marinalda anselmo vilela · marinalda anselmo vilela padrÃo de resistÊncia antimicrobiana de...

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Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Mestrado em Saúde Pública PADRÃO DE RESIS PADRÃO DE RESISTÊNCIA TÊNCIA ANTIMICROBIANA DE CASOS DE INFECÇÕES ANTIMICROBIANA DE CASOS DE INFECÇÕES NOSOCOMIAIS NO RECIFE, PERNAMBUCO, NOSOCOMIAIS NO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL, 2002 BRASIL, 2002-2003 2003 Recife, 2004 MARINALDA ANSELMO VILELA

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  • Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva

    Mestrado em Saúde Pública

    PADRÃO DE RESISPADRÃO DE RESISTÊNCIA TÊNCIA

    ANTIMICROBIANA DE CASOS DE INFECÇÕES ANTIMICROBIANA DE CASOS DE INFECÇÕES

    NOSOCOMIAIS NO RECIFE, PERNAMBUCO, NOSOCOMIAIS NO RECIFE, PERNAMBUCO,

    BRASIL, 2002BRASIL, 2002--20032003

    Recife, 2004

    MARINALDA ANSELMO VILELA

  • MARINALDA ANSELMO VILELA

    PPAADDRRÃÃOO DDEE RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA AANNTTIIMMIICCRROOBBIIAANNAA DDEE

    CCAASSOOSS DDEE IINNFFEECCÇÇÕÕEESS NNOOSSOOCCOOMMIIAAIISS NNOO RREECCIIFFEE,,

    PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,, BBRRAASSIILL,, 22000022--22000033

    Orientador: Dra.Nilma Cintra Leal

    Co-orientador: Msc. Carlos Luna Feitosa

    RECIFE

    2004

    Dissertação apresentada ao Departamento de

    Saúde Coletiva – NESC do Centro de Pesquisas

    Aggeu Magalhães – CPqAM da Fundação

    Oswaldo Cruz – FIOCRUZ/MS para a obtenção

    do título de Mestre em Saúde Pública, área de

    concentração em Controle de Endemias e

    Métodos de Diagnósticos

  • DEDICATÓRIA

    ““AA DDeeuuss qquuee mmee ddeeuu ffoorrççaa ee ddeetteerrmmiinnaaççããoo

    nnaa rreeaalliizzaaççããoo ddeessttee ttrraabbaallhhoo,,

    aaooss mmeeuuss ppaaiiss,, aaooss ffaammiilliiaarreess

    ee aammiiggooss..””

    DDeeddiiccoo

  • ““CCoonnssiiddeerreemm aa ddiiffeerreennççaa ddee ttaammaannhhoo eennttrree aallgguummaass ddaass mmeennoorreess ee ddaass mmaaiioorreess

    ccrriiaattuurraass eexxiisstteenntteess nnaa TTeerrrraa.. UUmmaa ppeeqquueennaa bbaaccttéérriiaa ppeessaa 00,,000000 000000 0011

    ggrraammaa.. AA bbaalleeiiaa aazzuull ppeessaa cceerrccaa ddee 110000 000000 000000 ggrraammaa.. MMaass mmeessmmoo aassssiimm uummaa

    bbaaccttéérriiaa éé ccaappaazz ddee mmaattaarr uummaa bbaalleeiiaa.. ...... SSããoo ttããoo ggrraannddeess aa ccaappaacciiddaaddee ddee

    aaddaappttaaççããoo ee aa vveerrssaattiill iiddaaddee ddooss mmiiccrroooorrggaanniissmmooss,, ccoommppaarraaddooss aaooss sseerreess

    hhuummaannooss ee oouuttrrooss oorrggaanniissmmooss ttiiddooss ccoommoo ““ssuuppeerriioorreess””,, qquuee eelleess sseemm ddúúvviiddaa

    ccoonnttiinnuuaarrããoo aa ccoolloonniizzaarr ee aalltteerraarr aa ssuuppeerrffíícciiee ddaa TTeerrrraa llooggoo ddeeppooiiss qquuee nnóóss ee oo

    rreessttoo ddee nnoossssooss ccoo--hhaabbiittaanntteess ddeeiixxaarrmmooss aa cceennaa ppaarraa sseemmpprree.. OOss mmiiccrróóbbiiooss,, ee

    nnããoo ooss mmaaccrróóbbiiooss,, ddoommiinnaarrããoo oo mmuunnddoo..””

    BBeerrnnaarrdd DDiixxoonn,, 11999944..

  • AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

    Aos meus pais que sempre me apoiaram e me passaram o prazer pelos estudos. A Ronaldo Honório de Albuquerque, meu marido, que me deu todo apoio e compreensão. Aos meus filhos Felipe e Carolina, que souberam entender e aceitar a minha ausência. À Dra. Nilma Cintra Leal, pelas orientações na elaboração desse trabalho. A Dra. Alzira de Almeida, pela inestimável colaboração na redação desta dissertação. Ao professor Carlos Cabral pelas orientações, sugestões e apoio. Ao mestre Carlos Luna Feitosa pela paciência e orientações estatísticas A Dra. Sandra Maria Lavareda de Souza pelo incentivo nas horas difíceis. A Dra. Maria do Socorro Cavalcante diretora do Instituto de Ciências Biológicas da UPE pela minha liberação para realização do mestrado e pelas sugestões valiosas. A Wagner Luis Mendes Oliveira, Vanessa Santos Lins e Bruno Ricardo Arantes, estagiários do laboratório de Microbiologia do HUOC, que não mediram esforços para me ajudar. Ao Laboratório de Microbiologia do HUOC que deu condições para a realização desta pesquisa. Ao Instituto de Ciências Biológicas da UPE, pela minha liberação para realização do Mestrado em Saúde Pública. Aos amigos do departamento de Microbiologia do CPqAM, Betânia, Soraya, Cariri e Wagner, que colaboraram na formatação desta dissertação. Ao Sr. Manoel Gomes de Andrade, Jefth de Melo Araújo e Luciano José da Silva, funcionários do laboratório de Microbiologia do HUOC, pelo suporte na preparação dos meios de cultura. Aos amigos de Mestrado, pela disposição com que ajudaram na construção do objeto de estudo. À Yara Nakasawa técnica do Laboratório de Microbiologia do Aggeu Magalhães que sempre me recebeu com boa vontade mesmo estando atarefada. Ao professor Djalma Agripino pela paciência e capacidade de transmitir seus conhecimentos.

  • SUMÁRIO

    RESUMO.................................................................................................................... i

    ABSTRACT................................................................................................................ ii

    LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................... iii

    LISTA DE TABELAS................................................................................................ iv

    1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1

    1.1.História........................................................................................................... 1

    1.2. Riscos relacionados à infecção hospitalar..................................................... 1

    1.3. Resistência antimicrobiana ........................................................................... 2

    1.4. Mecanismos de resistência............................................................................ 5

    1.5. Medidas de controle...................................................................................... 9

    2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 12

    3. PERGUNTA CONDUTORA.................................................................................. 13

    4. OBJETIVOS........................................................................................................... 14

    4.1. Geral.............................................................................................................. 14

    4.2. Específicos.................................................................................................... 14

    5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................ 15

    5.1. Critérios de inclusão para caracterização de infecção hospitalar.................. 15

    5.2. Critérios de exclusão para caracterização de infecção hospitalar................. 15

    5.3. Área de Estudo.............................................................................................. 15

    5.4. População de estudo...................................................................................... 16

    5.5. Período de estudos......................................................................................... 16

    5.6. Desenho de estudo......................................................................................... 16

    5.7. Elenco de variáveis........................................................................................ 16

    5.8. Origem das informações............................................................................... 17

    5.9. Isolamento, identificação e manutenção das cepas....................................... 18

    5.10. Determinação do perfil de resistência aos antimicrobianos ....................... 18

    5.11. Análise estatística........................................................................................ 19

    5.11.1. Indicadores que foram analisados..................................................... 20

  • 6. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS................................................................................ 21

    7. RESULTADOS ..................................................................................................... 22

    7.1. Distribuição dos isolados por pavilhão e fontes das amostras ..................... 22

    7.2. Resistência nos principais isolados............................................................... 30

    7.2.1. Pseudomonas aeruginosa .................................................................. 30

    7.2.2. Klebsiella spp.................................................................................…. 30

    7.2.3. Staphylococcus aureus…………………………………………........ 31

    7.2.4. Staphylococcus coagulase negativo……………………………........ 31

    8. DISCUSSÃO.......................................................................................................... 34

    9. CONCLUSÃO......................................................................................................... 41

    10. MEDIDAS SUGERIDAS .................................................................................... 42

    11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 43

    12. ANEXO I (questionário) ...................................................................................... 52

    13. ANEXO II (Comitê de Ética) ............................................................................... 54

    14. ARTIGO................................................................................................................ 57

  • i

    RREESSUUMMOO

    O objetivo deste estudo foi determinar o perfil de resistência aos antimicrobianos pelos microorganismos associados com infecção, em um grande hospital universitário com pavilhões para tratamento de várias especialidades médicas. Foram analisadas 774 microorganismos isolados no período de julho de 2002 a junho de 2003 que atenderam as características de agentes de infecção nosocomial. Os isolados foram identificados pelos métodos bacteriológicos clássicos e os de difícil identificação foram confirmados pelo processo automatizado no Mini-Api (BioMerieux-França). O perfil de resistência aos antimicrobianos foi determinado pelo método de difusão em disco segundo o National Committee for Clinical Laboratory Standards. A análise das variáveis foi realizada por cepas isoladas. A digitação e validação dos dados foram realizadas utilizando os softwares EpiInfo versão 6,04 e SPSS versão 8.0. Os isolados mais freqüentes foram Pseudomonas aeruginosa (19,8%), Klebsiella spp (18,4%), Staphylococcus aureus (17,1%) e 11,9% Staphylococcus coagulase negativa (SCN). O hemocultivo foi a fonte do maior percentual de isolados (35,5%) seguido pela urocultura com 19,6% dos isolados. Vários isolados apresentaram alto nível de resistência aos antimicrobianos. A P. aeruginosa apresentou alto nível de resistência às cefalosporinas, as de terceira geração com 86,8% e quarta geração (cefepime) a resistência foi 65,3%. Vários isolados de P. aeruginosa (45,7%) apresentaram resistência a quatro grupos de antimicrobianos, sendo considerada MDR. Vale ressaltar que 24 isolados (15,7%) apresentaram resistência de alto nível a seis grupos de antimicrobianos. A Klebsiella spp, o segundo isolado mais freqüente, apresentou resistência às cefalosporinas, em percentual decrescente da 1ª a última geração variando de 73,4 % (1ª geração) a 42,9 % (4ª geração). A maior resistência apresentada pelo S. aureus e Staphylococcus coagulase negativa variou entre 10,1% (moxifloxacina) a 68,2% (penicilina G). Não foi detectada resistência à teicoplamina e vancomicina pelo S. aureus e SCN. Dos que apresentaram resistência à oxacilina (40,2%), foram também resistentes à eritromicina (100%), clindamicina (96,2%), gentamicina (83%), sulfametoxazol/trimetoprim (73,6%), ciprofloxacina (73,6%), e cloranfenicol com 73,6% de resistência, sendo considerada como MDR. Vale ressaltar que não foi detectada resistência à vancomicina e teicoplanina pelo Enterococcus faecalis, no período do estudo. Constatada a resistência aos antimicrobianos no hospital e sabendo-se que há relação entre resistência e uso de antimicrobianos recomenda-se a adoção de um programa de monitoramento da resistência antimicrobiana. Palavras Chave: Resistência antimicrobiana, Infecção hospitalar, Multi-resistência bacteriana

  • ii

    AABBSSTTRRAACCTT The aim of this study was to determine the frequency and the profile of resistance to antimicrobial agents in the microorganisms associated with infection, in a great university hospital with pavillions for treatment of several kind of diseases. An amount of 774 microorganisms were isolated in the period from July - 2002 to June – 2003, all having met the characteristics of nosocomial infection. The antibiotic susceptibility patterns of 774 isolates were retrospectively analyzed by disk diffusion according to the National Committee for Clinical Laboratory Standards guidelines. Inoculated plates were incubated aerobically at 35 C and estimated after 18 h. The data of the patients and the bacteria were analyzed using the EpiInfo software. The most frequent isolates were P.aeruginosa (19,8%), Klebsiella spp (18,4%), Staphylococcus aureus (17,1%) and 11,9% coagulase-negative Staphylococcus (CNS). The bloodstream was the source of the greatest percentage of isolates (35,5%), followed by the urine cultures with 19,6% of the isolates ones. The oncology pavillion (CEON) presented the greatest number of isolates (25,0%), followed for the one of infectious and parasitic illnesses- DIP (16,9%). Several isolates presented high level of resistance to antimicrobial agents. The P.aeruginosa showed resistance to the cefalosporins third generation, with percentage of 86,8%, Several isolates showed resistance to four groups of antimicrobial, with a percentage of 45,7%, being classified as MDR. It must be emphasized that 24 isolates (15,7%) showed high level rates of resistance to six groups of the antimicrobial agents tested. The Klebsiella spp, the most frequent isolated one, showed resistance to all the cephalosporins, in decreasing percentage from the first geration, varying from 73,4% first generation cephalosporins, to 42,9% four generation cephalosporins. The biggest resistance presented for the S. aureus and coagulase-negative Staphylococcus varied between 10,1% (moxifloxacin) and 68.2% (penicillin G). The antimicrobial susceptibility results for staphylococci showed very high rates of oxacillin (40,2%) resistance among staphylococci with cross-resistance to most antimicrobial agents. MRSA had been also resistance to the erithromycin (100%), clindamycin (96,2%), gentamicin (83%), sulfametoxazol/trimetoprim (73,6%), ciprofloxacin (73,6%), and chloranphenicol with 73,6% of resistance, being considered as MDR. It was not detected resistance to the vancomycin and teicoplanin for S. aureus , CNS or Enterococcus faecalis. As there has been evidence of resistance to antimicrobial agents in the hospital and knowing itself that there is a relation between resistance and the use of antimicrobial, the introduction of a monitoring program is recommended. Key Words: Antimicrobial resistance, Hospital infection, Multi-resistance bacterial

  • iii

    LLIISSTTAA DDEE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS AM-Amaury de Medeiros (pavilhão)

    BGNNF - Bastonete Gram negativo não fermentador

    CCH - Carlos Chagas (pavilhão)

    CEON - Centro de Oncologia (pavilhão)

    CIM - concentração inibitória mínima

    DIP - Doenças parasitárias e infecciosas (pavilhào)

    ENagib - Emergência Nagib (pavilhão)

    ESBL - Beta-lactamases de espectro estendido

    HUOC - Hospital Universitário Oswaldo Cruz

    IH - Infecção hospitalar

    JC - Joaquim Cavalcante (pavilhão)

    JM - Julio de Melo (pavilhão)

    JR - José Ribamar (pavilhão)

    MDR - Multi-drogas-resistentes

    MRSA - Staphylococcus aureus resistente a meticilina

    MSSA - Staphylococcus sensível a meticilina

    PBP – Proteínas ligadoras de penicilina

    UTI-C - Unidade de terapia intensiva de cardiologia (pavilhão)

    UTI - Unidade de terapia intensiva geral (pavilhão)

    VRE – Enterococcus faecalis resistente a vancomicina

  • iv

    LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS Tabela 1 Agentes antibacterianos agrupados com base na estrutura química e

    sítio de ação nas bactérias e mecanismos de resistência apresentados

    pelas bactérias

    06

    Tabela 2 Variáveis relativas aos pacientes 17

    Tabela 3 Variáveis referentes às bactérias 17

    Tabela 4 Distribuição dos isolados de casos de infecção hospitalar no HUOC:

    julho de 2002 a junho de 2003

    23

    Tabela 5 Distribuição dos isolados por pavilhão no HUOC: julho de 2002 a

    junho de 2003

    24

    Tabela 6

    Distribuição dos isolados pela origem das amostras analisadas no

    HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    24

    Tabela 7 Distribuição dos principais isolados pelas fontes da cultura no

    HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    25

    Tabela 8 Distribuição dos principais isolados, entre os pavilhões de origem no

    HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    26

    Tabela 9 Resistência aos antimicrobianos apresentada pelos isolados mais

    freqüentes no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    27

    Tabela 10 Distribuição da resistência apresentada pela P. aeruginosa aos

    antimicrobianos por períodos, durante um ano: julho/2002 a

    junho/2003

    28

    Tabela 11 Distribuição da resistência apresentada pela Klebsiella spp aos

    antimicrobianos por períodos, durante um ano: julho/2002 a

    junho/2003

    29

    Tabela 12 Distribuição da resistência apresentada pela S. aureus aos

    antimicrobianos por períodos, durante um ano: julho/2002 a

    junho/2003

    29

    Tabela 13 Distribuição de P. aeruginosa MDR por pavilhões, no HUOC: julho

    de 2002 a junho de 2003

    31

  • v

    Tabela 14 Percentual de resistência cruzada em isolados de P. aeruginosa, no

    HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    32

    Tabela 15 Comparação do percentual de Klebsiella spp resistentes a

    ceftazidima (cefalosporinas de terceira geração) e sua resistência a

    outras drogas, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    33

    Tabela 16 Distribuição de MRSA por pavilhões, no HUOC: julho de 2002 a

    junho de 2003

    33

    Tabela 17 Distribuição de MRSA e MSSA (percentual) em relação à resistência

    a outras drogas, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    33

  • 1

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

    11..11.. HHIISSTTÓÓRRIIAA

    No período pré-antibiótico os principais microrganismos causadores de infecção

    hospitalar eram os cocos Gram positivos, e a mortalidade de pacientes com bacteremia

    por Staphylococcus aureus, era em torno de 80,0% dos infectados. A introdução da

    penicilina no início da década de 1940 mudou o prognóstico destes pacientes,

    entretanto, já em 1942 foram identificados estafilococos resistentes à esta droga. Logo

    depois do advento da penicilina que atua sobre os microrganismos Gram positivos, os

    bacilos aeróbicos Gram negativos, passaram a predominar como patógenos

    nosocomiais. Estes fatos determinaram o início da era dos antimicrobianos e também o

    início do problema da resistência (SWARTZ, 1994; LOWY, 2003).

    A introdução de novos agentes antimicrobianos tem sido seguida por eficientes

    mecanismos bacterianos capazes de neutralizá-los. Na década de 1980 os principais

    microrganismos causadores de infecção hospitalar eram S. aureus, Staphylococcus

    coagulase negativo, que a partir de agora será referido neste trabalho como SCN,

    Enterococcus faecalis, bacilos aeróbicos Gram negativo e Candida spp (LOWY, 2003).

    Nas últimas décadas o rápido aumento da resistência aos antimicrobianos,

    apresentada pelos microrganismos, bem como a evolução de novos patógenos, acarretou

    mundialmente um acréscimo nos custos hospitalares determinado pelo aumento da

    morbidade e mortalidade (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).

    11..22.. RRIISSCCOOSS RREELLAACCIIOONNAADDOOSS ÀÀ IINNFFEECCÇÇÃÃOO HHOOSSPPIITTAALLAARR

    Junto com os avanços tecnológicos que melhoraram as condições de tratamento

    dos pacientes internados, vieram os equipamentos de assistência às condutas médicas.

    Procedimentos invasivos como entubação, ventilação mecânica e cirurgias, além da

    hospitalização prolongada, podem predispor ao risco de infecção hospitalar, colocando

    os microrganismos hospitalares em contato direto com uma porta de entrada, no

    organismo do paciente (SWARTZ, 1994; BRADFORD, 2001).

    Outro procedimento que merece destaque como fator de risco para o

    desenvolvimento de infecções, implicado no aumento da freqüência de bacteremias é a

    implantação do cateter vascular indicado para a maioria dos pacientes hospitalizados,

    amplamente aceito e difundido no mundo todo. Durante a implantação do catéter pode

  • 2

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    ocorrer invasão do epitélio da mucosa pelas bactérias, provocando o desenvolvimento

    de reação inflamatória com produção de toxinas bacterianas que vão favorecer a fixação

    das bactérias podendo resultar em infecção crônica, necrose tissular, bacteremia e

    paralelamente, levar à resistência aos antimicrobianos (FERRETTI et al., 2002).

    Os microrganismos migram entre a superfície do cateter e do vaso sanguíneo

    levando à colonização que pode provocar a infecção do sangue (bacteremia). Os

    microrganismos mais freqüentes nessas infecções são S. aureus, SCN, bactérias Gram

    negativas e fungos (FERRETTI et al., 2002). O acesso dos microrganismos ao espaço

    extra-luminal ou intra-luminal pode se fazer por vários mecanismos: (a) os organismos

    da pele invadem o espaço intra e extra luminal do catéter; (b) os microrganismos

    contaminantes do lúmem do catéter são inseridos pelo guia; (c) os organismos são

    levados hematologicamente.

    A baixa imunidade é outro componente de risco, que predispõe o paciente a

    infecções; ocorre pelo uso de imunossupressores em pacientes transplantados ou de

    quimioterápicos em neoplásicos e também em pacientes idosos e recém nascidos. O

    aumento da longevidade da população se reflete no aumento da idade dos pacientes

    hospitalizados, constituindo um fator adicional de risco devido às mudanças fisiológicas

    próprias da idade. Cerca de 54% das infecções hospitalares (IH) ocorrem em pacientes

    com mais de 65 anos de idade (SWARTZ, 1994). O risco se mostrou aumentado para os

    recém nascidos devido à prematuridade e asfixia, em uma maternidade na cidade do Rio

    de Janeiro (LOUREIRO et al., 2002).

    11..33.. RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA AANNTTIIMMIICCRROOBBIIAANNAA

    A resistência aos antimicrobianos está aumentando em todo o mundo, devido a

    facilidade de disseminação de patógenos resistentes (TENOVER, 2001). A resistência

    apresentada pelas bactérias no ambiente hospitalar é questão bastante grave devido aos

    múltiplos fatores desencadeantes dessa resistência, um deles pode ser a pressão seletiva

    sobre as bactérias, favorecendo a multiplicação dos mutantes resistentes presentes em

    toda população bacteriana, e que são mais freqüentes no ambiente nosocomial, levando

    ao aumento da morbidade e mortalidade, por limitar a opção de antimicrobianos para o

    tratamento (SADER et al., 1998; 1999; 2001; DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).

    O aumento da resistência à meticilina está sendo observado mundialmente

    (LOWY, 2003). Segundo Chambers (1997) todas as cepas de S. aureus resistente à

    meticilina (MRSA) são descendentes de poucas cepas ancestrais que adquiriram o gene

  • 3

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    mecA. Existem clones de MRSA disseminados em grandes dimensões geográficas

    como o clone Ibérico presente na Espanha, Portugal, Escócia, Itália, Bélgica e

    Alemanha, e o clone Brasileiro que se encontra disseminado pelos países da América do

    Sul como Argentina, Paraguai, Chile e Brasil (TEIXEIRA et al., 1995; OLIVEIRA et

    al., 2002). Os mecanismos de disseminação dos clones em grandes extensões

    geográficas são pouco compreendidos.

    Os microrganismos mais encontrados em infecções hospitalares, segundo dados

    obtidos pelo sistema de vigilância da resistência aos antimicrobianos (SENTRY), na

    América Latina e nos países desenvolvidos, são o S. aureus e SCN resistentes à

    meticilina, E. faecalis resistentes a vancomicina, Enterobacteriaceae resistente à

    cefalosporinas, produtoras de β-lactamases de amplo espectro (ESBL), Pseudomonas

    aeruginosa multi-drogas resistentes (MDR) (MENDES et al., 2000; SADER et al., 2001;

    JONES; PFALLER, 1998; LOUREIRO et al., 2001). A incidência de cada patógeno e os

    mecanismos genéticos de resistência variam a cada continente, país e região do país

    sendo influenciados por vários fatores (JONES; MASTERTON, 2001).

    Associado aos mecanismos genéticos de transferência da resistência entre as

    bactérias (FLUIT et al., 2001a), o uso empírico de antimicrobianos e sub-doses na

    terapia, o emprego de antimicrobianos como fatores de crescimento na alimentação

    animal e o deslocamento mais fácil das pessoas em viagens também estão implicados no

    aumento da resistência bacteriana e dispersão dos clones resistentes (LOWY, 2003).

    Jumbe e colaboradores (2003), demonstraram que a resistência pode se

    desenvolver em 24 horas. Ele inoculou P. aeruginosa sensível à fluorquinolona em

    animais de laboratório, usando doses inferiores ao CIM, e observou que ao recuperar

    estas bactérias inoculadas, 24 horas depois, muitas já apresentavam resistência à

    fluorquinolona. Isso pode explicar a rápida emergência de mutantes multi-drogas

    resistentes durante a terapêutica, mostrando que a amplificação da resistência é

    dependente da dosagem do antimicrobiano (JUMBE et al., 2003).

    Os humanos são reservatórios naturais de S. aureus, que é encontrado na maioria

    das vezes na pele e nariz dos indivíduos, mas podem invadir e causar infecções da pele,

    pneumonias e bacteremias, sendo que a colonização assintomática é mais comum que a

    infecção (CHAMBERS, 2001; CESPEDES et al., 2002; CDC, Antimicrobial resistance-

    MRSA/Methicillin Resistant Staphylococcus aureus; disponível em

  • 4

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    encontraram percentual de 47% de portadores nasais de S. aureus entre os recém

    nascidos em uma maternidade na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

    Alguns microrganismos, principalmente os SCN e S. aureus, produzem um

    biofilme, material rico em exopolissacarídeos que forma uma malha que protege os

    microrganismos da ação dos antibióticos, dos anticorpos e da fagocitose. Essa malha, ou

    biofilme, adere ao cateter dificultando a erradicação do microrganismo. Alta

    percentagem dos S. aureus resistentes à meticilina (MRSA) produz biofilme,

    constituindo um fator agravante para o tratamento devido à dificuldade terapêutica

    quando a resistência à meticilina e produção de adesina estão associados (FERRETTI et

    al., 2002).

    S. aureus tem a tendência de adquirir determinantes de resistência adicionais,

    resultando em isolados de MRSA resistentes à múltiplos antimicrobianos, não

    relacionados, reduzindo o número de antimicrobianos eficazes (LOWY, 2003). Os

    isolados de S. aureus resistentes à meticilina/oxacilina são por definição resistentes à

    todos os â-lactâmicos e carbapenens (CDC, laboratory detection of oxacillin/methicillin-

    resistant Staphylococcus aureus, disponível em

  • 5

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Technique des Infections Nosocomiales (CCLIN, 1996). A incidência de internados em

    UTI colonizados por P. aeruginosa pode atingir 60% a 70% (STRUELENS, 1998).

    O padrão de resistência da P. aeruginosa é variável, dependendo do hospital,

    cidade ou país. No Rio de Janeiro, em uma maternidade pública, Loureiro e

    colaboradores (2002), detectaram resistência a várias drogas em todos os isolados de P.

    aeruginosa de infecção hospitalar. Um dos maiores problemas de resistência encontrado

    por Sader e colaboradores (2001) no Rio de Janeiro e Florianópolis computados pelo

    Programa de Vigilância Antimicrobiana SENTRY, foi a reduzida sensibilidade da P.

    aeruginosa ao imipenem. Na Inglaterra, em um estudo de vigilância realizado em 1999 o

    padrão de resistência da P. aeruginosa foi considerado baixo (12%) para todos os

    antimicrobianos testados (HENWOOD et al., 2001). Na Alemanha, segundo um estudo

    de vigilância realizado entre 1996-1998, a resistência da P. aeruginosa além de alta foi

    múltipla, pois apresentou sensibilidade “in vitro” somente à polimixina B (PANZIG et

    al., 1999). Na Espanha, para alguns antimicrobianos a resistência foi intermediária, mas

    para a maioria foi também considerada baixa, em torno de 17%, com exceção do

    aztreonam (23%), ciprofloxacina (23%) e gentamicina (31%) (BOUZA et al., 1999). A

    análise de 1.854 isolados de P. aeruginosa da América Latina, sendo 895 isolados

    (48,3%) do Brasil, no período de 1997 a 2001 revelaram resistência crescente ao longo

    dos anos (ANDRADE et al., 2003).

    11..44.. MMEECCAANNIISSMMOOSS DDEE RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA

    A resistência aos antimicrobianos pode se desenvolver por vários mecanismos:

    (1) a presença de uma enzima que inativa o agente antimicrobiano; (2) a síntese de uma

    enzima alternativa que não é inibida pelo agente antimicrobiano; (3) uma mutação no

    alvo do agente antimicrobiano, que reduz a afinidade pelo antimicrobiano; (4)

    modificação pós-transcripcional ou pós-traducional do alvo do agente antimicrobiano;

    (5) redução da permeabilidade ao agente antimicrobiano; (6) efluxo ativo do

    antimicrobiano. Além desses, outros mecanismos ainda desconhecidos podem contribuir

    para resistência (FLUIT et al., 2001a).

    Os principais grupos de antibióticos, seus mecanismos de ação e resistência

    estão sintetizados na Tabela 1.

  • 6

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 1 Agentes antibacterianos agrupados com base na estrutura química e sítio de ação nas bactérias e mecanismos de resistência apresentados pelas bactérias.

    Mecanismos de ação Estrutura química Tipos de antibióticos Exemplos Mecanismos de Resistência Inibidores da síntese da Parede celular

    Beta-lactâmicos Ligam-se a enzimas (PBPs) e impedem a ação dessas enzimas nas etapas finais da construção da parede celular

    Penicilina e derivados Penicilina associados à inibidores de beta-lactamases Oxacilina/meticilina

    Penicilina, Ampicilina, Amoxicilina, piperacilina; Carbenicilina; Ticarcilina Amoxicilina/ácido clavulânico; Ampicilina/sulbactam; piperacilina/tazobactan Oxacilina/meticilina

    1. Alteração no sítio alvo Os estafilococos meticilina resistentes sintetizam uma PBP adicional com afinidade muito baixa aos beta-lactâmicos mas com capacidade para continuar a síntese da parede. 2. Alteração no acesso ao sítio alvo Este mecanismo é encontrado nas bactérias Gram negativas, onde os beta-lactamicos acessam o alvo

    Cefalosporinas (1ª, 2ª, 3ª e 4ª geração)

    Cefalotina; Cefoxitina; Ceftazidima; Cefepime

    por difusão através de canais de porinas na membrana externa.

    Carbapenens Imipenem; Meropenem; Ertapenem

    Mutações nos genes de porinas resultam em diminuição da

    Monobactâmicos Aztreonam permeabilidade da membrana externa

    Glicopeptídeos Interferem com a síntese da parede celular ao se ligarem ao terminal D-ala-D nas cadeias terminais pentapeptídicas

    Teicoplamina ; Vancomicina

    3. Produção de betalactamases enzimas que catalizam a hidrólise do anel betalactâmico. Gram positivos liberam betalactamases no ambiente extracelular.

    Em Gram negativos, as Betalactamase permanecem no periplasma

    Continua

  • 7

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    CCoonnttiinnuuaaççããoo

    Mecanismos de ação Estrutura química Tipos de antibióticos Exemplos Mecanismos de Resistência Inibidores da síntese protéica Aminoglicosídios

    Interferem com a ligação do formilmetionil-tRNA aos ribossomos

    Estreptomicina; Amicacina; Gentamicina; Neomicina; Netilmicina; Tobramicina

    1.Produção de enzimas modificadoras dos

    aminoglicosídios constituem o mecanismo

    mais importante da resistência adquirida.

    (Plasmideos)

    2.Alteração no sítio-alvo ribossômico; substituição de um aminoácido na proteíma P10 da subunidade 30S impede a ligação da estreptomicina. Bacilos Gram negativos podem apresentar alteração na permeabilidade da parede ou no transporte dependente de energia através da membrana citoplasmática.

    Macrolídios

    Ligam-se aos ribossomas impedindo a liberação do RNA após a formação da ligação peptídica

    Azitromicina; Eritromicina Espiramicina

    A resistência ocorre em função de uma alteração no rRNA 23S pela metilação de dois nucleotídeos adenina..

    Lincosaminas Clindamicina A enzima metilase é induzida e mediada por plasmídeos

    Cloranfenicol Bloqueia a ação da peptidil-transferase impedindo a síntese de ligações peptídicas

    Cloranfenicol O mecanismo mais comum da resistência envolve a inativação da droga catalizada pelas acetiltransferases do cloranfenicol. Catalisa a adição de grupamento de acetila à molecula do cloranfenicol que não se liga ao alvo no ribossoma. São enzimas intracelulares, mediadas por plasmídeos, capazes de inativar todo o cloranfenicol no ambiente próximo a célula.

    Tetraciclinas Inibem a síntese proteica ao impedir a penetração do RNA aminoacil de transferência nos sítios aceptores nos ribossomas.

    Tetraciclinas;Vibramicina Indução da síntese de novas proteínas da membrana citoplasmática são sintetizadas na presença de tetraciclina. A tetraciclina é positivamente eliminada das células resistentes (mecanismo de efluxo)

    CCoonnttiinnuuaa

  • 8

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Continuação

    Mecanismos de ação Estrutura química Tipos de antibióticos Exemplos Mecanismos de Resistência Inibidores da síntese de ácidos nucléicos

    Sulfonamidas Inibidores da síntese dos precursores do DNA Análogas do ácido para-aminobenzoico; Interferem na síntese de purinas e pirimidinas

    Sintéticos Inibidores da síntese dos precursores

    Sulfonamidas; Trimetoprim

    Genes plasmidiais codificam uma diidropteroato sintetase alterada que apresenta afinidade reduzida para a sulfonamida mas é essencialmente inalterada em sua afinidade para o PABA. Uma célula resistente possui duas enzimas distintas, uma sensível cromossomal e uma resistente plasmidial. A resistência ao trimetoprim é mediada por diidrofolato redutase com afinidade alterada.

    Quinolonas Inibidoras da replicação do DNA; Inibem a atividade da DNA girase e impedem o super-enovelamento do cromossoma

    Sintéticos Inibidores da replicação do DNA

    Ciprofloxacina; Perfloxacina; Norfloxacina; Levofloxacina

    Resistência é cromossomal e se apresenta sob duas formas: Alterações na subunidade da estrutura da DNA-girase, com menor afinidade pela droga Alteração na permeabilidade, resultando em menor absorção, podendo levar resistência a outros antimicrobianos não relacionados

    Rifampicina

    Inibidor da RNA polimerase; bloqueia a síntese do mRNA

    Inibidora da RNA polimerase Rifampicina Mutações cromossômicas que alteram a RNA polimerase alvo, que apresenta m enor afinidade pela rifampicina

    Função da membrana celular Colimicinas

    Agem como detergente e rompem a estrutura fosfolipídica da membrana celular

    Polimixicina B Alterações mediadas por genes cromossomais na estrutura da membrana e na absorção do antibiótico.

    Ref. Mimscolaboradores (1995)

  • 9

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Algumas espécies são naturalmente resistentes a alguns grupos de antimicrobianos,

    seja por não possuírem o alvo susceptível, ou serem impermeáveis ao agente

    antimicrobiano. A resistência pode surgir de uma única mutação cromossômica na célula

    bacteriana, resultando na síntese de uma proteína alterada. Na presença dos antimicrobianos

    os mutantes espontâneos levam vantagem seletiva, porque sobrevivem e superam em

    número a população susceptível (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).

    Os genes que codificam proteínas envolvidas nos mecanismos de resistência podem

    estar localizados no cromossomo ou em elementos extracromossômicos como os

    plasmídeos e os transposons que se movimentam com facilidade de uma cepa para outra, de

    uma espécie a outra ou mesmo de um gênero a outro. Os plasmídeos podem ser portadores

    de genes de resistência para até seis drogas diferentes. Geralmente os genes de resistência

    são transferidos por conjugação (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).

    O aumento de resistência de vários patógenos a uma variedade de antimicrobianos

    tem demandado o desenvolvimento de novos e mais potentes agentes antimicrobianos

    (SADER, et al., 2001). Com o aumento da resistência a vigilância começou a ser

    reconhecida como necessária, unindo esforços locais, nacionais e internacionais, com

    programas multicêntricos de vigilância, monitorando e acompanhando a evolução da

    resistência no tempo, bem como desenvolver medidas preventivas (JONES; PFALLER,

    1998). No Brasil, o Ministério da Saúde através da Secretaria de Vigilância em Saúde

    (SVS) monitora a resistência aos antimicrobianos com o Programa de Monitoramento da

    Resistência Antimicrobiana e principalmente no sul e sudeste os programas SENTRY e

    MYSTIC também registram dados da resistência.

    11..55.. MMEEDDIIDDAASS DDEE CCOONNTTRROOLLEE

    A resistência antimicrobiana aumentou rapidamente no Brasil e no mundo durante

    os últimos cinco anos, levando à necessidade de programas para monitorar a resistência e

    guiar a terapia antimicrobiana empírica (TOSIN et al., 2003). A redução de opções para

    tratamento das doenças infecciosas não é só um problema nosocomial, é também um

    problema social e de saúde pública. A disseminação da resistência aos antibióticos não é só

    relacionada ao uso humano, mas também na agricultura, piscicultura e na alimentação

    animal (DIZIDC; BEDEKOVIC, 2003).

  • 10

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Medidas para prevenir a transferência de genes de resistência, como o aumento de

    medidas de higiene e adoção de programas de prevenção da infecção, deveriam ser

    empregadas não só nos hospitais, mas também na comunidade (DIZIDC; BEDEKOVIC,

    2003).

    Programas de prevenção adotados na última década baseados no uso racional dos

    antibióticos tem mostrado que, de alguma forma a sensibilidade à determinados

    antimicrobianos pode ser restaurada (SANDIUMENGE; RELLO, 2003). Como exemplos

    podem ser citados programas que adotaram a redução no uso de cefalosporinas de terceira

    geração, imipenem e vancomicina, associado ao aumento do uso de penicilinas de largo

    espectro combinado com aminoglicosídios e que resultou na restauração da sensibilidade

    bacteriana. Na Finlândia a redução no uso de certos antibióticos, como os macrolídios, em

    infecções adquiridas, na comunidade, restaurou a sensibilidade do Streptococcus do grupo

    A reduzindo a resistência de 16,5% para 8,6% após 4 anos. Por outro lado, após 20 anos de

    retirada da estreptomicina para uso clínico, a sensibilidade em Enterobacteriaceae não foi

    restaurada (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).

    Apesar das evidências, ainda são poucos os estudos sobre os efeitos que a rotação de

    antibióticos no tratamento de infecções hospitalares acarretam na restauração da

    sensibilidade aos antimicrobianos o que não permite uma generalização dos resultados

    (SANDIUMENGE; RELLO, 2003).

    A prevenção da emergência de cepas resistentes e sua disseminação no ambiente

    hospitalar, exige várias medidas profiláticas e de controle que são dependentes do

    microrganismo em questão.

    A característica do tipo de patógeno e da resistência que ele apresenta é própria de

    cada região e mesmo de cada hospital. Assim o primeiro passo para a implementação de um

    programa de redução de resistência é o conhecimento ou diagnóstico do problema e para

    isto a contribuição do laboratório de bacteriologia é fundamental. O diagnóstico correto do

    patógeno e testes padronizados de susceptibilidade aos antimicrobianos são indispensáveis.

    O mecanismo da resistência tem que ser bem compreendido pois grupos de

    bactérias que se mostram fenotipicamente idênticos, mas diferem genotipicamente,

    respondem diferentemente ao método de intervenção (HACEK et al., 1999). A

    determinação do genótipo da resistência fornece informações sobre o mecanismo da

  • 11

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    resistência e pode ser necessário para conhecer se ela está relacionada à transmissão de

    genes de organismo para organismo, o que exigiria a adoção de restrição ou controle do uso

    de antimicrobianos, ou através da disseminação de uma única cepa resistente, tornando

    necessárias medidas gerais para controle da infecção hospitalar (TOSIN et al., 2003).

    As estratégias a serem adotadas pelos programas para o controle de resistência

    antimicrobiana têm que contemplar a escolha do medicamento adequado, a dose e o

    intervalo da dosagem. Uma prescrição inadequada pode facilitar a emergência de clones

    resistentes. Em concentrações abaixo da concentração inibitória mínima (CIM), os

    antimicrobianos exercem uma pressão seletiva sobre os patógenos selecionando os mais

    resistentes e alterando a flora residente do paciente (TENOVER, 2001; DIZIDC;

    BEDEKOVIC, 2003). Outros aspectos importantes são as medidas de higiene do ambiente,

    dos pacientes e da equipe responsável pelo paciente.

    A emergência de bactérias multi-resistentes em determinados ambientes

    hospitalares, como enfermarias de imunodeprimidos, pode exigir que medidas mais

    drásticas sejam adotadas como o isolamento do paciente e profilaxia dos contactantes,

    médicos, paramédicos e familiares (DIZIDC; BEDEKOVIC, 2003). O tratamento dos

    portadores nasais deve ser associado à medidas de higiene como lavagem das mãos,

    enfatizar limpeza do ambiente e escolha adequada dos desinfetantes, pois os

    microrganismos também podem desenvolver resistência a eles (BOYCE, 1989; LOWY,

    1998).

  • 12

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    22.. JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA

    As infecções hospitalares levam a um aumento de morbidade e mortalidade,

    elevando também o custo social e econômico, por aumentar o tempo de internamento. A

    identificação de cepas bacterianas multi-resistentes aos antimicrobianos, fornecerá

    informações necessárias para estabelecimento de um programa de monitoramento para

    controle das infecções hospitalares, tanto no que se refere à disseminação de cepas de risco

    para as infecções, como para o controle no uso de antimicrobianos.

  • 13

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    33.. PPEERRGGUUNNTTAA CCOONNDDUUTTOORRAA

    Qual o perfil de resistência aos agentes antimicrobianos apresentado pelas bactérias

    implicadas nos casos de infecção hospitalar no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, que

    possa fornecer informações para o estabelecimento de medidas para o controle das

    infecções hospitalares?

  • 14

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    44.. OOBBJJEETTIIVVOOSS

    44..11.. GGEERRAALL

    Identificar o padrão da resistência antimicrobiana apresentada pelas bactérias

    envolvidas nas infecções no Hospital Universitário Oswaldo Cruz durante o período de

    julho de 2002 a junho de 2003.

    44..22.. EESSPPEECCÍÍFFIICCOOSS

    •• Identificar bactérias presentes em casos de infecção hospitalar;

    • Conhecer a distribuição dos isolados, em relação ao local de internamento do paciente e

    fonte de material para cultura;

    • Identificar a resistência das cepas bacterianas aos antimicrobianos;

    • Obter dados para subsidiar à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) para

    o monitoramento das infecções hospitalares.

  • 15

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    55.. PPRROOCCEEDDIIMMEENNTTOOSS MMEETTOODDOOLLÓÓGGIICCOOSS

    55..11.. CCRRIITTÉÉRRIIOOSS DDEE IINNCCLLUUSSÃÃOO PPAARRAA CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO DDEE IINNFFEECCÇÇÃÃOO

    HHOOSSPPIITTAALLAARR

    Foram seguidos os critérios para caracterização de infecção hospitalar estabelecidos

    na Portaria nº 2.616 /MS/GM, de 12 de maio de 1998 da Agência Nacional de Vigilância

    Sanitária (ANVISA) definida da seguinte maneira: “Infecção hospitalar é aquela adquirida

    após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando

    puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares”.

    Segundo a ANVISA o diagnóstico das infecções hospitalares deverá valorizar

    informações oriundas de evidência clínica, derivada da observação direta do paciente ou da

    análise de seu prontuário; resultados de exames de laboratório, ressaltando-se os exames

    microbiológicos e a pesquisa de antígenos; quando, na mesma topografia (sítio anatômico)

    em que foi diagnosticada a infecção hospitalar, for isolado um microrganismo diferente,

    seguido do agravamento das condições clínicas do paciente; quando se desconhecer o

    período de incubação do microrganismo e não houver evidência clínica e ou dado

    laboratorial de infecção no momento da admissão; toda manifestação clínica de infecção

    que se apresente a partir de 72 horas após a admissão; as infecções manifestadas antes de

    72 horas da internação quando associadas a procedimentos diagnósticos invasivos e ou

    terapêuticos realizados durante este período. ANVISA (disponível em:

    http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/2616, acesso em OUTUBRO 16 de 2002, 13:18).

    55..22.. CCRRIITTÉÉRRIIOOSS DDEE EEXXCCLLUUSSÃÃOO PPAARRAA CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO DDEE IINNFFEECCÇÇÃÃOO

    HHOOSSPPIITTAALLAARR::

    Foram excluídos do trabalho os microrganismos isolados dos casos que não ficaram

    caracterizados como infecção hospitalar, segundo os critérios adotados pela ANVISA.

    55..33.. ÁÁRREEAA DDEE EESSTTUUDDOO

    O presente trabalho foi desenvolvido no Hospital Universitário Oswaldo Cruz

    (HUOC). O HUOC é um hospital de ensino, vinculado a Universidade de Pernambuco,

    conveniada com o SUS. Construído num plano horizontal conta com 342 leitos distribuídos

  • 16

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    nos seguintes pavilhões ou enfermarias: Amaury de Medeiros (AM): Cirurgias Geral e

    Transplantes; Júlio de Melo (JM): Clínica Geral e Cardiológica; Carlos Chagas (CCH):

    Clínica Pneumológica; Rinaldo de Azevedo (DIP): Doenças Infecciosas e Parasitárias;

    Joaquim Cavalcanti (JC): Pré e Pós-operatório Cardíaco Adulto e Infantil; Antônio Figueira

    (AF): Pré e Pós-operatório Cardíaco Adulto; José Ribamar (JR): Pré e Pós-operatório

    Cardíaco Adulto e Doenças Cardíacas Crônicas; Centro de Oncologia (CEON): Adulto e

    Infantil; Emergência Nagib (E-Nagib): Emergência Cardíaca e Pulmonar; UTI-G: Unidade

    de Terapia Intensiva Geral; UTI-C: Unidade de Terapia Intensiva Coronariana; Isolamento

    Infantil (II): Doenças Infecto-Contagiosas da Infância.

    As amostras para as análises foram coletadas dos seguintes materiais: urina, sangue,

    catéter, ferida operatória, abscesso, tracto respiratório, líquido ascítico, secreção em geral,

    escara, dreno, aspirado de bile, aspirado de líquido do mediastino e hepatoma.

    55..44.. PPOOPPUULLAAÇÇÃÃOO DDEE EESSTTUUDDOO

    Foi considerado como população de estudo os microrganismos isolados de culturas

    realizadas por solicitação médica, em material clínico de pacientes internados e

    enquadrados na classificação de portador de infecção hospitalar, segundo os critérios da

    ANVISA.

    55..55.. PPEERRÍÍOODDOO DDEE EESSTTUUDDOO

    Os estudos foram realizados no período entre julho de 2002 e junho de 2003.

    55..66.. DDEESSEENNHHOO DDEE EESSTTUUDDOO

    Desenho descritivo do tipo série de casos.

    55..77.. EELLEENNCCOO DDEE VVAARRIIÁÁVVEEIISS

    As variáveis analisadas, relativas aos pacientes e referentes às bactérias estão nas

    Tabelas 2 e 3.

  • 17

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 2. Variáveis relativas aos pacientes.

    Nome da variável

    Definição Indicador

    Pavilhão Local de internamento do paciente

    Número de isolados por pavilhão

    Fonte da cultura

    Local da coleta da amostra para cultura

    Número de isolados por fonte

    Infecção hospitalar

    Tempo decorrido entre o internamento e a cultura

    Considerado caso de infecção hospitalar

    Tabela 3. Variáveis referentes às bactérias.

    Nome da variável

    Definição Indicador

    Espécie Identificação quanto à espécie

    Freqüência de cada espécie

    Morfologia Caracterização quanto à morfologia

    Freqüência de cocos Gram positivos e bacilos

    Gram negativos

    Resistência frente aos

    antimicrobianos

    Reação de sensibilidade ou resistência

    Freqüência de resistência

    MDR Classificação das bactérias quanto a múltipla resistência

    Freqüência de MDR

    55..88.. OORRIIGGEEMM DDAASS IINNFFOORRMMAAÇÇÕÕEESS

    As informações referentes às bactérias foram coletadas nos registros do Laboratório

    de Microbiologia Dr. Virgílio de Oliveira (HUOC) e as relativas aos pacientes no serviço

    de informática do HUOC, (para determinar a data de internação), os outros dados do

    paciente pela requisição médica. Para cada microrganismo isolado foi construído um

    formulário, com informação relativa ao microrganismo e ao paciente (modelo no anexo I).

    A coleta de dados seguiu os procedimentos da rotina normal conforme as regras do

    laboratório. Quando a cultura foi positiva, os dados referentes à bactéria e ao paciente

    foram registrados no formulário, e a cepa estocada para estudo posterior.

  • 18

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    55..99.. IISSOOLLAAMMEENNTTOO,, IIDDEENNTTIIFFIICCAAÇÇÃÃOO EE MMAANNUUTTEENNÇÇÃÃOO DDAASS CCEEPPAASS

    As amostras coletadas dos pacientes internados no HUOC foram semeadas nos

    seguintes meios de cultura específicos para isolamento de microrganismos: Blood Ágar

    Base (BAB), Ágar chocolate, Ágar Eosina-azul de Metileno (EMB), Ágar Hektoen Enteric

    (HE), Ágar MacConkey, Ágar Mueller-Hinton, Ágar Thayer Martin e Brain Heart Infusion

    Broth (BHI). Para identificação os microrganismos foram analisados quanto a morfologia,

    pela coloração de Gram e submetidos as provas, de: catalase, coagulase, Ágar bile-esculina,

    Ágar DNAse, Ágar manitol, novobiocina, bacitracina, optoquina e Camp (para a

    identificação dos Gram positivos); glicose, lactose, sacarose, indol, ácido sulfídrico,

    produção de gás, motilidade, lisina, citrato, ornitina, oxidase e produção de pigmentos (para

    Gram negativos) e complementadas pelo processo automatizado no Mini-Api (BioMerieux-

    França). Após identificação as culturas foram preservadas em meio de conservação (10 g/L

    extrato de carne, 5 g/L triptona, 5 g/L cloreto de sódio, 12 g/L ágar, pH 7,4) e por

    congelamento a - 80ºC em glicerol.

    55..1100.. DDEETTEERRMMIINNAAÇÇÃÃOO DDOO PPEERRFFIILL DDEE RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA AAOOSS

    AANNTTIIMMIICCRROOBBIIAANNOOSS

    O perfil de resistência aos antimicrobianos foi determinado pelo método de difusão

    em disco segundo o National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, 1997;

    2002; 2003), usando os seguintes antimicrobianos, de acordo com o microrganismo, nas

    concentrações descritas: ácido pipemídico (20 µg), ácido nalidíxico (30 µg), amicacina (30

    µg), aztreonan (30 µg), cefalotina (30 µg), cefoxitina (30 µg), cefotaxima (30 µg), cefepime

    (30 µg), clindamicina (2 µg), cloranfenicol (30 µg), ciprofloxacina (5 µg), eritromicina (15

    µg), gentamicina (10 µg), imipenem (10 µg), meropenem (10 µg), moxifloxacina (5 µg),

    norfloxacina (10 µg), nitrofurantoina (300 µg), oxacilina (1 µg), penicilina G (10 U),

    piperacilina+tazobactam (100/10 µg), polimixina B (300 UI), sulfametoxazol/trimetoprim

    (75/23 µg), tetraciclina (30 µg), teicoplanina (30 µg), vancomicina (30 µg) (Oxoid). A

    interpretação do halo de sensibilidade/resistência, para cada antimicrobiano, seguiu as

    normas do National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, 1997; 2002;

    2003).

  • 19

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Para o controle de qualidade foram utilizadas cepas padrão de Escherichia coli

    (ATCC 25922), P. aeruginosa (ATCC 27853), e S. aureus (ATCC 25923). Pelos resultados

    do teste de susceptibilidade as culturas foram classificadas em duas categorias: sensíveis

    (S), todas as culturas que se mostraram sensíveis pelo método de difusão em disco e

    resistentes (R), todos os isolados resistentes e intermediários.

    Para a confirmação da resistência do S. aureus à oxacilina/meticilina, usou-se uma

    suspensão bacteriana com turvação correspondente a 0,5 McFarland semeada em ágar

    Mueller-Hinton, suplementado com 4% de NaCl contendo 6 µg de oxacilina por mililitro.

    A oxacilina foi usada por ser mais resistente à degradação durante a armazenagem e

    também por possibilitar a detecção de hetero-resistência (CDC, Laboratory detection of

    oxacillin/methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA), http://www.cdc.gov. Acesso

    em 24 out 2003). A presença de crescimento após incubação por 24-48 horas a 35ºC, é

    indicativo de resistência. A sensibilidade deste método é de 100% para detecção da

    resistência do S. aureus à meticilina e 95% para cepas SCN (CHAMBERS, 1993).

    O critério para considerar P. aeruginosa multi-drogas resistente (MDR) foi à

    existência de resistência a quatro grupos de antimicrobianos: cefalosporinas,

    aminoglicosídios, fluorquinolonas e carbapenens. Foi considerada como resistência

    antimicrobiana de alto nível para P. aeruginosa a resistência ao mesmo tempo a seis grupos

    de antimicrobianos: cefalosporinas, aminoglicosídios, fluorquinolonas, carbapenens,

    sulfa/potencializador e cloranfenicol.

    Nesta pesquisa foi considerado MDR em Staphylococcus quando além de resistente

    à oxacilina e eritromicina a cultura foi também resistente, a três ou mais dos seguintes

    antimicrobianos: clindamicina, ciprofloxacina, gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim e

    cloranfenicol segundo estabelecido por Fluit e colaboradores (2001b) e Bell e

    colaboradores (2002).

    55..1111.. AANNÁÁLLIISSEE EESSTTAATTÍÍSSTTIICCAA

    A análise das variáveis foi realizada por cepa isolada. Foram preenchidos

    formulários, um para cada isolado, onde constavam dados relativos à bactéria e ao paciente.

    A digitação e validação dos dados foram feitas no software EpiInfo versão 6,04. As tabelas

    e análise dos dados foram feitos no software SPSS versão 8.0. Realizou-se uma análise de

  • 20

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    consistência a fim de detectar erros que por ventura ainda estivessem presentes no banco de

    dados.

    Para a análise descritiva, aplicou-se o teste do χ2 (qui-quadrado) com correção de

    Yates ou Fisher, para detectar possíveis associações entre as resistências dos

    microrganismos mais freqüentes, considerando o nível de significância de 5%.

    55..1111..11 IINNDDIICCAADDOORREESS QQUUEE FFOORRAAMM AANNAALLIISSAADDOOSS

    • Microrganismo isolado: freqüência dos microrganismos

    • Pavilhão: freqüência dos isolados no pavilhão

    • Origem dos isolados: freqüência de culturas positivas pela origem dos

    isolados

    • Resistência da bactéria aos antimicrobianos: freqüência de resistência por

    espécie bacteriana

    • Bactérias MDR: freqüência das bactérias multi-drogas resistentes pela

    origem dos isolados e por pavilhão

  • 21

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    66.. CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS ÉÉTTIICCAASS

    66..11.. O projeto “Infecções hospitalares” foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do

    HUOC em 24/09/2002 (Anexo II).

    66..22.. O projeto “Infecções hospitalares” foi aprovado pelo Comitê de Ética do

    CPqAM/FIOCRUZ em 12/11/2002 (Anexo II).

  • 22

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    77.. RREESSUULLTTAADDOOSS

    77..11.. DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO DDOOSS IISSOOLLAADDOOSS PPOORR PPAAVVIILLHHÃÃOO EE FFOONNTTEE DDAASS

    AAMMOOSSTTRRAASS..

    No período de julho de 2002 a junho de 2003, foram obtidos 774 isolados de

    microrganismos provenientes de casos de infecção hospitalar no HUOC (Tabela 4), sendo

    40 cepas de fungos, 260 de cocos Gram positivos e 474 de bacilos Gram negativos e

    bastonetes Gram negativos não fermentadores (BGNNF). Outros 50 isolados, considerados

    como perdas, não foi incluído neste estudo por não ter sido possível resgatar os dados

    relativos aos pacientes ou pelos casos não se ajustarem aos critérios de infecção hospitalar.

    Dentre os isolados, os mais freqüentes foram P. aeruginosa (19,8%), Klebsiella spp

    (18,4%), S. aureus (17,1%), SCN (11,9%), E. coli (8,3%), Acinetobacter spp (5,1%) E.

    faecalis (3,2%), Pseudomonas não aeruginosa (2,3%), Proteus mirabilis (1,8%) e

    Enterobacter spp (1,4%) (Tabela 4). Entre os Gram negativos e BGNNF (61,2% do total

    dos isolados), os mais freqüentes foram P. aeruginosa, Klebsiella spp, E. coli,

    Acinetobacter spp, Pseudomonas não aeruginosa, Proteus mirabilis e Enterobacter spp.

    Dentre os Gram positivos (33,6% do total de isolados), os mais freqüentes foram S. aureus,

    SCN e E. faecalis (Tabela 4). Os fungos representando 5,2% dos isolamentos (Tabela 4),

    não foram identificados por espécie, porque não era o objetivo desta pesquisa.

    Em relação à distribuição dos isolados por pavilhão a maioria foi originada do

    Centro de Oncologia (CEON): 194, 25%; Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP): 131,

    16,9%; Cirurgia Geral e Transplante (AM): 103, 13,3%; Unidade de Terapia Intensiva

    Geral (UTI-G); 89, 11,5%; e Clínica Geral e Cardiologia (JM): 82, 10,5% (Tabela 5).

    Quanto à fonte das amostras analisadas, a hemocultura (sangue) forneceu o maior

    número de isolados 273 (35,3%), seguido da urina 152 (19,6%), cateter 98 (12,6%),

    secreção geral 53 (6,8%); ferida operatória 51 (6,6%) e trato respiratório 50 (6,5%) (Tabela

    6).

    As tabelas 7 e 8 mostram a distribuição dos principais isolados (P. aeruginosa,

    Klebsiella spp, S. aureus e SCN pelas fontes das amostras obtidas para cultura e pelos

    pavilhões de internamento dos casos de infecção hospitalar. A Tabela 9 mostra resistência

    destes isolados aos antimicrobianos.

  • 23

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 4. Distribuição dos isolados de casos de infecção hospitalar no HUOC: julho de

    2002 a junho de 2003

    Microrganismos Número Percentual

    S. aureus 132 17,1 Staphylococcus coagulase negativo (SCN) 92 11,9 Enterococcus faecalis 25 3,2 Streptococcus pyogenes 4 0,5 Streptococcus viridans 2 0,2 Streptococcus pneumoniae 2 0,3 Streptococcus agalactiae 1 0,1 Streptococcus bovis 1 0,1 Streptococcus spp 1 0,1

    Total de cocos Gram positivos 260 33,6 Pseudomonas aeruginosa 153 19,8 Klebsiella spp 143 18,4 Escherichia coli 64 8,3 Acinetobacter spp 39 5,1 Pseudomonas spp 18 2,3 Proteus mirabilis 14 1,8 Enterobacter spp 11 1,4 Morganella morgannii 9 1,2 Providencia spp 6 0,8 Citrobacter spp 5 0,6 Serratia marcescens 5 0,6 Salmonella Enteritidis 3 0,4 Salmonella spp 1 0,1 Alcaligenes 1 0,1 Stenotrephomonas maltophila 1 0,1 Edwardsiella spp 1 0,1

    Total de bacilos Gram negativos e BGNNF 474 61,2 Total de fungos 40 5,2 Total de isolados 774 100,0

    BGNNF – bacilos Gram negativos não fermentadores

  • 24

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 5. Distribuição dos isolados por pavilhão no HUOC: julho de 2002 a junho de

    2003.

    Pavilhões Número Percentual

    Centro de Oncologia (CEON) 194 25,0 Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) 131 16,9 Cirurgia Geral e Transplantes (AM) 103 13,3 Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI-G) 89 11,5 Clínica Geral de Cardiologia (JM) 82 10,5 Outros 175 22,6 Total 774 100,0

    Tabela 6. Distribuição dos isolados pela origem das amostras analisadas no HUOC: julho

    de 2002 a junho de 2003.

    Origem dos isolados Número Percentual

    Sangue (hemocultura) 273 35,3 Urina 152 19,6 Cateter 98 12,6 Secreção geral 53 6,8 Ferida operatória. 51 6,6 Origem respiratória 50 6,5 Liquido ascítico 33 4,3 Abscesso 25 3,2 Dreno 11 1,4 Bile 9 1,2 Líquido de mediastino 7 0,9 Escara 6 0,8 Secreção peritoneal 4 0,5 Fragmento de hematoma 1 0,1 Líquido hepático 1 0,1 Total 774 100,0

  • 25

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 7. Distribuição dos principais isolados pelas fontes da cultura no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.

    P.aeruginosa Klebsiella

    spp

    S. aureus SCN Fontes da cultura

    N (%) N (%) N (%) N (%) Sangue (hemocultura) 35 (22,8) 28 (19,5) 46 (34,8) 72 (78,3) Urina 40 (26,1) 44 (30,7) 2 (1,5) - Cateter 21 (13,7) 18 (12,5) 29 (22,0) 13 (14,1) Ferida operatória 10 (6,5) 11 (7,7) 15 (11,4) 2 (2,2) Abscesso 5 (3,3) 4 (2,8) 7 (5,3) - Líquido ascítico 5 (3,3) 5 (3,5) 5 (3,8) 3 (3,3) Secreção Geral 13 (8,5) 6 (4,2) 16 (12,1) 1 (1,1) Escara 3 (2,0) 1 (0,7) - - Dreno 3 (2,0) 3 (2,1) 1 (0,8) - Bile 1 (0,6) 4 (2,8) - - Líquido do mediastino 4 (2,6) 1 (0,7) - - Trato respiratório 13 (8,5) 15 (10,4) 10 (7,6) 1 (1,1) Outros - 3 (2,1) 1 (0,8) - Total 153 (100,0) 143 (100,0) 132 (100,0) 92 (100,0)

    NT – não testado; % percentual de resistência; SCN – Staphylococcus coagulase negativa

  • 26

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 8. Distribuição por pavilhão dos mais freqüentes microrganismos no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    P. aeruginosa Klebsiella spp

    S. aureus SCN E. coli OUTROS TOTAL Pavilhões

    n % n % n % n % n % n % n %

    Cirurgia geral e transplantes (AM)

    22 21,4 28 27,2 9 8,7 - - 15 14,6 29 28,1 103 100

    Clínica geral e cardiológica (JM)

    9 10,9 16 19,5 14 17,0 - - 11 13,4 32 39,1 82 100

    Clínica pneumológica (CCH)

    10 23,2 9 20,9 10 23,2 - - 4 9,4 10 23,2 43 100

    Doenças infecciosas e parasitárias (DIP)

    32 24,4 14 10,7 25 19,1 21 16,0 - - 39 29,8 131 100

    Unidade terapia intensiva geral (UTI-G)

    23 28,3 15 18,5 14 17,3 - - 6 7,4 23 28,3 81 100

    Unidade terapia intensiva coronariana (UTI-C)

    6 18,8 5 15,6 6 18,8 7 21,8 - - 8 25,0 32 100

    Centro de oncologia (CEON)

    37 19,0 29 14,9 30 15,5 33 17,0 - - 65 33,5 194 100

    n – número; % percentual de isolados; SCN - Staphylococcus coagulase negativo

  • 27

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 9. Resistência aos antimicrobianos apresentada pelos isolados mais freqüentes no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003

    Grupos de antimicrobianos Antimicrobianos P.aeruginosa %

    Klebsiella spp %

    S. aureus %

    SCN %

    Fluorquinolonas Norfloxacina 64,7 19,0 34,4 39,3 Ciprofloxacina 63,2 15,4 33,1 33,3 Moxifloxacina NT NT 10,2 7,9 Aminoglicosídios Amicacina 65,4 18,9 39,4 44,4 Gentamicina 69,3 24,5 36,6 47,3 Ureidopenicilina/inibidor de β-lactamase Piperacilina/tazobactam 25,9 23,1 39,1 41,7 Cefalosporinas Cefalotina NT 73,4 NT NT Cefoxitina NT 67,1 NT NT Ceftazidima 86,8 54,5 NT NT Cefepime 65,3 35,7 NT NT Carbapenens Imipenem 56,9 4,2 40,9 44,6 Meropenem 57,6 3,5 39,1 44,3 Sulfa/potencializador Sulfametoxazol/trimetoprim NT 64,3 35,5 40,0 Cloranfenicol Cloranfenicol NT 52,4 34,1 52,7 Monobactâmico Aztreonam 8,7 NT NT NT Colimicinas Polimixina B 0 NT NT NT Penicilinas

    Penicilina G Oxacilina (penicilina semi-sintética)

    NT NT

    NT NT

    68,2 40,2

    76,1 45,7

    Macrolídios Eritromicina NT NT 49,6 48,9 Tetraciclinas Tetraciclina NT NT 43,8 24,2 Lincomicinas Clindamicina NT NT 46,2 58,0 Glicopeptídios Teicoplamina NT NT 0 0 Vancomicina NT NT 0 0 NT – não testado; % percentual de resistência; SCN – Staphylococcus coagulase negativa

  • 28

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    A comparação da resistência aos antimicrobianos por trimestre, apresentada pela P.

    aeruginosa, não apresentou diferença significativa, enquanto que a Klebsiella spp revelou

    diferença significativa em relação a resistência ao cloranfenicol (p=0,015). Quanto ao S.

    aureus também, não foi observada diferença significativa na resistência durante o ano do

    estudo quando observado por trimestre. Dados apresentados nas Tabelas 10, 11, 12.

    Tabela 10. Distribuição da resistência apresentada pela P. aeruginosa aos antimicrobianos

    por períodos, durante um ano: julho/2002 a junho/2003.

    Antimicrobianos Trimestres do ano Significância

    JUL a SET OUT a DEZ JAN a MAR ABR a JUN p-valor

    2002 2002 2003 2003 Piperacilina/tazobactam 14,3 19,1 31,7 29,5 0,4517 Imipenem 33,3 51,8 63,4 61,7 0,2855 Cefalotina 100 100 97,6 100 * Meropenem 33,3 50,9 65,9 63 0,1808 Cefoxitina 100 100 97,6 100 * Norfloxacina 50 62,5 72,5 63 0,5733 Cefotaxima 100 85,7 82,5 89,4 0,5036 Ciprofloxacina 55,6 62,5 69 61,9 0,8772 Cefepime 77,8 61,8 63,4 75 0,6501 Sulfametoxazol/trimetoprim 75,0 86,8 69 89,1 0,1022 Cloranfenicol 77,8 81,8 87,2 100 0,0250 Gentamicina 66,7 67,9 75,6 66 0,7776 Amicacina 77,8 66,1 63,4 63,8 0,8631 Aztreonan 22,2 9,3 7,3 6,7 0,4899 Polimixina B 0 0 0 0 *

  • 29

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 11. Distribuição da resistência apresentada pela Klebsiella spp aos antimicrobianos

    no período durante um ano: julho/2002 a junho/2003.

    Antimicrobianos Trimestres do ano Significância

    JUL a SET OUT a DEZ JAN a MAR ABR a JUN p-valor 2002 2002 2003 2003

    Piperacilina/tazobactam 33,3 27,5 28,9 11,1 0,3034 Imipenem 8,3 5,6 2,2 3,1 0,7323 Cefalotina 75 70,4 68,9 56,3 0,4986 Meropenem 0 5,6 2,2 3,2 0,7227 Cefoxitina 75 70,4 68,9 56,3 0,4986 Norfloxacina 36,4 22,2 20,0 6,3 0,1153 Cefotaxima 75 55,6 57,8 40,6 0,1920 Ciprofloxacina 33,3 22,2 14,3 6,7 0,1391 Cefepime 50 45,1 44,4 18,2 0,3712 Sulfametoxazol/trimetoprim 83,3 64,7 65,6 54,8 0,3720 Cloranfenicol 83,3 62,0 52,3 34,4 0,0150 Gentamicina 41,7 29,6 17,8 18,8 0,2257 Amicacina 16,7 29,4 6,7 21,9 0,0429

    Tabela 12. Distribuição da resistência apresentada pela S. aureus aos antimicrobianos por

    períodos, durante um ano: julho/2002 a junho/2003.

    Antimicrobianos Trimestres do ano Significância

    JUL a SET OUT a DEZ JAN a MAR ABR a JUN p-valor 2002 2002 2003 2003

    Piperacilina/tazobactam 50,0 42,1 34,5 57,7 0,3560 Imipenem 41,7 42,4 34,5 43,8 0,8832 Meropenem 41,7 42,4 31,0 39,3 0,7791 Norfloxacina 25 34,5 31,0 40,6 0,7613 Ciprofloxacina 16,7 33,9 31,6 38,7 0,5845 Sulfametoxazol/trimetoprim 33,3 35,6 33,3 37,5 0,9896 Cloranfenicol 33,3 37,3 24,1 37,5 0,6335 Gentamicina 33,3 35,6 37,9 38,7 0,9834 Amicacina 41,7 39,3 37,9 40 0,9965 Teicoplanina 0 0 0 0 - Vancomicina 0 0 0 0 - Moxifloxacina 8,3 7,0 10,3 16,7 0,5613 Tetraciclina 25,0 49,2 55,6 30,0 0,1002 Clindamicina 58,3 42,4 44,8 50,0 0,7372 Penicilina G 75,0 76,3 55,2 62,5 0,1890 Oxacilina 41,7 40,7 34,5 43,8 0,9013 Eritromicina 45,5 50,8 42,9 54,8 0,8105

  • 30

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    77..22.. RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA NNOOSS PPRRIINNCCIIPPAAIISS IISSOOLLAADDOOSS

    77..22..11.. PPsseeuuddoommoonnaass aaeerruuggiinnoossaa

    Foi encontrado alto padrão de resistência das amostras de P. aeruginosa à maioria

    dos antimicrobianos testados (Tabela 9), principalmente às cefalosporinas de terceira

    geração com 86,8%. Para a cefalosporina de quarta geração (cefepime) a resistência foi

    65,3%.

    Em 1,3% dos isolados foi encontrada resistência a todos os antimicrobianos testados

    com exceção da polimixina B (colimicinas) para qual foi encontrada 100% de

    sensibilidade. Para o aztreonam (monobactâmico) a sensibilidade foi 91,3% e apenas 8,7%

    de resistência (Tabela 9).

    Setenta dos 153 isolados de P. aeruginosa (45,7%) revelaram-se como MDR e 24

    isolados (15,7%) apresentaram um perfil de resistência de alto nível. A tabela 13 mostra a

    distribuição de P. aeruginosa MDR por pavilhão. Foi observada resistência cruzada em

    vários isolados de P. aeruginosa mostrada na tabela 14.

    77..22..22.. KKlleebbssiieellllaa sspppp

    O padrão de resistência antimicrobiano foi considerado variável entre 143 isolados

    de Klebsiella spp (Tabela 9). Os carbapenens foram os compostos mais ativos, imipenem

    (4,2% de resistência) e o meropenem (3,5% de resistência); as fluorquinolonas e os

    aminoglicosídios ainda apresentaram baixo nível de resistência “in vitro”, enquanto que as

    cefalosporinas apresentaram níveis decrescentes de resistência em relação à geração a que

    pertencem: 73,4% < 67,1% < 54,5% < 35,7% (Tabela 9). Todos os isolados resistentes à

    ceftazidime (cefalosporina de 3ª geração) apresentaram também alta resistência à

    gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim, ciprofloxacina e aminacina e baixo nível de

    resistência ao imipenem (Tabela 15).

  • 31

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 13. Distribuição de P. aeruginosa MDR por pavilhões, no HUOC: julho de 2002 a

    junho de 2003.

    Pavilhões Número Percentual

    Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) 21 30,0 Centro de Oncologia (CEON) 14 20,0 Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI-G) 13 18,6 Cirurgia Geral e Transplantes (AM) 12 17,1 Clínica Geral e Cardiologia (JM) 4 5,7 Clínica Pneumológica (CCH) 2 2.9 Unidade Terapia Intensiva Coronariana (UTI-C) 2 2,9 Isolamento Infantil, Doenças Infecto Contagiosas (II) 1 1,4 Pré e Pós Operatório Cardíaco, Adulto e Infantil (JC) 1 1,4

    Total 70 100,0

    7.2.3. SSttaapphhyyllooccooccccuuss aauurreeuuss

    Não foi detectada resistência aos glicopeptídios (vancomicina e teicoplanina) por S.

    aureus no período estudado. O maior nível de resistência encontrado foi para a penicilina

    com 68,2%, e o menor foi para a moxifloxacina, 10,2% (Tabela 9).

    A resistência do S. aureus à oxacilina/meticilina (MRSA) foi 40,2% (Tabela 9),

    destes MRSA 44 isolados (83,0%) tinham perfil de MDR. Os isolados MRSA foram mais

    freqüentes no pavilhão de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) com percentual de

    26,4% (Tabela 16). Dos isolados de S. aureus obtidos de cateter, 55,1% foram resistentes à

    meticilina.

    A tabela 17 mostra a resistência de MSSA e MRSA à eritromicina, clindamicina,

    ciprofloxacina, gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim e cloranfenicol.

    77..22..44.. SSttaapphhyyllooccooccccuuss ccooaagguullaassee nneeggaattiivvoo ((SCN)

    Em SCN não foi detectada resistência aos glicopeptídios (vancomicina e

    teicoplanina) no período estudado.

    A resistência à meticilina/oxacilina apresentada pelo SCN foi de 45,7% e a

    resistência à penicilina foi de 76,11% (Tabela 9).

    Entre os 13 isolados de SCN obtidos a partir de catéter, representando 14,1% de

    todos os isolados (Tabela 7), 24,2% apresentaram-se como MDR.

  • 3332

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 14. Percentual de resistência cruzada em isolados de P. aeruginosa, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.

    Antimicrobiano Imipenem Gentamicina Ciprofloxacin Piperacilina/Tazobactam

    n % n % n % n % Norfloxacina 85 98,9 103 93,2 84 100,0 33 93,9 Ciprofloxacina 74 98,6 91 93,4 86 _____ 35 94,3 Amicacina 87 95,4 106 93,4 86 95,3 36 91,7 Gentamicina 87 100,0 106 _____ 86 98,8 36 94,4 Aztreonan 86 4,7 105 11,4 85 11,8 36 11,4 Polimixina B 86 0 104 0 84 0 35 0 Cefalotina 86 100,0 105 100,0 85 100,0 36 100,0 Cefoxitina 86 100,0 105 100,0 85 100,0 36 100,0 Cefotaxima 86 98,8 105 96,2 85 87,3 35 100,0 Cefepime 70 94,3 88 83,0 72 83,3 27 92,6 Meropenem 86 100,0 105 81,9 85 84,7 36 91,7 Imipenem 87 _____ 106 82,1 86 84,9 36 88,9 Piperacilina/tazobactam 79 40,5 96 35,4 77 42,9 36 _____

    n = número de amostras testadas; % = percentual de resistência

  • 33

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    Tabela 15. Comparação do percentual de Klebsiella spp resistentes a ceftazidima

    (cefalosporinas de terceira geração) e sua resistência a outras drogas, no HUOC: julho de

    2002 a junho de 2003.

    Antimicrobianos Número Percentual

    Gentamicina 78 39,7 Imipenem 78 7,7 Amicacina 78 33,3 Sulfametoxazol/trimetoprim 67 85,1 Ciprofloxacin 67 25,4

    Tabela 16. Distribuição de MRSA por pavilhões, no HUOC: julho de 2002 a junho de

    2003.

    Pavilhões Número Percentual

    Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) 14 26,4 Clínica Geral e Cardiologia (JM) 9 17,0 Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI-G) 8 15,1 Centro de Oncologia (CEON) 6 11,3 Cirurgia Geral e Transplantes (AM) 5 9,4 Unidade de Terapia Intensiva Coronariana (UTI-C) 4 7,5 Pré e Pós Operatório Cardíaco Adulto (AF) 2 3,8 Clínica Pneumológica (CCH) 2 3,8 Pré e Pós Operatório Cardíaco Adulto e Infantil (JC) 1 1,9 Emergência Cardíaca e Pulmonar (ENagib) 1 1,9 Pré e Pós Operatório Cardíaco e Crônico (JR) 1 1,9 Total 53 100,0

    Tabela 17. Distribuição dos percentuais de MRSA e MSSA em relação a resistência a

    outras drogas, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.

    Antimicrobianos MRSA MSSA SCN-MR SCN-MS

    Eritromicina 100,0 13,9 88,1 14,0 Clindamicina 96,2 12,7 90,5 26,0 Ciprofloxacina 76,6 1,3 59,5 8,0 Gentamicina 83,0 5,1 73,8 24,0 Sulfametoxazol/trimetoprim 73,6 5,1 64,3 18,0 Cloranfenicol 73,6 7,6 83,3 26,0 MRSA – Staphylococcus aureus resistente à meticilina; MSSA – Staphylococcus aureus sensível à -meticilina; SCN - Staphylococcus coagulase negativo; MR – meticilina resistente; MS – meticilina sensível.

  • 34

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    8. DISCUSSÃO

    O aumento da morbidade e mortalidade decorrente das infecções hospitalares está

    diretamente relacionado às cepas bacterianas multi-resistentes uma vez que as infecções

    causadas por bactérias resistentes são mais difíceis de tratar, devido à redução da

    disponibilidade de drogas eficazes (SADER et al., 2001; DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).

    A identificação correta dos microrganismos e a determinação da resistência aos

    antimicrobianos poderá fornecer informações necessárias para o controle das infecções

    hospitalares, que possibilite subsidiar o estabelecimento de um programa de monitoramento

    do uso de antimicrobianos e da disseminação de cepas MDR. Diante disto, no período de

    julho de 2002 a junho de 2003, foram estudados 774 isolados provenientes de casos de

    infecção hospitalar no HUOC, sendo 61,2% representados por bacilos Gram negativos,

    33,6% por cocos Gram positivos e 5,2% por fungos.

    Os isolados mais freqüentes no pavilhão Centro de Oncologia (CEON) foram: P.

    aeruginosa (19%), SCN (17%), S. aureus (15,5%) e Klebsiella spp (14,9%). Neste pavilhão

    tem alta concentração de pacientes com imunodepressão e submetidos à procedimentos

    invasivos como o catéter central, tratados com quimioterápicos, que reduz a imunidade a

    níveis mínimos, tornando-os mais susceptíveis às infecções.

    No pavilhão de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP), os isolados mais

    freqüentes foram: P. aeruginosa (24,4%), S. aureus (19,1%), SCN (16%), e Klebsiella spp

    (10,7%), nesse pavilhão encontram-se pacientes sedados, entubados, fazendo uso de

    hemodiálise, com patologias diversas como: tétano, leptospirose, meningite, HIV e outras

    doenças infecciosas, o que também compromete a imunidade.

    No pavilhão de Clínica Geral e Cardiologia (JM), os isolados mais freqüentes

    foram: Klebsiella spp (19,5%), S. aureus (17%) e P. aeruginosa (10,9%), neste pavilhão

    estão os pacientes crônicos com longa permanência hospitalar, com as mais variadas

    doenças de base.

    O pavilhão AM recebe pacientes de cirurgia geral e transplantados, neste pavilhão

    os isolados mais freqüentes foram: Klebsiella spp (27,2%), P. aeruginosa (21,4%) e S.

    aureus (8,7%), que exigem procedimentos de alta complexidade e longa permanência

    hospitalar, e medicamentos imunossupressores.

  • 35

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    A Clínica de Pneumologia (CCH), apresentou como isolados mais freqüentes P.

    aeruginosa e S. aureus com 23,2% e Klebsiella spp 20,9%. A Unidade de Terapia Intensiva

    Geral (UTI-G) apresentou P. aeruginosa (28,3%), Klebsiella spp (18,5%), S. aureus

    (17,3%). A Unidade de Terapia Intensiva Coronariana (UTI-C) apresentou P. aeruginosa e

    S. aureus (18,8%) e Klebsiella spp (15,6%).

    O S. aureus foi um dos mais freqüentes isolados, ocupando o primeiro lugar

    juntamente com a P. aeruginosa no CCH e UTI-C, sendo o segundo mais freqüente no JM,

    DIP e CEON, e o terceiro mais freqüente na UTI-G.

    A P. aeruginosa foi mais freqüente no DIP, UTI-G e CEON, no CCH e UTI-C que

    juntamente com o S. aureus foram os mais freqüentes. A Klebsiella spp só apresentou o

    primeiro lugar no AM e JM.

    Com estes dados pode-se fazer comparações com estudos futuros, ao observar os

    patógenos mais freqüentes em cada pavilhão.

    Em relação à origem dos isolados a maior fonte foi o sangue (hemocultura), seguido

    da urina e do cateter. O cateter venoso é a causa mais freqüente de infecção por SCN

    (VIEDMA et al., 2000), por abrir uma porta para entrada de microrganismos e favorecer a

    aderência dos microrganismos produtores de biofilme (TAN et al., 1994; STEWART;

    COSTERTON, 2001; FERRETTI et al., 2003). Nas hemoculturas o percentual de

    microrganismos Gram positivos foi levemente maior que o dos Gram negativos e fungos. O

    estafilococo coagulase negativo (SCN) foi o isolado mais freqüente seguido do S. aureus,

    entre os 13 isolados de SCN obtidos a partir de catéter, representando 14,1% de todos os

    isolados (Tabela 7), 24,2% apresentaram-se como MDR. Vários fatores como o uso de

    cateter vesical, necessidades fisiológicas e banhos no leito predispõem os pacientes

    hospitalizados à infecção urinária. Nesses pacientes são freqüentes as infecções por bacilos

    Gram negativos de origem fecal e ambiental. No período do nosso estudo, foram isolados a

    partir da cultura de urina, 44 dos 143 isolados de Klebsiella spp e 40 dos 153 isolados de P.

    aeruginosa.

    As infecções hospitalares são agravadas pela resistência dos microrganismos aos

    antimicrobianos. Os isolados provenientes de infecção hospitalar no HUOC, no período

    estudado, apresentaram resistência a vários antimicrobianos. Chamou atenção, sobretudo, a

    resistência apresentada pelos isolados mais freqüentes em infecções nosocomiais como:

  • 36

    Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...

    SCN, S. aureus, P. aeruginosa e Klebsiella spp, que se mostraram resistentes a múltiplos

    antimicrobianos e muitos sendo considerados como MDR. Uma bactéria é considerada

    multi-resistente quando desenvolve resistência a um ou mais grupos de antimicrobianos aos

    quais era considerada sensível. Estes antimicrobianos atuam como marcadores de multi-

    resistência e são distintos para cada microrganismo (ÁLVAREZ-LERMA et al., 2002).

    O acompanhamento da resistência apresentada pela P. aeruginosa, S. aureus, e

    Klebsiella spp aos antimicrobianos, por trimestre do ano, não revelou diferenças exceto em

    relação a Klebsiella spp que apresentou um aumento significativo da sensibilidade ao

    cloranfenicol (1,5%) (Tabelas 9, 10, e 11). No entanto, consideramos que o período de um

    ano é insuficiente para produção de diferenças significativas, na ausência de uma política

    de uso racional de antimicrobianos.

    A P. aeruginosa, espécie oportunista e ambiental, é o mais comum não fermentador

    implicado nas infecções humanas, isolada freqüentemente em vários locais no mundo

    (SADER et al., 2001; ANDRADE et al., 2003; GALES et al., 2003; FASS et al., 1996). No

    presente trabalho a P. aeruginosa apresentou perfil de resistência muito alto em relação à

    maioria dos antimicrobianos refletindo os múltiplos mecanismos de resistência deste

    importante patógeno hospitalar.

    As cefalosporinas terceira e quarta geração foram às drogas para as quais a P.

    aeruginosa apresentou maior percentual de resistência.

    A P. aeruginosa apresentou perfil de MDR em 45,7% (70 isolados) do total de 153

    isolados de P. aeruginosa, considerando-se como critério de multi-drogas- resistência, a

    resistência ao mesmo tempo a quatro grupos de antimicrobianos: cefalosporinas,

    aminoglicosídios, fluorquinolonas e carbapenens. Resistência de “Alto nível” foi

    apresentada por 15,7% (24 isolados), compreendida como a resistência a seis grupos de

    antimicrobianos não relacionados: cefalosporinas, aminoglicosídios, fluorquinolonas,

    carbapenens, sulfa/potencializador e cloranfenicol. Em dois isolados (1,3%) foi encontrada

    resistência a todos os antimicrobianos testados com exceção da polimixina B (colimicinas)

    para qual f