max weber - sociologia da educação

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OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA Max Weber Estudou história econômica, direito e filosofia. Foi professor em duas universidades na Alemanha. Principais obras: - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo - A Objetividade do Conhecimento na Ciência Política e na Ciência Social. - Economia e Sociedade

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OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO

LEGÍTIMA

Max Weber

Estudou história econômica, direito e

filosofia.

Foi professor em duas universidades na

Alemanha.

Principais obras:

- A Ética Protestante e o Espírito do

Capitalismo

- A Objetividade do Conhecimento na

Ciência Política e na Ciência Social.

- Economia e Sociedade

CONTEXTO SOCIAL DE WEBER

• Processo de industrialização tardia na Alemanha em um movimento “de

cima para baixo”.

• Esse tipo de industrialização contribuiu para que as elites empresariais

de alinhasse mais de perto ao Estado, não desenvolvendo uma classe

empresarial forte e independente , capaz de fazer frente ao poder do

Estado.

• O desenvolvimento econômico se realizou sob a hegemonia de uma

casta de funcionários governamentais.

• Influências das ideias políticas de Lutero, no formato de convenções e

valores, manifestava-se um profundo respeito pela autoridade em geral e

pelo Estado em particular. Em alguns lugares o Estado, suas leis e

funcionários adquiriam uma “aura” de confiabilidade e legitimidade

• No século XIX ainda tinha vestígios da cultura de dominação autoritária

do feudalismo, dificultando que noções de auto-governo, direitos

individuais e governos representativos se desenvolvessem e como

resultado se tinha uma classe operária alemã politicamente fraca

• Na formação do Estado Alemão, Bismark impediu que o Parlamento

tivesse um papel independente e assertivo, assim como a população. O

poder do chanceler era centralizado, ele dominava a política, os

funcionários e uma classe de pequenos aristocratas agrários.

• Exitoso no fomento a uma rápida industrialização e na construção da

ideia de confiança social baseada no respeito ao Estado e às leis, de

um lado, e a convenção hierárquicas e quase feudais, de outro, o

modelo alemão se opôs à formação de uma cultura política

democrática.

• A racionalidade formal era quase onipresente nas burocracias da

sociedade industrial. As decisões eram tomadas “sem consideração

com as pessoas” mas em função de um conjunto de regras, leis,

estatutos e regulamentos de aplicação universal”

Nesse contexto Weber escreve sobre as três tipos de dominação legítima

DOMINAÇÃO

Probabilidade de que um grupo determinável de indivíduos (em

consequência de vários motivos) oriente sua ação social a emitir

ordens, somada a probabilidade de que outro grupo, também

determinável, oriente sua ação social para a obediência (em

consequência de vários motivos), e que as ordens sejam de fatos

cumpridas em um nível sociologicamente relevante.

• Weber se interessa pela dominação legítima – obediência adquire

uma característica voluntária.

• Os dominadores convencem a si mesmo de que tem direito a

exercer a dominação e tentam incutir entre os dominados a ideia

de que esse direito é merecido, quando é bem sucedido, o seu

domínio é mais eficaz que o recurso da força ou poder – pretensão

à legitimidade.

• Por que as pessoas obedecem à autoridade?

• Por meio de seus estudos históricos comparados, Weber afirma

que os detentores de poder profano, político e não-político usam

três tipos de legitimação: legal, tradicional e carismático

DOMINAÇÃO LEGAL

• Manifesta-se na organização burocrática. Encontra-se em toda parte em

uma sociedade industrial. Ela é legítima por se basear na crença em

regras devidamente estatuídas e em normas procedimentais “objetivas”, é

impessoal.

• “O tipo daquele que ordena é o “superior”, cujo direito de mando está

legitimado por uma regra estatuída, no âmbito de uma competência

concreta, cuja delimitação e especialização se baseiam na utilidade

objetiva e nas exigências profissionais estipuladas para a atividade do

funcionário”

• O FUNCIONÁRIO: “aquele de formação profissional, cujas condições de

serviço se baseiam num contrato, com um pagamento fixo, graduado

segundo a hierarquia do cargo”.

• AS RELAÇÕES: “sem a menor influência de motivos pessoais e sem

influências sentimentais de espécie alguma, livre de arbítrio e capricho e,

particulamente, “sem consideração da pessoa”, de modo estritamente

formal segundo regras racionais ou, quando elas falham, segundo pontos

de vista de conveniência objetiva.

DOMINAÇÃO LEGAL

• PRESENÇA: estrutura moderna do Estado, na empresa capitalista privada,

numa associação com fins utilitários ou numa união de qualquer outra

natureza que disponha que disponha de um quadro administrativo

numeroso e hierarquicamente articulado.

• O CONTRATO: “O fato de o ingresso na associação dominante ter se

dado de modo formalmente voluntário nada muda no caráter do domínio

posto que a exoneração e a renúncia são igualmente “livres”, o que

normalmente submete os dominados às normas da empresa, devido às

condições do mercado de trabalho”

• BUROCRACIA: É o tipo mais puro da dominação legal. “Nenhuma

dominação, todavia, é exclusivamente burocrática, já que nenhuma é

exercida unicamente por funcionários contratados”.

• A burocracia não é o único tipo de dominação legal. “A administração pelos

parlamentos e pelos comitês, assim como todas as modalidades de corpos

colegiados de governo e administração correspondem a esse conceito,

sempre que sua competência esteja fundada sobre regras estatuídas e

que o exercício do direito de domínio seja congruente com o tipo de

administração legal”.

DOMINAÇÃO TRADICIONAL

“ Em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais

de há muito existentes. Seu tipo mais puro é a dominação patriarcal”.

ORGANIZAÇÃO: A associação dominante é de caráter comunitário. O tipo

daquele que ordena é o “senhor”, e os que obedecem são “súditos”, enquanto o

quadro administrativo é formado por “servidores”. Obedece-se à pessoa em

virtude de sua dignidade própria, santificada pela tradição: por fidelidade.

A divisão de seu domínio se dá em uma área estritamente firmada pela tradição,

e em outra da graça e do arbítrio livres, onde age conforme seu prazer, sua

simpatia ou sua antipatia e de acordo com os pontos de vista puramente

pessoais, sobretudo suscetíveis de se deixarem influenciar por preferências

também pessoais.

QUADRO ADMINISTRATIVO: Ele consta de dependentes pessoais do senhor,

ou de amigos, ou de parentes, ou de amigos pessoais ou de pessoas que

estejam ligadas por um vínculo de fidelidade – falta o conceito burocrático de

competência.

Duas formas distintas:

Estrutura patriarcal de administração: Completa dependência do

“senhor”. Administração heterônoma e heterocéfala: não existe

direito sobre o cargo ou seleção profissional. Não existe garantias

contra o arbítrio do senhor.

Estrutura estamental: pessoas independentes do senhor, de

posição própria que lhes garante proeminência pessoal. Estão

investidos no seu cargo por privilégios ou concessão do senhor –

tem direito ao próprio cargo. É uma administração limitada, mas

mais autônama em comparação com a patriarcal.

A estrutura estamental encontra-se mais próxima da dominação

legal pois existem garantias que cercam as competências dos

privilegiados. Contudo, a disciplina rígida e a falta de direito próprio

do quadro administrativo se aproxima mais da disciplina da

dominação legal.

DOMINAÇÃO CARISMÁTICA

• Em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e a seus dotes

sobrenaturais (carisma) e, particularmente: a faculdades mágicas,

revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória.

• Tipos puros: dominação do profeta, dominação do herói guerreiro e do

grande demagogo.

• Relação líder-apóstolo.

• DOMINAÇÃO: “Obedece-se exclusivamente a pessoa do líder por suas

qualidades excepcionais e não em virtude de sua posição estatuída ou de

sua dignidade tradicional; e portanto, também somente enquanto essas

qualidades lhe são atribuídas, ou seja, enquanto seu caráter subsiste”.

• QUADRO ADMINISTRATIVO: “Escolhido segundo carisma e vocação

pessoais, e não devido à sua qualificação profissional, posição ou

dependência pessoal”.

• A administração carece de qualquer orientação dadas por regras estatuídas

ou tradicionais – prevalece o irracional.

• Não é presa à tradição

• “ A forma genuína da jurisdição e a conciliação de litígios carismáticos é a

proclamação da sentença pelo senhor ou pelo “sábio” e sua aceitação pela

comunidade e essa sentença é obrigatória, sempre que não se lhe oponha

outra concorrente, de caráter também democrático”

• AUTORIDADE CARISMÁTICA: Baseia-se na crença ou no reconhecimento. “A

fé e o reconhecimento são considerados um dever, cujo cumprimento aquele

que se apoia na legitimidade carismática exige para si, e cuja negligencia

castiga”

• CARISMA: livre de juízo de valor – fazer-se acreditar, ter reconhecimento.

• RELAÇÃO: “O senhor em virtude do isolamento dos membros desse quadro e

da solidariedade de cada um deles para com ele mesmo, é o mais forte diante

de cada indivíduo renitente, porém é em todo caso o mais fraco se estes se

associam entre si”.

• CONTINUIDADE: conversão no tipo tradicional; passagem do quadro

administrativo carismático; sucessão: designação do sucessor, apóstolo

carismático; carisma hereditário; objetivação ritual do carisma; conversão em

uma legitimidade democrática.

E COMO FICA

A

EDUCAÇÃO ?

• “as formas de dominação burocrática estão em ascensão em todas as

partes”

• Podemos então falar em uma Educação burocrática?

• Como a Escola se organizou ao educar o cidadão para uma sociedade

burocrática?

• Um dos princípios da burocracia é que o cidadão tenha uma formação

profissional especializada, que se sujeite às regras da instituição

administrativa como um “dever da obediência”

• Pelos cargos administrativos estarem baseados no princípio da

competência reforçou a necessidade de um sistema de exames e de

diplomas educacionais, ou seja, uma busca e competição, visto que, quem

tem a superioridade técnica obtém os melhores cargos hierárquicos (Viana,

2004).

EDUCAÇÃO BUROCRÁTICA?

• Considerando uma educação que forma indivíduos para a burocracia,

especialização e competição, estariam as escolas desenvolvendo a

autonomia, criatividade, colaboração, conhecimento e transformação social

em seu trabalho pedagógico com os alunos? E a autonomia docente?

Como os currículos são trabalhados na escola? Estariam esses

contribuindo para a educação burocrática?

• Pensando no contexto brasileiro a hierarquia formada por professores,

coordenadores, supervisores, diretores, conselho municipal e estadual de

ensino estariam contribuindo para a qualidade da educação? O que dizer

sobre o currículo mínimo? E os sistemas nacionais de avaliação, como

Saerj, Prova Brasil e Enem, estão mostrando caminhos para a melhoria da

educação ou contribuindo para uma educação burocrática?