medicalizar não é a solução

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SÉRIE COMUNICAÇÃO POPULAR CRP SP V. A psicologia e sua interface com a medicalização

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Medicalizar, muito além de recomendar remédios, é pôr a culpa na pessoa pelo jeito que ela é e, também, pelos problemas que ela vive. É tirar a responsabilidade do sistema político-social-econômico, além de enfraqueceras respostas coletivas. SÉRIE COMUNICAÇÃO POPULAR CRP SPV. A psicologia e sua interface com a medicalização.

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SRIE COMUNICAO POPULAR CRP SPV.A psicologia e sua interface com a medicalizaoAGOSTO2014XIII PLENRIO (2010-2013)DIRETORIAPresidente Carla Biancha AngelucciVice-presidente Maria de Ftima NassifSecretrio Lus Fernando de Oliveira SaraivaTesoureiro Leandro Gabarra CONSELHEIROS EFETIVOSAna Ferri de Barros, Carla Biancha Angelucci, Carolina Helena Almeida de Moraes Sombini, Fernanda Bastos Lavarello, Gabriela Gramkow, Graa Maria de Carvalho Cmara, Janana Leslo Garcia, Joari Aparecido Soares de Carvalho, Leandro Gabarra, Lus Fernando de Oliveira Saraiva, Luiz Tadeu Pessutto, Maria de Ftima Nassif, Maringela Aoki, Maria Orlene Dar, Patrcia Unger Raphael Bataglia, Teresa Cristina Lara de Moraes.CONSELHEIROS SUPLENTESAlacir Villa Valle Cruces, Cssio Rogrio Dias Lemos Figueiredo, Jos Ricardo Portela, Lilihan Martins da Silva, Luiz Eduardo Valiengo Berni, Marlia Capponi, Marly Fernandes dos Santos, Rita de Cssia Oliveira Assuno, Roberta Freitas Lemos, Rosana Cathya Ragazzoni Mangini.Conselho Regional de Psicologia de So Paulo - CRP SPXIV PLENRIO (2013-2016)DIRETORIAPresidente Elisa Zaneratto RosaVice-presidente Maria Ermnia CilibertiSecretrio Lus Fernando de Oliveira SaraivaTesoureira Adriana Eiko MatsumotoCONSELHEIROS EFETIVOSAdriana Eiko Matsumoto, Ana Paula Porto Noronha, Aristeu Bertelli da Silva, Elisa Zaneratto Rosa, Gabriela Gramkow, Graa Maria de Carvalho Camara, Guilherme Luz Fenerich, Ilana Mountian, Janana Leslo Garcia, Joari Aparecido Soares de Carvalho, Jos Agnaldo Gomes, Lus Fernando de Oliveira Saraiva, Maria Ermnia Ciliberti, Marlia Capponi,Moacyr Miniussi Bertolino Neto.CONSELHEIROS SUPLENTESAlacir Villa Valle Cruces, Bruno Simes Gonalves, Camila de Freitas Teodoro, Dario Henrique Telo Schezzi, Gustavo de Lima Bernardes Sales, Jonathas Jos Salathiel da Silva, Lvia Gonsalves Toledo, Luiz Eduardo Valiengo Berni, Maria das Graas Mazarin de Araujo, Mirnamar Pinto da Fonseca Pagliuso,Regiane Aparecida Piva, Sandra Elena Sposito, Sergio Augusto Garcia Jnior, Silvio Yasui.Tristeza no doenaO garoto s queria atenoA vida no cabe numa plulaInfeliz no trabalhoSaindo do isolamentoGLOSSRIOMas o dot nem examinaNo tem um s remdioChamando o pai do ladoEm toda medicina...Lhe diz logo em surdinaQue o mal da idadeQue pr tal meninaO Xote das Meninas, Luiz GonzagaDe acordo com a ltima contagem, ns, os humanos, alcanamos o incrvel nmero de 7 bilhes de seres sobre o planeta Terra. Dentre esses 7 bilhes h uma diversidade espetacular. Basta imaginarmos que cada qual cada qual. Ento, podemos dizer que h bilhes de subjetividades isto , jeitos de pensar, de sentir, de se comportar e se relacionar inspirando e respirando juntos e ao mesmo tempo.No mundo tem queCABER todo mundoMedicalizar, muito alm de recomendar remdios, pr a culpa na pessoa pelo jeito que ela e, tambm, pelos problemas que ela vive. tirar a responsabilidade do sistema poltico-social-econmico, alm de enfraquecer as respostas coletivas. Mas, apesar da diversidade, evidente que h tambm um esforo daqueles que detm os poderes poltico, econmico, de mdia, militar etc. em transformar aqueles que discordam, desanam e desaam em seres que aceitam, concordam, copiam. H um esforo para anular diferenas. Porque, muitas vezes, ser diferente no visto como normal. Muitos esperam que as pessoas tenham um jeito e um comportamento padro. Entre as aes de tornar tudo igual, de pregar um comportamento nico est a medicalizao.Cada indivduo tem seu ritmo prprio para aprender, para vivenciar uma vitria, para elaborar uma perda. Ou seja, cada indivduo tem um calendrio interno para crescer como pessoa.Pessoas respondem aos desaos de forma diferenteTristeza no doenaAt casou de novo.Ela cou viva.ela armava.Foram vinte e sete anos de um bom casamento.Passaram o enterro, a missa de stimo dia, um ano e meio. Nada da viva se alegrar.No nal da histria, funcionou o maior remdio de todos: o tempo. Pouco a pouco, ela foi tomando gosto pela vida, se alegrando.As amigas estavam preocupadas. Uma delas disse: Seguir triste desse jeito no normal. E se voc tomasse um remedinho para se animar? Pr que sofrer?A viva no gostou da ideia. Explicou que sua tristeza no era doena. Era um sentimento. No tenho vontade de sair. No acho graa em nada,Alm de cada um ter sua singularidade, nenhum ser humano uma ilha. A gente age e reage conforme a circunstncia e o contexto. Isso faz com que, para resolver muitos problemas e para superar diculdades, a gente tenha que alargar o olhar e ver a oresta alm das rvores. bom lembrar que se o mundo faz a gente, a gente tambm faz o mundo.A escola Boa?O emprego digno?O servio de sade eciente?A famlia conversa?A sociedade aceita as diferenas? PERGUNTASQUE NO PODEMFALTAR:A medicalizao da vidaConversar sobre nossas diculdades pode no resolver, mas ajuda a gente a car mais forte para entender e enfrentar a realidade. J os inevitveis conitos podem ser solucionados com dilogos e negociaes. Uma parte cede um pouquinho aqui, a outra cede um pouquinho ali e chega-se num caminho do meio.Diculdades, conitos, sofrimentos so parte de qualquer vida.Sofrer no escolha, mas vai acontecer em vrios momentos ou fases da vida de todo mundo. No entanto, coletivizar o sofrimento ajuda a torn-lo mais suportvel e aponta caminhos para sua superao. Pois coletivizar signica pensar como o mundo em que vivemos e a vida que levamos nos fazem sofrer. E a, preciso tambm mudar o mundo e mexer na vida. Solues coletivas fortalecem a comunidade, a vizinhana, a rede de pessoas.Medicalizao na EscolaEstamos vivendo tempos de turbulncia. O mundo - impulsionado pela internet, redes sociais, celulares - tem virado de cabea para baixo. A Escola como um todo est vivendo tempos de novas denies.Muitos alunos questionam o contedo das matrias e como esse contedo transmitido. H um mal-estar. Os alunos mais novos muitas vezes no conseguem verbalizar suas crticas e propostas de mudana. O que conseguem expressar desobedincia, rebeldia, agitao.O garoto s queria atenoA me se desesperou e falou para o pai:O pai disse que cuidar de criana pequena era obrigao dela, a me. Que se virasse, por favor!Por m, a professora disse para a me procurar ajuda externa. Ir atrs de especialistas que diagnosticassem os urros do menino. Comeou a maratona. Foi em vo. At que um dia, o prprio garoto resolveu pr m situao:Seu lho faz uns sons estranhos toda vez que entro na sala. Eu peo para ele car quieto e nada. s vezes penso que ele parece mais bicho do que gente.A professora avisou para a me:Eu no dou mais conta. V se d um jeito neste menino!.Professora, a senhora s d ateno para mim quando fao ummmmmuummm.Muitos alunos e professores tambm insatisfeitos passam a ser medicalizados. Isto , o problema transferido para eles. Quando, na verdade, a Escola como um todo que precisa ser repensada.SOLUES NO combinam com achar culpados.SOLUES COMBINAM COM MUDANAS.O que podemos mudar na escola?Eu participo de reunies do Conselho da Escola?Os alunos tm um grmio?Como a comunidade pode ajudar a Escola?Como a Escola pode ajudar a comunidade? ROTEIRO DEPERGUNTAS:Outra hora, so etiquetados de apticos e desinteressados demais.O assunto da medicalizao na Escola anda to srio que a todo momento surgem novos transtornos. Uma hora, crianas e adolescentes ganham etiquetas de agitados e distrados demais. Mas s remdios, s diagnsticos, s tratamentos com vrios especialistas esconder o problema. comum que transtornos de comportamento sejam tratados com remdios e com uma srie de especialistas - mdicos, psiclogos, fonoaudilogos etc. Com a ideia de que eles sosseguem o que est agitado, faam car quieto o que est irrequieto. Mas o resultado parecido com jogar a sujeira debaixo do tapete.A vida no cabe numa plulaToda estilosa, bonita at, ela foi abrindo a bolsa e...Este para dor de cotovelo.Este para bola murcha.Este para o estresse.Este para conversar com meu irmo.Este para tristeza profunda. Este para o medo.Este para aguentar minha chefe. Este para atrair namorado bonito.Este para suportar meu colega. Este para encarar o trnsito...descrevendo cada comprimido que usava:Este para enxaqueca.Este para sofrimento em geral.Este para no sentir dor fsica e mental.Este para melhorar a autoestima.Este para o tdio.Este para acordar.Este para dormir.Este para a falta de sentido da existncia.Este para a falta de f.Este para a solido.E este, o ltimo, para viver.Este para clica.Este para emagrecer.Este para gerenciar ocimes.Sozinho tudo mais difcilJ pensou que o problema que voc est passando um problema comum a outras pessoas?Por exemplo, seu lho est com diculdades na escola. Ser que a lha da vizinha, ou lho da sua prima tambm no esto passando pela mesma situao? importante trocar gurinhas sobre isso e encontrar algumas estratgias.Medicalizaono trabalho Ser?Nem todas as pessoas reagem da mesma maneira frente s exigncias do mundo do trabalho. Principalmente, quando o trabalhador se sente insatisfeito com sua rotina e seu salrio.O problema que muita gente acha que o trabalhador tem que sofrer calado e se conformar. Muitos acham que o fato de estar empregado j suciente para se sentir bem. Mas h pessoas que no se sentem felizes com sua situao de trabalho. Se tornam desmotivadas e at amarguradas. A entra tambm a medicalizao. A culpa acaba sendo do indivduo e no do sistema. ele que no se adapta. Ele que faz corpo mole. Ele que fraco.Infeliz no trabalhoFoi ento que acendeu a luz: Mas, vida que corre, voltou a se desinteressar, at mesmo a odiar sua vida prossional.Nos primeiros meses at que funcionou. Ele cou mais animadinho.Da foi cando deprimido e um amigo aconselhou que ele tomasse um medicamento para curar o tdio que sentia. Novos projetos, desaos? Ele sentia arrepio s de pensar.Depois foi cando desinteressado. J entrava no emprego contando as horas para o expediente acabar. Foi acontecendo aos poucos. Primeiro, ele perdeu a concentrao.Foi o que ele fez. Hoje, um sujeito mais feliz.E se eu procurar outro emprego? Ou mesmo mudar de ramo?Todo trabalho tem que ser doloroso?O trabalho no podia ser mais criativo?O trabalhador no merece ser mais valorizado?Como as pessoas se relacionam no trabalho? PERGUNTAS QUEPODEM AJUDAR: Medicalizao do comportamentoA normalidade uma construo cultural. Chamamos de normal o que a maioria pensa e faz, aquilo que a sociedade em que vivemos acha aceitvel. No entanto, a humanidade no se restringe maioria. Isto , nem sempre pensamos e sentimos como a maioria o que no signica que seja um problema!Por exemplo, h pessoas que manifestam afetividade e sexualidade que, apesar de legtimas, sofrem preconceitos e discriminaes. Entre elas, esto lsbicas, gays, bissexuais, travestis e transgneros. Saindo do isolamentoE so felizes. Quando descobri que o mundo est cheio de homens que sentem o que eu sinto.Acho que a vida melhorou quando percebi que no estava sozinho. Sofri.Meu problema foi o preconceito dos outros.Percebi isso to cedo que sempre foi natural.Meu problema no foi descobrir que eu era um homem que amava outros homens.Sei l, foi como acender uma luz.Uma das maneiras de evitar que as pessoas sofram com suas diferenas aceit-las do jeito que elas so. Da mesma maneira que se respeita o jeito da maioria.A medicalizao tambm investe contra as diferenas sexuais.Tem crescido a ideia da cura gay, apesar da certeza de que a homossexualidade no e nunca foi uma doena.Dicas de convivnciaQuem julga menos, vive mais feliz.Todo mundo tem direito a viver sua sexualidade do jeito que quiser.Viva a sua vida e permita que os outrosvivam a deles.A CONVERSA NO ACABA AQUI,NA VERDADE ELA COMEA AGORAEsta cartilha foi feita com carinho para voc.No h nenhuma inteno em sermos donos da verdade.O objetivo justamente dialogar, trocar pontos de vista.Acreditamos que precisamos pensar - e muito! - nas coisas da vida.Raul SeixasSonho que se sonha s realidade s um sonho que se sonha junto que se sonha sMas sonho I.Opsiclogobasearoseu trabalhonorespeitoenapro-moo da liberdade, da dignida-de, da igualdade e da integrida-de do ser humano, apoiado nos valoresqueembasamaDecla-raoUniversaldosDireitos Humanos.II. O psiclogo trabalhar visan-do promover a sade e a quali-dade de vida das pessoas e das coletividadesecontribuirpara aeliminaodequaisquerfor-mas de negligncia, discrimina-o, explorao, violncia, cruel-dade e opresso.III.Opsiclogoatuarcom responsabilidadesocial,anali-sandocrticaehistoricamente arealidadepoltica,econmi-ca, social e cultural.IV.Opsiclogoatuarcom responsabilidade, por meio do contnuoaprimoramentopro-PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO CDIGO DE TICA DOS PSICLOGOSssional,contribuindoparao desenvolvimentodaPsicolo-giacomocampocientcode co nhe cimento e de prtica.V. O psiclogo contribuir para promoverauniversalizaodo acessodapopulaosinfor-maes,aoconhecimentoda cinciapsicolgica,aosservi-oseaospadresticosda prosso.VI. O psiclogo zelar para que oexerccioprossionalseja efetuadocomdignidade,rejei-tandosituaesemqueaPsi-cologia esteja sendo aviltada.VII. O psiclogo considerar as relaesdepodernoscontex-tos em que atua e os impactos dessasrelaessobreassuas atividadesprossionais,posi-cionando-sedeformacrticae em consonncia com os demais princpios deste Cdigo.Conhea o Cdigo de tica na ntegra e outras legislaes no site do CRP:www.crpsp.org.brEstranhou a postura do psiclogo?Converse com ele e, se necessrio, procure o CRP.IBEACCoordenao EditorialBel Santos MayerVera LionPesquisa, entrevistas e criao de textosFernanda Pompeu(11) [email protected] grco, imagens, diagramao e edio de arteCelso Linck *contedo a partir de entrevistas com Ana Ferri de Barros, Carla Biancha Angelucci e Mirnamar Pagliuso.Imagens a partir de