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PRA
SEMPRE
ELIS
Três décadas após sua morte,
a cantora de voz marcante e
de rebeldia acentuada recebe
uma série de homenagens
“Se não tivesse o amor, se não
tivesse essa dor e se não tivesse o
sofrer. E se não tivesse o chorar melhor
era tudo se acabar. Eu amei, amei
demais. O que eu sofri por causa do
amor ninguém sofreu. Eu chorei, perdi
a paz, mas o que eu sei é que ninguém
nunca teve mais do que eu”.
Assim cantou Elis Regina no
que pode ser um retrato de sua vida.
Canção de Baden Powell e Vinícius de
Moraes, “Consolação”, serviria para
emoldurar o triste cenário daquela
manhã de Janeiro de 1982. Em um
quarto de apartamento do bairro
paulistano dos Jardins, o coração
daquela que veio ao mundo como Elis
Regina Carvalho Costa – coração este
que transbordava paixão e inquietação -
deu a última batida. Regina Echeverria
na biografia “Furacão Elis”, descreve os
últimos momentos da cantora,
destacando que uma mistura de álcool e
cocaína, consumidos durante a
madrugada, após discussões, – pelo
telefone com o seu namorado, o
advogado, Samuel MacDowell -
contribuiu para o colapso cardíaco.
Segundo a escritora, o último contato
telefônico, por volta das 09h30m, selou
a paz entre os dois e nele Elis proferiu a
finda palavra: “eu te amo, você é o
homem da minha vida”!
Lá se vão 30 anos. Assim como
o tempo a saudade de seus fãs e
admiradores só aumenta. A gaúcha de
Porto Alegre batizada carinhosamente
Elis: formatada de doçura, explosividade, talento e muita paixão
everaldofarias.blogspot.com
Daniel Freire
por Vinícius de Moraes de pimentinha –
em razão de sua personalidade – vivia
um momento especial. Fazia planos de
casamento, de uma nova moradia, casa
na qual MacDowell, Elis e seus três
filhos iriam conviver – motivos esses da
discussão citada acima - e preparava um
novo disco. Não se continha em alegria,
após um terrível período de sofrimento
pelo dissolvimento do casamento com
César Camargo Mariano – pai de dois
dos seus três filhos, Pedro Mariano e
Maria Rita – e grande parceiro
profissional.
Intensidade, talvez esta seja
palavra cabível para apresentação da
personalidade de Elis. Com a mesma
ênfase que desprendia-se para as
paixões, sorvia-se de dramas colhidos
das desilusões. Pequena só na estatura
física – media 1,53m – era imensa na
pujança dos sentimentos e sua alma
sempre inquieta irradiava vontade.
Vontade de viver, de amar, de ser feliz.
Sua voz viril, bem como,
límpida, proferiu versos compostos por
grandes letristas da música brasileira. A
cantora detentora de um sorriso ímpar
que deixou o mundo cedo demais - 36
anos - e foi responsável por apresentar
ao grande público figuras como Milton
Nascimento, Fagner, Ivan Lins, Gilberto
Gil, João Bosco e Aldir Blanc, extraia
cada palavra, frase, do fundo da alma e
esparramava para o público com uma
carga emocional que poucos outros
artistas souberam se aproximar. Era
absoluta no palco e carregava o hábito
de cantar com os olhos fechados, talvez
para arrancar a melhor emoção, ou
como uma maneira de espantar a
pretensa timidez assumida por ela.
Maysa Lemos, promotora de
vendas, decreta que Elis Regina foi a
maior cantora que este país já teve.
Coleciona LPs (Long Play), CDs,
recortes de jornais, enfim, tudo que
tenha relação com Elis Regina. Lembra-
se do impacto que foi receber pelo
Rádio a notícia da morte de Elis e
dimensiona a sua importância dentro da
música popular brasileira. “Nenhuma
outra cantora tinha e tem o talento que
ela possuía. “Elis foi um ser estelar que
com o seu brilho intenso inigualável
soube acender a fagulha do amor e da
paixão”, sentencia.
Elisabeth Cardoso, comerciante,
ao falar sobre Elis não consegue
disfarçar a emoção. Dos seus olhos,
olhos cor da esperança, um prenúncio
de lacrimejar se faz perceptível e ela
cita uma canção – “Fascinação” – como
algo tipo um talismã, um imã que atrai
felicidade. “Conheci o meu marido
numa festa no longínquo ano de 1979 e
ao tocar essa música ele me tirou para
dançar. Foi amor à primeira vista e a
música como num passe de mágica
sempre me acompanhou nos momentos
marcantes de minha vida. Sempre que a
ouço é sinal de que alguma
transformação para melhor ocorrerá pra
mim”.
“Elis foi um ser estelar que
com o seu brilho intenso
inigualável soube acender a
fagulha do amor e da paixão”
Da necessidade de celebrar - nos
trinta anos de morte – a intérprete de
“Como os nossos pais” e “O bêbado e o
equilibrista”, os filhos Maria Rita e João
Marcello Bôscoli – este, fruto da união
com Ronaldo Bôscoli, o seu primeiro
marido – idealizaram uma séria de
eventos. O documentário Elis por Elis;
o livro Viva Elis, com lançamento
previsto para Agosto; relançamento de
CDs; uma exposição multimídia
itinerante, que passará pelas principais
capitais do país; o relançamento da
biografia “Furacão Elis”; além da série
especial de shows gratuitos – que em
princípio passará por cinco capitais –
onde Maria Rita canta, pela primeira
vez em sua carreira, músicas gravadas
por sua mãe. As capitais contempladas
serão Porto Alegre, Recife, Belo
Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
Em vídeos promocionais do
show, Maria Rita declara que a intenção
do tributo é manter viva a memória da
mãe, qualificada por ela como a maior
cantora da história do Brasil. “Fico
muito emocionada em estar vivendo
esse momento e apesar de tudo consigo
lidar bem com esse forte sentimento”. A
cantora disse que a escolha do
repertório foi bastante difícil pela
quantidade de material excepcional.
Segundo ela, só na primeira "peneira",
foram selecionadas 63 músicas. O Set
List do show conta com 27 músicas. "É
uma prova de amor, respeito e
admiração por ela. Vai ser muito
emocionante", finaliza.
Músicas de ícones da
envergadura de Chico Buarque,
Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu
Lobo, Belchior, Rita Lee, Jorge Ben Jor,
Ivan Lins, Vinícius de Moraes, Tom
Jobim, Aldir Blanc, João Bosco,
Adoniran Barbosa, irão compor o
repertório.
O organizador da série de
eventos, João Marcello Bôscoli, em
entrevista concedida ao site Uol, afirma
que iniciativas que possuem o propósito
de reverenciar grandes artistas merecem
louvação. “Essa realização
comemorativa é um presente para mim.
Há muitos anos pensar na minha mãe
me traz muitas emoções positivas. A
morte dela nunca foi um motivo de
revolta para mim, sempre encarei como
um processo natural da vida. Esse
projeto talvez seja uma declaração de
amor a Elis, uma maneira de me
relacionar com a ausência dela, com
essa ligação forte que ainda temos. Tem
sido uma grande alegria”.
Na coluna que João Marcello
possui na revista Billboard Brasil, ele
conta uma história curiosa sobre seu
nascimento, envolvendo sua mãe, Elis
Regina. Diz que ela o salvou apenas
conversando com ele. "Tive sérias
complicações e o médico comunicou a
minha mãe que eu não passaria daquela
noite, tal a fragilidade da minha saúde.
Ela me colocou sobre seu peito e passou
toda a madrugada conversando comigo,
despedindo-se de mim. Na manhã
seguinte, o médico ficou surpreso com
minha melhora e perguntou o que havia
acontecido. Depois de ouvir a
explicação da Elis, declarou: a sua voz
salvou a vida do seu filho”, completa.
Por intermédio das homenagens
concebidas, os fãs, admiradores, a
Cultura, a Música Popular Brasileira,
têm a oportunidade mais uma vez de
exaltar, fazer reverência, estimular,
imortalizar, a rica obra deixada pela
pequena-grande artista, com “A”
maiúsculo, que com sua técnica vocal
primorosa soube se pautar na lisura
inconteste de seu talento profissional do
mesmo modo que, como humana, não
se furtou a viver suas mazelas
existenciais e pouco se importou com os
julgamentos desferidos a sua conduta
pessoal. Viveu pouco, mas com fulgor
arrebatador!
Ao lado dos filhos, realização como mulher. Da esquerda para a direita:
João, Maria e Pedro
Livro Furacão Elis