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CLÍNICA DE ESPÉCIES PECUÁRIAS MASTITES EM BOVINOS PROVOCADAS POR Prototheca spp. Relatório Final de Estágio Licenciatura em Medicina Veterinária José Manuel Carvalho Oliveira UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2007

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CLÍNICA DE ESPÉCIES PECUÁRIAS

MASTITES EM BOVINOS PROVOCADAS POR Prototheca spp.

Relatório Final de Estágio

Licenciatura em Medicina Veterinária

José Manuel Carvalho Oliveira

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

VILA REAL, 2007

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“ As doutrinas apresentadas neste relatório

são da exclusiva responsabilidade do autor “

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O Orientador do Estágio,

____________________________________

(Dr. Jorge Bernardes)

O Coordenador de Estágio,

____________________________________

(Prof. Dr. João Simões)

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DEDICATÓRIA

Aos meus Pais, Manuel e Maria Rosa

Às minhas Irmãs, Helena e Armanda

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Relatório de Estágio: Clínica de Espécies Pecuárias

v

AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho só foi possível graças ao incentivo de várias pessoas

que incansavelmente estiveram sempre presentes. Por este facto torna-se crucial agradecer

a todos quantos me deram o seu apoio.

Ao Prof. Dr. João Simões, pela gentileza e prontidão com que aceitou a

coordenação deste estágio, pela preciosa transmissão de conhecimentos, disponibilidade,

simpatia e apoio sempre que foi necessário.

Ao Dr. Jorge Bernardes, o orientador de estágio, pela transmissão de

conhecimentos na resolução e acompanhamento dos vários casos clínicos, pelo seu apoio,

disponibilidade, paciência e colaboração prestada na elaboração deste relatório.

Aos meus pais, Manuel e Rosa, que me proporcionaram a possibilidade de me

licenciar em Medicina Veterinária, pelo seu amor, apoio, compreensão, disponibilidade e

insistência em me oferecer um futuro melhor.

Às minhas irmãs, Helena e Armanda, por todo o apoio, incentivo, compreensão e

amor.

À minha namorada, Filipa Falcão por todo o seu amor, carinho, paciência, ajuda,

dedicação, incentivo, e por todos os momentos inesquecíveis que passámos juntos.

Aos meus colegas de curso, em especial aos amigos Rui Lopes, Pedro Carvalho,

Pedro Ávila, Chavão, Marco Nóbrega, José Eduardo, José Miguel, Gonçalo, Paulo, Paula

Vieira, Vera, Sónia, Cristina, Cristiana e Helena, pelo apoio, companheirismo e amizade

ao longo do curso.

Ao Eng.º Agrónomo, Abel Nogueira, da Direcção Regional de Agricultura da

Região Entre-Douro e Minho pela sua prontidão, simpatia e disponibilidade.

A todos os residentes da residência universitária Além Rio, bloco D, 3º piso, com

os quais residi durante os anos da Licenciatura, em especial ao Nuno, Ricardo, Bertolucci,

Pedro, Felgueiras, André, Sérgio, João, Viseu, Zé Lê, Bila e Olívio.

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Relatório de Estágio: Clínica de Espécies Pecuárias

vi

A todos os professores desta instituição, pela transmissão de conhecimentos ao

longo do curso e pela simpatia sempre presente

A todos que de alguma forma estiveram presentes ao longo de todo o trabalho.

O meu sincero obrigado

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vii

SIGLAS E ABREVIATURAS

AINES – Analgésicos anti-inflamatórios não esteróides.

API 20 C Aux – Analytical Profile Index (para identificação de leveduras).

bpm – Batimentos por minuto.

BVD – Diarreia viral bovina.

CCS – Contagem de Células Somáticas.

CN – Cabeças normais.

CS – Células somáticas.

DAD – Deslocamento do abomaso à direita.

DAE – Deslocamento do abomaso à esquerda.

EDM – Entre-Douro e Minho.

ELISA – Enzyme-linked Immunosorbent Assay.

Gram ¯ – Gram negativa.

Gram + – Gram positiva.

ha – Hectare.

IBR – Rinotraqueite infecciosa bovina.

IgA – Imunoglobulina A.

IgG1 – Imunoglobulina G1.

IM – Intramuscular.

IV – Intravenosa.

KHP – Biftalato de potássio.

MAE – Membro anterior esquerdo.

MAD – Membro anterior esquerdo.

MH – Agar Muller Hinton.

MH2 – Agar Muller Hinton suplementado com 5% de sangue disfibrinado de carneiro.

MPD – Membro posterior direito.

MPE – Membro posterior esquerdo.

ND – Não dispomível.

O.P.P. – Organização de Produtores Pecuários.

PAS – Ácido periódico de Schiff.

PIM – Prototheca Isolation Medium.

rpm – Movimentos respiratórios por minuto.

SAU – Superfície agrícola utilizada.

TCM – Teste Californiano de Mamites.

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viii

ÍNDICE GERAL

DEDICATÓRIA ............................................................................................................................................IV

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... V

SIGLAS E ABREVIATURAS .................................................................................................................... VII

ÍNDICE GERAL.........................................................................................................................................VIII

ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................................................XI

ÍNDICE DE GRÁFICOS ............................................................................................................................ XII

ÍNDICE DE TABELAS..............................................................................................................................XIII

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1

2. ENQUADRAMENTO ........................................................................................................................2

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO .................................................................................... 2

2.1.1 Delimitação geográfica...................................................................................... 2

2.1.2 Clima ................................................................................................................. 3

2.1.3 Solos .................................................................................................................. 4

2.1.4 Culturas ............................................................................................................. 4

2.1.5 Exploração pecuária .......................................................................................... 5

3. CASUÍSTICA.......................................................................................................................................6

3.1 CASUÍSTICA POR ESPÉCIE ANIMAL .............................................................................. 6

3.2 CASUÍSTICA POR SISTEMA ORGÂNICO E OUTRAS ACTIVIDADES MÉDICO-VETERINÁRIAS.. 7

3.2.1 Afecções abordadas em grandes ruminantes ..................................................... 7

3.2.2 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em pequenos ruminantes e outras

actividades médico-veterinárias ........................................................................ 9

3.2.3 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em equinos e outras actividades

médico-veterinárias ......................................................................................... 10

3.2.4 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em suínos e outras actividades

médico-veterinárias ......................................................................................... 11

3.2.5 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em leporídeos e outras actividades

médico-veterinárias ......................................................................................... 12

3.2.6 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em galináceos e outras actividades

médico-veterinárias ......................................................................................... 12

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ix

4. MASTITES EM BOVINOS............................................................................................................14

4.1 DEFINIÇÃO ................................................................................................................... 14

4.2 ETIOLOGIA .................................................................................................................. 14

4.2.1 Classificação geral das mastites contagiosas e ambientais.............................. 16

4.3 EPIDEMIOLOGIA.......................................................................................................... 18

4.3.1 Prevalência e incidência .................................................................................. 18

4.3.2 Prevalência da infecção por agentes contagiosos ............................................ 19

4.3.3 Prevalência da infecção por agentes ambientais.............................................. 20

4.3.4 Distribuição dos agentes patogénicos em mastites clínicas............................. 20

4.3.5 Fonte de infecção............................................................................................. 20

4.3.6 Transmissão..................................................................................................... 21

4.3.7 Factores de risco .............................................................................................. 21

4.4 CONSIDERAÇÕES ECONÓMICAS ................................................................................. 24

4.5 PATOGENIA.................................................................................................................. 25

4.6 SINTOMATOLOGIA ...................................................................................................... 27

4.6.1 Anormalidades no leite.................................................................................... 27

4.6.2 Alterações físicas do úbere.............................................................................. 28

4.6.3 Sinais sistémicos.............................................................................................. 28

4.7 DIAGNÓSTICO .............................................................................................................. 28

4.7.1 Tipos de exames complementares ................................................................... 29

4.8 TRATAMENTO.............................................................................................................. 30

4.8.1 Terapia parenteral antibacteriana..................................................................... 31

4.8.2 Administração antibacteriana intramamária .................................................... 31

4.8.3 Agentes Anti-inflamatórios ............................................................................. 32

4.8.4 Tratamento de vacas secas............................................................................... 32

4.8.5 Terapia de suporte ........................................................................................... 32

4.9 CONTROLO E PROFILAXIA .......................................................................................... 33

4.10 MASTITE BOVINA PROVOCADA POR PROTOTHECA SPP. ............................................ 35

4.10.1 Introdução........................................................................................................ 35

4.10.2 Etiologia e propriedades .................................................................................. 36

4.10.3 Epidemiologia ................................................................................................. 36

4.10.4 Sinais clínicos.................................................................................................. 38

4.10.5 Fisiopatologia .................................................................................................. 38

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Relatório de Estágio: Clínica de Espécies Pecuárias

x

4.10.6 Diagnóstico...................................................................................................... 39

4.10.7 Tratamento....................................................................................................... 43

4.10.8 Controlo e profilaxia........................................................................................ 45

5. CASOS CLÍNICOS ..........................................................................................................................46

5.1 CASO CLÍNICO Nº 1 – MASTITE POR PROTOTHECA SPP. EM EXPLORAÇÃO DE MÉDIA DIMENSÃO .................................................................................................................... 46

5.1.1 Apresentação do caso clínico .......................................................................... 46

5.1.2 Identificação da exploração ............................................................................. 46

5.1.3 Identificação do animal ................................................................................... 47

5.1.4 Anamnese ........................................................................................................ 47

5.1.5 Exame clínico .................................................................................................. 48

5.1.6 Exames complementares ................................................................................. 48

5.1.7 Diagnóstico...................................................................................................... 49

5.1.8 Tratamento e evolução do caso ....................................................................... 49

5.2 CASO CLÍNICO Nº 2 – MASTITE POR PROTOTHECA SPP. EM EXPLORAÇÃO DE PEQUENA DIMENSÃO ................................................................................................... 50

5.2.1 Apresentação do caso clínico .......................................................................... 50

5.2.2 Identificação da exploração ............................................................................. 50

5.2.3 Identificação do animal ................................................................................... 51

5.2.4 Anamnese ........................................................................................................ 51

5.2.5 Exame clínico .................................................................................................. 51

5.2.6 Exames complementares ................................................................................. 52

5.2.7 Diagnóstico...................................................................................................... 52

5.2.8 Tratamento e evolução do caso ....................................................................... 52

6. CONCLUSÃO....................................................................................................................................53

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................................55

ANEXOS .......................................................................................................................................................62

ANEXO I – ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DO LEITE .............................................................. 62

ANEXO II – ANÁLISE QUÍMICA DA ÁGUA ............................................................................. 63

ANEXO III – ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA............................................................ 64

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xi

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Mapa do concelho de Braga ...........................................................................................3

Figura 2. Morfologia das colónias de P. zopfii em agar saboraud ...............................................41

Figura 3. Morfologia microscópica de P. Zopfii (preparação a fresco com azul de algodão x 100) ..............................................................................................................42

Figura 4. Colónias de Prototheca zopfii na parede epitelial do alvéolo mamário e no espaço interalveolar. Microscopia óptica de espécime corado com PASxBarra= 10µm .......................................................................................................42

Figura 5. Acumulação de células do género Prototheca no interior dos ductos da glândula mamária do quarto afectado...........................................................................42

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Distribuição da casuística por espécie animal (%) .........................................................6

Gráfico 2. Casuística dos grandes ruminantes por sistemas orgânicos e outras actividades médico-veterinárias (%)...............................................................................9

Gráfico 3. Casuística dos pequenos ruminantes por sistema orgânico e outras actividades médico-veterinárias (%).............................................................................10

Gráfico 4. Casuística dos equinos por sistema orgânico e outras actividades médico-veterinárias (%) ...............................................................................................11

Gráfico 5. Casuística dos suínos por sistema orgânico e outras actividades médico-veterinárias (%) ...............................................................................................11

Gráfico 6. Casuística dos leporídeos por sistemas orgânicos e outras actividades médico-veterinárias (%).................................................................................................... 12

Gráfico 7. Casuística dos galináceos por sistemas orgânicos e outras actividades médico-veterinárias (%).................................................................................................... 13

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição da casuística por espécie animal ................................................................6

Tabela 2. Afecções abordadas em grandes ruminantes ..................................................................7

Tabela 3. Afecções abordadas em pequenos ruminantes ...............................................................9

Tabela 4. Afecções abordadas em equinos...................................................................................10

Tabela 5. Afecções abordadas em suínos .....................................................................................11

Tabela 6. Afecções abordadas em leporídeos...............................................................................12

Tabela 7. Afecções abordadas em galináceos ..............................................................................12

Tabela 8. Constituintes químicos do meio de isolamento da Prototheca (PIM) ..........................40

Tabela 9. Padrão de assimilação da Prototheca spp. Pelo Sistema API 20C após 3 dias de incubação a 30º C..................................................................................41

Tabela 10. Diâmetros médios observados nos testes de sensibilidade a antibióticos de Prototheca zopfii isolados ....................................................................44

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1

1. INTRODUÇÃO

O presente relatório de estágio pretende expor e desenvolver a experiência de

quatro meses de acompanhamento de casos observados principalmente nas áreas de clínica,

cirurgia e maneio reprodutivo em diferentes espécies pecuárias no concelho de Braga.

Contando com a preciosa ajuda e colaboração do meu orientador cientifico o médico

veterinário, Dr. Jorge Manuel Bernardes Ferreira, foi-me possível assimilar um vasto leque

de conhecimentos, tanto a nível da prática como, e não menos importante, a nível do

contacto e relacionamento com os proprietários dos animais.

Durante este período, também me foi possibilitada a oportunidade de acompanhar

a verificação do teste intra-dérmico à tuberculose bovina efectuada em algumas

explorações, incluídas no programa de sanidade animal da O.P.P – Braga (Cooperativa

Agrícola do Alto Cavado, C.R.L.), bem como, a realização de visitas regulares ao canil

municipal de Braga.

Neste relatório, realizei inicialmente uma breve abordagem geográfica e climática

do concelho de Braga, seguido da descrição da casuística observada por número de casos e

respectivas percentagens. Numa fase posterior, desenvolvi o tema “Mastite em Bovinos”,

dando especial relevo à mastite bovina provocada pela alga Prototheca spp.. Para finalizar,

descrevi pormenorizadamente dois casos clínicos deste tipo de mastite, devendo-se esta

escolha ao facto de ser uma patologia emergente com perdas irrecuperáveis e ainda não

estar devidamente aprofundada e documentada.

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2

2. ENQUADRAMENTO

O estágio foi realizado na região do concelho Braga, no período compreendido

entre Novembro de 2006 a Fevereiro de 2007, sob orientação científica do Dr. Jorge

Manuel Bernardes Ferreira. Este incluiu em clínica, cirurgia e maneio reprodutivo,

principalmente em bovinos, e várias visitas regulares ao canil municipal.

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO

2.1.1 Delimitação geográfica

O concelho de Braga possui uma área de 184 Km2 confronta a Norte com os

concelhos de Vila Verde e Amares, a Nordeste e Este com Póvoa de Lanhoso, a Sul e

Sudeste com Guimarães e Vila Nova de Famalicão e a Oeste com o concelho de

Barcelos 52.

O relevo do concelho, é caracterizado por uma relativa irregularidade com áreas

de vale que se espalham por todo o território, que se contrapõem amiúde com pequenas

formações montanhosas, dispostas segundo alinhamentos paralelos aos rios principais.

Limitado a norte pelo rio Cávado, a sul pelo conjunto de elevações que formam a Serra dos

Picos (566m) e a nascente pela Serra dos Carvalhos (479m), o concelho de Braga, abre-se

a poente para os concelhos de Famalicão e Barcelos. O território desenvolve-se de nordeste

para sudoeste, acompanhando os vales dos dois rios que o atravessam, os quais, juntamente

com os outros cursos de menores dimensões, geraram duas plataformas. Predominam as

zonas de vale, que não atingem altitudes elevadas, variando os seus valores entre os 20 e os

570 metros, pelo que a exposição solar, é de um modo geral boa em quase todo o

território 52.

Administrativamente, o concelho de Braga é a capital do distrito de Braga e

abrange a totalidade de 62 freguesias. No contexto de políticas sub-regionais de

desenvolvimento e de mobilidade, a cidade de Braga é sede da Grande Área Metropolitana

do Minho, a terceira maior do país, que é constituída pelos concelhos de Amares, Barcelos,

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Relatório de Estágio: Clínica de Espécies Pecuárias

3

Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Esposende, Fafe, Guimarães, Póvoa de

Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Vila Verde e Vizela,

que no seu total contabiliza cerca de 800 000 habitantes 52.

Figura 1. Mapa do concelho de Braga 52

.

2.1.2 Clima

O clima de Braga é favorecido pela influência Atlântica, devido aos ventos de

Oeste que são canalizados ao longo dos principais vales, transportando grandes massas de

ar húmido, assim pode considerar-se que o clima da região é ameno e com as quatro

estações bem definidas. Com efeito, essas massas, de ar mantêm a humidade relativa em

valores que rondam os 80%, permitindo a manutenção dos valores médios da temperatura

anual entre os 12.5º C e 17.5ºC. No entanto, devido ao acentuado arrefecimento nocturno,

geram-se frequentemente geadas, cuja época dura de três a quatro meses, cerca de trinta

dias de geada por ano. A precipitação anual ronda os 1659 mm, com maior intensidade nas

épocas de Outono e Inverno e Primavera 52.

Os Invernos são bastante pluviosos e frios, e geralmente com ventos moderados

de Sudoeste. Em anos muito frios pode ocorrer a queda de neve. As Primaveras são

tipicamente frescas, as brisas matinais ocorrem com maior frequência, principalmente nas

maiores altitudes. De salientar o mês de Maio que é bastante propício às trovoadas, devido

ao aquecimento do ar húmido com a chegada do Verão. Os Verões são quentes e

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Relatório de Estágio: Clínica de Espécies Pecuárias

4

solarengos com ventos suaves de Este. Nos dias mais frescos, podem ocorrer

espontaneamente chuvas de curta duração, bastante importantes para a vegetação, tornando

a região rica em vegetação durante o ano inteiro e pela qual é conhecida como Verde

Minho. Os Outonos são amenos e pluviosos, geralmente com ventos moderados. Enquanto

a temperatura desce, aumenta a pluviosidade até atingir os valores mais altos do ano 52.

Existe uma maior frequência de nevoeiros, principalmente no Vale do Rio Cávado

onde ocorrem nevoeiros matinais bastante densos 52.

2.1.3 Solos

Geologicamente o concelho de Braga está englobado na região de Entre Douro e

Minho e enquadra-se no Maciço Hespérico. 23 Trata-se de uma geologia não muito

variada, predominando os granitos, granodioritos e granitos porfiróides, interrompidos em

alguns sítios por faixas de terrenos arcaicos, paleozóicos (xistos) e por aluviões terciários,

quaternários e modernos no litoral e nas margens dos rios 1.

2.1.4 Culturas

Nesta região a agricultura praticada é uma agricultura de minifúndio, intensiva e

policultural, com destaque para a actividade pecuária. A produção forrageira assenta em

duas culturas anuais: milho silagem e ferrã ou azevém estreme 1. O milho silagem como

cultura principal, é uma cultura intercalar de Outono-Inverno constituída pelo azevém ou

pela mistura com cereais praganosos, cultivados com intensas fertilizações e elevadas

produções unitárias 50. O milho silagem apresenta elevadas produtividades com alta

qualidade da sua produção em termos de digestibilidade, ingestibilidade e valor energético

e de fácil conservação 1.

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5

2.1.5 Exploração pecuária

A produção de leite intensiva (sobretudo no litoral do EDM) é o sistema pecuário

mais prevalecente na região 1. Os animais estão estabulados o ano inteiro, as explorações

têm elevados investimentos em equipamentos, nas construções e no potencial genético das

vacas, e uma forte restrição de área agrícola (SAU). A área de exploração é em geral

inferior a 20 ha, as produções atingem os trinta mil litros de leite por hectare por ano, com

encabeçamento de quatro a sete cabeças normais (CN) ha-1, as produções médias por vaca

são frequentemente superiores a seis mil litros ano e a compra e consumo de alimentos

concentrados elevada, da ordem de 0,3 – 0,4 Kg por litro de leite produzido 50. A esta

produção estão associadas as seguintes culturas: culturas forrageiras de milho forragem,

azevém, ferrãs e prados temporários 1.

Na zona de montanha desenvolve-se o sistema não intensivo de produção de carne

de bovinos, caprinos e ovinos. A esta produção estão associadas: superfícies de prados e

pastagens permanente, culturas de azevém, ferras e milho grão 1.

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Relatório de Estágio: Clínica de Espécies Pecuárias

6

3. CASUÍSTICA

3.1 CASUÍSTICA POR ESPÉCIE ANIMAL

Todas as práticas clínicas realizadas durante o estágio incidiram sobre animais de

espécies de interesse pecuário. No total foram observados 364 casos, dos quais, 297 foram

registados em bovinos, 15 em pequenos ruminantes, 27 em suínos, 11 em equinos, 9 em

coelhos e 5 em aves.

Tabela 1. Distribuição da casuística por espécie animal.

Gráfico 1. Distribuição da casuística por espécie animal (%).

Na casuística classificada por espécie, é de salientar a grande percentagem (83%)

de chamadas recebidas para atender grandes ruminantes. Foram observados 7%

Ovinos 14 Pequenos Ruminantes 15 Caprinos 1 RUMINANTES

Grandes Ruminantes 297 Bovinos 297

312

Equídeos 11 Equinos 11

Porcos Domésticos 25 Suínos 27

Javalis 2

Leporídeos 9 Coelhos 9

MONOGRÁSTICOS

Galináceos 5 Galinhas 5

52

TOTAL DE CASOS 364

2%7%4%

83%

3% 1%Equídeos

Galináceos

Grandes Ruminantes

Leporídeos

Peq uenos ruminan tes

Suínos

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7

respeitantes a consultas a suínos. Com percentagens muito semelhantes, temos os pequenos

ruminantes (4%), os equídeos (3%), os leporídeos (2%) e os galináceos (1%).

3.2 CASUÍSTICA POR SISTEMA ORGÂNICO E OUTRAS ACTIVIDADES MÉDICO-VETERINÁRIAS

3.2.1 Afecções abordadas em grandes ruminantes

Tabela 2. Afecções abordadas em grandes ruminantes

SISTEMAS E ACTIVIDADES

MÉDICO-VETERINÁRIAS PATOLOGIAS Nº DE CASOS

DAD 9

DAE 21

Diarreia inespecífica 19

Enterite bacteriana 2

Indigestão simples 14

Timpanismo espumoso 3

Timpanismo gasoso 6

Úlcera abomasal 1

Peritonite 1

Acidose láctica 6

Retículo-peritonite-traumática 3

SISTEMA DIGESTIVO

Dilatação do ceco 4

Fractura do corno 1

Abcesso MPD 2

Abcesso na região lombar 3

Abcesso na coxa 5

Abcesso no pescoço 2

Papilomatose 2

Aparo correctivo de casco 15

Dermatite interdigital 2

Fleimão interdigital 3

Amputação do dígito lateral 2

Amputação do dígito medial 1

PELE, TECIDO SUBCUTÂNEO E

FANEROS

Laminites 3

Hemorragia 2 SISTEMA CIRCULATÓRIO

Anemia 1

Pneumonias 13 SISTEMA RESPIRATÓRIO

Laringite necrosante (difteria dos bezerros) 1

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8

Hipocalcemia puerperal 13

Hipomagnesiémia clínica 1 ALTERAÇÕES METABÓLICAS

Cetose clínica 9

Vacinação 3 (explorações)

Desparasitações 2 (explorações)

Colocação de íman 4

ACÇÕES DE PROFILAXIA MÉDICA E

SANITÁRIA

Análise Microbiológica 6

PATOLOGIAS SISTÉMICAS Septicemia 1

SISTEMA NERVOSO Sindroma da vaca caída 4

Fractura vértebras caudais 1

Inflamação MPD 1

Tendinite no tendão calcâneo do MPE 2

Artrite da articulação do joelho do MAE 2

Artrite da articulação do joelho do MAD 3

SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO

Fractura do rádio 1

Abcesso na glândula mamária 3

Mastite clínica (excepto gangrenosa) 23 GLÂNDULA MAMÁRIA

Mastite gangrenosa 1

Aborto não específico 3

Indução do estro 7

Cesariana 5

Esquistosomos reflexo 1

Fetotomia 1

Diagnósticos de gestação 9 (explorações)

Indução do parto 7

Metrites 3

Piometra 1

Partos distócicos 5

Prolapso uterino 3

Prolapso vaginal 3

Retenção placentária 4

Quistos ovárico foliculares 5

SISTEMA REPRODUTIVO

Torção uterina 4

Hipotermia 1

Morte súbita 1 OUTROS

Eutanásia 5

TOTAL DE CASOS 295

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9

Gráfico 2. Casuística dos grandes ruminantes por sistemas orgânicos e outras actividades médico-veterinárias (%).

Na casuística de grandes ruminantes, as patologias mais comummente

encontradas foram as respeitantes ao sistema digestivo, responsáveis por 31% das

chamadas para consulta, seguidas das patologias do sistema reprodutivo com 21%. As

patologias da pele, tecido subcutâneo e faneros foram responsáveis por 14%. As alterações

metabólicas e as patologias da glândula mamária foram responsáveis, respectivamente, por

9% e 8 %, cada uma. Tanto as acções de profilaxia médica e sanitária, como as patologias

do sistema respiratório tiveram 5% das chamadas, cada uma. De todas as chamadas, 3%

foram patologias do sistema músculo-esquelético, 2% para outros, 1% para o sistema

circulatório e para o sistema nervoso (cada uma), e apenas 0,3 % para patologias

sistémicas.

3.2.2 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em pequenos ruminantes e outras actividades médico-veterinárias

Tabela 3. Afecções abordadas em pequenos ruminantes.

SISTEMAS E ACTIVIDADES

MÉDICO-VETERINÁRIAS PATOLOGIAS Nº DE CASOS

Sistema Digestivo Diarreia 2

Alterações Metabólicas Toxémia de gestação 2

Parto distócico 1 Sistema Reprodutivo

Aborto 2

Sistema Respiratório Pneumonia 1

Ferimentos múltiplos nos membros (ataque de cães) 4 Sistema Músculo-esquelético

Claudicação 1

Desparasitação 1 Acções de Profilaxia Médica e Sanitária Vacinação 1

TOTAL DE CASOS 15

5% 8%

9%

14%

31%

1%

21%

5% 2%

1%3%

0,3%

A cçõ es de P ro filaxia M édica e Sanitária

A lteraçõ es M etabó licas

Glândula M amária

P ato lo gias Sis témicas

P ele, T ecido Sub-cutâneo e F anero s

Sistema C irculató rio

Sistema D igestivo

Sistema M úsculo Esquelé tico

Sistema N ervo so

Sistema R epro dut ivo

Sistema R espira tó rio

Outro s

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10

Gráfico 3. Casuística dos pequenos ruminantes por sistema orgânico e outras actividades médico-veterinárias (%).

Em termos de patologias dos pequenos ruminantes, a casuística foi baixa e a

frequência das patologias foi muito semelhante como se pode verificar na tabela 3 e nos

gráficos 4 e 5. As patologias com mais chamadas foram as do sistema músculo-esquelético

com 34%, seguidas das do sistema reprodutivo com 20%. As patologias do sistema

digestivo, as alterações metabólicas e as acções de profilaxia médica e sanitária, obtiveram

13%, cada uma. Apenas 7% das chamadas disseram respeito a patologias do sistema

respiratório.

3.2.3 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em equinos e outras actividades

médico-veterinárias

Tabela 4. Afecções abordadas em equinos.

SISTEMAS E ACTIVIDADES

MÉDICO-VETERINÁRIAS PATOLOGIAS Nº DE CASOS

Sistema Digestivo Cólica 1

Claudicação 1

Trauma de membros 1

Artrite da articulação do joelho no MAE 2

Ferimento no MAE 3

Sistema Músculo-esquelético

Ferimento no MPE 1

Desparasitação 1 Acções de Profilaxia Médica e Sanitária Vacinação 1

TOTAL DE CASOS 11

13%

13%

13%

34%

20%

7% Acções de Profilaxia M édica e Sanitária

Alterações M etabólicas

Sistem a Digestivo

Sistem a M úsculo-esquelético

Sistem a Reprodutivo

Sistem a Respiratório

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11

Gráfico 4. Casuística dos equinos por sistemas orgânicos e outras actividades médico-veterinárias (%).

De todas as chamadas recebidas, referentes a equinos, 73% disseram respeito ao

sistema do músculo-esquelético, 18% a acções de profilaxia médica e sanitária, e apenas

9% ao sistema digestivo.

3.2.4 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em suínos e outras actividades

médico-veterinárias

Tabela 5. Afecções abordadas em suínos.

SISTEMAS E ACTIVIDADES

MÉDICO-VETERINÁRIAS PATOLOGIAS Nº DE CASOS

Diarreia 1

Parasitismo intestinal 1 Sistema Digestivo

Enterite 1

Sistema Reprodutivo Orquiectomia 16

Sistema Músculo-esquelético Artrites 1

Sistema Respiratório Pneumonia 2

Doenças Infecto-contagiosas Mal rubro (forma cutânea) 4

Acções de Profilaxia Médica e Sanitária Desparasitação 1

TOTAL DE CASOS 27

Gráfico 5. Casuística dos suínos por sistema orgânico e outras actividades médico-veterinárias (%).

Na casuística de suínos, a maioria das chamadas (59%) foram referentes ao

sistema reprodutivo. Às doenças infecto-contagiosas disseram respeito 15%. As patologias

4%15%

11%

4%59%

7% Acções de Profilaxia Médica e Sanitária

Doenças Infecto-contagiosas

Sistema Digestivo

Sistema Músculo-esquelético

Sistema Reprodutivo

Sistema Respiratório

18%

9%

73%

Acções de Profilaxia M édica e Sanitária

Sistem a Digestivo

Sistem a M úsculo-esquelético

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12

dos sistemas: digestivo e respiratório compreenderam, respectivamente, 11% e 7% das

chamadas. Para o sistema músculo-esquelético e para as acções de profilaxia médica e

sanitária, apenas foram recebidas 4% das chamadas (cada uma).

3.2.5 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em leporídeos e outras

actividades médico-veterinárias

Tabela 6. Afecções abordadas em leporídeos

SISTEMAS E ACTIVIDADES

MÉDICO-VETERINÁRIAS PATOLOGIAS Nº DE CASOS

Enterite 3 Sistema Digestivo

Coccidiose Intestinal 2

Acções de Profilaxia Médica e Sanitária Vacinação 4

TOTAL DE CASOS 9

Gráfico 6. Casuística dos leporídeos por sistemas orgânicos e outras actividades médico-veterinárias (%).

No que diz respeito aos leporídeos, a sua casuística incidiu apenas em patologias

do sistema digestivo com 56% das chamadas, e em acções de profilaxia médica e sanitária

com 44%.

3.2.6 Afecções abordadas por sistemas orgânicos em galináceos e outras actividades médico-veterinárias

Tabela 7. Afecções abordadas em galináceos.

SISTEMAS E ACTIVIDADES

MÉDICO-VETERINÁRIAS PATOLOGIAS Nº DE CASOS

Acções de Profilaxia Médica e Sanitária Vacinação 2

Sistema Digestivo Coccidiose Intestinal 3

TOTAL DE CASOS 5

44%

56%

Acções de Profilaxia Médica e Sanitária

Sistema Sigestivo.

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13

40%

60%

Acções de Profilaxia Médica e Sanitária

Sistema Digestivo

Gráfico 7. Casuística dos galináceos por sistemas orgânicos e outras actividades médico-veterinárias (%).

No que diz respeito aos galináceos, a sua casuística incidiu apenas em patologias

do sistema digestivo com 60% das chamadas, e em acções de profilaxia médica e sanitária

com 40%.

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14

4. MASTITES EM BOVINOS

4.1 DEFINIÇÃO

A mastite é definida como uma inflamação do parênquima da glândula mamária,

que independentemente da sua origem, é caracterizada por alterações químicas e físicas no

leite, acompanhadas de alterações patológicas no tecido glandular. Das alterações no leite,

as mais importantes a considerar são: as descolorações, a presença de coágulos e/ou

grumos e a presença de um elevado número de leucócitos 64.

A mastite é a patologia mais comum em vacas leiteiras adultas, sendo responsável

por cerca de 38% da mortalidade total. Numa base anual, três em cada dez vacas

apresentam sinais clínicos aparentes de inflamação do úbere e cerca de 1% das vacas

afectadas, morrem em consequência da doença 75.

4.2 ETIOLOGIA

A mastite é uma doença com agentes etiológicos bem identificados, que resulta

da interacção de três factores: agente etiológico, meio ambiente e animal 22,64. Esta

provavelmente constitui, o melhor exemplo de enfermidades multifactoriais 8.

A sua origem pode resultar de um distúrbio fisiológico ou um trauma local sem

interferência de microrganismos. Na maior parte dos casos, os microrganismos implicados

são principalmente bactérias, no entanto, as mastites também podem ser causadas por

fungos, micoplasmas e leveduras 46.

De modo geral, e tendo em conta a fonte proveniente da infecção, a mastite pode-

se subdividir em duas grandes categorias: contagiosa e ambiental 64,75.

A mastite contagiosa ocorre quando as bactérias provenientes da glândula

mamária infectada são transmitidas para outra sã, através da contaminação pelo

equipamento da ordenha, amamentação dos vitelos ou manipulação dos tetos durante a

ordenha pelos próprios operários. A mastite surge após a introdução de microrganismos

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15

através do esfíncter do tecto, possuindo como reservatório primário o quarto infectado da

glândula mamária 75.

Os agentes bacterianos envolvidos, mais frequentemente, nesta categoria são:

Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus, Corynebacterium bovis e Mycoplasma

bovis. O Streptococcus agalactiae é o agente que melhor se enquadra nesta categoria, uma

vez que é um parasita obrigatório da glândula mamária dos ruminantes. Staphylococcus

aureus, Mycoplasma spp. têm capacidade de colonizar outros tecidos tais como: pele,

aparelho respiratório, aparelho genital e aparelho urinário 75.

A mastite ambiental surge quando o reservatório de agentes bacterianos

infectantes, não se encontra na glândula mamária, mas sim no ambiente que rodeia o

animal. Neste tipo de mastite não é necessário haver um animal com a glândula mamária

infectada para perpetuar a doença dentro da exploração. A cama, a água contaminada, a

matéria fecal ou fomites servem de abrigo aos microrganismos capazes de originar a

doença se penetrarem na glândula mamária 75. As bactérias coliformes Gram negativas

(Gram ¯ ) são as mais representativas desta categoria de mastites, e incluem: Escherichia

coli, Klebsiella spp. e Enterobacter spp. Outras bactérias Gram ¯ com significado clínico

incluem o género Pseudomonas, Serratia e Proteus 64,75. Diferentes espécies de

Estreptococos ambientais podem também estar envolvidos nesta categoria, no entanto, o

Streptococcus uberis é isolado e identificado com mais frequência. Apesar de esta

classificação dividir os agentes etiológicos em contagiosos e ambientais, existem bactérias

como Streptococcus uberis e Streptococcus dysgalactiae que podem provocar mastites

ambientais e/ou contagiosas 75.

Existem muitos outros agentes infecciosos menos frequentes, que podem originar

mastites de maior gravidade. A sua ocorrência é esporádica e normalmente apenas afecta

um ou poucos animais na exploração. Estes incluem: Arcanobacterium (Actynomices)

pyogenes, Naocardia asteroides, Naocardia brasiliensis, e Nocardia facinica,

Haemophilus sommus, Pasteurella multocida, Pasteurella haemolytica, Campylobacter

jejuni, Mycobacterium bovis e Bacillus cereus 3,54,64.

Em alguns casos, foram isoladas bactérias anaeróbias normalmente associadas a

outras bactérias facultativas. Ex: Peptococus indolicus, Bacteroides melaninogenicus,

Eubacterium combesii, Clostridium sporogenes, e Fusobacterium necrophorum 64.

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16

Infecções fúngicas incluem Trichosporon spp., Aspergillus fumigatus, Aspergillus

nidulans e Pichia spp. 4,22,54,64.

Infecções por leveduras incluem Candida spp., Cryptococcus neoformans,

Saccharomyces spp. e Totorulopsis spp. 54,64,7.

Infecções por algas incluem Prototheca trispora e Prototheca zopfii 3,4,22,64,64.

Leptospiras incluem Leptospira interrogans serovar. pomona, e especialmente

Leptospira interrogans hardjo, que origina grandes danos nos vasos sanguíneos mamárias

e graves anormalidades no leite 64.

Alguns vírus também podem provocar mastites, mas são de pouca importância 64.

4.2.1 Classificação geral das mastites contagiosas e ambientais

Mastite, ou seja, a inflamação da glândula mamária, é quase sempre de origem

infecciosa, podendo ser classificada em subclínica ou clínica 75.

A mastite subclínica ocorre quando a glândula mamária é infectada, e no leite

aumentam o número de leucócitos (células somáticas). O leite apresenta um aspecto

normal e a glândula mamária não exibe sinais visíveis de inflamação. Esta é detectada

através de testes de rotina, tais como: Teste Californiano de Mastites (TCM), Contagem de

Células Somáticas (CCS) ou cultura microbiana de leite retirado de cada um dos quartos.

Com o passar do tempo, a maior parte dos tipos de infecção subclínica resulta em fibrose

do tecido mamário, aumento do tamanho e da consistência do úbere e diminuição da

produção do leite. Este tipo de mastite está normalmente associado ao Streptococcus

agalactiae e ao Staphylococcus aureus 75.

A mastite clínica é caracterizada pela espessura anormal do leite e pela evidência

de variações dos graus de inflamação da glândula mamária (rubor, calor, tumefacção e

dor). O leite pode apresentar, desde poucos coágulos, até aspecto aquoso com acumulações

de fibrina 75. Os agentes contagiosos mais comuns são: Staphylococcus aureus,

Streptococcus agalactiae, Mycoplasma bovis. As espécies de agentes ambientais de

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Streptococcus incluem Streptococcus uberis e Streptococcus dysgalactiae, sendo estes os

mais prevalentes. O menos frequente é o Streptococcus equinus (referido antigamente

como Streptococcus bovis). Os agentes ambientais incluem ainda bactérias, como:

Escherichia coli, Klebsiella spp. Citrobacter spp. e Eenterobacter spp., Enterococcus

feacakis, Enterococcus faecium. Outras Gram ¯ incluem bactérias do género Serratia,

Pseudomonas e Proteus 64.

A mastite clínica pode ainda ser caracterizada em aguda, gangrenosa e

crónica 64,75.

A mastite aguda é, muitas vezes, caracterizada por apresentar a glândula mamária

tumefacta e dolorosa, podendo esta ser edematosa e muito dura, o que dificulta a

locomoção do animal. Em infecções brandas por Streptococcus agalactiae e

Staphylococcus aureus o leite pode apresentar-se anormal, mas não se verificam quaisquer

outras anormalidades. Os sinais sistémicos apresentam-se suaves ou ligeiros e têm início

súbito. A anorexia, a depressão e a temperatura rectal aumentada são muitas vezes

associadas a este evento clínico. As secreções mamárias podem conter flocos ou coágulos

de leite, podendo ser aquosas, serosas ou purulentas. Casos graves com toxémia podem

baixar os níveis séricos de cálcio, provocando uma paraplégia semelhante à hipocalcémia.

Casos de mastite aguda podem derivar de novas infecções ou exacerbação de infecções

crónicas. A maioria das infecções ambientais é provocada por bactérias Gram ¯ , tais como:

Streptococcus agalactiae e Streptococcus uberis. Estas geralmente são eliminadas em

poucos dias, podendo ir até às três semanas, visto que, alguns agentes como Klebsiella spp.

tendem a persistir por longos períodos. Os agentes que provocam mastite contagiosa

tendem a persistir como infecção subclínica 75.

A mastite gangrenosa não é muito comum. No início da infecção a glândula

torna-se vermelha, quente e tumefacta. No entanto, passadas poucas horas o teto fica frio e

as excreções são aquosas e sanguinolentas. A glândula rapidamente exibe uma área bem

lineada, delimitada por uma descoloração azulada que se estende desde o teto a várias

partes da glândula. Passados dez a catorze dias ocorre perda de pele nestas áreas seguida de

infecção bacteriana secundária, necrose e continua perda de pele de grande parte do tecido

glandular do quarto(s) afectados(s). O animal exibe anorexia, desidratação, depressão,

febre e sinais de toxémia. Os agentes etiológicos primários são os Estafilococos podendo

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18

envolver um ou mais quartos. As infecções provocadas por Clostrideos e Coliformes

também podem resultar, por vezes, em mastites gangrenosas. Os microrganismos mais

frequentemente associados a este tipo de mastite são: Staphylococcus aureus e Clostridium

perfringes 75.

Na mastite crónica, a destruição prolongada dos alvéolos, dos ductos e da

glândula mamária, com substituição por tecido de cicatrização, resulta na diminuição da

capacidade de produção de leite. Os animais que apresentam esta forma de mastite podem

não exibir sinais clínicos durante intervalos de tempo prolongados. A CCS está de modo

geral cronicamente elevada, e as secreções da glândula mamária contêm periodicamente

flocos, coágulos ou fragmentos de fibrina. Casos que não sendo bem caracterizados,

podem, de tempos a tempos, agravar a infecção crónica originando sinais clínicos de uma

infecção aguda. As bactérias usualmente associadas a este tipo de infecção são Coliformes,

Streptococcus agalactiae e Staphylococcus aureus. A Salmonella dublin também tem sido

apontada como persistente na mastite crónica 75.

4.3 EPIDEMIOLOGIA

Em vacas de aptidão leiteira, as infecções mais importantes, são aquelas que

persistem facilmente no úbere, especialmente as provocadas pelos agentes etiológicos

Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus 8.

Mastites provocadas por bactérias presentes no meio ambiente, tais como:

Escherichia coli e Pseudomonas pyocyaneus, embora menos frequentes, são muito mais

resistentes às medidas de controlo higiénico 8.

4.3.1 Prevalência e incidência

Na maioria dos países, as avaliações efectuadas nas explorações indicam que, a

prevalência de mastites patogénicas é de cerca de 50% nas vacas, e a infecção dos quartos

tem um índice que ronda os 25%. O índice de infecção dos quartos, indicado como

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infecção através de um agente com elevada patogenicidade, pode ser inferior a 10% em

algumas explorações, no entanto a prevalência da infecção em novilhas de aptidão leiteira

varia consideravelmente 28,64. Esta atinge 30-50% nas novilhas e de 18% nos quartos 57,

podendo no entanto, abranger 97% das novilhas e 75% dos quartos 53,64.

O risco elevado para a infecção de mastite ocorre prematuramente na primeira

lactação, e normalmente nos primeiros cinquenta dias. O risco para infecção de mastite

clínica também aumenta com o incremento do número de partos 64,72.

Em explorações de carne, 32-37% das vacas e 18% dos quartos podem ter uma

infecção intramamária, originando um significante efeito negativo no ganho de peso dos

vitelos 64,73.

A prevalência da infecção por agentes patogénicos intramamários é notavelmente

semelhante em diferentes países. A realização da identificação bacteriológica dos agentes

causadores de patologia mastitica é de extrema importância, dado que o controlo e os

procedimentos de erradicação dependem do tipo de infecção prevalente na exploração, e o

padrão sensitivo antimicrobiano a ser administrado deve ser determinado de acordo com o

agente envolvido 64.

4.3.2 Prevalência da infecção por agentes contagiosos

A prevalência da infecção por Staphylococcus aureus em vacas varia

consideravelmente de 7-40%, podendo em algumas explorações atingir uma percentagem

mais elevada 27,64. Embora o Staphylococcus aureus seja ainda a principal causa de mastites

subclínicas, a sua prevalência tem vindo a diminuir, devido aos programas de controlo

implementados nas explorações 8.

A prevalência de Estreptococos incluindo Streptococcus agalactiae varia de 1-8%

nas vacas. A relativa incidência, e a mais vulgarmente encontrada, é de Streptococcus

agalactiae, outros Estreptococos e Staphylococcus aureus, sendo de 1:1:2. O

Staphylococcus aureus ainda pode assumir alguma importância como causa de mastites

subclínicas, mas a sua prevalência tem vindo a reduzir devido a modernos programas de

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20

controlo, e como consequência há um aumento correspondente de Escherichia coli,

Pseudomonas, Aerobacter aerogenes e Klebsiella spp. 64.

4.3.3 Prevalência da infecção por agentes ambientais

Nas explorações, a prevalência de coliformes intramamários raramente excede 1-2%.

A prevalência de Estreptococos em explorações bem dirigidas é inferior a 5%, mas pode

exceder os 10% em explorações problemáticas 64,76. A infecção por coliformes

intramamários tem uma curta duração, em que 40-50% persiste menos de sete dias 64.

A maioria das infecções ambientais por Estreptococos dura menos de trinta dias.

Num estudo em explorações na Dinamarca os agentes Streptococcus dysgalactiae (1,6%)

Streptococcus uberis (1,4%) foram respectivamente a segunda e a terceira espécie mais

frequentemente isoladas. Foram também encontradas espécies de Estafilococos coagulase

negativa em 4,1% das amostras, sendo os isolados com mais frequência, o Staphylococcus

epidermis (1,3%), o Staphylococcus chromogenes (1%) e o Staphylococcus simulans

(0,7%) 64.

4.3.4 Distribuição dos agentes patogénicos em mastites clínicas

Com a adopção de programas de controlo, a distribuição dos agentes patogénicos

isolados em casos de mastites clínicas alterou-se, de uma elevada frequência de

Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae para uma elevada percentagem de

outros agentes patogénicos, nomeadamente os ambientais. Em casos de mastites clínicas a

percentagem de Staphylococcus aureus é mais elevada na Europa continental 49,64, e mais

baixa na Inglaterra e na América do Norte 64.

4.3.5 Fonte de infecção

A origem da infecção varia de acordo com o tipo de agente envolvido, podendo

este ser do tipo contagioso ou ambiental 64.

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Os agentes patogénicos contagiosos, nomeadamente o Streptococcus agalactiae e

o Staphylococcus aureus, residem principalmente no úbere da vaca infectada. A fonte de

infecção pode ser outra vaca infectada, a exposição de um teto numa máquina de ordenha

infectada e más práticas de higiene dos ordenhadores. Os agentes ambientais residem no

ambiente envolvente do animal (cama, locais de alimentação, etc.), podendo a exposição à

infecção ocorrer em qualquer altura da sua vida, incluindo a ordenha, entre ordenhas,

durante o período seco e antes do primeiro parto nas novilhas. Os agentes principais são:

Streptococcus uberis, Streptococcus dysgalactiae e coliformes 64.

4.3.6 Transmissão

A infecção da glândula mamária pode ocorrer por duas vias: por via endógena, a

partir de uma afecção já existente no organismo que “metastizou” ao nível da glândula

mamária (brucelose, tuberculose, afecções puerperais), ou por via do canal do teto, estando

este em estado anatómico normal, ou exibindo algumas lesões 63.

A infecção da glândula mamária, tendo origem num úbere infectado ou através do

meio ambiente, ocorre via canal do teto. Em animais de aptidão leiteira, a infecção

originada no úbere infectado é transmitida para a pele do teto de outras vacas via máquina

de ordenha, devido à falta de higiene dos ordenhadores, ou através de qualquer outro

material que possa servir de veículo de contaminação 3,4,54,64.

4.3.7 Factores de risco

Os factores de risco são entendidos como factores que podem influenciar e/ou

fazer prevalecer uma infecção 64.

No caso da mastite há inúmeros factores de risco que condicionam o seu

aparecimento, estando estes relacionados com a susceptibilidade do animal, o maneio, o

ambiente e a patogenicidade do agente envolvido 22,64.

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4.3.7.1 Factores relacionados com a susceptibilidade do animal

� Idade e Parição – a prevalência de quartos infectados aumenta com a idade.

A susceptibilidade das novilhas à mastite é elevada após o parto 64.

� Período de Lactação – a grande maioria das novas infecções, especialmente

através de agentes patogénicos ambientais, ocorre no início do período de secagem e nos

primeiros meses de lactação 22,64.

� Características produtivas, morfologia e condição física do úbere e tetos –

um elevado índice de produção de leite e o aumento do diâmetro do canal do teto têm sido

associados à CCS e ao risco de infecção intramamária 3,64,74. Outro factor de risco para a

aquisição de mastite clínica são os tetos descaídos, e estes também podem estar associados

a um aumento da incidência de lesões 3,64. O edema do úbere no período periparturiente

também pode ser um factor de risco 64.

� Nutrição – uma nutrição adequada juntamente com suplementação à base de

antioxidantes, vitamina A e vitamina E, oferece resistência a certos tipos de mastites. Estes

antioxidantes têm influência benéfica na saúde do úbere das vacas leiteiras, uma vez que

diminui a incidência e duração da mastite clínica 22,64.

� Genética – a variedade de factores morfológicos, fisiológicos e imunológicos

contribuem para a resistência e susceptibilidade do animal face às mastites. Cada um destes

factores é influenciado de certa forma pela hereditariedade 3,64.

� Doenças concorrentes – as retenções placentárias, as lesões e as inflamações

nos tetos são associadas a uma elevada incidência de mastites. As lesões podais,

principalmente se afectar mais do que um dígito, podem aumentar o risco de lesão nos

tetos 26,64.

� Estado imunológico – a função imunológica da glândula mamária está

prejudicada no peri-parto, e mais susceptível a mastites durante os períodos de transição,

ou seja, nos períodos de secagem e no início da produção de leite 64.

� Mastites prévias 64.

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� Infecção intramamária pré-existente – a infecção natural provocada por

agentes de menor patogenicidade tem um efeito protector contra as infecções de maior

patogenicidade 64.

4.3.7.2 Factores ambientais e maneio

Factores como o clima, qualidade e maneio do alojamento, estruturação e sistema

de limpeza dos pavilhões, tipo de camas e pluviosidade, interagem com a influência do

grau de exposição do úbere às mastites patogénicas. Pobre ventilação, reservatórios de

água conspurcada e áreas enlameadas, onde as vacas se reúnem, são os maiores factores de

risco 64.

� Ordenha – o insucesso do programa estabelecido e a fiabilidade dos métodos

de controlo da mastite são factores de risco relevantes. É um aspecto de extrema

importância, do qual fazem parte, a eficiência dos ordenhadores, as máquinas de ordenha, a

alta velocidade de extracção do leite, e principalmente a eficiência na higiene, quer a nível

das práticas de ordenha como da própria sala 22,64.

� Estação do ano – a relação entre a incidência de mastites e a época do ano é

variável, dependendo das condições geográficas e climatéricas. Nas áreas subtropicais e

tropicais, a incidência pode ser mais elevada durante os partos de Inverno ou Primavera,

devido ao aumento da humidade. Em climas temperados, a incidência da mastite é mais

elevada no Outono e Inverno, uma vez que os partos ocorrem dentro dos pavilhões e

prolongam-se por um período mais alargado. Nestas condições, de longos Invernos, há

mais probabilidade de se verificar uma elevada concentração dos agentes infecciosos nas

camas dos animais 22,64.

4.3.7.3 Factores relacionados com o agente patológico

� Viabilidade do agente – a capacidade do agente em sobreviver, ou seja, a sua

resistência às influências do ambiente, incluindo procedimentos de limpeza e desinfecção,

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varia de agente para agente. Os agentes causadores de mastites contagiosas são mais

susceptíveis aos procedimentos de desinfecção do que os ambientais 64.

� Factores de virulência – a influência de muitos dos factores de virulência

bacterianos depende do período de lactação, da severidade da infecção intramamária e dos

efeitos prejudiciais provocados pelos factores de virulência no tecido glandular 64.

- Capacidade de colonização 64.

- Produção de toxinas 64.

- Capacidade de resistência aos antibióticos 8.

4.4 CONSIDERAÇÕES ECONÓMICAS

A mastite, apesar de ocorrer esporadicamente em todas as espécies, é na

exploração de leite que esta assume maior importância económica, sendo talvez a doença

que mais custos acarreta a estas explorações. A mastite resulta numa perda económica para

os produtores, uma vez que aumenta os custos de produção e diminui a produtividade.

Outro factor que também origina uma perda significante é o refugo prematuro derivado da

mastite crónica. 64

As perdas económicas podem ser divididas em:

- Perdas na produção de leite;

- Rejeição do leite proveniente tanto de vacas tratadas, como de vacas com mastite clínica;

- Substituição dos animais refogados;

- Trabalho adicional no tratamento e monitorização das mastites;

- Serviços veterinários para os tratamentos e controlo;

- Programa de controlo 64.

Existem custos adicionais, tais como: resíduos de antibióticos no leite

provenientes de animais tratados, controlo da qualidade do leite, fabrico do alimento,

qualidade nutricional do leite, supressão do leite degradado devido ao elevado número de

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bactérias e/ou células somáticas, e interferência no potencial genético de algumas vacas,

devido ao refugo prematuro involuntário como consequência de mastite crónica 64.

O custo anual total das consequências da mastite em explorações leiteiras é

estimado em cerca de 10% do valor total da comercialização do leite, e cerca de dois terços

desta perda é derivada da diminuição na produção de leite em vacas subclinicamente

afectadas 64.

As mastites clínicas contraídas no início da lactação são as que maiores perdas

económicas acarretam 75.

4.5 PATOGENIA

Os mecanismos pelos quais os agentes patogénicos de mastites originam a doença

e provocam as lesões variam de acordo com o microrganismo em causa 8.

A infecção da glândula mamária ocorre preferencialmente pela via canal do teto,

e à primeira vista, o desenvolvimento da inflamação após a infecção parece obedecer a

uma sequência natural 64. No entanto, o desenvolvimento da mastite é bem mais complexo,

devendo por isso ser explicado em três estádios: invasão, infecção e inflamação 8,64.

A invasão, é a etapa na qual os microrganismos se deslocam do exterior do teto

para o leite que se encontra dentro do canal do mesmo 8,64.

A infecção, é o estádio no qual os microrganismos se multiplicam rapidamente e

invadem o tecido mamário 8,64. Após a invasão, a população patogénica pode-se estabelecer

no canal do teto, e a partir deste ponto podem ocorrer uma série de multiplicações e

migrações para o tecido mamário. A infecção do tecido mamário pode surgir

frequentemente ou ocasionalmente dependendo da sua susceptibilidade. A multiplicação de

determinados organismos pode resultar na libertação de endotoxinas, como se verifica nas

mastites por coliformes, que originam efeitos sistémicos profundos com efeitos

inflamatórios mínimos 4,54,64.

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A inflamação, é a etapa em que a mastite clínica ocorre em vários graus de

anormalidades clínicas no úbere, com vários efeitos sistémicos, desde suaves a

hiperagudos, e surgem anormalidades subclínicas no leite. As alterações no úbere incluem

marcada tumefacção, aumento da temperatura, e em alguns casos, em estados agudos e

hiperagudos, pode ocorrer gangrena. Nas situações crónicas pode-se verificar a formação

de abcessos e atrofia da glândula mamária. Os efeitos sistémicos resultam na libertação de

mediadores da inflamação 64.

A anormalidade subclínica mais significante no leite é o aumento da CCS, uma

vez que esta permite medir a qualidade do leite e o estado de saúde do úbere. As células

somáticas do leite são constituídas por vários tipos de células, incluindo neutrófilos,

macrófagos, linfócitos e uma pequena percentagem de células epiteliais. O total de células

somáticas presentes numa glândula mamária saudável e lactente é normalmente inferior a

105/mL de leite. Na presença de uma infecção intramamária, o total de células somáticas

pode aumentar para valores superiores a 106/mL em apenas poucas horas 64.

A severidade e duração da mastite estão criticamente relacionadas com a

prontidão da resposta dos leucócitos migratórios e da actividade bactericida das células

somáticas no local da infecção. Algumas bactérias libertam produtos metabólicos,

enterotoxinas ou componentes da parede celular à medida que se colonizam e se

multiplicam na glândula mamária 64. Estes factores bacterianos, tanto directa como

indirectamente, agem como quimiotáticos para os leucócitos. Se as células somáticas se

moverem rapidamente da corrente sanguínea e forem capazes de eliminar a bactéria que

estimula a inflamação, o recrutamento dos leucócitos cessa e as células somáticas retomam

os valores normais 4,64.

Se a bactéria for capaz de sobreviver a esta resposta leucocitária imediata, a

inflamação perdura resultando na migração das células somáticas entre as células

mamárias secretoras adjacentes para o lúmen dos alvéolos 64.

A diapdese prolongada dos leucócitos origina lesões no tecido mamário

diminuindo assim a produção de leite. A duração e severidade da resposta inflamatória têm

um grande impacto na quantidade e qualidade de leite produzido 64.

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Os neutrófilos são o tipo de células predominantemente encontradas tanto nos

tecidos como nas secreções mamárias durante a inflamação, podendo constituir mais de

90% do total de leucócitos presentes na glândula mamária. No local da infecção, os

neutrófilos fagocitam e destroem as bactérias, realizando o seu efeito bactericida com

libertação de produtos hidroliticos e radicais de oxigénio prejudiciais 54,64.

Os efeitos da mastite na produção de leite são altamente variáveis e dependem da

severidade da inflamação, dos agentes causais, da lesão originada, da eficiência do

tratamento, do nível de produção e do período de lactação 44,64. Quando a mastite ocorre no

início da lactação, esta origina uma maior diminuição na produção de leite com efeitos a

longo prazo. A prevenção da invasão é o melhor meio para reduzir a incidência de mastite,

e pode ser conseguida através de um bom maneio e de um rigoroso uso de procedimentos

higiénicos adequados 64.

4.6 SINTOMATOLOGIA

A sintomatologia ocorre em graus variados de dependência da resistência da

glândula mamária, da virulência do agente e dos restantes factores envolvidos 8.

Os sinais podem incluir anomalia na secreção, tamanho, consistência e

temperatura do úbere, acompanhado frequentemente de reacção sistémica 32,64,64.

4.6.1 Anormalidades no leite

Para uma correcta avaliação das anormalidades no leite é necessário recorrer ao

uso de uma placa com fundo negro e brilhante, que permita avaliar a descoloração,

presença de coágulos, flocos ou pus. A descoloração pode surgir sob a forma de manchas

de sangue, em um ou mais quartos, em geral indicando mastite crónica quando em

lactação 64.

A aquosidade do leite tem pouco significado, mas torna-se revelante quando

persiste por mais de dez jactos. A presença de coágulos ou flocos acompanhados por

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descoloração indicam frequentemente uma inflação acentuada. No caso dos bovinos, a

presença de flocos no final da ordenha pode indicar tuberculose mamária 8.

4.6.2 Alterações físicas do úbere

Através das práticas clínicas, inspecção e palpação, pode verificar-se o aumento

do tamanho e consistência do úbere. A palpação do úbere visa detectar fibrose, edema e

atrofia glandular. A fibrose pode ocorrer de várias formas proporcionando uma

consistência firme ao úbere ou quartos, e pode variar desde áreas localizadas a difusas. O

edema inflamatório agudo é sempre difuso e acompanhado de aumento da temperatura, dor

e alteração na secreção mamária. O úbere pode ainda apresentar assimetria dos quartos.

Em casos graves, também podem surgir formação de abcessos ou gangrenas 44,64.

4.6.3 Sinais sistémicos

A reacção sistémica compreende: toxémia, febre, taquicardia, estase ruminal,

depressão, apatia e anorexia 3,54,64. Estes sintomas podem estar ou não presentes

dependendo do tipo e do grau de infecção. Esta sintomatologia está normalmente associada

a mastites graves originadas por: Escherichia coli, Klebsiella ou Arcanobacter pyogenes e

associações entre Estreptococos e Estafilococos 64.

4.7 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de mastites clínicas agudas é fácil, pois estão presentes sinais

clínicos locais e sistémicos 22. Quando não há sinais sistémicos, a palpação do úbere logo

após a ordenha e o exame dos primeiros jactos de leite em caneca de fundo escuro,

permitem detectar as alterações locais do úbere e do leite 26.

No diagnóstico e controlo das mastites, os métodos laboratoriais têm grande valor

para a pesquisa de bactérias, células, coágulos e alterações químicas no leite. Os testes de

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sensibilidade aos antibióticos e outros fármacos também se revelam de grande

importância 64.

Devido aos elevados gastos no cultivo de uma grande quantidade de amostras de

leite necessárias para a realização dos vários testes laboratoriais, estes tendem a ser

substituídos por testes indirectos, de campo, baseados nas alterações químicas e físicas do

leite, e que apenas detectam a presença de alterações inflamatórias no mesmo. Os testes

indirectos, apesar de serem bastante úteis, devem ser acompanhados por exames

bacteriológicos a fim de determinar o agente etiológico, e se necessário a sensibilidade aos

fármacos 64. De entre estes, salientamos o Teste Californiano de Mastites (TCM) e o

Whiteside Test, ambos dependentes do número de células somáticas 54,64. Outros testes que

também podem ser realizados são: o teor de cloretos, a condutibilidade eléctrica e o teste

de albumina sérica 64.

4.7.1 Tipos de exames complementares

� Detecção na exploração:

• CCS no tanque 64;

• Culturas bacterianas do leite no tanque 54,64.

� Detecção individual:

• Testes indirectos para mastites subclínicas:

- TCM 54,64,75;

- CCS 54,64;

- Pesquisa de anticorpos 3,64;

- Condução eléctrica do leite 3,64;

- Ligação a enzimas 64.

� Cultura bacteriana individual do leite 3,54,64;

� Hematologia e bioquímica sérica 64;

� Biopsia 64;

� Necrópsia 64.

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4.8 TRATAMENTO

O tratamento das diferentes causas (agentes) de mastites clínicas e subclínicas

requer uma terapêutica específica. A estratégia a ser utilizada no tratamento da mastite vai

depender da sua forma de apresentação, ou seja, se esta é sub-aguda, aguda, hiperaguda, ou

subclínica, e ainda o estado de saúde da exploração, incluindo o historial de mastites

anteriores 8,64.

Alguns aspectos importantes a ter em conta no tratamento são: a correcta

identificação dos animais inicialmente tratados, o registo de acontecimentos clínicos

relevantes, a informação laboratorial, o tipo de tratamento utilizado e a sua

monitorização 64.

As opções para o tratamento da mastite clínica incluem, tratar todas as vacas com

antibacterianos, não tratar nenhuma das vacas com antibacterianos, ou tratar apenas vacas

específicas com antibacterianos 51,64.

O primeiro caso acarreta elevadíssimos custos, não só a nível dos fármacos, uma

vez que pode haver insucesso no tratamento de animais com mastites clínicas originadas

por agentes não susceptíveis ao antibiótico usado, como também a nível das perdas de leite

por conterem resíduos de antibióticos 64.

No segundo caso, não tratar nenhuma das vacas com antibacterianos, pode ter

implicações no bem-estar do animal e permitir que os agentes patogénicos Gram +

persistam, aumentando a probabilidade de recorrência de mastite clínica ou originando

uma epidemia de mastites na exploração 64.

Tratar apenas animais específicos com antibacterianos, exige um correcto método

para determinar quais os animais a serem tratados. Esta opção, para além de ser

dispendiosa, uma vez que é feita com base nas culturas bacteriológicas, também atrasa a

decisão e o início do tratamento clínico 64.

As observações clínicas, por si só, não permitem uma correcta identificação do

agente causal, logo não devem ser utilizadas como critério único para decidir qual o

antibacteriano a ser administrado. A selecção da terapia antimicrobiana deve ser efectuada

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com base na cultura bacteriológica, no entanto, esta não é usualmente efectuada porque o

seu custo é elevado, e a demora de obtenção dos resultados dos exames atrasa o início do

tratamento 3,54,64.

Estudos de campo demonstraram que em explorações onde a mastite clínica é

usualmente originada por agentes ambientais, a terapia intramamária de cefalosporinas,

oxitetraciclinas intravenosa (IV) e terapia de suporte (administração de Oxitocina, e no

caso de vacas severamente afectadas, administração de Flumixin meglubina), podem

originar um melhor resultado do que utilizar apenas o tratamento de suporte 64.

4.8.1 Terapia parenteral antibacteriana

A terapia parenteral antibacteriana é aconselhável em todos os casos de mastite

em que se verifique uma acentuada reacção sistémica 32,64. A reacção sistémica pode ser

normalmente controlada através da administração de doses padronizadas de

antibacterianos, mas como há uma pobre infusão do antibiótico do sangue para o leite, a

cura bacteriológica das glândulas afectadas é raramente atingida. No entanto, esta

percentagem de difusão é maior nos quartos afectados do que nos saudáveis 64.

O tratamento parenteral também é aconselhado quando a glândula está

nitidamente tumefacta e a difusão do fármaco não ocorre apropriadamente para todas as

partes do tecido glandular. Nestes casos, devem ser utilizadas doses diárias mais elevadas

do antibacteriano por um período compreendido entre três e cinco dias 64.

4.8.2 Administração antibacteriana intramamária

Por motivos de conveniência e eficiência, a administração intramamária de

antibacterianos é normalmente utilizada no tratamento de certas causas de mastites em

vacas lactantes, e em terapia de secagem. Este tratamento em vacas lactantes afectadas

com mastites por Streptococcus agalactiae tem uma eficácia superior a 95%. Durante o

tratamento é necessária uma higiene rigorosa no sentido de evitar a introdução de bactérias,

leveduras e fungos para os quartos tratados 64.

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No caso de mastites clínicas, é aconselhável o completo esvaziamento do quarto

através da administração de oxitocina parenteral, seguido da ordenha dos quartos afectados

antes da administração intramamária 26,64. A administração deve ser efectuada depois da

última ordenha do dia de forma a evitar qualquer perda de antibiótico 64.

4.8.3 Agentes Anti-inflamatórios

Os analgésicos anti-inflamatórios não esteróides (AINES) promovem uma

melhoria significativa na gravidade dos sinais clínicos, tais como, temperatura corporal,

frequência cardíaca, tamanho do úbere e dor associada à mastite 8,32.

Em vacas com mastite clínica aguda a quem foram administrados adicionalmente

e diariamente 2 mg Keptrofeno, uma vez por dia, além da associação antibacteriana de

Sulfodiazina e Trimethoprim (IM) e realizada ordenha completa dos quartos afectados

várias vezes por dia, verificaram-se melhorias significativas no seu estado de saúde e na

produção do leite 75.

4.8.4 Tratamento de vacas secas

No tratamento de vacas secas são usados antibacterianos intramamários

imediatamente depois da última ordenha (período final da lactação), sendo esta uma

componente importante para o controlo efectivo do programa da mastite. Estas infusões

intramamárias contêm altas concentrações de antibacterianos com efeito retardado que

mantêm os níveis de concentração terapêuticas, por longos períodos, no úbere seco. A

administração intramamária na secagem pode diminuir o número de infecções e prevenir

novas infecções durante as primeiras semanas do período seco 64.

4.8.5 Terapia de suporte

Terapia de suporte, incluindo administração parenteral de fluidos isotónicos,

principalmente aqueles que contem glucose, está indicada em casos de lesões extensivas e

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toxémia grave 32,64. Um método que tem sido avaliado como forma de fornecer terapia de

fluidos em vacas com mastite grave, especialmente mastite coliforme hiperaguda, tem

como base a administração de soro salino hipertónico seguido do acesso imediato ao

bebedouro 64.

4.9 CONTROLO E PROFILAXIA

A mastite é uma das patologias mais dispendiosas nas explorações de leite.

Alguns estudos indicam que as perdas originadas pelas mastites clínicas são muito

superiores aos custos da prevenção da mesma 64

Os esforços desenvolvidos na fomentação das práticas de controlo de mastites

tiveram como base a implementação e o uso de técnicas de maneio, de forma a limitar a

propagação dos principais agentes patogénicos associados às mesmas 64.

As componentes específicas de um programa de controlo de mastites devem

cumprir três princípios básicos, sendo eles, a eliminação de infecções existentes, a

prevenção de novas infecções e a monitorização do estado de saúde do úbere 64.

Um efectivo programa de controlo deve ter em conta os seguintes aspectos:

� Higiene do úbere e utilização de métodos adequados à ordenha 3,26,46,64;

� Terapia para vacas secas 26,54,64;

� Melhoramento das condições gerais de higiene e manutenção de um

ambiente apropriado 8,32,46;

� Alimentação com cobre, selénio, sílica e vitamina E. Estes, pelas suas

estreitas relações com as defesas do organismo, desempenham um papel fundamental no

controlo profiláctico das mastites 46;

� Tratamento apropriado à mastite durante a lactação 46,64;

� Adequada instalação, funcionamento e manutenção do equipamento de

ordenha. A pressão do vácuo deve ser correcta e constante de forma a permitir uma

ordenha sem causar lesões no úbere 32;

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� Refugo de vacas com infecções crónicas 46;

� Bons registos do historial do animal 64;

� Tratamento sistemático dos casos clínicos 46;

� Monitorização do estado de saúde do úbere 64;

� Reavaliação periódica do estado de saúde do úbere 64;

� Fixar objectivos para o estado de saúde do úbere 64.

O procedimento mais importante para a prevenção de novas infecções é a

desinfecção de todos os tetos após a ordenha, mergulhando-os numa solução anti-séptica

ou borrifando-os com “spray” 3,75. Os desinfectantes mais utilizados são os compostos

iodóforos, clorhexidina, e os compostos de amónio quaternário. Desta forma, os tetos

ficam com uma camada de solução desinfectante que é essencial para prevenir a entrada de

microrganismos após a ordenha 3,64.

Outros componentes importantes para a prevenção de infecções são:

� Pré-lavagem e desinfecção (pré-dipping) do úbere e tetos, utilizando

uma solução iodada a 0,5 – 1 %, com posterior secagem com uma toalha ou papel

individual e de utilização única 3,26;

� Os ordenhadores devem usar luvas estéreis, lavar e desinfectar as mãos

entre as ordenhas (de vaca para vaca) 3;

� De modo a evitar lesões nos tetos, verificar o funcionamento do

equipamento de ordenha 3,26,75,82;

� Recolha dos primeiros jactos de leite para uma caneca de fundo escuro

para detecção de mamites clínicas 64,82;

� Desinfecção das tetinas entre a ordenha de cada vaca 3;

� Após a preparação do úbere, e no tempo máximo de 90 segundos

colocar as tetinas correctamente nos tetos 3;

� Evitar sobre-ordenha e a ordenha incompleta 4;

� Substituição periódica das borrachas das tetinas 4;

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35

� Ordenhar as vacas afectadas ou suspeitas de mastite em último lugar e

as primíparas em primeiro 4,75;

� Impedir que as vacas se deitem nos primeiros 30 minutos após a

ordenha, quando o esfíncter do canal do teto ainda está aberto 82;

� Lavagem e desinfecção de todo o equipamento após ordenha 4;

� Realização semanal ou mensal de um TCM a todas as vacas 26;

� Manutenção de um ambiente limpo e confortável para minimizar a

presença de microrganismos. As instalações, especialmente as camas, devem ser mantidas

em boas condições de higiene, ou seja, secas e limpas 26,82;

� Controlo de insectos nos estábulos e salas de ordenha 54.

4.10 MASTITE BOVINA PROVOCADA POR PROTOTHECA SPP.

4.10.1 Introdução

As mastites, como descrito anteriormente, são das patologias mais frequentes e as

causadoras de maiores prejuízos económicos. Nestas, inclui-se a mastite originada por

Prototheca spp..

Em 1894, Wilhelm Krüger identificou pela primeira vez os microrganismos do

género Prototheca, mas só em 1952, e por Lerche, é que estes foram associados à mastite

bovina 6,20. Desde então, vários casos foram registados em diversos países, tendo maior

incidência em países de clima temperado e tropical 36,65.

Em Portugal o seu isolamento foi relatado a partir de leite mastitico numa

exploração nos Açores 6,71, e numa vacaria na região centro de Portugal 6.

Microrganismos do género Prototheca spp. são considerados agentes patogénicos

causadores de mastites ambientais 19,45, e têm sido encarados como causa emergente de

mastites em bovinos, sendo estes processos muitas vezes subdiagnosticados 6. A este facto

acresce ainda o seu potencial zoonótico e a particularidade de resistir à pasteurização 6.

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36

4.10.2 Etiologia e propriedades

Prototheca spp. são algas unicelulares, sem clorofila, ubicuitárias que se

encontram expandidas por todo o mundo e em diferentes habitats 60,24. Estas já foram

isoladas a partir da água do mar, de lagos e rios, da seiva de árvores, lama, de várias

espécies animais, como suínos, ratos, bovinos, equinos, gatos e suas secreções,

nomeadamente leite e fezes 61,81. E são identificadas como as únicas plantas conhecidas

capazes de causar infecções em humanos e animais 69,70.

Prototheca spp. pertence à família Chlorellaceae e ao género Prototheca 69,70.

Deste género são conhecidas cinco espécies, sendo elas, Prototheca stagnora, Prototheca

ulmea, Prototheca wickerhamii e Prototheca zopfii. Mas apenas as espécies Prototheca

wickerhamii e Prototheca zopfii são consideradas patogénicas 24,58. A Prototheca zopfii

pode originar infecções sistémicas e fortes reacções locais em animais domésticos,

principalmente em vacas e cães 70. A Prototheca wickerhamii é predominantemente isolada

em casos clínicos de infecções humanas 7,47,69.

Em vacas, as mastites são originadas quase exclusivamente por Prototheca zopfii

e em alguns casos pela Prototheca wickerhamii 31,34,45.

Um estudo efectuado prova a existência de evidentes diferenças bioquímicas e

serológicas em algas da espécie Prototheca zopfii. Baseado na evidência fenotipica foi

proposto que esta na forma isolada fosse determinada em três biótipos, sendo eles, biótipo

I, II e III 69.

4.10.3 Epidemiologia

A Prototheca spp. surge principalmente em zonas húmidas onde se concentra a

matéria orgânica (bebedouros, lama, estrume) 6. As fezes dos animais também podem

contribuir para a disseminação do agente no ambiente, no entanto, os ratos, os suínos, as

vacas, os cães e outros animais podem eliminar Prototheca spp. viáveis sem que estes

evidenciem sinais de infecção ou de multiplicação endógena 6,61.

A incidência mais elevada de mastites provocadas por Prototheca spp. ocorre nas

primeiras semanas de lactação e especialmente no verão 37,81. No entanto, também foram

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37

verificados casos durante o período seco 16,81. Esta incidência nas primeiras semanas de

lactação deve-se provavelmente às limitações dos mecanismos de defesa da glândula

mamária durante esse período 12,36.

Factores predisponentes como idade do animal e terapia antibacteriana são

potenciais factores de risco para o desenvolvimento de mastites por Prototheca spp., os

quartos com história clínica de mastite durante a lactação, ou mesmo no período pré-

lactação, são particularmente vulneráveis à reinfecção 65,79. A incidência de mastite por

Prototheca spp. atinge o pico mais elevado no segundo mês de lactação 65,29.

O deficiente alojamento, a falta de higiene adequada na ordenha e a possibilidade

de transmissão durante a mesma, também são responsáveis pela elevada incidência desta

doença 35,65.

A Prototheca zopfii tem uma elevada ocorrência em vacas secas e em lactação de

rebanhos mantidos em áreas com acumulações de lamas e fezes, e que apresentam falhas

na realização do pré-dipping 12,16. A ocorrência do agente também se pode verificar em

rebanhos onde se realiza o tratamento intramamário em condições higiénicas inadequadas

e que apresentam falhas na rotina de ordenha, como excesso de uso da água e ausência de

linha de ordenha 12,14.

No entanto, em aparente contradição, o agente Prototheca zopfii pode surgir em

explorações com rotinas de ordenha apropriadas. Neste caso são consideradas como fonte

de contaminação a água e a serradura das camas 6.

O piso nas explorações muitas vezes contém abundantes resíduos húmidos de

matéria orgânica, o que cria um ambiente óptimo para o crescimento de Prototheca spp.. A

possibilidade de contacto entre o orifício do teto e essas superfícies faz com que o úbere se

torne mais predisposto à infecção 16,65.

Apesar de a Prototheca zopfii ser um agente ambiental, os animais de reposição

podem constituir uma importante fonte de infecção 9,12,43.

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38

4.10.4 Sinais clínicos

Os animais infectados podem apresentar quadro de mastite subclínica ou clínica

(aguda ou crónica) predominando o quadro crónico 12,20,36,37.

Mastites provocadas por estes agentes resultam num intenso processo

inflamatório do úbere com um aumento permanente na CCS e consequente queda

dramática na produção de leite 81. Geralmente não são observados sinais clínicos

sistémicos 12,36,37.

O quadro clínico agudo ocorre principalmente em surtos da doença, que se

caracterizam pela acentuada diminuição na produção de leite, podendo este cessar

abruptamente. O leite pode apresentar grumos, flocos, aspecto sero-purulento ou

aquoso 9,11,12,15,37.

As alterações observadas em quadros clínicos crónicos consistem no aumento da

consistência do tecido glandular e alterações do leite, tais como, aparência aquosa e

presença de grumos de caseína e flocos de fibrina ou pus 11,12,30,37,43. O quadro subclínico

caracteriza-se pela baixa produção de leite e elevada CCS, geralmente superior a 1.000.000

CS/mL, podendo atingir mais de 9.000.000 CS/mL 12,37,40. No entanto, as vacas infectadas

podem apresentar valores de CCS baixos, ou seja, inferiores a 200.000 CS/mL 11,12,18,78. Nas

alterações da composição do leite, foi verificada uma expressiva redução dos teores de

gordura, lactose e sólidos totais. Estas grandes alterações podem decorrer do metabolismo

da alga, que degrada o glicerol e glucose ou da lesão celular do parênquima

glandular 11,12,37.

4.10.5 Fisiopatologia

Assim como acontece com outros microrganismos patogénicos associados às

mastites bovinas, a infecção da glândula mamária geralmente ocorre por via ascendente

pelo canal do teto, com posterior colonização do tecido glandular 12. Os microrganismos

podem também penetrar na glândula mamária através de uma ferida no teto provocada por

um trauma originado pela máquina de ordenha 33,65.

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39

A Prototheca zopfii pode ser encontrada no interior dos macrófagos, e por vezes,

nos neutrófilos no lúmen alveolar e no interstício da glândula mamária infectada 13,38,65.

Devido à sua capacidade de infectar e sobreviver nos macrófagos, e invadir o tecido do

úbere, o agente pode induzir uma infecção crónica, com persistente eliminação para o meio

ambiente 67,68,81. A capacidade de multiplicação intracelular dos macrófagos faz com que

estes sejam menos sensíveis ao tratamento antimicrobiano, o que resulta na falha da terapia

para superar a infecção. Isto pode verificar-se devido à Prototheca ser uma alga, e como

tal, os antibióticos podem não resultar 65.

Esta infecção pode ser descrita como uma mastite intersticial progressiva com

subsequente atrofia glandular 81.

4.10.6 Diagnóstico

A presença de factores predisponentes, incluindo a história de falhas no

tratamento intramamário, elevada CCS, alterações na consistência do úbere, produção,

aparência e composição do leite, sugerem ocorrência de mastite por Prototheca

zopfii. 11,12,37,40.

O diagnóstico das mastites por Prototheca spp. depende da demonstração da

presença de células do agente no tecido mamário, nas secreções de glândulas mamárias

infectadas e nos linfónodos que as drenam 48,65. A sua confirmação só é possível com a

utilização de recursos laboratoriais específicos. O método recomendado pelo National

Mastitis Council dos Estados Unidos da América consiste na identificação do agente

através das culturas microbiológicas de amostras de leite12,40.

Como método de diagnóstico já foram desenvolvidos testes serológicos para

detecção de anticorpos específicos tanto no sangue como no leite 6,70. Em 2000, foi criado o

teste imunológico ELISA para a detecção rápida de vacas infectadas com Prototheca

zopfii, baseado na detecção de anticorpos específicos IgA e IgG1 de Prototheca zopfii no

soro do leite e anticorpos IgG no sangue 70. No entanto, o isolamento do agente é o método

de evidenciação de Prototheca spp. mais utilizado 20. Este isolamento é facilitado pela

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40

cultura em agar saboraud dextrose, mas existem meios selectivos e de enriquecimento para

pesquisa destes agentes 6,59.

Robert Pore, em 1973, formulou um meio selectivo com a designação de PIM –

“Prototheca isolation medium” 59.

Tabela 8. Constituintes químicos do meio de isolamento da Prototheca (PIM) 59.

Componentes Grama/litro

Água destilada Biftalato de potássio (KHP) 10.0 Hidróxido de sódio 0.9 Sulfato de Magnésio* 0.1 Hidrogênio fosfato de potássio* 0.2 Cloreto de amónio* 0.3 Glucose 10.0 Hidrocloreto de tiamina * 0.001 Agar 20.0 5-fluorocitosina (5-FC) 0.25

pH 5-5.2

* Nutriente essencial

Em 1987 foi desenvolvido um meio de enriquecimento designado por PEM 6,62.

A identificação do agente deve ser feita com base nas características

morfológicas, tanto macroscópicas como microscópicas, e por comparação do padrão de

assimilação dos diversos substratos como descrito por Pore 6,58. Para este fim pode ser

utilizado o sistema API 20 C Aux, embora a Prototheca zopfii não esteja considerada na

base de dados disponíveis neste sistema. A Prototheca zopfii apenas assimila glucose e

glicerol, sendo os restantes testes negativos. Há ainda outra espécie deste genro, a

Prototheca wickerhamii, que pode ser identificada pelo intermédio do API 20 C Aux,

apresentando um perfil bioquímico diferente, com assimilação de glucose, glicerol,

galactose e trealose; este resultado deverá ser aliado ao registo da morfologia, para

diferenciar a Candida glabrata, pois têm um perfil de assimilação semelhante 6,41.

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41

Tabela 9. Padrão de assimilação da Prototheca spp. pelo Sistema API 20C após 3 dias de incubação a 30ºC 56.

Espécies Nº de isolamentos

Glucose Glicerol Galactose Trealose Incubação

a 37ºC

P. stagnora 3 + + + - -

P. wickerhamii 16

3

+

+

+

+

+/w

-

+

+

+

+

P. zopfii 10 + + - - +

P. zopfii (- P.

moriformis)

1 + + - - +

+, Assimilação positiva; +/w, Fraca assimilação positiva; -, Assimilação negativa

O teste de agregação, que reflecte o carácter hidrofóbico da Prototheca spp.,

permite uma rápida diferenciação de leveduras do género Candida 12,37. Para tal, deve-se

preparar uma suspensão da cultura salina a 0,85% e verificar se ocorre a formação de

grumos na superfície, que é indicativo de Prototheca spp., enquanto a Candida spp.

apresenta completa dissolução das colónias 12.

Num estudo realizado em 2003 6, com o objectivo de isolar e identificar a

Prototheca zopfii a partir de seis amostras de leite provenientes de quatro vacas com

mastite subclínica, nas características morfológicas macroscópicas de Prototheca zopfii em

agar saboraud dextrose, às 48h, observaram-se colónias de contorno irregular, de cor

branca e de dimensões entre os 3 e os 6 mm de diâmetro (Figura 2). A observação

microscópica de Prototheca zopfii, em preparação a fresco com azul de algodão, revelou a

presença de células esféricas, com diâmetros entre 8 e 16 µm, muitas vezes com

endósporos no seu interior, rodeados pela parede da célula-mãe. (Figura 3) 6.

Figura 2 Morfologia das colónias de P. zopfii em agar saboraud 6.

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42

Figura 3 Morfologia microscópica de P. Zopfii (preparação a fresco com azul de algodão, x 100) 6.

Como já referido anteriormente, o agente pode também ser identificado a partir

de cortes histológicos da glândula mamária corada com PAS.

Figura 4 Colónias de Prototheca zopfii na parede epitelial do alvéolo mamário e no espaço interalveolar. Microscopia óptica de espécime corado com PAS x.Barra = 10µm 12.

Figura 5 Acumulação de células do género Prototheca no interior dos ductos da glândula

mamária do quarto afectado 10.

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43

A citologia aspirativa do parênquima mamário com agulha fina apresenta-se

como uma técnica auxiliar alternativa, de baixo custo e de reduzida agressão tissular 12.

Esta técnica pode ser associada a microscopia electrónica de varredura, com excelentes

resultados 12,21,66,70.

As colheitas do leite para exame laboratorial devem ser retiradas

preferencialmente, de cada quarto mamário, mas também podem ser compostas pelo leite

dos quartos produtivos da vaca 12. Podem ainda ser realizadas colheitas de leite armazenado

do tanque, ou mesmo dos tanques isotérmicos dos camiões responsáveis pelo transporte,

situação para a qual se recomenda a utilização do meio PEM 12,62.

4.10.7 Tratamento

A Prototheca zopfii não apresenta susceptibilidade aos princípios activos

antibacterianos frequentemente utilizados no tratamento de mastites 12. E demonstra ter

baixa sensibilidade e resistência aos testes de sensibilidade in vitro, realizados com os

antibacterianos mais comummente utilizados 65.

Os testes in vitro têm demonstrado susceptibilidade a alguns agentes terapêuticos,

no entanto, não existe até ao momento qualquer agente terapêutico com eficácia efectiva in

vivo 25,42,77.

Num estudo efectuado, todos os três biótipos de Prototheca zopfii demonstraram

ser resistentes aos seguintes antibacterianos: ampicilina, bacitracina, cefadroxil, cefalotina,

cloranfenicol, eritromicina, estreptomicina, gentamicina, kanamicina, neomicina,

nitrofurantoína, novobiocina, penicilina, sulfazotrim e tetraciclina 25.

Num estudo desenvolvido por Milanov et al., em 2006, a Prototheca spp.

demonstrou ser sensível à nistatina, à anfotericina B e aos antimicóticos. Apresentou

sensibilidade intermédia à polimixina B, à gentamicina e à neomicina, mas demonstrou ser

resistente aos seguintes antibióticos: kanamicina, enrofloxacina, estreptomicina,

amoxicilina, tetraciclina, penicilina, lincomicina e novobiocina 24.

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44

Em 2003, Bexiga et al., testaram vários agentes antibacterianos existentes no

mercado português para aplicação intramamária, aos quais acrescentaram kanamicina,

polimixina B e aminosidina. Os resultados obtidos comprovaram a resistência de

Prototheca zofpii aos fármacos actualmente disponíveis para terapêutica intramamária de

mastites. As estirpes isoladas mostraram-se resistentes à gentamicina e à kanamicina;

verificaram-se ligeiros halos de inibição de crescimento microbiano em torno dos discos

impregnados com estes antibióticos, mas com diâmetros inferiores aos preconizados para a

sensibilidade. Quanto à aminosidina e à polimixina B, todas as estirpes isoladas mostraram

sensibilidade a estes agentes, porém, estes princípios activos não se encontram disponíveis

para terapêutica intramamária, o que dificulta a opção do tratamento 6.

Tabela 10. Diâmetros médios observados nos testes de sensibilidade a antibacterianos de Prototheca zopfii isolados 6.

Antibacterianos Diâmetro de

referência

Diâmetro

observado MH

Diâmetro

observado MH2 Resultado

Aminosidina ≥ 15 22 (19-25) 19 (17-20) Sensível

Amoxicilina/Ác. clav. ≥ 18 0 0 Resistente

Ampicilina ND 0 0 Resistente Cefazolina > 18 0 0 Resistente Cefalónio ND 0 0 Resistente Cefoperazona ≥ 21 0 0 Resistente Cefquinoma ≥ 18 0 0 Resistente Cloxacilina ND 0 0 Resistente Colistina ≥ 11 0 0 Resistente Estreptomicina > 15 0 0 Resistente Gentamicina ≥ 15 12 (11-15) 9 (6-12) Resistente Kanamicina > 18 11 (8-13) 9 (8-11) Resistente Lincomicina ND 0 0 Resistente Neomicina ND 0 0 Resistente Penicilina G ND 0 0 Resistente Polimixina B ≥ 12 14 (13-16) 13 (12-14) Sensível Rifaximina > 19 0 0 Resistente Sulfa/trimetoprima ≥ 16 0 0 Resistente ND – não disponível na bibliografia, MH – agar Mueller Hinton, MH2 – agar Mueller Hinton suplementado com 5% de sangue disfribinado de carneiro

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45

Os seus resultados estão de acordo com relatos anteriores de outros autores,

segundo os quais as mastites provocadas por Prototheca spp. não respondem à terapêutica

com antibacterianos e o tratamento pode até exacerbar os sinais de infecção 2,6.

Como por norma o tratamento é ineficaz, a recuperação não é encorajante, sendo

o refugo é a melhor opção 5,39,65.

4.10.8 Controlo e profilaxia

O controlo da mastite por Prototheca zopfii, em explorações, é altamente difícil.

Em virtude da baixa eficiência terapêutica e do potencial risco para a saúde pública, indica-

se o refugo dos animais infectados 12,37,40,80. Para vacas com mais de um quarto infectado é

recomendado o refugo, e cauterização química, com nitrato de prata a 0,75%, em caso de

apenas um quarto infectado 12,17.

Considerando que estes agentes podem sobreviver na água, a qualidade dessa

deve ser sempre analisada antes da preparação dos tetos para ordenha, a fim de se prevenir

a infecção intramamária 12,14,60. A correcta realização da imersão dos tetos em solução

desinfectante, antes da ordenha, contribui para a redução de novas infecções, pois o iodo, a

clorexidina, o cloro ou o amónio quaternário, nas concentrações comerciais, eliminam o

agente 12.

Quando se pretende adquirir novos animais, a fim de evitar a possibilidade de

introdução do agente na exploração, é recomendada a realização de análises

microbiológicas do leite antes da sua aquisição 9,12,43.

O único meio existente para prevenir as perdas e obter um controlo efectivo desta

patologia é a adopção de medidas preventivas, para tal, recomenda-se uma boa higiene na

ordenha e nos estábulos, retirar os restos alimentares, boa monitorização regular das fezes

e do leite, refugo e isolamento dos animais infectados 5,6,14,65.

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46

5. CASOS CLÍNICOS

5.1 CASO CLÍNICO Nº 1 – MASTITE POR PROTOTHECA SPP. EM EXPLORAÇÃO DE

MÉDIA DIMENSÃO

5.1.1 Apresentação do caso clínico

Durante o período em que decorreu o estágio, foi solicitada assistência

veterinária, por um produtor do concelho de Braga na freguesia de Pedralva, na tentativa

de resolução de um caso de mastite.

5.1.2 Identificação da exploração

Características gerais:

� Bovinos leiteiros da raça Holstein Frísia;

� Número total de animais – 120;

� Número de animais em lactação – 60;

� Regime intensivo;

� Estabulação livre (cubículos) sem acesso a parque exterior.

Tipo de instalação:

� Paredes em blocos de cimento com abertura lateral;

� Camas individuais com colchão;

� Piso em cimento ripado.

Maneio animal:

� Animais divididos por lotes:

• Vacas em produção;

• Novilhas;

• Vacas secas;

• Viteleiro;

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47

• Recria;

• Pré-parto.

� Vacinação contra IBR e BVD (Bovilis®);

� Desparasitação 2x ano com Ivermectina (Ivomec-F®);

� Aparo funcional de cascos (2x ano);

� Pedilúvio.

Maneio alimentar:

� Sistema de alimentação de mistura total (UNIFEED) – silagem de milho, feno;

� Alimento concentrado;

Maneio reprodutivo:

� Inseminação artificial;

� Partos em local próprio.

5.1.3 Identificação do animal

Raça: Holstein Frísia;

Idade: 5 anos;

Sexo: feminino;

Nº de lactações: 3.

5.1.4 Anamnese

Durante a anamnese, foram colocadas diversas questões ao produtor relativas às

características do animal afectado, os seus sintomas e maneio da exploração.

O proprietário informou-nos que dois dias após o parto, a vaca, apesar de não

demonstrar quaisquer sinais sistémicos alterados, diminui acentuadamente a produção de

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48

leite e apresentava o úbere bastante tumefacto. Este animal nunca tinha desenvolvido

mastite clínica. O próprio produtor realizou o TCM, que revelou um aumento exagerado

das CS. Também nos informou que efectuava sempre o tratamento preventivo em todos os

animais.

A exploração foi cuidadosamente inspeccionada, com o objectivo de recolher

informações sobre o maneio do efectivo.

5.1.5 Exame clínico

No seguimento da consulta foram efectuados diversos exames clínicos. Através

da realização dos exames do estado geral do animal, foi constatado que, a temperatura se

encontrava ligeiramente acima do normal (39,5ºC); a frequência cardíaca era de 78 bpm; a

frequência respiratória era de 22 rpm; as mucosas apresentavam-se rosadas e brilhantes e

os gânglios linfáticos mamários estavam ligeiramente aumentados.

Com a realização da auscultação ruminal foi verificado que as contracções

ruminais apresentavam-se normais.

Foi também efectuado um exame especial da glândula mamária, que consistiu na

inspecção e palpação do úbere, e exame do leite. Foi constatado que o úbere estava

bastante tumefacto e com um ligeiro aumento da sua consistência. Para o exame do leite,

fez-se a ejecção de alguns jactos para uma caneca de fundo escuro a fim de examinar as

suas características. Este apresentava-se ligeiramente aquoso e com grumos/coágulos.

5.1.6 Exames complementares

Para pesquisar o agente etiológico, foram realizadas colheitas de leite, de cada um

dos quartos, para frascos individuais com tampa de rosca esterilizada, que seguidamente

foram colocadas em ambiente refrigerado e enviadas para o laboratório.

Após dez dias, obteve-se o resultado do exame laboratorial, que revelou uma

presença positiva de Prototheca spp. (ver Anexo I).

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Posteriormente foram realizadas análises químicas e bacteriológicas à água de

abastecimento da exploração. Esta, quimicamente encontrava-se própria para consumo (ver

Anexo II), e bacteriologicamente era imprópria, pois apresentava valores microbiológicos

elevados. (ver Anexo III).

5.1.7 Diagnóstico

Com base na sintomatologia e nas características do leite, este caso clínico foi

diagnosticado como mastite clínica originada por Prototheca spp..

5.1.8 Tratamento e evolução do caso

No início do tratamento, e antes da obtenção do resultado laboratorial, optou-se

por uma antibioterapia de largo espectro conjuntamente com a administração de anti-

inflamatório. Para tal, foram administrados 25 ml de Sorobiótico® (Penicilina G procaína)

IM, uma vez ao dia, durante 5 dias, e 15 ml de Rimadyl® (Carprofeno) IM em apenas uma

aplicação.

Como medida de segurança, aconselhou-se o proprietário a deixar sempre este

animal para último na ordenha e a rejeitar o seu leite, e ainda a cumprir escrupulosamente

os intervalos de segurança.

Ao contrário do que era esperado, ao fim do prazo previsto da duração do

tratamento, o animal apresentava-se com a mesma sintomatologia. Desta forma optou-se

por alterar o antibiótico até à obtenção do resultado do exame laboratorial. Sendo assim

foram administrados 20 ml de Clamoxyl® (Amoxicilina) IM, uma vez ao dia.

Com o conhecimento do agente etiológico Prototheca spp., optou-se por terminar

a antibioterapia, uma vez que não existe tratamento efectivo para este tipo de mastite, e ao

proprietário foi aconselhado o refugo do animal.

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5.2 CASO CLÍNICO Nº 2 – MASTITE POR PROTOTHECA SPP. EM EXPLORAÇÃO DE

PEQUENA DIMENSÃO

5.2.1 Apresentação do caso clínico

Foi solicitada assistência veterinária na tentativa de resolução de um caso de

mastite em bovino, na freguesia de Ruilhe do concelho de Braga

5.2.2 Identificação da exploração

Características gerais:

� Bovinos leiteiros da raça Holstein Frísia;

� Número total de animais – 30;

� Número de animais em lactação – 21;

� Regime intensivo;

� Estabulação em cubículos (vacas presas).

Tipo de instalação:

� Paredes em blocos de cimento com abertura lateral;

� Camas individuais sem colchão;

� Piso em terra.

Maneio animal:

� Animais divididos por lotes:

• Vacas em produção;

• Vacas secas;

• Recria;

� Vacinação contra IBR e BVD (Bovilis®);

� Desparasitação 2x ano com Ivermectina (Ivomec-F®);

� Sem pedilúvio.

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Maneio alimentar:

� Sistema de alimentação de mistura total (UNIFEED) – silagem de milho, feno;

� Alimento concentrado;

Maneio reprodutivo:

� Inseminação artificial;

� Partos em local próprio.

5.2.3 Identificação do animal

Raça: Holstein Frísia;

Idade: 4 anos;

Sexo: feminino;

Nº de lactações: 2.

5.2.4 Anamnese

Neste caso, em particular, no decorrer da anamnese o produtor referiu que os

sinais apresentados pelo animal levavam a crer que se tratava de uma situação de mastite

crónica. Antes de recorrer aos serviços veterinários, ele administrou Sorobiótico®

(Penicilina G procaína), como o animal não apresentou sinais de melhora, o produtor

decidiu enviar amostras de leite para análise laboratorial. Após receber o resultado recorreu

ao veterinário.

5.2.5 Exame clínico

A quando do exame físico, a vaca encontrava-se em estação e um pouco

deprimida. A sua temperatura estava ligeiramente aumentada (39,7ºC), o úbere

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apresentava-se tumefacto e com a consistência aumenta. Da recolha de leite, em caneca de

fundo escuro, pudemos constatar que este estava aquoso e apresentava grumos. No que se

refere aos parâmetros respiratórios, cardíacos e digestivos, estes estavam normais.

5.2.6 Exames complementares

Não houve necessidade de realizar exames complementares, uma vez que, o

próprio produtor já tinha enviado amostras de leite para um laboratório. Os resultados da

análise demonstraram a presença positiva da Prototheca spp..

5.2.7 Diagnóstico

Com base na sintomatologia, nas características do leite e nos exames

complementares de diagnóstico, este caso clínico foi diagnosticado como mastite clínica

provocada por Prototheca spp..

5.2.8 Tratamento e evolução do caso

Com o conhecimento do agente etiológico Prototheca spp., e uma vez que não

existe tratamento efectivo para este tipo de mastite, aconselhou-se o produtor a refogar o

animal.

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6. CONCLUSÃO

Durante este período de estágio foi-me possibilitado, não só a aquisição de

alguma experiência a nível da prática, bem como consolidar conhecimentos adquiridos ao

longo de toda a Licenciatura em Medicina Veterinária. Através do contacto directo com a

realidade médico-veterinária, apercebi-me das exigências desta profissão, dos principais

problemas que afectam os animais desta região e consequentemente os próprios

produtores.

Na componente prática, assisti à actividade clínica de animais de várias espécies

de interesse pecuário, o que me permitiu um melhor conhecimento de comportamentos,

técnicas de administrações de fármacos, contenções e explorações físicas, no âmbito da

veterinária. Consegui desenvolver, também, uma certa “mecanização” na designação de

medicamentos, associada aos respectivos princípios activos e principais patologias em que

foram administrados, assim como na utilização de instrumentos e diferentes técnicas

cirúrgicas, em diversas situações. Tive ainda a possibilidade de contactar com os

proprietários dos animais e familiarizar-me com alguns termos populares menos comuns,

usados regionalmente na designação de algumas afecções dos animais. Ainda ao longo

desta componente pude tirar algumas ilações importantes a nível social, humano, logístico

e técnico.

O desempenho técnico do “clínico de campo” encontra-se condicionado por

vários factores, entre os quais importa salientar que:

• A maior parte das vezes em que o clínico é solicitado, os animais já se

encontram medicados pelos proprietários ou tratadores, pelo que a sintomatologia está

frequentemente mascarada;

• Detecta-se frequentemente a ocorrência de um elevado número de casos de

antibioresistência, por utilização indiscriminada de antibióticos;

• Os resultados laboratoriais de antibiogramas ainda são demorados, pelo

que muitas vezes, recorre-se ao tratamento presuntivo dos casos clínicos, o que de certa

forma vai contribuir também para o aumento das resistências.

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• Hoje em dia, com a diminuição das explorações pecuárias familiares de

produção de leite e uma intensificação do sector, como forma de se enquadrar no mercado

actual, é necessária uma maior consciencialização para os factores de risco (principalmente

as práticas de higiene e maneio), como forma de prevenção.

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ANEXOS ANEXO I – ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DO LEITE

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ANEXO II – ANÁLISE QUÍMICA DA ÁGUA

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ANEXO III – ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA