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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ECONOMIA MARCELO PRADO FERRARI MANZANO Doze Anos de Desenvolvimento Contingente no Brasil Campinas 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

MARCELO PRADO FERRARI MANZANO

Doze Anos de Desenvolvimento Contingente no Brasil

Campinas 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

MARCELO PRADO FERRARI MANZANO

Doze Anos de Desenvolvimento Contingente no Brasil

Prof. Dr. ANSELMO LUÍS DOS SANTOS – orientador

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Econômico, área de concentração Economia Social e do Trabalho.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO MARCELO PRADO FERRARI MANZANO E ORIENTADA PELO PROF. DR. ANSELMO LUÍS DOS SANTOS

Campinas 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

MARCELO PRADO FERRARI MANZANO

Doze Anos de Desenvolvimento Contingente no Brasil

Defendida em 25/05/2017

COMISSÃO JULGADORA

A Ata de Defesa, assinada pelos membros

da Comissão Examinadora, consta no

processo de vida acadêmica do aluno.

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À Maria Clara, Pedro e Tomás, meus sóis

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AGRADECIMENTOS

Ao longo do extenso caminho percorrido até que chegasse à redação final da presente tese

pude contar com a prestimosa ajuda e o indispensável apoio de bons amigos, colegas e

familiares.

No Cesit não apenas me nutri de ricas reflexões e interpretações a respeito de muitos dos

temas que perpassam esta tese, como também pude esgrimir meus argumentos junto aos

tacapes de cerne de madeira de lei que por lá circulam. Entre os mais frequentes, não

poderia deixar de mencionar os professores Paulo Baltar, Eugênia Leone, José Dari,

Marcio Pochmann, Magda Biavaschi, Denis Gimenez, Marcelo Proni, Amilton Moretto

e Carlos Salas. Esse último em especial, coautor em diferentes pesquisas e artigos em que

trabalhei nos últimos anos, agradeço pela sugestão do referencial teórico que serviu de

alicerce à tese. Também agradeço à Helena e à Solange pela prestimosa tarefa de

organizarem os trâmites administrativos no Cesit, bem como à toda a equipe de

funcionários da Secretaria da Pós-Graduação do IE.

Na Facamp, foram muito frutíferos os debates entre os colegas e professores, seja nos

seminários das quartas-feiras, seja nas suas reverberações para além das jornadas formais.

A lucidez dos professores Belluzzo e João Manoel, muitas vezes incomodas por

revelarem nossas omissões e limites, foram sempre - provavelmente desde 1986, quando

minhas aulas no colégio foram suspensas para que assistíssemos ao anúncio do Plano

Cruzado em cadeia nacional – as balizas fundamentais a me guiar nos esforços de melhor

compreender a economia e a sociedade brasileira. Já nas conversas com os amigos Eder,

Maria Fernanda, Marcio Sampaio, Waldir, Alessandro, Lício, Cláudia, Rubens, Daniel,

entre outros, papos acalorados, não menos fundamentais.

Em casa, entre os meus, outra leva de longas conversas e de prováveis ouvidos

complacentes, importantíssimos para aplacar as angústias de quem se aventura por estas

paragens. Maria Clara, Pedro e Tomás – e minha mãe, Rosa Maria - sabem bem do que

digo. Meu pai, sujeito de mente irrequieta como nenhum outro que eu conheça, esteve

sempre no exercício de colocar e retirar as escoras, como talvez deva a um pai.

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Agradeço também ao Alonso e seu apreço pelo bom debate, desde sempre com

indispensáveis ponderações sobre temas variados, sem as quais ficaria muito mais difícil

navegar pelas tormentosas águas do pensamento econômico.

Por fim, agradeço ao amigo e orientador Anselmo, que desde quando comecei a trabalhar

no Cesit como estagiário, foi sempre um ótimo parceiro de diálogo e de reflexões, além

de eventualmente, nos gramados, como um meia-armador, tabelar com este ponta que –

ao menos no passado remoto – tinha na velocidade seu maior atributo.

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RESUMO

No contexto da sobredeterminação financeira que governa o capitalismo contemporâneo,

o ciclo de desenvolvimento brasileiro que perdurou de 2003 a 2014 constitui uma

experiência bastante particular, limitada e contraditória, cuja interpretação tem desafiado

os analistas de diferentes campos das ciências humanas. Na presente tese, procurou-se

lançar mão da Teoria das Estruturas Sociais de Acumulação a fim de poder abordar aquele

processo sob três prismas distintos e articulados: o das instituições políticas forjadas no

esforço de redemocratização do país, que constituíram sua ossatura; o da dinâmica

econômico-financeira em um período de preços internacionais favoráveis e expansão do

consumo interno, que orientou as estratégias de valorização do capital no período; e o das

políticas de Estado centradas no atendimento das demandas dos trabalhadores e dos

estratos sociais mais vulneráveis (sem agredir os interesses das elites econômicas

nacionais), que lograram galvanizar uma agenda minimamente coerente – a qual, embora

precária e de fôlego curto, foi capaz de mudar de forma importante o panorama social

brasileiro.

PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento econômico; Governos do Partidos dos

Trabalhadores; Teoria das Estruturas Sociais de Acumulação; Mercado de trabalho

- Brasil.

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ABSTRACT

In the context of the financial overdetermination that guides contemporary capitalism, the

Brazilian development cycle observed between 2003 and 2014 represents a singular,

limited and contradictory case, whose interpretation has been challenging analyses in

several fields of the social sciences. In this dissertation, we make use of the Social

Structures of Accumulation Theory to approach this process from three distinct and

articulated perspectives: first, from the perspective of the political institutions forged by

the Brazilian redemocratization process in the previous decade, which constituted the

development cycle’s backbone; second, the financial and economic dynamics in a context

of favorable international prices and expansion of the domestic market, which oriented

the capital appreciation strategies during the cycle; and third, the governments’ public

policies at the time (centered in attending the demands of the working class and the most

vulnerable strata in the country while at the same time not directly threatening the interest

of the national élites), which succeeded in building a minimally coherent agenda that,

albeit fragile and short-lived, was able to change the Brazilian social panorama to an

important degree.

KEYWORDS: Economic development; The administration of Partido dos

Trabalhadores; Social Structures of Accumulation Theory; Labor market - Brazil.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Relação Câmbio / Salário (base: média de 2010 = 100) ................................... 65

Figura 3.1 Marco conceitual da OIT para o emprego informal ......................................... 90

Figura 3.2 Distribuição dos Ocupados, segundo a posição na ocupação. ....................... 92

Figura 3.3 Trabalhadores desprotegidos, segundo a posição na ocupação. ................... 93

Figura 3.4 Trabalhadores desprotegidos, segundo porte da empresa. ........................... 96

Figura 3.5 Ocupados sem proteção, segundo principais grupamento de atividade ...... 97

Figura 3.6 Ocupados sem proteção, por Grande Região.................................................. 98

Figura 3.7 Ocupados sem proteção, por grupo de idade. ................................................ 99

Figura 3.8 Número de magistrados e despesas da Justiça do Trabalho por habitante. 105

Figura 3.9 Distribuição dos Microempreendedores Individuaus – MEIs, por ocupação anterior. ....................................................................................................... 108

Figura 3.10 Taxa de participação por grupo de idade. ................................................... 111

Figura 3.11 Evoluçao do salário mínimo real. .................................................................. 124

Figura 3.12 Evolução do salario mínimo em termos reais(1), em paridade de poder de compra(2) e como proporção do salário mínimo necessário(3). ............. 126

Figura 3.13 Índice de Gini e Taxas de Pobreza e Extrema Pobreza. ............................... 129

Figura 3.14 Rendimento médio real do trabalho metropolitano, por categoria de emprego. ...................................................................................................... 133

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Composição do PIB: ótica da demanda ........................................................... 64

Tabela 2.2 Índice de preço* e quantum de exportação (total e fator agregado) ........... 66

Tabela 2.3 Contribuição para o crescimento do PIB* ....................................................... 67

Figura 2.2 Risco Brasil (metodologia EMBI+ do JP Morgan)*............................................ 68

Tabela 2.4 Balanço de pagamentos: contas selecionadas – BPM5 ................................. 69

Tabela 2.5 Consumo Aparente Industrial .......................................................................... 73

Tabela 2.6 Evolução do crédito para o setor privado ....................................................... 74

Tabela 3.1 Distribuição dos ocupados por condição de proteção. .................................. 95

Tabela 3.2 Evolução da Inpeção do trabalho .................................................................. 103

Tabela 3.3 Pessoal Ocupado por Grupos de Idade. ......................................................... 109

Tabela 3.4 Taxa de Desocupação nas Principais Regiões Metropolitanas. .................... 112

Tabela 3.5 Ocupados por grupo de atividade .................................................................. 114

Tabela 3.6 Saldo de empregos celetistas e estatutários no período 2002 a 2014, por setor de atividade. ................................................................................................ 115

Tabela 3.7 Empregos formais e remuneração média nas 10 famílias ocupacionais com maior saldo no período. .............................................................................. 117

Tabela 3.8 Saldo de empregos formais por região do país segundo faixas de remuneração média e gênero. ........................................................................................... 121

Tabela 3.10 Rendimento médio real do trabalho metropolitano. .................................. 134

Tabela 3.11 Distribuição dos rendimentos do trabalho por quintil e por gênero. ........ 135

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 14

CAPÍTULO 1 A montante .................................................................................................. 29

1.1 Introdução .............................................................................................. 30

1.2 A vertente da oposição autêntica de massas....................................... 36

1.3 A vertente autêntica da oposição institucional ................................... 42

1.4 Das ruas às instituições ......................................................................... 50

CAPÍTULO 2 Fortuna ......................................................................................................... 56

2.1 Introdução .............................................................................................. 57

2.2. Dos motores .......................................................................................... 62

2.3 Das contingências .................................................................................. 76

CAPÍTULO 3 Virtude .......................................................................................................... 79

3.1 Introdução ............................................................................................. 80

3.2 A centralidade da massa trabalhadora ................................................. 84

3.2.1 A redução da informalidade do trabalho no Brasil....................... 88

3.2.2 A dinâmica do emprego ............................................................... 108

3.2.3 A elevação do salário mínimo e seus efeitos .............................. 122

3.3 Conclusões parciais ............................................................................. 138

CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 139

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 144

Anexo Estatístico ..................................................................................................................... i

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A miséria impediu-me de acreditar que tudo vai bem

sob o sol e na história; o sol ensinou-me que a história não é tudo.

Albert Camus, 1958.

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INTRODUÇÃO

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Quando em Visões do Paraíso o historiador Sergio Buarque de Holanda cunhou a

expressão “procissão de milagres” para interpretar os sucessivos ciclos econômicos que até

então davam sentido à nação brasileira, provavelmente de forma involuntária incutiu entre seus

leitores a suspeita de que aquela sina poderia se estender por nosso futuro, um carma que

ameaçava acompanhar nosso desenvolvimento ad infinitum. Assim, embora cientes que Sergio

Buarque não escrevia sobre o porvir, aqueles que auscultam a história brasileira de lá para cá

poderão encontrar novos “milagres” pontuando nossa trajetória e, com boa dose de razão, terão

motivos para crer que o vaticínio acidental se confirma, alcançando inclusive os primeiros anos

do século que recém começou.

As transformações na economia e na sociedade brasileira desde meados dos anos

2000 foram de monta e, ao mesmo tempo em que surpreenderam praticamente a todos,

suscitaram os ânimos investigativos no sentido de precisar os fatores fundamentais que levaram

ao soerguimento econômico e social do país. Muitos estudos têm sido realizados para melhor

compreender esse período, motivando inclusive o resgate do debate sobre a emergência ou não

de um novo padrão de desenvolvimento ou de um novo regime de acumulação (Cf. FONSECA

et al., 2012; CARNEIRO, 2012a; AMADO e MOLLO, 2015). Não obstante, a despeito da

pertinência, correção ou do rigor analítico que sustentam aqueles estudos, grande parte dos

autores costuma tratar esse momento como resultante de uma combinação fortuita de fatores,

somada a alguma diligência dos governos. Com diferentes ênfases e matizes, prevalece a

interpretação de que a dinâmica de crescimento econômico com redução das desigualdades que

marcou os últimos anos estaria associada à fortuna de um governo que pode e soube navegar

ondas externas favoráveis, ao mesmo tempo em que fatores internos teriam contribuído para

um raro e virtuoso alinhamento dos astros. Com isso, mesmo que não o explicitem, em muitas

análises o espectro do “milagre” mais uma vez desponta como sujeito oculto que de tempos em

tempos toma as rédeas de nosso desenvolvimento.

Entretanto, seja porque muitos dos referidos estudos se circunscrevem às fronteiras

da análise econômica, seja porque outros jogam peso excessivo nos aspectos conjunturais,

persistem ainda algumas lacunas ou zonas de penumbra nas narrativas a respeito do peculiar

ciclo de desenvolvimento a que estas terras assistiram nos anos recentes. É verdade que, em

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termos históricos, se está ainda muito próximo dos acontecimentos e, certamente, será preciso

que o tempo faça a sua parte. Porém, desde logo é possível se debruçar sobre as análises que

vão surgindo e muito modestamente puxar uma ou outra linha que ainda não foi tentada ou

jogar luz a aspectos menos explorados, sobre os quais os pioneiros não poderiam se deter.

Ademais, com a consciência de que o processo de conhecimento nas ciências sociais é, antes

de mais nada, uma trágica ilusão de aproximação dos fatos – que, por mais perpétua que

progressiva, jamais permitirá que esses sejam efetivamente desvelados - o que se pretende aqui

é trilhar por uma determinada abordagem metodológica a qual tem o mérito de contribuir para

uma narrativa menos economicista, isto é, uma narrativa que, por princípio, se mantenha

equidistante – porém, articulada - dos aparatos analíticos de diferentes ramos das ciências

sociais. Embora essa escolha implique em maiores riscos - de imprecisão e, no limite, de se ater

a sentidos muito fugidios, estes talvez sejam compensados pela menor probabilidade de se

deixar deslizar para os sulcos já escavados no terreno, o que muitas vezes, apesar de

tranquilizador, é tanto menos frutífero quanto pouco estimulante.

Isto posto, o objetivo central desta tese é contribuir para a construção de uma

interpretação a respeito do ciclo de desenvolvimento que se precipitou com a ascensão do

Partido do Trabalhadores ao governo central, em 2003, e se estendeu até 2014, quando perdeu

vigor e deu lugar a uma grave recessão. Para dar curso à tarefa, elegeu-se a abordagem

metodológica empregada pela Social Structure of Accumulation Theory – (doravante SSA)

(KOTZ et al., 1994; REICH, 1997) a partir da qual se espera poder mirar aquele ciclo por um

prisma cujo escopo ultrapassa a economia e que, sobretudo, ainda não foi devidamente

experimentado para a realidade brasileira recente1. Além disso, é mister destacar que há uma

nítida e produtiva convergência entre o aparato da SSA e a experiência de pesquisa e reflexão

da chamada “Escola de Campinas” – onde a presente tese foi elaborada - a qual se caracteriza

1 Alguns autores, como Pires (2006), Bruno e Caffe (2006) e Diawara (2006) já empregaram a

abordagem da Teoria das Estruturas Sociais de Acumulação em estudos sobre o Brasil. Contudo,

enquanto o primeiro circunscreve sua análise a um aspecto particular do processo de acumulação (a

regulação sobre a estrutura virtual de acumulação) os demais se dedicam a interpretar o ciclo neoliberal

que se estende da década de 1980 a fins dos anos 1990. Também Carlos Medeiros (2015) faz referências

laterais à teoria da SSA, mas, apesar de sua abordagem ter vários pontos de contatos com aquela teoria,

não o faz de forma sistemática nem explícita.

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pela “análise da dinâmica das estruturas”2 e que, embora menos preocupada com a

sistematização de um método, reuniu ao longo de décadas de pesquisa uma rica e original

produção acadêmica, cuja abordagem se notabiliza pelo diálogo com as obras de Marx, Keynes,

Schumpeter e dos autores cepalinos.

Quanto à teoria da SSA, foi desenvolvida no contexto da estagflação norte-

americana entre fins dos anos setenta e início dos oitenta do último século, tendo sido formulada

pela primeira vez no ano de 1982 pelos economistas David Gordon, Michael Reich e Richard

Edwards, em um livro dedicado à análise do mercado de trabalho dos EUA (GORDON et al.,

1982). Contudo, foi somente em 1994, com a publicação de “Social Structures of Accumulation:

The Political Economy of Growth and Crisis” (KOTZ et al, 1994), que essa teoria foi

finalmente estruturada e apresentada de modo mais sistemático em uma coletânea de artigos

dedicados especialmente ao tema.

Em linhas gerais, a teoria da SSA propõe que os ciclos de acumulação econômica

que se sucedem no capitalismo são engendrados por uma multiplicidade de fatores

historicamente determinados que, para fins analíticos, podem ser agrupados em três dimensões

principais: i) o padrão monetário e financeiro; ii) o papel do Estado e iii) o conflito de classes.

De acordo com Kotz et al (1994), essas três dimensões corresponderiam respectivamente às

instâncias de realização das relações capital-capital, capital-estado, capital-trabalho. Assim,

para se distinguir e caracterizar um determinado ciclo de acumulação capitalista os autores da

SSA propõem a análise em paralelo de cada uma daquelas dimensões. Seria, portanto, a partir

da compreensão de cada uma delas em particular e da identificação dos nexos entre si que se

poderia perceber os fatores determinantes e específicos de cada ciclo de acumulação. Nesse

sentido, a escola da SSA não pleiteia tipificar padrões de desenvolvimento, mas, tão somente,

como método de interpretação da dinâmica capitalista em diferentes contextos culturais,

políticos e temporais, oferecer uma alternativa de interpretação dos ciclos de acumulação que

leve em conta aspectos que transbordam os limites estritamente econômicos e que, na maioria

2 Definição de João Manuel Cardoso de Mello citada em Seminário dos Professores, Facamp, Campinas,

05/outubro/2016.

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das vezes, são negligenciados pelas abordagens que valorizam a identificação ou caracterização

de modelos ou estilos de desenvolvimento.

Ao longo das últimas décadas, um crescente número de autores têm adotado a

abordagem da SSA para interpretar os ciclos de acumulação capitalista, sejam aqueles que

alcançaram as economias centrais - como o da era de ouro do pós-guerra (GORDON et al.,

1982; HEILBRONER, 1985; KOTZ et al, 1994; LIPPIT, 2010) ou do subsequente período

neoliberal (REICH, 2006; TABB, 2006; WOLFSON e KOTZ, 2010; NARDONE e

McDONOUGH, 2010), sejam os casos das economias periféricas (NATTRAS, 1994; SALAS,

2003, 2010; PIRES, 2006; DIAWARA, 2006; BRUNO e CAFFE, 2006; HEINTZ, 2010;

PFEIFER, 2010).

Situados no campo da heterodoxia econômica, os formuladores da teoria da SSA

foram buscar principalmente em Marx, Keynes e nos antigos institucionalistas norte-

americanos, os fundamentos teóricos que compõem o arcabouço analítico com o qual trabalham

(KOTZ et al., 1994, p. 3-4, REICH, 1997, p. 2). Da obra de Marx, lhes são caras especialmente

algumas de suas leis de tendência a respeito do sistema capitalista: i) que esse está em constante

transformação e sujeito a recorrentes crises de superacumulação e ii) que por estar assentado

sobre relações sociais conflituosas, a cada momento da história a dinâmica capitalista será

determinada tanto pelas contradições entre capital e trabalho, quanto por aquelas decorrentes

da competição entre os próprios capitalistas.

Mas, diferentemente da literatura marxista tradicional, na abordagem da SSA não

se subscreve a tese de que o conflito capital-trabalho conduzirá mecanicamente à crise final do

capitalismo e sua superação. Por conta do surgimento de estratos médios na sociedade, da

ocorrência de variadas modalidades de acordos entre classes e da emergência do Estado

regulador, os antagonismos que afloram da dinâmica social seriam muito mais complexos e,

consequentemente, suas resultantes indeterminadas (GORDON et al., 1994, p.16-21).

Outrossim, explicitamente refratários à primazia da dimensão econômica sobre a política,

ideológica ou cultural (às quais os autores conferem o mesmo grau de autonomia e

interdependência que à primeira), sugerem que se deve ampliar o foco da análise para além das

forças produtivas – um conceito por demais abstrato e restrito à esfera econômica – e priorizar

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uma análise intermediária3, isto é, das relações de produção, as quais se situam no campo das

interações sociais e que são tecidas tanto pelas instituições econômicas, como também por

aquelas culturais e ideológicas4 (GORDON et al., 1994; MAVROUDEAS, 2006, p.200-204).

Esta análise intermediária destina-se a complementar tanto a abordagem

marxista tradicional e abstrata para o desenvolvimento capitalista quanto a

análise concreta mais recente da vida cotidiana5. (GORDON et al., 1994,

p.13).

Em relação ao pensamento de Keynes, os teóricos da SSA vão buscar especialmente

suas reflexões sobre as oscilações e a tibieza dos níveis de investimento decorrentes da incerteza

radical e inalienável que cerca a decisão de gasto do capitalista e constitui o ato crucial a

determinar a dinâmica do sistema. Proporão, a partir daí, que para que uma SSA se concretize,

deve-se considerar como condição primeira alguma forma de arranjo institucional que seja

capaz de “encorajar os investimentos por meio da criação de maior estabilidade e

previsibilidade” (KOTZ et al., 1994, p.3).

Importante esclarecer o modo particular como os autores da SSA incorporam os

insights de Keynes em sua teoria. Na introdução do livro de 1994, David Kotz e seus coautores

fazem questão de frisar que, diferentemente da forma como o keynesianismo tradicional tratava

os problemas de demanda e de oferta, “a maioria das análises (...), que utilizam a abordagem

da SSA, enfatiza mais os problemas de custo e de oferta do que de demanda” (KOTZ et al.,

idem). Com efeito, conforme assinala Mavroudeas (2006, p. 203-204), há nas formulações da

3 Por esse preciso motivo, Mavroudeas (2006) irá propor que, tanto a abordagem da SSA, quanto a da

Escola da Regulação Francesa, deveriam ser consideradas como novas e variantes “não-ortodoxas” da

middle-range theory. (Cf. MERTON, 1968, apud. MAVROUDEAS 2006, p. 201).

4 No que tange ao papel desempenhado pelas instituições na mediação dos conflitos entre capital e

trabalho e também ao papel das elites industrializantes e sua interação com as agências governamentais

na conformação do desenvolvimento capitalista, vale mencionar a similitude da abordagem da SSA com

a reflexão de J. T Dunlop (1978) a respeito dos Sistemas de Relações Industriais. Proeminente autor da

corrente norte-americana dos economistas institucionalistas do trabalho, apesar de distante da tradições

marxista ou keynesiana, Dunlop deu também grande ênfase à dinâmica das relações entre os diferentes

grupos de interesses que atuam na determinação das relações de trabalho e que, em última instância,

imprimem características particulares a cada realidade nacional ou mesmo setorial, resultando em

distintas experiências de desenvolvimento econômico (HORN, COTANDA, PICHLER, 2009).

5 Tradução minha.

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SSA um rebaixamento do problema da demanda efetiva, posto que esta é pensada como

derivada do arranjo institucional, deixando de ser, portanto, “um componente exógeno da

dinâmica de acumulação capitalista”. Desta perspectiva, portanto, o grau de incerteza e de

imprevisibilidade resultaria de uma maior ou menor eficácia das instituições (no sentido de

serem estas capazes de indicar um nível de demanda suficientemente alto e por um período

suficientemente longo a ponto de incentivar inversões de capital) que seriam percebidas pelos

capitalistas individuais, impactando negativa ou positivamente suas decisões de investimento.

Ou seja, não é que o problema da demanda efetiva não seja relevante ou mesmo que deixe de

ser crucial para explicar as flutuações e crises do capitalismo, mas sim que a sua leitura e

eventual gestão pelos agentes será produto da especificidade institucional que caracteriza cada

contexto histórico (i.e., o papel do Estado, as formas de regulação do sistema financeiro, as

modalidades de contratação da força de trabalho, de organização sindical, o grau de

concentração da mídia, etc.).

Por fim, a terceira influência importante a compor o arcabouço teórico da teoria da

SSA foram as obras dos economistas norte-americanos do início do século XX, Thorstein

Veblen e John Commons - que dariam origem à escola hoje conhecida como Antigo-

Institucionalismo (Old Institucional Economics)6 - assim como também de alguns economistas

historicistas, nomeadamente o alemão Weber Sombart (Cf. REICH, 1997). Essas abordagens

do institucionalismo e dos historicistas foram determinantes para o desenvolvimento das teses

conduzidas pelos autores da SSA. De acordo com Michael Reich, coautor das primeiras

formulações da teoria da SSA: “nós queríamos que as contingências históricas fossem centrais

na análise, o que implica em periodicidade irregular. [...] preferíamos uma análise social ou

institucional ao invés de uma tecnológica” (REICH, 1997, p. 5.) Por conseguinte, como também

assinala o mesmo Reich: “o caráter endógeno que [os autores da SSA] atribuem a várias forças

políticas e econômicas devem emergir da análise institucional, e não simplesmente a partir de

estudos econométricos” (REICH, 1997, p. 2).

6 Para uma breve caracterização destes e suas diferenças em relação à escola “Novo-Insitucionalista”,

ver: Conceição (2001); Aguiar Filho e Silva Filho (2010, p. 214-219).

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Assim, dentre as principais formulações do antigo institucionalismo que serviriam

à SSA, cabe destacar: i) a rejeição a teorizações ex ante a respeito das etapas do capitalismo; ii)

a preferência pela pesquisa histórica e por abordagens descritivas; iii) a concepção das

instituições como moldadoras das preferências individuais e, ao mesmo tempo, como produto

do planejamento deliberado dos agentes.

Contudo, apesar da inegável importância e influência da corrente institucionalista

nas análises conduzidas sob a perspectiva da SSA, os autores dessa última se distinguem por

buscarem compatibilizar a análise das instituições aos aspectos mais abrangentes e

determinações mais gerais da dinâmica capitalista, tal qual aquelas extraídas de Marx e Keynes.

Nos termos de Kotz et al (1994, p. 4) “a escola da SSA difere do institucionalismo tradicional

por sua maior abertura a generalizações amplas sobre o desenvolvimento econômico”.

Articulando importantes aspectos teóricos e metodológicos destas três tradições da

economia política crítica (Marxista, Keynesiana e antigo-institucionalista) os formuladores da

SSA irão sugerir que para a emergência de um ciclo de acumulação de capital é fundamental

que o nível de incerteza e o grau de imprevisibilidade sejam mitigados por meio de instituições

que canalizem os conflitos de classe para uma estabilidade temporária - mas suficientemente

crível e duradoura – que induza a uma elevação sustentada do volume de investimentos.

Ressalte-se, porém, que quando se referem a uma estabilidade temporária no conflito de

classes, os autores da SSA não estão pressupondo necessariamente um processo harmonioso

nem consensual. A contradição entre as classes “pode ser estabilizada de uma entre duas

maneiras: ou o trabalho é forte o suficiente para desafiar o capital e dividir o poder, ou o capital

se sobrepõe ao trabalho e dita as condições” (WOLFSON, KOTZ, 2010, p. 10).

Consequentemente, a estabilidade corresponde a uma situação em que mesmo havendo a

prevalência dos interesses de uma classe sobre a outra – o que aliás costuma ser regra e não

exceção - a correlação de forças vigente não autoriza o vislumbre de uma mudança das posições

relativas no curto prazo. Os casos dos países da Europa Ocidental durante os Anos de Ouro,

bem como o da era da Grande Moderação (1985-2008) são, respectivamente, exemplos exitosos

das diferentes possibilidades de estabilização temporária dos antagonismos de classe - e,

consequentemente, de emergência de Estruturas Sociais de Acumulação particulares. E aqui

reside uma especificidade importante a se destacar na teoria da SSA. De modo explícito, seus

autores irão se afastar das interpretações clássicas a respeito dos ciclos econômicos ou das

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“ondas largas”, posto que essas se detêm fundamentalmente aos fatores da ordem econômica,

os quais açambarcariam os determinantes endógenos dos ciclos de acumulação e suas crises

(Cf. KOTZ, 1994, p. 1-6; MAVROUDEAS, 2006).

Alternativamente, como já assinalado antes, na abordagem dos teóricos da SSA as

instituições políticas, ideológicas ou culturais, ao lado das econômicas, são trazidas para o

centro da análise, de tal forma que a profunda interdependência entre elas exige que todas sejam

consideradas com a mesma estatura (KOTZ, 1994, p-1-6).

A acumulação de capital não pode operar no vácuo, pois tem necessariamente

um ambiente. Esses são seus fundamentos institucionais. Assim, ambas as

teorias [o autor se referia também aos regulacionistas franceses] tentam

endogeneizar os fatores institucionais, ou seja, em vez de considerá-los como

condições essenciais, mas externos do processo de acumulação, eles as

consideram como elementos internos cruciais da acumulação capitalista. Em

outras palavras, a acumulação capitalista não é simplesmente um processo

econômico, mas se relaciona fundamentalmente com uma ampla gama de

instituições que não são apenas econômicas, mas também políticas e

ideológicas7. (MAVROUDEAS, p. 201, 2006)

Dessa perspectiva, portanto, melhor seria considerar as Estruturas Sociais de

Acumulação como um conjunto de processos relacionais, os quais, em determinados contextos

históricos, se concatenariam no tempo, fazendo tracionar uma nova onda de investimentos

capitalistas e impulsionando o ciclo de acumulação. Como fica claro na literatura a respeito, os

teóricos da SSA não parecem ter a pretensão de definir a priori quais os tipos ou perfis das

instituições sociais ou quais os fundamentos macroeconômicos que devem estar subjacentes à

SSA.

Destarte, por reconhecerem que o desenvolvimento do sistema capitalista é um

processo em aberto, irreversível no tempo e historicamente determinado, a grande contribuição

da abordagem da SSA parece ser a de fornecer um aparato metodológico que propõe alguns

recortes específicos dos ciclos de acumulação para que, de forma comparada, se possa

apreender os traços contingentes do capitalismo a cada tempo e lugar. Nesse sentido, embora

os autores que se filiam à essa escola de pensamento a tenham conferido o estatuto de “teoria”,

7 Tradução minha.

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na presente tese a SSA é tomada antes como uma metodologia de analise, isto é, uma

determinada forma de abordar a história econômica (um approach de largo espectro), cujo valor

não se demonstra por qualquer tipologia ou modelagem sofisticada, mas sim por meio de seu

programa de pesquisa consistente e de grande utilidade para análise comparada.8

Outras escolas de pensamento, alinhadas tanto à ortodoxia quanto à heterodoxia,

que também emergiram após a derrocada da Golden Age, guardam importantes pontos de

tangência com a abordagem da SSA, em especial no que concerne à ênfase dada às instituições

(Cf. KOTZ, et al., p.1-6, 1994). Entretanto, como observado em variados artigos que se

debruçam sobre o tema (KOTZ, 1994, p. 85-97; MAVROUDEAS, 2006; McDONOUGH ,

KOTZ, 2010, p. 17-19/313), há inegavelmente uma maior proximidade à escola da Teoria da

Regulação. Ambas lançam mão do referencial teórico marxista e também dão grande

importância ao papel das instituições como instâncias reguladoras da dinâmica de acumulação.

Apesar disso, as duas teorias se diferenciam em aspectos importantes.

Para a teoria da regulação, por exemplo, as instituições (ou o Modo de Regulação9)

modulam o Regime de Acumulação na medida em que determinam a taxa de lucro e assim

afetam o processo de realização do valor. Já de acordo com a teoria da SSA as instituições

impactam a dinâmica econômica de forma distinta, por meio de seus efeitos sobre o grau de

estabilidade e as condições de previsibilidade. Ou seja:

A perspectiva da teoria da regulação encampa uma concepção mais

tradicionalmente marxista da acumulação, ao passo que o entendimento da

teoria das estruturas sociais de acumulação se aproxima mais da perspectiva

keynesiana, dada sua ênfase na decisão de investimento do capitalista em um

ambiente de incerteza sobre o futuro10. (KOTZ, p.89, 1994)

8 À semelhança do que Michel Aglietta sugere em relação à Escola da Regulação francesa (AGLIETTA,

1998, p. 42).

9 De acordo com Aglietta (1998, p.41) “a mode of regulation is a set of mediations which ensure that

the distortions created by the accumulation of capital are kept within limits which are compatible with

social cohesion within each nation. This compatibility is always observable in specific contexts at

specific historical moments.”

10 Tradução minha.

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Uma outra diferença relevante entre as duas escolas refere-se ao entendimento que

reservam ao processo de emergência da crise ou do colapso do ciclo de acumulação. Embora

ambas considerem que as crises decorram da intensificação das contradições entre um dado

regime de acumulação e as instituições que lhe dão suporte, para os regulacionistas essa tensão

seria consequência da emergência de um novo regime de acumulação (i.e., instituições

circunscritas à dimensão econômica, ou, em termos marxistas, infraestruturais) para o qual as

demais instituições (políticas, ideológicas ou culturais) já não lhe servem. Do lado dos teóricos

da SSA, contudo, a determinação se dá no sentido inverso, ou pelo menos em via de duas mãos:

na medida que o ciclo de acumulação altera a relação de poder entre as classes, os antagonismos

entre capital e trabalho – bem como entre os diferentes grupos de interesse capitalista - se

acumulam e se intensificam, até que as instituições são postas em cheque, introduzindo

instabilidade e incerteza quanto ao futuro. Só então, pela crescente incapacidade de estimar as

condições de realização da demanda no longo prazo com um mínimo de segurança, é que as

bases institucionais que sustentavam a dinâmica de acumulação se desarticulam, geram tensões

e exacerbam as contradições antes latentes que terminam produzindo uma nova crise (KOTZ,

1994, p. 16-18).

Notadamente por conta dessas diferenças conceituais e a despeito de muitas outras

semelhanças, regulacionistas e teóricos da SSA vão conduzir análises bastante distintas a

respeito da era neoliberal. Enquanto para os primeiros o fim do modo de acumulação (regime

+ modo de regulação) fordista levou a uma crise que se perpetua até hoje, em grande medida

por conta das disrupções associadas à financeirização, para os últimos é possível identificar

novas estruturas sociais de acumulação a despontar em diferentes países e momentos. Assim,

em termos globais, entre 1979 e 2008, a despeito das menores taxas de crescimento econômico

e da redução das taxas de lucro, teria emergido toda uma nova institucionalidade que deu corpo

a uma nova dinâmica de acumulação, agora, porém, financeirizada. De acordo com Mavroudeas

(2006, p. 203-204), embora os regulacionistas tenham tido maior influência sobre a literatura

especializada e tenham se mantido mais fiéis às teses marxistas que lhes calçavam a teoria, a

sua abordagem resistiu menos à passagem do tempo, perdendo vigor à medida em que o

conceito do fordismo se cristalizou. O aparato da escola da regulação teria ficado por demais

circunscrito à análise daquele período histórico específico ou no máximo, por contraste, à do

período subsequente (de ausência do fordismo).

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De fato, como aponta Mavroudes (2006) a nova institucionalidade que emerge com

o neoliberalismo e com os processos de globalização financeira, embora tenha sido analisada

com importantes contribuições pelos autores que estiveram entre os principais fundadores da

Escola da Regulação (ex: AGLIETTA, 1998, BOYER, 2010), não tem sido abordada

consistentemente com o aparato teórico característico daquela escola. Para Mavroudeas (2006)

essa relativa obsolescência da escola francesa decorreria em última instância da manutenção da

primazia dada ao Regime de Acumulação (dimensão econômica) em relação ao Modo de

Regulação (dimensão das instituições políticas e culturais), o que teria levado a um apagamento

dos nexos da primeira com a segunda. Esse talvez fosse o motivo por trás do relativo abandono

dos esquemas da Escola da Regulação nas análises mais recentes daqueles autores, uma vez

que se percebe a perda de eficácia daquele método quando se pretende emprega-lo para

interpretar outros regimes de acumulação que não o fordista. Por seu turno, a abordagem da

Teoria da SSA, apesar de muito menos empregada do que a outra, tem logrado maior vitalidade

e continua sendo utilizada de forma exitosa para analisar outros momentos e contextos da

história do capitalismo para além daquele que marcou o pós-guerra nas economias avançadas.

Face a esse conjunto de elementos a respeito da pertinência de se empregar a

abordagem da SSA, a tese aqui desenvolvida está apresentada em três capítulos principais, cada

qual dedicado a uma particular Estrutura Social de Acumulação, tal como proposto por aquela

escola, isto é: i) a dimensão político-institucional, que trata fundamentalmente do papel do

Estado e das instituições políticas; ii) a dimensão monetária-financeira, que expressa a relação

de conflito intercapitalista e iii) a dimensão dos conflitos de classe, isto é, das relações capital-

trabalho.

O recorte temporal que é objeto desta tese corresponde ao período aqui denominado

de desenvolvimento contingente e limita-se aos anos compreendidos entre a posse de Luiz

Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, e o término do primeiro mandato de Dilma Rousseff,

em dezembro de 2014. Entende-se que esse período de desenvolvimento contingente guarda em

sua dinâmica os traços característicos de uma efetiva articulação entre Estruturas Sociais de

Acumulação, as quais se diferenciam tanto da experiência do neoliberalismo sem peias do

período anterior quanto da dinâmica entrópica que se instaura no país a partir de 2015, quando

uma política de ajuste fiscal profundo leva o país à recessão e amplifica os desajustes e impasses

que se acumulavam, pelo menos desde 2011.

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A fim de preparar um alicerce analítico que nos permita melhor compreender o

período em tela como o desenlace de um dado regime histórico e social de acumulação

capitalista no Brasil, nosso ponto de partida são dois movimentos que marcaram a passagem da

década de setenta para a de oitenta e que nos parecem cruciais como eixos conformadores do

que viriam ser as novas Estruturas Sociais de Acumulação do país, às quais, em nossa hipótese,

só se completariam na primeira década do século XXI.

Por um lado, o documento “esperança e mudança” de 1982, elaborado por

representantes das elites intelectual e política que se opunham ao programa de “modernização

conservadora” do regime militar constituiu uma plataforma político-institucional não só para a

superação do governo autoritário, mas fundamentalmente para a consolidação de um Estado

Social no Brasil. Por outro, sob a proeminência do sindicato dos metalúrgicos do ABC, uma

nova geração de movimentos sociais desponta no final dos anos setenta imbuída em reivindicar

direitos políticos, sociais e civis que lhes eram negados pela sociedade brasileira naquele

contexto de supressão da democracia.

Estes dois movimentos, que se tangenciam e se articulam ao longo do processo de

redemocratização, em especial na campanha das “diretas já” e ao longo da Assembleia

Constituinte dos anos 1987-1988, são a um só tempo a agenda progressista que orientou a luta

política no Brasil desde o fim da ditadura e o leito político e ideológico sobre o qual se

assentarão os governos Lula (2003-2006 e 2007-2010) e Dilma (2011-2014).

Nossa hipótese é que, ainda que não estivesse manifesta de forma explícita, a

agenda política perseguida pelos governos do Partido dos Trabalhadores nesses doze anos é

fundamentalmente produto das demandas vocalizadas por aqueles dois movimentos do início

dos anos oitenta e é, portanto, nesse ideário que se deve buscar o nexo das transformações

econômicas e sociais que nos anos 2000 deram acento às Estruturas Sociais de Acumulação sob

a liderança do Partido dos Trabalhadores. Mais do que isso, se na modernização conservadora

conduzida pelos militares os interesses capitalistas ocupavam o vértice das preocupações com

o desenvolvimento do país, os governos do PT, que emergem das forças que se opunham ao

regime, invertem o sentido da equação, colocando o bem-estar dos trabalhadores como o fim

último da política. Entretanto, ao tecerem a história a contrapelo da experiência traumática dos

anos de ditadura, acertam e erram com os sinais trocados, ou seja: ao mesmo tempo em que

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logram êxito no enfrentamento das lacunas que emergiam no regime de acumulação do passado,

se omitem a respeito de aspectos estruturais do desenvolvimento econômico capitalista,

limitando-se ao imediatismo bem-intencionado da primazia do social. Talvez por isso, os

governos do PT enredam-se como o complemento, ou o avesso, da mesma trama histórica que

a partir da ruptura institucional de 1964 inaugura uma dicotomia social e política que dificulta

enormemente a consolidação de uma hegemonia capaz de dar curso a um novo projeto de

desenvolvimento – a não ser, ainda, em momentos ligeiramente milagrosos, como o que se

assistiu nos anos recentes.

Assim, para dar conta da tarefa em tela, no capítulo I, discute-se a hipótese que

subjaz esta tese, qual seja, de que para melhor compreender a Economia Política dos governos

do PT deve-se buscar os nexos junto à história econômica e social do período da

redemocratização brasileira. São os deslocamentos tectônicos percebidos entre o final dos

setenta até a Constituição Federal de 1988 que dão pertinência e sentido histórico à dinâmica

brasileira destes primeiros anos do século XXI. Assim, faz-se no capítulo uma breve

reconstituição do processo social que levou à condensação política em torno do Partido dos

Trabalhadores e suas bases sindicais e populares. Como hoje sabemos, foi precisamente essa

condensação política que constituiu o vetor partidário a quem a história reservou o papel de dar

corpo – limitado e permeado de contradições - ao Estado Social que era reivindicado pelos

opositores da modernização conservadora. Noutras palavras, trata-se, portanto, de revisitar a

origem e o desenvolvimento desse amalgama progressista que, na transição democrática,

conseguiu atualizar a agenda nacional aos moldes do Estado Social e que serviria de roteiro

para o desenvolvimento contingente. Nos termos da teoria da SSA essa seria, portanto, aquela

dimensão de análise do papel do Estado e das instituições que intermediam as inexoráveis

tensões de classe e que, em circunstâncias históricas particulares, viabilizam os ciclos de

acumulação capitalista.

Já no capítulo II, reserva-se espaço para a análise do padrão monetário e financeiro

que engendrou a retomada do crescimento econômico e sua sustentação por quase doze anos.

Para esta dimensão de análise, agregou-se no caso brasileiro o debate a respeito do câmbio e da

inédita redução da vulnerabilidade externa que, ao longo da história brasileira, inapelavelmente

sempre ameaçou qualquer projeto de desenvolvimento econômico. Assim, embora nos textos

seminais da SSA e mesmo de suas aplicações para analisar as Estruturas Sociais de Acumulação

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de outras economias periféricas não se costume enfatizar a problemática do câmbio, entende-

se que o problema da assimetria das moedas e da dessintonia entre os esforços de

industrialização e as modalidades domésticas de financiamento do capital tornam obrigatória a

análise da dinâmica cambial e do risco externo a ela associado.

Na perspectiva da teoria da SSA, essa dimensão da análise corresponderia à

caracterização das relações capital-capital, ou seja, da sedimentação de determinadas formas de

realização da acumulação vis a vis os custos e riscos implícitos nas operações financeiras que

lhes viabilizam.

Finalmente, no capítulo 3, se dá prosseguimento ao método sugerido pela SSA,

apresentando-se a forma como se articularam e até certo ponto se acomodaram os interesses de

classe durante o período em questão. Para tanto, é realizada uma análise de como a defesa do

emprego e da renda do trabalhador constitui o ponto focal dos governos do PT, servindo não

apenas de bússola, mas, em grande medida, de fator dinamizador do ciclo de acumulação. Para

melhor avaliar o êxito desse arranjo, são analisadas três de suas principais dimensões: a

evolução do emprego; a formalização das relações de trabalho e a evolução dos salários reais.

À luz da perspectiva tomada aqui, as preocupações com as questões relativas ao

mundo do trabalho são, portanto, o elemento catalisador que permite amalgamar as forças

sociais e econômicas em torno de uma rara e efêmera democracia social no Brasil. Entretanto,

se por um lado pode-se dizer que foi a luta em busca de melhores condições de trabalho e da

melhora de vida da “ralé” que constituiu o elemento que deu coerência histórica, econômica e

política aos três primeiros governos do Partido dos Trabalhadores, por outro lado, foi

precisamente por conta dos limites desse mesmo projeto que inescapáveis contradições do

processo de desenvolvimento capitalista foram subestimadas e, a seu tempo, vieram cobrar seu

preço.

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CAPÍTULO 1

A montante

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1.1 Introdução

Partindo da perspectiva teórica da SSA, neste capítulo propõe-se uma reflexão sobre

quais foram as bases institucionais que estiveram subjacentes ao processo aqui denominado de

desenvolvimento contingente. Ou seja, trata-se de revisitar a história brasileira do último quarto

do século XX para resgatar os fatores sociais e políticos que vieram constituir a ossatura do

processo de acumulação percebido entre 2003 e 2014. Nos termos da metodologia proposta

pela SSA, essa tarefa corresponde ao exercício de caracterização das relações entre Estado e

capital, isto é, do papel do Estado como regulador e promotor da acumulação capitalista.

Destarte, no caso particular da experiência brasileira, é tarefa incontornável analisar

os antecedentes sociais e políticos, bem como a produção institucional, daquela que foi

consagrada como a “Constituição Cidadã”11 e que serve de baliza ao “Estado social”12 que, a

11 Título empregado pelo Deputado Ulisses Guimarães (PMDB), então presidente da Assembleia

Nacional Constituinte, em seu discurso de 05 de outubro de 1988, por ocasião da promulgação da nova

Carta: “Chamei-a Constituição Cidadã, porque no cidadão [ela] institui seu fim e sua esperança”

(GUIMARÃES, 1988).

12 Optou-se na presente tese por utilizar a categoria “Estado social” para qualificar o modelo de Estado

que se inscreve na Constituição de 1988, da maneira como é definido por Ivanete Boschetti (2016, p.

28-32): “é o Estado que, no capitalismo tardio [MANDEL, 1982], assume importante papel na regulação

das relações econômicas e sociais, tendo por base a constituição de um sistema de proteção social de

natureza capitalista, assentado em políticas sociais destinadas a assegurar trabalho, educação, saúde,

previdência, habitação, transporte e assistência social (...). O uso da categoria Estado social não atribui

a priori nenhuma avaliação valorativa sobre sua condição de ‘bem-estar’ ou de ‘mal-estar’. Apenas

qualifica uma dimensão da ação do Estado no capitalismo”. Nesse sentido, diferencia-se do conceito de

Estado de Bem-Estar social na medida em que na literatura especializada esse aparece frequentemente

associado às políticas macroeconômicas de recorte keynesiano que caracterizaram as economias

avançadas no pós-guerra (OFFE, 1984, p. 182-96; PRZEWORSKI, 1991) ou à sociedade salarial

fordista (CASTEL, 1995).

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duras penas, foi sendo erigido no país desde então13. Entretanto, se por um lado a tarefa é

facilitada pelo fato de se ter condensado no tempo – durante a Assembleia Nacional Constituinte

de 1987-1988 – um amplo esforço nacional que mobilizou diversos setores da sociedade e

redefiniu os marcos legais da democracia que se reiniciava, por outro lado, deve-se reconhecer

que, face a seu resultado paradoxal, ambíguo e seu caráter um tanto demiúrgico14, a

Constituição Federal de 1988 (CF88) permanece como um teimoso enigma de nossa história

política - como, aliás, bem alertava o então Deputado Constituinte Florestan Fernandes, em

artigo publicado na véspera da promulgação da nova Constituição brasileira:

Das invenções humanas, ela [a Constituição] é a mais complexa e sutil,

mistificadora e hipócrita, verdadeira e cruel. Ostenta os rasgos utópicos –

mesmo os que nascem para serem gestos e símbolos – e dissimula a sua

essência: o poder, na forma que ele é exercido por pessoas, instituições e

formações sociais do tope. (Florestam Fernandes, Folha de São Paulo,

04/10/1988. In: FERNANDES, 2014, p. 288)

Inspirada pelo chamado constitucionalismo democrático que emergiu no pós-

guerra entre as nações da Europa Ocidental (VIANNA, 2008, p. 94-99), a Assembleia

Constituinte de 1987-1988 rebentou um documento programático, uma Constituição

dirigente15, uma Carta em que “o conjunto de diretrizes, programas e fins que enuncia, a serem

realizados pelo Estado e pela sociedade, a ela confere o caráter de plano global normativo, do

Estado e da sociedade” (GRAU, 1990, p. 199). A suspeita de que eventuais omissões ou

ambiguidades do texto constitucional dessem margem a arroubos autoritários dos futuros

13 É mercê destacar que o projeto de nação que resulta da CF88 permaneceu sob razoável latência durante

mais de uma década, diferido no tempo por seguidas crises econômicas e pela contramarcha neoliberal

dos anos 1990 (FAGNANI, 2005; FAGNANI, 2013; GIMENEZ, 2007, p.185-236).

14 Como bem nota o cientista político Renato Lessa (2012), à semelhança da experiência varguista dos

anos 30, a Carta produzida pela Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988 surpreende pela

“demiurgia”, pelo espírito de fabricação constitucional do mundo que lhe caracterizou (ver também

LESSA, 2008, p 373-378), não sendo por isso tarefa simples, nem talvez segura, recompô-la apenas a

partir das circunstâncias políticas da época.

15 Segundo Renato Lessa (2008, p 382), a Constituição Dirigente – tida como fundamental em países

periféricos - se ergue “como resposta a três ordens básicas de violência: (i) a falta de segurança e

liberdade, enfrentada pelo Estado de Direito e pelos limites que interpõe à violência física e ao arbítrio;

(ii) desigualdade política, combatida pelos princípios do Estado democrático e (iii) pobreza, contra a

qual se batem os esquemas de ‘socialidade’ do Estado Social”.

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governantes parece ter carreado o pêndulo para o sentido inverso, qual seja: o de ter amarrado

na Carta, além de princípios e diretrizes fundantes da sociedade, os meios e modos das políticas

que deveriam atender aos primeiros (SAMPAIO, 2009; BERCOVICI, 2009, p. 168-170).) – de

fato, de acordo com estudo realizado por Rogério Arantes e Cláudio Couto (2009, p.44-47)

quase 1/3 dos artigos da CF88 correspondem a policies, portanto, a políticas públicas

constitucionalizadas.

Elaborada em um momento de aguda precipitação política da história nacional, o

caráter progressista da Constituição de 1988 tem sido atribuído, com razoável frequência, ao

reflexo tanto dos anseios democráticos e de uma certa reverência ao cidadão (BOSCHETTI,

2006, p.142-144) quanto do medo do arbítrio que emergiram entre a sociedade brasileira

durante à experiência de “modernização conservadora” levada a cabo pelo regime militar16

(RAMALHO, 2008; BRANDÃO, 2011, p. 32-79; LESSA, 2014). Graças a circunstâncias

muito singulares, na arena da Assembleia Nacional Constituinte e em especial nas

Subcomissões Temáticas e na Comissão de Sistematização, as forças do campo progressistas

conseguiram, com notável diligência e eficácia17, apresentar ao plenário uma versão preliminar

do texto constitucional muito mais à esquerda do que parecia possível face à correlação de

forças que se percebia no parlamento18 (PILATTI, 2008, p 311-316; LESSA, 2010; ARAÚJO,

16 Desde o golpe de 1964, avançava no país um ideário de progresso cuja tônica era a modernização das

bases produtivas associada a um mercado de consumo restrito às camadas de média e alta renda

(TAVARES, 1975; LESSA e DAIN, 1982; NOVAIS e MELLO, 2009). Nessa estratégia, não apenas

prescindia-se de um projeto que contemplasse os interesses do conjunto da nação, como em realidade

considerava-se a permanência da desigualdade social como elemento funcional para o desenvolvimento

do capitalismo brasileiro naquela quadra da história (SOUZA, 1980; FAGNANI, 2005).

17 O êxito relativo do campo progressista tem sido imputado tanto a fatores regimentais - o fato dos

trabalhos na constituinte terem sido descentralizados por meio da sistemática de 24 subcomissões

temáticas e nelas conduzidos por composições mais progressistas do que a que se verificava no Plenário

(GOMES, 2006; BOSCHETTI, 2006, p. 142-146; PILATTI, 2008, p.74-76) -, quanto ao empenho do

campo conservador em centrar fogo sobre os temas de ordem política e conjuntural, motivados, tanto

pela campanha para a extensão do mandado presidencial de José Sarney, quanto pela defesa do sistema

presidencialista (FREITAS et al, 2009).

18 De acordo com pesquisa realizada por Leôncio Martins Rodrigues, por ocasião da eleição para a

Câmara Federal que viria compor a Assembleia Nacional Constituinte, 40% dos parlamentares eleitos

eram de direita (declaravam-se a favor do liberalismo econômico), 39% eram de centro (favoráveis a

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2013). A temperatura política elevada daqueles anos e a crescente pressão de organizações e

movimentos populares sobre o Congresso parecem ter jogado papel relevante “para empurrar o

centro político um pouco mais para a esquerda, colocar a direita política na defensiva e

estimular a pequena bancada da esquerda a assumir a ofensiva nas subcomissões e comissões.

(SAMPAIO, 2009, p. 43). Por conseguinte, a despeito da ruidosa reação do bloco conservador

conhecido como “Centrão”19, emendando em fase derradeira os temas que lhe eram caros20, o

resultado a que se chegou ao término da Assembleia Constituinte “acabou por parecer mais

afeiçoado ao modelo desejado pelas forças progressistas minoritárias em seu interior do que ao

modelo pretendido pelo conservadorismo majoritário que a partejou”, (PILATTI, 2008, p. 311).

Manteve-se na Carta um “conteúdo inapelavelmente inovador, democrático e igualitário”

(ARAÚJO, 2009, p. 52), manifesto, entre outros, não só pela consagração de dispositivos que

garantiram a defesa da empresa nacional, a forte presença do Estado na economia, a proteção

estendida aos trabalhadores e a ampliação dos direitos sociais21 (GRAU, 1990; BARROSO,

2008; LESSA, 2012), mas principalmente pela forma como se condicionou a livre iniciativa ao

valor social do trabalho (art. 1º) e a propriedade à sua função social (art. 5º, XXIII). Como bem

sintetiza Biavaschi (2005, p. 151) à semelhança das constituições Mexicana (1917) e de Weimar

(1919), a CF88 inspirou-se “no suposto de que o objeto dos direitos fundamentais não é a

propriedade privada, mas o homem que trabalha na comunidade”.

Com efeito, a Carta foi recepcionada com surpresa e até mesmo certa perplexidade

pela classe política que a havia gestado e pelos analistas que a ela se debruçaram (Cf. PILLATI,

uma economia mista) e apenas 21% se situavam na esquerda, isto é, declaravam-se a favor de uma

economia socialista (RODRIGUES, 1987, p. 116).

19 Bloco de centro-direita que se organizou ao final do processo constituinte com o objetivo de bloquear

os diversos avanços apresentados pelo texto elaborado pela Comissão de Sistematização. Para saber da

atuação do “Centrão” e da composição parlamentar do Congresso Constituinte veja PILATTI (2008),

MARCELINO et al (2009), FREITAS et al (2009).

20 Notadamente: o controle privado dos meios de comunicação; a manutenção da estrutura fundiária; o

veto a qualquer possibilidade de revisão da lei de anistia; o regime presidencialista e a circunstancial

extensão do mandato presidencial de José Sarney.

21 Em seu artigo 6º a Constituição de 1988 estabelece como direitos sociais dos brasileiros “a educação,

a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade, a assistência

aos desamparados”.

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1993; PRADO, 1994; LESSA, 2008; ARAÚJO, 2009). O desfecho inesperado revelou-se de

imediato, como deixaria evidente, por exemplo as reações dos atores políticos da época:

enquanto o então Presidente da República José Sarney, figura sintética do partido da ordem,

afirmava em seu juramento oficial que o texto aprovado tornaria o país “ingovernável”, entre

parlamentares do campo progressista, que antes haviam se oposto à realização de um processo

constituinte naqueles moldes, ergueram-se logo trincheiras para defender a nova Constituição,

cuja integridade já se via ameaçada por clamores revisionistas antes mesmo de sua promulgação

(Cf. PILATTI, 2008; ARAÚJO, 2009; SAMPAIO, 2009; FAGNANI, 2013). Como constataria

mais tarde o Deputado Constituinte pelo PT/SP, Plinio de Arruda Sampaio, apesar de manter

os institutos basilares da ordem burguesa, a nova Constituição Federal, na medida em que os

condicionava à garantia da soberania nacional, à erradicação da pobreza e à redução das

desigualdades sociais e regionais, mereceria por fim ser designada como “uma carta

socialdemocrata com tonalidades nacionalistas” (SAMPAIO, 2009, p. 40).

Como entender então o processo constituinte e a surpreendente Carta que dele

resultou? Quais os nexos entre aquele contexto político sui generis - sem ruptura ou revolução,

numa transição consentida, controlada e dirigida pelas mesmas forças que subjugaram o país

por duas décadas – e a consagração institucional de um Estado Social tardio às vésperas da

publicação do Consenso de Washington22?

Para além do já mencionado possível espectro demiúrgico - sobre o qual não se

pretende arriscar aqui – as pistas do enigma da CF88 devem ser buscadas no período que se

estende entre meados da década de 1970 até os estertores do regime militar, em 1985. Foi no

bojo daquele processo de crise de legitimidade do regime militar e de intensificação da luta pela

redemocratização que desponta na sociedade brasileira a percepção de que a derrocada do

governo autoritário seria não apenas um momento para relançar - em novo patamar - a

democracia política, mas também uma oportunidade para buscar instaurar um novo modelo de

desenvolvimento capaz de atualizar o país aos marcos de um Estado Social. Como aponta

22 Expressão cunhada pelo economista John Williamson em 1990 para designar uma lista de dez

reformas político-econômicas liberalizantes que ele identificava como amplamente consensuais entre as

instituições financeiras baseadas em Washington (FMI e Banco Mundial) como recomendáveis para

praticamente todos os países da América Latina (WILLIANSON, 2004, p.1).

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Cardoso de Mello em texto no qual articula as relações entre os blocos de capital instalados no

país e as bases sociais das forças políticas constituídas e emergentes:

A desaceleração do crescimento, a perda do ritmo de expansão do emprego e

a subida da inflação, até 1980, e depois a recessão, o desemprego, o

recrudescimento da alta de preços, a queda dos salários reais, a subida da taxa

de juros, compõem um pano de fundo extremamente favorável às oposições

(MELLO, 1988, p. 28).

E de fato aqueles foram anos em que despontaram com força o que se pode chamar

de oposições autênticas (o novo sindicalismo e a fração “autêntica” do MDB). Florestan

Fernandes, em um discurso proferido no início dos trabalhos da Assembleia Constituinte (abril

de 1987), já parecia distinguir com lucidez o papel das duas vertentes autênticas da oposição

que despontavam como principais protagonistas daquele processo histórico: por um lado, “as

classes trabalhadoras e os sindicatos foram os peões (...) porque provocaram medo entre os de

cima”23 e, por outro, os parlamentares do MDB (mais tarde PMDB) que “se depreenderam da

liberdade relativa vigiada e puseram em prática, in crescendo, a oposição real”. (FERNANDES,

2014, p.76). Assim, embora atuando em campos distintos, mas com evidentes pontos de

tangência e frequentes agendas comuns, foram estas duas forças oposicionistas que deram

sentido e forma ao país que viria aflorar da Assembleia Constituinte. Depois de terem se

aproximado por ocasião da campanha das Diretas Já, a rara e instável unidade oposicionista

deu ensejo a uma atuação relativamente articulada e convergente, que não só impediu qualquer

ameaça de retrocesso autoritário (Cf. MELLO, 1988, p. 45-47; SAMPAIO, 2009) como

garantiu o amalgama necessário para grande parte dos avanços cravados no texto constitucional.

É, pois, destes dois grupos que protagonizaram a transição democrática que tratam

as seções subsequentes deste capítulo. Sem pretender apresentar uma análise exaustiva de suas

trajetórias ou formulações, destacam-se as suas respectivas origens e, principalmente, a análise

dos seus documentos programáticos que, implícita ou explicitamente, acabaram servindo de

roteiro para os trabalhos da Assembleia Constituinte e, por conseguinte, como pavimento ao

desenvolvimento contingente dos anos 2000.

23 Grifo meu.

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1.2 A vertente da oposição autêntica de massas

Como parecia antever Eder Sader - ainda no calor da hora - o Brasil do século XXI

guarda inquestionáveis nexos com a agenda política que despontou naqueles anos de transição

e que se consubstanciou na nova Constituição. Dizia ele em 1988:

É muito provável que na história política do país o período entre 1978 e 1985

(portanto entre as greves do ABC e a vitória de Tancredo Neves no Colégio

Eleitoral) fique marcado como momento decisivo na transição para uma nova

forma de sistema político. (SADER, 1988, p. 26)

Analisando a efervescência social que caracterizou os últimos anos da década de

1970 no Brasil e que viria conformar novos padrões de ações coletivas no país, Sader destacava

ainda que esses movimentos de oposição popular - não institucional - se articulavam

fundamentalmente em torno de três “matrizes discursivas”: a das comunidades de base (ligadas

à corrente católica conhecida como Teologia da Libertação); a da esquerda marxista, em crise

com os descaminhos do socialismo real, e a do novo sindicalismo, que despontava com força

no ABC e na chamada “oposição sindical”24.

A emergência dessas forças no seio da sociedade brasileira correspondeu, em certa

medida, à contraface do estreitamento dos canais institucionais pelo governo militar,

especialmente após o Ato Institucional nº5 de 1968. O caráter autoritário da modernização

forçada do sistema partidário e das organizações sindicais produziu o acirramento de alguns

movimentos sociais, na medida em que esses não encontravam espaços institucionais para se

realizarem (NOBRE, 2013, p. 40). Tanto os agrupamentos da esquerda marxista mais radical

rejeitavam o guarda-chuva político do MDB e se dedicavam às atividades de base, quanto os

próprios líderes dos trabalhadores, críticos dos sindicatos oficiais e das antigas lideranças

comunistas, procuravam se aproximar das comunidades eclesiásticas e das associações

24 Corrente que se contrapunha à chamada “Unidade Sindical”, combatia a antiga estrutura sindical

corporativa dos “sindicatos oficiais” e centrava sua atuação nas comissões de fábrica. Reunia desde

egressos da luta armada, militantes ligados à igreja progressista até lideranças do denominado

sindicalismo autêntico, dentre os quais, Lula e Djalma Bom (metalúrgicos de São Bernardo e Diadema),

Jacó Bittar (petroleiros de Campinas) e Olívio Dutra (bancários de Porto Alegre). (Cf. SANTANA,

2008, p. 303-304).

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comunitárias para dar curso às suas reinvindicações (MENEGUELLO, 1989; OLIVEIRA, R.,

2002, p. 217; SECCO, 2011, p. 43-66).

Entretanto, em um primeiro momento, ainda dispersos entre as diversas regiões do

país e distintas categorias profissionais, percebia-se pouca afinidade ou articulação política

entre os “sujeitos coletivos que entravam em cena”. A princípio, o que os unia era

fundamentalmente o rechaço aos espaços de oposição consentida e à ideia - predominante no

pensamento e na política brasileira - de que seria o Estado o único sujeito capaz de realizar a

tarefa histórica de fazer o país superar o subdesenvolvimento (CHAUÍ, 2007; CERQUEIRA,

2010, p 104-109).

Contudo, com a intensificação do movimento de greves na região do ABC entre os

anos de 1978-1980, as oposições sindicais e, mais especificamente, o Sindicato dos

Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema se consolidaram não apenas como ponta de lança de

uma nova prática sindical de massa – o já mencionado novo sindicalismo - como também

assumiram o protagonismo dos demais movimentos populares que lutavam à margem da

tutelada oposição institucional25 (LEITE, 1984). Agindo com habilidade, ora como

representantes da categoria, ora como condutores do movimento, e equilibrando-se entre a

radicalidade e a responsabilidade (OLIVEIRA, R., 2002, p.82-83), os metalúrgicos do ABC

foram conquistando crescente legitimidade, não apenas entre a sua própria base, mas também

entre diversos segmentos da sociedade brasileira que se opunham ao status quo (SADER, 1988,

p. 29). “Em torno destes, mas para além de suas fronteiras (físicas e institucionais), as greves,

paralisações e outras formas de lutas coletivas se fizeram como um movimento” (OLIVEIRA,

R., 2002, p. 69). O êxito e a proeminência do novo sindicalismo do ABC não apenas serviram

para aglutinar e dar sentido aos atores que se mobilizavam em torno daquelas três matrizes

25 Importante lembrar que a referida proeminência dos metalúrgicos e dos sindicatos do ABC na luta

pelos direitos dos trabalhadores era também reflexo da destacada dimensão alcançada pelo ramo metal-

mecânico e de materiais elétricos na matriz produtiva brasileira. Os trabalhadores desse segmento, que

em 1950 correspondiam tão somente a 19% dos trabalhadores ocupados na Indústria de Transformação,

em 1976 já representavam 49% (1,4 milhões) daquele total (LEITE, 1984, p. 4).

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discursivas, como deram ensejo ao surgimento de novas e importantes instituições políticas, as

quais se tornariam os principais “peões”26 do país que vinha à tona com a redemocratização.

Assim, em um contexto de agudo desgaste da legitimidade do regime militar

(MELLO, 1988), foram então criadas três importantes instituições que marcariam a política

brasileira a partir de então. Em 1980, nasce o Partido dos Trabalhadores – PT (MENEGUELLO,

1989; KECK, 2010, p.102-175; SECCO, 2012, p. 35-66); em 1983, é formalizada a Central

Única do Trabalhadores - CUT (Cf. OLIVEIRA, M.A., 2002, p.262-265; OLIVEIRA, R., 2002)

e, em janeiro de 1984, em um movimento convergente, embora independente, tem-se à criação

do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, cuja luta pela reforma agrária já vinha se

intensificando desde os anos de 1978-79, destacadamente na região sul do país, e em forte

articulação com as Comissões Pastorais da Terra (Cf. STEDILE, 1997, p.69-71; FERNANDES,

2000.)

No que se refere ao Partido dos Trabalhadores, certamente a mais proeminente

daquelas três instituições, ao se anunciar para a sociedade brasileira por meio de seu “Manifesto

de Fundação” (PT, 1980), o PT já deixava evidente o seu escopo de ação e suas ambições

políticas iniciais. De forma muito genérica, o partido se apresentava como produto da

resistência democrática e destacava como objetivos principais a democratização do Estado e o

progresso social das massas populares:

Após prolongada e dura resistência democrática, a grande novidade conhecida

pela sociedade brasileira é a mobilização dos trabalhadores para lutar por

melhores condições de vida para a população das cidades e dos campos.

[...]

Queremos a política como atividade própria das massas que desejam

participar, legal e legitimamente, de todas as decisões da sociedade, o PT

pretende chegar ao governo e à direção do Estado para realizar uma política

democrática, do ponto de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico

quanto no plano social. (PT, 1980, p.2-3).

26 Nos termos de que falava Florestan Fernandes (op cit)

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Contudo, não se consegue perceber nos primeiros documentos programáticos do

partido a defesa de um projeto nacional, de um modelo de desenvolvimento específico ou sequer

de alguma estratégia econômica de maior envergadura a nortear os rumos do país

(CERQUEIRA, 2010, p. 104-116). A não ser por uma breve menção a uma “sociedade

igualitária, onde não haja explorados nem exploradores”, seu manifesto de fundação se limitava

a destacar a vocação do partido como defensor dos interesses dos trabalhadores e, por

conseguinte, da democracia e das liberdades políticas.

Kleber Cerqueira (2010), em estudo dedicado a analisar as formulações econômicas

do PT ao longo do tempo, sugere que uma das possíveis razões do distanciamento inicial do PT

em relação às questões econômicas de maior fulcro decorra talvez das especificidades daquele

momento em que o partido surgia. A chamada crise da dívida que se impunha ao Brasil desde

1979 e os impasses econômicos que a ela se seguiram (colapsos do balanço de pagamentos,

crise fiscal, escalada inflacionária, aumento do desemprego, arrocho salarial, etc.) fizeram

refluir no país o debate sobre estilos de desenvolvimento em favor dos temas agudos da

conjuntura econômica. Ao PT, não parece ter sido possível escapar do espirito da época. Desde

o primeiro momento sua agenda esteve colada nas estratégias de resistência política e de defesa

imediata de empregos e salários. Para além da crítica à política econômica conjuntural e da

pauta reivindicatória que emulava da luta sindical e dos movimentos sociais, as escassas

formulações27 do PT sobre os rumos do desenvolvimento nacional limitavam-se aos temas da

reforma agrária, da renegociação da dívida externa e da reorientação da matriz industrial para

atender as demandas e necessidades do contingente populacional majoritário e desfavorecido

da população brasileira (CERQUEIRA, 2010, p.116).

Mais do que isso, ao se anunciar como um partido que não se propunha a gerenciar

o capitalismo e suas crises (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1982) o PT também

subscrevia o referencial teórico de um conjunto de intelectuais – na sua maioria vinculados à

27 A principal referência documental a esse respeito é o documento “PT e a Economia: Projeto de

Programa Econômico do PT”, publicado em outubro de 1982, como suplemento especial do Jornal dos

Trabalhadores (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1982), e que contou com a colaboração dos

seguintes economistas: Adriano Biava, Bastian Rydon, Carlos Eduardo Zanata, Eduardo Matarazzo

Suplicy, Francisco de Oliveira, Gesner José de Oliveira Júnior, Paulo de Tarso Vannuchi e Plínio de

Arruda Sampaio Filho, sob a coordenação de Paul Singer.

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Universidade de São Paulo – que se notabilizavam pela crítica ao nacional-

desenvolvimentismo28. Para esse conjunto de autores, o capitalismo brasileiro era

intrinsecamente desigual e excludente, não cabendo a um partido representante dos interesses

dos trabalhadores a veleidade reformista de aperfeiçoar o sistema e mitigar suas mazelas, mas

tão somente a de conquistar o Estado para democratizá-lo e, assim, abrir na esfera pública a

possibilidade de construção de um novo sistema produtivo a partir dos interesses e perspectivas

da massa trabalhadora.

Contudo, apesar da patente tibieza das reflexões e proposições econômicas nos

programas e formulações iniciais do PT:

Pode-se afirmar que embora o PT tenha surgido fazendo uma apreciação

bastante desfavorável sobre o nacional-desenvolvimentismo, com um balanço

bastante negativo dos seus resultados econômicos e sociais, o partido nunca

chegou a formular uma proposta de política econômica que rompesse

totalmente com os pressupostos daquela ideologia e, mais ainda, aproximou-

se significativamente deles ao longo de sua trajetória. (CERQUEIRA, 2010,

p. 177-178)

De fato, a análise dos programas do partido, desde o momento em que disputa a

primeira eleição presidencial em 1989 revela que, com o passar dos anos, por conta das seguidas

disputas eleitorais para a presidência da república e do acúmulo de experiências de gestão de

governos subnacionais, foi-se caminhando lentamente de uma posição fundamentalmente

reivindicacionista, muito própria da luta sindical e da resistência aos arbítrios do governo

autoritário, para uma posição mais atenta aos temas do desenvolvimento e da macroeconomia.

Como afirma Cerqueira (2010, p. 166)

A trajetória da elaboração programática do PT parece descrever um percurso

que vai de um reformismo radical distributivista, como em 1982 e 1989, a um

reformismo moderado desenvolvimentista, com muita ênfase ainda no

distributivismo, mas agora o combinando a um projeto de desenvolvimento

nacional, com semelhanças visíveis com o ideário nacional-

desenvolvimentista das décadas de 50 e 60.

28 Dentre estes intelectuais que orbitavam o PT em seus primeiros anos de vida cabe destacar Francisco

de Oliveira, Marilena Chauí, Francisco Weffort, Florestan Fernandes, Paul Singer, entre outros.

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Talvez demasiado tarde, depois de um primeiro governo comprometido com a

estrita manutenção da ortodoxia econômica - em nome de um recuo tático (OLIVA, 2010, p.

4) -, no programa de governo apresentado pelo partido e demais legendas coligadas na

campanha para a reeleição de Lula em 2006 ficava clara a assunção a uma modesta agenda

desenvolvimentista, na qual sublinhava-se o papel estratégico do Estado como indutor do

desenvolvimento e como garantidor do progresso social. (CERQUEIRA, 2010, p. 158-179).

Nosso Governo continuará em sua tarefa de constituir um grande mercado de

bens de consumo de massas, o que vincula de maneira indissociável

crescimento com distribuição de renda. Esse propósito requer prioritária

diretriz governamental voltada para a elevação substancial dos investimentos,

especialmente públicos e nacionais, bem como privados e estrangeiros.

Pressupõe ainda o fortalecimento da iniciativa do Estado, das empresas

estatais e do sistema financeiro público, por sua capacidade indutora do

desenvolvimento29. (COLIGAÇÃO A FORÇA DO POVO, 2006, p.10)

De todo modo, se por um lado é mercê sublinhar a demora e omissão do partido

para assumir mais claramente um projeto e uma agenda de desenvolvimento nacional, por outro,

há inequívocas razões para encontrar na luta política e nas primeiras formulações programática

do partido muitos dos germes do Estado Social que viria tomar corpo com a Assembleia

Constituinte de 1988. Desde logo, a luta pelos direitos trabalhistas (direito de greve, de livre

organização, seguro-desemprego, redução da jornada, aviso prévio, entre outros) constituiu o

cerne da agenda do Partido dos Trabalhadores, ganhando densidade à medida em que o partido

se apresentava com candidatos próprios nas eleições de 1982 (governadores, senadores e

deputados federais) e de 1985 (prefeituras e vereadores) (LEITE, 1984; KECK, 2010). Além

disso, no bojo da grande mobilização nacional na campanha das Diretas Já o PT se aproximou

de outras forças de centro-esquerda que estavam nas hostes da oposição, emprestando

capacidade de mobilização popular e tomando emprestado bandeiras mais amplas que

extrapolavam os interesses mais imediatos da massa trabalhadora e dos sindicatos.

Resumidamente, portanto, o que se observa é que, a partir de sua fundação em 1980,

o próprio sucesso do PT como vetor da resistência à ditadura levou a um rápido processo de

alargamento do ideário petista, incorporando gradativamente demandas políticas de grupos

29 Grifo meu.

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sociais ligados à certos ambientes profissionais de classe média (professores, médicos,

jornalistas, servidores públicos, entre outros) e que, de alguma maneira, responderam pela

aproximação do partido à uma agenda com tonalidades socialdemocratas. Ao longo dessa

trajetória, também pela pedagógica experiência de governar, parece ter havido crescente –

porém, provavelmente tardia - percepção da necessidade de pavimentar o desenvolvimento

econômico por meio da articulação entre Estado e blocos de capital que atuam no país.

1.3 A vertente autêntica da oposição institucional

Correndo em campo consentido pelas forças do Regime Militar, a combativa fração

do Movimento Democrático Brasileiro – MDB – conhecida como “grupo dos autêntico”30

constituiu a espinha dorsal da outra vertente de oposição real que viria contribuir de forma

decisiva ao país que emergiria a partir da luta pela redemocratização. Composta inicialmente

por um pequeno grupo de parlamentares tidos pelas forças do regime como radicais, a

minoritária ala dos autênticos foi ganhando protagonismo à medida em que, ao longo da década

de setenta, o MDB se consolidava como uma grande frente de oposição ao regime. Reunindo

em torno de si as pautas e proposições de diferentes setores progressistas da sociedade

brasileira, os autênticos foram angariando simpatia e adesões que contribuiriam de forma

determinante para a formação de um lastro de oposição legítima e efetiva.

30 Também denominada de “grupo dos imaturos” pela imprensa da época (KINZO, 1988, p.57), o grupo

dos autênticos do MDB surgiu a partir da iniciativa de 23 Deputados Federais do MDB que, em 1971,

se organizaram com a pretensão de fortalecer os pleitos da oposição junto ao Câmara Federal e

intensificar o debate pela redemocratização do país. Em 1973 o grupo ganhou maior relevância quando

articulou e deu apoio formal à anticandidatura de Ulisses Guimarães à Presidência da República.

Contudo, nunca houve uma delimitação exata do grupo dos autênticos. Sua densidade e suas fronteiras

variavam de acordo com a causa e as circunstâncias de cada momento. De acordo com depoimento do

então Deputado Santilli Sobrinho, um dos primeiros autênticos: “o grupo se aglutinava de maneira

natural, sem número fixo, que variava de um mínimo de dezessete a uns trinta e poucos, conforme a

gravidade do problema político a enfrentar” (NADER, 1998, p. 355).

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“(...) era importante a existência de um grupo de parlamentares de oposição

mais incisiva e militante, na medida em que dava credibilidade do MDB como

um genuíno partido de oposição junto ao eleitorado, particularmente junto aos

setores mais ideológicos. ” (KINZO, 1988, p. 58)

Notadamente depois da surpreendente vitória eleitoral dos mandabrasas31 em 1974,

quando o MDB elege 16 dos 22 senadores da república, intelectuais e simpatizantes da esquerda

sentem-se crescentemente encorajados a aderir à oposição legal, seja porque a então tonificada

estrutura do MDB abria espaço para o desenvolvimento de atividades políticas junto à

população, seja porque servia de plataforma para o lançamento das ditas “candidaturas de

opinião” (KINZO, 1988, p. 41-47).

Assim, embora o MDB tenha sido criado como uma organização partidária de

oposição moderada e consentida32, com a qual as forças da ditadura esperavam conferir certo

lustro de legitimidade ao regime (BENEVIDES, 1986, p. 28), com o passar dos anos, as vitórias

eleitorais, a gradativa institucionalização do partido em diversas regiões do país e o crescente

protagonismo dos autênticos, o MDB foi se afirmando como “denominador comum simbólico”

entre as forças de oposição (de esquerda ou liberais), “frustrando as esperanças de que o

bipartidarismo imposto viesse a ser o arcabouço da aquiescência popular ao regime” (REIS,

2002, p.18)

De "oposição tolerada", o MDB tornou-se uma frente aguerrida contra a

ditadura, as oligarquias, a repressão militar, a centralização econômica. A

organização deitou raízes profundas em todo o país, numa inexorável ascensão

eleitoral e política. Símbolo da resistência (...), o MDB assume a luta pela

restauração do Estado de direito e extinção da Lei de Segurança Nacional. (...).

Junto a outras entidades nacionais — como a Igreja e a Ordem dos Advogados,

OAB — denuncia a repressão política e as incontáveis violações de direitos

humanos, batalha pela anistia e reivindica a convocação de eleições diretas em

todos os níveis e de uma Assembleia Nacional Constituinte (livre e soberana,

e não a "congressual" que o PMDB acabou aprovando...). No final dos anos

31 Alcunha pela qual os boias-frias identificavam os membros do MDB (CHAUÍ, 2007, p. 177).

32 Na manifestação de Lysâneas Maciel, ex-deputado federal do MDB e um dos primeiros articuladores

do grupo dos autênticos, era possível perceber com clareza qual era o papel reservado ao partido em

seus primeiros momentos: “o MDB fora criado apenas para fazer pendant com a Arena e na verdade

não era um partido de oposição”. “(...) percebi que o MDB defendia a seguinte tese: não contestar as

coisas importantes, para assegurar o direito de mais tarde, defender e falar sobre coisas supérfluas”

(NADER, 1998, p 285).

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setenta o MDB participa intensamente dos movimentos sociais e populares,

além da solidariedade ativa com o movimento sindical, sobretudo nas grandes

greves do ABC paulista. O MDB era, portanto, mais do que um partido

político; era, mesmo um movimento, era uma bandeira de luta. De "oposição

consentida" tornara-se o partido da sociedade civil.33 (BENEVIDES, 1986, p.

28).

Contudo, se por um lado essa consolidação do MDB como frente ampla de

oposição foi aspecto fundamental da luta contra o regime, por outro, devido à plêiade de atores

e movimentos que se abrigavam sob o guarda-chuva oficial da sigla, de início eram escassos e

pouco consistentes os documentos oficiais dedicados a formulação de propostas ou de projetos

que apontassem para o futuro do país. Somente a partir de meados da década de 1970, com o

impulso derivado do referido avanço eleitoral de 1974, é que começam a surgir em

determinadas instâncias partidárias (inicialmente destacam-se as seções estaduais do Instituto

de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais – IEPES – e, depois, o Instituto Pedroso Horta) os

primeiros seminários e conferências sobre temas políticos, econômicos e sociais e que dariam

subsídios para publicações e documentos programáticos do partido, seja para uso das bancadas

do MDB no Congresso, seja para uso dos seus candidatos durante as campanhas eleitorais

(KINZO, 1988, p. 47-64).

Ao longo dessa trajetória de construção programática, estiveram sempre no centro

dos debates emedebistas os temas relacionados à luta pelo reestabelecimento da democracia

representativa, da defesa dos direitos civis e da expansão dos direitos do trabalho. Mas também

despontavam com destaque, desde os primeiros documentos oficiais, a defesa de uma política

de desenvolvimento econômico explicitamente nacionalista, associada ao protagonismo do

Estado e que tivesse como objetivo maior o desenvolvimento social capaz de redistribuir a renda

e a riqueza (op. cit, p. 62-64).

Porém, o documento que iria consagrar a agenda emedebista (já então renomeado

como PMDB34) e que serviria de guia para o país que emergia com a democratização seria o

“Esperança e Mudança: uma proposta de governo para o Brasil”. Apresentado à sociedade

33 Grifo meu.

34 Em 1979 o MDB passa a se chamar PMDB.

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brasileira no calor da campanha eleitoral de 198235 o programa contou com a colaboração de

diferentes atores e grupos da sociedade civil, em especial de algumas categorias profissionais

que, por características próprias do exercício de suas funções, mantinham-se ativas e articuladas

ao funcionamento das instituições e dos aparelhos de Estado - era esse o caso, por exemplo, dos

chamados sanitaristas36, os quais, a despeito do déficit democrático daquele período, atuavam

junto às secretarias de saúde das distintas instâncias de governo, produzindo avaliações, críticas

e formulações de políticas públicas bastante avançadas para o contexto (GERSCHMAN, 1994;

PAIVA, TEIXEIRA, 2014).

Em meio à debacle econômica e social que açoitava o Brasil por conta da crise da

dívida, o documento Esperança e Mudança foi divulgado à nação em um momento em que a

sociedade brasileira estava especialmente sedenta por alternativas de retomada da democracia,

do desenvolvimento econômico e de justiça social. Estruturado em torno de quatro eixos

fundamentais, o programa dedicava um capítulo a cada um dos seguintes temas: (1) a

transformação democrática; (2) o desenvolvimento social; (3) diretrizes para uma política

econômica e (4) a questão nacional.

Nos primeiros parágrafos do programa, uma Assembleia Nacional Constituinte era

reivindicada como “berço da democracia”, como “solução-síntese” da institucionalização do

regime democrático que se almejava instalar no país. Dizia-se: “O meio racional, inteligente e

civilizado de transformação da ordem social é através do encontro da Nação consigo mesma na

Assembleia Nacional Constituinte” (PMDB, 1982, p. 10). Como linha mestra, a ideia de que

era preciso democratizar e fortalecer o Estado para que se implementasse no país um novo estilo

35 O documento, que foi produzido e debatido por ocasião da Convenção Nacional do Partido, realizada

em novembro de 1981, foi depois modificado e aperfeiçoado em atividades e seminários do partido, até

que chegou à sua versão final e publicado na Revista do PMDB em setembro/outubro de 1982. (PMDB,

1982).

36 Sobre o movimento dos sanitaristas – ou do partido sanitário – há um rico debate em torno de seu

significado, suas motivações e contribuições. Grosso modo, enxergava-se no movimento duas grandes

vertentes: a dos movimentos populares de saúde e a dos médicos, os quais muitas vezes se dividiram no

apoio a organizações político partidárias, os primeiros tendendo a se aproximar dos movimentos sociais

que culminaram com a formação do Partido dos Trabalhadores e entre os médicos prevalecia o

alinhamento com a frente de oposição que se organizava em torno do MDB. (Cf. GERSCHMAN, 1994;

OLIVERIA, 1988; CAMPOS, 1988, ESCOREL, 2009)

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de desenvolvimento econômico e social, cujo cerne fosse a defesa do emprego e que tivesse

como objetivo último a redistribuição da renda e da riqueza.

O que se observa nessa ‘proposta de governo para o Brasil’ é uma extensa

agenda de reformas dirigida ao desenvolvimento social. Política salarial,

previdência social, saúde, educação, abastecimento, habitação, saneamento,

transporte, políticas de desenvolvimento regional, entre outras. Mais do que

isso, uma agenda que toca em todas as áreas sensíveis ao enfrentamento da

questão social no Brasil,(...). Talvez a maior expressão das relações entre a

questão social e a política econômica seja exatamente tomar o “emprego como

a síntese da política social” (GIMENEZ, 2007, p. 41)

De fato, o documento não deixava dúvidas quanto a essa perspectiva. “Emprego e

ocupação produtiva para todos os brasileiros em condições de trabalhar são requisitos essenciais

para a construção de uma sociedade democrática” (PMDB, 1982, p. 62).

Quando se vai aos detalhes do texto, surpreende não só a amplitude, a profundidade

e a diversidade das políticas sociais que eram ali consideradas, mas também a forma como eram

concebidas e articuladas a um projeto de desenvolvimento econômico e social uno e integral.

Na frase a seguir, esse intento despontava com nitidez:

“O PMDB não aceita a falácia contumaz, de que existe uma ‘contradição’

entre o ‘econômico’ e o ‘social’; (...) A possibilidade, pois, de que os objetivos

redistributivos de renda e riqueza se farão valer depende de que todas as

políticas econômicas e sociais estejam submetidas a estes objetivos, de

maneira deliberada, consistente e explícita37 (op.cit., p. 18-19)

Além da clara preocupação em subordinar as políticas de desenvolvimento aos

objetivos sociais, outro ponto que merece ser destacado do documento é a perspectiva

atualizada e até mesmo precoce a respeito dos desafios econômicos da época, como revela o

excerto abaixo:

Não podemos ignorar o fato de que, além das graves dificuldades da

conjuntura recessiva, delineia-se para o futuro o início de um processo de

intensas mudanças tecnológicas, com a automação avançadas dos processos

de produção na indústria e dos processos de trabalho nos serviços, decorrente

da utilização cada vez mais ampla de computadores e outros processadores

microeletrônicos. (...) O rápido aumento da produtividade pode tornar-se um

fator extremamente positivo para o desenvolvimento social. Requer, contudo,

37 Grifo meu.

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que a questão do emprego (e da distribuição de renda) passe a ser objeto

central da política pública de forma a evitar os efeitos disruptivos das

inovações técnicas, maximizando-se seus benefícios. (...) a simples retomada

do crescimento econômico não resolverá o problema do emprego. O desafio

de pensar o emprego como uma questão estratégica coloca-se, pois, de forma

inescapável. (op.cit, p. 64-65)

Para responder ao propósito de “pensar o emprego como uma questão estratégica”,

além de apontar uma série de ações de curto prazo (op.cit., p. 65; 79), duas propostas de caráter

estrutural eram então elencadas como medidas de grande alcance: por um lado, a reforma

agrária despontava como fundamental, visando-se a um só tempo melhorar a renda no campo,

reduzir as possibilidades de apropriação especulativa da terra e reduzir o fluxo migratório

campo-cidade; por outro lado, uma nova estratégia de desenvolvimento social, além de seus

efeitos positivos diretos sobre a condição de vida e bem estar do conjunto da população, era

defendida também pelo seus efeitos sobre o mercado de trabalho, isto é, sua dimensão de

criação de empregos:

(...) educação, saúde, previdência (inclusive seguro desemprego) são áreas de

política pública que tem apreciável efeito direto sobre o emprego e sobre o

bem estar das populações de baixa renda. De outro lado, programas de

habitação popular, saneamento básico, transportes coletivos, também

compreendem um amplo conjunto de atividades que tem elevado coeficiente-

emprego. (op.cit, p. 66)

Assim, claramente orientado pela ideia de que a questão do emprego só faz sentido

se pensada como “síntese de uma política social global” e já se antecipando aos riscos da

“regressão de nosso sistema industrial”, o programa Esperança e Mudança elencava também

um plano estruturado de políticas para o setor produtivo, cuja tônica estava no fortalecimento

das empresas nacionais (públicas ou privadas) e na consequente ampliação da soberania

nacional. Além disso, sublinhando - já naquela quadra da história - que a exacerbação de

práticas econômicas especulativas e de seus rebatimentos danosos sobre a acumulação

produtiva constituíam grave ameaça ao desenvolvimento social, em vários momentos do

documento são apresentadas medidas de restrições às atividades especulativas (com imóveis

urbanos, propriedades rurais ou títulos públicos) e forte orientação para que as agências estatais

cuidassem de regular, desenvolver e articular instrumentos de financiamento capazes de

canalizar capital para ações promotoras do desenvolvimento econômico e social do país.

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Nesta perspectiva, ao atentar para a necessidade de se promover uma Reforma

Financeira, propunha-se ainda que o BNDES deveria assumir “de forma regular e explícita,

sua função de ‘cabeça’ do sistema de crédito de longo prazo”. Sugeria-se que o BNDES pudesse

emitir títulos de longo prazo – assegurados principalmente pela aplicação de fundos de

poupança compulsória - e que esses títulos, por sua vez, servissem de funding para que outros

bancos de investimentos (regionais ou estaduais) também pudessem lançar títulos próprios para

operar suas carteiras de crédito (op.cit. p.104-105). Com isso, além do maior poder de

alavancagem do sistema, almejava-se também reduzir os “riscos cambiais” associados às

modalidades de crédito externo que haviam se disseminado na economia brasileira durante a

década de 1970 e que constituíam o principal vetor da fragilidade financeira que se abatera

sobre o país na virada daquela década.

Por último, no capítulo reservado à Questão Nacional, anunciava-se com todas as

letras a relevância da estratégia nacionalista como eixo orientador do documento, a despeito da

delicada tarefa de abordá-la em um período da história em que esse tema estava frequentemente

associado ao autoritarismo dos governos militares.

O PMDB é nacionalista e luta pelo nacionalismo. Mas nacionalismo é uma

das expressões que deveriam ser empregadas sem adjetivos.

(...) O NACIONALISMO deve significar o fortalecimento do poder nacional.

Não se pode, entretanto, confundir o fortalecimento do poder nacional com o

pseudo fortalecimento do Estado decorrente do seu caráter autoritário.

(...) a expressão dos interesses populares e nacionais só é possível num

ESTADO DEMOCRÁTICO. Quer dizer, num Estado em que haja amplo

controle das decisões pelos cidadãos. (op.cit, p. 112)

Em suma, o documento com o qual o PMDB se apresentava a essa nova etapa da

vida política nacional – marcada pela acalorada campanha para governadores de 1982 – alçou

ao debate público um importante acervo de diretrizes e recomendações de políticas públicas

que provavelmente constitui o mais bem-acabado projeto de Estado Social produzido por um

partido até aquele momento da história brasileira. Mais do que isso, buscava-se pela primeira

vez dialogar com os ideais do desenvolvimentismo e do nacionalismo, porém, agora,

explicitamente associados ao desenvolvimento social.

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Um ano após o lançamento do Esperança e Mudança, em meados de 1983, quando

o PMDB fazia as contas da fragmentação de sua base oposicionista, avariada pela debandada

de lideranças políticas para outras agremiações de esquerda (notadamente PT e PDT) - o

presidente do partido, Deputado Ulisses Guimarães, apresentou na Câmara dos Deputados um

novo e enfático programa de alternativas institucionais, econômicas e sociais, denominado

“Travessia”, onde reafirmava as linhas mestras do programa anterior e explicitava de forma

mais contundente suas críticas aos descaminhos da economia brasileira, bem como indicava

alternativas para a retomada do desenvolvimento. Desse documento, merece destaque a

perspectiva que as instâncias dirigentes do partido tinham a respeito do papel do Estado na

economia brasileira: “nos sistemas econômicos mistos, como é o nosso, as atividades reguladas

pelos mercados somente funcionam se o setor público opera dentro de esquemas racionais”

(GUIMARÃES, 1983, p. 14). E a partir desse diagnóstico, o documento sublinhava a

necessidade de coordenação e de planejamento público, às quais, por seu turno, só seriam

possíveis mediante a concertação de interesses das distintas forças sociais em um Congresso

efetivamente democrático38.

Em síntese, tomados em conjunto, esses documentos programáticos do PMDB que

vieram a público nos primeiros anos da década de 1980 parecem confirmar o que o cientista

político Wandreley Guilherme dos Santos havia intuído em texto clássico publicado

originalmente em 1979:

É bem possível que, ao despertar o país do longo período de recesso cívico,

seja, também impossível repetir o modelo anterior de participação limitada e

de cidadania estratificada. A desorganização da vida social que se seguiu ao

movimento de 1964 poderá ter gerado, apesar de seus líderes, as condições de

emergência de um sistema de valores centrados em torno dos conceitos de

cidadania universal, trabalho e justiça. (SANTOS, 1987, p.89)

38 Surpreendentemente, apenas alguns meses mais tarde, após a derrota da campanha das Diretas Já e a

recomposição das forças políticas de centro, o mesmo PMDB vai assinar um novo documento

programático - “Compromisso com a Nação” - sob o manto da Aliança Democrática. Desta feita, entre

a defesa da ordem institucional e o reconhecimento da dívida social, perdem importância as diretrizes

de transformações estruturais da economia brasileira, dando lugar a preocupações com a conjuntura:

combate à inflação, estabilização econômica e redução do desemprego (MENEGUELLO, 1999, p. 41-

44)

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1.4 Das ruas às instituições

Em paralelo àqueles esforços de formulação e sistematização programática, o

cenário pós eleições de 1982, foi marcado também por intensos movimentos de reagrupamento

das forças políticas do país. No dito campo da oposição progressista, ao mesmo tempo em que

se sucediam dissidências e aproximações entre a constelação de grupos, partidos, tendências e

sublegendas de esquerda que havia emergido naqueles anos de transição, despontavam com

vigor duas bandeiras comuns e de grande apelo político: a defesa de uma Assembleia Nacional

Constituinte (não congressual) e a da eleição direta para presidente da república. Graças à

aderência que ambas suscitavam, serviram para galvanizar os discursos oposicionista e, a

despeito de enormes dificuldades, permitiram construir pontes entre os movimentos mais à

esquerda, reunidos em torno dos sindicalistas do ABC, e as lideranças que haviam se organizado

ao redor do antigo grupo dos autênticos, cuja maioria ainda se encontrava sob a legenda do

PMDB.

Contudo, talvez pela presença surpreendente e avassaladora das massas populares

na campanha das Diretas Já e o risco de radicalização do processo democrático que se

avizinhava, àquele movimento seguiu-se uma reação e reorganização do centro político, cujo

desfecho foi a formação da chamada “Aliança Democrática”, a aprovação da eleição indireta e

posterior vitória da chapa Tancredo/Sarney e, por fim, a aprovação da tese da Assembleia

Constituinte congressual (MEGEGHELLO, 1999). Assim, ainda sob o signo da democracia

restrita e em um contexto em que nenhuma agremiação partidária parecia ter forças suficientes

para romper com a ordem institucional - nem tampouco para dirigir os embates pela

recomposição do poder civil - a Assembleia Constituinte de 1987-1988 se desenrolou em um

momento particularmente eivado de contradições, o que se traduziria tanto no caráter ambíguo

do texto constitucional (SAMPAIO, 2009) quanto no aumento da temperatura política no país.

Importante mencionar que a intensa dinâmica política daqueles anos - notadamente

do período que se estende da eleição para governadores de 1982 até a conclusão dos trabalhos

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constituintes em outubro de 1988 - extrapolou os limites das legendas partidárias e da agenda

oficial e também alcançou movimentos sociais e grupos de interesses da sociedade civil, com

repercussões importantes sobre a produção legislativa constitucional e, finalmente, sobre a

qualificação do Estado Social no Brasil (ABERS, KECK, 2008; SAMPAIO, 2009)39. Entre

outros, vale destacar, por exemplo, a rica arena de debate que se estabeleceu na VIIIª

Conferência Nacional da Saúde, realizada em 1986, na qual se assistiu ao aprofundamento das

discussões em torno da Reforma Sanitária e que daria os contornos do Sistema Único de Saúde

a ser consagrado mais tarde pela Constituição de 1988 (BOSCHETTI, 2006, p. 106-108;

CONASS, 2009, p. 16-18; ESCOREL, 2009). Outro legado de grande repercussão daquela

experiência e que viria jogar papel relevante no campo institucional e político do futuro

desenvolvimento contingente foi o processo de expansão e multiplicação dos chamados

conselhos de política setorial ou conselhos sociais, por meio dos quais abriram-se espaços

crescentes à participação da sociedade civil que reivindicava maior presença nas instâncias de

deliberação sobre políticas públicas. Em grande medida, a experiência da luta pela Saúde

Pública consubstanciada na bandeira da unificação do Sistema de Saúde e a ativa militância e

participação do movimento sanitaristaforam fatores pioneiros e difusores dessa forma ampliada

de participação política40. Sob sua inspiração, movimentos sociais de variados setores também

passaram a se organizaram para assegurar que na nova Constituição fossem instituídos

mecanismos de participação direta em diversas áreas das políticas públicas, tanto por meio dos

conselhos consultivos quanto dos deliberativos (ABERS, KECK, 2008). Como observa

Leonardo Avritzer (AVRITZER, 2007, p 443), tais lutas reivindicatórias que afloraram com a

democratização do país partejaram assim “uma série de formatos híbridos caracterizados pela

39 Em realidade, a precipitação política da época foi tão acentuada que, ainda antes da Assembleia

Constituinte, a própria agenda de curto prazo do governo da Nova República passou a incorporar

algumas demandas sociais por meio de projetos de lei ordinária (Cf. FARIA, CASTRO, 1989).

40 Por conta das Conferências Nacionais de Saúde que se iniciaram ainda durante o Estado Novo e que

originalmente tinham sua composição restrita a burocracia intragovernamental, os militantes da Saúde

Pública seguiram uma longa trajetória de organização de seus Conselhos que culminaria - no bojo da

redemocratização dos anos 1980 – na sua expansão e disseminação, incorporando representantes de

movimentos populares e se multiplicando para instâncias subnacionais e outros setores das políticas

públicas (CONASS, 2009, p. 11-12).

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presença de instituições com a participação da sociedade civil e de atores estatais nas áreas de

assistência social, saúde, meio ambiente e políticas urbanas”.

Nos termos de Sonia Draibe (1998, p.1)

A forma conselho está entre as mais fortes inflexões do sistema brasileiro de

políticas sociais. Ao moldá-los sob tal formato, os conselhos de política social

institucionalizam, na etapa de consolidação da democracia, os novos

mecanismos de expressão, representação e participação de interesses forjados

pelos movimentos sociais desde a primeira hora da democratização. (...) Em

boa medida, a nova institucionalidade das políticas sociais apoia-se e

alimenta-se deste modelo de expressão, articulação de interesses e de

processamento das demandas.

Para além do tema dos conselhos, um outro exemplo de grande relevância do

ativismo social daquele período esteve centrado em torno da Seguridade Social. Respondendo

a uma inciativa do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), uma pesquisa

realizada entre 1985 e 1986 pelo Instituto de Estudos Políticos e Sociais (IEPS) deu início a um

profícuo debate no âmbito do Grupo de Trabalho de Reestruturação da Previdência Social

(GT/MPAS)41 que iria introduzir o conceito de Seguridade Social na agenda política brasileira

(BOSCHETTI, 2006, P.102-141). Após intensas discussões entre os membros do GT/MPAS a

respeito da abrangência de cobertura da Seguridade Social e suas fontes de financiamento, o

grupo entregou ao governo um relatório final - Rumos da nova previdência - o qual deveria

subsidiar um projeto de lei a ser encaminhado pelo governo ao congresso. Entretanto, dado que

se estava às vésperas da Assembleia Constituinte, o governo desistiu do projeto de lei e preferiu

encaminhar aos constituintes os princípios e proposições que haviam sido pactuados entre os

membros do GT/MPAS42 (BROSCHETTI, 2006, p.140-141). A partir de então, depois de novas

e intensas rodadas de debate entre os deputados constituintes, já no âmbito das comissões

41 O GT/MPAS era constituído por técnicos dos ministérios afins, pesquisadores, intelectuais,

especialistas em previdência social e representantes dos sindicatos de trabalhadores e patronais. Seu

presidente era o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.

42 Conforme observa Laura Soares, dois fatores básicos contribuíram para a desistência do governo para

a implementação da reforma da seguridade social: “o desequilíbrio financeiro do Setor Público que, em

última instância, colocava obstáculos efetivos à revisão dos mecanismos de financiamento do gasto

social; e as clivagens do sistema político, dada a natureza do processo de transição democrática por que

passava a sociedade brasileira (SOARES, 1995, p. 343).

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temáticas da Assembleia Constituinte a concepção de Seguridade Social foi alargada,

incorporando à previdência social a saúde pública e a assistência social (BOSQUETTI, 2006,

p. 158-167). Como aponta Laura Soares tratava-se de adotar um sistema cujos benefícios

fossem universalizados – superando a visão securitária da equivalência contributiva – “onde

cada um não recebesse apenas de acordo com o que contribuía, mas também de acordo com

suas necessidades” (SOARES, 2003, p.4).

Graças a esta concepção que instituía um modelo de seguridade híbrido, com

características tanto de seguro quanto de assistência social, foram então definidos instrumentos

específicos para garantir as bases de financiamento do que se veio denominar de “Orçamento

da Seguridade Social” (OSS). De modo inovador, estabeleceu-se que, para além dos encargos

sobre a folha de pagamento, o OSS seria composto também por impostos pagos pela sociedade

e por contribuições sociais vinculadas (BROSCHETTI, SALVADOR, 2006) - como observa

Carlos Lessa, esse foi provavelmente o mais importante passo para o desenvolvimento do

Estado Social no Brasil (LESSA, 2014). Ao estabelecer em seu Artigo 165 que o OSS constituía

um orçamento à parte do Orçamento Geral da União, com fontes específicas e diversificadas43,

a CF88 garantiu materialidade legal e financeira para que a sociedade brasileira pudesse

estruturar, nas décadas ulteriores, um conjunto de políticas públicas que, a despeito de

imperfeições e incompletudes, possibilitaram inequívocos avanços no sentido de atender os

preceitos constitucionais que haviam sido estabelecidos nos seus capítulos dedicados aos

“Direitos Individuais e Coletivos” e aos “Direitos Sociais” (Cf. BRASIL, 1988, cap. I, cap. II).

Destarte, embora na década de 1990 tenham ocorrido graves retrocessos derivados

dos embates travados nas etapas de regulamentação das políticas (FAGNANI, 1999;

GIMENEZ, 2007; SOARES, 1995, p. 349-353; SOARES, 2001; CASTRO et al, 2009.) ou

decorrentes das inúmeras emendas constitucionais que trataram de tolher a dimensão do Estado

Social brasileiro (SAMPAIO, 2009), ao estabelecer vínculos estritos entre receitas e despesas

43 No Artigo 195 da CF88 indicava-se que “a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de

forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - dos

empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro; II - dos trabalhadores; III -

sobre a receita de concursos de prognósticos”. (BRASIL, 1988).

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da Seguridade Social – e, mais do que isso, ao colocar no âmbito da União a competência

exclusiva de arrecadação das Contribuições Sociais - a CF88 não apenas tornou possível a

expansão dos gastos sociais, como induziu o governo central (independentemente das

orientações ideológicas do chefe de governo de turno) a ampliar a base de arrecadação por meio

da criação e expansão das Contribuições Sociais44.

Assim, mesmo que, em diversos momentos, esta expansão tenha sido motivada pela

questionável necessidade de apropriação de parte do OSS45 para compensar o vertedouro fiscal

decorrente de uma política monetária ultra ortodoxa que fazia crescer os serviços da dívida

pública, deve-se reconhecer que foi por meio deste subterfúgio que se deu curso a um salto na

dimensão do setor público brasileiro46. Noutros termos, como o Fundo Social de Emergência

(FSE) autorizava o redirecionamento de até 20% dos recursos da Seguridade Social para o

Orçamento Fiscal, as equipes econômicas dos diversos governos que se sucederam desde 1994,

mesmo quando convictas do liberalismo, dispunham-se a sacramentar aumentos da base fiscal

proveniente das Contribuições Sociais. Para se ter uma ideia, entre 1988 e 2004, período de

inequívoca dominância da ideologia neoliberal, a carga tributária brasileira deu um salto de 14

pontos percentuais, crescendo de forma sistemática quase um ponto percentual por ano (KHAIR

et al, 2005, p. 9).

Ironicamente, pelas mãos de economistas mais crentes do que fiéis aos cânones da

ortodoxia econômica, o Brasil dos anos 2000 - que seria conduzido respectivamente por Lula e

44 Cabe frisar que essa tendência de avanço das contribuições sociais em detrimento dos tributos tem

sido apontada por especialistas como advinda de uma suposta deformidade do regime tributário

formulado pela Constituição de 1988, na medida em que se estabelece um sistema dual, no qual as

contribuições sociais estão submetidas a regulamentações diferentes daquelas aplicáveis aos tributos

tradicionais (CASTRO et al, 2009, p. 125-126)

45 Por meio de emenda constitucional foi criado inicialmente (março de 1994) o Fundo Social de

Emergência, reeditado em 1996 como Fundo de Solidariedade Fiscal (FSF) e, mais tarde (2000)

substituído pela Desvinculação das Receitas da União (DRU). Em 2016, já sob o governo de Michel

Temer a DRU passou a autorizar o remanejamento de até 30% do Orçamento Social para o Orçamento

Geral da União.

46 Por outro lado, como observa Draibe (2005, p. 1) apesar do esforço para ampliar e diversificar as

fontes de financiamento da seguridade social, o OSS “permaneceu ainda muito dependente de

contribuições sociais e, em decorrência, das oscilações econômicas que afetam diretamente a massa

salarial”.

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Dilma - contava com um sistema de financiamento dos gastos sociais que tanto pode ser

mobilizado com maior elasticidade à medida em que a economia se acelerava - ativando

importantes multiplicadores do investimento e do consumo – como também dotou a dinâmica

macroeconômica de mecanismos de estabilização automática que foram acionados nos

momentos de crise ou desaceleração (notadamente durante a crise de 2009). Ou seja, foi por

conta daquela arquitetura fiscal do OSS – também graças ao princípio de vinculação dos

benefícios sociais ao valor do salário mínimo - que se pode tracionar a demanda agregada

durante o ciclo de desenvolvimento contingente. Na perspectiva teórica da SSA, poder-se-ia

dizer, portanto, que a institucionalidade fiscal criada pelos constituintes de 1988 para garantir

recursos a uma Seguridade Social ampla e inclusiva viria a dar concretude a um Estado Social

que, apesar de parcial e mutilado, constituiu-se em centro de gravidade econômico, político e

social sem o qual não pareceria possível a ocorrência do ciclo de acumulação como o que foi

registrado entre os anos 2003 e 2014.

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56

CAPÍTULO 2

Fortuna

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57

2.1 Introdução

Prosseguindo pelo esquema teórico da Social Structure of Accumulation (SSA),

reserva-se a este capítulo a análise das relações capital-capital, isto é, as condições de custos do

capital vis a vis as suas possibilidades de valorização. Nos termos estritos da SSA, esta seria a

análise da dimensão monetária-financeira, a qual conformaria um determinado leque de

possibilidades para a realização de um fluxo sustentado de inversões capitalista e, assim,

configuraria um cenário com potencial para o deslanchar de um ciclo de acumulação.

Para melhor proceder essa análise, se tomará aqui a reflexão de Keynes a respeito

do problema da demanda efetiva como recurso metodológico para investigar os nexos entre o

padrão monetário-financeiro e a dinâmica de ciclo de acumulação do desenvolvimento

contingente (2003-2014). Todavia, para poder saltar do nível abstrato em que Keynes formulou

seu conceito de demanda efetiva na Teoria Geral à análise concreta de um ciclo real em uma

economia nacional da periferia capitalista e também para evitar os anacronismos que sempre

ameaçam as interpretações que utilizam elementos de análise característicos de outras épocas,

cabe antes fazer algumas breves considerações e esclarecimentos.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que Keynes entendia a economia capitalista

como uma economia monetária de produção, embalada por decisões de gasto capitalista que

são tomadas em um ambiente de incerteza radical47. Em sua perspectiva, a moeda não é apenas

47 Fundamentalmente a incerteza radical que permeia de forma inescapável a dinâmica capitalista

decorre de três fatores principais: i) o hiato temporal entre a decisão de produzir e a realização da

produção (Marx já havia apontado para esse problema); ii) a preferência pela liquidez, dado que a moeda

constitui um ativo (i.e., cumpre a função de reserva de valor) dotado de liquidez plena, haverá sempre a

possibilidade do capitalista preferir postergar o seu gasto e preservar sua riqueza na forma líquida; iii) o

caráter não-ergótico da dinâmica capitalista que decorre do fato de que ao tomar a decisão crucial de

investir na produção de determinado bem o capitalista altera as condições iniciais que lhe serviram de

bússola para tomar a decisão, tornando o ambiente econômico intrinsicamente instável e mutante, sem

que seja possível eliminar esta incerteza por meio da experiência ou do aprendizado (CARVALHO,

2011; OREIRO, 2011, p. 291).

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um meio de troca ou uma medida de valor - como considerada inclusive pelos formuladores da

SSA (KLOTZ, 1994) - mas notadamente uma convenção adotada pela sociedade para proteger-

se da incerteza, cumprindo a função de reserva de valor e fim último do sistema48

(SKIDELSKY, 2009, p. 75). Mais do que isso, como observa Luiz G. Belluzzo, é necessário

recordar que na ‘ontologia socioeconômica’ de Keynes “a economia monetária da produção é

concebida como um conjunto de relações entre classes sociais, definidas a partir de suas

posições no metabolismo econômico no capitalismo” (BELLUZZO, 2016, p. 53). É, pois,

precisamente neste sistema onde a classe empresarial-capitalista tem não apenas a propriedade

dos meios de produção, mas também o comando sobre o dinheiro e sobre o crédito – que se

instaura de modo inescapável a incerteza radical e, por conseguinte, o problema da demanda

efetiva49 (op.cit., p. 56-59). Decorre dessa concepção considerar que o capitalista individual

poderá exercer ou não sua prerrogativa social de comandar emprego e serão estas decisões da

classe capitalista como um todo que irão definir em última instância a ocorrência e intensidade

dos ciclos de acumulação. Portanto, como aquela decisão solitária do capitalista individual é

tomada com base em um estado de expectativas que depende do comportamento imprevisível

de seus pares nos períodos corrente e futuro, se está diante de uma decisão tão relevante quanto

precária, irremediavelmente animada pela incerteza. Como aponta Robert Skildelsky

“Investments which promised returns ‘at a comparatively distant, and sometimes an indefinitely

distant, date’ were acts of faith and in that fact lay the possibility of huge mistakes”

(SKIDELSKY, 2009, p. 92). Consequentemente, é porque a classe capitalista está condenada a

48 Em uma das raras referências que faz a Karl Marx, Keynes destaca a pertinência da fórmula D-M-D’

em substituição à concepção clássica que, supondo o capitalismo como um sistema produtor de bens

úteis, reduzia-o à formula M-D-M’. (KEYNES, 1996)

49 A respeito do caráter efetivo da demanda deve-se sublinhar que se refere à disposição (ex-ante) do

capitalista para utilizar seu capital em atividades capazes de aumentar o nível geral de emprego.

Entretanto, quando o capitalista se resguarda em ativos monetários em busca de maior liquidez e

segurança, tem-se tão somente uma demanda capitalista, a qual não cabe caracterizar como efetiva

porque não suscita o emprego de novos trabalhadores (BELLUZZO, 2016, p. 73) Neste caso, “as forças

do ‘amor ao dinheiro’ podem inibir os espíritos animais e manter a economia em uma estagnação

prolongada” (op. cit, p. 60). De forma sintética, pode-se dizer, portanto, que o ponto de demanda efetiva

é aquele que representa uma determinada “expectativa de demanda” capaz de encorajar os empresários

a comandar um dado volume de emprego porque acreditam que a receita pela venda da produção a esse

nível de emprego será superior à receita mínima exigida por eles para imobilizar temporariamente o seu

capital no processo produtivo.

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arbitrar entre distintas formas de investimento - mais ou menos líquidos, mais ou menos efetivos

- que não apenas se navega em direção ao desconhecido, como, na ausência de adequadas

instituições políticas, o nível geral de emprego tende a flutuar em torno de um patamar

intermediário, distante do pleno emprego, mas também do desemprego absoluto (KEYNES,

1996, p. 243-244).

Em segundo lugar, outra consideração importante a fazer é que, embora Keynes não

estivesse tratando especificamente da análise dos ciclos econômicos, mas sim das severas crises

que irrompem no capitalismo em momentos de ruptura das expectativas (Cf. BELLUZZO,

2016, p.87), quando apontou para o problema da demanda efetiva abriu o caminho para toda

uma reflexão econômica a respeito de seus impactos sobre o processo de acumulação e, por

conseguinte, sobre o dinamismo dos ciclos. Ele próprio, mesmo entendendo que “o caráter

essencial do ciclo econômico, sobretudo a regularidade de ocorrência e duração que justificam

a denominação de ciclo se devem principalmente ao modo como flutua a eficiência marginal

do capital” (KEYNES, 1996, p. 293), cuidou de esclarecer – em um capítulo lateral da Teoria

Geral especialmente dedicado aos ciclos (op. cit, p. 293-307) - que, quando se examina em

detalhes um exemplo concreto de ciclo econômico, constata-se a sua grande complexidade e,

por isso, devem ser levados em conta todos os elementos de sua análise, quais sejam: o papel

crucial das flutuações da propensão a consumir, do estado da preferência pela liquidez e da

eficiência marginal do capital.

Claro que, passados mais de oitenta anos da publicação da Teoria Geral, existe não

apenas um acervo imenso de reflexões acerca daqueles determinantes críticos apontados por

Keynes, como as próprias transformações da economia capitalista desde então impõem que se

considerem reparos e elementos adicionais aos termos originais de sua reflexão. Diversos

autores contemporâneos de Keynes, como Joan Robinson, Kaldor, Kalecki ou Steindl, entre

outros, procuraram dialogar com a obra de Keynes e deram contribuições enriquecedoras à

análise do processo de acumulação capitalista, suas crises e flutuações. Por exemplo, quando

tratava de identificar os determinantes do investimento50, Kalecki chamou a atenção para o

papel do saldo das exportações e do déficit público, enquanto Steindl se dedicou a investigar os

50 O que corresponderia, nos termos de Keynes, à eficiência marginal do capital.

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seus nexos com o grau de endividamento das empresas ou o nível de utilização da capacidade

produtiva (Cf. MIGLIOLI, 1981) - tais considerações, mesmo que impactem apenas de forma

secundária a dinâmica dos ciclos, são, contudo, de grande valia para melhor compreender o

processo de aceleração dos investimento no Brasil a partir de meados dos anos 2000.

Mais recentemente, com as transformações do metabolismo econômico associadas

à liberalização financeira que avançou pelo mundo desde os anos 1980, tem-se registrado a

crescente relevância do consumo no ciclo econômico: “o consumo deixa de ter o

comportamento relativamente estável previsto pela função-consumo keynesiana e passa a

apresentar um componente típico das decisões de gasto capitalista” (COUTINHO,

BELLUZZO; 2004, p. 62). Ou seja, face à institucionalidade financeira da era neoliberal, não

só o consumo agregado passa a ser tracionado com maior intensidade em resposta a variações

na renda corrente (via disseminação do crédito) e do efeito riqueza associado à incorporação de

ativos financeiros no “portfólio” das famílias51, como indiretamente – por conta da relativa

independência e imprevisibilidade da propensão a consumir do público em geral – as decisões

de investimento do empresário-capitalista acabam se aproximando ainda mais do

comportamento de um consumo agregado desancorado, agudizando as flutuações cíclicas e

dificultando o exercício analítico de identificação da variável independente.

Consequentemente, uma peculiaridade relevante que desponta nos ciclos econômicos atuais é

a proeminência do comportamento dos rentistas “uma vez que a posse generalizada de riqueza

sob a forma financeira torna abrangente os efeitos da valorização dos ativos sobre as decisões

de gasto” (Op.Cit., p.71).

Por fim, uma última consideração a se fazer antes de avançar na análise específica

do caso brasileiro, diz respeito ao problema da hierarquia das moedas que é agravado

sobremaneira com a globalização financeira e que constitui, atualmente, um dos elementos

centrais na determinação dos fluxos de capitais ao redor do globo. Mais do que nas quadras

anteriores do capitalismo, em um contexto de abertura generalizada das contas capital, exerce-

51 Importante notar que “o efeito riqueza não se realiza mediante a venda dos ativos para a conversão do

resultado monetário em consumo, senão mediante uma ampliação da demanda de crédito por parte dos

consumidores” (COUTINHO, BELLUZZO, 2004, p.62)

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se enorme pressão sobre o Balanço de Pagamentos das economias sem moeda conversível,

contingenciando severamente os espaços para as políticas macroeconômicas nacionais. Por

isso, o regime cambial, o nível da taxa de câmbio e o risco externo despontam forçosamente

como temas cruciais a serem considerados quando se pretende analisar os movimentos de

crescimento e crise que alcançam economias periféricas como a do Brasil. Keynes, já durante

o transcurso da Segunda Guerra, quando formulou a proposta da Clearance Union, apontou

com acurácia para os riscos de um sistema monetário internacional desregulado e vinculado a

uma moeda cuja senhoriagem estivesse entregue a um poder nacional particular. Contudo, por

certo não poderia imaginar como nos tempos da liberalização financeira o câmbio e os fluxos

de divisas orientados por operações especulativas com derivativos cambiais iriam fragilizar de

maneira ainda muito mais dramática a estrutura dos Balanços de Pagamento dos países de

moeda fraca (MIRANDA, 1997; BELLUZZO, 1999; OREIRO, 2004; ROSSI, 2016).

Por seu turno, mesmo os autores da abordagem da SSA - talvez por terem formulado

sua teoria a partir das análises das economias centrais - parecem não ter dedicado especial

atenção à problemática cambial como certamente o fariam se estivessem analisando uma

economia como a brasileira. Embora tenham clareza da importância do câmbio como um dos

preços chaves da economia, em suas análises de casos concretos não enxergam na fragilidade

cambial (muitíssimo menor nas economias centrais, mas nem por isso inexistente) um aspecto

crucial da determinação das Estruturas Sociais de Acumulação. No caso brasileiro, porém, além

das questões relativas à política monetária e à institucionalidade financeira, o comportamento

do câmbio e, mais do que isso, os riscos cambiais provocados pela escassez de divisas foram

sempre um dos principais condicionantes dos nossos ciclos de acumulação. Ao longo de nossa

história foram recorrentes as crises externas a interromper o crescimento e abortar as estratégias

de inserção externa de nossa economia. Se foi possível falar em procissão de milagres, não

seria de todo desprovido falar da renitente frustração que não raro se impõe a nosso

desenvolvimento, não apenas por conta dos azares do mundo, mas, no mais das vezes,

principalmente como expressão da tibieza e incompletude de nosso projeto nacional.

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2.2. Dos motores

Feitas as considerações anteriores, na presente sessão passa-se à análise dos

diferentes motores do crescimento econômico que se sucederam ao longo do período de

desenvolvimento contingente e que em última instância lhe imprimiram seus traços

fundamentais.

Conforme já mencionado no capítulo introdutório desta tese, aquele período de

retomada do crescimento econômico e de avanços sociais importantes instigou os ânimos dos

analistas econômicos a produzir diferentes interpretação do que poderia ser – ou poderia ter

sido - o reencontro do país com uma nova era desenvolvimentista, agora em um ambiente

democrático e com a meritória e tardia inclusão das classes pobres52. Grosso modo, entre

variadas nomenclaturas que foram criadas para caracterizar esse novo momento da economia

brasileira (neodesenvolvimentismo, novo-desenvolvimentismo, social-desenvolvimentismo)53,

o que diferencia as análises é, fundamentalmente, a ênfase que cada qual emprega ao

componente da demanda agregada que consideram determinante no processo de recuperação

das taxas de crescimento do produto. Enquanto para alguns o principal fator explicativo na

determinação do ciclo teria sido o crescimento real dos salários e da renda dos mais pobres

(wage-led), para outros foi a demanda externa quem liderou o processo (export-led) ou ainda,

para um terceiro grupo, o fator prevalecente teria sido o aumento das taxas de lucro (profit-led),

muitas vezes associada às novas formas de acumulação financeira (finance-led).

52 Considera-se aqui o processo de inclusão social não apenas como aquele que promove a inclusão dos

mais pobres no mercado de trabalho ou que, por conta disso, resulta na expansão da renda familiar

associada a um crescimento da taxa de participação (como se verificou, por exemplo, durante as décadas

de 1960 e 1970), mas sim como um fenômeno de maior amplitude que se expressa tanto pelos avanços

no mercado de trabalho (ex: aumento do emprego, formalização, aumento dos salários reais e do salário

mínimo, queda do trabalho doméstico, etc.) quanto pela expansão e melhora de diferentes componentes

do arco de políticas de proteção social, tais como: o aumento da taxa de cobertura da previdência social,

o aumento dos valores dos diferentes benefícios da seguridade social, a expansão da oferta de habitação

popular, a expansão dos recursos para a saúde e para a educação pública, entre outros).

53 Sobre esse debate, ver, entre outros, SICSU et al, 2007; OLIVA, 2010; BIELSCHOWSKI, 2012;

BASTOS, 2012; FERRARI F.º, FONSECA, 2015; AMADO & MOLLO; 2015.

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63

Entretanto, a despeito das divergências a respeito do estilo de desenvolvimento que

melhor se aplicaria à interpretação da experiência brasileira recente, não se percebe entre os

analistas grandes controvérsias em relação a qual teria sido o propulsor preponderante da

economia em cada fase do ciclo. Partindo de um impulso inicial do front externo, ter-se-ia

passado a uma etapa de expansão do consumo de massa que engendrou um ciclo de consumo

de bens duráveis, com repercussões positivas sobre o investimento capitalista. Em simultâneo,

esse movimento teria sido reforçado pelo gradativo aumento do gasto governamental

autônomo, expresso principalmente pelo maior e crescente gasto social, pelos investimentos

das estatais (em especial do setor energético), pela contratação de algumas importantes obras

de infraestrutura e pela expansão do crédito subsidiado ao setor da construção civil. Nas tabelas

abaixo apresentam-se alguns números que ilustram as linhas centrais desse processo.

Primeiramente, partindo da análise da evolução de cada um dos componentes da

demanda agregada desde a estabilização monetária em 1995 até o fim do período do

desenvolvimento contingente (tabela 2.1) pode-se perceber que enquanto na etapa precedente

se destacava a elevada participação do consumo no PIB (entre 1995 e 2001) e, em menor

medida, dos investimentos (associados principalmente aos processos de privatizações e à

recuperação cíclica pós-recessão de 1990-1992), a partir dos primeiros anos da década de 2000

a corrente de comércio do país com o resto do mundo se elevou substancialmente, com notável

aumento da participação das exportações no PIB (BALTAR, 2015).

São dois os fatores principais que contribuíram para esse desempenho bastante

positivo do setor exportador brasileiro na virada do século. Por um lado, as desvalorizações do

real em 1999 e em 2002 - num momento em que os salários reais ainda se encontravam em

patamar relativamente baixo - melhoraram a relação câmbio/salário da produção nacional,

devolvendo competitividade aos tradables produzidos no país (Cf. Figura 2.1). Por outro, a

dinamização do comércio internacional associada à evolução da manufatura chinesa fez crescer

a demanda e os preços dos principais produtos que compõem a nossa pauta exportadora, em

especial os básicos e semimanufaturados.

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64

Tabela 2.1 Composição do PIB: ótica da demanda Brasil, 1995 a 2014 (em % do PIB)

Ano

Consumo Formação Bruta de Capital

Exportação Importação (-) Total Famílias* Governo Total Fixo

Var. de estoques

1995 84,6 63,7 20,9 23,3 20,3 -3,0 7,5 9,5

1996 84,9 65,2 19,8 20,0 18,6 -1,4 6,7 8,9

1997 84,8 65,3 19,5 20,5 19,1 -1,4 7,0 9,6

1998 84,2 64,1 20,1 18,9 18,5 -0,4 7,0 9,4

1999 84,5 64,7 19,8 16,6 17,0 0,4 9,6 11,4

2000 83,4 64,6 18,8 17,7 18,3 0,6 10,2 12,5

2001 83,5 64,1 19,3 18,1 18,4 0,3 12,4 14,6

2002 81,7 61,9 19,8 18,4 17,9 -0,5 14,2 13,4

2003 80,9 61,8 19,1 16,4 16,6 0,3 15,2 13,0

2004 78,7 60,2 18,5 16,7 17,3 0,6 16,5 13,1

2005 79,4 60,5 18,9 16,9 17,1 0,1 15,2 11,8

2006 79,5 60,4 19,0 16,6 17,2 0,6 14,4 11,7

2007 78,8 59,9 18,9 16,2 18,0 1,8 13,3 12,0

2008 78,6 59,7 18,8 17,2 19,4 2,2 13,5 13,7

2009 81,6 62,0 19,7 19,4 19,1 -0,3 10,9 11,3

2010 79,2 60,2 19,0 19,3 20,5 1,3 10,7 11,8

2011 79,0 60,3 18,7 19,4 20,6 1,2 11,5 12,2

2012 79,9 61,4 18,6 20,0 20,7 0,7 11,7 13,1

2013 80,6 61,6 19,0 20,2 20,9 0,8 11,7 14,0

2014 81,9 62,4 19,5 19,5 20,2 0,7 11,2 13,9 Fonte: IBGE - Sistema de Contas Nacionais Referência 2010. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. Disponível em: https://goo.gl/90UwZR * Inclui consumo das instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias (ISFLSF).

Como indicado na Tabela 2.2, destacadamente naqueles anos que vão de 2003 a

2008, tanto o “quantum” exportado como os seus respectivos preços internacionais

apresentaram um crescimento bastante robusto, notadamente o setor produtor de bens

manufaturados que praticamente dobrou o seu volume exportado entre os anos de 2001 e 2007.

(BIANCARELLI, 2012).

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Figura 2.1 Relação Câmbio / Salário (base: média de 2010 = 100) Brasil, 1995 a 2014.

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) – Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br

Contudo, à medida que o ciclo de expansão do comércio mundial arrefeceu -

concomitantemente à revalorização da moeda brasileira e ao gradativo aumento dos salários

reais - a composição da nossa pauta de exportações passou a registrar uma crescente

concentração nos produtos básicos (cujos volume e preço continuaram crescendo até 2014),

enquanto se estabilizava o quantum exportado de bens semimanufaturados e se registrava uma

aguda e preocupante queda do quantum de manufaturados - que encolheram quase 25% no pós-

crise – indicando uma possível aceleração do processo de desindustrialização precoce

(MARCONI, ROCHA, 2012; UNCTAD, 2016)54.

54 Para além da perda de competitividade das exportações dos manufaturados, deve-se atentar também

para os impactos das flutuações do câmbio sobre as importações e destas sobre os preços dos bens

manufaturados produzidos no Brasil. Em estudo recente dedicado ao tema constatou-se que, no período

144,9

387,5

105,085,5

121,9

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

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19

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19

97

.05

19

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09

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20

10

.10

20

11

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20

11

.12

20

12

.07

20

13

.02

20

13

.09

20

14

.04

20

14

.11

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66

Tabela 2.2 Índice de preço* e quantum de exportação (total e fator agregado) Brasil, 2001 a 2014 [base: 2006 = 100]

Ano Total Básicos Semimanufaturados Manufaturados

Preço Quantum Preço Quantum Preço Quantum Preço Quantum

2001 71,6 59,1 63,9 59,6 62,3 67,8 79,8 55,1

2002 68,3 64,2 61,3 68,7 59,4 77,3 76,1 57,9

2003 71,5 74,3 67,7 77,7 66,1 84,8 75,7 70,1

2004 79,3 88,5 80,4 88,1 75,7 90,9 80,2 88,3

2005 88,9 96,8 91,4 94,3 84,7 96,6 89,0 97,9

2006 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

2007 110,5 105,5 114,5 111,8 110,9 100,7 108,4 103,2

2008 139,6 102,9 161,8 112,1 138,9 99,8 126,0 98,1

2009 120,9 91,8 133,4 115,3 110,8 94,8 118,6 75,7

2010 145,7 100,6 174,0 128,4 142,9 101,1 128,7 82,4

2011 179,5 103,5 228,4 133,1 172,9 106,8 146,8 83,8

2012 170,7 103,2 209,7 134,3 161,0 105,1 146,4 82,6

2013 165,2 106,3 206,7 135,7 144,8 108,0 142,2 87,1

2014 156,5 104,4 188,4 144,4 138,8 107,3 140,8 75,9

Fontes: Funcex e IPEA. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. Disponível em: https://goo.gl/90UwZR (*) Variação real

À parte a gravidade que essa dinâmica da pauta exportadora revela em relação à

evolução da estrutura produtiva brasileira, o que se quer frisar aqui é simplesmente que as

exportações brasileiras constituíram o mais importante elemento dinamizador da demanda

agregada naquele início da década de 2000 - o maior período com câmbio favorável desde a

implantação do Plano Real em 1994 - sem ter-se mantido, entretanto, como o fator

preponderante ao longo de todo o período. De fato, quando se olha para a contribuição de cada

componente da demanda para o crescimento do PIB (Tabela 2.3), percebe-se que o dinamismo

1999-2012, entre os diferentes setores da indústria de transformação houve uma maior sensibilidade ao

câmbio no setor de bens de capital, seguido pelo de bens intermediários (KANNEBLEY Jr. et al, 2016).

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67

do setor exportador vigorou apenas entre 2001 e 2007, perdendo significância após a crise

financeira de 2008 e vindo a contribuir negativamente nos anos de 2009 e 2014.

Tabela 2.3 Contribuição para o crescimento do PIB* Brasil, 1995 a 2014

Fonte: IBGE - Sistema de Contas Nacionais Referência 2010. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. Disponível em: https://goo.gl/90UwZR * Metodologia do IPEA: Pesos no ano anterior (t-1) x taxa de crescimento (t) da demanda por bens de origem nacional.

De todo modo, lembrando das reflexões keynesianas a respeito dos determinantes

da demanda efetiva, esse período de relevante expansão das exportações jogou papel

fundamental na dinamização dos outros componentes da demanda agregada, na medida em que

não só ampliaram as expectativas de lucro capitalista, como também resultaram no crescimento

das taxas de lucro macroeconômico e de acumulação de capital fixo produtivo55, com

importantes repercussões sobre as contas públicas e sobre as decisões de gasto capitalista dos

setores non-tradables – foram importantes também seus efeitos multiplicadores sobre o

consumo, potencializados pela expansão do crédito. Ademais, como essa breve e tênue

55 Como apontado por BRUNO et al (2009, p. 13) a taxa de lucro bruto macroeconômico seguiu uma

trajetória ascendente desde a desvalorização do real em 1999 até 2008, com especial contribuição da

taxa de acumulação de capital fixo produtivo, cujo crescimento anual médio chegou a 7.8% entre os

anos de 2004 e 2008.

Total Familias Governo Total FixoVar. de

estoques

2001 0,89 0,44 0,45 -0,32 -0,08 -0,24 0,82 1,39

2002 2,49 1,74 0,75 -0,46 0,42 -0,88 1,02 3,05

2003 0,12 -0,24 0,36 -0,28 -0,56 0,28 1,30 1,14

2004 2,80 2,08 0,71 1,16 1,05 0,11 1,80 5,76

2005 2,53 2,20 0,34 -0,62 0,02 -0,65 1,29 3,20

2006 2,73 2,12 0,60 0,83 0,42 0,41 0,40 3,96

2007 3,59 2,93 0,66 1,84 1,42 0,42 0,64 6,07

2008 3,36 3,06 0,30 1,71 1,26 0,45 0,02 5,09

2009 3,36 2,78 0,58 -2,67 0,20 -2,87 -0,81 -0,13

2010 3,03 2,42 0,61 3,65 2,12 1,53 0,84 7,53

2011 2,71 2,33 0,38 0,81 0,96 -0,15 0,39 3,91

2012 2,34 1,92 0,41 -0,45 0,13 -0,58 0,03 1,92

2013 1,95 1,71 0,24 0,89 0,85 0,05 0,17 3,02

2014 0,78 0,52 0,25 -0,53 -0,74 0,21 -0,10 0,15

Ano

Consumo Formação Bruta de Capital

Exportação

PIB a

preços de

mercado

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68

experiência de drive exportador esteve associada ao movimento de extroversão das finanças

norte-americanas e ao consequente aumento da liquidez internacional, colaborou decisivamente

para a consolidação de um quadro externo bastante raro em nossa truncada trajetória de

desenvolvimento, qual seja, de redução do risco externo a níveis quase negligenciáveis

(PRATES, CUNHA, LÉLIS; 2011).

Figura 2.2 Risco Brasil (metodologia EMBI+ do JP Morgan)* Brasil, 2002 a 2014

Fonte: JP Morgan (apud. IPEADATA). Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br (*) O EMBI+ é um índice baseado nos bônus (títulos de dívida) emitidos pelos países emergentes. Mostra os retornos financeiros obtidos a cada dia por uma carteira selecionada de títulos desses países. A unidade de medida é o ponto-base. Dez pontos-base equivalem a um décimo de 1%. Os pontos mostram a diferença entre a taxa de retorno dos títulos de países emergentes e a oferecida por títulos emitidos pelo Tesouro americano. Essa diferença é o spread, ou o spread soberano.

2.436

148

671

153

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

01

/01

/20

02

21

/05

/20

02

08

/10

/20

02

25

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03

15

/07

/20

03

02

/12

/20

03

20

/04

/20

04

07

/09

/20

04

25

/01

/20

05

14

/06

/20

05

01

/11

/20

05

21

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/20

06

08

/08

/20

06

26

/12

/20

06

15

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02

/10

/20

07

19

/02

/20

08

08

/07

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08

25

/11

/20

08

14

/04

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09

01

/09

/20

09

19

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10

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10

26

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10

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11

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/12

/20

11

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12

25

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/20

12

12

/02

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13

02

/07

/20

13

19

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13

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/04

/20

14

26

/08

/20

14

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69

Tabela 2.4 Balanço de pagamentos: contas selecionadas – BPM5 Brasil, 1995 a 2014 [em US$ milhões]

Transações Correntes

Total Balança

comercial (fob)

Export. Import.

Serviços e

rendas (líquido)

Serviços (fretes, viagens,

etc.)

Juros Lucros e

divid. Transfer.

Unilat.

2001 -23.215 2.650 58.223 55.572 -27.503 -7.759 -14.877 -4.961 1.638

2002 -7.637 13.121 60.362 47.240 -23.148 -4.957 -13.130 -5.162 2.390

2003 4.177 24.794 73.084 48.290 -23.483 -4.931 -13.020 -5.640 2.867

2004 11.679 33.641 96.475 62.835 -25.198 -4.678 -13.364 -7.338 3.236

2005 13.985 44.703 118.308 73.606 -34.276 -8.309 -13.496 -12.686 3.558

2006 13.643 46.457 137.807 91.351 -37.120 -9.640 -11.289 -16.369 4.306

2007 1.551 40.032 160.649 120.617 -42.510 -13.219 -7.305 -22.435 4.029

2008 -28.192 24.836 197.942 173.107 -57.252 -16.690 -7.232 -33.875 4.224

2009 -24.302 25.290 152.995 127.705 -52.930 -19.245 -9.069 -25.218 3.338

2010 -47.273 20.147 201.915 181.768 -70.322 -30.835 -9.610 -30.375 2.902

2011 -52.473 29.793 256.040 226.247 -85.251 -37.932 -9.719 -38.166 2.984

2012 -54.249 19.395 242.578 223.183 -76.489 -41.042 -11.847 -24.112 2.846

2013 -81.108 2.399 242.034 239.634 -86.874 -47.096 -14.244 -26.045 3.366

2014 -90.948 -3.930 225.101 229.031 -88.941 -48.667 -14.105 -26.523 1.922

Conta Capital e Financeira

Total Conta Capital Investimento

Direto Investimento em

carteira

2001 27.052 -36 24.715 2.373

2002 8.004 433 14.108 -6.537

2003 5.111 498 9.894 -5.281

2004 -7.523 372 8.339 -16.234

2005 -9.464 663 12.550 -22.676

2006 17.021 869 -9.380 25.532

2007 89.086 756 27.518 60.811

2008 29.357 1.055 24.601 3.701

2009 71.301 1.129 36.033 34.139

2010 99.912 1.119 36.919 61.874

2011 112.381 1.573 67.689 43.119

2012 70.010 -1.877 68.093 3.793

2013 74.245 1.193 67.491 5.561

2014 99.572 590 66.035 32.948 Fonte:Bacen. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. Disponível em: https://goo.gl/90UwZR

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70

Tal como mostram os dados relativos às principais contas do Balanço de

Pagamentos do país (Cf. Tabela 2.4), durante o quinquênio que se estende de 2003 a 2007 o

Brasil assistiu a uma inédita sucessão de superávits nas Transações Correntes, produto da

combinação do referido crescimento das exportações acima das importações e de déficits

relativamente pequenos na Conta de Serviços (Cf. BIANCARELLI, 2012). Além disso, como

a partir de 2006 àqueles superávits se sobrepuseram importantes e crescentes saldos positivos

da Conta Capital e Financeira (tanto pela via do maior fluxo de investimentos diretos quanto

dos investimentos em carteira) foi possível não apenas ampliar de forma acentuada as reservas

internacionais em poder do Banco Central, como inclusive alçar o país à condição de credor

externo líquido56, a ponto de levar as agências de rating, ainda em 2008, a classificar a dívida

soberana brasileira com o inédito grau de investimento. A título de ilustração, no gráfico acima

(Figura 2.2) fica bastante evidente como, naquele contexto externo benigno, o Risco Brasil

sofreu uma abrupta redução entre 2003 e 2005, após ter partido de um nível extremamente alto

entre julho e outubro de 2002 (período da campanha presidencial que resultou na eleição de

Lula e que elevou o risco ao patamar de 2.436 pontos). Mesmo com a tensão provocada pela

eclosão da crise financeira internacional no segundo semestre de 2008, quando se registrou um

breve recrudescimento desse indicador, o risco permaneceu baixo por todo o período,

evidenciando uma mudança importante no que tange à dependência estrutural que marcou a

economia brasileira ao longo do Século XX57.

Destarte, a despeito da radicalidade do freio de arrumação com que Luiz Inácio

Lula da Silva inaugurou seu primeiro mandato58 e da submissão aos interesses da acumulação

56 A relação Dívida Externa Liquida / PIB que no 4º trimestre de 2002 era de 32,7% caiu de forma

acentuada nos anos seguintes, alcançando o campo negativo já no 4º trimestre de 2007, quando registra

a marca de -0,9%.

57 Para Leda Paulani (2013, p. 237-239), contudo, o que teria ocorrido seria antes a transição para uma

“nova fase da dependência”, na qual “um volume cada vez maior da renda real é subtraído de nossa

economia para fazer face ao pagamento das rendas” associadas a seguidos anos de farta captação de

poupança externa. Segundo a autora, essa nova dependência, “pior do que a clássica”, se expressaria,

principalmente, pelo crescimento do passivo externo de curto prazo que em 2011 já alcançava cerca de

US$ 650 bilhões, ou seja, quase duas vezes superior às reservas internacionais em poder do Banco

Central.

58 A gestão Lula se inicia em circunstâncias macroeconômicas bastante críticas, decorrentes da crise de

confiança que se agudizou desde o momento em que sua candidatura despontou como provável vitoriosa

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financeira (PAULANI, 2013), a inquestionável melhora no cenário externo ampliou

sensivelmente as margens de manobra do governo, permitindo-lhe, em especial a partir de 2006,

flexionar gradualmente o regime macroeconômico e, ao mesmo tempo, avançar em outras

frentes que fariam destravar os demais componentes da demanda agregada59 (SERRANO,

SUMMA, 2011; BIELSHCHOWSKY, 2012; BALTAR, 2015; MEDEIROS, 2015). Após duas

décadas marcadas por severas crises internacionais em que as restrições externas dificultavam

sobremaneira as estratégias de estabilização econômica e de retomada do crescimento60, na

passagem do primeiro para o segundo mandato de Lula abriram-se novas possibilidades de

manejo das políticas públicas, as quais permitiram que se redobrasse a aposta em um receituário

hibrido, com tímida ampliação do protagonismo estatal, firmes propósitos distributivistas61 e

com resilientes concessões à ortodoxia econômica62 (BARBOSA, SOUZA, 2010; CASTRO,

2012).

Foi nesse contexto que lentamente o governo logrou dinamizar o consumo,

articulando um conjunto de políticas que se retroalimentaram e que tomaram o lugar do setor

externo como principal motor do crescimento econômico (KERSTENETZKY, 2015). O

e por conta da qual, em um recuo tático anunciado pela famosa Carta ao Povo Brasileiro, levou-o a se

comprometeu com a arquitetura institucional do regime macroeconômico de recorte neoliberal que vigia

no Brasil desde 1999 (OLIVA, 2010, p. 4).

59 Entre as principais flexões no regime macroeconômico, pode-se destacar a redução das metas de

superávit primário, a exclusão dos investimentos das estatais do cálculo das despesas públicas, a

expansão do crédito subsidiado e a redução da TJLP, a introdução de cláusulas de exigência de conteúdo

local ou de preferência a fornecedores nacionais nas licitações do governo federal e das estatais, entre

outras.

60 Tomando apenas o período circunscrito entre as décadas de estagnação que precederam os doze anos

de desenvolvimento contingente, tivemos a gravíssima “crise da dívida” que eclodiu no início dos 1980

(TAVARES, 1998, p.124-132), os efeitos deletérios das rodadas de crises cambiais que se alastraram

pelo mundo nos anos 1990 e, finalmente, a crise da Nasdaq nos EUA, em 2001.

61 Conforme mencionado no capítulo anterior, já no Programa de Governo do Partido dos

Trabalhadores de 2006 percebe-se uma clara e inédita inflexão rumo à heterodoxia econômica, com

explicitas manifestações de defesa do Estado, seja como promotor de políticas sociais de caráter

universal, seja como indutor do crescimento econômico.

62 Sobre os limites e possibilidades de compatibilização das políticas macroeconômicas de inspiração

neoliberal e um projeto com pretensões social-desenvolvimentistas, ver ROSSI (2014) e BALTAR

(2014).

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consumo das famílias, que desde 2004 já apresentava uma tendência de aceleração, ampliou-se

fortemente entre os anos 2007 e 2011, seguindo até o ano de 2013 como importante propulsor

do PIB (Cf. Tabela 2.3). Deve-se destacar que ao longo desse percurso, durante alguns poucos

anos (2004 a 2010) aquela onda de consumo, ladeada por um cenário externo de baixo risco e

pelo maior protagonismo do Estado, engendrou uma significativa expansão da formação bruta

de capital, a qual, por sua vez, impulsionou de forma importante o crescimento do produto, a

ponto de em 2010 ter sido o investimento o componente com maior contribuição para o PIB,

respondendo por 3,65 dos 7,5 pontos percentuais de crescimento registrados.

Mirando esse mesmo processo por um outro recorte (do consumo aparente

industrial) os dados da Tabela 2.5 ajudam a perceber como aqueles impulsos macroeconômicos

foram se concatenando ao longo do ciclo, permitindo a consolidação de um período de

crescimento relativamente mais longo e com algumas transformações estruturais relevantes.

Assim, enquanto no período que precedeu a etapa de desenvolvimento contingente o consumo

de bens não duráveis foi o componente que conferiu maior vigor à economia – o que decorre

fundamentalmente da ampliação do poder de compra derivado do fim do imposto inflacionário

– após 2004, ao lado da retomada do consumo de não-duráveis, se observa o aumento do

consumo de bens intermediários e, com uma pequena defasagem temporal, de bens de capital

e duráveis. Puxados pela demanda externa e depois pela mudança na propensão a consumir

decorrente do aumento da renda e da maior capacidade de endividamento das famílias situadas

na base da pirâmide, esse movimento compôs uma trajetória clássica de recuperação

econômica, na qual durante alguns anos vai-se ocupando a capacidade industrial já instalada

(cuja expressão maior é o crescimento da demanda por bens intermediários) e, mais adiante, se

passa à crescente aquisição de bens de capital com vistas a expansão da capacidade produtiva.

Assim, sem pretender avançar no conjunto de ações e circunstâncias particulares

que foram sendo engendradas com maior efetividade a partir do início do segundo mandato de

Lula e que culminaram no crescimento de 7,5% do PIB em 2010, é pertinente aqui trazer ao

primeiro plano dessa análise algumas considerações a respeito do padrão de financiamento que

esteve vigente durante aqueles anos e que responde, em grande medida, tanto pelo vigor dos

motores do consumo e do investimento quanto pelos limites à sustentação e amplitude do ciclo.

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73

Tabela 2.5 Consumo Aparente Industrial Brasil, 1995 a 2014 [base: 2012 = 100]

Fonte:

IBGE/PIM-PF. Elaboração: IPEA/DIMAC. Disponível em: https://goo.gl/90UwZR

Nota: a esfera indica as células com valor > 90.

Em primeiro lugar, é preciso recordar que o grau de endividamento das empresas e

das famílias brasileiras era relativamente baixo naquele início de século XXI, seja porque vinha-

se de um período com taxas de juros em patamares proibitivos, seja porque a persistência de

elevado risco externo - que se agudizara ainda mais durante a campanha eleitoral de 2002 – ,

elevado desemprego, alta informalidade e estagnação da renda, desencorajavam a realização de

operações de crédito a prazos mais largos63.

63 De acordo com os dados do Banco Central do Brasil, a participação do crédito em relação ao PIB

diminuiu sistematicamente ao longo dos anos FHC, caindo de 33,8% em dezembro de 1995 para 24,6%

em dezembro de 2003. Tal como revela um estudo comparativo dos níveis de endividamento das

empresas brasileiras vis a vis as norte-americanas (SILVA, VALLE, 2008), ao longo do período 1999-

Mês/Ano Bens de CapitalBens

Intermediários

Bens de

Consumo

Bens de

Consumo

Duráveis

Bens de

Consumo Semi e

Não Duráveis

set/95 34,9 66,5 74,6 52,4 87,1

set/96 46,5 77,6 85,7 69,8 93,6

set/97 54,4 79,5 90,3 69,9 98,6

set/98 54,6 76,5 85,0 64,1 94,9

set/99 41,1 75,5 78,1 48,1 91,4

set/00 48,2 81,0 76,9 54,6 87,1

set/01 45,3 76,0 73,6 42,6 87,2

set/02 44,5 76,4 73,5 44,4 85,9

set/03 48,7 82,2 74,5 44,0 86,1

set/04 53,8 88,1 80,4 50,8 91,4

set/05 54,6 86,1 78,3 53,2 88,1

set/06 59,6 88,0 81,9 63,6 90,0

set/07 69,5 94,7 88,4 77,9 93,4

set/08 94,6 103,6 99,0 98,3 100,1

set/09 84,4 96,8 98,0 97,7 99,0

set/10 112,3 107,2 104,6 106,7 104,9

set/11 102,9 106,3 106,4 100,6 108,7

set/12 97,8 101,5 101,6 96,5 104,4

set/13 116,8 108,7 108,5 101,7 111,2

set/14 107,0 110,1 107,7 97,9 111,7

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Tabela 2.6 Evolução do crédito para o setor privado Brasil, anos selecionados

Distribuição por Segmento Como Proporção do PIB

Dez/2003 Set/2008 Dez/2011 Dez/2003 Set/2008 Dez/2011

Total 100% 100% 100% 24% 38% 47%

Famílias 30% 39% 43% 7% 15% 20%

Imobiliário 6% 5% 10% 2% 2% 5%

Outros* 24% 34% 33% 6% 13% 15%

Empresas 69% 61% 57% 16% 24% 27%

Indústria 29% 24% 22% 7% 9% 10%

Comércio 11% 11% 11% 3% 4% 5%

Serviços 18% 18% 18% 4% 7% 8%

Rural 12% 9% 7% 3% 4% 3% Fonte: Banco Central (apud. PRATES et al. 2015) (*) Principalmente credito pessoal e crédito para consumo de bens.

Contudo, com o rápido desanuviar do cenário externo, a redução modesta, porém

importante, dos juros básicos64, a expansão do emprego, da formalização e da massa salarial,

o avanço da bancarização, a criação de novas e mais baratas linhas de crédito para as famílias

(notadamente o crédito consignado65), a ampliação do crédito imobiliário e a decisiva redução

da TJLP (por vezes a níveis negativos), estabeleceu-se um cenário bastante mais favorável à

expansão do endividamento das famílias e das empresas (MORA, 2015). Conforme assinalado

na Tabela 2.6, enquanto o crédito total para o setor privado dobrou entre aqueles anos que

2003 (pós-estabilização monetária e pós-desvalorização cambial) o nível de endividamento das

empresas sediadas no Brasil manteve-se sensivelmente mais baixo do que o observado nos EUA, em

especial no que tange aos empréstimos de longo prazo. Em contrapartida, no Brasil, a proporção de

empréstimos de curto prazo (frequentemente associado a operações de financiamento do capital de giro)

era um pouco mais elevada do que a verificada nas empresas dos EUA.

64 As taxas de juros reais ex-ante foram declinando gradativamente ao longo da primeira década dos

anos 2000, tendo partido de uma média anual de 14,9% no início da década (2000-2003), caído para

11,5% a.a. no biênio 2004-2005, depois para 7,7% a.a. entre 2006 e 2009 e atingindo o nível de 6,2 %

no ano de 2010. Em 2012, finalmente, a taxa de juros anual real chegou a 1,2% - o seu mais baixo valor

no período recente – voltando a crescer a partir de 2013 (GALA, 2016).

65 Conforme assinalado por Mônica Mora (2015, p.13-16) a introdução do crédito consignado não

apenas contribuiu para a queda da taxa de juros média anual cobrada sobre as operações de crédito

pessoal, como permitiu a ampliação dos prazos médios - entre 2002 e 2010 o prazo médio do crédito

pessoal passou de 220 dias para 550 dias. Somados, esses dois fatores reduziram sensivelmente o valor

das prestações, ampliando as possibilidades de endividamento das pessoas físicas.

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perfizeram a fase ascendente do ciclo, o crédito para o consumo das famílias praticamente

triplicou, saltando de 7% do PIB em dezembro de 2003 para 20% em dezembro de 2011. Por

seu turno, quando se consideram os dois subperíodos (dez/2003-set/2008 e set/2008-dez/2011),

percebe-se que aquele crescimento do crédito para as famílias concentrou-se inicialmente nas

operações de financiamento do consumo e que somente a partir de 2008 passa a ser também

acompanhado pela forte expansão do financiamento imobiliário.

Já entre o segmento empresarial, embora o ritmo de crescimento do crédito tenha

sido mais modesto, também se percebe um avanço de monta, com o volume total saltando de

16% para 27% do PIB entre 2003 e 2011, sendo esse processo ainda mais acentuado no

segmento dos serviços, no qual dobrou o volume de crédito como proporção do PIB, com um

salto de 4% para 8% no período.

Assim, sob circunstâncias relativamente fortuitas - engendradas por fatores

externos – mas alavancadas pelas políticas de elevação da renda dos mais pobres, pelo aumento

do emprego formal (temas tratados no próximo capítulo) e pela disseminação e ampliação do

crédito, assistiu-se naquele momento a uma atípica mudança na propensão a consumir da

sociedade brasileira, a qual parece ter sido capaz de tonificar de forma até certo ponto

surpreendente os demais componentes da demanda agregada e dar curso a uma notável fase de

ascensão da economia brasileira66.

A partir de 2011, contudo, coincidentemente com o início do governo Dilma

Rousseff, não apenas o cenário externo se alterou67, como a passagem para o que se mal

denominou de “ensaio desenvolvimentista” ou “nova matriz macroeconômica” trouxe consigo

uma série de equívocos da gestão macroeconômica (SERRANO, SUMMA, 2015; RUGITSKY,

2015, NASSIF, 2015), os quais tanto contribuíram para a queda do ritmo de crescimento do

66 Afora os membros do governo, que por dever de ofício faziam previsões mais otimistas, em meados

da década de 2000 praticamente não havia entre os analistas econômicos quem apostasse em um

processo de crescimento econômico com a magnitude que se verificou.

67 Por exemplo, com a reversão da evolução favorável dos termos de troca, que passa a cair a partir de

2011 na medida em que vai se desacelerando o comércio mundial (RUGITSKY, 2015).

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PIB, quanto tornaram evidentes os limites da estratégia de preservar o tripé macroeconômico e

querer avançar em simultâneo por outras frentes da política econômica68.

2.3 Das contingências

A despeito do bom desempenho econômico e dos importantes avanços sociais

assistidos ao longo de todo o período considerado – inclusive após o forte solavanco provocado

pela crise de 2008 – o alcance das políticas adotadas foram se estreitando com o tempo, na

medida em que, mesmo quando levadas ao máximo de suas possibilidades, encontraram limites

estruturais graves e sobre os quais pouco se conseguiu fazer para superá-los. Noutros termos, a

manutenção do chamado tripé macroeconômico em um contexto global de acirramento da

concorrência e de crescente liquidez internacional foi exaurindo os mecanismos de sustentação

do investimento (cuja contribuição para o crescimento do PIB diminui sensivelmente a partir

de 2012)69 com graves repercussões sobre a nossa estrutura de demanda efetiva e, por

conseguinte, sobre o nível geral de atividade econômica (RUGITSKY, 2015; NASSIF, 2015).

Dentre aqueles limites, dois fatores têm sido apontados como principais

responsáveis pela inflexão do ciclo, os quais guardam relação direta com o regime de metas de

inflação implantado em 199970. Em primeiro lugar, a política monetária provavelmente tenha

constituído a mais grave restrição ao avanço do ensaio de desenvolvimento produtivo do pais,

68 Como foram os caso do corte inicial de investimentos públicos e da política de desoneração da folha

de pagamentos, reconhecidos como equívocos da gestão macroeconômica pela própria ex-presidente

Dilma em entrevista ao jornal Valor Econômico (VALOR ECONÕMICO, 2017)

69 De fato, como aponta André Nassif (2015, p.434) “a taxa de crescimento média da formação bruta de

capital fixo no período 2011-2014 foi medíocre, de apenas 1,8% a.a., inferior tanto à taxa de incremento

do consumo do governo como do consumo das famílias e significativamente menor do que a do

investimento bruto nos dois mandatos do governo Lula da Silva”. Cabe lembrar que a política de

desoneração tributária adotada a partir de 2012, a despeito do ônus fiscal equivalente a 0,5% do PIB ao

ano, não foi capaz de reverter a tendência de desaceleração dos investimentos.

70 Para uma análise crítica a respeito dos nexos do regime de metas de inflação e as políticas monetária

e cambial, ver Bresser-Pereira e Silva (2009).

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a começar pelo fato de que a taxa de juros básica foi mantida em patamares extremamente altos

durante quase todo o período71 - não poucas vezes entre as mais altas do mundo. Desta feita,

não só os juros fizeram subir o custo de oportunidade para os empreendimentos capitalistas a

níveis quase proibitivos – na medida em que constrangem diretamente a eficiência marginal do

capital, desencorajando o investimento instrumental – mas seus efeitos depressores se fizeram

sentir também por outras vias. Por exemplo, dada a estrutura da dívida pública brasileira, com

grande parte ainda indexada à taxa Selic, a política monetária também produziu severos danos

à órbita fiscal, seja porque incidiam diretamente sobre o custo de carregamento da dívida

pública (BASTOS, 2016; CARVALHO et al., 2016), seja porque, por conta do regime cambial,

as operações compromissadas junto ao Banco Central incorrem em pesados custos ao Tesouro,

rerivados do elevado diferencial entre as taxas de juro interna e externa. Além disso, lembrando

da elevada dependência que o capitalismo brasileiro mantém em relação ao crédito público nas

operações de longo prazo, apesar de meritórias e desejáveis, não foi de pouca relevância em

termos de impacto fiscal as recorrentes operações de troca de títulos entre o Tesouro e os bancos

públicos (em especial o BNDES), às quais também são tão mais onerosas quanto maior for o

diferencial entre a taxa Selic e a TJLP.

Em segundo lugar, o regime de câmbio flutuante implementado em 1999 e mantido

até o presente, antes de ajudar a reduzir os impactos dos choques externos e corrigir os

desequilíbrios do balanço de pagamentos, tem contribuído para uma tendência de

sobrevalorização cambial que constituiu outro grave elemento limitador do ciclo de

desenvolvimento em tela (NASSIF, 2015, p. 430-431). Para além dos já mencionados efeitos

deletérios do câmbio valorizado sobre o padrão de inserção externa do país e,

consequentemente, sobre a estrutura produtiva doméstica, a alta volatilidade da taxa de câmbio

brasileira que persiste desde o início desse sistema em 1999 se interpõe de forma dramática

sobre cálculo capitalista de longo prazo, reprimindo outros impulsos dinamizadores e limitando

o volume de investimento em capital fixo. Além disso, considerando-se que as operações

cambiais foram se convertendo crescentemente em objeto de valorização financeira per se e

71 A única exceção ocorreu entre o início do terceiro trimestre de 2011 e o segundo trimestre de 2013

quando houve uma queda na taxa de juros real básica de curto prazo (ex-post) de 5,2% a.a. para 1,3%

a.a.

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que isso introduziu um forte componente especulativo sobre a taxas de câmbio brasileira,

enfraqueceram-se seus nexos com os fluxos reais e com a política de carregamento de divisas

(ROSSI, 2016), restando ao Banco Central lançar mão das onerosas operações de swaps

cambiais, cujos impactos sobre a dívida púbica podem ser demasiado altos a depender do

sentido das flutuações da taxa de câmbio (BASTOS, 2016, p. 21-25). Ao fim e ao cabo, se antes

as operações com o câmbio afetavam o cálculo capitalista fundamentalmente por meio da

mudança dos preços relativos decorrentes das oscilações da taxa – o que já constituía um

problema da maior gravidade para a gestão macroeconômica – agora são estas próprias

oscilações que se tornam alvo da estratégia capitalista, tornando ainda mais dramáticos e

ineficazes os esforços de mitigação do Banco Central, em clara indicação da hipertrofia

financeira que subordina e deprime o investimento instrumental (PAULANI, 2013; UNCTAD

2016).

Tomando alguma distância da análise mais colada na cronologia da gestão

macroeconômica de cada etapa do ciclo, é pertinente destacar que nas condições de soberania

reduzida que decorreram das sucessivas rodadas liberalizantes das últimas duas décadas

(especialmente da liberalização da conta capital) o arranjo macroeconômico experimentado na

fase do desenvolvimento contingente, ao mesmo tempo em que foi acompanhado de uma

redução da clássica dependência externa72, engendrou um novo tipo de metabolismo capitalista

no país, não apenas mais limitado e fraco, como também eivado de contradições que, em última

instância, são a contraface de um hibridismo político e econômico que aceitou a submissão

passiva do país aos ditames das finanças mundializadas e se restringiu a avançar por entre as

diversas brechas que se sucederam pelo trajeto.

72 A diminuição do grau de dependência externa pode ser auferida, entre outros, tanto pela evolução

favorável dos termos de troca – cuja razão cresceu mais de 4% ao ano entre 2004 e 2011 (RUGITSKY,

2015) - quanto pelo acúmulo de reservas internacionais, que saltaram de US$ 20 bilhões em 2003 para

US$ 379 bilhões em 2014 ou, ainda, pela evolução da relação entre dívida externa total e as reservas

internacionais, que passaram de 6,5 em 2000 para apenas 0,93 em 2014 (SERRANO, SUMMA, 2015,

p.1).

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CAPÍTULO 3

Virtude

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3.1 Introdução

Neste terceiro capítulo são apresentados os principais elementos que contribuíram

para pavimentar a comunhão de interesses que compôs o terceiro eixo das estruturas sociais de

acumulação e que, portanto, de acordo com a hipótese dessa tese, serviu de lastro político ao

ciclo de desenvolvimento contingente em tela.

Diversos autores brasileiros, principalmente do campo da ciência política

(MENEGUELLO, AMARAL, 2008; BOITO Jr, 2012a, 2012b; SINGER, 2012; NOBRE, 2013)

têm apontado com pertinência para as peculiaridades da aliança política que foi costurada pelo

PT e que garantiram governabilidade ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto para dar

curso a seus dois governos consecutivos quanto para eleger a sua sucessora, Dilma Rousseff,

em 2010. Por diferentes prismas e distintas ênfases, aqueles autores compartilham o diagnóstico

de que os governos petistas estiveram assentados sobre relevantes contradições políticas e

programáticas, as quais, por sua vez, expressavam a singular acomodação de interesses que os

ladearam ao longo de 12 anos.

Na perspectiva de Boito Jr. (2012a, 2012b), o PT teria logrado aproveitar de uma

fratura dentro da classe dominante brasileira para selar uma aproximação com a fração da

burguesia nacional cujos interesses estavam conectados a negócios internos e que enxergava na

abertura econômica e na maior exposição internacional do país uma ameaça a sua sobrevivência

enquanto tal. Sobre esse pano de fundo, a partir de 2002 teria se constituído então um novo

bloco político, denominado pelos autores de “neodesenvolvimentista”, o qual se caracterizaria

por ser:

Uma frente ampla, heterogênea e eivada de contradições [...] que reúne a

grande burguesia interna brasileira que é a sua força dirigente, a baixa classe

média, o operariado urbano e o campesinato. A frente incorpora, também,

aquele amplo e heterogêneo setor social que compreende desempregados,

subempregados, trabalhadores por conta própria, camponeses em situação de

penúria e outros setores que compõem aquilo que a sociologia crítica latino-

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americana do século passado denominou ‘massa marginal’ ”. (BOITO Jr.,

BERRINGER; 2013, p. 31)

Note-se que essa perspectiva é convergente à interpretação de Wolfson e Kotz

(2010) a respeito do processo de emergência de novas Estruturas Sociais de Acumulação.

Segundo eles, “em um sistema capitalista, a classe capitalista, enquanto classe dominante – ou

pelo menos uma fração substantiva dela – deverá ter um papel de protagonismo na criação da

SSA” (Ibid., p.72).

Assim, ainda de acordo com a visão de Boito Jr. e Berringer, o adversário comum

a ser enfrentado pelos vários segmentos constitutivos da tal frente desenvolvimentista (sob

liderança da fração capitalista cujos negócios dependem do desenvolvimento da economia

nacional) seria o estrato da elite econômica e política que se vincula a grupos e interesses

econômicos estrangeiros. Cosmopolita e liberal, depois de ter sido hegemônica por todo o

período que se estende desde a eleição de Fernando Collor até a derrocada do governo FHC, na

atual quadra da história essa fração internacionalista da classe capitalista brasileira seria

representada pelo Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, não por acaso, o principal

polo de antagonismo àquela frente.

Apontando na mesma direção, porém, mais preocupados em analisar como o

Partido dos Trabalhadores se moldou para tornar-se o partido capaz de romper a hegemonia

anterior e liderar, na seara partidária, aquele novo bloco político que se formava, Meneguello e

Amaral (2008, p.8) acrescentam que “após três disputas presidenciais, o PT chegava ao governo

federal em 2003 com uma proposta transformada e assegurada pela aliança com setores do

capital nacional e pelo compromisso da mudança sem ruptura” [grifo meu].

De fato, depois da crise cambial de 1999 e o consequente esvaziamento do bloco

de apoio ao governo de FHC, o PT iniciou um movimento de aproximação de setores do

empresariado nacional a ponto de, na eleição de 2002, escolher para compor a chapa, na

condição de vice-presidente da república, o empresário José de Alencar, um bem-sucedido

industrial do ramo têxtil que, àquela altura, era filiado ao Partido Liberal – PL, um partido

historicamente antagônico ao ideário petista. (MENEGUELLO, AMARAL, op. cit.).

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Analisando o mesmo período, porém, com outra mirada, Marcos Nobre (2013)

também joga luz sobre aquele arranjo político, privilegiando, contudo, a dimensão das

composições partidárias e das relações destas com o poder executivo. Nobre destaca nesse

contexto o papel de um superbloco parlamentar, oriundo do chamado “Centrão”73 – hoje

representado pelo PMDB - e que atuaria como centro de gravidade da política brasileira desde

a eleição de Fernando Collor de Mello em 1989, servindo de lastro parlamentar para todos os

governos que o sucederam. Além disso, ainda na perspectiva de Marcos Nobre, por seu tamanho

e poder de veto no legislativo, esse superbloco atuaria para blindar transformações sociais e

políticas mais profundas no país, consolidando-se como elemento central da mudança sem

ruptura. Nos termos de Nobre (2013, p.p. 16-17) “(...) a cultura política pemedebista constitui

um complexo sistema de travas à mudança”. Consequentemente, reconhecer a presença desse

bloco na base da coalizão que deu sustentação política às três administrações petistas aqui

analisadas seria uma das chaves para entender o caráter contraditório que as caracterizaram.

É também dessa mesma contradição que vai partir o cientista político André Singer

(2012) para fazer sua leitura do “lulismo”. Menos focado nas alianças formais e mais atento ao

realinhamento político que resulta dos movimentos percebidos nas relações entre as classes

sociais do país, Singer vai buscar identificar como foram sendo realocados ao longo do período

os interesses conflitantes das classes que se relacionam com o poder incumbente.

O autor recorre ao conceito de subproletariado74 para sugerir que foi para esse

segmento (“pobres que trabalham”, mais prevalentes nas regiões atrasadas do país) que o

Presidente Lula direcionou o seu governo, estruturando já desde o seu primeiro mandato um

conjunto de políticas públicas que lograram cativar esse segmento de classe para a sua base

social, garantindo legitimidade política a seus governos e, assim, ampliando seu raio de ação à

medida em que os anos se passavam e essa escolha política ficava mais clara. Dessa

73 Bloco parlamentar que se formou ao longo do processo constituinte de 1987-88 com o objetivo de

fazer frente ao bloco dos partidos de esquerda. Reunia políticos de centro-direita, em sua maioria

membros do PFL (ex-arena, partido que dava apoio ao regime militar) e também do PMDB (ex-MDB,

partido que fazia oposição ao regime) (FARHAT,1996; MENEGHELLO, 1996; NOBRE, op.cit).

74 Segundo Singer (op.cit., p. 20) o conceito de subproletariado de que faz uso foi retirado de Paul Singer,

em Dominação e Desigualdade (SINGER, 1981).

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perspectiva, portanto, o trajeto teria sido pavimentado a partir de sinais periféricos emitidos,

desde o início do governo em 2003, por meio de ações governamentais pontuais que calçaram

politicamente o governo para transitar de um regime econômico claramente neoliberal (sem

ruptura) - nos seus primeiros anos - para um regime hibrido (com mudanças) a partir do início

do segundo mandato.

É a esse processo de lento ajuste de rota, com gradativa flexibilização da ortodoxia

econômica e crescente protagonismo do setor público, que André Singer denomina de

realinhamento e que, em última instância, apontaria para a edificação de um Estado capaz de

ajudar os pobres sem confrontar a ordem (SINGER, op.cit., p.21). Em outros termos, seguindo

pela senda aberta por André Singer em sua interpretação do lulismo, poder-se-ia dizer que o

governo Lula, agindo com cautela e habilidade política, colocou – em termos concretos e

simbólicos - o foco na ralé75. Mais do que isso, apesar de ter subordinado a macroeconomia à

ortodoxia neoliberal, o Estado foi lentamente alçado ao primeiro plano como instância

propulsora de um desenvolvimento social particular, no qual a defesa da massa trabalhadora –

ou a reversão do processo de construção social da subcidadania76 - foi apresentado

pragmaticamente, por meio de políticas públicas específicas77, como ponto nodal dos governos

petistas.

Pela primeira vez em muitas décadas, o crescimento econômico beneficiou

também os setores populares da sociedade brasileira. Políticas redistributivas,

75 Tal como propõe Jessé de Souza (2009, p. 25): “uma classe inteira de indivíduos, não só sem capital

cultural nem econômico, mas desprovida, esse é o aspecto fundamental, das precondições sociais,

morais e culturais que permitem essa apropriação. [...] uma classe social que se produz e reproduz como

classe de indivíduos com um ‘estigma [negativo] inato’.” (SOUZA, op. cit., p. 32). Usa-se aqui essa

designação como equivalente latu sensu à fração de classe que André Singer chama de subproletariado.

76 Na formulação de Jessé de Souza, trata-se do processo vigente na ordem competitiva do capitalismo

moderno que, por meio de uma “hierarquia valorativa implícita e opaca”, reinstaura infinitamente o

lugar social da ralé, isto é, da “classe dos desclassificados” cuja existência seria, a um só tempo, efeito

e atestado legitimador, a partir do qual se justificam e se garantem os privilégios para as classes altas

(dotadas de capital econômico) e médias (dotadas de capital cultural). “Constrói-se um contexto em

que [...] o desvalor objetivo dos indivíduos dessa classe despossuída existencial, moral e

economicamente é reafirmado no cotidiano” (SOUZA, 2015, l. 3809).

77 Merecem destaque, entre outros, os programas Fome Zero (depois incorporado pelo Bolsa Família),

o Primeiro Emprego, o Pronaf (de apoio à agricultura familiar), o crédito consignado, o Prouni

(ofertando bolsas para alunos de baixa renda em instituições privadas de ensino superior).

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como o Bolsa Família, que beneficia mais de 46 milhões de pessoas, aliadas

ao aumento real do salário mínimo em cerca de 70%, a políticas de

microcrédito e de facilidades ao crédito de um modo geral, além de políticas

tópicas de acesso à educação superior para a população mais pobre,

fortaleceram a base da pirâmide social brasileira e operaram importantes

mudanças morfológicas na estrutura de classes da sociedade brasileira

contemporânea. (SOUZA, 2015, l.3829)

É, portanto, precisamente a análise dessa mudança morfológica de nossa estrutura

de classes que interessa aos objetivos da presente tese, dado que, na perspectiva da Teoria das

Estruturas Sociais de Acumulação, a maneira como a luta de classes se amolda a cada momento

histórico e contexto nacional em particular é um dos fatores centrais para a precipitação ou não

de um ciclo de acumulação.

3.2 A centralidade da massa trabalhadora

Embora a história do Partido dos Trabalhadores tenha sido construída em torno das

lutas de defesa do emprego e da renda dos trabalhadores e o partido tenha se destacado como

vetor decisivo na conquista de direitos trabalhistas, políticos e sociais no processo de

redemocratização (SADER, 1988; OLIVEIRA, 2002, MENEGUELLO, AMARAL, 2008;

KECK, 2010; SECCO, 2011), do ponto de vista programático percebe-se ao longo de toda a

sua trajetória uma certa lacuna, ou até mesmo uma omissão consciente, no que diga respeito a

formulações econômicas mais substantivas ou a projetos mais estruturados de organização da

sociedade – o crítico de arte Mario Pedrosa, fundador e um dos idealizadores do PT (LULA

DA SILVA, 2001, p. 23-27), já deixava clara essa posição em artigo publicado no Jornal da

República, em 21 de janeiro de 1980, (portanto a um mês da fundação do PT): "Ninguém pode

traçar aprioristicamente e ainda menos doutrinariamente qualquer ação ou comportamento

prévio para o nosso Partido dos Trabalhadores. O empirismo salutar [grifo meu] será no fundo

a sua força para a ação” (PEDROSA, 2001, p.183).

Por conta da forte defesa da autonomia e da emancipação da classe trabalhadora,

conforme referido no Capítulo 1, na gênese do ideário petista já havia uma aguda crítica ao

Estado nacional-desenvolvimentista, tal como indica a presença entre seus fundadores de

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intelectuais como o próprio Mario Pedrosa, Francisco Weffort, Marilena Chauí, entre outros,

todos de alguma forma críticos à maneira como aquele Estado se relacionava ao longo da

história do brasil republicano com a sociedade civil e em particular com a classe trabalhadora

e seus sindicatos. Destarte, seja por conta de sua própria origem (luta sindical e movimentos

sociais), seja pela oposição que fazia, desde o nascedouro, ao Estado “patrimonialista” e

“dirigista”, ou ainda, pela difícil condição de, a um só tempo, mirar na difusa proposta de

alcançar o socialismo por vias democráticas e resistir à tarefa de colaborar para a superação da

crise do capitalismo brasileiro (ALMEIDA, 2007; CERQUEIRA, 2010), as concepções

econômicas do PT oscilaram sempre entre o imediatismo (ou empirismo salutar) e a utopia.

Além disso, talvez justamente pelo seu vertiginoso protagonismo durante os anos como

debutante, em um período da história do Brasil marcado por agudas e recorrentes crises

econômicas e alta voltagem política – em especial durante a campanha pelas Diretas Já

(RODRIGUES, 2003) -, o partido se deixou moldar fortemente pela ação reativa, nas ruas e no

parlamento, em detrimento de uma agenda mais estruturante, capaz de dialogar com às

singularidades do capitalismo vigente no pais. Para além dos temas dos salários, da dívida

externa e da reforma agrária, foi sempre patente a ausência de formulações alternativas de

desenvolvimento econômico no ideário do partido (CERQUEIRA, 2010).

É verdade, como já indicado anteriormente, que essas características não eram

exatamente acidentais ou mera consequência do atropelo dos fatos. Desde a sua fundação, o

Partido dos Trabalhadores se anunciava como uma alternativa aos precedentes partidos de

esquerda justamente por se pretender livre de formulações teóricas acabadas e inclusive vago

em relação a seus propósitos. Emblemático a esse respeito é o discurso de Mario Pedrosa, por

ocasião da fundação do partido, em assembleia realizada em 10 fevereiro de 1980 no Colégio

Sion na cidade de São Paulo:

Na hora em que aqui nos reunimos, companheiros de todo o Brasil, para

assinar o nome sob a flama do Partido dos Trabalhadores, temos consciência

do que estamos fazendo. Diferentemente de todos os partidos por aí, com sua

dança de letras e siglas, o PT é simplesmente o Partido dos Trabalhadores. É

único de estruturas, é único de tendências, é único de finalidade (…). Partido

de massas não tem vanguarda, não tem teorias, não tem livro sagrado. Ele é o

que é, guia-se por sua prática, acerta por seu instinto [grifo meu]. Por isso,

ao nos inscrevermos no PT, deixamos à sua porta os preconceitos, os

pendores, as tendências extras que possivelmente nos moviam até lá, para só

deixar atuando em nós uma integral solidariedade ao Partido dos

Trabalhadores.

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86

Por outro lado, a partir de meados dos anos oitenta quando o PT inicia uma trajetória

de crescente conquistas de governos municipais e estaduais – frequentemente exaltando os seus

feitos administrativos nas instâncias subnacionais como capital político para a conquista da

presidência - o partido manteve-se demasiadamente focado nas temáticas locais ou particulares,

reforçando o seu relativo distanciamento das questões macro e de uma reflexão econômica de

maior fulcro que pudesse se traduzir em base material para as transformações sociais a que se

propunha em escala nacional (MENEGUELLO, AMARAL, 2008). Não raro, seu imediatismo

jogou contra alguns avanços econômicos e sociais importantes – a oposição às medidas

econômicas do Plano Cruzado (CERQUEIRA, 2010, p.119), a recusa de aprovar a Assembleia

Constituinte de 1988 e os votos contrários à Contribuição Provisória sobre Movimentação

Financeira – CPMF, em 1996, talvez sejam os casos mais emblemáticos, mas não os únicos,

daquela conduta.

Por conta desses vieses de origem e de seu cacoete administrativo adquirido na

gestão de instâncias subnacionais, quando o PT assume o governo federal em 2003 não havia

propriamente um projeto econômico suficientemente denso e articulado que servisse de suporte

às bandeiras históricas empunhadas pelo partido. O mal-estar com a “carta ao povo brasileiro”

e as defecções de correntes internas e quadros históricos do partido ao longo dos primeiros anos

sob a presidência de Lula são, em grande medida, expressões dessas lacunas e contradições.

Contudo, olhando em retrospectiva, sabe-se hoje que à medida que os anos se

passaram o governo petista foi construindo uma agenda macroeconômica ad hoc, orientada,

segundo a hipótese defendida na presente tese, pela melhoria imediata78 das condições de vida

das frações mais pobres da classe trabalhadora, isto é, da massa trabalhadora, ralé ou

subproletariado, ou como se queira chamar. Ou seja, as diretrizes macroeconômicas foram

sendo ajustadas como resposta aos desafios e às possibilidades que se apresentavam ao governo

para, em última instância, defender e avançar sobre as questões relativas ao mundo do trabalho

78 Ressalta-se que a defesa das classes subalternas foi sempre percebida na prática como a necessidade

de atender suas demandas de curto prazo. Não se nota em momento algum, seja no discurso do governo,

seja nas hostes do partido, a elaboração de uma estratégia de desenvolvimento que garantisse no futuro

uma mudança estrutural da sociedade brasileira em prol das classes trabalhadoras.

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87

- em especial ao mundo daqueles situados na base da pirâmide social, concentrados nas regiões

menos desenvolvidas do país e na maioria das vezes ocupados de forma precária.

Esse movimento, errático, opaco e eivado de contradições e fruto talvez do

empirismo salutar de Pedrosa, tornou-se mais perceptível a partir do início do segundo mandato

do Presidente Lula e, mais especificamente, a partir do biênio de 2008/2009, quando a

gravidade da crise internacional exigiu uma ação mais efetiva do Estado na direção do

desenvolvimento (BERG, 2009; BARBOSA e SOUZA, 2010; CUNHA et al, 2011;

QUADROS, 2011; ROSSI, 2014).

É, pois, precisamente a partir do reconhecimento desse percurso de realinhamento79

que se pretende aqui avançar, procurando identificar os nexos econômicos e institucionais que

constituíram a sua base material e que, no campo social e simbólico, galvanizaram

politicamente os governos do PT a ponto de o partido lograr a vitória em quatro eleições

consecutivas80. Com esse objetivo específico, nesta seção apresentam-se três dimensões

cruciais do mundo do trabalho e que estariam a corroborar a tese de que o princípio da

centralidade do trabalho constituiu o esteio político e econômico desse ciclo de

desenvolvimento de doze anos. Assim, sem pretender realizar análises exaustivas, nas páginas

que seguem, busca-se dar relevo às dinâmicas da informalidade, do emprego e do valor do

salário mínimo ao longo do período que vai de 2003 a 2014.

79 Note-se, não se está propondo aqui que os atores políticos da época tinham clareza do trajeto a

percorrer nem que estivessem certos em um suposto movimento tático de adoção estrita do receituário

econômico ortodoxo no primeiro mandato de Lula. As condicionantes históricas e os fatos políticos

supervenientes – que, entre outros, derrubaram o então Ministro da Fazenda Antônio Palocci e com ele

parte dos cavaleiros da ortodoxia – se impuseram favoravelmente no percurso, contribuindo de forma

decisiva para o realinhamento.

80 Ao analisar os mapas eleitorais das eleições de 2002 e 2006, André Singer aponta com nitidez o

deslocamento da base eleitoral de Lula, o que atestaria a eficácia do realinhamento já iniciado em seu

primeiro governo. Quando comparada aos resultados eleitorais de 2002, na eleição de 2006, ao mesmo

tempo em que a candidatura Lula perde votos nos estratos de maior renda, maior escolaridade e na região

sudeste, alcança um expressivo contingente de novos eleitores nas classes baixas e nas regiões norte e

nordeste, em volume mais do que suficiente para compensar os votos perdidos nos primeiros estratos

(SINGER, 2012, p.p. 51-62).

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88

3.2.1 A redução da informalidade do trabalho no Brasil

À medida que o capitalismo e a urbanização foram alcançando os rincões menos

desenvolvidos do planeta, o problema da informalidade emergiu como um tema cada vez mais

frequente entre acadêmicos e formuladores de políticas públicas. Foi o antropólogo Keith Hart81

quem, no início dos anos 1970, primeiro denominou os segmentos e os trabalhadores que vivem

à margem das atividades legais ou burocraticamente reguladas de “setor informal”. Desde

então, o conceito desdobrou-se em diferentes definições e interpretações82, ganhando espaço

em variados campos de pesquisa, na agenda política de governos nacionais e de organismos

multilaterais.

Contudo, com o avanço da globalização comercial e financeira que se assiste desde

as últimas décadas do século XX, o fenômeno da informalidade, que antes era associado

fundamentalmente ao subdesenvolvimento, à tibieza da regulação estatal ou à baixa

produtividade das atividades econômicas periféricas, tem crescido em diversos países, mesmo

em períodos de seguido crescimento econômico. Como aponta Schneider (2014, p.54), ao

mesmo tempo em que se observa uma queda da economia informal entre 1997 e 2007, percebe-

se um aumento do contingente de trabalhadores informais. De acordo com o prestigioso estudo

“Is informal normal”, publicado pela OCDE (2009), desde 1990 se percebe um crescimento

relativo dos trabalhadores informais, a ponto de atualmente já corresponderem a mais da metade

dos trabalhadores em atividade no mundo. Segundo estimativa de Schneider (2012, p.35)

seriam 1,8 bilhão sem contrato de trabalho ou cobertura da seguridade social para 1,2 bilhão de

trabalhadores formais ou protegidos.

No mesmo sentido aponta um estudo recente da OIT (2014), comparando 47 países

ao redor do globo. A despeito das dificuldades metodológicas que cercam compêndios dessa

81 Hart apresentou seu estudo seminal na Conferência sobre Desemprego Urbano na África realizada

em Gana em setembro de 1971, vindo publicar o artigo completo dois anos mais tarde em “The Journal

of Modern African Studies” sob o título “Informal Income Opportunities and Urban Employment in

Ghana” (HART, 1973).

82 Para se conhecer melhor a história do conceito de “economia informal” ver Hart (2010) Salas (2003,

p. 80-97) ou Ramos (2007). Para uma descrição das diferentes dimensões da informalidade e suas formas

de medição ver OIT (2013).

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magnitude sobre um tema que conta com poucas e frágeis bases estatísticas, a OIT constatou

que ao final da próspera primeira década do presente século, o trabalho informal alcançava 82%

da população ocupada no Sul da Ásia, 66% na África subsaariana, 65% no Sudeste asiático

(exclusive a China), 51% na América Latina e 10% na Europa do Leste e na Ásia central. (OIT,

op.cit., p.6). Segundo o referido relatório:

Fortes evidências empíricas baseadas na experiência de crescimento de muitas

economias em desenvolvimento ou em transição mostram que significativos

setores informais podem coexistir e serem sustentáveis em paralelo com a

expansão da economia formal e uma boa performance de crescimento. O

crescimento resultante da integração acelerada na economia global não é

necessariamente propício para a transição para a formalidade. [...]

O setor informal não é o único responsável pelo emprego informal, visto que

a informalidade tem avançado no setor formal em muitos países. A

globalização deu nova importância ao setor informal por meio das

terceirizações e das cadeias globais de valor, enquanto a atual crise financeira

e económica internacional coloca desafios adicionais para reduzir os déficits

de trabalho decente na economia formal. (OIT, op. cit., p. 8)83

Mesmo para o caso particular das economias avançadas, Huitfeldt e Jütting (2009)

estimam que o emprego informal tem se mantido em patamares elevados, alcançando, em

média, aproximadamente 25% dos trabalhadores não-agrícolas nos países que compõem a

OCDE.

Mas o Brasil, conforme apontado por aquele mesmo relatório da OIT (op. cit.)

desponta nesse começo de século como uma exceção no que se refere à evolução da

informalidade. Ao contrário do que se observa na maioria dos países em desenvolvimento, a

informalidade no Brasil refluiu de forma consistente, notadamente entre os anos 2003 e 2014.

E esse é, de acordo com a hipótese dessa tese, um dos importantes indicadores a atestar a

virtuosidade das políticas públicas correntes durante aquele período.

Contudo, antes de avançar na análise do caso brasileiro, faz-se necessário explicitar

qual o conceito de informalidade que se está utilizando aqui. Embora existam diferentes formas

de definir o que é informalidade, a Organização Internacional do Trabalho - OIT, a partir das

83 Tradução minha.

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90

diretrizes definidas na 17ª Conferência Internacional de Estatísticas do Trabalho - CIET,

realizada em 2003, procurou distinguir conceitualmente a informalidade do emprego entre

aquelas que estão associadas ao setor informal da economia e aquelas que são consideradas

informais pelas características do vínculo de emprego. Partindo desse critério, a OIT definiu

então três diferentes recortes para a informalidade do emprego: o emprego informal (na figura

3.1 corresponde aos casos 1 a 6 e 8 a 10); o emprego no setor informal (casos 3 a 8) e o emprego

informal fora do setor informal (casos 1, 2, 9 e 10).

Figura 3.1 Marco conceitual da OIT para o emprego informal

Fonte: OIT (2013; p.42) Notas: As casas riscadas e pintadas de preto se referem a ocupações que por definição não existem no tipo de unidades de produção em questão. As casas em cinza se referem a ocupações formais. As casas em branco e numeradas representam diferentes tipos de ocupações informais. A casa 7 (trabalhador formal em empresa do setor informal) não se aplica ao caso brasileiro. (*) Segundo as diretrizes da 17ª CIET (exclusive os domicílios que empregam trabalhadores domésticos assalariados) (**) Domicílios que produzem bens exclusivamente para consumo próprio e domicílios que empregam trabalhadores domésticos remunerados.

Levando-se em conta essa conceituação elaborada pela OIT, considerando-se os

objetivos desta tese e, ainda, o rol de informações ofertadas pela Pesquisa Nacional por

Amostras de Domicílios - PNAD84, optou-se aqui por trabalhar com três grupos específicos de

trabalhadores ocupados que constituem a maior parcela do contingente total de trabalhadores

84 Única pesquisa de abrangência nacional regular que permite aferir com acuidade os níveis de

informalidade do trabalho no país. Estre outras características socioeconômicas da sociedade brasileira,

a PNAD coleta informações relativas às características do vínculo da ocupação, sem precisar, no entanto,

quais as características do estabelecimento empregador.

Unidades de produção por tipo

Posição na Ocupação no emprego Conta própria Empregadores

Trab. Familiar

Assalariados Membros de Cooperativas

Informal Formal Informal Formal Informal Informal Formal Informal Formal

Empresas do setor formal 1 2

Empresas do setor informal*

3 4 5 6 7 8

Domicílios**

9 10

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informais no Brasil (Cf. figura 3.2) e para os quais foram implementadas medidas específicas

para reduzir a incidência de informalidade entre cada grupo. São eles:

1) Trabalhadores assalariados em unidades econômicas (no quadro acima

correspondem à somatória dos casos 2 e 6);

2) Trabalhadores por conta própria (somatória dos casos 3 e 9);

3) Trabalhadores assalariados domésticos (caso 10);

Estar-se-á deixando de fora, portanto, outras parcelas da população ocupada que

têm um peso muito pequeno na totalidade das ocupações do país ou que se entende terem sido

afetadas apenas marginalmente pelas recentes transformações do mercado de trabalho

brasileiro85. Deve-se frisar ainda que o conceito de informalidade que se privilegia aqui

corresponde ao conceito de “trabalhador sem proteção” ou “desprotegido”, tal como utilizado

correntemente pela OIT em seus documentos. Nessa concepção o trabalhador desprotegido é

aquele que é assalariado e não possui vínculo formal (i.e., no caso brasileiro, sem carteira de

trabalho assinada) ou que trabalha por conta própria ou como empregado doméstico e não

contribui para o instituto de previdência.

O uso do termo “desprotegido”, a despeito de poder soar paternalista ou

complacente com um fenômeno que muitas vezes é voluntário e se confunde com fraude fiscal,

parece pertinente para a grande maioria dos casos, à medida que, como colocado por Cacciamali

(2000, p. 171), “os assalariados sem registro, por um lado não têm acesso a um conjunto de

garantias sociais e por outro não compõem um corpo coletivo. Não têm direitos, nem

obrigações”. É forçoso lembrar que no caso especifico dos empregados sem carteira assinada,

além da referida ausência de importantes garantias sociais como aposentadoria, auxílio doença

e outros benefícios, a ausência de vínculo formal de emprego implica adicionalmente na

inacessibilidade a um significativo conjunto de benefícios trabalhistas (FGTS, férias, abono de

férias, 13º salário, abono anual, multa por demissão, aviso prévio, auxílio transporte, entre

85 Nas análises dessa seção, portanto, estão excluídos os trabalhadores das cooperativas de trabalho (casa

8 do marco conceitual) e os trabalhadores na produção para consumo próprio e na construção para uso

próprio (que além de serem pouco significativos nas áreas urbanas, estão conectados apenas

indiretamente ao circuito econômico).

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outros) que podem corresponder a uma renda mensal diferida no tempo que equivale a 60,6%

do salário nominal percebido86 (Cf. SANTOS, 2006b). Por último, a condição de trabalhador

sem proteção também restringe a cidadania no âmbito econômico, visto que alija os indivíduos,

por exemplo, das operações de crédito e arrendamento.

Figura 3.2 Distribuição dos Ocupados, segundo a posição na ocupação. Brasil, 2014

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Nota: Ocupados no ano de referência, exclusive trabalhadores na produção para o próprio consumo e trabalhadores na construção para próprio. (Cf. Tabelas A2 do Anexo Estatístico).

Passando à análise dos dados relativos aos ocupados que se encontravam na

condição de trabalhadores desprotegidos no Brasil, percebe-se que desde o ano de 2003 têm

sido registradas quedas anuais persistentes de sua participação em relação ao conjunto dos

ocupados no país, revelando uma nítida tendência de queda da taxa de informalidade não apenas

em termos gerais, mas também para cada um dos segmentos de trabalhadores observados.

86 Utilizando a metodologia de Anselmo dos Santos (2006b) esse valor corresponderia à somatória dos

valores relacionados aos tempos não trabalhados (grupos B e C) daquela metodologia, do FGTS e da

incidência desse sobre os primeiros.

Empregados Assalariados58.715.792

59,9%

Trab. domésticos7.225.423

7,4%

Conta própria21.124.141

21,5%

Func. Púb./Militar7.198.043

7,3%

Empregadores3.715.494

3,8%

Não remunerados

115.935 0,1%

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93

Como se pode notar na figura 3.3, enquanto a queda da informalidade foi de 14,6 pontos

percentuais para o total dos ocupados, assistiu-se uma redução 12,3 p.p. entre os empregados

assalariados, de 14 pontos entre os trabalhadores por conta própria e de - apenas - 6,5 p.p. entre

os trabalhadores domésticos.

Figura 3.3 Trabalhadores desprotegidos, segundo a posição na ocupação. Brasil, 2002 a 2014

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Nota: Ocupados no ano de referência, exclusive funcionários públicos estatutários, militares, trabalhadores na produção para o próprio consumo e trabalhadores na construção para próprio. Os trabalhadores sem remuneração, que em 2014 corrspondiam a apenas 0,13% dos ocupados estão considerados no cálculo do total, embora não apareçam separadamente no gráfico. (Cf. tabelas A2 do Anexo Estatístico).

No gráfico, encontra-se também a evolução do percentual de empregadores sem

contribuição para o instituto de previdência. Embora a esse grupo não se aplique

adequadamente o conceito de trabalhadores desprotegidos, é relevante notar como oscilou sua

taxa de não contribuintes ao longo do período, elevando-se durante os anos de crise – a despeito

da mudança do sistema tributário com a implantação do chamado Super Simples em 2007 – e

reduzindo-se acentuadamente nos anos de recuperação econômica (entre 2008 e 2011 a queda

foi de 10,4 pontos percentuais).

55,8% 54,6% 54,3% 53,5% 52,3% 50,9% 49,7% 48,6%43,6% 42,7% 41,4% 41,2%

39,6%

27,2%

76,5%70,0%

86,3%

72,3%

45,1%

28,8%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Total Brasil Assalariados Trab. Doméstico

Conta Própria Empregador

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94

Uma consideração importante a respeito das tendências apresentadas na figura 3.3

é a queda mais acentuada para o total de ocupados do que a que se verifica para cada um dos

outros grupos em separado. Isso se explicada pelo fato desse processo ter sido acompanhado

por uma mudança na estrutura ocupacional do mercado de trabalho brasileiro (i.e., efeito

composição) em favor das atividades com maior taxa participação de trabalhadores protegidos.

De fato, conforme se pode notar na tabela 3.1, os empregados assalariados ampliaram sua

participação no total de ocupados, saltando de 55,1% em 2002 para 59,9% em 2014, enquanto

os demais grupos perderam participação, destacadamente os trabalhadores domésticos (com

queda de 2,5 pontos percentuais no período) e os trabalhadores por conta própria (com queda

de 2,3 p.p.). Desde logo, é possível afirmar, portanto, que a tendência de formalização guarda

forte relação com o crescimento do emprego protegido a um ritmo intenso e contínuo ao longo

de todo o período, em paralelo a uma queda absoluta do número de empregos sem proteção ou

informais. Enquanto o primeiro contingente teve um incremento de 16.995.471 (65,8%) entre

2002 e 2014, o total de assalariados informais diminuiu em 890.897 pessoas (-4,7%). (Cf. tabela

A2 do anexo estatístico).

Outro dado significativo no que diz respeito especificamente aos trabalhadores

assalariados sem proteção é a sua alta ocorrência nas empresas de pequeno porte. Como se pode

observar na figura 3.4, embora tenha ocorrido uma queda importante do número de assalariados

sem proteção em todos grupos de empresas, a participação desses continua bem mais elevada

entre as empresas com até 2 empregados (61% em 2013) e com 3 a 5 empregados (44%). É

verdade que a queda da informalidade alcançou o conjunto das empresas, independentemente

do tamanho.

No período, a queda mais intensa, de 19 pontos percentuais, foi registrada entre as

empresas com 6 a 10 trabalhadores, revelando uma tendência que se acentuou após o ano de

2007 e que, provavelmente, se explica em parte pelo início da vigência do Regime Especial

Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições Devidos pelas Microempresas e

Empresas de Pequenos Porte (conhecido como Super Simples)87. Por outro lado, é também a

87 Lei Federal complementar No. 123/2006.

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partir desse momento que se registra elevação do nível geral de atividade da economia (com

exceção de 2009).

Tabela 3.1 Distribuição dos ocupados por condição de proteção. Brasil, 2002 a 2014

Posição na Ocupação Ano

2002 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2014

Total (mil pessoas) 77.358 78.455 83.299 86.414 90.550 90.999 95.211 98.095 Protegidos 37.100 38.558 41.679 45.542 49.770 54.259 58.797 60.603 Desprotegidos 40.258 39.898 41.620 40.872 40.780 36.740 36.414 37.492

Empregados Assalar/Total 55,1% 55,1% 56,3% 57,3% 57,9% 59,4% 60,2% 59,9% Protegidos/Total prot 69,5% 69,0% 70,2% 70,6% 71,0% 71,6% 71,0% 70,5% Desprotegidos/Total desp 41,9% 41,6% 42,4% 42,5% 41,9% 41,4% 42,6% 42,6%

Func Pub + Militares/Total 13,9% 14,0% 13,3% 13,6% 13,4% 12,4% 12,2% 11,9% Trab. Domésticos/Total 9,9% 9,6% 9,6% 9,0% 9,2% 8,1% 7,6% 7,4%

Protegidos/Total prot 4,8% 4,8% 4,6% 4,4% 4,3% 4,0% 3,8% 3,6% Desprotegidos/Total desp 14,5% 14,3% 14,6% 14,3% 15,1% 14,3% 13,6% 13,5%

Conta Própria/Total 23,8% 24,0% 22,9% 22,4% 21,1% 21,5% 20,8% 21,5%

Protegidos/Total prot 6,8% 7,2% 6,9% 7,2% 6,7% 8,3% 8,7% 9,7% Desprotegidos/Total desp 39,5% 40,2% 39,0% 39,4% 38,7% 41,1% 40,5% 40,7%

Empregador/Total 4,4% 4,3% 4,4% 3,9% 4,4% 3,5% 3,8% 3,8% Protegidos/Total prot 5,0% 5,1% 5,0% 4,3% 4,7% 3,9% 4,3% 4,4% Desprotegidos/Total desp 3,8% 3,6% 3,7% 3,4% 4,0% 2,9% 3,0% 2,9%

Não Remunerados/Total Desp 0,3% 0,3% 0,3% 0,4% 0,2% 0,3% 0,3% 0,3% Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Cf. tabelas IV.1 e IV.2 do Anexo Estatístico) Notas: 1) Ocupados no ano de referência, exclusive trabalhadores na produção para o próprio consumo e trabalhadores na construção para próprio uso. (Cf. tabelas A1 e A2 do Anexo Estatístico). 2) Os funcionários públicos estatutários e os militares foram considerados em sua totalidade como protegidos. 3) Os ocupados não remunerados foram considerados em sua totalidade como desprotegidos.

Esse talvez seja o fenômeno mais importante revelado pelas trajetórias dos números

analisados até aqui: isto é, a sensível mudança na intensidade do processo de redução das

ocupações sem proteção entre os anos 2007 e 2009. Como se pode observar em outras seções

desta tese, distintos indicadores econômicos e sociais registram inflexões similares entre o

triênio 2007/2008/2009, revelando por um lado a maturidade do realinhamento político

apontado por Singer (2012) e, por outro, a consolidação das estruturas sociais de acumulação

que deram ensejo ao ciclo que aqui se denominou de desenvolvimento contingente.

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Figura 3.4 Trabalhadores desprotegidos, segundo porte da empresa. Brasil, 2002 a 2013

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

A fim de complementar, por um prisma alternativo, a análise precedente, na figura

3.5 apresenta-se a distribuição dos trabalhadores sem proteção (informais) por diferentes grupos

de atividade econômica. Como salta aos olhos na observação do gráfico, há uma inegável

heterogeneidade entre as trajetórias correspondentes a cada um dos grupos. Enquanto na

agricultura persiste uma relação de praticamente oito trabalhadores sem proteção para cada dez

ocupados, ou entre os trabalhadores domésticos (que é a maior categoria profissional do país)

ainda existam seis sem proteção para cada dez empregados, no grupo de atividade composto

pelos ramos “Educação, Saúde e Serviços Sociais” essa relação cai para um em cada dez

trabalhadores ocupados, equivalente à encontrada na administração pública.

Além disso, pela importância em relação ao dinamismo econômico, principalmente

nos grandes centros urbanos do país, merecem destaque ainda as quedas da informalidade

registradas na indústria de transformação (de 13 p.p.), na construção civil (de 15 p.p.) e nas

atividades de comércio e reparação (de 19 p.p.).

77

%

76

%

77

%

77

%

77

%

73

%

74

%

72

%

66

% 69

%

61

%

61

%

61

%

61

%

60

%

59

%

57

%

58

%

54

%

50

%

51

%

44

%

42

%

39

%

40

%

39

%

39

%

37

%

36

%

32

%

27

%

29

%

23

%

18

%

16

%

17

%

15

%

16

%

15

%

15

%

13

%

10

%

11

%

8%

2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3

2 3 a 5 6 a 10 11 ou mais

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97

De um modo geral, portanto, é mister observar que a queda da participação dos

ocupados sem proteção (i.e., da taxa de informalidade) ocorreu em todos os grupos de atividade

- sem exceção - indicando que não se tratou de um fenômeno particular, fortuito, ou restrito a

determinados setores ou a certas ocupações, mas sim um processo generalizado e,

provavelmente por isso, associado às transformações institucionais e econômicas de maior

envergadura que justamente se procura investigar nessa tese.

Figura 3.5 Ocupados sem proteção, segundo principais grupamento de atividade Brasil, anos selecionados

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Nota: ocupados na semana de referência sem contribuição para instituto de previdência.(Cf. tabelas A3 e A4 do Anexo Estatístico).

2002 2005 2007 2009 2011 2013 2014

Agrícola 90% 88% 85% 84% 82% 80% 78%

Indústria de transformação 38% 37% 34% 32% 25% 25% 25%

Construção 71% 69% 67% 63% 59% 55% 56%

Comércio e reparação 54% 51% 48% 44% 38% 36% 35%

Alojamento e alimentação 60% 58% 55% 53% 46% 45% 44%

Transporte e comunicação 42% 39% 37% 34% 29% 28% 27%

Administração pública 16% 15% 14% 10% 9% 11% 11%

Educação, saúde, serv sociais 19% 18% 17% 13% 11% 11% 11%

Serviços domésticos 72% 71% 70% 69% 64% 60% 59%

Total 57% 55% 50% 47% 42% 39% 39%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

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98

Mas antes de passar à investigação das causas desse processo, cabe ainda observar

como evoluiu o trabalho sem proteção sob os recortes regional e etário, respectivamente

apresentados nas figuras 3.6 e 3.7.

Figura 3.6 Ocupados sem proteção, por Grande Região. Brasil: 2002 e 2014

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios .(Cf. tabela A5 do Anexo Estatístico).

Também no recorte regional explicita-se uma grande heterogeneidade, com as

regiões mais ricas e desenvolvidas do país apresentando uma menor presença relativa de

trabalhadores informais ou desprotegidos, bem como registrando uma trajetória de queda da

informalidade mais intensa. Assim, enquanto nas regiões Sul e Sudeste o trabalho desprotegido

correspondia a menos de um terço dos ocupados em 2014, nas regiões Norte e Nordeste essa

proporção estava ainda em um patamar muito mais elevado, alcançando, respectivamente, 56%

e 57% dos ocupados. De qualquer modo, assim como nas análises anteriores, também aqui o

que chama a atenção é a queda generalizada da informalidade nas cinco grandes regiões do

país, em especial no Sul e no Centro-Oeste que registraram uma notável diminuição desse

indicador, com redução de 22 e de 20 pontos percentuais respectivamente.

63%

73%

44%

50%55%56% 57%

30% 28%

35%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2002 2014

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99

Figura 3.7 Ocupados sem proteção, por grupo de idade. Brasil: anos selecionados.

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios .(Cf. tabela A6 do Anexo Estatístico).

No que se refere à análise por grupos de idade (figura 3.7) nota-se que também

nesse caso a redução da informalidade se deu de forma generalizada, diminuindo mais

acentuadamente entre os mais jovens e em menor escala entre os ocupados com mais de

sessenta anos.

Entretanto, independente da intensidade da queda da informalidade, percebe-se que

ao final do período analisado, os ocupados com idade entre 20 e 49 anos mantinham-se

relativamente mais protegidos, com taxas que variavam entre 31 e 35%, enquanto entre os muito

jovens (15 a 19 anos) e os mais velhos (mais de 60 anos) as taxas alcançavam 61 e 65%

respectivamente.

Ou seja, em uma abordagem preliminar, essa elevada disparidade entre os grupos

etários poderia estar a revelar, por um lado, a dificuldade de se promover a formalização de

pessoas mais velhas, as quais muitas vezes já estão acostumadas à condição precária e, por

outro, de atrair para o setor formal parte dos jovens que ainda no início da vida profissional e

78%

53%

47% 46% 47%

57%

80%

73%

47%

41%43% 44%

50%

76%

61%

35%31% 32%

34%39%

65%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 anos oumais

2002 2007 2014

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100

com menor responsabilidades familiares não têm o mesmo grau de exigência ou de preocupação

com o vínculo de emprego ou com a proteção oferecida pelo sistema previdenciário.

No conjunto, a análise dos gráficos concernentes ao tema da informalidade - ou da

evolução do trabalho sem proteção - no Brasil revelam uma queda de magnitude expressiva no

período compreendido pelos três primeiros mandatos presidenciais do Partido dos

Trabalhadores. Em pouco mais de uma década e em um período caracterizado pelo acirramento

da concorrência internacional, a informalidade refluiu em cerca de 15%, a depender do conjunto

de trabalhadores a que se observa.

Contudo, embora não haja muito o que se contestar a respeito desses resultados, o

mesmo não se pode dizer a respeito de quais os principais fatores que contribuíram para tanto.

Essa é, sem dúvida, tarefa muito mais delicada e polêmica.

De maneira geral, as teorias usadas para explicar as causas da informalidade se

dividem em duas vertentes fundamentais: aquela que acredita que a informalidade estaria

associada aos baixos níveis de renda per capita e, portanto, sua superação dependeria de taxas

elevadas de crescimento econômico, e aquela que entende que ela seria a expressão da

fragilidade institucional dos países onde é prevalente e, consequentemente, sua superação

estaria subordinada a um processo de fortalecimento institucional. (KUCERA, XENOGIANI,

2009, p.63)

Sem entrar no mérito do debate teórico, o que se pode apreender da experiência

recente ao redor do mundo é que o crescimento econômico não tem sido capaz de por si só

promover a redução do trabalho informal88 (KUCERA, XENOGIANI, 2009; HUITFELDT,

JÜTTING, 2009; SCHNEIDER, 2012, p.37-38). De fato, diversos campeões de crescimento

econômico das últimas duas décadas registraram um aumento concomitante do PIB per capita

e da participação dos trabalhadores sem proteção no total de ocupados (Índia, China, Peru, entre

outros).

88 Não é demais recordar que a própria experiência brasileira de 1930 a 1980, com taxas de crescimento

econômico expressivas e persistentes, é prova emblemática da inexistência daquele automatismo causal.

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101

Por seu turno, também um aumento do aparato institucional de regulação do

mercado de trabalho por si só não parece ser condição suficiente para elevar as taxas de

formalidade (HECKMAN, PAGÉS-SERRA, 2000; GALLI, KUCERA, 2004) – o que não

implica, como querem alguns, na aceitação do inverso, i.e., que mercados de trabalho menos

regulados contribuam para uma maior ocorrência de empregos formais89.

Em realidade, tal como sugere a análise empírica da experiência brasileira recente,

o sucesso para a redução da informalidade do trabalho parece decorrer da concomitância

daqueles dois processos, i.e., de um fortalecimento das instituições e da regulação pública sobre

o mercado de trabalho em um contexto de crescimento sustentado da renda agregada (KREIN,

MANZANO, 2014a; MANZANO et al, 2014) – outros aspectos, como o crescente uso de

procedimentos e sistemas digitais para apurar o faturamento e a renda de pessoas físicas e

jurídicas, bem como a necessidade dos três níveis de governo de terem que se ajustar às

determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal parecem também ter contribuído

indiretamente a esse processo.

Como se espera ter demonstrado nos dois capítulos anteriores, foi precisamente isso

o que ocorreu no Brasil, em especial a partir do início do segundo mandato do Presidente Lula

(Cf. BERG, 2010; SANTOS et al, 2012). Assim, a redução dos ocupados sem proteção - tanto

em termos absolutos quanto relativos - apresenta-se como resultante de um duplo movimento

em forma de pinça, tendo, por um lado, um conjunto de fatores objetivos – que vão desde

mudanças demográficas90 até melhoras no quadro macroeconômico (Cf. capítulo 1) - e, por

outro, fatores políticos institucionais, relacionados à construção - ainda em curso - do Estado

social inscrito na Constituição Federal de 1988 (Cf. capítulo 2)91.

89 Essa hipótese é defendida, por exemplo, por Kucera e Roncolato (2008) analisando diversas

experiências internacionais e por Bosch et al (2007), Amadeo e Camargo (1996); Ramos e Reis (1997)

e Pastore (2000; 2006) ao analisarem a experiência Brasileira ao longo dos anos 1980 e 1990.

90 Cf. Alves et al (2010).

91 Esse processo pode também ser decomposto segundo o sentido dos vetores que lhe deram causa: por

um lado, o efeito composição (consequência de transformações na estrutura mercado de trabalho

brasileiro) e, por outro, o efeito nível (consequência das medidas regulatórias e econômicas) que afetou

transversalmente o mercado de trabalho ao longo daqueles anos.

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102

Mas algumas ações específicas merecem ser tratadas aqui com maior atenção. É o

caso, por exemplo da expansão dos aparatos de fiscalização e da estrutura do poder judiciário

ao longo dos anos 2000.

Em relação à fiscalização, desde a Constituição de 1988 ficou estabelecida a

competência da União para organizar, manter e executar a inspeção do trabalho, por meio do

Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Assim, entre as atribuições dos Auditores Fiscais do

MTE está a de verificar os registros nas Carteiras de Trabalho e Previdência Social - CTPS,

visto que, por disposição legal, desde então os auditores têm o compromisso de contribuir para

a redução do trabalho sem proteção, seja pela falta de carteira assinada, seja pela relação de

emprego disfarçada.

E de fato a análise dos números relativos ao Sistema de Federal de Inspeção do

Trabalho - SFIT, a cargo do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, permitem perceber uma

maior efetividade de suas ações. A despeito de a inspeção do trabalho no Brasil tenha se

caracterizado historicamente por sua postura excessivamente conciliatória (FILGUEIRAS,

2012, cap. 9), percebe-se nos últimos anos um maior rigor das ações de fiscalização (tabela

3.2).

Apesar do número de auditores fiscais ter caído quase 23% em relação ao que havia

em 199692 – quando foi implantado o SFIT - o contingente de trabalhadores formalizados por

conta de ações fiscalizatórias do MTE cresceu de forma expressiva, tendo saltado de 268 mil

em 1996 para quase 750 mil em meados da década de 2000 e voltado a cair para pouco mais de

375 mil trabalhadores em 2013. Com isso, como demostrado na última coluna da tabela, houve

um crescimento do número de trabalhadores formalizados por auditor fiscal, i.e, um aumento

92 Segundo a OIT, para o caso de países em desenvolvimento recomenda-se que haja um auditor fiscal

do trabalho para cada 10 mil ocupados. Considerando-se que o total de ocupados no Brasil em 2013 era

de aproximadamente 95 milhões (Cf. tabela A1 do anexo estatístico) seriam necessários um total de

9.500 auditores para que estivéssemos adequados ao padrão preconizado. Ou seja, em termos ideais

haveria um déficit de 6.781 fiscais. Contudo, segundo estudo realizado pela diretoria de estudos e

políticas sociais do IPEA (CORSEUIL et al, 2012), ponderando a população ocupada pelo grau de

descumprimento da legislação trabalhista nas cinco regiões do país, seriam necessários 5.798 auditores

adicionais até 2016, com o que se alcançaria um patamar satisfatória frente as características do mercado

de trabalho brasileiro.

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103

da eficácia das ações de inspeção, cujo ápice é registrado em 2005 quando a média aferida por

fiscal chegou a 254,3.

Tabela 3.2 Evolução da Inpeção do trabalho Brasil, 1996 a 2013

Ano Auditores Fiscais

do Trabalho

Auditores por 10 mil

Ocupados*

Número de Autos de Legislação

Trabalhadores Formalizados por

Ação da Fiscalização

Trabalhadores Formalizados por

Auditor Fiscal

1996 3464 0,51 101.485 268.558 77,5

1997 3242 0,47 121.428 321.609 99,2

1998 3106 0,44 107.697 261.274 84,1

1999 3169 0,43 101.216 249.795 78,8

2000 3131 - 95.828 525.253 167,8

2001 3080 0,40 93.552 516.548 167,7

2002 3044 0,38 92.988 555.454 182,5

2003 2837 0,35 103.308 534.125 188,3

2004 2927 0,34 100.413 708.957 242,2

2005 2935 0,33 107.064 746.272 254,3

2006 2872 0,32 115.085 670.035 233,3

2007 3172 0,34 113.387 746.245 235,3

2008 3112 0,33 108.722 668.857 214,9

2009 2949 0,31 113.362 588.680 199,6

2010 3061 - 108.253 515.376 168,4

2011 3042 0,32 135.741 480.423 157,9

2012 2875 0,30 143.025 419.138 145,8

2013 2719 - 170.666 375.459 138,1

Fonte: MTE, Sistema Federal de Inspeção do Trabalho - SFIT.

De acordo com Filgueiras (2014), embora esses números possam conter alguma

inexatidão - por conta de prováveis inconsistências nos registros administrativos -, deve-se

reconhecer a mudança de postura da fiscalização a partir de meados dos anos 2000 e, em

especial, depois de 201093. Mesmo apresentando uma relação decrescente de auditores por 10

93 Em março de 2010, por meio da a Portaria Nº 546 do MTE, é implantada uma nova metodologia do

processo de fiscalização, disciplinando a forma de atuação da inspeção do trabalho, a elaboração do

planejamento da fiscalização e a avaliação de desempenho funcional dos Auditores Fiscais do Trabalho

(Ver PIRES, 2010, p. 7).

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104

mil ocupados e muito abaixo daquela preconizada pela OIT, entre 2002 e 2013 o número de

autos de legislação cresceu 83%, alcançando um total de 170,7 mil no último ano da série94.

Mas não foi apenas no Sistema Federal de Inspeção do Trabalho que se observaram

avanços no período em tela. Também nos aparatos da Justiça do Trabalho e do Ministério

Público do Trabalho foram registrados importantes melhoras em suas respectivas estruturas e

mudanças positivas na forma de interpretar a legislação - embora persistam no mercado de

trabalho sinais de precarização das relações de trabalho de algumas categorias específicas,

expressos principalmente por uma maior flexibilização dos contratos de trabalho (KREIN et al,

2012; KREIN, 2013) e também por maiores taxas de rotatividade no emprego (DIEESE, 2014).

Segundo os dados apresentados pelo relatório do Tribunal Superior do Trabalho

(TST, 2013) com a consolidação das estatísticas referentes ao período 2004-2012 houve um

incremento significativo no número de magistrados da justiça do trabalho (de 1,55 para 2,04

magistrados por 100 mil habitantes), bem como das despesas da justiça do trabalho por

habitante, cujo valor em 2012 era praticamente o dobro do registrado em 2004 (veja figura 3.8).

Como apontam Krein e Manzano (2014a, p. 11-12):

Houve crescimento expressivo (67%) do quadro de recursos humanos

(magistrados e servidores) do Judiciário trabalhista nos anos 2000. Neste

período registrou-se uma importante evolução da estrutura do Judiciário, que

ampliou o número de Varas no país para 1.454, presentes em 611 municípios,

impactando positivamente o acesso da população ao Judiciário. Isto, por sua

vez, resultou em expressiva ampliação no número de novos processos, com

um aumento de 64% entre 2002 e 2012.

Já no caso do Ministério Público do Trabalho, destacam-se os aumentos do número

de procuradores do trabalho, de 195 no ano de 2001 para 587 em 2012, e do número de

servidores, que saltou de 1.641 para 3.174 no mesmo período. (KREIN, MANZANO; 2014b,

p.26).

94 Importante mencionar que a maior efetividade das ações de inspeção do trabalho resultou também da

intensificação das campanhas de erradicação do trabalho infantil e de combate ao trabalho análogo ao

escravo ainda nos primeiros anos de mandato de Lula. (OIT, 2010; 2011).

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105

Figura 3.8 Número de magistrados e despesas da Justiça do Trabalho por habitante. Brasil, 2004 a 2012.

Fonte: Tribunal Superios do Trabalho – TST / Consolidação Estatística da Justiça do Trabalho. Nota: valores em reais de 2012, corrigidos pelo IPCA.

Ao lado da melhora nas estruturas dos aparatos de fiscalização e regulação do

mercado de trabalho, uma outra mudança substantiva percebida no período diz respeito à forma

como a Justiça do Trabalho passou a interpretar alguns aspectos da legislação trabalhista

(KREIN, 2013; BIAVASCHI e SANTOS, 2014; CAMPOS, 2015). Um exemplo dessa nova

postura foi o caso da regulamentação da terceirização, principalmente a partir da pacificação

do entendimento da Súmula nº 331 no início da década de 2000 (BIAVASCHI e TEIXEIRA,

2015, p. 43-47), quando se passa a reconhecer o vínculo trabalhista nas empresas contratantes

de empregados indiretamente contratados pelas empresas terceirizadas que atuam nas

atividades fins.95

95 Essa pacificação no âmbito da Justiça do Trabalho, contudo, tem sofrido questionamentos no Superior

Tribunal Federal – STF que, sem definir uma clara posição a respeito, tem ensejado insegurança jurídica

a respeito da possibilidade de se poder terceirizar ou não as chamadas atividades finalísticas (IPEA,

2012).

33,93

62,44

1,55

2,04

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2

2,1

30

35

40

45

50

55

60

65

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Mag

istr

ado

s/1

00

mil

hab

.

Des

pes

a/H

abit

ante

(em

R$

)

Despesa/Habitante Magistrados/100 mil hab.

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106

A regulamentação da terceirização realizada pelo Tribunal Superior do

Trabalho, apesar de legalizar a subcontratação, colocou dois entraves que

contribuem indiretamente para a formalização dos contratos: 1) a liberalização

da terceirização nas atividades meio e a proibição nas atividades fins; 2) o

reconhecimento de pelo menos a responsabilidade subsidiária da contratante

caso a subcontratada não cumpra algum direito trabalhista ou previdenciário.

(KREIN, MANZANO, 2014b, p. 31)

Por conta dessa nova interpretação da Súmula nº 331, reforçando a responsabilidade

subsidiária, já se percebe no mercado de trabalho brasileiro a mudança de determinados

segmentos empresariais em relação à formalização dos trabalhadores terceirizado. Como

apontam Baltar et al (2006), um reflexo disso foi a criação da Associação Brasileira de

Terceirização que, entre outras coisas, “se propõe a acompanhar e expedir um certificado às

terceirizadas sobre sua regulamentação legal, como garantia de segurança ao tomador do

serviço” (BALTAR et al, op. cit., p.9).

Por fim, uma outra ação no campo regulatório com importante repercussão sobre a

redução da informalidade foi a instituição da figura do Microempreendedor Individual – MEI,

a partir de julho de 200996 e que abriu a possibilidade, principalmente para os trabalhadores por

conta-própria, de tornarem-se pessoa jurídica, formalizando sua condição perante o fisco e a

seguridade social. Em pouco mais de seis anos de vigência foram registrados e estão em

atividade no país cerca de 5,7 milhões de Microempreendedores Individuais, dos quais

aproximadamente 70% estão localizados nas regiões sul e sudeste do país (PORTAL DO

EMPREENDEDOR, 2015).

De acordo com o último estudo realizado pelo Sebrae para levantar o perfil dos

MEI`s (SEBRAE, 2013), a quase totalidades (99,4%) desses empreendimentos estava em áreas

urbanas, sendo que 39,3% dos MEI`s atuavam no setor do comércio, 36,7% no de serviços,

14,7% na indústria e apenas 8,8% construção civil. Entre as atividades mais frequentes,

apareciam em primeiro lugar o comércio varejista de artigos de vestuário (10,8%), seguido

pelos serviços de cabelereiro (7,0%) e de obras de alvenaria (3,4%). (SEBRAE, op.cit., p. 19-

21)

96 Lei Complementar No 128/2008.

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107

Contudo, embora a observação desses números relativos ao tipo de atividade

permita supor que o instituto do MEI tenha se concentrado naquelas mais próximas dos estratos

populares, a análise do perfil individual dos empreendedores aponta a clara predominância de

indivíduos melhor posicionados na estrutura social, com maiores níveis de instrução, em sua

grande maioria em idade adulta (57% tinham entre 30 e 49 anos) e nível de renda relativamente

elevado. Segundo o Sebrae, em 2013 quatro em cada dez Microempreendedores Individuais em

atividade haviam completado o ensino médio ou um curso de nível técnico, enquanto outros

10% possuíam diploma de nível superior e apenas 28% não tinham alcançado o ensino médio.

Além disso, como se nota na figura abaixo (3.9), enquanto 30,6% dos indivíduos que dispunham

de um registro de Microempreendedor Individual naquele ano vinham de uma experiência de

empreendedor informal e outros 16,3% ocupavam um emprego sem carteira assinada, um

contingente importante (40,6%) estava empregado com carteira assinada antes de se registrar

como MEI. Muito provavelmente, portanto, parte desse último grupo corresponde a ocupações

que foram precarizadas por meio da mera troca de empregados formais por pessoas jurídicas,

processo conhecido como “pejotização”.

Também quando se olha para o nível de renda médio dos indivíduos que se tornaram

Microempreendedores Individuais, os números do Sebrae indicam que o maior grupo, onde se

encontram 32% do total, se situa na alta classe média, seguido por 24% de MEI`s na baixa

classe alta, enquanto apenas 11% estão localizados na baixa classe média e tão somente 7,6%

estão distribuídos entre os estratos denominados como vulnerável, pobre ou extremamente

pobre.

Ou seja, a despeito do volume de registros ser expressivo e indicar a importância

dessa modalidade legal para o fomento e a regularização dos pequenos negócios, percebe-se

que a maior proporção dos beneficiários é constituída de indivíduos com razoável nível de

instrução e, muitas vezes, que já eram cobertos pelo sistema de proteção social em suas

atividades anteriores. Nesse sentido, embora haja evidências de que a instituição do MEI, em

meados de 2009, seja um dos fatores que contribuíram para elevar a taxa de formalidade – em

especial dos trabalhadores por conta própria (Cf. figura 3.3) - deve-se alertar para o fato de que

essa não parece ser uma ação suficiente para resgatar da informalidade os indivíduos expostos

a maior vulnerabilidade social.

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108

Figura 3.9 Distribuição dos Microempreendedores Individuaus – MEIs, por ocupação anterior. Brasil, 2013.

Fonte: SEBRAE (2013, p. 34)

3.2.2 A dinâmica do emprego

A melhora substancial do mercado de trabalho no Brasil foi certamente uma das

maiores expressões do êxito das estruturas sociais de acumulação que vigoraram entre os anos

2003 e 2014, não apenas no sentido de ter sido fundamental para os avanços sociais assistidos,

mas também como fator de galvanização da base de sustentação social e política do governo

junto à sociedade – o que, como já mencionado anteriormente, na abordagem da ESA constitui

elemento condicional para o tracionamento do ciclo de acumulação capitalista. Noutros termos,

a dinâmica do emprego, ao lado da maior formalização e dos aumentos recorrentes da renda do

trabalho, constituiu, a um só tempo, efeito e causa da economia política do petismo.

40,6%

30,6%

16,3%

6,5%

2,0%

1,8%

1,1%

0,8%

0,3%

Empregado com carteira

Empreendedor informal (sem CNPJ)

Empregado sem carteira

Dona de casa

Servidor público

Estudante

Desempregado

Empreendedor formal (com CNPJ)

Aposentado

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109

Depois de duas décadas de estagnação da economia, com momentos de elevado

desemprego - especialmente durante os anos noventa97 -, na década de 2000 o país registrou um

persistente processo de aquecimento do mercado de trabalho. Nos doze anos que separam o

último ano do governo FHC e último ano do primeiro governo de Dilma Rousseff foram geradas

no país 19,8 milhões de ocupações adicionais (1,65 milhões/ano), o que correspondeu a uma

variação positiva de 25% no período (Cf. tabela 3.3).

Tabela 3.3 Pessoal Ocupado por Grupos de Idade. Brasil, 2002 e 2014

Grupos de idade Anos Variação

2002 2014 N. Abs %

Total 79.709 99.448 19.739 25%

15 a 17 anos 3.357 2.434 - 923 -27%

18 a 24 anos 14.270 13.841 - 429 -3%

25 a 29 anos 10.248 11.895 1.647 16%

30 a 39 anos 19.981 25.185 5.204 26%

40 a 49 anos 16.047 21.615 5.568 35%

50 a 59 anos 8.928 15.539 6.611 74%

60 anos ou mais 4.962 8.111 3.149 63% Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Notas: 1) As pessoas com idade ignorada ou sem declaração de idade foram consideradas no computo total de ocupados do ano de 2002, quando ainda eram divulgadas pelo IBGE. 2) Em 2002, exclusive a população da área rural da região Norte.

Todavia, apesar do volume ser significativo, principalmente quando comparado ao

período anterior, esse contingente de novos ocupados por si só não pareceria suficiente para

reverter as altas taxas de desocupação que eram registradas em 200298. Contudo, como esse

processo foi acompanhado por um crescimento ligeiramente mais lento da PEA (22%), o seu

efeito líquido sobre o mercado de trabalho foi amplificado, reduzindo as taxas de desocupação

a patamares bastante baixos para o padrão histórico brasileiro (ver tabela 3.4).

97 Para uma análise da dinâmica do mercado de trabalho brasileiro nos anos 90, ver Baltar (1996),

Mattoso e Pochmann (1998); Mattoso (1999), Coutinho et al (1999) Jannuzzi (2002).

98 Como apontado por Baltar e Leone (2015, p. 55), a taxa de crescimento das ocupações seguiram um

tanto abaixo das taxas de crescimento do PIB na maior parte do período, o que se expressava uma

elasticidade de emprego insuficiente - da ordem de 0,43 – para incorporar a PEA desocupada se esta

continuasse a crescer no mesmo ritmo que vinha crescendo até então.

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110

Assim, tão importante como a criação de novos postos de trabalho foi também o

comportamento positivo das taxas de participação (PEA/PIA) de cada um dos grupos etários

do país. Embora em termos totais a taxa de participação tenha variado pouco e em 2014 ela

tenha retornado aos mesmos 61% que se registrava em 2002, há consideráveis diferenças

quando se observa a sua evolução pelos distintos grupos etários.

Em mais um indicativo de melhora social, houve no período um aumento da

participação dos ocupados em idade adulta (entre 25 e 59 anos) e uma queda dos grupos de

idade localizados nos extremos da distribuição etária. Tanto no grupo com idades entre 10 a 14

quanto no de 15 a 19 anos foram percebidas quedas da taxa de participação de 7 p.p. ao longo

do período, enquanto no outro extremo da estrutura etária, isto é, entre a população com sessenta

anos ou mais, registrou-se uma queda parcial de 4 p.p. que se estendeu de 2002 até 2011, mas

que, desde então, vem apresentando certo retrocesso, num possível sinal de esgotamento das

virtuosidades do ciclo. (ver figura 3.10)

Esse comportamento particular e até certo ponto surpreendente das taxas de

participação é um aspecto importante da caracterização do tipo de desenvolvimento que

alcançou a sociedade brasileira ao longo desse período. As quedas das taxas de participação

entre os mais jovens e entre os mais idosos refletem de modo sintético a melhoria das condições

de vida dos mais vulneráveis, visto que aponta para uma menor dependência das famílias de

baixa renda em relação ao emprego precoce ou às aposentadorias tardias (QUADROS, 2014b;

SANTOS e GIMENEZ, 2015). Não obstante, não é demais lembrar que, para além das

melhorias observadas no mercado de trabalho, esse processo foi acentuado pelas políticas de

transferência de renda (Bolsa Família, BPC e aposentadorias) e pela maior oferta de vagas no

sistema de educação (ampliação das vagas em cursos técnicos, expansão da rede de

universidades federais, bolsas e financiamento alunos em instituições de ensino privado),

levando, ao fim e ao cabo, a uma mudança positiva da estrutura etária da população

economicamente ativa no mercado de trabalho brasileiro (BALTAR e LEONE, 2015, p.64).

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111

Figura 3.10 Taxa de participação por grupo de idade. Brasil, 2002 a 2014.

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Notas: 1 - A categoria Total inclui as pessoas sem declaração de condição de atividade ou com idade ignorada. 2 - Até 2003, exclusive a população da área rural da região Norte.

Analisando esse mesmo fenômeno, porém, com um recorte ligeiramente distinto –

pois tomam a população com idade entre 15 e 64 anos e o período de 2004 a 2013 - Baltar e

Leone (2015, p. 56) corroboram o diagnóstico:

[...] a diminuição da participação dos jovens na atividade econômica que tem

sido acompanhada de aumento no grau de escolaridade da população é uma

tendência de longa duração que começou nos anos 1990 e teve continuidade

na década seguinte. Já a diminuição da taxa geral de participação é um

fenômeno mais recente e reflete o que aconteceu nos anos 2000 quando

ocorreu uma queda na participação dos homens adultos e arrefeceu o aumento

da participação feminina na atividade econômica. Essas mudanças na

participação das pessoas na atividade econômica são um aspecto importante

do crescimento com inclusão social, verificado no Brasil desde 2004.

61%63%

61%

13% 12%

6%

50% 52%

41%

43%

76% 79%75%

76%

81%83%

83%

65%67%

69%

31%27%

30%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Total 10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos

25 a 49 anos 50 a 59 anos 60 anos ou mais

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112

De fato, a trajetória das taxas de desocupação dos distintos grupos etários (tabela

3.4), especialmente quando contrastadas ao contingente de novas ocupações em cada um

daqueles grupos (tabela 3.3) revelam aspectos importantes da relação entre progresso social e

mercado de trabalho.

Entre a população mais jovem, a despeito das taxas de desocupação ainda

permanecerem em um patamar bastante elevado e do volume de novas ocupações ter diminuído

para esta faixa etária, se observa que as taxas de desocupação caíram de forma ainda mais

acentuada (-10,6 pontos percentuais para as pessoas com 15 a 17 anos e -8,7 p.p para as pessoas

com 18 a 24 anos).

Tabela 3.4 Taxa de Desocupação nas Principais Regiões Metropolitanas. Brasil, 2002 e 2014

Anos Variação

2002 2014 (Em p.p.)

Total 11,5 4,9 -6,6

15 a 17 anos 34,6 24 -10,6

18 a 24 anos 21,2 12,5 -8,7

25 a 49 anos 8,9 3,9 -5

50 anos ou mais 5,2 1,9 -3,3

Principais Responsáveis pela Família 6,8 2,8 -4

Outros Membros da Família 15,7 6,7 -9

Homens 9,6 4 -5,6

Mulheres 13,9 5,9 -8 Fonte: IBGE – Pesquisa Mensal de Emprego Notas:1) Referente ao mês de setembro de cada ano. 2) Período de referência de 30 dias para procura de trabalho.

Ou seja, esse resultado só foi possível, pela concorrência de dois fatores, um

demográfico e outro econômico: a queda do montante de pessoas em idade ativa para esses

grupos etários específicos (cf. tabela A.6 do anexo estatístico) e a possibilidade de se manterem

por mais tempo na condição de inatividade econômica. Um outro indicador que reforça esse

entendimento diz respeito à evolução da desocupação dos outros membros da família, isto é,

daqueles que nas respostas coletadas pela PME não foram apontados como os principais

responsáveis pelo sustento da família. Na tabela 3.4, nota-se que enquanto a taxa de

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113

desocupação desses últimos caiu 4 pontos percentuais no período – alcançando em 2014 uma

taxa de 2,9% - a desocupação entre os outros membros da família sofreu uma queda de 9 p.p.,

em grande medida relacionada à desobrigação dos jovens enquanto contribuintes da renda

familiar.

Com efeito, como bem tem sido apontado pela literatura especializada, essa

convergência virtuosa de fatores atuando sobre o mercado de trabalho, além de seus diversos

reflexos positivos sobre a dinâmica social do país, constituiu uma das principais causas da

importante queda da desigualdade de renda verificada neste início de século no Brasil

(SOARES, 2011; IPEA, 2012b; SUMMA, 2014; CALIXTRE, 2014; QUADROS, 2014a;

CARVALHAES, 2014; BALTAR, 2015).

Já quando se analisa a evolução dos ocupados por grupos de atividade econômica

(tabela 3.5) percebe-se que, com exceção da agricultura, onde se registrou uma queda de 12%,

com a eliminação de 1,9 milhões postos de trabalho, em todos os demais grupos ocorreram

variações positivas. Mais do que isso, como indicado anteriormente, em quase todos os grupos

foram registradas taxas de crescimento superiores às que foram observadas em relação ao

crescimento da PEA - as duas exceções foram os serviços domésticos e a indústria de

transformação, respectivamente com taxas de crescimentos de 5% e 14%.

Essa análise setorial do volume de ocupações permite também extrair alguns

aspectos particulares das Estruturas Sociais de Acumulação vigentes no período. Em primeiro

lugar, nota-se que os grupos de atividade com maior dinamismo em termos de novas ocupações

foram justamente aqueles que de alguma maneira estiveram no alvo de políticas governamentais

específicas (caso, por exemplo, da construção civil, beneficiada pelo avanço do crédito

imobiliário e pelo programa Minha Casa Minha Vida ou do grupo de atividade de educação,

saúde e serviços sociais, beneficiado pela implementação de políticas públicas inscritas na

Constituição de 1988 e regulamentadas e priorizadas nos orçamentos públicos do período

recente) ou que foram fomentados indiretamente pelas políticas de renda (elevação do salário

mínimo, programas de transferência de renda, programas de apoio à agricultura familiar, entre

outros) que, junto com a facilitação do crédito aos mais pobres e a queda da inflação,

impulsionaram - via consumo - os setores de alojamento e alimentação e de transporte,

armazenagem e comunicação, entre outros.

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114

Tabela 3.5 Ocupados por grupo de atividade Brasil, anos selecionados.

(em mil pessoas)

Grupos de atividade Ano Distribuição Variação

2002 2005 2007 2011 2013 2014 (% em 2014)

N. Abs (%)

PEA 87.750 96.682 98.899 101.586 103.401 106.824 - 19.074 22%

Pop. Ocupada 79.709 87.695 90.855 94.763 96.659 99.448 100% 19.793 25%

Agrícola 16.460 18.100 16.842 14.888 13.982 14.466 15% -1.994 -12%

Indústria 11.334 13.089 13.812 12.691 12.959 13.023 13% 1.689 15%

Ind. de transformação 10.760 12.405 13.070 11.960 12.223 12.230 12% 1.470 14%

Construção 5.670 5.665 6.105 7.919 8.871 9.103 9% 3.433 61%

Comércio e reparação 13.680 15.542 16.262 16.886 17.187 18.055 18% 4.375 32%

Alojam e alimentação 2.961 3.198 3.341 4.631 4.474 4.643 5% 1.682 57%

Transp/armaz/comunic. 3.724 3.978 4.356 5.178 5.406 5.453 5% 1.729 46%

Administração pública 3.907 4.281 4.500 5.144 5.356 5.146 5% 1.239 32%

Educ/saúde/serv. sociais 7.129 7.688 8.362 8.737 9.917 10.205 10% 3.076 43%

Serviços domésticos 6.171 6.694 6.723 6.742 6.474 6.491 7% 320 5%

Outros serviços 3.176 3.311 3.697 3.585 3.785 4.192 4% 1.016 32%

Outras atividades* - - 6.853 8.363 8.248 8.670 9% 2.916 51%

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Cf. Tabela A3 do Anexo Estatístico). Notas: 1 - Na categoria Outras Atividades foram incluídas as ocorrências relativas às Atividades Mal Definidas ou não declaradas. 2 - Até 2003, exclusive a população da área rural da região Norte. (*) Variação calculada com base no total de ocupados em 2003.

Em segundo lugar, as análises daqueles dois grupos de atividade cujo crescimento

das ocupações seguiu em ritmo inferior ao da PEA – serviços domésticos e indústria de

transformação – revelam, por seu turno, duas dimensões importantes do processo. Por um lado,

o baixo crescimento dos ocupados em serviços domésticos é um indício de que essa categoria

profissional - ainda a maior do país - atrai cada vez menos trabalhadores, em especial quando

cresce a oferta de vagas em outras atividades (IPEA, 2015). Por outro lado, o fraco crescimento

da ocupação na indústria de transformação no período – note-se que já se observa uma queda

ininterrupta do número de ocupados desde 2007, com a eliminação de 840 mil empregos desde

então – revela a fragilidade e o caráter contingente desse ciclo de desenvolvimento de 12 anos,

em especial no que tange ao arranjo macroeconômico sobre o qual se assenta. Embora a

literatura especializada recomende considerar que os processos de desenvolvimento econômico

em geral conduzam forçosamente a uma ampliação do peso do setor de serviços em detrimento

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115

do setor industrial99, no caso brasileiro essa tendência parece ter sido precipitada. Em um

contexto de aumento da concorrência internacional, moeda supervalorizada, juros altos e baixas

taxas de investimento, muitos autores têm chamado a atenção para a ocorrência de uma precoce

desindustrialização da economia brasileira (BRESSER-PEREIRA, 2012; MORCEIRO, 2012;

CANO, 2014).

Tabela 3.6 Saldo de empregos celetistas e estatutários no período 2002 a 2014, por setor de atividade. Brasil.

Setor CLT* (A) Estatutário (B) Total (A+B)

N. Abs. Var.% N. Abs. Var.% N. Abs. Var.% Distrib

Em 2014.

Extrativa Mineral 135.163 110% - 358 -85% 134.805 110% 1%

Indústria de Transformação 2.962.205 57% - 957 -67% 2.961.248 57% 14%

SIUP 136.454 47% 3.278 14% 139.732 45% 1%

Construção Civil 1.707.862 155% 1.474 23% 1.709.336 155% 8%

Comércio 4.903.412 102% - 1.838 -92% 4.901.574 102% 23%

Serviços 7.804.011 87% 326.932 191% 8.130.943 89% 39%

Administração Pública 249.072 39% 2.319.459 38% 2.568.531 38% 12%

Agropec/Ext Veg/Caça/Pesca 342.790 30% - 1.362 -23% 341.428 30% 2%

Total 18.240.969 82% 2.646.628 42% 20.887.597 73% 100%

Fonte: MTE – Relação Anual de Informações Sociais/RAIS (2016). Nota: (*) De acordo com a denominação do MTE, são também considerados celetistas os classificados como outros pela RAIS.

Todavia, como revela, por contraste, a análise dos dados da tabela 3.6, na qual

apresentam-se as variações do emprego celetista e estatutário, o setor da indústria de

transformação registrou um desempenho bastante melhor quando se mira o mercado de trabalho

por esse recorte, qual seja, dos empregos formais. Enquanto o emprego celetista na indústria

cresceu 57% (cf. tabela 3.6), as ocupações totais no mesmo setor, como mencionado antes,

avançaram tão somente 14% no período (cf. tabela 3.5). Essa diferença ilustra bem o substancial

aumento da participação de trabalhadores com vínculos formais no setor, não apenas por conta

99 Em decorrência de dois movimentos paralelos e simultâneos: pela ótica da demanda, a elasticidade-

renda do setor de serviços é maior do que a do setor industrial, provocando um deslocamento relativo

em favor dos serviços e, pela ótica da oferta, a produtividade industrial cresce de forma mais intensa do

que a do setor de serviços, em detrimento, portanto, do emprego industrial (KUPFER, 2012;

MORCEIRO, 2012, p.p. 57-59).

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116

da criação de novas vagas com carteira assinada, mas inclusive em decorrência da formalização

ou substituição de trabalhadores que antes eram empregados de forma precária. Apesar da

prematura queda da importância relativa da indústria de transformação na absorção da PEA,

houve uma sensível melhora na qualidade dos empregos desse setor, expressa tanto pela maior

participação do emprego celetista quanto pela ampliação do valor da remuneração média paga

aos respectivos empregados.

De qualquer modo, a análise dos saldos de empregos formais (celetistas mais

estatutários) expostos na tabela 3.6 também aponta para a hipertrofia do setor terciário.

Tomados em conjunto, o saldo de empregos criados entre 2002 e 2014 nas atividades do

comércio, dos serviços e da administração pública correspondem a 74% do total de novos

empregos capturados pela RAIS.

Também quando se desce mais um patamar da investigação no sentido de observar

as famílias ocupacionais que registraram maior dinamismo em termos de emprego no período

2003 a 2014100, o fenômeno se repete. Na tabela 3.7, onde estão relacionadas as dez principais

famílias ocupacionais em termos de volume de geração de empregos com carteira assinada - as

quais respondem por expressivos 36,8% do total - percebem-se a clara prevalência de ocupações

ligadas ao comércio, aos serviços administrativos e setor de transportes, sendo que apenas uma

das dez primeiras elencadas é diretamente vinculada à indústria – os alimentadores de linhas

de produção.

Além disso, outro aspecto a se considerar a partir da análise dos empregos por

família ocupacional é que, em sua grande maioria, as ocupações geradas no período

correspondiam a atividades normalmente associadas a menores níveis de qualificação

profissional e que, por conseguinte, são também ocupações que pagam salários relativamente

mais baixos. Em 2014, por exemplo, entre as dez famílias ocupacionais mais dinâmicas,

nenhuma oferecia remuneração acima do rendimento médio percebido no país naquele ano (R$

2.286,96 ou 3,2 salários mínimos). Em termos médios, entre as referidas dez ocupações o

100 Os dados da RAIS para 2002 não permitem a desagregação por famílias ocupacionais, isto é, ao nível

do Cadastro Brasileiro de Ocupações – CBO a quatro dígitos.

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rendimento mensal era de R$ 1.519,16, o que correspondia, portanto a 2,1 salários mínimos da

época ou apenas 2/3 do rendimento médio do conjunto dos empregados com carteira no país.

Tabela 3.7 Empregos formais e remuneração média nas 10 famílias ocupacionais com maior saldo no período. Brasil, 2003 e 2014.

Empregados em 31/dez

Variação Remuneração

Média do Ano

2003 2014 N. Abs Distrib. (R$ de 2014)

Total 29.544.927 49.571.510 20.026.583 100,00% 2286,96

10 Famílias Ocupacionais com maiores saldos 9.591.053 16.952.170 7.361.117 36,80% 1519,16

Escriturários/agentes/assist/aux administrativos 3.062.078 4.698.168 1.636.090 8,20% 2023,91

Vendedores e demonstradores 1.870.017 3.494.954 1.624.937 8,10% 1315,94

Trab nos serv manutenção de edificações/lograd* 1.864.908 2.609.102 744.194 3,70% 1066,83

Motoristas de veículos de cargas em geral 441.804 997.951 556.147 2,80% 1886,80

Caixas e bilheteiros (exceto caixa de banco) 388.037 937.518 549.481 2,70% 1177,86

Cozinheiros/aux nos serviços de alimentação* 334.294 881.789 547.495 2,70% 1121,93

Alimentadores de linhas de produção 495.594 951.338 455.744 2,30% 1274,70

Ajudantes de obras civis 451.171 891.635 440.464 2,20% 1103,42

Almoxarifes e armazenistas 241.113 649.873 408.760 2,00% 1465,86

Vigilantes e guardas de segurança 442.037 839.842 397.805 2,00% 2067,18

Fonte: MTE – Relação Anual de Informações Sociais/RAIS (2016). Nota: (*) Para que fosse possível a compatibilização entre os dois anos, nestes casos foram somadas famílias ocupacionais afins.

Já quando se amplia o escopo dessa análise e se observa a relação das cinquenta

principais ocupações do período (cf. tabela A.8 do Anexo Estatístico), as quais respondem por

70,7% do total de novos empregos, percebe-se que, ao lado de diversas ocupações de nível

técnico, aparecem algumas modalidades de profissionais da saúde e da educação entre aquelas

com maior número de contratações - o que reforça a hipótese de que, por disponibilidade fiscal

e determinação política, se estaria dando curso à construção de Estado social inscritos na

Constituição de 1988.

Mas o ponto principal a se destacar em relação ao perfil das cinquenta ocupações

mais dinâmicas concerne ao fato de que - com exceção de parte dos professores nos ensinos

médio e fundamental, dos enfermeiros e de alguns profissionais de nível gerencial - a grande

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118

maioria corresponde a empregos de menor qualidade, sujeitos a altas taxas de rotatividade,

maior descumprimento das obrigações legais, baixo valor das remunerações, reduzidas

exigências de qualificação e, por tudo isso, tipicamente ocupados por indivíduos situados nas

classes mais baixas da estrutura social brasileira (POCHMANN, 2006; QUADROS, 2008).

Esse ponto tem sido objeto de frequentes polêmicas nos últimos anos, visto que, ao

lado dos outros avanços sociais, o crescimento daquelas modalidades de emprego deu fôlego a

um processo de mobilidade ascendente entre a população de renda mais baixa, levando à

sustentação da tese de que haveria emergido no Brasil uma “nova classe média” (NERI, 2008;

2010).

Entretanto, como bem aponta um outro conjunto de autores (POCHMANN, 2012;

QUADROS et al, 2013; KERSTENETZKY e UCHÔA, 2013; SOUZA, 2013;1015), a despeito

de ter sido gerado um expressivo volume de empregos em ocupações cujo nível de renda possa

ser classificado como médio - dada a enorme disparidade de renda que caracteriza o país e a

dificuldade de captar a renda efetiva dos estratos superiores -, não parece cabível considerar

pedreiros, almoxarifes, empregadas domésticas, garçons ou vigilantes como pertencentes à

classe média, ademais um conceito sociológico que abarca outras dimensões da vida social.

Com carências de toda ordem, sem acesso à educação, à saúde ou moradias de qualidade, bem

como alijados dos circuitos de reprodução da cultura de classe média que funcionam como

monopólios sociais na distribuição das melhores oportunidades na sociedade brasileira

(SOUZA, 2015), esse contingente da população continua a se defrontar em seu cotidiano com

um conjunto de mazelas sociais que fazem reproduzir sistematicamente o ciclo de pobreza no

país. Apesar de alçados pelo apetite do mercado publicitário ao estatuto de “classe C” por terem

logrado progredir em termos de emprego e renda, essa fração da sociedade continua exposta à

toda a sorte de infortúnios que caracterizam a vida nas grandes periferias metropolitanas ou nas

regiões mais pobres do país, de tal modo que o simples rompimento do vínculo de emprego

conquistado pode ser condição suficiente para reverter rapidamente a mobilidade galgada nos

anos recentes - de fato, como já se pode perceber por meio de alguns dos indicadores sociais,

desde 2014 começam a despontar no Brasil os primeiros sinais de reversão das conquistas

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119

sociais alcançadas no período101. Não por outra razão, estudos realizados nos últimos anos

apontam para o iminente risco de regressão social, na medida em que as bases econômicas sobre

as quais se assentava o desenvolvimento contingente se desmantelam a passos largos

(QUADROS, 2015; POCHMANN, 2015).

Um outro olhar que ainda resta ser apresentado a respeito da evolução do emprego

no período em tela é o que considera as diferenças desse processo entre as cinco grandes regiões

do país e entre homens e mulheres. Na tabela 3.8 esses números estão organizados segundo as

faixas de remuneração média em termos de unidades de salário mínimo e por gênero. Embora

o recorte por salário mínimo incorra em alguma imprecisão por conta da expressiva elevação

de seu valor real entre 2002 e 2014, as comparações regional e por gênero permitem extrair

aspectos importantes desse processo de crescimento do emprego com carteira no país.

Primeiramente, percebe-se que em termos totais a distribuição dos novos empregos

esteve razoavelmente equilibrada entre homens e mulheres, com ligeira vantagem para os

primeiros (52% x 48%). Apesar disso, nas regiões Sul e Sudeste, reconhecidas por abrigarem

os polos de economia mais avançada do país e, por conseguinte, uma proporção maior de

ocupações de melhor qualidade, o emprego feminino cresceu ligeiramente acima do masculino,

notadamente entre as faixas com remuneração média de até dois salários mínimos – na Região

Sul o fenômeno se repete, inclusive, entre os empregos com remunerações de cinco a mais

salários mínimos. Em contrapartida, nas três demais regiões, embora no cômputo geral os

empregos masculinos tenham crescido acima do feminino, as vagas ocupadas pelas mulheres

superaram a dos homens entre as faixas de remuneração mais alta ou, no caso da Região Norte,

praticamente se equivalem. Assim, considerados essas variações no saldo de empregos, pode-

se dizer preliminarmente que, a despeito de persistirem grandes desequilíbrios no mercado de

trabalho em prejuízo da população feminina, a dinâmica do mercado de trabalho nos anos 2000

lhes foi relativamente mais favorável, pois o emprego feminino teve maior crescimento em

regiões de economia mais avançada ou nas faixas de remuneração mais altas das regiões mais

atrasadas (DIEESE, 2012, p. 2015-232). Aliado a outros fatores, a dinâmica do emprego

101 Entre outros, cabe mencionar a elevação da taxa de informalidade em alguns ramos de atividade

econômica, a ampliação do emprego doméstico e o crescimento da taxa de participação.

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feminino no período recente constitui uma faceta importante desse ciclo de crescimento

econômico com inclusão social, permitindo às mulheres “dar continuidade ao processo de

consolidação de sua participação na atividade econômica, melhorando o perfil qualitativo dessa

absorção” (LEONE, 2015, p. 19).

Mas o dado de maior relevância no que tange à distribuição regional do emprego é

o que salta aos olhos quando se observa a tabela 3.8, ou seja, a grande concentração de empregos

gerados com remunerações entre 1 e até 2 salários mínimos. Ao todo, nesse período de doze

anos, foram criados 14 milhões de novas ocupações nessa faixa, o que corresponde a 67% do

total. Essa tendência, que se repete em todas as regiões, foi mais intensa justamente na região

sudeste (72%), enquanto a região Centro-Oeste se destaca com a menor - porém ainda elevada

- proporção (57%). Além disso, a queda absoluta de empregos na faixa de maiores

remunerações na região Sudeste (- 290 mil vagas), seguida por um crescimento muito modesto

na região Sul (50 mil vagas, 88% das quais para mulheres), são também aspectos relevantes da

dinâmica econômica recente, com importantes repercussões sobre a sociedade brasileira e que,

entre outras coisas, contribuíram para a redução da dispersão salarial no país.

Se por um lado pode-se inferir a partir desses resultados que, apesar do

protagonismo econômico das regiões sul e sudeste, a dinâmica do mercado de trabalho no

período recente aponta no sentido da redução das disparidades regionais - dado que, ao menos

em termos proporcionais, as novas vagas de emprego nas regiões ditas atrasadas estiveram

menos concentradas nas faixas com menores remunerações - por outro lado, esse também é

mais um indicativo do caráter contingente do padrão de desenvolvimento trilhado pelo país

durante o período. Na medida em que, como visto anteriormente, o emprego industrial perde

relevância no país e as ocupações com baixa remuneração, concentradas no setor de serviços,

constituem o principal polo de absorção da população economicamente ativa, é imperioso

concluir que, ao mesmo tempo em que se está promovendo uma inadiável mobilidade social

dos mais pobres, se está sujeitando esse mesmo segmento populacional às intempéries e

precariedades de uma economia nacional cuja estrutura produtiva não garante dinamismo

suficiente para sustentar o crescimento da renda agregada.

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Tabela 3.8 Saldo de empregos formais por região do país segundo faixas de remuneração média e gênero. Período: 31/Dez/2002 a 31/Dez/2014.

(em mil pessoas)

Região Gênero

Faixa de Remuneração Média em Salários Mínimos

Até 1 De 1 a 2 De 2 a 5 5 ou mais Total

N. Abs % N. Abs % N. Abs % N. Abs % (100%)

Norte Total 87 6% 887 59% 397 26% 112 7% 1.505

Masculino 43 5% 491 58% 243 29% 58 7% 850

Feminino 44 7% 396 60% 154 24% 54 8% 655

Nordeste Total 223 5% 2.953 69% 787 18% 229 5% 4.273

Masculino 118 5% 1.726 71% 429 18% 112 5% 2.443

Feminino 104 6% 1.227 67% 358 20% 117 6% 1.830

Sudeste Total 394 4% 6.996 72% 2.198 23% - 290 -3% 9.664

Masculino 141 3% 3.189 66% 1.466 30% - 222 -5% 4.812

Feminino 253 5% 3.807 78% 732 15% - 68 -1% 4.852

Sul Total 165 5% 2.136 61% 950 27% 50 1% 3.475

Masculino 57 3% 936 56% 574 34% 6 0% 1.666

Feminino 108 6% 1.201 66% 376 21% 44 2% 1.808 Centro-Oeste

Total 152 8% 1.115 57% 473 24% 183 9% 1.971

Masculino 94 9% 564 51% 325 30% 83 8% 1.097

Feminino 58 7% 551 63% 148 17% 100 11% 874

Brasil Total 1.021 5% 14.087 67% 4.805 23% 284 1% 20.888

Masculino 454 4% 6.907 64% 3.037 28% 36 0% 10.868

Feminino 566 6% 7.180 72% 1.768 18% 248 2% 10.019 Fonte: MTE – Relação Anual de Informações Sociais/RAIS (2016). Nota: (*) As ocorrências de pessoas com renda “não classificada”embora consideradas no cômputo total, não estão apresenadas separadamente.

De todo modo, o aspecto ambivalente desse processo impõe cuidados especiais à

sua análise. Por um lado, como precocemente notaram Pochmann (2006) e Quadros (2008),

entre outros, a via de desenvolvimento percorrida pelo Brasil a partir do governo Lula, fundada

- muito claramente em seu início - na manutenção do tripé macroeconômico e em circunstâncias

internacionais muito particulares, trazia não apenas riscos implícitos quanto à sua sustentação

no tempo, mas também quanto à relativamente baixa qualidade intrínseca das oportunidades

econômicas e sociais. Por outro lado, como sugerem as leituras de Singer (2012), Souza (2008;

2015) ou Meireles e Athayde (2014) a mobilidade social que se descortinou para a massa

trabalhadora, subproletariado ou ralé, não só foi fundamental para amarrar algumas pontas de

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uma sociedade cindida desde há décadas e assim dar fôlego ao ciclo de desenvolvimento, como

também – o que parece o mais relevante – conferiu significado econômico e social a uma fração

da sociedade brasileira que, apesar de majoritária em termos numéricos, sequer era capaz de se

perceber como portadora de direitos sociais básicos. Embora esse aspecto seja fugidio e de

difícil comprovação em termos científicos, há nos autores mencionados teses consistentes que

apontam a ocorrência de uma mudança crucial na sociedade brasileira, cujas repercussões

ultrapassam o horizonte da análise econômica e ainda nos escapam pela própria proximidade

histórica dos acontecimentos.

3.2.3 A elevação do salário mínimo e seus efeitos

Instituído no Brasil em 1940 por Getúlio Vargas, o salário mínimo alcançou seu

maior valor histórico em outubro de 1961, logo após João Goulart assumir a Presidência da

República do país. Segundo a série elaborada pelo Ipea (IPEADATA, 2016a) o seu valor em

termos reais correspondia àquela altura a R$ 1.238,30 (a preços de julho de 2015). Depois disso,

como bem ilustra a trajetória da curva apresentada no gráfico (figura 3.11), o salário mínimo

foi perdendo poder aquisitivo, sofrendo quedas mais expressivas durante os primeiros anos da

ditadura militar (1964 a 1967) e entre fins da década de oitenta e início da década de noventa,

quando, por conta da escalada inflacionária, caiu ao menor patamar da históira, atingindo em

agosto de 1991 o valor de R$ 241,87 (em reais de julho de 2015). Isto é, em trinta anos (vinte

um dos quais sob a ditadura) o salário mínimo reduziu-se a menos de 1/5 do que era em 1961.

Entretanto, com a estabilização monetária alcançada a partir de meados dos anos

noventa, teve início no Brasil uma trajetória de gradativa recuperação do poder de compra do

salário mínimo, a qual ganha especial intensidade depois de 2004, vindo alcançar no último

mês da série em análise (agosto de 2014) o valor de R$ 793,56 (em reais de julho de 2015), ou

seja, o equivalente a 64% daquele máximo histórico ou ¼ do valor do salário mínimo

necessário calculado pelo DIEESE102 (DIEESE, 2016).

102 O cálculo é feito com base no custo apurado para a cesta básica da cidade de São Paulo, levando em

consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para

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A despeito de ainda estar longe de seu patamar constitucional ou mesmo dos valores

que possuía nos governos Vargas, JK e Jango, a persistência das taxas de crescimento real do

salário mínimo ao longo das últimas duas décadas é um feito da maior importância, cuja

dimensão é impossível de ser plenamente capturada por meio do instrumental econométrico ou

estatístico. Dados os múltiplos efeitos de propagação do valor do salário mínimo sobre a

estrutura da renda das famílias mais pobres, a sua valorização tem o potencial de transformar a

vida social, dinamizando regiões geográficas que são negligenciadas pelos negócios

tipicamente capitalistas e alterando a dinâmica das famílias de baixa renda de forma definitiva.

Ao longo desse longo ciclo de vinte anos de recuperação do salário mínimo, além

dos ganhos decorrentes do fim do imposto inflacionário, foi relevante a determinação política

dos governos petistas de instituir e manter uma fórmula que garantisse aumentos reais regulares

do valor do salário mínimo. Desde a campanha vitoriosa de Lula em 2002, havia uma grande

expectativa a respeito do tema, inclusive porque em sua plataforma eleitoral prometia-se dobrar

o valor do salário mínimo ao longo do mandato presidencial. Além disso, como se tratava de

um governo de um partido com fortes ligações com os sindicatos e com os movimentos sociais,

assistiu-se desde o seu início a uma intensa pressão social para que fosse implementada uma

política de longo prazo de valorização do salário mínimo. Desta feita, em especial depois da

marcha realizada pelas principais centrais sindicais do país em dezembro de 2004103, o então

presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu, em audiência pública realizada com as

lideranças sindicais, não apenas a conceder aumentos reais em todos os anos de seu primeiro

mandato, como também acatou as sugestões das centrais sindicais e institui, em abril de 2005,

suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação,

vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.

103 A “Marcha por um Salário Mínimo Digno, Correção da tabela do Imposto de Renda e Valorização

dos Servidores Públicos” ocorreu entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2004 e contou com a presença

de cerca de 3 mil sindicalistas filiados a distintas centrais sindicais (CUT, CGTB, FS, CGT, SDS e

CAT), culminando com uma audiência com o presidente da república e a definição da elevação do

salário mínimo para R$ 300,00 da época e da correção de 10% dos valores da tabela do imposto de

renda.

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124

a Comissão Quadripartite do Salário Mínimo104, cuja atribuição foi discutir e apresentar uma

proposta de política permanente de reajuste anual do salário mínimo.

Figura 3.11 Evoluçao do salário mínimo real. Brasil, 1961 a 2014.

Fonte: IPEADATA (2016a) – Elaboração própria. Nota: valores em reais de julho de 2015 calculados pelo Ipeadata utilizando como deflator o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE.

Assim, com base em uma fórmula previamente pactuada na referida comissão, a

partir de 2007 o governo federal adotou uma nova regra para o reajuste do salário mínimo, por

meio da qual o seu valor passou a ser definido pela correção da inflação anual, calculada pelo

IBGE (INPC), acrescida de um aumento real correspondente à variação do Produto Interno

Bruto (PIB) de dois anos anteriores105 (SOUEN, 2013, p. 103-126; DIEESE, 2010, p.14-19) -

104 Composta por representantes do governo, dos trabalhadores na ativa, dos trabalhadores aposentados

e dos empresários.

105 Em 2011, por iniciativa do poder executivo, essa regra foi definida em lei (Lei Federal 12.382/2011)

por meio da qual o governo fica autorizado a estabelecer por decreto o valor anual do salário mínimo,

tomando por base aqueles critérios de correção da inflação e de aumento real.

OUT/1961= R$ 1.238,30

AGO/1991= R$ 241,87

AGO/2014= R$ 793,56

(Em R$ de julho de 2015)

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125

além disso, o governo se dispôs a antecipar em um mês a cada ano a data-base de correção do

salário mínimo, de tal forma que, desde 2010, essa foi fixada em definitivo no mês de janeiro

Tendo já se passado alguns anos de vigência daquela nova regra para os reajustes

do salário mínimo e quase duas décadas de aumentos reais, é possível perceber que houve uma

recuperação substancial de seu valor, tanto em termos reais, como em termos de paridade de

poder de compra ou ainda como proporção do salário mínimo necessário. Conforme

demonstrado na figura 3.12, a valorização real do salário mínimo ao longo de todo o período

(1994 a 2014) foi de 155,5%, sendo que, entre 1994 e 2002 o reajuste acumulado foi de 40%,

enquanto no período seguinte, isto é, ao longo dos 12 anos que se passaram entre 2002 e 2014,

o aumento real total alcançou 82,5%.

Quando contrastado ao valor do salário mínimo necessário, o salário mínimo oficial

também registra uma elevação substancial, embora um pouco inferior àquela registrada em

termos de valorização real (67,7% contra 82,48%). Contudo, ainda assim o avanço é de grande

monta, pois, enquanto em dezembro de 1994 o salário mínimo oficial correspondia a apenas

9,9% do salário mínimo necessário, em dezembro de 2014 alcançou 24% desse valor (DIEESE,

2016).

Além disso, dado que durante a maior parte do período a moeda brasileira manteve-

se sobrevalorizada, quando se mede a variação do poder aquisitivo do salário mínimo brasileiro

em dólares - ponderados pela paridade de poder de compra106 - percebe-se que seu crescimento

foi ainda mais intenso, chegando em dezembro de 2014 a um valor quatro vezes maior do que

era no mesmo mês de 1994 (cf. figura 3.12).

106 Portanto, seu valor representa, em cada mês correspondente, qual era o preço nos Estados Unidos da

mesma cesta de bens que se podia adquirir com um salário mínimo no Brasil. A conversão foi feita pela

taxa de paridade de poder de compra (PPC) observada pelo Banco Mundial em 2005, corrigida pela

inflação ao consumidor nos Estados Unidos e no Brasil. Para a inflação americana, o Ipeadata utilizou

o IPC do Bureau of Labor Statistics (BLS). Para a inflação brasileira, foi utilizado o INPC/IBGE.

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Figura 3.12 Evolução do salario mínimo em termos reais(1), em paridade de poder de compra(2) e como proporção do salário mínimo necessário(3). Brasil, 1994 a 2014. (Índice: 2002=100)

Fontes: IPEADATA (2016a; 2016b) e DIEESE (2016) – Elaboração própria. Notas: (1) Série em número-índice elaborada pelo autor a partir dos valores reais do salário mínimo de dezembro de cada ano calculados pelo Ipeadata utilizando como deflator o INPC do IBGE. (2) Série em número-índice elaborada pelo autor a partir dos valores do salário mínimo denominados em U$ (PPC) de dezembro de cada ano calculados pelo Ipeadata. Seu valor representa o preço nos Estados Unidos da mesma cesta de bens que se podia adquirir com um salário mínimo no Brasil. A conversão foi feita pela taxa de paridade de poder de compra (PPC) elaborada pelo Banco Mundial em 2005, corrigida pela inflação ao consumidor nos Estados Unidos (IPC/BLS) e no Brasil (INPC/IBGE). (3) Série em número-indice a partir da relação entre o valor nominal do salário mínimo em dezembro de cada ano e o valor nominal do salário mínimo necessário tal qual calculado pelo DIEESE.

Embora esse fato também denote uma mudança dos termos de troca na economia

brasileira, em prejuízo dos bens comercializáveis e em especial dos manufaturados, é necessário

compreender o seu significado em termos de percepção do bem-estar na sociedade brasileira,

além de seus impactos sobre o consumo e sobre outras variáveis econômicas relevantes

(BALTAR, 2014; KERSTENETZKY, 2015). Apesar dos conhecidos efeitos negativos sobre a

estrutura industrial e todas as possíveis consequências da chamada “doença holandesa”, a

apreciação cambial, como bem revela a experiência brasileira recente, afeta a economia

nacional também por outras vias, contrabalançando em alguma medida os seus efeitos

negativos. Nos termos de Carolina Baltar,

[...] a valorização da moeda nacional ajuda a baixar a inflação e, juntamente

com a acumulação de reservas, é criado um ambiente favorável, estimulando

o consumo e o investimento. Sob essas condições, o sistema financeiro

66,2

167,7

71,41

182,48

59,09

2002=100,00

236,86

SM/NECESS Em R$ Em U$ (PPC)

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127

modifica a composição dos seus portfólios, reduzindo os ativos da dívida

pública e aumentando os empréstimos a empresas privadas e especialmente

para as famílias. Assim, a taxa de crescimento do PIB é impulsionada, ainda

que parte da demanda efetiva vaze para o exterior através de importações

(2014, p.29-30).107

Assim, ao lado da expansão das políticas sociais, a apreciação do câmbio, a despeito

de promover o vazamento da demanda doméstica para o mercado externo, funcionou também

como uma política de renda por vias tortas, na medida em que amplificou o poder de compra

daqueles estratos sociais que, pela via do emprego, dos salários ou das ações de transferência

de renda, já percebiam maiores níveis de renda ao longo do período (BALTAR, 2015, p.29).

Portanto, mesmo que com o decorrer dos anos o desequilíbrio estrutural em conta

corrente possa tornar cada vez mais incerta a reprodução desse arranjo macroeconômico,

durante mais de uma década foi possível viabilizar um ciclo de crescimento com inclusão social

que, deve-se frisar, constitui uma novidade nada desprezível na história do Brasil (BALTAR,

2014; KERSTENETZKY, 2015, MEDEIROS, 2015). Outrossim, ao lado da vigência de uma

política de reajustes anuais do salário mínimo ancorada no crescimento do PIB, o efeito

combinado daqueles fatores sobre a renda dos trabalhadores situados na base da pirâmide social

foi expressivo, resultando, por um lado, na redução dos níveis de pobreza e, por outro, no

estabelecimento de um mercado de consumo de massa de proporções inéditas no país

(MEDEIROS, 2015, p.51-76; MEIRELLES e ATHAYDE, 2014).

Na seara acadêmica e em especial entre os economistas do trabalho, esse processo

de paulatina recuperação do salário mínimo promoveu o recrudescimento no Brasil do debate

a respeito de sua relevância e de seus impactos sobre a economia e a sociedade108. Em um

primeiro momento, isto é, a partir da implantação do Plano Real, a motivação desse debate

decorria tanto da necessidade de se repensar o valor ideal ou desejável do salário mínimo,

quanto porque o ideário neoliberal em voga naquela época postulava uma série de efeitos

107 Tradução minha.

108 Desde o início da década de 1970 o salário mínimo e sua relação com o nível geral de salários foram

objeto de um profícuo debate no Brasil, do qual destacam-se os textos de Bacha et al (1972); Macedo,

Garcia (1978); Souza, Baltar (1980), Velloso (1990), Cacciamali et al (1994).

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indesejáveis decorrentes da elevação de seu valor ou até mesmo de sua existência (CARDOSO,

1993; RAMOS, REIS, 1994).

Entretanto, a despeito de alguns estudos e prognósticos mais céticos (BARROS et

al, 2000; CORSEUIL, CARNEIRO, 2001; ULYSSEA, FOGEL, 2006; GIAMBIAGI,

FRANCO, 2007; AFONSO et al, 2011), a evolução dos indicadores econômicos e sociais no

período em tela veio revelar resultados muito positivos. Não por outra razão, reconhecidas

instituições internacionais, como a OIT (2013), PNUD (2013), FMI (2015), Oxfam (2014), bem

como especialistas brasileiros de distintos centros de pesquisa (KERSTENETZKY et al, 2013;

LAVINAS, 2013; DALDEGAN, 2014; MANZANO et al, 2014; BRITO et al, 2015; BALTAR,

2015,) destacaram em um amplo e diverso leque de estudos que a redução da pobreza e da

desigualdade no Brasil guardou relação direta com a política de valorização do salário mínimo.

Mais do que isso, há razoável consenso na literatura sobre o tema109 que esse processo foi

intensificado não apenas pela maior amplitude dos reajustes desde 2004, mas sobretudo porque,

num contexto de crescimento do emprego e de avanço dos níveis de formalização do trabalho,

seu efeito sobre a renda dos mais pobres foi ainda mais efetivo110. Nos termos de Carlos

Medeiros

Diante da alta do nível geral de emprego em relação ao crescimento da

população economicamente ativa, o salário mínimo agiu tanto como um farol

– irradiando-se para a determinação da renda do trabalho assalariado nas

atividades informais –, como um fator de propulsão para as rendas derivadas

do trabalho autônomo. (2015, p. 17)

Assim, para melhor avaliar os impactos da experiência brasileira de elevação do

salário mínimo no contexto muito particular desses doze anos, apresenta-se a seguir alguns

dados a respeito da redução da desigualdade e dos níveis de pobreza. No gráfico abaixo (figura

109 Em revisão da literatura sobre o tema, Brito et al (2015, p. 8-9) apontam que encontraram apenas um

único estudo que aponta no sentido inverso, isto é, um impacto negativo do salário mínimo sobre o nível

de desigualdade no Brasil ao longo do período que vai de 1995 a 2012.

110 Brito et al (op cit, p.23) ao analisarem os subperíodos entre 1995 e 2013 assinalam que, enquanto a

redução da desigualdade decorrente de cada 1% de elevação do salário mínimo foi de 0,17% e 0,28%

nos respectivos governos de Lula, essa queda foi de apenas 0,05% e 0,14% nos respectivos governos de

FHC. Já no subperíodo 2011-2013 (sob a presidência de Dilma Rousseff) a elasticidade da desigualdade

em relação ao salário mínimo ficou em 0,11%.

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129

3.13), além da evolução do Índice de Gini, estão registradas as quedas do número de pessoas

que viviam em condições de pobreza ou de extrema pobreza no Brasil. Entre 2002 e 2014

(precisamente o período de intensificação da valorização do salário mínimo) mais de 32,8

milhões de brasileiros saíram da condição da pobreza (queda de 21 pontos percentuais),

enquanto outros 15,6 milhões deixaram a extrema pobreza (queda de 5,8 pontos percentuais).

Figura 3.13 Índice de Gini e Taxas de Pobreza e Extrema Pobreza. Brasil, 2002 a 2014.

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IPEADATA; 2016c, 2016d, 2016e) Notas: 1) Taxa de Extrema Pobreza: calculada como percentual de pessoas na população total com renda domiciliar per capita inferior à linha de indigência (ou miséria, ou extrema pobreza). A linha de extrema pobreza aqui considerada é uma estimativa do valor de uma cesta de alimentos com o mínimo de calorias necessárias para suprir adequadamente uma pessoa, com base em recomendações da FAO e da OMS. 2) Taxa de Pobreza: calculada como percentual de pessoas na população total com renda domiciliar per capita inferior à linha de pobreza. A linha de pobreza aqui considerada é o dobro da linha de extrema pobreza, uma estimativa do valor de uma cesta de alimentos com o mínimo de calorias necessárias para suprir adequadamente uma pessoa, com base em recomendações da FAO e da OMS. Série calculada pelo IPEADATA a partir das respostas à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE).

Em grande medida, por conta dessa expressiva redução das pessoas em situação de

pobreza ou de extrema pobreza, a desigualdade de renda, quando calculada a partir dos dados

14,0 15,2 13,2 11,5 9,5 9,0 7,6 7,3 6,3 5,3 5,5 4,2

34,435,8

33,730,8

26,8 25,422,6 21,4

18,415,9 15,1

13,3

0,589

0,543

0,531

0,518

0,480

0,500

0,520

0,540

0,560

0,580

0,600

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Ind

ice

de

Gin

i

Taxa

de

Po

bre

za (

em

%)

Extrema Pobreza Pobreza Índice de Gini

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130

da PNAD111, diminuiu de forma sensível. Tal como revela a trajetória de queda do Índice de

Gini, em um período pouco maior que uma década o Brasil conseguiu trazer o seu Gini ao

patamar de 0,518 - o que corresponde ao nível que era registrado no país em 1960. Embora esse

patamar ainda seja elevado em termos internacionais, a recente evolução merece ser destacada

em especial pela velocidade da queda e pelo contraste em relação ao verificado no mesmo

período nos demais países do BRICS, cujos estilos de crescimento, apesar de mais potentes em

termos de crescimento do produto, resultaram em aumentos da desigualdade de renda, expressas

na elevação de seus respectivos Índices de Gini.

Mas, quanto desses resultados auferidos no Brasil podem ser considerados como

decorrência da política de valorização do salário mínimo ou de outras políticas sociais?

Alguns estudos importantes se dedicaram especialmente e a essa questão (SABOIA,

2007; BARROS et al, 2010; DIEESE, 2010; SOARES, 2011; KERSTENETZKY et al, 2013;

LAVINAS, 2013; BRITO, 2015)112. Dentre eles, destaca-se aqui os trabalhos de Kerstenetzky

et al (Ibid.) e de Brito et al (Ibid.) nos quais se procura não apenas identificar o efeito direto do

salário mínimo, isto é, o seu efeito sobre a remuneração dos empregados assalariados, mas

também aferir os mecanismos indiretos por meio dos quais alterações no seu valor afetam a

renda domiciliar. Fazendo a decomposição desses efeitos, os dois estudos chegam à conclusão

de que, dada a institucionalidade do sistema de seguridade social brasileiro, a maior

contribuição do aumento do salário mínimo para a recente redução da desigualdade no Brasil

se deu pela via previdenciária113. Ou seja, tal como revelado pelo estudo econométrico realizado

por Brito et al (Ibid.), o canal de transmissão do reajuste do salário mínimo para a renda dos

111 É necessário alertar, entretanto, que, embora as pesquisas com base na PNAD indiquem queda

persistente na desigualdade de renda desde 2004 até 2014 (OSÓRIO, 2015), estudos como o de Medeiros

e Souza (2015) ou Milá Marc (2015), que utilizam dados disponibilizados recentemente pela Receita

Federal do Brasil e, portanto, com a possibilidade de expandir o escopo de análise para além das

declarações coletadas pela PNAD (majoritariamente associadas a rendimentos do trabalho) indicam que,

na melhor das hipóteses, (MEDEIROS e SOUZA, 2015) a desigualdade de renda no Brasil manteve-se

estável no 2006 a 2012.

112 Uma boa revisão da literatura a esse respeito, que sumariza os estudos empíricos nacionais, pode ser

encontrada em BRITO et al (2015, p. 7-10).

113 Em Cardoso Jr e Musse, (2014) chega-se à conclusão semelhante.

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131

mais pobres se deu, majoritariamente, por meio do sistema de aposentadorias e pensões, o qual

responderia sozinho por 37,7% da redução da desigualdade da renda domiciliar no período

(BRITO et al, 2015., p. 24). De acordo com esses autores

A política de valorização do salário mínimo resultou em uma redução de

aproximadamente 72% da desigualdade na distribuição da renda domiciliar

nas duas últimas décadas no Brasil (entre 1995 e 2013, mais precisamente),

tendo o maior efeito isolado ocorrido via renda previdenciária. (Ibid., p.4)

Já no que se refere especificamente aos efeitos do salário mínimo sobre o mercado

de trabalho, a experiência brasileira dos anos 2000 também reforça o entendimento de que

aquele exerce um importante papel ao contribuir para a redução da dispersão dos rendimentos

do trabalho, tal como já postulavam Bacha et al (1972) ou Souza e Baltar (1980).

Na literatura especializada mais recente, têm-se distinguido múltiplos canais de

transmissão da valorização do salário mínimo para o conjunto da estrutura salarial

(FAJNZYLBER, 2001; NERI, 2001; DIEESE, 2005; SABOIA, 2007). De um modo geral, tal

como sintetizado em DIEESE (op. cit, p. 4-5), seus impactos sobre os rendimentos do trabalho

no Brasil se dão fundamentalmente por meio de três efeitos principais, a saber: i) o efeito farol,

que decorre da vinculação espontânea das remunerações do setor informal à evolução do salário

mínimo; ii) o efeito arrasto, que corresponde ao reajuste dos salários situados entre o velho e o

novo valor do salário mínimo; e iii) o efeito numerário, que ocorre quando um múltiplo do

salário mínimo serve de referência para o reajuste de remunerações cujo valor supera o do

salário mínimo.

Medeiros (2015) chama a atenção ainda para um quarto efeito que teria vigorado

no período recente - o efeito propulsão, a impactar especificamente a renda dos trabalhadores

por conta própria. Tal efeito, por sua vez, se daria por duas vias: i) pelo impacto do aumento

do consumo dos assalariados que recebem salário mínimo sobre a demanda por bens-salários

ofertados pelo segmento dos trabalhadores por conta própria e ii) pelo deslocamento de parte

desses trabalhadores por conta própria para o assalariamento, reduzindo a oferta de bens e

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132

serviços realizados pelos mesmos e assim aumentando a renda individual dos que permanecem

naquela condição (Ibid, p. 83-84)114.

No gráfico abaixo (figura 3.14) são apresentadas as trajetórias de evolução do

rendimento médio real do trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do país por

categoria de emprego. Entre 2002 e 2014, com alguma oscilação negativa em 2003, as

remunerações médias em todas as categorias registraram curvas ascendentes, revelando ao final

do período ganhos reais consideráveis.

No subconjunto das três categorias que abarcam o setor privado (trabalhadores com

carteira, sem carteira e por conta própria) a que obteve crescimento mais expressivo de seus

rendimentos reais em termos relativos (54%) foi justamente aquela que percebe remunerações

médias mais baixas, isto é, a dos assalariados sem carteira. Em grande medida, portanto, essa

apreciação dos rendimentos desse grupo de trabalhadores é um indicativo da vigência do

mencionado efeito farol.

Já entre os trabalhadores por conta própria registra-se um crescimento um pouco

menos intenso do rendimento médio em termos reais, culminando ao fim do período com uma

variação real positiva da ordem de 40%. Nesse caso, tal como aponta MEDEIROS (2015), essa

trajetória se vincularia, em parte, aos aumentos do salário mínimo por meio do chamado efeito

propulsão.

Por outro lado, como entre a terceira categoria de trabalhadores do setor privado

(os assalariados com carteira assinada) o aumento das remunerações foi menos expressivo,

alcançando 22% em termos reais no acumulado do período e, além disso, como são esses

justamente aqueles que, em termos médios, percebem as maiores remunerações no setor

privado, a dispersão salarial entre as remunerações médias terminou se reduzindo. Enquanto

em 2002 a diferença entre o rendimento médio dos assalariados sem carteira e dos com carteira

era de R$ 1.128,05 - e em 2008 tenha alcançado o ponto máximo com uma diferença de R$

114 Baltar e Leone (2015, p.64-65) fazem referência ao mesmo fenômeno, chamando atenção, contudo,

de que esse é o caso dos trabalhadores por conta própria com baixos rendimentos e não dos conta própria

em geral.

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133

1.253,17 - em 2014 ela cai a R$ 982,52, fazendo aproximar, via elevação mais acelerada dos

salários mais baixos, o rendimento médio entre as diferentes categorias de emprego.

Figura 3.14 Rendimento médio real do trabalho metropolitano, por categoria de emprego. Brasil, 2002 a 2014.

(Em R$ de outubro de 2015)

Fonte: IBGE - Pesquisa Mensal de Emprego (IPEADATA, 2016) Nota: 1) Série deflacionada pela média ponderada do INPC das seis regiões metropolitanas a preços do mês subseqüente ao último dado do rendimento médio real efetivo. 2) Regiões metropolitanas (RMs): Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Ainda com base nas trajetórias apresentadas na figura 3.14, cabe frisar o

desempenho dos reajustes salarias dos trabalhadores do setor público, cujo montante acumulado

foi de 45% no período. Esse dado, ao mesmo tempo que expressa a recuperação dos salários de

um setor que acumulou perdas salarias durante toda a década de 1990, se soma a outros

indicados na presente tese que apontam para o resgate dos aparelhos de Estado e para o

gradativo afastamento dos princípios do liberalismo econômico.

R$ 2.322,14

R$ 2.826,38

R$ 1.194,10

R$ 1.843,86

R$ 3.299,35

R$ 4.797,51

R$ 1.526,51

R$ 2.141,91

2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4

C/ Carteira S/ Carteira S. Público C. Própria

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134

Tabela 3.10 Rendimento médio real do trabalho metropolitano. Brasil, 2002 a 2014.

(Em R$ de outubro de 2015)

Anos

Rendimento médio real do trabalho principal (em 31 de dezembro).

Total (1)

Regiões metropolitanas

Recife Salvador B. Horizonte R. de Janeiro São Paulo P. Alegre

2002 2.182,64 1.447,76 1.720,72 1.908,47 2.072,98 2.587,84 1.749,87 2003 1.981,40 1.249,10 1.483,06 1.726,70 2.099,23 2.177,93 1.932,78 2004 2.056,01 1.330,41 1.472,44 1.765,22 2.128,18 2.322,59 1.904,90 2005 2.098,35 1.369,38 1.639,55 1.917,76 2.183,16 2.307,89 1.990,69 2006 2.258,70 1.800,24 1.698,18 2.069,52 2.258,61 2.515,07 2.084,43 2007 2.411,08 1.875,00 2.031,37 2.199,77 2.286,78 2.727,52 2.218,86 2008 2.524,26 1.924,01 1.796,93 2.313,32 2.538,09 2.836,26 2.351,10 2009 2.504,32 1.884,22 1.781,54 2.424,71 2.615,71 2.690,39 2.511,53 2010 2.648,26 2.021,46 1.913,55 2.422,48 2.763,39 2.884,72 2.600,31 2011 2.725,96 1.950,31 2.570,77 2.580,86 2.853,08 2.833,49 2.744,01 2012 2.863,73 1.919,43 2.276,20 2.654,70 2.977,70 3.119,53 2.843,86 2013 2.842,00 2.302,37 1.926,93 2.431,80 3.146,11 3.003,63 3.033,04 2014 2.900,84 2.372,27 2.100,00 2.378,51 3.201,45 3.124,02 2.878,99

Variação 32,9% 63,9% 22,0% 24,6% 54,4% 20,7% 64,5%

Fonte: IBGE - Pesquisa Mensal de Emprego (IPEADATA, 2016) Nota: (1) Inflacionado pela média ponderada do INPC das seis regiões metropolitanas.

Tomados em seu conjunto, isto é, somados e sobrepostos os múltiplos efeitos do

salário mínimo sobre a estrutura salarial, não parece restar grandes questionamentos na

literatura especializada – respeitadas as diferenças de ênfase – de que aqueles contribuíram para

uma melhora geral da renda do trabalho no Brasil, em particular dos trabalhadores de renda

mais baixa - vide também, na tabela 3.10, a evolução do rendimento médio dos assalariados em

cada uma das seis regiões metropolitanas pesquisadas pela PME.

Além disso, como lembram Baltar e Leone,

O efeito da elevação do valor do salário mínimo sobre o poder de compra das

rendas familiares de nível baixo e intermediário foi amplificado pelo intenso

aumento do emprego de estabelecimento que foi acompanhado da

formalização de seus contratos de trabalho. (2015, p.64)

Precisamente por essas especificidades, no ciclo de crescimento que se estende

desde os primeiros anos da década de 2000 até meados da segunda década do século, a dinâmica

do processo de transmissão dos aumentos do salário mínimo sobre o mercado de trabalho foi

distinta e mais efetiva do que se percebia nos ciclos de crescimento anteriores, configurando,

portanto, uma nova realidade no país (MEDEIROS, 2015, p.80). De fato, não se registra na

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135

história do desenvolvimento brasileiro um outro período de dimensão temporal e de dinamismo

semelhante da estrutura salarial. Na experiência dos 2000, os incrementos reais do salário

mínimo se deram a taxas superiores do que as registradas para o salário mediano e, por seu

turno, ambos cresceram acima da taxa registrada para o salário médio (MEDEIROS, 2015;

BALTAR, LEONE, 2015). Consequentemente, esse processo levou tanto a uma redução da

dispersão salarial quanto a uma retomada do crescimento da massa de salários (MEDEIROS,

op.cit., p. 94).

Tabela 3.11 Distribuição dos rendimentos do trabalho por quintil e por gênero. Brasil, 2002 e 2013. (em %) Gênero 2002 2013 Variação

Quintil 1 Ambos 2,8 3,2 0,4 Homens 2,2 2,4 0,2 Mulheres 0,6 0,8 0,2

Quintil 2 Ambos 6,5 8,0 1,5 Homens 4,9 5,5 0,6 Mulheres 1,7 2,6 0,9

Quintil 3 Ambos 11,0 13,5 2,5 Homens 7,8 8,8 1,0 Mulheres 3,2 4,6 1,4

Quintil 4 Ambos 18,6 19,0 0,4 Homens 12,9 12,2 -0,7 Mulheres 5,7 6,7 1,0

Quintil 5

Ambos 61,0 56,3 -4,7

Homens 41,3 36,8 -4,5

Mulheres 19,7 19,5 -0,2 Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (CEPALSTAT, 2016)

Na tabela 3.11 apresenta-se um comparativo da distribuição das remunerações

médias do trabalho por quintil e por gênero, para os anos de 2002 e 2013. Uma primeira

constatação a destacar é a relativa melhora da distribuição dos rendimentos do trabalho das

mulheres que supera a variação na distribuição dos rendimentos dos trabalhadores masculinos

em todos os quintis, com exceção do primeiro – onde homens e mulheres se equivalem. Ou

seja, mais uma vez, como verificado na análise de outros indicadores, as condições de trabalho

das mulheres, embora ainda em desvantagem, apresentam avanços em ritmo mais intenso do

que os correspondentes apurados para os trabalhadores do sexo masculino.

No conjunto, quando se comparam as transformações na distribuição dos

rendimentos do trabalho para ambos os sexos, é perceptível a sua melhora geral. No período

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136

foram registrados incrementos da participação dos rendimentos do trabalho nos quatro

primeiros quintis, com especial intensidade nos casos do terceiro e do segundo quintil, cujas

variações foram de 2,5% e 1,5% respectivamente. Noutros termos, o que esses dados revelam

é que, concomitante à política de elevação do salário mínimo, houve no período um movimento

ascendente derivado da elevação mais que proporcional dos rendimentos da base da

distribuição, de tal modo que em 2013 se chegou a uma distribuição um pouco menos

desequilibrada do que aquela que existia em 2002. Não por outro motivo, ao buscar identificar

as especificidades desse ciclo de “convergência inclusiva”, Conceição Tavares (2015, p.14)

vai caracteriza-lo como um regime de crescimento em que “a renda da base distributiva cresce

a uma taxa superior à da renda média” - graças, em grande medida, ao aumento exógeno da

renda (i.e., a valorização real do salário mínimo).

Por fim, além dos efeitos da valorização do salário mínimo sobre os níveis de renda,

a dispersão salarial e a redução da pobreza, dois outros aspectos devem ser mencionados

brevemente, visto que se antepõem a algumas teses fartamente divulgadas por autores de

filiação neoclássica e que foram muito populares nos anos 1990.

Em primeiro lugar, trata-se de fazer referência à relação entre o valor do salário

mínimo e o nível de emprego. Embora seja este também um tema bastante controverso na

literatura especializada (CARD, KRUEGUER, 1995; CORSEUIL, CARNEIRO, 2001, p.12-

25; NEUMARK, WASCHER, 2006; LEMOS, 2009) as evidências empíricas da experiência

brasileira dos anos 2000 indicam que os aumentos sistemáticos do salário mínimo foram

acompanhados de uma expressiva expansão do volume de empregos, em particular dos

assalariados com carteira. Como demonstrado nas seções antecedentes, desde 2004, quando

efetivamente passam a ser concedidos aumentos reais mais expressivos do salário mínimo, o

mercado de trabalho do país registrou, em média, um incremento anual de aproximadamente

1,8 milhões de empregos formais. Portanto, pelo menos no contexto do ciclo de

desenvolvimento contingente vivido pelo Brasil, as predições que associavam os aumentos do

salário mínimo a maiores taxas de desemprego, a crescente informalização das relações de

trabalho, a aumento dos trabalhadores por conta própria (Cf. AMADEO, CAMARGO, 1996;

AMADEO, 1999; BARROS et al, 2000; FRANCO, 2000) mostraram-se largamente

equivocadas.

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137

Em segundo lugar, um outro aspecto controverso relacionado às políticas de

elevação do salário mínimo que cabe ser tratado aqui refere-se a seus possíveis impactos sobre

o nível geral de preços, isto é, seu efeito sobre a inflação. De acordo com a pesquisadora

brasileira Sara Lemos (LEMOS, 2006), embora esse aspecto seja muito mencionado no debate

político, não existem muitos os estudos a respeito e, portanto, não há ainda indicações

consistentes quanto à intensidade e os mecanismos de transmissão pelos quais aumentos reais

do salário mínimo impactariam a inflação. Após fazer uma revisão da literatura especializada,

Lemos (2006, p. 29) aponta que “a despeito de diferentes metodologias, períodos ou fonte de

dados, a maioria dos estudos analisados indicam que um aumento de 10% do salário mínimo

ampliaria em 4% o preço dos alimentos e em 0,4% o nível geral de preços”.

No caso do Brasil, cujo patamar inflacionário esteve relativamente estabilizado em

torno de 6% ao ano, de fato não parece ter ocorrido maiores pressões sobre os preços no período

de intensificação dos reajustes do salário mínimo. De acordo com Ricardo Summa (2014, p.

23), em estudo realizado precisamente para analisar os possíveis impactos do salário mínimo

sobre a inflação brasileira, “é difícil encontrar uma relação sistemática bastante relevante entre

inflação e salário mínimo (ainda que possa haver alguma relação) ”. Considerando que a

inflação brasileira ao longo desses anos se caracterizou como inflação de custos e de conflito

distributivo, Summa sugere que é até possível que tenha ocorrido alguma leve inflação salarial

a partir de meados da década de 2000, mas que essa decorreria mais provavelmente de

mudanças estruturais do mercado de trabalho brasileiro e que teria sido compensada pela queda

dos preços dos bens manufaturados e pelo controle dos preços administrados. Por certo, pode-

se argumentar também que a valorização cambial que perdurou entre 2004 e 2013, foi um

importante fator a contrabalançar eventuais pressões altistas115.

115 Em contrapartida, o avanço da inflação que tem sido observado depois de 2012 seria, segundo o

autor, resultado da associação entre aquela pressão salarial e alguma inflação importada decorrente da

desvalorização cambial nos anos mais recentes – ao que se deve acrescentar a pressão inflacionária

decorrente da recuperação dos preços monitorados desde o final de 2014.

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138

3.3 Conclusões parciais

O que se pretendeu demonstrar nas seções anteriores é que as ações de política

pública concernentes a três dimensões fundamentais do mundo do trabalho - quais sejam: as

taxas de cobertura da proteção social dos trabalhadores; o piso salarial percebido no mercado

de trabalho; o nível de emprego em face a uma dada estrutura de atividade econômica -, para

além de seus efeitos redistributivos e dinamizadores do mercado interno, perfizeram um

peculiar arranjo macroeconômico de caráter contingente – excepcional, particular e limitado -

porém, nem por isso menos virtuoso. Mesmo que sejam evidentes as fragilidades do tal arranjo,

deve-se não apenas reconhecer, mas principalmente destacar que a elevação do poder aquisitivo

da massa trabalhadora – e em ritmo mais célere dos trabalhadores de menor renda - foi o ponto

nodal que garantiu a um só tempo, tanto a soldagem de interesses em torno dos governos do

PT, quanto o tracionamento macroeconômico que, para surpresa de provavelmente todos os

observadores, deu fôlego excepcional ao ciclo de desenvolvimento por doze anos ininterruptos.

Ao fim e ao cabo, não há como deixar de apontar que o empirismo de que falava

Mario Pedrosa revelou-se como uma experiência de desenvolvimento econômica social

bastante peculiar, nem tanto por seu caráter salutar de que falava, mas infelizmente talvez pela

preservação de antigos vícios da sociedade brasileira. Para atender as demandas mais imediatas

de sua base política histórica, o PT manteve vigente os condenáveis canais enriquecimento da

classe rentista, erguendo com o auxílio da máquina do Estado um aparato econômico híbrido

que, se por um lado lhe garantiu viabilidade, por outro lhe encurtou os alcances.

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139

CONCLUSÕES

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140

Ao longo desta tese procurei demonstrar que o ciclo de crescimento econômico e

de transformações sociais que perdurou de 2003 a 2014 constitui uma experiência de

desenvolvimento que – por particular, contraditória e limitada – cabe ser designada como

contingente. Se o que separa o conceito de crescimento econômico do conceito de

desenvolvimento são as transformações das estruturas econômicas e sociais que devem

acompanhar o segundo, é mister considerar que, no contexto da sobredeterminação financeira

que governa o capitalismo contemporâneo, a experiência brasileira recente guiou-se por uma

estratégia de exploração das brechas e contradições que se impõem às economias periféricas

como a nossa, sem entretanto ousar romper com a gramática rentista do presente.

Assim, se por um lado assistiu-se a algumas transformações relevantes na

economia brasileira (a nova dimensão do consumo de massa como motor da demanda agregada;

a ampliação do acesso a bens públicos; a expansão do crédito sob o comando dos bancos

públicos; a consolidação e adensamento da cadeia de petróleo e gás; entre outros), por outro

lado, o desenvolvimento foi insuficiente para reverter a tendência de desindustrialização que

desde os anos noventa vem ameaçando a economia brasileira e corrói lentamente a soberania

nacional.

Por isso, quando aqui uso o termo contingente, estou pensando justamente nos

distintos significados que essa palavra pode carregar. O desenvolvimento foi contingente no

sentido de que derivou de algumas circunstâncias fortemente associadas ao que na literatura

especializada tem sido chamado de mundialização financeira e que, em última instância e por

vias diversas, deu combustão tanto ao ciclo de expansão do crédito e endividamento interno

quanto à redução das restrições externas que em tantas ocasiões pretéritas nos ceifou a expansão

econômica. Mas o desenvolvimento foi contingente também porque aquela mesma hipertrofia

financeira – seja por seus efeitos inibidores sobre os investimentos instrumentais, seja pela

disciplina despótica que impõe aos governantes e à esfera pública – restringiu fortemente a

possibilidade de transformações mais profundas e decisivas de nossa estrutura produtiva e

social. Ou seja, com a ambiguidade do termo contingente o que pretendi foi mesmo dar relevo

à própria ambiguidade do processo de desenvolvimento daqueles doze anos, o qual, por seu

turno, se inscreve no feixe de processos contraditórios que foi sendo erguido desde a

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reconfiguração política dos anos 1980 e que culminou com a ascensão de um governo que, para

dar curso aos clamores distributivistas de sua base social, concedeu na manutenção dos pilares

de um modo de acumulação capitalista que embota a produção manufatureira nacional ao

mesmo tempo em que sustenta com vultosos fundos públicos os circuitos de valorização

financeira altamente rentáveis.

Mirar esse processo pela abordagem das Estruturas Sociais de Acumulação (SSA)

foi a opção encontrada para calçar a análise com outras dimensões para além da econômica,

sem as quais seria ainda mais difícil a tarefa de bem compreender a química extravagante que

serviu de amalgama ao ciclo de acumulação em tela e que, em última instância, deu sentido e

sustentação àquela trajetória de desenvolvimento. Assim, ao lado de uma política econômica

marcada pelo hibridismo e pela subserviência aos circuitos da acumulação financeira, a

arquitetura sui-generis daquela SSA impõe que se coloquem no centro da análise tanto as

instituições públicas moldadas pela Constituição Federal de 1988 quanto a virtuosa

acomodação política de grupos de interesse antagônicos, generosamente atendidos pelas mãos

do Estado.

Nesta perspectiva, o metabolismo político do período que precedeu a Constituição

de 1988 diz muito a respeito da natureza social, econômica e ideológica desse ciclo de

desenvolvimento contingente que tomou corpo no início da década de 2000. Não apenas foram

decisivos e determinantes os papeis das oposições autênticas - por um lado o segmento

emedebista conhecido como “grupo dos autênticos”, por outro, o novo sindicalismo do ABC e

as instituições e movimentos sociais que o ladearam (PT, CUT e MST) - como também a

emergência de um bloco de interesses nutridos pela chamada “ciranda financeira” constituiu

elemento crucial para compreender os óbices – econômicos e políticos - a qualquer projeto de

desenvolvimento nacional de maior fôlego.

É verdade que a Constituição de 1988, mesmo combatida e manietada pelas

sucessivas ondas liberalizantes que se seguiram à sua promulgação, ainda retém em diversos

aparelhos de Estado os traços claros dos anseios daqueles grupos que protagonizaram o

processo de redemocratização. E foram esses aparelhos, portanto, sobejamente inspirados nas

experiências democráticas europeias do pós-guerra, que deram a sintaxe para as políticas sociais

que alçaram à civilidade milhões de brasileiros nestes primeiros anos do século XX e, até certo

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ponto, habilitaram o Estado a tracionar setores e segmentos importantes da economia nacional

- mesmo sob as contingências do tripé macroeconômico que aí permaneceu para servir aos

herdeiros da ciranda. Nesse sentido, foram de grande relevância todo o aparato da Seguridade

Social que, a despeito do subfinanciamento e das privatizações por dentro, esteve no cerne do

processo de elevação dos níveis de renda dos estratos sociais mais pobres, bem como a expansão

de serviços públicos (educação, saúde e assistência social) que, para além de seus impactos

diretos, também acomodou um enorme contingente de mão de obra e assim contribuiu de forma

importante à melhoria dos indicadores do mercado de trabalho (redução dos níveis de

desemprego, elevação da massa salarial, crescimento real dos salários, formalização das

relações de emprego, entre outros). Nesse contexto, a política de aumento sistemático do salário

mínimo teve grande efetividade e não por outra razão foi reconhecida como o mais efetivo

instrumento de ampliação da renda dos assalariados ou daqueles que dependem da seguridade

social. Por sua amplitude, esse espectro de políticas públicas destinadas a incrementar a renda

dos mais pobres, ao lado da vigorosa expansão do crédito, fez dinamizar cidades e regiões que

até então eram alcançadas apenas muito marginalmente pelas ondas de expansão dos circuitos

de valorização capitalista. Consequentemente, pela primeira vez em nossa truncada trajetória

de desenvolvimento capitalista, o crescimento econômico não se fez acompanhar de intensos

fluxos migratórios do tipo rural-urbano ou das regiões pobres para as mais desenvolvidas,

reduzindo fortemente o problema do excedente estrutural de mão de obra que outrora drenava

os alcances civilizatórios dos ciclos econômicos que por aqui ocorriam.

Contudo, foi também pelas mãos do Estado – ou pela virtude do Príncipe - que se

mantiveram em alta conta os interesses rentistas no país. A despeito do compromisso efetivo

com as demandas trabalhista e das meritórias políticas de renda voltadas àqueles que ocupam a

base da pirâmide social, o principal item de despesa no orçamento da União continuou sendo

os serviços da dívida pública, diretamente derivados da inviolável política monetária. Graças à

fortuna de um cenário externo raro e muito favorável, foi possível alinhavar em um mesmo

tecido político-econômico tanto as estratégias de redução da pobreza e da desigualdade salarial,

quanto a régia remuneração dos credores da dívida pública que, de tão bem situados, sequer

podem ser bem percebidos pelas estatísticas oficiais. Não custa recordar que nos momentos

críticos do percurso (a crise política de 2005/2006, a crise financeira internacional de

2008/2009) a tração econômica e a soldagem social foram conquistadas em grande medida por

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conta da reativação, mesmo que parcial e tardia, do Estado como pivô do processo de

desenvolvimento, sem que se arriscasse, contudo, reduzir o patamar da taxa básica de juros.

Portanto, o manejo desse conjunto de variáveis em sintonia fina e com boas doses

de intuição política foi talvez o mais crítico e mais fugidio pilar do desenvolvimento

contingente. Em paralelo, enquanto os aparatos do Estado Social eram mobilizados para atender

às famílias mais pobres e lhes garantir acesso a bens e direitos que até então permaneciam

restritos às camadas de maior renda, a sobreutilização das políticas monetária e cambial

compraram a tolerância temporária das elites econômicas, de tal maneira que, como professa a

abordagem da SSA, constitui-se um ambiente razoavelmente crível e estável a ponto de colocar

em movimento um ciclo de reativação da demanda efetiva, cuja dimensão e sustentabilidade

estiveram fortemente contingenciadas pelas contradições inerentes àquelas Estruturas Sociais

de Acumulação.

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Contemporary capitalism and its crises: social structure of accumulation theory for

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i

Anexo Estatístico

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ii

Tabela A.1 - Pessoas ocupadas por posição na ocupação. Brasil: 2002 a 2014.

(em mil pessoas)

ANO

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Total 77.358.100 78.455.184 80.452.530 83.299.440 85.696.144 86.413.798 89.431.234 90.549.695 90.998.521 93.195.836 95.211.076 98.094.828

(num. índice) 100 101 104 108 111 112 116 117 118 120 123 127

Empregados Assalariados

42.648.218 43.214.537 44.755.784 46.923.664 48.509.254 49.535.429 52.119.785 52.429.909 54.042.037 55.862.794 57.286.460 58.715.792

(% do total) 55,13% 55,08% 55,63% 56,33% 56,61% 57,32% 58,28% 57,90% 59,39% 59,94% 60,17% 59,86%

(num. índice) 100 101 105 110 114 116 122 123 127 131 134 138

Trab. domésticos 7.624.579 7.546.078 7.754.562 7.996.330 8.115.786 7.818.649 7.782.905 8.285.524 7.408.589 7.237.989 7.198.203 7.225.423

(% do total) 9,86% 9,62% 9,64% 9,60% 9,47% 9,05% 8,70% 9,15% 8,14% 7,77% 7,56% 7,37%

(num. índice) 100 99 102 105 106 103 102 109 97 95 94 95

Conta própria 18.420.643 18.810.828 18.797.317 19.089.402 19.124.736 19.361.558 18.902.494 19.131.774 19.559.653 19.446.373 19.851.172 21.124.141

(% do total) 23,81% 23,98% 23,36% 22,92% 22,32% 22,41% 21,14% 21,13% 21,49% 20,87% 20,85% 21,53%

(num. índice) 100 102 102 104 104 105 103 104 106 106 108 115

Func. Púb./Militar 5.147.900 5.391.082 5.582.495 5.529.248 5.872.138 6.174.395 6.394.285 6.645.262 6.710.684 7.000.949 7.169.741 7.198.043

(% do total) 6,65% 6,87% 6,94% 6,64% 6,85% 7,15% 7,15% 7,34% 7,37% 7,51% 7,53% 7,34%

(num. índice) 100 105 108 107 114 120 124 129 130 136 139 140

Empregadores 3.383.662 3.390.225 3.465.431 3.637.841 3.933.057 3.368.798 4.113.801 3.960.351 3.174.532 3.567.218 3.610.305 3.715.494

(% do total) 4,37% 4,32% 4,31% 4,37% 4,59% 3,90% 4,60% 4,37% 3,49% 3,83% 3,79% 3,79%

(num. índice) 100 100 102 108 116 100 122 117 94 105 107 110

Não remunerados 133.098 102.434 96.941 122.955 141.173 154.969 117.964 96.875 103.026 80.513 95.195 115.935

(% do total) 0,17% 0,13% 0,12% 0,15% 0,16% 0,18% 0,13% 0,11% 0,11% 0,09% 0,10% 0,12%

(num. índice) 100 77 73 92 106 116 89 73 77 60 72 87

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Nota: 1 – Pessoas ocupadas na semana de referência, exclusive trabalhadores na produção para o próprio consumo e trabalhadores na construção para o próprio uso. 2 – Exclusive o Norte rural.

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iii

Tabela A.2 - Pessoas ocupadas por posição na ocupação, segundo contribuição para o instituto de previdência. Brasil: 2002 a 2014

(em mil pessoas)

Posição na Ocupação ANO

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Total 77.358.100 78.455.184 80.452.530 83.299.440 85.696.144 86.413.798 89.431.234 90.549.695 90.998.521 93.195.836 95.211.076 98.094.828

Empregados Assalariados 42.648.218 43.214.537 44.755.784 46.923.664 48.509.254 49.535.429 52.119.785 52.429.909 54.042.037 55.862.794 57.286.460 58.715.792

Com carteira 25.771.015 26.600.691 27.617.119 29.277.851 30.751.016 32.146.085 34.536.741 35.331.789 38.827.200 40.293.497 41.766.954 42.729.486

Sem carteira 16.877.203 16.613.846 17.138.665 17.645.813 17.758.238 17.389.344 17.583.044 17.098.120 15.214.837 15.569.297 15.519.506 15.986.306

Func. Púb./Militar 5.147.900 5.391.082 5.582.495 5.529.248 5.872.138 6.174.395 6.394.285 6.645.262 6.710.684 7.000.949 7.169.741 7.198.043

Trabalhador Doméstico 7.624.579 7.546.078 7.754.562 7.996.330 8.115.786 7.818.649 7.782.905 8.285.524 7.408.589 7.237.989 7.198.203 7.225.423

Com carteira 1.795.314 1.852.051 1.837.708 1.913.855 1.994.179 1.987.764 1.959.090 2.137.466 2.144.874 2.017.387 2.242.581 2.169.526

Sem carteira 5.829.265 5.694.027 5.916.854 6.082.475 6.121.607 5.830.885 5.823.815 6.148.058 5.263.715 5.220.602 4.955.622 5.055.897

Conta Própria 18.420.643 18.810.828 18.797.317 19.089.402 19.124.736 19.361.558 18.902.494 19.131.774 19.559.653 19.446.373 19.851.172 21.124.141

Com contribuição 2.527.467 2.757.842 2.762.773 2.865.237 3.023.251 3.268.648 3.010.475 3.333.566 4.477.522 4.730.395 5.112.622 5.861.110

Sem contribuição 15.893.176 16.052.986 16.034.544 16.224.165 16.101.485 16.092.910 15.892.019 15.798.208 15.082.131 14.715.978 14.738.550 15.263.031

Empregador 3.383.662 3.390.225 3.465.431 3.637.841 3.933.057 3.368.798 4.113.801 3.960.351 3.174.532 3.567.218 3.610.305 3.715.494

Com contribuição 1.858.386 1.955.989 1.980.498 2.092.999 2.311.141 1.964.625 2.289.377 2.322.063 2.098.552 2.351.607 2.504.751 2.644.705

Sem contribuição 1.525.276 1.434.236 1.484.933 1.544.842 1.621.916 1.404.173 1.824.424 1.638.288 1.075.980 1.215.611 1.105.554 1.070.789

Não Remunerado 133.098 102.434 96.941 122.955 141.173 154.969 117.964 96.875 103.026 80.513 95.195 115.935

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios Nota: 1 - Pessoas ocupadas no ano de referência, exclusive trabalhadores na produção para o próprio consumo e trabalhadores na construção para próprio uso. 2 – Exclusive o Norte rural.

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iv

Tabela A.3 - Pessoas ocupadas por grupo de atividade. Brasil: 2002 a 2014

(em mil pessoas)

Grupos de atividade Ano

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Total 74.212 80.775 79.278 81.544 82.930 90.855 93.420 93.784 94.763 96.100 96.659 99.448

Agrícola 16.460 16.748 18.030 18.100 17.526 16.842 16.405 16.035 14.888 13.987 13.982 14.466

Indústria 11.334 11.588 12.456 13.089 13.267 13.812 14.178 13.772 12.691 13.419 12.959 13.023

Indústria de transformação 10.760 10.936 11.770 12.405 12.524 13.070 13.439 12.980 11.960 12.689 12.223 12.230

Construção 5.670 5.259 5.392 5.665 5.852 6.105 6.972 6.962 7.919 8.361 8.871 9.103

Comércio e reparação 13.680 14.315 14.729 15.542 15.751 16.262 16.221 16.626 16.886 17.083 17.187 18.055

Alojamento e alimentação 2.961 2.916 3.043 3.198 3.395 3.341 3.621 3.657 4.631 4.587 4.474 4.643

Transporte, armaz. e comunicação 3.724 3.749 3.912 3.978 4.062 4.356 4.641 4.482 5.178 5.345 5.406 5.453

Administração pública 3.907 4.019 4.229 4.281 4.458 4.500 4.557 4.789 5.144 5.250 5.356 5.146

Educação, saúde e serviços sociais 7.129 7.222 7.453 7.688 8.026 8.362 8.613 8.775 8.737 9.234 9.917 10.205

Serviços domésticos 6.171 6.203 6.515 6.694 6.795 6.723 6.688 7.295 6.742 6.511 6.474 6.491

Outros serviços colet., sociais e pess. 3.176 3.004 3.519 3.311 3.799 3.697 4.117 3.964 3.585 3.815 3.785 4.192

Outras atividades - 5.754 - - - 6.853 7.407 7.428 8.363 8.508 8.248 8.670 Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Nota: 1 - Pessoas Ocupadas na semana de referência 2 - Na categoria Outras Atividades foram incluídas as ocorrências relativas às Atividades Mal Definidas ou não declaradas. 3 – Em 2002, exclusive a população da área rural da região Norte.

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v

Tabela A.4 - Pessoas ocupadas sem contribuição para instituto de previdência por grupo de atividade. Brasil: 2002 a 2014

(em mil pessoas)

Grupos de atividade Ano

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Total 42.204 43.538 44.122 44.742 44.294 45.170 45.004 43.803 39.487 38.859 37.851 38.808

Agrícola 14.784 14.925 15.978 15.952 15.177 14.272 13.834 13.421 12.257 11.216 11.165 11.295

Indústria 4.203 4.198 4.261 4.727 4.610 4.521 4.418 4.200 3.131 3.217 3.101 3.170

Indústria de transformação 4.070 4.048 4.133 4.589 4.482 4.405 4.320 4.108 3.045 3.142 3.025 3.088

Construção 4.033 3.789 3.827 3.930 4.029 4.113 4.505 4.415 4.677 4.809 4.839 5.121

Comércio e reparação 7.375 7.535 7.764 7.871 7.753 7.833 7.551 7.364 6.408 6.423 6.161 6.304

Alojamento e alimentação 1.770 1.744 1.818 1.860 1.936 1.823 2.004 1.942 2.109 2.123 2.004 2.050

Transporte, armaz. e comunicação 1.566 1.530 1.572 1.533 1.543 1.605 1.617 1.521 1.502 1.556 1.499 1.466

Administração pública 632 621 657 661 677 639 463 485 450 604 608 573

Educação, saúde e serviços sociais 1.320 1.256 1.267 1.370 1.399 1.446 1.247 1.161 987 1.052 1.079 1.129

Serviços domésticos 4.443 4.386 4.691 4.770 4.779 4.685 4.669 5.014 4.303 4.067 3.855 3.837

Outros serviços colet., sociais e pess. 2.078 1.861 2.287 2.066 2.392 2.326 2.632 2.342 1.988 2.097 1.999 2.219

Outras atividades - 1.693 - - - 1.908 2.063 1.939 1.673 1.697 1.542 1.644

Nota: 1 – Pessoas Ocupados na semana de referência 2 - Na categoria Outras Atividades foram incluídas as ocorrências relativas às Atividades Mal Definidas ou não declaradas. 3 - Até 2003, exclusive a população da área rural da região Norte. Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

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vi

Tabela A.5 - Pessoas Ocupadas e sem contribuição para o instituto de previdência por grande região. Brasil: 2001 a 2014. (em mil pessoas)

Ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Brasil

Total 76.936 79.709 80.775 85.246 87.695 89.637 90.855 93.420 93.784 94.763 96.100 96.659 99.448

Sem proteção 41.764 43.715 43.359 45.695 46.277 46.076 44.944 44.781 43.595 39.312 38.673 37.655 38.614

Norte

Total 3.943 4.151 4.338 6.536 6.683 6.772 6.796 7.085 3.224 7.409 7.600 7.513 7.848

Sem proteção 2.466 2.628 2.699 4.528 4.485 4.470 4.366 4.360 1.983 4.432 4.387 4.200 4.396

Nordeste

Total 21.087 21.937 22.302 22.851 23.645 23.851 24.034 24.616 11.304 24.090 24.378 24.611 25.621

Sem proteção 15.224 16.017 16.107 16.401 16.852 16.564 16.305 16.260 7.225 14.286 14.206 14.054 14.515

Sudeste

Total 33.288 34.363 34.661 35.605 36.914 38.154 38.651 40.023 20.088 40.907 41.490 41.632 42.481

Sem proteção 14.426 15.103 14.820 14.867 15.242 15.358 14.880 14.861 7.270 12.860 12.638 12.279 12.607

Sul

Total 13.000 13.436 13.633 14.070 14.155 14.414 14.639 14.735 7.820 15.026 15.144 15.384 15.656

Sem proteção 6.521 6.768 6.636 6.608 6.520 6.459 6.121 5.994 3.063 4.940 4.749 4.466 4.321

Centro-Oeste

Total 5.619 5.822 5.841 6.185 6.299 6.447 6.734 6.961 3.514 7.330 7.488 7.519 7.841

Sem proteção 3.127 3.199 3.097 3.291 3.179 3.225 3.272 3.306 1.590 2.794 2.694 2.656 2.775 Nota: Até 2003, exclusive a população da área rural da região Norte. Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

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vii

Tabela A.6 - Pessoas Ocupadas e sem contribuição para o instituto de previdência por grupo de idade. Brasil: 2001 a 2014 (em mil pessoas)

Grupo de Idade Ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Ocupados

Total 76.936 79.709 80.775 85.246 87.695 89.637 90.855 93.420 93.784 94.763 96.100 96.659 99.448

10 a 14 anos 1.973 1.904 1.721 1.743 1.900 1.759 1.624 1.343 1.281 1.041 807 779 827

15 a 19 anos 6.921 6.879 6.646 7.063 6.994 6.864 6.784 6.636 6.265 5.907 6.092 5.710 5.862

15 a 17 anos 3.313 3.357 3.235 3.374 3.321 3.203 3.106 3.032 2.909 2.593 2.678 2.348 2.434

18 a 19 anos 3.608 3.522 3.411 3.690 3.672 3.661 3.679 3.605 3.356 3.314 3.414 3.362 3.428

20 a 24 anos 10.293 10.748 10.888 11.326 11.618 11.460 11.297 11.477 11.165 10.878 10.744 10.454 10.413

25 a 29 anos 9.918 10.248 10.498 11.110 11.646 11.879 12.098 12.502 12.546 12.437 12.253 11.751 11.895

30 a 39 anos 19.486 19.981 20.069 21.061 21.331 21.750 22.140 22.537 23.118 24.045 24.413 25.025 25.185

40 a 49 anos 15.217 16.047 16.427 17.613 17.979 18.598 19.246 19.923 20.091 20.465 21.006 21.081 21.615

50 a 59 anos 8.401 8.928 9.321 10.002 10.659 11.398 11.683 12.509 12.875 13.538 13.938 14.659 15.539

60 anos ou mais 4.720 4.962 5.188 5.323 5.528 5.929 5.983 6.493 6.442 6.454 6.847 7.201 8.111

Idade ignorada 8 12 17 4 42 - - - - - - - -

Grupo de Idade Ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Sem Proteção

Total 41.764 43.715 43.359 45.695 46.277 46.076 44.944 44.781 43.595 39.312 38.673 37.655 38.614

10 a 14 anos 1.964 1.892 1.713 1.739 1.896 1.755 1.613 1.335 1.276 1.033 799 769 818

15 a 19 anos 5.234 5.350 5.192 5.520 5.360 5.249 4.962 4.745 4.458 3.727 3.813 3.443 3.577

15 a 17 anos 2.890 2.979 2.847 2.988 2.918 2.822 2.676 2.640 2.532 2.074 2.090 1.813 1.885

18 a 19 anos 2.344 2.371 2.345 2.531 2.442 2.427 2.286 2.106 1.927 1.652 1.723 1.630 1.691

20 a 24 anos 5.313 5.701 5.553 5.806 5.783 5.670 5.269 5.101 4.727 3.950 3.982 3.650 3.687

25 a 29 anos 4.661 4.794 4.825 5.103 5.169 5.031 4.911 4.843 4.600 4.071 3.942 3.646 3.667

30 a 39 anos 8.965 9.267 9.216 9.615 9.577 9.582 9.443 9.167 9.241 8.451 8.111 8.057 8.105

40 a 49 anos 7.128 7.594 7.646 8.186 8.354 8.269 8.387 8.533 8.354 7.748 7.598 7.414 7.450

50 a 59 anos 4.777 5.124 5.139 5.511 5.781 5.887 5.823 6.145 6.088 5.892 5.758 5.914 5.999

60 anos ou mais 3.719 3.986 4.067 4.216 4.335 4.634 4.534 4.911 4.850 4.440 4.671 4.762 5.310

Idade ignorada 4 7 8 - 22 - - - - - - - -

Nota: Até 2003, exclusive a população da área rural da região Norte. Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

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viii

Tabela A.7 – População em Idade Ativa e População Economicamente Ativa por grupos de idade. Brasil, 2001 a 2014

Ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

PIA 140.422 143.134 145.761 150.858 153.733 156.758 159.411 162.266 164.640 169.211 171.036 173.133 175.234

10 a 14 anos 16.996 16.902 16.609 17.193 17.339 17.802 17.882 17.758 17.628 17.411 16.949 16.536 15.991

15 a 19 anos 17.771 17.509 17.592 17.912 17.868 17.506 17.257 17.153 17.117 17.267 17.326 17.517 17.496

20 a 24 anos 16.151 16.624 16.932 17.186 17.439 17.328 16.903 16.726 16.671 16.234 16.051 15.830 15.733

25 a 49 anos 60.224 61.485 62.670 65.108 66.242 67.576 69.312 70.448 71.613 73.593 74.065 74.609 75.079

50 a 59 anos 13.642 14.269 14.880 15.666 16.487 17.427 18.111 18.920 19.629 20.850 21.426 22.360 23.054

60 anos ou + 15.626 16.330 17.048 17.783 18.297 19.120 19.946 21.261 21.982 23.857 25.218 26.279 27.882

PEA 84.886 87.750 89.485 93.564 96.682 97.860 98.899 100.586 102.281 101.586 102.463 103.401 106.824

10 a 14 anos 2.184 2.140 1.909 1.926 2.104 1.946 1.830 1.499 1.453 1.145 927 884 950

15 a 19 anos 8.842 8.834 8.650 9.082 9.280 8.837 8.628 8.285 8.120 7.410 7.572 7.157 7.609

20 a 24 anos 12.129 12.670 13.008 13.354 13.789 13.432 13.091 13.142 13.080 12.418 12.137 11.868 11.994

25 a 49 anos 48.085 49.686 50.803 53.363 54.705 55.783 57.150 58.177 59.695 60.134 60.581 61.107 62.042

50 a 59 anos 8.793 9.312 9.764 10.395 11.088 11.803 12.095 12.874 13.362 13.919 14.277 15.046 15.983

60 anos ou + 4.846 5.095 5.332 5.439 5.671 6.058 6.105 6.610 6.572 6.560 6.969 7.338 8.248 Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Nota: 1 - A categoria Total inclui as pessoas sem declaração de condição de atividade ou com idade ignorada 2 - Até 2003, exclusive a população da área rural da região Norte.

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ix

Tabela A.8 – Empregos formais e remuneração média das 50 principais famílias ocupacionais com maiores saldos. Brasil, 2003 e 2014 (em mil pessoas)

Empregados em 31/dez Variação Remuneração Média do Ano (Em R$ de

2014) 2003 2014 Saldo Em % Distribuição

Total 29.544.927 49.571.510 20.026.583 68% 100,0% R$ 2.286,96

50 Famílias Ocupacionais com maiores saldos 17.923.055 32.073.310 14.150.255 79% 70,7% R$ 1.891,51

10 Famílias Ocupacionais com maiores saldos 9.591.053 16.952.170 7.361.117 77% 36,8% R$ 1.519,16

Escriturários, agentes, assist e aux administrativos 3.062.078 4.698.168 1.636.090 53% 8,2% R$ 2.023,91

Vendedores e demonstradores em lojas ou mercados 1.870.017 3.494.954 1.624.937 87% 8,1% R$ 1.315,94

Trab nos serv de manutenção de edificações/lograd* 1.864.908 2.609.102 744.194 40% 3,7% R$ 1.066,83

Motoristas de veículos de cargas em geral 441.804 997.951 556.147 126% 2,8% R$ 1.886,80

Caixas e bilheteiros (exceto caixa de banco) 388.037 937.518 549.481 142% 2,7% R$ 1.177,86

Cozinheiros e aux nos serviços de alimentação* 334.294 881.789 547.495 164% 2,7% R$ 1.121,93

Alimentadores de linhas de produção 495.594 951.338 455.744 92% 2,3% R$ 1.274,70

Ajudantes de obras civis 451.171 891.635 440.464 98% 2,2% R$ 1.103,42

Almoxarifes e armazenistas 241.113 649.873 408.760 170% 2,0% R$ 1.465,86

Vigilantes e guardas de segurança 442.037 839.842 397.805 90% 2,0% R$ 2.067,18

Técnicos e auxiliares de enfermagem 482.485 868.282 385.797 80% 1,9% R$ 1.891,65

Trab no atendimento em serv de aliment/beb/hotel 487.645 841.387 353.742 73% 1,8% R$ 1.042,92

Operadores de telemarketing 125.154 478.443 353.289 282% 1,8% R$ 1.022,98

Recepcionistas 395.666 707.996 312.330 79% 1,6% R$ 1.129,75

Trabalhadores de estruturas de alvenaria 225.063 531.758 306.695 136% 1,5% R$ 1.476,88

Porteiros, guardas e vigias 642.234 938.495 296.261 46% 1,5% R$ 1.357,01

Motoristas de veículos de pequeno e médio porte 311.187 555.580 244.393 79% 1,2% R$ 1.700,47

Gerentes de marketing, comercialização e vendas 133.544 370.850 237.306 178% 1,2% R$ 5.410,60

Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias 344.457 579.510 235.053 68% 1,2% R$ 1.270,51

Gerentes administrativos, financeiros e de riscos 164.740 391.905 227.165 138% 1,1% R$ 4.660,38

Profess. de nível superior do ensino fund (1a a 4a séries) 633.421 845.332 211.911 33% 1,1% R$ 2.996,73

Magarefes e afins 194.278 394.679 200.401 103% 1,0% R$ 1.332,02

(Continuação)

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x

Analistas de sistemas computacionais 89.877 284.311 194.434 216% 1,0% R$ 5.447,90

Enfermeiros 84.159 262.792 178.633 212% 0,9% R$ 4.060,72

Agentes comunitários de saúde e afins 161.890 337.867 175.977 109% 0,9% R$ 1.416,92

Professores de nível médio na educação infantil 131.058 305.911 174.853 133% 0,9% R$ 2.086,74

Trabalhadores nos serviços de administração de edifícios 194.973 358.528 163.555 84% 0,8% R$ 1.201,39

Superv serv admin (exceto contab/finanças/controle) 291.131 452.845 161.714 56% 0,8% R$ 3.257,15

Administradores de empresas 61.836 204.871 143.035 231% 0,7% R$ 6.257,42

Escriturários de contabilidade 119.475 260.119 140.644 118% 0,7% R$ 1.833,17

Motoristas de ônibus urbanos, metropolit e rodoviários 241.227 379.224 137.997 57% 0,7% R$ 2.105,66

Especialistas em promoção de produtos e vendas 192.103 326.829 134.726 70% 0,7% R$ 2.691,82

Escriturários de apoio à produção 102.893 237.120 134.227 130% 0,7% R$ 1.702,29

Professores do ensino médio 331.829 446.418 114.589 35% 0,6% R$ 3.007,46

Trabalhadores da mecanização agropecuária 87.570 200.645 113.075 129% 0,6% R$ 1.742,19

Trabalhadores de soldagem e corte de metais/compósitos 106.569 217.848 111.279 104% 0,6% R$ 2.241,22

Mecânicos de manutenção de veículos automotores 134.764 241.395 106.631 79% 0,5% R$ 1.801,98

Técnicos de planejamento e controle de produção 50.017 155.232 105.215 210% 0,5% R$ 2.989,04

Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem 165.130 269.433 104.303 63% 0,5% R$ 1.080,96

Trabalhadores de montagem de estruturas em obras civis 84.800 189.102 104.302 123% 0,5% R$ 1.684,00

Escriturários de serviços bancários 279.878 382.704 102.826 37% 0,5% R$ 4.957,88

Programadores, avaliadores e orientadores de ensino 80.229 179.583 99.354 124% 0,5% R$ 3.118,63

Professores de nível médio no ensino fundamental 665.495 764.154 98.659 15% 0,5% R$ 2.589,08

Contadores e auditores 60.562 156.850 96.288 159% 0,5% R$ 5.732,21

Inspetores de alunos e afins 70.718 163.694 92.976 131% 0,5% R$ 1.478,55

Trab na operação de maquinas de terraplen/fundações 72.455 161.619 89.164 123% 0,4% R$ 2.137,06

Professores de nível superior na educação infantil 43.598 132.453 88.855 204% 0,4% R$ 2.395,72

Operadores de equip de movimentação de cargas 58.843 146.189 87.346 148% 0,4% R$ 1.875,00

Técnicos de controle da produção 104.156 189.763 85.607 82% 0,4% R$ 2.767,17

Padeiros, confeiteiros e afins 124.893 209.424 84.531 68% 0,4% R$ 1.265,80

Fonte: MTE/RAIS Nota: (*) Para que fosse possível a compatibilização entre os anos de 2002 e 2014, nestes casos foram somadas as famílias ocupacionais afins.