matematica na educação infantil esab

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Matemática e a educação infantilpedagógico

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  • Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

    MDULO:

    ENSINO DA MATEMTICA PARA EDUCAO INFANTIL

    AUTORIA:

    Ma. CLAUDIA AMIGO

  • Copyright 2007, ESAB Escola Superior Aberta do Brasil

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    Mdulo De: Ensino Da Matemtica Para Educao Infantil

    Autoria: Ma. Claudia Amigo

    Primeira edio: 2007

    Todos os direitos desta edio reservados

    ESAB ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA

    http://www.esab.edu.br

    Av. Santa Leopoldina, n 840/07

    Bairro Itaparica Vila Velha, ES

    CEP: 29102-040

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    APRESENTAO Estudante,

    Este material apresenta um referencial terico sobre o Ensino da Matemtica na Educao

    Infantil, cujo objetivo lhe apresentar a importncia do ensino da Matemtica para a

    Educao Infantil atravs de abordagens pedaggicas, assim como instrumentos eficazes de

    construir planos de ensino e projetos educacionais possibilitando-lhe assim, um fazer

    pedaggico capaz de lhe impulsionar e lhe motivar a buscar novos valores, novas aes e

    novas posturas educacionais.

    tambm nosso desejo que este material venha a lhe acender o desejo eminente de

    pesquisar, ler e contextualizar prticas pedaggicas realizadas no panorama educacional.

    Urge, pois lembrar, que o compromisso do educador reflete-se na sua corporeificao

    atitudinal e no seu comprometimento dialtico entre os pares educativos. Lembrando que

    "ensinar recordar ao outro que ele sabe tanto quanto voc".

    A emoo e o prazer que permeiam esta ao estaro refletidas nas nossas conversas,

    ainda que on-line.

    Sua Educadora,

    Prof. Ma. Claudia Amigo

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    OBJETIVO Abordar uma educao matemtica na perspectiva de um processo de aprendizagem no

    qual as crianas possam construir seu conhecimento atravs da investigao e da interao

    em ambientes dentro do contexto ao qual pertencem. Priorizando aes como:

    Reconhecer a importncia da Cincia da Matemtica na Educao infantil;

    Discutir a formao dos conceitos matemticos na criana;

    Apresentar alguns recursos que envolvam a Matemtica presente nas atividades

    ldicas infantis;

    Abordar a contribuio de Piaget e Vygotsky no ensino da Matemtica;

    Principais contedos abordados na linguagem matemtica;

    A criana como solucionadora de problemas no seu ambiente;

    Metodologia para o ensino da Matemtica nas reas proposta pelas diretrizes

    curriculares;

    Contribuies do uso do computador como ferramenta para o ensino da Matemtica.

    EMENTA Histria da Cincia Matemtica. Aquisio de conhecimentos necessrios ao docente para

    favorecer a construo de conceitos matemticos pelas crianas na Educao Infantil;

    abordando questes referentes ao conhecimento fsico e lgico-matemtico; construo da

    noo de nmero e espao; resoluo de problemas e valorizao das brincadeiras e jogos;.

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    aspectos estruturais dos contedos bsicos da Matemtica e o uso do computador como

    ferramenta pedaggica no ensino da Matemtica.

    SOBRE O AUTOR Claudia Amigo:

    Mestra em Informtica pela Universidade Federal do Esprito Santo, 2000;

    Graduada em Matemtica pela Universidade Federal do Esprito Santo, 1994;

    Trabalha com Educao h mais de 13 anos, alm de atuar na rea de Informtica.

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    SUMRIO UNIDADE 1 ........................................................................................................... 9

    O Ensino da Matemtica nos Dias Atuais ......................................................... 9 UNIDADE 2 ......................................................................................................... 13

    A Cincia da Matemtica ................................................................................. 13 UNIDADE 3 ......................................................................................................... 18

    Significado e Sentido ....................................................................................... 18 UNIDADE 4 ......................................................................................................... 24

    A Psicologia e a Educao Infantil................................................................... 24 UNIDADE 5 ......................................................................................................... 30

    Desenvolvimento, Aprendizagem e Educao: a influncia da abordagem Piagetiana na escola ........................................................................................ 30

    UNIDADE 6 ......................................................................................................... 35 Desenvolvimento, Aprendizagem e Educao: a influncia da abordagem de Vygotsky na escola. ......................................................................................... 35

    UNIDADE 7 ......................................................................................................... 41 A Matemtica na Educao Infantil ................................................................. 41

    UNIDADE 8 ......................................................................................................... 46 A escrita dos nmeros pelas crianas ............................................................. 46

    UNIDADE 9 ......................................................................................................... 51 Contedo das Propostas Curriculares para Educao Infantil ........................ 51

    UNIDADE 10 ....................................................................................................... 56 Intercomunicao e Linguagens ...................................................................... 56

    UNIDADE 11 ....................................................................................................... 61 Linguagem Matemtica .................................................................................... 61

    UNIDADE 12 ....................................................................................................... 67

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    Crianas de 0 a 3 anos: Objetivos e contedos .............................................. 67 UNIDADE 13 ....................................................................................................... 75

    Correntes da Educao Matemtica................................................................ 75 UNIDADE 14 ....................................................................................................... 82

    A Importncia da Atividade Ldica .................................................................. 82 UNIDADE 15 ....................................................................................................... 89

    Por que Importante Brincar .......................................................................... 89 UNIDADE 16 ....................................................................................................... 96

    Como Propor as Brincadeiras .......................................................................... 96 UNIDADE 17 ..................................................................................................... 103

    Registros das Brincadeiras ............................................................................ 103 UNIDADE 18 ..................................................................................................... 109

    Reflexes da Avaliao e Novos Paradigmas ............................................... 109 UNIDADE 19 ..................................................................................................... 115

    Momentos de Avaliao ................................................................................. 115 UNIDADE 20 ..................................................................................................... 120

    Desafios no Processo de Ensinar o Conceito de Nmero ............................ 120 UNIDADE 21 ..................................................................................................... 125

    Como Organizar o Trabalho Educativo? ....................................................... 125 UNIDADE 22 ..................................................................................................... 130

    Tipos de Conhecimentos: Piaget ................................................................... 130 UNIDADE 23 ..................................................................................................... 139

    Aplicao dos Conceitos Bsicos de Piaget em Relao a Classificao .... 139 UNIDADE 24 ..................................................................................................... 146

    Resoluo de Problemas na Matemtica na Educao Infantil .................... 146 UNIDADE 25 ..................................................................................................... 153

    Planejando o Trabalho com Resoluo de Problemas ................................. 153 UNIDADE 26 ..................................................................................................... 160

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    A Importncia das Crianas Elaborarem seus Prprios Problemas ............. 160 UNIDADE 27 ..................................................................................................... 168

    Educao e Tecnologia.................................................................................. 168 UNIDADE 28 ..................................................................................................... 174

    Informtica Educacional ................................................................................. 174 UNIDADE 29 ..................................................................................................... 181

    Informtica na Educao Matemtica ........................................................... 181 UNIDADE 30 ..................................................................................................... 185

    Consideraes sobre o Uso de Softwares na Educao Infantil .................. 185 GLOSSRIO ..................................................................................................... 190

    BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 203

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    UNIDADE 1 Objetivo: Contextualizar, o cenrio do ensino da Matemtica nos dias atuais e a relao professor e aluno.

    O Ensino da Matemtica nos Dias Atuais

    Qual a reao dos nossos alunos quando o assunto Matemtica? Essa inquietao me

    deixa cada dia mais inconformada em relao ao ensino da Matemtica, no contexto

    escolar, visto que a mesma faz parte da nossa vida diria e, no entanto, muitos de nossos

    alunos se julgam incapazes de compreender essa cincia. Ser pela forma que a mesma

    trabalhada na escola? Ser pelo mito de que esta difcil e quem a compreende gnio?

    Ser que o professor est somente reproduzindo exerccios, por ele repetido em sua vida

    como docente? E as universidades, que so as agncias formadoras desses profissionais,

    como esto trabalhando esta questo? Ou ainda: Ser que esto sendo pagos para

    reproduzir o que j est a - ou seja, manipulador para manipular?

    Vestimos a carapua de que ela completamente difcil e no destinada a compreenso

    de todos. Mas enquanto professores de Matemtica, muitas vezes, ns nos apropriamos

    desse SABER para determos o PODER. Se pararmos para pensar, qual a disciplina que

    mais reprova na escola hoje? A resposta certamente est na MATEMTICA e, no entanto,

    esta cincia est presente em cada momento de nossas vidas. A, fica claro que a

    Matemtica como vem sendo trabalhada nas escolas, pode ser retirada do currculo, pois a

    mesma no leva o aluno construo, nem mesmo ao aproveitamento dessa cincia em sua

    vida conduzindo-o apenas ao fracasso, frustraes e reprovaes.

    Agora que j detectamos alguns problemas com o ensino da Matemtica hoje, resta-nos

    agora, tentar solucion-los. E como todos os problemas; vamos buscar a soluo do incio,

    ou seja, partindo da Educao Infantil, que a porta de entrada da criana na escola e,

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    segundo Piaget, preciso levar a criana a reinventar aquilo que capaz, ao invs de se

    limitar a ouvir e repetir.

    A Matemtica iniciada, na Educao Infantil, com a seriao, classificao, conservao e

    assimilao. Se a criana formular esses conceitos na Educao Infantil certamente isso

    auxiliar no decorrer de toda sua vida, no entanto, no contexto da Matemtica, de nada

    adianta trabalharmos com smbolos se elas ainda no formularam esses conceitos. Com

    uma iniciao correta, as crianas sero capazes de aprender Matemtica e se hoje ela

    considerada difcil, para a maioria das crianas, certamente porque ela est sendo imposta

    sem qualquer considerao pela forma como as crianas aprendem ou pensam.

    A criana deve ser estimulada para a descoberta ao invs de ser ensinada pelo professor e,

    todo e qualquer erro Matemtico que a criana cometer dever automaticamente ser

    corrigido por ela para que ela construa o conceito correto e, jamais, essa correo pode ser

    desconsiderada pelo professor, pois a tica do professor no a mesma do aluno.

    Relacionamento: Professor e Aluno

    O relacionamento professor e aluno; o ambiente em sala de aula e a postura profissional do

    professor so fatores importantes para a compreenso do ensino da Matemtica. Se o

    professor um profissional crtico, aberto capaz de auxiliar o aluno nas suas descobertas

    matemticas, automaticamente, esse aluno ir ousar mais em suas descobertas, mas se o

    professor limitar-se a ditar normas, regras e smbolos, consequentemente, o aluno ousar

    menos e as suas chances de gostar de Matemtica e ampliar seu raciocnio lgico sero

    menores com isso, o ambiente em sala de aula torna-se tenso e de difcil produo de

    conhecimentos.

    Acredito que ns, enquanto professores dessa cincia, precisamos estudar; aprofundar-nos

    na didtica da Matemtica, pois a maioria quase no l e escreve pouco, limitando-se a

    repetir smbolos.

    Precisamos rever os contedos por ns trabalhados na escola e se esses vm ao encontro

    da nossa realidade escolar. Segundo Rangel (1992, p.17): Os contedos no so

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    organizados nem selecionados, levando em considerao a forma como as crianas

    constroem o seu pensamento, isto , a sua maneira pr-lgica de pensar a realidade. Se, o

    contedo ensinado tomado como absoluto e, como um fim em si mesmo: no se

    respeitando e valorizando os erros infantis, ou seja, as manifestaes da criana. Em como

    ela est concebendo, naquele momento, a realidade, na sua maneira de pensar. Dessa

    forma, a nica coisa que conseguimos fazer com que a criana no se sinta bem no

    ambiente escolar, dificultando cada vez mais o processo de ensino aprendizagem.

    Como trabalhar com todas essas diferenas se o profissional no se sente preparado para

    toda essa realidade. A maioria dos futuros professores confessa no saber ensinar

    Matemtica e no gostar dessa cincia. Afirmando que haviam escolhido o curso de

    Pedagogia por acharem que no teriam muito de Matemtica. Eles mostram no gostar de

    Matemtica e acham-se incapazes de entend-la. Esses futuros professores consideram que

    quem "sabia" matemtica era um gnio.

    A histria se repete e, consequentemente, os problemas com relao ao ensino da

    Matemtica agravam-se cada vez mais. Para mudarmos essa concepo precisamos

    quebrar algumas barreiras e tabus, que trazemos conosco, em relao Matemtica e

    conhec-la melhor, pois ningum gosta do que no conhece. (PIRES, acesso em 26 nov.

    2007).

    Como estudo complementar, o aluno deve fazer uma leitura do captulo 1 do livro A

    Matemtica na vida cotidiana e do captulo 2 de Na vida, dez; na escola, zero.

    SCHLIEMANN, Analcia Dias; CARRAHER, David William; CARRAHER, Terezinha Nunes.

    O fato do professor no se identificar com a Matemtica interfere no seu desempenho?

    Justifique sua resposta.

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    As dificuldades dos professores em relao ao ensino da Matemtica podem estar atreladas a sua formao acadmica? Faa uma reflexo sobre sua formao e analise no que ela contribuiu ou deixou de contribuir para sua prtica.

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    UNIDADE 2 Objetivo: Conhecer a histria da cincia da Matemtica e sua relao com os contedos para crianas.

    A Cincia da Matemtica

    A palavra matemtica origem grega e corresponde a conhecer, aprender. A palavra

    mathema significa o que ensino, todas as formas de conhecimento. Ao longo da histria o

    ser humano construiu seus conceitos matemticos atravs da utilizao de objetos concretos

    (pedras, sementes.), para contar seus pertences, limitar territrio e construir objetos.

    importante buscar na histria da Matemtica, fundamentos para internaliz-los, pois as

    teorias dificilmente mudam, mas as prticas podem ser aperfeioadas constantemente. A

    cincia Matemtica est presente em nosso dia a dia, e foi para atender as nossas

    necessidades que a cincia Matemtica foi criada e vem se desenvolvendo a partir das

    mudanas ocorridas no ser humano e na sociedade.

    Voc j usou muitas vezes os nmeros, mas ser que j parou para pensar sobre como

    surgiram os nmeros? Como foram as primeiras formas de contagem? Como os nmeros

    foram criados? Ou, ser que eles sempre existiram?

    Podemos relatar esse desenvolvimento atravs dos registros histricos:

    No Paleoltico Inferior, quando o homem vivia da caa e da coleta, competindo com outros

    animais, ou seja, dependendo essencialmente da natureza, utilizava apenas as noes de

    quantidade e tamanho maior, menor, mais, menos e algumas formas e simetrias na

    confeco de porretes. Era esse o conhecimento que se fazia necessrio.

    No Paleoltico Superior, o homem continuava predador nmade, porm, j utilizava

    instrumentos mais engenhosos como armadilhas rudes, arcos, flechas para caar, cestos

    para coleta, canoas rsticas para se locomover. No usava mais s pau e pedras, mas, sim,

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    ossos, peles, cips, fibras. Para confeccionar esses instrumentos evidente que ele passou

    a adquirir novos conhecimentos matemticos. Como exemplo, podemos citar a confeco de

    um cesto, que alm da noo de contagem exige a noo de forma, simetria, interior/exterior.

    A Matemtica passou a ter representaes simblicas: palavras indicando os primeiros

    nmeros e formas e desenhos pictogrficos que eram marcos para talhos e desbastes na

    madeira, pedra ou osso.

    Existe na histria o exemplo de como, no pastoreio, o pastor usava vrias formas para

    controlar o seu rebanho. Pela manh, ele soltava os seus carneiros e, para cada carneiro

    que saia para o pasto uma pedrinha era guardada em saco de couro. No final do dia, quando

    os animais voltavam do pasto, era feita a correspondncia inversa, onde, para cada animal

    que retornava, era retirada uma pedra do saco. Se no final do dia sobrasse alguma pedra,

    porque faltava algum dos animais e se algum fosse acrescentado ao rebanho, era s

    acrescentar mais uma pedra. A palavra que usamos hoje, clculo, derivada da palavra

    latina calculus, que significa pedrinha.

    O homem, que at ento conseguia sobreviver graas eficincia de seus instrumentos e

    armadilhas e, em virtude dessa mesma eficincia, conseguia o aumento da populao ,

    comeou a ter problemas porque a natureza no gerava o suficiente. Assim, esse homem

    comeou a cultivar plantas e a domesticar animais, diminuindo sua dependncia em relao

    natureza, e transformou-se em produtor, perdendo sua caracterstica de predador

    nmade dando origem a outro homem e a outro perodo histrico, denominado Neoltico.

    No Neoltico, surgiram novas necessidades provocando novos conhecimentos como, por

    exemplo: A fertilidade, ou no, da terra fez com que o homem desenvolvesse tcnicas de

    plantio, colheita, armazenamento e cozimento. Da condio de ter que plantar surgiu a

    construo de cabanas que, para serem confeccionadas, exigiam conhecimentos de

    medidas, o que era feito com palmos ou passos. Assim, o conhecimento matemtico evoluiu

    e, com essa evoluo, surge o saber prtico, como receitas para a sua sobrevivncia e

    comodidade no dia a dia.

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    No inicio da Antiguidade surgiram outras novidades como comrcio, construes, posse da

    terra, navegao, calendrio de 365 dias, relgio do Sol, balana, fundio de metais, baco,

    notao decimal, algumas fraes, alfabeto e outros. O trabalho manual acabou sendo

    considerado indigno para os homens livres, que ficaram com a funo de pensar. Surgiu o

    caminho das abstraes e a Matemtica avanou principalmente no ramo da Geometria.

    Cincia matemtica no Contexto Infantil

    As noes matemticas (contagem, relaes quantitativas e espaciais, etc.) so construdas

    pelas crianas a partir das experincias proporcionadas por suas interaes com o meio,

    pelo intercmbio com outras pessoas, conhecimentos e necessidades que podem ser

    compartilhados. As crianas tm, e precisam ter; vrias experincias com o universo

    matemtico; experincias essas, que lhes permitem fazer descobertas, tecer relaes,

    organizar o pensamento, o raciocnio lgico, situar-se e localizar-se espacialmente.

    Configura-se desse modo, um quadro inicial de referncias lgico-matemticas que como

    iro requerer outras, sero ampliadas. So manifestaes de competncias, de

    aprendizagem; advindas de processos informais, da relao individual e cooperativa da

    criana em diversos ambientes e situaes de diferentes naturezas, sobre as quais no se

    tem planejamento e controle.

    Para Rosa Neto (2002), devem-se levar em conta as etapas da evoluo Matemtica quando

    se estuda o gnese do conhecimento da criana. Foi ele quem estabeleceu um paralelo

    entre a histria da Matemtica e o desenvolvimento da criana. Rosa Neto ainda ressalta que

    uma excelente hiptese de trabalho desde que se considerem as diferenas regionais e

    que as crianas de mesma idade podem estar em diferentes estgios do desenvolvimento.

    A Matemtica construda nos objetivos, caracterstica do Paleoltico, sugere atividades para

    crianas com idade pr-escolar.

    As receitas prticas, construdas em atividades do cotidiano, caractersticas do Neoltico,

    sugerem atividades de operaes concretas para crianas de primeira a quarta srie.

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    Uma das formas utilizadas pelo professor usar o cotidiano das crianas, a realidade na qual

    vivem, associando-os com a Matemtica, pois elas precisam de contedos que lhe sejam

    significativos. fundamental que haja motivao por parte do educador para que o mesmo

    possa despertar, na criana vontade em participar, criar, desenvolver e construir,

    buscando, assim a construo do conhecimento. J que a histria nos mostra que a partir

    deste despertar que h motivao para aquisio do conhecimento.

    Uma caracterstica da criana a curiosidade, proporcionar jogos e brincadeiras que

    envolvam a Matemtica possibilitar que a mesma desenvolva conceitos e operaes

    matemticas, socializao, criao, construo do novo, e outras noes que podem ser

    construdas por elas mesmas.

    A estratgia de uso dos jogos e as brincadeiras permitem ao professor explorar estes

    momentos de prazer e imaginao junto s crianas nas atividades dirias desenvolvendo as

    capacidades de raciocnio lgico-matemtico, bem como o desenvolvimento fsico, afetivo e

    cognitivo das mesmas.

    Desta forma, partimos do pressuposto que o professor precisa conhecer o histrico da

    Matemtica para que tenha subsdios tericos para embasar a sua prtica pedaggica, bem

    como proporcionar jogos e brincadeiras nas aulas. Agindo assim, far com que a criana

    internalize melhor o contedo, relacionando a Matemtica com o cotidiano, desenvolvendo o

    raciocnio lgico-matemtico. Os momentos de meras brincadeiras e interao com

    materiais pedaggicos devem ser explorados pelo professor, visando o conhecimento da

    Matemtica de forma ldica.

    Assim, trabalhar a Matemtica na Educao Infantil proporcionar criana a compreenso

    da realidade e das relaes que estabelece entre os objetos. O educador deve aproveitar o

    conhecimento prvio das crianas para melhor ampli-lo.

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    Faa um estudo nos 4 primeiros captulos do livro de referncia: TOLEDO, Marlia; TOLEDO,

    Mauro. Didtica da Matemtica: como dois e dois:A construo da Matemtica So Paulo:

    FTD, 1997.

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    UNIDADE 3 Objetivo: Descrever a origem das habilidades matemticas na criana, como formam inicialmente conceitos matemticos, a partir da teora e prtica .

    Significado e Sentido

    A partir do nascimento, o sujeito recebe do mundo que o rodeia, elementos indispensveis

    ao seu desenvolvimento. O contato fsico, a fala, a utilizao do espao na comunicao,

    enfim, muitas experincias interativas lhe so apresentadas, as quais lhe permitem a entrada

    nas relaes sociais, altamente enriquecedoras.

    Pensamentos e aes determinam uma dada cultura; por sua vez, a cultura determina os

    pensamentos e as aes resultantes. Os diferentes grupos sociais constituem culturas

    especficas. Cada qual possui peculiaridades caractersticas s suas necessidades grupais.

    O sujeito torna-se conhecedor das vivncias histricas e culturais dos diversos parceiros do

    dia a dia, participa ativamente dessas experincias se tornando consciente de todos os

    valiosos momentos de relao social. Futuramente, essas inmeras oportunidades lhe

    proporcionaro a chance de tambm usufruir do poder argumentativo.

    A partir do entendimento do ser humano como um ser complexo, caracterizando-se como

    sujeito participante e ativo nas relaes com os outros que se constitui cognitivamente,

    consideramos relevante acentuar a congregao dos conhecimentos especficos em cada

    universo cognitivo, com caractersticas prprias as quais se juntam para formar o

    conhecimento global (sem perder, no entanto, a sua especificidade).

    Se algum nos perguntar o que quer dizer meios de transporte, tentaremos explicar o

    significado da expresso de forma a levar o interlocutor a pensamentos objetivos e

    concretos, de forma que o deixe sem dvidas ao final da explanao.

    Agora, vamos penetrar em um espao quase irreal, de to poderoso: o mundo do

    processamento da linguagem e desfrutar um pouco da dinmica desse jogo.

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    A grande mgica (real) no movimento da linguagem encontra-se na transcendncia do limite

    do palpvel. Ao mesmo tempo em que podemos obedecer s regras objetivas de

    determinada lngua, para explicarmos os significados dos vocbulos ou o seu sentido

    restrito, superamos esse limite atravs da subjetividade e ampliar o sentido para os

    desdobramentos necessrios cognitivamente (compreenso). A partir de uma ferramenta til

    a todos, a fala; atravessamos a linha da compreenso objetiva, ou generalizada e concreta

    do mundo que nos rodeia e penetramos na compreenso subjetiva e nica, certamente

    diferente em cada um de ns. Molon (2000) cita o estabelecimento da relao que se

    constitui entre os sujeitos e a possibilidade dos mesmos penetrarem no mundo dos sentidos

    individualmente, afirmando que ... o sujeito estabelece a relao pela significao, j que

    esta transita nas diferentes dimenses do sujeito: ela atravessa o pensar, o falar, o sentir, o

    criar, o desejar, o agir, etc. (p. 11).

    As marcas de um universo grupal ficam registradas na Histria. Cada sujeito participa do

    processo de formao do registro, de acordo com os objetivos especficos. Dentre esses

    objetivos, podemos citar a comunicao como um dos mais importantes: a necessidade em

    comunicar-se fez com que o ser humano recorresse a alguns instrumentos que o

    satisfizessem. Com a descoberta da fala como meio de transmisso dessa necessidade, o

    homem conseguiu construir seus pensamentos, formulando hipteses, operando a memria,

    a lgica, formando conceitos e demonstrando a sua afetividade.

    O trabalho biolgico do neocrtex fez do ser humano a grande diferena para com os demais

    organismos vivos. Oliveira (2005) confirma as afirmaes com o seguinte excerto: O

    surgimento do pensamento verbal e da lngua como sistema de signos crucial no

    desenvolvimento da espcie humana, momento mesmo em que o biolgico transforma-se no

    histrico [...]. O surgimento da lngua atribudo, por Vygotsky, necessidade de intercmbio

    dos indivduos durante o trabalho, atividade especificamente humana (p. 10).

    O sujeito interage no/com o meio, o qual lhe oferecer os caminhos para adquirir o

    conhecimento, ou seja, o meio apresentar as teorias. Cada indivduo utiliza-se de

    estratgias cognitivas, ou o mtodo, de acordo com Morin, que lhe permitiro retornar ao

    meio com a aprendizagem adquirida. O coletivo age sobre o individual e vice-versa.

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    Este processo dinmico, envolvendo o todo (coletivo) e as partes (individual), na aquisio

    do conhecimento.

    Somos carregados de histria individual e coletiva, em constante movimento e com

    mudanas quantitativas e qualitativas, necessrias ao desenvolvimento pleno em cada

    sujeito. (Re) construmos sistematicamente nosso conhecimento, que mais parece um vulco

    em plena atividade.

    Luria (1987) afirma que a palavra a unidade mnima de linguagem para compreenso. O

    estudo do campo semntico encontrado na criana a partir do incio da apresentao da

    fala inicia-se na centralidade da palavra, ao consider-la como uma rede de significaes,

    apresentando multisignificao associativa (a palavra no se esgota em um nico

    significado); dependendo do contexto em que expressa, o falante escolhe o seu

    significado imediato, para compreenso do ouvinte.

    A linguagem constitui-se, como condio primeira para o desenvolvimento das funes

    cognitivas, o que Vygotsky (1987) define como funes psicolgicas superiores. O uso de

    determinada lngua expressa parcialmente inteno da linguagem, vista como organizadora

    cognitiva dos atos voluntrios, dentre eles a conscincia. Molon (2000) complementa a

    definio vygotskyana, considerando que todas as funes psicolgicas superiores

    originam-se das relaes reais entre indivduos humanos [...] e no so funes a priori, ou

    seja, no existem independentemente das experincias (p.7). O conhecimento do mundo,

    pelo sujeito, vai ampliando seus horizontes sucessivamente, graas fora social de cada

    comunidade lingustica.

    Uma experincia do desenvolvimento do conceito de nmero, em crianas da

    Educao Infantil

    A fim de ilustrar o significado e sentido descrito acima, abordando o desenvolvimento da

    contagem, inclui-se a observao de uma atividade realizada em uma instituio pblica de

    Educao Infantil, envolvendo um grupo de doze crianas, entre trs anos e meio a quatro

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    anos e meio, uma professora e uma aluna bolsista. Pesquisa esta realizada por Senna e

    Bedin (2007).

    A situao de observao ocorreu no horrio inicial das atividades do dia, programado para

    que cada criana trouxesse de casa um brinquedo, a ser partilhado entre todos. Um dos

    sujeitos, aqui designado por Gil, foi transferido para o grupo recentemente e encontra-se em processo de adaptao. Gil encantou-se por miniaturas plsticas, tais como: carrinhos,

    caminhes e personagens de histrias infantis, trazidas por um colega, designado a partir de

    agora como Leo. Ao ver a quantidade de miniaturas de Leo na mochila e certificando-se de que no seria flagrado, Gil pegou um dos brinquedos carrinho e, sozinho, comeou a

    moviment-lo no parapeito da janela da sala. A brincadeira durou cerca de cinco minutos,

    quando Leo apercebeu-se do fato e iniciou a disputa pelo brinquedo. Iniciou o dilogo:

    Leo - Voc. Pegou meu carrinho. Eu quero o meu carrinho.

    Gil - Mas voc j brincou na sua casa.

    Leo - Eu brinquei muito pouquinho em casa.

    Gil - Mas eu quero brincar um pouco, assim (mostrando 3 dedos de uma das mos).

    Leo - Mas no assim, tem que ser 1-1; 2-2; 3-3 (alternando a ordem de quem

    devia brincar). 3 muito pouco.

    Gil - Mas voc j brincou assim (mostrando 4 dedos de uma das mos).

    A partir deste momento, chega o colega Teo que deseja ficar a par da situao. Teo aproxima-se e pede um dos brinquedos para Leo; percebendo a divergncia entre os colegas, acata Leo, tentando tirar o brinquedo das mos de Gil.

    Leo - Mas eu j disse para ele que eu quero o meu brinquedo.

    Gil - (se desvencilhando dos colegas com as mos). Chega Vitor, que pede a Leo um dos

    brinquedos.

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    Leo - Voc quer esse? (mostrando o que estava na mo de Gil). Se voc quer, tira dele.

    Vitor - Permaneceu calado.

    Leo - Investiu novamente com a mesma proposta.

    Vitor Por favor! (disse em tom de voz alta). Ento, tentou pegar o brinquedo da mo de Gil.

    Gil - Mas eu quero brincar um pouco.

    Vitor - Mas no assim que fala.

    Gil - Eu quero brincar isso, (mostrando novamente os 3 dedos de uma de suas mos).

    Vitor - Assim pouquinho. assim (mostrando 5 dedos de uma de suas mos).

    Gil - No, eu quero isso. (mostrando 3 dedos de uma das mos, novamente).

    Leo - Inconformado, viu a professora chegar e recorreu a ela para solucionar o problema.

    No caso especfico do dilogo ocorrido, para Gil, os numerais apresentados atravs dos dedos das mos tm relao direta entre quantidade e tempo. Leo participou do dilogo com

    a mesma percepo, avaliando como pouco ou muito tempo, de acordo com o seu interesse.

    O mesmo comportamento foi apresentado por Vitor durante sua intercesso, analisando a quantidade 3 como pouco tempo e sugerindo a Gil que solicitasse a quantidade 5.

    A contagem uma das primeiras formas que a criana tem de entrar em contato com o

    sentido de nmero e isto ocorre espontaneamente em brincadeiras do cotidiano infantil

    (Butteworth, 2005).

    Para que a criana alcance a noo de numerosidade, faz-se necessrio construir

    (organizao / reorganizao cognitiva) a partir de capacidades bsicas, como o raciocnio

    para transferncia de quantidades, de conservao da quantidade dos componentes e sua

    mudana a partir da adio ou da subtrao de elementos. Cabe salientar que a habilidade

    bsica fundamental para a formao do conceito de nmero a ignorncia, pelo sujeito, dos

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    atributos perceptuais do conjunto (cor, forma, tamanho, caractersticas particulares dos

    objetos).

    Associado ao conceito de numerosidade, o desenvolvimento da contagem pela criana se

    desenvolve como a grande abertura para a compreenso de quantidades. Esta habilidade

    requer da criana que associe a nomeao dos nmeros de acordo com a sua ordem, a

    coordenao dos nomes dos nmeros com a identificao dos objetos no conjunto e a

    contagem nica de cada objeto. Ao final da contagem, a criana dever perceber a

    correspondncia com o total de objetos pertencentes ao conjunto. O processo do

    desenvolvimento da contagem na criana estende-se pelo perodo dos dois aos seis anos

    em mdia, para ento adquirir esses princpios ou habilidades.

    As falas das crianas nos transmitem, visivelmente, o individualismo e a competio como

    presentes em todos os momentos. Por trs do aspecto visvel, encontra-se a conscincia de

    cada um, que lhes permite expressar parte do conhecimento individual da noo de

    quantificao.

    Muitas pesquisas vm sendo desenvolvidas a respeito da origem das habilidades

    matemticas. Estas pesquisas tornam-se relevantes para a reflexo dos professores na

    medida em que os auxiliam a pensar como a criana desenvolve os conceitos matemticos.

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    UNIDADE 4 Objetivo: Avaliar a contribuio da Psicologia na prtica pedaggica da Educao Matemtica.

    A Psicologia e a Educao Infantil

    A Psicologia apenas uma entre as cincias que concorrem para a reflexo sobre a

    educao escolar. Sendo uma das cincias que estudam o homem, a Psicologia tem se

    ocupado de uma grande variedade de temas: a afetividade, o desenvolvimento da criana, a

    velhice, a aprendizagem, as relaes sociais e institucionais, a deficincia mental, as

    relaes de trabalho, a sade mental, entre outros.

    Muitas das pesquisas e teorias psicolgicas que tm servido prtica pedaggica no foram

    elaboradas com esse objetivo. Assim, as questes e interesses dos psiclogos so s vezes

    mais abrangentes e s vezes mais restritos do que aqueles colocados pelos agentes do

    processo educacional. Esses dois mbitos, o psicolgico e o pedaggico, raramente

    coincidem; portanto, no podem ser confundidos.

    Considerando que o papel social da escola essencialmente definido pelo processo de

    transmisso/assimilao do conhecimento, entendemos que as contribuies fundamentais

    da Psicologia prtica pedaggica so aquelas que podem lanar luz sobre alguns aspectos

    do "ensinar e aprender".

    O que ensinar? Como a criana aprende? Essas so questes importantes quando se

    objetiva construir uma prtica pedaggica que possa garantir a todas as crianas um

    processo de aprendizagem significativo. Todos ns j temos, em alguma medida, respostas

    a essas questes. Se nos perguntarmos, por exemplo, como se aprende a fazer bolo, uma

    infinidade de respostas pode aparecer: Aprendemos fazendo; seguindo uma receita; vendo

    outra pessoa fazer; seguindo as orientaes de algum. Quando o primeiro bolo no d

    certo, podemos ainda dizer que: "errando que se aprende".

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    E ensinar, o que ? Como se ensina? Novamente uma srie de respostas acaba emergindo:

    ensinar transmitir conhecimentos, tcnicas, valores, deixar o outro fazer, orientando,

    explicando, "dando a receita", fazendo junto.

    Quando se trata de criana, as ideias que temos sobre aprendizagem quase sempre se

    relacionam ao seu desenvolvimento, j que habitualmente admitimos que aprendizagem e

    desenvolvimento so processos, de alguma forma, inter- relacionados.

    Quando dizemos, por exemplo, que, para ensinar criana uma coisa determinada,

    preciso esperar que ela amadurea ou atinja certa idade, estamos subordinando a

    aprendizagem ao desenvolvimento. Ou seja, admitimos que para aprender necessrio

    determinado nvel de desenvolvimento. Por outro lado, sempre ouvimos dizer que o ensino

    deve promover o desenvolvimento da criana.

    Embora a gente conhea, em decorrncia de nossa prpria experincia, muita coisa sobre o

    ensinar, sobre o aprender e suas relaes com o desenvolvimento, quando se trata de

    desenvolver uma ao educativa intencional, de escolher os mtodos, um grande nmero de

    questes acaba aparecendo.

    Ser que, se o professor explicar direitinho, a criana aprende? Como explicar as coisas para

    uma criana? E se a deixarmos agir, montar quebra-cabea, brincar com pedrinhas, estar

    aprendendo? O que ela estar aprendendo? E, se a criana no aprende, ser sinal de

    algum distrbio? Com quantos anos uma criana pode ser ensinada a ler? Quais so os pr-

    requisitos para aprender a adio? A contribuio da Psicologia na Educao Matemtica

    motivada por questes como as citadas acima.

    Psicologia e Educao Matemtica

    A Educao Matemtica o estudo das relaes de ensino e aprendizagem de matemtica.

    Est na fronteira entre a Matemtica, a Pedagogia e a Psicologia.

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    Desde o incio do sculo XX professores de Matemtica se renem para pensar o ensino dessa matria nas escolas. Na dcada de 70 surge na Frana, a Didtica da Matemtica,

    enquanto campo para a sistematizao dos estudos a cerca do ensino da Matemtica. Os

    tericos envolvidos defendiam que cada rea de ensino deveria pensar em sua prpria

    didtica, reconhecendo que no poderia haver um campo de estudo nico que atendesse as

    especificidades de ensino de cada campo do conhecimento.

    A organizao de campos de pesquisa, na rea, dentro das universidades incentivou a criao de organizaes de professores de Matemtica, que atualmente tem grande influncia sobre a elaborao das diretrizes curriculares na rea, em diversos pases.

    At bem pouco tempo, existiam perguntas tais como: Como as crianas aprendem? Todas

    ao mesmo tempo? Todas da mesma maneira? Por que aprenderam algumas coisas melhor

    que outras? Como ensinar para obter um melhor aprendizado?

    Antigamente, acreditava-se que as crianas aprendiam apenas recebendo informaes de

    um professor. O professor explicava, ditava regras, mostrava figuras. A criana ouvia,

    copiava, decorava e devia aprender. Quando no aprendia, culpava-se a criana (desatenta,

    irresponsvel) ou falta de "jeito" do professor.

    A Psicologia aparece como o campo do conhecimento cientfico que d instrumentos para

    compreendermos os processos educativos. Nesse sentido as principais correntes da Didtica

    da Matemtica, sempre estiveram diretamente ligadas s diferentes tendncias da

    Psicologia.

    Atualmente existem outras ideias sobre aprendizagem, e o campo de estudo desses

    pesquisadores chama-se Psicologia Cognitiva ( a rea da Psicologia que estuda o

    pensamento e as emoes).

    Os conceitos da Psicologia Cognitiva aplicam-se ao conhecimento e aprendizagem em

    geral e naturalmente valem para o conhecimento matemtico. Essas ideias no negam

    completamente as concepes antigas sobre o aprendizado. possvel aprender recebendo

    informaes, treinando e decorando regras. Mas, dessa maneira, a compreenso daquilo

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    que se aprende costuma ser bem pequena. E esta a diferena. O que se procura atravs

    da Psicologia Cognitiva favorecer o aprendizado com compreenso.

    A Psicologia Cognitiva fez importantes descobertas sobre o pensamento da criana. Os

    pesquisadores concluram que:

    crianas pensam de maneira diferente dos adultos;

    cada criana pensa diferentemente de outra;

    o pensamento evolui, passa por estgios; em cada estgio, a criana tem uma

    maneira especial de compreender e explicar as coisas do mundo.

    Vamos exemplificar esta ltima afirmao. Experimentemos mostrar a uma criana duas

    bolachas iguais, uma inteira e a outra partida em quatro pedaos. Quase todas as crianas

    de cinco anos de idade vo dizer que as quantidades de bolacha no so iguais. Muitas vo

    achar que h maior quantidade na bolacha em pedaos. J as crianas mais velhas

    reconhecero facilmente que as quantidades so iguais.

    Esse exemplo mostra um fato comum: Em certos estgios do pensamento as crianas

    pensam que a disposio das partes altera a quantidade. Por isso, para as crianas

    pequenas, pode parecer que a quantidade de bolacha aumenta se ela for partida em

    pedaos.

    Os pesquisadores da Psicologia Cognitiva tambm elaboraram ideias sobre o que

    aprender. Eles declaram que aprender com compreenso um processo pessoal, que

    acontece dentro de cada um. Esse processo exige que o aprendiz pense por si prprio.

    Assim, para a Psicologia Cognitiva, simplesmente receber informaes de um professor no

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    suficiente para que o aluno aprenda com compreenso, porque, nesse caso, a criana fica

    passiva, no pensa por si prpria.

    A Psicologia estudou tambm quais objetos ou atividades ajudam a aprender. Ela tem

    mostrado que o pensamento e o aprendizado da criana desenvolvem-se ligados

    observao e investigao do mundo. Quanto mais a criana explora as coisas do mundo,

    mais ela capaz de relacionar fatos e ideias, tirar concluses; ou seja, mais ela capaz de

    pensar e compreender.

    Por exemplo, as crianas que tiveram oportunidade de praticar relaes comerciais

    (compras, pagamentos, trocas) costumam ser mais capazes de resolver problemas

    matemticos envolvendo esses assuntos do que crianas que no tiveram tais experincias.

    justamente esta ltima ideia que tem motivado os educadores a buscarem meios de fazer

    a criana explorar o mundo sua volta. No caso da Matemtica parece ser mais difcil fazer

    a criana explorar o mundo sua volta, porque as noes matemticas nem sempre

    aparecem com clareza nas situaes do cotidiano. Por isso, procura-se criar um mundo

    artificial que facilita a explorao pela criana.

    A partir da observao e manipulao, da troca de ideias entre alunos e entre estes e o

    professor que as relaes matemticas comeam a ser percebidas e enunciadas. O

    professor deve ento, aos poucos, ir organizando esse conhecimento. Assim, podemos dizer

    que a atitude adequada do professor, em relao ao uso do material concreto, decorre dele

    conceder ao ensino de Matemtica, nas sries iniciais, um convite explorao,

    descoberta e ao raciocnio.

    Discuta a questo da complexidade do ensinar e do aprender, baseando-se nos

    registros do trabalho de campo proposto na atividade dissertativa.

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    Este trabalho envolve um trabalho de campo e tem 2 finalidades: ser uma atividade dissertativa e, no final do mdulo, gerar um artigo.

    Escolha uma classe com alunos de 6 anos para observar durante um perodo de aula (preferencialmente de Matemtica). Anote, em folhas de papel: a srie observada; a data; o horrio do incio e do termino da observao; o numero de alunos presentes aula; como est organizada a sala; que mveis e outros objetos h nela (por exemplo, se as carteiras esto dispostas em crculos, grupos ou fileiras; a posio da mesa do professor; se h armrios, prateleiras, murais, etc.).

    Em seguida, anote bem rapidamente tudo o que se passa na sala de aula, prestando ateno aos seguintes aspectos:

    os contedos trabalhados;

    os recursos utilizados pela professora;

    as atividades realizadas pelas crianas;

    a movimentao das crianas e da professora;

    acontecimentos "no previstos":

    interrupes da aula;

    situaes de briga, choro, doena, falta de material;

    situaes em que a professora perdeu a pacincia;

    assuntos sobre os quais a professora e os alunos falaram, que voc considera, no pertinentes aos contedos trabalhados;

    reao das crianas sua presena.

    Depois, organize o seu registro, agrupando as situaes semelhantes, de acordo com os aspectos sugeridos acima. Lembre-se de redigir seus registros de maneira clara, para que possam ser compreendidos facilmente por outras pessoas. Comente, por escrito em 20 linhas, no mximo, as situaes observadas, considerando a questo da complexidade do ensinar e do aprender.

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    UNIDADE 5 Objetivo: Abordar as contribuies Pedaggicas de Piaget na Matemtica

    Desenvolvimento, Aprendizagem e Educao: a influncia da abordagem Piagetiana na escola

    Na concepo Piagetiana, o desenvolvimento da criana um processo que depende

    essencialmente da equilibrao, que a capacidade natural de autorregulao do indivduo.

    As estruturas cognitivas da criana so elaboradas e reelaboradas continuamente a partir da

    sua ao (fsica ou mental) sobre o meio. De acordo com esse quadro terico, a

    aprendizagem praticamente no interfere no curso do desenvolvimento. A nfase nos

    processos internos e na atividade construtiva da prpria criana resulta em uma concepo

    que considera a aprendizagem como dependente do processo de desenvolvimento.

    Ou seja, aquilo que a criana pode ou no aprender determinado pelo nvel de

    desenvolvimento de suas estruturas cognitivas.

    Segundo Piaget, tudo o que transmitido criana, sem que seja compatvel com seu

    estgio de desenvolvimento cognitivo, no de fato incorporado por ela. A criana pode

    imitar mecnica e externamente o adulto, mas no compreende (e, portanto, no conhece) o

    que est fazendo. As formulaes de Piaget tm tido grande influncia sobre a prtica

    pedaggica, inclusive no Brasil. Ao destacarem o papel ativo da criana no processo de

    elaborao do conhecimento, tm sido responsveis por ideias como: o papel fundamental

    da escola dar criana oportunidades de agir sobre os objetos de conhecimento; o

    professor no deve ser aquele que transmite conhecimentos criana, mas sim um agente

    facilitador e desafiador de seus processos de elaborao; a criana quem constri o seu

    prprio conhecimento.

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    Contribuies de Piaget no ensino da Matemtica

    A contribuio de Piaget em relao ao ensino da Matemtica surge das crticas das

    metodologias adotadas. Sendo assim, ele passa a apontar caminhos alternativos. Uma

    leitura atenta de algumas obras piagetianas deixa transparecer de imediato o seu interesse

    ao ensino e prtica pedaggica, formadora e construtora de conhecimentos.

    A escola tradicional, baseada na transmisso oral de conhecimentos, foi sempre muito

    criticada por Piaget por considerar a criana como um ser passivo e vazio onde se poderiam

    imprimir os conhecimentos que o docente selecionasse. Ou seja, a concepo behaviorista,

    marcadamente empirista, estaria na sua raiz, defendendo que a imitao de um modelo,

    quando acompanhada de um reforo positivo, levaria aprendizagem de uma resposta

    correta

    A posio de Jean Piaget era oposta a este tipo de ensino, contudo devemos salientar

    alguns aspectos positivos como: o exerccio da memria, da ateno e a criao de hbitos

    de trabalho, devido s repeties que necessita efetuar (MORGADO, 1986).

    Piaget afirma que o ensino deveria formar o raciocnio, conduzindo compreenso e no

    memorizao, desenvolvendo um esprito criativo e no repetitivo. O professor deve criar

    situaes que levem o discente a encontrar a soluo correta, de acordo com o seu nvel de

    desenvolvimento psicogentico, atravs de trabalhos prticos individuais ou em grupo, de

    dilogo entre colegas ou com o professor.

    Ou seja, a posio piagetiana defende a importncia dos mtodos ativos no desenvolvimento

    psicolgico da criana, procurando conduzir os alunos descoberta das solues para os

    problemas colocados, caso sejam do seu interesse. Piaget defendia a criao de situaes

    propiciadoras de experimentao, onde o aluno refletisse sobre o tema e fosse

    responsabilizado pelas hipteses que defendesse, sujeitando-as ao controle dos fatos.

    Assim, seria essencial que todo o conhecimento escolar emergisse atravs do contato com a

    natureza e a vida quotidiana. A motivao viria do prazer propiciado pela tarefa e no de um

    estmulo externo.

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    A construo de novos conhecimentos exigiria, ento, manipulao direta dos materiais,

    cooperao social; trabalho de grupo e ajuda mtua, na tentativa de promover o

    desenvolvimento da autonomia intelectual, social e moral, necessrio ecloso de um adulto

    criativo, altrusta e adaptado.

    Contrariamente ao que se possa pensar, o professor no era encarado por Piaget como uma

    "pea" desnecessria. Pelo contrrio, desempenharia um papel fundamental na criao de

    programas adaptados ao nvel operatrio dos alunos e de mtodos de avaliao flexveis,

    capazes de aferir o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Este deveria selecionar os

    materiais e situaes melhores adaptados, sintetizando os pontos fundamentais a reter no

    final de uma discusso ou trabalho, respeitando a opinio das crianas e abstendo-se de

    tecer juzos de valor. "O papel do professor fundamental na perspectiva de uma pedagogia

    Piagetiana, uma vez que lhe cabe a tarefa de criar os programas adaptados ao nvel

    operatrio dos seus alunos, bem como encontrar mtodos de avaliao flexveis que

    procurem analisar o desenvolvimento intelectual e autnomo da criana." (MORGADO, 1986,

    p.90).

    Piaget sublinhou a importncia da educao pr-escolar para a aprendizagem de noes

    cientficas, devendo esta incidir no estmulo de exerccios de observao destinados

    correo de constataes incompletas e de ideias preconcebidas. (PIAGET, 1972, p.27).

    Raposo (1980) destaca quatro princpios pedaggicos piagetianos, so eles:

    O valor da autodescoberta seria um mtodo fundamental na organizao da

    aprendizagem, sobretudo na infncia;

    Outro aspecto destacado seria a necessidade de se considerarem as diferenas

    intelectuais entre as crianas;

    Outro ponto que, em sua opinio, tambm mereceria ser relevado seria o papel do

    ensino pr-primrio no desenvolvimento psicogentico;

    Por ltimo aponta "(...) a necessidade de, no desenvolvimento curricular, respeitar a

    sequncia do desenvolvimento intelectual" (RAPOSO, 1980, p.138).

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    A perspectiva de Piaget relativa Pedagogia passou a assumir-se como um referencial

    terico e psicolgico para as designadas "correntes pedaggicas ativas".

    Kamii e Devries (1970, p.75) citam que: "(...) as implicaes pedaggicas da teoria de Piaget

    so mais vastas no domnio socioafetivo que no domnio cognitivo." No que concerne ao

    primeiro domnio enunciam trs princpios gerais de ensino: incentivar a criana a ser

    progressivamente mais autnoma perante aos alunos; encoraj-Ias a interagir e a solucionar

    os seus conflitos; incentiv-Ias a serem independentes e curiosas, a terem iniciativa e

    confiana nas suas capacidades, a exporem as suas opinies convictamente e terminarem

    os seus receios e angstias de modo construtivo.

    Quanto ao domnio cognitivo, estas autoras concentram a sua ateno sobre quatro

    princpios: "Ensinar, dentro do contexto do jogo da criana; encorajar e aceitar as respostas

    'erradas' da criana; pensar em que a criana pensa e ensinar segundo os trs tipos de

    conhecimento; tanto os contedos como os processos." (KAMII; DEVRIES, 1970, p.75).

    Um exemplo seria no campo da aritmtica, que segundo Kamii (1986), quando duas crianas

    obtivessem resultados diferentes numa soma, poder-se-ia pedir-lhes que descrevessem uma

    outra, a forma como resolveram o problema. O dilogo estabelecido, desde que

    incentivado pelo professor, lev-las-ia a refletirem sobre qual soluo estaria mais adequada.

    Isto seria fundamental, no s para incentivar o raciocnio, mas tambm para desmistificar a

    ideia de que a Matemtica arbitrria, incompreensvel e s atingvel pela memorizao.

    Assim, o "feedback" para o pensamento lgico-matemtico residiria na prpria criana e no

    nas outras pessoas, sendo constitudo pela coerncia interna do seu sistema de

    pensamento.

    Todavia, como j citado, a Pedagogia Piagetiana da Aritmtica defendia que um dos

    objetivos principais da Matemtica seria a edificao da noo de nmero. Desta forma, seria

    benfico incrementar tarefas escolares que viabilizassem esta aquisio. "Entendendo que a

    criana s chega noo de nmero atravs de uma sntese entre as operaes de incluso

    de classes e de seriao, uma dessas formas de organizao, por exemplo, consiste em

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    fazer preceder os exerccios de contagem, de exerccios de agrupamentos de objetos, com

    base nas semelhanas e nas diferenas." (RAPOSO, 1980, p.137).

    Piaget foi um marco importante no estudo do conhecimento lgico-matemtico, defendendo

    que esse conhecimento estaria na origem de todo o desenvolvimento cognitivo do sujeito.

    Atribuiu um papel fundamental a atividade do sujeito na construo deste tipo de

    conhecimento, devido ao fato das estruturas lgico-matemticas serem isomorfas das

    estruturas operatrias do sujeito.

    Para desenvolver a noo de nmero, Piaget (apud KAMII, 1993) reconheceu trs conceitos

    bsicos importantes no processo de aprendizagem: a conservao, a seriao e a

    classificao. Piaget tambm estabeleceu uma distino fundamental entre trs tipos de

    conhecimentos considerando suas fontes bsicas e seu modo de estruturao:

    conhecimento fsico, conhecimento lgico-matemtico e conhecimento social. Mais detalhes

    no prximo mdulo com aplicaes prticas.

    Assista ao filme Os transformadores, documentrio apresentado pela TV Cultura

    (episdio Piaget).

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    UNIDADE 6 Objetivo: Abordar as contribuies Pedaggicas de Vygotsky na Matemtica

    Desenvolvimento, Aprendizagem e Educao: a influncia da abordagem de Vygotsky na escola.

    Para Vygotsky o desenvolvimento entendido como um processo de internalizao de

    modos culturais de pensar e agir. Esse processo de internalizao inicia-se nas relaes

    sociais, nas quais os adultos ou as crianas mais velhas, por meio da linguagem, do jogo, do

    "fazer junto" ou do "fazer para", compartilham com a criana seus sistemas de pensamento e

    ao.

    Embora aponte diferenas entre aprendizado e desenvolvimento, Vygotsky considera que

    esses dois processos caminham juntos desde o primeiro dia da vida da criana e que o

    primeiro - o aprendizado suscita e impulsiona o segundo - o desenvolvimento. Ou seja, tudo

    aquilo que a criana aprende com o adulto ou com outra criana mais velha vai sendo

    elaborado por ela, vai se incorporando a ela, transformando seus modos de agir e pensar.

    Assim, segundo Vygotsky, o conhecimento do mundo passa pelo outro, sendo a educao "o

    trao distintivo fundamental da histria do pequeno ser humano. A Educao pode ser

    definida como sendo o desenvolvimento artificial da criana. Ela o controle artificial dos

    processos de desenvolvimento natural. A Educao faz mais do que exercer influncia sobre

    certo nmero de processos evolutivos: ela reestrutura de modo fundamental todas as

    funes do comportamento" (1985: 45).

    Os processos de aprendizado transformam-se em processos de desenvolvimento,

    modificando os mecanismos biolgicos da espcie. Sendo um processo constitudo

    culturalmente, o desenvolvimento psicolgico depende das condies sociais em que

    produzido, dos modos como as relaes sociais cotidianas so organizadas e vividas e do

    acesso s prticas culturais. Em razo de privilegiar o aprendizado e as suas condies

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    sociais de produo no processo de desenvolvimento, Vygotsky colocou em discusso os

    indicadores de desenvolvimento utilizados pela Psicologia da poca.

    Para avaliar o desenvolvimento de uma criana, os psiclogos consideravam apenas as

    tarefas e as atividades que ela era capaz de realizar sozinha, sem a ajuda de outras

    pessoas. Procedendo assim, os psiclogos, segundo Vygotsky, apreendiam apenas seu

    nvel de desenvolvimento real, isto , "o nvel de desenvolvimento das funes mentais da

    criana que se estabeleceram como resultado de certos ciclos de desenvolvimento j

    completados" (Vygotsky, 1984). Ao considerarem apenas o desenvolvimento real,

    problematizava Vygotsky, os psiclogos voltavam-se para o passado da criana. Ou seja,

    apreendiam processos de desenvolvimento j concludos.

    No entanto, destacava ele, nas situaes de vida diria e mesmo na escola, era possvel

    perceber que as atividades que a criana realizava sozinha, por exemplo, comer com a

    colher, amarrar os sapatos, montar uma torre com peas de tamanhos diversos, escrever,

    foram antes compartilhadas com outras pessoas.

    Sua proposta, ento, era a de que se trabalhasse tambm com os indicadores de

    desenvolvimento proximal, que revelariam os modos de agir e de pensar ainda em

    elaborao e que requerem a ajuda do outro para serem realizados. Os indicadores do

    desenvolvimento proximal seriam as solues que a criana consegue atingir, com a

    orientao e a colaborao de um adulto ou de outra criana. Segundo sua anlise, o

    aprendizado (a atividade interpessoal) precede e impulsiona o desenvolvimento, criando

    zonas de desenvolvimento proximal, ou seja, processos de elaborao compartilhada.

    O mtodo do aprendizado da Matemtica, na viso de Vygotsky, se d atravs da integrao

    dos grupos.

    Observar a atividade compartilhada da criana possibilita olhar para o seu futuro, pois "o que

    o desenvolvimento proximal hoje ser o nvel de desenvolvimento real amanh - ou seja,

    aquilo que a criana capaz de fazer com assistncia hoje ela ser capaz de fazer sozinha

    amanh" (Vygotsky, 1985).

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    Alm disso, o desenvolvimento proximal como desenvolvimento em elaborao possibilita a

    participao do adulto no processo de aprendizagem da criana. Para consolidar e dominar

    autonomamente as atividades e operaes culturais, a criana necessita da mediao do

    outro. O mero contato da criana com os objetos de conhecimento ou mesmo sua imerso

    em ambientes informadores e estimuladores no garante a aprendizagem nem promove

    necessariamente o desenvolvimento, uma vez que ela no tem como indivduo, instrumental

    para organizar ou recriar sozinha o processo cultural (Oliveira, 1995).

    Portanto, no campo do desenvolvimento em elaborao que a participao do adulto, como

    pai, professor, parceiro social, se faz necessria. Conforme alertava Vygotsky, "o bom

    aprendizado somente aquele que se adianta ao desenvolvimento" (1984: 101).

    Contribuies de Vygotski no ensino da Matemtica

    Sendo contemporneo de Piaget, Vygotsky evidenciou-se como desenvolvimentista,

    demonstrando, contudo, diferenas profundas na concepo desse desenvolvimento.

    Estando ambos os autores fundamentalmente interessados em toda a gama de

    desenvolvimento mental desde a infncia at a adolescncia, o conceito biolgico de

    desenvolvimento de Piaget, como sendo uma questo de maturao e desdobramento, foi

    rejeitado por Vygotsky. Segundo este, a adaptao da criana seria bastante mais ativa e

    menos determinista. Ou seja, Vygotsky enfatizou fundamentalmente a cultura em detrimento

    da herana biolgica para o desenvolvimento cognitivo. (Vygotsky, 1962, p.20).

    Vygotsky desenvolveu uma concepo psicolgica alicerada na teoria marxista do

    funcionamento intelectual humano juntamente com seus colaboradores Alexandre

    Romanovich, Luria e Alexei Leontiev.

    Considerou que o desenvolvimento cognitivo ocorreria pelo processo de internalizao da

    interao social, atravs de objetos fornecidos pela cultura, levando para segundo plano a

    dimenso individual.

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    O conceito central da teoria de Vygotsky seria o de Zona de Desenvolvimento Proximal

    (ZDP), definida como a discrepncia entre o desenvolvimento atual da criana e o nvel

    alcanado quando resolve problemas com auxlio. Partindo deste pressuposto considera-se

    que todas as crianas podem fazer mais do que o conseguem fazer por si ss. A imitao e o

    ensino teriam aqui um papel de suma importncia, conduzindo a criana a atingir novos

    nveis de desenvolvimento. Desta forma, a Pedagogia deveria incidir no nas funes

    maduras, mas nas funes em vias de maturao (Vygotsky, 1962).

    A contribuio de Vygotsky foi importante para a compreenso de que o desenvolvimento

    das funes psicolgicas superiores, atravs do ensino, englobava dois nveis de

    desenvolvimento:

    O nvel de desenvolvimento real, onde a criana dominaria algumas capacidades,

    conseguindo realizar as funes amadurecidas sozinha, sem a assistncia de algum (pai,

    criana mais adiantada ou o professor);

    O nvel potencial seria aquele em que a criana necessitaria do auxlio de mais

    experiente. Neste momento, a criana realizaria tarefas, mas apenas com a mediao de

    outros.

    distncia entre aquilo que a criana conseguiria fazer por si s e aquilo em que necessita

    do auxlio de outra pessoa caracterizar-se como Zona de Desenvolvimento Proximal.

    (Nicolopoulou, 1993, p.8).

    No que concerne s concepes de Vygotsky e Piaget quanto ao papel do jogo no

    desenvolvimento cognitivo, estas diferem radicalmente. Para Piaget, no jogo preponderaria

    assimilao, ou seja, a criana assimilaria a sua percepo da realidade s estruturas que j

    construiu e, neste sentido, o jogo no seria determinante nas modificaes das estruturas.

    Para Vygotsky, o jogo proporcionaria alterao das estruturas, podendo criar uma ZDP.

    Assim sendo, luz desta concepo psicolgica, uma prtica pedaggica adequada passar

    no apenas por "deixar as crianas brincar'", mas, sobretudo por brincar com elas, ajud-Ias

    nessa atividade ou at ensin-Ias a faz-Io, sendo 'vital a promoo adequada do jogo.

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    O desenvolvimento cognitivo, luz da posio vygotskiana, seria formado pelo

    processo de internalizao da interao social com materiais fornecidos pela cultura,

    sendo o processo construdo do exterior para o interior. O sujeito no seria apenas

    ativo, mas interativo, na medida em que formaria conhecimentos e constituir-se-ia

    com base nas relaes intra e interpessoais.

    Na partilha com outros sujeitos e consigo prprio, ir-se-iam internalizando

    conhecimentos, papis e funes sociais, permitindo a formao de conhecimentos e

    da prpria conscincia. (Tudge & Rogoff, 1989, p.19).

    Apesar de considerar que a inteligncia seria a capacidade de aprender, tendo por base

    instrues, Vygotsky no defendia um ensino formal e mecnico, onde as crianas fossem

    sujeitas a uma rotina desinteressante e a exames irrelevantes. Na realidade, colocou em

    relevo mais o desenvolvimento intelectual que a aprendizagem processual, devendo o

    professor desafiar a criana a atingir metas que de outra maneira no atingiria (Sutherland,

    1996, p.71).

    Desta forma, a escola seria o lugar onde a interveno pedaggica intencional

    desencadearia o processo ensino-aprendizagem. O professor deveria provocar avanos nos

    alunos interferindo na sua ZDP. Outro fator relevante para a Educao, decorrente das

    interpretaes das teorias de Vygotsky, seria a importncia da atuao dos outros membros

    do grupo social na mediao entre a cultura e o indivduo, visto que o aluno no seria um

    mero sujeito da aprendizagem, mas aquele que capaz de aprender, junto ao outro, o que o

    seu grupo social produz, como: valores, linguagem e o prprio conhecimento. Ao observar a

    zona proximal, o educador poderia orientar o aluno no sentido de adiantar o seu

    desenvolvimento potencial, tomando-o real. (Tudge & Rogoff, 1989, p.22)

    O relacionamento estabelecido entre a criana e os seus colegas seria, tambm, de

    importncia vital. Vygotsky defendeu a utilizao de uma criana mais desenvolvida

    para ajudar a outra menos desenvolvida." (Sutherland, 1996, p.73). Esta interao traria

    benefcios para as partes, visto que a criana mais desenvolvida adquiriria uma maior

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    compreenso explcita da sua aprendizagem a nvel metacognitivo, pois ao ensinar certo

    tema estaria a consolidar a sua prpria aprendizagem.

    Vygotsky defendia uma posio aparentemente antagnica de Piaget, ao atribuir um papel

    de capacitao para os professores, considerando que desempenhariam um papel didtico,

    devendo orientar os alunos para que se concentrassem, prestassem ateno e aprendessem

    com eficcia. Isto , enquanto Piaget incidiu, sobretudo, sobre a criana, Vygotsky enfatizou,

    particularmente, o professor (Sutherland, 1996).

    Desta forma, para Vygotsky, a escola surge com um papel essencial, devendo dirigir o

    ensino no para etapas intelectuais j alcanadas, mas sim, para as etapas que os alunos

    ainda no alcanaram, incentivando o desenvolvimento potencial do aluno.

    Com base na teoria de Piaget e Vygotsky disserte sobre as dificuldades da prtica

    do ensino da Matemtica na Educao Infantil.

    Assista ao filme - O enigma de Kaspar Hauser, dirigido por Werner Herzog. As borboletas de

    Zagorsky, episdio do documentrio Os transformadores, apresentados pela TV Cultura de So Paulo.

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    UNIDADE 7 Objetivo: Contextualizar a Matemtica na Educao Infantil e a importncia da preparao de um ambiente de aprendizagem.

    A Matemtica na Educao Infantil

    A Educao Infantil um perodo extremamente frtil em relao construo de novos

    conhecimentos, sejam eles sociais, afetivos ou cognitivos, sendo a criana dessa faixa etria

    capaz de estabelecer relaes complexas entre os elementos da realidade que se apresenta.

    Assim, frequentar uma classe de Educao Infantil significa, alm da convivncia entre

    pares, ter acesso a muitas oportunidades para a construo de novos conhecimentos, graas

    s aes que a criana exerce sobre o mundo real.

    Dentre os conhecimentos que sero construdos nessa etapa da escolaridade, a Matemtica

    ocupa um lugar de destaque. Numerosas pesquisas tm apontado a relevncia do trabalho

    com essa disciplina para as crianas pequenas, especialmente no que diz respeito

    construo do conceito de nmero, alm das noes ligadas s grandezas e medidas, bem

    como espao e forma.

    As crianas, desde o nascimento, esto imersas em um universo no qual os conhecimentos

    matemticos so parte integrante. As crianas participam de uma srie de situaes

    envolvendo nmeros, relaes entre quantidades e noes sobre espao.

    Utilizando recursos prprios e pouco convencionais, elas recorrem a contagem e operaes

    para resolver problemas cotidianos, como conferir figurinhas, marcar e controlar os pontos de

    um jogo, repartir as balas entre os amigos, mostrar com os dedos a idade, manipular o

    dinheiro e operar com ele, etc. Tambm observam e atuam no espao ao seu redor e, aos

    poucos, vo organizando seus deslocamentos, descobrindo caminhos, estabelecendo

    sistemas de referncia, identificando posies e comparando distncias. Essa vivncia inicial

    favorece a elaborao de conhecimentos matemticos.

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    As crianas j elaboram conhecimentos sobre Matemtica, brincam, conversam, resolvem

    situaes-problema que se apresentam no dia a dia. O que fazer, por exemplo, quando h

    mais pessoas do que lugares mesa? Onde se posicionar para que a bola acerte o cesto?

    Como dividir entre as balas os amigos?

    Conforme artigo escrito por Pannuti***, no parece acertado qualificar esse ramo de

    atividade como uma disciplina formalizada que deveria ser reservada aos anos seguintes da

    escolaridade, uma vez que, desde a Educao Infantil, as crianas j sabem muito sobre

    relaes matemticas, pois esto expostas todo tempo a esse gnero de conhecimento.

    Em outras palavras, fazer Matemtica expor ideias prprias, escutar as dos outros,

    formular e comunicar procedimentos de resoluo de problemas, confrontar, argumentar e

    procurar validar seu ponto de vista, antecipar resultados de experincias no realizadas,

    aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas, entre outras coisas. Dessa

    forma as crianas podero tomar decises, agindo como produtoras de conhecimento e no

    apenas executoras de instrues. Portanto, o trabalho com a Matemtica pode contribuir

    para a formao de cidados autnomos, capazes de pensar por conta prpria, sabendo

    resolver problemas.

    Tomando como base o Referencial Nacional Curricular (RCN), destacam-se trs blocos de

    contedos a serem trabalhados na Educao Infantil: nmeros e sistema de numerao;

    grandezas e medidas; espao e forma.

    Considera-se que para aprender sobre numerao as crianas devem lidar com os

    nmeros e com o sistema de numerao, trabalhando com resoluo de problemas,

    contagem e regras do sistema decimal. Assim, as crianas devem ser capazes de pensar e

    discutir sobre as relaes numricas utilizando as convenes de nossa prpria cultura,

    tendo familiaridade com nmeros e desenvolvendo as habilidades matemticas que

    *** PANNUTI, MASA PEREIRA Psicloga (USP), Mestre em Educao (UFPR), Doutoranda em Educao Matemtica (UFPR). Coordenadora pedaggica da Escola Anjo da Guarda, Curitiba, PR.

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    capacitem o indivduo a enfrentar as demandas prticas do dia a dia, alm de compreender

    informaes matemticas, tais como grficos e tabelas.

    Em relao Geometria, faz-se necessrio considerar que a criana constri o espao

    a partir de seu prprio corpo e de seus deslocamentos, construindo paulatinamente noes

    geomtricas mais complexas. Dessa forma, o trabalho envolvendo espao e forma no deve

    limitar-se ao reconhecimento e memorizao de formas geomtricas. H que se desenvolver

    propostas que considerem o espao sob a perspectiva do esquema corporal, da percepo

    do espao, alm das noes geomtricas propriamente ditas.

    Em relao a grandezas e medidas propicia que as crianas possam estabelecer

    relaes entre objetos, comparando-os de acordo com um padro (no convencional nesse

    momento da escolaridade). Assim, cabe ao professor organizar situaes nas quais o uso da

    medida seja uma necessidade para as crianas. A prpria marcao do tempo, por meio de

    um calendrio adequado, constitui importante momento de reflexo para os alunos.

    Por fim, no se pode deixar de considerar a importncia de atividades tais como classificar,

    ordenar, seriar e corresponder, as quais no se referem especificamente a nenhum contedo

    da Matemtica, mas que servem como organizadores do raciocnio lgico matemtico. Essas

    atividades visam desenvolver as operaes intelectuais que permitem criana estabelecer

    relaes entre os elementos da realidade.

    Uma questo que merece ateno, frente s frequentes crticas ao modelo de ensino de

    Matemtica vigente, fundamentalmente pensar como torn-la significativa para os alunos.

    A importncia da preparao do ambiente de aprendizagem

    O espao onde acontecem encontros, trocas de experincias, discusses e interaes entre

    as crianas e o professor de grande importncia. Este espao deve ser marcado por um

    ambiente cooperativo e estimulante para o desenvolvimento dos alunos, pois sabemos que

    enquanto vive em um meio sobre o qual pode agir, discutir, decidir, realizar e avaliar com seu

    grupo, a criana adquire condies e vive situaes favorveis para a aprendizagem. O

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    ambiente da sala de aula pode ser visto como uma oficina de trabalho de professores e

    alunos, podendo transformar-se num espao estimulante, acolhedor, de trabalho srio,

    organiza o e alegre. nesse espao que o professor observa seus alunos, suas conquistas e

    dificuldades.

    O ambiente proposto um ambiente positivo, que encoraja os alunos a propor solues,

    explorar possibilidades, levantar hipteses, justificar seu raciocnio e validar suas prprias

    concluses. Dessa forma, nesse ambiente, os erros fazem parte do processo de

    aprendizagem, devendo ser explorados e utilizados de maneira a gerar novos

    conhecimentos, novas questes, novas investigaes, num processo permanente de

    refinamento das ideias discutidas. To importante quanto o espao so os recursos

    didticos.

    Na Educao Infantil, a sala de aula deve ser um lugar de explorao dos elementos da

    realidade que cerca os alunos. O educador deve estar constantemente preocupado em

    desenvolver nas crianas a curiosidade e o interesse pela interpretao dos fenmenos que

    ocorrem no meio em que esto. Assim, experimentar e descobrir podem ser uma maneira

    muito rica e interessante de aprender. Para que isso ocorra, a criana deve ter a

    oportunidade de agir sobre sua realidade.

    Proporcionar criana dessa faixa etria situaes ricas e desafiadoras, as quais possam

    gerar a necessidade de resolver um problema efetivo, parece ser fundamental. O papel do

    professor de grande importncia nesse processo, uma vez que, alm de deixar a criana

    livre para manipular e experimentar os materiais, como tambm observar as reaes

    decorrentes, deve, em seguida, propor criana problemas reais a serem resolvidos,

    criando, assim, uma situao de aprendizagem significativa.

    O trabalho de Matemtica na Educao Infantil deve, dessa forma, garantir que as crianas

    faam mais do que recitar nmeros e decorar os nomes de figuras geomtricas. preciso

    que possam, partindo dos conhecimentos prvios de cada uma, avanar em seus

    conhecimentos mediante situaes significativas de aprendizagem.

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    Vrias so as possibilidades para que isso ocorra: as situaes de jogos; as resolues de

    problemas; as atividades lgicas, etc. O que vai garantir um aprendizado efetivo que a

    criana possa ser o protagonista desse processo, ou seja, um ser ativo que busca respostas

    a questes verdadeiras e instigantes.

    A Matemtica na Educao Infantil ajuda a desenvolver o conceito de cidadania nas

    crianas?

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    UNIDADE 8 Objetivo: Decrever a importncia do smbolo para a criana representar os nmeros, bem como abordar o conceito de quantidade atravs na noo de agrupar e desagrupar.

    A escrita dos nmeros pelas crianas

    Aps entender os nmeros, o passo seguinte, para as crianas, aprender a represent-los.

    Para tal, necessrio que utilizem smbolos. Entretanto, antes de comear a ensinar a escrita dos nmeros, importante trabalhar um pouco com as crianas o uso dos smbolos.

    Pode-se pedir que inventem smbolos para representar coisas, acontecimentos, emoes de

    seu dia a dia, como por exemplo, um dia ensolarado, alegria, etc. interessante que se

    converse com as crianas sobre os smbolos que inventaram, comparando as diversas

    propostas e perguntando se conhecem outros smbolos. Como exemplos, podem ser citados

    smbolos de canais de televiso, de trnsito, a bandeira e outros.

    Uma criana que j tenha passado pelas experincias descritas anteriormente e entendido

    os nmeros poder inventar smbolos para represent-los, sem que nenhum ensinamento

    lhe seja dado. Um smbolo pode ter ou no semelhana figurativa com a coisa que ele

    representa. Em geral, ao serem inventados pelas crianas, os smbolos dos nmeros indicam

    a prpria quantidade, como os povos antigos os representavam. Assim, por exemplo, para

    representar os nmeros um, dois, trs, quatro, etc., uma criana poder fazer risquinhos: / //

    /// ////.

    Neste momento, a criana j est preparada para aprender os smbolos que utilizamos

    atualmente para representar os nmeros. No entanto, devemos ter ainda alguns cuidados.

    Em primeiro lugar, como j vimos na lio, quem conta, conta alguma coisa, portanto,

    no faz sentido comear a ensinar a escrita dos nmeros pelo zero, pois este no representa

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    quantidade. O smbolo para o zero s deve ser ensinado depois que as crianas j sabem

    representar os nove primeiros nmeros, a partir do um;

    Em segundo lugar, muito importante que o ensino da escrita do nmero dez e de

    seus sucessores no seja precipitado, pois, da mesma forma que diversas atividades e

    experincias podem ser propostas para que as crianas primeiro entendam os nmeros de

    um a nove, para s depois represent-los, preciso que elas participem de outras

    experincias e faam novas atividades que as ajudaro a compreender a escrita dos

    nmeros a partir do dez. Um bom recurso para isso o uso do baco, pois ele materializa as

    duas principais caractersticas do nosso sistema de numerao: o carter posicional e a base

    dez.

    Agrupando e Reagrupando

    De acordo com o Programa Educar (2007), para contar grandes quantidades, costumamos

    agrupar os objetos. Para contar as bolinhas do desenho.

    Podemos agrup-las, por exemplo, de 3 em 3 ou de 5 em 5. Entretanto, nosso hbito

    agrup-las de 10 em 10.

    Podemos registrar o resultado dessa contagem destas maneiras:

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    Vamos aumentar o nmero de bolinhas e agrup-las assim:

    ou

    Podemos reagrupar, isto , agrupar os grupos:

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    Agrupar e reagrupar de 10 em 10 uma das caractersticas do nosso sistema de numerao,

    que, por isso, chamado de sistema de numerao decimal. Tambm dizemos que nosso

    sistema tem base 10. Os agrupamentos de grupos de dez so denominados centenas; os

    grupos de dez, dezenas, e os objetos soltos, unidades.

    O hbito de agrupar de 10 em 10, presente em vrios sistemas de numerao alm do nosso

    (no egpcio, no romano e no chins, por exemplo), sem dvida se relaciona com a utilizao

    dos dedos na realizao de contagens. Foi usando os dez dedos das mos que o homem

    aprendeu a contar. Fazemos isso at hoje...

    Entretanto, o homem no se contentou s com suas mos. Ele criou alguns instrumentos

    para auxili-lo nos clculos. Dentre esses instrumentos, destaca-se o baco, pela eficincia e

    simplicidade e continua a ser usado at os dias de hoje, mesmo com as calculadoras atuais

    dotadas com recursos poderosos.

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    A construo de um baco simplificado muito fcil e barata, podendo ser feita pelas prprias

    crianas. A base do baco pode ser um pedao de isopor, ou de qualquer material semelhante,

    como, por exemplo, uma caixa de ovos. As casas do baco podem ser varetas, espetinhos de

    churrasco ou pedaos de arame grosso, que sero espetados na base. As "contas" do baco

    podem ser arruelas, argolas de plstico, tampas de garrafa de refrigerante furadas no meio, ou

    mesmo macarro do tipo "argolinha".

    Aps construir o seu baco voc pode utiliz-lo em atividades que envolvam contagens e a

    representao escrita dessas contagens.

    Na pasta Software Livre tem um software do BACO. Divirta-se.

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    UNIDADE 9 Objetivo: Abordar a importncia das proposta curriculares da Educao Infantil e suas principais reas.

    Contedo das Propostas Curriculares para Educao Infantil

    A seleo e a organizao dos contedos matemticos representam um passo importante no

    planejamento da aprendizagem e devem considerar os conhecimentos prvios e as

    possibilidades cognitivas das crianas para ampli-los. Para tanto, deve-se levar em conta

    que:

    aprender Matemtica um processo contnuo de abstrao no qual as crianas

    atribuem significados e estabelecem relaes com base nas observaes, experincias e

    aes que fazem, desde cedo, sobre elementos do seu ambiente fsico e sociocultural;

    a construo de competncias matemticas pela criana ocorre simultaneamente ao

    desenvolvimento de inmeras outras de naturezas diferentes e igualmente importantes, tais

    como comunicar-se oralmente, desenhar, ler, escrever, movimentar-se, cantar, etc.

    Os domnios sobre os quais as crianas de zero a seis anos fazem suas primeiras incurses

    e expressam ideias matemticas elementares dizem respeito a conceitos aritmticos e

    espaciais.

    A finalidade das propostas curriculares para a Educao Infantil apresentada pela

    administrao educativa potencializar e favorecer o desenvolvimento mximo de todas as

    capacidades, respeitando as diversidades e as possibilidades dos diferentes alunos. O

    desenvolvimento no pode ser considerado como uma expanso automtica de

    potencialidades, mas como um complexo processo de interao entre a criana e o adulto. O

    currculo deve contemplar:

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    Ter no mnimo alguma das cinco grandes capacidades de que habitualmente falamos quan-

    do queremos caracterizar o desenvolvimento e o que configura uma pessoa (cognitivas, de

    relao interpessoal, motoras, de atuao social e de equilbrio pessoal).

    Exceto em algum caso muito concreto, esses objetivos gerais fazem referncia a mais de

    uma capacidade geral. Isso lgico, porque a pessoa global e no pode compartimentar-

    se em mbitos.

    Ao serem observadas as grandes capacidades, veremos que, de um lado, podemos

    distinguir duas grandes dimenses: uma dimenso configurada para o que afeta a prpria

    pessoa (capacidades cognitivas, motoras e de equilbrio pessoal) e uma dimenso

    configurada pelo meio social que a envolve e as relaes que as mantm (as capacidades de

    relao interpessoal e de insero social).

    Essas duas dimenses so inseparveis na construo individual, por exemplo: as relaes

    interpessoais esto muito determinadas pelo equilbrio emocional de uma pessoa e, a