matÉria 01: direitos humanos ud 02: direito da … da cidadania.pdf · matÉria 01: direitos...

74
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO DIRETORIA DE ENSINO ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS “CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO” CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA MATÉRIA 01: DIREITOS HUMANOS UD 02: DIREITO DA CIDADANIA Departamento de Ensino e Administração Divisão de Ensino e Administração Seção Pedagógica Setor de Planejamento APOSTILA ATUALIZADA EM ABRIL DE 2009 PELO 1°TEN PM PINHEIRO DA ESSd

Upload: vandat

Post on 01-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIRETORIA DE ENSINO

ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS

“CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO”

CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DEPOLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO

DA ORDEM PÚBLICA

MATÉRIA 01: DIREITOS HUMANOSUD 02: DIREITO DA CIDADANIA

Departamento de Ensino e AdministraçãoDivisão de Ensino e Administração

Seção PedagógicaSetor de Planejamento

APOSTILA ATUALIZADA EM ABRIL DE 2009 PELO 1°TEN PM PINHEIRO DA ESSd

2

ÍNDICE:

DESCRIÇÃO PÁG.

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICO-FILOSÓFICA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ................................ .. 5

1.1. ANTIGUIDADE CLÁSSICA ................................ ................................ ................................ ....... 5

1.1.1. GRÉCIA – A CULTURA HELÊNICA E OS FILÓSOFOS SÓCRATES, PLATÃO E

ARISTÓTELES ................................ ................................ ................................ ................................ ... 5

1.1.2. ROMA – CÍCERO, O GRANDE ADVOGADO ROMANO ................................ ...................... 7

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA DOS DIREITOS DO CIDADÃO ................................ .... 8

2.1. IDADE MÉDIA: O REI JOÃO SEM TERRA E A CARTA MAGNA DA INGLATERRA .......... 8

2.2. IDADE MODERNA: REVOLUÇÃO FRANCESA E A DECLARAÇÃO FRANCESA DOS

DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO, DE 1789 ................................ ................................ ........ 9

2.3. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – PRIMEIRA CRISE DOS DIREITOS HUMANOS .................. 11

2.4. REVOLUÇÃO AMERICANA E A CARTA DE VIRGÍNIA, DE 1776 ................................ ...... 12

2.5. OS PENSADORES DA NOVA ORDEM LIBERAL ................................ ................................ .. 14

2.6. A LUTA PELOS DIREITOS SOCIAIS: MÉXICO, RÚSSIA E ALEMANHA ........................... 15

2.7. SEGUNDA CRISE DOS DIREITOS HUMANOS – A II GUERRA MUNDIAL........................ 16

2.8. RECONSTRUÇÃO, AMPLIAÇÃO E CONTRADIÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS. ......... 18

3. AS RELIGIÕES E OS DIREITOS HUMANOS ................................ ................................ ............. 20

3.1. JUDAÍSMO, CRISTIANISMO, ISLAMISMO, BUDISMO: A IGUALDADE ESSENCIAL E

ESPIRITUAL DOS HOMENS, O VALOR DA LIBERDADE E RESPEITO ÀS PESSOAS............. 20

4. CONTEXTO HISTÓRICO, POLÍTICO E SOCIAL DO SURGIMENTO DOS DIREITOS

HUMANOS ................................ ................................ ................................ ................................ ....... 22

4.1. VERTENTES DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL DA DIGNIDADE HUMANA .................. 23

4.2. O COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA – CICV – E O DIREITO

INTERNACIONAL HUMANITÁRIO ................................ ................................ .............................. 24

5. TRATADOS INTERNACIONAIS................................ ................................ ................................ . 25

5.1. . CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS – “PACTO DE SAN JOSÉ

DE COSTA RICA”, ADOTADO EM 22NOV69 ................................ ................................ ............... 29

5.2. DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM .......................... 30

5.3. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................ ................... 31

5.4. PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS ................................ .......... 31.

5.5. PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS ......... 32

6. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DOS TRATADOS ............................................ 32

6.1. CONCEITO DE TRATADO................................ ................................ ................................ ....... 31

3

6.2. NOÇÕES SOBRE A RATIFICAÇÃO E INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS ........................ 32

6.3. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA NORMA MAIS FAVORÁVEL AO SER HUMANO.................... 32

7. LEI FEDERAL N° 7.853, DE 24OUT89 ................................ ................................ ........................ 32

8. LEI ESTADUAL N° 11.199, DE 12JUL02 ................................ ................................ .................... 32

9. OS TRATADOS INTERNACIONAIS................................ ................................ ........................... 33

9.1. CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS ................................ .......... 33

9.2. PROTOCOLO SOBRE ESTATUTO DOS REFUGIADOS ................................ ........................ 34

9.3. DECLARAÇÃO SOBRE O ASILO TERRITORIAL, PROCLAMADA EM 14DEZ67, PELA

ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. ................................ ................................ ........... 34

9.4.. REGRAS MÍNIMAS PARA O TRATAMENTO DE PRISIONEIROS, ADOTADAS PELO 1º

CONGRESSO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE A PREVENÇÃO DO CRIME E

TRATAMENTO DE CRIMINOSOS, REUNIDO EM GENEBRA EM 1955, E APROVADAS

PELO CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL EM 31JUL57 E 13MAIO77................................ ..... 35

9.5. CONJUNTO DE PRINCÍPIOS PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS SUJEITAS

A QUALQUER FORMA DE DETENÇÃO OU PRISÃO, APROVADO EM 09DEZ88 .................... 36

9.6. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO

CONTRA A MULHER, ADOTADA EM 18DEZ79 ................................ ................................ .......... 36

9.7. CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER (“CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ”), ADOTADA

EM 09JUN94 ................................ ................................ ................................ ................................ ..... 37

9.8. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA

APLICAÇÃO DA LEI, ADOTADO EM 17DEZ79............ ..............................................................38

9.9. PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO PELOS

FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI, ADOTADO EM 07SET90 ...... 39

9.10. CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS

CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES, ADOTADA EM 10DEZ84 ................................ ... 40

9.11. CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA,

ADOTADA EM 09DEZ85 ................................ ................................ ................................ ................ 40

9.12. DECLARAÇÃO DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE JUSTIÇA RELATIVOS ÀS VÍTIMAS

DA CRIMINALIDADE E DE ABUSO DE PODER, APROVADA EM 29NOV85........................... 41

9.13. CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, ADOTADA EM 20NOV89 .............. 42

10. PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS – PROPOSTAS DE AÇÕES

GOVERNAMENTAIS ................................ ................................ ................................ ...................... 42

10.1. PROTEÇÃO DO DIREITO À VIDA ................................ ................................ ........................ 42

4

10.2. EDUCAÇÃO E CIDADANIA, BASES PARA UMA CULTURA DE DIREITOS

HUMANOS ................................ ................................ ................................ ................................ ....... 47

11. PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS – PROPOSTAS DE AÇÕES PARA O

GOVERNO E PARA A SOCIEDADE................................ ................................ ............................... 49

11.1. EDUCAÇÃO PARA A DEMOCRACIA E OS DIREITOS HUMANOS ................................ .. 49

11.2. SEGURANÇA DO CIDADÃO E MEDIDAS CONTRA A VIOLÊNCIA ................................ . 50

BIBLIOGRAFIA ................................ ................................ ................................ ............................... 53

5

1. Evolução histórico-filosófica dos direitos do cidadão

A origem dos direitos individuais do homem pode ser apontada no antigo Egito e

Mesopotâmia, no terceiro milê nio a.C., onde já eram previstos alguns mecanismos para proteção

individual em relação ao Estado. O Código de Hamurabi (1690 a.C.) talvez seja a primeira

codificação a consagrar um rol de direito comuns a todos os homens, tais como a vida, a

propriedade, a honra, a dignidade, a família, prevendo, igualmente, a supremacia das leis em relação

aos governantes. A influência filosófico -religiosa nos direitos do homem pôde ser sentida com a

propagação das idéias de Buda, basicamente sobre a igualdade de todos os homens (500 a.C.).

Contudo, foi o Direito romano quem estabeleceu um complexo mecanismo de interditos visando

tutelar os direitos individuais em relação aos arbítrios estatais. A Lei das Doze Tábuas pode ser

considerada a origem dos textos escritos consagr adores da liberdade, da propriedade e da proteção

aos direitos do cidadão. Tempos depois, com o Cristianismo, veio o homem se deparar com a

concepção religiosa que se baseava na idéia de que cada pessoa é criada à imagem e semelhança de

Deus.

1.1. Antiguidade Clássica

1.1.1. Grécia – a cultura helênica e os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles

Posteriormente à propagação das idéias budistas, já de forma mais coordenada,

porém com uma concepção ainda muito diversa da atual, surgem na Grécia vários estud os sobre a

necessidade da igualdade e liberdade do homem, destacando -se as previsões de participação política

dos cidadãos (democracia direta de Péricles); a crença na existência de um direito natural anterior e

superior às leis escritas, defendida no pens amento dos sofistas e estóicos (por exemplo, na obra

Antígona – 441 a.C. – Sófocles defende a existência de normas não escritas e imutáveis, superiores

aos direitos escritos do homem).

A era helenística marcou a transição da civilização grega para a romana , em que

inoculou sua força cultural. Não se encontra nela o esplendor literário e filosófico do período áureo

da Grécia, mas divisa-se um grande surto da ciência e da erudição. Cham a-se civilização helenística

a que se desenvolveu fora da Grécia, sob influxo do espírito grego. Esse período histórico medeia

entre 323 a.C., data da morte de Alexandre III (Alexandre o Grande), cujas conquistas militares

levaram a civilização grega até a Anatólia e o Egito, e 30 a.C., quando se deu a conquista do Egito

pelos romanos. Grande parte do Oriente Antigo foi então helenizado e assistiu -se a uma fusão da

cultura grega, revitalizada nas áreas conquistadas, com as tradições políticas e artísticas do Egito,

Mesopotâmia e Pérsia.

6

Alexandria, no Egito, com 500.000 habitantes, tornou -se a metrópole da

civilização helenística. Foi um importante centro das artes e das letras, e a própria literatura grega

tem uma fase chamada "alexandrina". Lá existiram as mais importantes instituições culturais da

civilização helenística: o Museu, espécie de universidade de sábios, dotado de Jardim Botânico,

Zoológico e Observatório Astronômico; e a Biblioteca, com 200.000 volumes, sal as de copistas e

oficinas para preparo do Papiro. O Reino Egípcio só terminou com a conquista de Otavius, no

reinado de Cleópatra.

A partir do momento em que Tales de Mileto consegue prever um eclipse a partir

de conhecimentos geométricos, e Anaxágoras ensina ser o sol não um deus, mas uma pedra

incandescente, não mais se recorre a explicação mítica, por esta não mais satisfazer a curiosidade

afiada dos homens gregos. Com o advento da pólis, da escrita e da moeda, criou -se um espaço

público para a discussão e legitimação tanto do governo, como das idéias, o que impulsiona,

sobretudo em Atenas, não só a retórica e argumentação, mas também a filosofia, sobrepondo -se ao

discurso mítico, por demais atrelado a explicações de caráter naturalista, não condizente com a

concentração urbana que toma seu lugar na Grécia clássica.

Coube ao debate entre Sócrates e os sofistas a transferência das preocupações

filosóficas da natureza para a vida dentro da pólis democrática. Como deveria agir o homem de bem

na condução de sua vida e na busca do conhecimento verdadeiro , Sócrates tentou justamente guiar

os cidadãos atenienses neste caminho de educação e saber, sendo sempre contestado pelos sofistas,

professores itinerantes que lecionavam em troca de vultuosas quantias, ensinando como ser

vitorioso na vida pública, como persuadir sem estar necessariamente com a verdade a seu lado. O

universo ainda pouco explorado das intenções, vícios e desejos do homem começa a ser descoberto

nesta nova etapa da filosofia grega com o já mencionado advento da pólis democrática. Célebre é a

frase do sofista Protágoras de Abdera quando diz que o homem seria a medida de todas as coisas.

Sócrates já dizia que ouvia uma voz dentro de si dizendo o que era certo. E para

o filósofo grego, quem sabe o que é bom acaba fazendo o que é certo: o bem. E se alguém faz o que

é certo se transforma num hom em de verdade. Torna-se, além disso, exemplar, paradigma. Dizia

mais: se agimos erroneamente é porque não sabemos como fazer melhor. Então, “justo é o que é

conforme a lei e respeita a eqüidade; o injusto é o que viola a lei e a falta à eqüidade”. (Ética a

Nicômaco).

Platão idealiza uma equação de justiça, ao formular a

ação humana como algo que se pretende racional. Apresenta, então, uma

analogia ou uma proporção entre a justiça e a medicina, isto é, entre a

ciência do bem estar do corpo (medicina) e a ci ência do bem estar da alma

(ética).

7

Aristóteles, filósofo grego nascido na cidade de Estagira, Macedônia, a 320 km

de Atenas, foi criado junto a um grupo de médicos, amigos de seu pai. Aos dezoito anos foi para

Atenas, a fim de aperfeiçoar sua espiritualid ade, e lá ingressou na Academia, onde se tornou

discípulo de Platão. Voltou a Atenas em 334 a C., fundou sua própria Escola, o Liceu, aos 51 anos

de idade. Por ter sido preceptor de Alexandre, o grande, sofreu com a reação que houve em Atenas

após sua morte, pois havia alegações que teria sido mestre daquele que conquistaria a Grécia. Foi

para Calcídia. Morreu em 322 aC., meses após ter sido exilado.

1.1.2. Roma – Cícero, o grande advogado romano

Cícero, advogado, orador e escritor romano, assassinado no a no de 43 a.C., foi,

segundo alguns autores, o maior Mestre de Civismo que o Ocidente conheceu. Além de celebrizar -

se como personalidade enérgica, infatigável, capaz de eletrizar as multidões com seus

discursos, concentrou toda sua imensa atividade intelect ual em promover o amor à

pátria, promover a decência e a servir à República Romana. Desde aquela época, seus

ideais e seus textos foram lidos das mais diversas formas para promover a cidadania e

o engajamento dos homens qualificados nos assuntos públicos.

O mais patriota dos oradores, passou a vida a exaltar os valores romanos, a

trabalhar pelo orgulho dos cidadãos, elogiando -lhes a disciplina e o fervor essenciais na manutenção

de um império tão poderoso como aquele que nascera e prosperara a partir da reg ião do Lácio. O

mérito de tudo, o que distinguia os romanos dos gregos, devia -se ao civismo dos seus homens

públicos, capazes de sufocarem os prazeres pessoais e o cultivo da vida sossegada em função do

interesse coletivo. Ele, por sua vez, politicamente, colocou-se como o escudo falante da república.

Houve sempre uma notável coerência no civismo dele. O regime vivia sob

ameaças. Viu-se como um pastor atento em ter que afastar do redil, com o rodopiar ativo do seu

cajado, os lobos famintos que o cercavam. Não cessavam nunca as ambições dos generais valentes

que, arrastando atrás de si os ricos espólios dos povos vencidos, honrados com os louros das vitórias

no exterior, queriam-na submetida, subjugada (como Sila fez e como Júlio César afinal conseguiu).

O Fórum de Roma, centro da vida de Cícero, era a grande praça ao ar livre da

cidade. Ficava no cruzamento de duas avenidas, a Cardo e a Decumanus. Era lá que se encontrava a

Cúria (onde se reunia o Senado), a Basílica (equivalente ao Palácio da Justiça), os templos dos

cultos públicos (a Júpiter Capitolino e outras divindades), as termas que atendiam aos banhos e, por

fim, o Rostrum, a Coluna Rostral, espaço especial usado para a oratória. Lá era o império particular

de Cícero. A voz e a dialética dele, o fur or com que se jogava sobre os adversários, extasiava os

ouvintes. Cícero dominava o latim com ninguém até então o fizera. Trabalhador infatigável deixou

8

834 cartas e 55 discursos, exercício que o intimou definitivamente com o idioma pátrio.

Intelectualmente onívoro, nada lhe era estranho.

Se Júlio César a quem ele combateu foi tolerante com Cícero, Marco Antonio, o

sucessor dele, não teve nenhuma complacência. Quando o triunvirato foi formado, ele exigiu o

sacrifício de Cícero (um tempo antes o orador havi a feito um discurso terrível, devastador, contra

Marco Antonio, chamando-o de "beberrão licencioso"). Apesar de admirá -lo pela cultura e fervor

cívico, Otávio concordou em colocá -lo na lista dos proscritos, o mesmo fez Lépido, o outro

triúnviro. Ele que sobrevivera a ditadura de Sila, à guerra civil entre Pompeu e César, não

conseguiu resistir aos novos leões que tomaram o poder depois do fim de César (assassinado dentro

do senado no ano de 44 a.C.).

Para Cícero, todo o espaço em que ele até então atuara, o Fórum, a Cúria, o

Rostrum, "tornara-se absolutamente repulsivo". Simplesmente ele desanimara. "O estado de coisas”

disse a um amigo, "é perfeitamente chocante. Não há nenhum caminho fora desse lamaçal; porque,

se um homem com o talento de César fracassou , quem pode esperar sair-se bem?" O grande orador

terminou sendo morto em fuga, no lugarejo de Philipica, na Grécia, em 43 a.C. Os sicários que o

perseguiram decapitaram-no e deceparam-lhe uma das mãos. Marco Antônio, para demonstrar a

força da sua brutal vingança, ordenou então que aqueles despojos de carne e sangue ficassem

expostos no Rostrum. A morte de Cícero assinalou o fim da república romana.

2. Evolução histórica e política dos direitos do cidadão

2.1. Idade Média: O rei João Sem Terra e a Carta Magna da Inglaterra

Em 1215, na Inglaterra, o Rei João Sem Terra foi

obrigado, pela nobreza e pelo clero, a assinar um documento chamado

Magna Charta (Magna Carta da Inglaterra).

Esse documento impunha limites às ações do Rei,

configurando-se como o embrião das atuais constituições , segundo os

termos da Magna Carta, João deveria renunciar a certos direitos e

respeitar determinados procedimentos legais, bem como reconhecer que

a vontade do rei estaria sujeita à lei. Considera-se a Magna Carta o primeiro capítulo de um longo

processo histórico que levaria ao surgimento do constitucionalismo, estabelecendo alguns pontos

principais sob a ótica dos direitos humanos, a saber:

9

Impostos: o Rei inglês não podia mais criar ou aumentar os impostos sem o consentimento

do parlamento. O Parlamento era uma assembléia comp osta por representantes do povo (os

comuns) e da nobreza (os lordes).

Justiça: foi adotado o “habeas corpus” pelo qual nenhuma pessoa poderia ser presa sem uma

acusação formal, devendo ser considerada inocente até ser provada sua culpa, só podendo

ser julgada por seus pares, isto é, pessoas de sua classe social.

Exército: a convocação e a chefia do exército ficavam a cargo do parlamento.

Uma das cláusulas que maior importância teve ao longo do tempo é o artigo 39

(tradução livre a partir de uma versão em inglês):"Nenhum homem livre será preso, aprisionado ou

privado de uma propriedade, ou tornado fora -da-lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído,

nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus

pares, ou pela lei da terra."

2.2. Idade Moderna: Revolução Francesa e a Declaração Francesa dos

Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789

Nos séculos XV e XVI, a burguesia era ativa e influente nas cidades da Europa

ocidental e estava envolvida nos negócios florescentes da época. Nos séculos XVII e XVIII se

tornou a “classe média”.

A sociedade feudal não combinava com os burgueses. O objetivo principal dos

franceses em nome dos Direitos Humanos nessa época era apenas a luta contra o feudalismo.

Reis, nobres e padres resistiam tenazmente ao desaparecimento da política

feudal, em razão dos privilégios que detinham. As revoluções geraram e aumentaram as diferenças

socais nos variados países, assim como aumentaram vertiginosamente os gastos, e os países,

possuindo pouco dinheiro, passaram a ficar difíceis de serem administrados pelos nobres.

A França era dividida em classes sociais, conhecidas como estados, que

apresentava a seguinte distribuição:

- servos.

- pessoas livres: primeiro estado → clero

segundo estado → nobreza

terceiro estado → plebeus livres em geral

O Terceiro-Estado carregando oPrimeiro e o Segundos nas costas.

10

Mesmo diante das imensas dificuldades, existia uma persistência anacrônica do

absolutismo monárquico.

Nos pensadores iluministas - Hobbes, Locke, Voltaire, Montesquieu, Diderot,

Condorcet e Rousseau, a burguesia encontrou poderoso arsenal ideológico.

Adam Smith, em 1776, escreveu um livro que se transformou numa bíblia

econômica para a burguesia – “A Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e causas”.

Com tudo isso a burguesia estava persuadida a preparar a chegada de uma nova

era da justiça e do direito; surgia a idéia da revolução.

A França nos anos 80 do século XVIII apresentava o seguinte qua dro:

havia sofrido uma derrota humilhante para a Inglaterra na Guerra dos Sete Anos

(1756/1763), perdendo todas as suas possessões na América do Norte – o Canadá (Nova

França) e a Índia.

só poderiam obter dinheiro dos que não pagavam impostos – não havia mais de onde retirar.

invernos rigorosos e verões chuvosos ocasionaram péssimas safras em 1788/1789.

foram editadas as “cartas régias” → ordens do Rei para cobrar impostos e efetuar pris ões

sumárias.

superioridade inglesa na oferta de produtos têxteis.

Em 04 de maio de 1789 os Estados Gerais voltaram a se reunir (a última reunião

havia sido em 1614 – há cerca de 175 anos). Entre maio e julho de 1789 ocorreram mais de 400

revoltas.

Em 07 de julho os Estados Gerais adotaram o nome de Assembléia Nacional

Constituinte e no dia 11 apresentaram a primeira versão do que viria a ser a Declaração dos

Direitos do Homem e do Cidadão.

A Declaração começou a ser votada em 20 de agosto e foi aprovada em 26 desse

mês, com 17 artigos, servindo como atestado de óbito ao antigo regime.

Porém a Declaração, por vários aspectos, deixava claro que era um manifesto

contra a sociedade hierárquica de privilégios e não um manifesto a favor de uma sociedade

democrática e igualitária. O exemplo clássico que caracteriza esta afirmação era a existência do

voto censitário.

Mesmo a igualdade civil recebeu deturpação, o que pode ser verific ado quando a

Assembléia Constituinte, em 15 de maio de 1791, abordou o assunto sobre a manutenção dos

escravos nas colônias: “o corpo legislativo nunca deliberará sobre o estado político das pessoas de

cor que não forem nascidas de pai e mãe livres”. Só em fevereiro de 1794 a França aboliu a

escravatura no Haiti, depois que uma bem sucedida insurreição de escravos tomou o poder nessa

ilha.

11

2.3. Revolução Industrial – Primeira Crise dos Direitos Humanos

A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de muda nças tecnológicas

com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra

em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX.

Foi então assinado o Bill of Rights (Declaração de Direitos), implantou-se a

liberdade de imprensa, a livre iniciativa econômica desvencilhou -se das restrições anteriores, e logo

se desenvolveram outras que permitiram a acumulação privada de lucro.

Os resquícios do problema camponês foram resolvidos pelos Enclosure Acts

(“decretos de cercamento”), pelos quais as antigas terras de uso comum foram cercadas e

interditadas aos camponeses, forçando seu êxodo massivo para as cidades, dando lugar ao

surgimento de extensas fazendas para produção de lã e cereais. Formou -se assim na Inglaterra, em

poucas décadas, uma numerosa classe operária urbana.

A Inglaterra já dispunha também de vasto império colonial, além de haver se

tornado a maior potência comercial da época. Quando, no último quarto do século XVIII, sobreveio

o intenso desenvolvimento tecnológico (invenção da fiandeira e do tear mecânicos, navios e

locomotivas a vapor, entre outros) a burguesia britânica pôde tirar partido da reunião privilegiada

dessas duas condições: abundância de força de trabalho “livre” e monopólio quase solitário do

mercado mundial. Com todos esses fatores favoráveis, a Inglaterra tornou -se a principal potência

econômica, militar e colonial do planeta por mais de cem anos.

As conseqüências de Revolução Industrial são trágicas: por um lado, multipli cou

enormemente a riqueza e o poderio econômico da burguesia, e por outro, desestruturou o modo

tradicional de vida da população, gerando o desemprego e a alienação do trabalhador em relação ao

seu produto.

Os efeitos combinados da chamada “Restauração” (período após a derrota de

Napoleão perante os exércitos da coligação anti -francesa, em que foram abolidos da Europa

continental quase todos os vestígios de liberdades) e da “Revolução Industrial” instauraram na

Europa, ao longo da primeira metade de sécul o XIX, o que pode ser chamado de uma primeira

grande crise dos Direitos Humanos, desde que haviam sido formulados pelos filósofos racionalistas

do século XVIII.

Sem condições de sobreviver ao velho mundo, para muitos restou apenas a

alternativa de renunciar a tudo, cruzar o oceano e recomeçar a vida na América, onde não existiam

reis e, dizia-se ser a terra da liberdade.

12

2.4. Revolução Americana e a Carta de Virgínia, de 1776

A América do Norte se caracterizou como local onde existia liberdade individual,

mesmo antes da independência, por uma razão bastante antiga, consistente na circunstância de o

feudalismo, a não ser por algumas manifestações ideológicas tardias e diluídas, nunca ter sido

transplantado para lá enquanto modo de organização da sociedade e d a economia, mesmo porquê,

além de outros motivos históricos, a imensidão de territórios vazios (isto é, não ocupados por

europeus) e a população rarefeita tornavam isto completamente desnecessário e impraticável. Mais

importante ainda: a Inglaterra havia s e livrado do absolutismo cem anos antes que a França e a

Europa em geral e desenvolvido também mais cedo as noções jurídicas de liberdade individual e

garantias pessoais. Essas noções, com as restrições à participação que existiam na metrópole (como

o voto censitário para as assembléias locais), foram estendidas aos súditos das treze colônias.

No início do século XVIII, quando a população inglesa na costa atlântica da

América do Norte já adquirira certa importância, ela não estava mais disposta a se submete r a

qualquer coisa que se assemelhasse a feudos ou privilégios (pelo menos, intoleráveis) decorrentes

do nascimento. O incessante crescimento dessa autonomia levou a que, “…quando o Parlamento de

Londres, a partir de 1764, pretendeu instituir taxas sem o p révio consentimento dos colonos

subjugados, estes as sentiram como uma violação de seus direitos. A agitação e a revolta que se

seguiram, foram, no fim das contas, e expressão de um civismo britânico. Tratava -se de manter,

contra o governo e o rei inglês, as liberdades […] da Inglaterra” .1

Os desentendimentos entre a Inglaterra e seus súditos na América, que

terminaram conduzindo ao movimento pela independência, foram causados por medidas mercantis

e tributárias adotadas pela metrópole que, a partir da déca da de 70 do século XVIII, passaram a ser

consideradas pelos colonos como indevidamente lesivas aos seus interesses comerciais e

financeiros.

Após inúmeros episódios entre ambos, de um lado o governo inglês

implementando e impondo medidas de caráter restri tivo ao comércio e elevando os impostos, de

outro lado o povo norte-americano boicotando e combatendo tais medidas, os acontecimentos

precipitaram-se para a guerra de independência (abril de 1775 a setembro de 1783), durante a qual

os norte-americanos obtiveram apoio econômico e militar da França (a partir de fevereiro de 1778)

e da Espanha (a partir de 1779), potencias rivais da Inglaterra.

Foram então proclamadas as famosas “Declarações” americanas de direitos: a

“Declaração de Direitos do Bom Povo de Vir gínia” (12/01/1776) e a “Declaração de Independência

dos Estados Unidos da América” (04/07/1776).

1 Georges Gusdorf, As Revoluções da França e da América , Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1993, p.16 9.

13

A “Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia” é considerada a primeira

declaração de direitos dos tempos modernos, recheada de princípios e garantias. Já a “Declaração de

Independência dos Estados dos Estados Unidos da América”, adotada na Convenção de Filadélfia

de julho de 1776, proclamava e justificava o desligamento da Grã -Bretanha, sendo que seu segundo

parágrafo se tornou célebre:

“Consideramos de per si evidentes as verdades seguintes: que todos os homens

são criaturas iguais; que são dotados pelo seu Criador com certos direitos inalienáveis; e que,

entre estes, se encontram a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Os governos são

estabelecidos entre os homens para assegurar estes direitos e os seus justos poderes derivam do

consentimento dos governados; quando qualquer forma de governo se torna ofensiva destes fins, é

direito do povo altera-la ou aboli-la, e instituir um novo governo, baseando -o nos princípios e

organizando os seus poderes pela forma que lhe pareça mais adequada a promover a sua

segurança e felicidade. A prudência aconselha a não mudar governos há muitos estabelecidos em

virtude de causas ligeiras e passageiras; e, na verdade, tod a experiência tem demonstrado que os

homens estão mais dispostos a sofrer males suportáveis do que a fazer justiça a si próprios,

abolindo as formas a que estão acostumados. Mas, quando uma longa sucessão de abusos e

usurpações, visando invariavelmente o m esmo fim, revela o desígnio de os submeter ao despotismo

absoluto, é seu direito, é seu dever, livrar -se de tal governo e tomar novas providências para bem

de sua segurança. Foi este o paciente sofrimento destas colônias e é agora a necessidade que as

constrange a alterar o seu antigo sistema de governo .”

A Constituição americana, aprovada na Convenção de Filadélfia de 17 de

setembro de 1787, no início não incorporava uma declaração de direitos fundamentais do indivíduo.

Contudo, nove das treze ex-colônias exigiram que isso fosse providenciado, como condição para

ratificarem a Constituição e aderirem a federação. A reivindicação foi acatada e deu origem às dez

primeiras emendas á Constituição, aprovadas em 1791. Acrescidas de outras Emendas aprovadas

nos séculos XIX e XX, elas configuram o chamado Bill of Rights norte-americano.

O fato de a Revolução Americana ter acontecido na década que precedeu a

Revolução Francesa e, portanto, ter também produzido antes suas declarações de direitos, suscitou,

durante algum tempo, certa polêmica quanto a ter sido a “referência inspiradora” dos

revolucionários franceses. Os que se ocuparam dessa hipótese chamaram a atenção para a

circunstância de Benjamin Franklin e Thomas Jefferson terem sido embaixadores dos Estados

Unidos na França entre 1776 e 1789. Porém, não há dúvidas de que a Revolução Francesa e a sua

“Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” terminaram exercendo maior influência no

mundo e galvanizando o imaginário de várias gerações de revolucionários.

14

2.5. Os Pensadores da Nova Ordem Liberal

Como o modo de produção capitalista triunfasse em toda parte – ele não se

embaraçava com a crise européia dos Direitos Humanos da primeira metade do século XIX – os

intelectuais do liberalismo, mesmo quando compungidos co m o sofrimento dos pobres, produziam

os argumentos necessários para “demonstrar” que a desigualdade social, não só inevitável, era

também injusta.

Por exemplo, Thomas Robert Malthus, Pastor anglicano nascido em família

proprietária de terras, observando os estragos sociais que o capitalismo triunfante alastrava, chegou

à famosa conclusão “explicativa” da causa da miséria: “ a população, quando não controlada,

cresce numa progressão geométrica, e os meios de subsistência crescem apenas numa progressão

aritmética”, instalando-se na sociedade grave desproporção. Por conseqüência, a miséria dos

trabalhadores existiria por culpa dos próprios trabalhadores, porque insistem em casar cedo e ter

muitos filhos. Para resolver esse impasse, Malthus enxergava duas possibi lidades: na sua própria

linguagem, freios “positivos” e freios “preventivos” à explosão demográfica. Sempre que aquela

desproporção se tornasse aguda, os freios “positivos” seriam as periódicas guerras, as ondas de

fome e as inevitáveis epidemias que, ao d izimar principalmente a população trabalhadora,

reequilibrariam por algum tempo a situação. Os freios “preventivos” consistiriam, pura e

simplesmente, em os pobres retardarem seu casamento até poderem sustentar adequadamente uma

família, devendo manter abs tinência sexual enquanto fossem solteiros – ou por toda a vida, se a

“fortuna” não chegasse um dia a favorecê -los. Todas as formas de assistência social seriam inúteis e

até perniciosas, tanto porque estimulariam os miseráveis a se “acomodarem” e casarem s em

condições de sustentar a prole, como porque, retendo os trabalhadores nas paróquias beneficentes,

restringiriam a conveniente mobilidade da mão de obra.

As idéias de Malthus eram de um pessimismo atroz quanto ao futuro da

humanidade e, nessa medida, cho caram a crença no progresso disseminada pelos filósofos e

economistas do século XVIII. Mas introduziam no pensamento liberal um modo cínico e

aparentemente “cientifico” de transformar as vitimas em culpadas, absolvendo o capitalismo da

impiedosa desigualdade social.

Apesar de sua falta de fundamentos e do sentimento de decepção que adicionou

ao otimismo racionalista da época, essas idéias acabaram desempenhando papel nada desprezível,

pois encaixavam-se como mão e luva nos preconceitos anti -operários das classes dominantes (de

liberais a aristocratas), desviavam a atenção da maior causa da pobreza (a desigualdade social) e,

portanto, contribuíam para justificar a intolerância patronal e governamental frente às

reivindicações dos trabalhadores.

15

2.6. A Luta pelos Direitos Sociais: México, Rússia e Alemanha

O século XX surgiu como uma grande esperança para os Direitos Humanos, pois

pela primeira vez na história pareciam, progressivamente, ganhar efetividade prática para milhões

de pessoas, suscitando esperanças de que, por fim, tornar-se-ia realidade sua sempre adiada

promessa de universalização. E, naqueles anos duríssimos que se seguiram aos escombros da maior

e mais desoladora guerra até então travada pelas nações (1914 -1918), essas esperanças nutriam -se

nas rápidas transformações sociais em curso em partes muito importantes do planeta. Muitas

conquistas sociais e seus reflexos jurídicos foram notáveis e, mesmo quando controvertidas,

chegaram por um momento a parecerem irreversíveis.

A revolução popular russa, de 1905, deixou atordoada e velha autocracia

semifeudal, antiliberal e antioperária dos Czares, o mais antigo absolutismo na Europa,

demonstrando o maremoto operário e camponês que estaria por vir.

O México, no final de 1910, foi palco da primeira revoluçã o popular vitoriosa do

século XX, produzindo, em 31 de janeiro de 1917, uma Constituição que, além de estender os

direitos civis e políticos para toda a população, pela primeira vez incorporava amplamente direitos

econômicos e sociais, com o conseqüente es tabelecimento de restrições à propriedade privada.

Na Rússia as forças sociais já estavam em ação, produzindo revoluções, e no dia

4 de janeiro de 1918 (dia 17, pelo calendário atual), o “Congresso dos Sovietes” proclamou ao

mundo a “Declaração dos Direito s do Povo Trabalhador e Explorado”, que viria a ser considerado

como um contraponto proletário à “Declaração” burguesa de 1789. Em vez da idealização liberal de

neutralidade social do Estado, a nova Declaração tomava partido, desde logo abertamente, dos

explorados e oprimidos, alijando explicitamente do poder econômico e político os exploradores.

Retomando um procedimento adotado pelos franceses no final do século XVII, a “Declaração dos

Direitos do Povo Trabalhador e Explorado”, foi em seguida incorporada, como Título I, na primeira

Constituição da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, de 10 de julho de 1918.

Enquanto na Rússia, tantas novidades pareciam virar o mundo de pernas para o

ar, o II Reich alemão emergia de um grande transe catastró fico (derrota na 1ª Guerra Mundial) para

iniciar a conhecida espasmódica caminhada que o conduziria a novo transe ainda mais catastrófico

(nazismo, III Reich, derrota na 2ª Guerra Mundial). No ínterim entre os dois marcos, equilibrou -se a

efêmera República de Weimar (1919-1933), com sua Constituição de 11 de agosto de 1919, que

pode ser resumida como uma tentativa de conciliação das contradições sociais. O movimento

popular conseguiu inscrever direitos sociais nessa Constituição. Certamente menos do que os

trabalhadores do México, mas certamente mais do que, em outras condições, a burguesia poderia

estar disposta a lhe conceder. Um dos pontos de destaque era a questão de assegurar o sufrágio

universal, direto e secreto de todos os homens e mulheres.

16

Desse modo, na Constituição de Weimar, “ os direitos sociais e econômicos,

dentro do regime capitalista, estão reconhecidos e garantidos ao lado dos direitos individuais,

como na Constituição mexicana, que é mais avançada do que aquela. Mas foi a de Weimar que

exercera maior influência no constitucionalismo de após a 1ª Guerra Mundial, inclusive na

brasileira de 1934”. 2

Além de revoluções e Constituições renovadoras, algumas mudanças importantes

também aconteciam fora do México, Rússia e República de Weimar. A re novada pressão

reinvidicatória popular, assim como o desencanto com a política internacional que conduzira à

guerra interimperialista, instalaram um clima geral propício a transformações. Após dois séculos de

resistência, a velha Inglaterra aprovou, em 191 8, lei instituindo o sufrágio universal, no que foi

seguida, daí por diante, por muitos países do ocidente. O voto feminino, embora com maiores

resistências3, começou a ser incorporado aos ordenamentos jurídicos. Mesmo em países da

“periferia”, lutas socia is massivas (por exemplo, a greve geral paulista de junho de 1917 e a greve

nacional ocorrida no Brasil em 1918) forçavam as elites a fazer concessões. Até no plano das

relações entre os países surgiam novidades. Pelo Tratado de Versalhes, de 28 de junho d e 1919, foi

criada a Liga das Nações, com a intenção de evitar que a disputa entre as potências imperialistas

pela conquista de mercados conduzisse novamente a guerras mundiais. A Liga das Nações logo

patrocinaria a celebração de alguns tratados internacio nais relativos aos direitos de certas minorias

nacionais, bem como promoveria a criação da Organização Internacional do Trabalho, instituição

que sobreviveria às intempéries do resto de século e desempenharia papel certamente mais relevante

do que imaginariam seus criadores.

Notícias de todos esses acontecimentos se espalharam pelo mundo, estimulando

e fazendo crescer o inconformismo social com a exploração do homem pelo homem.

2.7. Segunda Crise dos Direitos Humanos – A II Guerra Mundial

Não obstante os acontecimentos verificados, não demoraria muito para que as

frustrações começassem a surgir.

A Revolução Mexicana foi contida em patamar muito aquém do que prometia

seu avançado programa de reformas sociais. Pouco a pouco, forças conservadoras moderariam o

processo revolucionário até esgotá -lo nos anos quarenta. Os direitos sociais inscritos na

Constituição de 1917, pioneiramente contemplados com tanta amplitude, caminhariam naquele país,

na prática, em passo de marcha lenta, bem mais lenta do que a dos traba lhadores europeus.

2 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo , 13. ed., São Paulo, Malheiros, 1997, p. 267.3 Na Suíça, país tantas vezes lembrado como modelo de democracia do primeiro mundo, um plebiscito realizado em1959 rejeitou a extensão do direito de voto às mulheres, que só acabou sendo adotado em 1971.

17

A Rússia, após imensos custos econômicos e sociais de uma sucessão de

tormentas – guerra mundial, guerra civil, invasões militares estrangeiras – viu-se, na década de

vinte, como o país mais atrasado da Europa, estava destruído e comple tamente isolado. Cindido por

lutas internas, impôs-se o projeto de um impensável “socialismo num só país” (nem mesmo os

utópicos de cem anos antes chegariam a imaginar isso). A Rússia retrocedeu a níveis produtivos do

final do século anterior e por muito t empo só restaria miséria para socializar.

Quanto à República de Weimar, fracassou rotundamente na tentativa de conciliar

as contradições sociais da Alemanha. Quando no final da década de vinte, parecia que as

turbulências (hiperinflação, falências e desemp rego em massa) do pós-guerra estavam em vias de

superação, precipitou-se no planeta a maior crise econômica já experimentada pelo capitalismo – o

crash de 1929, seguido de dez anos de depressão – que trouxe de volta pobreza, desespero e luta

social aguda à Alemanha. Viu-se emergir um movimento de extrema direita que conseguia

mobilizar a insegurança da classe média e o terror dos desempregados de retornarem à miséria, que

não foi obstado pela miopia política das esquerdas alemãs, que acabaram por culminar c om a vitória

eleitoral do Partido Nazista em 1933. Hitler chegou ao poder pelas vias formais de uma democracia

parlamentarista, promoveu a reforma da Constituição e, assim, mediante outorga parlamentar,

obteve hipertrofia de poderes.

Muitas variantes de movimentos fascistas, que já vinham tomando fôlego desde

meados da década de vinte, disseminaram -se pela Europa, proporcionando uma antevisão do que

seria a 2ª Guerra Mundial que a trôpega Liga das Nações não conseguiu evitar.

O mundo a partir da década de t rinta havia se tornado desolador, e a desolação só

iria aumentar até 1945. O nazismo e os demais fascismos legislaram e agiram contra a humanidade,

praticaram políticas racistas, xenófobas e imperialistas, dividiram pessoas e populações entre as que

deveriam viver e as que precisariam ser abolidas, tentaram o extermínio, por métodos industriais, de

povos inteiros, e levaram sessenta milhões de seres humanos a morrerem durante a guerra que

deflagraram.

Esse período produziu, com brutalidade nunca antes imag inada, a segunda

grande crise dos Direitos Humanos, desde a Restauração européia de 1815 -1830, e teve, como se

sabe, resultados muito mais funestos que ela, devido à extensão, intensidade e atrocidade das

violações.

No primeiro semestre de 1998, após anos de pressões internacionais, os bancos

suíços reconheceram que, valendo -se da neutralidade desse país na guerra, participaram de

operações sigilosas para receberem depósitos nazistas de valores confiscados de prisioneiros,

principalmente judeus, mortos em c ampos de extermínio. Além disso, algumas empresas alemãs

assumiram publicamente ter utilizado mão de obra escrava durante a guerra, como fez a

18

Volkswagen, em 7 de julho de 1998, através de seu porta -voz Bernd Graef, dizendo ainda que sua

empresa foi uma das doze mil empresas alemãs a utilizar trabalho escravo durante aquela época.

2.8. Reconstrução, Ampliação e Contradições dos Direitos Humanos.

A Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada oficialmente a 24 de

Outubro de 1945 em São Francisco, Califórnia, por 51 países, logo após o

fim da Segunda Guerra Mundial . A primeira Assembléia Geral celebrou-

se a 10 de Janeiro de 1946 em Londres. A sua sede atual é na cidade de

Nova Iorque.

A precursora das Nações Unidas foi a Sociedade de Nações (também conhecida

como "Liga das Nações"), organização concebida em circunstâncias similares durante a Primeira

Guerra Mundial e estabelecida em 1919, em conformidade com o Tratado de Versalhes, "para

promover a cooperação internacional e conseguir a paz e a segurança". Em 2006 a ONU tem

representação de 192 Estados-Membros. Um dos feitos mais destacáveis da ONU é a proclamação

da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.

Fiçou assegurado ao pequeno grupo de Estados com assento permanente no

Conselho de Segurança o controle das decisões pelo exercício do direito de veto. Porém, ante o

balanço aterrorizante que os vencedores da guerra fizeram das atrocidades dos vencidos, impôs -se à

comunidade internacional o resgate das noções de Direitos Humanos que haviam sido pisoteadas

até recentemente.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é considerada, no plano

internacional, como o marco que inaugurou a concepção contemporânea de Direitos Humanos, na

medida em que integrou os direitos civis e políticos, que vinham se desenvolvendo desde o século

XVIII. O cerne dessa nova concepção consis te no reconhecimento que compõem o âmbito dos

Direitos Humanos todas as dimensões que disserem respeito à vida com dignidade. Os Direitos

Humanos conformam uma integração universal, indivisível, interdependente e inter -relacionada,

idéia retirada na “Declaração e Programa de Ação de Viena”, de 25 de junho de 1993, com apoio do

Brasil.

Sendo tomados como universais, isto é, inerentes a todas as pessoas, exigem duas

conseqüências: de um lado, apontam para a gradativa revisão da noção tradicional de soberania

absoluta de cada país, sob o entendimento de que é um tema de legítimo interesse de todas as

nações, não se circunscrevendo à jurisdição interna de cada Estado. De outro lado, similarmente,

desenvolve-se a idéia de que o indivíduo, como sujeito de direitos , deve ter os seus Direitos

Humanos protegidos também na esfera internacional. Desde o pós -guerra já foi adotada cerca de

19

uma centena de instrumentos internacionais de proteção dos Direitos Humanos, entre Declarações e

Tratados.

Nas últimas décadas vem se desenvolvendo o que se convencionou chamar de

direitos da solidariedade ou direitos difusos, tais como o direito ao desenvolvimento, direito à paz,

direito ao meio ambiente sadio e equilibrado, etc.

Ao longo da segunda metade do século XX, a grande maioria dos países aderiu

aos instrumentos internacionais do sistema global de proteção, além de celebrarem pactos e

convenções regionais (Europa, África, Américas, etc) com o mesmo propósito. Quase todos os

países do planeta incorporaram às suas Constituições e disposições infraconstitucionais normas na

mesma direção. Isto poderia ser um retrato do melhor dos mundos, se o direito positivo fosse o

retrato fiel do mundo.

Porém, o problema não reside no conceito, reside na realidade. Configura -se uma

situação em que, entre dispor formalmente de instrumentos jurídicos para a proteção dos Direitos

Humanos e efetivamente leva -los à prática, medeia, com cansativa freqüência, uma distância trágica

– que se nutre de visões conservadoras de mundo, “razões de Estado”, intere sses de classes e de

grupos, preconceitos irracionais persistentes, ou “resignação” objetivamente cúmplice.

A dinâmica da economia mundial nas últimas décadas tornou inquietante o

futuro dos Direitos Humanos. Longe de reduzir a desigualdade social, manteve -a e tende a aumentá-

la, repondo a contradição entre a “igualdade” (meramente jurídica) reservada aos de baixo e a

liberdade econômica (esta, real) das elites. A ciência, aplicada intensivamente à produção

(informática, robotização, microeletrônica, químic a fina, novos materiais, etc) aumentou a

produtividade do trabalho. Mas, por falta de apropriação social desse processo, em vez de ampliar

as horas de lazer para desfrute humano, ampliou o desemprego – agravado pela crise econômica.

Continuamos convivendo com a velha contradição dos tempos da primeira

Revolução Industrial. O neoliberalismo assemelha -se cada vez mais ao liberalismo ortodoxo dos

primeiros tempos.

“Mas a história não chegou ao fim. Se o discurso dos Direitos Humanos

mantiver-se como crítica da sociedade, cumprirá papel transformador. A fala do conformismo,

malgrado sua força alienadora, tem limites na própria realidade que busca conservar. Os que, em

todas as épocas, combateram pelos Direitos Humanos nunca deixaram de saber quão árduo e

sempre inacabado foi sua conquista. Fará bem aumentar a consciência dos obstáculos a superar.

Isso sempre conduziu a que caminhos novos fossem iluminados e a que florescessem forças que

estavam guardadas no fundo do peito. Por que seria agora diferente? ”.4

4 José Damião de Lima Trindade, Direitos Humanos: construção da liberdade e da igualdade ,1ª tiragem, São Paulo,Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado, outubro/1998, p. 163.

20

3. As religiões e os direitos humanos

3.1. Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Budismo: a igualdade essencial

e espiritual dos homens, o valor da liberdade e respeito às pessoas

Do mundo hebraico jorrou importante manancial da idéia de justiça social e dos

direitos humanos. O judaísmo resumia -se, antes de tudo, num conjunto de preceitos éticos ao qual

estavam submetidos os humildes e os poderosos indistintamente.

Uma conquista capital dos hebreus foi o individualismo, fazendo sobressair o

homem da massa coletiva - e isso justamente no domínio da religião, ou seja, onde o homem mais

se encontrava integrado.

Aliás, era a única religião monoteísta da Antiguidade, que teve na Bíblia (Antigo

Testamento) o conjunto de seus ensinamentos. E a Bíblia dá mostras sobejas do esforço de

moralidade desses com os humildes e os pobres; nesse sentido, o Deuteronômio, 5º livro da Torah

(Lei Mosaica, também chamada de Pentateuco), foi o melhor exemplo, ao enfatizar: os Dez

Mandamentos (síntese da vida judaica, que o cristianismo m odificará), o descanso semanal, a

caridade, a prescrição das dívidas ao fim de cada 7 anos, e os deveres dos juízes e do rei.

Por outro lado, no Levítico (outro dos 5 livros do Pentateuco), foi posta a

restrição ao direito de propriedade: a cada cinqüenta anos (ano do Jubileu), a terra vendida saía do

poder do comprador e retornava á posse do seu antigo dono.

Buda, Zoroastro e Confúcio (todos do século VI a. C.), coincidem nas exigências

sobre a dignidade humana: tolerância, respeito, generosidade e condu ta reta dos indivíduos, sejam

governantes ou governados.

Na China, aliás, vale destacar a visão reformista de Mo -ti ou Mo-Tseu (Século V

a. C.), que transformou a teoria confuciana do altruísmo em teoria do amor universal, em que todas

classes sociais, todos os indivíduos, se confundem na igualdade.

A preocupação com o "bem público" ou "bem -comum" também é perceptível na

filosofia de Mêncio ou Mong-Tseu (Século IV a. C.).

Com o Cristianismo, o salto qualitativo nos progressos do pensamento e das

instituições foi extraordinário. Tendo o judaísmo como fonte - no tocante á ética, á cosmogonia e,

parcialmente, á teologia -, a doutrina de Jesus Cristo descortinou novos horizontes e traçou

caminhos seguros á contínua odisséia humana.

Para o cristianismo, Deus não se apresentava apenas como o ser supremo, único

e infinito - mas também universal e misericordioso; esse Deus não tinha povo eleito, não fazia

distinção de famílias, raças ou estados - era o Deus de todos, sinal de unidade da espécie humana.

21

Assim sendo, advogou-se uma igualdade radical de todas as pessoas, feitas "à

imagem e semelhança" de Deus, e por isso mesmo encaradas em absoluta identidade; uma

igualdade para além da ciência (os estóicos, por exemplo, tinham a escravidão como um fato

natural), não restrita ao usufruto individual dos direitos, e que supunha um dever: a do amor ao

próximo. Amor que é entendido como um dom, como um ato de generosidade, e que se estende até

aos inimigos.

Daí a dedução, categórica, de que as matizes ideológicas dos dir eitos humanos

encontram-se na mensagem evangélica, difundida pelas primeiras comunidades cristãs. Surgiu aí,

pela primeira vez na história, e de forma concreta, a igualdade absoluta de natureza entre todos os

homens.

Num momento capital de ruptura com a t radição nacionalista judaica, São Paulo

preconizou com energia: " Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem

mulher, pois todos vós sois um só em Jesus Cristo " (Epístola aos Gálatas 3, 28/Novo Testamento).

E a prova dessa fraternidade intensa foi a prática comunitária do cristianismo

primitivo: "Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam -nos por todos, segundo a

necessidade de cada um" (Atos dos Apóstolos 2,45).

Além disso, os ensinamentos de Jesus enfatizam a esperança , a humildade, o

desapego aos bens materiais, a caridade, o perdão (e a reconciliação), a busca da perfeição, a paz, a

justiça (contraposta ao formalismo da lei), a solidariedade (com os pobres e oprimidos).

Por outro lado, na pregação de Cristo encontra -se substancial aporte em direção

ao reconhecimento da dualidade estado -indivíduo: ao desvincular do Estado a religião (" Daí a

César o que é de César e a Deus o que é de Deus "), o cristianismo minaria, ainda que parcialmente,

o campo de ação do poder políti co, pois, no plano espiritual, o homem era livre e só encontrava

limites em Deus.

A exaltação das virtudes privadas sobre as virtudes públicas foi teologicamente

desenvolvida, quase quatro séculos depois de Cristo, por Santo Agostinho, com a obra "Cidade de

Deus". Nela, o homem medieval foi concebido como membro de duas cidades, a "terrena" e a

"divina" (esta representada no mundo pela Igreja e comunidade de fiéis). E a noção de que cada

pessoa está sujeita a duas autoridades (secular e espiritual), colabo rou com a dessacralização da

"polis" e destacou o indivíduo como ser moral, e não apenas social - enquanto membro da "Civitas

Dei" (ou por extensão, perante Deus), todos os homens eram iguais entre si.

Observe-se que o Islamismo veio somar -se á concepção de relacionamento

igualitário entre os seres humanos, no que não chegou a ser inovador, considerando -se que Maomé

(Século VII d. C.) buscou inspiração nas religiões judaica e cristã.

22

Para a doutrina maometana, o pressuposto da igualdade primordial entre os

homens deriva de sua identidade essencial, sua origem única e seu destino comum.

O que importa é que a descoberta de Deus, seu reconhecimento como criador de

todas as coisas, sua latente influência comportamental, nitidamente, não bastaram para impedir qu e

a sociedade humana vivesse posteriormente períodos extensos de opressão, tais como o

absolutismo, que caracterizou um longo período da história, e se iniciou com o fim do feudalismo,

crescendo conforme a centralização de poderes aumentava. O seu ápice de u-se durante a Idade

Moderna, quando a vontade do rei era a lei, e o rei era ele mesmo o Estado. Com o poder do rei,

originaram-se os pactos, os forais e as cartas de franquias, outorgantes da proteção de direitos

reflexamente individuais, embora diretamen te grupais, estamentais.

4. Contexto histórico, político e social do surgimento dos Direitos

Humanos

Podemos descrever a evolução histórica dos Direitos Humanos, doutrinariamente

falando, em quatro fases distintas, usualmente denominadas de “gerações”. Há uma tendência mais

atual em definir tais fases como “dimensões”, em razão do entendimento de que direitos humanos

se complementam, e não se sobrepõem. São elas:

1ª Geração - direitos civis e políticos , constante de toda a luta de classes (abordada na

apostila), desde a assinatura da Carta Magna, da Declaração de Direitos do Homem e do

Cidadão, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos diversos outros tratados

contemporâneos, os quais vieram a reafirmar os direitos civis e políticos e, principalmen te, a

dignidade da pessoa humana;

2ª Geração - direitos sociais, fruto dos movimentos sociais decorrentes das manifestações

contra o Liberalismo Econômico, das idéias de Marx e Engels, da Comuna de Paris, da

Revolução Comunista de 1917, da Constituição Mex icana de 1917 e da Constituição de

Weimar de 1919;

3ª Geração - direitos de solidariedade, dos interesses difusos e coletivos, ligados ao meio

ambiente e ao patrimônio histórico;

4ª Geração - auto-determinação dos povos; o direito reservado à privacidade, à

individualidade das pessoas, ao patrimônio genético e ao resguardo dos meios tecnológicos

que invadem a vida de todos.

Os direitos podem ser classificados em absolutos e relativos:

Direito absoluto é aquele que não admite restrições ao seu gozo e à sua p roteção. Por

exemplo: escravidão, tortura, etc.

23

Direito relativo é aquele que admite exceção ao seu gozo e à sua proteção. Por exemplo: a

liberdade.

4.1. Vertentes da Proteção Internacional da Dignidade Humana

O Direito Internacional Público possui algumas divisões (ramos). Para efeito de

nosso estudo cabe destacar três deles: o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), o

Direito Internacional Humanitário (DIH) e o Direito dos Refugiados.

Todos fazem parte integral do Direito Internacional, com tip os de direitos

destinados a proteger direitos e liberdades fundamentais individuais e coletivos. A grande diferença

entre os dois primeiros é que sobre o título de Direito Internacional de Direitos Humanos, os

padrões são estabelecidos para a responsabilid ade dos Estados com relação aos direitos e liberdades

de indivíduos e dos povos. Já o Direito Internacional Humanitário fornece os padrões a serem

aplicados na proteção de vítimas de guerra e conduta de hostilidades. Os dois tipos de legislação são

complementares e compatíveis de fato e na aplicação.

O DIDH é aplicável a todo momento, visando à proteção de todos indivíduos

O DIH é aplicável em conflitos armados, quer internacionais, quer não

internacionais, e apresenta um conjunto de regras internacionais q ue tem por objetivo proteger as

pessoas (civis e militares) por meio de dois direitos:

Direito de Genebra: com o único objetivo de proteção das vítimas de guerra,

tanto os militares fora de combate, bem como as pessoas que não participem nas operações mili tares

e seus bens afetados por conflitos armados;

Direito de Haia: constituído pelo direito da guerra propriamente dito, ou seja,

pelos princípios que regem a conduta das operações militares, direitos e deveres dos militares

participantes na conduta das op erações militares e limita os meios de ferir o inimigo, e limita o uso

de armas e os métodos de combate (Direito de Haia).

O Direito de Refugiados converteu -se num ramo de crescente importância no

Direito Internacional, que se encontra entre o campo dos Di reitos Humanos e o do Direito

Humanitário em geral.

O ponto nuclear deste ramo é a Convenção de Genebra de 1951, relativa ao

Estatuto dos Refugiados. Trata -se de um instrumento jurídico vinculativo e de um marco importante

do Direito Internacional Relativo aos Refugiados, contendo uma definição geral do termo

"refugiado" que já não se aplica apenas a determinados grupos nacionais: um refugiado é uma

pessoa que se encontra fora do país de que tem a nacionalidade e, receando com razão ser

perseguida em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das

24

suas opiniões políticas, não possa ou, em virtude daquele receio, não queira pedir a proteção

daquele país ou a ele não queira voltar.

A Convenção também estabelece claramente q ue ninguém pode ser, contra a sua

vontade, obrigado a regressar a um território onde possa ser ameaçado de perseguição. Define

padrões para o tratamento dos refugiados, incluindo o seu estatuto jurídico, emprego e bem -estar.

4.2. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha – CICV – e o DireitoInternacional Humanitário

O comitê Internacional da Cruz Vermelha surgiu para prestar

assistência médica em áreas de conflito armado. Tudo começou no campo de

batalha de Solferino, no Norte da Itália, em junho de 1859: u m homem de negócios

suíço chamado Henry Dunant ficou profundamente impressionado com a visão de

milhares de soldados feridos abandonados à própria sorte, em agonia, por falta de assistência

médica. Ele, então, apelou ali mesmo para a população local vir a judá-lo, insistindo que os soldados

de ambos os lados deveriam ser tratados. Mas não ficou por aí. Em 1862 publicou o livro “Uma

Recordação de Solferino”, em que fez dois apelos solenes: em primeiro lugar, que fossem

constituídas sociedades de assistência em tempo de paz com enfermeiros que tratariam dos feridos

em tempo de guerra, e, em segundo lugar, que esses voluntários, que seriam convocados para

auxiliar os serviços sanitários do exército, fossem reconhecidos e protegidos por meio de acordo

internacional. Estas idéias levaram rapidamente à criação do “Comitê Internacional para a

Assistência aos Feridos”. Em resposta a um convite do Comitê Internacional, os representantes de

dezesseis países e quatro instituições filantrópicas reuniram -se numa Conferência Internacional em

Genebra em 1863. Este acontecimento marcou a fundação da Cruz Vermelha como instituição.

Hoje são 171 sociedades Nacionais em 171 países com mais de 350 milhões de voluntários, regidos

por um mesmo estatuto, princípios e finalidades.

O DIH reconhece que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV),

organismo humanitário independente e imparcial, tem o direito de livre acesso às vítimas de

conflitos armados internacionais, para conhecer suas necessidades e intervir em seu favor. É

outorgado em particular ao CICV o direito de visitar os prisioneiros de guerra, os internados civis,

os feridos e, em geral, a população civil afetada pelo conflito. Também lhe é reconhecida a

possibilidade de adotar iniciativas em favor das vítimas dos conflit os armados.

O direito de iniciativa do CCV também lhe permite oferecer seus serviços às

partes em conflito nas situações de violência interna e com fundamento em seus próprios estatutos.

25

5. Os Tratados Internacionais

5.1. Declaração Americana dos D ireitos e Deveres do Homem

Aprovada na IX Conferência Internacional Americana, em Bogotá, abril de 1948.

Históricamente, este foi o primeiro acordo internacional sobre direitos humanos, antecipando a

Declaracão Universal dos Direitos Human os, fundada seis meses depois.

Seu objetivo foi consagrar junto aos povos americanos os direitos essenciais do

homem, tornando a sua proteção internacional a orientação principal do direito americano,

reconhecendo que tais direitos não derivam do fato de ser o homem cidadão de determinado Estado.

Apresenta a seguinte estrutura:

exposição de motivos (“considerandos”);

preâmbulo;

capítulo primeiro – direitos, e

capítulo segundo – deveres.

É um documento extenso e bem elaborado, facilitando a compreensão de s eus

preceitos.

É o único documento que apresenta a divisão, através de capítulos, dos direitos e

dos deveres. Obviamente, tudo que é explícito é de mais fácil compreensão, porém o fato de que

nos outros não existia esta divisão, não quer dizer que não exi stissem deveres, ou ainda que

existissem apenas direitos, pois por trás de todos os direitos sempre existem deveres.

5.2. Declaração Universal dos Dire itos Humanos, Assembléia Geral dasNações Unidas, de 10 de dezembro de 1948

Foi adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de

1948. Não é um tratado na acepção técnica do conceito de tratado, configurando -se como um

instrumento orientador da ONU aos seus Estados -membros, tendo efeitos meramente orientadores e

referenciais, diferentemente dos tratados, que são juridicamente obrigatórios.

É o primeiro documento internacional a trazer por destinatários não somente

Estados, mas todas as pessoas de todos Estados e territórios; até então a preocupação com os

direitos e a dignidade das pessoas, independentemente de fronteiras, estava presente somente na

filosofia e religião.

Hoje é o instrumento de Direitos Humanos de maior importância. A prova disto é

que muitas disposições da Declaração Universal dos Direitos Humanos foram inscritas nas

Constituições e legislações nacionais dos Estados -membros da ONU.

26

Em seu Artigo Primeiro ela estabelece: "Todas as pessoas nascem livres e iguais

em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras

com espírito de fraternidade".

A Declaração dos Direitos Humanos absorve o espírito do tempo, incorporando

em seu preâmbulo e nos seus trinta artigos questões que fazem explícita referência aos temas

sociais. Afirma que os povos das Nações Unidas "decidiram promover o prog resso social e

melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla".

5.3. Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Protocolo

Facultativo relativo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos,adotados em 16DEZ66

Adotado pelo ONU em 19DEZ66, mas entrou em vigor em 1976, quando atingiu

o número mínimo de adesões (35).

O Congresso Nacional aprovou o Decreto -Lei n° 226, de 12DEZ91, depositando

sua adesão, na ONU, em 24JAN92.

Este tratado foi adotado no auge da Guerra Fria, reconhecendo um conjunto de

direitos mais abrangentes que a própria Declaração Universal. A demora para que o Brasil a

ratificasse, segundo os historiadores, se deveu à ditadura militar que governou o país durante 21

anos.

Os direitos econômicos se referem à produção, d istribuição e consumo de

riqueza, visando disciplinar as relações trabalhistas, como as que prevêem a liberdade de escolha de

trabalho, condições justas e favoráveis, com enfoque especial para a remuneração justa, que atenda

às necessidades básicas do trab alhador e sua família, inclusive, sem distinção entre homens e

mulheres quanto às condições e remuneração do trabalho, higiene e segurança, lazer, descanso e

promoção por critério de tempo, trabalho e capacidade, fundar ou se associar a sindicato e fazer

greve, segurança social. Proteção da família, das mães e das gestantes, vedação da mão -de-obra

infantil e restrição do trabalho de crianças e adolescentes.

Já os direitos sociais e culturais dizem respeito ao estabelecimento de um

padrão de vida adequado, incluindo a instrução e a participação na vida cultural da comunidade, ,

proteção contra a fome, o direito à alimentação, vestimenta, moradia, educação participação na vida

cultural e desfrutar do progresso científico.

Principais direitos estabelecidos pelo Pacto (e reconhecidos em nosso

ordenamento interno – ordinário e constitucional):

27

Direito à igualdade

Art 2º, PIDCP (arts 3º e 5º, “caput”, CF/88)

Igualdade entre homens e mulheres

Art 3º e 23, 4, PIDCP (art 5º, I, CF/88)

Direito à igualdade

Art 6º, PIDCP (art 5º, “caput”, CF/88)

Vedação da pena de morte (art 5º, XLVII, “a”, CF/88)

Crime hediondo de homicídio (art 121, CP c/c Lei 8930/94)

Convenção Americana de Direitos Humanos (”Pacto de San Jose da Costa Rica”).

Proibição de tortura e penas cruéis

Art 7º, PIDCP (art 5º, III, CF/88)

Crime hediondo de tortura (Lei 9455/97 c/c Lei 8930/94)

Criança ou adolescente ECA (Lei 8069/94)

Direito à liberdade

Art 9º, PIDCP (art 5º, “caput” e LXI, CF/88)

Princípio da Presunção de Inocência (art 14, 2, do PIDCP / art 5º, LVII, CF/88)

Condução imediata da pessoa ao juiz de direito, quando presa (art 8º, item 3, PIDCP)

Garantias às pessoas presas

Art 10, PIDCP art 5º, XLIX, CF/88)

Lei de Execução Penal (Lei 7210/84)

Menores – devem ser mantidos separados dos adultos e receber tratamento condizente (art

10, PIDCP, item 3) semelhante ao art 123, ECA (Lei 8069/90)

Proibição de prisão por não cumprimento de obrigação contratual

Prisão de depositário infiel art 11, PIDCP e art 7º, item 7, da Convenção A mericana de

Direitos Humanos art 5º, LXVII, CF/88

Direito à justiça

Todos são iguais perante a Justiça (art 14, PIDCP)

Ninguém será obrigado a confessar -se culpado (art 14, 3, “g”, PIDCP) direito de manter-

se calado (art 5º, LXIII, CF/88)

Direito à defesa (defensor) (art 14, 3, “d”, PIDCP)

Duplo grau de jurisdição (art 14, 5, PIDCP)

Liberdade de pensamento, consciência, religião e expressão

Arts 18 e 19, PIDCP art 5º, VI e IX, CF/88

28

Crime escarnecer alguém publicamente por motivo de crença ou funçã o religiosa, ou, então,

impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso (art 208, CP).

Direitos políticos e de associação

Direito de participar da condução dos assuntos políticos (art 25, PIDCP) (arts 1º,

parágrafo único e 14, CF/88).

Direito de votar e ser votado.

Reunião pacífica, livre associação, inclusive sindical (arts 21 e 22, PIDCP) (art 5º, XVI e

XVII, CF/88).

5.4. Pacto Internacional de Direitos Ec onômicos, Sociais e Culturais,adotado em 16DEZ66

Apesar da adoção de dois tratado s distintos, fruto das divergências dos blocos

ocidental e oriental, os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, como

sempre foi reafirmado pela ONU.

Diziam os ocidentais que:

- os direitos civis e políticos teriam aplicação imediata .

- os direitos econômicos, sociais e culturais seriam realizáveis

progressivamente.

Direitos econômicos: aqueles relacionados à produção, distribuição e consumo

da riqueza.

Direitos sociais e culturais: dizem respeito ao estabelecimento de um padrão de

vida adequado.

Dividido em 5 partes.

Como superação de um longo período de violação das liberdades fundamentais e

de acirramento das desigualdades sociais, filiou -se o país a um sistema jurídico que consagra

universalmente os valores fundamentais da digni dade humana e da justiça social, cujas normas

destinam-se não a cristalizar a exclusão e o privilégio, mas a obrigar os Estados a voltarem suas

ações aos esquecidos, aos marginalizados.

A constituição Federal de 1988, inspirada pelo ideal de mudança da rea lidade

brasileira, previu a integração das normas do Direito Internacional dos Direitos Humanos à

legislação interna (art. 5º, parágrafo 2º) , tendo como conseqüência não só a reiteração dos direitos

constitucionalmente assegurados, mas a geração de novos direitos civis e políticos e, sobretudo,

econômicos, sociais e culturais.

Neste contexto, o conhecimento do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,

Sociais, e culturais torna-se fundamental, eis que suas prescrições em boa parte ampliam as

29

disposições contidas no Título II da Constituição Federal de 1988, ou em artigos do Título VIII,

versando sobre a saúde, a educação, a cultura etc. Mais além, o tratado tem a considerável qualidade

de sistematizar a matéria, não apenas por abrigar sob um mesmo teto t odos os direitos sociais, mas

por permitir que se enxerguem suas características comuns, bem como sua relação com os direitos

humanos de outra espécie. De fato, como resultado do mesmo esforço que gerou o Pacto

Internacional dos Direitos Econômicos, Sociai s e Culturais, o tratado ora em estudo forma, com

aquele, unidade indivisível, enfatizando o caráter interdependente e complementar dos direitos

humanos.

5.5. Convenção Americana sobre Direitos Humanos – “Pacto de San

José de Costa Rica”, adotado em 22NOV69

Prevê, entre outros direitos e garantias, a impossibilidade da constrição da

liberdade por dívida.

Dispõe o art. 7, nº 7 do Pacto de San José da Costa Rica: “Ninguém deve ser

detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judici ária competente

expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar”.

Teve o propósito de consolidar no Continente, dentro das instituições

democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direitos

humanos essenciais, reconhecer os princípios consagrados na Carta da Organização dos Estados

Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração

Universal dos Direitos Humanos, e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros inst rumentos

internacionais, tanto de âmbito mundial como regional.

Os Estados-partes nesta Convenção comprometeram -se a respeitar os direitos e

liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita

à sua jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião,

opiniões políticas ou de qualquer natureza, origem nacional ou social, posição econômica,

nascimento ou qualquer outra condição social, devendo ainda criar legislações de acor do com suas

normas constitucionais para tornar efetivos tais direitos e liberdades.

Buscou ainda reconhecer os direitos civis e políticos da personalidade jurídica, o

respeito à vida protegido pela lei, respeitar a integridade física, não restabelecer a pe na de morte

caso o Estado a tenha abolido, proibir a escravidão e a servidão, assegurar garantias judiciais; teve

ainda como objetivo a família, afirmando -a o núcleo natural e fundamental da sociedade.

30

Em resumo, a referida convenção trata de todos os dire itos fundamentais da

pessoa humana, seus direitos civis e políticos, visando garantir a integridade física, psíquica e

moral.

6. Introdução ao estudo do Direito dos Tratados

6.1. Conceito de Tratado

Inicialmente podemos afirmar que os tratados internacio nais, enquanto acordos

internacionais juridicamente obrigatórios e vinculantes ( pacta sunt servanda), constituem a

principal fonte de obrigação do Direito Internacional.

Além do termo “tratado”, diversas outras denominações são usadas para se

referir aos acordos internacionais. As mais comuns são Convenção, Pacto, Protocolo, Carta,

Convênio, como também Tratado ou Acordo Internacional. Alguns termos são usados para denotar

solenidade (por exemplo, Pacto ou Carta) ou a natureza suplementar do acordo (Protoco lo).

Porém, a necessidade de disciplinar e regular o processo de formação dos

tratados internacionais resultou na elaboração da Convenção de Viena que, concluída em 1969, teve

como finalidade servir como a Lei dos Tratados. Contudo, limitou -se aos tratados celebrados entre

Estados, não envolvendo os tratados dos quais participam organizações internacionais.

Para os fins da Convenção o termo “tratado” significa “ um acordo internacional

concluído entre Estados, na forma escrita e regulado pelo Direito Interna cional”.

Ainda como disposto na referida Convenção, “ todo tratado em vigor é

obrigatório em relação às partes e deve ser cumprido por elas de boa -fé”, acrescentando ainda o art

27 que “uma parte não pode invocar disposições de seu direito interno como just ificativa para o

não cumprimento do tratado”. Consagra-se, assim, o princípio da boa -fé, pelo qual cabe ao Estado

conferir plena observância ao tratado de que é parte, na medida em que, no livre exercício de sua

soberania, o Estado contraiu obrigações jurí dicas no plano internacional.

Em geral os tratados permitem que sejam formuladas reservas, o que pode

contribuir para a adesão de um maior número de Estados. Nos termos do art 19 da Convenção de

Viena, as reservas constituem “ uma declaração unilateral feit a pelo Estado, quando da assinatura,

ratificação, acessão, adesão ou aprovação de um tratado, com o propósito de excluir ou modificar

o efeito jurídico de certas previsões do tratado, quando de sua aplicação naquele Estado ”.

Entretanto, são inadmissíveis r eservas que se mostrem incompatíveis com o objeto e propósito do

tratado.

31

6.2. Noções sobre a ratificação e incorporação dos Tratados

Conforme salienta o art 21, I, da CF, é competência exclusiva da União “ manter

relações com Estados estrangeiros e partici par de organizações internacionais ”. Por seu turno,

estabelece o art 84, VIII, da CF, que compete privativamente ao Presidente da República “ celebrar

tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional ”.

Assim, a celebração dos tratados sempre será levada a cabo pela representação

diplomática do Governo Federal, sendo que a assinatura dos tratados será de atribuição do

Presidente da República ou de representante por ele designado.

Assinado o tratado internacional pelo Pod er Executivo, faz-se necessária sua

aprovação pelo Poder Legislativo (mediante decreto legislativo), o qual decidirá definitivamente

sobre esta matéria (art 49, I, da CF), seguida de sua ratificação pelo Presidente da República. Desta

feita, o processo de formação dos tratados consiste em um ato complexo, do qual não participa

apenas o chefe do Poder Executivo Federal, mas também o Poder Legislativo, em estrita

observância ao princípio da harmonia dos poderes.

Encerrado o processo, o tratado passa a fazer p arte do ordenamento jurídico, com

status (conforme entendimento do STF) de lei ordinária. Realiza -se aqui, pois, a chamada recepção,

ou incorporação, do Tratado.

6.3. Princípio da primazia da norma mais favorável ao ser humano

Para resolver conflitos entre tratados e legislação interna, as regras tradicionais

de Direito Interno não são adotadas, sendo o princípio hermenêutico utilizado o da prevalência da

norma mais favorável ao ser humano .

O principal objetivo dos tratados é conferir às pessoas a mais ampl a proteção

possível. Por isso, busca-se incentivar a mais ampla harmonia e interação entre as suas disposições

e as normas editadas internamente, o que, na prática, reduz possíveis conflitos, pois estimula uma

interpretação ampliativa de todas as normas, s empre em benefício dos destinatários.

O princípio da prevalência da norma mais favorável ao ser humano impõe a

observância de duas regras de suma importância: a primeira de não suscitar disposições de direito

interno para impedir a aplicação de direitos ma is benéficos ao ser humano previstos nos tratados

ratificados e a segunda a de que, caso exista alguma disposição existente em lei promulgada

internamente que seja mais favorável às pessoas residentes no país, essa norma prevalece sobre as

disposições que constem de tratados aos quais o país aderiu.

As conseqüências da aplicação desse princípio são:

minimizar a possibilidade de conflitos entre instrumentos legais em seus aspectos

normativos;

32

maior coordenação entre tais instrumentos (dimensão vertical / dim ensão horizontal);

propósito da co-existência de distintos instrumentos jurídicos.

Ocorrendo essa integração os beneficiários serão as pessoas protegidas, numa

última análise todos seres humanos.

7. Lei Federal n° 7.853, de 24OUT89

Esta lei dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração

social, institui a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência -

CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a

atuação do Ministério Público, e define os crimes a respeito. Visa fundamentalmente garantir o

pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua

efetiva integração social.

Nela, são definidos como crimes pri ncipais cujo conhecimento é necessário à

atividade policial:

recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de

aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por

motivos derivados da deficiência que porta;

obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a qualquer cargo público, por motivos derivados

de sua deficiência;

negar, sem justa causa, a alguém, por motivos derivados de sua deficiência, emprego ou

trabalho;

recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico -hospitalar e

ambulatorial, quando possível, à pessoa portadora de deficiência;

8. Lei Estadual n° 11.199, de 12JUL02

Esta Lei proíbe a discriminação aos portadores do vírus HIV ou as pesso as com

AIDS. Conforme seu artigo 2º, são formas de discriminação a tais pessoas:

solicitar exames para a detecção do vírusHIV ou da AIDS para inscrição em concurso ou

seleção para ingresso no serviço público ou privado;

segregar os portadores do vírus HIV ou as pessoas com AIDS no ambiente de trabalho;

33

divulgar, por quaisquer meios, informações ou boatos que degradem a imagem social do

portador do vírus HIV ou de pessoas com AIDS, sua família, grupo étnico ou social a que

pertença;

impedir o ingresso ou a permanência no serviço público ou privado de suspeito ou

confirmado portador do vírus HIV ou pessoa com AIDS, em razão desta condição;

impedir a permanência do portador do vírus HIV no local de trabalho, por este motivo;

recusar ou retardar o atendimento, a realização de exames ou qualquer procedimento médico

ao portador do vírus HIV ou pessoa com AIDS, em razão desta condição;

obrigar de forma explícita ou implícita os portadores do vírus HIV ou pessoa com AIDS a

informar sobre a sua condição a funcionários hierarquicamente superiores.

Além disso, seu artigo 8º proíbe impedir o ingresso, a matrícula ou a inscrição de

portador do vírus HIV ou pessoa com AIDS em creches, escolas, centros esportivos ou culturais,

programas, cursos e demais equipamentos de uso c oletivo, em razão desta condição.

9. Os tratados internacionais

9.1. Convenção Relativa ao Est atuto dos Refugiados

Adotada em 28 de julho de 1951 pela Conferência das Nações Unidas, seu

objetivo se foca na preocupação pelos refugiados e no esforço por as segurar a estes o exercício mais

amplo possível dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. Define também quem é a

pessoa considerada refugiada, a saber, aquela:

Que foi considerada refugiada nos termos dos Ajustes de 12 de maio de 1926 e de 30 de

junho de 1928, ou das Convenções de 28 de outubro de 1933 e de 10 de fevereiro de 1938 e

do Protocolo de 14 de setembro de 1939, ou ainda da Constituição da Organização

Internacional dos Refugiados.

Que, em conseqüência dos acontecimentos ocorridos antes d e 1º de janeiro de 1951 e

temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou

opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em

virtude desse temor, não quer valer -se da proteção desse país, ou que, se não tem

nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em

conseqüência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar

a ele.

34

9.2. Protocolo sobre Estatuto dos Refugiados

Adotado em 1966, em razão de a Convenção Relativa ao Estatuto dos

Refugiados aplicar-se somente às pessoas que se tornaram refugiados em decorrência dos

acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951. Subtraiu a condição de que os fatos

tivessem ocorrido antes daquela data, aplicando -se também às ocorrências posteriores.

No Brasil, a solicitação de refúgio, tem início na Polícia Federal, onde são

tomadas por termo declarações que o solicitante presta à autoridade imigratória. O solicitante é

informado de que deverá comparecer à sede da Cáritas Arquidiocesana, no Rio de Janeiro e em São

Paulo, para preencher um questionário, inclusive, se possível, com a indicação de elementos de

prova que fundamentem o pedido. Manifestada a vontade de solicitar refúgio o estrangeiro será

entrevistado por um funcionário da Coordenação -Geral do Comitê Nacional para os Refugiados –

CONARE. O caso é submetido à apreciação do Comitê, órgão colegiado vinculado ao Ministério da

Justiça, que decidirá quanto ao reconhecimento ou não da condição de refugiado.

9.3. Declaração sobre o Asilo Territorial, proclamada em 14DEZ67, pelaAssembléia Geral das Nações Unidas.

Recomendou, em 1967, basicamente, que os Estados concedam asilo à pessoa

que tiver motivos para invocar a condição des crita no artigo 14 da Declaração Universal dos

Direitos Humanos, ou seja, aquela que estiver sob perseguição, exceto a legitimamente motivada

por crimes de direito comum ou por atividades contrárias aos propósitos e princípios das Nações

Unidas. Estabeleceu ainda que os Estados devem respeitar a concessão de tal asilo.

A principal diferença entre os institutos jurídicos do asilo e do refúgio reside no

fato de que o primeiro constitui exercício de um ato soberano do Estado, sendo decisão política cujo

cumprimento não se sujeita a nenhum organismo internacional. Já o segundo, sendo uma instituição

convencional de caráter universal, aplica -se de maneira apolítica, visando à proteção de pessoas

com fundado temor de perseguição.

O asilo é uma instituição que visa à proteção frente à perseguição atual e efetiva.

Já nos casos de refúgio é suficiente o fundado temor de perseguição.

O asilo pode ser solicitado no próprio país de origem do indivíduo perseguido. O

refúgio, por sua vez, somente é admitido quando o indiví duo está fora de seu país.

Para solicitar asilo, o estrangeiro deve procurar a Polícia Federal no local onde se

encontra e prestar declarações, onde serão justificados os motivos da perseguição que sofre. O

processo, então, é submetido ao Ministério das Re lações Exteriores para pronunciamento. A decisão

35

final é proferida pelo Ministro da Justiça. Posteriormente, o asilado é registrado junto à Polícia

Federal, onde presta compromisso de cumprir as leis do Brasil e as normas de Direito Internacional.

9.4. Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, adotadas pelo1º Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime eTratamento de Criminosos, reunido em Genebra em 1955, e aprovadas

pelo Conselho Econômico e Social em 31JUL57 e 13MAIO77

O objetivo destas regras não é descrever detalhadamente um sistema

penitenciário modelo, mas apenas estabelecer, inspirando -se em conceitos geralmente admitidos em

nossos tempos e nos elementos essenciais dos sistemas contemporâneos mais adequados, os

princípios e as regras de uma boa organização penitenciária e da prática relativa ao tratamento de

prisioneiros.

Devido à grande variedade de condições jurídicas, sociais, econômicas e

geográficas existentes no mundo, todas estas regras não podem ser aplicadas indistintame nte em

todas as partes e a todo tempo. Devem, contudo, servir para estimular o esforço constante com

vistas à superação das dificuldades práticas que se opõem a sua aplicação, na certeza de que

representam, em seu conjunto, as condições mínimas admitidas p elas Nações Unidas.

A primeira parte das regras trata das matérias relativas à administração geral dos

estabelecimentos penitenciários e é aplicável a todas as categorias de prisioneiros, criminais ou

civis, em regime de prisão preventiva ou já condenados, incluindo aqueles que tenham sido objeto

de medida de segurança ou de medida de reeducação ordenada por um juiz.

A segunda parte contém as regras que são aplicáveis somente às categorias de

prisioneiros a que se refere cada seção. Entretanto, as regras da seção A, aplicáveis aos presos

condenados, serão igualmente aplicáveis às categorias de presos a que se referem as seções B, C e

D, sempre que não sejam contraditórias com as regras específicas dessas seções e sob a condição de

que sejam proveitosas para tais prisioneiros.

Estas regras não estão destinadas a determinar a organização dos

estabelecimentos para delinqüentes juvenis. Todavia, de um modo geral, pode -se considerar que a

primeira parte destas regras mínimas também é aplicável a esses estabelecime ntos.

36

9.5. Conjunto de Princípios para a Proteção de todas as Pessoas

sujeitas a qualquer forma de Detenção ou Prisão, aprovado em09DEZ88

As pessoas que estão privadas de liberdade para cumprir penas são mais

vulneráveis a sofrerem violações dos direitos humanos. Embora a condição de prisão só implique

legalmente na perda temporária de alguns direitos e liberdades pessoais como o direito a ir e vir

livremente, à liberdade de expressão, à liberdade de associação e à liberdade de votar e ser votado,

habitualmente, esta se dá em condições tais que de um modo geral violam os direitos humanos

essenciais. É, portanto, dever do Estado garantir que as condições da prisão não se constituam em

penas suplementares e que as penas privativas de liberdade se efetivem em condições compatíveis

com o respeito aos direitos humanos fundamentais.

Para efeitos do Conjunto de Princípios:

“captura” designa o ato de deter um indivíduo por suspeita da prática de infração ou por ato

de uma autoridade;

“pessoa detida” designa a pessoa privada de sua liberdade, exceto se o tiver sido em

conseqüência de condenação pela prática de um delito;

“pessoa presa” designa a pessoa privada de sua liberdade em conseqüência de condenação

pela prática de um delito;

“detenção” designa a condição das pessoas detidas nos termos acima referidos, e

“prisão” designa a condição das pessoas presas nos termos acima referidos.

São 39 Princípios e nenhum deles poderá ser interpretado no sentido de restringir

ou derrogar algum dos direitos definidos pelo Pacto I nternacional de Direitos Civis e Políticos.

9.6. Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de

Discriminação contra a Mulher, adotada em 18DEZ79

Adotada sobretudo em razão da preocupação originada da constatação de que,

apesar da existência de diversos instrumentos de proteção, as mulheres continuam sendo objeto de

grandes discriminações, lembrando que a discriminação contra a mulher viola os princípios da

igualdade de direitos e do respeito à dignidade humana, dificultando a participação da mulher, na s

mesmas condições que o homem, na vida política, social, econômica e cultural de seu país,

constituindo um obstáculo ao aumento do bem -estar da sociedade e da família e impedindo a

mulher de servir o seu país e a Humanidade em toda a extensão das suas pos sibilidades.

Considerou-se também que o estabelecimento da nova ordem econômica

internacional, baseada na eqüidade e na justiça, contribui de forma significativa para a promoção da

37

igualdade entre homens e mulheres, e que a eliminação do apartheid, de toda s as formas de racismo,

discriminação racial, colonialismo, neocolonialismo, agressão, ocupação e dominação estrangeiras e

de ingerência nos assuntos internos dos Estados é essencial para o pleno exercício dos direitos dos

homens e das mulheres; bem assim, o pleno desenvolvimento de um país, o bem -estar do mundo e a

causa da paz exigem a máxima participação das mulheres, em igualdade com os homens em todos

os domínios.

Buscou reconhecer a importância da contribuição das mulheres para o bem -estar

da família e o progresso da sociedade, não plenamente reconhecida, a importância social da

maternidade e o papel desempenhado por ambos os pais na família e na educação dos filhos,

considerando que o papel da mulher na procriação não deve ser causa de discriminação, e que a

educação dos filhos exige o compartir das responsabilidades entre homens e mulheres e a sociedade

no seu conjunto;

Bem assim, reconheceu que havia necessidade de modificar o papel tradicional

tanto dos homens como das mulheres na família e na socie dade, se desejamos alcançar uma

igualdade real entre homens e mulheres;

9.7. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar aViolência contra a Mulher (“Convenção de Belém do Pará”), adotada em09JUN94

Foi adotada em razão dos seguintes reconhe cimentos:

O respeito irrestrito aos Direitos Humanos foi consagrado na Declaração Americana dos

Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos Humanos e

reafirmado em outros instrumentos internacionais e regionais;

A violência contra a mulher constitui uma violação dos direitos humanos e das liberdades

fundamentais e limita total ou parcialmente à mulher o reconhecimento, gozo e exercício de

tais direitos e liberdades;

A violência contra a mulher é uma ofensa à dignidade humana e uma man ifestação de

relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens, e transcende todos os

setores da sociedade, independentemente de sua classe, raça ou grupo étnico, níveis de

salário, cultura, nível educacional, idade ou religião, e afeta ne gativamente suas próprias

bases;

A eliminação da violência contra a mulher é condição indispensável para seu

desenvolvimento individual e social e sua plena igualitária participação em todas as esferas

da vida;

38

A adoção de uma convenção para prevenir, puni r e erradicar toda forma de violência contra

a mulher, no âmbito da Organização dos Estados Americanos, constitui uma contribuição

positiva para proteger os direitos da mulher e eliminar as situações de violência que possam

afetá-las.

9.8. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEISPELA APLICAÇÃO DA LEI, ADOTADO EM 17DEZ79

A questão da ética profissional na aplicação da lei tem recebido alguma

consideração nos instrumentos internacionais de Direitos Humanos e Justiça Criminal, de maneira

mais destacada no Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL)

adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas em sua resolução 34/169 de 17 de dezembro de

1979. A resolução da Assembléia Geral que adota o CCEAL estipula que a naturez a das funções

dos Encarregados da Aplicação da Lei na defesa da ordem pública, e a maneira pela qual as funções

são exercidas, possui um impacto direto na qualidade de vida dos indivíduos assim como da

sociedade como um todo. Ao mesmo tempo que ressalta a importância das tarefas desempenhadas

pelos encarregados da aplicação da lei, a Assembléia Geral também destaca o potencial para o

abuso que o comprimento desses deveres acarreta.

A necessidade de ter encarregados competentes para efetuar uma captura

levou muitas organizações de aplicação da lei, de vários países, a manter unidades ou equipes

especializadas para situações de capturas difíceis ou perigosas. Estas unidades ou equipes consistem

de encarregados da aplicação da lei que são sel ecionados e treinados para desempenhar uma função

para a qual nem todo o encarregado da aplicação da lei pode ser considerado competente.

Conforme estabelece o Código, o “ termo funcionários responsáveis pela

aplicação da lei inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes

policiais, especialmente poderes de detenção ou prisão. Nos países onde os poderes policiais são

exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do

Estado, será entendido que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá

os funcionários de tais serviços ”.

Tem como principal objetivo criar padrões para as práticas de aplicação da Lei

de acordo com os direitos e liberdades humanas. Sendo qu e o Código é subdividido em

respectivamente oito artigos, com os referidos assuntos:

1º Cumprir os deveres, servindo a comunidade.

2º Respeito à dignidade humana.

39

3º Uso da força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do

dever.

4º Segredo das questões confidenciais em serviço.

5º Proibição da tortura e tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante.

6º Proteção da saúde das pessoas sob sua custódia.

7º Proibição da prática de ato de corrupção.

8º Respeito ao Código e a Lei .

9.9. Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelosFuncionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotado em 07SET90

Estes princípios foram adotados no 8º Congresso das Nações Unidas sobre a

Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infrat ores (Havana, Cuba de 27/08 a 07/09/1990).

Também não é um tratado na acepção técnica do conceito de tratado,

configurando-se como um instrumento orientador e referencial da ONU aos seus Estados -membros.

Seus princípios devem ser levados ao conhecimento, a lém dos Encarregados de

Aplicação da Lei (E. A. L.), também aos magistrados, membros do MP, advogados, membros dos

poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e o público em geral.

Estes princípios têm os seguintes objetivos básicos: a manutenção da Ordem

Pública, o treinamento dos E. A. L. e a conduta dos E. A. L.

Apresenta ainda três princípios essenciais que devem ser respeitados sempre que

for necessário o emprego da força ou armas de fogo: LEGALIDADE, NECESSIDADE e

PROPORCIONALIDADE .

Deve ser feita uma avaliação individual quando empregada a força ou armas de

fogo.

Portanto: uso da força – excepcional e o uso da arma de fogo – medida extrema.

O seu texto discorre sobre os seguintes assuntos:

- necessidade de qualificação, treinamento e aconselhamento dos E. A. L.

- uso indevido da força ou arma de fogo – crime.

- policiamento em reuniões ilegais – uso da arma medida extrema – jamais disparar

indiscriminadamente na direção da multidão violenta.

- procedimentos de comunicação e revisão – uso da arma de fogo.

- observar sempre a Lei nos casos de ordem ilegal ou ilegítima.

40

A DUDH reconhece no art 20 o direito de todos a participarem de reuniões

pacíficas, reiterado pelo PIDCP no art 21. É por essa razão que os governos e as organizações de

aplicação da lei deverão reconhecer que a força e as armas de fogo contra reuniões ilegais só

poderão ser empregadas de acordo com os princípios básicos do uso da força e de armas de fogo.

Ao dispersar grupos ilegais, mas não violentos, os policiais deverão evitar o uso

da força ou, quando tal não for possível, deverão restringir o uso da força ao mínimo necessário.

Ao dispersar grupos violentos, os E. A. L. só poderão fazer o uso de armas de

fogo quando não for possível usar outros meios menos lesivos, e apenas nos termos minimamente

necessários.

9.10. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou PenasCruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada em 10DEZ84

Adotada visando fundamentalmente prevenir a prática de tortura. A convenção

define, tortura, para os fins de sua aplicação, co mo qualquer ato pelo qual uma violenta dor ou

sofrimento, físico ou mental, são infligidos intencionalmente a uma pessoa, com o fim:

- de se obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissão;

- de puni-la por um ato que ela ou uma terceira pessoa t enha cometido ou seja suspeita de ter

cometido;

- de intimidar ou coagir ela ou uma terceira pessoa;

Ou ainda por qualquer razão baseada em discriminação de qualquer espécie,

quando tal dor ou sofrimento são impostos por um funcionário público ou por outra p essoa atuando

no exercício de funções públicas, ou ainda, por instigação dele ou com o seu consentimento ou

aquiescência.

A Convenção não considera como tortura as dores ou sofrimentos que sejam

conseqüência, inerentes ou decorrentes de sanções legítimas.

9.11. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura,adotada em 09DEZ85

Adotada pelos estados americanos em decorrência direta da Convenção contra a

Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degr adantes de 10DEZ84. Define a

tortura nos mesmos termos. Trata -se de um instrumento de proteção regional complementar à

Convenção adotada pela ONU.

41

9.12. Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimasda Criminalidade e de Abuso de Poder, aprovada em 29NOV85

A Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da

Criminalidade e de Abuso de Poder visa ajudar os Governos e a comunidade internacional nos

esforços desenvolvidos no sentido de fazer justiça às vítimas da criminalidade e de abuso de poder e

no sentido de lhes proporcionar a necessária assistência.

Solicita aos Estados membros que tomem as medidas necessárias para tornar

efetivas as disposições da Declaração e que, a fim de reduzir a vitimização, a que ela faz referência,

se empenhem em:

a) Aplicar medidas nos domínios da assistência social, da saúde, incluindo a saúde mental, da

educação e da economia, bem como medidas especiais de prevenção criminal para reduzir a

vitimização e promover a ajuda às vítimas em situação de carência;

b) Incentivar os esforços coletivos e a participação dos cidadãos na prevenção do crime;

c) Examinar regularmente a legislação e as práticas existentes, a fim de assegurar a respectiva

adaptação à evolução das situações, e adotar e aplicar legislação que proíba atos contrários às

normas internacionalmente reconhecidas no âmbito dos direitos do homem, do

comportamento das empresas e de outros atos de abuso de poder;

d) Estabelecer e reforçar os meios necessários à investigação, à persecução e à condenação dos

culpados da prática de crimes;

e) Promover a divulgação de informações que permitam aos cidadãos a fiscalização da conduta

dos funcionários e das empresas e promover outros meios de acolher as preocupações dos

cidadãos;

f) Incentivar o respeito dos códigos de conduta e das normas éticas, e, nomeadamente, das

normas internacionais, por parte dos funcionários, incluindo o pessoal encarregado da

aplicação das leis, o dos serviços penitenciários, o dos serviços médicos e sociais e o das

forças armadas, bem como por parte do pessoal das empres as comerciais;

g) Proibir as práticas e os procedimentos susceptíveis de favorecer os abusos, tais como o uso de

locais secretos de detenção e a detenção em situação incomunicável;

h) Colaborar com os outros Estados, no quadro de acordos de auxílio judiciário e administrativo,

em domínios como o da investigação e o da persecução penal dos delinqüentes, da sua

extradição e da penhora dos seus bens para os fins de indenização às vítimas.

Recomenda que, aos níveis internacional e regional, sejam tomadas todas as

medidas apropriadas para:

a) Desenvolver as atividades de formação destinadas a incentivar o respeito pelas normas e

princípios das Nações Unidas e a reduzir as possibilidades de abuso;

42

b) Organizar trabalhos conjuntos de investigação, orientados de forma prática, sobre os modos de

reduzir a vitimização e de ajudar as vítimas, e para desenvolver trocas de informação sobre os

meios mais eficazes de o fazer;

c) Prestar assistência direta aos Governos que a peçam, a fim de os ajudar a reduzir a vitimização

e a aliviar a situação de carência em que as vítimas se encontrem;

d) Proporcionar meios de recurso acessíveis às vítimas, quando as vias de recurso existentes a

nível nacional possam revelar -se insuficientes.

Solicita ao Secretário Geral que convide os Estados membros a in formarem

periodicamente a Assembléia Geral sobre a aplicação da Declaração, bem como sobre as medidas

que tomem para tal efeito.

Solicita, igualmente, ao Secretário Geral que utilize as oportunidades oferecidas

por todos os órgãos e organismos competentes dentro do sistema das Nações Unidas, a fim de

ajudar os Estados membros, sempre que necessário, a melhorarem os meios de que dispõem para

proteção das vítimas a nível nacional e através da cooperação internacional.

Solicita, também, ao Secretário -Geral que promova a realização dos objetivos da

Declaração, nomeadamente dando -lhe uma divulgação tão ampla quanto possível.

9.13. Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada em 20NOV89

Instrumento internacional que visa proteger os direitos da criança, tendo e m vista

que a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamou que a infância tem direito a cuidados

e assistência privilegiados.

De sua existência deriva o Estatuto da Criança e do Adolescente brasileiro.

A convenção define como criança, para os seus f ins, a pessoa com menos de 18

anos de idade. A diferenciação entre criança e adolescente é fruto da legislação brasileira.

10. Programa Nacional de Direitos Humanos – propostas de ações

governamentais

10.1. proteção do direito à vida

Segurança das pessoas

Curto prazo

Promover a elaboração do mapa da violência urbana, com base em dados e

indicadores de desenvolvimento urbano e qualidade de vida, a partir de quatro

grandes cidades;

43

Elaborar um mapa da violência rural a partir de uma região do país, visando a

identificar áreas de conflitos e possibilitar análise mais aprofundada da atuação do

Estado.

Apoiar programas para prevenir a violência contra grupos em situação mais

vulnerável, caso de crianças e adolescentes, idosos, mulheres, negros, indígenas,

migrantes, trabalhadores sem terra e homossexuais.

Aperfeiçoar a legislação sobre venda, posse, uso e porte de armas e munições pelos

cidadãos, condicionando-os a rigorosa comprovação de necessidade, aptidão e

capacidade de manuseio.

Propor projeto de lei regulando o uso de armas e munições por policiais nos horários

de folga e aumentando o controle nos horários de serviço.

Apoiar a criação de sistemas integrados de controle de armamentos e munições pelos

Governos estaduais, em parceria com o Governo Federal .

Implementar programas de desarmamento, com ações coordenadas para apreender

armas e munições de uso proibido ou possuídas ilegalmente.

Estimular o aperfeiçoamento dos critérios para seleção, admissão, capacitação,

treinamento e reciclagem de policiais.

Incluir nos cursos das academias de polícia matéria específica sobre direitos

humanos.

Implementar a formação de grupo de consultoria para educação em direitos

humanos, conforme o Protocolo de Intenções firmado entre o Ministério da Justiça e

a Anistia Internacional para ministrar cursos de direitos humanos para as polícias

estaduais.

Estruturar a Divisão de Direitos Humanos, criada recentemente no organograma da

Polícia Federal.

Estimular a criação e o fortalecimento das corregedorias de polícia, com vistas a

limitar abusos e erros em operações policiais e emitir diretrizes claras a todos os

integrantes das forças policiais com relação à proteção dos direitos humanos.

44

Propor o afastamento nas atividades de policiamento de policiais acusados de

violência contra os cidadãos, com imediata instauração de sindicância, sem prejuízo

do devido processo criminal.

Incentivar a criação de Ouvidorias de Polícia, com representantes da sociedade civil

e autonomia de investigação e fiscalização.

Estimular a implementação de programas de seguro de vida e de saúde para policiais.

Apoiar a criação de um sistema de proteção especial à família dos policiais

ameaçados em razão de suas atividades.

Estimular programas de cooperação e entrosamento entre policiais civis e m ilitares e

entre estes e o Ministério Público.

Apoiar, com envio de pedido de urgência, o projeto de lei nº 73 que estabelece o

novo Código de Trânsito.

Promover programas de caráter preventivo que contribuam para diminuir a

incidência de acidentes de trânsito.

Médio prazo

Incentivar programas de capacitação material das polícias, com a necessária e

urgente renovação e modernização dos equipamentos de prestação da segurança

pública.

Apoiar as experiências de polícias comunitárias ou interativas, entrosa das com

conselhos comunitários, que encarem o policial como agente de proteção dos direitos

humanos.

Apoiar programas de bolsas de estudo para aperfeiçoamento técnico dos policiais.

Rever a legislação regulamentadora dos serviços privados de segurança, c om o

objetivo de limitar seu campo de atuação, proporcionar seleção rigorosa de seus

integrantes e aumentar a supervisão do poder público.

Estimular a regionalização do intercâmbio de informações e cooperação de

atividades de segurança pública, com apoio aos atuais Conselhos de Segurança

Pública do Nordeste, do Sudeste e do Entorno, e a outros que venham a ser criados.

45

Apoiar a expansão dos serviços de segurança pública, para que estes se façam

presentes em todas as regiões do país.

Luta contra a impunidade

Curto prazo

Atribuir à Justiça Federal a competência para julgar (a) os crimes praticados em

detrimento de bens ou interesses sob a tutela de órgão federal de proteção a direitos

humanos (b) as causas civis ou criminais nas quais o referido órgão ou o Procurador-

Geral da República manifeste interesse.

Atribuir à Justiça Comum a competência para processar e julgar os crimes cometidos

por policiais militares no policiamento civil ou com arma da corporação, apoiando

projeto específico já aprovado na Câmar a dos Deputados.

Propor projeto de lei para tornar obrigatória a presença no local, do juiz ou do

representante do Ministério Público, à ocasião do cumprimento de mandado de

manutenção ou reintegração de posse de terras, quando houver pluralidade de réus,

para prevenir conflitos violentos no campo, ouvido também o órgão administrativo

da reforma agrária.

Apoiar proposições legislativas que objetivem dinamizar os processos de

expropriação para fins de reforma agrária, assegurando -se, para prevenir violências,

mais cautela na concessão de liminares.

Apoiar, no contexto da reforma do Estado, coordenada pelo Ministério da

Administração e Reforma do Estado, propostas para modernizar o Judiciário e para

fortalecer o sistema de proteção e promoção dos direitos h umanos, de forma a

agilizar os processos, simplificar as regras e procedimentos e aumentar as garantias

do tratamento igualitário de todos perante a lei.

Apoiar a expansão dos serviços de prestação da justiça, para que estes se façam

presentes em todas as regiões do país.

Apoiar a multiplicação e manutenção, pelos Estados, de juizados especiais civis e

criminais.

Incentivar a prática de plantões permanentes no Judiciário, Ministério Público,

Defensoria Pública e Delegacias de Polícia.

46

Estudar a viabilidade de um sistema de juízes, promotores e defensores públicos

itinerantes, especialmente nas regiões distantes dos centros urbanos, para ampliar o

acesso à justiça.

Apoiar medidas de fortalecer as corregedorias internas do Ministério Público e do

Poder Judiciário, para aumentar a fiscalização e monitoramento das atividades dos

promotores e juízes.

Regulamentar o artigo 129, VII, da Constituição Federal, que trata do controle

externo da atividade policial pelo Ministério Público.

Apoiar a criação nos Estados de programas de proteção de vítimas e testemunhas de

crimes, expostas a grave e atual perigo em virtude de colaboração ou declarações

prestadas em investigação ou processo penal.

Propugnar pela aprovação do projeto de lei Nº 4.716 -A/94 que tipifica o crime de

tortura.

Reformular o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH),

ampliando a participação de representantes da sociedade civil e a sua competência.

Incentivar a criação e fortalecimento de conselhos de defesa dos direitos humanos

nos Estados e Municípios.

Apoiar a atuação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e de

comissões de direitos humanos nos Estados e Municípios, e às comissões

parlamentares de inquérito - tanto no Congresso Nacional como nas Assembléias

Legislativas - para a investigação de crimes contra os direitos humanos.

Apoiar a criação de comissões de direitos humanos no Senado Federal e nas

assembléias legislativas e câmaras municipais onde estas comissões não tenham

ainda sido criadas.

Fortalecer e ampliar a esfera de atuação da Ouvidoria Geral da República, a fim de

ampliar a participação da população no monitoramento e fiscalização das atividades

dos órgãos e agentes do poder público.

Estimular a criação do serviço "Disque Denúncia" em todo país e instituir esse

serviço nas repartições públicas federais que integram o sistema federal de segurança

pública.

47

Médio prazo

Propor a revisão da legislação sobre abuso e desacato à autoridade.

Fortalecer os Institutos Médico -Legais ou de Criminalística, adotando medidas que

assegurem a sua excelência técnica e progressiva autonomia, articulando -os com

universidades, com vistas a aumentar a absorção de tecnologias.

Implantar o Programa de Integração das Informações Criminais, visando à criação de

uma cadastro nacional de identificação criminal.

Dar continuidade à estruturação da Defensoria Pública da União, bem como

incentivar a criação de Defensorias Públicas junto a todas as comarcas do país.

Longo prazo

Apoiar a criação do Conselho Nacional de Justiça , com a função de fiscalizar as

atividades do Poder Judiciário.

10.2. Educação e cidadania, bases para uma cultura de Direitos

Humanos

Produção e Distribuição de Informações e Conhecimento

Curto prazo

Criar e fortalecer programas de educação para o respeit o aos direitos humanos nas

escolas de primeiro, segundo e terceiro grau, através do sistema de "temas

transversais" nas disciplinas curriculares, atualmente adotado pelo Ministério da

Educação e do Desporto, e através da criação de uma disciplina sobre dir eitos

humanos

Apoiar a criação e desenvolvimento de programas de ensino e de pesquisa que

tenham como tema central a educação em direitos humanos.

Incentivar campanha nacional permanente que amplie a compreensão da sociedade

brasileira sobre o valor da v ida humana e a importância do respeito aos direitos

humanos.

Incentivar, em parceria com a sociedade civil, a criação de prêmios, bolsas e outras

distinções regionais para entidades e personalidades que tenham se destacado

periodicamente na luta pelos dir eitos humanos.

48

Estimular os partidos políticos e os tribunais eleitorais a reservarem parte do seu

espaço específico à promoção dos direitos humanos.

Atribuir, anualmente, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos.

Médio prazo

Incentivar a criação de canais de acesso direto da população a informações e meios

de proteção aos direitos humanos, como linhas telefônicas especiais.

Conscientização e Mobilização pelos Direitos Humanos

Curto prazo

Apoiar programas de informação, educação e treinamento de direitos h umanos para

profissionais de direito, policiais, agentes penitenciários e lideranças sindicais,

associativas e comunitárias, para aumentar a capacidade de proteção e promoção dos

direitos humanos na sociedade brasileira.

Orientar tais programas na valoriz ação da moderna concepção dos direitos humanos

segundo a qual o respeito à igualdade supõe também a tolerância com as diferenças e

peculiaridades de cada indivíduo.

Apoiar a realização de fóruns, seminários e "workshops" na área de direitos

humanos.

Médio prazo

Incentivar a criação de bancos de dados sobre entidades, representantes políticos,

empresas, sindicatos, igrejas, escolas e associações comprometidos com a proteção e

promoção dos direitos humanos.

Apoiar a representação proporcional de grupos e c omunidades minoritárias do ponto

de vista étnico, racial e de gênero nas campanhas de publicidade e de comunicação

de agências governamentais.

Longo prazo

Incentivar campanhas de esclarecimento da opinião pública sobre os candidatos a

cargos públicos e lideranças da sociedade civil comprometidos com a proteção e

promoção dos direitos humanos.

49

11. Programa Estadual de Direitos Humanos – propostas de ações

para o governo e para a sociedade

Instituído através do Decreto nº 42.209, de 15 de setembro de 1.997 , em

decorrência dos princípios da universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos estabelecidos

na Conferência Internacional de Viena, de 1993, e a fim de estabelecer um processo continuado de

promoção dos direitos humanos e da cidadania, em que Es tado e sociedade civil interajam de forma

eficaz, rumo à construção de uma sociedade justa e solidária.

11.1. educação para a democracia e os direitos humanos Introduzir noções de direitos humanos no currículo escolar, no ensino de primeiro, segundo

e terceiro graus, pela abordagem de temas transversais.

Promover cursos de capacitação de professores para ministrar disciplinas ou desenvolver

programas interdisciplinares na área de direitos humanos, em parceria com entidades não

governamentais.

Desenvolver programas de informação e formação para profissionais do direito, policiais

civis e militares, agentes penitenciários e lideranças comunitárias, orientados pela concepção

dos direitos humanos segundo a qual o respeito à igualdade supõe também reconhecimento e

valorização das diferenças entre indivíduos e coletividades.

Criar comissão para elaborar e sugerir material didático e metodologia educacional e de

comunicação para a implementação dos itens imediatamente anteriores.

Conceder anualmente prêmios a entida des e pessoas que se destacaram na defesa dos

direitos humanos.

Apoiar iniciativas de premiação de programas e reportagens que ampliem a compreensão da

sociedade sobre a importância do respeito aos direitos humanos.

Promover e apoiar a promoção, nos municí pios e regiões do Estado, de debates, encontros,

seminários e fóruns sobre políticas e programas de direitos humanos.

Promover campanhas de divulgação das normas internacionais de proteção dos direitos

humanos para operadores do direito, organizações não g overnamentais, igrejas, movimentos

sociais e sindicais.

50

Fomentar ações de divulgação e conscientização da importância da legislação nacional

pertinente às políticas de proteção e promoção dos direitos humanos.

Desenvolver campanhas estaduais permanentes qu e ampliem a compreensão da sociedade

brasileira sobre o valor da vida humana e a importância do respeito aos direitos humanos.

Promover campanha publicitária sobre o 50º aniversário da Declaração Universal dos

Direitos Humanos em 1998.

Desenvolver campanha publicitária voltada para escolas em relação ao valor da diferença.

Promover concursos entre as escolas por meio de cartazes, redações, manifestações artísticas

sobre o tema da diferença.

11.2. segurança do cidadão e medidas contra a violência

Apoiar programas e campanhas de prevenção à violência contra pessoas e grupos em

situação de alto risco, particularmente crianças e adolescentes, idosos, mulheres, negros,

indígenas, migrantes, homossexuais, transexuais, trabalhadores sem -terra, trabalhadores

sem-teto, da população em situação de rua, incluindo policiais e seus familiares ameaçados

em razão da natureza da sua atividade.

Criar programa específico para prevenção e repressão à violência doméstica e

implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente, n a parte de assistência a famílias,

crianças e adolescentes em situação de risco, com a participação de organizações da

sociedade civil e do Governo, particularmente das delegacias de defesa da mulher,

ampliando e fortalecendo serviços de atendimento e inve stigação de casos de violência

doméstica.

Integrar os sistemas de informação e comunicação das polícias civil e militar.

Coordenar e integrar as ações das polícias civil e militar.

Elaborar um mapa de risco de violência no Estado, por região e município.

Criar cursos regulares para capacitação em gerenciamento de crise e negociação em

conflitos coletivos, dedicados a profissionais ligados às áreas de segurança e justiça.

Desenvolver programas e campanhas para impedir o trabalho forçado, sobretudo de

crianças, adolescentes e migrantes, particularmente por meio da criação nas secretarias de

Emprego e Relações do Trabalho, da Criança, Família e Bem Estar Social e Segurança

Pública, de áreas especializadas na prevenção e repressão ao trabalho forçado.

51

Valorizar os conselhos comunitários de segurança, dotando -os de maior autonomia e

representatividade, para que eles possam servir efetivamente como centros de

acompanhamento e monitoramento das atividades das polícias civil e militar pela

comunidade e como mecanismo s para melhorar a integração e cooperação entre as polícias

civil e militar e a sociedade.

Incentivar a realização de experiências de polícia comunitária, definindo não apenas a

manutenção da ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio mas t ambém e

principalmente a defesa dos direitos de cidadania e da dignidade da pessoa humana como

missões prioritárias das polícias civil e militar.

Ampliar a atuação das polícias, orientando -as principalmente para as áreas de maior risco de

violência, por meio do aumento e redistribuição do efetivo policial em função do risco de

violência nas regiões e municípios do Estado.

Fortalecer o Instituto de Criminalística e o Instituto Médico Legal, adotando medidas que

assegurem a sua excelência técnica e progressiv a autonomia, por meio da instalação da

Superintendência de Polícia Técnico -Científica, com orçamento próprio.

Incentivar a criação de fundo da polícia, para obtenção de recursos e realização de

investimentos na área da segurança pública.

Aperfeiçoar critérios para seleção e promoção de policiais, de forma a valorizar e incentivar

o respeito à lei, o uso limitado da força, a defesa dos direitos dos cidadãos e da dignidade

humana no exercício da atividade policial.

Apoiar programas de aperfeiçoamento profissi onal de policiais militares e civis por meio da

concessão de bolsas de estudo e intercâmbio de experiências com polícias de outros países

para fortalecer estratégias de policiamento condizentes com o respeito à lei, uso limitado da

força, defesa dos direitos dos cidadãos e da dignidade humana.

Apoiar a realização de cursos de direitos humanos para policiais em todos os níveis da

hierarquia policial.

Dar continuidade ao programa de seguro de vida especial para policiais.

Apoiar projeto de lei federal agravan do as penas para crimes dolosos, praticados por

policiais ou contra policiais, no exercício de suas funções.

Dar continuidade ao Programa de Acompanhamento dos Policiais Envolvidos em

Ocorrência de Alto Risco, da Secretaria de Segurança Pública, que afasta do policiamento

de rua os policiais envolvidos em ocorrências que tenham como resultado a morte de civis,

obrigando-os a realizar cursos de reciclagem.

52

Regulamentar e aumentar o controle sobre o uso de armas e munições por policiais em

serviço e nos horários de folga, exigindo a elaboração de relatório sobre cada ocorrência de

disparo de arma de fogo.

Desenvolver e apoiar programas e campanhas de desarmamento, com apreensão de armas

ilegais, a fim de implementar no Estado a lei federal que criminaliza a po sse e o porte ilegal

de armas.

Apoiar o aperfeiçoamento da legislação que regulamenta os serviços privados de segurança.

Elaborar indicadores básicos para monitoramento e avaliação de políticas de segurança

pública e do funcionamento do Poder Judiciário e do Ministério Público.

Rever os regulamentos disciplinares das polícias, notadamente o da Polícia Militar,

compatibilizando-os à ordem constitucional vigente.

Organizar seminário estadual para policiais sobre educação em direitos humanos.

53

BIBLIOGRAFIA

* ANISTIA INTERNACIONAL. Pactos da humanidade: 24 documentos que influenciam o

presente e o futuro. Passo Fundo: Aldeia Sul, 1997, 335 p.;

* BRASIL. Programa Nacional de Direitos Humanos. Disponível em:

<http://www.presidencia.gov.br/publi_04/COLECAO/PRODH 1.HTM#2>. Acesso em: 08 maio

06.;

* CARMO, Suzana J. de Oliveira. Direitos Humanos: Trajetória no tempo, fragmentos da história.

Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/x/14/50/1450/>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* CARVALHO, Luis Carlos Ludovikus Moreira de. Ética e Cidadania. Disponível em:

<http://www.almg.gov.br/bancoconhecimento/tematico/EtiCid.pdf>. Acesso em 22 mar. 06.;

* Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados . 1951. Disponível em:

<http://www.interlegis.gov.br/processo_legislativ o/copy_of_20020319150524/20030623152049/20

030623154056/>. Acesso em 22 mar. 06.;

* D'ANGELIS, Wagner Rocha. Organização Popular e Prática de Justiça. Disponível em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/refontes.htm>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* Declaração de Cartagena. Cartagena, 1984. Disponível em:

<http://www.milenio.com.br/ingo/ideias/direitos/cartagen.htm>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* Declaração Sobre Asilo Territorial. 1967. Disponível em:

<http://www.interlegis.gov.br/processo_legislativo/copy_of _20020319150524/20030623152049/20

030623154922/>. Acesso em: 17 abr. 06.;

* Documento de informação do ACNUR. Genebra, 1994. Disponível em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/refugiados/faqacnur4.html#pp4>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* FARIA, Emerson Luiz de. Helenismo. Disponível em:

<http://www.nomismatike.hpg.ig.com.br/Grecia/Helenismo.html>. Acesso em: 22 mar. 06.;

54

* ÉRNICA, Maurício; ISAAC, Alexandre; MACHADO, Ronilde Rocha. Os direitos do homem e

do cidadão no cotidiano. Disponível em:

<http://www.educarede.org.br/educa/oassuntoe/index.cfm?pagina=interna&id_tema=7&id_subtema

=5>. Acesso em: 08 maio 06.;

* KAGE, Newton Koba. Re: Complementando... [mensagem pessoal] Mensagem recebida por

<[email protected]> em 08 maio 06.;

* MACIEL, Elaine Cruxên Barros de Almeida. Democracia representativa e consulta popular.

Disponível em: <http://www.senado.gov.br/conleg/artigos/direito/DemocraciaRepresentativa.pdf>.

Acesso em: 08 maio 06.;

* O Direito Internacional Humanitário. Enciclopédia Digital de Direitos Humanos. Disponível

em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/dih/dih.html>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* PINEZZI, Alexandre. Complemento da apostila [mensagem pessoal] Mensagem recebida por

<[email protected]> em 10MAIO06.;

* PINHEIRO, Michel Guaraciaba. Atualização da apostila em 30ABR09;

* Protocolo Sobre o Estatuto dos Refugiados. 1966. Disponível em:

<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/refugiados66.htm>.

Acesso em: 22 mar. 06.;

* Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros. 1955. Disponível em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/lex52.htm >. Acesso em: 24 mar. 06.;

* RODRIGUES, Denise S. James Mill e os freios contra o mau uso do poder. Disponível em:

<http://www.espacoacademico.com. br/058/58rodrigues.htm>. Acesso em: 22 mar. 06;

* SANTOS, Giancarlo dos. A Incorporação dos Tratados Internacionais ao Ordenamento

Jurídico Brasileiro na Visão do Supremo Tribunal Federal. Disponível em:

<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default .asp?action=doutrina&iddoutrina= 1760>.

Acesso em: 22 mar. 06.;

55

* SÃO PAULO (Estado). Procuradoria Geral do Estado. Grupo de Trabalho de Direitos Humanos.

Instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos. 2ª tiragem. São Paulo: Centro de

Estudos da Procuradoria Geral do Estado, 1997, 298p.;

* SÃO PAULO (Estado). Programa Estadual de Direitos Humanos. Disponível em:

<http://www.justica.sp.gov.br/Modulo.asp?Modulo=480&Cod=2>. Acesso em: 08 maio 06.;

* Saúde e Direitos Humanos nas Prisões. Conselho da Comunidade da Comarca do Rio de

Janeiro. Rio de Janeiro, 2001. Disponível em:

<http://www.supersaude.rj.gov.br/pesquisas/manual.pdf >. Acesso em: 24 mar. 06.;

* SCHILLING, Voltaire. Cícero, defensor da República. Disponível em:

<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/2004/09/30/002.htm>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* SCHILLING, Voltaire. Cícero e a virtude da vida ativa. Disponível em:

<http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/2004/09/30/000.htm>. Acesso em 22 mar. 06.;

* Sobre Voluntariado – Cronologia. Portal do Voluntário. Disponível em:

<http://www.portaldovoluntario.org.br/site/pagina.php?idconteudo=691>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* SOUZA, Carlos Affonso Pereira de; CALIXTO, Marcelo. Os Direitos da Personalidade: Breve

Análise de sua Origem Histórica. Disponível em:

<http://www.suigeneris.pro.br/direito_dc_personalidade.htm>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* SOUZA JÚNIOR, Adriao Pereira. Apostila de Direito da Cidadania para o Curso de

Formação de Soldados . 2005. 33 f. Apostila – Centro de Formação de Soldados, São Paulo, 2005.;

* TASSO, Marcelo. Curso de Formação de Sargentos: Matéria 02: Direitos Humanos; UD 01:

Direitos Humanos. 2005. 57 f. Apostila – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, São

Paulo, 2005.;

* ZAMPRONIO, Gustavo Luiz. A Prisão Civil do Depositário e o Pacto de San Jose da Costa

Rica. 18f. Faculdade de Direito, Universidade do Contestado Caçador. Disponível em:

<http://www.cdr.unc.br/cursos/Direito/Gustavo.doc>. Acesso em: 29 mar. 06.

56

DIREITO CONSTITUCIONALAPLICADO

57

ÍNDICE:

DESCRIÇÃO PÁG.

1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL................................ ................................ ................................ .......... 3

1.1. DIREITOS POLÍTICOS ................................ ................................ ................................ ............... 3

1.2. DEMOCRACIA REPRESENTATIVA ................................ ................................ ......................... 3

1.3. DEMOCRACIA DIRETA................................ ................................ ................................ ............. 5

1.4. PARTIDOS POLÍTICOS ................................ ................................ ................................ .............. 5

1.5. DIREITOS FUNDAMENTAIS................................ ................................ ................................ ..... 6

1.5.1. DIREITO À VIDA ................................ ................................ ................................ ..................... 6

1.5.2. PENA DE MORTE E TORTURA................................ ................................ .............................. 7

1.5.3. DIREITO À LIBERDADE ................................ ................................ ................................ ......... 8

1.5.4. DIREITO À IGUALDADE ................................ ................................ ................................ ........ 8

1.5.5. DIREITO À SEGURANÇA ................................ ................................ ................................ ....... 8

1.5.6. DIREITO À PROPRIEDADE ................................ ................................ ................................ .... 9

1.5.7. DIREITO À EDUCAÇÃO ................................ ................................ ................................ ......... 9

1.5.8. DIREITO À SAÚDE................................ ................................ ................................ .................. 9

1.5.9. DIREITO AO TRABALHO COM REMUNERAÇÃO JUSTA ................................ ................ 10

1.6. INSTRUMENTOS DE GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................ 10

1.6.1. MANDADO DE SEGURANÇA ................................ ................................ .............................. 10

1.6.2. HABEAS-CORPUS ................................ ................................ ................................ ................. 11

1.6.3. AÇÃO POPULAR ................................ ................................ ................................ ................... 13

1.6.4. HABEAS-DATA ................................ ................................ ................................ ..................... 15

1.6.5. MANDADO DE INJUNÇÃO ................................ ................................ ................................ .. 16

BIBLIOGRAFIA ................................ ................................ ................................ ............................... 18

58

1. Constituição Federal

1.1. Direitos Políticos

Os direitos políticos referem-se à participação do cidadão no governo da

sociedade, ou seja, à participação no poder. Entre eles estão a possibilidade de fazer manifestações

políticas, organizar partidos, votar e ser votado. O exercício desse tipo de direito confere

legitimidade à organização política da sociedade. Afinal, ele relaciona o compromisso de pessoas e

grupos com o funcionamento e os destinos da vida coletiva.

Os direitos políticos abrangem a atuação dos indivíduos no Estado e na vida

social. Ao participar da vida política, os indivíduos interferem em todos os outros direitos, os

definem formalmente e legislam a esse respeito.

Nesse sentido, a garantia dos direitos políticos, além do di reito de votar e ser

votado, pressupõe uma sociedade organizada e atuante que controla e orienta os poderes do Estado,

além de participar deles. Isso implica garantia, por exemplo, da liberdade de expressão sem

constrangimentos de qualquer ordem. Essa é um a condição básica para a vida política democrática.

No Brasil, os direitos políticos nem sempre foram garantidos. Durante o período

colonial, os negros eram proibidos de freqüentar a escola, de aprender a ler e escrever. As mulheres

só conquistaram efetivamente o direito de voto em 1934.

Nessa época, a existência da imprensa também era proibida, impedindo a livre

expressão de opinião. Esse direito foi violado também em outros períodos de nossa história, como

na ditadura do Estado Novo, de 1937 a 1945, e no período do Regime Militar, de 1964 a 1985. Essa

violação do direito de opinião não afetou apenas os grupos que desejavam ter suas idéias veiculadas

e discutidas naquele momento. Mais que isso, significou a ausência de um espaço público de

debates sobre a vida social, política e cultural brasileira, com repercussões negativas para toda a

sociedade.

1.2. democracia representativa

A forma pela qual os cidadãos participam das deliberações que interessam à

coletividade origina três tipos de democracia, que podem ser classificadas em direta, indireta (ou

representativa) e semidireta (ou participativa).

O termo democracia significou, inicialmente, democracia direta, isto é, uma

forma de governo em que os cidadãos tomam as decisões, diretamente, com validade para t odos.

Essa democracia pura, em que o povo se auto -governa, de fato, só foi praticada na Antigüidade, em

Atenas e Roma, mesmo assim com grandes diferenças em relação ao que hoje entendemos como

59

democracia, principalmente em razão das barreiras que a estrati ficação social impunha a certas

classes, como a dos escravos.

A expressão democracia representativa significa, de um modo geral, que as

deliberações coletivas são tomadas não diretamente pelos membros de uma determinada

coletividade, mas por pessoas espec ialmente eleitas para essa finalidade. Essas pessoas, designadas

como representantes, possuem duas características bem estabelecidas:

a) por gozarem da confiança do corpo eleitoral, após eleitas não são mais responsáveis perante os

próprios eleitores, e seu mandato, portanto, não é revogável;

b) não são responsáveis diretamente perante os seus eleitores exatamente porque convocadas a

tutelar os interesses gerais da sociedade e não os interesses particulares de uma ou outra

categoria.

Na democracia representativa , a participação popular é indireta, periódica e

formal, e se organiza mediante regras que disciplinam as técnicas de escolha dos representantes do

povo. Todavia, não se trata apenas de uma questão de eleições periódicas, em que, por meio do

voto, são escolhidas as autoridades governamentais. Além de designar um procedimento técnico

para a designação de pessoas para o exercício de funções governamentais e legislativas, eleição

significa a expressão de preferência entre alternativas, a realização de um ato f ormal de decisão

política. Realmente, nas democracias de partido e sufrágio universal, as eleições tendem a

ultrapassar a pura função designatória, configurando um instrumento por meio do qual o povo

manifesta sua aprovação a uma política governamental e c onfere seu consentimento e, por

conseqüência, legitimidade às autoridades governamentais, participando na formação da vontade do

governo e no processo político.

Característica principal da democracia representativa, essa participação dos

cidadãos, direta ou indiretamente, nas deliberações que em diversos níveis (local, regional,

nacional) e nos mais diversos setores (escola, empresa etc.) interessam à coletividade, pode ser

constatada mediante o exame de seis regras básicas, estabelecidas por Norberto Bobb io (em artigo

intitulado Quais as alternativas para a democracia representativa , p. 34):

1. todos os cidadãos que tenham alcançado a maioridade, sem distinção de raça,

religião, condição econômica, sexo etc., devem gozar dos direitos políticos, isto é, do direito de

expressar por meio do voto a própria opinião e/ou de eleger quem se expresse por ele;

2. o voto de todos os cidadãos deve ter peso igual (isto é, deve valer por um);

3. todos os cidadãos que gozam dos direitos políticos devem ser livres para vot ar,

conforme opinião própria, formada o mais livremente possível, isto é, numa competição entre

grupos políticos organizados que disputam entre si para agregar os anseios e transformá -los em

deliberações coletivas;

60

4. os cidadãos devem ser livres, também, no sentido de possuírem alternativas

reais, isto é, de poderem escolher entre várias alternativas;

5. seja por deliberações coletivas, seja por eleição de representantes, vale o

princípio de maioria numérica, mesmo que possam se estabelecer diversas formas de maioria

(relativa, absoluta, qualificada) em determinadas circunstâncias, previamente estabelecidas;

6. nenhuma decisão tomada pela maioria deve limitar os direitos da minoria, em

particular o direito de tornar-se maioria em igualdade de condições.

1.3. democracia direta

Segundo Dallari (2005), uma sociedade só será verdadeiramente democrática se

o povo participar efetivamente das decisões dos assuntos de interesse comum . Isso foi afirmado por

notáveis filósofos políticos da Antigüidade e pelos que, no s séculos dezessete e dezoito, apontaram

os caminhos para que o absolutismo dos reis e os privilégios dos aristocratas fossem substituídos

por governos democráticos. A convicção predominante era que a organização e o governo da

sociedade deveriam fundar-se em princípios democráticos, mas as circunstâncias da época, quando

os meios de comunicação e de locomoção eram ainda muito precários, não permitiam que o povo

participasse diretamente de todas as decisões políticas. Por esse motivo foi criada a forma

representativa, que passou a ser o padrão dos governos democráticos. Mas logo se viu que, seja qual

for o lugar, os representantes eleitos pelo povo por vezes tomam decisões diferentes daquelas que o

povo adotaria em decisão direta, chegando mesmo a tomar deci sões opostas à vontade e aos

interesses do povo.

Tendo em conta as inevitáveis imperfeições do sistema representativo e, a par

disso, considerando que os recursos de comunicação e mobilização disponíveis em nossa época

permitem que o povo tenha participaçã o direta no processo de tomada de decisões, as modernas

Constituições procuram conjugar as instituições da democracia representativa com mecanismos de

participação direta do povo, dando a este a possibilidade de expressar sua vontade e de influir nas

decisões. Essa inovação, extremamente importante para a efetivação da democracia, inobstante

ainda distante de uma aplicação concreta em nosso sistema político, foi acolhida pela Constituição

brasileira de 1988 e é um de seus pontos mais positivos. Diz a Consti tuição, no artigo 1°, que " todo

o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente ".

1.4. partidos políticos

Partidos políticos são formas de agremiação de um grupo social que se propõe a

organizar, coordenar e instrument ar a vontade popular com o fim de assumir o poder para realizar

61

seu programa de governo. Possuem ideologia ou interesses comuns para, através de uma

organização estável, exercer influência sobre a orientação política do país.

No Brasil, os partidos polític os são previstos e disciplinados no artigo 17 da

Constituição Federal de 1988.

1.5. direitos fundamentais

Direitos fundamentais são os considerados indispensáveis à pessoa humana,

reconhecidos e garantidos por uma determinada ordem jurídica.

Podemos citar o seguinte conceito de direitos fundamentais:

“Conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por

finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder

estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade

humana”.

Esse conjunto de direitos apresenta as seguintes características, dentre outras,

citadas por nossa doutrina:

- imprescritibilidade: os direitos humanos fundamentais não se perdem pelo dec urso do prazo;

- inalienabilidade: não há possibilidade de transferência dos direitos humanos fundamentais, seja

a título gratuito, seja a título oneroso;

- irrenunciabilidade: os direitos humanos fundamentais não podem ser objeto de renúncia. Dessa

característica surgem discussões importantes na doutrina como a renúncia do direito à vida e a

eutanásia, o suicídio e o aborto;

- inviolabilidade: impossibilidade de desrespeito por determinações infraconstitucionais ou por

atos das autoridades públicas, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal;

- universalidade: a abrangência desses direitos engloba todos os indivíduos, independente de sua

nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político -filosófica;

- efetividade: a atuação do Poder Público de ve ser no sentido de garantir a efetivação dos direitos

e garantias previstos, com mecanismos coercitivos para tanto, uma vez que a Constituição

Federal não se satisfaz com o simples reconhecimento abstrato;

- interdependência: as várias previsões constituci onais, apesar de autônomas, possuem diversas

intersecções para atingirem suas finalidades.

- complementariedade: os direitos humanos fundamentais não devem ser interpretados

isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcance dos objetivos p revistos

pelo legislador constituinte.

62

1.5.1. direito à vida

Todo ser dotado de vida é um indivíduo: não se pode dividir, sob pena de deixar

de ser. Além de indivíduo, o homem é pessoa, ou seja, além de existência biológica, possui

identidade, consciência e continuidade. A existência dessa pessoa é a fonte primária de todos os

outros bens jurídicos. De nada adiantaria garantir -se outros direitos individuais se a vida não

estivesse no topo dessas garantias.

Assim, agredir o corpo humano é uma maneira de agre dir a vida. Afinal, esta só

pode se realizar naquele. É fundamentalmente por esta razão que as lesões corporais são penalmente

puníveis, além, é claro, dos atos que atentem contra a existência da pessoa.

Mas a vida humana não se encerra somente na existênc ia do corpo material. Há

valores imateriais que integram o conjunto denominado “pessoa”, como a moral e a psique. Daí o

especial valor emprestado pela nossa Constituição a tais valores.

Constitui-se a moral da pessoa a sua honra, seu bom nome, sua fama, se m os

quais estaria o ser humano reduzido a uma mera existência animalesca. E por esta razão, são

também puníveis quaisquer ataques à moral da pessoa (vide os crimes de injúria, calúnia e

difamação previstos no Código Penal Brasileiro, por exemplo).

1.5.2. pena de morte e tortura

A vida é cláusula pétrea da Constituição Federal (artigo 60, § 4º, IV). Por isso,

não pode sua garantia ser alvo de modificações. Significa dizer que, ao contrário do que muitos

imaginam, não se pode sequer pôr em pauta discussão te ndente a implantá-la em nosso sistema

jurídico, eis que nossa Carta Magna protege o bem da vida acima de todos os outros.

A exceção ocorre nos casos de guerra declarada, quando então a Constituição

admite a pena de morte (art. 84, XIX, e art. 5º, XLVII, “a ”), porque nesse caso admite -se que a

sobrevivência da nacionalidade é um valor maior do que a vida individual de quem traia a pátria em

momento cruciante.

A tortura é comumente definida como um conjunto de procedimentos que visam

forçar a vontade de um imputado ou de outro sujeito a admitir através de confissão ou depoimento a

verdade de uma acusação. Outrora foi um meio legalizado de se obter confissões, mas tem sido

paulatinamente combatido pelas sociedades modernas, a exemplo da adoção da Convenção cont ra a

Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, aprovada pela ONU

em 1984 e adotada pelo Brasil em 1991, e a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a

Tortura, que entrou em vigor no Brasil em 1989.

Atualmente, a tortura é crime hediondo no Brasil, previsto na Lei nº 9.455, de 07

de abril de 1.997.

63

1.5.3. direito à liberdade

O direito constitucional de liberdade pode ser dividido em cinco grandes grupos:

Liberdade da pessoa física;

Liberdade de pensamento;

Liberdade de expressão coletiva;

Liberdade de ação profissional.

A liberdade da pessoa física é a primeira forma de liberdade tutelada, necessária

ao exercício das demais. Opõe -se ao estado de escravidão e de prisão. É a possibilidade jurídica que

se reconhece a todas as pessoas de terem vontade própria e de se locomoverem livremente dentro do

território nacional. Está prevista no inciso XV do artigo 5º da Constituição Federal.

A liberdade de pensamento é o direito de se exprimir livremente o que se pense.

Seu exercício se caracteriza com a possibilidade de exteriorização do pensamento, de informar e de

ser informado, de ter livre crença religiosa, de expressar -se intelectual, artística e cientificamente,

de transmitir e receber conhecimentos. Está expressa nos incisos IV, V, VI VIII, IX e XIV do art.

5º, e no art. 220 da Constituição Federal.

A liberdade de expressão coletiva engloba os direitos de reunião e de livre

associação, assim como o direito de greve. É prevista nos incisos XVI e XVII do artigo 5º e nos

artigos 8º e 9º da Constituição Federal.

A liberdade de ação profissional, também conhecida como liberdade de trabalho,

está prevista no inciso XIII do artigo 5º da Constituição Federal. Implica na liberdade de escolha de

um ofício, desde que atendidas as qualificaçõ es profissionais para o ofício que se pretende.

1.5.4. direito à igualdade

O direito de igualdade é o cerne da democracia. Está previsto no caput do artigo

5º da Constituição Federal, e no inciso I do mesmo artigo, que atribui igualdade a homens e

mulheres.

No artigo 7º, incisos XXX e XXXI, estão previstas igualdades materiais,

vedando-se discriminações no exercício de ofícios.

A Carta Magna impõe ainda à República Federativa do Brasil, nos incisos III e

IV do artigo 3º, a redução das desigualdades sociais e a repulsa a qualquer forma de discriminação.

1.5.5. direito à segurança

Surge como um dos principais direitos do cidadão a segurança, garantida através

do caput do artigo 5º da Constituição Federal, visto que, numa análise abstrata, abarca todos os

direitos fundamentais.

64

“Segurança é a tranqüilidade do exercício dos direitos fundamentais, por esse

motivo não basta o Estado criar e reconhecer direitos ao indivíduo, tem o dever de zelar por eles,

assegurando a todos o exercício com a devida tranqüilidade d e todos os direitos” .5

Destaca-se neste ponto o principal papel da Polícia, que não escolhe o que é

melhor para o povo, do qual emana todo poder, antes disso, atua como seu instrumento, servindo -o,

para que usufrua os seus direitos com tranqüilidade.

1.5.6. direito à propriedade

O direito de propriedade é assegurado através do inciso XXII do artigo 5º da

Constituição Federal. É o direito que tem o cidadão de possuir bens, de dispor deles como bem

entender.

O inciso XXIII do mesmo artigo prevê que a proprie dade deverá atender à sua

função social, e o inciso XXIV prevê restrições ao direito de propriedade por conta desse interesse

social, de necessidade ou de utilidade pública. Essa função social tem sido o núcleo de conflitos de

terra e invasões de propriedades ditas improdutivas, visando o exercício desse direito. Dessa forma,

impõe-se ao policial a serenidade ao lidar com esse tipo de ocorrência: cumpre à justiça definir a

legalidade ou não dos atos dos invasores das terras que consideram não atender à sua função social.

1.5.7. direito à educação

O artigo 205 da Constituição Federal, combinado com o artigo 6º, eleva a

educação ao nível dos direitos fundamentais do homem. É um direito social de todos, e um dever do

Estado, que deve aparelhar -se para fornecer a todos os serviços educacionais, e ampliar as

possibilidades de que todos possam exercer esse direito. O policiamento em escolas insere -se no

esforço de assegurar a todos o acesso à educação. Trata -se de direito subjetivo, ou seja, plenamente

eficaz, de aplicabilidade imediata e exigível judicialmente, condição que eleva a educação à

categoria de serviço público essencial.

1.5.8. direito à saúde

Previsto no artigo 196 da Constituição Federal, impõe que cada um tenha o

direito a um tratamento condigno de ac ordo com o estado atual da ciência médica,

independentemente de sua situação econômica. Trata -se de direito social, que como os demais

impõe uma prestação positiva do Estado para o seu perfeito exercício.

5 Rodrigo César Rebello Pinho, Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais , 3. ed., São Paulo, EditoraSaraiva, 2002, p.101.

65

1.5.9. direito ao trabalho com remuneração justa

Impõe, através do inciso IV do artigo 7º da Constituição Federal, que todo

trabalhador tem direito a receber uma remuneração mínima que seja capaz de atender às suas

necessidades básicas e, nos termos do inciso V do mesmo artigo, que seja proporcional à exte nsão e

a complexidade de seu trabalho.

Os incisos VI a XI do mesmo artigo instituem proteções adicionais ao salário que

permitam a manutenção desse direito, tais como a irredutibilidade e a vedação de retenção de

salários.

1.6. Instrumentos de garantia do s direitos fundamentais

1.6.1. Mandado de Segurança

Ação constitucional para a tutela de direitos individuais líquidos e certos, não

amparados por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de

poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder

Público.

Trata-se de uma criação constitucional brasileira, fruto da doutrina brasileira do

habeas corpus e da posterior reforma constitucional de 1926. A Constituição de 1934 criou o

mandado de segurança, esta ação foi suprimida na Carta de 1937 e reintroduzida em nosso

ordenamento jurídico pelo Texto Constitucional de 1946.

São tutelados pelo mandado de segurança todos os direitos líquidos e certos não

amparados pelo habeas corpus ou habeas data. É por exclusão o alcance dessa ação constitucional.

A jurisprudência entende que direito líquido e certo é o que pode ser comprovado

de plano, pela apresentação de documentos. A prova é toda pré -constituída. Os documentos

comprobatórios do direito devem acompanhar a própria petição inicial, a não ser que essa evidência

se ache em repartição ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê -lo por certidão (Lei nº

1533/ 51, art 6º, parágrafo único). No mandado de segurança não se admite a abertura da fase

instrutória. Salienta-se que a complexidade da discussão jurídica envolvida na lide não

descaracteriza a certeza e liquidez do direito.

São duas as espécies de Mandado de Segurança: repressivo (visa cessar

constrangimento ilegal já existente) e preven tivo (busca pôr fim à iminência de constrangimento

ilegal à direito líquido e certo).

O mandado de segurança é regulamentado pela Lei nº 1533/51 e outras leis

extravagantes.

66

A pessoa que ingressa em juízo com o mandado de segurança é denominado

impetrante, podendo ser qualquer pessoa, física ou jurídica. É o titular do direito líquido e certo

violado ou ameaçado de violação. Observa -se que a jurisprudência tem reconhecido legitimidade

para a impetração de mandado de segurança inclusive a órgãos despersonali zados, como Mesas de

Casas Legislativas, chefias de Executivo e órgãos da Administração direta e indireta que tenham

prerrogativas ou direitos próprios a defender. Em relação aos Promotores de Justiça a Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público (Lei nº 8 625/93) reconhece a legitimidade para impetração.

A pessoa em relação a quem é proposto o mandado de segurança é denominada

autoridade coatora, isto é, a autoridade ou o agente da pessoa jurídica no exercício de atribuições do

Poder Público responsável pel a violação ou ameaça de violação de direito líquido e certo.

Autoridade pública é qualquer pessoa que exerça alguma função pública com poder de decisão.

Observa-se que a pessoa jurídica de direito público não pode ser autoridade coatora, mas pode

ingressar em juízo como assistente do coator ou litisconsorte do impetrado.

A petição inicial deve ser apresentada em duas vias, com os documentos

necessários que comprovem a certeza e liquidez do direito pleiteado. A segunda via será

encaminhada à autoridade apont ada como coatora para prestar as informações necessárias no prazo

de 10 dias. Em seguida será aberta vista ao Ministério Público para apresentação de parecer. A

última etapa é a remessa dos autos ao juiz para que profira a sentença. Observa -se que em mandado

de segurança não cabe a condenação em honorários advocatícios (Súmula 512 do STF).

O prazo para impetração do mandado de segurança é de 120 dias, contados da

ciência do ato impugnado pelo interessado (Leinº 1533/51, art 18). Superado esse prazo, ocorre a

decadência do direito de impetrá -lo, não a perda do direito material, podendo valer -se o titular do

direito líquido e certo violado somente das vias ordinárias.

1.6.2. Habeas-Corpus

É a ação constitucional para a tutela da liberdade de locomoção, utiliza da sempre

que alguém estiver sofrendo, ou na iminência de sofrer, constrangimento ilegal em seu direito de ir

e vir.

Embora não seja o único remédio jurídico para fazer cessar uma prisão ilegal,

trata-se do mais eficaz e célere.

Nasceu na Inglaterra, sendo apontado pelos doutrinadores na própria Carta

Magna de 1215.

Possui natureza jurídica de AÇÃO CONSTITUCIONAL, muito embora tenha

sido incluído no Código de Processo Penal no capítulo dos recursos, pois se invocava a tutela

67

jurisdicional do Estado para a p roteção da liberdade de locomoção e tem previsão no texto

constitucional.

Essa ação pode ser utilizada tanto em questões criminais como civis, desde que

haja constrangimento ilegal efetivo ou potencial a direito de ir e vir. É utilizado em questões civis

referentes à prisão por débitos alimentares ou depositários infiéis.

A Constituição em seu art 142, § 2º, dadas às peculiaridades da hierarquia e da

disciplina militar, estabelece que “não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares

militares”. Essa disposição é estendida aos membros das Policias Militares e Bombeiros Militares

(art 42 e § 1º, CF). Contudo, mesmo na hipótese de punição disciplinar militar, caberá habeas

corpus se a sanção tiver sido aplicada de forma ilegal: a) por autoridade i ncompetente; b) em

desacordo com as formalidades legais; ou c) além dos limites fixados em lei. O que não poderá ser

objeto de análise é o mérito.

O Código de Processo Penal estabelece em seus arts 647 a 667, o procedimento a

ser adotado em ações de habeas corpus. Trata-se de um rito especial onde são dispensadas maiores

formalidades, sempre em favor do bem jurídico maior, a liberdade de locomoção.

O impetrante é a pessoa que ingressa com a ação de habeas corpus. Qualquer

pessoa, física ou jurídica, pode co m ela ingressar. Para a propositura não se exige capacidade

postulatória, dessa forma, dispensa -se a juntada de procuração na ordem impetrada em nome

próprio ou de terceiro.

O paciente é a pessoa em favor de quem é impetrada a ordem de habeas corpus.

Trata-se da pessoa que está sofrendo ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal em seu

direito de ir e vir. O habeas corpus somente pode ser impetrado em favor de pessoas físicas, pois

somente seres humanos possuem a capacidade de ir e vir. O impetrante e o paciente, muitas vezes,

são a mesma pessoa, que ingressa com a ação em seu próprio favor.

Autoridade coatora é a pessoa em relação a quem é impetrada a ordem de habeas

corpus, apontada como a responsável pela coação ilegal.

Em princípio a ordem somente deveria ser concedida contra autoridades

públicas, mas, em face da realidade, a jurisprudência tem admitido habeas corpus impetrados contra

atos de particulares. Observa -se que o Texto Constitucional condiciona a concessão da ordem à

ilegalidade ou ao abuso de poder, não exigindo que o responsável seja autoridade pública, como

ocorre com o mandado de segurança.

Há três modalidades de habeas corpus: liberatório, preventivo e de ofício.

No liberatório ou repressivo, concede -se a ordem para fazer cessar o

constrangimento à liberdade de locomoção já existente.

68

No preventivo, quando houver ameaça ao direito de ir e vir. Expede -se um salvo-

conduto, documento emitido pela autoridade competente, para impedir que uma pessoa venha a ter

restringido seu direito de ir e vir por um determinado motivo.

Enquanto o de ofício é concedido pela autoridade judicial, sem pedido, quando

verificar no curso de um processo que alguém está sofrendo ou na iminência de sofrer

constrangimento ilegal em sua liberdade de locomoção (art 654 . § 2º, CPP).

1.6.3. Ação Popular

Ação constitucional posta à disposição de qualquer cidadão para a tutela do

patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, da moralidade administrativa, do meio

ambiente e do patrimônio histórico e cultural, mediante a anulação do ato lesivo.

A finalidade da ação popular é fazer de todo cidadão um fiscal do Poder Público,

dos gastos feitos com recursos públicos.

A origem remota da ação popular encontra -se no direito romano, que atribuía

legitimidade a qualquer membro do povo para zelar pela res publica (coisa pública, patrimônio da

coletividade). A ação popular foi introduzida no Brasil pela Constituição de 1934, vindo a ser

suprimida em 1937. Reintroduzida pela Carta de 1946, foi mantida em todas as Constituiç ões

posteriores. A de 1988 ampliou o alcance da ação popular, incluindo a moralidade administrativa

entre os objetos do provimento jurisdicional.

A propositura da ação popular exige a presença de três requisitos: a) condição de

eleitor; b) ilegalidade; e c ) lesividade.

a) a ação somente pode ser proposta por cidadão brasileiro, ou seja, por nacional

que esteja no gozo de seus direitos políticos. O que comprova a qualidade de cidadão é o título de

eleitor. Trata-se de documento indispensável para a propositu ra da ação, devendo acompanhar a

própria petição inicial.

b) o ato deve ser contrário ao ordenamento jurídico, por infringir regras e

princípios estabelecidos para a Administração Pública. A ilegalidade pode decorrer tanto de vício

formal quanto material.

c) o ato deve ser lesivo aos cofres públicos. Para a propositura da ação popular

não basta a constatação da ilegalidade. Deve ser comprovada também a ofensa ao patrimônio

público, bem como aos demais objetos da ação popular. Essa lesividade pode ser tanto efetiva como

legalmente presumida, podendo caracterizar -se com a ofensa à própria moralidade administrativa.

A Constituição de 1988 erigiu a moralidade como um dos princípios

informadores da administração pública (art 37, “caput”, CF). Trata -se de um fundamento ou causa

autônoma, pois a afronta a esse princípio constitucional autoriza o ajuizamento da ação popular,

69

independentemente da comprovação de lesão ao erário ou de ofensa à estrita legalidade. Basta a

ofensa aos padrões morais exigidos de um bom admi nistrador público. Essa moralidade deve ser

entendida em seu sentido jurídico, como afronta a um dos valores consagrados pelo ordenamento

jurídico, de forma explícita ou implícita.

A ação popular foi disciplinada pela Lei nº 4717/65. Segue o rito ordinário com

as modificações estabelecidas no art 7º da referida lei.

Essa ação pode ser proposta somente pelo cidadão, que, em sentido estrito, é todo

nacional no gozo de direitos políticos. Se o autor desistir da ação popular, fica assegurado a

qualquer outro cidadão, bem como ao Ministério Público, promover o prosseguimento da demanda.

São réus na ação popular: a) as pessoas jurídicas de direito público e privado em

nome das quais foi praticado o ato; b) as autoridades, funcionários ou administradores que

houverem concorrido para o ato ilegal e lesivo ao patrimônio público:e c) os beneficiários do ato.

No pólo passivo podem encontrar -se pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras.

O Ministério Público não possui legitimidade para propositura da ação p opular,

mas, se o autor desistir da ação ou der motivo à extinção do processo sem julgamento do mérito,

fica assegurado àquele promover o prosseguimento da demanda judicial. Compete -lhe ainda o

acompanhamento da ação. O que é vedado à instituição é assumir a defesa do ato impugnado ou dos

réus.

O objeto da ação popular é o ato ilegal ou lesivo ao patrimônio público, à

moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico cultural. Observa -se que

nem todo ato legal é honesto e que uma lei pod e ser executada de forma moral ou imoral. A ofensa

à moralidade administrativa já é suficiente para a declaração da nulidade do ato, independente da

verificação de efetiva lesão patrimonial, ou seja, basta o prejuízo à Administração Pública pela

violação dos princípios éticos que devem dirigir a conduta dos responsáveis pelos seus atos.

De acordo com a tradição constitucional brasileira, não existem casos de

competência originária em relação à ação popular. Toda e qualquer autoridade será julgada em

primeira instância, podendo ser interpostos todos os recursos cabíveis em nosso ordenamento

jurídico.

Estabelece a Constituição como estímulo à propositura da ação popular, que o

autor ficará isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência, salvo comprovada m á-fé. Julgada

procedente a ação popular, contudo, os réus deverão ser condenados ao pagamento das verbas

decorrentes da sucumbência (custas judiciais e honorários advocatícios).

70

1.6.4. Habeas-Data

Ação constitucional para a tutela do direito de informação e de intimidade do

indivíduo, assegurando o conhecimento de informações relativas a sua pessoa constantes de banco

de dados de entidades governamentais ou abertas ao público, bem como o direito de retificação

desses dados.

Essa nova forma de tutela jurídic a foi introduzida pela Constituição de 1988.

Após anos de autoritarismo, em que os órgãos públicos mantiveram banco de dados contendo

registros referentes às convicções políticas, filosóficas, ideológicas, religiosas e de conduta pessoal,

sentiu-se a necessidade de conceder ao indivíduo meios para frear a tendência controladora do

Estado. Protege-se o direito de informação ao assegurar a qualquer pessoa o acesso aos dados

constantes de registros existentes de caráter público, bem como ao permitir a possibil idade de

retificação e até mesmo a anotação de justificação sobre algo verdadeiro, mas justificável. A

intimidade, por sua vez, é garantida ao se vedar a inclusão de informações, mesmo que verdadeiras,

que sejam de interesse exclusivo do indivíduo, como, p or exemplo, dados sobre convicção

filosófica ou religiosa e orientação sexual.

O habeas data possui dupla finalidade. A primeira é o conhecimento de

informações pessoais. A segunda, a possibilidade de retificação de informações errôneas que

constem dos registros de dados. Esses dois pedidos podem ser postulados de forma autônoma ou em

conjunto. O pedido de retificação pode abranger um pedido de complementação de dados, com

atualização dos registros referentes a determinado indivíduo. A Lei nº 9507/97 admite uma terceira

hipótese de concessão de habeas data para “anotação nos assentamentos do interessado, de

contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável, e que esteja sob pendência

judicial ou amigável” (art 7º, III).

O habeas data foi regulamentado pela Lei nº 9507/97. O acesso ao Poder

Judiciário só é válido caso a entidade governamental ou privada tenha -se recusado a prestar as

informações solicitadas ou com prova do decurso de mais de 10 dias sem decisão, ou se tenha

recusado a fazer retificação a anotação da justificação ou do decurso de mais de 15 dias sem decisão

(art 8º, I e II). A Lei adotou o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça em sua

Súmula nº 2: “Não cabe habeas data... se não houve recusa de informações por par te da autoridade

administrativa”.

Qualquer pessoa, física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, pode ingressar com

uma ação de habeas data. Podem ser solicitadas exclusivamente informações de caráter pessoal.

Somente o próprio indivíduo tem o direito de acesso a informações que digam a seu respeito. Em

caráter absolutamente excepcional, já foi reconhecido a herdeiro e a cônjuge de pessoa falecida

direito de impetrar o habeas data.

71

No pólo passivo, podem estar: a) entidades governamentais da Administração

direta ou indireta; ou b) pessoas jurídicas de direito privado que mantenham banco de dados aberto

ao público. Podem ser empresas de cadastramento, de proteção ao crédito, de divulgação de dados

profissionais. Exemplos: Serviço de Proteção ao Crédito, Tel echeque e Serasa.

Trata-se de ação de aplicabilidade imediata, gratuita (art 5º, LXXVII, CF) e

personalíssima.

O direito de informação deve ser compatibilizado com os dispositivos

constitucionais que autorizam o sigilo de dado “imprescindível à segurança d a sociedade e do

Estado” (art 5º, XXXIII). Para Michel Temer, “ todos os dados referentes ao impetrante devem ser

fornecidos”. As restrições referentes ao sigilo de dados imprescindíveis à segurança do próprio

Estado não se aplicariam ao indivíduo. Sustenta que em matéria de direito individual não há como

utilizar interpretação restritiva.

1.6.5. Mandado de Injunção

Ação constitucional para tutela de direitos previstos na Constituição inerentes à

nacionalidade, à soberania e à cidadania que não possam ser ex ercidos em razão da falta de norma

regulamentadora.

A concessão do mandado de injunção depende da existência de dois

pressupostos: a) existência de um direito previsto na Constituição inerente à nacionalidade,

soberania e cidadania não auto -aplicável, pois se for auto-aplicável, a ausência de norma

infraconstitucional que o regulamente não impede o seu exercício, não cabendo a ordem de

injunção. b) falta de norma infraconstitucional regulamentadora que inviabilize o exercício do

direito previsto na Constitu ição – omissão normativa. Entende -se por norma regulamentadora toda

medida, legislativa ou administrativa, necessária para tornar efetivo um preceito previsto na

Constituição.

Tem por finalidade efetivar concretamente um direito assegurado na

Constituição, no caso de não-elaboração da norma regulamentadora. Trata -se de uma hipótese de

controle concreto da constitucionalidade por omissão.

Foi introduzido pelo constituinte brasileiro de 1988. Existem institutos

semelhantes em outros ordenamentos jurídicos. Pa ra alguns, sua origem estaria no direito inglês e

norte-americano, para outros autores, a origem próxima estaria na Constituição portuguesa.

Alcança todos os direitos previstos na Constituição inerentes à nacionalidade, à

soberania e à cidadania que não po ssam ser exercidos por falta de norma regulamentadora. Alcança

direitos individuais, coletivos e sociais.

72

Poderá ser proposto por qualquer pessoa física ou jurídica titular de direito

previsto na Constituição, inerente à nacionalidade, soberania ou cidadan ia, que não possa ser

exercido por falta de norma infraconstitucional regulamentadora. Até os dias de hoje o Supremo

Tribunal Federal só não aceitou a propositura por pessoa jurídica de direito público .

Deverá ser proposto contra pessoa ou órgão responsá vel pela omissão normativa

que inviabilize a concretização do direito previsto na Constituição. O Supremo Tribunal Federal não

tem admitido que o mandado de injunção possa ser proposto contra particulares. Não há

possibilidade de litisconsórcio passivo, se ja necessário ou facultativo, entre particulares e

autoridades públicas ou entes estatais.

73

BIBLIOGRAFIA

* CARVALHO, Luis Carlos Ludovikus Moreira de. Ética e Cidadania. Disponível em:

<http://www.almg.gov.br/bancoconhecimento/tematico/EtiCid.pdf>. Ace sso em 22 mar. 06.;

* DALLARI, Dalmo de Abreu. Democracia direta e ação popular. Disponível em:

<http://www.polis.org.br/artigo_interno.asp?codigo=118>. Acesso em: 08 maio 2006.;

* D'ANGELIS, Wagner Rocha. Organização Popular e Prática de Justiça. Disponível em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/refontes.htm>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* KAGE, Newton Koba. Re: Complementando... [mensagem pessoal] Mensagem recebida por

<[email protected]> em 08 maio 06.;

* MACIEL, Elaine Cruxên Barros de A lmeida. Democracia representativa e consulta popular.

Disponível em: <http://www.senado.gov.br/conleg/artigos/direito/DemocraciaRepresentativa.pdf>.

Acesso em: 08 maio 06.;

* PINEZZI, Alexandre. Complemento da apostila [mensagem pessoal] Mensagem recebida por

<[email protected]> em 10MAIO06.;

* RODRIGUES, Denise S. James Mill e os freios contra o mau uso do poder. Disponível em:

<http://www.espacoacademico.com.br/058/58rodrigues.htm>. Acesso em: 22 mar. 06.;

* SANTOS, Giancarlo dos. A Incorporação dos Tratados Internacionais ao Ordenamento

Jurídico Brasileiro na Visão do Supremo Tribunal Federal. Disponível em:

<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&iddoutrina= 1760>.

Acesso em: 22 mar. 06.;

* Saúde e Direitos Humanos nas Prisões. Conselho da Comunidade da Comarca do Rio de

Janeiro. Rio de Janeiro, 2001. Disponível em:

<http://www.supersaude.rj.gov.br/pesquisas/manual.pdf >. Acesso em: 24 mar. 06.;

74

* SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9ª ed. São Paulo: Malheiros,

1992, 768p.;

* SOUZA JÚNIOR, Adriao Pereira. Apostila de Direito da Cidadania para o Curso de

Formação de Soldados . 2005. 33 f. Apostila – Centro de Formação de Soldados, São Paulo, 2005.;

* TASSO, Marcelo. Curso de Formação de Sargentos: Matéria 02: Direitos Humanos; UD 01:

Direitos Humanos. 2005. 57 f. Apostila – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, São

Paulo, 2005.;