mapeamento socioambiental amplia territórios e consolida

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Mapeamento socioambiental amplia territórios e consolida metodologia de mobilização para a sustentabilidade O projeto “Mapeamento Digital de Riscos Socioambientais Guiado pela Juventude” iniciou em setembro de 2012 um novo ciclo. O projeto dá connuidade aos trabalhos nas cinco primeiras comunidades parcipantes (Prazeres, Macacos, Borel, Urubu e Rocinha) e implementa a iniciava em outras cinco (Andaraí, Batan, Cidade de Deus, Complexo do Alemão e Salgueiro). Tendo como protagonistas adolescentes e jovens, três eixos orientam os trabalhos: formação e discussão conceitual, reconhecimento do território por meio da produção de imagens georreferenciadas e a mobilização comunitária para a promoção de melhorias socioambientais. O primeiro passo para transformar o ambiente em que vivemos é conhecer os seus desafios e as suas potencialidades. É com essa perspecva que o projeto “Mapeamento Digital de Riscos Socioambientais Guiado pela Juventude” mobiliza adolescentes e jovens para o reconhecimento de seus territórios e para o engajamento na construção de propostas criavas, inovadoras, que possam ser transformadas em realidade, pautando a políca pública. O trabalho teve início em setembro de 2011 e abrange atualmente 10 comunidades do Rio de Janeiro. Trata-se de uma iniciava do UNICEF, em parceria técnica com o CEDAPS, com o apoio da Prudenal Foundaon, Itaú Social, American Air Lines e MSC. O projeto é desenvolvido no âmbito da Plataforma dos Centros Urbanos, iniciava do UNICEF dedicada à melhoria das condições de vida de crianças e adolescentes que vivem nos centros urbanos brasileiros. Rio de Janeiro 2012 2013

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Page 1: Mapeamento socioambiental amplia territórios e consolida

Mapeamento socioambiental amplia territórios e consolida metodologia de mobilização para a sustentabilidade

O projeto “Mapeamento Digital de Riscos Socioambientais Guiado pela Juventude” iniciou em setembro de 2012 um novo ciclo. O projeto dá continuidade aos trabalhos nas cinco primeiras comunidades participantes (Prazeres, Macacos, Borel, Urubu e Rocinha) e implementa a iniciativa em outras cinco (Andaraí, Batan, Cidade de Deus, Complexo do Alemão e Salgueiro). Tendo como protagonistas adolescentes e jovens, três eixos orientam os trabalhos: formação e discussão conceitual, reconhecimento do território por meio da produção de imagens georreferenciadas e a mobilização comunitária para a promoção de melhorias socioambientais.

O primeiro passo para transformar o ambiente em que vivemos é conhecer os

seus desafios e as suas potencialidades. É com essa perspectiva que o projeto “Mapeamento Digital de Riscos Socioambientais Guiado pela Juventude” mobiliza adolescentes e jovens para o reconhecimento de seus territórios e para o engajamento na construção de propostas criativas, inovadoras, que possam ser transformadas em realidade, pautando a política pública. O trabalho teve início em setembro de 2011 e abrange atualmente 10 comunidades do Rio de Janeiro. Trata-se de uma iniciativa do UNICEF, em parceria técnica com o CEDAPS, com o apoio da Prudential Foundation, Itaú Social, American Air Lines e MSC. O projeto é desenvolvido no âmbito da Plataforma dos Centros Urbanos, iniciativa do UNICEF dedicada à melhoria das condições de vida de crianças e adolescentes que vivem nos centros urbanos brasileiros.

Rio de Janeiro

2012

2013

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Cidadania Ambiental

Bruna Cristina dos Santos, 15 anos, é moradora da Cidade de Deus e por meio do projeto visitou

pela primeira vez algumas áreas da sua comunidade. A grande quantidade de lixo e o esgoto correndo nas ruas chamou a atenção da jovem. “O que mais me surpreendeu é que as pessoas parecem acostumadas com essa situação. É como se fosse normal. E elas não têm ideia do que fazer”, relata. Bruna conta que a partir de agora terá olhar para toda a comunidade: não podemos focar somente onde a gente mora.

O projeto “Mapeamento de riscos socioambientais guiado pela juventude” é uma estratégia de educação ambiental, baseada no uso de tecnologias digitais, que busca despertar o olhar de adolescentes e jovens para a realidade socioambiental de suas comunidades. O propósito maior é fazer com que a juventude protagonize as mudanças necessárias e tornem-se disseminadoras de novas práticas e percepções sobre a questão ambiental.

Metodologia

A iniciativa é desenvolvida junto a um público aproximado de 25 adolescentes e jovens em

cada comunidade, em torno de três eixos de ação. O primeiro deles tem por foco a discussão conceitual. No primeiro dia de atividades, os participantes debatem e elaboram coletivamente conceitos como educação ambiental, riscos, vulnerabilidade, susceptibilidade. Os meninos e meninas são provocados também a refletir sobre as conexões da comunidade com o território mais amplo: de onde vem e para onde vão os cursos d´água que cortam a comunidade? Qual o destino do lixo e do esgoto? Qual a origem da água que abastece a população? Como se dá a ocupação do solo? E como os fatores sociais também se conectam a todas essas questões? O objetivo é estabelecer um processo de educação ambiental que tome por referência a forma como o próprio grupo se percebe no ambiente.

Todas as questões levantadas nesse debate orientam a etapa seguinte. Com base na discussão dos desafios, os participantes constroem o roteiro de mapeamento, especificando locais e situações a serem identificados na ida a campo. Os adolescentes e jovens saem às ruas munidos de celulares, com o aplicativo UNICEF-GIS, que permite produzir fotos georreferenciadas, alimentando automaticamente um mapa digital online. Nessa atividade, muitos acabam visitando lugares que não conheciam ou experimentam um novo olhar para situações que eram até então cotidianas. Após a visita, os jovens analisam e comentam as imagens produzidas.

O terceiro eixo do projeto é a construção de propostas de intervenção que possam engajar a própria comunidade e o poder público na construção de melhorias. Esse processo é realizado por meio da metodologia de Construção Compartilhada de Soluções Locais. Desenvolvida pelo CEDAPS, a metodologia consiste no empoderamento dos participantes para que analisem os problemas, formulem e desenvolvam ações, criando soluções com recursos disponíveis e pautados na realidade local. A condução do trabalho se orienta pela formulação de uma pergunta central, articulando objetivos, atividades, público e intervalo de tempo. Dessa pergunta, é desenhado o Plano de Ação, que recebe apoio do projeto para ser implementado. Também para apoiar esse processo, os adolescentes e jovens participam de uma formação sobre as mídias sociais e seu potencial de mobilização, realizada pela organização não governamental Bem TV.

Os trabalhos nas cinco primeiras comunidades envolveram 111 jovens e resultou no mapeamento de 289 pontos de riscos socioambientais. Prazeres, Macacos, Borel, Urubu e Rocinha participam agora das atividades de atualização e concentram energia no detalhamento e desdobramento dos planos de ação. Ao mesmo tempo, o projeto iniciou as atividades no Batan, na Cidade de Deus, no Complexo do Alemão, na Rocinha e no Andaraí. Nessas comunidades, os jovens também já planejam as próximas etapas.

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O Batan, localizado em Realengo, região oeste do Rio de Janeiro, é uma das comunidades

que passaram a integrar a iniciativa. O encontro foi realizado nos dias 11, 13 e 15 de setembro no Centro Social e Cultural Tatiane Lima, reunindo 22 jovens de 14 a 21 anos. Ao debater os desafios da região, os jovens destacaram que as ações e investimentos têm se concentrado na área central da comunidade. Assim, são muitos os pontos críticos das áreas mais distantes.

No registro fotográfico, os adolescentes destacaram pontos de acúmulo de lixo, áreas abandonadas, problemas com esgoto, dentre outros riscos. Um dos grupos também realizou entrevistas com pessoas da comunidade, registradas em vídeo com os celulares do mapeamento. Os jovens destacaram que com a

visita puderam conhecer melhor a própria região.Na hora de planejar, foi indicada a necessidade de sensibilizar a mídia e o poder público para os problemas da região e de ampliar os espaços de formação e debate junto à comunidade. Como propostas de ações comunitárias, o grupo indicou a possibilidade de realização de camelô educativo, mutirão e feira de reciclagem.

Em relação às políticas públicas, os adolescentes colocaram a demanda de um projeto de encosta para a região do Morrinho, a limpeza e ocupação de algumas áreas e a instalação de um ecoponto. Os temas priorizados foram a reciclagem e a coleta seletiva. Para Thais França Souza, de 21 anos, o mais interessante foi refletir sobre os outros usos que podem ser feitos dos espaços.

Desafios nas regiões mais distantes

Mapa do Batan, com a indicação dos locais que representam riscos, identificados durante a atividade. Em cada ponto, é possível ver as fotos do local, produzidas pelas crianças, adolescentes e jovens.

Batan

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“Nasci na Cidade de Deus e tinham vários lugares que eu não conhecia. Tem

situações que eu não imaginava, como casas quase desmoronando”. Júlio César, de 16 anos, se dedicou durante três dias a mapear e discutir os desafios de sua comunidade. Assim como Júlio, grande parte dos 28 adolescentes e jovens, de 12 a 21 anos, que participaram da iniciativa puderem conhecer novas realidades.

As atividades de mapeamento de riscos socioambientais foram realizadas nos dias 2, 3 e 6 de outubro. No primeiro dia, os jovens expressaram em textos e ilustrações os riscos que deveriam ser mapeados. Nos desenhos, muito lixo, animais e referências ao rio que atravessa a comunidade. As fotos, produzidas no segundo dia de atividades, confirmaram as impressões dos participantes.

Nas produções e debates, muitos jovens abordaram os riscos para a saúde do contato com o lixo, com o esgoto e com a água contaminada. Também denunciaram o abandono dos locais de lazer. No planejamento, indicaram como possibilidades de ação a realização de um mutirão de limpeza, a construção de um projeto para discutir a situação do lixo e o desenvolvimento de campanhas para a limpeza do rio e para diminuir o entupimento dos esgotos.

CDD pelo olhar de adolescentes e jovens

Divididos em três grupos, os participantes percorreram as áreas do

Karatê e do Pantanal, indicadas como as mais problemáticas do ponto de

vista socioambiental.

Cidade de Deus

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As desigualdades existem dentro das próprias comunidades, é o que mostram os 15

adolescentes e jovens, de 14 a 21 anos, que participaram do mapeamento no Complexo do Alemão, realizado nos dias 16, 17 e 20 de outubro de 2012. Os participantes escolheram os locais conhecidos como Mineiros e Matinha para a realização da visita, áreas que segundo eles apresentam as piores condições ambientais de todo o Complexo.

No debate inicial, os jovens destacaram que crianças e idosos são mais sensíveis aos problemas ambientais. Para discutir o conceito de risco, os jovens foram provocados por uma imagem que mostra um condomínio de luxo ao lado de uma favela. Para Lídia, 19 anos, embora estejam sobre a mesma terra e possa chover igual dos dois lados, o risco é maior para a área mais pobre: “um lado foi estudado, o outro não, um lado tem bomba d’água, tem coleta de lixo, tem drenagem. O outro não tem nada disso”.

No mapeamento, os jovens também identificaram uma série de problemas que colocam em risco a população: áreas abandonadas, esgoto correndo a céu aberto, acessos sem caminhos estruturados, apenas na terra, depósitos de lixo, pontes improvisadas e precárias. Ao relatar sobre uma vala, chegaram a ter dúvidas se era apenas um depósito de esgoto e lixo, mas uma das jovens lembrou que os avós contavam sobre a época em que havia água nesse caminho, ela era limpa e podia ser usada pela população. “Vendo as fotos, parece outro lugar, nem parece onde a gente mora. Antes não reparava isso tudo”, disse uma das participantes durante os debates.

No planejamento, os jovens expressaram o desejo de envolver toda a comunidade em um grande

mutirão de limpeza, com a participação do poder público e das organizações locais. Eles destacam que existem poucos locais para depositar o lixo e também falta comprometimento da população. Para os jovens, o lixo se relaciona com uma série de outros riscos, como a poluição dos cursos d´água e o comprometimento da saúde, e, por isso, deve ser priorizado.

Um Alemão invisível

Alemão

Em dois grupos, os participantes percorrem as áreas do Mineiros e da Matinha.

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A visita ao Salgueiro foi guiada por mais de 30 meninos e meninas, que mostraram os

desafios da comunidade e também os locais em que costumam se divertir. Jorge, 13 anos, gosta de soltar pipa, jogar bola, tomar banho na cachoeira e comer as frutas do local, que, segundo ele, são várias: jaca, manga, sapoti, laranja da terra, coquinho. Mas os problemas comprometem essas diversões. A atividade foi desenvolvida nos dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro.

Na primeira etapa dos trabalhos, as crianças, adolescentes e jovens discutiram a situação ambiental da comunidade. O convívio com o ambiente natural favoreceu a discussão. Os meninos e meninas relatam que há muitas nascentes no local,

mas que falta água. Apontaram ainda problemas com o lixo e com o esgoto. Durante a discussão, os jovens também puderam conhecer um pouco mais da relação do território com o restante da cidade: discutiram sobre a vegetação predominante, a origem da água que abastece a população e o destino dos resíduos.

Como recomendações, indicaram que a comunidade precisa cuidar da vegetação natural, respeitar os horários e locais de recolhimento de lixo e não deixar água parada. Do governo, cobram a melhoria da iluminação pública, a construção e reforma de áreas de lazer, a destinação adequada dos esgotos, a capina da vegetação e a reforma da caixa d´água, dentre outros itens.

Iniciativa mobiliza mais de 30 meninos e meninas no Salgueiro

No Salgueiro, os participantes foram divididos em quatro grupos. A visita

de campo contou com a participação do UNICEF, da ONU Mulheres e da

ONU Habitat.

Salgueiro

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No Andaraí, foram percorridas as áreas do Caminho do Pasto, João Paulo II, Sá Viana, Borda do Mato e Nova Divineia.

Andaraí

Resíduos, calçamento e iluminação na pauta dos debates

As atividades no Andaraí foram realizadas nos dias 12, 22 e 23 de novembro e contou com a

participação de 20 crianças, adolescentes e jovens. Para o planejamento das áreas e das situações a serem mapeadas, os meninos e meninas utilizaram textos e ilustrações. O lixo e o esgoto foram alguns dos problemas destacados. Foi dado grande destaque também ao problema dos locais com água parada. O ponto indicado como mais problemático foi o Caminho do Pasto. Segundo eles, o trecho não possui proteção de um dos lados, oferecendo risco de queda em um barranco, além de não possuir iluminação.

As propostas construídas pelos jovens trouxeram recomendações para o poder público e para a própria comunidade. Os meninos e meninas destacam que a comunidade deve preservar as obras já realizadas pela prefeitura, como a quadra e a iluminação que está sendo implantada.

Também deve se mobilizar para garantir a chegada de todas as obras prometidas pela UPP. Os participantes cobram do governo, dentre outros pontos, a conclusão da obra do Caminho do Pasto, a construção de áreas de lazer, o aumento dos dias de coleta de lixo e o reflorestamento de áreas que estão interditadas.

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Planos de Ação

Realização Parceiros técnicos

Apoio

As ações planejadas pelos adolescentes e jovens estão sendo negociadas junto aos órgãos públicos por meio do UNICEF, com o apoio do CEDAPS. Ao mesmo tempo, são articulados os desdobramentos que serão organizados e desenvolvidos pelos próprios jovens em suas comunidades. Indicamos, a seguir, a síntese dos Planos de Ação elaborados.

PRAZERESCriação de ecoponto, ampliação do número de garis, estação de coleta reciclação.

ANDARAÍIluminação, reflorestamento de parques e jardins.

SALGUEIROCampanha de comunicação, ação contra a dengue.

BATANMutirão de limpeza na Vila Jurema e Morrinho, programa de educação ambiental.

ALEMÃOCampanha de comunicação, mutirão de limpeza.

URUBUCampanha via redes sociais e gincana.

BORELAmpliação do número de garis, mais caçambas, palestras.

MACACOSCampanha de comunicação, abaixo-assinado.

ROCINHAAções relacionadas ao trânsito.

CDDLimpeza do Rio e remoção de lixo da rua.