maracatus nação pernambucanos em tempos de globalização: ressignificações na dimensão...

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Artigo Apresentado no XXVIII Congresso da Associação Latinoamericana de SociologiaAutores: Anna Beatriz Zanine Koslinski e Jamesson Florentino

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    XXVIII CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALAS

    6 a 11 de setembro de 2011, UFPE, Recife-PE

    GT 21 - Sociologia da Religio

    Maracatus Nao Pernambucanos em Tempos de Globalizao: Ressignificaes

    na Dimenso Religiosa

    Anna Beatriz Zanine Koslinski UFPE

    Jamesson Florentino dos Santos UFPE

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    H quase uma dcada, desde a implementao do modelo do Carnaval

    Multicultural da Cidade do Recife, observa-se que os maracatus-nao

    pernambucanos, esto no centro das atenes no perodo momesco. Se e meados

    do sculo XX, folcloristas se mostravam preocupados com o futuro dos maracatus,

    por acreditarem que eles estariam fadados a desaparecer, hoje percebe-se a

    existncia de mais de 21 naes de maracatu no Recife e cidades arredores como

    Olinda, Jaboato dos Guararapes e Igarassu. Existem diversos fatores que podem

    explicar o crescimento e valorizao dos maracatus nao, e no se pode negar

    que, os maracatus, se inserem num cenrio de valorizao das culturas populares e

    do extico, a nvel mundial, cenrio esse favorecido, dentre outras coisas, pelo

    fenmeno da globalizao. Tal fenmeno, trouxe consigo a articulao de uma srie

    de valores, estes com alcance global.

    O presente artigo pretende compreender de que forma os maracatus nao

    articulam com os valores impostos pelo mundo globalizado. A globalizao alterou

    em muito a forma como a sociedade mais ampla se organiza e define, portanto, os

    maracatus tambm esto expostos a esses novos valores e estilos de vida. Deste

    modo ser discutido como a globalizao compreendida por alguns intelectuais e

    adiante quais mudanas ocorridas nos maracatus nao podem ter sido favorecidas

    por tal fenmeno, tendo como enfoque, as mudanas no aspecto religioso da

    manifestao. A escolha em estudar as mudanas na dimenso religiosa se deu por

    conta dos indcios de que, cada vez mais, os maracatus nao, tentam evidenciar

    sua ligao com as religies afro-indo-brasileiras1, no intuito de reforarem suas

    identidades.

    O maracatu nao pernambucano uma manifestao cultural caracterizada

    por um cortejo real composto por rei, rainha, prncipes, princesas, figuras da

    nobreza, vassalos, baianas, dentre outras personagens, acompanhado por uma

    1 Ao longo desse artigo utilizo o termo religies-afro-indo-brasileiras adotado pelo antroplogo

    Roberto Motta, para me referir as religies de culto aos orixs e s entidades da jurema, por

    considerar ser o termo menos excludente, pois aborda as contribuies de origem africana, amerndia

    e brasileira presentes nessas religies.

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    orquestra percussiva, sendo assim composta por instrumentos como alfaias, caixas

    e taris, gongu, mineiro ou ganz e por vezes, agbs e atabaques. As naes de

    maracatu so localizadas em comunidades afro-descendentes de periferia da cidade

    do Recife e arredores, possuindo como lideranas na maioria dos casos pessoas de

    uma mesma famlia, e contando com a participao das pessoas residentes da

    comunidade dentro do batuque e da corte. A dimenso religiosa dos maracatus se

    d atravs dos vnculos que essas naes tm com os terreiros do xang (nome da

    religio de culto aos orixs em Pernambuco) ou jurema (religio que cultua mestres,

    caboclos, exus e pombagiras) (MOTTA, 1997), onde prestam algumas obrigaes.

    Tal dimenso ser aprofundada nesse artigo mais adiante.

    Os maracatus se apresentam no formato de desfiles com sua corte e batuque,

    ou mesmo em apresentaes de palco, essas em sua maioria contando somente

    com o batuque e apenas poucas figuras da corte. As apresentaes podem ocorrer

    ao longo do ano, mas o perodo onde os maracatus tm maior visibilidade sem

    dvida o carnaval. Como mencionei anteriormente, desde a implementao do

    modelo de Carnaval Multicultural na cidade do Recife em 2002, os maracatus nao

    so os protagonistas da abertura do carnaval, da Noite dos Tambores Silenciosos

    (evento que ao longo dos anos adquiriu feies religiosas) (LIMA e GUILLEN, 2007),

    alm de participarem do Concurso de Agremiaes Carnavalescas, organizado pela

    prefeitura e demais apresentaes nos plos descentralizados da cidade. Muitos

    anos se passaram para que os maracatus nao angariassem tamanha visibilidade

    e muitos so os fatores que contriburam para esse contexto. Explorar todos esses

    fatores no o objetivo deste artigo, mas acredito que, pensar o fenmeno da

    globalizao como algo subjacente a esse processo, pode apontar caminhos

    interessantes.

    Mas em que consiste a globalizao? Thomas Eriksen a define sumariamente

    como qualquer processo que torne irrelevante a distncia geogrfica entre os

    locais (ERIKSEN, 2005). Realmente com o advento da internet e de outras novas

    tecnologias, distancias que levavam dias para serem percorridas hoje levam

    segundos. Nesse sentido a globalizao no diminuiu somente as distncias

    geogrficas, mas encurtou tambm as distancias temporais. Entender quando esse

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    processo comeou no algo simples, muitos tericos possuem divergncias

    quanto ao seu incio. James Clifford, em seu livro Writing Culture argumenta que a

    partir da dcada de 60, com o fim do neocolonialismo muitas mudanas ocorreram

    no mundo. O ocidente desde o colonialismo do sculo XVI at o sculo XX havia

    tentado impor seus valores sob todas as culturas que encontrava, e, com o advento

    do capitalismo esse processo haveria se acelerado mais ainda. J Stuart Hall

    localiza o incio da globalizao em si na dcada de 70, para ele foi nesse perodo

    que surgiram esses

    processos atuantes em escala global, processos que atravessam fronteiras nacionais e que integram

    comunidades e organizaes em novas combinaes de espao e tempo, tornando o mundo mais

    interconectado (HALL, 2006).

    Hoje observa-se que existem pouqussimas culturas que estejam realmente

    isoladas; deste modo seria previsvel que ocorresse uma homogeneizao das

    culturas a nvel global, visto que os valores ocidentais so impostos de maneira

    constante atravs da mdia e das relaes econmicas, mas, do contrrio, o que

    ocorre a permanncia da heterogeneidade, ou seja, a diversidade cultural persiste.

    Compreender o porqu desta situao no algo simples.

    Primeiramente, preciso perceber que a globalizao atua em todo o planeta

    de forma desigual. Ela impe uma srie de valores e estilos de vida a nvel global,

    mas no d o acesso a isso para todos. A compresso de espao e tempo desse

    fenmeno acaba gerando uma estratificao da sociedade. Para as elites, a

    distncia no significa mais nada visto que ela pode ser facilmente vencida devido

    aos avanos tecnolgicos, deste modo quem est no poder tem grande mobilidade,

    no estando preso no espao. Isto faz com que essas pessoas tenham liberdade

    face ao dever de contribuir para a vida cotidiana e perpetuao da comunidade, eles

    esto livres das consequncias (BAUMAN, 1999); a mobilidade os torna

    inalcanveis por aqueles que esto imobilizados. Neste caso, a desterritorializao

    do poder anda de mos dadas com a estruturao cada vez mais estrita do territrio.

    Surgem ento espaos proibidos que transformam a extraterritorialidade da nova

    elite supra local, no isolamento corpreo e material em relao localidade. Sendo

    assim, a elite escolhe seu isolamento e paga por ele enquanto que a populao com

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    menos recursos, isolada de certos espaos; consequentemente essa parcela da

    populao instala em seus guetos seu prprio aviso de no ultrapasse (BAUMAN,

    1999).

    A globalizao torna-se excludente tambm por meio da lgica consumista

    que permeia a sociedade. Com a desterritorializao do poder, ocorre que o Estado

    j no tem a mesma fora que tinha antes; a globalizao trouxe consigo uma

    poltica neoliberalista, onde cada vez mais o mercado financeiro global impe a

    ordem na economia dos Estados. Deste modo, a economia fica livre do controle

    poltico podendo regular os preos dos produtos unicamente pela lei da oferta e da

    demanda. Portanto, para que os lucros sejam significativos, existe o estmulo para a

    produo e consumo de todos estes produtos.

    O consumo, no entanto, precisa ser incessante, logo no se espera que o

    consumidor se d por satisfeito apenas com o produto que acaba de adquirir, o ideal

    que ele consuma cada vez mais. Para isso existem diversos mecanismos, como a

    mdia, por exemplo, que induzem as pessoas a desejarem obter cada vez mais bens

    de consumo, mas assim que conseguirem o objeto de desejo, ele automaticamente

    perde a graa fazendo com que o comprador busque outro objeto. Por este vis,

    observa-se que o desejo de consumir atinge todas as classes, mas as condies

    para obter os produtos no. Mais uma vez observamos que a globalizao um

    fenmeno altamente excludente e exatamente isso que explica a diversidade

    cultural. Num mundo que lhes hostil compreensvel que as minorias tentem se

    afirmar pelo que so e questionar s imposies externas ao invs de aceit-las

    passivamente. Lembro que no confronto, que as diferenas e necessidade de

    afirmao, enfim, as identidades, vem tona. Porm na sociedade globalizada, no

    h como o local ignorar as presses globais, portanto, o que ocorre uma

    articulao entre o local e o global. Para Eriksen o surgimento daquilo que ele

    denomina focos de resistncia no seria uma reao globalizao, mas sim, um

    de seus efeitos, para ele a globalizao cria as condies para a localizao,

    fenmeno que Roland Robertson chamou de glocalizao (ERIKSEN, 2005).

    Juntamente com a globalizao, na dcada de 70, a indstria cultural tambm

    se fortalece. Como o prprio nome indica, a indstria cultural se caracteriza pela

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    transformao da cultura em produto, produto a ser propagado e consumido em

    larga escala, para assim gerar lucros significativos para a indstria. Para que este

    objetivo se concretize, existe uma srie de pesquisas de mercado e reformulaes

    no produto, para que ele se torne mais atrativo para os consumidores. A indstria

    cultural se caracteriza tambm, por inverter as prioridades de quem faz a cultura. Por

    exemplo, se antes, um arteso, confeccionava um artefato, tendo como prioridade

    uma esttica, um modo de fazer que fosse significativo para ele, para em seguida

    coloca-lo a venda, com o advento da indstria cultural, a tendncia priorizar a

    possibilidade de aceitao comercial do artefato; ou seja, antes de se pensar numa

    esttica ou modo de fazer, pensa-se como o artefato deve ser confeccionado para

    ser melhor aceito no mercado. O pblico consumidor vira o alvo da produo

    artstica.

    Em tempos de globalizao, o extico, tambm caiu no gosto da indstria

    cultural. Deste modo, obras das artes visuais, msicas, danas e demais artes

    cnicas e outras formas de expresso realizadas em comunidades consideradas

    diferentes, distantes, fora dos padres vigentes, tambm se tornam atrativos da

    indstria cultural e do turismo. Neste espao, se enquadram as manifestaes das

    diversas culturas populares. Formas de expresso que antes tinham um acesso

    mais restrito s comunidades que a vivenciavam, hoje esto disponveis a outras

    sociedades e classes, seja nas estantes das lojas mundo afora ou na forma de

    espetculos, a serem assistidos alm dos limites geogrficos existentes nas

    comunidades. A espetacularizao das culturas populares, gerou renda para as

    administraes pblicas e tambm para os empresrios das indstrias cultural e do

    turismo, porm, ela tambm trouxe uma srie de consequncias para seus

    praticantes e comunidades. Algumas dessas consequncias foram discutidas pelo

    antroplogo Jos Jorge de Carvalho, em artigo intitulado As Metamorfoses das

    Tradies Performticas Afro-Brasileiras: de patrimnio cultural indstria de

    entretenimento (2004). Dentre elas esto a alterao do tempo, espao e sentidos

    da manifestao cultural como tambm a apropriao da manifestao por outras

    classes.

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    Os maracatus nao pernambucanos podem ser enquadrados nesse

    contexto. Enquanto que at meados do sculo XX, sua performance ocorria no

    formato de longos cortejos, pelas ruas da cidade ou em suas comunidades, sem que

    houvesse uma determinao externa do tempo em que ela deveria durar, ou mesmo

    no formato do desfile oficial no carnaval (este sim, com tempo e espao pr-

    estabelecidos), hoje, os maracatus nao se apresentam em uma diversidade de

    eventos, sendo contratados pela iniciativa pblica ou privada. Em muitos casos eles

    se apresentam apenas com o batuque, sem trazer a corte real, que uma de suas

    caractersticas mais marcantes, para a performance. O tempo e espao para a

    performance geralmente delimitado pelo contratante.

    Alm das novas configuraes de tempo e espao, com a espetacularizao

    dos maracatus nao, observou-se o surgimento na cidade do Recife, arredores e

    tambm em outras cidades do Brasil e do mundo, de uma grande quantidade de

    grupos que executam principalmente a parte percussiva da manifestao, sendo a

    minoria os que possuem uma encenao de corte real ou um corpo de dana. Esses

    grupos, compostos por jovens das classes mdias provenientes de diferentes

    bairros, fazem uma espcie de releitura dos maracatus nao, sendo assim

    conhecidos como grupos percussivos ou maracatus parafolclricos. Os grupos

    percussivos so um exemplo de apropriao da cultura popular por outras classes.

    Diferentemente dos maracatus nao, esses grupos percussivos no possuem

    vnculos comunitrios ou mesmo vnculos com as religies afro-indo-brasileiras; isso

    implica diretamente nos sentidos que a prtica possui nesses diferentes contextos,

    pois os jovens esto interessados acima de tudo no entretenimento, j para os

    maracatuzeiros, a manifestao extrapola os limites da diverso, revelando um estilo

    de vida e relaes de vizinhana, atingindo tambm dimenses de ancestralidade,

    tradio e religiosidade (LIMA e GUILLEN, 2007).

    Apesar das diferenas entre esses grupos e os maracatus nao, possvel

    perceber que muitas pessoas, inclusive participantes desses grupos percussivos,

    no diferenciam sua prtica, daquela realizada pelos maracatus nao considerados

    autnticos, compreendendo os dois tipos de grupo como sendo a mesma coisa.

    Deste modo, esses grupos percussivos disputam com os maracatus nao espaos

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    no mercado cultural, tendo em vista que, tanto os possveis contratantes, como o

    prprio pblico, no visualizaro as diferenas entre estes grupos. No entanto, os

    grupos percussivos, por serem compostos por pessoas de classe mdia, que por

    sua vez possuem mais facilidade em dialogar com produtores culturais e demais

    lideranas do mercado, muitas vezes obtm vantagens em relao aos maracatus

    nao, compostos por pessoas que nem sempre dominam esses cdigos. Nesse

    contexto de disputas no mercado cultural, os maracatus nao cada vez mais

    tentam se afirmar pelo que so, reforando sua identidade atravs de suas

    particularidades e de ressignificaes simblicas num dilogo e negociao

    permanente com as demandas da sociedade mais ampla

    Acredito que a religiosidade dos maracatus nao, um desses marcos

    identitrios; em entrevistas realizadas com diversos maracatuzeiros de mais de 19

    naes2, observei que para a imensa maioria deles, o vnculo religioso era o divisor

    de guas entre os grupos percussivos e os maracatus nao. Paralelamente,

    observei indcios de que nos ltimos anos, a religiosidade nos maracatus nao tem

    se tornado mais expressiva. Isso pode estar ocorrendo por conta da necessidade de

    afirmao identitria desses grupos, como tambm pela crescente valorizao

    desses aspectos por parte dos produtores culturais e demais lideranas no mercado

    que buscam por esses traos nos maracatus tidos como autnticos. No entanto,

    compreender quais mudanas ocorreram no mbito religioso dos maracatus nao,

    ou mesmo traar como se dava essa relao no passado, no algo simples. A

    documentao acerca de como se organizavam ou se constituam os maracatus

    nao de antigamente muito escassa, porm existem alguns estudos que podem

    apontar um caminho. Quanto s mudanas mais recentes na religiosidade, o que

    pode-se afirmar que, devido grande quantidade de maracatus nao da

    atualidade, cerca de 23, e de suas particularidades na relao que possuem com as

    religies afro-indo-brasileiras, no possvel fazer afirmaes concretas sobre tal

    2 A maioria das entrevistas foi realizada entre os anos de 2010 e 2011, dentro dos projetos de

    pesquisa Inventrio Sonoro dos Maracatus Nao Pernambucanos e Histria e Memria dos

    Maracatus Nao Pernambucanos, financiados pelo FUNCULTURA e coordenados pelos

    historiadores Ivaldo Marciano de Frana Lima e Isabel Martins Guillen.

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    assunto. Porm, isso no impede que analisemos os indcios de mudanas nessas

    relaes.

    Antes de adentrarmos na religiosidade dos maracatus nao, precisamos

    compreender qual a definio que tomamos para religio. Apesar da grande

    bibliografia sobre o assunto no campo das Cincias Sociais, acreditamos que a

    definio de religio estabelecida por mile Durkheim em As Formas Elementares

    da Vida Religiosa, a mais pertinente para o estudo. Em sua obra o autor afirma

    que uma religio um sistema solidrio de crenas e de prticas relativas a coisas

    sagradas, isto , separadas, proibidas, crenas e prticas que renem numa mesma

    comunidade moral, chamada igreja, todos aqueles que a elas aderem.

    (DURKHEIM, 2003, p.32). Percebemos ento que, para Durkheim, a religio est

    intrinsecamente ligada ao sagrado. J o sagrado, se define por aquilo que

    protegido e isolado por toda espcie de proibio, proibio aplicada s coisas

    profanas, que devem se manter separadas das sagradas. Concluindo, Durkheim

    observa a ligao intrnseca da religio com a dimenso do sagrado, porm no

    nega a existncia do sagrado em outros mbitos que no os das religies. Acredito

    ser esse o caso dos maracatus nao, pois o mesmo possui uma relao constante

    com o sagrado, mas no considerado pela maioria de seus participantes como

    sendo uma religio.

    Como j afirmarei anteriormente, a documentao acerca de como se

    organizavam os maracatus nao do passado muito escassa, no permitindo

    assim que se faam afirmaes concretas a respeito da dimenso sagrada desses

    maracatus de antigamente. Ainda assim, a relao dos maracatus com as religies

    afro-indo-brasileiras por muitas vezes naturalizada, no s pelos maracatuzeiros

    como por folcloristas e pessoas de um modo geral, que tm algum interesse no

    assunto, como se existisse desde sempre. Ao naturalizarmos a relao dos

    maracatus com as religies afro-indo-brasileiras,

    estamos apontando numa perspectiva de naturalizao da histria e esquecendo que a vida e o

    cotidiano so parte de um incessante processo de inveno e reinveno, no qual os significados

    surgem como o resultado da intermediao entre os homens e as suas construes culturais (LIMA,

    2005).

  • 10

    A partir disso, pode-se passar a analise dos fatos ao longo da histria dos

    maracatus que possam ter contribudo para tal relao.

    Um dos fatos mais marcantes nesse mbito foi a perseguio que os terreiros

    em Pernambuco sofreram na dcada de 30 (LIMA, 2005). Na poca, houve

    restries em relao a algumas prticas das religies afro-indo-brasileiras, fazendo

    com que muitos terreiros fossem fechados pelas autoridades locais, que tambm

    confiscavam seus artefatos. Deste modo, existem relatos afirmando que durante os

    ensaios dos maracatus, os babalorixs e ialorixs3 aproveitavam a situao para

    cultuar os orixs e entidades s escondidas. A perseguio pode ter contribudo

    tambm para a idia, muitas vezes divulgada por alguns intelectuais como Guerra-

    Peixe (1980) e Katarina Real (1990), de que os maracatus nao, por se tratarem,

    na viso deles, de uma reminiscncia africana eram ligados apenas ao xang e no

    a jurema. Na primeira parte da dcada de 30 os cultos dedicados aos orixs eram

    mais tolerados por serem considerados puros enquanto que a jurema era vista como

    baixo espiritismo e charlatanismo, logo, reprimida. Sabe-se que, nem os xangs,

    nem os maracatus-nao se tratam de sobrevivncias legitimamente africanas. A

    frica jamais foi um continente homogneo (APPIAH, 1997) e as etnias trazidas para

    o Brasil com o trfico de escravos possuam suas particularidades que foram

    ressignificadas em terras brasileiras no contato com as demais etnias africanas e

    com a cultura lusa e indgena. Ainda assim, a idia de pureza africana ainda persiste

    em muitos terreiros de xang (MOTTA, 2003), naes de maracatu e tambm no

    discurso de algumas autoridades e intelectuais. No entanto, a relao com a jurema

    tambm est presente em alguns maracatus-nao.

    Guerra-Peixe (1980) foi um dos primeiros intelectuais a descrever com mais

    detalhes a dimenso religiosa dos maracatus, na poca da publicao de seu livro,

    ou seja, em 1955. preciso salientar, no entanto, que a descrio realizada foi

    baseada na observao do Maracatu Nao Elefante pertencente legendria

    rainha D. Santa, portanto no possvel se afirmar com preciso que outras naes

    de maracatu seguiam o mesmo modelo observado por Guerra-Peixe.

    3 Nomes pelos quais os pais e mes de santo so conhecidos.

  • 11

    A primeira referncia que o maestro faz religiosidade aparece quando ele

    descreve algumas personagens da agremiao, mais especificamente ao descrever

    a dama do pao, passista que leva consigo a calunga. Ele explica que na referida

    nao, as calungas representavam as figuras dos antepassados ou ancestrais

    africanos (GUERRA-PEIXE, 1980, p.38) e que a elas eram consagrados cnticos

    especiais. Esses cnticos eram seguidos do toque chamado de Luanda que, de

    acordo com os entrevistados era um toque para saudar os mortos (eguns). Esse

    toque era propcio para a ocorrncia das possesses dentro do maracatu, deste

    modo percebe-se que, assim como no xang, o batuque executado nas alfaias

    tambm poderia evocar entidades.

    O maestro descreve tambm, uma dana especial executada com a calunga,

    na qual ela era entregue pelas mos da dama do pao rainha que, por sua vez,

    entregava s baianas que passavam a boneca de mo em mo at devolv-la

    dama do pao. Esse ritual era executado na sede do maracatu antes dele sair em

    cortejo nas ruas durante o carnaval. No cortejo carnavalesco, era comum o

    Maracatu Elefante visitar um ou mais terreiros e tambm a Igreja da Nossa Senhora

    do Rosrio dos Homens Pretos, onde eram realizadas as coroaes dos reis negros

    na poca da escravido. Alm desses locais sagrados, o maracatu passava tambm

    em frente s sedes de autoridades locais como a Comisso Carnavalesca

    Pernambucana, desfilava nas ruas centrais da cidade onde se encontravam muitos

    folies, para depois retornar sede da agremiao e continuar a festa por l. Ao fim

    dos trabalhos a boneca era assentada num pegi dentro do terreiro de D. Santa. Isso

    mais um indcio que mostra a sacralidade da boneca visto que o pegi o local

    onde os orixs tm seus assentamentos.

    Guerra-Peixe descreve ainda certo toque que era realizado para Exu antes do

    maracatu sair rua. Nas cerimnias realizadas nos terreiros o primeiro toque a ser

    executado sempre para Exu, orix mensageiro que abre os caminhos, o toque

    para ele realizado no intuito de que tudo ocorra bem ao longo da cerimnia. No

    Maracatu Elefante a lgica era a mesma, o toque era realizado para que tudo

    ocorresse bem no cortejo. O maestro afirma ainda que o toque poderia ser realizado

  • 12

    no meio do cortejo quando surgia alguma ameaa de briga ou desordem com

    pessoas de fora ou outros grupos (GUERRA-PEIXE, 1980 p. 52).

    O autor menciona por ltimo o carter sagrado de um dos tambores do

    maracatu Elefante, o zabumba marcante. Ele salienta que o zabumba marcante era

    o tambor mais importante do baque, servindo de referncia para os outros

    instrumentos, e que, para toc-lo no bastava ser um percussionista habilidoso, mas

    tambm preencher requisitos morais a altura da responsabilidade. O zabumba

    marcante era o nico tambor a passar por um ritual de sagrao religiosa dentro de

    um terreiro e a possuir algumas interdies rituais.

    Infelizmente, o maestro Guerra-Peixe no se aprofundou na descrio que fez

    da dimenso religiosa do maracatu Elefante. Ele no descreveu, por exemplo, qual

    era a funo da dana especial da calunga antes da sada para o carnaval, se a

    mesma recebia algum tipo de oferecimento j que possua assentamento e como

    era feito o ritual de sacralizao do zabumba mestre. Ainda assim a obra do maestro

    prestou um grande auxlio para os estudiosos do maracatu, pois mostra indcios de

    que em meados do sculo XX j existia uma dimenso religiosa na manifestao.

    Hoje, como foi frisado, a dimenso religiosa algo marcante nos maracatus

    nao, porm, a diversidade na maneira pela qual eles se articulam com a

    religiosidade grande. Deste modo, considero pertinente fazer uma explanao

    sobre a dimenso religiosa dos maracatus na atualidade.

    Em trabalho de campo realizado em 21 naes de maracatu4 ao longo de 2009

    e 2010 percebi que, em pelo menos 50% delas, a sede fica localizada num terreiro

    de xang e jurema, sendo que em alguns casos a rainha do maracatu tambm a

    ialorix da casa. No resto das naes, por mais que a sede no se situe num

    terreiro, a nao vinculada a algum que faz as obrigaes religiosas. Esse o

    caso da nao Estrela Brilhante do Recife na qual a Rainha Marivalda Maria dos

    4 As naes visitadas foram: Encanto da Alegria, Porto Rico, Razes de Pai Ado, Aurora Africana,

    Leo da Campina, Encanto do Pina, Linda Flor, Leo Coroado, Gato Preto, Almirante do Forte,

    Cambinda Estrela, Ax da Lua, Estrela Brilhante do Recife, Estrela Brilhante de Igarassu, Sol

    Nascente, Oxum Mirim, Estrela Dalva, Encanto do Dend, Leo de Jud, Nao de Luanda e

    Tupinamb.

  • 13

    Santos equde do Il As Omyn Ogunt, pertencente ao Babalorix Jorge de

    Ogunt. No caso das rainhas, como j observamos, algumas so ialorixs, outras

    tm outros cargos dentro dos xangs e algumas no possuem um vnculo to direto

    com a religio, sendo frequentadoras de terreiros, mas sem ter passado por

    qualquer tipo de iniciao, como o caso da rainha Amara da Silva, da Nao

    Cambinda Estrela. O caso da nao Estrela Brilhante de Igarassu tambm

    interessante; o mestre da referida nao, Gilmar Santana, afirma que sua famlia

    no possui vnculo religioso com nenhum terreiro, mas que, antes do carnaval

    contrata um para que realize a obrigao para as bonecas5.

    A religiosidade dos maracatuzeiros das naes tambm diversa. No caso

    onde a sede do maracatu se situa no terreiro comum que os batuqueiros sejam

    tambm ogs deste mesmo terreiro; ou seja, os maracatuzeiros acabam criando um

    vnculo no s pela participao na manifestao como tambm no terreiro. J nos

    casos onde o terreiro que realiza as obrigaes independente do maracatu,

    observa-se que os maracatuzeiros que seguem as religies afro-indo-brasileiras

    pertencem a terreiros diversos, a exemplo da nao Cambinda Estrela. Essas

    pequenas diferenas tm influncia direta na rede de sociabilidade dos grupos.

    As obrigaes religiosas dos maracatus so realizadas em sua maioria, alguns

    dias antes do carnaval, quando ocorrem oferecimentos s bonecas (calungas), a

    alguns orixs, aos eguns e na maioria dos casos aos tambores tambm. A ligao

    dos maracatus com os xangs explcita nesse momento visto que as bonecas

    pertencem a algum orix, geralmente Oy e Oxum, e recebem sacrifcios de animais

    como galinhas ou bodes. No entanto o orix ao qual a boneca pertence pode variar,

    assim como o tipo de oferecimento; algumas naes no oferecem animais de

    quatro patas, e outras nem animais oferecem preferindo entregar frutas e doces s

    divindades. preciso lembrar que, em troca das oferendas, as calungas fornecem

    proteo ao maracatu no perodo do carnaval.

    5 Informao concedida por Gilmar Santana quando ministrava oficina em Florianpolis em junho de

    2008 (comunicao oral).

  • 14

    Quando h a sacralizao dos tambores esses recebem o sangue dos

    animais oferecidos s bonecas, no entanto em algumas naes os tambores no

    recebem esse ax, ou seja, no so entendidos como coisas sagradas. Em

    algumas ocasies os tambores so objetos de interdies; por vezes os tambores

    que recebem o sangue, ou que comem, no podem ser encostados por mais

    ningum at o fim do carnaval alm de seu dono, pois, como objeto sacralizado, ele

    protegido e isolado pelas proibies (DURKHEIM, 2003), no podendo ser tocado

    por ningum que esteja de corpo sujo, ou seja, ningum que tenha bebido lcool

    ou tido relaes sexuais recentemente ou ainda, que esteja menstruada, no caso

    das mulheres.

    Em algumas naes as mulheres no podem tocar o tambor, como o caso

    das naes Encanto da Alegria e Estrela Brilhante de Igarassu. No Encanto da

    Alegria a interdio tem carter religioso, pois, dentro do xang as mulheres, por

    menstruarem, no podem tocar instrumentos que contenham peles de animais e

    como as alfaias utilizam o couro do bode e recebem obrigao, elas acabam

    entrando na mesma categoria de interdies dos atabaques, sendo vedada a

    utilizao delas por mulheres. J no caso do Estrela Brilhante de Igarassu a

    interdio se justifica na tradio; de acordo com o mestre Gilmar Santana colocar

    mulheres no batuque seria uma descaracterizao do modelo autntico de

    maracatu-nao j que no passado mulheres no tocavam. No entanto, no

    sabemos o real motivo das mulheres no tomarem parte do batuque antigamente.

    Talvez fosse uma interdio de carter religioso, como pode tambm ser uma

    proibio baseada na crena de que mulheres, por serem fisicamente mais fracas,

    no tivessem resistncia para tocar os pesados tambores.

    No se sabe tambm se a obrigao para os tambores era prtica recorrente

    na maioria dos grupos no passado. Como observado no relato de Guerra-Peixe, tal

    prtica existia no maracatu Elefante de D. Santa, porm, Ivaldo Marciano de Frana

    Lima, historiador, atual mestre do maracatu Cambinda Estrela e ex-batuqueiro das

    naes Leo Coroado (de Lus de Frana), Elefante (de Roberto Pescocinho) e

    Indiano (de Toinho), afirma no se lembrar de tais obrigaes nas referidas naes,

    acreditando que tais prticas se estabeleceram nos grupos, pelo menos de forma

  • 15

    mais aberta, a partir dos fins dos anos 1990. De acordo com alguns batuqueiros, na

    Nao Porto Rico as obrigaes realizadas para os tambores ocorrem a apenas seis

    anos sendo uma prtica instaurada pelo atual mestre, Chacon Viana; antes disso

    apenas as calungas recebiam obrigao.

    Isso pode apontar uma tendncia de fortalecer a ligao religiosa dos

    maracatus com os xangs, no sentido de talvez, conferir-lhes mais autenticidade e

    ortodoxia, tal como ocorreu com o ideal de pureza africana dentro dos terreiros

    espalhados pelo Brasil (MOTTA, 2003). Outro indcio de que de alguns anos para

    c, esteja havendo um fortalecimento da expresso religiosa dos maracatus est no

    fato de personagens como os orixs terem se tornado item obrigatrio no desfile do

    Concurso das Agremiaes Carnavalescas. No se pode ignorar tambm, a

    presena de uma esttica africana nos trajes dos batuqueiros. Se at o fim dos anos

    1990 o traje clssico era composto por cala social branca, sapato branco, camisa

    plo nas cores da nao e chapu de palha, hoje se observa a utilizao de palha

    da costa, bzios, e de outros tipos de acessrios que conferem uma africanidade a

    esses trajes. Pensando nos motivos para essa tendncia, penso que talvez a

    crescente valorizao da cultura negra e de certa africanidade nessas prticas

    impulsione essas atitudes que conferem aos maracatus-nao de um modo geral,

    uma fisionomia cada vez mais sagrada e africana e menos de folguedo e brasileira.

    Sendo assim, o sentido da esttica afro, no est desvinculado de uma noo de

    sagrado na manifestao; frica e religiosidade so assim indissociveis nesse

    contexto.

    Tambm so realizados em algumas naes oferendas a entidades da jurema

    como mestres e caboclos. O perodo de durao e diviso da obrigao realizada

    antes do carnaval tambm varia de grupo para grupo. No caso do Estrela Brilhante

    do Recife a obrigao se divide em trs dias, um para os eguns, outro para as

    bonecas e orixs e o ltimo para os caboclos (BARBOSA. V, 2001). J no caso do

    Porto Rico todos os oferecimentos se realizam no mesmo dia e local.

    Observa-se tambm que alguns maracatus tm ligao direta com a jurema,

    como o caso do Porto Rico, Estrela Brilhante e Gato Preto. O Porto Rico possui

    como rainha do maracatu uma mestra de jurema chamada Elizabete, todos dizem

  • 16

    que o maracatu dela. comum que durante as apresentaes do grupo a mestra

    incorpore na Rainha Elda Viana. O Estrela Brilhante do Recife possui como protetor

    o Mestre Cangarussu, isso desde a poca em que o grupo, segundo suas atuais

    lideranas, pertencia ao Sr. Cosme no bairro de Campo Grande na primeira metade

    do sculo XX. J a nao Gato Preto constitui-se como um caso a parte, j que

    possui vnculo somente com a jurema. A sede dessa nao separada do terreiro

    sendo que a casa trabalha no xang e na jurema, mas o maracatu em si, possui

    apenas vnculos com a jurema; seu padrinho um exu simbolizado pelo gato preto e

    suas calungas, apesar de serem negras, pertencem a duas caboclas.

    A partir desse panorama, foi possvel observar que, apesar de no serem

    considerados pelos maracatuzeiros de um modo geral como religio, a existncia

    da dimenso do sagrado nos maracatus inquestionvel. E a diferena na relao

    de cada grupo com a sacralidade atribui diversidade e peculiaridades a cada um

    deles.

    No presente artigo, foi possvel observar como a relao dos maracatus nao

    com as religies afro-indo-brasileiras se deu ao longo da histria, e como ela ocorre

    atualmente. Percebeu-se primeiramente, o quanto difcil compreender como esse

    tipo de relao se dava no passado, devido a pouca documentao e poucas

    descries a respeito do assunto. O que se obteve, por conta da pesquisa de

    Guerra-Peixe, foi um modelo de como se dava essa relao em meados do sculo

    XX em uma nao de maracatu muito respeitada na poca, o Maracatu Elefante de

    Dona Santa. A partir desse modelo, foi possvel encontrar algumas mudanas, mas

    tambm permanncias nos modelos dos maracatus da atualidade, se comparado ao

    modelo encontrado no Maracatu Elefante. No tenho mais notcias, por exemplo, da

    dana das calungas ou mesmo das visitas que os maracatus faziam a certos

    terreiros, dentro de seus cortejos carnavalescos. Ao longo da pesquisa, percebeu-se

    tambm que at o fim dos anos 1990, a dimenso religiosa da manifestao no era

    afirmada com a mesma fora com que hoje. Os elementos que reforam essa

    hiptese so os elementos afro religiosos agregados ao desfile, como a insero dos

    orixs como item obrigatrio e a africanizao na esttica dos trajes dos batuqueiros

    e tambm as conversas com os maracatuzeiros da atualidade que vem na

  • 17

    religiosidade, e no no estilo do batuque ou mesmo na composio tnica e social, a

    principal caracterstica que faz um maracatu ser maracatu nao.

    Deste modo, acredito que o grande crescimento da quantidade de grupos

    percussivos, tenha sido determinante para esse reforo da religiosidade nos

    maracatus nao. Os grupos percussivos apresentam baques considerados mais

    estilizados, sendo mais sistematizados e repletos de convenes, mas alguns

    maracatus nao tidos como autnticos, tambm trabalham com esse novo estilo de

    composio rtmica. Por esta razo, o baque no serve mais para marcar a

    diferena entre os dois tipos de grupo. A questo racial, tambm no consegue mais

    fundamentar tal diferena, pois, muitos maracatus nao, j contam com a presena

    de brancos de classe mdia em seu batuque. Deste modo cabe a religio o papel de

    marco de diferenciao nesse contexto. Devido grande disputa por espaos no

    mercado cultural, os maracatus nao tiveram de tornar sua dimenso religiosa mais

    evidente, o que acarretou algumas mudanas no modo de se expressar essa

    relao ao longo dos anos. Paralelamente, observa-se que a atrao do mercado e

    da prpria classe mdia pela cultura popular, so favorecidos, dentre outros

    processos, pelo contexto de globalizao da atualidade.

  • 18

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