meditação e métodos

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1 SWAMI VIVEKANANDA A MEDITAÇÃO E SEUS MÉTODOS Editado por Swami Chetanananda Prefácio por Christopher Isherwood

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  • 1SWAMI VIVEKANANDA

    A MEDITAO E SEUS MTODOS

    Editado por Swami Chetanananda

    Prefcio por Christopher Isherwood

  • 2PREFCIO

    "Se a gente pudesse t-lo conhecido!" - dizemos.A maioria de ns reconhece que poderia ser capaz de identificar um grande

    instrutor espiritual se pudesse encontrar algum. Seria verdade? Provavelmente estamos nos gabando. Contudo, deve-se concordar que um instrutor vivo muito mais prefervel que seu livro morto. As meras palavras impressas no podem carregar o tom de voz de quem as pronunciou e muito menos o poder espiritual que se esconde atrs daquela voz.

    Mas Vivekananda uma das raras excees. Ao ler suas palavras impressas, podemos captar algo do tom de sua voz e mesmo experimentar algum sentido de contato com seu poder. Qual a razo disto?

    Talvez porque muitos desses ensinamentos eram originalmente falados, e no escritos por ele. Tinham a informalidade e a naturalidade do falar. Alm disso, Vivekananda fala uma linguagem que podemos entender, mas que inimitavelmente sua; o ingls de Vivekananda - aquele idioma maravilhosamente forte, de frases pitorescas e explosivas exclamaes. Ela recria sua personalidade para ns ainda hoje, passados trs quartos de um sculo.

    O que Swami Chetanananda fez aqui foi trazer Vivekananda em pessoa, para ensinar-nos como meditar. Esses resumidos extratos de suas obras completas dizem-nos o que religio, porque de interesse vital para ns e como devemos pratic-la para torn-la parte de nossas vidas. No se apresse em ler este livro de cabo a rabo. Escolha um extrato e reflita sobre ele o dia inteiro, ou a semana inteira. Esses ensinamentos cabem em poucas palavras, mas exigem interminveis reflexes.

    A franqueza de Vivekananda desconcertante. Ele aponta seu dedo direto para voc - como o Tio Sam nos velhos cartazes de recrutamento. Voc no pode fingir para si mesmo que ele est falando com qualquer outra pessoa. Ele se dirige a "voc" e melhor que voc oua.

    melhor que voc escute, diz Vivekananda, porque voc no sabe quem . Voc pensa que o Sr. ou a Sra. Jones. o seu erro fundamental e fatal. Sua opinio a respeito de si mesmo, seja boa ou ruim, tambm equivocada; mas isto de importncia secundria. Voc pode andar pavoneando pela vida como o Imperador Jones ou arrastar-se pelo cho como Jones, o escravo; no faz diferena. O Imperador Jones, se existisse tal criatura, teria sditos; o escravo Jones teria um capataz. Voc no tem nem um nem outro. Pois voc Brahman, o Deus Eterno e, para qualquer lugar que olhe, voc nada v a no ser Brahman, utilizando os muitos milhes de disfarces que so chamados por nomes to absurdos como o seu prprio - Jones, Juarez, Jinnah, Jung, Jocho, Janvier, Jagata, Jablochov; nomes que significam todos a mesma coisa, "eu no sou voc".

    Voc no sabe quem porque vive na ignorncia. Esta ignorncia pode parecer agradvel, em certos momentos mas, essencialmente, um estado de escravido e, portanto, de sofrimento. Seu sofrimento deriva do fato de que Jones, como Jones, tem de morrer - enquanto Brahman eterno; e que Jones, como Jones, diferente de Juarez, Jinnah e todos os outros - enquanto Brahman, dentro de todos eles, um s. Jones, em sua iluso de separatividade, atormentado por sentimentos de inveja, dio ou medo em relao a estes seres, aparentemente

  • 3separados, ao seu redor. Ou, ento, ele se sente atrado por alguns deles por desejo ou amor e se atormenta por no poder possu-los e unir-se completamente a eles.

    A separatividade, diz Vivekananda, uma iluso que pode e deve ser afastada pelo amor do Brahman Eterno dentro de ns e de todos os seres. Portanto, a prtica da religio uma negao da separatividade e uma renncia a seus objetivos: fama, riqueza e poder sobre os outros.

    Eu - o Sr. ou a Sra. Jones - sinto-me embaraado com estas declaraes. Trabalho para possuir bens e no quero abrir mo deles. Sinto-me orgulhoso de ser Jones e odiaria ser Jablochov; alm disso, suspeito que ele esteja planejando arrebatar meus bens de mim. E ento eu no sou somente um Jones qualquer, eu sou "o Jones", o famoso, e assim no estou inclinado a julgar-me uma pessoa totalmente exposta e sem personalidade. Eu aprovo totalmente a palavra "amor". Mas, para mim, "amor" significa Jane ou John, e ela ou ele a mais preciosa de todas as minhas posses, nas quais s posso pensar em exclusiva relao para comigo.

    Por outro lado, a prudncia aconselha-me a no rejeitar o ensinamento de Vivekananda. Meu prprio mal estar uma confirmao de que o que ele diz , pelo menos em parte, verdadeiro. Fico tenso e deprimido quando penso no futuro. Meu mdico receitou-me tranqilizantes, mas eles no me acalmam, somente fico zonzo e sonolento. Por que, ento, no dedicar alguns minutos do dia para essa meditao? , realmente, uma espcie de seguro de vida. Eu fao seguro hospitalar na esperana supersticiosa de que ele me livrar de ter de ir ao hospital. Por que no fazer o seguro Vivekananda, na esperana de que livrar Jones de morrer e perder sua identidade?

    Isto bom, diz Vivekananda com um sorriso indulgente. De qualquer maneira comece - mesmo que for por uma razo errada. Ele de um bom humor e de uma pacincia inesgotveis. Nunca fica desesperado com a gente porque sabe - sabe com a extrema certeza da experincia direta - que Brahman, nossa natureza real, nos atrair gradualmente at Ele:

    Assim no importam essas falhas, esses pequenos deslizes. Mantenha o ideal por mil vezes e, se voc falhar e, se voc falhar mil vezes, faa mais um vez uma tentativa... H uma vida infinita diante da alma. V com calma e cumprir seu objetivo.

    Isto soa seguro demais, demasiadamente reconfortante. Ser que ele est zombando de ns? No e sim. Ele quer dizer exatamente o que diz, mas fala nos termos da doutrina da reencarnao. Quando ele nos diz que devemos ir com calma, quer dizer que temos liberdade de ficar na escravido da ignorncia por outros milhares de vidas; liberdade para continuar morrendo e renascendo repetidamente at que nos fartemos de nossa separatividade e fiquemos firmemente decididos a acabar com ela. Se achamos que as palavras de Vivekananda renovam nossa segurana - bem, seremos a prpria piada.

    Mas, o que dizer a respeito desta vida? Vivekananda observou certa vez:Ao tentar praticar a religio, oitenta por cento das pessoas so logradas e

    cerca de quinze por cento enlouquecem; somente os restantes cinco por cento alcanam o conhecimento imediato da Verdade Infinita.

    Isto o choca? Se choca, imagine como voc reagiria se o instrutor de ginstica de uma academia lhe dissesse que "ao praticar esses exerccios, oitenta por cento dos meus discpulos fracassam - por no fazerem corretamente os difceis exerccios - e que quinze por cento fazem exerccios em excesso, como loucos, at

  • 4que se machucam e tm que desistir; somente os cinco por cento restantes, realmente, transformam seus corpos fsicos". Voc ficaria surpreso? Certamente no, embora voc pudesse ficar deprimido. Voc deveria decidir-se, reconhecendo sua prpria fraqueza, a no matricular-se na academia de forma alguma.

    Mas no h desculpa mais miservel para a inao do que a justificativa de sermos fracos, indignos, no espirituais. Quando falamos isso, a voz de Vivekananda ressoa como um trovo dizendo que somos lees e no ovelhas; que somos Brahman e no Jones. Ento ele torna-se gentil de novo e nos diz para fazer alguma coisa pelo menos, para fazer um pequeno esforo, mesmo se formos idosos, doentes, sobrecarregados de dependentes e de deveres mundanos, desesperadamente pobres ou desesperadamente ricos. Ele nos lembra que a verdadeira renncia mental e no necessariamente fsica. No necessrio repudiarmos nossos maridos ou esposas e expulsarmos nossos filhos, porta afora. Devemos somente compreender que eles no so realmente nossos; am-los como moradas de Brahman, no como meros indivduos. Devemos compreender que nossas assim chamadas posses so simplesmente brinquedos que nos foram emprestados para brincarmos com eles por breve tempo. Um colar de contas pode ser bonito. Da mesma forma, um colar de diamantes. No h perigo em usar o colar quando ignoramos sua diferena de preo.

    Repetidamente, Vivekananda nos faz rir, quando nos pede para no perdermos tempo em arrependimentos, para no gemermos e soluarmos sobre nossos pecados; quando nos pede para secarmos nossas lgrimas e vermos como engraado este mundo de farsa que vimos encarando to seriamente. Assim, pelo menos por algum tempo, ele nos enche de coragem.

    Mas Vivekananda no dedicou toda sua tremenda energia para estimular os noventa e cinco por cento de corao fraco. Ele precisava de auxiliares no seu trabalho - homens e mulheres dedicados, em quem pudesse confiar - e no os procurava entre os fracos. De vez em quando, inesperadamente, no meio de uma conferncia, ele fazia um de seus emocionantes e ressoantes apelos aos fortes, os ainda incorrompidos cinco por cento:

    Homens e mulheres de hoje! Se existir entre vocs alguma flor pura e fresca, que seja colocada no altar de Deus. Se existir entre vocs alguns que, sendo jovens, no queiram voltar para o mundo, que o abandonem! Que renunciem! Este o nico segredo da espiritualidade, a renncia. Atrevam-se a fazer isso. Sejam bravos, o bastante, para faze-lo. So necessrios esses grandes sacrifcios.

    Vocs no podem ver a mar de morte e materialismo que est rolando sobre essas terras ocidentais? Vocs no podem ver o poder da luxria e da perversidade que devoram as foras vitais da sociedade? Acreditem-me, vocs no detero estas coisas pela conversa ou por movimentos de agitao pedindo reformas; mas somente pela renncia, ficando de p, no meio da decadncia e da morte, como montanhas de retido. No falem, mas deixem o poder da pureza, o poder da castidade, o poder da renncia, emanar de cada poro de seus corpos. Que este poder golpeie aqueles que lutam noite e dia pelo ouro, pois mesmo no meio de tal estado de coisas, poder aparecer algum para quem as riquezas perdero seu valor. Expulsem a luxria e as riquezas. Sacrifiquem-se.

    Mas quem far isto? No os desgastados ou os velhos, esgotados e fustigados pela sociedade, mas os mais novos e os melhores da Terra, os fortes, os jovens, os belos. Sacrifiquem suas vidas. Tornem-se servos da humanidade. Sejam sermes vivos. Isto renncia e no palavras vazias.

    No critique os outros, pois todas as doutrinas e dogmas so bons; mas

  • 5mostre a eles, atravs de suas vidas, que a religio no assunto de livros e crenas, mas de realizao espiritual. Somente aqueles que a viram compreendero isto; mas tal espiritualidade pode ser dada a outros, embora fiquem inconscientes desta ddiva. Somente aqueles que atingiram este poder se colocam entre os grandes instrutores da humanidade. Eles so os poderes da luz.

    Quanto mais um pas produzir tais homens, mais alto se levantar. Aquela terra onde tais homens no existirem, est amaldioada. Nada poder salv-la. Portanto, a mensagem de meu Mestre para o mundo : "Sejam todos seres espirituais! Obtenham, primeiro, a realizao espiritual!" Vocs falaram tanto do amor do homem, que est perigando de tornar-se, somente, uma palavra. Chegou o tempo de agir. A ordem agora : Faa! Pule no buraco e salve o mundo!

    Certa vez, em minha vida, eu ouvi este desafio, da maneira mais simples possvel. Um grupo de pessoas se juntara para discutir assuntos religiosos.

    Muitos dos presentes falaram extensamente e com eloqncia sobre Deus e a vida de oraes. Ento, quando o ltimo deles terminou, um menino de catorze anos exclamou repentinamente, muito excitado: "Mas, se tudo isto verdade, por que fazemos sempre coisas diferentes?" A pergunta nos emudeceu.

    Christopher Isherwood

    Julho de 1974

  • 6PREFCIO DO EDITOR

    Um peixe, quando capturado pela rede do pescador e levado praia, debate-se e pula no cho seco; luta desesperadamente para voltar gua, que sua real morada. Similarmente, o lar real do homem Deus; ele se sente inquieto e desconsolado enquanto se esquece de sua real natureza, que divina. A meditao a ponte que liga o homem a Deus. Os mtodos de meditao so muitos, mas seus principal propsito conseguir uma maneira de fugir da rede de Maya (a Iluso Csmica), a causa de todo sofrimento, para trazer calma e paz mente do homem.

    Golpeado pelas tenses, ansiedades, tentaes e frustraes do mundo ao seu redor, e, ao mesmo tempo, encontrando somente um grande vazio dentro de si, o homem hoje est no meio de uma crise. incapaz de determinar quais so os ltimos valores da vida. O que ele realmente busca - talvez sem o saber - liberdade, alegria, equilbrio e paz interiores. Como pode conseguir isto? Meditao a resposta.

    Instrues especficas para a prtica da meditao no podem ser retiradas de nenhum livro; antes, elas devem ser obtidas de um instrutor qualificado e ensinadas de acordo com o temperamento e o avano espiritual do discpulo. No obstante, as palavras de uma grande alma tm um poder duradouro e, com estas palavras de Swami Vivekananda, a gente pode no somente familiarizar-se com os princpios gerais de meditao, mas tambm reunir inspirao e fora para buscar a divindade que est em nosso interior. Ao se ler estas selees das prelees, escritos e conversas de Swami Vivekananda, torna-se evidente que ele ensinava com autoridade e no meramente como um erudito. Pois ele prprio mergulhara nas profundezas da realizao que pregava.

    O livro foi dividido em duas sees: "Meditao conforme a Ioga" e "Meditao conforme a Vedanta". A primeira parte reflete a prtica e mstica abordagem da meditao. A segunda uma mais filosfica e transcendental aproximao. Ambos os caminhos, no entanto, enfatizam ser a meditao o supremo meio de alcanar a iluminao e ambas direcionam o aspirante para a mesma meta.

    Escolhemos um ttulo para cada seleo e definies para alguns termos em snscrito menos familiares foram dadas, entre parntesis, no corpo do texto.

    Tambm para ajudar na clareza e na leitura, ocasionalmente cortamos uma ou mais sentenas ou frases introdutrias e modernizamos a pontuao, sem fazermos indicao das supresses ou variaes do original. Contudo, uma referncia ao volume e nmero da pgina das "Obras Completas de Swami Vivekananda" dada para cada seleo e uma referncia para cada volume e sua edio pode ser encontrada na ltima pgina do livro. Finalmente, ao escolher estes extratos, inclumos no somente as instrues de Swami Vivekananda sobre meditao, mas tambm algumas descries de suas prprias experincias, juntamente com antigas estrias que ele contou e vrias de suas conversas registradas, afim de dar idia da rica variedade de seus ensinamentos.

    Somos gratos ao Advaita Ashrama, de Mayavati, Himalaia, por nos dar permisso de reproduzir estas selees das "Obras Completas de Swami Vivekananda". Ao concluir, queremos expressar nossa gratido a Christopher Isherwood por ter escrito o Prefcio.

  • 7VISLUMBRES DE SWAMI VIVEKANANDA

    "Voc v uma luz quando adormece?" "Sim, vejo. Todo mundo no v tambm?". A voz do menino demonstrava

    admirao.Foi logo aps seu primeiro encontro que Sri Ramakrishna fez esta pergunta a

    Narendra e sua resposta propiciou ao Mestre uma profunda viso sobre o passado, a natureza e o destino deste jovem notvel, que mais tarde seria Swami Vivekananda. Em seus derradeiros anos, ele prprio descreveu essa faculdade supranormal: "Desde meus tempos de criancinha, eu costumava ver um maravilhoso ponto luminoso entre minhas sobrancelhas, quando fechava meus olhos para dormir e acompanhava suas vrias modificaes com grande ateno. Aquele maravilhoso ponto de luz cambiava de cores e aumentava at assumir a forma de uma bola; finalmente ela explodia e cobria meu corpo, da cabea aos ps, com uma branca luz lquida. Logo que isto acontecia, eu perdia a conscincia exterior e adormecia. Eu acreditava que era assim que todo mundo comeava a dormir. Ento, quando cresci e comecei a meditar, aquele ponto de luz aparecia para mim to logo eu fechava meus olhos e eu concentrava-me nele."

    A histria da vida de Swami Vivekananda a de um ser fenomenal. Ele era o tipo ideal de iogue e monge, de instrutor e lder, de mstico e asceta, de trabalhador e filsofo. Era capaz de alcanar o mais elevado estado de devoo, embora possudo do mais alto conhecimento. Era um dedicado humanista, um msico e orador por excelncia, um atleta consumado. Em Vivekananda temos um vislumbre do homem perfeito. Seu guru, Sri Ramakrishna, disse a seu respeito: "Narendra uma grande alma - perfeito na meditao. Com a espada do conhecimento, ele despedaa os vus de maya. A inescrutvel iluso (maya) nunca poder subjug-lo."

    A verdadeira natureza desse discpulo excepcional foi revelada a Sri Ramakrishna numa viso mesmo antes de terem seu primeiro encontro. Vivekananda era um sbio antigo, imerso em profundo samadhi (conscincia transcendental), imvel como uma rocha. Sri Ramakrishna, o mestre do samadhi, despertou aquele ser divino de sua meditao, dando, por assim dizer, um violento empurro naquela rocha, encaminhando sua trajetria, pelo mundo, a irradiar espiritualidade e a destruir a mesquinhez e a ignorncia onde quer que fosse.

    Com referncia s vises que tivera a respeito de Narendra disse Sri Ramakrishna a seus discpulos: "Certo dia verifiquei que minha mente pairava no samadhi ao longo de uma luminosa trajetria. Enquanto ela se elevava cada vez mais alto eu divisava, s margens do caminho, as formas ideais de deuses e deusas. A mente atingiu ento os limites extremos daquela regio onde uma barreira de luz separava a esfera da existncia relativa da esfera do Absoluto. Ao atravessar aquela barreira a mente penetrou no reino transcendental em que nenhum ser corpreo era visvel. Logo a seguir eu vi sete sbios venerveis assentados, em samadhi. Passou-me pela mente que aqueles sbios deveriam ter ultrapassado no somente os homens mas mesmo os deuses em conhecimento e santidade, em renncia e amor. Perdido em admirao, eu refletia sobre sua grandeza quando vi uma parcela daquela regio luminosa indiferenciada condensar-se na forma de uma criana divina. A criana veio at um dos sbios, tocou terna e delicadamente em sua nuca e, dirigindo-se a ele com voz suave, tentou arrancar sua mente do estado de samadhi. Este toque mgico despertou o sbio de seu estado

  • 8super consciente e este ento fixou seus olhos entreabertos na criana maravilhosa. Com grande alegria a estranha criana falou-lhe: "Eu estou descendo. Voc tambm deve vir comigo." O sbio permaneceu mudo, mas seu olhar terno expressou seu assentimento. To logo vi Narendra, reconheci que ele era aquele sbio. Mais tarde Ramakrishna revelou que aquela divina criana era ele prprio. Vivekananda nasceu em 12 de janeiro de 1863 em Calcut. Desde o comeo era uma criana precoce de energia excepcional. Todavia, sua tendncia inata para a meditao revelou-se na infncia. Pois, juntamente com os folguedos comuns da infncia, ele brincava de meditar.

    Certa vez Narendra meditava com seus amigos quando uma cobra apareceu. Os outros meninos ficaram horrorizados e, advertindo a Narendra com um grito, saram correndo. Mas Narendra permaneceu imvel e a cobra, depois de algum tempo, foi embora. Mais tarde, ele disse a seus pais: "Eu ignorava a cobra ou qualquer outra coisa. Estava sentindo uma alegria inexprimvel."

    Aos quinze anos de idade experimentou o xtase espiritual. Viajava com sua famlia a Raipur na ndia Central e parte da viagem tinha de ser feita em carro de boi. Naquele dia especial o ar estava seco e claro, as rvores e as trepadeiras cheias de flores e pssaros de brilhante plumagem cantavam na floresta. O veculo movia-se atravs de uma estreita passagem em que picos altaneiros, elevando-se dos dois lados, quase se tocavam. Narendra bateu os olhos numa grande colmeia, numa fenda de um penhasco gigante, que ali deveria existir h muito tempo. De sbito, sua mente inundou-se de pasmo e reverncia pela Divina Providncia e ele perdeu sua conscincia exterior. Talvez tenha sido esta a primeira vez que sua poderosa imaginao o ajudou a elevar-se ao reino da superconscincia.

    Certa vez, em seus dias de estudante, Vivekananda teve uma viso de Budda conforme narrou: "Quando estava na escola uma vez eu meditava a portas fechadas e conseguia uma razovel concentrao de pensamento. H quanto tempo meditava daquele jeito, eu no saberia dizer. A meditao j terminara e eu ainda continuava sentado, quando, da parede do quarto que dava para o sul, saiu uma figura luminosa que ficou na minha frente. Era a figura de um Sannyasin (monge) absolutamente calmo, com a cabea raspada, tendo um cajado e um Kamandalu (moringa) em cada mo. Ele olhou-me fixamente por algum tempo e parecia querer dirigir-se a mim. Eu, tambm, observei-o atentamente com muda estupefao. Subitamente, uma espcie de medo apossou-se de mim. Abri a porta e sa correndo do quarto. Ento, ocorreu-me que era tolice minha correr assim, pois talvez ele quisesse dizer-me algo. Mas eu nunca mais vi aquela figura. Creio que tenha sido o Senhor Buda que eu vi."

    Em um de seus primeiro encontros Sri Ramakrishna deu em Vivekananda o toque mgico que baniu a dualidade de sua mente e deu-lhe um sabor da conscincia transcendental. Geralmente o guru ajuda seu discpulo a alcanar o samadhi como o objetivo da vida. Mas o guru de Swami Vivekananda esperava muito mais de seu discpulo. Sri Ramakrishna realmente censurava Vivekananda por querer permanecer imerso em samadhi por trs ou quatro dias seguidamente, interrompendo-o somente para alimentar-se. "Que vergonha! Voc ansiar por coisa to insignificante! Eu queria que voc fosse como uma grande figueira e que milhares de pessoas repousassem sua sombra. Mas vejo, agora, que voc s busca sua prpria libertao". Assim repreendido, Vivekananda chorava ao descobrir a grandeza do corao de Sri Ramakrishna.

    Na quinta de Cossipore, Vivekananda experimentou o nirvikalpa samadhi - a suprema realizao da Vedanta e da Yoga. Certa noite, enquanto meditava com o

  • 9Gopal mais velho, um irmo discpulo, ele sentiu como se uma luz estivesse posicionada atrs de sua cabea. Esta luz tornou-se cada vez mais intensa e ele ento ultrapassou toda a relatividade e perdeu-se no Absoluto. Ao recobrar um pouco da conscincia do mundo, sentia somente sua cabea, mas no sentia o resto de seu corpo. Ele exclamou: "Gopal, onde est o meu corpo?". "Ele est aqui, Naren", respondeu Gopal, tentando convenc-lo. Mas, no o conseguindo, Gopal ficou horrorizado e apressou-se em informar a Sri Ramakrishna que disse somente: "Deixe-o ficar nesse estado por um tempo! Ele amolou-me bastante para consegui-lo."

    Depois de longo tempo Vivekananda voltou sua conscincia normal. Uma paz e alegria inefveis encheram sua mente e seu corao. Ele veio at o Mestre que lhe disse: "Agora, a Divina Me mostrou-lhe tudo. Mas sua realizao ser trancada agora e a chave ficar comigo. Quando voc tiver acabado de fazer o trabalho da Me, este tesouro ser novamente seu."

    Outro episdio interessante deste perodo foi contado por Girish Chandra Gosh, um chefe de famlia discpulo de Sri Ramakrishna. Um dia, Vivekananda e Girish sentaram-se debaixo duma rvore para meditar. Havia tantos mosquitos a perturbar, que Girish ficou muito agitado. Ao abrir os olhos, ficou espantado ao ver que o corpo de Vivekananda estava como que coberto por escura manta, tal era o nmero de mosquitos nele pousados. Mas ele estava totalmente inconsciente da presena deles e no tinha nenhuma lembrana deles ao voltar conscincia normal.

    Depois do falecimento de Sri Ramakrishna, Vivekananda viajou atravs da ndia toda como um monge itinerante. Ele queria encontrar um lugar bem isolado onde pudesse viver sozinho, absorto na contemplao de Deus. Nessa poca, guiavam-no as palavras de Buddha: "Sereno como o leo, que no treme com os rudos; sereno como o vento, que no pode ser apanhado por uma rede; sereno como a folha de ltus, intocada pela gua - assim tu deves andar solitrio como o rinoceronte!" Mas a Providncia Divina tinha outros plano para ele e Vivekananda no podia escapar ao seu destino. Como escreveria mais tarde. "Nada em minha vida preocupava-me mais que a noo do trabalho a ser feito. Era como se eu tivesse sido arrancado daquela vida em cavernas, para perambular pelas plancies abaixo."

    Certo dia, durante suas viagens nos Himalaias, ele assentou-se para meditar sob uma rvore, ao lado de um regato. L veio a conhecer a unidade entre o universo e o homem e que o homem um universo em miniatura. Verificou que tudo que existe no universo existe tambm no corpo e, ademais, que todo o universo pode estar contido num simples tomo. Ele registrou essa experincia em suas anotaes e disse a seu irmo-discpulo e companheiro, Swami Akhandananda: "Encontrei hoje a soluo de um dos mais difceis problemas da vida. Foi-me revelado que o macrocosmo e o microcosmo so guiados pelo mesmo princpio."

    Em 31 de maio de 1893 Vivekananda partiu para Chicago para participar do Congresso das Religies como representante do Hinduismo. Mas sua mensagem foi to universal que um observador comentou: "Vivekananda foi o representante de todas as religies do mundo." Proclamou a suprema mensagem do Vedanta: "Vs sois os filhos de Deus, os compartilhadores da Bem-aventurana Imortal, seres perfeitos e santificados. Vs sois divindades na Terra - pecadores! um pecado denominar assim a um homem; um permanente libelo contra a natureza humana."

    Durante os trs anos seguintes viajou intensivamente pelos Estados Unidos e

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    por muitos pases da Europa. Contudo, a ativa vida do Ocidente no conseguia perturbar sua meditao. Em Vivekananda encontramos as duas correntes opostas da ao e meditao fluindo harmoniosamente, nunca uma interferindo com a outra.

    Estando quase exausto pelo trabalho ininterrupto de conferncias pblicas e aulas, no incio de junho de 1895, o Swami aceitou um convite de Mr. Francis Legget para ir a Percy, New Hampshire, para um perodo de descanso no silncio das florestas de pinheiros. Tambm l ele experimentou o nirvikalpa samadhi. Em 7 de julho de 1895, de Percy, ele escreveu a Mrs. Ole Bull:

    "Este um dos locais mais belos que j vi. Imagine um lago rodeado de colinas cobertas por imensa floresta, com mais ningum alm da gente. tudo to agradvel, to quieto, to repousante, que voc pode imaginar como estou alegre de estar aqui depois da agitao das cidades.

    Estar aqui d-me um novo alento de vida. Vou sozinho floresta, leio o meu Gita e fico totalmente feliz. Vou deixar este lugar dentro de dez dias e vou a Thousand Island Park. L vou meditar continuamente e ficarei s comigo mesmo. A prpria idia disso me enobrece."

    Na arte e arquitetura da ndia, o estado de realizao ou de iluminao suprema, tem sido representado na forma meditativa de Buddha, o Iluminado. Este mesmo ideal elevado pode ser encontrado em Swami Vivekananda, nas memrias de Mrs. Mary Funke, que foi uma de suas discpulas: "O ltimo dia (em Thousand Island Park) foi muito maravilhoso e precioso. Convidou Cristina e a mim para um passeio, pois queria estar a ss conosco. Subimos uma colina distante cerca de meia milha. S havia floresta e solido. Finalmente, ele escolheu uma rvore com galhos baixos e assentamo-nos sob seus ramos agasalhadores. Em vez da esperada palestra ele, subitamente, disse: "Vamos meditar agora. Ficaremos como Buddha debaixo da rvore de Bodhi." To quieto ficou ele que parecia transformado em esttua de bronze. Adveio ento uma tempestade e choveu muito. Ele nunca soube disso. Abri meu guarda-chuva e o protegi tanto quanto possvel. Completamente absorto em sua meditao, fazia abstrao de tudo. Logo ouvimos gritos distantes. Os outros vinham nossa procura com capas e guarda-chuvas. Swamiji olhou em volta, com mgoa, pois tnhamos de ir embora, e disse: "Mais uma vez estou em Calcut sob a chuva."

    No se deve esquecer que Vivekananda, como dissera Sri Ramakrishna, no era um homem comum, mas um nitya-siddha, aquele que nasce perfeito, um Ishvarakoti ou mensageiro especial de Deus, nascido na Terra para cumprir uma misso divina. Vivekananda disse: "Eu inspirarei os homens pelo mundo afora at que eles saibam que so unificados com Deus." Durante toda sua vida ele praticou tanto a concentrao que ela se tornou parte de si mesmo. No Ocidente tinha de controlar esse hbito precioso. Sister Nivedita diz-nos: "Certa ocasio, ao ensinar a uma turma de Nova Iorque a meditar, aconteceu que, no final da aula, no conseguiram traze-lo de volta conscincia normal e, um a um, os estudantes retiraram-se silenciosamente. Mas ele ficou profundamente mortificado quando soube o que aconteceu e nunca arriscou-se a que isto se repetisse. Ao meditar, privadamente, com uma ou duas pessoas, ele informava qual a palavra com que poderia ser despertado."

    Quando estava em Camp Irving, na Califrnia do Norte, certa manh o Swami encontrou Shanti (Mrs. Hansborough) na cozinha, a preparar comida, na hora dele dar sua aula matinal. "Voc no vem meditar?", perguntou. Chanti respondeu que,

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    como tinha se esquecido de programar adequadamente seus trabalhos, teria de ficar na cozinha. Swamiji disse: "Bem, no faz mal. Nosso Mestre disse que se poderia deixar de meditar se se fosse prestar servio. Tudo bem, vou meditar por voc." Shanti disse mais tarde: "Enquanto durou a aula eu senti que, realmente, ele estava meditando por mim."

    Ao aproximar-se o fim de sua misso e vida terrenas, Vivekananda certificava-se cada vez mais claramente que este mundo no seno um teatro. Seus olhos abriam-se cada vez mais luz do outro mundo, sua verdadeira morada. E soube explorar de maneira vivida e tocante sua nsia de retornar a ele, em sua carta de 19 de abril de 1900, escrita da Califrnia a Miss Josephine MacLeod, sua sempre leal "Joe":

    "O trabalho sempre difcil. Reze por mim, Joe, a fim de que meu trabalho cesse para sempre e minha alma se absorva na Me. Ela conhece o Seu trabalho.

    Eu estou bem, muito bem mentalmente. Sinto mais o descanso da alma que o do corpo. As batalhas so perdidas e vencidas. Arrumei minhas coisas e estou esperando pela Grande Libertadora.

    Siva, Siva, leve meu barco para a outra margem! Afinal de contas, Joe, eu sou somente o menino que costumava ouvir

    arrebatado e embevecido as palavras maravilhosas de Sri Ramakrishna sob a figueira de Dakshineswar. Esta minha verdadeira natureza - os trabalhos e atividades, o fazer o bem e assim por diante, so simples superimposies. Agora, eu ouo de novo sua voz, a mesma velha voz que eletriza minha alma. Os grilhes esto se quebrando - o amor morrendo, o trabalho tornando-se inspido - o encanto da vida extinguindo-se. Agora, to somente a voz do Mestre chamando. - Estou chegando, Senhor, estou chegando. - Que os mortos enterrem os mortos. Que voc Me siga.

    Sim, estou chegando. O Nirvana est diante de mim. Sinto-o s vezes, o mesmo oceano infinito de paz, sem uma onda, sem uma brisa.

    Oh, to tranqilo!"

    Sri Ramakrishna tinha profetizado que Narendra mergulharia em nirvikalpa samadhi no fim de seu trabalho, quando viesse a saber quem e o que realmente era. Um dia, em Belur Math, quando um irmo discpulo casualmente perguntou-lhe: "O senhor j sabe quem , Swamiji?" ficou emudecido de espanto pela inesperada resposta: "Sim, agora eu sei."

    A sada de Vivekananda do mundo foi to maravilhosa quanto sua entrada. Depois de consultar um almanaque, ele escolheu uma data auspiciosa para encerrar seu drama. Foi o dia 4 de julho de 1902. Meditou durante trs horas pela manh, deu uma aula de gramtica do snscrito e de filosofia vedntica aos jovens monges tarde, aps o que deu um longo passeio com um de seus irmos discpulos.

    Sister Nivedita deixou-nos um relato dos ltimos momentos de sua vida: "Ao voltar do passeio, o sino soava as vsperas e ele dirigiu-se ao seu quarto e assentou-se para meditar, voltado para o Ganges. Era pela ltima vez. Ento, nas asas dessa meditao, seu esprito voou para o lugar de onde no haveria retorno e o corpo foi deixado, como uma veste dobrada, sobre a Terra.

    As ltimas palavras de Swami Vivekananda, dirigidas a um discpulo monstico que o servia, foram: "Medite e espere at que o chame."

    S.C.

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    Sociedade Vedanta do Sul da CalifrniaAniversrio de Vivekananda

    14 de janeiro de 1974

    MEDITAO DE ACORDO COM A IOGA

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    O pensar em objetos dos sentidosFar com que voc se apegue a eles.Fique apegado e tornar-se- viciado;Impea os seus vcios e ficar colrico;Fique irado e sua mente tornar-se- confusa;Conturbe sua mente e esquecer a lio da experincia;Esquea a experincia e perder o discernimento;Perca o discernimento e perder o nico objetivo da vida.A mente descontroladaNo percebe que o Atman est presente:Como pode ela meditar?Sem a meditao, onde estar a paz?Sem paz, onde estar a felicidade?

    (Bhagavad Gita, II.62,63,65)

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    O QUE MEDITAO

    O que meditao? Meditao o poder que nos torna capazes de resistir a tudo. A Natureza pode nos dizer: "Olhe, que coisa maravilhosa!" E eu no olho. Ento, ela diz: "Que belo aroma! Sinta-o!" Eu digo ao meu nariz: "No o cheire" e o nariz me obedece. "Olhos, no vejam!". A Natureza faz uma coisa terrvel - mata um de meus filhos e diz: "Agora, patife, sente-se e chore! Caia no buraco! Afunde!" Eu respondo: "No farei isso." Eu me ergo. Devo libertar-me. Experimente fazer isso algumas vezes. Na meditao, por um momento, voc pode modificar seu modo de ser. Agora, se voc tem aquele poder dentro de si mesmo, no seria isto o cu, a liberdade? Este o poder da meditao.

    Como alcan-lo? De doze maneiras diferentes. Cada temperamento tem sua prpria maneira. Mas este o princpio geral: domine sua mente. A mente como um lago e cada pedra que nele cai provoca ondas. Essas ondas no permitem que nos vejamos como somos. A lua cheia se reflete sobre a gua do lago, mas a superfcie est to agitada que no vemos claramente seu reflexo. Fique calmo. No deixe sua natureza provocar as ondas. Fique quieto e ento, passado certo tempo, ela desistir. E, ento, saberemos o que realmente somos. Deus l est presente, mas a mente to agitada, sempre a perseguir os sentidos... Voc isola os sentidos e, mesmo assim, sua mente continua a girar, a rodar. Num dado momento sinto-me bem e resolvo meditar em Deus e ento minha mente viaja para Londres, num minuto. E se consigo retir-la de l, ela voa para Nova York, para pensar nas coisas que fiz l, no passado. Essas ondas devem ser detidas pelo poder da meditao. (IV, 248)

    A PORTA PARA A BEATITUDE

    A meditao a porta que abre aquela alegria infinita para ns. As preces, os cerimoniais e outras formas de culto so simplesmente os jardins de infncia da meditao. Voc ora, voc oferece algo. Existiu uma certa teoria de que tudo levantava o nosso poder espiritual. O uso de certas palavras, flores, imagens, templos e de cerimoniais como o oscilar de luzes, leva a mente a essa atitude, mas esta atitude reside sempre na alma humana, e em nenhum outro lugar. Todas as pessoas esto fazendo isso; mas o que elas fazem sem o saber, faa-o conscientemente. Este poder da meditao.

    Lenta e gradualmente devemos praticar isto. No uma brincadeira - no coisa para um dia, para anos ou talvez para renascimentos. Mas no faz mal! O impulso deve continuar. Conscientemente, voluntariamente, o impulso deve prosseguir. Ganharemos terreno, polegada a polegada. Comearemos a sentir e a obter posses reais que ningum poder tirar de ns - a riqueza que homem algum pode tomar, a riqueza que ningum pode destruir, a alegria que nenhum sofrimento jamais poder afetar. (IV. 249, 248)

    EM BUSCA DA VERDADE

    Ioga a cincia que nos ensina como conseguir estas percepes (experincias diretas de Deus). No adianta muito falar sobre religio a menos que as tenhamos sentido. Porque h tantos distrbios, tantas disputas e discusses em nome de Deus? J houve mais derramamento de sangue em nome de Deus do que

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    por qualquer outro motivo, porque as pessoas nunca foram s nascentes; elas se contentaram somente em concordar mentalmente com os costumes de seus ancestrais e em querer que os outros fizessem o mesmo. Que direito tem o homem de dizer que tem uma alma se no a sente ou de que existe Deus se ele no O v? Se Deus existe devemos v-lo, se existe alma devemos perceb-la; do contrrio, melhor no acreditar. melhor ser um ateu declarado do que um hipcrita.

    O homem deseja a verdade, quer experimentar a verdade por si mesmo; quando ele a agarrou, realizou-a, sentiu-a no ntimo de seu corao, somente ento, segundo os Vedas, todas as dvidas se dissipam, toda a escurido afastada e todos os aleijes so corrigidos. (I. 127-28)

    COMO INQUIETA A MENTE!

    Como difcil controlar a mente! Ela j foi comparada a um macaco enlouquecido. Havia um macaco, agitado por natureza prpria, como so todos os macacos. Como se isso no bastasse, algum deu-lhe muito vinho a beber e assim ele ficou ainda mais agitado. Foi ento picado por um escorpio. Quando um homem picado por escorpio, ele pula durante um dia inteiro; assim, o pobre macaco ficou pior do que nunca.

    Para completar sua desgraa, um demnio se apossou dele. Que palavras podem descrever a incontrolvel agitao daquele macaco? A mente humana como aquele macaco, incessantemente ativa por sua prpria natureza; ento, ela fica embriagada com o vinho do desejo, aumentando assim sua turbulncia. Depois do desejo tomar posse, vem o ferro do escorpio do cime pelo sucesso dos outros e, finalmente, o demnio do orgulho entra na mente, fazendo com que ela se julgue ser muito importante. Como difcil controlar tal mente! (I. 174)

    UMA TREMENDA TAREFA

    De acordo com os Iogues, h trs principais correntes nervosas: uma chamada Ida, a outra Pingala, e a do meio Sushumna e todas ficam dentro da coluna espinhal. Ida e Pingala, esquerda e direita, so feixes de nervos, enquanto a do meio, Sushumna, oca e no um feixe de nervos. Sushumna est fechada e para o homem comum no tem uso, pois ele utiliza somente Ida e Pingala. Correntes, constantemente, fluem atravs desses nervos, transportando ordens por todo o corpo, atravs de outros nervos que correm por diferentes rgos do corpo.

    A tarefa diante de ns vasta; em primeiro lugar e principalmente, devemos procurar controlar a enorme massa de pensamentos submersos que se tornaram automticos em ns. A m ao est, sem dvida, no plano consciente; mas a causa que produziu a m ao est muito alm no reino do inconsciente, oculta, e, por isso, mais poderosa.

    Esta a primeira parte do estudo, o controle do inconsciente. A prxima ir alm do consciente (o estado de viglia). Vemos, assim, que deve haver um trabalho duplo. Primeiro, pelo adequado trabalho de Ida e Pingala, que so as duas correntes comuns existentes; e, em segundo lugar, para ultrapassar a conscincia superficial.

    Aquele que, depois de longa prtica de auto-concentrao, alcanou esta

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    verdade, pode ser chamado Iogue. Ento Sushumna se abre e uma corrente que nunca antes entrou nessa nova passagem ir circular por ela e, gradualmente, ascender (o que dizemos em linguagem figurada) aos diferentes centros do loto, at atingir o crebro. Ento o Iogue torna-se consciente de que realmente, o prprio Deus. (II. 30, 34-36)

    O AMBIENTE PARA MEDITAO

    Para aqueles que tm essa possibilidade, ser melhor ter um quarto s para esta prtica. No durma neste quarto, ele deve ser mantido como sagrado. Voc no deve entrar no quarto antes de tomar seu banho e sem estar perfeitamente limpo de corpo e mente. Coloque sempre flores nesse quarto; elas so o melhor ambiente para um Iogue; e tambm quadros que sejam belos. Queime incenso pela manh e tarde. No discuta, no se irrite, nem tenha pensamentos impuros nesse quarto. Permita que somente entrem nesse quarto pessoas que pensem como voc. Assim, gradualmente, haver uma atmosfera de santidade no quarto e, quando voc estiver infeliz, magoado, cheio de dvidas ou sua mente estiver perturbada, o mero fato de entrar naquele quarto o tornar tranqilo. Esta era a idia do templo e da igreja e, em alguns templos e igrejas, voc encontrar isso mesmo agora, mas, na maioria deles, essa idia se perdeu. A idia de que, mantendo-se vibraes puras, o lugar torna-se e permanece cheio de luz. Aqueles que no tiverem a possibilidade de ter um quarto isolado, podero meditar onde gostarem. (I. 145)

    REQUISITOS PARA A MEDITAO

    Onde houver fogo, em gua ou cho coberto de folhas secas, onde houver muitos cupins, onde houver animais ferozes ou perigo, onde quatro ruas cruzarem, onde houver muito barulho, onde muitas pessoas ms se reunirem, a Ioga no deve ser praticada. Isto se aplica mais particularmente ndia. No faa esta prtica quando estiver doente ou com muita preguia ou quando a mente estiver muito infeliz ou magoada. V a um lugar bem escondido, onde as pessoas no forem perturb-lo. No escolha lugares sujos. Pelo contrrio, escolha um belo cenrio ou um quarto em sua prpria casa que seja bonito. Quando praticar, primeiramente faa saudao a todos os antigos Iogues, a seu prprio Guru e Deus e, ento, comece. (I. 192)

    A HORA DE MEDITAR

    Voc deve praticar pelo menos duas vezes por dia, e a melhor ocasio pela manh e tarde. Quando a noite se transforma em dia e o dia em noite, segue-se uma fase de relativa calma. De manh bem cedo e tardinha so os dois perodos de tranqilidade. Seu corpo ter uma igual tendncia de se acalmar nessa hora. Devemos aproveitar essa condio natural e comear a prtica. Adote como regra no comer antes de ter praticado; se fizer isso, a aguda fora da fome quebrar sua preguia. Na ndia ensinam as crianas a no comerem antes de terem meditado ou feito adorao e isto torna-se natural para elas, com o decorrer do tempo; um

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    menino no sentir fome antes de se banhar e praticar. (I. 144-45)

    OREM, AGORA!

    Repitam mentalmente:

    Sejam felizes todos os seres;Vivam em paz todos os seres;Sejam abenoados todos os seres.

    Faam isso dirigindo-se ao leste, ao sul, ao norte e a oeste. Quanto mais fizerem isso, melhor se sentiro.

    Vocs iro verificar que o modo mais fcil de terem sade desejarem que os outros se tornem saudveis, e o meio mais fcil de se sentirem felizes fazerem os outros felizes. Depois de fazer isto, aqueles que acreditam em Deus devero rezar - no por dinheiro, no para sua prpria sade, no pelo cu; orem pela luz e pelo conhecimento; qualquer outra prece egostica. (I. 145-146)

    A PRIMEIRA LIO

    Assente-se por algum tempo e deixe a mente atuar. Simplesmente espere e observe. O conhecimento poder, diz o provrbio, o que verdade. At que voc saiba o que a mente est fazendo, voc no poder control-la. Solte as rdeas; muitos pensamentos sujos podero aflorar; voc ficar espantado como foi possvel ter tais pensamentos. Mas verificar que a cada dia as extravagncias da mente se tornaro cada vez menos fortes e a cada dia ela se tornar mais calma.

    Desista de toda argumentao e de outras confuses.Existe algo na rida tagarelice intelectual? Ela somente desequilibra e

    perturba a mente. As coisas dos planos mais sutis devem ser sentidas. Tagarelar far isso? Assim, elimine toda conversa v. Leia somente aqueles livros que foram escritos por pessoas que atingiram a realizao. (I. 174, 176-77)

    AGORA, PENSE!

    Pense em seu prprio corpo e faa com que seja forte e sadio; o melhor instrumento que voc tem. Pense nele como sendo to forte como um diamante e que, com o auxlio dele, voc atravessar o oceano da vida. A liberdade nunca ser alcanada pelos fracos. Lance fora toda fraqueza. Diga a seu corpo que ele forte, diga sua mente que ela forte e tenha f e esperana sem limites em voc mesmo. (I. 146)

    ALGUNS EXEMPLOS DE MEDITAO

    Imagine uma flor de ltus acima de sua cabea, vrias polegadas acima, com a virtude no seu centro e com o conhecimento como caule. As oito ptalas do ltus so os oito poderes do Iogue. Na parte interna, os estames e pistilos representam a

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    renncia. Se o Iogue renunciar aos poderes exteriores ele conseguir a salvao. Assim, as oito ptalas da flor de ltus so os oito poderes, mas os estames e os pistilos internos so a renncia extrema, a renncia de todos estes poderes. Dentro da flor de ltus imagine o Ser Dourado, o Todo Poderoso, o Intangvel, Aquele cujo nome Om, o Inexprimvel, rodeado por refulgente luz. Medite nisto.

    Outra meditao sugerida: Pense num espao em seu prprio corao e que nesse espao uma chama est queimando. Pense nesta chama como sendo sua prpria alma e que dentro desta chama existe outra luz refulgente que a Alma de sua alma, Deus. Medite sobre isto, no seu prprio corao. (I. 192-93)

    COMO ATINGIR A META

    Pratique arduamente; se voc viver ou morrer, isso no importa. Voc tem de mergulhar e trabalhar, sem pensar no resultado. Se voc for bastante bravo, em seis meses ser um perfeito Iogue. Mas aqueles que se aplicarem s um pouco nisso, com mais um pouco de outras coisas mais, no faro nenhum progresso. De nada adianta somente seguir um curso de lies.

    Para ter xito, voc precisa de ter uma tremenda perseverana, uma tremenda vontade. "Eu beberei o oceano", diz a alma que persevera, "com minha vontade as montanhas vo desmoronar." Tenha aquele tipo de energia, aquele tipo de determinao, trabalhe duro e voc atingir a meta. (I, 178)

    SEJA CAUTELOSO!

    Todo movimento se d em crculos. Se voc pegar uma pedra e a projetar no espao e ento viver o suficiente, essa pedra, se no encontrar nenhum obstculo, voltar exatamente para sua mo.

    Assim, como no caso da eletricidade a teoria moderna estabelece que a energia deixa o dnamo e completa o crculo de volta ao dnamo, assim tambm acontece com o dio e o amor; eles devem retornar fonte. Portanto, no odeie a ningum, porque o dio que emite deve, depois de um longo percurso, voltar novamente para voc. Se voc ama, aquele amor vir de volta para voc, depois de completar o crculo. (I, 196)

    O LAGO DA MENTE

    No podemos ver o fundo do lago, pois sua superfcie est coberta de ondulaes. Somente podemos ter um relance de seu fundo, quando as ondas cedem e a gua est calma. Se a gua estiver barrenta ou agitada todo o tempo, o fundo no ser visto. Se estiver lmpida e se no houver ondulaes, veremos o fundo. O fundo do lago o nosso Ser verdadeiro; o lago Chitta (o material da mente) e as ondas as Vrittis (ondas do pensamento).

    A mente tem trs estados, um dos quais sombrio, chamado Tamas, encontrado nos brutos e nos idiotas; ele somente age para prejudicar. Nenhuma outra idia vem quele estado mental. Ento h o estado ativo da mente, Rajas, cuja motivao principal o poder e o prazer. "Serei poderoso e mandarei nos

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    outros." H, ainda, o estado chamado Sattva, serenidade, calma, no qual as ondas cessam, e a gua do lago da mente torna-se lmpida. (I., 242-43)

    A MENTE E SEU CONTROLE

    A meditao um dos grandes meios de controlar o surgimento dessas ondas de pensamento. Pela meditao voc pode fazer com que a mente subjugue essas ondas e, se voc prosseguir praticando a meditao durante dias, meses e anos, at que ela se transforme em hbito, at que ela acontea sem voc perceber, o rancor e o dio sero controlados e dominados. (I., 242-43)

    SEJA ALEGRE!

    O primeiro sinal de que voc est se tornando religioso quando voc est se tornando alegre. Quando um homem est tristonho, isto pode significar dispepsia mas no religio.

    Para o iogue tudo bno, toda face humana que v traz alegria para ele. Este o sinal de um homem virtuoso. O que voc acha dos rostos sombrios? So terrveis. Se voc estiver com a cara amarrada, no saia nesse dia, encerre-se em seu quarto. Que direito tem voc de desfilar esta doena pelo mundo? (I., 264-65)

    OS SINAIS DE UM IOGUE

    "Aquele que no odeia ningum, que amigo de todos, que se compadece de todos, que no possui nada de seu, que est livre do egosmo, que tem a mesma mente na dor e no prazer, que sempre perdoa, que est sempre satisfeito, que trabalha sempre na Ioga, cujo ser se tornou controlado, cuja vontade firme, cuja mente e intelecto foram dedicadas a Mim, este Meu amado Bhakta (devoto). Aquele que no incomoda a ningum, que no pode ser perturbado pelos outros, que isento de alegria, raiva, medo e ansiedade, este o meu Amado. Aquele que no depende de nada, que puro e ativo, que no faz diferena se vem o bem ou o mal, e nunca fica infeliz, que desistiu de todos esforos para si mesmo; aquele que o mesmo no elogio ou na censura, dotado de mente silenciosa e pensativa, abenoado pelo pouco que possa receber em seu caminho, sem lar, pois o mundo todo seu lar e que firme em seus ideais, tal homem o Meu amado Bhakta." Estes, somente, tornam-se iogues. (I., 193)

    SEJA COMO A OSTRA DA PROLA

    H uma bela fbula hindu que diz que quando chove e a estrela Svati est na ascendente, se uma gota de chuva cai numa ostra, esta gota transforma-se numa prola. As ostras sabem disso e assim elas vm at a superfcie quando a estrela brilha e esperam para captar a preciosa gota de chuva. Quando uma gota cai dentro delas, elas fecham rapidamente suas conchas e mergulham para o fundo do mar, para l pacientemente transmutarem a gota numa prola. Devamos tambm ser assim. Primeiro ouam, depois compreendam e ento, deixando de lado todas distraes, fechem suas mentes para as influncias de fora e dediquem-se a

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    desenvolver a verdade em seu interior. (I, 177)

    PACINCIA

    Havia um grande deus sbio chamado Narada. Assim como h sbios na humanidade, grandes Iogues, assim tambm h grandes Iogues entre os deuses. Narada era um bom Iogue e muito grande. Viajava por todo lado. Certo dia, passava por uma floresta e viu um homem que meditava h tanto tempo que as formigas brancas ergueram um grande cupim ao seu redor. Ele disse a Narada: "Para onde voc est indo?" Narada respondeu: "Estou indo para o cu." "Ento, pergunte a Deus quando Ele ser misericordioso comigo; quando eu alcanarei a libertao." Mais frente, Narada viu outro homem. Ele pulava, cantava, danava e disse: "Oh, Narada, onde o senhor vai?" Sua voz e seus gestos eram selvagens. Narada disse: "Estou indo para o cu." "Ento, pergunte quando me libertarei." Narada prosseguiu adiante.

    No decorrer do tempo, ele veio de novo pela mesma estrada e l estava o homem que estava meditando com o cupim ao seu redor. Ele disse: "Oh, Narada, o senhor perguntou a Deus a meu respeito?" "Oh, sim." "O que disse Ele?" "O Senhor me disse que voc conseguir a libertao em mais quatro nascimentos." O homem ento comeou a chorar e a soluar e disse: "Eu meditei at um cupim crescer ao meu redor e ainda terei mais quatro nascimentos!"

    Narada foi at o outro homem. "O senhor fez a minha pergunta?" "Oh, sim. Voc est vendo aquele p de tamarindo? Pois eu lhe digo que tantas so as folhas daquela rvore quanto as vezes que voc ter de nascer para alcanar a liberdade." O homem comeou a danar de alegria e disse: "Eu ficarei livre em to pouco tempo!"

    Apareceu ento uma voz: "Meu filho, voc ser libertado neste minuto." Esta foi a recompensa por sua perseverana. Ele estava pronto para trabalhar atravs de todos aqueles nascimentos, nada o desencorajava. (I., 193-194)

    NO REINO DA TRANQILIDADE

    O maior auxlio para a vida espiritual a meditao. Na meditao nos livramos de todas as condies materiais e sentimos nossa natureza divina. No dependemos de nenhum auxlio externo na meditao. O toque da alma pode pintar a cor mais brilhante mesmo nos lugares mais sujos; ele pode lanar um perfume sobre a coisa mais vil; pode transformar o maligno em coisa divina - e toda hostilidade, todo egosmo se apaga. Quanto menor o pensamento sobre o corpo, melhor. Pois o corpo que nos arrasta para baixo. o apego, a identificao que nos faz infelizes. Eis o segredo: Pensar que eu sou o esprito e no o corpo e que todo este universo com todas suas relaes, com todo seu bem e seu mal, no mais do que uma srie de pinturas - cenas numa tela - das quais eu sou a testemunha. (II., 37)

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    A TRANSFORMAO ATRAVS DA MEDITAO

    Havia um jovem que no conseguia de forma alguma sustentar sua famlia. Era forte, vigoroso e, finalmente, transformou-se num bandoleiro de estradas; ele atacava as pessoas, roubava-as e, com o dinheiro, sustentava seu pai, sua me, esposa e filho. Isto prosseguiu continuamente, at que, certo dia, um grande santo chamado Narada caminhava quando foi atacado pelos bandoleiros.

    O sbio perguntou ao assaltante: "Por que voc vai me roubar? um grande pecado roubar seres humanos e mat-los. Por que voc est cometendo este pecado?" O ladro disse: "Porque eu preciso sustentar minha famlia com este dinheiro." "Ora," disse o sbio, "voc acha que eles tambm compartilham do seu pecado?" "Certamente que sim", respondeu o assaltante. "Muito bem", disse o sbio, "deixe-me em segurana devidamente amarrado aqui; enquanto isso, voc vai at sua casa e pergunta a seus familiares se eles vo querer compartilhar de seu pecado da mesma maneira que iro compartilhar do dinheiro que voc ir conseguir."

    O homem foi ento at seu pai e perguntou: "Pai, o senhor sabe como eu o sustento?" Ele respondeu: "No, no sei." "Eu sou um assaltante, mato pessoas e roubo-as." "O que! Voc faz isto, meu filho? V embora! Voc, fora da lei!" Ele, ento, foi at sua me e perguntou-lhe: "Me, a senhora sabe como a sustento?" "No", respondeu ela. "Atravs de roubo e assassinato." "Que coisa horrvel!", exclamou a me. "Mas a senhora quer compartilhar do meu pecado?", disse o filho. "Por que deveria? Eu nunca roubei", respondeu a me. Ento, ele dirigiu-se a sua esposa e perguntou-lhe: "Voc sabe como eu sustento vocs todos?" "No", respondeu ela. "Ora, eu sou um assaltante de estradas", ele replicou, "e durante anos tenho roubado as pessoas; assim que sustento e mantenho todos vocs. E o que eu quero saber se voc est pronta a compartilhar do meu pecado." "De forma alguma. Voc meu marido e sua obrigao sustentar-me." Ento, os olhos do ladro foram abertos. "Esta a lei do mundo - mesmo meus parentes mais chegados, para quem venho roubando, no querem compartilhar do meu destino." Ele voltou para o local onde havia amarrado o sbio, desmanchou seus laos, caiu a seus ps, narrou tudo e disse: "Salve-me! Que posso fazer?"

    O sbio disse: "Abandone seu curso presente de vida. Voc v que ningum de sua famlia, realmente, ama voc, ento desista de todas essas iluses. Eles vo compartilhar de sua prosperidade; mas, no momento em que nada tiver, fugiro de voc. No h ningum que ir compartilhar de seu infortnio, mas todos compartilharo de seus bens. Portanto, adore Aquele que est ao nosso lado, seja no bem, seja no mal. Ele nunca nos abandona, pois o amor nunca nos causa dano, no conhece barganhas nem o egosmo."

    Ento, o sbio ensinou a ele como fazer o culto. E este homem largou tudo e penetrou na floresta. L prosseguiu orando e meditando, at que se esqueceu de si mesmo de tal maneira que as formigas vieram e construram cupins ao seu redor e ele estava absolutamente inconsciente disso.

    Depois de muitos anos se passarem, apareceu uma voz que disse: "Levanta-te, sbio!" Assim despertado, ele exclamou:"Sbio? Eu sou um ladro!" "No mais um ladro", respondeu a voz. "Tu s um sbio purificado. Teu velho nome se acabou. Mas, como tua meditao foi to profunda e grandiosa que tu no notaste nem mesmo os cupins que te rodearam, teu nome ser, doravante, Valmiki * - aquele que nasceu no cupim." Assim, ele tornou-se um sbio. (IV. 63-65)

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    * Valmiki o autor do grande pico "O Ramayana".

    OS TRS ESTGIOS DA MEDITAO

    H trs estgios na meditao. O primeiro chamado Dharana, a concentrao da mente sobre um objeto. Eu tento concentrar minha mente sobre este copo, excluindo qualquer outro objeto de minha mente, exceto este copo. Mas a mente est oscilando. Quando ela se tornou forte e no oscila tanto denominada Dhyana, meditao. E h um estado ainda mais elevado, quando a diferenciao entre eu e o corpo se perde - Samadhi ou absoro. A mente e o corpo so idnticos. No vejo mais nenhuma diferena. Todos os sentidos param e todas as faculdades que estavam trabalhando atravs dos outros canais dos outros sentidos so focalizadas na mente. Ento, este corpo est inteiramente sob o poder da mente. Isto deve ser "realizado". uma tremenda faanha executada pelos Iogues.

    COMO DESCANSAR

    Meditar significa que a mente se volta para si mesma. A mente detm todas as ondas do pensamento e o mundo pra. Sua conscincia se expande. Toda vez que medita, voc est crescendo interiormente. Trabalhe com mais rigor, cada vez mais e a meditao chega. Voc no sente seu corpo, nem coisa alguma. Quando, passado algum tempo, voc sair desse estado, ter tido o mais belo descanso de toda sua vida. Esta a nica maneira de voc dar repouso ao seu organismo. Nem mesmo o sono mais profundo dar-lhe- descanso como este. A mente permanece dando pulos mesmo no sono mais profundo. Apenas nesses poucos minutos de meditao seu crebro quase parou. Somente uma leve vitalidade mantida. Voc se esquece do corpo. Poder ser cortado em pedaos e nada sentir. Voc sentir prazer, ento. Tornar-se- leve. Este o repouso perfeito que obtemos na meditao. (IV. 235)

    A AO PROVOCA A REAO

    Em cada fenmeno da natureza voc contribui pelo menos com 50% e a natureza com outro tanto. Se sua metade for retirada, as coisas param.

    A cada ao corresponde uma igual reao. Se um homem me ataca e me fere, aquela a ao do homem e esta a reao do meu corpo.

    Tomemos outro exemplo. Voc est jogando pedras na superfcie lisa de um lago. A toda pedra que voc lana segue-se uma reao. A pedra rodeada por pequenas ondas no lago. Similarmente, as coisas exteriores so como pedras que caem no lago da mente. Assim, ns no vemos, realmente, o fato exterior; vemos somente sua onda. (IV 229, 228)

    O PODER DA MEDITAO

    O poder da meditao nos d tudo. Se voc deseja obter o poder sobre a natureza, pode obt-lo pela meditao. atravs do poder da meditao que todos

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    os fatos cientficos so hoje descobertos. Eles estudam o assunto e se esquecem de tudo, de sua prpria identidade e tudo o mais, e ento o grande fato surge como um relmpago. Algumas pessoas pensam que inspirao.

    No existe inspirao. O que passa por inspirao o resultado que provm de causas j existentes na mente. Um certo dia, como um raio, vem o resultado! Os trabalhos passados foram a causa.

    A tambm voc v o poder da meditao - a intensidade do pensamento. Esses homens agitam suas prprias almas. As grandes verdades vm tona e se manifestam. Portanto, a prtica da meditao o grande mtodo cientfico do conhecimento. (IV. 230)

    A MEDITAO UMA CINCIA

    Tudo que existe unidade. No pode haver multiplicidade. este o significado de cincia e conhecimento. A ignorncia enxerga a multiplicidade. O conhecimento v a unidade. Cincia a reduo de muitos at um. A totalidade do universo foi demonstrada como sendo a unidade. Esta cincia a cincia da Vedanta. O universo todo uno.

    Temos agora todas essas variaes e as vemos - o que chamamos de cinco elementos: o slido, o lquido, o gasoso, o luminoso e o etrico. A meditao consiste nesta prtica de dissolver tudo na Realidade ltima que o esprito. O slido derrete-se no lquido, este transforma-se no gasoso, o gasoso no etrico, vem ento a mente e a mente se dissolver. Tudo esprito.

    A meditao, voc sabe, vem por um processo de imaginao. Voc passa atravs de todos esses processos de purificao dos elementos - fazendo um transformar-se no outro, este no prximo mais elevado, este na mente, a mente no esprito e ento voc esprito.

    Veja aqui uma grande massa de argila. Com ela esculpi um ratinho e voc um pequeno elefante. Ambos so argila. Misture-os. Eles so, essencialmente, um s. (IV. 232-35)

    PAVHARI BABA: UM IOGUE IDEAL

    Todos j ouviram falar do ladro que roubou o Ashrama de Pavhari Baba e, ao ver o santo, ficou horrorizado e correu, deixando as coisas que tinha roubado para trs, numa trouxa; como o santo pegou a trouxa, correu atrs do ladro e atingiu-o, depois de correr algumas milhas; como o santo ps a trouxa aos ps do ladro e, com as mos postas e lgrimas nos olhos, pediu perdo por sua interferncia e implorou para que aceitasse os produtos do roubo, que pertenciam agora ao ladro e no a ele prprio.

    Disseram-nos, tambm, de fonte fidedigna, como certa vez ele foi picado por uma cobra e, embora tenha sido dado como morto por horas, ele reviveu; e que, quando seus amigos lhe perguntaram a respeito, ele somente respondeu que a cobra "era uma mensageira do Bem Amado".

    Uma de suas peculiaridades era que se absorvia inteiramente na tarefa que estava fazendo, por mais trivial que fosse. A mesma quantidade de cuidado e ateno era aplicada em limpar uma vasilha de cobre ou na adorao de Sri Raghunathji (Ramachandra, seu ideal escolhido de Deus) - ele prprio sendo o melhor exemplo do segredo que, certa vez, nos disse sobre o trabalho: "Os meios devem ser amados e cuidados como se fossem o prprio fim."

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    O presente escritor (Swami Vivekananda) teve a oportunidade de perguntar ao santo a razo pela qual no saa de sua caverna para ajudar ao mundo. Ele deu a seguinte resposta: "Voc pensa que o auxlio fsico o nico auxlio possvel? No ser possvel que uma mente possa ajudar outras mentes, sem a atividade do corpo?" (IV. 292-94)

    UMA FBULA SOBRE BUDA

    Quando Buda nasceu, era to puro que, quando qualquer pessoa olhava seu rosto, imediatamente abandonava a religio cerimonial, tornava-se monge e se salvava.

    Assim, os deuses se reuniram. Eles disseram: "Estamos mal", porque a maioria dos deuses vive na dependncia dos cerimoniais. Esses sacrifcios iam para os deuses e estavam se acabando. Os deuses estavam morrendo de fome e a razo disto que seu poder tinha acabado. Disseram assim os deuses: "Precisamos, de qualquer maneira, derrotar este homem. Ele puro demais para nossa vida." Ento, os deuses vieram e disseram (a Buda): "Senhor, viemos pedir-lhe algo. Queremos executar uma grande cerimnia e precisamos fazer uma enorme fogueira. Percorremos o mundo todo em busca de um local puro para acender o fogo e no pudemos encontrar, mas agora j o achamos. Se o senhor quiser deitar-se, faremos a grande fogueira em seu peito." "De acordo", respondeu ele, "prossigam."

    E os deuses fizeram a fogueira sobre o peito de Buda, pensaram que ele estava morto, mas no era verdade. Eles ento partiram e disseram: "Estamos acabados!" E todos os deuses comearam a bater nele. No adiantou. No conseguiram mat-lo. Debaixo da terra veio uma voz: "Por que esto fazendo estas vs tentativas?"

    "Todo aquele que olha para ele, purifica-se e se salva e ningum ir adorar-nos".

    "Ento suas tentativas so nulas, porque a pureza no pode jamais ser morta." (III. 525)

    UMA CANO DE SAMADHI(Traduzida do Bengali)

    Veja! O sol no mais existe, nem a graciosa lua,Toda luz se extinguiu; no grande vazio do espaoFlutua como uma sombra a imagem do universo.

    No vazio da mente involuda, l flutuaO universo que se move, ergue-se e de novo cai,Afunda de novo, incessantemente, na corrente do "Eu".

    Lentamente, bem lentamente, a multido de sombras,Entrou no ventre original e fluiu sem cessar,Pela nica corrente do "Eu sou", "Eu sou".

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    Veja! Tudo parou, mesmo aquela corrente no flui mais,Vcuo mergulhado no vcuo - para alm de toda palavra e mente!Para aquele cujo corao, em verdade, tudo compreende. (IV. 498)

    PERGUNTAS E RESPOSTAS

    Pergunta: A quem podemos chamar de Guru?Swami Vivekananda: Aquele que pode dizer o seu passado e o seu futuro o seu Guru.

    Pergunta: Como se pode ter Bhakti (devoo)?Swamiji : Existe Bhakti dentro de voc, somente um vu de luxria e dinheiro a cobre e, assim que isso for removido, Bhakti se manifestar por si mesma.

    Pergunta: Kundalini (energia espiritual) realmente existe no corpo fsico?Swamiji : Sri Ramakrishna costumava dizer que os assim chamados "lotus" do Iogue realmente no existem no corpo humano, mas que so criados dentro da gente pelos poderes do Ioga.

    Pergunta: Pode um homem alcanar Mukti (libertao) pela adorao de imagens?Swamiji : A adorao de imagens no pode diretamente dar Mukti; pode ser uma causa indireta, um auxlio na caminhada. A adorao de imagens no deve ser condenada, pois, para muitos, prepara a mente para a realizao da Advaita (no-dualidade) que torna o homem perfeito.

    Pergunta: O que Mukti?Swamiji : Mukti significa total liberdade - liberao dos liames do bem e do mal. Uma corrente de ouro corrente da mesma forma que uma de ferro. Sri Ramakrishna dizia que, para tirar um espinho que entrou no p, necessrio usar outro espinho e, quando aquele retirado, ambos so jogados fora. Assim, as ms tendncias sero contrabalanadas pelas boas, mas, depois disso, as boas tendncias tm de ser tambm conquistadas.

    Pergunta: Como a Vedanta pode ser realizada?Swamiji : Atravs da "audio, reflexo e meditao". O ouvir deve ser por intermdio de um Sad-Gur (um Guru verdadeiro). Mesmo se algum no for um discpulo regular, mas se for um aspirante bem ajustado e ouvir as palavras do Sad-Gur, ele se libertar.

    Pergunta: Onde devemos meditar - dentro ou fora do corpo? Deve a mente ser conduzida para dentro ou mantida fora da gente?Swamiji : Devemos tentar meditar do lado de dentro. Quanto ao fato da mente estar aqui ou l, demorar um longo tempo at se atingir o plano mental. Nossa luta agora com o corpo. Quando se adquire uma perfeita rigidez na postura, ento e somente ento, comea-se a lutar contra a mente. Conseguindo-se Asana (a postura), nossos membros ficam imveis, e se pode sentar o tempo que quisermos.

    Pergunta: Algumas vezes a gente fica cansado do Japa (repetio do Mantra).

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    Devemos continuar ou ler algum bom livro, em troca?Swamiji : A gente se cansa com o Japa por duas razes. Algumas vezes nosso crebro est cansado, outras vezes resultado de preguia. No primeiro caso, devemos abandonar o Japa no momento, pois persistir nele resultaria em ter alucinaes, em ficar luntico, etc. No segundo caso, a mente deve ser forada a continuar o Japa.

    Pergunta: bom praticar Japa por longo tempo, embora a mente esteja vagando?Swamiji : Sim. Do mesmo modo que as pessoas domam um cavalo selvagem, ficando sempre sentadas em seu lombo.

    Pergunta: Qual a eficincia da orao?Swamiji : Pela orao nossos poderes sutis so facilmente despertados e, se for feita conscientemente, todos os desejos podem ser atendidos por ela; mas, feita inconscientemente, talvez um desejo em dez atendido.

    Pergunta: O senhor escreveu no seu Bhakti-Ioga que, se um homem de compleio fraca tenta praticar Ioga, uma tremenda reao acontece. O que fazer ento?Swamiji : Por que ter medo de morrer ao tentar realizar o Eu? O homem no tem medo de morrer por conta do dinheiro e de muitas outras coisas, por que voc teria medo de morrer pela religio? (V. 314-25)

    EXPERINCIA E VERIFICAO

    Swamiji: Um dia, no templo-jardim de Dakshineswar, Sri Ramakrishna tocou-me acima do corao e, a seguir, eu comecei a ver que as casas - quartos, portas, janelas, varandas - as rvores, o sol, a lua - todos estavam voando, como se estivessem explodindo - reduzindo-se a tomos e molculas - e finalmente mergulharam no Akasha (espao). Aos poucos, o Akasha tambm desvaneceu-se e, depois disso, esvaiu-se simultaneamente minha conscincia do ego; o que aconteceu depois no me recordo. Fiquei, de incio, aterrorizado. Ao voltar daquele estado, de novo comecei a ver as casas, portas, janelas, varandas e outras coisas. Em outra ocasio eu tive exatamente a mesma experincia, s margens de um lago na Amrica.

    Discpulo: No poderia esse estado ser causado por um desarranjo do crebro? No compreendo que felicidade pode haver em experimentar tal estado.

    Swamiji: Uma perturbao do crebro! Como pode voc falar nisso, quando ele no resultado do delrio de alguma doena, nem de embriaguez, nem de uma iluso produzida por vrios tipos de extravagantes exerccios respiratrios - mas, quando ocorre com um homem normal, em plena possesso de suas faculdades mentais e de sade? Ento, de novo, esta experincia est em perfeita harmonia com os Vedas. Coincide tambm com as palavras de realizao dos inspirados Rishis (sbios) e Acharyas (instrutores) dos velhos tempos. (V. 392)

    COMO SER DESAPEGADO

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    Quase todo nosso sofrimento causado por no termos o poder de desapego. Assim, juntamente com o desenvolvimento da concentrao, devemos desenvolver o poder do desapego. Devemos aprender no somente a fixar a mente exclusivamente numa coisa, mas tambm a deslig-la dela instantaneamente e fix-la num outro objeto. Estas duas coisas devem ser desenvolvidas juntas para um melhor resultado.

    Este o desenvolvimento sistemtico da mente. Para mim a verdadeira essncia da educao a concentrao da mente, no a coleta de fatos. Se eu tivesse de refazer minha educao e tivesse liberdade no assunto, no estudaria somente fatos, de modo algum. Eu desenvolveria meu poder de concentrao e desapego e ento, com um perfeito instrumento, poderia coligir dados vontade.

    Deveramos fixar nossa mente nas coisas; elas no deveriam atrair nossa mente para si. Usualmente, somos forados a nos concentrar. Nossas mentes so foradas a se fixarem em diferentes coisas por uma atrao que nelas existe e qual no conseguimos resistir. Para controlar a mente, para coloc-la exatamente onde queremos, precisamos de um treinamento especial. (VI 38-39)

    COMO ESTUDAR A MENTE

    A mente descontrolada e sem rumo, nos far afundar, para sempre - nos entregar, nos matar; e a mente controlada e guiada nos salvar, nos libertar.

    Para estudar e analisar qualquer cincia material, so obtidos os dados suficientes. Estes fatos so estudados e analisados e como resultado vem o conhecimento da cincia. Mas, no estudo e anlise da mente, no h dados, no h fatos que estejam, igualmente, disposio de todos.

    A mente analisada por si prpria. Portanto, a maior cincia a cincia da mente, a cincia da psicologia. No fundo, bem no fundo, est a alma, o homem essencial, o Atman. Vire a mente pelo avesso e fique unido a ela; e, deste ponto de estabilidade, o girar da mente pode ser apreciado e todos os fatos observados, como acontece com todas as pessoas.

    Para controlar a mente voc deve mergulhar fundo na mente subconsciente, classificar e ordenar todas as diferentes impresses, pensamentos, etc., l conservados e, ento, control-los. Este o primeiro passo. Atravs do controle da mente subconsciente voc obtm o controle do consciente. (VI. 30-32)

    SUGESTES PRTICAS SOBRE MEDITAO

    Swami Shuddananda: Qual a real natureza da meditao?Swamiji: Meditao a focalizao da mente num objeto. Se a mente consegue a concentrao num objeto, ela pode se concentrar em qualquer outro objeto.

    Discpulo: As escrituras mencionam dois tipos de meditao - uma tendo algum objeto e a outra sem objeto. O que significa tudo isto e qual das duas superior?Swamiji: Primeiramente, a prtica da meditao deve ser feita sobre algum objeto diante da mente. Numa certa poca eu costumava concentrar minha mente em algum ponto preto. No fim, durante aqueles dias, eu no conseguia mais ver o preto, nem notar que o ponto estava diante de mim - a mente no mais existia - nenhuma onda de pensamento aparecia, como se tudo fosse um oceano sem

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    nenhuma lufada de ar. Naquele estado eu experimentava relances de uma verdade que ultrapassava os sentidos. Assim, penso que a prtica da meditao mesmo com algum trivial objeto externo leva concentrao mental. Mas verdade que a mente facilmente alcana a quietude quando a gente pratica a meditao com algo no qual nossa mente est mais apta para se fixar. Esta a razo pela qual neste pas (ndia) fazemos tanto culto a imagens de deuses e deusas. O real objetivo colocar a mente sem funcionamento, mas isto no pode ser conseguido, a menos que algum fique absorvido nalgum objeto.

    Discpulo: Mas, se a mente fica completamente absorta e identificada com algum objeto, como poder nos dar a conscincia de Brahman? Swamiji: Sim, embora a mente primeiro assuma a forma do objeto, mais tarde, a conscincia do objeto se esvanece. Ento, somente permanece a experincia desse estado. (VI. 486-87)

    PODERES SOBRENATURAIS

    Swamiji disse: " possvel adquirir poderes miraculosos com algum leve grau de concentrao mental" e, voltando-se para o discpulo, perguntou: "Bem, voc gostaria de aprender a ler pensamentos? Posso ensinar-lhe isto em quatro ou cinco dias."

    Discpulo: Para que me serviria isto, senhor?

    Swamiji: Ora, voc ser capaz de conhecer a mente dos outros.

    Discpulo: Isto me ajudar para alcanar o conhecimento de Brahman?

    Swamiji: Nem um pouco.

    Discpulo: Ento, no preciso conhecer essa cincia.

    Swamiji: Sri Ramakrishna costumava desprezar esses poderes sobrenaturais; seu ensinamento era de que no se pode atingir a verdade suprema se a mente for desviada para a manifestao desses poderes. Contudo, a mente humana to fraca que, no se falando em chefes de famlia, mesmo noventa por cento dos Sadhus (Monges) so partidrios desses poderes. No Oeste, os homens ficam maravilhados quando deparam com tais milagres. Foi somente porque Sri Ramakrishna nos fez compreender o mal desses poderes como entraves real espiritualidade que nos tornamos capazes de dar a eles seu devido valor. Voc no observou que, por este motivo, os filhos de Sri Ramakrishna no prestam ateno neles? (VI, 515-17)

    O MISTRIO DO SAMADHI

    Discpulo: Depois de alcanar o absoluto e transcendente Nirvikalpa Samadhi ningum pode voltar ao mundo da dualidade pela conscincia do Egosmo?

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    Swamiji: Sri Ramakrishna costumava dizer que somente os Avataras (encarnaes divinas) podem descer ao plano comum depois do estado de Samadhi, para o bem do mundo. Os Jivas (almas individuais) comuns no podem.

    Discpulo: Quando a mente mergulha no Samadhi e no h ondas na superfcie da conscincia, onde fica a possibilidade de atividade mental e de retornar ao mundo, atravs da conscincia do Ego? Se no h mente, quem descer do Samadhi para o plano relativo e com qual meio?Swamiji: A concluso da Vedanta que, quando h o absoluto Samadhi e a cessao de todas as atividades, no h volta deste estado. Mas os Avataras acalentam alguns desejos para o bem do mundo. Agarrando-se a essa ligao, eles descem do estado superconsciente para o estado consciente. (VII. 140)

    O PODER DE OJAS

    Os Iogues dizem que aquela parte da energia humana que se manifesta como energia sexual, em pensamentos sobre sexo, quando observada e controlada, facilmente se transforma em Ojas.

    Ojas fica estocada no crebro e, quanto mais houver Ojas na cabea do homem, mais poderoso ele , mais intelectual e mais forte espiritualmente.

    Um certo homem pode expressar belos pensamentos com bela linguagem sem impressionar as pessoas; outro no apresenta bela linguagem nem belos pensamentos, contudo suas palavras encantam. Cada atitude dele poderosa. Este o poder de Ojas. Somente o homem e a mulher castos podem fazer Ojas subir e armazenar-se no crebro; por essa razo, a castidade sempre foi considerada a mais alta virtude. por isto que todas as ordens religiosas do mundo que produziram gigantes espirituais sempre insistiram em castidade absoluta. Deve haver perfeita castidade em pensamento, palavras e ao. (I. 169-70)

    O DOMNIO DO APRENDIZADO

    Poucos anos atrs, uma nova coleo da Enciclopdia Britnica foi comprada para o Mosteiro de Belur. Ao olhar para os novos livros que brilhavam, o discpulo disse a Swamiji: " quase impossvel ler todos esses livros numa nica existncia." Ele ignorava que o Swamiji j tinha lido dez volumes e comeara a ler o dcimo-primeiro.

    Swamiji: O que voc diz? Pergunte-me o que quiser desses dez livros e responderei tudo para voc.

    O discpulo maravilhado perguntou: "O senhor j leu todos estes livros?"

    Swamiji: Por que ento eu iria lhe pedir para me fazer perguntas?

    Ao responder s perguntas, Swamiji no somente reproduziu o sentido, como tambm s vezes at utilizou a mesma linguagem encontrada nos difceis tpicos selecionados de cada volume. O discpulo atnito, colocou de lado os livros,

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    dizendo: "Isto ultrapassa os limites humanos!"

    Swamiji: Como voc v, simplesmente pela observncia de uma rgida continncia, todo conhecimento pode ser dominado em prazo muito curto - a gente adquire uma memria infalvel do que se ouve ou se aprende, por uma nica vez. (VII. 223-24)

    O PODER DA MENTE

    A cincia da Raja Ioga, em primeiro lugar, se prope a nos propiciar meios de observar nossos estados interiores. O instrumento a prpria mente. O poder da ateno, quando propriamente conduzido e dirigido para o mundo interior, ir analisar a mente e iluminar os fatos para ns. Os poderes da mente so como raios de luz malbaratados; quando se concentram passam a iluminar. Este nosso nico meio de conhecimento.

    O mundo est pronto para revelar seus segredos se a gente souber como bater na porta, como dar o golpe necessrio. A energia e fora desse golpe advm da concentrao. No h limite para o poder da mente humana. Quanto mais concentrada ela for, mais poder poder ser concentrado num dado ponto; este o segredo. (I. 129, 130-31)

    O TRFICO DE MISTRIOS

    Tudo que for secreto e misterioso nesses sistemas de Ioga (Raja-Ioga) deve ser, imediatamente, repelido. O melhor guia na vida a fortaleza. Na religio, assim como em todos os outros assuntos, livre-se de tudo que possa enfraquec-lo, no se envolva com isto. O trfico dos mistrios enfraquece o crebro humano. Ele quase destruiu a Ioga - uma das mais importantes cincias. (I. 134)

    SIGA O CAMINHO DO MEIO

    Um Iogue deve evitar os dois extremos da luxria e da austeridade. Ele no deve nem jejuar, nem torturar sua prpria carne. Aquele que assim o faz, diz o Gita, no pode ser um Iogue: aquele que jejua, aquele que se mantm acordado, aquele que dorme demais, aquele que trabalha em excesso, aquele que no trabalha, nenhum destes pode ser um Iogue. (I. 136)

    O CAMINHO REAL

    A cincia da Raja Ioga se prope a entregar humanidade um mtodo prtico e cientificamente elaborado para alcanar esta verdade (a imortalidade). Em primeiro lugar, cada cincia deve ter seu prprio mtodo de investigao. Se voc quiser tornar-se um astrnomo e se assentar e gritar "Astronomia! Astronomia!", voc nunca ser um astrnomo. O mesmo acontece com a qumica. Um certo mtodo ter de ser seguido. Voc deve ir a um laboratrio, pegar diferentes substncias, mistur-las, combin-las, fazer experincias com elas e, disso tudo, advir um conhecimento de qumica. Se voc quiser tornar-se um astrnomo,

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    dever dirigir-se a um observatrio, pegar um telescpio, estudar as estrelas e os planetas e ento se tornar um astrnomo. Cada cincia deve ter seus prprios mtodos. Eu poderia fazer para voc milhares de sermes, mas eles no iriam torn-lo religioso, a menos que voc seguisse um mtodo. (I. 128)

    OS EFEITOS DA MEDITAO

    Pense e medite, dia e noite, em Brahman, medite com aguda concentrao da mente. E durante o tempo que estiver desperto para a vida exterior, faa algum trabalho em favor dos outros ou repita em sua mente: "Que o bem acontea para os Jivas e o mundo!" , "Que a mente de todos flua em direo a Brahman!" O mundo ser beneficiado por tal corrente contnua de pensamento. Nada de bom no mundo deixa de dar frutos, seja trabalho ou pensamento. Suas correntes mentais talvez despertem o sentimento religioso de algum na Amrica. (Swamiji disse isto no mosteiro de Belur, perto de Calcut, quando conversava com um discpulo indiano.) (VII. 237)

    NAS HORAS DA MEDITAO

    Voc deve conservar sua mente fixa num objeto, como uma corrente ininterrupta de leo. A mente comum do homem se dispersa em objetos diferentes e, por ocasio da meditao, tambm, a mente de incio tende a vagar. Mas deixe que qualquer objeto surja na mente; voc deve sentar-se calmamente e observar que tipos de idias esto surgindo. Ao continuar a observar-se dessa maneira, a mente torna-se calma e no mais existem nela ondas de pensamento. Aquelas coisas em que voc pensava, antes, com profundidade, transformaram-se numa corrente subconsciente e, por isso, elas afloram na mente na meditao.

    O surgimento dessas ondas, ou pensamentos, durante a meditao uma evidncia de que sua mente se encaminha para a concentrao. Algumas vezes a mente se concentra num conjunto de idias - isto denominado meditao com Vikalpa ou oscilao. Mas, quando a mente fica quase livre de toda atividade, ela se funde com o Eu interior, que a essncia do Conhecimento Infinito, a Unidade. Isto que se chama Nirvikalpa Samadhi, livre de todas as atividades. Em Sri Ramakrishna, ns repetidamente observamos ambas essas formas de Samadhi. Ele no precisava de lutar para alcanar esses estados. Num momento, eles vinham espontaneamente. Era um fenmeno maravilhoso. Ns podamos compreender corretamente essas coisas, simplesmente ao observ-lo. (VII. 253-54)

    AS EMOES E A MEDITAO

    Swamiji: Medite sozinho, diariamente. Tudo se abrir por si mesmo. Durante a meditao, suprima, totalmente, o lado emocional. Este uma grande fonte de perigo. Aqueles que so muito emotivos, sem dvida, esto com o Kundalini subindo rapidamente, mas da mesma forma ele desce com rapidez. E quando ele efetivamente desce, deixa o devoto num estado de extrema runa. por esse

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    motivo que as Kirtanas (a execuo de cantos devocionais) e outras coisas que auxiliam o desenvolvimento emocional tiveram grande decada. verdade que atravs de danar e pular, por um impulso momentneo, aquela fora sobe, mas isso dura pouco. Ao contrrio, quando ela retoma seu curso, ocasiona violenta luxria no indivduo. Mas isso acontece simplesmente devido a uma falta de prtica firme de meditao e concentrao.

    Discpulo: Senhor, eu nunca li, em nenhuma escritura, esses segredos de prtica espiritual. Hoje, ouvi um bocado de coisas novas.

    Swamiji: Voc pensa que as Escrituras contm todos os segredos da prtica espiritual? Estes tm sido transmitidos secretamente atravs de uma sucesso de Gurs e discpulos. No perca nenhum dia. Se estiver pressionado por excesso de trabalho, faa exerccios espirituais pelo menos durante um quarto de hora. Pode voc alcanar a meta sem uma firme devoo, meu filho?

    LEIA SUA PRPRIA VIDA

    Controle a mente, suprima os sentidos, ento voc ser um Iogue; depois disto, todo o resto vir.

    Recuse-se a ouvir, ver, cheirar e provar; retire o poder mental dos rgos externos. Voc faz isto contnua e inconscientemente quando sua mente est absorta; assim, poder aprender a faz-lo conscientemente. A mente pode colocar os sentidos onde bem quiser. Livre-se da superstio fundamental de que obrigado a agir em funo do corpo. No somos dependentes dele. Entre em seu quarto e saque os Upanishads de seu prprio Eu interno. Voc o maior livro que j foi ou ser escrito, o infinito depositrio de tudo que . At que se abra o professor interior, todo ensinamento exterior vo.

    Os livros so inteis para ns at quando nosso prprio livro se abre; ento, todos os outros livros sero bons na medida em que confirmem nosso prprio livro. o forte que compreende a fora, o elefante que compreende o leo, no o rato. Como poderemos entender Jesus, a menos que nos igualemos a Ele? Somente a grandeza aprecia a grandeza, somente Deus identifica Deus.

    Ns somos livros vivos, e livros no so seno as palavras que proferimos. Tudo Deus vivo, o Cristo vivo; enxergue de tal modo. Leia o homem, ele o poema vivo. Ns somos a luz que ilumina todas as Bblias e os Cristos e Budas que j existiram. Sem isto, eles seriam mortos para ns e no vivos. (VII. 71,89)

    OS OITO RAMOS DA IOGA

    A Raja-Ioga conhecida como a Ioga ctupla, porque se divide em oito partes principais.

    So elas:1) YAMA. a mais importante e tem de governar toda a vida. Tem cinco divises:

    a) No prejudicar nenhum ser por pensamentos, palavras ou atos.

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    b) No cobiar ardentemente, em pensamentos, palavras ou atos.c) Perfeita castidade em pensamentos, palavras ou atos.d) Sinceridade perfeita em pensamentos, palavras ou

    atos.e) No receber presentes.

    2) NIYAMA. Cuidados com o corpo, banhos dirios, dietas, etc.

    3) ASANA, posturas. Os quadris, os ombros e a cabea devem ser mantidos eretos, deixando livre a espinha dorsal.

    4) PRANAYAMA, controle da respirao (a fim de controlar o Prana ou fora vital).

    5) PRATYAHARA, volver a mente para o interior e impedi-la de ir para fora, revolvendo as questes na mente a fim de compreend-las.

    6) DHARANA, a concentrao em um assunto.

    7) DHYANA, meditao.

    8) SAMADHI, iluminao, a meta de todos os nossos esforos.

    Aquele que busca chegar at Deus atravs da Raja-Ioga deve ser forte mentalmente, fisicamente, moralmente e espiritualmente. Tome todas as providncias nesse sentido. (VIII, 41,44)

    NO LIMIAR

    Esta uma lio que visa trazer luz a individualidade. Cada individualidade deve ser cultivada. Todas se encontraro no centro. "A imaginao a porta para a inspirao e a base de todo pensamento." Todos os profetas, poetas e descobridores tiveram grande poder imaginativo. A explicao da natureza est em ns; a pedra cai do lado de fora, mas a gravitao est em ns, e no no exterior.

    Aqueles que se enchem de comida, aqueles que passam fome, aqueles que dormem demais, aqueles que dormem muito pouco, no podem se tornar Iogues. A ignorncia, o egosmo, a volubilidade, a preguia e o apego excessivo so os grandes inimigos do sucesso da prtica da Ioga. Os trs grandes requisitos so:

    1) PUREZA, fsica e mental; tudo que for impuro, tudo que arrastar a mente para baixo, deve ser abandonado.

    2) PACINCIA. De incio haver maravilhosas manifestaes, mas todas cessaro. Este o perodo mais duro, mas agente; no final, o ganho ser certo se voc tiver pacincia.

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    3) PERSEVERANA. Persevere at o fim, atravs da sade e da doena, nunca deixe de praticar um dia sequer. (VIII. 38)

    A MENTE E SEUS ASPECTOS

    A mente ou rgo interno tem quatro aspectos:

    1) MANAS, a faculdade de raciocinar ou pensar, que, usualmente, quase inteiramente desperdiada, por falta de controle; governada apropriadamente, um maravilhoso poder.

    2) BUDDI, a vontade (algumas vezes chamad