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MENSAGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS ABRIL | 2016 DIRETAMENTE DA HORTA PARA O CONSUMIDOR pág. 4 EUTANáSIA, MORTE DIGNA? pág. 8 APOSTOLADO DA ORAÇÃO: A REDE DE ORAÇÃO DO PAPA

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MENSAGEIRODO CORAÇÃO DE JESUS

ABRIL | 2016

Diretamente Da horta para o consumiDor

pág. 4

eutanásia, morte Digna?pág. 8

ApOStOlADO DA ORAÇÃO: A REDE DE ORAÇÃO DO pApA

abril 2016 // ano cXLi n.º 4

Diretorantónio Valério, s.j.

Administraçãorua s. Barnabé, 32, 4710-309 Braga (portugal)

Contactos:geral: 253 689 440revistas: 253 689 442Livraria: 253 689 443Fax: 253 689 441e-mail: [email protected]: www.revistamensageiro.pt www.apostoladodaoracao.pt

Direção de arte e produção gráficaFrancisca cardoso

paginaçãoeditorial a.o.

Impressão e acabamentosempresa Diário do minho, Lda. rua de santa margarida, 4, 4710-306 Braga contr. nº 504 443 135

Redação, Edição e propriedadesecretariado nacional do apostolado da oração província portuguesa da companhia de Jesus (pessoa coletiva religiosa – n.i.F. 500 825 343)

Depósito legal 11.762/86ISSN 0874-4955Isento de Registo na ERC, ao abrigo do Decre to Regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12º, nº 1 atiragem: 9.000 exemplares

assinatura para 2016

portugal(incluindo as regiões autónomas): 14,00€

portugal (2 anos): 27,00€Europa: 20,00€ 25,00 Fr. suíçosFora da Europa: 26,00€ 40,00 usD 40,00 caDpreço por exemplar: 1,30€

atenDimento ao pÚBLico

Horário: 9h-12h30 / 14h30-19h

pagar por transferência bancária: De portugal: iBan – pt50 – 0033 0000 0000 5717 13255(millennium.Bcp – Braga);Do estrangeiro: iBan – pt50 – 0033 0000 0000 5717 13255 swift/Bic: BcomptpL (millennium.Bcp – Braga).

MENSAGEIRODO CORAÇÃO DE JESUS

Agradecemos o envio do comprovativo da transferência bancária (data, valor, titular da conta e número de assinante).

Pedidos: Secretariado Nacional do A.O. | Rua de S. Barnabé, 32, 4710-309 Braga mail: [email protected]; tel: 253 689 443 | www.livraria.apostoladodaoracao.ptEnvio feito mediante pagamento prévio

Novidades

pack KHAlIl GIbRANO pROFEtA + O VAGAbUNDO + O lOUCO

steLLa morrapAlAVRAS Em REDOR DO pOÇO

um dos nomes grandes da cultura cristã no Líbano

a fé cristã na idade do pluralismo das crenças

Novidades

preço: portugal: 16,14€; europa: 19,44€; Fora da europa: 20,68€.

preço: portugal: 10,50€; europa: 12,57€; Fora da europa: 12,57€.

abril 2016 | 3

Ou encarar ou desistir

todo este mês de abril é tempo pascal, o tempo da alegria e da esperança. a Quaresma conduziu-nos por um caminho de preparação e purificação inte-rior, para acolher a grande notícia da ressurreição. a páscoa, como passagem que é, interpela-nos a assumi-la como estilo de vida e como perspetiva sobre o mundo e as nossas relações.

porque a ressurreição não ignora a cruz, também cada um de nós traz na sua vida esta mesma contra-dição. Dor e esperança, tristeza e alegria, desânimo e confiança. considerar a vida humana nas suas luzes e sombras é um exercício de confronto com a nossa verdade frágil, limitada, mas olhada, amada e acompanhada por Jesus, que viveu toda a nossa condição, até ao extremo.

SumárioaBertura - ou encarar ou desistirp. antónio Valério, s.j. ................................................................ 1

intenções Do papa org: antónio coelho, s.j. ............................................................ 2

DestaQue Diretamente da horta para o consumidor cláudia pereira .................................................................................... 4

tirar a BíBLia Da estante - Para ler S. Lucasreconhecer o encontromiguel gonçalves Ferreira, s.j. .................................................. 7

informar - eutanásia, morte digna?Vasco pinto de magalhães s.j. ..................................................8

ano Da misericórDia«Dar pousada aos peregrinos»alexandre dos santos mendes, s.j. ........................................10

FOtOS: págs. 4-6: Francisca cardoso; págs. 10-11: © Lusa / epa / maurizio Brambatti; pág. 28: © Lusa / epa / alessandro Di meo e ulises ruiz Basurto; pág. 31: Direitos reservados; arquivo a.o.

P. António Valério, s.j.

opinião - não sei o que mais me comoveisabel Figueiredo ....................................................................... 12

Dossier - servir a igreja e a humanidade na vida quotidianasecretariado nacional do ao ..................................................13

crescer com Jesuseduca o que sentesDomingas Brito e José maria Brito, s.j. ................................... 21

esQuema De reunião e De oração De grupo manuel morujão, s.j. .................................................................22

LiVraria ....................................................................................24

notícias elisabete carvalho .....................................................................25

mãos À oBra... reconciliar e incluir através da arteelisabete carvalho .....................................................................30

o tempo pascal é, por isso, o tempo que nos iden-tifica como cristãos. não é real, bem o sabemos, assumir que a alegria de viver se dá sem cruz. essa é uma alegria superficial, que deixa de parte muito do que somos e vivemos. pelo contrário, a alegria pascal a que somos chamados é a que nasce da doação de si, mesmo quando nos sentimos inca-pazes. cada desafio presente constitui-se como apelo, como reação confiante. a cruz será sempre o lugar da entrega de tudo, para se deixar morrer e ressuscitar por cristo, com ele, sempre com ele. assim, a morte (nas suas muitas formas) nunca será vista como uma desistência, mas como uma experiência de íntima proximidade e realização da nossa vocação de filhos amados de Deus.

aBertura

4 | Mensageiro

INtENÇÃO pElA EVANGElIzAÇÃO para Que as FamíLias, De moDo

particuLar as Que soFrem,

encontrem no nascimento De Jesus

um sinaL De esperança segura.

INtENÇÃO UNIVERSAl para Que os peQuenos agricuLtores receBam a Justa compensação peLo seu precioso traBaLho.

INtENÇÃO pElA EVANGElIzAÇÃOpara Que os cristãos De áFrica Deem testemunho Do amor e Da Fé em Jesus cristo no meio Dos conFLitos poLítico-reLigiosos.

intenções Do papa

abril 2016 | 5

a igreja no vosso país esteve com o povo tanto antes como depois da independência. estes anos foram de imenso sofrimento, nos quais milhões de pessoas deixaram o país com frustração e deses-pero, e nos quais muitas perderam a vida e muitas lágrimas foram derramadas. no exercício do vosso ministério profético oferecestes uma voz firme a todas as pessoas em dificuldade no vosso país, espe-cialmente aos oprimidos e refugiados.

penso em especial na vossa carta pastoral de 2007. (...). nessa carta mostrastes que a crise é espiritual e ao mesmo tempo moral, estendendo-se desde os tempos coloniais até ao presente, e como «as estru-turas de pecado» introduzidas na ordem social estão em última instância radicadas no pecado pessoal, exigindo de todos uma profunda conversão e um sentido moral renovado iluminado pelo evangelho.

os cristãos estão presentes em todos os âmbitos do conflito no Zimbabué e, por isso, exorto-vos a guiar a todos com grande ternura para a unidade e cura dos males. trata-se de um povo tanto de negros como de brancos, alguns ricos, mas a grande

maioria pobres, de numerosas tribos. os seguidores de cristo pertencem a todos os partidos políticos, alguns em lugares de autoridade, muitos não. mas juntos, como único povo peregrino de Deus, preci-sam de conversão e de «cura», para chegarem a ser um só corpo e um só espírito em cristo (cf. Ef 4, 4). Que através da pregação e obras de apostolado, as vossas igrejas locais possam mostrar que a recon-ciliação não é um ato isolado, mas um processo no qual cada um se vê restabelecido no amor, um amor que cura pela ação da palavra de Deus.

não nos esqueçamos nunca da ressurreição: num campo arrasado volta a aparecer a vida obstinada e invencível. pode haver muitas dificuldades, mas o bem tende a voltar a aparecer e a difundir-se. cada dia renasce a beleza no mundo que ressuscita, transformado através das tormentas da história.

para que continue a ser possível dar emprego, é imperioso promover uma economia que favoreça a diversidade e criatividade empresarial. por exemplo, há uma grande variedade de sistemas alimentares rurais de pequena escala que continuam a alimen-tar a maioria da população mundial, utilizando uma pequena porção de território e de água, e produzindo menos resíduos, quer em pequenas parcelas agríco-las, hortas, quer na caça e colheita de frutos silves-tres ou na pesca artesanal. as economias de larga escala, especialmente no setor agrícola, acabam por obrigar os pequenos agricultores a vender as suas terras ou a abandonar as suas formas tradicionais de cultivo.

os esforços de alguns para avançarem noutras formas de produção mais diversificadas acabam por ser inúteis, devido à dificuldade em aceder aos mercados regionais e globais, ou porque as infraes-truturas de venda e transporte estão ao serviço das grandes empresas. as autoridades têm o direito e a

Salário justo para os pequenos agricultores

Testemunho dos cristãos em África

responsabilidade de adotar medidas de apoio firme aos pequenas agricultores e à variedade produtiva.

para que haja uma liberdade económica da qual todos beneficiem, é necessário por vezes pôr limites àqueles que têm maiores recursos e poder finan-ceiro. uma liberdade económica só de palavras, mas em que as condições reais impedem que muitos possam aceder a ela e onde se discrimina o acesso ao trabalho, transforma-se num discurso que desonra a política. a atividade empresarial, que é uma nobre vocação para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região onde instala os seus empreen-dimentos, sobretudo se tem em conta que a criação de postos de trabalho é parte indispensável do seu serviço ao bem comum.

Org.: AntóniO COELhO, S.j.

Papa Francisco Carta encíclica Laudato Si’, n. 129

Papa Francisco Discurso aos Bispos do Zimbabué,

em visita “ad limina apostolorum”2 de junho de 2014

6 | Mensageiro

DestaQue

Doze produtores, duzentos consumidores, mil e 500 quilos de produtos hortofrutícolas comercializados semanalmente. Estes são alguns números que descre-vem o trabalho do Prove – “Promover e Vender” na região do Cávado. O Projeto visa contribuir para o escoamento de produtos locais, fomentando as relações de proximidade entre quem produz e quem consome, estabelecendo circuitos curtos de comercialização entre pequenos produtores agrícolas e consumidores. Para os agricultores, esta é uma forma de receber uma compensação justa pelo seu trabalho.

paulo pereira, técnico do prove no cávado, explica que o projeto nasceu para «tentar resolver o problema do escoamento dos produtos dos peque-nos produtores. nestes últimos anos tem-se acen-tuado cada vez mais o domínio das grandes super-fícies e os pequenos produtores estavam a desistir ou produziam praticamente para consumo próprio. para alguns a agricultura passou a ser um part-time. Já não era uma atividade principal. com o prove, já conseguimos que alguns façam disto a sua ativi-dade principal».

a maior parte dos produtores associados ao prove comercializava o que tirava da terra em merca-dos municipais, nas feiras e a um ou outro cliente particular, a quem vendia diretamente. pelo menos um produtor trabalhava com médias e grandes superfícies, queixando-se que não recebia a justa

retribuição por aquilo que entregava. «com o prove é diferente, porque a venda ao

consumidor final é direta. os consumidores sabem valorizar os produtos e o cabaz prove tem um preço muito acessível».

Desta forma, quem compra os cabazes, todas as semanas ou quinzenalmente, fica «a conhecer a origem dos produtos. sabe de onde é que eles vêm. conhece o próprio agricultor. pode inclusivamente – e muitos fazem isso – conversar com os agricul-tores e dizer “para a semana quero mais um boca-dinho disto...”. há esta flexibilidade. pode ajustar o cabaz à sua forma de consumir, aos seus hábitos de consumo», explica o técnico.

o prove nasceu, a nível nacional, em 2004. atualmente, em todo o país existem mais de cem núcleos, espalhados por vários distritos. nalguns casos, os núcleos estão sediados em empresas, sendo o acesso aos cabazes limitado aos colabo-radores dessas entidades. o núcleo do cávado foi criado em 2012.

as pessoas interessadas em obter mais informa-ções sobre o prove podem aceder à página do face-book (www.facebook.com/projectoprove) ou visitar o site do projeto (www.prove.com.pt), onde também é possível formalizar a inscrição num dos núcleos existentes.

«prove» ajuda a valorizar o trabalho agrícola

por: Cláudia Pereira

Diretamente da horta para o consumidor

abril 2016 | 7

Realização pessoal de quem trabalha a terra

Lurdes Dias, 48 anos, produtora de godinhaços, concelho de Vila Verde (distrito de Braga), sempre esteve ligada ao trabalho do campo, uma atividade que desenvolve com gosto. «Quando quero aliviar o stress, venho para aqui trabalhar». Foi empre-sária agrícola e, enquanto tal, chegou a ter quatro estufas. «mas não resultava. Vendia os produtos no mercado, em Braga. havia dias em que chegava lá e vendia quase tudo; outros dias trazia o produto quase todo embora. era muito difícil».

nessa ocasião, a produtora sentia alguma explora-ção por parte de quem lhe comprava o que tirava da terra. seja entregando os produtos em supermerca-dos ou a pessoas que vendiam no mercado, acon-tecia entregar o produto a determinado preço e, na altura de receber, «só pagavam metade do que ajus-tavam. e houve um caso em que acabei por desistir por não receber», explica.

passado algum tempo, surgiu o convite por parte da associação de Desenvolvimento das terras altas do homem, cávado e ave – atahca para ajudar a implementar o prove na região. Lurdes aceitou o desafio e gostou. «tive que recuperar a estufa, que

estava velha. tive que meter um plástico novo. agora tenho plantado mais um bocadinho».

integrando um núcleo prove, Lurdes Dias sente que agora não existe exploração relativamente ao seu trabalho. «o que levo, praticamente entrego tudo».

também paulo antunes, de paredes secas, con-celho de amares (distrito de Braga), sempre esteve ligado à agricultura. apesar das dificuldades, gosta daquilo que faz e de trabalhar em contacto direto com a natureza. «gosto de ver as coisas a crescer», afirma com satisfação o produtor, de 44 anos.

antes de aderir ao prove, «vendia no mercado e para supermercados. Vendia conforme podia... e se pudesse vender». paulo antunes sente que havia alguma exploração, em termos daquilo que recebia, sobretudo quando levava os produtos diretamente às cooperativas. «nas feiras, há 20 ou 20 e tal anos, fazíamos muito dinheiro. agora isso acabou-se. a vender diretamente ainda se vendia mais ou menos».

o convite para integrar o prove surgiu na sequên-cia do contacto com Lurdes Dias e paulo pereira. paulo antunes, que já tinha várias estufas, aceitou o desafio e nem precisou de fazer grande investi-mento em termos de estrutura de produção. «o que tinha é o que tenho», refere.

Lurdes Dias

8 | Mensageiro

apesar de estar mais satisfeito, sente que fazia falta receber um pouco mais por aquilo que vende. «mas também se vamos estar a explorar os clien-tes, eles acham que queremos tudo. Fazia falta mais um bocadinho. mas se não vier, vamos assim, que já está mais ou menos».

Produção amiga do ambiente

produzir com técnicas amigas do ambiente, respei-tando as boas práticas agrícolas, é uma das regras do prove. esta é uma garantia de qualidade para quem compra, asseguram os produtores e respon-sáveis do projeto.

paulo pereira explica que os produtores pratica-mente não aplicam químicos. geralmente são feitas adubações orgânicas e desenvolvidas práticas tradi-cionais. Quando há um caso ou outro de infestação, são usados alguns produtos, «mas cumprindo todas as regras de segurança».

paulo antunes explica que os poucos químicos apli-cados são utilizados com «muito cuidado», respei-tando todos os prazos necessários, «que é o que às vezes não se faz nas grandes explorações».

segundo paulo pereira, já há dois produtores em modo de produção biológica. «gostávamos de ter todos, mas para já não é possível. é um processo relativamente caro». a qualidade está assegurada, até porque os agricultores acabam por produzir como se fosse para eles próprios.

Dado o modo de produção associado ao prove, os consumidores sabem que os produtos que vêm nos cabazes «são produtos da época. é o que há naquela altura nas hortas. se a pessoa quer um determinado produto tem que aguardar pela época dele».

um dos aspetos que caracteriza o “promover e Vender” é a relação próxima entre produtores e consumidores, que se estabelece na entrega dos cabazes. este contacto direto produtor/consumidor é também uma forma de aqueles que consomem valorizarem mais o trabalho do campo. «temos provas disso. há pessoas que vão comprar só para estar a ajudar os agricultores locais», adianta Lurdes Dias. «até temos muitas conversas com eles. acho que eles estão contentes e nós também estamos contentes com eles».

segundo paulo pereira, os novos clientes que vão surgindo resultam muito do testemunho de quem já é cliente prove, que acaba por divulgar a existên-cia e comercialização dos cabazes junto de familia-res, amigos e pessoas conhecidas.

PauloAntunes

abril 2016 | 9

Reconhecer o encontroMiguel gonçalves Ferreira, s.j.

a ressurreição de Jesus é a grande notícia dos quatro evangelhos e cada um deles conta à sua maneira uma história que tem traços comuns: a surpresa do sepulcro vazio, as perguntas miste-riosas dos anjos, o encontro com Jesus ressusci-tado, a missão evangelizadora dada aos discípulos. o núcleo central destas narrativas é o reconhe-cimento de ter encontrado o senhor que o pai ressuscitou, tornando-o vencedor da morte e do pecado. no capítulo 24 do evangelho de s. Lucas, estes acontecimentos decorrem durante um longo dia que culmina com a ascensão do senhor, nova-mente descrita no primeiro capítulo dos atos dos apóstolos. neste dia simbólico há um episódio que se destaca: o encontro com os dois discípulos a caminho de emaús (24, 13-35).

o caminho de emaús resume a pedagogia dos encontros de Jesus com cada um de nós. também nos nossos dilemas e encruzilhadas o senhor se aproxima, pondo-se connosco a caminho, estando os nossos olhos impedidos de o reconhecer (15-16). esta presença, mais do que dar respostas, suscita as interrogações que nos obrigam a olhar de novo para o que nos acontece (18-24). o senhor quer que saibamos reconhecer o que nos acontece, pois é na realidade concreta que ele manifesta a sua presença e o seu poder, muitas vezes através de um «abanão» pedagógico: «ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anun-ciaram!» (25). com este choque, prepara-nos para a necessária releitura da nossa história que, à sua luz, se transforma em história de salvação (27). na estrada de emaús, como na nossa, o senhor deixa--se convidar, entra em nossa casa e põe-se à mesa

(29-30). ele faz da nossa mesa o seu altar. aí toma o seu e nosso pão, o abençoa, parte e dá. é neste momento que se abrem os olhos dos discípulos e eles reconhecem Jesus (31), pois na eucaristia o senhor se deixa verdadeiramente reconhecer. não é aí que tantas vezes o temos encontrado? então a alegria é tão forte e autêntica que se transforma espontaneamente em missão (33): é preciso anun-ciar que o senhor está vivo (35)!

neste último capítulo do evangelho de Lucas, a visão é o sentido que mais conduz ao reconheci-mento do encontro com o senhor. os discípulos começam por não ver (12, 24), a seguir veem mas não reconhecem (16), depois reconhecem-no mas deixam de o ver (31), finalmente veem mas ainda não acreditam (41), concluindo o evangelho com os discípulos a bendizer alegremente a Deus, apesar de na ascensão Jesus ter sido «subtraído a seus olhos» (Atos 1, 9). há então um caminho a percorrer, que começa com os olhos do corpo e se encaminha para os olhos da alma e da fé. nos momentos chave (vv. 16 e 31), o verbo utilizado para a palavra «reconhe-cer» é «epignosko». é o mesmo verbo que Lucas utiliza logo no primeiro capítulo do seu evangelho, quando garante a teófilo que tudo investigou com as teste-munhas oculares (1, 2), «a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído» (1, 4). o evangelho nada mais pretende do que ajudar-nos a experimentar um sólido encontro com o senhor vivo e fonte de vida, na peregrinação das nossas vidas concretas. Que neste tempo de páscoa possamos ver e reconhecer o senhor que caminha connosco. isto nos levará a voltar para a nossa Jerusalém quoti-diana «com grande alegria» (24, 52)!

tirar a BíBLia Da estantePArA LEr S. LuCAS

10 | Mensageiro

gostava de perceber o que se entende por digni-dade. para os defensores da eutanásia, esse tem sido um argumento. mas dá vontade de pergun-tar: uma pessoa sofrida, em grande sofrimento, por uma doença ou situação «sem cura», perde a dignidade? a mãe a fazer o luto de um filho, por exemplo, ou um deficiente profundo, um doente «terminal» ou o papa João paulo ii tremendo e babando-se nos seus últimos tempos tornaram-se indignos? não seria melhor «ajudá-los a morrer» ou, talvez, «matá-los piedosamente»? a resposta que me dão é que «faz muita impressão», que «não há direito de deixar ali a sofrer», que «a sua vida já só é um peso para si mesmo e para os outros», que «a sua vida acabou», «que sentido tem?»; e por isso mais vale acabar mesmo… e nós ajudamos; claro… se for esse o seu desejo pedido com liberdade.

Vale a pena comentar e responder a estas questões.

1- então, a dignidade da morte viria de esta ser a pedido, consciente e livre! mas… todos sabemos que a liberdade é sempre condicionada e, de modo espe-cial, ainda mais, no grande sofrimento ou na euforia. Um mínimo de psicologia e de entendimento da linguagem sabe que não se pode tomar à letra o que se ouve ou se lê. Quantas vezes atendo pessoas que mais ou menos com insistência me dizem «não aguento mais», «não sei o que ando cá a fazer», «isto não faz qualquer sentido», «quero morrer, ajude- -me», etc. então começa a conversa, respeitando essa dor. conte-me a história toda, vamos ver por onde entra essa imensa solidão ou essa revolta, essa culpabilidade ou experiência de desamor insu-portável… vamos falar dessa infelicidade, desse medo aterrador, desse sentimento de exclusão… e, tirando alguns casos de suicidas obsessivos, sempre

Vasco Pinto de Magalhães, s.j.

Eutanásia, morte digna?

se encontra algum caminho, uma janela, que ajuda a ver a luz (lá ao fundo), a descobrir uma aceitação possível. é preciso tempo, paciência e acolhimento para que a pessoa se comece a sentir amada ou, pelo menos, a admitir que pode ser reconhecido o seu valor. tomo muito a sério a pessoa que pede a morte, mas devo perguntar-me: quer morrer ou está a dizer-nos outra coisa? Quer que aquele sofri-mento morra, certamente. mas a morte pela euta-násia não mata o sofrimento, mata a pessoa! aliás, o que a minha experiência diz é que se eu, mais do que entender o seu sofrimento, também lhe mostro que concordo com a eutanásia, o que lhe estou a comunicar é: «realmente, mais um que acha que eu já não sirvo para nada».

2- A desfiguração e o sofrimento psíquico ou físico não tiram dignidade à pessoa: esta, por maior que seja a limitação, não deixa de ser pessoa, sempre digna de ser respeitada e amada. o que é indigno na pessoa é a mentira, a corrupção, a inveja, a prepo-tência e a soberba que exclui e escraviza. a eutaná-sia também não resolve essas doenças morais, nem dá espaço para que sejam repensadas e superadas, eventualmente, com o acompanhamento, com o perdão e o paliativo necessário. se, em vez de acom-panhar a pessoa, para lhe dar dignidade, a mato, não só não a compreendi como a «coisifiquei». Diz-se: faço-o por pena, para que não sofra! mas bem dizia o prof. Daniel serrão: «a morte por compaixão é a morte da compaixão». na verdade, o que acaba ali é a relação e o cuidado com o outro; e, por um ato não médico, alivia-se a tensão: resolve-se, sim, o problema de quem acompanha e já não sabe lidar com ele. uma subtil tentação, nem sempre percetí-vel, sob a capa de parecer que é um agir «pro vida».

informar

abril 2016 | 11

3- a morte a pedido manifesta a autonomia da pessoa e daí a sua dignidade? pode parecer, mas vejo aí uma confusão entre autossuficiência e auto-nomia. autonomia significa que se tem uma «lei própria» e se tem consciência dela e se é coerente com ela, com todos os seus condicionamentos. a pessoa vai-se tornando cada vez mais autónoma na medida em que se vai tornando cada vez mais moralmente livre. e a liberdade, que é uma apren-dizagem difícil, é a capacidade de gerir os seus condicionamentos e escolher o bem maior; isto é, decidir-se pelo que é mais humano e mais nos humaniza como seres sociais. a autossuficiência é não ter que dar contas a ninguém e fazer o que se entende por imaginar que se pode dispor de si e dos outros «como se quiser». não somos autossuficien-tes. a morte a pedido pode não parecer, mas é uma tentação de autossuficiência. escolher matar-se, tal como matar, não é, certamente, escolher o bem maior – com autonomia e liberdade. é mais um grito de socorro. e socorrer deve ser um ato inteligente (o que se passa aqui? Qual é a dor?) e não uma cedên-cia a um impulso ingénuo e «piedoso».

4- Se admitirmos que há um direito a querer morrer (e um direito a que me matem?), isso não implica que alguém, um médico, por exemplo, tenha o dever de o fazer. terá o dever moral de ajudar quem faz tal pedido, na medida das suas possibilidades, mas ninguém pode impor essa obri-gação de matar outro, mesmo que compreenda a sua dor e o seu pedido. se se chegasse a legalizar a eutanásia, devíamos ter claras várias coisas impor-tantes. a primeira, que o que é legal não só não é necessariamente bom, como não é necessariamente legítimo moralmente. a segunda, que os direitos de uns não podem forçar os de outros; além do direito de discordar, tem-se o direito a que se respeite, positivamente, a objeção de consciência. por fim, cada um deveria ter o direito de ter a lista toda dos médicos «eutanasistas». eu não recorreria a um médico que pudesse olhar para mim e pensasse «este já está a mais; não vai longe; a sua vida não é digna!». aliás, nenhum parlamento tem direito a avaliar e legislar sobre a vida. isto é, a determinar que há vidas que se podem descartar ou que não são dignas; mesmo que se diga que é para respeitar a autonomia e a liberdade.

5- A «solução» da eutanásia, no estádio atual da medicina (do acompanhamento psicológico e espiritual, dos cuidados paliativos, das possibili-dades de enquadramento social, etc.), seria uma

saída completamente reacionária e violenta. sim, num estádio anterior de civilização, cultural e socialmente falando, talvez se pudesse entender os defensores da «boa morte» ou até os «abafado-res». mas, hoje, é difícil de aceitar o matar como um bom caminho. é claro que é preciso compreender a dor de quem acompanha a doença prolongada de uma pessoa querida sem ver saídas rápidas e efica-zes. mas os cuidados paliativos também atendem e apoiam o contexto familiar da pessoa em processo terminal, mais ou menos prolongado.

6- há ainda um outro perigo ou tentação. A euta-násia pode dar dinheiro! poupar nos gastos com velhinhos ou deficientes, ter mais facilmente espaço e camas para outros com mais possibilidades e mais ricos, poderia ser um razoável negócio, dentro de uma cultura de morte que elimine quem não é útil, quem não produz ou quem é considerado um peso demasiado. nessa cultura, seriam os próprios infelizes, pobres e feios a pedir a eutanásia, não encontrando lugar num «desejável mundo cosme-ticamente limpinho». os totalitarismos já fizeram essa experiência e não deu resultado. como seria «o admirável mundo novo» dos «eutanasistas»?

7- morte assistida! Todas as mortes devem ser acompanhadas com cuidado, respeito e afeto: não assistidas, como quem vê o espetáculo, mas como quem vive solidário esse momento tão importante de cada vida humana. porquê trocar os nomes à realidade? para enganar quem? se estou a facilitar e dar condições para que alguém se suicide, não é suicídio assistido, é conivência e participação. se estou a «eutanasiar» outra pessoa, ainda que com todo o jeito e preparação, estou a matá-la. mesmo que tenha sido a seu pedido, não é assistência, é ser autor «responsável». Para quê branquear o ato de matar com o título de «morte assistida»? se é preciso perceber o que se quer dizer com «mata- -me!», também é preciso desmascarar o que se quer dizer com «dou assistência à tua morte!»

como é possível que, num mundo cheio de mortes por ideologias fanáticas e doentes, que pretendem um mundo limpo de infiéis, sem dignidade nem lugar, estejamos, nós, a discutir como matar para eliminar o sofrimento! Que atraso civilizacional!

também publicado em:www.observador.pt

12 | Mensageiro

Alexandre dos Santos Mendes, s.j.

Das oBras De misericórDiacorporais

aquando da abertura da porta santa tive um sonho, ou desejei tê-lo. sonhei que assistia, em direto, pela televisão à abertura da porta santa, em roma. o papa Francisco dava assim início ao Jubileu da misericórdia. estava vestido de branco e com sapatos, daqueles de 15 euros. chovia torrencial-mente lá fora e o vento ouvia-se em todas as janelas. pela força da tempestade, a imagem ficou intermi-tente e por vezes pouco nítida. Quando o papa se dirigia para a porta achei estranho o edifício onde se encontrava, não me parecia a Basílica de são pedro nem nenhuma das outras Basílicas conhecidas. com alguma dificuldade, aproximei-me da televisão para ver com mais pormenor, quando tocaram à porta da minha casa. Quem seria? a esta hora? na televisão a imagem tornava-se mais nítida e a campainha tocou uma segunda vez. Quando finalmente pude ver, já sem interferências, a empregada da nossa casa veio comunicar-me:

– «padre paulo, está lá fora o… papa Francisco! traz uma grande multidão».

pela televisão era agora nítida uma imensa mole de gente querendo entrar com sua santidade pela porta santa. À frente iam os pobres de roma, seguidos de algumas altas entidades, e finalmente sua santidade, o papa. corri para a porta perplexo, pois o tempo de antena paga-se caro, e fiquei boquiaberto com esta iniciativa do papa Francisco. Fazer da minha porta a porta santa e convidar-me a dar pousada e indulgên-cia a todo o povo de Deus em minha própria casa!

“Dar pousada aos peregrinos”

rapidamente, o pequeno átrio de entrada encheu--se, cumprimentavam--me e agradeciam-me, pedindo orações e ofere-cendo orações. pediam um copo de água. Finalmente, o papa Francisco entrou, tinha um dos sapatos desapertados, por isso demorou mais algum tempo enquanto o aper-tava. entrou com o seu sorriso habitual, agrade-ceu-me a disponibilidade e deixou-me ficar um conjunto de chaves, de muitas outras portas que ficaria com a missão de abrir ao longo do ano. Quando saiu, sorriu-me e eu sorri-lhe como sinal de cumplicidade e, ainda perplexo, colo-quei as chaves no meu bolso.

acordei estremunhado, agarrando o bolso das calças do pijama. na outra sala, ao lado, ouvia-se a televisão. a Euronews gritava com laivos de sucesso o encerramento das fronteiras na turquia e a declara-ção de segurança no espaço Schengen. estava impos-sibilitada a chegada de imigrantes clandestinos à europa, uma vitória de todos, uma vitória do espí-rito democrático e da união europeia. Do outro lado, ficavam milhares de pessoas gritando, homens e

ano Da misericórDia

abril 2016 | 13

mulheres, crianças e idosos. Fugiam à guerra, fugiam à morte e ao desespero.

Levantei-me e abri a janela. Lá em baixo, o antigo cinema descansava da cerimónia da noite, a rua estava calma. Junto ao muro da minha casa, o «filósofo» regressou a sua casa. um mendigo que ali vive e que, sentado junto do muro, passa todo o tempo a contar uma série de papéis, como se fosse um enorme maço de dólares. recordo-me de lhe ter levado uma refeição, um dia, e como se duvidasse da minha pretensão e da minha cari-dade pagou-me com um dos papéis,

como se me tivesse dado a quantia exata daquela refeição. ainda guardo no quarto aquela «nota». Depois perguntei-me se conhe-ceria esta iniciativa do ano santo, se estava a pensar em entrar pela porta santa, se conhecia o meu sonho do papa Francisco. tive vontade de me abeirar e conversar com ele sobre todas estas coisas e outras que nos pudessem ajudar a ser mais irmãos, de o convidar a entrar na minha porta e a santificá-la com a sua passa-gem. Descobri que o que faz santa a porta não é o facto de a abrir-mos, é o facto de alguém passar por ela, tanto mais santa quanto mais pessoas por ela passam.

gostaria de viver este ano abrindo e sendo porta santa. Quem sabe se algum dia Deus a encrava definitivamente e manda o carpinteiro de nazaré para a recolher e consertar, no seu reino.

14 | Mensageiro

Não sei o que mais me comoveisabel Figueiredo

não sei o que mais me comove. se a convicção pessoal de que Jesus ressuscitou e está entre nós, se a certeza de que pertenço a esta igreja, espa-lhada pelo mundo, jubilosa e sofrida, fiel e pecadora, sempre disposta a dar um horizonte de liberdade a cada crente. e paro muitas vezes a pensar nesta liberdade, tão preciosa e tão real na vida de cada um de nós. há sempre exceções, mas a regra é a da liber-dade. Devo rezar publicamente, mas sei o valor de o fazer de porta fechada. Devo participar na eucaristia, mas não há cadeados nas portas das igrejas. Devo confessar-me, mas fica entregue à minha consciên-cia o tempo e o modo de o fazer. Devo ser fiel ao compromisso sacramental do matrimónio, mas se a minha humanidade o quebrar, a igreja quer que me aconteça um acolhimento cada vez mais verdadeiro. Devo partilhar do que tenho com os mais pobres, mas sou eu que abro a carteira, sou eu que dou do meu tempo.

a esta permanente liberdade, em que jogo a minha vida de crente, junta-se uma certeza funda-mentada. a presença de Jesus, ressuscitado, não se encaixa numa tabela de práticas religiosas. assisto à grandiosidade de uma celebração numa grande Basílica e revejo as imagens de uma cele-bração debaixo de uma árvore africana. Quando tudo é amorosamente cuidado, a beleza é igual, a presença de Jesus, a mesma. oiço com satisfação

a argumentação sólida de um grande teólogo e fico sem palavras perante o testemunho de fé de alguém que não sabe ler nem escrever.

este mistério de um amor revelado na intimi-dade de cada coração, vivido na pluralidade de cada comunidade, assente numa enorme, numa imensa liberdade, comove-me, apaixona-me e obriga-me a uma prudência na crítica do que não entendo, a um distanciamento das polémicas que vão aconte-cendo. chegará o tempo em que tudo se vai tornar claro, límpido, transparente, no face a face com Jesus ressuscitado, senhor da Vida que vence a morte. por agora, encanto-me com a primavera que a todos revela a beleza da eternidade.

ASSIStO à GRANDIOSIDADE DE UmA CElEbRAÇÃO NUmA GRANDE bASílICA E REVEJO AS ImAGENS DE UmA CElEbRAÇÃO DEbAIxO DE UmA áRVORE AFRICANA. QUANDO tUDO é AmOROSAmENtE CUIDADO, A bElEzA é IGUAl, A pRESENÇA DE JESUS, A mESmA.

opinião

abril 2016 | 15

Servir a Igreja e a humanidade

na vida quotidianaSecretariado nacional do AO

MEnSAgEirO | Dossier 15

16 | Mensageiro

o apostolado da oração (ao) é uma ajuda para concretizar, desenvolver e manter uma atitude diária de disponibilidade apostólica, através do oferecimento da própria vida. permite unir a vida quotidiana com a missão que Deus tem para cada um, em docilidade ao seu espírito, pois reconhece que o coração de cada cristão é um terreno fértil para o chamamento e compromisso com a missão de cristo ressuscitado.

as práticas do ao apontam para o cultivo de uma relação pessoal e afetiva com Jesus através da oração, reconhecendo o dom de Deus e expri-mindo o desejo de Lhe responder com generosi-dade. estas práticas, com o seu caráter simples, são acessíveis a todos, independentemente da sua cultura, nível socioeconómico ou experiência reli-giosa, mais ou menos profundamente esclarecida. assim, o apostolado da oração articula eucaristia, igreja e missão de um modo compacto e insepa-rável, tal como estas se dão unidas no coração de Jesus. ensina-nos a fazer da vida eucaristia, a servir a igreja, a entender a vida em chave de missão.

o ao nasceu profundamente unido à missão da igreja e à contemplação dos problemas do mundo, que em pouco tempo se concretizaram na oração pelas intenções da igreja e do papa. orar por estas intenções não se reduz a uma prática privada e íntima, mas põe-nos em comunhão com muitos outros em todo o mundo e questiona o nosso próprio estilo de vida, convidando-nos a ajustarmo--nos melhor ao evangelho e a trabalhar pela justiça do reino. orar com o ao compromete-nos a atuar segundo aquilo por que se está a rezar.

o apostolado da oração apresenta-se, hoje, de modo mais explícito, como a rede mundial de oração do papa, capaz de congregar pessoas em dezenas de países para se unirem em oração pelos desafios da humanidade e a missão da igreja expres-sos nas intenções do santo padre. nas páginas seguintes pode conhecer os vários modos como esta rede mundial o ajuda a ser, cada dia, um apóstolo da oração na vida quotidiana.

Oferecer a vida em disponibilidade apostólica

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Oferecer a vida em disponibilidade apostólicaO Apostolado da Oração

em duas ideias

com uma história de 170 anos, atravessando circunstâncias muito diferentes, presente em 83 países de culturas e línguas muito diversas, dirigido a todos os cristãos, independentemente da sua idade, formação ou estrato social, como se pode definir o que é o apostolado da oração?

o ao não é um movimento laical, para alguns, mas um caminho transversal proposto a qualquer cristão. tendo, porém, o ao assumido, ao longo da sua história, uma série de elementos mais devocionais, herdando uma espiritualidade própria de um tempo, como é que hoje se pode mostrar aquilo que são as suas linhas identitárias?

o ao pode ser apresentado a partir de duas ideias-chave:

Uma Rede Mundial de Oração

sendo o ao o principal destinatário das intenções que o santo padre confia a todos os cristãos, aquele apresenta-se como uma rede mundial de oração, espalhada por todo o mundo, que procura unir a sua oração a compromissos concretos que vão na linha das intenções. pode-se fazer parte desta rede mundial de muitos modos, pessoalmente ou em grupo, em celebrações comu-nitárias, na internet e redes sociais digitais, etc.

Disponibilidade Apostólica

o ao é um caminho espiritual quotidiano que leva a uma atitude de disponibilidade apostólica, isto é, dispor-se interiormente a realizar a vontade de Deus no dia a dia. tem por base uma relação de intimidade com Jesus ressuscitado, simbolizada na devoção ao coração de Jesus, apaixonando-se por ele e pela sua missão. esta intimidade, que gera a disponibilidade, alimenta-se na oração pessoal, através de um ritmo quotidiano simples, mas profundo.

estas duas ideias-chave aliam constantemente o caminho inte-rior com a prática exterior, ou seja, a oração que leva à intimidade com Jesus leva também à dimensão apostólica da fé, nas circuns-tâncias de cada um. Do mesmo modo, o rezar pelas intenções do papa deve levar também, em cada mês, a um compromisso relacionado com o tema das intenções, fazendo da oração algo concreto na vida do dia a dia.

18 | Mensageiro

o percurso espiritual do apostolado da oração quer levar aquele que o faz a criar e desenvolver uma espi-ritualidade quotidiana, muito próxima da vida. esta espiritualidade leva a uma atitude de disponibilidade interior a realizar a vontade de Deus no dia a dia. é a disponibilidade própria dos apóstolos, tocados pelo amor de Jesus e desejosos de o seguir sempre e em cada momento, com simplicidade e radicalidade. nada está fora, na nossa vida, da força e da alegria do evangelho que Deus quer que se concretize na nossa vida.

para isso, são propostos três momentos de oração, simples e breves, em três momentos ao longo do dia, que ajudam a pôr em prática esta atitude de disponibilidade apostólica.

Pela manhã, começar o dia com um olhar agradecido sobre o dom da vida e sobre o mundo, pedindo a Deus a graça de estar disponível para fazer aquilo que ele for pedindo ao longo da jornada e oferecendo o dia, com tudo o que vier a acontecer, unido às intenções do santo padre para esse mês.

Durante o dia, cada pessoa é convidada a fazer um momento de paragem, mais ou menos longo, em que renova, diante de Deus, o seu compromisso de disponibilidade assumido pela manhã, para não deixar «adormecer» a paixão do seguimento, mas recuperar continuamente a presença de Deus em cada momento e diante das situações que vai encarando.

e, por fim, ao terminar o dia, fazer um exame de consciência numa lógica de avaliar a disponibilidade que se teve ao longo do dia para fazer aquilo que Deus foi pedindo ou, pelo contrário, avaliando os obstáculos que foram colocados à realização da vontade de Deus. num momento de sinceridade, agradecer o ter sido apóstolo ou pedir perdão por não ter sido diligente em cumprir a vontade de Deus, fazendo um propósito concreto para melhorar alguma coisa no dia seguinte.

não se pode ser apóstolo na vida diária sem um contacto frequente com a origem da própria missão, que é a pessoa de Jesus. estes três momentos de oração criam um ritmo que ajuda a facilitar o encontro com o senhor, a experimentar a sua misericórdia e a acertar, nas coisas grandes e nas coisas pequenas, com os desafios que nos são pedidos em cada dia. procuremos exercitar-nos, cada dia, no encontro com Jesus, que muda a nossa vida.

Ritmo de oração diária

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como rede mundial de oração do papa, o apostolado da oração tem esta grande missão de fazer da «rede», em sentido lato, um lugar de reali-zação da igreja, da força da oração e do compro-misso cristão com o mundo e os seus desafios.

para fazer parte da rede mundial de oração do papa, o apostolado da oração, não é obrigatória a inscrição ou participação num grupo. todo aquele que rezar pelas intenções do papa, em especial na primeira sexta-feira do mês, e tiver estes desafios como propósito de ação, seguindo as propostas apresentadas pelo secretariado nacional nas suas publicações e plataformas digitais, já faz parte desta rede.

Quem desejar assumir de forma mais comprome-tida a vivência desta espiritualidade, inserido numa comunidade concreta, pode fazê-lo pertencendo a um centro do apostolado da oração. no futuro, será também possível fazê-lo participando numa comunidade apostólica da rede mundial de oração, na medida em que estas vierem a ser criadas.

importa sublinhar que estes dois modelos de pertença comunitária não se excluem nem estão em concorrência entre si, mas existirão na medida em que, no contexto local, se achar mais apropriada a existência de um ou outro modelo.

Os Centros do Apostolado da Oração

em muitas paróquias do nosso país existem centros do apostolado da oração, que funcionam segundo uma estrutura diocesana. em cada diocese, há um Diretor Diocesano, nomeado pelo bispo local, que tem o encargo de dinamizar o apostolado da oração, promover encontros formativos, visitar os centros, ajudar os párocos e as suas equipas a levar por diante esta obra. este deve ser ajudado por uma equipa Diocesana, composta por leigos e religiosos.

a nível local, tendo como Diretor o pároco, há um centro, composto pelo conjunto dos Zeladores e dos associados, com uma direção paroquial, e que tem como missão:

a) empenhar-se em fomentar a espiritualidade do apostolado da oração na paróquia, divulgando as intenções de oração do papa, sobretudo através

dos Bilhetes Mensais (Oração e Vida), e procurando tê-las presentes nas intenções das eucaristias ou na oração universal; promover o culto ao coração de Jesus.

b) rezar e refletir, nas reuniões mensais, sobre as intenções do santo padre para cada mês (seguindo o proposto na revista Mensageiro do Coração de jesus); ler e estudar em comum os estatutos e as linhas da espiritualidade do ao; conversar e decidir que inicia-tivas se poderão tomar ao longo do mês para ajudar a comunidade a rezar e a agir segundo as intenções de oração para cada mês; pensar os projetos a serem realizados no mês seguinte, avaliar como vai o traba-lho do grupo e a ação do apostolado da oração na paróquia, a eventual colaboração com a comunidade apostólica da rede mundial de oração que exista, etc.

c) inserção, de alma e coração, na paróquia, perguntando ao pároco o que é mais urgente e necessário fazer.

o secretariado nacional do apostolado da oração disponibiliza, aos centros existentes e às comunida-des que queiram criar ou refundar um centro, todo o apoio necessário.

As comunidades apostólicas da Rede Mundial de Oração

estas comunidades inserem-se num novo modelo de igreja que está a nascer, onde a vocação laical assume um papel muito importante, face à escassez de clero e à necessidade de um maior compromisso dos cristãos com a vida de oração, pessoal e comu-nitária. constituídas por grupos de leigos, escolhi-dos e enviados pelo pároco, assumem como missão ajudá-lo na dinamização espiritual da própria comunidade paroquial, suscitando e reanimando a experiência da relação pessoal com cristo.

não são grupos fechados, pois não pertencem a nenhum movimento, mas têm como característica fazer a ponte entre o pároco e os diversos grupos existentes na paróquia, com o fim de ajudar a comu-nidade a rezar. idealmente, serão compostos por responsáveis dos grupos já existentes. terão como

Centros do Apostolado da Oração e Comunidades Apostólicas

20 | Mensageiro

centro da sua missão a divulgação das intenções do papa e a criação de propostas para unir os temas das intenções com as necessidades concretas do próprio contexto, em espírito de colaboração e entreajuda com os grupos existentes na paróquia.

o secretariado nacional do apostolado da oração oferece a formação espiritual e pastoral e o acompa-nhamento destas comunidades, organizando encon-tros de formação e divulgando todos os meses, nos

com o apoio da rádio renascença, a qual facilita os meios técnicos necessários à gravação de ficheiros áudio de qualidade. conta ainda com o apoio de artistas e editoras (que cederam os direitos de uso das músicas), e também com a empenhada colabo-ração de tantos voluntários, das “vozes” do Passo- -a-rezar aos escritores dos pontos de oração que se ouvem cada dia.

além de disponibilizar os ficheiros para a oração diária, o Passo-a-rezar propõe esquemas de oração para situações e épocas específicas: «retiro de Quaresma», «retiro de advento», «caminho de santiago», «Via-sacra com maria», «passos com maria», «oração do terço», «rezar o meu dia» e «7 pausas na beleza».

Depois de dar os primeiros passos em mp3 e de passar a estar disponível nos dispositivos móveis, o passo-a-rezar avançou este ano para novas plata-formas digitais: é possível receber uma newsle-tter diária no email com a oração diária, no site www.passo-a-rezar.net encontram-se disponíveis os textos dos áudios diários, no spotify é possí-vel ouvir alguns dos álbuns do passo-a-rezar e no Youtube há vídeos alusivos às propostas de oração.

a aplicação Click to Pray, para ajudar os jovens a rezar, surgiu em novembro de 2014. convida os utili-zadores a rezar pelas intenções do papa, pelos desa-fios da humanidade. e porque «cada dia é diferente», propõe orações diferentes para os 365 dias do ano, para que em cada dia seja possível descobrir o que Deus convida cada um a viver.

para além das tradicionais e conhecidas publica-ções em papel, sobretudo o Mensageiro do Coração de jesus, Oração e Vida (Bilhetes Mensais) e Cruzada, o secretariado nacional do apostolado da oração tem procurado criar propostas de oração que vão ao encontro daqueles que fazem da internet o seu ambiente normal de trabalho e lazer. com este obje-tivo, foram criadas duas plataformas digitais de oração (passo-a-rezer.net e clicktopray.org). além disso, o secretariado colabora ativamente com uma outra plataforma, do apostolado da oração internacional, chamada ovideodopapa.org, desti-nada a dar a conhecer as intenções do santo padre no mundo audiovisual.

o Passo-a-rezar nasceu em fevereiro de 2010. Disponibiliza diariamente, no próprio site (www.passo-a-rezar.net) e através das suas aplicações móveis (disponíveis no google play, app store e Windows store), ficheiros mp3 que podem ser descarregados e ouvidos em qualquer dispositivo eletrónico que suporte esse formato. estes ficheiros são meditações áudio a partir de um dos textos da liturgia do dia. no estilo de oração que propõe, bebe a sua inspiração nos exercícios espirituais de santo inácio de Loiola, o fundador da companhia de Jesus.

o Passo-a-rezar, que tem mais de 26 mil seguidores no facebook e registou dois milhões de downloads em 2015, pretende adaptar a proposta da oração pessoal às circunstâncias da vida de todos os dias e à exigência de mobilidade que a caracteriza.

para tornar realidade este projeto, o secretariado nacional do apostolado da oração conta sobretudo

Rezar na Rede

seus vários canais de comunicação (publicações e plataformas digitais), as propostas de oração e ação na linha das intenções do papa.

como foi dito antes, em portugal ainda não existem estas comunidades. podem surgir, como consequência natural da recriação do apostolado da oração, em paróquias nas quais os párocos sintam necessidade de dinamizar modos novos de partici-pação laical na vida da comunidade cristã.

abril 2016 | 21

o click to pray propõe três momentos breves de oração para o dia, disponíveis no site clicktopray.org, no facebook (com seis mil seguidores) e no twitter: de manhã, para iniciar o dia, à tarde, para se deixar acompanhar por uma frase ou pensa-mento inspirador, e à noite, para terminar o dia com a revisão diária. é também possível descarregar a aplicação móvel, disponível na app store e google play, e aceder as orações através da caixa de correio eletrónico, definindo as horas em que se pretende receber as orações.

no site é possível criar um perfil próprio, possibili-tando a união a milhares de pessoas da rede mundial de oração do papa. ao aceder à conta pessoal, cada utilizador pode propor intenções de oração pelas quais os outros utilizadores podem rezar. o click to pray disponibiliza também uma newsletter, que proporciona aos utilizadores informação sobre a rede mundial de oração.

apoiando-se nesta iniciativa do ao de portugal, o secretariado internacional do apostolado da oração criou uma nova versão de click to pray, para ser a plataforma digital da rede mundial de oração do papa (em inglês, português, espanhol e francês). rezando em união com o papa, a família do click to pray, formada por milhares de pessoas, em dezenas de países, é uma verdadeira rede mundial de oração.

o Vídeo do papa é uma iniciativa global, promovida pela rede mundial de oração do papa (apostolado da oração), para colaborar na difusão das intenções mensais do santo padre sobre os desafios da huma-nidade. conta com o apoio do centro televisivo Vaticano (ctV), único propietário dos direitos de imagem do papa. está disponível em português, espanhol, inglês, italiano, francês, chinês e árabe.

todos os meses, em www.ovideodopapa.org, é possível acompanhar o papa Francisco nos seus pedidos de oração.

Visitando a página no facebook, com 27 mil “gostos”, é possível encontrar mais informação e interagir com a comunidade desta iniciativa.

o Vídeo do papa foi lançado em janeiro e, nas primeiras 48 horas, teve 2,5 milhões de visualiza-ções, no facebook e youtube.

TestemunhosClick to Pray: «Ajuda-me a manter o contacto com jesus»

porquê rezar com o Click to pray?para mim trata-se de uma forma simples de estar, na circunstância mais mundana. Deus não precisa de

grandes artefactos, ou de grandes espaços, só de disponibilidade da nossa parte. no meio de dias cheios e tantas correrias, em que se torna difícil encontrar um espaço certo que nos ajude a rezar, a música ideal, o caderno para notas e o evangelho, o click to pray faz isso por nós. o que está sempre à mão é mesmo o telemóvel, que tem em si a possibilidade de termos isto tudo em qualquer lugar.

Em que circunstâncias começou a usar esta plataforma?não foi logo no início do seu aparecimento, a necessidade veio mais tarde. como andava de transpor-

tes públicos para o trabalho, mais ou menos a horas certas, comecei a pensar usar nesses momentos de viagem. programava-o para essas horas e era um tempo simples de estar com Deus.

De que modo a utilização do Click to pray se reflete na sua vida quotidiana?ajuda-me a rezar, por isso a estar com Deus, a crescer na relação, na intimidade. ajuda-me a perceber o

que ele espera de mim e como o posso fazer, através do exemplo concreto de Jesus. no fundo a estar sintoni-zada e isso implica também reconhecer os desvios, com o exame de consciência no final do dia. tornou-se uma ferramenta boa para a nossa relação. assim como recorro a outras aplicações que me ajudam a manter o contacto com amigos e familiares, o click to pray ajuda-me a manter o contacto com Jesus.

Ana Sampaio Bahia, 29 anos, psicóloga

22 | Mensageiro

Passo-a-rezar: «uma nova perspetiva para o meu dia»

O que o levou a rezar através desta plataforma?por um lado, eu sentia que a minha relação com a oração estava cada vez mais distante. Descobri que

com o passo-a-rezar poderia criar um momento no meu dia onde parava durante 10 minutos para escutar o evangelho e acompanhar uma reflexão sobre o mesmo. uma forma simples de manter ativa a minha relação com Deus através da oração.

Onde e quando costuma utilizar o passo-a-Rezar?habitualmente utilizo o passo-a-rezar durante o meu trajeto matinal para o trabalho, ouvindo as orações

diárias no carro.

De que modo a utilização do passo-a-Rezar se reflete na sua vida quotidiana?com o passo-a-rezar, consegui ganhar uma nova perspetiva sobre o meu dia – colocando o senhor no

meu caminho logo de manhã. consegui, assim, garantir que durante uns breves minutos tenho tempo para pensar na minha vida, na relação que tenho com Deus e na relação que tenho com os meus irmãos… consegui, assim, criar um espaço que já há muito tempo estava fechado! passei a levar o dia com mais tranquilidade e alegria!

Alexandre garrett, Porto. Casado, pai de três fantásticos rapazes, diretor num grande grupo empresarial português… ou seja, sem tempo para nada

(mas ainda assim com tempo para rezar, graças ao passo-a-rezar)!

Zeladora do AO: «Olhar os outros sem os julgar»

Enquanto membro de um Centro do Apostolado da Oração, quais as atividades que desenvolve?uma vez tivemos a visita do nosso bispo coadjutor que nos disse: “são poucas? mas dão-se bem?”. estas

palavras tocaram na nossa comunidade e começamos a unir esforços de maneira a haver mais vida cristã – sincera – entre nós. Depois, a convite do pároco de então, foi fundado o nosso centro do ao de santa Vitória, na Diocese de Beja, no dia 8 de agosto de 2015. somos 13 associados e eu tenho a missão de zela-dora. Dada a proximidade que temos, há muito mais envolvimento com todos os associados, tanto para a missa e adoração na 1ª sexta-feira de cada mês, como para a reunião mensal (geralmente unimo-nos com o ao de ervidel, que dista 5 km da nossa aldeia), como também na limpeza da igreja paroquial.

Qual o principal desafio que sente no desenvolvimento desta missão? E dificuldade?o grande desafio é conseguirmos rezar todos juntos e trazer mais pessoas para o mesmo. no fundo,

é vivermos na oração. não cristalizarmos o ao em mais um movimento, como tantos, mas aprender a vivê-lo na sua essência: a oração! Que é a respiração do cristão! a maior dificuldade é ajudar os outros a acreditarem que, rezando unidos, somos verdadeiramente mais igreja e mais irmãos! conseguir transfor-mar a mentalidade das pessoas – como por aqui se diz: “eu cá tenho a minha fé” – de que precisamos de rezar em igreja e não apenas na igreja.

De que modo integrar um Centro do Apostolado da Oração se reflete na sua vida quotidiana?o ao veio dar-me uma espiritualidade mais rica, contudo muito simples e fácil de pôr em prática na

minha vida. ajudou-me a criar hábitos de oração mais sólidos, graças ao click to pray e ao passo a rezar. também sinto uma necessidade imensa de ir visitar nosso senhor todos os dias à nossa igreja. Fascina-me o facto de podermos estar unidos em oração com e pelo papa, unidos em rede por este munDo Fora. também no meu compromisso com os outros, esta proximidade e consagração que fiz ao sagrado coração de Jesus ajuda-me a olhar os outros sem os julgar; a tentar olhá-los como o coração de Jesus os vê.

Maria Mira e Mira da Silva, 64 anos, Membro do Centro do AO de Santa Vitória

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crescer com Jesus

tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo jesus (Fl 2, 5).

«como é que se diz?» a frase tantas vezes repetida, enquanto estendíamos as mãos e esbugalhávamos os olhos, esperando rasgar vorazmente o presente que acabávamos de receber, pode soar a imposi-ção adulta limitadora da espontaneidade infantil. se seguisse o que sentia, a criança que fomos rapi-damente viraria costas ao seu benfeitor e fugiria para algum canto onde pudesse experimentar o brinquedo novo. mas se o pai ou a mãe lhe disses-sem: «agradece, guarda o brinquedo e logo vemos se precisas de o abrir já», a criança seria ensinada a agradecer e a saber esperar. no caso de já ter um igual ou parecido, podia ainda ser ensinada a partilhar com alguma criança da sua idade, a quem nunca seria dado um brinquedo por estrear.

mas então as crianças devem ser ensinadas a reprimir sentimentos? nada disso! é até bom que possam expressar os sentimentos mais violentos que as habitam. imaginemos que, ao arrumar o quarto, desarrumado pela irmã mais nova, o João diz num entredentes percetível pela mãe: «para que é que esta miúda nasceu?». mais do que ralhar, a mãe do João pode aproveitar a primeira oportuni-dade que tenha para o ajudar a desenvolver senti-mentos de empatia pela irmã e para estimular gestos de cuidado e ternura.

uma boa ocasião pode ser a hora de deitar. antes

de rezar, a mãe pode dizer ao ouvido do João: «és

um filho muito especial para mim. gosto muito de ti». a seguir, pode acrescentar: «os meus filhos são todos muito especiais para mim. gosto muito de todos!» e ainda: «sabes, João, quando nasce mais uma criança, Deus fica muito contente. todas as crianças e todas as pessoas são especiais e únicas para Deus. não há duas pessoas iguais, mas Deus ama a todas igualmente, mesmo quando alguma faz ou diz disparates! Foi também isso que Jesus nos ensinou quando disse: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. mas ele precisa da nossa ajuda para cuidarmos uns dos outros, sobretudo dos mais pequeninos». e, como quem não quer a coisa, pode ainda lembrar ao João: «Já foste dar um beijinho de boa noite à tua irmã? ela ainda não adormeceu...».

a gratidão, a paciência, a sensibilidade ao outro são dons de Deus. não foram inventados por nós. mas é possível ir criando na criança disposições que a tornem capaz de acolher esses dons. ensinar a dizer obrigado, fortalecer a capacidade de espera, fomentar momentos de perdão e partilha, desenvol-ver a capacidade de compreender e acolher o outro e os seus sentimentos são modos muito concretos de educar a criança para que tenha os sentimentos de Jesus.

amor, gratidão e empatia são emoções profundas que não se improvisam. aprendem-se pelo exemplo e pela experiência bem educada. talvez ressoe na nossa memória um slogan antigo: Segue o que sentes. se lhe trocarmos as voltas, chegamos a um ótimo lema cristão: Educa o que sentes.

Educa o que sentesDomingas Brito e josé Maria Brito, s.j.

ilustração: www.damadearroz.com Dos 0-6 anos

24 | Mensageiro

reunião De grupo

Esquema de reunião e de oração de grupo

Manuel Morujão, s.j.

Reunião De uma reunião devemos esperar o que é possível, tendo em conta todas as circunstâncias. nem demais, nem de menos. uma reunião deste tipo serve para nos encontrar-mos, refletirmos e rezarmos juntos e, porventura, chegar a alguma conclusão prática. toda a reunião tem uma data concreta. Esta tem lugar agora, não há uma vintena de anos, nem daqui a uma dúzia de meses ou anos. tudo isto faz parte do realismo, a fim de sermos fiéis ao que Deus nos pede e os outros precisam de receber de nós, aqui e agora. Com fé e esperança.

Oração inicial – Oração do Oferecimento(com a fórmula tradicional ou com outra)

1.ª Parte Intenções do Papa para o mês de abril

o responsável, ou outra pessoa do grupo, poderá fazer uma apresentação da intenção universal e da intenção pela evangelização do papa Francisco para este mês de abril.

a intenção universal refere-se aos nossos irmãos que trabalham a terra: «Que os pequenos agriculto-res recebam a justa compensação pelo seu precioso trabalho». trata-se de um trabalho geralmente duro, mas importante, pois da terra tudo nos vem, que se deve valorizar com justiça.

a intenção pela evangelização recorda os nossos irmãos que vivem em clima de guerra, nalguns países em áfrica: «Que os cristãos de áfrica deem testemunho do amor e da fé em Jesus cristo, no meio dos conflitos político-religiosos». cristo

proclamou bem-aventurados os que constroem a paz, que é um bem fundamental, mas tão raro em muitas partes do nosso planeta. o testemunho dos cristãos ajudará seguramente a construir a paz.

2.ª ParteOs grupos do AO são grupos de oração e de ação

Depois da apresentação das intenções do santo padre, dar algum tempo para partilhar o que os membros do ao poderão fazer, na linha do que o papa Francisco nos propõe, talvez respondendo às seguintes perguntas:

– Que problemas experimentam os agricultores da nossa região? suas causas e possíveis soluções? procuramos ser solidários?

– sabemos agradecer a Deus o precioso dom da paz, que felizmente temos no nosso país, apesar das dificuldades por que passa a nossa sociedade? sinto solidariedade para com os nossos irmãos africanos que vivem em contextos de guerra e rezo por eles?

3.ª ParteAssuntos práticos do grupo do AO

terminar com uma leitura da palavra de Deus (por exemplo, o evangelho do domingo seguinte à reunião) e com uma oração ou um cântico. em seguida, propomos um esquema de oração em grupo, que poderá ser feita no início ou no fim desta reunião, ou noutro contexto e ocasião.

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Oração

1ª SExTA-fEIRA

www.apostoladodaoracao.pt/materiais-para-grupos-ao/

pode encontrar esta secção escrita pelo padre Dário Pedroso, sj no site do apostolado da oração.é uma versão mais longa e completa, fácil de descarregar e de ler!

presidente: Que a paz de Deus e a sua misericórdia habitem nos vossos corações, a fim de que todos os que convivem connosco sejam beneficiados.

todos: Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de cristo.

presidente: estamos vivendo o tempo litúr-gico em que celebramos a ressurreição de cristo, que venceu a morte para ele e também para nós, quando a irmã morte nos abrir a porta da casa do pai. estamos também celebrando a particular graça do ano Jubilar da misericórdia, a que o santo padre Francisco nos convocou. escutemos o que Deus nos quer dizer por estas palavras do sucessor de pedro e pastor da igreja universal.

leitor: Leitura de uma passagem da Bula do papa Francisco proclamando o ano Jubilar da misericórdia (n. 8):

«com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto miseri-cordioso, podemos individuar o amor da santíssima trindade. a missão, que Jesus recebeu do pai, foi a de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude. “Deus é amor”: afirma-o, pela primeira e única vez em toda a escritura, o evangelista João. agora este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. a sua pessoa não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente. o seu relacionamento com as pessoas que se abeiram d’ele manifesta algo de único e irrepetível. os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, margina-lizadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. tudo nele fala de misericórdia. nele, nada há que seja desprovido de compaixão».

palavra da igreja de cristo! – graças a Deus.

presidente: caríssimos irmãos e irmãs, unidos fraternalmente à igreja espalhada pelos quatro cantos do mundo, particularmente aos membros do apostolado da oração, rezemos com confiança filial:

– Senhor, rico em misericórdia, ouvi a nossa oração.

leitor: pelo nosso papa Francisco, particular teste-munha de que cristo ressuscitou e está vivo no meio de nós, pelos nossos bispos e sacerdotes e por todos os cristãos que, com o seu testemunho de vida, proclamam que o senhor Jesus está connosco até ao fim dos tempos, oremos irmãos.

leitor: para que a presença do senhor ressuscitado nos dê força e coragem para sermos fonte de alegria e ânimo na vida de todos, especialmente nos ambientes familiares e de trabalho, oremos irmãos.

leitor: unamo-nos às intenções que o santo padre nos propõe para este mês de abril: «que os peque-nos agricultores recebam a justa compensação pelo seu precioso trabalho». e para «que os cristãos de áfrica deem testemunho do amor e da fé em Jesus cristo, no meio dos conflitos político-religiosos», oremos irmãos.

Outras intenções espontâneas…

presidente: Deus, nosso pai, rico de misericórdia, atendei as súplicas que Vos dirigimos, inspiradas nas intenções do papa Francisco, para bem da igreja e salvação do mundo. por nosso senhor Jesus cristo, vosso Filho, na unidade do espírito santo.

– Ámen.

(poderá ser feita por ocasião da reunião, no começo ou ao fim, ou noutro tempo oportuno, numa sala ou numa igreja/capela, com ou sem sacerdote)

26 | Mensageiro

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abril 2016 | 27

AO é NOTíCIA

o centro do apostolado da oração (ao) de ervidel, Diocese de Beja completou, no início de fevereiro, um ano de existência e recebeu uma relíquia de santa teresinha, para colocar na capela da casa de espiritualidade de são Julião.

a cerimónia contou a presença do p. Luís miguel Fernandes, na qualidade de diretor diocesano e delegado da entrega da relíquia. pela manhã, houve duas conferências proferidas pelo p. Luís miguel Fernandes: uma sobre a oração em santa teresinha,

notícias

outra sobre a abordagem teresiana da intenção do papa Francisco para o mês de fevereiro - o cuidado pela criação.

De tarde, cerca de 40 pessoas dos centros do ao de ervidel e santa Vitória, juntamente com o pároco, p. amadeu Lino, num clima de serenidade e since-ridade, fizeram a avaliação do ano findo, levando novamente todos a um novo comprometimento, entusiasmo e empenho para não deixar esmorecer o ao nas referidas paróquias.

Centro do AO de Ervidel

recebe relíquia de Santa teresinha

28 | Mensageiro

notícias

os centros do apostolado da oração da diocese do porto participaram num encontro diocesano que decorreu no dia 20 de fevereiro, na casa Diocesana de Vilar (porto).

estes encontros demonstram o enorme interesse e vitalidade do ao nesta diocese, impulsionado pelo diretor diocesano, cónego João peixoto, pela irmã alexandrina que, com a sua equipa e organi-zação, fazem com que estes dias sejam bastante participados.

o tema deste encontro, em pleno ano jubilar, centrou-se no aprofundamento das obras de

Centros do AO do Porto reuniram-se na Casa de Vilar

o centro do apostolado da oração (ao) de messejana, em aljustrel, diocese de Beja, foi refun-dado no início deste ano, tendo atualmente 32 membros, dos quais quatro zeladores, com 21, 26, 32 e 68 anos.

este centro tinha sido fundado a 16 de junho de 1939 e manteve a atividade até 1947. no dia 31 de janeiro de 2016, retomou a atividado, tendo conquistado alguns jovens para esta proposta de espiritualidade.

a refundação foi “apadrinhada” pelos centros do ao de ervidel e santa Vitória. na celebração, o director diocesano e pároco de messejana lembrou aos grupos que têm «a responsabilidade de ser outros cristos, continuadores da sua presença no mundo, sacerdotes que oferecem o pão e o vinho das suas orações, obras, sofrimentos e alegrias de cada dia», numa alusão ao oferecimento diário a que os membros do ao se comprometem.

misericórdia. De manhã, o p. Dário pedroso, sj fez uma conferência sobre as obras de misericórdia corporais. a manhã terminou com um tempo de adoração ao santíssimo sacramento.

a parte da tarde esteve a cargo do secretário nacional do apostolado da oração, p. antónio Valério, sj que falou sobre as obras de misericór-dia espirituais. o dia terminou com a celebração da eucaristia. os mais de 300 participantes, vindos de 47 paróquias, mostraram-se satisfeitos por poderem ter estes tempos de encontro, convívio e aprofunda-mento da fé e da espiritualidade tão rica do ao.

refundado Centro do AO de Messejana

abril 2016 | 29

mais de 40 pessoas participaram no retiro em silêncio orientado pelos padres antónio Valério, sj e marco cunha, sj, que decorreu de 4 a 7 de feve-reiro, na Domus Carmeli, em Fátima.

esta experiência de silêncio teve como linhas orientadoras a proposta do «caminho do coração», a base espiritual da recriação do apostolado da oração – rede mundial de oração do papa, e os exercícios espirituais de santo inácio de Loiola.

as meditações propostas centraram-se também no ano da misericórdia, de modo a ajudar os participan-tes a viver este ano santo com maior profundidade.

pelo terceiro ano consecutivo, este retiro em

retiro em silêncio em Fátima com mais de 40 pessoas silêncio foi para todos, membros de centros do apostolado da oração e outras pessoas interessa-das, uma oportunidade de contacto com o processo de recriação do ao em curso.

no final, a alegria, fruto do encontro pessoal com Deus, era testemunhada por todos com um desejo de viver e praticar melhor a misericórdia. os parti-cipantes mostraram-se também muito gratos ao secretariado nacional do apostolado da oração pelas propostas que ajudam a um maior compro-misso com a missão da igreja e com a rede de oração do santo padre.

30 | Mensageiro

o papa foi ao méxico como «missionário da paz», numa viagem que fica para a história ao incluir um encontro, em cuba, entre o sumo pontífice da igreja católica e o patriarca ortodoxo de moscovo e de toda a rússia, os líderes de duas igrejas afastadas há mais de mil anos pelo chamado «grande cisma do oriente». Francisco e cirilo reuniram-se numa sala do aeroporto de havana, como «irmãos da fé cristã para falarem cara a cara» e assinarem uma decla-ração conjunta, com 30 pontos, grande parte dos

quais centrados na perseguição de cristãos no médio oriente e no norte de áfrica.

a propósito da instabilidade e conflito que se verificam na síria, iraque e outros países do médio oriente, Francisco e cirilo apelaram à comunidade internacional para que ajude os cristãos e também pessoas de outras religiões. «instamos a comuni-dade internacional a agir urgentemente para preve-nir mais expulsões de cristãos do médio oriente. ao levantarmos a nossa voz em defesa dos cristãos

IGREjA é NOTíCIA

Papa foi às periferias do México pedir fim da violência e do narcotráfico

abril 2016 | 31

perseguidos, queremos também expressar a nossa compaixão pelo sofrimento sentido por praticantes de outras religiões que também têm sido vítimas da guerra civil, do caos e da violência terrorista», afirmaram.

o sumo pontífice e o patriarca de moscovo falaram também dos refugiados que fogem do médio oriente em direção à europa: «não podemos ser indiferentes aos destinos de milhões de migrantes e refugiados que batem às portas das nações ricas».

a reunião serviu ainda para os líderes das duas igrejas sublinharem os vários pontos em que estão de acordo. é o caso do aborto («milhões veem o seu direito de nascerem neste mundo a ser-lhes negado»); a oposição ao casamento homossexual («a base da família é o casamento, um ato de amor e fé entre um homem e uma mulher»); a preocupa-ção com o uso de métodos alternativos de reprodu-ção («estamos preocupados com o desenvolvimento das técnicas de reprodução pela tecnologia, uma vez que a manipulação da vida humana representa um ataque à base da existência humana, criada à imagem de Deus») e a denúncia do secularismo («observamos que a transformação de alguns países em sociedades secularizadas, desprovidas de qual-quer referência a Deus e à sua verdade, constitui uma ameaça à liberdade religiosa»).

no final do encontro, o papa partiu para o méxico e, logo no primeiro discurso que proferiu ao chegar ao país, pediu medidas contra a violência e a pobreza.

«Quando se busca o caminho do privilégio ou do benefício para poucos em detrimento do bem de todos, mais cedo ou mais tarde, a vida em sociedade transforma-se num terreno fértil para a corrupção, o tráfico de drogas, a exclusão das culturas diferentes, a violência e até o tráfico humano, o sequestro e a morte», disse Francisco, no palácio nacional da cidade do méxico, onde pela primeira vez entrou um papa.

o santo padre foi recebido com honras de chefe de estado pelo presidente enrique peña nieto. em solo mexicano, na «encruzilhada das américas», falou na enorme diversidade e riqueza cultural, colo-cando sempre a tónica nos grandes problemas que ali se vivem, nomeadamente as migrações, a intole-rância, o narcotráfico, as desigualdades económicas e a crise ecológica.

«Coragem profética» para resolver problemasFrancisco quer que a igreja católica contribua para

o progresso do país. num encontro com os bispos das 95 dioceses mexicanas, na catedral da assunção, o papa adotou um discurso inspirado na imagem de nossa senhora da guadalupe e pediu «coragem profética e um projeto pastoral sério e qualificado»,

que inclua a luta contra o tráfico de drogas, a violên-cia e a questão das migrações.

«peço-vos que não subestimeis o desafio ético e anticívico que o narcotráfico representa para a juventude e toda a sociedade mexicana, incluindo a igreja», referiu.

Já no santuário de guadalupe, o pontífice cumpriu o «sonho» de rezar a sós e em silêncio diante da imagem da padroeira da américa Latina, depois de ter deixado uma mensagem de esperança a todos os que sofrem.

Francisco quis conhecer um dos subúrbios mais violentos da capital, ecatepec, onde exigiu respeito pela dignidade de cada pessoa e protestou contra os «traficantes da morte», desejando que «não haja necessidade de emigrar para sonhar». o papa aludiu ao combate à pobreza, ao flagelo das migrações e ao tráfico de pessoas.

um dos momentos mais emocionantes da viagem decorreu no regresso à cidade do méxico, durante a passagem por um hospital pediátrico, onde Francisco abraçou crianças em tratamento oncológico, ouviu uma delas cantar e vacinou um menino para lançar uma campanha de vacinação contra a poliomielite. e aproveitou para incentivar à «carinhoterapia».

Perdão às comunidades indígenasseguiu-se a visita ao estado de chiapas, no sul

do país, para um momento de reconciliação com as comunidades indígenas. Francisco disse que o mundo tem de pedir «perdão» às comunidades indí-genas e aprender com elas a respeitar a natureza, face à atual crise ecológica.

ainda neste estado decorreu o encontro com as famílias, junto das quais alertou para as consequên-cias da solidão e da precariedade, com críticas às «colonizações ideológicas».

a etapa seguinte foi morelia, no coração geográfico do méxico, cidade-símbolo dos problemas do narco-tráfico, onde o santo padre denunciou esta realidade, rejeitando uma atitude de «resignação» por parte da igreja. sucedeu-se um encontro festivo com os jovens, a quem pediu que resistam à tentação dos caminhos do crime e da violência.

a viagem apostólica concluiu-se em ciudad Juárez, extremo norte do país, num dia marcado por mensa-gens e gestos contra a violência e em defesa dos migrantes. aqui o papa deslocou-se a uma prisão e criticou a falta de uma verdadeira cultura de «reabi-litação» dos presos. antes do regresso a roma, cele-brou uma missa junto à fronteira com os eua, para recordar a «tragédia» das migrações forçadas e o tráfico de pessoas.

32 | Mensageiro

mãos À oBra...

Reconciliar e incluir através da artepor: Elisabete Carvalho

Quinta da Fonte. Quinta do mocho. Dois bairros sociais da zona de Lisboa muito mediatizados. não pelas melhores razões. as notícias são quase sempre sobre conflitos e rivalidades entre grupos. Quase sempre, porque estes bairros agora também têm coisas boas para mostrar.

há seis anos, o ator e encenador miguel Barros foi convidado, no âmbito do programa escolhas, promo-vido pelo alto comissariado para as migrações, para realizar um workshop na Quinta do mocho. o intuito era trabalhar competências no sentido de prevenir conflitos e minimizar as rivalidades com bairros vizinhos. a primeira experiência demons-trou claramente que uma intervenção com sucesso passava por um projeto inter-bairros.

miguel Barros propôs então um workshop alargado às crianças dos diferentes bairros com rivalidades entre eles. a ideia era fazer com que, através da arte, nomeadamente o teatro, as crianças e jovens encontrassem pontos em comum, olhassem para as diferenças culturais como um fator de união e não de divisão e, a partir daí, desenvolvessem uma atitude de diálogo, fundamental para minimizar, antecipar ou até prevenir os conflitos entre eles.

o primeiro workshop inter-bairros correu muito bem e provou que, para haver resultados, a inter-venção não podia ser pontual ou de curto prazo, mas a longo prazo e de continuidade. neste sentido, foi criado um grupo de teatro e, um pouco mais tarde, por uma questão de sustentabilidade, nasceu a associação tiBisco - teatro inter-Bairros para a inclusão social e cultura do otimismo, que abrange

ibisco - teatro inter-Bairros para a inclusão social e cultura do otimismo

seis bairros sensíveis de Loures: Quinta do mocho, Quinta da Fonte, talude, Quinta da serra, Zambujal, camarate e santo antónio dos cavaleiros. a sede, conseguida com o apoio da câmara de Loures e do programa escolhas, situa-se na Quinta da Fonte.

a associação tiBisco, que tem como diretor artís-tico o seu mentor, miguel Barros, investe sobretudo na formação permanente em técnica teatral e dança de jovens das referidas comunidades em risco de exclusão social e cívica.

a atriz susana arrais, voluntariamente ligada ao projeto, conta que a formação incide na inclu-são pela arte e ajuda a compreender os valores da disciplina, do trabalho em equipa e da arte como ferramenta para a capacitação, emancipação e autoestima.

os resultados, visíveis e reconhecidos publica-mente, provam que a aprendizagem em equipa derruba preconceitos e gera relações de confiança e cumplicidade entre ex-rivais.

segundo a atriz, no início, houve muita descon-fiança, as comunidades eram muito fechadas e olha-vam-se como guetos. a própria sociedade alimenta a imagem dos bairros sociais como espaços impe-netráveis, marginais, malditos, sem solução. e as pessoas que lá moram habituam-se e interiorizam esse conceito. o próprio sistema educativo tem difi-culdade em atuar junto das crianças e jovens destes bairros, onde existe uma mistura cultural muito grande e que, em vez de ser valorizada, tida como uma riqueza, é considerada um fator perturbador.

o que o iBisco faz é olhar com otimismo para as

abril 2016 | 33

dificuldades e impossibilidades que outros iden-tificam e transformá-las em desafios, mais-valias, refere susana arrais, explicando que «se a questão é os bairros estarem demasiado fechados, então vamos abri-los, criar um espaço cultural bem no meio do bairro, trazer gente de fora e mostrar que aqui há gente boa e competente, há arte, coisas de qualidade».

e, ao longo destes anos, conseguiu-se. os espetácu-los estão sempre lotados, não pelo espírito de soli-dariedade para com jovens, mas porque, de facto, têm qualidade artística, acrescenta a atriz.

segundo susana arrais, o iBisco distingue-se como espaço criativo, pela resposta que dá na área das expressões artísticas, pela oportunidade que dá àqueles jovens de expressarem a sua cultura e a sua língua de origem. «os espetáculos são sempre em português e vários crioulos. se tivermos esta-giários de outras línguas também falamos essas línguas». por outro lado, não se restringe ao teatro, tem dança e arte urbana. o Festival “o Bairro e o mundo” desenvolveu-se neste contexto e transfor-mou os bairros da Fonte e do mocho numa galeria de arte urbana, falada em todo o mundo. o objetivo era mesmo esse: levar o bairro ao mundo e trazer o mundo ao bairro.

graças à qualidade e credibilidade dos projetos desenvolvidos, o ano passado, a iBisco ganhou um prémio num festival de teatro internacional e, entretanto, conseguiu o apoio do banco Barclays e da Fundação gulbenkian. há dois meninos ligados à associação a gravar uma novela, acompanhados pela susana e pelo miguel. há também um espetá-culo sobre refugiados que está a ser apresentado em várias cidades do país. neste caso, os fundos anga-riados revertem para a par – plataforma de apoio a refugiados.

porque é que dois atores, susana arrais e miguel Barros, se meteram nisto, praticamente de forma voluntária? porque sentiram que colocar ao serviço dos outros aquilo que melhor sabiam fazer é de uma enorme realização pessoal e cristã.

«sempre tive necessidade de pôr ao serviço dos outros aquilo que sei fazer, neste caso, através da formação artística. nós damos, mas também recebe-mos», assinala susana, notando que também é uma forma de conjugar a vida profissional e espiritual.

«é muito gratificante ver crianças e jovens com problemas familiares, insucesso escolar e muitas solicitações de rua e a fazerem um percurso de auto-disciplina, de aprendizagem, a tornarem-se embai-xadores junto dos bairros, a promover o diálogo, a paz a reconciliação», conclui.

Fátima

Programa:

10h00 – recitação do TerçoCapelinha das aparições

11 h00 – eucaristia, presidida pelo Cardeal d. João Braz de aviz

esplanada do santuário

Convidam-se os Centros do apostolado da oração e os Núcleos

da Liga eucarística a levarem os respetivos estandartes e bandeiras,

para dar mais destaque a esta manifestação de amor ao Coração de Jesus, em pleno ano Jubilar da

misericórdia.

iNformações:

Tel: 253 689 446mail: [email protected]

No Encerramento do iV Congresso eucarístico Nacional

12 junho 2016

Peregrinaçãodo aPosToLado da oração

Peregrinaçãodo aPosToLado da oração

AtiViDADES inACiAnAS abril / maioEm Soutelo (Vila Verde): CEC – Casa da torre av. dos Viscondes da torre, 80 – 4730-570 souteLo – tel. 253 310 400; Fax: 253 310 401; e-mail: [email protected]

No porto: CREU – Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de loyolar. oliveira monteiro, 562 – 4050-440 porto– tel. 226 061 410; e-mail: [email protected]

NO RODízIO – Casa de Exercícios de Santo Inácioestrada do rodízio, 124 – 2705-335 coLares – tel. 219 289 020; Fax: 219 289 026; e-mail: [email protected]

01-03 abr. mega exercícios espirituais creu – pp. Vasco pinto de magalhães, carlos carneiro e José eduardo Lima 07-10 abr. exercícios espirituais – p. mário garcia08-10 abr. modos de orar ii – seminário sobre os exercícios espirituais – p. Domingos de Freitas10 abr. exercícios espirituais na vida corrente (em colaboração com cVX e aci)14-17 abr. exercícios espirituais – p. nuno Branco14-22 abr. exercícios espirituais – p. Francisco correia15-17 abr. “pérola escondida” – Da intimidade secreta com Deus – p. Luís maria da providência, emília providência santarém, patrícia Joana calvário 16-17 abr. o relógio da família – p. álvaro Balsas e grupo de casais21-25 abr. exercícios espirituais – alzira Fernandes22-25 abr. exercícios espirituais – p. manuel morujão22-25 abr. exercícios espirituais – p. Vasco pinto de magalhães (inscrições no creu)28-01 mai. exercícios espirituais – p. Dário pedroso05-08 mai. receber e oferecer misericórdia – p. manuel morujão07-08 mai. Fim de semana para noivos – pp. rui nunes e miguel almeida e grupo de casais12-15 mai. exercícios espirituais – p. carlos carneiro12-15 mai. orar, discernir, crescer – p. sérgio Diz nunes12-20 mai. exercícios espirituais – p. manuel morujão15 mai. exercícios espirituais na vida corrente (em colaboração com cVX e aci)20-22 mai. rezar com os ícones – alzira Fernandes e p. José carlos Belchior 20-22 mai. introdução à oração – p. antónio Valério26-29 mai. exercícios espirituais – teresa olazabal27-29 mai. rezar com o padre antónio Vieira ii – p. mário garcia27-29 mai. taichi e espiritualidade – Diogo sant’ana

05 abr. “Btt” (“Bamos ter teoria”)- Que vida há para além da morte? ressurreição, nada ou reencarnação? - p. Vasco p. m.09-10 abr. 1 noite & 1 Dia – crescer em Liberdade. a Disciplina espiritual. a mística, o risco e as Virtudes – p. carlos carneiro 15-17 abr. Fim de semana para noivos – p. Vasco pinto de magalhães e equipa de casais10 mai. “Btt” (“Bamos ter teoria”) – a história da igreja. Factos, mitos e preconceitos – p. antónio Júlio trigueiros 19 mai. “sal & pimenta” (escola para pais) - educar na fé. impor ou propor? porque abandonam os adolescentes a igreja? – p. carlos carneiro31 mai. serão inaciano – nossa senhora e a santidade do Quotidiano – Buscar e encontrar Deus em todas as coisas p. José eduardo e convidado

01-03 abr. Fim de semana para noivos – p. nuno Branco e equipa de casais12 abr. orar, comer e gostar 13 abr. Qual é a minha vocação?22-25 abr. exercícios espirituais – p. pedro rocha mendes10 mai. orar, comer e gostar 25 mai. prós e contras ii – Duelos entre universitários

31-03 abr. pré-ee “pé descalço” – p. João goulão07-10 abr. exercícios espirituais “pé descalço” – p. gonçalo castro Fonseca08-10 abr. “nós e Deus” – p. João goulão e animadores 13 abr. encontro mensal. “o que acontece depois da morte?”14 abr. encontro mensal. “o que acontece depois da morte?”15-17 abr. ciF – curso intensivo de Fé – p. João goulão e p. gonçalo castro Fonseca22-25 abr. exercícios espirituais – p. carlos azevedo mendes 03 mai. o que é o eneagrama? uma noite para explicar esta dinâmica. – p. gonçalo eiró 05-08 mai. exercícios espirituais “pé descalço” – p. João goulão18 mai. encontro mensal. “encontrar a Deus em todas as coisas.”19 mai. encontro mensal. “encontrar a Deus em todas as coisas.”

08-10 abr. “Verde ou maduro?” – o processo de amadurecimento humano e espiritual – p. alberto Brito 16-17 abr. Fim de semana para noivos – p. carlos azevedo mendes e grupo de casais21-25 abr. exercícios espirituais – p. mário garcia 22-25 abr. exercícios espirituais – p. antónio Vaz pinto 22-25 abr. exercícios espirituais – p. alberto Brito05-08 mai. exercícios espirituais – p. antónio Júlio trigueiros (inscrições no cupaV)05-08 mai. exercícios espirituais – p. Vasco pinto de magalhães20-22 mai. retiro teilhard de chardin – p. Vasco pinto de magalhães21-22 mai. Fim de semana para noivos – p. carlos azevedo mendes e grupo de casais26-29 mai. exercícios espirituais – p. manuel morujão26-29 mai. exercícios espirituais – p. hermínio rico26-29 mai. exercícios espirituais – p. antónio Vaz pinto

Em lisboa: CUpAV – Centro Universitário padre António Vieiraestrada da torre, 26 – 1769-014 LisBoa – tel. 217 590 516; e-mail: [email protected]

Em Coimbra: CUmN – Centro Universitário manuel da Nóbregar. almeida garrett, 4 – 3000-021 coimBra – tel. 239 829 712; e-mail: [email protected]

papa FranciscoauDiÊncia geraL, 7 De maio De 2014

leia Online:www.revistamensageiro.pt

O Espírito ajuda-nos a crescer e a viver em comunidade. A condição essencial para conservar este dom é a oração. Voltamos sempre ao mesmo tema: a oração! mas o tipo de oração não é tão importante. podemos rezar com as preces que todos sabemos desde crianças, mas também com as nossas palavras. [...]. E com a oração damos espaço para que o Espírito venha e nos ajude naquele momento, nos aconselhe sobre o que devemos fazer. A oração! Nunca esquecer a oração. Nunca! Ninguém nota quando rezamos no autocarro, pelas ruas: rezamos em silêncio com o coração. Aproveitemos estes momentos para rezar a fim de que o Espírito nos conceda o dom do conselho.