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Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 12, N.22: p.118-130, Maio/2016 118 DISSEMINAÇÃO DA CULTURA EMPREENDEDORA AOS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO Dissemination of Entrepreneurial Culture to High School Students Carlos Oberdan ROLIM¹ Carla Siqueira FLORES² Camila DGLIOUMINI 1 Tatiana F. M. dos SANTOS 2 RESUMO Este artigo apresenta algumas ações que estão sendo desenvolvida na região noroeste do estado do RS com vistas a disseminação da cultura empreendedora aos estudantes do ensino médio. O projeto está sendo executado em parceria com a URINOVA - Incubadora tecnológica da URI Santo Ângelo, a Junior Achievement/RS e empresários da cidade. Os resultados demonstraram o potencial de aprendizado e de realização dos jovens que, se motivados, são importantes agentes capazes de auxiliar na mudança da matriz econômica e social da região. Palavras-Chave- Empreendedorismo, Educação, Inovação, Incubadora ABSTRACT This paper presents some actions that are being developed in the northwestern region of Rio Grande do Sul in order to spread the entrepreneurial culture to high school students. The project runs in partnership with URINOVA – the Technological Incubator of URI Santo Ângelo, Junior Achievement / RS and entrepreneurs of the city. The results demonstrated the learning potential and achievement of young people that, if motivated, are important agents to assist the modification of economic and social matrix of the region. Keywords- Entrepreneurship, Education, Innovation Incubator 1.INTRODUÇÃO A região Noroeste do RS possui potencial mercado para à inovação e empreendedorismo ainda pouco explorado. Para tal temática ser inserida na matriz econômica e social da região é necessária a mudança de paradigmas e antigas crenças vinculadas à uma região que tem seu maior poder econômico atrelado à agricultura e é considerada uma das regiões mais pobres do estado do RS. 1 Bacharel em Ciência da Computação pela da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. E-mail para contato: [email protected] 2 Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. E-mail para contato: [email protected]

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    Vivências. Vol. 12, N.22: p.118-130, Maio/2016 118

    DISSEMINAÇÃO DA CULTURA EMPREENDEDORA AOS ESTUDANTE S DO ENSINO MÉDIO

    Dissemination of Entrepreneurial Culture to High School Students

    Carlos Oberdan ROLIM¹ Carla Siqueira FLORES²

    Camila DGLIOUMINI 1 Tatiana F. M. dos SANTOS2

    RESUMO Este artigo apresenta algumas ações que estão sendo desenvolvida na região noroeste do estado do RS com vistas a disseminação da cultura empreendedora aos estudantes do ensino médio. O projeto está sendo executado em parceria com a URINOVA - Incubadora tecnológica da URI Santo Ângelo, a Junior Achievement/RS e empresários da cidade. Os resultados demonstraram o potencial de aprendizado e de realização dos jovens que, se motivados, são importantes agentes capazes de auxiliar na mudança da matriz econômica e social da região. Palavras-Chave- Empreendedorismo, Educação, Inovação, Incubadora ABSTRACT This paper presents some actions that are being developed in the northwestern region of Rio Grande do Sul in order to spread the entrepreneurial culture to high school students. The project runs in partnership with URINOVA – the Technological Incubator of URI Santo Ângelo, Junior Achievement / RS and entrepreneurs of the city. The results demonstrated the learning potential and achievement of young people that, if motivated, are important agents to assist the modification of economic and social matrix of the region. Keywords- Entrepreneurship, Education, Innovation Incubator 1.INTRODUÇÃO

    A região Noroeste do RS possui potencial mercado para à inovação e empreendedorismo ainda pouco explorado. Para tal temática ser inserida na matriz econômica e social da região é necessária a mudança de paradigmas e antigas crenças vinculadas à uma região que tem seu maior poder econômico atrelado à agricultura e é considerada uma das regiões mais pobres do estado do RS.

    1 Bacharel em Ciência da Computação pela da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. E-mail para contato: [email protected] 2 Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. E-mail para contato: [email protected]

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    Em tal cenário, a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da URI Santo Ângelo -URINOVA - foi criada. Entre outras finalidades, ela busca auxiliar na inclusão da inovação e empreendedorismo no cotidiano da comunidade local. Uma incubadora de empresas, ou apenas Incubadora, proporciona um ambiente salutar para que projetos, ideias ou empreendimentos jovens, com potencial de criação de produtos ou serviços inovadores, se desenvolvam. Além do suporte às empresas nascentes, a Incubadora desenvolve ações que buscam disseminar a cultura de inovação e empreendedorismo com vistas a estimular o surgimento de futuros empreendedores.

    Nesse contexto, o presente artigo apresenta os resultados de um projeto de extensão que está sendo desenvolvido em consonância com a Incubadora. Tal projeto têm por objetivo o desenvolvimento de iniciativas de fomento ao empreendedorismo junto aos alunos do ensino médio da cidade de Santo Ângelo/RS. Para isso, foi firmada uma parceria com a Junior Achievement/RS e também com empresários para execução do Programa "Miniempresa" nas escolas da cidade. O projeto baseia-se na hipótese de que a forma mais rápida e eficaz para disseminação da cultura empreendedora a longo prazo é através do sistema de ensino. Além do mais, muitas das habilidades exigidas de um empreendedor ou profissional competente são desenvolvidas ao longo da escolaridade, bastando para isso o correto desenvolvimento das competências básicas necessárias para futuros empreendedores.

    Como principais contribuições, até o presente momento, podem ser apontadas a consolidação de um Programa de capacitação de jovens que será apoiado de forma perene pela URINOVA como parte de suas atividades sensibilização e também a demonstração do potencial de aprendizado e de realização dos jovens que, se motivados, são importantes instrumentos para de auxiliar na mudança da matriz econômica e social da região.

    O artigo está estruturado da seguinte forma: na seção 2 são apresentados os principais conceitos relacionados ao trabalho; a seção 3 apresenta a metodologia para o desenvolvimento das atividades; na seção 4 são apresentados os resultados obtidos a partir da execução do Programa Miniempresa; na seção 5 são apresentadas as discussões a respeito dos resultados do trabalho, e; por fim, a seção 6 aborda as conclusões. 2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

    Tendo em mente a importância do caráter multidisciplinar que engloba o presente trabalho, faz-se necessário o embasamento de aspectos referentes ao empreendedorismo e a inovação com foco no ensino dessa temática aos jovens. Assim, uma visão geral sobre tais conceitos será apresentada a seguir. 2.1 Empreendedorismo

    Os conceitos de empreendedorismo empregados nessa seção são baseados no trabalho de Coan (2012). Segundo o autor, a palavra empreendedorismo deriva do termo francês entrepreneur, originado do latim imprehendere, traduzido para o inglês como intrepreneurship, e remonta ao século XV quando era usado para referir-se aos “homens de negócios”. O termo ganhou maior visibilidade nas obras de Cantillon (2002) e Say (1983) que, a partir da consolidação da sociedade capitalista, relacionaram a figura do empreendedor ao empresário. Richard Cantillon (1680-1734), considerado o precursor do empreendedorismo, preocupava-se com os riscos e incertezas do processo de acumular riquezas, notadamente na obra “Ensaio sobre a natureza do comércio em geral” . Sua contribuição em estabelecer os fundamentos do empreendedorismo, bem como o papel do empreendedor na economia, está posta de modo explícito na primeira parte de seu ensaio, de modo especial o capítulo XIII, em que descreve quem são os empreendedores e como se arriscam

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    na compra e na venda em busca do lucro. O empreendedor deve suportar o jogo do mercado que é deveras incerto, no qual ele pode ganhar ou perder. Se for mal sucedido, poderá passar necessidades e até ir à falência.

    Ainda segundo o autor, outra definição para o empreendedorismo foi apresentada por Jean-Baptiste Say (1767-1832) para quem empreendedor é o principal responsável pelo desenvolvimento econômico que resultava, em sua concepção, da criação de novos empreendimentos. Árduo defensor do pensamento liberal, Say se entusiasmava com o progresso econômico trazido pela revolução industrial e por ver o Estado monárquico, preocupado em tributar e gerar moedas, ruir por meio de grandes convulsões, abrindo espaços a um futuro melhor. A marcha do pensamento liberal em curso, da livre iniciativa de pessoas e nações, da concorrência, dava-lhe esperanças.

    No século XX, o empreendedor passou a ser alvo de estudos de outros campos do saber, de modo especial, de administradores, psicólogos, sociólogos, que atribuíram outros significados ao empreendedorismo e enalteceram o comportamento empreendedor dos indivíduos. A partir dos anos de 1980, houve grande expansão do empreendedorismo no campo educacional com o desenvolvimento de várias em diferentes países (Estados Unidos, Canadá, França), principalmente nas áreas das ciências humanas e gerenciais. Essas pesquisas tratavam de temas, como: características comportamentais de empreendedores, pesquisa empreendedora, pequenos negócios, novas oportunidades, educação empreendedora, pedagogia e cultura empreendedora, empreendedorismo e sociedade, entre outros. Eram estudos direcionados à busca de estratégias para garantir o sucesso dos novos empreendimentos, acentuando a relevância da articulação entre escola/universidade e empresas.

    Na educação básica e fundamental, o empreendedorismo ainda é uma novidade que aos poucos está se consolidando, especialmente pela adesão a projetos baseados na pedagogia empreendedora desenvolvida por Fernando Dolabela, seja como disciplina ou mesmo conhecimento extracurricular transdisciplinar com presença marcante do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Organizações Não Governamentais (ONGs), dentro das escolas.

    Para Neto (2004), o ensino do empreendedorismo evoca novas formas de aprendizado e relacionamento porque seus fundamentos não estão inseridos no conceito do ensino tradicional que se aprende na escola. O ensino do empreendedorismo deverá se ocupar da formação de jovens capazes de desenvolver culturas empreendedoras e a forma mais rápida para tal finalidade é através do sistema de ensino. Por isso, o presente projeto busca utilizar a escola como veículo de disseminação da cultura empreendedora.

    2.2. Benefícios do estímulo do empreendedorismo na escola

    Conforme Santos (2011), o estímulo às atividades empreendedoras na escola promove o desenvolvimento do adolescente em vários aspectos:

    Autonomia: começa a ter maior autonomia nas suas tarefas, suas escolhas diante das alternativas tornam-se mais independentes e rápidas.

    Criatividade: ao buscar alternativas empreendedoras o adolescente passa a exercitar a criatividade no sentido de buscar soluções aos problemas apresentados. Isso contribui não somente para seu desenvolvimento em sala de aula mas também reflete em atividades diárias

    Curiosidade: a cada pequeno sucesso apresentado pelas suas iniciativas, a curiosidade sobre o impacto do próximo passo vai aumentando e isso estimula ainda mais o adolescente a prosseguir, para eles, isso é uma vitória e uma alegria.

    Errar sem medo: talvez durante o processo de aprendizagem um dos maiores medos ainda existentes seja a repreensão que poderá sofrer ao efetuar algo errado. Ao desenvolver atividades empreendedoras em uma ambiente controlado, como a escola, esse medo diminui, pois à medida que desenvolve soluções aos problemas e estas soluções não estão corretas pode-se buscar novas

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    alternativas que acabam enriquecendo a experiência do mesmo e amenizando o medo do erro. É o chamado erro construtivo.

    Interdisciplinaridade: o empreendedorismo não está relacionado somente à administração ou a informática. As atividades empreendedoras podem ser desenvolvidas em diferentes áreas do conhecimento e isso pode auxiliar os alunos e professores no ensino dos conteúdos, das diferentes disciplinas curriculares.

    Motivação: a utilização do empreendedorismo é uma forma de fazer com que os adolescentes tenham interesse em aprender empreendendo.

    Desenvolvimento do raciocínio: a aplicação de técnicas utilizadas por empreendedores como criação de modelos de negócios e planos de negócios faz o adolescente pensar a respeito de diferentes situações cotidianas e formas de aborda-las. Isso estimula a sua capacidade de relacionamento de conceitos com formas de aplicação no dia-a-dia e acaba por auxiliar no desenvolvimento de seu raciocínio.

    Regras: através de dinâmicas de grupo que são aplicadas em práticas de estimulo ao empreendedorismo, o adolescente aprende a aceitar as regras, por exemplo: ter de esperar a sua vez para se manifestar ou aceitar o resultado dos demais, mesmo que não tenha sido um resultado favorável, faz com que ele aprenda a lidar com frustrações.

    Socialização: durante a execução da tarefa solicitada os adolescentes trocam informações entre si na busca de encontrar soluções, isso contribui com o processo de socialização.

    2.3. Junior Achievement

    Segundo informações do site da Junior Achievement3, ela foi fundada em 1919, nos Estados Unidos, e hoje é a maior e mais antiga organização de educação prática em negócios, economia e empreendedorismo do mundo. Ela é uma associação educativa sem fins lucrativos, mantida pela iniciativa privada, cujo objetivo é despertar o espírito empreendedor nos jovens, ainda na escola, estimulando o seu desenvolvimento pessoal, proporcionando uma visão clara do mundo dos negócios e facilitando o acesso ao mercado de trabalho.

    No Brasil, já foram 4 milhões de alunos beneficiados e 150 mil voluntários envolvidos. As atividades da Junior Achievement se desenvolvem através de programas educativos criteriosamente formulados, aplicados junto aos jovens através de parcerias com escolas e voluntários dispostos a compartilhar suas experiências e conhecimentos com estudantes de diferentes faixas etárias. Globalmente, 10 milhões de jovens ao ano participam dos programas da Junior Achievement, consolidando a formação de uma cultura empreendedora ao redor do mundo, dentro de uma perspectiva ética e responsável. Portanto, é através de programas educativos, com forte orientação social e educacional, aplicados por voluntários corporativos em escolas públicas e privadas e de ações mantidas por pequenas, médias e grandes empresas, que os jovens estudantes brasileiros poderão se beneficiar.

    O sucesso da Junior Achievement é resultado da sinergia e da dedicação de todas as partes envolvidas: empresas, escolas e alunos, tendo como principal, o vínculo entre eles os voluntários e a comunidade.

    Entre os programas desenvolvidos pela Junior está o “Programa Miniempresa”, que a será chamado no restante do artigo simplesmente por Programa. Ele proporciona a estudantes do 2º ano do Ensino Médio a experiência prática em economia e negócios, na organização e na operação de uma empresa. É desenvolvido em 15 semanas, em jornadas semanais, com duração de 3h30min, realizadas nas escolas, geralmente à noite. Os estudantes aprendem conceitos de livre iniciativa, mercado, comercialização e produção. É um programa acompanhado por quatro profissionais

    3 http://www.juniorachievement.org.br/

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    voluntários das áreas de marketing, finanças, recursos humanos e produção. Neste Programa, são explicados os fundamentos da economia de mercado e da atividade empresarial através do método Aprender-Fazendo, em que cada participante se converte em um miniempresário.

    2.4. Empreendedorismo na região das Missões

    A região das Missões possui grande potencial para a criação de um habitat de inovação. Tal constatação foi efetuada pelo COREDE Missões no seu planejamento estratégico (Planejamento Estratégico COREDE Missões, p. 66) e também pela Secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado do RS (SDECT/RS) através de seus programas que buscam apoiar iniciativas de fomento aos habitas de inovação.

    Nesse contexto, a SDECT/RS aprovou em 2012 o projeto de criação de uma Incubadora de empresas de base tecnológica da URI Santo Ângelo chamada de URINOVA. Entre as atividades a serem desenvolvidas pela Incubadora está o de disseminação da cultura empreendedora junto à comunidade.

    Com tal finalidade, a URINOVA, juntamente com a Junior Achievement e empresários da cidade, está desenvolvendo junto às escolas da cidade o Programa Miniempresa. Tal programa além de fazer parte das atividades-chaves de sensibilização da Incubadora, busca contribuir fortemente com o desenvolvimento da cidade e região, além de proporcionar que os resultados tenham reflexo a longo prazo na mudança da matriz econômica e social da região.

    A seguir será apresentada a metodologia que vêm sendo utilizada juntamente com os resultados obtidos até o momento. 3. METODOLOGIA

    Segundo Thiollent (2000), metodologia é uma concepção dos métodos e técnicas a serem utilizados, com embasamento filosófico. É também o modo concreto de delinear o projeto, definindo seus objetivos e a adequação dos meios aos fins. Ainda conforme o autor, uma das formas mais adequadas de desenvolvimento de trabalhos de extensão é através de uma metodologia participativa, que envolva diferentes entes da sociedade e que através do trabalho conjunto e da aprendizagem mútua produza conhecimento sobre problemas reais e condições de soluções e adequação, além de estimular a formulação de novos projetos de extensão e de pesquisa.

    Tal abordagem foi considerada no presente trabalho para o desenvolvimento de suas atividades. Procurou-se desde o princípio definir um planejamento estratégico com vistas a articular e envolver os principais atores nas áreas de empreendedorismo e educação com foco no desenvolvimento do Programa Miniempresa apresentado na seção anterior.

    Assim, inicialmente foram procurados alguns empresários da cidade para angariar junto ao setor voluntários para trabalharem junto às escolas (no Programa, os voluntários são chamados Advisers). Juntamente com isso, foi procurado o SEBRAE de Santo Ângelo para dar maior suporte e respaldo ao desenvolvimento das atividades. Como resultado dessa movimentação surgiram 32 nomes que se dispuseram a participar no desenvolvimento das atividades nas escolas.

    Antes do contato com as escolas, foi agendada reunião com a 14ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) de Santo Ângelo explicando a ideia do projeto e solicitada autorização para ir nas escolas conversar com as respectivas diretorias para tratativas do projeto. Após ofício da CRE autorizando o acesso, foi feita uma nova reunião com os empresários que manifestaram interesse em serem voluntários, SEBRAE, diretores da ACISA (Associação Comercial Industrial de Santo Ângelo) e CDL (Câmara de Diretores Lojistas) da cidade e também com representantes da Junior Achievement para definição de quais escolas seriam atendidas e quais as próximas etapas. Ficou definido que em um primeiro momento seriam 4 escolas (3 públicas estaduais e a escola da URI) e

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    que o início das atividades práticas ocorreria em Abril de 2015, época que de reinicio das aulas nas escolas. Foi então agendada reunião com a direção de cada uma das escolas com o intuito de explicar o projeto e pedir autorização para sensibilizar os alunos através de uma palestra.

    Em data acordada, foi ministrada uma palestra de sensibilização aos alunos explicando o que é o Programa e como eles, os alunos (chamados no programa de Achievers), poderiam participar. A Figura 1 apresenta fotos das visitas nas escolas para as palestras.

    Figura 1. Apresentação do Programa Miniempresa nas escolas

    Após explanação cada escola montou uma equipe composta por cerca de 30 alunos

    (chamada de Miniempresa) os quais foram orientados pelos Advisers ao longo de 15 semanas para o desenvolvimento do cronograma de jornadas estabelecido pelo Programa da Junior em cada escola participante.

    A seguir serão apresentados os resultados sintetizados das jornadas que aconteceram ao longo do desenvolvimento do projeto.

    4. RESULTADOS

    Conforme previsto, no mês de Abril de 2015 iniciaram as atividades do Programa Miniempresa. Nas primeiras jornadas foi explicado o papel da livre iniciativa apresentando o conceito de empresa e suas origens, valores e os tipos de empresas existentes. Foi definido organograma da empresa e então estabelecida a diretoria, formada por 4 diretores (das áreas de produção, marketing e vendas, recursos humanos e finanças) e um presidente, juntamente com o

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    objetivo e a meta da Miniempresa que estava sendo criada. Além disso foi feito o cálculo do Capital Social (valor necessário para iniciar e desenvolver o negócio) e então iniciou-se o lançamento de ações onde cada aluno comprou uma ação, tornando-se “sócio” da empresa e também ficou responsável pela venda de ações para a comunidade. Também ficou definido o salário que cada um dos membros da equipe receberia por jornada. Ressalta-se que a Miniempresa simula uma empresa real, porém em proporções menores. Dessa forma o salário de cada “funcionário” era de R$ 1,50 por jornada, dos diretores R$ 2,00 e R$ 2,50 do presidente. Além disso, desde o início sempre foi levada em consideração a cobrança de impostos sobre as atividades da empresa (exatamente como ocorre no “mundo real”, porém proporcional às atividades da Miniempresa)

    Após a organização da empresa foi definido que produto seria produzido. Para isso, foi feito um brainstorming onde os alunos eram estimulados a sugerirem ideias. A definição do produto foi feita mediante construção de protótipos e decisão final consensual entre todos os participantes. Foi determinado o cálculo dos insumos necessários para a produção e então, a partir da sexta jornada foram iniciadas as jornadas de produção do produto (Figura 2).

    Figura 2. Jornadas de produção das Miniempresas das escolas

    Em paralelo a produção, cada setor da empresa, chefiado por seu diretor, desenvolveu suas

    atividades para a assegurar o sucesso da empresa (como por exemplo, compra e pagamento de matéria prima, ações de marketing para venda, etc.). Os diretores, além de acompanharem o andamento das atividades, preenchiam planilhas de controle e eram os responsáveis pela reavaliação de metas e verificação de pendências de cada área.

    A produção se estendeu até a décima terceira jornada (lembrando que o Programa foi executado em 15 jornadas). Essa foi a última jornada de produção. Nesse momento cada Miniempresa estava preparada para o aumento ou diminuição da produção, sempre tomando cuidado em relação às vendas. Os diretores passaram a dar os encaminhamentos para o fechamento de suas áreas e a preparar os materiais necessários para a prestação de contas, preparação de informações e documentos para elaboração de relatório final e para a Assembleia com os acionistas além de orientações para as vendas.

    Na décima quarta jornada foi realizado o fechamento da Miniempresa. Não existiu mais produção. Foram feitos os lançamentos de vendas da última semana, calculadas as comissões de vendas, recebidos os produtos não vendidos e decidido o destino dos mesmos, calculados os

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    salários e encargos sociais, feito o fechamento da folha de pagamentos, calculados os impostos sobre o último período, preparados os cheques para pagamentos dos funcionários e acionistas e também o preparo do demonstrativo de resultados finais.

    Na décima quinta, e última, jornada foi efetuada a Assembleia Geral dos acionistas de cada Miniempresa. Nesse momento os diretores e presidentes apresentaram aos acionistas o Demonstrativo de Resultados finais e recompraram as ações. Ocorreu também a doação dos impostos arrecadados para a ACISA (Associação Comercial e Industrial de Santo Ângelo).

    Ressalta-se que uma das escolas que iniciou a participação no Programa desistiu nas primeiras jornadas devido aos alunos não terem conseguido conciliar os horários as jornadas com as aulas. Dessa forma, o Programa iniciou com 4 escolas e terminou com 3.

    A seguir serão apresentados os produtos desenvolvidos por cada uma das escolas participantes. 4.1 Produtos desenvolvidos

    Cada Miniempresa (cada escola participante) fabricou um produto, seguindo conscientemente as normas de segurança, controle de metas de produção e qualidade, dos riscos e do sucesso de um negócio.

    A Escola da URI desenvolveu uma almofada terapêutica de semente de linhaça com um suporte para notebook (Figura 3). Para isso, os alunos se basearam em estudos que apontaram que a semente de linhaça traz benefícios para saúde, como alivio de dores musculares, dores intestinais, cólicas quando ela aquecida ou resfriada. O valor de venda de cada almofada foi definido em R$ 60,00. Foi estimado uma previsão de venda de 50 peças, sendo produzidas e vendidas 25 peças. O retorno de ações da empresa ficou em 50% do valor de cada ação para os acionistas.

    Figura 3. Almofada terapêutica de semente de linhaça com um suporte para notebook

    A Escola Técnica Pedro II desenvolveu um abajur de cano de PVC de luz colorida, com

    desenhos personalizados (Figura 4). Os desenhos foram feitos com perfurações através de uma parafusadeira no cano. O preço de venda de cada abajur foi definido em R$ 50,00. Foi estimado uma previsão de venda de 90 peças sendo que todas as peças foram vendidas. Essa foi a única Miniempresa que teve uma taxa de retorno de 100% aos acionistas.

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    Figura 4. Abajur de cano de PVC com desenhos personalizados

    A Escola Estadual Missões desenvolveu um carregador de celular para bicicleta (Figura 5). A ideia dos alunos foi acoplar uma espécie de dínamo à roda da bicicleta e através de seu movimento gerar energia para uma saída USB onde o celular poderia ser ligado para carregar a sua bateria. Foram produzidas 25 peças e vendidas apenas 2. Apesar de ter sido considerado o produto mais ousado e criativo desenvolvido entre todas as escolas participantes o mesmo trouxe prejuízo para todos os acionistas da Miniempresa.

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    Figura 5. Carregador de celular para bicicleta

    4.3. A formatura das turmas

    Após o encerramento das jornadas e o fechamento das Miniempresas foi efetuada uma solenidade de formatura no auditório da URI Santo Ângelo. A solenidade teve a participação de todos os participantes das escolas, seus familiares e os Advisers. Além disso, a formatura teve a participação da Secretária Municipal da Educação, do Prefeito, de diretores da ACISA, empresários e também do Gestor da Incubadora URINOVA. Durante a solenidade foram entregues os certificados de participação e medalhas de melhor Achiever e melhor vendedor, para cada uma das Miniempresas. A Figura 6 apresenta algumas fotos da solenidade.

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    Figura 6. Solenidade de formatura

    5. DISCUSSÕES

    Os resultados obtidos pelo desenvolvimento desse trabalho evidenciaram o potencial dos jovens, que uma vez motivados, podem ser importantes agentes na mudança da matriz econômica e social da região.

    Conforme destacado anteriormente, desde o princípio procurou-se definir um planejamento estratégico e envolver os principais atores nas áreas de empreendedorismo e educação nas decisões do projeto. Entretanto, em determinados momentos ocorreu uma grande inércia por parte de alguns desses atores. Isso motivou que alguns rumos fossem definidos de forma unilateral para evitar o atraso na execução das atividades. Mesmo assim, algumas escolas não conseguiram efetuar ajustes internos e ficaram sem participar do programa. Tais fatos, deixam ainda mais evidente que os gestores de projetos de extensão como esse além de executarem seu planejamento devem em determinados momentos auxiliar as escolas na execução de suas tarefas, quando necessário, sob pena de comprometimento do cronograma e objetivos estabelecidos.

    Outros pontos que merecem ser citado são a execução das atividades em turno inverso a aula e também, o não envolvimento dos gestores do projeto e da escola na escolha dos alunos que irão participar das atividades. Durante a fase de negociações com determinada escola, a Direção e coordenação da mesma julgaram pertinente envolver determinada turma de alunos, devido a questões curriculares e ao perfil da turma, no programa. Com isso, tentou-se “encaixar” as atividades do programa em horário de aula, de forma que os alunos não precisariam se deslocar até a escola em turno inverso, facilitando assim a execução das tarefas. O reflexo disso, é que a maioria dos alunos que estavam presente nos primeiros encontros não tinham o mínimo interesse na participação. Apesar de aparentemente terem um perfil mais técnico, eles não demonstravam as

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    características de empreendedores e estavam nos encontros somente para não ganharem falta na disciplina curricular. Como resultado, foram executados somente os encontros iniciais e então a execução do programa nessa escola foi cancelado.

    Por fim, pode-se avaliar que a execução do programa possui grande contribuição educacional e social junto as comunidades e o retorno disso poderá ser observado a médio prazo com a expectativa de surgimento de novos empreendedores com potencial de serem incubados na URINOVA. A aceitação do programa foi tão positiva, que além das escolas que participaram durante o ano de 2015, novas escolas efetuaram contato com os gestores do programa para também serem atendidas. Com isso, no ano de 2016 espera-se a ampliação do número de escolas participantes, aumentando assim, o impacto do projeto junto a sociedade. 6. CONCLUSÕES

    Um dos grandes desafios da atualidade é promover o desenvolvimento sustentável, entendido como o desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades presentes, mas sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Desta forma, este trabalho surge como uma das iniciativas voltadas a provocar mudanças, mesmo que tímidas, no cenário atual da região.

    No início de sua execução, pode-se perceber que eram poucos os jovens que demonstravam algum interesse na temática que estava sendo tratada na palestra de sensibilização. Mesmo assim eles aceitaram participar do Programa por “curiosidade”. A medida que as jornadas foram sendo executadas eles passaram a compreender a proposta que estava sendo apresentada e o quanto isso poderia contribuir com sua vida futura. A partir desse momento, pode-se observar a rápida capacidade de aprendizagem e de execução das atividades que eram propostas. O empenho, criatividade e companheirismo observado ao longo das etapas deve ser destacado. Tais características demonstram o potencial dos jovens, que uma vez motivados, podem ser importantes agentes na mudança da matriz econômica e social da região.

    Assim, pode-se concluir que o Programa ofereceu algo intangível tanto para os alunos quanto os voluntários. Ele superou o objetivo de incentivar o espírito empreendedor no ramo de negócios e economia, transmitiu aos jovens o que é ser empreendedores dos seus próprios sonhos, como explorar suas dificuldades e ir em busca de novas soluções, conseguindo alcançar algo além do dinheiro e do sucesso na carreira ou no mercado de trabalho. Além disso, com o sucesso de suas atividades, o Programa será apoiado de forma perene pela URINOVA como parte de suas atividades sensibilização.

    Como trabalhos futuros pode-se apontar a expansão do Programa para atender mais escolas da cidade e também a necessidade de execução de mais atividades de disseminação para atrair mais voluntários a participarem como Advisers. BIBLIOGRAFIA CANTILLON, R. Ensaio sobre a natureza do comércio em geral. Curitiba. Segesta. 2002. COAN, M. Educação para o empreendedorismo como estratégia para formar um novo tipo de trabalhador. In: IX Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul (ANPED), Caxias do Sul, Anais, 2012 Planejamento Estratégico COREDE Missões, Disponível em: http://www2.al.rs.gov.br/forumdemocratico/LinkClick.aspx?fileticket=9Urkjjeva2g%3D&tabid=5363&mid=7972. Acesso em Agosto 2015. SANTOS, T. F. M. ; ROLIM, C. O. . A utilização de dispositivos móveis como ferramenta

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    pedagógica colaborativa na Educação Infantil. In: II Simpósio de Tecnologia da Informação da Região Noroeste do Rio Grande do Sul, 2011, Santo Angelo. Anais do II Simpósio de Tecnologia da Informação da Região Noroeste do Rio Grande do Sul, 2011. SAY, J. Tratado de economia política. Tradução de Balthazar Barbosa Filho. Coleção Os Economistas. São Paulo. Abril Cultural. 1983. THIOLLENT, M., de Araújo Filho, T., Soares, R.L.S., Metodologia e experiências em projectos de extensão, Editora de Universidade Federal Fluminense, Pró-Reitoria de Extensão, 2000