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UniSALESIANO LINS CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO AUXILIUMCURSO DE DIREITO MARIANA NAGANO DA SILVA AÇÕES AFIRMATIVAS: A CONSTITUCIONALIDADE DAS COTAS RACIAIS NA PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL LINS, 2016

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UniSALESIANO LINS

CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO “AUXILIUM”

CURSO DE DIREITO

MARIANA NAGANO DA SILVA

AÇÕES AFIRMATIVAS: A CONSTITUCIONALIDADE DAS COTAS RACIAIS NA

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

LINS, 2016

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MARIANA NAGANO DA SILVA

AÇÕES AFIRMATIVAS: A CONSTITUCIONALIDADE DAS COTAS RACIAIS

NA PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

Monografia apresentada ao curso de

Direito do UniSALESIANO, Centro

Universitário Católico Salesiano Auxilium,

sob a orientação do Professor Doutor

Juliano Napoleão Barros como um dos

requisitos para obtenção do título de

bacharel em Direito.

LINS, 2016

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MARIANA NAGANO DA SILVA

AÇÕES AFIRMATIVAS: A CONSTITUCIONALIDADE DAS COTAS RACIAIS NA

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

Monografia apresentada ao curso de

Direito do UniSALESIANO, Centro

Universitário Católico Salesiano Auxilium,

sob a orientação do Professor Doutor

Juliano Napoleão Barros como um dos

requisitos para obtenção do título de

bacharel em Direito.

Lins, 16 de Junho de 2016

Professor Doutor Juliano Napoleão Barros (Orientador)

Professor Mestre Danilo César Siviero Ripoli

Professora Mestre Meire Cristina Queiroz Sato

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Dedico este trabalho aos meus pais José Valter da Silva e

Mercedes Noriko Nagano, pois foi mediante a oportunidade

que eles me concederam em ingressar na graduação, e

através dos esforços diários de ambos que esta etapa vem a

ser concluída.

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado a vida e por conceder a

vitória e a experiência de ter a graduação concluída.

Aos meus amados pais, José Valter da Silva e Mercedes Noriko Nagano, que

me ajudaram ao longo desta jornada acadêmica, me incentivando a concluir e nunca

desistir dos meus sonhos.

Aos meus familiares, que de alguma forma colaboraram com este momento

de felicidade.

Ao meu orientador, Juliano Napoleão Barros, pela paciência e dedicação para

que o presente trabalho fosse concluído.

Aos meus professores que durante os 5 anos nos incentivaram com amor,

dedicação e vontade; e ainda dedicaram suas noites para transferir os

conhecimentos jurídicos que hoje é de suma importância para que após a conclusão

desta jornada me encontro apta para o mercado de trabalho.

Aos meus amigos que a graduação me apresentou e que me acompanharam

ao longo destes 5 anos e em especial, a minha amiga Michele Nikel Rodrigues que

em todos esses anos foi minha companheira de estudos.

Ao meu namorado pela compreensão, ajuda e paciência em todos esses anos

de estudo, pois de alguma forma contribuiu para que essa etapa fosse vencida com

sucesso.

E a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização

desta etapa.

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“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se elas podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto”.

Nelson Mandela, 2003.

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RESUMO

O presente trabalho aborda temas sobre as ações afirmativas, cotas raciais,

igualdade racial e projetos de leis que deram origem às principais leis que

fundamentam o trabalho exposto, as quais instituíram as cotas raciais nas

universidades e nos concursos públicos, com a finalidade de superação do racismo e

das desigualdades ocorridas na sociedade em razão da etnia. Ao abordar as ações

afirmativas instituídas, nota-se que estas ocorrem através das cotas raciais que

reservam aos afrodescendentes uma porcentagem de vagas para que mediante

aprovação ingressem na universidade e/ou nos concursos públicos. Em meio a

tantas desigualdades e de várias práticas de racismo o presente trabalho visa

apresentar embasamentos jurídicos que contribuem para a superação do racismo,

da discriminação e da desigualdade racial existente na sociedade. As cotas raciais

têm a finalidade de promover a compensação dos afrodescendentes em razão da

desigualdade e da privação de oportunidades que sofreram devido a prática do

racismo histórico que não fora superado após a abolição da escravidão. O Estado,

diante disso, busca através das ações afirmativas a superação do racismo, o qual é

causador da pobreza e da precarização existente na sociedade, privando os

afrodescendentes de oportunidades educacionais, sociais e das demais áreas, como

demonstra as pesquisas que foram desenvolvidas no corpo do trabalho.

Palavras-chaves: AÇÕES AFIRMATIIVAS. COTAS RACIAIS. RACISMO.

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ABSTRACT

This paper addresses issues of affirmative action, racial quotas, racial equality and

project laws which led the main laws that underlie the above work, which established

racial quotas in universities and in public procurement, in order to overcome the

racism and inequality that occurred in society on the grounds of ethnicity. In

addressing the instituted affirmative action, note that they occur across racial quotas

that allow the African descent a percentage of vacancies for approval by from

entering the university and / or in public procurement. Amid so many inequalities and

various practices of racism this paper aims to present legal emplacements that

contribute to the overcoming of racism, discrimination and existing racial inequality in

society. Racial quotas are intended to promote the compensation of African descent

because of inequality and deprivation of opportunities that have suffered due to

historical practice of racism had not been overcome after the abolition of slavery. The

state on this, search through affirmative action to overcome racism, which is the

cause of poverty and existing insecurity in society, depriving the African descendants

of educational opportunities, social and other areas as shown by surveys that are

designed to body job.

Keywords: AFIRMATIIVAS ACTIONS . RACIAL QUOTAS. RACISM.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10

2 RACISMO, DESIGUALDADE RACIAL E O SEU ENFRENTAMENTO PELAS

AÇÕES AFIRMATIVAS.............................................................................................12

2.1 Existe racismo no Brasil?..................................................................................17

2.1.1 Estatuto da Igualdade Racial..........................................................................19

2.2 As ações afirmativas como instrumento de enfrentamento ao

racismo......................................................................................................................22

2.3 As cotas raciais para ingresso nas universidades como exemplo bem

sucedido de promoção da igualdade racial...........................................................25

3 A LUTA POR IGUALDADE RACIAL NO SERVIÇO PÚBLICO E A LEI

12.990/2014................................................................................................................27

3.1 O desafio da efetivação da igualdade racial nos concursos

públicos.....................................................................................................................33

3.2 A importância da diversidade racial na composição dos quadros públicos e

na superação do racismo institucional..................................................................35

4 O ENFRENTAMENTO AO RACISMO NA INICIATIVA PRIVADA: COTAS

RACIAIS NO MERCADODE TRABALHO.................................................................39

4.1 O papel da Seppir no enfrentamento ao racismo............................................41

4.2 Racismo e desigualdade racial no mercado de trabalho...............................43

5 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E DA

LIVRE INICIATIVA ECONÔMICA E O DESAFIO DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE

RACIAL......................................................................................................................47

5.1 Sobre o princípio da Igualdade.........................................................................47

5.2 Sobre o princípio da Livre Iniciativa Econômica.............................................49

CONCLUSÃO............................................................................................................53

REFERÊNCIAS..........................................................................................................55

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1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea passa por um cenário de desigualdade social,

cultural e econômica por conta da diferença racial. Haja vista que a discriminação e o

racismo têm sido fatores fundamentais para esse processo de exclusão dos

indivíduos, oriundos de uma cultura preconceituosa e marcada pelo contexto

histórico do país.

A miscigenação presente na formação da população brasileira evidencia que

cada indivíduo possui características físicas e culturais diferentes. Observa-se essa

diferenciação a partir da descendência de cada um, em razão de seus laços

sanguíneos com os seus antepassados originários da África. Assim, os

afrodescendentes são discriminados por conta de seu contexto histórico que não

contribuíram para condições de igualdade entre todas as etnias. Diante desses

aspectos, a diferença física, dos costumes e tradições evidenciam a exclusão no

mercado de trabalho e as boas oportunidades de estudos.

Para o relatório dos resultados da investigação optou-se pela sua divisão em

capítulos.

No segundo capítulo, que segue a este primeiro introdutório, serão abordadas

questões relacionadas ao racismo e à desigualdade racial existente na sociedade,

bem como os esforços de superação deste cenário, especialmente a implantação

pelo Estado de ações afirmativas, modalidades de políticas públicas que buscam

promover a compensação das desigualdades sofridas pelos afrodescendentes. O

debate remete também ao estudo do estatuto da igualdade racial, o qual é um

mecanismo que regulamenta as políticas que geram a igualdade racial na sociedade,

vindo resguardar e proteger os direitos dos afrodescendentes e o enfrentamento do

racismo enquanto imenso problema social, econômico e psicológico.

No terceiro capítulo, o trabalho aborda questões que são essenciais para a

promoção da igualdade racial na sociedade, como por exemplo a implantação da Lei

12.990 de 2014, que dispõem sobre as cotas raciais para a inserção de negros

mediante aprovações nos concursos públicos de esfera Federal.

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Serão analisadas as controvérsias existentes quanto à modalidade de cotas

raciais implantadas nos concursos públicos e diante disso serão usadas como

mecanismos de defesa para a inserção do negro na sociedade, depois de inúmeras

privações que os cercaram, tendo como argumento que os quadros públicos são

compostos pela maioria de pessoas brancas.

No quarto capítulo, busca-se analisar as cotas raciais no mercado de trabalho,

como forma de inserir os afrodescendentes na sociedade, verificar a maneira pela

qual se manifestou o resultado (positivo) da inserção dos afrodescendentes na

universidade e a inserção do mesmo no mercado de trabalho, demonstrando

também o importantíssimo papel da Seppir, órgão este que busca a promoção da

igualdade racial e a superação do racismo, no qual através dos projetos implantados

na sociedade busca-se alcançar a inserção do negro na sociedade, equiparando-os

aos demais membros sem a discriminação.

O quinto capítulo do trabalho analisa os princípios do ordenamento jurídico,

os quais são base para o estudo das ações afirmativas, pois reza o princípio da

igualdade de que todos são iguais perante a lei, e sendo assim, não deveria ocorrer

o racismo e a discriminação pois a lei dispõem a igualdade entre todos, portanto, na

realidade, não ocorre a igualdade material, vindo apenas estar regulamentada em

abstrato a igualdade formal, e em consonância com este princípio será abordado o

princípio da livre iniciativa econômica, o qual é disposto que o Estado não poderá

intervir abusivamente nas empresas, pois estas obtém o livre-arbítrio de decidir

quanto aos bens e serviços que desenvolverão, porém deverão estar em

consonância como princípio da dignidade humana, não escravizando os empregados

e não cometendo a discriminação no ato da contratação. .

Desta forma, o presente trabalho, busca contribuir com a pesquisa e o debate

sobre a promoção da igualdade racial e a superação do racismo, diante do amparo

legal e em consonância com o desenvolvimento do Estado para a positiva realização

da finalidade supracitada.

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2 RACISMO, DESIGUALDADE RACIAL E O SEU ENFRENTAMENTO PELAS

AÇÕES AFIRMATIVAS

O racismo e a desigualdade racial são problemas graves vivenciados na

sociedade nos tempos atuais. São considerados sérios problemas a ponto de a

Constituição Federal em seu artigo 5°, XLII prever que a prática do racismo é um

crime, inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão.

De acordo com Barroso e Osorio (2016, p.216) o Brasil é um país que

abrange a maior população negra fora do continente africano, portanto a convivência

entre brancos e negros na sociedade brasileira se dá através de uma hierarquização,

na qual os brancos julgam ser superiores aos negros, em razão da questão que em

tempos remotos os negros desenvolviam serviços escravos subordinados aos

brancos, e estes eram os patrões de determinado grupo.

Em face da hierarquização existente, outro ponto de vista originário do

pensamento de superioridade em face dos negros, é o meio pelo qual os brasileiros

costumam verificar a posição econômica dos afrodescendentes na sociedade,

analisando os empregos e as funções que determinado grupo desenvolve.

Posto a forma de hierarquização dos brancos sobre os afrodescendentes,

concretiza a ideia de que na sociedade brasileira há racismo e para a militante do

movimento negro e relatora da III Conferência da Nações Unidas contra o racismo,

xenofobia e a intolerância correlato, esta entende que o racismo está entranhado nas

relações sociais do Brasil, e outra característica por ela entendida, é que a

expressão do racismo se modifica com o tempo, manifestando-se em diferentes

formas, gerando e mantendo a perversa estrutura de desigualdade entre a

população negra e branca no país (CICONELLO, 2008, p. 1).

Diante de tal entendimento e com a finalidade de superação do racismo

existente e possível equiparação de igualdade racial foram instituídas as ações

afirmativas, que abrange como espécies as cotas raciais nas universidades e nos

concursos públicos.

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Assim sendo, o Estatuto da Igualdade Racial em seu artigo 1°, II conceitua

desigualdade racial sendo toda situação injustificada que diferencia as pessoas em

razão de sua cor/raça:

Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à

população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos

direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação

e às demais formas de intolerância étnica. II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de

acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e

privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou

étnica. (BRASIL, ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, 2015, p. 1177).

À vista disso o racismo e a desigualdade racial guardam, entre si, relações, ao

passo que a prática do racismo produz a desigualdade racial na sociedade, e em

relação a isto, Santos, Cavalleiro, Barbosa e Ribeiro (2008, p. 915) consentem que

as ações afirmativas são mecanismos que buscam a igualdade racial entre gêneros

e raças discriminadas pelo racismo e pela desigualdade racial.

A não aceitação e a indignação contra as discriminações racial e de gênero,

que foram impostas historicamente aos negros e às mulheres, são pontos

cruciais para nos direcionarmos às políticas de ações afirmativas, buscando

construir um novo conjunto de direitos bem como a restauração das

capacidades humanas desses grupos vulnerabilizados pelas

discriminações.

Então, para analisar as ações afirmativas como uma forma de promoção de

igualdade e de enfrentamento ao racismo, deve-se primeiramente entender o que

vem a ser o racismo e quais são as formas em que é praticado.

Racismo, para muitas pessoas, vem a ser uma forma desimportante, em que

os indivíduos consentem que julgar as pessoas e as discriminarem por serem de

outra etnia não produz nada além de uma chacota momentânea.

Lima e Vála (2004) conceituam o racismo como um sistema que promove a

retirada e a discriminação do homem e até mesmo de um grupo de indivíduos

categorizado como desigual, com base na sua característica física externa.

O racismo constitui-se num processo de hierarquização, exclusão e

discriminação contra um indivíduo ou toda uma categoria social que é

definida como diferente com base em alguma marca física externa (real ou

imaginada), a qual é ressignificada em termos de uma marca cultural interna

que define padrões de comportamento.

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A prática do racismo acontece constantemente na sociedade, através das

chacotas momentâneas que são expressões frequentemente usadas, como por

exemplo “a coisa está preta”, “não sou tuas negas”, “serviço de preto”, “ele é um

negro de alma branca”, expressões estas que muitos usam, no entanto, sem as

considerarem racistas.

Barroso e Osorio (2016, p.218) apontam o entendimento de Florestan

Fernandes, no qual enfatiza que os brancos, integrantes do país brasileiro, ainda

cultivam o preconceito de não terem preconceito no país. Mas, diante disso

apresenta-se uma pesquisa de opinião recente, na qual 92% dos brasileiros

reconhecem que no país há a existência de racismo, portanto, apenas 1,3% se

declaram como racistas.

Desta forma, pode-se dizer que o racismo e a desigualdade são formas de

discriminações que estão explícitas na sociedade, pois os indivíduos

afrodescendentes, que são vítimas de racismo e discriminação, não encontram as

mesmas oportunidades que os brancos, ao passo que a discriminação existente é

baseada na desigualdade vivente. A população negra é a população que não ocupa

os estratos mais elevados da sociedade, tais como cargos de prestígio e posições

sociais e econômicas mais elevadas (BARROSO E OSORIO, 2016, p. 217).

Nesta situação, o racismo atualmente é considerado uma das formas que

mais privam os indivíduos de oportunidades, porque a discriminação existente não

possibilita que pessoas afrodescendentes obtenham oportunidades, pois as mesmas

pertencem a grupos minoritários e excluídos da sociedade, em razão da hierarquia

entre brancos e negros, ricos e pobres.

Assim sendo, nota-se que o racismo ocasiona uma desproporção na

sociedade, uma vez que há preferências de pessoas brancas para ocupar

determinados cargos, para adentrar em determinados lugares, para gerenciar

empresas e entre outras especificações, vindo assim acarretar uma desigualdade

social e racial abundante.

O racismo é um dos principais fatores estruturantes das injustiças sociais que

acometem a sociedade brasileira e, consequentemente, é a chave para entender as

desigualdades sociais que ainda envergonham o país, vindo este ser o entendimento

de Ciconello (2008, p. 2).

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No que tange à desigualdade racial existente no Brasil é perceptível que a

desigualdade ocasiona graves consequências, tanto em direção das vítimas do

racismo e da desigualdade racial como para a sociedade como um todo, uma vez

que este fato provoca a distinção das pessoas nas áreas educacionais, no campo de

emprego, e motiva o crescimento da violência na sociedade.

Há inúmeros casos em que pessoas são violentadas física e verbalmente por

serem afrodescendentes, atualmente há como exemplo o caso da Jornalista Maria

Júlia Coutinho “Maju”, que foi vítima de racismo em julho de 2015 através do site de

relacionamento “Facebook”.

Diante disso, compreende-se que a sociedade é atingida pela prática do

racismo por meio dos acontecimentos de violência física e verbal que ocorrem na

mesma, pelo fato de pessoas racistas cometerem práticas violentas contra

determinados grupos, que no caso citado são os afrodescendentes, diante das

convicções pessoais de que determinado grupo é inferior, é evidente que as práticas

violentas não ocorrem reiteradamente, vindo na maioria das vezes ocorrerem

através de injurias e calunias em redes sociais como por exemplo o caso supracitado

acima.

De acordo com Fátima Bayma (2012, p. 336 apud HOLANDA, 1976):

No Brasil, a questão racial está ligada ao fato de que o processo de abolição

da escravatura, que iniciou muito antes de 1888, consistiu em uma

estratégia econômica da Inglaterra – criar mercado consumidor para seus

produtos manufaturados – e não foi acompanhado de nenhuma política de

integração social dos muitos negros que deixaram de ser escravos. Como

consequência, os negros, que não eram mais interessantes como mão de

obra, conseguiram a "liberdade", mas sem trabalho, sem acesso à educação

e sem condições de moradia.

Portanto, a sociedade evoluiu, mas a desigualdade racial que existia

anteriormente não se superou, existindo ainda a privação de oportunidades perante

as pessoas afrodescendentes, no que diz a respeito à educação, moradia e saúde.

De acordo com os dados do IPEA (2009), a população com 15 anos de idade

ou mais, que não sabia ler nem escrever era de 9,7%; na região do Nordeste a

situação dos negros analfabetos era de 20,5% ao passo que os brancos analfabetos

da mesma região eram de 14,2%.

A média de anos de estudos da população negra era de 6,7 anos de estudo,

ao passo que a população branca tinha 8,4 anos de estudo. No que tange à

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matrícula de crianças entre 0 e 3 anos na creche, destaca-se que 16,7% das

crianças negras estavam matriculadas na creche ao passo que, 20,2% das crianças

brancas estavam matriculadas.

Diante do exposto acima é fundamental que seja superada a questão de

desigualdade racial na esfera da educação, pois as porcentagens divulgadas pelo

IPEA demonstram a desproporção entre pessoas brancas e negras que tem acesso

à educação no nosso país e que são alfabetizadas.

É de conhecimento geral que a educação é a base para um futuro melhor,

assim sendo, se todas as crianças e/ou adolescentes afrodescendentes tivessem o

mesmo acesso à educação que as crianças brancas têm, ambas cresceriam em uma

sociedade com igualdade entre as pessoas, em um ambiente rodeado por diretrizes

para que crescessem sabendo que todos são iguais, sem nenhuma distinção.

Em vista da forma exposta, as pessoas independentemente de sua cor ou

raça teriam futuros de iguais oportunidades e caberiam a cada um saber aproveitar

as oportunidades, conquistando um futuro melhor de acordo com a sua capacitação.

À frente de haver as implantações de ações afirmativas nas universidades e

nos concursos públicos com a finalidade de promover a igualdade racial e a

compensação do racismo existente, estas foram recepcionadas até o plenário do

Supremo Tribunal Federal, em que sucedeu a proposta de haver a indicação de uma

mulher e de um negro para compor o Supremo Tribunal Federal.

Após impostas as modalidades de ações afirmativas no Supremo Tribunal

Federal, foi nomeada Ellen Gracie Northfleet para ser a primeira ministra mulher do

STF, e o Ministro Celso de Mello explicou o motivo da nomeação da Ministra:

“O ato de escolha da Ministra Ellen Gracie para o Supremo Tribunal Federal

– Além de expressar a celebração de um novo tempo – teve o significado de

verdadeiro rito de passagem, pois inaugurou, de modo positivo, na história

judiciária do Brasil, uma clara e irreversível transição para um modelo social

que repudia a discriminação do gênero ao mesmo tempo em que consagra

a prática afirmativa e republicana da igualdade” (LENZA, 2015, p. 1163).

Diante da indicação de uma mulher para compor o quadro de Ministra do STF,

o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou também um Ministro negro para

compor este quadro, firmando a prática das ações afirmativas no Supremo Tribunal

Federal, vindo então a compor o cargo vago, o Ministro Joaquim Barbosa.

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Posto a nomeação, o Ministro Marco Aurélio declarou durante uma entrevista

com a Secretária especial de políticas e promoção da igualdade racial sobre a ações

afirmativas realizadas no Supremo Tribunal Federal de que “Estamos vivendo em um

período bastante positivo em que este governo está, de fato, sendo propositivo e

indicando pessoas que não tiveram acesso ao poder, considerando que o nosso país

é bastante discriminatório e racista” (LENZA, 2015, p. 1163).

Diante da finalidade de corrigir as desigualdades sociais e raciais existentes, o

governo aprovou as Leis 12.711/2012 e posteriormente a 12.990/2014. A primeira

regulamenta a possibilidade de as pessoas que são oriundas do Ensino Médio

público ingressarem na universidade através de cotas, ao passo que a segunda

regulamenta a inserção do afrodescendente nos concursos públicos através da

modalidade de cotas raciais.

A Lei 12.990/2014 reserva aos negros 20% das vagas oferecidas nos

concursos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das

fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista

controlada pela União.

[...] a aprovação da Lei n. 12.990/2014 que reserva ao negros 20% das

vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos

efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal,

das autarquias, da fundações públicas, das empresas públicas e das

sociedades de economia mista controladas pela União (LENZA, 2015, p.

1161).

2.1 Existe racismo no Brasil?

Ciconello (2008, p. 2) lança o raciocínio de que o racismo é uma forma de

afluir as injustiças sociais que abalam a sociedade brasileira, pois metade da

população brasileira é negra e a maioria dela é pobre, sendo assim, o racismo é a

chave principal para se entender as desigualdades sociais que envergonham o país

brasileiro.

As injustiças sociais alegadas por Ciconello (2008, p.2) se baseiam nas

relações interpessoais diárias que geram acessos desiguais a bens e serviços pela

população afrodescendente, ao passo que no mercado de trabalho, no ensino

superior e também no gozo dos direitos civis, sociais e econômicos os

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afrodescendentes são privados de oportunidades em face da desigualdade racial

existente, sendo a base principal que justifica a condição de pobreza da população

negra.

O racismo não é cometido apenas contra as pessoas negras, embora os

afrodescendentes sejam os mais discriminados, mas também são vítimas de racismo

pessoas de outras raças, como por exemplo o Índio.

Portanto, é perceptível o racismo na sociedade, pois ele aparece

constantemente e por todas as partes, como descreve Ciconello:

“O racismo é percebido e vivido no cotidiano: nos shopping centers de elite,

onde os trabalhadores negros são confinados em postos de vigias ou

faxineiros e raramente empregados em atividades de atendimento ao

público; na programação televisa, onde os negros/as, quando aparecem,

ocupam as tradicionais posições de subordinação (a empregada doméstica,

o bandido, a prostituta, o menino de rua, o segurança); nas piadas e

expressões de cunho racista sempre presente nas reuniões de família

brancas. Expressões como “não sou racista, mas nunca aceitaria meu filho

ou filha se casando com um negro/a” são comuns no Brasil. São milhões de

atitudes, gestos, opções e decisões diuturnamente tomados dentro de uma

estrutura social e simbólica na qual a cor da pele é um determinante

importante”. (Ciconello, p. 3, 2008).

Segundo Ciconello (2008, p. 1), foi realizada uma pesquisa de opinião pela

Fundação Perseu Abramo em 2003 (Santos & Silva. 2005), que demonstra que 87%

dos brasileiros/as admitem que há racismo no Brasil, contudo apenas 4% se

reconhecem como racistas, no entanto, por que apenas 4% das pessoas se

autodeclaram como racistas se as pesquisas demonstram uma quantidade elevada

de que existe racismo no Brasil?

Tal indagação é fácil de se entender, pois os indivíduos apenas classificam

como racistas as pessoas que obtém uma discriminação racial com outra pessoa, ou

seja, que classifica alguém como inferior ou superior a ele em razão de sua etnia e

desta forma, acreditam que por esta razão devem ser tratadas de forma distinta,

vindo a não englobar como racistas pessoas que realizam chacotas momentâneas

como forma de zombaria.

Portanto, como a prática do racismo era e é visível na sociedade, a

Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso XLII, dispõem que a prática de

racismo é crime sujeito a pena de reclusão, é inafiançável e imprescritível.

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Art.5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,

sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

Por fim, é de suma importância que o racismo seja superado e sendo assim,

que sejam reduzidas as desigualdades existentes no país no que tange à questão

econômica, social e educacional, ao passo que são estes fatores que causam uma

desigualdade atual na sociedade através dos indivíduos que sofrem o racismo e com

a desigualdade racial, pois diante da desigualdade existente não há como se falar

em igualdade material, visto que a igualdade material ocorrerá quando houver a

superação do racismo e posteriormente uma igualdade de oportunidades perante o

mercado de trabalho, perante o sistema educacional e demais áreas.

2.1.1 Estatuto da igualdade racial

Para que seja possível analisar o estatuto da igualdade racial, deve-se

primeiramente estudar a causa que lhe deu origem, que nada mais é que a

desigualdade racial existente na sociedade.

Em consonância com Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5° é

assegurado que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, o

que descreve uma igualdade formal entre as pessoas que compõem a sociedade.

Art. 5°: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade [...] (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2015, p.6).

Por conseguinte, no cotidiano da sociedade não ocorre a igualdade formal

expressa no artigo 5° da Constituição Federal, e sendo assim ocorre a desigualdade

racial, na qual é marcada pela desproporção em oportunidades para algumas raças,

como os afrodescendentes e essa desigualdade racial não é marcada apenas pela

privação de oportunidades, mas também pela pobreza que as populações

discriminadas acabam sofrendo em razão desta privação, e Jaccoud (2008, p. 55-56)

entende que a discriminação racial é um fenômeno presente na sociedade.

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[...] a discriminação racial é um fenômeno presente na dinâmica social

brasileira. Operando na ordem da distribuição do prestigio e privilégios

sociais, os mecanismos raciais de discriminação atuam mesmo nos espaços

sociais e econômicos mais modernos da sociedade. Esses mecanismos não

apenas influenciam na distribuição de lugares e oportunidades. Reforçados

pela própria composição racial da pobreza, eles atuam naturalizando a

surpreendente desigualdade social deste país.

No entanto, o problema da desigualdade é mostrado pela diferença entre

negros e brancos, uma vez que os afrodescendentes não possuem acesso mínimo à

saúde, acesso básico à educação e demais fatores que são direitos das pessoas,

garantidos pela Constituição Federal como sendo direitos fundamentais, e com a

finalidade de superar e diminuir a desigualdade racial foi apresentado na Câmara

dos Deputados no ano de 2000 através do Deputado Paulo Paim um projeto de Lei

n° 3.198 que havia como principal finalidade a promulgação do Estatuto da

Igualdade Racial.

No artigo 1° do projeto de lei apresentado havia em seu texto a finalidade do

Estatuto da Igualdade Racial que estava sendo solicitado, e tinha como finalidade

regulamentar os direitos das pessoas discriminadas.

Art.1°: Esta lei institui o Estatuto Da Igualdade Racial, em defesa dos que

sofrem preconceito ou discriminação racial e destina-se a regular os direitos

especiais daqueles que são discriminados pela sua etnia, raça e/ou cor.

Nos artigos 20, 21, 22 e 23 do projeto de lei constava expressamente sobre a

questão do sistema de cotas raciais, que vem a ser uma questão importantíssima

quando se trata da superação do racismo e promoção da igualdade racial.

Art.20.Será estabelecida cota de pelo menos 20% para o acesso dos

afrodescendentes a cargos públicos, através de concurso público, a nível

federal, estadual e municipal. Art.21.Acrescente-se à Lei nº 9.504, de 30-9-97, art. 10, um novo inciso com

a seguinte redação: "§ 4 Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada

partido ou coligação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o

máximo de setenta por cento para candidaturas afrodescendentes". Os

demais incisos serão renumerados nesta sequência. Art. 22. As empresas com mais de pelo menos 20 empregados manterão

uma cota de no mínimo 20% para trabalhadores negros.

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Art. 23. As universidades reservarão pelo menos 20% de vagas para os

descendentes afro-brasileiros

Desta forma, analisando os artigos supracitados no projeto de lei que

solicitava a elaboração do Estatuto da Igualdade Racial, nota-se que o Deputado que

teve a iniciativa de ingressar com este projeto obteve os cuidados de analisar os

pontos mais relevantes para que concretizasse a finalidade do presente estatuto na

prática e não apenas na teoria, e por esta razão, no projeto de lei estava requerendo

em seus artigos que as pessoas discriminadas, como por exemplo os

afrodescendentes, tivessem a oportunidade de ingressar em cargos públicos, na

política, na educação de grau superior e consequentemente nos empregos públicos

ou privados através das cotas raciais.

O projeto lei n° 3.198 de 2000, foi aprovado no Senado em 2005, por

unanimidade e sendo assim, foi promulgado o estudo deste capítulo: O Estatuto da

Igualdade Racial.

Após a aprovação do projeto supracitado, foi promulgado o estatuto da

igualdade racial vindo entrar em vigor no dia 20 de julho de 2010, através da lei n°

12.288/2010, o Estatuto da Igualdade Racial recepcionou alguns artigos que havia

no projeto lei que lhe deu origem, existindo apenas algumas modificações nas

redações e constituindo artigos novos, pois o projeto lei apenas abordou em seu

corpo a finalidade do mesmo, a razão pelo que seria necessário a constituição de um

Estatuto da Igualdade Racial, incumbindo aos responsáveis legitimados para

fiscalizar a política de combate ao racismo, expressando também no corpo dos

artigos os direitos fundamentais dos indivíduos, como por exemplo, direito à vida,

saúde, moradia, educação, cultura, lazer, esporte etc.

O presente estatuto possui 65 artigos em seu corpo, no qual consta

regulamentado o conceito de desigualdade racial, o que é população negra, quem

são as populações negras, o que vem a ser as ações afirmativas, constando também

os direitos fundamentais que lhe são assegurados, entre outros.

O Estatuto da Igualdade Racial tem a finalidade de garantir à população negra

a efetivação da igualdade de oportunidades e a superação do racismo. Contudo, o

Estatuto da Igualdade Racial em seu artigo 1° consta expressamente a sua

finalidade:

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Art. 1° - Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir

à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa

dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à

discriminação e às demais formas de intolerância étnica (BRASIL,

ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, 2015, p.1177).

O Estatuto da Igualdade Racial, apesar de toda a sua finalidade positiva em

superar o racismo e promover uma igualdade entre negros e brancos, é evidente que

também necessita da atuação do Estado neste processo de igualdade.

A atuação do governo Federal, Estadual e Municipal é de suma importância,

porque para ser válido e concretizado, o que dispõem o Estatuto da Igualdade

Racial, necessita-se diretamente da atuação e participação dos governos,

consequentemente tendo a realização e efetividade da superação das desigualdades

racial e posteriormente a diminuição da prática do racismo.

A atuação dos governos em concretizar a igualdade racial nas redes de

atuação do mesmo é importantíssima, pois através de políticas públicas

desenvolvidas pelos governos, como por exemplo, implantar os estudos

afrodescendentes nas escolas públicas estaduais, municipais e federais, promover

palestras nos órgãos do governo sobre racismo e desigualdade racial podem gerar a

possibilidade de em breve haver a diminuição do racismo e da desigualdade racial

na sociedade, porque na maioria das vezes o que falta na sociedade é

esclarecimentos sobre determinadas práticas e o incentivo de findar com

determinadas práticas.

2.2 As ações afirmativas como instrumento de enfrentamento ao racismo

Para Joaquim B. Barbosa Gomes (2005, p. 55) as ações afirmativas são:

Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de

políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou

voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de

gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir

ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado,

tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a

bens fundamentais como a educação e o emprego.

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As ações afirmativas são instrumentos para que as pessoas classificadas

como prejudicadas com a desigualdade, discriminação e com o racismo em razão de

sua cor/raça possam ingressar na Universidade através de cotas raciais.

Há vários conceitos e entendimentos sobre as ações afirmativas, e segundo

Camilo e Fachin (2013, p. 61) as ações afirmativas são formas de promover a

igualdade e a oportunidade.

Já as ações afirmativas são políticas específicas de promoção de igualdade,

de oportunidade, e de condições concretas de participação na sociedade

para a superação de desigualdades (reserva de cotas para negros nas

universidades públicas, por exemplo).

Há exemplos de Universidades que adotam as ações afirmativas através das

cotas raciais, como a Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) que foi a pioneira em

adotar a modalidade de cotas para o ingresso de pessoas afrodescendentes e

deficientes na Universidade através deste sistema de ações afirmativas que são as

cotas raciais.

Segundo Joaquim B. Barbosa Gomes (2005, p. 70) a Universidade do Rio de

Janeiro (UERJ) adotou o mecanismo de cotas disponibilizando as seguintes

porcentagens de cotas:

O mecanismo das cotas, no Rio de Janeiro, foi instituído por três sucessivas

leis estaduais que destinaram uma percentagem determinada de vagas nos

cursos superiores das universidades estaduais para estudantes

provenientes de escolas públicas (40%), para aqueles que se declarassem

negros ou pardos (40%) e para os deficientes físicos (10%).

Sendo assim, entende-se que a decisão da Universidade do Rio de Janeiro

quando começou a colocar em prática no ano 2002 as cotas estabelecidas por ela

em razão de pessoas negras, pardas e com deficiências, gerou uma controvérsia no

mundo jurídico e por este motivo em setembro de 2003, foi promulgada uma lei no

Estado do Rio de Janeiro estabelecendo que estariam revogadas todas as leis

Estaduais e instituindo uma nova lei para disciplinar o sistema de cotas nas

universidades públicas daquele Estado.

Para Joaquim B. Barbosa Gomes (2005, p. 71) a Lei que está vigente depois

de muitas controvérsias no Estado do Rio de Janeiro sobre as cotas raciais é a Lei

4.151/2003, que dispõem a seguinte porcentagem:

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A lei estabelece uma reserva de 20% (vinte por cento) das vagas para

estudantes oriundos da rede pública de ensino, 20% (vinte por cento) para

negros e 5% (cinco por cento) para pessoas portadoras de deficiência e

integrantes de minorias étnicas, perfazendo um total de 45% das vagas de

todos os cursos e turnos oferecidos (art. 5° c/c art.2°, II).

Partindo da ideia do Estado do Rio de Janeiro em adotar as ações afirmativas

como meio de promover a igualdade racial no que tange às pessoas discriminadas

por causa de sua etnia, entende-se que o Estado tem a obrigação de contribuir para

que o artigo 5° da Constituição Federal seja colocado em prática, pois este artigo

dispõe que todos são iguais perante a lei, sem distinção, porém não é isto que a

sociedade obedece porque há a discriminação racial presente.

Segundo Camilo e Fachin (2013, p. 60), é necessário que o Estado promova

ações para a realização plena da dignidade das minorias.

Há quem diz que as ações afirmativas violam o princípio da igualdade. Em

oposição, Camilo e Fachin (2013, p. 62) dizem que as ações afirmativas não violam

o princípio da igualdade, pois por meio destas ações afirmativas é colocado em

prática o que reza os artigos 3° e 5° da Constituição Federal.

Saliente-se que as ações afirmativas não violam o princípio da igualdade, ao

contrário, o fomentam, pois, a Constituição Federal, em seus arts. 3° e 5°,

estabelece como objetivos fundamentais da República a construção de uma

sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da

marginalização, a redução das desigualdades; e a promoção do bem de

todos, sem qualquer preconceito, seja ele de origem, raça sexo, cor, idade.

Portanto, analisa-se que há a necessidade da existência da promoção das

ações afirmativas para que ocorra a igualdade.

Pode-se afirmar, sem receio de equívoco, que se passou de uma

igualização estática, meramente negativa, no que se proíbe a discriminação,

para uma igualização eficaz, dinâmica, já que os verbos ‘construir’,

‘garantir’, ‘erradicar’ e ‘promover’ implicam, em si, mudança de ótica, ao

denotar ‘ação’. Não basta não discriminar. É preciso viabilizar – e encontrar,

na Carta da República, base para fazê-lo – as mesmas oportunidades. Há

de ter-se como página virada o sistema simplesmente princípio lógico. A postura deve ser, acima de tudo, afirmativa. E é necessário que essa seja

a posição adotada pelos nossos legisladores. [...]. É preciso buscar-se a

ação afirmativa. A neutralidade estatal mostra-se nesses anos um grande

fracasso [...]. Deve-se reafirmar: toda e qualquer lei que tenha por objetivo a

concretude da Constituição Federal não pode ser acusada de

inconstitucionalidade (CAMILO E FACHIN, 2013, p. 62 apud MELLO).

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Contudo, pode-se concluir que a aplicação das ações afirmativas são formas

de corrigir as desigualdades e discriminações existentes, promovendo uma

igualdade com a finalidade de proporcionar o crescimento e as oportunidades para

as pessoas afrodescendentes.

Diante dos argumentos expostos, entende-se que as ações afirmativas,

aplicadas na sociedade através das cotas raciais, são mecanismos compensatórios

para determinados grupos que são vítimas historicamente do racismo e das

desigualdades raciais, sendo assim, as cotas raciais ao serem aplicadas nas

universidades ou nos concursos públicos buscam concretamente realizar uma

igualdade material, pois os afrodescendentes por muito tempo foram privados de

oportunidades em razão do racismo cometido e desta forma, os afrodescendentes,

no decorrer da história, foram sendo excluídos da sociedade, não gozando de seus

direitos protegidos por lei em razão exclusiva do racismo que os cercavam.

2.3 As cotas raciais para ingresso nas universidades como exemplo bem-

Sucedido de promoção da igualdade racial

As cotas raciais tiveram o surgimento para que fosse possível diminuir a

desigualdade racial e social existente na sociedade, pois pessoas negras, pardas,

indígenas e pessoas de baixa renda, sofrem com a discriminação e com a não

oportunidade de poder ter acesso à educação de ensino superior.

Para Bayma (2012, p. 338), há iniquidade do sistema público de educação

básica e do difícil acesso de estudantes negros de baixa renda e provenientes de

escolas públicas, as cotas representam uma forma de ação afirmativa que aumenta

a possibilidade de acesso ao ensino superior, configurando assim a possibilidade de

pessoas negras, pobres e oriundas de ensinos públicos obter uma formação superior

através da políticas públicas que propõem a promoção da igualdade racial por meio

das modalidades de ações afirmativas que são as cotas raciais.

Os dados estáticos do IBGE comprovam a desigualdade existente em razão

da quantidade de pessoas negras que não tiveram acesso à educação superior,

“Dados do IBGE, segundo o qual, no Brasil, 98% dos afrodescendentes na idade

entre 18 a 25 anos não tiveram acesso à educação superior” (BAYMA, 2012, p.338).

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E em razão da discriminação as pessoas negras, pardas e indígenas não só

sofrem emocionalmente com isso, mas sim como um todo, já que esta discriminação

abrange todos os aspectos da vida de uma pessoa, desde a sua reputação como

pessoa descente, o seu lado educacional, a sua formação no mercado de trabalho e

também a sua vida pessoal.

O sofrimento causado pela discriminação por causa de cor, sexo, religião,

entre outras, é realmente algo avassalador na vida do indivíduo, dependendo da

maneira como a situação se manifesta. Pessoas discriminadas não tem uma vida

profissional satisfatória porque a não existência da igualdade impossibilitam-nos de

conquistar a contratação do emprego almejado, tornando-os distantes de adquirirem

uma formação superior em face da discriminação e desigualdade perante a

sociedade.

Em razão desta desproporção de oportunidades para brancos e não

oportunidades para negros gerar reflexos negativos na sociedade, na educação e no

mercado de trabalho, percebe-se que as pessoas negras são desprivilegiadas no

que diz respeito aos direitos básicos do ser humano e isso acaba prejudicando-os

em sua formação trabalhista, pois se encontram sem a chance de obter um cargo de

prestígio social adequado e de reconhecimento e valorização mínima para a

sobrevivência humana.

Portanto, entende-se que as cotas raciais implantadas tem a finalidade

positiva de promover a igualdade racial entre brancos e negros, contribuindo para a

diminuição das desigualdade e da discriminação existente, visto que através das

cotas raciais as pessoas negras e de classe baixa terão acesso à educação e

consequentemente serão inseridas no mercado de trabalho em decorrência de ter

tido acesso à educação superior, vindo posteriormente a formar uma carreira

profissional e assim, a desigualdade no país diminuirá, pois através da promoção da

igualdade as pessoas e as classes desprivilegiadas serão inseridas nas áreas da

educação e do mercado de trabalho, vindo assim a ocorrer uma convivência entre a

sociedade discriminadora com os discriminados.

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3 A LUTA POR IGUALDADE RACIAL NO SERVIÇO PÚBLICO E A LEI

12.990/2014

Como explorado em capítulo anterior o racismo alimenta a desigualdade social.

E em razão disto, foram implantadas as ações afirmativas.

As denominadas “ações afirmativas” compõem um grupo de institutos cujo

objetivo precípuo é, grosso modo, compensar, por meio de políticas públicas

ou privadas, os séculos de discriminação a determinadas raças ou

segmentos [...] (TAVARES, 2014, p. 462).

Dentre as diferentes modalidades de ações afirmativas, destacam-se as

políticas de cotas raciais.

O estudo deste capítulo dedica-se a interpretar as cotas raciais nos concursos

Públicos.

Foi elaborado na Câmara dos Deputados, em 07 de novembro de 2013 o

projeto lei n° 6.738 promovido pelo Poder Executivo, com a finalidade de promulgar

uma lei em que se disponibiliza uma porcentagem de vagas para os

afrodescendentes, buscando efetivar a igualdade material perante os grupos

afrodescendentes que sofrem com o racismo, se houvesse a aprovação do projeto

lei citado exerceria na prática a igualdade formal exposta na lei.

Para Marcel Régis Valente da Silva (2015, p.35), a igualdade material é

aquela que busca a efetiva igualdade, indo além das formalidades legais dispostas,

sendo aplicada e prevista no ordenamento jurídico brasileiro de diversas formas, e

como exemplo pode-se citar as cotas raciais nos concursos públicos de esfera

federal.

Consequentemente, em 9 de junho de 2014 foi promulgada a Lei 12.990/2014

que se destina a reservar aos afrodescendentes o montante de 20% das vagas

disponibilizadas em concursos públicos no âmbito da Administração Pública Federal,

das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de

economia mista controladas pela União aos afrodescendentes e para aqueles que se

autodeclarem pretos ou pardos no ato da inscrição.

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Art. 1°: Ficam reservadas aos negros 20% (vinte por cento) das vagas

oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e

empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das

autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das

sociedades de economia mista controladas pela União, na forma da lei

(BRASIL, LEI N° 12.990/2014).

Diante da reportagem divulgada pelo portal G1, a Presidente Dilma Rousseff

afirmou no Senado durante a promulgação da lei 12.990/2014 de que a lei anunciada

em pouco tempo geraria uma avaliação positiva em face de obter uma igualdade

racial na sociedade.

"Estou certa de que podemos, em um curto espaço de tempo, fazer a

mesma avaliação positiva da lei de cotas no serviço público. As duas [leis

de cotas no serviço público e nas universidades] expressam escolhas

políticas inequívocas de um governo determinado a defender a igualdade

racial como um valor maior na nossa sociedade" (Informação verbal)1.

Diante de tal discurso, entende-se que a finalidade da Lei 12.990/2014 é de

que ocorra uma igualdade de oportunidades para que brancos e negros possam se

equiparar nos empregos públicos, ou seja, que todas as pessoas,

independentemente de sua etnia, tenham a oportunidade e/ou igualdade social.

Com o objetivo de construir uma ideia sobre para que as cotas raciais foram

implantas nos concursos públicos deve-se primeiro superar a noção equivocada

segundo a qual esta modalidade de cotas raciais fere o princípio da igualdade.

Visto que a aprovação da Lei 12.990/2014 gerou diversas controvérsias, pois

há doutrinadores que alegam a inconstitucionalidade da lei, defendendo que a

mesma fere o princípio da igualdade, que está disposto no artigo 5° da Constituição

Federal, portanto para Quintão (2014, apud SENHORAS; CRUZ, 2015, p. 6) entende

que a Lei 12990/2014 afeta o princípio constitucional da igualdade, pois a lei citada

quebra a igualdade formal entre as pessoas.

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos

desta Constituição;

1 Notícia fornecida pelo site do portal G1 na cerimônia de sanção no Planalto, em Brasília em junho de 2014.

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II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa

senão em virtude de lei; III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou

degradante; [...] (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2015, p.4).

Para Tregnago (2007), a lei de cotas, existente no país, é uma aberração

jurídica, visto que diante do ponto de vista do autor as cotas raciais ferem e aniquila

os princípios da base da Constituição Federal, tratando os negros e brancos de

forma desigual, em razão de através do sistema de cotas raciais realizar esta

distinção e separação de determinados grupos raciais, ao passo que oficializa o

racismo e realiza a inclusão forçada do negro na sociedade.

Portanto, Bonadiman (2013) entende que as cotas raciais sejam para as

universidades ou em concursos públicos são inconstitucionais, pois a Constituição

Federal de 1988 em seu artigo 5°, estabelece que todos são iguais perante a lei,

portanto, a implantação de sistemas de cotas raciais para este doutrinador fere o

princípio da igualdade, pois diante de seu entendimento ocorre a distinção das

pessoas quando é implantada o sistema de cotas raciais para o ingresso em

concursos públicos.

Se a Constituição Federal (Lei maior) proíbe quaisquer distinções ou

preferências entre os brasileiros e o sistema de cotas faz isso, logo, o

sistema de cotas raciais para negros, tanto em universidades quanto em

concursos públicos, é INCONSTITUCIONAL.

Godoy (2013, p. 25) alega que deve verificar a constitucionalidade da lei que

reserva cotas para afrodescendentes em concursos públicos, bem como se há

alguma legalidade diante da medida citada. Portanto, para que possa ocorrer o

entendimento sobre a constitucionalidade das cotas raciais nos concursos públicos,

Godoy indica a análise das decisões do Supremo Tribunal Federal e do Superior

Tribunal de Justiça proferidas através das jurisprudências.

O Superior Tribunal de Justiça aprovou em consonância com a legalidade a

Lei Estadual n°14.204/203 no Estado do Paraná, que reserva a porcentagem de 10%

de cotas raciais aos afrodescendentes em concursos daquela unidade, efetuados

pelo Poder Público daquele Estado, ao passo que o Supremo Tribunal Federal é o

pioneiro em tratar de cotas nas universidades públicas (GODOY, 2013, p.25).

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RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA – CONCURSO

PÚBLICO – ANULAÇÃO DO CERTAME – DESCUMPRIMENTO DE LEI

ESTADUAL – RESERVA DE VAGAS PARA AFRO-DESCENDENTES

CONSTITUCIONALIDADE – IMPOSSIBILIDADE DE A AUTONOMIA

UNIVERSITÁRIA SOBREPOR-SE À LEI – INEXISTÊNCIA DE DIREITO

LÍQUIDO E CERTO – RECURSO DESPROVIDO 1. A reparação ou compensação dos fatores de desigualdade factual com

medidas de superioridade jurídica constitui política de ação afirmativa que

se inscreve nos quadros da sociedade fraterna que se lê desde o preâmbulo

da Constituição de 1988. 2. A lei estadual que prevê a reserva de vagas

para afrodescendentes em concurso público está de acordo com a ordem

constitucional vigente. 3. As Universidades Públicas possuem autonomia

suficiente para gerir seu pessoal, bem como o próprio patrimônio financeiro.

O exercício dessa autonomia não pode, contudo, sobrepor-se ao quanto

dispõem a Constituição e as leis. 4. A existência de outras ilegalidades no

certame justifica, in casu, a anulação do concurso, restando prejudicada a

alegação de que as vagas reservadas a afrodescendentes sequer foram

ocupadas. Recurso desprovido.

Diante dos argumentos de inconstitucionalidade das cotas raciais ou de sua

constitucionalidade, deve-se primeiramente observar o que reza o artigo 3°, inciso I,

III e IV, da Constituição Federal, pois ao alegar a inconstitucionalidade das cotas

raciais nos concursos públicos é analisado o princípio da igualdade, se baseando

que as cotas raciais ferem este princípio em razão de privilegiar apenas um grupo da

sociedade que são os negros, e por este motivo, é dada a constitucionalidade das

cotas raciais em razão da finalidade de constituir uma sociedade livre, justa e

solidária com a erradicação da pobreza, promovendo o bem de todos, sem

preconceitos.

Art. 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2015, p. 5).

Nesta vertente, o Estado implantou o sistema de cotas raciais nos concursos

públicos de esfera federal para que assim pudesse reduzir as desigualdades sofridas

pelos afrodescendentes.

As ações afirmativas (inclusive as cotas raciais) são mecanismos legítimos

que contém a exclusiva finalidade de superar o racismo existente no mercado de

trabalho e nas instituições públicas, contribuindo assim para a formação de uma

sociedade sem discriminação e desigualdades, sendo assim, a Lei 12.990/2014 foi

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promulgada com o objetivo de obter a proporção nos quadros públicos de servidores

do poder executivo federal, pois não há uma igualdade material quando verifica-se a

quantidade de brancos e negros que compõem estes quadros púbicos.

Os argumentos básicos são: a) a extrema desproporção entre o número de negros e o de brancos nos quadros de servidores do poder Executivo Federal; e b) a origem histórica das discriminações que geraram essa desproporção (NETO, 2014).

Encontram-se pesquisas realizadas pelo IBGE que demonstram a

porcentagem existente da população negra na sociedade brasileira, e qual a

porcentagem desta população afrodescendente que é privilegiada diante de tamanha

desigualdade racial em compor o quadro de servidores do poder executivo federal.

Segundo a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a

parcela de negros na população brasileira é de 50,7% e, segundo

levantamento realizado pela Secretaria de Políticas de Promoção da

Igualdade (Seppir), apenas 30% do total dos servidores do Poder Executivo

Federal seriam negros (NETO, 2014).

Diante das controvérsias existentes no que diz respeito à inconstitucionalidade

das cotas raciais, foi impetrada a ADPF n° 186 que buscava um julgamento perante

o STF para que o mesmo declarasse as cotas raciais como inconstitucional com

base ao ferimento ao princípio da igualdade, porém o julgamento da ADF n° 186 foi

julgado improcedente e, desta forma, as cotas raciais foram julgadas como

constitucionais.

[...] Refiro-me à ADPF 186-MC/DF, proposta pelo Partido Democratas –

DEM, em face de atos administrativos da Universidade de Brasília, que

instituíram cotas raciais para ingresso de alunos na referida instituição

pública. Por unanimidade, julgou-se improcedente a arguição (GODOY,

2013, p. 26).

O ministro Lewandowski apud Lenza (p.1160, 2015) que é o relator do caso

em que foi impetrada a ADPF n° 186, relatou sobre as cotas raciais considerando-as

como uma correção de desigualdade social.

“As experiências submetidas ao crivo desta Suprema Corte têm como

propósito a correção de desigualdades sociais, historicamente

determinadas, bem como a promoção da diversidade cultural na

comunidade acadêmica e científica. No caso da Universidade de Brasília, a

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reserva de 20% de suas vagas para estudantes negros e de um “pequeno

número” delas para “índios de todos os Estados brasileiros”, pelo prazo de

10 anos, constitui providência adequada e proporcional ao atingimento dos

mencionados desideratos. Dito de outro modo, a política de ação afirmativa

adotada pela UnB não se mostra desproporcional ou irrazoável, afigurando-

se, também sob esse ângulo, compatível com os valores e princípios da

Constituição”.

Diante do julgamento da constitucionalidade das cotas raciais, surgiu a

aprovação da Lei 12.990/2014 a qual não pode ser alegada como inconstitucional,

em razão da aprovação de constitucionalidade citada acima, vindo a lei supracitada

ter como finalidade a superação das desigualdades existentes na sociedade em

razão da cor/etnia, e assim sendo a lei 12.990/2014 tem o prazo máximo de vigência

de 10 anos a contar da data em que a mesma entrou em vigor, posto isso, a lei

vigorará até no ano de 2024.

A Lei Federal 12.990/2014 que disciplina temporariamente a política de

cotas raciais em concursos públicos federais com uma vigência de dez

anos, entre 2014 e 2024, apresenta sua fundamentação de discriminação

positiva a fim de promover a igualdade material [...] (SENHORAS E CRUZ,

2015, p.3).

Para que ocorra a inserção dos afrodescendentes por meio da implantação de

cotas raciais nos concursos públicos é necessário que o/a candidato/a preencha

alguns requisitos estabelecido na lei 12.9990/2014, como por exemplo, o candidato

tem que se autodeclarar como preto ou pardo no ato em que for realizar a inscrição

do concurso.

Art. 2° Poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles

que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso

público conforme o quesito cor ou raça utilizado pela Fundação Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Vale ressaltar que o montante de 20% das vagas reservadas aos

afrodescendentes nos concursos públicos, somente serão estabelecidos nos

concursos em que os números totais de vagas oferecidas para o preenchimento de

pessoas aprovadas for igual ou superior a 3 vagas, assim disposto no artigo 1, § 1

da Lei 12.990 de 2014.

Para que os afrodescendentes ingressem no cargo público, é evidente a

necessariedade da aprovação do mesmo no concurso, e o artigo 3 da lei

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supracitada, revela que o quesito aprovação dos afrodescendentes no concurso

público serão mediante a sua classificação no concurso, ou seja, a quantidade de

acertos realizado pelo candidato, portanto, a pessoa autodeclarada como negro ou

pardo, concorrerá concomitantemente com às vagas reservadas para o montante de

20% das cotas e as vagas destinadas à ampla concorrência, mas vale ressaltar que

no caso de o candidato afrodescendente ser aprovado dentro do número de vagas

disponíveis para a ampla concorrência, este não será computado para o efeito de

preenchimento das vagas reservadas para o ingresso no concurso público através

de cotas raciais, vindo a porcentagem de cotas a permanecer disponível para outros

candidatos que buscam a referida modalidade.

Ainda em observância aos benefícios da Lei 12.990/2014, não poderia se

ausentar da regulamentação os casos em que haja a desistência da vaga adquirida

pela pessoa afrodescendente aprovada no concurso, e desta forma, o artigo 3, §2 e

§3 da Lei 12.990/2014 a ampara, caso ocorra a situação descrita.

Se acontecer a desistência por parte do candidato afrodescendente aprovado,

a vaga será preenchida posteriormente por outro candidato afrodescendente

aprovado e nos casos em que não houver o número suficiente de candidatos negros

aprovados para a ocupação das vagas reservadas aos afrodescendentes, estas

vagas serão revertidas para a ampla concorrência e serão preenchidas pelos demais

candidatos aprovados, observando a ordem de classificação.

Nos casos em que houver uma autodeclaração falsa por parte do candidato,

com a finalidade de ingressar no concurso público por meio das cotas raciais

disponibilizadas, este candidato será eliminado do concurso, e caso já haja ocorrido

a nomeação do mesmo para assumir o cargo este estará sujeito à anulação da sua

admissão ao emprego público, assim disposto no artigo 2, parágrafo único da Lei

12.990/2014.

3.1 O desafio de efetivação da igualdade racial nos concursos públicos

Segundo pesquisas realizadas pelo IBGE, no Brasil, a população que se

autodeclara negra é de 46%, dos quais 5,6% são pretos e 40,4% são pardos

(MYRES, 2003. p. 2).

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Quando se trata de desigualdade racial, deve se explorar o que regulamenta o

Estatuto da Igualdade Racial.

Em seu artigo 4° está disposto que a participação da população negra no que

se refere à igualdade de oportunidades na vida econômica, social, política e cultural

ocorrerá por meio de inclusão de políticas públicas que gerem o desenvolvimento

econômico e social e por adoção de medidas, programas e políticas de ação

afirmativa.

Art. 4o A participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, política e cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio de: I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social; II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa; III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da discriminação étnica; IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais; V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada; VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos públicos; VII - implementação de programas de ação afirmativa destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros. Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as distorções e desigualdades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada, durante o processo de formação social do País (BRASIL, ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, 2015, p.1177).

Em consonância com o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 12.990/2014 foi

promulgada com a finalidade de promover cotas em concursos públicos para

pessoas que se autodeclaram como negros e pardos, com o objetivo de promover a

igualdade racial.

Enquanto instrumento especial e temporário de focalização da política

pública, a discriminação positiva da cota racial em concurso público,

implementada pelo Poder Executivo brasileiro, caracteriza-se como uma

estratégia de compensação para fortalecer o negro, pois ao romper a

igualdade formal na norma tem por objetivo promover a igualdade material

por meio de oportunidades que diminuam desigualdades historicamente

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acumuladas pela discriminação e marginalização (SENHORAS E CRUZ,

2015 apud GLUTZ, 2010).

Ao passo que a Lei 12.990/2014, além da finalidade de compensação de uma

trajetória marcante pelo racismo em face dos afrodescendentes, a mesma contém o

objetivo de conceder oportunidades aos afrodescendentes de ingressarem em uma

carreira através do concurso público, visto que as pessoas afrodescendentes são

grupos minoritários no qual são privados de oportunidades.

Diante da promulgação da lei supracitada, ocasionou que surgissem na

Câmara dos deputados outros projetos leis que buscassem a implantação das cotas

raciais em outros concursos públicos.

Diante da análise nota-se que a Lei 12.990/2014 deu origem às cotas raciais

nos concursos públicos de esfera federal em benefício aos afrodescendentes que

pretendem ingressar em carreira dos concursos federais, portanto, os demais

projetos apresentados na câmara dos deputados posteriormente a esta lei, busca a

implantação de cotas raciais nos concursos do judiciário, executivo e nas empresas

privadas.

3.2 A importância da diversidade racial na composição dos quadros públicos e

na superação do racismo institucional

O Brasil abriga diversos grupos étnicos-raciais em sua sociedade, e diante de

diversidades de raças a que mais se destaca é a dos afrodescendentes, portanto,

diante de vários grupos étnicos-raciais o mais discriminado são os

afrodescendentes, em virtude do passado que hoje é dado como o marco da

abolição da escravidão, em que os negros eram categorizados como escravos.

O Brasil se destaca como uma das maiores sociedades multirraciais do

mundo e abriga um contingente significativo de descendentes de africanos

dispersos na diáspora. De acordo com o censo 2000, o país conta com um

total de 170 milhões de habitantes. Desses, 91 milhões de brasileiros(as) se

autoclassificam como brancos (53,7%); 10 milhões, como pretos (6,2%); 65

milhões, como pardos (38,4%); 761 mil, como amarelos (0,4%), e 734 mil,

como indígenas (0,4%). (GOMES, 2011, p. 110)

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Por intermédio de toda discriminação sofrida pelos afrodescendentes

integrantes da sociedade brasileira, sobrevém problemas sociais, econômicos,

educacionais e políticos, pois em razão da discriminação os afrodescendentes são

privados de oportunidades.

Para Kalckmann e outros (2007, p.146), o racismo institucional é uma das

modalidades de racismo, na qual as pessoas afrodescendentes são privadas de

assumirem determinados cargos, empregos, gerencias ou até mesmo para

ingressarem em uma escola ou universidade em virtude de sua aparência física, ou

seja, por sua cor.

O racismo institucional é definido como o “fracasso coletivo de uma

organização para prover um serviço apropriado e profissional para as

pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica. Ele pode ser visto

ou detectado em processos, atitudes e comportamentos que totalizam em

discriminação por preconceito involuntário, ignorância, negligência e

estereotipação racista, que causa desvantagens a pessoas de minoria

étnica”.

As cotas raciais têm como finalidade promover a diminuição de desigualdade

racial, inserindo os afrodescendentes na sociedade para que assim haja uma

igualdade, de modo que tal grupo possa se beneficiar encontrando oportunidades de

empregos, melhor educação, evidência social e política, assim como os demais

grupos integrantes da sociedade brasileira.

Ao colocar a diversidade étnico-racial e o direito à educação no campo da

equidade, o Movimento Negro indaga a implementação das políticas

públicas de caráter universalista e traz o debate sobre a dimensão ética da

aplicação dessas políticas, a urgência de programas voltados para a

efetivação da justiça social e a necessidade de políticas de ações

afirmativas que possibilitem a efetiva superação das desigualdades étnico-

raciais, de gênero, geracionais, educacionais, de saúde, moradia e emprego

aos coletivos historicamente marcados pela exclusão e pela discriminação

(GOMES, 2011, p.115).

Ao se falar em não oportunidades para os grupos afrodescendentes, deve-se

analisar pesquisas realizadas por institutos do ramo que comprove que tal grupo são

desprivilegiados, e segundo o Instituto Ethos (2003, p. 15), a população

economicamente ativa conta com um contingente negro de 43,3%. O diploma

universitário é privilégio de 6,8% da população com mais de 25 anos; Desta

População com mais de 25 anos e nível superior, 82,8% são brancos, 14,3% são

negros (12,2% pardos, 2,1% pretos).

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A pesquisa supracitada demonstra o quanto a população afrodescendente é

desprivilegiada quando se refere ao ramo da educação, pois é evidente que pessoas

brancas detém uma oportunidade maior e sendo assim ocorre a desigualdade racial,

pois sem a base de educação ou curso de nível superior surgem problemas

econômicos e sociais, dessa maneira os afrodescendentes não encontram

oportunidades ou encontram poucas, em razão de não obter um diploma

educacional de nível fundamental, médio e superior.

Portanto, para que ocorra a superação do racismo e posteriormente uma

igualdade racial é fundamental que exista uma diversidade racial na sociedade, em

que as empresas e escolas seriam compostas por pessoas de todas as classes e de

todas etnias.

No que se refere à composição dos negros diante do mercado de trabalho, o

Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial (INSPIR) publicou o mapa da

população negra referente ao mercado de trabalho no Brasil, pesquisa desenvolvida

nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre,

Recife e Distrito Federal. A pesquisa resulta na porcentagem em que há 43,7% da

população negra nas regiões metropolitanas citadas, porém constitui apenas 41,3%

da população economicamente ativa (MYRES, 2015 p.2 apud INSPIR, 1999).

Diante de dados expostos acima, é evidente que a população negra não está

economicamente desenvolvida, já que a composição de determinado grupo

afrodescendente compõe os cargos públicos e empregos na sociedade. Assim

sendo, foram implantadas as políticas de diversidades a qual têm por objetivo a

adoção de iniciativas, atividades e medidas que reconheçam e promovam a

diferença entre pessoas ou grupos com um valor positivo a ser desenvolvido como

instrumento de integração social, em benefício da produtividade da empresa e da

democratização das oportunidades de acesso e tratamento no mercado de trabalho

(MYRES, 2015, p. 2 apud ALEXIM, 1999).

Em relação as empresas, é evidente que estas são compostas pela maioria de

pessoas brancas, as quais compõem os principais cargos da empresa que são os

mais almejados pelos empregados. O Instituto Ethos lançou o relatório perfil social,

racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas. E

no relatório é demonstrado claramente que a predominância nas empresas é de

homens brancos com alto grau de instrução nos principais cargos executivos

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(MYERES, 2015, p.2 apud Instituto Ethos, 2003, p.5), à medida em que aprecia a

hierarquia empresarial, encontra-se um número maior de negros, portanto o número

de negros que estão desenvolvendo as atividades laborais nas empresas é abaixo

da proporção na população nacional.

Myres (2015, p.2) salienta sobre as iniciativas das empresas em favor da

diversidade racial, portanto, a porcentagem em empresas que se propuseram a

realizar a diversidade racial é alta, porém na prática não se obteve as porcentagens

esperadas.

Em relação às iniciativas das empresas em favor da diversidade, 40% das

que responderam dizem promover ações deste tipo. Dentre as iniciativas, no

entanto, poucas organizações têm políticas claras de promoção de

diversidade étnica ou de gênero. É significativo o apoio a projetos na

comunidade que visem melhorar a oferta de profissionais qualificados

provenientes de grupos usualmente discriminados no mercado de trabalho

(não exclusivamente os negros), citado por 24% das empresas. Por outro

lado, apenas 1% das empresas dizem manter programas para melhorar a

capacitação profissional de negros.

Conforme Oliveira (2007, p. 8-9) enquanto 53,8% dos executivos negros

possuem mais de 15 anos de trabalho na mesma empresa, 37,4% dos brancos e

29,7% dos amarelos demoraram o mesmo tempo para chegarem ao topo das

empresas; ao passo que a pesquisa desenvolvida pelo Instituto Ethos, a mesma

demonstra que as mulheres negras representam apenas 0,1% dos executivos do

país e 1% dos gerentes, apesar de representarem 24% da população brasileira.

Em análise da pesquisa mencionada acima é visível a desproporção e a não

valorização do negro perante a sociedade, vindo este, às vezes, a obter o mesmo

desenvolvimento dentro da empresa, portanto o reconhecimento da atividade

desenvolvida pelo negro não ocorre em razão da discriminação existente em que ele

é inferior ao branco, motivo este pelo qual pessoas brancas assumem os cargos

mais almejados de empresas particulares.

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4 O ENFRENTAMENTO AO RACISMO NA INICIATIVA PRIVADA: COTAS

RACIAIS NO MERCADO DE TRABALHO

O racismo como já abordado, engloba problemas sociais, educacionais e

econômicos, portanto, a implantação das modalidades de ação afirmativa, buscam

promover a igualdade nestes diferentes contextos, o que também remete às

oportunidades no mercado de trabalho para grupos minoritários.

[...] Pesquisas a exemplo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNDA), sempre revelaram que dois tipos de discriminação no mercado de

trabalho são marcantes: discriminação contra mulheres e discriminação

contra negros (ECHEVERRIA e outros, 2015, p.75 apud SOARES, 2000).

Para Echeverria e outros (2015, p. 77), o racismo e as formas de

marginalização social da população negra são marcados por diversos caminhos,

vindo a sua inserção prematura no mercado de trabalho se constituir como uma

forma de determinar seu lugar social, como trabalhadores domésticos, ambulantes,

entre outras atividades sejam formais ou informais.

Em razão do racismo e da discriminação existentes na sociedade, foram

implantadas algumas modalidades de ações afirmativas que tem como principal

finalidade a inserção dos afrodescendentes na sociedade e por consequência no

mercado de trabalho no qual são excluídos.

Em observância ao desenvolvimento do trabalho da SEPPIR (Secretaria

Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) nota-se que o citado órgão

desenvolve a implantação de ações afirmativas, nas quais buscam o enfrentamento

do racismo, com a finalidade de promover a incorporação da igualdade racial.

A Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas coordena e articula a

formulação e o acompanhamento de políticas públicas com vistas à inclusão

da perspectiva racial no conjunto das ações do governo, destacando-se

ações de enfrentamento ao racismo e ações afirmativas. Do conjunto do

planejamento enunciado no Plano Plurianual 2012-2015 no Programa 2034

(Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial), as ações da

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Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas têm como centralidade os

seguintes objetivos e metas [...] (COSTA, 2015).

Diante desta situação observa a necessidade da implantação de cotas raciais

nas empresas privadas, uma vez que Myers (2003, p. 3) relata sobre o relatório de

pesquisa da Ethos no qual divulgou que em 74% das empresas não há negros no

quadro executivo, em face disso, conclui-se que se houve a implantação do sistema

de cotas raciais nas empresas privadas, a porcentagem acima relatada não seria tão

extensa, ao ponto que seriam contratadas pessoas negras para compor os quadros

da empresa.

Tais indagações motivaram o Deputado Federal Evandro Milhomen a

apresentar o Projeto de lei n° 2.697 de 2007, que busca assegurar a reserva de

vagas de emprego em empresas privadas para pessoas afrodescendentes.

Art. 1º As empresas com vinte ou mais empregados estão obrigadas a

empregar número de pessoas pretas e pardas equivalente a, no mínimo,

vinte por cento dos trabalhadores existentes em todos os seus

estabelecimentos. Parágrafo único. A dispensa de empregado na condição

estabelecida neste artigo, quando se tratar de contrato por prazo

determinado, superior a noventa dias, e a dispensa imotivada, no contrato

por prazo indeterminado, somente poderá ocorrer após a contratação de

substituto em condições semelhantes (BRASIL, PROJETO LEI n°

2.697/2000).

O deputado responsável pela apresentação do projeto lei na câmara dos

deputados, argumentou como justificativa da implantação da modalidade de cotas

raciais nas empresas privadas, que pessoas negras e pardas não devem ser

excluídas do mercado de trabalho em razão de sua cor ou raça, à medida que há o

amparo de legislações que não permite a discriminação em razão da cor, raça, sexo,

idade etc.

A Constituição Federal, em seu art. 7º, inciso XXXI, estabelece a proibição

de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão

por motivo de sexo, idade, cor e estado civil. Nessa direção, a Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, em seu art. 1º,

determina que fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e

limitativa para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua manutenção,

por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou

idade. O art. 3º da referida lei ainda dispõe que as infrações ao disposto na

lei são passíveis de multa administrativa de dez vezes o valor do maior

salário pago pelo empregador, elevada em cinquenta por cento em caso de

reincidência; e proibição de obter empréstimo ou financiamento junto a

instituições financeiras oficiais.

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Porém a rigidez legal não impede que a população negra (pessoas pretas e

pardas), por motivo de cor, seja excluída do mercado de trabalho brasileiro,

tendo em vista a dificuldade encontrada pelos prejudicados em provar tal

discriminação (MILHOMEN, 2007).

O referido projeto foi apresentado na câmara dos deputados no ano de 2007,

e neste período foi arquivado, portanto no ano de 2015 o projeto referido foi

desarquivado e até o presente momento está aguardando a apreciação da câmara

dos deputados.

Posteriormente a apreciação dos deputados e os seus respectivos pareceres,

poderá ser constituída uma lei, assim como almeja o projeto lei, caso haja a

apreciação positiva, e, diante disso, existiria a reserva de cotas raciais para as

empresas privadas na qual haveria como finalidade a superação do racismo em uma

esfera tão almejada que é o mercado de trabalho.

Conforme decisões do Supremo Tribunal Federal, no que tange à

constitucionalidade das cotas raciais nos concursos públicos e nas universidades,

argumentando que a implantação das cotas raciais seriam modalidades de

superação do racismo existente e da desigualdade racial, presumidamente poderão

ser estas argumentações de superação do racismo, de obter uma igualdade material

perante a sociedade discriminada, caso haja a aprovação do projeto lei n° 2.697 de

2000.

Diante da possível constituição da aprovação do projeto lei é indiscutível que

haverá doutrinadores que alegarão a inconstitucionalidade da lei, ao passo que ao

instituir cotas raciais nos concursos públicos surgirão controversas alegando a

inconstitucionalidade da mesma em virtude de ferir o princípio da igualdade.

4.1 O papel da SEPPIR no enfrentamento ao racismo

A SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas da Promoção da Igualdade Racial)

desenvolve vários projetos e ações com a finalidade de haver a superação do

racismo e posteriormente a igualdade racial, vindo estes projetos a serem inseridos

nos meios educacionais, no trabalho e na cooperação internacional, através da

parceria que a Secretaria desenvolve com o governo com a finalidade

supramencionada.

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No ambiente da educação a SEPPIR desenvolve a promoção da igualdade e

o enfrentamento ao racismo através dos projetos denominados como Implementação

das Leis 10.639/2003 (Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas Escolas) e

12.711/2012 (Lei de Cotas no Ensino Superior), Programa Institucional de Iniciação

Científica nas Ações Afirmativas (PIBIC-AF), Programa de Extensão Universitária –

PROEXT, Selo Educação para a Igualdade Racial, Projeto A Cor da Cultura, Curso

Gênero e Diversidade na Escola (GDE), Curso de Gestão de Políticas Públicas em

Gênero e Raça (GPP-GeR), Arquivos e links sobre Educação das Relações

Etnicorraciais, Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento,

Programa Universidade para Todos e estes programas são realizados em diversos

estados e cidades do nosso País, em parceria com entidades como Unesco e

Universidades diversas (COSTA, 2015).

De acordo com Costa (2015) um dos projetos mais conhecidos, entre tantos

citados acima, é a implantação das leis 10.639/2003 e 12.711/2012, sendo que a

primeira estabelece que as escolas devem realizar o ensinamento das histórias e

culturas afro-brasileira, e a segunda dispõe sobre a reserva de cotas para negros e

indígenas que estudaram em escolas públicas e pretendem por meio das cotas

raciais estabelecidas nesta lei ingressarem em universidades federais ou institutos

federais.

Verificamos que após a implantação dos projetos mencionados, ambos já

tiveram resultados positivos perante a sociedade afrodescendente, uma vez que os

dados apresentados no site da SEPPIR, Costa (2015) demonstram que durante o

ano de 2013 e 2014 as Universidades Federais tiveram o seu total de vagas

aumentadas em 10%, e as vagas para cotistas cresceram em 28%, e nos Institutos

Federais tanto o total de vagas como o de cotistas cresceram em 18%.

A SEPPIR apresenta também projetos para inserção do grupo minoritário no

trabalho, e estes são desenvolvidos através dos projetos denominados como

empreendedorismo negro, Lei 12.990/2012 - Lei de Cotas no Serviço Público, Plano

Setorial de Qualificação – Trabalho Doméstico Cidadão (Planseq-TDC), Plano

Nacional de Comércio e Serviços para Profissionais

Afrodescendentes (Planseq/Afrodescendente), Programa Trabalho Doméstico

Cidadão, Agenda Nacional do Trabalho Decente, Políticas, Programas e Projetos

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voltados para a inclusão da população negra no mercado de trabalho e Trabalho

Doméstico.

Diante de inúmeros projetos para inserção do negro na sociedade é evidente

que o seu principal objetivo é a superação do racismo histórico existente atualmente

na sociedade, e que diante disto há uma equiparação entre as raças (brancos e

negros) para que assim haja uma igualdade no que diz a respeito às oportunidades

de tais grupo étnicos.

Diante de tais afirmações e divulgações de projetos para que ocorra o

enfrentamento ao racismo nota-se que estes são desenvolvidos pelo governo e

quando não desenvolvidos por este, o projeto faz parceria com o governo.

À vista disso constata-se que a parceria do governo e até mesmo a autonomia

do governo em desenvolver políticas afirmativas para a inserção dos

afrodescendentes na sociedade através das cotas raciais é uma proposta positiva

que busca a inclusão do grupo minoritário na sociedade, portanto apenas a

promoção da igualdade racial através de estatutos e também disponibilizar

porcentagens de cotas raciais nas universidades e nos concursos públicos não são

eficientes, uma vez que os afrodescendentes são privados de oportunidades diante

da sociedade, ao passo que nas empresas privadas estes são considerados

minorias em razão de tamanha desigualdade racial.

4.2 Racismo e desigualdade racial no mercado de trabalho

Diante do racismo e da desigualdade racial no mercado de trabalho, estes

podem ocorrer de diversas modalidades, como por exemplo, a na questão de gênero

ou de raça, vindo a caracterizar uma possível diferença salarial, embora

desenvolvam a mesma função e isto ocorre em razão da discriminação cometida.

De acordo como Abramo (2006), o Brasil é marcado por desigualdade de

gênero e de raça, não sendo está a minoria, pelo contrário.

No Brasil, as desigualdades de gênero e raça não são fenômenos que estão

referidos a "minorias" ou a grupos específicos da sociedade. Pelo contrário,

são problemas que dizem respeito às grandes maiorias da população:

segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)

2003, as mulheres representam 43% da População Economicamente Ativa

(PEA) no Brasil e os negros (de ambos os sexos) representam 46%.

Somados, correspondem a aproximadamente 70% da PEA (60 milhões de

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pessoas). As mulheres negras, por sua vez, correspondem a mais de 15

milhões de pessoas (18% da PEA) e, como resultado de uma dupla

discriminação (de gênero e raça), apresentam uma situação de sistemática

desvantagem em todos os principais indicadores sociais e de mercado de

trabalho.

A população negra enfrenta uma realidade lamentável no que tange ao

acesso ao mercado de trabalho, pois devido ao racismo entre brancos e negros a

população afrodescendentes é privada de oportunidades diante do mercado de

trabalho.

Para a população negra “o acesso ao mercado de trabalho é pressuposto para enfrentar uma realidade de pobreza e privação a que historicamente foi relegada” (IPEA, 2011, p. 26), porém, estes deparam-se com as desigualdades que perduram e se reproduzem, entre brancos e negros (Borges, p. 3).

A tabela abaixo demonstra a renda média da população diante de sua

cor/raça (Borges, p. 3).

Tabela 2

Brasil: Renda média da população, segundo sexo e cor/raça, 2009 (Valores em

Reais)

Ano Homens

Brancos

Homens

Negros

Mulheres

Brancas

Mulheres

Negras

2003 903,10 428,30 554,60 279,70

2009 1491,00 833,50 957,00 544,40

Fonte: IPEA (2011)

Diante da tabela apresentada, nota-se que a renda média da população

branca tanto homem como mulher é superior à da população negra, e essa

desproporção nem sempre é marcada em razão da classificação de uma pessoa

quanto ao desenvolvimento de atividade superior a outras, e sim por questões de

discriminações, pois as pessoas afrodescendentes, desde o tempo da escravidão,

são vistas como inferiores as demais pessoas, razão esta pela qual, na maioria das

vezes, são desvalorizadas economicamente.

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Não raro, as disparidades entre as rendas são atribuídas às diferentes

qualificações e especialidades. Entretanto, “estereótipos e preconceitos

raciais continuariam atuantes na sociedade brasileira [...] intervindo no

processo de competição social e de acesso às oportunidades, assim como

influenciando no processo de mobilidade Inter geracional, restringindo o

lugar social dos negros” (BORGES, apud JACCOB, 2008, p. 52).

Consequentemente nota-se que o fato de existir a desigualdade no que diz

respeito à renda mensal para determinados grupos, não pode deixar de se falar em

desemprego, que também é um acontecimento em razão das desigualdades raciais

existente.

Neste foco, Borges (p. 3) apresenta uma tabela no qual consta uma pesquisa

realizada pela IPEA em 2011, que demonstra a taxa de desemprego para as

pessoas brancas e negras com idade de 16 anos ou mais.

Tabela 3

Brasil: Taxa de desemprego da população de 16 anos ou mais de idade,

segundo sexo e cor/raça. (%)

Ano Homens

Brancos

Homens

Negros

Mulheres

Brancas

Mulheres

Negras

2003 8,3 9,9 13,3 16,6

2009 5,3 6,6 9,2 12,5

As ações afirmativas são formas de promover a superação do racismo e da

desigualdade existente na sociedade, abrangendo o mercado de trabalho. Porém

nas esferas de concursos públicos e nas universidades, que são locais onde os

afrodescendentes não adquiriram o livre acesso, foram implantadas as cotas raciais,

que são as modalidades de ações afirmativas.

As cotas raciais buscam transmitir aos afrodescendentes a igualdade material,

na qual serão realizadas através da implantação das ações afirmativas nas

empresas sendo elas públicas ou privadas, pois de acordo com Barroso e Osorio

(2016, p. 211), a igualdade material está ligada a demandas por redistribuição de

riqueza e poder e, em última análise por justiça social.

Salienta ainda Barroso e Osório (2016, p. 2012), que não basta proscrever os

privilégios, é preciso atuar ativamente contra a desigualdade econômica e pela

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superação da miséria. Mais do que a igualdade perante a lei, procura-se assegurar

algum grau de igualdade perante a vida.

Diante disso, é necessário que haja a implantação das cotas raciais nos

âmbitos público e privado em vista da privação de oportunidades dos

afrodescendentes perante o mercado de trabalho, para que assim, posteriormente,

haja a equiparação da igualdade racial, buscando inserir os negros nas esferas em

que foram excluídos.

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5 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E DA

LIVRE INICIATIVA ECONÔMICA E O DESAFIO DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE

RACIAL

5.1 Sobre o princípio da igualdade

O princípio da igualdade descreve que todos são iguais perante a lei, sem

distinção de raça, sexo, cor, idade etc, e para Barroso e Osorio (2016, p.207) a

igualdade veda hierarquização, ou seja, todos são iguais formalmente, vedando a

desequiparação infundada, impondo a neutralização das injustiças históricas,

econômicas e sociais, bem como respeitar as diferenças existentes.

Segundo Chimenti, Santos, Rosa e Capez (2008, p. 64), o princípio da

igualdade denominado também como o princípio da isonomia deve ser analisado sob

dois aspectos, sendo o aspecto da igualdade perante a lei, bem como o aspecto da

igualdade na lei.

[...] O princípio da isonomia deve ser considerado sob duplo aspecto: o da

igualdade na lei e o da igualdade perante a lei. Igualdade na lei constitui

exigência destinada ao legislador, que, na elaboração da lei, não poderá

fazer nenhuma discriminação. Aliás, a lei punirá qualquer discriminação

atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (art. 5°, XLI). A igualdade

perante a lei pressupõe que esta já esteja elaborada e se traduz na

exigência de que os Poderes Executivos e Judiciário, na aplicação da lei,

não façam qualquer discriminação [...].

Desta feita, pode-se dizer que a igualdade é dividida em dois aspectos, sendo

eles, o aspecto formal e o aspecto material.

A igualdade formal, que funciona como proteção contra a existência de

privilégios e tratamentos discriminatórios; a igualdade material, que

corresponde às demandas por redistribuição de poder, riqueza e bem estar

social; e a igualdade como reconhecimento, significando o respeito devido

às minorias, sua identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas,

sexuais ou quaisquer outras (BARROSO E OSORIO, 2016, p.208).

A igualdade formal, é a igualdade assegurada por lei, que está prevista no

artigo 5º, da Constituição Federal de 1988.

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Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade [...] (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2015).

Ao passo que a igualdade material de acordo com Barroso e Osorio (2016, p.

211), está ligada às demandas por redistribuição de riqueza e poder e, em última

análise, por justiça social.

Diante disso, entende-se que o racismo e a desigualdade existente na

sociedade não estão em consonância com o que reza o princípio da igualdade

disposto no artigo 5° da Constituição Federal, acarretando a não igualdade material,

acarretando a possibilidade de ser mais grave que um problema societário, podendo

gerar problemas psicológicos para as vítimas do racismo e da discriminação.

Nota-se que a igualdade almejada para as vítimas das desigualdades e do

racismo, nas quais são buscadas através das implantações das cotas raciais, é a

igualdade material com o amparo da igualdade formal, no qual os afrodescendentes

serão inseridos na sociedade por meio dos montantes de vagas disponíveis para

determinado grupo, com a finalidade de superar o racismo e a desigualdade

ocorrida, não os discriminando em razão de sua cor, raça, altura, sexo e demais

formas de discriminações, desejando uma equiparação no que tange à igualdade

perante a lei e perante a vida.

De acordo com o artigo 5°, da Constituição Federal todos são iguais perante a

lei, e desta forma não deveria existir a desigualdade entre a sociedade, e diante da

não existência da desigualdade racial, posteriormente não existiria o racismo nem

mesmo a desigualdade racial.

Doutrina e jurisprudência já assentaram o princípio de que a igualdade

jurídica consiste em assegurar às pessoas de situações iguais aos mesmos

direitos, prerrogativas e vantagens, com a obrigação correspondentes, o

que significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, nos

limites de suas desigualdades, visando garantir sempre o equilíbrio entre

todos (CHIMENTI, SANTOS, ROSA E CAPEZ, 2008, p. 64).

Em face do princípio da igualdade, verifica-se que há uma igualdade perante a

lei entre homens e mulheres, e que a legislação veda a discriminação, havendo a

diferença de salários em razão das características físicas. O artigo 3°, inciso IV da

Constituição Federal de 1988, dispõe que:

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Art. 3° Constituem objetivos fundamentais e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2015).

As ações afirmativas impostas pelo governo e demais projetos para a

superação do racismo e de uma sociedade igualitária estão em consonância com a

Constituição Federal, detendo uma trajetória constitucional, pois a finalidade das

ações afirmativas é concretizar o que o artigo 3° da Constituição Federal dispõe

como objetivos fundamentais, e tem se como principal objetivo construir uma

sociedade justa, em que tenha um desenvolvimento nacional da sociedade,

reduzindo as desigualdades racial e por fim promover o bem da sociedade buscando

o fim dos preconceitos existentes na sociedade.

5.2 Sobre o princípio da livre iniciativa econômica

O princípio da livre iniciativa econômica está regulamentado no artigo 170 da

Constituição Federal.

Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I – soberania nacional; II – propriedade privada; III – função social da propriedade; IV – livre concorrência; V – defesa do consumidor; VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII – redução das desigualdades regionais e sociais; VIII – busca do pleno emprego; IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único – É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2015, p. 59).

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O princípio da livre iniciativa econômica é aquele que assegura a liberdade de

todas as pessoas e das empresas em criar, organizar e definir o objeto em que a

mesma irá desenvolver a atividade econômica em direção ao mercado de trabalho,

porém a liberdade da empresa tem que estar pareada com a dignidade da pessoa

humana, não prejudicando os trabalhadores/empregados da empresa, ferindo os

direitos que lhe são protegidos.

A livre iniciativa compreende a liberdade de empresa, assim entendida a de

criar, organizar e definir o objeto da atividade econômica direcionada ao

acesso ao mercado, mas também à liberdade de formação de outras

entidades destinadas ao atendimento de interesses de outros setores, caso

das organizações beneficentes e religiosas. Num caso ou no outro, envolve

o trabalho humano e, consequentemente, a dignidade da pessoa na

execução desse trabalho (ROMANHOLO, p. 162 apud BELMONTE, 2013,

p. 25).

Diante do exposto, compreende que o princípio da livre iniciativa econômica

proíbe a intervenção abusiva do Estado no que tange ao desenvolvimento da

empresa, portanto não deve desvalorizar o trabalho humano e a valorização da

pessoa humana.

Note-se que o próprio conceito de livre iniciativa exposto não descarta a

valorização da pessoa e do trabalho humano. Dessa forma, os indivíduos e

empresas têm o direito de exercer suas atividades econômicas sem

interferência abusiva do Estado. A livre iniciativa representa também um

valor, um ideal do sistema capitalista, na medida em que assegura a todos o

livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de

autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

Consequentemente, entende-se a livre iniciativa como fundamento

constitucional aos poderes empregatícios, visto que é um direito

fundamental (ROMANHOLO, p. 162).

Diante disso, entende-se que a liberdade de iniciativa envolve a liberdade de

indústria e comércio ou a liberdade de empresa e a liberdade de contrato, pois estes

são princípios básicos do liberalismo econômico (ROMANHOLO, p.162 apud José

Afonso da Silva, 2011, p. 795).

Em análise ao princípio da livre iniciativa econômica, pode-se dizer que se o

Estado implantasse as ações afirmativas, através das cotas raciais nas empresas

privadas estas estariam ferindo o princípio constitucional do liberalismo econômico,

em razão do fundamento em que as empresas detêm a liberdade para escolherem o

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ramo em que irão desenvolver as atividades econômicas e o livre-arbítrio de

contratação dos empregados?

No caso acima, poderia existir a tese em que o Estado não pode intervir

abusivamente nas empresas privadas, pelo fato das empresas obter a liberdade

protegida pelo princípio em análise, portanto, a liberdade da empresa deve estar em

consonância com a ordem constitucional, submetendo-se à realização da justiça

social, e diante disso, observando que a Constituição Federal valoriza a livre inciativa

econômica e o trabalho humano, sendo assim, mesmo que haja a proteção da

liberdade da empresa, estas devem conceder políticas que priorizem o valor

humano, bem como assegurar aos empregados a existência digna que a

Constituição Federal assegura diante da justiça social.

A liberdade de iniciativa econômica privada, na atual ordem constitucional,

submete-se à realização da justiça social, consistindo na liberdade de

desenvolvimento da empresa nos parâmetros estabelecidos pelo poder

público, refletindo em benefícios e limitações impostas pelo mesmo. A

Constituição, embora valorize a livre inciativa, concede prioridade aos

valores do trabalho humano, buscando assegurar a todos uma existência

digna, conforme os ditames da justiça social (ROMANHOLO, p. 162).

À vista disso, as implantações de cotas raciais nas empresas privadas teriam

como fundamento a finalidade da justiça social, ao passo que estas buscam

compensar os afrodescendentes pelo racismo e discriminação que sofreram,

atingindo-os com as desigualdades sociais, tendo como base a não oportunidade de

empregos diante das discriminações raciais ocorridas.

O princípio da livre iniciativa econômica está entrelaçado como o princípio da

igualdade, ao passo que, a empresa ao desenvolver a sua liberdade não poderá

conflitar com o princípio da igualdade, no qual pode ocorrer como por exemplo, no

momento da contratação de empregados, vindo o empregador a selecionar os

candidatos para a contratação através de suas características físicas, e diante da

discriminação e do racismo existente na sociedade pode haver uma desigualdade no

ato da contratação, sendo que negros, deficientes físicos e até mesmo mulheres

podem não ser contratados em razão de sua cor, raça e sexo.

Constitui pressuposto essencial para o respeito da dignidade da pessoa

humana a garantia da isonomia de todos os seres humanos, que não

podem ser submetidos a tratamento discriminatório e arbitrário, razão pela

qual são intoleráveis a escravidão, a discriminação racial, perseguição em

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virtude de motivos religiosos etc (ROMANHOLO, 163 apud SARLET,

2001, p.110/111).

Nesta vertente, destaca-se o projeto lei que está em tramitação na Câmara

dos Deputados que busca a constituição de uma lei ordinária, para que através desta

seja regulamentada a questão de se inserir a porcentagem de cotas raciais nas

empresas privadas, uma vez que os afrodescendentes são grupos de classes

minoritárias, que não obtém renda mensal digna e são minorias nos empregos,

sendo eles privados ou públicos.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como proposta verificar a constitucionalidade das

ações afirmativas, implantadas mediante cotas raciais na sociedade, cujo objetivo é

promover a igualdade diante das discriminações que os afrodescendentes padecem

ao longo da história, devido ao fato dos negros terem sido escravos e subordinados

social e economicamente aos brancos.

O tempo passou, portanto, a sociedade não evoluiu suficientemente no que

tange à superação das desigualdades e ainda persiste no tratamento desigual e na

exclusão. Atualmente os afrodescendentes são privados de oportunidades, sendo

elas, no ramo da educação, da saúde, do trabalho e demais ramos, assegurados

como direitos fundamentais de todos seres humanos.

Daí a importância dos argumentos apreciados ao longo do trabalho. Atinentes

aos temas explanados, o racismo, a desigualdade racial, as ações afirmativas, o

estatuto da igualdade racial, as cotas raciais nas universidades, as cotas raciais nos

concursos públicos e os princípios da igualdade e o da livre iniciativa econômica.

Diante de inúmeras desigualdades e da prática do racismo que ocorrem na

sociedade, o Estado tem a responsabilidade de implantar as ações afirmativas,

desenvolvidas por meio das cotas raciais.

No que consiste à desigualdade e ao racismo aos quais os afrodescendentes

são vítimas, estes foram beneficiados pela atuação do governo quando realizaram a

promulgação das Leis 12.711/2012 e 12.990/2014.

Ao analisar a Lei 12.711/2012, conclui-se que esta é instituída como forma de

promover a igualdade racial. Em razão disso, pode-se afirmar que os beneficiados

desta lei são aqueles discriminados perante a sociedade e que de alguma forma são

privados de oportunidades, como por exemplo, a oportunidade de ingressarem na

universidade, razão esta que fora implantada as cotas raciais nas universidades para

os afrodescendentes e para as pessoas que são oriundas de famílias cuja renda per

capita não exceda um salário mínimo.

Ao que se refere a Lei 12.990/2014, conclui-se que esta reserva um montante

de 20% das vagas disponíveis nos concursos públicos federais aos

afrodescendentes, possuindo como finalidade a implantação pelo fato dos

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afrodescendentes serem um grupo minoritário que não está no gozo dos empregos

mais almejados que são os empregos públicos.

Diante das controvérsias analisadas no decorrer da investigação, conclui-se

que a implantação das cotas raciais, sejam elas nas universidades como nos

concursos públicos, são constitucionais, pois almejam combater à discriminação

racial existente, construindo uma sociedade justa, buscando erradicar a pobreza e a

marginalização desenvolvidas pelas desigualdades raciais na sociedade, bem como

promover o bem societário, no qual buscam a positivação das medidas

compensatórias por meio da superação do racismo e da desigualdade.

A partir do ponto de vista concretizado, é compreensível concluir que as

políticas públicas implantadas por meio das cotas raciais devem ser cada vez mais

desenvolvidas, pois diante da implantação das ações afirmativas no meio societário,

os membros da sociedade irão se conscientizar progressivamente para que seja

possível a superação do racismo e das desigualdades existentes hoje, ao passo que

a discriminação, a desigualdade e o racismo passem a ser meras condutas

históricas superadas, restando apenas a sua memória, para que nunca mais se

repitam.

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Silva, Mariana Nagano da

Ações afirmativas: a constitucionalidade das cotas raciais na promoção da igualdade racial / Mariana Nagano da Silva. -- -- Lins, 2016

61p. il. 31cm. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP para Graduação em Direito, 2016.

Orientador: Juliano Napoleão Barros 1. Ações afirmativas. Cotas Raciais. Racismo. I. Título.

CDU 34

S581a