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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE PSICOLOGIA MAXIMIZANDO A RELAÇÃO COM SEU FILHO: UM ESTUDO DE CASO Maria Fernanda de Jesus Mião Orientadora: Profa. Dra. Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams Co-orientador: Alex Eduardo Gallo São Carlos Julho de 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE PSICOLOGIA

MAXIMIZANDO A RELAÇÃO COM SEU FILHO: UM ESTUDO DE CASO

Maria Fernanda de Jesus Mião

Orientadora: Profa. Dra. Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams

Co-orientador: Alex Eduardo Gallo

São Carlos

Julho de 2004

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SUMÁRIO Resumo 03 Introdução 04 1. Violência Doméstica 04 2. Habilidades parentais 12 3. Objetivos deste estudo 16 4. Relevância científica e social 17 Método Participante 19 Local 20 Instrumentos de coleta de dados 20 Material 20

Procedimentos 20 Resultados História de vida de Ana e de seu filho Gustavo 23 Resultados Preliminares 25 Conclusões 29 Referências Bibliográficas 30

Anexos Anexo 1 34 Anexo 2 36

Anexo 3 38 Anexo 4 40 Anexo 5 42 Anexo 6 44

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RESUMO

A violência doméstica é um mal que atinge milhões de famílias no mundo e traz sofrimento a todos que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na situação da agressão. Pesquisadores concluíram que mulheres que sofrem abuso psicológico e/ou físico de seus parceiros têm sua relação com os filhos atingida e podem se engajar em comportamentos agressivos com eles. Relações não satisfatórias que crianças e mães estabelecem entre si influenciam o desenvolvimento da criança.Além da situação da violência permear, muitas vezes o contexto familiar, em conseqüência disso, há o fato de que muitos pais encontram dificuldades em oferecer uma educação adequada aos seus filhos. O objetivo desse estudo de caso foi realizar um programa de intervenção individual com uma mãe cuja relação com o filho é tida, por ela, como inadequada, maximizando o relacionamento com suas crianças, de modo que se diminuíssem ou eliminassem características, como: rejeição, hostilidade, crueldade, indulgência excessiva, controle repressivo, falta de afeto e ensinando alternativas não violentas na educação dos filhos, como o uso de limites sem autoritarismo e demonstração de afeto. Esperou-se que os ganhos decorrentes proporcionassem maior estabilidade à relação e levassem a mãe a ser fonte de segurança e afeto real para os filhos o que favoreceria um desenvolvimento infantil mais adequado. A intervenção foi realizada em uma sala destinada à Psicologia no Conselho Tutelar de São Carlos e constou de seis sessões semanais. Pôde-se concluir, a partir dos relatos da participante e dos registros, que a intervenção alcançou seu objetivo de melhorar a qualidade da relação entre mãe e filho, embora não completamente. O tempo de intervenção não foi suficiente para modificar todas as queixas trazidas inicialmente.

Palavras chave: violência doméstica, habilidades parentais, treinamento de pais.

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INTRODUÇÃO

1. Violência Doméstica

A violência doméstica é um mal que atinge milhões de famílias no mundo,

trazendo sofrimento a todos que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na situação da

agressão.

Sinclair (1985) classifica a violência doméstica em três tipos:

� Violência física, na qual a vítima é agredida com tapas, murros,

empurrões, chutes, estrangulamentos, com coisas atiradas em sua

direção, através de queimaduras, entre outras maneiras possíveis. O grau

de violência varia e esta pode vir a ser fatal.

� Violência sexual pode acontecer em graus variados, desde

xingamentos, desconfiança excessiva, acusações até atividades sexuais

forçadas; também pode levar à morte da vítima.

� Violência psicológica, na qual o agressor tem grande poder de induzir

medo na vítima porque, em geral, a ameaça é acompanhada por pelo

menos um incidente de abuso físico. Pode incluir ameaças (de suicídio,

de agressão, de abandono); destruição de coisas e/ou objetos pessoais da

vítima; fazer coisas para apavorá-la; atacar verbalmente suas atitudes,

depreciar seus esforços; controlar suas atividades, alterar suas rotinas;

privar a vítima de suas necessidades básicas, como sono, comida,

dinheiro, sexo, do contato com a família e dos amigos.

Segundo Cortez (2001), o comportamento violento é resultado da conjunção de

características pessoais do agressor (como isolamento social, nível elevado de estresse,

baixa auto-estima, ciúmes, uso abusivo de álcool ou outras drogas, insegurança, visão

esteriotipada sobre papéis de gênero, problemas de personalidade, história de violência

familiar, depressão e ansiedade, fatores orgânicos), de fatores estressores (como

dificuldade financeira, conflitos intrafamiliares ou com a lei e desemprego) e fatores

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sociais (como a culpabilização da vítima – responsabilizando-a pela agressão que sofreu -,

minimização dos danos causados pela agressão, negação do comportamento agressivo,

conivência familiar, estímulo da sociedade à exibição da força e agressividade

masculinas).

As teorias que explicam o comportamento agressivo atribuem mais ou menos

valor a cada uma dessas características citadas (Wolfe e Jaffe, 1999).

Bandura (1973), na teoria da aprendizagem social, diz que o comportamento

violento é aprendido, modelado e reforçado pela família e pela cultura; a criança aprende

que a violência é a melhor forma de que dispõe para resolver seus conflitos, inclusive os

familiares, e provavelmente usará essa forma de resolução de conflito quando adulto.

Bowlby (1995) defende que programas de intervenção precoce realizados com crianças

podem minimizar o risco do uso de violência a longo prazo, causado pela exposição a

modelos agressivos, se a violência for eliminada do ambiente dessas crianças, além de

restaurar seu processo normal de desenvolvimento, afetado pela exposição à violência.

Outra explicação que também valoriza o aspecto social atribui a violência

doméstica à dominação masculina sobre a mulher e a criança através do controle físico,

econômico e político. A violência doméstica reflete, segundo essa perspectiva, a

desigualdade cultural entre os gêneros e, ainda, há a manutenção e o reforço desta

disparidade pelas instituições sociais, que minimizam as conseqüências da violência à

mulher e à criança e incentivam o uso da agressão como forma de se resolver problemas

(Sinclair, 1985).

Segundo Sinclair (1985), muitas variáveis estão envolvidas na permanência das

mulheres em um relacionamento agressivo, entre elas: dependência afetiva/emocional dos

parceiros; valores culturais segundo os quais as mulheres devem suportar a agressão e a

concepção de que a família completa é a ideal; dependência econômica dos parceiros e

falta de amparo social como, falta de creches para abrigar seus filhos enquanto trabalha,

falta de casas-abrigo, às quais as mulheres possam recorrer quando estiverem em iminente

perigo de morte, e de serviços públicos de apoio (policial, legal, psicológico); medo de ser

morta se deixar o lar, minimização do abuso pela vítima e pelo agressor, falta de

informações sobre violência e sobre serviços de apoio, vergonha de ser agredida, crença

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de que ela é responsável - a culpabilização da vítima pela violência sofrida -,

internalização da culpa, isolamento social da vítima (o que dificulta que ela analise

objetivamente a situação em que está inserida e promove a manutenção da dependência

do marido e da baixa auto-estima), sentimento de ambivalência em relação ao marido (ela

gosta dele, ele faz coisas das quais ela gosta, embora não queria ser agredida); esperança

que de ele mude e de que a situação melhore.

Jouriles, McDonald, Stephens, Norwood, Spiller, & Ware (1998) afirmaram que,

nos últimos vinte anos, pesquisadores têm reconhecido que em famílias caracterizadas

por violência conjugal, as mulheres não são as únicas vítimas: as crianças também o são.

Este reconhecimento tem levado a mais investigações a respeito de possíveis problemas

experienciados pelas crianças em decorrência da violência.

Guerra (1998) conceitua que:

...“a violência doméstica contra crianças e adolescentes representa todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que - sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica, de um lado, uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.” (p. 32)

As crianças são vítimas da violência doméstica quando apanham, são xingadas ou

recebem tratamento negligente dos pais, por exemplo. Quem assiste às cenas de violência

acontecendo entre outras pessoas também é vítima dessa violência. Holden (1998) afirma

que a criança que viu ou ouviu um episódio agressivo sofrido pela mãe, viu seu resultado

ou que vivenciou seu efeito na interação com os pais é uma criança exposta à violência.

Sob esse ponto de vista, os filhos podem ser vítimas da violência de forma direta (quando

eles mesmos são agredidos) ou indireta (quando vêem ou ouvem as agressões sendo

praticadas dentro de casa ou suas conseqüências) (Brancalhone, 2003; Brancalhone, Fogo

& Williams, 2004).

A criança que é afetada por qualquer tipo de violência doméstica pode ter seu

processo normal de desenvolvimento afetado em várias áreas: de relações familiares e

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interpessoais em geral e no âmbito escolar e social, o que exige atendimento

multiprofissional (das áreas jurídicas, da saúde, educação, proteção social) para formação

de uma rede de suporte biopsicossocial.

A criança que presencia a ocorrência de violência entre seus pais vivencia

emoções ambivalentes, confusões e conflitos em um período muito importante para o seu

desenvolvimento (Cardoso, 2001).

A agressão entre os pais está correlacionada com a freqüência e severidade de

disfunções apresentadas pela criança (Wolfe, Jaffe, Wilson, & Zak, 1985). Por exemplo, a

teoria da aprendizagem social e resultados de estudos de laboratórios experimentais

sugerem que a exposição direta dos filhos à agressão dos cônjuges possa resultar em

comportamento agressivo das crianças (Bandura, 1973). Problemas de conduta, como

comportamentos agressivos e anti-sociais e problemas físicos, como ansiedade e

depressão, estão associados à exposição da criança à violência conjugal e são preditores

de comportamentos agressivos e criminosos quando ela se tornar adolescente e adulta,

segundo Jouriles e colaboradores (1998). Ainda segundo estes autores, os problemas de

conduta não são as únicas conseqüências possíveis e, tampouco, todas as crianças

expostas a tal violência exibem problemas de conduta; entretanto, tais problemas têm sido

repetidamente documentados por pesquisas que compararam amostras de crianças que

presenciaram e que não presenciaram atos violentos.

Pesquisadores concluíram que mulheres que sofrem abuso psicológico e/ou físico

de seus parceiros têm sua relação com os filhos atingida e podem se engajar em

comportamentos agressivos com eles. Estudos de O’Leary, Slep & O’Leary (2000) com

mulheres agredidas indicam que seus filhos correm mais risco de sofrer agressão em

relação aos filhos de mulheres não agredidas.

Estudos demonstram que a qualidade da relação pais - filhos é vulnerável às

influências ambientais, como pobreza crônica, súbita diminuição do poder econômico,

divórcio, conflitos maritais, eventos estressantes da vida e isolamento social (Conger,

Conger, Elder, Lorenz, Simons & Whitbeck, 1992, 1993; Erel & Burman, 1995;

Hetherington, 1991, 1993; McLoyd, 1990; Pianta & Egeland, 1990; Turturo, 1994) e às

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características da criança (como insistência excessiva, por exemplo) (Jouriles e

colaboradores, 1998)

Vários estudos mostraram que a tensão da relação mãe-filho é aumentada em

famílias expostas à violência doméstica em relação àquelas que não são vítimas, sendo

um preditor significativo dos problemas de comportamento de crianças (Holden &

Ritchie, 1991; Levendosky & Graham-Bermann, 1998; Wolfe e colaboradores, 1985).

Hipóteses sugerem que conflito conjugal é um fator estressor que leva os pais a se

tornarem irritáveis, depressivos, distraídos, emocionalmente instáveis o que diminui a

atenção aos filhos (Jouriles e colaboradores, 1998).

Relações não satisfatórias que crianças e mães estabelecem entre si influenciam o

desenvolvimento da criança. Há concordância em relação ao fato de que as experiências

que o bebê vivencia, como a proximidade, o contato físico e o vínculo estabelecido com

um cuidador primário (em geral, a mãe) têm influência importante no desenvolvimento

das habilidades de amar e ficar íntimo de outras pessoas mais tarde (Harlow, 1958). Tal

autor, em experimentos clássicos com macacos, constatou que o amor e afeição podem

ser necessidades primárias tão ou mais fortes do que a fome ou a sede.

Segundo Bowlby (1995) há privação quando um bebê ou criança pequena vive

com sua mãe, mas os cuidados que recebe dela e a interação que mantém com ela são

insuficientes. O termo “privação da mãe” também é usado para fazer referência às

interações mãe-filho que, acredita-se, possam ter efeitos negativos, tais como relações em

que haja rejeição, hostilidade, crueldade, indulgência excessiva, controle repressivo, falta

de afeto; essas relações são consideradas distorcidas. As crianças que sofrem violência

direta ou indireta são vítimas de privação à medida que os cuidados que recebem de suas

mães são insuficientes e incapazes de manter as crianças longe da agressão e à medida

que os efeitos de relações não satisfatórias causam danos ao desenvolvimento da criança;

em geral, essas relações são marcadas por hostilidade, crueldade, controle repressivo,

falta de afeto.

A privação da mãe pode ter efeitos particularmente negativos sobre determinados

processos. Ainda para Bowlby (1995), dentre os processos intelectuais, os mais

vulneráveis parecem ser a linguagem e a abstração e entre os processos da personalidade,

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os mais vulneráveis parecem ser os que são subjacentes à capacidade de estabelecer e

manter relações interpessoais profundas e significativas e à capacidade de controlar os

impulsos em benefício de objetivos a serem alcançados a longo prazo. Existem também

razões para se acreditar que os processos específicos afetados são influenciados pela idade

da criança – mais exatamente, o estágio de desenvolvimento da criança – quando a

privação se iniciou (Bowlby, 1995).

O mesmo autor fala sobre a existência de provas que concluem que uma pessoa se

desenvolve por meio de constante interação com seu ambiente e que, à medida que este

ambiente for gerador de privação, seu desenvolvimento será retardado ou desviado. A

teoria da aprendizagem supõe que o desenvolvimento seja em grande parte uma questão

de estimulação ambiental. A aprendizagem ocorre quando são proporcionadas condições

ambientais adequadas e aquilo que não foi aprendido pode ser aprendido mais tarde, após

terem sido providenciadas as condições adequadas, entre elas a cessação ou alívio da

privação.

Quando há um alívio nas condições de privação, mesmo que esta tenha persistido

por muitos meses, o resultado poderá ser uma melhora rápida e dramática, tanto no

comportamento manifesto quanto no funcionamento intelectual geral, mas não se podem

descartar efeitos persistentes no funcionamento intelectual e da personalidade (Bowlby,

1995).

A idade da criança no início e no final da privação é, indubitavelmente, um fator

importante que influencia a recuperação e, ainda conforme o autor, quanto antes a criança

sair da condição de privação e estabelecer uma relação segura com a mãe, menores os

danos desenvolvimentais a que ela estará sujeita.

As conseqüências da violência física conjugal sobre a saúde e a vida das crianças

ou dos adolescentes são várias, segundo Sinclair (1995), que aponta: dificuldades na área

psicológica (como isolamento, agressividade, depressão, transtorno do sono, déficit em

habilidades sociais, problemas em relação à aprendizagem escolar entre outros) e na área

física (doenças psicossomáticas). Para Jouriles e colaboradores (1998), problemas de

comportamento e déficits em habilidades acadêmicas produzem conseqüências que são

cumulativas e produzem muitas oportunidades de socialização perdidas, o que leva essas

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crianças a ficarem cada vez mais distantes de outras crianças vindas de lares não

violentos, que podem oferecer modelos de comportamentos adequados, e a se

aproximarem daquelas vindas de lares violentos que também são excluídas; esse ciclo de

exclusão encoraja o uso de comportamentos desviantes e agressivos.

Algumas crianças, surpreendentemente, parecem bem ajustadas apesar da

ocorrência constante de situações agressivas em seus lares. Tal variabilidade de respostas

é condizente com o que se sabe sobre respostas de crianças às situações estressantes em

geral (Compas, 1987; Rutter, 1983 em Jouriles e colaboradores, 1998) e ao

funcionamento adequado e/ou competente do indivíduo, apesar de um histórico de

exposição a um ou mais fatores de risco. Ao processo, capacidade ou resultado de uma

adaptação bem sucedida a despeito de circunstâncias desafiadoras ou ameaçadoras

chama-se resiliência. Trata-se de um processo dinâmico que depende de características

individuais e ambientais que podem variar ao longo da vida (Koller, 1999, em Pinto

Júnior, 2001).

Fator de risco é o termo usado para designar eventos estressores ou fatores que

predispõem a resultados negativos ou indesejados. Características sociais e comunitárias,

suscetibilidades biogenéticas, traços de personalidade e influência dos pais podem

apresentar-se sob a forma de fatores de risco. Antoni e Koller (2000) citam fatores de

risco no contexto familiar do adolescente: violência doméstica, padrões rígidos de

disciplina e falta de negociação com o adolescente, ausência dos pais ou dos adolescentes

do lar em função de uma jornada de trabalho exaustiva, falta de orientação e controle.

Há a proposição de que alguns fatores de risco sejam comuns às formas de

agressão conjugal e parental: pobreza e uso de drogas; outros fatores são particulares a

cada forma, como ciúmes da esposa e características biológicas da criança. Outra hipótese

é a de que uma forma de agressão causa a outra. Em pesquisas norte-americanas, foram

estabelecidos alguns fatores de risco que podem levar um pai a agredir seus filhos: ser

inexperiente enquanto pai e marido, ter uma família grande, ser pobre e ser proveniente de

família agressiva (O’Leary, Slep & O’Leary, 2000).

Por outro lado, os fatores de proteção servem para reduzir ou neutralizar o efeito

do risco e podem ser classificados em dois grupos: fatores pessoais (relacionados com

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componentes biológicos – saúde física - e relacionados com o meio social – auto-estima e

confiança) e recursos do ambiente (como o poder aquisitivo e apoio social e afetivo

oferecido pela comunidade), segundo os mesmos autores que citam, ainda que a

comunicação aberta entre pais e filhos é um indicador de proteção e contribui para o

desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. Adolescentes que são estimulados

a expressar suas opiniões em um contexto familiar amoroso e seguro, desenvolvem maior

auto-estima e melhor habilidade para lidar com problemas.

Portanto, há variações individuais nas respostas frente aos eventos estressantes.

Se, diante de eventos de risco e considerando os fatores de proteção disponíveis ao

indivíduo, este responder às situações com comportamentos adaptativos, ele é resiliente.

(Garmezy, 1996; Rutter, 1987 em Antoni e Koller, 2000)

Em função da multiplicidade de respostas à condição de violência, é importante

reconhecer a necessidade de intervenção para indivíduos expostos a esta situação e para

aprimorar os fatores de proteção que cada família dispõem e que podem capacitar seus

membros a reagirem bem às situações estressoras.

Em investigações científicas, as agressões conjugal e infantil têm sido

consideradas aspectos distintos da violência. As pesquisas enfocam cada uma delas

separadamente, por isso há escassez de dados que relacionem a interferência da violência

conjugal na violência materna, embora se saiba que pais que são fisicamente agressivos

durante conflitos matrimoniais tendem a sê-lo também durante confrontos com seus filhos

(Jouriles, Barling, & O'Leary, 1987).

A grande maioria das pesquisas a respeito de como a violência doméstica afeta as

crianças está limitada à análise da agressão direta contra a criança, negligencia os efeitos

da violência conjugal sobre elas. Constrói-se, dessa forma, uma análise incompleta dos

mecanismos de maltrato à criança (Cardoso, 2001).

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2. Habilidades Parentais

Além da situação da violência permear, muitas vezes o contexto familiar e

também em conseqüência disso, há o fato de que muitos pais encontram dificuldades em

oferecer uma educação adequada aos seus filhos.

Há algumas décadas, a maneira de se educar os filhos vem se modificando em

função de alterações ocorridas nos campos da educação e das relações humanas ao longo

do século XX.

Antes, pensava-se que as crianças nada sabiam e por isso precisavam aprender;

cabendo, portanto, aos adultos a tarefa de ensinar, muitas vezes, de forma autoritária. Os

pais puniam e castigavam exercendo um direito legítimo que lhes cabia tendo poder

absoluto sobre a criança, que, por sua vez, não podia questionar as regras ditadas pelos

adultos (Gomide, 2004).

Segundo a mesma autora, a revolução dos costumes dos anos 50 trouxe uma série

de questionamentos sobre a forma de se educar filhos. A severidade foi sendo substituída

pela flexibilização das regras, na educação das crianças. Os pais, influenciados pelo

contexto social, passaram a repudiar a punição física, rebelaram-se contra a rigidez das

regras e passaram a ter por objetivo tornar-se amigos dos seus filhos levando ao uso do

diálogo como forma de educação (Gomide, 2004). As crianças, que até então não eram

consideradas, passaram a ser respeitadas em suas vontades, gostos, aptidões e até

indisposições, como os adultos. O relacionamento entre pais e filhos tornou-se mais

democrático (Zagury, 2003).

No entanto, assiste-se hoje aos resultados dessa nova forma de educar: os filhos

estão desobedientes, não respeitam pais e professores, tornaram-se rebeldes, não estão

assumindo compromissos profissionais. Perdeu-se controle da situação e os pais estão se

sentindo cada vez mais desorientados, sem saber a maneira adequada de educar seus

filhos, segundo a mesma autora.

Eles têm dificuldades em estabelecer limites aos comportamentos da criança e do

adolescente, em desenvolver comportamentos apropriados e em proceder quando

problemas comportamentais aparecem, por exemplo. As práticas educativas são

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estratégias utilizadas pelos pais com o objetivo de suprimir ou eliminar certos

comportamentos da criança considerados inadequados ou indesejáveis, bem como

incentivar ou favorecer a ocorrência de comportamentos adequados (Mussen, Conger,

Kagan & Huston, 1990; Newcombe, 1996/1999, em Prada, 2002).

Segundo Gomide (2004),

“pais modernos [...] abriram mão, muitas vezes, de seu papel de educadores. Deixaram de estabelecer regras, esqueceram que os pais são o modelo moral para seus filhos, passaram a usar a conversa de forma punitiva (horas de sermão e ameaça) e não como uma forma de reflexão. Romperam com a punição e se tornaram permissivos” (p.11).

Ainda segundo a mesma autora, a família é o lugar ideal para se educar crianças:

os valores morais e os padrões de conduta são adquiridos essencialmente através do

convívio familiar.

Para Santos (2001), a família exerce uma influência importante na formação

biopsicossocial dos filhos, já que exerce o papel de transmissor da herança cultural e

social. O ambiente familiar é, para a criança, “o espaço privilegiado da proteção, dos

cuidados, do apego, do abrigo, da segurança, do afeto”(p.15). Por meio do vínculo afetivo

com a mãe e com o pai e dependendo de como a família e o meio interagem com a

criança, os aspectos cognitivos e emocionais da criança são estruturados e o

desenvolvimento global da criança será promovido ou dificultado (Santos, 2001).

Antoni e Koller (2000) afirmam que a comunicação aberta entre pais e filhos é

um indicador de proteção e contribui para o desenvolvimento saudável da criança e do

adolescente. Adolescentes que são estimulados a expressar suas opiniões, em um contexto

familiar amoroso e seguro, desenvolvem maior auto-estima e melhor habilidade para lidar

com problemas.

As práticas familiares muito influenciam os comportamentos das crianças; a

disciplina parental ineficaz e a falta de monitoramento dos pais em relação aos

comportamentos dos filhos são as principais falhas, segundo Marinho (1999). A autora

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ainda forneceu a definição de Patterson (1992) de que disciplina ineficaz é repreender a

criança e aborrecer-se frente a assuntos relativamente triviais e ameaçar usar punição sem

nunca cumprir a ameaça. Sobre falta de monitoramento autora discorre que os pais

freqüentemente não sabem onde sua criança está, com quem está, o que está fazendo ou

quando voltará pra casa.

As práticas educativas são estratégias utilizadas pelos pais com o objetivo de

suprimir ou eliminar certos comportamentos da criança considerados inadequados ou

indesejáveis, bem como incentivar ou favorecer a ocorrência de comportamentos

adequados (Mussen, Conger, Kagan & Huston, 1990; Newcombe, 1996/1999).

Em sua interação com os filhos, os pais podem fazer uso de duas categorias de

estratégias disciplinares: as indutivas e as coercitivas. Segundo Hoffman (1975, 1994), a

estratégia indutiva caracteriza-se por indicar para a criança as conseqüências do seu

comportamento para as outras pessoas e chamar sua atenção para os aspectos lógicos da

situação. Isso facilita o entendimento da criança sobre as implicações de suas ações e,

portanto, dos motivos que justificam a necessidade de mudança no seu comportamento.

Desta forma, a criança desenvolve certa autonomia para utilizar esse tipo de informação

para controlar seu próprio comportamento.

Já as estratégias de força coercitiva caracterizam-se, segundo Hoffman (1975),

pela aplicação direta da força, incluindo punição física, privação de privilégios e afeto ou

pelo uso de ameaças. Essas técnicas fazem com que a criança controle seu

comportamento em função das reações punitivas dos pais. Além disso, elas produzem

emoções intensas, tais como medo, raiva e ansiedade, que tendem a reduzir ainda mais a

possibilidade de a criança compreender a situação e a necessidade de modificação de

comportamento. O controle do comportamento da criança tenderá a depender de

intervenções externas porque ela não adquire a capacidade de compreender as

implicações de suas ações. Nesse sentido, as estratégias de força coercitiva não favorecem

a internalização das regras sociais e padrões morais. Além de não contribuir para a

aquisição de padrões adequados de comportamento, o uso freqüente de estratégias

coercitivas tende a fazer com que crianças comportem-se de forma coercitiva com seus

pares. Hart, Ladd & Burleson (1990) investigaram se as expectativas de crianças a

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respeito dos resultados da utilização de estratégias amigáveis e não amigáveis para a

resolução de conflito com os pares, relacionavam-se em alguma medida com as

estratégias disciplinares maternas. Os dados confirmaram a hipótese dos autores de que ao

utilizarem estratégias de força coercitiva os pais poderiam inadvertidamente modelar nos

filhos o uso desse tipo de estratégia como um meio eficaz de resolver questões

interpessoais.

O treinamento de pais consiste em um trabalho de intervenção realizado junto a

estes com a finalidade de tratar problemas comportamentais de seus filhos. Caballo

(1996), menciona a definição de Kazdim de que durante a intervenção os pais reúnem-se

com um terapeuta que lhes ensina a usar uma série de procedimentos específicos para

modificar sua interação com os filhos, para auxiliar o comportamento pró-social e

diminuir o comportamento desviante.

Esse tipo de treinamento vem sendo utilizado especialmente no caso de crianças

que mostram problemas de comportamento manifestos, como birras, agressividade,

desobediência excessiva (Caballo, 1996) e crianças com atrasos de desenvolvimento

(Williams & Aiello, 2001).

O conteúdo de programas de treinamento de pais inclui instruções dos princípios

de aprendizagem social, procedimentos de reforço positivo (atenção, elogio),

procedimentos de extinção e de punição leve (como o ignorar) e o treinamento em dar

instruções ou ordens claras (Caballo, 1996). Marinho (1999) cita as duas premissas

básicas usadas nesse tipo de treinamento. A primeira delas é a de que, para a ocorrência

de mudanças comportamentais positivas, os comportamentos inadequados não devem ser

reforçados enquanto os adequados sim. A segunda premissa considera que as

manipulações ambientais, promotoras das mudanças comportamentais, devem ser

operadas por quem disponha dos reforçadores (os mediadores). No caso de famílias, os

mediadores, com alta probabilidade, seriam os pais da criança com dificuldades.

De acordo com Caballo (1996), os objetivos a curto prazo do treinamento dos

pais são: interromper o estilo coercitivo da interação pais-filhos e estabelecer padrões de

interação mais positivos e pró sociais; levar os pais a aumentar a atenção a

comportamentos adequados dos filhos, usar elogios, ignorar comportamentos infantis

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levemente inapropriados, dar instruções claras e adequadas às crianças e proporcionar

conseqüências adequadas para seus comportamentos; aumento dos comportamentos pró-

sociais e diminuição dos comportamentos problemáticos.

Ainda segundo o autor, o treinamento de pais em sessões individuais é realizado

com pais de crianças que apresentam algum problema clínico e não envolve,

necessariamente sessões com a criança.

3. Objetivos deste estudo

A pretensão inicial do estudo consistiu em realizar um programa de intervenção

para um grupo de mulheres vítimas de violência conjugal com o objetivo de maximizar o

relacionamento com seus filhos. No entanto, tal objetivo não se concretizou devido a

dificuldades operacionais de baixa adesão de participantes ao grupo.

Diante disso, o objetivo do presente estudo foi, avaliar um programa de

intervenção individual para uma mãe cuja relação com o filho era tida, por ela, como

inadequada. A intervenção pretendia melhorar o relacionamento da mãe participante com

seus filhos de modo que ela diminuísse ou eliminasse possíveis comportamentos violentos

em direção a eles. Pretendia-se ensinar uma relação mãe - filho mais adequada do que a

desenvolvida até então pela díade (minimizando ou, se possível, eliminando

características, como: rejeição, hostilidade, crueldade, indulgência excessiva, controle

repressivo, falta de afeto e ensinando alternativas não violentas na educação dos filhos,

como o uso de limites sem autoritarismo e demonstração de afeto). Esperava-se que os

ganhos decorrentes proporcionassem maior estabilidade à relação e levassem a mãe a ser

fonte de segurança e afeto para os filhos, o que favoreceria um desenvolvimento infantil

mais adequado.

O treino de habilidades maternas pretendeu aumentar comportamentos desejáveis

dos filhos, diminuir os indesejáveis, efetivar uma comunicação com eles e facilitar uma

relação mãe-filho mais positiva. Adicionalmente objetivou que a mãe aprendesse a

proporcionar um ambiente seguro e saudável para as crianças, uma vez que ensinar

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habilidades específicas às mães possibilita que elas ouçam a criança, ofereçam atenção

contingente e instruções apropriadas.

Os benefícios da intervenção individual refletiriam na possibilidade de analisar e

sanar as necessidades específicas da família.

4. Relevância científica e social

No Brasil, há poucos dados sobre se o uso de violência conjugal está ou não

atrelada ao uso de violência parental e/ou vice-versa (D’Affonseca & Williams, 2003;

D’Affonseca, 2002; Santos, 2001). As informações disponíveis são provenientes da

literatura estrangeira o que indica a necessidade de mais estudos que avaliem a situação

brasileira.

O estudo será relevante cientificamente, pois, ao testar uma maneira de fazer

intervenção na família com o objetivo de melhorar a relação desenvolvida, família essa

sob condições sócio-econômicas prejudicadas, característica comum da realidade

brasileira, ele proporcionará dados sobre conseqüências de intervenção na relação mãe –

filho. A possibilidade de os dados gerados por este estudo serem pertinentes ou relevantes

em estudos futuros, da replicação desta proposta de intervenção remete à relevância

social, pois um número maior de pessoas poderá ser beneficiado.

Treinar habilidades parentais parece ser a possibilidade mais promissora de

intervenção para reduzir problemas de conduta em pré-adolescentes (Kazdim, 1987 em

Jouriles e colaboradores, 1998) e há indícios de que intervenções com mães de crianças

menores de sete anos são mais efetivas que com mães de crianças mais velhas (Dishion &

Patterson, 1992; Reid, 1993, em Jouriles e colaboradores, 1998).

Acredita-se que uma intervenção eficaz, que favoreça a diminuição ou mesmo a

eliminação de práticas parentais inadequadas, possa ajudar as crianças e suas mães à

medida que seu relacionamento torna-se mais saudável; este fato atesta para sua

relevância social, visto que os participantes serão beneficiados durante a intervenção.

Além disso, descobertas sobre as conseqüências para o desenvolvimento da criança que

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vive num ambiente violento reforçam ainda mais a necessidade de identificação e

intervenção precoce de crianças vindas de lares violentos.

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MÉTODO

Participante

Uma mãe que procurou o atendimento oferecido pelo programa “Intervenção a

Vítimas de Violência” (Williams, 2001), desenvolvido pelo Laboratório de Análise e

Prevenção de Violência (LAPREV), do Departamento de Psicologia da Universidade

Federal de São Carlos, no Conselho Tutelar.

Com o intuito de manter o nome dos participantes em sigilo, eles serão chamados

por nomes fictícios.

A mãe será chamada de Ana. No início do estudo, Ana tinha vinte e três anos, era

casada com João há cinco anos e tinha quatro filhos: Pedro de onze anos (que não mora

com ela), Lia, de sete anos, Gustavo, de cinco anos e André, de três anos. João é pai

biológico de André; as outras crianças são filhos de parceiros diferentes com quem Ana

não teve relação estável e com quem não tem contato atualmente.

Ana estudou até a terceira série do ensino fundamental, não tem emprego fixo;

trabalha como faxineira, fazendo “bicos”. Moram na casa ela, o marido e os três filhos

menores.

Ana já foi atendida pelo serviço de atendimento psicológico do LAPREV, na

Delegacia de Defesa da Mulher de São Carlos, em 2000, devido ao abuso sexual sofrido

pela filha Lia. O agressor foi o pai biológico da menina, tendo o abuso ocorrido quando

Lia tinha três anos, durante uma visita ao pai em São Paulo.

Ela procurou novamente o serviço em 2004 para “aprender a lidar melhor com

meu filho (Gustavo)”.

Os dados deste estudo fazem referência ao filho Gustavo porque a procura pelo

serviço aconteceu em decorrência de dificuldades no relacionamento com ele, mas as

questões abordadas durante todo o trabalho foram igualmente propostas para a relação

com todos os filhos de Ana.

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Local

O programa de intervenção foi realizado em uma sala reservada ao LAPREV no

Conselho Tutelar de São Carlos, destinada a atendimentos psicológicos e, portanto,

garantiu as condições necessárias de sigilo na promoção do mesmo.

Instrumentos de coletas de dados

Além das informações colhidas durante as sessões pelos relatos de Ana, foram

entregues uma Folha de Registro de Reforço aos Comportamentos Adequados (Anexo 1)

na qual Ana e seu marido anotavam comportamentos adequados de Gustavo e como

reforçavam esse comportamento e uma Folha de Registro das Reclamações Recebidas

(Anexo 2) para se ter uma linha de base de quais eram as reclamações, sobre que

comportamentos diziam respeito e em que freqüência ocorriam. Os pais deveriam fazer

registro das situações quando elas ocorreram.

Material

Ana recebeu um material apostilado com Orientações a pais: como melhorar a

relação com seu filho, que se encontra nos Anexos 3 e 4.

Procedimentos

O projeto de pesquisa e intervenção foi enviado ao Comitê de Ética. O parecer do

Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e sua aprovação encontra-se no Anexo

5.

No primeiro encontro, foram explicados o objetivo da intervenção (adequar a

relação de Ana com seus filhos), a proposta de ensino de habilidades parentais, os

cuidados éticos tomados: de sigilo em relação a sua identidade e de anonimato em

publicações do estudo. Depois dessa explicação, a participante confirmou seu interesse de

participação assinando um termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 6).

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Nesse mesmo encontro, a participante informou nome completo, idade, grau de

instrução, número de filhos, informou se faz uso de práticas educacionais agressivas

(quais e com que freqüências são usadas), quais dificuldades encontra na criação de seus

filhos.

Houve uma programação de temas abordados nos encontros com a participante.

Os temas dizem respeito às habilidades não agressivas de criação de filhos.

A Tabela 1, a seguir, contém um breve resumo dos temas abordados e das

atividades realizadas em cada sessão, relacionando-os com exemplos de situações do

cotidiano de Ana.

O conteúdo das sessões foi baseado em Sinclair (1985) e Zagury (2001).

Gustavo foi acompanhado nas três primeiras sessões por outra estagiária e

mostrou-se calmo e articulado durante o atendimento.

A intervenção encontra-se ainda em andamento. Descreve-se aqui apenas as seis

sessões iniciais.

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Tabela 1: Temas planejados para a intervenção com objetivo de maximizar a relação mãe-filho. SESSÃO TEMAS E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

1ª sessão Apresentação da participante e da terapeuta. Informações sobre

o objetivo da intervenção. Assinatura do Consentimento Livre e

Esclarecido. Exposição da situação queixa e análise das qualidades da

criança.

2ª sessão O que é reforço e como reforçar comportamentos adequados das

crianças. Como ignorar comportamentos inadequados das crianças

quando possível. Exemplos de comportamentos adequados e

inadequados. Tarefa de casa: Folha de Registro de Reforço aos

Comportamentos Adequados e Folha de Registro das Reclamações

Recebidas. Entrega da primeira parte da cartilha “Orientações a pais:

como melhorar a relação com seu filho”.

3ª sessão Discussão das anotações das Folhas de Registro. Exemplos de

situações cotidianas de reforço e punição. Entrega da segunda parte da

cartilha “Orientações a pais: como melhorar a relação com seu filho”

Como conseqüenciar adequadamente os comportamentos de Gustavo.

Porque não fazer uso da agressão física na educação dos filhos; como

ensinar sem bater; o que a criança aprende com a palmada; como fazer

as crianças assumirem as responsabilidades de seus atos.

4ª sessão História de vida de Ana e de Gustavo.

5ª sessão Porque não fazer uso da agressão física na educação dos filhos;

o que a criança aprende e o que ela não aprende apanhando.

6ª sessão Avaliação das mudanças até o momento.

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RESULTADOS

História de vida de Ana e de seu filho Gustavo

Os dados acerca da história de vida de Ana e de Gustavo foram coletados ao

longo das sessões, mas principalmente na quarta sessão.

Quando Ana tinha um ano e meio, seus pais se separaram e ela ficou com o pai,

Roberto. Ela não soube informar as razões da separação ou de ter ficado com o pai.

Quando tinha cinco anos, sua mãe Amélia, que morava em São Paulo, levou-a e

seus dois irmãos (um de oito e outro de nove anos), sem ciência ou consentimento do ex-

marido, para uma favela na qual morava com o companheiro. Amélia, ao sair pra

trabalhar, deixava as crianças amarradas, para que não fizessem barulho e não acordassem

o parceiro que trabalhava à noite e dormia durante o dia.

O pai de Ana descobriu o endereço da ex-mulher e trouxe as crianças de volta,

também sem que a esta soubesse. Nessa época, ele casou-se novamente.

Aos setes anos foi abusada sexualmente pelo primo e aos nove pelo tio.

A mãe conseguiu o telefone de uma vizinha e durante anos ligava dizendo que

se as crianças voltassem, as coisas seriam diferentes, pois ela seria amiga dos filhos.

Devido aos maus tratos do pai e da madrasta, Ana quis voltar a morar com a mãe

pensando que sua vida poderia ser diferente do passado.

Ana relatou que sempre ouviu seu pai dizer que, se ela engravidasse sem se

casar, ele a poria para fora de casa; ela percebeu aí uma maneira de poder voltar a morar

com a mãe. Com doze anos, Ana conheceu um rapaz e engravidou. A madrasta de Ana,

mesmo sem saber da gravidez, já havia convencido o pai dela a deixar a enteada a passar

algum tempo com a mãe. O pai e Ana foram pra São Paulo em um dia de Finados; ela

passou dia na casa da a mãe e o Roberto foi visitar sua família.

Nesse dia, Ana contou para a mãe que estava grávida; esta disse que se a filha

ficasse em São Paulo, assumiria a gravidez e ajudaria a cuidar do bebê. Ana decidiu ficar

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e escreveu um bilhete para o pai, que a mãe entregou, contando sobre a gravidez. Roberto

deixou a filha com a ex-mulher.

Ana relatou que, depois que o pai concordou que ela ficasse, sua mãe mudou

muito: deu remédios abortivos para que tomasse, os quais não tomou; batia com o cabo de

vassoura na barriga; levava-a para o seu emprego e a trancava num quarto com muitos

produtos de limpeza durante todo o dia, entre outras coisas. Certa vez, a patroa de Amélia

disse que se as coisas continuassem assim, Ana perderia o bebê. A mãe respondeu que

seriam “duas bocas a menos para alimentar”.

Quando o bebê nasceu, a família sugeriu que Ana entregasse o filho para a

cunhada da irmã da mãe ou ficaria na rua com o bebê. “Eu não tive escolha, eu dei o meu

filho”.

Depois disso, Ana voltou para São Carlos, à casa do pai, por três meses, mas ele

dizia que a madrasta tinha problemas com ela e que não queria morar com a enteada. Em

decorrência, Ana foi morar com uma tia.

Entre várias idas e vindas entre São Paulo e São Carlos – morou algum tempo

com uma amiga-, Ana, com dezesseis anos conheceu Antônio com quem morou e do qual

engravidou de sua filha Lia. Ainda grávida, viu o companheiro com outra mulher em sua

casa e terminou o relacionamento.

Quando voltou pra São Carlos, depois do parto, o pai foi obrigado pelo juiz a

receber Ana em casa. Poucos meses depois, o pai, segundo relato de Ana, mentiu que ela

não cuidava da filha, expulsou-a de casa e tomou-lhe a neta.

Houve várias audiências a respeito da guarda de Lia, sobre as quais Ana não era

avisada. Ela contou a sua história para um amigo de seu pai, Marcos, que lhe propôs que

se ela fosse morar com ele, assim contrataria um advogado para ajudá-la a recuperar a

filha. Ana concordou e conseguiu retomar a guarda do bebê. Ana morou maritalmente

com Marcos, na época com 48 anos, por um ano e meio. Relatou que decidiu terminar sua

relação enquanto ainda havia tempo de ele reconstruir a vida com outra pessoa, já que não

gostava dele. Ana alugou, então, uma casa na qual morou com a filha por algum tempo.

Ana conheceu Rafael e engravidou de Gustavo. O namorado não aceitou a

gravidez e propôs que ela abortasse; ela não concordou e Rafael nunca assumiu o filho.

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Quando estava no sexto mês de gestação conheceu o atual companheiro, João. Eles

decidiram morar juntos. Quando Gustavo nasceu, Lia tinha três anos.

Ana e João têm um filho, André, de três anos.

Quando completou três meses, Gustavo começou a ter crises semanais de

bronquite durante as quais era internado; as crises eram tão intensas que, na maioria das

vezes, os médicos não garantiam que a criança fosse sobreviver.

Um ano e meio atrás, Ana percebeu que quando Gustavo, então com três anos e

meio, faltava na creche vários dias, não tinha crises. Ela decidiu tirá-lo da creche e parar

de trabalhar para cuidar do filho. Desde então, Gustavo não teve crises graves e não

houve nenhum episódio de internação. Atualmente, Gustavo freqüenta a pré-escola.

Ao fazer uma análise de seu casamento, Ana relata que é “a mulher mais sortuda

do mundo”. João assumiu integralmente seus filhos, sendo seu verdadeiro pai. A família

dele não fez nenhuma objeção ao relacionamento e sempre tratou muito bem todas as

crianças sem fazer distinção entre elas.

Resultados Preliminares

A análise da história de vida de Ana permite afirmar que ela foi vítima de

violência doméstica na infância e na adolescência: foi abusada sexualmente pelo primo e

pelo tio, foi agredida fisicamente e psicologicamente pelos pais, foi vítima de negligência

por parte da mãe e do pai.

Dados acerca da relação com o filho e do uso de reforçadores foram colhidos

através da folha de registro de reforço aos comportamentos adequados e a partir dos

relatos de Ana, durante as sessões. Eles apontam que ela e seu marido já reforçavam os

comportamentos adequados de Gustavo, antes do início da intervenção. Entre os

reforçadores dos quais fazem uso estão: elogios, passeios com a família, assistir aos

programas de televisão com os pais e os irmãos, brincadeiras.

Pode-se concluir, portanto, que Ana desenvolveu, antes do período de

intervenção, práticas educacionais parentais adequadas, como uso de reforçadores com

freqüência moderada, hábito de conversar, não usar o bater como forma de educação,

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estar sensível às necessidades, às dificuldades e aos problemas dos filhos, entre outras

habilidades.

Ana fez três anotações na folha de Registro das Reclamações Recebidas sobre

comportamentos de Gustavo, entre elas ter evacuado na calça, que segundo a participante,

nunca havia acontecido. As outras anotações eram referentes a não querer dormir em sua

cama para dormir na dos pais e a uma situação de briga na qual Gustavo estava envolvido.

A partir da quinta sessão, Ana não trouxe anotação de reclamações recebidas, já que não

houve reclamações. Esse fato atesta para a diminuição do número de reclamações ao

longo da intervenção.

Depois da segunda sessão, quando foi discutido como ignorar comportamentos

inadequados sempre que possível, Ana percebeu que ela despendia grande parte de seu

tempo próxima de Gustavo e por isso sempre sabia o que ele está fazendo. Ela relatou não

ficar igualmente atenta aos outros filhos.

Seguem-se relatos ilustrativos das três últimas sessões:

� “Eu percebi que o meu mundo ‘tá’ girando em torno do umbigo dele,

porque eu sempre ‘tô’ por perto pra ver se ele ‘tá’ se comportando bem, se

não ‘tá’ brincando de um jeito perigoso. Às vezes eu chamo a atenção dele

sem ele ter feito nada porque eu já ‘tô’ tão acostumada...”.

� “Quando eu era criança, subia em árvores; como o Gustavo não tem

árvores, sobe no guarda-roupa. O meu pai também ficava lá embaixo

gritando, preocupado, como eu fico hoje, mas quando as crianças sobem

nas árvores, na chácara, eu não acho tão perigoso”.

� “Eu percebi que eu precisava de atendimento, não ele; eu ‘tava’ fazendo

errado algumas coisas”.

� “Na última semana eu liberei tudo... não fiquei em cima delas; só dava

uma olhada de vez em quando pra ver se ‘tava’ tudo bem”.

� “Eu só ficava atrás das crianças pra ver se elas não ‘tavam’ correndo

perigo e agora eu não consigo ficar sozinha em casa que me sinto mal,

sinto falta da gritaria delas”.

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A partir das verbalizações acima é possível perceber a modificação nos

comportamentos de Ana ao longo do atendimento.

O relato das reclamações, na primeira sessão, referiram-se, principalmente às

brigas com os irmãos e na escola. Na quinta sessão, Ana relatou que “ele ‘tá’ mais calmo:

não briga mais e brinca mais com os brinquedos”. Essa diminuição de comportamentos

que se relacionam ao brigar aponta para a efetividade da intervenção em instalar práticas

parentais adequadas, no que diz respeito a conseqüenciação dos comportamentos de

Gustavo. No entanto, Ana disse que “ele ‘tá’ mais manhoso; tudo ele fica sentido”,

apontando para a necessidade de continuação da intervenção.

O fato de ficar manhoso pode fazer parte de uso de comportamentos para atrair

novamente a atenção da mãe, que diminuiu nas últimas semanas.

O tempo livre passará a ser usado de outra forma, a partir de agora, o que poderá

resultar em mudanças na dinâmica familiar. Esses dois aspectos serão itens a serem

trabalhados na continuação do atendimento.

Pode-se levantar a hipótese de que o excesso de atenção com o filho pode ter se

mantido após três anos de crises de bronquite durante as quais a criança era

freqüentemente internada. Essa atenção pode ter gerado um ciclo de observação e

valorização dos comportamentos inadequados, entre os adequados, o que levava Ana a

dispensar mais atenção (brigar, conversar, por exemplo) fechando o ciclo. Assim

comportamentos de brigar, por exemplo, podem ter se mantido porque proporcionam

ganho de atenção para a criança. Atualmente, as crises não são freqüentes, nem intensas, o

que possibilita diminuição da atenção a Gustavo e conseqüentemente interrupção do ciclo

e alteração das condições iniciais.

O objetivo para a seqüência do atendimento (no próximo semestre) consiste em

levar Ana e seu marido e dar mais atenção aos comportamentos adequados, que é

diferente de estar excessivamente atenta à criança, para que diminua a ocorrência de

comportamentos inadequados com a finalidade de obtenção de atenção.

Em relação às brigas na escola, a mãe relata que “a professora diz que Gustavo

tem fases: tem semana que ‘tá’ tudo bem, tem semana que ele implica com os

coleguinhas...”. Na seqüência do trabalho serão feitas visitas à escola, durante as quais

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serão feitas observações de Gustavo interagindo com os colegas e com a professora e, se

necessário, serão dadas orientações a ela.

A respeito da avaliação que faz da intervenção até o momento e das mudanças

promovidas por ela, Ana relatou que “o Gustavo ‘tá’ bem mais calmo, mas o que mudou

muito é que eu parei de prestar tanta atenção nele” e que “ele melhorou muito; eu mudei

muito também”; “as reclamações caíram absurdamente”.

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CONCLUSÕES

Pode-se concluir, a partir dos relatos de Ana e dos registros que a intervenção

alcançou seu objetivo de melhorar a qualidade da relação entre mãe e filho, embora não

completamente devido ao pouco tempo de intervenção.

O treino de habilidades maternas aumentou comportamentos desejáveis dos

filhos, entre os quais brincar mais tempo com os irmãos, com brinquedos e diminuir os

indesejáveis, entre eles as brigas, o que vem facilitando a construção de uma relação mãe-

filho mais positiva e melhorando todo o contexto familiar, já que as mudanças de

comportamentos de Ana e de Gustavo afetam a dinâmica familiar.

Os bons resultados alcançados também se devem à disponibilidade de Ana em

procurar o serviço de atendimento psicológico, em desenvolver habilidades parentais e

praticá-las, em rearranjar contingências ambientais e a se dispor a alterar a própria

dinâmica familiar. O fato de procurar serviços de apoio quando julga necessário e sua

disposição em mudar situações que considera inadequadas aponta para a capacidade de

resiliência de Ana.

O tempo de intervenção que se considerou neste estudo e na análise dos dados,

de seis sessões, não foi suficiente para modificar todas as queixas trazidas na primeira

sessão, entre elas as brigas de Gustavo com os colegas da escola. A análise de dados de

uma intervenção mais longa é aconselhada para estudos futuros. Faz-se pertinente

esclarecer, contudo, que o atendimento prosseguiu além das seis sessões analisadas aqui,

na tentativa de abordar os temas e aspectos que não foram trabalhados e que são

necessidades desta família.

A intervenção individual possibilitou que necessidades específicas desta família

fossem trabalhadas, mesmo quando se faz uma programação anterior de temas a serem

desenvolvidos na intervenção.

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ANEXO 1

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FOLHA DE REGISTRO DE REFORÇO AOS COMPORTAMENTOS

ADEQUADOS

Observe cinco comportamentos adequados de seu filho, por dia. Dê atenção a todos esses comportamentos, fazendo elogios, como: “Você guardou sua roupa. Que bom!!”. Evite fazer críticas, desafios ou dar ordens.

Comportamento adequado da criança

Comportamento do pai ou da mãe (reforço)

Reação da Criança / Dificuldades sentidas

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ANEXO 2

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FOLHA DE REGISTRO DAS RECLAMAÇÕES RECEBIDAS Liste as reclamações que recebe de outras pessoas a respeito dos comportamentos de seu filho, durante uma semana.

Data Reclamação Quem fez a reclamação

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ANEXO 3

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OORRII EENNTTAAÇÇÕÕEESS AA PPAAII SS:: CCOOMMOO MMEELLHHOORRAARR AA RREELLAAÇÇÃÃOO CCOOMM SSEEUUSS FFII LLHHOOSS

Para a criança, é muito importante saber que os pais valorizam o

que ela faz bem, o que ela tem de especial.

Demonstrar para seu filho que ele é importante, amado, capaz

faz parte das obrigações daqueles pais que desejam criar e cuidar de

crianças felizes e bem adaptadas.

É a partir do que você diz ao seu filho que ele aprende a gostar

de si mesmo, a se valorizar.

Perceba as qualidades de seu filho, elogie quando se ele

comporta bem, pergunte coisas sobre o dia dele (como foi na escola, do

que brincou com os amigos), seja carinhoso com ele. Sempre diga para a

criança o motivo pelo qual você está elogiando. Por exemplo: abrace a

criança e diga que está feliz porque ela arrumou os brinquedos depois de

usá-los.

Quando elogiar a criança por ter feito algo corretamente, não

acrescente desafios. Dizer que aquilo que ela fez está bom, mas poderia

ser melhor, não é elogio, é cobrança.

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ANEXO 4

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O que fazer quando a criança faz algo errado

É difícil manter a calma quando a criança reclama, critica,

resmunga e faz coisas que ela já foi avisada para não fazer!

Nesse momento, é importante que você consiga controlar suas

ações e suas palavras. Os pais e as mães podem dizer coisas ruins para os

filhos quando estão com raiva. Coisas como: “você nunca faz nada

certo”, “porque você não é como seu irmão?”.

Tente se controlar para não diminuir seu filho, mesmo quando

ele faz coisas que você não gosta!

Receber críticas provoca sentimentos ruins como raiva, senso de

incapacidade, de não ser aceito e amado.

Você pode conversar com a criança, pedir a ela que pense sobre

o que aconteceu e como pode resolver a questão.

Elogiar o que a criança fez de certo é o melhor a se fazer.

E você pode tentar ignorar comportamentos inadequados sempre

que você achar que ele está ocorrendo para chamar sua atenção e quando

não for perigoso ou prejudicial para seu filho. Ignorar significa fazer de

conta que o comportamento não ocorreu: não fazer cara feia, não criticar,

não rir.

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ANEXO 5

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ANEXO 6

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE PSICOLOGIA

LABORATÓRIO DE ANÁLISE E PREVENÇAO DE VIOLÊNCIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ___________________________________________________________, concordo em participar do projeto de “INTERVENÇÃO COM PAIS: MAXIMIZANDO A RELAÇÃO COM SEUS FILHOS”, que tem por objetivo ensinar às mães como estabelecer relações adequadas com seus filhos de modo que essa relação se torne fonte de segurança para os participantes da dupla.

Concordo que a minha participação no projeto consistirá em acompanhar as sessões de treinamento de habilidades.

Fui informada que tenho a total liberdade para me recusar a participar da intervenção e posso retirar o meu consentimento a qualquer momento, caso eu deseje. Posso, ainda, pedir esclarecimentos sobre qualquer dúvida que venha a ter, a qualquer momento.

Fui assegurada de que o anonimato em relação às minhas informações pessoais será mantido. A divulgação dos resultados provenientes da pesquisa manterá sigilo em relação a minha identidade.

Concordo quanto a minha participação na pesquisa e à divulgação dos resultados provenientes da mesma.

_____________________________ _____________________________ Participante Maria Fernanda J. Mião pesquisadora

São Carlos, ___ de _____________ de 2004. Informações para contato: telefone: (16) 3374 3754

e-mail: [email protected]; [email protected]