O Tratado de Roma de 1957 que institui a Comunidade Econômica

Européia (CEE)12 e a Comunidade Européia de Energia Atômica (EURATOM)13

impõe que as decisões tomadas pelo seu órgão superior “são obrigatórias em

todos os seus elementos” e são aplicáveis “pelo simples efeito de sua

publicação”.

Os tratados celebrados pela Comunidade Econômica Européia e pelo

Euraton têm seus mecanismos de decisões bastante claros, pois institui que “o

regulamento é obrigatório em todos os seus elementos e ele é diretamente

12 Organização internacional criada por um dos dois Tratados de Roma, em 1957, com a finalidade de estabelecer um mercado comum europeu. Foram signatários desse tratado a França, Itália, Alemanha ( nesse caso apenas a Alemanha Ocidental) e os países do Benelux. 13 Organismo internacional composto por membros da União Européia. É o segundo Tratado de Roma. Os objetivos do Euratom eram criar um mercado especialista para energia atômica e distribuí-la através da comunidade e desenvolver a energia nuclear e vende-la para os países fora da comunidade.

27

aplicável em todo Estado membro. Também a decisão é obrigatória em todos

os seus elementos para os objetivos que ela designa”.

As instituições comunitárias européias dispõem de um órgão executivo

com competências próprias e distintas dos governos dos países membros

diferentemente do processo do BENELUX14 cujo processo de integração se

fazia inteiramente pela via das decisões diretas entre os Estados que eram

partes do acordo.

Ocorre na Europa uma contradição entre os seis países continentais

(França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Luxemburgo, e Holanda) que

partidários de um mercado comum e que já estavam congregados na

Comunidade Econômica do Carvão e do Aço estabelecida pelo Tratado de

Paris de 1951 e alguns outros países liderados pelo Reino Unido e que

tencionam manter o caráter aberto do intercâmbio comercial.

Sobre isso afirma o diplomata Paulo Roberto de Almeida:

“esse processo explica aliás , em parte, a crise da OECE e sua evolução para a OCDE: as tentativas de conciliar o esquema fortemente protecionista da Comunidade Econômica Européia com a prática de um regionalismo aberto – para usar um conceito contemporâneo – tal como defendida por países que procuravam instituir uma zona pan-européia de livre comércio, causaram fortes tensões na OECE em seus dois últimos anos de existência. Em última instancia, os países comprometidos com o esquema de “regionalismo aberto” terminaram por se agrupar, em 1960, na Associação Européia de Livre Comércio - AELC/EFTA.(ALMEIDA, 1998, p. 24)

O Tratado da Comunidade Européia do Carvão e do Aço prevê em seu

art.97: “O presente tratado mantém-se em vigor até 23 de Julho de 2003”.

Assim, o referido Tratado se consumou nessa data e corresponde uma

vigência de 50 anos da CECA.

Nesse sentido, assegura Maria Luiza Duarte:

14 BENELUX: Grupo econômico formado pela Bélgica, Luxemburgo e os Países Baixos cujo tratado de criação foi assinado em Londres pelos três governantes no exílio em 1944.

28

“Historicamente, a CECA suportou há muito tempo um processo de “definhamento institucional”, decorrente do funcionamento da EUROTOM e da CE. Esta última, pela maior amplitude do seu campo institucional de atuação, se afirmou como o motor do processo de integração e em decorrência da perda da importância estratégica do carvão e do aço, não tendo a CECA impedido grave crise da indústria siderúrgica e carbonífera européia”. (DUARTE, 2001, v.1, t.1, p.100).

Prevendo a cessação da vigência do prazo de atuação da CECA, o

protocolo relativo as conseqüências financeiras do termo de vigência do

Tratado da CECA, anexo ao tratado que instituiu a União Européia, dispunha

no seu art. 1 que a totalidade do ativo e do passivo da CECA existente em 23

de Julho de 2002, seria transferida para a Comunidade Européia em 24 de

Julho de 2002. Esse protocolo teve seu termo inicial de vigência a partir de 24

de Julho de 2002, conforme previsto no art. 4 do referido tratado.

Com base nesses fatos, afirma José Souto Maior Borges:

“Parece acertada a decisão pela transferência do acervo comunitário da CECA para a Comunidade Européia que, desde as suas raízes, esteve vinculada ao fator econômico e, pois, aos campos específicos do carvão e do aço. A Comunidade Européia (CE) é a ex Comunidade Econômica Européia”. (BORGES, 2005, p. 149).

Nesse momento histórico por qual passava o mundo tendo a Europa

destruída social e economicamente, surge a dúvida entre o abertura dos

mercados ou protecionismo que visava garantir o trabalho e o capital dos

países envolvidos nessa recuperação. Um fator importante no que se refere ao

papel do comércio na estruturação da macroestrutura política da ordem

econômica internacional no pós-guerra seria dado pelo desenvolvimento do

regionalismo comercial na Europa ocidental.

A Associação Européia de Livre Comércio, que é mais conhecida por

sua sigla em inglês EFTA15 nasceu de um fracasso: o dos esforços das

negociações conduzidas na OECE16 para instituir uma mesma associação 15 Economic Free Trade Association, constituída pela Convenção de Estocolmo, assinada em 04 de Janeiro de 1960, surgiu como uma oposição a Comunidade Européia. São países membros da EfTA, a Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. 16 Organização Européia de Cooperação Econômica, formada inicialmente pela Alemanha Ocidental, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Grécia, Islândia,

29

multilateral de comércio entre seus países membros e que estavam formando a

Comunidade Econômica Européia (CEE) , em 1957.

A pretensão da Grã-Bretanha17 era “diluir” o mercado comum numa zona

de livre-comércio, pois o país não concordava com os critérios franceses para a

formação da tarifa externa comum. Como conseqüência, os seis países da

Europa ocidental se unem para a celebração do Tratado de Roma e sete outros

da periferia decidem instituir uma organização distinta de livre-comércio, pela

Convenção de Estocolmo18, em 1960.

Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Turquia. 17 Ilha da Europa que abrange três países: Inglaterra, Escócia e País de Gales. Esses três países, somados à Irlanda do Norte, formam a entidade política do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. 18 Convenção de Estocolmo – Acordo multilateral que institui a EFTA cujos países membros são a Áustria, Dinamarca, Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça e entra em vigor em 3 de maio de 1960.

30

CAPÍTULO II

MODELOS ECONOMICOS PÓS-SEGUNDA GRANDE GUERRA.

1. Globalização: Origem e evolução.

Nos últimos tempos, a mídia estampa nos jornais, nas revistas e nos

noticiários da televisão que hoje o mundo vive um grande processo de

globalização, internacionalização ou mundialização. Definir esse processo não

é fácil e há várias interpretações para o conjunto de ações que interligam o

mundo. De uma forma ampla pode-se dizer que a globalização corresponde a

um fenômeno de interdependência e interligação no campo econômico,

político, social e cultural. Nesse processo ocorre a integração acelerada dos

mercados nacionais, a internacionalização da produção e do capital e sua

rápida movimentação, feita por transferências e aplicações nas Bolsas de

Valores de todo o mundo ou pelas subsidiárias de grandes companhias para

suas matrizes, a difusão e incorporação de culturas, sobretudo a dos países

desenvolvidos, criando padrões e comportamentos no mundo inteiro, típicos de

uma determinada sociedade, como por exemplo, o cinema americano, o fast-

food, o delivery e várias outras situações que são comuns no cotidiano das

grandes cidades pelo mundo.

O processo de globalização19 tem trazido diversas mudanças de

paradigmas para as sociedades contemporâneas, como também provocado

transformações nos diversos segmentos da vida humana e na economia

mundial, intensificando um crescente processo de terceirização. Os novos

paradigmas da globalização estão ligados ao conhecimento, à tecnologia e à

informação.

19 É um processo, ainda em curso, de integração de economias e mercados

31

O século XX trouxe avanços tecnológicos, nos mais diversos campos do

conhecimento humano e, em especial, na microbiologia, nos transportes, nas

comunicações e na informática. Esses avanços revolucionaram o mundo,

permitindo uma integração global sem precedentes. Entre as novas tecnologias

estão: a introdução da fibra óptica que permite que a transmissão de milhões

de informações em questão de segundos, com altíssima qualidade; os satélites

que interligaram as telecomunicações e permitem a divulgação da informação

no tempo real dos acontecimentos mundiais; a internet, ou a rede mundial de

computadores, a grande responsável pela conexão de milhões de usuários que

se comunicam on-line, com um acervo incalculável de informações

disponibilizadas nos incontáveis sites a disposição de quem desejar acessá-

los.

O processo de globalização está centrado nas nações ricas20 e, em

menor escala, nas economias emergentes, mas grande parte dos países

pobres não se encaixou nas novas exigências do capital. Nesse sentido nos

afirma o Professor José Luiz Quadros Magalhães:

Para que o capital se expandisse era necessário que o Estado criasse as seguintes situações ideais:

1-Diminuição do Estado com processos de privatização, permitindo que o setor privado pudesse atuar naqueles setores onde o Estado era concorrente ou único setor. 2-Com a diminuição do Estado, inclusive nas suas prestações sociais fundamentais, é possível a diminuição ou eliminação dos tributos do capital, deixando que a classe assalariada arque com o que subsiste dos serviços públicos( os dados do período Reagan nos Estados Unidos ilustram essa afirmativa).3-Enfraquecimento dos sindicatos para que não haja pressão eficiente sobre o valor do trabalho ameaçando os lucros crescentes.4-Para enfraquecer os sindicatos são necessárias políticas econômicas de geração do desemprego, com a substituição gradual do trabalho humano pela automação( o capital tem investimentos maciço em serviço e bens sofisticados para ampliação dos lucros, aumentando o consumo sem aumentar os consumidores, permitindo assim, também, a geração de desemprego, o que pode parecer incompatível). 5-Com o enfraquecimento dos sindicatos, há diminuição dos salários em determinada área de produção( os salários perdem seu valor real com uma inflação controlada, que permite a sua diminuição sem afetar o setor produtivo; em outras palavras, há inflação mas sobre controle.

20 Grupo dos sete mais ricos do mundo, intitulado G7 e que é formado pelos Estados Unidos, Canadá, França, Itália, Japão, Alemanha e Reino Unido.

32

6-Com o enfraquecimento dos sindicatos, há a diminuição dos direitos sociais, especificamente os direitos constitucionais do trabalho, o que significa um retorno às características da terceira fase evolutiva do Estado. (MAGALHÃES, 2002, p.72)

Esses países pobres não se industrializaram e têm economias centradas

no setor primário, população carente com baixa escolaridade e um poder

aquisitivo insignificante.

Tal fato se aplica à muitos países da África, também a alguns países

asiáticos e da América Central. Esses territórios se cristalizam em nações sem

importância estratégica dentro da lógica das relações internacionais e sem

capacidade, em um breve período de tempo, de ter um desenvolvimento

econômico e social sustentável. Devido a essas condições econômicas e

sociais, esses países não interessam mais as nações desenvolvidas e ficam

abandonados a própria sorte, sendo cada vez mais acentuada a dificuldade

que eles enfrentam para sair do subdesenvolvimento em que se encontram.

Nas economias emergentes21, as atividades ligadas à economia

internacional são as mais beneficiadas, mas que não trazem melhora para os

países como um todo. As nações pobres que estão inseridas no processo de

globalização têm papel decisivo na produção e no consumo mundial, embora

suas funções estejam subordinadas aos interesses e a necessidade do capital

internacional e multinacional, que controlam a economia mundial. Sendo assim,

torna-se cada vez mais difícil, para os países pobres, tentar alcançar o patamar

das nações ricas e industrializadas.

Para tanto diz o geógrafo Milton Santos :

Na verdade, o processo de globalização acentua a tendência a que as forças hegemônicas da economia, da política e da cultura escolham os lugares que consideram mais favoráveis à sua realização plena. Essas forças hegemônicas são sobretudo globais, internacionais; mas são igualmente nacionais. Isso se dá porque a grande lei da atividade econômica hegemônica é competitiva, superlativo de concorrência, indispensável a produção do maior lucro, da maior mais-valia e o instrumento de permanência das formas atuais de globalização. (SANTOS, 2006, p.37)

21 Nessa categoria de países emergentes encontraram-se o Brasil, a Índia, a China, a Rússia, e alguns países menores tais como Indonésia, Tailândia, o Egito, o Irã, México e Turquia.

33

Desde a última década do século XX a palavra globalização tem feito

parte do vocabulário de todos aqueles que utilizam o direito e as relações

internacionais e até mesmo dentro do mercado interno dos países. Isso devido

a política neoliberal adotada pelos países da Europa e os Estados Unidos que

tem exportado esse modelo em suas economias após a passagem da

Margareth Tatcher e do Presidente Ronald Reagan22 nos governos da

Inglaterra e dos Estados Unidos respectivamente.

Com as crises econômicas que se abateram sobre o Brasil a partir de

outubro de 1997 com o início da crise asiática, agravando-se em janeiro de

1999 com a crise do real e da economia argentina em 2001, a palavra

globalização se tornou comum na linguagem pátria devido às conseqüências

que os brasileiros sentem devido às diversas crises externas e que acabaram

se refletindo no Brasil.

Ver a globalização apenas pelo prisma da economia, que alias é o

enfoque predominante, é ser extremamente reducionista. É no plano da

economia que surgem as transformações, se não as mais evidentes pelo

menos as mais perceptíveis e mais facilmente mensuráveis. Tão ou mais

importantes que as mudanças que ocorrem na economia são as que ocorrem

no plano social, cultural, político e espacial ensejadas pela globalização.

Buscando fazer uma analogia desse fenômeno e como processo histórico, a

globalização será aqui analisada em suas dimensões socioeconômica, cultural

e política. A dimensão espacial atravessa todas as outras e é por elas

atravessada, porque as manifestações socioeconômicas, cultural e política da

globalização materializaram-se no espaço geográfico e moldam-no, assim

como são moldadas por eles.

Assim, diz Tavares e Fiori, sobre essa tentativa de encontrar uma

definição correta do que seria a palavra “globalização”:

Não há dúvida de que a palavra “globalização” foi cunhada no campo próprio das ideologias, transformando-se, nesta última década, num

22 Primeira Ministra da Inglaterra e Presidente dos Estados Unidos respectivamente e com quem iniciou o neoliberalismo no mundo no início da década de 80 do século XX.

34

lugar-comum de enorme conotação positiva, apesar de sua invisível imprecisão conceitual. É provável, inclusive, que esta palavra passe à história do modismo sem jamais adquirir um verdadeiro estatuto teórico, mantendo-se como um conceito inacabado. Mas também não há dúvida de que, apesar de tudo isto, poucas palavras possuem tamanha força política neste final de século XX, o que já seria razão suficiente para submetê-la a um exame rigoroso e crítico. (TAVARES e FIORI apud SENE, 2003, p.19).

A palavra globalização é um termo traduzido do inglês, “globalization” e

no início da década de 80 do século XX entrou em destaque em toda a mídia

mundial e permanece até os dias de hoje. Originou-se nas escolas de

administração dos Estados Unidos e de lá disseminou pelo mundo. Um dos

primeiros a utilizar o termo globalização foi Theodoro Levitt, da Universidade de

Harvad, em 1983 ao publicar no periódico “Harvard Bussiness Review”, um

artigo com o título “The Globalization of Markets”.23

A internacionalização capitalista capitaneada pelas multinacionais nesta

última parte do século XX traz com bastante intensidade esse termo as

comunidades internacionais e impôs as grandes corporações internacionais a

necessidade de se traçar estratégias de âmbito mundial para essas empresas.

Levitt afirmava que as empresas deveriam ter uma estratégia única de

produção e marketing em escala mundial devido à tendência de

homogeneização das demandas e dos hábitos de consumo. Ele cita a Coca-

Cola e a Pepsi como as empresas exemplos de sucesso, pois produzem,

distribuem e divulgam seus produtos em todo o mundo do mesmo modo, sendo

assim um paradigma a serem seguidas pelas demais corporações.

Como forma de expandir o raciocínio nesse sentido Levitt complementa:

Em negócios, isso é claramente traduzido por mercados globais, com corporações globais vendendo os mesmos produtos padronizados – automóveis, aço, produtos químicos, petróleo, cimento, mercadorias e equipamentos agrícolas, construção industrial e comercial, serviços bancários, seguros, computadores, semicondutores, transporte, instrumentos eletrônicos, produtos farmacêuticos, e telecomunicações, para mencionar apenas alguns dos mais óbvios - da mesma maneira em todos os lugares. (LEVITT apud SENE, 2003, p.22).

23 “The Globalization of Markets” – A globalização dos mercados.

35

O termo globalização bem como as políticas econômicas decorrentes

dele também se difundiu atrelado ao discurso neoliberal veiculado por

instituições internacionais como o FMI24 e Banco Mundial25 desde o período de

governo de Reagan nos Estados Unidos e também a liderança da Primeira –

Ministra Margareth Tatcher na Inglaterra. A chegada de Reagan ao poder e a

implementação de suas doutrinas neoliberais externas, instituições tais como o

FMI e o Bird26 se converteram instantaneamente ao neoliberalismo.

A globalização gerou grandes transformações econômicas, sociais,

culturais e políticas no mundo e marca um momento de ruptura nesse processo

de evolução social e moral que se vinha fazendo nos séculos precedentes. O

progresso e o desenvolvimento técnico apareciam, desde os séculos anteriores

como uma condição para realizar essa sonhada globalização com a mais

completa humanização do planeta. Finalmente, quando esse progresso técnico

alcança um nível superior, a globalização se realiza, mas não a serviço da

humanidade.

A globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem a

condição primitiva de cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da

selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada.

Na atualidade, a Globalização tem como uma das bases uma relação

sólida e próxima entre ciência e técnica cujo uso é condicionado pelo mercado.

Por conseguinte, trata-se de uma técnica e de uma ciência seletivas.

Nesse sentido, afirma o Professor Milton Santos:

24 O Fundo Monetário Internacional foi criado em 27 de dezembro de 1945, quando os primeiros 29 países seu estatuto. Os objetivos estatutários do FMI hoje são os mesmos quando eles foram criados em 1944. 25 O Banco Mundial é uma parte do Grupo Banco Mundial e foi formalmente estabelecido em 27 de dezembro de 1945, seguindo a ratificação do Acordo de Breton Woods. 26 Bird – Banco internacional que proporciona empréstimos e assistência para o desenvolvimento de países de renda média com bons antecedentes de crédito.

36

Como, frequentemente, a ciência passa a produzir aquilo que interessa ao mercado, e não a humanidade em geral, o progresso técnico e científico não é sempre um progresso moral. Pior, talvez, do que isso: a ausência desse progresso moral e tudo o que é feito a partir dessa ausência vai pesar fortemente sobre o modelo de construção histórica dominante no último quartel do século XX. (SANTOS, 2006, p.65).

A Globalização como nós conhecemos hoje deve ser encarada a partir

de dois processos paralelos. De um lado, dá-se a produção de uma

materialidade, ou seja, das condições materiais que nos cercam e que são a

base da produção econômica, dos transportes e das comunicações. De outro

há a produção de novas relações sociais entre países, classes e pessoas. Essa

nova situação vai se alicerçar em duas colunas centrais. Uma tem como base o

dinheiro e outra se funda na informação. Dentro de cada país, sobretudo entre

os mais pobres, informações e dinheiros mundializados acabam por se impor

como algo autônomo face à sociedade e, mesmo, à economia, tornando-se um

elemento fundamental da produção, e ao mesmo tempo da geopolítica, isto é,

das relações entre países e dentro de cada nação.

A política agora é feita no mercado. Só que esse mercado27 globalizado

não existe como ator, mas como uma ideologia, um símbolo. Os atores são as

empresas globais, que não tem preocupações étnicas nem finalísticas. O

mercado afirma que no mundo da competitividade ou se é individualista ou se

desaparece. A própria lógica da empresa global sugere que funcione sem

nenhum altruísmo. Mas se o Estado não pode ser solidário e a empresa não

pode ser altruísta, a sociedade como um todo não tem quem a valha.

No tempo atual o mundo assiste a um comportamento de não-política,

isto é, a política feita pelas empresas, sobretudo as maiores. Nesse sentido

afirma o Professor Milton Santos:

Quando uma grande empresa se instala, chega com suas normas, quase todas extremamente rígidas. Como essas normas rígidas são associadas ao uso considerado adequado das técnicas

27 O mercado de capitais é um sistema de distribuição de valores mobiliários, que tem o propósito de proporcionar liquidez aos títulos de emissões de empresas e viabilizar seu processo de capitalização. É constituído pelas bolsas de valores, sociedades corretoras e demais instituições financeiras autorizadas.

37

correspondentes, o mundo das normas se adensa porque as técnicas em si mesmas são normas. Pelo fato de que as normas atuais são solidárias, quando uma se impõe cria-se a necessidade de se trazer outras, sem as quais aquela não funciona bem. (SANTOS, 2006, p.68).

Todavia, mediante o discurso oficial, tais empresas são apresentadas

como salvadoras dos lugares e são apontadas como credoras de

reconhecimento de seus aportes de emprego e modernidade. Daí a crença em

sua indispensabilidade, fator importante da presente guerra entre lugares para

se obter a instalação de uma dessas grandes fábricas que irão trazer

benefícios e desenvolvimento a nossa gente.

2. Neoliberalismo

Em meados do século XVIII, após as Revoluções Liberais28,

principalmente posteriores a Revolução Francesa de 1789, surge uma filosofia

social chamada de Liberalismo. Inicialmente não havia no Liberalismo,

nenhuma distinção entre política e economia devido a economia não ser

considerada uma ciência separada até por volta de 1850. A filosofia política

liberal tem continuado a se desenvolver e após 1900 como uma filosofia

puramente conservativa.

Os Princípios básicos do Liberalismo são:

• Os liberais acreditam que a forma da sociedade deva ser um resultado

do mercado. Esse mercado deve ser interativo e envolver todos os

membros da sociedade. Os liberais são normalmente hostis a qualquer

forma de interferência na sociedade. Especificamente os liberais

afirmam que a distribuição de riquezas como resultado do mercado é,

por si só, justa. Os liberais rejeitam a idéia de distribuição de riqueza

como um objetivo em si só.

28 As Revoluções Liberais ocorreram na Inglaterra, em 1640 e 1688 ; nos Estados Unidos, em 1776 e na França, em 1789 e tiveram como característica principal o fim do Absolutismo que reinava nesses países.

38

• Os liberais também rejeitam qualquer projeto ou planejamento para a

sociedade, tais como religião, utopismo ou ética. Os liberais acreditam

que a sociedade e Estado não deveriam se fixar em metas, mas que o

mercado devesse fixar o resultado. Este anti-utopismo se tornou

crescentemente importante na Filosofia Liberal, em uma reação clara as

economias centralmente planejadas do Comunismo. Este fato

determinou a extrema desregulamentação posterior do Liberalismo29.

• Nunca o Liberalismo tem compartilhado com nenhuma ideologia

específica não – liberal: o nacionalismo na sua forma étnica que subjuga

muitas nações atualmente. Uma comunidade política baseada na origem

comum, histórica e na língua não é uma sociedade liberal, mas os

liberais nunca tentaram formar um estado não-histórico, contratual ,

voluntarista no qual o liberalismo logicamente fosse destruído.

• Os liberais rejeitam a idéia de que há qualquer valor extremo moral: eles

dizem que existem somente opiniões. Eles afirmam que essas “opiniões”

deveriam ser expressas em público e que de algum modo este “mercado

de opiniões” iria favorecer a verdade. (A verdade de que a idéia possa

ser revelada por discurso é mais velha que o liberalismo).

• A rejeição liberal de valores morais externos ao liberalismo é

formalmente expressa em idéias liberais dos direitos humanos. Tanto as

pessoas boas quanto as más têm direitos iguais que aplicam igualmente

quando eles realizam boas ou más ações. A Filosofia Liberal Clássica

advoga a liberdade como valor até mesmo quando ele não pode ser

chamado de valor. Assim, o liberalismo coloca a liberdade como um

valor acima do bem e do mal.

• Os liberais acreditam na igualdade formal entre os membros de uma

sociedade, mas quase todos os liberais também acreditam numa

29 Liberalismo é a forma ao mesmo tempo racional e intuitiva de organização e que está livre de qualquer fundamento filosófico ou religioso capaz de limitar ou impedir a liberdade individual e a igualdade de direitos.

39

desigualdade de talentos. Muitos liberais eram, entretanto, simpáticos a

teorias biológicas da desigualdade. As teorias de diferenças radicais

hereditárias em inteligência são muito diferentes entre os liberais norte-

americanos.

Após a Segunda Grande Guerra, novas formas de gestão política

econômica surgiram, com destaque para o neoliberalismo que é um modelo

econômico e político que tem como característica principal a retomada de

princípios do liberalismo clássico, dando-lhe uma “roupagem nova” e incluindo,

sobretudo medidas econômicas contemporâneas como, por exemplo, o

processo de privatização.

Ao contrário de muitos que imaginam, o neoliberalismo30 não surgiu na

segunda metade do século XX, mas logo após o término da Segunda Grande

Guerra na região da Europa e dos Estados Unidos, onde o capitalismo atua de

forma mais intensa. O neoliberalismo foi uma reação teórica e política

veemente contra o Estado intervencionista e de bem estar social. A base da

teoria do neoliberalismo está na obra “O Caminho da Servidão”, de Friedrich

Hayek ,escrita em 1944. Essa contra qualquer limitação dos mecanismos de

mercado por parte do Estado, denunciada como uma ameaça letal à liberdade,

não somente econômica, mas também política.

Dos países desenvolvidos que implementaram as políticas neoliberais, a

Inglaterra foi a que seguiu com maior fidelidade os seus preceitos e foi seguida

por alguns outros países europeus, onde prevalecia o estado de bem - estar

social.

Para tanto, assegura o Prof. José Luiz Quadros Magalhães:

O processo de materialização dos Direitos Fundamentais se inicia na Inglaterra e marca o início da derrocada da

30 Neoliberalismo é um movimento político que apóia o liberalismo econômico como forma de promover o desenvolvimento econômico e assegurar a liberdade política.

40

monarquia absoluta que irá ceder lugar a um novo tipo de Estado: o Estado Liberal. (MAGALHÃES, 1996, p.26).

Nos Estados Unidos da América, essas medidas não foram rigidamente

implementadas devido ao fato de que praticamente não existia um Estado com

prioridades sociais como na Europa. A ideologia neoliberal norte-americana se

notabilizou pela política estratégica e militar anticomunista e que tinha por

finalidade derrubar a economia e consequentemente o governo soviético. No

projeto militar “Guerra nas Estrelas” os Estados Unidos conseguiu que a União

Soviética canalizasse uma soma expressiva da sua receita para competição

militar e o que evidenciou a fragilidade soviética no campo econômico,

sobretudo no setor civil, contrastando com seu poderio bélico. Essa situação de

gastos excessivos colaborou de forma acentuada para o desmonte do regime

soviético e conseqüente fim da União Soviética e do domínio que essa nação

exercia em várias repúblicas asiáticas e européias também.

Apesar do neoliberalismo ter se propagado com intensidade nos países

de capitalismo consolidado e avançado, o pioneirismo em termos de

implementação coube ao Chile, na década de 70, após o golpe militar que

derrubou o governo socialista de Salvador Alende e implantou uma ditadura

militar tendo na Presidência do Chile o General Augusto Pinochet. Essa

implementação ocorreu por influência do economista americano Milton

Friedman, tendo sido a experiência chilena servido de parâmetro para o

governo da Primeira-Ministra Margareth Tatcher que na época governava o

Reino Unido. Após a experiência inglesa de implementação desse modelo

econômico, países da CEI31 (Comunidade dos Estados Independentes) e do

Leste Europeu também adotaram esse modelo.

Desde então, ocorreu uma disseminação das experiências neoliberais para

outros países do mundo não desenvolvido. Esse modelo chega ao Brasil e tem

a implementação realizada pelo governo do Presidente Fernando Collor 32 e

31 Ë uma organização supranacional envolvendo 12 repúblicas que pertenciam a antiga União Soviética(Armênia, Azerbaijão, Bielorrúsia,Geórgia, Casaquistão, Quirquistão, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Ucrânia e Uzbesquitão) fundada em 8 de dezembro de 1991. 32 Presidente brasileiro eleito pelo voto direto e que governou o país de 1990 a 1992, quando teve seu impechment decretado pelo Congresso Nacional.

41

continuidade nos governos seguintes do Presidente Fernando Henrique

Cardoso.33

A propagação do neoliberalismo nos países não-desenvolvidos foi

fortemente influenciada pelo FMI e pelo Banco Mundial, e isto ocorreu no

momento em que os países com uma situação financeira desfavorável

buscavam recursos nessas instituições. A adoção dessas medidas neoliberais

ficou conhecida com Consenso de Washington, devido a um encontro realizado

por na capital norte-americana que é sede dessas instituições, no início da

década de 90 do século XX. Existem autores que denominam esse conjunto de

medidas neoliberais de “Pensamento Único”. Entre as medidas neoliberais que

fizeram parte do Consenso de Washington que influenciaram os países menos

desenvolvidos e que buscaram créditos no FMI e no Banco Mundial estão:

• Rigidez da política monetária através de um controle severo da controle

da emissão de moedas.

• Elevação das taxas de juros, para conter o processo inflacionário,

objetivando a redução do consumo.

• Controle do défict público, com redução dos investimentos sociais.

• Abertura de economia através do fim das políticas protecionistas

comerciais e do livre transito de capitais.

• Menor taxação sobre os rendimentos mais elevados e o fluxo

financeiro.

• Processo de privatização, reduzindo o papel do Estado na atividade

econômica.

• Incentivo à economia de mercado através da “livre concorrência”.

• Adoção dos Ajustes ou Reformas Estruturais através dos Planos

Econômicos com vista a estabilização da economia.

Dessas medidas neoliberais pode-se concluir que as décadas de 80 e 90

do século XX corresponderam ao período áureo do modelo neoliberal. No

entanto, ao final do século os governos neoliberais foram destituídos em vários

33 Presidente brasileiro que governou o país de 1995 a 2003 e que implementou as privatizações de empresas públicas, caracterizando o neoliberalismo no país.

42

países do mundo, tanto entre as nações desenvolvidas quanto nas não

desenvolvidas. Um dos fatores que explica tal situação foi o agravamento dos

problemas sociais, com destaque para o crescente índice de desemprego.

Somente no Brasil, o processo de privatização das empresas estatais gerou um

mais de quinhentos e quarenta mil desempregados apenas na década de 90 do

século XX. O efeito gerado da privatização gerou uma queda de 43,9% no total

de empregos do setor produtivo estatal, financeiro e atividades fins do governo

na administração indireta.

Nesse sentido, observa-se que o neoliberalismo corresponde a um

importante agente da globalização, pois sua política favorece a expansão e o

domínio do capital financeiro internacional, legitimando o poder dos países

desenvolvidos.

3 . A política externa do Brasil no século XXI

Há alguns anos o Brasil vem implementando uma política externa mais

ativa e ousada, procurando falar mais alto, sendo mais enfático e dialogando

com um número maior de parceiros, e torna-se mais independente em suas

posições sobre os problemas mundiais.

Durante várias décadas, especialmente no período da bipolaridade e da

Guerra Fria34, o Brasil era muito discreto em sua diplomacia, e geralmente –

embora tenham ocorrido algumas raras exceções – seguia as posições norte-

americanas ou européias. Nas raras vezes em que se juntava aos críticos das

grandes potências ou dos países ricos - por exemplo, nas reuniões dos Não-

Alinhados – ele tinha uma participação mais passiva, evitando qualquer

radicalismo e nunca tendo um posicionamento original e independente.

Essa recente mudança para uma política externa mais ativa e

independente – embora não completamente – deve muito as transformações

34 Período de conflito, tensão e competição entre os Estados Unidos e a União Soviética e seus respectivos aliados e que vai de meados da década de 40 ao início dos anos 90 do século XX.

43

geopolíticas que ocorreram no mundo com o final da guerra fria e da ordem

bipolar. O mundo deixou de ser marcado pela oposição entre as duas

superpotências (os Estados Unidos e a ex-União Soviética) com os seus

blocos, o capitalista e o socialista, e passou a ser em grande parte multipolar,

com o advento de novos pólos ou centros de poder: Europa, China e Japão,

além de possivelmente outros tais como Índia, Tigres Asiáticos, África do Sul,

etc. Deixou de existir também uma contradição ou disputa essencial - o

capitalismo contra o socialismo – entrando em seu lugar inúmeras tensões ou

contradições superpostas: disputas comerciais e tecnológicas, união entre

países vizinhos, que formam os novos blocos ou mercados supranacionais;

choques de civilizações, por exemplo, a expansão e atuação mais agressiva do

mundo mulçumano; maiores preocupações com o terrorismo, com o

narcotráfico, com o meio-ambiente, etc.

Nesse novo contexto internacional o Brasil procura afirmar-se como uma

potencia regional, como o país líder da América do Sul, ou segundo alguns até

mesmo da América Latina. Tem a maior população dessa parte do mundo, o

maior território e a maior economia medida pelo valor do PNB ou do PIB,

apesar da economia mexicana estar quase empatando ou até ultrapassando a

brasileira em face do seu maior ritmo de crescimento desde a última década do

século XX.

Antes do advento do MERCOSUL, a Argentina era um país que não

apresentava atrativos algum de importância econômica para o Brasil. Após a

formação dessa parceria comercial, a Argentina desfruta da condição um dos

principais países comerciais do Brasil. O mesmo ocorre no sentido contrário,

haja vista que o Brasil é hoje o principal mercado exportador e importador para

a Argentina. O “ Brasil é o principal mercado exportador e importador argentino

com 30% do comércio externo total desse país...”, conforme afirma Vesentini

(2006, p.46) em uma clara oposição aos Estados Unidos que, na década de 80,

era responsável por tal volume negociado com esse país.

A renda per capita, todavia, não é a das mais altas, sendo inferior à da

Argentina, do Chile, do México, da Costa Rica e de alguns outros países latino

americanos. Entretanto, o Brasil tem uma economia complexa que produz e

44

exporta cada vez mais produtos industrializados, inclusive alguns com

tecnologia intermediária, tais como os aviões produzidos pela Empresa

Brasileira de Aeronáutica (Embraer). O grande obstáculo as pretensões

brasileiras é que alguns países não aceitam seu status de líder desse

subcontinente, em particular a Argentina, na América do Sul, e logicamente

também o México no que se refere a América Latina. Recentemente, também a

Venezuela tem demonstrado não aceitar passivamente essa liderança.

Essa nova atitude do Brasil nas questões internacionais pode ser

evidenciada pelos seus posicionamentos em várias ocasiões. Por exemplo, o

Brasil foi contrário à invasão norte-americana ao Iraque35 e é contra os

subsídios que os países ricos, principalmente a Europa ocidental, os Estados

Unidos e o Japão oferecem para seus agricultores, algo que prejudica as

exportações dos países subdesenvolvidos. Também vem procurando

consolidar o MERCOSUL e seu papel de líder nesse bloco comercial e, há

anos tenta acertar um acordo especial entre o MERCOSUL e a União

Européia, o que ofereceria ao país outra opção além dos Estados Unidos e da

Alca .

O Brasil procurou com isso, às vezes com sucesso, intermediar várias

crises ocorridas em países sul-americanos, por exemplo, no Paraguai e na

Venezuela, ou entre eles como foi o caso das disputas ocorridas entre a

Venezuela e a Colômbia. No aspecto militar o país vem contribuindo cada vez

mais para a “Força de Paz” da Organização das Nações Unidas (ONU),

enviando soldados para manter a paz e a ordem no Timor Leste e,

principalmente, no Haiti.

O grande objetivo do Brasil em sua política externa é ingressar no seleto

clube dos países que possuem um assento permanente no Conselho de

Segurança da ONU. Esse conselho é o órgão decisório mais importante dessa

organização internacional. É ele que decide sobre a posição da “comunidade

35 A invasão do Iraque pelos Estados Unidos e ficou conhecida como Guerra do Golfo e ocorreu de agosto de 1991 a Fevereiro do mesmo ano e foi um conflito entre o Iraque e uma coalisão de 35 países, liderados pelos Estados Unidos com o objetivo de libertar o Kwait da invasão iraquiana promovida pelo exercito liderado por Saddam Hussein.

45

internacional” , isto é, as nações que participam da ONU, ou seja , quase todas

no mundo, a respeito das grandes crises internacionais, da intervenção ou não

num país agressor ou conturbado por guerras, da ajuda aos refugiados, etc. O

Conselho é formado por quinze países, sendo cinco permanentes e com direito

de veto e dez provisórios, eleitos periodicamente para um mandato de dois

anos e que não tem direito de veto.

Com a criação da ONU36 em 26 de Junho de 1945, logo após ao fim da

Segunda Guerra Mundial (1939-1945), alega-se que ela precisa de uma boa

reestruturação para se adaptar aos novos tempos. Uma das mudanças

sugeridas é a ampliação do Conselho de Segurança, que deveria tornar-se

mais representativo com a inclusão de novos membros permanentes: um da

América Latina, outro da África, outro da Ásia, etc. O Brasil tem procurado

colocar-se como candidato natural da América Latina, além de buscar apoio em

outros candidatos, de outras partes do mundo, que também teriam boas

chances de serem aceitos nesse conselho: A África do Sul, a Índia, o Japão e a

Alemanha. Os dois primeiros, assim como o Brasil, entrariam como

representantes do chamado Sul: a África do Sul é a maior e mais

industrializada economia do continente africano, e a Índia, além de possuir a

segunda maior população do mundo, é a principal economia do sul da Ásia e

vem se tornando, em face de seu elevado crescimento, uma das maiores do

mundo. Nos casos do Japão e da Alemanha as razões são outras: em primeiro

lugar a idéia de equilibrar um pouco essa mudança, colocando não apenas os

países do Sul subdesenvolvido, mas também alguns do Norte. Ademais, o

Japão ainda é considerado a segunda economia do mundo, e a Alemanha é a

primeira da Europa e a terceira do globo.

Talvez o Brasil, assim como outros países, consiga de fato ingressar

como membro permanente no Conselho de Segurança37 da ONU. Isso ainda

está em aberto. Porém, dificilmente os atuais cinco membros permanentes

aceitarão conceder o direito de veto aos novos membros. E esse possível

36 As Nações Unidas foi criada para substituir a Liga das Nações, na esperança que pudesse intervir em conflitos entre as nações e consequentemente evitar a guerra. 37 O Conselho de Segurança da ONU é um órgão das Nações Unidas encarregado da paz e da segurança internacional.

46

status de membro permanente no Conselho de Segurança não garante

nenhum tipo de desenvolvimento ou melhoria social para a população do

Brasil, ou da África do Sul, ou da Índia. Pelo contrário, isso provavelmente

implicará maiores gastos na ajuda internacional, gastos que não serão

revertidos em bem-estar da população nacional.

Em 2005, por exemplo, quando se tornou público o montante dos gastos

brasileiros com as forças de paz no Haiti, instalou-se uma discussão profunda

da real necessidade do país participar de um contingente de paz. Muitos

começaram a questionar se compensa todo o esforço para mostrar ao mundo

que o Brasil pode ser um líder geopolítico. O dinheiro aplicado nessa força de

paz poderia ser aplicado na segurança interna ( costuma-se dizer que algumas

cidades brasileiras são mais perigosas que o Haiti sob uma guerra civil) , na

educação, na saúde ou na melhoria de infra-estrutura. Além disso, uma

posição de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU poderá

exigir uma maior participação do Brasil nas questões de segurança

internacional, com gastos ainda maiores que esse no Haiti, mesmo que nossa

situação interna não seja das melhores. Fica então a dúvida: Será que vale

mesmo a pena esse sacrifício para o país alcançar status na ONU?

Os problemas internos de caráter social e econômico são bastante

intensos e o custo que o país pagará para ser admitido como membro do

Conselho de Segurança da ONU pode ser extremamente elevado para os

padrões nacionais. Problemas de ordem estrutural, tais como água tratada,

esgoto, eletrificação rural são fundamentais para que o Estado assegure a

inúmeros brasileiros a sua condição de cidadania. Esses são ainda problemas

que o Estado Brasileiro tem dentro de suas futuras que devem fazer parte

daqueles que precisam ser solucionados antes do país se lançar em aventuras

internacionais que vise unicamente a assegurar a imagem dos Estados Unidos,

evitando-se assim um desgaste desse país em detrimento do Brasil.

47

CAPÍTULO III

A TENDÊNCIA MUNDIAL NA FORMAÇÃO DE BLOCOS

1. O Tratado da CECA - A Comunidade do Carvão e do Aço.

A organização do mundo em blocos não é algo atual que se tem

vivenciado no final do século XX. O fim da 2ª Guerra Mundial, em maio de

1945, deixou a Europa em uma situação de destruição jamais presenciada pela

humanidade. Nesse mesmo ano, em outubro, surge a Organização das Nações

Unidas (ONU) que já indica um reflexo do entendimento dos países aliados38

da necessidade de se criar um organismo internacional para agir em tempos de

paz.

Em 1950, a França, Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo

uniram-se para a formação da Comunidade Européia do Carvão e do Aço

(CECA). Surgia pela primeira vez, na história da humanidade e no mundo pós-

guerra, uma comunidade de países com objetivos econômicos, haja vista que,

tanto o aço quanto o carvão eram matérias primas de fundamental importância

para a indústria desses países que, cinco anos antes se posicionavam em

trincheiras opostas e vivenciavam ideologias políticas totalmente adversas e

figuravam agora como parceiras em uma mesma comunidade econômica. Os

interesses para um desenvolvimento econômico sustentável e de longa

duração estavam acima de antigas disputas políticas e territoriais e a indústria

despontava como uma ferramenta capaz de alavancar o progresso econômico,

material e social dos mesmos.

38 Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia que formaram os Aliados na Segunda Grande Guerra e enfrentaram a Alemanha nazista e a Itália fascista, além do Japão. Todos os últimos derrotados em 1945.

48

Estrutura-se a idéia de comunidades internacionais que se formarão com

o objetivo de enfrentar problemas e encontrar soluções que sejam benéficas e

vantajosas para todos os membros desses blocos.

Após a criação e estabelecimento da Comunidade Européia do Carvão e

do Aço que viria a se transformar em um Mercado Comum Europeu em 196639,

com um maior número de participantes, em outras partes do mundo surgiram

também comunidades internacionais com objetivos de se fortalecerem

economicamente.

Surge aí o Direito Comunitário cujo objetivo é legalizar as ações dos

grupos de países que passam a adotar uma política econômica, fiscal, tributária

e social em caráter único.

2 . O Processo de Integração da América Latina.

A vontade de integração econômica da América Latina é anterior a

formação de integração européia formada pela CECA, data até mesmo do

início do século XIX e que foram gradativamente sendo concretizados no ideal

revolucionário do General venezuelano Simon Bolívar.40 Esse militar que viveu

de 1783 a 1830 contribuiu acentuadamente para a independência de vários

países latinos americanos que foram colônias da metrópole espanhola. As

acirradas guerras de independência foram anteriores as ações do idealista

Simon Bolívar a fim de formar uma integração latina americana que, na sua

opinião, era a solução para o caminho do sucesso econômico e cultura da

América Latina.

39 Evolução do Tratado de Roma que em 1957 instituiu o a Comunidade Européia. 40 Simon José Antonio de la Santíssima Trindad Bolívar Palácios y Blanco, chamado El Libertador, nasceu em 1783 em Carácas, Venezuela e morreu em 1830, em Santa Marta, Colômbia, foi o líder de vários movimentos de independência pela América do Sul que ficaram conhecidas como Guerras de Bolívar.

49

Nesse sentido afirmou Bolívar :

É uma idéia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma só nação, com um só vínculo que ligue suas partes entre si e com um todo. Já que tem uma origem, uma língua, os mesmos costumes e uma religião, deveria, por conseguinte, ter um só governo que confederasse os diferentes Estados que venha a formar-se. ( ALMEIDA,1999,p.69).

Simon Bolívar lutou bravamente pela realização do primeiro tratado de

união latino-americana – Tratado de União, Liga e Confederação Perpétua

entre as Repúblicas da Colômbia, Centro – América, Peru e Estados Unidos

Mexicanos e pela organização da Grã – Colômbia, unindo Colômbia,

Venezuela, Equador e Peru. Bolívar foi escolhido presidente da Grã –

Colômbia, mas, com a destruição de seu ideal de união, renunciou ao poder.

Em 1941, ainda durante o período da Segunda Grande Guerra, surgiu o

primeiro ensaio para a criação de uma União Aduaneira entre os países da

América do Sul. O comércio, que seria regulado por essa tentativa de união,

ocorreria exclusivamente por meio de acordos bilaterais.

A criação da Organização dos Estados Americanos, em 1948, na

Conferencia de Bogotá, tem sua sede em Washington, Estados Unidos. Seu

objetivo é assegurar uma união dos países da América Latina e que com o

auxílio dos Estados Unidos pretendiam deter o avanço soviético sobre os

países da região. É formado pelos trinta e cinco nações independentes das

Américas.

Um pouco isolado e destoante de uma integração em nível de continente

sul - americano, mas ainda dentro do intuito de se fortalecer economicamente,

ocorre em 1958/59 a “Operação Pan-Americana” entre o Brasil e a Argentina e

que tinha por objetivo uma aproximação entre as economias dos dois países.

Em 1960, ocorre um ambicioso projeto de integração dos países da

América Latina, que visava uma multilateralizaçào econômica dos países

menos favorecidos. À essa associação designou-se de ALALC ( Associação

50

Latina Americana de Livre Comércio) e acabou tendo seus objetivos frustrados

devido a sua própria ambição. Pretendia criar uma Zona de Livre Comércio até

o ano de 1972, o que acabou sendo totalmente descartável devido a fragilidade

da maioria das economias dos Estados latino – americanos.

Em 1980, com sede em Montevidéu, foi criada a ALADI, que vem a ser a

Associação Latina Americana de Integração. Seu principal objetivo era a

criação de um mercado comum na América Latina , proporcionando um

desenvolvimento econômico e social na região. Teve como membros iniciais a

Argentina, o Brasil, a Bolívia, o Chile, a Colômbia, o Equador , o México, o

Paraguai, o Peru, o Uruguai e a Venezuela. Essa associação foi criada pela

assinatura do Tratado de Montevidéu, em 12 de Agosto de 1980.

Continuou na América do Sul a tendência mundial de se unir em um

bloco econômico que viesse a proporcionar uma maior integração entre os

países do cone-sul do continente, em uma clara referencia a Comunidade

Européia que já se preparava para atuar em bloco, de forma a fortalecer a

economia da região. Para tanto, foi criado em 26 de Março de 1991 o

MERCADO DO CONE SUL (MERCOSUL) objetivando constituir uma zona de

livre comércio entre os países membros, como o Brasil, o Uruguai, o Paraguai

e a Argentina. Esses países visavam aumentar o mercado de consumo em

seus próprios territórios e incrementar as relações econômicas entre eles.

Fazia-se, então, necessário que os países iniciassem uma zona de livre

comércio tal qual ocorreu na Europa com a CECA (Comunidade Européia do

Carvão e do Aço) e que se estruturasse de forma gradativa até atingir uma real

comunidade econômica nos moldes da Europa Ocidental.

Nos tempos atuais o MERCOSUL é a mais importante organização

internacional da qual o Brasil faz parte. É através dessa união aduaneira que o

país poderá escoar a sua produção para os países membros garantindo uma

ampliação do mercado exportador que será extremamente benéfica ao injetar

recursos na balança comercial brasileira.

51

CAPÍTULO IV

MERCOSUL – FORMAÇÃO E PERSPECTIVA.

“O MERCOSUL é um verdadeiro sucesso, que chegou para ficar, e que reforça a identidade internacional de seus membros, dando massa crítica ao projeto ALCA. Não se diluirá no hemisfério nem se reduzirá a um mero estágio de transição”.

Embaixador Luís Felipe Lampreia.

TODOS OS PAÍSES MEMBROS DO MERCOSUL.

MAPA 2

FONTE: www.camara.gov.br/mercosul.

Acessado dia 28/jul./07 às 09h35mim.

1. ASPECTOS FÍSICOS

Procurando acompanhar a tendência mundial dos anos 1990 de criar

mercados supranacionais ( mercados regionais ou blocos comerciais), em que

as fronteiras alfandegárias (proibições, restrições e impostos de entrada ou

saída de bens e serviços de um país para outro) são reduzidas ou eliminadas,

52

Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai criaram em 1991, o Mercado Comum do

Sul (MERCOSUL). Esses quatro países criadores do MERCOSUL são os

membros plenos dessa organização. A partir de 1996 ingressaram Chile e

Bolívia como associados. Posteriormente, em 2004, os demais países da

Comunidade Andina (antigo Pacto Andino), composta de Bolívia e mais quatro

estados se associaram ao MERCOSUL: Peru, Equador, Venezuela e

Colômbia.

Em 2005, a Venezuela solicitou a sua inclusão como membro pleno do

MERCOSUL, o que foi aceito pelos quatro países fundadores do bloco no final

desse ano. A Venezuela entrou inicialmente como um “país em via de adesão”,

quase um membro pleno, mas terá que cumprir algumas exigências

estabelecidas pelos quatro membros fundadores do MERCOSUL. A principal

exigência para a aceitação da Venezuela como país membro é que ela adote a

TEC (Tarifa Externa Comum), isto é, um certo nível de impostos para produtos

importados de nações “fora do bloco”, em contraposição à quase ausência de

impostos para trocas entre países de “dentro do bloco”.

Desde que se consolide a incorporação da Venezuela ao MERCOSUL,

isto representará uma maior oferta de petróleo, o principal e quase exclusivo

produto da economia venezuelana que, em 2005, atingia preços

acentuadamente elevados nos mercados internacionais.

O Mercado do Cone Sul segue uma tendência mundial que se iniciou

com a União Européia, o antigo Mercado Comum Europeu, criado nos anos de

1950 e que teve uma história de grande sucesso nos anos 1970-1990.

Vários outros mercados supranacionais foram criados a partir do final

dos anos 1980 e pode-se mesmo afirmar que essa é uma das principais

características da globalização. Esta crescente interdependência entre os

povos e as economias não se faz mais de forma homogênea em todas as

partes. É mais forte em algumas regiões e mais fracas em outras. Os mercados

regionais são um de seus principais instrumentos, ou seja, eles a fazem

avançar.

53

Isso significa que esses mercados, ao contrário do que se pensava em

alguns anos, não provocam o fechamento do comércio internacional, mas

estimulam uma crescente integração dos países membros desses blocos,

primeiro a integração regional, que pode evoluir para a política, com o

estabelecimento de legislações comuns, de um parlamento unificado, etc, que

se abrem mais para o resto do mundo.

A própria Europa ocidental é um exemplo disso: até os anos 1980, os

países membros da atual União Européia pareciam se “fechar”, estreitando os

laços entre si e, pelo menos em parte, deixando de lado as relações com o

resto do mundo. Mas, nos anos 1990, percebeu-se que esses países também

ampliaram o comércio, o turismo e o investimento com os demais países do

globo. Existe mesmo até uma tendência de acordos especiais para a

integração desses mercados, como o que ocorre diante do crescente interesse

da União Européia pelo MERCOSUL.

O MERCOSUL formado pelos países que ocupam uma área de

12.781.179 km2, engloba inicialmente os países da parte sul da América do Sul.

Juntos, esses países que compõem efetivamente o MERCOSUL com uma

população de 266.818.849 habitantes que fazem desse mercado o quarto

maior em número populacional do mundo.

O MERCOSUL foi criado com a celebração do Tratado de Assunção em

26 de Março de 1991 quando foi aberto para assinaturas, mas efetivamente

entrou em vigor em 29 de Novembro de 1991.

Essa realidade fazia parte das aspirações de Simon Bolívar41 que no

século XIX, aspirava à formação de uma integração latina que remontam ao

tempo do pan-americanismo que objetivava a integração de uma América

espanhola. A partir de então, várias foram as tentativas de se criar organismos

multi-estatais que visassem a cooperação econômica e o livre comércio entre 41 Simon Bolívar - General venezuelano nascido em Caracas em 1783 e falecido em 1830 na Colômbia foi o líder de vários movimentos de independência pela América Latina que ficaram conhecidos como Guerra de Bolívar.

54

os países da América Latina. Em fevereiro de 1948 ocorre a criação da

Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) com objetivo de elaborar

estudos que visando a integração dos países e a ampliação dos mercados

nacionais para o desenvolvimento industrial. Com os mesmos objetivos que os

da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL)42, em 1960 foi criada

a Associação Latina Americana para o Livre Comércio, conhecida como

ALALC, mas que durante a década de 70 não havia conseguido criar um

mercado comum na região devido principalmente a crise do petróleo que em

1973 assolou o mundo provocando uma instabilidade econômica geral. Isto

devido a impossibilidade dos países latino americanos não serem capazes de

competir com o neoliberalismo dos países industrializados do primeiro mundo

que começava a destacar após a reconstrução da Europa.

O advento do MERCOSUL ampliou bastante as relações comerciais e

financeiras do Brasil com seus vizinhos do sul e do sudoeste. Até os anos de

1980 esses países não eram parceiros comerciais importantes, muito menos

em relação aos investimentos, mas nos anos 1990, passaram a figurar,

notadamente a Argentina, entre os mais importantes para o comércio exterior

brasileiro. Além disso, um crescente número de empresas brasileiras abre filiais

na Argentina, e vice-versa, e muitas indústrias estrangeiras se instalaram em

um desses países, pretendendo produzir para todo o mercado comum

consumidor do MERCOSUL.

Mesmo no setor do turismo houve considerável mudança, pois até os

anos 1980, os principais turistas estrangeiros no Brasil eram norte-americanos

e europeus; nos dias atuais predominam os argentinos. E o inverso também é

verdadeiro, pois, desde os anos1990, há mais turistas brasileiros indo para os

países do MERCOSUL, especialmente para a Argentina, que para a Europa

ocidental e os Estados Unidos, que eram os principais destinos dos turistas

brasileiros até os anos 1980.

42 Comissão com sede em Santiago do Chile e que tinha por objetivo elaborar um estudo econômico para o desenvolvimento da América Latina.

55

Entretanto, isso não significa que diminuíram o comércio ou o turismo do

Brasil com a Europa e com os Estados Unidos; ao contrário, até aumentaram,

embora a um ritmo inferior àquele que ocorreu com os parceiros do

MERCOSUL.

E o Brasil que tem a maior e mais industrializada economia do cone sul,

já se tornou o principal mercado para as exportações do Paraguai, do Uruguai

e até da Argentina e caminha para se tornar o principal exportador para esses

países.

Dos países que formam o MERCOSUL, o Brasil detém uma posição

privilegiada em termos de economia, haja vista que, o parque industrial

brasileiro tem uma capacidade de produção excessivamente elevada em face

dos demais, que em muitos casos tem na pecuária sua principal fonte de

atividade econômica e de divisas. Nesse sentido Vesentini afirma que:

O Brasil é o verdadeiro “gigante” do MERCOSUL, visto que nossa economia representa 52% do PNB total desse mercado regional (incluindo todos os dez países, membros plenos ou associados). A Argentina, a segunda maior economia do bloco, representa cerca de 14,5% desse total. A população brasileira representa pouco mais de 50% do total do MERCOSUL, embora o seu poder aquisitivo médio, seja inferior ao da Argentina, do Uruguai, da Venezuela e do Chile. Apesar disso, por causa da imensa população e também da maior economia, o Brasil é o grande mercado consumidor do MERCOSUL. afirma Vesentini (2006, p.49).

As perspectivas do MERCOSUL na primeira década do século XXI são:

continuação do avanço nas relações comerciais entre os países membros;

abertura no setor de serviços e nas concorrências públicas; novas legislações

em comum; e talvez, uma moeda única.

A expansão das relações de troca entre os Estados do MERCOSUL

depende bastante do desempenho de suas economias nacionais. Quando

ocorre uma séria crise econômica ou monetária, essas relações ficam

estagnadas ou até decrescem um pouco, como ocorreu com a grande

desvalorização da moeda brasileira, o Real, em Janeiro de 1999. Nesse ano, e

também em 2000, as relações comerciais entre o Brasil e a Argentina

56

decresceram em relação às de 1998, pois houve forte queda de cotação do

Real em relação ao dólar e ao peso argentino, o que prejudicou as exportações

da Argentina para o Brasil e beneficiou as exportações daqui para lá. A

Argentina não reagiu bem a essa mudança e colocou uma série de obstáculos

à entrada de produtos brasileiros, advindo daí esse crescimento negativo do

comércio entre as duas maiores economias do MERCOSUL. Mas, a partir de

meados de 2001, essa situação começou a ser superada, pelo menos em

parte, e as relações comerciais entre esses dois países voltaram a crescer,

embora com altos e baixos, com freqüentes queixas, especialmente da

Argentina, sobre a “invasão” dos produtos do país vizinho.

Durante os anos de 2004 e 2005, a Argentina adotou salva-guardas –

estabelecimento de cotas máxima para tal ou qual produto, por exemplo, além

de inúmeros obstáculos para liberar os caminhos nas áreas de fronteiras – para

proteger seus produtos contra os de origem brasileira, numa atitude vista pelo

Brasil como unilateral e contrária aos acordos do MERCOSUL.

A disputa entre Brasil e Argentina para ver quem “leva vantagem” nas

suas relações comerciais, dessa forma, tem sido o grande entrave para uma

maior expansão do MERCOSUL. A liberação dos serviços significa

basicamente que os profissionais (advogados, médicos, dentistas, professores,

jornalistas, etc.) de qualquer um dos países membros poderão trabalhar sem

restrições nas demais nações; isso quer dizer que os diplomas universitários

serão plenamente reconhecidos em qualquer parte do MERCOSUL, como

ocorre na Europa ocidental desde o ano de 1980.

A abertura nas concorrências públicas significa que as empresas

sediadas em qualquer um dos Estados membros poderão participar, em

igualdade de condições, da disputa pelos gastos públicos dos municípios, dos

estados ou dos governos federais (para a troca de veículos, para a compra de

equipamentos, para a prestação de serviços, etc.), realizada em qualquer lugar

do MERCOSUL; isso também é algo que já existe a certo tempo na União

Européia.

57

Novas legislações comuns deverão ser discutidas e assinadas, desde

normas para certos setores (proteção ao consumidor, controle do déficit

público, currículos mínimos para determinados cursos, etc.) até a possível

criação de um passaporte comum para os cidadãos, além de instituições

supranacionais, como por exemplo, um Parlamento latino americano.

Certas autoridades brasileiras e argentinas já sugeriram a possibilidade

de criação de uma moeda comum e, nesse caso, ocorreria também à criação

de um Banco Central unificado para o MERCOSUL. Essas proposições são

apenas hipóteses que no futuro merecerão uma atenção maior dos dirigentes

dos países membros do MERCOSUL a fim de que o mercado regional da

América Latina atinja o nível de integração social, econômica e financeira que

hoje disputa a União Européia. Todas essas medidas serão vitais para que o

bloco de integração econômica e regional seja realmente um contraponto a

Alca que tem como objetivo principal esvaziar o MERCOSUL para implantar no

continente latino americano a Área de Livre Comércio das Américas.

Em 1969, foi criado o Pacto Andino que objetivava a integração da

Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. O Chile e o Panamá não

participaram efetivamente deste Pacto, mas tiveram a condição de

observadores.

Em 1980, foi criada a ALADI, Associação Latino Americana de

Integração que visava a integração econômica entre Argentina, Brasil, Bolívia,

Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

Como esses acordos estavam difíceis de serem concretizados na prática

quanto à criação de uma integração regional realmente efetiva, no ano de

1990, o Brasil e a Argentina assinaram o Tratado de Buenos Aires que visava

uma integração econômica entre os dois países . Esse tratado tornou-se o

embrião do Tratado de Assunção , em 1991, que viria ser efetivamente o ato

que consolida a criação do MERCOSUL, tendo desta vez a entrada do

Paraguai e do Uruguai.

58

A extensão territorial do Brasil sempre foi um empecilho para que

pudesse estreitar os laços comercias e de cooperação com os demais países

da América Latina. O país passava por dificuldades em conseguir manter a sua

integração nacional e para tanto criava planos para efetiva ocupações de áreas

que eram ameaçadas por estrangeiros devido a ausência de autoridades

brasileiras.

Havia sempre a preocupação de tentar uma aproximação seja com os

Estados Unidos seja com a Europa de onde sempre o Brasil recebeu forte

influência cultural e econômica.

Para tanto, diz o embaixador Ronaldo Sardenberg sobre a relação

existente na América do Sul e na América Latina:

Ao pensarmos em América Latina, a partir do Brasil, somos levados a considerar a verdade, uma moldura regional mais ampla e mais complexa. São três as suas dimensões fundamentais, por ordem de aproximação: a América do Sul, a América Latina, inclusive o Caribe e o Hemisfério. No presente histórico não seria realista dissociar a consideração da questão da integração latino-americana de sua inserção no plano propriamente hemisférico e do que se passa nos âmbitos sub-regionais, em particular o sul-americano. (XXXXXXX, 1997, p.167).

Com o fim da Segunda Grande Guerra, o mundo ficou dividido entre as

duas super - potências que emergiram no final do conflito. A União Soviética

que acaba dominando a parte leste da Europa e grande parte da oriente do

mundo e os Estados Unidos que dominaram o mundo ocidental. A disputa

entre o capitalismo e o comunismo vai ser a razão principal das duas nações

gigantes, que criaram diversas regionais na África e no sudeste asiático mas

que nunca se enfrentaram diretamente.

A busca por novos mercados e aliados políticos fazem colocam o mundo

em uma situação bélica que entrou para história com o nome de “Guerra Fria”,

onde a paz estava selada em cima de artefatos nucleares capazes de destruir

o mundo caso fossem disparadas.

59

No mundo ocidental, surgem das empresas transnacionais que

produzem mudanças profundas na economia mundial e no comércio mundial.

Desde então, o conceito da produção mundial internacional rivaliza com um

conceito mais vinculado a produção nacional. A internacionalização das

companhias de financiamento, favorecida pela flutuação de todos os tipos de

câmbios de interesse no mundo, ocorre desde o início dos anos setenta. Logo

após, na década seguinte, se estruturam as bases para a internacionalização

do setor de serviços.

A internacionalização da produção, das finanças e dos serviços

impulsionados pela revolução da informática e das comunicações, desemboca

no atual processo de globalização econômica.

A importância política e econômica do projeto integracionista no sul da

América do Sul, não só para o Brasil, como também para os demais países

membros e para o continente como um todo, está longe de ter sido

adequadamente realçada, sobretudo num país de dimensões acentuadas e

com uma forte e persistente vocação para uma liderança política e econômica

no continente.

Numa avaliação inicial do significado do MERCOSUL dentro do contexto

regional, indicaria antes de qualquer coisa, que ele se transformou em um tema

prioritário da política externa para todos os países do continente. Essa

prioridade introduz elementos inéditos nas relações internacionais da região

como um todo.

O projeto integracionista que teve início em meados da década de 80 do

século XX ocorre após as primeiras tentativas de cooperação econômica entre

o Brasil e a Argentina.

Buscando uma concretização de regionalismo aberto, o MERCOSUL

tem buscado estabelecer laços profundos com parceiros de todas as regiões.

Para tanto, representantes da União Européia e do MERCOSUL assinaram em

1995, importante acordo de cooperação que envolve promoção de

investimentos, transporte, ciência e tecnologia, meio ambiente e energia.

60

O MERCOSUL deve seu desenvolvimento ao notável tratado político dos

anos 80 na América do Sul: o processo de redemocratização43 quase

simultânea ocorrido no Brasil, Argentina e demais países da América permitiu

que a busca de uma integração econômica que visasse uma união de esforços

no intuito de se fortalecer frente aos grupos econômicos e ao neoliberalismo

dos países do primeiro mundo que começaram a surgir nos Estados Unidos e

na Europa. Isso permitiu que antigas desavenças regionais fossem relevadas

para um plano secundário e beneficiou a economia, o que possibilitou que a

integração tivesse a força que demonstra agora.

Com a celebração do Tratado de Assunção, em 1991, propiciou uma

integração sub-regional que atingiu o ponto de União Alfandegária em 1 de

Janeiro de 1995 e foi o resultado de um longo processo de convergências que,

a princípio, envolveu o Brasil e a Argentina e, mais tarde, o Paraguai e o

Uruguai, com os quais ambos os países tinham grande interligação de

interesses econômicos.

O processo de integração sub-regional do MERCOSUL ganhou

dinamismo. Nesse sentido afirma Magnoli e Araújo:

Em 1980, as exportações brasileiras para a Argentina, o Uruguai e o Paraguai não atingiam a cifra de 2 bilhões de dólares, enquanto as importações mal ultrapassavam a de 1 bilhão de dólares. A crise geral das economias latino-americanas na primeira metade da década de 80 provocou uma retração ainda maior: em 1983, a soma das exportações e importações brasileiras para a área pouco superou a casa de 1,5 bilhão de dólares. A partir de 1985, a recuperação foi persistente e impressionante. Em 1992, o comércio total entre o Brasil e o MERCOSUL, elevou-se a 6,33 bilhões de dólares e mantinha-se a perspectiva de crescimento. Entre o primeiro semestre de 1990 e o mesmo período de 1993, a Argentina ampliou em mais de 90% as suas exportações para o Brasil. Em 1994, os produtos argentinos representam mais de 10% das importações brasileiras, contra menos de 2,5% no início da década de 80. Em 1993, devido as trocas na Zona do MERCOSUL, a ALADI, transformou-se no segundo maior mercado para as exportações brasileiras, atrás da União Européia e à frente dos Estados Unidos. (MAGNOLI, ARAUJO ,1996, p.41)

43 Processo de redemocratização – Nos anos 80 do século XX vários países da América Latina, entre eles o Brasil, terminaram com o período militar e retornaram ao regime democrático dando fim a longo período de trevas que se abateu sobre o continente.

61

O principal objetivo de um acordo de comércio entre as nações é

incrementar o bem-estar de seus membros e através do aproveitamento dos

benefícios potenciais de um comércio mais livre e de uma maior integração dos

mercados. A teoria convencional da discriminação distingue entre os efeitos

estáticos e dinâmicos da integração, atribuindo aos segundos maiores

importâncias que aos primeiros, mas ao mesmo tempo, em certo ponto sobre

sua direção.

Em termos mais gerais, não se deve esquecer que até mesmo do ponto

de vista puramente estático o efeito das preferências sobre o bem estar dos

membros depende do impacto criado na atividade do comércio. A informação

agregada disponível sugere a existência de fluxos significativos da criação do

comércio.

Apesar de que comumente os objetivos se identificam com o aumento

nos fluxos de comércio entre os sócios que se outorgam preferências, todo

incremento no comércio implica uma melhora de bem-estar. Com efeito, o

desvio do comércio que é a substituição de fornecedores mais eficientes

estrangeiros por fornecedores internas que gozam de preferências podem

acarretar perdas. Dentro de uma perspectiva mais cosmopolita os acordos

regionais de comércio podem acarretar outro tipo de risco: o desejo de bem-

estar de seus membros podem ocorrer as expensas dos demais países do

mundo, isto é, através de uma melhora nos termos de intercambio permitida

para o aumento do poder de mercado. Em tal caso, podem estimular a

reversão e o conflito, convertendo-se em uma ameaça para o regime

multilateral do comércio.

No caso do MERCOSUL essas preocupações adquirem maior

visibilidade em período recente. Para tanto, pode-se enunciar duas situações

que são marcantes e que preocupam acentuadamente todo o mercado. A

primeira preocupação diz respeito ao forte aumento experimentado pelo fluxo

de comércio fora do mercado durante o período de transição (1991/1994) e os

primeiros anos da formação da união aduaneira tem abandonado a tese de que

tem existido um desvio significativo do comércio. A segunda preocupação

62

marcante pode-se dispensar com relativa facilidade: os países membros do

MERCOSUL não são atores principais no sistema de comércio internacional e

para tanto, o impacto potencial de suas ações sobre os demais países do

mundo não são de grande importância.

Desde que iniciou o Tratado de Assunção, o comércio entre os países

do MERCOSUL cresceu mais rapidamente que os o comércio com os países

fora do mercado. Esse dinamismo alcançou tanto as importações quanto as

exportações, mas foi mais marcante no caso dessas últimas. Em verdade, a

disparidade no comportamento das exportações segundo o mercado de destino

resultou em uma quase duplicação da participação das exportações dentro do

MERCOSUL em relação à todas exportações. As importações dentro do

MERCOSUL também aumentaram sua participação nas importações totais,

embora mais modestamente.

TABELA 1 EXPORTAÇÕES DOS PAÍSES DO MERCOSUL DE 1991 À 1995.

1991 1995 Taxa de crescimento anual.

Exportação Total

45.910,60 70.401,40 11,28%

Exportação para o MERCOSUL

5.124,50 14.383,50 29,58%

Exportação para o resto domundo

40.808,30 56.017,90 8,24%

Participação do MERCOSUL no total

11,11% 20,43% 83,84%

Fonte: Sene, Eustáquio de ( 2003). Valores em bilhões de dólares. Pela avaliação da tabela acima se pode concluir, entre várias outras

coisas, que a criação do MERCOSUL, em termos econômicos, foi bastante

benéfica para os quatro países membros, haja vista que os dados

macroeconômicos são bem favoráveis com a integração econômica regional.

63

Após uma análise geral no gráfico conclui-se que no ano de 1991 as

exportações dos países membros alcançavam uma cifra de aproximadamente

46 bilhões de dólares, exatamente no ano em que o Tratado de Assunção que

institui o MERCOSUL foi assinado. O ano de 1995 é fechado com um total de

70 bilhões de dólares nas exportações desses países, o que significa um

aumento anual da taxa de crescimento em relação às exportações de mais de

11% ao ano após a assinatura do Tratado.

Em relação às exportações realizadas para os países do MERCOSUL,

houve também um aumento significativo, passando de pouco mais de 5 bilhões

de dólares em 1991 para pouco menos de 14 ,5 bilhões em 1996,

representando uma variação positiva da ordem de mais de 29% ao ano apenas

entre os membros do Mercado do Cone Sul.

As exportações dos países do MERCOSUL para os demais países do

mundo passam de mais de 41 bilhões de dólares em 1991 para mais de 56

bilhões em 1995. Esse aumento representa um crescimento anual da ordem de

8,21% ao ano e indica o saldo positivo da parceria econômica do bloco regional

da América Latina.

A participação dos países do MERCOSUL na economia total passou de

pouco mais de 11% em 1991 para quase 21% em 1995, demonstrando a

viabilidade do mercado para beneficiar as empresas de seus países a obter

uma maior competitividade e consequentemente uma maior participação nos

resultados econômicos em termos de comércio mundial.

Análises econômicas dessa natureza são de importância fundamental

para se avaliar se os resultados obtidos estão em acordo com as perspectivas

existentes anteriormente a assinatura do Tratado de integração econômica e

regional. Pode-se apurar se os novos valores obtidos após a implementação

que visa trazer implantar um bloco econômico regional estarão de acordos com

o que se esperava de um mercado integrado e se esses valores são

compatíveis com os dados fornecidos pelos institutos internacionais de

64

macroeconomia e que tem por objetivo medir a econômica mundial como um

todo.

Um dos principais objetivos do MERCOSUL, entre 1991 e 1997,

continuando com o que se havia iniciado com o Programa de Integração

Argentina-Brasil (1986-1990), tem sido de ajudar a superar o planejamento

estratégico e os métodos de trabalho em matéria de integração econômica e de

livre comércio. Esses métodos predominaram desde a criação a criação da

Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), que por sua vez

refletiram enfoques e prática comuns no período de sua antecessora, a

Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC).

A idéia havia sido então, de envolver os principais países latino-

americanos, devida a ampla extensão do continente, apesar de suas

diversidades, especialmente relativo ao tamanho econômico e avançar por

métodos de negócios casuísticos, sem compromisso de cumprimento

automático. Os objetivos eram ambiciosos e até grandioeloentes – um mercado

comum latino americano e os instrumentos de trabalho, para um plano de

efetiva abertura dos respectivos mercados – eram desproporcionais a tão

nobres fins. Desenvolveu-se uma “cultura de integração” que apresentava por

um lado, uma retórica de máxima e por outro, uma práxis de compromissos

difusos, prazos permanentemente prorrogáveis, a existência de transparência

nos acordos que não tiveram sucesso e precários sistemas aos acessos

preferenciais aos respectivos mercados. Exceto para as empresas que haviam

captado a lógica do sistema e para os funcionários que em Montevidéu e nas

capitais seguiam as negociações, no início dos anos oitenta a ALADI havia se

transformado em um símbolo de integração-ficção, longe das pessoas e da

realidade.

Em todos esses anos com sistemas políticos e econômicos nacionais

pouco abertos e desconfiados da competência externa dos demais países

envolvidos no grupo econômico, a agenda real de integração refletiu essa

realidade. Avançou-se somente nas medidas que foram possíveis e

convenientes. Não se havia assimilado ainda a idéia de integração econômica

65

orientada por regras objetivas que estabeleciam uma disciplina coletiva restrita

da natural propensão dos países de aplicar, especialmente por pressões

protecionistas dos empresários ou por emergências econômicas que são na

realidade medidas unilaterais contra o que foi pactuado entre os países.

Após seis anos da sua criação, um dos principais riscos que se pode

observar é precisamente que o MERCOSUL gradualmente se vulnerabiliza

ficando por demais exposto à interesses contrários à consolidação de um

mercado na América do Sul que provocasse uma ameaça a criação de futuros

mercados que fossem predominantemente dominados por países mais

consolidados em termos de economia mundial.

Ter presente esse risco é importante a luz da trajetória latino-americana

em matéria de integração econômica, caracterizada precisamente pela

tendência de integração-ficção. Com efeito, durante mais de trinta anos, os

países da região tem tentado por em comum, recursos e mercados, utilizando

distintas fórmulas – áreas de preferências, zonas de livre comércio, união

aduaneira e mercado comum – e com diferentes áreas geográficas – um grupo

numeroso de sócios, como o caso da ALALC e ALADI ou um número restrito

de participantes, tais como os acordos sub-regionais como o Grupo Andino

CARICOM, o Mercado Comum Centro-Americano e o próprio MERCOSUL. O

caso de numerosos acordos de alcance parcial no âmbito da ALADI, em geral

acordos bilaterais ou trilaterais de livre comércio como o Grupo dos 344, que é

um acordo celebrado entre a Colômbia, México e a Venezuela.

Nos anos 90, não somente no caso do MERCOSUL, mas também em

outras experiências sub-regionais e bilaterais, os agentes econômicos

começaram a perceber a existência de um quadro com maiores perspectivas.

Para os governos primeiro e gradualmente para os investidores, os acordos de

livre comércio e integração econômica começaram a transformar-se em dados

relevantes para suas estratégias de inserção econômica de alcance global e

44 O Grupo dos 3 constitui-se em um Tratado Comercial firmado entre esses 3 países que teve o início de suas negociações em 1989 e visava a busca de novos mercados para suas mercadorias de exportações. Teve suas atividades iniciadas em 1994 e movimenta atualmente uma cifra anual em torno de 5 bilhões de dólares .

66

regional. Eles aumentaram os seus potenciais de eficácia com respeito aos

objetivos perseguidos, que é precisamente de induzir a inversão graças a

garantia e a sustentabilidade de grande passo para abertura de mercados

promissores.

Poder-se-ia identificar vários fatores para explicar as operações de

cambio e os métodos e as estratégias de integração econômica. Entre outros,

os efeitos do aprendizado. Está claro que a decisão do Brasil e da Argentina de

encarar em 1986 um novo tratado de cooperação incide na evolução acerca do

que havia sido a experiência do período final da ALALC e o inicial da ALADI.

Os acordos regionais de livre comércio e integração começam a ser

visto quase como um subproduto, ou seja, como resultante dos processos

domésticos de consolidação da democracia, de transformação produtiva e de

inserção competitiva políticas econômicas nacionais de seus países membros.

Daí que se opta por um regionalismo aberto, em decidir, orientado à uma

inserção ativa no sistema comercial multilateral no marco que se tornou a

OMC. Exatamente ao contrário do que havia ocorrido nos períodos

precedentes, na maioria dos países membros as instituições democráticas

haviam deixado de funcionar e que em consonância com o predomínio do

modelo de substituições de importações, acreditava-se que os mercados

estavam fortemente protegidos a se desenvolverem e apresentarem resultados

satisfatórios que visassem uma melhoria nas contas externas dos países.

É desejo que os novos acordos de livre comércio e integração

econômica sejam o resultado do que os países compartilhem princípios e

critérios fundamentais, tanto políticos quanto econômicos e também visões

acerca dos requerimentos que vigoraram no mundo ao final do século XX,

marcado pelo fenômeno da globalização dos mercados de produção e de

comércio, o que gera nos agentes econômicos a sensação de certeza de

sustentabilidade a passos largos. Visualizam-se a integração como resultado

de acordos voluntários entre países similares em seus valores e em suas

políticas fundamentais como países de pensamentos iguais. E isso origina

gradualmente um clima de confiança sobre sua viabilidade.

67

As negociações econômicas externas do MERCOSUL se desenvolvem

em diversos âmbitos simultaneamente, a saber: a) No âmbito multilateral da

Organização Mundial de Comércio (OMC); b) o âmbito da Associação Latino-

americana de Integração – ALADI – (“plurilateralização”das preferências

incluídas nos convênios bilaterais e conclusão de novos acordos de livre

comércio com outros membros); c) o âmbito hemisférico (negociações para um

Acordo de Livre Comércio das Américas – ALCA) ; e d) as negociações com a

União Européia e seus estados partes celebradas com o reconhecimento do

Acordo Marco de Cooperação interna do MERCOSUL em dezembro de 1995.

À esses quatro âmbitos se agregam outros contatos desenvolvidos com

interlocutores regionais selecionados , tais como o Acordo de Livre Comércio

Austrália - Nova Zelândia ou a Associação de Estados do Sudeste

Asiático(ASEAN). As demandas derivadas de cada um desses âmbitos de

negociação são em parte superpostas, o que exige uma exigência de

consistência. Mas também existem diferenças que ampliam a agenda e

colocam uma pesada carga de negociação.

O MERCOSUL tem sido apresentado perante a Organização Mundial do

Comércio (OMC) como uma união aduaneira no art. XXIV do GATT-94. Como

resultado se criou um grupo de trabalho especial no âmbito do Comitê de

Acordos Regionais encarregado de examinar a compatibilidade do acordo com

as regras do organismo multilateral. Para responder as exigências desse

exame o GMC estabeleceu um grupo ad hoc45 MERCOSUL-OMC encarregado

de preparar a participação dos representantes regionais nas reuniões desse

grupo de trabalho , as primeiras das quais se celebrou em outubro de 1995 e

setembro de 1996 em Genebra.

2. A ESTRUTURA ECONÔMICA DOS PAÍSES MEMBROS E ASSOCIADOS

45 Indica o substituto ocasional, designado para a feitura ou prática de um ato ou solenidade, pela ausência ou impedimento do serventuário ou funcionário efetivo, nesse caso de um grupo efetivo.

68

A assinatura do Tratado de Assunção em 1991 que cria o MERCOSUL

coloca em um mesmo grupo econômico países com situações sociais e

econômicas bastante diversas entre si. Tanto os países membros efetivos do

MERCOSUL quanto aqueles que é apenas associado, tem características bem

diversas entre si, haja vista que, o nível de desenvolvimento desses países é

bastante heterogêneo fazendo criar antagonismo sociais e econômicos

bastante díspares.

De posse da tabela abaixo, elaborada pelo World Bank, o Banco

Mundial, pode-se ter uma idéia, observando-se nos números, a real situação

social e econômica dos países que fazem parte do MERCOSUL tanto na

condição de membro quanto na condição de associado.

Países Membros

Países Área (km2) População 2004 (milhõesde habitantes)

PNB 2005 (bilhões de dólares)

Renda PerCapita (dólares)

Valor exportaç.em 2004(milhões dólares)

Taxa média de crescimento econômico de 1990 a 2005 ( %)

Brasil 8 514 876 184 580

3 150 96 400

2,7

69

Argentina 2 780 092 38 160

4 280

34 500 2,6

Uruguai 176 215 3 13,5

3 950

2 300

2,7

Paraguai 406 752

6

6,8

1 200

1 240

1,8

Venezuela 912 050 26 109

4 000

26 900

3,0

O Brasil detém a maior extensão territorial do continente, com uma

extensão territorial de mais de oito milhões e meio de kilômetros quadrados e

consequentemente dos países que fazem parte do bloco econômico. Tem

também a maior população de todos com 184 milhões de habitantes em 2004.

O Produto Nacional Bruto do país é de 580 bilhões de dólares em 2005 em

contrapartida de um PNB da Argentina, o segundo colocado em termos de

produtos da ordem de 160 bilhões de dólares.

Países Associados

Chile 756 626 16

75,2

4 750

32 000

5,2

Bolívia 1 098 581 9 8,5

950

1 600

3,4

Equador 283 560 13 30 2 180 5 000 3,5

Colômbia 1 138 910 45 97

2 000

12 000

2,5

Peru 1 285 220 28 68

2 360

7 700

3,4

Fonte: World Bank, World Development Indicators, 2006 e www.mercosur.org.uy.

70

O Chile que é um país que não faz parte dos associados do

MERCOSUL mas, que figura apenas como país associado , detém uma renda

per capita de um montante de 4.750 dólares, sendo a maior entre os países

membros e os associados. A segunda renda per capita do grupo econômico é

da Argentina, com 4.280 dólares de renda ao ano seguida pela Venezuela que

detém uma renda de 4000 dólares, quase toda estruturada no petróleo que dá

a esse país a condição de terceiro maior produtor de petróleo do mundo.

Pode-se observar que o crescimento do anual do Chile, entre 1990 e

2005, atinge a cifra de 5,2% ao ano, em contraste a um crescimento pífio

apresentado pelo Brasil da ordem de 2,7% ao ano. Países tradicionalmente

mais atrasados tecnologicamente que o Brasil, como o Equador, Bolívia e

Colômbia, experimentaram taxas de crescimentos iguais ou maiores que 3,4%,

o que demonstra claramente a má condução da política industrial brasileira que

não permite que o país tenha dados compatíveis com demais países

emergentes e até mesmo com os da região onde está inserido, ou seja, a

América Latina.

Na avaliação das exportações realizadas pelo Brasil, conforme se

depreende das Tabelas dos países membros e dos países associados,

expostas nas páginas 69 e 70, observa-se um índice da ordem de mais de 96

bilhões de dólares em 2005, tendo a Argentina em segundo lugar em termos de

exportações com índices na casa dos 34, 5 bilhões de dólares. Observa-se,

entretanto, que a população argentina é da ordem de 38 milhões de pessoas,

contra uma população de mais de 184 milhões no Brasil. A despeito da política

econômica que está sendo aplicada no Brasil nos últimos tempos, o país tem

aumentado significativamente os seus números nas exportações para os

demais países do mundo. A busca de novos mercados para exportações de

produtos made in Brazil, tem sido uma constante nos últimos tempos, fazendo

com que o saldo da balança de pagamentos tenha apresentado um saldo

extremamente favorável nos últimos tempos.

A Venezuela mantém uma exportação em 2005, da ordem de quase 27

bilhões de dólares, a despeito de possuir uma população de apenas 26 milhões

71

de habitantes e ter uma renda per capita de 4.000 dólares. Esse fenômeno

ocorre exclusivamente com a Venezuela na América Latina, devido ser o

petróleo o único produto de exportação desse país. Nesse país a desigualdade

social é bastante acentuada e os benefícios dos dólares que chegam ao país

devido à venda do petróleo atingem apenas uma minoria da população que, tal

como o Brasil, detém a maior parte do que é produzido pelo país deixando um

número grande de venezuelanos a margem do consumo e nos limites dos

índices de pobreza. A política econômica e social dos últimos anos do governo

do Presidente Chavez tem sido de resgatar esses miseráveis que vivem abaixo

da linha da pobreza e consequentemente produzir uma melhor distribuição de

renda naquele país.

3. ESTRUTURA ORGÂNICA DO MERCOSUL

3.1 – O Conselho do MERCOSUL

O Conselho do MERCOSUL é composto pelos Ministros de Relações

Exteriores e pelos Ministros de Economia e seus equivalentes. Reúnem-se pelo

menos uma vez por semestre e participam das reuniões os Presidentes dos

países membros. Previsto nos art. 3 à 7 do Protocolo de Ouro Preto, o

Conselho do Mercosul é responsável pela condução política e pelas decisões

que asseguram o comprimento dos objetivos do Mercosul, mantendo a mesma

hierarquia e funcionamento que se outorgava nos art. 10, 11 e 12 do Tratado

de Assunção.

O Protocolo de Ouro Preto prevê em seu art. 8 as funções e

competências do Conselho do Mercado Comum. Entre elas pode-se citar:

formular políticas e promover as ações necessárias á conformação do

mercado, velar pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos

e de seus acordos necessários à conformação do mercado comum; negociar e

firmar acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de países e

organizações internacionais; exercer a titularidade da personalidade jurídica do

Mercosul. O inciso VII do art.14 prevê sobre as funções delegadas ao Conselho

72

por mandato expresso: criar reuniões de ministros e pronunciar-se sobre

acordos que lhe sejam remetidos pelas mesmas; criar os órgãos que estime

pertinente, assim como modificá-los ou extingui-los; esclarecer, quando

necessário, o conteúdo e o alcance de suas decisões; entre outras.

O art. 9 dispõe que o Conselho se manifestará mediante decisões, as

quais serão obrigatórias para os Estados membros. O art.37 do Protocolo de

Ouro Preto prevê que as tomadas de decisões serão por consenso no que se

refere ao sistema de tomada de decisões. Assegura o art. 37 que “As decisões

dos órgãos do Mercosul serão tomadas por consenso e com a presença de

todos os estados-membros”.

O Conselho do MERCOSUL é um órgão de extrema importância para

seus países membros haja vista ser ele o condutor, o direcionador e o grande

impulsionador político da integração econômica e regional, tendo como objetivo

garantir o interesse da Comunidade, cuidando que os objetivos do Tratado

sejam cumpridos e promovendo as ações necessárias à conformação do

Mercosul.

Em relação a presidência do Conselho, existe uma alternância com

obediência a ordem alfabética dos países membros, sendo o mandato de cada

estado de seis meses.

3.2 - O Grupo Mercado Comum.

O Grupo Mercado Comum (GMC) tem semelhança bastante acentuada

com a Comissão e é um órgão executivo do MERCOSUL. É composto por

dezesseis membros, quatro titulares e quatro suplentes por país, que são

designados pelos respectivos governos dos estados – membros. Entre esses

designados devem necessariamente figurar representantes dos Ministérios das

Relações Exteriores, Ministérios da Economia ( ou seus equivalentes) e dos

Bancos Centrais, sendo o GMC coordenado pelos Ministérios das Relações

Exteriores.

73

O art. 14, nos incisos I a XIV, do Protocolo de Ouro Preto, prevê as

atuais funções e atribuições, com destaque para: propor projetos de decisão ao

Conselho Mercado Comum; cuidar, dentro do limite de sua competência, pelo

cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos e de acordos

firmados em seu âmbito; criar, modificar ou extinguir órgãos tais como

subgrupos de trabalho e reuniões especializadas, para o cumprimento de seus

objetivos; fixar programas de trabalho que assegurem avanços para o

estabelecimento do mercado comum; negociar com a participação de todos os

Estados-partes, por delegação expressa do Conselho do Mercado Comum e

dentro dos limites estabelecidos em mandatos específicos concedidos para

esse fim, acordos em nome do Mercosul com terceiros países e organismos

internacionais e manifestar-se sobre as propostas ou recomendações que lhe

forem submetidas pelos demais órgãos do Mercosul. Quando houver

necessidade de dispor de mandato para tal fim, o Grupo Mercado Comum

procederá à assinatura dos mencionados acordos.

Quando devidamente autorizado pelo Conselho do Mercado Comum, o

Grupo Mercado Comum poderá delegar os referidos poderes à Comissão de

Comércio do Mercosul; adotar Resoluções em matéria financeira e

orçamentária, com base nas orientações emanadas do Conselho do Mercado

Comum; aprovar o orçamento e a prestação de contas anual apresentada pela

Secretaria Administrativa do Mercosul; organizar as reuniões do Conselho do

Mercado Comum e preparar os relatórios e estudos que este lhe solicitar;

submeter ao Conselho do Mercado Comum seu regimento interno, entre

outras.

Assegura o art. 15 do Protocolo de Ouro Preto que o Grupo do Mercado

Comum pronuncia-se mediante de Resoluções, as quais vinculam os Estados-

partes.

O Grupo Mercado Comum é assistido pela Comissão de Comércio do

MERCOSUL, sendo assim insere-se nesse capítulo algumas considerações a

seu respeito. Compete a Comissão de Comércio do Mercosul cuidar da

aplicação dos instrumentos de políticas comercial comum que foram acordados

74

com as políticas comerciais comuns, com o comércio intra-Mercosul e com

terceiros países. A Comissão de Comércio do Mercosul é integrada por quatro

membros titulares e quatro membros suplentes por Estado-parte sob a

coordenação dos Ministérios das Relações Exteriores.

O Protocolo de Ouro Preto no seu art. 19, inciso I a XI prevê funções e

atribuições que pode - se destacar: considerar-se e pronunciar-se sobre as

solicitações apresentadas pelos Estados-partes com respeito à aplicação e ao

cumprimento da tarifa externa comum e dos demais instrumentos de política

comercial comum nos Estados-partes; velar pela aplicação dos instrumentos

comuns de política comercial intra-Mercosul e com terceiros países,

organismos internacionais e acordos de comércio; analisar a evolução dos

instrumentos de política comercial comum para o funcionamento da união

aduaneira e formular propostas a respeito ao Grupo Mercado Comum; tomar as

decisões vinculadas à administração e à aplicação da tarifa externa comum e

dos instrumentos de política comercial comuns acordados pelos

Estados-partes; informar ao Grupo Mercado Comum novas normas ou

modificações às normas existentes referentes à matéria comercial e aduaneira

do Mercosul; propor a revisão das alíquotas tarifárias de itens específicos da

tarifa externa comum, inclusive para contemplar casos referentes a novas

atividades produtivas no âmbito do Mercosul, estabelecer os comitês técnicos

necessários ao adequado comprimento de suas funções, bem como dirigir e

supervisionar as atividades dos mesmos; desempenhar as tarefas vinculadas

à política comum que lhe solicite o Grupo Mercado Comum; adotar o

Regimento Interno que submeterá ao Grupo Mercado Comum para a sua

homologação.

Das funções e atribuições atribuídas a Comissão de Comércio do

Mercosul pode-se inferir que essa comissão se transformará no órgão mais

dinâmico e de maior transcendência prática do atual estágio da integração

econômica do Mercosul que é a União Aduaneira.

75

O Protocolo de Ouro Preto cria ainda um procedimento geral para

reclamações de particulares perante a Comissão de Comércio do Mercosul,

quando essas reclamações estiverem dentro de sua área de competência.

3.3 – A Comissão Parlamentar Conjunta.

Existem importantes trabalhos legislativos que foram realizados no

âmbito da integração econômica e regional da América Latina. O Parlamento

Andino, criado em 1979 com sede em Santa Fé de Bogotá na Colômbia, foi um

dos órgãos da Comunidade Andina que era formada pela Bolívia, Colômbia,

Equador, Peru e Venezuela que tinha por função auxiliar a integração

econômica. Esse parlamento era formado por cinco parlamentares de cada

país, enquanto não se institui a eleição direta, seguindo o exemplo do

Parlamento Europeu da Comunidade Européia.

Em 1987, foi criado o Parlamento Latino-Americano, conhecido como

PARLATINO e que é composto pelos países signatários, Argentina, Bolívia,

Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala,

Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República

Dominicana, Uruguai e Venezuela. A principal função do Parlamento Latino-

Americano é fortalecer os parlamentos sub-regionais, promovendo e

cooperando com a integração latino-americana, voltados precipuamente para o

respeito aos direitos humanos, a liberdade e a paz. O PARLATINO tem sede

em São Paulo e seu funcionamento data de 1993.

O Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento (TICD),

assinado em 29 de novembro de 1988 entre a Argentina e o Brasil, assegura

em seu art. 8 dispunha sobre uma Comissão Parlamentar Conjunta:

Os projetos dos Acordos específicos negociados pelos Governos dos Estados-partes, antes de seu envio aos respectivos Poderes Legislativos, serão apreciados por uma Comissão Parlamentar Conjunta de Integração, de caráter consultivo, que será composta por doze parlamentares de cada país, designados pelos respectivos Poderes Legislativos, com mandato de dois anos.(Art.8, Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento).

76

O Protocolo de Ouro Preto, nos seus art. 22 a 30, dentro do capítulo IV,

cumpre o disposto no art. 24 do Tratado de Assunção. Esse artigo do Tratado

previa o estabelecimento de uma Comissão Parlamentar Conjunta, para

facilitar o tratamento legislativo que a implementação do Mercado Comum,

requer. Logo após que o Tratado de Assunção entrou em vigor, ou seja, em 26

de novembro de 1991, ocorreu uma reunião em Montevidéu, quando as

delegações parlamentares, em 6 de dezembro de 1991, aprovaram o

Regulamento da Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, cujo objetivo

era:

estabelecer a união cada vez mais estreita entre os povos da América do Sul; garantir mediante uma ação comum o progresso econômico e social, eliminando barreiras que dividem nossos países e nossos povos; favorecer as condições de vida e emprego, criando condições para um desenvolvimento auto-sustentável que preserve nosso entorno e que se construa em harmonia com a natureza; salvaguardar a paz, a liberdade, a democracia e a vigência dos direitos humanos; fortalecer o processo parlamentar no processo de integração, com vista a futura instalação do Parlamento do Mercosul; apoiar a adesão dos demais países latino-americanos ao processo de integração e suas instituições.(art. 24 do Protocolo de Ouro Preto).

As experiências anteriores de integração econômica e regional tais como

a ALALC e a ALADI não consideraram a criação de um parlamento no seu

processo de integração. Tal fato devesse as circunstâncias políticas pelas

quais a América Latina passou durante as décadas de 70 e 80, haja vista terem

sido períodos de ditaduras militares e antidemocráticas. Sendo assim, não

existiam, na forma que hoje se conhece, Poderes Legislativos nesses países

de forma que se entende a razão dessas integrações não preverem em seus

estatutos a participação em acordos interlegislativos.

O órgão representativo dos Parlamentos dos Estados – partes no âmbito

do cone sul, ou seja, a Comissão Legislativa, tem por objetivo acelerar os

procedimentos internos correspondentes nos Estados-partes para a pronta

entrada em vigor das normas emanadas dos órgãos com capacidade decisória

do Mercosul – o Conselho do Mercado Comum, o Grupo Mercado Comum e a

77

Comissão de Comércio do Mercosul. Tem também a finalidade de, da mesma

forma em colaborar com a harmonização de legislações, uma vez que o

avanço do progresso de integração requer um trabalho conjunto intensamente

apurado. Assegura o art. 25 do Protocolo de Ouro Preto que, quando

necessário, o Conselho Mercado Comum solicitará à Comissão Parlamentar

Conjunta, o exame de temas prioritários.

A Comissão Parlamentar Conjunta é composta por até sessenta e quatro

legisladores, que serão eleitos de acordo com os regulamentos internos de

cada Estado – parte, sendo que cada país pode eleger dezesseis legisladores.

Essa CPC é integrada por várias subcomissões que deve tratar de assuntos de

importância relevante para o Mercosul com o objetivo de conformação de um

mercado comum. Entre os diversos assuntos pode-se citar os comerciais, os

tarifários, as normas técnicas, a política fiscal e monetária, transporte, política

industrial e tecnológica, política agrícola, a política macroeconômicas, a política

trabalhista, o meio ambiente, as relações institucionais e direito da integração e

os assuntos culturais.

Quanto ao critério de composição da CPC houve defesa para que a

Comissão fosse composta pelo critério da proporcionalidade tal qual existe

atualmente no Parlamento Europeu. Entretanto, optou-se pela composição

igualitária de seus membros, o que foi adotado pelo Mercosul. Além dessa

composição igualitária, também se decidiu que, relativo à essas seriam

tomadas pela via do acordo, isto é, haverá um consenso em relação a matéria

que se discute. Afirma o art. 26 do Protocolo de Ouro Preto, a Comissão

Parlamentar tem caráter meramente opinativo, o que vai em sentido contrário

ao que preconiza o Parlamento Europeu.

A Comissão Parlamentar conjunta encaminhará por intermédio do Grupo Mercado Comum, recomendações ao Conselho do Mercado Comum. (Art. 26 do Protocolo de Ouro Preto).

O Parlamento Europeu tem um sistema de eleição de seus membros de

forma bastante peculiar e possui competências diferentes dos membros da

Comissão Parlamentar do MERCOSUL. Os membros do Parlamento Europeu

78

são, hoje, eleitos pelo voto dos cidadãos dos seus respectivos países e esse

parlamento já tem funções deliberativas claras, explícitas, como a supervisão

da Comissão Econômica do Mercado Comum Europeu, inclusive com poder de

dissolver a Comissão Econômica que traça as diretrizes fundamentais da

política econômica da União Européia.

Em um estudo comparativo entre o Parlamento Europeu e a Comissão

Parlamentar do Mercosul, tem-se que o aquele Parlamento evoluiu de simples

casa consultiva para solução dos problemas da União Européia tendo sido

seus deputados delegados eleitos por seus parlamentos nacionais para uma

instituição de fundamental importância para o perfeito funcionamento da União

Européia e entrosamento total de seus membros. Apesar de ainda não dispor

de semelhante situação na Comissão Parlamentar do Mercosul, já pode-se

vislumbrar alguma coisa análoga a essa , tendo a Comissão Parlamentar

poderes semelhantes desfrutados por aquela casa. Essa experiência européia

é de suma importância para a construção do modelo do Parlamento do

Mercosul para que se crie um verdadeiro Parlamento para que os povos que

ora se unem e fazem parte de uma só comunidade, tenham nos deputados que

elegeram seus legítimos representantes.

3.4 – Foro Consultivo Econômico e Social.

O Protocolo de Ouro Preto prevê nos art. 28 a 30 o Foro Consultivo

Econômico Social no Mercosul que é um órgão auxiliar de representação dos

setores econômicos e sociais. Esse órgão foi criado com base no art. 14 do

Tratado de Assunção que assegura:

Ao elaborar e propor medidas concretas no desenvolvimento de seus trabalhos, até 31 de dezembro de 1994, o Grupo Mercado Comum poderá convocar, quando julgar conveniente, representantes de outros órgãos da Administração Pública e do setor privado.(Art.14, Tratado de Assunção).

Este foro é formado por igual número de representantes de cada Estado

– parte e tem função consultiva e manifesta-se através de recomendações ao

79

Grupo Mercado Comum. As proposições do foro não são vinculativas e

constitui-se um canal de contatos á disposição dos empresários e

trabalhadores e que será conforme na União Européia, de importância

fundamental para a concretização e a consolidação desse Mercado Comum.

Após a ratificação do Protocolo de Ouro Preto que institui o foro, a seção

brasileira do Foro Consultivo e Econômico foi instalada em março de 1996.

Essa seção é formada pelas centrais sindicais CUT, Força Sindical e CGT,

confederações do Comércio, da Indústria, da Agricultura e dos Transportes,

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e entidades que reúnem

profissionais liberais, e será um canal importante das aspirações da sociedade,

principalmente no que se refere aos direitos dos trabalhadores, a valorização

do salário mínimo entre os sócios e a defesa dos consumidores nesse espaço

comum.

Depois de muito almejado pelas classes que representam a sociedade e

que muito contribuíram para a integração do Cone Sul, o Protocolo de Ouro

Preto instituiu o Foro Econômico Social.

3.5 – A Secretaria Administrativa do MERCOSUL.

O art. 15 do Tratado de Assunção prevê a Secretaria Administrativa do

MERCOSUL, não como um órgão do MERCOSUL, mas como um arquivo de

documentos e informantes das atividades do Mercado Comum.

O Grupo Mercado Comum contará com uma Secretaria Administrativa cujas principais funções constituirão na guarda de documentos e comunicações de atividades do mesmo. Terá a sua sede na cidade de Montevidéu. (Art. 15, Tratado de Assunção).

Por outro lado, o Protocolo de Ouro Preto, em seu artigos 30 a 31, dispõe ser a Secretaria Administrativa do Mercosul como um verdadeiro órgão do Mercado Comum.

O Mercosul contará com uma Secretaria Administrativa como órgão de apoio operacional. A Secretaria Administrativa do Mercosul será responsável pela prestação de serviço aos demais órgãos do Mercosul e terá sede permanente na cidade de Montevidéu. ( Art. 31 do Protocolo de Ouro Preto).

80

A Secretaria estará sob a cargo de um Diretor, que será oriundo de um

dos Estados-partes do Mercosul e será eleito pelo Grupo Mercado Comum e

será designado pelo Conselho do Mercado Comum. A eleição do Diretor será

realizada de forma rotativa, desempenhando o mesmo um mandato de dois

anos, sendo-lhe proibida a reeleição, conforme dispõe o art. 33 do Protocolo de

Ouro Preto (POP).

Entre as inúmeras funções desempenhadas pela Secretaria

Administrativa do Mercosul destacam-se, além de servir como arquivo oficial de

documentação desse Mercado Comum, tem também a Secretaria a

incumbência de publicar e difundir as normas adotadas no âmbito do Mercado,

com a edição do Boletim Oficial do Mercosul. Para tanto assegura o Protocolo

de Ouro Preto:

Serão publicados no Boletim Oficial do Mercosul , em sua integra, nos idiomas Espanhol e Português, o teor das Decisões do Conselho do Mercado Comum, das Resoluções do ~Grupo Mercado Comum, das Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul e dos Laudos Arbitrais de soluções de controvérsias, bem como de quaisquer atos aos quais o Conselho do Mercado Comum ou o Grupo Mercado Comum entendam necessário atribuir publicação oficial. (Art. 39, do Protocolo de Ouro Preto).

O Tribunal de Contas da União Européia que tem suas normas

regulamentadas pelos art. 188- A a 188-C do Tratado de Maastricht. O

Mercosul não tem em sua estrutura orgânica tal órgão e não há uma previsão

legal em termos de Tratado de Assunção nem no Protocolo de Ouro Preto de

uma implementação de um órgão com essa finalidade.

Na União Européia esse órgão é composto de quinze membros , um de

cada país, e que são nomeados pelo Conselho para exercerem a função por

um período de seis anos, após consulta regulamentar ao Parlamento Europeu.

Um banco de investimento, tal qual no modelo da União Européia, que é

o Banco Europeu de Investimento, não existe no Mercosul. Esse banco

europeu tem por finalidade contribuir, recorrendo ao mercado de capitais e

81

utilizando seus próprios recursos para desenvolvimento equilibrado e

harmonioso do mercado comum no interesse da comunidade. É uma instituição

que concede empréstimo a longo prazo para investimentos de capital que

promovam o desenvolvimento econômico e a integração equilibrados da União.

Também não existe em termos de Mercosul, a criação de um banco

latino-americano que busque proporcionar um desenvolvimento regional. Nos

meses de Julho e agosto de 2007, o Presidente venezuelano tem se referido a

um banco latino para o fomento do MERCOSUL.

4. O SISTEMA DE SOLUÇÕES DE CONTROVÉRSIAS NO MERCOSUL.

Assegura a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5, parágrafo 2,

que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou por tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Esse artigo

motiva a sua regência na ordem nacional (interna) com a dignidade que com a

dignidade constitucional que lhe é imanente na Constituição Federal. Nesse

campo, observa José Souto Maior Borges:

Dá-se aqui uma tensão dialética entre a soberania e a regra do direito convencional: pacta sunta servanda (os pactos devem ser cumpridos); conflito que deve resolver-se pelo reconhecimento da limitação constitucional dos poderes estatais soberanos. Do contrário estaria instalado o regime da irresponsabilidade estatal nas relações internacionais. O limite da soberania, assim visualizado, não é, portanto, “externo”, decorrente da supremacia do direito internacional, mas corresponde a uma limitação de direito interno. A própria Constituição Federal o fornece, porque a disciplina constitucional da soberania pode assim ser desdobrada: a soberania está prevista em norma fundante da estruturação republicana e federativa do Brasil (art. 1, I). Nas relações internas da federação, deve ser a soberania (art.14, 17, 91, 170, I, 231, parágrafo 5). Mas a independência nacional também está prevista em norma-origem, princípio fundamental e fundante da legitimidade dos atos e relações internacionais de que o Brasil participa. (art. 4, I). (BORGES, 2005, p.278 e 279).

82

Na análise do direito constitucional vigente, a soberania nacional, no

sentido jurídico-positivo, circunscrita às relações internas, convive com a

independência nacional, nas relações internacionais como um consectário

desse critério normativo de demarcação dos respectivos âmbitos de validade.

Em termos de política internacional, o Mercosul ocupa hoje,

indubitavelmente, uma dimensão central na política externa brasileira e é uma

das prioridades dos governos brasileiros. A revitalização e aprofundamento das

relações dentro do Mercosul é essencial para a construção de uma América do

Sul politicamente estável e próspera, em que os ideais da democracia e da

justiça social prevaleçam, em benefício do progresso e bem-estar das

populações da região.

À luz desse objetivo, a consolidação do Mercado Comum, nos termos

previstos do Tratado de Assunção, é fundamental. Isto pressupõe um quadro

normativo apto a promover avanços em direção a um espaço integrado

normativo apto a promover avanços em direção a um mecanismo que

assegurem o efetivo cumprimento das disciplinas comuns. Sendo assim, é

necessário dar maior segurança jurídica para os agentes econômicos.

O sistema de solução de controvérsias do MERCOSUL, instituído pelo

Protocolo de Brasília, assinado em 17 de dezembro de 1991 e modificado em

fevereiro do 2002, pelo Protocolo de Olivos – atualmente em processo de

ratificação – é uma peça fundamental para o fortalecimento do processo de

integração. Os laudos arbitrais adotados desde a entrada em vigência do

Protocolo de Brasília, não constituem formalmente, precedentes obrigatórios

para as partes não envolvidas na controvérsia em questão, têm contribuído

para precisar e esclarecer o alcance das obrigações assumidas no quadro do

Tratado de Assunção, o que facilita a criação de um ambiente jurídico propício

à conformação de um mercado comum.

Concebido como um mecanismo transitório, que deveria permanecer em

vigência até a conformação do sistema definitivo de solução de controvérsias

83

do MERCOSUL, conforme previsto no anexo III do Tratado de Assunção, o

Protocolo de Brasília conjuga uma série de elementos que são tributários do

modelo clássico de controvérsias do direito internacional público, com

procedimentos específicos – jurisdição obrigatória, prazos peremptórios e

certas automaticidades das etapas procedimentais. Nesse sentido, procurou-

se, dessa forma assegurar, de um lado, ampla flexibilidade, que possibilite

levar em conta as injunções políticas inerentes à própria consolidação do

processo de integração nos moldes previstos no Tratado de Assunção e, de

outro, a segurança jurídica necessária para proteger os interesses das partes.

Desde o início do funcionamento do mecanismo de solução de

controvérsias estabelecido no Protocolo de Brasília, que entrou em vigência em

16 de Julho de 1993, foram emitidos oito laudos arbitrais. Levando em conta o

tempo de vigência do Protocolo de Brasília e os níveis alcançados pelos fluxos

econômicos do Mercosul, é um número de casos relativamente reduzidos. Por

um lado, isso reflete a opção de privilegiar, sobretudo diante da fase inicial de

consolidação do processo iniciado com a aprovação do Tratado de Assunção,

a solução política das divergências surgidas entre os Estados – Partes.

O recurso mais freqüente aos procedimentos arbitrais requer um grau

mínimo de desenvolvimento do direito em termos consolidação das regras e

tradução dos compromissos entre os Estados em normas, com progressivo

detalhamento e especificação das obrigações. Ou seja, foi necessário alcançar

um grau mais avançado de maturidade do processo de “construção normativa”

do Mercosul.

De acordo com o art. 1 do Protocolo de Brasília, com as adaptações

operadas pelas forças do disposto no art.43 do Protocolo de Ouro Preto, que

estende a aplicação do Protocolo de Brasília às diretrizes da Comissão de

Comércio, o procedimento de solução de controvérsias do Mercosul, aplica-se

as controvérsias que surgirem entre os Estados-Partes sobre a interpretação, a

aplicação ou o não cumprimento das disposições contidas no Tratado de

Assunção, seus protocolos e normas complementares, nos acordos celebrados

84

no âmbito do Tratado de Assunção e nas normas emanadas dos órgãos

decisórios do MERCOSUL.

Os tribunais arbitrais têm adotado postura favorável a amplitude de

possibilidade de recursos aos procedimentos de solução de controvérsias. Até

o momento, não há caso em que tenha sido denegada a um Estado-Parte a

abertura de um procedimento arbitral em que uma questão prévia de

impugnação do recurso aos procedimentos de solução de controvérsias tenha

sido considerada procedente.

Nos dois casos em que foram especificamente suscitadas questões

prévias, com base na alegada inexistência de normativa MERCOSUL

pertinente, os árbitros indeferiram as pretensões de demanda de que não

prosperasse a arbitragem, considerando que a própria divergência sobre a

existência ou não da norma aplicável já constituía uma controvérsia

pertencente ao âmbito de aplicação do Protocolo de Brasília.

No caso da existência do dano ou ameaça de dano, por força da

redação do art. 1 do Protocolo de Brasília, no casos das controvérsias movidas

diretamente por iniciativa dos Estados, o recurso ao procedimento arbitral não

está condicionado á demonstração de que a medida imputada á parte

demandada causou ou ameaça causar danos economicamente mensuráveis à

demandante, o que se confirma, ainda, pela ausência de menção ao assunto

nos laudos arbitrais.

Os procedimentos específicos previstos no Capítulo V do Protocolo de

Brasília para demandas oriundas de particulares, cujo âmbito de aplicação é

definido pelo artigo 25 do Protocolo de Brasília em termos distintos daqueles

vigentes para controvérsias iniciadas pelos Estados, prevêem, por sua vez,

etapa prévia de exame da demanda do particular pela Seção Nacional do

Grupo Mercado Comum do país a que pertence, na qual devem ser

examinadas a veracidade da violação da normativa e a existência de dano ou

ameaça de danos aos interesses do particular.

85

Nesse contexto parece evidente que, para que a controvérsia prospere,

o Estado tenha de comprovar o dano perante o Tribunal Arbitral. A exigência

parece lógica na medida em que, embora originada de reclamação de

particular, a controvérsia é conduzida pelo Estado que lhe encampa a

demanda. Se estivesse na alçada exclusiva do Estado a que pertence a o

particular, o exame de admissibilidade estaria sob controle do próprio

demandante e ficaria desprovido de valor.

O alcance dessa condição de admissibilidade foi objeto de exame

arbitral no caso da carne de porco. Embora a controvérsia não tenha seguido

todas as regras do Capítulo V, já que foi tramitada com amparo no anexo do

Protocolo de Ouro Preto sobre Reclamações perante a Comissão de Comércio,

o laudo é bastante claro quanto a necessidade de que seja comprovada, no

caso de demanda originada de particulares, a existência de danos.

5. A Venezuela como membro permanente do MERCOSUL.

MAPA DO MERCOSUL COM A ADESÃO DA VENEZUELA

86

MAPA 2

FONTE: www.classificadosmercosul.com.br

Acessado dia 25/jul./07 às 13h40min.

A assinatura do protocolo de adesão realizado em uma reunião de

cúpula especial realizada em Caracas no mês de Julho de 2006 selou a

entrada da Venezuela como quinto membro do MERCOSUL.

Com a entrada da Venezuela no MERCOSUL, o quarto maior produtor

de petróleo do mundo, o bloco criado em 1991 passará a ter uma população de

250 milhões de habitantes e um produto interno bruto de US$ 1 Trilhão, o que

equivale a 75% de todo o PIB dos países da América do Sul.

Para efetivar a sua entrada no MERCOSUL, a Venezuela deverá assinar

um acordo de livre comércio na ALADI, Associação Latino Americana de

Integração. A adesão da Venezuela no bloco econômico pode gerar mais frutos

políticos do que econômicos, haja vista que a sua matriz produtora está

baseada na exportação de petróleo e seus derivados, o que a deixaria

vulnerável em competição direta com países com uma forte indústria, como a

87

indústria brasileira. Do ponto de vista econômico, a chegada da Venezuela no

bloco pouco acrescentará a dinâmica do grupo, devido o país ser mais

exportador que importador. Cerca de 31% do PIB venezuelano é derivado da

exportação e o país importa pouco mais de 16% do seu PIB.

A Venezuela aguardava por quase cinco anos a sua inclusão no bloco

do MERCOSUL e o país ansiava profundamente por esse momento tendo em

vista que, em avaliação feita pelo Presidente venezuelano o MERCOSUL está

se transformando no epicentro de um novo esquema de integração política,

social e econômica – produtiva. O novo membro enfrenta o mesmo problema

do Brasil, ou seja, uma alta concentração de renda implicando em um baixo

número de consumidores o que dificulta uma rotatividade da moeda dentro do

país.

Como o Brasil e a Argentina e demais países membros da América do

Sul querem se fortalecer e consolidar a unidade sua unidade política e

econômica, é importante que nenhum país sul-americano seja discriminado e

que venha fazer parte desse importante mercado para a consolidação do

MERCOSUL.

Sendo assim, a adesão da Venezuela é de vital importância para o

fortalecimento do Mercado, haja vista que a Venezuela é um dos mais

importantes países da América do Sul com enorme importância estratégica

pois compartilha da Amazônia e propicia o acesso ao Caribe. Os problemas

internos enfrentados pelos venezuelanos com seu presidente não deve servir

de empecilho para a admissão do país no MERCOSUL nem tão pouco pela

visão negativista que Washington tem do atual Presidente da Venezuela.

O prestígio da Venezuela deve-se em grande parte pelo enorme peso

econômico que o país tem devido as suas reservas energéticas – gás e

petróleo, sendo que em termos de petróleo o país é o quinto maior produtor do

mundo e responsável por 15% de todo o petróleo consumido nos Estados

Unidos, a maior economia do planeta.

88

A cooperação do Brasil, Argentina e Venezuela permitirá a construção

de um gasoduto que atravessará todo a América do Sul, passando pelo Brasil,

alimentando as indústrias dos três países até chegar a Argentina, trazendo um

benefício bastante acentuado para a economia dos três países e um

fortalecimento do MERCOSUL.

A entrada da Venezuela no MERCOSUL não é bem vista por parte dos

Estados Unidos que vêm na ação uma consolidação do MERCOSUL e mais

uma ameaça a implementação da ALCA com a participação dos países da

América do Sul. Além disso, a estruturação do MERCOSUL irá favorecer ao

poder de barganha do Presidente Hugo Chaves que é sistematicamente visto

pelos Estados Unidos como uma ameaça à hegemonia americana no

continente.

Deve-se considerar que a assinatura do Tratado que visava a

implementação da integração da Argentina e Brasil no final dos anos 80

pretendia não apenas um incremento nas relações comerciais , mas também

um objetivo político, estratégico e comercial que veio se consolidar com a

assinatura do Tratado de Assunção em 1991que constitui o Mercosul com a

adesão do Paraguai e do Uruguai.

A Venezuela é fundamental para a consolidação do MERCOSUL e haja

vista que a grande capacidade energética do país será colocada a disposição

do mercado e trará um fortalecimento acentuado as industrias dos países

membros do Mercosul.

Entretanto o Presidente Hugo Chaves deverá enfrentar uma série de

resistências em seu país devido a sua intenção de adesão ao MERCOSUL.

Setores como o da indústria estão receoso com esse desejo da Venezuela por

ser a indústria brasileira cerca de dez vezes maior que a indústria venezuelana.

Corre o risco dos produtos brasileiros serem colocados no mercado

venezuelano a preços bastante competitivos o que acabaria inviabilizando a

indústria local.

89

Por outro lado, os empresários brasileiros temem também que a adesão

da Venezuela dificulte as relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos

e a União Européia, uma vez que o Presidente venezuelano não goza da

confiança dos líderes europeus e americanos. Além disso, os empresários

brasileiros têm dúvidas das vantagens que irão obter com a adesão da

Venezuela uma vez que o ritmo da abertura da economia da Venezuela ainda

não está definido na sua carta de intenção.

A integração da Venezuela no Mercosul é vista por analistas

internacionais como um meio de afastar cada vez a influencia americana no

continente latino. Isso significaria que os membros do Mercado Comum

receberiam ajuda financeira da Venezuela para investirem em industrias de

base dentro de seus países e não mais se aproximariam do FMI (Fundo

Monetário Internacional) e do Banco Mundial, como forma de financiarem seus

investimentos na América Latina.

Atualmente, as exportações brasileiras para aquele país tem registrado

um crescimento de 30 % nos cinco primeiros meses desse ano.

A Câmara dos Deputados tem adiado a sessão para aprovar a adesão

da Venezuela ao MERCOSUL, o que tem suscitado declarações nada

amistosas do Presidente venezuelano que chegou afirmar que “a mão do

império” impedia a admissão da Venezuela no MERCOSUL.

No dia 24 de Outubro de 2007, a Comissão de Relações Exteriores da

Câmara dos Deputados, aprovou a entrada da Venezuela. Nesse sentido o

site46 da Câmara dos Deputados afirma:

A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados (CREDN) aprovou nessa quarta-feira (dia 24), a Mensagem 82/07, do Poder Executivo, que submete à consideração do Congresso Nacional o texto do protocolo de adesão da Venezuela ao MERCOSUL, assinado em Caracas, em 4 de Julho de 2006, pelos presidentes do Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina e Venezuela. Na avaliação do presidente da CREDN, deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), restou vitoriosa a posição que vai ao encontro dos interesses do

46 Notícia retirada do site www.camara.gov.br , no dia 29 de outubro de 2007, ás 8:30 hs.

90

Brasil e do bloco econômico. “Todos aqueles que, como nós, querem fazer o MERCOSUL se consolidar e avançar, não podem ser contrários ao ingresso da Venezuela”, declarou. Para Vieira da Cunha é preciso separar as divergências que possam existir com o governo de Hugo Chaves da “inquestionável importância” da participação do Estado Venezuelano na integração dos países que compõem o MERCOSUL. “Daí porque a nossa comissão, na minha ótica, cumpriu a sua missão”, completou. Vieira destacou ainda o alto nível dos debates travado no âmbito do CREDN. “Foi uma discussão democrática. Não se deixou de dar voz aos que têm opinião divergente, mas prevaleceu uma maioria sintonizada com os interesses do País e da necessária integração da América do Sul”, ressaltou. Após mais de cinco horas de debate, o presidente Vieira da Cunha colocou a matéria em votação , declarando-a aprovada, tendo registrado seis votos em contrário...” A matéria deverá ser analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, pelo plenário da Casa e, por último, pelo Senado.

6. A ADESÃO DO MÉXICO AO MERCOSUL

A viagem do Presidente Lula ao México, no dia 06 de agosto de 2007,

trouxe como grande novidade a demonstração de interesse do Presidente

Calderon em conseguir a adesão de todos os países membros do MERCOSUL

a entrada do México nesse mercado.

Desde o tempo do Presidente Vicente Fox, em 2004, o México

manifestava vontade em consolidar a sua adesão, mas a idéia parecia um

pouco assustadora para aqueles que viam o México, um estado do hemisfério

norte, totalmente integrado a ALCA, manifestar interesse na integração

econômica do hemisfério sul.

Pressões internas, vindo de diversos pontos e camadas da sociedade

mexicana têm demonstrado sua insatisfação com o NAFTA liderada pelos

Estados Unidos. Cidadãos que se identificam com a América Latina dificilmente

entendem como o México pode fazer parte de um grupo cuja identidade é

totalmente diferente do povo da América Central e do Sul.

91

O grande desenvolvimento em que se encontra a economia mexicana

nos dias atuais é um atrativo para a consolidação da entrada do México no

MERCOSUL. Nesse sentido diz o embaixador Luiz Felipe Macedo Soares:

“O intercâmbio comercial entre o Brasil e o México, movimenta hoje

cerca de 4 bilhões de dólares por ano”. Ele ressalta que o fluxo é crescente e

que o acordo automotivo do Brasil com aquele país provocou um grande

aumento no comércio de veículos e autopeças. (www.

Cupulaouropreto.mercosul.mg.gov.br, acessado no dia 25 de outubro de

2007, às 17:30 hs.)

Grande parte desse interesse se deve ao fato de que o México enfrenta

pressão da opinião pública doméstica que quer mais proximidade com países

latino-americanos e menos com os Estados Unidos. A excessiva proximidade

dos Estados Unidos que acarreta um descrédito interno da população

mexicana faz com que o governo mexicano se aproxime de forma mais

abrangente com os países membros do MERCOSUL.

O México deverá iniciar sua adesão ao MERCOSUL como membro

associado, isto é, com direito a participação nas reuniões políticas e com

acordos de preferências comerciais. Essa situação será o primeiro passo para

que o México em um futuro próximo possa ser um membro pleno do

MERCOSUL, ou seja, aquele que tem adesão a Tarifa Externa Comum.

O NAFTA47 de que fazem parte, além do México, os Estados Unidos e o

Canadá, foi criado em 1 de janeiro de 1994, é um bloco econômico que

engloba os países da América do Norte mais o México.

Em relação à uma comparação entre o MERCOSUL, e o NAFTA,

afirma MAGNOLI, ARAUJO (2006, p.31):

Tanto a área territorial abrangida pelo MERCOSUL como a sua população total correspondem mais da metade da área e da

47 NAFTA – North American Free Trade Agreement – Tratado econômico que engloba os países da América do Norte ( Estados Unidos, Canadá e México).

92

população registrada no NAFTA. No entanto o produto nacional bruto (PNB) do conjunto não chega a ser um décimo daquele do megabloco da América do Norte. Essa diferença de escala revela uma diferença fundamental do empreendimento conduzido no Cone Sul: trata-se de um agrupamento de países subdesenvolvidos situado na periferia da economia mundial. Ele não pode constituir, para os países integrantes, uma alternativa à inserção nos grandes fluxos de comércio e de investimentos que mobilizam os pólos econômicos planetários.

A dinâmica diplomacia comercial do México tem levado o país a assinar

acordos de livre comércio com o Japão e a União Européia. Essa situação tem

deixado o Itamaraty em uma posição delicada, haja vista que, já tem sido

repetida inúmeras vezes a diversos interlocutores que não interessa ao Brasil

uma associação com país desse perfil. A possibilidade do Brasil se aproveitar

dessa diplomacia econômica agressiva mexicana para angariar novos

mercados para empresas brasileiras, não tem atraído a atenção dos gestores

da política do país devido não haver interesse do Brasil em ter um país

membro no MERCOSUL com esse perfil que atualmente tem o México.

Em termos reais, a maior preocupação do Brasil na adesão do México

no MERCOSUL ocorre devido a maior proximidade física do México com os

Estados Unidos e a grande distancia que o separa dos demais membros da

América do Sul. Não há como negar que a atual política externa brasileira tem

uma indisfarçável rejeição a tudo aquilo que é originário dos Estados Unidos e

que não levou a prejudicar o Acordo Bilateral que o Brasil tem com os Estados

Unidos apenas pela boa vontade com que os americanos do Departamento de

Estado Americano tem respondido a atuação profissional dos representantes

brasileiros.

Outro entrave do Brasil em relação a adesão ao México ao MERCOSUL

tem sido o desejo da política externa brasileira obter um assento permanente

no Conselho de Segurança da ONU e que enfrenta uma posição diferente do

México em relação a esse delicado assunto. O México defende uma reforma no

Conselho Permanente de Segurança, desejando que as vagas a serem criadas

devam ser reservadas a regiões e não a países, como é o desejo brasileiro. Tal

situação abriu uma ferida tão profunda no relacionamento entre os dois países

que o Secretário de Relações Exteriores do México quando em visita à Brasília,

93

pediu que a questão do Conselho de Segurança fosse “compartimentalizada”

para não contaminar ou condicionar outros itens da pauta a ser discutida.

Brasil e México não têm estado de acordo a respeito do ingresso desse

último no MERCOSUL. O Brasil considera difícil que o México ingresse como

membro pleno do Mercado Comum haja vista que a aliança comercial desse

país com os Estados Unidos e Canadá, ou seja, a NAFTA, impede tal adesão.

Para ser integrante pleno do MERCOSUL, o México deverá assinar um

acordo de livre comércio com os outros países sócios e adotar as tarifas

alfandegárias comuns do bloco. Tal decisão não seria bem vista pelo México,

tendo em vista que o comércio dentro do NAFTA traz benefícios que

dificilmente seriam renegados para se fazer uma renuncia deles em

contrapartida a integração ao MERCOSUL.

CAPÍTULO V

ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS (ALCA).

1. A formação do grupo e seus países.

A possível criação da ALCA tem sido alvo de freqüentes críticas no

Brasil. Muitos teóricos dizem que a implantação da Área de Livre Comércio das

94

Américas acarretará numa “dominação hegemônica” dos Estados Unidos sobre

todos os países envolvidos. Outros teóricos afirmam que existe, por parte do

governo americano “um projeto de anexação da economia brasileira ao império

norte-americano”. Não há dúvida que essa zona de livre comércio interessa

bastante aos Estados Unidos, mas não apenas a eles, pois a experiência

histórica tem demonstrado que associações desse tipo têm intensificado o

comércio e melhorado, em maior ou menor grau, a situação de praticamente

todos os participantes. Nesse sentido afirma Vesentini:

Claro que não haverá efetivação da ALCA sem os Estados Unidos, a maior economia nacional do planeta, com um PNB ,em 2005, de 11,4 trilhões de dólares(cerca de 32,4%da economia mundial e 82% da produção econômica total do continente americano). E o empenho desse poderoso Estado vai depender da sua situação política: dos objetivos de seu presidente e da maioria dos seus deputados e senadores que se posicionarão a favor ou contra a participação nesse mercado regional. ( Vesentini, 2006, p.50)

O exemplo da União Européia mostrou bem que essa associação

beneficiou não apenas as economias mais poderosas (Alemanha e França)

mas também as mais frágeis, como Portugal e Grécia. Sendo assim, pode-se

argumentar que ALCA interessa enormemente as grandes empresas dos

Estados Unidos, mas também às muitas empresas do Brasil e de outros países

que possuem vantagens comparativas em face da competição externa. Esse é

o caso de diversas atividades do setor agropecuário, da siderurgia e também

das indústrias labor-intensive, aquelas de trabalho intensivo e que utilizam

muita mão de obra de um modo em geral. Pode-se afirmar ainda que o

interesse pela ALCA vai além dos objetivos ditos hegemônicos da economia

norte-americana. Não fosse assim, não haveria uma oposição à ALCA no

congresso dos Estados Unidos, onde inúmeros senadores e deputados,

notadamente os defensores da agricultura e de interesses de sindicatos são

radicalmente contra a criação dessa zona de livre comércio das Américas. Os

dirigentes sindicais temem que haja uma exportação de empregos dos Estados

Unidos para os países latino-americanos em virtude dos salários mais baixos, o

que poderia ampliar as taxas de desemprego naqueles países. Fala-se

abertamente nos Estados Unidos que a América seria um “gigante” cercado por

95

3448 “anões” ávidos de investimentos em empregos que melhorariam as suas

classes alta e média.

A ALCA, grupo econômico formado com a liderança dos Estados Unidos

da América foi um tratado com finalidades comerciais assinado por 34 países

que tem por objetivo eliminar paulatinamente as barreiras alfandegárias entre

seus membros. Cuba, linha do Caribe na América Central, devido ao bloqueio

econômico liderado pelos Estados Unidos, não faz parte do grupo.

Pode ser que o objetivo dos Estados Unidos ao criar a ALCA seja de não

permitir uma efetivação do MERCOSUL, ou seja, dificultar a formação de um

bloco econômico na América Latina e que fosse um empecilho a indústria

americana nessa parte do continente. Nesse sentido afirma Vesentini:

Algumas pessoas até mesmo desconfiam que foi exatamente esse o objetivo das autoridades norte-americanas ao propor, em 1997, a criação da ALCA: trazer novamente para a área de dominação dos Estados Unidos vários países da América Latina, especialmente do MERCOSUL, que desde os anos 1980 – e notadamente na década de 1990 – vêm gradativamente diminuindo( em termos relativos) as trocas comerciais com esse país e se aproximando mais da Europa, da Ásia e entre si. (VESENTINI, 2006, p.51)

Os Estados Unidos lideram a ALCA, não apenas por ser a maior

economia de todos os países membros, mas também como forma de abrir

mercados dos demais países para a sua indústria nacional.

Os sindicatos patronais e de empregos de quase todos os países

membros da ALCA resistem com grande tenacidade a implementação desse

acordo, haja vista que, quando em pleno funcionamento poderá trazer uma

redução drástica dos parques industriais dos países envolvidos e

consequentemente um desemprego em massa que irá assolar intensamente os

empregados.

48 Dentre os países da América Latina que devem formar a ALCA, não se inclui Cuba, devido o bloqueio econômico imposto a esse país pelos Estados Unidos.

96

A competitividade alardeada pelos Estados Unidos deverá ser de grande

valia para seu mercado que certamente imporão restrições aos produtos

produzidos pelos demais países para poderem comercializar em solo

americano.

Com a globalização chegando de forma contundente em todos os países

do mundo, a formação de blocos econômicos com o objetivo de enfrentar essa

situação tem sido a tônica em todos os continentes.

Os blocos econômicos propiciam à seus membros a redução de tarifas

econômicas que tendem a reduzir o preço final da mercadoria e

consequentemente participar de uma disputa mais vantajosa nos demais

mercados onde os produtos serão comercializados.

Com o fracasso da Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, os e

Estados Unidos tem interesse em selar um acordo bilateral com o Brasil a

exemplo do que mantém com o Canadá e o México. Hoje esses dois países

são os maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Os três países estão

começaram a desenvolver uma economia integrada, fortalecendo as regras e

os procedimentos que regem o comércio e o investimentos desses países.

Assim diz Clifford Sobel, embaixador americano no Brasil:

“Os números provam que estamos conseguindo aumentar o nível de emprego e a prosperidade nos três países por meio dessas relações. Podemos ter políticas similares entre a América do Norte e a América do Sul. Isso não envolve nenhum tipo de ideologia. Trata-se de obter resultados. Brasil e Estados Unidos estão hoje em um período intenso de diálogo bilateral, com intercambio cada vez maior tanto no setor público quanto no privado, assim como em nível acadêmico. (VEJA, 5 de set. 2007 – edição 2024 – ano 40 – n.35).

Nos dias atuais, tanto o Brasil quanto os Estados Unidos buscam atingir

novas formas de colaboração, haja vista, que no passado havia desvantagem

para o governo brasileiro em suas negociações com os Estados Unidos. Sobre

isso, falou o embaixador dos Estados Unidos no Brasil:

97

Hoje, muitos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos são inspecionados por laboratórios americanos. Trabalhamos agora para que esse controle de qualidade passe a ser feito por laboratórios brasileiros a partir de padrões mutuamente aceitos. Muitas novidades devem surgir depois do mês de outubro de 2007, quando ocorrerá um fórum de discussões entre presidentes de grandes companhias americanas e brasileiras com o objetivo de fortalecer os laços econômicos entre os dois países.(VEJA , 5 de setembro de 2007 – edição 2024 – ano 40 – n. 35)

2 – O livre comércio

O livre comércio é uma idéia criada há mais de dois séculos, quando o

capitalismo industrial se firmava na Inglaterra. Quando essa idéia foi elaborada,

a Inglaterra era o único país do mundo que produzia bens industrializados e,

por isto, precisava de mais consumidores para vender suas mercadorias.

Defendeu então livre comércio, argumentado que o bem estar da população

mundial e o padrão de vida dos povos aumentariam.

Pode-se observar esse fato no Tratado de Methuen, quando em 1783 o

embaixador Methuen assinou o tratado de comércio entre Inglaterra e Portugal,

que abria aos produtos têxteis ingleses o mercado de Portugal revogando

antigas proibições e concedia aos vinhos portugueses uma redução de 33%

dos direitos aduaneiros, cobrados na Inglaterra. O resultado foi que suas

possessões ultramarinas se tornaram mercados consumidores dos têxteis

ingleses, foi liquidada a indústria têxtil em Portugal e proibidas fábricas no

Brasil.

A França, a Alemanha, os Estados Unidos e o Japão se industrializaram

da mesma forma que a Inglaterra: até que pudessem também ter fábricas

eficientes, não defenderam o livre comércio, erguendo fortes barreiras

protecionistas. Se essas nações não fizessem isso naquele momento, suas

fábricas seriam completamente aniquiladas pelas indústrias inglesas, que

venderiam livremente produtos baratos para todo o mundo, e assim,

impediriam o surgimento de indústrias em outros países. Porém, no final do

98

século XIX , esses países já estavam prontos para a concorrência com os

ingleses com suas indústrias produzindo bens tão baratos quanto os da

Inglaterra. Foi a concorrência acirrada entre as grandes potências que

deslocou a Inglaterra de seu trono. Em plena crise, a Inglaterra, que no seu

auge e poderio exclusivo havia defendido o livre comércio nas trocas

internacionais, começou a discutir o comércio justo e a fazer campanha por

uma proteção tarifária, pelos domínios de colônias, que foram obrigadas, a só

comprar produtos ingleses. Assim, ao findar o século XIX, a Inglaterra não

estava mais defendendo nem praticando o livre comércio. Com a derrocada

das monarquias absolutistas na Inglaterra e na França termina o Absolutismo e

inicia uma nova fase mundial com o liberalismo.

Nesse sentido afirma o Prof. José Luiz Quadros Magalhães:

Esse individualismo dos séculos XVII e XVIII corporificados no Estado Liberal, e a atitude de omissão do Estado frente aos problemas sociais e econômicos vão conduzir a um capitalismo desumano e escravizador. O século XIX vai conhecer desajustamentos e misérias sociais que a revolução industrial vai agravar e que o Liberalismo vai deixar de alastrar em proporções crescentes e fascistas a liberal-democracia se viu encurralada. O Estado não mais podia continuar se omitindo perante os problemas sociais e econômicos. (MAGALHÃES, 1996, p. 29)

No final do século XIX e início do século XX começa a era imperialista.

Esse período é caracterizado pela luta, entre os países desenvolvidos, por

mercados consumidores cativos. Os Estados Unidos passam a ocupar o

primeiro lugar entre as potências mundiais. As grandes empresas monopolistas

dominam o mercado mundial, buscando, através do rebaixamento dos salários

dos seus trabalhadores e do aumento da produtividade, realizar o seu objetivo:

o aumento dos lucros. Uma conseqüência dessa lógica vai ser a grande crise

de 192949. Uma crise de subconsumo ocasionado pela queda de poder de

compra do assalariado e de superprodução, ocasionada pelo aumento da

produtividade. Isto interrompe a ascensão americana, levando a uma grande

depressão mundial. Essa crise veio demonstrar que o livre jogo das forças do

mercado não resolve as contradições do sistema. A solução veio então com o

intervencionismo do Estado do plano interno (direcionando a produção) e o 49 Esse fato que entrou para a História da humanidade como o Crack da Bolsa de Nova Iorque, é conseqüência da política liberal adotada pelos Estados Unidos após a Primeira Guerra.

99

protecionismo (o oposto do livre comércio) no plano externo, em quase todo o

mundo capitalista. O objetivo era organizar o movimento do capita, não

permitindo que se repetisse uma crise como a de 1929. Essas saídas

proporcionaram uma elevação da renda de seus trabalhadores e asseguraram

direitos trabalhistas proporcionando a formação de um mercado do

consumidor, o que levou a um longo período de crescimento capitalista pós II

Guerra Mundial até os anos 70.

Paralelamente a essa política intervencionista, se desenvolveriam alguns

mecanismos, como o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), criado em

1947 com o objetivo de liberalizar o comércio internacional por meio da

redução e da retirada das restrições à circulação das mercadorias e serviços.

Os economistas liberais continuavam a recitar que o comércio

aumentaria o volume do comércio mundial, conduziria à melhoria do padrão de

vida dos povos e à própria pacificação do mundo. As discussões iniciadas,

contudo, só vieram a se concretizar na última rodada de negociações do GATT,

que ocorreu no Uruguai (1986-1993), cujo resultado maior foi a criação da

Organização Mundial do Comércio (OMC)50, em março de 1994.

3. Globalização ou Imperialismo?

As empresas que hoje dominam a produção mundial são as grandes

multinacionais que se instalam onde as possibilidades de lucros existem. Na

década de 1980, os investimentos dessas multinacionais em outros países

quase triplicaram. Curiosamente, esses investimentos, tais como a implantação

de filiais em outros países, partiram dos países desenvolvidos para o interior

deles próprios. Com o fim dos regimes Absolutistas e adoção do liberalismo no

mundo, as empresas nos grandes centros industriais desejam um

fortalecimento do mercado a fim de obter uma expansão nos seus negócios.

Nesse sentido afirma Coimbra e Tibúrcio:

50 A OMC é uma organização internacional, contando hoje com mais de 130 países e outras dezenas de observadores. A OMC inclui o GATT que continua encarregado da liberalização do comércio de mercadorias, mas vai além ao abarcar outros acordos, sendo o mais importante o da agricultura e o acordo geral sobre o comércio dos serviços ( educação, saúde , meio ambiente , bancos comerciais e de investimentos , seguradoras e fundos de pensão, corretoras, etc), o que estende o livre comércio a todos os setores da economia.

100

Nesse início de século, uma das características mais marcantes da economia mundial globalizada é a concentração financeira e industrial e o fortalecimento econômico das grandes corporações multinacionais ou empresas transnacionais. Embora apresentem diferenciação em tamanho, origem, graus de integração e ação, poder e influência, essas empresas têm duas características comuns: individualmente são centros de decisão e, portanto, de poder, controlando o processo produtivo em vários países e conduzindo investimentos, produção, comercialização, financiamentos e preços em escala transnacional; coletivamente são o principal elemento do capital mundial e o agente mais poderoso da internacionalização da produção, das finanças, do comércio, da informação, da propaganda, do consumo e da ideologia do capitalismo. (COIMBRA, Pedro; TIBÚRCIO, José Arnaldo, 2002, p. 257)

Esse perfil concentrado do comércio internacional já vinha se

anunciando desde a criação do GATT em 1947, na forma de trocas

multilaterais e bilaterais. O Acordo Geral de Tarifas e Comércio foi criado logo

após a Segunda Guerra com o objetivo de diminuir as barreiras ao comércio e

tornar o mundo um único mercado. Nessa época havia consenso sobre a

necessidade de liberalização do comércio. Se em um primeiro momento, os

mais interessados eram as grandes potências, hoje quem luta contra o

protecionismo são os países em desenvolvimento. Dez anos depois (1957),

essa concentração se aprofunda com a liberalização bastante completa entre

os países participantes do Mercado Comum Europeu. Na década de 80, as

políticas de desregulamentação promovidas pela Primeira Ministra Margareth

Tatcher, na Grã-Bretanha51 e pelo Presidente Ronald Reagan nos Estados

Unidos, e aceitas por todos os países desenvolvidos, terminaram por garantir a

reprodução do capital dos grandes conglomerados multinacionais de forma

globalmente concentrada.

Quando se fala em globalização tem-se a idéia de uma integração dos

mercados globais. Porém, o que acabamos de ver é que os ganhos desse

processo são extremamente limitados e delimitados. Isto equivale a dizer que a

globalização, embora um fato, não é um fenômeno que beneficia a todos, mas

um fenômeno que beneficia as grandes empresas e os países desenvolvidos.

Portanto, privilegia uma minoria de países e, dentro deles, apenas aquelas

51 A Inglaterra no século XIX pregou o livre-comércio entre as nações para seu próprio benefício enquanto nação imperialista que era. Agora, a globalização cumpre o mesmo papel , mascarando o poderio dos impérios do século XX. Vista dessa forma, a globalização nada mais é que uma relação de dominação entre os países desenvolvidos, entre classes ricas e pobres, uma relação que já foi chamada de imperialismo.

101

pessoas que dispõem de dinheiro para comprar os produtos. Nas empresas

transnacionais e nas multinacionais o único objetivo é conseguir dinheiro para o

fortalecimento da empresa e consequentemente ter uma maior fatia do

mercado consumidor. Não existe em uma multinacional a preocupação com a

realidade social do local onde se instala, a não ser ter um maior faturamento

com o menor custo possível. Nesse sentido nos diz o geógrafo Milton Santos:

A internacionalização do capital financeiro amplia-se, recentemente, por várias razões. Na fase histórica atual, as megafirmas devem, obrigatoriamente, preocupar-se com o uso financeiro dinheiro que obtém. As grandes empresas são, quase que compulsoriamente, ladeadas por grandes empresas financeiras. Essas empresas financeiras das multinacionais utilizam em grande parte a poupança dos países em que se encontram. Quando uma firma de qualquer outro país se instala em um país C ou D, as poupanças internas passam a participar da lógica financeira e do trabalho financeiro dessa multinacional. Quando expatriado, esse dinheiro pode regressar ao país de origem na forma de crédito e de dívida, quer dizer, por intermédio das grandes empresas globais. O que seria poupança interna transforma-se em poupança externa, pelas quais os países recipiendários devem pagar juros extorsivos. O que sai do país como royalties, inteligência comprada, pagamento de serviços ou remessa de lucros volta como crédito e dívida. Essa é a lógica atual da internacionalização do crédito e da dívida. A aceitação de um modelo econômico em que o pagamento da dívida é prioritário implica a aceitação da lógica desse dinheiro. (SANTOS, 2006, p.43)

4. As bases da ofensiva militar e política dos Estados Unidos.

A ofensiva política - militar dos Estados Unidos na América Latina faz

parte de uma campanha mundial para consolidar a sua influência política e sua

dominação econômica e para estender e consolidar seu poder por meio de

uma política de combinação de bases militares e regimes políticos inteiramente

submissos. Quando do início do bombardeio e a subseqüente ocupação do

Afeganistão, Washington buscou estabelecer um regime que lhe fosse

favorável e que conservasse os interesses americanos na região, pretendendo

exercer em todas as partes do mundo uma atuação de relação que mantivesse

os interesses americanos, os políticos e financeiros.

102

Na América Latina, antes da Guerra do Afeganistão, os Estados Unidos

já haviam estabelecido bases militares no Equador, Peru e El Salvador. Em

abril de 2000, o governo brasileiro assinou um acordo de lançamento de

foguetes de Alcântara, no Maranhão, para a utilização dessa base pelos

Estados Unidos. É crescente os interesses dos Estados Unidos pela região

amazônica e tais medidas são uma demonstração dessa pretensão. As

reações populares ao modelo econômico americano atual levam os Estados

Unidos a uma intervenção mais direta, financiando e treinando forças militares

e paramilitares contrárias a esse movimento popular. Isso é observado na

Colômbia e, mais discretamente, na Venezuela, no caso de apoio inconfesso

dos Estados Unidos ao frustrado golpe militar contra o governo de Chavez, o

único, além de Cuba, abertamente contrário à ALCA e ao neoliberalismo na

América Latina.

O terceiro país que tem sido testemunha de uma derrota política dos

Estados Unidos é a Argentina. O colapso do governo de La Rua, que

representava o regime tido por Washington como o modelo a ser seguido, fez

soar as campainhas de alarme. O fato político mais significativo é a grande

presença da classe média Argentina se colocando contra o neoliberalismo e

seus promotores estrangeiros e rechaçando os políticos locais a eles

associados.

É importante chamar a atenção para dois pontos. Primeiro, a parte

dessa expansão do poder dos Estados Unidos está dirigida a se contrapor aos

avanços dos movimentos populares e dos regimes mais independentes.

Segundo, a ofensiva busca estabelecer novos centros estratégicos de poder de

maneira a impor uma ordem mundial com uma grande influencia americana e

preservação de seus interesses. O propósito imediato da ofensiva política –

militar dos Estados Unidos na América Latina é o de recuperar sua dominação

anteriormente tão consolidada durante o tempo em que vigorava os governos

militares pró-Estados Unidos e por verificar que o neoliberalismo tem trazido

um empobrecimento das populações locais.

103

Nesse contexto tem lugar uma corrida entre os movimentos de massas e

Washington, disputando o espaço deixado pelo poder tradicional, minado pelo

fracasso das políticas neoliberais. É nessas condições de desintegração do

projeto de globalização neoliberal que se articula a ALCA.

5. A influência americana na economia mundial

O processo de produção capitalista é ao mesmo tempo mundial e

hierarquizado. As empresas, para sobreviverem, internacionalizam a produção

fazendo surgir uma economia mundial. Embora exista uma interdependência

entre as economias mundiais, o sistema é hierarquizado, ou seja, há

economias dominadas, o que equivale a dizer que o desenvolvimento

econômico mundial é desigual e combinado. Isso ocorreu no século XIX,

quando a Inglaterra era a principal nação imperialista, e agora ocorre

novamente, sob o título de globalização e sob hegemonia americana.

A globalização tem, assim, a mesma lógica do velho imperialismo inglês

mas traz novos fatores que aprofundam ainda mais esta relação de dominação

entre os países. A nova tecnologia influi em todos os campos da vida

econômica e revoluciona o sistema financeiro pela conexão eletrônica dos

distintos mercados. Esse processo é complementado pelas privatizações,

desregulamentação e flexibilização dos mercados nacionais, o que acaba

sempre por tornar a população dos países emergentes e pobres em mais

pobres ainda, além de perdas sociais bastante acentuadas. Corroborando

nesse mesmo raciocínio, diz o geógrafo Milton Santos:

Seja qual a for o ângulo pelo qual se examinem as situações características do período atual, a realidade pode ser vista como uma fábrica de perversidade. A fome deixa de ser um fato isolado ou ocasional e passa a ser um dado generalizado e permanente. Ela atinge 800 milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes sem exceção. Quando os progressos da medicina e da informação deviam autorizar uma redução substancial dos problemas de saúde, sabemos que 14 milhões de pessoas morrem todos os anos, antes do quinto ano de vida. Dois bilhões de pessoas sobrevivem sem água potável. Nunca na história houve um tão grande número de deslocados e refugiados. O fenômeno dos sem-tetos, curiosidade na

104

primeira metade do século XX hoje é um fato banal, presente em todas as grandes cidades do mundo. O desemprego é algo tornado comum. Ao mesmo tempo, ficou mais difícil do que antes atribuir educação de qualidade e, mesmo, acabar com o analfabetismo. A pobreza também aumenta. No fim do século XX, havia mais 600 milhões de pobres do que em 1960; e 1,4 bilhões de pessoas ganhavam menos que um dólar por dia. (SANTOS, 2006, p.59)

Essa realidade só é possível dado o estágio do desenvolvimento das

tecnologias de informação que possibilitam ao capital financeiro deslocar-se ao

redor do mundo em buscas de países que lhe concedam mais vantagens.

Assim, se algum país impõe perda ao capital, este pode, instantaneamente,

sair dali. Para isto, seria necessário que as leis, normas e regulamentos dos

diferentes países fossem iguais para garantir a agilidade e lucratividade do

capital financeiro.

Grandes empresas, capitais e mercadorias recebem dos governos

liberdade de movimentação, o que significa a redução dos poderes exercidos

pelas sociedades. Assim, as empresas podem escolher, ao redor do mundo, o

melhor lugar para se instalar, onde quer que haja maiores vantagens

oferecidas pelos governos locais ( isenções de impostos, ajudas financeiras) ou

mesmo pelos trabalhadores (quando estes abrem mãos de direitos trabalhistas)

ou aceitam salários reduzidos. Dessa forma, as etapas de produção são

desmembradas entre diversos países, de modo que as corporações

multinacionais ganham poder ainda maior sobre a divisão internacional do

trabalho, hierarquizando as nações de acordo com seus interesses. Para que

isso se dê, regras e leis devem tornar-se homogêneas em toda a parte e os

Estados precisam abrir mão da capacidade de implementar políticas ativas que

possam criar diferenciações. Os desejos de consumo da população também

deveriam ser basicamente os mesmos. Assim, afirma Milton Santos:

A política agora é feita no mercado. Só que esse mercado global não existe como ator, mas como uma ideologia, um símbolo. Os atores são as empresas globais, que não tem preocupações éticas, nem finalísticas. Dir-se-á que, no mundo da competitividade, ou se é cada vez mais individualista, ou se desaparece. Então, a própria lógica de sobrevivência da empresa global sugere que funcione sem nenhum altruísmo. Mas, se o Estado não pode ser solidário e a empresa não

105

pode ser altruísta, a sociedade como um todo não tem quem a valha. (SANTOS, 2006, p.67).

Além disso, a livre circulação dos capitais financeiros somente privilegia

o dólar, a moeda americana que é aceita internacionalmente, sendo constantes

os ataques especulativos contra as moedas mais fracas no cenário

internacional, como ocorrido com o Real, no início de 1999. Além desse fator

econômico financeiro, o domínio americano também se explica por fatores

militares , que levam todos os países a dependerem das decisões dos Estados

Unidos, de fatores diplomáticos ( por exemplo, a diplomacia americana faz com

que os pontos de vista daquele país prevaleçam na OMC) e de fatores

culturais, haja vista que a língua inglesa é a hoje a língua veículo mundialmente

dominante.

No pós – Guerra os Estados Unidos se firmaram como a primeira nação

do mundo. Saiu da posição de sexta potência do mundo, atrás da Inglaterra,

França, Alemanha, Japão e Rússia, e após a guerra que destruiu totalmente ou

parte da economia desses países, se tornou a maior potência do mundo.

A divisão do mundo em um sistema bipolar, tendo os Estados Unidos

dominado o Ocidente e a União Soviética, dominado o Oriente. No mundo

ocidental os Estados Unidos criaram todo um sistema econômico e financeiro

que objetivava dominar com o dólar os países desse lado do mundo. Para

tanto, criou-se o Banco Mundial, o Fundo Monetário Mundial, o BIRD ,o BID e

vários outros que tinham por finalidade promover o desenvolvimento financeiro

dos países aliados aos Estados Unidos.

Essa política de intervencionismo dos Estados Unidos no mundo

ocidental teve sempre como meta financiar o enorme poderio militar e bélico

daquele país e garantir que não haveria espaço para a entrada do comunismo

nessa metade do planeta. Casos como o de Cuba que se tornou comunista em

1959 com a chegada de Fidel Castro ao poder são exceções que os Estados

Unidos não permitiram que existissem mais.

106

Chegou-se ao ponto daquela nação promover revoluções de direita na

América Latina, promovida pelos militares locais com o objetivo de rechaçar

com violência ímpar, qualquer tentativa de se implantar no continente uma

república sindicalista ou popular. Exemplos como o Brasil, em 1964, o Chile em

1973 e a Argentina, em 1976 além do Uruguai, da Bolívia e do Peru são uma

constante nesses casos. Desaparecimento de presos políticos, assassinato de

sindicalistas, fechamento de Congressos Nacionais, repressão policial brutal

foram a tônica em uma América Latina que era inteiramente financiada pelos

Estados Unidos com o único objetivo de se criar uma classe média

consumidora que viesse adquirir os produtos das multinacionais americanas

que aqui começaram a se instalar em final dos anos 60 e início dos anos 70.

CAPÍTULO VI

CONTRAPONTO

1- O MERCOSUL como contraponto à ALCA

A criação do MERCOSUL como área de livre comércio da América

Latina visa na realidade servir de um contraponto as influências que os países

latinos americanos irão sofrer quando os vários grupos de integração

econômica estiverem atuando de forma intensiva. Isto se dá de maneira bem

clara haja vista que o território latino americano é composto por países que são

detentores de enormes recursos minerais, rios caudalosos para a instalação de

107

usinas hidrelétricas, jazidas de petróleos e vários outros produtos que são de

intenso interesse de países que tem um parque industrial bastante qualificado

para produção de bens de qualidade.

Não é de se admirar que os Estados Unidos liderando a ALCA tem

influenciado de forma contundente os países do Mercosul , Argentina, Brasil,

Paraguai e Uruguai e aqueles que desejam abandonar a sua condição de

observadores para terem um participação efetiva no bloco econômico do

continente. A grande expectativa dos Estados Unidos é de passar a ALCA

como uma área de livre comércio mas que somente circulará entre os países

mercadorias com a eliminação de tarifas alfandegárias. A maior potencia do

mundo não tenciona criar na região um mercado comum ou uma união

econômica pois não deseja que haja circulação de capital e principalmente de

pessoas que pretenderiam imigrar para os aquele país.

Sabe-se de antemão, que nos próximos anos e talvez décadas, a

economia mundial irá ser impulsionada pelos grandes grupos econômicos

formados tanto na América do Norte, na Europa, no Pacífico e na África. Sendo

assim, se houver uma possibilidade dos países europeus desenvolvidos e os

Estados Unidos colocarem obstáculos que visem atingir a estabilidade do

MERCOSUL como forma dos países romperem com esse bloco econômico,

haverá uma grande oportunidade para os Estados Unidos de implementarem a

ALCA e consequentemente dominar efetivamente de forma intensa a região

latina da América.

Um dos grandes desafios para o futuro do MERCOSUL é a intenção do

governo norte-americano de criar a Área de Livre Comércio das

Américas(ALCA). A primeira reunião de representantes dos 34 Estados do

continente americano, realizada em Santiago do Chile em 1998, decidiu que a

ALCA seria criada em 2005. Todavia, após novas rodadas de negociações

realizadas em Miami em 2004, decidiu-se adiar a criação da ALCA para um

futuro próximo, porém sem uma data exata para seu início.

108

A efetiva criação dependerá basicamente da política norte-americana,

pois o governo desse país necessita de autorização do Congresso para

negociar livremente sua participação nesse novo bloco comercial. Fica

bastante explicito que não haverá efetivação da ALCA sem os Estados Unidos.

Nesse sentido, afirma Coimbra e Tibúrcio:

A constituição da ALCA visa a queda de diferentes barreiras ao comércio dos países-membros. Entretanto, um dos entraves para a criação dessa associação são as grandes disparidades econômicas existentes entre os países: Estados Unidos e Canadá e os demais membros. Na verdade, pode-se afirmar que a ALCA é uma outra tentativa dos Estados Unidos de reforçar sua hegemonia no continente americano. Nos últimos anos, vários países desse continente, em especial do MERCOSUL, vêm aumentando consideravelmente suas trocas com países da União Européia. Esse fato preocupa o governo americano , pois significa perda parcial de alguns mercados para seu maior concorrente. Entretanto, a implementação da ALCA não está obedecendo ao ritmo desejado pelos Estados Unidos, devido as resistências das economias emergentes, como o Brasil e a Argentina. (COIMBRA;TIBÚRCIO, p.316)

Deve-se levar também em consideração que a opinião pública norte-

americana e, consequentemente os políticos dos partidos Democratas e

Republicanos está dividida a esse respeito.

As pessoas contrárias à criação da ALCA argumentam que os Estados

Unidos nada teriam a ganhar associando com os países latinos americanos

que têm uma economia pobre. Deve-se inclusive destacar que uma parte

considerável da população americana não apóia categoricamente a criação da

North American Free Tratement Agreement (NAFTA). Essas pessoas acham

que apenas o México levou vantagem com a criação e o funcionamento do

referido bloco econômico, pois teria sido beneficiado com a transferência de

inúmeras industrias norte-americanas para o norte do território mexicano, por

causa dos salários mais baixos, o que teria prejudicado os trabalhadores

americanos.

Essa idéia é bastante duvidosa, pelos motivos expostos a seguir:

109

• Como em todos lugares do mundo, existe um receio da classe média

americana em se empobrecer devido a possibilidade de seus empregos

migrarem para regiões mais pobres das Américas onde o custo da mão-

de-obra de produção é sensivelmente mais barato.

• As indústrias em parte já estavam indo e, provavelmente continuem a ir

de qualquer forma para o norte do México, para zona de fronteiras com

os Estados Unidos, pelo simples motivo de que essa região fica perto do

mercado consumidor norte – americano, os transportes são bons e há

isenção de impostos.

A principal dúvida é dizer quais são as perspectivas do MERCOSUL em

relação a ALCA. Esse fato depende de como a ALCA será estruturada e da sua

evolução nos anos seguintes. Não se sabe muito bem o que ela será

efetivamente, se apenas uma zona de livre-comércio ou se evoluirá para um

mercado comum efetivo, como a União Européia ou, mais modestamente, o

MERCOSUL.

Na hipótese de um mercado integrado, a ALCA poderá em longo prazo ser

muito interessante para a América Latina em geral, e mesmo para os Estados

do MERCOSUL, pois haveria livre circulação de produtos e serviços, tecnologia

e também de mão-de-obra.

Essa hipótese é extremamente duvidosa. É quase certo que os Estados

Unidos continuarão a colocar restrições à transferência de tecnologia

sofisticada e alto desenvolvimento e às vendas de produtos estratégicos, tais

como supercomputadores, armamentos de alta precisão, etc., para os países

latinos americanos. Também é bastante improvável que os Estados Unidos

aceitem a livre circulação de trabalhadores dentro dos Estados membros da

ALCA, pois isso poderia acarretar numa imigração maciça para o território

norte-americano o que inviabilizaria o sistema de governo americano.

Sendo assim, é mais provável que a ALCA permaneça tão somente como

uma limitada zona de livre-comércio, o que significa algumas facilidades para o

110

comércio tais como exportações e importações entre seus membros, mas nada

de livre circulação de tecnologia e de pessoas, especialmente de trabalhadores

nem de passaporte ou de legislações importantes em comum. Nesse caso,

existem sérias dúvidas sobre as vantagens da ALCA para o MERCOSUL, e

tudo dependerá do grau de abertura do mercado norte-americano para as

exportações das economias latino americanas.

Se os Estados Unidos derem um tratamento realisticamente especial aos

parceiros da ALCA, isto é, se retirarem as restrições que existem para o Brasil

comprar deles aço, suco de laranja, bebidas, aviões, produtos agrícolas em

geral e etc., isso poderá ser bom para a economia brasileira e, em maior ou

menor proporção, para as demais da América Latina. Mas, por enquanto, não

existe uma garantia efetiva que isso irá ocorrer.

O pior cenário para o Brasil e os demais países do MERCOSUL seria a

ALCA se tornar um simples estreitamento do comércio com os Estados Unidos

na base de exportação de matérias-primas e talvez alguns bens

semimanufaturados e também importação de produtos industrializados com

elevada tecnologia. Seria praticamente uma volta ao passado, ao período em

que Brasil e Argentina quase só comercializavam com os Estados Unidos,

exportando produtos primários e importando bens industrializados.

Algumas pessoas até mesmo desconfiam que foi exatamente esse o

objetivo das autoridades norte-americanas ao propor, em 1997, a criação da

ALCA: trazer novamente para a área de dominação econômica dos Estados

Unidos vários países da América Latina, especialmente os do MERCOSUL,

que desde os anos de 1980, e notadamente da década de 1990, vêm

gradativamente diminuindo ( em termos relativos) as trocas comerciais com

esse país e se aproximando mais da Europa, da Ásia e entre si.

Foi por causa dessa desconfiança que, na primeira reunião para a

construção da ALCA, os Estados que mais se opuseram a esse projeto foram

os do MERCOSUL, liderados pelo Brasil. Sendo assim, todos os países do

bloco econômico da América Latina vêm desenvolvendo inúmeros esforços no

111

sentido de estreitarem mais os seus laços comerciais com os países da União

Européia, procurando convencer as autoridades alemãs e francesas das

vantagens de acordos especiais com o MERCOSUL. Essa é mais uma

tentativa de consolidar esse bloco do cone sul e, com isso, impedir que ele seja

atropelado pela criação da ALCA.

Mas recusar pura e simplesmente a criação da ALCA é uma atitude que

nenhum Estado do continente assumiu. Alguns, em particular o Brasil, querem

somente postergar as decisões importantes a esse respeito. Nenhum governo

se opõe radicalmente a esse projeto por vários motivos. Primeiro, porque os

Estados Unidos são poderosíssimos do ponto de vista tanto econômico,

quanto político-militar e diplomático, não seria prudente discordar frontalmente

da maior potencia mundial em assunto tão importante e delicado nas relações

comerciais e internacionais desse grande nação em um assunto tão

importante. Segundo, porque talvez a ALCA seja positiva e possa de fato

promover a integração continental em base boas para todos, ou pelo menos,

para a maioria.

Ficar de fora nesse caso seria um erro. Para tanto, basta lembrar que, de

início, durante os anos de 1950, o Reino Unido foi contra a criação do Mercado

Comum Europeu, ficando até 1973, fora dessa organização, e acabou pagando

um elevado preço por esse erro. Era a maior economia na Europa nos anos de

1950, mas, nas décadas seguintes, acabou sendo superado pela Alemanha e

pela França e hoje é tão-somente a terceira economia do continente europeu.

2 - O MERCOSUL como contraponto ao neoliberalismo.

As décadas de 80 e 90 do século XX foram marcadas de forma indelével

pela adoção do liberalismo no mundo pós-guerra. Nações como a Inglaterra no

governo da Primeira-Ministra Margareth Tatcher e os Estados Unidos, no

112

governo do Presidente Ronald Reagan, foram os pioneiros nessa política

econômica.

Era o início do fim da política do “Welfare State” adotada intensamente

na Europa após a Segunda Grande Guerra em contraponto a clara ameaça da

União Soviética que pregava o comunismo de estado. Países como a

Inglaterra, a França, a então Alemanha Ocidental criaram sistemas sociais de

proteção aos seus cidadãos que visavam uma educação pública de qualidade,

saúde pública para todos e um sistema de previdência social que atingissem

todas as pessoas de suas nações.

Com o desmonte da União Soviética iniciado em 198952, o receio ao

comunismo que fazia frente ao capitalismo empresarial dissipou-se por

completo. O neoliberalismo, uma volta ao passado mais selvagem do

capitalismo, se impunha de forma cada vez mais forte, forçando aos Estados

Nacionais, privatizar as suas empresas e abandonar as políticas sociais que

prevaleceram nos anos do pós-guerra.

Durante a história do capitalismo, desde as Revoluções Liberais que

findaram o Absolutismo, a humanidade experimentou diversas situações que

alteraram profundamente o modo de vida das pessoas que viviam nos locais

onde o capitalismo fora implantado. Nesse sentido afirma Milton Santos:

A história do capitalismo pode ser dividida em períodos, pedaços de tempo marcados por certa coerência entre as suas variáveis significativas, que evoluem diferentemente, mas dentro de um sistema. Um período sucede o outro, mas não podemos esquecer que os períodos são, também antecedidos e sucedidos por crises, isto é, momentos em que a ordem estabelecida entre as variáveis, mediante uma organização, é comprometida. Torna-se impossível harmonizá-la quando uma dessas variáveis ganha expressão maior e introduz um princípio de desordem. Essa foi a evolução comum a toda história do capitalismo, até recentemente. O período atual escapa a essas características porque ele é, ao mesmo tempo, um período e uma crise, isto é, a presente fração do tempo histórico constitui uma verdadeira superposição entre período e crise, revelando características de ambas essas situações. (SANTOS, 2006, p.33).

52 Nesse ano ocorreu a queda do Muro de Berlim que simbolizou durante muitos anos a divisão do mundo entre a influência dos Estados Unidos no mundo ocidental e da União Soviética no mundo oriental.

113

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a vitória dos Aliados sob a

liderança dos Estados Unidos, a economia mundial teve uma influência

acentuada americana, haja vista que, a indústria americana estava com a

produção bastante acentuada e esse país havia terminado a Segunda Guerra

como a maior potência ocidental.

O desenvolvimento tecnológico aliado ao desenvolvimento financeiro

que os Estados Unidos apresentaram após o fim da guerra, foram os grandes

impulsionadores para que aquela nação se firmasse como potência mundial.

Nesse sentido afirma Eustáquio de Sene:

Não é difícil entender a hegemonia do setor financeiro na globalização econômica. Como resultado dos avanços tecnológicos nas telecomunicações e na informática, o dinheiro se tornou-se eletrônico, desmaterializado, virtual. Na era informacional transformou-se mesmo em mais uma informação. Assim, transferir grandes somas de dinheiro de um lugar para outro se tornou uma realidade relativamente simples, que se restringe quase a só digitar números nas telas dos computadores e entrou no circuito de informações que circulam em tempo real pelo mundo. (SENE, 2003, p.68).

Como o neoliberalismo se intensificava com o passar dos tempos, a

Europa já se encaminhava para a formação de um bloco econômico desde

1957, e vários países no mundo, tais como o Japão e a China, se juntavam em

bloco, na América Latina não poderia ser diferente. Formou-se, em 1991, o

bloco econômico do Cone Sul, o MERCOSUL, e que tinha como um de seus

principais objetivos incrementar o comércio entre seus estados membros e ter

uma estrutura econômica maior no momento de negociar com países da União

Européia e demais blocos econômicos existentes ao redor do mundo.

Dentro do MERCOSUL, o Brasil tem um papel de grande importância,

não só pela sua população como também pela capacidade instalada da sua

indústria. Nesse sentido, afirma Vesentini:

O Brasil é o verdadeiro “gigante” do MERCOSUL, visto que nossa economia representa cerca de 52% do PNB total desse mercado

114

regional (incluindo todos os dez países, membros e associados). A Argentina é a segunda maior economia do bloco, representa cerca de 14,5% desse total. A população brasileira representa pouco mais de 50% do total do MERCOSUL, embora o seu poder aquisitivo médio seja inferior ao da Argentina, do Uruguai, da Venezuela e do Chile. Apesar disso, por causa da imensa população e também da maior economia, o Brasil é o grande mercado consumidor do MERCOSUL. (VESENTINI, 2006, p.49).

O fortalecimento do MERCOSUL, como bloco econômico, será a

solução que os governantes latinos devem encontrar para garantir o

crescimento econômico dos países da região e membros do MERCOSUL.

Esse desenvolvimento econômico, trará a estabilidade social e uma

consolidação das instituições democráticas, afastando definitivamente o

fantasma do passado, quando a região esteve imersa em violentas ditaduras

militares. Essas ditaduras se mantiveram no poder com o apoio dos governos

americano, e tinham como principal objetivo, afastar a possibilidade de instalar,

em solo latino americano, um regime comunista de tendência pró-soviética.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reafirma-se, neste momento, o caráter exploratório e descritivo dessa

pesquisa, o que justifica esse capítulo não receber o título de conclusão. Ë

sabido da existência de variáveis que completariam essa investigação e não

foram contempladas por não serem objetos de estudo. Faz-se necessário a

continuidade dessa investigação naturalmente complexa. Contudo, o estudo

apontou para questões bastante relevantes objetivando um entendimento da

real situação econômica do bloco de países latino americanos para servir de

proteção as economias dos países da região.

No resgate histórico sobre a organização dos países formados em

blocos econômicos, foi realizado um estudo das situações que antecederam a

criação do CECA e do Tratado de Roma que desemboca na formação da

União Européia. Foi também realizado um estudo para se avaliar a situação

115

econômica e política dos países da América Latina, principalmente entre o

Brasil, Argentina , Paraguai e Uruguai, que se uniram destinado a formar o

bloco econômico do MERCOSUL.

Percebe-se com esse estudo que a união de países para formação de

blocos econômicos é uma tendência mundial que se iniciou após a Segunda

Grande Guerra com o CECA e a União Européia e que tende a se repetir em

todas as partes do mundo. Observou-se a tendência dos Estados atuais de se

fortalecerem quando formavam os grupos econômicos, onde poderia se

negociar de forma mais vantajosa do que se o fizesse isoladamente.

Em relação a ocorrência de recursos e a capacidade de investimentos

dos países membros de blocos econômicos destinado a assegurar capital para

consolidar seus parques industriais, pode-se observar que nos blocos

econômicos os países tendem a aumentar suas fábricas e consequentemente

fortalecer suas indústrias. A possibilidade de favorecer as trocas e de se

produzir aquilo que anteriormente era produzido em escala menor, aumenta a

economia desses países que passam a obter recursos para serem aplicados

na produção de forma mais rápida e barata.

Pode-se observar que a política norte americana em face da formação

dos blocos econômicos não é a de apoio incondicional. Com a criação da

ALCA, os Estados Unidos espera instituir um bloco econômico composto por

ele e por mais 34 países latinos. Além de se formar nas três Américas um

mercado comum com liberação de taxas alfandegárias , a livre concorrência

irá se fortalecer de forma intensa. Sendo assim, existirá uma possibilidade de

que o parque industrial das demais nações se torne obsoleto em face do

parque americano e que produz com uma qualidade maior e com menor custo

que os demais latinos.

O levantamento dos dados da balança comercial dos países do

MERCOSUL demonstraram que todos os países do bloco foram favorecidos

com a sua implementação. Não pode-se deixar de levar em conta que os

países do MERCOSUL aumentaram de forma contundente suas exportações

tanto para países dentro do bloco quanto para fora do mesmo. Como

conseqüência, as importações também tiveram um acréscimo positivo devido a

116

aquisição de maquinários destinados aos parques industriais nacionais bem

como o reflexo de um aumento no poder aquisitivo da população para

consumir mais artigos importados.

Em relação à globalização, pode-se observar que essa instituição é o

grande obstáculo colocado em face dos blocos econômicos existente hoje no

mundo. Isso ocorre devido aos elevados custos de produção que acabam

fazendo as empresas migrarem para outras regiões onde os incentivos fiscais

e a mão de obra são excessivamente menores que em grandes centros. A

migração de fábricas anteriormente existente nos Estados Unidos e que

cruzaram a fronteira para produzirem no México, acarretam um preço menor

em seus produtos no mercado internacional capaz de eliminar a concorrência.

Essa situação se torna predatória em relação às demais empresas e tais

medidas poderão acabar por tirar do mercado todas aquelas com custos

elevados com conseqüências graves para as demais empresas.

Com esse estudo fica comprovado que o MERCOSUL já serve de

contraponto ao neoliberalismo existente no contexto globalizado e que exercerá

o mesmo papel quando se der a criação da Alca. O bloco econômico latino

deve ser considerado um escudo institucional que garantirá o desenvolvimento

econômico e a paz social da região.

117

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121

ANEXOS

TRATADO DE ASSUNÇÃO

DECRETO N° 350, DE 21 DE NOVEMBRO DE 1991

Promulga o Tratado para a Constituição de um Mercado Comum entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai (Tratado Mercosul).

O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 84, inciso VIII, da Constituição e

Considerando que o Tratado para a Constituição de um Mercado Comum entre a República da Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai foi concluído em Assunção, em 26 de março de 1991;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o referido tratado por meio do Decreto Legislativo n° 197, de 25 de setembro de 1991;

Considerando que a Carta de Ratificação do Tratado, ora promulgado, foi depositada pelo Brasil em 30 de outubro de 1991;

122

Considerando que o Tratado para a Constituição de um Mercado Comum entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai (Tratado Mercosul) entrará em vigor internacional, e para o Brasil, em 29 de novembro de 1991, na forma de seu artigo 19,

DECRETA:

Art. 1° O Tratado para a Constituição de um Mercado Comum entre a República da Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai (Tratado Mercosul), apenso por cópia ao presente decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.

Art. 2° Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 21 de novembro de 1991; 170° da Independência e 103° da República.

FERNANDO COLLORFrancisco Rezek

TRATADO PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM MERCADO COMUM ENTRE A REPÚBLICA ARGENTINA, A REPÚBLICA FEDERTIVA DO BRASIL, A REPÚBLICA DO PARAGUAI E A REPÚBLICA ORIENTAL

DO URUGUAI

(Tratado de Assunção)

A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados "Estados Partes";

Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, através da integração, constitui condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social;

Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de políticas macroeconômicas e a complementação dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio;

Tendo em conta a evolução dos acontecimentos internacionais, em especial a consolidação de grandes espaços econômicos, e a importância de lograr uma adequada inserção internacional para seus países;

Expressando que este processo de integração constitui uma resposta adequada a tais acontecimentos;

Conscientes de que o presente Tratado deve ser considerado como um novo avanço no esforço tendente ao desenvolvimento progressivo da integração da América Latina, conforme o objetivo do Tratado de Montevidéu de 1980.

Convencidos da necessidade de promover o desenvolvimento cientifico e tecnológico dos Estados Partes e de modernizar suas economias para ampliar a oferta e a qualidade dos bens de serviço disponíveis, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes;

Reafirmando sua vontade política de deixar estabelecidas as bases para uma união cada vez mais estreita entre seus povos, com a finalidade de alcançar os objetivos supramencionados

Acordam:

123

CAPÍTULO I

Propósitos, Princípios e Instrumentos

ARTIGO 1

Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum, que deverá estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994, e que se denominará "Mercado Comum do Sul" (MERCOSUL).

Este Mercado comum implica:

A livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente;

O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial comum e relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacionais;

A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes – de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, cambial e de capitais, de outras que se acordem -, a fim de assegurar condições adequadas de concorrência entre os Estados Partes, e

O compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração.

ARTIGO 2

O Mercado comum estará fundado na reciprocidade de direitos e obrigações entre os Estados Partes.

ARTIGO 3

Durante o período de transição, que se estenderá desde a entrada em vigor do presente Tratado até 31 de dezembro de 1994, e a fim de facilitar a constituição do Mercado Comum, os Estados Partes adotam um Regime Geral de Origem, um Sistema de Solução de Controvérsias e Cláusulas de Salvaguarda, que contam com Anexos II, III e IV ao presente Tratado.

ARTIGO 4

Nas relações com terceiros países, os Estados Partes asseguração condições eqüitativas de comércio. Para tal fim, aplicarão suas legislações nacionais para inibir importações cujos preços estejam influenciados por subsídios, dumping ou qualquer outra prática desleal. Paralelamente, os Estados Partes coordenarão suas respectivas políticas nacionais com o objetivo de elaborar normas comuns sobre concorrência comercial.

ARTIGO 5

Durante o período de transição, os principais instrumentos pra a constituição do Mercado Comum são:

a. Um Programa de Libertação Comercial, que consistirá em reduções tarifárias progressivas, lineares e automáticas, acompanhadas da eliminação de restrições não tarifárias ou medidas de efeito equivalente, assim como de

124

outras restrições ao comércio entre os Estados Partes, para chegar a 31 de dezembro de 1994 com tarifa zero, sem barreiras não tarifárias sobre a totalidade do universo tarifário (Anexo I);

b. A coordenação de políticas macroeconômicas que se realizará gradualmente e de forma convergente com os programas de desgravação tarifária e eliminação de restrições não tarifárias, indicados na letra anterior;

c. Uma tarifa externa comum, que incentive a competitividade externa dos Estados Partes;

d. A adoção de acordo setoriais, com o fim de otimizar a utilização e mobilidade dos fatores de produção e alcançar escalas operativas eficientes.

ARTIGO 6

Os Estados Parte reconhecem diferenças pontuais de ritmo para a República do Paraguai e para a República Oriental do Uruguai, que constam no Programa de Liberação Comercial (Anexo I).

ARTIGO 7

Em matéria de impostos, taxas e outros gravames internos, os produtos originários do território de um Estado Parte gozarão, nos outros Estados Partes, do mesmo tratamento que se aplique ao produto nacional.

ARTIGO 8

Os Estados Partes se comprometem a preservar os compromissos assumidos até a data de celebração do presente Tratado, inclusive os Acordos firmados no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração, e a coordenar suas posições nas negociações comerciais externas que empreendam durante o período de transição. Para tanto:

a. Evitarão afetar os interesses dos Estados Partes nas negociações comerciais que realizem entre si até 31 de dezembro de 1994;

b. Evitarão afetar os interesses dos demais Estados Partes ou os objetivos do Mercado Comum nos acordos que celebrarem com outros países membros da Associação Latino-Americana de Integração durante o período e transição;

c. Realizarão consultas entre si sempre que negociarem esquemas amplos de desgravação tarifária, tendentes à formação de zonas de livre comércio com os demais países membros da Associação Latino-Americana de Integração;

d. Estenderão automaticamente aos demais Estados Partes qualquer vantagem, favor, franquia, imunidade ou privilégio que concedam a um produto originário de ou destinado a terceiros países não membros da Associação Latino-Americano de Integração.

CAPÍTULO II

Estrutura Orgânica

ARTIGO 9

A administração e execução do presente Tratado e dos Acordos específicos e decisões que se adotem no quadro jurídico que o mesmo estabelece durante o período de transição estarão a cargo dos seguintes órgãos:

a. Conselho do Mercado Comum; b. Grupo Mercado Comum.

ARTIGO 10

125

O Conselho é o órgão superior do Mercado Comum, correspondendo-lhe a condução política do mesmo e a tomada de decisões para assegurar o cumprimento dos objetivos e prazos estabelecidos para a constituição definitiva do Mercado Comum.

ARTIGO 11

O Conselho estará integrado pelos Ministros de Relações Exteriores e os Ministro de Economia dos Estados Partes.

Reunir-se-á quantas vezes estime oportuno, e, pelo menos uma vez ao ano, o fará com a participação dos Presidentes dos Estados Partes.

ARTIGO 12

A Presidência do Conselho se exercerá por rotação dos Estados Partes e em ordem alfabética, por períodos de seis meses.

As reuniões do Conselho serão coordenadas pelos Ministros de Relações Exteriores e poderão ser convidados a delas participar outros Ministro ou autoridades de nível ministerial.

ARTIGO 13

O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo do Mercado Comum e será coordenado pelos Ministérios das Relações Exteriores.

O Grupo Mercado Comum terá faculdade de iniciativa. Suas funções serão as seguintes:

o velar pelo cumprimento do Tratado; o tomar as providencias necessárias ao cumprimento das decisões adotadas pelo

Conselho; o propor medidas concretas tendentes à aplicação do Programa de Liberação

Comercial, à coordenação de políticas macroeconômicas e à negociação de Acordos frente a terceiros;

o fixar programas de trabalho que assegurem avanços para o estabelecimento do Mercado Comum.

O Grupo Mercado Comum poderá constituir os Subgrupos de trabalho que forem necessários para o cumprimento de seus objetivos. Contará inicialmente com os Subgrupos mencionados no Anexo V.

O Grupo Mercado Comum estabelecerá seu regime interno no prazo de 60 dias a partir de sua instalação.

ARTIGO 14

O Grupo Mercado Comum estará integrado por quatro membros titulares e quatro membros alternos por país, que representem os seguinte órgãos públicos:

o Ministério das Relações Exteriores; o Ministério da Economia ou seus equivalentes (áreas de indústria, comércio

exterior e/ou coordenação econômica); o Banco Central.

Ao elaborar e propor medidas concretas no desenvolvimento de seus trabalhos, até 31 de dezembro de 1994, o Grupo Mercado Comum poderá convocar, quando julgar conveniente, representantes de outros órgãos de Administração Pública e do setor privado.

ARTIGO 15

126

O Grupo Mercado Comum contará com uma Secretaria Administrativa cujas principais funções consistirão na guarda de documentos e comunicações de atividades do mesmo. Terá sua sede na cidade de Montevidéu.

ARTIGO 16

Durante o período de transição, as decisões do Conselho do Mercado Comum e do Grupo Mercado Comum serão tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados Partes.

ARTIGO 17

Os idiomas oficiais do Mercado Comum serão o português e o espanhol e a versão oficial dos documentos de trabalho será a do idioma do país sede de cada reunião.

ARTIGO 18

Antes do estabelecimento do Mercado Comum, a 31 de dezembro de 1994, os Estados Partes convocarão uma reunião extraordinária com o objetivo de determinar a estrutura institucional definitiva dos órgãos de administração do Mercado comum, assim como as atribuições específicas de cada um deles e seu sistema de tomada de decisões.

CAPÍTULO III

Vigência

ARTIGO 19

O presente Tratado terá duração indefinida e entrará em vigor 30 dias após a data do depósito do terceiro instrumento de ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados ante o Governo da República do Paraguai, que comunicará a data do depósito aos Governos dos demais Estados Partes.

O Governo da República do Paraguai notificará ao Governo de cada um dos demais Estados Partes a data de entrada em vigor do presente Tratado.

CAPÍTULO IV

Adesão

ARTIGO 20

O presente Tratado estará aberto à adesão, mediante negociação, dos demais países membros da Associação Latino-Americana de Integração, cujas solicitações poderão ser examinadas pelos Estados Partes depois de cinco anos de vigência deste Tratado.

Não obstante, poderão ser consideradas antes do referido prazo as solicitações apresentadas por países membros da Associação Latino-Americana de Integração que não façam parte de esquemas de integração sub-regional ou de uma associação extra-regional.

A aprovação das solicitações será objeto de decisão unânime dos Estados Partes.

CAPÍTULO V

Denúncia

ARTIGO 21

127

O Estado Parte que desejar desvincular-se do presente Tratado deverá comunicar essa intenção aos demais Estados Partes de maneira expressa e formal, efetuando no prazo de sessenta (60) dias a entrega do documento de denúncia ao Ministério das Relações Exteriores da República do Paraguai, que o distribuirá aos demais Estados Partes.

ARTIGO 22

Formalizada a denúncia, cessarão para o Estado denunciante os direitos e obrigações que correspondam a sua condição de Estado Parte, mantendo-se os referentes ao programa de liberação do presente Tratado e outros aspectos que os Estados Partes, juntos com o Estado denunciante, acordem no prazo de sessenta (60) dias após a formalização da denúncia. Esses direitos e obrigações do Estado denunciante continuarão em vigor por um período de dois (2) anos a partir da data da mencionada formalização.

CAPÍTULO VI

Disposições Gerais

ARTIGO 23

O presente Tratado se chamará "Tratado de Assunção".

ARTIGO 24

Com o objetivo de facilitar a implementação do Mercado Comum, estabelecer-se-á uma Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL. Os Poderes Executivos dos Estados Partes manterão seus respectivos Poderes Legislativos informados sobre a evolução do Mercado Comum objeto do presente Tratado.Feito na cidade de Assunção, aos 26 dias do mês de março de mil novecentos e noventa e um, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os textos igualmente autênticos. O governo da República do Paraguai será o depositário do presente Tratado e enviará cópia devidamente autenticada do mesmo aos Governos dos demais Estados Partes signatários e aderentes.

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA ARGENTINA:

CARLOS SAUL MENEMGUIDO DI TELLA

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL:

FERNANDO COLLORFRANCISCO REZEK

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA DO PARAGUAI:

ANDRES RODRIGUES

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAI:

LUIS ALBERTO LACALLE HERRERAL

ANEXO I

Programa de Liberação Comercial

ARTIGO PRIMEIRO

Os Estados Partes acordam eliminar, o mais tardar a 31 de dezembro de 1994, os gravames e demais restrições aplicadas ao seu comércio recíproco.

No que se refere à Listas de Exceções apresentadas pela República do Paraguai e pela República Oriental do Uruguai, o prazo para sua eliminação se estenderá até 31 de dezembro de 1995, nos termos do Artigo Sétimo do presente Anexo.

ARTIGO SEGUNDO

128

Para efeito do disposto no Artigo anterior, se entenderá:

a. por "gravames", os direitos aduaneiros e quaisquer outras medidas de efeito equivalente, sejam de caráter fiscal, monetário, cambial ou de qualquer natureza, que incidam sobre o comércio exterior. Não estão compreendidas neste conceito taxas e medidas análogas quando respondam ao custo aproximado dos serviços prestados; e

b. por "restrições", qualquer medida de caráter administrativo, financeiro, cambial ou de qualquer natureza, mediante a qual um Estado Parte impeça ou dificulte, por decisão unilateral, o comércio recíproco. Não estão compreendidas no mencionado conceito as medidas adotadas em virtude das situações previstas no Artigo 50 do Tratado de Montevidéu de 1980.

ARTIGO TERCEIRO

A partir da data de entrada em vigor do Tratado, os Estados Partes iniciarão um programa de desgravação progressivo, linear e automático, que beneficiará os produtos compreendidos no universo tarifário, classificados em conformidade com a nomenclatura tarifária utilizada pela Associação Latino-Americana de Integração, de acordo com o cronograma que se estabelece a seguir:

DATA/PERCENTUAL DE DESCRAVAÇÃO

30/VI/91 31/XII/91 30/VI/92 31/XII/92

47 54 61 68

30/VI/93 31/XII/93 30/VI/94 31/XII/94

75 82 89 100

As preferências serão aplicadas sobre a tarifa vigente no momento de sua aplicação e consistem em uma redução percentual dos gravames mais favoráveis aplicados à importação dos produtos procedentes de terceiros países não membros da Associação Latino-Americana de Integração.

No caso de algum dos Estados Partes elevar essa tarifa para a importação de terceiros países, o cronograma estabelecido continuará a ser aplicado sobre o nível tarifário vigente a 1° de janeiro de 1991.

Se se reduzirem as tarifas, a preferência correspondente será aplicada automaticamente sobre a nova tarifa na data de entrada em vigência da mesma.Para tal efeito, os Estados Partes intercambiarão entre si e remeterão à Associação Latino-Americana de Integração, dentro de trinta dias a partir da entrada em vigor do Tratado, cópia atualizada de suas tarifas aduaneiras, assim como das vigentes em 1° de janeiro de 1991.

ARTIGO QUARTO

As preferências negociadas nos acordos de Alcance Parcial, celebrados no marco da Associação Latino-Americana de Integração pelos Estados Partes entre si, serão aprofundadas dentro do presente Programa de Desgravação de acordo com o seguinte cronograma:

31/XII/90 30/VI/91 31/XII/91 30/VI/92 31/XII/92

00 a 40 47 54 61 68

41 a 45 52 59 66 73

46 a 50 57 64 71 78

51 a 55 61 67 73 79

129

56 a 60 67 74 81 88

61 a 65 71 77 83 89

66 a 70 75 80 85 90

71 a 75 80 85 90 95

76 a 80 85 90 95 100

81 a 85 89 93 97 100

86 a 90 95 100

91 a 95 100

96 a 100

30/VI/93 31/XII/93 30/VI/94 31/XII/94

75 82 89 100

80 87 94 100

85 92 100

86 93 100

95 100

96 100

95 100

100

Estas degravações se aplicarão exclusivamente no âmbito dos respectivos Acordos de Alcance Parcial, não beneficiando os demais integrantes do Mercado Comum, e não alcançarão os produtos incluídos nas respectivas Listas de Exceções.

ARTIGO QUINTO

Sem prejuízo do mecanismo descrito nos Artigos Terceiro e Quarto, os Estados Partes poderão aprofundar adicionalmente as preferências, mediante negociações a efetuarem-se no âmbito dos Acordos previstos no Tratado de Montevidéu 1980.

ARTIGO SEXTO

Estarão excluídos do cronograma de desgravação a que se referem os Artigos Terceiro e Quarto do presente Anexo os produtos compreendidos nas listas de Exceções apresentadas por cada um dos Estados Partes com as seguintes quantidades de itens NALADI:

República Argentina 394

República Federativa do Brasil 324

República do Paraguai 439

130

República do Uruguai 960

ARTIGO SÉTIMO

As Listas de Exceções serão reduzidas no vencimento de cada ano calendário de acordo com o cronograma que se detalha a seguir:

a) Para a República Argentina e a República Federativa do Brasil na razão de vinte por cento (20%) anuais dos itens que a compõem, redução que se aplica desde 31 de dezembro de 1990;

b) Para a República do Paraguai e para a República Oriental do Uruguai, a redução se fará na razão de:

10% na data de entrada em vigor do Tratado,

10% em 31 de dezembro de 1991,

20% em 31 de dezembro de 1992,

20% em 31 de dezembro de 1993,

20% em 31 de dezembro de 1994,

20% em 31 de dezembro de 1995.

ARTIGO OITAVO

As Listas de Exceções incorporadas nos Apêndices I, II, III e IV incluem a primeira redução contemplada no Artigo anterior.

ARTIGO NONO

Os produtos que forem retirados das Listas de Exceções nos termos previstos no Artigo Sétimo se beneficiarão automaticamente das preferências que resultem do Programa de Desgravação estabelecido no Artigo Terceiro do presente Anexo com, pelo menos, o percentual de desgravação mínimo previsto na data em que se opere sua retirada dessas Listas.

ARTIGO DÉCIMO

Os Estados Partes somente poderão aplicar até em 31 de dezembro de 1994, aos produtos compreendidos no programa de desgravação, as restrições não tarifárias expressamente declaradas nas Notas Complementares ao Acordo de Complementação que os Estados Partes celebrem no marco do Tratado de Montevidéu 1980.

A em 31 de dezembro de 1994 e no âmbito do Mercado Comum, ficarão eliminadas todas as restrições não tarifárias.

ARTIGO DÉCIMO PRIMEIRO

A fim de assegurar o cumprimento do cronograma de desgravação estabelecido nos Artigos Terceiro e Quarto, assim como o Estabelecimento do Mercado Comum, os Estados Partes coordenarão as políticas macroeconômicas e as setoriais que se acordem, a que se refere o Tratado para a Constituição do Mercado Comum, começando por aquelas relacionadas aos fluxos de comércio e à configuração dos setores produtivos dos Estados Partes.

ARTIGO DÉCIMO SEGUNDO

131

As normas contidas no presente Anexo não se aplicarão aos Acordo de Alcance Parcial, de Complementação Econômica Números 1, 2, 13 e 14, nem aos comerciais e agropecuários, subscritos no âmbito do Tratado de Montevidéu 1980, os quais se regerão exclusivamente pelas disposições neles estabelecidas.

ANEXO II

Regime Geral de Origem

CAPÍTULO I

Regime Geral de Qualificação de Origem

ARTIGO PRIMEIRO

Serão considerados originários dos Estados Partes:

a. Os produtos elaborados integralmente no território de qualquer um deles, quando em sua elaboração forem utilizados exclusivamente materiais originários dos Estados Partes;

b. Os produtos compreendidos nos capítulos ou posições da Nomenclatura Tarifária da Associação Latino-Americana de Integração que se identificam no Anexo 1 da Resolução 78 do Comitê de Representantes da citada Associação, pelo simples fato de serem produzidos em seus respectivos territórios.

Considerar-se-ão produzidos no território de um Estado Parte:

i. Os produtos dos reinos mineral, vegetal ou animal, incluindo os da caça e da pesca, extraídos, colhidos ou apanhados, nascidos e criados em seu território ou em suas Águas Territoriais ou Zona Econômica Exclusiva;

ii. Os produtos do mar extraídos fora de suas Águas Territoriais e zona econômica exclusiva por barcos de sua bandeira ou arrendados por empresas estabelecidas em seu território; e

iii. Os produtos que resultem de operações ou processos efetuados em seu território pelos quais adquiram a forma final em que serão comercializados, exceto quando esses processos ou operações consistam somente em simples montagens ou ensamblagens, embalagem, fracionamento em lotes ou volumes, seleção e classificação, marcação, composição de sortimentos de mercadorias ou outras operações ou processos equivalentes;

a. Os produtos em cuja elaboração se utilizem materiais não originários dos Estados Partes, quando resultem de um processo de transformação, realizado no território de algum deles, que lhes confira uma nova individualidade, caracterizada pelo fato de estarem classificados na Nomenclatura Aduaneira da Associação Latino-Americana de Integração em posição diferente à dos mencionados materiais, exceto nos casos em que os Estados Partes determinem que, ademais, se cumpra com o requisito previsto no Artigo Segundo do presente Anexo.

Não obstante, não serão considerados originários os produtos resultantes de operações ou processos efetuados no território de um Estado Parte pelos quais adquiram a forma final em que serão comercializados, quando nessas operações ou processos forem utilizados exclusivamente materiais ou insumos não originários de seus respectivos países e consistam apenas em montagens ou ensamblagens, fracionamento em lotes ou volumes, seleção, classificação, marcação, composição de sortimentos de mercadorias ou outras operações ou processos semelhantes;

132

b. Até em 31 de dezembro de 1994, os produtos resultantes de operações de ensamblagem e montagem realizadas no território de um Estado Parte utilizando materiais originários dos Estados Partes e de terceiros países, quando o valor dos materiais originários não for inferior a 40% do valor FOB de exportação do produto final, e

c. Os produtos que, além de serem produzidos em seu território, cumpram com os requisitos específicos estabelecidos no Anexo 2 da Resolução 78 do Comitê de Representantes da Associação Latino-Americana de Integração .

ARTIGO SEGUNDO

Nos casos em que o requisito estabelecido na letra c) do Artigo Primeiro não possa ser cumprido porque o processo de transformação operado não implica mudança de posição na nomenclatura, bastará que o valor CIF porto de destino ou CIF porto marítimo dos materiais de terceiros países não exceda a 50 (cinquenta) por cento do valor FOB de exportação das mercadorias de que se trata.

Na ponderação dos materiais originários de terceiros países para os Estados Partes sem litoral marítimo, ter-se-ão em conta, como porto de destino, os depósitos e zonas francas concedidos pelos demais Estados Partes, quando os materiais chegarem por via marítima.

ARTIGO TERCEIRO

Os Estados Partes poderão estabelecer, de comum acordo, requisitos específicos de origem, que prevalecerão sobre os critérios gerais de qualificação.

ARTIGO QUARTO

Na determinação dos requisitos específicos de origem a que se refere o Artigo Terceiro, assim como na revisão dos que tiverem sido estabelecidos, os Estados Partes tomarão como base, individual ou conjuntamente, os seguintes elementos:

I. Materiais e outros insumos empregados na produção: a. Matérias primas:

i. Matéria prima preponderante ou que confira ao produto sua característica essencial; e

ii. Matérias primas principais.

a. Partes ou peças:

i. Parte ou peça que confira ao produto sua característica essencial

ii. Partes ou peças principais; e iii. Percentual das partes ou peças em relação ao peso total.

a. Outros insumos.

I. Processo de transformação ou elaboração utilizado. II. Proporção máxima do valor dos materiais importados de terceiros países em

relação ao valor total do produto, que resulte do procedimento de valorização acordado em cada caso.

ARTIGO QUINTO

Em casos excepcionais, quando os requisitos específicos não puderem ser cumpridos porque ocorrem problemas circunstanciais de abastecimento: disponibilidade, especificações técnicas, prazo de entrega e

133

preço, tendo em conta o disposto no Artigo 4 do Tratado, poderão ser utilizados materiais não originários dos Estados Partes.

Dada a situação prevista no parágrafo anterior, o país exportador emitirá o certificado correspondente informando ao Estado Parte importador e ao Grupo Mercado Comum, acompanhando os antecedentes e constâncias que justifiquem a expedição do referido documento.

Caso se produza uma contínua reiteração desses casos, o Estado Parte exportador ou o Estado Parte importador comunicará esta situação ao Grupo Mercado Comum, para fins de revisão do requisito específico.

Este Artigo não compreende os produtos que resultem de operações de ensamblagem ou montagem, e será aplicável até a entrada em vigor da Tarifa Externa Comum para os produtos objeto de requisitos específicos de origem e seus materiais ou insumos.

ARTIGO SEXTO

Qualquer dos Estados Partes poderá solicitar a revisão dos requisitos de origem estabelecidos de conformidade com o Artigo Primeiro. Em sua solicitação, deverá propor e fundamentar os requisitos aplicáveis ao produto ou produtos de que se trate.

ARTIGO SÉTIMO

Para fins do cumprimento dos requisitos de origem, os materiais e outros insumos, originários do território de qualquer dos Estados Partes, incorporados por um Estado Parte na elaboração de determinado produto, serão considerados originários do território deste último.

ARTIGO OITAVO

O critério de máxima utilização de materiais ou outros insumos originários dos Estados Partes não poderá ser considerado para fixar requisitos que impliquem a imposição de materiais ou outros insumos dos referidos Estados Partes, quando, a juízo dos mesmos, estes não cumpram condições adequadas de abastecimento, qualidade e preço, ou que não se adaptem aos processos industriais ou tecnologias aplicadas.

ARTIGO NONO

Para que as mercadorias originárias se beneficiem dos tratamentos preferenciais, as mesmas deverão ter sido expedidas diretamente do país exportador ao país importador. Para tal fim, se considera expedição direta:

a. As mercadorias transportadas sem passar pelo território de algum país não participante do Tratado.

b. As mercadorias transportadas em trânsito por um ou mais países não participantes, com ou sem transtorno ou armazenamento temporário, sob a vigilância de autoridade alfandegária competente em tais países, sempre que:

i. o trânsito estiver justificado por razões geográficas ou por considerações relativas a requerimentos do transporte;

ii. não estiverem destinadas ao comércio, uso ou emprego no país de trânsito, e iii. não sofram, durante o transporte e depósito, nenhuma operação distinta às de

carga e descarga ou manuseio para mantê-las em boas condições ou assegurar sua conservação.

ARTIGO DÉCIMO

Para os efeitos do presente Regime Geral se entenderá:

134

a. que os produtos procedentes das zonas francas situadas nos limites geográficos de qualquer dos Estados Partes deverão cumprir os requisitos previstos no presente Regime Geral;

b. que a expressão "materiais" compreende as matérias-primas, os produtos intermediários e as partes e peças utilizadas na elaboração das mercadorias.

CAPÍTULO II

Declaração, Certificação e Comprovação

ARTIGO DÉCIMO PRIMEIRO

Para que a importação dos produtos originários dos Estados Partes possa beneficiar-se das reduções de gravames e restrições outorgadas entre si, na documentação correspondente às exportações de tais produtos deverá constar uma declaração que certifique o cumprimento dos requisitos de origem estabelecidos de acordo com o disposto no Capítulo anterior.

ARTIGO DÉCIMO SEGUNDO

A declaração a que se refere o Artigo precedente será expedida pelo produtor final ou pelo exportador da mercadoria, e certificado por uma repartição oficial ou entidade de classe com personalidade jurídica, credenciada pelo Governo do Estado Parte exportador.

Ao credenciar entidades de classe, os Estados Partes velarão para que se trate de organizações que atuem com jurisdição nacional, podendo delegar atribuições a entidades regionais ou locais, conservando sempre a responsabilidade direta pela veracidade das certificações que forem expedidas.

Os Estados Partes se comprometem, no prazo de 90 dias a partir da entrada em vigor do Tratado, a estabelecer um regime harmonizado de sanções administrativas para casos de falsidade nos certificados, sem prejuízo das ações penais correspondentes.

ARTIGO DÉCIMO TERCEIRO

Os certificados de origem emitidos para os fins do presente Tratado terão prazo de validade de 180 dias, a contar da data de sua expedição.

ARTIGO DÉCIMO QUARTO

Em todos os casos, se utilizará o formulário-padrão que figura anexo ao Acordo 25 do Comitê de Representantes da Associação Latino-Americana de Integração, enquanto não entrar em vigor outro formulário aprovado pelos Estados Partes.

ARTIGO DÉCIMO QUINTO

Os Estados Partes comunicarão à Associação Latino-Americana de Integração a relação das repartições oficiais e entidades de classe credenciadas a expedir a certificação a que se refere o Artigo anterior, com o registro de fac-smile das assinaturas autorizadas.

ARTIGO DÉCIMO SEXTO

Sempre que um Estado Parte considerar que os certificados emitidos por uma repartição oficial ou entidade de classe credenciada de outro Estado Parte não se ajustam às disposições contidas no presente Regime Geral, comunicará o fato ao outro Estado Parte para que este adote as medidas que estime necessárias para solucionar os problemas apresentados.

Em nenhum caso o país importador deterá o trâmite de importação dos produtos amparados nos certificados a que se refere o parágrafo anterior, mas poderá, além de solicitar as informações adicionais

135

que correspondam às autoridades governamentais do país exportador, adotar as medidas que considere necessárias para resguardar o interesse fiscal.

ARTIGO DÉCIMO SÉTIMO

Para fins de um controle posterior, as cópias dos certificados e os documentos respectivos deverão ser conservados durante dois anos a partir de sua emissão.

ARTIGO DÉCIMO OITAVO

As disposições do presente Regime Geral e as modificações que lhe forem introduzidas não afetarão as mercadorias embarcadas na data de sua adoção.

ARTIGO DÉCIMO NONO

As normas contidas no presente Anexo não se aplicam aos Acordos de Alcance Parcial, de Complementação Econômica nº 1, 2, 13 e 14 nem aos comerciais e agropecuários subscritos no âmbito do Tratado de Montevidéu 1980, os quais se regerão exclusivamente pelas disposições neles estabelecidas.

ANEXO III

Solução de Controvérsias

1. As Controvérsias que possam surgir entre os Estados Partes como conseqüência da aplicação do Tratado serão resolvidas mediante negociações diretas.

No caso de não lograrem uma solução, os Estados Partes submeterão a controvérsia à consideração do Grupo Mercado Comum que, após avaliar a situação, formulará no lapso de sessenta (60) dias as recomendações pertinentes às Partes para a solução do diferendo. Para tal fim, o Grupo Mercado Comum poderá estabelecer ou convocar painéis de especialistas ou grupos de peritos com o objetivo de contar com assessoramento técnico.

Se no âmbito do Grupo Mercado Comum tampouco for alcançada uma solução, a controvérsia será elevada ao Conselho do Mercado Comum para que este adote as recomendações pertinentes.

2. Dentro de cento e vinte (120) dias a partir da entrada em vigor do Tratado, o Grupo Mercado Comum elevará aos Governos dos Estados Partes uma proposta de Sistema de Solução de Controvérsias, que vigerá durante o período de transição.

3. Até em 31 de dezembro de 1994, os Estados Partes adotarão um Sistema Permanente de Solução de controvérsias para o Mercado comum.

ANEXO IV

Cláusulas de Salvaguarda

ARTIGO 1

Cada Estados Partes poderá aplicar, até em 31 de dezembro de 1994, cláusulas de salvaguarda à importação dos produtos que se beneficiem do Programa de Liberação Comercial estabelecido no âmbito do Tratado.

Os Estados Partes acordam que somente deverão recorrer ao presente Regime em casos excepcionais.

ARTIGO 2

136

Se as importações de determinado produto causarem dano ou ameaça de dano grave a seu mercado, como conseqüência de um sensível aumento, em um curto período, das importações desse produto provenientes dos outro Estados Partes, o país importador solicitará ao Grupo Mercado Comum a realização de consultas com vistas a eliminar essa situação.

O pedido do país importador estará acompanhado de uma declaração pormenorizada dos fatos, razões e justificativas do mesmo.

O Grupo Mercado Comum deverá iniciar as consultas no prazo máximo de dez (10) dias corridos a partir da apresentação do pedido do país importador e deverá concluí-las, havendo tomado uma decisão a respeito, dentro de vinte (20) dias corridos após seu início.

ARTIGO 3

A determinação do dano ou ameaça de dano grave no sentido do presente Regime será analisada por cada país, levando em conta a evolução, entre outros, dos seguintes aspectos relacionados com o produto em questão:

a. Nível de produção e capacidade utilizada; b. Nível de emprego; c. Participação no mercado; d. Nível de comércio entre as Partes envolvidas ou participantes de consulta; e. Desempenho das importações e exportações com relação a terceiros países.

Nenhum dos fatores acima mencionados constitui, por si só, um critério decisivo para a determinação do dano ou ameaça de dano grave.

Não serão considerados, na determinação do dano ou ameaça de dano grave, fatores tais como as mudanças tecnológicas ou mudanças nas preferências dos consumidores em favor de produtos similares e/ou diretamente competitivos dentro do mesmo setor.

A aplicação da cláusula de salvaguarda dependerá, em cada país, da aprovação final da seção nacional do Grupo Mercado Comum.

ARTIGO 4

Com o objetivo de não interromper as correntes de comércio que tiverem sido geradas, o país importador negociará uma quota para a importação do produto objeto de salvaguarda, que se regerá pelas mesmas preferências e demais condições estabelecidas no Programa de Liberação Comercial.

A mencionada quota será negociada com o Estado Parte de onde se originam as importações, durante o período de consulta a que se refere o Artigo 2. Vencido o prazo da consulta e não havendo acordo, o país importador que se considerar afetado poderá fixar uma quota, que será mantida pelo prazo de um ano.

Em nenhum caso a quota fixada unilateralmente pelo país importador será menor que a média dos volumes físicos importados nos últimos três anos calendário.

ARTIGO 5

As cláusulas de salvaguarda terão um ano de duração e poderão ser prorrogadas por um novo período anual e consecutivo, aplicando-se-lhes os termos e condições estabelecidas no presente Anexo. Estas medidas apenas poderão ser adotadas uma vez para cada produto.

Em nenhum caso a aplicação de cláusulas de salvaguarda poderá estender-se além de em 31 de dezembro de 1994.

ARTIGO 6

137

A aplicação das cláusulas de salvaguarda não afetará as mercadorias embarcadas na data de sua adoção, as quais serão computadas na quota prevista no Artigo 4.

ARTIGO 7

Durante o período de transição, no caso de algum Estado Parte se considerar afetado por graves dificuldade em suas atividades econômicas, solicitará ao Grupo Mercado Comum a realização de consultas, a fim de que se tomem as medidas corretivas que forem necessárias.

O Grupo Mercado Comum, dentro dos prazos estabelecidos no Artigo 2 do presente Anexo, avaliará a situação e se pronunciará sobre as medidas a serem adotadas, em função das circunstâncias.

ANEXO V

Subgrupos de Trabalho do Grupo Mercado Comum

O Grupo Mercado Comum, para fins de coordenação das políticas macroeconômicas e setoriais, constituirá, no prazo de 30 dias após sua instalação de Trabalho:

Subgrupo 1: Assuntos Comerciais

Subgrupo 2: Assuntos Aduaneiros

Subgrupo 3: Normas Técnicas

Subgrupo 4: Política Fiscal e Monetária Relacionadas com o Comércio

Subgrupo 5: Transporte Terrestre

Subgrupo 6: Transporte Marítimo

Subgrupo 7: Política Industrial e Tecnológica

Subgrupo 8: Política Agrícola

Subgrupo 9: Política Energética

Subgrupo 10: Coordenação de Políticas Macroeconômicas

BRASIL

LISTA DE EXCEÇÕES

03.01.1.01 29.04.1.01 73.40.1.99 84.45.6.02

03.01.1.02 29.04.2.05 73.40.2.01 84.45.6.99

03.01.1.99 29.14.1.01 73.40.2.99 84.45.7.02

03.01.2.01 38.08.1.01 73.40.3.01 84.45.7.99

03.01.2.02 39.07.0.01 73.40.3.99 84.45.9.09

03.01.3.01 39.07.0.03 73.40.9.01 84.45.9.11

03.01.4.01 39.07.0.04 73.40.9.99 84.45.9.21

04.04.1.01 39.07.0.05 84.06.1.01 84.45.9.29

138

04.04.1.99 39.07.0.06 84.06.2.01 84.45.9.91

04.04.2.99 39.07.0.07 84.06.3.01 84.45.9.92

04.04.3.01 39.07.0.08 84.06.3.99 84.45.9.93

04.04.3.99 39.07.0.99 84.06.4.99 84.45.9.94

04.04.4.02 40.08.0.01 84.06.5.01 84.45.9.95

04.04.9.01 40.08.0.99 84.06.5.99 84.45.9.99

04.04.9.99 40.09.0.01 84.06.8.01 84.47.1.01

07.01.0.04 53.11.0.01 84.06.8.11 84.47.1.02

07.01.0.05 53.11.0.02 84.34.1.01 84.47.1.03

07.01.0.07 53.11.0.03 84.45.1.99 84.47.1.04

08.07.0.04 53.11.0.04 84.45.2.01 84.46.1.99

16.04.0.01 53.11.0.99 84.45.2.99 84.47.2.01

20.06.1.05 70.04.1.02 84.45.3.01 84.47.2.02

20.06.2.05 70.04.9.02 84.45.3.02 84.47.2.99

22.05.1.01 70.05.1.01 84.45.3.99 84.47.3.01

22.05.1.02 70.05.1.02 84.45.4.01 84.47.3.02

22.05.1.11 70.05.9.02 84.45.4.02 84.47.3.03

22.05.1.19 70.06.1.01 84.45.4.03 84.47.3.99

24.02.1.01 70.06.1.02 84.45.4.04 84.47.4.01

24.02.1.03 70.06.9.01 84,45.4.99 84.47.4.99

24.02.1.04 70.06.9.02 84.45.5.01 84.47.5.01

24.02.1.99 70.18.0.99 84.45.5.02 84.47.5.99

24.02.2.01 70.19.0.01 84.45.5.03 84.47.6.01

28.03.0.01 70.19.0.99 84.45.5.99 84.47.6.02

28.40.1.02 73.40.1.01 84.45.6.01 84.47.6.99

84.47.9.01 84.59.7.01 87.02.1.99 90.28.1.01

84.47.9.02 84.59.7.02 87.02.2.01 90.28.1.09

84.47.9.99 84.59.7.03 87.02.2.99 90.28.1.99

84.48.1.01 84.59.7.04 87.02.3.01 90.28.2.01

84.48.1.02 84.59.7.99 87.02.3.99 90.28.2.99

84.48.1.03 84.59.8.01 87.02.9.01 90.28.3.01

84.48.1.99 84.59.8.99 87.02.9.99 90.28.3.09

84.48.2.01 84.59.9.01 87.03.0.01 90,28.3.99

84.48.3.01 84.59.9.02 87.03.0.99 90.28.4.01

84.48.3.02 84.59.9.99 87.04.1.01 90.28.4.99

84.51.2.01 84.61.1.01 87.04.1.99 90.28.5.01

84.52.1.03 84.61.1.99 87.04.9.01 90.28.5.09

84.52.3.99 84.61.8.01 87.04.9.99 90.28.5.99

84.53.0.01 84.61.9.01 87.05.0.01 90.28.6.01

84.53.0.02 84.61.9.02 87.05.0.03 90.28.6.09

139

84.53.0.03 84.61.9.03 87.06.0.01 90.28.6.99

84.53.0.04 84.61.9.99 87.06.0.03 90.28.7.01

84.53.0.05 85.05.0.01 90.07.1.02 90.28.7.09

84.53.0.99 85.13.1.03 90.07.1.03 90.28.7.99

84.59.1.01 85.13.1.99 90.07.1.04 90.28.8.01

84.59.2.01 85.13.2.03 90.07.1.05 90.28.8.99

84.59.2.02 85.15.1.09 90.07.2.01 90.28.9.02

84.59.2.03 85.15.1.19 90.07.2.99 90.28.9.03

84.59.2.99 85.15.1.29 90.07.8.01 90.28.9.04

84.59.3.01 85.19.3.99 90.17.1.01 90.28.9.05

84.59.3.02 85.19.4.01 90.17.1.99 90.28.9.09

84.59.3.03 85.19.4.99 90.17.2.01 90.28.9.91

84.59.3.99 85.21.2.01 90.17.2.02 90.28.9.92

84.59.4.01 85.21.4.99 90.17.2.99 90.28.9.93

84.59.5.01 85.21.5.01 90.17.9.02 90.28.9.99

84.59.5.99 85.21.6.01 90.17.9.99 92.12.0.06

84.59.6.01 87.02.1.01 90.20.1.01

PROTOCOLO DE OURO PRETO

PROTOCOLO ADICIONAL AO TRATADO DE ASSUNÇÃO SOBRE A ESTRUTURA INSTITUCIONAL DO MERCOSUL

(Ouro Preto, 17/12/1994)

A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominadas "Estados Partes",

Em cumprimento ao disposto no artigo 18 do Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991;

Conscientes da importância dos avanços alcançados e da implementação da união aduaneira como etapa para a construção do mercado comum;

Reafirmando os princípios e objetivos do Tratado de Assunção e atentos para a necessidade de uma consideração especial para países e regiões menos desenvolvidos do Mercosul;

Atentos para a dinâmica implícita em todo processo de integração e para a conseqüente necessidade de adaptar a estrutura institucional do Mercosul às mudanças ocorridas;

Reconhecendo o destacado trabalho desenvolvido pelos órgãos existentes durante o período de transição,

140

Acordam:

Capítulo I

Estrutura do Mercosul

Artigo 1º

A estrutura institucional do Mercosul contará com os seguintes órgãos:

I. O Conselho do Mercado Comum (CMC);

II. O Grupo Mercado Comum (GMC);

III. A Comissão de Comércio do Mercosul (CCM);

IV. A Comissão Parlamentar Conjunta (CPC);

V. O Foro Consultivo Econômico-Social (FCES);

VI. A Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM).

Parágrafo único - Poderão ser criados, nos termos do presente Protocolo, os órgãos auxiliares que se fizerem necessários à consecução dos objetivos do processo de integração.

Artigo 2º

São órgãos com capacidade decisória, de natureza intergovernamental, o Conselho do Mercado Comum, o Grupo Mercado Comum e a Comissão de Comércio do Mercosul.

Seção I

Do Conselho do Mercado Comum

Artigo 3º

O Conselho do Mercado Comum é o órgão superior do Mercosul ao qual incumbe a condução política do processo de integração e a tomada de decisões para assegurar o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Tratado de Assunção e para lograr a constituição final do mercado comum.

Artigo 4

O Conselho do Mercado Comum será integrado pelos Ministros das Relações Exteriores; e pelos Ministros da Economia, ou seus equivalentes, dos Estados Partes.

Artigo 5º

A Presidência do Conselho do Mercado Comum será exercida por rotação dos Estados Partes, em ordem alfabética, pelo período de seis meses.

Artigo 6º

141

O Conselho do Mercado Comum reunir-se-á quantas vezes estime oportuno, devendo fazê-lo pelo menos uma vez por semestre com a participação dos Presidentes dos Estados Partes.

Artigo 7º

As reuniões do Conselho do Mercado Comum serão coordenadas pelos Ministérios das Relações Exteriores e poderão ser convidados a delas participar outros Ministros ou autoridades de nível ministerial.

Artigo 8º

São funções e atribuições do Conselho do Mercado Comum:

I. Velar pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos e dos acordos firmados em seu âmbito;

II. Formular políticas e promover as ações necessárias à conformação do mercado comum;

III. Exercer a titularidade da personalidade jurídica do Mercosul.

IV. Negociar e firmar acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de países e organizações internacionais. Estas funções podem ser delegadas ao Grupo Mercado Comum por mandato expresso, nas condições estipuladas no inciso VII do artigo 14;

V. Manifestar-se sobre as propostas que lhe sejam elevadas pelo Grupo Mercado Comum;

VI. Criar reuniões de ministros e pronunciar-se sobre os acordos que lhe sejam remetidos pelas mesmas;

VII. Criar os órgãos que estime pertinentes, assim como modificá-los ou extingui-los;

VIII. Esclarecer, quando estime necessário, o conteúdo e o alcance de suas Decisões;

IX. Designar o Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul.

X. Adotar Decisões em matéria financeira e orçamentária;

XI. Homologar o Regimento Interno do Grupo Mercado Comum;

Artigo 9º

O Conselho do Mercado Comum manifestar-se-á mediante Decisões, as quais serão obrigatórias para os Estados Partes.

Seção II

Do Grupo Mercado Comum

Artigo 10

O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo do Mercosul.

Artigo 11

142

O Grupo Mercado Comum será integrado por quatro membros titulares e quatro membros alternos por país, designados pelos respectivos Governos, dentre os quais devem constar necessariamente representantes dos Ministérios das Relações Exteriores, dos Ministérios da Economia (ou equivalentes) e dos Bancos Centrais.

O Grupo Mercado Comum será coordenado pelos Ministérios das Relações Exteriores.

Artigo 12

Ao elaborar e propor medidas concretas no desenvolvimento de seus trabalhos, o Grupo Mercado Comum poderá convocar, quando julgar conveniente, representantes de outros órgãos da Administração Pública ou da estrutura institucional do Mercosul.

Artigo 13

O Grupo Mercado Comum reunir-se-á de forma ordinária ou extraordinária, quantas vezes se fizerem necessárias, nas condições estipuladas por seu Regimento Interno.

Artigo 14

São funções e atribuições do Grupo Mercado Comum:

I. Velar, nos limites de suas competências, pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus Protocolos e dos acordos firmados em seu âmbito;

II. Propor projetos de Decisão ao Conselho do Mercado Comum;

III. Tomar as medidas necessárias ao cumprimento das Decisões adotadas pelo Conselho do Mercado Comum;

IV. Fixar programas de trabalho que assegurem avanços para o estabelecimento do mercado comum;

V. Criar, modificar ou extinguir órgãos tais como subgrupos de trabalho e reuniões especializadas, para o cumprimento de seus objetivos;

VI. Manifestar-se sobre as propostas ou recomendações que lhe forem submetidas pelos demais órgãos do Mercosul no âmbito de suas competências;

VII. Negociar, com a participação de representantes de todos os Estados Partes, por delegação expressa do Conselho do Mercado Comum e dentro dos limites estabelecidos em mandatos específicos concedidos para esse fim, acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de países e organismos internacionais.

O Grupo Mercado Comum, quando dispuser de mandato para tal fim, procederá à assinatura dos mencionados acordos. O Grupo Mercado Comum, quando autorizado pelo Conselho do Mercado Comum, poderá delegar os referidos poderes à Comissão de Comércio do Mercosul;

VIII. Aprovar o orçamento e a prestação de contas anual apresentada pela Secretaria Administrativa do Mercosul;

IX. Adotar Resoluções em matéria financeira e orçamentária, com base nas orientações emanadas do Conselho do Mercado Comum;

X. Submeter ao Conselho do Mercado Comum seu Regimento Interno;

143

XI. Organizar as reuniões do Conselho do Mercado Comum e preparar os relatórios e estudos que este lhe solicitar.

XII. Eleger o Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul;

XIII. Supervisionar as atividades da Secretaria Administrativa do Mercosul;

XIV. Homologar os Regimentos Internos da Comissão de Comércio e do Foro Consultivo Econômico-Social;

Artigo 15

O Grupo Mercado Comum manifestar-se-á mediante Resoluções, as quais serão obrigatórias para os Estados Partes.

Seção III

Da Comissão de Comércio do Mercosul

Artigo 16

À Comissão de Comércio do Mercosul, órgão encarregado de assistir o Grupo Mercado Comum, compete velar pela aplicação dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos Estados Partes para o funcionamento da união aduaneira, bem como acompanhar e revisar os temas e matérias relacionados com as políticas comerciais comuns, com o comércio intra-Mercosul e com terceiros países.

Artigo 17

A Comissão de Comércio do Mercosul será integrada por quatro membros titulares e quatro membros alternos por Estado Parte e será coordenada pelos Ministérios das Relações Exteriores.

Artigo 18

A Comissão de Comércio do Mercosul reunir-se-á pelo menos uma vez por mês ou sempre que solicitado pelo Grupo Mercado Comum ou por qualquer dos Estados Partes.

Artigo 19

São funções e atribuições da Comissão de Comércio do Mercosul:

I. Velar pela aplicação dos instrumentos comuns de política comercial intra-Mercosul e com terceiros países, organismos internacionais e acordos de comércio;

II. Considerar e pronunciar-se sobre as solicitações apresentadas pelos Estados Partes com respeito à aplicação e ao cumprimento da tarifa externa comum e dos demais instrumentos de política comercial comum;

III. Acompanhar a aplicação dos instrumentos de política comercial comum nos Estados Partes;

IV. Analisar a evolução dos instrumentos de política comercial comum para o funcionamento da união aduaneira e formular Propostas a respeito ao Grupo Mercado Comum;

144

V. Tomar as decisões vinculadas à administração e à aplicação da tarifa externa comum e dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos Estados Partes;

VI. Informar ao Grupo Mercado Comum sobre a evolução e a aplicação dos instrumentos de política comercial comum, sobre o trâmite das solicitações recebidas e sobre as decisões adotadas a respeito delas;

VII. Propor ao Grupo Mercado Comum novas normas ou modificações às normas existentes referentes à matéria comercial e aduaneira do Mercosul;

VIII. Propor a revisão das alíquotas tarifárias de itens específicos da tarifa externa comum, inclusive para contemplar casos referentes a novas atividades produtivas no âmbito do Mercosul;

IX. Estabelecer os comitês técnicos necessários ao adequado cumprimento de suas funções, bem como dirigir e supervisionar as atividades dos mesmos;

X. Desempenhar as tarefas vinculadas à política comercial comum que lhe solicite o Grupo Mercado Comum;

XI. Adotar o Regimento Interno, que submeterá ao Grupo Mercado Comum para sua homologação.

Artigo 20

A Comissão de Comércio do Mercosul manifestar-se-á mediante Diretrizes ou Propostas. As Diretrizes serão obrigatórias para os Estados Partes.

Artigo 21

Além das funções e atribuições estabelecidas nos artigos 16 e 19 do presente Protocolo, caberá à Comissão de Comércio do Mercosul considerar reclamações apresentadas pelas Seções Nacionais da Comissão de Comércio do Mercosul, originadas pelos Estados Partes ou em demandas de particulares - pessoas físicas ou jurídicas -, relacionadas com as situações previstas nos artigos 1 ou 25 do Protocolo de Brasília, quando estiverem em sua área de competência.

Parágrafo primeiro - O exame das referidas reclamações no âmbito da Comissão de Comércio do Mercosul não obstará a ação do Estado Parte que efetuou a reclamação ao amparo do Protocolo de Brasília para Solução de Controvérsias.

Parágrafo segundo - As reclamações originadas nos casos estabelecidos no presente artigo obedecerão o procedimento previsto no Anexo deste Protocolo.

Seção IV

Da Comissão Parlamentar Conjunta

Artigo 22

A Comissão Parlamentar Conjunta é o órgão representativo dos Parlamentos dos Estados Partes no âmbito do Mercosul.

Artigo 23

145

A Comissão Parlamentar Conjunta será integrada por igual número de parlamentares representantes dos Estados Partes.

Artigo 24

Os integrantes da Comissão Parlamentar Conjunta serão designados pelos respectivos Parlamentos nacionais, de acordo com seus procedimentos internos.

Artigo 25

A Comissão Parlamentar Conjunta procurará acelerar os procedimentos internos correspondentes nos Estados Partes para a pronta entrada em vigor das normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo. Da mesma forma, coadjuvará na harmonização de legislações, tal como requerido pelo avanço do processo de integração. Quando necessário, o Conselho do Mercado Comum solicitará à Comissão Parlamentar Conjunta o exame de temas prioritários.

Artigo 26

A Comissão Parlamentar Conjunta encaminhará, por intermédio do Grupo Mercado Comum, Recomendações ao Conselho do Mercado Comum.

Artigo 27

A Comissão Parlamentar Conjunta adotará o seu Regimento Interno.

Seção V

Do Foro Consultivo Econômico-Social

Artigo 28

O Foro Consultivo Econômico-Social é o órgão de representação dos setores econômicos e sociais e será integrado por igual número de representantes de cada Estado Parte.

Artigo 29

O Foro Consultivo Econômico-Social terá função consultiva e manifestar-se-á mediante Recomendações ao Grupo Mercado Comum.

Artigo 30

O Foro Consultivo Econômico-Social submeterá seu Regimento Interno ao Grupo Mercado Comum, para homologação.

Seção VI

Da Secretaria Administrativa do Mercosul

Artigo 31

O Mercosul contará com uma Secretaria Administrativa como órgão de apoio operacional. A Secretaria Administrativa do Mercosul será responsável pela prestação de serviços aos demais órgãos do Mercosul e terá sede permanente na cidade de Montevidéu.

Artigo 32

146

A Secretaria Administrativa do Mercosul desempenhará as seguintes atividades:

I. Servir como arquivo oficial da documentação do Mercosul;

II. Realizar a publicação e a difusão das decisões adotadas no âmbito do Mercosul. Nesse contexto, lhe corresponderá:

i) Realizar, em coordenação com os Estados Partes, as traduções autênticas para os idiomas espanhol e português de todas as decisões adotadas pelos órgãos da estrutura institucional do Mercosul, conforme previsto no artigo 39.

ii) Editar o Boletim Oficial do Mercosul.

III. Organizar os aspectos logísticos das reuniões do Conselho do Mercado Comum, do Grupo Mercado Comum e da Comissão de Comércio do Mercosul e, dentro de suas possibilidades, dos demais órgãos do Mercosul, quando as mesmas forem realizadas em sua sede permanente. No que se refere às reuniões realizadas fora de sua sede permanente, a Secretaria Administrativa do Mercosul fornecerá apoio ao Estado que sediar o evento.

IV. Informar regularmente os Estados Partes sobre as medidas implementadas por cada país para incorporar em seu ordenamento jurídico as normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo.

V. Registrar as listas nacionais dos árbitros e especialistas, bem como desempenhar outras tarefas determinadas pelo Protocolo de Brasília, de 17 de dezembro de 1991;

VI. Desempenhar as tarefas que lhe sejam solicitadas pelo Conselho do Mercado Comum, pelo Grupo Mercado Comum e pela Comissão do Comércio do Mercosul;

VII. Elaborar seu projeto de orçamento e, uma vez aprovado pelo Grupo Mercado Comum, praticar todos os atos necessários à sua correta execução;

VIII. Apresentar anualmente ao Grupo Mercado Comum a sua prestação de contas, bem como relatório sobre suas atividades;

Artigo 33

A Secretaria Administrativa do Mercosul estará a cargo de um Diretor, o qual será nacional de um dos Estados Partes. Será eleito pelo Grupo Mercado Comum, em bases rotativas, prévia consulta aos Estados Partes, e designado pelo Conselho do Mercado Comum. Terá mandato de dois anos, vedada a reeleição.

Capítulo II

Personalidade Jurídica

Artigo 34

O Mercosul terá personalidade jurídica de Direito Internacional.

Artigo 35

O Mercosul poderá, no uso de suas atribuições, praticar todos os atos necessários à realização de seus objetivos, em especial contratar, adquirir ou alienar bens móveis e imóveis, comparecer em juízo, conservar fundos e fazer transferências.

147

Artigo 36

O Mercosul celebrará acordos de sede.

Capítulo III

Sistema de Tomada de Decisões

Artigo 37

As decisões dos órgãos do Mercosul serão tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados Partes.

Capítulo IV

Aplicação Interna das Normas Emanadas dos Órgãos do Mercosul.

Artigo 38

Os Estados Partes comprometem-se a adotar todas as medidas necessárias para assegurar, em seus respectivos territórios, o cumprimento das normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no artigo 2 deste Protocolo.

Parágrafo único - Os Estados Partes informarão à Secretaria Administrativa do Mercosul as medidas adotadas para esse fim.

Artigo 39

Serão publicados no Boletim Oficial do Mercosul, em sua íntegra, nos idiomas espanhol e português, o teor das Decisões do Conselho do Mercado Comum, das Resoluções do Grupo Mercado Comum, das Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul e dos Laudos Arbitrais de solução de controvérsias, bem como de quaisquer atos aos quais o Conselho do Mercado Comum ou o Grupo Mercado Comum entendam necessário atribuir publicidade oficial.

Artigo 40

A fim de garantir a vigência simultânea nos Estados Partes das normas emanadas dos orgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo, deverá ser observado o seguinte procedimento:

i) Uma vez aprovada a norma, os Estados Partes adotarão as medidas necessárias para a sua incorporação ao ordenamento jurídico nacional e comunicarão as mesmas à Secretaria Administrativa do Mercosul;

ii) Quando todos os Estados Partes tiverem informado sua incorporação aos respectivos ordenamentos jurídicos internos, a Secretaria Administrativa do Mercosul comunicará o fato a cada Estado Parte;

iii) As normas entrarão em vigor simultaneamente nos Estados Partes 30 dias após a data da comunicação efetuada pela Secretaria Administrativa do Mercosul, nos termos do item anterior. Com esse objetivo, os Estados Partes, dentro do prazo acima, darão publicidade do início da vigência das referidas normas por intermédio de seus respectivos diários oficiais.

Capítulo V

Fontes Jurídicas do Mercosul

148

Artigo 41

As fontes jurídicas do Mercosul são:

I. O Tratado de Assunção, seus protocolos e os instrumentos adicionais ou complementares;

II. Os acordos celebrados no âmbito do Tratado de Assunção e seus protocolos;

III. As Decisões do Conselho do Mercado Comum, as Resoluções do Grupo Mercado Comum e as Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul, adotadas desde a entrada em vigor do Tratado de Assunção.

Artigo 42

As normas emanadas dos órgãos do Mercosul previstos no Artigo 2 deste Protocolo terão caráter obrigatório e deverão, quando necessário, ser incorporadas aos ordenamentos jurídicos nacionais mediante os procedimentos previstos pela legislação de cada país.

Capítulo VI

Sistema de Solução de Controvérsias

Artigo 43

As controvérsias que surgirem entre os Estados Partes sobre a interpretação, a aplicação ou o não cumprimento das disposições contidas no Tratado de Assunção, dos acordos celebrados no âmbito do mesmo, bem como das Decisões do Conselho do Mercado Comum, das Resoluções do Grupo Mercado Comum e das Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul, serão submetidas aos procedimentos de solução estabelecidos no Protocolo de Brasília, de 17 de dezembro de 1991.

Parágrafo único - Ficam também incorporadas aos Artigos 19 e 25 do Protocolo de Brasília as Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul.

Artigo 44

Antes de culminar o processo de convergência da tarifa externa comum, os Estados Partes efetuarão uma revisão do atual sistema de solução de controvérsias do Mercosul, com vistas à adoção do sistema permanente a que se referem o item 3 do Anexo III do Tratado de Assunção e o artigo 34 do Protocolo de Brasília.

Capítulo VII

Orçamento

Artigo 45

A Secretaria Administrativa do Mercosul contará com orçamento para cobrir seus gastos de funcionamento e aqueles que determine o Grupo Mercado Comum. Tal orçamento será financiado, em partes iguais, por contribuições dos Estados Partes.

Capítulo VIII

Idiomas

Artigo 46

149

Os idiomas oficiais do Mercosul são o espanhol e o português. A versão oficial dos documentos de trabalho será a do idioma do país sede de cada reunião.

Capítulo IX

Revisão

Artigo 47

Os Estados Partes convocarão, quando julgarem oportuno, conferência diplomática com o objetivo de revisar a estrutura institucional do Mercosul estabelecida pelo presente Protocolo, assim como as atribuições específicas de cada um de seus órgãos.

Capítulo X

Vigência

Artigo 48

O presente Protocolo, parte integrante do Tratado de Assunção, terá duração indefinida e entrará em vigor 30 dias após a data do depósito do terceiro instrumento de ratificação. O presente Protocolo e seus instrumentos de ratificação serão depositados ante o Governo da República do Paraguai.

Artigo 49

O Governo da República do Paraguai notificará aos Governos dos demais Estados Partes a data do depósito dos instrumentos de ratificação e da entrada em vigor do presente Protocolo.

Artigo 50

Em matéria de adesão ou denúncia, regerão como um todo, para o presente Protocolo, as normas estabelecidas pelo Tratado de Assunção. A adesão ou denúncia ao Tratado de Assunção ou ao presente Protocolo significam, ipso iure, a adesão ou denúncia ao presente Protocolo e ao Tratado de Assunção.

Capítulo XI

Disposição Transitória

Artigo 51

A estrutura institucional prevista no Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991, assim como seus órgãos, será mantida até a data de entrada em vigor do presente Protocolo.

Capítulo XII

Disposições Gerais

Artigo 52

O presente Protocolo chamar-se-á "Protocolo de Ouro Preto".

Artigo 53

150

Ficam revogadas todas as disposições do Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991, que conflitem com os termos do presente Protocolo e com o teor das Decisões aprovadas pelo Conselho do Mercado Comum durante o período de transição.

Feito na cidade de Ouro Preto, República Federativa do Brasil, aos dezessete dias do mês de dezembro de mil novecentos e noventa e quatro, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os textos igualmente autênticos. O Governo da República do Paraguai enviará cópia devidamente autenticada do presente Protocolo aos Governos dos demais Estados Partes.

ANEXO

PROCEDIMENTO GERAL PARA RECLAMAÇÕES PERANTE A COMISSÃO DE COMÉRCIO DO MERCOSUL

Artigo 1

As reclamações apresentadas pelas Seções Nacionais da Comissão de Comércio do Mercosul, originadas pelos Estados Partes ou em reclamações de particulares - pessoas físicas ou jurídicas -, de acordo com o previsto no Artigo 21 do Protocolo de Ouro Preto, observarão o procedimento estabelecido no presente Anexo.

Artigo 2

O Estado Parte reclamante apresentará sua reclamação perante a Presidência Pro-Tempore da Comissão de Comércio do Mercosul, a qual tomará as providências necessárias para a incorporação do tema na agenda da primeira reunião subseqüente da Comissão de Comércio do Mercosul, respeitado o prazo mínimo de uma semana de antecedência. Se não for adotada decisão na referida reunião, a Comissão de Comércio do Mercosul remeterá os antecedentes, sem outro procedimento, a um Comitê Técnico.

Artigo 3

O Comitê Técnico preparará e encaminhará à Comissão de Comércio do Mercosul, no prazo máximo de 30 dias corridos, um parecer conjunto sobre a matéria. Esse parecer, bem como as conclusões dos especialistas integrantes do Comitê Técnico, quando não for adotado parecer, serão levados em consideração pela Comissão de Comércio do Mercosul, quando esta decidir sobre a reclamação.

Artigo 4

A Comissão de Comércio do Mercosul decidirá sobre a questão em sua primeira reunião ordinária posterior ao recebimento do parecer conjunto ou, na sua ausência, as conclusões dos especialistas, podendo também ser convocada uma reunião extraordinária com essa finalidade.

Artigo 5

Se não for alcançado o consenso na primeira reunião mencionada no Artigo 4, a Comissão de Comércio do Mercosul encaminhará ao Grupo Mercado Comum as diferentes alternativas propostas, assim como o parecer conjunto ou as conclusões dos especialistas do Comitê Técnico, a fim de que seja tomada uma decisão sobre a matéria. O Grupo Mercado Comum pronunciar-se-á a respeito no prazo de trinta (30) dias corridos, contados do recebimento, pela Presidência Pro-Tempore, das propostas encaminhadas pela Comissão de Comércio do Mercosul.

151

Artigo 6

Se houver consenso quanto à procedência da reclamação, o Estado Parte reclamado deverá tomar as medidas aprovadas na Comissão de Comércio do Mercosul ou no Grupo Mercado Comum. Em cada caso, a Comissão de Comércio do Mercosul ou, posteriormente, o Grupo Mercado Comum determinarão prazo razoável para a implementação dessas medidas. Decorrido tal prazo sem que o Estado reclamado tenha observado o disposto na decisão alcançada, seja na Comissão de Comércio do Mercosul ou no Grupo Mercado Comum, o Estado reclamante poderá recorrer diretamente ao procedimento previsto no Capítulo IV do Protocolo de Brasília.

Artigo 7

Se não for alcançado consenso na Comissão de Comércio do Mercosul e, posteriormente, no Grupo Mercado Comum, ou se o Estado reclamado não observar, no prazo previsto no Artigo 6, o disposto na decisão alcançada, o Estado reclamante poderá recorrer diretamente ao procedimento previsto no Capítulo IV do Protocolo de Brasília, fato que será comunicado à Secretaria Administrativa do Mercosul.

O Tribunal Arbitral, antes da emissão de seu Laudo, deverá, se assim solicitar o Estado reclamante, manifestar-se, no prazo de até quinze (15) dias após sua constituição, sobre as medidas provisórias que considere apropriadas, nas condições estipuladas pelo Artigo 18 do Protocolo de Brasília.

PROTOCOLO DE BRASÍLIA PARA A SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

(MERCOSUL/CMC/DEC. N .1/1991)

A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental doUruguai, doravante denominados "Estados Partes";Em cumprimento ao disposto no Artigo 3 e no Anexo III do Tratado de Assunção, firmado em 26 de marçode 1991, em virtude do qual os Estados Partes se comprometeram a adotar um Sistema de Solução deControvérsias que vigorará durante o período de transição;RECONHECENDOa importância de dispor de um instrumento eficaz para assegurar o cumprimento do mencionado Tratado edas disposições que dele derivem;CONVENCIDOSde que o Sistema de Solução de Controvérsias contido no presente Protocolo contribuirá para ofortalecimento das relações entre as Partes com base na justiça e na eqüidade;CONVIERAM NO SEGUINTE:

CAPÍTULO I - ÂMBITO DE APLICAÇÃO

Artigo 1

152

As controvérsias que surgirem entre os Estados Partes sobre a interpretação, a aplicação ou o não cumprimento das disposições contidas no Tratado de Assunção, dos acordos celebrados no âmbito do mesmo, bem como das decisões do Conselho do Mercado Comum e das Resoluções do Grupo MercadoComum, serão submetidas aos procedimentos de solução estabelecidos no presente Protocolo.

CAPÍTULO II - NEGOCIAÇÕES DIRETAS

Artigo 2

Os Estados Partes numa controvérsia procurarão resolvê-la, antes de tudo, mediante negociações diretas.

Artigo 3

1. Os Estados Partes numa controvérsia informarão o Grupo Mercado Comum, por intermédio da SecretariaAdministrativa, sobre as gestões que se realizarem durante as negociações e os resultados das mesmas.

2. As negociações diretas não poderão, salvo acordo entre as partes, exceder um prazo de quinze (15) dias,a partir da data em que um dos Estados Partes levantar a controvérsia.

CAPÍTULO III - INTERVENÇÃO DO GRUPO MERCADO COMUM

Artigo 4

1. Se mediante negociações diretas não se alcançar um acordo ou se a controvérsia for solucionada apenas parcialmente, qualquer dos Estados Partes na controvérsia poderá submetê-la à consideração do Grupo Mercado Comum.2. O Grupo Mercado Comum avaliará a situação, dando oportunidade às partes na controvérsia para que exponham suas respectivas posições e requerendo, quando considere necessário, o assessoramento de especialistas selecionados da lista referida no Artigo 30 do presente Protocolo.

3. As despesas relativas a esse assessoramento serão custeadas em montantes iguais pelos Estados Partes na controvérsia ou na proporção que o Grupo Mercado Comum determinar.

Artigo 5

Ao término deste procedimento o Grupo Mercado Comum formulará recomendações aos Estados Partes na controvérsia, visando à solução do diferendo.

Artigo 6

O procedimento descrito no presente capítulo não poderá estender-se por um prazo superior a trinta (30) dias, a partir da data em que foi submetida a controvérsia à consideração do Grupo Mercado Comum.

CAPÍTULO IV - PROCEDIMENTO ARBITRAL

Artigo 7

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1. Quando não tiver sido possível solucionar a controvérsia mediante a aplicação dos procedimentos referidos nos capítulos II e III, qualquer dos Estados Partes na controvérsia poderá comunicar à Secretaria Administrativa sua intenção de recorrer ao procedimento arbitral que se estabelece no presente Protocolo.

2. A Secretaria Administrativa levará, de imediato, o comunicado ao conhecimento do outro ou dos outros Estados envolvidos na controvérsia e ao Grupo Mercado Comum e se encarregará da tramitação do procedimento.

Artigo 8

Os Estados Partes declaram que reconhecem como obrigatória, ipso facto e sem necessidade de acordo especial, a jurisdição do Tribunal Arbitral que em cada caso se constitua para conhecer e resolver todas as controvérsias a que se refere o presente Protocolo.

Artigo 9

1. O procedimento arbitral tramitará ante um Tribunal ad hoc composto de três (3) árbitros pertencentes à lista referida no Artigo 10.

2. Os árbitros serão designados da seguinte maneira:

i) cada Estado parte na controvérsia designará um (1) árbitro. O terceiro árbitro, que não poderá sernacional dos Estados Partes na controvérsia, será designado de comum acordo por eles e presidirá o Tribunal Arbitral. Os árbitros deverão ser nomeados no período de quinze (15) dias, a partir da data em que a Secretaria Administrativa tiver comunicado aos demais Estados Partes na controvérsia a intenção de um deles de recorrer à arbitragem;

ii) cada Estado parte na controvérsia nomeará, ainda, um árbitro suplente, que reúna os mesmos requisitos, para substituir o árbitro titular em caso de incapacidade ou excusa deste para formar o Tribunal Arbitral, seja no momento de sua instalação ou no curso do procedimento. Artigo 10

Cada Estado Parte designará dez (10) árbitros que integrarão uma lista que ficará registrada na Secretaria Administrativa. A lista, bem como suas sucessivas modificações, será comunicada aos Estados Partes.

Artigo 11

Se um dos Estados Partes na controvérsia não tiver nomeado seu árbitro no período indicado no Artigo 9, este será designado pela Secretaria Administrativa dentre os árbitros desse Estado, segundo a ordem estabelecida na lista respectiva.

Artigo 12

1) Se não houver acordo entre os Estados Partes na controvérsia para escolher o terceiro árbitro no prazo estabelecido no Artigo 9, a Secretaria Administrativa, a pedido de qualquer deles, procederá a sua designação por sorteio de uma lista de dezesseis (16) árbitros elaborada pelo Grupo Mercado Comum.

2) A referida lista, que também ficará registrada na Secretaria Administrativa, estará integrada em partes iguais por nacionais dos Estados Partes e por nacionais de terceiros países.

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Artigo 13

Os árbitros que integrem as listas a que fazem referência os artigos 10 e 12 deverão ser juristas de reconhecida competência nas matérias que possam ser objeto de controvérsia.

Artigo 14

Se dois ou mais Estados Partes sustentarem a mesma posição na controvérsia, unificarão suarepresentação ante o Tribunal Arbitral e designarão um árbitro de comum acordo no prazo estabelecido no Artigo 9.2.i).

Artigo 15

O Tribunal Arbitral fixará em cada caso sua sede em algum dos Estados Partes e adotará suas próprias regras de procedimento. Tais regras garantirão que cada uma das partes na controvérsia tenha plena oportunidade de ser escutada e de apresentar suas provas e argumentos, e também assegurarão que os processos se realizem de forma expedita.

Artigo 16

Os Estados Partes na controvérsia informarão o Tribunal Arbitral sobre as instâncias cumpridasanteriormente ao procedimento arbitral e farão uma breve exposição dos fundamentos de fato ou de direito de suas respectivas posições.

Artigo 17

Os Estados Partes na controvérsia designarão seus representantes ante o Tribunal Arbitral e poderão ainda designar assessores para a defesa de seus direitos.

Artigo 18

1. O Tribunal Arbitral poderá, por solicitação da parte interessada e na medida em que existam presunções fundadas de que a manutenção da situação venha a ocasionar danos graves e irreparáveis a uma das partes, ditar as medidas provisionais que considere apropriadas, segundo as circunstâncias e nas condições que o próprio Tribunal estabelecer, para prevenir tais danos.

2. As partes na controvérsia cumprirão, imediatamente ou no prazo que o Tribunal Arbitral determinar, qualquer medida provisional, até que se dite o laudo a que se refere o Artigo 20.

Artigo 19

1. O Tribunal Arbitral decidirá a controvérsia com base nas disposições do Tratado de Assunção, nos acordos celebrados no âmbito do mesmo, nas decisões do Conselho do Mercado Comum, nas Resoluções do Grupo Mercado Comum, bem como nos princípios e disposições de direito internacional aplicáveis na matéria.

2. A presente disposição não restringe a faculdade do Tribunal Arbitral de decidir uma controvérsia ex aquo et bono, se as partes assim o convierem.

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Artigo 20

1. O Tribunal Arbitral se pronunciará por escrito num prazo de sessenta (60) dias, prorrogáveis por um prazo máximo de trinta (30) dias, a partir da designação de seu Presidente.

2. O laudo do Tribunal Arbitral será adotado por maioria, fundamentado e firmado pelo Presidente e pelos demais árbitros. Os membros do Tribunal Arbitral não poderão fundamentar votos dissidentes e deverão manter a votação confidencial.

Artigo 21

1. Os laudos do Tribunal Arbitral são inapeláveis, obrigatórios para os Estados Partes na controvérsia a partir do recebimento da respectiva notificação e terão relativamente a eles força de coisa julgada.

2. Os laudos deverão ser cumpridos em um prazo de quinze (15) dias, a menos que o Tribunal Arbitral fixe outro prazo.

Artigo 22

1. Qualquer dos Estados Partes na controvérsia poderá, dentro de quinze (15) dias da notificação do laudo, solicitar um esclarecimento do mesmo ou uma interpretação sobre a forma com que deverá cumprir-se.

2. O Tribunal Arbitral disto se desincumbirá nos quinze (15) dias subsequentes.

3. Se o Tribunal Arbitral considerar que as circunstâncias o exigirem, poderá suspender o cumprimento do laudo até que decida sobre a solicitação apresentada.

Artigo 23

Se um Estado Parte não cumprir o laudo do Tribunal Arbitral, no prazo de trinta (30) dias, os outros Estados Partes na controvérsia poderão adotar medidas compensatórias temporárias, tais como a suspensão de concessões ou outras equivalentes, visando a obter seu cumprimento.

Artigo 24

1. Cada Estado parte na controvérsia custeará as despesas ocasionadas pela atividade do árbitro por ele nomeado.

2. O Presidente do Tribunal Arbitral receberá uma compensação pecuniária, a qual, juntamente com as demais despesas do Tribunal Arbitral, serão custeadas em montantes iguais pelos Estados Partes na controvérsia, a menos que o Tribunal decida distribuí-los em proporção distinta.

CAPÍTULO V - RECLAMAÇÕES DE PARTICULARES

Artigo 25

O procedimento estabelecido no presente capítulo aplicar-se-á às reclamações efetuadas por particulares (pessoas físicas ou jurídicas) em razão da sanção ou aplicação, por qualquer dos Estados Partes, de medidas legais ou administrativas de efeito restritivo, discriminatórias ou de concorrência desleal, em violação do Tratado de Assunção, dos acordos celebrados no âmbito

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do mesmo, das decisões do Conselho do Mercado Comum ou das Resoluções do Grupo Mercado Comum.

Artigo 26

1. Os particulares afetados formalizarão as reclamações ante a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Estado Parte onde tenham sua residência habitual ou a sede de seus negócios.

2. Os particulares deverão fornecer elementos que permitam à referida Seção Nacional determinar a veracidade da violação e a existência ou ameaça de um prejuízo.

Artigo 27

A menos que a reclamação se refira a uma questão que tenha motivado o início de um procedimento de Solução de Controvérsias consoante os capítulos II, III e IV deste Protocolo, a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum que tenha admitido a reclamação conforme o Artigo 26 do presente capítulo poderá, em consulta com o particular afetado:

a) Entabular contatos diretos com a Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Estado Parte a que se atribui a violação a fim de buscar, mediante consultas, uma solução imediata à questão levantada; ou

b) Elevar a reclamação sem mais exame ao Grupo Mercado Comum.

Artigo 28

Se a questão não tiver sido resolvida no prazo de quinze (15) dias a partir da comunicação da reclamação conforme o previsto no Artigo 27 a), a Seção Nacional que efetuou a comunicação poderá, por solicitação do particular afetado, elevá-la sem mais exame ao Grupo Mercado Comum.

Artigo 29

1. Recebida a reclamação, o Grupo Mercado Comum, na primeira reunião subsequente ao seurecebimento, avaliará os fundamentos sobre os quais se baseou sua admissão pela Seção Nacional. Se concluir que não estão reunidos os requisitos necessários para dar-lhe curso, recusará a reclamação sem mais exame.2. Se o Grupo Mercado Comum não rejeitar a reclamação, procederá de imediato à convocação de um grupo de especialistas que deverá emitir um parecer sobre sua procedência no prazo improrrogável de trinta (30) dias, a partir da sua designação.

3. Nesse prazo, o grupo de especialistas dará oportunidade ao particular reclamante e ao Estado contra o qual se efetuou a reclamação de serem escutados e de apresentarem seus argumentos.

Artigo 30

1. O grupo de especialistas a que faz referência o Artigo 29 será composto de três (3) membros designados pelo Grupo Mercado Comum ou, na falta de acordo sobre um ou mais especialistas, estes serão eleitos dentre os integrantes de uma lista de vinte e quatro (24) especialistas por votação que os Estados Partes realizarão. A Secretaria Administrativa comunicará ao Grupo Mercado Comum o nome do especialista ou dos especialistas que tiverem recebido o maior número de votos. Neste último caso, e salvo se o GrupoMercado Comum decidir de outra maneira, um dos especialistas designados não poderá ser nacional do Estado contra o qual foi formulada a reclamação, nem do Estado no qual o particular formalizou sua reclamação, nos termos do Artigo 26.

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2. Com o fim de constituir a lista dos especialistas, cada um dos Estados Partes designará seis (6) pessoas de reconhecida competência nas questões que possam ser objeto de controvérsia. Esta lista ficará registrada na Secretaria Administrativa.

Artigo 31

As despesas derivadas da atuação do grupo de especialistas serão custeadas na proporção que determinar o Grupo Mercado Comum ou, na falta de acordo, em montantes iguais pelas partes diretamente envolvidas.

Artigo 32

O grupo de especialistas elevará seu parecer ao Grupo Mercado Comum. Se nesse parecer se verificar a procedência da reclamação formulada contra um Estado Parte, qualquer outro Estado Parte poderá requerer-lhe a adoção de medidas corretivas ou a anulação das medidas questionadas.Se seu requerimento não prosperar num prazo de quinze (15) dias, o Estado Parte que o efetuou poderá recorrer diretamente ao procedimento arbitral, nas condições estabelecidas no Capítulo IV do presente Protocolo.

CAPÍTULO VI - DISPOSIÇÕES FINAIS

Artigo 33

O presente Protocolo, parte integrante do Tratado de Assunção, entrará em vigor uma vez que os quatro Estados Partes tiverem depositado os respectivos instrumentos de ratificação. Tais instrumentos serão depositados junto ao Governo da República do Paraguai que comunicará a data de depósito aos Governos dos demais Estados Partes.

Artigo 34

O presente Protocolo permanecerá vigente até que entre em vigor o Sistema Permanente de Solução de Controvérsias para o Mercado Comum a que se refere o número 3 do Anexo III do Tratado de Assunção.

Artigo 35

A adesão por parte de um Estado ao Tratado de Assunção implicará ipso jure a adesão ao presente Protocolo.

Artigo 36

Serão idiomas oficiais em todos os procedimentos previstos no presente Protocolo o português e o espanhol, segundo resultar aplicável.

Feito na cidade de Brasília aos dezessete dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e um, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos textos igualmente autênticos. O Governo da República do Paraguai será o depositário do presente

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Protocolo e enviará cópia devidamente autenticada do mesmo aos Governos dos demais Estados Partes.

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA ARGENTINACARLOS SAUL MENEMGUIDO DI TELLA

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASILFERNANDO COLLORFRANCISCO REZEK

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA DO PARAGUAIANDRES RODRÍGUEZALEXIS FRUTOS VAESKENPELO GOVERNO DA REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAILUIS ALBERTO LACALLE HERRERAHECTOR GROS ESPIELL

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