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    Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica

    Curso de Especialização em Manutenção de Sistemas Elétricos

    NOVAS TÉCNICAS DE MANUTENÇÃOPREDITIVA EM MÁQUINAS ELÉTRICAS DE

    MÉDIO E GRANDE PORTE

    Monografia apresentada aUniversidade Federal de Itajubápara a obtenção do grau deEspecialista em Manutenção deSistemas Elétricos, sob orientaçãodo Professor Antônio Tadeu Lyriode Almeida.

    Amauri Pedro de Freitas

    Itajubá, Agosto de 2008 

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    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1 

    TIPOS DE MANUTENÇÃO E ANÁLISE DE FALHAS _____________________________________________ 1 

    1.1 Tipos Básicos de Manutenção_________________________________________________________ 1 1.1.1. Manutenção Corretiva _________________________________________________________ 11.1.2. Manutenção Preventiva________________________________________________________ 11.1.3. Manutenção Preditiva _________________________________________________________ 2

    1.2 Análise Estatística de Falhas em Máquinas Elétricas ______________________________________ 4  

    CAPÍTULO 2 

    ANÁLISE DA ASSINATURA DA CORRENTE___________________________________________________ 9 2.1 Introdução _________________________________________________________________________ 9 

    2.2 Decibel (revisão teórica básica)________________________________________________________ 9 

    2.3 Falhas Elétricas e Mecânicas a Serem Diagnosticadas____________________________________ 12 2.3.1. Expressão Geral para Excentricidade no Entreferro _________________________________ 132.3.2. Espiras em Curto-Circuito no Estator ____________________________________________ 142.3.3. Rotor com Barras Quebradas ou Trincadas _______________________________________ 152.3.4. Falhas no Rolamento ________________________________________________________ 19

    CAPÍTULO 3 

    DESCARGAS PARCIAIS __________________________________________________________________ 21 

    3.1 Introdução ________________________________________________________________________ 21 3.1.1. Grandezas Relacionadas às Descargas Parciais ___________________________________ 243.1.2. Características do Circuito de Medição Típico _____________________________________ 253.1.3. Freqüências de Detecção Aplicáveis_____________________________________________ 303.1.4. Mapas Estatísticos de DP _____________________________________________________ 313.1.5. Padrões de Defeitos em Barras Estatóricas _______________________________________ 32

    3.2 Padrões PRPD (Phase-resolved Partial Discharge)_______________________________________ 33 3.2.1. Descargas Internas __________________________________________________________ 333.2.2. Descargas nas Ranhuras _____________________________________________________ 35

    3.2.3. Descargas nas Cabeças de Bobinas (trilhamento superficial) _________________________ 363.2.4. Descargas nas Junções ______________________________________________________ 383.2.5. Descargas Entre Barras ______________________________________________________ 403.2.6. Casos Reais de Ocorrência de DPs _____________________________________________ 41

    3.3 Métodos Tradicionais de Teste _______________________________________________________ 43 3.3.1. Ensaio Off-Line de Descargas Parciais___________________________________________ 433.3.2. Ensaio On-Line de Descargas Parciais___________________________________________ 443.3.3. Monitoramento On-Line Contínuo de Descargas Parciais_____________________________ 453.3.4. Software __________________________________________________________________ 46

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    CAPÍTULO 4 

    ENSAIOS PARA AVALIAÇÃO DO NÚCLEO MAGNÉTICO _______________________________________ 49 

    4.1 Ensaios com Fluxo Pleno____________________________________________________________ 49 4.1.1. Ensaio de Aquecimento com Fluxo Pleno_________________________________________ 494.1.2. Ensaio de Perdas no Núcleo ___________________________________________________ 58

    4.2 Ensaios com Fluxo Reduzido_________________________________________________________ 58 4.2.1. EL-CID (Electromagnetic Core Imperfection Detector) _______________________________ 58

    CAPÍTULO 5 

    OUTROS FATORES QUE AUXILIAM A MANUTENÇÃO _________________________________________ 66  

    5.1 Registros _________________________________________________________________________ 66 5.1.1. Registro de Temperaturas_____________________________________________________ 67

    5.1.2. Registro de Potências ________________________________________________________ 675.1.3. Registro de vibrações ________________________________________________________ 67

    5.2 Parametrização correta das proteções _________________________________________________ 67 

    CAPÍTULO 6 

    CONCLUSÃO ___________________________________________________________________________ 68 

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________________________ 69 

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    INTRODUÇÃO

    Com o surgimento e difusão das máquinas elétricas rotativas por volta do final do

    século 19 e início do século 20 surgiu também a necessidade de se efetuar manutenção

    nestes equipamentos com o intuito de mantê-los em condições de operação. Ao longo do

    tempo, devido a sua larga utilização, incluindo em sistemas críticos do processo, a falha

    inesperada normalmente acaba resultando em uma perda de produção. É importante

    observar que, freqüentemente, o custo desta perda excede em muito o custo para reparar

    ou mesmo substituir o componente que falhou.

    A segurança também pode ficar comprometida. A falha pode resultar em uma

    exposição ao perigo, ou a pressão para restaurar a operação do sistema pode resultar em

    práticas inseguras ao trabalhador. Em alguns casos a falha inesperada também pode

    resultar em danos que se propagam a outros equipamentos além do equipamento que

    falhou.

    Em decorrência dos fatores citados anteriormente surgiram diversas técnicas de

    manutenção, cada uma baseada em critérios específicos, para manter o equipamento com a

    maior disponibilidade e com a maior vida útil possível.

    No princípio, as tecnologias e os conhecimentos eram muito escassos e, na maioria

    das vezes, limitavam-se a reparar o equipamento após o dano ocorrido. Mais recentemente,

    surgiram algumas tecnologias que permitiram estimar com maior precisão a situação

    operacional do equipamento e até “prever” uma possível falha.

    Este trabalho foca sua explanação em técnicas de manutenção para aplicação

    principalmente em motores de indução trifásicos e geradores síncronos de médio e grande

    porte (tensões acima de 1kV e potências acima de 500 kW).

    No início do trabalho são mostrados os tipos de manutenção e os principais

    problemas elétricos que ocorrem em máquinas rotativas. Em seguida, são apresentadas

    técnicas para identificação e análise dos problemas pertencentes, basicamente, a três

    grupos de falhas:

    •  Falhas em rotores e estatores de motores de indução;

    •  Falhas na isolação do enrolamento estatórico de motores e geradores;

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    Introdução

    •  Falhas no núcleo magnético de estatores de motores e geradores.

    Por fim, são apresentados alguns procedimentos baseados em recursos que já estão

    disponíveis na maioria das instalações de grandes máquinas elétricas, mas que, em muitoscasos, são negligenciados pelas equipes de operação e manutenção. Estes recursos podem

    (e devem) ser utilizados para aprimoramento da operação e manutenção correta destes

    equipamentos, garantindo a vida útil esperada e reduzindo as possibilidades de falhas

    inesperadas.

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    CAPÍTULO 1

    TIPOS DE MANUTENÇÃO E ANÁLISE DE FALHAS

    1.1 Tipos Básicos de Manutenção

    Existem basicamente três tipos de manutenção: Manutenção Corretiva, Manutenção

    Preventiva e Manutenção Preditiva; que serão apresentados mais detalhadamente a seguir.

    1.1.1. Manutenção Corretiva

    No início da atividade de manutenção de equipamentos, devido a limitação de

    recursos tecnológicos para análise das condições de funcionamento, era muito comum a

    adoção de técnicas de manutenção que corrigiam as falhas após seu acontecimento

    (MANUTENÇÃO CORRETIVA). A lógica do processo de MANUTENÇÃO CORRETIVA é

    simples e direta: quando uma máquina quebra, conserte-a. A aparente “vantagem” deste

    tipo de abordagem é que não se gasta qualquer dinheiro com manutenção, até que uma

    máquina ou sistema falhe. Entretanto, esta abordagem tem-se demonstrado o método mais

    caro de gerência de manutenção e, na prática, atualmente nenhuma planta industrial usa

    uma filosofia verdadeira de gerência por manutenção corretiva. Os maiores custos

    associados com este tipo de gerência de manutenção são: altos custos de estoques de

    peças sobressalentes, altos custos de trabalho extra, elevado tempo de paralisação da

    máquina, e baixa disponibilidade de produção. Em função disso, as plantas industriais

    realizam tarefas preventivas básicas, como lubrificação e ajustes da máquina, mesmo em

    um ambiente de manutenção corretiva.

    1.1.2. Manutenção Preventiva

    Com o aumento da utilização das máquinas mecânicas e posteriormente das

    elétricas, e a adoção do registro das falhas ocorridas em função do tempo de operação

    destes equipamentos, surgiu uma técnica de manutenção que utilizou ferramentas

    estatísticas para avaliar a quantidade e gravidade destas falhas ao longo do tempo de

    operação e a propor intervenções nos equipamentos em função deste tempo

    (MANUTENÇÃO PREVENTIVA). Com esta filosofia de manutenção surgiram teorias como a

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    Capítulo 1 – Tipos de Manutenção e Análise de Falhas

    2

    conhecida curva do tempo médio para falha (CTMF) ou da “banheira”, que indica que uma

    máquina nova tem uma alta probabilidade de falha, devido a problemas de instalação,

    durante as primeiras semanas de operação (região de “mortalidade infantil”). Após este

    período inicial, a taxa de falha é relativamente baixa e constante durante um tempo

    prolongado (região de “vida normal”). Após este período de vida normal da máquina, a

    probabilidade de falha aumenta abruptamente com o tempo transcorrido (região de

    “desgaste acentuado”). Na gerência de manutenção preventiva, os reparos ou

    recondicionamentos da máquina são programados baseados na estatística CTMF.

    A implementação da manutenção preventiva real varia bastante. Alguns programas

    são extremamente limitados e consistem de lubrificação e ajustes menores. Os programas

    mais abrangentes de manutenção preventiva programam reparos, lubrificação, ajustes, e

    recondicionamentos de máquinas para toda a maquinaria crítica na planta industrial. O

    denominador comum para todos estes programas de manutenção preventiva é o

    planejamento da manutenção x tempo.

    Segundo a filosofia de manutenção preventiva assume-se que as máquinas

    degradarão com um quadro de tempo típico de sua classificação em particular. Por exemplo,

    se um dado equipamento possui um tempo típico de falha de 20 meses usando técnicas de

    gerência preventiva, o equipamento seria removido de serviço e revisado após 19 meses deoperação. O problema com esta abordagem é que o modo de operação e variáveis

    específicas da planta industrial ou do sistema afetam diretamente a vida operacional normal

    da maquinaria. O tempo médio entre as falhas (TMF) não será o mesmo para uma bomba

    que esteja trabalhando com água e uma bombeando polpas abrasivas de minério. O

    resultado normal do uso da estatística TMF para programar a manutenção ou é um reparo

    desnecessário ou uma falha catastrófica. No exemplo, o equipamento pode não precisar ser

    recondicionado após 19 meses. Portanto, a mão de obra e o material usado para fazer o

    reparo foram desperdiçados. O segundo cenário da manutenção preventiva é ainda mais

    caro. Se o equipamento falhar antes dos 19 meses, somos forçados a consertar usando

    técnicas corretivas. A análise dos custos de manutenção tem mostrado que um reparo feito

    de uma forma reativa (isto é, após a falha) normalmente será três vezes mais caro do que o

    mesmo reparo feito numa base programada, pelas razões citadas anteriormente.

    1.1.3. Manutenção Preditiva

    Por meio dos avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas foramdesenvolvidas técnicas que permitem acompanhar os parâmetros operacionais dos

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    Capítulo 1 – Tipos de Manutenção e Análise de Falhas

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    equipamentos (temperatura, vibração, harmônicos na corrente, etc.). Através do estudo

    destes parâmetros e com a utilização de técnicas estatísticas pode-se identificar pequenos

    desvios nestes parâmetros e programar uma manutenção antes que a falha ocorra. Esta

    filosofia de manutenção é denominada de MANUTENÇÃO PREDITIVA, pois procura

    predizer (prever) a falha, prolongando o tempo de utilização dos equipamentos e otimizando

    os recursos da manutenção. A premissa comum da manutenção preditiva é que o

    monitoramento regular da condição real, o rendimento operacional, e outros indicadores da

    condição operativa das máquinas e sistemas de processo fornecerão os dados necessários

    para assegurar o intervalo máximo entre os reparos. Ela também minimizaria o número e os

    custos de paradas não-programadas criadas por falhas da máquina. Trata-se de um meio de

    se melhorar a produtividade, a qualidade do produto, o lucro, e a efetividade global de

    nossas plantas industriais de manufatura e de produção. A intenção e se identificar

    problemas da máquina antes que se tornem sérios já que grande parte dos problemas

    mecânicos podem ser minimizados se forem detectados e reparados com antecedência. Os

    modos normais de falha mecânica degradam-se em uma velocidade que é diretamente

    proporcional a sua severidade; portanto, quando um problema é detectado logo,

    normalmente pode-se evitar maiores reparos.

    Um programa abrangente de gerência de manutenção preditiva utiliza uma

    combinação das ferramentas mais efetivas em custo para obter a condição operativa real de

    sistemas críticos da planta industrial e, baseando-se nestes dados reais, todas as atividades

    de manutenção são programadas numa certa base “conforme necessário”. A manutenção

    preditiva é um programa de manutenção preventiva acionado por condições. Ao invés de se

    fundar em estatística de vida média na planta industrial ou industrial (p.ex., tempo médio

    para falha) para programar atividades de manutenção, a manutenção preditiva usa o

    monitoramento direto das condições mecânicas, rendimento do sistema, e outros

    indicadores para determinar o tempo médio para falha real ou perda de rendimento para

    cada máquina e sistema na planta industrial. Na melhor das hipóteses, os métodos

    tradicionais acionados por tempo garantem um guia para intervalos “normais” de vida da

    máquina.

    Outro ponto importante a ser considerado é em relação a problemas que podem ser

    causados por intervenções desnecessárias geralmente motivadas por técnicas de

    manutenção preventiva. Conforme mostrado mais adiante quase 1/3 dos defeitos em

    motores de indução trifásicos são causados no momento da manutenção ou teste.

    Infelizmente a experiência tem mostrado que diversas falhas são causadas no momento da

    manutenção preventiva, normalmente indicada pelo manual do equipamento. Com isso,

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    Capítulo 1 – Tipos de Manutenção e Análise de Falhas

    4

    torna-se imprescindível que a gerência de manutenção avalie as técnicas indicadas e atue

    de forma a evitar que as manutenções preventivas tornem-se manutenções “predativas”.

    Mesmo com todas as metodologias e teorias para gestão de manutenção disponíveisatualmente sabemos que cada organização, cada planta industrial, cada sistema tem suas

    particularidades de operação e também de manutenção. Com isso, temos a necessidade de

    informações e dados do próprio processo de produção como insumos básicos para qualquer

    metodologia otimizada de manutenção. É através destes insumos que pode-se planejar a

    manutenção de cada equipamento em função de sua criticidade para o processo, custos de

    manutenção ou substituição e tempo para manter o sistema operacional. Portanto, um

    programa de manutenção preditiva total da planta industrial deve incluir várias técnicas,

    cada uma projetada para oferecer informações específicas sobre equipamentos da planta,

    para obter os benefícios que este tipo de gerência de manutenção pode oferecer. As

    técnicas específicas dependerão do tipo de equipamento, seu impacto sobre a produção e

    outros parâmetros chave da operação da planta industrial, e dos objetivos que se deseja

    que o programa de manutenção preditiva atinja.

    1.2 Análise Estatística de Falhas em Máquinas Elétricas

    As falhas em máquinas de indução C.A. produzem geralmente um ou vários dos

    seguintes sintomas:

    •  Aumento de vibração

    •  Desequilíbrio de correntes e tensões

    •  Redução do torque médio

    •  Aumento das perdas e redução da eficiência

    •  Aquecimento excessivo

    •  Distúrbios nas formas de onda de corrente/tensão/fluxo magnético

    De acordo com estudo efetuado [1]  as análises mostram que a porcentagem de

    falhas por componente em máquinas de indução são tipicamente conforme demonstrado

    pelo gráfico a seguir.

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    Capítulo 1 – Tipos de Manutenção e Análise de Falhas

    5

    Figura 1.1. Porcentagem típica de falhas por componente em máquinas de indução

    O mesmo estudo traz uma relação mostrando as falhas por componentes em

    motores de indução (tabela 1.1).

    COMPONENTEFalhas relacionadas a mancais e rolamentos Porcentagem 

    Mancais de deslizamento 16Rolamentos 8Selos 6Mancal de escora 5Vazamentos de lubrificante 3Outros 3

    TOTAL 41

    Falhas relacionadas ao estatorIsolação das ranhuras 23Isolação entre espiras 4

    Apoio das bobinas 3Estecas 1Amarração 1Núcleo 1Outros 4

    TOTAL 37

    Falhas relacionadas ao rotorGaiola (barras e anéis de curto circuito) 5Eixo 2Núcleo 1Outros 2

    TOTAL 10

    Tabela 1.1. Falhas por componentes em motores de indução

    Falhasrelacionadas ao

    estator 37% 

    Falhasrelacionadas

    outros motivos 12% 

    Falhasrelacionadas arolamentos e

    mancais 41% 

    Falhasrelacionadas ao

    rotor 10% 

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    Capítulo 1 – Tipos de Manutenção e Análise de Falhas

    6

    Da análise dos dados podemos observar principalmente dois grandes grupos de

    falhas: falhas relacionadas a rolamentos e mancais (falhas mecânicas) e relacionadas ao

    estator (falhas elétricas). Com isso, temos uma sinalização de que devemos buscar técnicas

    distintas e complementares (elétricas e mecânicas) para identificação de cada grupo de

    falha.

    Devido a grande diversidade de configurações existentes não existem estudos tão

    elaborados e completos sobre as falhas que ocorrem em geradores síncronos. Mesmo

    assim, a experiência demonstra um quadro semelhante, mas com uma redução percentual

    das falhas relacionadas ao estator em detrimento a um aumento das falhas relacionadas ao

    rotor devido a sua maior complexidade construtiva comparado aos rotores de “gaiola de

    esquilo”.

    O estudo citado anteriormente também traz mais alguns dados bastante

    interessantes. A tabela 1.2  mostra a porcentagem de falhas ocorridas em relação ao

    momento de ocorrência.

    Momento da ocorrência Porcentagem de falhasDurante operação normal 66,7%

    Durante manutenção de rotina ou testes 28%Outros 3,6%Não especificado 1,7%

    Tabela 1.2. Porcentagem de falhas ocorridas e relação ao momento de ocorrência

    Um ponto importante a se destacar nesta tabela é que quase 1/3 das falhas ocorrem

    durante manutenção de rotina ou testes! Este fato indica que devemos buscar técnicas de

    manutenção que evitem intervenções periódicas nas máquinas (manutenção preditiva). A

    experiência também tem demonstrado que, tanto para motores de indução quanto para

    geradores síncronos, o momento da partida da máquina é onde temos a situação mais

    estressante e, conseqüentemente, maiores chances de aparecimento de problemas.

    Portanto, técnicas de manutenção que podem acompanhar a integridade da máquina em

    operação normal (sem necessidade de parada e partidas sucessivas) tendem a ser as mais

    indicadas.

    Por fim, a tabela 1.3  traz a relação das principais causas de falhas em motores

    elétricos.

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    Capítulo 1 – Tipos de Manutenção e Análise de Falhas

    7

    CAUSAS DE FALHASCausas principais Ocorrência (%) 

    Transitório de tensão 1,5Sobreaquecimento 13,2Outras falhas de isolação 12,3Falhas mecânicas 33,1Falhas elétricas 7,6Rotor travado 0,9Outros 31,4

    Fatos que contribuem para agravamento falhaSobreaquecimento 4,2Temperatura ambiente alta 3,0Umidade alta 5,8Tensão anormal 1,5Freqüência anormal 0,6Alta vibração 15,5Agentes químicos 4,2Lubrificação insuficiente 15,2Ventilação inadequada 3,9Deterioração normal (envelhecimento) 26,4Outros 19,7

    Causas básicasComponentes defeituosos 20,1

    Instalação ou testes inadequados 12,9Manutenção inadequada 21,4Operação inadequada 3,6Manuseio ou transporte inadequado 0,6Proteções físicas inadequadas 6,1Proteções elétricas inadequadas 5,8Erro operacional 6,8Agentes externos (além de erro operacional) 3,9Desalinhamento motor-carga 4,9Outros 13,9

    Tabela 1.3. Causas de falhas em motores elétricos

    Conforme visto, os fatos mais comuns de “iniciação” de possíveis defeitos são

    sintomas mecânicos (vibração), sobreaquecimento nos mancais ou nos enrolamentos e

    falhas de isolação. Isto indica que devemos buscar as técnicas preditivas que melhor

    identificam cada uma dessas causas.

    Também podemos verificar pelas causas básicas que a equipe de manutenção

    deve, além de cuidar da própria especialização nas técnicas de manutenção de cada

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    Capítulo 1 – Tipos de Manutenção e Análise de Falhas

    8

    equipamento da planta, conhecer, acompanhar e instruir as demais equipes (instalação e

    operação) sobre os meios adequados para prolongar a vida útil destes equipamentos.

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    9

    CAPÍTULO 2

    ANÁLISE DA ASSINATURA DA CORRENTE

    2.1 Introdução

    A identificação de falhas em motores de indução trifásicos através da análise do

    espectro harmônico da corrente do estator, denominada CSA (Current Signature Analisys),

    foi inicialmente proposta por G. B. Kliman e W. T. Thomson em meados da década de 1970.Entretanto, apenas com o avanço da microeletrônica e da informática é que esta tecnologia

    tornou-se mais estudada e difundida. A tecnologia baseia-se no acompanhamento de certas

    componentes de freqüência no espectro harmônico da corrente elétrica de alimentação da

    máquina que terão seu comportamento modificado em função do aparecimento e progresso

    da falha.

    Através dos estudos que se sucederam pôde-se comprovar que o espectro de

    corrente do estator contém valiosas informações que, comparativamente às técnicasanteriores, apresenta grandes vantagens, pois através desta pode-se executar o

    monitoramento da máquina sem interrupção do seu funcionamento e sem a necessidade do

    uso de sensores no seu interior. Além destas vantagens, tem-se observado que esta técnica

    possui uma sensibilidade muito maior a problemas elétricos do que outras utilizadas

    anteriormente (ex.: análise de vibração).

    2.2 Decibel (revisão teórica básica)

    Quando se necessita apresentar graficamente, no mesmo plano, valores com ordens

    de grandeza muito distintos geralmente opta-se por uma mudança de escala em um ou mais

    eixos. Uma das formas de se trabalhar com valores de corrente, potência e tensão é dispor

    da “unidade Bel” (na verdade o Bel não é uma unidade, pois é adimensional). Esta unidade

    recebeu o nome de Bel (B), em homenagem a Alexander Graham Bell (o inventor do

    telefone, 1847-1922). O Bel é na verdade uma função logarítmica de uma relação de

    potências e é representado da seguinte forma:

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    10

     

     

     

     =

    0

    logP

    P Bel   (1)

    Onde:“log” é o logaritmo na base 10;P = potência medida;P0 = potência de referência;Quando P = P0 temos o nível de 0dB. 

    Como cada variação de 1 Bel na escala equivale a uma multiplicação por 10 do valor

    da potência, surgiu a necessidade de um submúltiplo para indicar as variações menores.

    Por conseguinte criou-se o decibel (dB), onde temos a variação de 10dB para cada variação

    de 1 Bel no nível de potência. Então podemos escrever:

     

      

     =

    0

    log.10P

    P xdecibéis   (2)

    Vale a pena lembrar que o dB é uma unidade relativa, com isso torna-se necessário

    sempre especificar a grandeza de referência.

    Para grandezas onde o quadrado é proporcional a potência (tensão, corrente

    elétrica, etc.) temos:

     

      

     =⇒

    0

    log.20V 

    V dBV tensão   (3)

    Onde: 

    V 0  = é a tensão de referência

     

      

     =⇒

    0

    log.20 I 

     I dBAelétricacorrente   (4)

    Onde: 

    I 0  = é a corrente elétrica de referência

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    11

    Normalmente os valores em dB de corrente e tensão são representados como “dB

    A” e “dB V ”, respectivamente.

    A utilização do multiplicador 20 nas fórmulas para achar o nível em dB de tensões e

    correntes está ligada ao fato de que a potência elétrica é proporcional ao quadrado das

    tensões e correntes e também pela propriedade dos logarítmos que apresenta a seguinte

    equação:

    )log(.2)log(2

     x x   =   (5)

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    12

    2.3 Falhas Elétricas e Mecânicas a Serem Diagnosticadas

    Resumidamente podemos dizer que os efeitos das falhas elétricas e mecânicas

    ocorrendo em um motor elétrico aparecem refletidos na corrente do estator em função de

    perturbações que estas falhas geram no fluxo do entreferro (air-gap). Estas falhas podem

    ser divididas, para efeito de estudo, basicamente em dois grupos em função da variação que

    causam no entreferro e, conseqüentemente, nas forças eletromagnéticas entre o rotor e o

    estator: falhas que provocam alteração estática e as que provocam alteração dinâmica no

    entreferro.

    A alteração estática do entreferro geralmente é provocada por defeitos no estator 

    e ocorre quando a resultante das forças eletromagnéticas não gira, ou seja, permanece

    estática em relação a este. Como exemplos deste tipo de alteração podemos citar:

    •  Estator ovalizado;

    •  Estator com excentricidade estática;

    •  Curto-circuito entre espiras no enrolamento do estator;

    •  Curto-circuito entre as lâminas do núcleo magnético do estator.

    Já a alteração dinâmica no entreferro geralmente está relacionada a defeitos no

    rotor, sendo que a resultante das forças eletromagnéticas gira na mesma rotação deste.

    Como exemplos deste tipo de alteração podemos citar:

    •  Eixo excêntrico no rotor;

    •  Desbalanceamento do rotor;

    •  Barras quebradas no rotor;

    •  Falhas nos rolamentos.

    Figura 2.1. Diagrama esquemático da alteração dinâmica no entreferro

    Centro dorotor

    Centro doestator

    RotorEntreferrodinâmico

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    13

    Figura 2.2. Diagrama esquemático da alteração estática no entreferro

    Com isso, analogamente ao que ocorre com a técnica de análise de vibrações,

    podemos relacionar as principais falhas a que estão sujeitos os motores elétricos com as

    freqüências características que aparecem no espectro de corrente [4], como segue:

    2.3.1. Expressão Geral para Excentricidade no Entreferro

    Conforme [5]  podemos identificar as componentes de freqüências no espectro

    harmônico da corrente utilizando a expressão (6).

    ±

     

      

       −±= ).(

    2 / 

    1eccsexc nkR

     p

    sn f  f    (6)

    Onde:

     f = freqüência elétrica de alimentação; k  =1, 2, 3, . R = número de barras do rotor; 

    N

    S

    Centro doestator

    (excêntrico)Campomagnéticogirante

    Centro dorotor

    Rotor

    Entreferro(air-gap)

    N S

    Forçaresultante

    N

    S

    NS

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    14

    s = escorregamento da máquina em pu;necc (número da ordem da excentricidade) = 0, 1, 2, 3, 4, 5, ...

    necc = 0 => excentricidade estática do entreferro;necc = 1, 2, 3... => excentricidade dinâmica do entreferro;

     p = número de pólos;ns (ordem da harmônica da freqüência de alimentação) = 1, 3, 5, 7, 9, ...

    Esta expressão pode representar grupos distintos de harmônicos. O fator “k”   está

    relacionado aos harmônicos do rotor, o fator “n ecc ” aos relacionados a excentricidade e o

    fator “n s ” aos harmônicos do estator.

    A desvantagem deste método é a necessidade de se conhecer aspectos construtivos

    da máquina como o número de barras do rotor. Em contrapartida, utilizando-se esta formade monitoração tem-se a separação dos efeitos das falhas de barra quebrada e

    excentricidade.

    A outra forma de monitoração consiste em acompanhar o comportamento das

    bandas laterais em torno da componente fundamental. Estas freqüências são dadas por:

     

      

       −±=

    2 / 

    11

     p

    sm f  f exc   (7)

    Onde:m =1, 2, 3...

    A vantagem do método está justamente no fato de não se precisar conhecer os

    aspectos construtivos da máquina para se fazer uma avaliação da saúde do motor com

    relação a este tipo de falha.

    2.3.2. Espiras em Curto-Circuito no Estator

    Quando existirem curto-circuito entre espiras no estator a densidade de fluxo do

    entreferro  será perturbada e esta perturbação apresentará uma resultante estática em

    relação ao estator. As freqüências das componentes espectrais na densidade de fluxo do

    entreferro, que serão refletidas ao espectro de corrente do estator, e que caracterizam este

    tipo de falha são dadas por [9]:

     

     

     

       −±=

    2 / 

    1

     p

    sk n f  f 

    ec 

    (8)

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    15

    Onde: f  = freqüência da alimentação elétrica; k  = 1, 2, 3...;s = o escorregamento da máquina em pu;

     p = número de pólos;n = 1, 3, 5... 

    2.3.3. Rotor com Barras Quebradas ou Trincadas

    Quando o rotor tipo gaiola de esquilo de um motor de indução possuir barras

    quebradas ou trincadas, trincas no anel de curto-circuito ou mesmo conexões com alta

    resistência elétrica entre as barras e o anel poderão aparecer componentes no espectro de

    corrente com as freqüências dadas pela seguinte expressão [5]:

    .f.sk. f  f bq

    2±=   (9)Onde:

     f  = freqüência elétrica de alimentação; k  = 1, 2, 3...; s = escorregamento da máquina em p.u. 

    Na prática, entretanto, quando há problemas elétricos no rotor as componentes que

    mais se destacam em amplitude no espectro de corrente do estator são a componente

    fundamental e dois picos igualmente afastados de 2.f.s  desta, onde  f   é a freqüência de

    alimentação e s é o escorregamento da máquina em p.u; conforme verificado na figura 2.3.

    Figura 2.3. Componentes que caracterizam a quebra de barras

    A componente da esquerda ( f - 2fs)  é resultado direto da falha, enquanto que a

    componente da direita ( f + 2fs) é resultado do ripple de velocidade. Desta forma, pode-se

    afirmar que a quebra de barras resulta no aparecimento de componentes no espectro da

    corrente do estator nas freqüências dadas por [4]:

    )21.( s f  f bq   ±=   (10)

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    16

    Onde: f  = freqüência elétrica de alimentação;k = 1, 2, 3...;s = escorregamento da máquina em p.u.

    A figura 2.4  mostra um exemplo de aquisição de sinais de espectro harmônico da

    corrente de um motor de indução trifásico, marca WEG (FH 88747), rotor gaiola, 5CV,

    1730rpm, 220V, 60Hz, 4 pólos, categoria N, 44 barras no rotor, 36 ranhuras no estator,

    rolamento SKF 6205-2Z, ID–1, carcaça 100L, classe de isolamento B, FS 1,15, Ip/In 7,5, IP

    55, 13,8A, onde foram danificadas propositalmente 2, 3, 5 e 7 barras do rotor [7].

    45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75

    -60

    -50

    -40

    -30

    -20

    -10

    0

    10

    20

    30

    FREQUENCYIN Hz

       R   M   S

       A   M   P   L   I   T   U   D   E   I   N

       A   M   P   S

       (   D   B   )

    ACF - Barras Quebradas

    2BQ -

     

    45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75

    -60

    -40

    -20

    0

    20

    40

    FREQUENCYIN Hz

       R   M   S

       A   M   P   L   I   T   U   D   E   I   N

       A   M   P   S

       (   D   B   )

    ACF - Barras Quebradas

    3BQ -

     

    45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75

    -80

    -60

    -40

    -20

    0

    20

    40

    FREQUENCYIN Hz

       R   M   S

       A   M   P   L   I   T   U   D   E   I   N

       A   M   P   S

       (   D   B   )

    ACF - Barras Quebradas

    5BQ -

     

    45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75

    -60

    -40

    -20

    0

    20

    40

    FREQUENCY IN Hz

       R   M   S

       A   M   P   L   I   T   U   D   E   I   N

       A   M   P   S

       (   D   B   )

    ACF - Barras Quebradas

    7BQ -

     

    ≠ 54,94 dB  ≠ 52,83 dB 

    2 BQ  3 BQ 

    5 BQ 7 BQ 

    ≠ 34,45 dB ≠ 32,41 dB 

    2 x fs = 5,0302 x fs = 4,943

    2 x fs = 5,3232 x fs = 5,301

    Figura 2.4. Espectro harmônico da corrente para 2, 3, 5 e 7 barras quebradas no rotor

    É interessante observar que, neste caso, nos gráficos de 2 e 3 barras quebradas

    (2BQ e 3BQ) ainda não são notadas as bandas laterais direitas ( f + 2fs). Isto se deve ao fato

    de que, provavelmente, ainda não são significativas as oscilações na rotação. Já quando se

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    17

    tem 5 ou 7 barras quebradas (5BQ e 7BQ), mais de 10% do total de barras do rotor, essas

    bandas tornam-se aparentes.

    Conforme visto, as bandas laterais típicas )21.( s f    ± são devido ao aparecimento de

    excentricidade dinâmica no entreferro e podem ser confundidas com problemas mecânicos

    que também causam este tipo de fenômeno. Uma das mais poderosas ferramentas que

    podem ser utilizadas para dirimir esta dúvida é a denominada “comparação de dois testes”

    (“two-test comparison”, em inglês) [12]. Esta consiste em se efetuar duas medições de

    espectro harmônico da corrente em duas situações de diferença significativa de carga (ao

    menos 40% de diferença, se possível, mas a menor carga deve maior que 30% da

    capacidade nominal da máquina). Isto permite avaliar se ocorre um deslocamentosignificante nas freqüências simétricas )21.( s f    ±  em relação a componente fundamental.

    Se as componentes simétricas são resultantes de problemas mecânicos então haverá

    apenas uma pequena alteração em função da carga. Por outro lado, se as bandas laterais

    forem devido a barras quebradas no rotor haverá um deslocamento significativo, uma vez

    que o escorregamento da máquina aumenta com a carga.

    A tabela 1.4 traz uma estimativa da condição do rotor em função da relação em dBA

    entre a componente fundamental da corrente e a componente em 2fs [8].

    Ilinha / I2fs Avaliação da condição> 60 dBA Excelente

    54 a 60 dB Boa

    48 a 54 dB Moderada

    42 a 48 dB Desenvolvendo trinca na barra do rotor ou juntas com alta resistência

    36 a 42 dB Danos leves. Provavelmente duas barras trincadas ou quebradas ou juntas de altas resistências

    30 a 36 dBDanos moderados. Muitas barras trincadas e/ou quebradas ou trincasnos anéis de curto-circuito.

    < 30 dB Danos severos. Muitas barras trincadas e/ou quebradas, várias trincasnos anéis de curto-circuito e falhas severas em toda gaiola.

    Tabela 1.4. Severidade e recomendações para análise de corrente

    É importante observar que a quebra de algumas barras não leva o motor

    imediatamente à falha, ou seja, a máquina pode continuar funcionando mesmo com aexistência de barras quebradas ou trincadas. Contudo, efeitos secundários consideráveis

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    18

    podem ocorrer como, por exemplo, as barras quebradas atingirem o estator. Além disso, os

    esforços elétricos e mecânicos, que ocorrem principalmente na partida ou variações bruscas

    de carga da máquina, acabam sobrecarregando as barras “sãs” o que, geralmente, acarreta

    danos a estas num efeito em cascata.

    Pode-se estimar a quantidade de barras quebradas através da amplitude da banda

    lateral esquerda ( f - 2fs) utilizando-se a seguinte expressão [5]:

    )2.(2   α π  

    α 

    −≅

     p

    sen

     I 

     I 

     f 

    bq   (11)

    Onde: I bq = amplitude linear da componente em (f - 2fs); I  f  = é a amplitude linear da componente fundamental;  p = o número de par de pólos.

    E α é dado por:

     R

     p Rbπ  α 

    2=   (12)

    Onde: Rb = o número de barras quebradas;  R = o número de barras do rotor. 

    Na prática, as componentes da banda lateral são geralmente 30 a 50 dBA menores

    do que aquela da freqüência de linha (fundamental). Com isso, a equação (11) pode ser

    rearranjada de modo que possa facilmente ser usada com os analisadores de espectro que

    têm uma escala logarítmica (dB).

    Um ponto importante é que a influência da carga não aparece explicitamente na

    equação (11). Entretanto, estudos de comparação entre o número previsto de barras

    quebradas usando a equação (11) e o número real mostrou que a diferença em dB muda

    com variações da carga. Além disso, mostrou que a equação subestima o número de barras

    quebradas e, conseqüentemente, o grau de severidade da falha, particularmente em cargas

    mais leves. Desta forma, a fim prever barras quebradas com exatidão razoável um fator

    empírico deve ser adicionado nos cálculos.

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    19

    Deve-se ressaltar que se existem barras quebradas em várias partes do rotor, a

    análise em corrente muitas vezes não será capaz de propiciar o diagnóstico preciso do

    problema. Resulta daí que as observações feitas até agora são válidas para quebra de

    barras subseqüentes. Outro cuidado com a utilização deste é no sentido de se evitar uma

    possível confusão entre a real ocorrência de quebra de barra e a modulação da corrente

    produzida por outros eventos e que geram as mesmas componentes de interesse ou

    componentes muitos próximas a  f ± 2fs. Como exemplo pode-se citar oscilações do torque

    de carga e processos que usam caixas de engrenagens para alta redução de velocidade.

    2.3.4. Falhas no Rolamento

    Apesar de alguns autores sugerirem a monitoração da corrente do estator para

    propiciar as mesmas indicações de falhas que a análise de vibração, trazendo como

    benefício principal em relação a esta última técnica a não necessidade de acesso ao motor,

    na prática, a técnica de análise de vibração tem se mostrado muito mais sensível a

    problemas insipiente (iniciais) nos rolamentos.

    Quando os problemas nos rolamentos tornam-se mais acentuados estes causam

    deslocamentos radiais entre o rotor e o estator da máquina. Da mesma forma que os

    problemas vistos anteriormente os problemas nos rolamentos acarretam uma variação noentreferro que, por sua vez, aparecem no espectro de corrente do estator. As freqüências de

    falhas destes problemas no espectro de corrente se são dadas pela seguinte expressão:

    vrol  f m f  f  .±=   (13)

    Onde: f  = freqüência de alimentação em Hz; m = 1,2,3...;

     f v = freqüência característica do espectro de vibração.

    Tanto experiências em laboratório quanto estudos de casos reais têm demonstrado

    que a técnica CSA pode detectar falhas mecânicas como, por exemplo, defeitos em

    rolamentos. Entretanto, devido a características da forma de detecção a análise de

    vibrações tem se mostrado mais eficiente em detectar problemas nos rolamentos quando

    estes ainda são incipientes. Além disso, as alterações observadas no espectro de corrente do estator correspondem ao desequilíbrio nas forças magnéticas dentro da máquina; a

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    Capítulo 2 – Análise da Assinatura da Corrente

    20

    resultante destas forças, por sua vez, interage com a estrutura do motor (carcaça), a qual

    responde na forma de vibração mecânica. Em função disto, temos que estas duas

    tecnologias, que possuem seus prós e contras, devem se complementar na identificação

    das diversas falhas a que estão sujeitos os motores elétricos.

    É importante mencionar ainda que, apesar da separação didática dos defeitos, o que

    ocorre geralmente em casos reais é o aparecimento de falhas simultâneas com intensidades

    distintas em várias partes da máquina. Isto obriga os profissionais e fabricantes de

    equipamentos a se especializar cada vez mais na tarefa de análise dos resultados obtidos

    nas medições para conseguir identificar e isolar cada falha.

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    21

    CAPÍTULO 3

    DESCARGAS PARCIAIS

    3.1 Introdução

    Uma das principais tecnologias disponíveis atualmente para avaliação da qualidade

    da isolação dos enrolamentos estatóricos de motores e geradores de média tensão (2kV a

    25kV) está relacionado com a quantificação dos níveis de Descargas Parciais (DPs).Descargas Parciais, doravante chamadas DPs, são fenômenos ocasionados pelo

    rompimento parcial da rigidez dielétrica do material isolante e são originadas pelo processo

    de ionização do meio gasoso submetido a um elevado campo elétrico.

    O nível de DPs depende, dentre outros fatores, da intensidade de campo elétrico a

    que a isolação está submetida. Obviamente, máquinas que operam com uma tensão maior

    (ex.: 13,8kV) possuem uma tendência de apresentarem maiores níveis de DPs, mesmo

    quando novas, e, conseqüentemente, a deterioração em função destas ao longo do tempo émais acentuada nestas máquinas. Ainda assim, é importante observar que mesmo em

    máquinas “sadias” que operam com níveis de tensão mais baixos, em torno de 4,0kV, é

    natural que ocorra uma pequena quantidade de DPs. Além disso, em máquinas com estes

    níveis de tensão a experiência tem demonstrado que a falha ocorre poucas semanas após

    ser detectado um nível significativo de DPs [17]. Isto indica a utilização de um sistema de

    monitoração on-line para estes casos.

    Outro ponto importante é que a deterioração da isolação não ocorre apenas em

    função do campo elétrico, sendo que os principais agentes deteriorantes são a temperatura,

    fatores mecânicos (vibração) e contaminação da isolação. De acordo com o histórico de

    falhas em máquinas que operam com tensões entre 2 a 6kV observa-se que os principais

    fatores que deterioram a isolação destas são os esforços térmicos e as contaminações por

    elementos químicos ou umidade. Para máquinas que operam com tensões acima de 6kV os

    esforços mecânicos e térmicos constituem os fatores predominantes que levam a falha do

    enrolamento do estator [18].

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

    22

    Isso faz com que seja indicado o acompanhamento periódico dos níveis de DPs nas

    máquinas buscando uma tendência na evolução destes.

    O sistema da isolação tipo Epoxy-mica, usado atualmente na maioria das máquinasrotativas de média e alta tensão tolera muito bem descargas parciais dentro de um certo

    limite. A mica, um mineral derivado do silicato, tem uma estrutura estável de cristal tetraedral

    com camada orientada, visto que as camadas podem facilmente ser destacadas. Assim, na

    maior parte, mesmo em isolações recém impregnadas é comum a ocorrência de descargas

    parciais internas nas microbolhas de ar existentes entre as camadas de mica. Além disso,

    com a ciclagem térmica da isolação ocasionada pela operação da máquina aumentam as

    áreas de delaminação entre as camadas de mica. Este envelhecimento da isolação

    eventualmente muda a aparência da atividade das descargas parciais. Adicionalmente, por

    exemplo, defeitos, contaminação, ou o envelhecimento da isolação na saída da ranhura

    causarão a atividade de descargas parciais típicas.

    Entretanto, em função da alta estabilidade contra descargas parciais que os

    compostos de epoxy-mica oferecem, geralmente estas atividades de descargas não

    ocasionam um imediato rompimento da isolação, mas claramente identificam o surgimento o

    avanço dos problemas. Em função disso, a análise da atividade das descargas parciais

    proporciona avaliação de possíveis problemas elétricos, mecânicos e ambientais (umidade,poluição, etc.) que afetam a integridade do sistema de isolação.

    A figura 3.1  ilustra esquematicamente a presença de ar em um vão que

    eventualmente possa se formar no interior da isolação de uma barra [19]. O vão é

    representado pelo capacitor de capacitância C C . Os capacitores hipotéticos C A  e C B  

    representam as partes “saudáveis” da isolação que estão em paralelo e em série com o vão

    de ar, respectivamente. O eletrodo superior representa o cobre energizado durante

    operação da máquina ou teste da barra e o eletrodo inferior representa a superfície aterradado componente.

    Figura 3.1. Ilustração esquemática da presença de um vão de ar no interior de um meio isolante.

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

    23

    Na figura anterior temos que tanto o vão de ar quanto a parte íntegra da isolação

    podem ser representados por capacitores hipotéticos.

    A aplicação de uma tensão senoidal entre os eletrodos implica na formação de umpotencial também senoidal através do capacitor CC  (vão de ar). A figura 3.1  ilustra a

    formação desses dois potenciais (a tensão aplicada nos eletrodos e a tensão que se

    desenvolve no vão de ar). A tensão Vc criada no vão irá depender, entre outras coisas, da

    tensão aplicada (Vg) sobre o dielétrico, das características da isolação (CA, CB), da pressão

    no interior do vão e de sua geometria (CC). A despeito dos detalhes exatos do fenômeno, o

    fato relevante é que pode haver um momento ao longo do ciclo de tensão no interior do vão

    de ar para o qual a tensão desenvolvida através do vão seja suficiente para romper

    dieletricamente o ar. Nesse momento um pulso de corrente atravessa CC formando o que se

    convencionou chamar de descarga parcial. Em geral, nos momentos seguintes à formação

    da descarga a população de cargas espaciais criadas no dielétrico impede que uma nova

    descarga ocorra antes da inversão de polaridade no segundo semi-ciclo da tensão. Nesse

    caso, é esperado que associado ao vão de ar devam existir duas descargas parciais, sendo

    uma em cada semi-ciclo (semi-ciclos positivo e negativo), conforme ilustrado na figura 3.2.

    Figura 3.2. Esquema ilustrando a aplicação de uma tensão senoidal entre os eletrodos da figura 3.1 ea respectiva tensão desenvolvida através do vão de ar representado pelo capacitor CC. Quando a

    tensão atinge o nível para ruptura do ar no interior do vão, formas e uma DP

    As DPs são tidas como fontes de defeitos nos isolamentos elétricos, uma vez que a

    temperatura gerada por elas leva a deterioração do dielétrico, e sua presença pode justamente ser um indicativo de uma falha futura do isolamento. Inicialmente o fenômeno

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

    24

    ocorre no isolamento elétrico de forma parcial e com o tempo existe a tendência de se tornar

    total, o que causaria um curto-circuito entre as partes energizadas, danificando o

    equipamento elétrico.

    Entretanto, o principal desafio na utilização desta tecnologia concentra-se no fato de

    que cada equipamento elétrico, mesmo aqueles pertencentes a uma mesma família,

    apresenta peculiaridades quando da ocorrência de DPs no interior do seu sistema isolante.

    Assim, é necessário observar que a análise e o diagnóstico devem utilizar conhecimentos e

    regras diferentes para cada tipo de equipamento. Além disso, é importante que os níveis de

    ocorrência de DPs sejam avaliados ao longo de toda a vida útil do equipamento para

    determinação de características específicas. Daí a importância e a necessidade de se fazer

    uma análise da evolução das descargas em um mesmo grupo de dados e utilizar com

    cautela as informações históricas obtidas de bancos de dados genéricos.

    3.1.1. Grandezas Relacionadas às Descargas Parciais

    Os resultados de medições das DPs são geralmente expressos quantitativamente

    em termos de grandezas especificas. As grandezas apresentadas a seguir são usualmente

    relacionadas as DPs e também são grandezas geralmente analisadas nos mapas

    estatísticos. Outras grandezas relacionadas às DPs podem ser encontradas nas referencias

    [14], [15] e [16]. 

    Carga Aparente   (q)   a carga aparente de um pulso de corrente DP é o valor

    absoluto da carga que, se injetada em um curto espaço de tempo entre os terminais do

    objeto de teste em um circuito específico, apresentara a mesma leitura no instrumento que o

    pulso decorrente de DP. A carga aparente é usualmente expressa em pico Coulombs [pC].

    É importante observar que a carga aparente conforme definida anteriormente é um valor

    aproximado e não é exatamente igual à quantidade de carga realmente transferida através

    da cavidade considerada no isolante (a igualdade só e válida para condições idealizadas, ou

    seja, descargas instantâneas em objetos puramente capacitivos).

    Taxa de Repetição   (n)  Número médio de pulsos de DPs por segundo, medido

    num intervalo de tempo especificado. Na prática, somente pulsos acima de uma amplitude

    especificada, ou dentro de um range de amplitudes especificadas serão considerados. A

    especificação da amplitude é estabelecida através do índice denominado LLD  (Low Level

    Discriminator), que estabelece a percentagem da amplitude máxima que será considerada.

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

    25

    Considere, por exemplo, a amplitude máxima dos pulsos definida como 100 pC um LLD de

    5%, neste caso só serão considerados pulsos com amplitude superior a 5 pC. Essa prática é

    importante posto que evita que sejam considerados pulsos que estão relacionados a ruídos

    de baixa amplitude, que são bastante comuns em ambientes reais. Este recurso otimiza, de

    certa forma, o tempo de processamento do sistema de aquisição, pois a taxa de ocorrência

    de pulsos de baixa amplitude é muito elevada. Outra vantagem é que, como cada DP

    apresenta um pulso oscilante conforme visto na figura 3.3, utilizando-se o LLD não corre-se

    o risco de contagem de dois ou mais picos em um único pulso.

    Contagem de Pulsos , NDP  estabelece o número de pulsos de DP ocorridos com

    amplitude superior ao estabelecido pelo LLD do ensaio, durante o período analisado. Ele

    fornece uma idéia de quão intensa é a atividade que desencadeia a ocorrência de DP em

    um determinado objeto sob teste. Acredita-se que essa grandeza esteja diretamente

    relacionada com o grau de envelhecimento das barras estatóricas, bem como com a tensão

    aplicada à mesma.

    De acordo com [18] a experiência de acompanhamento on-line de DPs em máquinas

    tem mostrado que há relativamente poucas regras na interpretação dos resultados.

    Basicamente, deve-se acompanhar a tendência da magnitude ou da contagem das DPs.

    Como regra prática se a magnitude ou a contagem das DPs dobrar a cada 6 meses oumenos indica uma deterioração acentuada da isolação e uma ação corretiva deve ser

    realizada o mais breve possível. Uma curva de tendência que mantém uma constância ao

    longo do tempo geralmente indica uma isolação em boas condições. Se a tendência indicar

    uma rápida piora ao longo dos anos e depois houver uma estabilização, ou mesmo uma

    pequena melhora, indica que a isolação está muito próxima de falhar.

    Da mesma forma, quando houverem diversas máquinas similares equipadas com os

    mesmos tipos de sensores, as máquinas que apresentares os maiores níveis de DPstendem a falhar primeiro.

    3.1.2. Características do Circuito de Medição Típico

    Semelhante ao que ocorre com as descargas atmosféricas a ocorrência de DPs no

    isolamento de um equipamento elétrico manifesta-se na forma de um trem de pulsos de alta

    freqüência, com a conseqüente produção de ruídos acústicos ou eletromagnéticos,

    luminescência (descargas superficiais) e perturbações (corrente e tensão) no circuito de

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    alimentação elétrica do equipamento. Estas perturbações podem ser facilmente detectadas

    através de transdutores apropriados que serão descritos mais adiante. Com isso, este trem

    de pulsos pode ser registrado em função do tempo conforme representado na figura 3.3. 

    Figura 3.3. Pulso de descarga parcial

    Para melhor entendido da forma de onda representada na figura 3.3 podemos

    imaginar que este seria um pulso de corrente medido em um circuito semelhante ao da

    figura 3.1. Em aplicações reais devemos atentar para o tipo de circuito de medição utilizado,

    medição de pulsos de tensão ou de corrente, e para a convenção de sinais adotada (pulsos

    positivos e negativos) em relação a fase da tensão de referência.

    Conforme visto, uma forma de se quantificar a ocorrência de DPs é através da carga

    aparente dos pulsos, medida em pC (pico Coulomb). Esta representação nada mais é do

    que a integração da área abrangida pelo pulso com base no tempo.

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    Figura 3.4. Trem de pulsos ao longo de um ciclo da senóide. A escala vertical é dada em mV, e ahorizontal em nano-segundos

    Como trata-se de um sinal de alta freqüência, um circuito típico para medição elétrica

    de DPs é mostrado na figura 3.5.

    Figura 3.5. Diagrama de um circuito de medição de Descargas Parciais

    As descargas parciais que ocorrem no equipamento sob ensaio causam

    transferência de cargas ao circuito de medição, dando origem a pulsos de corrente através

    do impedor de medição (Z). O fenômeno de DP é captado através do capacitor de

    acoplamento C1 (da ordem de dezenas ou centenas de pF) e medido sobre a impedância

    de medição Z (tipicamente da ordem de algumas dezenas de Ohms). Note que C1 e Z

    constituem um filtro passa alta, que elimina as componentes de baixa freqüência do sinal

    (ruídos), viabilizando a aquisição do sinal de DP pelo equipamento de medição.

    Um detalhe importante é que, para a caracterização e determinação do provável

    local do defeito no isolamento, é conveniente registrar os pulsos de DPs em função da fase

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    da senóide em que estes ocorreram. Para tanto, utiliza-se o divisor capacitivo formado por

    C2 e C3, de modo a se obter um sinal de sincronismo pela fase de alimentação. Numa

    instalação industrial, o sinal de sincronismo pode ser disponibilizado por meio de um

    transformador de potencial (TP) de uma das fases. Ambos os sinais, de DP e de

    sincronismo, seguem para o equipamento de medição, onde serão obtidos e processados.

    Os sinais de DPs são, portanto, medidos a partir de capacitores de acoplamento

    conectados em pontos pré-definidos ao longo dos circuitos das fases do enrolamento

    estatórico. Conforme as características do gerador e a filosofia de medição podem ser

    instalados diversos acopladores por circuito (figura 3.6). Para grandes hidrogeradores, por

    exemplo, e aconselhável se instalar acopladores em cada um dos enrolamentos paralelos

    de cada fase. Além disso, medições de resposta de freqüência com injeção de carga em

    diferentes pontos ao longo do enrolamento indicam que os acopladores deve ser instalados

    próximos da extremidade de cada bobina.

    (a) (b)

    Figura 3.6. Configuração de instalação dos acopladores capacitivos para pequenas (a) e grandes (b)máquinas

    De acordo com [14]  não existe uma forma precisa e consençada sobre o número

    mínimo necessário de acopladores, posto que, qualquer critério que se adote não possibilita

    a quantificação com precisão do nível das descargas e nem estabelecer sua posição relativa

    dentro do estator. Isso ocorre porque o conjunto de enrolamentos do estator se comporta

    em alta freqüência como circuitos distribuídos com indutâncias série e capacitância em

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    paralelo. Esse comportamento faz com que os sinais correspondentes às descargas tenham

    diferentes amplitudes em função de seu local de ocorrência e da posição relativa do

    acoplador onde está sendo realizada a medição.

    A conclusão a que se chega é que a medição de DP deve se propor a estabelecer

    um comportamento estatístico do enrolamento como um todo e identificar a evolução dos

    níveis de descarga ao longo do tempo. Conforme a técnica de análise utilizada é possível

    também estimar o tipo de defeito que estaria ocorrendo no estator.

    Com essas premissas algumas flexibilizações podem ser consideradas no processo

    de medição das descargas parciais:

    •  Um maior número de acopladores não necessariamente vai introduzir maiorconfiança e eficiência no diagnóstico, nem propiciar a localização de algumaregião mais crítica em termos de ocorrência de descarga;

    •  O valor da capacitância do acoplador não é muito importante (podem serutilizados acopladores com 500 pF, 145 pF, 80 pF, entre outros), desde que seadote um de mesma grandeza em todos os pontos de medição;

    •  A calibração do circuito de ensaio também não é muito importante, posto quedescargas em diferentes pontos do enrolamento se traduzem em diferentesamplitudes de descarga nos pontos de medição e o mais importante éacompanhar a evolução das descargas em uma mesma posição geométrica;

    Podem ser feitos diferentes ajustes do circuito de medição e da instrumentação para

    diferentes acopladores instalados nos diversos pontos ao longo do enrolamento, ou seja, os

    ajustes de sensibilidade da medição podem ser definidos para cada acoplador; Basta que se

    distribuam acopladores nas regiões onde há maior concentração de campo elétrico no

    enrolamento (lado de alta tensão) e, se for o caso, em posições de forte acoplamento entre

    barras de diferentes fases.

    A diversidade de montagens possíveis dos circuitos de ensaio permite a realização

    de medições em diversas faixas de freqüência. Assim, conforme a instalação a ser

    considerada, é possível ajustar as faixas de freqüência mais sensíveis para cada tipo de

    enrolamento e, se for o caso, para cada acoplador instalado.

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    3.1.3. Freqüências de Detecção Aplicáveis

    Sabe-se que o tempo de subida teórico de uma avalanche de elétrons numa

    atmosfera de nitrogênio e a pressão ambiente ocorre em torno de 1ns. Com isso, tem-seque um impulso de descarga parcial tem um espectro de amplitude distribuído até algumas

    centenas de MHz. Entretanto, quando estamos avaliando o fenômeno em enrolamentos

    reais, a integridade do sinal está sujeita a diferentes influências como atenuação, dispersão,

    reflexão e efeito pelicular, por exemplo, já que as bobinas das máquinas elétricas não são

    projetadas com o propósito de conduzir estes sinais de alta freqüência.

    Uma das maiores causas da atenuação em função do aumento da freqüência é

    devido a camada semi-condutiva introduzida para uniformizar o campo elétrico e prevenir

    contra descargas internamente as ranhuras.

    Com o aumento da freqüência, o processo de condução se concentra na superfície

    e, conseqüentemente, leva a uma condição cada vez mais desfavorável a propagação

    destes sinais.

    Outra causa importante de atenuação são as reflexões que ocorrem a cada

    mudança de impedância do meio condutor. Isto ocorre porque, enquanto nas ranhuras do

    núcleo as bobinas têm comparativamente uma baixa impedância, como se estaspossuíssem uma blindagem (semelhante a dos cabos coaxiais), nas cabeças das bobinas

    esta impedância é significativamente maior, uma vez que não possuem esta “blindagem”

    (figura 3.7)

    Figura 3.7. Alterações de impedância ao longo das bobinas do estator

    Cabeças das bobinas: ZL > 100Ω 

    Internamente as ranhuras: ZL ~ 10-20Ω

    Cabeças das bobinas: ZL > 100Ω 

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    O efeito resultante de uma reflexão positiva, quando o sinal deixa a ranhura, e

    negativa, quando este reentra na ranhura, é uma forte atenuação nas componentes de altas

    freqüências, onde o comprimento físico da ranhura é da mesma ordem de grandeza do

    comprimento da onda. Desta forma, para grandes geradores este efeito torna-se dominante

    acima de alguns MHz. Com isso, as medições de descargas parciais devem se concentrar

    em uma banda de freqüência em torno de 10MHz. Por outro lado, por causa desta alta

    atenuação na propagação do sinal pelos enrolamentos, as freqüências elevadas em torno

    destes proporcionam um excelente meio de detecção de problemas localizados através da

    utilização de antenas ou pontas de prova especiais.

    3.1.4. Mapas Estatísticos de DPPor se tratar de eventos esporádicos a ocorrência de DPs é melhor caracterizada

    através de métodos estatísticos, sendo necessária a aquisição do sinal durante vários ciclos

    da rede. Entretanto, como o sinal é de alta freqüência (tipicamente até algumas dezenas de

    MHz), pelo teorema de Nyquist, para não incorrermos em erros de aliasing , o sinal deve ser

    digitalizado com uma taxa de aquisição pelo menos igual ao dobro de sua maior

    componente de freqüência. Deste modo, se a aquisição dos sinais de ocorrência de DPs

    fosse efetuada da forma tradicional (sinal x tempo) teríamos um problema de espaço de

    armazenamento da informação. Para contornar o problema, a forma adotada para registrar a

    ocorrência de DPs foi a construção do mapa estatístico de DP, representado na figura 3.8,

    que é comumente utilizado como forma de representação de DP em instrumentos digitais de

    medição.

    Figura 3.8. Mapas Estatísticos de DP. À Esquerda um Mapa Unipolar e à Direita um Mapa Bipolar

    Seria inapropriado registrar e representar vários trens de pulsos ao longo de vários

    ciclos da rede, pois teríamos um gráfico muito “poluído” de informações. Por isso, para uma

    representação gráfica mais satisfatória o sistema de aquisição, a cada ciclo, captura um

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    trem de pulsos e registra-os num gráfico de superfície. Neste gráfico, o eixo horizontal

    representa fase da tensão aplicada, o eixo vertical representa amplitude, e a cor indica o

    número de ocorrências de DP (com determinada amplitude e em determinada fase) ao longo

    de vários ciclos de aquisição. Note que, na construção do mapa estatístico, cada vetor com

    um trem de pulsos é processado e descartado logo em seguida, de modo que a informação

    da ocorrência de DP é extraída e condensada, com economia de memória e espaço de

    armazenamento.

    A aquisição de um mapa estatístico de DP comporta, logo após a digitalização dos

    pulsos, uma segunda discretização dos valores de fase e amplitude, de acordo com as

    dimensões da matriz de representação do mapa. Embora este processo implique em uma

    certa perda de informação, o mapa estatístico de DP é uma forma de representação

    bastante próxima do fenômeno medido, e dele pode-se extrair muitas outras informações

    usualmente registradas pelos sistemas digitais de medição de DP.

    3.1.5. Padrões de Defeitos em Barras Estatóricas

    Alguns padrões de mapas de DPs já foram entendidos pela ciência que estuda esse

    fenômeno e servem para nortear a localização do defeito dentro da máquina, como segue:

    •  Quando padrões de DP são simétricas, ou seja, o padrão é o mesmo seja no ciclopositivo como no ciclo negativo da tensão, sabe-se que a atividade de DP ocorredentro do isolamento e não no condutor ou no terra.

    •  Quando os padrões de descargas não são simétricos, diz-se que as descargasestão ocorrendo entre a superfície do isolamento e a parte metálica aterrada,denominada descargas na ranhura. Nesse caso, além de ser assimétrica, há umapredominância de atividade durante o ciclo negativo da tensão.

    Pelo lado da instrumentação, o uso do padrão PRPD (Phase-resolved PartialDischarge) ou padrão de ocorrência de descargas parciais em função do ângulo da tensão,

    ou também chamado de padrão ϕ-q-n  que é um padrão atualmente muito aperfeiçoado para

    interpretação e correlação da atividade das descargas parciais com diferentes mecanismos

    de falhas que podem ocorrer na isolação.

    O padrão ϕ-q-n é uma representação tridimensional da distribuição da contagem de

    ocorrência de DPs em função do ângulo de fase da tensão e de sua amplitude. Como

    exemplo, a figura 3.9 mostra o padrão PRPD da isolação termicamente envelhecida de umamáquina elétrica rotativa. Nesta figura pode-se observar indicação de diversos pontos no

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    plano ϕ-q  que representam o ângulo de ocorrência e a carga relativa de cada descarga. A

    terceira dimensão “n” (taxa de repetição) é representada pela coloração no gráfico (cores

    mais claras representam uma maior contagem de ocorrência). Neste exemplo,

    provavelmente devido a um alto número de ciclos térmicos de carga causou-se a

    delaminação generalizada em múltiplos pontos da isolação. O padrão resultante mostra uma

    distribuição de contagem simétrica, de formato triangular típico, para os ciclos positivo e

    negativo da tensão. Isto também indica que a delaminação não afetou o condutor ou a

    isolação entre estes e a ranhura.

    Figura 3.9. Padrão PRPD, isolação termicamente envelhecida

    3.2 Padrões PRPD (Phase-resolved Partial Discharge)

    De acordo com a referência [22]  serão apresentados a seguir os padrões PRPD

    para diversos defeitos que ocorrem em isolamentos de grandes máquinas elétricas rotativas.

    3.2.1. Descargas Internas

    Descargas internas são as DPs que ocorrem internamente a isolação devido a

    formação de pequenos vazios. As descargas internas são caracterizadas no PRPD pela

    simetria nas amplitudes máximas e na quantidade de descargas, quando se comparam as

    ocorrências entre os dois semiciclos da tensão.

    Na figura 3.10 pode-se observar a distribuição padrão para descargas internas emmáquinas sadias. Nesta figura temos como características principais o início das descargas

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    ocorrendo em tensões mais elevadas (aprox. 30º), uma pequena quantidade total de

    descargas (representada pela densidade de pontos) e as descargas com maiores

    amplitudes ocorrem em pequenas quantidades e próximas dos valores máximos de tensão

    (aprox. 90º).

       U  n   i   d  a   d  e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u .  a .   )

     Fase da tensão (graus) 

    Figura 3.10. Padrão para descargas internas em máquinas sadias

    Já na figura 3.11  pode-se observar que o início das descargas ocorre desde astensões mais baixas (aprox. 0º), uma pequena quantidade muito maior que a figura anterior

    e que as descargas com maiores amplitudes estão mais distribuídas. Este fenômeno pode

    ser entendido fisicamente como um aumento na quantidade e no volume dos vazios na

    isolação.

       U  n   i   d  a   d  e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u

     .  a .   )

     Fase da tensão (graus) 

    Figura 3.11. Padrão para descargas internas em máquinas com isolação deteriorada

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    3.2.2. Descargas nas Ranhuras

    Este tipo de descargas ocorre nos eventuais espaços vazios das ranhuras, entre o

    núcleo magnético e a lateral dos enrolamentos do estator. É causada por uma falha nauniformidade do campo elétrico normalmente próximo da saída das ranhuras. Neste caso,

    possivelmente o incorreto processo de aplicação VPI (Vacuum-Pressure-Impregnated) e

    cura da resina causou inicialmente micro fissuras na isolação das bobinas na saída das

    ranhuras. Esta atividade também se manifestará quando o revestimento semi-condutivo do

    enrolamento for demasiado resistivo, ou quando, em conseqüência da vibração das barras,

    a erosão do revestimento deixar a isolação sob alta tensão faceando o núcleo metálico

    aterrado.

    A distribuição de DPs para este tipo atividade é uma assimetria significativa no que

    diz respeito à amplitude e a contagem das descargas. Além disso, uma outra característica

    desta é a inclinação muito acentuada durante o meio ciclo negativo da tensão, destacado

    por um triângulo de linha contínua em figura 3.12.

       U  n   i   d  a   d  e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u .  a .   )

     Fase da tensão (graus) Figura 3.12. Padrão obtido em laboratório para descargas nas ranhuras em máquinas com o

    revestimento semi-condutivo danificado

    É interessante observar que a experiência tem demonstrado que o aumento da

    atividade de DPs é um importante indicador do risco de falha da máquina.

    Na figura 3.13 pode-se verificar uma medição efetuada em campo em um gerador

    de 805MVA x 18kV. Nesta figura nota-se claramente a assimetria característica de

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    descargas na ranhura, ocorrendo durante a metade negativa do ciclo da tensão, destacado

    por um triângulo. Nota-se ainda que, em medições reais em campo e com a máquina em

    operação, podem ocorrer sobreposição de padrões, exigindo experiência e cuidados

    adicionais ao se analisar os sinais registrados. Neste caso, as descargas parciais com as

    maiores amplitudes, marcadas por elipses, estavam vindo de uma outra fase. Estas

    descargas foram causadas, como veremos mais adiante, pela atividade de descargas entre

    barras de diferentes fases.

       U  n   i   d  a   d  e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u .

      a .   )

     Fase da tensão (graus) 

    Figura 3.13. Padrão verificado em campo para descargas nas ranhuras em máquina de 805MVA x18kV

    3.2.3. Descargas nas Cabeças de Bobinas (trilhamento superficial)

    O trilhamento superficial é causado por descargas formadas ao longo das cabeças

    de bobinas e partes do enrolamento externas ao núcleo magnético, justamente na interface

    ar/isolação. Esta atividade, semelhante ao efeito corona, é causada normalmente por poeira,umidade ou outro contaminante. Também é realçada por um mau desempenho do

    revestimento contra stress mecânico ou anormalmente altas temperaturas.

    O trilhamento possui igualmente um padrão assimétrico, com destaque para as

    grandes amplitudes de descargas no semiciclo positivo da tensão. Entretanto, sua

    característica predominante é a existência de descargas com as maiores amplitudes entre

    os fenômenos observados, algumas vezes dezenas ou centenas de u.a., ocorrendo

    geralmente ao redor do ângulo de fase 30º, conforme visto no destaque em elipse na figura

    3.14. As descargas de menor amplitude, observadas tanto nos semiciclos positivo quanto

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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    negativo, foram causadas pela atividade na junção entre a camada semicondutiva e o

    revestimento contra stress mecânico.

       U  n   i   d  a   d  e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u .  a .   )

     Fase da tensão (graus) 

    Figura 3.14. Padrão para trilhamento superficial

    Em máquinas reais, quando esta atividade for muito intensa, algumas descargas de

    grande amplitude podem ser detectadas também dentro do semiciclo negativo, ao redor

    210º do ângulo de fase.

    A ocorrência de trilhamento superficial também pode ser observada e confirmada

    pelo uso de uma câmera UV, facilitando a localização dos pontos críticos (figura 3.15).

    Outra evidência é o surgimento de trilhas carbonizadas na superfície, com formas

    semelhantes às das raízes das árvores.

    Figura 3.15. Ocorrência de trilhamento observado por câmera UV

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

    38

    Devido a sua característica de ocorrência o fenômeno de trilhamento ocorre de

    forma esporádica e é muito dependente das condições ambientais (umidade, temperatura e

    contaminações).

    3.2.4. Descargas nas Junções

    A experiência tem demonstrado que o fenômeno de descargas nas junções entre a

    camada semicondutiva e o revestimento contra stress mecânico é um dos mais comuns em

    máquinas elétricas. Algumas estimativas indicam que quase 50% das máquinas são

    afetadas, em diferentes graus de intensidade, por este fenômeno. A experiência também

    tem demonstrado que este fenômeno evolui vagarosamente ao longo do tempo e pode ser

    facilmente acompanhado pela tendência das DPs. A figura 3.16  mostra a ocorrência dedescarga na junção observada por câmera UV (ultra-violeta).

    Figura 3.16. Ocorrência de descarga na junção observada por câmera UV

    Uma vez que esta atividade ataca a região de sobreposição das camadas

    semicondutiva e revestimento contra stress ocorre a degradação por oxidação desta

    isolação e a conseqüente formação de um pó branco na região.

    A atividade corona na junção também possui uma característica de assimetria entre

    os semiciclos positivos e negativos, sendo que usualmente a quantidade e a amplitude das

    descargas são muito maiores no semiciclo negativo da tensão. Em relação a polaridade a

    assimetria se assemelha àquela verificada nas descargas na ranhura (figura 3.17).

    Entretanto, o formato desta assimetria na atividade corona na junção é muito mais

    arredondada.

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    Capítulo 3 – Descargas Parciais

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       U  n   i   d  a   d  e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u .  a .   )

     Fase da tensão (graus) 

    Figura 3.17. Atividade corona na junção

    Em alguns casos, dependendo do nível de degradação das junções, pode haver uma

    tendência de simetria em relação as amplitudes das descargas (figura 3.18). Mesmo assim,

    em relação a quantidade de descargas, a assimetria persiste com uma quantidade muito

    maior de descargas positivas (semiciclo negativo).

       U  n   i   d  a   d

      e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u .  a .   )

     Fase da tensão (graus) 

    Figura 3.18. Tendência de simetria em relação as amplitudes das descargas na junção

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       U  n   i   d  a   d  e   d  e   A  m  p   l   i   t  u   d  e  r  e   l  a   t   i  v  a   (  u .  a .   )

     Fase da tensão (graus) 

    Figura 3.20. Padrão PRPD para descargas entre barras

    É importante observar que o valor (amplitude) das descargas é diretamente

    relacionado ao campo elétrico local, à dimensão da abertura de ar, umidade e

    contaminações superficiais e até a vibrações.

    3.2.6. Casos Reais de Ocorrência de DPs

    As figuras 3.21 a 3.23 mostram casos reais de ocorrência de descargas parciais em

    estatores de máquinas elétricas rotativas.

    Figura 3.21. Descargas provocadas por vibração generalizada nas cabeças de bobinas

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    Figura 3.22. Resíduos esbranquiçados devido a descargas entre bobinas

    A figura 3.23 mostra a fotografia de uma máquina e onde se pode observar duasbarras com o tipo de defeito citado já em estágio avançado e uma bobina próxima (lado

    direito) e estágio inicial do problema. De acordo com o usuário esta máquina foi

    acompanhada por diversos anos e mostrava a indicação de estágio inicial do problema

    durante os ensaios off-line de DPs, sendo que tomadas diversas ações corretivas para

    amenizar o problema. Por fim, e máquina foi posta em funcionamento com monitoração on-

    line de DPs até que foi recentemente substituída devido ao final de sua vida útil.

    Figura 3.23. Defeitos na saída das ranhuras em motor com isolação VPI

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    3.3 Métodos Tradicionais de Teste

    3.3.1. Ensaio Off-Line de Descargas Parciais

    Este tipo de ensaio é geralmente executado durante as paradas de operação. Neste

    caso, uma alimentação externa de alta tensão ou um sinal de freqüência variável ressonante

    é utilizado para energizar todo o enrolamento da máquina ou as bobinas de cada fase

    individualmente. A figura 3.24  mostra a preparação para o teste de um pequeno

    turbogerador. Entretanto, uma vez que todo o enrolamento ou algumas bobinas são

    energizados, esta configuração difere muito da condição de operação normal da máquina.

    Neste caso, dependendo da forma de energização, o ponto neutro dos enrolamentos

    pode ficar sujeito às mesmas tensões elevadas do terminal de linha. Com isso, áreas que

    ainda não tinham sido eletricamente envelhecidas são expostas à alta tensão. O principal

    efeito é que a ocorrência de DPs nestas áreas degradam a isolação, quebram as cadeias

    dos materiais poliméricos e, com isso, disponibiliza mais elétrons livres para iniciar ou

    aumentar as descargas . Tipicamente, por esse motivo, na maioria dos testes off-line são

    produzidas descargas de maiores magnitudes do que testes on-line comparativos com

    tensão e distribuição nominal de campo elétrico.

    Figura 3.24. Teste Off-line em turbogerador com rotor removido

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    3.3.2. Ensaio On-Line de Descargas Parciais

    O ensaio e monitoração on-line de descargas parciais requerem a instalação

    permanente de acopladores (transdutores). Neste caso, são utilizados preferencialmentecapacitores de acoplamento. Estes dispositivos, além de disponibilizar o sinal de DPs, se

    equipados com circuitos adequados, disponibilizam também um sinal com a tensão de

    sincronização necessário a medição adequada das descargas.

    A figura 3.25 mostra um capacitor de acoplamento instalado próximo ao terminal de

    saída de um gerador.

    Figura 3.25. Capacitor de acoplamento instalado próximo ao terminal de saída

    Alternativamente, transformadores de corrente (TCs) de alta freqüência podem ser

    utilizados como acoplamento para medição de DPS quando instalados no cabo de

    aterramento dos protetores de surto das máquinas.

    Em motores de grande porte alimentados com cabos de média tensão, bobinas

    Rogowski otimizadas oferecem uma alternativa razoável.

    Em função da estabilidade dos sistemas de isolação, as medições on-line

    programadas de DPs são uma opção especialmente indicadas para máquinas elétricas de

    tensões elevadas (tipicamente acima de 4,16kV). Além disso, deve-se tomar cuidado ao se

    comparar resultados de medições de DPs. Especialmente a condição térmica e a situação

    de carregamento da máquina devem ser equivalentes nas diversas me