marx, karl. contribuição à crítica da economia política - resenha crítica

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RESENHA CRÍTICA MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política / Karl Marx; tradução e introdução de Florestan Fernandes. 2a ed. São Paulo: Expressão Popular, 2008. CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA A obra Contribuição à crítica da economia política foi publicada em 1859 pelo economista, filósofo e sociólogo Karl Marx. Marx escreveu a obra citada como o primeiro volume da série que pretendia publicar, que abordariam o capital, a propriedade fundiária, o trabalho assalariado, o Estado, o comércio exterior e o mercado mundial. Porém, devido à uma enfermidade, Marx por muito tempo deixou os projetos abandonados e acabou por publicar apenas a obra O Capital contendo quatro livros. Com a frase: “À primeira vista, a riqueza da sociedade burguesa aparece como uma imensa acumulação de mercadorias, sendo a mercadoria isolada a forma elementar dessa riqueza.” (MARX, 1859. p. 51), Marx inicia o primeiro capítulo da obra, expressando à luz da elementaridade a definição mais primária do objeto de valor que o homem deseja acumular. O autor, porém, dá a esta definição de Mercadoria um sentido mais amplo quando aborda a questão da valoração da mesma. Marx ao expandir o pensamento acerca das mercadorias afirma que o valor que lhe é dado depende primariamente do seu conteúdo, deixando como segundo plano o processo produtivo pelo qual aquela mercadoria foi formada. Não obstante, segundo o entendimento do autor, a mercadoria só sofre valoração quando está submetida à manifestação econômica da troca. Marx usa como exemplo um diamante, quando diz que “Quando serve como valor de uso, estético

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Page 1: MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política - Resenha Crítica

RESENHA CRÍTICA

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política / Karl Marx; tradução e introdução de Florestan Fernandes. 2a ed. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA

A obra Contribuição à crítica da economia política foi publicada em 1859 pelo

economista, filósofo e sociólogo Karl Marx. Marx escreveu a obra citada como o primeiro

volume da série que pretendia publicar, que abordariam o capital, a propriedade fundiária,

o trabalho assalariado, o Estado, o comércio exterior e o mercado mundial. Porém, devido

à uma enfermidade, Marx por muito tempo deixou os projetos abandonados e acabou por

publicar apenas a obra O Capital contendo quatro livros.

Com a frase: “À primeira vista, a riqueza da sociedade burguesa aparece como uma

imensa acumulação de mercadorias, sendo a mercadoria isolada a forma elementar

dessa riqueza.” (MARX, 1859. p. 51), Marx inicia o primeiro capítulo da obra, expressando

à luz da elementaridade a definição mais primária do objeto de valor que o homem deseja

acumular. O autor, porém, dá a esta definição de Mercadoria um sentido mais amplo

quando aborda a questão da valoração da mesma.

Marx ao expandir o pensamento acerca das mercadorias afirma que o valor que lhe é

dado depende primariamente do seu conteúdo, deixando como segundo plano o processo

produtivo pelo qual aquela mercadoria foi formada. Não obstante, segundo o

entendimento do autor, a mercadoria só sofre valoração quando está submetida à

manifestação econômica da troca. Marx usa como exemplo um diamante, quando diz que

“Quando serve como valor de uso, estético ou mecânico, sobre o colo de uma dama ou

na mão do lapidário, é diamante e não mercadoria.” (MARX, 1859. p. 52).

O autor cria no livro o entendimento sobre dois tipos de valores: valor de troca e valor de

uso. O valor de uso é inerente à utilidade da mercadoria, ou seja, a utilidade de uma

mercadoria diretamente influencia a sua valoração. Já o valor de troca se refere à relação

quantitativa e proporcional da valoração da mercadoria, onde determinada quantidade de

uma mercadoria “X” equivale a outra determinada quantidade de uma mercadoria “Y”.

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Segundo o autor, o valor de troca abstrai o valor de uso. Marx diz:

O tempo de trabalho realizado nos valores de uso das mercadorias é não somente a substância que

faz delas valores de troca, e, por conseguinte, mercadorias, mas é também a medida de seu valor

determinado. (MARX, 1859. p. 55)

No segundo e último capítulo da obra, Marx aborda o dinheiro. Questão muito complexa e

que, segundo o próprio autor, “[...] a especulação sobre a essência do dinheiro fez mais

pessoas perder a cabeça que o próprio amor.” (MARX, 1859. p. 93). Porém a dificuldade

encontrada para entender o capital, segundo Marx, foi vencida quando percebeu-se a

origem deste na própria mercadoria.

Para Marx, o processo de definição do valor de troca de uma mercadoria relativo à uma

outra em singular é o que cria a definição de dinheiro. Como exemplo podemos utilizar

diferentes quantidades de ferro, algodão e trigo que correspondem respectivamente à

determinadas quantidades de ouro. Sendo possível estabelecer o valor da troca de

qualquer mercadoria em relação à uma mesma mercadoria em comum, esta se torna

moeda corrente.

Precisamente porque todas as mercadorias medem em ouro seus valores de troca, [...], o ouro

converte-se em medida de valores, e unicamente em virtude dessa função de medida de valores, na

qual seu próprio valor se mede diretamente no círculo interno dos equivalentes de mercadorias,

converte-se em equivalente geral ou dinheiro. (MARX, 1859. p. 95)

A transformação da mercadoria em dinheiro é para o autor algo nem sempre vantajoso

para aquele que vende sua força de trabalho. Isto porque, segundo Marx, o valor da força

de trabalho empregada para a produção da mercadoria é avaliada não na quantidade de

horas trabalhadas, mas sim na necessidade alimentícia do trabalhador. Esta necessidade

por sua vez tem sua valoração em moeda. Este processo utilizado para a produção

massiva de mercadorias para o autor é considerada como alienante.

NOSSO POSICIONAMENTO

A obra é eficaz dentro do seu objetivo que é um olhar inicial sobre as relações de

mercado e produção que seriam abordadas posteriormente na obra seguinte de Marx, O

Capital. Porém, a sua quantidade massiva de informação de difícil leitura, principalmente

para os leigos ou menos conhecedores da economia e suas implicações, torna complexa

a tarefa do entendimento do pensamento marxista.

Page 3: MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política - Resenha Crítica

Não obstante, considerarmos como leitura essencial, em especial aqueles que tem

objetivo de aprofundarem no conhecimento da economia capitalista e suas influências nos

processos produtivos da época e que se repetem até os dias atuais.

Percebemos ainda que, apesar do característico pensamento estereotipista acerca do

pensamento marxista previamente considerado como comunista, Marx demonstra-se um

dos grandes intelectuais da humanidade, cujo vasto conhecimento da economia foi capaz

de desvendar minuciosamente o complexo sistema econômico capitalista, identificar

falhas e sugerir um modelo socioeconômico teoricamente mais justo e igualitário.

Recomendamos ainda a leitura da obra que certamente, após dedicada leitura, ampliará

os horizontes do conhecimento acerca de algo que, felizmente ou não, é imperativamente

presente no nosso dia-a-dia: a economia capitalista.

Victor Guimarães Nunes

Palmas, 26 set. 2013