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MARTINS, Ca r los Benedito. EM-i.n.O Pa.go: um tte;t!tCLto .6 em «etooues . 2.ed. sãoPaulo: Cortez, ,1988. (Resenha) *
A importância do livro"Ensino Pago: um retrato sem retoques" do professor Carlos Benedito Martins está não somente,em discorrer acerca de um temabastante polêmico - a políticada privatização do ensino sup~rior - como ainda em demarcar umperíodo histórico controvertido;quando no Brasil, vivia-se sob oregime militar, implantado em1964, cuja concentração de poderconstituiu-se numa das características fundamentais.
o livro que é Dissertação de Mestrado está divididoem cinco capítulos, contendo ai~da uma introdução. Nesta parteé feita uma d~~cussão teórica,naqual são assinalados aspectosque se constituem em princípiosnorteadores na apreensão e naanálise do problema analisado.
Os demais capítulos tr~tam da pesquisa propriamente di
ta, cuja análise perpassa p~los pressupo scos teóricos apoE,t~dos ip!cialmente.
Em seu trabalho o autor faz uma análise crítico - reflexiva em torno da política daprivatização do ensino superiorbrasileiro em sua fase contemp~rãnea, procurando relacionar asmodificações ocorridas nessenível de ensino, com as reformulações político-econômicas introduzidas apos o golpe de 1994.
A partir daí um novomodelo educativo é adotado peloEstado brasileiro, fundado numaconcepção educacional instrume~talista, cuja fundamentação teórica encontrou respaldo na economia da educação, por se entender ser - a educação -.lID dosfatores importantes ~~:~ ~ crescimento econômico.
Carlos Martins antesde fazer uma análise desse novomodelo educaci9nal~ faz uma discussao a respelto ae um novõ
* Resenha elaborada, em 1989, por Maria Regí.na Nina Rodr í gues, Pro fa, Adjunto do Departamento deSociologia e Antropologia da Uf}~. Mestre em Educação. Doutoranda em Educação pela USP(Sp).
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pens ame i.. c.>:t,-:edagógicoque eclodiu nos anos sessenta, vindo ainfluenciar um expressivo numero de educadore~ na busca dereestruturar tIl~.L.. superior,considerado na ~poc~ uefasado einsatisfatório, para corresponder ãs ~ecessidades do processode desenvolvimento que se implantara no país.
Conv~m salientar queesse nível de e1. foi influenciado pela ideologia nacionaldesenvolvimentista.
Durante esse re~i0do ,a universidade ~~asileira foiamplamente discutida, envolvendo educadores, es~udantes e outros segmentos da sociedade ('(TIL
vista a implant' urna nova :ç.olitrca pedagógica, que viesse ~o~sibilitar uma participação maisconsciente e efetiva iunto a sociedade. Esse novo projeto deuniversid&de não se concretiz0uem sua plenitude, vindo a Sérsufocado e reprimido com a ~mplantação do regirr.':'.ilitar. Ap~sar disso, o movimento em ~rolde uma nova universidade foimuito f~rte no 2aí~ inteir~ tendo sido configurado por CclrlosMartinf-, corno um movimento social nacional da maior imp~rtãncio..
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Com a extinção do mod~10 nacional-desenvolvimentista,o Brasil passa por profundas mQ
dificações. A parti~ daí, a eCQ
nomia foi planejada em consonancio com urna política voltadapara o exterior e, por conseguinte, para urna dependênciae;';Ji'~!Ilica.Esses fatos vieram. :::arsubstancialmente o que
,,'..ha sendo feito at ê então nasuniversidade~ co país.
As iC; Las progressi~tas e a prãtica pedagógica viabilizada pelos educadores da~poca foram cer~eada, e reprimidas violentamente.
!rtf'SLe contexto quesurge a privatização do ensillosuperior. As faculdades partic~lares em sua mai0r~;! devido aoseu carãter mercantiiista, seconstituíram em empresas capit~listas, transformando o setoreducacional num campo f~rtilpara investimento, cuja preocupação primeira dessas escolastem sido com o avanço financeiro e com o crescimento de seupatrimônio, deixando para segundo plano o desenvolvimento cultural ~e sua clientela.
A anãlise~i;':":;:~ autorfaz em sua obra, inci62 numa
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das instituições privadas do ensino superior, elegendo comoobjeto de estudo uma das Faculdades Metropolitanas Unidas desão Paulo, (FMl.J).,quejuntoàs demaisforma o conjunto de uma grandeempresa. O caráter mercantilista que constitui a FMU é configurado por Carlos Martins comouma indústria cultural e comotal e analisada em seu estudo.
~ assinalado em suapesquisa que a FMU surge num p~ríodo da história brasileira defechamento cultural e de desmoraliz~ção da sociedade como umtodo. O clima de repressão física e intelectual instalado nopaís, fez com que essa instituição implantasse em seus cursosuma proposta curricular em oPQsição a da década de sessenta,substituindo assim o saber crítico por práticas pedagógicasde sentido instrumental, cujadimensão prática deveria seconstituir em objetivo priorit~rio.
É assinalado ainda napesquisa o fato de que a FMU l~
corporou e divulgou a ideologiamilitar, vinculando as atividades educacionais às linhas dedesenvolvimento adotádas pelonovo governo. Essas atividadesinseriram-se num espirito de
brasilidade, demonstrando o envolvimento e a adesão dessas faculdades à nova ordem implant~da, a qual ~oi aceita por elascomo justa e legitima. Essa aceitação se constituiu num fato expressivo para a expansão e desenvolvimento dessas faculdades.
Procura mostrar tambémque o Estado não fez nenhumarestrição, quanto a particip~ção da iniciativa privada juntoao ensino superior. Ao contrário, foram criadas condições favoráveis, as quais encontraramguarida no próprio relatório Meira Matos e junto ao CFE. A iniciativa privada estava inseridana lógica do novo regime, tendosido bem aceita, por nao sobrecarregar o orçamento público dopais. O Estado sem investir, expande o ensino superio4 amplia~do o número de vagas, atendendodesta forma a demanda e as pre~sões feitas pelos estudantes daepoca considerados excedentes.
Ao lado das mudançasocorridas junto à sociedade br~sileira após 1964,um outro fatoocorreu nesse mesmo período, eque é assinalado na pesquisa.Trata-se do surgimento das cám~das médias urbanas, que impedidas de ampliarem seu capitaleconômico, devido a concentra
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çao dos meios de produção, viram na educação um canal parasua ascensão social. A busca aessas aspirações, a FMU foi escolhida como refúgio por um expressivo número de alunos, coma finalidade de converter o capital cultural adquirido aí, emcapital econômico.
o autor procuratrar ainda, que a FMUtratar de uma indústria
mospor se
cultural, os professores fazem partedela como trabalhadores, estando separados dos meios de prod~ção, e como tal são transformados em meros executores de tarefas. A instituição exerce umforte controle sobre seu trabalho, resultando em frustraçõese de~contentamento, uma vez queesses professores não têm se ide~tificado com o seu próprio trabalho.
Esse controle foi exercido tamb~m junto ã represent~ção estudantil, como uma formade impedir possíveis movimentossubversivos. Esse fato, conforme é apontado na pesquisa, levou os estudantes a questionar,al~m das condições precarl~Sde ensino a que estavam submetidos, o próprio controle délS
idéias que se opunham LlS que "FMU divulgava.
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A FMU é entendida porCarlos Martins como urna agênciaformadora de hábitos. As práticas pedagógicas aí viabilizadastêm se constituído num meiopara reproduzir o contexto 80
cial, não possuindo por issouma tradição reflexivo-critica,tanto a nível dos docentes comodos discentes. Contudo, sua pr~pria prática pedagógica contraditória, poderá vir a desencadear um movimento mobilizador,envolvendo professores e alunosna reorganização de uma proposta renovadora e progressista navida acadêmica da FMU.
ENDEREÇO DO AUTORMARIA REGINA NINA RODRiGUES
Departamento de Sociologia e Antrop~logia.Centro de Estudos BásicoslIniversidade Federal do Mar:lnhãoCarnpu s Universitário do ]\;l(;l1lgaTeI.: (098) 221 543365.000 - SÃO Ulfs - MA.
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