A RELAO ENTRE ESPAO E RELIGIO: UMA ANLISE DA

TERRITORIALIDADE DA FESTA DE SANTANA NO CONJUNTO SOLEDADE II- ZONA NORTE DE NATAL.

Anne Gabriele do Nascimento Santos

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Departamento de Geografia

anneufrn@hotmail.com Bolsista do Programa de educao Tutorial de geografia

Bruno Lopes da Silva

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Departamento de Geografia

blsilva1986@bol.com.br Bolsista do Programa de educao Tutorial de geografia

Orientador: Prof. Dr: Alessandro Dozena Resumo

O presente artigo tem como objetivo principal analisar a relao entre espao e religio na perspectiva da cincia geogrfica, tendo como objeto de estudo a territorialidade da

festa de Santana, realizada no conjunto de Soledade II, Zona Norte de Natal. Diante disso, as discusses existentes ao longo deste trabalho procuraro evidenciar que as temticas relacionadas ao fato religioso, so influenciadas no s pelas questes de

cunho simblico e cultural, mas tambm por fatores relacionados economia e poltica. Para isso, na primeira parte do artigo procurou-se fazer uma anlise histrica da

festa de Santana, destacando tambm os seus aspectos de ordem terica e conceitual; j na, na segunda parte, para entender de forma mais aprofundada essa sinergia entre espao e religio, fez-se uma discusso terica usando como conceitos-chave as noes

de territrio e de territorialidade, pois estes conceitos so extremamente importantes para se analisar a identidade territorial de uma dada populao e o seu grau de

envolvimento com uma determinada manifestao cultural. Para completar esta pesquisa, a terceira e ltima parte do artigo diz respeito a um estudo de carter emprico que foi realizado a junto parquia para descobrir quais os diferentes agentes sociais

que participavam de forma direta e indireta da festa, como o poder pblico, a iniciativa privada e a populao de modo geral, o que denota as vrias dimenses organizacionais

do evento, incluindo nesse contexto, questes polticas, econmicas e culturais. Por esse motivo, para desenvolver este artigo utilizou-se como metodologia uma pesquisa bibliogrfica em trabalhos acadmicos que versavam o estudo geogrfico das religies,

principalmente as pesquisas produzidas no Ncleo de Estudos e Pesquisa sobre Espao e Cultura, da Universidade do Estado do Rio de janeiro, bem como as informaes

obtidas na prpria parquia, por meio dos documentos que ela utiliza no perodo da festa, para a divulgao do referido evento, como por exemplo, os informativos. Com base nesse estudo em que se correlacionou o terico com o emprico, foi possvel

alcanar o objetivo estabelecido e ao mesmo tempo obter resultados significativos, que permitiro a comunidade acadmica um melhor conhecimento sobre esta manifestao

cultural que se realiza anualmente na cidade de Natal, tendo em vista a reduzida

quantidade de trabalhos cientficos que trabalham as questes religiosas no mbito da

geografia.

Palavras-chave: Territorialidade; Festa de Santana; Conjunto Soledade II, Zona Norte de Natal.

Introduo

Os estudos geogrficos sobre religio cada vez mais vem ganhando

destaque nas discusses de cunho acadmico que envolve a relao entre o sagrado e o espao. Dessa forma, ao desenvolver pesquisas sobre a dimenso espacial de uma religio, a geografia procura discutir o carter simblico do espao ao ser apropriado

pelo fato religioso, vindo a tona, os conceitos de identidade territorial e de territorialidade do sagrado.

Em funo disso, a cincia geogrfica tem se interessado significativamente pela anlise e investigao das festas religiosas, focando principalmente, na

territorialidade dessas manifestaes culturais e nas mudanas que elas causam na dinmica de funcionamento do espao geogrfico. Por isso, o objetivo deste artigo analisar a territorialidade da festa de Santana, realizada anualmente no conjunto

Soledade II, Zona Norte de Natal.

Partindo do princpio, que h uma sinergia entre espao e religio, na primeira parte do artigo ser discutido o processo de origem e evoluo da festa de Santana; na segunda parte, priorizou-se uma abordagem terica da inter-relao que

existe entre territrio, territorialidade e religio; e na terceira e ltima parte, buscou-se evidenciar a dimenso espacial da festa, em que se discutiu os aspectos econmicos,

polticos e culturais que permeiam o evento.

Festas populares: origem, evoluo e teorizao

A realizao das festas com o passar do tempo tem tomado um evento scio-cultural da grande complexidade em temos organizacionais, congregado os mais

diferentes segmentos da sociedade e abrangendo varias escalas espaciais. Na concepo de Maia (1999) as festas populares consistem em manifestaes populares que

apresentam durao efmera e transitria que perduram por algumas horas, dias ou semanas.

Por isso, pertinente destacar que a festa popular enquanto manifestao cultural apresenta varias nuances ao longo da sua realizao, caracterizadas por rituais

e momentos da convivncia social em que certos aspectos da realidade so postos em relevo(DAMATA,1983 apud MAIA, 1999). Nesse sentido, sendo a festa um momento em que h a participao de pessoas de diferentes segmentos sociais, conclui-se com

isso, que uma boa festa aquela em que muitos eus, extremamente ex-postos, compartilham com outros[...], tornando-se prximos daqueles que cordialmente so

estranhos (MAIA, 1999).

A respeito das festas religiosas, especificamente, Reis (2009) salienta que

o surgimento destas se deu pelo fato da vida religiosa e a vida profana no poderem

coexistir ao mesmo tempo. Por esse motivo, o homem destinava ou reservava alguns

dias a sua cotidianidade para reverenciar sua divindade, dedicando-se quase que exclusivamente a adorao do sagrado durante este perodo. Ento, a festa, a partir desse

ponto de vista se constitua como um tempo particular e distinto em relao ao cotidiano, pois em cada religio elas possuem um carter de paralisao das atividades rotineiras, como o trabalho (REIS, 2009).

Para este autor, as festas religiosas realizadas no Nordeste do Brasil tm

como peculiaridade o fato de proporcionar ao homem a oportunidade de transcender-se, e vivenciar uma realidade totalmente distinta daquela que ele vivencia cotidianamente, em suas atividades dirias. Assim, nesse contexto de transcendncia que o homem no

decorrer da festa faz suas promessas, participa de procisses e de sacrifcios, tendo como meta, superar as dificuldades e injustias a que esto submetidos, por meio da

adorao a um ser divino (REIS, 2009).

No caso do objeto de estudo desta pesquisa, que a festa de Santana

realizada no conjunto Soledade II, Zona Norte de Nata l, ela se constitui em um grandioso momento de f e expresso popular, isso porque, alm de ser festejada neste bairro, esta padroeira reverenciada em vrias parquias do Rio Grande do Norte

(INFORMATIVO DA PARQUIA DE SANTANA, 2008).

Como se pode notar, as festividades referentes a Santana so de grande importncia para vrias cidades do estado do Rio Grande do Norte, mas em relao a festa em Soledade II, especificamente, o Padre Francisco das Chagas de Souza,

principal liderana religiosa da parquia faz a seguinte:

Agora, aproxima-se a festa da nossa padroeira, festa que vem chamando ateno da cidade do Natal, motivo de alegria para todos ns da parquia. Mas tambm tempo de despertarmos para o encontro com Jesus. Ser, portanto, a grande renovao da parquia: favorecer o seu grande encontro com Jesus Cristo (INFORMATIVO DA PARQUIA

DE SANTANA, 2008 p.3).

Diante desta citao, torna-se notria a funo da festa religiosa enquanto espao de mediao entre o homem e a divindade, assim como foi discutido

anteriormente. Isto , para todos aqueles que organizam e que participam diretamente das atividades religiosas da festa, este momento se caracteriza como um ponto de

encontro com Jesus.

Embora seja uma das principais manifestaes religiosas da cidade de

Natal, a festa de Santana surgiu na dcada de 1990, tendo como fator impulsionador a criao da parquia de Soledade II, no ano de 1992, a partir do desmembramento da parquia de Santa Me Maria (conjunto Santa Catarina), Zona Norte de Natal

(INFORMATIVO DA PARQUIA DE SANTANA, 2008). Consequentemente, no ano seguinte, a festa teve sua primeira edio, sendo realizada na frente da Igreja em estilo

de quermesse, entretanto, a partir de 1999, essa manifestao cultural adquiriu maiores propores, passando a ocupar o entorno da Igreja.

Tradicionalmente, a festa comemorada no ms de Julho, e em 2011, ela

ser realizada pela 19 vez, contemplando no s o Conjunto de Soledade II, mas tambm outras reas da cidade, pois a parquia de Santana abrange 9 comunidades da

Zona Norte de Natal ( Figura 1 ). Portanto, a parquia de Santana possui vrias pastorais e vrias comunidades, representadas por diferentes Igrejas da Zona Norte, as quais esto distribudas territorialmente da seguinte forma:

Figura 1: Comunidade que compem a parquia de Santana. Fonte: Informativo da parquia de Santana, 2008.

Como est posto esquematicamente acima, a parquia de Santana tem uma abrangncia muito grande, e para se entender melhor essa organizao religiosa

entre as igrejas, necessrio ter em mente o conceito de parquia. O cdigo de Direito Cannico por sua vez, declara que:

Parquia uma determinada comunidade de fies, constituda estavelmente na Igreja particular, e seu cuidado pastoral confiado ao proco como a seu pastor prprio, sob autoridades do bispo diocesano (can. 515 1) (INFORMATIVO DA PARQUIA DE SANTANA, 2008

p.3).

A parquia desse modo possui um poder administrativo maior, visto que ela tem sob sua jurisdio uma srie de comunidades. Nesse sentido, vlido usar o conceito de parquia definido pelo Dicionrio da Lngua Portuguesa, elaborado por

Bueno (1983), tendo como objetivo ampliar e explicitar mais ainda este conceito. Nesse contexto, a parquia entendida como o territrio sobre o qual se estende a esfera da ao espiritual de um proco (BUENO, 1983). Isso significa que, a parquia enquanto

instituio religiosa pertencente Igreja catlica tem na figura de um proco ou vigrio,

a pessoa responsvel pela funo sacerdotal e ao mesmo tempo administrativa.

Apesar de a parquia de Santana em Soledade II tenha uma grande importncia para a comunidade do ponto de vista religioso, bom deixar claro que a festa em si, possui uma dimenso ligada ao sagrado e outra atrelada ao profano. Nos

ltimos anos, shows com bandas de forr tm feito parte da festa, as quais passaram a ocorrer no estacionamento do Natal Norte Shopping (INFORMATIVO DA

PARQUIA DE SANTANA, 2008). As discusses acerca desta temtica em particular, sero desenvolvidas na ltima parte deste artigo, em que se enfatizar a dimenso espacial da festa.

Territrio, territorialidade e religio.

A anlise da abrangncia espao-temporal de uma manifestao cultural, como por exemplo, a festa de Santana, realizada no conjunto Soledade II Zona Norte de

Natal, ao ser estudada pela geografia utiliza o conceito de territrio como elemento norteador, a partir do qual discute-se a noo de territorialidade. Apesar disso, vale salientar que o territrio enquanto um dos conceitos fundantes da geografia possui

diversas abordagens terico-metodolgicas, todavia, para desenvolver uma discusso de cunho cultural preciso considerar a dimenso simblica deste conceito.

Convm, neste caso, definir teoricamente o conceito de territrio, para que seja possvel discutir a territorialidade da festa de Santana, e os elementos constituintes

deste processo de apropriao do espao. Valendo-se do pensamento de Souza (2000), o territrio pode ser entendido como um espao definido e delimitado a partir de relaes de poder. Para o autor, inicialmente o territrio era associado quase que unicamente a

um espao nacional de um Estado-nao, porm importante destacar que os territrios so construdos e desconstrudos nas diferentes escalas espao-temporais.

Partindo da premissa que o poder exercido por um dado agente social resulta na formao de territrios, a territorialidade por sua vez, relaciona-se a um

conjunto de prticas desenvolvidas por grupos ou instituies no sentido de controlar um dado territrio (ROSENDAHL, 1996). No caso da festa de Santana, o mtodo de

estudo adotado enfatiza principalmente a dimenso simblica e cultural do territrio, tendo como objetivo, analisar o processo de gesto e controle do territrio por uma instituio religiosa (GIL FILHO; GIL, 2001), que neste caso, refere-se parquia de

Santana localizada no conjunto Soledade II.

Por esse motivo, Haesbaert (2004) ao discutir o conceito de territorialidade afirma que este conceito tem uma vinculao muito forte com as questes de ordem simblico-cultural, o que tem se tornado um pr-requisito fundamental quando se

investiga a dimenso espacial de um fenmeno religioso. Nesse contexto, a territorialidade se exprime atravs da criao de territrios pela Igreja, a partir da qual

se d o relacionamento do simblico com o espao (ROSENDAHL, 1996).

Assim, a partir dessa relao entre a dimenso simblica viabilizada pela

ao da Igreja e o espao, que o fato religioso se faz presente, culminando com uma srie de modificaes espaciais em funo do poder exercido pela instituio religiosa. a partir deste processo que acontece a mediao entre o homem e a divindade,

dando origem ao sagrado e permitindo ao homem entrar em contato com a realidade

transcendente (ROSENDAHL, 1996).

Diante disso, Rosendahl (1996) coloca que:

O espao sagrado campo de foras e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que o transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existncia. por meio de smbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce sua funo de mediao entre o

homem e a divindade.

Em relao s festas religiosas, essa mediao feita atravs de imagens

que representam um dado santo, o qual na maioria das vezes reverenciado enquanto padroeiro de uma determinada cidade, bairro ou povoado localizado em Zona Rural. Ou seja, cada cidade possui seu calendrio religioso, representado em especial pelas festas

de padroeiro locais (ROSENDAHL, 1996), assim com ocorre na rea de estudo desta pesquisa, em que anualmente no ms de Julho comemora-se as festividades de Santana.

Isso vai de encontro ao que Souza (2000) diz, o qual deixa claro que a formao de territrios tem uma temporalidade bem definida, fato que pode ser observado nas festas de padroeiro, que ocorrem uma vez ao ano e em um ms especfico.

Com isso, percebe-se que a festa de cunho religioso enquanto manifestao cultural e simblica permeada por uma demarcao temporal e espacial que se reflete

na formao de territrios e na definio de uma identidade religiosa na rea onde se realiza a festa. Isto , cada comunidade religiosa recorta o espao sua maneira, de

forma a constituir um ponto fixo em que ela se confina e onde ela reencontra suas lembranas (ROSENDAHL, 1996).

A festa de Santana e sua dimenso espacial

Considerando o espao geogrfico como um conjunto indissocivel de

objetos e de aes (SANTOS, 1999 ), ao se estudar o seu arranjo extremamente necessrio salientar as trs instncias que o compem, que so a econmica; a jurdico-

poltica e a cultural- ideolgica (MOREIRA, 2007). Nessa perspectiva, traando um paralelo com o pensamento de Haesbaert (2004), plausvel salientar que o territrio na condio de recorte do espao geogrfico possui consequentemente uma dimenso

cultural ou simblica, e uma dimenso material, de carter econmico-poltica.

Sendo assim, a abordagem da dimenso espacial de um fenmeno, tal como uma festa religiosa, requer a utilizao dessas trs instncias de anlise (econmica, poltica e cultural) para que haja a realizao de um estudo eminentemente geogrfico.

Para por em prtica essa perspectiva analtica, tormar-se- como aporte terico a idia proposta por Maia (1999), a partir da qual ele discorre sobre a relao entre festa e

espao. Em sua metodologia de anlise, Maia (1999) elenca os agentes responsveis

pela produo do espao da festa, tais como os participantes, o poder pblico, a mdia e

os patrocinadores.

Aplicando o estudo de Maia (1999) na festa de Santana, no Conjunto de Soledade II, ter-se- a capacidade de identificar a atuao desses agentes que produzem o espao da festa. Baseando-se nesta premissa, ressalta-se o argumento elaborado por

Corra (1989) segundo o qual o espao urbano um produto social, resultado de aes acumuladas atravs do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem

espao.

Dentre os agentes citados anteriormente, propostos por Maia (1999), o

primeiro a ser analisado justamente o pblico que participa da festa. Essas pessoas desempenham um papel fundamental na realizao do evento, visto que, engloba os grupos religiosos organizadores da festa, bem como aqueles que participam do evento

na condio de pblico alvo.

Para se ter uma idia da dimenso da festa de Santana em termos de pblico participante, de acordo com as informaes fornecidas pela parquia no ano de 2004 o evento contou com a participao de aproximadamente 15.000 pessoas, ao passo que,

nos anos seguintes a meta seria ampliar consideravelmente este nmero. Atravs desse poder de atrao populacional, a festa promove consequentemente a formao de redes

geogrficas e a existncia de interaes espaciais entre diferentes regies, devido ao fluxo populacional (CORRA, 1997 apud MAIA, 1999).

No que tange a atuao do poder pblico no decorrer da festa de Santana, ela reflete diretamente a dimenso poltica deste evento. Geralmente essa atuao do poder pblico, se d em especial no processo de estabelecimento dos limites espaciais,

localizao e horrio de ocorrncia da festa (MAIA, 1999). Em Soledade II, por exemplo, a rea abrangida pelo evento diz respeito Praa Bblica e o campo de futebol

Lavoisier Maia, entre as ruas Chapada do Apodi, Ilha de So Paulo, Ilha de Maraj e Baia de So Jos (INFORMATIVO PARQUIA DA PARQUIA DE SANTANA, 2008), resultando na reorganizao espacial da rea (8.000 m de rea ocupada) e na

mudana do fluxo de pessoas e de veculos, a partir de interdio das ruas citadas.

Alm de regulamentar o uso do solo por meio de leis e normas (CORRA, 1986), o poder pblico concede investimentos para eventos como esse, a partir da ao das secretarias municipais e estaduais (INFORMATIVO DA

PARQUIA DE SANTANA, 2008). Segundo a parquia, as principais secretarias e rgos pblicos envolvidos na festa de Santana so a URBANA, a Secretaria municipal

de Obras e Viao, a Secretaria Municipal de Servios Urbanos, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, a Secretaria Municipal de Sade, a Polcia Militar, o Corpo de Bombeiros e o Comando de Policiamento Rodovirio Estadual.

Outro agente relevante na dinmica de realizao da festa a mdia, pois ela

tem como incumbncia levar ao conhecimento do pblico a ocorrncia do evento (MAIA, 1999). No perodo da festa de Santana, especificamente, a parquia elabora uma estratgia de publicidade bem diversificada, fazendo com que o anncio seja feito

em out-doors, rdios, cartazes, faixas, camisetas, impressos, carro de som, adesivos, banners, entre outros (INFORMATIVO DA PARQUIA DE SANTANA, 2008).

Para os organizadores da festa o uso da mdia indispensvel pois:

Tal estrutura envolve recursos que a parquia de Santana no dispe de condies para custe-las isoladamente. Neste sentido, convocamos os empresrios da cidade a estabelecerem uma parceria no sentido no sentido de proporcionar a melhor divulgao dos ltimos anos, os quais, certamente ganharo veiculando a publicidade da empresa associada imagem da nossa festa (INFORMATIVO DA PARQUIA DE SANTANA, 2008).

Isso demonstra perfeitamente a dimenso econmica da festa, pois os organizadores passam a se associar com os empresrios no intuito de divulgar e ao

mesmo tempo angariar recursos para o evento. Partindo deste princpio, a festa religiosa comea a adquirir um forte apelo mercadolgico (MAIA, 1999), em funo, sobretudo, da ao da mdia e dos patrocinadores. Dentre os principais grupos

empresariais envolvidos no patrocnio da festa de Santana, destacam-se a empresa de Transporte Guanabara, a empresa de Transporte Reunidas e a Companhia Energtica do

Rio Grande do Norte.

Alm do mais, a atuao empresarial durante este evento tambm se faz

presente nos shows musicais, em que h a apresentao de bandas de forr. Esse aspecto por sua vez, denota o carter profano da festa, fato que pode ser comprovado na idia de Rosendahl (1996), quando ela afirma que o sagrado que delimita e possibilita o

profano, coexistindo os dois ao mesmo tempo.

Nesse caso em particular, os shows musicais enquanto manifestaes do profano passaram a ser organizados por uma empresa que os transferiu para o estacionamento do Natal norte Shopping. Os organizadores por sua vez, alegaram que

diante da dimenso da festa, fez-se necessrio retirar os shows do meio residencial, no entorno da Matriz, devido aos transtornos causados pela poluio sonora gerada por

estas apresentaes.

Esse dinamismo econmico da festa marcado tambm pelos diversos tipos

de produtos comercializados durante a sua realizao, incluindo barracas padronizadas, com bebidas, comidas regionais e tpicas (INFORMATIVO DA PARQUIA DE SANTANA, 2008). Para por em prtica esta estrutura organizacional, a festa dispe de

um oramento mdio de 107.940,00, dividido nos seguintes aspectos: contratao de bandas musicais: cachs e despesas, R$ 62.500,00; material de divulgao: englobando

todos os meios de divulgao utilizados no momento, R$ 8.255,00; Estrutura do evento: com banheiros, cercamento do pavilho, prtico de entrada, bilheteria, palco grande, iluminao (taxa COSERN), sonorizao, tendas, shows pirotcnico, R$ 30.070,00;

Despesas pessoais e eventuais: com vigia noturno, locutor, pintor, segurana, material de escritrio, combustvel, telefone e etc., R$ 7.695,00. (INFORMATIVO DA

PAROQUIA DE SANTANA, 2008).

E por fim, vale enfatizar mais uma a dinmica cultural e simblica da festa,

pelo fato de ser considerada um dos principais eventos de cunho religioso da cidade de Natal. No decorrer da festa h a realizao de missas, novenas, peregrinaes e

casamentos comunitrios o que reflete o grande envolvimento da populao local, e o fortalecimento de sua identidade territorial. De acordo com a parquia, a inteno consolidar de vez o evento enquanto uma das principais manifestaes de cunho scio-

religioso da Zona norte, tendo com expectativa para os prximos anos atender a um pblico de aproximadamente 40.000 pessoas no decorrer da festa.

Consideraes Finais

Ao se chegar ao trmino deste trabalho de cunho cientfico, constatou-se

que a festa de Santana ao ser considerado como um dos principais eventos religiosos da cidade de Natal permeada no s pelos aspectos de carter simblico e culturais, mas

tambm por uma srie aspectos polticos e econmicos, que promovem uma verdadeira reorganizao espacial no conjunto onde ela est sendo realizada.

Vale destacar que os agentes sociais envolvidos no processo de organizao desse evento, esto atrelados a vrios segmentos da sociedade, includo os empresrios,

os comerciantes, o poder pblico e as pessoas que esto diretamente ligadas ao poder eclesistico, como por exemplo, os funcionrios da parquia e o prprio proco.

Nesse sentido, pertinente salientar que em uma festa desta natureza o espao sagrado relaciona-se com as questes relacionadas ao profano, visto que uma srie de atividades e de aes que no praticadas pela Igreja so praticadas durante o

evento, tal como a realizao de shows musicais de bandas de forr e a venda de bebidas alcolicas. Alm disso, notrio tambm o poder que a instituio religiosa

exerce sobre o espao, isso porque durante a realizao da festa a organizao territorial do conjunto de Soledade II, passa a ser influenciada por essa manifestao cultural, ou seja, neste perodo a rea ao redor da parquia organizada de acordo com os anseios e

pretenses do fato religioso.

Referncias

CORRA, Roberto Lobato. O espao urbano. So Paulo: tica, 1989.

BUENO, Francisco da Silveira. Dicionrio escolar da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Femame/MEC, 1983.

INFORMATIVO da Parquia de Santana. Natal/ Ano XV, n 134, Julho de 2008.

Gil FILHO, Sylvio. Fausto; Gil, Ana Helena Corra. A Identidade religiosa e

territorialidade do sagrado: notas para uma teoria do fato religioso. In: ROSENDALH; CORRA, Roberto Lobato. Religio, Identidade e Territrio. Rio de Janeiro:

EDUERJ, 2001.

HAERSBAERT, Rogrio. O mito da desterritorializao : do fim dos territrios multiterritorialidade. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 2004.

MAIA, Carlos Eduardo Santos. Ensaio interpretativo da dimenso espacial das festas

populares. In: ROSENDALH, Zeny ; CORRA, Roberto Lobato (org.). Manifestaes da cultura no espao. Rio de Janeiro: EDURJ, 1999.

MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em Geografia : ensaios de histria, epistemologia e

ontologia do espao geogrfico, So Paulo: Contexto, 2007.

SANTOS, Milton. A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. 3 ed. So Paulo. Hucitec, 1999.

REIS, Flvio Pereira. As festas populares religiosas: abordagem espacial de uma manifestao cultural em Arara, estado da Paraba. GEOUERJ, Rio de Janeiro, n 20, p. 168-186, dezembro 2009.

SOUZA, M.J.L. O territrio: sobre Espao e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, In Elias de. GOMES, Paulo Cesar da Costa. CORREA, Roberto Lobato. Geografia: Conceitos e Temas. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.