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    MEDIAÇÃO(ou uma casa estranha): A Mediação

    em arte em diferentessituações

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    MEDIAÇÃO(ou uma casa estranha): A Mediação

    em arte em diferentes

    situações

    MARCELA PIRES F. NOVAES DA SILVA 

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONRIINA DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS

    2016

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    Trabalho apresentado ao Departamento de ArtesVisuais do Centro de Educação, Comunicação

    e Artes da Universidade Estadual de Londrinacomo requisito parcial para Conclusão do Curso

    de Licenciatura em Artes Visuais.

    Comissão Examinadora:

    Prof. Dr. Danillo Gimenes VillaUniversidade Estadual de Londrina

    (Orientador)

    Profa. Esp. Lourides Aparecida FrancisconiUniversidade Estadual de Londrina

    Prof. Dr. Ronaldo Alexandre OliveiraUniversidade Estadual de Londrina

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    A meus pais, Luiz e Joyce, meus primeiros mediadores. Os princi-pais responsáveis por eu querer me tornar uma artista-educadora--pesquisadora, direta e indiretamente.

    A minhas irmãs, Mariana e Luiza. Como irmã mais velha, comeceicom elas meu amor pelas crianças, por contar histórias, brincandode professora e desenhando junto.

    A meus avós Ignês e Zezo, por me darem tanto auxílio e amor na

    cidade.

    Ao Danillo, que desde de que conheci me orienta e me mostra osmais interessantes caminhos em produção e agora no TCC.

    À Lourides e ao Ronaldo, por serem como segundos orientadores,sempre muito dispostos a me ajudar, muitos especiais.

    Ao Vinicius, meu namorado e melhor amigo, que está literalmentesempre comigo, em momentos tensos ou felizes em cima de uma

    bicicleta.

    Ao Fercho, por ser meu amigo de pombos, mediações, almoços ememes. Basta um olhar pra saber o que ele está pensando.

    Aos amigos que fiz na faculdade: Luiz, Leto, Aline, Fercho, Ana,Dani, Gi, Pam, Amandinha, GG, Nakama, Edmar, Isa, Biscoito, Bárba-ra (Bessa e Paul), Pepa, Du, Gabs, Yam, Yu, Ju e Fabi. Pelas risadas,saídas, passeios, visitas, viagens, festas, discussões e choros. Porfazerem meus quatro anos mais alegres.

    Aos professores do curso: Cláudio,Vanessa, Marcos, Nenê, MariaCarla, Negativo, Carmen, Danillo, Ronaldo, Juliano, Fernanda, Re-nan, Lourides, Tânia, Piau, Bira, Elke, Caju e Cleuza. Guardo umpouquinho de cada um comigo.

    A Grace Miceli, Hreinn Fridfinnsson e Sofia Borges, alguns de meusreferenciais.

     AGRADECIMENTOS

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    SUMÁRIO

    Resumo...............................................................11

    Abstract...............................................................12

    Por que “casa”?...................................................13

    Um pouco sobre o termo....................................19

    A primeira casa...................................................20

    Mediação (ou uma casa estranha).......................41

    Ensaio Visual: Grace Miceli.................................44

    Do tempo na Casa Branca...................................50

    Ensaio Visual: Hreinn Fridfinnsson....................92

    A narratividade em mediação...........................101

    Ouvindo o público............................................105

    O artista como anfitrião...................................107

    Ensaio Visual: Sofia Borges...............................119

    Casa M: sobre a vizinhança..............................131

    A Casa M como experiência mediadora............138

    Do lado de fora.................................................141

    Considerações finais.........................................161

    Biblioteca..........................................................162

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      Este trabalho tem por objeto de estudo a mediaçãoem arte em algumas de suas diferentes aplicações, entenden-do que a mediação está presente desde os nossos primeiroscontatos com a arte até a mediação tradicional em institui-ções museais, passando pela sala de aula e materiais educa-tivos. O objetivo é apresentar essas aplicações como tiposou exemplos diferentes de mediação, dentro da ideia de que

    mediação é a interação não hierárquica entre mediador, visi-tante/estudante e obra de arte. A mediação aqui será ligada áideia de casa.

    PALAVRAS-CHAVE: Mediação em arte, pesquisa, casa.

    RESUMO

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     ABSTRACT

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      This work has as research object the art education,specialy the museum education, in some of its different appli-cations, understanding that it is present from our first con-tact with art to traditional education in museum institutions,through the school and educational art games. The goal is topresent these applications as different types or examples ofmuseum education, within the idea that it is a non-hierarchi-

    cal interaction between educaton, visitor/student, work of artand artist. Art Education/Museum Education here will be con-nected to a idea of home.

    KEYWORDS: Museum education, research, home.

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      A ideia de casa está na pesquisa como um elo que ligaminha produção artística à minha pesquisa em educação.  A casa é um objeto (ou personagem?) recorrente. Des-

    de que percebi minha produção como algo satisfatório e quesimbolizasse aquilo que eu mais admirava em uma obra dearte: o mistério e a narrativa inacabada, esses conceitos co-meçaram a aparecer em diferentes trabalhos. Até que então,a casa apareceu, na série “Vizinhança” (que será apresentadanas próximas páginas).  Em minha produção, casa é um lugar de familiarida-de, acontecimentos, mas também mistérios. Quis passar emminhas pinturas uma certa dúvida ao observador, dúvida so-bre o que poderia estar acontecendo dentro da casa, ou fora,o que poderia ter acontecido. Elementos estranhos, como ob-

     jetos, pistas e perspectiva errada nas paredes, têm o objeti-vo de quebrar com a pura familiaridade que esse lugar podetransmitir.

    A ideia deste trabalho é de não haver diferenciaçãoentre pesquisa em arte, pesquisa em educação e pesquisa so-bre arte. Aliando assim ensaios visuais de artistas que tenhocomo referência e que de alguma forma se relacionam comminha produção e/ou a ideia de casa, minha pesquisa emmediação se baseia em minha própria experiência como me-diadora em minhas leituras, em meus trabalhos de arte, aqui

    também presentes tanto como pesquisa plástico/conceitualcomo ilustrações em cada tópico.

    POR QUE “CASA”?

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    Série “Vizinhança” exposta na Divisão de Artes Plásticas da UEL, para a exposição “Quandovier, por favor me avise” em 2014.

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    “Fenda” da série “Vizinhança” também na exposição “Quando vier, por favor, me avise” naDAP em 2014.

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    Sem Título (Série Vizinhança) 2014 - guache sobre papel 

    Sem Título (Série Vizinhança) 2014 - guache sobre papel 

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      Na concepção Ambientalista (ou Empirista), a pessoa de-senvolve a sua inteligência a partir do ambiente que vive e dosestímulos que recebe.

    UM POUCO SOBRE O TERMO

    Mediação (do lat. tardio mediatio) 1. Em um sentidogenérico, ação de relacionar duas ou mais coisas,de servir de intermediário ou “pon-te”, de permitira passagem de uma coisa a outra.  (JAPIASSÚ, MAR-CONDES. 2001: p.127)

      Mediação é um termo que para cada área do conhecimen-to tem um sentido diferente, e está presente em diversas áreas,a saber: astronomia, religião, jurídica. Além de de também fa-zer parte do pensamento de Sócrates, Aristóteles, Platão, Hegel,Marx e Vygotsky.  A base da ideia de mediação em educação está na con-cepção interacionista de aprendizagem, entre as concepções ina-tista e ambientalista.  O Inatismo tem o foco no sujeito, entendendo a inteli-gência de cada um como uma herança genética.

    Nessa ótica, o aluno já nasce com o nível de inteli- gência preestabelecido. O professor apenas contri- bui para que o conhecimento, e não a inteligênciade tal aluno, seja ampliado. (MEIER, GARCIA, 2007:

    Nessa concepção, o sujeito não traz nada consigo ea escola é que precisa ‘ensiná-lo’. [...] Não há neces- sidade de se considerar o aluno em seus múltiplos

    aspectos, pois o que realmente importa é a qualida- de do estímulo e do conteúdo a ser ensinado . (Ibid.p. 77)

      Portanto há a terceira concepção, a Interacionista, onde aênfase está na interação entre sujeito e objeto, ou seja, é impor-tante que alguém, ou algum signo, permita essa interação. Esse éo papel do mediador.

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      Mirian Celeste Martins, no livro Pensar Juntos Media- ção Cultural [Entre]laçando Experiências e Conceitos , de 2014,e no livro “Mediação Cultural para professores andarilhos nacultura” nos quais é organizadora, fala sobre os primeirosmediadores. Não aqueles que estavam presentes nas primei-ras visitas a museus, mas aqueles que de alguma forma abri-ram nossa percepção e nos familiarizaram com a arte. Os nos-sos primeiros encontros com a arte.  Esse livro é resultado de uma ação coletiva, e nelehá vários relatos sobre o(s) primeiro(s) contato(s) com artede cada pessoa. Alguns citam seus pais, outros, obras de arteou visitas a museus, professores, a música, a televisão, entreoutros.  Estou no quarto ano de Artes Visuais, ano em quetemos a disciplina de Estágio , onde uma das propostas é a dolaboratório, onde em cada aula, um dos estudantes apresentauma narrativa autobiográfica e algum tipo de interação com

    o resto da turma e professores, podendo ser uma atividade,uma proposição etc.  Tive o meu laboratório adiantado cerca de um mês. OProfessor da disciplina Ronaldo Alexandre Oliveira levou vá-rios materiais educativos de exposições e museus diferentespara que eu pudesse apresentar para a turma.  Acompanhando o laboratório, nos foi proposto quelevássemos uma reflexão autobiográfica.  Bem resumidamente, foquei nos meus primeiros con-tatos com a arte, em como comecei a me interessar pela fo-

    tografia, em quando me interessei pela educação e em comoesse interesse me levou a estudar Artes Visuais:

     A PRIMEIRA CASA 

      “Nasci em São Paulo. Minha mãe é de Presidente Pru-dente(SP) e meu pai de Londrina(PR), onde se conheceram.  Minha mãe, Joyce, estudava Serviço Social e, meu pai,Luiz Cláudio, estudava Química. Antes de se casarem forammorar em São Paulo e se casaram no Brás. Minha mãe semprediz que sou paulistana por gostar de dias nublados.  Nasci em 5 de novembro de 1993.Tenho duas irmãs mais novas, Mariana e Luiza, que também

    nasceram em São Paulo.

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      Eu era uma criança que gostava de desenhar. Desdemuito nova eu desenho, estava sempre com um tanto de folhassulfite e uma caneta BIC na mão. Eu costumava criar persona-gens e histórias para esses personagens, os mais recorrenteseram uma dupla de gato e rato.  Também gostava de brincar com bichos de pelúcia comas minhas irmãs. Nunca gostei de boneca ao contrário de boa

    parte das meninas, até tive uma ou duas, mas não gostava e demuitas eu chegava a ter medo. Preferia os bichos de pelúcia e osdinossauros. Minha mãe sempre quis que eu gostasse de bone-ca, mas não aconteceu.  Além de brincar e desenhar, eu via TV: gostava de Dex-ter, A Vaca e o Frango, Rupert, O Pequeno Urso, Castelo Rá TimBum. Minha mãe não deixava eu ver filmes impróprios para mi-nha idade, nem novelas, nem programas voltados a adultos, nogeral, mas depois de um certa idade eu assista meio escondida.  O mais avassalador dos desenhos que eu assistia era o

    Pokémon, não só pra mim, mas para uma geração de crianças.Era tudo do Pokémon, mochilas, lancheiras, camisetas, brinque-dos, fitas cassete, jogos. A minha vida e a dos meus colegas daescola poderia ser medida como ‘Antes do Pokémon e Depois doPokémon’.

    Eu lembro que ser artista sempre esteve na minha listade “O que vou ser quando crescer?”, junto com astronauta, cien-tista, inventora, entre outras carreiras, mas não queria ser comoos artistas de hoje, eu queria ser como o Leonardo da Vinci. É en-graçado como quando crianças pensamos que tudo é realmentepossível quando crescermos. Ser astronauta era um sonho quefoi se desfazendo à medida que eu fui crescendo, por mais quea vontade de visitar o espaço ainda permaneça.  No castelo Rá Tim Bum tinham partes durante os episó-dios onde um quadro fazia mediação de si mesmo para os visi-tantes do castelo, era o Cavalete Mágico. Cada dia era uma obrade arte nova, desde obras renascentistas até obras modernas.

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      Digo que o quadro fazia uma mediação porque quemcomentava a obra eram os visitantes (Biba, Pedro e Zequinha),o Cavalete só informava o nome da obra e do artista.  Em dois dos livros que leio, para a elaboração do meutrabalho de conclusão de curso, ambos de Mirian Celeste Mar-tins (organizadora), está presente a discussão sobre os pri-meiros mediadores de cada um.  Em muitos relatos são apontados os pais, em outros,

    pessoas desconhecidas, músicas, espaços. Os primeiros con-tatos com a arte.  Fico tentando resgatar na memória qual poderia tersido meu primeiro mediador e meu primeiro contato com aarte, mas nada sólido me vem á cabeça. Sempre tive uma me-mória a longo prazo muito boa, porém não consigo me lem-brar de algum desses primeiros e gloriosos contatos como osque são relatados nos livros.  Sou muito observadora e curiosa, então pode até serque meu primeiro contato tenha passado despercebido.

      Estão mais frescos em minha memória os meus pri-meiros contatos com a música. Meus pais sempre foram deouvir muita música, ouviam artistas mineiros, como Clube daEsquina, Beto Guedes, Milton Nascimento, 14 Bis, Boca Livre.Artistas que formaram o meu gosto musical e que me encan-tam até hoje. Quando os escuto, me recordo das viagens decarro que fazíamos.  Lembro também de noites em que minha mãe ia tra-balhar (ou estudar, não lembro) e que eu ficava ouvindo músi-ca com meu pai. Ele ouvia, em maioria, bandas de rock como

    Black Sabbath, Kiss, AC/DC, Nazareth...  E me recordando de meus primeiros contatos commúsica, talvez agora eu possa me lembrar dos primeiros coma arte. Lembro bem das capas dos CDs de rock do meu pai.

    Algumas poderiam ser até consideradas como as-sustadoras para uma criança, mas para mim eram motivo decuriosidade e não de medo.

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    Alguns dos álbums dos artistas mineiros que me marcaram e marcam até hoje: “Clube daEsquina” de 1972, de Milton Nascimento e Lô Borges; “Geraes”, 1976, de Milton Nascimen- to; “14 Bis II”, 1980, do 14 Bis e “Toada”, 1979, do Boca Livre. Referências sonoras.

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      Uma em especial era linda. Era a do Black Sabbath, demesmo nome, onde é retratada uma casa velha e uma mulherde preto em frente.

    Nunca havia pensado dessa forma, mas essa capa deCD se relaciona muito com o que me interessa, tanto em tra-balhos de arte como em minha própria produção plástica.  Capas de CD, por estarem vinculadas a seu conteúdomusical se tornam muito especiais, e eu nunca tinha paradopara pensar em como me interesso pela capa dos álbuns queouço. Para mim a capa é como parte da história que um álbum“conta”.

    Uma das bandas que mais gosto, Belle & Sebastian,reúne uma maravilhosa coleção de capas.

    Acho que o interesse pela arte sempre esteve comigo,porém me faltava conhecimento.  Foi em um curso de História em Quadrinhos, numaescola chamada Bauhaus em Ribeirão Preto que o interessepor educação despertou em mim. O professor se chama-va Terrível, toda aula ele chegava com duas caixas grandescheias de livros de arte e HQs. Além de produzirmos duranteas aulas, conversávamos e líamos as mais diversas histórias.

    Aquilo para mim era um bom exemplo de aula. Por que nãopoderia ser assim também na escola?  Formada em arquitetura posso dar aulas? Por maisque aos 14 anos eu estivesse longe de qualquer vestibular,a ideia de prestar Arquitetura e Urbanismo já era uma cer-teza e ao invés de eu procurar outras possiblidades, ficavapensando como poderia dar aulas ou cursos depois de fazerArquitetura.  Artes Visuais demorou a aparecer. Não se falava des-se curso nas escolas, só havia espaço para Direito, Medicina,

    Engenharia, Psicologia e no máximo Arquitetura para os con-siderados mais “criativos”. Fui saber que o curso de ArtesVisuais existia no segundo ano do ensino médio e foi como seapaixonar, era tudo que eu queria e ainda por cima era licen-ciatura. Passei medo à toa quando fui contar à minha mãe quetinha mudado de ideia.

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    Capa do álbum “Black Sabbath” da banda Black Sabbath, de 1970.

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    Capas de álbums do meu pai.Entre muitos outros, alguns dosque lembro terem me chamadomais atenção quando pequena.“Paranoid”, 1970, “BornAgain”, 1983 e “Never SayDie!”, 1978 do Black Sabbath;“If You Want Blood, You Got It”,1978, do AC/DC e “No MeanCity”, 1978, do Nazareth.Referências visuais.

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      Quando finalmente decidi fazer Artes Visuais, ganheium livro dos meus pais, o “Tudo sobre Arte” de Stephen Far-thing. É um livro super resumido, mas bem abrangente que co-meçou a me mostrar meus primeiros artistas preferidos e indí-cios de referências.  Um dos primeiros “movimentos” que me interessaramfoi o Young British Artists, com Damien Hirst, Jake e Dinos Cha-pman, Tracey Emin e Rachel Whiteread.  No terceiro ano entrei num curso pré vestibular paraquem iria ter prova de habilidades específicas numa escola quese chama Bauhaus. Na minha sala tinham pré vestibulandos demoda, arquitetura, design, eu era a única de Artes Visuais. Oprofessor era formado em Artes Visuais pela UFMG, então eleme dava uma ajuda especial.  Um dia ele me levou o livro dele “Estilos Escolas e Mo-vimentos” de Amy Dempsey, que me ajudou muito para estudarnos vestibulares. Quando comprei um para mim e fiquei com osdois em casa por uns dias, escrevi meu nome no livro dele porengano.

    Estudando artistas descobri também a artista Grace Mi-celi que me serviu como referência principalmente para meus

    primeiros trabalhos na faculdade, e que de certa forma, sãocomo uma base para tudo.  Até pouco tempo antes de entrar no curso de Artes Vi-suais, eu não pensava muito em fotografia, até que no natalde 2011, eu ganhei uma Lomo Diana Mini da minha tia. Fiqueimaravilhada com a beleza daquela camerazinha e com as possi-bilidades que vinham pela frente. Comprei um filme no dia 26e o terminei muito rápido, só para ver como tinham ficado asfotos.

    A maioria saiu horrível, pois ainda não sabia usar direi-

    to.  Ganhar essa câmera me abriu para as possibilidades dafotografia, linguagem que antes não me interessava tanto. Nomanual da Diana dizia que Lomos são ímãs sociais. E realmentesão, pois bastava estar fotografando com ela para as pessoas fi-carem curiosas sobre como ela funcionava, se era de brinquedo,etc.

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      Essa camerazinha me acompanha sempre em viagense outras ocasiões. Já nem vejo tanta graça em fotografar comcâmeras digitais.  Mais para frente ganhei uma Zenit, uma câmera rus-sa, bem antiga do meu pai. Até hoje não revelei o filme queestá nela, mas está na minha lista de coisas pra fazer, juntocom visitar o espaço sideral.”  Para acompanhar a minha apresentação, levei, alémdos materiais educativos emprestados pelo professor Ronal-do, como os da Bienal de São Paulo (29ª, 30ª, e 31ª), da CasaDaros no Rio de Janeiro, do MAM São Paulo, da Bienal do Mer-

    cosul, entre outros objetos meus que fazem parte daquilo quefalei em minha autobiografia. Levei meus discos do Clube daEsquina, que mesmo que tenham me marcado desde cedo,ganhei o primeiro e comprei o segundo no ano passado. Leveios poucos CDs que tenho da banda Belle & Sebastian, da ban-da Fall Out Boy, minha câmera Diana Mini e os dois livros quemenciono na narrativa.  Segundo os professores Ronaldo Oliveria e CláudioLuiz Garcia1, entender a sua trajetória, suas referências, seusprimeiros mediadores ou contatos com a arte podem nos

    abrir para o entendimento do processo de aprendizagem.  Depois de uma pequena explicação sobre os objetos,propus que cada um, em um papel, escrevesse sobre o seuprimeiro mediador e/ou primeiro encontro com a arte. Fizessa atividade tanto com a turma de quarto ano do períodomatutino como com a do período noturno do curso de ArtesVisuais da Universidade Estadual de Londrina.

    1 Ronaldo Alexandre Oliveira e Cláudio Luiz Garcia são professoresda disciplina de Estágio Supervisionado III do curso de Artes Visuais da Uni- 

    versidade estadual de Londrina.

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    Estes são alguns dos depoimentos dados:

      “Poderia dizer que [meu primeiro mediador] foi a tele-visão, ou os filmes da Sessão da Tarde,, mas só percebi que es-ses filmes me colocavam em contato com esse universo quandoassisti na aula de artes “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”.Acredito que a professora queria enrolar a aula, mas foi aí queaprendi a ver o cinema como arte.  Depois, meu interesse em trabalhar com Tim Burton me

    fez chegar aqui [no curso de artes visuais]. Eu sempre dizia:‘Vou fazer artes. Quem sabe o Tim Burton não me contrata?Nem que seja para servir café’. Foi por isso que prestei vesti-bular, mas na verdade o que eu queria era ser atriz em um dosfilmes dele, ou em vários. Quem sabe eu possa ser o próximoJohnny Depp?”

    Suellen Estanislau (noturno) 

      “Um namorado me deu de presente um livro do pintor

    russo Marc Chagal e um calendário do Matisse. Lembro de terficado maravilhada com as pinturas.  Quando era criança me chamou bastante atenção o sur-gimento do grupo Secos e Molhados. Foi um escândalo na épocaporque a forma como dançavam e os corpos pintados levavamas pessoas a pensarem se eram homens ou mulheres. Na capado disco, as cabeças dos músicos estavam sobre bandejas numamesa.  Também lia muita HQ e livros infantis com lindas figu-ras.  E lembro a primeira vez em que eu fui ao cinema, comminhas irmãs. Fomos à matinê. Não me lembro do filme, melembro das balas compradas antes e de ter dormido durante asessão. Eu tinha seis anos.”

    Carina Paccola (noturno) 

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    “Corpo impossibilitado.O cuidado outro. Cuide de seu coração.Infância na casa dos avós. Amante da televisão.Passar o dia inteiro assistindo desenhos animados.Olhar atento, cuidado, vai cair da cama. Nem piscava osolhos.Canal Cultura, desenho daquele elefante azul, sabe aquelelá?Pequeno jardim

    Não coma esse trevo, meninaO fim do único espaço de terra de casaTome essa lousa e giz.Água, mangueira, sabão, vassoura.Fique aí desenhando, vou limpar a casa da vó.Giz azul, rosa, verde e amareloDesenha o vô, a flor, a casa, o sofá – apaga e desenha nova-menteMeu pai desenhando a vaca e a árvoreJardim de infância

    Formatura”

    Daniele Dias (matutino) 

    “Quando criança eu gostava não de desenhar, nem de brincarcom objetos. O que eu gostava era de brincar com histórias,criar teatrinhos, ler de tudo...Mais velho gostava bastante de ouvir rádio: era o que me-diava, antes da internet, o mundo externo (São Paulo, cidadegrande) e eu.Depois que o rádio ‘flopou’, foram a TV e a internet que metrouxeram imagens. Por último, foi a MTV que mediou entreinformações, imagens e eu.As aulas de artes, também muito brilhantes.O legal da geração Y é ter passado pelo vinil, pelo CD e pelocassete.”

    Fercho Marquéz (matutino) 

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      “A mediação com o mundo foi feita pelas viagens (so-zinho) que fiz. Visitei museus sozinho. Com mediadores teriaapreendido mais as coisas de espírito que só começam quandoa terra acaba. Levei muita terra para dentro dos museus.  A primeira exposição que visitei foi sobre a Bauhaus noMASP. Os mediadores foram alguns amigos e conhecidos deles,porque em meu meio familar e conterrâneo não havia nada deartes visuais, apenas cinema, poesia e teatro amador.”

    Cláudio Garcia (professor) 

      “Aqueles que fizeram parte do papel de mediadores naminha vida... Bom, durante boa parte de minha vida eu cresci noJapão, e, durante esses momentos, eu quase não tive interessepor artes, principalmente por não haver atividades artísticas eo foco da escola em que eu estudei estar centrado bem mais emoutras matérias e não em arte.  Mas houve momentos em que puxavam um pouco maisàs coisas que envolviam criatividade, apesar de eu sempre tertido dificuldades com processos criativos (até hoje isso aconte-ce, mas vamos chegar lá ainda).

      Pulando uma boa parte da minha vida até o terceiro anodo ensino médio. Numa conversa com o professor de matemáti-ca, sobre o porquê de ele ter estudado matemática. E foi porqueele tinha dificuldades com matemática. Aquilo ficou na minhamemória por algum motivo.  Sempre tive dificuldades em criar, improvisar. Aindalembro das atividades de Repente, das travadas tentando criarrimas e da vontade de sumir.Isso foi no Japão. Se foi uma experiência traumática? Não. Issofoi mais um toque mostrando meus pontos fracos.

      Eu sabia que eu poderia melhorar essa minha capacida-de de criar, apesar de ter dado uma maior importância a isso. Eusimplesmente fazia o que deveria ser feito na escola.

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      Os poucos momentos de criar algo foram os momen-tos em que mais tive dificuldade, e dentre esses poucos mo-mentos de criação, houve momentos em que o que eu criavasurpreendia a mim mesmo.”

    Henrique Nakama (matutino) 

      “Quando se trata de fazer recordação de minhas pri-meiras lembranças existe algo que me trava e me impede delembrar.  Acredito que minha primeira mediação consciente eque eu realmente me lembro foi aos 4 ou 5 anos de idade,minha irmã mais velha tentando me ensinar a ler e escreverenquanto ela brincava de professora.  Sempre fui muito solta e de fazer as coisas sozinhaquando criança, fazia minhas descobertas, tinha mundosimaginários, invadia casas abandonadas e criava minha pró-pria história, fazia uma automediação.  Artes, música, literatura vieram muito tarde para mi-nha vida. Meu padrasto tem um ótimo gosto musical e com-

    partilhou isso comigo. Ótimo para mim, eu gostava. Era NeyMatogrosso, Cássia Eller, Legião Urbana, entre outros.  Eu não era muito de desenhar, mas quando pediamtrabalhos de arte na escola eu me empenhava em fazer osmais bonitos estereótipos plásticos e todos amavam.  Mas o que me despertou para as artes foi a maneiracomo uma professora do segundo ano fazia mediação. Comofalava sobre artes e os trabalhos que ela propunha alimenta-ram meu desejo de seguir por esse caminho. Resumidamenteé isso.”

    Pâmella Rezende (matutino) 

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      “Aos sete anos meus pais trabalhavam período integral

    e minha mãe procurava cursos para que a gente pudesse se ocu-par. Fiz durante alguns meses pintura de pano de prato com mi-nhas irmãs e avós. Foi o primeiro contato com uma gama maiorde cores para além das seis guaches do colégio.  Ir para a costureira com o desenho do vestido para onatal ou para a vigília de páscoa era o primeiro contato comuma criação própria. Revistas de moda eram referência.  Quadros que não gostava: um de ponto-cruz de JesusCristo e outro de flores, de minha mãe.  Ir para São Paulo aos nove ou dez anos e visitar umaexposição sobre o barroco no pavilhão da Bienal.

    Na sexta série ir com minha sala e visitar o SESC Pom-peia. Os trabalhos de arte da sétima série (Bailarina do Degas/Colagem pop). Começar a fazer capoeira com 12 anos, entrar emcontato com um universo cultural totalmente distante. Ver mi-nha irmã mais velha reproduzindo desenhos, tingindo roupas.Meu irmão mais velho foi a pessoa mais importante para meuprocesso de construção de conhecimento.”

    Giovana Amaral (matutino) 

      “Tomo aqui a ideia de mediação enquanto episódio quenos liga a uma outra ‘coisa’, ‘situação’ que nos tira de um de-terminado lugar ou situação que nos encontramos antes. Sendoassim, sinto que as mediações que vivi ainda na infância foio contato com a natureza; não uma natureza exuberante, im-pactante, com vistas deslumbrantes, mas o silêncio, as árvoresbaixas e retorcidas que ressoavam em mim a partir do cerrado,lugar que nasci, vivi até certa idade e vejo que tenho em mimmuito daquilo: o silêncio, as vezes perturbador, do cerrado mi-neiro.

      Palavras sínteses: cerrado, terra, paisagem, árvores re-torcidas, estradas.”

    Ronaldo A. Oliveira (professor) 

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      “Não sei exatamente quem desenvolveu esse papel

    de mediador em minha vida. Acredito que tenha sido minhaprimeira professora do ‘prézinho’, quando ela propôs umaatividade com folha sulfite e tinta onde colocamos um poucodessa tinta no papel e o dobramos. Quando abri o meu, lem-bro com exatidão a forma que deu. Formou-se uma taça desorvete com uma bola. Foi feito com tinta vermelha.  A partir desse momento meu interesse por estas ati-vidades artísticas despertou. Foi como uma mágica que tinhaacontecido diante dos meus olhos.”

    Eloísa Silva (noturno) 

      “Gosto de desenhar desde muito pequeno, com me-nos de três anos.  Meus pais guardaram os registros, desde a maioriados desenhos que eu produzi como até uma foto, eu no qua-dro negro, num dos primeiros momentos.  Considero meus pais os meus primeiros mediadores,pois sempre consideraram o meu amor pelo desenho comoalgo natural, estimulando meu conhecimento com conversase disponibilidade de material. Aliás, toda família, tanto por

    parte de pai como por parte de mãe, sempre teve grande cari-nho e atenção pelo sobrinho desenhista.  Aos oito anos meu pai me mostrou alguns quadri-nhos que ele produziu amadoristicamente, quando era ado-lescente, aquilo foi um divisor de águas na minha percepçãoe gosto por tudo que iria produzir e buscar no futuro. Eu nãoqueria ser mais nada, apenas um desenhista de histórias emquadrinhos, um sonho que consegui começar a realizar ain-da bem jovem, quando consegui meu primeiro emprego, comcerteira assinada, para desenhar quadrinhos.”

    Gustavo Machado (noturno) 

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      Como nas narrativas do livro de Mirian Celeste, os me-diadores da turma são os pais, a televisão, os professores, obrasde arte, o gosto pelo desenho, a música etc. Tiveram mais casosde professores no período da noite

    Segundo o professor Ronaldo, essa proposição foi comoum pré laboratório de cada um.  Quando nos foi proposto escrever uma reflexão auto-biográfica, fiquei um pouco relutante, não sentia que era algonecessário. Foi escrevendo que comecei a perceber como os

    acontecimentos em nossas vidas estão mais interligados queimaginamos e que criação e pesquisa não se desvinculam denossa história.

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    The House Project (First House) - 1974 - Hreinn Fridfinnsson 

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    MEDIAÇÃO (OU UMA CASA ESTRANHA)

    O fato é que não há verdadeira educação sem arte nemverdadeira arte sem educação. (CAMNITZER, 2009, p. 21)

      A arte, por carregar os mais diversos aspectos dentro de si,torna uma exposição, ou um museu, espaços de aprendizagem.

      Mediação em arte é a ação realizada em instituições muse-ais com o objetivo gerar uma interação entre o fruidor e a obra dearte.  O mediador é um propositor, é alguém que se coloca nomesmo lugar do público. Entre ele e a obra de arte, mas ao mes-mo tempo, junto, e que, a partir de estratégias como a conversa,as perguntas, as indagações, as proposições em produção, coloca ovisitante em sintonia com o que o está exposto em um museu/expo-sição, gera familiaridade, mas também pode gerar estranhamento,questionamento, age de acordo com o conceito da obra.

    Não é necessariamente aquele que responde dúvidas e ex-plica uma obra de arte, é aquele que a faz ser apreciada, das maisdiferentes formas que os mais diferentes públicos podem “pedir”.

    O educador de museu precisa dialogar com os interes- ses de cada grupo e, se possível, de cada sujeito obser- vante. É o observador que deve escolher o que a anali- sar com a ajuda do mediador. (BARBOSA, 2008, p. 19)

      Ana Mae Barbosa, no livro Arte/Educação como MediaçãoCultural e Social, em que é organizadora, mostra um breve mape-amento de como a educação nos museus se tornou o que conhe-cemos e estudamos nos dias de hoje. 

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      Segundo a autora, (baseando-se em Nicholas Serota , di-

    retor da Tate Gallery1  e Tate Modern2 ) foi Charles Eastlake, aoser nomeado diretor da National Gallery3  de Londres em 1855,que conferiu o objetivo educacional aos museus como institui-ções públicas. Eastlake começou a dispor os quadros do acervode acordo com a ordem cronológica e respectivas escolas, contri-buindo para o tipo de ensino de História da Arte que se dava naépoca: a partir de datas, nascimento e morte do artista, caracte-rísticas de cada escola, etc.  E o modelo cronológico permaneceu, sofrendo mínimasmudanças, até, segundo a autora, a década de 1980.

      Levando em consideração a ideia de que o projeto cura-torial de uma exposição também é uma ferramenta de educação,Nicholas Serota, na inauguração da Tate Gallery, dispôs os tra-balhos de uma forma diferente, fazendo pequenas comparaçõesentre obras, colocando-as juntas, criando pequenos núcleos den-tro de uma só exposição, como, por exemplo, uma comparaçãoentre nus de Marlene Dumas, artista sul africana contemporâ-nea, e nus de Henri Matisse, artista francês modernista.

    1  Tate gallery é uma das quatro galerias do museu nacional de arte modernado Reino Unido sediado em Londres. Foi fundada originalmente com o nomede National Gallery of British Art.2 Tate Modern é uma das quatro galerias do museu nacional de arte modernado Reino Unido sediado em Londres 3  National gallery é um dos mais importantes museus da Europa, sediado emLondres 4 O termo “oficina” começou a ser usado a partir de 1983, depois do Festi- val de Inverno de Campos do Jordão, segundo Ana Mae Barbosa, o primeiro ausar esse termo.

    Os meios que Serota indica como contemporâneos para pendurar obras em museus correspondem à ma- 

    neira como se busca ensinar arte atualmente, enfati- zando a recepção pelo apreciador e não apenas a obrae seu produtor. (BARBOSA, 2008, p. 16)  No Brasil, durante o modernismo, começaram a nasceros ateliês livres e oficinas1  em museus como o MASP, em SãoPaulo, e o MAM Rio no Rio de Janeiro. No MASP foi o Clube Infan-til, criado por Suzana Rodrigues, e no MAM Rio, os Domingos deCriação com Ivan Serpa.

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      Mais tarde, a Metodologia Triangular, ideia desenvolvidapor Ana Mae Barbosa que confere ao ensino de artes a interaçãoentre o fazer artístico, a história da arte e a análise de trabalhosde arte ao vivo, foi uma das principais responsáveis pela maiorinteração entre escolas e museus. Em 1996, a metodologia entroupara a Lei de Diretrizes e Bases1  fazendo com que educadoresbuscassem mais os museus para a complementação de suas au-las.

    1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96) é a legislação que regulamenta osistema educacional (público ou privado) do Brasil (da educação básica ao ensino superior). (FON- 

    TE: Infoescola.com)

    Museus são como laboratórios de conhecimento dearte, tão fundamentais para a aprendizagem da artecomo os laboratórios de química o são para a aprendi- 

    zagem da Química. (BARBOSA, 2008, p. 13)  A partir de então, na década de 1990, vários museus bra-sileiros começaram a abrir setores educativos. O MASP, que játinha um setor, o recriou.  Luiz Camnitzer, curador pedagógico da 6ª Bienal do Mer-cosul aponta para um fato importante que justifica a necessidadede um projeto pedagógico em uma exposição/museu:

    Uma exposição é montada com base em um código deleitura bastante complexo, um código que concorre

    com outros códigos, e esse código de exposições temde ser aprendido. O conhecimento desse código é, emrealidade, o primeiro passo verdadeiro de acesso àarte. O que dá a consciência sobre a arte. Dar por certoque esse código é óbvio e compartilhado é um ato clas- sista e arrogante. (CAMNITZER, 2009, p. 19)

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    GRACE MICELI

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    “Butterflies” - Grace Miceli Fotocolagem

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    “Sem Título “ Grace Miceli Fotocolagem

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    “Gwen” - Grace Miceli Pintura

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    “Sem Título” - Grace Miceli Fotocolagem

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    “Sem Título” - Grace Miceli Pintura

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      Cada setor educativo tem uma maneira diferente de re-alizar uma mediação e a articular com outras atividades, comouma oficina de criação, um jogo, uma brincadeira. Toda açãoeducativa, que tenha o objetivo de mediar entre obra de arte epúblico, precisa, como base, entender o visitante como parte es-sencial do processo, considerando suas impressões e suas expe-

    riências.  Será dado destaque ao processo da Divisão de ArtesPlásticas da UEL, espaço expositivo vinculado ao curso de ArtesVisuais da Universidade Estadual de Londrina, localizado na re-gião central da cidade, onde pude, por um ano, trabalhar comoestagiária mediadora. Lá é muito forte a relação estabelecida coma educação. Todo ano são abertas duas vagas para estagiários,que trabalham organizando eventos, montando e desmontandoexposições, fazendo contato com artistas e, principalmente, tra-balhando com mediação.

      A cada um mês e meio, aproximadamente, é montadauma nova exposição. Anualmente há o edital Arte Londrina (que já está em sua quarta edição) e a exposição de formandos em ar-tes visuais, o que torna o conteúdo das exposições sempre muitofrescos.

    DO TEMPO NA CASA BRANCA 

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      Os artistas que expõem na DAP1 são em grande maioria jovens, muitos que ainda estudam e isso, inclusive é uma ferra-menta interessante em mediação, pois é perceptível que muitosvisitantes não se sentem tão próximos do mundo da arte con-temporânea, e contar que o artista tem tal idade e que esteveali na semana passada é algo que já aproxima o público. Teralguém da sua idade ou pouco mais velho que você, ou até um

    professor seu, expondo um trabalho ali naquele espaço pode,inclusive, abrir a mente das pessoas para essa possibilidade emsuas vidas.  Em uma mediação com crianças de cerca de sete ou oitoanos, uma menina disse que tinha visto o artista andando pelaDAP, o que foi estranho, pois nenhum dos artistas havia estadolá naquele dia, até que então ela contou que ele usava terno etinha os cabelos brancos. Era o marido da Maristela, técnica ad-ministrativa da DAP.  A partir daí tive uma certa ideia da imagem que parte

    do público deve ter do artista, uma pessoa mais velha (peloscabelos brancos) e possivelmente “bem sucedida”, ou séria (pelaideia que o terno passa).  A mediação tem a capacidade de falar sobre obras dearte de forma contextualizada. Não apenas um contexto histó-rico, mas em sintonia com as referências de cada um, mediaçãoé permitir que essa relação aconteça. É natural que cada pes-soa tenha a sua própria base para compreender ou apreciar umaobra de arte. Uma pintura, ao mesmo tempo, pode remeter àparede da sala de estar para um, e o muro do batalhão de polícia

    para outro. Depois de uma visita mediada ninguém sai com asmesmas impressões sobre o que viu.

    1 DAP é a sigla usada para Divisão de Artes Plásticas da UEL 

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      O momento de mediação pede uma certa leveza, flexibi-lidade e atenção, afinal o seu ciclo só começa a se fechar quandose recebe as impressões do público. Não há um roteiro muito rí-gido, apesar de muitas vezes haverem outras responsabilidadesatreladas ao trabalho do mediador.

      A mediação na Divisão de Artes Plásticas se dá da se-guinte forma: Depois de estudados os trabalhos expostos e oestudo curatorial, são planejadas oficinas para cada trabalho, oupelo menos para a maioria deles.  Ao chegarem os visitantes, os mediadores se apresen-tam, advertem sobre os riscos de algumas partes do espaço ex-positivo (a escada que pode ser perigosa no caso das crianças,e a vitrine frontal. A DAP já foi loja e casa de shows antes de

    virar ela mesma, e que, portanto, não foi planejada para se ficarperto, escorar, encostar nas suas grandes vitrines) e, por fim, li-beram os visitantes para explorarem a exposição. Depois de umtempo o público é convidado a se sentar em círculo, na maioriadas vezes perto do trabalho sobre o qual será baseada a oficina,para uma conversa. É aí que o foco é direcionado para o trabalhoescolhido e a impressão dos visitantes é solicitada.  Como uma conversa mesmo, as opiniões, as impressõesaparecem com algumas perguntas iniciais, como “Qual trabalhomais chamou a atenção de vocês?” “E por que?” “Você viu algo

    de estranho ali naquela pintura?”. A partir daí, na maioria dasvezes, a conversa começa a fluir, e falar sobre um trabalho dearte se mescla a episódios das vidas das pessoas, aos mais di-versos tipos de opiniões, piadas...

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    Uma vez que os espaços culturais como os museuscostumam ser também espaços turísticos, o papel domediador se confunde frequentemente com o de guiaturístico – um ofício essencialmente de prestação deserviço que trata o espectador como cliente e nãocomo interlocutor; fornecendo dados e, por momen- tos, divertindo e animando. (HELGUERA, 2011, p. 65)

      Gabriela Bon, em sua pesquisa sobre o mediador comoprofissional em instituições museológicas de Porto Alegre, RioGrande do Sul, ao entrevistar mediadores do Instituto Iberê Ca-margo, constatou que muitas vezes o mediador precisa se mes-clar a funções de guia e supervisor. O trecho a seguir é de umaentrevista com um dos mediadores:

    É complicado isso de tu ficares prendendo eles otempo inteiro. (...) É muito chato também tu ficares

     prendendo eles e ficar dando um roteiro o tempo in- teiro. Sem que eles possam... tipo... nunca vim a um

    museu, nunca vim nesse espaço e eu tenho que ficarseguindo esta pessoa. Eu não tenho liberdade para iraté ali dar uma olhadinha. Simplesmente não pode,não pode, não pode e deu. Não pode tocar porqueteu dedo tem gordura, vai oxidar a tinta a óleo. (...)(BON, 2012, p. 47)

      Por mais que fosse interessante liberar os visitantespara fazerem coisas que não se deve, como tocar em uma pintu-ra, a instituição tem responsabilidades para com seu acervo, enós para com o patrimônio público. A mediação se distingue de

    atividades de supervisão pura, mas ao mesmo tempo não podese desvincular das responsabilidades.  Na DAP, quase sempre era necessário colocar restrições,principalmente no caso dos adolescentes. Acontecia muito daspessoas já chegarem lá tocando nas obras.

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      Já aconteceu até de várias vezes pisarem e chutaremuma obra sem querer, como foi com os trabalho de Iuri Dias1, naexposição “Deixa que minha mão errante adentre”.  Esses trabalhos eram grandes dobraduras em tecido dealgodão cru, um avião e um barquinho, ambos bem grandes, po-rém planos e com cores bem próximas à cor do piso da DAP. Atéo final dessa exposição, uma das que mais recebeu grupos devisitantes, foi preciso fazer avisos antes mesmo de se iniciar avisita, segurando os grupos logo na entrada, e mesmo assim ain-da aconteciam acidentes, pois não só os visitantes, mas tambémos guardas que trabalhavam lá, entregadores de água, e outraspessoas que precisavam entregar encomendas, pareciam fazerquestão de pisar em cima do trabalho, que precisou ser um dialavado e redobrado depois por ter ficado muito sujo. O artistateve conhecimento de tudo isso, e só levamos os trabalhos paraa lavanderia porque foi permitido.  A mediação pode ser tão livre que acabamos pensando

    que as regras inevitáveis das instituições museológicas vão con-tra os próprios ideais de mediação. Mas para a preservação dostrabalhos e até dos próprios visitantes (no caso de pedir para seter cuidado com a escada e a vitrine, por exemplo) é necessárioexercer o papel de supervisor, de monitor, algumas vezes.  O mediador é um propositor.  Aline Luz, formada em Artes Visuais pela UEL e que tam-bém já foi mediadora na Divisão de Artes Plásticas, em seu tra-balho conclusão de curso, investigou a relação entre mediação eprodução artística, identificando o mediador como um proposi-

    tor. 1 Iuri Dias é artista visual, formado no curso de Artes Visuais da UEL.Foi selecionado para o edital Arte Londrina 2, participando da exposição “Deixaque minha mão errante adentre” em 2014.

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      E essa é a sensação que se tem ao realizar uma media-ção: O trabalho exposto possui sua proposição, feita pelo seuprodutor e o mediador é quem se apropria disso (ou de dados,ou de outros trabalhos do artista, ou de questões formais) e criaa sua própria.  O mediador é quem confirma ao público a idéia de que

    a arte não tem uma necessidade única de ser entendida e de queela não tem um sentido ou significado fixo.  Entendendo o mediador como um propositor, na DAPhaviam, na maioria das vezes, duas etapas de uma proposição,primeiro uma de pensamento, de questionamento e de fruiçãoda obra, depois a de criação. As mediações tinham o objetivo decontar com um momento de criação, que chamamos de oficinas.  Eu e o Fercho1 sempre procurávamos conciliar funçõescomo de registro, monitoramento e observação com a participa-ção. É interessante que o mediador, assim como o professor dearte, participe da criação junto com os estudantes. Isso dá mais

    segurança a eles na hora de se expressar.  A seguir serão apresentados alguns relatos de algumasdas mediações e oficinas relaizadas durante meu período comomediadora na DAP, algumas das mais interessantes. As imagenssão de registro das ações e são de autoria tanto minha, como doFercho ou dos outros mediadores do PIBID2.

    1 Fercho Marquez é meu amigo e que também foi meu colega de está- gio na DAP. Planejávamos tudo juntos e trabalhávamos de forma muito unida.O Fercho estava sempre disposto para o que surgisse durante as mediações.

    2 PIBID é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência,programa de extensão da CAPES. Alguns bolsistas do PIBID Artes Visuais traba- lhavam também na DAP com mediações, uma vez por semana,

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      Chico Santos é um artista londrinense que trabalha comintervenções no espaço urbano, trabalhando também em flo-restas e áreas rurais. Seu trabalho, que esteve exposto na DAP

    durante a exposição e festival Cidade Mundo Plástico1  consisteem diversas construções diminutas, de varias formatos, feitas decerâmica e materiais sintéticos. Chico mostra, em suas interven-ções, como acontece o crescimento das nossas cidades, mostrade forma pequena como nós somos espaçosos e precisamos sem-pre nos expandir.  Em cima dessa ideia, pensamos para a oficina, que rea-lizaríamos com estudantes do primeiro ensino fundamental doColégio ênfase, uma invasão realizada pelos próprios estudan-tes, a partir do trabalho “Domus Ambulacris” exposto na DAP.

    Mas que material usar? Papel? Depois de um tempo pensando,decidimos pela massinha, mas como não era um material dis-ponível em nosso acervo, resolvemos nós mesmos fazer, comfarinha, sal, água e tinta guache.  Depois de apresentarmos o trabalho do Chico Santos,tanto o exposto a DAP, como projeções de vídeos e outros traba-lhos do artista, partimos para a praça La Salle, bem atrás de ondeficávamos. Lá aconteceria nossa invasão.

    1 Cidade Mundo Plástico foi um festival de artes visuais realizado emLondrina no ano de 2014, com oficinas,workshops, falas, mesas redondas e

    exposições na Divisão de Artes Plásticas e Grafatório, acerca do tema da artena cidade. Alguns dos artistas que participaram expondo, dando workshopse falas foram: Grupo Poro, Guilherme Maranhão, Flávia Mielnik, Elke Coelho,Tânia Sugeta, Chico Santos, entre outros.

    ESPAÇO PÚBLICO E MASSINHA 

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      Árvores, bancos de concreto e grama. Como seria umapequena invasão de casinhas por ali? As crianças aproveitaramao máximo o espaço da praça, colocando casinhas em buracosde árvores, pedras, galhos. Não hesitaram em invadir os míni-mos espaços encontrados, assim como faz o artista.  Podemos deixar as casinhas aqui? Claro, respondíamos.Essa é a intenção da intervenção em espaço público. Uma das

    meninas levou parte de massinha para invadir a casa da avó.  Quando há uma referência, é muito mais fácil trabalharcom certos materiais, de certas formas. Conversar sobre comoo artista trabalha e de como funciona nossas macro invasões,onde shoppings invadem fazendas ou florestas, onde prédiosinvadem terrenos baldios, abre a mente dos estudantes para es-sas possibilidades.

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    “Domus Ambulacris” de Chico Santos 

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     Uma das mediações mais interessantes de minha traje-

    tória na DaP.  A oficina propunha uma nova possibilidade para o usoda cor a partir de uma experiência sugerida pelo contato com otrabalho de Natália Tardin.Em seu trabalho de conclusão do curso de Artes Visuais, do qualo trabalho exposto na DaP faz parte, a artista apresenta uma re-ceita para uma cor “sem nome”, usando morangos e leite.  Nesta oficina, as crianças escolheram dois entre os trêssabores de sucos que servimos (uva, pêssego e goiaba), bebe-ram, e a proposta era imaginar a cor que se formaria dentro do

    estômago de cada um. O próximo passo era usar a cor criada“dentro” e pintar algum objeto, amigo, animal de estimação oulugar, referências que também aparecem no trabalho da artistae que dizem respeito ao universo de afetos de cada um.  Disponibilizamos tintas guache e giz de cera de corespróximas às dos sucos servidos. Diluímos as cores com muitaágua para que fosse facilitada a mistura e houvesse transparên-cia e semelhança de espessura entre a tinta e os sucos. 

     AQUARELA NO ESTÔMAGO

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      Um dos estudantes, o Arthur, um grande fã dofilme De Volta para o Futuro1, afirmou ter gostado dos

    trabalhos que viu expostos e disse que também produ-zia arte ao desenhar a máquina do tempo do filme (obje-to que também escolheu para pintar durante a oficina).Coincidentemente, eu estava com uma camiseta do fil-me, pois também sou fã.  Foi preciso conversar com algumas criançaspara que lembrassem de algo que pudessem desenhar, eassim feito, já começavam a pintar.  Depois da hora do lanche, para concluir a oficina,conversamos com eles sobre como tudo tem cor, desde

    o bolo de cenoura, até a nossa pele, nosso cabelo, as pa-redes… Misturas de cores são feitas a todo o momentoe em cada pedaço de tudo, o que a artista Natalia Tardinfaz é gastar longamente o tempo, prestando atenção atéque a maneira de observar torne tudo um pouco estra-nho e cheio de novos segredos.

    1 De Volta Para o Futuro (ou Back to the Future) é um filmenorte-americano de 1985 de ficção científica cômica. Foi dirigidopor Robert Zemeckis.

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    Estudante explorando o trabalho de Natália Tardin 

    Arthur com sua máquina do tempo pintada com as cores que ficaram no estômago 

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      A mediação é uma troca entre o artista, o mediador eo espectador. Nenhum dos três deve ficar de fora. É como sefosse um jogo onde trocamos opiniões, experiências, palpi-tes, decepções e conceitos.  Essa ação levou a palavra “troca” a diversas possibi-lidades, o que foi muito interessante.  A troca também é a base da ação realizada pelo cura-dor Paulo Miyada (que também já havia trabalhado comocurador no segundo edital Arte Londrina na DAP) chamada“Potlatch”.

    Nessa ação, durante uma semana, as pessoas puderam ir àDAP para ter uma conversa com o artista e em troca disso, elepedia que todos o levasem um objeto, fosse ele qual fosse,mas sem devolução.  Ao final foi feita uma curta exposição com todos osobjetos deixados. Foram deixadas as mais diversas coisas: fo-tografias, desenhos, livros, brinquedos, intens decorativos,entre outros.

    TROCAS

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      Na mediação com essa turma do C. E. Basílio de Araújo,de Londrina, demos maior ênfase ao Potlatch. Foi divertido con-

    versar com eles sobre que tipo de objetos eles deixariam para oPaulo Miyada se tivessem tido oportunidade de participar, poisao mesmo tempo em que o objeto deveria significar algo, nãopoderia fazer muita falta na vida do doador, como seria o casode um ursinho de pelúcia, como argumentou uma das meninas.  Para a oficinas, propomos também uma troca entre eles.Disponibilizamos grandes papéis craft, tinta guache e giz decera.

    A ideia era de desenhar um objeto de afeto de cada um,mas apenas a silhueta, sem cor e nem detalhes, depois trocarcom um colega e contar a história desse objeto, de onde veio,quem o presenteou, pelo quê já passou, para que então o outroterminasse o desenho a partir de suas próprias conclusões.  Apareceram os mais diversos objetos: um sapato, al-guns ursos de pelúcia, um terço, brinquedos, entre outros.  Participei dessa oficina e o meu objeto foi um Mickeyde pelúcia que ganhei de meu pai quando pequena. Troquei comum estudante que desenhou sua gata, que tinha tido muitos fi-lhotes.

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    FOTOGRAFIA EM MOVIMENTO

      Para essa oficina, realizada com estudantes do ensinomédio da Escola Estadual Antônio Racanello, da cidade de Ara-pongas. tomamos como base o trabalho “Pluracidades” do artistaGuilherme Maranhão, participante da exposição Cidade MundoPlástico1 

    Composto de uma série de fotografias realizadas comajuda de recursos analógicos, as fotos captam a vida nas cidades,seu dinamismo, pessoas em seus afazeres diários que captadospelos mecanismos desenvolvidos pelo artista parecem esticados,derretidas e são repetidas criando um ritmo específico.  O objetivo da oficina era de que os estudantes obtives-

    sem imagens parecidas com seus próprios celulares, movimen-tando-os no momento da captação. Fomos até a praça que ficaem frente à DAP, para que os resultados pudessem ser mais di-versos.  Os estudantes, cada um com seu celular, ao tirar as fo-tos, movimentavam os braços, tremiam as mãos, ou então pula-vam e giravam para conseguir o efeito desejado. Pela tecnologiade estabilização de imagens, presente na maioria dos celularese câmeras, alguns tiveram dificuldades para conseguir uma ima-gem derretida pelo movimento.

    1 Cidade Mundo Plástico foi um festival de artes visuais realizado emLondrina no ano de 2014, com oficinas,workshops, falas, mesas redondas e ex- posições na Divisão de Artes Plásticas e Grafatório, acerca do tema da arte nacidade. Alguns dos artistas que participaram expondo, dando workshops e falasforam: Grupo Poro, Guilherme Maranhão, Flávia Mielnik, Elke Coelho, Tânia

    Sugeta, Chico Santos, entre outros. 

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      Essa mediação foi uma das mais enérgicas do meu pe-ríodo como mediadora. Foi com estudantes do ensino funda-

    mental da escola Aprendiz do Saber. Foi num dia frio e era umaturma muito numerosa e ativa.  A professora de artes visuais deles, a Talita Xavier, jáfoi mediadora da DAP e os levou para visitar a exposição “Dei-xa que minha mão errante adentre”.  Para essa oficina, tomamos como base os trabalhos ex-postos de Iuri Dias, o “Balão inflável”, “Aviãozinho de papel” e‘Barquinho”, trabalhos pelos quais o artista fala sobre os brin-quedos na fase adulta, de como ganham um novo significadoquando já não brincamos tanto como quando crianças.

      Propomos que os estudantes se transformassem emmarinheiros, e que em conjunto, construíssem um barquinhogigante, como fez o artista Iuri Dias, usando os materiais quetínhamos disponíveis na DAP. Primeiro todos nós confeccio-namos um chapéu de marinheiro com jornais antigos, que tí-nhamos guardados, e depois os pintamos, nos tornamos umatripulação muito alegre e colorida.  O segundo passo era de construírmos um barco, ecomo uma tripulação deve agir em coletivo, dividimos a turmaem três grupos, um para a carcaça do barco, outro para a con-fecção das bandeiras e o outro para a confecção das chaminés,e esses grupos se dividiram entre si, uns pintando, outros cor-tando, outros colando etc.

    BARQUINHO/BARCÃO

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      Esta mediação foi feita com uma turma de ensino médiodo Colégio Pontual.  Conversamos com eles sobre arte contemporânea: O queé? O que separa um objeto de arte contemporânea de um objetocomum, muitas vezes praticamente igual?

    Como trabalha um artista? Mostramos que muitas vezeso que faz algo ser arte contemporânea é a atenção especial dadaao objeto ou à ação, é o discurso gerado em cima ou pelo obje-to, é a relação com o espectador. Conversamos também sobre ofato de que a arte já não precisa mais de rótulos como “pintura”,“escultura”, “desenho”, pois os trabalhos muitas vezes transitamentre vários meios.  Para a oficina, tomamos como base o trabalho de HugoCurti “Seres Abissais Sobrevivem”, uma série de gravuras quecontam a história de um ser (real ou mitológico?) que atravessoueras e que vive no mar. Exploramos a ideia de que é possívelinventarmos histórias, personagens, criaturas, a ponto de esta-belecermos detalhes mínimos, mesclarmos a fatos históricos ecientíficos, realizarmos estudos, etc.

    CIENTIFICAMENTE IMAGINÁRIO

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    Parte da série de gravuras “Seres Abissais Sobrevivem” de Hugo Curti, exposta na DAP 

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      Propomos então que eles, em uma folhade papel kraft, com tinta guache, canetinhas e gizde cera, inventassem um acontecimento, um ser,um lugar, um estudo.  No final, todos apresentaram suas cria-

    ções para a turma. Surgiram um Dragão de Gelo,um ser chamado Pitmoniamos, um novo planetaque se encontra a 1232000 km da terra, um or-nitorrinco com orelhas de coelho, uma fada, umgato de duas cabeças, Shake de Pombo, chuva co-lorida que alegra quem está triste, entre muitasoutras coisas

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     AULA NORMAL x MEDIAÇÃO

      As duas seguintes mediações a serem abordadas aqui foramcom duas turmas do oitavo ano do ensino fundamental do Colégio

    Estadual José de Anchieta, de Londrina. Turmas com as quais traba-lhei em meu estágio obrigatório.  Esses dois casos foram importantes para eu poder ter umanoção da diferença de vários fatores dentro de sala de aula e em umespaço novo, participando de uma mediação.  Não foi fácil trabalhar com essas turmas no estágio, pois odesinteresse deles, além de muito perceptível, praticamente boico-tava as aulas que eu preparava. Não de propósito, mas por seremmuito dispersos, conversarem muito alto e não prestarem atençãoem mim, eu passava uma boa parte das aulas tentando chamar aten-

    ção e esperando a bagunça diminuir um pouco. Chegou a ser frus-trante trabalhar nesse estágio, me sentia muito mal antes de chegarna escola.

    Com o tempo fui ganhando um pouco da atenção deles, masainda assim continuava difícil.  Nas aulas pude perceber que agindo como em uma media-ção na DAP, era mais fácil envolvê-los. Eu costumava me digigirsempre a alguém, pergunt pedia opiniões, assim como em uma me-diação.  O que pude perceber, trabalhando tanto na DAP como noestágio ao mesmo tempo, não foi apenas a ideia de que é mais fácilconseguir a atenção dos estudantes agindo como em uma mediação,mas também que o espaço e as situações influenciam muito no inte-resse deles e na relação professor/estudante.  Para minhas últimas aulas, combinei de levá-los à DAP,Como a escola fica a poucos quarteirões de lá, foi mais fácil, poisnão foi necessário reservar um ônibus.  Estar em um lugar novo e fazendo uma atividade nova mu-dou a relação deles com o conteúdo preparado. Foi quando pude tercerteza, na prática, que visitar centros culturais e museus é essen-cial para o ensino de arte.

      Ao contrário do que pude ver na escola, os estudantes naDAP se mostraram muito mais abertos e interessados. Na hora dacriação, ou oficina (como chamamos lá), percebi um empenho muitomaior para realizar os trabalhos.  Foi a primeira vez da maioria na DaP, e achamos que a di-versidade de trabalhos chamou muito a atenção deles. Todos explo-raram a exposição em sua totalidade e percebemos que eles ficarammuito atentos a detalhes e aos nomes dos trabalhos.

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    CONSTRUÇÕES E AFETOS

      Nesta mediação com a segunda turma do Colégio EstadualJosé de Anchieta, demos destaque ao trabalho de Leto William “Cor-po Dilatado”, onde o artista estabelece relações afetivas e humanasentre prédios e construções, como se estes pudessem pensar, so-nhar, se apaixonar.

    Discutimos também sobre a ideia das instalações mentais,sobre as quais o artista fala: imaginem só se no pátio da escola fossecolocado um toboágua com piscina! O toboágua não apareceu magi-camente na escola, mas todos conseguiram imaginar essa situação.  A partir disso, partimos para a oficina, que se baseou notrabalho de Leto William: Observando o espaço da DAP, e escolhendo

    um pedaço específico, eles deveriam criar intervenções, estabelecerrelações nesse espaço, criar uma instalação mental e passar para opapel. Os estudantes, sem precisar que fossem encorajados, se es-palharam pelo espaço expositivo, escolheram seus espaços e ficaramdesenhando, se deitaram no chão, sentaram perto da vitrine, etc,como se estivessem em seus próprios quartos.  Os desenhos que apareceram criaram os mais diversos tiposde relações entre objetos e construções. Alguns desenharam cons-truções vizinhas à DAP, outros desenharam objetos da área externa,plantas e até obras que estavam expostas.

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    Série “Corpo Dilatado” de Leto William

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    HREINN FRIDFINNSSON

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    Hreinn Fridfinnsson“Attending”

    Fotografia/Performance1973

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    Hreinn Fridfinnsson“Second House” Instalação/Site Specific 2008 

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    Hreinn Fridfinnsson“Third House” 

    Site Specific 2011

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    Hreinn Fridfinnsson“Drawing a Tiger” 

    Fotografia/Performance1971

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     A NARRATIVIDADE EM MEDIAÇÃO  Para analisar a questão da narratividade em mediação, vouusar como base um texto publicado no Caderno de Mediadores da 8ªBienal do Mercosul.  Pablo Helguera, curador pedagógico da 8ª Bienal do Mer-cosul, conta em seu texto “O peso do conto: A narratividade comoferramenta de mediação” como se dava a relação entre obra-públi-co-guia no Palácio Nacional da Cidade do México onde há um grupode murais de Diego Rivera expostos.  Lá, antes de oficializarem essa função, havia um grupo de

    guias que, logo na entrada, ofereciam seus serviços aos visitantes.  Helguera conta que os murais eram lidos por eles como umahistória em quadrinhos, que os dados oferecidos variavam de guiapra guia e que eram identificados personagens e acontecimentosque não tinha nada a ver com a pintura de Rivera e nem mesmo coma história documentada no México.  Segundo o autor, esse tipo de apresentação não tem nadade pedagógico, afinal a história era imposta de forma autoritária edefinitiva pelos guias.

    Desde o século XVIII, a pedagogia vem reconhecendo a impor- tância da experiência pessoal como motor principal para aaprendizagem, assim como a necessidade de ativar o estudan- te para que ele chegue a assimilar o conhecimento. Entretanto,continua predominando a tendência, tanto em museus quantoem sítios arqueológicos e turísticos, em todo o mundo, de pro- porcionar ao público uma narrativa, uma história ilustrada.(HELGUERA, 2011, p. 65)

      Como usar a narratividade como aliada da mediação?  Segundo Helguera, há uma ansiedade que aparece quando

    o espectador não consegue encontrar relações que remetam a umanarrativa em uma obra de arte, e que essa ansiedade é contagiosae acaba fazendo com que o mediador recorra à narratividade parafazer com que o público se familiarize mais fácilmente.  O problema em usar a narrativa de maneira inadequada éreduzir uma obra a uma série de anedotas, curiosidades ou dadosque pouco ou nada têm a ver com sua natureza, além de, assim,oferecer um conteúdo determinista.

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      O autor cita o exemplo do artista Chuck Close que so-freu um acidente em 1988 que o deixou paralítico, e que em visi-tas guiadas sobre seu trabalho sempre é retomado esse aconte-cimento da vida do artista, mesmo que isso não tenha a ver coma sua trajetória posterior em produção.  Dados sobre o artista, dados históricos, dados curricu-lares da obra, entre outros podem aparecer durante uma visitamediada, mas é preciso resistir a certas perguntas que aconte-cem, como “Qual foi a intenção do artista?” ou “O que essa obrasignifica?” e aos excessos, até para não tornar a visita cansativa.

    O mediador deve planejar bem os dados que são rele-

    vantes à obra e não dizer absolutamente tudo que sabe sobreela.  Helguera cita o exemplo do coletivo Irwin que que criouuma embaixada de um país imaginário que disponibilizava pas-saportes para quem os solicitava. Nesse caso, seria relevantecontar que na Nigéria as pessoas obtiveram esses passaportespara migração, pois foi uma consequência que a ação teve.  Retomei a ideia de narratividade recentemente visitan-do a exposição Comciência, da artista autraliana Patricia Piccini-ni, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo.

      As obras eram acompanhadas por pequenos e discretostextos nas paredes que em parte explicavam a obra e em partefaziam as vezes de uma mediação, nos instigando sobre as ques-tões levantadas pela artista e deixando algumas perguntas no ar.  As obras eram acompanhadas por pequenos e discretostextos nas paredes que em parte explicavam a obra e em partefaziam as vezes de uma mediação, nos instigando sobre as ques-tões levantadas pela artista e deixando algumas perguntas noar. Exposições como essa, ou de artistas muito famosos, se tor-nam populares (assim como a de outro artista hiper realista, Ron

    Mueck, que teve o trabalho trazido ao Brasil no final de 2014,começo de 2015, pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, ondefilas de mais de três horas eram facilmente formadas), sendoassim, divulgadas na internet e atraindo um público numeroso.

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      Um dos textos que explicavam essas obras foi finaliza-do com uma frase mais ou menos assim: “Esses trabalhos refle-tem um lado masculino da obra da artista”.Além de sexista, essa afirmação não era necessária. Lado mas-

    culino da obra porque trata de máquinas e carros? Em que foibaseada essa informação? É a mesma questão dos guias de Hel-guera, foi determinada como absoluta uma informação baseadano ponto de vista de alguém.  A medida da narratividade está na quantidade de dadosde uma obra ou artista. Ao mesmo tempo que dados sobre a vidado artista podem ser desnecessários, alguns, mesmo parecendoalheios ao trabalho, podem sim ser aliados na mediação.  Na exposição “O espaço Sonha o Sujeito” da DAP, foiexposto o trabalho “Seres abissais sobrevivem” do artista Hugo

    Curti. Nesse trabalho o artista conta uma história sobre um sermarinho que permaneceu intacto às mudanças evolutivas demilhões de anos, o Celacanto. Era uma série de gravuras quelembram estudos, que demonstram a localização onde o animalfoi encontrado, a comparação de seu tamanho com o tamanhode um homem, o desenho de sua mandíbula. Nesse trabalho oartista transita entre o real e o imaginário, entre o provado e onão provado.  Hugo Curti é artista e já trabalhou como geólogo. Essefato estava sempre presente nas mediações realizadas. A apre-sentação do trabalho passaria facilmente sem esse dado, apesarde eu ter achado importante ressaltar isso, e a leitura do textode Helguera me fez ficar em dúvida sobre se foi necessário citaresse dado ou não.

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    OUVINDO O PÚBLICO 

    Realizar uma mediação é se colocar no mesmo lugar que opúblico e colocar a obra de arte nesse mesmo patamar, porém semtirar o foco dela. Talvez seja nesse sentido a crítica de Helguera aosdados abordados durante uma visita.  Considerar importante a impressão do público é dar podera ele, e portanto, deve haver um certo cuidado ao dar voz a alguém.Principalmente em grupos de crianças, há sempre alguém mais desi-nibido, que sempre responde e dá opiniões. É importante direcionara conversa a todos os visitantes, ouvir a pessoa que fala mais, mastambém chamar aquelas mais retraídas para participarem, fazendoperguntas, ou então as chamando para dar suas opiniões, contarsuas vivências.

      Dizer que a obra de arte deve estar no mesmo patamar domediador e do público, porém sem que o foco saia dela, significaque as pessoas devem se sentir a vontade para dar suas opiniõessobre ela, inclusive criticá-la, sem medo de que o mediador o corrijaou o reprima. A obra pode gerar assuntos paralelos, mas ela deveser o principal. A vivência do público é importante para que ela sejapercebida como algo póximo de nós, mas o objetivo da mediaçãoainda é falar sobre ela.

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    O ARTISTA COMO ANFITRIÃO

      A Divisão de Artes Plásticas, por ser um espaço vin-culado à Universidade Estadual de Londrina e por sempreter exposições e editais acontecendo, sempre tem artistas deLondrina e/ou que são estudantes ou formados no curso deArtes Visuais da UEL expondo. Há um costume também deartistas de outras cidades comparecerem à abertura ou atémesmo para a montagem da exposição.

    Houve vezes em que o artista esteve presente, e asinterações com a mediação e o público se deram de algumasformas diferentes.

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     A ARTISTA ESTÁ LÁ FORA 

      Durante a exposição “Quando vier, por favor, me avise”,onde tinham dois murais da artista Thaís Arcangelo expostos, a

    artista também realizava outro trabalho a poucos quarteirões daDaP, um muro alto e extenso numa área de lazer de uma compa-nhia de água de Londrina, na Rua Canudos, 395, região centralde Londrina.

    Três mediações foram agendadas já com o objetivo dedar ênfase sobre a pintura mural para os estudantes, duas delasfeitas pela Nicole Venturini, que já trabalhou como mediadorana DAP. Onde ela estava então lecionando, na Escola MunicipalNorman Prochet, ela já planejava pintar os muros da escola comos estudantes.

      Depois de eles visitarem a exposição, levamos as tur-mas até o mural que a artista estava pintando. A interação foiótima, alguns iam até a artista para conversar, outros tiravamfotos em frente ao mural. A Nicole aproveitou para falar sobre apichação com os alunos, (a rua onde a artista estava pintando éuma parte da cidade onde há muita pichação e que, inclusive, omural precisou passar por cima de algumas) explicando que elatambém pode ser uma forma de questionamento, de afronta, deocupação da cidade.  Outra turma que também visitou o mural com o objeti-vo de ter contato com esse tipo de trabalho, antes de realizar umna escola, foi a turma do PIBID Artes Visuais do Colégio EstadualPadre Wistremundo.

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    Estudantes da Escola Municipal Norman Prochet conversandocom a artista Thaís Arcângelo com as mão sujas de tinta.

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     ARTISTA/MEDIADORA/ARTISTA/MEDIADORA 

      Nessa mesma exposição, “Quando Vier, Por Favor, MeAvise”, uma das seis artistas paticipantes era eu, portanto pude

    ter uma visão mais ampla do efeito que meu trabalho poderiacausar no público.  Foi interessante mediar o meu próprio trabalho, poiscomo o mediador é aquele que se apropria da obra do artista ecria sua própria proposição, foi como mediar pa