antonio carlos martins

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i Programa de Pós Graduação em Museologia e Patrimônio PPG-PMUS Mestrado em Museologia e Patrimônio VIVÊNCIAS NO MUSEU: a arquitetura e os caminhos da museografia no Museu de Astronomia e Ciências Afins. Antonio Carlos Martins UNIRIO / MAST - RJ, Junho de 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIO Centro de Ciências Humanas e Sociais CCH Museu de Astronomia e Ciências Afins MAST/MCT

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  • i

    Programa de Ps Graduao em Museologia e Patrimnio PPG-PMUS

    Mestrado em Museologia e Patrimnio

    VIVNCIAS NO MUSEU: a arquitetura e os caminhos da

    museografia no Museu de Astronomia e Cincias Afins.

    Antonio Carlos Martins

    UNIRIO / MAST - RJ, Junho de 2012

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIO Centro de Cincias Humanas e Sociais CCH

    Museu de Astronomia e Cincias Afins MAST/MCT

  • ii

    VIVNCIAS NO MUSEU: a arquitetura e os caminhos da

    museografia no Museu de Astronomia e Cincias Afins.

    por

    Antonio Carlos Martins Aluno do Curso de Mestrado em Museologia e Patrimnio

    Linha 01 Museu e Museologia

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio. Orientador: Professor Doutor Jos Dias

    UNIRIO/MAST - RJ, Junho de 2012

  • iii

    FOLHA DE APROVAO

    VIVNCIAS NO MUSEU: a arquitetura e os caminhos da museografia no

    Museu de Astronomia e Cincias Afins.

    Dissertao de Mestrado submetida ao corpo docente do Programa de Ps-graduao em Museologia e Patrimnio, do Centro de Cincias Humanas e Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO e Museu de Astronomia e Cincias Afins MAST/MCT, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Museologia e Patrimnio.

    Aprovado por

    Prof. Dr. ______________________________________________ Jos Dias (UNI-RIO)

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Profa. Dra. ______________________________________________

    Maria Esther Alvarez Valente (MAST) Museu de Astronomia e Cincias Afins

    Profa. Dra. ______________________________________________ Alda Lcia Heizer (JBRJ)

    Instituto de Pesquisas Jardim Botnico do Rio de Janeiro

    Rio de Janeiro, 2012

  • iv

    M386 MARTINS, Antonio Carlos.

    Vivncias no museu: a arquitetura e os caminhos da

    museografia no Museu de Astronomia e Cincias Afins/

    Antonio Carlos Martins. Rio de Janeiro, 2012.

    172 f. : il. ; 30 cm.

    Orientador: Prof. Dr. Jos Dias

    Dissertao (Mestrado em Museologia e Patrimnio)

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Museu

    de Astronomia e Cincias Afins/Programa de Ps-gradua-

    o em Museologia e Patrimnio, Rio de Janeiro, 2012.

    Bibliografia: f. 168.

    1. Arquitetura. 2. Museologia. 3. Museu. 4.

    Museografia. 5. Patrimnio. I. Dias, Jos. II.

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

    Programa de Ps-graduao em Museologia e Patrimnio.

    III. Museu de Astronomia e Cincias Afins(Brasil). IV.

    Ttulo.

    CDU 069.01:72

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Escrever estes agradecimentos um momento muito gratificante... rememorar as pessoas que esto ao meu lado no caminho profissional compartilhando o trabalho e a amizade. Assim, aos poucos, a memria me envolve com as imagens e os nomes dessas pessoas:

    Agradeo, primeiramente, ao meu orientador, o professor Dr. Jos Dias, por quem tenho grande admirao e grande estima. Tive o privilgio de ter sido arguido por ele durante o processo para o concurso de tecnologista do MAST/MCT, ocorrido em 2009.

    s professoras Dra. Maria Esther Valente e Dra. Alda Heizer, por terem participado de forma competente e carinhosa da minha qualificao e da defesa deste trabalho.

    professora Dra. Tereza Scheiner, por ter sido referncia constante durante o curso e na concepo de minha dissertao.

    Ao professor Dr. Marcus Granato com quem tenho o privilgio de trabalhar.

    professora Dra. Maria Margaret Lopes, atual diretora do Museu de Astronomia e Cincias Afins, por ser uma referncia na rea e por ter apoiado a escrita da minha dissertao.

    s Coordenaes do MAST: Museologia, Histria da Cincia, Educao e Documentao e arquivo as quais agradeo a possibilidade de trabalhar na fronteira dos diversos campos do saber.

    Aos colegas do Servio de Infraestrutura e Logstica do MAST, em especial a todos da equipe com quem tenho trabalhado.

    professora Dra. Ca Guimaraens do Programa de Ps-Graduao em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro com quem partilhei o incio das experincias dos estudos de arquitetura de museus.

    Aos meus queridos e inesquecveis companheiros de turma que tive o grande prazer em compartilhar experincias e estudos:

    Da turma de2009: Ana Ftima Berqu Ferreira, Ana Paula Corra de Carvalho, Arlete Sandra Mariano Alves, Eliana Marchesini Zanata, Jorge Luiz do Amaral, Lilian Mariela Suescun Flores, Maria Alice Ciocca de Oliveira, Michele de Lima Gonalves e Roseane Silva Novaes.

    Da turma de2010: Anna Thereza do Valle Bezerra de Menezes, Claudia Machado Ribeiro, Daniela Matera do Monte Lins Gomes, Denise Maria da Silva Batista, em especial Eliane Ezagui Frenkel, Elisama Beliani Marcelino, Emerson Ribeiro Castilho, Geisa Alchorne de Souza, Karla Cristina Damasceno de Oliveira, Marcela Alejandra Arriagada Jofr, Marcelo S de Souza, Maria Josiane Vieira, Roberto Sabino da Silva e Rodrigo Cantarelli Rodrigues.

    E daturma de 2011: Ala Santos de Almeida, Alessandra Dahya Henrique da Silva, Anna Gabriela Pereira Faria, Anna Martha Tuttiman Diegues, Bianca Mandarino da Costa, Carlos Henrique Gomes da Silva, Elisabete Edelvita Chaves da Silva, Ethel Rosemberg Hadfas, Fernanda Pires dos Santos, Gabriela Machado Alevato, Gleyce Kelly Maciel Heitor, Isabel Loureno Gomes, Jos Alberto Pais, Luciana Scanapieco Queiroz, Ludmila Leite Madeira da Costa, Marcos Andr Pinto Ramos, Ozana Hannesch, Rafael Fraga Gutterres e Raquel Barros dos Santos.

    Aos meus companheiros de todas as horas: Fabola Belinger, Bruno Goulart, Renata Rissuti, Thiago Vasconcellos, Thiago Aves, Simone Moreira, Carlos Nascimento, Carlos Francisco

    Ao querido amigo Ivo Almico, pelo grande companheirismo e carinho que sempre fizeram parte de nossa amizade;

    Eao meu eterno companheiro, Tarcsio Ferrari Saramella por estar ao meu lado nos momentos alegres e tristes desta jornada.

  • vi

    Aos meus pais Bernardino Martins Filho e Calita Souza Martins pelo carinho especiais que dedicaram a mim.

  • vii

    RESUMO

    MARTINS, Antonio Carlos. Vivncias no museu: a arquitetura e os caminhos da

    museografia no Museu de Astronomia e Cincias Afins. Orientador: Jos Dias.

    UNIRIO/MAST. 2012. Dissertao.

    A dissertao analisa aspectos envolvidos na mudana de uso de edifcios histricos,

    em particular atravs do estudo de caso do edifcio sede do Museu de Astronomia e Cincias

    Afins (MAST) situado no Rio de Janeiro. No estudo, a arquitetura e a museologia sero

    abordadas visando estimular o debate conceitual entre esses campos de saber no sentido de

    fomentar seu dilogo a respeito do museu. Utiliza-se o conceito de reconverso e prope-se

    sua aplicao a adaptaes, transformaes, reconfiguraes, reutilizaes, remodelaes e

    reorganizaes dos espaos de edifcios que denotem a mudana do uso original para uso

    como instituies museolgicas. So analisados dois casos de exposio temporria e dois de

    exposio permanente concebidos e elaborados para os espaos do MAST, no sentido de

    discutir suas interferncias nas ambincias dos espaos de exposio do museu. Tambm so

    apresentados o Centro de Artes Hlio Oiticica, o Muse dOrsay, o Military History Museum, o

    Museu Judaico de Berlim e a Pinacoteca de So Paulo como casos de edifcios que passaram

    por processos de reconverso, cada um segundo as necessidades especficas e as solues

    definidas pelas equipes de profissionais de museus que trabalharam nas propostas

    executadas.

    Palavras-chave: Arquitetura, Museologia, Museu, Museografia e Patrimnio

  • viii

    ABSTRACT

    MARTINS, Antonio Carlos. Personal experiences of the museum: architecture and

    museographic paths at the Museum of Astronomy and Related Sciences. Supervisor: Jos

    Dias; UNIRIO/MAST. 2012. Masters thesis.

    This thesis analyses aspects involved in changes in the use of historical buildings,

    notably in a study of the principal building of the Museum of Astronomy and Related Sciences

    (MAST) in Rio de Janeiro. Architecture and museology are examined with the aim of

    contributing to the conceptual debate between these two fields of knowledge and the dialogue

    about the question of museums. The concept of reconversion is used and applied to

    adaptations, changes, reconfigurations, reutilizations, remodellings and reorganizations of

    building spaces that point to a change from the original use to one as a museological institution.

    Two temporary and two permanent exhibitions designed and built for MAST are analyzed, in

    order to discuss their interferences in the museum environments. Also looked at are Centro de

    Artes Hlio Oiticica, Muse dOrsay, the Military History Museum, the Jewish Museum in Berlim

    and Pinacoteca de So Paulo as cases of buildings that underwent reconversion, each

    according to the specific needs and solutions encountered by those implementing the

    proposals.

    Keywords: Architecture, Museology, Museum, Museography and Heritage.

  • ix

    SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS:

    CAHO Centro Municipal de Arte Hlio Oiticica

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CBPF Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas CDA Coordenao de Documentao e Arquivo

    C&T Cincia e Tecnologia CMU Coordenao de Museologia

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNRS Centre National de la Recherche Scientifique

    COC Casa de Osvaldo Cruz

    COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de P-graduao e Pesquisa de Engenharia DPMUS Departamento de Processos Museais EBA Escola de Belas Artes

    ENAPAQ Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e P-graduao em Arquitetura e Urbanismo FAG Faculdade Assis Gurgacz FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

    FCC Fundao Carlos Chagas FESPSP Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo FIOCRUZ Fundao Osvaldo Cruz

    FUNARJ Fundao de Artes do Estado do Rio de Janeiro FUNARTE Fundao Nacional de Arte GMT Grupo de Trabalho Memria da Astronomia

    IBRAM Instituto Brasileiro de Museus ICCROM Internationational Centre for the Study of the Preservation and Regitration of Cultural Property ICOM International Council of Museums ICOMOS International Council on Monuments and Sites ICOFOM International Commitee for Museology INEPAC Instituto do Patrimnio Artstico e cultural

    IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPPUR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional JBRJ Jardim Botnico do Rio de Janeiro

    MAE Museu de Arqueologia e Etnologia MAST Museu de Astronomia e Cincias Afins MCT Ministrio da Cincia e Tecnologia

  • x

    MCTI Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao MHM Military History Museum MHN Museu Histrico Nacional

    MN Museu Nacional MMNH Metropolitan Museum of National History MinC Ministrio da Cultura

    NHC Ncleo de Pesquisa em Histria da Cincia ON Observatrio Nacional

    PINI Editora fundada por Fausto Pini e seus filhos mais velhos, Roberto Luiz Pini e Srgio Pini. PPG-PMUS Programa de Ps Graduao em Museologia e Patrimnio PROARQ Programa de Ps-Graduao em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    PROCAD Programa Nacional de Cooperao Acadmica PUC-RJ Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro RISCO Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo da USP

    SPHAN Sub-Secretaria de Patrimnio Histrico Artstico Nacional SPT Servio de Produo Tcnica SiBI Sistema de Bibliotecas e Informaes

    TCC Trabalho de Concluso de Cursos UCG Pontifcia Universidade Catlica de Gois ULHT Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UFBA Universidade Federal da Bahia UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UGF Universidade Gama Filho UNB Universidade de Braslia UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNESP - Univeridade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

    USJT Universidade So Judas Tadeu USP Universidade de So Paulo

  • xi

    LISTA DE ANEXOS:

    ANEXO 1 Ficha tcnica da exposio Permanente 'Quatro Cantos de Origem' folha 1, 1995.

    ANEXO 2 Ficha tcnica da exposio Permanente 'Quatro Cantos de Origem' folha 2, 1995. ANEXO 3 Ficha tcnica da exposio Permanente 'Quatro Cantos de Origem' folha 3, 1995. ANEXO 4 Ficha tcnica da exposio Permanente 'Olhar o cu, medir a Terra' , 2011.

    ANEXO 5 Ficha tcnica da exposio Temporria 'Brasil acertai vossos ponteiros' , 1991. ANEXO 6 Ficha tcnica da exposio Temporria 'Energia Brasil!' , 2006. ANEXO 7 PARTE I - Situao atual do Campus ON-MAST. Limites da rea do Campus ON-MAST e seu entorno.

    Prancha 01, ON-MAST, set.2005.

    ANEXO 8 PARTE I - Situao atual do Campus ON-MAST. 2 - Caracterizao da rede fsica e das edificaes. Bens

    tombados do Campus ON-MAST. Prancha 04, ON-MAST, set.2005.

    ANEXO 9 PARTE IV - Proposies. 3 - reas de expanso e/ou reordenamento espacialPrancha 12, ON-MAST,

    set.2005.

  • xii

    LISTA DE FIGURAS:

    Figura 1 Desenho do Plano da estrela-de-davi utilizada para o projeto do Museu Judaico de Berlim. Acervo: Studio Daniel Libeskind, 2011. ......................................... 41 Figura 2 - Vista area do Museu Judaico de Berlim. Fotografia: Studio Daniel Libeskind, 2011. .......................................................................................................... 41 Figura 3 Fachada do edifcio do Centro Municipal de Arte Hlio Oiticica (CAHO) situado rua Lus de Cames Centro, Rio de Janeiro (RJ) ..................................... 48 Figura 4 Gare dOrsay Paris, 1900. Acervo Muse dOrsay Paris, 2006. ........... 49 Figura 5 Vista da Galeria de exposio permanente do Muse dOrsay Paris, Frana. Fotografia: autor desconhecido. Acervo Muse dOrsay. Paris, 2006. ........... 50 Figura 6 Viso superior da maquete do Military History Museum (Dresden, Alemanha) mostrando o interior de um dos pavimentos. Em cor azul destaca-se o elemento de insero espacial presente no conceito arquitetural do projeto para a reconverso do edifcio. Fotografia: Studio Daniel Libeskind, 2011............................ 51 Figura 7 Fachada principal do Military History Museum (Dresden, Alemanha). Fotografia: Studio Daniel Libeskind, 2011. .................................................................. 52 Figura 8 Interior do Military History Museum (Dresden, Alemanha). Detalhe da museografia de um conjunto de objetos expostos. Fotografia: Studio Daniel Libeskind, 2011. .......................................................................................................................... 53 Figura 9 - Fachada principal do edifcio sede do MAST. Fotografia: Jaime Acioli, 2010. ................................................................................................................................... 59 Figura 10 Fachada principal do edifcio da Administrao Central do Observatrio Nacional, segundo projeto do engenheiro Mario Rodrigues de Souza (1918). Acervo: CDA/MAST. Fotografia: Jaime Acioli, 2010, Arquivo fotogrfico: CMU/MAST. ........... 62 Figura 11 Vitral com desenhos das figuras representativas da deusa mitolgica Urnia da Astrnomia e das doze constelaes do Zodaco que ornamenta e ilumina a escadaria do edifcio Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2012. ...................................................................................... 65 Figura 12 Escadaria que interliga o primeiro com o segundo pavimento. ornamentada por duas luminrias em forma de tocheiros que iluminam o hall do edifcio. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Autor desconhecido, 1990. ................................................................................................... 66 Figura 13 Escultura em mrmore branco esculpida por E. Andrani, figura desnuda com panejamento representando a Lua, situada no guarda-corpo da escada, mezanino do segundo pavimento do edifcio. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2005. ...................................................... 66 Figura 14 Edifcio Administrao Central do Observatrio Nacional. Acervo Coordenao de Documentao e Arquivo (CDA/MAST/MCTI). Fotografia: Autor desconhecido, 1921 .................................................................................................... 69 Figura 15 Conjunto dos pavilhes de observao do cu. Acervo Coordenao de Documentao e Arquivo (CDA/MAST/MCTI). Fotografia: Autor desconhecido, 1921.69 Figura 16 Exposio Centenrio da Passagem de Vnus pelo Disco Solar, como recurso museogrfico foi utilizado painel fotogrfico para as legendas dos objetos do acervo. Acervo Coordenao de Documentao e Arquivo (CDA/MAST/MCTI). Autor desconhecido, 1982. ................................................................................................... 70 Figura 17 Exposio temporria Centenrio da Passagem de Vnus pelo Disco Solar, ambiente cenogrfico. Acervo Coordenao de Documentao e Arquivo (CDA/MAST/MCTI). Autor desconhecido, 1982. ........................................................ 71

  • xiii

    Figura 18 Avenida Central Rio de Janeiro. Fotografia: Augusto Malta, 1926. ........ 75 Figura 19 Reproduo de planta da fachada e fotografia da fachada construda de um mesmo edifcio. Marc Ferrez, 1905. ...................................................................... 78 Figura 20 So Cristvo Vista area. Acervo: Instituto Histrico-Cultural da Aeronutica/ Museu Aeroespacial/ Ministrio da Aeronutica. Fotografia: Autor desconhecido, 1934. ................................................................................................... 80 Figura 21 Asilo e Educandrio Gonalves de Arajo pertencente a Irmandade da Candelria. Inaugurado em 1900, na Praa Marechal Deodoro no 228, no Campo de So Cristvo, Rio de Janeiro. Fotografia: autor desconhecido, 1920. ....................... 80 Figura 22 Torre de difuso do sinal horrio luminoso transmitido pelo Servio da Hora realizado pelo Observatrio Nacional. Fotografia: autor desconhecido, s.d. ....... 82 Figura 23 Desenho da fachada principal do Pavilho do Brazil na Exposio Universal de Turim (1911). Projeto: Moraes Rego e Jaime Figueira. Desenho: Jlio Antonio de Lima, 1910. ............................................................................................... 84 Figura 24 Desenho das cinco Ordens da Arquitetura. Desenho: Jacques Barozzio Vignola (1889). ........................................................................................................... 87 Figura 25 - Edifcio sede do Observatrio Nacional na poca do final da construo. Acervo CDA/MAST/MCTI. Fotografia: Autor desconhecido, 1920. .............................. 88 Figura 26 Capitel drico coluna situada no pavimento trreo do edifcio sede. Fotografia: Ivo Almico, 2012. ...................................................................................... 89 Figura 27 Vista area Infogrfico destacando os vrtices do tringulo formado pelo MAST/MCTI, pelo MN/UFRJ e pelo MV/COC/FIOCRUZ. Fonte: Imagem - Google Earth, 2012. ................................................................................................................ 91 Figura 28 Vista area Mapa de localizao do campus MAST/ON e arredores do bairro Imperial de So Cristvo. Fonte: Imagem - Google Earth, 2012. .................... 92 Figura 29 Vista area Mapa de localizao do Museu Nacional e arredores da Quinta da Boa Vista. Fonte: Imagem do Google Earth, 2012. ..................................... 92 Figura 30 Vista area Mapa de localizao do campus do MV/FIOCRUZ, Manguinhos. Fonte: Google Earth, 2012. .................................................................... 93 Figura 31 Equipe da Exposio temporria Brasil acertai vossos ponteiros. Da esquerda para direita: Rosilda Vasco, Alda Heizer, Osmar Fvero, Vera Pinheiro, Jusselma Duarte, Mrcia Alves, Augusta Macedo e Antonio Carlos Martins. Acervo do autor. Fotografia: Autor desconhecido, 1991............................................................. 103 Figura 32 Exposio temporria Brasil acertai vossos ponteiros! Introduo: Urbanismo e Arquitetura Painel com imagem fotogrfica ampliada sugere a direo de entrada da exposio (caricatura Os candidatos do povo, 1909 Acervo: Revista O Careta). Acervo do autor. Fotografia: Antonio Carlos Martins, 1991. ..................... 105 Figura 33 Exposio temporria Brasil acertai vossos ponteiros! Mdulo 3: De olho no observatrio ambientao para objeto, realizada a partir de imagem fotogrfica. Acervo do autor. Fotografia: Antonio Carlos Martins, 1991. .................... 105 Figura 34 Exposio temporria Brasil acertai vossos ponteiros Mdulo 2: Ambincia scio-cultural. Elementos cenogrficos realizados pela artista plstica Rosilda Vasco. Acervo do autor. Fotografia: Antonio Carlos Martins, 1991. .............. 106 Figura 35 Exposio temporria Brasil acertai vossos ponteiros Mdulo 2: Ambincia scio-cultural. Cenografia realizada pela artista plstica Rosilda Vasco baseada nas pesquisas realizdas para a exposio. Acervo do autor. Fotografia: Antonio Carlos Martins, 1991. ................................................................................... 106 Figura 36 Exposio temporria Brasil acertai vossos ponteiros Mdulo 1: As fachadas da Belle poque. Desenho aplicado na parede realizado por Antonio Carlos Martins baseado no projeto museogrfico da exposio. Acervo do autor. Fotografia: Antonio Carlos Martins, 1991. ................................................................................... 107

  • xiv

    Figura 37 Exposio temporria Energia Brasil!. Planta Baixa Introduo e Mdulo 1 (triflio). Acervo Coordenao de Museologia CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2006. ............................................................................................................ 108 Figura 38 Exposio temporria Energia Brasil!. Planta Baixa Introduo e Mdulo 1 (triflio). Acervo Coordenao de Museologia CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2006. ............................................................................................................ 109 Figura 39 Exposio temporria Energia Brasil!. Vista supeior do espao definido pelo triflio elemento tridimensional da expografia criando uma determinada ambincia. Acervo Coordenao de Museologia CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2006. ............................................................................................................ 109 Figura 40 Exposio temporria Energia Brasil!. Listagem de cores que foram utilizadas na pintura dos equipamentos museogrficos Acervo Coordenao de Museologia CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2006. ................................ 111 Figura 41 Exposio temporria Energia Brasil!. Vista do espao do mezanino os elementos da expografia enfatizam as linhas verticais A ambincia se constroi pelas cores e a iluminao. Acervo Coordenao de Museologia CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2006. .................................................................................... 113 Figura 42 Exposio permanente Quatro cantos de origem, sala do Sistema Geocntrico, chamada de sala branca. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Autor desconhecido, 1995. .................................... 116 Figura 43 Exposio permanente Quatro cantos de origem, sala intermediria, painel Ampliando Fronteiras, recurso interativo tipo push botton para conhecer trs rotas de navegao. Acervo Coordenao de Museologia (SPT/CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ana Carolina P. dos Santos, 2010. ......................................................... 117 Figura 44 Exposio permanente Quatro cantos de origem, sala intermediria, ao fundo painel Observando o Cu, recurso interativo tipo push botton para utilizar um astrolbio. Em primeiro plano, painel sobre as Leis de Kepler, Acervo Coordenao de Museologia (SPT/CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ana Carolina P. dos Santos, 2010. ................................................................................................................................. 118 Figura 45 Exposio permanente Quatro cantos de origem, corredor entre as salas intermedirias, painel Dilogo de Galileu, recurso cenogrfico. Acervo Coordenao de Museologia (SPT/CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ana Carolina P. dos Santos, 2010. ................................................................................................................................. 118 Figura 46 Exposio permanente Quatro cantos de origem, sala intermediria, modelo interativo Leis da Mecnica Celeste de Newton. Acervo Coordenao de Museologia (SPT/CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ana Carolina P. dos Santos, 2010. ................................................................................................................................. 119 Figura 47 Exposio permanente Quatro cantos de origem, corredor final, vitrines tipo back light com fotografias sobre diversos tema sobre as Estrelas. Acervo Coordenao de Museologia (SPT/CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ana Carolina P. dos Santos, 2010............................................................................................................. 119 Figura 48 Exposio permanente Quatro cantos de origem. Parte da equipe da exposio da esquerda para direita: Odlio Ferreira Brando, Maria Jos Brabo DeBernardes, Antonio Carlos Martins, Cludia Penha dos Santos, Aparecida Rangel, Ktia Bello, Mrcio Ferreira Rangel, Mrcia Cristina Alves, Alejandra Saladino, Luci Meri Guimares Silva e Ivo Almico. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Autor desconhecido, 1995. ..................................... 120 Figura 49 Exposio permanente Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente de introduo imagens, textos impressos, multimdias, cores e iluminao cnica. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ................................................................................................................................. 120

  • xv

    Figura 50 Exposio permanente Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 5, a transparncia da vitrine embutida entre os Tpicos 1 e o Tpico 4, alm de destacar o objeto permite a observao de demais elementos. A cor branca contrasta com as outras cores utilizadas. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. .................................................................................... 123 Figura 51 Exposio permanente Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 1A a programao visual um elemento predominante nos espaos da esposio. Neste Tpico a cor azul foi escolhida para este espao. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ................................. 126 Figura 52 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 1A a vitrine embutida revestida de espelhos, mostra a rplica de um astrolbio do Museu da Marinha (RJ). O objeto o elemento em destaque. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. .................................................... 126 Figura 53 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 1B o desenho da vitrine embutida, a cenografia, a programao visual, as cores e a iluminao tem a funo de amenizar e destacar elementos da museografia. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ................................. 127 Figura 54 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 1D a programao visual utilizou vrios recursos grficos, a exemplo, a impresso sobre azulejos. A cor amarela sinaliza a porta de acesso a sala seguinte do Tpico 3. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ............................ 127 Figura 55 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 3, a cor define este ambiente como intermedirio entre os tpicos. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. .................................................... 128 Figura 56 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 4, a passagem sinalizada pela cor amarela e pela figura do personagem presentes no painel. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ...... 128 Figura 57 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 4 o modelo em tamanho reduzido da torre Eifel participa da ambincia da sala . Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ............................ 129 Figura 58 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 4, cores, imagens e objetos somam-se no ambiente da exposio. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ................................................... 129 Figura 59 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 5, as imagens em grande dimenso expressam a hierarquia da informao. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. .................................................... 130 Figura 60 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 5, a interatividade faz parte do dilogo para veicular a informao. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. .................................................... 130 Figura 61 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 5, a imagem como recurso de intermediao da informao sobre o objeto. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ................................. 131 Figura 62 Olhar o cu, medir a Terra. Ambiente do Tpico 5, a direita, a fotografia foi transformada em elemento em 3D, a esquerda a imagem usada como recurso de intermediao da informao sobre o objeto. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Ivo Almico, 2011. ................................................... 131 Figura 63 Pinacoteca de So Paulo ptio interno coberto. Projeto de arquitetura de Ramos de Azevedo (1897) e projeto de reconverso da arquitetura por Paulo Mendes da Rocha (1997). Fotografia: Plnio Dondon, 2010. .................................................. 135 Figura 64 Museu de Astronomia e Cincias Afins Exposio Einstein e a Amrica Latina Edifcio sede do MAST mezanino coberto por clarabia e vitral artstico.

  • xvi

    Projeto do edifcio de Mario Rodrigues de Souza (1918) e projeto da museografia por Antonio Carlos Martins (2005). Acervo SPT/CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2005. ........................................................................................................................ 135 Figura 65 Museu de Astronomia e Cincias Afins Exposio Einstein e a Amrica Latina Edifcio sede do MAST mezanino: painel do Mdulo Einstein para alm da cincia: poltica e diplomacia. Acervo SPT/CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2005. ........................................................................................................................ 136 Figura 66 Museu de Astronomia e Cincias Afins Exposio Einstein e a Amrica Latina Edifcio sede do MAST Hall: painel do Mdulo Entrada, Einstein passeia de bicicleta pelo Universo. Acervo SPT/CMU/MAST/MCTI. Fotografia: Ivo Almico, 2005. ........................................................................................................................ 136 Figura 67 - Fachada principal do edifcio anexo sede do MAST. Acervo Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI). Fotografia: Jaime Acioli, 2011. ......................... 138 Figura 68 Prancha 01/04 (Levantamento e proposta de usos) do trreo do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011. ....................... 139 Figura 69 Prancha 02/04 (Levantamento e proposta de usos) do primeiro pavimento do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 141 Figura 70 Prancha 03/04 (Levantamento e proposta de usos) do segundo pavimento do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 143 Figura 71 Prancha 04/04 (Levantamento e proposta de usos) do terceiro pavimento do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 145

  • xvii

    LISTA DE GRFICOS:

    Grfico 1 Anlise de percentuais (pavimento trreo) dos usos atuais dos espaos do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011. ....................... 140 Grfico 2 Anlise de percentuais (pavimento trreo) dos usos futuros dos espaos do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011. ....................... 141 Grfico 3 Anlise de percentuais (primeiro pavimento) dos usos atuais dos espaos do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 142 Grfico 4 Anlise de percentuais (primeiro pavimento) dos usos futuros dos espaos do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 142 Grfico 5 Anlise de percentuais (segundo pavimento) dos usos atuais dos espaos do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 144 Grfico 6 Anlise de percentuais (segundo pavimento) dos usos futuros dos espaos do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 144 Grfico 7 Anlise de percentuais (terceiro pavimento) dos usos atuais dos espaos do edifcio sede do MAST. Acervo Servio de Produo Tcnica (SPT/CMU/MAST/MCTI). Arquitetos: Antonio Carlos Martins e Fabola Belinger Angotti, 2011............................................................................................................. 145

  • xviii

    SUMRIO:

    INTRODUO 20

    CAPTULO 1 27

    1. ARQUITETURA DE MUSEUS: articulando saberes. 28 1.1. A Museologia e o museu 30 1.2. A Arquitetura e o museu 39 1.3. O dilogo: a Arquitetura e a Museologia 45

    CAPTULO 2 55

    2. UMA VISITA AO MUSEU DE ASTRONOMIA E CINCIAS AFINS 56 2.1. Abrindo as portas da casa ... 57 2.2. Que Arquitetura essa? 74 2.2.1. O observatrio no morro de So Janurio 79 2.2.2. O Ecletismo e o prdio do Observatrio Nacional 83

    CAPTULO 3 94

    3. EXPOSIES TEMPORRIAS E PERMANENTES DO MAST: entre mudanas e permanncias 95 3.1. Brasil, acertai vossos ponteiros! 100 3.2. Energia Brasil! 107 3.3. Quatro cantos de origem 113 3.4. Olhar o cu, medir a Terra 120 3.5. Os espaos de exposio do MAST e o edifcio sede 132

    CONSIDERAES FINAIS 148

    REFERNCIAS 152

    ANEXOS 163

  • 19

    INTRODUO

  • 20

    INTRODUO

    Dentre as inmeras questes relacionadas a museus, um tema me interessou

    particularmente que se traduz nas possibilidades de dilogo entre a Arquitetura de

    Museus e a Museologia.

    Em 1990, em meados do ltimo ano da minha formao como estudante de

    Arquitetura1, ingressei no Museu de Astronomia e Cincias Afins (MAST) como

    bolsista de iniciao cientfica, tendo como orientador da pesquisa, o

    Dr. Henrique Lins de Barros. Percorri um longo trajeto de experimentaes na atuao

    como arquiteto elaborando projetos de exposio para os espaos do museu.Sob a

    coordenao da professora Dra. Maria Esther Alvarez Valente2, poca responsvel

    pelo Departamento de Museologia do MAST, integrei o grupo de profissionais de

    vrias formaes que se ocuparam da organizao e pesquisa sobre o acervo

    museolgico, bem como da exposio Brasil acertai vossos ponteiros!em fase de

    elaborao. naquele perodo.

    Em 1993, a convitedo muselogo Maurcio Elias Caldas3, naquele perodo

    responsvel pela Coordenao de Museologia, participei do projeto e da execuo da

    exposio permanente Quatro Cantos de Origem4 sob a curadoria do fsico Henrique

    Gomes de Paiva Lins de Barros5.

    A oportunidade das experincias integrando a equipe do MAST, seria o incio

    de um processo em que as diferentes inseres em atividades que aliavam os

    conhecimentos da Arquitetura, minha rea de formao, e a Museologia sederam de

    forma efetiva. Sendo assim, a minha participao na exposio permanente Quatro

    Cantos de Origem (19952010) representou um passo significativo no que diz

    respeito a ocupao de espaos em edifcios histricos em uso como museus.

    1 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ), localizada na Ilha do

    Fundo Rio de Janeiro RJ. 2 Historiadora formada pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestrado em Educao pela

    PUC-Rio, doutorado em Histria da Cincia pelo Instituto de Geocincias da UNICAMP, atualmente tecnologista senior no MAST e atua como pesquisadora sobre os temas: educao em museus, educao no-formal e educao

    em cincias, divulgao cientfica, cultura cientfica e histria da Museologia. 3 Muselogo formado na Faculdade de Museologia/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO), foi chefe da

    Coordenao de Museologia (CMU/MAST) de 1993 a 1995. 4 Descreveremos mais detalhadamente esta exposio no Captulo 3 desta dissertao.

    5 Fsico pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestrado em Fsica PUC-Rio, doutorado em

    Fisica pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas (CBPF), foi diretor do MAST entre 1992 a 2000, atualmente

    biofsico e pesquisador titular do CBPF/MCTI.

  • 21

    Durante o percurso profissional tive a oportunidade, em 2000, de participar em

    uma viagem de pesquisa realizada ao lado de Mrio Chagas6, Marcelo Arajo7,

    Cristina Bruno8, Cludia Mrcia9, Marcelo Cunha10, Tereza Martins11, Tadeu Chiarelli12

    e Zita Possamai13, todos com bolsa de estudo da Fundao Vitae14, na primeira edio

    do programa com o objetivo de contribuir para a reflexo em torno de importantes

    questes museolgicas em museus nas cidades de Washington15, Chicago16 e New

    York17, a fim de compartilhar conhececimentose vivenciar as propostas de trabalho

    realizadas nas exposies dos mais diversos tipos de museus e a forma de

    apresentao dos seus acervos. Foi uma oportunidade nica de ampliar os horizontes

    na rea, assim como poder compartilhar experincias ao lado de profissionais dos

    diversos museus visitados. Todas essas experincias motivaram e definiriam o que

    seria a mola propulsora na minha vida profissional: permitir vivenciar as prticas e

    conhecimentos da arquitetura, sobretudo em um edifcio histricoe aliar s novas

    prticas e conhecimentos adquiridos no universo museolgico que se abria em direo

    ao fortalecimento de minha carreira como profissional, atuando no mundo dos museus.

    Em 09 de junho de 2009, habilitado em concurso pblico, aps 19 anos de

    trabalho no MAST, formalizou-se o que chamo de marco decisivo na minha carreira,

    fundamentando a base necessria que culminaria em 2010 com oingresso no

    6 Mrio Chagas Muselogo, doutorado em Cincias Sociais pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

    (UNI-RIO), atualmente diretor do Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus (DPMUS/IBRAM/MinC). 7 Marcelo Mattos Arajo Advogado, muselogo, Dr. pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/Universidade de So

    Paulo (FAU/USP), foi diretor do Museu Lasar Segall, diretor da Pinacoteca do Estado de So Paulo e atualmente Secretrio de Cultura do Estado de So Paulo. 8 Maria Cristina de Oliveira Bruno Museloga, professora de Museologia no Museu de Arqueologia e Etnologia da

    Universidade de So Paulo (MAE/USP). 9 Cludia Mrcia Ferreira Historiadora, na poca vinculada ao Museu do Folclore Edson Carneiro ( ).

    10 Marcelo Nascimento da Cunha - Muselogo, Doutor em Histria pela PUC-SP, professor do Departamento de

    Museologia e da Ps-Graduao em Estudos tnicos e Africanos na Universidade Federal da Bahia. 11

    Maria Tereza Pitanga Martins Profissional de museu, na poca vinculada ao Museu Histrico Nacional (MHN) 12

    Tadeu Chiarelli Doutor em Artes pela Universidade de So Paulo (USP), professor titular da USP. 13

    Zita Rosane Possamai Historiadora, Doutora em Histria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na poca vinculada ao Museu Jos Joaquim Felizardo. 14

    Fundao Vitae Apoio Cultura, Educao e Promoo Social. Participao no Programa de Visitas Tcnicas em Grupos a Museu Norte-Americanos, organizado pela Vitae e National Gallery of Arts sob o tema Exposies de Longa Durao e a Dinamizao dos acervos em busca de novos pblicos, no perodo de 20/10/2000 a 04/11/2000. 15

    Museus visitados em Washington: National Gallery of Arts (NGA), The Holocaust Museum, National Air and Space Museum, Newseum, Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, National Museum of American History, Mont Vernon. 16

    Museus visitados em Chicago:The Art Institute, The Field Museum, The Frank Lloyd Home and Studi Foundation,

    The Mexican Museum. 17

    Museus visitados em New York: Ellis Island, The Frick Cllection, The Museum of Modern Art (MOMA), The American Museum of Natural History, The Studio Museum in Harlen, Guggenheim Museum, Metropolitan Museum of National

    History (MMNH).

  • 22

    Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio (PPG-PMUS)18 como aluno

    aprovado, em 10 lugar, no processo de seleo.

    Em 1997, com o ingresso do engenheiro Marcus Granato19 na Coordenao de

    Museologia (CMU/MAST) para coordenar a equipe de profissionais do Servio de

    Exposies no qual desenvolvi e coordenei projetos de exposies para os espaos

    do conjunto arquitetnico do MAST e o Servio de Conservao e Processamento

    Tcnico do Acervo chefiado pela museloga Cludia Penha dos Santos20. Destaco a

    interveno nos espaos do Pavilho da Luneta Equatorial de 32cm, em que o estudo

    em equipe possibilitou uma adequao formal entre o espao e a proposta de insero

    dos equipamentos museogrficos na exposio Espao Espectroscopia21, aliados

    disposio em que a forma de apresentao do acervo objetivava a compreenso dos

    conhecimentos cientficos. Neste exemplo, em que o espao fsico era uma limitao,

    acabou tornando-se o elemento que favoreceu e contribuiu para a formalizao da

    proposta final, agregando conhecimento neste processo em que o envolvimento com

    as prticas e as teorias da Arquitetura e da Museologia possam convergir para

    interagir. Minhas atividades se estenderam ainda para a Preservao do Patrimnio

    Edificado Tombado, aps a concluso do curso de Ps-Graduao em Gesto e

    Restauro Arquitetnico22, o qual possibilitou ampliar a participao no desenvolvimento

    de projetos de interveno, restaurao e conservao de bens arquitetnicos

    histricos sob a guarda do MAST.

    O principal compromisso, ao longo dos anos de experimentaes e pesquisas,

    foi procurar desenvolver propostas museogrficas que no interferissem na

    integridade material das edificaes; e, a partir deste raciocnio manter a linguagem

    esttica e espacial, de forma que possibilitasse ao visitante vivenciar as diversas

    ambincias do edifcio e da museografia, ora como um conjunto, ora isoladamente.

    18

    Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio (PPG-PMUS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO) em parceria com o Museu de Astronomia e Cincia Afins (MAST). 19

    Marcus Granato Engenheiro Metalrgico e de Materiais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestrado em Engenharia Metalrgica e de Materiais pela UFRJ, doutorado em Engenharia Metalrgica e de Materiais pela COPPE/UFRJ. Atualmente chefia a Coordenao de Museologia (CMU/MAST/MCTI), vice-coordenador e professor do mestrado e do doutorado do Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio (PPG-PMUS). 20

    Cludia Penha dos Santos Museloga pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO), mestrado em Histria das Cincias pela Casa de Oswaldo Cruz / Fundao Oswaldo Cruz (COC/FIOCRUZ). Atualmente Tecnologista e responsvel pelo Ncleo de Documentao e Conservao de Acervo Museolgico no MAST/MCTI. 21

    O Espao Espectroscopia foi uma exposio inaugurada em 2000 no MAST que ocupou os espaos do pavilho da Luneta Equatorial de 32cm. Um dos diferenciais desta exposio foi apresentar os instrumentos cientficos do acervo fazendo parte das experincias cientficas abordadas. 22

    Curso de Ps-Graduao em Gesto e Restauro Arquitetnico da Universidade Estcio de S (UNESA RJ) Aluno da segunda turma do curso, formado em 2007 com o estudo Arquitetura, conservao e identidade: um estudo

    sobre o pavilho da luneta meridiana Bamberg orientado pela arquiteta e professora Flvia Boghossian.

  • 23

    Josep Maria Montaner23, terico dos estudos da Arquitetura de Museus, ao

    apresentarsuas prerrogativas nosencontros e congressos de debates sobre esta rea

    de conhecimento, afirma que o museu sempre tem uma pluralidade de vises, de

    registros, de fenmenos24.

    Sendo assim, os objetivos da dissertao so:

    Reconhecer o processo de reconverso de bens de natureza cientfica

    em bens de valor histrico e patrimonial.

    Identificar a tipologia arquitetnica do edifcio construdo para sediar a

    administrao do Observatrio Nacional do Rio de Janeiro, atravs de

    anlises dos espaos e dos desenhos do projeto original, visando

    reconhecer os processos de reconverso voltados para a utilizao de

    seus espaos para museu identificando-o como MAST.

    Apresentar o contexto em que o MAST, atravs de sua arquitetura e de

    suas exposies, percorre uma trajetria como instituio museolgica.

    Contribuir para a realizao de outros estudos que articulem pesquisas

    em Arquitetura de Museus,ea Museologia.

    No estudo, ora apresentado, optei pela seguinte diviso estrutural da

    dissertao:

    No captulo 1, ARQUITETURA DE MUSEUS: articulando saberes

    apresentam-se consideraes tericas da Arquitetura e da Museologia que possam

    auxiliar na compreenso das relaes entre essas reas de conhecimento de forma a

    apresentar o dilogo entre a linguagem da arquitetura e o discurso museolgico nas

    ambincias do edifcio sede do MAST.

    Na vasta literatura sobre essa relao arquitetura de museus/museologia

    sublinhoespecialmente os estudos sobre reconverso de edifcios histricos de

    Benedito Lima Toledo25 e de Josep Maria Montaner26 que apresentam as misturas e os

    hibridismos na utilizao de edifcios que originalmente foram idealizados para

    23

    Josep Maria Montaner Arquiteto, especialista em Arquitetura de Museus, professor da Escola de Arquitetura de Barcelona. 24

    MONTANER, Josep Maria. Arquitetura de museus no Brasil. In: GUIMARAENS, Ca; IWATA, Nara (Orgs.) Anais do seminrio museus, arquitetura e reabilitao urbana. Rio de Janeiro: FAU/PROARQ/UFRJ, 2003. CD-ROM. 25

    Benedito Lima Toledo arquiteto e professor-titular de Histria da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/Universidade de So Paulo (FAU/USP). 26

    Op.cit.

  • 24

    diversos tipos de usos e transformados em instituies museolgicas. Nesse processo,

    pretende-se destacar a responsabilidade dos gestores de museus nas suas atuaes

    quanto ao binmio forma/funo da arquitetura. importante ressaltar que no

    planejamento e na elaborao dos programas que devem atender aos diferentes

    edifcios que passam por processos de reconverso focados na utilizao como

    museus, deve-se sempre destacar que as inmeras atividades museolgicas

    desenvolvidas pelas equipes interdisciplinares que trabalham nestas instituies

    museolgicas esto intrinsecamente ligadas aos espaos destes edifcios.

    Ser apresentado, ainda e segundo estudos de Andr Desvalles27 e Franois

    Mairesse28, um panorama da linguagem tipolgica dos edifcios de museus, de forma a

    mostrar como as referncias imagticas representadas pelos elementos de

    composio utilizados na arquitetura, voltadas para a reconverso de edifcios

    histricos e suas vrias leituras que so re-significadas, re-transformadas, re-

    simbolizadas e re-figuradas, exemplificando a ideia que temos dos edifcios que

    abrigam museus.

    No capitulo 2, UMA VISITA AO MUSEU DE ASTRONOMIA E CINCIAS

    AFINS, apresentam-se aspectos da histria do edifcio do MAST, ressaltando o

    processo que resultou na criao do museu, na alterao de suas funes originais e

    no programa das funes de uso de sua atual configurao espacial.

    Descreve-se tipologicamente o edifcio sede do MAST, de maneira a mostrar

    como a utilizao de determinados elementos arquitetnicos na sua composio,

    aliados aoprograma do projetoque definiu as necessidades e usos para o seu

    funcionamento, fazem refernciaa representao formal do estilo ecltico da

    edificao. Para esta descrio, propomos como ferramenta de anlise o uso de

    desenhos do projeto do edifcio (plantas baixas, cortes, fachadas, etc.), estudos

    relacionados a tipologia arquitetnica, bem como osusos propostos para utilizao dos

    espaos internos.

    Alm disso, visualiza-se o bairro Imperial de So Cristvo em perspectiva

    vo-de-pssaro29 utilizando mapas do Google Earth30 para apontar o MAST como um

    27

    DESVALLES, Andr; MAIRESSE, Franois. Dictionnaire encyclopdique de musologie. Paris: Armand Colin, 2011. 28

    Ibidem. 29

    SANDEVILLE JR., Euler; DERNTL, Maria Fernanda. Imagens de uma capital: Paris nas perspectivas vo-de-pssaro entre os sculos XVI e XVIII. RISCO Revista Pesquisa Arquitetura Urbanismo. 2007, n.5, p. 53. Disponvel em: . Acesso em: 03/04/2012.

  • 25

    dos vrtices de um tringulo formado por duas outras instituies de pesquisa

    cientfica de origem centenria e de natureza cientfica e tecnolgica que residem em

    edifcios histricos, e que atuam no mbito das atividades museolgicas, a saber: o

    Museu Nacional e o Museu da Vida/Fundao Fiocruz.

    No captulo 3, EXPOSIES TEMPORRIAS E PERMANENTES DO MAST:

    entre mudanas e permanncias, procuraremos destacar caractersticas dos

    espaos do MAST, contemplando sua funo atual como instituio museolgica,

    abordando os desafios a enfrentar na soluo de problemas de ordem programtica

    para possibilitar cumprir esta funo, e descrevendo alguns dos seus discursos

    museogrficos.

    Nesta anlise so apresentadas quatro propostas museogrficas (duas

    exposies temporrias e duas permanentes) de forma a exemplificar como tais

    exposies constroem novas ambincias, ao participarem como protagonistas e/ou

    antagonistas, nos espaos do edifcio do sede do MAST.

    Exposies temporrias:

    Brasil acertai vossos ponteiros! (1990 1991)

    Energia Brasil! (2006 2007)

    Exposies permanentes:

    Quatro cantos de origem (1995 2010)

    Olhar o Cu, Medir a Terra (2011)

    Os espaos de exposio e seus desafios contemporneos so apresentados

    atravs do estudo do panorama da configurao espacial do edifcio do MAST focado

    no seu uso atual e, como esta situao se reflete nos desafios contemporneos a

    serem enfrentados pela instituio? A resposta pode estarna soluo dos problemas

    de ordem programtica eorientao dirigida para o planejamento das atividades

    museolgicas que funcionam nestes espaos, assim como as propostas elaboradas

    para este fim.

    Na anlise so utilizados desenhos de representao da arquitetura do edifcio

    sede, assim como grficos que demonstrem as percentagens das reas em uso

    30

    Infogrfico com base em vista rea do Google Earth. Infogrfico: Ivo Almico. Disponvel em

    Acesso em 03/04/2012.

  • 26

    considerando as atividades consideradas prioritrias, ou no, dos espaos do museu.

    A partir dos grficos, pretende-se destacar os usos atuais e a proposta de usos futuros

    para estas reas. Finalizando, sero descritas as aes qualitativas realizadas na

    infraestrutura do edifcio que proporcionam o funcionamento adequado e a realizao

    das atividades voltadas para os visitantes do MAST.

    Nas CONSIDERAES FINAIS, procuraremos sublinhar os aspectos

    estudados nesta dissertao, de forma a apresentar o(s) resultado(s) e concluses

    desta pesquisa.

    As questes consideradas relevantes, no estudo, podero contribuir para

    pesquisas futuras que permitam desdobramentos nos campos da arquitetura e da

    museologia.

    Pretende-se, tambm, que a pesquisa possa contribuir para permitir adquirir

    uma maior abrangncia na compreenso, no direcionamento, e no posicionamento e

    na formulao de um projeto de pesquisa para a carreira profissional deste profissional

    que acredita no dilogo acadmico estimulante entre a arquitetura e a museologia.

  • 27

    CAPTULO 1

    ARQUITETURA DE MUSEUS: articulando saberes.

  • 28

    1. ARQUITETURA DE MUSEUS: articulando saberes.

    Durante o Simpsio Temtico Arquitetura, Patrimnio e Museologia31que

    ocorreu no Rio de janeiro em 2010, foram explorados, entre diversos assuntos

    inerentes ao tema proposto, o contexto e conceitos da articulao entre a Arquitetura e

    a Museologia. Na ocasio a arquiteta Ca Guimaraens32 enfatizou este aspecto e

    apresentou importantes reflexes sobre a temtica.

    Respeitadas as caractersticas genticas singulares, a consolidao da Arquitetura e da Museologia na condio de campos disciplinares ocorreu de modo simultneo a partir de meados do sculo XVIII. Porm, desde o incio do sculo XX, as disposies sobre a preservao e a guarda de objetos patrimonializveis e musealizveis cuja quantidade cresce de modo irreversvel em natureza e volume, o que torna inadministrvel esta proliferao , passaram a exigir a realizao de aes de dilogo em nveis interdisciplinares.33

    Segundo a autora, face crescente patrimonializao de todo o existente e

    consequente musealizao do espao urbano, a funo social e a hermenutica da

    arquitetura dos edifcios de museus adquirem importncia singular34. Em nossa

    sociedade prevalece o consumo imediato que nos leva ao acmulo de bens que, ao

    mesmo tempo, so descartados na mesma velocidade que so consumidos. A

    respeito dessa considerao Andreas Huyssen lana uma pergunta:

    Mas quais so os efeitos dessa musealizao e como podemos ler essa obsesso pelos vrios passados rememorados, esse desejo de articular a memria na pedra ou em qualquer outro material permanente?35

    Aps a Segunda Guerra Mundial, no ocidente, um nmero significativo de

    museus enfrentou uma profunda reviso em sua estrutura tradicional.

    O grande aumento do pblico, a acelerao da inovao cientfica e tecnolgica,

    assim como as mudanas culturais na sociedade, caracterizada por uma orientao

    voltada para o consumo, consolida novos grupos de classes emergentes de consumo

    de massa. Decorrente do novo cenrio cresce o turismo internacional, com base nas

    31

    Simpsio Temtico Arquitetura, Patrimnio e Museologia I ENAPAQ. Rio de Janeiro, 2010. 32

    Ca Guimaraens Arquiteta, Doutora em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), professora associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Programa de Ps-Graduao em Arquitetura (UFRJ/FAU PROARQ. Pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisa Cientfica (CNPq). 33

    GUIMARAENS, Ca. Arquitetura, Patrimnio e Museologia. In: Simpsio Temtico Arquitetura, Patrimnio e Museologia, I ENAPARQ. Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2010, p. 2. 34

    GUIMARAENS, Ca. Arquitetura, Patrimnio e Museologia. In: Simpsio Temtico Arquitetura, Patrimnio e Museologia, I ENAPARQ. Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2010, p. 1. 35

    HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela Memria: arquitetura, monumentos, mdia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000,

    p.74.

  • 29

    necessidades culturais, impulsionando o museu a uma transformao, de lugar de

    conservao e contemplao esttica em espao de ativa elaborao cultural.

    Portanto, na criao dos espaos para museus a arquitetura e a museologia so

    indissociveis. A reflexo de Jean-Louis Cohen36 nos auxilia nesta aproximao:

    Larchitecture est une activit savante, mais dont les productions ont une prsence quotidienne. Cette discipline millnaire, dont le XVIIe sicle a cru voir lorigine dans lacabane des hommes primitifs, a connu de profonds changements au cours du XXe sicle. Lchelle, les matriaux, les destinataires de larchitecture ont t profondment renouvels, mais la fonction symbolique, le sens social de la discipline sont demeurs tels quen eux-mmes. Plus, lorsquun inventeur radical comme Le Corbusier sugere sa clbre dfinition de larchitecture comme jeu savant, correct et magnifique des volumes assembls sous la lumire, il construit une relation intense avec les archtypes grecs, quil met en rapport avec les machines modernes. La tension entre les codes et les schmes historiques et linterprtation du monde contemporain na cess, depuis, de marquer la rflexion sur larchitecture.

    37

    Nesse sentido, processa-se uma construo complexa. A Arquitetura

    representa o edifcio em que a Museologia, vai atuarcom a finalidade principal, de

    promover o debate intelectual entre o conhecimento e a sociedade. Isto se d no

    mbito da esfera pblica, o museu deve ser uma instituio aberta a todos com

    atributos de espao de convivncia social.38 Considerando essas afirmaes a citao

    do artista contemporneo Daniel Buren39 pode contribuir na discusso sobre a relao

    do espao e o sentido dado ao que exposto, para quem e como exposto.

    A BIT OF BREAD An empty museum or gallery means nothing, to the extent that it can at any time be transformed into a gym or a bakers, without changing what will take place there or will be sold there, in terms of Works of art in the future, since the social status will also have changed. Plancing/exhibiting a work of art in a bakers will in no way change the function of the aforementioned bakers, which will never change the work of art into a bit of bread either. Plancing/exhibiting a bit of bread in a museum will in no way change the function of the aforementioned museum, but the will change the bit of bread into a work of art, at least for the duration of its exhibition. Now lets exhibit a bit of bread in a bakers and it will be very difficult, if

    36

    Jean Louis Cohen Arquiteto francs, doutor em histria da Arte, professor de Histria da Arquitetura do Institute of Fine Arts - New York University e da Universit de Paris. 37

    COHEN, Jean-Louis. L architecture, entre image et usage. In: MICHAUD, D Yves (org.). Universit de tous les savoirs L art et la culture. v. 20. Paris: Odile Jacob, 2002, p. 249. 38

    VALENTE, Maria Esther Alvarez. Educao em museu: o pblico de hoje no museu de ontem. Orientador: Vera Maria F. Candau. Dissertao de mestrado, Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 1995. 39

    Daniel Buren Artista Plstico francs formado pela Ecole Nationale Suprieure de Mtiers dArt.

  • 30

    not impossible, to distinguish it from the others bits of bread. Now lets exhibit a work of art of any kind in a museum: can we really distinguish it from other works of art?

    40

    A padaria no vai transformar o po em peixe ou objeto de arte. Um objeto de

    arte na padaria no transforma-se em po. A funo do lugar no muda em relao ao

    que exposto ou como exposto e para quem exposto. Os edifcios so

    identificados pelas suas funes.

    No Brasil, a formao da maioria dos museus tem sua base na arquitetura

    representativade edifcios conformadores do patrimnio nacional, ampliando os

    elementose as relaes entre arquiteturae museologia com mais um aspecto, o

    patrimnio. Esta associao entre a arquitetura, a museologia e o patrimnio vem

    ampliar cada vez mais os debates acerca dos temas relacionados ao uso de edifcios

    histricos e ou de diferentes origens dos museus.

    1.1. A Museologia e o museu

    [...] a Arquitetura deve ser considerada por ns com a maior seriedade. Ns podemos viver sem ela, e orar sem ela, mas no podemos rememorar sem ela. Como fria toda a histria, como sem vida toda fantasia, comparada aquilo que a nao vivaescreve, e o mrmore incorruptvel ostenta! quantas pginas de registros duvidosos no poderamos ns dispensar, em troca de algumas pedras empilhadas umas sobre as outras!

    41

    John Ruskin42 afirma que a Arquitetura representa a consagrao da

    materializao de registros da nossa memria e acrescenta:

    [] h apenas dois fortes vencedores do esquecimento dos homens, Poesia e Arquitetura. E a ltima de alguma forma inclui a primeira, e mais poderosa na sua realidade: bom ter ao alcance no apenas o que os homens pensaram e sentiram, mas o que suas mos manusearam, e sua fora forjou, e seus olhos contemplaram, durante todos os dias de suas vidas.

    43

    40

    BUREN, Daniel. Function of architecture. In: GREENBERG, Reesa; FERGUSON, Bruce W.; NAIRNE, Sandy.

    Thinking about exhibitions. London/ New York: Routledge, 1996, p. 314. 41

    RUSKIN, John. A lmpada da memria. Traduo e apresentao Maria Lucia Bressan Pinheiro; reviso Beatriz e Gladys Mugayar Khl. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2008, p. 54. 42

    John Ruskin (1819-1900) O principal terico da preservao na Inglaterra do sculo XIX, foi um dos maiores e mais perspicazes crticos das profundas transformaes por que passava ento o pas. 43

    RUSKIN, John. A lmpada da memria.Traduo e apresentao Maria Lucia Bressan Pinheiro; reviso Beatriz e

    Gladys Mugayar Khl. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2008, p. 54-55.

  • 31

    A partir das reflexes de Ruskin44, prope-se argumentar as possibilidades da

    relao entre a Arquitetura e a Museologia. Pensar a Arquitetura como a casa e a

    Museologia com os mveis. A casa que abriga, acolhe, identifica e possibilita ser-eu-

    prprio, ela interage pois, necessariamente, com aquela dimenso essencial de ns-

    mesmos, a Memria. Os mveis que guardam as Memrias expressam a

    personalidade dos moradores, sua herana, falam a respeito dele e com ele, contam

    suas experincias de mundo.

    Segundo o arquiteto lvaro Siza Vieira45 o museu propicia relaes que se

    ampliam a partir de nossas prprias experincias. E essas relaes so ilimitadas,

    mas se valem sempre da forma de olhar de cada um de ns. Assim, o autor diz que:

    A origem do Museu a casa. Antes de haver museus, as colees estavam em palcios. No quis estabelecer uma diferena muito acentuada entre o museu e a casa: a sucesso de quartos, os espaos amplos Ouvi alguns crticos dizerem que o museu no tem escala pblica. Mas esse um conceito de espao pblico historicamente limitado. Se forem, por exemplo, a Acrpole, no vem coisas monumentais, vem espao Quando chegamos no vemos o Parthenon, vemos Atenas

    46

    O estudo recente elaborado porAndr Desvalles47 eFranois Mairesse48,

    utilizando-se da contribuio de vrios profissionais engajados no campo da

    museologia, apresentam conceitos-chave da museologiapara a definio de museu, a

    saber:

    [] una institucin museal permanente que preserva coleciones de documentos corpreos y produce conocimiento a travs de ellos

    49.

    [] un lugar donde las cosas y los valores relacionados con ellas son salvaguardados y estudiados, como as tambin comunicados en tanto signos, a fin de interpretar hechos ausentes

    50 o de manera

    44

    Op. cit.. 45

    lvaro Siza Vieira Arquiteto portugus, laureado pelo Prmio Pritzker em 1992. 46

    SIZA, lvaro Apud. FONSECA, Teresa. Os museus de lvaro Siza como patrimnio das cidades, trs estudos de caso. In: GUIMARAES, Ca (org,). Museografia e arquitetura de museus. Rio de Janeiro: FAU/PROARQ, 2010, p. 102. 47

    Andr Desvalles Conservador, terico do Comit Internacional de Museologia do ICOM (ICOFOM), professor de museologia da Escola do Louvre. 48

    Franois Mairesse Professor da Universidade de Paris e da Escola do Louvre e diretor do Muse Royal de Mariemont (Blgica). 49

    MENSCH, Peter van.Towards a methology of museology.Thse de doctorat. Zagreb: University of Zagreb, Faculty of Philosophy, 1992. Apud. DESVALLES, Andr; MAIRESSE, Franois. Conceptos claves de museologia.[S.l.]:

    Armand Colin, 2010. Disponvel em: Acesso em: 26/01/2012. 50

    SCHRER, Martin R. Die ausstellung Theorie und exempel. Mnchen, Mller-Straten, 2003. Apud. DESVALLES, Andr; MAIRESSE, Franois. Conceptos claves de museologia. [S.l.]: Armand Colin, 2010. Disponvel em: Acesso em:

    26/01/2012.

  • 32

    tautolgica, el lugar donde se produce la musealizacin. Ampliando el concepto, el museo puede ser apreendido como un lugar de memoria

    51, un fenmeno

    52, que engloba instituciones, lugares

    diversos,territorios y experiencias lase espacios inmateriales.53

    Estas diferentes maneiras de vermos o museu, segundo Alissandra Cummins54,

    presidente do International Council of Museums (ICOM) no perodo de 2004 a 2010,

    esto associadas ao processo de desenvolvimento de nossa compreenso que

    envolve a prtica e a teoria dos museus e do trabalho que ocorre todos os dias dentro

    destas instituies.

    De acordo com o estatuto do ICOM55adotado durante a 21a Conferencia Geral

    em Viena ustria em 2007, o museu : um estabelecimento permanente, sem fins

    lucrativos, a servio da sociedade e de seu desenvolvimento, aberto ao pblico, que

    coleciona, conserva, pesquisa, comunica e exibe, para o estudo, a educao e

    entretenimento, a evidncia material e imaterial do homem e seu meio ambiente.

    O regimento do ICOM tambm inclui zoolgicos e jardins botnicos na

    categoria instituies museolgicas.

    The definition of a museum has evolved, in line with developments in society. Since its creation in 1946, ICOM updates this definition in accordance with the realities of the global museum community.

    56

    No Brasil o Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do

    Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) / Ministrio da Cultura (MinC) (2005),

    apresenta a seguinte definio de museu:

    O museu uma instituio com personalidade jurdica prpria ou vinculada a outra instituio com personalidade jurdica, aberta ao

    51

    NORA, P. (dir.). Les lieux de mmoire. la republique, la nation, le France. v.8. Paris: Gallimard, 1984-1987. Apud. DESVALLES, Andr; MAIRESSE, Franois. Conceptos claves de museologia. [S.l.]: Armand Colin, 2010. Disponvel em:

    Acesso em: 26/01/2012. 52

    SCHEINER, Tereza Cristina. Muse et musologie. Dfinitions em cours. In: MAIRESSE, F. et DESVALLES, A. Vers une redefinition du muse ?. Paris, L`Harmattan, 2007, p.147-165. Apud. DESVALLES, Andr; MAIRESSE, Franois.

    Conceptos claves de museologia. [S.l.]: Armand Colin, 2010. Disponvel em: Acesso em: 26/01/2012. 53

    DESVALLES, Andr; MAIRESSE, Franois. Conceptos claves de museologia. [S.l.]: Armand Colin, 2010, p. 53. Disponvel em: Acesso em: 26/01/2012. 54

    Alissandra Cummins Diretora do Barbados Museum and Historical Society, foi presidenta do International Council of Museums (ICOM) em 2004. 55

    The Statutes are the foundations of the organization and its functioning. They specify the objectives, the mission and the organization of the structure. The new version of this essential document was adopted in 2007 during the 21st General Conference in Vienna (ustria). 56

    ICOM (International Council of Museums) Estatutos del ICOM. [S.l.], 2007. Disponvel: . Acesso: 18/03/2009.

  • 33

    pblico, a servio da sociedade e de seu desenvolvimento e que apresenta as seguintes caractersticas: I o trabalho permanente com o patrimnio cultural, em suas diversas manifestaes; II a presena de acervos e exposies colocada a servio da sociedade com o objetivo de propiciar a ampliao do campo de possibilidades de construo identitria, a percepo crtica da realidade, a produo de conhecimentos e oportunidades de lazer; III a utilizao do patrimnio cultural como recurso educacional, turstico e de incluso social; IV a vocao para a comunicao, a exposio, a documentao, a investigao, a interpretao e a preservao de bens culturais em suas diversas manifestaes; V a democratizao do acesso, uso e produo de bens culturais para a promoo da dignidade da pessoa humana; VI a constituio de espaos democrticos e diversificados de relao e mediao cultural, sejam eles fsicos ou virtuais. Sendo assim, so considerados museus, independentemente de sua denominao, as instituies ou processos museolgicos que apresentem as caractersticas acima indicadas e cumpram as funes museolgicas.

    57

    A museloga Teresa Cristina Scheiner58 nos ajuda a compreender o Museu,

    segundo os tericos da Museologia, a partir de sua natureza fenomnica (por meio da

    experincia de mundo de cada indivduo) e de sua pluralidade enquanto

    representao. Segundo Scheiner, a identidade dos museus hoje, est ligada

    compreenso de sua condio plural, mediador desta pluralidade junto a outras

    instancias de representao, fenmeno cultural em processo e no instituio

    compromisso com a identidade como processo, e no como verdade.

    O indivduo vivncia as suas experincias protagonista e participa neste

    mundo repleto de signos, cdigos e representaes dos sistemas comunicacionais.

    Uma palavra representa algo para a concepo na mente do ouvinte, um retrato representa a pessoa para quem ele dirige a concepo de reconhecimento, um cata-vento representa a direo do vento para a concepo daquele que o entende, um advogado representa seu cliente para o juiz e jri que ele influncia.

    59

    Neste ambiente cada indivduo cumpre determinados papis em sociedade,

    operacionalizando em redes diversos sistemas de escolhas e diversos tipos de

    compreenso. No sistema complexo de relaes sociais h um entrelaamento de

    atitudes, comunicaes em redes, e neste contexto os indivduos buscam uma espcie

    57

    INPHAN/MINC [Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional/Ministrio da Cultura]. Definio de museus.

    Departamento de Museus e Centros Culturais IPHAN/MinC outubro/2005. Disponvel em: . Acesso em: 18/06/2011. 58

    Tereza Cristina Moletta Scheiner Doutora em Comunicao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Museloga, professora da Universidade do Federal do Estado do Rio de Janeiro(UNI-RIO), coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio (PPG-PMUS/UNI-RIO/MAST), vice-presidente do ICOM. 59

    PEIRCE, Charles S.. O objeto de estudo da museologia. Apud. SANTAELLA, L.; NTH, W. Imagem: cognio,

    semitica, mdia. 1a edio. So Paulo: Iluminuras, 2008, p. 17.

  • 34

    de perenidade. Os indivduos recolhem seus objetos no mbito da materialidade e

    imaterialidade para preservar sua identidade.

    Condio que nos aproxima da reflexo do historiador britnico Eric Hobsbawm

    em que o passado uma dimenso permanente da conscincia humana, um

    componente inevitvel das instituies, valores e outros padres da sociedade

    humana.60

    Em 1980, no contexto do ICOFOM61, Zbynek Z. Strnsky62 formula o objeto da

    Museologia como sendo:

    [...] uma abordagem especfica do homem frente realidade cuja expresso o fato de que ele seleciona alguns objetos originais da realidade, insere-os numa nova realidade para que sejam preservados, a despeito do carter mutvel inerente a todo objeto e da sua inevitvel decadncia, e faz uso deles de uma nova maneira, de acordo com suas prprias necessidades.

    63

    Sendo assim, qual o papel essencial do museu? Conservar, guardar,

    apresentar, expor, pesquisar, etc.? Scheiner, durante aula ministrada na disciplina

    Teoria e Metodologia da Museologia64, nos levou a refletir sobre as especificidades da

    abordagem filosfica do campo museal: Existe um conceito de museu? A que

    problema esse conceito atende?

    Segundo Krzysztof Pomian65 (1994), as sociedades humanas tm o hbito de

    eleger, selecionar, reunir e guardar objetos desde a pr-histria. Com isso, fica

    evidente a relevncia, dos objetos no quotidiano dos indivduos e o lugar de destaque

    que ocupam as colees, ao longo da Histria, na tentativa de superar os limites da

    transitoriedade humana.

    Cristina Bruno66 nos lembra que h 12 anos, no I Encontro Nacional do ICOM,

    em Petrpolis, foi discutido fortemente o tema Museus e Comunidades no Brasil:

    60

    HOBSBAWM, Eric. J. O sentido do passado. In: _____. Sobre Histria. So Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.22. 61

    ICOFOM Comit para a Museologia do Conselho Internacional de Museus. 62

    Zbynek Zbyslav Strnsky Muselogo checo, enunciou a Museologia como disciplina cientfica e que o seu objeto de estudo no o museu. 63

    STRANSKY, 1980. Apud. MENSCH, Peter Van. O objeto de estudo da museologia. Traduo Dbora Bolsanello e Dolores Estevam Oliveira. Rio de Janeiro: UNI-RIO/UGF, 1994, p. 11-12. 64

    SCHEINER, Tereza Cristina. Programa de Ps-Graduao em Museologia e Patrimnio (PPG-PMUS/UNI-RIO/MAST). Questes proferidas em aula ministrada na disciplina Teoria e Metodologia da Museologia em 04 de Maio de 2010. 65

    Krzysztof Pomian Pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) em Paris (Frana), professor de filosofia da Universidade em Torun (Polnia), diretor acadmico do Europe Museum em Bruxelas. 66

    Maria Cristina Oliveira Bruno Museloga, professora de Museologia no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo (MAE/USP).

  • 35

    realidade e perspectivas. Neste encontro foi elaborado um documento com vrias

    propostas relativas aos distintos enfoques temticos do campo museal, a partir de um

    olhar que valorizou a ao comunitria. Ainda assim, os debates foram motivados

    pelos embates entre uma museologia tradicional e uma nova museologia.

    De instituies elitistas, colonizadoras, sectrias e excludentes, os museus tm procurado os caminhos da diversidade cultural, da repatriao das referncias culturais, da gesto partilhada e do respeito diferena de forma objetiva e construtiva. De instituies paternalistas e autoritrias, os museus tm percorrido os rduos caminhos do dilogo cultural e da convivncia com o outro. De instituies isoladas e esquecidas, os museus tm valorizado a atuao em redes e sistemas, procurando mostrar a sua importncia para o desenvolvimento socioeconmico. De instituies devotadas exclusivamente preservao e comunicao de objetos e colees, os museus tm assumido a responsabilidade por ideias e problemas sociais.

    67

    Um outro profissional de museus, Peter Van Mensch68 apresenta um panorama

    sobre os principais caminhos que os tericos tm apontado, no sentido de contribuir

    para a construo da Museologia como disciplina cientfica. De acordo com Mensch69,

    o ICOFOM indica que existem os segmentos de estudos, a saber:

    I) museologia como estudo da finalidade e organizao de museus;

    II) museologia como o estudo da implementao e integrao de um

    conjunto de atividades visando preservao e uso da herana cultural

    e natural;

    III) museologia como o estudo dos objetos de museu;

    IV) museologia como estudo da musealidade, e

    V) museologia como o estudo da relao especfica do homem com a

    realidade.

    Segundo Scheiner70, existem trs graus possveis de relao entre Museu e

    Museologia, a saber: Museologia como um conjunto de prticas relativas a museus, ou

    67

    BRUNO, Cristina. Museus e Patrimnio Universal. In: V Encontro do ICOM Brasil Frum dos Museus de Pernambuco, Recife, 2007, p.6. Disponvel em: . Acesso em:

    25/06/2011. ICOM International Council of Museums, Viena, 2007, p. 6. 68

    Peter van Mensch Terico da museologia, professor de Patrimnio Cultural na Reinwardt Academie (Amsterdam). 69

    MENSCH, 1994. Apud. BRUNO, Cristina. Museologia e museus: princpios, problemas e mtodos. In: Caderno de

    scio-museologia. [S.l.]: Centro de Estudos de Sociologia. Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias, 1997, p. 26. 70

    SCHEINER, Tereza Cristina. Museus e Museologia: uma relao cientfica? In: Cincias em Museu. v.1, n.1,

    Abril/1989, p. 59-63.

  • 36

    como a base terica que possibilita o trabalho dentro dos museus, ou ainda um

    conjunto de ideias que tem como objetivo criar uma linguagem de comunicao

    especfica para os museus e, neste sentido, capaz de gerar novas formas de museu.

    Sendo assim, possvel compreender o quanto a diversidade de museus est ligada

    s suas prticas.

    A autora afirma ainda que o termo Mouson expressa uma universalidade e

    simultaneidade para o que acreditamos ser a origem do Museu:

    Ao rever a gnese da ideia de Museu percebe-se que ela advm no da filosofia, mas do pensamento mtico; e est vinculada no ao templo das musas, mas s prprias musas - s palavras cantadas, responsveis, no panteo grego, pela manuteno da identidade do seu prprio universo. Expresso criativa da memria via tradio oral, so trazidas luz da conscincia pela ao dos poetas, ultrapassando todas as distncias espaciais e temporais para tornar presentes os fatos passados e futuros, fazendo o mundo e o tempo retornarem sua matriz original no como racionalidade, mas como Criao. Como voz da memria, so o que impede o esquecimento no pela materialidade, mas pela reiterao do canto: a mensagem mediada. Instncia de presentificao da capacidade humana de criar e memorizar cultura, as musas instauram, como canto o seu prprio espao: comunicao. As musas existem (e cantam) em continuidade pois a memria no tem comeo nem fim [...]71

    Esta a origem que acreditamos para o Museu: no o museion, templo das

    musas mas o Mouson, instncia de presentificao das musas, de recriao do

    mundo por meio da memria. Ele pode existir em todos os lugares, em todos os

    espaos, existir onde os indivduos estiverem, e na medida que assim for nominado.

    Scheiner nos apresenta o Museu como fenmeno, como uma construo do

    pensamento criada pela sociedade humana. O museu pode acontecer em qualquer

    espao, em qualquer tempo, em todas as sociedades e possuir as formas e categorias

    mais variadas(de Histria Natural, da Palavra, de Indstria, Militar, Ecomuseu, do

    Relgio, de Cincia e Tecnologia, de Escultura, de Arte, de Comunidades, do Mar, da

    Pessoa, Virtual, de Design, do Inconsciente, da Ecologia, do Crime, da Natureza,

    Jardins Botnicos, do Universo, do Amanh, e etc.), quantas o homem puder imaginar.

    Como visto anteriormente, o museu tambm a casa, os mveis, e tudo mais

    que o indivduo puder interpretar poe meio do seu ato criativo e intelectual. Neste

    sentido, a Arquitetura, e todas as formas construtivas passam a fazer parte deste todo

    71

    SCHEINER, Tereza Cristina. Museologia e Pesquisa: perspectivas na atualidade. In: GRANATO, Marcus; SANTOS,

    Cludia Penha dos (orgs.). MAST Colloquia Museu: Instituio de Pesquisa. Rio de Janeiro, v. 7, 2005, p. 90.

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    universalizado que deve ser preservado por constituir-se como patrimnio tambm

    passvel de ser musealizado.

    Segundo Rangel72, nos fins do sculo XX e incio do sculo XXI, o museu

    passa de uma instituio desprezada menina dos olhos das instituies culturais.

    O papel do museu, como um local conservador e elitista ou como bastio da

    tradio da alta cultura, d lugar ao museu como cultura de massa, como lugar de

    uma mise-en-scene espetacular e de exuberncia operstica. O museu est em

    processo de transformao e de articulao com sua pluralidade. Podemos dizer que

    isto repercute a partir da segunda metade do sculo XX, quando as sociedades

    estavam em busca de apropriaes e de legitimao de identidade. As cidades

    destrudas nos perodos de guerra precisavam ser reconstrudas, o desenvolvimento

    cientfico e tecnolgico trazia novas oportunidades de renovao e ideais de futuro por

    meiodas tecnologias e das mquinas com seu poder de produo em srie. O mundo

    estava sendo renovado rapidamente, assim como o processo de pensamento das

    diferentes disciplinas de conhecimento.

    Neste conjunto de mudanas o museu amplia seus espaos de atuao

    perante a sociedade, e os tericos e os profissionais se estruturam como foras

    polticas, atuando a frente dos comits e conselhos para estudos e discusses entorno

    dos temas sobre o Museu, a Museologia, as prticas profissionais e etc.

    O panorama se abre para uma democratizao do museu, e segundo Valente:

    O momento dos ltimos anos da dcada de 1960 e os primeiros de 1970 caracterizado por movimentos que buscam uma maior democratizao no mbito da sociedade, ao que se alia a aspirao de reformulao da instituio museu. Acelera-se a partir da o movimento de reestruturao do museu e a renovao dos olhares sobre a instituio, incindindo no s na relao com o pblico, mas tambm na reflexo sobre as disciplinas museolgicas, em que as colees de objetos so re-situadas. Estas no sero mais as nicas na obteno do conhecimento museolgico, um amplo campo de possibilidades aberto com a musealizao do imaterial, dos processos, dos fenmenos e das ideias, provocando outra aproximao com o carter educativo do museu.

    73

    72

    RANGEL, Marcio Ferreira. Aula ministrada na disciplina Teoria e Metodologia da Museologia do Programa de Ps-

    Graduao em Museologia e Patrimnio PPG-PMUS/UNI-RIO/MAST, em 19 de Abril de 2011. 73

    VALENTE, Maria Esther Alvarez. Educao e Museus: a dimenso educativa do museu. In:GRANATO, Marcus; SANTOS, Cludia Penha dos. (organizadores). MAST Colloquia Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas. Rio de Janeiro, v. 11, 2005, p. 83-98.

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    Waldisa Russio74, museloga que atuou nessas dcadas de renovao dos

    museus, props um museu questionador voltado para a crtica, a avaliao, a tica e a

    transformao: O museu deve ser compreendido como um processo em si mesmo,

    como uma realidade dinmica. [...] O museu no existe isoladamente, mas

    dinamicamente, na sociedade75

    A isto acrescenta-se a observao de Scheiner, ao dizer que o patrimnio

    uma das grandes articulaes simblicas do contemporneo j no mais como

    conjunto de valores atribudos ao espao geogrfico e aos produtos do fazer humano,

    mas como um valor plural, ao qual esto sendo atribudas novas signif icaes.76Assim

    a autora nos ajuda a pensar o patrimnio e suas relaes com diversos tipos de

    museus que passam a ser constitudos:

    A modernidade tardia permitiu pens-lo como espao de articulao entre as pequenas singularidades (indivduo, culturas locais e de vizinhana) e as instancias de representao articuladas sob a forma de organismos de gesto e de instancias oficiais de poder. No por acaso que tenham sido ento privilegiados o conceito de patrimnio integral e o modelo conceitual de museu de territrio cujas principais representaes foram, nas primeiras dcadas do sculo 20, os museus a cu aberto e, nas ltimas quatro dcadas, os ecomuseus. Hoje, quando as novas tecnologias apontam para novas e inusitadas relaes, definidas pelo ciberespao, o patrimnio adere ao tempo da mquina e ingressa como representao simblica do universo meditico.

    77

    Assim, podemos dizer a partir das reflexes de Scheiner que na atualidade,

    quando nada existe em permanncia, a ideia de patrimnio vem sendo re-significada,

    admitindo-se a existncia de vrios patrimnios78

    Segundo Andreas Huyssen79no h dvida que o mundo est sendo

    musealizado e que todos ns representamos os nossos papis neste processo80, ele

    74

    Waldisa Russio (1935 1990) Museloga, professora, fundou o Conselho Regional de Museologia de So Paulo (COREM-SP), sua participao no ICOFOM e no ICOM foram expressivas nos debates relativos Ecologia, Museologia e ao Patrimnio. 75

    RUSSIO, Waldisa. Museu um aspecto das organizaes culturais num pas em desenvolvimento. So Paulo: FESP, 1977, p. 132. Apud. CNDIDO, Manuelina Maria Duarte. Ondas do pensamento museolgico brasileiro. In: Cadernos de Sociomuseologia. Centro de Estudos Sociomuseolgico. [S.l.]: Universidade Lusfona de Humanidades

    eTecnologias, s.d, p. 79. Disponvel em: http://www.unirio.br/museologia/textos/ondas_do_pensamento_brasileiro.pdf> Acesso em: 18/03/2012. 76

    SCHEINER, Tereza Cristina. Museologia ou Patrimoniologia: reflexes. In:GRANATO, Marcus; SANTOS, Cludia

    Penha dos. (organizadores).MAST Colloquia Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas. Rio de Janeiro: MAST, v. 11, 2009, p. 50. 77

    SCHEINER, Tereza Cristina. Poltica e Diretrizes da Museologia e do Patrimnio na Atualidade. In: BITTENCOURT, Jos Neves; GRANATO, Marcus; BENCHETRIT, Sarah Fassa (Org.). Museus, Cincia e Tecnologia. Cadernos MHN.

    RJ: MHN, 2007, p. 36. 78

    SCHEINER, Tereza Cristina. Museologia ou Patrimoniologia: reflexes. In:GRANATO, Marcus; SANTOS, Cludia Penha dos. (organizadores).MAST Colloquia Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas. Rio de Janeiro: MAST, v. 11, 2009, p. 50-51.

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    observa o mundo como um todo, generalizado, sem particularidade e instncias de

    diferentes apropriaes, esquecendo-se que: cada um deles corresponde a um

    olhar.81

    O mesmo se pode dizer da Museologia:

    Entendidos como in