“marcharemos atÉ que todas sejamos livres”: uma anÁlise da ... · escravidão e foram as...

13
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA MARCHA DAS VADIAS RECIFE Marília Nascimento 1 Juliana Trevas 2 Resumo: Desde 2011, a Marcha das Vadias leva milhares de mulheres a ocuparem as ruas de diversas cidades brasileiras. É inegável a importância alcançada pela Marcha. Sua capacidade de mobilização e o uso das novas tecnologias de comunicação são pontos essenciais para sua existência. Entretanto, é a visibilidade das pautas feministas, cujo tema central é a luta pela não culpabilização da vítima e pelo fim da cultura do estupro, responsável pela grande participação de mulheres. A primeira Marcha das Vadias em Recife aconteceu em 2011. De lá para cá, diferentes características são observadas. No seu primeiro ano, mulheres brancas, universitárias e de classe média predominavam assim como uma enorme presença de homens era percebida. Todavia, ao longo dos anos, o perfil das participantes da Marcha das Vadias - Recife foi se alterando. Ao mesmo tempo que o grupo que a organizava passou por mudanças referentes à necessidade de ampliar sua agenda de ação política coletiva, consolidando-se enquanto coletivo feminista autônomo, autogestionado, horizontal, antirracista, antissexista, antiproibicionista e anticapitalista. Refletindo sobre essas questões, este artigo busca compreender os principais fatores que influenciaram este processo de resistência e continuidade no qual a Marcha das Vadias - Recife está inserida. A fim de alcançar esse objetivo, valemo-nos de nossas próprias experiências como integrantes do Coletivo Marcha das Vadias Recife além dos questionários respondidos por outras integrantes. Palavras-chave: movimentos feministas, Marcha das Vadias, organização coletiva 1. Em movimento e ação Movimento, união e resistência são palavras-práticas que acompanham as mulheres há muito tempo na história da sociedade. Elas se dão as mãos para resistir, reivindicar direitos e melhor viver. As mulheres negras lutaram para se libertar das correntes e dos açoites da escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As mulheres brancas, burguesas e proletárias lutaram pelo direito ao voto, à educação e por melhores condições de trabalho (Perrot, 2006, Wollenstonecraft, 1977). As mulheres camponesas e indígenas lutaram e ainda lutam pelo direito à terra. As mulheres em todas as suas especificidades e marcadores sociais reivindicaram o direito a ter uma vida digna e justa. Igualmente fizeram as mulheres canadenses quando foram às ruas reivindicar o direito de não 1 Integrante do Coletivo Marcha das Vadias Recife, Mestranda em Sociologia/UFPE, Recife-Brasil. 2 Integrante do Coletivo Marcha das Vadias Recife, Doutoranda em Sociologia/UFPE, Recife-Brasil.

Upload: vuongminh

Post on 10-Feb-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

1

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

“MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA

MARCHA DAS VADIAS RECIFE

Marília Nascimento1

Juliana Trevas2

Resumo: Desde 2011, a Marcha das Vadias leva milhares de mulheres a ocuparem as ruas de

diversas cidades brasileiras. É inegável a importância alcançada pela Marcha. Sua capacidade

de mobilização e o uso das novas tecnologias de comunicação são pontos essenciais para sua

existência. Entretanto, é a visibilidade das pautas feministas, cujo tema central é a luta pela

não culpabilização da vítima e pelo fim da cultura do estupro, responsável pela grande

participação de mulheres. A primeira Marcha das Vadias em Recife aconteceu em 2011. De lá

para cá, diferentes características são observadas. No seu primeiro ano, mulheres brancas,

universitárias e de classe média predominavam assim como uma enorme presença de homens

era percebida. Todavia, ao longo dos anos, o perfil das participantes da Marcha das Vadias -

Recife foi se alterando. Ao mesmo tempo que o grupo que a organizava passou por mudanças

referentes à necessidade de ampliar sua agenda de ação política coletiva, consolidando-se

enquanto coletivo feminista autônomo, autogestionado, horizontal, antirracista, antissexista,

antiproibicionista e anticapitalista. Refletindo sobre essas questões, este artigo busca

compreender os principais fatores que influenciaram este processo de resistência e

continuidade no qual a Marcha das Vadias - Recife está inserida. A fim de alcançar esse

objetivo, valemo-nos de nossas próprias experiências como integrantes do Coletivo Marcha

das Vadias Recife além dos questionários respondidos por outras integrantes.

Palavras-chave: movimentos feministas, Marcha das Vadias, organização coletiva

1. Em movimento e ação

Movimento, união e resistência são palavras-práticas que acompanham as mulheres há

muito tempo na história da sociedade. Elas se dão as mãos para resistir, reivindicar direitos e

melhor viver. As mulheres negras lutaram para se libertar das correntes e dos açoites da

escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As

mulheres brancas, burguesas e proletárias lutaram pelo direito ao voto, à educação e por

melhores condições de trabalho (Perrot, 2006, Wollenstonecraft, 1977). As mulheres

camponesas e indígenas lutaram e ainda lutam pelo direito à terra. As mulheres em todas as

suas especificidades e marcadores sociais reivindicaram o direito a ter uma vida digna e justa.

Igualmente fizeram as mulheres canadenses quando foram às ruas reivindicar o direito de não

1 Integrante do Coletivo Marcha das Vadias Recife, Mestranda em Sociologia/UFPE, Recife-Brasil. 2 Integrante do Coletivo Marcha das Vadias Recife, Doutoranda em Sociologia/UFPE, Recife-Brasil.

Page 2: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

2

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

serem culpabilizadas por serem estupradas.

No início de 2011, no Canadá, aconteceram diversos casos de estupro contra as

mulheres dentro do campus da Universidade de Toronto. Em resposta a esse contexto

violento, um policial, numa palestra de segurança, falou que: “as mulheres evitassem se vestir

como vadias (sluts, no inglês original), para não serem vítimas de estupro”. A partir dessa

fala, que representa um discurso forte de culpabilização da vítima em casos de crime, ocorreu,

um protesto em abril3, deste mesmo ano, que levou milhares de pessoas às ruas contra o

machismo, a cultura do estupro e a culpabilização das vítimas, em casos de violência sexual,

devido a suas roupas e comportamentos. Esse movimento rompeu as barreiras geográficas

rapidamente devido à capacidade difusora das redes sociais e pela legitimidade de suas

pautas, expandiu-se por várias cidades do mundo.

Em Recife, há sete anos, a Marcha das Vadias4 convoca milhares de mulheres a

ocuparem as ruas, dando visibilidade a diversas pautas do movimento feminista. A Marcha

atrai em sua maioria mulheres jovens que estão tendo o primeiro contato com o feminismo e

assume um importante papel no calendário nas lutas sociais no estado de Pernambuco. De

2011 até os dias atuais, diferentes características são observadas no que se refere ao perfil5 das

participantes. Nos primeiros anos, mulheres jovens, brancas, universitárias e de classe média

predominavam assim como uma enorme presença de homens era percebida. Todavia, ao

longo dos anos, tanto o perfil das participantes quanto o grupo que a organizava passou por

mudanças relacionadas às necessidades de ampliar sua agenda de ação política coletiva,

consolidando-se enquanto um coletivo feminista autônomo, autogestionado, horizontal,

antirracista, antissexista, antiproibicionista e anticapitalista. Refletindo, portanto, sobre essas

questões, este artigo busca compreender os principais fatores que influenciaram este processo

de resistência e continuidade no qual a Marcha das Vadias - Recife está inserida.

Nesse sentido e a fim de alcançar esse objetivo, trabalhamos metodologicamente com a

pesquisa qualitativa, que nos ajudou a identificar variáveis não palpáveis, como valores,

3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_das_Vadias 4 A Marcha das Vadias Recife não tem articulação com outras Marchas que ocorrem no Brasil ou no mundo. A

sua realização é feita por um grupo de mulheres que se organizam localmente. Suas origens têm um mote em

comum, mas seus processos de organização, datas e decisões são independentes. 5 O perfil das pessoas participantes da Marcha das Vadias Recife foi construído a partir da análise das notícias do

site do G1 Pernambuco, que foi o veículo que desde 2011 notícia esse protesto, com exceção dos anos de 2015.

E a partir da análise das fotos que registraram esses sete anos de Marcha.

Page 3: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

3

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

significados e crenças desse fenômeno social. Bem como, coloca-nos num lugar de contato

direto com as pessoas, lugares e processos. (Lage, 2013). Segundo Silva (2016), faz-se

necessário, para se entender as identidades coletivas, que se busque compreender “as relações

interpessoais e o investimento emocional das pessoas participantes dos movimentos, uma vez

que interpretar as mobilizações apenas a partir da racionalidade é insuficiente (Silva, 2016, p.

44) ” . Desta forma, na coleta de dados foram utilizados questionários com integrantes do

atual coletivo da Marcha das Vadias Recife.

Segundo Ávila (2007), Rago (1998) e Olesen (2006), as mulheres devem construir

teorias feministas sobre e para as mulheres. Por isso, como integrantes do coletivo Marcha

das Vadias Recife, reafirmamos a importância da realização deste trabalho porque a história

deve ser contada pelas pessoas que a produzem e devem refletir suas práticas e lutas diárias. A

relevância de nós mulheres escrevermos sobre nossas próprias experiências e produzirmos

conhecimento científico sobre nossas vivências políticas é também um ato emancipatório e de

resistência. É “ser-para-si”, como diz Lagarde (1996). Ser protagonista, principalmente, nos

processos de auto-organização e ações coletivas de grupos considerados menos tradicionais

como a Marcha das Vadias Recife é também proporcionar visibilidade às nossas lutas

cotidianas contra esta sociedade sexista, misógina, racista e lgbtfóbica.

Este artigo também é um instrumento para fortalecer o movimento feminista e

contribuir para uma reflexão coletiva sobre nossa luta, representando uma ruptura na

concentração de produção científica sobre a Marcha das Vadias no eixo sul-sudeste do

país6. Organizamos-o em três partes: 1) discussão teórica sobre a Marcha das Vadias como

um movimento social, 2) análises realizadas com base nos questionários e 3) reflexão sobre os

achados dessa pesquisa e os desafios que se colocam a partir deles.

2. Marcha das Vadias Recife: a história de um movimento social

Muitas perguntas são feitas até hoje em torno da Marcha das Vadias Recife. É um

6 Dado que num levantamento bibliográfico realizado por meio da plataforma digital do Google, encontramos

vários artigos - Rassi (2012), Helene (2013),Ferreira (2013) , Chaves (2013), Galetti (2014), Gomes (2014),

Valente e Marciniki (2014), Martini e Puhl (2015), Oliveira (2015) - que falam sobre a Marcha das Vadias que

abordam temas como corpo da mulher e cidade, mídia digital e a análise do discurso das frases ditas pelas

mulheres nas Marchas das Vadias no Brasil. Entretanto nenhum dos artigos falavam especificamente sobre a

Marcha das Vadias Recife, alguns, apenas mencionaram a existência.

Page 4: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

4

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

protesto legítimo? É um movimento social? É feminista? É efêmero? Antes de adentramos

para as questões teóricas, pensamos em fazer um breve resgate histórico. Acreditamos que é

possível analisar a Marcha das Vadias Recife em três momentos: 1) momento inicial 2)

momento transição 3) momento de consolidação.

Inicialmente7, a Marcha foi organizada por um homem, chamado Jesus Tricolor, que

criou o evento no facebook convidando as pessoas para a primeira Marcha que ocorreu em

2011. Contudo, as mulheres se apropriaram da organização do protesto, afastando esse

personagem dos holofotes. Essas mulheres se consideravam feministas, mas na época não

estavam organizadas coletivamente entre si e nem em outros coletivos. Em 2012, esse grupo

de mulheres permaneceu o mesmo e foi afinando as propostas e as ideias em relação a

realização da Marcha. Em 2013, momento que estamos chamando de transição, esse grupo

decidiu se coletivizar e criar uma carta manifesto além de propor debates preparatórios para

dialogar com a população sobre o que era Marcha e quais suas propostas. Em 2014, esse

grupo começou a se alterar. Algumas mulheres saíram, outras entraram. Foi um momento de

incertezas e dificuldades, apenas três integrantes permaneceram no coletivo ao longo deste

ano. Em 2015, começou-se a sentir a necessidade de fazer mais, de ampliar as ações para além

dos debates preparatórios. De fato, pensou-se em se fortalecer enquanto coletivo, pensando na

formação política para afinar os pensamentos e posicionamentos políticos do coletivo. Em

2015, a convite de algumas integrantes, outras mulheres entraram no “coletivo” para

organizar a Marcha de 2015 e deu-se início uma tentativa de consolidação desse coletivo.

Neste mesmo ano, um fato foi determinante para que essa consolidação fosse colocada em

prática. No decorrer do Ato da Marcha na Avenida Conde da Boa Vista, as mulheres sofreram

ataques machistas violentos, resultando em pessoas feridas. A partir desse acontecimento,

deu-se início a um processo de reflexão das ações, das falhas e das ausências presentes na

prática política do coletivo. Em abril de 2016, aconteceu a primeira formação política na qual

diversas problemáticas foram abordadas, tais como: anticapitalismo; horizontalidade;

autogestão; luta antirracista; antiproibicionista; abolicionista e a luta antissexista.

Essa formação política tinha como objetivo não só alinhar as pautas políticas que o

7 O resgaste histórico da realização da Marcha das Vadias no Recife e o processo de criação e consolidação do

coletivo que a organiza foi feito com base nas conversas informais com outras integrantes, nas nossas

experiências e memórias como integrantes deste coletivo. E também através das análises de notícias do site do

g1 em Pernambuco e das fotos que registram esses 7 anos de Marcha das Vadias Recife.

Page 5: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

5

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

coletivo apoiava, mas também propiciar um espaço político no qual as mulheres que

acreditavam nessas pautas pudessem também construir o coletivo. O resultado foi que o

coletivo cresceu de cinco para dezoito mulheres. E o ano de 2016 foi de consolidação.

Construímos várias ações (panfletaço, cine debates nas escolas ocupadas na região

metropolitana de Recife, rodas de diálogos, debates preparatórios), ajudamos a organizar os

atos unitários8 do Oito de março, 28 de setembro, jornada de enfrentamento ao racismo,

contribuímos com o registro do evento Cores Femininas9 assim como de rodas de diálogo,

bem como participamos ativamente dos processos organizativos do Ocupe Passarinho10,

oferecendo oficina de produção de zine para as crianças e adolescentes da comunidade.

Diante da breve história da Marcha das Vadias Recife, de suas transformações e das

atividades realizadas, utilizamos a teoria dos movimentos sociais para analisar nossa

construção e movimentações. Tarrow (2009) define os movimentos sociais quando indivíduos

conseguem se utilizar de oportunidades políticas e repertórios de ação por meio das redes

sociais e recorrem a objetivos comuns para orientar a ação contra seus opositores. Assim

quando há: “(...)desafios coletivos baseados em objetivos comuns e solidariedade social

numa interação sustentada com as elites, opositores e autoridade” (Tarrow, 2009, p.21) forma-

se uma identidade coletiva que é construída em prol de objetivos e interesses comuns. Desta

forma, segundo Tarrow, para ser um movimento social é preciso ter um objetivo comum, ou

seja, um motivo que agregue pessoas contra algo ou alguém (cultural, legislativo, institucional

ou contexto). Contudo, este autor afirma que o ponto presente na maioria dos movimentos

sociais é o interesse. É justamente o fato dos participantes reconhecerem os interesses comuns

e construírem um sentimento de solidariedade ou identidade em torno deles. Tarrow afirma

que só é movimento social quando a ação coletiva é sustentada, isto é, quando deixa de ser

apenas um episódio de confronto. Percebe-se, portanto, um elemento importante referente à

8 Os atos unitários são reconhecidos historicamente pela sociedade pernambucana por serem organizados por

movimentos de mulheres e feministas já consolidados na cena feminista há décadas, como o Fórum de Mulheres

de Pernambuco. 9 O Cores Femininas surgiu do movimento das mulheres grafiteiras e artistas que formam o Cores do Amanhã,

uma ONG que atua no bairro do Curado próximo ao complexo prisional Aníbal Bruno. As mulheres sentiram a

necessidade de terem seus espaços e realizam este evento há seis anos, contando com a participação de mulheres

de vários estados e países latinos. 10 Ocupe Passarinho é uma ação coletiva realizada pelo grupo Espaço Mulher de Passarinho (bairro periférico do

Recife) em parceria com outros movimentos, coletivos e organizações de mulheres e feministas. O Espaço

Mulher é um grupo de mulheres feministas populares existe desde década de 1990 e que se organiza também

dentro do Fórum de Mulheres de Pernambuco - FMPE.

Page 6: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

6

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

duração temporal. A identidade coletiva é formada e passa a existir de forma mais contínua

para seus integrantes.

De acordo com essa definição e inserindo novos elementos, Gohn (2011), argumenta

que para ser um movimento social é preciso possuir um caráter sócio, político e cultural que

organiza e expressa suas demandas por meio de diversos tipos de estratégias. E deve também

dispor das seguintes características específicas: ter uma identidade, ter um opositor, articulam

e fundamentam-se em um projeto de vida e de sociedade, organizam e conscientizam a

sociedade, apresentam conjuntos de demandas via práticas de pressão e mobilização. São

contínuos e permanentes, não surgem apenas por reação, mas também por meio de uma

reflexão da sua própria experiência. Ademais, segundo Alonso (2009), o movimento feminista

está inserido dentro dos novos movimentos sociais, defendendo novas formas de participação,

gestão e articulação. Estaria, por isso, afastado das influências dos partidos políticos,

voltando-se assim para a “afirmação de identidades e para a preservação da autonomia”

(Alonso, 2009, p.63).

Silva e Camurça (2010) também afirmam que o feminismo está inserido dentro do

campo dos movimentos sociais. Contudo, elas demarcam que o feminismo está aliado a um

caráter democrático e popular, ou seja, está preocupado com as transformações sociais,

baseando-se em articulações com outros movimentos sociais do mesmo campo político com

intuito de fortalecer sua característica autônoma e seu projeto político de sociedade. Desta

forma, percebe-se que as pautas não são fixas e adequam-se ao contexto de cada sociedade.

As pautas trazidas pelos movimentos feministas são diversas e, muitas também, são as

maneiras de operacionalizar seus objetivos. Entretanto, como explica bell hooks: “desafiar a

opressão sexista é uma etapa crucial na luta para a eliminação de todas as formas de opressão”

11 (2015, p.37). Dessa forma, as pautas trazidas pela Marcha das Vadias Recife não se

restringem à autonomia do corpo das mulheres e ao fim da cultura do estupro. Mas, também,

às problemáticas referentes ao racismo, ao sistema capitalista, ao sistema prisional e às leis e

estruturas que sustentam as desigualdades observadas na sociedade brasileira somam às

pautas que buscam a autonomia do corpo feminino e o fim da violência sofridas por esses

corpos. Pode-se observar, portanto, que segundo Silva e Camurça (2010), a Marcha das

11 Tradução livre: “challenging sexist oppression is a crucial step in the struggle to eliminate all forms of

oppression (2015, p.37)”

Page 7: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

7

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Vadias Recife integra o feminismo contemporâneo12. É justamente essa necessidade de

enfrentar diversas formas de opressão, muitas vezes refletidos nas diferenças e nos conflitos

internos que faz o movimento feminista plural. Esta tensão é, portanto, uma fonte para

constantes reflexões e aprendizagens que surgem nas práticas e no fazer coletivo. A Marcha

das Vadias Recife percebe essa tensão e traduz esse processo nas pautas plurais que abraça.

Ademais, as Marchas das Vadias também têm sido associadas frequentemente a um “novo

feminismo”, característico do século XXI, por desafiar estruturas sociais opressoras por meio

de diferentes formas de comportamentos de suas manifestantes durante a Marcha. O “novo

feminismo” atribuído às Marchas seria expressão de um feminismo irreverente e ousado, que

usa o corpo como forma de expressão e como bandeira da liberdade (Martino, 2013). A

Marcha das Vadias Recife contribui, portanto, para o movimento feminista pelas diversidades

de suas pautas, sua constante conexão e reflexão com assuntos contemporâneos e na forma

pela qual as reivindica.

3. Caminhos e Achados

Com base nas orientações conceituais e estruturais de Günther (2003), optamos por

elaborar um questionário autoaplicável via e-mail, pois nos permitiu analisar a opinião das

pessoas entrevistas. A construção do questionário se deu por meio da ferramenta do Google

drive chamada Formulário Google, que permite que as respostas sejam computadas

instantaneamente, facilitando a análise dos dados. Formulamos vinte e sete questões, na qual a

metade refere-se ao perfil socioeconômico das entrevistas, sendo a outra metade perguntas

relacionadas a “entrada” no movimento feminista, sua relação com a Marcha das Vadias

Recife e com o coletivo. Enviamos o questionário para as doze integrantes que estão mais

atuantes no coletivo da Marcha das Vadias Recife atualmente e recebemos a resposta de sete

delas. Para analisar os dados coletados nesses questionários, utilizamos a análise de conteúdo

a partir da definição de Bardin (2009), que define o método como um conjunto de técnicas

que tem como objetivo analisar comunicações a partir de sistematizações objetivas do

conteúdo das mensagens.

Antes é importante caracterizar quem são as mulheres que formam o coletivo Marcha

12 Feminismo surgido na década de 1960 até os dias atuais, que faz o enfrentamento a dominação e opressão

perpetradas contra as mulheres em seus contextos específicos. (SILVA E CAMURÇA, 2010)

Page 8: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

8

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

das Vadias Recife. Com a formação política em abril de 2016, o coletivo contava com a

participação de dezoito mulheres cis. Nos meses após a realização da Marcha das Vadias

Recife 2016, algumas mulheres precisaram se ausentar por questões particulares diversas. E

hoje em 2017, o coletivo tem 12 integrantes ativas. Em relação ao perfil, o coletivo é

composto por mulheres cis, brancas, negras e não brancas, na faixa etária de 20 a 39 anos, de

classe popular, média baixa e média; heterossexuais, lésbicas e bissexuais; estudantes

universitárias, artesã, sociólogas, educadora social e professoras.

Por meio dos questionários, as respondentes nos relataram como “suas descobertas”

em serem mulheres feministas aconteceram. Percebemos que as experiências são particulares,

mas todas enfatizaram que esta descoberta ocorreu por meio de um processo e por uma reação

às opressões de sua vida. Uma delas expressamente diz que a participação na Marcha das

Vadias foi decisiva para sua tomada de consciência. Outra relata que por meio de opressões

vividas nos seus espaços sociais seja na família, na escola ou na igreja que frequentava e suas

indagações sobre a existência de desigualdades entre homens e mulheres foram fundamentais

para sua descoberta. Uma outra participante relata que buscou o coletivo da Marcha das

Vadias para continuar sua militância política, pois ela queria dar mais ênfase as pautas

feministas o que não acontecia frequentemente no movimento estudantil do qual participava.

Ela justamente se firmou internamente como feminista durante este processo. Uma das

participantes respondeu: “O feminismo me abraçou e foi a saída, foi e é minha alternativa de

luta. Quando achei que o mundo com suas opressões pudessem me engolir, encontrei uma

grande mulher feminista aqui dentro de mim. ”

Já na pergunta sobre o que o coletivo representa, percebemos que palavras sobre

acolhimento, força, construção coletiva, fortalecimento, família, amadurecimento, luta

aparecem nas respostas. É interessante perceber que o espaço partilhado por elas no coletivo é

um local energizador e potencializador da força das mulheres que lutam juntas. Este espaço de

construção coletiva é uma arena política de interesses comuns, fortalecendo suas integrantes.

Na questão, “Por que a Marcha das Vadias Recife resistiu até hoje? ”. as respostas não

foram uniformes, múltiplos motivos foram elencados, tais como: a estética irreverente e

combativa do ato, o modo como é feita a comunicação para mobilização que atrai muito a

juventude, o processo de amadurecimento do coletivo, sua disposição, sensibilidade e

preocupação com as pautas, a proposta política do coletivo e da Marcha, a necessidade das

Page 9: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

9

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

mulheres de terem espaço na sociedade para expressar suas demandas e confrontar o sistema

patriarcal e racista, necessidade de atos que lutam pelas minorias; a potência da coletividade

expressa nas ruas. A partir desses elementos trazido pelas respondentes, percebemos que há

uma ênfase na forma de expressão da Marcha enquanto protesto social nas ruas e na

potência da organização coletiva pautada em propostas políticas consolidadas.

Ao articularmos as respostas relativas às perguntas “por que você decidiu que queria

se organizar coletivamente neste coletivo? ” e “como você avalia a atuação do CMVR na cena

feminista recifense?”, percebemos o destaque que o coletivo conquista devido ao seu

processo de consolidação enquanto movimento social feminista. Uma das respondentes diz:

“Porque grupos de mulheres se dedicam anualmente a politizar o ato e desenvolver ações

feministas, de classe, lgbt, antirracistas mesmo quando isso mina sua vida pessoal.

” Referente a essas duas últimas perguntas relativas ao coletivo identificamos novamente

categorias que estão relacionadas com esse processo de organização coletiva como: forma

organizacional (horizontal, autogestionada e apartidária), a permanência, aceitação,

conhecimento, reconhecimento, disposição, caráter ativo, produtivo, acolhimento, espaço de

diálogo, empoderamento, aprendizado. Ainda sobre este tópico, foi notório também a

presença constante nas respostas da ideia de fortalecimento de si mesmas e em relação às

outras. Uma das respondentes disse: “Queria fazer por outras meninas, aquilo que algumas

mulheres que admiro fizeram por mim. ” Essa é uma característica central no feminismo, que

tem uma potência coletiva, transformadora e emancipatória. Assim, uma respondente

resumiu:

“O CMVR representa a materialização do meu sonho de fazer a diferença pela

comunidade que eu estou presente, movimentando-a, sonho de transformar o mundo

de maneira macro, ao menos do jeito que meus braços alcançam, em atividades

micro. Sonhos que tenho certeza, são compartilhados pelas outras mulheres que

estão nesse coletivo (ou são parceiras) é a minha forma de provar a mim mesma e

aos demais que mulheres são gloriosas, são fortes, são solidárias, são organizadas,

são subversivas, são independentes dessas estruturas engessadas em todas as

instituições sociais. ”

4. Considerações finais

Resistência, substantivo feminino. Ato ou efeito de resistir. Sinônimo para todo o

movimento feminista. E, assim, também não poderia deixar de ser para a Marcha das Vadias

Page 10: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

10

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Recife, que pulsa, vibra, agita e perturba a ordem imposta pela sociedade pernambucana há

sete anos. Vem ao longo desse processo se reinventando, agregando e crescendo

politicamente. Possibilitou a criação e a consolidação de um coletivo feminista ativo,

conhecido e reconhecido pelos movimentos sociais e por parte da sociedade. E que de certo

modo, nos últimos dois anos vem se aproximando a ideia de um “feminismo como um

coletivo total” (Gurgel; Almeida, 2013) ao se articular e realizar ações com movimentos

feministas com propostas políticas mais tradicionais fortalecendo os Atos Unitários do

calendário de luta da cidade do Recife. A atualização das pautas feministas aliadas ao modo

como mobiliza as pessoas pelas mídias sociais, com seu caráter irreverente de se manifestar

mostrando uma radicalidade na ação permitiu que muitas mulheres jovens e em sua

multiplicidade pudessem conhecer mais profundamente o feminismo, enquanto prática, modo

de vida e movimento social. A partir das análises realizadas nos questionários

compreendemos que a Marcha das Vadias Recife resistiu até os dias atuais porque adquiriu e

consolidou características de movimento social e feminista e refletiu a partir de sua prática. A

Marcha das Vadias Recife possui uma identidade coletiva, tem como opositor o sistema que

oprime as mulheres cis e trans - sexismo; defende um projeto político de sociedade livre de

todo tipo de opressão, tem demandas que são construídas conforme os contextos políticos e

participa de atividades com outros movimentos sociais e feministas, atuando de maneira

horizontal, autogestionada e sem relação com partidos políticos. Sua resistência vem,

portanto, de sua capacidade de não se engessar diante dos novos desafios e da força das

mulheres que compõem este coletivo, das suas articulações com outros movimentos sociais e

da identificação coletiva de todas as mulheres que marcharam juntas ao longo desses anos.

Referências

ALONSO, Angela. As teorias dos movimentos sociais: um balanço do debate. Lua Nova

[online]. 2009, n.76, p. 49-86.

ÁVILA, Maria Betânia. Radicalização do feminismo, radicalização da

democracia. p. 6-11. In: ÁVILA, Maria Betânia. Et al (org) Reflexões feministas para

transformação social. Recife: SOS Corpo. Cadernos de Crítica Feminista, ano I, n. 0, Recife,

dez. 2007. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições

70, LDA. 2009

CHAVES, Tyara V.. Marcha das Vadias: a resistência na pele. VI Seminário de Estudos em

Análise de Discurso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2013 Disponível em:

<http://www.ufrgs.br/analisedodiscurso/anaisdosead/6SEAD/PAINEIS/MarchaDasVadias.pdf

>.

Page 11: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Acessado em Março/2017.

DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe. Tradução Heci Regina Candiani. São Paulo :

Boitempo. 2016

FERREIRA, Gleidiane. Feminismo e redes sociais na Marcha das Vadias no Brasil. Revista

Ártemis, João Pessoa, v.15. 2013, p.33-43. Disponível

em:<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/artemis/article/view/16636>. Acesso em:

Abril/2017.

GALETTI, Camila C. H. Feminismo em movimento: A Marcha das Vadias e o movimento

feminista contemporâneo. 18º REDOR. 2014, p. 2196-2210. Universidade Federal Rural de

Pernambuco. Disponível

em:<http://www.ufpb.br/evento/lti/ocs/index.php/18redor/18redor/paper/viewFile/533/771>.

Acessado em: Abril/2017

GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de

Educação, v. 16, n. 47, 2011. p.333-361 Disponível em

<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.pdf> Acessado em: Agosto/2016

GOMES, Carla; SORJ, Bila. Corpo, geração e identidade: a Marcha das Vadias no Brasil.

Sociedade e Estado, Brasília, v. 29, n.2, 2014. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69922014000200007&script=sci_arttext>.

Acesso em: Abril/2017

GUNTER, H. Como elaborar um questionário. (Série Planejamento de Pesquisa nas Ciências

Sociais, n. 1). Universidade Nacional de Brasília: Distrito Federal, 2003. Disponível em: <

http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/lapsam/Texto_11_-

_Como_elaborar_um_questionario.pdf>. Acessado em: Março/2017.

GURGEL, Telma; ALMEIDA, Janayki.Feminismo e jovens feministas: desafios

programáticos e organizativos. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais

Eletrônico), Florianópolis. 2013 ISSN 2179-510X

HELENE, Diana. A Marcha das Vadias: o corpo da mulher e

a cidade. In: REDOBRA 11 [ano 4, número 1], CORPOCIDADE 3, 2013, 68-79.Disponível

em: <http://www.redobra.ufba.br/wp-content/uploads/2013/06/redobra11_08.pdf>.Acessado

em: Abril/2017 HOOKS, bell. The significance of feminist movement.

In Feminist theory from margin to center. pp. 34-42. New York: Routledge. 2015

LAGARDE, Marcela. “El género”, fragmento

libera: “La perspectiva de género”. In Género y feminismo. Desarrollo humano y

democracia, Ed.horas y HORAS, p. 13-38, España, 1996. LAGE, Allene. Orientações

epistemológicas para pesquisa qualitativa em educação e movimentos sociais. In:______.

Educação e Movimentos Sociais: caminhos para uma pedagogia da luta. Recife: Ed.

Universitária da UFPE, 2013. MARTINI,

Júlia L. ; PUHL, Paula R. Marcha das Vadias: Um movimento social na era da comunicação

digital em rede. 10º Encontro Nacional de História da Mídia, Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul. 2015 Disponível em: < http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-

1/encontros-nacionais/10o-encontro-2015/historia-da-midia-digital/marcha-das-vadias-um-

movimento-social-na-era-da-comunicacao-digital-em-rede/view>. Acessado em: Março/2017

OLESEN, Virgínia L. “Os feminismos e a pesquisa qualitativa neste novo milênio”. In

DENZIN, Norma K.; LINCOLN, Yvonna S. e colaboradores. O Planejamento da Pesquisa

Qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2006.

OLIVEIRA, Thaisa V. C. Feminismo contemporâneo: uma análise da Marcha

das Vadias. VII Jornada Internacional de Políticas Públicas, Universidade do Maranhão. 2015

Page 12: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

12

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo6/feminismo-

contemporaneo-uma-analise-da-marcha-das-vadias.pdf>. Acessado em: Fevereiro/2017

OLIVEIRA, Leidiane S.Movimento feminista: sujeito político e coletivo

central na luta das mulheres. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônica).

2013 Florianópolis. PERROT, Michelle. Minha História das Mulheres. São Paulo: Contexto.

2006 RAGO, Margareth. Descobrindo historicamente o gênero. In: Cadernos

Pagu, p.89-98. Campinas: Unicamp, 1998.

RASSI, Amanda P. (2012). Do acontecimento histórico ao

acontecimento discursivo: uma análise da “Marcha das vadias”. Rev. Hist. UEG - Goiânia,

v.1, n.1, p.43-63. Disponível em:

<http://www.revista.ueg.br/index.php/revistahistoria/article/view/599> Acessado: Abril/2017.

SILVA, Carmem; CAMURÇA, Silvia. Feminismo e movimento de mulheres. Recife: Edições

SOS Corpo. 2010.

SILVA, Carmem S.M. Feminismo, mulheres e movimentos sociais. In Feminismo

Popular e lutas antissistêmicas. pp. 17-50. Recife: Edições SOS Corpo 2016.

TARROW, Sidney.O poder em movimento: movimentos sociais e confronto

político, Petrópolis, Vozes. 2009.

VALENTE, Thaysa Z.; MARCINIK, Geórgia G. As práticas de

resistência da mulher e a “Marcha das Vadias”. Anais do III Simpósio Gênero e Políticas

Públicas. Universidade Estadual de Londrina, 2014. Disponível em:

<http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/GT9_Thaysa%20Zubek%20e%20Ge%C3%B

3rgia%20Grube.pdf>. Acessado em: Março/2017

WOLLENSTONECRAFT, M. A Vindication of the Right of Women. In Wollstonecraf

Anthology, pp. 84-114. Bloomington: Indiana University. 1977

Links

https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_das_Vadias

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/06/homens-e-mulheres-promovem-marcha-das-

vadias-em-recife.html

http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2012/05/marcha-das-vadias-reune-mais-de-mil-

pessoas-no-centro-do-recife.html

http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/05/marcha-das-vadias-pede-fim-da-violencia-

sexual-no-centro-do-recife.html

http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/05/marcha-das-vadias-reune-centenas-de-

participantes-no-centro-do-recife.html

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2015/05/30/cerca-de-mil-ativistas-

protestam-na-marcha-das-vadias-no-centro-do-recife-183661.php

http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2016/05/marcha-das-vadias-pede-fim-da-violencia-

contra-mulher-no-recife.html

http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/marcha-das-vadias-percorre-ruas-do-recife-para-

protestar-contra-violencia-e-racismo.ghtml

“We will march together until all women will be free” - An analysis of the Marcha das

Vadias – Recife.

Abstract: Since 2011, the SlutWalk has been bringing together thousand of women all

around many Brazilian cities. The importance achieved by the SlutWalk is undeniable. How

Page 13: “MARCHAREMOS ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES”: UMA ANÁLISE DA ... · escravidão e foram as pioneiras nas lutas femininas contra a opressão (Davis, 2016). As ... suas especificidades

13

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

their participants have mobilized and used new forms of technologies to communicate are

essential for understanding its dynamics. However, it is the feminist agenda and themes such

as the end of victim blaming and rape culture responsible for the huge participation of

women. The first Slutwalk in Recife took place in 2011. Since then, different characteristics

of its members and participants are observed. In its first year, white, middle-class women and

college students were the main group who participated in the Marcha das Vadias-Recife as

well as young men. However, through the years, the portrait of its participants has been

changing. Similarly, the profile of the members who constitute the Marcha das Vadias-Recife

has transformed due their need to broaden their political agenda of action. In this sense, the

Marcha das Vadias-Recife has built itself as an autonomous, self-managed, horizontal, anti-

racist, anti-sexist, anti-prohibitionist and anti-capitalist feminist group. Thinking over theses

issues, this article intend to understand the main elements that contributed to its process of

resistance and continuity occurred within the Marcha das Vadias- Recife. In order to reach

this goal, we interviewed some of its members

Keywords: feminist movement, SlutWalk, collective organization