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PAGINA OITO JORNAL DO FUNDÃO 10 DE DEZEMBRO DE 1912 Melo e Castro e ª' sua política evocados na Ass embleia Naciona l Como referimos no último nú- mero, publicamos hoje as par- t es mai s importantes da inter- venção do deputado professor Miller Guerra. As suas palavras, pronunciadas como homenagem à me móri a do dr. JoGuilher- me Melo e Castro, não foram, felizmente, simpl es tropos orató- rios. O prof. Miller Guerra jul- gou que, inventari ar a acção de Melo e Castro como governante e realçar o papel importante, em- bora sem cont inuidade na reno- vação política do país, qu!3ndo dirigiu a campanha eleitoral de 1969, era a melhor homenagem ao espírito esclarecido do dr. Me- lo e Castro. A Assembleia Nacional conhe- ceu, nesta l egislatura, deputados, ouviu intervenções e ass istiu a esforços de renovação, sobretudo, através de homens que Melo e Castro convencera a servir o pais, em momento difícil e em moldes que pareciam garantir uma participação activa no iní- cio de novo projecto da socie- dade portuguesa. «Depois da homenagem que o sr. President e da Assembl eia Nacional e o deputado Albino dos Reis prestaram à memória do Dr. J osé Guilherme de Melo e Castro, talvez as palavras que vou proferir se dispensassem. Porém, a amizade que me li- gou ao Dr. Melo e Castro du- rante quarenta anos, e a pr eço em que tinha as suas qualidades de homem e de político, a in- fluência que em mim exerceu na r esolução de me candidatar a deputado, a convivência assídua que mantivemos no período elei- t oral de 1969, tudo isso e o dese- !~u;1~~~~~:lntfsu~~c: am~~;~ esta figura nacional, tudo isso, repito , impeliu-me a descrever perante V.- Ex. •, senhor Pr esi- dente e seÕhores deputados, al- guns aspectos do espírito, da obra e da vida do meu grande e inesquecível amigo. Retratar uma personalidade rica e multiforme, não é para as minhas forças. Por isso, restrin- jo-me a dois. aspectos da activi- dade do Dr. Melo e Castro que me parecem de maior relevo: um respeita à Saúde e Assistên- cia Social, outro ao seu papel de dirigente da União Nacional. O interesse pela política social revelou-se muito antes de ascen- der ao cargo de subsecretário de Estado da Assistência, em 1954. Logo n as primei ras intervenções na Assembleia, ocupou-se da saúde pública, da a- ssistência e da previdência social, havendo sido relator da Comissão parla- mentar de Trabalho, Assistência e Previdência. O ponto para que pret endo chamar a atenção sobressai na sua intervenção de 1950, ao co- mentar «o plano geral da orga- nização h ospitalar», mas foi nos anos seguintes, designadamente como subsecretário de Estado, que deu rigor às suas concep- ções dos serviços médicos, hospi- talares e médico-sociais. Com a convicção e a tenacidade que punha em tudo quanto lhe pare- cia útil e justo, defendeu a co- ordenação da Saúde com a Pre- vidência, como os factos impu- nham e a lógica pedia. Durante os quatro anos de governo n ão, se cansou de tentar persuadir quem tinha o poder de decisão e de comando, das vantagens de t al medida. Conquistou numero- sos adeptos, médicos, adminis- tradores, professores universitá- rios, alguns homens públicos, mas os detentores do poder, re- sistiram pertinazmente e, como é de esperar, venceram. Em 1961, novamente na As- sembleia Nacional, volta ao as - s unto , afirmando que o nosso se- guro social, «contra evidências de ordem económica e técnica, funciona descoordenado da as- sistência, o que acentua a inefi- cácia do sistema geral de pro- tecção social, encarece os seus custos no que respeita à protec- ção sanitária e não permite que os serviços des ta cheguem a ser definidos com coerência». Não se limitou a apontar o erro, indicou também o remédio que consistia na criação de «um d e p ar t amento governamental respons ável por toda a política e toda a administração da saúde», rematando com a observação que resumia o estado dos servi - ços médico-sanitários: «Nem te- m es medicina livre, nem temos medicina organizada, nem arti- culação coerente de uma e ou- tra ; temos mal -estar dos médi- cos a generalizar-se e t emos t ambém mal-estar contra os mé- dicos». Assim caracterizou o Dr. Melo e Castro a situação de 1961. Quem havia de dizer que este juízo sombrio, com poucas mo- dificações, se aplicava perfeita- ment e à situação de 1972? O Ministério da Saúde, pros- segue o Dr . Melo e Castro, tal como foi criado, não correspon- de às necessidades citadas: «Não lhe foram dados novos meios de acção que não tivesse o extinto subsecretariado. Não foi estabe- lecido, superior a ele e ao Minis- tério das Corporações, um dispo- sitivo de articul ação entre a as- sistência e a previdência - que devia ser um Ministéri o de coor- denação dos assuntos sociais». «Tardiamente, muito tardia- mente, estabeleceu-se em 1970 a coordenação dos Ministérios das Corporações e da Saúde, no- meando um Ministro das Corpo- rações e Saúde, o que correspon. de em parte, mas em parte, às ideias do Dr. Melo e Castro. A solução, porém, é imperfeita e foi adaptada fora de tempo. O que doze anos era umá me- dida justa e relativamente fácil de executar, encontra agora obs- táculos enormes. A Previdência desenvolveu-se, fortificou-se, is- to é, tornou-se um organismo extenso, poderoso, e talvez inex- pugnável. Os hospitais não pro- grediram; pelo contrário, os · hos. pitais centrais têm decaído. Parece que a fórmula de coor- denação vigente, não resolve as dificul dades de hoje, embora ti- vesse podido resolver as do pas- sado. Pr esentemente é de crer que seja preciso procurar outro modo de corrigir o mau funcio - n amento dos dois importantes sectores da Admin istração Pú- blica. Entr etanto continuamos à es- p era - até quando? Da acção do Dr. Melo e Cas- tro na presidência e, depois, na vic e-presidência da Com i s são Executiva da União Nacional , direi pouco, apenas o bastante para relembrar um notabilíssi- mo passo da sua vida que a fra- ca m emór ia dos homens pode es quecer. Era seu costume dividir o re- gime salazarista em três perío- dos: o primeiro, que ele hiper- bolicamente chamava herói co, ia até à ·guerra de Espanha ; o se- gundo de consolidação, até à guerra mundial; o terceiro, de- nominava-o de es tagnação. Não importa de momento di-s- cutir es te modo de ver, somente aludo a ele porque ajuda a ex- plicar a biografia política do Dr. Melo e Castro que foi partidário fervoroso do Dr. Salazar duran- te muito tempo e a dmi rador de- salentado na última dezena de anos. A inércia dos negócios públi- cos, designadamente no campo da Educação e da Saúde, a falta de impulso e de crença funda no regimentado rigor desproposita- do da censura e do aparelho re- pressivo, minaram a confiança do Dr. Melo e Castro nas virtua- lidades de um governo autoritá- rio, pouco capaz de resolver os problemas nacionais. A compa- ração com os povos que progri- dem mantendo as liberdades pú- blicas, abalavam-lhe a cada pas- so as antigas certezas. » Preocupava-o sobretudo a su- cessão do Dr. Salazar e, como . tantos ' outros, cuidava que o re- gime findaria com o Presidente do Conselho. Em 1966, nesta Ca- sa e nesta sala, proferiu um dis- curso que incomodou a fal ange integrista, no qual indicava a ne- cessidade de «afeiçoar os meca- nismos da governação- políticos e adminis trativos - de modo que o País possa progredir à me- dida do tempo presente»; e, lo- go a seguir, precisava o seu pensamento, aludindo à necessi- dade de uma vida política repre. sentativa, à participação do maior número nas tarefas do Governo, que a todos dizem res- peito. Em tais circunstâncias e lu- gar, não era possível ir mais longe. Toda a gente entendeu, mas a maioria dirigente não gostou. De então para a atitude do Dr . Melo e Castro conservou-se a mesma, depositando cada vez mais esperanças no termo do longo - do demasiado longo - governo do Dr. Salazar, embora mantivesse até ao fim da vida o respeito e a admiração pelo go- vernante que considerava politi- camente extinto. Eis porque saudou a mudança do Governo em 1968, que ele es- perava fosse também do regime ou, pelo menos, que pr eparasse as condições para isso. O seu de- sejo era que uma nova vida co- meçasse, uma vida política euro. peia, como ele dizia. Quase todos os deputados da presente legisla tura sentiram, di recta ou indirectament e a in- fluência do Dr. Melo e Castro que atingiu o auge no período eleitoral de 1969. Não é preciso historiar os acontecimentos des- sa época inquieta da nossa es- treita vida pública. Viu-se então como o entusiasmo e o brilho de um homem dinamiza e senti- do às ideias, às aspirações e às vontaâes que andavam disper- sas, esperando por um aceno. Ao marasmo político sucedeu - por bem pouco t empo, infelizmente- º fervilhar das iniciativas em torno da ideia nucl ear de libera- lização. A um horizonte fecha- do, a uma sociedade . bloqueada a uma ideologia velha apontava- -se (finalmente!) a saída e o alvo. » E a terminar: «Decerto que a liberalização de per si era um progra ma insu- ficie nte, mas era o passo indis- pensável para sacudir cs obstá- culos que frenavam a evolução para um regime respeitador das lib erdades e das instituições de- mocráticas. Porém, os factos foram de- monstrando que a decantada li- beralização era ilusória, que gradualmente as tendências an- ti-evolutivas r e n a s c iam, ila- queando a corrent e liberalizado- ra. A censura à palavra oral e escrita e à imagem; o antigo e insuportável a utoritarismo; a fascinação do passado, sepulta- ram os anseios criadores susci - tados pela mudança de Governo. Valeu a pena tanta canseira para chegar a este resultado? O Dr. Melo e Castro dizia que sim, porque se manifestaram tendências que jaziam abafadas porque se libertaram energias adormecidas, porque se abriu o caminho à iniciativa política, porque se clarificaram algumas posições. Porque, acrescentamos s, se demonstrou a incapaci- dade do regime de se reformar politicamente. » DIALOGO Enquanto o professor Miller Guerra usava da palavra (na parte final do seu di scurso em que se referia ao esboço de libe- ralização do r egime) pediu para int ervi r o deputado Cazal Ribei- ro, intervenção que deu margem ao seguinte diálogo: - Cazal Ribeiro: Eu realmen- te não fazia tenção de intervir, porque V. Ex.• está a prestar homenagem a um colega nosso que faleceu, e que toda a gente, todos os colegas nossos, seja qual for a sua forma de pensa- mento ' lamentam, porque era uma pessoa que realmente ser~ viu o País,. em várias circuns - tâncias e, consequentemente, di- gno de todo o respeito e de toda a consideração - e até sauda- de; mesmo até por parte daque- les que não tinham, como no ca- so de V. Ex.•, laços de amizade. Mas parece-me, apesar de não querer p r o l o n gar demasiada- mente a minha intervenção, que V. Ex.• esa aproveitar uma circunstância de luto para a As- sembleia Nacional, para fazer uma série de afirmações que realmente: ·mereceriam uma res- posta diferente daquela que eu estou dando. Portanto, faço tenção de res- ponder a V. Ex.•, o mais breve possível. Queria em todo o caso, dizer isto: V. Ex.• falou no falso concei- to de lib erdade. E eu pergunto 0 seguinte: V. Ex.• quer mais li- berdade do que aquela que nós vivemos n este momento, quando se permit e, por exemplo, a saída de um livro ignóbil, chamado «Dinossauro Excelentíssimo» ? V. Ex.• quer mais liberdade do que aquela que se passa por exemplo, em Moçambique, quan- do se publica um livro de um advdgado muito conhecido na- quela província em guerra, em que se fazem afirmações ofensi- vas à dignidade do Sr. Presiden- te do Conselho e do Sr . Presi - dente da República? O li v r o parece que está apreendido, mas não está apreen- dido o autor! V. Ex.• quer mais liberdade ainda, sr. deputado ? -Miller Guerra: Sr. Cazal Ribeiro, tenho pena do momento ser de prestar homenagem a um deputado meu amigo ... - Cazal Ribeiro: - Pois eu também! - Mill er Guerra: Pois eu de- sejava responder a V. Ex. • ... Di- go apenas duas palavras: em primeiro lugar, V. Ex.• insinuou que eu estava aproveitando uma circunstância solene .. . -Cazal Ribeiro: - Desculpe sr. deputado, não insinuei, afir- mei! -Mil ler Guerra: Afirmou ? -Cazal Ribeiro: - Afirmei! Afirmei! - Miller Guerra : Afirmou! Ainda pior! Pois afirmou que eu estava servindo-me da circuns- tância de estar prestando home- nagem a um amigo e um. depu- tado, que foi um servidor da Na- ção, como V. Ex.• disse, para di zer, não sei o quê... enfim ... que V. Ex.• entende não estar certo. - Cazal Ribeiro: - V. Ex .• não sabe o que estava a di zer, mas eu sei, sr. deputado! - Mill er Guerra: Não é isso! Não é isso sr. deputado! Sei o que digo! - Miller Guerra: Dá-me licen- ça? Se vamos nesse tom, então respondo! - Cazal Ribeiro: - E uma ameaça, sr. deputado' ? E uma ameaça? - Miller Guerra: :e, é! - Cazal Ribeiro: - O sr. não me ameace, que eu não tenho medo! Nunca tive medo nenhum de ameaças! - Miller Guerra: Ora então vamos , sr. Cazal Ribeiro. O Sr. falou em lib erdade, não foi? - Cazal Ribeiro: - Pois foi! -Mi ller Guerra: E lamentou que um livro chamado «Dinos- sauro» tenha circulado, não é verdade? - Cazal Ribeiro: - E, é! - Miller Guerra: Eu, por mim, tomara que houvesse muitos «Dinossauros» e · 'muitos livros, que circulassem livremente, que o espírito português não estives - se amordaçado, como tem sido tanto tempo com uma cen- sura que tem, inclusivamente apreendido livros de deputados! - Cazal Ribeiro: - M e s m 0 quando se insulta a memória du- ma pessoa que serviu a Nação? V. Ex.• acha bem? - Miller Guerra: Sim, senhor. Em segundo lugar, V. Ex.• diz que muita liberdade. - Gaza! Ribeiro: - Eu não disse que havia muita liberdade. - Mill er Guerra: Não? Bom! Então pouca. - Cazal Ribeiro: - Disse que havia a suficiente para estas pu- blicações. - Miller Guerra: Então, se há pouca, estamos de acordo. - Gaza! Ribeiro: - Não me parece que haja assim tão pou- ca, mas não haverá possivelmen- te tanta quanta V. Ex.• queria. - Miller Guerra: :e verdade. E também não tão pouca co - mo V. Ex. desejava. - Cazal Ribeiro: - V. Ex.• ainda se há-de arrepender, tanto como eu das liberdades que por andam. - Miller Guerra: Bem, sr. de- putado Cazal Ribeiro, noutra ocasião, quando V. Ex.• falar, t eremos ensejo de prolongar este ' diálogo tãd agradável. =m~ m?I Matar ratos ~\I 1JiiMμ não é problema ® um1n é decisivo Racumin é um raticida descoberto pela' Bayer caracterizado por ser especialmente radical no combate a todos os tipos de ratos Ê pràticamente inofensivo para pessoas e animais domésticos O Racumin provoca a morte dos ratos sem lhes causar dor e portanto sem causar o mais pequeno alarme nos outros ratos Racumin isco e Racumin são formulações de Racumin prontas a ser usadas Além da substância activa o Racumin isco inclui um isco que pelo seu sabor e consistência é extrema- mente apetecido pelos ratos Para resultados decisivos basta que os ratos ingiram pequenas quantidades de Racumin isco, repetidas vezes Racumin é rápido, eficaz, decisivo Racumin é um produto Bayer BAYER PORTUGAL s.a .r. l ANTES OE USAR LEIA O RÓl Ul O

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Page 1: Melo Castro - Hemeroteca Digitalhemerotecadigital.cm-lisboa.pt/LivrosQueForamNoticia/DinossauroE… · toral de 1969, tudo isso e o dese-~~ !~u;1~~~~~:lntfsu~~c:am~~;~ esta figura

PAGINA OITO JORNAL DO FUNDÃO 10 DE DEZEMBRO DE 1912

Melo e Castro e ª' sua política evocados na Assembleia Nacional

Como referimos no último nú­mero, publicamos hoje as par­tes mais importantes da inter­venção do deputado professor Miller Guerra. As suas palavras, pronunciadas como homenagem à memória do dr. José Guilher­me Melo e Castro, não foram, felizmente, simples tropos orató­rios. O prof. Miller Guerra jul­gou que, inventariar a acção de Melo e Castro como governante e realçar o papel importante, em­bora sem continuidade na reno­vação política do país, qu!3ndo dirigiu a campanha eleitoral de 1969, era a melhor homenagem ao espírito esclarecido do dr. Me­lo e Castro.

A Assembleia Nacional conhe­ceu, nesta legislatura, deputados, ouviu intervenções e assistiu a esforços de renovação, sobretudo, através de homens que Melo e Castro convencera a servir o pais, em momento difícil e em moldes que pareciam garantir uma participação activa no iní­cio de novo projecto da socie­dade portuguesa.

«Depois da homenagem que o sr. Presidente da Assembleia Nacional e o deputado Albino dos Reis prestaram à memória do Dr. J osé Guilherme de Melo e Castro, talvez as palavras que vou proferir se dispensassem.

Porém, a amizade que m e li­gou ao Dr. Melo e Castro du­rante quarenta anos, e apreço em que tinha as suas qualidades de homem e de político, a in­fluência que em mim exerceu na r esolução de me candidatar a deputado, a convivência assídua que mantivemos no período elei­toral de 1969, tudo isso e o dese-

~~ !~u;1~~~~~:lntfsu~~c:am~~;~ esta figura nacional, tudo isso, repito, impeliu-me a descrever perante V.- Ex.•, senhor Presi­dente e seÕhores deputados, al­guns aspectos do espírito, da obra e da vida do meu grande e inesquecível amigo.

Retratar uma personalidade rica e multiforme, não é para as minhas forças. Por isso, restrin­jo-me a dois . aspectos da activi­dade do Dr. Melo e Castro que me parecem de maior relevo: um respeita à Saúde e Assistên­cia Social, outro ao seu papel de dirigente da União Nacional.

O interesse pela política social r evelou-se muito antes de ascen­der ao cargo de subsecretário de Estado da Assistência, em 1954. Logo nas primeiras intervenções na Assembleia, ocupou-se da saúde pública, da a-ssistência e da previdência social, havendo sido relator da Comissão parla­m entar de Trabalho, Assistência e Previdência.

O ponto para que pretendo chamar a atenção sobressai na sua intervenção de 1950, ao co­mentar «o plano geral da orga­nização hospitalar», mas foi nos anos seguintes, designadamente como subsecretário de Estado, que deu rigor às suas concep­ções dos serviços médicos, hospi­talares e médico-sociais. Com a convicção e a tenacidade que punha em tudo quanto lhe pare­cia útil e justo, defendeu a co­ordenação da Saúde com a Pre­vidência, como os factos impu­nham e a lógica pedia. Durante os quatro anos de governo não, se cansou de tentar persuadir quem tinha o poder de decisão e de comando, das vantagens de t al medida. Conquistou numero­sos adeptos, médicos, adminis­tradores, professores universitá­rios, alguns homens públicos, mas os detentores do poder, re­s istiram pertinazmente e, como é de esperar, venceram.

Em 1961, novamente na As­sembleia Nacional, volta ao as­sunto, afirmando que o nosso se­guro social, «contra evidências de ordem económica e técnica, funciona descoordenado da as­sistência, o que acentua a inefi­cácia do sistema geral de pro­tecção social, encarece os seus custos no que respeita à protec­ção sanitária e não permite que os serviços desta cheguem a ser definidos com coerência».

Não se limitou a apontar o erro, indicou também o remédio que consistia na criação de «um d e p ar t amento governamental responsável por toda a política e toda a administração da saúde», rematando com a observação que resumia o estado dos servi­ços médico-sanitários: «Nem t e­m es medicina livre, nem temos m edicina organizada, nem arti­culação coerente de uma e ou­tra ; temos mal-estar dos médi­cos a generalizar-se e t emos também mal-estar contra os mé­dicos».

Assim caracterizou o Dr. Melo e Castro a situação de 1961.

Quem havia de dizer que este juízo sombrio, com poucas mo­dificações, se aplicava perfeita­mente à situação de 1972?

O Ministério da Saúde, pros­segue o Dr. Melo e Castro, tal como foi criado, não correspon­de às necessidades citadas: «Não lhe foram dados n ovos meios de acção que não tivesse o extinto subsecretariado. Não foi estabe­lecido, superior a ele e ao Minis­tério das Corporações, um dispo­sitivo de articulação entre a as­sistência e a previdência - que devia ser um Ministério de coor­denação dos assuntos sociais».

«Tardiamente, muito tardia­mente, estabeleceu-se em 1970 a coordenação dos Ministérios das Corporações e da Saúde, no­meando um Ministro das Corpo­rações e Saúde, o que correspon. de em parte, mas só em parte, às ideias do Dr. Melo e Castro. A solução, porém, é imperfeita e foi adaptada fora de t empo. O que há doze anos era umá me­dida justa e relativamente fácil de executar, encontra agora obs­táculos enormes. A Previdência desenvolveu-se, fortificou-se, is­to é, tornou-se um organismo ext enso, poderoso, e talvez inex­pugnável. Os hospitais não pro­grediram; pelo contrário, os ·hos. pitais centrais têm decaído.

Parece que a fórmula de coor­denação vigente, não resolve as dificuldades de hoje, embora ti­vesse podido resolver as do pas­sado. Presentemente é de crer que seja preciso procurar outro modo de corrigir o mau funcio ­namento dos dois importantes sectores da Administração Pú­blica.

Entretanto continuamos à es­pera - até quando?

Da acção do Dr. Melo e Cas­tro na presidência e, depois, na vice-presidência da Com i s são Executiva da União Nacional, direi pouco, apenas o bastante para relembrar um notabilíssi­mo passo da sua vida que a fra­ca m emória dos homens pode esquecer.

Era seu costume dividir o re­gime salazarista em três perío­dos: o primeiro, que ele hiper­bolicamente chamava heróico, ia até à ·guerra de Espanha ; o se­gundo de consolidação, até à guerra mundial; o terceiro, de­nominava-o de estagnação.

Não importa de momento di-s­cutir est e modo de ver, somente

aludo a ele porque ajuda a ex­plicar a biografia política do Dr. Melo e Castro que foi partidário fervoroso do Dr. Salazar duran­te muito tempo e admirador de­salentado na última dezena de anos.

A inércia dos negócios públi­cos, designadamente no campo da Educação e da Saúde, a falta de impulso e de crença funda no regimentado rigor desproposita­do da censura e do aparelho re­pressivo, minaram a confiança do Dr. Melo e Castro nas virtua­lidades de um governo autoritá­rio, pouco capaz de r esolver os problemas nacionais. A compa­ração com os povos que progri­dem mantendo as liberdades pú­blicas, abalavam-lhe a cada pas­so as antigas certezas.»

Preocupava-o sobretudo a su­cessão do Dr. Salazar e, como . tantos 'outros, cuidava que o re­gime findaria com o Presidente do Conselho. Em 1966, nesta Ca­sa e nesta sala, proferiu um dis­curso que incomodou a falange integrista, no qual indicava a ne­cessidade de «afeiçoar os meca­nismos da governação- políticos e administrativos - de modo que o País possa progredir à me­dida do tempo presente»; e, lo­go a seguir, precisava o seu pensamento, aludindo à necessi­dade de uma vida política repre. sentativa, à participação do maior número nas tarefas do Governo, que a todos dizem res­peito.

Em tais circunstâncias e lu­gar, não era possível ir mais longe. Toda a gente entendeu, mas a maioria dirigente não gostou.

De então para cá a atitude do Dr. Melo e Castro conservou-se a mesma, depositando cada vez mais esperanças no termo do longo - do demasiado longo -governo do Dr. Salazar, embora mantivesse até ao fim da vida o respeito e a admiração pelo go­vernante que considerava politi­camente extinto.

Eis porque saudou a mudança do Governo em 1968, que ele es­perava fosse também do regime ou, pelo menos, que preparasse as condições para isso. O seu de­sejo era que uma nova vida co­meçasse, uma vida política euro. peia, como ele dizia.

Quase todos os deputados da presente legisla tura sentiram, directa ou indirectamente a in­fluência do Dr. Melo e Castro que atingiu o auge no período eleitoral de 1969. Não é preciso historiar os acontecimentos des­sa época inquieta da nossa es­treita vida pública. Viu-se então como o entusiasmo e o brilho de um homem dinamiza e dá senti­do às ideias, às aspirações e às vontaâes que andavam disper­sas, esperando por um aceno. Ao marasmo político sucedeu - por bem pouco t empo, infelizmente­º fervilhar das iniciativas em torno da ideia nuclear de libera­lização. A um horizonte fecha­do, a uma sociedade. bloqueada a uma ideologia velha apontava­-se (finalmente!) a saída e o alvo.»

E a terminar: «Decerto que a liberalização

de per si era um programa insu­ficiente, mas era o passo indis­pensável para sacudir cs obstá­culos que frenavam a evolução para um regime respeitador das liberdades e das instituições de­mocráticas.

Porém, os factos foram de­monstrando que a decantada li­beralização era ilusória, que gradualmente as t endências an­ti-evolutivas r e n a s c iam, ila­queando a corrente liberalizado-

ra. A censura à palavra oral e escrita e à imagem; o antigo e insuportável a utoritarismo; a fascinação do passado, sepulta­ram os anseios criadores susci­tados pela mudança de Governo.

Valeu a pena tanta canseira para chegar a este resultado? O Dr. Melo e Castro dizia que sim, porque se manifestaram tendências que jaziam abafadas porque se libertaram energias adormecidas, porque se abriu o caminho à iniciativa política, porque se clarificaram algumas posições. Porque, acrescentamos nós, se demonstrou a incapaci­dade do regime de se reformar politicamente.» DIALOGO

Enquanto o professor Miller Guerra usava da palavra (na parte final do seu discurso em que se referia ao esboço de libe­ralização do regime) pediu para intervir o deputado Cazal Ribei­ro, intervenção que deu margem ao seguinte diálogo:

- Cazal Ribeiro: Eu realmen­te não fazia tenção de intervir, porque V. Ex.• está a prestar homenagem a um colega nosso que faleceu, e que toda a gente, todos os colegas nossos, seja qual for a sua forma de pensa­mento ' lamentam, porque era uma pessoa que realmente ser~ viu o País,. em várias circuns­tâncias e, consequentemente, di­gno de todo o respeito e de toda a consideração - e até sauda­de; mesmo até por parte daque­les que não tinham, como no ca­so de V. Ex.•, laços de amizade.

Mas parece-me, apesar de não querer p r o l o n gar demasiada­mente a minha intervenção, que V . Ex.• está a aproveitar uma circunstância de luto para a As­sembleia Nacional, para fazer uma série de afirmações que realmente: ·mereceriam uma res­posta diferente daquela que eu estou dando.

Portanto, faço tenção de res­ponder a V. Ex.•, o mais breve possível. Queria em todo o caso, dizer isto:

V. Ex.• falou no falso concei­to de liberdade. E eu pergunto 0 seguinte: V. Ex.• quer mais li­berdade do que aquela que nós vivemos neste momento, quando se permite, por exemplo, a saída de um livro ignóbil, chamado «Dinossauro Excelentíssimo» ?

V. Ex.• quer mais liberdade do que aquela que se passa por exemplo, em Moçambique, quan­do se publica um livro de um advdgado muito conhecido na­quela província em guerra, em que se fazem afirmações ofensi­vas à dignidade do Sr. Presiden­te do Conselho e do Sr. Presi­dente da República?

O li v r o parece que está apreendido, mas não está apreen­dido o autor!

V. Ex.• quer mais liberdade ainda, sr. deputado ?

-Miller Guerra: Sr. Cazal Ribeiro, tenho pena do momento ser de prestar homenagem a um deputado meu amigo ...

- Cazal Ribeiro: - Pois eu também!

- Miller Guerra: Pois eu de­sejava responder a V. Ex. • ... Di­go apenas duas palavras: em primeiro lugar, V. Ex.• insinuou que eu estava aproveitando uma circunstância solene .. .

-Cazal Ribeiro: - Desculpe sr. deputado, não insinuei, afir­mei!

-Miller Guerra: Afirmou ? -Cazal Ribeiro: - Afirmei!

Afirmei! - Miller Guerra : Afirmou!

Ainda pior! Pois afirmou que eu estava servindo-me da circuns­tância de estar prestando home-

nagem a um amigo e um. depu­tado, que foi um servidor da Na­ção, como V . Ex.• disse, para dizer, não sei o quê... enfim ... que V. Ex.• entende não estar certo.

- Cazal Ribeiro: - V. Ex.• não sabe o que estava a dizer, mas eu sei, sr. deputado!

- Miller Guerra: Não é isso! Não é isso sr. deputado! Sei o que digo!

- Miller Guerra: Dá-me licen­ça? Se vamos nesse tom, então respondo!

- Cazal Ribeiro: - E uma ameaça, sr. deputado' ? E uma ameaça?

- Miller Guerra: :e, é! - Cazal Ribeiro: - O sr. não

me ameace, que eu não tenho medo! Nunca tive medo nenhum de ameaças!

- Miller Guerra: Ora então vamos lá, sr. Cazal Ribeiro. O Sr. falou em liberdade, não foi?

- Cazal Ribeiro: - Pois foi! -Miller Guerra: E lamentou

que um livro chamado «Dinos­sauro» tenha circulado, não é verdade?

- Cazal Ribeiro: - E, é! - Miller Guerra: Eu, por mim,

tomara que houvesse muitos «Dinossauros» e · 'muitos livros, que circulassem livremente, que o espírito português não estives-

se amordaçado, como tem sido há tanto tempo com uma cen­sura que tem, inclusivamente apreendido livros de deputados!

- Cazal Ribeiro: - M e s m 0 quando se insulta a memória du­ma pessoa que serviu a Nação? V . Ex.• acha bem?

- Miller Guerra: Sim, senhor. Em segundo lugar, V. Ex.• diz que há muita liberdade.

- Gaza! Ribeiro: - Eu não disse que havia muita liberdade.

- Miller Guerra: Não? Bom! Então há pouca.

- Cazal Ribeiro: - Disse que havia a suficiente para estas pu­blicações.

- Miller Guerra: Então, se há pouca, estamos de acordo.

- Gaza! Ribeiro: - Não me parece que haja assim tão pou­ca, mas não haverá possivelmen­te tanta quanta V. Ex.• queria.

- Miller Guerra: :e verdade. E também não há tão pouca co­mo V. Ex.• desejava.

- Cazal Ribeiro: - V. Ex.• ainda se há-de arrepender, tanto como eu das liberdades que por aí andam.

- Miller Guerra: Bem, sr. de­putado Cazal Ribeiro, noutra ocasião, quando V. Ex.• falar, t eremos ensejo de prolongar este ' diálogo tãd agradável.

=m~ m?I

Matar ratos ~\I 1JiiMµ

já não é problema ® •

um1n é decisivo

Racumin é um raticida descoberto pela' Bayer caracterizado por ser especialmente radical no combate a todos os tipos de ratos Ê pràticamente inofensivo para pessoas e animais domésticos O Racumin provoca a morte dos ratos sem lhes causar dor e portanto sem causar o mais pequeno alarme nos outros ratos Racumin isco e Racumin pó são formulações de Racumin já prontas a ser usadas Além da substância activa o Racumin isco inclui um isco que pelo seu sabor e consistência é extrema­mente apetecido pelos ratos Para resultados decisivos basta que os ratos ingiram pequenas quantidades de Racumin isco, repetidas vezes Racumin é rápido, eficaz, decisivo Racumin é um produto Bayer

BAYER PORTUGAL s.a.r. l ANTE S OE USAR LEIA O RÓl Ul O