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Memórias de José Valizi - www.valizi.com.br - Edição nº 02 - Dezembro/2014 Homenagem recebida pelos 35 anos de programa (por José Valizi) Quadro desenhado pelo artista plástico Lúcio Adalberto Lima Machado, retratando o programa Fazendinha do Valizi No ano de 1996, em comemoração aos 35 anos do programa Fazendinha do Valizi, fui homenageado em um programa que era apresentado pelo meu amigo, afilhado de casamento e também radialista, Jerônimo Moreira da Silva Neto (o Moreira), com transmissão ao vivo pela então Rádio Cultura AM de Ituverava, diretamente do Centro Cultural da cidade. Naquela ocasião, ve a grata sasfação de receber, dentre outros presentes, um belo quadro (veja reprodução acima) desenhado pelo arsta plásco Lúcio Adalberto Lima Machado (in memoriam), retratando o programa Fazendinha do Valizi, e que me fora entregue pelo próprio arsta. Durante a minha trajetória no rádio, recebi muitos presentes. Dentre eles, peças de artesanato feitas pelos próprios ouvintes, e também desenhos retratando o programa e a Fazendinha (alguns, inclusive, desenhados por crianças), todos os quais recebi com muito carinho e apreço. Dentre os desenhos, um dos que mais gostei foi este feito pelo Lúcio, pois além de ter me desenhado de forma caricata, retratou com grande perfeição e qualidade arsca alguns elementos folclóricos desse local mágico e fantasioso que é a Fazendinha. Podemos observar no quadro: a mangueira grande, embaixo da qual eu transmia o programa; o pássaro-preto cor- de-rosa sentado no encosto da minha cadeira; uma árvore de sabonete (à esquerda, abaixo do curral); no galho da mangueira, um dos macacos que tanto me atentavam durante o programa; ao fundo, o avião puxado a boi; a famosa árvore de cerveja; e alguns outros animais que formavam a imensa bicharada. Posso dizer que este quadro, tão importante quanto todos os demais presentes que recebi de outros fãs, foi a melhor representação arsca da Fazendinha, feita até hoje; e por isso, guardo-o com muito carinho na parede da sala da minha casa. Nesta Edição - Reportagem da EPTV (40 anos de programa) - Pág. 02 - Causo: O sumiço das folhas das bananeiras - Pág. 02 - Os primeiros anunciantes do programa - Pág. 03 - Programa Viola Fora de Hora - Pág. 03 - A história que inspirou a música “No Dia das Mães” - Pág. 04 Muda da goiabeira louca Depois que contei o causo da goiabeira louca na edição anterior, tem muita gente me pedindo uma mudinha para plantar. Algumas me disseram que o quintal delas é pequeno, não há espaço suficiente para plantar muitas coisas, e que um pé de goiabeira louca, que dá todo po de fruta, seria muito úl. Mas já tentei formar as mudinhas e, infelizmente, elas não pegam de jeito nenhum. Então, a goiabeira louca vai connuar sendo uma exclusividade aqui da Fazendinha... (Zé Valizi)

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Page 1: Memórias de José Valizi - - Edição nº 02 ... · de qual bicho seria. Então, resolvi chamar o Manduco e o Zezão, que eram dois vaqueiros da fazendinha, para irem comigo

Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi 1Edição nº 02 - DEZEMBRO/2014www.valizi.com.br

Memórias de José Valizi - www.valizi.com.br - Edição nº 02 - Dezembro/2014

Fazendinha do Valizi

Homenagem recebida pelos 35 anos de programa(por José Valizi)

Quadro desenhado pelo artista plástico Lúcio Adalberto Lima Machado, retratando o programa Fazendinha do Valizi

No ano de 1996, em comemoração aos 35 anos do programa Fazendinha do Valizi, fui homenageado em um programa que era apresentado pelo meu amigo, afilhado de casamento e também radialista, Jerônimo Moreira da Silva Neto (o Moreira), com transmissão ao vivo pela então Rádio Cultura AM de Ituverava, diretamente do Centro Cultural da cidade. Naquela ocasião, tive a grata satisfação de receber, dentre outros presentes, um belo

quadro (veja reprodução acima) desenhado pelo artista plástico Lúcio Adalberto Lima Machado (in memoriam), retratando o programa Fazendinha do Valizi, e que me fora entregue pelo próprio artista.

Durante a minha trajetória no rádio, recebi muitos presentes. Dentre eles, peças de artesanato feitas pelos próprios ouvintes, e também desenhos retratando o programa e a Fazendinha (alguns, inclusive, desenhados por crianças), todos os quais

recebi com muito carinho e apreço. Dentre os desenhos, um dos que mais gostei foi este feito pelo Lúcio, pois além de ter me desenhado de forma caricata, retratou com grande perfeição e qualidade artística alguns elementos folclóricos desse local mágico e fantasioso que é a Fazendinha. Podemos observar no quadro: a mangueira grande, embaixo da qual eu transmitia o programa; o pássaro-preto cor-de-rosa sentado no encosto da minha cadeira; uma árvore de

sabonete (à esquerda, abaixo do curral); no galho da mangueira, um dos macacos que tanto me atentavam durante o programa; ao fundo, o avião puxado a boi; a famosa árvore de cerveja; e alguns outros animais que formavam a imensa bicharada. Posso dizer que este quadro, tão importante quanto todos os demais presentes que recebi de outros fãs, foi a melhor representação artística da Fazendinha, feita até hoje; e por isso, guardo-o com muito carinho na parede da sala da minha casa.

Nesta Edição- Reportagem da EPTV (40 anos de programa) - Pág. 02

- Causo: O sumiço das folhas das bananeiras - Pág. 02

- Os primeiros anunciantes do programa - Pág. 03

- Programa Viola Fora de Hora - Pág. 03

- A história que inspirou a música “No Dia das Mães” - Pág. 04

Muda da goiabeira loucaDepois que contei o causo da goiabeira louca na edição anterior, tem muita gente me pedindo uma mudinha para plantar. Algumas me disseram que o quintal delas é pequeno, não há espaço suficiente para plantar muitas coisas, e que um pé de goiabeira louca, que dá todo tipo de fruta, seria muito útil. Mas já tentei formar as mudinhas e, infelizmente, elas não pegam de jeito nenhum. Então, a goiabeira louca vai continuar sendo uma exclusividade aqui da Fazendinha... (Zé Valizi)

Page 2: Memórias de José Valizi - - Edição nº 02 ... · de qual bicho seria. Então, resolvi chamar o Manduco e o Zezão, que eram dois vaqueiros da fazendinha, para irem comigo

Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi2 Edição nº 02 - DEZEMBRO/2014 www.valizi.com.br

Aqui na fazendinha, certa vez aconteceu uma coisa muito estranha e assombrosa. Vou contar para vocês...

Eu percebi que, com o passar dos dias, as folhas das bananeiras do pomar da fazendinha estavam sumindo aos poucos, provavelmente durante a noite. Logo pensei que era algum bicho que estava fazendo isso, mas não fazia a mínima ideia de qual bicho seria. Então, resolvi chamar o Manduco e o Zezão, que eram dois vaqueiros da fazendinha, para irem comigo e ficarmos de vigia durante a noite, para descobrirmos o que estava acontecendo. Só que era época da quaresma, e o Manduco e o Zezão ficaram com medo, pois o povo costumava falar que na época da quaresma aconteciam coisas muito estranhas, de arrepiarem o cabelo. Assim, resolvemos chamar o tio João para ir com a gente. O tio João era um preto velho com mais de 130 anos de idade, que morava

também na fazendinha; ele era muito querido por todos nós, e tinha muita sabedoria e conhecimento sobre as coisas da natureza, além de ser muito corajoso e ter muita saúde física e lucidez, apesar da muita idade.

Dessa maneira, lá fomos nós quatro em direção ao pomar da fazendinha, onde ficavam as bananeiras. Por ser uma noite de lua cheia, que clareava tudo, nos escondemos atrás de uma grande moita para não sermos vistos, e de tal modo que podíamos avistar todo o pomar. De repente, começamos a ouvir uns horripilantes uivados de lobos, vindos de longe, o que nos deixou de cabelo em pé. O Manduco e o Zezão ficaram com tanto medo que quiseram correr para trás. Eu também ameacei correr, mas o tio João, muito corajoso, segurou a gente. Depois da meia-noite, após já estarmos cansados de tanto esperar, e nada aparecer, eis que escutamos um barulho estranho vindo lá das bananeiras. Por ser uma noite de lua muito clara, a gente conseguia enxergar tudo perfeitamente. E ao olhamos em direção ao bananal, sentimos um terrível arrepio por causa do que vimos. Imagine só que havia cinco mulas sem cabeça comendo as folhas das bananeiras... Sem acreditarmos no que estávamos vendo, e

já nos preparando para sairmos correndo, eis que olhamos para o lado e avistamos quatro lobisomens embaixo de uma grande mangueira, jogando baralho. Naquele exato momento, um dos lobisomens uivou: - Truco! E o outro respondeu: - Seis milhos, ladrão!

No ano de 2001, ao completar 40 anos, o programa Fazendinha do Valizi foi tema de uma reportagem feita pela EPTV de Ribeirão Preto-SP (emissora afiliada à Rede Globo de Televisão), e que foi ao ar nas duas edições diárias do seu noticiário regional, e posteriormente também no programa Terra da Gente, da mesma emissora. Foi a primeira vez em

que apareci na televisão, o que me deixou muito feliz. Tentarei, oportunamente, se possível for, disponibilizar no meu website o vídeo daquela reportagem.

Naquela ocasião, a EPTV mantinha também um site denominado Sítio do Caipira, no qual havia, dentre outras coisas, uma seção chamada Nossa Gente, destinada a retratar personalidades

pitorescas da nossa região. E tive o grato privilégio de ter sido incluído naquela galeria de personagens folclóricos, se é que assim podemos dizer. O site Sítio do Caipira infelizmente não existe mais. Mas para quem não teve a oportunidade de ver naquela época, tomo a liberdade de reproduzir abaixo a matéria que nele havia sido publicada.

“Ele vai fazer sessenta e nove anos, mas não parece. Está novo em folha para seguir uma rotina que não muda. Todos os dias, dona Conceição levanta de madrugada para servir o café da manhã para o marido. Seu Zé Valizi fala muito pouco em casa, porque tem que guardar a voz para três horas de falação.

É que ele conversa com uma cidade inteira. Ituverava, 35 mil habitantes, já se habituou a acordar com a voz serena e a fala mansa do seu Zé. Há 40 anos, ele comanda um dos mais antigos programas

de rádio do interior de São Paulo. E vai para o trabalho de bicicleta.

Às seis da manhã, a “Fazendinha” já está no ar. Com um jeito meio envergonhado, que lembra um pouco o poeta Carlos Drummond de Andrade, seu Zé segura a audiência e o amor pela roça. Ele que não tem casa própria, se torna dono, diante do microfone, de uma fazendinha de sonho.

As frutas dão mel, os bichos falam, as árvores dão cerveja... e carro de boi puxa avião. Mais: peixe sai do rio pra respirar e cai de penca na mão de pescador. Meio surrealista, meio caipira. Um paraíso caboclo. Tudo fruto da imaginação e da vivência do homem que nasceu na roça, no tempo do café. Criado numa casinha de pau a pique, ele ainda sonha com os bons ares da infância. E faz esse resgate

no programa de rádio.Não está sozinho nisso: tem ouvintes,

como o Zezim Balaieiro, um artesão de balaios, que liga o rádio cedo para não perder nem uma moda e nem uma história. Ex-integrante da dupla caipira Valizi & Valizinho, seu Zé faz questão de só programar moda de raiz. Tião Carreiro, Tonico e Tinoco, Liu e Léo: não escapa dupla boa. E o modão invade a cidade, enquanto quem tem imaginação, acompanha, divertido, as aventuras na fazendinha do seu Zé. Ele diz que vai fazer isso enquanto tiver voz e vida. Monteiro Lobato aprovaria.”

Fonte: artigo publicado originalmente no site Sítio do Caipira - www.sitiodocaipira.com.br (infelizmente, o site não existe mais).

Reportagem da EPTV - 40 anos do programa Fazendinha do Valizi(por José Valizi)

O Dono da FazendinhaA voz de Zé Valizi leva uma cidade inteira para um paraíso caboclo,

em Ituverava, SP. É a roça no rádio, num programa que não poderia ter outro nome: “Fazendinha”.

Causos e estórias da fazendinha

O sumiço das folhas das bananeiras

(por José Valizi)

Page 3: Memórias de José Valizi - - Edição nº 02 ... · de qual bicho seria. Então, resolvi chamar o Manduco e o Zezão, que eram dois vaqueiros da fazendinha, para irem comigo

Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi 3Edição nº 02 - DEZEMBRO/2014www.valizi.com.br

Conforme já esclareci anteriormente, a Fazendinha do Valizi só existia na minha imaginação. Na verdade, o programa era realizado no estúdio da Rádio Cultura de Ituverava. E naquela época as propagandas não eram gravadas; os textos publicitários eram lidos na hora, ao vivo. Aliás, recordo-me que apenas a Casas Pernambucanas é que fornecia um jingle (palavra inglesa, usada em propaganda, com o significado de anúncio musicado em rádio ou televisão) gravado em disco, o que evidencia que a Pernambucanas já era, desde aquela época, uma empresa moderna, de vanguarda; os demais anunciantes não possuíam nada gravado.

No dia da estreia do programa, eu estava um pouco nervoso e pedi ao Pérsio (diretor da rádio) para fazer a locução das propagandas, enquanto eu me encarregava de animar o programa, fazendo toda a patacoada. Assim, depois de uma meia hora de programa, o Pérsio falou que precisava fazer um telefonema importante e me deixou sozinho no estúdio. Mais tarde, descobri que não havia telefonema nenhum a ser feito; que ele tinha inventado aquela desculpa para me deixar sozinho no estúdio, mais à vontade, e que ele tinha ido para uma outra sala, ligado um rádio e ficara ouvindo o programa para analisar o meu desempenho sozinho. Após

terminar o programa, o Pérsio voltou e disse: - Valizi, amanhã você fará o programa sozinho. Então eu respondi: - Pérsio, não dá. Eu preciso pelo menos de um ajudante por uns dias, até eu pegar mais confiança. Foi então que o Pérsio pediu ao Betinho Jamal (que também era locutor da emissora) para fazer o programa comigo. E assim, fomos para o segundo dia de programa...

Naquela época não tínhamos na rádio nenhuma gravação que pudéssemos usar como recurso de sonoplastia, para reproduzir os sons da natureza, da fazenda. Como eu era muito brincalhão, resolvi improvisar meus efeitos especiais. Arranjei umas latas velhas e outras coisas mais que pudessem fazer barulho e levei para o estúdio. Durante o programa, quando eu precisava reproduzir algum tipo de barulho, eu chutava as latas ou batia em alguma coisa. Vendo toda aquela palhaçada e folia que eu estava aprontando, o Betinho Jamal começou a achar graça daquela bagunça; na sequência, resolvi imitar um gato; o miado foi tão esquisito e engraçado que o Betinho não aguentou e caiu na gargalhada; e quando chegou a hora dele falar as propagandas, não conseguia ler o texto; tinha dado uma crise de riso nele. Percebendo que o Betinho não iria mesmo conseguir fazer a locução dos textos publicitários, eu mesmo

tive que fazer os comerciais; só que em vez de ler os textos que estavam escritos, eu comecei a improvisar e falar o que me vinha à cabeça. E ficou tão engraçado e divertido que, depois do programa, o Pérsio me disse: - Valizi, ficou muito bom. Você não precisa mais de ajudante; a partir de amanhã você fará o programa sozinho. E assim, já a partir do terceiro dia eu consegui fazer o programa sozinho, sem ninguém para me auxiliar.

Lembro-me que no princípio o programa tinha quatro patrocinadores (anunciantes), que eram a Riachuelo, o Bar Pajé, a Relojoaria A Hora Certa e a Casa dos Presentes (do Mário de Assis). Na hora da propaganda da Riachuelo, em vez de eu falar que lá tinha pano de tal cor ou estampa, para mulher e homem fazerem roupas, eu colocava a cor (ou estampa) no final da frase; então ficava mais ou menos assim: na Riachuelo você encontra pano para fazer roupa para mulher pintadinha, para

mulher colorida, para mulher listrada, para mulher xadrez, para mulher cor-de-rosa, para mulher estampada; e também tem pano para fazer roupa para homem cinzento, homem azul, homem bege, homem listrado, homem enxadrezado etc. E os ouvintes achavam a maior graça disso...

E assim o programa foi tomando impulso com as brincadeiras que eu fazia e com as coisas engraçadas que eu dizia. E os anunciantes já não queriam mais que eu lesse os textos das propagandas deles, e sim falasse ao meu modo, improvisando e com brincadeiras. Com o passar do tempo, outras empresas começaram a se interessar pelo programa; e para atender aos novos anunciantes, o programa (que no começo tinha 1 hora de duração) ganhou mais meia hora; e depois, mais meia hora; e mais anunciantes aparecendo; e foi indo até chegar a 3 horas de duração (das 6 às 9 horas da manhã).

Além do programa Fazendinha do Valizi, eu também apresentei um outro programa na Rádio Cultura de Ituverava, em outro horário, chamado Viola Fora de Hora. Tudo começou assim...

No início da década de 1980, Celso Zanoli (in memoriam) veio para Ituverava e assumiu a gerência da rádio. Pouco tempo depois, o Celso me convidou para fazer mais um programa, além do Fazendinha do Valizi que eu já apresentava pela manhã. Inclusive, ele sugeriu

que o horário do novo programa fosse do meio-dia à uma hora, e o nome fosse Viola Fora de Hora. Então eu retruquei, dizendo-lhe: - Você está ficando louco? Apresentar um programa de música sertaneja de raiz do meio-dia à uma? Isso não vai dar certo! Então o Celso disse que em uma outra emissora onde ele trabalhou havia um programa semelhante e que dava muita audiência. Diante disso, aceitei o convite para fazer mais esse programa.

Assim, começamos a fazer o

programa, e em pouco tempo tornou-se um grande sucesso. O telefone da rádio não parava de tocar; eram os ouvintes pedindo músicas. Para esse novo programa eu escolhi como prefixo musical (abertura e encerramento do programa) a música Viola Cabocla, interpretada pela dupla Tonico e Tinoco, porque achei que a letra da música se encaixava muito bem no nome do programa. O programa Viola Fora de Hora durou 12 anos, e quando parei com o programa, os ouvintes lamentaram bastante o seu término.

Viola fora de hora(por José Valizi)

Programa Fazendinha do Valizi

Os primeiros anunciantes(por José Valizi)

Page 4: Memórias de José Valizi - - Edição nº 02 ... · de qual bicho seria. Então, resolvi chamar o Manduco e o Zezão, que eram dois vaqueiros da fazendinha, para irem comigo

Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi4 Edição nº 02 - DEZEMBRO/2014 www.valizi.com.br

Neste capítulo das minhas memórias, quero compartilhar o emocionante fato que inspirou o Valizinho (que era meu irmão e companheiro de dupla) a compor a música “No Dia das Mães”. Essa história começou assim...

Na década de 1950, num domingo do Dia das Mães, após nossa dupla (Valizi e Valizinho) se apresentar no programa de auditório Brasil Sertanejo (da Rádio Cultura de Ituverava), no qual nos apresentávamos regularmente aos domingos, o meu irmão Valizinho passou na casa da nossa irmã Julieta Valizi para pegar a bicicleta dele, que havia deixado lá, e retornar à fazenda onde morávamos. Lembro-me que a Julieta morava numa casa localizada à rua Capitão Primo Augusto Barbosa (que é a rua que vai da atual Praça X de Março até o cemitério municipal, em Ituverava-SP); e na casa dela havia um jardim muito bonito, cheio de flores. No portão da casa, enquanto o Valizinho conversava com a nossa irmã, surgiu uma garotinha que, vendo aquelas lindas flores, pediu à nossa irmã Julieta que colhesse e desse a ela algumas rosas para formarem um buquê.

Enquanto nossa irmã colhia as rosas, o Valizinho perguntou à menina para quê ela queria as flores. E a garotinha respondeu: - Hoje é Dia das Mães. Nós recebemos na escola um cartãozinho para homenagear as mães. Como minha mãe já é falecida, vou levar estas rosas de presente para ela, no cemitério. Então, nossa irmã Julieta entregou as flores à menina, a qual agradeceu e saiu caminhando

pela rua, em direção ao cemitério.O Valizinho ficou emocionado

com aquele gesto da menina e resolveu segui-la, mantendo uma certa distância dela. Quando a menina adentrou o cemitério, o Valizinho acelerou a passada e passou a observá-la mais de perto, sem que ela percebesse a presença dele. Ao colocar as flores em um vaso sobre a campa da mãe, aos prantos a menina disse estas palavras: - Mãe, hoje é o Dia das Mães. Estas flores são o melhor presente que consegui para a senhora. E completou com estas palavras: - Mãe, que saudade da senhora. Mãe, mãe...

Em seguida, o Valizinho voltou à casa da nossa irmã, pegou a bicicleta dele e seguiu para a fazenda onde morávamos, levando em seu pensamento aquela cena presenciada; e durante o trajeto (que tinha aproximadamente oito quilômetros) ele foi compondo mentalmente a letra e a música da canção “No Dia das Mães”. Chegando em casa, o Valizinho passou a letra para o papel, pegou o violão e ficou repassando a letra e música várias vezes. Após finalizar a composição, ensaiamos a música a semana inteira e a cantamos no próximo programa Brasil Sertanejo, no domingo seguinte. Fomos muito aplaudidos pela música, a qual se tornou, a partir de então, a música mais pedida em nossas apresentações.

Essa música tem um trecho que é declamado. Na primeira vez que a cantamos no Brasil Sertanejo, foi o Valizinho quem declamou. Após a apresentação, dissemos que essa parte da música ficaria melhor se fosse declamada por uma criança. E ao final do programa, uma senhora que estava na plateia nos procurou na saída da emissora e disse que tinha uma filha (ainda criança) que costumava ler poesias na escola, e era muito elogiada por isso. E se ofereceu para que a filha fizesse a parte declamada da música. Assim, ensaiamos com a menina e, na próxima apresentação no programa Brasil Sertanejo, cantamos novamente

a música, desta vez com a menina declamando. Essa música fez tanto sucesso que, quando fomos gravar nosso disco em São Paulo, em 1965, era para ter sido uma das duas músicas a serem gravadas. Veja abaixo a letra da música.

“No Dia das Mães”(composição de Valizinho)

Num certo Dia das MãesA meninada contentePorque ia entregarPras suas mães os presentesVi uma passagem tristeQue jamais me sai da menteCom uma linda garotinhaPequena, ainda inocente

Eu estava no portão,Com minha irmã eu conversava,Essa linda garotinhaDe nós se aproximavaPediu um buquê de floresEnquanto ela apanhavaPerguntei para que as rosasDesse modo ela falava

Estrofe declamada (por menina)Estas flores vou levarPra mamãezinha queridaQue no cemitério dormeO sono da eterna vidaHoje é Dia das MãesQue os filhos “alembram” tantoO presente de mamãeVou levar ao campo santoVou deixar em sua campaE molhar com o meu pranto

Cantado novamenteCom essas tristes palavrasO meu corpo estremeceuFoi como uma punhaladaQue meu peito recebeuA menina despediu-se,Pelas flores agradeceuFoi saindo pela ruaEu segui os passos seus

Ela entrou no cemitérioLogo atrás, eu entreiAo pôr as flores na campaPalavra, que até choreiOs gritos de desesperoE essas palavras escutei:“Mamãe, é o melhor presenteQue pra senhora encontrei”

Declamado (voz de menina)Mãe, que saudade da senhoraMãe, mãe...

Valizi & Valizinho

Música “No Dia das Mães”(por José Valizi)

EXPEDIENTE: Este informativo é uma divulgação complementar do website www.valizi.com.br (Fazendinha do Valizi - Memórias de José Valizi). Projeto elaborado por: PORTAL ONDE IR - www.ondeir.combr. Tiragem: 1.000 exemplares, distribuídos gratuitamente (exceto os exemplares que forem disponibilizados na banca de revistas). Reprodução: não está autorizada a reprodução do conteúdo deste informatino em nenhum outro site na internet; para a reprodução em outras mídias impressas, deverá ser-nos solicitada autorização prévia, e na reprodução mencionar a fonte (www.valizi.com.br). Contato: Rua Dr. Fernando Costa, 62 - Centro - CEP 14500-000 - ITUVERAVA-SP - E-mail: [email protected] - Telefone (16) 3839-1624.

AgradecimentoAgradeço aos patrocinadores desta edição, cujo apoio cultural tornou-a possível. Ainda há tantas coisas para serem relembradas, que seria necessário aumentarmos o número de páginas deste informativo, para que pudéssemos publicar mais artigos em cada edição. Portanto, você que é empresário (ou então pessoa física), e que era fã do programa Fazendinha do Valizi ou da dupla Valizi & Valizinho, ou simplesmente admirador da minha trajetória profissional, venha também apoiar culturalmente este projeto, possibilitando-nos dar continuidade, ampliando-o e melhorando-o. Para patrocinar, entre em contato conosco. (Zé Valizi)

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