mariana moreira identificaÇÃo de consÓrcio bacteriano

85
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO COM POTENCIAL PARA BIORREMEDIAÇÃO DE ARSÊNIO E SULFATO. Autora: Mariana Moreira Orientadora: Prof a . Dr a . Mônica Cristina Teixeira Co-orientadora: Prof a . Dr a .Silvana de Queiroz Silva Ouro Preto, MG Abril de 2013

Upload: phungcong

Post on 10-Jan-2017

218 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM ENGENHARIA AMBIENTAL

Mariana Moreira

IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO COM POTENCIAL

PARA BIORREMEDIAÇÃO DE ARSÊNIO E SULFATO.

Autora: Mariana Moreira Orientadora: Profa. Dra. Mônica Cristina Teixeira

Co-orientadora: Profa. Dra.Silvana de Queiroz Silva

Ouro Preto, MG Abril de 2013

Page 2: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

i

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ENGENHARIA

EM ENGENHARIA AMBIENTAL

IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO COM POTENCIAL

PARA BIORREMEDIAÇÃO DE ARSÊNIO E SULFATO.

Ouro Preto, MG

Abril de 2013

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade

Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do título: “Mestre em

Engenharia Ambiental – Área de Concentração:

Tecnologia Ambiental”.

Page 3: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

Catalogação: [email protected]

M838i Moreira, Mariana.

Identificação de consórcio bacteriano com potencial biotecnológico para

biorremediação de arsênio e sulfato [manuscrito] / Mariana Moreira – 2013.

x, 70 f. : il., color.; tab.; mapas.

Orientadora: Profª Drª Mônica Cristina Teixeira.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto

de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas e Pós-Graduação em

Recursos Hídricos. Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental.

Área de concentração: Tecnologias Ambientais.

1. Biorremediação - Teses. 2. Arsênio - Teses. 3. Sulfatos - Teses.

4. Bactérias - Teses. I. Teixeira, Mônica Cristina. II. Universidade Federal de

Ouro Preto. III. Título.

CDU: 628:579.846.2

CDU: 669.162.16

Page 4: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO
Page 5: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

ii

“Enquanto estivermos tentando, estaremos felizes, lutando pela

definição do indefinido, pela conquista do impossível, pelo limite

do ilimitado, pela ilusão de viver. Quando o impossível torna-se

um desafio, a satisfação está no esforço, e não apenas na

realização final”

Gandhi.

Page 6: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

iii

A Deus e a tudo o que Ele representa em minha vida.

Aos meus queridos pais, Elenita e Adelson,

ao meu irmão Júnior e ao meu esposo Carlos meus maiores

tesouros, exemplos de simplicidade, força de

vontade e luta. A vocês todo meu trabalho,

dedicação e amor.

Page 7: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

iv

Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por proporcionar inúmeras

oportunidades, por iluminar meus passos e facilitar minha trajetória dentro da

universidade, sempre apresentado solução nos momentos difíceis.

A professora orientadora Mônica Cristina Teixeira por ter me acolhido em seu

laboratório, por toda confiança depositada em mim nestes anos de trabalho. Obrigada

pela orientação, pelas excelentes discussões científicas e profissionais, pelos conselhos,

pelo apoio intelectual e profissional. Obrigada por acreditar em mim e no meu trabalho.

A professora co-orientadora Silvana de Queiroz Silva por me receber em seu

Laboratório. Obrigada pelas excelentes discussões, e por ter me ensinado a fazer alguns

experimentos.

Agradeço as minhas colegas de trabalho do laboratório de Biotecnologia

Ambiental, Patrícia Freitas e Letícia Paiva pela amizade construída e pela ajuda

incondicional. Obrigada por terem me ajudado nos primeiros experimentos, pelas

constates discussões a cerca dos resultados.

A toda equipe do Laboratório de Biologia e Tecnologia de Micro-organismos -

DECBI/UFOP: professores, alunos e técnicos. Em especial a aluna Júlia por ter

dedicado parte do seu tempo para me ajuda nos experimentos, na produção dos

reagentes, pelo companheirismo, enfim, obrigada por tudo.

Agradeço também a Keice, Natália e a Izabel pela amizade construída, e por ter

de alguma forma me ajudado, seja com os ensinamentos repassados, ou com os

reagentes emprestados.

A toda minha família, que sempre me apoiaram e em particular aos meus pais

Adelson e Elenita e ao meu irmão Júnior pelo apoio e carinho em todos os momentos.

Agradeço também o meu marido Carlos César pelo incentivo, atenção, e pela ajuda

constante nas horas difíceis.

Agradeço também ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental,

PROAMB, e a todos os professores pelo suporte e por complementar minha formação.

À Capes, pela concessão da bolsa e à Fapemig e ao CNPq pelos financiamentos

do projeto.

Page 8: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

v

Sumário

AGRADECIMENTO iv

SUMÁRIO v

LISTA DE FIGURAS vii

LISTA DE TABELAS viii

RESUMO ix

ABSTRACT x

1. Introdução 1

2. Objetivos 3

2.1 Objetivos Gerais 3

2.2 Objetivos Específicos 3

3.0 Revisão Bibliográfica 4

3.1 Arsênio 4

3.2 Tratamento de águas contaminadas por arsênio 7

3.3 Remoção do sulfato de águas contaminadas 9

3.4 Bactérias redutoras de sulfato 17

3.5 Biorremediação de áreas contaminadas por metais 20

3.6 Identificação molecular de micro-organismos 21

4. Materiais e Métodos 25

4.1 Área de coleta 25

4.2 Cultivo das amostras 26

4.3 Avaliação da resistência da composição microbiológica do sedimento

coletado ao arsênio

27

4.4 Identificação microbiana pelo método PCR-DGGE 30

4.4.1Preparação das amostras 30

4.4.2 Extração de DNA das amostras 30

4.4.3 Amplificação do DNA por PCR 31

4.4.4 Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE) 32

4.4.5 Análise das sequências genômicas 34

4.5 Caracterização e identificação dos precipitados formados 34

5. Resultados e Discussão 37

5.1 Enriquecimento e adaptação das amostras 37

5.2 Efeito da concentração do arsênio no crescimento do consórcio bacteriano 39

Page 9: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

vi

5.3 Variação do Potencial de redução e pH inicial do meio 41

5.4 Identificação microbiana 42

5.4.1. Eletroforese de gel de agarose (DGGE) 43

5.5 Caracterização do precipitado formado 51

6. Conclusões 55

7. Perspectivas futuras 57

8. Referências Bibliográficas 58

9 Apêndices 69

Page 10: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

vii

Lista de Figuras

Figura 3.1 Representação esquemática do ciclo do enxofre.

10

Figura 3.2 Representação esquemática da redução assimilativa do sulfato.

15

Figura 3.3 Representação esquemática da transferência de elétrons na

redução dissimilativa do sulfato, com compostos carbônicos como

fonte de energia e sulfato como aceptor de elétrons.

16

Figura 4.1. Vista da lagoa do Gambá, cidade de Ouro Preto – MG.

25

Figura 4.2. Esquema envolvendo os processos de enriquecimento, adaptação e

fase dos ensaios de remoção de sulfato e arsênio, realizados neste

trabalho.

28

Figura 5.1. Ensaio de adaptação do consórcio bacteriano ao cultivo. (a) Início

do cultivo e (b) meio de cultura enegrecido devido à formação de

sulfeto ferroso, resultado do crescimento da cultura.

38

Figura 5.2. Enriquecimento do consórcio bacteriano nas amostras em meio

líquido Postgate C“modificado”. (a) Enriquecimento e cultivo das

amostras e (b) crescimento das culturas de BRS.

39

Figura 5.3. Variação do potencial de redução do meio no cultivo em presença

de arsênio.

42

Figura 5.4. Gel de DGGE, com gradiente desnaturante de 40%-60%, corado em

brometo de etídio contendo fragmentos de DNA ribossomal 16S

amplificados com primer universal 968FCG/1392R domínio

Bacteria.

44

Figura 5.5 Árvore filogenética contendo sequências do gene DNAr 16S (1376

pb) construída pelo método Neighbor-Joining e modelo Maximum

Composite Likelihood no programa Mega 4.1. Análise de Bootstrap

com 1000 réplicas.

48

Figura 5.6 Imagem no MEV do precipitado presente nas amostras. A) Amostra

1 com 0,0 g/L-1

de arsênio. B) Amostra 3 com 1,0 g/L-1

de arsênio.

C) Amostra 4 com 2,0 g/L1

de arsênio. D) Amostra 5 com 4,0 g/L-1

de arsênio, E) Amostra 6 com 8,0 g/L-1

de arsênio. F) Amostra 7

com 16,0 g/L-1

de arsênio.

54

Page 11: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

viii

Lista de Tabelas

Tabela 4.1. Composição do meio de cultura Postgate C modificado por Cheung

e Gu (2003).

26

Tabela 4.2. Concentração de As3+

em diferentes amostras

28

Tabela 4.3. Componentes utilizados na reação de PCR

32

Tabela 5.1. Tempo de escurecimento do meio em relação à concentração de

As(III)

40

Tabela 5.2. Distribuição das bandas de material genômico em diferentes

condições experimentais.

45

Tabela 5.3. Alinhamento das bandas com as sequências depositadas no

GenBank(www.ncbi.nlm.nih.gov) para os fragmentos amplificados

pelos primers bacterianos universais (968F-GC 1392R).

46

Tabela 5.4. Propriedades das espécies identificadas 47

Page 12: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

ix

Resumo

A contaminação ambiental por metais pesados e sulfato tem sido objeto de diversas

discussões e iniciativas. O arsênio é tóxico para a maioria dos seres vivos e pode

provocar intoxicações agudas e crônicas em função do tempo de exposição. Dessa

forma é necessário o desenvolvimento de metodologias eficientes e economicamente

viáveis para a remoção desse elemento em efluentes ou águas residuais. Os métodos

biológicos surgem como uma alternativa aos métodos convencionais. O objetivo do

trabalho é identificar o consórcio bacteriano, presente em amostras de bactérias

coletadas na Lagoa Gambá no município de Ouro Preto capazes de metabolizar o

sulfato e arsênio. Após a coleta, as amostras foram cultivadas em frascos contendo meio

de cultura líquido Postgate C modificado apropriado para cultivo de bactérias redutoras

de sulfato (BRS). Para avaliar a resistência dos consórcios bacterianos ao arsênio, foram

utilizadas seis concentrações diferentes: 0,5; 1,0; 2,0; 4,0; 8,0 e 16 mg.L-1

de arsênio

trivalente. O potencial de oxi-redução (Eh) do meio foi escolhido como parâmetro de

acompanhamento indireto do crescimento das culturas. Alíquotas de 100 ml de cada

amostra foram centrifugadas e armazenadas a -20° C para extração de DNA pelo

método fenol/clorofórmio. Para amplificação do DNA ribossomal 16S foram utilizados

os primers universais com iniciadores 968F-GC 1392R para o Domínio Bacteria. Para

análise da diversidade microbiana presente nas amostras, utilizou-se a técnica de

DGGE. Em todas as amostras foi possível observar o crescimento de micro-organismos

e redução do sulfato evidenciada pela formação de precipitado negro de sulfeto de ferro

e diminuição dos valores do Eh. Foi possível obter extração de DNA a partir de todas as

amostras estudadas. O resultado do DGGE com os produtos de amplificação geraram 7

bandas diferentes, que foram recortadas, sequenciadas e analisadas no Ribossomal

Database Project Release. Os micro-organismos identificados apresentaram 100% de

similaridade com as espécies de Pantoea agglomerans, Enterobacter sp e Citrobacter

sp, e 99% de similaridade com as espécies Cupriavidus metallidurans, Ralstonia sp e

Burkholderia cepacia. Dessa forma o consórcio microbiano identificado neste estudo é

bom candidato para o emprego em processos de biorremediação de áreas e efluentes

contaminados por arsênio, uma vez que possui resistência ao arsênio e é capaz de

promover a redução de sulfato a sulfeto e, em consequência, a precipitação do As.

Page 13: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

x

ABSTRACT

Environmental contamination by heavy metals and sulphate has been the subject of

many discussions and initiatives. Contamination by arsenic can cause gastrointestinal

problems such as nausea. Additionally, the arsenate competes with phosphate for the

active sites of enzymes fosforilatives, common to all living beings and is essential to the

metabolism of glucose. Thus it is necessary to develop efficient and economically

viable methodologies for removal of this element. Biological methods appear as an

alternative to conventional methods. The objective was to identify one bacterial

consortium adapted to the culture in the presence of trivalent arsenic (AsIII). Samples

were cultured in flasks containing modified Postgate C liquid medium (selective for

sulfate-reducing bacteria, SRB). Six different concentrations of As were used: 0.5, 1.0,

2.0, 4.0, 8.0 and 16 mg l-1

. The redox potential (Eh) of the medium was chosen as an

indirect growth parameter. 100 ml aliquots of cultured media were centrifuged and

stored at -20°C for DNA extraction. DNA extraction was obtained by

phenol/chloroform method. Universal primers 968F-GC 1392R (Bacteria domain) were

used for 16S ribosomal DNA amplification. Microbial diversity was evaluated by

DGGE. The growth of sulfate reducing microorganisms was indirectly observed by the

formation of a black precipitate of iron sulfide and also by the decreasing on Eh. After

DGGE analysis 7 different bands were selected, cut, sequenced and analyzed in the

Ribosomal Database Project Release. Consortium microorganisms identified were:

Pantoea agglomerans, Enterobacter sp and Citrobacter sp (100% similarity); and also

Cupriavidusmetallidurans, Ralstonia sp and Burkholderia cepacia (99% similarity).

Thus the microbial consortium identified here is a good candidate for bioremediation of

arsenic contaminated areas and effluents, since they possess resistance to this element

and are capable of promoting the reduction of sulfate to sulfide and, consequently, the

precipitation of As(III).

Page 14: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

1

1. Introdução

Diversas indústrias, como as de processamento de metais, geram efluentes

contendo metais e outros poluentes inorgânicos como o sulfato. Estes efluentes são

altamente prejudiciais para o ambiente e para o homem, dado que os metais podem

acumular ao longo das cadeias alimentares. Sendo assim, devem ser tratados antes de

serem lançados no ambiente (HIGGINS et al., 2003). Os processos de remoção de

metais pesados geralmente utilizados, como a precipitação química, a troca iônica ou a

separação por membranas apresentam por vezes restrições de ordem técnica (não sendo

eficazes para a diminuição do sulfato) ou econômica pelo elevado custo. Desta forma,

os processos biotecnológicos representam uma alternativa de tratamento com custos

mais reduzidos e mais eficientes na remoção destes compostos (CARLOS et al., 2007).

Nas últimas décadas, houve uma crescente conscientização, a nível global, sobre

o uso racional dos recursos naturais e o desenvolvimento de tecnologias menos

impactantes ao meio ambiente. O modelo atual de “desenvolvimento sustentável” tem

gerado uma série de discussões multidisciplinares entre pesquisadores, acadêmicos e

sociedade devido à dificuldade em se estabelecer um equilíbrio entre o crescimento

econômico e populacional sem comprometer o ambiente natural (BARBOSA, 2009). A

contaminação ambiental por metais e sulfato tem sido objeto de diversas discussões e

iniciativas. As águas residuais das indústrias de mineração e metalurgia são

consideradas como as principais fontes de contaminação ambiental por metais como o

arsênio (SMEDLEY & KINNIBURGH, 2002). Níveis de arsênio relativamente altos

são também encontrados ocasionalmente em fontes de água de abastecimento

municipais superficiais e subterrâneas, possivelmente devido à lixiviação de minerais

associados aos depósitos minerais. O íon sulfato ocorre na natureza em decorrência de

processos biogeoquímicos e também pelo lançamento de efluentes de diversos

processos industriais, uma vez que vários processos produtivos são responsáveis por

altas cargas de sulfato em seus efluentes (LENS, 1998).

A maior parte dos compostos contendo arsênio, sejam eles orgânicos ou

inorgânicos, acaba sendo convertida em trióxido de arsênio, o qual reage muito

rapidamente com os grupos sulfidrilas (-SH) de proteínas, inibindo a ação de enzimas

Page 15: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

2

que contenham estes grupamentos em seus sítios ativos, bloqueando a respiração celular

(TSALEV & ZAPRIANOV, 1985). Segundo Hughes (HUGHES 2002) a contaminação

por arsênio pode provocar problemas gastrointestinais como naúseas. Além disso, o

arsenato compete com fosfato pelos sítios ativos das enzimas fosforilativas, comuns a

todos os seres vivos e essenciais ao metabolismo da glicose.

Com relação ao sulfato, sua presença na água pode causar gosto amargo,

provocar diarreia e desidratação, tanto no homem quanto nos animais e ainda causar

problemas de corrosão em tubulações (LENS, 1998).

Em vista disso, torna-se necessário o desenvolvimento de metodologias

eficientes e economicamente viáveis para o tratamento e remoção desses elementos.

Garantir a qualidade da água de consumo, no que diz respeito aos teores de arsênio e

demais metais tóxicos é, portanto, condição necessária à manutenção da saúde das

populações.

A utilização de técnicas de biologia molecular na identificação de micro-

organismos para estudos de biotecnologia e biorremediação vem se destacando na

última década. Os micro-organismos representam o maior reservatório de diversidade

genética e bioquímica do planeta. Apesar de sua grande importância na manutenção da

biosfera, estima-se que menos de 10% dos micro-organismos existentes no planeta

tenham sido caracterizados e descritos (STALEY, 1998).

O grupo das bactérias redutoras de sulfato é bastante difundido na natureza

podendo ser encontrado tanto no ambiente aquático quanto no ambiente terrestre, mas

ocorre principalmente em sedimentos, onde as condições redutoras são mais favoráveis.

Estas oxidam compostos orgânicos simples (CH2O), acetato e lactato e reduzem

compostos oxidados de enxofre produzindo sulfeto de hidrogênio e íons bicarbonato

causando, em geral, a precipitação dos metais e a neutralização do pH do meio aquoso

(LENS, 1998).

Neste contexto, o presente trabalho buscou identificar micro-organismos

coletados em sedimentos da Lagoa do Gambá no município de Ouro Preto–MG,

capazes de remover simultaneamente sulfato e arsênio em ensaios de laboratórios.

Dessa forma os métodos biológicos surgem como uma alternativa aos métodos

convencionais, físico-químicos no tratamento de águas subterrâneas, superficiais e

efluentes industriais que apresentam arsênio e sulfato.

Page 16: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

3

2. Objetivos

2.1 Gerais

Cultivo e identificação de um consórcio bacteriano tolerante ao arsênio e capaz

de reduzir sulfato.

2.2 Específicos

Avaliar a capacidade de crescimento do consórcio bacteriano em

diferentes concentrações de arsênio utilizando meio Postgate C modificado, e como

fonte de carbono o lactato de sódio.

Verificar a influência da adição de um meio suporte sólido no (pó de

penas de galinhas) no crescimento microbiano

Comparar e identificar as bactérias nos diferentes ensaios pela técnica

PCR-DGGE.

Caracterizar o perfil filogenético dos fragmentos amplificados 16s DNA

do consórcio bacteriano obtido.

Avaliar a dinâmica bacteriana em ensaios com adições crescentes de

arsênio pela técnica PCR-DGGE

Identificar os precipitados formados e os possíveis mecanismos de

bioimobilização a partir da análise dos precipitados por meio de microscopia

eletrônica de varredura.

Page 17: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

4

3. Revisão bibliográfica

3.1 Arsênio

A despeito das fontes naturais de contaminação por arsênio, como, os fenômenos

geotermais e vulcânicos, a poluição por metais é causada principalmente pelas

atividades industriais e da agricultura (BORBA et al., 2004), e pela própria atividade de

mineração. No Brasil, o arsênio é amplamente encontrado no meio industrial, como

resíduo, especialmente das indústrias de processamento metalúrgico de ouro, cobre,

prata, zinco e cobalto. Este elemento é empregado ainda como matéria-prima na

manufatura de vidros, esmaltes, tintas, tecidos e couros e na produção de insumos

agrícolas tais como inseticidas, formicidas, herbicidas e preservativos de madeira. O

consumo de arsênio pela indústria é, entretanto, insignificante diante das enormes

quantidades desse elemento produzidas como resíduos industriais (TEIXEIRA, 2005).

O arsênio ocorre no meio ambiente nos estados de oxidação -3, 0,+3 e +5, sendo

a forma trivalente dez vezes mais tóxica que sua forma pentavalente, e ainda apresenta

uma mobilidade no meio ambiente significativamente maior (RAWLINS et al., 1997).

O arsênio é altamente tóxico, mesmo em baixas concentrações para plantas e

mamíferos (MCBRIDE, 1989). A exposição humana a arsênio pode resultar em

desenvolvimento de câncer de pele, de pulmão, de fígado, de bexiga e rins (BASU et

al., 2001).

A inalação de arsênio pode causar principalmente carcinomas de pulmão. Uma

vez ingerido, produz sintomas de irritação gastrointestinal e náuseas. Em longo prazo, a

ingestão continuada, ainda que de pequenas quantidades deste elemento, leva a

manifestações crônicas cutâneas, doenças do aparelho respiratório, diabetes, distúrbios

vasculares, neurológicos e câncer (TEIXEIRA, 2005).

De maneira geral, cátions de metais pesados interagem com íons ditos

fisiológicos, por exemplo, Cd²+, Ca²

+; Ni²

+, Co²

+, Fe²

+ e Zn²

+ inibindo a função desses

no organismo. Os oxiânions de metais pesados por sua vez, interferem com o

metabolismo dos íons não metálicos estruturalmente semelhantes, cromato com sulfato

e arsenato com fosfato. O arsenato é, estruturalmente, muito semelhante ao fosfato

Page 18: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

5

(PO4³-) e assim, sua principal toxicidade resulta da interferência com o metabolismo

desse maior bioelemento, que é o fósforo. O arsenato compete com fosfato pelos sítios

ativos das enzimas fosforilativas, comuns a todos os seres vivos e essenciais ao

metabolismo da glicose, causando bloqueio ou perda de produtividade em diversas rotas

metabólicas, através da formação de compostos de carboidrato “arsenilados” ao invés

dos intermediários fosfatados esperados. Do ponto de vista funcional, o efeito tóxico do

arsenato, equivale à supressão do aporte nutricional de fosfato (KAUR & ROSEN,

1992).

Com base em todas as evidências que relacionam a ocorrência de efeitos

toxicológicos crônicos e a ingestão de água contaminada por arsênio, vários órgãos

governamentais de controle ambiental recomendam a redução nos limites máximos

admissíveis para arsênio em água potável. A Organização Mundial da Saúde (OMS)

recomendou, em 1993, que o limite de 50 μg.L-1

fosse reduzido para 10μg.L-1

. No caso

da Comunidade Européia e do Japão, estes novos valores foram adotados. No Canadá o

limite é de 25μg.L-1

e nos Estados Unidos, após uma resistência inicial em adotar as

recomendações da OMS em função dos custos financeiros envolvidos (SMEDLEY et

al., 2002), a legislação foi alterada. A legislação ambiental brasileira também adotou a

recomendação da OMS e os novos limites passaram a vigorar a partir de dezembro de

2003, (Portaria MS 2.914/2011). O contato direto com água potável contendo

concentrações de arsênio inferior a 50 μg.L-1

foram associados a percussores de câncer

de pele, enquanto que concentrações superiores a este valor têm sido associadas ao

aumento do risco de câncer na bexiga e pulmão. (IPCS, 2001). A dose de Arsênio letal

para humanos é da ordem de 0,6 mg/kg/dia (http:

http://rais.ornl.gov/tox/profiles/arsenic.html) ou de 1-3 mg/kg, em se tratando

exclusivamente de As inorgânico (HUGHES, 2002)

No solo, o arsênio pode ser originário de fontes naturais ou antropogênicas

(pesticidas, herbicidas, fertilizantes), pode ser liberado durante a mineração e fundição

do ouro, chumbo, cobre e níquel, produção de ferro e aço, combustão de carvão

(SMITH et al., 1998); (BAIRD, 2002) e irrigação com água contaminada

(ROYCHOWDHURY et al., 2002).

No Brasil, a mineração de ouro e ferro tem contribuído para a dispersão de

arsênio e sua entrada na cadeia alimentar. Pesquisas realizadas com amostras de água

coletadas em minas subterrâneas, poços artesianos e nascentes das regiões de Ouro

Page 19: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

6

Preto e Mariana, apresentaram concentrações de arsênio variando entre 2 a 2.980 µg.L-1

,

sendo que, na maioria das amostras, os valores são superiores ao valor máximo

permitido para consumo humano que é de 10 µg.L-1

(BRASIL, 2005) de arsênio

(PIMENTEL et al., 2003). É, portanto, necessária uma avaliação em longo prazo dos

efeitos resultantes dessa contaminação sobre as populações dessas regiões que utilizam,

direta ou indiretamente, água contaminada por arsênio e que estão constantemente

submetidas à absorção, por meio da aspiração, de partículas finas dispersas na poeira.

Do ponto de vista da saúde das populações, em trabalho recente e pioneiro, um grupo de

pesquisadores, brasileiros e alemães, (MATSCHULLAT et al., 2000) realizou um

levantamento epidemiológico sobre os índices de contaminação arsenical em material

biológico, principalmente, urina, de crianças residentes dos municípios de Santa

Bárbara e Nova Lima. Os resultados obtidos indicavam que aproximadamente 45% das

crianças examinadas, com idades ente 7-14 anos, apresentavam níveis de arsênio na

urina de 15-40 μL.L-1

, sendo que 20% delas apresentavam índices maiores que

40 μL.L - 1

podendo, portanto, serem classificadas, respectivamente, dentro dos grupos

considerados de médio e alto risco, embora ainda não tenham sido observados os efeitos

fisiopatológicos da intoxicação por esse elemento.

No que concerne à bioquímica do arsênio, sabe-se que o arsênio inorgânico

ingerido é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal. O As absorvido é

transportado através do sangue, ligado a grupamentos SH das proteínas ou compostos

de baixo peso molecular como a glutationa e a cisteína até os órgãos do corpo,

principalmente o fígado, onde sofre reações de metilação que diminuem sua toxicidade.

A metilação envolve a adição de grupamentos metila, doados pela S-adenosilmetionina,

ao arsênio, apenas em seu estado trivalente.

Os metais representam um fator de estresse à comunidade microbiana presente

no ambiente impactado, podendo, inibir completamente as atividades metabólicas dos

organismos. O arsênio ocorre em diversos estados de oxidação -3, 0, +3 e +5. Em águas

naturais, o arsênio está presente principalmente na forma de compostos inorgânicos,

com valências 3+ e 5

+ (LIÈVREMONT et al., 2009). Em meio aquoso, o As pode ser

encontrado sob a forma de arsenito (AsO33-

) e arsenato (AsO43-

), referindo-se,

respectivamente a espécies trivalentes e pentavalentes. No caso específico do arsênio, os

íons arsenicais tri ou pentavalentes atravessam as barreiras celulares e, ao atingir o

Page 20: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

7

interior das células podem interferir em atividades metabólicas essenciais para os

organismos.

Bactérias resistentes ao arsênio possuem um complexo genético de resistência, o

gene arsC, que codifica a enzima As5+

redutase, responsável pela biotransformação de

As5+

em As3+

, que por sua vez é transportado para o meio extracelular pela ação das

proteínas transportadoras ArsA e ArsB, codificada pelos seus respectivos genes de

resistência. Como exemplo de micro-organismos que apresentam tais genes, podemos

citar, as espécies Desulfotomaculum auripigmentum que reduz o As5+

em As3+

(NEWMAN et al., 1997), as espécies Staphylococcus aureus e Escherichia coli que

apresentam o gene que confere resistência ao arsênio e capacidade de reduzir o As5+

, (JI

et al., 1992). Algumas bactérias têm seus mecanismos de oxidação do As3+

ou redução

do As5+

conhecidos, bem como a geração de energia envolvida nesses processos (LIAO

et al., 2011).

As bactérias que utilizam os íons arsenato no processo de respiração anaeróbia,

(bactérias redutoras de arsenato) apresentam o gene arr que codifica a enzima As5+

redutase que reduz o As5+

a As3+

. As bactérias oxidantes de arsenito possuem o gene

aox que codifica a enzima As3+

oxidase, responsável pela oxidação do As3+

a As5+

(LIÈVREMONT, 2009). Recentemente, outro gene que codifica uma As3+

oxidase foi

identificado no micro-organismo Alkalilimnicola ehrlichii, um quimiolitoautótrofo que

oxida arsenito e reduz nitrato simultaneamente (ZARGAR et al., 2010). Muitos estudos

mostraram o sucesso no uso de marcadores genéticos para o estudo dos mecanismos de

transformação do arsênio, como: os genes arsB e arsC contidos no operon que garante a

resistência ao metalóide (ACHOUR et al., 2007), o gene arrA na respiração dissimilatória

do As 5+

e o gene aoxB para oxidação do As 3+

(HAMAMURA et al., 2009).

Dessa maneira pode-se perceber que na natureza, os micro-organismos podem

lidar com toxicidade do arsênio de várias maneiras diferentes, dentre as quais podemos

citar: precipitação, quelação, transformação bioquímica, (TSAI et al., 2009).

3.2 Tratamento de águas contaminadas por Arsênio

As técnicas convencionais empregadas na remoção de metais de efluentes,

industriais são baseadas em precipitação química, trocas iônicas (KEFALA et al.,

Page 21: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

8

1999); (KAPPOR & VIRARAGHAVAN, 1995), osmose reversa (KAPPOR &

VIRARAGHAVAN, 1995), oxidação e redução, filtração, tratamento eletroquímico,

evaporação ou, extração por solventes. No entanto, o custo destes processos é muito

elevado (VEGLIO & BEOLCHINI, 1997). Métodos como, precipitação química e

extrações por solventes, empregam uma grande quantidade de reagentes químicos que,

se por um lado solucionam um problema, por outro criam outro relativo aos rejeitos

gerados. Os processos de precipitação química são amplamente utilizados

industrialmente e desempenhados à temperatura e pressão ambientes. Os íons metálicos

em solução são convertidos a hidróxidos insolúveis após a adição de agentes

precipitantes como, os hidróxidos de cálcio ou sódio. Eficiências elevadas de remoção

de metais, na faixa de 94 a 99%, são obtidas no tratamento de despejos contendo íons

cádmio, cobre, cromo trivalente, ferro, manganês, níquel, chumbo e zinco (PALMER,

1988), porém este processo não apresenta capacidade satisfatória de remoção de íons

sulfato.

Outros processos empregados na remoção de metais são a floculação e a

coagulação, nos quais ocorre a adição de um composto químico a fim de facilitar a

sedimentação das partículas sólidas presentes em suspensão. O sucesso do processo está

intimamente relacionado às características de floculação e sedimentação das partículas.

Este processo é amplamente empregado, apresentando eficiências na faixa de 50 a 98%

para remoção de chumbo, zinco, cádmio, manganês, cobre e níquel (PALMER, 1988).

Os processos físicos químicos citados anteriormente na remoção do arsênio,

além de apresentarem alto custo, na maioria das vezes geram outros resíduos sólidos e

por isso há um grande interesse nos processos biotecnológicos que utilizam as bactérias

redutoras de sulfato (BRS) visto que o sulfeto produzido pelo metabolismo desses

microrganismos é capaz de se ligar à cátions metálicos, bi e trivalentes produzindo os

sulfetos metálicos correspondentes.

Dentre as bactérias capazes de sobreviver em ambientes com alta concentração

de arsênio, podemos citar as que pertencem ao gênero Desulfosporosinus,

(BATTAGLIA-BRUNET et al., 2012). Pseudomonas mendocina, Pseudomonas

stutzeri, Pseudomonas pseudoalcaligenes, Pseudomonas aeruginosa e Azoarcus sp, são

resistentes a alta concentração de arsenito, bem como são capazes de oxidá-lo,

(KRUMOVA et al., 2008). Bactérias do gênero Clostridium sp. são tolerantes a

concentrações de arsênio superiores a 40mM, (STOLZ et al., 2006).

Page 22: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

9

A utilização dos micro-organismos apresentam vantagens em relação às

propriedades químicas dos hidróxidos metálicos (LENS et al., 2007), pois os sulfetos

metálicos, em geral, tem solubilidade muito limitada e podem ser recuperados e

reutilizados. Algumas indústrias já vêm aplicando a imobilização de metais através da

formação de sulfetos metálicos após a redução de sulfato.

A precipitação do arsênio na forma de sulfetos pelas BRS vem sendo estudada com

o objetivo de retirar este elemento perigoso de efluentes. (TECLU et al., 2008), em seu

trabalho de biorremediação de águas contaminadas por arsênio, obteve crescimento de

BRS utilizando o melaço como fonte de matéria orgânica necessária para o seu

crescimento. A tolerância ao arsênio pelas BRS foi testada utilizando-se soluções de

arsenito e arsenato.

Outras alternativas para remoção de arsênio em águas contaminadas são

discutidas pro Lizama (LIZAMA et al., 2011) e Neculita (NECULITA et al.,2007), O

primeiro discutea construção de “Wetlands” (alagados artificiais) que apresentam um

grande potencial para remoção de metais, em geral, e arsênio. A remoção pode ocorrer

por precipitação e adsorção sendo influenciada por fatores ambientais tais como pH,

presença de outros constituintes químicas e a presença de micro-organismos redutores,

responsáveis por manter um valor de potencial redox do meio menor que – 200mV

levando à precipitação do arsênio sob a forma de sulfetos arsenicais insolúveis. O

segundo autor discute a remoção do arsênio de drenagens ácidas de minas (DAM)

utilizando biorreatores e suas limitações devido ao fato de ainda não ter sido

devidamente elucidado o mecanismo de remoção poderia se dar tanto por adsorção

quanto por co-precipitação com outros metais, ou ainda pela remoção na forma de

sulfetos de arsênio que pode ocorrer em ambientes redutores.

3.3 Remoção do sulfato de águas contaminadas.

As BRS são responsáveis por reduzir, metabolicamente, íons sulfato ou outras

espécies oxidadas do enxofre (sulfito, tiosulfato ou enxofre elementar), a sulfeto de

hidrogênio, (GIBSON, 1990). A redução biológica do enxofre pode estar associada à

respiração anaeróbia do sulfato, havendo armazenamento de energia celular a partir da

oxidação de um substrato (MADIGAN et al., 2004). Durante seu metabolismo, o sulfato

é transportado para o interior da célula através da membrana citoplasmática, (KRAMER

Page 23: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

10

& CYPIONKA, 1995), um esquema resumindo o ciclo do enxofre e a participação dessas

bactérias está representado na figura 3.1.

Figura 3.1. Representação esquemática do ciclo do enxofre.

Fonte: Extraído e adaptado de Tang et al. (2009).

Os compostos orgânicos, podem tanto ser utilizados como fontes de elétrons, ou

seja, fonte de energia, quanto como fonte de carbono para a biossíntese celular pelos

micro-organismos heterotróficos, aqueles que necessitam de fontes orgânicas de

carbono e energia. A grande maioria das Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) é

heterotrófica entretanto, algumas espécies utilizam H2 como fonte de energia e podem

ainda utilizar o CO2 dissolvido no meio como fonte de carbono, sendo consideradas,

portanto, autótrofas (MADIGAN et al., 2004).

A utilização de substratos orgânicos por estes micro-organismos pode se dar de

duas formas distintas, levando a sua oxidação completa ou incompleta. Assim o lactato

Page 24: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

11

de sódio, um substrato amplamente utilizado pelas BRS, pode seguir duas vias de

oxidação representadas pelas reações 3.5 e 3.6, (GIBSON, 1990). Algumas espécies

podem oxidá-lo completamente até CO2, mineralizando-o, ou parcialmente,

convertendo-o a acetato. Essas distinções se referem a grupos fisiológicos e não

sistemáticos (MARTIN et al., 2009).

2CH3CHOHCOO- + SO4

2- 2CH3CHOO

- + 2HCO3 + HS- + H

+ (Reações. 3.5)

ΔG0´= - 160kJ/mol sulfato

2CH3CHOHCOO- + 3SO4

2- 6HCO3 + 3HS

- + H

+ (Reações. 3.6)

ΔG0´= - 85kJ/mol sulfato

O íon sulfato ocorre na natureza em decorrência de processos biogeoquímicos

que fazem parte do ciclo do enxofre e também em efluentes resultantes de diversos

processos industriais, uma vez que vários processos produtivos como, galvanoplastia,

indústria de papel e celulose, pigmentos industriais, borracha, explosivos, fertilizantes e

a mineração/metalurgia são responsáveis por altas cargas de sulfato em seus efluentes.

(LENS, 1998); (SARTI et al., 2008).

A resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005) não determina padrões de

lançamento de sulfato em corpos hídricos, dispõem apenas sobre o os teores deste íon

nos corpos receptores, os quais não devem apresentar concentração de sulfato maior que

250mg.L-1

. Lembrando que o lançamento de efluentes não deve descaracterizar o corpo

receptor, portanto, um efluente contendo sulfato quando lançado em um corpo hídrico

não deve torná-lo com uma concentração maior que 250mg.L-1

. Os processos físico-

químicos utilizados para remoção de sulfato incluem desde alternativas de baixo custo,

como a precipitação com sais de cálcio, a processos mais caros como osmose reversa,

eletrodiálise e nanofiltração (SARTI et al., 2008). Os processos de precipitação podem

ser executados com compostos de cálcio, chumbo, bário, alumínio, entre outros.

Entretanto, estas opções podem apresentar sérios problemas. A utilização de chumbo e

bário, dois metais pesados, para remover sulfato é claramente desaconselhada. A

precipitação com cálcio forma gesso (CaSO4.2H2O), que é relativamente solúvel em

água. Além disso, estes processos geram grande quantidade de resíduos sólidos (lodo),

devido à quantidade de reagente empregada e os resíduos devem ser adequadamente

dispostos, gerando outro problema ambiental (SILVA et al., 2002). Os demais

Page 25: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

12

processos têm o custo proporcional à concentração de sulfato, de forma que altas

concentrações chegam a inviabilizá-los. Em vista disto, os processos biológicos de

remoção de sulfato têm se tornado bastante atrativos (KAKSONEN et al., 2003).

A principal rota de remoção de enxofre em ambientes aquáticos ou alagados é por meio

da redução biológica do sulfato a sulfeto, processo realizado pelas Bactérias Redutoras

de Sulfato (BRS) (GIBSON, 1990), dentre elas a espécie Geobacter metallireducens

(NEVIN et al., 2000). Além dessa espécie alguns dos membros da família

Enterobacteriaceae, já foram identificados como sendo capazes de realizar o

metabolismo de redução de sulfato (QIU et al., 2008) e (SAHRANI et al., 2008) .

Cabrera et al. (2006) descreveram uma cepa de D. vulgaris com potencial de 40% de

redução de sulfato. A família Thermodesulfobiacea apresenta um único gênero,

Thermodesulfobium, capaz de crescer quimioautotroficamente com H2/CO2 com

sulfato como aceptor de elétrons (Mori et al., 2003). As Archaeas termófilas constituem

dois grupos de microrganismos redutores de sulfato, classificados como filos

Euryarchaeota e Crenarchaeota. Porém as famílias Desulfovibrionaceae e

Desulfobacteriaceae agrupam a maioria das espécies que fazem a redução do sulfato e o

gênero mais estudado deste grupo é o Desulfovibrio, devido principalmente a sua ampla

distribuição geográfica e facilidade de cultivo em condições laboratoriais (Scheid e

Stubner, 2001).

O metabolismo das BRS é dependente da redução de sulfato, e este processo

inicia-se após a entrada do sulfato endógeno no interior da célula. Uma vez dentro da

célula a redução do sulfato se dá pela ação da ATP sulfurilase que se liga ao sulfato e

ao ATP produzindo adenosina fosfossulfato (APS), bem como pirofosfato, que pode ser

clivado posteriormente a fosfato inorgânico. O APS é então rapidamente convertido em

sulfito (SO3-

) pela enzima citoplasmática APS redutase (CYPIONKA, 1995).

O sulfito pode ser reduzido a sulfeto por diferentes sulfito redutases. Dentre as

enzimas mais conhecidas estão bissulfito redutase, desulfoviridina e desulforubina (LEE

et al., 2008). A redução assimilativa do sulfato, na qual ocorre o transporte do sulfato

pela membrana para o interior da célula, apresenta as seguintes etapas descritos abaixo e

ilustrados na figura 3.2.

Inicialmente o sulfato é transportado unidirecionalmente para o

citoplasma a partir de proteínas de membranas localizadas no periplasma bacteriano

(SIRKO et al., 1990).

Page 26: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

13

Este transporte de sulfato intracelular é facilitado por um sistema de

transporte tipo ABC, que requer gasto energético, envolvendo a utilização de 1 mol de

ATP por mol de sulfato transportado. O sulfato é fosforilado a adenosina-5`-

fosfosulfato (APS) pela ATP sulfurilase, consumindo energia (ATP) e produzindo

pirofosfato (PPi) (KRAMER & CYPIONKA, 1995).

A APS formada pode ser reduzida a sulfeto por duas vias, dependendo

das características bioquímicas do organismo (GILMORE et al., 1989): uma via de

redução direta de APS (via APS) e uma via de fosforização a 3’-fosfoadenosina -5´-

fosfosulfato (via PAPS) . A via para síntese de cisteína a partir da APS pelos

procariotas, fungos e organismos fotossintetizante é peculiar a cada grupo, em algumas

espécies podem ser empregadas ambas as vias (KOPRIVA & KOPRIVOVA, 2005).

Contudo, a via PAPS é comumente utilizada pelos procariotas para a assimilação de

sulfato (BICK et al., 2000).

A redução direta de APS a sulfito é realizada a partir da doação de

elétrons de um grupo tiolato. Neste mecanismo, um ânion tiolato (glutationina ou

tireodoxina) se liga ao grupo sulfonato da APS, para produzir tiossulfonato orgânico e

AMP (RABUS, 2006). O tiosulfonato orgânico é reduzido a sulfito e posteriormente a

sulfeto por uma sulfito redutase (KOPRIVA & KOPRIVOVA, 2005).

Na via de formação de PAPS um grupo fosforila é envolvido em uma

reação catalisada por uma APS quinase, produzindo PAPS e ADP . A PAPS é reduzida

a sulfito pela PAPS redutase, produzindo adenosina-3’-5’-difosfato (PAP como

subproduto) (SEKOWSKA et al., 2000).

Subsequentemente, o sulfito é reduzido a sulfeto por um sulfito redutase

dependente de NADPH. O sulfeto gerado é imediatamente incorporado a síntese do

aminoácido cisteína pela Oacetilserina sulfidrilase, sem perda de sulfeto para o meio

extracelular (SHEN & BUICK, 2004). A cisteína formada será precursora do

aminoácido metionina e de alguns cofatores enzimáticos (como coenzima A), de acordo

com as características metabólicas do organismo.

Já a redução dissimilativa do sulfato, apresenta as seguintes etapas:

Inicialmente ocorre o transporte transmenbrana do sulfato para dentro da

célula a partir de um gradiente iônico, havendo evidências para um sistema de troca

iônica com H+/Na+, a partir de um gradiente de sódio ao longo da membrana celular

Page 27: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

14

das BRS (CYPIONKA, 1995). Neste processo não há gasto energético, contudo quando

em baixas concentrações de sulfato no meio, ATP pode ser consumido para produzir um

gradiente iônico favorável para o transporte de sulfato (KREKELER & CYPIONKA,

1995).

A ativação do sulfato ocorre da mesma forma como ocorreu na redução

assimilativa. Havendo produção de adenosina-5’-fosfosulfato (APS), e produção de

pirofostato, que será hidrolisado por uma pirofosfatase. Essa enzima interfere na

atividade da ATP sulfurilase, favorecendo a formação de APS (CYPIONKA, 1995).

Enquanto que APS formado é o aceptor de elétrons imediato, sendo convertido a sulfito

e AMP. Esta reação é catalisada por uma redutase (APS redutase), encontrada em várias

espécies de BRS (KRAMER & CYPIONKA, 1995). O AMP formado é convertido em

duas moléculas de ADP por uma adenil quinase dependente de ATP.

O mecanismo de transferência de elétrons ao sulfito para a formação de sulfeto

pode ocorrer por dois caminhos pela via do tritionato ou pela redução direta de sulfito a

sulfeto (THEBRATH et al., 1989). A via do tritionato promove a redução do sulfito por

três reduções progressivas de 2 elétrons, formando tritionato e tiosulfato como

intermediários. Na redução direta, 6 elétrons são transferidos para sulfito sem formação

de algum intermediário. A redução de sulfito a sulfeto pode estar acoplada a síntese de 3

ATPs (BADZIONG & THAUER, 1978), como ilustrado na figura 3.3.

Page 28: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

15

Figura 3.2 – Representação esquemática da redução assimilativa do sulfato.

SHEN E BUICK, 2004.

Page 29: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

16

Figura 3.3 – Representação esquemática da transferência de elétrons na redução

dissimilativa do sulfato, com compostos carbônicos como fonte de energia e sulfato

como aceptor de elétrons.

Fonte: Adaptado de MATIAS et al., 2005.

Page 30: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

17

3.4 Bactérias redutoras de sulfato

As bactérias redutoras de sulfato (BRS) constituem um grupo morfologicamente

e filogeneticamente heterogêneo que inclui bactérias e arqueobactérias. São bactérias

anaeróbias, mas conseguem sobreviver na presença de oxigênio, maioritariamente gram

negativas, mesofílicas e algumas termofílicas, geralmente não formadoras de esporos.

Segundo (RABUS et al., 2006) existem cinco importantes atributos referentes ao

metabolismo das BRS que são explorados na maioria dos estudos realizados atualmente:

1. O metabolismo de sulfato a sulfeto que é bioquimicamente mais complexo do

que a redução do oxigênio pelas bactérias aeróbias;

2. A ampla variedade de compostos orgânicos que podem ser utilizados pelas

BRS como fontes de carbono e energia;

3. O fluxo que ocorre entre doadores e aceptores de elétrons associado à cadeia

respiratória e que envolve uma grande quantidade de carreadores;

4. A capacidade de alguns grupos de síntese celular utilizando CO₂ durante seu

crescimento na presença de H₂ e sulfato;

5. A regulação do metabolismo, que é o aspecto menos explorado entre os

grupos de BRS.

Bactérias Redutoras de Sulfato é uma designação usual para alguns grupos

bacterianos de vida livre. São organismos que utilizam formas oxidadas de enxofre, ao

invés do oxigênio, como aceptor final de elétrons, produzindo com esta reação o sulfeto,

tal processo é denominado de “respiração do sulfato” ou também de redução

dissimilativa do enxofre (MADIGAN et al., 2009). Essas bactérias fazem parte de um

grupo distinto de micro-organismos presentes em uma grande variedade de ambientes

anaeróbios (KRUMHOLZ et al., 2002).

Estes micro-organismos apresentam características particulares que merecem ser

destacadas tais como: (a) o fato de crescerem em ampla faixa de pH, entre 5,0 e 9,0; (b)

serem, em sua maioria mesófilas, ou seja, sua temperatura ideal de crescimento

encontra-se na faixa de 20ºC a 40ºC; (c) capacidade de utilizar substratos orgânicos

simples como fontes de carbono (etanol, propionato e lactato de sódio). Algumas

espécies podem também utilizar alguns constituintes do petróleo como os alcanos,

Page 31: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

18

tolueno, benzeno e hidrocarbonetos poliaromáticos e (d) apresentarem alguma

tolerância ao oxigênio, apesar de serem anaeróbias (LENS, 1998).

A participação das BRS é indispensável nos processos de alteração dos

compostos orgânicos no ciclo geoquímico do carbono (BAUMGARTNER, 2006). As

BRS são as principais responsáveis pela mineralização da matéria orgânica em

sedimentos marinhos, respondendo por aproximadamente 80% da oxidação do carbono

(CANFIELD & THAMDRUP, 1996). A oxidação desses compostos está vinculada a

redução do sulfato nos processos bacterianos de respiração anaeróbia. A presença de

BRS com alta atividade metabólica é facilmente reconhecida pelo enegrecimento da

água ou dos sedimentos devido a precipitação do sulfeto de ferro (FeS), e pelo odor

característico de sulfeto de hidrogênio (H2S).

O crescimento dessas bactérias em cultivos laboratoriais em regime de batelada

é frequentemente não exponencial, raramente referencia-se na literatura seu tempo de

duplicação. No entanto, existem alguns trabalhos, que relatam que micro-organismos

produtores de acetato, como é o caso da maioria das espécies de Desulfovibrio e

Desulfotomaculum, parecem ser capazes de apresentar tempos de duplicação em torno

de 3 a 6 horas ou até menos a 30oC, enquanto aqueles consumidores de acetato, como as

espécies de Desulfobacter, crescem mais lentamente, com tempos de duplicação em

torno de 20 horas (POSTGATE, 1984).

As BRS em condições anaeróbias reduzem o sulfato, presente nos efluentes a

sulfeto que reage com os metais precipitando-os em sulfetos metálicos insolúveis. Este

processo favorece a remoção dos metais pesados numa forma mais estável, juntamente

com a diminuição do sulfato e dos compostos orgânicos dos efluentes, sendo um

processo com baixo consumo energético (HIGGINS et al., 2003; CARLOS et al.,

2007). As BRS contribuem para manutenção da baixa pressão de hidrogênio, pois

podem utilizá-lo como fonte de elétrons podendo favorecer a atividade das bactérias

fermentativas e acetogênicas.

Com a crescente preocupação com relação às questões ambientais, a

investigação de vários aspectos das BRS tornou-se relevante, uma vez que estas são

importantes no ciclo do carbono e do enxofre, em condições anaeróbias (MUYZER &

STAMS, 2008).

Page 32: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

19

As BRS apresentam ubiquidade. Essas bactérias são facilmente encontradas em

ambientes marinhos, estuários, sedimentos e lagos salinos ou hipersalinos, por conterem

altas concentrações de sulfato. Porém, já foram encontradas BRS ativas em ambientes

não salinos e em água doce. Também é relatada a presença de BRS em ambientes

poluídos como, plantas de purificação anaeróbia, alimentos deteriorados, plantas de

lodo, águas de campos de exploração de óleo, ambientes contaminados com

hidrocarbonetos e com compostos halogenados, etc, (POSTGATE, 1984; BARTON,

1995). É possível encontrar BRS em ambientes considerados inóspitos como, fontes

hidrotermais e domo de lama vulcânica, onde as temperaturas são bem elevadas

(ELSGAARD et al., 1994); em locais com alta pressão como as fendas oceânicas e

sedimentos marinhos (JEANTHON et al., 2002); em ambientes ácidos como as

drenagens ácidas de mina (JOHNSON, 1995) ou em locais extremamente alcalinos,

como em lagos de soda (PIKUTA et al., 1997). Além de estarem presentes nos

ambientes marinhos, as BRS foram também encontradas em outros ambientes, tais

como, sedimentos de lagos de água doce, apesar de normalmente limitados em sulfato

(SASS et al..,1996; Li et al., 1998). Também têm sido detectadas em ambientes

industriais (JAN-ROBLERO et al., 2004), tratamentos de águas (ITO et al., 2002;

ICGEN et al., 2006; BEN-DOV et al., 2007), em sistemas de aquecimento

(KJELLERUP et al., 2005) e arrefecimento de água de reatores nucleares Estão

presentes também na boca e no intestino de animais (LOUBINOUX et al., 2003). Dada

a sua natureza anaeróbia, normalmente as BRS estão associados a biofilmes anaeróbios

(DAVEY et al., 2000; BEECH, 2003), no entanto foram também detectadas em

ambientes aeróbios, tais como em zonas oxigenadas em comunidades de cianobactérias

(DAR et al., 2008) e em biofilmes que crescem em condições oxigenadas, nos dutos de

tratamento de água (ITO et al., 2002). Esta "tolerância” ao oxigênio é possível devido a

uma variedade de mecanismos, que embora inicialmente descritos apenas para as BRS,

mais tarde se provaram existir na maioria dos organismos anaeróbios. Foi verificado

que as BRS possuem todas as enzimas necessárias para viver em condições de

aerobiose, isto é, em determinadas condições de crescimento, estas bactérias expressam

todos os componentes necessários para a formação de uma cadeia respiratória

membranar, capaz de reduzir completamente o oxigénio a água (MADIGAN et al.,

1997).

Page 33: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

20

3.5 Biorremediação de áreas contaminadas por metais.

A biorremediação se baseia num processo tecnológico de remoção da poluição e

restauração da qualidade ambiental por meio da degradação dos poluentes utilizando

micro-organismos de ocorrência natural, como bactérias e fungos (Espósito, 2004).

Várias técnicas de biorremediação têm sido desenvolvidas, e estas técnicas podem ser

classificadas segundo o tratamento e a fase utilizada.

De acordo com o tipo de tratamento, as técnicas de biorremediação são

denominadas in situ, o processo de biodegradação ocorre no local contaminado, e ex

situ o solo ou outro material é retirado e transferido até a unidade de tratamento. Essas

técnicas devem levar em conta os poluentes, o custo dos processos e, principalmente, a

concentração final do contaminante, no término do tratamento, como aceitável para o

tipo de resíduo e para o uso futuro da área (MANCERA-LÓPEZ et al., 2007),

Dentre as várias técnicas de biorremediação desenvolvidas, a bioestimulação é a

mais frequente. Esta técnica consiste na ativação dos micro-organismos nativos por

meio da adição de nutrientes (MANCERA-LÓPEZ et al., 2007), aumentando sua

população, promovendo o crescimento e, consequentemente, o aumento da atividade

metabólica na degradação de contaminantes. Esta técnica tem por objetivo aumentar o

número ou estimular a atividade dos micro-organismos degradadores da comunidade

indígena de uma determinada região contaminada, via adição de receptores de elétrons,

nutrientes ou doadores de elétrons (MANCERA-LÓPEZ et al., 2007).

Paredes celulares de procariontes e de Eucariontes contêm diferentes

polissacarídeos e estruturas aniônicas devido à presença de grupos ionizáveis tais como

carboxilas, hidroxilas e fosfatos. Desta forma a parede celular apresenta grande

potencial para captação de metais pesados. (BEVERIDGE & MURRAY, 1980)

examinaram a captação de uma variedade de metais pela parede celular de Bacillus

subtilis, modificada quimicamente pela adição de grupos ionizáveis, sendo constatada a

complexação, a troca iônica e a precipitação de hidróxidos ou sais na parede celular.

As bactérias possuem uma versatilidade muito grande no que diz respeito aos

processos metabólicos e os ambientes onde vivem. Esses microrganismos são capazes

de sobreviver em condições químicas e físicas extremas, sendo possível encontrá-los

nos mais variados meios (WARREN & HAAK, 2001). Por serem capazes de utilizar

Page 34: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

21

outros compostos além do O2 para o processo de respiração, as bactérias influenciam o

comportamento de elementos químicos; como moléculas orgânicas e os metais. Assim,

elas podem ser consideradas como agentes primários das mudanças geoquímicas,

devido ao seu alto potencial metabólico e grande capacidade de adaptação que lhe

confere uma larga e abundante distribuição (WARREN & HAAK, 2001).

O uso de processos biológicos como uma alternativa para o tratamento de águas

residuárias vem ganhando interesse crescente principalmente devido à qualidade do

efluente final tanto para ser descartado no ambiente como para o reuso. Dessa forma as

BRS, quando utilizadas de maneira adequada, podem se tornar grandes aliadas para

tratamento de águas residuárias ricas em sulfato e metais ou águas subterrâneas

contaminadas com metais, dentre eles o arsênio trivalente.

Com o objetivo de avaliar o tratamento de efluentes moderadamente ácidos

contaminados por arsênio, utilizando micro-organismos capazes de reduzir o sulfato

(BATTAGLIA-BRUNET et al., 2012) avaliou um reator de fluxo contínuo, com valor

de pH do meio variando entre 2,5 a 5 que utilizava como doadores de elétrons o glicerol

e o hidrogênio. Foi observada durante o experimento, a precipitação de arsênio

trivalente na forma de sulfetos arsenicais gerados a partir da reação com o sulfeto

produzido pela redução do sulfato pelos micro-organismos presentes no meio de

cultura.

3.6 Identificação molecular de micro-organismos

Nos últimos anos foram feitos esforços consideráveis para o desenvolvimento de

métodos rápidos para a detecção e enumeração de bactérias em ambientes naturais e

industriais. Geralmente esses métodos são divididos em duas categorias: métodos

clássicos e métodos moleculares (BEN-DOV et al., 2007).

Os métodos clássicos, baseados no cultivo de micro-organismos, recorrem à

realização de testes bioquímicos e fenotípicos que auxiliam na identificação das

espécies (AMANN et al., 2001). Esses testes, apesar de terem um custo relativamente

baixo, apresentam algumas desvantagens: i) são demorados devido às taxas lentas de

crescimento bacteriano (BEN-DOV et al., 2007); ii) a necessidade de meios seletivos

para o cultivo e muitas vezes os meios de crescimento laboratoriais não conseguirem

Page 35: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

22

refletir exatamente as condições dos locais onde estas bactérias crescem (ZHU et al.,

2003; ICGEN et al., 2006) iii) além disso, a caracterização fenotípica, não fornece

informações sobre as relações evolutivas entre os organismos. Os métodos moleculares,

em oposição aos métodos clássicos, utilizam a caracterização de certos genes do

genoma bacteriano, permitindo a identificação mais eficaz dos microrganismos

responsáveis por determinado processo. Em síntese, os métodos moleculares

apresentam algumas vantagens sobre os clássicos:

a) São as únicas tecnologias que permitem estudar os micro-organismos

não cultiváveis presentes numa comunidade microbiana, sendo mais

sensíveis (KNIGHT, 2000).

b) Em termos moleculares, a diversidade é caracterizada pelo número de

diferentes tipos de sequências de DNA encontradas no ambiente.

c) Os métodos moleculares fornecem informações sobre as relações

evolutivas entre os microrganismos (CASTRO et al., 2000).

O desenvolvimento de novas ferramentas moleculares revolucionou a taxonomia

dos micro-organismos. Segundo (AMMAN et al., 1992), o estudo do gene RNA 16S

ribossomal, apresenta algumas vantagens consideráveis, por exemplo: (i) estar presentes

em todos os organismos, pois são genes essenciais para a síntese de proteínas; (ii) ser

conservados estrutural e funcionalmente; (iii) apresentar tanto regiões conservadas,

como variáveis e altamente variáveis; (iv) apresentar aparente ausência de transferência

gênica horizontal e (v) possuir tamanho satisfatório com cerca de 1.500 nucleotídeos,

suficientes para fazer inferências filogenéticas. Mais recentemente, estudos têm sido

conduzidos utilizando genes funcionais, como o gene dsr que codifica para a enzima

sulfito redutase dissimilatória das BRS (TALBOT et al., 2008), no sentido de resolver

possíveis falhas nas análises filogenéticas oriundas da alta conservação do gene 16S

rRNA entre as classes de micro-organismos.

A ecologia microbiana está se consolidando como uma das áreas da

microbiologia que expande os horizontes do conhecimento de forma inovadora,

desenvolvendo e aprimorando métodos moleculares para identificação e o

monitoramento de micro-organismos em ecossistemas naturais, com vista em estudos

do papel funcional dessa microbiota. Sabe-se que as técnicas tradicionais dependentes

de cultivo não são as mais adequadas, uma vez que menos de 1% dos organismos

encontrados na natureza podem ser cultivados (MUYZER & STAMS, 2008). Dessa

Page 36: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

23

forma, as técnicas moleculares têm contribuído para a construção do conhecimento

sobre a estrutura e a funcionalidade das comunidades microbianas propiciando

importantes informações sobre um número muito maior de espécies, sua distribuição

geográfica, as relações ecológicas, a atividade celular e a proporção numérica entre

diferentes populações em seus ambientes naturais e em biorreatores (DOMINGUES,

2007).

O método molecular utilizado neste estudo para identificação do consórcio

bacteriano capaz de reduzir o sulfato e crescer em diferentes concentrações de arsênio

foi à eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE). É uma das técnicas

moleculares mais utilizadas e adequadas para avaliar as comunidades microbianas da

área ambiental (TESKE et al., 1996); pois é confiável, reprodutível, rápida e de custo

relativamente baixo. Além disso, permite analisar várias amostras ao mesmo tempo,

inclusive de micro-organismos não cultiváveis (MUYZER et al., 1993) obtendo uma

representação qualitativa da presença e abundância de diferentes filotipos na amostra

Em consequência, oferece oportunidade de se efetuar estimativas mais reais da

diversidade microbiana existente (MUYER & SMALLA, 1998). Esta técnica se baseia

na separação eletroforética diferencial de amplicons, obtidos por reação de amplificação

em cadeia da DNA polimerase (PCR), quanto à susceptibilidade da molécula de DNA à

desnaturação parcial promovida por agentes desnaturantes, e discrimina amplicons de

tamanhos similares, de acordo com suas sequências de pares de bases (MUYZER et

al.,1993). O comportamento de migração dos fragmentos no gel é governado pelas

variações nas composições dos nucleotídeos (conteúdo CG), como também pelas

interações destes dentro da molécula (MUYZER, 1999), resultando no posicionamento

de bandas em diferentes pontos da matriz de poliacrilamida, (LECKIE, 2005).

A técnica de DGGE oferece algumas limitações como (i) a dificuldade de

separar as bandas no gel de genes ricos em CG (ii) baixo poder de detecção (apenas

espécies com dominância acima de 1% no meio) (iii) diferentes fragmentos de DNA

com conteúdo nucleotídico igual apresentam sobreposição de bandas (AMANN &

LUDWIG, 2000). Teoricamente, cada banda obtida representa uma população

microbiana (FERRIS et al., 1996). Porém já foram relatadas duas ou mais bandas

representando a mesma população, devido à heterogeneidade de sequências de operons

rRNA (LECKIE, 2005). Além disso, a técnica é qualitativa e separa apenas fragmentos

amplificados com tamanhos entre 100 e 500pb. Apesar dessas limitações a técnica de

Page 37: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

24

DGGE tem sido cada vez mais aplicada para estudar a biodiversidade genética em

amostras ambientais e, quando associada à técnica de sequenciamento, fornece

importantes informações sobre a composição das comunidades microbianas LECKIE,

2005).

Page 38: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

25

4. Materiais e Métodos

4.1 Área de coleta

A Lagoa do Gambá está localizada no centro de um loteamento na cidade de

Ouro Preto, em Minas Gerais, a 20°43’51.11’’ de latitude S e 43°30’0.63’’ de longitude

O (figura 4.1). Esta lagoa recebe grande quantidade de esgoto residencial e do

escoamento superficial de áreas periféricas. A borda da lagoa apresenta cobertura

vegetal marginal de espécies botânicas exóticas. A coleta foi feita por meio de

metodologia padrão, na qual frascos de vidro estéreis foram levados até o local onde as

amostras foram recolhidas. Uma porção de sedimento foi coletada em dois pontos

diferentes no interior da lagoa á uma distância de aproximadamente 200 metros. Após

este procedimento o material foi levado ao Laboratório de Biotecnologia Ambiental da

Escola de Farmácia/UFOP.

Figura 4.1 Ponto de coleta - Lagoa do Gambá, cidade de Ouro Preto – MG -

20°43’51.11’’ de latitude S e 43°30’0.63’’ de longitude O.

Fonte: Google Maps 12/11/2012

Page 39: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

26

4.2 Cultivo das amostras

As amostras foram cultivadas em batelada em frascos de 500 ml utilizando meio

de cultura líquido seletivo Postgate C modificado por (CHEUNG E GU, 2003) cuja

composição é apresentada na Tabela 4.1. O pH foi ajustado para 7,0 ± 0,2, utilizando

NaOH em seguida, a solução foi esterilizada em autoclave a 120° C, 1,5 atm, por 20

minutos. A solução de sulfato ferroso foi autoclavada separadamente e depois

adicionada à solução de sais na proporção 1:10. A concentração de sulfato no meio foi

fixada em 2g.L-1

para todos os experimentos e a fonte de carbono utilizada foi lactato de

sódio 6g.L-1

. Com o objetivo de diminuir a disponibilidade de oxigênio no meio foi

adicionado 0,5g.L-1

de tioglicolato de sódio como agente redutor.

Como meio suporte para o crescimento microbiano, biomassa orgânica e

biossorvente para ânions arsenicais, foi adicionado ao meio o pó de penas de galinha

(PP) na proporção de 4% (p/v) em alguns ensaios. O pó de penas de galinhas comercial

utilizado neste trabalho foi gentilmente cedido por uma empresa de alimentos da região.

Trata-se de uma mistura de penas e vísceras trituradas, acrescida de sangue cozido

(SCAPIM et al.,2003). O material sólido, pulverizado, é constituído basicamente por

proteínas estruturais e insolúveis, principalmente queratina. O teor bruto de proteínas do

material é em torno de 80%, sendo os teores de aminoácidos, contendo grupamentos

sulfeto em sua estrutura, de aproximadamente 0,67 e 3,68% para metionina e cisteína,

respectivamente (SCAPIM et al., 2003).

Page 40: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

27

Tabela 4.1-Composição do meio de cultura Postgate C modificado por (CHEUNG E

GU, 2003).

Composição Quantidade (g.L-1

)

Lactato de sódio 6,0

Citrato de sódio 0,3

KH2PO4 0,5

NH4Cl 1,0

Na2SO4 3,0

CaCl2 2H2O 0,006

MgSO4.7H2O 1,28

Extrato de levedura 1,0

EDTA 0,3

Tioglicolato de sódio 0,5

FeSO4. 7H2O 0,17

Ágar 0,5

4.3 Avaliação da resistência dos enriquecimentos microbianos ao arsênio

Inicialmente, alíquotas de 100ml de sedimento coletadas na lagoa do Gambá em

Ouro Preto-MG foram enriquecidas utilizando-se 300 ml de meio Postgate C

modificado. As amostras foram incubadas por 10 dias a 35°C (Amostra 1). Após este

período, 5ml de cada amostra foram transferidos para frascos contendo 50 ml de meio

Postgate C modificado suplementado de 0,5g.L-1

de arsênio, acrescidos ou não de PP

4% (p/v) (Amostra 2). As amostras foram incubadas a 35°C por cinco dias. Alíquotas de

5 ml das amostras crescidas foram novamente repicadas nas mesmas condições visando

adaptar o consórcio bacteriano às condições de cultivo. Para avaliar a resistência do

consórcio bacteriano ao arsênio trivalente (AsIII) foram utilizados seis diferentes

concentrações do elemento (Tabela 4.2), obtida de uma solução estoque, na qual foi

preparada utilizando NaAsO2, a concentração de As3+

nessa solução era de 1000mg.L-1

.

Depois de autoclavada (120ºC; 1,0 atm; 20 min), a solução foi mantida estéril e

acondicionada em geladeira.

Page 41: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

28

Tabela 4.2– Concentração de As (III) em diferentes amostras.

Amostras Concentração de As (III)

(mg.L-1

)

1 0,0

2 0,5

3 1,0

4 2,0

5 4,0

6 8,0

7 16,0

No final do processo de adaptação, aproximadamente 15 dias, a amostra

adaptada foi inoculada na proporção de 5% (v/v) em frascos contendo 300 ml de meio

Postgate C modificado sem o sulfato ferroso para que este não interferisse nas análises

posteriores, com 0,5 ml de arsênio retirado da solução estoque de arsênio de 1g.L-¹,

acrescido ou não de PP, 4% (p/v). Os frascos foram mantidos a 35°C por 10 dias. A

partir da amostra 2 repetiu-se todo o processo para ambas as amostras, variando apenas

a quantidade de arsênio que aumentava a cada amostra.

Para acompanhar o crescimento das culturas foi medido o potencial de redução

do meio (Eh) e o pH inicial e final, utilizando um potenciostato digital DIGIMED, com

eletrodo combinado de platina.

Page 42: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

29

Figura 4.2 – Esquema envolvendo os processos de enriquecimento, adaptação e fase dos

ensaios de remoção de sulfato e arsênio, realizados neste trabalho. (Estes mesmos

processos foram realizados para as demais concentrações de arsênio: 1,0, 2,0, 4,0, 8,0 e

16,0 mg.L-1

, e um controle de 0,0 mg.L-1

de arsênio.

Com sulfato ferroso Sem sulfato ferroso

As =0,5 mg.L-1

Fonte: próprio autor.

5ml 5ml

5ml 5ml

300 ml de

meio

50 ml de meio +

Sem pó de penas

Processo de adaptação

300 ml de meio (Sem sulfato

ferroso) +

Sem pó de penas

300 ml de meio (Sem sulfato

ferroso) +

Com pó de penas

Análise de biologia molecular

50 ml de meio +

Sem pó de penas

50 ml de meio +

Sem pó de penas

50 ml de meio +

Com pó de penas

50 ml de meio +

Com pó de penas

50 ml de meio +

Com pó de penas

5ml

5ml

Page 43: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

30

4.4. Identificação microbiana pelo método PCR-DGGE

4.4.1 Preparação das amostras

Alíquotas de 100 ml de cada amostra (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7) representando seis

concentrações diferentes de arsênio (0,5,1,0,2,0,4,0,8,0 e 16,0mg.L-1

) foram

inicialmente centrifugadas a 5.000 rotações.min-¹ utilizando uma Microcentrífuga

(Microcen 16 nº rotor 12154) por 15 minutos para separação da biomassa. A fração

líquida foi descartada e o material sedimentado (pellet) foi “lavado” em tampão fosfato

salino (PBS1X) para remoção de ácidos nucléicos extracelulares. Após a agitação a

amostra foi novamente centrifugada, conforme etapa anterior. Descartou-se o

sobrenadante novamente, e o pellet resultante (biomassa) foi armazenado a -20° C para

posterior extração de DNA.

4.4.2 Extração de DNA genômico

Para análise da diversidade bacteriana através da técnica PCR-DGGE, as

amostras foram inicialmente submetidas à extração de DNA pelo método

fenol/clorofórmio modificado por (GRIFFTITHS et al., 2000). Para cada amostra

crescida foram feitas as extrações em duplicata a fim de se obter uma quantidade

suficiente de DNA para a etapa de amplificação.

Para cada extração, 0,5g da biomassa foram colocados em um microtubo

contendo 0,5g de pérolas de vidros estéreis, 10 µl de SDS 20% (pH 7,2), 0,3 ml de

solução de fenol/clorofórmio/álcool isoamílico (24:24:1) e 0,3 ml de PBS 1X com 1%

de PVPP (Polivinilpolipirrolidona). Para lisar as células microbianas, promoveram-se

três agitações de 1 minuto em agitador de tubos tipo Vortex. As amostras eram imersas

em banho de gelo no intervalo entre agitações. Após a lise, as amostras foram

centrifugadas a 14.000 rotações.min-¹ por 5 minutos, utilizando uma Microcentrífuga

(Microcen 16 nº rotor 12154) . O sobrenadante foi transferido para novo microtubo, o

material sedimentado foi lavado novamente com 0,3 mL de PBS 1X e centrifugado, e os

Page 44: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

31

sobrenadantes foram misturados. Ao sobrenadante adicionou-se igual volume de

solução de clorofórmio/álcool isoamílico (24:1) e agitou-se manualmente por 10

minutos. Uma nova centrifugação foi realizada por 5 minutos a 14.000 rotações.min-¹.

Para cada volume de sobrenadante, adicionou-se 2,5 volumes de etanol 100% gelado e

0,1 volume de acetado de sódio (3M, pH 5,2). Essa solução foi incubada por 1 hora a –

20°C, e em seguida, submetida à nova centrifugação por 10 minutos a 14.000 rotações.

min-¹. O sobrenadante foi descartado cuidadosamente. Adicionaram-se 200 µl de etanol

70% (v/v) para ressuspensão do pellet e novamente a solução foi centrifugada a 14.000

rotações.min-¹ por 3 minutos. Descartou-se o sobrenadante e deixou-se o pellet secar a

temperatura ambiente por aproximadamente 12 horas. O pellet contendo ácidos

nucleicos foi ressuspendido em 50µl de Tris (10mM e pH8). Para a avaliação da

qualidade da extração, cerca de 5μL de DNA genômico extraído foi analisado em gel de

agarose a 1%, corado com brometo de etídio e visualizado com auxílio de um

transiluminador (Vilber Lourmat em UV). O DNA foi estocado à -20°C para posterior

amplificação do gene DNA ribossomal 16S.

4.4.3 Amplificação do DNA por PCR

Para verificar a comunidade total de bactérias inicialmente foi realizado

amplificação dos fragmentos de DNA ribossomal 16S utilizando-se primers universais

968F (5’-AACGCGAAGAACCTTAC-3’) com cauda GC (5’-CGCCCGGGG CGC

GCC CCG GGC GGG GCG GGG GCA CGGGGGG-3’) e 1392 R (5’-ACGGGC

GGTGTG TAC-3’) para o Domínio Bacteria (NIELSEN et al., 1999).

Os componentes da reação de amplificação em cadeia da DNA polimerase PCR

e seus volumes empregados estão apresentados na tabela 4.3.

Page 45: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

32

Tabela 4.3 - Componentes utilizados na reação de PCR (volume final igual a 25μL)

Componentes Volume (μL)

Água 17,5

Tampão da reação (10x) 2,5

MgCl2 (25mM) 1,5

dNTP (10mM) 0,5

Iniciador 1 (10μM) 0,5

Iniciador 2 (10μM) 0,5

Taq DNA polimerase (5U/uL) 0,125

DNA 2,0

Volume Total 25

As reações de PCR foram realizadas utilizando o termociclador MJ96G

(Biocycler). O programa consistiu de uma desnaturação inicial a 94ºC por 5 minutos,

seguido por 35 ciclos de 45 segundos de desnaturação a 94ºC, 1 minuto de anelamento a

63ºC e 2 minutos de extensão a 72ºC, e uma extensão final por 10 minutos a 72ºC. Os

produtos de PCR foram analisados por eletroforese em gel de agarose 1%, em tampão

tris-acetato-EDTA (TAE) 1X, durante aproximadamente 30 minutos a 100V. Para a

avaliação da qualidade de amplicons, cerca de 5μL da amostra foram analisados em gel

de agarose a 1%, corados com brometo de etídio e visualizados com auxílio de um

transiluminador (Vilber Lourmat) em UV.

É importante ressaltar que para todas as reações de PCR foi realizado, em

paralelo, um teste controle negativo que contava com a adição de todos os reagentes,

exceto DNA, para descartar qualquer tipo de contaminação externa.

4.4.4 Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE)

Confirmada a presença de produtos de PCR pela eletroforese em gel de agarose,

estes foram submetidos à técnica de DGGE conforme descrito por (MUYZER et al.,

1993). A solução estoque de acrilamida a 30% (m/v) foi previamente preparada e

estocada a 4°C. A percentagem de acrilamida utilizada no preparo das soluções estoques

desnaturantes (0% e 80% de ureia/formamida) e na confecção dos géis foi de 6%. Para a

Page 46: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

33

formação de 12 mL de gel, utilizaram-se duas soluções denominadas de low (com baixa

porcentagem de desnaturante) e High (com alta porcentagem de desnaturante). Para a

formação de cada solução, as soluções desnaturantes 80% e 0% eram misturadas em

proporções pré-estabelecidas. A polimerização de cada solução foi obtida com a adição

de persulfato de amônio (APS) a 10% e catalisação da reação com

tetrametiletilenodiamina (TEMED).

No presente trabalho, a faixa de gradiente desnaturante escolhida para a

confecção dos géis para a DGGE foi de 40% a 60%, para o Domínio Bacteria. Para o

estabelecimento destes gradientes desnaturantes as soluções Low e High foram

misturadas em um dispositivo formador de gradientes de duas câmaras, com agitação

magnética na câmara de saída e distribuição por bomba peristáltica em placas de vidro,

operado de acordo com o manual do equipamento (Dcode Mutation System, Biorad).

Foram empregados 10 µL de produto de PCR e 5 µL de tampão em cada poço

do gel polimerizado. As condições da corrida foram: 60 ou 100V, tampão de corrida

TAE 0,5X, aproximadamente por 16 horas.

Ao final da eletroforese, os géis foram imersos em tampão e corados com a

adição de 10 µl de solução de brometo de etídio, por 60 min. A seguir foram lavados em

água destilada e observados com auxílio de um transiluminador com luz ultravioleta e

fotodocumentados. As bandas de interesse foram excisadas dos géis com auxilio de uma

lamina de bisturi estéril e transferidas para microtubos contendo 200 µL de Tris (10mM

e pH 8) e 0,3g de pérolas de vidro estéreis. Para a eluição do DNA das bandas do gel

para a solução, promoveu-se uma agitação de 30 segundos em agitador e, em seguida,

os microtubos foram armazenados a 4°C por no mínimo 48 horas. Após este período, os

microtubos foram centrifugados a 13.000 rpm e o sobrenadante, contendo os fragmentos

de DNA, foi transferido para novo microtubo e armazenado a -20°C para posterior

reamplificação.

Os sobrenadantes, contendo os fragmentos de DNA, foram reamplificados

utilizando o primer 968FGC/1392 para o Domínio Bacteria nas mesmas condições

descritas anteriormente. Os produtos de PCR foram analisados por eletroforese em gel

de agarose 1%, em tampão TAE 1X, durante aproximadamente 30 minutos a 100V.

Confirmada a presença de DNA nos produtos de PCR, promoveu-se a diluição das

amostras em água estéril (1µl de DNA para 9 µl de água) para posterior

sequenciamento.

Page 47: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

34

O sequenciamento do DNA referente às bandas excisadas e purificadas do gel de

DGGE foi realizado a partir dos produtos das amplificações (PCR), pela empresa

Genomic Engenharia Molecular (São Paulo) bem como a purificação e quantificação de

DNA presente nas amostras.

4.4.5. Análise das sequências genômicas.

Após a reação de sequenciamento, as sequências obtidas foram analisadas nos

programas BLASTn (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/) e RDP X (Ribossomal Database

Project Release 10) (COLE et al., 2009) para o alinhamento das mesmas com

sequências do DNAr 16S depositadas no banco de dados utilizando o modelo de Jukes-

Cantor. A árvore filogenética contendo sequências do gene 16S DNAr alinhadas foi

construída pelo método Neighbor-Joining modificado disponível no RDP (BRUNO et

al., 2000), com auxilio do software mega 4.1.

4.5 Caracterização e identificação dos precipitados formados

Para avaliar o efeito da atividade microbiana na formação do precipitado, e

consequente remoção do As (III), foi preparada uma amostra apresentando todos os

constituintes do meio descritas anteriormente, sem adição de inóculo.

E para caracterização do precipitado utilizou-se 30 ml de todas as amostras

crescidas em diferentes concentrações de arsênio e na ausência do meio suporte. Foram

centrifugadas 5.000 rotações.min-¹ utilizando uma Microcentrífuga (Microcen 16 n,º

rotor 12154) por 10 minutos para separação da biomassa. A fração líquida foi

descartada e o material sedimentado (pellet) foi seco em uma estufa, em temperatura de

35°C, por 3 dias.

O material seco foi analisado por meio das seguintes técnicas:

a) Espectroscopia Raman - A espectroscopia Raman é uma técnica de alta resolução de

fótons que fornece informação química e estrutural de qualquer material ou materiais

compósitos orgânicos e/ou inorgânicos permitindo a sua identificação. A Análise por

Page 48: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

35

espectroscopia de Raman baseia-se na análise da luz dispersa a partir da incidência de

um feixe de luz monocromática (laser) sobre um dado material. Uma pequena porção da

luz é dispersa inelasticamente, com mudanças sutis que são características do material

analisado e independente da frequência da luz incidente. É uma técnica de análise que é

efetuada diretamente sobre o material a ser analisado, seja ele sólido ou líquido, sem

exigir preparação especial e sem implicar em alteração da superfície sobre a qual a

análise é realizada, isto é, trata-se de análise não-destrutiva. As análises foram

realizadas no Departamento de química da UFOP utilizando-se equipamento Labran HR

800 (Jobin Yvon/Horiba) com feixe de laser de He-Ne, com 632.8 nm de comprimento

de onda e potência de 20 mW. O sinal Raman foi coletado com objetivas Olympus (50

X 0.75 e 100 X 0.90) usando a configuração “back scattering”. O detector utilizado foi

do tipo CCD resfriado por nitrogênio.

b) Difração de Raios-X: A análise por difração de raios X é um método utilizado para a

determinação da estrutura atômica e molecular de materiais, preferencialmente

cristalinos. Os átomos em uma estrutura cristalina difratam o feixe de Raios-X que

incidem sobre eles em diferentes direções. Ao medir os ângulos e intensidades destes

feixes difratados é possível determinar a estrutura do composto e identificá-lo com base

em comparações entre os espectros obtidos e os depositados em bancos de dados. As

análises de Difração de Raios-X foram realizadas no laboratório de Química dos

materiais o Departamento de Química da UFOP. Para caracterização dos possíveis

sulfetos formados as amostras foram analisadas no difratômetro (Shimadzu-XRD 6000),

acoplado com tubo de ferro e monocromador de grafite.

c) Microscopia eletrônica de varredura (MEV) e Espectroscopia de Energia

Dispersiva (EDS)

O princípio da microscopia eletrônica de varredura consiste na emissão de um

feixe de elétrons sobre uma amostra sólida provocando uma série de emissões de sinais

relacionados com a interação do feixe de elétrons incidente na amostra. Os sinais

emitidos encontram-se sob a forma de elétrons (secundários, retroespalhados,

absorvidos, transmitidos, difratados, etc.) e de fótons (fotoluminescentes e raios-X), os

quais são captados por detectores apropriados, sendo amplificados e processados num

sistema analisador específico para cada tipo de sinal. A técnica de microscopia

eletrônica de varredura (MEV) permite a obtenção de uma imagem ampliada e tri-

dimensional da amostra. Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) é uma técnica

Page 49: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

36

espectrofotométrica que pode ser executada junto com a microscopia eletrônica de

varredura. É realizada uma microanálise da superfície do material permitindo a

obtenção de informações químicas em áreas da ordem de micrometros. As informações,

qualitativas e quantitativas, sobre os elementos presentes são obtidas pela captação dos

raios-X característicos resultantes da interação do feixe primário com a amostra.

Essa técnica foi utilizada para se ter uma melhor resolução da formados

precipitados. As lâminas foram preparadas a fresco secadas ao ar. Em seguida, foi feita

a metalização das lâminas com grafite, para observação no MEV (20.0 kv, magnificação

de 5000 X e detector Pioneer). Estes experimentos foram realizados em colaboração

com o Laboratório de Microscopia Eletrônica do Departamento de Geologia da UFOP.

Dessa forma sabendo a estrutura do resíduo sólido formado é possível inferir no

mecanismo de remoção dos metais, redução do sulfato a sulfeto e sua precipitação com

os metais.

Page 50: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

37

5. Resultados e Discussão

5.1 Enriquecimento e adaptação das amostras

O desenvolvimento de micro-organismos, bem como a redução de sulfato a

sulfeto foi evidenciada em todas as amostras com o emprego do meio líquido Postgate

C modificado (figura 5.1). Tais resultados estão de acordo com aqueles obtidos

previamente em nosso grupo de pesquisa, quando comparados àqueles obtido

empregando-se o meio líquido Postgate B (BARBOSA, 2009).

O meio de cultivo Postgate C “modificado” apresenta uma coloração inicial

avermelhada, devido à presença de sulfato ferroso (FeSO4.7H2O). Durante o

metabolismo das BRS, o íon sulfato é reduzido a sulfeto que, em presença de ferro

ferroso (Fe2+

) reage levando à formação de um precipitado negro de sulfeto de ferro

(FeS). O escurecimento do meio de cultivo pela formação de FeS é um indicativo da

atividade metabólica das BRS. Tal escurecimento não foi observado nos frascos

controle com ausência de inóculos. Nos frascos aos quais foi adicionado o PP, a

coloração enegrecida foi observada cerca de 42 horas após o inóculo. Já os frascos que

não apresentavam adição de PP demandaram cerca de 120 horas até que o crescimento

microbiano pudesse ser observado. Além disso, a fonte de carbono selecionada para os

experimentos permitiu um eficiente aporte nutricional para o crescimento dos micro-

organismos, o que corrobora com os estudos realizados por Barbosa (BARBOSA,

2009), que relata ser o lactato uma fonte de carbono e energia mais eficiente do que o

etanol, para uma mesma amostra de micro-organismo. Ademais, a degradação do lactato

no meio de cultivo produz vários intermediários, entre eles hidrogênio, acetato, etanol e

propionato, que podem favorecer o desenvolvimento de BRS, metanogênicas e

acetogênicas (WIDDEL& PFENNING, 1982).

A quantidade de lactato de sódio (6g.L-1

) e sulfato de sódio (2g.L-1

) empregadas

no enriquecimento e cultivo foram suficientes para produzir uma razão de DQO/sulfato

igual a 3,0 (não considerando a participação da matéria orgânica fornecida pela adição

de PP), sendo esta a razão considerada adequada para se atingir bons resultados no que

diz respeito à remoção biológica de sulfato (COSTA, 2011).

Page 51: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

38

A temperatura de crescimento escolhida (35°C) foi satisfatória, permitindo o

crescimento microbiano. Considerando-se que a maioria das BRS é mesófila e apresenta

crescimento lento, o tempo de crescimento observado encontrava-se dentro da faixa

esperada.

Diferentemente da maioria das bactérias anaeróbias, bactérias que reduzem o

sulfato são capazes de sobreviver na presença de quantidade limitada de oxigênio, fato

este observado em nosso trabalho, uma vez que os experimentos não foram realizados

em condições com baixa pressão de oxigênio. Esta tolerância ao O2 pode ser atribuída à

presença das enzimas catalase e superóxido dismutase (BARTON, 1995). Diversos

estudos têm relatado a capacidade destes micro-organismos em sobreviver em

condições aeróbias e metabolizar sulfato na presença de oxigênio (MARSCHALL et al.,

1993) o que torna o seu emprego em processos de biorremediação ainda mais promissor

devido às dificuldades de manter condições estritamente anaeróbias durante os

processos industriais.

Figura 5.1- Ensaio de adaptação do consórcio bacteriano ao cultivo. (A) Início do

cultivo e (B) meio de cultura enegrecido devido à formação de sulfeto ferroso, resultado

do crescimento das culturas.

Fonte: próprio autor.

Para os experimentos de extração de DNA e identificação molecular de micro-

organismos não houve a adição de sulfato ferroso ao meio para se evitar interferência

nas reações enzimáticas utilizadas na análise de biologia molecular. Nestas situações o

monitoramento do crescimento microbiano foi realizado observando-se visualmente o

aumento da turbidez do meio, indicativo do crescimento microbiano evidenciado na

A B

Page 52: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

39

figura 5.2. Além disso, o decréscimo do potencial de redução do meio, também

indicativo de atividade microbiana, foi determinado com o emprego de um

potenciometro modelo digital marca DIGIMED, utilizando-se o eletrodo combinado de

platina e os resultados obtidos serão relatados a seguir (item 5.3).

Figura 5.2 - Enriquecimento do consórcio bacteriano nas amostras em meio líquido

Postgate C modificado. (A) Meio límpido, início do cultivo. (B) Meio turvo, indicativo

do crescimento das culturas.

Fonte: próprio autor.

5.2 Efeito da concentração do arsênio no crescimento do consórcio bacteriano

Segundo LIZAMA e seus colaboradores (2011), a concentração do arsênio no

meio é um fator determinante para a inibição do metabolismo dos micro-organismos.

Para que os micro-organismos sejam capazes de sobreviver em ambientes com

condições diferentes das ideais, muitos possuem mecanismos genéticos que lhes

garantem resistência a componentes que podem causar stress. Algumas bactérias

possuem genes específicos que possibilitam que essas sobrevivam em ambientes

contendo altas concentrações de metais, como, o arsênio (LIAO et al., 2011). Esta

resistência ao arsênio está relacionada à presença do gene que codifica o operon ars,

este é composto por três a cinco genes (arsR, arsD, arsA, arsB e arsC), os quais estão

localizados em plasmídeos (OWOLABI & ROSEN, 1990) ou no cromossomo (DIORIO

et al.,1995). Os genes arsR e arsD são reguladores, enquanto arsA e arsB são

10/08/2011 20/08/2011

A B

Page 53: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

40

responsáveis pela codificação de proteínas que, por sua vez irão participar de um

processo de transporte transmembrana que permite o fluxo dos ânions arsenicais do

citoplasma para o meio extracelular, reduzindo sua concentração intracelular

(MUKHOPADHYAY et al., 2002)

O crescimento de micro-organismos em todas as amostras contendo diferentes

concentrações de As(III) (0,5; 1,0; 2,0: 4,0; 8,0 e 16mg.L-1

) demonstra a resistência

destes ao elemento tóxico embora tenha sido observado o efeito inibitório do As ao

crescimento microbiano. À medida que o arsênio aumentava no meio de cultura, o

crescimento microbiano tornava-se mais lento, principalmente no meio sem a presença

do PP.

Tabela 5.1 Tempo de crescimento percebido pelo escurecimento do meio na ausência do

sulfato ferroso, em relação à concentração de As(III).

Amostras

Concentração de As(III)

(mg.L-1

)

Tempo de escurecimento do

meio (dias)

2*

2

0,5

0,5

2

3

3*

3

1,0

1,0

2

4

4*

4

2,0

2,0

2

4

5*

5

4,0

4,0

4

5

6*

6

8,0

8,0

5

9

7*

7

16,0

16,0

5

12

*Amostras acrescidas de pó de penas de galinha

Em relação à presença do meio suporte PP, este diminui a concentração do

As(III), por ser um material biossorvente para o As(III) devido às interações entre os

grupos sulfidrila, presentes na superfície do pó de penas como observado por Teixeira e

Page 54: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

41

colaboradores (TEIXEIRA et al., 2007). Consequentemente, nos cultivos com presença

de PP observou-se menor efeito inibitório do As(III) ao crescimento microbiano. Dessa

forma nos testes com a presença de meio suporte observou-se menor tempo de

crescimento de micro-organismos, quando comparado às amostras sem adição de PP.

Visto que as metodologias disponíveis para remediação de arsênio sejam elas

convencionais ou alternativas, apresentam uma limitação comum: removem,

eficientemente, as espécies pentavalentes do As, mas geralmente falham na

remoção/imobilização das espécies trivalentes, o que implica na necessidade de

oxidação prévia do arsenito a arsenato como etapa intermediária do processo

(TEIXEIRA et al., 2007) a abordagem aqui proposta torna-se interessante pois todo o

processo se dá em condições redutoras. No trabalho de BATTAGLIA-BRUNET (2012)

foi observado que bactérias do gênero Desulfosporosinus são capazes de reduzir o

arsênio (V). Newman e seus colaboradores (NEWMAN et al., 1997) em seus estudos

reportaram que a espécie Desulfotomaculum auripigmentum, também é capaz de reduzir

o arsênio (V).

5.3 Variação do Potencial de oxi-redução e pH inicial do meio

O valor do potencial de oxi-redução (Eh) do meio é de extrema importância para

o cultivo de BRS, uma vez que esse grupo microbiano requer um ambiente redutor para

seu crescimento, valores de Eh em torno de -100 a -300mV (POSTGATE et al., 1984).

Assim, havendo ocorrência de redução de sulfato em um cultivo microbiano espera-se

observar uma diminuição gradativa do Eh do meio em função do tempo de cultivo.

Neste trabalho os valores de Eh observados para todas as amostras, independentemente

da condição de cultivo empregada variaram entre -65,0 e -360,0mV (Figura 5.3). Além

disso, independentemente da adição de As, a redução do Eh do meio foi sempre mais

marcante nos frascos contendo PP. Por se tratar de uma fonte de energia, a adição deste

material ao meio de cultura pode promover maior crescimento microbiano e,

consequentemente, maior abaixamento do Eh do meio.

No que diz respeito ao pH, é sabido que as BRS apesar de apresentarem

capacidade de crescer em ampla faixa de pH, são preferencialmente neutrófilas,

(POSTGATE et al., 1984). BARBOSA (2009) ao utilizar uma cultura mista contendo

Page 55: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

42

BRS (enriquecida a partir de amostras de material coletado no mesmo ambiente objeto

de estudo deste trabalho, Lagoa do Gambá), obteve remoções de sulfato mais

satisfatórias em meio neutro (pH 7,0) do que em meio levemente ácido (pH 5,5).

Em vista disto, foi utilizado o valor inicial de pH 7,0 nos ensaios, a fim de

garantir um ambiente favorável à atividade metabólica desses micro-organismos.

Entretanto, durante os três primeiros dias de cultivo, foi observado um decréscimo no

valor do pH do meio em todas as amostras, com os valores de pH variando entre 7 e 5.

Tal decréscimo deve-se principalmente a formação dos ácidos orgânicos gerados a

partir da decomposição do lactato, por bactérias fermentativas. Contudo, o metabolismo

da BRS através da oxidação do lactato, além de gerar o íon sulfato produz alcalinidade

(HCO3-), responsável pelo tamponamento do meio.

Figura 5.3 Variação do potencial de redução do meio no cultivo em presença de

arsênio: 0,5 (2 e 2*); 1,0 (3 e3*); 2,0 (4 e 4*); 4,0 (5 e 5*); 8,0 (6 e 6*) e

16,0mg.L-1

(7 e 7*) . O sinal * representa a presença de pó de penas de galinha

(PP) no meio.

Fonte: próprio autor

5.4 Identificação microbiana

As extrações de DNA, das treze amostras (1, 2, 2*, 3, 3*, 4, 4*,5, 5*,6, 6*,7 e

7*) crescidas em meio Postgate C modificado acrescido ou não de PP e As foram

-400

-350

-300

-250

-200

-150

-100

-50

0

50

100

2* 2 3* 3 4* 4 5* 5 6* 6* 7* 7

Val

ore

s d

o E

h (

mV

).

Variações do Eh

Eh Inicial

Eh Final

Page 56: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

43

eficientemente realizadas. Para todas as amostras obtiveram-se quantidades de DNA

suficientes para realização de PCR.

A reação de amplificação foi realizada com todos os extratos genômicos das

amostras de bactérias adaptadas em diferentes concentrações de arsênio. A amplificação

do material genômico utilizando o primer 968FGC/1392 para o Domínio Bacteria foi

obtida para todas as 13 amostras. A observação dos géis de agarose a 1,0%, após

coloração com Brometo de Etídio indicou o resultado positivo da reação de

amplificação de fragmentos do RNA ribossomal 16S.

5.4.1. Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE)

A análise eletroforética (DGGE) foi realizada utilizando-se os produtos

amplificados dos fragmentos de DNA ribossomal 16S que revelou o padrão de bandas

representada na Figura 5.4, o número de bandas corresponde ao número dos membros

predominantes na comunidade bacteriana o que permite inferir sobre a diversidade

global de bactérias dentro de cada amostra. Para obter estes resultados diversos

experimentos de DGGE foram realizados em diferentes gradientes de desnaturação a

fim de obter-se um perfil representativo da diversidade microbiana do Domínio Bacteria

das amostras. O melhor perfil de bandas foi obtido no gradiente desnaturante de uréia

formamida de 40-60% como representado na figura 5.4. Um total de 7 bandas foram

selecionadas, excisadas e sequenciadas a fim de identificar as espécies bacterianas

presentes no ambiente.

Page 57: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

44

Figura 5.4 - Gel de DGGE, com gradiente desnaturante de 40%-60%, corado em

brometo de etídio contendo fragmentos de DNA ribossomal 16S amplificados com

primer universal 968FCG/1392R domínio Bacteria. O número 1 representa a amostra

sem arsênio, (2 e 2*), 0,5, (3 e 3*), 1,0; (4 e 4*), 2,0; (5 e 5*), 4,0; (6 e 6*) , 8,0 e (7 e

7*) 16,0mg.L-1

de arsênio. O sinal * representa a presença de pó de penas de galinha

(PP) no meio.

Fonte: próprio autor

Page 58: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

45

Os perfis de bandas presentes no gel obtido durante a análise por DGGE em função da

concentração de arsênio e à presença de biomassa PP nos cultivos estão representados

na tabela 5.2 abaixo.

Tabela 5.2. Distribuição das bandas de material genômico em diferentes condições

experimentais.

Amostras

1 2* 2 3*

3 4*

4 5*

5 6*

6 7*

7

Concentração de As (III) (mg.L

-1)

Espécies Bandas 0 0,5 0,5 1,0 1,0 2,0 2,0 4,0 4,0 8,0 8,0 16,0 16,0

Cupriavidus

metallidurans B1 + + + + + + + + + + + + +

Clostridium sp B2 + + + + +

Pantoea

agglomerans B3 + + +

+

Citrobacter sp B4 + + + + + + + + + + + + +

Enterobacter

sp B5 + + + + + + +

Burkholderia

cepacia B6 + + + + +

Bacillus sp B7 +

*Indica adição de biomassa PP ao cultivo

Todas as sete bandas foram excisadas do gel DGGE e reamplificadas novamente

utilizando primers para o domínio Bacteria, purificadas e levadas para o

sequenciamento. As sequências obtidas foram analisadas nos programas BLASTn

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/) e RDP X (Ribossomal Database Project Release 10)

(COLE et al., 2009) utilizadas para busca de homologia, similaridade e identidade. O

sequenciamento revelou a presença de membros dos filos Proteobacteria e Firmicutes. O

primeiro é constituído por organismos que apresentam grande diversidade metabólica e

correspondem á maioria das bactérias gram-negativas conhecidas, tendo importância

médica, industrial e agrícola. O filo Firmicutes é representado por bactérias na qual a

Page 59: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

46

maioria é gram-positiva, Bacillus e Clostridium são os dois gêneros mais estudados,

TORTORA, 2005). Os resultados de similaridade das bandas obtidas estão apresentados

na tabela 5.3.

Tabela 5.3: Alinhamento das bandas com as sequências depositadas no GenBank

(www.ncbi.nlm.nih.gov) para os fragmentos amplificados pelos primers bacterianos

universais (968F-GC 1392R).

Bandas Similaridade Espécie Número de

Acesso

B1 99% Cupriavidus metallidurans CP000352

B2 100% Clostridium sp X80841

B3 100% Pantoea agglomerans AM184212

B4 100% Citrobacter sp DQ133536

B5 100% Enterobacter sp EF138627

B6 99% Burkholderia cepacia AY741335

B7 100% Bacillus sp EU584532

Para construção da árvore (Figura 5.5), foram consideradas as espécies que

apresentavam maior porcentagem de similaridade com as sequências obtidas. De

maneira geral, os indivíduos sequenciados foram posicionados considerando seus

parentes filogenéticos.

Page 60: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

47

As propriedades de todos os micro-organismos identificados estão presentes na tabela

5.4.

Tabela 5.4. Propriedades das espécies identificadas.

Sequências Espécies Características Referência

B1

Cupriavidus

metallidurans

CP000352

Beta Proteobacteria, gram-negativas,

elevado número de genes de

resistência a metais pesados. É um

organismo modelo interessante para

estudar as respostas microbianas a

metais pesados.

(MONSIEUS

et al, .2011).

B2

Clostridium

spX80841

Bactérias Firmicutes, Gram-positivas,

forma de bastonete, anaeróbios estritos

e aerotolerantes. Produzem

endósporos, são ubiquitários,

(ANDERSON

et al., 2003).

B3

Pantoea

agglomerans

AM184212

Família Enterobacteriaceae, Gram-

negativas, anaeróbias facultativas

capazes de realizar o metabolismo de

redução de sulfato.

(QIU et al.,

2008).

B4

Citrobacter sp

DQ133536

Gram-negativas, fermentadoras da

família Enterobacteriaceae.

Observáveis nos solos, águas,

alimentos e esgotos.

(AICKIN &

DEAN, 1977)

B5

Enterobacter sp

EF138627

Família Enterobacteriaceae, Gram-

negativas, anaeróbias facultativas.

Utilizam lactato de sódio como fonte

de carbono, ou mesmo o citrato.

(GRIMONT

&

GRIMONT,

2006).

B6

Burkholderia

cepacia

AY741335

Beta Proteobacterias, gram-negativas,

forma de bastonetes. Possuem um

extraordinário espectro nutricional,

capazes de degradar mais de 100

moléculas orgânicas diferentes.

(YABUUCHI

et al.,1992).

B7

Bacillus sp

EU584532

Bactérias Firmicutes, Gram-positivas,

aeróbias ou anaeróbias facultativas.

Alta taxa de crescimento, capacidade

de secretar enzimas para o meio

extracelular.

(SCHALLMY,

2004).

Page 61: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

48

Figura 5.5. Árvores filogenéticas contendo sequências do gene DNAr 16S, construídas

pelo método Neighbor-Joining e modelo Maximum Composite Likelihood no programa

Mega 4.1. Análise de Bootstrap com 1000 réplicas.

Fonte: próprio autor

As espécies Cupriavidus metallidurans e Citrobacter sp. estão presentes em

todas as amostras, independentemente da concentração de arsênio empregada,

apresentando portanto, resistência considerável a este elemento. Estes organismos são

capazes de produzir sulfeto de hidrogênio (BARBOSA, 2009), principal produto no

processo de redução dissimilativa de sulfato, corroborando, portanto, para a atividade

sulfato redutora das amostras estudadas. Como o sulfeto de hidrogênio é um composto

tóxico para muitos micro-organismos, até mesmo para várias espécies de BRS como, as

espécies do gênero Desulfotomaculum, que são sensíveis a concentrações de 4 a 7 mM

de H2S.L-1

(WIDDEL & PFENNIG,1977; KLEMPS et al., 1985) a presença de H2S no

meio pode funcionar como uma estratégia para eliminar outros grupos microbianos,

B1

Cupriavidus metallidurans CP000352

B6

Burkholderia cepacia| AY741335

Bacillus sp EU584532

B7

B2

Clostridium sp. X80841

Desulfovibrio Mlhm; AF193026

70

69

98

98

100

100

0.02

B5

Enterobacter sp EF139627

B4

Citrobacter sp DQ133536

B7

Pantoea agglomerans AM184212

Desulfovibrio AF193026

0

0

0

100

0.02

Page 62: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

49

sendo portanto responsável pela seletividade de grupos microbianos, resistentes a este

composto (MARTIN et al., 2009), diminuindo assim a competição pelos nutrientes.

A espécie Cupriavidus metallidurans é uma beta proteobacteria capaz de manter

em homeostase com os metais sob uma variedade de condições ambientais adversas

(MONCHY et al., 2007). Este organismo pode ser encontrado em ambientes com

temperatura moderada, contaminados com metais pesados, tais como desertos de zinco

da Bélgica (DIELS & MERGEAY, 1990). A espécie Citrobacter sp. pode ser

observada nos solos, águas, alimentos e esgotos. Em 1977, Aickin e Dean (AICKIN &

DEAN, 1977) descreveram o sistema fosfatase das bactérias do gênero Citrobacter

utilizadas em processos biológicos de precipitação dos metais. As espécies Clostridium

sp e Burkholderia cepacia, embora não estejam presentes em todas as amostras

analisadas, cresceram em alguns frascos contendo baixas, médias e altas concentrações

de arsênio no meio. O gênero Burkholderia foi descrito em 1992 por Yabuuchi como

parte do Filo Proteobacteria. O gênero ainda precisa ser mais bem caracterizado, pois

sua taxonomia vem sendo modificada de tal forma que novos componentes estão sendo

frequentemente propostos, especialmente pela identificação de novos nichos ecológicos

e sua ação no ambiente.

Estes micro-organismos fazem parte do grupo das Beta Proteobacterias, sendo a

espécie Burkholderia cepacia (anteriormente conhecida como Pseudomonas cepacia) a

mais conhecida. As bactérias do gênero Burkholderia tornam-se interessantes por

possuírem amplo potencial de uso em atividades agrícolas e biotecnológicas. Possuem

capacidade de atuarem como promotoras de crescimento em plantas dadas as suas

atividades de fixação biológica do nitrogênio e produção de fitormônios; além disso,

participam de processos de biorremediação de hidrocarbonetos de petróleo,

hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, componentes nitroaromáticos solventes

industriais, pesticidas e metais (DUA et al., 2002).

As espécies de Clostridium podem ser anaeróbias estritas ou aerotolerantes. São

ubiquitários, vivendo no solo, água, flora do trato gastrointestinal do homem e diversos

animais, são produtores de amilases para degradação de polissacarídeos a açúcares

menores (ANDERSON et al., 2003). A alta resistência destas espécies às condições

ambientais extremas pode justificar sua ocorrência na condição de cultivo na qual as

maiores concentrações de As (III) foram empregadas. Esta espécie preferencialmente

oxida o lactato formando o acetato juntamente com o propionato (BERTOLINI, 2012).

Page 63: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

50

O gênero Bacillus sp. foi encontrado somente na amostra com maior

concentração de arsênio, 16mg.L-1

. Por possuírem muitas características vantajosas,

como sua alta taxa de crescimento, menor tempo da fermentação, e principalmente

capacidade de secretar enzimas para o meio extracelular, esse gênero vem se tornando

bastante importante e atrativo para o setor industrial. Sendo assim, estes micro-

organismos constituem uma fonte importante de enzimas extracelulares, dentre elas

proteases, amilase e lípases (SCHALLMEY, 2004).

A presença de micro-organismos das espécies Enterobacter sp. e Pantoea

agglomerans foi confirmada nas amostras com baixa, média e alta concentração de

arsênio no meio. Embora não haja muitos estudos em relação à redução de sulfato por

membros da família Enterobacteriaceae, sabe-se que representantes desta família já

foram identificados como capazes de realizar o metabolismo de redução de sulfato (QIU

et al., 2008) e como, o grupo das BRS é polifilético, fazendo parte do mesmo

representantes de diferentes famílias do domínio Bacteria; além de algumas do domínio

Archaea é possível que representantes ainda não catalogados de grupos distintos

também possuam a capacidade metabólica de reduzir o sulfato à sulfeto.

É valido acrescentar que, devido ao metabolismo de grande parte dos

representantes da família Enterobacteriaceae ser anaeróbio facultativo, os

enriquecimentos utilizados neste trabalho não seriam capazes de excluí-los. Portanto

esses micro-organismos poderiam estar fazendo parte do processo de redução de sulfato.

Além disso, representantes do gênero Enterobacter, já foram relatados como capazes de

utilizar o lactato de sódio como fonte de carbono, ou mesmo o citrato (GRIMONT &

GRIMONT, 2006) presentes no meio de cultivo utilizado. Outra questão importante é a

taxonomia deste gênero que é considerada como altamente heterogênea ao se considerar

outros representantes da família Enterobacteriaceae (GRIMONT & GRIMONT, 2006).

Pode-se citar como exemplo as espécies do gênero Pantoea, que possui várias espécies

endofíticas, até pouco tempo identificadas como pertencentes ao gênero Enterobacter,

(JANDA, 2006).

Fundamentado nas características metabólicas e enzimáticas dos micro-

organismos identificados, é possível inferir que as espécies Pantoea agglomerans,

Enterobacter sp. e Citrobacter sp, pertencentes a família Enterobacteriaceae,

participaram da oxidação incompleta do lactato, composto orgânico adicionado ao meio

de cultura, produzindo ácidos orgânicos voláteis (AGV), possivelmente o ácido acético.

Page 64: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

51

A produção desses ácidos causou o decréscimo do pH do meio logo nos primeiros dias

de inoculação dos micro-organismos. A partir daí entram em ação os micro-organimos

acidogênicos, neste trabalho representado pelo gênero Clostridium, que utilizam os

produtos anteriormente citados produzindo o acetato.

Os micro-organismos pertencentes ao gênero Bacillus e a espécie Burkholderia

cepacia crescem em meios contendo diferentes fontes de carbono, uma vez que

apresentam a capacidade de produzirem enzimas hidrolíticas extracelulares,

apresentando extrema versatilidade nutricional, podendo participar em mais de uma

etapa da oxidação do lactato.

É importante acrescentar que as espécies que se esperava identificar, são as

clássicas bactérias redutoras de sulfato que pertencem ao grupo delta proteobactéria,

visto que o meio utilizado assim como as condições de cultivo são propícios para o

crescimento destas. Porém os resultados da análise da biologia molecular demostrou a

presença de outros micro-organismos como citado anteriormente, mas que apresentam

características de redução de sulfato e resistência ao arsênio.

5.5 Caracterização do precipitado formado

Para avaliar a correlação da remoção do As(III) na presença de inóculo e na

ausência deste (considerando-se apenas a possibilidade de uma interação química entre

o arsênio trivalente e os constituintes do meio de cultura) foram utilizados frascos

controles, cultivados em condições semelhantes, autoclavados, porém sem a adição de

inóculo (BRS). Os testes controles não apresentaram sequer precipitado após 10 dias na

estufa. Dessa forma a remoção de As(III) foi insignificante na ausência do inóculo,

descartando-se a possibilidade do processo estar relacionado apenas a uma reação

química que dispensa a presença de micro-organismos. Este fato evidencia a

importância dessas bactérias para o processo de imobilização de As(III). Possivelmente,

os processos envolvidos na precipitação do As(III) podem acontecer isoladamente ou

em conjunto, sendo eles: adsorção dos metais na superfície da célula ou em substâncias

exopolissacarídicas (EPS) por elas produzidas e secretadas; pela sua bioacumulação no

interior da célula (KIM et al., 2007) e pela precipitação dos metais com o sulfeto

Page 65: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

52

produzido no metabolismo do sulfato gerando sulfetos metálicos insolúveis

(WIDDELL, 1988). Neste trabalho devido os altos picos de carbono encontrado em

todas as amostras, evidencia que o processo de imobilização que esta acontecendo é o

de adsorção do arsênio na superfície da célula. Este processo se refere à remoção de

íons ou outras espécies dissolvidas, de líquidos ou gases pela acumulação na superfície

de um material sólido (LIZAMA et al., 2011). O processo de adsorção mais comum

envolve a troca iônica. O sucesso do processo de adsorção depende das propriedades da

superfície do adsorvente, da concentração e da especiação das espécies químicas

presentes, da competição entre espécies químicas e do pH do meio (STOLLENWERK,

2003).

Em ambientes reduzidos e na presença de S e Fe, o As pode ser precipitado

como composto insolúvel como a orpimenta As2S3, no qual o As está presente como As

trivalente, e arsenopirita (AsFeS). A Orpimenta (Ouro-pigmento) precipita em

ambientes contendo pouco Fe, porém ricos em S, especialmente sob condições ácidas

(LIZAMA et al., 2011).

Os precipitados formados nas amostras 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 correspondendo

respectivamente às concentrações de arsênio (0,5; 1,0; 2,0; 4,0; 8,0 e 16,0g.L-1

), obtidos

após cultivo microbiano em meio Postgate C modificado (sem PP) apresentaram um

aumento na cristalinidade à medida que a concentração de arsênio se elevava, como

pode ser observado na figura 5.6. Resultados semelhantes foram encontrados por outros

autores (TECLU et al., 2008), sendo que também foi observado que a cristalinidade do

material sólido produzido aumentava à medida que se aumentava a concentração de

arsênio no meio.

É importante observar, que o material utilizado com suporte sólido (PP) é

amorfo, característica esta que impossibilitou alcançar sucesso na análise da estrutura

dos resíduos sólidos presentes no precipitado por espectroscopia Raman. A técnica de

Difração de raios-X também não apresentou resultados significativos pelo mesmo

motivo, não sendo possível, através desta técnica, a identificação de fases minerais

correspondentes aos sulfetos de arsênio. Esperava-se identificar esta fase mineral visto

que, durante os cultivos, ocorreu a redução do sulfato a sulfeto, evidenciada pelo

enegrecimento do meio e este, por sua vez seria, termodinamicamente capaz de reagir

com cátion bi e trivalentes, dentre eles o arsenito (As3+

), formando sulfetos insolúveis.

A baixa cristalinidade do material associada ao fato da concentração do sulfeto de

Page 66: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

53

arsênio formado no meio ser inferior a 3% do total de sólidos presentes, inferior,

portanto, aos valores limites de detecção do equipamento, podem ter contribuído para o

insucesso desta abordagem.

Com relação às análises de MEV/EDS, a presença de As nos produtos sólidos

produzidos pelo crescimento microbiano pode ser comprovada. Na figura 5.6 é possível

perceber o aumento da intensidade dos picos relativos ao arsênio à medida que aumenta

a concentração deste elemento na amostra. É importante ressaltar que o mesmo não foi

observado na ausência de micro-organismos, ficando assim descartada a possibilidade

de simples precipitação química. A participação microbiana no processo fica desta

maneira comprovada, mas os mecanismos (biogeoquímicos) ainda precisam ser

investigados. A presença de picos de carbono como pode ser visto na figura 5.3,

corrobora com a hipótese da biossorção do arsênio na parede celular, local onde se

encontram os principais sítios de biossorção que correspondem aos grupos funcionais

amina, amida, hidroxilo, carboxilo e fosfato entre outros (VIDOTTI E ROLLEMBERG,

2004). Além disso, a conversão de arsenito em arsenato pode ser realizada por enzimas

extracelulares, sendo as formas oxidadas adsorvidas ou precipitadas no filme biológico

como visto em trabalho previamente publicados (KOSTAL et al., 2004). Dessa forma, o

consórcio bacteriano apresentado neste trabalho poderia ser utilizado, com sucesso, por

pequenas indústrias, num processo biológico, de baixo custo, para o tratamento de

efluentes contaminados por arsênio.

Page 67: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

54

Figura. 5.6. Imagem de análise de MEV/EDS do precipitado presente nas amostras: A)

Amostra 1 com 0,0 g.L-1

de As; B) Amostra 3 com 1,0 g.L-1

de As; C) Amostra 4 com

2,0 g.L1

de As; D) Amostra 5 com 4,0 g.L-1

de arsênio, E) Amostra 6 com 8,0 g.L-1

de

arsênio. F) Amostra 7 com 16,0 g.L-1

de arsênio.

Fonte: próprio autor

A D

B

C

E

F

Page 68: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

55

6. Conclusões

Foi possível observar o crescimento bacteriano utilizando meio Postgate C

modificado em todas as diferentes concentrações de As (III) empregadas, tanto nos

cultivos contendo PP quanto na ausência deste composto. Ficou demonstrada a

resistência da cultura bacteriana ao elemento. A concentração de As(III) no meio

influenciou a cinética do crescimento microbiano pois, à medida que as concentrações

de arsênio aumentavam, maior tempo para crescimento era demandado, principalmente

no meio sem a presença do material suporte (pó de pena de galinhas). Tal fenômeno

pode estar associado às propriedades adsorventes de As do material, que implicariam na

diminuição da concentração de As(III) solúvel no sistema, facilitando a adaptação da

cultura ao meio e a consequente, proliferação celular. Além disso, o mesmo material

pode ser utilizado como fonte de matéria orgânica pelos micro-organismos, facilitando

seu crescimento.

A identificação do perfil de DGGE do consórcio microbiano revelou a presença

dos seguintes organismos: Pantoea agglomerans, Enterobacter sp, Citrobacter sp,

Cupriavidus metallidurans, Ralstonia sp Burkholderia cepacia e Clostridium sp.

Ainda que os componentes do consórcio microbiano identificados não sejam

pertencentes aos grupos clássicos de BRS, a cultura apresentou capacidade de redução

de sulfato.

A capacidade de reduzir o sulfato de algumas das espécies constituintes do

consorcio associada à resistência ao arsênio indica que o mesmo possui potencial de uso

na biorremediação de resíduos líquidos contaminados com sulfato e As o que justifica a

continuação dos estudos aqui iniciados.

A atividade metabólica das bactérias componentes deste consórcio influenciou

diretamente na imobilização do arsênio trivalente sendo a cristalinidade do material

diretamente proporcional à sua concentração no meio.

A diversidade metabólica do consórcio e sua capacidade de precipitar metais e

metaloides o capacita para o uso em processos de biorremediação e imobilização de

metais. Dessa forma todas as bactérias identificadas neste estudo, são boas candidatas

para o processo de biorremediação de áreas contaminadas com arsênio, no tratamento

Page 69: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

56

de efluentes industriais que apresentam arsênio, visto se tratar de um processo de baixo

custo.

Page 70: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

57

7. SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS.

- Identificar a presença de genes associados à redução de sulfato, nos micro-organismos

identificados neste estudo.

- Avaliar a capacidade de degradação de sulfato em reatores utilizando o consórcio

microbiano descrito neste trabalho.

- Testar o uso destas BRS para o tratamento de águas de drenagem ácida de mina.

Page 71: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

58

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACHOUR, A.R., BAUDA, P., BILLARD, P. Diversity of arsenite transporter genes

from arsenic-resistant soil bacteria. Res. Microbiol, v. 158, p. 128–137, 2007.

AICKIN, R.M. DEAN, A.C.R. "Lead acumulation by microorganism", Microbios

Letters, 5:129 – 133, 1977.

AMANN, R., BERNHARD, M. e S, B. The identification of microorganisms by

fluorescence in situ hybridisation. Current Opinion in Biotechnology, 12, 231 - 236,

2001.

AMANN, R. e LUDWIG, W. Ribosomal RNA-targeted nucleic acid probes for studies

in 4 microbial ecology. FEMS Microbiology Reviews, v. 24, n. 5, p. 555-565, 2000.

AMMAN, R. I., STROMLEY, J., DEVEREUX, R., KEY, R. e STAHL, D. A.

Molecular and microscopic identification of sulfate-reducing bacteria in multispecies

biofilms. Applied an Environmental Microbiology, 58, 614-623, 1992.

ANDERSON, K., SALLIS, P., UYANIK, S. Anaerobic treatment processes. In:

MARA, D.;HORAN, N. (Ed.) The handbook of water and wastewater microbiology.

Academic Press. p.391-396, 2003.

BADZIONG, W. e R. K. Thauer. "Growth yields and growth rates of

Desulfovibriovulgaris (Marburg) growing on hydrogen plus sulfate and hydrogen plus

thiosulfateas the sole energy sources." Archive of Microbiology 117: 209-214, 1978.

BAIRD, C. Química ambiental. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 621p, 2002.

BARBOSA, L. P. Cultivo de bactérias redutoras de sulfato (BRS) e sua aplicação na

bioremediação de efluentes ácidos contendo metais. 2009. 115f. Dissertação (Mestrado

em Engenharia Ambiental) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2009.

BARTON, L. L. Sulfate-reducing bacteria, New York: Plenum Press. 336p.1995.

BASU, A.; MAHATA, J.; GUPTA, S.; GIRI, A.K. Genetic toxicology of a paradoxical

human carcinogen, arsenic: a review. Mutation Research, v.488, p.171-194, 2001.

BATTAGLIA-BRUNET, CROUZET,C.; BURNOL, A.; COULON, S.;MORIN. D.;

Precipitation of arsenic sulphide from acidic water in A fixed-film bioreactor. Water

Research (4 6) 3923-3933-2012.

BAUMGARTNER, L. K. "Sulfate reducing bacteria in microbial mats: Changing

paradigms, new discoveries." Sedimentary Geology 185(3-4) p.131-145, 2006.

BEECH, I. B. Sulfate-reducing bacteria in biofilms on metallic materials andcorrosion.

Microbiology Today 30:115-117, 2003.

Page 72: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

59

BEN-DOV, EITAN, BRENNER, A. KUSHMARO, A. Quantification of Sulfate-

reducing Bacteria in Industrial Wastewater, by Real-time Polymerase Chain Reaction

(PCR) using dsrA and apsA Genes. Microbial Ecology 54:439-451, 2007.

BERTOLINO, S. M. Estudo da redução de sulfato em reatores anaeróbios contínuos e

avaliação de fonte de carbono alternativa. Ouro Preto. Universidade Federal de Ouro

Preto. Pós-Graduação em Engenharia de Materiais. 2012.

BEVERIDGE, T. J. AND MURRAY, R. G. E. Sites of metal depositionin the cell wall

of Bacillus subtilis. J. Bacteriology, v. 141, p.876-887, 1980.

BICKI, J. A., J. J. DENNIS, et al.. "Identification of a New Class of 59-Adenylylsulfate

(APS) Reductases from Sulfate-Assimilating Bacteria." Journal of bacteriology 182(1):

135-142, 2000.

BORBA, R. P., FIGUEIREDO, B.R., CAVALCANTI, J.A. Arsênio na água

subterrânea em Ouro Preto e Mariana, Quadrilátero Ferrífero MG. Revista Escola de

Minas, v. 57, p. 45-51, 2004.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução n.º 357, de 17 de março de 2005.

Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, Brasília, DF.

BRUNO, W. J.; SOCCI, N. D.; HALPERN, A. L. Weighted Neighbor Joining: A

Likelihood- Based Approach to Distance-Based Phylogeny Reconstruction, Molecular

Biology and Evolution, v.17, p.189-197, 2000.

CABRERA, G.; PÉREZ, R.; GÓMEZ, J. M.; ÁBALOS, A.; CANTERO, D. (2006)

Toxic effects of dissolved heavy metals on Desulfovibrio vulgaris and Desulfovibrio sp.

strains. J Hazard Mater, v. 135, p. 40-46.

CANFIELD, D. E. &. THAMDRUP, B. "Fate of elemental sulfur in an intertidal

sediment." Fems Microbiology Ecology 19(2) p. 95-103, 1996.

CARLOS, M. C., LEMOS, J. L. S., RIZZO, A. Remediação de rejeitos industriais

empregando micro-organismos. In: XV Jornada de Iniciação Científica – CETEM;

2007July 26-27; Rio de Janeiro: Centro da Tecnologia Mineral (CETEM).2007.

CASTRO, H. F., N. H. WILLIAMS, et al.. "Phylogeny of sulfate-reducing

bacteria."Fems Microbiology Ecology 31(1): 1-9, 2000.

CHEUNG, K. H. AND J. D. GU . "Reduction of chromate (CrO42-) by an enrichment

consortium and an isolate of marine sulfate-reducing bacteria." Chemosphere 52(9):

1523-1529, 2003.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357, de 17 de março

de 2005. Ministério do Meio Ambiente, 23p.

COLE J.R, WANG Q, CARDENAS E, FISH J, CHAI B, DARRIS R.J, KULAM-

SYEDMOHIDEENA.S, MCGGARREL D.M, MARSH T, GARRITY G.M, TIEDJDE

J.M The Ribosomal Database Project: improved alignments and new tools for rRNA

analysis. Nucleic.Acids Research. 37, 141-145, 2009.

Page 73: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

60

COSTA, M. C., DUARTE, J. C. Bioremediation of Acid Mine Drainage using acidic

soil and organic wastes for promoting Sulphate-Reducing Bacteria activity on a column

reactor. Water, Air, and Soil Pollution, v. 165, p. 325-345, 2005.

CYPIONKA, H. Solute transport and cell energetics. Sulfate-reducing bacteria. L.

Barton. New York, Plenum Press: 152-184, 1995.

DAR, S., KLEEREBEZEM, R., STAMS, A., KUENEN, J. e MUYZER, G.

Competition and coexistence of sulfate-reducing bacteria, acetogens and methanogens

in a lab-scale anaerobic bioreactor as affected by changing substrate to sulfate ratio.

Applied Microbiology and Biotechnology, v. 78, n. 6, p. 1045-1055, 2008.

DAVEY, M. E., O’TOOLE, G. A. Microbial biofims: from ecology to molecular

genetics. Microbiol. Mol. Biol. Rev. 64(4):806-811.2000.

DIELS, L. & MERGEAY, M.DNA probe-mediated detection of resistant bacteria from

soils highly polluted by heavy metals. Appl Environ Microbiol 56, 1485-1491, 1990.

DIORIO, C., CAI, J., MARMOR, J., SHINDER, R., DUBOW, M.S. An Escherichia

coli chromosomal ars operon homolog is functional in arsenic detoxification and is

conserved in gram-negative bacteria. J. Bacteriol, v. 177, p. 2050–2056, 1995.

DOMINGUES, M. R. Investigação sobre a Diversidade Microbiana e a Filogenia de

Arquéias e Bactérias em Consórcios Anaeróbios Metanogênicos, Originados de

Sedimentos Estuarinos Enriquecidos com Clorofenóis. São Carlos. Universidade de São

Paulo. Escola de Engenharia de São Carlos - Departamento de Hidráulica e

Saneamento. 173 p. 2007.

DUA,M,. SINGH.A., SETHUNATHAN, N., JOHRI.A.K., Biotechnology and

bioremediation: successes and limitations. Applied biotechnology and bioremediation.

Berlin, v.59, p.143-152, 2002.

ELSGAARD, L., D. PRIEUR, MUKWAYA, M. G., JORGENSEN, B. B. Thermophilic

sulfate reduction in hydrothermal sediment of lake Tanganyika, East-Africa. Applied

and Environmental Microbiology, v. 60, p. 1473-1480, 1994.

ESPÓSITO, E. E AZEREDO, J. L. de. Fungos: uma introdução à biologia, bioquímica e

biotecnologia. Caxias do Sul: Educs, 2004.

FERRIS, M. J., MUYZER, G. e WARD, D. M. Denaturing gradient gel

electrophoresisprofiles of 16S rRNA-defined populations inhabiting a hot spring

microbial matcommunity. Applied Environmental Microbiology, v. 62, n. 2, p. 340-346,

1996.

GIBSON, G. R. "PHYSIOLOGY AND ECOLOGY OF THE SULFATE-REDUCING

BACTERIA." JOURNAL OF APPLIED BACTERIOLOGY 69(6) P. 769-797, 1990.

GILMORE, D. F., W. GODCHAUX, et al.."Regulation of Sulfate Assimilation in

Cytophaga-Johnsonae." Archives of Microbiology 152(4): 387-392, 1989.

Page 74: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

61

GRIFFTHS, R.I., WHITELEY, A.S., O´DONNELL, A.G., BAILY, M.J. Rapid method

for coextraction DNA and RNA from natural environments for analysis of riobosomal

DNA- and rRNA- based microbial community composition. Applied and Environmental

Microbiology, v. 66, n.12, p. 5488-5491, 2000.

GRIMONT, F., e GRIMONT, P.A.D., The Genus Enterobacter. In: DWORKIN, M.,

FALKOW, S., ROSENBERG, E., SCHLEIFER, K., e STACKEBRANDT, E.,

(Editores).The Prokaryotes: A Handbook on the Biology of Bacteria. 3a. ed. New York,

NY: Springer Science business Media, Llc; v. 6, p. 197-214, 2006.

HAMAMURA, N., MACUR, R.E., KORF, S., ACKERMAN, G., TAYLOR, W.P.,

KOZUBAL, M., REYSENBACH, A.L., INSKEEP, W.P. Linking microbial oxidation

of arsenic with detection and phylogenetic analysis of arsenite oxidase genes in diverse

geothermal environments. Environ. Microbiol, v. 11, p. 421–431, 2009.

HIGGINS, J. P., HARD, B. C., MATTES, A. Bioremediation of Acid Rock Drainage

Using Sulfate-Reducing Bacteria. In: Proceedings of Sudbury 2003: Mining and

Environment; 2003 May 25-28; Ontario. Sudbury: Canadian Land Reclamation

Association.2003.

HUGHES, M.F. Arsenic Toxicity and Potential Mechanisms of Action. Toxicology

Letters, 133,0.1-16.2002.

ICGEN, B., MOOSA, S., HARRISON, S. T. L. A Study of the Relative Dominance of

Selected Anaerobic Sulfate-Reducing Bacteria in a Continuous Bioreactor

byFluorescence in Situ Hybridization. Microbial Ecology 53:43-52.2006.

IPCS, 2001. Arsenic and Arsenic Compounds. World Health Organisation, International

Programme on Chemical Safety (Environmental Health Criteria 224), Geneve.

ITO, T., OKABE, S., SATOH, H., WATANABLE, Y. Successional Development of

Sulfate-Reducing Bacterial Populations and Their Activities in a Wastewater Biofilm

Growing under Microaerophilic Conditions. Appl. Environ. Microbiol. 68(3):1392-

1402.2002.

JANDA, J. M., ABBOTT, S. L. 16S rRNA Gene Sequencing for Bacterial Identification

in the Diagnostic Laboratory: Pluses, Perils, and Pitfalls. Journal of Clinical

Microbiology 45(9):2761-2764.2007.

JAN-ROBLERO, J., ROMERO, J. M., AMAYA, M., BORGNE, S. Phylogenetic

characterization of a corrosive consortium isolated from a sour gas pipeline. Appl.

Microbiol. Biotechnol. 64:862-867.2004.

JEANTHON, C., S. L'HARIDON, et al.. "Thermodesulfobacterium hydrogeniphilum sp

nov., a thermophilic, chemolithoautotrophic, sulfate-reducing bacterium isolated from a

deep-sea hydrothermal vent at Guaymas Basin, and emendation of the genus

Thermodesulfobacterium." International Journal of Systematic and Evolutionary

Microbiology 52: 765-772, 2002.

Page 75: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

62

JI.J.; SILVER. S. Regulation and expression of the arsenic resistance operon from

Staphylococcus aureus plasmid pI258. Jornal of Bacteriology. 174(11): 3684–3694.

1992.

JOHNSON, D. B. "Acidophilic Microbial Communities - Candidates for

Bioremediation of Acidic Mine Effluents." International Biodeterioration

&Biodegradation 35(1-3): 41-58, 1995.

JORGENSEN, B. B. E F. BAK. "Pathway and microbiology of thiosulfate

transformation, and sulfate reduction in a marine sediment (Kattegat, Denamark)."

Applied and Environmental Microbiology 57(3): 547-556, 1991.

KAKSONEN, A. H., P. D. FRANZMANN, et al.. "Performance and ethanol oxidation

kinetics of a sulfate-reducing fluidized-bed reactor treating acidic metal containing

wastewater." Biodegradation 14(3): 207-217, 2003.

KAPPOR, A.; VIRARAGHAVAN, T. Fungal biosorption - an alternative treatment.

Option for heavy metal bearing wastewater: a review. Bioresource Technology, v.53, n.

9, p. 195-206, 1995.

KAUR, P. AND B.P. ROSEN, Plasmid-Encoded Resistance to Arsenic and Antimony.

Plasmid, 27: p. 29-40, 1992.

KJELLERUP, B. V., THOMSEN, T. R., NIELSEN, B. H., OLESEN, B. H.,

FROLUND, B., NIELSEN, P. H. Microbial diversity in biofilms from corroding heating

systems. Biofouling 21(1):19-29.2005.

KNIGHT, I. T. Molecular Genetic Methods for Detection and Identification of Viable

but Non culturable Microorganisms. In: Colwell, R.R., Grimes, D. J., editors.

Nonculturable Microorganisms in the Environment. 1st ed.Washington (DC): American

Society for Microbiology. p. 77-87.2000.

KEFALA, M. L.; ZOUBOULIS, A. L.; MATIS, K. A Biosorption of cadmium ions by

Actinomicetes and separation by flotation. Environmental Pollution, v.104, p.283- 293,

1999.

KIM, S. U., Y.H. CHEONG, et al.. "Characterisation of heavy metal tolerance and

biosorption capacity of bacterium strain CPB4 (Bacillus spp.)" Water Science

&Technology 55 (1–2): 05–111, 2007.

KLEMPS, R., CYPIONKA, H., WIDDEL, F., PFENNIG, N. Growth with hydrogen,

and further physiological-characteristics of Desulfotomaculum species. Archives of

Microbiology, v. 143, p. 203-208, 1985.

KOSTAL J., YANG R., NU C.H., MULCHANDANI A., CHEN W. Enhanced arsenic

accumulation in engineered bacterial cells expressing ArsR, Appl. Environ. Microbiol.

70 (8), pp. 4582–4587, 2004.

KRAMER, M. e H. CYPIONKA. "Sulfate formation via ATP sulfurylase in thiosulfate-

and sulfite-disproportionating bacteria." Archives of microbiology151: 232-237, 1989.

Page 76: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

63

KREKELER, D. E H. CYPIONKA. "The preferred electron acceptor of Desulfovibrio

desulfuricans CSN." FEMS Microbiology Ecology 17(4): 271-277, 1995.

KRUMOVA,K.; NIKOLOVSKA,N.; GROUDEVA,V. isolation and identification of

arsenic-transforming bacteria from arsenic contaminated sites in Bulgaria. Biotechnol.

& Biotechnol 721-728, 2008.

KOPRIVA, S e A. KOPRIVOVA. "Sulfate assimilation and glutathione synthesis in C4

plants." Photosynthesis Research 86: 363–372, 2005.

KUNOW, J., D. LINDER, et al. "Pyruvate, Ferredoxin Oxidoreductase from the

Sulfate-Reducing Archaeoglobus-Fulgidus - Molecular Composition, Catalytic

Properties, and Sequence Alignments." Archives of Microbiology 163(1): 21-28, 1995.

LECKIE, S. E. Methods of microbial community profiling and their application to

forest soils. Forest Ecology and Management, v. 220, n. 1–3, p. 88-106, 2005.

LEE, C., KIM, J., SHIN, S. G. e HWANG, S. Monitoring bacterial and archaeal

community shifts in a mesophilic anaerobic batch reactor treating a high-

strengthorganic wastewater. FEMS Microbiology Ecology, v. 65, n. 3, p. 544-554, 2008.

LENS, P.N.L. Biotechnological treatment of sulfate-rich wastewaters. Critical Reviews

in Environmental Science and Technology, v 28: p. 41-88, 1998.

LI, J., PURDY, K. J., TAKII, HAYASHI, H. Seasonal changes in ribosomal RNA of

sulfate-reducing bacteria and sulfate reducing activity in a freshwater lake

sediment.FEMS Microbiol. Ecol. 21(1):31-39.1998.

LIAO, V. H. C., CHU, Y. J., SU, Y. C., HSIAO, S. Y., WEI, C. C., LIU, C. W., LIAO,

C. M., SHEN, W. C., CHANG, F. J. Arsenite-oxidizing and arsenate-reducing bacteria

associated with arsenic-rich groundwater in Taiwan. Journal of Contaminant

Hydrology, v. 123, p. 20-29, 2011.

LIEVREMONT, D., BERTIN, P. N., LETT, M. C. Arsenic in contaminated waters:

Biogeochemical cycle, microbial metabolism and biotreatment processes. Bioquimie, p.

1229-1237, 2009.

LIZAMA, K. A., FLETCHER, T. D., SUN, G. REMOVAL PROCESSES FOR

ARSENIC IN CONSTRUCTED WETLANDS. CHEMOSPHERE, V. 84, P. 1032-

1043, 2011.

LOUBINOUX, J., JAULHAC, B., PIEMONT, Y., MONTEIL, H., FAOU, A. E.

Isolation of Sulfate-Reducing Bacteria from Human Thoracoabdominal Pus. Journal of

Clinical Microbiology 41(3):1304-1306.2003.

MADIGAN, M.T., MARTINKO, J.M., DUNLAP, P.V., e CLARK, D.P., Brock –

Biology of Microorganisms. 12a. ed. San Francisco: Pearson Education, Inc;1061 p,

2009.

MADIGAN, M. T., J. M. Martinko, et al.. Microbiologia de Brock. São Paulo, Prentice

Hall. 2004.

Page 77: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

64

MADIGAN, M. T., MARTINKO, J. M., PARKER, J. Microbial Ecological:

Biogeochemical Cycles: Sulfur. In: Madigan, M. T., Martinko, J. M., Parker, J., editors.

Brock Biology of microorganisms. 8th ed. New Jersey: Prentice-Hall, International.

p.573-575.1997.

MANCERA-LÓPEZ, M.E.; et al.. Bioremediation of an aged hydrocarbon-

contaminated soil by a combined system of biostimulation-bioaugmentation with

filamentous fungi. International Biodeterioration & Biodegradation, 2007.

MARSCHALL, C., P. FRENZEL, et al.. "Influence of Oxygen on Sulfate Reduction

and

Growth of Sulfate-Reducing Bacteria." Archives of Microbiology 159(2): 168-

173,1993.

MARTINS, M., FALEIRO, M. L., et al.."Characterization and activity studies of highly

heavy metal resistant sulphate-reducing bacteria to be used in acid mine drainage

decontamination" Journal of Hazardous Materials. Disponível on line:

www.elsevier.com/locate/jhazmat. 2009.

MATSCHULLAT, J.; BORBA, R. P.; DESCHAMPS, E.; FIGUEIREDO, B. R.;

GABRIO, T. AND SCHWENK, M. Human and Environmental Contamination in the

Iron quadrangle,Brazil. Applied Geochemistry, 15, p. 181-190, 2000.

MCBRIDE, M.B. Reactions controlling heavy metal solubility insoils. Advances in Soil

Sciences, v.10, p.1-56, 1989.

MONCHY, S., et al.. Plasmids pMOL28 and pMOL30 of Cupriavidus metallidurans

are specialized in the maximal viable response to heavy metals.J. Bacteriol. 189:7417–

7425, 2007.

MORI, K., KIM, H." A novel lineage of sulfate-reducing microorganisms:

Thermodesulfobiaceae fam. nov., Thermodesulfobium narugense, gen. nov., sp. nov., a

new thermophilic isolate from a hot spring". Extremophiles (7)7: 283–

290.2003.

MUKHOPADHYAY, R., ROSEN, B.P., PHUNG, L.T., SILVER, S. Microbial arsenic:

from geocycles to genes and enzymes. FEMS Microbiol. Rev., v. 26, p. 311–325, 2002.

MUYZER, G., e STAMS, A.J.M., The ecology and biotechnology of sulphate-reducing

bacteria. Nature Reviews: Microbiology. v. 6, p. 441-454, 2008.

MUYZER, G. DGGE/TGGE a method for identifying genes from natural ecosystems.

Current Opinion in Microbiology, v. 2, n. 3, p. 317-322, 1999.

MUYZER, G.; SMALLA, K. Application of denaturing gradient gel electrophoresis

(DGGE) and temperature gradient gel electrophoresis (TGGE) in microbial ecology.

Antonie van Leeuwenhoek, 73:127-141, 1998.

MUYZER, G.; HOTTENTRAGER, S.;TESKE, A.;WAWER,C. Denaturing gradient

gel electrophoresis of PCR-amplified 16S RDNA a new molecular approach to Analyse

Page 78: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

65

the genetic diversity of mixed microbial communities. In: Akkermans, A. D. L. ,van

Elsas, J. D. de Bruijn, F.J .(Eds.), Molecular Microbial Ecology Manual. Kluwer

Academic Publishers, Dordrecht, p.3.4.4./1–3.4.4./23.1993.

NECULITA, C.M., ZAGURY, G.J., BUSSIÈRE, B. Passive treatment of acid mine

drainage in bioreactors using sulfate-reducing bacteria: critical review and research

needs. J. Environ. Qual. 36, 1–16. 2007.

NEVIN, K. P.; LOVLEY, D. R. Lack of Production of Electron-Shuttling Compounds

or Solubilization of Fe(III) during Reduction of Insoluble Fe(III) Oxide by Geobacter

metallireducensApplied and Environmental Microbiology V.66 -2248–2251.2000.

NEWMAN,D.K.; BEVERIDGE,T.J.; morel. F Precipitation of Arsenic Trisulfide by

Desulfotomaculum auripigmentum. Appl Environ Microbiol. V. 63(5):2022–2028.

1997.

NIELSEN T.A, LIU W-T, FILIPE C, GRADY L, MOLIN S, STAHL DA.

Identification of anovel group of bacteria in sludge froma deterioratedbiological

phosphorus removal reactor.Appl Environ Microbiol;65:1251–8, 1999.

OWOLABI, J.B., ROSEN, B.P. Differential mRNA stability controls relative gene

expression within the plasmid-encoded arsenical resistance operon. J. Bacteriol., v. 172,

p. 2367–2371, 1990.

PALMER, S. A. K. et al.. Metal/Cyanide-containing wastes treatment technology.

Pollution Technology Review, No.158, ndc, p. 337-533, 1988.

PIMENTEL, H.S., LENA, J.C., NALINI J.R.H.A. Studies of water quality in the Ouro

Preto region, Minas Gerais, Brazil: The release of arsenic to the hydrological system.

Environmental Geology, v.43, p.725-730, 2003.

PIKUTA, E. V., A. M. LYSENKO, et al.."Distribution of Desulfonatronovibrio

hydrogenovorans in soda lakes of Tuva." Microbiology 66(2): 216-221, 1997.

PORTARIA Nº 2.914, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2011. www.saude.mg.gov.br.

POSTGATE, J.R. The sulphate-reducing bacteria. Cambridge: Cambridge university

Press, 2nd Ed.1984.

QIU, R., ZHAO, B., LIU, J., HUANG, X., LI, Q., BREWER, E., WANG, S., e SHI, N.,

Sulfate reduction and copper precipitation by a Citrobacter sp. isolated from a

miningarea. Journal of Hazardous Materials. 2008.

RABUS, R., T. HANSEN, et al.. Dissimilatory Sulfate- and Sulfur-Reducing

Prokaryotes. The Prokaryotes: Ecophysiology and Biochemistry. M. Dworkin, S.

Falkow, E. Rosenberg, K. H. Schleifer e E. Stackebrandt. New York, Springer-Verlag:

659-768, 2006.

RAWLINS, B. G.; WILLIAMS, T. M.; BREWARD, N.; FERPOZZI, L.;

FIGUEIREDO, B. AND BORBA, R. Preliminary Investigation of Mining-related

Arsenic Contamination in the Provinces of Mendoza and San Juan (Argentina) and

Minas Gerais State (Brazil). Keyworth, Nottingham, British Geological Survey.1997.

Page 79: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

66

ROYCHOWDHURY, T.; UCHINO, T.; TOKUNAGA, H.; ANDO, M. Arsenic and

other heavy metals in soils from an arsenic-affected area of West Bengal, India.

Chemosphere. 49(6):605-18.2002.

SAHRANI, F.T., IBRAHIM, Z., YAHYA, A., e AZIZ, M., Isolation and Identification

of Marine Sulphate-Reducing Bacteria, Desulfovibrio sp. and Citrobacter freundii from

Pasir Gudang, Malaysia. Sains Malaysiana. v. 37, N. 4, p. 365–371, 2008.

SARTI, A., SILVA, A. J. D., CÔRTES, R. S. e FORESTI, E. Remoção de sulfato de

águas residuárias industriais em reator anaeróbio de leito fixo operado em bateladas

sequenciais. Engenharia Sanitaria e Ambiental, v. 13, p. 15-22, 2008.

SASS, H., CYPIONKA, H., BABENZIEN, H. D. Vertical distribution of sulfate-

reducing bacteria at the oxic-anoxic interface in sediments of the oligotrophic Lake

Stechlin. FEMS Microbiol. Ecol. 22(3):245-255.1996.

SCAPIM, M. R. S., LOURES, E. G., ROSTAGNO, H., CECON, P. R., SCAPIM, C. A.

Avaliação nutricional da farinha de penas e de sangue para frangos de corte submetida a

diferentes tratamentos térmicos. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v. 25, p. 91-98,

2003.

SCHEID, D. E S. STUBNER. "Structure and diversity of Gram-negative

sulfatereducing bacteria on rice roots." Fems Microbiology Ecology 36(2-3): 175-183,

2001.

SEKOWSKA, A., H. F. KUNG, et al.. (2000). "Sulfur metabolism in Escherichia coli

and related bacteria: Facts and fiction." Journal of Molecular Microbiology and

Biotechnology 2(2): 145-177, 2000.

SHEN, Y. N. E R. BUICK . "The antiquity of microbial sulfate reduction." Earth-

Science Reviews 64(3-4): 243-272, 2004.

SILVA, A. J., VARESCHE, M. B., FORESTI, E. e ZAIAT, M. Sulphate removal from

industrial wastewater using a packed-bed anaerobic reactor. Process Biochemistry, v.37,

n. 9, p. 927-935, 2002.

SIRKO, A., M. HRYNIEWICZ, et al.. "Sulfate and Thiosulfate Transport Escherichia-

Coli K-12 - Nucleotide-Sequence and Expression of the Cystwam Gene-Cluster."

Journal of Bacteriology 172(6): 3351-3357, 1990.

SMEDLEY, P.L. and D.G. KINNIBURGH, A review of the source, behaviour and

distribution of arsenic in natural waters. Apllied Geochemistry,17: p. 517-568, 2002.

SMITH, E.; NAIDU, R.; ALSTON, A.M. Arsenic in the soil environment: a review.

Advances in Agronomy, v.64, p.149-195, 1998.

STALEY,J.1998. Microbial Diversity and the Biosphere.

www.bdt.org.br/oea/sib/staley.

STOLZ,J.F.;PERERA,E.;KILONZO,B.;KAILB.;CRABLE,B.;FISHER,E.;RANGANA

THAN,M.; WORMER, L.; BASU, P.Biotransformation of 3-nitro-4-hydroxybenzene

Page 80: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

67

arsonic acid (roxarsone) and release of inorganic arsenic by Clostridium

speciesEnvironmental Science and Technology 41 (2007) 818–823.

STOLLENWERK, K.G. Geochemical processes controlling transport of arsenic in

groundwater: a review of adsorption. Arsenic in Ground Water: Geochemistry and

Occurrence, v. 67, 100, 2003.

TALBOT, G., TOPP, E., PALIN, M. F. e MASSÉ, D. I. Evaluation of molecular

methods used for establishing the interactions and functions of microorganisms in

anaerobicbioreactors. Water Research, v. 42, n. 3, p. 513-537, 2008.

TECLU, D., TIVCHEV, G., LAING, M., e WALLIS, M., Bioremoval of arsenic

species from contaminated waters by sulphate-reducing bacteria. Water Research. 2008.

TEIXEIRA, M.C., et al.. Raman spectroscopy and DFT calculations of As(III)

complexation with a cysteine-rich biomaterial. Journal of Colloid and Interface

Science, 315(1): p. 128-134, 2007.

TEIXEIRA, M. C, CIMINELLI, V. S. T. Development of a biosorbent for arsenite:

Structural modeling based on X-Ray spectroscopy. Environmental Science &

Technology, v. 39, p. 895-900, 2005.

TESKE, A., SIGALEVICH, P., COHEN, Y. e MUYZER, G. Molecular identification

of bacteria from a culture by denaturing gradient gel electrophoresis of 16S

ribosomalDNA fragments as a tool for isolation in pure cultures. Applied and

Environmental Microbiology, v. 62, n. 11, p. 4210-4215, 1996.

THEBRATH, B., W. DILLING, et al.. "Sulfate activation in Desulfotomaculum."

Archive of Microbiology 152: 296-301, 1989.

TORTORA, J.G., FUNKE,R.B.,CASE, L.C. Microbiologia. 8. Ed. Editora: ARTMED.

Ano de Edição. 2005.

TSAI, J.C., KUMAR, M., LIN, J.G., Anaerobic biotransformation of fluorene and

phenanthrene by sulfate-reducing bacteria and identification of biotransformation

pathway. Journal of Hazardous Materials. 2008.

TSALEV, D. L., ZAPRIANOV, Z. K. Atomic absorption spectrometry in occupational

and environmental health practice. CRC Press, Flórida, p. 137-150, 1985.

VEGLIO, F.; BEOLCHINI, F. Removal of metal by biosorption: a review.

Hidrometallurgy. v.44,p. 301-316, 1997.

VIDOTTI, E.C.; ROLLEMBERG, M.C.E.; Algas: da economia nos ambientes

aquáticos à bioremediação e à química analítica, Química Nova, 27, 100, 2004.

WARREN L. A., HAACK E. A. Biogeochemical controls on metal behaviour in

freshwater. 2001.

Page 81: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

68

WIDDEL, F. Microbiology and ecology of Sulfate- and sulfur- reducing bacteria

Biology of anaerobic microorganisms. Zehner, A.B. (ed.). John Wiley and Sons,New

York. pp. 469-585, 1988.

WIDDEL, F. E N. PFENNIG. "Studies on Dissimilatory Sulfate-Reducing Bacteria

That Decompose Fatty-Acids .2. Incomplete Oxidation of Propionate by Desulfobulbus-

Propionicus Gen-Nov, Sp-Nov." Archives of Microbiology 131(4): 360-365,1982.

WIDDEL, F., PFENNIG, N. A new anaerobic sporing acetate-oxidizing sulfate

reducing bacterium, Desulfotomaculum acetoxidans (emend.). Archives of

Microbiology, v. 112, p. 119-122, 1977.

YABUUCHI, E et al.. Proposal of Burkholderia gen. nov. and transfer of seven species

of the genus Pseudomonas homology group II to the new genus,with the type species

Burkholderia cepacia.Tokyo, v.36, p.1251-1275, 1992.

ZARGAR, K., HOEFT, S., OREMLAND, R., SALTIKOV, C.W. Identification of a

novel arsenite oxidase gene, arxA, in the haloalkaliphilic, arseniteoxidizing bacterium

Alkalilimnicola ehrlichii strain MLHE-1. J. Bacteriol., v. 192, p. 3755–3762, 2010.

ZHU, X. Y., LUBECK, J., KILBANE II, J. J. Characterization of Microbial

Communities in Gas Industry Pipelines. Appl. Environ. Microbiol. 69(9):5354-

5363.2003.

Page 82: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

69

9. Apêndices

Apêndice I-Produção bibliográfica.

M. MOREIRA, P. F. COSTA, M. C. TEIXEIRA

Identification of a bacterial consortium with biotechnological potential for arsenic

bioremediation. 20th

Interanational Biohydrometallurgy Symposium,Hotel del Desierto

Enjoy, Antofagasta, Chile, 8-11 October 2013

M. MOREIRA, P. F. COSTA, M. C. TEIXEIRA

Arsenite (bio) immobilization using Sulfur Reducing Bacteria (SRB). 4th

international

congress: arsenic in the environment, Sebel Cairns International Hotel, Cairns,

Australia, 22–27 July 2012

MOREIRA,M;SILVA,S.Q;TEIXEIRA,M.C

Identificação Molecular de Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) Coletadas na Lagoa

do Gambá em Ouro Preto-MG. XXL Congresso Latino-americano de Microbiologia,

Santos, 2012.

MOREIRA,M & TEIXEIRA,M.C.

Utilização da Técnica de DGGE (Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante), na

Identificação da Diversidade Microbiana. I Workshop on Bioprocess for the Mining

Industry and Environment, Araraquara, 2011.

Page 83: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

70

Apêndice II - Soluções e reagentes para extração de DNA.

TAMPÃO FOSFATO SALINO (PBS 10X concentrado)

Adicionar em um béquer os seguintes constituintes: NaCl - 80,0g; KCl - 2,0g;

Na2HPO4 - 14,4g (se hidratado, usar 18g) e KH2PO4 - 2,4g. Adicionar 800 mL de água

mili-Q aos poucos até dissolver. Depois de dissolvido transferir a solução para uma

proveta e completar o volume para 1000 mL e ajustar o pH 7,2 para sando soluções de

NaOH ou HCl. Colocar em um frasco com tampa e autoclavar à 120°C por 20 minutos,

depois de autoclavado, esperar esfriar e estocar em geladeira.

SOLUÇÃO DE SDS10% concentrado.

Adicionar em um proveta 10,0g de SDS (dodecil sulfato de sódio) e 100mL de água

milli-Q. Agitar até completa dissolução. Ajustar o pH para 7,2 usando solução de NaOH

ou HCl e armazenar à temperatura ambiente.

SOLUÇÃO DE FENOL/CLOROFÓRMIO/ÁLCOOL ISOAMÍLICO (24:24:1)

Em um frasco adicionar 24mL de Fenol, 24mL de Clorofórmio e 1mL de Álcool

isoamílico. Estocar em freezer à -20°C.

CLOROFÓRMIO/ÁLCOOL ISOAMÍLICO (24:1)

Em um frasco adicionar 24mL de Clorofórmio e 1mL de Álcool isoamílico. Estocar em

freezer à -20°C.

SOLUÇÃO PBS 10X CONCENTRADO.

Em uma balão volumétrico misturar os seguintes constituintes: 16 g de NaCl, 4g de

Na2HPO4.7H2O; 0,7g de NaH2PO4.H2O e completar para volume de 2L com água

destilada. Armazenar na geladeira a

SOLUÇÃO PBS 1X CONCENTRADO + PVPP 1%.

Misturar os seguintes constituintes em um frasco: 2mL de tampão fosfato salino PBS

10X concentrado,1g de Polivinilpolipirrolidona (PVPP) e 100mL de Água mili-Q .

Estocar à temperatura ambiente.

Page 84: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

71

SOLUÇÃO DE ACETATO DE SÓDIO 3M.

Dissolver 24,6g de Acetato de sódio em água milli-Q, colocar em um balão volumétrico

e completar o volume para 100mL. Estocar à temperatura ambiente.

TRIS (tris-hiroximetilaminometano) (2mMolar).

Misturar em um balão volumétrico 24,225g de Tris e completar com H2O milli-Q até

volume de 100mL. Armazenar em um frasco à temperatura ambiente.

TAE (TAMPÃO TRIS-ACETATO-EDTA, PH7,5) 50X CONCENTRADO.

Colocar em um balão volumétrico os seguintes constituintes: 121,0g de Tris-Base,

28,55mL de Ácido acético glacial, 50mL de EDTA 0,5 Molar, em seguida acertar o

volume para 500mL utilizado água destilada e ajustar o pH para 7,5 usando soluções de

NaOH ou HCl. Armazenar em um frasco à temperatura ambiente.

EDTA 0,5MOLAR.

Em um frasco misturar 93,06g de EDTA e 500mL de Água destilada. Ajustar o pH para

8,0 usando soluções de NaOH ou HCl. Estocar à temperatura ambiente.

ANEXO II – Soluções e reagentes para eletroforese (DGGE)

SOLUÇÃO DE ACRILAMIDA 30%.

Colocar em um béquer 58,0g de Acrilamida e 2,0g de Bisacrilamida. Dissolver com a

ajuda de um agitador magnético a uma temperatura de 20°C e adicionar aos poucos a

água destilada, até a completa dissolução. Após dissolução, completar o volume para

100 mL utilizando água destilada. Colocar em um frasco fechado e envolto por um

papel alumínio e armazenar à 4°C.

SOLUÇÃO 0% DESNATURANTE.

Misturar 40mL de Acrilaminda 30%, 1 mL de TAE 50X concentrado e 159mL de Água

mili-Q. Colocar em um frasco fechado e envolto por um papel alumínio e armazenar à

4°C.

Page 85: Mariana Moreira IDENTIFICAÇÃO DE CONSÓRCIO BACTERIANO

72

SOLUÇÃO 80% DESNATURANTE

Misturar em um béquer 40mL de Acrilamida 30%, 1mL de TAE 50X concentrado,

67,6g de uréia e64mLde Formamida. Dissolver com a ajuda de um agitador magnético a

uma temperatura de 20°C e adicionar aos poucos água destilada, até a completa

dissolução. Após dissolução, completar o volume para 200 mL utilizando água

destilada. Colocar em um frasco fechado e envolto por um papel alumínio e armazenar à

4°C.

APS (PERSULFATO DE AMÔNIO) 10%.

Misturar em um frasco envolto por um papel alumínio 0,2g de APS e2mL de Água mili-

Q . Armazenar a 4°C.

PREPARO DE GRADIENTE 40– 60% DO GEL DE POLICRILAMIDA.

Gradiente 40%.

Adicione em um tubo falcon 8mL de Solução 0%, 8 mL de Solução 80%, 100µL de

APS 10% e, por último, acrescente 7µL de TEMED e misture ligeiramente.

Gradiente 60%

Adicione em um tubo tipo falcon 4mL de Solução 0%, 12 mL de Solução 80%, 100µL

de APS 10% e, por último, acrescente 7µL de TEMED e misture ligeiramente.