elis regina todas as letras araujo,mesquita e palezi

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Elis Regina Todas as letras

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ElisReginaTodas as letras

Pesquisa, organização e diagramação:Vladimir Araújo

Projeto gráfico:Juliana Mesquita e Juliana Palezi

ElisReginaTodas as letras

Dá sorteEleu Salvador

Viva a Brotolândia – 1961

Dá sorte fazer o que eu digoDá sorte querer seu amor

Dá sorte cantar comigo

Cante então a canção que eu fiz para ser felizCante então a canção que eu fiz para ser feliz

Creio no supremo poderGosto de quem gosta de mim

Serei tudo que quero ser

Sou feliz, tenho alguem que me quer e que eu quero bem

Sonhando (Dream)B. de Vorzon/T. Ellis/Vs. Juvenal FernandesViva a Brotolândia – 1961

SonhoEu sempre sonhoQue o amor irei buscar

SigoUma alamedaE alquém é o meu par

Alguém que eu veneroQue tanto queroNão sei quem é

SonhoE no meu sonhoSigo com um certo alguém

MurmúrioDjalma Ferreira/Luiz Antônio

Viva a Brotolândia – 1961

Vai nesta cançãoMeu último adeus

Coração sonha em vãoCom os beijos seus

Foi esta cançãoQue eu murmurei

Tu também longe ameiMurmuraste eu sei.

Há neste murmúrio huma saudadeA vontade louca de voltar

Ser como era antes mesmo por instantesE depois morrer para não chorar

Tu serásÂngela Martignoni/Othon RussoViva a Brotolândia – 1961

Tu serás a vida e o meu destinoTu serás angústia e tormentoTu serás a chama que iluminaO eterno fogo de minha alma

E na noite escura, minha estrelaTu serás… tu serásEstrela que mostra o meu caminhoTu serás… somente tu.

Vivo para amar-te e adorar-tePois és a razão dos meus desejosE se em ti não penso a todo instanteNão posso acalmar o meu tormento

Samba feito para mimPaulo Tito

Viva a Brotolândia – 1961

Pedi pra fazerem um samba para mim.Pra desabafar meu coração.

Tenho tanta coisa pra dizer de mim.Como eu gostaria de falar numa canção.

Sei que o mundo é mau, jamais vai entender,Que este samba vive de hum sofrer

O tema é meu. Nasceu assim.Era preciso fazerem um samba pra mim.

Amei alguém. Fui só de alguém.O mundo não procurou compreender.

Então pedi para fazerem um samba assim.E este samba foi feito todinho pra mim.

Fala-me de amor (Take me in your arms)Markus/Rotter/Vs. Max GoldViva a Brotolândia – 1961

Fala-me de amor,Mesmo que seja pra mentirFala-me de amor,Se vais partir.

Um beijo loucoPara lembrar o que passouDura tão poucoMesmo que seja o fimAperta-me assimE nos braços teusToda magia vivereiBeija-me assimDepois adeus!

Eu queria sentir teu beijoCom carinho e emocãoE guardar este amor tão puroNo fundo do coração

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Baby faceDavis/Asket/Vs. Fred Jorge

Viva a Brotolândia – 1961

Baby faceEsse rostinho lindo

Baby faceParece ingênuoNão é isso não

Baby faceQue encontrei sorrindo e me deixou sonhando

Baby faceEsse seu modo estranho de olhar pra mim

Me faz acreditarQue você sabe amar

MentindoBaby Face.

Dor de CoveloJoão Roberto Kelly

Viva a Brotolândia – 1961

Beber pra esquecer é teimosia Hoje muito whisky, muita alegria,

Amanhã ressaca, saco de gelo O bar não é doutor que cure a dor de cotovelo

A dor pra curar não tem receita É corcunda que se deita

Sem achar a posição E sentir saudade não faz mal

Não é no fundo do copo Que você vai encontrar sua moral

Beber pra esquecer...

Garoto último tipo (Puppy Love)Paul Anka/Vs. Fred JorgeViva a Brotolândia – 1961

Hoje eu vi um tal brotinhoQue o meu coraçãoFoi logo conquistandoE eu nem disse não

Garoto último tipoBroto sensaçãoNão sei porqueDei meu coração

Saiu pra ruaTrânsito parouE pra mim o olhar mandou

Que garotinhoMas que tipãoE roubou meu coração

As coisas que eu gosto (My favorite things)Hammerstein/Rodgers/Vs. Fernando CésarViva a Brotolândia – 1961

As coisas que eu gosto eu vou lhe dizerSão coisas bonitas que vêm de vocêÉ o céu de um sorriso embriagadorE esses seus olhos lembrando o amor

Nem sei como pode você ser assimE ter tudo, tudo que é bom para mimNem de encomenda eu ia acharOutro igual a você para amar

Os seus olhosSeu sorrisoQue bonitos são

Você não existeNa certa sonheiQuando inventei você

Mesmo de mentiraCarlos Imperial

Viva a Brotolândia – 1961

Diz mesmo de mentiraQue eu sou tudo pra você

Diz mesmo de mentiraQue ao seu lado eu vou viver

Diz.Prefiro a mentira

Pois a verdade é ruimDiz mesmo de mentira

Diz que você gosta de mim

Quero viver na ilusãoPois afinal não machuca o coração

Se a verdade me faz malEu não vou fazer da minha vida um carnaval

MenteÉ melhor assim

Diz que você gosta de mim

Amor, amor (Love, love)Bill Caesar/Vs. Carlos ImperialViva a Brotolândia – 1961

Amor, amorQuero um amor que não tenha fimAmor, amorQuero um amor pra mim

Amor, amorQuero um amor que me queira bemAmor, amorEu reciso amar alguém

Vivo a sonharQue estou a beijarO meu grande amor

Sempre a esperarQuem me queira amar

O meu peito agora dizEu preciso de um amorSó assim serei feliz

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PoemaFernando Dias

Poema de Amor – 1962

PoemaÉ a noite cheia de amargura

PoemaÉ a luz que brilha lá no céu

PoemaÉ ter saudade de alguém

Que a gente quer e que não vem

PoemaÉ o cantar de um passarinho

Que vive ao leú, perdeu seu ninhoÉ a esperança de o encontrar

PoemaÉ a solidão da madrugada

Um ébrio triste na calçadaQuerendo a lua namorar

Pororó-PopóJoão Roberto KellyPoema de Amor – 1962

Bate bate bate constantePororó-popó

Dançando na festa, beijinho na testa e só

Seu telefone eu anoteiCupido me laçouE apertou o nóPoró-poroporó

Todo dia eu discavaPoró-poroporó

Discava escondida da mamãe e da vovó

Tudo começou de brincadeiraE eu fiquei brincando a vida inteira

Dá-me um beijo(Kiss me, Kiss me)

Trovajoli/Daniell/Vs. Romeu NunesPoema de Amor – 1962

Dá-me um beijoUm sóUm só

Mata meu desejoDe mimTem dó

Pois num beijo só você poderá sentirO que sinto é desejo sim de mim

Dá-me dá-me um beijoMais um

Só um

E vamos depoisOs doisOs dois

Pela vida nos deixando com ardor

Para sempreSempre

Amor

Nos teus lábiosHaroldo Eiras/Ataliba Santos

Poema de Amor – 1962

Nos teus olhosVejo a luz com que sempre sonhei

Nos teus lábiosSinto os beijos que as vezes roubei

Vem de novoA saudade em meu peito apertar

E por isso eu canto

Nos teus olhosAs estrelas refletem o brilhar

Dos teus lábiosBeijos mil me fazem lembrar

Desde entãoNão sonho e nem vivo

Porque, amor, só posso encontrarNos teus lábios e os teus olhos quero olhar.

Sim os teus olhos quero olhar

Vou comprarum coraçãoPaulo Tito/Romeu NunesPoema de Amor – 1962

Vou comprar um coraçãoPara trocar por este meuPorque sem ilusão não sei viverE este meu coração cansou de amar

Com um novo coraçãoVou repetir os erros meusFazer oque já fizAmar em vãoSer infeliz mais uma vez.

Meu pequeno mundo de ilusão(My little corner of the world)Hilliard/Pockriss/Vs. José Mauro PiresPoema de Amor – 1962

Ó vem meu doce bemAo meu pequeno mundo de ilusãoSão teus os sonhos meusNo meu pequeno mundo de ilusão

Só tu entãoSerás a inspiraçãoE neste mundoTerás meu coração

E se, meu doce bem,Vieres aplacar esta paixãoSerão somente teusO meu pequeno mundo e a ilusão

Eu sempre quisContigo, coração,Viver felizEm meu mundo de ilusão

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Saudade é recordarRenan França/Verinha FalcãoPoema de Amor – 1962

De que vale o que tenhoSó tristezas pra contarE tristeza é ter saudadeSaudade é recordar

Tu cruzaste o meu caminhoQuando eu era a própria dorHoje deixo o teu carinhoPor amor ao teu amor

LassecretáriasPepe Luis/Vs. Martha AlmeidaPoema de Amor – 1962

Cha Cha ChaPara o secretárioCha Cha ChaPara estenodatilografarCha Cha ChaPara o secretárioCha Cha ChaCha Cha ChaComo é bom bailar

Necessito secretário competenteCom experiência e boa apresentaçãoSolicito homem jovem e bonitoE com carta de recomendação

Que domine o idioma ItalianoO Francês e o Inglês com perfeiçãoNao me importa seja loiro ou morenoMas que tenha bem alegre o coração

Quando formos de manhã para o trabalhoE a tarde na hora de regressarQue beleza eu e o meu secretárioCaminhando e cantando o cha cha cha

PizzicatiPizzicatoStern/Marnay/Vs. Fred JorgePoema de Amor – 1962

Quando eu ouvi tocar um doce pizzicatiQuase desandoue quase parou

O pobre coração que só palpita por tiE sempre te adorou

Em doce pizzicato o coração pulsouE alegre saltouE alegre cantou

E como um violino doido a suspirarSonhou… sonhou… sonhou…

Plum plum plumQue delicioso

Plum plum plumMaravilhoso

Minha cancão de amor nasceu no meu coraçãoSó para ti

Minha paixãoEm doce pizzicato eu vou levar-te a emoção

O meu amor sem fim

A canção que eu cantoÉ por ti meu bem

É um doce pizzicatoSempre a saltitar

Plum plum plum

Cançãode enganar

despedidaWalter/JoluzPoema de Amor – 1962

Teu olharMeu olhar

Nosso olhar

Tuas mãosMinhas mãosA emoção

A noite a se perder nos faz,Meu amor,Outra vez

AmarSonhar

É manhãNa manhã do adeus

RepousaTeus lábios nos meus

Um beijo irá fazerTeu olharMeu olharOutra vez

AmarChorar

ConfissãoUmberto Silva/Paulo Aguiar/Luiz MaranhãoPoema de Amor – 1962

Vai nesta cancãoA confissãoDe alguém que hoje é feliz, feliz

Vai dizer tambémQue só alguémQue ninguém mais faz infeliz

O que passou, passouSei que não volta maisEis o consolo eneletivo dos meus ais

Pra que lembrança sem esperança?Se um é pouco, dois é bom, três é demais

Podes voltarOthon Russo/Nazareno de Brito

Poema de Amor – 1962

Deixa passar a incerteza que te afasta de mimQuero pensar que ainda me queres como ontem, e assim

Quero guardar esta ilusãoAdormecer e contigo sonhar

Se tu soubesses que torturas em minha alma sem tiNoites inteiras a pensar que havia outra qualquer

Mas mesmo assim haja o que houverPodes voltar outra vez para mim

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A Virgem deMacareña

(La Virgen de la Macareña)B. B. Munterde/Calero/A. Bourget

Elis Regina – 1963

À noite quando me deitoEu rezo à Virgem de MacareñaAssim sozinho em meu quarto

Falo à Virgem Santa todo o meu tormento

É de coração que eu peçoQue alguém um dia me queira

Que me abraçe com ternuraE me beije com doçura

Ó Virgem SantaÓ Virgem Santa porque sofro tanto

Ouvi o que pedeOuvi o que pede a angústia do meu pranto

Porque, ó Santa querida,Não encontro na vida alguém para meu amor?

Porque, ó Santa querida,Não encontro na vida alguém para meu amor?

Alguém que seja ternuraE viva comigo os sonhos que sonhei

É de coração que eu peçoQue alguém um dia me queira

Que me abraçe com ternuraE me beije com doçura

Ouvi o que pedeOuvi o que pede minha alma aflita

Minha Virgem SantaMinha Virgem Santa de Macareña

Tango italianoMalgoni/Baretta/Palessi/Romeo Nunes

Elis Regina – 1963

Um tango italianoO nosso tango

Quero um dia dançarE sonhar novamente

Um tango italianoUm terno tango

Como aquele que viu começarNosso amor tão distante

E nos teus braçosRodando ao compasso do tango a recordar

Nosso passadoE o amor esquecido veremos retornar

Um tango italanoE os teus braços

O meu corpo de novo estreitarE teus olhos de novo encontrar

E no céu de teus olhos buscarA aventura perdida

DengosaCastro PerretElis Regina – 1963

Eu sou dengosaGosto de carinhoAmor pra mimTem que ter denguinho

Eu sou assimDengosa para amarProcuro aguém dengosoPara ser meu par

Amar com dengoDá gosto da gente amarBeijar com dengoDá gosto de se beijar

Amor com dengoTorna mais gostoso o carinhoMas para amar com dengoÉ preciso ter jeitinho

Formiguinha tristeJoãozinho

Elis Regina – 1963

Era uma vez uma triste formiguinhaQue vivia tão sozinha tocando seu violão

Tão simplezinha era sua moradaMas existia lugar pra mais alguém

Mas certo dia, como diz a lenda,Tudo lá no quintal se iluminouFormiguinha encontrou outra

Inverno sozinha não passou

Tristeza de carnavalBidú/MutinhoElis Regina – 1963

O carnavalSempre faz feliz alguémAs vezes traz tristeza

E a alegria foge

Tudo é quarta-feiraTudo é sempre cinza

Pra quem amou foi muito bomPra quem perdeu chorou demais

Depois voltou o carnavalNa fantasia de sol

E a esperança de encontrarUm novo amor

No carnavalNo carnavalNo carnaval

Outra vez (Again)Cochran/NewmanElis Regina – 1963

JamaisO meu amor tu terásNão te darei novamenteA boca ardente, oh, não!

VerásQue o sonho que se desfazNem deixa rastro na almaE acalma a ilusão de um coração

Eu não queroDe novo sofrerTal como eu já sofri

Eu não quero de novo viverNo amargor em que já vivi

O sonho que se desfezNão deixou rastro em minha almaNão sonharei outra vez

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SilêncioTúlio Paiva

Elis Regina – 1963

Silêncio!Atenção!

O samba já tem outra marcação

O pandeiro já não faz o que faziaViolão só é na base da harmonia

Silêncio!Atenção!

Porque o samba já tem outra marcação

A roda do mundo sempre vai girandoVai girando sem parar

Tudo nessa vida se renovaA bossa velha deu lugar à bossa nova

O samba já tem outra marcaçãoE essa é nova marcação

1, 2, 3,balançou

Nazareno de Brito/Alcyr Pires VermelhoElis Regina – 1963

1, 2, 3, balançou1, 2, 3, o meu samba quero assim

Requebra e vai por mim

1, 2, 3, vai não vai1, 2, 3, ouve o prato a marcar

O nosso balançar

Faz um passo todo figuradoE segue o rebolado

A onda do balanço me enrolou

Eu não posso pararVejo o tempo correr sem me cansar

Você pode notar

Batam palmas para quem gostouDo meu samba que a ninguem negou

De todo coraçãoSensação enquanto balançou

À noiteBerstein/Roberto Côrte RealElis Regina – 1963

À noite, amorVou ver o meu amorA lua há de brilharPra nós dois

À noite, amorVou ver o meu amorE pra nós as estrelas virão

E o sol que sabe que eu esperoQue só a noite eu quero

Compreende e já se vai

Ó Deus, fazeiFazei que a noite seja

Sem fim pra mim

RessurreicãoMarino Pinto/Pernambuco

Elis Regina – 1963

Ressurreição, meu amor do passadoTu és a razão do meu porvir

Eu sonho em vão por que sonho acordadaQuisera saber o que há de vir

A chama que se apagaSempre mata a esperença

Minha chama de esperar-teNão se cansa

Ressurreição, me levou ao passadoE curou de uma vez a minha dor

Milagre do amor

FlerteiCastro PerretElis Regina – 1963

Agora sim estou certinha com um sóTanto brinquei que Cupido me acertouEu tive tantos mas a nenhum eu ameiE, no entanto, sem querer, gamei

Veja você, eu que nunca pensei em amarEu que flertava apenas para brincarMas fui brincar de amor quem soube entender meu coracãoE o flerte transformou-se em gamação

Adeus amorAlmeida Rêgo/Newton Ramalho

Elis Regina – 1963

Adeus amorEu tenho de partir

Eu sei que vou sentirUma saudade imensa de você

Que vai ficarSozinho como euA remoer lembranças do passado

Meu Deus como é que eu vou ficarSem ter você pra me abraçar?Sem ter aqueles beijos que são meus?Só meus

Adeus amorEu voltarei, querido,

pra recomeçar a nossa vida

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Alô saudadePaulo Aguiar/Umberto Silva

O Bem do Amor – 1963

Telefonei para a saudadeDizendo a ela o que sentiaComo ela trouxe a solução

Meu coração logo esqueceu toda a paixão

Acreditei no que me foi prescritoE em tudo o que eu não acreditava

Depois do tempo em que levei sofrendo assimFelicidade voltou pra mim

Sem teu amorLuiz MauroO Bem do Amor – 1963

Meu coração não pode mais viver assimSem teu amorMeu coracão vive chorando triste assimSem teu amor

Tudo acabouFiquei sozinhaSem teu querer

Tudo mudouE, sem carinho,Não sei viver

Meu coracão hoje só vive de ansiedadePor vocêEspero em vão o fim de toda essa saudadeDe você

Vou esperarÓ, meu querido,Volte pr favor

Meu coracãoNão vai viver toda esta vidaSem teu amor

Saudade ecarinhoRenan Franca/Verinha MaranhãoO Bem do Amor – 1963

Saudade e carinhoAi que vontade de amar!Todo amor tem o seu ninhoO meu amor, onde andará?

Tantos amores eu já tiveQuantos amores mais terei?Nenhum, porém, comigo viveSozinha sempre viverei

Mania de gostarLuis MauroO Bem do Amor – 1963

Mania boba é essa da gente de gostar de alguém. Alguém que nos faz um pouquinho feliz quando vem.Alguém que quando vai não diz pra onde nem porque. Parte deixando saudade. Fazendo a gente sofrer.

Não vai outra vez meu amor, não vá pra longe de mim. Esse negócio de saudade não foi feito pra mim.Com você aqui bem perto. Juntinho do meu coração. Não viverei mais nesta solidão.

Manhã deAMOR

Sergio Malta/JoluzO Bem do Amor – 1963

É manhãVem o solVem trazer o calorQue aquece a emoçãoDe um olharDe um aperto de mão

Vem a chuva tambémVem chorar a alegria

Do retorno de alguémDe um amor

Numa terna ilusão

E se faz lá no céuO enlace da chuva e do solA natureza sorriÉ tão lindo o matiz do arrebol

Já se fez a manhã do amorJá se pôs o arco-iris além

Vem a chuvaVem o sol

Com eles, meu bem.

Se você quiserBaden Powell/Mario Telles

O Bem do Amor – 1963

Você quer que eu te conte o que é o amor,Feito para dois amar,

Feito de sorriso e flor?

Você quer.Mas será que você quer?

Caminhar neste luar para eu te mostrar.Vem.

Você quer ver na luz do meu olhar,Como eu te quero bem,Como eu te quero amar?

Eu não sei.Eu não sei se você quer.Eu posso te dar amor,

Se vocie quiser.

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Há uma história tristeOthon Russo/Niquinho

O Bem do Amor – 1963

Há uma história triste pelo arHistória que não tem “era uma vez…”

Há uma história triste pra contarHistória que começa com “talvez”

Foi, talvez, amor que acabouFoi, talvez, um sonho que apagouRestos de lembrança e amarguraRugas de saudade e de ternura

Domingo em CopacabanaRoberto Faissal/Paulo Tito

O Bem do Amor – 1963

Copacabana cheiaBom é domingo mesmo

Dias de sol vem alegrar o nosso amor

Mar azulOnda azul

Vem beijar meus amores

Copacabana belaLua de luz acesa

Ando calçada cheia sem pensar

Ai, rio até sozinhaDa beleza do meu Rio

Da TV Rio até o ForteGente que passa sem ter norte

Copacabana eu vou sonhar junto de ti

Meus olhosSergio Napp

O Bem do Amor – 1963

Meus olhosSaudades que eu trago

Do amor de você

Meus olhosSilêncios na espera

De alguém que não vem

Ah, se você entendesseA beleza de amar

Que eles trazem em si

Ah, se você compreendesseO que escondem meus olhos

Voltaria pra mim

RetornoAécio KauffmannO Bem do Amor – 1963

Meu bem eu agora voltareiBem sei que estarás a me esperar

Deixei meu coração cheio de amor juntinho ao teuE só me acompanhou a saudade em seu lugar

Agora voltarei novamente aos braços teusE tu sempre estarás eternamente nos braços meus

Na estrada desta vidaNunca maisNunca mais sozinhaLonge amorDos teus carinhos

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É pra frente que se andaCaminhando sem olhar pra trás

É pra frente que se andaCaminhando sem olhar pra trás

É como a roda da históriaQue nunca pode parar

Há um turbilhão de anseiosDespertando a nossa voz

Há um mundo de esperançaEsperando,

Esperado por nós

E a gente vai seguindoOlhando só pra frenteSem se voltar pra trás

Procurando nosso mundoMundo de paz

Túlio PaivaO Bem do Amor – 1963

Mundo de paz

O bem do amorRildo Hora/Clóvis Mello

O Bem do Amor – 1963

Se você pensavaBem no amor achar

O bem no amor encontraráE quando você quiser

Vá buscar ternuraNo amor que existe

Num lugar feito pra doisSim, vá buscar

Tem perfume a flor que nasceNo jardim ao sol

De ver tanto encanto na florFui pedir a rosa viva e multicor

Perfume e corFiz nosso amor

E o mundo prá nós dois

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O MORRO NÃO TEM VEZ(Tom Jobim/Vinícius de Morais)

O morro não tem vezE o que ele fez já foi demais

Mas olhem bem voces, quando derem vez ao morroToda a cidade vai cantar

ESSE MUNDO É MEU(Sérgio Ricardo/Ruy Guerra)

Escravo no mundo em que souEscravo no reino em que estou

Mas acorrentado ninguém pode amarMas acorrentado ninguém pode amar

FEIO NAO É BONITO(Carlos Lyra/Gianfrancesco Guarnieri)

Feio, nao é bonitoO morro existe mas pede pra se acabar

Canta, mas canta tristePorque tristeza é só o que tem pra cantar

Chora, mas chora rindoPorque é valente e nunca se deixa quebrar

Ama, o morro amaAmor bonito, amor aflitoQue pede outra história

SAMBA DO CARIOCA(Carlos Lyra/Vinícius de Morais)

Vamos, carioca,sai do teu sono devagar

O dia já vem vindo aíE o sol já vai raiar

Sao Jorge, teu padrinho,te dê cana pra tomarXango, teu pai, te dê

muitas mulheres para amar

ESSE MUNDO É MEU(Sérgio Ricardo/Ruy Guerra)

Saravá, Ogum, mandinga da gente continuaCade o despacho pra acabáSanto guerrero na floresta

Se você nao vem eu mesma vou brigáSe voce nao vem eu mesma vou brigá

A FELICIDADE(Tom Jobim/Vinícius de Morais)

A felicidade é como a plumaQue o vento vai levando pelo ar

Brilha tão leve, mas tem a vida brevePrecisa que haja vento sem parar

SAMBA DE NEGRO(Roberto Correa/Sylvio Son)

Subi lá no morro só pra verO que o nêgo tem

Pra cantar assim gostosoE fazer samba como ninguém

VOU ANDAR POR AÍ(Newton Chaves)

Vou andar por aí, perguntar por aíPra ver se eu encontro

A paz que perdi

O SOL NASCERÁ (A sorrir)(Cartola/Elton Medeiros)

A sorrir eu pretendo levar a vidaPois chorando eu vi a mocidade perdida

DIZ QUE FUI POR AÍ(Zé Keti/H. Rocha)

Se alguém perguntar por mimDiz que fui por aí

Levando o violão debaixo do bracoEm qualquer esquina eu paro

Em qualquer botequim eu entroE se houver motivo, é mais um samba que eu faço

Se quiserem saber se eu volto, diga que simMas só depois que a saudade se afastar de mimMas só depois que a saudade se afastar de mim

ACENDER AS VELAS(Zé Keti)

Acender as velas, já é profissãoQuando nao tem samba, tem desilusão

Acender as velas, já é profissãoQuando nao sou eu, é Nara Leão

A VOZ DO MORRO(Zé Keti)

Eu sou o sambaA voz do morro sou eu mesmo, sim senhorQuero mostrar ao mundo que tenho valor

Eu sou o rei do terreiroEu sou o samba

Sou natural daqui do Rio de JaneiroSou eu quem leva alegria

Para milhões de corações brasileiros

O MORRO NAO TEM VEZ(Tom Jobim/Vinícius de Morais)

O morro não tem vezE o que ele fez já foi demais

Mas olhem bem vocesQuando derem vez ao morro

Toda a cidade vai cantarVai cantar, vai cantarVai cantar, vai cantar

Pout PourriDois na Bossa 1 – 1963 (Com Jair Rodrigues)

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Preciso aprender a ser sóMarcos Valle/Paulo Sergio ValleDois na Bossa 1 – 1965Samba eu canto assim – 1965

Ah! se eu te pudesse fazer entender Sem teu amor eu não posso viver Que sem nós dois o que resta sou eu E u a s s i m t ã o s óE eu preciso aprender a ser só Poder dormir sem sentir teu amor A ver que foi só um sonho e passou

A h ! o a m o rQuando é demais ao findar leva a paz M e e n t r e g u e i s e m p e n s a r Que a saudade existe e se vem é tão triste Vê, meus olhos choram a falta dos teus Esses teus olhos que foram tão meus Por Deus, entenda que assim eu não vivo Eu morro pensando no nosso amor Por Deus, entenda que assim eu não vivo Eu morro pensando no nosso amor

A h ! o a m o rQuando é demais ao findar leva a paz M e e n t r e g u e i s e m p e n s a r Que a saudade existe e se vem é tão triste Vê, meus olhos choram a falta dos teus Esses teus olhos que foram tão meus Por Deus, entenda que assim eu não vivo Eu morro pensando no nosso amor Por Deus, entenda que assim eu não vivo Eu morro pensando no nosso amor

ArrastãoEdu Lobo/Vinícius de Morais

Dois na Bossa 1 – 1965

Eh... tem jangada no mar Eh, eh, eh... hoje tem arrastão

Eh... todo mundo pescarChega de sombra João

Jovi, olha o arrastão entrando no mar sem fimÊ meu irmão me traz Yemanjá pra mim

Minha Santa BárbaraMe abençoai

Quero me casar com Janaína

Eh... puxa bem devagarEh, eh, eh... já vem vindo o arrastão

Eh... é a Rainha do MarVem, vem na rede João

Pra mim!

Valha-me Deus Nosso Senhor do BonfimNunca, jamais se viu tanto peixe assim

Terra deninguémMarcos Valle/Paulo Sergio ValleDois na Bossa 1 – 1965Saudade do Brasil – 1980(Com Marcos Valle)

Segue nessa marcha tristeSeu caminho aflitoLeva só saudadeE a injustiçaQue só lhe foi feitaDesde que nasceuPelo mundo inteiroQue nada lhe deu

Anda.Teu caminho é longoCheio de incertezaTudo é só pobrezaTudo é só tristezaTudo é terra mortaOnde a terra é boaO senhor é donoNão deixa passar

Pára no final da tardeTomba já cansadoCai um nordestinoReza uma oraçãoPrá voltar um diaE criar coragemPrá poder lutarPelo que é seu

Mas...O dia vai chegarQue o mundo vai saberNão se vive sem se darQuem trabalha é que temDireito de viverPois a terra é den i n g u é m

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Sem Deus com a famíliaCésar Roldão VieiraDois na Bossa 1 – 1965

Sapato de pobre é tamanco

A vida não tem solução

Morada da rico é palácio

E casa de pobre é barracão

Quem é pobre sempre sofre,

Vive sempre a trabalhar

Mas eu sofro só de dia,

De noite eu vivo pra sambar

A mulher de branco é esposa

E a esposa do preto é mulher

Mas minha mulher é só minha,

Do branco eu nem sei se só dele é

Branco fica atormentado

E nem tem tempo pra pensar

Mas o preto é mais que branco

pra mãe d’água Iemanjá

A terra do dono é só dele

E ali ninguém pode mandar

Mas se eu não pegar na enxada

Não tem ninguém pra plantar

Eu semeio tanto milho e a colheita é do senhor

Mas o dia da igualdade tá chegando seu doutor.

RezaEdu Lobo/Ruy Guerra

Dois na Bossa 1 – 1965Samba eu canto assim – 1965

Por amor andei jáTanto chão e marSenhor já nem sei

Se o amor não é maisBastante pra vencer

Eu já sei o que vou fazerMeu SenhorUma oração

Vou cantar para ver se vai valer

Laia ladaia sabadana ave-mariaLaia ladaia sabadana ave-maria

Ah! meu santo defensorTraga o meu amor

Laia ladaia sabadana ave-mariaLaia ladaia sabadana ave-maria

Se é praga ou oraçãoMil vezes cantarei

Laia ladaia sabadana ave-mariaLaia ladaia sabadana ave-maria

Menino das

laranjasThéo de BarrosDois na Bossa 1 – 1965 (Com Jair Rodrigues)Samba eu canto assim – 1965

Menino que vai pra feiraVender sua laranja até acabarFilho de mãe solteiraCuja ignorância tem que sustentar

É madrugada, vai sentindo frioPorque se o cesto não voltar vazioA mãe arranja um outro prá laranjaE esse filho vai ter que apanhar

Compra laranjaMenino que vai pra feira

É madrugada vai sentindo frioPorque se o cesto não voltar vazioA mãe arranja um outro prá laranjaE esse filho vai ter que apanhar

Compra laranja doutorAinda dou uma de quebra pro senhor

Lá no morro a gente acorda cedoQue é só trabalharComida é pouca e muita roupaQue a cidade manda pra lavar

De madrugada ele meninoAcorda cedo tentando encontrarUm pouco pra comer, viver até crescerE a vida melhorar

Compra laranja doutorAinda dou uma de quebra pro senhor

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Influência do JazzCarlos Lyra

Elis no Fino da Bossa 1965-1967

Pobre samba meuFoi se misturando se modernizando, e se perdeu

E o rebolado cadê?, não tem maisCadê o tal gingado que mexe com a genteCoitado do meu samba mudou de repente

Influência do jazz

Quase que morreuE acaba morrendo, está quase morrendo, não percebeu

Que o samba balança de um lado pro outroO jazz é diferente, pra frente pra trás

E o samba meio morto ficou meio tortoInfluência do jazz

No afro-cubano, vai complicandoVai pelo cano, vai

Vai entortando, vai sem descansoVai, sai, cai... no balanço!

Pobre samba meuVolta lá pro morro e pede socorro onde nasceu

Pra não ser um samba com notas demaisNão ser um samba torto pra frente pra trás

Vai ter que se virar pra poder se livrarDa influência do jazz

FormosaBaden Powell/Vinícius de MoraisElis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Baden Powell e Ciro Monteiro)

Formosa, não faz assimCarinho não é ruimMulher que negaNão sabe nãoTem uma coisa de menosNo seu coração

A gente nasce, a gente cresceA gente quer amarMulher que negaNega o que não é para negarA gente pega, a gente entregaA gente quer morrerNinguém tem nada de bomSem sofrerFormosa mulher! Discussão

Tom Jobim/Newton MendonçaElis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com pery Ribeiro)

Se você pretende sustentar opiniãoE discutir por discutirSó prá ganhar a discussãoEu lhe asseguro pode crerQue quando fala o coraçãoAs vezes é melhor perderDo que ganhar, você vai verJá percebi a confusãoVocê quer ver prevalecerA opinião sobre a razãoNão pode ser, não pode serPrá quê trocar o sim por nãoSe o resultado é a solidãoEm vez de amorUma saudade vai dizer quem tem razão

Samba do aviãoTom Jobim

Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com lennie Dale)

Eparrê,Aroeira beira de mar

Salve Deus e Tiago e HumaitáEta, costão de pedra dos home brabo do mar

Eh, Xangô, vê se me ajuda a chegar

Minha alma cantaVejo o Rio de Janeiro

Estou morrendo de saudadeRio, teu mar, praias sem fimRio, você foi feito pra mim

Cristo RedentorBraços abertos sobre a Guanabara

Este samba é só porqueRio, eu gosto de vocêA morena vai sambar

Seu corpo todo balançarRio de sol, de céu, de mar

Dentro de mais um minuto estaremos no GaleãoRio de Janeiro,Rio de JaneiroRio de Janeiro,Rio de Janeiro

Cristo RedentorBraços abertos sobre a Guanabara

Este samba é só porqueRio, eu gosto de vocêA morena vai sambar

Seu corpo todo balançarAperte o cinto, vamos chegar

Água brilhando, olha a pista chegandoE vamos nós

Aterrar

Vem BalançarWalter Santos/Tereza SouzaElis no Fino da Bossa 1965-1967

Quem vem lá?Quem vem lá?

Se é de samba pode se chegarNo meu samba tem sempre lugarPrá quem vem balançandoQuerendo sambar

Quem vem lá?Quem vem lá?

Se é de samba pode se chegarNo meu samba tem sempre lugarPrá quem vem balançandoQuerendo sambar

Pra quemTraga o samba redondinho,bem certinho assimtodinho solto

Mas não venha contando mentira rapazNão ponha no meu samba tão fácil demais

Devagar com a louçaLuiz Reis/Haroldo BarbosaElis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Elza Soares)

Devagar com a louça que eu conheço a moça,vai devagar moçinha, devagar ei.Eu conheço a moça, devagar com a louça,vai devagar, prá não errar.Devagar com a louça que eu conheço a moça,vai devagar.E eu conheço a moça, devagar com a louça.Vai, prá não errar.

Ela é mais enrolada do que linha em carretel,ja viu, mais você nessa jogada, hehe, vira bola de papel.Dê o fora dessa louça, peça logo o seu boné.Você vai ficar de touca, quem avisa amigo é, pois é..'

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MulataAssanhada

Ataulfo AlvesElis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Ataulfo Alves)

Ô, mulata assanhadaQue passa com graça

Fazendo pirraçaFingindo inocente

Tirando o sossego da gente!

Ah! Mulata se eu pudesseE se meu dinheiro desse

Eu te dava sem pensarEsta terra, este céu, este mar

E ela finge que não sabeQue tem feitiço no olhar!

Ai, meu Deus, que bom seriaSe voltasse a escravidão

Eu pegava a escurinhaE prendia no meu coração!...

E depois a pretoriaResolvia aquestão!

Amor em pazTom Jobim/Vinícius de MoraesElis no Fino da Bossa 1965-1967

Eu ameiE amei, ai de mim, muito mais do que devia amarE choreiAo sentir que iria sofrer e me desesperar

Foi entãoQue da minha infinita tristeza aconteceu vocêEncontreiEm você a razão de viver e de amar em pazE não sofrer maisNunca maisPorque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz

O amor é a coisa mais triste quando se desfaz

BocochêBaden Powell/Vinícius de MoraesElis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Baden Powell)

Menina bonita, pra onde é "qu'ocê" vaiMenina bonita, pra onde é "qu'ocê" vaiVou procurar o meu lindo amorNo fundo do marVou procurar o meu lindo amorNo fundo do mar

Nhem, nhem, nhemÉ onda que vaiNhem, nhem, nhemÉ onda que vemNhem, nhem, nhemTristeza que vaiNhem, nhem, nhemTristeza que vem

Foi e nunca mais voltouNunca mais! Nunca maisTriste, triste me deixou

Nhem, nhem, nhemÉ onda que vaiNhem, nhem, nhemÉ a vida que vemNhem, nhem, nhemÉ a vida que vaiNhem, nhem, nhemNão volta ninguém

Menina bonita, não vá para o marMenina bonita, não vá para o mar

Vou me casar com o meu lindo amorNo fundo do marVou me casar com o meu lindo amorNo fundo do mar

Nhem, nhem, nhemÉ onda que vaiNhem, nhem, nhemÉ onda que vemNhem, nhem, nhemÉ a vida que vaiNhem, nhem, nhemNão volta ninguém

Menina bonita que foi para o marMenina bonita que foi para o marDorme, meu bemQue você também é IemanjáDorme, meu bemQue você também é Iemanjá

Agora Ninguém Chora MaisJorge Ben

Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Jorge Bem Jor e Zinho)

Chorava todo mundoMas agora ninguém chora mais

Chora mais, chora maisChorava todo mundo

Mas agora ninguém chora maisChora mais

ô, ô, ô, ô

Chorava mãe, chorava paiNa hora da partidaMas era uma belezaEm vez de tristeza

Mas era uma belezaEm vez de tristeza

ô, ô, ô, ôChorava mãe, chorava pai

Chorava todo mundoMas agora ninguém chora mais

Mas pois o menino voltouVoltou homem, voltou doutor

Menino que é bom não caiPois já nasceu com a estrela

E sempre a mente sãMenino que é bom não cai

Pois é protegido de Iansã

Chorava todo mundoMas agora ninguém chora mais

Chora mais, chora mais

Mas Que NadaJorge Ben

Elis no Fino da Bossa 1965-1967

Mas, que nadaSai da minha frente

Que eu quero passarPois o samba está animadoE o que eu quero é sambar

Este sambaQue é misto de maracatuÉ samba de preto velho

Samba de preto tuMas, que nada

Um samba como esse tão legalVocê não vai querer

Que eu chegue no final

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Falsa BaianaGeraldo Pereira

Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Wilson Simonal)

Baiana que entra no samba e só fica paradaNão samba, não dança, não bole nem nada

Não sabe deixar a mocidade loucaBaiana é aquela que entra no samba de qualquer

maneiraQue mexe, remexe, dá nó nas cadeirasDeixando a moçada com água na boca

A falsa baiana quando entra no sambaNinguém se incomoda, ninguém bate palma

Ninguém abre a roda, ninguém grita ôbaSalve a Bahia, senhor

Mas a gente gosta quando uma baianaSamba direitinho, de cima embaixo

Revira os olhinhos dizendoEu sou fiilha de São Salvador

TelefoneRoberto Menescal/Ronaldo Bôscoli

Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Os Cariocas)

Plém plém plém plém plém plém plém plém plém

Plém plémOcupado pela décima vez

Plém plémTelefono e não consigo falar

Plém plémEstou ouvindo há muito mais de um mês

Plém plémJá começa quando eu penso discar

Eu já estou desconfiadoQue ela deu meu telefone prá mim

Plém plémE dizer que a vida inteira esperei

Plém plémQue dei duro e me matei prá encontrar

Plém plémToda a lista quase que eu decorei

Plém plémDia e noite não parei de discar

E só vendo com que jeitoPedia prá eu ligar

Plém plém plém plémNão entendo mais nada

Prá que é que eu fui topar?

Trimm trimmNão me diga que agora atendeu

Será que eu… eu consegui? Agora encontrar?O moço atendeu… alô!

SomewhereStephen Sondheim/Leonard BernsteinElis no Fino da Bossa 1965-1967

There's a place for usSomewhere a place for usPeace and quiet and open airWait for usSomewhere

There's a time for usSome day a time for usTime together and time to spareTime to look, time to careSomedaySomewhere

We'll find a new way of livingWe'll find there's a way of forgivingSomewhere

There's a place for usA time and place for usHold my hand and we're halfway thereHold my hand and I'll take you thereSomehowSomedaySomewhere

There's a place for usHold my hand and we're halfway thereHold my hand and I'll take you thereSomehowSomedaySomewhere

Eu só queria saberMiriam Ribeiro/Vera Brasil

Elis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Claudete soares)

Eu só queria serUm só dos teus anseios

Eu só queria serUm só dos teus momentos

Eu só queria serDentro de ti

A brisa que passouUma canção me trouxe

A brisa que passouPassou e não me trouxe

O sol de um meigo olharNa escuridão

Só nesta solidãoSofre o meu coração

Cativo da canção que passou

Eu só queria serUm só dos teus anseios

Eu só queria serUm só dos teus momentos

Eu só queria serDentro de ti

Se acaso você chegasseFelisberto Martins/Lupicínio RodriguesElis no Fino da Bossa 1965-1967 (Com Elza Soares e Jair Rodrigues)

Se acaso você chegasseNo meu chatô e encontrasseAquela mulherQue você gostouSerá que tinha coragemDe trocar nossa amizadePor ela que jáLhe abandonou?

Eu falo porque essa donaJá mora no meu barracoÀ beira de um regatoE um bosque em florDe dia me lava a roupaDe noite me beija a bocaE assim nós vamosVivendo de amor

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É Zambi no açoite, ei, ei é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...

É Zambi na noite, ei, ei, é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...

Chega de sofrer... Eh! Zambi gritou. Sangue a correr é a mesma cor É o mesmo adeus e a mesma dor.

É Zambi se armando, ei, ei é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...

É Zambi lutando, ei, ei, é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...

Chega de viver na escravidão. É o mesmo céu. O mesmo chão. O mesmo amor. Mesma paixão.

Ganga-Zumba ei, ei, ei, vai fugir... Vai lutar tui, tui, tui, tui, com Zambi...

E Zambi gritou ei, ei, meu irmão... Mesmo céu, tui, tui, tui, tui, mesmo chão.

Vem filho meu, meu capitão. Ganga-Zumba... Liberdade! Liberdade! Ganga-Zumba vem meu irmão.

É Zambi lutando, é lutador. Faca cortando, talho sem dor. É o mesmo sangue e a mesma dor.

É Zambi morrendo, ei, ei é Zambi... É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi...

Ganga-Zumba, ei, ei, vem aí... Ganga-Zumba, tui, tui, tui, tui, é Zambi...

ZambiEdu Lobo/Vinícius de MoraisO fino do fino – 1965

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Canção do amanhecerEdu Lobo/Vinícius de Morais

O fino do fino – 1965

Ouve Fecha os olhos, meu amor

É noite ainda Que silêncio!

E nós dois Na tristeza de depois

A contemplar O grande céu do adeus

Ah! Não existe paz

Quando o adeus existe E é tão triste o nosso amor

Ah! Vem comigo Em silêncio Vem olhar

Esta noite amanhecer Iluminar

Os nossos passos tão sozinhos Todos os caminhos Todos os carinhos

Vem raiando a madrugada Música no céu!

Esse mundo é meuSergio Ricardo/Ruy Guerra

O fino do Fino – 1965Elis no Fino da Bossa 1965-1967

Esse mundo é meuEsse mundo é meu

Fui escravo no reino e souEscravo no mundo em que estou

Mas acorrentado ninguém pode amar

Saravá, Ogum, mandinga prá gente continuaCade o despacho pra acabáSanto guerrero da floresta

Se você nao vem eu mesma vou brigáSe voce nao vem eu mesma vou brigá

Escravo do reino e souEscravo do mundo em que estou

Mas acorrentado ninguém pode amar

Saravá, Ogum, mandinga prá gente continuaCade o despacho pra acabáSanto guerrero da floresta

Se você nao vem eu mesma vou brigáSe voce nao vem eu mesma vou ficar

ResoluçãoEdu Lobo/Lula FreireO fino do Fino – 1965Samba eu canto assim – 1965

É, vou contar o que há.É tempo de dizer quem souSim. Eu cansei de lutarE agora quero descansar

Tanto eu esperei para vencerE agora vejo que perderNada mais é do que cansar

Eu cansei e perdiEm tanta coisa acrediteiSe ninguém viu o que eu viNinguém sabe mais do que eu sei

Mas se a esperança vai me deixarE nem mais vou saber chorarNem sorrir sem amor para dar

Não. É preciso não morrerÉ preciso decidir de uma vezO que é pra fazer

Ou viver ou morrerHá tanto para se fazerOu viver ou morrerHá tanto para se fazer

Todas as canções que eu já canteiAgora tem de me valerE me fazer acreditar

Que é preciso viverE o resto é só deixar pra láE, mesmo só, vou seguirE nada me fará mudar

Té o sol raiar (Tempo feliz)Baden Powell/Vinícius de MoraisO fino do Fino – 1965

Feliz o tempo que passou, passou Tempo tão cheio de recordações Tantas canções ele deixou,deixouTrazendo paz a tantos corações

Que sons mais lindos tinha pelo arQuanta alegria de viverAh, meu amor, que tristeza me dá Vendo o dia querendo amanhecerE ninguem cantar

Mas meu bemDeixa estar Tempo vai, tempo vemE quando um dia esse tempo voltarEu nem quero pensar o que vai serAté o sol raiar

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Sou sem pazAdilson GodoySamba eu canto assim – 1965

Tento em mim seu amorNasceu como uma flor cantando bemE ninguém jamais amou assimNunca assim

Sofro sem tudo em mimÉ só tristeza e dorÉ só você e a felicidade que se foiQue se foi

Você fugiu de mimE triste, amor, eu canto assimE a saudade em mim

Volte então, sou sem pazCom o seu amor e a felicidade que viráQue virá

Amor demaisSilvio César/Ed LincolnO fino do Fino – 1965

A canção é o lamento do amor demaisQuem chorouQuem sofreuQuem perdeu a paz

Venho dizerNa cançãoO que chorouSeu coração

VemA noite é lindaVem cantar

VemToda tristezaVai passar

Só assim tu terásAmor sem fimAmor demais

ChegançaEdu Lobo/Oduvaldo Vianna Filho

O fino do Fino – 1965

Estamos chegando daqui e daliE de todo lugar que se tem pra partir

Estamos chegando daqui e daliE de todo lugar que se tem pra partir

Trazendo na chegançaFoice velha, mulher nova

E uma quadra de esperançaE uma quadra de esperança

Ah, se viver fosse chegarAh, se viver fosse chegar

Chegar sem parar, parar pra casarCasar e os filhos espalhar

Por um mundo num tal de rodarPor um mundo num tal de rodar

Por um amormaiorFrancis Hime/Ruy GuerraSamba eu canto assim – 1965

Vim, eu vim te dizerEu vim te lembrar

Que a vida não é só tristeza e dor

É pobre quem tem medo de falarO mundo que quer

E depois não dá o amor que guardou

Sim, eu vim te dizerEu vim te falar

Que o amor pra ser bomPra não ser qualquer

Precisa gritar a força que temDe tudo mudar

Vem, meu amorVem, que amar é vencer

Mas amar é também

Gente que vai e vemGente que também querVer este mundo melhor

Que o povo é assimE dá o que tem

É o povo que fazA vida maior

João Valentão é brigãoPra dar bofetão

Não presta atenção e nem pensa na vidaA todos João intimida

Faz coisas que até Deus duvidaMas tem seu momento na vida

É quando o sol vai quebrandoLá pro fim do mundo pra noite chegar

É quando se ouve mais forteO ronco das ondas na beira do marÉ quando o cansaço da lida da vida

Obriga João descansarÉ quando a morena se enrosca

Do lado da genteQuerendo agradar

Se a noite é de luaA vontade é de contar mentira

É de se espreguiçarÉ de se deitar na areia da praia

Que acaba onde a vistaNão pode alcançar

E assim adormece esse homemQue nunca precisa dormir pra sonhar

Porque não há sonho mais lindoDo que sua terra, não há

Dorival CaymmiSamba eu canto assim – 1965

João Valentão

Maria do MaranhãoCarlos Lyra/Nelson L. de BarrosSamba eu canto assim – 1965

Maria, pobre MariaMaria do MaranhãoQue vive por onde andaE anda de pé no chão

Maria desceu escadaAtravessou o paísProcurava muito poucoMuito pouco ser feliz

Nem feliz queria serQue feliz não pode serQuem anda pelas estradasAtravessando o país

Maria, pobre MariaMaria do MaranhãoQue vive por onde andaE anda de pé no chão

Maria seguiu estradaA estrada de uma estrelaMaria não viu a estrelaMaria é só na estrada

Mas muita gente seguiuA estrela que ela não viuE vai dizer pra mariaQue tudo tem solução

Até mesmo pra MariaMaria do MaranhãoQue vive por onde andaE anda de pé no chão

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Consolação/Berimbau/Tem dóBaden Powell/Vinícius de Morais

Samba eu canto assim – 1965

Se não tivesse o amorSe não tivesse essa dor

E se não tivesse o sofrerE se não tivesse o chorar

Capoeira me mandouDizer que já chegouChegou para lutar

Berimbau me confirmouVai ter briga de amor

Tristeza camará

Ah! Tem dóQuem viveu junto não pode nunca viver só

Ah! Tem dóMesmo porque você não vai ter coisa melhor

Não me venha achar ruimPorque você me conheceu assim

Me diga agora, ora, oraNão foi assim que você gamou?

Você sabe muito bemQue mesmosendo louca, assim

Gamei tambémMe diga agora, ora, ora

Será que alguém não foi quem mudou?

AleluiaEdu Lobo/Ruy GuerraSamba eu canto assim – 1965Elis no Fino da Bossa – 1994 (Com Edu Lobo)

Barco deitado na areiaNão dá pra viver, não dáLua bonita sozinhaNão faz o amor, não faz

Toma decisão, aleluia!Que um dia o céu vai mudarQuem viveu a vida da genteTem que se arriscar

Amanhã é teu diaAmanhã é teu mar, teu marE se o vento da terraQue traz teu amor, já vem

Toma decisão, aleluia!Lança o teu saveiro no marBeabá de pesca é coragemGanha o teu lugar

Mesmo com a morte esperandoEu me largo pro mar, eu vouTudo o que sei é viverE vivendo é que eu vou morrer

Toma decisão, tá na hora!Que um dia o céu vai mudarQuem não tem mais nada a perderSó vai poder ganhar

EternidadeLuiz Chaves/Adilson GodoySamba eu canto assim – 1965

Se ele é mais que céuÉ mais que luzÉ mais que amor

Sinto o infinitoDa paz que vemNascendo em mim

E sinto, enfimQue é mais que tudoÉ mais que o mundoMe ensinou

Paz que eu tanto amei, chorandoNão, não se váNossa eternidadeQue sempre sonheiNasceu no que sou

Sim, é mais que tudoÉ mais que o mundoMe ensinou

Último cantoFrancis Hime/Ruy GuerraSamba eu canto assim – 1965

Vou acender uma velaVou só cantar o meu cantoE vou cantar da maneiraA mais singela

E só depoisVou te esquecerE só depoisVou te esquecer

Vou acender uma velaVou só chorar o meu prantoE vou chorar da maneiraA mais singela

E só depoisQuero esquecer

Quando um amor acaba em prantoÉ o mesmo que alguém morrerVou acender esta velaQue é por mim e é por ela

SaveirosDory Caymmi/Nelson MottaCompacto duplo – 1966

Nem bem a noite terminouVão os saveiros para o marLevam no dia que amanheceAs mesmas esperançasDo dia que passouQuantos partiram de manhãQuem sabe quantos vão voltarSó quando o sol descansar,E se os ventos deixarem,Os barcos vão voltarQuantas histórias pra contarE em cada vela que apareceUm canto de alegriaDe quem venceu no mar

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Jogo de rodaEdu Lobo/Ruy GuerraCompacto duplo – 1966

É ô lê, é horaÉ ô lê, de roda

Jogo a vidaJogo a tardeJogo a faca e a razãoJogo o mundo à sua sorteE a mentira eu jogo ao chão

A roda vai rodarE eu jogo o meu amor entãoE se eu puderEntro na roda e vou rodar também

Gira a rodaRoda o tempoNasce um samba em minha mãoOlho a praiaChamo o ventoAbro os braços e a canção

Eu sei aonde estouE sei onde é que eu quero irE quem quiserEntre na roda e vá rodar também

Ó, meu amorO mundo assim não pode serÉ só tristeza e noite pra se verSozinha estou num mundoEm que o mal é reiMas o meu canto vem fora de lei

Ó, meu amorVem prá perto de mim cantarQue nessa roda a dor vai se entregarA minha voz é fracaMas em meu olharO novo mundo roda sem pararSem pararSem pararA rodarA rodarA rodar

E assim tenho um norteTenho a vidaTenho um samba de cordãoTenho a noite já vencidaNa palma de minha mão

Meu samba já chegouTanta tristeza quer tambémE o teu amorSamba na roda do meu coração

Ensaio geralGilberto Gil

Compacto duplo – 1966

O Rancho do Novo Dia O Cordão da Liberdade E o Bloco da Mocidade

Vão sair no carnaval É preciso ir à rua

Esperar pela passagem É preciso ter coragem

E aplaudir o pessoal O Rancho do Novo Dia

Vem com mais de mil pastoras Todas elas detentoras

De um sorriso sem igual O Cordão da Liberdade

Ensaiado com carinho Pelo Zé Redemoinho Pelo Chico Vendaval

Oh, que linda fantasia Do Bloco da Mocidade

Colorida de ousadia Costurada de amizade

Vai ser lindo ver o bloco Desfilar pela cidade

Minha gente, vamos lá Nossa turma vai sair

Nossa escola vai sambar Vai cantar pra gente ouvir

Tá na hora, vamos lá Carnaval é pra valer

Nossa turma é da verdade E a verdade vai vencer

Canto tristeEdu Lobo/Vinícius de Morais

Compacto duplo – 1966

Porque sempre foste a primavera em minha vida Volta pra mim

Desponta novamente no meu canto Eu te amo tanto mais, te quero tanto mais

Há quanto tempo faz partiste Como a primavera que também te viu partir

Sem um adeus sequer E nada existe mais em minha vida

Como um carinho teu, como um silêncio teu Lembro um sorriso teu tão triste

Ah, Lua sem compaixão, sempre a vagar no céu Onde se esconde a minha bem-amada

Onde a minha namorada Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço

Peço apenas Que ela lembre as nossas horas de poesia

Das noites de paixão E diz-lhe da saudade em que me viste

Que estou sozinho e só existe Meu canto triste

Na solidão

Rosa morenaDorival Caymmi/Antônio de AlmeidaCompacto simples – 1966

Rosa morenaOnde vais morena rosaCom essa rosa no cabeloE esse andar de moça prosaMorena, morena rosa

Rosa morena o samba está esperandoEsperando p’rá te verDeixa de lado essa coisa de dengosaAnda rosa, vem me ver

Deixa de lado essa poseVem pro samba, vem sambarQue o pessoal está cansado de esperar

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Canto de OssanhaBaden Powell/Vinícius de MoraisCompacto simples – 1966Dois na bossa 2 – 1966Elis, como e porque – 1969Aquarela do Brasil – 1969

O homem que diz "dou" não dá, porque quem dá mesmo não dizO homem que diz "vou" não vai, porque quando foi já não quis

O homem que diz "sou" não é, porque quem é mesmo é "não sou"O homem que diz "tô" não tá, porque ninguém tá quando quer

Coitado do homem que cai no canto de Ossanha, traidorCoitado do homem que vai atrás de mandinga de amor

Vai, vai, vai, vai, não vouVai, vai, vai, vai, não vouVai, vai, vai, vai, não vouVai, vai, vai, vai... não vou!

Que eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecera tristeza de um amor que passouNão, eu só vou se for pra ver uma estrela aparecerna manhã de um novo amor

Amigo senhor, saravá, Xangô me mandou lhe dizerSe é canto de Ossanha, não vá, que muito vai se arrepender

Pergunte ao seu Orixá, o amor só é bom se doerPergunte ao seu Orixá o amor só é bom se doer

Vai, vai, vai, vai, amarVai, vai, vai, sofrer

Vai, vai, vai, vai, chorarVai, vai, vai, dizer

due eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecera tristeza de um amor que passou

Não, eu só vou se for pra ver uma estrela aparecerna manhã de um novo amor

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Poutpourri deintroduçãoDois na bossa 2 – 1966 (Com Jair Rodrigues)

LouvaçãoGilberto Gil/Torquato NetoDois na bossa 2 – 1966 (Com Jair Rodrigues)

Vou fazer a louvaçãoLouvação, louvaçãoDo que deve ser louvadoSer louvado, ser louvadoMeu povo, preste atençãoAtenção, atençãoRepare se estou errado

Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.

E louvo, pra começar, da vida o que é bem maior.Louvo a esperança da gente na vida, pra ser melhor.Quem espera sempre alcança. Três vezes salve a esperança!

Louvo quem espera sabendo que pra melhor esperar.Procede bem quem não pára de sempre mais trabalhar.Que só espera sentado quem se acha conformado.

Vou fazendo a louvaçãoLouvação, louvaçãoDo que deve ser louvadoSer louvado, ser louvadoQuem 'tiver me escutandoAtenção, atençãoQue me escute com cuidado

Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.

Louvo agora e louvo sempre o que grande sempre é.Louvo a força do homem e a beleza da mulher.Louvo a paz pra haver na terra. Louvo o amor que espanta a guerra.

Louvo a amizade do amigo que comigo há de morrer.Louvo a vida merecida de quem morre pra viver.Louvo a luta repetida. A vida pra não morrer.

Vou fazendo a louvaçãoLouvação, louvaçãoDo que deve ser louvadoSer louvado, ser louvadoDe todos peço atençãoAtenção, atençãoFalo de peito lavado

Louvando o que bem merece, deixo o que é ruim de lado.

Louvo a casa onde se mora de junto da companheira.Louvo o jardim que se planta pra ver crescer a roseira.Louvo a canção que se canta prá chamar a primavera.

Louvo quem canta e não canta, porque não sabe cantar.Mas que cantará na certa quando enfim se apresentar.O dia certo e preciso de toda a gente cantar.

E assim fiz a louvaçãoLouvação, louvaçãoDo que vi pra ser louvadoSer louvado, ser louvadoSe me ouviram com atençãoAtenção, atençãoSaberão se estive errado

Louvando o que bem merece. Deixando o ruim de lado.

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SAMBA DE MUDAR(Geraldo Vandré)

Samba eu canto assimSamba eu faço asism

Só quem sofreuQuem chorouMeu samba vai ouvirMeu samba vai cantar

Só na tristeza e na dorAlguém pode entenderQue a dor vai se acabarE assim somente

NÃO ME DIGA ADEUS(Paquito/L. Soberano/J. C. Silva)

NãoNão me diga adeusPense nos sofrimentos meus

VOLTA POR CIMA(Paulo Vanzolini)

Ali onde eu choreiQualquer um choravaDar a volta por cima que eu deiQuero ver quem dava

O NEGUINHO E A SENHORITA(Noel Rosa/A. da Silva)

Eu gostei da filha da madameQue nós tratamos de sinhá

A sinhazinha também gostou do neguinhoO crioulinho não tem dinheiro pra gastar

Mas a madame tem preconceito de cor

E DAÍ(Miguel Gustavo)

Proibiram que eu te amasseProibiram que eu te visseProibiram que eu saisseE perguntasse a alguém por ti

Proibiram tudoProibam muito mais!Preguem avisos!Fechem portas!Ponham guizos!Nosso amor perguntará,E daí?

SAMBA DE MUDAR(Geraldo Vandré)

Só quem sofreuQuem chorou

Meu samba vai ouvirMeu samba vai cantar

Só na tristeza e na dorAlguém pode entender

Que a dor vai se acabarE assim somente

ENQUANTO A TRISTEZA NÃO VEM(Sérgio Ricardo)

Por isso canta, cantaNasceu uma rosa na favela

Canta, cantaNasceu uma rosa na favela

CARNAVAL(D. Ferreira/Ataulfo Alves)

Lê lê lêA rainha do samba chegou

Lê lê lêO batuque do nêgo enfezou

NA GINGA DO SAMBA(Ataulfo Alves)

É na ginga bonita que o samba temQuem não tem ginga, no samba não se dá bem

GUARDA A SANDÁLIA DELA(Sereno/Germano Mathias)

Guarda a sandália delaQue o samba sem ela não pode ficar

Diga também pra elaQue a escola sem ela não pode sambar

SAMBA DE MUDAR(Geraldo Vandré)

Porque o samba é o samba bomO samba é meu

Da nossa dorÉ um samba de sofrer

Samba de quererSamba de...

Samba de mudar

Upa, neguinhoEdu Lobo/Gianfrancesco GuarnieriDois na bossa 2 – 1966Compacto simples – 1968Elis especial – 1968Elis Regina in London – 1969Montreaux Jazz Festival – 1982

Upa, neguinho na estradaUpa, pra lá e pra cáVirge, que coisa mais linda!Upa, neguinho começando a andáComeçando a andá, começando a andá

E já começa a apanhá

Cresce, neguinho e me abraçaCresce e me ensina a cantáEu vim de tanta desgraçaMas muito te posso ensiná

Capoeira, posso ensináZiquizira, posso tiráValentia, posso emprestáMas liberdade só posso esperá

Patá tá triTri tri triTrá trá trá

Amor até o fimGilberto GilDois na bossa 2 – 1966Montreaux Jazz Festival – 1982

Amor não tem que se acabarEu quero e sei que vou ficarAté o fim eu vou te amarAté que a vida em mim resolva se apagar

O amor é como a rosa num jardimA gente cuida, a gente olhaA gente deixa o sol baterPra crescer, pra crescer

A rosa do amor tem sempre que crescerA rosa do amor não vai despetalarPra quem cuida bem da rosaPra quem sabe cultivar

Amor não tem que se acabarAté o fim da minha vida eu vou te amarEu sei que o amor não tem, não tem que se apagarAté o fim da minha vida eu vou te amarEu sei que o amor não tem que se apagar

Sambaem

pazCaetano Veloso

Elis – 1966

O samba vai vencerQuando o povo perceberQue é o dono da jogada

O samba vai crescerPelas ruas vai correrUma grande batucada

Samba não vai chorar maisToda gente vai cantarO mundo vai mudar

E o povo vai cantarUm grande samba em paz

Pra dizer adeusEdu Lobo/Torquato NetoElis – 1966Elis no Fino da Bossa 1965-1967

AdeusVou pra não voltarE onde quer que eu váSei que vou sozinha

Tão sozinha amorNem é bom pensarQue eu não volto maisDesse meu caminho

Ah, pena eu não saberComo te contarQue o amor foi tantoE no entanto eu queria dizer

VemEu só sei dizer

VemNem que seja sóPrá dizer adeus

Tristeza quese foiAdilson Godoy

Dois na bossa 2 – 1966

Toda tristeza já passouE agora um novo amor

vem surgindoSorrindo

Por isso bem feliz eu sei queToda tristeza já passou

E que agora um novo amorVem surgindo

Sorrindo

Por isso vouVou cantando agora

Vou levando agoraA beleza de um novo amor

Que me nasceu

Vou cantando agoraVou levando agora

Felicidade só

25

Lunik 9Gilberto Gil

Elis – 1966Elis no Fino da Bossa 1965-1967

Poetas, seresteiros, namorados, correiÉ chegada a hora de escrever e cantar

Talvez as derradeiras noites de luar

Momento histórico, simples resultado do desenvolvimento da ciência vivaAfirmação do homem normal, gradativa sobre o universo natural

Sei lá que mais

Ah, sim!Os místicos também profetizando em tudo o fim do mundo

E em tudo o início dos tempos do alémEm cada consciência, em todos os confins

Da nova guerra ouvem-se os clarins

Guerra diferente das tradicionais,Guerra de astronautas nos espaços siderais

E tudo isso em meio às discussões,Muitos palpites, mil opiniões

Um fato só já existe que ninguém pode negar

7... 6.. 5... 4... 3... 2... 1... já!E lá se foi o homem conquistar os mundos, lá se foi

Lá se foi buscando a esperança que aqui já se foiNos jornais, manchetes, sensação, reportagens, fotos, conclusão:

A lua foi alcançada afinal,Muito bem, confesso que estou contente também

A mim me resta disso tudo uma tristeza sóTalvez não tenha mais luar pra clarear minha canção

O que será do verso sem luar?O que será do mar, da flor, do violão?

Tenho pensado tanto, mas nem sei

Poetas, seresteiros, namorados, correiÉ chegada a hora de escrever e cantar

Talvez as derradeiras noites de luar

Meu povo, preste atenção Na roda que eu te fiz

Quero mostrar a quem vem Aquilo que o povo diz

Posso falar, pois eu sei Eu tiro os outros por mim

Quando almoço, não janto E quando canto é assim

Agora vou divertir Agora vou começar

Quero ver quem vai sair Quero ver quem vai ficar

Não é obrigado a me ouvir Quem não quiser escutar

Quem tem dinheiro no mundo Quanto mais tem, quer ganhar

E a gente que não tem nada Fica pior do que está

Seu moço, tenha vergonha Acabe a descaração

Deixe o dinheiro do pobre E roube outro ladrão

Agora vou divertir Agora vou prosseguir

Quero ver quem vai ficar Quero ver quem vai sair

Não é obrigado a escutar Quem não quiser me ouvir

Se morre o rico e o pobre Enterre o rico e eu Quero ver quem que separa O pó do rico do meu Se lá embaixo há igualdade Aqui em cima há de haver Quem quer ser mais do que é Um dia há de sofrer

Agora vou divertir Agora vou prosseguir Quero ver quem vai ficar Quero ver quem vai sair Não é obrigado a escutar Quem não quiser me ouvir

Seu moço, tenha cuidado Com sua exploração Se não lhe dou de presente A sua cova no chão Quero ver quem vai dizer Quero ver quem vai mentir Quero ver quem vai negar Aquilo que eu disse aqui

Agora vou divertir Agora vou terminar

Quero ver quem vai sair Quero ver quem vai ficar

Não é obrigado a me ouvir Quem não quiser escutar

Agora vou terminar Agora vou discorrer

Quem sabe tudo e diz logo Fica sem nada a dizer

Quero ver quem vai voltar Quero ver quem vai fugir

Quero ver quem vai ficar Quero ver quem vai trair

Por isso eu fecho essa roda A roda que eu te fiz

A roda que é do povo Onde se diz o que diz... Onde se diz o que diz...

26 Roda

Gilberto Gil/João AugustoElis – 1966

EstatuinhaEdu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri

Elis – 1966

Se a mão livre do negro tocar na argilaO que é que vai nascer?

Vai nascer pote pra gente beberNasce panela pra gente comer

Nasce vazinho, nasce paredeNasce estatuinha bonita de se ver

Se a mão livre do negro tocar na onçaO que é que vai nascer?

Vai nascer pele pra cobrir nossas vergonhasNasce tapete pra cobrir o nosso chão

Nasce caminha pra se ter nossa ialêNasce atabaque pra se ter onde bater

Se a mão liver do negro tocar na palmeiraO que é que vai nascer?

Nasce choupana prá gente morarNasce rede pra gente se embalarNasce esteira pra gente se deitar

Nasce os abanos pra gente abanar

VeleiroEdu Lobo/Torquato netoElis – 1966

Ê... ô... tá na hora e no tempoVamos lá que esse vento trazRecado de partir

Beira de praiaNão faz mal que se deixeSe o caminho da gente vai pro mar

Eu vou, tanta praia deixandoSem saber até quando eu vouQuando eu vou,quando eu volto

Eu vou pra terra distanteNão tem mar que me espanteNão tem, não

Anda, vem comigo que é tempoVem depressa que eu tenhoBraço forte e o rumo certo

Aqui o dia está pertoE é preciso ir emboraAh! vem comigo nesse veleiro

Tá na hora e no tempo, ê... ô...Vamos embora no vento ê... ô...

Boa palavraCaetano VelosoElis – 1966

Aprendeu sozinhoNa areia, no chãoA brincar sozinhoSem a mão de um irmão

Aprendeu com o ventoQue o sono passouE acordou sozinhoNo solo sem amor

Tava dormindo, acordeiPara acertar o namoroMe deram o que de beberNuma caneca de ouro

Não lhe deram nadaNão é seu este chãoDeita olhando o céuQue o céu não tem dono, não

Como um passarinhoAprende a voarSolta o pensamentoNum braço de mar

Voou pra beira do rioPousou num poço douradoMoça com seu namoradoRico com seu empregado

Aprendeu sozinhoDeitado no chãoA esperar sozinhoTempo de encontrar irmão

Inda a madrugadaEspera nascerNão lhe deram nadaMas não quer morrer

Boa palavra, rapazBoa palavra, rapazBoa palavra, rapazÉ assim que um homem faz

Sonho de MariaMarcos Valle/Paulo Sergio ValleElis – 1966

Tanta roupa pra lavarTanto barraco pra arrumarTanta coisa pra esperar

Todo o morro a sambarTanta gente pra invejarNenhum sonho pra sonhar

Maria parou de trabalharNo ar uma voz chamouMaria olhou o céuMaria desejou o céu

A vida é uma canção para se cantarMas é tarde pra voltarMaria deixou a criança chorarUma estrela deixou de brilhar

Chorou.Chorou o céu. ChorouE a lágrima do céu apagouTudo o que maria deixou

E maria pra sempre acabou

27

Tem mais sambaChico BuarqueElis – 1966

Tem mais samba no encontro que na esperaTem mais samba a maldade que a feridaTem mais samba no porto que na velaTem mais samba o perdão que a despedida

Tem mais samba nas mãos do que nos olhosTem mais samba no chão do que na luaTem mais samba no homem que trabalhaTem mais samba no som que vem da rua

Tem mais samba no peito de quem choraTem mais samba no pranto de quem vêQue o bom samba não tem lugar nem horaO coração de fora samba sem querer

Vem que passa teu sofrerSe todo mundo sambasse seria tão fácil viver

Tereza sabe sambarFrancis Hime/Vinícius de MoraisElis – 1966

Chegou, chegou, sim senhorChegou sem anunciarFez um alô pro tiôFez um olá pra tiáDepois dançou e dançouAté o dia raiarE não contente enturmouCom as cabrochas de lá

E não contente enturmouCom as cabrochas de lá

Salve, salve a Dona TerezaEla vai pro céuEla tem aquela nobrezaQue tinha Izabel

Branquinha igual assim não pode existirBalanço igual eu juro que nunca viNo carnaval nós vamos nos divertirA turma tá que tá que não cabe em si

Porque Tereza enturmou

Depois foi-se embora TerezaFoi como um luarFoi deixando tanta tristezaNa turma de lá

A gafieira já fez “subiscrição”Pra passar cera e dar uma caiação

A turma tá que tá que não sai de láTereza um dia pode querer voltar

Porque Tereza enturmouPorque Tereza enturmouVoltou, voltou sim senhorVoltou sem anunciarFez um alô pro tiôFez um olá pra tiáTereza é branca na corMas isso diexa pra láPorque Tereza enturmouPorque ela sabe sambarTereza sabe sambarTereza sabe sambar

CarinhosoPixinguinha/João de BarroElis – 1966

Meu coraçãoNão sei porqueBate feliz, quando te vêE os meus olhos ficam sorrindoE pelas ruas vão te seguindoMas mesmo assim, foges de mim

Ah! Se tu soubessesComo sou tão carinhosoE muito e muito que te queroE como é sincero o meu amorEu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem!.. vem!... vem!.... vem!...

Vem sentir o calorDos lábios meusÀ procura dos teusVem matar esta paixãoQue me devora o coraçãoE só assim então

Serei feliz, bem feliz

Canção do salMilton Nascimento

Elis – 1966Compacto simples – 1968

Trabalhando o salÉ amor, o suor que me sai

Vou viver cantandoO dia tão quente que faz

Homem ver criançaBuscando conchinhas no mar

Trabalho o dia inteiroPra vida de gente levar

Água vira sal lá na salinaQuem diminuiu água do mar?

Água enfrenta o sol lá na salinaSol que vai queimando até queimar

Trabalhando o salPra ver a mulher se vestir

E ao chegar em casaEncontrar a família a sorrir

Filho vir da escolaProblema maior é o de estudarQue pra não ter meu trabalho

E vida de gente levar

28

Canção de não cantarSérgio Bittencourt

Festival dos festivais – 1966

Guardo o meu violão.Já nos faltam canções.São muitas as razões,que temos pra cantar,

mas hoje, amor, melhoré não cantar,

enquanto houver em nósvontade de fugir de um canto

que na voz não vai saber mentir.

Meu canto para ser um canto certo,vai ter que nascer liberto

e morar no assobiodo ocupado e do vadio

do alegre e do mais tristesó há canto quando existe

muito tempo e muito espaçopra canção ficar se eu passoe dizer o que eu não disse.Ah que bom se eu ouvisse

o meu canto por ai.

Por isso o violãoprefere emudecer.

E vem pedir perdãopor não poder cantar

que hoje, amor, melhoré não cantar.

CantadorDory Caymmi/Nelson MottaFestival da Música Popular Brasileira Volume 2 – 1967

Amanhece, preciso irMeu caminho é sem volta e sem ninguémEu vou pra onde a estrada levarCantador, só sei cantar

Ah! eu canto a dorCanto a vida e a morteCanto o amor

Cantador não escolhe o seu cantar Canta o mundo que vêE pro mundo que vi meu canto é dor Mas é forte pra espantar a morte Prá todos ouvirem minha vozMesmo longe

De que servem meu canto e euSe em meu peito há um amor que não morreuAh! se eu soubesse ao menos chorarCantador, só sei cantar

Ah! Eu canto a dorDe uma vida perdida sem amor

ImagemLuiz Eça/Ronaldo BôscoliDois na Bossa 3 – 1967

BomAi, que bom é ver vocêsE cada vez que eu voltoÉ para dizerQue sem ter vocêsSem ver vocêsNão sou ninguém

CantaQue a vida passaE, se ela passaMelhor cantar

É de vocêsO meu cantarÉ só pra vocêsNosso cantar

Enquanto a nossa meta não for atingida,continuamos gritando o nosso canto.Enquanto nossa música não voltar ao que é, nós lutamos.Faz escuro, mas nós cantamos.O amanhã está breve.Vamos cantar, logo logo, o que é nosso.Porque, mais que nunca, é preciso cantar o que é nosso.

MANGUEIRA(Assis Valente/Zequinha Reis)

Nao há, nem pode haverComo Magueira não háO samba vem de lá, alegria tambémMorena faceira só Mangueira tem

FALA, MANGUEIRA!(Mirabeau/Milton de Oliveira)

Fala, Mangueira, falaMostra a força da tua tradiçãoCom licença da Portela,Favela Mangueira mora no meu coração

EXALTACÃO À MANGUEIRA(Enéas Brites da silva/Aloisio A. Costa)

Mangueira teu cenário é uma belezaQua a natureza criou, ô ôO morro com seus barracões de zincoQuando amanhece, que esplendor!Todo mundo te conhece ao longePelo som do teu tamborimE o rufar do teu tamborChegou ô ô a Mangueira, chegou!

MUNDO DE ZINCO(Nássara/Wilson Batista)

Aquele mundo de Zinco que é MangueiraDesperta com o apito do tremUma cabrocha e uma esteiraUm barracão de madeiraQualquer malandro em Mangueira tem

Mangueira fica pertinho do céu, ElisMangueira vai assistir o meu fimE deixa o nome na históriaO samba foi minha glóriaEu sei que muitas cabrochasVão chorar por mim

LEVANTA MANGUEIRA(Luiz Antonio)

Levanta, Mangueira, a poeira do chãoSamba de coraçãoAi, mostra a sandália de prata da mulataAcorda a cuíca e o tamborimMostra que o samba nasceu em Mangueira,simLevanta Mangueira, a poeira do chãoSamba de coração

DESPEDIDA DA MANGUEIRA(Aldo Cabral/Bendito Lacerda)

Em Mangueira na hora da minha despedidaTodo mundo chorou, todo mundo chorouFoi pra mim a maior emoção da minha vidapois em Mangueira o meu coracao ficou

PRA MACHUCAR MEU CORAÇÃO(Ary Barroso)

Ficou pra machucar meu coracao!

29

Pout-pourride MangueiraDois na Bossa 3 – 1967 (Com Jair Rodrigues)

Cruz de cinza, cruz de salWalter Santos/Teresa Souza

Dois na Bossa 3 – 1967Compacto simples – 1968

Santa Clara clareai,São Domingo alumiai

Vai chuva, vem sol Vai chuva, vem sol

Sol, vem sol, vem sol, vem sol Que o menino quer

Brincar, brincar Tanto que chamou Vem sol, vem sol Tudo que já fez

Cruz de cinza, cruz de sal,Casca de ovo no quintal

Tudo que chamouVem sol, vem sol

Santa Clara clareaiVem sol, vem sol

E a trizteza do meninoSão Domingo alumiai

Vem sol, vem com tanto azul no céu Pra criança se perder de tanto rir Pro menino se alegrar e o céu cair

Nessa rua onde o brinquedo é só você.

Sol, vem sol, vem sol, vem sol Que o menino quer

Brincar, brincar Tanto que chamou Vem sol, vem sol Tudo que já fez

Cruz de cinza, cruz de sal,Casca de ovo no quintal

ManifestoGuto/Mariozinho Rocha

Dois na Bossa 3 – 1967

A minha música não traz mensagem

E não faz chantagem ou guerra fr

ia

E nem fala em ideologia

Eu vim apenas para lhes falar

De uma grande perda

Que nem sei se é da direita ou da e

squerda

Que me importa se a censura corta

Pois eu gosto dela se é verm

elha

Ou se é verde e amarela

Oh, camarada, companheiro, amigo

Ela foi embora

E o pior que foi contigo

Para mim foi um grande golpe

Não sei se de estado ou armado

Ou talvez de coração

Só sei dizer que a dor foi m

uito grande

E minha vida inteira transform

ou-se

Numa enorme agitação

Já que assim termina meu mandato

Pois eu fui cassado e deport

ado

Pra bem longe de você

Oh, minha amada, quero lhe dizer

Que sem o teu amor

Eu posso até morrer

MINHA NAMORADA(Carlos Lyra/Vinícius de Morais)

Meu amor eu hoje estou contenteTodo mundo, de repente,Ficou lindo, ficou lindo de morrer

Hoje eu estou rindoNem eu mesma sei do quêPorque eu recebiUma cartinhazinha de vocêQue diz assim:

Se você quer ser minha namoradaOh, que linda namorada,Você poderia ser!

Se quiser ser somente minhaExatamente essa coisinhaEssa coisa toda minhaDe ninguém mais pode ser

EU SEI QUE VOU TE AMAR(Tom Jobim/Vinícius de Morais)

Eu sei que vou te amarPor toda minha vida vou te amarEm cada despedida eu vou te amarDesesperadamente eu sei que vou te amarE cada verso meu seráPra te dizer que eu sei que vou te amarPor toda minha vida

MINHA NAMORADA(Carlos Lyra/Vinícius de Morais)

Mas se em vez de minha namoradaVocê quer ser minha amadaMinha amada mais amada pra valer

Aquela amadaPelo amor predestinadaSem a qual a vida é nadaSem a quel se quer morrer.

Você tem que vir comigo em meu caminhoE talvez o meu caminho seja triste pra você

A VOLTA(Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli)

Mas quero que você me faleQue você me caleCaso eu perguntarSe o que a faz tão lindaFoi tua pressa de voltar

Levanta e vem correndoMe abraça e sem sofrerMe beija longamente

O quanto a solidão precisa para morrer?

MINHA NAMORADA(Carlos Lyra/Vinícius de Morais)

Os seus olhos têm que sersó dos meus olhosOs seus braços o meu ninhoNo silêncio de depoisE você tem que ser a estrela derradeiraMinha amiga e companheiraNo infinito de nós dois

PRIMAVERA(Carlos Lyra/Vinícius de Morais)

Amor, eu lhe direiAmor que eu tanto procureiAh, quem me dera eu pudesse serA tua primavera E depois morrer

Marcha dequarta-feira de cinzas

Carlos Lyra/Vinícius de MoraisDois na Bossa 3 – 1967

Acabou nosso carnavalNinguém ouve cantar canções

Ninguém passa mais brincando felizE nos corações

Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vêÉ uma gente que nem se vê

Que nem se sorriSe beija e se abraça

E sai caminhandoDançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantarMais que nunca é preciso cantar

É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente temQualquer dia vai se acabar

Todos vão sorrirVoltou a esperançaÉ o povo que dança

Contente da vida, feliz a cantarPorque são tantas coisas azuis

E há tão grandes promessas de luzTanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra verE brincar outros carnavais

Com a beleza dos velhos carnavaisQue marchas tão lindas

E o povo cantando seu canto de pazSeu canto de paz

Pout-pourri românticoDois na Bossa 3 – 1967 (Com Jair Rodrigues)

30

Yê-melêChico Feitosa/Luiz Carlos VinhasCompacto simples – 1968

Yê-melê ari aráYê-melê aráYe-melê ari aráCanto de Yemanjá

Zauê zauaMelê MelaIndê oláOnda do mar

A rainha mãe do marTraz o seu amorSua benção vem me darE eu dou uma flor

Zauê zauaMelê MelaIndê oláOnda do mar

Algum dia vai chegarQue eu vou ouvirEsse canto de YemanjáVai do mar sair

Zauê zauaMelê MelaIndê oláOnda do mar

LapinhaBaden Powell/Paulo César PinheiroCompacto simples – 1968

Quando eu morrer me enterre na LapinhaQuando eu morrer me enterre na LapinhaCalça, culote, palitó almofadinhaCalça, culote, palitó almofadinha

Vai, meu lamento vai contarToda tristeza de viverAi, a verdade sempre traiE às vezes traz um mal a maisAi, só me fez dilacerarVer tanta gente se entregarMas não me conformeiIndo contra leiSei que não me arrependiTenho um pedido sóÚltimo talvez, antes de partir

Quando eu morrer me enterre na LapinhaQuando eu morrer me enterre na LapinhaCalça, culote, palitó almofadinhaCalça, culote, palitó almofadinha

Sai, minha mágoaSai de mimHá tanto coração ruimAi, é tão desesperadorO amor perder do desamorAh, tanto erro eu vi, luteiE como perdedor griteiQue eu sou um homem sóSem saber mudarNunca mais vou lastimarTenho um pedido sóÚltimo talvez, antes de partir

Quando eu morrer me enterre na LapinhaQuando eu morrer me enterre na LapinhaCalça, culote, palitó almofadinhaCalça, culote, palitó almofadinha

Adeus Bahia, zum-zum-zumCordão de ouroEu vou partir porque mataram meu besouro

Samba dabenção (Samba saravah)

Baden Powell/Vinícius de Moraes/Vs. Pierre BarouhCompacto simples – 1968

Etre heureux c'est plus ou moins ce qu'on chercheJ'aime rire chanter et je n'empêchePas les gens qui sont bien d'être joyeuxPourtant s'il est une samba sans tristesseC'est un vin qui donne pas l'ivresseUn vin qui ne donne pas l'ivresseNon ce n'est pas la samba que je veux

J'en connais que la chanson incommodeD'autres pour qui ce n'est rien qu'une modeD'autres qui en profitent sans l'aimerMoi je l'aime et j'ai parcouru le mondeEn cherchant ses racines vagabondesC'est la chanson de samba qu'il faut chanter

On m'a dit qu'elle venait de BahiaQu'elle doit son rythme et sa poésieÀ des siècles de danses et de douleurMais quel que soit le sentiment qu'elle exprimeElle est blanche de forme et de rimesBlanche de forme et de rimesElle est nègre bien nègre dans son coeur

Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprimeElle est blanche de forme et de rimesBlanche de forme et de rimesElle est nègre bien nègre dans son coeur

Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprimeElle est blanche de forme et de rimesBlanche de forme et de rimesElle est nègre bien nègre dans son coeurElle est nègre bien nègre dans son coeur

Samba do perdãoBaden Powell/Paulo César PinheiroElis especial – 1968

Mais uma vez amorA dor chegou sem me dizerAgora que existe a paixãoA hora não é de sofrer

Mas quem quer pedir perdãoNão deixa a tristeza saberE no entando a tua faltaVem vazar meu coração

Mas a vida ensina a crer e a perdoarQuando um amor valerE o nosso é tão grande que já nem seiTenha pena das penas que eu penei

Não despreze mais meu padecerAfasta a melancolia e a solidãoJá não cabem mais no meu violão

Tanta mágoa, sim, que eu vou morrerSoluço eterno, pedir do coraçãoSó quem morre de amor pede perdão

31

Tributo ao Tom JobimTom JobimElis especial – 1968

VOU TE CONTAR (WAVE)Vou te contarOs olhos já não podem verCoisas que só o coração pode entenderFundamental é mesmo o amorÉ impossível ser feliz sozinho

OUTRA VEZOutra vez sem vocêOutra vez sem amorOutra vez vou sofrerVou chorarAté você voltar

VOU TE CONTAR (WAVE)A primeira vez era a cidadeDa segunda, o cais e a eternidade

FOTOGRAFIAEu, você, nós doisAqui nesse terraço a beira-marO sol já vai caindo a o seu olharParece acompanhar a cor do mar

Você tem de ir emboraA tarde cai em coresSe desfazEscureceuO sol caiu no marE aquela luz…

VOU TE CONTAR (WAVE)So close your eyes…Laralara……fundamental é mesmo o amorÉ impossível ser feliz sozinhoSozinho…Sozinho…

Vou te contarOs olhos já não podem verCoisas que só o coração pode entenderFundamental é mesmo o amorÉ impossível ser feliz sozinho

O resto é marÉ tudo que não sei contarSão coisas lindas que eu tenho pra te darVem de mansinho a brisa e me dizÉ impossível ser feliz sozinho

When I saw your first the time was half past threeWhen your eyes met mine it was eternity

Agora seiDa onda que seguiu no marE das estrelas que esquecemos de contarO amor se deixa surpreenderEnquanto a noite vem nos envolver

De onde vensDory Caymmi/Nelson Motta

Elis especial – 1968

Ah, quanta dor vejo em teus olhosTanto pranto em teu sorriso

Tão vazias as tuas mãosDe onde vens assim cansadaDe que dor, de qual distância

De que terras,de que mar

Só quem partiu pode voltar E eu voltei prá te contar

Dos caminhos onde andeiFiz do riso amargo pranto

No olhar sempre teus olhosNo peito aberto uma canção

Se eu pudesse de repente te mostrar meu coraçãoSaberias num momento quanta dor há dentro dele

Dor de amor quando não passaÉ porque o amor valeu

Bom tempoChico BuarqueElis especial – 1968

Um mar inhe i ro me con touQue a boa br i sa lhe soprouQ u e v e m a í b o m t e m p o

O pescador me con f i rmouQue um passarinho lhe cantouQ u e v e m a í b o m t e m p o

D o u d u r o t o d a a s e m a n aS e n ã o p e r g u n t e à J o a n aQ u e n ã o m e d e i x a m e n t i rMas , f i na lmente é domingoN a t u r a l m e n t e , m e v i n g oEu vou me espa l h a r po r a í

N o c o m p a s s o d o s a m b aE u d i s f a r ç o oc a n s a ç oJ o a n a d e b a i x od o b r a ç oC a r r e g a d i n h a d e a m o rV o u q u e v o uPe l a e s t r a d a q u e d á n u m ap r a i a d o u r a d aQ u e d á n u m t a l d ef a z e r n a d aC o m o a n a t u re z a m a n d o uV o uSa t i s f e i to, a l e g r i a ba tendon o p e i t oO r a d i n h o c o n t a n d od i r e i t oA v i t ó r i a d o m e u t r i c o l o rV o u q u e v o uL á n o a l t oO s o l q u e n t e m e l e v an u m s a l t oP r o l a d o c o n t r á r i od o a s f a l t oP ro l a do con t r á r i o d a dor

Um mar inhe i ro me con touQue a boa br i sa lhe soprouQ u e v e m a í b o m t e m p o

Um pescador me conf irmouQue um passarinho lhe cantouQ u e v e m a í b o m t e m p o

A n d o c a n s a d o d a l i d aP r e o c u p a d a , c o r r i d a ,s u r r a d a , b a t i d ad o s d i a s m e u sM a s u m a v e z n a v i d aE u v o u v i v e r a v i d aq u e e u p e d i a D e u s

Da cor do pecadoBororó

Elis especial – 1968

Esse corpo moreno,Cheiroso e gostoso

Que você temÉ um corpo delgado,Da cor do pecado,Que faz tão bem

Esse beijo molhado,Escandalizado,Que você deu

Tem sabor diferente,Que a boca da gente

Jamais esqueceu

E quando você me respondeUmas coisas com graça,A vergonha se esconde

Porque se revelaA maldade da raça.Esse corpo, de fato,Tem cheiro de mato,

Saudade, tristeza,Essa simples beleza.Esse corpo moreno,Morena enlouquece.

Eu não sei bem porqueSó sinto na vida

O que vem de você

32

Corrida de jangadaEdu Lobo/José Carlos Capinam

Elis especial – 1968Aquarela do Brasil – 1969

Elis Regina in London – 1969

Meu mestre deu a partidaé hora, vamos embora

Pros rumos do litoral, vamos emboraNa volta eu venho ligeiro, vamos embora

Eu venho primeiro pra tomar seu coração

É hora,

É hora, vamos emboraÉ hora, vamos embora, é hora vamos embora

Vamos embora, ora vamos emboraÉ hora, vamos embora, é hora

vamos embora

Viração, virando vaiOlha o vento, a embarcação

Minha jangada não é navio, nãoNão é vapor nem aviãoMas carrega tanto amorDentro do meu coração

Sou seu mestre, meu proeiroSou segundo, sou primeiro

Olha a reta de chegar, olha a reta de chegarMestre, proeiro, segundo, primeiro

Reta de chegar, reta de chegarMeu barco é procissão

minha terra é minha igrejaNoiva é meu rosário

No seu corpo vou rezarMinha noiva é meu rosário

No seu corpo vou rezar

Ora,

Ora vamos emboraVamos embora,vamos emboraVamos embora,vamos embora

É hora, vamos embora, é hora vamos emboraNego, vamos embora

Velho, vamos embora, nego, vamos emboraVamos, vamos embora, ora, vamos embora

É hora, vamos embora,é horavamos embora

Carta ao marRoberto Menescal/Ronaldo BôscoliElis especial – 1968

Me multiplicando em solTento uma canção pra vocêTrago flores, girassóisNão me importa mal me querer

O que vai de mim, vemDe um desejo imenso de ser outra vezUm barco, um azulOutra vez, de tarde, morrer

Céu sem naves espaciaisFlores, só naturaisSó nós dois e as coisas banaisMas não, pra quê

Pra que mundo, segue o mundoSem o mar, sem amar

De que vale o som sideralOu a rima mais genialSe o amor está aqui neste salNeste encontro franco e frontal

Nesse barco longe do mundoToda a nossa vida e um segundoPra dizer do amar que volteiQue sou do marSou do marDo mar

Sou viramundo viradoNas rondas da maravilhaCortando a faca e facão

Os desatinos da vidaGritando para assustarA coragem da inimiga

Pulando pra não ser presoPelas cadeias da intrigaPrefiro ter toda a vida

A vida como inimigaA ter na morte da vida

Minha sorte decidida

Sou viramundo viradoPelo mundo do sertãoMas inda viro este mundoEm festa, trabalho e pãoVirado será o mundoE viramundo verãoO virador deste mundoAstuto, mau e ladrãoSer virado pelo mundoQue virou com certidãoAinda viro este mundoEm festa, trabalho e pão

Tributo à MangueiraElis especial – 1968

MANGUEIRA(Assis Valente/Zequinha Reis)

Nao há, nem pode haverComo Magueira não há

O samba vem de lá, alegria tambémMorena faceira só Mangueira tem

FALA, MANGUEIRA!(Mirabeau/Milton de Oliveira)

Fala, Mangueira, falaMostra a força da tua tradição

Com licença da Portela,Favela Mangueira mora no meu coração

EXALTACAO À MANGUEIRA(Enéias B. da Silva/Aloísio A. Costa)

Mangueira teu cenário é uma belezaQua a natureza criou, ô ô

O morro com seus barracões de zincoQuando amanhece, que esplendor!Todo mundo te conhece ao longe

Pelo som do teu tamborimE o rufar do teu tambor

Chegou ô ô a Mangueira, chegou!

LEVANTA MANGUEIRA(Luis Antonio)

Levanta, Mangueira, a poeira do chãoSamba de coração

Ai, mostra a sandália de prata da mulataAcorda a cuíca e o tamborim

Mostra que o samba nasceu em Mangueira,simLevanta Mangueira, a poeira do chão

Samba de coração

DESPEDIDA DA MANGUEIRA(Aldo Cabral/Benedito Lacerda)

Em Mangueira na hora da minha despedidaTodo mundo chorou, todo mundo chorou

Foi pra mim a maior emoção da minha vidapois em Mangueira o meu coracao ficou

PRA MACHUCAR MEU CORAÇÃO(Ary Barroso)

Ficou pra machucar meu coracao!

33

Gilberto Gil/José Carlos CapinamElis especial – 1968Viramundo

Qui êtes-vous?Si tu m'aimes, tu dois deviner

Aujourd'hui tous les deux on se cache

Derrière nos masquesPour se demander

Qui êtes-vous? Dites vite

Dis-moi à quel jeux tu m'invites

Je voudrais me fondre à ta suite

Je voudrais qu'on prenne la fuite

Moi, je vagabonde, poète et chanteur

J'ai perdu la ronde qui mène au bonheur

Moi, je cours les routesJe reste chez moiL'amour me dérouteJe n'y croyais pas...

Moi, dans la fanfare je porte un drapeau

Modestie à part, je joue bien du pipeau

Je suis si fragileJ'ai dix ans de trop

Je suis colombineJe suis pierrot

Mais c'ést Carnaval et qu'importe aujourd'hui qui tu es

Demain tout redeviendra normal

Demain tout va finir, laissons le temps courir

Laisse au jour sa lumièreAujourd'hui je suis ce que tu attends de moi

Si tu veux laissons faire, on verra

Peut-être que demain on se retrouvera

Peut-être que demain on se reconnaîtra

La, la, la, la...

Noite dos mascarados(La nuit des masques)Chico Buarque/Vs. Pierre BarouhElis Regina em Paris – 1968 (Com Pierre Barouh)

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Noite dos Mascarados Chico Buarque

Quando o carnaval chegar – 1972 (Com Chico Buarque)

Ele: Quem é você? Ela: Adivinhe, se gosta de mim

Os dois: Hoje os dois mascaradosProcuram os seus namorados

Perguntando assim:Ele: Quem é você, diga logo

Ela: Que eu quero saber o seu jogoEle: Que eu quero morrer no seu bloco

Ela: Que eu quero me arder no seu fogoEle: Eu sou seresteiro

Poeta e cantorEla: O meu tempo inteiro

Só zombo do amorEle: Eu tenho um pandeiro

Ela: Só quero um violãoEle: Eu nado em dinheiroEla:Não tenho um tostão

Fui porta-estandarteNão sei mais dançar

Ele: Eu, modéstia à parteNasci pra sambar

Ela: Eu sou tão meninaEle: Meu tempo passouEla: Eu sou Colombina

Ele: Eu sou PierrotOs dois: Mas é carnaval

Não me diga mais quem é vocêAmanhã, tudo volta ao normal

Deixe a festa acabarDeixe o barco correr

Deixe o dia raiarQue hoje eu sou

Da maneira que você me querO que você pedir

Eu lhe douSeja você quem for

Seja o que Deus quiserSeja você quem for

Seja o que Deus quiser

DeixaBaden Powell/Vinícius de MoraisElis Regina em Paris – 1968

Deixa,Fale quem quiser falar, meu bem.Deixa,Deixe o coração falar também,Porque ele tem razão demais quando se queixa.Então a gente deixa, deixa, deixa,Deixa,Ninguém vive mais do que uma vez.Deixa,Diz que sim prá não dizer talvez.Deixa,A paixão também existe.Deixa,Não me deixe ficar triste.

A noite do meu bem(La nuit de mon amour)

Dolores Duran/Vs. Pierre BarouhElis Regina em Paris – 1968

Ce soir Je veux trouver la rose la plus belle Et la première étoile qui m'appelle

Pour célébrer la nuit de mon amour

Ce soir Je veux la paix des enfants qui s'endorment

Je veux l'écho d'une vie qui se forme Pour célébrer la nuit de mon amour

Ce soir Je veux la joie d'un voilier qui s'élance

Et l'abandon d'une main qui s'avance Pour célébrer la nuit de mon amour

Ce soir Je voudrais toute la beauté du monde

Pour que ce soit la nuit la plus profonde Puisqu'elle sera la nuit de mon amour

Pourtant Ces joies soudain me semblent incertaines

Je ne peux croire qu'elle serait vaine Cette espérance qui me vient de toi

Ah...Mais cet amour tant me tarde à venir Que je ne sais plus comment retenir

Cette tendresse Que je veux offrir...

TristezaHaroldo Lobo/NiltinhoElis Regina em Paris – 1968

Tristeza,Por favor vai embora,Minha alma que chora,Está vendo o meu fim,

Fez do meu coração a sua moradia,Já é demais o meu penar,Quero voltar àquela vida de alegria,Quero de novo cantar.

La, ra, ra, ra,La, ra, ra, ra, ra, ra,La, ra, ra, ra, ra, ra,Quero de novo cantar.

Aquarela do Brasil /Nega do cabelo duro

Elis, como e porque – 1969Aquarela do Brasil – 1969Saudade do Brasil – 1980

AQUARELA DO BRASIL(Ary Barroso)

Ô, ôi essas fontes murmurantesÔi onde eu mato a minha sedeE onde a lua vem brincáÔi, esse Brasil lindo e trigueiroÉ o meu Brasil brasileiroTerra de samba e pandeiroBrasil! Brasil!Prá mim... prá mim...

NÊGA DO CABELO DURO(Rubens Soares/David Nasser)

Nêga do cabelo duro,Qual é o pente que te penteia ?Qual é o pente que te penteia ?Qual é o pente que te penteia ?

Quando tu entras na roda,O teu cabelo serpenteia,O teu cabelo está na moda,Qual é o pente que te penteia ?

Um novo rumoArtur Verocal/Geraldo FlachI Festival Universitario da Musica Popular Brasileira (1968)

Vou caminhando sem caminhoEm cada passo vou levando meu cansaçoO que me espera?Uma terra, um desencontroA cidade, a claridadeE essa estrada não tem voltaLá se solta o fim do mundoUm fim incerto que me assustaLonge ou perto, se preparaNinguém para para pensarPara olhar a dor que chora a morteDe um valente lutador

Quem fui, já não sou

Vou chegando à encruzilhada descobrirUm caminho e uma nova direçãoOnde piso vou deixando o que não souVou para lutaNão paro nãoVou para luta, agora eu vouNão paro não

Tem tanta gente que se vaiA imensidão do seu quererQuerendo vida sem a morteSer mais forte sem sofrerE ter certeza sem buscarGanhar o amigo sem se darSem semear, colher o amorO amor ferido pela guerraQuem na terra desconheceAparece sem valorErgo meu braço qual alguémQue já caiu mas levantou

Quem fui, já não sou

Vou chegando à encruzilhada descobrirUm caminho e uma nova direçãoOnde piso vou deixando o que não souVou para lutaNão paro nãoVou para luta, agora eu vouNão paro não

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O sonhoEgberto GismontiElis, como e porque – 1969Aquarela do Brasil – 1969

Sinto que é horaSaltoMeu foguete some queimando espaçoTudo vejo e abraçoA vaidadeEstou morando em pleno céuNamorando o azul

Ando no espaço loucoMeu foguete segue deixando traçosEntre estrelas vejo a liberdadeE fotografo todo o céuE revelo paz

Busco cores e imagensFaltam pássaros e flores

Coração na mãoCorpo soltoEstou entre estrelasVou deitar neste luar

Indo de encontro ao risoDo quarto minguanteE o sol queimandoA pele brancaDespertandoVejo a cama e meu amorAcordado estouChoro…Choro…Choro…

Vera CruzMilton Nascimento/Márcio Borges

Elis, como e porque – 1969

Hoje foi que a perdiMas onde, já nem seiMe levo para o marEm Vera me larguei

E deito nesta dorMeu corpo, sem lugar

Ah! quisera esquecerA moça que se foi

De nossa Vera CruzE o pranto que ficouDo norte que sonhei

Das coisas do lugar

Nos rios me largueiCorrendo sem parar

Buscava Vera CruzNos campos e no mar

Mas ela se soltouPra longe se perdeu

Quero em outra mansidãoUm dia ancorar

E ao vento me esquecerQue ao vento me amarrei

E nele vou partirAtrás de Vera Cruz

Ah! quisera encontrarA moça que se foi

Do lar de Vera CruzE o pranto que ficouDo norte que perdiDas coisas do lugar

GiroAntonio Adolfo/Tibério Gaspar

Elis, como e porque – 1969Elis Regina in London – 1969

Hoje a cidade inteira se enfeitouCoberta de alegria, a noite serenou

A casa branca, praça e chafarizDa rua principal à porta da matriz

Tem lua acesa clareando o chãoTem moça pra dançar de saia de algodão

Tem violeiro violando o amorCantando em verso a paz, desponta um cantador

De ponta a pontaBandas e cordões

E a lua tontaGira os corações

No giro, dançaQuem quer se alegrar

Velho ou criançaVem que tem lugar

Sobe o foguete acarinhando o céuE a rua floresceu bandeiras de papel

A vida em festa num giro girouTristeza adormeceu e a noite serenou

O barquinhoRoberto menescal/Ronaldo BôscoliElis, como e porque – 1969Aquarela do Brasil – 1969Elis Regina in London – 1969

Dia de luz festa de solE o barquinho a navegar No macio azul do mar

Tudo é verão o amor se fazNum barquinho pelo marQue desliza sem parar

Sem intenção nossa cançãoVai saindo deste mar e o solBeija o barco e luz, dias tão azuis

Festa do mar, desmaia o solE o barquinho a deslizar E a vontade de cantar

Céu tão azul, ilhas do sulE o barquinho coraçãoDeslizando na canção

Tudo isso é paz, tudo isso trazUma calma de verão e entãoO barquinho vai, a tardinha caiO barquinho vai

AndançaDanilo Caymmi/Edmundo Souto

Elis, como e porque – 1969

Vim.Tanta areia andeiDa lua cheia eu sei

Uma saudade imensaVagando em verso eu vim

Vestida de cetimNa mão direita rosas vou levar

Me dá amorAmor

Me leva amorPor onde for quero ser seu par

Rodei de roda andeiDança da moda eu seiCansei de se sozinhaVerso encantado useiMeu namorado é rei

Nas lendas do caminho onde andei

Me dá amorAmor

Me leva amorPor onde for quero ser seu par

Récit de CassardMichel Legrand/Jacques DenyElis, como e porque – 1969

Autrefois, j'ai aimé une femmeElle ne m'aimait pas,on l'appellait LolaAutrefois.

Déçu, j'ai voulu l'oublierAlors j'ai quitté la France,je suis allé au bout du monde

je ne pense qu'à elle

j'ai voulu vous parler franchementvous ne m'en voulez pasil n'est pas questiond'influencer Genevieve,Genevieve est libre

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Memórias de Marta SaréEdu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri

Elis, como e porque – 1969

A casa lá da fazenda A lua clareando a porta Deixando o brilho claro Nas pedras dos degraus

Cristal de lua

Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta Saré

Pra dentro

O rosário obrigatório A janta lá na cozinha Todo dia à mesma hora As estórias de Dorinha

Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta SaréPra dentro, pra dentro

A lanterna azul partida A dor, a palmatória, a raiva

A cantiga mais sentida Um galope de cavalo

Mestre severino

Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta SaréPra dentro, pra dentro

Bate forte o coração Dor no peito magoado O sorriso mais sem jeito Do primeiro namorado

Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta Saré Pra dentro Marta SaréPra dentro, pra dentro

Moço Severino Por do sol

Pra dentro Marta Saré

Samba da PerguntaPingarrilho/Marcos Vasconcelos

Elis, como e porque – 1969

Ela agora mora só no pensamentoOu então no firmamentoEm tudo que no ceu viaja

Pode ser um astronautaUm passarinho

Pé de ventoPipa de papel de seda

Quem sabe um balãozinhoOu estar num asteróide

Na estrela Dalva que daqui se olhaPode estar morando em Marte

Nunca mais se soube delaDesapareceu

WaveTom Jobim

Aquarela do Brasil – 1969Saudade do Brasil – 1980

Vou te contar,Os olhos já não podem ver

Coisas que só o coração pode entender Fundamental é mesmo o amor

É impossível ser feliz sozinho

O resto é mar,É tudo que eu nem sei contar

São coisas lindas que eu tenho pra te dar Vem de mansinho a brisa e me diz

É impossível ser feliz sozinho

Da primeira vez era a cidade Da segunda o cais e a eternidade

Agora eu já sei Da onda que se ergueu no mar

E das estrelas que esquecemos de contar O amor se deixa surpreender

Enquanto a noite vem nos envolver

A voltaRoberto Menescal/Ronaldo BôscoliAquarela do Brasil – 1969Elis Regina in London – 1969

Quero ouvir a sua vozE quero que a canção seja vocêE quero, em cada vez que esperoDesesperar, se não te virÉ triste a solidãoÉ longe o não te acharQue lindo é o seu perdãoQue festa é o seu voltarMas quero que você me faleQue você me caleCaso eu perguntarSe o que a faz tão lindaFoi sua pressa de voltarLevanta e vem correndoMe abraça e sem sofrerMe beija longamenteO quanto a solidão precisa para morrer

A time for loveWebster/John MandelElis Regina in London – 1969

A time for summer skiesFor humming-birds and butterfliesFor tender words that harmonize with love

A time for climbing hillsFor leaning out of window sillsAdmiring the daffodils above.

A time for holding hands togetherA time for rainbow colored weatherA time of make believe that we've been draming of

As time goes drifting byThe willow bends and so do IBut oh, my friends, what ever sky aboveI've known a time for spring, a time for fallBut best of allA time for love

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MinhaFrancis Hime/Ruy GuerraElis no Teatro de Praia – 1970

MinhaVai ser minhaDesde a horaQue nasceste

MinhaNão te encontro

Só sei que estas pertoE tão longeNo silêncio

Noutro amorOu numa estradaQue não deixa

Seres minhaComo sejasOnde estejasVou te achar

Vou me entregarVou te amar

E é tanto, tanto amorQue até pode assustar

Não temas essa imensa sedeQue ao teu corpo vou levar

Minha és e sou só teuSai de onde estás pra eu te verPois tudo tem que acontecer

Tem de serTem de ser

Vem para semprePara sempre

IreneCaetano Veloso

Elis no Teatro de Praia – 1970

Eu quero ir, minha gente

Eu não sou daqui

Eu não tenho nada

Quero ver irene rir

Quero ver irene dar sua risada

Se você pensaRoberto Carlos/Erasmo Carlos

Elis Regina in London – 1969Elis no Teatro de Praia – 1970

Se você pensa que vai fazer de mimO que faz com todo mundo que te ama

Acho bom saber que pra ficar comigo vai ter que mudar

Você tem a vida inteira pra viverE saber o que é bom e o que é ruim

Acho bom pensar depressa e escolher antes do fim

Daqui pra frente, tudo vai ser diferenteVocê tem que aprender a ser gente

O teu orgulho não vale nada

Você não sabeNem nunca procurou saber

Que quando a gente ama pra valerO bom é ser feliz e mais nada

W a t c hw h a t

h a p p e n sNorman Gimbel/Michel Legrand

Elis Regina in London – 1969

Let someone start believing in you,Let him hold out his hand

Let him touch you and watch what happens

One someone who can look in your eyes,And see into your heart

Let him find you and watch what happens

Cold, no I won't believe your heart is coldMaybe just afraid to be broken again

Let someone with a deep love to giveGive that deep love to you,And what magic you'll see

Let someone give his heart, someone who cares like meLet someone give his heart who cares like me

H o w i n s e n s i t i v e(Insensatez)

Tom Jobim/Vinícius de Morais/Vs. Norman GimbelElis Regina in London – 1969

How insensitiveI must have seemed

When he told me that he loved meHow unmoved and cold

I must have seemedWhen he told me so sincerely

Why he must have askedDid I just turn and stare in icy silence

What was I to say?What can you say

When a love affair is over?

Why he must have askedDid I just turn and stare in icy silence

What was I to do?What can one do

When a love affair is over?

So now he's gone awayAnd I'm alone

With a memory of her last lookVague and drawn and sad

I see it stillAll the heartbreak in his last look

How he must have asked,Could I just turn and stare in icy silence

What was I to do?What can one do

When a love affair is over?

Perdão não temEdson Arantes do Nascimento

Tabelinha, Elis x Pelé – 1969 (Com Pelé)

NãoNão vá embora não

Porque a saudadeVai ficar em seu lugar

Não me faça sofrerA sua ausência

Tenha paciienciaNão vá embora

Não me deixes não

Quando você chegouFoi recebida de braços abertos

Jurava me dar amorSer boazinha

E não falar em ir embora

Agora depois de tanto tempoQuer partir sem dizer qual a razão

Não vá, meu bemPorque depois, perdão não tem

VexamãoEdson Arantes do NascimentoTabelinha, Elis x Pelé – 1969 (Com Pelé)

Outro diaMe pegaram de surpresaMe deram um violãoE fizeram eu cantar

Eu todo desajeitadoCantando tudo erradoSem saber como parar

Foi um tremendo de um vexameMas o engraçadoÉ que eu cantava erradoE os “puxa” achava bom

Estava o rádioJornal e a televisãoE eu todo sem graçaSó fazia láralá

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Aqueleabraço

Gilberto GilElis no Teatro de Praia – 1970

Este samba vai para Dorival Caymmi,João Gilberto e Caetano Veloso.

O Rio de Janeiro continua lindo,O Rio de Janeiro continua sendo

O Rio de Janeiro, fevereiro e março,Alô, alô Realengo,

Aquele abraço,Alô torcida do flamengo,

Aquele abraço!Alô,Alô Realengo,

Aquele abraço,Alô torcida do flamengo,

Aquele abraço!

Chacrinha continua balançando a pança,E buzinando a moça e comandando a massa,

E continua dando as ordens no terreiro,Alô, alô seu Chacrinha Velho Guerreiro,

Alô, alô Terezinha, Rio de Janeiro,Alô, alô seu Chacrinha velho palha ço,

Alô, alô Terezinha,Aquele abraço,Alô moçada da favela, aquele abraço,

Todo mundo da Portela, aquele abraço,Todo mês de fevereiro, aquele passo,Alô Banda de Ipanema, aquele abraço,

Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço,A Bahia já me deu régua e compasso,

Quem sabe de mim sou eu, aquele abraço,Pra você que me esqueceu, aquele abraço,

Alô Rio de Janeiro, aquele abraço!

C a n ’ t t a k em y e y e so f f y o u

B. Crewe/B. GaudioElis no Teatro de Praia – 1970

You're just too good to be true.Can't take my eyes off you.

You'd be like Heaven to touch.I wanna hold you so much.At long last love has arrivedAnd I thank God I'm alive.

You're just too good to be true.Can't take my eyes off you.

Pardon the way that I stare.There's nothing else to compare.The sight of you leaves me weak.There are no words left to speak,

But if you feel like I feel,Please let me know that it's real.You're just too good to be true.

Can't take my eyes off you.

I love you, baby,And if it's quite alright,

I need you, baby,To warm a lonely night.

I love you, baby.Trust in me when I say:

Oh, pretty baby,Don't bring me down, I pray.

Oh, pretty baby, now that I found you, stayAnd let me love you, baby.

Let me love you.

You're just too good to be true.Can't take my eyes off you.

You'd be like Heaven to touch.I wanna hold you so much.At long last love has arrivedAnd I thank God I'm alive.

You're just too good to be true.Can't take my eyes off you.

I love you, baby,And if it's quite alright,

I need you, baby,To warm a lonely night.

I love you, baby.Trust in me when I say:

Oh, pretty baby,Don't bring me down, I pray.

Oh, pretty baby, now that I found you, stay.

ZazueiraJorge Ben

Elis Regina in London – 1969Elis no Teatro de Praia – 1970

Ela vem chegando (ela vem chegando)E feliz vou esperando (e feliz vou esperando)A espera é difícil (a espera é difícil)Mas eu espero sambando (eu espero sambando)

Menina bonita do céu azulEla é uma beleza

Menina bonita, você é demaisAlegria na minha tristeza

ZazueiraZazueiraZazueira

Ela vem chegando (ela vem chegando)E feliz vou esperando (e feliz vou esperando)A espera é difícil (a espera é difícil)Mas eu espero sonhando (eu espero sonhando)

Uma flor é uma rosaUma rosa é uma flor

É um amor esta meninaEsta menina é meu amor

ZazueiraZazueiraZazueira

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Roberto Carlos/Erasmo CarlosEm pleno verão – 1970

Se você pretende saber quem eu sou eu posso lhe dizer.Entre no meu carro e na estrada de Santos você vai me conhecer.

Você vai pensar que eu não gosto nem mesmo de mim.E que na minha idade só a velocidade anda junto a mim.

Só ando sozinho e no meu caminho o tempo é cada vez menor.Preciso de ajuda. Por favor me acuda. Eu vivo muito só.

Se acaso numa curva eu me lembro do meu mundo,eu piso mais fundo, corrijo num segundo, não posso parar.

Eu prefiro as curvas da estrada de Santos onde eu tento esquecerum amor que eu tive e vi pelo espelho na distância se perder

Mas se o amor que perdi eu novamente encontrar,as curvas se acabam e na estrada de Santos eu não vou mais passar.Não, não vou mais passar.

As curvas da Estrada

de Santos

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Vou deitare rolarBaden Powell/Paulo César PinheiroEm pleno verão – 1970

Não venha querer me consolarQue agora não dá mais péNem nunca mais vai darTambém quem mandou se levantarQuem levantou pra sairPerde o lugar

E agora, cadê teu novo amorCadê que ele nunca funcionouCadê que nada resolveu

Quaquaraquaquá, quem riuQuaquaraquaquá, fui euQuaquaraquaquá, quem riuQuaquaraquaquá, fui eu

Ainda sou mais eu

Você já entrou na de voltarAgora fica na tuaQue é melhor ficarPorque vai ser fogo me aturarQuem cai na chuvaSó tem que se molhar

E agora cadê, cadê vocêCadê que eu não vejo mais, cadêPois é quem te viu e quem te vê

Quaquaraquaquá, quem riuQuaquaraquaquá, fui euQuaquaraquaquá, quem riuQuaquaraquaquá, fui eu

Todo mundo se admiraDa mancada que a Terezinha deuQue deu no piraE ficou sem nada ter de seuEla não quis fazer féNa virada da maré

Breque!

Mas que malandro sou euPra ficar dando colher de cháSe eu não tiver colher?Vou deitar e rolar!

O vento que venta aquiÉ o mesmo que venta láE volta pro mandingueiroA mandinga de quem mandigá

Bicho do matoJorge BenEm pleno verão – 1970

Bicho do mato Nego teve aí

Bicho do mato Devagar pra não cair

Bicho do mato Bicho bonito danado

Bicho do mato Nego teve aí

E disse assim:

Bicho do mato Quero você para mim Eu só vou embora Se você disser que sim

Mas eu só ponho o meu boné Onde eu posso apanhar Devagar se vai ao longe Devagar eu chego lá

Bicho do mato Nego teve aí Bicho do mato Devagar pra não cair

Até aí morreu NevesJorge Ben

Em pleno verão – 1970

Se segura malandroPois malandro que é malandro não se estoura

Se segura malandro

Pois um dia há de chegar a tua horaVai cantar, vai brincar sem fantasia

Você vai chorar de alegriaPois ela vai voltar pra alegrar o seu coração

Pois malandro que é malandro não se estoura não

Porque até aí morreu NevesAté aí morreu Neves

Até aí morreu das NevesAté aí morreu das Neves

Devegar malandroDevagar, cuidado!Afobado come cru

Devagar se vai ao longe

FrevoTom Jobim/Vinícius de Morais

Em pleno verão – 1970

Vem, vamos dançar ao sol Vem, que a banda vai passar

Vem, ouvir o toque dos clarins Anunciando o carnaval

E vão brilhando os seus metais

Por entre cores milVerde mar, céu de anil

Nunca se viu tanta beleza Ai, meu Deus

Que lindo o meu Brasil!

Fechado prabalançoGilberto GilEm pleno verão – 1970

Fechado pra balançoDeve ser bom, deve ser bomTô fechado pra balançoMeu saldo deve ser bomDeve ser bom

Vou sambar de roda um poucoUm xaxado bem guardadoE mais algum trocadoSe tiver gingado eu tô, eu tô, eu tôEu tô de corpo fechado, eu tô, eu tôDeve ser bom, deve ser bomTô fechado pra balançoMeu saldo deve ser bom

Um pouco da minha granaVais ter saudade, baianaPonho sempre por semanaCinco cartas no correioGasto sola de sapatoMas aqui custa baratoCada sola de sapatoCusta um samba, um samba e meio

O resto...O resto não dá despesaViver não me custa nadaViver só me custa a vidaE a minha vida foi dada

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Não tenha medoCaetano Veloso

Em pleno verão – 1970

Tenha medo, não, tenha medo, nãoNão tenha medo não, tenha medo, não

Nada é pior do que tudoNada é pior do que tudo

Nem um não, nenhum senãoNem um ladrão, nem uma escuridão

Nada é pior do que tudoQue você já tem no seu coração mudo

Nem um cão, nem um dragãoNem um avião, nem uma assombração

Nada é pior do que tudoQue você já tem no seu coração mudo

Nem um chão, nem um porãonem uma prisão, nem uma solidão

Nada é pior do que tudoQue você já tem no seu coração mudo

These are the songsTim Maia

Em pleno verão – 1970 (Com Tim Mais)

These are the songsI want to sing

These are the songsI want to play

I will sing it every timeAnd I sing it every day

These are the songsI want to sing and play

Esta é a canção que eu vou ouvirEsta é a canção que eu vou cantar

Fala de você, meu bemDo nosso amor tambémSei que você vai gostar

ComunicaçãoEdson Alencar/Hélio MatheusEm pleno verão – 1970

(Roda, roda e avisa!)

Sigo o anúncio e vejoEm forma de desejo o saboneteEm forma de sorvete acordo e durmo na televisão.

Creme dental, saúdeE vivo num sorriso, paraísoQuase que jogado, impulsionado, no comercial.

Só tomava cháQuase que forcado vou tomar caféLigo o aparelho, vejo o Rei PeléVamos entao repetir o gol!

E na lua souMais um astronauta-patrocinadorChego atrasado perco o meu amorMais um anúncio sensacional!

Ponho um aditivo dentro da panela, gasolinaPasso na janela da cozinha tem mais um fogão

Tocam a campainhaMais uma pesquisa e eu respondoQue enlouquecendo, já sou fã do comercial!

(Na Brastel, tudo a preço de banana!Quem não se comunica, se trumbica!Tereeziiinha...!Estamos pensando em bloco...Conheça o Brasil pela Varig!Ducal... meu nome é Gal!... Ducal!....)Copacabana

velha de guerraJoyce/Sérgio FlackmanEm pleno verão – 1970

Nós estamos por aí, sem medoNós, sem medo, estamos por aí

Qualquer sorte me esperaE a tarde talvez vá me mostrarTreze ventos nas janelasE as praças do mundo a me chamar

Sou mais um na multidãoNa vitrine dos magazinesProcurando uma camisa da cor do mar

Mão no bolso, riso lentoE a tarde passando devagarNão me encontro na vitrineNão ligo, é difícil me encontrar

Sou só eu na multidãoE eu queria me ver passarDesfilando com a camisa da cor do marOlha eu lá!

OsanahTony Osanah

Compacto duplo – 1970

Sei prá onde vouAgora eu sei quem sou

Sei do meu caminhoEu sei com quem eu vou

Descubro risoInvento a luz

Tudo é claro para quem quer ver

Osanah, Osanah, OsanahOsanah, Osanah, Osanah

Pela vida afora eu vou jogando foraAs coisas que eu guardei por guardar

Um passo à frenteOu volto atrás

Mas não fico no meusmo lugar

Osanah, Osanah, OsanahOsanah, Osanah, Osanah

Não me importa o tempoEu fico aqui e agora

E quero tudo que houver prá quererO que é passado nào volta mais

E o futuro ainda não chegou

Osanah, Osanah, OsanahOsanah, Osanah, Osanah

Nada será como antesMilton Nascimento/Ronaldo BastosCompacto duplo – 1970Elis – 1972

Eu já estou com o pé nessa estradaQualquer dia gente se vêSei que nada será como antes, amanhã

Que notícias me dão dos amigosQue notícias me dão de vocêSei que nada será como estáAmanhã ou depois de amanhãResistindo na boca da noite um gosto de sol

Num domingo qualquer, qualquer horaVentania em qualquer direçãoSei que nada será como antes, amanhã

Que notícias me dão dos amigosQue notícias me dão de vocêSei que nada será como estáAmanhã ou depois de amanhãResistindo na boca da noite um gosto de sol

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A fia de Chico BritoChico AnysioCompacto duplo – 1970

Sou filha de Chico BritoPai de oito filho maiorNascida em BaturitéCriada a carne de sol

Sete homem e eu mulherOito filho prá criáSete homem prá peixeiraE a mulher prá…

Dos oito filho do velhoTem sete que se casouOs homem fez casamentoE cinco já procriouSó eu é que tô sobrandoNa certa Deus se enganouAcabo me abilolandoPorque meu caso é casarE caso de quarquer jeitoCaso inté no…

Sou filha de Chico BritoPai de oito filho maiorNascida em BaturitéCriada a carne de sol

Sete homem e eu mulherOito filho prá criáSete homem prá peixeiraE a mulher prá…

De tanto piscar o os olhosJá tô ficando zarolhaDe tanto chamar com a mãoNa mão já tenho inté bolhaJá fiz duzenta novenaJá me cansei de rezarMeus cotovelo tá inchadoDe no portão debruçarMas caso de quarquer jeitoCaso inté no…

Casa no campoZé Rodrix/TavitoCompacto duplo – 1970Elis 1972

Eu quero uma casa no campoOnde eu possa compor muitos rocks ruraisE tenha somente a certeza Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campoOnde eu possa ficar no tamanho da pazE tenha somente a certeza Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabrasPastando solenes no meu jardimEu quero o silêncio das línguas cansadasEu quero a esperança de óculosE um filho de cuca legalEu quero plantar e colher com a mãoA pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campoDo tamanho ideal, pau-a-pique e sapéOnde eu possa plantar meus amigosMeus discos e livrosE nada mais

Ih! Meu Deus do céu!Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de SouzaEla – 1971

Ih! Meu Deus do céu!Estou rindo à toaIh! Meu Deus do céu!Ela me afeiçoa

EspontaneidadeEu sou, eu souNa mesticidadeEu vou, eu vou

A sorte e a morteOcorrem subitamente

Estou diante delaA felicidadeExijo a parcelaDa cumplicidadeLá vem o crimeSe animeÉ hora de matar a saudade

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Golden s l umbe r sJohn Lennon/Paul McCartney

Ela – 1971

Once there was a way to get back homeward

Once there was a way to get back home

Sleep pretty darling do not cry

And I will sing a lullaby

Golden slumbers fill your eyes

Smiles awake you when you arise

Sleep pretty darling do not cry

And I will sing a lullaby

Boy, you gonna carry that weigth

Carry that weight a long time

Falei e disseBaden Powell/Paulo César PinheiroEla – 1971

Mulher, se Deus não criasse vocêEle próprio custava a crerMas só que tem que não dá pé vocêSer a mulher de quem Vinícius falou

Formosa, não faz assimCarinho não é ruim

Eu avisei bem, não faça ingratidãoPorque eu também sei dançarconforme a cançãoE quem vai embora agora sou euAdeus pra quem já me esqueceu

Tá acabada essa paradaE agora cada qual no seu lugarNão tem nada se a jogada dela É ver a lua em vez de um lar

Teresa é nome de mulherAh, que pena que me dáEla não ser mais Teresa mulher

Aviso aos navegantesBaden Powell/Paulo César PinheiroEla – 1971

Esse ano vai sobrar umQuem falou já morreuQuem sabe dele sou euA vida quem dá é Deus

Quem é malandro não dáVidinha boa à ninguémMalandro traz no cantarA pinta que o canto temBriga com quem sabe maisNão dá camisa a ninguémOlha, aqui você fazAqui mesmo vai entrar bem

MadalenaIvan Lins/Ronaldo Monteiro de SouzaEla – 1971

Oh, Madalena O meu peito percebeuQue o mar é uma gotaComparado ao pranto meu

Fique certa Quando o nosso amor despertaLogo o sol se desesperaE se esconde lá na serra

Eh MadalenaO que é meu não se divideNem tão pouco se admiteQuem do nosso amor duvide.

Até a lua se arrisca num palpiteQue o nosso amor existeForte ou fraco, alegre ou triste

Oh, Madalena, Madalena, Madalena, MadalenaOh Ma, oh Mada, oh MadaleOh Madale, le, le, le oh Ma, oh Mada

Black is beautifulMarcos Valle/Paulo Sérgio ValleEla – 1971

Hoje cedo na rua do OuvidorQuantos brancos horríveis eu viEu quero esse homem de cor

Um Deus Negro do Congo ou daqui

Hoje cedo amante negro eu vouEnfeitar o meu corpo no seuEu quero esse homem de cor

Um Deus Negro do Congo ou daquiQue se integre no meu sangue europeu

Black is beautiful black is beautifulBlack beauty so beautifulI wanna a black I wanna a beautifulI wanna a black I wanna a beautiful

Que se integre no meu sangue europeuBlack is beautiful black is beautifulBlack beauty so beautifulI wanna a black I wanna a beautifulI wanna a black I wanna a beautiful

Cinema Olympia Caetano Veloso

Ela – 1971

Não quero maisEssas tardes mornais, normais

Não quero maisVideo-tapes, mormaço, março, abril

Eu quero pulgas mil na geralEu quero a geral

Eu quero ouvir gargalhada geralQuero um lugar para mim, pra você

Na matiné do cinema Olympia

Tom Mix, Buck JonesTela e palco

Sorvetes e vedetesSocos e coladas

Pernas e gatilhosAtilhos e gargalhada geral

Do meio-dia até o amanhecerNa matiné do cinema Olympia

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Mundo desertoRoberto Carlos/Erasmo Carlos

Ela – 1971

Num mundo deserto de almas negrasMe visto de branco

Me curo da vida sofrida, sentidaQue deram pra mim

Num mundo deserto de almas negrasSorriso não nego

Mas vejo um sol cegoQuerendo queimar o que resta de mim

Vivo num mundo deserto de almas negras

Na vontade da verdade eu quero ficarE não acredito no dito maldito

Que o amor já morreu

Tenho fé que o meu paísAinda vai dar amor pro mundo

Um amor tão profundo, tão grandeQue vai reviver quem morreu

Vivo num mundo deserto de almas negras

ElaCésar Costa Filho/Aldir BlancEla – 1971

Ela sente a solidão do oitavo andarTodo dia à hora triste do jantarSó um copo, só um pratoE ao lado um só talherTudo é um em seu pequeno mundoDe mulher

Surge a esperança na vidaEla que dança e convida alguémAo elevador do oitavo andarPro primeiro amor do oitavo andar

Ela e ele qualquerEla duela o pranto do amorCom ele qualquerDesce e se esquece no elevadorCom ele qualquerEla lembra a vida do interior

Ela na varanda espera seus irmãosMesa posta, luz de velas, cançõesEla brinca de princesaE vem o carnaval Passa a Páscoa em paz consigo, no quintal

Os dias frios de junhoAs rendas brancas nos punhos, balõesE um dia no teatro do localEla é a virgem no presépio de Natal

Ela e um dia qualquerÉ na varanda, Páscoa, NatalCom um ele qualquerEla duela o pranto do amor

Sozinha outra vezNo oitavo andar onde tudo é um

Os argonautasCaetano VelosoEla – 1971

O barco, meu coração não aguentaTanta tormenta, alegriaMeu coração não contenta O dia, o marco, meu coraçãoO porto, não

Navegar é preciso, viver não é preciso

O barco, noite no céu tão bonitoSorriso solto perdido Horizonte, madrugada O riso, o arco, da madrugada O porto, nada

Navegar é preciso, viver não é preciso

O barco, o automóvel brilhante O trilho solto, o barulho Do meu dente em tua veia O sangue, o charco, barulho lento O porto silêncio

Navegar é preciso, viver não é preciso

45

Estrada do solTom Jobim/Dolores Duran

Ela – 1971

Quero que você me dê a mãoVamos sair

É de manhã, vem o sol,Mas os pingos da chuva que ontem caiu

Ainda estão a brilhar,Ainda estão a dançar

Ao vento alegreQue me traz esta canção.

Quero que você me dê a mão,Vamos sair por aí

Sem pensar no que foique sonhei,

Que chorei, que sofri,Pois a nossa manhãJá me fez esquecer,

Me dê a mão, vamos sair prá ver o sol.

Alô, alô.Taí Carmem MirandaHeitor/Maneco/Wilson DiaboOs maiores sambas enredos de todos os tempos – 1971

Uma pequena notável Cantou muito samba É motivo de carnaval Pandeiro, camisa listrada Tornou a baiana internacional

Seu nome corria chão Na boca de toda gente Que grilo é esse? Vou embarcar nessa onda É o Império Serrano que canta Dando uma de Carmem Miranda

Cai, cai, cai, cai Quem mandou escorregar Cai, cai, cai, cai É melhor se levantar, oi

TiradentesDécio Antonio Carlos/Penteado/Estanislau SilvaOs maiores sambas enredos de todos os tempos Volume 2 – 1972

Joaquim José da Silva XavierMorreu a 21 de abrilPela independência do BrasilFoi traído e não traiu jamaisA inconfidência de Minas Gerais

Joaquim José da Silva XavierEra o nome de TiradentesFoi sacrificado pela nossa liberdadeEsse grande herói pra sempre deve ser lembrado

20 anos blueSueli Costa/Vitor Martins

Elis – 1972

Hoje de manhã quando acordeiOlhei pra vida e me espanteiEu tenho mais de vinte anos

Eu tenho mais de mil perguntas sem respostasEstou ligada num futuro blue

Os meus pais nas minhas costasAs raízes na marquise

Eu tenho mais de vinte murosO sangue jorra pelos furos

Pelas veias de um jornalEu não te quero, eu te quero mal

Essa calma que inventei, bem seiCustou as contas que conteiEu tenho mais de vinte anos

Eu quero as cores e os colíriosMeus delírios

Estou ligada num futuro blue

Balacombala

João Bosco/Aldir BlancElis – 1972

A sala calaE o jornal preparaQuem está na salaCom pipoca e balaE o urubu sai voandoManso

O tempo correE o suor escorre,Vem alguém de porreE há um corre-correE o mocinho chegandoDando

Eu esqueço sempre nesta hora,Linda, louraMinha velha fuga em todo impasseEu esqueço sempre nesta hora,Linda, louraQuanto me custa dar a outra face

O tapa estalaNo balacobacoE é bala com balaE é fala com falaE o galã se espalhandoDando

No rala-ralaQuando acaba a balaÉ faca com facaÉ rapa com rapaEu me realizandoBambo

Quando a luz acende é uma tristezaTrapo, presaMinha coragem muda em cansaçoToda fita em série que se prezaDizem, rezaAcaba sempre no melhor pedaço

MucuripeFagner/BelchiorElis – 1972

As velas do MucuripeVão sair para pescarVou levar as minhas mágoasPras águas fundas do marHoje à noite namorarSem ter medo de saudadeSem vontade de casar

Calça nova de riscadoPaletó de linho brancoQue até o mês passadoLá no campo 'inda era florSob o meu chapéu quebradoO sorriso ingênuo e francoDe um rapaz novo encantadoCom vinte anos de amor

Aquela estrela é delaVida, vento, vela leva-me daqui.

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Olhos abertosZé Rodrix/Guttenberg GuarabyraElis – 1972

Atravessando uma ponte, de noite No meio da chuva Cercada pelo silêncio Daquela cidade do interior

Depois da ponte, uma estrada de terra Molhada de chuva Cercada pelo silêncio E sem nenhum pedaço de amor

Vendo os olhares desertos De tantas pessoas antigas Tantas pessoas amigas Querendo um cigarro e um carinho

Gente que puxa uma briga na estrada Com os olhos brilhando Precisa só de um abraço Bem forte e bem dado

E eu quero encontrar as pessoas De mãos e de olhos abertos Sem me preocupar Com dinheiro e posição

Eu preciso encontrar as pessoas Ficar de mãos dadas com elas Conversar com a boca E os olhos do coração

Vida de bailarinaAmérico Seixas/Dorival SilvaElis – 1972

Quem descerrar a cortinaDa vida da bailarinaHá de ver cheio de horrorQue no fundo do seu peitoAbriga um sonho desfeitoOu a desgraça de um amor

Os que compram o desejoPagando amor a varejoVão falando sem saberQue ela é forçada a enganarNão vivendo pra dançarMas dançando pra viver

Atrás da portaFrancis Hime/Chico BuarqueElis – 1972

Quando olhaste bem nos olhos meusE o teu olhar era de adeusJuro que não acreditei, eu te estranhei Me debrucei sobre teu corpo e duvideiE me arrastei e te arranheiE me agarrei nos teus cabelosNo teu peito, teu pijamaNos teus pés ao pé da camaSem carinho, sem cobertaNo tapete atrás da portaReclamei baixinho

Dei pra maldizer o nosso larPra sujar teu nome, te humilharE me vingar a qualquer preçoTe adorando pelo avessoPra mostrar que ainda sou tuaSó pra provar que inda sou tua

CaisMilton Nascimento/Ronaldo MonteiroElis – 1972

Para quem quer se soltarInvento o caisInvento mais que a solidão me dáInvento a lua nova a clarearInvento o amorE sei a dor de me lançar

Eu queria ser feliz invento o marInvento em mim o sonhador

Para quem quer me seguirEu quero maisTenho o caminho que sempre quisE um saveiro pronto prá partirInvento o caisE sei a vez de me lançar

47

Águas de marçoTom JobimElis – 1972

Elis & Tom – 1974 (Com Tom Jobim)Montreaux jazz Festival – 1982

É pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o solÉ a noite, é a morte, é um laço, é o anzolÉ peroba no campo, é o nó da madeira

Caingá candeia, é o matita-pereiraÉ madeira de vento, tombo da ribanceira

É o mistério profundo, é o queira ou não queiraÉ o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeiraÉ a chuva chovendo, é conversa ribeira

Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeiraPassarinho na mao, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chãoÉ um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminhoNo rosto um desgosto, é um pouco sozinho

É um estepe, é um prego, é uma conta, é um contoÉ um pingo pingando, é uma conta, é um pontoÉ um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando

É a luz da manha, é o tijolo chegandoÉ a lenha, é o dia, é o fim da picada

É a garrafa de cana, o estilhaço na estradaÉ o projeto da casa, é o corpo na cama

É o carro enguiçado, é a lama, é a lamaÉ um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um resto de mato na luz da manhãSão as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinhoÉ uma cobra, é um pau, é João, é José

É um espinho na mão, é um corte no péSão as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinho

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rãÉ um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verãoÉ a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinho

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Me deixa em pazIvan Lins/Ronaldo Monteiro de SouzaElis – 1972

Paz!Que eu já não aguento maisMe deixa em pazSai de mimMe deixa em paz

Vai!Hoje o fogo se apagouNosso jogo terminouVai prá onde Deus quizerJá é hora deDe voce partirNão adianta mais ficar

Boa noite, amorMaria José de Abreu/Francisco MatosoElis – 1972

Boa noite amor Meu grande amor Contigo sonharei

E a minha dor esquecerei Se eu souber que o sonho teu Foi o mesmo sonho meu

Boa noite, amor E sonhe enfim Pensando sempre em mim

Na carícia de um beijo Que ficou no desejo Boa noite, meu grande amor.

OrienteGilberto GilElis – 1973

Se oriente, rapaz Pela constelação do Cruzeiro do Sul Se oriente, rapaz Pela constatação de que a aranha Vive do que tece Vê se não se esquece Pela simples razão de que tudo merece Consideração

Considere, rapaz A possibilidade de ir pro Japão Num cargueiro do Lloyd lavando o porão Pela curiosidade de ver Onde o sol se escondeVê se compreende Pela simples razão de que tudo dependeDe determinação

Determine, rapaz Onde vai ser seu curso de pós-graduaçãoSe oriente, rapazPela rotação da Terra em torno do Sol Sorridente, rapazPela continuidade do sonho de Adão

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Doentemorena

Gilberto Gil/DudaElis – 1973Luz das Estrelas – 1984

De manhã cedo ela saiLeva a chaveMe deixa trancadoO dia inteiroNão ligoDeito sobre os trilhosE vejo o trem passarEntre brinquedos, cigarrosO Tesouro da JuventudeEm não sei quantos volumesE quando cantoDeixo a imaginação voarMas ontem à noiteA mão sobre meus cabelosEla me disse:"Meu bem, não tenha medoNo verão que vemNós vamos à praia"

Meio de campoGilberto Gil

Elis – 1973

Prezado amigo AfonsinhoEu continuo aqui mesmo

Aperfeiçoando o imperfeitoDando tempo, dando um jeito

Desprezando a perfeiçãoQue a perfeição é uma meta

Defendida pelo goleiroQue joga na seleção

E eu não sou Pelé, nem nadaSe muito for eu sou um Tostão

Fazer um gol nesta partida não é fácil, meu irmãoEntrou de bola, e tudo!Cabaré

João Bosco/Aldir BlancElis – 1973

Na porta lentas luzes de neonNa mesa flores murchas de creponE a luz grená filtrada entre conversasInventa um novo amor, loucas promessas

De tomara-que-caia surge a crooner do norteNem aplausos, nem vaias: um silêncio de morte

Ah, quem sabe de si nesses bares escurosQuem sabe dos outros, das grades, dos muros

No drama sufocado em cada rostoA lama de não ser o que se quisA chama quase morta de um sol postoA dama de um passado mais feliz

Um cuba-libre treme na mão friaAo triste strip-tease da agoniaDe cada um que deixa o cabaré

Lá fora a luz do dia fere os olhos

Ah, quem sabe de si nesses bares escurosQuem sabe dos outros

O caçador deesmeralda

João Bosco/Aldir Blanc/Cláudio TolomeiElis – 1973

Verde que te quiero oroBandeiras removendo a terraEsmeralda que aguarda agoraNo riacho além de Tordesilhas

E Fernão se apaixonou como um selvagemPela sereia do sertãoNa água, imagem virgemMiragem esverdeada

No mel das abelhas e nos frutosO gosto dela, febre da paixãoFernão se esmerava na conquistaDe esmeralda, inferno de Fernão

E um dia no Fusca duas portas, dois amantesFernão louco, Esmeralda desvairadaO enleio dos delirantes

No Recreio dos Bandeirantes

Agnus seiJoão Bosco/Aldir BlancElis – 1973

Faces sob o sol, os olhos na cruzOs heróis do bem prosseguem na brisa na manhãVão levar ao reino dos minaretesA paz na ponta dos arietesA conversão para os infiéis

Para trás ficou a marca da cruzNa fumaça negra vinda na brisa da manhã

Ah, como é difícil tornar-se heróiSó quem tentou sabe como dói

Vencer Satã só com orações

Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vêÊ andá pa Catarandá que Deus tudo vê

Ê anda, ê hora, ê manda, ê mata, responderei não!

Dominus dominium juros alémTodos esses anos agnus sei que sou tambémMas ovelha negra me desgarreiO meu pastor não sabe que eu seiDa arma oculta na sua mão

Meu profano amor eu prefiro assimÀ nudez sem véus diante da Santa Inquisição

Ah, o tribunal não recordaráDos fugitivos de Shangri-Lá

O tempo vence toda a ilusão

Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vêÊ andá pa Catarandá que Deus tudo vêÊ anda, ê hora, ê manda, ê mata, responderei não!

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Ladeira da PreguiçaGilberto GilElis – 1973

Essa ladeira Que ladeira é essa? Essa é a Ladeira da Preguiça

Preguiça que eu tive sempre De escrever para a família E de mandar contar pra casa Que esse mundo é uma maravilha E pra saber se a menina já conta as estrelas E sabe a segunda cartilha E pra saber se o menino já canta cantigas E já não bota mais a mão na barguilha E pra falar do mundo, falar uma besteira Formenteira é uma ilha Onde se chega de barco, mãe

Que nem lá Na Ilha do Medo Que nem lá Na Ilha do Frade Que nem lá Na Ilha de Maré Que nem lá Salina das Margaridas

Essa ladeira Que ladeira é essa? Essa é a Ladeira da Preguiça

Ela não é de hoje Ela é desde quando Se amarrava cachorro com linguiça

Folhas secasNélson Cavaquinho/Guilherme de BritoElis – 1973

Quando eu piso em folhas secasCaídas de uma mangueiraPenso na minha escolaE nos poetas da minha Estação Primeira

Não sei quantas vezesSubi o morro cantandoSempre o sol me queimandoE assim vou me acabando

Quando o tempo avisarQue eu não posso mais sambarSei que vou sentir saudadeAo lado do meu violãoDa minha mocidade

Quando eu piso em folhas secasCaídas de uma mangueiraPenso na minha escolaE nos poetas da minha Estação Primeira

Não sei quantas vezesSubi o morro cantandoSempre o sol me queimandoE assim vou me acabandoE assim vou me acabandoE assim vou me acabando

ComadreJoão Bosco/Aldir Blanc

Elis – 1973

Em tudo o que me acontecerO dedo da comadre tá

Na corda quando escurecerAnágua da comadre lá

Branco de doerMe convidando a imaginar

Se o vento baterA ginga que a comadre dá

E a ginga da comadre táEm tudo que me acontecer

No copo que eu me embriagar

Se relampejarSe eu adoecer

Se a febre aumentarA comadre vem

Na palha que eu adormecerNas águas em que eu me lavar

E na pitanga que eu morderNa arapuca que eu armar

Onde eu me esconderEm tudo quanto eu pude olhar

No que ouvi dizerA ginga da comadre tá

No samba que eu me excederNo doce que eu me lambuzar

Na hora que eu endoidecer

Se o sangue espirrarSe a ferida arderSe a boca chuparA comadre vem

É com esse que eu vouPedro CaetanoElis – 1973

É com esse que eu vouSambar até cair no chãoÉ com esse que eu vouDesabafar na multidãoSe ninguém se animarEu vou quebrar meu tamborimMas se a turma gostarVai ser pra mim

Eu quero verO ronca ronca da cuícaGente pobre, gente ricaDeputado, senador

Quebra, quebraQuero ver uma cabrocha boaNo piano da patroaBatucandoÉ com esse que eu vou

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Conversando no barMilton Nascimento/Fernando Brant

Elis – 1974Saudade do Brasil – 1980

Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira

E o motorneiro parava a orquestra um minuto

Para me contar casos da campanha da Itália

E de um tiro que ele não levou

Levei um susto imenso nas asas da Pan Air

Descobri que as coisas mudam

E que o mundo é pequeno nas asas da Pan Air

E lá vai menino xingando padre e pedra

E lá vai menino lambendo podre delícia

E lá vai menino senhor de todo fruto

Sem nenhum pecado, sem pavor

O medo em minha vida nasceu muito depois

Descobri que a minha arma

É o que a memória guarda dos tempos da Pan Air

Nada existe que não se esqueça

Alguém insiste e fala ao coração

Tudo de triste existe que não se esquece

Alguém insiste e fere o coração

Nada de novo existe neste planeta

Que não se fale aqui na mesa de bar

E aquela briga e aquela fome de bola

E aquele tango e aquela dama da noite

E aquela mancha e a fala oculta

Que no fundo do quintal morreu

Morri a cada dia dos dias que vivi

Cerveja que tomo hoje

É apenas em memória dos tempos da Pan Air

A primeira Coca-Cola foi,

Me lembro bem agora, nas asas da Pan Air

A maior das maravilhas foi

Voando sobre o mundo nas asas da Pan Air

Em volta dessa mesa velhos e moços lembrando o que já foi

Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual

Em volta dessas mesas existe a rua vivendo o seu normal

Em volta dessa rua uma cidade sonhando seus metais

Em volta da cidade...

Na batucada da vidaAry Barroso

Elis – 1974

No dia em que eu apareci no mundoJuntou uma porção de vagabundo

Da orgiaDe noite, teve samba e batucada

Que acabou de madrugadaEm grossa pancadaria

Depois do meu batismo de fumaçaMamei um litro e meio de cachaça

Bem puxadoE fui adormecer como um despacho

Deitadinha no capacho na porta dos enjeitados

Cresci olhando a vida sem malíciaQuando um cabo de polícia

Despertou meu coraçãoE como eu fui pra ele muito boa

Me soltou na rua à toaDesprezada como um cão

E hoje que eu sou mesmo da viradaE que eu não tenho nada, nada

E por Deus fui esquecidaIrei cada vez mais me esmulambando

Seguirei sempre cantandoNa batucada da vida

TravessiaMilton Nascimento/Fernando Brant

Elis – 1974

Quando você foi embora Fez-se noite em meu viver

Forte eu sou, mas não tem jeitoHoje eu tenho que chorarMinha casa não é minha E nem é meu este lugar

Estou só e não tem resistoMuito tenho pra falar

Solto a voz nas estradas, já não quero pararMeu caminho é de pedra, como posso sonhar?

Sonho feito de brisa vento vem terminarVou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida Me esquecendo de você

Eu não quero mais a morteTenho muito que viver

Vou querer amar de novo E se não der não vou sofrer

Já não sonho, hoje façoCom meu braço o meu viver

Ponta de areiaMilton Nascimento/Fernando Brant

Elis – 1974Montreaux Jazz Festival – 1982

Ponta de areia, ponto finalDa Bahia à Minas, estrada natural

Que ligava Minas ao porto, ao marCaminho do ferro mandaram arrancar

Velho maquinista com seu bonéLembra o povo alegre que vinha cortejar

Maria Fumaça, não canta maisPara moças, flores, janelas e quintais

Na praça vazia, um grito um aiCasas esquecidas, viúvas nos portais

O mestre-salados mares

João Bosco/Aldir BlancElis – 1974

Luz das estrelas – 1984

Há muito tempo nas águas da GuanabaraO dragão do mar apareceu

Na figura de um bravo feiticeiroA quem a história não esqueceu

Conhecido como navegante negroTinha a dignidade de um mestre-sala

E ao acenar pelo mar, na alegria das regatasFoi saudado no porto pelas mocinhas francesas

Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatasJorravam das costas dos santos

Entre cantos e chibatasInundando o coraçãoDo pessoal do porão

Que a exemplo do feiticeiro gritava, então:

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,Glória à farofa, à cachaça, às baleias,

Glória a todas as lutas inglóriasQue através da nossa história

Não esquecemos jamais.

Salve o navegante negroQue tem por monumentoAs pedras pisadas do cais

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Doisprá lá,

doisprá ca

João Bosco/Aldir BlancElis – 1974

Sentindo frio em minh'almaTe convidei pra dançarA tua voz me aca lmavaSão dois pra lá, dois pra cá

Meu coração traiçoeiroBat ia mais que o bongôTremia mais que as maracasDescompassado de amor

Minha cabeça rodandoRodava mais que os casaisO teu perfume gardêniaE não me pergunte mais

A tua mão no pescoçoAs tuas cos ta s mac i a sPor quanto tempo rondaramAs minhas noites vaz ias

No dedo um falso brilhanteBrincos igua is ao colarE a ponta de um torturanteBand-a id no ca lcanhar

Eu hoje me embriagandoDe whisky com guaranáOuvi tua voz sussurrandoSão dois pra lá, dois pra cá.

Maria RosaLupicínio Rodrigues/Alcides GonçalvesElis – 1974

Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancosVestindo farrapos calçando tamancosPedindo nas portas pedaços de pão ?A conheci quando moça era um anjo de formosaSeu nome: Maria Rosa, seu sobrenome: Paixão

Os trapos de suas vestes não é só necessidadeCada um, para ela, representa uma saudadeOu de um vestido de baile, ou de um presente , talvezQue algum dos seus apaixonados lhe fez

Quis certo dia Maria por a fantasia de tempos passadosPor em sua galeria uns novos apaixonadosEsta mulher que outrora a tanta gente encantouNenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou

E então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileçãoMandou fazer essa capa de recordaçãoVocês Marias de agora, amem somente uma vezPrá que mais tarde esta capa não sirva em vocês.

Caça à raposaJoão Bosco/Aldir BlancElis – 1974

O olhar dos cãesA mão nas rédeas E o verde da floresta

Dentes brancos, cães A trompa ao longe, o riso Os cães, a mão na testa

O olhar procura, antecipa A dor no coração vermelho Senhorita e seus anéis, corcéisE a dor no coração vermelho

O rebenque estala, um leque aponta: foi por lá

Um olhar de cãoAs mãos são pernas E o verde da floresta

Oh, manhã entre manhãs A trompa em cima, os cães Nenhuma fresta

O olhar se fecha, uma lembrança Afaga o coração vermelho Uma cabeleira sobre o feno Afoga o coração vermelho

Montarias freiam, dentes brancos: terminou

Línguas rubras dos amantes Sonhos sempre incandescentes Recomeçam desde instantes Que os julgamos mais ausentes

Ah! recomecar, recomecar Como canções e epidemiasAh! recomeçar como as colheitas Como a lua e a covardia Ah! recomeçar como a paixão e o fogo E o fogo, e o fogo...

O compositor me disseGilberto GilElis – 1974

Compositor me disse que eu cantasse distraidamente essa canção.Que eu cantasse como se o vento soprasse pela boca vindo do pulmão.E que eu ficasse ao lado pra escutar o vento, jogando as palavras pelo ar.

O compositor me disse que eu cantasse ligada no vento, sem ligar pras coisas que ele quis dizer.Que eu não pensasse em mim nem em você.Que eu cantasse distraidamente como bate o coração.

E que eu parasse aqui.

Assim..

53

Só tinha de ser com vocêTom Jobim/Chico BuarqueElis & Tom – 1974

É... só eu sei quanto amor eu guardeiSem saber que era só pra você

É. Só tinha de ser com vocêhavia de ser prá vocêSenão era mais uma dorSenão não seria o amorAquele que o mundo não vêO amor que chegou para darO que ninguém deu pra você

É. Você que é feita de azulMe deixa morar nesse azulMe deixa encontrar minha pazVocê que é bonita demaisSe ao menos pudesse saberQue eu sempre fui só de vocêVocê sempre foi só de mim

ModinhaTom Jobim/Vinícius de Morais

Elis & Tom – 1974

NãoNão pode mais meu coração

Viver assim dilaceradoEscravizado a uma ilusão

Que é sóDesilusão

Ah, não seja a vida sempre assimComo um luar desesperado

A derramar melancolia em mimPoesia em mim

Vai, triste canção, sai do meu peitoE semeia a emoção

Que chora dentro do meu coraçãoCoração

TristeTom Jobim

Elis & Tom – 1974Luz das estrelas – 1984

Triste é viver na solidãoNa dor cruel de uma paixão

Triste é saber que ninguém pode Viver de ilusão

Que nunca vai serNunca vai dar

O sonhador tem que acordar

Tua beleza é um aviãoDemais pra um pobre coração

Que para pra te ver passar Só pra me maltratar

Triste é viver na solidão

Triste é viver na solidãoNa dor cruel de uma paixão

Triste é saber que ninguém pode Viver de ilusão

Que nunca vai serNunca vai dar

O sonhador tem que acordar.

CorcovadoTom Jobim

Elis & Tom – 1974Montreaux Jazz Festival – 1982

Um cantinho, um violãoEste amor, uma canção

Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensarE ter tempo pra sonhar

Da janela vê se o CorcovadoO Redentor, que lindo

Quero a vida sempre assimCom você perto de mim

Até o apagar da velha chama

E eu que era tristeDescrente desse mundo

Ao encontrar você eu conheciO que é felicidade, meu amor

Pois éTom Jobim/Chico BuarqueElis & Tom – 1974

Pois é... Fica o dito e o redito por não dito. E é difícil dizer que foi bonito. É inútil cantar o que perdi.

Taí.. Nosso mais-que-perfeito está desfeito. E o que me parecia tão direito. Caiu desse jeito sem perdão.

Então... Disfarçar minha dor eu não consigo. Dizer: – somos sempre bons amigos, é muita mentira para mim

Enfim... Hoje na solidão ainda custo a entender como o amor foi tão injusto pra quem só lhe foi dedicação.

Pois é... e então ...

54

O que tinha de serTom Jobim/Vinícius de Morais

Elis & Tom – 1974

Porque foste na vida A última esperança

Encontrar-te me fez criança Porque já eras meu

Sem eu saber sequer Porque és o meu homem

E eu tua mulher

Porque tu me chegaste Sem me dizer que vinhas

E tuas mãos foram minhas com calma Porque foste em minh'alma

Como um amanhecer Porque foste o que tinha de ser

Retrato em branco e pretoTom Jobim/Chico BuarqueElis & Tom – 1974

Já conheço os passos dessa estrada,Sei que não vai dar em nada,Seus segredos sei de cor.Já conheço as pedras do caminhoE sei também que ali sozinhoEu vou ficar tanto pior,O que é que eu posso contra o encantoDesse amor que eu nego tanto, evito tantoE que no entanto volta sempre a enfeitiçarCom seus mesmos tristes velhos fatosQue num álbum de retratos eu teimo em colecionar.

Lá vou eu de novo como um tolo,Procurar o desconsoloQue cansei de conhecer.Novos dias tristes, noites claras,Versos, cartas,Minha cara, ainda volto a lhe escreverPra lhe dizer que isso é pecado,Eu trago o peito tão marcadoDe lembranças do passadoE você sabe a razão.Vou colecionar mais um soneto,Outro retrato em branco e pretoA maltratar meu coração.

Brigas nunca maisTom Jobim/Vinícius de MoraisElis & Tom – 1974

Chegou, sorriu,Venceu, depois chorou.Então fui euQuem consolou sua tristeza,Na certeza de que o amorTem dessas fazes más,Que é bom para fazer as pazes

Mas depois fui euQuem dela precisou,E ela então me socorreu.E o nosso amorMostrou que veio pra ficarMais uma vez, por toda a vida.Bom é mesmo amar em paz,Brigas, nunca mais

Por toda minha vidaTom Jobim/Vinícius de MoraisElis & Tom – 1974

Meu bem-amadoQuero fazer-te um juramento uma cançãoEu prometo, por toda a minha vidaSer somente tua e amar-te como nuncaNinguém jamais amou, ninguém

Meu bem-amadoEstrela pura aparecidaEu te amo e te proclamoO meu amorO meu amorMaior que tudo quanto existeOh, meu amor

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Inútilpaisagem

Tom Jobim/Aloysio de OliveiraElis & Tom – 1974

Mas pra que?Pra que tanto céu?

Pra que tanto mar, pra que?De que serve esta onda que quebra e o vento da tarde?

De que serve a tarde?Inútil paisagem

Pode ser que nao venhas maisQue não voltes nunca mais

De que servem as flores que nascem pelos caminhosSe o meu caminho sozinho é nada?

FotografiaTom Jobim

Elis & Tom – 1974

Eu, você, nós doisAqui neste terraço à beira-mar

O sol já vai caindoE o seu olhar

Parece acompanhar a cor do mar

Você tem que ir emboraA tarde cai

Em cores se desfaz,Escureceu

O sol caiu no marE aquela luz

Lá em baixo se acendeu

Você e eu

Eu, você, nós doisSozinhos neste bar à meia-luzE uma grande lua saiu do mar

Parece que este bar já vai fechar

E há sempre uma cançãoPara contar

Aquela velha históriaDe um desejo

Que todas as cançõesTêm pra contar

E veio aquele beijoAquele beijoAquele beijo

Soneto deTom Jobim/Vinícius de MoraisElis & Tom – 1974

De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente

separação

Chovendo na roseiraTom Jobim

Elis & Tom – 1974

Olha, está chovendo na roseiraQue só dá rosa mas não cheira

A frescura das gotas úmidasQue é de Luísa

Que é de PaulinhoQue é de João

Que é de ninguém

Pétalas de rosa carregadas pelo ventoUm amor tão puro carregou meu pensamento

Olha, um tico-tico mora ao ladoE, passeando no molhado,

Adivinhou a primavera

Olha, que chuva boa, prazenteiraQue vem molhar minha roseira

Chuva boa, criadeiraQue molha a terraQue enche o rioQue limpa o céuQue traz o azul

Pétalas de rosa carregadas pelo ventoUm amor tão puro carregou meu pensamento

Olha, um tico-tico mora ao ladoE passeando no molhadoAdivinhou a primavera

Olha, o jasmineiro está floridoE o riachinho de água esperta

Se lança embaixo do rio de águas calmas

Ah… você é de ninguém

Cadeira vaziaLupicínio Rodrigues/Alcides GonçalvesLupiscinio Rodrigues na Interpretacao de: – 1974

E n t r a m e u a m o r f i c a a vo n t a d eE d i z c o m s i n c e r i d a d eO q u e d e s e j a s d e m i mEntra podes entrar a casa é tuaJá que cansaste de v iver na ruaE teus sonhos chegaram ao fim

Eu sofri demais quando partisteP a s s e i t a n t a s h o r a s t r i s t eQue nem devo lembrar esse diaMas de uma coisa podes ter certezaQue teu lugar aqui na minha mesaTua cade i r a a inda es t á vaz i a

Tu é s a f i l h a p r ó d i g a q u e vo l t aP r o c u r a n d o e m m i n h a p o r t aO q u e o m u n d o n ã o t e d e uE faz de conta que sou o teu paizinhoQue tanto tempo aqui fiquei sozinhoA e s p e r a r p o r u m c a r i n h o t e u

Voltaste, estás bem, estou contenteSó que me encontraste muito diferenteVo u t e f a l a r d e t o d o o c o r a ç ã oNão te dare i car inho nem afetoMas pra te abrigar podes ocupar meu tetoPrá te alimentar podes comer meu pão

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Alto da BronzePaulo Coelho/FoquinhaMúsica popular do sul – 1975

Alto da Bronze,Cabeça quebrada,Praça queridaSempre lembradaA praça 11 da molecadaPraça sem brancoDo rato branco e do futebolDa garotada endiabradaDas manhãs de solGuardo a eterna lembrançaDo tempo feliz em que eu era criançaDo tempo em que a vida eraDa minha infância a grande quimeraHoje eu, pobre profano,Me lembro de ti e dos meus desenganosÓ, meu Alto da Bronze dos meus oito anos

Boi barrosoFolcloreMúsica popular do sul – 1975

Eu mandei fazer um laço do couro do jacaréPra laçar o boi barroso, num cavalo pangaré

Meu Boi Barroso, meu Boi PitangaO teu lugar, ai, é lá na canga

Eu mandei fazer um laço do couro da jacutingaPra laçar o boi barroso, lá no alto da restinga

Meu Boi Barroso, meu Boi PitangaO teu lugar, ai, é lá na canga

Homens de pretoPaulo RuschelMúsica popular do sul – 1975

Os homens de preto trazendo a boiadaVêm rindo, cantando, dando gargalhadaDeus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez

Os homens de preto trazendo a boiadaVêm rindo, cantando, dando gargalhadaE o bicho coitado não pensa em nadaSó vai pela estrada direto a charqueadaDeus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez

Os homens de preto trazendo a boiadaVêm rindo, cantando, dando gargalhadaDeus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez

Os homens de preto trazendo a boiadaVêm rindo, cantando, dando gargalhadaE o bicho coitado não pensa em nadaSó vem pela estrada, vem, berrando, berrando,vem berrando

O gado coitado, nasceu, foi marcadoAí vai condenado na estrada berrandoA querência deixandoOs homens marvado empurrando e gritandoToca boi, toca boi

O gado coitado, nasceu foi marcadoAí vai condenado direto a charqueadaMas manda a poeira no rumo de DeusBerrando pra ele dizendo pra DeusDeus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fezOs homens de preto, empurrando a boiadaVêm rindo, cantando, dando gargalhada

Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez

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Como nossos paisBelchior

Falso brilhante – 1976

Não quero lhe falar, meu grande amorDas coisas que aprendi nos discos

Quero lhe contar como eu viviE tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonharE eu sei que o amor é uma coisa boaMas também sei que qualquer canto

É menor do que a vida de qualquer pessoa

Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquinaEles venceram e o sinal está fechado pra nós

Que somos jovens

Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na ruaÉ que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz

Você me pergunta pela minha paixãoDigo que estou encantado com uma nova invençãoEu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão

Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova nova estaçãoEu sei de tudo da ferida viva no meu coração

Já faz tempo eu vi você na ruaCabelo ao vento e gente jovem reunida

Na parede da memóriaEssa lembrança é o quadro que dói mais

Minha dor é perceberQue apesar de termos feito tudo que fizemos

Ainda somos os mesmos e vivemosComo nossos pais

Nossos ídolos ainda são os mesmosE as aparências não se enganam, não

Você diz que depois delesNão apareceu mais ninguém

Você pode até dizer que tou por foraOu então que tou inventando

Mas é você que ama o passado e que não vêÉ você que ama o passado e que não vê

Que o novo sempre vem

Hoje eu sei que quem deu me deu a idéiaDe uma nova consciência e juventude

Está em casa guardado por DeusContando o vil metal

Minha dor é perceberQue apesar de termos feito tudo tudo o que fizemos

Nós ainda somos os mesmos e vivemosAinda somos os mesmos e vivemos

Como os nossos pais

Velha roupa coloridaBelchiorFalso brilhante – 1976

Voce não sente, não vêMas eu não posso deixar de dizer, meu amigoQue uma nova mudança em breve vai acontecer

O que há algum tempo era novo e jovemHoje é antigoE precisamos todos rejuvenescer

Nunca mais seu pai falou "She's leaving home"E meteu o pé na estrada "Like a Rolling Stone..."Nunca mais você buscou sua meninaPara correr no seu carroLoucura, chiclete e som

Nunca mais você saiu a rua em grupo reunidoO dedo em VCabelo ao ventoAmor e florQue é do cartaz

No presente a mente, o corpo é diferenteE o passado é uma roupa que não nos serve mais

Como Poe, poeta louco americano,Eu pergunto ao passarinho blackbird, o que se faz?

E raven, never, raven, never, raven Blackbird me responde: "Tudo ja ficou pra trás"E raven, never, raven, never, ravenAssum preto me responde:"O passado, nunca mais!"

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Los hermanosAtahualpa YupanquiFalso brilhante – 1976

Yo tengo tantos hermanosQue no los puedo contarEn el valle, la montañaEn la pampa y en el marCada cual con sus trabajosCon sus sueños cada cualCon la esperanza delanteCon los recuerdos detrásYo tengo tantos hermanosQue no los puedo contar

Gente de mano calientePor eso de la amistadCon un lloro pa' llorarloCon un rezo pa' rezarCon un horizonte abiertoQue siempre esta mas alláY esa fuerza pa' buscarloCon tesón y voluntadCuando parece mas cercaEs cuando se aleja masYo tengo tantos hermanosQue no los puedo contar

Y así seguimos andandoCurtidos de soledadNos perdemos por el mundoNos volvemos a encontrarY así nos reconocemosPor el lejano mirarPor las coplas que mordemosSemillas de inmensidad.Yo tengo tantos hermanosQue no los puedo contarY así seguimos andandoCurtidos de soledadY en nosotros nuestros muertosPa' que nadie quede atrásYo tengo tantos hermanosQue no los puedo contarY una hermana muy hermosaQue se llama libertad

Um por todos (Versão 1)João Bosco/Aldir Blanc

Falso brilhante – 1976

Do ventre chão da terra mãeNasce o herói improvisado

Querido filho pranteado da fortuna e do acaso

Avante! Um por todos e todos por um!Ficam, das lutas ao longe,Duas medalhas pregadas

Em peito de bronze

E as bandeirinhas e as rifasO foguetório e a fanfarraMeio velório, meio farra

O sentimento dos teus pares

Heróis dos escolares e das lavadeirasOh! Deus das mocas solteiras

Que rezam ao teu retrato sobre a penteadeira

Eu te conheçoSei preço da fama e nao esqueço

Que deitei em tua cama, em teu berçoEu sei teu preço

Eu te conheçoMeu oportuno herói

Eu lavo as mãosPôncio cônscio pilhado em flagrante

Lavo as mãos e prossigo adianteEu por mim mesma

Todos por mimMeu oportuno herói

Um por todos (Versão 2)João Bosco/Aldir Blanc

Do ventre chão da terra mãeNasce o beato improvisadoQuerido filho pranteado da fortuna e do acaso

Avante! Um por todos e todos por um!Ficam, das lutas de um homem,Bustos de bronze e históriasQue as horas consomem

E as bandeirinhas e as rifasO foguetório e a fanfarraMeio velório, meio farraO sentimento dos teus pares

Senhor dos escolares e das lavadeirasOh! Deus das moças solteirasQue rezam ao teu retrato sobre a penteadeira

Eu te conheçoSei preço da fama e nao esqueçoQue deitei em tua cama, em teu berçoEu sei teu preçoEu te conheçoMeu milagroso irmão

Eu lavo as mãosPôncio cônscio pilhado em flagranteLavo as mãos e prossigo adianteEu por mim mesmaTodos por mimMeu milagroso irmão

FascinaçãoF. D. Marchetti/M. de Feraudy/Vs. Armando LouzadaFalso brilhante – 1976Transversal do tempo – 1978

Quero ver o sol atrás do muroQuero um refúgio que seja seguroUma nuvem branca, sem pó nem fumaçaQuero um mundo feito sem porta, vidraça

Quero uma estrada que leve à verdadeQuero a floresta em lugar da cidadeUma estrela pura de ar respirávelQuero um lago limpo de água potável

Quero voar de mãos dadas com vocêGanhar o espaco em bolhas de sabãoEscorregar pelas cachoeirasPintar o mundo de arco-íris

Quero rodar nas asas do girassolFazer cristais com gotas de orvalhoCobrir de flores campos de açoBeijar de leve a face da lua

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QueroThomas RothFalso brilhante – 1976

Os sonhos mais lindos sonheiDe quimeras mil um castelos erguiE no teu olhar, tonto de emoçãoCom sofreguidão mil venturas vivi

O teu corpo é luz, seduçãoPoema divino cheio de esplendorTeu sorriso prendeMe enebria, entonteceÉs fascinação amor

Jardins da infânciaJoão Bosco/Aldir Blanc

Falso brilhante – 1976

É como um conto de fadasTem sempre uma bruxa pra apavorar

O dragão comendo genteA bela adormecida sem acordar

Tudo o que o mestre mandarE a cabra cega roda sem enxergar

E você se escondeuE você esqueceu

Pique-papos tem distânciaPés pisando em ovos, veja você

Um tal de pular fogueira,Pistolas, morteiros, vejam vocês

Pega malhação de judasE quebra-cabeças, vejam vocês

E você se escondeuE você não quis ver

Olha o bobo na berlindaOlha o pau no gato

Polícia e ladrãoTem carniça e palmatória bem no teu portão

Você vive o faz de contaDiz que é de mentira

Brinca até cair

Chicotinho tá queimando, mamãe posso ir

Pique-papos tem distânciaPés pisando em ovos, bruxa, dragão

Um tal de pular fogueiraE a cabra cega vai de roldão

Pega malhação de judasE um passarinho morto no chão

E você conheceuE você aprendeu

Gracias a la vidaVioleta ParraFalso brilhante – 1976

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me dio dos luceros, que cuando los abro

Perfecto distingo lo negro del blanco

Y en el alto cielo su fondo estrellado

Y en las multitudes el hombre que yo amo

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado el oído que, en todo su ancho

Graba noche y día grillos y canarios

Martillos, turbinas, ladridos, chubascos

Y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado el sonido y el abecedario

Con él las palabras que pienso y declaro

"Madre,", "amigo," "hermano," y los alumbrando

La ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado la marcha de mis pies cansados

Con ellos anduve ciudades y charcos

Playas y desiertos, montañas y llanos

Y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida que me ha dado tanto

Me dio el corazón, que agita su marco

Cuando miro el fruto del cerebro humano

Cuando miro al bueno tan lejos del malo

Cuando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida que me ha dado tanto

Me ha dado la risa, y me ha dado el llanto

Así yo distingo dicha de quebranto

Los dos materiales que forman mi canto

Y el canto de ustedes que es el mismo canto

Y el canto de todos que es mi propio canto

60

O cavaleiro eos moinhos

João Bosco/Aldir BlancFalso brilhante – 1976

Acreditar na existência dourada do solMesmo que em plena bocaNos bata o açoite contínuo da noite

Arrebentar a corrente que envolve o amanhãDespertar as espadasVarrer as esfinges das encruzilhadas

Todo esse tempo foi igual a dormir num navioSem fazer movimentoMas tecendo o fio da água e do vento

Eu, baderneiro, me tornei cavaleiroMalandramente pelos caminhosMeu companheiro tá armado até os dentesJá não há mais moinhos como os de antigamente

TatuagemChico BuarqueFalso brilhante – 1976

Quero ficar no teu corpo feito tatuagemQue é pra te dar coragem pra seguir viagemQuando a noite vemE também pra me perpetuar em tua escravaQue você pega, esfrega, nega, mas não lava

Quero brincar no teu corpo feito bailarinaQue logo te alucina, salta e te iluminaQuando a noite vemE nos músculos exaustos do teu braço

Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço

Quero pesar feito cruz nas tuas costasQue te retalha em postas mas no fundo gostas

Quando a noite vemQuero ser a cicatriz risonha e corrosiva

Marcada a frio, a ferro e fogo em carne viva

Corações de mães, arpõesSereias e serpentes

Que te rabiscam o corpo todoMas não sentes...

ColagemClaudio LucciElis – 1977

Se você com muita calma usar sua raçaVai surpreender A surpresa para muitos é uma arma Pra se esconder

Se esconder não é tão bomPra viver, pra morrer

Se você lembrar que tudo é relativoVai compreenderMas a compreensão por vezes tão sensataVai lhe conter

Se conter não é tão bomPra viver, pra morrer

Se você tentar despir essa colagemVai se perderE a perda de si próprio é quase um passoPra conceder

Conceder não é tão bomPra viver, pra morrer, pra nascer

Somos homens sem lugarHomens velhos com raçaÀ espera de algum descuidoE com cuidado gozamos pazSomos homens bons demaisSufocados pelo malSó queremos acreditarQue isso tudo pode acabar

Vecchio novoClaudio Lucci/José Maria PereiraElis – 1977

Amor sem pé nem cabeçaQue vive dentro de nósExplode tão facilmenteE sem mais nos esquece só

Quantos e tantos presságiosQue, por instantes, nos fazSentir ser forte, molequeE estranhamente encarar

Um belo poema novoVecchio de tanto amorAmarVecchio em canto novoSempre aqui onde está

Ah, se eu pudesse abarcarA força da alma vadiaComo um costume lealEu até que não brincaria

Como um poema novoVecchio de tanto amorAmarVecchio em canto novoSempre aqui onde está

Amor sem pé nem cabeçaQue vive dentro de nósExplode tão SutilmenteE, maroto, nos deixa só

Qualquer diaIvan Lins/Vítor MartinsElis – 1977

Nessa calma sertanejaDe quem sabe o que farejaEu te encontro qualquer diaEu te encontro qualquer dia

Já conheço os teus rastrosJá comi no teu pratoJá bebi tua cervejaEu conheço o teu cheiroEu te encontro qualquer diaAh! Eu te encontro qualquer dia

Logo quem me julgava mortoMas esquecendo a qualquer custoVai morrer de medo e sustoQuando abrir a porta

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CartomanteIvan Lins/Vítor MartinsElis – 1977Transversal do tempo – 1978

Nos dias de hoje é bom que se protejaOfereça a face pra quem quer que sejaNos dias de hoje esteja tranqüiloHaja o que houver pense nos seus filhos

Não ande nos bares, esqueça os amigosNão pare nas praças, não corra perigoNão fale do medo que temos da vidaNão ponha o dedo na nossa ferida

Nos dias de hoje não lhes dê motivoPorque na verdade eu te quero vivoTenha paciência, Deus está contigoDeus está conosco até o pescoço

Já está escrito, já está previstoPor todas as videntes, pelas cartomantesTá tudo nas cartas, em todas as estrelasNo jogo dos búzios e nas profecias

Cai o rei de EspadasCai o rei de OurosCai o rei de PausCai, não fica nada

CaxangáMilton Nascimento/Fernando BrantElis – 1977 (Com Milton)Trem azul – 1982

Sempre no coração, haja o que houverA fome de um dia poder moder a carne dessa mulher

Veja bem meu patrão como pode ser bomVocê trabalharia no sol e eu tomando banho de mar

Luto para viver, vivo para morrerEnquanto minha morte não vem eu vivo de brigar contra o rei

Em volta do fogo todo mundo abrindo o jogoConta o que tem pra contarCasos e desejos, coisas dessa vida e da outraMas nada de assustarQuem não é sincero sai da brincadeira correndoPois pode se queimar

Queimar!!!Saio do trabalho e... volto para casa e...Não lembro de canseira maiorEm tudo é o mesmo suor

Morro velhoMilton NascimentoElis – 1977

No sertão da minha terraFazenda é o camarada que ao chão se deuFez a obrigação com forçaParece até que tudo aquilo ali é seuSó poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer

Orgulhoso camarada de viola em vez de enxada

Filho do branco e do pretoCorrendo pela estrada atrás de passarinhoPela plantação adentro, crescendo os dois meninosSempre pequeninosPeixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver

Orgulhoso camarada conta histórias prá moçada

Filho do senhor vai emboraTempo de estudos na cidade grandeParte, tem os olhos tristesDeixando o companheiro na estação distanteNão esqueça, amigo, eu vou voltarSome longe o trenzinho ao deus-dará

Quando volta já é outroTrouxe até sinhá mocinha prá apresentarLinda como a luz da luaQue em lugar nenhum rebrilha como láJá tem nome de doutorE agora na fazenda é quem vai mandar

E seu velho camarada já não brinca mais, trabalha

62

RomariaRenato TeixeiraElis – 1977

É de sonho e de pó, o destino de um sóFeito eu perdido em pensamentosSobre o meu cavaloÉ de laço e de nó, de gibeira o jiló,Dessa vida cumprida a sol

Sou caipira, PiraporaNossa Senhora de AparecidaIlumina a mina escura e fundaO trem da minha vida

O meu pai foi peão, minha mãe solidãoMeus irmãos perderam-se na vidaEm busca de aventurasDescasei, joguei, investi, desistiSe há sorte eu não sei, nunca vi

Me disseram porém que eu viesse aquiPra pedir em romaria e precePaz nos desaventosComo eu não sei rezar, só queria mostrarMeu olhar, meu olhar, meu olhar

A dama do apocalipseNatan Marques/Crispin del CistiaElis – 1977

Branco por cima e o negro de um sorriso heróiTrancam-me a mente e eu nego o quanto a dor destróiRasgam-me o sonho e o mal me põe na vidaE a vida me faz sem medo

Nos diademas, pragas, anjos de neonNos holocaustos trompas, flexas, megatonsRasgam-me a terra e o fogo traz a vidaE a vida não traz segredo

Fecha-se o ar e o sol se negaNega-se o pão e a pazE o amor me cega

Sete rajadas correm, somemE uma mulherSe entrega e se impõe ardenteConstante, serpente, vulgar

Rasga-se o sonho e o corpo sente a dor crescerAbre-se a mente e o cego vê a luz nascerTrava-se a guerra e o fogo faz a vidaE a vida não tem segredo

Sentimental eu ficoRenato Teixeira

Elis – 1977

Sentimental eu ficoQuando pouso na mesa de um bar

Eu sou um lobo cansado carenteDe cerveja e velhos amigos

Na costura da minha vida mais um pontoNo arremate do sorriso mais um nóAqui pra nós cantar não tá pra peixe

Tem coisa transformando a água em pó

E apesar de estar no bar caçando amoresEu nego tudo e invento explicaçõesAmigo velho amar não me compete

Eu quero é destilar as emoções

Sentimental eu ficoQuando pouso na mesa de um bar

Eu sou um lobo cansado carenteDe cerveja e velhos amigos

E os projetos todos tolos combinadosPerecerão nas margens da manhã

Uma tontura solta na cabeçaUm olho em Deus e outro com satã

E quando o sol raiar desentendidoEu vou ferir a vista na manhã

E olharei pra quem vai pro trabalhoCom os olhos feito os olhos de uma rã

T r a n s v e r s a l d o t e m p oJoão Bosco/Aldir BlancElis – 1977

As coisas que eu sei de mim são pivetes da cidade. Pedem, insistem e eu me sinto pouco à vontade.Fechada dentro de um táxi, numa transversal do tempo. Acho que o amor é a ausência de engarrafamento.As coisas que eu sei de mim tentam vencer a distância. E é como se aguardassem feridas numa ambulância.As pobres coisas que eu sei podem morrer, mas espero. Como se houvesse um sinal sem sair do amarelo.

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Sinal FechadoPaulinho da Viola

Transversal do tempo – 1978

– Olá, como vai?– Eu vou indo, e você, tudo bem?

– Tudo bem, eu vou indo correndoPegar meu lugar no futuro. E você?– Tudo bem, eu vou indo em buscaDe um sono tranqüilo, quem sabe?

– Quanto tempo…– Pois é, quanto tempo…

– Me perdoe a pressaÉ a alma dos nossos negócios.

– Oh! não tem de quêEu também só ando a cem

– Quando é que você telefona?Precisamos nos ver por aí

– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos– Quem sabe?

– Quanto tempo…– Pois é, quanto tempo…

– Tanta coisa que eu tinha a dizerMas eu sumi na poeira das ruas– Eu também tenho algo a dizer

Mas me foge a lembrança– Por favor, telefone, eu preciso beber

Alguma coisa, rapidamente– Pra semana...

– O sinal...– Eu procuro você...

– Vai abrir...– Prometo, não esqueço– Por favor, não esqueça

– Adeus,– Não esqueço, adeus.

Deus lhe pagueChico BuarqueTransversal do tempo – 1978

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir Por me deixar respirar, por me deixar existir Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí" Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir Um crime pra comentar e um samba pra distrair Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir E pelo grito demente que nos ajuda a fugir Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir E pelas moscar-bicheiras a nos beijar e cobrir E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Deus lhe pague

João Bosco/Aldir BlancTransversal do tempo – 1978

Os boias-friasQuando tomam umas biritasEspantando a tristezaSonham com bife à cavalo, batata-fritaE a sobremesaÉ goiabada cascãoCom muito queijoDepois café, cigarroE um beijo de uma mulataChamada Leonor ou Dagmar

AmarO rádio de pilhaO fogão jacaréA marmitaO domingoO barOnde tantos iguaisSe reúnem contando mentirasPra poder suportar

Ai, são pais-de-santo, paus-de-araras são passistasSão flagelados, são pingentes, balconistasPalhaços, marcianos, canibais, lírios, piradosDançando, dormindo de olhos abertos à sombra da alegoriaDos faraós embalsamados

ConstruçãoChico BuarqueTransversal do tempo – 1978

Amou daquela vez como se fosse a últimaBeijou sua mulher como se fosse a últimaE cada filho seu como se fosse o únicoE atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquinaErgueu no patamar quatro paredes sólidasTijolo com tijolo num desenho mágicoSeus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábadoComeu feijão com arroz como se fosse um príncipeBebeu e soluçou como se fosse um náufragoDançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbadoE flutuou no ar como se fosse um pássaroE se acabou no chão feito um pacote flácidoAgonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

O rancho da goiabada64

BotoTom Jobim/JararacaTransversal do tempo – 1978

A praia de dentro tem areiaA praia de fora tem o marUm boto casado com sereiaNavega num rio pelo mar

O corpo dum bicho deu na praiaE a alma perdida quer voltarCaranguejo conversa com arraiaMarcando a viagem pelo ar

Ainda ontem vim de lá do PilarOntem vim de lá do PilarCom vontade de ir por aí

Na ilha deserta o sol desmaiaDo alto do morro vê-se o marPapagaio discute com JandaiaSe o homem foi feito pra voar

Inhambu cantou lá na florestaE o velho Jereba fêz-se ao arSapo querendo entrar na festaViola pesada pra voar

Ainda ontem vim de lá do PilarOntem vim de lá do PilarCom vontade de ir por aí

Camiranga, urubu, mestre do ventoUrubu caçador, mestre do arUrutau cantando num lamentoPra lua redonda navegar

Cão sem donoSueli Costa/Paulo César Pinheiro

Transversal do tempo – 1978

É nas noites que eu passo sem sonoEntre o copo, a vitrola e a fumaça

Que ergo a torre do meu abandonoE que caio em desgraça

É nas horas em que a noite faz frioE a lembrança ao castigo me arrasta

Solidão é o carrasco sombrioE a saudade a vergasta

Se eu cantar a alegria sai falsaSe eu calar a tristeza começaE eu prefiro dançar uma valsa

Que ouvir uma peça

E eu recuo, eu prossigo e eu me ajeitoEu me omito, eu me envolvo e eu me abalo

Eu me irrito, eu odeio, eu exitoEu reflito e me calo

Saudosa malocaAdoniran BarbosaTransversal do tempo – 1978

Se o sinhô não tá lembrado, dá licença de contar.Ali onde agora está este adifício arto, era uma casa véia, um palacete assobradado.Foi aqui seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joca, construimo nossa maloca.Mais um dia – nóis nem pode se alembrá – veio os home co’as ferramenta e o dono mandô derrubá.

Peguemos todas nossas coisa, e fumos pro meio da rua apreciá a demolição.Que tristeza que nóis sentia. Cada táuba que caía doía no coração.

Matogrosso quis gritar, mas por cima eu falei: – Os home tá co'a razão. Nóis arranja outro lugar.

Só se conformemo quando o Joca falou: – Deus dá o frio conforme o cobertor.E hoje nóis pega paia nas grama do jardim. E pra esquecer nóis cantemos assim:

– Saudosa maloca... maloca querida! Dim dim donde nóis passemo os dias feliz da nossa vida.

Querelas do BrasilMaurício Tapajós/Aldir BlancTransversal do tempo – 1978

O Brazil não conhece o BrasilO Brasil nunca foi ao Brazil

Tapi, jabuti, iliana, alamandra, alialaúdePiau, ururau, aquiataúdePiau, carioca, moreca, meganhaJobim akarare e jobim açuOh, oh, oh

Pererê, camará, gororó, olererêPiriri, ratatá, karatê, olará

O Brazil não merece o BrasilO Brazil tá matando o Brasil

Gereba, saci, caandra, desmunhas, ariranha, aranhaSertões, guimarães, bachianas, águasE marionaíma, ariraribóiaNa aura das mãos do jobim açuOh, oh, oh

Gererê, sarará, cururu, olerêRatatá, bafafá, sururu, olará

Do Brasil S.O.S. ao Brasil

Tinhorão, urutú, sucuriO Jobim, sabiá, bem-te-viCabuçu, cordovil, Caxambi, olerêMadureira, Olaria e Bangu, olaráCascadura, Água Santa, Pari, olerêIpanema e Nova Iguaçu, olará

Do Brasil S.O.S. ao BrasilDo Brasil S.O.S. ao Brasil

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Meio-termoLourenço Baeta/CacasoTransversal do tempo – 1978

Ah! como eu tenho me enganado...Como tenho me matado por ter demais confiado nas evidências do amor.

Como tenho andado certo... como tenho andado errado...Por seu carinho inseguro... por meu caminho deserto...

Como tenho me encontrado... como tenho descobertoa sombra leve da morte passando sempre por perto.

E o sentimento mais breve rola no ar e descreve a eterna cicatriz.Mais uma vez... mais de uma vez...Quase que fui feliz.

A barra do amor é que ele é meio êrmo.A barra da morte é que ela não tem meio-termo.

CorposIvan Lins/Vítor MartinsTransversal do tempo – 1978

Existem mais mundos, ou altos ou fundos, entre eu e você.Existem mais corpos, ou vivos ou mortos, entre eu e você.

Procure saber... procure em você... procure em mim.Procure em todos... na lama, no lodo, na febre, no fogo.

Existem mais mundos, ou altos ou fundos, entre eu e você.Existem mais corpos, ou vivos ou mortos, entre eu e você.

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Noves foraFagner/BelchiorElis especial – 1979

Meu Deus!O que é que eu faço?Tua beleza tá me carregando pelo braço

Da laranja eu quero um gomoDo limão quero um pedaçoE da menina mais bonitaEu quero um beijo e um abraço

É tudo ou nadaNoves fora nadaÉ tudo ou nadaNoves fora nada

Ja rezei até pro meu santoNa terra CanindéQue me dê amor bem grandeQue pequeno não dá pé

É tudo ou nadaNoves fora nadaÉ tudo ou nadaNoves fora nada

A tua falta somadaA minha vida tão diminuidaCom esta dor multiplicadaPelo fator despedida

Deixou minha alma muito divididaEm frações tão desiguaisE desde a horaEm que você foi emboraSou um zero e nada mais

Um, dois, trêsEne infinitoDo meu lado esquerdoÉ você que é demais

João Bosco/Aldir BlancElis especial – 1979

Vivia entre bordadosPensativa Violeta

A branca adolescenteDe raro encanto e mão frias

Mão fria, coração quenteQuem te botou quebranto

Vivia triste no cantoPassando as contas do terço

São José tirando a barbaMe lembra alguém que eu conheço

Um dia um menino cegoTocou Violeta e viu

E depois o surdo ouviuChagas sumiram, curou-se o coxo

Por obra e graçaDe santa Violeta de Belfort Roxo

E, milagre dos milagresSem jamais haver provado

O leito nupcialVioleta deu à luz

Um bebê de vitral, em meio ao "É hoje só"Da terça de carnaval

O alentado rebentoVai se chamar Juvenal

Por sinal o mesmo nomeDe um sargento do local

Ou bola ou búlicaJoão Bosco/Aldir BlancElis especial – 1979

É tanto nem se discute no meio, tou meia tantã, lélé.Mas ninguém fica pra sempre na frente de "vejo amanhã" pois é.Barba, cabelo, bigode, na marra você me arrancou, mas quemtem cabelinho na venta, não senta, não vai nesse andor, morou?

Chega, já foi tempo do "tá louca"Chega, dá o fora que eu tou nas bocasChega, eu nunca mais dormi de toucaChega eu nunca mais, nunca mais

Selo, carimbo, estampilha no centro da cuca eu levei, calei.Mas sou marraio no jogo, no tronco ferido eu sou rei, falei.Tempo há pro tabibitati sotaque só falta engasgar, porqueé bola ou búlica, é fogo esse jogo, não dá pra enganar, nêga.

Dá o fora sua louca.Eu nunca mais vou dormir de touca.

CredoMilton Nascimento/Fernando BrantElis especial – 1979

Caminhando pela noite de nossa cidadeAcendendo a esperança e apagando a escuridãoVamos, caminhando pelas ruas de nossa cidadeViver derramando a juventude pelos corações

Tenha fé no nosso povo que ele resiste

Tenha fé no nosso povo que ele insisteE acorda novo, forte, alegre, cheio de paixãoVamos, caminhando de mãos dadas com a alma novaViver semeando a liberdade em cada coração

Tenha fé no nosso povo que ele acorda Tenha fé em nosso povo que ele assusta

Caminhando e vivendo com a alma abertaAquecidos pelo sol que vem depois do temporalVamos, companheiros pelas ruas de nossa cidadeCantar semeando um sonho que vai ter de ser real

Caminhemos pela noite com a esperançaCaminhemos pela noite com a juventude

Dinorah, DinorahIvan Lins/Vítor MartinsElis especial – 1979

Quando a turma reunia alguém sempre pediaAh, Dinorah, DinorahE o malandro descrevia e logo já se viaÉ, Dinorah, DinorahE até que ela chegasse a um motel de classeUi, Dinorah, DinorahDava um frio na barriga e pé pra muita brigaUi, Dinorah, Dinorah

E nos espelhos ela se despeDança nos olhos uma chacreteE o pessoal na pior: repete!

Mas o verdadeiro fato está dentro do quartoUi, Dinorah, DinorahEle abre o seu armário e vê no calendárioÉ, Dinorah, DinorahE se abraça em frente a ela, o terno, o corpo delaUi, Dinorah, DinorahDesenhando na lapela a boca, o beijo delaAh, Dinorah, Dinorah

Violeta de Belford Roxo

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Joana francesaChico BuarqueElis especial – 1979

Tu ris, tu mens tropTu pleures, tu meurs tropTu as le tropiqueDans le sang et sur la peau

Geme de loucura e de torporJá é madrugadaAcorda, acorda, acorda, acorda, acorda

Mata-me de rirFala-me de amorSonges et mensongesSei de longe e sei de cor

Geme de prazer e de pavorJá é madrugadaAcorda, acorda, acorda, acorda, acorda

Vem molhar meu coloVou te consolarVem, mulato moleDance dans mes brasVem, moleque me dizerOnde é que estáTon soleil, ta braise

Quem me enfeitiçouO mar, marée, bateauTu as le parfumDe la cachaça e de suor

Geme de preguiça e de calorJá é madrugadaAcorda, acorda, acorda, acorda, acordaAcorda, acorda, acorda, acorda, acorda

Bodas de prataJoão Bosco/Aldir Blanc

Elis especial – 1979Luz das estrelas – 1984

Você fica deitada de olhos arregaladosOu andando no escuro de peignoir

Não adiantou nadaCortar os cabelos e jogar no mar

Não adiantou nada o banho de ervasNão adiantou nada o nome da outra

No pano vermelho pro anjo das trevasEle vai voltar tarde cheirando à cerveja

Se atirar de sapatos na cama vaziaE dormir na hora mormurando: "Dora"

Mas você é MariaVocê fica deitada com medo do escuro

Ouvindo bater no ouvidoO coração descompassado

É o tempo, Maria, te comendo feito traçaNum vestido de noivado

EntrudoCarlos LyraElis especial – 1979

Vem, oh minha amadaDesce a estrada de rainhaNum passo de rancho corre o mantoNo medo e espanto morre minha alegria

Vem, oh, fantasiaArrasta a saia, rasga o diaMeu passo é o compasso na avenidaTeu riso que dança, trança, triste e sofrido

Se meu abandonoEm cinzas frias amanheceMas o sangue não se cansaNão se esquece de chamar

E eu abro alas, jogo lançasSerpentinas de cores feridasE rompo estandartes na avenida em dorSem céu, sem luz, sem sol, sem cor

Mas vem, ou tudo ou nadaMeu entrudo, minha esperaMeus campos de guerra, vem amadaDe tanto que eu chamo, canto, peço e preciso

BonitaTom Jobim/Gene Lees/Ray Gilbert

Elis especial – 1979

What can I say to you Bonita What magic words would capture you Like a soft evasive mist you are Bonita

You fly away when love is new What do you ask of me Bonita

What part do you want me to play Shall I be the clown for you Bonita

I will be anything you say Bonita

Don't run away Bonita Bonita

Don't be afraid to fall in love with me I love you

I tell you I love you,Bonita

If you love me Life will be beautiful

Bonita, Bonita

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Valsa ranchoFrancis Hime/Chico Buarque

Elis especial – 1979

Valsa, ranchaMe faz esquecer

EsperarEm mil lágrimas

Mil lágrimasMil lágrimas

Valsa, ranchaMe faz responder

TransbordarEm mil lágrimas

Mil lágrimasMil lágrimas

Mil abraçosMil fracassosMeu delírio

Teus pedaçosTeu calorSeja feito

Teu desejoSeja um beijoSeja como for

Quantos braçosMil regaços

Mil e um noitesFaz um outra vez

Como se ainda fosseComo é doce

Como você fez

Me valsaMe ranchaMe fazMe deixaQue criançaQue esperançaQue prazerQue saudadeQue maldadePiedadeQue farturaQue loucuraQue cruel torturaNos carinhos teusMinha santa criaturaDiz que juraPela mãe de Deus

Valsa, ranchaMe faz desfazerDescansarDe mil lágrimasMil lágrimasMil lágrimas

Valsa ranchaMe faz duvidar DelirarPrometerDesatarResponderTransbordarDevolverMe acabarDevagarDesmaiarCom você

Deixa o mundo e o sol entrarMarcos Valle/Paulo Sérgio ValleElis especial – 1979

De repente, vejo bemEu sou alguém com medo de viverSou prisioneiro das coisas que eu ameiMas não tem sentido estar na vidaPreso a quem não quero mais

De outro lado está vocêNessas promessas vou, quase sem verQue esse amor aflito, guardado só pra nósDe tão grande já não dá no quartoPede o mundo e a luz do sol

Meu passado já morreuQuem veio dele, sei, vai me entenderQue o amor existe enquanto há paixãoSiga minha amiga pela vidaE que eu viva um novo amor

De outro lado estamos nósSem compromissos, vem, sem lar, sem leiSiga minha amante enquanto houver amorAbre as portas todas deste quartoDeixa o mundo e o sol entrar

Cai dentroBaden Powell/Paulo César PinheiroEssa mulher – 1979Montreaux Jazz Festival – 1982

Até que eu vou gostar Se de repente combina da gente se cruzar Ora, veja só, pois é, pode apostar Se você gosta de samba, encosta e ve se dá

VemPode chegar Que vai ter De balancear De bambolear E aqui no mocó Tem que dizer no gogóPois é, vem Tem que dar nó, vem Rebolar, remexer, requebrar, vem

Bota a baiana pra rodar De cima em baixo eu quero ver Não sossego o facho até acabar Diz que isso é com você

Quaquaquá-quará-quaquá

Tem nêgo querendo lhe gozar E logo prá cima de “moi”E é por isso que nao tem colher de chá... Não dou Nem vem na cola, que se entrar de sola vai dançar E é prá nunca mais você poder falarQue dá na bola porque na bola você não dá.Viu?

69

João Bosco/Aldir BlancEssa mulher – 1979

Caía a tarde feito um viadutoE um bêbado trajando lutoMe lembrou CarlitosA lua, tal qual a dona de um bordelPedia a cada estrela friaUm brilho de aluguel

E nuvens, lá no mata-borrão do céuChupavam manchas torturadasQue sufoco!Louco!O bêbado com chapéu-cocoFazia irreverências milPra noite do Brasil

Meu BrasilQue sonha com a volta do irmão do HenfilCom tanta gente que partiuNum rabo de fogueteChora a nossa pátria, mãe gentilChoram Marias e ClaricesNo solo do Brasil

Mas sei que uma dor assim pungenteNão há de ser inutilmenteA esperançaDança na corda bamba de sombrinhaE em cada passo dessa linhaPode se machucarAzar!A esperança equilibristaSabe que o show de todo artistaTem que continuar

Essa mulherJoyce/Ana TerraEssa mulher – 1979

De manhã cedo essa senhora se conformaBota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhosAh, como essa santa não se esqueceDe pedir pelas mulheres, pelos filhos, pelo pãoDepois sorri meio sem graçaE abraça aquele homem, aquele mundo que a faz assim feliz

De tardezinha essa menina se namoraSe enfeita, se decora, sabe tudo, não faz malAh, como essa coisa é tão bonitaSer cantora, ser artista, isso tudo é muito bomE chora tanto de prazer e de agoniaDe algum dia, qualquer dia, entender de ser feliz

De madrugada essa mulher faz tanto estragoTira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o barAh, como essa louca se esquece Quanto os homens enlouquece nessa boca, nesse chãoDepois parece que acha graçaE agradece ao destino aquilo tudo que a faz tão infeliz

Essa menina, essa mulher, essa senhoraEm quem esbarro a toda hora no espelho casualÉ feita de sombra e tanta luzDe tanta lama e tanta cruz que acha tudo natural

Basta de clamares inocênciaCartolaEssa mulher – 1979

Basta de clamares inocênciaEu sei todo o mal que a mim você fezVocê desconhece consciênciaSó deseja o mal a quem o bem te fez

Basta! Não ajoelhes, vá emboraSe estás arrempedidoVê se chora

Quando você partiuMe disse choraNão choreiCaprichosamente fui esquecendoQue te ameiHoje me encontras tão alegre e diferenteJesus não castiga um filho que está inocente

Basta não ajoelhes, vá embora Se estás arrependida Vê se chora

Beguine dodóiJoão Bosco/Aldir Blanc/Cláudio Tolomei

Essa mulher – 1979

Olha, meu bemO que restou daquele grande herói

Sem ter amor, enlouqueci e ando dodói

Como Tarzan depois da gripe,De emplastro sabiá

Tomando cana nos botequinsEu vou me acabar

Espremo cravos defronte ao espelhoLembrando você

Faço novena, tomo gemadaAh, não dá mais!

Julio Lousada que me socorraNessa aflição mortal

Maracujina já não resolveAo recordar

Meias fumê, ligas vermelhas e um olhar fatalMinha Dalila, volta depressa

Que o teu Sansão tá mal

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O bêbado e a equilibrista

Eu, heim, Rosa!João Nogueira/Paulo César PinheiroEssa mulher – 1979

Eu, hein, rosa!Se manca, segura essa banca de escrupulosaEu, hein, rosa!O meu jogo é na retranca, área muito perigosa

Você parece que nem lembra mais de tempos atrásA tua figura era vergonhosaEu me reparti querendo reconstituirA quem hoje me vira o rosto assimMas eu nem me abaloVocê vai cair do cavaloQuando precisar de mim

Eu, hein, rosa!Vem mansa porque a contradança é mais audaciosaEu, hein, rosa!Apela pra ignorancia é coisa indecorosa

Acho que estou é forçando demais as cordas vocaisVocê naõ merece um dedo de prosaE pra resumir, faço questão de conferirSe se quebra ou não um vaso ruimSaia no pinoteSenão vai ser de camaroteQue eu vou assistir seu fim

Altos e baixosSueli Costa/Aldir Blanc

Essa mulher – 1979

Foi, quem sabe, esse discoEsse risco de sombra em teus cílios

Foi ou não meu poema no chãoOu talvez nossos filhos

As sandálias de saltos tão altosO relógio batendo, o sol posto, o relógioAs sandálias, e eu bantendo em teu rosto

E a queda dos saltos tão altosSobre os nossos filhos

Com um raio de sangue no chãoDo risco em teus cílios

Foram discos demais, desculpas demaisJá vão tarde essas tardes e mais tuas aulas

Meu táxi, whisky, Dietil, DiempaxAh, mas há que se louvar entre altos e baixos

O amor quando traz tanta vida

Bolerodesatã

Guinga/Paulo César PinheiroEssa mulher – 1979

Você penetrou como o sol da manhãE em nós começou uma festa pagã

Você libertou em você a infernal cortezãE em mim despertou esse amorAtormentado e mal de Satã

Você me deixou como o fim da manhãE em mim começou esse angústia, esse afã

Você me plantou a paixão imortal e mal sãQue se enraizou e será meu maldito final amanhã

E agora me aperta a afliçãoDe chorar louca e só de manhã

É a seta do arco da noiteSangrando-me agora

São lágrimas, sangue, venenoCorrendo no meu coração

Formando-me dentro esse pântano de solidão

Tunai/Sérgio NaturezaEssa mulher – 1979Saudade do Brasil – 1980

As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amamPorque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixõesOs corações pegam fogo e depois não há nada que os apagueSe a combustão os persegue, as labaredas e as brasasSão o alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordaçãoDos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver

As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amamPoque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixõesOs corações viram gelo e, depois, não há nada que os degeleSe a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o serNão há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentarNão há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor

As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamamPorque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixõesOs corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro invernoMas o verão que os unira, ainda, vive e transpira aliNos corpos juntos na lareira, na reticente primaveraNo insistente perfume de alguma coisa chamada amor

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As aparências enganam

Pé sem cabeçaDanilo Caymmi/Ana TerraEssa mulher – 1979

Você me fez sofrerNinguém me faz sofrer assimO que era tanta belezaNum pé sem cabeça, você transformouMas você onde estáNão me viu, não será?Que teu sono vai ter pazSe meu rosto se acender, brilharSe teu olho te trair, não vai durarSeu porto seguro, seu lugar comumVocê navegando pra lugar nenhumQuem sabe de tudoNão sabe o seu fimMas eu não me quero fugindo daquiTambém não te deixo zombando de mimQuem sabe de tudo não sabe seu fim

RebentoGilberto GilElis – 1980Vento de maio – 1981Montreaux Jazz Festival – 1982

Rebento, substantivo abstratoO ato, a criação e o seu momentoComo uma estrela nova e o seu baratoQue só Deus sabe lá no firmamento

Rebento, tudo que nasce é rebentoTudo que brota, tudo que vinga, tudo que medraRebento raro, como flor na pedraRebento farto, como trigo ao vento

Outras vezes rebento simplesmenteNo presente do indicativoComo a corrente de uma cão furiosoCom as mãos de um lavrador ativo

Ás vezes mesmo perigosamenteComo acidente em forno radioativoÁs vezes só porque fico nervosa Eu Rebento Ou necessariamente só por que estou vivo

Rebento, a reação imediata A cada sensação de abatimento Eu Rebento, o coração dizendo bata A cada bofetão do sofrimento Eu Rebento, como um trovão dentro da mata E a imensidão do som desse momento

No céu da vibraçãoGilberto Gil1980

Os homens são mortaisTodos os animaisOs vegetais também o sãoComo seráNão ser assim?Não precisarO começo, o meio, o fimA encarnação, Deus?Como seráNão estar aqui nem láE tão somente andar ao léuNo céu da vibração?

Para os olhos, fez-se a corPara os ouvidos, o somPara os corações, o fogo do amorE para os puros, o que é bom

Só me resta agradecerE aguardar a ocasiãoDe tão somente andar ao léuNo céu da vibração

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O medo de amar é o medo de ser livreBeto Guedes/Fernando Brant

Elis – 1980Vento de maio – 1981

Trem azul – 1982

O medo de amar é o medo de ser Livre para o que der e vier

Livre para sempre estar onde o justo estiver

O medo de amar é o medo de ter De a todo momento escolher

Com acerto e precisão a melhor direção

O sol levantou mais cedo e quis Em nossa casa fechada entrar

Prá ficar

O medo de amar é não arriscar Esperando que façam por nós

O que é nosso dever: recusar o poder

O sol levantou mais cedo e cegou O medo nos olhos de quem foi ver

Tanta luz

Aprendendo a jogarGuilherme Arantes

Elis – 1980Vento de maio – 1981

Trem azul – 1982

Vivendo e aprendendo a jogarVivendo e aprendendo a jogar

Nem sempre ganhandoNem sempre perdendoMas, aprendendo a jogar

Água mole em pedra duraMas vale que dois voando

Se eu nascesse assim pra luaNão estaria trabalhando

Mas em casa de ferreiroQuem com ferro se fere é bobo

Cria a fama, deita na camaQuero ver o berreiro na hora do lobo

Quem tem amigo cachorroQuer sarna para se coçar

Boca fechada não entra besouroMacaco que muito pular quer dançar

Só Deus é quem sabeGuilherme ArantesElis – 1980Vento de maio – 1981

Não, não sei guardar ressentimetoEu hoje lembro com ternura cada momentoPromessas de nós dois naqueles diasO tempo transformou-as em palavras vazias

Ás vezes a paixão nos traiuÁs vezes foi a voz que mentiuMas nada disso importaO que vale é o que sorte escreveuSó Deus é quem sabe do amorEu não sei nada Só sei que a vida nos prepara cada ciladaE é inútil se tentar fugir da longa estrada

O trem azulLô Borges/Ronaldo BastosElis – 1980Vento de maio – 1981Trem azul – 1982

Coisas que a gente se esquece de dizerFrases que o vento tem as vezes me lembrarCoisas que ficaram muito tempo por dizerNa canção do vento não se cansam de voar

Você pega o trem azulO sol na cabeçaVocê pega o trem azulVocê na cabeçaO sol na cabeça

Sai dessaNatan Marques/Ana TerraElis – 1980Vento de maio – 1981Trem azul – 1982

Sonhei que existia uma avenidaSem entrada e sem saída pra gente comemorarToda hora, todo dia, toda vidaNa tristeza e na alegria, sem platéia e sem patrão

Hoje eu sonhei que cerveja sai da bicaNo banheiro não tem fila nem existe contramãoQue o trabalho é ali na nossa esquinaE depois do meio dia, nem polícia e nem ladrão

Sonhei, como faço todo diaComo você não sabia, meu senhor não levo a malA beleza, o amor, a fantasiaO que tece e o que desfia não se aprende no jornal

Hoje eu sonhei, mas não vou pedir desculpasE nem vou levar a culpa de ser povo e ser artistaSem essa, moço, por favor não crie climaSeu buraco é mais embaixo, nosso astral é mais em cima

Nova estaçãoLuiz Guedes/Thomas RothElis – 1980Vento de maio – 1981

Nova esperançaBate coraçãoRenascer cada dia com a luz da manhãDespertar sem medoEnganar a dorDisfarçar essa mágoa que anda solta no ar

Ter que acreditar no regresso da estaçãoComo o sol volta a brilhar, como as chuvas de verãoTer que acreditar só pra ter razãoDe sonhar mais uma vez

Nova esperançaBate coraçãoRenascer cada dia com a luz da manhãSemear a terraCerto de colher da semente o frutoDepois descansar

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Vento de maioTelo Borges/Márcio Borges

Elis – 1980 (Com Lô Borges)Vento de maio – 1981 (Com Lô Borges)

Trem azul – 1982

Vento de raioRainha de maioEstrela cadente

Chegou de repente o fim da viagemAgora já não dá mais pra voltar atrás

Rainha de maio, valeu o teu piqueApenas para chover no meu piquenique

Assim meu sapato coberto de barroApenas pra não parar nem voltar atrás

Rainha de maio valeu a viagemAgora já não dá mais

Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção(Vento solar e estrela do mar…)

Sol, girassol, e meus olhos ardendo de tanto cigarroE quase que eu me esqueci

Que o tempo não pára, nem vai esperar

Vento de maioRainha dos raios de sol

Vá no teu pique estrela cadente até nunca maisNão te maltrates nem tentes voltar o que não tem mais vez

Nem lembro teu nome nem seiEstrela qualquer lá no fundo do mar

Vento de maioRainha dos raios de sol

Rainha de maio, valeu o teu piqueApenas para chover no meu piquenique

Assim meu sapato coberto de barroApenas pra não parar nem voltar atrás

74

75

Pra que que eu fui lembrar dos óio deleJabuticaba madura

Coração cabeça-duraTeima, bate até que fura

Desconjura e negaceiaFeito lobo em lua cheia

Na cadeia desse olhar

Que arrepia, esfria e me dáTaquicardia, falta de ar

É o coração que desde pro calcanhar de aquilesDoce suplício do amor

Faquires tiram partido da dor

Que bate, come e repinicaFeito fome de lumbriga

Na barriga da misériaCoração cabeça velha

Me virando do avessoInventei qualquer pretexto

Fui pedir para voltar

Cheguei no prédio, errei de andarNo elevador um gordo me dá

Um pisão no calo que me enxotou de láMancando

Sei que esse amor vai ficar sangrando No peito e no calcanhar de aquiles Doce suplício do amor Faquires tiram partido da dor Que dá lembrar dos olhos dele

Alô, alô marcianoAqui quem fala é da TerraPra variar, estamos em guerraVocê não imagina a loucuraO ser humano tá na maior fissura porqueTá cada vez mais down no high society!

Alô, alô marcianoA crise tá virando zonaCada um por si, todo mundo na lonaE lá se foi a mordomiaTem muito rei aí pedindo alforria porqueTá cada vez mais down no high society!

Alô, alô marcianoA coisa tá ficando ruça

Muita patrulha, muita bagunçaO muro começou a pichar

Tem sempre um aiatolá prá atolá,Aláh!Tá cada vez mais down no high society!

Maria, MariaÉ um dom, uma certa magia

Uma força que nos alertaUma mulher que merece viver e amar

Como outra qualquer do planeta

Maria, MariaÉ o som, é a cor, é o suorÉ a dose mais forte e lenta

De uma gente que ri quando deve chorarE não vive, apenas agüenta

Mas é preciso ter forçaÉ preciso ter raça

É preciso ter gana sempreQuem traz no corpo a marca

Maria, MariaMistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manhaÉ preciso ter graça

É preciso ter sonho sempreQuem traz na pele essa marca

Possui a estranha maniaDe ter fé na vida

Amigo é coisa pra se guardarDebaixo de 7 chavesDentro do coração

Assim falava a cançãoQue na América ouvi

Mas quem cantava chorouAo ver seu amigo partir

Mas quem ficou, no pensamento voouCom seu canto que o outro lembrouE quem voou, no pensamento ficou

Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa pra se guardarNo lado esquerdo do peito

Mesmo que o tempo e a distância digam nãoMesmo esquecendo a canção

O que importa é ouvirA voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vierQualquer dia, amigo eu volto a te encontrar

Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar

Calcanharde Aquiles

Jean Garfunkel/Paulo GarfunkelElis – 1980

Vento de maio – 1981

MariaMariaMilton NascimentoSaudade do Brasil – 1980Trem azul – 1982Montreaux Jazz Festival – 1982

Alô alômarciano

Rita Lee/Roberto de CarvalhoSaudade do Brasil – 1980

Trem azul – 1982 Canção daAméricaMilton Nascimento/Fernando BrantSaudade do Brasil – 1980Trem azul – 1982

Sueli Costa/Abel SilvaSaudade do Brasil – 1980

Quero cantar pra vocêSegunda-feira de manhãPelo seu rádio de pilha tão docementeE te ajudar a encarar esse dia mais facilmente

Quero juntar minha voz matinalAos restos dos sons noturnosE aos cheiros domingueiros que ainda boiamNa casa e em você

Para que junto com o café e o pão se dêO milagre de ouvir latir o coraçãoOu quem sabe algum projeto, uma lembrançaUma saudade à toaVenha nascendo com o dia numa boa

E estar com você na primeira brasa do cigarroNo primeiro jorro da torneiraNos primeiros aprontos de um guerreiro de manhã

Para que saias com alguma alegria bem normalQue dure pelo menos até você comprar e lerO primeiro jornal

Juca ChavesSaudade do Brasil – 1980

Bossa Nova mesmo é ser PresidenteDesta terra descoberta por Cabral,Para tanto basta ser tão simplesmenteSimpático, risonho, original.Depois desfrutar da maravilhaDe ser o Presidente do Brasil,Voar da velha capta BrasíliaSer alvorada e voar de volta ao rei.

Voar, voar, voar,Voar, voar pra bem distanteA que versales onde duas mineirinhas valsinhasDançam como duas debutantes, interessante...Mandar parente a jato pro dentista,Almoçar com o tenista campeão,Também poder ser um grande artista exclusivistaTomando com Dilermando umas aulinhas de violão.Isto é viver como se aprova,É ser um Presidente Bossa Nova,Bossa Nova, muito nova, nova mesmo, ultranova.

Fátima GuedesSaudade do Brasil – 1980Montreaux Jazz Festival – 1982

Por engano, vingança ou cortesiaTava lá morto e posto, um desgarradoOnze tiros fizeram a avariaE o morto já tava conformado

Onze tiros e não sei porque tantosEsses tempos não tão pra ninhariaNão fosse a vez daquele um outro ia

Deus o livre morrer assassinadoPro seu santo não era um qualquer umTrês dias num terreno abandonadoOstentando onze fitas de Ogum

Quantas vezes se leu só nesta semanaEssa história contada assim por cimaA verdade não rimaA verdade não rimaA verdade não rima

Onze fitas

Agora táO primeiro jornal

Tunai/Sérgio NaturezaSaudade do Brasil – 1980

Montreaux Jazz Festival – 1982

Já que tá aíPela metade, mas tá

Melhor cuidar pra peteca não cairPra não deixar escapulir

Como água no ralo

Aquilo que já fez caloDoeu feito joanete

Castigou nosso cavaloCortou como canivete

Feriu, mexeu, mixou

Nunca comeu meladoVai lambuzar

Se vacilar pode cantar pra subirPorque não dá pra começar

Todo rolo de novo

Se o bolo fica sem ovoSe a massa não tem fermento

Se não cozinhar por dentroVai tudo por água abaixo

Eu acho, acho, acho que agora táQuase no ponto tá

No ponto de provarEu acho que agora tá

No ponto de solar

Acho que agora tápra lá de pronto táacho que agora táacho que agora tá

já que tá aí

76

Presidentebossa nova

Jerônimo Jardim/Ivaldo RoqueSaudade do Brasil – 1980

Quando te prendo na cadeia dos abraçosE te torturo, e te sufoco em meus braços

E te fuzilo com os olhos do desejoTe mordendo no gosto do meu beijo

Quando te arranho, te lanho de ternuraVertendo sangue do teu corpo de malíciaQuando te xingo com palavras obcenas

Como jurasse as juras mais serenas

Quando me vingo dos males que me fazesCom frazes de maldade e veneno

Sinto, meu amor, que o amor é issoEssas coisas muito fora de juízo

MarambaiaHenricão/Rubens CamposSaudade do Brasil – 1980

Eu tenho uma casinha lá na MarambaiaFica na beira da praia só vendo que belezaTem uma trepadeira que na primaveraFica toda florescida de brincos de princesa

Quando chega o verão eu sento na varandaPego o meu violão e começo a cantarE o meu moreno fica sempre bem dispostoSenta ao meu lado e começa a cantar

Quando chega a tarde um bando de andorinhasVoa em revoada fazendo verãoE lá na mata o sabiá gorjeiaLinda melodia pra alegrar meu coraçãoÀs seis horas o sino da capelaToca as badaladas da Ave-MariaA lua nasce por detrás da serraAnunciando que acabou o dia

MeninoMilton Nascimento/Fernando Brant

Saudade do Brasil – 1980

Quem cala sobre teu corpoConsente na tua morte

Talhada a ferro e fogoNas profundezas do corteQue a bala riscou no peito

Quem cala morre contigoMais morto que estás agora

Relógio no chão da praçaBatendo, avisando a hora

Que a raiva traçou no tempo

No incêndio repetidoO brilho do teu cabelo

Quem grita vive contigo

Mundo novo

Luiz Gonzaga Jr.Saudade do Brasil – 1980

Vou buscar um mundo novo, vida novaE ver se dessa vez faço um final felizDeixar de lado aquela velha história

O verso usado, o canto antigo

Vou dizer adeusFazer de tudo e todos mera lembrança

Deixar de ser só esperançaE por minhas mãos lutando

Me superar

Vou rasgar no tempoO meu próprio caminho

E, assim, abrir meu peito ao ventoMe libertar

De ser somente aquilo que se esperaEm forma, jeito, luz e cor

E vou...

Vou pegar um mundo novo, vida novaVou buscar um mundo novo, vida nova

Vida nova

77

Moda de sangue

Aos nossos filhosIvan Lins/Vítor Martins

Saudade do Brasil – 1980

Perdoem a cara amarradaPerdoem a falta de abraçoPerdoem a falta de espaço

Os dias eram assim

Perdoem por tantos perigosPerdoem a falta de abrigoPerdoem a falta de amigos

Os dias eram assim

Perdoem a falta de folhasPerdoem a falta de ar

Perdoem a falta de escolhaOs dias eram assim

E quando passarem a limpoE quando cortarem os laçosE quando soltarem os cintos

Façam a festa por mim

Quando lavarem a mágoaQuando lavarem a almaQuando lavarem a água

Lavem os olhos por mim

Quando brotarem as floresQuando crescerem as matasQuando colherem os frutos

Digam o gosto pra mim

SabiáTom Jobim/Chico BuarqueSaudade do Brasil – 1980

Vou voltarSei que ainda vou voltarPara o meu lugarFoi lá e é ainda láQue eu hei de ouvir cantarUma sabiáCantar uma sabiá

Vou voltar,Sei que ainda vou voltarVou deitar à sombra de uma palmeiraQue já não háColher a flor que já não dáE algum amor, talvez possa espantarAs noites que eu não queriaE anunciar o dia

Vou voltarSei que ainda vou voltarNão vai ser em vãoQue fiz tantos planos de me enganarComo fiz enganos de me encontrarComo fiz estradas de me perderFiz de tudo e nada de te esquecer

O pequeno exiladoRaul EllwangerRaul Ellwanger – 1980

Navegas, navegas, navegasLá do outro lado do oceanoNa palma da mão já carregaVinte m il léguas de sonhos

Seguingo teu pai que te levaA bordo dos teus nove anosPequeno exilado sem pátriaNavegas teu barco de enganos

Navegas teus olhos molhadosNa capital dos francesesCarregas teus olhos choradosContando dias e meses

Menino crescido sem terraTeu único plano primeiroÉ ver terminar tanta esperaÉ ser cidadão brasileiro

Guerreiro do bairro da GlóriaDoende do bairro FlorestaVem cá conhecer nossa históriaMalandros, calçadas e festas

Só quero te ver na cidadeCantando em bom PortuguêsCanções de gritar liberdadeDaquela que usa o Francês

Vou me embora vou me embora…

78

Luiz Gonzaga Jr.Saudade do Brasil – 1980

Como se fora brincadeira de roda memóriaJogo do trabalho na dança das mãos maciasO suor dos corpos na canção da vida históriaO suor da vida no calor de irmãos magiaComo um animal que sabe da floresta memóriaRedescobrir o sal que está na própria pele, maciaRedescobrir o doce no lamber das línguas maciasRedescobrir o gosto e o sabor da festa magiaVai o bicho homem fruto da semente memóriaRenascer da própria força, própria luz e fé memóriaEntender que tudo é nosso, sempre esteve em nós históriaSomos a semente, ato, mente e voz magiaNão tenha medo, meu menino bobo, memóriaTudo principia na própria pessoa belezaVai como a criança que não teme o tempo mistérioAmor se fazer é tão prazer que é como se fosse dor magiaComo se fora brincadeira de roda memóriaJogo do trabalho na dança das mãos maciasO suor dos corpos na canção da vida históriaO suor da vida no calor de irmãos magia

R e d e s c o b r i r

79

O que foi feito devera (de Vera)Milton Nascimento/Fernando BrantClube da Esquina 2 – 1978 (Com Milton Nascimento)Saudade do Brasil – 1980Vento de maio – 1981 (Com Milton Nascimento)Trem azul – 1982

O que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou?O que foi feito da vida, o que foi feito do amor?Quisera encontrarAaquele verso menino que escreviHá tantos anos atrás

Falo assim com saudade, falo assim por saberSe muito vale o já feito, mas vale o que seráMas vale o que seráE o que foi feito é preciso conhecerPara melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza, falo por acreditarQue é cobrando o que fomos que nós iremos crescerNós iremos crescerOutros outubros virão, outras manhãsPlenas de sol e de luz

Alertem todos alarmas que o homem que eu era voltouA tribo toda reunida, ração dividida ao solDe nossa Vera CruzQuando o descanso era luta pelo pãoE aventura sem parar

Quando o cansaço era rio e rio qualquer dava péE a cabeça rodava num gira-girar de amorE até mesmo a féNão era cega nem nadaEra só núvem no céu e raiz

Hoje essa vida só cabe na palma da minha paixãoDevera nunca se acabe, abelha fazendo o seu melNo pranto que crieiNem vá dormir como pedraE esquecer o que foi feito de nós

Outro caisMarilton Borges/Duca LealOs Borges – 1980Vento de maio – 1981

Me atraiu o teu cantoRespirei o teu arTe arranquei do teu caisMe lancei no teu mar

Te cobri com meu mantoDescansei nessas ondasMisturamos nosso sangueJuntos fomos dançar

Na baixa do sapateiroAry BarrosoMontreaux Jazz Festival – 1982

Na Baixa do Sapateiro eu encontrei um diaO moreno mais folgado da BahiaPedi-lhe um beijo, não deuUm abraço, sorriuPedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu

Bahia, terra da felicidadeMoreno, eu ando louca de saudadeMeu Senhor do BonfimArranje outro moreno igualzinho pra mim

Oh! amor, aiAmor bobagem que a gente não explica, ai aiProva um bocadinho, ôFica envenenado, ôE pro resto da vida é um tal de sofrerÔlará, ôlerê

Ô BahiaBahia que não me sai do pensamentoFaço o meu lamento, ôNa desesperança, ôDe encontrar nesse mundoUm amor que eu perdi na Bahia, vou contar

Ô BahiaBahia que não me sai do pensamento

Tiro ao álvaroAdoniran Barbosa/Oswaldo MolesAdoniran e convidados – 1980Vento de maio – 1981

De tanto levar frechada do teu olharMeu peito até parece, sabe o que? Táubua de tiro ao álvaro, não tem mais onde furar

Teu olhar mata mais do que bala de carabinaQue veneno estriquininaQue peixeira de baianoTeu olhar mata mais Que atropelamento de automóverMata mais que bala de revórver

80

Se eu quiser falar com DeusGilberto Gil

Vento de maio – 1981Trem azul – 1982

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que ficar a sós

Tenho que apagar a luz

Tenho que calar a voz

Tenho que encontrar a paz

Tenho que folgar os nós dos sapatos

Da gravata

Dos desejos

Dos receios

Tenho que esquecer a data

Tenho que perder a conta

Tenho que ter mãos vazias

Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que aceitar a dor

Tenho que comer o pão

Que o diabo amassou

Tenho que virar um cão

Tenho que lamber o chão dos palácios

Dos castelos suntuosos dos meus sonhos

Tenho que me ver tristonho

Tenho que me achar medonho

E apesar de um mal tamanho

Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que me aventurar

Tenho que subir aos céus

Sem cordas pra segurar

Tenho que dizer adeus

Dar as costas

Caminhar decidido

Pela estrada que ao findar vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Do que eu pensava encontrar

Cobra criadaJoão Bosco/Paulo EmílioMontreaux Jazz Festival – 1982

Suco de sururucuDiga lá jacu

Cutia comadrePosta de pirarucu

Diga lá cajuBarata cascuda

Gruta de veiúva negraCaranguejeiraSaúva coruja

Rastro de jararucuJararacoral

Piranha calungaDiaba de banda retrai

De carataíTraíra de dente de dáE cada dentada que dá

Cascudo caráPurús juruá

Mordida no maracujáDe cobra criada no marChocalha no cadê você

Sussurra no bote que dáCurare de cobra suga e sai

Picada de cobra amor não dói

A corujinhaToquinho/Vinícius de Morais

A arca de noé – 1980

Corujinha, corujinha Que peninha de você

Fica toda encolhidinha Sempre olhando não sei que

O teu canto de repente Faz a gente estremecer

Corujinha, pobrezinha Todo mundo que te vê

Diz assim, ah! coitadinha Que feinha que é você

Quando a noite vem chegando Chega o teu amanhecer

E se o sol vem despontando Vais voando te esconder

Hoje em dia andas vaidosa Orgulhosa com quê

Toda noite tua carinha Aparece na TV

Corujinha, corujinha Que feinha que é você!

81

Garota de IpanemaTom Jobim/Vinícius de Morais/Vs. Ing. Norman GimbelMontreaux Jazz Festival – 1982

Olha, que coisa mais lindaMais cheia de graçaÉ ela, menina, que vem e que passaNum doce balanço, a caminho do marMoça do corpo douradoDo sol de IpanemaO seu balançadoÉ mais que um poemaÉ a coisa mais lindaQue eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?Ah, por que tudo é tão triste?Ah, a beleza que existeA beleza que não é só minhaQue também passa sozinha

Ah, se ela soubesse que quando ela passaO mundo inteirinho se enche de graçaE fica mais lindo por causa do amor

Girl from Ipanema

Tall and tan and young and lovelyThe girl from ipanema goes walkingAnd when she passes, each one she passes goes – ah

When she walks, she’s like a sambaThat swings so cool and sways so gentleThat when she passes, each one she passes goes – ooh

(ooh) but I watch her so sadlyHow can I tell her I love herYes I would give my heart gladly

But each day, when she walks to the seaShe looks straight ahead, not at me

Tall, (and) tan, (and) young, (and) lovelyThe girl from ipanema goes walkingAnd when she passes, I smile – but she doesn’t see (doesn’t see)(she just doesn’t see, she never sees me,...)

Asa brancaLuiz Gonzaga/Humberto Teixeira

Montreaux Jazz Festival – 1982

Quando olhei a terra ardendoQual fogueira de São João

Eu perguntei a meu Deus do CéuPorque tamanha judiação

Quando olhei a terra ardendoQual fogueira de São João

Entonce eu disse:“Adeus Rosinha,Guarda contigo meu coração”

Fé cega, faca amoladaMilton Nascimento/Ronaldo Bastos

Montreaux Jazz Festival – 1982

Agora eu não pergunto mais aonde vai a estrada Agora eu não espero mais aquela madrugada

Vai ser, vai ser, vai ter que ser, vai ser, faca amolada O brilho cego de paixão e fé, faca amolada

Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranqüilo Deixar o seu amor crescer e ser muito tranqüilo

Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada Um brilho cego de paixão e fé, faca amolada

Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia Beber o vinho e renascer na luz de cada dia

A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada O chão, o chão, o sal da terra o chão, faca amolada

Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia

Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser muito tranqÄilo Um brilho cego de paixão e fé, faca amolada

82

Me deixas loucaArmando Manzanero/Vs. Paulo CoelhoTrem azul – 1982

Quando caminho pela rua lado a lado com vocêMe deixas loucaE quando escuto o som alegre do teu risoQue me dá tanta alegria, me deixas louca

Me deixas louca quando vejo mais um diaPouco a pouco entardecerE chega a hora de ir pro quarto escutarAs coisas lindas que começas a dizerMe deixas louca

Quando me pedes por favor que nossa lâmpada se apagueMe deixas loucaQuando transmites o calor de tuas mãosPro meu corpo que te esperaMe deixas louca

E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costasDesaparecem as palavras, outros sons enchem o espaçoVocê me abraça, a noite passaE me deixas louca

Sinto os teus braços se cruzando em minhas costasDesaparecem as palavras, outros sons enchem o espaçoVocê me abraça, a noite passaE me deixas louca

Lança perfumeRita Lee/Roberto de CarvalhoTrem azul – 1982

Lança, lança perfumeLança, lança perfume

Lança meninaLança todo este perfumeDesbaratinaNão dá pra ficar imuneAo seu amorQue tem cheiro de coisa maluca

Vem cá meu bemMe descola uma carinhoEu sou nénémSó sossego com beijinhoE ve se me dáO prazer de ter prazer comigo

Me aqueçaMe vira de ponta cabeçaMe faz de gato e sapato eMe deixa de quatro no atoMe enche de amor , de amor

Lança, lança pefumeoh oh oh oh lança, lança perfumeLança perfume

MancadaGilberto Gil

Montreaux Jazz Festival – 1982

O dinheiro que eu lhe dei Pro tamborim Não vá gastar

Depois jogar a culpa em mim

O dinheiro que eu lhe dei Não é meu, não

É da escola Por favor, não mete a mão

Você lembra muito bem No outro carnaval

Você chorou porque não pôde desfilar A fantasia que eu mandei você comprar

Não ficou prontaPorque o dinheiro que eu lhe dei pra costurar

Você (hum, hum)...Eu nem vou dizer pra não lhe envergonhar

Samba dobradoDjavanMontreaux Jazz Festival – 1982

Vai ser pior ainda quando amanhecerTudo que se tem pra cantarNão pra embalar nem pra devolverO direito de escolherA música melhor para se dançar

Quem faz parte dessa cena pode rodarPra cumprir a mesma penaNão é preciso ensaiarTá combinadoBasta aprender a sambar dobrado

Valsa de EurídiceVinícius de MoraisTrem azul – 1982

Tantas vezes já partisteQue chego a desesperarChorei tanto, estou tão tristeQue já nem sei mais chorarOh, meu amado, não partaNão parta de mimOh, uma partida que não tem fimNão há nada que conforteA falta dos olhos teusPensa que a saudadePode matar-meAdeus

83

Imagino-te já idosa,

Frondosa toda a folhagem,

Multiplicada a ramagem

De agora.

Tendo tudo transcorrido,

Flores e frutos da imagem

Com que faço essa viagem

Pelo reino do teu nome,

Oh, Flora!

Imagino-te jaqueira

Prostrada à beira da estrada

Velha, forte, farta, bela

Senhora.

Pelo chão, muitos caroços,

Como que restos dos nossos

Próprios sonhos devorados

Pelo pássaro da aurora,

Oh, Flora!

Imagino-te futura,

Ainda mais linda, madura,

Pura no sabor de amor e

De amora.

Toda aquela luz acesa

Na doçura e na beleza,

Terei sono, com certeza,

Debaixo da tua sombra,

Oh, Flora!

84 Flora

Gilberto GilTrem azul – 1982

Aqui é o país do futebolMilton Nascimento/Fernando BrantTrem azul – 1982

Brasil está vazio na tarde de domingo, né?olha o sambão aqui é o país do futebol

No fundo desse paísAo longo das avenidasNos campos de terra e gramaBrasil só é futebolNestes noventa minutos De emoção e alegriaEsqueço a casa e o trabalhoA vida fica lá foraA fome fica lá foraDinheiro fica lá foraA cama fica lá foraFamília fica lá foraA vida fica lá foraE tudo fica lá fora...

(Texto de Fernando Faro)

“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.E todas as figuras são assim...Desenhos de luz, agrupamentos de pontos de partículas.Um quadro de impulsos, um processamento de sinais.E assim – dizem – recontam a vida.Agora retiram de mim a cobertura da carne.Escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos.E aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.Um rascunho...Um forma nebulosa, feita de luz e sombra.Como uma estrela...

Agora eu sou uma estrela!”

Amante à moda antiga(trecho)

Roberto Carlos/Erasmo CarlosTrem azul – 1982

Eu sou aquele amante à moda antigaDio tipo que ainda manda flores

Apesar do velho tienis e da calça desbotadaAinda chamo de querida a namorada

A minha namorada…

Começar de novo (trecho)Ivan Lins/Vítor Martins

Trem azul – 1982

Começar de novoE contar comigoVai valer a penaTer amanhecidoTer me rebelado

Ter me consumidoTer me machucado

Ter sobrevivido

Menino do Rio (trecho)Caetano VelosoTrem azul – 1982

Menino do RioCalor que provoca arrepioDragão tatuado no espaço

Calção, corpo aberto no estpaçoCoração

De eterno flerteAdoro ver-teMenino vadio

Tesão flutuante do RioEu peço pra Deus proteger-te

85

Velho arvoredoHélio Delmiro/Paulo César PinheiroLuz das estrelas – 1984

Eu te esqueci muito cedoPelo tempo que passouTal como um velho arvoredoQue o vento não derrubou

Tronco mudado em rochedoPedra transformada em florE eu fui ficando sozinho no pó do caminhoMe desenganando, sofrendo e chorando

E mantendo em segredoEssa minha ilusãoQue me escapou de entre os dedosPra não sei que outras mãos

E eu me tornei o arremedoDe tudo aquilo que eu não souMas eu jamais retrocedoO que passou passou

Já superei, mas só eu seiO mesmo jamais eu sereiFeito a madeira o machado inclinandoEu por fora estou cicatrizando

E por dentro sangrando, afastado do medoMas sozinho, tal como o velho arvoredoQue não serve ao tempo nem ao lenhadorE o vento abandonou

Para Lennon& McCartneyLô Borges/Márcio Borges/Fernando BrantLuz das estrelas – 1984

Por que vocês não sabem do lixo ocidental?Não precisam mais temerNão precisam da solidãoTodo dia é dia de viver

Por que você não verá meu lado ocidental?Não precisa medo nãoNão precisa da timidezTodo dia é dia de viver

Eu sou da América do SulEu sei, vocês não vão saberMas agora sou cowboySou do ouro, eu sou vocêsSou do mundo, sou Minas Gerais

Por que vocês não sabem do lixo ocidental?Não precisam mais temerNão precisam da solidãoTodo dia é dia de viver

Eu sou da América do SulEu sei, vocês não vão saberMas agora sou cowboySou do ouro, eu sou vocêsSou do mundo, sou Minas Gerais

No dia em que euvim-me emboraCaetano Veloso/Gilberto GilLuz das estrelas – 1984

No dia em que eu vim-me emboraMinha mãe chorava em aiMinha irmã chorava em uiE eu nem olhava pra trás

No dia que eu vim-me emboraNão teve nada de mais

Mala de couro forradaCom pano forte, brim cáquiMinha vó já quase mortaMinha mãe até a portaMinha irmã até a ruaE até o porto meu pai

O qual não disse palavraDurante todo o caminhoE quando eu me vi sozinhoVi que não entendia nadaNem de pro que eu ia indoNem dos sonhos que eu sonhava

Senti apenas que a malaDe couro que eu carregavaEmbora estando forradaFedia, cheirava mal

Afora isto ia indo, atravessando, seguindoNem chorando nem sorrindoSozinho pra CapitalNem chorando nem sorrindo

Sozinho pra CapitalSozinho pra CapitalSozinho pra CapitalSozinho pra Capital

86

A banca dodistintoBilly BlancoLuz das estrelas – 1984

Não fala com pobre,Não dá mão a preto,Não carrega embrulho.Para quê tanta posse doutor? Para que esse orgulho? A bruxa que é cega esbarra na gente,A vida estanca.O enfarte te pega Doutor ! Acaba essa banca !

A vaidade é assim,Põe o tonto no alto, retira a escada.Fica por perto, esperando sentada,Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão.

Mais alto o coqueiro maior é o tombo do cocoAfinal todo o mundo é igualQuando o tombo termina,Com terra por cima e na horizontal.

CorsárioJoão Bosco/Aldir BlancLuz das estrelas – 1984

Meu coração tropical está coberto de neveMas ferve em seu cofre gelado, a voz vibra e a mão escreve: MarBendita a lâmina grave que fere a paredeE traz as febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais

RoseiraisNova Granada de EspanhaPor você, eu, teu corsário presoVou partir a geleira azul da solidãoE buscar a mão do marMe arrastar até o marProcurar o mar

Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o marMeu coração tropical partirá esse gelo e iráCom as garrafas de náufragos e as rosas partindo o arNova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar

Gol anuladoJoão Bosco/Aldir BlancLuz das estrelas – 1984

Quando você gritou: Mengo!No segundo gol do ZicoTirei sem pensar o cintoE bati até cansar

Três anos vivendo juntosE eu sempre disse contente:Minha preta é uma rainhaPorque não teme o batenteSe garante na cozinhaE ainda é Vasco doente

Daquele gol até hoje o meu radio está desligadoComo se radiasse o silencio de um amor terminadoEu aprendi que a alegria de quem está apaixonadoÉ como a falsa euforia de um gol anulado

87

General da banda

José Alcides/Satiro de Melo/Tancredo Silva

Chegou general da banda ê êChegou general da banda ê aChegou general da banda ê êChegou general da banda ê aMourão, mourãoVara madura que não caiMourão, mourão, mourãoCatuca por baixo que ele vaiMourão, mourãoVara madura que não caiMourão, mourão, mourãoCatuca por baixo que ele vaiChegou general da banda ê êChegou general da banda ê aChegou general da banda ê êChegou general da banda ê a

Porto dos casaisJaime Lewgoy Lubianca

É sempre bom lembrar coisas passadasRever os lampiões, os ancestraisSingrando o Guaíba, apareceramOs velhos fundadores coloniais

Chegaram tão alegres, alegres por demaisFundaram este Porto dos CasaisÉ porto, Porto Alegre, antigo Dos CasaisSaudades dos tempos que não vêm mais

Lembre-seSergio Natureza/Tunai

Longe

Sombras desenhadas no horizonteCavalos cobertos de ouro e bronzeVassalos de um rei de não sei ondeCavaleiros estrangeirosA bandeira do invasor

Noite

E um tropel atravessa a fumaça

Tropas

Tropeçando num céu de fogo e prata

O mundo acabou de repenteQuando a manhã começavaA dor começou com o chicoteCom as esporas com as espadas

Terror

Das legiões das ambições e praças

Chagas

No seio de uma terra abençoada

O céu desabou de repenteQuando a gente levantavaO pó levantou sufocandoQuem vivia respirava

Passou

O tempo mas não apagou a marca

Marcou

Nos corações nas mentes e nas praças

Hoje

Na memória viva de uma raçaUm pavor latente e uma ameaçaE um canto maior que todo medoEspalhando amor por onde passa

88

My FunnyVa l e n t i n e

Rodgers/Hart

My funny valentineSweet comic valentine

You make me smile with my heartYour looks are laughable

UnphotographableYet you’re my favourite work of art

Is your figure less than greekIs your mouth a little weak

When you open it to speakAre you smart?

But don’t change a hair for meNot if you care for meStay little valentine stay

Each day is valentine’s dayIs your figure less than greek

Is your mouth a little weakWhen you open it to speak

Are you smart?But don’t you change one hair for me

Not if you care for meStay little valentine stay

Each day is valentine’s day

Yes te rdayJohn Lennon/Paul McCartney

YesterdayAll my troubles seemed so far awayNow it looks as though they're here to stayOh, I believeIn yesterdaySuddenlyI'm not half the man I used to beThere's a shadow hanging over meOh, yesterdayCame suddenlyWhy sheHad to go I don't knowShe wouldn't sayI saidSomething wrong now I longFor yesterdayYesterdayLove was such an easy game to playNow I need a place to hide awayOh, I believeIn yesterdayWhy sheHad to go I don't knowShe wouldn't sayI saidSomething wrong now I longFor yesterdayYesterdayLove was such an easy game to playNow I need a place to hide awayOh, I believeIn yesterday

DindiTom Jobim/Aloysio de Oliveira/Ray Gilbert

Céu, tão grande é o céuE bandos de nuvens que passam ligeirasPrá onde elas vãoAh! eu não sei, não seiE o vento que fala nas folhasContando as históriasQue são de ninguémMas que são minhasE de você tambémAh! DindiSe soubesses do bem que eu te queroO mundo seria, Dindi, tudo, DindiLindo DindiAh! DindiSe um dia você for embora me leva contigo, DindiFica, Dindi, olha DindiE as águas deste rio aonde vão eu não seiA minha vida inteira esperei, espereiPor você, DindiQue é a coisa mais linda que existeVocê não existe, DindiOlha, DindiAdivinha, DindiDeixa, DindiQue eu te adore, Dindi... Dindi

89

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasVivem pros seu maridos, orgulho e raça de AtenasQuando andas, se perfumamSe banham com leite, se arrumamSuas melenasQuando fustigadas não choramSe ajoelham, pedem, imploramMais duras penasCadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasSofrem pros seus maridos, poder e força de AtenasQuando eles embarcam, soldadosElas tecem longos bordadosMil quarentenasE quando eles voltam sedentosQuerem arrancar violentosCarícias plenasObscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasDespem-se pros maridos, bravos guerreiros de AtenasQuando eles se entopem de vinhoCostumam buscar o carinhoDe outras felenasMas no fim da noite, aos pedaçosQuase sempre voltam pros braçosDe suas pequenasHelenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasGeram pros seus maridos os novos filhos de AtenasElas não têm gosto ou vontadeNem defeito nem qualidadeTêm medo apenasNão têm sonhos, só têm presságiosLindas sirenasMorenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasTemem por seus maridos, heróis e amantes de AtenasAs jovens viúvas marcadasE as gestantes abandonadasNão fazem cenasVestem-se de negro, se encolhemSe conformam e se recolhemÀs suas novenasSerenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasSecam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas

90

Mulheresde Atenas

Chico Buarque

San VicenteMilton Nascimento/Fernando Brant

Coração americanoAcordei de um sonho estranhoUm gosto vidro e corteUm sabor de chocolateNo corpo e na cidadeUm sabor de vida e morteCoração americanoUm sabor de vidro e corte

A espera da fila imensaE o corpo negro se esqueceuEstava em San VicenteA cidade, suas luzesEstava em San VicenteAs mulheres e os homensCoração americanoUm sabor de vidro e corte

As horas não se contavamE o que era negro anoiteceuEnquanto se esperavaEu estava em San VicenteEnquanto aconteciaEu estava em San VicenteCoração americanoUm sabor de vidro e corte

Jesus CristoRoberto Carlos/Erasmo Carlos

Jesus Cristo, Jesus Cristo, Jesus Cristo eu estou aqui... (bis)

Olho pro céu e vejo uma nuvem branca que vai passandoOlho pra terra e vejo uma multidão que vai caminhandoComo essa nuvem branca essa gente não sabe aonde vai

Quem poderá dizer o caminho certo é você meu pai

Toda essa multidão tem no peito amor e procura a pazE apesar de tudo a esperança não se desfaz

Olhando a flor que nasce no chão daquele que tem amorOlho pro céu e sinto crescer a fé no meu Salvador

Em cada esquina eu vejo o olhar perdido de um irmãoEm busca do mesmo bem nessa direção caminhando vem

É meu desejo ver aumentando sempre essa procissãoPara que todos cantem com a mesma voz essa oração

Sá MarinaAntonio Adolfo/Tiberio Gaspar

Descendo a rua da ladeiraSó quem viu que pode contarCheirando a flor de laranjeira

Sá Marina vem pra cantarDe saia branca costumeira

Gira o sol que parou pra olharCom seu jeitinho tão faceira

Fez o povo inteiro cantar

Roda pela vida aforaE põe pra fora, essa alegria

Dança que amanhece o dia pra se cantarDança que essa gente aflita

Se agita e segue, no seu passoMostra toda essa poesia no olhar

Deixando os versos na partidaE só cantigas pra se cantarNaquela tarde de domingo

Fez o povo inteiro cantar

E fez o povo inteiro cantarE fez o povo inteiro cantarE fez o povo inteiro cantar

91

Índices

93

1, 2, 3, balançou 8

20 anos blue 46

A banca do distinto 87

A corujinha 81

A dama do apocalipse 63

A fia de Chico Brito 43

À noite 8

A noite do meu bem (La nuit de mon amour) 35

A time for love 37

A Virgem de Macareña (La Virgen de la Macareña) 7

A volta 37

Adeus amor 8

Agnus sei 50

Agora ninguém chora mais 16

Agora tá 76

Águas de março 48

Aleluia 21

Alô alô marciano 75

Alô saudade 9

Alô, alô, taí Carmen Miranda 46

Alto da Bronze 57

Altos e baixos 71

Amante à moda antiga 85

Amor até o fim 25

Amor demais 20

Amor em paz 16

Amor, amor (Love, love) 3

Andança 36

Aos nossos filhos 78

Aprendendo a jogar 73

Aquarela do Brasil 35

Aquele abraço 39

Aqui é o país do futebol 85

Arrastão 13

As aparências enganam 71

As coisas que eu gosto (My favorite things) 3

As curvas da estrada de Santos 40

Asa branca 82

Até aí morreu Neves 41

Atrás da porta 47

Aviso aos navegantes 44

Baby Face 3

Bala com bala 46

Basta de clamares inocência 70

Beguine dodói 70

Bicho do mato 41

Black is beautiful 44

Boa noite, amor 49

Boa palavra 27

Bocochê 16

Bodas de prata 68

Boi barroso 57

Bolero de satã 71

Bom tempo 32

Bonita 68

Boto 65

Brigas nunca mais 55

Cabaré 50

Caça à raposa 53

Cadeira vazia 56

Cai dentro 69

Cais 47

Calcanhar de Aquiles 75

Can't take my eyes off you 39

Canção da América 75

Canção de enganar despedida 6

Canção de não cantar 29

Canção do amanhecer 19

Canção do sal 28

Cantador 29

Canto de Ossanha 23

Canto triste 22

Cão sem dono 65

Carinhoso 28

Carta ao mar 33

Cartomante 61

Caso no campo 43

Caxangá 62

Chegança 20

Chovendo na roseira 56

Cinema Olympia 44

Cobra criada 81

Colagem 61

Comadre 51

Começar de novo 85

Como nossos pais 58

Comunicação 42

Confissão 6

Consolação/Berimbau/Tem dó 21

Construção 64

Conversando no bar 52

Copacabana velha de guerra 42

Corcovado 54

Corpos 66

Corrida de jangada 33

Corsário 87

Credo 67

Cruz de cinza, cruz de sal 30

Da cor do pecado 32

Dá sorte 2

Dá-me um beijo (Kiss me, kiss me) 5

De onde vens 32

Deixa 35

Deixa o mundo e o sol entrar 69

Dengosa 7

Deus lhe pague 64

Devagar com a louça 15

Dindi 89

Dinorah, Dinorah 67

Discussão 15

Índicegeral

94

Doente morena 49

Dois prá lá, dois prá cá 53

Domingo em Copacabana 10

Dor de Covelo 3

É com esse que eu vou 51

Ela 45

Ensaio geral 22

Entrudo 68

Essa mulher 70

Esse mundo é meu 19

Estatuinha 27

Estrada do sol 45

Eternidade 21

Eu só queria saber 17

Eu, heim, Rosa! 71

Fala-me de amor (Take me in your arms) 2

Falei e disse 44

Falsa Bahiana 17

Fascinação 59

Fé cega, faca amolada 82

Fechado pra balanço 41

Flertei 8

Flora 84

Folhas secas 51

Formiguinha triste 7

Formosa 15

Fotografia 56

Frevo 41

Garota de Ipanema (Girl from Ipanema) 82

Garoto último tipo (Puppy Love) 3

General da banda 88

Giro 36

Glden slumbers 43

Gol anulado 87

Gracias a la vida 60

Há uma história triste 10

Homens de preto 57

How insensitive (Insensatez) 38

Ih! Meu Deus do céu! 43

Imagem 29

Influência do jazz 15

Inútil paisagem 55

Irene 38

Jardins da infância 60

Jesus Cristo 91

Joana francesa 68

João valentão 20

Jogo de roda 22

Ladeira da preguiça 51

Lança perfume 83

Lapinha 31

Las secretárias 6

Lembre-se 88

Los hermanos 59

Louvação 24

Lunik 9 26

Madalena 44

Mancada 83

Manhã de amor 9

Mania de gostar 9

Manifesto 30

Marambaia 77

Marcha de quarta-feira de cinzas 30

Maria do Maranhão 20

Maria Maria 75

Maria Rosa 53

Mas que nada 16

Me deixa em paz 49

Me deixas louca 83

Meio de campo 50

Meio-termo 66

Memórias de Marta Saré 37

Menino 77

Menino das laranjas 14

Menino do Rio 85

Mesmo de mentira 3

Meu pequeno mundo de ilusão(My little corner of the world) 5

Meus olhos 10

Minha 38

Moda de sangue 77

Modinha 54

Morro velho 62

Mucuripe 46

Mulata assanhada 16

Mulheres de Atenas 90

Mundo de paz 11

Mundo deserto 45

Mundo novo vida nova 77

Murmúrio 2

My funny valentine 89

Na baixa do sapateiro 80

Na batucada da vida 52

Nada será como antes 42

Não tenha medo 42

Nêga do cabelo duro 35

No céu da vibração 72

No dia em que eu vim-me embora 86

Noite dos Mascarados 34

Noite dos Mascarados (La nuit des masques) 34

Nos teus lábios 5

Nova estação 73

Noves fora 67

O barquinho 36

O bêbado e a equilibrista 70

O bem do amor 11

O caçador de esmeralda 50

O cavaleiro e os moinhos 60

O compositor me disse 53

O medo de amar é o medo de ser livre 73

O mestre-sala dos mares 52

O pequeno exilado 78

O primeiro jornal 76

O que foi feito devera (de Vera) 80

O que tinha de ser 55

O rancho da goiabada 64

O sonho 36

O trem azul 73

Olhos abertos 47

Onze fitas 76

Oriente 49

Os argonautas 45

Osanah 42

Ou bola ou búlica 67

Outra vez (Again) 7

Outro cais 80

Para Lennon & McCartney 86

Pé sem cabeça 72

Perdão não tem 38

Pizzicati pizzicato 6

Podes voltar 6

Poema 4

Pois é 54

Ponta de areia 52

Por toda minha vida 55

Por um amor maior 20

Pororó-Popó 5

Porto dos casais 88

Pout Pourri (2 na bossa) 12

Pout Pourri de introcução (2 na Bossa 2) 24

Pout Pourri de Mangueira 29

Pout Pourri Romântico 30

Prá dizer adeus 25

Preciso aprender a ser só 13

Presidente bossa nova 76

Qualquer dia 61

Querelas do Brasil 65

Quero 59

Rebento 72

Récit de Cassard 36

Redescobrir 79

Resolução 19

Ressurreição 8

Retorno 10

Retrato em branco e preto 55

Reza 14

Roda 26

Romaria 63

Rosa morena 22

Sá Marina 91

Sabiá 78

Sai dessa 73

Samba da benção (Samba saravah) 31

Samba da pergunta 37

Samba do avião 15

Samba do perdão 31

Samba dobrado 83

Samba em paz 25

Samba feito para mim 2

San Vicente 91

Saudade e carinho 9

Saudade é recordar 5

Saudosa maloca 65

Saveiros 21

Se acaso você chegasse 17

Se eu quiser falar com Deus 81

Se você pensa 38

Se você quiser 9

Sem Deus com a família 14

Sem teu amor 9

Sentimental eu fico 63

Silêncio 8

Sinal fechado 64

Só Deus é quem sabe 73

Só tinha de ser com você 54

Somewhere 17

Soneto de separação 56

Sonhando (Dream) 2

Sonho de Maria 27

Sou sem paz 20

Tango italiano 7

Tatuagem 60

Té o sol raiar 19

Telefone 17

Tem mais samba 28

Tereza sabe sambar 28

Terra de ninguém 13

These are the songs 42

Tiradentes 46

Tiro ao álvaro 80

Transversal do tempo 63

Travessia 52

Tributo à Mangueira 33

Tributo a Tom Jobim 32

Tristeza 35

Tristeza 54

Tristeza de carnaval 7

Tristeza que se foi 25

Tu serás 2

Último canto 21

Um novo rumo 35

Um por todos 59

Upa, neguinho 25

Valsa de Eurídice 83

Valsa rancho 69

Vecchio novo 61

Veleiro 27

Velha roupa colorida 58

Velho arvoredo 86

Vem balançar 15

Vento de maio 74

Vera Cruz 36

Vexamão 38

Vida de bailarina 47

Violeta de Belford Roxo 67

Viramundo 33

Vou comprar um coração 5

Vou deitar e rolar 41

Watch what happens 38

Wave 37

Yê-melê 31

Yesterday 89

Zambi 18

Zazueira 39

95

Principais compositores96

Adoniran Barbosa

Saudosa maloca 65Tiro ao álvaro 80

Aldir Blanc

Agnus sei 50Altos e baixos 71Bala com bala 46Beguine dodói 70Bodas de prata 68Cabaré 50Caça à raposa 53Comadre 51Corsário 87Dois prá lá, dois prá cá 53Ela 45Gol anulado 87Jardins da infância 60O bêbado e a equilibrista 70O caçador de esmeralda 50O cavaleiro e os moinhos 60O mestre-sala dos mares 52Ou bola ou búlica 67Querelas do Brasil 65Transversal do tempo 63Um por todos 59Violeta de Belford Roxo 67

Ana Terra

Essa mulher 70Pé sem cabeça 72Sai dessa 73

Ary Barroso

Aquarela do Brasil 35Na baixa do sapateiro 80Na batucada da vida 52

Baden Powell

Aviso aos navegantes 44Bocochê 16Cai dentro 69Canto de Ossanha 23Consolação/Berimbau/Tem dó 21Deixa 35Falei e disse 44Formosa 15Lapinha 31Samba da benção (Samba saravah) 31Samba do perdão 31Se você quiser 9Té o sol raiar 19Vou deitar e rolar

41

Belchior

Como nossos pais 58Mucuripe 46Noves fora 67Velha roupa colorida 58

Caetano Veloso

Boa palavra 27Cinema Olympia 44Irene 38Menino do Rio 85Não tenha medo 42No dia em que eu vim-me embora 86Os argonautas 45Samba em paz 25

Carlos Lyra

Entrudo 68Influência do jazz 15Marcha de quarta-feira de cinzas 30Maria do Maranhão 20

Chico Buarque

Atrás da porta 47Bom tempo 32Construção 64Deus lhe pague 64Joana francesa 68Mulheres de Atenas 90Noite dos Mascarados 34Noite dos Mascarados (La nuit des masques)34Pois é 54Retrato em branco e preto 55Sabiá 78Só tinha de ser com você 54Tatuagem 60Tem mais samba 28Valsa rancho 69

97

Claudio Lucci

Colagem 61Vecchio novo 61

Dory Caymmi & Nelson Motta

Cantador 29De onde vens 32Saveiros 21

Dorival Caymmi

João valentão 20Rosa morena 22

Edu Lobo

Aleluia 21Arrastão 13Canção do amanhecer 19Canto triste 22Chegança 20Corrida de jangada 33Estatuinha 27Jogo de roda 22Memórias de Marta Saré 37Prá dizer adeus 25Resolução 19Reza 14Upa, neguinho 25Veleiro 27Zambi 18

Francis Hime

Atrás da porta 47Minha 38Por um amor maior 20Tereza sabe sambar 28Último canto 21Valsa rancho 69

Fred Jorge

Baby Face 3Garoto último tipo (Puppy Love) 3Pizzicati pizzicato 6

Gilberto Gil

Amor até o fim 25Aquele abraço 39Doente morena 49Ensaio geral 22Fechado pra balanço 41Flora 84Ladeira da preguiça 51Louvação 24Lunik 9 26Mancada 83Meio de campo 50No dia em que eu vim-me embora 86No céu da vibração 72O compositor me disse 53Oriente 49Rebento 72Roda 26Se eu quiser falar com Deus 81Viramundo 33

Guilherme Arantes

Aprendendo a jogar 73Só Deus é quem sabe 73

Ivan Lins

Aos nossos filhos 78Cartomante 61Começar de novo 85Corpos 66Dinorah, Dinorah 67Ih! Meu Deus do céu! 43Madalena 44Me deixa em paz 49Qualquer dia 61

João Bosco

Agnus sei 50Bala com bala 46Beguine dodói 70Bodas de prata 68Cabaré 50Caça à raposa 53Cobra criada 81Comadre 51Corsário 87Dois prá lá, dois prá cá 53Gol anulado 87Jardins da infância 60O bêbado e a equilibrista 70O caçador de esmeralda 50O cavaleiro e os moinhos 60O mestre-sala dos mares 52O rancho da goiabada 64Ou bola ou búlica 67Transversal do tempo 63Um por todos 59Violeta de Belford Roxo 67

98

Jorge Ben

Agora ninguém chora mais 16Bicho do mato 41Mas que nada 16Zazueira 39

Lupicínio Rodrigues

Cadeira vazia 56Maria Rosa 53

Marcos & Paulo Sérgio Valle

Black is beautiful 44Deixa o mundo e o sol entrar 69Preciso aprender a ser só 13Sonho de Maria 27Terra de ninguém 13

Milton Nascimento

Aqui é o país do futebol 85Cais 47Canção da América 75Canção do sal 28Caxangá 62Conversando no bar 52Credo 67Fé cega, faca amolada 82Maria Maria 75Menino 77Morro velho 62Nada será como antes 42O que foi feito devera (de Vera) 80Ponta de areia 52San Vicente 91Travessia 52Vera Cruz 36

Paulo César Pinheiro

Aviso aos navegantes 44Bolero de satã 71Cai dentro 69Cão sem dono 65Eu, heim, Rosa! 71Falei e disse 44Lapinha 31Samba do perdão 31Velho arvoredo 86Vou deitar e rolar 41

Renato Teixeira

Romaria 63Sentimental eu fico 63

Rita Lee

Alô alô marciano 75Lança perfume 83

Roberto & Erasmo Carlos

Amante à moda antiga 85As curvas da estrada de Santos 40Jesus Cristo 91Mundo deserto 45Se você pensa 38

Roberto Menescal& Ronaldo Bôscoli

A volta 37Carta ao mar 33O barquinho 36Telefone 17

Ruy Guerra

Aleluia 21Esse mundo é meu 19Jogo de roda 22Minha 38Por um amor maior 20Reza 14Último canto 21

Sueli Costa

20 anos blue 46Altos e baixos 71Cão sem dono 65O primeiro jornal 76

Tom Jobim

Águas de março 48Amor em paz 16Bonita 68Boto 65Brigas nunca mais 55Chovendo na roseira 56Corcovado 54Dindi 89Discussão 15Estrada do sol 45Fotografia 56Frevo 41Garota de Ipanema (Girl from Ipanema) 82How insensitive (Insensatez) 38Inútil paisagem 55Modinha 54O que tinha de ser 55Pois é 54Por toda minha vida 55Retrato em branco e preto 55Sabiá 78Samba do avião 15Só tinha de ser com você 54Soneto de separação 56Tributo a Tom Jobim 32Tristeza 54Wave 37

Torquato Neto

Louvação 24Prá dizer adeus 25Veleiro 27

Tunai

Agora tá 76As aparências enganam 71

Vinícius de Moraes

A corujinha 81Amor em paz 16Arrastão 13Bocochê 16Brigas nunca mais 55Canção do amanhecer 19Canto de Ossanha 23Canto triste 22Consolação/Berimbau/Tem dó 21Deixa 35Formosa 15Frevo 41Garota de Ipanema (Girl from Ipanema) 82How insensitive (Insensatez) 38Marcha de quarta-feira de cinzas 30Modinha 54O que tinha de ser 55Por toda minha vida 55Samba da benção (Samba saravah) 31Soneto de separação 56Té o sol raiar 19Tereza sabe sambar 28Valsa de Eurídice 83Zambi 18

Walter Santos & Tereza Souza

Cruz de cinza, cruz de sal 30Vem balançar 15

Zé Rodrix

Caso no campo 43Olhos abertos 47

99

“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.E todas as figuras são assim...Desenhos de luz, agrupamentos de pontos de partículas.Um quadro de impulsos, um processamento de sinais.E assim – dizem – recontam a vida.Agora retiram de mim a cobertura da carne.Escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos.E aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.Um rascunho...Um forma nebulosa, feita de luz e sombra.Como uma estrela...

Agora eu sou uma estrela!”