marco regulatÓrio e o estabelecimento de …€¦ · interciência 74 & sociedade desempenho...

12
73 Interciência & Sociedade MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE INDICADORES COM FOCO EM REQUISITOS SOCIOECONÔMICOS PARA O RETRO- FIT DE EDIFICAÇÕES RESUMO: O objetivo principal é o estabelecimento de um arcabouço metodológico e sua validação, como resposta à necessidade de uma ferramenta de gestão em face da demanda recorrente de com- parações a revitalização de edificações ou retrofits. Com o aprimoramento dos investimentos e da execução de ações com critérios sócio-econômicos balizados por marcos regulatórios, cada vez mais faz-se, necessário acompanhar os resultados passados e prospectar os futuros, relativos aos empreen- dimentos, para a medição de até que ponto os esforços estão atendendo aos requisitos regulatórios e ao objetivo de contribuir com o desenvolvimento sustentável. Neste contexto a utilização de indicadores tem sido uma das principais ferramentas de gestão. PALAVRAS-CHAVE: retrofit, indicadores econômicos, indicadores sociais. BERNI, Mauro Donizeti Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP [email protected] ABSTRACT: The main objective is to establish a methodological framework and its validation as a res- ponse to the need for a tool of demand management in the face of recurring comparisons revitalization of buildings or retrofits. With the improvement of the investment and implementation of actions with socio-economic criteria delimited by regulatory frameworks, increasingly it is necessary to monitor past performance and future prospect, for the projects, to measure the extent to which efforts are meeting regulatory requirements and aim to contribute to sustainable development. In this context the use of indicators has been a major management tools. KEYWORDS: retrofit, economic indicators, social indicators. 1. INTRODUÇÃO As questões da sustentabilidade vêm requerendo a atenção mundial e, na esfera da construção civil e arquitetura, coloca-se a necessidade da atuação em- presarial estar voltada a contribuir para a sustentabilidade global. Neste contexto, requer-se como princípio, que cada pessoa, física ou jurídica contribua com seu papel para garantir que os recursos naturais e o planeta, assim como se conhece hoje, se- jam preservados para as futuras gerações. A busca pela sustentabilidade ainda é inci- piente em edificações, no entanto contata- -se um aumento continuado das preocupa- ções neste sentido. A inserção da avaliação da sustentabilidade no ambiente empresa- rial da construção civil e no projeto arqui- tetônico pode contribuir para a melhoria do DELGADO, Antonio Carlos IYO Soluções Sustentáveis Ltda [email protected] PAGLIARDI, Odail Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM) Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP IYO Soluções Sustentáveis Ltda [email protected]

Upload: others

Post on 21-Jan-2021

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

73Interciência & Sociedade

MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE INDICADORES COM FOCO EM REQUISITOS SOCIOECONÔMICOS PARA O RETRO-

FIT DE EDIFICAÇÕES

RESUMO: O objetivo principal é o estabelecimento de um arcabouço metodológico e sua validação, como resposta à necessidade de uma ferramenta de gestão em face da demanda recorrente de com-parações a revitalização de edificações ou retrofits. Com o aprimoramento dos investimentos e da execução de ações com critérios sócio-econômicos balizados por marcos regulatórios, cada vez mais faz-se, necessário acompanhar os resultados passados e prospectar os futuros, relativos aos empreen-dimentos, para a medição de até que ponto os esforços estão atendendo aos requisitos regulatórios e ao objetivo de contribuir com o desenvolvimento sustentável. Neste contexto a utilização de indicadores tem sido uma das principais ferramentas de gestão.PALAVRAS-CHAVE: retrofit, indicadores econômicos, indicadores sociais.

BERNI, Mauro DonizetiNúcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMP

[email protected]

ABSTRACT: The main objective is to establish a methodological framework and its validation as a res-ponse to the need for a tool of demand management in the face of recurring comparisons revitalization of buildings or retrofits. With the improvement of the investment and implementation of actions with socio-economic criteria delimited by regulatory frameworks, increasingly it is necessary to monitor past performance and future prospect, for the projects, to measure the extent to which efforts are meeting regulatory requirements and aim to contribute to sustainable development. In this context the use of indicators has been a major management tools.KEYWORDS: retrofit, economic indicators, social indicators.

1. INTRODUÇÃO

As questões da sustentabilidade vêm requerendo a atenção mundial e, na esfera da construção civil e arquitetura, coloca-se a necessidade da atuação em-presarial estar voltada a contribuir para a sustentabilidade global. Neste contexto, requer-se como princípio, que cada pessoa, física ou jurídica contribua com seu papel

para garantir que os recursos naturais e o planeta, assim como se conhece hoje, se-jam preservados para as futuras gerações. A busca pela sustentabilidade ainda é inci-piente em edificações, no entanto contata--se um aumento continuado das preocupa-ções neste sentido. A inserção da avaliação da sustentabilidade no ambiente empresa-rial da construção civil e no projeto arqui-tetônico pode contribuir para a melhoria do

DELGADO, Antonio CarlosIYO Soluções Sustentáveis Ltda

[email protected]

PAGLIARDI, OdailFaculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (FMPFM)

Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – UNICAMPIYO Soluções Sustentáveis Ltda

[email protected]

Page 2: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

Interciência & Sociedade74

desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos.

2. Objetivo

Este estudo avalia o marco regula-tório e sua interrelação concernente aos es-tudos prévios necessários para a viabiliza-ção dos empreendimentos de revitalização imobiliária ou retrofits de forma sustentável, com foco nas dimensões social e econômi-ca. A sustentabilidade observada da pers-pectiva social, a ênfase é dada à presença do ser humano na biosfera. A preocupação maior é com o bem-estar humano, a con-dição humana e os meios utilizados para aumentar a qualidade de vida dessa condi-ção. Acesso a serviços básicos, água limpa e tratada, ar puro, serviços médicos, prote-ção, segurança e educação pode estar ou não relacionado com os rendimentos ou ri-queza da sociedade. A sustentabilidade so-cial refere-se a um processo de desenvol-vimento que leve a um crescimento estável com distribuição eqüitativa de renda; geran-do com isso, a diminuição das atuais dife-renças entre os diversos níveis da socieda-de e a melhoria das condições de vida das populações. A sustentabilidade econômica abrange a alocação e distribuição eficiente de recursos naturais dentro de uma escala apropriada. O conceito de desenvolvimento sustentável, observado a partir da perspec-tiva econômica, tende a ver o mundo em termos de estoques e fluxos de capital. Na verdade, essa visão não está restrita ape-nas ao convencional capital monetário ou econômico, mas está aberta à considera-ção de capitais de diferentes tipos, incluindo o ambiental, o humano e o social.

Nas seções seguintes apresenta--se uma alternativa metodológica e sua validação no contexto da sustentabilidade do retrofit de edificações, a partir de indi-cadores sociais e econômicos, permitindo estabelecer uma linha de base para a sus-tentabilidade em edificações. Os indicado-res são instrumentos importantes para o processamento de informações múltiplas e variadas, permitindo, de uma forma gráfica e simples, a tradução de realidades comple-xas e a tomada de decisão. Decisões corre-tas na fase de projeto das edificações po-

dem resultar em menores impactos sociais e ambientais, e consequentemente maior sustentabilidade. Selos Verdes e/ou Certifi-cações de qualidade são atestados de cum-primento de marcos regulatórios ainda na fase de projeto, construção, desconstrução e/ou qualidade no sentido de garantir o me-nor impacto social e econômico, bem como menor consumo de energia para edificação construída ou “retrofit” de edificação antiga.

3. Metodologia

3.1 Indicadores Sociais Em Retrofit

Um indicador social é uma medida em geral quantitativa dotada de significado social substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um concei-to social abstrato, de interesse teórico ou programático. É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se processando na mesma (JANNUZZI, 2009).

Em âmbito nacional são exemplos de sistemas de indicadores o Sistema de Indicadores para Políticas Urbanas, o Siste-ma de Indicadores de Saúde, o Sistema de Indicadores do Mercado de Trabalho, etc. Em uma perspectiva internacional, pode--se citar o Sistema de Bem Estar Social da OCDE, o Sistema Mínimo de Indicadores Urbanos, para orientar a implementação das diretrizes de ação.

A título de exemplificação, na ava-liação das condições de vida em determi-nada tipologia, pode ser operacionalmen-te traduzida como o nível de atendimento das necessidades materiais básicas para sobrevivência e reprodução social naquela tipologia. Desta forma, as dimensões ope-racionais de interesse poderiam ser as con-dições da saúde, tipo e qualidade da habi-tação, infraestrutura de serviços urbanos, acessibilidade, segurança, etc.

Outro aspecto a ser comentado é quanto à classificação e critérios para es-colha de indicadores sociais. Por conta de diferenças conceituais, indicadores sociais podem ser objetivos e subjetivos, mesmo estando em uma mesma dimensão social, podem não apontar as mesmas tendências.

BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.

Page 3: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

75Interciência & Sociedade

Por exemplo, na investigação de uma tipo-logia como um programa de moradias habi-tacional, é bem possível que os indicadores objetivos apontem melhoria com relação às condições materiais de vida da população, que, não se manifeste em indicadores de satisfação baseados na opinião das pesso-as ali residindo.

A Dimensão Social do Ambiente Construído. Um dos elementos defendidos pela teoria da construção enxuta é a agre-gação de valor, através do atendimento aos requisitos dos usuários no Brasil, fenôme-nos relativamente recentes, como a estabi-lidade econômica, a edição da legislação do consumidor, a maior disponibilidade de in-formação e a migração das empresas para faixas de renda mais elevadas modificaram o perfil do cliente: na faixa de classe média, as empresas hoje se relacionam com usu-ários mais informados e qualificados. Como reação a esta nova realidade, a maioria das empresas buscou ampliar a eficiência, atra-vés de ações de gerenciamento da constru-ção (otimização de processos, implantação de programas de qualidade, certificação e terceirização de grande parte das ativida-des necessárias à produção) e adoção de algumas alternativas tecnológicas nas dife-rentes tipologias requeridas para este novo momento. Entretanto, em última análise, ao invés de ampliar a qualidade do produto e conseqüentemente a satisfação do cliente final, os esforços praticados são mais vol-tados ao enfrentamento da concorrência acirrada e à redução de custos. Neste con-texto, indicadores sociais contemplando a avaliação pós-ocupação destas tipologias estão sendo utilizados para identificar pon-tos positivos e negativos sobre decisões tomadas na fase de projetos de empreen-dimentos, podendo ser utilizada no proces-so de projeto de novos empreendimentos. São compostos por um amplo diagnóstico do ambiente construído, incluindo análise do sistema construtivo, conforto ambiental, funcionalidade, acessibilidade, segurança ao fogo, e as relações entre o ambiente construído e o usuário.

Esta análise é geralmente realiza-da através de um conjunto de indicadores sociais que podem ser utilizados por proje-tista para os projetos de novos empreendi-

mentos considerando os aspectos positivos e negativos apontados pelos usuários, me-lhorando o processo de projeto e agregan-do maior valor aos empreendimentos. O emprego de indicadores sociais deve consi-derar aspectos comportamentais, físicos e comentários gerais de usuários. Com isto, também, pode-se antecipar as necessida-des futuras que a tipologia deverá atender.

Observe que as preferências dos usuários são alteradas com base em trans-formações sociais, econômicas e culturais, enquanto que as edificações imóveis são bens duráveis, sendo utilizados continua-mente por dezenas de anos. Quanto mais ajustado às necessidades dos usuários, melhor o conforto proporcionado ou então menor a necessidade de retrofit futuro.

Considerando os diversos agen-tes que compõe as forças de mercado, bem como os objetivos do empreendedor da indústria da construção: funcionalidade, com as necessárias condições de seguran-ça para os efeitos das ações tanto naturais como humanas e com características de durabilidade que permitam a redução da deterioração ao longo do seu ciclo de vida e custos envolvidos, a aplicação da metodo-logia proposta levou à seleção dos seguin-tes indicadores sociais:

3.1.1 Tema A: Práticas Laborais

Os aspectos que devem ser con-siderados, no que se refere às práticas la-borais, são baseados em normas univer-sais reconhecidas internacionalmente. Há dois instrumentos ligados diretamente às responsabilidades sociais das empresas: a Declaração Tripartida da OIT sobre as Empresas Multinacionais e a Política Social e as Diretrizes para Empresas Multinacio-nais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Desta for-ma, no que se refere às práticas laborais, sugerem-se indicadores com os seguintes aspectos: emprego, saúde e segurança no trabalho, formação e educação, e diversida-de e igualdade de oportunidades.

Emprego – pode ser obtido por:● Discriminação da mão-de-obra to-tal, por tipo de emprego, por contrato

Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações

Page 4: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

Interciência & Sociedade76

de trabalho e por região; ou● Número total de trabalhadores e respectiva taxa de rotatividade, por faixa etária, gênero e região.

Saúde e Segurança no Local de Trabalho – este indicador pode ser obtido de:

● Taxa de lesões, doenças profis-sionais, dias perdidos, absentismo e óbitos relacionados com o trabalho, por região; ou● Programas de educação, forma-ção, prevenção e controle de risco para garantir assistência aos traba-lhadores, às suas famílias ou aos membros da comunidade.

Formação e Educação – medida pela:● Média de horas de formação, por ano, por trabalhador, discriminadas por categoria de funções; ou● Programas para a gestão de com-petências e aprendizagem contínua que apóiam a continuidade da em-pregabilidade dos funcionários e para a gestão de carreira.

Diversidade e Igualdade de Oportunida-des – tal indicador pode ser visto como:

● Composição dos órgãos sociais da empresa e relação dos trabalhado-res por categoria, de acordo com o gênero, a faixa etária e as minorias; ou● Discriminação do salário base en-tre homens e mulheres, por catego-ria de funções.

3.1.2. Tema B: Direitos Humanos

Os indicadores de desempenho relativos aos direitos humanos devem estar relacionados aos investimentos nas práti-cas de seleção de fornecedores e empre-sas contratadas. Esses indicadores devem incluir, ainda, a formação dos funcionários e do pessoal de segurança em direitos huma-nos, abrangendo também a não-discrimina-ção, a liberdade de associação, o trabalho infantil, o trabalho forçado e escravo e os di-reitos dos indígenas, quando pertinente. Os aspectos sobre direitos humanos que foram levados em consideração para o estabele-

cimento de indicadores são: discriminação; abolição do trabalho infantil; prevenção de trabalho forçado e escravo e procedimentos de segurança.

Mais especificamente tem-se:

Discriminação: Número total de casos de discriminação e ações tomadas para sua abolição.

Abolição do Trabalho Infantil: Número de casos em que exista um risco significativo de ocorrência de trabalho infantil e medidas que contribuam para a sua eliminação.

Prevenção de Trabalho Forçado e Es-cravo: Número de casos em que exista um risco significativo de ocorrência de trabalho forçado ou escravo e medidas que contribu-am para a sua eliminação.

Procedimentos de Segurança: Percenta-gem do pessoal de segurança submetido à formação nas políticas ou procedimentos da empresa, relativos aos direitos humanos e que são relevantes para as operações.

3.1.3. Tema C: Sociedade

Os indicadores relativos à socieda-de estão focados nos impactos que o em-preendedor e a tipologia em construção e/ou construída, produzem nas comunidades em que atua e na divulgação da forma como os riscos, resultantes de sua interação com a sociedade, são gerenciados e mitigados. É importante determinar indicadores que forneçam informações sobre os riscos as-sociados ao suborno, à corrupção, à influ-ência indevida na elaboração de políticas públicas e nas práticas de monopólio. Neste sentido, os tópicos que devem ser aborda-dos para definição dos parâmetros de sus-tentabilidade no âmbito da sociedade são: comunidade; corrupção; políticas públicas e concorrência desleal (BORBA, 2009).

Estes indicadores seriam:

Comunidade e Usuários: Natureza, âmbi-to e eficácia de quaisquer programas e prá-ticas para avaliar e gerir os impactos das obras nas comunidades, incluindo no mo-mento da sua instalação, durante a opera-

BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.

Page 5: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

77Interciência & Sociedade

ção e na desmobilização.

Corrupção: Porcentagem de trabalhadores que tenham efetuado formação nas políti-cas e práticas anti-corrupção da empresa. Ainda, este indicador pode ser obtido pelas “Medidas tomadas em resposta a casos de corrupção”.

Políticas Públicas: Posições quanto a polí-ticas públicas e participação na elaboração de políticas públicas, bem como em grupos de pressão.

Concorrência Desleal: Número total de ações judiciais por concorrência desleal, práticas de monopólio, bem como os seus resultados.

3.1.4 Tema D: Responsabilidade

Os indicadores sociais referentes à responsabilidade estão relacionados es-sencialmente à responsabilidade pela qua-lidade do produto obtido e comercializado. Desta forma, os indicadores devem abor-dar os aspectos dos produtos e dos servi-ços decorrentes que afetam diretamente os consumidores finais, como: saúde e segu-rança, informações e rotulagem, marketing e privacidade. No que se refere à respon-sabilidade pelo produto e/ou serviço, os in-dicadores devem ser estabelecidos para os seguintes aspectos: saúde e segurança do consumidor; comunicações de marketing; privacidade quando pertinente.

Saúde e Segurança do Consumidor: Indi-car os ciclos de vida dos produtos e servi-ços em que os impactos de saúde e segu-rança são determinados, com a finalidade de promover melhorias contínuas.

Sub-tema: Comunicações de Marketing: Programas de observância das leis, normas e códigos voluntários relacionados com co-municações de marketing, incluindo publici-dade, promoção e patrocínio.

Privacidade do Cliente: Número total de reclamações registradas relativas à viola-ção da privacidade de clientes.

3. 2. Indicadores Econômicos

Projetos devem ter objetivos cla-ros; e quando estão em andamento, devem ser avaliados por indicadores operacionais, além dos de impacto, efetividade e desem-penho, para possíveis correções de sua rota.

Trabalhar “por projeto” é algo ex-tremamente pragmático, afinal, todo projeto é um empreendimento temporário (prazo finito), que envolve recursos (materiais, lo-gísticos, humanos, entre outros) e, por isso, exige orçamento prévio e gestão financei-ra dos investimentos realizados. Assim, em um determinado período, um produto ou serviço é gerado dentro de um orçamento definido.

Na área de projetos existem la-cunas que exigem ação imediata dos ad-ministradores e gerentes de projetos, com destaque para os indicadores de desem-penho. É evidente que antes de se iniciar um projeto se faz necessária uma avaliação de custo-benefício, a fim de tomar a deci-são de prosseguir ou interromper o projeto. Este conceito já está amplamente dissemi-nado no mercado e a grande maioria das empresas realiza isto com métodos criterio-sos e específicos. Em todo o projeto está implícita a idéia de risco. A noção de risco é diversa, e muda conforme o enquadramen-to que deu origem à metodologia de gestão de risco em causa. Em manuais publicados pela US Project Management Institute (PMI) encontra-se a seguinte definição de risco de projeto: evento ou condição incerta que, se ocorrer, terá um efeito positivo ou negativo sobre pelo menos um objetivo do projeto, como tempo, custo, âmbito ou qualidade – PMI, PMBOK Guide (2008). O tipo de risco e sua probabilidade de ocorrência ou o seu impacto sobre o projeto, variam ao longo do ciclo de vida do mesmo, sendo por isso necessário proceder-se à identificação dos riscos, em todas as suas fases.

A discussão que se segue é quan-to ao acompanhamento do projeto durante o ciclo de vida de uma edificação. Quando se efetua uma avaliação do projeto duran-te seu ciclo de vida através de indicadores (que não elimina as Revisões de Qualida-de) é possível tomar decisões para mudar o

Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações

Page 6: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

Interciência & Sociedade78

rumo do projeto ou mesmo para paralisá-lo, pois os indicadores mostram a situação atu-al e indicam tendências.

Na área de projetos, entre os indi-cadores, fala-se em CPI (Cost Performance Index) e SPI (Schedule Performance Index), que respectivamente representam: o índice de desempenho de custos em um projeto e o índice de desempenho de cronograma no projeto, com base na execução de ati-vidades e custos planejados/incorridos. Há, no entanto, quatro tipos de indicadores de projeto importantes que precisam ser vistos recorrentemente: de impacto, de efetivida-de, de desempenho e operacionais. Os de impacto medem o objetivo geral do projeto com resultados em longo prazo e sua con-tribuição para a organização; os indicado-res de efetividade medem os resultados dos objetivos propostos em um determinado pe-ríodo de tempo. Já os de desempenho evi-denciam se os resultados planejados foram alcançados citando-se o ROI - Return of Investment, (inclusive os tradicionais Valor Presente Líquido, Taxa Interna de Retorno e Payback), o CPI e o SPI obtidos ao final do projeto. Os indicadores operacionais de-vem funcionar como ferramentas de moni-toração dos projetos em seu dia-a-dia, so-bretudo quanto ao orçamento e cronograma – o CPI e o SPI se encaixam também neste item.

Se um indicador é uma medida quantitativa e se é possível estabelecer um padrão (valor esperado) para ele, então as possíveis variações determinam que algo está fora das condições de normalidade, exigindo do gerente de projetos avaliação da variação, análise dos agressores que causam as variações e elaboração/execu-ção de planos de ação para ajuste da rota. Por exemplo: o CPI e SPI têm como padrão de normalidade o número 1,0 (um). Qual-quer variação para cima indica que o proje-to está melhor que o planejado em termos de custos (CPI) ou em termos de prazos (SPI); porém, se abaixo de 1,0 indicam si-tuação adversa em uma ou em ambas as dimensões citadas.

Os indicadores indicam tendên-cias. Portanto, após a definição dos indica-dores, deve-se fazer a sua implementação estabelecendo plano de metas, definindo

percentuais ou quantitativos a serem atingi-dos em determinado período de tempo.

A Análise de Valor Agregado ou Earned Value Analysis (VARGAS, 2009) aproveita as fórmulas fundamentais de Valor Agregado — Budget at Competion (BAC), Custo Real, Valor Planejado e Valor Agregado — para determinar o desempe-nho do projeto, índices relativos de custo e cronograma. O valor agregado é parte do Controle de Custos grupo de processos do Custo de Gerenciamento de Projetos. As fórmulas de Valor Agregado de desempe-nho consistem em:

● Cost Performance Index (CPI) - Esta medida representa a quantidade de trabalho que está sendo realizado em um projeto para cada unidade de custo gasto. O CPI é calculado pela relação valor agregado (EV) e valor real gasto (AC), isto é, EV / AC. Um valor acima de 1 (um) significa que o projeto está se encaixando no orça-mento (MIGUEL, 2010).● Schedule Performance Index (SPI) - Este índice representa o quão próximo o trabalho real está sendo concluído quando comparado com a programação. O SPI é calculado pela relação Valor Agregado (EV) e Valor Planejado (PV), ou seja, EV/PV. Está se comparando o custo do que foi ganho com o que foi orçado. Um valor acima de 1 (um) significa que o projeto está em sintonia com o calendário proposto (MIGUEL, 2010).

Earned value management (EVM) é uma técnica de gestão de projeto para medir seu desempenho e seu progres-so de uma forma objetiva. EVM tem a ca-pacidade de combinar medidas de escopo, cronograma e custo em um único sistema integrado. As características essenciais de qualquer implantação de EVM incluem:

● Um plano do projeto que identifica o trabalho a ser completado;● Uma avaliação do trabalho plane-jado, chamado Planned Value (PV) ou Budgeted Cost of Work Schedu-

BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.

Page 7: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

79Interciência & Sociedade

led (BCWS); e● Predefinir “earning rules” (também chamado de métrica) para quanti-ficar o trabalho realizado, chama-do Earned Value (EV) ou Budgeted Cost of Work Performed (BCWP).

A implantação do EVM para gran-des e complexos projetos inclui caracterís-ticas adicionais, tais como indicadores e previsões da evolução dos custos e perfor-mance orçamentária. Entretanto, o requisito mais básico de um sistema EMV é que ele quantifica seu progresso utilizando PV e EV.

Existe um método prático de análi-se de investimento que é tempo de retorno o investimento realizado.

Tempo de retorno (Payback)

O tempo de retorno, também co-nhecido como Payback, é a relação entre o valor do investimento e o fluxo de caixa do projeto (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et al., 1999). O tempo de retorno indica em quanto tempo deve ocorrer a recuperação do investimento. Os pontos fracos desse método são: a) não considera o valor do di-nheiro no tempo; b) não considera os fluxos de caixa após a recuperação do capital; e c) não pode ser aplicado quando o fluxo de caixa não é convencional.

Quanto aos métodos analíticos, estes são precisos porque se baseiam no valor do dinheiro no tempo. O valor do di-nheiro no tempo para cada empresa é ex-presso por um parâmetro denominado Taxa Mínima de Atratividade. Essa taxa é especí-fica para cada empresa e representa a taxa de retorno que ela está disposta a aceitar em um investimento de risco (projeto em-presarial) para abrir mão de um retorno cer-to num investimento sem risco no mercado financeiro. Os métodos analíticos empre-gados em análise de investimentos são: o Valor Presente Líquido e a Taxa Interna de Retorno (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et al., 1999).

Valor Presente Líquido

O valor presente líquido (VPL) de um projeto de investimento é igual ao valor presente de suas entradas de caixa menos

o valor presente de suas saídas de caixa. Para cálculo do valor presente das entradas e saídas de caixa é utilizada a Taxa Mínima de Atratividade como taxa de desconto. Se o Valor Presente Líquido de um projeto de investimento for maior do que zero, signi-fica que o investimento é economicamente atrativo, pois o valor presente das entradas de caixa é maior do que o valor presente das saídas de caixa. Entre vários projetos, o mais atrativo é aquele que tem maior Valor Presente Líquido.

Taxa Interna de Retorno

A Taxa Interna de Retorno é a taxa de juros que torna o valor presente das en-tradas de caixa igual ao valor ao presente das saídas de caixa do projeto de investi-mento (VPL=0). A Taxa Interna de Retorno de um investimento pode ser maior ou me-nor do que a Taxa Mínima de Atratividade, significando que o investimento é, respec-tivamente, economicamente atrativo ou in-vestimento não é atrativo, este último sig-nificando que seu retorno é superado pelo retorno de um investimento sem risco.

3.2.1. Dificuldades na análise de investi-mentos

A principal dificuldade na análise de investimentos é a obtenção de dados confiáveis, principalmente as projeções de entradas de caixa. Estas se originam basicamente das estimativas das recei-tas. Quando estas são imprecisas, é reco-mendável que a análise de investimentos utilize três hipóteses: provável, otimista e pessimista. Desse modo, a análise de in-vestimentos produzirá uma Taxa Interna de Retorno ou Valor Presente Líquido máximo, médio e mínimo esperados. A metodologia de análise de investimentos apresentada, na qual os dados são considerados como certos, é denominada determinística. A taxa interna de retorno e o valor presente líquido podem ser enriquecidos com técnicas mais sofisticadas (árvore de decisão, análise de Monte Carlo, etc.) para lidar com o risco e a incerteza relacionados com os dados do projeto.

Cabe agora, analisar uma medida

Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações

Page 8: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

Interciência & Sociedade80

de desempenho usada para avaliar a efi-ciência de um investimento: o retorno so-bre investimento ou Return On Investment – ROI (ROSS et al., 2002 e BRIGHAM et al., 1999). Este índice é obtido pelo quo-ciente entre os benefícios (retornos) de um investimento e o custo desse investimento; o resultado é expresso (em percentagem). Trata-se, assim, da relação entre o dinhei-ro ganho ou perdido através de um investi-mento, e o montante de dinheiro investido.

Existem três formulações possíveis de taxa de retorno: retorno efetivo, retorno exigido e retorno previsto.

a) O retorno efetivo serve como medida de avaliação do desempenho de um investimento, aferido a posteriori. O retorno previsto serve como medida ex ante do de-sempenho de um investimento; é a sua taxa implícita ou interna de retorno, aquela que iguala o valor do investimento ao seu preço ou custo.

b) A taxa de retorno exigida é a que permite determinar o valor de um investi-mento. De fato, o valor de um investimento é o equivalente atualizado dos seus cash--flows futuros, pela taxa de retorno exigida. A ideia é que qualquer investimento deve proporcionar uma taxa de retorno igual a uma taxa sem risco acrescida de um prêmio de risco função do grau de incerteza que afeta os cash-flows futuros do investimento.

c) A taxa de retorno prevista é fun-ção do preço (ou custo) do investimento e do fluxo de cash-flows futuros atribuíveis ao investimento. Sendo incertos estes cash--flows, resulta que a taxa de retorno previs-ta é também incerta, apresentando-se como uma variável aleatória. Este fato representa o risco do projeto, que deve ser estimado para ser estipulado o prêmio de risco a in-cluir na taxa de retorno exigida.

Portanto, o índice ROI = Lucro Lí-quido / Investimentos representa o retor-no que determinado investimento oferece, e geralmente é utilizado para determinar o retorno de investimentos isolados. Inverten-do-se a relação (ROI = Investimento / Lu-cro Líquido), obtém-se o tempo necessário para se reaver o capital investido.

Finalizando, cabe um alerta. O Re-

torno Sobre o Investimento, não é apenas um percentual, mas sim a compreensão to-tal dos custos e benefícios associados ao desenvolvimento de uma tecnologia. Uma análise de ROI é tão boa quando sua su-posição ou dado mais inconsistente. Para se ter confiança em um cálculo, a organi-zação precisa não apenas de um número, mas sim de uma completa explanação das suposições e cálculos utilizados para obter esse índice.

3.2.2. Produtividade: a chave para a com-petitividade das empresas

Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx utilizaram a palavra produtividade, sempre em relação ao trabalho e sua divi-são, e consequente ao rendimento. Na Re-volução Industrial, a noção de produtividade teve mais campo para se difundir, por meio das substituições das ferramentas manuais por máquinas, da mecanização da agricul-tura e do advento da produção em massa, iniciada na Inglaterra em 1760 e desenvolvi-da nos Estados Unidos, Alemanha, França, fazendo com que essa noção passasse a significar bem-estar individual e social.

Pode-se definir produtividade (TO-LEDO JR, 2004) como sendo a relação entre produto gerado por homem-hora. Formalmente, a produtividade do trabalho corresponde à quantidade de trabalho ne-cessária para produzir uma unidade de um determinado bem.

O crescimento da produtividade depende da qualidade do capital físico, da melhoria das competências da mão-de--obra, dos progressos tecnológicos e de no-vas formas de organização. O crescimento da produtividade é a principal fonte de cres-cimento econômico.

Uma força de trabalho bem forma-da desempenha um papel fundamental no crescimento da produtividade. A sua quali-dade é baseada na educação, na formação e na aprendizagem ao longo da vida.

Conceito amplo de produtividade

Para Ribeiro e Camargo (1994), a elaboração e aplicação de conceito de me-didas de desempenho são fundamentais

BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.

Page 9: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

81Interciência & Sociedade

para o desenho de um programa de produ-tividade que seja eficaz na proposta de con-duzir ao melhor gerenciamento. Deve-se começar com conceitos importantes:

- insumos – os recursos com os quais se trabalha; - processo (atividade) – como se tra-balham os insumos; - produto – o que é produzido; e - resultados – o impacto produzido.

Podem ser citados três critérios básicos de mensuração e avaliação do de-sempenho de uma organização: eficiência, eficácia e efetividade.

a) Eficiência – é uma medida mais quantitativa que qualitativa. Trata-se da ra-zão entre o custo dos insumos e o valor dos produtos.

Eficiência significa fazer uma tare-fa ou atividade com o menor custo possível, realizando-a da forma mais econômica. Efi-ciência está associada à noção de poupar. Daft (2005) define eficiência como “o uso de recursos mínimos - matérias-primas, di-nheiro e pessoas - para produzir um volume desejado de produção”.

b) Eficácia – este conceito rela-ciona-se diretamente com objetivos e me-tas de produção, ou seja, trata-se da razão entre os produtos/serviços produzidos e as metas colocadas anteriormente.

Eficácia, segundo o mesmo autor, é “O grau em que a organização alcança uma meta declarada”. Eficácia tem que ver, assim, com o nível ou grau em que se al-cança uma meta ou resultado. Por exem-plo, se ao programar pavimentar 10 km de estrada e conseguir apenas 9 km, a eficácia foi de 90%.

c) Efetividade – trata-se do “grau de satisfação das necessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços pres-tados pela instituição” (TOLEDO JR, 2004). Este conceito envolve, portanto, a noção de qualidade.

Efetividade relaciona-se com grau em que os resultados alcançados dão res-posta ao problema para cuja resolução se programou e executou uma determinada

ação. Por exemplo, se uma empresa quer apoiar socialmente os seus trabalhadores, pode abrir linhas de crédito bonificado para a aquisição da casa própria, veículo auto-motivo ou custear despesas médicas. Os trabalhadores normalmente têm seus pe-didos atendidos (eficácia plena, quanto ao objetivo “conceder empréstimos bonifica-dos”). Contudo, se os pedidos forem atendi-dos com muita morosidade, levando meses para se concretizar, pode representar perda de oportunidades de compra pelo trabalha-dor, pois assumiram o compromisso de re-servar o bem, muitas vezes mediante cau-ção. Nestas condições, o trabalhador chega muitas vezes a perder o “sinal” ou a ter que se endividar para satisfazer suas necessi-dades. No final, o objetivo principal da em-presa que era o de criar facilidades sociais para melhorar a qualidade de vida dos tra-balhadores, não é alcançado, pois não re-solve o problema para o qual foi executada, não atingindo a efetividade.

Para o nível estratégico, tem-se o foco na conquista da eficácia, que é uma medida do alcance dos resultados, ficando o critério da eficiência mais ligado ao nível operacional, com a utilização dos recursos disponíveis no processo. (LOBATO, 1997).

Um problema comum quando se pensa em programas de produtividade, é decidir o que mensurar: os insumos, o pro-cesso ou atividade, o produto ou o resulta-do. Esta decisão depende do que se deseja ou do que é mais fácil; a facilidade da men-suração está diretamente relacionada à na-tureza do serviço.

Após a determinação do nível de produtividade (mensuração), sugere-se o uso de outros métodos que eliminem o tra-balho desnecessário ou o “retrabalho”. De-ve-se pensar em técnicas de simplificação do trabalho, análise de valor, brainstorming (tempestade de idéias), análise organizacio-nal, determinação de missão, levantamento dos métodos e procedimentos correntes, ou seja, qualquer procedimento e metodo-logia que possa melhorar a medida atual de produtividade. A implantação prática da participação dos funcionários é imprescindí-vel para a viabilidade da implementação de programas de produtividade.

A sensibilização do empregado

Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações

Page 10: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

Interciência & Sociedade82

para os conceitos de produtividade e efe-tividade é obtida por meio da implementa-ção de mecanismos de cooperação entre a administração estratégica e o empregado, que permite a participação dos funcionários na tomada de decisão sobre seu trabalho e resultados.

A questão da motivação dos fun-cionários e integração no processo deci-sório torna-se particularmente importante quando se deseja reter mão-de-obra quali-ficada, motivar o desenvolvimento e melho-rar a qualidade dos serviços prestados.

Devido à facilidade de se medir a performance da mão-de-obra utilizada no processo produtivo, em número de homens/hora ou simplesmente número de funcioná-rios, a produtividade da mão-de-obra é o indicador mais usado. Por outro lado, quan-do o denominador é uma combinação de mão-de-obra e capital, tem-se a chamada produtividade total dos fatores, indicador menos encontrado justamente pelas difi-culdades em agregar insumos de natureza diferente.

É difícil estabelecer regras rígidas para o cálculo de índices de produtividade, dada a riqueza e a diversidade das ativida-des de serviços, pois cada empresa possui suas particularidades.

Na construção de um índice de produtividade, as principais decisões a se-rem tomadas são as seguintes: a) objetivo do índice; b) periodicidade; c) abrangência; d) medida de produção a utilizar; e) medida dos insumos.

Cada uma dessas decisões envol-ve problemas próprios que acabam fazendo com que uma interfira sobre as outras. Na prática, será preciso que todas sejam anali-sadas ao mesmo tempo.

Conceito restrito ou básico da produtivi-dade

A definição técnica de produtivida-de é um conceito simples. É definida como a relação entre os recursos empregados e os resultados obtidos.

A produtividade pode ser definida como a otimização do uso dos recursos em-pregados (inputs) para a maximização dos

resultados desejados (outputs). Isto signifi-ca que, no processo de transformação dos recursos, o valor agregado aos produtos e serviços resultantes deve levar ao cresci-mento e ao desenvolvimento da riqueza da organização.

Para Falconi (1999), output é o que a empresa produz, e input é o que ela con-some, ou seja: produtividade é o quociente entre valor produzido e valor consumido. Os valores produzido e consumido podem ser substituídos por qualidade e custos, respec-tivamente.

A idéia de produtividade pode ser encarada sob os seguintes aspectos: técni-ca ou física; econômica; produtividade so-cial; e do trabalho, descritas a seguir.

Entende-se por Produtividade Técnica ou Física quando tanto a produção como os recursos são expressos em unida-des físicas (quantidades), que se apresenta como o resultado de uma fração cujo nu-merador indica determinada quantidade de produção (computada em volume, peso ou unidade) e cujo denominador indica, englo-badamente, os fatores arregimentados para obter a produção em causa (equipamentos, energia, trabalho, direção, etc.).

Produtividade Econômica refere--se à rentabilidade da empresa, definida como a relação entre lucro auferido e capi-tal empregado, ou a qualquer relação que utilize valor e não quantidade. Permite um conhecimento mais profundo da estrutura da economia, sendo indispensável aos efei-tos de uma política econômica e social.

Produtividade Social é indicada pelo grau de utilidade que a empresa de-senvolve em seu ambiente. É o grau de economicidade de uma empresa.

Produtividade do Trabalho é a noção mais usual de produtividade. Trata--se do quociente da produção pelo qual essa produção foi obtida. Esta relação re-veste-se de significado científico quando se precisam, por um lado, a natureza e as condições técnicas da produção e, de outro, os elementos contidos no cálculo do deno-minador.

Existem fatores de incremento da produtividade, apesar das diferenças exis-tentes entre as economias desenvolvidas

BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.

Page 11: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

83Interciência & Sociedade

e aquelas em desenvolvimento, que propi-ciam incremento na produtividade, de forma global e particular, tais como: ciência e tec-nologia; sistema educacional; capital; mão--de-obra; motivações.

Produtividade na Terceirização dos Ser-viços de Manutenção

O empreendimento deve possuir um Sistema Gerencial de Manutenção que discrimina todos os serviços, englobando serviços produtivos e serviços improdutivos.

Os serviços tratados como produ-tivos são aqueles relacionados com ativida-des de manutenção (de eletricidade, redes de água e esgoto, etc.) tais como: conser-tar, substituir, remanejar componentes do sistema operacional; substituir, instalar, remanejar, retirar equipamentos; verificar a qualidade da água e iluminação, dentre outros serviços.

Os serviços improdutivos podem ser discriminados por tipo: acidente de tra-balho; aguardando instruções; aguardando liberação de alvará; área critica de abaste-cimento; atendimento de emergência; can-celamento de serviço por erro de digitação; cancelamento do serviço por entrada do pa-gamento; cancelamento do serviço a pedido do cliente; defeito no veículo; deslocamen-to; equipe inadequada para o serviço; espe-ra por material ou equipamento; impossibili-dade de acesso; informação incompleta ou incorreta; nada constatado como anormal; serviços não executados por falta de mate-rial, falta de equipe, equipamento ou veícu-lo; cliente não permitiu executar o serviço.

Como visto, a produtividade é a relação do total de trabalho realizado pelo número total de empregados para sua reali-zação. Porém, a dificuldade é de como me-dir a produtividade, numa área de manuten-ção na qual a mão-de-obra está totalmente terceirizada. Neste caso, um indicador de produtividade que pode ser usado trata da relação do número de atividades realizadas (completas ou parciais), pelo número de empregados da empresa (efetivos e afasta-dos) mais os empregados contratados.

Com referência ao número de em-

pregados da empresa, entende-se como efetivos os empregados em plenas funções de suas atividades, e entre os empregados afastados estão incluídos: por invalidez, auxílio-doença, acidente de trabalho, ma-ternidade e outros. Os contratados são em-pregados administrativos e operacionais, (terceirizados) e empregados da Prefeitura Municipal (ou setor privado) à disposição da empresa. Normalmente não incluí no indi-cador de produtividade os empregados de empreiteiras, que executam serviços opera-cionais na área e estagiários.

O que leva à produtividade é o au-mento da produção com os mesmos cus-tos fixos permitindo à empresa conquistar novos mercados. Assim, o indicador de pro-dutividade de uma Unidade de Manutenção poderá estar relacionado em número total de serviço realizado pelo total de despesas desta.

A produtividade em alguns setores envolve conceito amplo e prático da quali-dade dos serviços. Trata-se da efetividade, que é “grau de satisfação das necessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados”.

Como lembrete, tratar a eficácia somente na redução de despesas pode tornar-se algo prejudicial, porém tratar a eficácia como aumento do número de ope-rações, pode estar relacionado diretamente com objetivos e metas da empresa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para efeito de demonstração e alavancar a incipiente e frágil política públi-ca, visando a sustentabilidade no setor da construção civil do Brasil, a determinação de indicadores de sustentabilidade para o setor é um objetivo a perseguir. Por outro lado, faz-se necessário salientar que é co-mum haver certa confusão entre os temas sustentabilidade e certificações. Este pro-jeto poderá ajudar a minimizar este erro interpretativo, na medida em que esforços estão concentrados no estabelecimento de uma metodologia nacional para o estabele-cimento de indicadores de sustentabilidade para vários tipos de tipologias.

Marco regulatório e o estabelecimento de indicadores com foco em requisitos socioeconômicos para o retrofit de edificações

Page 12: MARCO REGULATÓRIO E O ESTABELECIMENTO DE …€¦ · Interciência 74 & Sociedade desempenho setorial e tomada de decisão de novos investimentos. 2. Objetivo Este estudo avalia

Interciência & Sociedade84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORBA, A.E.O., Proposta de indicadores de sus-tentabilidade para o setor da construção civil, En-genharia Civil da Escola Politécnica de Pernambuco da Universidade de Pernambuco, 2009 (dissertação Mestrado),135 pp.

BRIGHAM, Eugene; GAPENSKY, Louis C.; EHRHAR-DT, Michael C. Administração Financeira – Teoria e Prática, São Paulo: Ed. Atlas 2001.DAFT, Richard. L. Administração. São Paulo: Pionei-ra Thomson Learning, 2005.

JANNUZZI, P.M., Indicadores sociais do Brasil, Campinas-SP: Ed. Alénea, 2009.

LOBATO, D. M. Administração Estratégica: Uma visão orientada para a busca de Vantagens Competi-tivas. Rio de Janeiro: Papéis e Cópias, 1997.

MIGUEL, Antonio. Gestão Moderna de Projectos (4

ed.). Portugal: Editora FCA, 2010.

PMBOK Guide Fourth Edition (2008) do Project Mana-gement Institute (PMI), Filadélfia, Pensilvânia, EUA.

RIBEIRO, C.A.C. e CAMARGO, C.G. Programas de produtividade no setor público: uma discussão acerca de alguns elementos básicos. Revista Indica-dores da Qualidade e Produtividade [do IPEA], Brasí-lia, v. 2, n. 1, jun. 1994, p. 67-78.

ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph W., JAFFE, Jeffrey J. Administração Financeira - Cor-porate Finance. Atlas, 2002.

TOLEDO JR., Itys-Fides Bueno de. Produção, Pro-dutividade e Eficiência (8 ed.). São Paulo: Ed. Itys Fides, 2004.

VARGAS, Ricardo. Análise de Valor Agregado em Projetos (4 ed.). Rio de Janeiro: Brasport, 2009.

Mauro Donizeti Berni é engenheiro de produção pela Universidade Federal de São Carlos. É mestre e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. Atualmente é pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE da Unicamp.

Antonio Carlos Delgado é engenheiro elétrico e sócio proprietário da empresa de consultoria IYO Soluções Sus-tentáveis Ltda.

Odail Pagliardi é bacharel em economia e também em matemática, ambas as graduações realizadas na Univer-sidade Estadual de Campinas – UNICAMP. É mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e Doutor pela Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, com enfoque em mercados futuros de produtos agrícolas. Atualmente é vice-diretor da Faculdade municipal Professor Franco Montoro e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp.

BERNI, M. D.; DELGADO, A. C.; PAGLIARDI, O.

Os autores agradecem o suporte financeiro da Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e da Agência Nacio-nal de Energia Elétrica – ANEEL no desenvolvimento do projeto Green Building.