memórias de josé valizi -  · tinham para desfrutarem de momentos de ... e um agradecimento...

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Memórias de José Valizi - www.valizi.com.br Edição nº 03 - Março/2015 Você pode até não acreditar, mas esta história aconteceu de verdade... Muitas décadas atrás, em Ituverava-SP, havia três amigos que gostavam muito de pescar num rio que passava a pouquíssimos quilômetros da cidade. E naquela época a cidade era pracamente rodeada pela mata, que ainda exisa em abundância. A pescaria era a oportunidade que eles nham para desfrutarem de momentos de descontração e descanso, em contato com a natureza. E nessas ocasiões, não poderiam faltar também um bom churrasco e muita cachaça. Um dos amigos sempre levava para a pescaria uma espingarda cartuchei- ra, um facão e um cachorro grande. Certo dia, levaram consigo mais um amigo, que por sinal era muito medroso. Chegando lá, disseram ao amigo medroso que naquele lugar nha muita onça, tamanduá e outros bichos. E que seria bom alguém ir juntar lenha para fazer uma fogueira à noite, para se protege- rem, porque a onça nha medo de fogo e não iria se aproximar deles. Então, os três amigos foram pescar, enquanto o medroso preferiu ficar quebrando a lenha. E o medo dele era tamanho que ele quebrou muita lenha, pois o que ele menos queria era que a fogueira se apagasse durante a noite, por falta de lenha. Quando a noite chegou, todos ficaram em volta da fogueira, comendo alguma coisa e bebendo muita pinga. Já tarde da noite, depois de muita bebedeira, os três amigos acabaram dormindo no próprio chão, ao redor da fogueira. Mas o medroso não conseguia dormir de tanto medo, que era ainda mais aguçado pelos barulhos que vinham da mata. E ficava só botando lenha e mais lenha na fogueira. Quando já era quase madrugada, e após passar a noite toda em claro, o sono bateu forte e ele, não resisndo ao cansaço, deitou-se entre os companheiros que já estavam dormindo, e caiu no sono. Certa hora, o medroso sonhou que a onça estava atacando eles. Acordou assustado e gritando: − A onça, a onça! Os outros amigos se assustaram com a gritaria e acordaram, mas como a lenha que nha sido juntada era fina, havia quei- mado-se muito rápido e a fogueira já nha se apagado; estava tudo escuro; ninguém podia enxergar nada! Um dos amigos, que dormia sempre com a espingarda ao lado, levou a mão para apanhá-la. Só que durante a noite, o cachorro dele nha se deitado justamente em cima da espingarda. Então, ao tentar pegar a arma no escuro, acabou pegando o rabo do cachorro. Assustado, ele disse: − É a onça mesmo! Peguei no rabo dela! Nesse instante, todos saíram correndo no escuro. Três dos amigos acabaram pegando o mesmo rumo, em direção à cidade, enquanto o medroso foi numa direção diferente, rumo a um brejão. Foi indo até que ele se atolou até a cintura e não podia mais sair do lugar, e começou a gritar por socorro. Já com o dia clareando, os três amigos, que vieram rasgando a mata no peito, conseguiram chegar à cidade e notaram a falta do amigo medroso. Preocupados, foram procurar por ele em sua casa, e não Nesta Edição - O causo da onça - capa - A antena transmissora da rádio - pág. 02 - Carreira arsca (Valizi & Valizinho) - pág. 02 - Lugares onde morei - pág. 03 - Noites de Ituverava - pág. 04 - Patrocinadores - pág. 04 Agradecimentos Agradeço aos patrocinadores desta edição, cujo apoio cultural tornou-a possível. À EPTV RIBEIRÃO (afiliada da Rede Globo) por ter autorizado a disponibilização, em meu website, do vídeo referente à reportagem sobre os 40 anos do programa Fazendinha do Valizi. E um agradecimento especial a todos os fãs e admiradores, pelas suas palavras elogiosas e de incenvo quanto a este trabalho de preservação e divulgação das minhas memórias. A todos, o meu muito obrigado! (Zé Valizi) (connua na próxima página) O causo da onça (por José Valizi) Crédito: www.freeimages.com

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Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi 1Edição nº 03 - MARÇO/2015www.valizi.com.br

Memórias de José Valizi - www.valizi.com.brEdição nº 03 - Março/2015

Fazendinha do Valizi

Você pode até não acreditar, mas esta história aconteceu de verdade...

Muitas décadas atrás, em Ituverava-SP, havia três amigos que gostavam muito de pescar num rio que passava a pouquíssimos quilômetros da cidade. E naquela época a cidade era praticamente rodeada pela mata, que ainda existia em abundância.

A pescaria era a oportunidade que eles tinham para desfrutarem de momentos de descontração e descanso, em contato com a natureza. E nessas ocasiões, não poderiam faltar também um bom churrasco e muita cachaça. Um dos amigos sempre levava para a pescaria uma espingarda cartuchei-ra, um facão e um cachorro grande.

Certo dia, levaram consigo mais um amigo, que por sinal era muito medroso. Chegando lá, disseram ao amigo medroso que naquele lugar tinha muita onça, tamanduá e outros bichos. E que seria bom alguém ir juntar lenha para fazer uma fogueira à noite, para se protege-rem, porque a onça tinha medo de fogo e não iria se aproximar deles. Então, os três amigos foram pescar, enquanto o medroso

preferiu ficar quebrando a lenha. E o medo dele era tamanho que ele quebrou muita lenha, pois o que ele menos queria era que a fogueira se apagasse durante a noite, por falta de lenha.

Quando a noite chegou, todos ficaram em volta da fogueira, comendo alguma coisa e bebendo muita pinga. Já tarde da noite, depois de muita bebedeira, os três amigos acabaram dormindo no próprio chão, ao redor da fogueira. Mas o medroso não conseguia dormir de tanto medo, que era ainda mais aguçado pelos barulhos que vinham da mata. E ficava só botando lenha e mais lenha na fogueira. Quando já era quase madrugada, e após passar a noite toda em claro, o sono bateu forte e ele, não resistindo ao cansaço, deitou-se entre os companheiros que já estavam dormindo, e caiu no sono.

Certa hora, o medroso sonhou que a onça estava atacando eles. Acordou assustado e gritando: − A onça, a onça! Os outros amigos se assustaram com a gritaria e acordaram, mas como a lenha que tinha sido juntada era fina, havia quei-

mado-se muito rápido e a fogueira já tinha se apagado; estava tudo escuro; ninguém podia enxergar nada!

Um dos amigos, que dormia sempre com a espingarda ao lado, levou a mão para apanhá-la. Só que durante a noite, o cachorro dele tinha se deitado justamente em cima da espingarda. Então, ao tentar pegar a arma no escuro, acabou pegando o rabo do cachorro. Assustado, ele disse: − É a onça mesmo! Peguei no rabo dela! Nesse instante, todos saíram correndo no escuro. Três dos amigos acabaram pegando o mesmo rumo, em direção à cidade, enquanto o medroso foi numa direção diferente, rumo a um brejão. Foi indo até que ele se atolou até a cintura e não podia mais sair do lugar, e começou a gritar por socorro.

Já com o dia clareando, os três amigos, que vieram rasgando a mata no peito, conseguiram chegar à cidade e notaram a falta do amigo medroso. Preocupados, foram procurar por ele em sua casa, e não

Nesta Edição- O causo da onça - capa- A antena transmissora da rádio - pág. 02- Carreira artística (Valizi & Valizinho) - pág. 02- Lugares onde morei - pág. 03- Noites de Ituverava - pág. 04- Patrocinadores - pág. 04

AgradecimentosAgradeço aos patrocinadores desta edição, cujo apoio cultural tornou-a possível. À EPTV RIBEIRÃO (afiliada da Rede Globo) por ter autorizado a disponibilização, em meu website, do vídeo referente à reportagem sobre os 40 anos do programa Fazendinha do Valizi. E um agradecimento especial a todos os fãs e admiradores, pelas suas palavras elogiosas e de incentivo quanto a este trabalho de preservação e divulgação das minhas memórias. A todos, o meu muito obrigado! (Zé Valizi)

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O causo da onça(por José Valizi)

Crédito: www.freeimages.com

Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi2 Edição nº 03 - MARÇO/2015 www.valizi.com.br

Conforme já contei em outra ocasião, desde o ano de 1952 a dupla Valizi & Va-lizinho se apresentava regularmente aos domingos no programa de auditório Brasil Sertanejo, realizado pela então Rádio Cul-tura de Ituverava. E como tínhamos mui-ta vontade de seguir na carreira artística, queríamos ir para São Paulo, cantar numa rádio da capital, através da qual podería-mos conseguir projeção nacional.

Nosso pai, Júlio Valisi, comentou com o senhor Herbaldo Martins (pai do com-

positor ituveravense Victor Martins) so-bre esse nosso desejo. O senhor Herbaldo conversou com o senhor Benedito Trajano Borges, que era fazendeiro, e este pediu para que nós o procurássemos. O Bene-dito Trajano havia se tornado amigo do então deputado estadual Condeixa Filho, e escreveu uma carta ao deputado, reco-mendando a nossa dupla, e pedindo que o deputado nos ajudasse a ingressar em uma emissora.

Com a carta em mão, partimos para São Paulo-SP em janeiro de 1958. Como não conhecíamos aquela cidade, o nos-so primo Osvaldo Maniero (da cidade de Franca-SP), que já tinha morado na capital paulista, acompanhou-nos na viagem até a Assembleia Legislativa. Lá chegando, o de-

Um dia desses, veio à minha mente a lembrança da antena transmissora (que envia o sinal, a onda eletromagnética, até os aparelhos de rádio dos ouvintes) da Rádio Cultura de Ituverava. A antena não ficava junto ao prédio onde funciona os estúdios e a administração da rádio, e sim em outro local da cidade; mais precisamente, num terreno de esquina onde, atualmente, encon-tram-se instalado o AME (Ambulatório Médico de Especialida-des). A antena era do tipo horizontal, ou seja: um fio esticado na horizontal, com suas pontas fixadas em hastes. E naquele terreno existia também uma casa que servia de moradia ao zelador, que era o encarregado de ligar e desligar a antena transmissora todos os dias, pela manhã quando a rádio começava sua programação, e à noite quando a encerrava.

Certa vez, um vendaval muito forte derrubou as instalações da antena transmissora. Então, a antena foi reinstalada em outro lugar; num terreno muito comprido, ao lado do cemitério muni-cipal. Porém, no novo terreno não havia moradia para o zelador, ficando nele somente o equipamento de transmissão (antena e transmissor). Consequentemente, todos os dias alguém tinha que ir lá para ligar a energia do aparelho transmissor pela manhã, e desligar à noite. Inclusive, eu mesmo, por diversas vezes, fui lá de manhãzinha ligar o transmissor para a rádio entrar no ar e eu po-der fazer o programa Fazendinha do Valizi. Por incrível que pare-ça, certa vez uns marimbondos resolveram construir sua casinha bem ao lado da chave de energia que ligava o transmissor. A gente chegava perto, eles se alvoroçavam, e a gente ficava com medo de levar umas ferroadas. Mas com o tempo, a gente acabou se acostumando com eles, e acho até que eles acabaram gostando da gente também.

Com o passar dos anos, a antena transmissora mudou-se para um outro local; e o terreno que ela deixou, uma parte foi incorpo-rada ao cemitério, e a outra parte é onde atualmente encontra-se instalado o velório municipal. O outro local para onde a antena transmissora foi transferida (e onde encontra-se até os dias atu-ais) fica perto da Cachoeira Salto Belo, ao lado do Rio do Carmo.

Naquele novo local, a antena passou a ser vertical (tipo torre) e ganhou, na ocasião, um novo transmissor, mais potente, aumen-tando assim o alcance da emissora.

Porém, ficou mais penoso para colocar a rádio no ar todos os dias. Lembro-me de quantas vezes a pessoa que ia ligar o trans-missor, de manhãzinha, tinha que fazê-lo sob o intenso frio de inverno (que era muito mais rigoroso naquela época do que atu-almente), e às vezes também sob chuva forte ou até mesmo tem-poral. Ou seja, não importavam as condições desfavoráveis e ad-versas do tempo e da distância; o transmissor tinha que ser ligado na hora certa, para a rádio entrar no ar e iniciar a transmissão da sua programação. Além disso, toda vez que acabava a energia elétrica na cidade, o transmissor desligava-se e, quando a energia voltava, não voltava a funcionar automaticamente; assim, alguém tinha que ir lá perto da cachoeira para religar o transmissor. Havia dias em que a energia elétrica faltava várias vezes. E cada vez que a energia voltava, tinha que ir alguém lá religar o transmissor. E geralmente o deslocamento até aquele local era feito de bicicle-ta. Para você que sabe onde fica o local, imagine ter que descer pela rua Cel. Irlandino Barbosa Sandoval (rua do antigo matadou-ro municipal). Descer, até que era fácil; o difícil era a volta, pois além da subida muito íngreme, a rua ainda era de terra, e quando chovia virava um verdadeiro lamaçal... FV

Programa Fazendinha do Valizi

A antena transmissora da rádio(por José Valizi)

o encontraram. Percebendo que o amigo havia se perdido na mata e poderia estar em perigo, foram até a delegacia de polícia pedirem ajuda. O delegado, após ouvir a história, reuniu alguns policiais, entraram na viatura (um jipe) e já estavam prestes a sair à procura do desaparecido quando, de repente, chega à delegacia um vaqueiro montado a cavalo e dizendo que estava passando perto do varjão, lá pelas bandas onde ele morava, e escutou uma voz baixinha pedindo por socorro. E que ele

apeou do cavalo e até tentou ir lá ver o que era, mas não conseguiu porque o acesso era muito difícil.

Concluindo que a pessoa que o vaqueiro ouvira pedindo por socorro poderia ser o pescador desaparecido, o delegado e os policiais saíram em direção ao varjão, numa missão de resgate. Chegando ao local, o vaqueiro indicou o rumo, e um policial foi à frente rompendo devagarzi-nho o caminho de difícil acesso. Depois de muito custo, o policial avistou de longe o

que parecia ser o desaparecido. Porém, o pescador medroso estava atolado no brejo, e não era possível ver seu corpo da cintura para baixo. O policial disse: − Doutor delegado, avistei o homem. O delegado então perguntou: − Ele está vivo? O policial respondeu: − Doutor, vivo ele está, porque está acenando com o braço e gritando socorro baixinho. Mas que a onça comeu ele da cintura para baixo, comeu! FV

putado Condeixa Filho nos recebeu e en-tregamos a ele a carta de recomendação; ele a leu e nos perguntou em qual rádio a gente gostaria de ingressar. Dissemos que

(continua na próxima página)

Valizi & Valizinho

Carreira artística(por José Valizi)

Crédito: www.freeimages.com

Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi 3Edição nº 03 - MARÇO/2015www.valizi.com.brgostávamos muito da Rádio Nacional (que hoje é a Rádio Globo), porque nela havia um programa matinal do qual gostávamos muito. O deputado disse que na Rádio Na-cional seria difícil, mas que ele poderia nos recomendar à Rádio Bandeirantes. Assim, ele escreveu e nos entregou uma outra carta, recomendando-nos àquela emisso-ra. Chegamos lá no dia seguinte e fomos recebidos pelo João Saad. Ele leu a car-ta e nos disse que não poderia deixar de atender ao pedido do deputado. O Saad disse-nos que, por ele, já poderíamos nos considerar ingressados na Bandeirantes, mas que existiam muitas duplas esperan-do uma oportunidade na emissora e que, portanto, ele não poderia passar por cima do diretor artístico-sertanejo da emissora, que era o Zacarias Mourão.

Mais tarde, o Zacarias Mourão nos re-cebeu. Quando adentramos a sala dele, onde eram realizados os testes, ele nos olhou e falou que a gente não lhe parecia ser estranho; que ele tinha a impressão de já nos conhecer de algum lugar. Dessa for-ma, lembramos a ele que certa vez ele ti-nha ido a Ituverava, acompanhando o duo Estrela Dalva, que se apresentara num cir-co, num sábado à noite, e que no domingo o duo foi também se apresentar no pro-grama Brasil Sertanejo, da Rádio Cultura,

onde ele viu a nossa dupla se apresentar também. Ele se recordou daquela ocasião e nos disse que nem precisávamos passar pelo teste, pois ele já tinha visto a nossa apresentação em Ituverava e que conhe-cia a qualidade da nossa dupla. Nos disse ainda que estava prestes a lançar um novo programa, no qual o duo Estrela Dalva iria se apresentar, e que iria nos encaixar no programa, para nos apresentarmos três vezes na semana. O programa estava pre-visto para iniciar-se no mês seguinte, em fevereiro de 1958.

Enquanto o dia da estreia não chegava, ficamos hospedados em São Paulo, e to-dos os dias de manhã íamos assistir ao pro-grama Serra da Mantiqueira, apresentado pelo Biguá, no auditório da Rádio Bandei-rantes. Faltando poucos dias para a nossa estreia no rádio, eis que o Valizinho, meu irmão e companheiro de dupla, adoeceu (pegou uma forte gripe asiática) e o médi-co recomendou que, devido ao clima des-favorável da capital, seria melhor que ele voltasse para o interior, para se recuperar mais rapidamente. Além do problema de saúde do Valizinho, recebemos uma carta de uma de nossas irmãs, relatando que desde que havíamos ido para a capital, a nossa mãe estava muito triste com a nos-sa ausência; que ela não se conformava de

estarmos tão longe da família, e que não dormia direito e não vinha se alimentando bem. Diante do estado de saúde do Valizi-nho e das notícias sobre a nossa mãe, de-cidimos que o melhor naquele momento seria retornarmos a Ituverava.

Falamos com o Zacarias Mourão; ele compreendeu o situação, mas ressal-tou que estaríamos abrindo mão de uma oportunidade de ouro. Mas que se qui-séssemos voltar depois de alguns meses, nosso lugar no programa estaria garanti-do. E assim, faltando poucos dias para a nossa estreia na Rádio Bandeirantes, vol-tamos para casa, e não mais retornamos à capital para usufruirmos daquela grande oportunidade. Acredito que se não fossem as circunstâncias desfavoráveis daquele momento, se tivéssemos estreado no pro-grama teríamos conseguido a projeção e o reconhecimento artístico tão sonhado.

Mas quis o destino, se é que assim podemos dizer, me presentear, três anos mais tarde, com a oportunidade de apre-sentar um programa na então Rádio Cul-tura de Ituverava: o Fazendinha do Valizi, que durante quatro décadas alegrou várias gerações, tornando-se um marco na minha vida e na história radiofônica da cidade de Ituverava. FV

Vida no Campo

Lugares onde morei(por José Valizi)

Nasci numa fazenda chamada Bocaina, onde meus pais mo-ravam e trabalhavam na formação da lavoura de café. Algumas pessoas diziam que a fazenda pertencia ao município de Guará-SP (vizinho a Ituverava-SP). Outras diziam que, embora a fazenda pertencesse a Guará, a parte dela onde nasci pertencia ao muni-cípio de Ribeirão Corrente-SP (vizinho a Guará). Como a distância entre a fazenda e a cidade de Ribeirão Corrente era menor que a distância entre ela e a cidade de Guará, tudo o que meu pai precisava comprar no comércio ou resolver, era feito em Ribeirão Corrente. Inclusive, foi no cartório de lá que eu fui registrado e, oficialmente, sou natural de Ribeirão Corrente. Portanto, ainda tenho a seguinte dúvida: sou ribeirão-correntense porque a parte da fazenda onde nasci era mesmo pertencente àquela cidade, ou de fato sou guaraense, mas ao ser registrado em Ribeirão Corren-te o cartório acabou constando como eu sendo natural daquele município? Até hoje não sei ao certo...

Na fazenda Bocaina, eu gostava de pescar de peneira com os meus irmãos, num córrego que passava nos fundos da nossa casa de pau a pique. Lá morei até os meus 7 anos de idade, quando então nos mudamos para a fazenda Palmeiras, no município de Ribeirão Corrente-SP. Na fazenda Palmeiras havia um mangueirão em frente à colônia, onde eu e toda a meninada gostávamos mui-to de brincar. Moramos lá durante um ano, e depois nos muda-mos para a fazenda Santa Maria (não tenho certeza, mas parece que uma parte da fazenda pertencia a Ribeirão Corrente, e a outra parte a Ituverava), de propriedade do senhor João Franco, onde passei a melhor fase da minha infância, dos 8 aos 15 anos.

Na fazenda Santa Maria, que ficava numa furna, entre um mor-ro e outro, existia um ribeirão (rio do Carmo) que passava dentro da fazenda, onde a gente se divertia pescando. Existia muita mata virgem ao redor e também vegetação de cerrado, onde íamos fre-quentemente tirar mel e apanhar frutas do mato, tais como ara-ticum (marolo), marmelo, jatobá, murici e outras. Nessa fazenda, nossa família era arrendatária, e tocávamos a lavoura de café e outras culturas. Devido à mata, havia muito lobo, tamanduá, bu-

gio, cobra e outros bichos mais. O proprietário da fazenda tinha construído uma sede nova para ele morar. Por isso, nossa famí-lia ficou morando na sede antiga, muito grande e com um belo e imenso pomar. Dos lugares onde morei, foi o que mais gostei.

Depois da fazenda Santa Maria, mudamo-nos para a fazenda Santa Claudina (no município de Ituverava-SP), de propriedade de João Joaquim de Paula (popularmente conhecido por João da Cota), onde moramos por 12 anos. Nessa fazenda, nossa família tocava a lavoura de café, na condição de meeira. Foi nesse lugar que eu e o Valizinho, meu irmão, começamos a cantar juntos e fizemos muitas amizades. Uma estrada de terra cortava a fazenda, ligando Ituverava a Franca-SP (passando também por Jeriquara-SP e Cristais Paulista-SP), e havia a empresa de ônibus (que a gente chamava de jardineira) dos irmãos Spirlandelli, com viagens diá-rias. Assim, podíamos ir a Ituverava com mais frequência. Depois da fazenda Santa Claudina, fomos morar na cidade de Ituverava, já no ano de 1958, onde resido desde então. FV

Fotografia tirada na fazenda Santa Claudina, na década de 1950(1) Luiz, do Zué; (2) Jonas Valize; (3) Pedrinho, do Dado; (4) Júlio Valisi; (5) Cirilo de Paula; (6) José Valizi; (7) Aristides Valisi; (8) o cachorro Marim-bo; (9) Zé, do Zué; (10) Tonho, do Zué; e (11) Alberto Valize.

Crédito: arquivo pessoal

Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi4 Edição nº 03 - MARÇO/2015 www.valizi.com.br

Em 1950, apesar da televisão já ter chegado ao Brasil, não me recordo se em Ituverava alguém já tinha um aparelho de TV em casa. E caso tivesse, seria uma ou outra pessoa. Portanto, sem televisão em casa, era costume as famílias irem passear à noite na praça X de Março, no centro da cidade, principalmente aos

sábados e domingos. Enquanto mães e pais conversavam, a criançada brin-cava. E os jovens solteiros ficavam andando de lá para cá (o que era cha-mado de footing, a paquera daquela época). Normalmente, os rapazes se agrupavam em algum lugar da praça ou do início da avenida, enquanto as moças, quase sempre acompanhadas de outras amigas ou irmãs, transita-vam de um lado para o outro, passan-do próximo dos rapazes, exibindo sua graciosidade e trocando olhares, na expectativa de encontrarem um par

romântico. Inclusive, foi numa dessas ocasiões que conheci a moça que viria a se tornar a minha esposa. E foi também esse cenário de outrora que inspirou o Valizinho (meu irmão e companheiro de dupla) a compor a música “Noites de Itu-verava”, que se tornou também uma das músicas mais pedidas nas apresentações da dupla Valizi & Valizinho. Veja ao lado a letra da música. FV

“Noites de Ituverava” (valsa)Letra e música de Valizinho

(composta na década de 1950)Nas noites calmas de Ituverava,Que eu vejo o céu, azul cor de anil,Eu o reparo e exclamo baixinhoItuverava, tu és BrasilSuas famílias, seus moradores,Nas lindas noites saem a passearA mocidade se enamorandoNa praça, as crianças alegres a brincar

EstribilhoItuverava, Ituverava,Essas palavras preciso dizerItuverava, Ituverava,Suas lindas noites não posso esquecer

Se nesta cidade me ponho a um leito,E adormecido começo a sonhar,E quando acordo, escuto lá embaixoA cachoeira sempre a murmurarÀs vezes sozinho, eu me levanto,Vejo as estrelas no céu a brilhar,Em alta noite, junto a meu pinho,Suas belezas me ponho a cantar

EstribilhoItuverava, Ituverava,Essas palavras preciso dizerItuverava, Ituverava,Suas lindas noites não posso esquecer

Valizi & Valizinho

Noites de Ituverava(por José Valizi)

Crédito: www.freeimages.com

EXPEDIENTE: Este informativo é uma divulgação complementar do website www.valizi.com.br (Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi). Projeto elaborado por: PORTAL ONDE IR - www.ondeir.combr. Tiragem: 1.500 exemplares. Reprodução: não está autorizada a reprodução do conteúdo deste informatino em nenhum outro site na internet; para a reprodução em outras mídias impressas, deverá ser-nos solicitada autorização prévia, e também constar a fonte (www.valizi.com.br). CONTATO: Rua Dr. Fernando Costa, 62 - Centro - CEP 14500-000 - ITUVERAVA-SP - E-mail: [email protected] - Telefone (16) 3839-1624.

Apoio Cultural - Meus agradecimentos às empresas abaixo, por apoiarem esta edição. (José Valizi)

VídeoJá está disponível o vídeo com a reportagem da EPTV RIBEIRÃO, referente aos 40 anos do programa Fazendi-nha do Valizi. Para assistir e recordar, visite o website www.valizi.com.br.

Crédito: EPTV Ribeirão