histórias familiares, trajetórias e experiências de ... · histórias familiares, trajetórias e...

20
Histórias familiares, trajetórias e experiências de liberdade de afrodescendentes em Belo Horizonte, MG JOSEMEIRE ALVES PEREIRA Belo Horizonte era ainda considerada, pelos contemporâneos, um imenso “canteiro de obras”, em 1912, quando chegaram à recém-inaugurada capital de Minas Gerais, a ventre-livre Maria Pereira e seus filhos Bárbara Senhorinha, Eponina e Henrique. Pouco tempo antes mais precisamente até 1894, quando tiveram início os trabalhos de construção da nova Capital que substituiria a antiga Ouro Preto , aquelas terras abrigavam o Arraial do Curral Del-Rei, originada no início do século XVIII (BARRETO, 1996). A necessidade de transferência da sede administrativa do Estado de Minas Gerais para outra localidade, debatida pelas classes políticas, durante as últimas décadas do século XIX, corresponde às mudanças econômicas e políticas engendradas no país a partir do processo emancipacionista e da instauração do regime republicano. Para estudiosos da história de Belo Horizonte, como Maria Efigênia Lage de Rezende, a ideia de criação de uma nova capital “vincula-se à emergência de novas forças econômicas dentro do Estado que, com a República, de certo modo representativa destas novas forças, vão desencadear a luta para a obtenção do poder político correspondente à sua expansão econômica.” (REZENDE apud DUTRA, 1988: 52) 1 A nova Capital teria surgido, assim, sob o signo da modernidade e do progresso, representados pela própria República, em oposição à cidade colonial; e como estratégia de enfrentamento aos riscos de desagregação político-administrativa e estagnação econômica a que estava submetido o Estado, frente ao desenvolvimento testemunhado em outras regiões do país em especial no Rio de Janeiro e em São Paulo. 2 Para a criação da nova cidade, foram desapropriados e devidamente remunerados os antigos proprietários de terra do Arraial, que se instalaram em regiões próximas ao futuro núcleo urbano da nova cidade. Quanto à população outrora ali escravizada e/ou liberta, a despeito de sua relevância sobre o total da população da região, dela aparecem alguns raros Doutoranda em História Social pela Universidade Estadual de Campinas. Bolsista Fapesp. 1 Ver também, a respeito da criação de Belo Horizonte, dentre outros: DUTRA, 1996; SILVA; SILVEIRA, 1994. 2 Segundo Tito Flávio Rodrigues de Aguiar (2006, p. 34), os debates políticos que precederam a mudança da capital do Estado, entre as décadas de 1880 e 1890, evidenciavam preocupações das elites políticas e econômicas quanto à necessidade de que o novo centro administrativo propiciasse a superação do sensível atraso no desenvolvimento em relação aos centros econômicos do país Rio de Janeiro e São Paulo. A noção de “modernização mineira” remete, assim, especialmente à de progresso econômico. Ver também: DULCI, 1999.

Upload: truongdien

Post on 04-Dec-2018

226 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Histórias familiares, trajetórias e experiências de liberdade de afrodescendentes

em Belo Horizonte, MG

JOSEMEIRE ALVES PEREIRA

Belo Horizonte era ainda considerada, pelos contemporâneos, um imenso

“canteiro de obras”, em 1912, quando chegaram à recém-inaugurada capital de Minas Gerais,

a ventre-livre Maria Pereira e seus filhos Bárbara Senhorinha, Eponina e Henrique. Pouco

tempo antes – mais precisamente até 1894, quando tiveram início os trabalhos de construção

da nova Capital que substituiria a antiga Ouro Preto –, aquelas terras abrigavam o Arraial do

Curral Del-Rei, originada no início do século XVIII (BARRETO, 1996). A necessidade de

transferência da sede administrativa do Estado de Minas Gerais para outra localidade,

debatida pelas classes políticas, durante as últimas décadas do século XIX, corresponde às

mudanças econômicas e políticas engendradas no país a partir do processo emancipacionista e

da instauração do regime republicano. Para estudiosos da história de Belo Horizonte, como

Maria Efigênia Lage de Rezende, a ideia de criação de uma nova capital “vincula-se à

emergência de novas forças econômicas dentro do Estado que, com a República, de certo

modo representativa destas novas forças, vão desencadear a luta para a obtenção do poder

político correspondente à sua expansão econômica.” (REZENDE apud DUTRA, 1988: 52)1 A

nova Capital teria surgido, assim, sob o signo da modernidade e do progresso, representados

pela própria República, em oposição à cidade colonial; e como estratégia de enfrentamento

aos riscos de desagregação político-administrativa e estagnação econômica a que estava

submetido o Estado, frente ao desenvolvimento testemunhado em outras regiões do país – em

especial no Rio de Janeiro e em São Paulo.2

Para a criação da nova cidade, foram desapropriados e devidamente remunerados

os antigos proprietários de terra do Arraial, que se instalaram em regiões próximas ao futuro

núcleo urbano da nova cidade. Quanto à população outrora ali escravizada e/ou liberta, a

despeito de sua relevância sobre o total da população da região, dela aparecem alguns raros

Doutoranda em História Social pela Universidade Estadual de Campinas. Bolsista Fapesp. 1 Ver também, a respeito da criação de Belo Horizonte, dentre outros: DUTRA, 1996; SILVA; SILVEIRA, 1994. 2 Segundo Tito Flávio Rodrigues de Aguiar (2006, p. 34), os debates políticos que precederam a mudança da capital do

Estado, entre as décadas de 1880 e 1890, evidenciavam preocupações das elites políticas e econômicas quanto à necessidade

de que o novo centro administrativo propiciasse a superação do sensível atraso no desenvolvimento em relação aos centros

econômicos do país – Rio de Janeiro e São Paulo. A noção de “modernização mineira” remete, assim, especialmente à de

progresso econômico. Ver também: DULCI, 1999.

2

indícios na narrativa de Barreto sobre a história do Arraial e de Belo Horizonte, de onde, em

geral, emerge através de personagens secundários, tais como um escravizado fugido que teria

assassinado um major, ou outros descritos em atividades laborais (BARRETO, 1996: 112);

inseridos na ordem social vigente, como mulheres e homens sem instrução, mas agentes ou

beneficiários de alforrias3, em geral concedidas após a morte do proprietário e, não raro,

reclamadas por não serem cumpridas. No entanto, quase nada sabemos sobre o destino destas

pessoas, depois de emancipadas por meio da lei n°3.353, de 13.5.1888 (“Lei Áurea”), ou

mesmo antes, mediante outras formas legais de aquisição da liberdade de que se apropriaram

ou foram beneficiárias4. Teriam continuado a trabalhar com os antigos senhores? Em que

condições? Por quê? Migraram para outras localidades, como observamos ocorrer, em

diversas regiões do país (FRAGA FILHO, 2006; 2009; RIOS; MATTOS, 2005; TELLES,

2013) e também em outros países (FONER, 1988a; 1988b; COOPER, 2005), após os

processos abolicionistas? Teriam participado da construção da Capital? Teriam se integrado à

população de trabalhadores migrantes e imigrantes pobres que constituíam aqueles que seriam

considerados os primeiros núcleos de favelas que se formavam na futura cidade, antes mesmo

de sua inauguração?5 Estas são questões que ainda demandam atenção nos estudos sobre a

história de Belo Horizonte. Nestes, o que se ressalta, via de regra, é o esforço dos

idealizadores da nova capital em associar à cidade uma imagem de progresso, vinculada à

República – suplantava-se o velho Arraial e com ele o passado colonial e tudo aquilo que nele

representava “atraso”6. De todo modo, a memória histórica7 que se construiu para a cidade,

não guarda referência significativa à presença da população negra – afinal, poder-se-ia

argumentar, Belo Horizonte, ao contrário das principais sedes administrativas do país, nascia

sem a indelével marca da escravidão, que é, em geral, a via por meio da qual se faz referência

à população negra.

3 No acervo do Arquivo Público Mineiro, é possível encontrar, por exemplo, registros de cartas de liberdade, do período entre

1834 e 1848. Cf. APM-Acervo da Câmara Municipal de Sabará. 1º.Livro de Notas do Distrito do Curral Del-Rei.CMS-240,

rolo 34. 4 Ibid. 5 As favelas da Estação e da Fazenda do Leitão, segundo Barreto, já eram notadas desde 1895. A da Estação era um dos

primeiros elementos da paisagem com que tinha contato quem chegavam à cidade. Cf. Barreto, 1996, op. cit. 6 É importante ressaltar, contudo, que este discurso não propunha um completo rompimento com a tradição colonial, aliando-

se as concepções de modernidade e modernização, nas práticas e interesses políticos e econômicos em Minas Gerais, aos

elementos de tradição que se apresentassem conciliáveis com tais interesses. Ver, a respeito: BOMENY (1994). 7 Referenciando-se nos trabalhos de Pierre Nora sobre a memória, o historiador Antônio Torres Montenegro entende a

memória histórica como o “movimento de congelamento da memória”, relembrando que para Nora, “o próprio da história é a

crítica, a desconstrução permanente de significados em razão de todo o conjunto de experiências e práticas do presente. Mas,

quando esse movimento de ressignificação é interrompido, a história se torna Memória.” (FLORES; BEHAR, 2008, p. 197).

3

Não obstante, era justamente nesse momento em que se implementava o projeto

de modernidade forjado pelas elites mineiras, que ali chegava a família de Maria Pereira,

originária do município de Bonfim, na região de Paraopeba. Após ficar viúva, Maria decidira

“tentar a vida” em Belo Horizonte. Partia em “busca de trabalho” (LADISLAU, 2007)8, como

outros migrantes que afluíam para a cidade, à mesma época. Para ali instalar-se, ela e seus

filhos contaram com o apoio da família de Teodolindo Pires Fernandes, que já vivia em Belo

Horizonte, desde antes de 1912, com os irmãos, sua mãe, Ana Maria e seu pai, Nominato José

Fernandes, oriundos de Piedade dos Gerais, também em Minas Gerais. As duas famílias já se

conheciam e foi ainda por intermédio dos pais de Teodolindo que Maria e os filhos mais

velhos – Bárbara e Henrique conseguiram emprego. Teodolindo e Bárbara casaram-se,

depois, e passaram a viver no terreno do pai dele, situado onde atualmente se encontra o

Aglomerado Santa Lúcia, um dos mais conhecidos complexos de favela da cidade, na região

Sul. Ali também viviam Antônio Pedro da Silva, que deixara a Serra do Cipó, sua esposa

Maria Eulália dos Santos, que também partira da região de Paraopeba, e a pequena Santa,

primeira filha do casal, nascida em 1910, já na capital. Integrantes de duas famílias formada

por pessoas negras migrantes do interior do Estado, Nominato, Teodolindo e Antônio Pedro

trabalhavam, à época, em fazendas da região da antiga Colônia Afonso Pena, núcleo agrícola

que abastecia de gêneros alimentícios e artefatos para construção civil, a região central da

cidade, onde viviam os funcionários da administração pública da capital, que mesmo após sua

inauguração, em 12 de dezembro de 1897, continuava em construção.

Belo Horizonte9 teve sua constituição iniciada, entre fins do século XIX e as

primeiras décadas do século XX, por uma população de trabalhadores composta,

majoritariamente, por migrantes. Contava-se, inicialmente, um grande número de imigrantes

europeus, empregados nas obras de construção da cidade, mas também beneficiados no

processo de constituição das colônias agrícolas que tiveram importante papel no projeto de

modernização ensaiado pelo governo do Estado, entre os anos 1898 e 1914.10 Não obstante, a

8 Integram o mesmo relato de Dona Ione Pires Ladislau, em entrevista concedida à pesquisadora em 2007, as informações

que aqui coligimos para fazer referência às famílias da ventre-livre Maria, avó da entrevistada, e de Antônio Pedro e Eulália.

Para informações sobre a história de família destes últimos, contamos também com o depoimento de uma de suas filhas,

Isaltina da Silva Pereira. Cf. FERREIRA, 2007. 9 Nos projetos iniciais para a nova capital, ela era denominada como “Cidade de Minas”. Já em 1891, a cidade passou a se

chamar “Belo Horizonte”, nome pelo qual já se tornara conhecido o antigo Arraial do Curral Del-Rei. 10 Segundo Aguiar (2006: 285), em 1903, os estrangeiros correspondiam a 53% da população da zona colonial (agrícola),

sendo preponderante a presença de italianos. Ex-escravos e descendentes sofriam restrições à aquisição de terras nos núcleos

coloniais. Cf. Aguiar, ibidem, p. 278 e seguintes.

4

maior parte da população da cidade que se consolidava então, era composta por pessoas

oriundas de outras regiões do estado e do país. Segundo o historiador Tarcísio Botelho (2007:

11-12), a cidade passou de 13 mil habitantes, em 1900, para mais de 17 mil, em 1905, cerca

de 40 mil, em 1912 e 55 mil, em 1920. Duas décadas depois, contava com 211 mil habitantes

e, em 1950, com 352 mil; com taxas de crescimento sempre acima de 4% ao ano.

Concomitante ao elevado crescimento demográfico, ao longo das quatro primeiras décadas do

século XX, observa-se o decréscimo do ingresso de imigrantes, em razão do fim da política de

subvenção do Governo que atraía, desde os últimos anos o século XIX, o fluxo internacional

de migração para o Estado. Portanto, como salienta Botelho, “será a migração de mineiros e

de outros brasileiros que sustentará o rápido crescimento da cidade”, impulsionado pelo

incremento da industrialização, a partir dos anos 192011, e pelo aprimoramento de

infraestrutura urbana.

Entretanto, o perfil e a trajetória dos envolvidos nos processos de migração

interna, durante as primeiras décadas do século XX, também são ainda pouco conhecidos.

Nos estudos sobre a história da cidade, para o período em questão, as referências à população

enfatizam, em geral, a participação de estrangeiros. (BOTELHO, 2007: 12-13; DUTRA,

1999; BELO HORIZONTE, 2004). Não obstante, alguns estudos dedicados às experiências

de vida e trabalho da população afrodescendente, no Pós-Abolição, em regiões de Minas

Gerais fortemente marcadas pela economia escravista – dentre os quais os trabalhos de

Guimarães (2006; 2007), Bosi (2004) e Meyer e Nascimento (2011), que tratam,

respectivamente das regiões da Zona da Mata, Mariana e São João Del Rei – nos oferecem um

panorama importante para a compreensão que ocorre em Belo Horizonte. Tais estudos

indicam que, assim como em outras regiões do Brasil (RIOS; MATTOS, 2005; FRAGA

FILHO, 2005) e em outros países (COOPER, 2005; FONER, 1988a), em seus respectivos

períodos pós-emancipação, o exercício da liberdade vivenciado pela população negra, nessas

regiões do estado, implicava não raro, no recurso à migração, como estratégia de gestão de

oportunidades de trabalho e condições de vida.

Com efeito, as análises de Tarcísio Botelho indicam que houve, no período entre

1890 e 1940, um aumento da população negra na região central de Minas Gerais, onde está

11 Nos anos 1920, Belo Horizonte ocupava, no Estado, a terceira posição nos índices de valor de produção e pessoal ocupado

na indústria; nos anos 1930, começa a consolidar-se como polo regional da indústria de ferro e aço e nos anos 1940, já

constituía o principal polo industrial do Estado. Cf. Botelho, op. cit., p. 12-13.

5

localizada a capital. Segundo o historiador, durante esse período, a proporção de negros só

aumentou em ritmo superior a esta região nos municípios do norte e leste, notando-se recuo

desta população em todas as demais regiões do Estado. (BOTELHO, 2007: 21). Assim, a

despeito da dificuldade de mensurar o percentual da população a partir do critério cor/raça12,

na cidade, durante as primeiras décadas do século XX, o autor estima que a presença de

descendentes de africanos na capital, embora reduzida nos primeiros anos, tendeu a aumentar,

devido ao fluxo migratório interno. Botelho afirma que esta dinâmica se insere no processo

mais amplo de deslocamento do campo para a cidade, no contexto de crescente urbanização

em diversas regiões do país. Atento ao ainda sensível desconhecimento sobre o destino dos

ex-escravizados e nascidos livres no advento da Abolição no país, Botelho admite a

possibilidade de que boa parte deles possa ter migrado para os centros urbanos. Não havendo

maior precisão quanto a informações sobre sua inserção no mercado de trabalho, afirma, é

provável que tenham passado a ocupar “postos de trabalho menos qualificados e pior

remunerados, já que provinham, em sua grande maioria, do meio rural” (BOTELHO, 2007;

ADELMAN, 1974). Considerando que a província de Minas Gerais foi detentora de grande

plantel de escravos durante o século XIX e que esta abundância de mão-de-obra permitiu que

a instituição paulatina do trabalho livre não dependesse tanto da imigração estrangeira, sendo

favorecida a fixação do contingente existente de mão-de-obra no trabalho agrícola, Botelho

acredita que a migração de negros para os grandes centros urbanos da região foi pouco

significativa até a década de 1930. A participação de afrodescendentes na composição da

população de Belo Horizonte, não obstante, teria se consolidado concomitantemente ao

aumento populacional ocorrido ao longo das primeiras décadas do século XX, como já

observado, devido ao desenvolvimento da cidade como o mais importante polo urbano e

industrial do Estado.

Afrodescendentes na população de Belo Horizonte

12 A análise de Botelho considera o silenciamento sobre a cor nas estatísticas e fontes produzidas no período, dificultando o

conhecimento sobre os destinos da população de negros após a Abolição: após o Censo de 1890, o quesito raça só voltou a

ser inserido na contagem da população a partir do de 1940. Mesmo fontes como os registros paroquiais e também os civis,

deixaram de informar a cor. (BOTELHO, 2007: p. 20-21). Como observado por Hebe Mattos (1995) e outros pesquisadores

do período Pós-Abolição, os registros judiciais – em especial os processos-crimes, são dos poucos em que se pode identificar

informações sobre a cor dos sujeitos referenciados em tais fontes. Também identificamos o registro da cor na documentação

policial produzida pela Chefia de Polícia em Minas Gerais – inclusive para Belo Horizonte – e nos Relatórios da Santa Casa

de Misericórdia, como será abordado neste texto.

6

Quando da decisão política de transferir a capital para a localidade do Arraial do

Curral Del Rei, era provável que ali anda se encontrassem trabalhadoras e trabalhadores

negros, que até bem pouco tempo haviam vivido sob o regime escravista, como escravizados

ou mesmo como libertos e seus descendentes; sobretudo se considerarmos que se tratava de

região onde historicamente se registrava forte presença de “pretos” e “mestiços”.13 Na

Comarca de Sabará, onde se localizava o Arraial, já em 1891, o articulista Lopes de Azeredo

escrevendo para a Folha Sabarense, órgão que se intitulava como de tendência liberal e

abolicionista, defende a criação de um “estabelecimento comercial” para refinar açúcar e

torrar café, como solução para o que, na interpretação dele e provavelmente de seus pares,

seriam problemas advindos das mudanças ocorridas nas relações de trabalho após a Abolição,

como deixa transparecer a queixa registrada no excerto:

As cosinheiras andam vasqueiras, careiras e sem sujeição. De hora a outra

estamos com nossas caras metades, ou filhas, a catarem arroz, picarem

hervas e carnes, descascarem alhos e cebolas, e a fazerem tudo mais lá pela

cosinha. Coitadinhas! Com que mimosas mãos, acostumadas apenas com

serviços delicados, hão de ser obrigadas tambem a torrar café e a limpar

assucar! Quatro cobres para a torradeira de café, meia pataca à Zefa que

alimpou o assucar. Mas tudo isto é um horror, principalmente nos gostosos

tempos de cambio a menos de 13. (Folha Sabarense, ANNO VII – No. 20,

15/11/1891, p. 01/02)

Ainda que não saibamos muito sobre a Zefa ou a torradeira de café, é plausível

inferir que, em uma região ainda não profundamente afetada pela presença de imigrantes

europeus, como nos lembra Botelho (2007), tais personagens representassem o perfil de

trabalhadores negros, recém-egressos da escravidão. A historiografia que trata de temas afetos

à região, no período em questão e depois da transferência da capital, quase nada diz sobre

estas pessoas. Em um importante estudo sobre as práticas operárias em Belo Horizonte e Juiz

de Fora, durante a chamada Primeira República, por exemplo, a caracterização do perfil dos

trabalhadores não envolve a identificação por cor/raça, muito embora nas imagens

13 De acordo com informações compiladas no Anuário Estatístico de Minas Gerais (1925), referente ao ano de 1921, o

recenseamento de 1872 registrava a presença de 336 pessoas escravizadas, na população da Freguesia de Nossa Senhora da

Boa Viagem do Curral Del Rei, frente a 5.524 livres. Dentre os cativos, contavam-se 145 mulheres e 191 homens. Em edição

de 1911 do mesmo Anuário, criado e dirigido por Nelson de Senna, o autor, preocupado em avaliar os números referentes à

população branca do estado, faz menção a um primeiro recenseamento realizado na Capitania das Minas Gerais, em 1776,

destacando a baixa proporção de brancos na Comarca do Rio das Velhas, à qual pertencia, então, a região de Sabará e o

povoado do Curral Del Rei. Na comarca haviam sido registrados, então, apenas 14.394 brancos “contra 85.182 mestiços e

pretos”. (MINAS GERAES, 1911: 255).

7

fotográficas utilizadas pela autora, identifiquemos significativa presença de operários negros

(DUTRA, 1988).

Ainda em 1891, já se nota um silêncio quase absoluto e, ao nosso olhar, inquietante da

imprensa sobre a população negra – outrora presença constante nos periódicos, em função da

crescente onda de libertação de cativos, em face da eminente aprovação da Lei Áurea.14

Dentre as raríssimas referências, para aquele ano, encontramos além da notícia acima, esta,

que descreve um homem provavelmente negro, classificado caricaturalmente como um “tipo

popular”, na mesma edição da Folha Sabarense:

TYPOS POPULARES

___________________

Zé Grande

É incapaz de offender a quem quer que seja, coitado. Muito

prestativo, embora um pouco preguiçoso, occupa-se em toda sorte de

serviços, carrega agua, vai a mandados, serve de camarada, etc, etc.

É pequeno e magro, olhos grandes e avermelhados, muito agil e

comprimentador “de Deus e de todo mundo.”

No “reinado” da festa do Rosario comparece, infallivelmente, com

sua casaca bordada, chapéo armado e calça branca, muito engommada,

com dous frisos vermelhoes, satisfeito e risonho na sua qualidade de vassalo

estimado do rei.

O que o destaca muito de outro qualquer typo popular, é o habito de

saudar a quem encontra, sem excepção alguma, fazendo enorme barretada e

abaixando a cabeça em signal de submissão.

É impossivel ver-se o Zé Grande pela rua sem o inalteravel e

continuo: “Si, siôr, si siôr, si siôr!”

Como hoje abusa-se do fin de siècle à vontade, direi ao leitor que ele

é um “chuva” fin de siècle. Eu que o conheço ha muitos annos, não temo

mentir dizendo que bem poucas vezes o tenho visto em bom estado, isto é,

em estado natural. É também dos taes que eleva a agua ardente à altura de

pão nosso de cada dia. (...). O trocista. (Folha Sabarense, ANNO VII – No. 20,

15/11/1891, p. 02/03).

A descrição do “tipo popular” em questão, construída por um sujeito que se

diferencia socialmente dele, evoca possíveis elementos comportamentais da população de

trabalhadores habitantes do lugar que remetem à uma situação socioeconômica precária. O Zé

Grande, representação provável de um homem negro – a julgar pelos elementos culturais de

matrizes africanas apontados por meio da referência às suas vestes e à participação na Festa

14 A exemplo da própria Folha Sabarense, que em suas edições publicadas no ano de 1888, noticiou, valorizando-as como

exemplares, diversas iniciativas de alforria.

8

do Rosário –, não é mais um sujeito escravizado; não obstante, sua nova condição de

liberdade não lhe legou, de imediato, condições de uma vida segura e digna naquela

sociedade. A embriaguez e o comportamento aparentemente submisso parecem sugerir o

modo de vida possível – quem sabe forjado pelo Zé Grande, ante a cidadania inalcançada?...

De todo modo, em meio à grande lacuna de informações sobre a população negra

habitante do lugar, o que começamos a vislumbrar, então, é a emergência paulatina da

população negra de migrantes que passa a afluir para a região, a partir de fins do século XIX.

Entretanto, em meio ao quase total silêncio sobre os destinos dos habitantes negros do próprio

Arraial, um documento produzido pelo Delegado de Polícia de Belo Horizonte, Waldemar

Loureiro, em 1916, oferece uma importante informação sobre um grupo de ex-escravizados

residentes desde, pelo menos meados do século XIX, naquele território que passara a abrigar a

capital. Trata-se de um relatório elaborado pelo Delegado e dirigido ao Juiz Municipal do

termo, informando sobre as investigações procedidas sobre o assassinato de um certo Antonio

Caramate, por Francisco Gomes da Rocha. Por este documento, nos é dado conhecer sobre a

venda da “Fazenda Bom Sucesso”, em meados do século XIX a Joaquim Gomes da Rocha,

“falecido chefe da família Gomes da Rocha”. Quanto à outra parte, o proprietário André

Nogueira Villa Nova, “della dispôz, em testamento, declarando que a deixava em usofructo,

aos seus escravos RITA, parda; JOAQUIM, creoulo; FELICIANO, pardo, etc; até a decima

geração, revertendo, depois, em plena propriedade à Egreja da Piedade” (APM-Fundo Chefia

de Polícia. Ocorrências Policiais-Belo Horizonte, 1916), sendo o testamento datado, no

momento da elaboração do relatório, em mais de 70 anos, conforme o Delegado. Em 1916, os

descendentes de Rita, Joaquim, Feliciano e dos demais herdeiros da Fazenda Bom Sucesso

constituíam um grupo de 50 pessoas, aproximadamente. Segundo a documentação, havia um

conflito entre eles e a família Gomes da Rocha, envolvendo disputa pelos limites das terras. O

caso já havia chegado à Justiça, que, em geral favorecia aos Gomes da Rocha, quando se deu

o assassinato de Caramate, representante dos herdeiros. Este registro é emblemático acerca da

presença de trabalhadores negros e, especificamente, de uma extensa família negra de

agricultores e possuidores de terra, que viveram o período Pós-Abolição no mesmo território

onde se instalou a capital.15

15 Este mesmo perfil é comumente descrito nas narrativas de histórias familiares que registramos por meio de um conjunto de

15 entrevistas – dentre as quais está inclusa a de D. Ione Pires Ladislau, anteriormente referida. Trataremos deste aspecto

abaixo.

9

A invisibilidade da presença de uma população constituída por pessoas negras em

Belo Horizonte nesse período se transforma, ainda mais, na medida em que encontramos, em

alguns tipos de fonte, a menção à cor dos indivíduos atendidos pelas instituições que os

produziram. É o caso dos registros de doentes atendidos pela Santa Casa de Misericórdia de

Belo Horizonte (1901-1935) e do Registro de Réus da Cadeia Pública de Belo Horizonte

(1913). Não são claros, até o momento na pesquisa, quais são os critérios utilizados para

definir a classificação da população por cor entre “branca”, “preta” e “mestiça” por estas

instituições, especialmente em um período em que a menção à cor está em desuso nos

registros oficiais. Não obstante, cabe ressaltar que o dado é uma constante em todos os

Relatórios da Santa Casa de Belo Horizonte, encontrados; bem como nas Listas de doentes

das outras unidades da Santa Casa de Misericórdia em outros municípios no Estado, conforme

documentação integrante dos registros da Secretaria do Interior, que compõem o acervo do

Arquivo Público Mineiro.16

Mesmo ainda prescindindo de dados mais completos sobre doentes atendidos pela

Santa Casa – tais como nome, idade, sexo, cidade de origem, profissão, dentre outros que

constam possivelmente das listas de doentes ainda não acessadas, e que permitiriam distinguir

a população de negros, mestiços e brancos, residente em Belo Horizonte, daquela residente

em outros municípios17 –, por meio da comparação dos dados disponíveis, notamos, em

consonância com os estudos de Tarcísio Botelho, a tendência de crescimento da população de

pretos e mestiços, dentre os atendidos ao longo do período de 1908 a 1935.

A mesma classificação de cor entre “brancos”, “pretos” e “mestiços” é utilizada

pelos órgãos públicos de segurança, ao que indicam os dados fornecidos pela documentação

do Fundo da Chefia de Polícia. Aqui, a manutenção do registro da cor, quando a tendência é

omitir este tipo de informação, parece coerente com a prática de controle social que se busca

implementar na cidade (COSTA E SILVA, 2009). A própria documentação policial

consultada atesta a vigência de um exercício de controle da polícia sobre a população visando

16 O registro da cor também é observado nos recém-descobertos registros do Instituto Radium, instituição criada em 1921, na

cidade, para o tratamento de câncer. A diferença é que, no Instituto Radium, instituição que atendia prioritariamente à

população economicamente favorecida, a presença de pessoas negras é sensivelmente menor que na Santa Casa de

Misericórdia. Cf. (CUPERSCHMID; MARTINS, 2014). 17 De acordo com os dados disponíveis nos referidos Relatórios da Santa Casa, sabemos o total de atendidos residentes em

Belo Horizonte e oriundos de outros municípios, foi, respectivamente, para os períodos seguintes: 1910-1916 – 10.338 e

4.441; 1917 – 1456 e 771; 1918 – 1437 e 1495; 1921 – 1659 e 1232; 1928 – 3110 e 1922; 1929 – 3281 e 1966; 1934 – 3267 e

2298; 1935 – 3504 e 2553.

10

a constituição de uma determinada ordem social; controle manifesto por meio da vigilância de

práticas associativas e da repressão sobre qualquer atividade que ferisse à moral e aos “bons

costumes”. A propósito, entre 1912 e 1913, dentre 371 detidos na Cadeia Pública de Belo

Horizonte, 55 respondiam pelo crime de “ofensas físicas” e 275 foram “detidos

correcionalmente”, conforme atestam os registros do movimento de prisões da Cadeia local, à

época (APM – Fundo Chefia de Polícia, Ocorrências Policiais-Belo Horizonte, 1913). A cor

enuncia-se ali como um elemento importante utilizado na identificação e classificação de

suspeitos ou criminosos. À época, já efetuadas a instalação de um Gabinete de Identificação e

a adoção do sistema de identificação pelo método dactiloscópico18, considerado infalível, em

comparação com o método até então empregado – o antropomórfico –, a cor continuava

compondo uma das informações relevantes para identificação de criminosos, conforme atesta

exemplar da ficha de identificação criminal constante de um relatório da Secretaria de Polícia,

publicado em 1909. (APM – Relatório da Secretaria de Polícia de Minas Gerais, 1909). Há

que se considerar, ainda, que o decreto n. 2.473, publicado em 20 de março do mesmo ano de

1909, pelo vice-Presidente Bueno Brandão e por meio do qual se criava o Gabinete de

Identificação, estabelecia-se dentre as pessoas passíveis de serem identificadas criminalmente,

os considerados vadios – muito embora, as próprias fontes policiais indiquem que a prisão,

neste caso, era irregular.19 Dentre os considerados “vadios”, provavelmente encontrava-se

grande parte do contingente de migrantes negros oriundos do interior do estado.

As informações contidas nos Registros de Réus recolhidos à Cadeia Pública de

Belo Horizonte, não obstante, nos permitem identificar alguns dados que não constam dos

Relatórios da Santa Casa de Belo Horizonte analisados – nos primeiros, para além do

histórico criminal, é possível estabelecer um breve perfil dos sujeitos de que trata a

documentação. Assim, temos, por exemplo: A. A. C., 22 anos, casada, meretriz, mestiça, 1,48

18 Esta mudança foi precedida de uma intensa discussão em voga no estado e no país, por ocasião da sistematização do

método de identificação dactiloscópica por Juan de Vucetich, então responsável pela Chefatura de Polícia da Província

Buenos Aires, sediada em La Plata. O novo método contrapunha-se ao concebido por Alphonso Bertillon, que empregava

medição antropomórfica, para identificação de indivíduos. (Cf. APM – Relatório da Secretaria de Polícia de Minas Gerais,

1909.) 19 Em ofício enviado ao Chefe de Polícia, em julho de 1916, por ocasião de uma contenda sobre a cobrança ilegal de

carceragem, o Delegado Orlando Pimenta, posicionando-se contrário à cobrança, argumenta: “Demais, as chamadas prisões

correccionaes, como as prisões para averiguações policiaes, que se impõem, muitas vezes, como medida de repressão ás

irregularidades de conducta de indivíduos de baixa estofa social, não têm assento ou fundamento em lei alguma. Ora, assim,

a taxa de sellos estipulada para os alvarás de soltura não póde referir-se a taes prisões, pois acto não previsto em lei, ou

melhor, não reconhecido pela lei não póde ser por ella tributado.” (Cf. APM-Fundo Chefia de Polícia. Ocorrências Policiais

– POL8-CX.24-Pc. 02).

11

de altura, alfabetizada (sabe ler e escrever); tendo sido pronunciada com base no artigo 303 do

Código Penal, referente à prática de ofensas físicas, foi condenada em Belo Horizonte e solta

por pagamento de fiança em 11 jan. 1913. Além dela, observamos, conforme dados da Tabela

5, a presença de outras 3 mulheres, sendo uma outra meretriz e as demais trabalhadoras

(servidoras) domésticas. Dentre os demais presos, portanto, destaca-se a forte presença de

homens não brancos, correspondendo a 49,55% dos 111 detidos e detidas; neste percentual da

população masculina de presos, 14,41% são classificados como “pretos” e 35,14%, como

“mestiços”. Os brancos somam 26,13%, e os sem informação para a cor, 24,32%. Dentre as

várias profissões declaradas, a grande maioria é de jornaleiros, militares e lavradores,

conforme dados da Tabela 3. Nota-se também a presença de estrangeiros e de brasileiros de

outros estados, sendo que alguns poucos, dentre estes presos estavam ali, provisoriamente,

enquanto aguardavam julgamento, tendo cometido os crimes respectivos, em outros

municípios do Estado.

12

Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte Tabela 1 – Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte-Doentes admitidos entre 1908* e 1935 (Cor/Raça)

Quadro comparativo - Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte Doentes admitidos, 1908-1935 (Cor/Raça)

1908 1910 1911 1912 1913 1914 1915 1916 1917 1918 1921 1923 1928 1929 1930 1931 1934 1935 Brancos 90 321 381 616 896 859 764 774 756 1016 1087 1089 1150 1444 2267 223 1450 1999 Pretos 39 230 376 538 636 556 615 640 848 621 771 687 1287 1222 1123 2530 1390 1383 Mestiços 79 708 861 1165 1282 1068 819 825 603 1295 1405 1557 2595 2781 2208 1140 2725 2675 Totais 208 1259 1618 2319 2814 2483 2198 2239 2207 2932 3263 3333 5032 5447 5598 3893 5565 6057

Fonte: APM – Relatórios da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (1908-1935). (*)Foram analisados os Relatórios do período entre 1901 a 1935. Contudo, somente a partir de 1908, são registradas neles informações sobre cor.

Gráfico 1 – Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte-Doentes admitidos entre 1908 e 1935 (Cor/Raça)

Fonte: APM – Relatórios da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (1908-1935).

13

Fundo Chefia de Polícia – Registro de réus recolhidos à cadeia de Belo Horizonte

Tabela 2

População Carcerária - Cadeia Pública de Belo Horizonte, 1913 (Cor/raça)

Branca 29 26,13%

Preta 16 14,41%

Mestiça 39 35,14%

Sem Informação 27 24,32%

Total 111 100,00% Fonte: Registro de réus recolhidos à cadeia de Belo

Horizonte, 1913 (ACPM – Fundo da Chefia de Polícia)

Tabela 3

População Carcerária - Cadeia Pública de Belo Horizonte, 1913

(Naturalidade/Nacionalidade) – A

Espanha 1 0,90%

EUA (Califórnia) 1 0,90%

Itália 5 4,51%

Minas 85 76,58%

Pernambuco 1 0,90%

Rio de Janeiro 1 0,90%

Sem iformação 15 13,51%

Síria 2 1,80%

Total 111 100,00% Fonte: Registro de réus recolhidos à cadeia de Belo Horizonte, 1913 (ACPM – Fundo da Chefia de Polícia)

Tabela 4

População Carcerária - Cadeia Pública de Belo Horizonte, 1913 (Naturalidade/Nacionalidade) –

B

Brasileiros 102 91,89%

Estrangeiros 9 8,11%

Mineiros 85 76,58%

Outros Estados 2 1,80%

Sem informação 15 13,51% Fonte: Registro de réus recolhidos à cadeia de Belo Horizonte, 1913 (ACPM – Fundo da Chefia de Polícia)

Tabela 5

População Carcerária - Cadeia Pública de Belo Horizonte,1913 (Profissões/Ocupações)

Agencia/Agenciador 2

Alfaiate 2

Cabouqueiro 4

Caixeiro 1

Carpinteiro 3

Carroceiro 1

Chapeleiro 2

Cocheiro 1

Colchoeiro 1

Comerciante 1

Copeiro 2

Engenheiro 1

Guarda Civil 1

Guarda-freio 1

Jornaleiro 17

Lavrador 16

Meretriz 2

Militar 17

Motorneiro 1

Negociante 5

Oleiro 1

Pedreiro 4

Pintor 1

Sapateiro 3

Servente de pedreiro 1

Servidora doméstica 4

Veterinário 1

Viajante 1

Sem informação 14

Total 111 Fonte: Registro de réus recolhidos à cadeia de Belo Horizonte, 1913 (ACPM – Fundo da Chefia de Polícia)

14

Trajetórias e experiências de migrantes negras/os em Belo Horizonte:

as histórias de vida de Dona Cotinha e Sr. Raimundo20

Buscando conhecer um pouco mais sobre a presença e atuação da população negra

na cidade, observaremos, a seguir, alguns aspectos de histórias familiares produzidas por

migrantes e/ou descendentes.21

Em 1938, quando tinha 11 anos de idade, Dona Cotinha [Maria Ramos Monteiro]

deixou a casa dos pais, em Volta Grande, próximo ao município de Ponte Nova (MG) e viajou

para Belo Horizonte. Um tanto arrependida por deixar a mãe, especialmente, ela tinha destino

certo na nova cidade – uma “casa de família” situada próximo ao “Colégio Arnaldo”, na

região do Bairro Funcionários. Ela passou a integrar o grupo de trabalhadoras e trabalhadores

domésticos empregados na casa de uma certa família Nahas, chefiada por um advogado – o

“Doutor Nahas”. Ali ela exerceu a função de arrumadeira, desde então, até o casamento, nos

anos 1950. Depois de um tempo, a mãe da entrevistada, Dona Rita Miranda também migrou

para Belo Horizonte, estabelecendo-se no Bairro Santa Efigênia, onde recebia a visita da filha,

quinzenalmente. Dona Rita, que também atuou como trabalhadora doméstica, chegou à

cidade, em princípio, para acompanhar os filhos Vicente e Zezé, que haviam se mudado para

Belo Horizonte, antes de Dona Cotinha, e trabalhavam como serventes de pedreiro. A família

reconfigurava-se, então, na capital, sem a presença do pai, Sr. Francisco Miranda. Este,

descrito pela entrevistada como boêmio, ficou na cidade de origem, num primeiro momento,

mas juntou-se à família tempos depois. “Chegou. É... Sem sanfona, nem nada.” Diz ela,

sorrindo. “Só com a roupa do corpo.” Ao lembrar-se dele, D. Cotinha remete imediatamente à

ideia que tinha, quando criança e jovem, sobre casamento:

...“Eu... casar, eu num vou casar. Porque eu casar pr’um homem querer [...]

me bater e deixar eu passar [necessidade], eu num vou casar, não.” Quando

os outros falava assim: “Eu vou casar com cê!” Eu até chorava de raiva.

(MONTEIRO; MONTEIRO, 2013)

Esta impressão se diluiu, contudo, a partir de quando ela conheceu Sr. Raimundo,

num passeio costumeiro na Avenida Amazonas, no Centro da cidade. Ali, nos anos 1940,

20 Os nomes firam mantidos, com anuência dos entrevistados, atestada no Termo de Cessão de Uso de Depoimento Oral

estabelecido de acordo entre os mesmos e a pesquisadora. 21 Os depoimentos foram registrados em entrevistas realizadas pela pesquisadora, no âmbito da pesquisa em curso, e estão

referenciados, ao final deste texto.

15

segundo os relatos de ambos, era um dos espaços de lazer e sociabilidade para as/os jovens

trabalhadores/as, que passeavam por lá, aos finais de semana à noite. Nas palavras dela, aliás,

percebemos que era um espaço segregado: “É... Naquele tempo, tinha o lado... o lado direito

era dos bacanas. O lado esquerdo era dos mais humildes.” Afirma, sorrindo. Durante o dia, o

lugar preferido para lazer era o Parque Municipal Américo René Giannetti, também na área

central. Foi, portanto, num dos passeios pela Avenida Amazonas que ela conheceu aquele que

se tornou seu companheiro e com quem construiu uma família de 5 filhos.

A família constitui um grande valor para os Monteiro, assim como para a maioria

dos grupos familiares integrados por outros de nossos entrevistados. Por meio dela,

engendraram, em Belo Horizonte, projetos de vida que representam o esforço de superação

das adversidades que tornavam cada vez mais inviável a vida nas cidades de origem.

Com efeito, como já mencionado, o aumento do fluxo migratório observado em

Minas Gerais, no período pós-Abolição, é decorrente do aumento constante da urbanização –

fenômeno comum a diversas regiões do país, ao mesmo tempo em que a constitui. As

narrativas das pessoas que entrevistamos, invariavelmente remetem, em algum momento, às

lembranças familiares sobre os tempos da vida “no interior”. Esses “tempos” correspondem

aos das gerações de avós e bisavós da maioria dos entrevistados, que viviam, em geral do

trabalho como pequenos agricultores. Trabalhavam para terceiros – como no caso dos

familiares de Dona Lia (OLIVEIRA, 2014), por exemplo –, mas em alguns relatos – como os

de Sr. Raimundo e Dona Cotinha (2013), Edna e Maria do Carmo Costa (2014) e da família

Santos (2014); e Levínia da Costa (2014) –, aparecem como proprietários de pequenas roças.

O estatuto da posse dessas terras, nestes casos, quase nunca é descrito com precisão pelos

depoentes. Mas é comum, nos relatos, a memória de que em função das dificuldades

enfrentadas pelos pequenos agricultores, as pessoas precisaram buscar alternativas de trabalho

em Belo Horizonte – em geral passando por municípios situados no entorno da capital, depois

de abandonar ou vender a preço muito baixo as referidas terras.

Sr. Raimundo, curiosamente, ao se lembrar da avó materna, que fora escrava “ou

filha de escravos” – não soube precisar – e que ele conhecera quando criança, remete à

precariedade da vida na roça, “naquela época”, no tempo da avó que, na narrativa dele, se

mistura ao próprio tempo da infância. Esta memória da precariedade da vida, para Sr.

Raimundo emerge de maneira forte, quando ele descreve as próprias experiências de trabalho

16

infantil, com a enxada nas mãos calejadas; bem como a dificuldade de estudar: “Eu estudava

numa lousazinha quebrada”, diz ele com um sorriso um tanto entristecido. “É. Ela caiu e

quebrou um pedaço, assim e eu... A pessoa que tava muito atrás, num dava muito pra copiar,

porque a lousa tava quebrada. (...) Comprava um caderno de duzentos réis... Era uma luta...

[Pausa longa] Duzentos réis, naquela época!...” (MONTEIRO; MONTEIRO, 2013).

Órfão de pai, aos 7 anos e filho de uma mãe que ele descreve como “guerreira”,

que trabalhou duramente “na roça” para sustentar os filhos, para ele, as oportunidades

educacionais só puderam ser acessadas de maneira mais contínua na vida adulta, em uma

escola pública em Belo Horizonte – o Grupo Escolar Olegário Maciel, à Rua Carijós, também

no Centro da cidade. Ele conciliou, durante alguns anos, o tempo de estudo com o de trabalho.

Oportunidade não possibilitada a Dona Cotinha, que abdicou da escola, em função da

necessidade de cuidar dos filhos. Em Belo Horizonte, ainda criança, Raimundo tornou-se

aprendiz e empregado em uma oficina de cromagem. Tornou-se sócio desta primeira oficina

em que trabalhou e manteve-se no ofício até se aposentar.

O projeto familiar de Sr. Raimundo e D. Cotinha foi construído, com dedicação,

em condições de enfretamento da precariedade da vida que tendia a se perpetuar mesmo na

cidade – ali, onde a crescente população negra ocupava os postos de trabalho menos

valorizados em termos de remuneração e status, onde as condições de habitação, educação e

saúde da população pobre eram ainda bastante precárias, embora em geral melhores que nas

áreas rurais. A maioria de seus filhos e netos ensaiam a continuidade deste projeto, por meio

de carreiras profissionais consolidadas – como policiais civis ou militares, professor de

Educação Física, administradores –, e da formação de novos núcleos familiares, referenciados

na história e na presença dos avós.

Considerações Finais

Como esperamos ter demonstrado, por meio da breve referência às experiências

da Família Monteiro, as fontes orais permitem acessar outras dimensões da experiência das

famílias negras na cidade. No conjunto das 15 entrevistas já realizadas, além dos temas

abordados por Dona Cotinha e pelo Sr. Raimundo outros se destacam. Dentre eles, a

reafirmação da experiência de migração para a capital, como marco das histórias das famílias

negras entrevistadas: das 15 entrevistas de que dispomos, oito entrevistados nasceram em

17

Belo Horizonte; contudo, as histórias de quase todas as famílias reportam à migração de

algum município de Minas Gerais para Belo Horizonte, na primeira metade do século XX. A

passagem por outros municípios que hoje integram a Região Metropolitana de Belo

Horizonte, antes do estabelecimento das famílias migrantes em Belo Horizonte, é coerente

com os apontamentos de Botelho acerca do aumento populacional na região central do estado

e para Belo Horizonte, no período em foco. Além disso, é recorrente referência à memória

(ainda que remota) de algum antepassado liberto ou livre filho de escravizado. Nas narrativas

sobre a migração, há ocorrência de memórias sobre alguns desses antepassados libertos ou

filhos de libertos que teriam sido proprietários de terra. Quanto às memórias da vida nas

cidades de origem, são referenciadas, em geral, no trabalho com a lavoura. Quanto às

atividades laborais exercidas pelos que migraram para Belo Horizonte, encontram se, para os

homens, as de policiais, operários de mineradora, agricultores (nas colônias agrícolas),

trabalhadores da construção civil, técnicos em oficina mecânica (automóveis e cromagem);

para as mulheres, as de trabalhadoras domésticas, funcionárias do serviço público de saúde,

artesãs – o que nos oferece um quadro mais amplo de ocupações, em comparação com os

dados das demais fontes anteriormente analisadas. Há uma constância, nas narrativas, quanto

à relevância da educação e a escassez de possibilidades de acesso a esse direito pelas gerações

mais antigas. Nota-se uma mudança explícita quanto a este aspecto, nos relatos de filhos e

netos dessas gerações acessando, inclusive o ensino superior. Para as gerações mais jovens,

evidencia-se a expressão de valores como o afeto, a honestidade e o apreço pela qualidade no

trabalho, como herança dos pais e como fator de manutenção da unidade familiar e de

resistência às dificuldades experienciadas socialmente, na condição de negros e negras.

Observa-se, ainda, a preponderância das narrativas femininas sobre tais histórias, o que nos

convida a tratar mais atentamente a condição das mulheres negras na cidade. Por fim, um dos

principais potenciais destas fontes, é a possibilidade de atentar para os olhares, as percepções

e leituras da cidade construídas a partir do exercício de memória das pessoas entrevistadas,

que constituem um aspecto importante de análise, a ser posto em diálogo com as perspectivas

vigentes sobre a história Belo Horizonte.

Referências Bibliográficas e Fontes

Entrevistas

18

COSTA, Edna Ferreira da; COSTA, Maria do Carmo Ferreira da. História de Vida/História Familiar.

Belo Horizonte. Entrevista concedida a Josemeire Alves Pereira. Arquivo Digital (85 min. 34 seg.).

Áudio. 08. Out. 2014.

COSTA, Levínia; COSTA, Júnia Silva da. História de Vida/História Familiar. Belo Horizonte.

Entrevista concedida a Josemeire Alves Pereira. Arquivo Digital (Arquivo A – 50 min. 31 seg.

Arquivo B – 105 min. 51 seg.). Áudio. 24. Jan. 2014.

FERREIRA, Izaltina da Silva. Entrevista à Revista da Laje – Projeto Memória. Entrevistadores:

Josemeire Alves Pereira; Juvenal Lima Gomes. Belo Horizonte. Arquivo Digital (60 min. Aprox.).

Áudio. 28.nov.2007.

JESUS, Maria Ferreira; COSTA, Júnia Silva da. História de Vida/História Familiar. Belo Horizonte.

Entrevista concedida a Josemeire Alves Pereira. Arquivo Digital (81 min. 23 seg.). Áudio. 24. Jan.

2014.

LADISLAU, Ione Pires. História de Vida. Belo Horizonte. Entrevista concedida a Josemeire Alves

Pereira. Arquivo Digital (124 min.). Áudio. 22. ago.2007.

MONTEIRO, Raimundo; COTINHA. História de Vida/História Familiar. Belo Horizonte. Entrevista

concedida a Josemeire Alves Pereira. Arquivo Digital (78 min. 33 seg.). Áudio. 28. Dez. 2013.

OLIVEIRA, Maria das Dores de. História de Vida/História Familiar. Belo Horizonte. Entrevista

concedida a Josemeire Alves Pereira. Arquivo Digital (Arquivo A – 136 min. 21 seg. Arquivo B –

11min. 34 seg.). Áudio. 11. Jan. 2014.

SANTOS, Euza Antônia; VÍTOR, Priscila dos Santos; SANTOS, Elizeth Pepétua dos; SANTOS,

Hermes Antônio dos; SANTOS, Elizabeth Consolação dos. História de Vida/História Familiar. Belo

Horizonte. Entrevista concedida a Josemeire Alves Pereira. Arquivo Digital (68 min. 28 seg.). Áudio.

16. Ago. 2014.

Arquivo Público Mineiro Anuários

-MINAS GERAES. Anuário Estatístico. Belo Horizonte: Imprensa Oficial. 1911.

-MINAS GERAES. Anuário Estatístico. Belo Horizonte, Secretaria da Agricultura. 1925. (Ano I –

1921 / Vol.2)

Fundos e Coleções

-Fundo Chefia de Polícia. Série 8. Ocorrências Policiais.

-MINAS GERAES. Relatório da Secretaria de Polícia de Minas Gerais. Relatório

apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Secretário do Interior pelo Chefe de Polícia Dr. Urias de

Mello Botelho em 1909. Bello Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Geraes, 1909.

Microfilme [Original Impresso]. Coleção Obras Raras.

Referências bibliográficas ADELMAN, Jeffry. Urban planning and reality in republican Brazil: Belo Horizonte, 1890-1930.

1974. 276 p. Tese (Doutorado em História) – Indiana University, Bloomington. Acervo Biblioteca da

Escola de Arquitetura/UFMG.

AGUIAR, Tito Flávio Rodrigues de. Vastos Subúrbios da Nova Capital: formação do espaço urbano

na primeira periferia de Belo Horizonte. 2006. 443 p. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de

Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: memória histórica e descritiva. ed. atual. rev. e anotada. Belo

Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1996. 2v., 447 p. e 916

p. Publicado originalmente em 1928 (v. 1) e 1936 (v. 2) (Coleção Mineiriana. Série Clássicos).

BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. De outras terras, de outro mar:

experiências de imigrantes estrangeiros em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio

Barreto, 2004. 116p.

19

BOMENY, Maria Helena B. Guardiães da Razão: modernistas mineiros. Rio de Janeiro: Ed. Tempo

Brasileiro, 1994.

BOSI, Antônio de Pádua. Ex-escravos, imigrantes e Estado na constituição da classe trabalhadora de

Uberabinha, MG (1888-1915). Revista de História Regional 9(1), Verão de 2004, p. 105-135.

BOTELHO, Tarcísio R. A migração para Belo Horizonte na primeira metade do século XX. Cadernos

de História, Belo Horizonte, v. 9, n. 12, p. 11-33, 2º sem. 2007.

COOPER, Frederick et al (Org.). Além da liberdade: investigações sobre raça, trabalho e cidadania

em sociedades pós-emancipação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

COSTA E SILVA, Marina Guedes. A moral e os bons costumes: a experiência da cidade nas

narrativas policiais (Belo Horizonte, 1897-1926). 2009. 150p. Dissertação (Mestrado em Educação).

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

CUPERSCHMID, Ethel Mizrahy; MARTINS, Maria do Carmo Salazar. Instituto de Radium de Minas

Gerais: vanguarda na radioterapia no Brasil, 1923-1935. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio

de Janeiro, v. 21, n. 4, out-dez. 2014, p. 1235-1260.

DULCI, Otávio Soares. Política e Recuperação econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed.

UFMG, 1999.

DUTRA, Eliana Regina de Freitas. Caminhos operários nas Minas Gerais: um estudo das práticas

operárias em Juiz de Fora e Belo Horizonte na Primeira República. São Paulo: Hucitec; Editora

UFMG (com apoio do MinC-Pró-Memória Instituto Nacional do Livro), 1988.

____. BH – Horizontes Históricos. Belo Horizonte: Ed. C/Arte, 1996.

____. Inventários do Cotidiano de uma famiglia. Histórias de vida e memória das cidades. Varia

História, Belo Horizonte, v. 20, p. 34-37, 1999.

FLORES, E. C.; Behar, R. Memórias, percursos e reflexões: com Antônio Torres Montenegro.

Saeculum: Revista de História, João Pessoa, n. 18, p.187-208, jan./jun. 2008.

FRAGA FILHO, Walter. Mendigos, moleques, vadios na Bahia do século XIX. São Paulo, SP:

Hucitec, 1996.

____. Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia (1890-1910). Campinas,

SP: Editora da UNICAMP, 2006.

____. Migrações, itinerários e esperanças de mobilidade social no recôncavo bahiano após a Abolição.

Cadernos AEL, v.14, n.26, 2009.

FONER, Eric. O significado da liberdade. Revista Brasileira de História. v.1, n.16, p. 09-36. São

Paulo, mar-ago/1988a.

____. Nada além da liberdade: a emancipação e seu legado. Rio de Janeiro;Brasília, Paz &

Terra;CNPq, 1988b.

GUIMARÃES, Berenice. Cafuas, Barracos e Barracões: Belo Horizonte, cidade planejada – 1894-

1945. 1991. Tese (Doutorado em Sociologia). Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro –

IUPERJ. Rio de Janeiro/RJ, 1991.

GUIMARÃES, E. S. Múltiplos viveres de afrodescendentes na escravidão e no pós-emancipação:

Família, trabalho, terra e conflito (Juiz de Fora – MG, 1828-1928). São Paulo, Annablume; Juiz de

Fora, Funalfa Edições, 2006.

____. Memórias históricas de movimentos rurais – Juiz de Fora na passagem do século XIX ao XX.

Tempo – Revista Digital do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da

Universidade Federal Fluminense. Niterói, RJ: vol. 11, n.22, jan. 2007. p. 58-79.

LIBBY, Douglas Cole. et. al. Família e demografia em Minas Gerais, Séculos XVIII, XIX e XX (Nota

de Pesquisa). R. Bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v. 29, n.1, p. 199-206, jan./jun. 2012

MATTOS, Hebe. Prefácio. In: COOPER, Frederick et al (Org.). Além da liberdade: investigações

sobre raça, trabalho e cidadania em sociedades pós-emancipação. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2005.

____. Das cores do silêncio: Os Significados da Liberdade no Sudeste Escravista – Brasil Século XIX.

Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1995 [1998] 2ed.

20

MELLO, Ciro. Bandeira de. A noiva do trabalho: uma capital para a República. In: Dutra, Eliana

Regina de Freitas. BH – Horizontes Históricos. Belo Horizonte: Ed. C/Arte, 1996.

MEYER, Marileide Lázara Cassoli; GONÇALVES, Andrea Lisly. Nas fímbrias da liberdade:

agregados, índios, africanos livres e forros na província de Minas Gerais (século XIX). In: VARIA

HISTÓRIA, Belo Horizonte, v.27, n.46: p. 645-663, jul/dez 2011.

REZENDE, Maria Efigênia Lage de. Uma interpretação sobre a fundação de Belo Horizonte. Revista

Brasileira de Estudos Políticos. Belo Horizonte, UFMG (30) p. 601. Apud DUTRA, Eliana Regina de

Freitas. Caminhos operários nas Minas Gerais: um estudo das práticas operárias em Juiz de Fora e

Belo Horizonte na Primeira República. São Paulo: Hucitec; Editora UFMG (com apoio do MinC-Pró-

Memória Instituto Nacional do Livro), 1988.

RIOS, Ana Lugão; MATTOS, Hebe. Memórias do cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-

abolição. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2005.

SCHWARCZ, Lília K. Moritz. O espetáculo das raças. 7ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993

[2008].

SILVA, Regina Helena Alves; SILVEIRA, Ana J. Torres. Cenas de um Belo Horizonte. Belo

Horizonte, Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – PBH, 1994.