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1 MEMÓRIAS GUSTATIVAS: HISTÓRIA DA ALIMENTAÇAO EM LONDRINA 1950 a 2008 - POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS Elizabete Cristina de Souza Tomazini 1 Resumo: Este artigo refere-se à parte das atividades desempenhadas no Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE, implantado pela Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná em convênio com as IES, entre elas a Universidade Estadual de Londrina (UEL), através da qual recebemos orientações. Nele relatamos uma experiência da utilização da história da alimentação como uma possibilidade temática para o estudo de História no Ensino Fundamental. Para tanto apresentamos, num primeiro momento, uma contextualização do processo de urbanização e industrialização ocorrido no Brasil nas décadas de 1950 a 2008. Depois estabelecemos alguns pontos históricos da alimentação de Londrina deste período, relacionando-os com o processo citado acima. Finalizamos mostrando a experiência pedagógica que deu suporte a esta implementação, analisando diferentes fontes, as conclusões que os alunos construíram a partir delas e quais mudanças ocorreram nos conceitos que os mesmos tinham inicialmente sobre o tema. Palavras-Chaves: Ensino de História; História local; História da alimentação Abstract: This article refers of the activities in educational performed in the Education Development –PDE, implemented bye the State Secretary Departament of Education of the State of Paraná in partnership with IES, including the State University of Londrina (UEL), through which we received guidance. In it we reported an experience of using the history of food as a possibility subject for the study of History in Elementary School. For this we presented, at first, a context of urbanization and industrialization that occurred in Brazil in the 1950s to 2008.After we have established some points of the history of food of Londrina in this period, relating it with procedure mentioned above. We finalizes showing the educational experience that gave support to this implementation, analyzing different sources, the conclusions that students built from them and what changes occurred in the same concepts that they had initially on the theme. Keywords: teaching history; local history; history of food 1 1 Professora de História do Estado do Paraná- Colégio Estadual “Dr. Gabriel Carneiro Martins” – Ensino Médio e Fundamental. E-mail [email protected]

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MEMÓRIAS GUSTATIVAS: HISTÓRIA DA ALIMENTAÇAO EM LONDRINA 1950 a

2008 - POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS

Elizabete Cristina de Souza Tomazini1

Resumo: Este artigo refere-se à parte das atividades desempenhadas no Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE, implantado pela Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná em convênio com as IES, entre elas a Universidade Estadual de Londrina (UEL), através da qual recebemos orientações. Nele relatamos uma experiência da utilização da história da alimentação como uma possibilidade temática para o estudo de História no Ensino Fundamental. Para tanto apresentamos, num primeiro momento, uma contextualização do processo de urbanização e industrialização ocorrido no Brasil nas décadas de 1950 a 2008. Depois estabelecemos alguns pontos históricos da alimentação de Londrina deste período, relacionando-os com o processo citado acima. Finalizamos mostrando a experiência pedagógica que deu suporte a esta implementação, analisando diferentes fontes, as conclusões que os alunos construíram a partir delas e quais mudanças ocorreram nos conceitos que os mesmos tinham inicialmente sobre o tema. Palavras-Chaves: Ensino de História; História local; História da alimentação

Abstract:

This article refers of the activities in educational performed in the Education Development –PDE, implemented bye the State Secretary Departament of Education of the State of Paraná in partnership with IES, including the State University of Londrina (UEL), through which we received guidance. In it we reported an experience of using the history of food as a possibility subject for the study of History in Elementary School. For this we presented, at first, a context of urbanization and industrialization that occurred in Brazil in the 1950s to 2008.After we have established some points of the history of food of Londrina in this period, relating it with procedure mentioned above. We finalizes showing the educational experience that gave support to this implementation, analyzing different sources, the conclusions that students built from them and what changes occurred in the same concepts that they had initially on the theme.

Keywords: teaching history; local history; history of food

1 1 Professora de História do Estado do Paraná- Colégio Estadual “Dr. Gabriel Carneiro Martins” – Ensino Médio e Fundamental. E-mail [email protected]

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Introdução

O ensino de História nas escolas da rede pública do Paraná busca, há

algumas décadas, estar em sintonia com as pesquisas realizadas pela academia.

Nesta busca concentra seus esforços para levar à sala de aula uma “história” que

não se resuma ao simples relato de fatos e personagens, muitas vezes sem sentido

algum para o aluno. Com o PDE e a construção das novas Diretrizes Curriculares,

iniciamos um processo de superação disto, trazendo para a sala de aula novos

objetos históricos. Neste sentido nasce o tema da pesquisa relatada neste artigo, a

história da alimentação, relegada muitas vezes como “curiosidade” dentro dos livros

didáticos, mas que já demonstrava em experiências, em anos anteriores, ser um

bom encaminhamento pedagógico.

Víamos na história da alimentação uma possibilidade de realizar uma

intervenção pedagógica que pudesse dar conta não só da área de história, mas que

aglutinasse outras disciplinas, pois como diz Santo:

o tema da alimentação, finalmente, começa a invadir a História, impulsionando maior diálogo multi, inter e transdisciplinar [...]. As pesquisas acadêmicas – muitas que redundaram em dissertações e teses de pós-graduação – que abrangem processos históricos com enfoque social, cultural, econômico, político, tecnológico, nutricional ou antropológico, e mesmo como monografias sobre determinados alimentos, buscam recuperar os tempos da memória gustativa, possibilitando as desejáveis articulações entre a História e outras disciplinas (SANTOS, 2005, p. 11).

Segundo Rubens Leonardo Panegassi (2008, p. 9), “há cinco enfoques

predominantes entre os estudos dedicados à alimentação: o biológico, o econômico,

o social, o cultural e o filosófico”. Dentre estes, procuramos dar especial atenção ao

aspecto cultural, entendendo a história da alimentação como um eixo a partir do qual

podemos analisar as significações sociais criadas pela alimentação e suas

repercussões em outras áreas. Buscamos com isso sentir o “cheiro” da história

através das memórias gustativas dos alunos e da comunidade onde estamos

inseridos.

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Brasil décadas de 1950 a 2008: contextos

Os anos 1950 do século passado foram, para vários autores, um período de

intensificação da industrialização e urbanização do Brasil. Segundo Mello e Novais

(1998, p. 560), a sociedade brasileira tinha a sensação de que finalmente iria se

tornar uma nação moderna, pautada pelas “conquistas materiais do capitalismo e

com as persistências de traços de caráter que nos singularizavam como povo: a

cordialidade, a criatividade, a tolerância”. Estes mesmos autores, afirmam, que este

processo só se reverteria a partir dos anos 1980 do século XX quando o pessimismo

ganha o lugar da euforia.

Num período de apenas 50 anos, o Brasil experimenta um acelerado

processo de industrialização e urbanização, presidentes como Dutra, Getúlio Vargas

(no seu segundo mandato) e J. K. estimularam a construção de indústrias que

produziam de tudo desde aço a compotas. Isso fez com que, para Mello e Novais

(1998), os brasileiros acreditassem estar finalmente pegando o trem da história e

entrando no mundo industrializado. Neste ínterim, a indústria de alimentos ganha

destaque, porque vem acompanhada também de mudanças de cunho social, já que

a produção de alimentos prontos ou semiprontos liberta as mulheres para a

realização de outras atividades, como a inserção no mercado do trabalho, e tornam

o trabalho doméstico mais prático.

Entre os novos padrões de consumo citados, por Mello e Novais, podemos

destacar uma mudança na forma do preparo dos alimentos em casa, as cozinhas

são inundadas por, Fogão a gás de botijão, que veio tomar o lugar do fogão elétrico, na casa dos ricos, ou do fogão a carvão, do fogão a lenha e da espiriteira, na casa dos remediados ou pobres: em cima dos fogões, estavam, agora, panelas – inclusive a de pressão – ou frigideiras de alumínio e não de barro ou de ferro; [...] o liquidificador e a batedeira de bolo; geladeiras; a torradeira de pão; [...] (MELLO; NOVAIS, 1998, p. 562).

Outro ponto que chama atenção é a utilização cada vez maior de alimentos

industrializados. Arroz, feijão, farinhas passam a ser empacotados em sacos de

plásticos ao invés de serem comprados a granel em lojas de secos e molhados ou

quitandas. Chegam os enlatados: extrato de tomate, ervilha, milho e seleta de

legumes. O leite e fórmulas infantis, objeto de pesquisa de Amorim, são oferecidos

em pó e enlatados (AMORIN, 2005, p. 97). O leite condensado, que cria no Brasil o

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folclórico brigadeiro, doce batizado assim como uma homenagem ao brigadeiro

Eduardo Gomes, político e candidato à presidência da República. As compotas de

doces variados, os refrigerantes, o frango da granja o pão Pullman, bebidas

alcoólicas , chocolates, sorvetes, doces. Tudo isso com uma áurea de moderno, de

melhor, embora nem sempre isso tenha sido acompanhado numa melhoria do sabor

ou da qualidade de vida.

Esses avanços na maneira de produzir os alimentos foram sucedidos de

mudanças na forma de comercializá-lo, surgindo os primeiros supermercados que

agregaram vários itens e superaram em vendas o armazém, o açougue, a peixaria, a

quitanda, a carrocinha e os caminhões, responsáveis pela comercialização de

alimentos no país até então.

Além das transformações na forma de produção e comercialização dos

alimentos, estas também ocorreram no modo de consumo, sendo desta época o

hábito de “comer fora”. Churrascarias, cantinas, pizzarias, lanchonetes, fast food,

essas inovações chegaram para atender a todas as classes sociais. E assim, nas

décadas seguintes, importamos para Brasil modelos alimentares de outros povos,

abrindo espaço cada vez maior para os produtos industrializados e sofrendo com

isso as consequências dos efeitos nocivos trazidos por este novo padrão alimentar.

História da alimentação em Londrina 1950 a 2008: alguns apontamentos

Segundo Vanda Moraes, Londrina é uma cidade de muitas memórias cotidianas, que no seu conjunto formam seu maior patrimônio: a sua historia - na verdade, a nossa história que não é igual a de nenhuma outra cidade, pois só poderia ser construída por estes homens e mulheres que foram escolhidos por Londrina para construírem esta cidade e perpetuarem sua memória (MUSILI; ABRAMO, 2004, p. 4).

A pesquisa sobre a história da alimentação da cidade de Londrina nos faz

observar diversos aspectos, que exploram desde suas condições ambientais até as

origens e classe sociais dos homens e mulheres que nela se estabeleceram.

Segundo Joviniano Pereira da Silva Netto e Márcia Siqueira de Carvalho,

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Apesar de não haver registro sobre a existência de um prato tipicamente londrinense, percebe-se que a cultura alimentar da região foi moldada a partir de significativas interferências dos costumes trazidos pelos grupos estrangeiros e nacionais. Mesclando ingredientes nativos com os de outras nações e regiões do Brasil, muitos imigrantes viram-se, por vezes, obrigados a substituir produtos “originais” por similares no preparo das receitas de seu local de origem. A ausência de matéria-prima levou esses grupos a uma adaptação alimentar desenvolvida com base no cultivo de plantas comestíveis, criação de animais, na troca, e na compra de produtos em lojas de “secos e molhados” (estabelecimentos que vendiam desde tecido para confecção de roupas até gêneros alimentícios como por exemplo, carne, cereais e frutas) (SILVA NETO; CARVALHO, 2005, p. 1).

Os autores sugerem que a alimentação dos londrinenses tenha nascido da mistura

dos sabores dos grupos de diferentes etnias (alemães, japoneses, ucranianos,

espanhóis, árabes) com a tradição e sabores dos mineiros, nordestinos e paulistas,

que se juntos, não criaram um prato típico, construíram uma cultura alimentar.

Neste momento destacavam-se, no comercio de alimentos, as lojas de secos e

molhados, as pensões, os restaurantes dos hotéis.

Nas décadas seguintes (1940-1950), Londrina desponta como importante

produtor cafeeiro, contrariando os planos iniciais dos ingleses que pretendiam

transformá-la num pólo de produção de algodão

Com isso surge a preocupação de construir uma cidade moderna, compatível

com a classe rica que crescia , apontando para uma estética urbana sofisticada, que

acompanhava os grandes centros do Brasil. Mas o processo de ocupação urbana

rapidamente saiu do controle e deu lugar a uma cidade com estética confusa, onde

vários estilos se misturaram.

Confusão que reproduziu a própria diversidade racial e cultural que se estabeleceu em Londrina. Um mostruário do mundo, com habitantes que vinham de países distintos, cada um com sua cultura e tradição. Ao redor desses espaços urbanos vivia um povo inquieto, arrojado, que misturava macarrão com sashimi, tradições que se cruzaram e originaram uma cultura expressiva, que influenciou a própria condução da vida social e cultural vividas nas imediações centrais de Londrina (MUSILI; ABRAMO, 2004, p. 11).

Mas era raro nos jornais locais pesquisados, a referência a estes locais,

poucos se preocupavam em atrair novos clientes com anúncios nos jornais.

As décadas de 1950 são marcadas também pelo processo de urbanização e

industrialização pelo qual o país passa e, segundo Adum (1991) e Arias Neto (1998)

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afirmam em suas pesquisas, Londrina não fica de fora e experimenta neste período

um boom de “modernização” causado pelas riquezas produzidas pelo café.

Destacamos desse processo as construções do Edifício AUTOLON de 1951, a

antiga Estação Rodoviária, o Cine Ouro Verde e a Casa da Criança de 1952 saídos

das pranchetas dos arquitetos Vilanova Artigas e Carlos Castaldi.(GONÇALVES,

2008, p. 2)

O certo é que, apesar desta modernização, muitos londrinenses mantinham

as tradições rurais na forma de se alimentar, uma vez que em 1950 a cidade tinha

por volta de 70 mil habitantes e destes 52% viviam na zona rural2. Paulo de Tarso

Gonçalves destaca o fato de a cidade estar cercada por cafezais e por isso ainda

convivíamos com o costume do campo entrelaçado com o da cidade, conforme

relato retirado do Jornal Panorama

“A duzentos metros de onde é hoje o número 540 da Rua Mato Grosso, já havia cafezal intenso. Havendo sol, Londrina impregna seu pó vermelho, roxo, terra de siena, havendo chuva, as ruas da cidade viram lama que só as charretes conseguem atravessar” (GONÇALVES, 2008, p. 4).

Assim era muito comum ainda, na zona rural, o consumo de alimentos

caseiros, ficando a compra restrita ao sal e açúcar. As famílias tinham que aproveitar

tudo o que produziam como o uso da banha de porco e da sua carne conservada

nessa gordura. Pães, bolos, broas, cada família reproduzia suas memórias

gustativas. O campo tudo fornecia, mas este ritmo seria quebrado nas décadas

seguintes com o processo de industrialização nacional que trouxe mais e mais

produtos industrializados para a mesa dos brasileiros e por consequência a dos

londrinenses também.

Nos anos 1960, conforme dados do IBGE, a população de Londrina atinge a

marca de 131 mil habitantes, sendo que o campo passa a sofrer um processo de

evasão rural o que se reflete no aumento da população urbana para 57% deste total.

Se nas décadas passadas os jornais analisados trazem poucos anúncios de locais

de alimentação, nesta década a urbanização e modernização da cidade fazem com

que surjam anúncios, como este da Folha de Londrina, onde observamos o

restaurante Lord oferecendo comida caseira através do sistema de fornecimento,

6 2 Dados obtidos no Censo Demográfico do IBGE. 1950

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com pagamento mensal. Assim o cliente poderia ter a facilidade da comida caseira

em seu local de trabalho todos os dias.

FOTO 1

Fonte: Jornal Folha de Londrina 16/12/1961 – página 2 do 1º Caderno. Autor: Elizabete C. S. Tomazini

Segundo Fischler (1998, p. 850), esse processo é mundial, pois “no momento

em que a alimentação torna-se um mercado de consumo de massa, as refeições

servidas em restaurantes passam por uma evolução, em parte, comparável”. Dessa

forma a vida moderna faz com que as famílias não tenham mais tempo de preparar

suas próprias refeições , uma vez que, Enquanto ao longo da evolução histórica a casa foi assimilada ao lar-- isto é, à cozinha--, na proximidade do terceiro milênio a alimentação se identifica cada vez menos necessariamente com o universo doméstico (FISCHLER, 1998, p. 850).

Outro ponto que chama a atenção da história da alimentação de Londrina é a

relação das prostitutas com bares e restaurantes da cidade. Lídia Kawazoe relata

em entrevista dada ao jornalista Marcos Feltrin (FELTRIN, 2004) e publicada pela

revista eletrônica Londrix, que no auge da produção cafeeira o bar Seleto (Mato

Grosso esquina com a Sergipe) ficava lotado de prostitutas que faziam ponto na Rua

Mato Grosso, clientes fiéis do bar, onde compravam cigarros, chocolate ou algo para

comer.

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Os anos 1960 marcaram também uma mudança na comercialização dos

gêneros alimentícios, a cidade crescia e os antigos secos e molhados não atendiam

mais as suas necessidades. A fidelização das marcas começaram a se destacar

como demonstra análise dos livros de registro de loja de secos e molhados de

propriedade de Antonio Caparelli, que conforme informação fornecida pela família,

funcionou até 1965. Imagem 1

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Livro de registro de estabelecimento comercial de Antonio Caparelli, dezembro de 1963 - arquivo da familia.

Podemos perceber as marcas preferidas dos clientes do comérico de

Caparelli para alguns produtos do dia a dia: Cica, Moça Lagão, Nestlé, Hemer,

Aviação, amendocrem, coqueiro, entre outros.

Outro destaque importante é a cidade como produtora de bebidas

consumidas não só na região como em outros estados. No livro de registro de

Antonio Caparelli temos referência ao Guaraná e a Soda Londrina. Fato corroborado

por Lélio César (FELTRIN, 2004) que cita também a Cervejaria Londrina, que tinha

como garoto-propaganda o antigo Rei Momo da cidade, Geraldo Júlio (Dinho Preto),

que, dizem o folclore local, consumia 15 garrafas de cerveja por dia.

Imagem 2

Livro de registro de estabelecimento comercial de Antonio Caparelli, Dezembro de 1964 -arquivo da família.

A mecanização da agricultura ocasiona uma grande migração rural que atinge

todas as regiões do país, grandes parcelas da população dirigiram-se aos grandes

centros urbanos em busca de melhores condições de vida. Fato destacado por Mello

e Novais, quando afirmam que Agora, milhões de homens, mulheres e crianças são arrancados do campo pelo trator, pelos implementos agrícolas sofisticados, pelos adubos e inseticidas, pela penetração do crédito, que deve ser honrado sob pena da perda da propriedade ou da posse. (MELLO; NOVAIS, 1998, v. 4, p. 580)

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Isso tornou mais claro a modificação na estrutura econômica brasileira, onde

os investimentos do Estado para a economia urbano-industrial aumentou em

detrimento da economia agrário-exportadora. Assim a cultura do café, nas áreas

onde eram cultivadas, foi drasticamente reduzida e no norte do estado do Paraná, a

ocorrência de fortes geadas, principalmente a que ficou conhecida como "grande

geada de 1974", acelerou o processo de erradicação da cultura do café.

Após os anos de 1970, o percentual de população rural decaiu rapidamente.

Mello e Novais (1998, v.4, 1998, p. 581) destacam que “em três décadas a

espantosa cifra de 39 milhões de pessoas” migraram para a cidade. Este acelerado

crescimento da população, no caso londrinense, culminou com a complexificação do

seu espaço urbano . A cidade não comportava mais ser atendida pelas antigas

mercearias e lojas de secos e molhados, assim, nesta década, recebemos o

primeiro hipermercado da rede PEG PAG, poucos anos depois da idéia rede ter sido

implantada no Brasil pelo grupo Pão de Açúcar em São Paulo.

Tabela 1- Evolução da População de Londrina

ANO POP. URBANA POP. RURAL TOTAL 1970 163.871 64.661 288.532 1980 267.102 34.647 301.749 1991 366.676 23.424 390.100 1996 396.530 16.364 412.894 2000 433.369 13.696 447.065

Fonte: Censos Demográficos do IBGE. 1970, 1980 , 1991 e 2000.Sinopse preliminar do Censo Demográfico 1960, IBGE e Plano diretor de Londrina, 1997. Perfil de Londrina 2008

O aumento da população urbana, que observamos na tabela acima, fez com

que nos anos de 1980 algumas regiões da cidade mudassem suas configurações

originais. Assim a Avenida Higienópolis, local das residências dos grandes

produtores de café dos anos 1950, assume o posto de point para a juventude

londrinense, vários bares e restaurantes são abertos, tirando do lugar

definitivamente o seu perfil residencial. O footing ocorria no final de tarde com os

carros circulando e o flerte rolando solto.

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A chegada ao final do milênio fortaleceu a vocação de Londrina como

prestadora de serviços, com isso grandes redes de “fast-food” como Habib’s, Mc

Donald’s, juntaram-se à tradicional venda de lanches prensados da cidade. A

população jovem passou a ter acesso aos sabores internacionais. Mas observamos

também que em contraposição ao fast-food, surge na Itália um movimento batizado

de slow-food, segundo informações do site www.slowfoodbrasil.com, acessado em

20 de Novembro de 2009,

O slow-food é uma associação internacional sem fins lucrativos fundada em 1989 como resposta aos efeitos padronizantes do fast food; ao ritmo frenético da vida atual; ao desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo (2009).

Notamos que há, atualmente, um aumento de procura por alimentos

orgânicos, bem como por restaurantes onde, mesmo sem saber, seus donos

empregam alguns conceitos valorizados pela teoria slow-food, entre eles o que

preconiza a valorização dos prazeres sensoriais dos alimentos em sua plenitude.

Nestes locais há ofertas de espaço que alia a alimentação ao descanso, muitos dele

atendendo aos saudosistas dos sabores caseiros da Londrina das primeiras

décadas.

Também o setor de venda de alimentos da cidade recebe a rede de

Hipermercado Carrefour, que vem se juntar às grandes redes locais: Muffato,

Viscardi... Londrina sedimenta-se como polo comercial e da alimentação na região.

O café volta a ser plantado, com novas técnicas, o que estimula o seu

consumo como bebida especial, cafeterias espalham-se pela cidade. Se nas

décadas passadas apostávamos numa vocação industrial, hoje cada vez mais a

cidade fortalece-se como prestadora de serviços e pólo gastronômico da região,

idéia que conta com apoio de importantes políticos locais. Neste processo os

distritos de Warta e Heimtal tornaram-se referência na oferta de sabores caseiros

como o porco no tacho, costela com mandioca e a cozinha dos pioneiros alemães.

Na Zona Rural são comuns as festas do milho, do frango, que têm como

atrativo principal a oferta da comida caseira. Há também restaurantes na Zona Sul

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da cidade que oferecem aos seus frequentadores toda uma infra-estrutura como

redes para descanso, passeios a cavalo e pratos mineiros e paulistas. Torna-se

tradicional também a Festa Nordestina que tenta registrar a presença destes

personagens relegados, muitas vezes esquecidos, nas publicações oficiais da

história da cidade. Além da música, nesta festa ganha destaque os sabores da

moqueca, da tapioca, da buchada, entre outros pratos trazidos do Nordeste.

Exemplo maior desta mistura de etnias, já citadas anteriormente, são as “feiras da

lua”, que proporcionam num mesmo espaço uma viagem gastronômica através de

suas barracas e o crescente aumento de pontos de vendas de produtos específicos

como lojas de produtos orgânicos, nordestinos, japoneses entre outros.

Assim com pouco mais de 70 anos a cidade experimenta um boom de

crescimento e mudanças que a tornou um interessante objeto de pesquisa no que se

refere a observar a trajetória da história da alimentação mostrando o percurso feito

da comida caseira da roça ao fast food da cidade.

MEMÓRIAS GUSTATIVAS : ENCAMINHAMENTOS PEDAGÓGICOS

Ao retornar à escola, no segundo ano do PDE, tínhamos como missão aplicar

um projeto gestado durante o primeiro ano do programa. Pretendíamos, enquanto

proposta pedagógica, mostrar um novo objeto de estudo da historiografia (a história

da alimentação) e criar um ambiente de pesquisa e construção do pensamento

histórico. Intenção referendada pelo J. P. Aron em seu texto “A cozinha: um cardápio

do séc. XIX” publicado em coletânea organizada por Le Goff e Nora. Nele, Aron

(1974, p. 161), coloca que da história da alimentação poderia se extrair várias

perspectivas, pois ela encerraria em si conhecimentos da biologia, medicina,

economia, administração, ou seja, seria um tema que tem caráter interdisciplinar.

Para estes historiadores com a história da alimentação, deixamos de lado a história

factual, baseada nos grandes personagens e encontramos a história do cotidiano,

que numa leitura a contrapelo pode nos mostrar um rico universo a ser desvendado

pelo historiador.

Com essa pesquisa também buscamos exercitar uma prática escolar que

relacione a Teoria da História com a Didática da História, utilizando para isso

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diversas fontes, partindo dos conhecimentos dos alunos, relacionando-os com a

história local que, segundo Circe Bittencourt,

Tem sido indicada como necessária ao ensino por possibilitar a compreensão do entorno do aluno, identificando o passado sempre presente nos vários espaços de convivência – escola, casa, comunidade, trabalho e lazer -, e igualmente por situar os problemas significativos da história do presente (BITTENCOURT, 2004, p. 168).

Pois a História depende da experiência e da interpretação. Devemos,

portanto, relacioná-la com a vida prática e com a aprendizagem, conseguindo assim

que os alunos construam/adquiram a sua consciência histórica, pois é ela quem

Dá estrutura ao conhecimento como um meio de entender o tempo presente e antecipar o futuro. Ela é uma combinação complexa que contém a apreensão do passado regulada pela necessidade de entender o presente e de presumir o futuro (RÜSEN, 2006, p. 14).

Para isso escolhemos, em conjunto com a equipe pedagógica, as turmas de

8ª série do ensino fundamental; em especial a 8ª série B, do Colégio Estadual Dr.

Gabriel Carneiro Martins. Localizado na zona Oeste de Londrina, atende alunos dos

bairros vizinhos da escola e de outras regiões da cidade e municípios vizinhos. A

escolha por esta série foi intencional e baseou-se no fato de que os mesmos já

haviam trabalhado, em anos anteriores, atividades relacionadas à história da

alimentação. Assim ajustamos a temática ao estudo da urbanização e

industrialização do Paraná a partir da década de 1950, estabelecendo como recorte

da implentação a Londrina das décadas de 1950 a 2008. Contemplado com isso as

Diretrizes quando esta afirma que “o estudo das histórias locais é uma opção

metodológica que enriquece e inova a relação de conteúdos a serem abordados,

além de promover a busca de produções historiográficas diversas” (PARANÁ, 2008,

p.71).

Num primeiro momento procuramos investigar o que os alunos conheciam

sobre o tema, utilizando para isso um conjunto de questões, reproduzido abaixo,

onde se destacavam o que os mesmos pensavam sobre o tema e o que já sabiam a

seu respeito. Segundo Barca (2006) esta atividade é muito importante, pois somente

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quando levamos em conta os conhecimentos prévios dos alunos é que podemos

realmente interferir no processo de aprendizagem. Mas é necessário que isso não

seja feito em cima de suposições e para isso o professor deve

Levantar as idéias prévias dos alunos, analisá-las, projetar as tarefas de aula tendo em consideração a mudança ou refinamento dessas ideias prévias, levantar de novo as ideias a posteriori, reanalisá-las e dar aos alunos a possibilidade de refletir, num exercício de metacognição [...]. O professor só poderá mudar o pensamento dos alunos conscientemente se o conhecer (BARCA, 2006, p. 32).

Nome: Idade: Endereço: Nos itens abaixo assinale a década que marca a chegada dos seus familiares em Londrina: ( ) 1920-1930 ( )1931-1940 ( ) 1941-1950 ( ) 1951-1960 ( ) 1961-1970 ( )1971-1980 ( ) 1981-1990 ( ) 1991-2000 ( ) 2001-2008 2- Você acha que a alimentação (alimentos, consumo, formas de produção...) pode ser tema de estudo das aulas de História? Justifique a sua resposta. 3-Liste cinco coisas que conhece sobre a história da alimentação da humanidade. 4- Identifique locais ou pratos que façam parte da história da alimentação de Londrina.

Na análise do instrumento de investigação exposto acima, o qual foi

respondido por 35 alunos, estabeleceu-se que:

-Apenas 1 aluno não mora em bairro próximo ao Colégio.

-13 alunos não souberam informar ( mesmo solicitando que fizessem esta

pesquisa com os pais ou responsáveis previamente) quando seus familiares

chegaram a Londrina. O restante relatou que suas famílias chegaram a Londrina: 1

em 1920-1930; 2 em1931-1940; 3 em 1941-1950; 3 em 1951-1960; 4 em 1961-

1970; 6 em 1971-1980; 2 em 1981-1990; 2 em 1991-2000; e nenhum na década

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que começou em 2001. Neste momento percebemos que o fato de 37% dos alunos

não conseguirem este dado poderia ser um empecilho nesta busca sobre as

memórias gustativas das suas famílias. Outro ponto que vale ressaltar foi as

dificuldades em obter informações com seus pais e avós que ultrapassassem as

décadas de 1990, mesmo quando a família havia chegado antes desta década.

Na análise da questão n. 2, onde pretendíamos fazer uma sondagem

sobre a disposição dos alunos em estudar o tema história da alimentação em

História, 9 alunos responderam NÃO, justificando que este tema pertencia à

Geografia ou Ciências e, que por isso, não seria importante estudá-lo em História.

Alguns apontaram também que ele não seria cobrado em provas e concursos. A

maioria (21 alunos), porém, responderam que SIM, enfatizando que o assunto

poderia ser uma temática interessante, onde eles iriam conhecer as origens de

alguns alimentos e histórias pitorescas.

Nas questões n.3 e n.4 ficou claro que a maioria pouco conhecia sobre o

tema de uma maneira geral e nada sobre a história da cidade do ponto de vista da

sua alimentação, já que muitos nem responderam o que foi pedido.

De posse destas informações optamos por elaborar uma nova etapa de

atividade que mostrasse inicialmente o que é a história da alimentação e seus

temas. Feito isso percebemos que a receptividade dos alunos melhorou e sua

curiosidade também. Assim lemos a história em quadrinhos da revista Magali n. 21

de 2008, onde discutimos o que são memórias gustativas. Nesta história o

personagem Dudu, famoso por sua falta de apetite, trava uma conversa com Deus

onde o mesmo mostra como as lembranças e as histórias pessoais podem vir

acompanhadas de sabores e cheiros relacionados à comida. Deste modo a memória

armazena, cuidadosamente, cheiros e gostos, que são frequentemente ativados pela

saudade.

Como passo seguinte, fizemos a leitura e interpretação do texto “Memórias

gustativas: História da alimentação de Londrina 1950 a 2008” , produzido durante o

primeiro ano do PDE , etapa essa prazerosa por mexer com referência a coisas que

os alunos conheciam, eram frequentes citações, pareciam que as memórias

gustativas deles entravam em ação.

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Mas a aplicação do projeto não foi só feita de entusiasmo. Tivemos também

vários contratempos como dificuldades em realizar as atividades fora da escola por

envolverem gastos que os alunos não se dispuseram a arcar . Assim optamos por

separá-los em grupo onde os mesmos poderiam fazer suas investigações, seguindo

as orientações dadas e não envolvendo gastos tão altos assim.

Para a realização dos trabalhos em grupos houve duas oficinas, a primeira

mostrando como coletar fontes orais. Nesta oficina aproveitamos informações

recebidas ao participar do grupo “Contação de História “ da UEL, dirigidos pelas

professoras Regina Alegro e Ana Heloisa Molina, entre outros, e que primou pelo

incentivo ao estudo da história oral como objeto de estudo nas aulas de História do

ensino regular. Para atender as demandas do projeto, optamos por trabalhar com

entrevistas, onde os alunos elaboraram um roteiro e assim direcionavam os

entrevistados para obter as informações que queríamos. Fizemos desta forma pelo

tempo curto o que não possibilitou a coleta de depoimentos mais longos. Vale

ressaltar que apesar de termos um afastamento de 25% para dedicação ao projeto

para certas atividades, este tempo mostrou-se insuficiente. Como experiência eles

entrevistaram professores e funcionários da escola, sendo que estes últimos foram

os que mais se mostraram empolgados por fazer parte do projeto através de seus

relatos. No retorno à sala de aula, mostramos como a entrevista deveria ser

transcrita, fato que gerou certo descontentamento dos alunos, nem todos

participaram. A falta de gravadores impossibilitou que estas entrevistas fossem feitas

com mais pessoas, o que nos fez permitir que alguns alunos fizessem esta atividade

por escrito.

As entrevistas trazidas pelos alunos seguiram o roteiro descrito abaixo:

1- Nome do entrevistado

2- Idade

3- Data em que chegou a Londrina?

4- Qual a origem da sua família?

5- O que mais gosta de comer?

6- A sua família tem algum prato tradicional? Você conhece as origens dele?

7- Percebe alguma mudança na alimentação que praticamos? (Sabe dizer por

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que isso acontece?)

8- A alimentação tem história?

9- Relate algum episódio sobre as memórias gustativas de sua família?

Na análise das entrevistas que foram entregues, constatamos que a maioria

dos entrevistados eram mulheres, 23 contra 3 homens. A idade dos entrevistados

variavam de 30 a 80 anos, sendo que 38% ficaram na faixa etária de 31 a 40. A

maioria chegou a Londrina entre 1961 a 1990, informação que já havia aparecido na

investigação inicial feita com os alunos. Demonstrando a formação plural da cidade,

encontramos entre os entrevistados descendentes de nordestinos (Alagoas e

Sergipe), cariocas, paulistas e mineiros. Um entrevistado relatou que sua origem é

brasileira e outro destacou o sangue negro e índio. Mas a maioria, 46%, se

posicionou como tendo origens europeias (italianos, espanhóis, portugueses,

alemães).

As respostas para a questão n. 5 apresentaram uma gama de preferências

que variaram dos tradicionais pratos brasileiros, como arroz, feijão, feijoada,

mandioca, pratos feitos com milho, aos de inspiração europeia, como o nhoque, a

polenta e o estrogonofe.

Na questão n.6 prevaleceram uma variedade de sabores com a inspiração

rural como o frango com polenta, que tiveram a sua origem, atribuída pelos

entrevistados, a mineiros e italianos. O macarrão com diferentes molhos: branco,

bolonhesa, gratinado e até uma receita criada pela tia de um entrevistado,

“estrogonofe de macarrão” figuraram entre os pratos tradicionais das famílias

entrevistadas. Complementaram este rol a feijoada, o pão caseiro e o churrasco.

Com as questões n. 7 e n. 8, buscamos investigar o que a comunidade pensa

sobre o tema alimentação, se o mesmo possui uma história, que poderia influenciá-

los e ser um indicador de características culturais de um povo. 60% responderam

que sim para os questionamentos feitos, justificando sua resposta com os trechos

que transcrevemos a seguir,

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“A cultura de cada região é rica em história, obviamente a alimentação das pessoas

sofrem mudanças com o tempo”.

“[...] tudo muda com o passar do tempo inclusive a nossa alimentação”.

“O prato tradicional da minha família passou do meu pai para mim, eu passei pra

minha filha que vai passar para os seus filhos”.

“Os índios faziam paçoca, socavam carne seca com farinha de mandioca no pilão

para fazer farofa, conhecida também como aipim.”

“A polenta com frango vem há décadas na família.”

A análise destas falas contribuiu para que os alunos estabelecessem as noções de

mudanças e permanência que permeiam a história.

Na questão n. 9 buscamos relatos que pudessem compor o livro de Memórias

Gustativas de Londrina. A grande maioria fez comentários curtos e não contribuíram

com as receitas mais detalhadas dos pratos citados. Dois grupos de respostas

aparecem nas falas, aqueles que destacam as lembranças das datas festivas (Natal,

aniversários, Ano Novo) e os que se recordam do cotidiano, aquele carinho que

recebiam com o alimento mais simples,

“Natal [..]. minha vó fazia vários pratos típicos, entre eles, lasanha, macarronada[..].”

“Sempre que íamos para o sítio da nossa bisavó, aos domingos, ela sempre servia

café com leite e broa de fubá [..].”

“O pai contava que em Portugal comia broa de fubá e batata em diversos tipos.

Quando pequena comia mingau, leite, pão [....]”

“Quando eu era criança, não comia porcarias [...] até comia [...] mas não como hoje.

Se alimentava nos horários e a comida era super saudável em casa.”

Para complementar esta etapa lemos o texto do Domingues Pelegrini

publicado no Jornal de Londrina em 14 de dezembro de 2008 e que recebeu o

sugestivo titulo “Natal Cheiroso”, onde o autor relata os natais na casa de sua avó.

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Quando eu era mais menino, na véspera do Natal Vó Sebastiana varria o forno de barro com a longa vassoura de guanxuma. [...]

Quando a lenha virava braseiro, ela varria para os lados do forno e então, com a longa e fina pá de madeira enfiava as quatro assadeiras de leitoa, que depois tirava douradas e lambuzava com pano molhado de pinga, voltando ao forno para pururucar.

[...]

Já depois do almoço, saíam os frangos e, varridas as cinzas, entravam as assadeiras de pães. Alguns eram recheados com queijo ou goiabada, saíam do forno com o recheio escorrendo borbulhante dos bicos da massa, e a meninada pegava com colher, soprando para esfriar e lamber enquanto a vó repetia: não vão queimar o beiço...

Depois dos pães entravam os bolos e broas, já entardecendinho, o forno ainda bafejando tanta quentura que o turbante dela ensopava, ela trocava por outro sequinho, feito de pano de saco de farinha branquinho ( PELEGRINI, 2008).

Neste momento solicitamos que trouxessem fotos pessoais que tivessem

relações com o tema. Esta proposta de trabalho vem ao encontro das Diretrizes

Curriculares de História para a Educação Básica, do Estado do Paraná, quando esta

afirma que “recorrer ao uso de vestígios e fontes históricas nas aulas de História

pode favorecer o pensamento histórico e a iniciação aos métodos de trabalho do

historiador” (PARANÁ, 2008, p.69). “Uma vez que fotografias imagens, livros, jornais,

histórias em quadrinhos, pinturas, gravuras, museus, filmes, músicas, são

documentos que podem ser transformados em materiais didáticos de grande valia

na constituição do conhecimento histórico”(PARANÁ, 2006, p. 52).

Num primeiro momento vivenciamos a recusa velada em fazer isso, muitos

diziam que não tinham fotos pelos mais variados motivos: mudança de casa,

separação dos pais, as fotos estavam digitalizadas. Mas com jeitinho conseguimos

as primeiras fotos, a vergonha de muitos passou e juntamos um material que gerou

a oficina de análise de fotos. Pudemos perceber a juventude das famílias dos

alunos, a maioria trouxe fotos que não ultrapassavam a década de 1990, o que

dificultou a coleta de dados sobre décadas mais antigas. Mas conseguimos com eles

verificar que a alimentação é algo importante como fator de reunião familiar (Natal,

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Ano Novo, aniversário), conforme vemos nos exemplos reproduzidos abaixo.Nestas

fotos percebemos que,

A função social da refeição continua sendo importante: as pessoas não comem somente para se alimentar, mas também para visitar os pais, amigos e vivenciar um prazer compartilhado. Esse prazer convival necessita dos empregos comuns do tempo e não se faz sem um mínimo de cerimônia. Na verdade, os ritos são muito diferentes, não só segundo o país e o meio social, mas ainda segundo as circunstâncias e o tipo de refeição. No entanto, por mais simples que seja [...] encontra-se aí um pouco mais de cerimônia, de conversação, de sociabilidade do que no saco de pipoca consumido na arquibancada [...] (MONTANARI; FALANDRIN, 1998, p. 866 e 867).

Foto n. 1 do acervo da família da aluna Maria Tereza

Foto n. 2 do acervo da aluna Juliana Quadros

As fotos serviram também para identificar alguns alimentos ou bebidas que

consumíamos e que mudaram ao longo destas últimas décadas, como por exemplo,

na foto abaixo, onde vemos garrafas do refrigerante Tai que não é produzido

mais.O uso de garrafas plásticas, como a que vemos na foto, ocorre de acordo com

Claude Fischler por pressão dos supermercados, uma vez que

As garrafas de PVC implantam-se rapidamente porque são mais fáceis de transportar em paletes, mais leves, menos frágeis, além de serem descartáveis. Somente muito mais tarde as pessoas se deram conta de seus inconvenientes para o meio ambiente (FISCHLER, 1998, p. 850).

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Foto n. 3 do acervo da família de Vitor Ferreira

Elas nos revelaram informações sobre as origens das famílias dos alunos:

gaúchos, sírios, italianos mineiros, nordestinos, portugueses, japoneses. Para

Montanari e Flandrin (1998, p. 867) apesar, da tendência mundial da “ normalização”

dos comportamentos alimentares, as pessoas ainda tem necessidade de preservar

suas culturas particulares, na figura das cozinhas “típicas”, mesmo quando não

estão em seus países de origens, pois ,” atualmente, as cozinhas regionais fazem

parte do patrimônio comum, do qual se tem, sem dúvida, mais consciência “ do

próprio passado. É importante ressaltar, porém, que esse processo não é salvo de

interferências e assimilações uma vez que “ cada cultura é o fruto de

contaminações, cada ‘tradição’ é filha da história – e história nunca é imóvel”(

MONTANARI; FLANDRIN, 1998, P. 868)

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Foto n. 4 do acervo da aluno Tiago Machado

Foto n. 5 do acervo da família da aluna Jéssica Oliveira

Foto n. 6 da família da aluna Rubia

Uma discussão importante travada foi se o tipo de alimentação poderia indicar

ou não as classes sociais. Para os alunos a alimentação pode ser sim um indício de

separação de classes ou grupos sociais dentro de uma mesma sociedade, porque

existem alguns alimentos que pelo preço não são consumidos pela maioria da

população. Tentamos nesta etapa envolver o grupo de professores da escola para

obter fotos de décadas mais antigas, mas o que pudemos observar é que, quando

se trata de fotos, eles reproduziram os mesmos comportamentos dos alunos.

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Após estas etapas e análises do material, realizamos uma nova pesquisa com

os mesmos critérios da “sondagem” inicial e pudemos perceber com isso as

mudanças dos alunos em relação à temática e ao trabalho realizado. Eles já

conseguiram localizar eventos relacionados à história da alimentação, relataram

conhecer melhor a sua realidade, desenvolvendo, com isso, um raciocínio lógico do

processo de construção do conhecimento histórico e demonstrando uma maior

empatia pelo mesmo.

Por isso esta pesquisa não se encerra com a entrega deste artigo, atividade

final do PDE, pretendemos continuá-la nos próximos anos como uma maneira de

discutir e exercitar a pesquisa historiográfica com os alunos do Colégio Estadual Dr.

Gabriel C. Martins.

Considerações finais

Recentes pesquisas apontam que o aprendizado histórico não pode ser

somente um processo de aquisição de meros fatos , a história deve fazer parte da

vida do aprendiz. Rüsen e Peter Lee defendem que este conhecimento nos

forneceria um senso da “nossa própria identidade” (Lee, 2006,135). A História,

prossegue Lee, “deve ter o compromisso da indagação , e não ser apenas um

acumulo de informações sobre o passado” (LEE, 2006, 136). Estes dois teóricos,

citados acima, junto com Isabel Barca defendem que a pergunta crucial que um

professor deve fazer ao ensinar qualquer conteúdo de história seria “O que pensam

os alunos sobre isso?”. E este foi o cerne desta pesquisa, possibilitar ao aluno a

criação desta identidade, desta empatia com a disciplina, pois a história é feita disso.

Assim a escolha por abordar um tema (Alimentação), utilizando a história

local, mostrou-se ao mesmo tempo ser interessante e viável. Pois, como destaca as

Diretrizes, as ideias históricas dos estudantes são marcadas pelas suas

experiências de vida, por isso ao “analisarmos narrativas produzidas pelos alunos

podemos encontrar as concepções históricas da comunidade à qual pertencem, seja

na forma de adesão a essas ideias, seja na sua crítica”. (PARANÁ, 2008, 72-73)

Neste sentido a história da alimentação, apesar de ser um campo de pesquisa

pouco explorado em Londrina, mostrou-se pertinente, pois serviu a utilização de

novos objetos e fontes. Isto foi útil para a articulação de diferentes conteúdos

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trabalhados em sala de aula, buscando com isso “construir um diálogo entre o

presente e o passado, e não reproduzir conhecimentos neutros e acabados sobre

fatos que ocorreram em outras sociedades e outras épocas” (CAINELLI; SCHMIDT,

2004, p. 52). E este é o grande desafio do professor de História.

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