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Page 1: Manual prático para - Inicial — UFRGS · área de exercício físico, saúde e “personal training” em 1999. Em 2004 ... L.A – E você pode falar um pouco mais especificamente

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A formação de agentes sociais de esporte e lazer: A

experiência do Programa Esporte e Lazer da Cidade

Organizadoras:

Pamela Siqueira Joras

Mayara Cristina Mendes Maia

Coleção GRECCO

2016

Manual prático para registros de memórias do Programa Segundo Tempo

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Apresentação da Coleção

A coleção GRECCO é um projeto editorial do Grupo de Estudos

sobre Esporte, Cultura e História, vinculado ao Centro de Memória do

Esporte da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Visa a publicação de livros

eletrônicos privilegiando obras clássicas e contemporâneas no campo

da Educação Física em interface com as Ciências Sociais e Humanas.

História, Memória, Gênero, Sexualidade e Mídia são temas de maior

interesse.

Coordenadora da Coleção:

Silvana Vilodre Goellner

Conselho Editorial:

André Luiz dos Santos Silva (FEEVALE)

Angelita Alice Jaeger (UFSM)

Ivone Job (UFRGS)

Lívia Tenório Brasileiro (UPE)

Ludmila Mourão (UJF)

Meily Assbú Linhales (UFMG)

Victor Andrade de Melo (UFRJ)

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Copyright ® 2016 Centro de Memória do Esporte

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Reitor: Rui Vicente Oppermann

Vice-reitora: Jane Fraga Tutikian Pró-reitora de Extensão: Sandra de Deus

Vice-pró-reitora de Extensão: Claudia Porcellis Aristimunha

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança - ESEFID Diretor: Alberto Reinaldo Reppold Filho Vice-diretor: Flávio Antônio de Souza Castro

Centro de Memória do Esporte - CEME Coordenadora: Silvana Vilodre Goellner

Revisão: Naila Touguinha Lomando

Projeto Gráfico (Capa): Nina Figueira Sodré Projeto Gráfico e diagramação (Miolo): Pamela Siqueira Joras

Qualquer parte ou o todo desta publicação pode ser reproduzida,

desde que citada corretamente a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da ESEFID/UFRGS

A formação de agentes sociais de esporte e lazer: A experiência do

Programa Esporte e Lazer da Cidade

Organização: Pamela Siqueira Joras e Mayara Cristina

Mendes Maia

Porto Alegre:

Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física,

Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, 2016.

317 p.: il. (Coleção Grecco)

1. Programa Esporte e Lazer da Cidade. 2. Esporte. 3. Lazer.

I. Joras, Pamela Siqueira; Maia, Mayara C. M. organizadoras.

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Sumário

Apresentação ................................................................................... 8

Mayara Cristina Mendes Maia e Pamela Siqueira Joras

Depoimento de André Hnerique Chabaribery Capi .................. 11

Depoimento de Carmen Lilia Cunha Faro ................................. 39

Depoimento de Claúdia Marins de Souza e Luis Roberto Malheiros

Junior ............................................................................................. 50

Depoimento de Cláudio Gualberto...........................................61

Depoimento de Cleber Augusto Gonçalves Dias ...................78

Depoimento de Christiane Luce Gomes ...................................... 85

Depoimento de Coriolano Pereira da Rocha Júnior ................92

Depoimento de Elisângela Chaves ............................................ 100

Depoimento de Eneida Feix......................................................111

Depoimento de Gilmar Tondin.................................................145

Depoimento de Joana Lessa Fontes Silva ...............................168

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Depoimento de José Alfredo Debortoli ..................................... 179

Depoimento de José Nildo Alves Cau ....................... ................188

Depoimento de Keni Tatiana Vazzoler Areias ........................ 197

Depoimento de Khellen Cristina Pires Correia Soares.........203

Depimento de Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto ........ 210

Depoimento de Lieselote Inês Schmidt....................................222

Depoimento de Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti..................231

Depoimento de Luis Carlos Lira ........................ .......................241

Depoimento de Luciano Pereira da Silva ................................ 248

Depoimento de Luis Otávio Neves Mattos...............................259

Depoimento de Luis Carlos Vianna Bhorer ............................. 266

Depimento de Maria Leonor Brenner Ceia Ramos .................. 274

Depoimento de Rodrigo Barbosa Terra .................................285

Depoimento de Scheylazat Presciliano Ribeiro ...................... 294

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Depoimento de Silvano da Silva Coutinho .............. ................302

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Apresentação

O Ministério do Esporte, por intermédio da Secretaria Nacional de

Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) desenvolve muitos

programas sociais que contribui para que o esporte e o lazer sejam

tratados como políticas e direitos de todos. O Programa Esporte e lazer da

Cidade (PELC) se desenvolve, especificamente em sua essência, com

função de proporcionar a prática de atividades físicas, culturais e de lazer

envolvendo todas as faixas etárias e incluindo pessoas com deficiência,

além de estimular a convivência social, a formação de gestores e

lideranças comunitárias e fomentar a pesquisa e a socialização do

conhecimento.

Ligado por dois eixos centrais que são a Implantação e

Desenvolvimento de Núcleos de Esporte Recreativo e de Lazer, nas

diversas regiões do Brasil e Formação Continuada – ação educativa

continuada para o público profissional envolvido, e atendendo núcleos

urbanos e também comunidades rurais, povos e tradicionais, o Programa

tem por objetivos centrais nortear ações voltadas para públicos

diferenciados nos núcleos lazer e esporte recreativo; estimular a gestão

participativa entre os atores locais direta e indiretamente envolvidos;

orientar entidades convenentes para estruturar e conduzir políticas

públicas de lazer e esporte recreativo; promover a formação continuada de

agentes sociais de lazer e esporte recreativo; incentivar a organização

coletiva de eventos de lazer e esporte recreativo para envolver a população

local para além dos núcleos; e reconhecer as qualidades da cultura local

na apropriação do direito ao lazer e ao esporte recreativo.

Através da manutenção de uma política de atendimento para a

população brasileira, foram implementadas algumas ações ao longo do

desenvolvimento do Programa, almejando aprimorar o processo. Assim, o

Centro de Memória do Esporte (CEME) surge como uma parceria com o

Ministério do Esporte para a realização de registros que buscam a

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preservação da memória das práticas corporais e esportivas no Brasil e

vem elaborando estratégias capazes de dar visibilidade aos Programas

Sociais mais relevantes. O objetivo desse livro se concretiza ao passo que

através de diálogos com agentes sociais do PELC, materializamos as

narrativas com a finalidade de apresentar e resguardar o trabalho

realizado nas formações e nas experiências de execução desses agentes

sociais. Poder enxergar o caminho da memória repleto com suas

experiências vividas em diversos tempos e contextos possibilita além do

ato de reconhecimento dos povos, de suas histórias e da importância

dessas intervenções, um encontro com as pegadas falhas, os avanços

alcançados e os progressos ainda necessários.

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Depoimento de André Henrique Chabaribery Capi

Entrevistado: André Henrique Chabaribery Capi

Nascimento:

Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos

Data da entrevista: 20 de novembro de 2015

Transcrição: Ian Massumi Carneiro Ogawa

Copidesque: Pamela Joras

Pesquisa: Pamela Joras

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Formação; trajetória; ingresso no PELC; preparação para ser formador;

principais assuntos abordados; formações do PELC; envolvimento agentes

sociais e comunidade; avaliações; qualificação do programa.

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Porto Alegre, 20 de novembro de 2015. Entrevista com André Henrique

Chabaribery Capi a cargo da pesquisadora Luiza Aguiar dos Anjos para o

Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte.

L.A – Obrigada André, pelo tempo disponibilizado, queria que você

começasse me falando um pouco sobre a sua formação.

A.C – Formado em Educação Física por uma fundação. Comecei a

licenciatura plena em 1993 e concluí em 1996, fiz uma especialização na

área de exercício físico, saúde e “personal training” em 1999. Em 2004

ingressei no mestrado em Educação Física na área de concentração de

lazer e estou fazendo doutorado aqui na UFMG1, meu ingresso foi em

2012 e tenho prazo para finalizar até setembro de 2016 no Programa de

Pós-Graduação e Estudos do Lazer.

L.A – E você pode falar um pouco mais especificamente dessa temática do

lazer ao longo da sua trajetória, tanto em pesquisa quanto em atuação?

A.C – Bom, a minha inserção no lazer foi pelo viés da atuação profissional

como recreador, como animador de festa, monitor de festa em colônia de

férias, em clubes ainda como estudante de educação física, isso em final

de 1993, início de 1994. Eu comecei a trabalhar como monitor de festas e

fiz isso durante uns oito ou nove anos. Paralelo a isso eu era professor,

era inicialmente monitor de natação e hidroginástica e fazia paralelamente

esse trabalho de animação de festa e fui levando isso durante um bom

tempo. Em 1999 eu ingressei em um grupo de pesquisa na UFSCar2 para

tentar entender melhor o que era essa recreação que me incomodava, tive

um primeiro contato [silêncio] com o lazer mesmo, que até então eu

trabalhava na perspectiva de executar ações e desenvolver atividades com

crianças em clubes. Eu queria entender um pouco melhor isso. Em 2002,

eu assumi a coordenação de um clube na cidade que eu moro, era

1 Universidade Federal de Minas Gerais

2 Universidade Federal de São Carlos

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professor do clube e me convidaram para ser coordenador de esporte e

lazer. Foi o divisor de águas para eu falar agora para vocês entenderem

um pouco melhor o que é isso. Eu comecei a procurar cursos de pós-

graduação na área e foi quando eu achei a UNIMEP3 que tinha um

mestrado em educação física e tinha essa linha de pesquisa em lazer, meu

ingresso com a pesquisa se deu por aí. Fui fazer o mestrado, primeiro

como aluno especial e depois consegui ingressar em 2004 como aluno

regular. Comecei a me aprofundar mesmo nos estudos de lazer, e de lá pra

cá foram aparecendo várias oportunidades de atuar no campo em outra

perspectiva, aí eu defini mesmo essa área como uma área que eu queria

me aprofundar, estudar. Algumas coisas foram acontecendo

concomitantemente, antes de terminar o mestrado ingressei como

professor universitário, não com disciplina ligada ao lazer, mas com o

tempo foram surgindo as disciplinas de lazer e recreação para eu

trabalhar. Terminando o mestrado, tive possibilidade de participar do

edital para entrar como formador do PELC4 em 2007. Terminando o

mestrado, depois de cinco, seis anos, eu resolvi tentar continuar os

estudos na área do lazer e prestei aqui o processo seletivo na primeira

turma da UFMG da pós em estudos do lazer e estou aí nessa caminhada.

L.A – Você mencionou já seu ingresso em 2007, você desde 2007 está

continuamente dentro do programa?

A.C – Desde 2007 continuamente, em 2010 teve uma mudança, foi

destituído um grupo que tinha que foi constituído por esse edital de 2007,

e eu optei por tentar novamente permanecer. Teve todo um processo

seletivo que exigia o nosso envolvimento com a pós-graduação,

especificamente com uma instituição federal, era um dos pré-requisitos e

eu não tinha esse vínculo, mas acho que isso também acabou sendo um

elemento que me provocou a continuar esse processo formativo. Eu

elaborei o projeto, você tinha que mandar um projeto, além da inscrição,

3 Universidade Metodista de Piracicaba

4 Programa Esporte e Lazer da Cidade

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tinha que mandar um projeto, esse projeto ia ser avaliado junto com o

currículo e depois, em uma segunda fase, seria a entrevista. Eu falei: “Ah

vou mandar o projeto e depois se eu for classificado para continuar como

formador vou procurar possibilidades de me vincular a uma instituição

federal para poder ser formador” então isso me fez, em 2010, me

matricular como aluno especial aqui no... Ainda não tinha o doutorado na

UFMG, o caminho foi me matricular como aluno especial em algumas

disciplinas no mestrado aqui, eu me envolver com disciplinas de mestrado

na UFSCar que é outra federal mais próxima da cidade na área da

educação, e isso também me ajudou a delinear um pouco e a me provocar

a concorrer ao doutorado, por exemplo. Depois de ter o ingresso no

doutorado, então esse vínculo já estava estabelecido, porque eu consegui

ingressar em uma universidade federal.

L.A – E como você entende que aconteceu sua preparação para exercer

essa função de formador?

A.C – Eu tinha uma compreensão de trabalhar com programas e projetos,

especificamente com programas públicos, projetos públicos de esporte e

lazer foi o primeiro. Eu atuava no setor corporativo, um clube social

recreativo, e a proposta, a compreensão que se tem de programas de

esporte e lazer nesse setor, no setor corporativo, setor privado é diferente

do setor público, o como atuar enquanto formador, a qualificação, ela foi

se dando mesmo com a pós-graduação. Acho que conseguiu ampliar a

possibilidade de intervenção, entender um pouco melhor como pode ser

essa atuação, principalmente na perspectiva... de entender a área do

lazer, quais são as possibilidades, o vínculo com os grupos de pesquisa e a

própria proposta do programa, como a formação é um eixo norteador, ela

acaba permitindo que a gente vá reconstruindo, resignificando, qual é a

nossa função? Qual que é o nosso papel? Como é esse trabalho? Quais

são os elementos que devem nortear nossa ação? O próprio programa, as

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características do programa, nos ajudam na nossa qualificação, na

atuação como formador.

L.A – Como que você planeja e organiza as formações que você vai

executar?

A.C – O próprio programa ele nos propõe, propõe não, ele define algumas

metodologias, alguns eixos norteadores, algumas diretrizes. A gente faz o

planejamento das formações sempre dialogando com esses documentos

que chamamos de diretrizes e uma delas, por exemplo, é você sempre

considerar as características do convênio, então o PELC já teve alguns

formatos de conveniamento. Antes existia conveniamento com ONG5s e

com o setor público, hoje é só com o setor público. Quando era com ONG,

levávamos a característica da instituição e do local onde essa ONG ia

desenvolver o programa. Qual era a parceria? Era com clube? Era com

uma associação de moradores? Era com uma associação comunitária?

Desde 2012, não vou me recordar assim exatamente quando ficou definido

que só poderia ser com setor público. A gente leva em consideração a

característica da cidade, da população, do bairro, tentava entender um

pouquinho se essa cidade já tinha política publica de esporte e lazer ou

não. Quais eram as características dos agentes sociais que eles estavam

pensando em contratar. Analisávamos o projeto pedagógico, que a gente

chama de PP, é o primeiro documento que consultamos, por exemplo, é

nesse PP que a instituição, a entidade, inserem essas informações, o por

quê de estar solicitando o projeto, qual o objetivo dela, justificativa, as

características da cidade. E a partir daí, a gente também procura buscar

outras informações através do contato com o responsável por essa

entidade, que chamamos de gestor, a gente usa um pouco dessas

estratégias para poder pensar e planejar a programação dessas formações

sempre considerando quais são os temas de conteúdos que estão

previstos. São quatro módulos, hoje, o edital é de quatro módulos, e é

5 Organizações não governamentais

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interessante falar também que esse formato da formação foi sendo

reconstruído, ressiginificado ao longo do programa. Se pensarmos, em

2007, quando a gente ingressou enquanto formador, e acho que é um

dado interessante, a própria forma que a gente se relacionava com as

entidades para fazer a formação é diferente de hoje. Em 2007 quem

entrava em contato com o formador era a própria entidade, eu fui fazer

uma primeira formação em 2010, de 2007 a 2010 eu não fiz nenhuma

formação, talvez por ainda não ter o contato com as instituições, com as

prefeituras, com as ONGs, e éramos um grupo de setenta e sete

formadores. Os formadores que já tinham mais articulação, que estavam

desde 2004 nos projetos do PELC, tinham mais acesso a isso, inclusive,

foi um dos elementos que na minha concepção provocaram essa mudança

no grupo de formadores e fez com que a secretaria e o ministério

pensassem em outra forma de contratar esses formadores de 2007 até

2011, 2012, quando mudou esse processo de contratação, que a gente

virou bolsista, também foi provocado por isso. Quem está fazendo essas

formações? Eles pensaram em várias estratégias, “ah, vai ter o nome dos

formadores no site do ministério, e a entidade entra lá e seleciona o que

está mais próximo da sua...” “Ah, uma cidade do norte vai ver se tem

algum formador no norte e vai entrar em contato com ele, par....Ah não

deu certo, põe lá o nome de todos os formadores e o formador que tiver lá

em primeiro é o que está na vez da formação. A própria gestão da

formação do município entender que não tinha um grupo de técnicos, um

grupo de profissionais dentro do ministério para fazer a gestão dessa

formação também foi um motivo. Então vamos tentar uma parceria com

uma instituição pública, uma universidade que tem um pouco dessa

expertise na área da formação e talvez esse também tenha sido o critério

para fazer a parceria com a UFMG que historicamente tem uma trajetória

nos estudos do lazer desde lá atrás, tendo o mestrado, enfim, então esse

diálogo constante com as diretrizes do programa, com as características

da entidade é o que norteia o nosso planejamento pedagógico.

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L.A – E tem alguma temática específica que você procura dar maior ênfase

ao longo das formações?

A.C – Isso depende muito de qual módulo. O módulo introdutório, e é uma

discussão que esta tendo nos nossos... Sempre tem nos nossos encontros.

A gente tenta qualificar, por exemplo, os conceitos básicos de cultura,

esporte e lazer, tenta fechar essa formação, esse módulo introdutório um

com a grade horária. Como pensar uma grade horária que vá permitir ao

convênio disponibilizar para a comunidade atividades diversificadas, que a

gente trabalha com uma concepção de lazer, em que o lazer não é só o

esporte, mas muita entidade ainda busca o conveniamento achando que o

PELC é um programa de esportes. Desconstruir essa concepção, primeiro,

de que esporte é esse? Ainda eles colocam o esporte dentro de uma mesma

sacola, o que é o esporte recreativo, o esporte participativo? É o mesmo

esporte de competição? Desconstruir um pouco isso e mostrar que o lazer

tem outras atividades que podem ser desenvolvidas para a comunidade é

um desafio, depois concretizar isso na grade horária. O nosso desafio do

módulo introdutório, por exemplo, é pegar o PP deles, que já vem

formatado, eles elaboraram uma grade horária para poder fazer o projeto,

e mudar essa grade horária, até porque quando eles contratam os agentes

sociais, e esses agente sociais vão para formação, muitas vezes o gestor

não teve essa compreensão ao ler o edital, de que o lazer é constituído de

várias atividades, não só de esporte, ele contempla essa grade horária, fica

mais fácil da gente ajuda-lo a reorganizar. Mas quando ele não entende,

ele fica fechado ainda como o lazer só no viés esportivo, desconstruir isso

e fazer os agentes sociais entenderem que eles podem trabalhar com

outros conteúdos, mesmo que ele não tenha formação para isso. As vezes

ele tem uma experiência em outro tipo de atividade e ele pode levar isso

para o programa, é o desafio do módulo introdutório, por exemplo. Nos

outros módulos, a gente tenta desenvolver outras temáticas que são

importantes, como por exemplo, o planejamento participativo que é o que

vai permear toda a proposta do programa que é chegar lá na frente e

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contribuir com a política publica daquela cidade, como essa política

pública que ta chegando lá com o PELC tem uma proposta de ação e pode

contribuir com a qualificação da política pública que a cidade já tem.

Muitas cidades não tem talvez o PELC vá ser um pontapé inicial para ela

começar a pensar nessa política pública, provocar que as ações do

convênio, as oficinas, os eventos, valorizem esse envolvimento da

comunidade, para que a comunidade se aproprie do lazer como um direito

social, para que as pessoas entendam que o lazer também é um direito

social assim como a saúde, como é a educação, para, de repente, essa

própria comunidade criar demanda nesse município. Enfim, são temáticas

que eu entendo significativas para que não seja um programa passageiro.

Vai lá, passou, atendeu a comunidade durante aquele período que está

previsto, hoje são vinte quatro meses, quatro de estruturação e vinte de

atendimento, e acaba. Depois dos vinte quatro meses não ficou nada. O

planejamento participativo, o envolvimento das pessoas nas ações,

apropriação das pessoas, de alguns elementos que estão previstos no

programa como, por exemplo, o conselho gestor, o que é esse conselho

gestor? A atuação do controle social, então são todos os elementos que a

gente bate muito na formação, trabalha bastante para conscientizar que o

programa não é só oferecer um rol de atividades e que vai ser passageiro e

vai terminar.

L.A – E quais são as suas principais estratégias metodológicas?

A.C – Eu trabalho muito com a estratégia da ação comunitária, ela se

apropria dessa valorização da participação das pessoas, desse

compartilhamento de tarefas, de estratégias, de desenvolvimento, de

planejamento das ações, de execução das ações, de avaliação das ações. É

uma estratégia que vai mapear toda essa comunidade, vai tentar

identificar quem são as pessoas, quem são os grupos que já são

referências na comunidade e podem ajudar nesse processo que a gente

chama de sensibilização, depois da operacionalização e desenvolvimento

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das ações, do mapeamento. Eu entendo a ação comunitária como uma

estratégia que ajuda o convênio entender, os agentes sociais entenderem

que o programa não é para ser feito para as pessoas, mas é para ser feito

com as pessoas. Durante as formações, eu uso muito de estratégias em

que essas características da ação comunitária, ela fica bem estabelecida,

eu vou trabalhar um tema sobre barreiras para vivência do lazer, a gente

trabalha com o esquete, por exemplo. Então vamos lá, um grupo vai tentar

fazer uma cena aí de um deficiente tentando ter acesso ao esporte e lazer

com essas dificuldades que ele encontra o idoso, a criança, eu trabalho

muito com dinâmica. Uma das estratégias é usar a ação comunitária, mas

na prática é desenvolver essa estratégia de ação comunitária através de

dinâmicas em que eles possam compreender como se concretiza. Dividir o

grupo em comissões, dividir o grupo que esta lá na formação, o grupo dos

agentes, tem vinte agentes sociais, nos três dias de formação cada grupo

de agente vai desenvolver, vai desempenhar um papel ao longo dos três

dias de formação, para eles já irem se apropriando disso, de como é

importante você trabalhar coletivamente, não individualmente. São todas

as estratégias que a gente vai tentando articular com as diretrizes do

programa, com os conceitos centrais do programa, “ó, esta vendo, aqui

está acontecendo a participação, aqui está acontecendo o trabalho

coletivo” para que através dessas estratégias, eles possam concretizar o

que efetivamente o programa quer.

L.A – Queria que você me falasse um pouco da visita técnica, como é que

você organiza? Qual você acha que é a importância dela?

A.C – Essa visita técnica você fala...

L.A – Um estudo de realidade

A.C – Visita técnica que a gente faz no módulo introdutório ou essa visita

pedagógica que a gente faz depois que o projeto já esta implantado?

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L.A – Primeiramente eu queria que você falasse dessa primeira...

A.C – Essa é uma das estratégias que a gente usa para tentar entender,

por exemplo, qual que é o espaço que vão acontecer as oficinas, é uma

praça? É um salão comunitário? É uma escola? É uma quadra? É um

ginásio? Quem são essas pessoas que ficam no entorno? Eu tento ir

pontuando para eles “olha, quem já usa esse espaço? Que atividades que

já acontecem nesse espaço?” A visita técnica é importante para isso, para

apontar para os agentes sociais como a gente pode considerar a realidade

para a nossa intervenção. Se é um espaço que prioritariamente acontece

só oficina de esportes para homens, o que o convênio tem que fazer? Qual

a estratégia que os agentes sociais, coordenador de grupo, tem que pensar

para que outras pessoas acessem aquele espaço para além de homens

adultos que joguem futebol. Como eu posso pensar a estratégia para levar

a mulher para aquele espaço? Para levar a criança? Para levar o idoso? Se

aquele espaço é pouco acessível para pessoas com necessidades especiais,

que tipo de ação eu posso fazer? Onde tem deficiente físico ou pessoas

com necessidades especiais na comunidade? Tem algum posto de saúde

onde eu posso buscar informações sobre esse público? A escola tem

pessoas com essas características? E na escola eu posso ir divulgar o

programa para essas pessoas? Enfim, o estudo da realidade, essa visita

técnica, é importante para isso, para mapear o que já tem quem acessa

quem não acessa? Porque não acessa? E ai pensar estratégias para

permitir o acesso, a construir a grade horaria. Não adianta eu já pensar

em um torneio de futebol para adultos, porque já tem o futebol para

adultos lá, eu tenho que pensar em atividades artísticas, atividades de

ginástica, atividades esportivas para as meninas, para as crianças, para

os idosos, para a gente democratizar o acesso desse espaço. Então esta lá,

“democratização do esporte recreativo do lazer para as pessoas” é um dos

objetivos do programa, estamos dialogando com isso, se a gente não faz o

estudo da realidade, não tem como apontar concretamente o que eles

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podem fazer, porque muitas vezes o agente social que é contratado para

trabalhar nesse núcleo, não é daquele bairro, e mesmo que ele seja, às

vezes, ele tem uma compreensão restrita de esporte e lazer. Aquilo que eu

falei lá no início do nosso bate papo. Se ele entende o esporte só no viés da

competição, do esporte de alto rendimento, da escolinha de esportes só

para quem sabe, e a gente não faz essa análise da realidade, não discute

isso, ele vai continuar fazendo, pensando a oficina para esses grupos,

então aquele que quer participar de uma oficina esportiva, mas não tem

habilidade, tem vergonha porque sempre erra, ele também não vai ter

acesso. A visita é importante para isso, para apontar um pouquinho o que

já tem e quais são os desafios que a gente tem para superar, para

efetivamente, permitir o acesso de outras pessoas ao esporte recreativo ao

lazer.

L.A – E com relação à visita pedagógica, aquela que você vai quando já

está em funcionamento?

A.C – O papel da visita pedagógica ajuda a gente a entender o que foi... Se

eles estão usando estratégias, por exemplo, para democratizar o acesso a

esse espaço, a gente vai voltar a esses espaços, a esses núcleos, para ver

quem está ocupando aquele espaço, se continua só o homem jogando

futebol? Ah não, já tem lá aula de ginástica, aula de dança, aula de

artesanato, já tem criança frequentando. A visita pedagógica ajuda a gente

a monitorar e a entender se o núcleo, se os agentes sociais, se o

coordenador de núcleo, estão desenvolvendo estratégias e ações para

democratizar o acesso naquele espaço. E fora os outros aspectos que estão

previstos no programa, a identidade visual, tem lá a placa do programa,

tem a grade horária fixada, o coordenador faz o acompanhamento das

inscrições, está conseguindo atingir as metas quantitativas que é ter o

número mínimo de inscritos por oficina para atingir as quatrocentas

pessoas que estão previstas, se é o PELC Urbano, as duzentas pessoas

previstas se é o PELC Vida Saudável, enfim, na verdade agora é o

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Programa Vida Saudável, não é mais o... Que antes tinha o PELC núcleo

Vida Saudável, agora o Vida Saudável é um programa independente do

PELC. A visita pedagógica é importante por isso, nos dá elementos para

monitorar, acompanhar se o programa... Se o convênio está desenvolvendo

ações que se articulam com o que está previsto no programa, que é o

trabalho coletivo, envolvimento das pessoas, valorizar a participação da

comunidade, valorizar a cultura local, se as atividades estão sendo

diversificadas, se não é só atividade esportiva, se o público está sendo

diversificado. A visita pedagógica contribui nesse sentido, tanto pra gente

pensar no que vamos abordar no modulo de avaliação, a visita pedagógica

acontece um dia antes do modulo de avaliação, lógico que a gente já

enviou a programação, mas é o que está sendo debatido no encontro, por

exemplo, programação foi elaborada, nós entramos em contato, fizemos

uma série de perguntas para o coordenador. Eu, particularmente, eu

envio um roteiro para o coordenador antes de elaborar a programação,

então isso também é uma estratégia de mapear a realidade “ó, o que esta

acontecendo aí? Quais são as dificuldades que vocês tem? Tem algum

tema específico que a gente trata na formação? Está tendo uma

dificuldade? Daqueles encaminhamentos que a gente deixou do modulo

introdutório alguns ainda estão pendentes?” então a gente elabora a

programação nessa perspectiva, mas a gente chega na visita pedagógica e,

as vezes, a gente identifica alguns elementos que ele não apontou para

mim nesse dialogo antes de organizar a programação que eu vejo que é

fundamental eu tratar. Então, às vezes, eu vou inserir, eu vou dar mais

ênfase em algum tópico que já está previsto na programação, algum

conteúdo, ou vou inserir algum conteúdo que não está previsto porque ele

não... O que ele me respondeu para esse roteiro que eu enviei anterior a

elaboração da programação não contemplou, mas eu percebi na visita

pedagógica. Propositalmente, a visita pedagógica, ela acontece um dia

antes do Módulo de Avaliação um para poder ser uma referência para a

nossa formação, ela é fundamental nesse sentido.

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L.A – E você já atuou em formações tanto no Vida Saudável quanto no

Urbano e nos povos tradicionais?

A.C – Não, no PCT6 não tive oportunidade ainda, até porque eu acho que

eu não tenho uma qualificação [riso] para isso, mas se tiver demanda,

lógico que a gente vai tentar dialogar e buscar informações com os outros

colegas que já atuaram nesse programa, no PCT, mas eu tenho atuado

bastante no PELC Todas as Idades que agora é PELC Urbano e no Vida

Saudável.

L.A – Você tem alguns cuidados especiais para além dos já previstos nas

diretrizes quando planeja algo para uma formação para o PELC Urbano e

Vida Saudável?

A.C – Como assim?

L.A – Que tipo de preocupação você tem quando vai planejar para um ou

para outro?

A.C – Considerar as especificidades de cada convênio, de cada programa.

O PELC Urbano, o PELC Todas as Idades, ele também prevê atendendo o

público idoso, o que diferencia do Vida Saudável? É que o Vida Saudável é

especificamente é para pessoa, no último edital, acima de sessenta anos.

Então, inclusive, está se qualificando isso nas diretrizes do Vida Saudável,

que é trabalhar com o conceito de promoção da saúde, protagonismo da

pessoa idosa, trabalhar com o estatuto da pessoa idosa, quais são os

cuidados? É a gente buscar algumas estratégias, eu tento pegar alguns

textos, alguns artigos que falam desse público, pegar algumas referências,

alguns vídeos que trabalham a temática ligada à pessoa idosa. No PELC

Urbano, trabalhar com coisas que possam remeter a esses grupos, no

grupo de crianças, grupo de adultos, grupo de idoso, de deficiente físico. É

6 Povos e Comunidades Tradicionais

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uma estratégia que eu gosto muito, essa da esquete para as pessoas

entenderem, assumirem um pouco o papel da pessoa que tem uma

necessidade especial ou uma deficiência física, como é isso? Por que eles

não vão num espaço participar de uma atividade de lazer? Será porque

eles não têm necessidade disso ou porque eles têm vergonha? Então como

concretizar isso? Porque às vezes eu fico lá falando quarenta minutos,

uma hora sobre, mas se eu não uso essa estratégia, que é eles

representarem essa dificuldade que a pessoa idosa tem ou que o deficiente

tem, eles não conseguem compreender isso. É o que a gente tem percebido

que essas estratégias práticas, essas dinâmicas, elas ajudam as pessoas a

compreenderem. Isso não significa que eles vão se apropriar disso, muitas

vezes você volta na visita pedagógica e eles tiveram dificuldades, depende

muito do grupo, tem grupos de agentes sociais que você tem pessoas com

alguma formação, tem grupos que você tem meio a meio, tem grupos que

todos os agentes sociais não tem formação, então o PELC está sendo um

ponto zero para alguns, para outros não, já esta sendo outro estágio, já

tiveram outras experiências. Isso vai depender muito do grupo.

L.A – E que resultados você tem observado das formações nos agentes nos

grupos?

A.C – Da formação que nós formadores desenvolvemos com eles ou do

programa em si?

L.A – Como você vê isso sendo apropriado por eles ao longo desse

processo?

A.C – Isso também, a gente fala na própria formação que o programa, ele

tem, no papel dos coordenadores, um divisor de águas, se você tem um

coordenador de núcleo, um coordenador pedagógico, um coordenador

geral que entende qual que é a proposta do programa e se apropria dessa

proposta, a gente consegue perceber uma mudança significativa nos

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agentes sociais. Eu tive convênio, por exemplo, que a coordenadora,

gestora do programa do convênio é da área da educação física, tem pós-

graduação, estudou essa questão do lazer, o resultado que se teve foi

muito positivo, por exemplo, conseguiu a continuidade do programa, de

parte do programa. Depois que acabou o convênio com o PELC, a entidade

que era parceira na cessão do espaço contratou uma das coordenadoras

para dar continuidade, alguns agentes sociais que eram, na época,

estudantes de educação física se sentiram motivados para fazer pós-

graduação, eles organizaram trabalhos para apresentar em congressos a

partir do PELC, então enquanto o PELC estava se desenrolando na

formação em serviço, ela criou uma estratégia de provocar esses agentes

sociais a produzir uma pesquisa sobre o PELC e outros convênios. A gente

vê que o agente social está ali pela grana, ele desenvolve ali o que está

proposto pra ele, mas em um viés bem simples, então isso vai depender

muito da característica... A gente fala de quem é o gestor do convênio.

Tem muitos convênios que os agentes sociais mudam muito, porque às

vezes eles arrumam outro estágio dentro da educação física que paga uma

bolsa melhor, ele abandona o convênio e aí você tem que trabalhar com

outro agente social. Mas a gente tem percebido que o próprio PELC tem

pensado estratégias para cada vez que ficar mais... Os agentes sociais, que

são eles que vão dar o tom, a qualidade, para a ação lá na ponta, são eles

que atendem a comunidade, então tem a EAD7 então tem muitos agentes

sociais que estão aderindo a EAD para tentar ter uma qualificação melhor,

a formação em serviço é outro gargalo, como eu falei, se você tem um

coordenador que entende o papel da formação em serviço, ela vai

acontecer, se a formação em serviço acontece, quando a gente volta no

módulo de avaliação percebe que o debate, a forma como eles organizam o

núcleo, as oficinas, o planejamento, o monitoramento e avaliação, tem

outra característica, porque esta tendo ali um coordenador atuante, que

entende que essa formação é fundamental para qualificar as ações.

7 Educação à distância

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L.A – E algo de acompanhamento dos núcleos, após o fim do convênio,

mesmo que informal?

A.C – Olha, na minha experiência, eu estou tendo uma experiência atual

com o convênio de uma cidade do estado de São Paulo que eles, por

exemplo, especificamente nesse convênio, eles criaram seminários. Agora

em dezembro, o convênio entrou em setembro, eu fiz o módulo

introdutório dois, final de setembro agora, eles vão fazer um seminário de

esporte e lazer agora em dezembro, inclusive, eles me convidaram para

participar da mesa. Eles vão discutir o esporte, que esporte é esse que a

cidade pensa enquanto política pública? É uma cidade que tem uma

política pública já faz um bom tempo, mas sempre entendeu o esporte

mais no viés só das escolinhas de esporte, não pensava o esporte e o lazer

para todos, para pessoa idosa, para mulher, para o adulto, para a criança.

Pensava mais na formação esportiva das escolinhas e nas equipes de

competição. Eu vejo nesse convênio, por exemplo, um movimento dos

gestores, da prefeitura que estavam na frente do... Que são funcionários

de carreira e que estavam a frente do PELC, eles mudando essa

compreensão do esporte e lazer. Especificamente nesse convênio, o último

edital para contratar profissionais para atuarem na secretaria, para

profissionais de carreira, eles pensaram em um edital para não contratar

técnicos específicos de algumas modalidades, mas sim pensaram em um

edital, fizeram um processo seletivo para contratar profissionais que

possam atuar nessa perspectiva do esporte e do lazer, não só da escolinha

de esporte. Eu acho que é uma ação interessante. Um coordenador de

núcleo que participou... Eles tiveram três convênios com o PELC, o que

participou do primeiro convênio do PELC, ele foi convidado para ser gestor

da secretaria e ele passar a trabalhar com a formação dos professores da

secretaria, e trabalhar já dialogando com alguns elementos do PELC. A

gente tem visto que em algumas cidades é aquilo que eu te falei lá atrás, o

PELC passou e a gente até perde o contato, essa foi uma cidade que a

gente manteve contato, algumas delas o PELC passou só.

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L.A – Que pontos você identifica que podem ainda ser melhorados no

trabalho do PELC?

A.C – Em relação a formação?

L.A – Em relação ao programa como um todo, pode ser com relação a

formação ou outros elementos que você acha interessante.

A.C – Olha só, eu acho que esses encontros que a gente tem que é esse

momento que a gente está aqui, desses encontros de formadores, eles

sempre nos provoca a pensar exatamente o que pode avançar. Hoje, eu

entendo assim, como gargalo, é a gente qualificar esse sistema de

monitoramento, que é um programa que se tem que é o MIMBOE8 que vai

facilitar esse contato entre nós, formadores, e entidade, entidade e o

próprio ministério. Eu acho que a gente conseguir avançar com a

finalização, na verdade, finalização não, porque o programa ele vai sempre

estar tendo novas demandas, mas o programa efetivamente começar a ser

mais utilizado. Quando a gente saiu da sala para a entrevista é o que

estava sendo debatido nós vamos ter que ter um momento para falar “ai ó,

parou, agora é só programa” para a gente efetivamente poder utiliza-lo

mais e se apropriar mais disso. Um dos objetivos do programa, além de

monitorar e acompanhar, é também criar indicadores, que até então com

essa proposta física de mandar relatório via e-mail dificulta um pouco

essa sistematização de dados, que é um pouco o que o ministério quer.

Ter esses indicadores e para qualificar ainda mais para onde o programa

pode ir, para onde o programa pode caminhar. A gente poder nas nossas

formações ter... Acho que a parte do programa facilita isso, sensibilizar

mais os gestores da importância da formação. Talvez até a gente pensar

mais nessas nossas formações in loco quais são as estratégias que podem

qualificar ainda mais os agentes sociais e os coordenadores de núcleo, da

8 Programa de Avaliação e Monitoramento do Programa Esporte e Lazer da Cidade

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importância da formação em serviço, por exemplo, da importância da

constituição do conselho de gestor, que são dois elementos importantes

para sensibilizar a comunidade. Se você não tem um grupo gestor, o

conselho gestor que é levar representantes da comunidade para debater o

programa, como que eles vão se apropriar e entender o lazer como um

direito social se constituir enquanto grupo para tornar um grupo de

pressão que vá reivindicar o lazer e o esporte como um direito social?

Pensar nessas estratégias que sensibilizem o gestor, o agente social, o

coordenador de núcleo para essa sensibilização da própria comunidade.

L.A – André, do roteiro a gente já passou por vários pontos, mas eu queria

saber se você quer colocar alguma outra coisa, se alguma coisa eu não te

perguntei e você acha importante ou se quiser fazer uma consideração

geral.

A.C – Acho que foi contemplado tudo no seu roteiro, mas acho que é frisar

isso mesmo, o desafio do PELC sempre estar assim... semestralmente e

também presencialmente. A cada seis meses a gente se encontra

presencialmente. Nós temos também encontros bimestrais ou trimestrais

via plataforma do Hangout9 que tem convidados, que vem debater alguns

temas que a gente mesmo demanda. O planejamento participativo,

educação popular, o último foi semana passada sobre o EAD, enfim, são

estratégias que o convênio tem. O programa tem sempre como norte a

formação, como qualificar a nossa formação, a formação dos formadores,

para que isso também possa qualificar a formação dos agentes sociais

para que chegar lá na ponta. Talvez algo que eu queria destacar é a

necessidade que o programa tem de ser um pouco menos burocrático no

processo de conveniamento e eu acho que perpassa um pouco pela

necessidade que a própria área de esporte e lazer tem que é na formação

do gestor. A gente vê que, às vezes, a coisa é tão simples, mas o gestor da

prefeitura não tem preparo nenhum para isso, para entender o que é um

9 Plataforma de mensagens instantâneas via áudio e ou vídeo pela internet

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projeto, onde ele vai buscar esse recurso, como ele vai usar esse recurso,

ele entender que um recurso público depois exige um acerto de contas,

uma prestação de contas, que é isso que às vezes inviabiliza. Alguns

entraves, por exemplo, a gente faz a formação do módulo introdutório e

demora um tempão até que esse convênio tenha a tal da ordem de início

para ele começar a atender a comunidade. A desburocratização seria um

aspecto importante para se pensar. Talvez, estar pensando isso para a

próxima diretriz que vai sair agora em 2016, mas enfim... Ah, e queria

também deixar registrado que isso que vocês estão fazendo é um pouco do

que eu estou estudando no meu doutorado. Estou tentando entender

como que é a trajetória desses formadores, as primeiras perguntas que

você fez, por exemplo, tem um monte de dados de todos os formadores,

qual que é a formação? Qual foi a trajetória? Enfim, e o que esse

envolvimento com o PELC contribuiu com a construção dos saberes deles

sobre lazer, sobre políticas públicas, sobre esportes. Nós também estamos

nessa caminhada de tentar entender o papel da formação desses

profissionais que estão como formadores do PELC.

L.A – Bacana, em breve sua tese estará no nosso banco de dados[Riso], em

breve nem tão breve, está no meio do processo.

A.C – Estou finalizando. Já coletei todos os dados, agora só estou

analisando.

L.A – Você defende já no final do ano que vem?

A.C – Eu posso defender até setembro, mas eu quero defender antes.

[Risos]

L.A – Está certo. André, muito obrigada.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Carmen Lilia Cunha Faro

Depoimento de Claudia Marins de Souza e Luis Roberto

Malheiros Junior

Depoimento de Cláudio Gualberto

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Depoimento de Cléber Augusto Gonçalves Dias

Entrevistado: Cleber Augusto Gonçalves Dias

Nascimento: não informado

Local da entrevista: UFMG - Belo Horizonte

Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos e Christiane Garcia Macedo Data

da entrevista: 23/10/15

Transcrição: Gustavo Bernardi

Copidesque: Ivone Job

Pesquisa: Ivone Job

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

A formação inicial do entrevistado; Temática das pesquisas; Envolvimento

com Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC); Funções que exerce no

Ensino a Distância; Conteúdos do Curso a distância; Preparação de

tutores do curso; Relação ou especificidade nos materiais produzidos para

o curso a distância com relação à Vida saudável e aos povos indígenas e

comunidades tradicionais; Novas materiais que estão sendo elaborados

para o curso; Como foram escolhidos os novos materiais do curso;

Diagnósticos e resultados a respeito do curso EAD; Estrutura do curso;

Como são escolhidos os utores e profissionais que trabalham no curso;

Como acontece o processo de divulgação do curso; Considerações finais.

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Belo Horizonte, 23 de outubro de 2015. Entrevista com Cleber Augusto

Gonçalves Dias a cargo das pesquisadoras Luiza Aguiar dos Anjos e

Christiane Garcia Macedo para o Projeto Garimpando Memórias do Centro

de Memória do Esporte.

L.A – Queríamos que você começasse falando da sua formação.

C.D – Minha formação, bom.. Eu me graduei em Educação Física numa

universidade privada do Rio de Janeiro chamada Universidade Castelo

Branco e se eu não estiver enganado entre os anos 2000 e 2004. Logo em

seguida eu fiz um curso de especialização em Educação Física Escolar na

Universidade Federal Fluminense e já na sequência eu fiz o curso de

mestrado na UFRJ10 em história comparada. Imediatamente depois eu

ingressei no doutorado em Educação Física na Unicamp. Do ponto de

vista da minha formação é isso.

L.A – Você podia falar um pouco das temáticas das suas pesquisas?

C.D – No final da graduação, na universidade privada não tem muito essa

dimensão da pesquisa. Você basicamente vai lá para assistir aula. No

entanto, no último semestre do curso eu conheci o Edmundo11 que era

também professor da Universidade Federal Fluminense que foi, inclusive,

quem me chamou atenção para o curso de especialização que tinha lá que

era gratuito, etc. Ele ofereceu uma disciplina optativa sobre esportes de

aventura, o assunto na ocasião, me interessei bastante em particular pelo

primeiro, porque nunca gostei de natureza. Eu achava estranho as

pessoas terem prazer em irem para o meio do mato, se exporem a um

certo sofrimento etc. Como ele tinha uma pegada de pesquisa e eu tinha o

hábito de ler muito, eu sempre li muito, eu tinha esse interesse. Embora,

fizesse isso não de maneira organizada, era totalmente desorganizado.

Mas, me aproximei do Edmundo em uma pesquisa que ele começou a

10

Universidade Federal do Rio de Janeiro 11

Edmundo de Drummond Alves Júnior

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fazer sobre os lugares do Rio de Janeiro e seus frequentadores que

praticavam o esporte de aventura em determinadas praias, montanhas,

para escalar, saltar de asa delta. Acho que foi aí a minha entrada no

universo da pesquisa. No mestrado, eu também estive nesse projeto, com

bolsa de apoio técnico da FAPERJ12 já trabalhando com o Edmundo na

UFRJ. Logo em seguida, no mestrado, eu decidi fazer um estudo

comparando os esportes de aventura no Rio de Janeiro na década de 60

com o processo de desenvolvimento urbano da cidade. Era a comparação

entre práticas esportivas e a materialidade urbana da cidade, seus planos

urbanísticos, suas reformas e tal. No doutorado eu decidi fazer um estudo

sobre o início do processo histórico de usar espaços naturais para a

prática de lazer, ou seja, a história do lazer na natureza entre o final do

século XVIII e o começo do século XIX. Depois eu ingressei na

Universidade Federal de Goiás onde eu comecei a estudar a história do

esporte em regiões periféricas e é o que eu estou fazendo até hoje. Depois,

fui para a Universidade de Mato Grosso e um pouco também aqui em

Minas Gerais, no interior de Minas Gerais não Belo Horizonte e uma parte

da região amazônica, o sertão do Brasil, nessas partes mais fora dos

grandes centros metropolitanos.

L.A – Como começou o seu envolvimento com o PELC?

C.D – Estou lembrando uma experiência que tive anterior ao PELC. Houve

uma época que o Ministério do Esporte lançou um edital para pessoas que

quisessem atuar como formadores do PELC. Eu me inscrevi, lembro que

tinha que fazer um documento e uma proposta de formação, talvez um

memorial, se eu não estiver enganado. Acabei sendo selecionado junto

com outros 77 formadores, e eu era o número 78, não sei nem como é que

se fala o número 78, mas eu era o 78 colocado. Esse foi o meu primeiro

contato com o PELC, mas na prática esse grupo operava muito pouco

porque havia esses 78 formadores, mas eram os núcleos que organizavam

12

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

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os PELC nos diferentes municípios e que selecionavam os formadores que

eles queriam Acabou que eu nunca fui convidado para nenhuma formação

porque eles acabavam selecionando um grupo muito restrito, mas ainda

assim, foi uma primeira formação porque cheguei a ir para Brasília

participar de reuniões onde eles expunham como funcionava o PELC.

Depois disso eu larguei e fiquei um tempo sem nenhum um tipo de

contato. Quando eu me transferi de Goiânia para Belo Horizonte para

trabalhar aqui na UFMG, o Hélder13 já estava envolvido com a

coordenação desse processo formativo do PELC, e já não se organizava da

mesma maneira que na época que eu tive envolvido. Então ele me

convidou para participar especificamente nesse curso que aconteceu a

distância, não nos cursos de formação presencial.

L.A – E que funções você exerce dentro dessa educação a distância?

C.D – É eu atualmente sou o coordenador operacional. Basicamente cuido

de uma parte administrativa do curso, então eu contrato e demito pessoas

quando necessário cuido da emissão de passagens, de diárias, de

certificados, toda essa parte de gerência burocrática e administrativa do

curso.

L.A – Você acompanhou a constituição dos conteúdos desse curso EAD?

C.D – Sim. A EAD funciona da seguinte maneira: eu e o Luciano

estudamos primeiro como era o processo do PELC e o seu processo de

formação. Conversamos com a Andréa14 e com a Ana Elenara15 , lá em

Brasília, para ouvir a opinião delas a respeito do tipo de conteúdo que

seria necessário para o curso. Com base nos estudos que nós fizemos do

material e na conversa que nós tivemos com elas fizemos uma primeira

proposta. Além desses dois elementos que eu citei fizemos uma terceira

13

Hélder Ferreira Isayama 14

Andréa Ewerton Nascimento 15

Ana Elenara da Silva Pintos

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fase, bem importante, que foi a aplicação de um questionário para os

formadores, num encontro que teve em Vitória. Eles estavam fazendo um

encontro de avaliação e nós aplicamos um questionário que basicamente

perguntava para eles o que eles achavam importante de ser apresentado

para os tutores que trabalham no PELC em termos de conteúdo. Então,

com base nessas três informações elaboramos uma primeira minuta de

conteúdos que poderiam ser importantes de serem abordados no curso.

Essa foi a maneira e se chegou à conclusão de que basicamente, não

escapou muito da opinião básica do que a Ana Elenara e a Andréa falaram

o que também foi reforçado pelos formadores.

L.A – E como foi o processo de preparação dos tutores para exercerem a

sua função?

C.D – Basicamente, como foi tudo muito rápido, muito, muito corrido, nós

tivemos que começar o curso em poucos meses, além de cuidar de todo o

processo burocrático de contratação, ir na FUNDEP16 e etc. Essas partes

mais burocráticas, basicamente fizemos um encontro no final de semana

aqui em Belo Horizonte. Nós tivemos a opção deliberada de só contratar

pessoas que residiam em Belo Horizonte para ser tutor, porque embora o

curso seja a distância, teoricamente eles poderiam estar em qualquer

lugar do Brasil, mas a gente fez questão de que todos estivessem em Belo

Horizonte justamente porque nesse primeiro momento achamos

importante que tivesse o contato mais cotidiano com os tutores. Foi um

encontro no final de semana em que apresentamos um pouco dos

princípios de funcionamento da EAD, do funcionamento do PELC, e do

processo de formação do PELC. Por último falamos sobre os materiais,

como funcionaria o curso a distância e sobre a plataforma que seria

usada.

16

Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa

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L.A – Existe alguma especificidade nos materiais produzidos pra EAD com

relação ao Vida Saudável e ao Povos Indígenas e Comunidades

Tradicionais?

C.D – Alguma especificidade?

L.A – Exato.

C.D – Na verdade não. É um ciclo porque em um primeiro momento nós

elaboramos oito materiais para diferentes, como se fossem diferentes oito

disciplinas. Agora estamos fazendo uma segunda rodada com mais oito,

por exemplo, vai ter material dedicado só ao esporte, lazer e idosos e

depois terá um outro material dedicado a esporte, lazer e povos

tradicionais, então a especificidade diz respeito a esse conteúdo, mas na

prática acho que na oferta do curso não tem um direcionamento.

L.A – E na definição desses novos oito materiais vocês passaram por uma

fase de diagnóstico?

C.D – Não, dessa vez foi mais intuitivo. O Ministério do Esporte... Em

Brasília junto com os formadores e eles já tinham uma percepção de

determinados conteúdos que percebiam como sendo carentes e que

deveriam ser mais e melhor desenvolvidos. Então eles sugeriram uma

série de tópicos que deveriam ser tratados, por exemplo, eles incitaram a

questão dos idosos, dos povos tradicionais, dos povos indígenas, a questão

da gestão administrativa de projetos de esporte e lazer. O que mais eles

falaram foi em dança, que vai ter agora um material sobre dança. Então a

partir do que eles foram comentando, a partir da percepção deles sobre as

carências, nós sugerimos esses materiais.

L.A – Você já consegue observar alguns resultados, ver alguns elementos e

resultados de avaliações do processo?

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C.D – Têm alguns processos que a gente monitora. A primeira coisa que

chama atenção é o nível de evasão realmente grande, não saberia dizer um

número preciso, mas eu chutaria em torno de setenta a oitenta por cento

dos alunos. Ou eles se inscrevem e não começam o curso ou começam o

curso e não terminam, então é um número muito grande. Isso não é

exatamente um problema do curso porque a gente nota também que

muitas pessoas não têm clareza do que se trata ao simplesmente se

inscreverem. Mas, recentemente nos últimos dois três meses isso tem

mudado. Numa primeira avaliação, o processo de recrutamento e de

mobilização talvez precise ser aprimorado. Talvez na nossa proposta

inicial o curso tenha ficado demasiadamente complexo para as

características das pessoas que trabalham no programa. Uma dificuldade

grande é que há um nível heterogêneo de formação, então tem pessoas

que não têm nem o ensino fundamental concluído até pessoas que estão

fazendo o mestrado como alunos do curso a distância. Essa diversidade de

formação é um desafio muito grande porque você tem que elaborar um

material e organizar o processo pedagógico do curso de modo a atender

essas diferentes expectativas. No entanto, eu acho que o material ficou

mais próximo de quem é universitário do que quem não é. Tenho a

impressão, falando de uma maneira bastante subjetiva, que a maioria das

pessoas que trabalham no curso como tutores, não tem formação

universitária. Talvez o material não devesse privilegiar o público não

universitário e eu acho que os primeiros oito materiais não fizeram isso.

Esse é um segundo dado de avaliação que, em certa medida, também pode

explicar o nível de evasão. Há dificuldade de lidar com a linguagem escrita

e o material foi muito concentrado no texto escrito. Criaram páginas e

páginas de material escrito, então fica difícil se as pessoas não têm o

domínio, a familiaridade com a leitura e com a escrita. Tudo acontece

através de textos: o cara lê e escreve o que ele entendeu do que leu, depois

ele lê o que o tutor acha do que ele escreveu, então o tempo inteiro você

está concentrado em habilidades de leitura e escrita e como essa é uma

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habilidade, às vezes, não tão fluente pra todo mundo, isso talvez tenha

sido uma dificuldade. Eu acho que isso é um elemento de avaliação, o

material tem que ser mais multi-midiático, não tão escrito, mais vídeos,

mais áudios, com mais coisas que não necessariamente a leitura de

textos.

L.A – Você pode falar um pouco do formato do curso?

C.D – Inicialmente ele contava com oito módulos sendo que os quatro

primeiros eram obrigatórios e os quatro últimos eram optativos. Dos

quatro eles tinham que escolher dois. Depois nós abrimos uma seleção

para oitocentos alunos que não preencheu todas as vagas. Uma vez que

não preencheu todas as vagas uns dois meses depois de começar a

primeira turma nós fizemos uma nova seleção pra tentar preencher as

vagas que estavam ociosas e não preenchemos. Então fizemos uma

terceira seleção para tentar, então fizemos três entradas do curso. No

terceiro ingresso notamos que a ideia de fazer um curso sequencial era

um complicador e que estava dificultando mais do que facilitando. Nós

decidimos a partir daquele momento que não seriam mais oito módulos

dos quais o aluno faria quatro obrigatórios e dois optativos. Ele faria um

único módulo que simplesmente escolheria, não teria mais uma sequência

de módulos. Atualmente, a dinâmica do curso é assim: a cada,

aproximadamente, dois meses a gente abre e divulga uma seleção, as

pessoas interessadas se inscrevem no curso e durante sessenta dias elas

vão fazer um módulo que elas escolherem dos oito módulos oferecidos.

Então na prática a cada dois meses a gente oferece oito módulos que

acontecem simultaneamente, e isso vai se repetindo a cada sessenta dias.

A estrutura é basicamente essa.

C.M – Cleber você poderia falar como são escolhidos os tutores e o pessoal

que trabalha nessa equipe EAD?

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C.D – A equipe da coordenação é basicamente composta de professores da

UFMG, em particular da Escola de Educação Física, com exceção da Maria

Terese17 que trabalha no curso a distância e é professora da Faculdade de

Educação e da professora Eliane18 que é supervisora de tutores e trabalha,

se eu não estiver enganado, no Centro Pedagógico ou no COLTEC19 , são

essas duas exceções e os demais que trabalham no curso a distância e no

presencial de formação são professores da Escola de Educação Física.

Então, qual foi o critério? São pessoas que, basicamente, tem algum tipo

de ligação acadêmica com o estudo do lazer. Não tem nenhum professor

assim, sei lá, da biomecânica trabalhando nisso. São professores da área

das ciências humanas que trabalham com políticas públicas, com história

do esporte com coisas relacionadas a essa temática. Já os tutores não têm

ligação com a UFMG. Nós abrimos um edital que tinha a exigência de

residir em Belo Horizonte. Pessoas de diferentes partes de Belo Horizonte

se inscreveram e tiveram que apresentar um currículo e uma carta de

intenção com determinado número de páginas justificando porque elas

queriam participar e porque elas achavam que deveriam participar e qual

era a experiência prévia delas com atividades profissionais de esporte e

lazer. A partir disso montamos uma banca e a gente fez uma seleção e são

as pessoas que trabalham até hoje, não houve uma segunda seleção.

L.A – E como acontecem os processos de divulgação dos cursos EAD?

C.D – Têm várias formas no processo de divulgação dos cursos: primeiro o

próprio Ministério do Esporte divulga já que tem contato com as

prefeituras e com os núcleos que oferecem as atividades do PELC, por e-

mail e às vezes, por meio de material impresso. O Ministério divulga o

curso incentivando as pessoas a se inscreverem. Não é obrigatório, ou

seja, só participa quem quiser. Recentemente a gente começou a fazer

uma segunda estratégia que talvez tenha sido a mais bem sucedida que é

a divulgação nos momentos em que acontecem as primeiras formações

17

Maria Terese Marques Amaral 18

Eliene Lopes Faria 19

Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais

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presencias para o PELC. Uma parte das pessoas que trabalha no curso a

distância, nessas formações, elas têm um pequeno momento para

explicarem como funciona o curso, do que se trata, como é que faz para

participar, eles tentam explicar de uma maneira mais presencial como

funciona o curso a distancia. Eu acho que tem funcionado porque boa

parte dos alunos que temos hoje foi recrutada nesses momentos.

L.A – E a divulgação para o público externo ao PELC?

C.D – Por enquanto, tenho a ideia que o curso seja para as pessoas que

trabalham no PELC, embora na prática não se tenha controle. Qualquer

pessoa que se inscreva a gente não tem como saber se a pessoa é ou não é

do PELC, então não tem uma estratégia de 10 Colégio Técnico da UFMG

divulgação para pessoas de fora do PELC, embora, há essa possibilidade

de a gente tentar divulgar para estudantes de graduação de Educação

Física de algumas universidades ou do norte, do centro-oeste de algumas

regiões que tenham pouca adesão do curso pra tentar divulgar mais o

próprio PELC dessas regiões.

C.M – Cleber para concluir: tem mais alguma coisa que você queira

registrar dessa sua participação do PELC?

C.D – O que eu gostaria de registrar para memória, digamos, assim para a

eternidade sobre esse curso, primeiro é que a ideia é muito interessante, a

ideia de oferecer uma formação para pessoas que trabalham e que estão

atuando profissionalmente nesse âmbito é uma ideia interessante. Em

segundo lugar, a ideia de usar recursos informacionais de comunicação

para oferecer a distância também é uma ideia interessante. Por outro lado

eu acho que a linguagem que a gente está fazendo talvez não seja uma

linguagem ainda inteiramente adequada, dado o perfil e as características

das pessoas que trabalham, desses trabalhadores que estão lá. O suporte

tecnológico que a gente usa também para oferecer esse curso

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provavelmente não é o adequado. Talvez um investimento mais efetivo

devesse ser feito. Uma última consideração que eu faria é com relação aos

custos. Uma das coisas que nos motivou a oferecer num processo

formativo a distância era a possibilidade de oferecer alguma coisa que

tinha um custo benefício muito maior com um custo menor e que poderia

ser com uma certa facilidade reproduzível, poderia ser aplicado numa

quantidade muito grande de trabalhadores e isso não está se mostrando

exatamente verdadeiro. O curso ainda é um curso relativamente caro dado

o número de alunos que a gente atende. Se nós conseguíssemos completar

todas as vagas, o tempo todo, ele seria um curso extremamente barato,

mas como a gente não consegue a relação custo aluno ainda é uma

relação relativamente cara. Talvez, precisasse pensar mecanismos para

tornar o custo benefício do curso ótimo, não é um curso ótimo nesse

sentido. Então, acho que o que eu registraria para a posteridade é isso

para que, se no futuro alguém quiser refazer e continuar fazendo alguma

coisa nesse sentido.

L.A – Muito obrigado pelo seu tempo e disponibilidade.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Christianne Luce Gomes

Entrevistada: Christianne Luce Gomes

Nascimento: não informada

Local da entrevista: Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia

Ocupacional – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo

Horizonte

Entrevistadoras: Luiza Aguiar dos Anjos e Christiane Garcia Macedo Data

da entrevista: 23/10/2015

Transcrição: Juliana Prado Cross

Copidesque: Pamela Siqueira Joras

Pesquisa: Silvana Vilodre Goellner

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Formação acadêmica; Trajetória na nos Estudos de Lazer; Inserção no

Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC); Função dentro do PELC;

Parceria entre Ministério do Esporte e Universidade Federal de Minas

Geais (UFMG); Integrante da equipe gestora do PELC na UFMG; Projetos

trabalhados no PELC; Como o PELC trabalha com o Ministério Público e

com as comunidades; Programa Vida Saudável; Conteúdos trabalhados no

Vida Saudável; Principais desafios para a formação e agentes sociais;

Políticas Públicas de esporte e lazer; Contribuições do PELC/Vida

Saudável.

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Porto Alegre, 23 de outubro de 2015. Entrevista com Christianne Luce

Gomes a cargo das pesquisadoras Luiza Aguiar dos Anjos e Christiane

Garcia Macedo para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de

Memória do Esporte.

L.A. – Christianne, obrigada por ceder seu tempo para conversar com a

gente. Queria que você começasse falando da sua formação.

C.G. – Bom, eu sou Licenciada em Educação Física, me formei em 1992.

No ano seguinte eu fiz uma Pós-Graduação em Lazer aqui na UFMG20

também; em 1994 eu fiz o Mestrado em Educação Física que terminei ao

final de 1995. Depois eu fiz o Doutorado de 1999 até 2003 e dentro dessa

formação eu fiz o Pós-Doutorado nos anos de 2011 e 2012. A minha

formação foi toda realizada na UFMG e o Pós-Doutorado foi feito na

Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, na Argentina.

L.A. – Você pode falar um pouco das suas temáticas de pesquisa?

C.G. – Durante minha trajetória na UFMG, no ano que vem eu completo

vinte anos de professora efetiva, eu sempre pesquisei o Lazer. Mas, a

partir das suas articulações com outros termos, por exemplo, lazer e

educação e desdobrando um pouco mais a formação profissional e

acadêmica, mas a minha temática principal sempre foi o Lazer. Nos

últimos dez anos eu venho pesquisando o Lazer em um contexto latino-

americano. Eu fiz também um curso de formação em cinema, então, mais

recentemente eu tenho feito estudos, trabalhos, disciplinas relacionando

lazer e turismo. Minha pesquisa atual eu faço com apoio do CNPq21 e

vincula as temáticas de lazer, mulher e cinema.

L.A. – E como começou a sua inserção no PELC22 ?

20

Universidade Federal de Minas Gerais 21

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 22

Programa Esporte e Lazer da Cidade

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C.G. – Começou em 2010 quando o Ministério do Esporte fez um contato

conosco para nos responsabilizarmos pela parte de formação do PELC. Eu

já conhecia o PELC antes, eu tenho colegas que foram formadores do

PELC, mas o meu primeiro envolvimento mesmo se deu nesse momento,

então, são cinco anos de 2010 para cá. E a minha contribuição, a minha

participação no PELC se deu principalmente para ajudar a sistematizar,

avaliar, acompanhar os processos formativos presenciais.

L.A. – Tu podes falar um pouco mais do processo de constituição em 2010

e da inserção da UFMG no processo e na sua contribuição específica nesse

trabalho?

C.G. – A UFMG acabou sendo convidada para dar um suporte acadêmico

nessa parte justamente pela tradição que ela tem no que se refere ao

Lazer. Nós, por exemplo, temos o Centro de Estudos e Recreação - Celar -

que foi constituído em 1990, então, são vinte e cinco anos. Se a gente

considerar hoje, de trabalhos, projetos, propostas e ações de ensino,

pesquisa e extensão em termos de política editorial também. Além disso,

uma outra razão que pesou, eu imagino que tenha pesado, foi o fato de

termos constituído aqui na UFMG , inicialmente em 2006, o Mestrado em

Lazer que cinco ou seis anos depois passou a constituir um Programa de

Pós-Graduação em Estudos do Lazer com mestrado e doutorado. Embora

esse Programa esteja lotado aqui na Escola de Educação Física da UFMG,

o que para nós é muito importante porque pela própria história de

envolvimento da Educação Física com as iniciativas ligadas a Recreação e

o Lazer, então é importante que a Escola tenha acolhido esse Programa.

Ele é um programa interdisciplinar e conta com profissionais e professores

com formações diferenciadas. A maioria tem formação em Educação

Física, mas temos também vários profissionais com outras formações

ligadas às áreas de Ciências Humanas e Sociais. Certamente esse é um

ponto que destaca a participação da UFMG como uma instituição

importante e qualificada para contribuir com a parte de formação do

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PELC, tanto é que esse mestrado ainda é o único que tem no Brasil. São

cinco na América Latina e é também a universidade que tem o único

programa de doutorado nessa área na América Latina e fora daqui só

mesmo na América do Norte, na Europa, e em outros países da Oceania.

L.A. – Você poderia falar um pouco da participação do Ministério do

Esporte nessa parceria com vocês?

C.G. – É uma parceria muito interessante porque um dos aspectos que

confere um sentido ao nosso fazer cotidiano na universidade, é uma

interação maior com a comunidade... O Programa Esporte e Lazer da

Cidade com o Ministério do Esporte foi uma possibilidade muito rica de

nos aproximarmos da comunidade via políticas públicas, que é um

aspecto primordial e estamos sempre procurando investir, qualificar e

contribuir dentro do que nos cabe, das nossas possibilidades. Essa

parceria tem sido muito profícua e por causa disso, porque nós temos

saberes e experiências diferentes. O que acontece é uma troca, um

compartilhamento e essa aproximação acaba sendo importante tanto para

a universidade quanto para o órgão público como Ministério do Esporte.

Claro que a nossa preocupação primordial está relacionada com a

garantia do direito ao lazer e é isso que nos une, é isso que temos em

comum aqui na UFMG, uma preocupação muito forte. Nós vivemos em um

país marcado por desigualdades sociais das mais diversas naturezas então

ficamos bastante preocupados com isso e a garantia efetiva do PELC, que

foi gestado com essa preocupação de possibilitar que o lazer e o esporte

chegassem às áreas socialmente mais vulneráveis do nosso país, para que

ele pudesse ser vivido como uma prática cotidiana.

L.A. – Qual é a sua função dentro do PELC e que atividades ela demanda?

C.G. – Eu integro a equipe gestora do PELC na UFMG, PELC Vida

Saudável que hoje já constitui um programa independente, mas antes era

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uma das possibilidades do próprio PELC, mas eles estão intimamente

articulados. Na equipe gestora a minha função está relacionada com a

coordenação da formação. Agora, como a gente tem propostas de

Educação à Distância, da formação presencial tendo a interação também,

mas enquanto responsabilidade é nesse aspecto que eu estou inserida.

Minhas atribuições, como membro da equipe de coordenação da formação

do PELC, incide principalmente nos aspectos pedagógicos que estão

presentes na formação. Por exemplo, eu estou sempre envolvida com as

questões ligadas aos objetivos da formação, da sistematização e isso

atualmente são quatro módulos, então, como se dá esse processo? Com

quais objetivos? Quais conteúdos também são pertinentes de serem

abordados nos quatro módulos. Nós fizemos recentemente uma revisão

desses conteúdos e possivelmente esse processo... Possivelmente não, esse

processo não terminou, então, a gente continua fazendo isso e eu estou à

frente desse processo. Além disso, para levantar maiores fundamentos

para a formação eu também estou envolvida com a seleção de materiais

didáticos, textuais e audiovisuais que possam enriquecer com a formação

dos agentes sociais. Nós temos temáticas novas, por exemplo, e há uma

responsabilidade em buscar materiais que sejam adequados também ao

público porque muitas vezes agentes sociais são pessoas da própria

comunidade e nem sempre tem uma formação acadêmica. Precisamos

pensar em textos e materiais adequados também a esse público, para que,

de fato, se consiga qualificar a formação deles, porque eles é que estão na

ponta, eles fazem de fato o PELC acontecer. Essa é uma das atribuições

que vem sendo assumidas por mim e além dessas uma participação

também se refere ao planejamento e a realização dos encontros anuais,

dos encontros de formação de formadores. Dou também um suporte aos

formadores, articuladores e outros membros da equipe com necessidades

de discutir alguma coisa mais ligada a essa dimensão pedagógica da

formação.

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C.M – Você pode falar mais detalhadamente como se organiza essa

formação dos quatro módulos? Você recebe o material dos formadores e

devolve para eles com sugestões ou você manda o material com a seleção

de materiais, inclusive, se eles vão trabalhar algum texto, vídeo passam

por ti?

C.G. – O PELC tem as suas diretrizes que são divulgadas, por exemplo, os

editais públicos. Essas diretrizes têm que ser seguidas e as diretrizes

atuais definem, estabelecem que a formação seja desenvolvida em quatro

módulos, então, tem o módulo introdutório um que prepara o grupo para

realmente desenvolver aquele trabalho nos núcleos de esporte recreativo e

de lazer. Tem uma introdução e a equipe, normalmente quando ela não se

conhece, tem a oportunidade de se conhecer a equipe que vai trabalhar

localmente. Esse contato é direto que o grupo tem com o formador e

também nesse primeiro módulo esse grupo de agentes sociais e

coordenadores, que vão fazer o PELC acontecer, tem acesso a uma série de

informações institucionais, políticas, pedagógicas relacionadas ao esporte,

criatividade e ao lazer. Esses conteúdos também são sistematizados e

definidos pelo próprio Ministério, mas não de uma forma fechada; são

vários conteúdos e o formador tem liberdade para escolher entre aquelas

possibilidades e entre outras até que não estejam elencadas ali, o que ele

considera mais pertinente para fazer aquele trabalho com aquela realidade

local. Tem certa flexibilidade também porque o respeito às peculiaridades

locais é uma diretriz acolhida pelo PELC. Então, é isso sobre o Módulo

Introdutório I; depois tem o Módulo Introdutório II. Muitas vezes a equipe

pode sofrer alguma modificação ou algum agente social por alguma razão

não vai poder participar, tem que ser substituído. Então é um momento

em que é possível retomar os fundamentos que foram trabalhados no

primeiro contato, acrescentar e aprofundar outros considerando os

objetivos do PELC para esse momento. Depois são dois módulos

avaliativos: tem o Módulo de Avaliação I onde todo mundo se reúne para

ver o que está e o que não está dando certo, onde estão as lacunas, o que

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pode ser feito para melhorar. Esse é um momento muito importante

porque de fato o PELC já está implantado, já está em andamento e o grupo

avalia como o trabalho está sendo desenvolvido, o que foi possível

conseguir e os novos rumos a serem dados para equacionarem as

dificuldades e as fragilidades percebidas. Mais para o final tem o último

Módulo de Avaliação, o II, porque uma das preocupações do PELC é

também que esse tipo de proposta tenha continuidade, mas de uma forma

com autonomia, para que as pessoas possam buscar outras formas de

mobilização da comunidade, para que elas reivindiquem, por exemplo, do

poder público municipal os meios para que o trabalho continue

acontecendo. De fato, esse é um grande desafio, mas muitas vezes, é

alcançado, e por isso que são interessantes as propostas que se têm.

Muitas vezes, querem priorizar entidades que ainda não implantaram

PELC. Nos editais públicos, muitas vezes é colocada dessa forma, às vezes

é aberto, então é possível ter uma continuidade. Mas para que a

autonomia e a autogestão sejam alcançadas é imprescindível que as

pessoas estejam mobilizadas e engajadas para continuar trabalhando em

prol da garantia do direito ao esporte e lazer sem depender

necessariamente do auxílio financeiro concedido pelo Ministério do

Esporte.

L.A. – E o que as comunidades tradicionais de povos indígenas e o Vida

Saudável demandaram da equipe gestora?

C.G. – Demandou o seguinte: nós somos atualmente três professores

responsáveis por esta parte de coordenação da formação e os três estão

envolvidos com essas três possibilidades. Mas para uma divisão interna de

responsabilidades cada um fica mais responsável por um programa. No

meu caso: sou uma pessoa, que digamos, faço um investimento acadêmico

maior no programa Vida Saudável que é voltado para idosos acima de

sessenta anos, atende esse público específico e tem as suas

peculiaridades. Por exemplo, eu estava falando para vocês os módulos

introdutórios para dar conta dessas peculiaridades e os conteúdos,

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sabemos que tem alguns que são similares para todos. Por exemplo, uma

discussão sobre as políticas públicas de esporte e lazer no nosso país são

importantes para essas três possibilidades, mas no Vida Saudável, por

exemplo, tem também um trabalho para que as pessoas conheçam as

políticas específicas para esse público. Então um conhecimento maior

sobre o Estatuto do Idoso, sobre a Política Nacional do Idoso, as

possibilidades de promoção da saúde que também focam mais esse

público que é mais específico para eles, então internamente, fazemos essa

divisão, mas só para ter um investimento maior porque está todo mundo

envolvido com as três possibilidades.

C.M – Poderia falar um pouco mais das temáticas... Tem alguma temática

que é mais trabalhada no Vida Saudável como especificidade e não tanto

nos outros?

C.G. – Tem. Por exemplo, algo que é muito comum na velhice está

relacionado com as quedas. O idoso perde o seu equilíbrio com mais

facilidade, ele tende a cair e isso é muito sério, porque a última coisa que

a gente quer é que, por exemplo, o idoso quebre o fêmur e tenha que ficar

acamado por vários meses. Então essa, por exemplo, é uma temática que

é trabalhada: prevenção de quedas. Os formadores são qualificados e

qualificam também os agentes sociais. Outra temática que tem a ver com

acessibilidade, uma série de cuidados que é preciso ter com relação ao

espaço para que de fato permita o acesso do idoso. Muitas vezes o idoso

tem plenas condições físicas e psicológicas de fazer qualquer tipo de

proposta que é desenvolvida pelo PELC e que não está relacionada apenas

com os exercícios, têm outras oficinas, trabalhos manuais, trabalhos

sociais, os eventos em que se aborda uma multiplicidade de interesses

culturais relacionados ao lazer. Essas questões precisam ser

consideradas, a questão do horário, do local também é importante porque

muitas pessoas podem, por exemplo, preferir realizar determinadas

oficinas em um horário, mas será que nesse horário é pertinente para

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aquele público local que está ali? Vai atender os seus interesses ou não?

Então é preciso estar atento a isso. As doenças que acometem esse tipo de

pessoas, comuns também na velhice, então, aprofundar um pouquinho e

conhecer mais sobre isso, qualifica melhor os profissionais para

trabalharem com esse grupo. A gente vai um pouco nessa direção

tentando mapear os elementos que são importantes para que o trabalho

de fato dialogue com as especificidades do grupo e, claro, as realidades

são heterogêneas e a gente sabe que têm aspectos em comum, mas têm

outros também que são totalmente particulares, então, é preciso também

estar atento a essas questões.

L.A. – Existe alguma uma aproximação de vocês com o programa

Academia da Saúde e até com outros professores daqui da casa mais

ligados ao campo da Fisiologia. Você poderia falar dessas parcerias, dessa

aproximação?

C.G. – Então, com esse trabalho eu não estou diretamente envolvida, por

isso prefiro deixar que os meus colegas que assumiram esta

responsabilidade falem mais sobre isso.

C.M. – Nas formações presenciais vocês têm trabalhado com a questão da

saúde pelo próprio nome do programa ser Vida Saudável. Isso tem gerado

alguma demanda para os formadores?

C.G. – Tem gerado demandas, muitas, é uma coisa recente, mas

principalmente em termos de um conhecimento maior, de conceitos e

práticas ligadas à promoção da saúde. Trabalhamos com um grupo de

formadores experientes, na sua maioria professores universitários com

uma longa trajetória e sabemos que essa perspectiva de formação de todos

nós tem que ser continuada e essa têm sido uma questão colocada.

Alguns apresentam um pouco mais de dificuldades outros não, outros já

têm uma familiaridade um conhecimento maior sobre essa perspectiva,

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mas o grupo como um todo está envolvido e interessado em aplicar, em

ampliar os seus conhecimentos e também em aplicá-los no dia a dia da

formação. No próximo mês, em novembro, vamos ter um encontro de

formação de formadores e essa será uma das questões colocadas. Nós

vamos avaliar onde estão as maiores dificuldades dos formadores com

relação aos conteúdos. Muito deles, como eu falei, são novos e foram

introduzidos agora no PELC. É impossível dar conta de tantos temas que

são muito diversificados. Posso até passar para vocês o que a gente

levantou e está em processo, mas para que de fato se consiga fazer um

trabalho que dialogue com as questões da área da saúde para o grupo

social específico de idosos.

L.A. – E como se dá o processo de avaliação das formações realizadas?

C.G. – Ao final da formação os participantes dão retorno, eles preenchem

um questionário ensino-prática... Até tem uma pergunta que eu não

respondi, se vocês quiserem depois levar para o lugar certo não tem

problema. No início da minha participação no PELC eu recebia as

propostas de programação dos módulos. Eu avaliava, observava as

especificidades do grupo que estavam sendo consideradas ou não, se os

objetivos estavam claros, coerentes, se os textos escolhidos pelo formador

para trabalhar com os conteúdos eram adequados para aquele grupo de

agentes sociais, se não era uma leitura muita acadêmica que ia perder a

sua riqueza, digamos assim. A partir daí eu fazia uma avaliação de todos

esses elementos, além das metodologias que a pessoa escolhia, os filmes

que ela separava para ver etc. Tudo isso compõe uma proposta de

formação e, a partir daí, eu fazia um diálogo com esse formador. Se

estivesse tudo tranquilo, tudo pertinente, ótimo, vamos lá, vamos

desenvolver esse módulo. Se fosse percebida alguma dificuldade, por

exemplo, uma visita técnica que normalmente é feita nos núcleos se ela

não tiver sistematizada e articulada com os objetivos do PELC para que

realmente aquela visita fizesse um sentido e fizesse uma diferença nas

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vidas das pessoas o grupo vai, mas vai observar o quê? O que se espera

com essa visita? Então tinha toda uma sistematização e era dado um

retorno para o formador ou formadora e se estabelecia um diálogo, uma

interlocução. Na medida em que o trabalho e a equipe foram crescendo

também foi ampliado esse trabalho, passou a ser feito pelos articuladores

regionais. São eles que acompanham o dia-a-dia das programações e dos

relatórios, São duas etapas: a primeira é a programação e depois o

relatório que o formador elaborava depois do trabalho realizado. Nós

fazíamos essa interlocução para ver o que deu certo, o que não deu, o que

foi proveitoso, características do grupo e questões das mais diversas era

colocado ali. O formador também era encarregado de aplicar os

questionários para que os agentes sociais pudessem avaliar os

questionários. Eles também eram analisados para que pudéssemos

conhecer a percepção dessas pessoas sobre o trabalho realizado. Outra

iniciativa está relacionada com as visitas em que são feitas por todas as

pessoas ligadas ao grupo da equipe gestora, do Ministério do Esporte aos

articuladores. Eles acompanham a formação, vão junto com o formador,

conhecem o grupo, vêem como esse andamento está sendo feito. Isso vai

também permitir que a avaliação seja feita porque são feitos registros

sobre as visitas e esse processo atualmente vem sofrendo mudanças e vem

sendo aprimorado. Então tudo isso agora vai ficar registrado nesse

sistema como um banco de dados realmente e facilita o acompanhamento

e avaliação por parte das pessoas.

L.A. – Acompanhando esses relatórios que informações você obteve e

achas mais relevantes para pensar a continuidade do Programa?

C.G. – Bom, uma coisa que eu sempre gostei está relacionado com o

potencial que esse tipo de trabalho tem do ponto de vista do esporte

recreativo do lazer. Ter a possibilidade de transformação da realidade que

é uma coisa que se fala muito, mas às vezes fica no discurso. Quando a

gente consegue perceber isso na prática é muito rico, eu até me lembro de

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um trabalho que acompanhei em Maceió em uma área realmente bastante

vulnerável socialmente. Os trabalhos que faziam lá eram fantásticos, com

música, percussão, coral, cinema, capoeira e tinha também a dança das

oficinas que eu assisti e pude acompanhar. É muito interessante! Quando

eu falo desse potencial o que eu quero dizer? Esse trabalho de percussão,

por exemplo, era feito com latas porque a liderança comunitária de lá

tinha percebido que tinha muito lixo, era tudo colocado ali e tinha muita

lata. Então, começou daí, mas ele trabalha com a lata, claro que tem uns

tambores também, mas ele trabalhava com a lata para sensibilizar aquele

grupo de jovens para essas questões. Isso tem um sentido muito grande!

Outro grupo também de lá, trabalhava com canto oral, escolhia as

músicas que tinham letras que provocavam reflexões naquele grupo de

jovens que estavam com ele. Eram crianças e adolescentes e na verdade o

coral era isso. É muito bacana quando você vê pessoas preocupadas, não

apenas em ocupar o tempo ou fazer de qualquer jeito ou até trabalhar com

esporte nos módulos das escolinhas esportivas. A proposta não é essa. A

proposta é que o lazer em cada contexto local que o PELC possa ser

desenvolvido realmente dialogue, abra a mente das pessoas para repensar

determinados aspectos e quem sabe a partir daí contribuir para que

algumas mudanças sejam feitas. Eu falo que quando as pessoas

conseguem enxergar essas questões já é um grande avanço porque é

assim que a gente vai caminhando. C.M. – Você chegou a fazer visitas em

núcleos?

C.G. – Fiz esse, por exemplo, foi um que eu fiz.

C.M. – Desses núcleos você vê reflexo da formação dos formadores, da

formação com os formadores desses módulos da EAD23 lá no núcleo?

C.G. – Da EAD ainda não porque está recente. Vamos agora tentar

trabalhar com material didático que foi produzido para os cursos à

23

Educação a Distância

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distância nas formações presenciais porque são materiais que tratam de

temáticas 100% pertinentes ao PELC, em uma linguagem clara, acessível.

Entendemos que isso vai qualificar as formações presenciais também esse

material. Que mais você me perguntou?

C.M. – Se a formação tem reflexo lá na ponta, no núcleo?

C.G. – Eu consigo ver, claro que não o tempo inteiro. Têm lugares que, por

exemplo, reproduzem a lógica das escolinhas de esporte e dentro dessa

lógica, muitas vezes, as meninas e as mulheres ficam excluídas. Se a

gente pensar, como eu já constatei também, em determinados horários na

parte da manhã eu chegava ao núcleo e só tinham meninos, porque,

provavelmente, as meninas estavam cuidando da casa, dos irmãos

menores, assumindo essa responsabilidade. Isso é só um exemplo que eu

estou dando para dizer que o PELC não estava alcançando o seu objetivo

porque se ele é para garantir o direito de todos e ali naquele horário,

naquela comunidade um público alvo eram realmente as crianças e

adolescentes, as meninas estavam fora dessa possibilidade. Muitas vezes,

pelo tipo de atividade escolhida, a gente sabe que muita menina gosta de

futebol, mas às vezes não são todas, tem outra possibilidade que seja de

interesse das meninas também então se elas não podem nesse horário,

elas não estão comparecendo. Por que não estão comparecendo? Uma

outra questão também, o PELC tem o compromisso de envolver pessoas

com deficiências, essas pessoas estão participando, elas estão sendo

incluídas também a partir dessa possibilidade? Se não estão, por que? A

meta tem que ser alcançada, então se é para todos e nós temos que

acompanhar justamente para garantir isso.

L.A. – Você indicou algumas coisas e eu fiquei aqui pensando... Quais são

os principais desafios para a formação que você identifica?

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C.G. – Bom, eu acho que os principais desafios estão realmente ligados a

que essa proposta faça a diferença. Ela tem que realmente acrescentar

naquele contexto local, não pode ser só para quebrar o galho, preencher

um tempo ocioso, se ocupar ou para oferecer atividades para as pessoas

sem nenhum custo para os participantes. A gente sabe que isso é

financiado por recurso público para ser visto como uma possibilidade

mais barata ou sem custo nenhum, e não é isso. Tem um desafio aqui

político, social e a diferença tem que ser 4 Ensino à Distância. feita a

partir dessa perspectiva, numa mudança cultural efetiva. Compreender

mesmo as possibilidades de vivência do lazer que são inúmeras,

diversificar essa possibilidade de vivência, permitir que isso potencialize

as características locais. Então tem que ter um diálogo com a cultura local

e outra coisa é instrumentalizar as pessoas para que elas compreendam a

sua realidade. Estou falando sua realidade em termos do direito ao

esporte, ao lazer, mas que instrumentalize as pessoas para que elas

compreendam que o poder público deve fazer isso, deve oferecer isso a

elas E tem uma diferença aí, tem uma desigualdade na apropriação desse

direito que é um direito social. As pessoas precisam compreender isso e

pensar em alternativas para que a sua realidade possa realmente ser

transformada, senão acaba caindo em uma prática assistencialista. Eu

vejo esse como um grande desafio, ampliar a percepção das pessoas para

essas possibilidades, porque esporte e lazer são temáticas muito

importantes. É um campo da vida, mas esse campo dialoga com vários

outros, reproduzem os mesmos aspectos mais amplos que incidem sobre a

educação, a saúde, o transporte, moradia e segurança esse conjunto de

outros direitos sociais que a gente tem. O lazer é parte desse processo e as

pessoas precisam despertar para uma cidadania plena relacionada com a

possibilidade de vivenciar, de ter garantidos todos os seus direitos e não

apenas um deles como se uns fossem mais importantes do que os outros e

para formação eu vejo que isso é um grande desafio.

L.A. – Chris tem alguma coisa que você gostaria de registrar?

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C.G. – Não, depois se vocês quiserem ter acesso a esse trabalho que

estamos fazendo atualmente de sistematização dos conteúdos e tudo eu

coloco a disposição.

L.A. – Muito obrigada pela disponibilidade.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Coriolano Pereira da Rocha Júnior

Depoimento de Elisangela Chaves

Entrevistado: Elisângela Chaves

Nascimento: não informado

Local da entrevista: Universidade Federal de Minas Gerais – Belo

Horizonte

Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos

Data da entrevista: 20/11/2015

Transcrição: Leila Carneiro Mattos

Copidesque: Jamile Mezzomo Klanovicz

Pesquisa: Pamela Joras

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Formação; Temáticas do mestrado e doutorado; Temática do lazer na sua

trajetória; Como surge a EAD; Formato do curso; Escolha dos temas para compor os módulos; Perfil dos alunos que participam do curso; Desafios

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dentro da EAD; Quem são os autores; Divulgação da abertura de novas turmas; Quem pode fazer o curso; Resultados das formações; Pontos a

serem melhorados; Formação dos tutores; Relação com o Ministério.

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Belo Horizonte, 20 de novembro de 2015. Entrevista com Elisângela

Chaves para o Projeto Memórias do PELC e Vida Saudável a cargo da

pesquisadora Luisa Aguiar dos Anjos.

L. A. – Elisângela, muito obrigada por me receber aqui, primeiro queria

que você falasse da sua formação?

E. C. – Eu, que agradeço que bom que a gente está fazendo isso. Bom eu

me formei em Educação Física formação superior na Universidade Federal

de Viçosa, me graduei com dupla habilitação em 1995, fui para a

Educação Física por uma trajetória de formação em dança, também com o

Balé Clássico o Jazz desde a infância, após a minha graduação em Viçosa

em 1995, eu fiz uma Especialização em Dança Moderna Educacional

também lá em Viçosa e depois Mestrado e Doutorado em Educação aqui

na UFMG24 terminei o doutorado em 2013, e aí depois desse processo eu

me concursei aqui na UFMG e me transferi para cá.

L. A. – E quais eram as temáticas do seu mestrado e doutorado?

E. C. – Mestrado eu trabalhei com a Escolarização da Dança aqui em

Minas Gerais, trabalhei com assuntos documentais oficiais assim,

legislação, programas, currículos escolares e fiz um recorte na década de

1920, 1930 que o momento que em termos de legislação eu localizei a

inclusão e a exclusão da dança junto aos Programas de Ensino de Minas

Gerais e no doutorado eu trabalhei com a primeira Escola de Dança em

Minas Gerais que foi criada por uma professora que se chamava Natália

Lessa e que aceitava somente meninas, então eu trabalhei com essa

perspectiva da educação feminina via Dança, o título da tese é Uma escola

de graça, saúde e beleza: Natália Lessa, a dança e a educação da

feminilidade, ela tem essa proposta e é um curso que foi criado em 1934

funcionou até a década de 1980, teve toda uma trajetória, era uma pessoa

de Educação Física, não era uma bailarina e aí a minha pesquisa de

doutorado foi sobre essa temática relacionada à dança e a educação da

feminilidade.

24

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

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L. A. – E como é que você percebe a temática do lazer ao longo da sua

trajetória?

E. C. – Então, foi uma grata surpresa quando eu cheguei aqui, porque eu

sempre tive um namoro distante eu não sou uma pesquisadora do campo,

pensando a dança na educação física eu sempre tive o lazer como alguém

que dialoga comigo, mas nunca foi uma área de investimento para mim e

aí quando eu cheguei aqui o Elder me convidou para... Começou com

convites assim, “faz um parecer de projeto do Mestrado”, “Vem participar

de tal coisa” e aí tinha a proposta da EAD25 eu tenho na minha trajetória

profissional uma proximidade com a extensão, eu trabalhei muitos anos lá

na... Como professora da UNIMONTES26 e trabalhei muito tempo na Pró

Reitoria de Extensão com essas experiências de cursos e capacitações

“etc”, e aí ele me convidou para fazer parte desse grupo da EAD, mas a

princípio como supervisora e aí eu fui me aproximando mais da questão

do lazer, mas não foi uma área de investimento acadêmico para mim até

então, mas há uma perspectiva desde a minha vinda da minha inserção

nesse grupo, principalmente, na Pós-graduação onde eles sentem uma

carência de pessoas que discutam objetos que estão relacionados com o

corpo, com a dança na perspectiva histórica que eu tenho visto, mas não

só. Então a minha relação com o lazer ela está sendo construída mesmo e

minha entrada no PELC27 ela teve muito mais a ver com experiência

administrativa até, vamos dizer assim, de coordenação, de implementação

de projetos, do que a temática em si, ele até brincava comigo na época,

dizendo assim “não, vai se apropriando da coisa que eu preciso de alguém

que toque esse negócio aí”, então vamos lá, e então foi muito nessa

perspectiva e está sendo muito... Como eu vou dizer, não só promissor,

mas instigante para mim, porque eu estou me identificando com questões

que eu tinha um certo distanciamento nessa minha trajetória e que está

me agradando muito, assim, em termos de motivação mesmo para estar

aqui junto desse grupo, o PELC é muito apaixonante assim, eu estou bem

cativada pela proposta que eu só conhecia de acompanhamento quanto

profissional da área essa coisa toda.

L. A. - Quando que aconteceu esse convite e se a ideia da EAD ela

antecede a sua entrada?

25

Educação a Distância – EAD. 26

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 27

Programa de Esporte e Lazer da Cidade – PELC.

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E. C. – Antecede a minha entrada, quando eu cheguei eu me tornei

professora aqui em fevereiro de 2014, esse projeto já estava pronto, aí

quando eu cheguei assim, sei lá março, abril o Helder28 me convidou para

compor a equipe do projeto que ia ser implementado. O projeto já estava

pronto, eu entrei como eu te falei como supervisora da EAD e de monitoria

era outra questão e aí essa proposta a gente começou de fato a trabalhar

em agosto de 2014, mas eu nesse lugar de supervisora, esse lugar da

coordenação que eu faço hoje, quem ocupava era o Luciano Pereira da

Silva e aí a gente começou a trabalhar com essa proposta nesse período

então, eu não fiz parte desse momento de elaboração da proposta da EAD

ela já estava aí, eles me apresentaram eu gostei, e aí entrei com essa

função de supervisora o que aconteceu é que no final do ano o Luciano foi

remanejado com a saída do senhor Ricardo para o Pós- Doc e aí eles me

convidaram a assumir a coordenação geral, isso foi em janeiro,

praticamente, desse ano, é janeiro de 2015, no final do ano já tinha essa

questão eu já sabia dela, mas a gente não conversava essa colocação e aí

teve essa troca de funções, aí eu assumi a coordenação geral, o Luciano

assumiu o lugar do Silvio e aí então, eu estou de coordenadora Geral da

EAD desde janeiro, janeiro de 2015.

L. A. – E você sabe dizer o que tem antecedido a sua entrada, como que

surge essa ideia o que ela vem a cumprir?

E. C. – Sim! Então, a ideia da EAD era tanto uma... Eu não gosto muito da

palavra complementação, mas ela é um suporte a mais do processo de

formação dentro do PELC, entendendo que tanto para os formadores

quanto para os agentes, coordenadores nessa rede que faz o PELC

funcionar, mas também algo que possibilitasse uma abrangência dos

princípios do PELC, desde a gestão participativa até a discussão da

política em si, e das perspectivas de política do que compõe não só a

essência do PELC, mas a capilaridade que ele nos possibilita enquanto

uma política que pode partir não só dessa iniciativa do Município, do

Estado, da Secretaria, das Instituições e o Ministério, mas como

incorporação mesmo de uma conscientização coletiva da população nessas

modalidades, e aí a EAD foi entendida por esse grupo que já estava

trabalhando como a possibilidade mais viável, rápida e barata para que

28

Helder Ferreira Isayama.

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isso acontecesse, um investimento não que ele seja barato, eu falei barato,

lógico que é um investimento, mas é um investimento que possibilita uma

abrangência maior do que se a gente fosse deslocar pessoas para cumprir

isso, essas formações de forma presencial e aí ouve uma compreensão de

que a EAD que também, para, além disso, e até ontem a gente discutia

isso aqui no encontro da produção de materiais, porque a produção de

material da EAD tanto que a gente está diversificando isso ele está

pensada com um curso a distância “online”, mas há um investimento em

autores em referências nas áreas, e que produziram material que os

formadores, por exemplo, hoje já usam no próprio processo e que vai ser

publicado futuramente, para a gente entender que é um material que

contém uma contribuição muito significativa para o PELC e para essa

discussão do Esporte e do Lazer no viés dos princípios que a gente vem

trabalhando, a gestão participativa, política pública ampliada, da

formação de serviços, ponto importante para nós também.

L. A. – E como que é o formato do curso?

E. C. – Aí, vem uma questão que eu faço parte da história [riso], o curso

foi pensado não como pré-requisitos, mas ele foi pensado como módulos

obrigatórios e módulos optativos, a lógica era que o aluno tinha que fazer

quatro módulos obrigatórios, as temáticas desse módulo era uma Gestão

participativa no PELC; Princípios metodológicos no PELC; Avaliação e

diagnóstico da realidade, e depois ele faria módulos optativos que a gente

ofereceria quatro e eles escolheriam dois, essa foi à estrutura que foi

aprovada e foi iniciada pelos cursos, só que como esse processo foi muito

dificultado, no princípio, a gente teve uma... Havia uma proposta de um

curso piloto de um ano, voltado para um público de cem no máximo

duzentas pessoas, mas quando chegou esse processo em agosto de 2014,

houve uma demanda da SNELIS29 de acelerar esse processo de ampliar

essa quantidade de pessoas, a gente tem consciência que isso é uma

demanda por ter uma condição de investimento no Ministério, por ser um

ano marcante, que era o ano de eleição, e dessa proposta inicial da equipe

que eu não fazia parte ainda, houve uma super ampliação, porque havia

encontros regionais nesse segundo semestre de 2014, e a equipe aqui

aceitou o desafio de não fazer esse piloto, mas já fazer uma movimentação

ampla e aí a gente teve uma captação de alunos muito elevada, eu acho...

Eu não sei o número exato, mas eram oitocentos e poucos alunos se

29

Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer Inclusão Social – SNELIS.

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cadastraram para fazer esses encontros regionais que estavam

acontecendo pelo país todo, e aí a gente se equipou para atender isso, só

que essa solicitação de matrícula ela não se efetivou, então a gente se

preparou para oitocentos, e aparecerem seiscentos e até o final do ano as

pessoas foram saindo. E nesse diagnóstico o que a gente identificou é que

boa parte começou a sair, porque percebeu que não ia dar conta de fazer

um curso com essa temporalidade, a estrutura inicial é que compreendia

cento e vinte horas de curso, o que daria aí na média oito meses, se não

me engano, é isso, quarenta e cinco, depois eu tenho que olhar essa...

Mas, assim, o aluno teria que permanecer no curso quase um ano, e aí as

pessoas foram evadindo e aí nessa evasão perante a gente já ter

estruturado, porque isso implicou contratação de tutor, tutores suficientes

para atender a gente fez uma avaliação junto ao Ministério e resolveu

mudar a estrutura do curso, então, ele deixou de ser um curso que tinha

módulos obrigatórios optativos para ser um curso de módulos isolados,

até porque a construção dele não foi nessa lógica de pré requisito, cada

módulo ele se define. Eu não falei dos módulos optativos, optativos são:

Financiamento; Políticas de Esporte e Lazer; Esporte Lazer e Saúde;

Roteiro para a Elaboração de Projetos; [palavra inaudível 13:26]; Esporte

Recreativo e Lazer. E aí a gente tem a proposta que está sendo elaborado

um módulo sobre Dança, que é Lazer e Dança, porque há um índice de

que a dança é a segunda atividade mais realizada nos núcleos e agora a

gente tá fazendo uma outra demanda para o ano que vem, que é uma

demanda que a SMELIS nós passou também, junto “né”, equipes e a

SMELIS avaliando o que a gente poderia ampliar. Então essa estrutura

que você me pergunta, hoje a gente funciona como módulos isolados, a

gente oferece oito módulos porque os módulos de Dança ainda não estão,

e esses módulos as pessoas vão caminhando por eles, nós mantivemos um

acumulo que começou por setembro, mas que foi até o final, mas que foi

infelizmente se evadindo e aí a gente tem conseguido ter um acesso maior

as pessoas, porque ele é mais atrativo pelo fato de você conseguir cumprir,

e em dois meses você termina o módulo, recebe a certificação, o que a

gente tem proposto é que se a pessoa faz essa carga horária de cento e

vinte e ela cumpre seis módulos do curso, aí a gente emite um certificado

completo, porque ele fica como curso de aperfeiçoamento, para quem tem

curso superior isso faz a diferença para quem tem carreira ou concursos,

esse tipo de coisa.

L. A. – Não, eu estou conseguindo compreender a lógica toda, e como é

que foi a escolha dos temas que iam compor esses oito módulos?

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E. C. – Então, aí a parte da história que eu não participei, vou te falar o eu

sei. Esse estudo pelo que eu entendi do projeto, pelo que as pessoas me

falam, ele saiu de uma análise da equipe do PELC daqui, junto a equipe

do Ministério, de estar vendo com os formadores e com os relatórios do

PELC, as temáticas que eram mais carentes, o que ficava lacunável nesse

processo da formação. Então os formadores... Isso é o que eu sei, acho

que algumas pessoas talvez saibam te falar isso melhor, porque

participaram do processo, como o Luciano, a Maria Teresa30 que é a nossa

coordenadora pedagógica, o Helder, acho que o Cleber31 também

participou disso, de estar reportando aquilo que os formadores entendiam

que ficava lacunável junto aos agentes e coordenadores, e que eles não

tinham tempo hábil para explorar, então é uma... E ao mesmo tempo que

é o grande desafio na formação do PELC, ao mesmo tempo a carência de

orientações mais de intervenção do dia a dia, do trabalho cotidiano do

PELC, então os materiais eles são um pouco nessa vertente, eles tem ao

mesmo tempo uma ideia de uma formação mais básica conceitual, mas

também temos materiais que estão ligados a uma orientação, que está

muito longe de ser um receituário, mas uma orientação para que eles

consigam refletir e criar sobre a prática para implementação das

atividades, do cotidiano, no funcionamento dos programas. Tanto que tem

pouco essa... Os conteúdos que foram previstos para serem obrigatórios

eles cumprem pouco essa função, o que é uma avaliação, qual a

importância da avaliação no processo do programa, qual é a gestão... O

que é a gestão participativa, porque o PELC usa de gestão participativa

como metodologia, quais são os princípios metodológicos, o que... E aí vem

um conteúdo uma abrangência histórica, mas também conceitual da

construção da Política Pública de Lazer no Brasil, o outro que é o

diagnóstico da realidade, o que é um diagnóstico, pensando que o

diagnóstico é uma metodologia uma ferramenta muito importante para a

implementação do programa, e aí quando a gente vai para os optativos

eles já tem uma orientação mais focada, financiamento o que é, como é

feito, como é que custa, qual é a importância da busca dele, Esporte Lazer

e Saúde, então, qual é essa relação Esporte Recreativo a questão da dança

entrando também, então a elaboração de projeto, o que é elaborar um

projeto, então não é uma relação onde os moldes não são pensados nem

descritos assim, desse aqui é para pensar a teoria, esse aqui é a prática,

mas são módulos que pensam muito essa perspectiva de uma formação de

conscientização e ao mesmo tempo de implementação desse processo, a

30

Maria Tereza Amaral. 31

Cleber Dias.

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ideia... Eu leio muito assim, se você perguntar “como é que foi?”, eu não

estive no como é que foi, mas a interpretação que eu tenho é do que foi

produzido, quando eu entrei no programa esse material já estava sendo

elaborado, esse processo já tinha sido orientado, mas eu acho que as

temáticas surgiram muito dessas lacunas e dessa compreensão do que

era necessário e fundamental para que os agentes e coordenadores do

PELC pudessem ter acesso e aprofundamento.

L. A. – E você consegue identificar, certo perfil dos alunos que tem

efetivamente participado dos cursos?

E. C. – Então, esse é o desafio da EAD que a gente está reestruturando a

equipe, hoje à gente tem uma série de instrumentos, a gente está

construindo, a gente não tem ainda, a gente está em processo de

construção para fazer essa averiguação, o perfil é o grande desafio da

EAD, porque nós temos alunos, e assim, como nós temos as pessoas que

participam... Que são as pessoas que participam do PELC, agentes que

não tem escolaridade completa nem o Ensino Fundamental e nós temos

Pós-graduandos e nós temos gestores de estado, gestores de município,

funcionários de carreira, professores universitários, estudantes é uma

diversidade de “A” a “Z”, e que é o grande desafio, porque nós somos

formados em uma lógica de organização de escolaridade, não é assim,

então, eu penso um curso para o Pós-graduação, eu penso um curso para

a graduação e esse curso atende a todos, é o grande desafio, então, a

gente não tem um perfil. O que a gente tem tentado fazer e que está em

fase de experimentação, nós estamos terminando agora módulos que

tiveram essa... Quando a gente tem uma demanda grande de alunos, que

é a maior dificuldade do curso, que nós não temos tendo demandas

grandes, infelizmente, isso é uma meta para o ano que vem que é ampliar

a demanda de alunos para o curso, a gente tem agrupado pensando a

escolaridade, porque no princípio do curso a gente percebeu muito, e isso

é um dado da EAD inclusive, quando você tem um desnível de informação,

tipo eu tenho alunos que não tem o ensino médio junto com uma turma

que tem alunos da graduação e Pós-graduação, quando a gente com uma

ferramenta muito útil explorada pela EAD que é o Fórum de Debates, que

todo mundo entra para bater papo, eu jogo uma temática e as pessoas

entram ali para discutir, há uma tendência das pessoas que não tem nível

de escolaridade, que não tem uma linguagem rebuscada em termos

acadêmicos, principalmente, delas não entrarem naquela sala, elas ficam

só contemplando e isso definitivamente não atende a perspectiva do que a

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gente quer para elas, então a gente começou a tentar formar por

escolaridade por entender que as pessoas ficam mais a vontade, não que a

gente tenha essa identificação, mas é a linguagem, é o nível do debate,

então essa turma que eu falei que está desde o começo, é uma turma que

a gente está achando interessante, porque eles estão fazendo todos os

módulos, é um grupo de umas quinze pessoas, então, aí são quinze

pessoas onde nós temos formadores, professores universitários, técnicos

de secretárias de esporte do país, é turma que tem um perfil de identidade

e interesse pela questão, esse grupo, por exemplo, esse grupo mantém um

nível de diálogo que já é um grupo [palavra inaudível 22:17], que já é um

grupo que tem outras comunicações. A gente não conseguiu fazer isso

com outros ainda, então essa perspectiva do perfil ela ainda é um

complicador, e aí eu queria só acrescentar um dado que é bem em relação

à EAD, é que a EAD ela exige um conhecimento tecnológico que é muito

tranquilo quando a gente pensa de um universitário para lá, mas não é

tranquilo para essas outras pessoas, então um dado que a gente tem e

que eu não tenho numericamente ainda porque, logicamente, esse é um

processo que a gente espera ter até março do ano que vem, a gente tem

alguns dados, mas são muito imprecisos, é que o fato da educação a

distância chegar a muitos lugares é muito positiva, mas a gente não sabe

se ele vai chegar em todos esses agentes, porque a dificuldade tecnológica

é muito grande desde o acesso a internet, a familiarização com o processo

de estudo e do estudo a distância, o que gera muito evasão, porque nós

somos um curso que estamos sentindo isso, então quando eu penso,

assim “quem é de fato que está no curso?”, aí você falou do perfil, os mais

ligados são os que estão com o nível de escolaridade, de graduação,

principalmente, eu não tenho isso como um dado, mas a gente tem isso

muito claro quando a gente olha os perfis, então, há uma tendência disso,

mas não há uma... Não é a nossa intenção, a intenção não é que o curso

fique só para as pessoas que tenham curso superior ou estão em processo

de formação, mas a gente também tem essa limitação à gente sabe que

não vai dar para chegar e nós estamos começando agora Povos e

Comunidades Tradicionais a gente vai chegar com a EAD lá, depende de

onde essa população está às comunidades que estão perto dos centros

podem ser que sim, mas as que estão isoladas elas não vão ter acesso

tecnológico e gente não vai ter como enxergar isso, então é um perfil muito

flexível, mas que tende a ter uma continuidade maior das pessoas que tem

esse acesso tecnológico e interesse para além do PELC, que é uma

demanda que a gente tem tido também, que é o estudante não só de

Educação Física são as pessoas que estão envolvidas ou com as políticas

públicas, ou com as Secretarias de Esporte e Turismo que é uma

demanda que a gente tem que ter.

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L. A. – E para além da própria comunicação entre os alunos, o perfil ele

também pode interferir na sessão material para treinamentos complexos

ou na linguagem, como é que vocês trabalham com esses desafios?

E. C. – Isso foi uma coisa muito bacana que a gente fez esse ano, foi o

seminário de avaliação que já era previsto, como eu te falei, a ideia

começou, aliás, a gente considera isso, que a gente está saindo do projeto

piloto agora, que era um ano de tramitação, inclusive para testar o

material e aí a gente fez essa revisão em agosto desse ano finalzinho de

julho, agosto e essa revisão foi uma reunião muito bacana que eu nunca

tinha visto no meio acadêmico, enquanto PELC, no entanto inclusive por

isso a gente trouxe todos os autores que sentaram com todos os tutores e

supervisores da equipe da EAD, nossos coordenadores para dar um

“feedback” para eles do material, porque o material é escrito por

acadêmicos que se envolvem com o PELC, a maioria tem experiência, mas

que estão acostumados a fazer um grupo e a EAD ela não pode ficar

fechada nessa visão acadêmica para esse curso, porque nós não estamos

buscando acadêmicos para serem [palavra inaudível 26:20], também eles

mas, não só e aí a gente fez muito essa avaliação de uma filtragem quando

a gente trabalha com a EAD o material por mais que ele tenha sido

elaborado, então vamos pensar esses primeiros materiais eles tem uma

média de sessenta páginas, para a linguagem EAD ele é transposto, a

gente faz uma transposição didática de pensar esse material e aí tem uma

equipe que é a Maria Teresa Amaral que faz isso, que é a nossa

coordenadora pedagógica ela tem uma equipe que faz uma transposição

do material para linguagem EAD e isso foi feito por uma dificuldade da

plataforma que a gente acessava que é a plataforma e-Proinfo do

Ministério da Educação ela tem muitas limitações que a gente não

esperava ter, então ela ficou uma linguagem ruim, o material não é um

material agradável em relação a muitos outros que a gente tem de EAD, aí

a gente está mudando agora para plataforma “moodle” fazendo isso, já

revisado desse processo, os autores já mexeram no material, esse material

vai ser publicado que a gente entende que ele impresso é muito

importante para estar nesses núcleos, como uma fonte de consulta, mas a

linguagem EAD toda revista e aí muito mais dinâmica com interatividade,

uma coisa que a gente teve dificuldade na plataforma anterior, era a

questão da interatividade que é fundamental para o ensino a distância e

aí a gente está fazendo essa mudança focando, principalmente, esse

público que não é o público acadêmico, então é um material muito mais

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resumido mesmo, é um resumo para a gente que está no meio acadêmico,

a gente resumiu, resumiu, resumiu, que a ideia é essa “né”, que ele tenha

acesso rápido a informação e que ele tenha também condição de

aprofundamento e essas condições estão lá, então a EAD tem muito essa

lógica, você tem ali uma apresentação da temática e “links” que te façam

pensar, mas como é isso, aí tem um “link” que fala assim “assiste tal

documentário”, “veja tal filme”, “acesse o material na íntegra” está lá em

PDF, ou tem tal tese, tem tal reportagem e assim por diante, a lógica é

muito essa de que você tem uma apresentação simplificada, o termo que a

gente tem usado é essa, é simplificado, muitos autores na hora que olham

falam assim, “nossa mas...”, olha está lá, saiba mais, o saiba mais vai te

levar para isso.

L. A. – Os autores eles são pessoas que fazem parte da equipe do PELC ou

eles são convidados e a atuação deles se resume a composição desse

material?

E. C. – Alguns foram só convidados outros fazem parte do PELC à gente

tem autor que é formador, a gente tem autor que é parte da equipe de

coordenação da EAD, mas são poucos autores... Deixa eu pensar se tem

alguém, não, acho que todos os autores já tiveram algum tipo de

envolvimento com o PELC, mesmo que não esteja agora, já participaram

anos atrás ou no processo de implementação, talvez os mais novatos

assim, foi o... Mas, o Luciano já estava no PELC antes, eu e o Gustavo que

entramos por último que estamos elaborando o da dança, mas agora, você

que saber do que já foi?

L. A. – Pode falar do que está vindo também!

E. C. – É que a gente está em um processo de elaboração, a gente fez um

“workshop” agora mês passado, foi com os novos autores, nesses novos

autores nós temos pessoas que não tem vinculação, porque os novos

materiais eles estão vinculados a outras demandas também deliberadas

pelo Ministério, pela SNELIS e pelos formadores de temáticas que tem o

mesmo processo lacunáveis, mas elas foram mais pensadas no sentido

dos sujeitos atendidos, então a gente tem temáticas como: portadores de

necessidades especiais, idosos e aí a ideia foi buscar pessoas que

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dialogam com essas temáticas, pesquisadores que dialogam com isso, mas

que tenham alguma relação com a perspectiva do lazer, aí nesse grupo a

gente tem pessoas que não estão vinculadas ao PELC, tanto que eles

receberam uma quantidade de material também sobre o PELC para eles

entenderem o programa para tentar estabelecer esse diálogo, a ementa

deles compõe isso, então a gente fez o “workshop”, inclusive, fazendo esse

processo e organizando a escrita desse material, tem infância, tem... Acho

que dois autores, dois ou três que são próximos do PELC, a questão dos

indígenas como Quilombolas e Comunidades Tradicionais, mas a gente

deve ter ainda metade dos autores não estão vinculados ao PELC, mas

tem temática de pesquisa nessas populações.

L. A. – E quantos são os novos módulos que vocês estão produzindo?

E. C. – São nove, eu não vou saber de cor, Juventude, Idoso, Infância,

Deficiência, Quilombolas, Indígenas, tem um módulo que não tem a ver

com a população e sobre Gestão e a Dança. É porque essa parte... Nós

somos quatro coordenadores na EAD e eu não... Apesar de eu estar na

geral essa parte é o Cleber e a [palavra inaudível] que cuidam, então eu

não estou com clareza da temática, mas é isso.

L. A. – E como que acontece a divulgação no momento de abertura de

novas turmas?

E. C. – Então, a divulgação tem sido constante, como é que a gente tem

captado os alunos? Indo as formações divulgando, os próprios formadores

fazendo isso também não oficialmente eles tem feito isso de forma informal

a partir do ano que vem eles tem que fazer isso oficialmente, mas a gente

também manda alguém da EAD quando a formação é muito grande para

divulgar e a abertura das turmas na verdade a turma não é a partir da

divulgação a gente vai recebendo um fluxo contínuo e aí a cada mês a

gente tem como montar um grupo e começar uma nova turma, a

divulgação é feita via “e-mail” a gente entra em contato com as pessoas via

“e-mail” informando que vai até aquela data e que ele tem aquela vaga

garantida para começar o curso e aí a gente enturma esse aluno e ele

começa. Uma estratégia que foi a mais eficiente até agora que tem dado

certo que a gente vai investir mais o ano que vem, é uma divulgação do

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próprio Ministério, o Ministério encaminha ofícios para as Prefeituras...

Para a Prefeitura não é verdade, foi para as Secretárias de Estado, para as

Secretárias de Estado e para os programas que já estão em funcionamento

essa é a mais eficiente, porque na hora que o gestor recebe ele encaminha

isso para a equipe dele e a gente tem recebido um número bem bacana,

isso funcionou muito no meio do ano agora no final foi menos, mas aí eles

entram em contato e a gente começa o processo todo via “e-mail” à

mudança da plataforma, inclusive, vai nos ajudar nisso, porque ele

consegue fazer “on-line” hoje não tem como, o aluno não consegue entrar

para o curso acessando, ele precisa... A gente precisa colocá-lo na

plataforma, então mudar isso, também acho que vai ajudar bastante,

porque é uma autonomia maior uma agilidade maior para o processo, a

gente está bem, a plataforma nos limitou muito, inclusive nesse processo

de acessibilidade das pessoas ao curso.

L. A. – Eu tenho conhecimento de que não existe uma exclusividade dos

agentes do PELC para poder participar do curso outras pessoas

desvinculadas também podem participar, isso era uma intenção de vocês

poderem abrir ou isso aconteceu simplesmente?

E. C. – Isso aconteceu perante a percepção que havia uma demanda,

porque as pessoas começaram a procurar e perante a evasão grande que

eu relatei antes, quando a gente percebeu que muita gente tinha se

colocado onde estava eu acho que ficou... Mas, de toda a forma, desde a

criação, e aí eu posso até estar sendo negligente nessa informação, mas

pelo que eu entendi, desde a criação, nunca foi exclusivo para o agente, a

ideia era ter um curso que atendesse o território nacional, assim que está

posto, oferecido pelo Ministério de forma gratuita e para quem tem

interesse, porque havia desde que eu entrei pelo menos, essa coisa assim,

prioritariamente é o agente, eu não vou deixar o agente de fora para

aceitar alguém que não tenha, mas a gente não teve essa situação na

verdade a gente tem uma condição de atender um número maior do que a

gente está atendendo, a gente tem uma equipe com condições disso, as

turmas não tem atingido o número máximo de alunos, então para nós não

tem sido um problema, um dado que a gente está levantando é esse, que a

gente precisa de maior investimento nos programas, porque está ficando

muito [palavra inaudível 36:38] assim, a quantidade de pessoas que são

vinculadas com as pessoas que não são vinculadas, isso não é um

problema, mas nos incomoda na medida que, porque que as pessoas que

estão no PELC não estão fazendo curso? E aí vem um dado que a gente

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ainda não tem, quantos por cento realmente tem dificuldade? Eu estou

trabalhando com uma hipótese, por exemplo, Fortaleza hoje, Fortaleza a

gente fez um alto investimento de divulgação e houve um retorno, é um

governo muito grande, a gente tem um número... É um convênio... Acho

que é o maior convênio que a gente tem hoje dentro do PELC, e as pessoas

se inscreveram e participaram e lá, por exemplo, as pessoas que estão no

interior elas evadiram, elas não conseguem e o que a gente tem não como

dado ainda, mas como informação pelos formadores e pela própria equipe

de lá, é que eles estão com muita dificuldade de conexão, mas também é

um público e eu estive lá pessoalmente fazendo uma divulgação e essa

captação de alunos, eu tive umas quatro pessoas que me pediram para

ensinar como se fazia um “e-mail”, então a gente têm essas variáveis todas

no mesmo local, há uma dificuldade de conexão da internet, há uma

dificuldade por parte do público em relação à tecnologia, mas a gente tem

um número muito grande de alunos, o nosso maior número de alunos

hoje se concentra em Fortaleza, porque é um programa grande, então

como eu estou te falando, assim, o processo da divulgação a gente começa

no ano que vem de uma forma mais organizada para atingir esses focos

em Fortaleza ela está sendo um piloto para a gente entender como é que

isso se “dá”, lá a gente fez uma divulgação intensiva, houve uma inscrição

intensiva e também uma evasão intensiva, então a gente está aí com esses

dados para fazer... Eu brinco que a gente ainda não chegou no qualitativo,

a gente está só apagando incêndio ainda da parte da implementação, da

análise do material, mas a gente precisa é o foco para 2016 a gente

entender melhor essas relações da EAD com o processo da formação de

serviço mesmo dos agentes.

L. A. – Então, vocês tem conseguido perceber algum resultado das turmas

que estão se formando mesmo que venham de um único módulo, o que

vocês já tem de informação com relação aos resultados das formações?

E. C. – Isso é uma coisa bacana, porque são os formadores e os tutores

que nos passam. A gente tem alguns relatos, não é o qualitativo que eu

reforço, mas assim, a gente tem muito relato de pessoas, por exemplo, que

já começam a fazer projetos a partir do curso, que mudam a forma de

organizar trabalho, que é o que a gente espera que aconteça. Nesse

encontro que a gente fez de avaliação, que os tutores trazem as

experiências foi muito bacana perceber assim, por exemplo, que pessoas

que procuraram o curso de Educação Física, isso foi relatado até esses

dias aqui, pessoas que estavam no curso à distância, e fizeram a

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formação, e falaram com os formadores “a gente fez o vestibular agora, a

gente fez o processo seletivo para poder fazer o curso”, entendeu que vai

ser bacana, então assim, essas coisas começam a retornar. Eu não tenho

dado assim, por exemplo, a coordenação de um determinado núcleo

mudou a estrutura de trabalho, mas a gente tem esse relato do aluno a

gente fala assim, nossa eu revi o que eu estava fazendo, vou implementar

essa proposta, principalmente, essa relação do diagnóstico nosso material

pensa muito nessa lógica de que o agente ele precisa ter um diagnóstico

da realidade dele para intervir, que ele busca ali e não lá, não é o que está

fora que ele está vivendo, e aí eu acho que essa questão do diagnóstico

algumas atividades que fazem que eles busquem o próprio Município

entender a realidade local, essas trocas a gente tem recebido, de perceber

e falar assim, “nossa eu nem tinha pensado que eu podia fazer isso, aqui

mesmo” ou “que aqui tem essa...” e eu acho que isso a gente tem tido de

forma ainda muito espalhada, são as informações que a gente precisa

condensar agora, na verdade a gente tem um desafio grande para 2016

que é sair da lógica do instrumental que a gente tem feito, preparar o

material, por na plataforma, para as análises qualitativas do que de fato

está acontecendo, mas a gente tem tido retornos muitos positivos,

inclusive, o próprio Ministério, quando eu me encontro com a Ana32 e com

a Andréia33 elas comentam que algum lugar que elas foram alguém falou

da EAD, “eu vi, me ajudou...” é ainda a crença de que vai dar certo, está

dando certo.

L. A. – Você já me falou algumas coisas ao longo da fala, mas de qualquer

forma eu vou perguntar se tem alguma coisa que ficou faltando e se você

quiser sistematizar e os principais pontos que você acha que devem ser

melhorados e os próximos passos que a EAD tem que tomar?

E. C. – Então, aí vamos lá, primeiro é a divulgação eu acho que a gente...

E aí já tem prerrogativas para isso, ano que vem o Ministério vai

desencadear material gráfico que são cartazes e panfletos para todos os

núcleos, e aí Universidades a gente começa o ano que vem, a gente está

fazendo um piloto aqui na UFMG aqui em uma turma, mas a gente vai

fazer não é só a divulgação, divulgação e captação de aluno. O que é

divulgação e captação? É que eu preciso convencer, além de divulgar, a

convencer as pessoas a se inserirem nesse processo, a gente faz um plano

32

Ana Elenara da Silva Pintos. 33

Andréia Everton.

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agora de ação regional, então a região norte do país é a região que menos

tem Programas do PELC e que menos temos alunos também, então à

gente vai começar toda a proposta daqui da UFMG e foi acatada pela

SNELIS, a gente vai fazer um programa de captação de alunos no nível de

formação mesmo, que havia uma resistência, mas que a gente tem sido

um potencial para que essas localidades incentivem o poder público a

buscar o próprio PELC, então a gente começa pelas Universidades

públicas as Federais no norte, oferecendo inclusive turmas mesmo,

oferecendo vagas para alunos e aí a gente não vai trabalhar só com aluno

da Educação Física, prioritariamente, para tempo cronológico de contato,

mas as Universidades que tiverem cursos correlatos que tenham interesse

também, fazendo esse chamamento até porque como eu disse a gente tem

condição de atender a isso e está entendo ser um investimento de

divulgação do próprio PELC via EAD, para além da divulgação e captação

de alunos é a adaptação da linguagem EAD que está em processo, à gente

entende que esse um ano material, não foi um material em uma

linguagem de EAD adequada para permanência do aluno, à gente teve um

número de evasão também, porque o aluno entra e aí a linguagem estava

muito acadêmica ainda, então isso está em processo, mas vai para teste,

está elaborado e vamos ver o que isso, essa revisão essa mudança da

plataforma e da adaptação do material gera, eu acho que esse é outro

grande desafio que está sendo implementado com mais recursos, o outro é

a melhoria dessa organização pedagógica das turmas, como eu relatei a

gente está fazendo esses testes, então eu pego pessoas que tem curso

superior, pessoas que tem pós-graduação, a gente tem tentado aglomerar

isso, mas é uma tentativa, porque isso depende da demanda que eu tenho

às vezes as pessoas cursam, por exemplo, é o Módulo Financiamento, é

um módulo que não tem uma procura muito grande, por exemplo, e aí eu

não tenho aluno suficiente para montar por escolaridade, eu tenho quatro

que não tem curso superior, eu tenho dez que tem graduação e tenho dez

que tem pós, eu não consigo montar uma turma para cada um, eu acabo

aglomerando esses alunos, então se a gente tiver uma captação maior um

número maior talvez gente consiga qualificar melhor a formação das

turmas, e um outro desafio que é uma perspectiva pedagógica nossa da

equipe que a gente não sabe justificar se a gente vai conseguir pela

mesma questão, pela quantidade de pessoas que procuram, é a relação de

mistura regional que você tem ali na mesma turma pessoas de localidades

muito diferentes, a gente faz um pouco isso hoje, mas não é fácil pelo

mesmo motivo, porque se eu só tenho quinze pessoas querendo um

módulo, eu tenho que colocar aquelas quinze se elas são da mesma cidade

ou não do mesmo nível de escolaridade ou não porque não é funcional, o

valor que se investe por curso criar turmas muito pequenas, mas eu acho

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que é um desafio e que se a gente tiver uma demanda grande nos

possibilite talvez um maior diálogo que é uma premissa de as pessoas

terem essa expectativa, inclusive, da identidade local delas, mas dessa

diversidade que eu acho que se “dá” quando a gente está pensando em

território Nacional e que está embutida lá no projeto também de que as

pessoas apesar de estarem na sua localidade que elas tenham a percepção

de como essa localidade tem particularidades culturais, regionais, e a

gente entende pedagogicamente que isso é muito atrativo para um curso

EAD, “dá” um outro dinamismo dessa... Inclusive para o aluno falar dele,

que é um processo interessante. Ele escolhe nos mínimos detalhes, eu

acho que os grandes desafios estão aí e essa experiência que na EAD

todos nós que trabalhamos, a equipe como um todo não tinha uma grande

experiência com educação a distância, mas independente dessa

experiência a gente também não tem esse perfil de curso muito

popularizado, normalmente, os cursos a distância eles tem um foco muito

bem determinado, faço um curso para enfermeiros, faço um curso para

professores do Ensino Médio, nós fizemos um curso para a população

interessada, então esse desafio é o maior que tem feito com que o trabalho

da EAD também tenha um alto investimento na tutoria, porque os tutores

precisam ter esse jogo de cintura de lidar com esses públicos diferentes,

de pessoas que estão em locais e condições diferentes de discutir as

temáticas propostas pelo curso.

L. A. – Já que você citou os tutores como é que foi a formação para que

eles atuassem?

E. C. – Então, eles têm, tiveram... Estão tendo ainda, na verdade a gente

tem uma série de ações de formação tutorial, primeiro que a seleção foi

feita priorizando pessoa que já tivessem algum envolvimento com as

temáticas do curso no lazer ou com ensino a distância, a gente não

conseguiu pessoas a priori era isso, a gente queria gente que estivesse

discutindo Política Pública e Lazer e quisesse ser tutor, não foi suficiente,

aí a gente caiu para quem tinha experiência com EAD, Educação e a gente

fez essa seleção com pessoas que residissem aqui em Belo Horizonte,

entendendo que a gente precisava fazer o processo de formação. O

processo de formação parte desde o uso da plataforma, ao estudo do

material, cada módulo desse é feito um “workshop” com os autores e os

tutores, então eles recebiam o material e ia continuando dessa forma, é

uma experiência positiva que a gente vai manter assim, eles recebem o

material com antecedência, e a gente faz um “workshop” os autores vêm

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até aqui e acontece esse momento de “workshop” mesmo, de dúvidas,

material, debates, o que pode ser explorado, o que não pode, o que está

complicado, nesse é um dos momentos, inclusive, algumas já eram

revisadas tipo o autor proíbe algum tipo de avaliação e os tutores já

percebem assim, olha não vai ser possível, a gente teve muito esse

problema a avaliação foi toda revista, a gente tinha trabalhos solicitados

pelos autores que eram compatíveis a Pós Graduação sabe, a forma de

elaborar o trabalho, a quantidade de leitura, e aí, por exemplo, chegava...

Isso é um dado que a gente tem, chega no momento da avaliação, chegava

no momento “né”, isso já é passado a gente já alterou isso, aí ele sumia. O

aluno vem cursando, aí ele faz as quinze aulas aí quando chega na aula

que começa a avaliação aí o aluno some e aí o tutor fica atrás dele, mas

assim ele some por conta da avaliação, a gente reviu muito essa

perspectiva do nível e do padrão da avaliação, porque os nossos autores

eles estão vinculados, muitos foram para uma lógica do que a gente faz em

graduação, por exemplo, da ideia de que o aluno tem que estudar,

estudar, essas pessoas não tem essa formação não tem essa cultura do

estudo, então, elas evadiam nesse momento, aí não faz atividade avaliativa

e saia do curso, e a gente não tem como incluí-los... Alguns a gente tem

feito esse trabalho, eu acho importante falar isso, eu não falei, a gente tem

feito um trabalho muito intenso de busca dos alunos que evadiram, desde

o começo do curso, de ir atrás e a gente teve sucesso de uns 50%

(cinquenta por cento), que para EAD é um número muito bom eles terem

voltado, inclusive, quando mudou para módulo, porque a gente teve essa

justificativa, “esse é um curso muito longo eu vou viajar, sair de férias no

final do ano”, então assim, a ideia do módulo essa divulgação que ele pode

voltar e fazer um módulo pelo menos em sessenta dias tem funcionado,

então a gente faz um trabalho muito intenso de busca, nós temos na

plataforma inscritos mil quinhentos e trinta pessoas mais ou menos que

já se inscreveram, não que terminaram o curso, que terminaram um terço

disso mais ou menos, que se tem ficado ativo na plataforma, então a gente

vai a trás desses outros mil e tantos e ainda continuamos esse processo,

agora, por exemplo, a gente passou isso para a equipe do Ministério para

que eles também façam acesso, porque há uma diferença de quando a

UFMG procura e quando o Ministério procura, então a gente está usando

dessa estratégia também, a formação dos tutores, desculpe para voltar aí

a temática, e além disso, a participação deles nos eventos do Ministério

em relação ao PELC, então tudo que desde que a EAD foi criada toda a

vez que tem uma reunião, seja com uma reunião, seja com os

conveniantes para orientação... Mas, quando tem a reunião com os

convênios à gente sempre tem aberto a possibilidade de um grupo de EAD,

como eles têm também ao processo de formação com a ideia de que eles

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precisam se apropriar dessa realidade, porque ela aparece o tempo todo,

quando você trabalha com os agentes e aí eles entenderem como funciona

o PELC, é muito importante. Então para o material, os autores vieram,

para o programa a equipe do Ministério veio, então, a Ana veio mais de

uma vez para poder falar do funcionamento para que eles entendam a

estrutura e todos os eventos que envolvem o PELC a gente sempre tem um

grupo da EAD e aí a gente vai diversificando as pessoas para que eles

tenham acesso a entender melhor como o programa funciona, então, se o

evento é dos formadores se eles estão em Brasília à gente levou em vários,

reunião de avaliação do programa, reunião com os conveniados, a gente

tem tido sempre essa presença, não só de nós coordenadores que estamos

envolvidos, mas também dos tutores para que eles multipliquem isso, e aí

nos nossos encontros aqui a gente já fez um seminário, mas aí quem vai

repassar faz um relatório e aí é repassado para equipe como um todo

porque a maioria dos nossos tutores não tinha envolvimento com o PELC

também a gente tem alguns inclusive que já trabalharam em gestões de

implementação do PELC no Município, a maioria não, então a gente fez

esse processo e continuou fazendo para ter essa proximidade e essa

compreensão do que é o programa em si.

L. A. – E como é a relação de vocês com o Ministério, o que são demandas

deles com a EAD como é que vocês se relacionam?

E. C. – É tudo compartilhado, a gente tem uma autonomia muito bacana

de deliberação, mas a gente tem um pacto desse compartilhamento

mesmo, para tudo, então essa demanda tanto nossa para eles, quanto

deles para nós, ela é compartilhada, não tem nada que seja imposto de lá

para cá, ou, daqui para lá, isso é uma... Existe uma parceria muito

agradável, inclusive, é obvio que em alguns momentos as demandas deles

não são atendidas por nós e nem a nossa por eles, pelas várias questões

do processo a gente teve algumas questões estruturantes que foram

difíceis no começo, então a gente criou mais linhas do que a gente

pensava da EAD, que é um espaço fundamental que tem acesso, os

tutores tem que estar trabalhando onde o técnico de informática fica, que

é uma referência, isso demorou um ano por questões burocráticas de

contrato, porque não era previsto que se alugasse ou se o aluguel era mais

caro que comprar, então a gente fez um termo aditivo de alteração do

contrato, então essas coisas são burocráticas e demoram, infelizmente,

são duas instituições federais que tem todo o tramite interno para

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conseguir essa demanda, então isso não atrasou o trabalho, mas

dificultou em parte, a gente agora está com essa condição estrutural, por

exemplo, mas a relação tem sido muito dessa demanda, e, de avaliações

constantes, porque a gente emite relatórios semestrais, semestrais ou

anual e desse acompanhamento que eles fazem do que a gente está

desenvolvendo... Uma questão, por exemplo, que eu já citei que ainda a

gente está... Agora... Na verdade mês que vem, vai ser o primeiro mês de

fato que a gente vai fazer, são os dados que a gente tem condição de

fornecer para o Ministério, essa mudança por módulo, ela gerou um

volume muito maior numérico mesmo, de falar assim “quantos alunos

estão cursando EAD hoje?”, e aí vem essa questão eu acesso plataforma

eu fico sabendo agora quantos que estão em atividade, mas quantos

concluem de fato, quantos excluíram, quantos saíram, por que motivos,

são dados mais difíceis de estarem o tempo todo, então a gente criou uma

sistemática de fornecer isso de uma forma mais organizada que é

fundamental para a gestão, que é fundamental para alimentar a própria

secretaria e o próprio Ministério, mas é uma relação muito tranquila e

que... Como eu te falei é muito conjunta, então para te dar um exemplo,

autores que vão escrever os materiais, a gente tem trabalhado assim,

então quem que a gente conhece, quem que a gente sabe que tem uma

produção significativa “tá” à gente faz... A gente vai lá e diz “a gente está

pensando nessas pessoas”, tem outra sugestão? Tem, sempre tem, e aí a

gente analisa se pode ou não, vamos ver qual que é literalmente, abre o

Lattes vamos ver qual é a produção, como é que está, e isso fica acordado,

esse atendimento é feito mais diretamente com a Ana Elenara e com a

Andreia Everton que são as pessoas que de fato se reúnem conosco para

essas decisões, e é coletivo mesmo é colegiado, eu brinco assim, “é o

colegiado da EAD PELC”, porque nós somos quatro coordenadores, mais o

Helder que o coordenador geral, que participa de todos esses momentos,

temos supervisores de tutoria que são três e aí eu acrescentei isso a pouco

tempo, também sob aprovação delas uma necessidade que não foi

pensada a princípio, que é a equipe de secretaria da EAD, em que eu

transferi uma tutora que é a Luciene da tutoria, como processo de

articulação de transito de registro, inclusive, e uma pessoa com apoio

técnico, porque nós não tínhamos uma secretaria do curso por mais que

ele seja “online” ele tem um documentação histórica, um registro que tava

no meu “pen drive”, no “pen drive” do outro coordenador, e que agora com

essa sala e com essa equipe mais o “TI” que já estava desde o começo, a

gente consegue fazer melhor, então agora a gente está nesse processo de

documentação, de arquivamento, sistematizações de ações, de organização

de cronogramas para todos os setores do curso, estava tudo muito... Como

é que eu vou dizer, a gente tem trabalhado coletivamente, mas as coisas

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estavam muito individualizadas, então agora a gente está com essa

sistemática que essas pessoas conversam com todas as coordenações,

fazem os registros, e fazem também as propostas, então a Lucilene, por

exemplo, é a pessoa que hoje me auxilia muito nesse processo, porque na

hora de atualizar essas informações você tem uma demanda de

quatrocentas pessoas e aí eu tenho que saber os perfis para fazer, e isso

era feito por mim, sozinha antes, então a gente consegue hoje ter uma

normatização melhor e apuração desses dados, que é meio tudo em

“Excel”, criar fórmulas para poder juntar e que eram informações que a

gente não estava conseguindo tê-las.

L. A. – Os quatro coordenadores, é você, a Maria Tereza, o Cleber, e...?

E. C. – A Maria Cristina Rosa que é coordenadora da tutoria.

L. A. – Sim, e os supervisores?

E. C. – Os supervisores é o Gustavo Cortes, a Isabel Coimbra e a Eliene

Faria.

L. A. – Do meu roteiro acho que é isso, tem alguma coisa que eu não te

perguntei que você queria acrescentar Elisangela, uma colocação, um

comentário?

E. C. – Não tenho! Tem, assim, eu acho que a gente trabalhar com

projetos acadêmicos que estão vinculados a gestão, gera até um incômodo

quando algumas pessoas entram no universo acadêmico, eu acho a EAD

dentro do PELC uma grande sacada assim, do Ministério mesmo, assim,

pensando a política, não é só por essa lógica que as pessoas falam assim,

“a modernização venceu”, eu inclusive sou uma pessoa que já tive e ainda

tenho muitas resistências com a Educação a Distância, eu falo as vezes,

“você é coordenadora!”, eu sou a coordenadora de um curso a distância

que eu acredito ser funcional, tenho dificuldade de pensar assim, ensinar

dança a distância tenho muita dificuldade, inclusive estou sofrendo muito

para elaborar esse material, porque não é um material para ensinar

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dança, é diferente também, mas ele discute a dança para dar uma

perspectiva para essas pessoas de como que a dança, vivencialmente,

pode ser ou não um bom conteúdo, mas eu acho que é uma grande

sacada, porque... E aí eu estou falando de uma pessoa que está muito de

fora do PELC, eu estou a um ano e meio em contato com essas pessoas,

muito encantada, não só com a proposta, mas também com a dedicação

das pessoas, eu acho que o obstáculo de um curso a distância eu percebo

cada vez mais como que isso é importante para o PELC por potencializar a

riqueza presencial que o PELC tem, que é o que acontece na ponta, como

a gente fala, e o que acontece na ponta é muito rico para nós aqui na

Universidade, então o que eu queria, assim, para finalizar que eu falo

dessa valorização, é que eu antes de participar desse projeto, eu ouvia

muitas criticas em relação a essa vinculação Universidade, Ministério para

desenvolvimento de políticas, e hoje eu estando dentro do processo, eu

acho isso de uma riqueza tão imensa por que ela nutre, duas pontas

muito importantes na mesma instância que é federativa, que é nós que

estamos na academia, nos problemas, nas pesquisas no nosso programa

aqui, entender o que de fato acontece lá, quem está lá poder usufruir do

que nós conseguimos avançar aqui, que é uma regrinha básica que está

imbuída nessa tríade Ensino, Pesquisa e Extensão, mas que a

Universidade nem sempre de fato consegue chegar lá, principalmente,

para a realidade que a gente tem aqui que é de ter um programa que é

pioneiro e que tem uma fonte de nutrição fantástica, e que ao mesmo

tempo retorna de uma forma muito rápida para o Ministério e para as

políticas nesse conhecimento, então e a EAD ela entra como uma ponta de

um avanço, porque a EAD ainda é uma questão... Ela está aí a muitos

anos, mas a expansão dela no Brasil é muito lenta, aliás, muito lenta em

relação a outros países inclusive, ela entra com uma tecnologia que a

gente tem condição de enfrentar e beneficiar muito mais pessoas, então eu

acho que é um casamento que tende a ser feliz, eu não sei se duradouro,

porque isso depende de muitas questões, das políticas, das financeiras,

mas eu acho que é um projeto audacioso que tem dado certo e tende a dar

mais certo.

L. A. – Muitíssimo obrigada!

E. C. – Eu que agradeço a oportunidade.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Eneida Feix

Depoimento de Gilmar Tondin

Entrevistado: Gilmar Tondin

Nascimento: 24/02/1959

Local da entrevista: Parque Tamandaré – Porto Alegre

Entrevistadoras: Pamela Joras e Leila Carneiro Mattos

Data da entrevista: 25/09/2015

Transcrição: Leila Carneiro Mattos

Copidesque: Suellen Ramos

Pesquisa: Suellen Ramos

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Formação em Educação Física; envolvimento com esporte e lazer;

preparação para ser formador do PELC; formações realizadas; regiões de

formação; grupo de estudos PELC; encontros dos formadores; ações

desenvolvidas; impacto social do PELC;

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Porto Alegre, 25 de setembro de 2015entrevista com Gilmar Tondin a

cargos das pesquisadoras Pamela Joras e Leila Carneiro Mattos para o

Projeto Memórias do Programa Esporte e Lazer da Cidade.

P.J. – Gilmar, primeiro queria te agradecer por conceder esse tempo para

conversar um pouquinho sobre o PELC, e eu queria que tu começasses

falando sobre a tua formação e como a temática do lazer apareceu na tua

trajetória.

G.T. – Bom, eu sou formado em Educação Física, me formei na UFSM34

em mil novecentos e oitenta e um, em junho de oitenta e um, eu sou da

barra oitenta B. Quando eu me formei em Santa Maria eu vim a Porto

Alegre fazer especialização, fiz uma especialização em Ciência do Esporte,

fiquei um semestre estagiando no Lapex35 quando o Lapex era lá no lado

do ginásio, ainda não era no prédio novo bonito e maravilhoso que está

agora, isso no segundo semestre de oitenta e um, em oitenta e dois eu fiz

uma especialização em Educação Psicomotora com o Negrine36. Então eu

comecei a trabalhar em Porto Alegre, Inicialmente, vim a Porto Alegre só

para estudar e acabei trabalhando, e ficando até hoje. Foi surgindo

oportunidades de emprego, primeiro uma escola, foi surgindo uma

escolinha de jardim de infância, fui construindo toda minha trajetória

profissional na escola. Lá pelas tantas em oitenta e quatro, oitenta e cinco,

eu fiz um concurso para a Prefeitura e quando fui chamado em oitenta e

sete me apresentaram a possibilidade de trabalhar em uma praça, eu

pensei: “como assim trabalhar em praça?” eu trabalhava em escola, aliás,

eu trabalhava em três escolas, uma escola grande o João XXIII, trabalhava

em duas escolinhas pequenas uma era “O Chapeuzinho Vermelho” e a

outra “Pequeno Príncipe” em pontos distantes da cidade, eu viajava muito

para dar aula.

34

Universidade Federal de Santa Maria. 35

Laboratório de pesquisa do exercício – ESEFID/UFRGS. 36

Airton da Silva Negrine.

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P.J. – E era concurso para professor aqui em Porto Alegre?

G.T. – Sim! Como professor da Rede Municipal de Ensino. Quando eu

assumi me apresentaram essa possibilidade, alias o atual Secretario de

Esportes, Edgar Meurer37, na ocasião era o supervisor. Nessa ocasião a

supervisão de Esportes e Lazer de Porto Alegre era vinculada a SMED38,

Esporte e Lazer na verdade, a Recreação Pública estava vinculada a

SMED, ela estava lá porque era o mesmo concurso, a chamada era uma

sequência de pessoas para assumir, o Edgar estava lá e me convidou para

trabalhar. Na ocasião achei interessante porque ele me propôs um horário

noturno consequentemente não precisava abrir mão das minhas escolas

durante o dia, passei a trabalhar três noites, eram três noites mais o

sábado de manhã. E assim eu entrei no que chamavam de Recreação

Pública, foi essa minha entrada, foi assim que começou. E de lá para cá...

Eu nem imaginava que tivesse trabalho em praças, em parques na cidade

Porto Alegre, financiado pelo poder público, custeado pelo poder público.

Foi assim o primeiro conhecimento da entrada e de lá para cá, a minha

vida mudou total em relação à compreensão e a possibilidade da

atividade física da educação física no campo da educação, em especial a

educação física não escolar.

P.J. – E como tu conheceste o PELC39? Tu já tinhas ouvido falar como

política?

G.T. – Bom, o PELC em si não é uma coisa muito diferente daquilo que eu

faço desde oitenta e sete, trabalhar com comunidades, com atividades

recreativas e esportivas focadas para atender as pessoas ou ser mais um

elemento de lazer para melhorar a qualidade de vida das pessoas fora de

seu horário de trabalho. A história do PELC é assim, no primeiro Governo

37

José Edgar Meurer. 38

Secretaria Municipal de Educação. 39

Programa Esporte e Lazer na Cidade.

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do Lula40 quando o Agnelo41 era o ministro, ele esteve em Porto Alegre.

Quando ele veio a Porto Alegre, eu e a Rejane Rodrigues42 fomos a uma

audiência no gabinete do prefeito, e nessa ocasião ele estava construindo

a política de esportes para o Governo Federal, que não existia, era um

ministério novo e não existia uma política pública de esporte e lazer.

Nessa ocasião nós sugerimos a ele um projeto para trabalhar com as

comunidades de esporte e lazer, exatamente como é o PELC. Ele comprou

essa ideia. Naquele mesmo ano nós realizamos, não sei se foi a primeira

ou segunda Conferência Municipal de Esportes de Porto Alegre e

chamamos o Orlando Silva que na ocasião era o Secretario Executivo e

que depois substituiu o Agnelo quando ele saiu para concorrer a cargos

eletivos, o Orlando assumiu o Ministério do Esporte. O Orlando esteve

aqui conosco como Secretario Executivo para fazer a fala de abertura dá

nossa conferência, ou seja, ficamos muito próximos do Orlando, pela

identidade política, ideológica, pela identidade das Políticas Públicas em

relação ao esporte e lazer, dessa forma as coisas foram se configurando. A

Rejane na ocasião foi, digamos sondada, inclusive, para ocupar a

Secretaria Nacional de Esporte e Lazer...

P.J. – E tu conheceste ela trabalhando na Prefeitura?

G.T. – Sim! Sim! Nós nos conhecemos há mais de vinte e cinco anos

trabalhando juntos, sempre, ela trabalhava no Ararigbóia43 e agora esta

lá de novo. Ela voltou a origem. Dá para falar muito sobre isso, da nossa

trajetória como colegas de trabalho por muito tempo. Então foi dessa

forma que nós tivemos, eu e a Rejane, o primeiro contato com o PELC.

Bom, a partir do momento que o Ministério definiu o secretario que foi o

Lino Castellani e o Luiz Fernando Verones44 do Rio Grande do Sul, natural

40

Luiz Inácio Lula da Silva. 41

Agnelo Queiroz. 42

Rejane Penna Rodrigues. 43

Parque Ararigbóia. 44

Luiz Fernando Veronez

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de Pelotas, assumiu junto com o Lino a Secretaria e criaram o PELC. Eu

acho que isso foi em dois mil e três. Nesse meio tempo nós pela primeira

vez... Porto Alegre também conseguimos captar recursos do Governo

Federal para implantar um projeto na área de esporte e lazer que até

então nunca tínhamos conseguido. Então o Ministério liberou um aporte

de recursos e nós iniciamos um projeto que nós não chamamos de PELC

aqui em Porto alegre, nós chamamos de PIEC45 financiado pelo Governo

Federal. Por aqui a gente utilizou o titulo de PIEC localizado próximo a

atual Arena do Grêmio onde foi construído um grupo habitacional

popular com financiamento do FONPLATA e ai nós fizemos o trabalho

exatamente como é o PELC hoje, de articular as comunidades, desenvolver

Programas de Esporte e Lazer, não só para as crianças mas para os

jovens, para os adultos e idosos. Então foi assim que eu conheci o PELC,

na sua origem. Um pouquinho depois com a saída... No primeiro ano de

gestão do Agnelo, ou melhor, no terceiro ano de gestão do Ministério, o

Lino que era o secretario sai. E, quem assume? A Rejane. Isso era dois mil

e seis eu acho, ou dois mil e cinco.

P.J. –Tu participaste desse processo de construção do PELC de escrever o

projeto?

G.T. – Não, não participei. Só com ideias na conversa com o Agnelo,

reforçado depois com o Orlando. A elaboração teórica e documental, não

participei. Eu acho que nem a Rejane. Até porque nós tínhamos

divergências políticas internas em relação ao grupo que estava lá. Lino,

Luiz Fernando Veronez e nós, que dava o maior acirramento nas

discussões na Setorial Estadual do PT46 quando vinham para o RS as

pessoas que integravam o Ministério, nas reuniões da setorial estadual do

PT. As discussões eram acirradas e nós éramos de grupos distintos e por

tanto a gente não sentou para escrever o programa, mas também não

fomos convidados, não sei como é que foi a elaboração do projeto.

45

Projeto Integrado Entrada da Cidade. 46

Partido dos Trabalhadores.

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Quando o Lino saiu quem assumiu foi a Rejane, isso no quarto ano da

primeira gestão do Ministro Agnelo, eu acho que ainda era o Agnelo não

lembro sobre essa passagem no Ministério , a Rejane vai saber falar

melhor sobre isso. Quando a Rejane assumiu o cargo de Secretária

Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social, tomou conhecimento do

programa com mais profundidade, isso ela comentou conosco, comigo,

com outras pessoas... “olha gente nós temos PELC e tem uma formação do

PELC e o que eu pretendo e gostaria que essa formação fosse dada por

pessoas que estão no campo, que atuam e que possam levar uma

formação para os agentes e monitores; coisas concretas e que deem

sugestões e ideias e a forma de como trabalhar cotidianamente com essas

políticas públicas”, que é o que nós fazíamos aqui em Porto Alegre. Esse

trabalho com comunidade, em praças, parques, existe desde mil

novecentos e vinte e seis em Porto Alegre, existe uma história de

construção, de idas e vindas que está no DNA da gente daqui da SME.

Dessa forma a Rejane convidou o grupo de formadores, existia outro

pequeno grupo do pessoal de São Paulo e do Rio, e ela levou isto para o

Brasil todo, convidou uma galera do Sul, muitos aqui da Secretaria de

Esportes, e uma dessas pessoas fui eu. Aqui no Sul a gente organizou um

grupo de formadores chamado Coletivo de Formadores do Sul e por isso,

quando a gente ia dar as formações, não ia um formador só, iam um, dois,

três até quatro, uma formação em São Lourenço do Sul47, por exemplo,

nós fomos entre quatro, na cidade de Feliz48 nós fomos em seis

formadores. A gente não ia lá dar a formação pelo pró labore da bolsa, a

gente ia dar a formação porque queria passar o que nós fazíamos aqui e

ainda fazemos em Porto Alegre para essas pessoas que iam iniciar uma

Política Pública de Esporte e Lazer pela primeira vez, nos seus municípios.

P.J. – E quantos eram do Sul?

47

Município do estado do Rio Grande do Sul. 48

Município do estado do Rio Grande do Sul.

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G.T. – Daqui do Sul éramos seis, inicialmente seis, uma era a Carmem

que hoje é a Presidente do CREF. Eu, a Carmem49, a Lisi50, que é a

Coordenadora Pedagógica da SME, o Luiz Boher, que esteve na gerência

de Eventos, a Eneida51 e a Loreti52, que eu me lembre os primeiros seis

foram estes, depois se incorporou nesse grupo o Ednaldo53 da Unisinos,

mas não no coletivo, se incorporou como formador, a Silvana54 de Caxias55

e o Amilton Toldo, que hoje ele é nosso colega da SME, esses três, o

Matheus56 também, o Matheus não chegou a fazer nenhuma formação,

mas ele chegou, lá no inicio, a fazer parte dos formadores e a participar de

algumas reuniões dos formadores, mas do Coletivo do Sul eram seis

pessoas depois entrou a Silvana, o Dinho e o Amilton, lá já no final ,antes

de conveniar com a UFMG57. Com o conveniamento com a UFMG mudou

um pouquinho a forma de agenciamento das formações pelos formadores.

P.J. – Tu podes comentar um pouquinho como foi essa mudança?

G.T. – Sim. Antes como era? Antes do conveniamento com a UFMG, o

processo deu início com um convite feito diretamente pela Rejane. A

Andrea Ewerton58 trabalhava com a Rejane e convidou um grupo do

Nordeste, do Norte, do Pará59, assim, tinha o Coletivo do Sul e o Coletivo

do Norte, algum pessoal de Minas60 e um grupo de Paulistas e Cariocas,

basicamente esse grupos que constituíam um universo de setenta e sete

formadores e funcionava assim, e nessa época nesse período ai não era só

Município que poderia captar recursos do PELC, eram Município, ONGS,

enfim não era tão restrito .

49

Carmen Lilia da Cunha Faro. 50

Lisi Inês Schimidt. 51

Eneida Feix. 52

Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti 53

Nome sujeito à confirmação. 54

Nome sujeito à confirmação. 55

Município do estado do Rio Grande do Sul. 56

Nome sujeito à confirmação. 57

Universidade Federal de Minas Gerais. 58

Andrea Nascimento Ewerton. 59

Estado brasileiro. 60

Minas Gerais, estado brasileiro.

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P.J. – O Aldo.

G.T.- O Aldo Rebello quando assumiu, depois do Orlando, cortou a

possibilidade das ONGS poderem captar recursos, porque dava muito

problema de prestação de contas. Nesse período do grupo de setenta e sete

formadores, antes do conveniamento com a UFMG era da seguinte forma,

a entidade recebia recursos, tinha que fazer a formação, ligava para o

ministério, o ministério acionava os formadores, se esse pedido de

formação chegasse aqui no Sul, no nosso grupo era assim, tinha uma

pessoa que coordenava, essa pessoa recebia o contato do ministério e

verificava quem tinha disponibilidade e procurava fazer, mais ou menos,

uma escala “oh! Gilmar e Léo tem essa formação em tal lugar sob

responsabilidade de vocês, podem dar conta?”, “Podemos!”. Então nós

íamos fazer essa formação.

P.J. – E, quem era a coordenadora de vocês?

G.T.- Era, eu acho que era a Loreti no final ficou a Loreti. O que

aconteceu? Porque eram setenta e sete diminuiu? Pela ordem, antes foi

convite da Rejane, e ai depois a Rejane abriu um Edital Público, a Rejane

e a Andrea abriram um edital público, para quem quisesse se cadastrar,

para eesse edital público era necessário elaborar uma proposta de

formação, foi ai que o grupo inicialmente de cinquenta e poucos passou

para setenta e sete, porque muitas pessoas se credenciaram e foram

aprovadas, dessa forma o grupo ficou maior. Se eu não estou enganado

houve uma notificação do Tribunal de Contas da União apontando que o

Ministério não podia constituir o grupo de formadores desta forma,

vinculados diretamente ao Ministério do Esporte. Porque alguns faziam e

outros não faziam determinadas formações? Tinham formações, tinham

formadores, que faziam mais formações e outros faziam menos e alguns

não fizeram. E que não podia ter essa vinculação direta de formador lá no

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Ministério porque a gente poderia criar um problema administrativo.

Então a Rejane e o Ministério fizeram um conveniamento com a UFMG

para repassar a responsabilidade para a UFMG do Programa de Formação,

diga-se de passagem, isso foi um grande ganho para o PELC porque o

Ministério s não conseguia dar conta do volume de trabalho que estava

acontecendo no PELC. Nesta época o PELC estava ‘voando’ em termos de

Programa Social, e o ME não conseguia dar conta dessa demanda de

formações e o acompanhamento das questões pedagógicas e burocráticas

do PELC. As exigências, para o Ministério, eram muitas: ler relatórios,

devolver relatórios, era humanamente impossível dar conta de tudo. Eu

acho que foi um salto de qualidade o conveniamento do a UFMG. Tinha,

também, as formações dos formadores, então era muita coisa. Quando

conveniou com o Ministério, com a UFMG digo, para mim foi um grande

ganho, muito bom. Ouve um novo processo de contratação: a UFMG

abriu um edital público com algumas exigências porque é um Órgão

Federal, o formador tinha que estar vinculado a um Órgão Federal, tinha

que ter uma vinculação com alguma Instituição Federal, hoje tem que ter

uma vinculação com Instituição de Ensino, não necessariamente Federal,

mas na ocasião tinha essa exigência, então, alguns formadores não

tinham esse vinculo mas podiam buscar. Casualmente, neste período de

mudanças de contratação de formadores, entrei no mestrado, com isso

mantive o vínculo com instituição de ensino, mas também , havia a

possibilidade para os formadores cursarem disciplinas especiais em

programas de pós graduação, cursar especialização, enfim, podia fazer

isso para firmar convênio com a UFMG. Teve um grupo que se rebelou,

não quis, não aceitou e acabou não se inscrevendo no edital até porque ia

diminuir bastante o número de formadores, em função da nova

estruturação que a UFMG desenhou junto com o Ministério, não havia

necessidade de setenta e sete, era em torno de trinta, trinta e cinco,

então muitos não se inscreveram até porque nem todos seriam

aproveitados, muito não se inscreveram e outros novos se inscreveram.

Desses trinta e cinco nem todos foram aprovados, era para ficar vinte e

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cinco e acabou ficando vinte e dois, foi bem exigente o critério de seleção

deste edital, com proposta por escrito, entrevista com a equipe gestora.A

entrevista que eu participei foi aqui na UFRGS, entrevista regional. Foram

realizadas entrevistas em três ou quatro regiões do Brasil . O Ministério e

a UFMG vieram até o Sul, então,quem tinha interesse aqui na Região Sul

de atuar com formador tinha que fazer essas entrevistas aqui na UFRGS.

Teve em Minas, teve em Recife, ou seja, distribuída pelo Brasil. E foi isso

que aconteceu, foi um processo, fazendo uma síntese rápida de como se

deu esse processo de constituição dos atuais formadores, foi isso. De lá

para cá essa articulação da UFMG e os formadores que a gente chama

Sistema de Formação ou Programa de Formação que vem se qualificando,

vem ampliando, os seminários de formadores ( encontros semestrais) tem

sido bem qualificados, achei que só tivemos ganhos, muitos ganhos, foi

um grande salto de qualidade essa delegação de responsabilidade para a

UFMG. E para UFMG também, eles dizem que para eles foi um grande

ganho pedagógico, fazer essa vinculação, porque de que forma eles teriam

tanta atuação no campo como eles tem hoje, eles estão no Brasil todo, a

UFMG esta no Brasil todo, eles conhecem toda a Política de Esporte e

Lazer da periferia dos Municípios por intermédio do Ministério e dos

formadores, está tudo lá nas mãos deles para fazer pesquisa, para fazer

estudo. Ai uma opinião muito pessoal, eu acho que inclusive qualificou o

Programa de Mestrado e Doutorado deles, porque ampliou o número de

formadores que buscaram fazer mestrado e doutorado, ampliaram as

pesquisas sobre o PELC, nossa, foi um ganho muito bom para a UFMG.

P.J.- Então, como foi esse teu processo de preparação para ser formador

tanto do Ministério, além do que tu já comentou, desse teu envolvimento

como funcionou essa preparação, vocês se reuniam, tinha curso, como é?

G.T. –Bom, eu acho que uma formação como a gente faz na formação

inicial se fores considerar que a formação inicial é aquela acadêmica, se tu

fizer uma analogia da minha formação enquanto profissional de Educação

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Física ou Educador e a minha formação enquanto formador do PELC, a

minha formação inicial para ser formador do PELC ela vem desde oitenta

e sete quando eu entrei na supervisão de esportes recreação e lazer de

Porto Alegre. Neste momento comecei a identificar outras possibilidades,

outras formas de pensar a atuação do esporte como um espaço de lazer,

como um espaço de socialização, como mais uma atividade dentro de um

conjunto de possibilidades de um programa social de esporte e lazer.

Então eu acho que vem de lá. Quando nós fomos convidados pela Rejane

para assumirmos a função de formador, e não era formador, era outro

nome que nós tínhamos, parece que era supervisor. Eu fazia parte de um

grupo de formadores do sul e passamos a nos reunir, nós fazíamos

reuniões sistemáticas para construir a formação, para construir os slides

e muitos destes slides são usados até hoje, a gente organizou toda uma

formação e para chegar a essa programação de formação foram

necessários muitas leituras e estudo para a elaboração final.. A nossa

prática até então era organizar eventos, elaborar planejamento

pedagógico, e para que a gente pudesse, digamos, transformar ou levar a

nossa prática do cotidiano, nossa experiência como professor de praça, de

parque, coordenador pedagógico e coordenador de unidade recreativa, nós

tínhamos que sistematizar e fundamentar a nossa prática, então a gente

também se formou como formador nessa discussão coletiva, nessa

discussão com esse o grupo de seis pessoas. Outra característica de grupo

de formadores do sul, nós nunca íamos sozinhos fazer a formação, íamos

dois, três porque um dava o Feedback do outro, um era a consciência do

outro, era o grilo falante de um e outro.

P.J.- E essa sistematização que tu comentou agora era regional?

G.T.- Era Regional.

P.J.- Em nível nacional vocês não se reuniam?

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G.T.- Sim! Eu vou chegar lá. Essa formação desse grupo do Sul foi muito

bom e ao mesmo tempo nacionalmente o Ministério organizava um ou

dois encontros anuais com todos os formadores e muitas vezes, e algumas

vezes, junto com os pesquisadores da Rede Cedes, claro que ai ficava um

grupão. Ocorriam seminários muito grandes, com cento e tantas pessoas

e ai bom, não aprofundava tanto os temas mesmo que se quisesse,

mesmo que tivesse uma preocupação de aprofundar temas, de trabalhar

o cotidiano, não é a mesma coisa que tu discutir em seis pessoas. O

Coletivo do Sul, era uma iniciativa nossa, daqui do sul, e tinha também

por iniciativa do Ministério esses encontros de formadores duas vezes por

ano, tanto que no contrato hoje, no atual edital, no contrato que temos

com a UFMG, temos que além de estar disponível para trabalhar as

formações dos convênios, nós temos que participar dos dois encontros

anuais de formadores. Sábado agora, amanhã, tem Encontro de

Formadores do Sul aqui em Porto Alegre, na casa da Léo61, só não vai

estar a Kenny62 que é paulista e que se integrou agora ao grupo de

formadores do sul, porque ela já tinha agendado uma viagem e ela não

pode desmarcar, mas vão estar reunidos aqui, eu a Eneida, a Silvana que

vem de Caxias e a Léo. A Léo agora tem um papel, que antes não existia,

de articulador regional, ela é responsável para acompanhar as formações

da Região Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Ou seja, no

primeiro semestre a gente se reuniu em Brasília, a gente tem obrigação

por contrato e tem que participar de dois encontros anuais quando

chamado pelo Ministério, além do nosso trabalho como formador. Assim,

temos a nossa formação enquanto formador e o nosso compromisso

também de formador. A UFMG também organiza com uma certa

frequência chats de discussão pelo skype, a gente tem alguns contatos

vistuais para discutir temas específicos. É claro que nem todos conseguem

participar, eu sou um que tenho dificuldades de participar desses

encontros on-line porque esses eles acontecem a noite e eu trabalho a

61

Maria Leonar Brenner Céia Ramos. 62

Keni Tatiana Vazzoler Areias.

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noite. Para estas situações os encontros ficam gravados e eu ouço no dia

seguinte.

P.J. - E o PELC ele esta dividido hoje não é? Tem o “PELC Urbano”, os

“Povos Tradicionais”, tem o “Vida Saudável”...

G.T. - Agora o “Vida Saudável”... Antes o PELC era “PELC Todas as Idades

e Vida Saudável”, agora mudou, agora é “Programa Vida Saudável” e

“PELC Urbano” e o outro “PELC dos Povos Tradicionais”.

P.J.- E tinha uma época que havia o PRONASCI63 também?

G.T. – Pronasci, sim, eu fui um dos formadores do PRONASCI.

P.J.- Tu chegaste a atuar em todos eles?

G.T.- Não, todos não. Atuei em vários convênios do Sul e que

aconteceram dentro da disponibilidade que tinha. O Ministério do Esporte

tinha setenta e sete formadores e para não abrir um novo processo de

contratação de formadores, destacou vinte distribuídos regionalmente

para dar conta do PRONASCI que era um convênio com o Ministério da

Justiça e que ocorreu na época em que o Tarso64 foi Ministro, o Tarso teve

uma experiência positiva aqui em Porto Alegre quando ele foi prefeito, de

desenvolver o “Esporte à Meia-Noite”, na prefeitura de Porto. Aconteceu lá

na Restinga65 numa região de bastante violência, com problemas sociais

muito sérios, e ele gostou da ideia de fomentar o trabalho de “Esporte à

Meia-Noite”, inspirado no prefeito de Nova York que para diminuir a

violência urbana, dentre muitas ações, iluminou as ruas e criou bastante

quadrinhas de basquete nas esquinas. Dessa forma, as pessoas ficavam a

noite jogando. Quando o Tarso foi prefeito de Porto Alegre, na segunda

63

Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania. 64

Tarso Genro. 65

Bairro situado na zona sul da cidade de Porto Alegre.

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gestão, nós criamos um projeto chamado “Esporte à Meia-Noite” na

Restinga, com a perspectiva de desenvolver o ”Esporte à Meia–Noite” e o

futebol. Quando o Tarso assumiu o Ministério da Justiça... Veja a ligação:

quando foi prefeito a Rejane Rodrigues era a Secretária Municipal de

Esportes de Porto Alegre. E, quando ele assumiu o Ministério da Justiça, a

Rejane era a Secretária Nacional do Esporte, Lazer e Inclusão Social do

Ministério do Esporte. Se e criaram esse projeto junto com o PRONASCI. O

PRONASCI era uma estrutura maior, tinha várias coisas, uma delas era o

PELC PRONASCI. Eu trabalhei em algumas formações deste programa que

foram muito bons, por exemplo, Cachoeirinha66. Cachoeirinha

desenvolveu um PRONASCI que depois por vários problemas, alguns

políticos e outros orçamentários, eu diria mais políticos do que

orçamentários, o Tarso saiu do Ministério da Justiça e não foi mais

repassado o recurso financeiro para o Ministério do Esporte desenvolver o

PELC/PRONASCI. Então, não foi uma atuação muito duradoura, eu estive

no PRONASCI em Cachoeirinha, Canoas67 e São Leopoldo68. Na minha

avaliação o que funcionou melhor foi Cachoeirinha, porque eles focaram a

faixa etária do programa, que era de 15 a 24 anos. Em Canoas e São

Leopoldo, fizeram um PELC para todas as idades, fugindo da proposta

original de atender jovens na idade entre 15 e 24 anos.

P.J. - E agora que separou o Vida Saudável tu também continuas atuando

nele ou é só no PELC?

G.T. – Eu nunca havia atuado no Vida Saudável, até esse ano, mas por

uma opção mesmo eu sempre dizia que não tinha interesse em trabalhar

com o público idoso. Eu não sei se eu quero me envolver com um público

idoso porque eu acho que tem muitas pessoas trabalhando com essa faixa

etária e poucas pessoas hoje na Educação Física, trabalham com crianças

e adolescentes. Aqui... Fazendo um parêntese, aqui na Secretaria de

66

Município do estado do Rio Grande do Sul. 67

Município do estado do Rio Grande do Sul. 68

Município do estado do Rio Grande do Sul.

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Esportes de Porto Alegre muitas pessoas trabalham com grupo de idosos,

poucos, pouquíssimos trabalham com criança e adolescente, primeiro

porque é mais difícil, tem que buscar os alunos. O adulto e o idoso é só

fazer um ‘estalar de dedos’ que eles vêm, estão ai. E cada vez mais tem um

público adulto. Não que eu não ache importante, acho que tem que olhar

e cuidar, e temos que olhar e cuidar do público adulto e idoso porque eles

estão ai e aumentando ano a ano. Nós estamos envelhecendo em uma

condição física boa, muitos. Para dar um exemplo, eu trabalho aqui e

trabalho no Ararigbóia. Tanto aqui quanto no Ararigbóia nós temos uma

lista de espera e todas as vagas estão preenchidas para adulto e idoso. Me

pergunta se os grupos para as crianças estão todos lotados, não! Tem que

estar correndo sempre atrás de criança e adolescente, porque não tem, é

difícil. Por várias razões: segurança, internet, várias coisas, não é apenas

um fator . Porque criança tem. A gente oferece um trabalho de qualidade,

sistemático, com professor qualificado, com um espaço qualificado, como

é o caso do Ararigbóia, que tem um ginásio e com material qualificado, e

que não precisar pagar. Como assim que não tem? Tem que fazer um

estudo interessante sobre isso. A gente sabe que alguns fatores inibem a

participação das crianças, mas... Então por conta disso e também porque

eu nunca trabalhei, nunca estudei com esse segmento do idoso, eu optei,

sempre que era demandada alguma formação para o PELC do Vida

Saudável, eu sempre abria mão. Por outro lado alguns colegas gostam...

Gostavam mais do idoso, como tem gente que gosta dos “Povos

Tradicionais” não é? E, este, fui convidado pela Beleni69 que trabalha e

pesquisa a comunidade indígena, na UFMT70. Me convidou para participar

do Seminário o ano passado e criar toda a política de esportes para as

comunidades indígenas. Quando a Beleni me convidou eu disse: “Bah!

Beleni, eu te agradeço muito, seria muito interessante, mas, depois eu não

vou trabalhar com esse segmento, então deixa a vaga para outra pessoa”.

Claro que seria interessante ir para o Mato Grosso ficar um tempo

estudando, participar de seminários, mas vou tirar lugar de outra pessoa

69

Nome sujeito à confirmação. 70

Universidade Federal de Mato Grosso.

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que talvez possa aprofundar e levar isso para frente, não achei justo e

correto. Eu sou amigo dela no Face71 volta e meia ela manda os materiais,

disponibilizou vários materiais dos Povos Indígenas, dos estudos dela, mas

estudar isso, não tenho interesse por essa razão, não que eu não ache

interessante, vou fazer uma disciplina agora no PPG da Educação, que

trata dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais. Eu não tenho

preconceito com isso, mas não vou focar nisso, neste momento não, até

porque a minha carga de trabalho não permite isso.

P.J. - E como são desenvolvidas as atividades de Formação junto com os

núcleos?

G.T.- Não existe uma formação direta... Deixa eu entender direito. A

formação dos convênios?

P.J. – Isso.

G.T. - Fica melhor para eu entender, porque a gente não faz uma atuação

direta no núcleo, com exceção das visitas técnicas que eu acho que já devo

ter comentado alguma coisa, hoje tem diferença visita técnica, visita

pedagógica. Mas as formações elas acontecem da seguinte forma: quando

o PELC iniciou, o convênio era de dez meses, depois ampliou para doze,

depois para quatorze, depois para dezoito e hoje são vinte e quatro. As

formações eram, uma de módulo introdutório e outra de avaliação... Não

sei se tu chegaste a fazer? Em Santa Maria eu fiz isso, trinta e duas horas

de módulo inicial depois trinta e dois de avaliação lá no final. Nesse meio

do caminho a gente dividiu o módulo introdutório continuou ficando com

trinta e duas, ai dividimos o Módulo de Avaliação: Avaliação I e Avaliação

II. Avaliação I feita na metade do convênio, convênio de doze meses, e

avaliação II no final do contrato, a grosso modo, no final do convênio de

dezesseis horas ou de doze meses. Foi mudando, mudando... Hoje como

71

Facebook.

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são as formações? Hoje os convênios do edital dois mil e quatorze tem a

duração de vinte e quatro meses. As formações tem o Módulo

Introdutório I, Módulo Introdutório II, Avaliação I, Avaliação II. O Módulo

Introdutório I são vinte e quatro horas, não mais trinta e duas, o Módulo

Introdutório II são mais vinte e quatro horas e tem o Módulo de Avaliação

com dezesseis horas e mais a visita técnica, que a gente tem que fazer um

dia antes, e depois tem a Avaliação II. Quando nós somos solicitados...

“Gilmar hoje tu está recebendo...” É sempre por e-mail. “Temos a

formação no Município tal, dia tal, para...” Quando eu recebo esse

comunicado... “O Módulo Introdutório I, para a cidade tal, do edital tal”.

Então eu sei, eu vou seguir as diretrizes do edital correspondente, terei

que ver o edital, se é dois mil e doze eu sei que são trinta e duas horas,

agora já não mais, então eu só vou receber convênios novos do edital de

dois mil e quatorze que vai ser Módulo Introdutório I de vinte e quatro

horas. O edital é um e nós já estamos trabalhando no outro. Então o

Módulo Introdutório I é de trinta e duas horas o outro Módulo Introdutório

I do novo é vinte e quatro. De posse dessas informações eu pego o edital,

dou uma revisada aqui e, mais ou menos eu sei o que vai ser

desenvolvido, procuro saber aquelas coisas básicas: quantos núcleos?

Quantos formadores? Quantos agentes? Quantas pessoas além dos

agentes participarão da formação? Se der, eu quero saber qual a origem?

Quem são essas pessoas? É diferente tu trabalhar uma formação na

UFSM que são todos acadêmicos e graduados e pós- graduados, do que

trabalhar lá na cidade de Ponta Grossa que é o pessoal da comunidade

que não tinha nem o primeiro grau completo. Eu tinha que pensar a

linguagem sobre o mesmo tema, muito diferente. Não posso levar um texto

acadêmico para discutir com o pessoal da comunidade agora se eu levo

um texto mais simples para vocês lá da UFSM, vocês iam reclamar e

também não ia atingir o objetivo. De posse desses dados organiza-se o

programa da formação, se elabora a formação, cuidando das diretrizes e

os conteúdos básicos que o Ministério, por exemplo, aponta que a gente

deve seguir. Os formadores tem muita flexibilidade de usar as

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metodologias diferentes e readequar os conteúdos, para qualificar as

formações. Para isso não existe um engessamento, mas tem uma diretriz,

objetivos, diretrizes que nós temos que seguir e está correto.

P.J.- E a formação de maneira geral tem uma parte teórica, tem uma

parte mais prática ou...

G.T. – Sempre, eu volto lá na origem de quando eu fui convidado e depois

fui seguindo até ser formador. Eu por origem e pelo meu cotidiano eu não

sou uma pessoa que trabalha dentro de uma sistematização do

conhecimento acadêmico, eu trabalho com o público usuário/beneficiário,

meu trabalho é mais executivo. Eu tenho que pensar que o público que vai

participar das formações não tem o hábito de ficarem sentados por muito

tempo e discutir conceitos e teorias. Então eu sempre procuro interagir as

trinta e duas horas, com atividades e metodologias que envolvem os

agentes, desde dinâmicas pedagógicas, dinâmicas de integração, não

necessariamente precisam ter uma ligação direta com tudo que eu vou

trabalhar. Por exemplo, se eu vou trabalhar a avaliação eu trabalho com

uma dinâmica específica para avaliação, mas não necessariamente eu

trabalho dessa maneira com todos os conteúdos. Mas eu posso fazer uma

brincadeirinha, por exemplo: a brincadeirinha da salada de frutas ou uma

brincadeira e um jogo cooperativo, nó humano, sei lá, faço uma dança

das cadeiras cooperativa. Estas dinâmicas servem para movimentar os

agentes, para as pessoas também terem um repertório de atividades, que

o PELC aponta como atividades lúdicas e que podem ser utilizadas dentro

do cotidiano das aulas. Então funcionam como uma estratégia para

movimentar e integrar as pessoas, mas também como uma forma de

repertório e também para as pessoas não ficarem enfadadas nem ficarem

o tempo todo sentadas. Esse é o principio básico, sempre interagir

conteúdos teóricos com atividades práticas e também com dinâmicas.

Nem um conteúdo que eu for trabalhar, vai ser desvinculado de uma ação

prática, não necessariamente uma prática de movimentar, mais uma

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prática de ler um texto, de ver um vídeo, depois debater sobre o vídeo,

vinculado aquele conteúdo. Além disso, eu também faço no Módulo

Introdutório I, no II e até na Avaliação I, um turno de atividades práticas

ou aquela atividade prática que a gente socializa que cada um faça, dessa

maneira tem uma forma de se conhecerem: tu vai ser monitora de

trabalhos manuais, tu vai ser monitora de dança eu vou ser monitor de

lutas. Bom, em que momento a gente vai conseguir fazer uma troca? Tu

mostrares o que tu fazes para mim e eu mostrar o que eu faço para vocês

é muito interessante. Assim, eu aproveito a formação, ou uma parte da

formação, para os agentes socializarem suas habilidades, esse momento

da formação eu chamo de miniaula ou troca de experiências. Nos Módulo

Introdutório I e Introdutório II, procuro fazer essas trocas, mas também,

sempre procuro levar alguns elementos especialmente do esporte, que o

esporte é uma dificuldade as pessoas pensarem, entenderem e

trabalharem o esporte de uma forma não competitiva, não tecnicista. A

maior dificuldade que os nossos colegas tem, especialmente os mais

antigos e lá do interior mais ainda. Então eu tenho que levar, e tenho que

mostrar para eles e não ficar só no discurso de como pode trabalhar o

esporte, de uma outra forma com neutralidade e que isso não fique uma

coisa chata. Eles dizem assim: “ninguém vai querer praticar esporte que

não seja para ganhar, ganhar... E disputa aquela coisa...”. Não, a gente

não joga para perder, ninguém vai jogar para perder, mas tem outras

formas de jogar e de trabalhar o esporte que não seja apenas a forma

competitiva, de colocar uma fila de criança atrás da bola, um chuta, e os

outros vinte e cinco esperando. Isso é algo que não se faz mais, isso já

está passadíssimo. Então tem que mostrar para eles como pode fazer e

trabalhar o esporte de forma diferente. Enfim, em síntese é isso. Muita

movimentação na aula e também tu tem moral para dizer “gente nós

vamos precisar da atenção de vocês que agora esse conteúdo tem que ser

estendido um pouquinho mais, porque quando a gente vai trabalhar o

conteúdo ‘cultura’, que é mais difícil para as pessoas entenderem, ou

quando vai teorizar sobre o lazer e seus diferentes conceitos: do

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Marcellino72, do Dumazedier73, do Mascarenhas74, as diferenças que tem

entre um e outro, de onde vem”. Historiar um pouco isso, saber o que é

lazer. Enfim, não vou falar de toda a formação aqui, mas essa é uma parte

que eu sempre digo para as pessoas que participam: “o que faz diferente

entre o educador e o bom educador, é que o bom educador é aquele que

sabe o que faz e que tem fundamento no que está fazendo”, porque se eu

quiser fazer uma atividade... o que muda é a intencionalidade, a intenção

que um educador dá para uma atividade pode ser diferente do outro. Eu

acho que o que faz a diferença é se tu sabe o que está fazendo e o que é

pretendido com aquilo que está fazendo, não só para ficar preenchendo

horário vago. Então procuro puxar um pouco por isso e deixo sempre

bastante referencial teórico e bibliografia, levo alguns, deixo sempre aberto

um canal de comunicação para perguntarem e dialogarem, o máximo que

eu vou dizer é “eu não sei”, mas vou dizer onde talvez tu possas

encontrar. E hoje com a tecnologia do mundo virtual de poder acessar

tudo, fica muito fácil. Dicas de filmes, enfim. Às vezes levo textos, sempre

projeto um pouco mais de textos, porque se eu não uso o texto durante a

formação eu digo: “olha, fica esse texto para vocês utilizarem nas

formações em serviço”, porque os coordenadores locais apresentam muita

dificuldade em organizar as formações de serviço, que é de

responsabilidade do Coordenador de Núcleo ou do Coordenador Geral do

Convênio dar conta dessas formações, a tendência sempre é ficar restrito

as questões do cotidiano e de assuntos administrativos, da falta, da

chamada, do problema, nunca tentam... Não buscam fazer uma análise,

uma reflexão, poucos fazem isso, uma análise uma reflexão, sobre o

cotidiano, sobre outras questões que não aquelas administrativas e

funcionais.

P.J.- E as visitas, Gilmar? Tu comentaste um pouco antes. Tu podes me

falar como elas foram incluídas?

72

Nelson Carvalho Marcellino. 73

Joffre Dumazedier. 74

Fernando Mascarenhas.

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G.T.- As visitas elas tem um propósito que é, primeiro mostrar para o

conjunto dos agentes a comunidade que eles irão trabalhar, porque o

PELC não é uma unidade básica. Deixa eu explicar melhor: O PELC não

tem uma estrutura igual em todos os lugares, por exemplo, se eu for para

o Ceará não tem condições de fazer visita técnica no Ceará com cento e

cinquenta pessoas. Ela fica extremamente prejudicada. Até fizemos visita

em dois ou três núcleos, mas fizemos somente com os coordenadores que

eram vinte e cinco. Imagina colocar cento e quarenta pessoas dentro de

ônibus para visitar núcleos?! Isso não tem condições de fazer. Daria para

fazer, mas levaria a formação toda para fazer isso, ainda mais que isso

envolvia Municípios da grande Fortaleza. Lembra daquelas viagens que a

gente fazia lá em Santa Maria? Eu estou falando de Santa Maria um

Município que é de porte médio e que não eram tão distantes assim os

núcleos, e a gente levava um dia, às vezes um turno e meio e chegava o

dia cansado. Mas qual é o objetivo de visitar os núcleos? A primeira visita

é socializar e mostrar aos diferentes monitores e pessoas envolvidas a

realidade que eles irão vivenciar e de apontar, de pensar em alternativas e

possibilidades de atuação naquele espaço, de indicar e identificar

lideranças comunitárias naquele espaço. O PELC não deve e não pode

funcionar somente com ofertas de atividades, mas também com uma

interação e uma integração entre lideranças comunitárias que essa é,

digamos, a parte que eu acho mais legal e a parte que dá mais sentido e

que muda um pouco a lógica de ser simplesmente uma oferta de

atividades físicas do Poder Público à população. Não, é também uma

oferta, mas é uma lógica de trabalhar próximo, articulado e que as

comunidades se sintam não somente recebendo um trabalho, mas que se

sintam protagonistas na elaboração de projetos, no entendimento geral de

todo o funcionamento, entender que aquilo é uma verba do Governo

Federal, que vai ter prazo de validade, que eles têm que se mobilizar para

pressionar e questionar junto ao Poder Público local para que ele financie

e dê continuidade. Tem outras questões... Que eles podem trabalhar as

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relações entre as comunidades e o PELC vai ser um órgão facilitador, o

PELC tem que organizar um conselho gestor para que as pessoas possam

conhecer participar e opinar sobre o programa. Então é isso que a gente

procura fazer. A segunda visita dos núcleos, ela acontece em função do

núcleo em funcionamento, ai nós formadores vamos até os locais para

acompanhar as atividades, não fazer análise didática do que é trabalhado,

nós não vamos lá fazer uma avaliação sobre a qualidade da aula. Não,

nós vamos olhar como está se dando a relação das pessoas ali na

comunidade, se tem lideranças comunitárias, não me interessa conversar

só contigo, assistir e bater foto da tua aula. Me interessa conversar com os

alunos, me interessa conversar com alguma liderança comunitária da

volta.

P.J. Esta é a visita técnica?

G.T. – Esta é a visita técnica, de acompanhar... Tem outra visita também

que é acompanhar a parte administrativa, que é uma atribuição nova para

nós, mas lá no núcleo é isso. Quando ele já esta em funcionamento o

objetivo é acompanhar e poder dar opiniões, pode dar uns “pitacos”, e de

identificar problemas, identificar dificuldades a partir dos relatos das

pessoas/beneficiários. Agora eu vou à cidade de Estrela e, a gente

identificou uma série de dificuldades, obviamente pela experiência da

gente vamos dar sugestões ou iremos provocar que eles pensem nas

soluções que às vezes a solução esta na frente e eles não conseguem

identificar, não conseguem ver. Então a gente funciona como, digamos,

um catalisador para que essas soluções possam vir a acontecer. Então,

inicialmente, tem esse propósito, de mostrar as possibilidades que eles

não identificaram ou não enxergaram no seu espaço. E a segunda, já com

o núcleo em funcionamento, a agente poder acompanhar e fazer o registro

e depois poder dialogar sobre aquela atividade que esta acontecendo.

P.J. – E esta visita nova que tu comentaste?

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G.T. - Essa é uma visita nova de um dia inteiro, uma visita que está

vinculada, associada à formação do AV l, que é o momento em que a gente

não somente faz uma análise pedagógica e política pedagógica da

atividade de campo, mas também faz uma análise de outras informações,

outros dados que tem a ver também com a parte administrativa. Quem

fazia isso a tempos atrás eram os técnicos do Ministério, que agora, até

fazem eventualmente, mas não tem condições de fazer visita

cotidianamente em todos os núcleos, em todos os convênios.

P.J.- E quais os lugares que tu atua como formador?

G.T.- Que eu já atuei?

P.J.- Que tu já atuou, se tu tens uma noção mais ou menos de quantas tu

já fez?

G.T.- Não, só se eu parasse para contar, mas muitas, deixa eu ver.

Estrela, Feliz, Ivoti, Ponta Grossa, Jaguarão, Bagé, aqui em Santa

Catarina, Dionísio Cerqueira, Estrela já falei, Curitiba, Natal, Fortaleza,

Maracajá, Porto Alegre...

P.J. – Então ela não é regionalizada?

G.T. – Era para ser [risos]. Santa Maria. Em algumas dessas cidades eu

fui mais uma vez, Santa Maria fiz formações em mais de do que um

convênio, Santa Maria como tiveram dois convênios acho que fui umas

quatro, cinco vezes. Para Ponta Grossa, como eles fizeram dois ou três

convênios se eu não me engano, fizeram em períodos diferentes, eu fui

acho que umas seis vezes para Ponta Grossa. O que tu tinha me

perguntado?

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P.J. - Eu te perguntei se essas formações não eram regionalizadas?

G.T. - Quando nós fizemos o convênio com a UFMG o nosso contrato era

atuar no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, esse era o limite.

Mas bom, as coisas não andam exatamente como a gente programa

inicialmente. O que aconteceu? O Ceará fez um convênio grande Ceará, o

Rio de Janeiro também teve um convênio grande e eu fui convidado para

fazer a formação do Rio, mas não fecharam as datas que eu tinha

disponível. Quando têm esses convênios muito grandes como esse do

Ceará com cem núcleos, não dá para se restringir apenas aos formadores

da Região Norte ou Nordeste, então a galera do Sul... Sul e Sudeste vão

ajudar. Ou então quando é muito regionalizado, atualmente não tem

muitas formações no Sul, as formações são mais concentradas no Centro-

Oeste, no Sudeste e no Nordeste. O que está acontecendo? Nós estamos

subindo. A ida para Natal foi um pedido especial do coordenador de lá que

era meu amigo, então ele gostaria muito que eu fosse dar a formação. Que

para mim foi um problema, porque eu levei uma semana inteira entre o

deslocamento e a formação. A formação foi terça, quarta, quinta e sexta.

Imagina foi terça, quarta e quinta, nós passamos três dias lá, aí levei

segunda para ida e sexta a volta, ou seja, semana toda. Tem essa

preocupação também de ser organizado para facilitar um pouco o

deslocamento também e porque fica menos pesado o tempo de viagem. É

muito diferente sair um formador de Minas para ir até Pernambuco do que

sair um formador de Porto Alegre e de Caxias para ir até Pernambuco, o

custo de transporte é muito, muito diferente, então a ideia inicial é

regionalizar, mas quando tem uma demanda, nós também como em

alguns casos aconteceram, que os formadores do Nordeste vinham para o

Sul em uma época que o Sul tinha muita formação, tanto que quem veio

aqui trabalhar na formação do PELC na cidade de Santa Maria foi um

colega de Vitória, que veio dar uma formação em Arroio do Sal, foi um

colega de Brasília e um Paulista veio dar uma formação em Panambi,

então essas coisas acontecem.

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P.J. – E quais áreas vocês costumam abordar nas formações?

G.T. – Basicamente, o conceito de cultura, conceito de lazer e conceito de

esporte, pela ordem.. Esses são os conceitos básicos que tem que

trabalhar. Qual é a concepção de cultura do PELC? Qual é a concepção de

lazer? Quais os referenciais teóricos que a gente utiliza e que referenciais

teóricos se pensa o esporte? Não é qualquer esporte que se prática no

PELC. Não é esporte de rendimento, não é esporte escolar, é o esporte de

participação dentro daquela divisão da LDB75 que é aceita e que hoje

avançou felizmente. O conceito de esporte participação para esporte lazer,

esporte recreativo, está bem ampliado o conselho esta bem legal, além

disso... Bom, só com isso dá conta de tudo? Não. A gente trabalha

planejamento, planejamento pedagógico...

[INTERRUPÇÃO DE GRAVAÇÃO] 76.

G.T. – Então é uma questão de entendimento. Bom, tu entendes estes

conceitos, como é que tu vais trabalhar isso? O que tu precisa? A gente

pensa assim, se eu for trabalhar e dialogar com pessoas que tem uma

formação superior e essa formação superior está vinculada ao campo

pedagógico, é tranquilo. Falar sobre os planejamentos, sobre a didática,

sobre a metodologia é tranquilo. Agora, quando o agente é uma pessoa,

mesmo com curso superior, que são enfermeiros, administradores,

informática ou que estão dando uma oficina qualquer, porque dominam

um determinado conteúdo...(O PELC permite isso, porque dominam uma

determinada técnica de capoeira, ou de artesanato, ou oficina de

percussão). Quem é que da oficina de percussão? Pensa que é o músico da

Universidade? Não, é o mestre da Escola de Samba, é o percussionista que

não tem noção muitas vezes de um planejamento organizado e muito

menos para organizar um evento, então o formador trabalha, além dos

75

Lei de Diretrizes e Bases. 76

Entrevistado atendeu o telefone.

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conteúdos teóricos, desenvolve e orienta a elaboração do planejamento

pedagógico, trabalha planejamento de eventos e trabalha outros

conteúdos que são coisas paralelas, como é integração social, enfim vários

conteúdos paralelos.

P.J.- E tu destacaria alguma coisa das formações realizadas aqui na

Região Sul? Tu trabalhaste aqui, trabalhou no Nordeste, enfim em outros

lugares tu terias algum destaque nessas formações que realizou?

G.T.- Eu estou pensando, nunca me fiz essa pergunta [risos]. Mas é

interessante, eu não diria assim Norte e Nordeste.

P.J. – Sim, nos lugares que tu atuaste Centro-Oeste...

G.T. - O que eu percebo no PELC e trocando isto com os formadores,

muitos deles concordam comigo, com os que eu conversei. Normalmente o

PELC do interior em Municípios menores ele dá mais resultado, as

pessoas se integram mais, interagem mais, se dedicam mais ao programa.

Acho que, por vários motivos, agora estou colocando as hipóteses que não

chegam a ser medidas, mas que fazem sentido, por exemplo: Municípios

menores, muitos deles nunca tiveram uma política pública de esporte e

lazer, política pública financiada pelo Estado, financiada pelo Poder

Público de ofertar e de disponibilizar para as pessoas de todas as faixas

etárias essas atividades gratuitas com um profissional qualificado. Isso faz

muita diferença. Segundo, as pessoas são mais dedicadas, tanto quem

ministra a oficina quanto quem pratica, ou seja os alunos. Não sei dá

para afirmar isso, mas essa situação é o que muitos formadores

comentam. Mas eu vou dar grande destaque que ao meu ver supera essa

constatação, a meu ver é: naqueles convênios onde tem um Coordenador

Pedagógico dedicado e sério e que atua como Coordenação Pedagógica,

esse faz toda a diferença. Claro que no Município menor com poucos

núcleos ele consegue dar uma qualidade melhor, nos Municípios maiores

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que tem esse trabalho também conseguem fazer um trabalho bom, não dá

mesma qualidade porque tem uma rotatividade muito grande de

monitores devido o valor da bolsa. Em Municípios grandes a oferta de

possibilidades, de bolsas e de outros bicos é maior do que em municípios

menores. Mas um aspecto que me chama atenção, quando eu vou (eu não

fui muitas vezes), mas quando eu saio da Região Sul, as pessoas gostam

muito e querem saber muito... no Nordeste, querem saber muita coisa do

Sul. Quando eu vou trabalhar as formações aqui e que eu trago algumas

coisas de lá, ou vídeos, as pessoas ficam fascinadas com a ideia de poder

conhecer o PELC do outro lado, depois do Mampituba77. Olha é muito raro

um convênio que não apareca nos instrumentos de avaliação “sugestões”,

não somente às formações, mas sugestões ao PELC: intercâmbio,

conhecer, interagir, integrar com outros convênios, outros Municípios,

outros locais para poder fazer trocas. Antigamente já teve isso, não para

todos agentes, mas no tempo da Rejane e da Andréa quando estavam no

Ministério tinha o Encontro Nacional do PELC que participavam os

coordenadores gerais e alguns Coordenadores de Núcleo, mas não todos

os agentes porque não tinha nem espaço para todos participarem, mas

tinha esses Encontros Nacionais, eram bem interessantes e muito bons.

P.J. - E na tua opinião como essas formações elas impactam nos núcleos?

G.T. - Eu estudei isso na dissertação de mestrado. As formações, quando

tem a formação com a presença do formador, ela não resolve tudo, ela

funciona como, digamos uma mola propulsora, ela funciona como um

estopim para desencadear outros momentos e sacudir as pessoas e

também durante a formação é o momento que as pessoas focam e olham

para o PELC naquele momento, ou seja, toda a concentração toda a

atenção esta voltada para o PELC, então as pessoas conseguem fazer uma

análise um pouco melhor, conseguem abstrair um pouco sobre as suas

dificuldades, sobre as suas qualidades naquele momento quando esta

77

Município do Estado do Rio Grande do Sul.

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ocorrendo a formação. Cria-se um clima, uma áurea em que todos juntos

procuram discutir, debater uma mesma temática. Elas ajudam e acho que

elas estimulam. O fato de hoje ter quatro formações é muito bom porque

os agentes não ficam um tempo muito longo sem um contato com os

formadores, é uma avaliação minha. O fato de se ter mais avaliações faz

também com que o coordenador fique ligado nisso, “teve o Módulo

Introdutório I em seguida vai ter dois”, ela já vai ter que ficar pensando e

não vai se desligar total da preocupação com a formação. Sobre a

avaliação de formadores eu penso, ela é boa, ela estimula, ela instiga, mas

ela não dá conta de tudo. Quem vai dar contar, vai complementar e vai

dar qualidade a isso é o coordenador, e aí sim, ter um Coordenador

Pedagógico faz a diferença, porque se não, a reunião pedagógica fica

limitada somente a questões administrativas, ou nem sai, as pessoas vão

passar a discutir ou refletir sobre o PELC só quando o formador voltar,

então, ela ajuda muito, tanto que não é uma visão minha sobre o meu

trabalho como formador, esta é uma análise a partir das observações dos

diálogos e mais: das leituras e dos registros dos instrumentos de avaliação

das formações, tu conhece os instrumentos de avaliação do PELC?

L.M.- Alguma coisa.

G.T. – Eu não sei se eu tenho algum aqui, acho que não, eu estou com a

pastinha de Estrela, mas eu tirei as avaliações. O instrumento de

avaliação é um instrumento padrão, mas ele tem nuances um pouquinho

diferente do I, II, III e IV. O Módulo Introdutório I e II, Avaliação I e II, e ai

têm algumas questões fechadas e algumas questões abertas que o agente

pode opinar, “qual é a parte mais importante?”, “o que ficou para ti da

formação?”, “o que tu sugere para a formação”, “criticas sobre a

formação”, enfim, esta aberto para poder abrir e criticar e os formadores

fazem uma síntese disso. O que nós percebemos que muitas das temáticas

do dia a dia, eles apontam como coisas positivas e boas e que fazem a

diferença nas formações, por exemplo: avaliação. Nota-se que o tema

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avaliação, o agente não trabalha só a questão teórica da avaliação, mas

trabalha o sentido e o significado que se dá para avaliação e quando pensa

no momento de avaliar ele vai qualificar o seu trabalho e vai melhorar o

trabalho. A partir deste exercício de avaliar o seu trabalho ele passa a

enxergar diferente a avaliação, senão para que serve avaliar? Outros falam

do planejamento, outros falam da elaboração de projetos, outros falam do

modo diferente de como começou a enxergar o esporte, outros falam que

nunca tinha pensado no tema cultura dessa forma. Esses conteúdos, a

formação ajuda as pessoas a pensarem a refletirem sobre aqueles

conteúdos naquele momento. E uma coisa que surge muito e aparece

muito e é um dos itens mais citados, “passou muito rápido a formação,

precisamos ter mais horas”. E olha, pensar que se faz uma formação em

trinta e duas horas é bastante tempo, em quatro dias, oito horas por dia.

E as pessoas dizem isso, “alguns conteúdos foram rápidos”, “precisamos

ter mais aulas praticas”, isso é a questão clássica das formações,

“precisaríamos ter mais aulas práticas, atividades práticas”. E não cabe,

não tem como encaixar muitos momentos com atividades práticas. Tem

formador que nem trabalha a atividade prática e ai vai um pouco de cada

trabalhar as formações. Eu não gostaria de participar de um curso, de

uma formação para trabalhar com um público de agentes sociais de

esporte e lazer e ficar trinta e duas sentado ouvindo ou simplesmente

trocando ideias, acho que em algum momento a gente tem que interagir

tem que realizar atividades práticas. Eu não abro mão, pelo menos um

turno das formações do Modulo Introdutório I, Introdutório II e quando

solicitado Avaliação, porque O Ministério não aponta nas diretrizes das

formações dos módulos de avaliação a realização de atividades práticas.

Outros exemplos de diretrizes: as visitas técnicas tem que ser feita no AVI

e no AVII não precisa. O Ministério não exige que eu coloque atividade

prática, o Ministério não exige que eu coloque dinâmicas de integração,

que eu inclua dinâmicas para eles, no entanto, quer que eu desenvolva o

conteúdo com aquele referencial teórico e com aquela política pedagógica.

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É isso. Como eu vou rechear isto, que estratégias serão utilizadas é

responsabilidade de cada formador.

P.J. - E de uma forma geral o que tu destacarias do PELC? Do programa

de maneira mais abrangente.

G.T. - O PELC é um programa social humanizante. Eu acho, eu acho não,

eu penso do PELC um programa que qualifica a vida a relação das

pessoas, é uma pena que poucos enxerguem isso, especialmente os

Governos de maneira geral que não destinam muitos recursos para isso,

não vou entrar nem naquela discussão "olha, vamos investir um real...”

não é nem esse o papo “ vamos investir um real no Esporte e no Lazer que

ai é cinco reais a menos na saúde”, não precisamos nem entrar nessa

discussão, nem precisa entrar assim “é saúde”, saúde vem a reboque, é

condição inerente o praticante de atividade física não exagerada, porque é

exatamente isto, tu fazer uma atividade física ou praticar qualquer

atividade física moderada vai te trazer benefícios fisiológicos. Eu penso o

PELC com outro olhar, que é uma maneira de as pessoas romperem um

pouco aquela lógica que a gente vive hoje cada vez mais egoísta, cada vez

menos olhando para os outros, olhando só prá si. Acho que o PELC ajuda

um pouco a construir essas novas relações e eu digo para os agentes:

“olha, o PELC é uma oportunidade da gente mostrar para as pessoas que

existe uma outra forma de se relacionar, especialmente quando trabalha

com crianças e adolescentes que não é aquela forma agressiva, aqui no

PELC todos tem lugar, todos tem vez, todos são bem vindos, isto não

significa “oba, oba” no trabalho dos agentes.

[INTERRUPÇÃO DE GRAVAÇÃO]78 .

G.T. – Eu penso isso do PELC, que o PELC é uma oportunidade boa de

mostrarmos para as pessoas que existe uma forma diferente de se

78

Entrevistado atende o telefone.

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relacionar, mais humana, mais alegre e que bom que temos esse

instrumento para poder trabalhar isso. Eu sempre digo que me sinto

privilegiado de trabalhar eu um programa desses, porque, imagina quem

trabalha de Assistente Social que drama deve ser, trabalhar com o

dramalhão, com a doença, não só com a doença física, a doença

emocional, a doença da violência. Nossa! Então eu acho que o PELC ajuda

a minimizar um pouco as agruras da sociedade e das pessoas. Isso é o

PELC, acho que é uma política que está muito longe de ser uma política

universal, que deveria ser universal, mas está longe de ser por várias

razões uma delas que eu vejo é que, normalmente, os gestores municipais

não enxergam, não dão importância. Não vamos longe, olha o nosso

Governador aqui no RS, primeiro ato dele “vamos enxugar a máquina

administrativa”, qual que ele enxugou? Enxugou a Secretaria de Esporte e

a Secretaria de Políticas das Mulheres, e depois não enxugou mais nada,

ele ia enxugar a Cultura, não enxugou. Ele vai reduzir a máquina. O que

ele faz? Extingue a FUNDERGS79, já demitiu todos os funcionários que

eram contratados, tinha mais de quarenta, já demitiu, os que vão ficar são

só os CCs80. Então, poxa vida, nós estamos falando de um momento em

que o nosso país, ano passado teve a Copa do Mundo aqui em Porto

Alegre, ano que vem temos Olimpíadas. Mas ao mesmo tempo temos

Municípios no interior, municípios pequenos que e conseguem perceber a

importância do esporte e lazer e mesmo depois que o convênio com PELC

termina, conseguem, não mantê-lo na sua estrutura e com todos os seus

agentes, mas consegue manter essa política, então, temos um caminho

longo pela frente.

P.J. - E no que diz respeito ao papel da inclusão social do PELC, tu

acredita que ele vem cumprindo de uma forma mais positiva ou esta em

processo ainda?

79

Fundação de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul. 80

Cargos de Confiança.

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G.T. - Eu acho que a gente está avançando nisso, mas eu diria que nós

estamos longe do razoável, até porque é um programa de abrangência

nacional. O PELC, nossa, permite uma possibilidade de inclusão e eu vou

transferir o que eu tenho ouvido muitas vezes, como eu falei para vocês,

quando eu vou para as visitas eu não vou só para olhar e para falar com o

professor, eu vou para olhar, falar com o professor na formação, mas para

falar com as pessoas beneficiárias e lideranças comunitárias, também. Eu

quero ouvir delas o que elas estão achando do PELC, como elas enxergam

o PELC mesmo, se elas têm noção do que elas estão fazendo. E nós

ouvimos muito, especialmente de adultos e idosos “nossa, a minha vida

mudou completamente, passei a conhecer mais pessoas, passei a não

tomar mais remédios para a minha depressão, eu era uma pessoa

deprimida”. Isso eu ouço sempre em todas as formações, agora eu vou

para Estrela e vou ouvir de novo isso. Eu fazer a seguinte pergunta aos

beneficiários durante as visitas pedagógicas: “o que mudou na vida de

vocês depois que vocês passaram a frequentar as aulas aqui?”

Especialmente para os adultos. As crianças talvez não consigam abstrair

isso, mas os adultos conseguem, e o idoso. “Mudou?”. “vocês estão se

limitando a se encontrar com as pessoas só aqui ou em outros momentos

também?”, “ aqui a gente vem, mas além daqui a gente está se

encontrando fora, estamos nos encontrando em outros momentos,

estamos fazendo laços de amizade”. E isso vai ficar não é gente?

Entendeu? Que é isso que fica. Se acabar o PELC esses laços de amizade

vão continuar, então acho que o PELC ajuda muito nisso. Ele como um

Programa Federal, de abrangência nacional está muito longe.

L.M – Gilmar, posso te fazer uma pergunta? Gostaria de saber. Tu és um

formador? Dessas unidades todas que tu fez, vamos supor, em Santa

Maria, Feliz, esses lugares todos que tu visitou e tu fez essa formação para

esses agentes, tu tens notícia de que essa tua formação em algum

momento, alguma deu errado? Que alguma não teve esse resultado efetivo

que o PELC propõe? Que o Governo Federal com esse programa propõe

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para as pessoas? Em alguma dessas regiões que tu já visitou, que tu saiba

ou que tu tenha noticia. Porque às vezes o programa nem sempre é

perfeito, às vezes ele não consegue atingir e por uma questão política, uma

questão de convênio, alguma uma questão de assim. E eu gostaria de

saber se tu sabes disso e como o programa intervém diretamente quando

há esta questão que não consegue atingir o objetivo?

G.T. – Eu sei... Bem prático, eu conheço dois municípios aqui da grande

Porto Alegre inclusive, em que eu fui formador, tiveram problemas. Um

deles o Ministério não renovou o convênio, porque percebeu que... E a

gente percebia, nas formações quando se fazia as visitas pedagógicas que

o trabalho não era articulado. Eu vou te dar um exemplo, eu fui a um

município que na época estava programada a visita do formador em uma

associação comunitária para uma atividade. Cheguei lá neste local junto

com o Coordenador Geral do Município, mais duas pessoas da Prefeitura.

Chegamos naquele local, o espaço estava fechado e nem sequer o

coordenador de núcleo estava presente, chegou muito depois sem a chave,

ou seja, não acessamos o local, então eu te pergunto: não esta evidente

que não havia trabalho ali? Não está evidente que não tem articulação

nenhuma ali? Bom, o resultado disso é que o Governo Federal... poderia

reovar o convênio, não o fez , porque era um convênio do PRONASCI e a

possibilidade de uma renovação automática, renovação não é o termo

correto, mas sim novo convênio, não ocorreu. Em um outro município

também, e é um município que eu faço questão de dizer que era um

município que o prefeito era do mesmo partido do Presidente, ou seja, do

PT, o convênio foi interrompido, tiveram que devolver o dinheiro, então

existem essas coisas também. Esses exemplos são de município em que

eu fui formador, mas tenho conhecimento de outros estados, do Rio

especialmente, que as pessoas tiveram que devolver o dinheiro, e muito

dinheiro, porque não deu certo, ou porque gerenciaram mal, ou não

trataram com seriedade, várias razões. Problemas desde pegar dinheiro

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para contratar pessoas porque foram amigas de um político tal, então

essas coisas acontecem, entre outros problemas.

P.J. – E na tua opinião o que poderia ser feito hoje no projeto para que ele

pudesse se qualificar um pouco mais?

G.T. – Bom, o convênio tem alguns gargalos e que são complicados. Eu

não sei se é possível dentro da legislação, se é possível fazer isso. Eu falei

no termo renovação, não existe renovação. E eu percebo, noto e o

Ministério também sabe disso, que em alguns municípios o PELC é muito

bom, que eles mereceriam ter uma continuidade, um aporte financeiro

para dar continuidade no programa, no novo convênio. Isso não ocorre,

essa possibilidade não existe na velocidade que seria necessária para

evitar interrupções entre um convênio e outro, no mesmo município.

Deixa eu só voltar um pouquinho antes disso, o Ministério pensa, ele

sabe que não tem recursos para todos os Municípios para desenvolver o

PELC, então o que tem como uma de suas premissas? É que com a

implantação do PELC e o conveniamento do PELC a gente consiga

mobilizar, eu digo a gente porque eu também sou parte disso, que a gente

consiga mobilizar os gestores locais e as comunidades sobre a importância

e a necessidade de assumir o PELC como política pública local, ou seja,

que o prefeito consiga enxergar isso e consiga gradativamente colocar no

seu orçamento e municipalizar o programa. Alguns Municípios

conseguem. O Ministério está preocupado com essa realidade e percebe

que precisa mais tempo de convênio e por conta disso passou de dez

para doze, quatorze, vinte e quatro meses para dar mais tempo e mais

recurso para que o município se organize e possa incluir no orçamento

municipal os custos do programa. Em minha opinião e na opinião do

Ministério, mesmo que tivesse um segundo conveniamento para dar

continuidade, e isso não é fácil de resolver administrativamente, ou seja,

ao concluir um convênio e retomar imediatamente um novo, demora

muito tempo, as vezes demora quase um ano, então, ficar quase um ano

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parado, o trabalho fica completamente desarticulado. E a gente sabe que

trabalhar com comunidade, articular é difícil, desarticular é muito fácil,

rearticular é mais difícil ainda. Esse é um dos gargalos dessa renovação,

isso é um dos problemas. Bom, eu acho que o outro problema é essa

grande dificuldade financeira de poder expandir o PELC para vários locais.

E o que mais eu acho que poderia ser? Bom, eu acho que esse é o maior

problema do PELC: o excesso de burocracia. Burocracia para liberar o

dinheiro, para liberar o recurso, por conta da legislação de aplicação de

recursos. As Universidades Federais devem vivenciar isso e têm

dificuldades, esse problema para os municípios fica ampliado para a

terceira ou na quarta potência. E também, os municípios pequenos tem

dificuldade de acessar o Ministério, é muito difícil. Tem município que

acaba desistindo do recurso, não consegue captar o recurso porque não

consegue entrar no SICONV81, não consegue se apropriar do SICONV,

não consegue dar conta da parte burocrática, enfim, esse mais dos

problemas enfrentados no PELC.

P.J. – Gilmar, tem alguma coisa que a gente não perguntou e tu gostarias

de comentar?

G.T.- Não, nós falamos bastante não é [risos]? Eu acho que o PELC é uma

política pública que qualifica a relação das pessoas, hoje, é uma política

pública muito séria, administrada e gerenciada por pessoas muito sérias,

tanto do Ministério com a Ana Elenara, não dá para falar de todo o

Ministério porque eu conheço pouco as pessoas que, atualmente, estão

gerenciando o Ministério, muitas pessoas mudaram, quanto da UFMG

que tem uma equipe muito seria e qualificada. Quando uma política

pública é tratada com seriedade, como ela vem acontecendo, a chance de

ela dar certo é maior. Mesmo entendendo que ela perdeu espaço, e quando

eu digo que ela perdeu espaço é porque ela perdeu espaço de poder dentro

do Ministério, mas perdeu também espaço financeiro e política pública

81

Sistema de Convênios.

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não se faz sem recurso, aliás, não é que não se faz sem recurso, não se

faz. Porque para desenvolver uma política pública, precisamos de três

alicerces, três pilares: o recurso financeiro, humano e infraestrutura.

Então, se tu não tens um dos três, não vai implementar uma política

pública. Não adianta ter o recurso humano e não ter a infraestrutura, ou

não ter o recurso financeiro. E hoje o PELC está, digamos, ele está

magrinho perto do que ele já esteve. Tomara que esse novo Ministro... Ele

apontou e o novo secretário apontou, também, que estão muito

impressionados com a abrangência do PELC. E eu acho... Não acho, tenho

certeza disso: o PELC é um Programa de abrangência social inigualável,

especialmente o PELC Urbano. Ele atinge a criança, o adolescente, o

adulto, o idoso e procura atender também as pessoas com necessidades

especiais. Esse é um gargalinho que a gente também não consegue dar

conta. Tem o PELC para Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais,

tem também o Vida Saudável que abrange só idoso acima de cinquenta

anos. Outros programas do Ministério, como por exemplo, o Programa

Segundo Tempo é legal, mas trabalha com uma camada da população. O

Programa Segundo Tempo Universitário, também, atua com uma camada

da população. Esse programa, o PELC, a meu ver atinge todos, é um

programa universal, e eu não conheço mas, pode ser que tenha um

programa tão abrangente e tão universal quanto o PELC. Ele abre várias

possibilidades, não é só esporte, não é só trabalho manual, não é só

musica.

P,J. – Era isso Gilmar. Leila queres perguntar mais alguma coisa?

L.M. – Não.

P.J. – Então era isso por gostaria de agradecer, dizer que a gente vai voltar

e que o Centro de Memória está à disposição.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Joana Lessa Fontes Silva

Entrevistado: Joana Lessa Fontes Silva

Nascimento: não informado

Local da entrevista: Universidade Federal de Minas Gerais

Entrevistadora: Jamile Mezzomo Klanovicz

Data da entrevista:

Transcrição: Jamile Mezzomo Klanovicz

Copidesque: Pamela Joras

Pesquisa: Pamela Joras

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Formação; Temática do lazer; Como se envolveu com o PELC; Círculos

Populares; Preparação para ser formadora; Atribuições como Articuladora;

Diferenças de planejamento nos PELCs; Organizações das formações;

Estratégias metodológicas; Resultados núcleos e agentes;

Acompanhamento aos núcleos; Processo de municipalização; Experiências

que marcaram; Melhorias para o programa.

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Belo Horizonte, 20 de novembro de 2015. Entrevista com Joana Lessa

Fontes Silva a cargo da pesquisadora Jamile Mezzomo Klanovicz para o

Projeto Memórias do PELC.

J. K. – Bom dia Joana!

J. S. – Bom dia Jamile!

J. K. – Agradeço a tua disponibilidade por estar cedendo esta entrevista. E

gostaria que tu iniciasse contanto um pouco da tua formação.

J. S. – Eu sou licenciada plena em Educação Física pela Universidade de

Pernambuco, uma Universidade Estadual, sou mestre em Sociologia pela

Universidade Federal de Pernambuco e sou Doutora em Sociologia pela

mesma Universidade, a Federal de Pernambuco.

J. K. – E como que a temática do lazer apareceu na tua trajetória?

J. S. – Então, na verdade o lazer ele vem lá desde a graduação, porque eu

participei do movimento estudantil, lá na Escola Superior de Educação

Física de Pernambuco e naquele momento, era um momento muito

efervescente de discussão das políticas públicas, então, tinha um grupo

muito atuante discutindo o direito ao esporte e lazer, e como ele deveria

ser materializado enquanto política pública, e como parte do movimento

estudantil nós fomos chamados naquele momento a contribuir com os

companheiros que estavam discutindo em Recife isso. E que era um grupo

muito atuante que também já tinha vindo do movimento estudantil de

Pernambuco lá da Educação Física. E que a partir da entrada do PT no

governo municipal, na prefeitura, eles tiveram um espaço que era a

diretoria geral do esporte, para levar projetos, levar uma proposta de um

projeto específico que se chamasse Círculos Populares de Esporte e de

Lazer para dentro da prefeitura de Recife, e aí nós do movimento

estudantil fomos chamados a contribuir desde o início. Então nós fomos

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fazer arrastão do lazer, em uma comunidade de assentamento, de

movimento sem teto, depois participamos dialogando com o pessoal na

proposição, antes mesmo de já estar no governo, e nesse âmbito de

estagiária mesmo, é que eu participei de um projeto piloto em Brasília

Teimosa com um grupo de idosas em que era exatamente esse estudo,

vamos dizer assim, de como é que a gente deveria trabalhar com esse

direito do esporte e lazer na prática, o que é que isso significava, e aí a

gente já trazia algumas experiências que os colegas tinham acumulado

junto a esses espaços que estavam muito efervescentes, então, tinha o

seminário de políticas públicas, esporte e lazer que estava acontecendo

muito naquele momento, tinha experiências municipais que já estavam

em curso, eu não sei te precisar bem, porque naquele momento eu não

tinha consciência que eu tenho hoje, eu consigo olhar para trás e me

localizar, mas naquele momento eu ainda não estava tão atenta a essas

coisas, então eu não sei precisar algumas coisas com muito detalhamento,

mas eu lembro que o grupo foi para o seminário de Caxias do Sul, o

seminário de Políticas Públicas, então era um momento muito

efervescente. E a partir desses movimentos nos Círculos Populares é que

daí em diante o lazer foi continuando a me... [risos].

J. K. – E como iniciou o teu envolvimento com o PELC?

J. S. – Então, tem uma forma direta e uma forma indireta [risos]. Do ponto

de vista mais direto, eu iniciei meu vínculo com o PELC, eu acredito que

em 2008, que foi quando eu assumi em Formadora a partir de um

chamado, eu não lembro ao certo se foi um chamado ou um edital, meio

que uma convocatória, eu não vou lembrar ao certo o que é que foi, mas

foi quando juntou o que a gente chama de os Grupos dos Setenta e Sete.

Então eu participei como Formadora do PELC, e aí fui me engajando,

passei acho que eu fiquei 2007, 2008, aí como eu tinha bolsa de Mestrado

na época eu me desliguei, porque começou a funcionar como bolsa, e

depois fiz uma seleção para consultora regional, passei no Nordeste e

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agora estou como Articuladora regional. E de forma indireta, porque o

PELC ele emerge, na verdade, dessas experiências anteriores que eu já

tinha tido, que a gente sempre fala “Belém, Recife e Porto Alegre, são as

cidades que inspiram o PELC”, e a gente em Recife fazia convênios com o

Ministério do Esporte através do PELC, para colocar os Círculos Populares

em ação, porque na verdade a diferença entre os dois projetos estava

muito mais ligada às especificidades locais, do que propriamente uma

diferença de projeto. Então os Círculos Populares, mesmo os Círculos

tendo surgido antes do PELC, mas ele era o nosso PELC de Recife vamos

dizer assim. E tinha esse vínculo institucional com o Ministério do

Esporte.

J. K. – Certo! E tu poderias falar um pouco mais sobre o que seriam esses

Círculos Populares?

J. S. – Sim, os Círculos Populares do Esporte e Lazer foi um projeto

municipal, na verdade foi um grande projeto que se tornou programa e

voltou projeto, que orientou as políticas públicas de Recife, então, como

projeto ele estava muito pautado nos Círculos de Convivência, então

semelhante ao PELC, nós difundimos, nós íamos para as comunidades

criar núcleos de esporte e lazer e aí levando atividades variadas,

discutindo com a comunidade, apresentado o projeto, implantando, uma

série de coisas. A experiência de Brasília Teimosa foi muito interessante,

inclusive, porque nós chegamos lá a partir de uma demanda que estava

colocada, ao mesmo tempo, no orçamento participativo que tinha indicado

para a gente aquela área, como uma área de intervenção, que estava se

solicitando, e, a partir das lideranças políticas naquele momento que

colocavam que queriam uma atividade da prefeitura lá, e aí a gente vai,

então, conhecer Brasília Teimosa, fazer porta a porta, a gente vai

apresentar no Conselho de Moradores o projeto, discutir se aquele projeto

efetivamente iria para lá, então reunião com as lideranças comunitárias,

eu lembro muito claramente assim, uma reunião com a liderança

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comunitária em um Teatro que nós temos lá, o Teatro Barreto Júnior e

quem estava à frente naquele momento era Jamerson Almeida, que é um

dos... Digamos que um dos pioneiros lá em Recife, que estava à frente

deste processo. E aí, a partir disso, eles topam o projeto e a gente começa

a ter oficinas de cultura corporal, ou seja, vários conteúdos para os

idosos, e aí é um trabalho muito bacana, porque era ao mesmo tempo,

lidar com as expectativas que estavam sempre colocadas para o idoso, que

é de fazer algum tipo de exercício físico com a possibilidade de

efetivamente conhecer a cultura cultural, e aí era muito gostoso, porque a

ginástica, por exemplo, ela não se limitava a Ginástica Localizada então a

gente foi levar a Ginástica Olímpica, a Ginástica Artística, e todo mundo

“mas, como é que os idosos vão fazer Ginástica Artística?”, aí elas faziam

velinha, coisas bem elementares, mas que traziam para esse grupo, além

do exercício físico, como conhecimento real, delas dizerem “viu, tá vendo,

eu já fiz Ginástica Artística”, não é no nível do rendimento, mas tem toda

uma apropriação. E aí depois, além disso, na verdade paralelamente, as

coisas não são muito sequenciadas, iam se estruturando ações para as

diversas problemáticas que estavam lançadas, então teve a criação do

Esporte do Mangue e era voltada para a juventude, principalmente, a

juventude radical que tinha uma demanda muito forte na cidade, porque

sofria muito com a repreensão policial, com os estigmas. Tinha outro

projeto que era sobre o futebol de várzea, que era outro grupo muito ativo

que de forma geral era recebido nas políticas públicas a partir de moeda

de troca, e eles mesmos só sabiam fazer isso, eles só sabiam ir para a

prefeitura pedir medalha, material e dinheiro, e aí a gente conseguiu

construir com eles uma outra relação, então, a gente construiu um

campeonato que era todo discutido, e lógico todas as resistências, todas

as dificuldades, mas era exatamente esse processo de construir uma

cultura nova, uma cultura de participação, que era diferente para os

projetos e aí ia se criando outros elementos, a formação que era muito

importante para a gente nos Círculos, nas verdade era isso que

estruturava a possibilidade da gente efetivamente conseguir dar conta

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desse desafio, e as pessoas terem muito claro o que era criar essa cultura

diferente, cultura de participação, cultura lúdica, o que era pensar o

esporte e lazer de uma forma diferente.

J. K. – E como que ocorreu a tua preparação para se tornar formadora?

J. S. – Então, na verdade, eu me torno Formadora exatamente por essas

experiências dos Círculos Populares, então, por causa dessa experiência a

gente vai para a formação do PELC com muita tranquilidade, com muito

conforto, que era expandir a experiência que a gente já tinha vivido

localmente para ir para o PELC agora, e eu lembro que as nossas

formações, eram formações bem pancada, assim, era Pablo Aschmann,

Gramisc, Paulo Freire, Pistrak, então, e aí eram formações que a gente

tinha que ler os autores, a gente tinha que discutir, a gente tinha que

refletir sobre isso, e tentar e fazer as relações, o coletivo de autores estava

muito na base das nossas reflexões e era muito isso, e ter contatos

também com as experiências que estavam colocadas, como mais

avançadas, como por exemplo, o Teatro do Oprimido, a gente fez oficinas,

a gente trouxe vários colegas da Educação Física para dialogar com a

gente sobre o que estava sendo proposto naquele momento sobre esporte,

sobre dança, sobre lazer, então era um processo de reflexão bem bancada

[risos].

J. K. – E hoje, quais seriam as tuas atribuições como Articuladora?

J. S. – Como Articuladora, eu preciso dizer que eu morro de saudades de

ser Formadora, porque Formadora tem uma relação, assim, com a prática

“né”, com os convênios, com as cidades, que é muito diferente e é muito

gostosa. E eu lembro com muito carinho das várias formações que eu fiz

dentro do PELC, e inclusive, nesse desafio de criar estratégias para colocar

a perspectiva de construir junto, em prática. Como Articuladora hoje, a

gente fica mais nesse papel de tentar aprimorar, não sei se é aprimorar,

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mas de dialogar, de orientar essas questões pedagógicas que hoje estão

sob o comando da UFMG em parceria com o Ministério do Esporte, então,

a partir dessa construção que é feita dentro do grupo que está lotado aqui

na UFMG buscando contribuir, a gente se volta para orientar os

programas, para discutir o embasamento que está sendo dado

pedagogicamente para as ações, aqui nesse encontro, por exemplo, a gente

está com uma reflexão muito grande sobre a questão da educação

popular, então, como é que essa discussão da educação popular foi se

perdendo, um pouco, ao longo do tempo pelas demandas mesmo que

estão colocadas pelo projeto, demandas técnicas, demandas políticas, e

etc. Então a gente hoje está fazendo uma retomada, uma volta, opa, o que

é que ficou, o que é que precisa se reatualizar, e a gente vai construindo

um pouco junto na verdade, essa articulação, porque a gente tem um

grupo de Articuladores muito experiente, então, o Articulador ele não tem,

ainda que não tenha, como não ter um processo hierárquico, por causa do

nível de responsabilidade, mas ele se coloca mais em um papel

colaborativo, de orientação, de organização das atividades do PELC, e de

tentar olhar para os documentos que a gente está criando, e extrair

algumas informações que nos ajudem a avançar.

J. K. – E como que as tuas experiências como Formadora contribuíram

para essa tua função atual?

J. S. – Decisivamente, decisivamente, ser Formadora foi poder conhecer a

minha própria realidade, eu tive a alegria tanto como Formadora como

Consultora, no primeiro momento, de estar lotada no Nordeste que é a

minha região, e de com isso conhecer a realidade mais... Vamos dizer

assim, porque precária não é um nome que engloba o todo, porque tem a

precariedade, mas tem as singularidades das questões nordestinas, e aí o

interior do Piauí, o Maranhão, o interior do Rio Grande do Norte, Ceará,

Paraíba, Aracajú, acho que o único estado que eu não fui, foi a Bahia, não

fui para nenhuma cidade, mas os outros estados eu fui para algumas

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cidades e pude ter esse contato com a realidade local, esse contato com...

O que as pessoas efetivamente pensam, querem, estão vivenciando para o

bem e para o mal. Para o bem, no sentido que tem os seus modos de vida

que são muito próprios, e para o mal que a “TV” consegue chegar aonde

Deus não chega [risos], pra ser uma pouco radical. Então, a construção de

uma cultura hegemônica, homogênea ela está muito forte, ela choca com a

construção do PELC, e aí esse para mim é um grande desafio. Eu lembro

que eu fui para Assú no Rio Grande do Norte, estava como Consultora

nesse momento, e a gente fazia... Eu fazia uma reflexão com um grupo lá,

um grupo de futebol que tem em todos os PELC, eu acredito, acho que não

no Vida Saudável, mas o PELC sempre vai ter uma turminha de futebol, e

eu dizia “ai que legal, vocês estão vivenciado futebol, futebol não, futsal,

porque era em uma quadra... Vocês estão vivenciando futsal, mas vocês

tem um desafio que é criar o futsal de Assú, então vocês precisam

conhecer tudo do futsal, como ele está sendo trazido para vocês, mas o

desafio é a partir desse conhecimento criar o futsal de Assú, porque tem o

futsal que vai ser de Assú e de nenhum outro lugar”, então essa precisava

ser a diferença, e aí falando sobre isso eu lembrei da minha primeira

formação que foi muito marcante, foi em Campina Grande com o SESI, e

aí assim o sistema “S” ele tem uma grande contribuição no lazer, mas Do

ponto de vista muitas vezes da forma como, ele se estrutura na sociedade,

a gente fica, digamos, sem imaginar como vai ser o processo, aí o PELC de

Campina Grande era uma parceria do SESI com o Ministério do Esporte,

que naquele momento ainda fazia convênios com outras instituições que

não fossem, necessariamente, prefeitura e governo do estado. O que

infelizmente isso não pode mais ser feito. E aí, eles solicitaram o PELC,

mas eles entraram com um primeiro desafio, que era: as atividades do

SESI são só para o pessoal que tem relação com a indústria, relações

familiares e tal, e são pagas, uma taxa menor, mas são pagas, e aí eu

chegava lá para dizer “não, o PELC não pode ser pago, e o PELC não pode

restringir só as famílias dos industriários”, eles deitaram, “e agora?”

[risos], “o que a gente faz, onde fomos nos meter?” [risos], mas foi muito

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gostoso, porque o grupo que foi colocado naquele momento, era um grupo

muito disposto, e disposto inclusive a refletir. E aí eu lembro que quem

ganhou o apelido da época, que eu não sabia se era ótimo ou se era

péssimo, era as duas coisas, porque se é as duas coisas você anula. Era

de uma coordenadora fantástica lá da Bahia, que dizia “Joana, você é uma

palavra cruzada nível difícil” [risos], “você está trazendo muita coisa nova

para a gente, e a gente está tentando entender e estabelecer essa relação”,

só que acho que o trabalho... Eu acho que o ótimo está apontado no final,

porque eu tive... Eu acompanhei os três módulos, aliás, eram dois

módulos na época, que era módulo introdutório e avaliação. E aí, o

módulo de avaliação nesse desafio de construir junto, eu queria que eles

participassem mais, aí eu enviei uma carta para os coordenadores,

dizendo “que a gente iria começar a construir o processo e que queria

muito a participação deles, e queria que eles respondessem algumas

perguntas, aí eu perguntava quais eram as expectativas em relação à

formação; o que é que eles gostariam que tivessem contemplados e tal” e

eles responderam, e a partir das respostas deles, eu construí a

programação. Aí quando eu construo a programação que mandam aí eles

“Joana...”, me mandam de volta “Joana, fizemos algumas modificações,

considerando algumas reflexões, inclusive, que você fez com a gente”, no

segundo dia da formação, nós estamos garantindo a ida a uma fazenda

que vamos ter banho de piscina, vamos ter diversas atividades, já que

você nós falou que o esporte e lazer são um direito, e não são um direito

só da comunidade, são um direito também dos agentes sociais” [risos], era

um argumento “né” [risos]... Isso significa que o meu trabalho tinha dado

certo [risos], até o ponto, que a argumentação para se fazer todo um

processo de lazer com os próprios agentes, estava dada, passava pelo

direito, e foi muito bacana a gente fazia as oficinas nessa fazenda, a gente

dormiu na rede embaixo da árvore, e por ser a Formadora todo mundo tira

foto “olha a Formadora dormindo embaixo da árvore!”[riso], e daí foi muito

gostoso a formação com eles, e das próprias alternativas, e perspectivas

que eles criaram para lidar com essa outra realidade, que era a realidade

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deles, que era a realidade de SESI, não era uma realidade de ONG, não

era realidade de prefeitura e tal, então foi muito bacana e aí assim, essas

vivências é que me possibilitaram acessar ao PELC de um outro olhar.

Porque eu acho que se eu não tivesse tido essas vivências, esse contato

com a realidade, seria mais difícil para mim, me manter em uma

perspectiva de tentar garantir que a realidade local seja, efetivamente, a

prioridade, seja efetivamente, este elemento que precisa flexibilizar, do

técnico ao político e ao pedagógico. É algo que eu tenho uma... Tem uma

poesia do Drummond que todas as formações eu levei, inclusive com a voz

dele que é linda, que é Mãos dadas, e que ele fala bem isso, “o meu tempo,

é o tempo presente, ainda que eu considere o futuro e o passado, o meu

tempo é o tempo presente”, então é muito isso, como é que a gente lida

com o hoje, mas também nesse diálogo com as coisas que estão se

perdendo a partir das contradições desse hoje, a partir dar contradições

que estão sendo colocadas nesse presente.

J. K. – E quais seriam as diferenças nos planejamentos das formações

entre o PELC Todas as Idades, o PELC Povos e Comunidades Tradicionais

e o Vida Saudável?

J. S. – Então, do ponto de vista ideal ou do ponto de vista real? [risos]. Do

ponto de vista real, eu acho que a gente está em um processo de

construção dessas diferenças, porque o PELC ele surge em uma

perspectiva de todas as idades, exatamente, tentando abarcar essa

dimensão mesmo universalizadora, que é uma das diretrizes do PELC, e

ele abrange o Vida Saudável por uma demanda, que vai sendo posta

naquele momento que é esse trabalho com a pessoa idosa. Quando vêm os

Povos e Comunidades Tradicionais vem por uma demanda de articulação

política mesmo, então os Povos e Comunidades Tradicionais estão em

pauta política do governo no momento, e entram na agenda do PELC. Só

que daí, você conseguir fazer as devidas transposições para a realidade

tanto dos próprios... Cidades que devem receber os convênios, como de

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nós da equipe formadora, não é algo simples, porque, por exemplo, os

Povos e Comunidades Tradicionais eles sempre nos colocam em cheque. E

é uma reflexão que a gente fez aqui e que a gente tenta lidar ao máximo,

então, por exemplo, os Povos e Comunidades Tradicionais tem uma

dificuldade de relação histórica com as prefeituras, porque as prefeituras

tenderam historicamente a invisibilizar esses povos, porque as prefeituras

encaravam esses povos, como problemas e como atraso, só que hoje o

PELC só pode fazer convênio com instituição pública. Então, quando você

faz um Povo e Comunidade Tradicional com a prefeitura, você tem que

ralar para chegar efetivamente [risos] no Povo e Comunidade Tradicional,

porque a prefeitura tende a trazer ao seu centro. A mesma coisa, quando a

gente vai estar o contrário. Então você faz um convênio... Agora as

meninas agora estavam relatando, Campinas do Piauí, não Campinas do

Piauí é PST, mas tem outros convênios, deixa eu ver se eu lembro um

exemplo concreto, que é mais tranquilo. Quando você vai para... É não

estou lembrando um exemplo concreto, mas a gente tem muitos convênios

com cidades pequenas do interior dos estados, e que muitas vezes tem

esses Povos e Comunidades Tradicionais, mas eles próprios não têm esse

conhecimento e a gente tem que estar preparado para cavar um pouco da

realidade. E aí para a gente ver isso nos programas, termina muitas vezes

vindo a realidade que a equipe, digamos assim, que está colocada lá, os

coordenadores de forma geral, que a gente para fazer a programação tem

mais contato, os formadores diretamente e a compreensão que o formador

teve a partir da pesquisa que ele fez em relação aos locais, e aí tem a

questão do acumulo, as questões das diretrizes, então os programas eles

terminam dialogando muito com as questões dessa realidade. O Vida

Saudável que agora se emancipou, mas que para mim ainda é muito

PELC, é quem eu poderia dizer que trás diferenciais nos seus programas,

pela questão do envelhecimento mesmo. Então o tema do envelhecimento

que não tem como fugir, é independente, e que é algo que as nossas

diretrizes já apontam como uma necessidade de aprofundamento, mas a

gente está fazendo um esforço de tentar garantir, por exemplo, nos

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programas dos Povos e Comunidades Tradicionais a própria discussão,

pelo menos do marco legal dos Povos e Comunidades Tradicionais, da

questão de identidade e território, com elementos que precisam estar

colocados lá efetivamente.

J. K. – Hoje tu realizas alguma visita nesses núcleos?

J. S. – Não necessariamente, na verdade a visita ela é uma indicação

minha. Se tem algum convênio que identifico que tem alguma

problemática aí eu vou fazer essa visita, como consultora regional eu tinha

mais esse papel de visitar, hoje é menos.

J. K. – Sim. E na época que tu era formadora, como que tu planejava e

organizava as formações?

J. S. – Era uma delícia, então, como eu falei o exemplo de Campina

Grande, tinha um primeiro momento de pesquisa, muito grande sobre a

cidade, e aí a pesquisa ia desde os pontos de vista das questões mais de

informação, de conhecimento geral, quanto à população do município,

como eles se configuravam economicamente, se ele era mais rural ou mais

urbano, essas coisas. Mas... Também, e eu acho que principalmente, por

uma questão específica minha, as questões culturais e locais, e uma

orientação que o PELC também trás para essa questão da valorização da

cultura local. Então eu sempre procurava poesias que são de pessoas de

lá, músicas de artistas de lá, coisas que pudessem fazer, trazer esse

debate. E paralelamente, um contato com o convênio, que aí ia depender

do próprio convênio, então se ele já estava mais estruturado tinha um

contato com o coordenador, com a pessoa responsável no módulo

Introdutório, naquele momento, a gente tinha uma facilidade, comparando

hoje com a realidade que os formadores têm, porque como era uma

relação muito de fazer aquela formação, então a gente tinha toda uma

disponibilidade de colocada, então a gente conseguia mergulhar mais

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nessa coisa. E aí a gente ia dialogando com os responsáveis pelo convênio,

no sentido de estruturar, as algumas vezes conseguia que ele trouxesse

sugestões, outras vezes não. Já no Módulo de Avaliação, aí a coisa já toma

um pouco de forma, porque era quando a gente conseguia, efetivamente,

que as pessoas participassem, porque elas já tinham feito, as coisas

estavam em andamento. Então era dialogar sobre a programação, sobre o

que deveria ter, como foi o caso de Campina Grande, que eles

estruturaram muita coisa, era orientá-los sobre a questão dos relatos de

experiência, que coisas eles precisavam pontuar para estar presente, e a

partir disso, construir junto, então, essa programação, e também sempre

fiz questão, eu fazia meio que uma apostila, então eu pegava textos que eu

achava interessantes relacionados a cada diretriz, relacionado aos temas

principais, um pedaço do manual de implementação, e colocava “né”, fazia

um caderninho mesmo e levava, pedia para eles tirarem xerox, e aquilo

também era uma forma da gente se basear e eles terem um referencial

para acessarem sempre sobre o programa.

J. K. – E quais estratégias metodológicas tu costumavas utilizar?

J. S. – Tudo que tu imaginar, assim, eu lembro que eu usava desenho,

colagem, dinâmicas variadas, pintura a dedo, teatro, música, as próprias

oficinas esportivas, dança. E aí estava muito ligado também ao que tinha

no local, caça ao tesouro, adoro fazer caça ao tesouro ou caminhada

orientada, dependendo do lugar, se dá tempo de fazer uma [palavra

inaudível], dá tempo de colocar os prismas, trabalha muito com “slides”,

principalmente, com foto, tentando trazer a questão dá... Porque eu gosto

muito da reflexão que o Victor Mello faz sobre animação cultural, sobre a

educação de sensibilidade, então as minhas escolhas metodológicas

sempre passavam por isso, então não bastava para mim, falar, eu

precisava fazê-los sentir, então, essa era uma demanda muito forte para

mim, precisa fazê-los sentir no corpo, vamos dizer assim, alguns elementos

e esses elementos iam desde a desigualdade social, eu lembro que eu

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usava muito a Ilha das Flores, que era uma forma de colocar como ponto

de partida, corporalmente, essa desigualdade social. Tinha um outro que

eu achei também, que era uma grupo sobre os direitos humanos, Direitos

Humanos, a exceção e a regra, que também é muito bom, na verdade é

um curtazinho feito todo com fotos, que era... Na verdade era a divulgação

que eles construíram para uma série de curtas sobre direito humano que

foi realizado, e aí era muito bacana, participei do PELC Pronasci, então,

tinha discussão de juventude, e aí era fazer roda, era discutir com o que

existia naquele momento na cidade e os próprios conhecimentos dos

agentes, o que eles traziam de conhecimento para a gente refletir junto. Aí

teve várias coisas, depois eu mando os programas para vocês, eu tenho

tudo guardado, eu tirava foto dos cartazes, fazia um relatório final bem

contextualizado para mandar para o próprio convênio, tinha tudo, poesia,

música, todas as estratégias que fizessem isso, que fizessem as pessoas

sentirem, como o PELC deveria fazer sentir, acho que era um isso.

J. K. – E que resultados, tu consegues observar nos agentes e nos núcleos

a partir dessas formações?

J. S. – Então, era muito variado, porque é essa coisa “né”. Eu assisti uma

palestra agora a pouco do [palavra inaudível] falando da pesquisa ação, e

era a primeira coisa que ele dizia “participar é uma relação de escolha

também do sujeito”, então, quando os sujeitos se engajavam eles tendiam

a ter uma relação de emoção com o PELC, e aí os Módulos de Avaliação

tendiam a ser muito emocionantes por isso. Por que a gente fazia todo um

esforço do sentir e o sentir trazia muita emoção, e os resultados no

mínimo eram mais assistencialistas, vamos dizer assim, porque acho que

o primeiro ponto, a gente se sensibiliza e a gente se toca no sentido de

dizer “eu preciso ajudar, preciso fazer algo para ajudar!”, até uma reflexão

mais aprimorada de construção do direito social coletivamente, então a

gente ia de uma coisa até a outra, vamos dizer assim, então, a gente

percebia que alguns agentes pelo menos tinham essa sensibilização

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quanto à desigualdade social que estava instalada, e que o esporte e lazer

estavam fazendo parte daquilo, não era algo que estava desconectado

disso, até uma reflexão maior sobre a necessidade de políticas públicas,

de se estruturar o esporte e lazer dentro da cidade, de se buscar maiores

ações dentro das próprias instituições governamentais. Então tinha...

Tiveram várias, Maceió foi um exemplo belíssimo, uma ONG, era uma

ideia... O PELC ele foi na verdade... Sabe aquela coisa, a semente que já

está colocada? Aí você joga a semente, e a semente irriga, assim, faz uma

árvore linda, foi muito... A minha visão de Maceió, eu tenho um

videozinho para passar para vocês, foi muito disso, então eles

efetivamente criaram o PELC de Maceió, eles efetivamente deram a cara de

cada bairro e de suas contradições, desde os bairros mais engajados até

os que tinham uma dificuldade maior de politizar as reflexões, e aí eles

fizeram banda de latinha, eles fizeram... Eles conseguiram estruturar

vídeo, oficina de vídeo, se articular com um ponto de cultura que já existia

na região, fortalecer, criar, eles criaram o Festival lindo, integrando

diferentes núcleos, e aí tinha essa coisa do núcleo menos politizado, mas

participava junto com o mais politizado e as coisas iam formando relações

que a gente nunca sabe onde vai dar, e aí foi um trabalho muito bonito

deles saberem e deles questionarem o poder público. E aí eu lembro que

tinha Jaraguá, que eles conseguiram a partir do PELC fortalecer uma

liderança para ocupar a associação dos moradores, garantirem um ponto

de cultura para lá, e brigar por um território pesqueiro que estava sendo

disputado para a instalação de um “shopping” empresarial, alguma coisa

assim. E aí por muito tempo ainda a coordenadora me mandava “olha

Joana a gente está fazendo isso, as meninas estão engajadas”, e aí fizeram

uma exposição linda na nossa formação de avaliação, era eu e Diná na

época, então uma rede de pesca com as fotos, então se apropriava, se

apropriava dessa construção, mas a partir muito disso, se era uma

população que estava solicitando este direito, então, eles agarravam o

direito com todas as suas forças, outras populações que já não

precisavam, era algo a mais, então, não necessariamente, por vezes era

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vivenciar com muita alegria, mas não passava do vivenciar, então muito

dinâmico essa questão dos resultados, mas acho que a gente tem

resultados muito bonitos, muito bonitos, a partir exatamente... Acho que

essa coisa do engajamento, do envolvimento elas também cativa, por isso

que para mim é muito forte essa coisa do sentir. O outro ele também sente

o teu compromisso, e a tua disposição e ele se permite ou não se engajar

nisso, e não necessariamente passa por um processo de reflexão racional,

que precisa vir junto, mas que não necessariamente passa. Então é muito

legal!

J. K. – E tem algum acompanhamento dos núcleos após o fim do convênio

deles?

J. S. – Não!

J. K. – Não.

J. S. – Não tem, na verdade os PELCs que conseguiram ter continuidade,

algum tipo de renovação, alguma coisa, é que são experiências

acompanhadas, porque vieram renovando. Nem tem renovação “né”, mas

vieram conseguindo junto ao Ministério ter outra parceria, tanto que outra

coisa que mudou no PELC foi essa questão da duração, que era só um ano

e virou dois anos, pelo reconhecimento disso, tu não tinha como que o

direito arraigasse a cidade com um ano, com um ano as pessoas estão

começando perceber que aquilo parece ser importante para a sua cidade

[riso], então, quando a gente fala de sociedade, os processos... O tempo ele

é diferente, acho que era legal a gente criar um relógio social, assim, para

perceber que, a nível de sociedade, o tempo, ele é muito diferenciado,

muito diminuído, então, não, a gente não tem acompanhamento, no

máximo quem manteve algum tipo de relação com os convênios pode ter

um diálogo, mas não.

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J. K. – Não tem.

J. S. – Não, terminou com o PELC.

J. K. – Tu percebe que os núcleos tem obtido êxito no processo de

municipalização?

J. S. – “Es la question?” [risos]. Então, eu acho que do ponto de vista

institucional o esporte e lazer ganhou visibilidade, mas é complicado você

dizer que não avançado com a quantidade de secretaria, de diretoria que

se criou no Brasil inteiro. Então, do ponto de vista da institucionalização,

eu acho que no mínimo a gente gerou inquietação, e gerou inquietação que

essas políticas podem ser melhores e maiores do que eram, a maioria,

geralmente, inexistente. E aí, quando a gente vai para município pequeno

isso é muito forte, isso é muito forte. Por outro lado, acho que as questões

políticas, e aí, a situação que a gente viveu hoje no Ministério do esporte, é

um retrato disso, ainda fazem com que o esporte seja a necessidade não

básica, vamos dizer assim, a necessidade não básica que no final pode

ficar para depois, pode ser rifada de alguma forma por interesses políticos,

então, isso faz perder muito. Em Recife a gente teve esse processo muito

forte, principalmente, quando você tem um embate político forte, a

tendência é do grupo que vem, querer te fazer desaparecer, mas você não

consegue fazer desaparecer quando arraigou na cidade. Então, por

exemplo, uma grande sacada do CPEL foi ter conseguido se espraiar,

assim, na cidade e formar pessoas, os agentes sociais eles são

fundamentais. Na verdade se o PELC consegue deixar alguma coisa, é

pelas pessoas que ele forma, e aí é muito legal quando a gente volta para

algum convênio, ou conversa com algum gestor e aí você vê que os agentes

formados pelo PELC, estão no Segundo Tempo, estão no Projeto Cultura,

estão em tudo que é canto. Por que é isso, quando você forma as pessoas,

as pessoas vão dar continuidade aos processos, mas de um ponto de vista

mais institucionalizado ainda é uma moeda de troca o esporte e lazer, a

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gente ainda não tem uma pesquisa sobre isso, que seria legal a gente ter

esse retorno, mas do ponto de vista da minha percepção é isso, a gente

tem um impacto, acho que até indo um pouco com o que eu trabalhei na

minha tese, acho que a gente criou uma figuração social mínima, que as

prefeituras requerem, então, é muito difícil você ver uma prefeitura que

passa por um PELC ou outros projetos, que conseguem não fazer mais

algum tipo de projeto para o município. Isso não quer dizer, porém, que

ele vai estar sendo realizado do ponto de vista da sua politização, de não

ser algo só assistencial, só da atividade pela atividade, mas eu acho que

esse primeiro passo da estrutura do projeto, a necessidade de olhar para o

esporte e lazer, nesses... Acho que a gente está a doze anos com o PELC, e

essas políticas todas devem ter uma margem de quinze anos, e nesses

quinze anos acho que é o que a gente consegue fazer avançar, e aí

dependo das questões políticas, alguns municípios conseguiram,

efetivamente, institucionalizar o PELC, com alguma experiência similar e

outros não.

J. K. – E há algum núcleo que tu tenhas acompanho mais próximo, e que

está experiência tenha te marcado?

J. S. – Pois é eu acho que Campinas Grande foi uma experiência

marcante, essa experiência no SESI, Maceió foi uma experiência muito

marcante, devido a esse elemento. Tive a oportunidade de acompanhar na

minha própria cidade, o governo de Pernambuco e a Universidade Federal

fizeram um convênio na época e eu fui formadora. E aí o governo de

Pernambuco, nossa foi uma oportunidade fantástica de relação com o

meu próprio estado, e suas contradições, por outro lado, infelizmente, foi o

convênio que... Por essas questões políticas, nossa, sofrido [risos], difícil,

difícil, e você via, claramente, as dificuldades que eram colocadas, mas

agora assim, de lembrança e acho que são as que ficaram marcantes

mesmo, é o [palavra inaudível 48:54] lá de Maceió que é o [palavra

inaudível 48:56] e Campina Grande, acho que são os dois assim... O

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Lauro de Freitas também, apesar que foi o PELC Pronasci que... Eu não

lembro se eu fiz todos os módulos, acredito que não, mas também foi tudo

muito marcante pela diferença da própria constituição da cidade, era uma

cidade muito negra, e aí eu cheguei a ter sido... Do preconceito as avessas,

então a agente social, eu discutindo preconceito, foi dizer “o professora...”,

todo mundo refletiu, concordando e tal “o professora, mas tem o contrário

também, minha vó que me criou que era negra, ela me colocava em cima

do telhado para pegar sol para eu ficar com cor de gente” [risos], e é claro

que a gente sabe que é exceção, não é regra e a gente faz toda uma

discussão, mas eu lembro que isso me marcou muito forte, das

contradições que estão colocadas no próprio espaço e aí eu lembro que foi

um “uá”, todo mundo espantado e ao mesmo tempo rindo e aí eu tentei

exatamente mostrar para ela, que esse processo também é um processo de

resistência, é um processo de exclusão social que estão imposto aquele

grupo, mas foi assim, algo incrível. Eu acho que esses três são os que me

veem mais forte a memória agora, são os que... Tem Várzea da Paraíba

também, mas que aí depois eu não pude continuar, eles fizeram avaliação

em um momento que eu não tinha como estar perto, infelizmente, uma

cidade de dois mil habitantes que jurava que não tinha desigualdade

social, a desigualdade social mais invisível, porque ela está nas ruas, e aí

foi muito legal a gestora dizendo “Joana, você nos alerta para uma coisa

que a gente não tinha pensado, as pessoas tem vergonha”, por ser uma

cidade muito pequena as pessoas tem vergonha de passar necessidade,

então elas passam necessidade dentro de casa, não quer dizer que

necessidade não existe, mas é uma outra forma de desigualdade social

que está colocada, e aí foi uma reflexão muito bacana, muito bacana, mas

aí vinha também os mitos e tabus que são criados nos interiores do

nordeste brasileiro “ai Joana, você é muito inteligente você tem que ir para

São Paulo”, “ai menina você está se perdendo, você tem que ir para São

Paulo”, e aí era isso, o ideal que era criado para essas cidades é São Paulo,

não era a sua própria cidade, não é nem João Pessoa [risos], é São Paulo.

Então eu tenho lembranças muito legais desses processos de reflexão, foi

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um processo... Na verdade, eu acho que eu aprendi mais, eu aprendi

muito, foi um aprendizado na veia, sobre o que é efetivamente tudo isso

que a gente se propunha no PELC.

J. K. – E dentro do programa tu consegue identificar alguma coisa que

deveria haver alguma melhora para o programa?

J. S. – Então, eu acho que nós temos muitos desafios, e o desafio maior é

que a gente está em uma conjuntura muito difícil, então eu lembro... Eu

estou escrevendo um artigo sobre educação popular agora para a revista e

fazendo essa reflexão, e aí uma das coisas que o Gadotti fala no livrinho

dele O que é Educação Popular, é que aquela... É que toda aquela

movimentação da educação de adultos, todos os movimentos de educação

e cultura popular que foram criadas surgiram, a partir de uma conjuntura

e de um contexto social muito favorável, muito disponível a resolver os

problemas sociais que estavam colocados, e quando a gente começa o

PELC, a gente está nesse sentimento, a gente está em governos

democráticos populares que estão na esperança da população, que estão...

Que são efetivamente a disposição da população para mudança, para

resolver os seus problemas sociais, para modificar as estruturas desiguais

que estão colocadas, então, é um momento de muita esperança, de muita

criatividade, de muita disposição, de muito engajamento e hoje a gente

está exatamente no revés, exatamente de desencanto, de desesperança, de

achar que aqueles que a gente colocou no poder, se engajaram na

estrutura burocrática de tal forma que não conseguiram romper com

algumas coisas importantes, que a esperança pudesse dar continuidade,

mas tenho dúvidas também se diante do processo social mais amplo se

essa esperança tem como durar muito mais tempo, mas é uma coisa

histórica, que faz parte do nosso contexto social de disputa mesmo, de

disputa política, acho que o PELC eu acho que hoje ele tem um primeiro

desafio que é o de sobreviver [risos], o primeiro desafio hoje do PELC é de

sobreviver mantendo princípios dentro de uma conjuntura política que é

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de desesperança, que é de negação de toda uma contribuição histórica e

política que foi dada pela esquerda no Brasil, e que hoje a mídia faz

questão de colocar como se fosse só balela, como se, efetivamente, isso

não tivesse acontecido na prática. Eu acho fantástico os relatos quando a

gente vai para as comunidades mesmo, a gente fez uma atividade lá na

rural, e chamou os agricultores, eu estou muito envolvida na questão da

extensão rural hoje, que é onde eu trabalho, e aí um colega que é muito

esquerdista foi fazer uma discussão sobre as políticas de governo, muito

assistencialistas, e que o PT e que a esquerda fez, aquele discurso bonito

de que a esquerda se perdeu, o PT não fez nada. E um agricultor com

muita propriedade disse “amigo, só quem pode saber a importância do

bolsa família, é quem viveu, mais ninguém, então não venha dizer que

bolsa família não presta, porque você não foi lá saber a diferença que isso

fez na vida da gente”. A mesma coisa um colega da Federal do Piauí, por

exemplo, que diz, “Joana, a energia elétrica chegou agora no interior do

Piauí, uma coisa que é tão tradicional para a gente, mas que chegou

agora, trator, carro pipa, só puderam ser acessadas na maioria das

cidades, por causa desse governo”, uma coisa que as pessoas as vezes não

olham, é a própria interiorização das universidades, a possibilidade foi

dada por este governo, porque os outros precisam que os interiores fossem

sempre dependentes, porque para os outros o campo, por exemplo, não é

espaço de vida, é um espaço de mercadoria para a cidade. Então, assim,

essas coisas que estão arraigadas de contribuição, vêm sendo distorcida

pela mídia e o PELC vai junto, mas é o PELC que conseguiu chegar em

interiores que jamais se imaginava falar em lazer, em esporte, em direito

social, então, ele é uma das políticas públicas que consegue lançar isso,

mas ele normalmente vive um desafio de sobreviver, de sobreviver

enquanto PELC. Eu lembro com muito pesar quando os Círculos

Populares terminaram, um gestor virou para um coordenador amigo

nosso, um gestor novo que assumiu lá o local e disse, “que nós tínhamos

um convênio com o PELC”, e aí ele disse “Você quer que a gente nas

comunidades chame de Círculos Populares ou você quer que a gente

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chame de Esporte e Lazer da Cidade?”, aí ele disse “quando você vai na

feira, e você quer um refrigerante, importa se Coca ou Fanta?”, e aí o meu

colega parou e relatou isso para a gente, então esse é o desafio do PELC,

não se tornar mais um refrigerante, porque é a tendência, é a tendência

da conjuntura política que está colocada hoje no nosso país, então acho

que de todas as contradições que podem haver, esse é o desafio maior

dele, é sobreviver diante da conjuntura que está colocada hoje, sobreviver

com princípios, sobreviver voltado para as classes populares, como foi a

sua ordem de existência, digamos assim. Então eu acho que esse [risos]...

Todos os outros ficam no chinelo diante desse.

J. K. – Teria alguma coisa que eu não te perguntei que tu gostarias de

colocar? Que ficou faltado talvez.

J. S. – Não, acho que não, tenho muitas memórias, eu vou enviar muitos

materiais para vocês e a partir disso, eu acho que vou rememorando

também as coisas. Mas acho que era isso, as deliciosas memórias

puderem ser revisitadas.

J. K. – Eu agradeço em nome do Centro de Memória do Esporte. Muito

obrigada!

[FINAL DA ENTREVISTA]

Depoimento de José Alfredo Debortoli

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Depoimento de José Nildo Alves Cau

Entrevistado: José Nildo Alves Caú

Nascimento:

Local da entrevista:

Entrevistadora: Jamile Mezzomo, Luiza Aguiar e Rejane Rodrigues

Data da entrevista: 19 de novembro de 2015

Transcrição: Kenia Gouvea Garrafiel

Copidesque: Silvana Vilodre Goellner

Pesquisa: Jamile Mezzomo Klanovicz

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Belo Horizonte, 19 de novembro de 2015. Entrevista com José Nildo Alves

Caú a cargo da pesquisadora Jamile Mezzomo, Luiza Aguiar e Rejane

Rodrigues. Para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do

Esporte.

J.K. – Eu gostaria que tu iniciasses contando um pouco então da tua

formação.

J.C. – Certo. Então, sou formado em educação física, da cidade de

Pernambuco. Tenho mestrado em educação na Federal82 e hoje sou

doutorando em educação. E assim, falar um pouco também da formação é

a minha formação quanto também quanto militante, acho uma área da

educação física de passar de DA83 a DCE84, coordenação do executivo de

curso e chegar ao CBCE85. Também tem essa parte da minha formação

política e a formação de gestor público, então assim, entrei na prefeitura

82

Universidade Federal de Pernambuco 83

Diretório Acadêmico 84

Diretório Central de Estudantes 85

Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte

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do Recife86 no primeiro governo de João Paulo87, a gente ainda recém

saído da Universidade ele entrou na gestão em dois mil e entre dois mil e

três na prefeitura de Olinda88 inicialmente. Comecei a trabalhar com

Luciana [palavra inaudível – 0:01:19], depois passei oito anos na

prefeitura do Recife gestor, inicialmente diretor na área do lazer, depois

passei diretor de esporte e juventude até dois mil e oito. E formador do

PELC89, acredito que na segunda turma, não sei exatamente, eu não me

lembro se foi dois mil e sete...

L.A. – Dois mil e seis

J.C. – Dois mil e seis aí foi a segunda turma dos setenta, que eu lembrei, o

grupo de setente como disse. E até hoje, ate hoje aí nesse processo de

formação desse tarbalho, junto dos agentes do PELC.

J.K. – E como que a temática do lazer apareceu na tua trajetória?

J.C. – Temática do lazer apareceu com a vida da política de esporte e lazer

em Recife, porque antes na universidade mal tive uma disciplina de

recreação. E assim uma atuação num projeto de extensão muito

incipiente, mas a atuação no setor de esporte e lazer foi a partir da

política. A partir da gestão pública e que a partir daí eu fui me

aproximando e vivenciando nessa experiência.

J.K. – E como tu chegou a conhecer o PELC?

J.C. – O PELC (risos). Assim, o PELC, pelo menos para a minha entender

de experiência, ele a partir da gestão em dois mil, dois mil e três, mais

especificamente foi quando a gente começou a constituir a política

municipal, se populariza na prefeitura do Recife. Começou a estruturar

um programa que tem o nome de Ciclos Popular Esporte e Lazer que ele

vem ter uma relação muito forte com a questão do movimento cultura

popular de Paulo Freire90. Então assim todo uma... Essa leitura da

questão do lazer do ele veio, bebeu nessa caneca, nesse movimento de

cultura popular. Então a partir daí a gente estruturou, começou a

86

Recife/PE 87

João Paulo Lima e Silva 88

Olinda/PE 89

Projeto Esporte e Lazer na Cidade 90

Paulo Reglus Neves Freire

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estruturar essa política de esporte e lazer, ou seja, vem maturando na

oportunidade com a eleição do Presidente Lula91, a gente começou ir,

logicamente, a prefeitura de Recife na gestão do prefeito João Paulo.

Houve um investimento maior, houve essa, esse investimento do governo

federal no sentido desse programa, então a gente começou. E foi, se eu

não me engano, paralelo a essa estruturação também do PELC. Então foi

a partir dessas experiências que, se eu não me engano, aí a experiência

com gestor nós fomos Recife, Belém92 e outras capitais. E essa experiência

dos Ciclos Populares ela foi uma das que com esse apoio também

contribuiu para esse processo de estruturação eu diria formulação, até

hoje eu identifico muito bem isso das diretrizes que hoje o PELC ele vem

se estruturando e foi essa relação aproximação. Então essa relação com o

PELC vem dessa base da discussão dos Ciclos Populares Esporte e Lazer e

que (silêncio) era uma grande dificuldade naquele momento para a gente

gestor diferenciar, porque era PELC era Ciclos Populares era discussão de

identidades mesmo. Identidade de nível de discussão de gestão mesmo

essa identificação, é que na verdade era, hoje, ele se consolida com o viés

que a gente trabalhava no em dois mil e três, dois mil e cinco aí mais

especificamente. Então essa, na minha leitura, havia essa esse processo

de formação também havia essa relação de (silêncio) não diria [palavra

inaudível – 0:04:49] seria crise, mas essa identificação da identidade, de

saber até onde é o PELC até onde a... E teve uma operacional até que

ponto os Ciclos Populares ele teria que estar dando também a visibilidade

ao PELC, uma vez que era recurso e era um programa que estava vindo

nessa, na política que estava vindo a nível do governo federal. Então a

gente viveu muito com isso, mas, hoje, pelo o que eu tenho conhecimento,

hoje ele realmente agora ele tem, ele foi se consolidando enquanto PELC,

enquanto identidade do PELC a partir da política lá no “geraldão”.

L.A. – Pode descrever um pouco mais como era o funcionamento dos

Ciclos Populares?

91

Luis Inácio Lula da Silva 92

Belém/PA

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J.C. – Ciclos Populares era... Não diferencia dessa lógica do PELC, ou seja,

a perspectiva das oficinas sistemáticas, ou seja, desenvolvimento de ciclos

de convivência, que hoje a gente chama núcleo, mas chamava de ciclo de

convivência de infância, juventude, adulto e idoso. Então você tinha esse

ciclo de convivência nas diferentes comunidades. A gente chegou o

momento de ter, acho, se não me engano, até quarenta, quarenta núcleo

por bairro na cidade. E havia essa formatação, as oficinas no caráter

sistemático, os eventos também nesse mesmo viés. Se você pegar o livro

dos Ciclos Populares você vai olhar ali e está a estrutura que o PELC tem

hoje, então tinha esse caráter de sistemático e tinha um evento na

perspectiva de integração, de ampliação tanto a nível local como também a

nível de integração de todos os núcleos, ciclos de convivência do

programa. A questão das linguagens, as manifestações era muito nessa

perspectiva da diversidade, atender o máximo a perspectiva da diversidade

e da cultura, da cultura local. Valorizar a cultura local, isso também tem

questão de Recife, a questão da... Isso era muito forte. A dança, o teatro, a

música que aí na linha da percussão, os esportes, que aí dentro dessa

estrutura dos Ciclos Populares você tinha também outras ações. No caso

do futebol que era futebol participativo que fazia parte também dessa... A

parte de juventude tinha a relação também dentro dessa política como

questão da juventude radical, que era juventude ligadas as praticas

alternativas, bandas, os grupos de banda underground, skatista, pessoal

do bicicross, pessoal do [palavra inaudível 0:07:13], mas tudo dentro de

um, de um programa. Então era esse... E isso é o viés do PELC, hoje,

nessa perspectiva das ações que ele tem se desenvolvido. Então é nessa

linha que ele se estruturava. Outro elemento, por exemplo, que não sei se

está na pergunta, mas foi a questão da formação. A formação era outra

coisa que, por exemplo, nós não tínhamos essa, por exemplo essa relação

do [palavra inaudível 0:07:40] ministério, formador, parte da formação a

gente terminar estruturando conduzida pelo programa. A gente tinha os

encontros de formação anual, encontro de formação continuada do

programa que era justamente nessa linha de fortalecimento das

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identidades, da cultura popular, era da questão da participação. Então

todo ano tinha um grande encontro envolvia todos os formadores, além

das formações semanais que nós tínhamos um dia também para esse

processo de formação da equipe. Então, hoje, ainda se assemelha tudo na

lógica do PELC, o viés da gente ter esse, hoje, a gente não está vendo que

a nível de PELC os grandes encontros, que eram encontros de

socialização, de troca de experiência e isso também tinha nos Ciclos, que

você envolvia todos os segmentos envolvidos no programa, desde o público

lá aos educadores. Todo mundo trocando, no processo de troca de

experiência e que isso PELC tenta tem também isso, hoje, tem isso como

um elemento muito forte.

J.K. – Tu falou que iniciou como gestor e como que foi a tua preparação

para se tornar um formador? Tanto a parte da oferecido pelo próprio

ministério como a tua busca por isso.

J.C. – Experiência de vida minha (risos). A experiência na gestão, ou seja,

experiência na partida realidade. Ou seja, você foi preparado para ser

gestor? Não. A gente foi... A medida que a gente foi vivenciando as

experiências e desafiando no dia a dia, a gente chegou o momento de você

entrar, por exemplo, a gente não sabia... Na universidade a gente não

tinha tipo “o que é uma política pública?” pra gente noventa e oito,

noventa e sete. Para a gente, a gente não tinha leitura, não tinha não

sabia nem o que a gente... Aí foi nesse processo que a gente foi

identificando a necessidade de tratar determinadas questões e isso aí a

formação continuada ela foi fundamental. A contribuição de alguns

representantes da universidade, por exemplo, hoje, foi Marcelino, foi

Victor Melo, foi pessoal da cultura, não lembro aqui, ligado a cultura

popular, como realidade de oportunidade de nos encontros... Da gente

essa nossa dificuldade de lidar e entender aquele, por exemplo, a lógica do

movimento e cultura popular demandava esses encontros para a gente

buscar, buscar essas fragilidades da gente. Então a gestão, ser gestor ele

foi construído num processo num processo de vivência do programa.

Então essa política ela, hoje... Hoje o meu papel de formador ele bebe

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muito na minha experiência de gestor, ou seja, parte do que eu faço hoje

ele tem muito do desse processo de construção enquanto gestor, enquanto

ao mesmo tempo agente social ali vivenciando, trocando experiência,

construindo novas possibilidades e isso foi no dia a dia. Então essa

questão, um elemento que eu acho que eu gosto de registrar muito, acho

que foi... Para a gente foi muito desafiador naquele momento foi quando o

Ministério ele promoveu aquela questão da publicação daquele livro dos

vermelho, brincar, jogar...

R.R. – Jogar e Viver.

J.C. – Que ali foi justamente desafiou a gente a sistematizar a experiência

que a gente estava vivenciando. E isso para a gente, a gente tinha vivência

assim... A experiência que a gente já tinha acumulado era muito grande,

mas assim, a gente não tinha tanto essa preocupação desse cuidado de

sistematizar. Ou seja, aquilo construir... Deixar aqueles elementos ali,

além da história da vida de uma política. Eu acho que foi a partir daquele

momento que grande parte do trabalho da gente foi no promovendo um

ENAREL93, Recife puxando para discutir, foi levando no seminário

nacional de política pública. Tudo isso espaço de formação para a gente.

Foi vindo para Caxias do Sul para um seminário nacional de política

púbica trazendo trinta gestores, trazendo educadores para socializar

experiência, ir para a mesa, discutir aquela experiência. Então acho que

isso foi muito rico e que interferiu, hoje, na nossa formação enquanto hoje

enquanto um educador que está atuando no programa. Então assim, eu

me vejo muito quando eu estou nessa experiência das formações e esse

processo de construção que a gente vê o quando é rico essa experiência

que a gente vive. Ninguém tira isso da gente, então acho que essa relação

de formador e o PELC foi algo que fez a gente entender o que é política

pública, que a gente não tinha, não tem esse elemento dentro da

universidade.

J.K. – Trabalha exclusivamente com o PELC urbano ou tu já atua na Vida

Saudável e os povos tradicionais também?

93

Encontro Nacional de Recreação e Lazer

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J.C. – Todos (risos). Dos três (risos). Experiência com muito mais com o

PELC urbano, eu tive esse trabalho, mas assim tive uma experiência com

povos das comunidades tradicionais foi no Maranhão, com quilombola,

que aí foi um desafio porque não era... Tinha raízes do quilombola, mas

não era expressivo. Foi muito mais uma estratégia de poder captar o pleito

junto lá no edital. Mas assim, mas a gente conseguiu, ou seja, foi um

desafio porque à medida que você identificava questão da identidade

cultural ali nas comunidades que você estava trabalhando, ele não se

reconhecia enquanto povos tradicionais. E aí o PELC fez um grande

desafio de trazer essa reflexão junto com eles e aí eles começaram a se

identificar a partir de como o PELC estava tratando. Então isso, para mim,

foi um desafio. Não tive esse desafio que a Rejane94 e outros já tiveram de,

dos povos indígenas. Eu acho que eu não sei se eu... Disse não, só você

transpassar para você informar não, mas é um ideia muito desafiador.

Muito diferente o, as experiências que a gente acumulou, mas não quer

dizer que a gente não venha a ter aonde ir.Na maioria das ações que eu

tenha trabalhado é com o PELC urbano. Então assim, tenho feito

principalmente dos pequenos municípios de Pernambuco, não, do

Nordeste. E assim, as experiências ela tem mostrado para a gente uma

grande riqueza e reflete um pouco do que tem sido o PELC na formação

dos sujeitos sociais. Ou seja, das pessoas hoje, por exemplo, como eu

estava relatando hoje de manhã as pessoas elas passam pelo PELC,

passam a vivenciar uma experiência ao longo do PELC durante um

convênio, eles são logo captados para outras ações porque eles passam

por um processo de formação, então à medida que eles vão sendo,

dominando a o conhecimento, a tecnologia com a relação lidar com as

políticas públicas eles já são levados para os setores. Vivenciei isso

recentemente, o coordenador, que não é um coordenador ele está no

Segundo Tempo, o coordenador está no Mais Educação, então há essa

grande contribuição que o programa está dando não só a nível da política

94

Rejane Penna Rodrigues

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do esporte e lazer, mas formando um quadro, hoje, para atuar em

diferente sentido aí nas políticas públicas.

L.A. – Pode falar um pouco das estratégias que você usou nesse caso do

núcleo da, dos povos tradicionais da comunidade quilombola?

J.C. –Não, eu trabalho, olha assim, eu trabalho com o método que é o

método da é opção e dentro da linha da (riso) da proposta do PELC, mas

não, hoje, eu não vejo isso muito uma coisa muito efetiva, que é o método

da prática social. Que aí eu já venho bebendo da minha experiência, da

experiência que quando iniciou a discussão dado movimento cultura

popular que é o método da prática social, que a gente trouxe a partir

dessa relação da leitura da realidade. Você se aproximar dos municípios,

compreender todo aquele contexto para você poder intervir. Então eu acho

que isso, grande parte, por exemplo, lá no Maranhão os povos

comunidade tradicional foi a partir dessa leitura. Então sim, eu tive que

me aprofundar, poder entender o que era o povo quilombola. Qual a

relação com o estado do Maranhão. Qual a relação com as manifestações

esportivas e culturais que está inrraigado (acho que quis dizer “arraigado”

0:15:44) naquela cultura e puxar, também, esses agentes onde é que está

essa identidade que eles têm, eles identificam, mas não reconhecem.

Então foi a partir desse, da problematização dessa realidade e aí a gente

começar instrumentalizar com conhecimento. Trabalhar texto, trazer

desafiar eles a trazerem pessoas que eles identificam como sendo uma

referência naquela tradição ali que eles reconhecem quanto quilombola. E

a partir daí a gente começar construir quais seriam as possibilidades de

desenvolver dentro das oficinas. Ou seja, desafiar eles, ou seja, trabalhar

com na dança o tambor de crioula, trabalhar no esporte, ou seja, práticas

que esteja relacionado com essa cultura no sentido de buscar, valorizar

essa cultura. E não deixar de reconhecer, lógico, as práticas

contemporâneas, mas focar nisso aí. E assim eu desafiei eles, e assim,

fechou com grande festival, um grande evento assim que eles me

superaram. E tinha uma especificidade porque era na universidade, então

tinha uma série de dificuldades porque lidar a grande parte da equipe era

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o estagiária da área da educação física. E assim é um diferencial nesse

processo que é uma grande resistência pessoal que está nesse processo de

formação por dentro da academia.E quando você pega um convênio do

interior que a maioria do pessoal só tem o ensino médio, mas tem um

elemento muito forte eles têm um domínio de uma determinada

linguagem. Eu tenho o domínio [palavra inaudível 0:17:15] já tenho aquela

minha experiência com teatro. Já tenho aquela minha experiência com

capoeira. Eu já tenho aquela minha experiência com artesanato e isso as

pessoas elas conseguem sistematizar e fazer dar consequência isso. Mas

isso demanda também uma atenção da gente como, eu estava dizendo

hoje, um grande foco no planejamento, ou seja, fazer com que essas

pessoas entendam qual é a tecnologia, qual é o conhecimento que está por

trás disso aí para que elas comecem, ela tenha, ela domine aquela técnica

a partir da experiência de vida dela, mas puder qualificar e se aproximar

no sentido de repercutir na vida das pessoas com aquele trabalho. Então

assim eu acho que essa experiência do Maranhão, como outras

experiências que também desafiam a gente, de você num convênio quando

lá no meio do convênio, um lá noventa pessoas, noventa por cento da

equipe ela, há uma mudança na equipe. Você se desafiar, novamente você

vai ter que retomar um processo que você já tem iniciado e dar um

direcionamento de trabalho. Aí você chega no final com um grande evento,

como foi hoje eu estava apresentando, a questão da experiência como a

[palavra inaudível – 0:18:23]. E foi nesse sentido. Eu peguei, houve um

introdutório,mas assim, houve mudança na equipe coisa e a gente da um

em um módulo só eu ter que fazer dois módulos para poder botar no rumo

da o trabalho e você ver o resultado daquilo. Trabalho com perna de pau

onde você vê as idosas andando de perna de pau com todo cuidado, você

vê as idosas fazendo capoeira. E aí? Isso todo mundo usa o perfil da gente

aí todo mundo é de ensino médio. Mas tem todos os cuidados, tem todo,

ou seja, um envolvimento e isso também repercute na nossa formação.

Então isso o PELC ele está na vida, pelo menos na minha vida, esse

processo da vivência, da ação comunitária tem sido um elemento que a

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universidade não me deu, mas o PELC ele alimenta constante isso aí para

a gente.

J.K. – Sim. E como que são desenvolvidas as atividades de formação do

programa?

J.C. – Em que sentido? Sentido... A metodologia?

J.K. – Isso. É. Seria...

L.A. – É. Como que você planeja e como que isso é organizado em termos

cronológicos?

J.C. – Sim. Não [palavra inaudível – 0:19:26], mas as vezes dentro do

método a gente foi assim, partir da prática social para, suponho, por

exemplo, eu preparar uma proposta de formação, eu preciso conhecer

aquela realidade. Preciso dialogar com município. Primeiramente eu

preciso fazer a pesquisa para poder situar qual a pesquisa, que aí como

qualquer outra, levantar informações sobre o município, mas poder

estabelecer o diálogo com os agentes, com os coordenadores técnicos.

Buscar no PP, lá no projeto político pedagógico o que que está ali, o que é

que... E a partir desse diálogo com o município a gente começar construir

a proposta de trabalho. E essa proposta de trabalho eu construo

novamente estabelecendo esse diálogo com ele até chegar e vim para o

processo de aprovação, que agora junto da articulador e a UFMG95 para

poder a gente encaminhar. Então esse é o primeiro momento e essa

vivência lá. Então num processo de formação você vai desde do da

proposta ali, não quer dizer que aquela proposta ela vai se materializar ou

não. Vamos ver diante da realidade, como é que ela vai surtir o efeito.

Então de primeiro momento apresentar novamente essa proposta no

processo de formação, ver se vai ser necessário se fazer ajuste naquela

proposta e a partir daí começar o processo de problematização. Então,

pegar vídeos, que no primeiro momento eu faço muito relação de análise

de conjuntura situando dentro do onde é que está esse município, porque

esse processo está chegando nesse município, chegou nesse município?

Qual a necessidade de estar atendendo que demanda? Ou seja, a partir

95

Universidade Federal de Minas Gerais

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daí começar a problematizar a partir de vídeos diferentes vídeos que faça

ele entender que tipo de sociedade, que tipo de sujeito está por trás dessa

discussão de uma análise de conjuntura bem mais ampla. Se for povos de

comunidades tradicionais relacionado com esse programa. Se for o PELC

urbano buscar contextualizar aquela população. Qual o público

adulto/idoso daquela comunidade? Qual o público de juventude? Qual o

público? Tem que ter esses elementos para no primeiro momento eu poder

problematizar com ele a realidade. E situar numa conjuntura muito mais

ampla. No segundo momento também aí a vem aí a questão da

problematização que é tentar já situando no PELC no sentido de “o que é o

PELC?” Quais são as bases que apontam o horizonte que o programa ele

deve, ao final, a gente apontar enquanto possibilidade de transformação?

Então essa relação da realidade, partir daquela realidade, passar por esse

momento de problematização porque quem tem os elementos e as

informações são eles que vivenciam aquela realidade. E a partir daí para o

outro momento que é o momento de instrumentalizar, então a gente vai

discutir os conceitos, como [palavra inaudível 0:22:11] cultura, esporte,

lazer, planejamento, ou seja, vou estar começando a instrumentalizar com

novos conhecimento para a eles. Então a partir de dinâmica, a partir de

exposição, a partir de curtas, ou seja, trabalhar um novo conhecimento

para ele, para ele não vai estar mais naquele processo do, que a gente

diria, da prática social inicial. O conhecimento que eles adquiriram a

partir da experiência de vida, mas já vai estar dialogando com um novo

conhecimento, com a base sistematizada sobre a o que o PELC se propõe.

E a partir daí a gente entra no outro momento, que também que é dentro

da parte da instrumentalização, que é o planejamento. Como planejar? Ou

seja, uma a oficina. Como planejar um evento? E dentro da perspectiva do

planejamento participativo. Então a gente vai, traz de novo para dialogar

sobre o que é um planejamento participativo. Como se dá essa relação? E

aí fecha ao final desse planejamento participativo a construção de uma

atividade que eles já possam experenciar os na prática o que se foi

planejado dentro da perspectiva do que o PELC se propõe. E que para a

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gente formador também é o momento de você olhar o que é que aponta de

limitação no grupo, o que é, para você poder retomar quando você

retornar para avaliação ou retorno a pratica social, o que foi que eles

apontaram no sentido de avançar. O que que identifica enquanto

dificuldade do grupo que a gente precisa trabalhar melhor, para que eles

se aproximem o máximo do que o programa se propõe nesse perspectiva

da mudança da realidade. Então é dentro dessa perspectiva. Então tem

todo uma lógica, uma estrutura que aí para mim é o meu norte no meu

trabalho. Então meu método é esse que eu aprendi a partir da experiência

lá de dois mil e três, dois mil e quatro, dois mil e cinco que a gente veio

vivenciando essa experiência a partir desse método. Então essa formação

lá ela ainda é elemento que dá essa segurança a gente nesse processo que

a gente está vivenciando.

J.K – Sim. Em relação as visitas aos núcleos, como que são realizadas as

visitas técnicas e as visitas pedagógicas?

J.C. – Certo. Assim, as visitas técnicas, no meu caso, é uma parte também

da formação no caso do módulo introdutório e no AV1. Dentro da

formação, no segundo dia de formação a gente tem, quando vai antes de

discutir a questão dos interesses culturais do lazer, a questão de toda

essa... A gente vai, prepara um roteiro pré estabelecido com algumas

questões que eu quero que os grupos observem nos espaços. O que que

determinado espaço apresenta de potencialidade, apresenta quanto limite

para que a gente possa pensar o desenvolvimento das ações do programa.

Então tem um roteiro pré estabelecido onde eles vão observar quais, o que

que tem ali de, o que ele consegue identificar enquanto possibilidade. Eu

não digo, mas eles, nesse momento, eles que vão apontar o que é possível.

Lá naquela, naquele centro cultural o que é possível desenvolver ali? Aí

que eles vão dizer, se é uma atividade com dança, se é uma atividade com

esportes, se é uma... Ou seja, eles nesse primeiro momento é o momento,

nessa visita técnica, muito mais de levantar esses elementos para quando

a gente for pro planejamento participativo eu já vou com olhar a partir

daquela realidade que eles identificaram e que eu também vou ter o meu

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olhar para poder dialogar com eles dentro desse processo da formação.

Então a visita técnica tem muito mais caráter. Já na visita, a visita

pedagógica, no AV1, eu tenho utilizado muito a estratégia como a gente

não tem ainda um, tinha um modelo padrão, uma linha, a gente começou

a... Começou a acontecer a visita pedagógica, acho que eu fiz duas visitas

pedagógicas, e assim, eu estruturei uma lógica. Primeiro, como é um dia

eu tiro, normalmente, a primeira manhã para uma conversa com gestores,

isso aí normalmente é acontecido com o prefeito, o secretário,

coordenador, coordenador de núcleos, e discutir sobre algumas questões

que a gente identifica no programa que tenha limitações e que precisa ser

tratada. Como também é o espaço para, por exemplo, eu trato nesse

momento, na visita pedagógica, por exemplo, ter os grandes parte dos

convênios ele não tem clareza quanto rendimento do convênio. Então é

uma coisa que gente tem identificado. E eles não tem clareza que esses

fatos, que aquele recurso eles poderiam usar. Então nesse momento a

gente faz esse diálogo, também aponta possibilidade no sentido de como

eles podem estar utilizando recurso para potencializar o trabalho ali,

numa relação com o que vai estar sendo trabalhado no módulo de

avaliação 1. Como também a partir dessa visita pedagógica a gente vai “in

loco” nas comunidades conhecer como é que o programa está

acontecendo, como é... Conversar com os participantes do programa e aí a

gente, como diz, a gente descobre muita coisa nesse momento do da visita

pedagógica, no diálogo ali quando eles normalmente eles fazem, criam

normalmente uma atividade para a gente. Mobilizam as pessoas, muitas

vezes eles querem, terminam querendo manipular esse espaço, mas aí

onde vem a experiência da gente, a gente começa a se aproximar das

pessoas, começa a dialogar e as coisas começam a ter acesso às

informações. O coordenador que... Só faz mais de um mês que não

aparece lá. Aí chegou a idosa, estava o coordenador de núcleo assim

próximo só para enumerar “fulano, vai fazer quase dois meses que você

não vai lá no núcleo”. Isso na frente da gente. [palavra inaudível 0:27:45]

da gente. Então assim, são essas situações que você, possibilita você se

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aproximar do público, captar essas informações para depois você também

retomar no segundo momento, até porque a gente vai.... Após a visita a

gente tem o modo de avaliação um, então esses elementos eles dão

sustentação também a nossa nossa avaliação um. Então, problemas que a

gente identifica no programa, nessa visita pedagógica ele é tratado dentro

da formação. Se for questão de gestão a gente vai tratar no momento com

a gestão. Se for questão de ordem mais pedagógica a gente vai tratar

dentro do processo de formação ali no av um.

J.K. – E, aproximadamente, quantas foramações que tu já realizou?

J.C. – (risos) É, é um bocado. (silêncio). Mas é.. Assim, eu acho que de

dois mil e sete para cá, eu me lembro de umas quarenta formações não

[trecho inaudível –0:28:49]. Porque se eu for considerar formação no

convênio, que era um convênio... Eu não estou nem considerando isso.

Estou considerando, eu vou considerar os três módulos a gente vai... É,

vezes três. Da contagem do convênio, assim, eu tenho feito bastante. O

ano passado e esse ano eu fiz uma quantidade significativa. Tenho certeza

que não foi menos que umas vinte e cinco formações não. Então assim, eu

tenho já... Agora também foi de dois mil e sete para cá. Em alguns

momentos a gente tinha que estar brigando para poder, poder fazer uma

formação. Então aquela estrutura inicial do processo de formação, por

sinal eu fui um dos que geriu uma crise nesse momento em função das

[palavra inaudível – 0:29:29] situações que eu acho que possibilitou a

gente qualificar, hoje, esse trabalho da gente junto com a UFMG. Eu acho

que foi numa crise, num processo desse de direcionamento ou de

determinadas formações que era briga mesmo. Era... criou um, como

diria, é tribos. Então a tribo de formadores [palavra inaudível – 0:29:50]

tanto tribo de formadores. E isso era muito ruim. Nós éramos setenta

formadores e você não conhecia todos os formadores. Você tinha um

momento então se tinha os blocos de um grupos. E foi a partir desse

trabalho de junto com a UFMG e junto com Ministério com essa condição

política que eu acho que é muito acertada que qualificou muito o processo

da gente em todos os sentidos. Desde o trabalho da formação do formador

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como também no sentido de qualificar todo esse processo que a gente vem

vivenciando, ou seja, como disse antes o convênio ele a gente começou

com um convênio que era um convênio de nove meses. Passou para

quatorze, de quatorze passou para dezoito, de dezoito chegamos a vinte e

seis. E isso é resultado da reflexão coletiva. Porque a medida que criava

espaço, por exemplo, lá na ponta os agentes e todos os gestores eles

questionavam quando eles estavam começando a materializar, gostar da

política, construir a família PELC como ele têm essa coisa muito forte, o

convênio encerrava. Então, esse retorno de criar espaço que a gente

pudesse avaliar foi fundamental para essa nova perspectiva no trabalho

da gente e no retorno agora que a gente perceber chegar convênio hoje

com vinte e quatro meses para a gente. Para quem viveu esse, vem

vivendo essa experiência ao longo aí de dez anos, sabe que isso foi uma

conquista política muito grande. Algumas pessoas não, mas para quem

vem acompanhando todo esse miudinho, isso a gente qualificou

consideravelmente e está qualificando.

J.K. – Certo. E que estratégias metodológicas tu costuma utilizar?

J.C. – Estratégias metodológicas é questões para mim o elemento de

sempre, a questão do da oficina de planejamento participativo, utilização

de vídeos, desde a problematização de curtas que eu possa problematizar,

mas vídeos que tenha um cunho que traga para discutir a realidade.

Problematizar. Exposição oral, utilização de textos não leitura densa, uma

leitura até pelo perfil de quem a gente está trabalhando, leitura coletiva,

construção de mural coletivo, ou seja, que eles possam, por exemplo,

nesse trabalho da de levantar os limites e a possibilidade, quer dizer,

trabalho coletivo que eles possam se aproximar cada vez... Até porque a

gente está lidando com os princípios do programa que é o norte do nosso

trabalho. Então a questão do trabalho coletivo, a questão da perspectiva

da auto-organização, então isso tem que se refletir também nos métodos

que eu vou estudar, utilizar ali. Então esses elementos aí você vai

dinâmica, eu não tenho muito perfil de dinâmica, mas eu termino

utilizando algumas. Eu tenho outras formas de trabalhar, mas não muito

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na brincadeira. Eu exploro muito deles, eu faço, se utilizo desse elemento

até para conhecer a prática deles. E utilizo uma estratégia que aí, até para

conhecer mais, que é o como o resultado do trabalho do planejamento

participativo é a questão do lazer que eu caracterizo junto com ele que é a

questão do lazer. Porque como a Silvana [0:32:59] estava apresentando ali,

ela se utiliza com os agentes, eu não. Eu desafio eles, a dentro da

formação nos quatros dias, nenhum dos dias, no penúltimo dia fazer um

evento como resultado do planejamento participativo. Fazer um evento

com a questão do lazer para a comunidade. Então eles vão buscar público

de alguns programas que já existem no município e eles vão colocar em

prática esse estrutura de mobilização, organização do evento dentro

daquelas condições. E isso é muito bom para você conhecer os agentes,

que você muitas vezes tem um agente é muito caladinho ali, você não da

nada por ele, isso já aconteceu. Quando tu vai lá na experiência no

sentido de abordar as pessoas, no sentido de conversar, o cara é tem um

domínio muito, muito forte nessa relação. E aí você da possibilidade de tu

avaliar, avaliar ter outro olhar nessa avaliação. Então essas estratégias ela

está muito nessa relação do diálogo. A estrutura de nunca, sempre estar

trabalhando na questão do formato, no ciclo, puder estar olhando frente a

frente. O diálogo ele é algo que tem que estar sempre presente. Não

adianta eu ir para uma formação só derramar conhecimento ali com eles,

que é muito pesado. A bagagem de conhecimento que a gente leva,

principalmente no módulo introdutório, que era anterior a [palavra

inaudível 0:34:15] também já avançamos são dois agora, já deu uma

qualificada. É muito conhecimento. E assim, você poder abrir pro diálogo

para poder conversar, poder trocar essa relação mais dialógica. Então

acho que isso é o foco nas minhas estratégias metodológicas.

J.K. – Sim. E já observou um resultado assim de uma formação para

outra, de um...

J.C. – Você diz de convênio ou de núcleo? Não, de convênio, né? Sim. Você

tem... Assim, [palavra inaudível – 0:34:47] não adianta... Aí eu vou fazer

essa, essa minha comparação. Se você fazer um trabalho, isso não é

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desmerecer, fazer um trabalho, como já disse, com pessoal que já tem um

certo, já passa pela universidade [palavra inaudível – 0:35:02] isso é um

elemento que eu identifico muito forte que não tem como não diferenciar

com os demais. Que é a questão desse pessoal que vem da educação

física. Infelizmente, acho que não é culpa deles, mas dentro da vivência

que eles têm ainda hoje, está tendo mais um pouco na experiência com

algumas políticas públicas, mas essa resistência a querer se apropriar do

que o programa se propõe. Eles acham que aquele conhecimento que eles

já, o conhecimento tem que ser aquilo que eles já trazem da universidade

é aquilo, e não está aberto ao diálogo muitas vezes. Eles têm resistência a

essa forma do PELC atuar. E você dar transformações do serviço público

que convida alianças comunitárias, com os agentes comunitários do

esporte e lazer, com o pessoal que já tem essa identidade com muito mais

próxima da comunidade. É uma diferença grande. O resultado do

trabalho, nível de [palavra inaudível – 0:35:57] deles com trabalho, o

resultado lá na ponta, no sentido de aproximação com o público, no

sentido de querer se desafiar e querer fazer. Então eu acho que isso eu

colocaria essas duas situações que para mim marca muito. Isso não quer

dizer que não tenha gente boa também lá na área da educação física. Tem

muita gente boa que também tem muitos já têm uma certa experiência

com programas ou políticas sociais. E isso interfere na formação deles

muito.

J.K. – Na tua opinião, tu acha que as formações têm algum impacto nos

núcleos?

J.C. – Muito (risos). Se tem. Então assim, aquilo que eu tinha falado, então

o impacto quando eles falam em impacto a gente vai muito para a questão

de impacto... Tem um objetivo ali. Objetivo da formação é que você possa

qualificar esses formadores para poder atuar dentro de uma perspectiva

que o PELC se propõe. Então para mim impacto ele vai fazer com que

realmente esse programa seja materializado lá na ponta mostrando essa

possibilidade de transformação. Então você vê, por exemplo, no trabalho

lá do PELC quando você vê esse nível de envolvimento dos agentes,

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quando você essa... A mudança. Como eu, eu estava vendo hoje no DVD

que eu apresentei hoje de manhã sobre Major Sales/RN [0:37:25],

experiência de Major Sales e olhando para um rapaz lá que ele tinha, ele

estava em um evento que aparece falando lá no vídeo, na apresentação, eu

olhando voltando, memorizando ele quando o rapaz não falava nada. O

rapaz não intervia. Ou seja, eu estava esperando ele começar a falar

“Como é que a gente vai construir? Como é a gente dialogar se você, se

você não fala?” Eu cobrava para ele falar nas formações como a

coordenadora também. Então a coordenadora ela mal falava. E quando vai

hoje num.. Tanto foi eu posso citar dois convênios que eu acho que me

marcou muito nisso aí, foi [trecho inaudível – 0:38:04] esse de Major

Sales. Coordenador... Tanto esse menino como a coordenadora eles eram

pessoas que eram calados. Não interviam em nada, não falavam. E depois

eles já como agente fazendo um trabalho belíssimo com as oficinas. O cara

fala, o cara discute politicamente as questões com o grupo. Ele busca o

que o grupo também aprofunda [palavra inaudível – 0:38:26] isso na

verdade. Você vendo isso acontecer é que você essa formação de pacto na

formação de quadros para atuar no setor. No caso dessa agente que foi,

ela começou atuar como agente e hoje é coordenadora já no segundo

convênio. E assim, o perfil dela, como eu dizia, eu cobrava muito. Ela

começou olha “Você...” Ela disse “Não, porque quando você vai para

avaliação no AV1 você começa nessa fase de avaliação tudo estava

belíssimo. Aí você começa apontar os problemas no processo de

formação.” E ela disse “Não, porque está bom.” Eu disse “Olha, você não

deve, você no seu papel de coordenadora você jamais deve perder de vista.

Você deve cobrar das pessoas enquanto profissional. E não como muitos

de vocês têm uma preocupação em função da relação afetiva. E isso é um

elemento que você não cobrar. Porque eu vou cobrar de você enquanto

profissional que está respondendo como coordenadora. Para que eu fiz

isso? A mina deu um salto qualitativo quando eu fui para o da

culminância, ou seja, acho que uns seis meses para poder se desafiar e

reestruturar dentro do plano de ação deles quando eu fui pro festival com

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outra postura. O evento... Ou seja, você via ela como um, ela conduzindo

a atividade, ou seja, a pró atividade dela, o processo de condução você via

o quanto ela cresceu. E assim, e isso [trecho inaudível – 0:39:45]quanto a

nossa coordenadora... Era outra coordenadora. Então isso foram exemplos

que eu trago mais recente que você vê esse nível de mudança. Você vê

como... Hoje eu estava tomei no depoimento de antes, tive a oportunidade

de ver o depoimento do Joaquim de [palavra inaudível – 0:40:03] ele foi o

coordenador geral do primeiro convênio. Hoje ele é secretário no município

e ele diz ele não vê o quanto o programa ele impactou na minha no sentido

de hoje eu sou o secretário de educação, mas a experiência no trato com o

planejar, com o olhar realidade para poder pensar minhas ações isso tem

repercutido a minha vida. E o PELC ele foi esse elemento, foi no

planejamento e na importância da gente valorizar a cultura, a cultura

local. Algo que ficou para o resto da minha vida e que hoje eu estou

utilizando na secretaria de cultura. Então assim, são essas questões.

Impacto aí se a gente for a gente vai passar aqui a tarde tentando

identificar. Então existe diferença, principalmente que essa política ela

tem impactado muito na formação de novos quadros. Isso é a tese que eu

digo que ela tem materializado.

R.R. – Como é que impacta na vida do formador?

J.C. – Formador impacta no a cada dia quando você se desafia essa

experiência, por exemplo, principalmente a gente eu que vendo a

experiência lá de gestor, atuando como gestor, atuando tendo toda a

minha experiência, você quando está na universidade é aquela utopia de

tentar querer fazer algo que realmente transforme. Ou seja, a gente que

ter vontade [trecho inaudível – 0:41:20]é aquela coisa que a gente via

muito da teoria, num coletivo de propor muito distante. E hoje você se vê

nessa possibilidade ali junto da comunidade de poder contribuir para

aquela mudança. Não, eu estou vendo. Eu estou contribuindo. E você se

sente, e quando tu ver a coisa acontecendo você fica muito feliz porque

você sabe que aquela tua experiência que você tanto sonhava ela está

sendo materializada. E está mexendo com a vida das pessoas, que muitas

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vezes a gente pô! Professor de educação física o que é que a gente vai

fazer? Vai atuar dentro da escola? Vai ser aquela coisa de aula que a gente

tanto critica, que a gente tanto, na Universidade, questionava? Aquela

forma a educação física do.... Então hoje eu me vejo muito mais além

disso aí. Então eu vejo a contribuição no sentido da de quantos sujeito...

Eu acho que cada experiência, cada formação você adquire novos

conhecimentos. E para mim, por exemplo, poder circular, ou seja, a

experiência como conhecer essa vivência cultural de Major Sales, de Joca

Claudino, aí tu vai para o Maranhão. Você tem essa possibilidade de

conhecer porque exige de você que você se aprofunde naquilo dali. Como é

que eu vou contribuir para elevar o nível de consciência das pessoas, de

conhecimento das pessoas, se eu não me preparo para isso? Então isso

para mim tem sido desafio constante. Por isso que eu digo a questão da

experiência com povos indígenas para mim eu acho que ainda seria um

desafio, porque iria exigir muito para eu poder lidar com aquela nova

experiência. Então é da mesma que eles impactados com as experiências

do trabalho dele nós também somos, porque é algo que está ajudando na

nossa formação.

R.R. – Tu acha, assim, várias vezes essa experiência foi pela [trecho

inaudível – 0:42:58], mas não tivemos a oportunidade de, podia

rapidamente falar sobre essa experiência [trecho inaudível – 0:43:04].

J.C. – Isso. A experiência do teste, também dessa de Major Sales, como eu

tinha falado de manhã, ela surgiu em função de problemática que eu

identifiquei no programa, que foi a problemática da grande dificuldade

deles planejarem. Por ser um público, na maioria, de pessoal do ensino

médio, eles tinha uma dificuldade muito grande de poder planejar e de

poder estabelecer metas no sentido de chegar olhar “não, no final do

convênio em quero, acho que alcançar aquilo ali.” Ou seja, eu peguei o

convênio numa primeira, no primeiro pleito do convênio já peguei no AV1,

que era outro colega que tinha feito o introdutório, então já peguei o AV1 e

AV2. Então conseguia começar a trabalhar com eles, eles já responderam

com evento, com festival, estrutura já se aproximando, dominando um

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pouco da base conceitual do PELC. Aí eu vou para essa segunda

experiência “poxa! Vai ser legal”. Só que mudou a equipe. Ficou, só

ficaram dois agentes. Aí ficaram dois agentes, mas parece que foi a coisa

correta. Os dois agentes que realmente eles tinham domínio da base

conceitual,como estavam começando a entender melhor ainda o que quero

dizer. Então, está acabando o convênio no primeiro. Era bom que nós

tivéssemos outra experiência, quando a gente está começando a dominar

encerrou. Eu disse “não, olha...” Foi quando eles submeteram para um

novo pleito e a gente trabalhou. Então eu comecei, a partir da dificuldade

que eu identifiquei, eu senti necessidade de trabalhar com temas com

eles. Tematização. Jogar temas que eu pudesse criar unidade de

planejamento com eles. Então foi a partir dessa estruturação dessa

temática onde eles escolheram, no planejamento participativo no AV1, eles

definem um tema que eles que vai perpassar todas as oficinas. E que

tenha relação com a cultura local. Aí nesse aqui eles pegaram [palavra

inaudível – 0:45:05] PELC, resgatando a história do caboclo e

apresentando os bastidores do concurso. Porque o caboclo? Porque o

concurso de caboclo é um evento na cidade, fez agora vinte e cinco anos, e

que é justamente algo muito forte nessa cidade de três mil oitocentos

habitantes. E eles conseguem reunir, nesses momentos, quase quinze mil

pessoas da região como todo é conhecido como um todo, em torno de

quinze mil pessoas. Então foi a partir do que eles se proporam. Então a

oficina de dança de caboclo que tem uma oficina de dança de caboclo.

Começou a trabalhar no sentido de puder resgatar história. Então dentro

da pesquisa de entrevistar as pessoas que eram liderança ligado ao

cantador, é aquele cara que foi dos primeiros núcleos de caboclo. Aquele

prefeito que estimulou a criação do grupo de caboclo. Junto com a oficina

de artesanato [palavra inaudível – 0:45:58] ou seja, sistematizar aquela

dificuldade. Foram sistematizar todo esse processo de pesquisa, e eu me

lembro também de formação, através da produção do documentário, que

esse documentário está aí, e preparar. A questão a dança preparar as

apresentações para o festival que é a grande culminância, vai acontecer

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agora em dezembro o fechamento, né. Isso aqui seria um dos produtos

que iria ser apresentado, no que foi apresentado no festival de caboclo

desse ano, onde foi apresentado o documentário para quinze mil pessoas

em praça pública e apresentação do grupo de caboclinho do PELC. Então

eles foram, apresentaram, ou seja, apresentaram o resultado do trabalho

deles. Então a medida que eu tematizei eu desafiei para ele criar essa

unidade, porque era oficinas muito fragmentadas. Era atividade pela

atividade e não conseguiam perceber os princípios. Muitas vezes até

trabalhava o princípio, mas eles não tinham a leitura, os elementos

necessários para poder compreender. E hoje não, eles conseguem, no

planejamento e no pensar das atividades deles, entender onde é que cada

princípio ele consegue se articular. Então essa questão de trabalhar com

tematização foi o que deu algum resultado aqui desse material e que vai

ter agora o resultado com a exposição de todos, tudo o que foi produzido

como resultado do convênio. A questão das exposições, a questão das

atividades, o torneio de futebol, por exemplo, era a grande resistência. Na

parte de esporte. Eles estão... A ideia surgiu dentro, por exemplo, todos os

times que vão participar, isso de infância, adultos e idosos que era uma

coisa que eles conseguiram envolver também o público de veterano lá, eles

vão estar caracterizado de caboclo com as camisas identificando todos os

grupos que eles conseguiram levantar na pesquisa que fizeram. E isso

repercutiu na formação em serviço, porque exigiu deles pesquisarem,

exigiu deles buscar memórias, acervo de que eles tratam como imagem

agora desse momento, mas vão buscar também imagem quando as

pessoas estão retratando de uma determinada situação. Eles foram

buscar esse acervo nas pessoas que tinham e foram buscar também na

formação em serviço fora, pessoas que tinham, que estavam pesquisando

sobre o caboclo na universidade, no estado do Rio Grande do Norte, que lá

tem um campus lá. Foram buscar o pessoal que estava pesquisando para

contribuir no processo de formação. Então essa experiência aqui ela foi

uma experiência que eu vejo, hoje, acreditar mais ainda na possibilidade

da cultura popular como elemento norteador do nosso trabalho. Porque

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está aí, eu acho que dentro da sua especificidade, dentro das limitações é

possível se o PELC se aproximar do que ele se propõe. Não dá para ser

simplesmente só entretenimento, atividade que aí as pessoas por si só

fazem isso aí. Aí não vejo a gente apontar, enquanto a política que

realmente possa transformar a realidade, com algo que em vez de

transformar eu vou levar as pessoas para uma perspectiva de uma

conformação.

L.A. – E vocês fazem algum tipo de acompanhamento após o encerramento

do convênio?

J.C. – Após o encerramento?

L.A. – Isso. Mesmo que informal

J.C. – Não. Isso aí eu faço, tanto que uma coisa que eu não citei. Esse

convênio aqui de Major Sales ele está vivendo uma um processo de um

novo conveniamento, só que esse novo conveniamento aí já foi uma coisa

que nós dialogamos e construímos. A prefeitura ela está dividindo os

custos nesse convênio, ou seja, a participação dele nesse convênio, um

novo convênio, onde o município entra bancando a parte de recursos

materiais, ou seja, material permanente, material de consumo e

divulgação, e o ministério entra agora com aporte do recurso humano que

é o que, de certa forma, é o mais pesado para o município. Então a gente

já teve uma reunião no ministério com a participação do prefeito,

coordenador e já foi, já está no processo de iniciando a discussão da

construção do novo PP. Que ele seria um projeto piloto dessa nova

perspectiva de municipalização, ou seja, vai criando um vínculo maior

com o município. Uma responsabilidade maior no sentido da assumir essa

política municipal, ou seja, então o PELC ele está cumprindo com o

momento induzindo também essa municipalização da política de esporte e

lazer. Então acho que esse convênio ele trouxe, como outros convênios

estão trazendo, essa esse olhar da gente que foi a partir desses diálogos da

reflexão com o ministério, com os formadores e com a UFMG estar

possibilitando a gente vê essa experiência. E dessa continuidade, assim,

da continuidade também tem a questão que a gente estabelece o canal de

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diálogo com os coordenadores a gente não pede isso aí quando tem

sempre está alimentando a informação. A questão assim a questão da

EAD foi outro elemento, assim, que acho que veio agora ajudar muito

nesse elo com eles. Está buscando, mesmo quando termina os convênios

“Como é que eu faço para fazer um curso optativo? Eu terminei agora e o

convênio acabou. E aí?” Então eles têm buscado muita gente disso

também de buscar, não parar mais buscar dar continuidade a esse

processo. E a gente tem feito, dentro da medida do possível, ou seja,

querendo ou não também, a gente estabelece vínculos de amizade nesses

locais. O que você consegue hoje consegue. Se eu for pro Ceará, se eu for

para a Paraíba hoje eu tenho um ciclo de amizade muito grande. Porque

você deixa muita amizade, você deixa muita referência nesse teu trabalho

que é também outra coisa que contribui nessa impacta também na vida

da gente. Você saber que tem pessoas ali que você chegar ali será muito

bem recebido.

R.R. – Tanto essa política que tem o PELC para a comunidade tu acha que

tem também para os formadores, por exemplo, os princípios e diretrizes,

né, essa questão dialógica mesmo ela vem acompanhando também os

formadores do PELC, com os encontros, poder falar um pouquinho sobre

isso?

J.C. – Não, assim, é uma, um elemento que com esse trabalho de

qualificação que com a entrada da UFMG ela qualifica, tem qualificado

esse processo. Só que a gente sabe que parte da essa apropiação do

conhecimento, esse compromisso político com a mudança ele há graus de

diferenciação dentro desse processo do de formadores. Têm formadores

que são extremamente comprometidos, tem um grupo que é muito forte

que eu conheço, mas esses que outros a gente percebe que há, não há um

nível de preocupação com a repercussão desse trabalho. Aí é onde olha

essa questão dos princípios, ou seja, é cumprir, fazer entender, cumprir

com aquele convênio. Só que a gente que tem uma formação política acho

que a grande maioria aqui já tem envolvimento com gestão pública, ele vai

além disso aí, vai além de cumprir uma missão de ser formador ali,de

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cumprir aquilo que tu tem que cumprir teu relatório, cumprir tua

proposta de trabalho. Não. Eu acho que existe outros no nível acima disso

aqui, tem um compromisso político que eu acho que isso é fundamental. E

assim, a UFMG ela tem tido esse cuidado de sempre trazer para debater,

como esse encontro agora, então nem todo mundo tem esse mesmo olhar

no sentido da relação dialógica, da reflexão, no sentido da mudança

mesmo. Então eu acho que não existe, todos não estamos nesse patamar

de comprometimento político não. Infelizmente, mas faz parte, né.

J.K. – Quais aspectos que tu destacarias em relação ao trabalho do PELC?

J.C. – Que aspectos? O trabalho do PELC eu acho que o destaque, para

mim, fundamental, ou seja, é tudo mas tem um elemento que eu acho que

é a formação de sujeitos aí para transformar a realidade. Ou seja, ele é

uma política que vem no sentido de numa perspectiva afirmativa aí de

direitos, ela tem um elemento fundamental nesse sentido da

democratização do acesso. Fazer com que as pessoas comecem a perceber

esse que ele tem direito, que aquilo ali é dele, ninguém está dando, mas,

além disso, eu acho que você poder contribuir para a formação dos

cidadãos que estão ali, no sentido de poder exercer a sua cidadania, poder

ter elementos de poder fazer a leitura da sua realidade, do seu contexto,

da sua situação e onde você está inserido, eu acho que isso é um aspecto

para mim fundamental. Sem desconsiderar os outros, que aí é a formação,

essa questão de poder criar essa cultura do esporte, do lazer no município

mudando esse estilo, mudando o estilo de vida das pessoas. Uma nova

adoção, uma nova atitude diante da realidade que eles vivem. Então isso a

gente tem dialogado nas nossas formações e isso também tem tido

feedback deles nessa perspectiva. E que eu acho que é um elemento

fundamental, independente de PELC contribuir para formação do cidadão.

Eu acho que é um aspecto que acho que a gente nunca deve abrir mão,

principalmente se a gente acredita na mudança.

J.K. – Sim. Na tua opinião, o que seria possível fazer para qualificar mais

o programa? O que tu acha que poderia ser feito?

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J.C. – Olha, uma das... Eu acho que para qualificar o programa quando a

gente... Uma das questões que eu acho que, hoje, um dos principais

objetivos do PELC e democratizar o acesso. E quando tu pressupõe

democratizar o acesso, pressupõe fazer com que esse programa seja

ampliado. Se chega a mais municípios que as pessoas realmente possam

ser atendidas, ou seja, eu digo muito isso nas minhas formações “Óh, se

vocês têm uma meta estabelecida e atender a quatrocentas pessoas, a

medida que eu fico satisfeito atendendo as pessoas, é bom a gente

começar a pensar quantas pessoas estão deixando de acessar o esporte, o

lazer enquanto direito. Porque está tendo investimento público ali. E esse

investimento público tem essa intenção de fazer com que o PELC ele possa

ampliar, ele possa criar, começar a mudar essa realidade a partir do

acesso, da elevação do nível de conhecimento” Então por isso que eu acho

que nos aspectos que a gente precisa tratar mais hoje é essa questão de

ampliar, mas ampliar com pé no chão, ou seja, ampliando a, tem sempre

essa tendência de ampliar, mas também qualificando cada vez mais as

pessoas que vão estar atuando. Qualificar as pessoas que estão lá

enquanto agente, mas mais na frente pode estar sendo gestores, atuando

no seu município. Então acho que quanto mais a gente buscar qualificar

esse processo de formação, de todos os sentidos, formação do formador e

formação de quem está lá na ponta, eu acho que isso aí acho que é um

dos elementos que o PELC ele não deve abrir mão disso, porque acho que

é isso o diferencial, no meu olhar isso é o diferencial nessa política de

esporte e lazer. Porque imagina o PELC sem essa processo de formação,

sem esse algo que fosse solto, deixasse o município conduzir essa

processo formativo. Deixasse ele conduzir, por exemplo, só através da

formação a formação em serviço, pode ter certeza que o resultado seria um

desastre. Então isso não sou eu que digo, não, são os agentes que dizem

isso também. O diferencial desse programa é a formação. Ele disse que

nunca viram um programa que via lá, acompanha, que faz esse processo

de instrumentalizar, dialogar com a comunidade, construir saída

conjunto. Isso eles sempre reforçam no trabalho que a gente tem feito, que

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acho que a gente não poderia abrir mão jamais disso aí. Eu acho que isso

é a coluna de sustentação do programa.

[FINAL DA ENREVISTA]

Depoimento de Keni Tatiana Vazzoler Areias

Depoimento de Khellen Cristina Pires Correia Pinto

Depoimento de Lieselote Inês Schmidt

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Depoimento de Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti

Entrevistada: Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti

Nascimento: 19/11/1964

Local da entrevista: Parque Araribóia – Porto Alegre

Entrevistadores: Suellen Ramos, Priscila Praz Premavati e Leila Mattos

Data da entrevista: 11/11/2015

Transcrição: Alexandre Luz Alves

Copidesque: Jamile Mezzomo Klanovicz

Pesquisa: Alexandre Luz Alves

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Observações:

Sumário

PELC; Programa; Prefeitura; Formações; Núcleos; Inclusão Social; Qualificação; Grupos;

Evolução Pedagógica.

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Porto Alegre, 11 de novembro de 2015. Entrevista com Loreti Sandra Lazzarotto Rucatti a

cargo das pesquisadoras Suellen Ramos, Priscila Praz Premavati e Leila Mattos para o

Memórias do PELC e Vida Saudável.

S.R. – Vamos voltar falando das formações em dupla.

L.R. – O nosso grupo que foi chamado de coletivo do sul, a gente se reunia para estudar e

além de se reunir para estudar e a gente dividia os textos para levar para casa para a

semana seguinte a gente debater sobre os textos e sobre como a gente falaria, de que

maneira falaria para o público que estava para nos ouvir. A Leu sempre teve muito claro

isso com ela de como a gente tinha que ver o público e como a gente ia trabalhar e falar,

se era mais científico, se era mais a língua deles. Essa preocupação tinha no nosso grupo e

a outra preocupação era de trabalhar em dupla, a gente decidiu desde o inicio a

orientação era um formador por curso e a gente resolveu que seriam dois. A gente

sempre iria em dupla, para um apoiar o outro para fazer a parte pratica, um conhecia

mais a parte do esporte, o outro mais brincadeira, então a gente conseguia fazer um

curso bem dinâmico e que o pessoal chegava no final do curso assim e nem tinha cara de

cansado. Começava na sexta e terminava domingo, a gente fazia manhã tarde e espichava

a noite para poder completar as quarenta horas da carga horária. Eu lembro que no final

tu só agradecia que tinham aprendido muito, tinha sido muito bom que já tinha uma linha

de como tinha que trabalhar, agora eu vou falar a frase: “Eu nunca estudei tanto na

minha vida quanto para o PELC”. Nem para a faculdade, a gente tinha que ler livros, mas

para o PELC a gente suou. Para montar um curso legal, um curso dinâmico, um curso que

tivesse teoria e pratica e que fosse um curso acessível para todas as pessoas que

estivessem escritas ali como agentes do PELC.

S.R. – E na tua opinião essas formações tiveram impacto nos núcleos?

L.R. – Com certeza por que as avaliações eram estrondosas, a gente chegava no hotel. A

gente tinha um horário para fazer as avaliações, para compilar... Não, vamos fazer agora a

noite, por que a gente sempre estava louco para ver o que eles escreviam, nos primeiros

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a gente ficava até de madrugada, vamos fazer hoje, a gente tem que ler, a gente pedia

para não colocar o nome para não se expor. Então eles escreviam muita coisa, eles

agradeciam muito, agradeciam que tinham aprendido, que tinha sido muito bom, que

queriam que a gente voltasse, não só daqui a seis meses, que a gente fosse lá para olhar o

trabalho para avaliar e essas avaliações eram importantes para nós por que elas

levantavam ainda mais o nosso astral, a gente está no caminho certo. Essas avaliações

iam para Brasília, eu não sei como foi recebido, mas para nós eu vou te dizer que sempre

teve elogios. Eu acho que a Regiane em nenhum lugar que foi na época das cidades, eu

lembro que tu foi em Santa Vitória, que tu foi no Chuí, que tu foi em Feliz, eu acredito que

nenhuma cidade ela tenha tido qualquer reclamação nossa, nunca faltamos a não ser a

vez que os guris erraram o Chuí com Ijuí e foi muito engraçado por que eles foram para

Ijuí. O guri falava Ijuí no telefone e eles compraram passagens para Ijuí e o guri dizia:

“Onde é que vocês estão?”. Eles respondiam: “A gente está aqui na frente da rodoviária”.

E o guri disse: “Mas eu também estou, como é que vocês estão vestidos?”. E eles

respondem: “A gente está vestido assim...”. E o guri: “Mas eu não estou vendo ninguém

aqui, eu vou dar a volta, mas onde é que vocês estão?”. Depois de várias ligações o

pessoal esperando em Ijuí: “Mas afinal de contas, em que cidade vocês estão?”. E eles

responderam: “Ijuí”. Ai o cara lá do Chuí disse: “Mas aqui é Chuí”. Ela disse que só não

teve um infarto por que não era a hora e agora como faz para chegar em Chuí de Ijuí? Foi

muito engraçado, mas depois quem foi dar o curso em Chuí fui eu, foi muito engraçado, o

pessoal já estava na expectativa de esperar, mas foi muito bom. Foi um período de quatro

ou cinco anos muito bacana, maravilhoso.

S.R. – Está destacando assim vários pontos positivos e do quanto as formações impactam

nos núcleos, mas eu não posso deixar de perguntar se tu destaca também algum ponto

negativo?

L.R. – Os positivos são sempre os que ficam, mas a gente teve alguns problemas, a gente

teve problemas de verba em algumas prefeituras, eu não vou dizer quais. Mas a gente

tinha que se posicionar, fazer reunião com o responsável pela prefeitura que faz o

projeto, que encaminha que assina, do comprometimento, onde ia a verba. A gente teve

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alguns locais, eu acho que foram poucos, se eu não me engano, de todas as cidades que

fui, por que eu acompanhei o curso, eu acho que foi em dois que a gente teve que sentar

com o pessoal da prefeitura e dar o redirecionamento, ou a gente mandava a avaliação

para lá para acabar. Podia fazer isso também a gente voltava do lugar e a coisa não estava

acontecendo, tá fazendo o que com o dinheiro? Então eu acho que foram dois lugares

mais pesados, não convém listar quais são, mas foram dois assim que teve uma metade

do curso de avaliação que a gente ficou só na batalha ligando para Brasília para tentar ver

o que ia acontecer por que o pessoal reclamava que não chegava material, que não tinha

isso para as oficinas, que não tinha aquilo. Mas como que não tem se o dinheiro já veio?

Então teve duas cidades, foi bem triste, teve choradeira, o pessoal chorava que não tinha

como trabalhar e estava tirando dinheiro do bolso, também teve coisas negativas. Mas

foram coisas que a gente pode administrar sem problema nenhum, não precisou se

interromper nenhum curso, as coisas tomaram um novo rumo realmente, mas era uma

parte do curso que ninguém queria, a gente não gostava de trabalhar com isso, mas teve.

A gente teve muito mais coisas positivas, o resultado foi positivo do que negativo,

negativa mesmo acho que não teve, para nós não teve. Mas teve essas outras coisas, não

foram tão boas, a gente teve que dar esse redirecionamento, eu não posso dizer pontos

negativos, eu realmente não tenho muitos. A não ser essas coisas mais de prefeitura, de

verba, que a nossa parte era mesmo toda relativa com o PELC, com os acontecimentos,

com as coisas, com as oficinas, com os materiais. Vocês já olharam o projeto de

prefeitura? Já chegaram a ver algum? Ali vem a verba destinada, certinha para comprar o

que, tem que ter né?

S.R. – Mas de um modo geral, no teu ponto de vista o PELC cumpria com o objetivo da

inclusão social?

L.R. – Cumpria mesmo, teve tantos lugares, tanta gente que nunca teve acesso a nada,

pessoas com sessenta anos que nunca souberam na vida o que era brincar com uma bola

de basquete, verificar pulso em uma caminhada, uma aula de dança, tinha muitas oficinas

de dança, crianças com aula de percussão, a gente assistiu uma aula, acho que foi em

Feliz ou Ivoti as crianças fazendo percussão. São coisas, como tu vai achar uma coisa

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negativa numa iniciativa que traz resultado, eu acho que a gente teve muita sorte aqui no

sul, por que é o sul as pessoas abraçam as causas. Mas em todos os PELCS que eu

acompanhei nenhum deles deixou de executar as tarefas da primeira reunião que a

gente... Tiveram que trocar agentes, que a coisa não estava (palavra inaudível) ai

dispensavam e contratavam pessoas com o perfil mais específico, as coisas sempre foram

assim, muito artesanato, muita aula de violão, percussão, oficina de dança, ginástica,

alongamento para a terceira idade, oficinas de dança, ginástica, várias coisas, muitas

coisas boas. As vezes a gente chegava era um grupo que não tinha muito, mas depois do

curso eles se achavam, eu lembro que aqui em Porto Alegre em uma formação teve uma

menina que chegou e disse assim: “Eu vou ter que fazer isso?”. Ai eu olhei para ela: “Se tu

não quiser fazer isso, tu pede demissão agora, por que tu vai brincar com criança, tu vai

limpar o ranho da criança, por que tu vai ter criança ranhenta, criança fedorenta, tu vai

ter de tudo e tu vai ter gente cheirosinha, mas tu vai ter que trabalhar e são pessoas que

tu vai ter de atender da mesma maneira”. As pessoas se inscrevem e elas não sabem para

onde elas estão indo, não tem noção do que é um projeto, um projeto social, trabalhar

em vilas, em locais aonde não chega mesmo...

S.R. – Na tua opinião o que é necessário para o programa se qualificar ainda mais?

L.R. – Estou afastada agora, eu não sei. Eu vou falar do nosso grupo, eu acho que a gente

tinha que tentar aproximar cada vez mais a pratica da teoria. Por que quando tu vai para

um projeto que tu tem pessoas que se inscrevem para trabalhar e o que eu vou fazer? As

vezes as pessoas não tem essa dimensão e tu recebe um curso de quarenta horas e a

pessoa sai de lá sabendo que ela vai fazer, eu acho que isso merece estrelinhas mil e

priorizar que as pessoas entendam o que é aquele projeto, eu acho que o avanço é isso, é

como que as pessoas vão chegar lá para trinta ou quarenta agentes que estão na

expectativa, que vão trabalhar em um projeto receberem como é que funciona o projeto,

por que se eles não souberem ali nesse curso, como é que vai funcionar, o que eles tem

que fazer, o lugar de cada um dentro do projeto. Eu acho que tem que aprimorar isso,

levar para eles como deve funcionar o projeto e dentro desse um ano... Eu não sei se é

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um ou dois... É por que o pessoal chorava muito quando chegava na reunião de avaliação

final, tem que continuar, mas não éramos nós que fazíamos continuar...

R.R. – Tu achavas assim tu fazia o modulo introdutório, fazia também...

S.R. – Tu trabalhou só no PELC ou tu chegou a trabalhar também com os povos indígenas,

Vida Saudável?

L.R. – Só no PELC...

R.R. – Dois aspectos que eu queria saber; primeiro, tu notou evolução pedagógica no

aprendizado mesmo sendo recreativo, como evoluía as oficinas e as ações e segundo, os

agentes conseguiam manter os seus grupos? Esses grupos iam se esvaziando ao longo do

tempo?

S.R. – Das que eu conseguia acompanhar eu acho que eles evoluíram, por que a gente ia

na avaliação no meio do semestre, seis meses depois a gente voltava lá. Então a gente via

uma organização bem pedagógica, tinham chamada, o grupo que estava determinado lá,

abria inscrições. Quando a gente sai do primeiro módulo, a gente já sai de lá sabendo o

que eles vão fazer, já está determinado, vai ter grupo disso e disso. Quando tu chega para

avaliar aqueles grupos tem inscrição, tem o grupo, a gente faz uma avaliação, eles

apresentam o que eles, levam os grupos para se apresentar, se é dança, se é ginástica.

Então isso deu para ver que teve essa evolução, o pessoal mantinha o grupo, tinha grupos

que iam até o final. No final do ano se apresentavam para nós na avaliação e eles tinham

essa organização, acho que a evolução pedagógica era legal por que dependia muito

também do coordenador geral, quando ele era um profissional da área ele conseguia, por

que eles tinham reuniões também depois que a gente ia embora. Então eles conseguiam

se organizar pedagogicamente por que eles tinham chamada, eles tinham presenças,

faltas direitinho, eles contavam as pessoas, a gente via pelas chamadas que eles

acrescentavam, o grupo aumentava, diminuía conforme a chuva, se eram coisas na rua,

futebol. Então a gente conseguia ver isso, acho que todos eles evoluíram

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pedagogicamente também. Eu acho que eles saiam do PELC prontos para arrumar um

emprego na área, mesmo não sendo profissionais da área. Muitos deles foram ótimos

profissionais, eles saíram, eu vou te dizer, entre eles mesmos como a pessoa não dava

conta, eles já trocavam, eles substituíam. Nunca precisou a gente chegar e dizer para

dispensar fulano, ciclano... Aqui em Porto Alegre eu não acompanhei, eu fui em uma

avaliação só por que eu já estava com cargo na prefeitura, eu evitei de fazer a formação

aqui em Porto Alegre, aqui eu não acompanhei, mas aqui teve vários que foram

demitidos, vários que foram trocados. As outras que eu acompanhei foi bem pouco. Os

grupos se mantinham por que sempre teve muita gente participando do PELC por que era

muito divulgado, tinha muito cartaz, muita coisa, a visita nos núcleos quando a gente

chegava a gente fazia visita, a prefeitura já tinha determinado, então de manhã era visita

nos núcleos, a gente ia ver se era adequado, se não era, se eram espaços públicos, se

eram espaços privados, iriam atender crianças da onde, então tudo isso era visto por nós.

Eu acho que isso também era importante, a gente fazer a visita, olhar, ver aonde eles

iriam trabalhar, que crianças eles iam atender, a gente acompanhava toda a divulgação,

os cartazes, tudo a gente mandava por email, a gente dava um “ok”. A gente fez um bom

trabalho.

S.R. – Meus parabéns.

L.R. – E a Rejane está ai, a nossa chefe, com todos que vocês vão falar as pessoas vão

dizer a mesma coisa, eu tenho certeza por que a gente dava curso um dia ia com a Leu,

outra vez eu ia com a Lise, outra vez eu ia com o Luis e a gente nunca era a mesma coisa.

A gente sorteava para a gente ver, até por que a gente dividia tudo, então a gente dava

uma equilibrada. Foi um período de aprendizagem, muita leitura e foi muito bom. Eu só

tenho a agradecer pelo convite mesmo para mim foi maravilhoso.

S.R. – Muito obrigado Loreti.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Luis Carlos Lira

Entrevistado: Luis Carlos Lira

Nascimento: 19/05/1971

Local da entrevista: UFMG – Belo Horizonte

Entrevistadora: Jamile Mezzomo Klanovicz

Data da entrevista: 19/11/2015

Transcrição: Adriana Zimmermann

Copidesque: Pamela Siqueira Joras

Pesquisa: Pamela Siqueira Joras e Silvana Vilodre Goellner

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

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Sumário

Formação acadêmica; Trajetória profissional; Envolvimento com a

temática do lazer; Atuação como formador do Programa Esporte e Lazer da

Cidade (PELC); PELC Todas as Idades, Vida Saudável e Povos Indígenas e

Comunidades Tradicionais; Estratégias metodológicas; Visitas técnicas e

pedagógicas; Resultados ao longo das formações; processo de

municipalização; Acompanhamento dos núcleos após o fim do convênio.

Belo Horizonte, 20 de novembro de 2015, entrevista com Luis Carlos Lira

a cargo da pesquisadora Jamile Mezzomo Klanovics para o Projeto

Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte.

J.K. – Eu agradeço primeiramente pela disponibilidade em ceder a

entrevista e queria que me contasse um pouco da tua formação.

L.L. – Eu fiz a minha graduação em Licenciatura Plena em Educação

Física e me formei na Universidade do Estado do Rio de Janeiro no ano de

1997. Logo após eu integrei o curso de Mestrado em Educação na mesma

Universidade e conclui no ano de 2000. A partir disso, eu passei por todo

o processo de preparação profissional e dei aulas em escolas públicas e

particulares no estado do Rio de Janeiro e no estado de Minas Gerais. No

ano de 2003 eu adentrei na Universidade Estadual de Montes Claros e no

ano de 2004 na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nessa sou professor

até hoje nas disciplinas de Ginástica Artística e Educação Física

Gerontológica. Terminei recentemente meu doutorado na Universidade

Católica de Brasília onde eu fiz um estudo da motivação para as práticas

de lazer de pessoas idosas. Atualmente estou atuando aqui no Programa

tendo participando de várias formações do Grupo de Formadores.

J.K. – Certo! E quando a temática do lazer apareceu na tua trajetória?

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L.L. – Bom, a temática do lazer vem desde a época da minha graduação,

mais especificamente voltada para a temática da pessoa idosa, para a

questão da atividade física para pessoas idosas. Nessa perspectiva da

prática das vivências do lazer, vem nesse patamar, tanto que a minha

memória de licenciatura, a minha dissertação, mestrado e tese foram

voltados ao campo do lazer, para a questão das atividades físicas. No

mestrado para as questões educacionais da pessoa idosa. Recentemente,

atuo nessa preocupação em entender a motivação dos idosos para

participar de atividades de projetos que abarcassem o maior número de

atividades do lazer.

J.K. – E como conheceu o PELC?

L.L. – Comecei a conhecer a partir de 2003 com a implantação de uma

política pública de esporte e lazer pensada na Secretária Nacional de

Desenvolvimento de Esporte e Lazer, antiga SNDEL. Vinha

acompanhando, até que houve o processo seletivo de formadores no qual

dentro dessas vertentes do Programa de Esporte e Lazer na Cidade tinha o

PELC núcleo Vida Saudável. Entrei nesse processo de seleção para

compor o grupo de formadores do Vida Saudável e foi por esse caminho

que eu entrei e participo do grupo de formadores.

J.K. – Certo! Como foi a tua preparação para se tornar um formador?

L.L. – Então por toda essa minha trajetória acadêmica, meus estudos

atrelados à questão das entidades de lazer para as pessoas idosas. Algo

importante assim que, vamos dizer, eu não estudava a questão específica

do lazer, mas a partir de 2006 eu passei a integrar o grupo de formadores.

Nesse momento eu começo a me debruçar mais sobre o assunto, a

temática do lazer e participei de todas as formações, encontros,

seminários, ENAREL96 , encontros nacionais da temática.

96

Encontro Nacional de Recreação e Lazer.

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J.K. – Sim, e hoje atuas no PELC Todas as Idades e no PELC Povos e

Comunidades Tradicionais?

L.L. – Na verdade eu atuo mais no PELC Todas as Idades e no PELC Vida

Saudável. No Povos e Comunidades Tradicionais eu ainda não tive a

oportunidade de atuar, mas é algo novo para nós e estamos passando por

processo de formação para também atuar, mas atualmente não.

J.K. – Certo!

L.L. – Povos e Comunidades Tradicionais agora é Povos Indígenas e

Comunidades Tradicionais.

J.K. – Mudou?

L.L. – Sim. E tem o Vida Saudável também.

J.K. – Tem, são três?

L.L. – São três.

J.K. – E tem alguma diferença no planejamento na formação de cada um

deles?

L.L. – Sim, em cada um desses porque são programas distintos. No caso, o

Vida Saudável tal diferença ocorre em um atendimento específico para

pessoas idosas. No planejamento e organização há diferenças porque o

Vida Saudável é pensado na preparação dos agentes sociais para atuar em

um grupo específico, que são os idosos, já no PELC Todas as Idades a

gente trabalha uma perspectiva mais ampla e a ênfase é dada para a

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questão do atendimento de pessoas idosas. Ela não é tão específica dado

ao maior, e agora faltou a palavra...

J.K. – Proporção?

L.L. – Faixa etária da população que é atendida entendeu? Então tem essa

diferença no planejamento e na organização das ações, em termos até

mesmo de atividades que são as vivências corporais que são desenvolvidas

nas formações.

J.K. – Como planeja e organiza essas atividades de formação do

Programa?

L.L. – Para realização da formação?

J.K. – Sim.

L.L. – Tão logo a gente recebe a solicitação para realizar uma formação nós

entramos em contato com a entidade que vai desenvolver o Programa,

convênio. Nos pautamos pelo perfil dos agentes, em termos de

escolaridade, quem são esses atores que vão participar, fazemos um

estudo da realidade do município, conversando até mesmo com os

coordenadores desses convênios ou fazendo consultas via internet de

possibilidades em termos culturais, de espaços que a cidade proporciona.

A partir disso a gente faz toda essa estruturação, atendendo também as

diretrizes, o que tem em termos de conteúdos a serem trabalhados em

cada um dos seus módulos. A diferença vai ocorrer em termos de

conteúdos de acordo com os módulos que nós iremos desenvolver na

formação.

J.K. – Certo! Tem alguns temas que são obrigatórios que são as diretrizes.

Tu busca inserir outros temas nessas formações?

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L.L. – Esses temas que são inseridos geralmente são a partir do módulo

introdutório 2. Atualmente e nas avaliações, na avaliação 1, porque ao

término da formação do módulo introdutório 1 e da avaliação e módulo

introdutório 2 os agentes sociais todos os participantes de

desenvolvimento do convênio, preenchem uma ficha de avaliação da

formação e ali tem um item que pede que eles façam uma solicitação de

temas que sentem necessidade para contemplar num próximo módulo de

formação. Se ali a gente percebe indicação de alguma temática e a gente

observa dentro da realidade que se conhece o local onde vai ser

desenvolvido, a gente insere na outra, no módulo posterior.

J.K. – Que tipo de estratégias metodológicas tu costumas utilizar?

L.L. – Bom, trabalha-se a questão da exposição, da metodologia expositiva

dialogada, dinâmicas de grupos, com vivências corporais e com projeção

de vídeosclips, longa metragens. No caso de longa metragem e curta

metragem, usamos tanto aqueles voltados para a questão, chamado da

linha mais alternativa de filmes, quanto com grandes, como filmes do

grande circuito e os alternativos até mesmo para eles perceberem essas

diferenças. A partir disso mostramos para eles como é importante estar

trabalhando isso com a comunidade e elas não ficarem condicionadas a

um modelo, a uma forma de vídeos

e filmes que estão só ligados ao grande circuito.

J.K. – Certo. E em relação às visitas aos núcleos, como são realizadas as

visitas técnicas e as visitas pedagógicas?

L.L. – Nós somos responsáveis pelas visitas pedagógicas, nós as fazemos

em que momento? No primeiro momento, no módulo introdutório 1 onde

nós vamos trabalhar com os agentes o reconhecimento dos espaços onde

eles vão atuar que às vezes muitos deles não conhecem e para também

entender qual é o espaço que aquele convênio vai desenvolver as

atividades. A partir desse momento a gente vê a viabilidade ou a

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inviabilidade da utilização daqueles espaços para desenvolvimentos dos

núcleos. Neste caso, a gente pede, solicita que seja alterado o local do

núcleo. Mas, na perspectiva pedagógica trabalhar com o processo de

reconhecimento dos espaços e de maximização em termos de

ressignificação dos espaços e não só pensar o espaço como uma estrutura

física pautado em uma infraestrutura que possibilite as práticas

esportivas. Precisamos ver outros espaços em que a gente passa a dar

novos significados e com isso as atividades são realizadas nesse espaço,

tanto atividades de cunho social, cultural, quanto atividades físico

esportivas. Num segundo momento a gente vê as questões de extrair o

máximo do espaço para o desenvolvimento de atividades, até mesmo com

a questão da diversidade de atividades, então trabalhar com eles, esse

exercício de eles verem o espaço com várias alternativas. Já no módulo

introdutório 2, nós fazemos a visita pedagógica com os núcleos em

funcionamento para a gente perceber se o que a gente trabalhou em

termos de conceitos no módulo introdutório 1, a forma como eles

assimilaram e como ele estão trabalhando nesses dois meses iniciais. É

aquele momento: “Isso está errado, essas atividades estão sendo

realizadas dentro do que nós programamos das diretrizes do Programa”. A

gente começa a debater com eles e mostrar as situações que estão dentro

das diretrizes e situações que não estão de acordo com as diretrizes, então

faz um ajuste. No módulo avaliação 1 nós fazemos a visita pedagógica, um

dia anterior ao contato e mais uma vez a gente vê aquelas correções que

se fez. Vamos fazendo esse acompanhamento todo, e se vê também a

questão metodológica, a questão em termos de materiais, tanto no módulo

introdutório 2. Nessa visita, se vê se os materiais chegaram, foram

comprados, porque isso pode interferir diretamente na questão de

desenvolvimento do programa, nas questões pedagógicas. Então a gente

faz essa visita pedagógica para ver a questão de identificação dos núcleos,

se está sendo feito, se já foi feita, se está dentro dos padrões, então, essas

visitas tem essa finalidade.

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J.K. – E consegues ver algum resultado nos agentes e no núcleo ao longo

das formações que são realizadas?

L.L. – Sim, a gente consegue ver algumas questões de organização da

própria comunidade resultando em situações que às vezes o convênio

termina, se extingue porque tem lá o prazo, mas alguns grupos continuam

se encontrando, se organizam até mesmo para dar uma contribuição para

a gente que antes era remunerado pelo convênio e depois deixa de ser

remunerado. A própria comunidade, muitas vezes, se organiza para isso.

Existem casos de a prefeitura continuar com algumas atividades mediante

até mesmo uma solicitação da comunidade e alguns casos pelo

entendimento da importância do lazer para a comunidade. Se observa isso

ao longo desse tempo em que atuamos. E até mesmo por relato dos

agentes, nas suas avaliações o que que contribui na formação deles

enquanto profissionais. Isso é algo bastante recorrente e é interessante

que ao término de cada uma das formações eles recebem certificados e

isso faz um diferencial em termos de preparação para outros trabalhos.

Eles valorizam bastante essa questão da formação, então a gente vê os

resultados e até mesmo nos relatos, um olhar diferente em relação a

questão do lazer, olhar diferente da sua prática pedagógica, ainda mais

atrelada a questão das atividades físico esportivas daqueles esportes

tradicionais que a gente consegue sensibilizá-los para o entendimento que

no lazer não há uma preocupação na ênfase do treinamento para formar

um jogador, ou uma dançarina, ou um artista de pintura, de artesanato,

não, mas sim uma perspectiva de entendimento que o lazer deva ser

vivenciado, usufruído em um momento de satisfação e prazer daqueles

que escolheram estar ali naquele momento, então isso é bem interessante

de observar.

J.K. – E existe algum acompanhamento dos núcleos após o fim do

convênio deles?

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L.L. – Após o fim do convênio não se continua acompanhando, se faz

contatos posteriores no sentido de saber se a prefeitura encampou a ideia

ou a organização. Diante daquilo que eu te falei do que eu percebo é mais

nesse contato: “Não continuou, mas aquele grupo do núcleo tal eles

continuaram. Ah! a prefeitura assumiu, mas não assumiu todas as

atividades por causa da questão de recursos”. Dessa forma e depois

dessas informações a gente não continua no acompanhamento, porque

temos que atender outras demandas e fica

complicado, particularmente para mim.

J.K. – E tu consegue perceber se os núcleos tem obtido êxito em um

processo de municipalização?

L.L. – Olha, eu vou puxar um pouco na memória, eu esqueci agora o nome

da cidade, fica mais ou menos a 160 km aqui de Belo Horizonte A

prefeitura encampou, tanto que na época num processo de envolvimento

do convênio tinha um clube que tinha fechado na cidade e o prefeito

encampou e revitalizou o clube que passou a esse núcleo, um centro de

convivência para pessoas idosas com uma questão do Vida Saudável. Teve

um também perto de Uberlândia, como é que é ..., o problema agora são

os nomes, é que é perto de Uberlândia chamada cidade do abacaxi,

Canápolis. Lá a prefeitura deu continuidade com

algumas atividades em virtude de uma solicitação da comunidade, então

esses dois me vêm agora na memória. Eu terminei um agora em

Itaquaquecetuba, em São Paulo e esse convênio foi bem interessante. Em

todos os momentos da formação o prefeito se fez presente, e terminou

agora na semana retrasada. Fiz o último módulo de avaliação e a gente

conversando e tudo ele ficou sensibilizado, porque participou além das

formações, dos eventos que o programa desenvolvia ao longo da sua

execução. Ele foi a todos eles e o relato que nós tivemos, tanto dos agentes

quanto dos coordenadores, que mesmo que se não conseguisse uma

prorrogação de prazo ele iria dar continuidade. Mais um convênio que

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posteriormente eu vou entrar em contato para saber o que foi feito em

termos de continuidade nesse processo de municipalização. Na última

formação que eu fiz, foi a primeira do módulo introdutório 1 em Cornélio

Procópio no Paraná. Além do prefeito foi uma vereadora e dentro da

formação já começamos a discutir essa questão da municipalização e da

importância de uma estruturação do marco legal em termos de cobrança

mantendo a comunidade lá, os agentes para a vereadora no sentido de leis

que venham a respaldar a continuidade do atendimento pelo município

em termos de responsabilidade. Isso vai ocorrer num outro processo de

desenvolvimento de ações que vão repercutir na Assembleia Legislativa.

Assim eu espero que a gente vá trabalhando esse processo de

municipalização. Então a gente trabalha dessa forma.

J.K. – E quais pontos tu consegues identificar que podem ser melhorados

no programa?

L.L. – Bom o que eu vejo... Você diz em termos pedagógicos ou

estruturais?

J.K. – Qualquer um dos dois.

L.L. – Olha nesse tempo todo em que se está atuando, vamos fazendo

ajustes. As reuniões nessas formações de formadores são duas, uma a

cada semestre, vamos sempre buscando melhorar. Uma das coisas que

hoje está se discutindo é essa questão, uma diretividade dos conteúdos

que devam ser trabalhados. Existem vários conteúdos e tentamos uma

uniformização deles para que, no caso da impossibilidade de um

formador, que fez um módulo e tenha algum empecilho de fazer o outro

módulo o que vem já sabe o que foi trabalhado para dar continuidade.

Então a gente está avançando nessa questão. Nessa última formação,

tenho observado que a gente tem que avançar. Já avançamos com a

questão da educação a distância. É uma ferramenta que contribui no

processo de formação continuada que nós ainda continuamos a fazer. Em

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termos de sugestão de textos para serem estudados e discutidos entre um

módulo de formação e outro e a educação a distância trabalha com outros

conteúdos que nós não conseguimos esgotar. Ela vem complementar o

processo de formação dentro dos encontros presenciais, a gente tem que

melhorar e saber outros conteúdos tem que estar dando uma melhorada

nesse aspecto.

Outra questão, isso é característico de uma educação à distância, é a

questão da evasão e da participação desses agentes no ambiente virtual de

aprendizagem, então é um processo que a gente deve melhorar, mas a

gente está ainda engatinhando. Tem mais ou menos um ano e meio a dois

anos que a gente já vem discutindo o processo de implantação. Foi

implantado e a gente percebe algumas dificuldades junto aos agentes,

alguns nem e-mail têm, tem a questão da escolaridade, já se está

pensando em montar grupos nesses cursos de acordo com a sua

escolaridade, você vai fazer uma releitura do discurso acadêmico e passar

para esses agentes sociais. Apesar de alguns convênios terem grande

número de pessoas que são formadas a gente trabalha muito com pessoas

da comunidade. Então, em termos

estruturais..., para eu pensar algumas questões mais burocráticas, tenho

um olhar de formador e não de gestor, mas às vezes acho que a gente

pode estar dando uma melhorada, mas isso eu deixo mais a cargo dos

gestores do Programa.

J.K. – Era isso que eu tinha para perguntar para ti. Teria alguma coisa

que eu não te perguntei e tu gostarias de compartilhar?

L.L. – Bom, seria um agradecimento por vocês estarem fazendo isso. Acho

importante essa questão do registro que passa a fazer história da

implantação de uma política pública de esporte e lazer no nosso país. Ela

é necessária e é urgente e a tem a questão dos grandes convênios, dos

legados, que está sendo um grande desafio. Nessa formação a gente está

também discutindo bastante os convênios que tem um número grande de

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núcleos e isso tem demandado a nós muitos estudos em termos de

estrutura para atendimento desses grandes convênios com uma

metodologia de atendimento e que permita uma qualificação das

formações. Como o volume de pessoas que atua em termos de formação

nesses grandes convênios é muito grande, então a gente está conseguindo

esse processo de estruturação até o que se tem feito hoje no

desenvolvimento dessas formações já vem mostrando aspectos positivos,

mas também aspectos negativos em algum momento, depende também da

infra estrutura que o convênio tem pra realização das formações.

J.K. – Então era isso! Muito obrigado, eu agradeço em nome do Centro de

Memória do Esporte.

[FINAL DA ENTREVISTA]

Depoimento Luciano

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Depoimento Luis Otávio Neves Matos

Entrevistado: Luiz Otávio Neves Mattos

Nascimento:

Local da entrevista: Niterói - RJ

Entrevistadoras: Pamela Joras e Rejane Rodrigues

Data da entrevista: 18 de março de 2016

Transcrição: Kenia Gouvea Garrafiel

Copidesque: Silvana Vilodre Goellner

Pesquisa: Pamela Siqueira Joras

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Sua formação e início da carreira como professor. Envolvimento com a

temática do lazer. Início do PELC. Primeiros formadores do PELC. Cidades

pilotos. Dificuldades para começar o Programa. Cidadãos da cidade terem

consciência do direito ao lazer.

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Niterói, 18 de março de 2016. Entrevista com Luiz Otávio Neves Mattos a

cargo das pesquisadoras Pamela Joras e Rejane Rodrigues para o Projeto

Memórias do PELC97 e Vida Saudável do Centro de Memória do Esporte.

P.J. – Primeiro eu gostaria de te agradecer por disponibilizar tempo para

nos atender e eu gostaria que tu começasse falando sobre a tua formação,

teu envolvimento com educação física e a tua trajetória.

L.O. – Então, eu sou graduado em educação física na Universidade Gama

Filho. Me graduei. Eu entrei em 1981, me formei em 1984. Como todo

mundo na educação física acaba, e na educação acaba sendo assim, hoje,

eu estava inclusive comentando em uma aula sobre isso, a gente acaba

atuando já desde que, desde que está se formando, enfim. Então a minha

trajetória sempre foi no âmbito escolar, mesmo no processo da formação,

trabalhando como estagiário em escola, enfim e com treinamento

esportivo. Durante um bom tempo na minha vida joguei voleibol então

comecei também, nesse processo da universidade, de trabalhando com

iniciação esportiva e com treinamento esportivo em clube e associação de

funcionários, em comunidades, enfim. E formado, logo em seguida, eu me

formei em 1984, em 1985 houve o concurso para a rede estadual, um

grupo de pessoas aqui do nosso grupo fez o concurso, a gente passou e

desde 1985 eu sou professor, era professor, quer dizer, não sou mais

agora porque estou na universidade, mas professor da rede estadual de

ensino no Rio, dando aula em um município da Baixada Fluminense

chamado Nova Iguaçu e ao mesmo tempo dando aula no setor privado, em

uma escola privada também na periferia do Rio na zona oeste. E em 1988

teve um outro concurso, também para a rede estadual, a gente fez, a gente

teve direito a ter duas matrículas. Agora está mudando por causa das 40

horas, mas na época eram matrículas de 16 horas, dois tempos em sala

de aula, quatro tempos de atividades pedagógicas. A partir de 1988 eu

tinha duas matrículas no estado, paralelo a isso tinha um emprego

também na rede privada, trabalhava no Clube de Regatas Flamengo com

97

Programa Esporte e Lazer da Cidade

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treinamento de voleibol, trabalhava no, continuei trabalhando na

associação de funcionários, da época, Banco Nacional da Habitação do

BNH, agora é Caixa Econômica. A gente treinava as equipes de vôlei, de

atletismo. Trabalhava em um colégio na antiga escola alemã do Rio de

Janeiro o colégio Cruzeiro, também com voleibol, com iniciação esportiva,

treinando as equipes que participavam dos Jogos Estudantis, enfim.

Minha trajetória, até talvez os dez aos iniciais da minha formação, ainda

misturava escola e clube, treinamento, mas depois as décadas de 90 já

comecei priorizar só escola e trabalhava na rede estadual e na rede

privada. Então foi isso. Acho que no final da década de 80 eu comecei a

ficar só com escola, foi quando eu... E paralelo a isso militando em um

movimento de professores, saído do movimento estudantil militando no

movimento profissional, na época a Rejane98 acompanhava isso no

movimento da oposição a APEF99(?). A gente era oposição a PEF, formava

um grupo grande no Brasil que a gente fazia as nossas militâncias em

nível estadual e nível nacional a gente militava para tentar ganhar a

FBAPEF100(?) (Federação Brasileira das APEF’S). E isso também acabou

levando a gente para o movimento sindical, acabei dirigindo, sendo

dirigente sindical aqui no Rio durante muito tempo, do SEPE101 (Sindicato

Estadual de Profissionais da Educação) e fui presidente do SEPE durante

muito tempo, também no SEPE de... Porque o SEPE é um sindicato

estadual que tem as suas ramificações nos municípios, como eu era

professor em Nova Iguaçu fui presidente do SEPE de Nova Iguaçu

também. Então paralelo às aulas, enfim, o magistério, a militância política

também acabou para além do partido da militância partidária da

militância sindical e foi.

P.J. – E a temática do lazer? Como é que ela surgiu nessa tua trajetória?

L.O. – Então, a temática do lazer... Na verdade eu inicio a minha

militância mesmo, assim de orgânica, não foi no PT102 nem foi no

98

Rejane Penna Rodrigues 99

Associação de Professores de Educação Física 100

Federação Brasileira das Associações de Professores de Educação Física 101

Sindicato Estadual de Profissionais da Educação 102

Partido dos Trabalhadores

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movimento estudantil, mas especialmente no movimento de bairros.

Sempre morei na periferia, morava em um bairro periférico onde minha

mãe mora até hoje com minha irmã, com meus irmãos. A gente começou a

participar, era muito forte no Rio, no Brasil, mas no Rio era muito forte o

movimento de associação de moradores. Antes da década de 90 você

tinha, final da década de 90, você começou a ter muito apropriação desses

espaços pelo tráfico, não o narcotráfico, mas o tráfico de drogas. E o

segmento disse assim que perceberam que ali você tinha um nicho, uma

forma de você ganhar eleição, onde você ter voto. Eleição que eu digo

majoritária, eleição de executivo, legislativo. Mas até então você tinha,

com todos os vícios [palavra inaudível – quatro minutos e quarenta e dois

segundos] tinha um movimento comunitário era muito forte. E eu comecei

a participar no meu bairro desse movimento talvez porque, pelo fato de eu

ter sido, de eu ter jogado, a gente menino de brincar na rua de jogar já em

clube, eu comecei a ter um interesse dentro da associação, eu era

dirigente, eu era diretor de relação de formação. Eu não me lembro

exatamente, relação institucional, eu não me lembro qual era a minha

função na direção, o cargo exatamente, mas isso daí não importava se

tinha tão pouca gente para fazer tudo. Mas a gente tinha uma atuação

forte no bairro para questão de resolver os problemas dos moradores e no

âmbito do lazer do tentar ver se a gente conseguia fazer o bairro, que era

um bairro até bom na periferia, mas um bairro com muita possibilidade

de lazer para as crianças, para os jovens. E a gente começou a ter

algumas ações junto as Secretarias, na época você tinha a tal das ruas de

lazer aqui no Rio de Janeiro e a gente começou... Era o recurso que a

gente tinha, a gente não tinha essa compreensão crítica do lazer que a

gente passou a ter, mas enfim. A gente começou a buscar essas ruas de

lazer para o nosso bairro. E aí começamos despertar essa... Talvez você fez

a pergunta agora, mas em termos de início dessa relação com essa

temática, vamos dizer assim, de uma forma de uma outra forma de

organização, foi na associação de moradores. Quando a gente para o

trabalho, assim, no dia a dia da escola, você não tem muita relação com

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isso porque o dia a dia da escola é um dia muito específico, muito, o dia a

dia da escola é muito específico, mas mesmo assim, na escola que eu dava

aula a gente teve uma... Eu fui convidado pela diretora da escola privada

de trabalhar com uma disciplina com terceiro ano do ensino médio. Essa

escola ela é uma escola rica na zona sul do Rio. É uma escola que os

alunos quando chegam, a escola começou a disputar, ela não disputava

vestibular, não participava, não tinha. É uma escola que foi crescendo,

tinha só os anos iniciais. Quando ela chegou no terceiro ano ela começou

a participar disso, em virtude disso os alunos começaram a ser ter um dia

a dia muito puxado voltado para essa coisa do ranking, enfim. E a diretora

me convidou e disse: “Seu Luis, você não quer fazer um trabalho com

terceiro ano?” E eu dava aula para eles direto desde pequeno até o nono

ano, parava, eu falei: “Vocês tem que parar de me ver. Eu parar de ver

vocês. Vocês estão de saco cheio de mim.” Aí no primeiro e segundo ano

eu parei de dar, ela me convidou para pegar o terceiro. Ela falou assim:

“Ah! Você vem aqui, faz uma atividade, não vai valer nota mesmo.”

Entendeu? Eu falei: “Vem aqui, dou uma atividade para eles à tarde.” Eu

falei assim “Se é para pegar vou pegar uma coisa séria.” Eu tinha vontade

de fazer um projeto de lazer com eles. E aí ficou. É muito parecido com o

que o Edmundo103 faz aqui em uma disciplina que chama de

“Extramuros”. Eu comecei a organizar um currículo, um programa de

uma disciplina que eles da educação física que eles organizaram as aulas

todas no mês, quer dizer, duas aulas obrigatórias por semana, juntava

tudo em um sábado e nos fazíamos uma atividade de lazer com eles. A

ideia da atividade era conhecer pontos do Rio de Janeiro que a gente pode

conhecer de graça, com poucos recursos, e botar eles para fazer uma

atividade que eles não faziam. Então era vim de bicicleta até aqui em

Niterói, visitar o MAC104, era subir a pedra da gávea, fazer tudo o que eles

não faziam. Eles faziam nos Estados Unidos, faziam na Europa, mas não

faziam aqui. Foi uma possibilidade de desenvolver a temática do lazer na

escola. A gente apresentou isso em vários lugares, a gente tinha chamado

103

Edmundo de Drummond Alves Junior 104

Museu de Arte Contemporânea de Niterói

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de inclusão ao lazer funcionalista, diretarista, compensatório, falava:

“Tudo bem, mas vai lá para a escola ver o que é, o que dá para fazer lá na

escola.” Então foi uma forma de abordagem, mas não é um tema tão fácil

de se abordar, mas na militância partidária a gente, por uma situação

conjuntural, aqui no Rio de Janeiro, o Governador Garotinho105 tinha

como vice dele a Benedita da Silva106, uma parlamentar do PT. E ela foi

vice, fez a campanha, na época o PT se aliou ao PDT107 foi uma conjuntura

muito específica logo depois das eleições que a gente perdeu para o

Collor108, e havia uma dificuldade de diálogo entre o PT e o PDT aqui no

Rio. O Lula109 e o Brizola110 conseguiram fazer uma discussão mais,

enfim, os militantes não se ouviam, apesar de estar em um campo muito

próximo de esquerda, mas a gente não se ouvia. E a gente conseguiu fazer

o Garotinho era do PDT, era um Brizolista ele, se dizia Brizolista, a gente

fez essa aliança a Benedita sendo a vice. Até então a Secretaria de Esporte

estava na mão do PDT e o Garotinho saiu para ser candidato a presidente,

aí ele rompeu com o PDT e saiu contra, enfim, já tinha saído, não tinha o

que devia mais nada, nenhuma satisfação ao Brizola e saiu candidato a

presidente. A Benedita teve que assumir porque ela era vice do

governador e ao assumir foi uma polêmica danada... O PT, porque o que a

gente faz aqui? Assume, mas ela não tinha como dizer não, se ela não

assume ia ter que assumir o presidente da câmara da assembleia

legislativa. E aí o PT decidiu assumir e ao assumir você tem que assumir

os cargos, então a Secretaria de Esporte e Lazer que era uma Secretaria

que não tinha essa, não tinha essa estrutura que ela tem hoje por causa

dos Jogos Olímpicos, por causa da Copa. Era uma secretaria que o grande

forte dela era a SUDERJ111, que é a autarquia Superintendência de

Desportos do Rio de Janeiro, era quem tocava a política da secretaria era

a SUDERJ. A SUDERJ, boa parte da energia dela, gastava com o

105

Anthony William Matheus de Oliveira 106

Benedita Sousa da Silva Sampaio 107

Partido Democrático Trabalhista 108

Fernando Affonso Collor de Mello 109

Luis Inácio Lula da Silva 110

Leonel de Moura Brizola 111

Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro

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Maracanã112 porque manter aquele negócio aquela loucura lá, e tinha

algumas ações específicas de atendimento ao público de iniciação. Atendia

um jovem de dezessete anos, crianças e jovens até dezessete anos e os

idosos. Tinham projetos de natação, de hidroginástica, iniciação ao vôlei.

Fora isso a SUDERJ era Maracanã, Maracanã, administrar aquela loucura

lá, dias de jogos e visitações. Quem era o secretário uma pessoa chamada

Francisco113 “Chiquinho da Mangueira”, que é uma pessoa muito

complicada, não vale a pena ficar falando na entrevista, mas enfim, era o

secretário e a gente assumiu a Secretaria de Esporte e Lazer, não a

presidência não a Secretaria, a gente, na verdade, não existia a Secretaria,

era a SUDERJ estou falando aqui depois é que se criou uma Secretaria

extraordinária. A gente assumiu a SUDERJ, o presidente não era do nosso

grupo, era uma pessoa ligada a Benedita, mas a SUDERJ tinha uma

estrutura, tem até hoje, que era o presidente e tinha duas vice

presidências, uma vice presidência administrativa que tratava de

Maracanã e outra vice presidência de esporte que tratava dessas

iniciações desses projetos. O vice presidente de esporte foi o Ribamar114,

que você vai entrevistar hoje à tarde, e existia três diretorias, uma

diretoria de esporte comunitário, uma diretoria de esporte de alto

rendimento, de rendimento, de alto rendimento, e uma diretoria de

esporte que era mais, não era mais, é uma coordenação ligada a mim que

era diretoria de coordenação de esporte para pessoas com deficiência. Aí a

gente assumiu, o PT, a gente no PT já tinha uma formulação de alguma

forma de militarista, a gente tinha uma, não uma formulação, mas já

tinha um núcleo de esporte e lazer aqui no Rio, esqueci de falar isso, no

PT a gente já tinha fundado a nossa forma de organização do PT. Era

nuclear, a Rejane sabe muito bem disso quanto isso foi importante para o

PT, então a nossa forma de contribuição no PT, a minha, desse grupo que

acabou indo para a SUDERJ, era nos núcleos de bairro, eu tinha uma

112

Estádio Jornalista Mário Filho 113

Francisco Manoel de Carvalho 114

José Ribamar Pereira Filho

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militância no meu núcleo de bairro que a fundou o PT lá no Valqueire115,

onde eu morava, o núcleo da educação e o núcleo do esporte e lazer. Esses

núcleos da educação e do bairro eles eram núcleos que tinham uma

frequência maior de reunião, tinha uma vida maior, uma vida mais

intensa. O núcleo de esporte e lazer tinha um grupo muito bom que veio

da militância da APEF, da oposição a APEF, a gente fundou esse núcleo e

também a gente tinha uma organização razoável. E ali existiam algumas

formulações que viam muito em função da nossa militância na educação

física não do lazer especificamente, mas na educação física escolar. Com a

entrada da Benedita no governo a gente foi chamada a assumir e foi a

gente, não tinha mais ninguém no Rio que tinha referência dentro do PT,

então o Ribamar chamou a vice-presidência, quem assumiu a outra

diretoria foi um cara que não é nem ligado ao esporte de alto rendimento,

deve conhecer Walter Russo116, que trabalhou nos Jogos Olímpicos e o

outro que assumiu é o Luis Claudio que é um companheiro nosso do PT,

que trabalhou a coordenação de esporte pessoas com deficiência. Aí ali

começou uma vida. Nós tivemos nove meses no governo, teve a eleição no

final do ano e a Benedita não ganhou e ali a gente teve, a gente começou a

buscar um contato com colegas nossos, com Rejane, com Andrea117, lá no

Pará, com o Jamerson118, Pernambuco, para a gente começar a tentar ver.

Trouxemos algumas pessoas aqui para fazer um debate com a gente,

pessoas de São José dos Campos, que a prefeitura não era nossa, um

secretário também de Belo Horizonte. Eu sei que a gente começou a trazer

pessoas aqui para a gente começar a conversar muito no sentido de

pensar o que seria o lazer, uma política de esporte e lazer no Estado.

Porque a gente tinha algumas, a gente já tinha algumas experiências bem

interessantes, Rejane lá no Sul em municípios, em Estado a gente tinha

uma dificuldade e até hoje a gente tem dificuldade entender um pouco

qual é o papel do estado nisso. E aí foi uma experiência nossa

115

Vila Valqueire 116

Walter Russo de Souza Junior 117

Andrea Nascimento Ewerton 118

Jamerson Antônio de Almeida da Silva

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administrativa de gestão e de formulação porque a gente teve que formular

alguma coisa para o Estado. Como eu falei, assim, pensar em política, o

Brasil como não tem um sistema ainda organizado, pensar em política

pública local é município. Pensar em política pública estadual é uma

sobreposição de atividades. O Estado faz a mesma coisa. A SUDERJ fazia

a mesma coisa que o município fazia. Os projetos que chegavam do

Governo Federal, na época do Fernando Henrique119, depois começaram a

chegar na época do Lula, as ações finais eram a mesma, as mesmas,

então a gente colocou isso como desafio. Qual é o papel? Foi o nosso

grande lema do governo. Se a gente ganhasse a eleição, talvez com certeza

continuaria, mas o nosso lema era entender qual era uma política de

esporte e lazer para o estado. Então nesse sentido a gente teve uma

formulação razoável, a gente mandou muito material depois lá para o

ministério, pro Lino120 e tudo mais. Então acho que no âmbito do lazer, da

gestão do lazer, da elaboração, acho que começa por aí, talvez por esse

interesse em níveis de bairro, dentro da escola, esses espaços que eu tive e

depois na gestão mesmo.

P.J. – E como é que se deu teu envolvimento com o PELC?

L.O. – Então aí isso daí eu já estava no ministério, quer dizer, a gente com

a experiência que a gente teve, aqui no Rio, e com a experiência que a

gente teve nessa formulação e na composição nacional, na disputa, na

representatividade política, é aquela coisa assim bem simples. Quem

chegou, teve gente que chegou lá antes porque tinha disponibilidade, eu

me lembro que na época a gente conseguiu reunir um grupo de pessoas

para pensar nisso, pessoas que estavam muito referenciadas. No CBCE121,

no CBCE foi uma coisa importante, uma referência. A própria militância

nossa também na FBPF. A gente conseguiu reunir um grupo de pessoas

para pensar como é que a gente ocuparia aquele lugar lá, porque o

governo de transição estava montado e nós não tínhamos ninguém lá para

pensar no esporte e lazer. A gente conseguiu definir, porque estava todo

119

Fernando Henrique Cardoso 120

Lino Castellani Filho 121

Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte

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mundo muito ocupado, a gente na gestão no Rio, mesmo perdendo a

eleição a gente tinha combinado com a governadora de ir levar tudo

bonitinho até o final, porque a gente chegou lá com tudo destroçado, tudo

destroçado, os caras destruíram tudo, levaram memória de computadores,

a gente não teve nada, nem dinheiro a gente tinha a gente fez milagre aqui

no estado. Mas a gente se comprometeu. A governadora pediu a gente pra

gente levar até o final tudo bonitinho, então a gente não podia sair daqui.

Então quem foi, foi o Veronez122, quem foi coupar o governo de transição

foi o Veronez. A gente tentou alimentar ele... Porque ninguém tinha uma

formulação, ninguém tinha consistência, tinha em nível municipal, mas

em nível... Preparar um PPA123, PPA, preparar... A gente foi aprendendo e

o Veronez, acredito que tenha se movimentado bem lá para correr atrás de

ajuda, de suporte no ministério do planejamento, a gente de alguma forma

tentava ajudar. E aí o Veronez foi e na discussão, no processo de

discussão onde oposição política no ministério, a gente não tinha um

nome para ser secretário, não tinha um nome, houve muito especulação

da nossa parte, a gente não tinha muito... A gente tinha muita capacidade

de formular, mas a gente não tinha muito trânsito com o núcleo duro que

estava se formando naquele período de indicação de nomes. A gente

buscou na época até o Juarez Soares124, na época que era filiado ao PT,

procuramos o Sócrates125 na época também, mas nenhum deles mostrou

interesse, depois se recuou, enfim. Surgi o nome do Lino, o nome do Lino

como uma possibilidade de consenso entre esse grupo que estava, não era

uma coisa assim 100% consenso, mas foi o que saiu. Pela própria

militância dele na educação física e pela formulação dele na área do lazer

também. Não tinha muita experiência de gestão, mas a gente falou assim:

“Um cara que tenha um nome.” Porque, na verdade, o ministro também

queria um nome. Nem ministro tinha ainda para tu ter ideia, nem o

Agnelo126 estava definido ainda. Mas a gente precisava de gente que

122

Luiz Fernando Camargo Veronez 123

Plano Plurianual 124

Juarez Soares Moreira 125

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira 126

Agnelo dos Santos Queiroz Filho

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tivesse nome, enfim. Aí foi isso. O Lino foi nessa discussão de indicação,

de composição, de equilíbrio de força, não sei o que. O Rio, como eu tive

uma experiência... Eu não sei porque Rio Grande do Sul não entrou, a

entrevista com a Rejane também, mas eu não sei porque que não entrou.

R.R. – Porque na época vocês tinham uma sintonia maior em até disputas,

às vezes, Rio, São Paulo, Brasilia, entendeu? E nós estávamos mais

distante.

L.O. – Entendi. Tu estava na gestão também? Não estava?

R.R. – Eu estava na gestão do município ainda.

L.O. – Então é isso, é isso. Tinha gente na gestão, eu sei que teve isso. Eu

me lembro que a Andrea não estava na gestão lá em cima, eu acho que

tinha perdido você, lá no Pará. O Marcelo127 também estava lá em

Pernambuco. O Jamerson não quis vir, não podia vim, indicou o Marcelo.

E aqui no Rio o Ribamar não queria porque estava... Aí foi uma questão...

Na verdade nosso nome era o Ribamar, mas o Ribamar estava com o filho

pequeno, tinha acabado de separar e eu tinha acabado de casar, enfim, aí

e fui a bola de vez. O Rio tem que estar lá e aí teve a indicação do meu

nome. Então foi isso. Andreia do Pará, eu do Rio... Aí teve uma questão

também de força de representação, a representatividade política que e

também a própria condição de eu colocar “eu só vou para lá se eu tiver

algum cargo, eu ter ajuda de custo e que eu tenha condição de vir para o

Rio” porque eu tava com a minha mulher não quis vir. Minha mulher

tinha acabado de, a gente tinha acabado de casar. E aí a negociação

chegou ao cargo da direção, daí a gente estava compondo aquele... Até

isso foi um processo de compor como é que seria a secretaria, a gente

pegou exemplo de outras secretarias. Tinha umas no mesmo modelo

dessa, quer dizer, a secretaria, os dois departamentos, o departamento de

ciência e tecnologia, o departamento de esporte e lazer...

R.R. – É que isso é muito importante reforçar, não existia o ministério do

esporte. Não existindo o ministério não se tinha estrutura de nada. Tinha

que começar do zero.

127

Marcelo de Almeida Pereira

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L.O. – Não. Ah não. É verdade. Estrutura, né? Você tinha a secretaria, na

época, a secretaria nacional de esporte, a secretaria nacional de esporte

que era uma secretaria ligada ao ministério do esporte e turismo. Então

você tinha uma secretaria nacional, que era o secretário era Lages na

época, depois eu não lembro se teve outros, acho que o Lages saiu a gente

assumiu, acho que foi direto. Porque o Lula logo que entrou, em 2003,

logo no primeiro, uns dos primeiros decretos dele, logo no início de

janeiro, foi criar o ministério do esporte. Sinceramente até hoje a gente

não sabe de onde veio essa força, isso é um mistério, da onde veio essa

força, por onde ele foi cutucado. O Agnelo não era o nome, o Agnelo surge

depois, porque era um cara que era médico, tinha tido aquele...

R.R. – Porque teve a lei Agnelo Piva128

L.O. – Não. Ele teve uma, ele foi esperto, conseguiu pegar, o Piva129 tinha

morrido (confirmar se morreu). Ele foi relator da Lei e levou a frente.

Então o Agnelo acabou sendo um nome, um cara com nome, um médico,

um cara que tinha uma expressão, um parlamentar e que tinha essa

história com o esporte por causa da Lei Agnelo Piva. Por causa da Lei que

depois ele acabou assumindo, mas enfim. O Lula queria e, como a Rejane

falou, a gente precisava criar uma estrutura e a estrutura foi criada nesse

sentido. Pegamos modelos de outros ministérios, não tinha muita

capacidade de, o PCdoB130 já estava nessa história também participando

dessa discussão e aí se construiu essas três secretarias: Secretaria de

Esporte de Alto Rendimento, Secretaria de Desenvolvimento de Esporte e

Lazer e Secretaria de Esporte Educacional. E dentro da SMDE, da

secretaria nacional, ficou essa composição. Uma diretoria de Esporte e

Lazer, Desenvolvimento de Esporte e Lazer, de Política Sociais de Esporte

e Lazer, uma diretoria de Ciência e Tecnologia do Esporte, que aí teve as

coordenações. Aí daí para baixo coordenações são mais ou menos iguais

às outras, coordenação geral, coordenação não sei o que. Uma estrutura

mais ou menos igual a das outras parte do Governo Federal. Mas acho

128

Lei Agnelo\Piva Nº10.264 129

Pedro Franco Piva 130

Partido Comunista do Brasil

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importante sublinhar isso que a Rejane falou, porque a gente começou um

processo novo, um Ministério novo que, como eu te falei, alguém deve ter

uma informação privilegiada, mas a gente até hoje não sabe de onde

surgiu, qual foi a força que levou o Lula. Foi um dos primeiros decretos do

Lula criar o Ministério em 2003, janeiro de 2003. Talvez o Lino saiba, não

sei. Porque o Lino também veio depois.

P.J. – E nessa composição, como surgiu a ideia do PELC?

L.O. – Então, a gente quando o Lino conseguiu disponibilidade para ir

primeiro, foi o Veronez, Veronez fazendo parte do governo de transição,

antes não se pensava em nada ainda de um programa. Mas assim, como

teve que preparar o PPA, o Plano Plurianual, a gente começou... O Lino foi

em seguida, eu acho que a Andrea já conseguiu ir, não me lembro

exatamente, eu fui o último a chegar por causa me liberar aqui das coisas

aqui. E aí a gente já estava, já estava assim nesse processo de construção

de um programa de lazer. A ideia era um programa de lazer não era

programa de esporte, era programa de lazer. Só que o PCdoB já estava

instalado no ministério, já estava lá definido o nome do Agnelo nesse

período já para abril, mais ou menos, março. Não existia ministro em

março, para tu ter ideia, mas eu acho que já estava instalado, o governo

ali já estava, o Lino também chegou nessa época, eu cheguei em abril. E aí

o que acontece, essa ideia teve que ser, a gente economizou na ideia

porque teve que abraçar a temática do esporte, porque é o Ministério do

Esporte. A ideia do lazer que a gente trazia com muito forte da nossa ideia

do lazer do trabalhador, do direito ao acesso ao lazer teve que ser mediada

e se cria a ideia de um programa de esporte e lazer, que com todo o

cuidado que se teve, assim no início, da temática do lazer não engolir o

esporte, a temática do esporte não engolir a temática do lazer, mas a gente

lutou isso a vida inteira, mas se pautou o programa. Quando o programa

ficou se tornou um programa orçamentário, porque na verdade ele não se

torna um programa orçamentário de imediato, ele entra no PPA, mas ele

era o último ano do PPA anterior, então você está trabalhando com o

último ano do último orçamento. Ele vai entrar como uma peça

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orçamento, como uma ação orçamentária, como um programa

orçamentário no outro ano que é outro PPA. Então, mas a gente conseguiu

fazer um desenho, estava desenhado o programa com as ações lá, eu não

me lembro se ele já tinha todas as treze ações na época, acho que não,

não me lembro, ou tinha, não me lembro, mas enfim. A gente foi falar com

o ministro para a gente conseguir implantar o programa. O PCdoB tinha

emplacado a ideia do Segundo Tempo131 já, porque na verdade foi só a

transformação do esporte da escola, o programa esporte da escola que eles

deram uma boa maquiada, criaram uma marca muito interessante foi o

Segundo Tempo, não sei se foi uma competência grande ter criado isso. E

foi a menina dos olhos do ministério, ou seja, para conseguir dinheiro

para o PELC é que o bicho pegou, a gente não tinha dinheiro, e o Lino...

(risos) Vou falar na entrevista, não te como... O Lino nunca foi um bom

negociador. O Lino nunca admitiu o fato, isso também é interpretação de

algumas pessoas pode não ser a dele, mas eu falo sempre falei para ele,

não teve muita clareza do papel dele ali, entendeu? Era um secretário

dentro do ministério que não era nosso, o ministério, a hegemonia, a

maioria do PCdoB, que era um partido que não tinha uma história no

esporte, que viu ali uma possibilidade de crescer, enfim. Eles são muito

competentes nesse sentido, de abraçar uma causa e dando o jeito deles

ali, vão, mobilizam os quadros que eles têm no Brasil, enfim. E a gente

precisava de um bom negociador ali na secretaria, entendeu? Uma pessoa

que compreendesse a conjuntura, fragilidade nossa para começar. O Lino

começou nesse sentido, mas ele se irritava, ele não tinha esse perfil. A

Rejane é mais, tem mais essa flexibilidade, o Lino não tinha esse perfil. E

foi se irritando, enfim. Mas a gente viu que não tinha muito espaço, mas

mesmo com toda essa dificuldade do Lino ele conseguiu, assim, ele foi lá

atrás, conseguiu emplacar... O que o Agnelo cedeu para a gente foi assim

“Vou dar para vocês dez municípios. Tem dinheiro para vocês emplacarem

esse negócio aí em dez municípios.” Porque ele não acreditava, o Agnelo

via aquilo. Porque a visão do cara clássico, de ver o esporte. “Mas lazer?

131

Programa Segundo Tempo

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Eu pensei em botar esporte para essas crianças fazer” E o nosso programa

tinha esse perfil de pegar da criança até o idoso aí que ele “puff”, enfim,

ele autorizou a gente a implantar o programa em dez municípios do Brasil.

Aí começou a loucura porque o Lino quando falou para a gente essa

noticia a gente começou a procurar como é que a gente vai trabalhar. Caiu

mais na minha secretaria, no meu departamento isso porque era o que a

gente tratava políticas sociais de esporte e lazer. A gente sentou a equipe

eu, o André e o Marcelo e começamos a procurar critérios para eleger dez

municípios em um universo de cinco mil e quinhentos municípios, cinco

mil quinhentos e sessenta e tal municípios. Quais são os critérios que a

gente vai adotar? E aí a gente sentou, conversou várias vezes com o Lino

nesse grupo que a gente tinha que mesclar critérios de ordem, de ordem

de vulnerabilidade socioeconômica e critérios políticos. De vulnerabilidade

socioeconômica não teve desacordo, agora de critério político teve

desacordo porque assim “Qual o critério político?” Como o Lino nunca teve

uma... Ele teve, não vou falar “ele nunca teve”, ele teve uma trajetória

política sim, participou de governo lá em São Paulo, mas nunca teve... O

Lino sempre foi um cara muito mais acadêmico... Se vocês olharem aqui,

de vez em quando aparece umas cabecinhas de tartaruga aqui, tem

bastante tartaruga aqui por incrível que pareça... Mas o Lino ele tinha

dificuldades quando a gente falava assim “Não é importante de pensar,

porque não” aí a fala dele “Não, porque nós temos que ter um programa

republicano, porque se a gente levar essa programa para a prefeitura do

PT” o PCdoB fez isso direto, mas a gente não podia, porque não sei o que,

aquela visão do Lino muito, não vou dizer pura, assim, mas com falta de

habilidade de entender o momento que a gente estava vivendo. A gente

precisava, a compreensão que nós tínhamos eu, o André e o Marcelo era

que o programa tinha que exatamente chegar num lugar que pudesse

“bombar”, porque se ele chega em um lugar que ele não tivesse o mínimo

de estrutura, o mínimo de confiabilidade política, ele poderia minguar. Aí

o argumento para convencer o ministro, que a gente não pensava nesse

caminho de convencer o Agnelo, ia minguar. Então a gente queria que

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houvesse no Lino exatamente isso “Óh! É importante esse programa

chegar em lugares que ele tenha alguma estrutura física” Porque não

adianta você implantar o programa num município que tenha seja de alta

vulnerabilidade socioeconômica e que não tenha espaço físico que ele não

vai acontecer. Que não tenha algum pessoal, algum órgão que trate da

temática do esporte e do lazer e que esse município tenha alguma relação

de confiança, a gente tenha alguma relação de confiança política, não

partidária, política. Isso foi muito difícil, muito difícil porque o Lino tinha

esse argumento que é um argumento difícil de você rebater. Vamos

combinar que é difícil porque quando ele diz “Temos que levar o programa

onde tenha o PT” Está certo. O Brasil... O PT está no governo, o PT não

manda no Brasil, mas a gente tinha uma outra compreensão que era uma

compreensão estratégica, enfim, isso foi muito difícil. Foi muito difícil e se

aliou a outro lado difícil que foi o critério de definir dez municípios de alta

vulnerabilidade. Quando você abre o mapa do Brasil, IBGE132, o Brasil

vindo do Fernando Henrique todo assim com raríssimas exceções, então

para onde você vai? Você joga, cruza lá, bota critério de pobreza, não sei o

que, analfabetismo, bah! Uma porrada de municípios. Abre um outro

critério, cruza, bah! A gente ficou desesperado. Aí a gente falou assim

“Cara, o que vai ter que pesar vai ser o critério político” entendeu? Porque

nós não temos, a gente começou a ver municípios muito pobres, muito

pobres que se enquadrava nesse critério, mas que não tinha estrutura

administrativa para receber um programa, não ia ter nem gente para

poder tocar isso lá e a gente não tinha certeza de que aquilo ia avançar.

Então eu, por exemplo, tive uma polêmica danada, por exemplo, eu

propus que Niterói fosse, porque Niterói estava sendo administrado pelo

PT, e aí o que acontece, Niterói aparece nos noticiários como terceiro

IDH133 do Brasil, mas se você sair aqui de Niterói, hoje melhorou muito,

mas se você saísse naquela época aqui de Niterói e fosse para dentro, a

tragédia do Morro do Bumba não é à toa aquela tragédia que morreu

gente, tem gente que está sumida até hoje porque ficou enterrada lá no

132

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 133

Índice de Desenvolvimento Humano

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lixão. É muito sério aqui em Niterói, mas acontece que Niterói cresceu com

essa coisa do IDH, então porque vai botar em Niterói se o IDH é alto? Eu

falava “Cara, não é isso. Vocês têm que ir lá visitar, eu conheço Niterói” Ai

já começou ali [trecho inaudível – vinte e nove minutos e trinta e um

segundos] Aí, enfim, conseguimos emplacar dez municípios levando em

consideração esse critério e o que definiu... Aí o Lino engoliu. Eu não sei te

precisar exatamente como é que foi essa engolida, ele vai falar para vocês

ou vai falar de outro jeito, mas assim de alguma maneira ele engoliu,

porque realmente a gente implantou em Santa Catarina em Dionísio

Cerqueira que era do PT, em Bagé era do PT, o Mainardi134, em Ipatinga

era do PT em Minas Gerais, em Xapuri era do PT, em Ji Paraná era do PT.

Houve uma tentativa do Marcelo, na época, de levar para Caeté, não,

Caeté esteve, Caeté esteve. Só que Caeté foi o que caiu logo de cara,

porque exatamente por isso, Caeté era PT se não me engano.

R.R. – É importante tu reforçar isso, porque nós estamos tentando visitar

esses núcleos todos. E se tem algum que não há assim uma necessidade

da gente ir, porque se tu puderes assim dizer o que

L.O. – Caeté acho que caiu, mas tem que ir em todos, Caeté acho que

caiu, todos funcionam, Caeté acho que caiu.

R.R. – Caetés a gente teria o que fazer lá? Teria com quem falar?

L.O. – Não sei. Acho que vocês podem até falar com o Marcelo, que o

Marcelo nem sei se tem o que contar, mas Caeté acho que caiu porque

não teve, exatamente por isso, por que... Mas eu acho até que foi bom

num universo de dez, um cair, com a dificuldade que a gente teve de

mapear. Nós não podíamos ir lá, a gente tinha uma dificuldade danada,

não era assim o Agnelo não liberava passagem assim. Depois é que a

gente começou a ir. Então assim, Caeté acho que caiu porque não teve

essa estrutura. O Marcelo pode falar até melhor que ele que

acompanhava, a gente se dividiu um pouquinho, eu ficava coordenando,

Andrea e Marcelo dividiam, mas eu ficava muito em campo também. Mas

assim, o Marcelo teve mais contato. E Caeté acho que caiu nesse quadro

134

Luiz Fernando Mainardi

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de que era muito vulnerável, não tinha estrutura e não se sustentou.

Então começou a dar problema, não teve como receber concretamente o

projeto, repasse de recurso federal. Agora, todos os outros vingaram, cada

um na sua maneira, todos eles vingaram. Xapuri vingou com suas

características, Ipatinga vingou. Uns melhores do que os outros. É, o

PELC tem essa beleza, porque ele tem essa coisa de chegar e traduzir, e

ter a cara do local, ter a cara do local. Agora eu estou me falhando os

outros lugares.

P.J. – Juína, Castanhal...

L.O. – Ijuína. Castanhal, Castanhal no Pará. Castanhal vingou também.

P.J. – Imperatriz

L.O. – Agora... Imperatriz, Imperatriz eu fui punido algumas vezes,

também vingou. Ijuína que eu não me lembro, Ijuína era, Ijuína?

R.R. – É Juína.

L.O. – Ah! Juína. É. Juína.

R.R. – Ji Paraná.

L.O. – Ji Paraná é Rondônia. Ji Paraná... Juína é em que lugar Juína?

Agora é um lugar que me...

R.R. – A gente tinha, nós temos um mapinha disso aí.

P.J. – É.

L.O. – Tá, mas assim, com certeza dos dez o Caetés caiu. Eu não sei se

Caetés caiu e entrou outro no lugar, agora estou na duvida, agora pegou.

Quem pode falar melhor, a Andrea é boa de memoria pra caramba para

isso e o Marcelo também. Mas enfim. Qual era a tarefa? Era um dinheiro

para a gente implantar o núcleo, o núcleo do PELC, o núcleo do até com

aquela formação básica de quatro, uma pessoa cuidando, eu não me

exatamente qual era a estrutura inicial. O dinheiro que tinha era para

pagar esse pessoal, para comprar material de construção, material

permanente, aquela coisa e aí fazer, fazer os projetos. Você fazer os

projetos para poder fazer a transferência, aí os municípios não tinham,

estavam com inadimplência, foi uma loucura. Agora, eu, o que eu

chamaria atenção sobre essa característica assim, houve municípios que

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absorveram muito melhor e tocaram muito mais rápido porque tem

estrutura. Bagé é o exemplo. Bagé o Mainardi lá era um entusiasta e tinha

estrutura no município, tinha técnico para acompanhar. O Dionísio

Cerqueira, negocinho desse tamanho, oito mil habitantes, não, treze mil

habitantes, na época, não sei como é que está hoje em dia, mas o prefeito

também foi um entusiasta, botou gente para acompanhar, tocou. Niterói

também tinha uma pessoa aqui ótima, que era Juliana, que era assessora

do prefeito, também entusiasta botou para tocar. Então dependia muito

do local. Só que isso, mesmo se acontecendo bem, isso não gerou lá no

Ministro o que a gente queria que gerasse “Óh! Está vendo, o negocio está

certo” O Agnelo nunca acreditou. Ele nunca acreditou eu acho que por

algumas razões, uma delas porque ele acha, a visão tosca do que o esporte

é o que tem que ser “No Ministério do Esporte tem que ter esporte, negocio

de lazer é viagem intelectual do Lino” E por outro lado porque também

tinha uma disputa acirrada do PCdoB, o dinheiro tinha que ir para eles

não para a gente. Porque botar azeitona na empada dos caras lá?

Entendeu? Vocês viveram isso também, continuaram vivendo, não sei se a

conjuntura, atual hoje, com essa coisa da Frente Brasil135 a gente

mudaria se a gente estivesse nessa composição lá, pela própria história

que a gente está vivendo política. Mas assim, na época foi muito isso, acho

que esses dois fatores, o fato do Agnelo não lidar tecnicamente bem com o

tema e por ter que canalizar dinheiro para o Segundo Tempo. Para o

Segundo Tempo é pro esporte de alto rendimento e quem foi para o

esporte do alto rendimento num primeiro momento foi a Paula136, a Paula

que foi para lá, a do basquete.

R.R. – Magic Paula

L.O. – A Magic Paula. Depois é que e não me lembro quem foi para lá. Foi

o... Não me lembro agora exatamente quem foi, foi o que ficou, o André, o

André...

R.R. – André Arantes

135

Frente Brasil Popular 136

Maria Paula Gonçalves da Silva

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L.O. – André Arantes. É. Mas assim, e aí [trecho inaudível – trinta e quatro

minutos e trinta e sete segundos] mostrar como é que pensousse naquilo

ali. Botar alguém lá que me de tranquilidade no esporte de alto

rendimento, jogar muito dinheiro no Segundo Tempo e administrar esses

caras aqui. Então acho que isso levou a gente ficar meio sufocado. Aí num

determinado momento a gente começou a entender mais como é que

funcionava a estrutura, aí eu sugeri que a gente... Também foi uma

pancada com o Lino, porque o Lino era difícil, não sei o que, não podia

ouvir nada, admitia que vinha sempre da cabeça dele, que ele que era o

grande intelectual, que a gente buscasse recurso nos parlamentares. Que

na hora que os caras perceberam que o programa era legal, que o

programa podia fazer com pouco dinheiro muito barulho e que os prefeitos

também não são bobos viam que a gente tinha, né, tinha retorno para

eles. A gente falou assim “Cara, é pelos parlamentares” E a gente teve o

maior sucesso, a gente ia para aquele para o Congresso, a gente fazia um

sucesso do caramba, todo mundo queria saber. O retorno é que era uma

merda, mas assim, não vinha porque muitas vezes o município não tinha

condição, prefeito não tinha...

R.R. – Mas foi gradativamente foi aumentando.

L.O. – Foi aumentando, mas assim, foi uma estratégia certeira que a gente

fez. O Lino não apostou muito nessa estratégia no inicio não, ele queria

era enfrentamento com o Agnelo, reverter, mas não é, é impossível

acontecer aquilo ali. Então a gente começou a ter uma destinação

orçamentária vinda das emendas cada vez um pouquinho maior grada,

como a Rejane falou, gradativamente, entendeu? E o PELC, eu acho

assim, que cresceu muito pouco. Não por incompetência de quem estava

lá, cresceu muito pouco pela conjuntura, pela corelação de força, mas

cresceu. Agora, eu não sei se vocês estão tocando nisso na entrevista, mas

tem um aspecto que eu acho que também é importante no PELC que foi a

gente também aprendeu uma coisa que a gente nunca tinha feito, apesar

de a gente ter tido experiências locais muito interessantes, mas nós

éramos muito blindados pela própria história do Lino. Isso tem que

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reconhecer. Nós não conseguíamos levar ninguém para lá. A gente tentou

levar a Rejane, a gente tentou levar o Marcellino137 (confirmar), tentou

levar o Bramante138 (confirmar), tentou levar o Jamerson para... É isso

que eu quero ficar, porque eu vou falar uma coisa assim que ele pode ser

até que ele discorde, mas a Andrea vai concordar e o Marcelo vai

concordar. Nós só conseguimos botar o PELC, porque o PELC tinha uma

ação, tem uma ação que é fundamental que é essa de formação. Você não

tem como fazer o PELC acontecer se não tiver formação, porque o cara que

está lá é um cara que é um prático, um cara que está ali ralando há muito

tempo, conhece muito da comunidade, mas a gente queria é passar alguns

conselhos importantes para ele. E esse, essa coisa da formação era

primeira ação, hoje é mais ainda é mais primeira ainda, era primeira ação.

A gente tinha que chegar, formar esse cara para começar a tocar o negócio

e o negócio não saía e o Lino não autorizava. A gente queria levar o

Jamerson para lá, chamar a Rejane, chamar esses caras para dar uma

geral para a gente chamar a... A Andrea [palavra inaudível - trinta e sete

minutos e de segundos] já tinha vivido a experiência do Pará, de Belém,

mas a gente queria dialogar com esse povo para a gente montar um curso

de trinta e duas horas. Esse já tinha acordo, esse é uma capacitação de

trinta e duas horas, esse tinha acordo. Só não tinha acordo para sair. Aí o

Lino emperrava, emperrava, finalmente a gente conseguiu levar Jamerson,

não sei como a gente conseguiu esse negócio lá, a gente levou o Jamerson,

a gente levou o Marcellino só quando você entrou né?

R.R. – Só quando eu entrei.

L.O. – Marcellino só foi quando a Rejane entrou. A gente conseguiu numa

jogada que a gente fez lá que eu não sei como é que foi, não me lembro,

consegui levar o Victor Melo139 que nem é um gestor, Victor Melo é um

teórico, apesar de ser meu amigo, mas é verdade. E, acho que foi

Jamerson e Victor Melo, e Carlão.

R.R. – O Carlão

137

Nelson Carvalho Marcellino 138

Antonio Carlos Bramante 139

Victor Melo de Andrade

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L.O. – Não sei por que o Carlão também apareceu lá, também foi uma

jogada que a gente fez, foi uma jogada, a gente fez uma jogada para o Lino,

para enganar o Lino. E aí a gente sentou e montou, eu tomei a frente

dessa história junto com o assistente a gente montou uma. Apresentei a

Andrea e o Marcelo, a gente fez alguns ajustes aí ficou pronto o primeiro

curso de formação do PELC, isso foi... Primeiro lugar que a gente

experimentou a formação do PELC foi em Dionísio Cerqueira. A gente

montou... Ah não. E aí teve outra, montagem do grupo de capacitadores. A

gente chamava de capacitadores, foi maior também problema “como é que

a gente vai montar?” não sei o que. E o Lino, nessa hora, eu acho que ele

cedeu. Ele viu que o negócio tinha acontecer, ele tava tentando vetar, não

sei o que, aí ele deu uma relaxada. A gente montou um grupo, não me

lembro, mas acho que foram dez inicial, não sei. Me lembro que, eu me

lembro quem tava fazendo a formação era Carlão, eu não me lembro os

primeiros formadores.

R.R. – Diná140, Mascarenhas141

L.O. – Diná. No primeiro foi o Mascarenhas não.

R.R. – O próprio Ribamar não foi formador?

L.O. – Cara, Rejane, eu tenho isso em algum lugar, mas eu não sei

exatamente os nomes. Andrea guarda isso tudo, mas assim...

R.R. – A Andrea deu uma entrevista bem grande, mas acho que ela não

chegou comentar, ela estava com uma trajetória de muitos anos de PELC.

L.O. – Uhum. Muita coisa na cabeça.

R.R. – Ficou muita coisa eu acho que esse foco ela não

L.O. – Mas olha só, é legal você resgatar esse primeiro grupo, mas assim, o

Ednaldo142 eu tenho certeza, o Carlão eu tenho certeza, porque sabe está

misturando na minha cabeça Escola Aberta.

R.R. – É

L.O. – Está misturando Escola Aberta. Escola Aberta teve muita gente

também desse grupo, mas enfim, a gente conseguiu montar um grupo que

140

Diná Teresa Ramos de Oliveira 141

Fernando Mascarenhas 142

Edinaldo da Silva Pereira Filho

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a gente deu um curso, lá em Brasília, para esse grupo e deu um curso...

Ah! Victor Melo. Victor Melo participou da primeira. O Victor Melo é que

foi para Dionísio comigo.

R.R. – Olha só.

L.O. – Victor Melo foi para Dionísio comigo. Eu me lembro até... Vou

contar uma história engraçada aqui. Victor Melo, primeira formação,

Dionísio era aquela população assim lavrador mesmo, as pessoas assim

que tinha um trabalho lá na comunidade, mas eram lavradores, pessoas

bem assim humildes.

R.R. – Parecia aquele filme maravilhoso que foi em Dionísio, não foi?

L.O. – Foi. Foi em Dionísio.

R.R. – Filme maravilhoso.

L.O. – E aí aquela coisa, todo mundo sentado lá, Secretaria de... O prefeito

foi, a secretária de educação estava lá com a gente, a mulher do prefeito

que tinha sido secretária sentado lá, o Victor... Essa é emblemática, Dona

Rejane, não sei se te contei já isso?

R.R. – Não

L.O. – O Victor pega uma música, ele queria começar a formação ao invés

de falando ele começar com uma música. Ele pegou uma música, um

poema do Waly Salomão143 que é um já morreu, mas é um cara louco, era

um intelectual, um cara da cultura nossa. Só que é um poema assim bem,

assim, como é que a gente fala? Da periferia, uma coisa assim, uma

linguajar completamente louco, entendeu? Que faz sentir mais louco. Uma

música de fundo, ai o Victor falou assim “Boa tarde” se apresentou, bom

dia, sei lá, ligou aquele negócio. Aí todo mundo ficou assim, escutou

aquele negócio, terminou, ninguém sabia o que estava acontecendo (risos),

aquela loucura. Aí a secretária estava lá atrás de mim falou assim

“Professor, que esse cara está fazendo lá na frente?” Porque o Victor fala

muito de cinema, não sei o que.

R.R. – Não e ele tem aquele estilo também muito a vontade.

143

Waly Dias Salomão

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L.O. – Cabelão, não sei o que. Aí ela falou assim, levantou o braço, ela

falou “Professor, posso falar uma coisa?” “Fica a vontade, secretária” ela

levantou “Professor, o senhor sabe quantos quilômetros fica o cinema

mais próximo daqui de Dionísio Cerqueira onde é que fica?” O Victor

começou a falar que eles tinham que ir para cinema “O cinema mais

próximo daqui de Dionísio Cerqueira fica a 150 km daqui” (risos).

Conclusão, o Victor fez a formação, mas depois no final ele falou assim

“Luizão...” Ah! Não. Ele fez a primeira parte e a Diná fez a segunda, ele

não pôde, o Victor nunca pode ficar em lugar nenhum o tempo inteiro. Aí

ele falou assim “Luizão, eu quero te falar uma coisa, eu não quero mais

fazer capacitação nesse tipo, eu sou um cara urbano. Me bota lugar

urbano, não me bota nesse lugar que eu não conheço nada disso” (risos)

Achei legal que ele mesmo foi humilde falar, mas enfim, essa coisa, a

gente começou a fazer a formação com esse formato de trinta e duas horas

discutindo cultura, discutindo conceito de cultura, discutindo critério de

lazer, conceito de esporte, discutindo conceito de cultura popular, de

educação popular. Era um curso bem redondinho, bem legal, mas a gente

foi aprimorando ele com o tempo. E foi o que foi fez o PELC andar, porque

se não, se fosse depender do Lino não saía do lugar. E não sei o que ele

queria botar ali, mas a gente fez aquilo de primeira, ficou bem redondo.

Eu acho que eu tenho essa formação desde o início.

R.R. – Tem como nos conseguir?

L.O. – Eu tenho isso, eu tenho isso sim. Eu tenho isso sim, eu posso

mandar para vocês. Tenho ela depois da modificação que a gente fez da

primeira, foi a base da Escola Aberta. Foi a base da Escola Aberta. Então

acho assim... E aí a gente conseguiu fazer, botar o PELC para funcionar

porque tinha capacitação, porque uma ação fundamental para gente. E

depois tinha uma ida de novo... A volta que estava no programa, que eu

não gostava muito e que eu acho que a volta não tinha que ser uma volta

difícil localização, tinha que ser uma volta de colher o que tinha

acontecido e refazer uma capacitação, uma capacitação com tempo menor,

mas você colhendo o que tinha acontecido a partir dali depois de uns seis

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meses e fazer de novo. Os convênios eram uns doze meses, era um

convênio... Na verdade até o convênio sair, acabar ficando muito curto,

então muitas das vezes a gente não conseguia fazer isso. Essa vontade

que tinha de voltar e dar uma capacitação alinhada ao que se já tinha

acontecido nessa formação, como resultado dessa capacitação inicial. Isso

eu queria levar, porque eu acho assim que era uma ação fundamental no

PELC. É ainda até hoje.

R.R. – É ainda até hoje.

L.O. – Mas foi ela que fez o PELC andar.

P.J. – Falou que um dos municípios que caiu foi Caetés e um dos que

deram mais certo desses dez pilotos?

L.O. – Cara, eu acho assim, eu acho que Ipatinga deu muito certo, Bagé.

Cada um com seu perfil.

R.R. – Ipatinga ainda não era consórcio então na primeira vez.

L.O. – Não, não, não foi. Depois eles é que começaram a estimular. A gente

aprendeu muito com os municípios porque eles começaram a ver que eles

podiam fazer o consórcio. O Ministério... A gente convencer “Cara, não tem

dinheiro vamos fazer consórcio” Mas Ipatinga é que sinalizou isso para

gente, entendeu? Mas assim, o que eu diria, cada um a sua maneira, cada

um do seu jeito, um mais esportivizado do que outro. Bagé era muito

esportivizado, entendeu? Mas assim, muito certinho, como Bagé era muito

frio o menino lá arrumou agasalho do PELC, nunca mais vou esquecer

disso, não tinha... A roupa do PELC era aquela roupa lá do Segundo

Tempo, que eles produziam lá no Pintando a Liberdade144. O programa

Pintando a Liberdade era calça, camisa do PELC, mas o prefeito, mesmo

sem dinheiro, botou dinheiro dele, fez um agasalho para todo mundo.

Todo mundo. Então tinha uma coisa...

R.R. – Te lembra que lá o PELC construiu até um ginásio.

L.O. – Construiu ginásio, teve dinheiro, teve dinheiro o PELC. Então

assim, eu acho que cada um na sua maneira. Acho que Ipatinga foi muito

144

Programa Pintando a Liberdade

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bom, Niterói também foi muito bom, Bagé foi muito bom, Dionísio

Cerqueira foi muito bom, esses são os que eu lembro mais assim.

R.R. – Xapuri?

L.O. – Xapuri também com muita, com as características muito próprias

lá também deles. Eles viveram problemas lá depois por causa de negócios

desvio de grana assim, mas assim como também Ji Paraná, mas assim

também vingou. Agora, eu não posso, eu vou estar, acho que é melhor

botar na mão de quem fala melhor, eu posso estar... Eu fui a Ji Paraná

duas vezes, assim, para acompanhar capacitação, para ver e fui também a

Maranhão.

R.R. – Imperatriz.

L.O. – Imperatriz duas vezes, fui com o Lino, inclusive, uma vez, que o

Lino não ia, o Lino tinha isso ele não ia. Tinha esse problema dele não

botar o pé no chão, entendeu? E a gente queria levar. Consegui rebocar o

Lino para... Ele mandava o Veronez.

R.R. – O Veronez vai ser um bom complemento para essa entrevista.

L.O. – É. Porque o Veronez, por exemplo, teve a coisa da ciência e

tecnologia que tinha para tocar as pesquisas e tudo mais, mas assim, o

que eu posso te dizer é isso. E os outros que eu não vou me arriscar a

dizer que foi ruim ou mal porque eu não acompanhei tanto. Eu fui... Mas

assim, não te... A impressão que eu tive indo as vezes que eu fui, que não

foram tantas como eu acompanhei os outros, mas assim, pelos relatos que

a gente tinha nos relatórios, na execução, os relatórios de execução, a

quantidade de pessoas frequentando, as novidades, a gente não teve

muita notícia boa não. Mas acho também que isso tem muito a ver com a

própria divisão do Brasil, a região Sudeste e a região Sul tem muito mais

suporte, muito mais formulação. Lá as pessoas sempre tiveram muito

mais dificuldade, enfim, acho que faz, tem a ver um pouco com a história

do Brasil mesmo essa divisão que mudou muito dos últimos anos, mas

ainda tinha muito isso no início.

P.J. – E esse primeiro grupo de formadores, assim, e quantas pessoas

eram formadas mais ou menos e como que ela...

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L.O. – Isso que eu estou te falando eram dez, cara, eu não consigo

lembrar, posso mandar, eu vou achar isso daí, posso mandar para vocês,

mas eram dez ou nove não me lembro. E a distribuição era de acordo com

o tempo que eles tinham, mas a gente começou a bota uns mais

vinculados a um lugar, porque já se conhecia mais a realidade. Porque na

verdade, como falei, eles iam numa e eram, uma vez, e depois a ideia era ir

voltar de novo para fazer essa discussão mais aprofundada. O Governo

não... O Ministério não liberava essa segunda. A gente conseguiu fazer

algumas poucas. Os relatórios devem ter isso registrado, mas assim, e

procurávamos essas pessoas eram, como é que se diz, uma grade de

horários de alocação das pessoas que tinham que respeitar o tempo delas

no trabalho delas e também a disponibilidade que a gente tinha para fazer

nos núcleos. Porque no início, primeiro foi Dionísio, mas depois começou a

ter uma avalanche quando. Quando começou a autorizar a execução

porque o dinheiro, o governo estava feito aí tinha que fazer a formação.

Então tu começava, começou a ter a correria, mas enfim, todo mundo se

dividindo, eu me dividia, Andréia também. Eu acompanhava, Andrea

acompanhava e o Marcelo acompanhava, sempre tinha um de nós. Era

pequeno ainda.

R.R. – A equipe que vocês tinham, nesse inicio do Ministério, para

trabalhar com o PELC lá administrativamente, como é que era?

L.O. – Não. Eu, eu dirigindo, Andrea coordenando, Marcelo coordenando,

aí depois tinham os técnicos. Betinha, Ana, Cidinha, Cidinha veio depois,

o Mario, o Leandro depois veio, mas enfim. Era esse grupo que não ia a

campo. Depois de muito tempo porque a Bete... A Bete a Rejane sabe é

uma pessoa que tem uma competência muito grande porque ela trabalhou

com [palavra inaudível – quarenta e sete minutos e vinte e oito segundos],

ela é uma pessoa. Então ela podia ir para campo, mas a gente não

confiava nela. A gente não confiava pelo fato deles saberem que ela tinha

transitado muito com esse governo, ela tinha uma certa coisa, depois ela

se acostumou com a gente, mas ela tinha uma certa resistência. Não

pegou isso. Bete tinha uma coisa chegando os vermelhinos aí, entendeu?

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Vou tomar conta dessa merda aqui. E a Bete foi uma conquista, um

processo de conquista dela, ela era uma pessoa muito competente. Depois

ela começou ir para o campo, mas inicialmente era eu, Andrea, eu, Andrea

e Marcelo no campo.

R.R. – [palavra inaudível – quarenta e sete minutos e cinquenta e quatro

segundos]

L.O. – E o Lino não ia não, estou te falando. Não sei porque ele não ia, aí

vou fazer juízo de valor. Eu consegui rebocar ele para lá, para esse lugar

aí, era no Maranhão, esqueci do nome.

P.J. – Imperatriz

L.O. – Imperatriz, mas ele não ia. Também não sei se ele tinha que ir, era

secretário, mas eu acho bom o secretário conhecer, saber do que tu está

falando até porque ele gostava de discutir lazer, o Lino.

R.R. – Depois qual era a sensação que tu tinha com relação ao que vocês

projetaram e como evoluiu o PELC enquanto tu ainda estavas lá?

Alcançou? Porque foi uma idealização. Foi um sonho de certa maneira.

Política pública.

L.O. – É, Andrea... Oh Rejane, eu acho o seguinte, eu já falei isso [trecho

inaudível – quarenta e oito minutos e trinta e quatro segundos] nossa na

campanha da Dilma145, até falei isso com a Andrea no email que e mandei.

Menina lá, aqui de Brasilia, a baixinha.

R.R. – Antonieta146 (confirmar)?

L.O. – Antonieta falou: “Ah! Luis, não é bem assim.” Eu penso seguinte

assim, a gente pensou um programa, idealizou um programa de lazer,

fizemos, a gente fez as concessões necessárias, [palavra inaudível –

quarenta e oito minutos e cinquenta e cinco segundos] no Ministério de

Esporte, não era o Ministério do Esporte e Lazer, era o Ministério do

Esporte. Essa temática é uma temática muito fluida, não está claro. Os

gestores não pensam. Se você perguntar ao Lula, hoje, que que ele fazeria,

ele vai falar muito parecido que ele falava naquela época. Então assim, é

um tema em disputa. O lazer é uma temática que é disputada até na

145

Dilma Vana Rousseff 146

Antonieta Martins Alves

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Europa, imagina aqui que é tão recente. Então eu acho assim, com todo

essa nossa dificuldade acho que a gente conseguiu criar uma marca.

Agora, eu acho que há coisas no PELC que desde o início a gente insistiu

demais, eu acho que a gente tinha... Talvez a ação do Vida Saudável tenha

sido uma saída, que é essa coisa da internacionalidade. O pessoal que

trabalha aqui com isso, eu discuto muito. Eu estou lá em a ver onde eu fiz

o pós doutorado agora, tinha uma menina que pesquisava isso também e

ela vivia isso. Ela trabalha projetos em Portugal por toda a política para

idoso todo equipamento de idoso do lado tem uma creche. Do lado é um

equipamento de educação infantil. É isso. Isso já demonstra claramente a

visão que o gestor tem, porque tem criança tem que ter velho, é quase

igual na cabeça do gestor. Então e ela, ela fazer uma pesquisa essa

menina sobre os projetos, que projetos mais vingaram quando

trabalhavam intergeracionalidade? Então ela falou que a área de artes e

cultura era que mais vingavam, segundo essa menina, o nome dela é

Sacha147. Quando entrava esporte, qualquer coisa, não vingava. Então

esse era uma temática eu acho que a gente criou muita expectativa nela, a

gente botou muito utopia nela, mas a gente não conseguiu, ficou muito no

conceito e a gente não conseguiu porque faltou compreender mais a

realidade. É difícil fazer isso. E acho que o Vida Saudável, de certa forma,

cumpriu um papel aí. Uma ação orçamentária, não tinha muito dinheiro,

mas cumpriu um pouco o papel. Mas acho assim, como política de política

de esporte e lazer eu acho a gente criou uma marca, mas, Rejane, eu acho

assim, enquanto a gente não criar um sistema nesse país a gente não vai

conseguir, porque é difícil o governo brasileiro federal ficar afomentando

isso, entendeu? A ideia do Lino, isso o Lino tem um mérito que ele insistiu

muito com isso, que era ideia e ele falava isso o tempo inteiro e a gente

tinha concordância, é um mérito dele. Não só esse, ele teve outros méritos

também, mas o Lino tem um mérito assim muito forte que era de dizer o

seguinte “Nós estamos conceituando um trabalho, a gente está querendo

criar um conceito no Brasil” Por isso... E eu vou falar uma coisa, acho que

147

Sacha Vieira

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o tiro que o Agnelo deu na gente, dar dez para a gente, dez município só

por um lado não foi ruim, por um lado foi bom porque eu acho que

política pública tem que ser feito por projeto piloto. Projeto piloto talvez

dez fosse muito, quando a gente tivesse mais dinheiro para implantar de

forma regional, fazer uma coisa mais. Porque o projeto piloto é necessário

se não você gasta dinheiro à toa, você tem que fazer, experimentar. A

gente não conseguiu fazer isso, experimentar, conseguiu na nossa forma,

no nosso jeito, mas como uma política, assim clara, como a gente colocou

no papel a gente não conseguiu. Porque a ideia nossa, Rejane deve, não

sei se está escrito em algum lugar, a ideia original do Lino, e que seu

equívoco político, é que nós deveríamos chegar, fomentar, ao chegar o

local se apropriou, a gente vai embora, deixa ali a semente plantada. O

prefeito falava “Vocês estão loucos”. Volta Redonda, por exemplo, aqui o

exemplo de Volta Redonda. A gente fez, vocês vieram para cá, a gente

mostrou para vocês que a gente sabe fazer, vocês vão embora agora? Não.

Agora vocês tem que ficar.

R.R. – Tinha muito prefeito que já nem queria porque nós íamos abrir as

possibilidades e depois eles não queriam arcar.

L.O. – Exatamente. Porque a ideia do PELC original era essa. Você

fomentar, criar estrutura local que não existisse, existia por exemplo, uma

secretaria, alguma coisa que tomasse conta, começasse a botar dinheiro

no orçamento e eles tocasse o projeto. A gente viveu uma polêmica porque

o cara não queria isso, ele queria (risos). Por isso que eu falo, raros são os

exemplos como o do Mainardi que começou a tocar, mas não queria que

nós saíssemos de lá, mas começou a tocar. De Ipatinga que também

começou a botar recurso próprio. Niterói não botou, aqui em Niterói era

inadimplente por causa do governo anterior, mas Ipatinga, Bagé, Dionísio

Cerqueira começou a botar dinheiro próprio. Então acho assim que como

política a gente criou uma marca, mas enquanto a gente não tiver o

sistema eu não sei se essa marca fica, entendeu Rejane? Eu não sei

porque, porque é muito difícil a gente ir lá em Brasília fomentar isso, é

muito dinheiro, é muito tempo é muito grande o Brasil, entendeu? Mas

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acho assim, nós criamos uma marca, nós criamos uma marca, um

programa que pode ser copiado e ser ajustado localmente como o Escola

Aberta também. Escola Aberta foi uma marca, hoje tem governos

municipais que fazem Escola Aberta, mas assim, eu acho que criou uma

marca. Acho que criou uma marca.

P.J. – Quer perguntar mais alguma coisa?

R.R. – Não.

L.O. – Fechou?

R.R. – É que na verdade [palavra inaudível – cinquenta e três minutos e

vinte e sete segundos] na verdade tu vontade tanto na Andrea falava, a

gente fica conversando, quando lembra “Mas e isso?” (risos) Mas essa

parte eu não posso. O que eu ia dizer, uma parte importante que ficou era

o seguinte, a comunidade se apropriar do direito ao lazer. Porque se ela

nunca teve nem sabe que pode ter.

L.O. – Ah! Eu posso falar sobre isso.

R.R. – Ah! Pois é, então pode.

L.O. – Porque isso é uma coisa que é...

R.R. – Isso eu acho importante.

L.O. – Porque eu acho que é uma coisa... Nós tínhamos a intenção, não só

do gestor. Assumir o programa e tocar, mas a pessoa se sentir autônoma,

usar o seu tempo livre de forma crítica que era o grande barato nosso. Ele

perceber que ali era um direito dele. Eu quando... O segundo edital,

porque... Ah! Eu não vou entrar na esfera do Veronez porque a esfera dele

e do Lino, mas assim, todo o processo de construção das pesquisas, do

DESTEC, foi um processo meio complicado. Primeiro não teve edital,

foram os amigos, os amigos (risos), depois a gente começou a ter edital.

Mas no segundo edital, na gestão que tu já estava lá, até conversei, na

época, com a Cássia um pouco que eu tinha feito exata na segunda

rodada do meu projeto, na segunda, que era exatamente isso. Até o título

o projeto era “Os órfãos do PELC: como andam?” Então a minha ideia era

pesquisar acho que uns dois núcleos do Rio [trecho inaudível – cinquenta

e quatro minutos e quarenta e quatro segundos] um núcleo de Niterói, um

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do Rio, eu não me lembro mais onde, para entender se a população se

apropriou. Que a minha intenção era exatamente essa, para saber se a

gente conseguiu emplacar no cidadão local essa compreensão de que o

lazer é um direito dele e ele lutar por isso. Isso a gente não tem, não sei

está rolando alguma pesquisa nesse sentido ou se tem, mas eu não tenho,

se eu for falar eu vou falar com um dado impressionista. Por exemplo,

aqui em Niterói onde houve parou e ficou por isso mesmo. Sempre quando

a gente dava capacitação a gente dava exemplo do Cristovam148, do

Cristovam Buarque em Brasília. O Cristovam Buarque ele perdeu, ele era

do PT ele perdeu a eleição para o Roriz149 quando ele era do PT. E o

Cristovam ele é uma das marcas do governo. O Cristovam foi a Brasília

você tem que atravessar na faixa e o carro para. E o Cristovam ele

começou essa marca ficou no governo dele, ele levou para a Câmara,

votaram, aprovou, ficou a marca. Mas o Cristovam também no final do

mandato começou a tentar ocupar mais do Lago Paranoá com

equipamento de lazer, ele começou a botar ônibus de graça, acho que era

R$1, não sei quanto é que era, de graça, para as pessoas da periferia irem

para o lago, para a margem do Paranoá porque o Paranoá é um lago que

foi criado para aumentar umidade da cidade não foi para rico ficar

construindo mansão a borda nem para botar clube naquela borda. E o

Paranoá deixou de ser... Aí ele começou implantar. Ele perdeu eleição

para o Roriz, ele já tinha alguns equipamentos já construídos na beira do

Paranoá. É Paranoá o nome daquele?

R.R. – É. Lago Paranoá.

L.O. – E aí quando ele perdeu a eleição, o Roriz a primeira coisa que ele fez

foi tentar dar uma cravada para tirar as travessias com o argumento de

que estava tendo muito gente atropelada. Mentira. Ele não conseguiu fazer

isso. A população manteve aquilo. Em contrapartida o que aconteceu no

Lago Paranoá ficou e foi abandonado.

R.R. – Foi abandonado.

148

Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque 149

Joaquim Domingos Roriz

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L.O. – Ou seja a compreensão de que aquilo era um direito do cara não foi

apropriado. Eu acho que o PELC vive um pouco isso. A gente não

conseguiu por uma série de razões, acho nem incompetência do gestor.

R.R. – Mas é que o PELC se não conseguiu sensibilizar todas, até porque

não atuou diretamente em várias comunidades como se gostaria e no

tempo necessário para a educação se consolidar.

L.O. – Isso.

R.R. – Ele avançou muito, no meu entendimento, dentro das

universidades.

L.O. – É verdade

R.R. – No conhecimento da nossa área com relação ao lazer e a política

pública.

L.O. – Não, isso é verdade. Na produção. Agora, isso tem que se traduzir

lá, Rejane, tem que se traduzir lá na ponta isso, porque não da para esse

conhecimento ficar ali dentro só. Eu falo aqui ó. Eu falo isso aqui todo dia.

A gente fala todo dia na universidade. Eu acho que o... É verdade, gerou

muita produção nessa área porque muitas pessoas começaram a se

interessar, estudar o Segundo Tempo, estudar o PELC. É uma... A criação

do Ministério foi uma virada de página no Brasil, entendeu?

R.R. – Eu acho que em termos de políticas sociais foi.

L.O. – Foi virada. Foi virada. Foi virada porque independente da crítica ou

não a gente pode partir daí, entendeu? A gente pode partir daí. Agora,

acho assim, eu não tenho, acho que valeria a pena estimular pesquisa

nesse sentido para ver a compreensão da população nesse sentido, se

apropriar desse direito porque realmente a gente, a gente vê que a gente

começa, muita gente começa do zero, é para começar um projeto começa

do zero. Mesmo onde já teve alguma coisa tu começa do zero.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Luis Carlos Bhorer

Depoimento de Maria Leonor Ceia Brenner Ramos

Depoimento de Rodrigo Barbosa Terra

Entrevistado/a: Rodrigo Barbosa Terra

Nascimento: 03/12/1968

Local da entrevista: EEFFTO/UFMG - Belo Horizonte

Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos

Data da entrevista: 19/11/2015

Transcrição: Adriana Zimmermann

Copidesque: Silvana Vilodre Goellner

Pesquisa: Luiza Aguiar dos Anjos

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Trajetória profissional; envolvimento com temática do lazer; atuação como

formador do PELC. Formado em EF pela UFRJ, Doutor em EF pela

Universidade Gama Filho, professor da Universidade Católica Dom Bosco

(MS), assessor especial da Prefeitura Municipal de Corumbá (MS) e

formador do PELC.

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Entrevista com Rodrigo Barbosa Terra dia 20 de novembro de 2015,

entrevistadora Luiza Aguiar.

L.A. – Primeiramente muito obrigado Rodrigo por ceder espaço em um

momento que eu sei que tem muita coisa importante acontecendo. Queria

que você começasse me falando sobre a sua formação.

R.T. – Eu sou professor de Educação Física formado na UFRJ em 1991,

tenho uma especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior,

fiz um Mestrado em Educação e Doutorado em Ciência do Exercício e do

Esporte.

L. A. . – E como é que a temática do Lazer esteve presente ai na sua

trajetória?

R. T. – Na verdade a temática do lazer entrou na minha vida em um viés

talvez diferente de quase todos os outros, não foi via academia, foi via

gestão, durante um determinado momento da minha vida eu fui Secretário

do Esporte do estado do Mato Grosso do Sul e ao pensar a gestão do

estado, a gestão pública, eu acabei me deparando de uma maneira mais

séria vamos dizer assim, não que eu não tivesse visto isso antes, mas de

maneira mais séria, em uma preocupação em desenvolver políticas de

lazer, políticas públicas de lazer e ai com isso me interessei pelo assunto e

comecei a ter contato com várias pessoas, participar de vários eventos

científicos e tal, e acabei me dedicando um pouco mais a isso, meu

mestrado já começa a trabalhar nesta área e o doutorado também, então

na verdade foi um viés diferente do que eu acho que a maioria que foi da

academia e acabou caindo aqui na gestão do PELC, o meu foi via gestão e

foi pra academia e agora volta pra gestão, agora não, já a um tempo, ao

executar esse trabalho do PELC.

L. A. A. – E quando você acabou essa secretaria?

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R. B. T. – Foi do período de 99 até 2004.

L. A. A. – E quais foram as temáticas, de forma sucinta, do seu mestrado e

doutorado?

R. B. T. – O mestrado foi um estudo de caso de um parque público do

Mato Grosso do Sul, que eu havia sido secretário, que a gente desenvolvia

um projeto de lazer comunitário, bastante semelhante a esse do PELC,

mas mais localizado, e a gente estudou esse parque e do doutorado

estudei a questão da gestão de mega eventos esportivos.

L. A. A. – E como você conheceu o PELC?

R. B. T. – Também na gestão, no momento em que o Ministério do Esporte

lança a proposta do PELC ele... Possivelmente uma das primeiras

reuniões, não tenho bem certeza disso, mas possivelmente uma das

primeiras reuniões onde a proposta inicial do PELC foi apresentada, foi em

uma reunião do fórum dos secretários estaduais do esporte, e eu era

secretário na época e lá foi o primeiro contato com o programa e me

interessei imediatamente pela questão do programa e como eu tinha um

contato muito próximo com as pessoas que estavam dentro do Ministério e

também era secretário estadual e de uma mesma base político-partidária

que eu atuava no governo do estado também era do governo federal, então

tinha uma relação muito próxima da questão, de trocar informações,

tecnologias e tal, então de uma maneira não oficialmente, mas eu acabei

ajudando, dando sugestões dicas, na construção inicial mesmo do

programa e logo em seguida a minha saída da secretária de esportes, que

acaba o governo, eu sou convidado então para participar mais

diretamente, na época acho que o nome nem era formador, acho que era

chamado de consultor na época disso que a gente chama hoje de

formação, desse grupo de formação.

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L. A. A. – E você teve algum tipo de preparação pra assumir essa função

de formador consultor?

R. B. T. – Não, oficialmente não a preparação que eu tive foi essa de ter

essa experiência já como secretario lá na gestão estadual e de ter por isso

contato com o PELC de ter projetos semelhantes a esses que aconteceram

na gestão estadual, mas não teve uma formação específica pra isso “pra

você ser formador precisa ter passado por isso e por isso o por aquele

curso” enfim formação mais específica não, acho que inclusive não existe

isso para ninguém.

L. A. A. – E você atua tanto no PELC Todas as Idades - Urbano, quanto

Vida Saudável e o PELC Comunidade e Povos Tradicionais?

R. B. T. – Não existe formalmente essa divisão, dos formadores que vão

atuar mais em um ou mais em outro, essa divisão formal não existe, mas

a gente percebe que há uma preferência por aquele que tem uma... Se

debruçam mais a esses temas, principalmente de comunidades

tradicionais, eu nunca participei de nenhuma formação dessas de

comunidades tradicionais, até porque não sou um estudioso mais a fundo

dessas questões, então assim acabo ficando mais no PELC Urbano

mesmo, mas se for o caso enfim terei que me dedicar um pouco mais, na

questão da programação de construir a programação, com certeza teria

que ter um esforço muito maior, porque não é um área que eu domino

tanto, mas toparia, até porque o programa é um programa só, a idéia é

levar uma política de esporte e lazer de qualidade para todas as regiões do

país.

L. A. A. – E como é que é o seu processo de planejamento e organização

das atividades de formação?

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R. B. T. – Da programação em si?

L. A. A. – Isso.

R. B. T. – Bom assim a gente tem todo um meio que um ritual já colocado,

você recebe a informação de que você foi convidado para fazer aquela

formação, então você procura, então o Ministério do Esporte e agora a

UFMG fazem isso, tem feito isso cada vez de forma mais organizada e

sistematizada, no espaço os contatos de quem são as pessoas que cuidam

do programa lá, geralmente do coordenador geral, do coordenado

pedagógico, tem um orientador pedagógico dentro do ministério que agora

executa uma função bem interessante, então a gente faz uma relação com

essas pessoas antes procura saber como é que é a realidade lá da região e

a partir disso tenta construir uma programação que seja mais próxima

possível daquilo que a gente vai encontrar lá, confesso pra você que isso

nem sempre é muito fácil, porque às vezes a gente não consegue contato

com as pessoas, liga e elas não atendem, às vezes esta muito corrido não

da tempo de ligar porque perde o prazo e tipo “ó você tem que entregar

essa programação daqui a dois, três dias”, ou você não encontra, ou

mesmo você consegue falar com a pessoa, mas você percebe que ela

também, a pessoa lá do local, não esta tão inteirada assim como você

gostaria que ela estivesse, mas o ideal é esse, o ideal é que a gente consiga

ter um tempo hábil pra conversar de uma forma um pouco mais

aprofundada com essas pessoas, tanto com as pessoas ligadas à parte

pedagógica do ministério, quanto aquelas responsáveis por essa parte lá

do município enfim do local onde vai funcionar o programa e tentar

construir a partir dessa lógica mais local, logicamente que respeitando as

diretrizes, objetivos do programa, uma programação que atenda e que

respeite essa realidade local.

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L. A. A. – E tem alguma temática que você costuma dar maior prioridade,

que você entende que é mais cara ao programa ou aos contextos que você

se envolveu até o momento?

R. B. T. – Olha, assim, eu acho que essa formação ela é um momento de

você instrumentalizar aquelas pessoas que vão atuar no programa e o

programa é um programa que ainda não é tão conhecido assim, e tem

uma outra questão, eu tenho a opinião de que o programa é um programa

que não é tão conhecido, que é complexo, que essa temática do lazer ela

não é comum a todos, não são tantas pessoas que dominam a temática do

lazer como a gente domina, porque a gente estuda isso no nosso dia a dia,

mesmo as pessoas que atuam, principalmente no campo da educação

física, não tem esse domínio tão grande, então assim é importante que a

gente tente conseguir instrumentalizar as pessoas que vão atuar com

algumas informações, com algumas ferramentas que na minha concepção

são importantes, então eu procuro tentar trabalhar com essas

ferramentas, então por exemplo a questão das diretrizes, é um questão

muito importante que eu dou uma ênfase muito grande, a questão do

planejamento pedagógico lá do tal do PP, também uma outra questão

bastante importante e sem dúvida nenhuma os conceitos básicos do lazer,

porque eu fico sempre pensando o seguinte, como é que eu vou montar,

eu se fosse um coordenador de núcleo, um agente, como é que eu vou

montar uma grada horária de qualidade com, apresentando uma

capacidade grande de atividade diversificada se eu não conheço nem quais

são essas atividades, se eu não conheço nem quais são os interesses do

lazer, então assim, eu sempre fico pensando em especial no módulo

introdutório 1 a gente tem que ter essa capacidade de passar todas essas

informações, todas essas ferramentas pra que ao final eles tenham

condições de montar uma grade horária qualificada, eu sempre fico

pensando o seguinte, o produto final do módulo introdutório 1 é a grade

horária qualificada, só que pra chegar a essa grade horária qualificada

eles precisam de uma série de informações, então eu sempre procuro

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trabalhar de uma maneira mais forte essas informações, e logicamente

que tentando também, e não é uma tarefa fácil, mas a gente tenta fazer ao

longo da formação, verificar quais são as fragilidades daquele grupo, que a

gente percebe que determinados grupos eles compreendem melhor um

determinado tema e não tão bem outro, então a gente tenta encontrar nos

primeiros momentos da formação quais são essas fragilidades e ai tentar

reforçar mais aquilo que a gente entende que eles precisam de mais

reforço.

L. A. A. – E quais são as suas principais estratégias metodológicas?

R. B. T. – O PELC trabalha com uma série de estratégias metodológicas e

ai tentando fazer conexão com a pergunta anterior sua, a partir do que a

gente verifica de instrumentos que são importantes para a construção,

estou falando mais especialmente do módulo introdutório 1, que o produto

é a grade horária, então a gente precisa encontrar um formato que dê

conta de passar esses instrumentos para eles, essas ferramentas, então a

gente tem ai uma vasta possibilidade que vem sendo trabalhada de

estratégias metodológicas, por exemplo uma delas é a visita, acho que a

visita técnica aos locais de funcionamento do núcleo é uma estratégia

muito importante, existe hoje dentro do grupo de formadores uma certa,

alguns acham que não há necessidade da visita, outros acham que há

necessidade de visita, eu sou um daqueles que acham eu há necessidade

da visita, em especial no módulo introdutório 1 e no módulo introdutório

2, eu acho que é importante que o agente, que o futuro agente, que o

futuro coordenador conheça realmente aonde ele vai atuar, quais são as

possibilidades de atuação, que ele tenha um olhar diferente pra aqueles

espaços, que ele possa ter um olhar que dê um novo significados àquele

espaço, que dê um novo significado às atividades que ele pode cumprir

naquele espaço, então sim voltando a tua pergunta são várias as

estratégias metodológicas e uma delas que eu considero das mais

importantes é a visita.

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L. A. A. – Você podia me falar como é que você organiza essa visita técnica

e também falar um pouco da visita pedagógica.

R. B. T. – A visita pedagógica é uma coisa muito nova ainda, eu na

verdade só fiz acho que uma ou duas visitas pedagógicas é uma coisa que

é recente no programa, a visita técnica não, na verdade existe ainda até

uma confusão, até no ponto de vista da terminologia que quer dizer

[palavra inaudível 12:41] visita técnica, na verdade a gente esta chamando

agora essa visita técnica de estudo da realidade, e a visita pedagógica uma

visita pedagógica mesmo, então assim a visita técnica a gente procura

criar um roteirozinho que na verdade nem é meu, é um roteiro que o

grupo de formadores criou e a gente mais ou menos tem usado aquele

roteiro padrão, apresenta esse roteiro para o grupo antes, faz uma

conversa preparatória de como que essa visita vai acontecer, qual que é a

importância dessa visita, o que nós vamos ver lá, essa coisa de resignificar

espaço, resignificar atividades, apresenta o roteiro pra eles, explica o que

que é o roteiro, se eles tem alguma dúvida, que que eles vão encontrar e

esse roteiro é bem detalhado, o que que eles precisam estar olhando,

desde se tem bebedouro, se tem banheiro, até como, o que que tem ao

redor do espaço, que tipo de comunidade que tem lá, tentar conversar se

for possível com alguma liderança comunitária ou com aquelas pessoas

que estiverem ali em volta no momento, se tem mais crianças, se te mais

idoso, se tem comunidade carente em volta, se o acesso é fácil enfim tem

um roteiro bem detalhado, então a gente apresenta isso para eles, explica

o que é, faz a visita, eu procuro fazer com que a visita seja feita, quando

são grupos grandes, organizada pelos coordenadores de núcleos, quer

dizer o coordenador de núcleo é meio que responsável por aquele grupo de

agentes ir com ele, logicamente que a gente faz a visita junto, acompanha

e vai tirando dúvidas e a gente volta para o local e ai depois faz uma

análise, uma reflexão sobre a visita, o que eles viram, se era aquilo

mesmo, que novidades que eles tem, como é que eles enxergaram os

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locais, eles acham eu tem condições ou se não tem, o que precisa mudar,

acha que o local deve ser aquele mesmo, se eles conseguira conversar com

a comunidade enfim a gente faz uma avaliação do que aconteceu na visita,

eu acho que tem funcionado e eu acho também que essa visita tem

avançado muito, ela tem ficado cada vez mais qualificada vamos dizer

assim, antes a visita era feita meio que cada um fazia do jeito que queria e

muitas vezes me perguntei “poxa será que essas visitas dessa forma

servem para alguma coisa, ou se a gente não tá é perdendo tempo” mas

hoje eu estou convencido de que o formato melhorou muito e que elas são

importantes, e que quem sabe ainda preciso melhorar ainda mais, que

elas possam ser realmente cada vez mais um instrumento importante de

estudo da realidade e que dai vem ao encontro das nossas diretrizes que

uma delas é trabalhar a partir do estudo da realidade, é trabalhar

respeitando a diversidades desse Brasil tão grande é isso.

L. A. A. – E com relação às visitas pedagógicas ainda que seja algo novo, o

que você tem a dizer sobre isso?

R. B. T. – Então volto a dizer, é algo novo, acho que a gente ainda precisa

avançar nelas, o próprio formulário a gente ainda não tem convicção, eu

sou um dos que não tem convicção que ele é o melhor formulário, acho

que tem coisas que a gente, que não precisam estar ali, um instrumento

de coleta de dados, acho que tem algumas informações exageradas, acho

que tem algumas informações que o ministério pode pegar ou a UFMG

pode pegar direto com o responsável ou pelo convênio... Mas assim eu

acho que são importantes, principalmente no momento que ela acontece,

ela acontece lá no AV1 em um momento onde você pode ainda corrigir o

rumo, ela é mais, acho que ela é mais detalhada ela é mais rigorosa vamos

dizer assim, no momento em que você... Porque como você separa da

formação, apensar de ser no mesmo momento mas é um dia específico, eu

acho que você foca mais nisso, você deixa um pouco a formação de lado

“bom a formação passou, agora eu vou realmente olhar com outro olho,

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com outro olhar” nós formadores né, então a gente tem a possibilidade de

olhar com calma, cada um dos locais, o que esta acontecendo, e ai ver

alguns detalhes que às vezes podem ter passado batido, a questão da

identificação, pode conversar um pouco melhor com as pessoas que estão

ali atuando, não só os agentes, mas também os usuários, então acho o

instrumento importante, mas volto a dizer, na minha opinião ele ainda,

diferente lá do estudo da realidade ou da visita técnica, esse instrumento

é um instrumento que ainda precisa, agente precisa experimentar ele um

pouco mais a gente precisa avaliar ele um pouco mais e ajustar, acho que

ele ainda não é o produto final ainda, acho que ele ainda precisa ser

melhorado por todos nós, não é critica a ninguém não, acho que por todos

nós, acho que nós ainda estamos aprendendo a lidar com a visita

pedagógica porque ela ainda é uma coisa muito nova.

L. A. A. – E que resultados que você já tem percebido de uma formação

para outra nos núcleos que você participou de mais de uma formação, do

território 1 para o 2, do AV 1 até ao final do conveniamento?

R. B. T. – Como assim, que resultados?

L. A. A. – Como que você percebe a formação surtindo efeito nos agentes,

no funcionamento do núcleo?

R. B. T. – Isso é tão complexo, eu estou no programa desde 2007 então eu

perdi muito já as contas de quantas formações eu fiz e essas formações

elas tem mudado muito, a gente esta em um formato muito novo ainda,

esse formato de módulo introdutório 1, módulo introdutório 2, avaliação

1, avaliação 2, visita pedagógica é uma coisa muito nova, muito nova

mesmo, tem gente que ainda não fez todos, eu por exemplo só fiz um

módulo introdutório 2, mas assim antes de responder diretamente a

pergunta queria fazer rapidamente um relato dessas mudanças, que eu

acho que elas tem sido para melhor, a gente começou lá no início de 2000

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e poucos que era só módulo introdutório e módulo de avaliação e a gente

chegou a conclusão que não valia a pena ir lá fazer uma avaliação só para

dizer “ó acabou” faz uma avaliação de processo, acabou tal avalia e deu

certo não deu certo, avalia e acabou, e durante um tempo a gente debateu

sobre isso, debateu e chegou a conclusão que precisa ter um módulo de

avaliação no meio e isso foi um avanço danado, porque a gente podia

voltar lá antes e dizer “olha não esta muito bem por aqui, porque que

vocês não fazem desse outro jeito” e dai a gente percebeu que isso foi

muito bacana porque realmente mudava, a gente chegava nesse momento

e eles falavam assim “poxa mas que bom que você veio aqui agora e disse

isso porque agora a gente já sabe mais ou menos como vai fazer e vamos

poder mudar as coisas” e isso ajudava muito, com essa vinda agora com o

módulo introdutório 2 essa questão tem melhorado ainda mais porque,

você vai lá no módulo introdutório 1 e apresenta os instrumentos, as

ferramentas pra que eles possam construir a grade horária e efetivamente

a execução do programa, dois meses depois você volta lá, porque uma

coisa é você em uma sala apresentar como funciona e o que tem que ser

feito, outra coisa é ele chegar á na comunidade e fazer isso realmente

acontecer, como a gente imagina que deva acontecer, então eles tem essa

experiência de dois meses a partir da apresentação e da formação inicial,

até o módulo introdutório 2, então na verdade o módulo introdutório 2 é

meio que um início de avaliação, acho que é quase como um módulo de

avaliação, porque você retoma algumas questões que não ficaram tão

claras e foram trabalhadas no módulo introdutório 1, mas principalmente

você verifica o que esta acontecendo dois meses depois e ainda de forma

muito cedo, muito inicial você tem condições de começar já a fazer

ajustes, então quer dizer foi realmente um avanço essa mudança, e agora

com a visita pedagógica e o módulo de avaliação 1 você realmente

consegue fazer correções de rumo e ai indo direto para a tua resposta pra

tua pergunta, resposta da tua pergunta, a gente tem exemplos e exemplos,

tem alguns locais que você chega no módulo introdutório, vãos falar agora

o módulo de avaliação ainda porque o módulo introdutório 2 é muito novo,

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mas você chega no módulo introdutório 1 e praticamente todos os agentes

saíram, às vezes a coordenação saiu, às vezes mudou até a gestão do

convênio e ai você chega no módulo de avaliação 1 e praticamente esta

tudo zero, é quase o módulo introdutório 1 de novo, então o que avançou?

Praticamente nada, você quase que perdeu aqueles meses todos, mas

também você chega a alguns lugares que não mudou quase ninguém e

você percebe que eles estão desenvolvendo o programa e no módulo de

avaliação 1 e volto a dizer, ainda naquele momento em que não existia o

módulo introdutório 2, é o primeiro contato que você tem com eles depois

que você foi no módulo introdutório 1, quer dizer você tem um primeiro

contato pessoal de tudo aquilo que você planejou junto com eles lá no

módulo introdutório 1 pra ver se realmente esta acontecendo e na maior

parte das vezes, quase que cem por cento das vezes você percebe que

precisa fazer ajustes e que eles precisam mudar alguns rumos e eles são

super favoráveis a isso e o relato é recorrente de “poxa que bom que vocês

vieram, que você voltou aqui, que a gente não tinha entendido direito, a

gente tava fazendo uma coisa que não era bem assim, agora nós

entendemos” então há uma mudança realmente de comportamento e de

desenvolvimento das ações, mas ai tem um outro fator que é complicado,

complicador dessa história porque nem sempre você consegue você

mesmo voltar lá todas as vezes e isso não é legal, porque às vezes você faz

o módulo introdutório 1, mas você não é a mesma pessoa que vai lá e

volta em uma avaliação 1, e assim não é uma falha de ninguém, e porque

às vezes não é possível porque a pessoa sei lá esta doente, ou porque ela

esta em outra formação, é verdade que a UFMG ela tenta fazer com que o

mesmo formador volte e isso é muito importante, mas nem sempre isso é

possível e quando isso não é possível não é legal, porque não que o outro

formador não tenha capacidade, não é isso, mas é que é outra relação,

você ainda não conhece as pessoas, então você chega no módulo de

avaliação 1 não foi você que fez o módulo introdutório 1, você tem meio

que conhecer todo mundo de novo, entender, conhecer os locais, meio que

você chega lá sem as condições necessárias, ai você não sabe se são os

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mesmos se não são, então não é bacana, o legal quando dá tudo certo e

isso não é sempre que acontece, não saberia dizer o percentual, mas não é

tão alto, quando dá tudo certo é o mesmo formador faz todas as formações

e os mesmos agentes, ou pelo menos a maioria deles, em especial dos

coordenadores permanecem, quando isso acontece a gente realmente

percebe que as coisas fluem e ocorrem de uma maneira muito mais

satisfatória de quando essas questões não acontecem.

L. A. A. – E teve alguma formação em específico que te marcou por algum

motivo quaisquer, qualquer? Algum exemplo especial, exitoso? Enfim.

R. B. T. – Assim, acho que essa pergunta vale o que vem primeiro à cabeça

né, e o que mais vai ser bacana, assim eu gosto daqueles que já tem

experiência, por mais que seja até contraditório porque o ministério tem

trabalhado muito a história da autogestão e da municipalização, mas é

claro a olhos claros, aqueles convênios que já fizeram algumas vezes eles

estão a frente dos ouros, quando a gente chega a um lugar que aquela

mesma entidade já esta no seu segundo, ás vezes terceiro convênio, a

gente chega lá e percebe que as coisas andam bem mais fáceis, eles já

sabem o que eles precisam fazer, mas é bem concreto acabe de voltar de

uma formação a semana atrás de Campo Grande Mato Grosso do Sul, eles

estão no sexto convênio e é basicamente a mesma equipe da prefeitura, da

fundação municipal de esportes, logicamente que os agentes quarentões

mudaram muitas vezes, mas o pessoal da gestão é o mesmo, então a gente

chega lá e praticamente não tem mais problema, eles já sabem tudo já

licitado, eles já contratam os agentes procurando perfis profissionais

diversificados, então eles já sabem que tem que ter gente do teatro, eles já

sabem que ter que ter gente da educação física, do esporte, mas eles já

sabem que tem que ter gente da música, da dança, enfim eles procuram

trabalhar então a gente chega lá e já esta tudo muito mais fácil, enquanto

a gente chega em locais que o pessoal ainda vai começar a licitar os

materiais a gente chega lá e os materiais já estão comprados e eles

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apresentam os materiais na formação, então assim claramente como o

programa é um programa muito complexo de difícil execução tanto do

ponto de vista técnico burocrático, quanto do ponto de vista pedagógico

não é um programa simples e eu acho que essa é a beleza dele, eu sempre

digo que o que na minha opinião o PELC é o melhor programa público de

lazer e de esporte já feito no país, na história do país e ele é tão bom assim

porque ele é difícil, porque ele é complexo, porque ele atende todas as

faixas etárias, ele atende todos os conteúdos do lazer ele trabalha com a

realidade local, com respeito a diversidade, então quer dizer ele é um

programa complexo é difícil de fazer, estão em resumo quando a gente

chega em um local onde as pessoas já passaram por isso, já erraram

muito, executando um dois três convênios as coisas funcionam bem mais

fácil e a tendência é que aconteça com mais sucesso.

L. A. A. – E como é que é essa possibilidade de fazer o convênio

novamente, quando isso pode acontecer e existe alguma situação que isso

não pode acontecer, uma vez que existe um princípio de que depois haja

uma municipalização, uma autogestão?

R. B. T. – Do ponto de vista legal não existe impedimento nenhum, até

porque o convênio pode ser feito a partir de duas perspectivas, a partir da

abertura do edital ou a partir da emenda parlamentar e então

principalmente se for a partir da emenda parlamentar se tiver um

deputado federal, um senador que queira continuar colocando recurso

dele e da emenda dele individual no PELC, é bom que isso aconteça, aliás,

era bom que acontecesse mais, não há impedimento, então o município o

estado vão continuar recebendo aquela emenda e continuar fazendo ovos

convênios, como você sabe não existe renovação de convênio, acabou o

convênio a possibilidade é ter um novo convênio, então isso em alguns

lugares tem acontecido quando a gesta municipal, estadual percebe que é

importante e quer continuar captando esse recurso, ela continua entrando

nos editais ou continua mobilizando seus parlamentares continuar

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colocando nas suas emendas, eu não sei, eu confesso pra você que eu não

tenho certeza ainda se isso não é bom, que o município ou o estado

continue se articulando pra continuar captando recurso, porque tem uma

linha de pessoas que acham que não, que em determinado momento ele

não tem mais que fazer isso, que ele tem que se virar por conta própria,

mas se virar por conta própria também é captar recurso, que afinal de

contas os recursos do Governo Federal é pra isso, são para serem

disponibilizados para estados e municípios em especial para os

municípios, então se virar é continuar com bons projetos nos editais

abertos, continuar mobilizando seus senadores e seus deputados federais

para continuar captando recurso e que bom que seja pra área de lazer e

esporte e não para outras áreas, então eu não sou daqueles que acham

que não “que agora o município que tem que ter recursos próprios para

isso” ou pelo menos que tenha que ter recursos só para isso, em resumo o

que eu quero dizer é o seguinte, que os recursos para o desenvolvimento

do programa do PELC sejam próprios só do município, então acho que é

muito bacana quando você percebe que o município se envolveu e

continua se mobilizando para isso, colocado mais recursos dele também,

mas também continuando tentando captar recursos de outras esferas

como por exemplo do Governo Federal e eu acho que municipalizar vai pra

além d você ter um programa de lazer sendo desenvolvido no município,

municipalizar política de esporte e lazer eu acho que é você perceber que

naquele local se criou uma secretaria de esporte que não existia, ou uma

fundação de esporte que não existia, carimbou recursos para isso, agora

tem recursos destinados para políticas de lazer e esportes, se criou um

conselho municipal de esportes ou estadual, se contrata pessoal

especializado, tem concurso público para cotratar profissionais que atuem

nessa área, então às vezes a gente esta muito preocupado se o município

fez com que o PELC virasse municipal mas não esta preocupado em

verificar essas outras questões que talvez sejam até mais importantes,

porque isso é que vai definir mesmo que uma política pública municipal

de lazer e de esporte realmente se enraíze naquele local, então é isso.

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L. A. A. – E que pontos que você identifica que poderiam ser melhorados

dentro do PELC?

R. B. T. – A vish maria são inúmeros [risos] mas assim uma coisa é

verdade a gente não pode deixar de reconhecer tem melhorado, tem

melhorado, eu acompanho o PELC praticamente deste que ele nasceu,

como formador desde 2007 a gente percebe que tem melhorado e quase

que ano a ano, quase que sei lá semestre a semestre, sem dúvida tem

melhorado mas esse é um processo que eu acho que não vai acabar

nunca, toda vez que melhora alguma coisa a gente descobre outra, porque

ele cresce, ele se aprofunda, ele avança, ele chega em lugares que não

estava chegando, ai pra isso a gente tem que monitorar melhor, a gente

tem que avaliar melhor, a gente tem que acompanhar então enfim esse

processo é um processo que não vaia acabar nunca, mas assim tem que

continuar melhorando, aço que o sistema que a gente criou de

monitoramento e acompanhamento ainda é um sistema que precisa

melhorar muito, sem dúvida ele avançou mas ainda não, ele não dá conta

de atender a demanda necessária, existe ainda um e isso é um problema

do Governo Federal como um todo, é muito burocrático carregar essa

burocracia não é fácil, os municípios não conseguem desenvolver isso de

forma tão simples, então a gente precisa tentar, logicamente respeitando a

legislação que não é simples, mas respeitando a legislação tentar enxugar

um poço dessa burocracia, diminuir um pouco das exigências pra que o

município fique mais ágil e consiga fazer as coisas de maneira mais

rápida, muitas vezes a gente perde quase um ano fazendo uma licitação

um ano e meio fazendo uma licitação de materiais, então assim tem que

encontrar um formato que isso aconteça de uma maneira mis simples,

mais ágil. Eu acho que a gente precisa pensar e agora fiquei sabendo que

esta sendo encaminhado nesse sentido, uma forma de capacitar as

pessoas que entram no projeto quando abre o editar ou mesmo os projetos

que entram via as emendas parlamentares, lês ainda são projetos muito

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aquém do que podem ser, então esta se criando uma forma, se não me

engano estão chamando de caravanas pedagógicas, que a gente vai fazer

uma formação dos gestores ou das pessoas que vão entrar com o projeto e

isso vai facilitar muito inclusive a nossa vida, porque se a pessoa que esta

construindo a proposta ela já entende minimamente como funciona a

coisa toda, ela vai construir uma proposta mais capacitada, mais

qualificada, sei também que estão mudando as diretrizes mais uma vez,

as diretrizes tem mudado direto, mas estão mudando mais uma vez,

dando mais agilidade, dando mais facilidade, organizando melhor, então

por exemplo hoje falando pontualmente de uma questão que e acho séria,

na proposta precisa ter uma grade horária e essa grade horária não serve

para praticamente nada, porque quando a gente chega lá na formação a

gente muda a grade horária inteira, porque quem faz a grade horária,

primeiro que ela não entende o que é o PELC, ela faz só pró forma, ela não

sabe ainda onde vai funcionar, ela não sabe qual que é o perfil dos

agentes, ela não teve nenhuma preocupação com o estudo da realidade, se

aquelas ações são realmente as atividades que a comunidade quer, então

assim ter a grade horária na proposta inicial na minha opinião é

absolutamente desnecessária, e parece que agora eles estão realmente

tirando essa questão da grade horária, então enfim precisa mudar

algumas coisas, mas o que é animador é que as pessoas que estão gerindo

o PELC tanto aqui do UFMG mas liga a formação quando o pessoal do

ministério, eles estão atentos a isso e tem procurando mudar e avançar

cada vez mais e isso vai continuar acho que sempre e é bom que continue

porque vai sempre melhorar.

L. A. A. – Fundamental. Rodrigo tem alguma coisa que você queria

acrescentar, do roteiro a gente finalizou, queria saber se você tem alguma

outra consideração final para fazer?

R. B. T. – Acho que não, acho que a gente tratou de tudo, assim só para

elogiar mais essa iniciativa, voltado a história de melhorar, essa iniciativa

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da memória bem bacana porque afinal de contas como eu falei, não é

opinião só minha é de muitas pessoas e é uma opinião minha que eu

sempre bato nisso, acho que o PELC é um programa que é o melhor

programa construído na história do nosso país nessa área de políticas

públicas de lazer e esporte é uma tecnologia que assim na verdade eu

tenho dito isso muito, a gente construiu um programa que tem pelo

menos até agora muita dificuldade de chegar em todos os cantos do Brasil

porque ele é muito complexo e burocrático, então ele é um programa que

não tem muita escala, mas ele é um programa que construiu uma

tecnologia que vai ficar, não tem governo que entre que vai acabar com

essa tecnologia, o que a gente precisa agora é fazer com que as pessoas se

apropriem dela, tanto gestores municipais e estaduais, profissionais,

universidade, se apropriem dessa tecnologia e essa questão da construção

dessa proposta da memória do programa é mais uma ferramenta da gente

poder fazer com que um maior número de pessoas se apropriem dessa

tecnologia porque, por que não em um futuro próximo secretários

municipais de esporte se apropriem dessa tecnologia e não precisem só

ficar acessando o governo federal, eles mesmos possam com seus recursos

desenvolver, que não precisa ser o nome do PELC mas que sejam

programas que tenham essa tecnologia desenvolvida, então acho que essa

é a maior riqueza do PELC esse é o maior legado que ele vai deixar e essa

iniciativa de vocês vai contribuir para que isso se perpetue e a gente possa

sei lá daqui a cinco, dez, vinte anos ter ainda gente acessando essas

plataformas levantando esses dados e construindo efetivamente

propostas, não só do ponto de vista da pesquisa que é importante mais

pessoas escrevendo sobre isso, pesquisando sobre isso, publicando sobre

isso, mas que efetivamente nas gestões também, que essa tecnologia

possa fazer com que o maior número de programas sejam desenvolvidos

pelo Brasil afora e com isso, que eu acho que é o mais importante, um

maior número de pessoas no Brasil possam estar tento a oportunidade da

prática do lazer e do esporte de qualidade, legal?

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L. A. A. – Sim muito obrigado Rodrigo.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Schylazart Presciliana Ribeiro

Entrevistada: Sheylazarth Presciliana Ribeiro

Nascimento: 24/12/1978

Local da entrevista: EEFFTO/UFMG – Belo Horizonte

Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos

Data da entrevista: 22/10/2015

Transcrição: Adriana Zimmermann

Copidesque: Pamela Joras

Pesquisa: Pamela Joras

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Doutoranda em Estudos do Lazer / UFMG; Mestre em Estudos do Lazer /

UFMG. Especialista em Educação Escolar / Universidade Gama Filho;

Graduada em Educação Física Licenciatura / UFMG. Docente do curso de

Educação Física (bacharelado e licenciatura) da Centro Universitário de

Sete Lagoas – UNIFEMM; Docente na graduação de Educação Física da

UEMG unidade Ibirité. Formadora do PELC. Trajetória profissional;

envolvimento com temática do lazer; atuação como formadora do PELC.

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Porto Alegre, 22 de outubro de 2015. Entrevista com Sheylazarth

Presciliana Ribeiro a cargo do/a pesquisador/a Luiza Aguiar dos Anjos

para o Projeto Memórias do PELC e Vida Saudável.

Luiza Aguiar dos Anjos – Entrevista com Sheylazarth Ribeiro, dia

22/10/2015 com Luiza. Primeiro queria agradecer sua

disponibilidade, ceder seu tempo para conversar com a gente, primeira

coisa queria que você falasse um pouco da sua formação.

Sheylazarth Presciliana Ribeiro – Eu sou formada em Educação

Física aqui na UFMG, fiz uma especialização em Educação Física

Escolar pela Gama Filho, ela teve um curso aqui e eu fiz esse curso, o

Mestrado eu fiz aqui em Lazer no Mestrado em Lazer aqui das UFMG

também e o Doutorado eu to fazendo aqui agora também e fora isso eu

tenho uma ligação muito forte com política pública porque eu já fui

gestora do programa Segundo Tempo da cidade de Contagem aqui em

Minas Gerais e foi nessa época que eu me interessei então por começar

a estudar, voltei fiz um mestrado, eu to fazendo um doutorado nessa

área de políticas públicas e o PELC ele acabou sendo uma

oportunidade de formação também porque como eu trabalhava, vim

pra universidade e estudar aqui, foi exatamente na época que a federal

assumiu a educação física, que assumiu essa parceira com o

Ministério do Esporte pra ajudar na formação e ai eu comecei a

participar do processo seletivo pela experiência que eu já tinha, mas

evidente que são programas muito diferentes,mas acabou que foi um

braço da minha formação que veio das experiências que eu tive no

programa.

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L.A – E como é que o lazer entrou na sua trajetória, em que momento

e de que forma?

S.R – Nossa é difícil explicar isso porque nem eu sei muito bem não,

mas eu sempre participei de grupos de jovens da igreja e essas ações

acabavam sendo importantes porque a gente planejava eventos da

ordem lá da juventude, então a gente fazia brincadeiras e logo depois

eu vim fazer educação física, agora um ponto muito interessante é que

o mercado da época que eu era estudante era muito legal pra fazer

colônia de férias, pra fazer recreação, eventos, animação de festa,

trabalhei muito nessa época, só que acabou que eu passei no concurso

público de professora de educação física e eu fui atuar na escola,na

escola o lazer entrava como conteúdo das aulas que eu trabalhava,

mas eu era professora de educação física de formação, depois eu

acabei indo pra ACM a Associação Cristã de Moços, a ACM fazia

intercâmbios culturais pra trabalhar com recreação fora, mas o lazer

os estudos do lazer eu vim estudar lazer, o sistematizar só aconteceu

por causa da política pública de esporte e lazer que eu fui trabalhar

em Contagem e ai foi por isso que eu sistematizei e sabia que tinha um

grupo aqui que chamava Polis, ele ainda existe, o Polis me recebeu e a

gente começou a fazer estudos de política pública de esporte e lazer e

ai tinha uma linha de pesquisa do mestrado que abarcava essa

temática, então eu me especializei nessa linha exatamente por essa

trajetória, a influência do lazer não necessariamente influenciou os

meus estudos, mas foi muito mais essa política pública que

influenciou meus estudos no lazer.

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L.A – E você falou que iniciou no PELC a partir desse editar, me fala

um pouquinho desse seu início, como é que você foi preparada pra

ingressar e o que te motivou a ingressar nesse programa.

S.R – Eu meio que percebi quando comecei a trabalhar nas prefeituras

que a atuação de um gestor ele pode ter, não é que ele tenha mais

alcance que de um professor, mas a gente vê resultados mais claros do

que o de um professor, eu não sei se foi essa relação um pouquinho de

ansiedade de ver os resultados que me fez apaixonar com a ideia de

estudar as políticas públicas, e ai o Segundo Tempo foi um braço e

quando eu cheguei aqui e vi essa oportunidade do PELC começando

um trabalho nessa parceria do UFMG que era nova, porque antes o

Ministério tinha outro processo de contratação de formadores, quando

eu percebi isso eu falei “a eu quero entrar nesse grupo também” fiz

uns estudos na época sobre o PELC, me organizei e consegui passar

nesse edital e fui selecionada e foi muito legal porque os estudos que a

gente tava fazendo aqui na UFMG no mestrado tinham muita relação

com os estudos de formação de agentes sociais do programa, eu estava

trabalhando com a formação dos profissionais, formação dentro da

política pública e entrei em um grupo de formação de agentes sociais,

ou seja, a formação também na política pública e a grande ideia disso

a grande sacada era que a política pública ela não podia ser de

qualquer jeito, ela precisava ter uma organização, uma sistematização

pra atingir as pessoas que estavam trabalhando com os beneficiários

se não o esporte ou o lazer o que fosse a oficina que fosse oferecida,

por exemplo, no PELC seria parecida com qualquer outra e tinha uma

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questão política envolvida, essa questão política ela era muito ligada a

ideias revolucionárias, então assim há teorias que mostram que existe

condição de transformar uma realizada e é exatamente essas teorias

que a gente tava verificando, assimilando, entendendo aqui na

Universidade no mestrado e que a gente tava conseguindo também por

em prática lá no programa, então pra mim foi uma combinação na

época casou perfeitamente, sabe isso me ajudou a compreender que eu

queria meio que trabalhar com isso mesmo.

L.A – E me fala do processo da formação em si, você recebeu também

uma formação para os formadores, como que era essa formação e

ainda como é que isso se faz.

S.R – A formação ela é constante, a gente normalmente se encontra

duas vezes por ano para fazer encontros e conversas e diálogos, a

gente sempre dialoga, existem grupos de WhatsApp que a gente vai

conversando, existem encontros via Hangout né que a gente faz e vai

conversando também sobre as questões deformação, então a formação

dos formadores pra mim ela é um ponto fundamental porque se a

gente estanca as transformações também e o formato dos relatórios, o

formato da programação que a gente é obrigado a fazer quando nós

somos obrigados a fazer uma formação todos esses documentos

exigem um cuidado especial, então a gente tem que estudar,toda vez

que eu recebo uma formação pra auxiliar o município ou o Governo

Estadual ou a Universidade eu tenho que me debruçar sobre que tipo

de convênio é aquele, como se organiza, quais são as relações daquele

convênio com o Ministério o que ele já vem produzindo, se ele já teve

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PELC, se ele já teve outro programa se não teve, então a gente faz uma

busca geral no município que leva a gente a conhecer algumas

realidades e outras ações que o município já executa de política

pública, esses estudos às vezes eles ajudam o município mas a gente

também entende que nem sempre a gente dá conta de tudo e a

formação então pra mim ela se dá na formação do formador ela se dá

nesses dois sentidos, tem as ações que são executadas aqui dentro,

coordenadas e organizadas pelo pessoal da UFMG mesmo a gente

chama esses encontros de formadores, tem os encontros que são

virtuais, todas vez que a gente vai na formação com outro formador a

gente acaba compartilhando estratégias de trabalho, compartilhando

textos, materiais mesmo e também conhecimento, a gente ouve o outro

falar e percebe uma nova forma talvez de ministrar ou de falar de um

determinado conteúdo e acho que também os documentos que a gente

tem que produzir, eles de certa forma podem, eles tem possibilidade de

ser uma formação, ajudar a gente na formação também.

L.A – E que tipos de atividades, como você costuma realizar dentro das

suas formações qual a forma que você utiliza para poder fazer a

formação diretamente nos núcleos?

S.R – Primeiro eu tento entender, se eu não conheço a cidade eu tento

interpretar ela um pouco melhor, então eu converso muito com os

coordenadores antes de montar a programação eu tento fazer isso tudo

em conjunto, quando chego lá eu evito tentar levar uma coisa pronta,

então eu tento construir muito com eles, principalmente a parte das

ideias que a gente tem da educação popular que rege o nosso

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programa, então essa ideia ela faz muito sentido dentro do contexto do

PELC não dá pra separar formação das diretrizes do programa e da

ideologia dele, a ideologia dele é que a gente acredita que o lazer tem

uma capacidade de junto com outras políticas públicas fazer com que

a pessoa possa ter um acesso aos seus direitos e isso tem que ser

fortalecido na nossa formação, para que os agentes também percebam

que além deles terem direito a população também tem então o vínculo

da educação popular pra que eu escolha as metodologias, por exemplo,

de construção coletiva ela parte por esse principio do lazer como

direito, então quando eu chego nos núcleos essa construção que a

gente tenta fazer nos núcleos não, quando eu chego pra formação eu

tento conversar com os agentes, conversar com os coordenadores,

conversar com a coordenação geral e montar esse mapa, ou seja, como

que vai acontecer toda a organização da formação nesses, agora a

gente tem quatro módulos de formação, nesses quatro encontros que a

gente vai ter, além de tudo influencio muito pra que eles façam o EAD

a educação à distância e ai nesse encontro que a gente organiza cada

ação que eu escolho ela provavelmente é voltara pra aquela realidade,

então por exemplo, tem lugares eu já fui à Universidades que o curso

foi totalmente expositivo porque eu percebia que eles tinham uma

demanda por algumas informações e a lógica escolar que estava

vinculada à universidade pra eles funcionava muito bem as aulas

expositivas, eu dava textos então eu mandava os artigos antes para

eles lerem e a gente, e eles liam sabe, isso era muito interessante, as

universidades, por exemplo, eu tento atingir o perfil daquele grupo que

esta lá, quando eu vou eu tento entender qual é o perfil se são

estudantes de educação física ai a gente tem um outro perfil de

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agente, então a gente tem que montar uma formação que seja, que

tenha muitas dinâmicas, que sejam muito movimentadas, eu faço

muito teatro, passo filmes pra gente dialogar a partir dos filmes, levo

textos e ai os textos eles normalmente alguns eu consigo ter sucesso

outras vezes não ai vai variante, se o agente é da comunidade eu deixo

eles falarem muito porque eles tem uma experiência gigante, então eu

tento fazer uma formação muito de escuta pra perceber como que é a

comunidade ai eu vou tentando implementar os elementos do

programa, as diretrizes dentro desse processo, então varia muito do

agente e a grande vantagem do PELC é que eu tenho essa

possibilidade, eu tenho essa liberdade de trabalho a partir do grupo e

da necessidade dele.

L.A – E você atua no Programa Vida Saudável ou no Programa

Comunidades Indígenas e Polos Tradicionais ou os núcleos que você

atuou foram só os específicos do PELC?

S.R – Não, eu já atuei em todos.

L.A – E que diferenças você identificou nesse processo de formação

nesses espaços?

S.R – Pois é as diferenças são muito grandes, de fato isso também foi

uma dificuldade que eu tive que me capacitar melhor para cada tipo de

PELC e as leituras são completamente distintas, quando a gente vê a

construção do direito do velho, a construção do direito do indígena ou

dos quilombolas ou dos ciganos ou dos outros grupos das

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comunidades tradicionais elas foram através de uma luta diferença de,

por exemplo, de como a gente encontra a construção do PEL que a

gente vai chamar de urbano que é pra todas as idades, então a gente

tem que trazer a tona essa luta que foi essa constituição como que se

constituiu aqui, como que se constituiu aqui, parte da própria

essência da construção de como eles ganharam um programa pra eles,

não é ganharam, como que a luta gerou uma ação, uma política

pública que hoje é pensada pra essas pessoas especificamente, então

eu não tenho, eu tenho clareza que quando eu vou falar de PELC

comunidades tradicionais eu tenho que levar um histórico distinto,

para os velhos um histórico distinto uma possibilidade distinta e outra

coisa uma realidade de esporte e lazer distinta também, por exemplo, a

gente trabalha com prevenção e quedas, com a ideia de saúde e

qualidade de vida muito mais, eu pelo menos, atuo muito mais no

PELC Vida Saudável do que no PELC Urbano ou no PELC

Comunidades Tradicionais, então os conteúdos vão ganhando

dimensões diferentes também, evidente que também a partir dos

agentes, se eu chego por exemplo pra trabalhar com PELC Vida

Saudável e são profissionais, são pessoas estudantes de educação

física ou pessoas da educação física que já tem estudos ou grupo de

estudo na faculdade que já trata daquilo então a gente tem que fazer

uma leitura, às vezes eu não falo de prevenção e quedas e vou falar de

uma outra coisa que eu acho que é mais importante pra aquele grupo,

então a gente vai estudando a realidade e percebendo em que ponto

que a gente pode ajudar melhor os agentes a se relacionarem com a

comunidade.

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L.A – E como você tem visto os resultados ao longo desse processo

entre os quatro módulos, que mudança você destacaria de um módulo

para o outro nos núcleos?

S.R – Eu não consegui ainda fechar um convênio com quatro módulos

eu acabei, mas eu já consegui fechar um convênio inteiro e já

trabalhei, eu ainda não fiz nenhum AV1 e nem AV2 então eu não

consigo distinguir esses, mas antes a gente tinha um módulo

introdutório em quatro dias, algumas pessoas achavam que era

cansativo, outras pessoas achavam que tinha que ter mais dias que

eles não compreenderam ainda como era o programa, mas

basicamente o que vejo de um módulo, ai por exemplo, o módulo

introdutório para o módulo de avaliação era o choque de realidade dos

agentes, a gente vai ali com a teoria toda interessante e tal e dai pro

AV1 do módulo introdutório 1 para o AV1 eles caem numa realidade

ímpar, que eles falam assim Scheyla nossa mas não dá pra fazer isso,

ou não dá pra fazer isso eu tive que resolver os problemas, então o

módulo de AV1 é um módulo de escuta completamente porque eles

estão ansiosos pra falar, eles querem mostram o que eles encontraram

na realidade e cabe a gente ouvir e tentar ajuda-los a resolver as

questões que estão ali colocadas especialmente para eles lembrarem

qual é o objetivo do programa, porque muitas vezes eles se perdem no

objetivo, eles acham assim não vou, tenho que dar conta dessa oficina

e não conseguem perceber que a oficina faz parte de algo maior, então

sempre estar lincando essas duas coisas é o caminho de busca pra

mim enquanto formadora e do AV1 para o AV2 eu percebo que tem

assim uma organização do núcleo a maioria das falas do AV2 do

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módulo de avaliação 2 estão relacionadas à ideia de agora que eu

consegui essa habilidade o programa acaba, estão ligas nessa ordem,

então agora que eu capturei o que é a gente tem que explicar, a gente

vem com essa explicação desde o início, ele é um programa que tem

início, meio e fim, é um programa pra que a comunidade se aproprie

da lógica do direito e você tem que ajudar essa comunidade a se

apropriar pra que ela lute pra que continue, mas essa ideia não é uma

ideia fácil de capturar porque a pessoa também quer continuar

trabalhando, ainda mais se ela tem afinidade com a prática dela, mas

essa então é a distinção maior entre os módulos, o módulo

introdutória tem um ideia, o módulo de avaliação tem anseios e

debates sobre o que eles estão fazendo de certo e o que estão fazendo

de errado e o módulo final ele tem uma ideia de experimentação, de

experiência adquirida, que eu acho que é bem legal eu acho que ele vê

isso quando eu consigo ver isso eu acho, mesmo que eles estejam

tristes porque esta finalizando, a ideia de lazer e esporte como direito

eu acho que tem conseguido alcançar uma grande parte das pessoas.

L.A – E você teve notícias de núcleos que você acompanhou como

formadora ou de colegas que conseguiram mantes a continuidade das

atividades após o fim do convênio?

S.R – Sim tem coisas que são interessantes, a gente agora tem que

tentar estudar a ideia de municipalização não é uma ideia fácil de ser

abarcada porque falar de municipalização não é só continuar as ações,

no meu entendimento é continuar as ações com o ideal do PELC pelo

simples sentido, tem muitas prefeituras que já fazem ações, mas que

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as vezes tem outro foco, o foco não esta no direito social, esta por

exemplo em adquirir um troféu, mostrar que o futebol da cidade é

bacana, mostrar que os velhos estão perdendo peso, que os velhos

estão indo menos ao hospital, ok eu não estou desprezando nenhuma

dessas ideias, eu acho elas super interessantes, mas a ideia do PELC

ela parte da lógico de assim “olha é um direito conquistado então ele

tem que ser dado independente dessas outras questões que possam vir

a surgir em função dessa prática” então municipalizar com a lógica do

PELC eu conheço duas ações, uma ação que é a Plug Minas, de Ivoti

que a gente tem notícias e é a mais divulgadas entre nós formadores, a

gente tem em Igarapé através de uma formadora também eu tive essa

notícia e eu estou agora esperando que tem uma cidade que chama

Barroquinha no Ceará que ele esta em eminencia de aprovar o projeto

porque eles não tinham na prefeitura a Secretaria de Esportes não

existia no organograma deles então em função do PELC a secretaria

surge e agora eles querem manter a secretaria com essas pessoas,

então eles estão organizando para que eles consigam fazer essas

contratações, tão logo eu tenho ai dou essas confirmações pra vocês,

eu estou aqui na torcida também por eles, e lá como eu fiz a formação

eu tenho um pouco dessa clareza houve um avanço muito grande, eu

fiz o AV1 e fiz o AV2 eu não fiz o módulo introdutório deles, mas a

ficha deles caiu muito bem na ideia do esporte enquanto direito, então

eu acho que lá se essas pessoas conseguirem permanecer na

prefeitura tal qual o secretário, que também participou de alguns

encontros, eu acho que as ações podem ser muito parecidas com a que

o programa deixou lá.

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L.A – E como é que é o diálogo e a relação de vocês formadores

presenciais com os tutores do EAD?

S.R – Eu acho que ainda tem que ter, eu tenho mais esse diálogo

porque eu faço curso de EAD, então eu fiz essa busca, não é

obrigatório pra gente que é formador, outra forma que eu venho

percebendo é ir nas formações, e ai a gente acaba ficando amigo e tem

pessoas que a gente conhece, então essas pessoas que eu conheço a

gente sempre dialoga, por exemplo,aqui a gente tem a Cida tem a

Jeanifer, tem a Lidiane, então essas são pessoas que constantemente

eu estou encontrando, a gente conversa e a gente vai debatendo sobre

o que tem acontecido no EAD o que vem acontecendo nas

formações,por exemplo, um curso de EAD que não dá certo ou some

muita gente, a gente quando volta da formação vai perguntando

porque isso acontece e tal, mas um diálogo que firme um relação de

debate ou de uma conversa mais formalmente ou mais legitimada isso

a gente não tem, e ai eu vou ser sincera não sei se existe essa

necessidade também porque eu acho que são programas que a gente

pode, são ações que a gente tem notícia até pelo agente, o agente que

esta fazendo o curso ele também dá essa notícia pra gente, então eu

não sei se precisa colocar isso em formato de congresso, de fórum não

sei se tem essa necessidade, eu vejo o que vem acontecendo todos os

encontros eles são coletivos o pessoal de EAD tem tempo, tem uma

fala também, mas a fala que eu vejo mais interessante é nessa

conversa “você que esta em tal grupo que é de Betim, você que ficou

coma turma que atingiu mais gente de tal lugar,como é que ta lá?”

então esse diálogo acontece também.

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L.A – Tem algum tema fora os próprios temas que estão incluídos

dentro dos módulos que já estão previstos para que todos os

formadores trabalhem que você busca incluir e por entender que ele é

importante ser inserido que você tenha percebido, como é que você faz

essa escolha?

S.R – A escolha ela vai muito, agora eu tenho tentando, até já

expliquei isso um pouquinho, eu tento me pauta na ideia que o

Ministério construiu coletivamente, até porque nós participamos da

construção agente acaba tendo que legitimar um pouquinho desse

conteúdo que esta lá escrito e foi aberto, então a gente também

poderia inserir os conteúdos lá colocados, mas eu acho que a forma de

escolher ela esta muito relacionada à necessidade dos agentes de um

determinado convênio, por exemplo, convênios muito grandes, eu

acabo seguindo muito as propostas que esta colocada nas diretrizes do

Ministério para formação em função de não conseguir muitas vezes

alcançar um grupo de,às vezes eu estou com cinquenta pessoas na

sala e a gente tem que ficar conversando e é muito complicado atingir

ou entender todo mundo, então a gente acaba se relacionando com o

grupo, eu sei que não dá pra atender todas as necessidades, mas em

um convênio de um, dois ou três núcleos, na verdade eu falo eu adoro

os convênios de quatro núcleos que tem a quantidade de pessoas que

eu posso ouvir bem e eles falam bem a gente consegue partilhar

informações ali muito bem e esses realmente escolho um filme melhor,

um filme melhor não, um filme melhor para aquela realidade, escolho

uma temática,ou se às vezes a aula ia ser expositiva eu percebo que

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eles gostam de música então eu troco pra uma música, então eu vou

trocando ao longo da formação algumas metodologias, mas as

temáticas elas acabam sendo contempladas especialmente as

temáticas que se relacionam com a diretriz, então se a gente

percebe,por exemplo, que um núcleo tem pessoas com alguma

dificuldade de relação, por exemplo, com a questão homossexual eu

acabo me voltando muito pra isso no núcleo, porque a ideia de direito

ela perpassa por essa lógica, então o que rege muito as minhas ações é

tentar alcançar a ideia de direito junto com essas pessoas, mas de

uma forma bem suave tento a partir da lógica deles mostrar que as

outras pessoas também tem essa necessidade então a metodologia, o

conteúdo acaba sendo mais trabalhado ou menos trabalhado quando

eu tenho essas percepções, quando eu nãotenho eu acabo abarcando

mais a diretriz mesmo do Ministério.

L.A – Tem alguma outra coisa que você gostaria de registrar, que você

ache importante e que eu não te perguntei?

S.R – Ai Luiza eu não sei (risos) deixa eu pensar, olha eu acho que o

registro que eu tenho, que é quase um depoimento agora falando

dessa forma é que mesmo que eu tenho clareza que esses programas

que a gente vem atuando mesmo que a gente não dê conta de

transferir a lógica de direito, transferir o acesso pra todos os

beneficiários, de alguma forma eu tenho percebido que a pessoa que

mais sai mudada de todo esse processo é o agente, então eu acredito

que é um política pública a formação dentro do programa PELC, ela

tem ela consegue de alguma forma, é evidente que por essas

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metodologias por essa leitura que a gente tenta fazer por estudos

dessa realidade, a gente tem conseguido tocar esses agentes sociais e

inclusive construído uma identidade de agente, tem pessoas, por

exemplo, que eu conhecia do convênio do Recife do Geraldão que lá

tinha um grupo e também tem uma história muito bacana, um grupo

que já estava tentando construir uma luta pra legitimar essa figura do

agente de esporte e lazer e essas relações então, essa ideia de lutar

essa ideia de transformar essa ideia de mostrar que esporte e lazer é

tão, são direitos a ponto de legitimar uma figura um novo cargo

público tem alcançado algumas pessoas e eu acho que isso dá uma,

mostra uma possibilidade da gente ter uma sociedade um pouco

diferenciada nesse processo de leitura do que vem sendo proposto nas

grandes mídias ou pelo mercado o lazer pode ser relido através desses

agentes e eu acho que é por causa desse encontro que existe dos

formadores do Ministério com essa leitura que eles construíram

através de muita luta também da história do PELC dentro do

Ministério é de muita luta, então tudo isso vem mostrando que a

sobrevivência do Programa Esporte e Lazer ela vem, pra mim ela tem

muito sentido, principalmente quando a gente encontra os agentes

você conversa com eles pela internet eles vem mostrando o que eles

vem fazendo, as ligações que ele tem com a comunidade. Então esse é

um depoimento que eu quero deixar registrado porque a gente também

tem que acreditar, se o formador não acredita a gente não tem muito

braço pra atuar, mas não é simples não é uma coisa simples.

L.A – Muitíssimo obrigada pelo seu tempo e por nos esclarecer tudo

que foi perguntado.

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[FINAL DA ENTREVISTA]

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Depoimento de Silvano da Silva Coutinho

Entrevistado: Silvano da Silva Coutinho

Nascimento: 27/07/1972

Local da entrevista: EEFFTO/UFMG – Belo Horizonte

Entrevistadora: Luiza Aguiar dos Anjos

Data da entrevista: 19/11/2015

Transcrição: Luiza Loy Bertoli

Copidesque: Silvana Vilodre Goellner

Pesquisa: Silvana Vilodre Goellner

Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner

Sumário

Formação acadêmica; Trajetória profissional; Envolvimento o Programa

Esporte e Lazer da Cidade (PELC); Atribuições de colaborador;

Demanda inicial de aproximação; Programa Segundo Tempo;

Municípios, setores e núcleos; Formadores dos núcleos; Segunda

demanda; Envolvimento do PELC; Sistema Único de Saúde; Programa

Vida Saudável; Núcleo de Apoio a Saúde da Família; Apropriação dos

agentes e os próximos avanços do PELC na saúde.

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Belo Horizonte, 19 de novembro de 2015. Entrevista com Silvano da

Silva Coutinho a cargo da pesquisadora Luiza Aguiar dos Anjos para o

Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte.

L.A. – Silvano, muito obrigada pela tua disponibilidade de conceder um

tempinho para conversar conosco. Queria Silvano, que você me falasse

um pouco da sua formação.

S.C. – Eu sou graduado em Educação Física. Fiz mestrado e doutorado

em Saúde Pública na Escola de Enfermagem da Universidade de São

Paulo. Então esse meu caminho depois foi direcionado para estudar as

questões relacionadas à saúde pública, saúde coletiva no mestrado e

doutorado, e depois uma complementação no pós-doutorado.

L.A. – E em algum momento a sua trajetória temática do lazer esteve

inserida?

S.C. – Antes de falar do lazer na minha formação profissional, posso

falar um pouco mais profissionalmente, quando trabalhei por doze

anos em escola de ensino fundamental e médio, eu organizava eventos

de lazer que eu já desenvolvia na escola e em clubes recreativos, todas

as questões de eventos relacionados ao lazer. E aí no doutorado,

quando eu venho trabalhar com as competências do profissional de

Educação Física para atuar na atenção básica, o lazer apareceu um

pouco ali, mas não que era o foco principal, mas apareceu como uma

indicação de que o profissional deve ter conhecimentos sobre o lazer,

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atividades de lazer para utilizar este conhecimento no desenvolvimento

das ações na atenção básica.

L.A. – E me esqueci de te perguntar, hoje você está inserido no ensino

superior dando aula para Educação Física? S.C. – Eu dou aula no

curso de Educação Física, na Universidade Estadual do Centro Oeste

do Paraná, Unicentro, campus de Irati.

L.A. – E quando que você tomou conhecimento do PELC ?

S.C. – Eu era formador, era membro da Equipe Colaboradora do

Programa Segundo Tempo desde 2008. Eu morava no estado de São

Paulo e ali eu coordenava uma equipe e, com o final do meu

doutorado, eu não continuaria mais em São Paulo e iria auxiliar em o

Programa com alguma ação no estado do Paraná, mas surgiu uma

necessidade do PELC de estar aproximando suas ações do Ministério

da Saúde, querendo começar as discussões relacionadas à promoção

da saúde e em conversa com os gestores do PELC e do Programa

Segundo Tempo, eu comecei a auxiliar o PELC em algumas reuniões

nesse sentido e depois acabei vindo a compor a equipe do PELC e

saindo do Segundo Tempo. Mas já conhecia de escutar falarem do

Programa, sim. Mas vim conhecer mais profundamente quando eu

passei de membro da equipe colaboradora do Programa Segundo

Tempo para consultor do PELC. E também a partir de nossas reuniões

e das formações que eu participei no Programa. L.A. – E quando que

foi essa mudança? S.C. – Uma aproximação ocorreu no segundo

semestre de 2012, mas a mudança de fato aconteceu em 2013

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L.A. – E quais são as suas atribuições enquanto colaborador? S.C. –

Enquanto consultor, a função de colaborar aqui nessa equipe, é ajudar

a pensar as questões de promoção da saúde junto aos programas

PELC e Vida Saudável e, a princípio, veio dessa demanda de tentar

uma aproximação entre os Ministérios da Saúde e do Esporte, então,

de tentar uma política intersetorial. Então essa foi a primeira

demanda, comecei a participar das reuniões em que uma equipe do

Ministério do Esporte ia ao Ministério da Saúde, participar de

discussões com pessoas ligadas ao Programa Academia da Saúde, do

Ministério da Saúde E nesse primeiro momento, a minha demanda era

auxiliar nessa política intersetorial. Hoje, essa demanda é ajudar a

pensar dentro do Programa Vida Saudável e do PELC, as questões

relacionadas à promoção da saúde, como que nós podemos ali por

meio das atividades recreativas, esportivas, culturais, também estar

olhando de uma forma ampliada para promoção da saúde e produção

de material, tudo que Silvano da Silva Coutinho 3 estiver relacionado a

essa questão da saúde, eu e a Danusa150 estamos atuando nessa

consultoria.

L.A. – E você poderia falar um pouco sobre aquela demanda inicial da

aproximação?

S.C. – Ok. É importantíssimo sim, porque foi onde viemos trabalhar

aqui. Como nessa minha formação eu sou muito ligado a questão da

saúde pública, estudei muito política pública de saúde, foi onde, acho,

que eles sentiram que eu poderia contribuir e de fato contribui. Nós

150

Danusa Dias Soares

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começamos a fazer algumas reuniões com algumas pessoas ligadas ao

Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde. Então a

professora Deborah Malta151 , a Danielle Cruz152 que atuava, não

tenho certeza se atualmente ela atua, mas atuava, nesse setor, que

são pessoas que ajudaram na implementação da Política Nacional de

Promoção à Saúde, onde tem a citação das práticas corporais da

atividade física, é um dos eixos dessa política. Então a política lá da

saúde que fala de um elemento que está muito presente no Ministério

do Esporte que são as questões das práticas corporais e a atividade

física e, também, dessas pessoas relacionadas ao Programa Academia

da Saúde. Então, o que a Ana Elenara153 , as pessoas ligadas ao PELC

visualizavam aí? Nós temos lá a Academia da Saúde, que é um

programa que incentiva ter um espaço com possibilidade para

promover a saúde, tanto por meio de práticas corporais como por meio

de artesanatos, por meio de práticas culturais, reuniões de grupos.

Então é um espaço construído nos municípios que solicitam, recebem

uma verba para construir o espaço. Estes espaços do Academia da

Saúde possuem uma área de ginástica, de caminhada, e esse espaço

não tinha uma definição clara de como realizar essas atividades e o

PELC tem uma proposta metodológica clara de como desenvolver

atividades recreativas, desportivas, ou seja, práticas corporais em

espaços diversos. E aí, pensou-se nesse “casamento” dos dois

programas. Um olhar inicial, foi perceber que algumas localidades

possuíam o Academia da Saúde e também um núcleo do PELC e aí nos

perguntávamos - por que não fazer alguma ação intersetorial neste

151

Deborah Carvalho Malta 152

Danielle Keylla Alencar Cruz 153

Ana Elenara da Silva Pintos

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município? Foi desta forma que começamos essa aproximação. No

entanto, cada programa tem uma burocracia, tem uma questão de

como o recurso é repassado, a questão do Ministério da Saúde a verba

é repassada direto para a prefeitura, no nosso já é feito um

conveniamento, então fomos esbarrando em várias questões, mas

conseguimos chegar ao final do ano de 2014 com a realização de um

projeto piloto no município de Maracanaú, na grande Fortaleza. Foi

um projeto piloto juntando as expertises dos ministérios da Saúde e do

Esporte. Nesta oportunidade realizamos uma capacitação, reunindo

atores de todos esses espaços, então monitores, agente social de

esporte e lazer do PELC com pessoas ligadas a academia da saúde,

pessoas ligadas ao NASF, que é o Núcleo de Apoio à Saúde da Família,

pessoas ligadas à unidade básica de saúde e foi feita uma formação

para que pudéssemos pensar juntos em como seria trabalhar nessa

perspectiva. Não temos ainda muitos frutos, porque acabou que, com

as mudanças de governo não houve possibilidade ainda de dar

continuidade. Existe o esforço do Ministério do Esporte de estar

retomando essa aproximação, mas um esforço onde os secretários e os

ministros possam conversar, e a partir disso, lá de cima, se eles

decidirem que é possível fazer essa parceria, nós vamos retomar este

projeto, este movimento.

L.A. – Como se fez a escolha desse município? E, agora, as atividades

foram interrompidas em função dessa mudança?

S.C. – Isso. Enquanto projeto intersetorial, sim. Enquanto PELC, ele

continua existindo, porque a escolha, respondendo a sua pergunta, foi

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que identificamos um município que iria começar um programa do

PELC e que também estava iniciado um programa, uma Academia da

Saúde recente. Então o que queríamos trabalhar com a política

intersetorial, a gente queria identificar um espaço em que essas duas

políticas já estivessem presentes e, claro, que tivesse um aceite dos

próprios conveniados lá de fazer essa experiência junto conosco, não

era algo impositivo, mas houve muita abertura deles, e na capacitação

eu pude participar, a formação foi muito produtiva, eles visualizando

essas possibilidades de entrelaçamento. Então por isso que foi essa

escolha, mas não continuou no acompanhamento de forma

intersetorial, talvez, não posso te afirmar com certeza, possa estar

acontecendo pelo próprio estímulo que a gente colocou pela formação,

pode ser que eles estejam fazendo algumas coisas juntos

intersetorialmente, mas oficialmente para um acompanhamento,

monitoramento, formação do ministério do esporte e da saúde, isso

não está acontecendo.

L.A. – Você se recorda qual que era o formador responsável por aquele

núcleo?

S.C. – Não me recordo agora, mas a gente consegue levantar isso, acho

que facilmente, porque é um convênio grande de Fortaleza que eu acho

que é o convênio do Governo do Ceará, então esse era um dos núcleos

de um convênio grande e que não deve ter um formador só ligado a ele,

eles tem um formador que trabalhou com vários núcleos e um deles

era “Maracanaú”. Então, talvez, como estamos vendo ali, não é...

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Trabalha no Módulo, no outro Módulo é outro formador, eu acho que

não tem somente um formador “linkado” a esse núcleo, não.

L.A. – Agora eu queria que você falasse um pouco da segunda

demanda que é a questão da produção de materiais.

S.C. – Nós temos agora, que já aconteceu, pelo menos uma ou duas

turmas do curso EAD154 que estamos ofertando, e ali tem um módulo

chamado Esporte, Lazer e Saúde. Nesse módulo, eu e a Danusa somos

responsáveis para escrever, construir o módulo que está acessível para

as pessoas. Tem três grandes objetivos por aí: um deles é auxiliar as

pessoas a olharem a saúde de uma forma ampliada, o que chamamos

de Conceito Ampliado de Saúde. Conceito Ampliado de Saúde quer

dizer: não olhar só para o viés biológico da saúde, ou não só para a

ausência de doenças, não é assim. “A senhora sai de casa e vai fazer

uma atividade de dança” a gente quer saber quantas calorias ela

perdeu. Isso é algo mais ligado ao viés mais biológico; é importante? É

importante, mas não queremos olhar só por esse viés. “A senhora está

participando de certa atividade de dança novamente, porque ela tem

hipertensão e isso vai diminuir seus níveis pressóricos” está ligado

muito na questão da doença. É importante? É importante, mas não

queremos olhar só para isso, que a gente entende que isso é um

conceito mais restrito, segundo alguns autores de saúde. A gente quer

olhar de uma forma mais ampliada essa senhora saiu de casa, era

uma pessoa mais isolada e foi participar de uma atividade, isso fez

com que ela fizesse novas amizades, que ela saísse mais de casa, não

154

Educação à Distância

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ficasse tão lá isolada, que ela sorrisse. Talvez se ela nem estiver com

uma perda, um gasto calórico alto, mesmo assim temos que entender

que ali está se produzindo saúde para essa pessoa, essa alegria que

ela está tendo, esse fazer amizade, esse partilhar com outro, faz parte

de um conceito mais ampliado de saúde que não olha só para a

ausência de doenças, não olha só para as questões biológicas, para os

ganhos, benefícios biológicos que a atividade física pode trazer. Então,

uma das coisas é essa. A partir do momento em que a gente olha para

a saúde de uma forma ampliada, a gente também entende que não

estamos lá somente trabalhando a atividade física, a gente quer

trabalhar com práticas corporais. Diferença básica entre os dois. Não

adianta também entender o conceito e na prática também não

resolver, mas é que a atividade física é muito ligada à atividade que eu

faço para gastar energia acima dos meus níveis de repouso. Então é

um conceito de queima calórica também muito ligada aquilo que

acabei de falar de saúde. Práticas corporais é aquela atividade que tem

um significado para a pessoa, então estamos trabalhando também

nesse... A prática corporal tem que ser realizada, mas ela tem que ter

um significado para a pessoa que está realizando, além de só uma

queima de calorias, mas também para algumas pessoas isso também é

muito significativo, o importante é que tenha. Exemplo: se eu tenho

um grupo de homens lá no PELC, do Vida Saudável, que estão fazendo

dança: “Ah, eu queria fazer algo que fosse mais, que me desafiasse

mais, que eu queimasse mais calorias”, para eles aquilo é significativo,

aquilo é uma prática corporal. Por exemplo, vou fazer um grupo de

corrida envolvendo aquele grupo, porque para eles é significativo

aquilo. Agora não precisa ser para todo mundo isso, talvez pra outro

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grupo seja uma atividade oriental, como por exemplo, yoga, tai chi

chuan, que tenha mais de significado, que tenha uma concentração e

isso então... É aí que entramos na questão do conceito de prática

corporal: uma atividade que tenha realmente significado para as

pessoas. O primeiro aspecto: as pessoas entenderem a saúde de uma

forma ampliada e o conceito de práticas corporais. Outra questão que

tem no nosso texto são as políticas públicas de saúde, se a gente quer

que as pessoas lá na ponta, nos núcleos do PELC, enxerguem uma

possibilidade de intersetorialidade, é importante que elas conheçam as

políticas públicas atuais. Então ali apresentamos rapidamente: “Quais

são os princípios do SUS155 , a Política Nacional da Atenção Básica que

é a principal política que organiza o sistema de saúde do Brasil, a

Política Nacional de Promoção da Saúde, o Programa Academia da

Saúde, o NASF que é o Núcleo de Apoio a Saúde da Família, todos eles

já trazem algum apontamento para a importância das práticas

corporais para a saúde das pessoas. Isso já é algo que está muito claro

dentro do Ministério da Saúde e que está aparecendo cada vez mais

nos documentos do Ministério da Saúde. Então trouxemos este

aspecto como conteúdo para que as pessoas entendam quando eles

ouvirem falar do Academia da Saúde saibam o que é, saibam que dá

para ter algum entrelaçamento. A gente imagina que isso possa

estimular o agente social a buscar essa parceria. E o terceiro aspecto

seria a questão de falar um pouco sobre alguns agravos crônicos,

sobre diabetes, sobre hipertensão, obesidade e para que tendo esse

público dentro de um núcleo do PELC os agentes estejam, ao menos,

um pouco preparados para trabalhar quais os cuidados eles tem que

155

Sistema Único de Saúde.

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ter para trabalhar com um público específico, mas é claro, o material

não é suficiente para falar de todos os públicos específicos, mas esses

citados são os que costumam ser mais presentes quando se trabalha

com o público idoso.

L.A. – Existe algum envolvimento de vocês também no PELC - Todas as

idades e PELC – Povos e Comunidades Tradicionais?

S.C. – A ideia agora que estamos pensando em algumas propostas

para auxiliar tanto o grupo de formadores, como as pessoas que

trabalham lá na ponta, os agentes, é pensar em como a saúde também

é produzida nesse espaço. Independente de você estar falando saúde,

exemplo, se eu tenho um grupo em uma comunidade tradicional

indígena que eles demonstram que as atividades que eles fazem são

atividades de muitos jogos, muita movimentação, muita socialização, a

gente quer começar a trabalhar um pouco mais com isso pra

identificar que aquela atividade também é uma atividade de saúde, por

mais que estejamos falando: “Vamos promover a saúde agora”, mas ela

é uma atividade saudável, ela é uma atividade de saúde que queremos

identificar e falar mais nas formações também. E isso pode ser em

todas as idades, então, a partir do momento em que você consegue

olhar a saúde de uma forma ampliada, entender o conceito de práticas

corporais com a atividade que tem, atividade que se realize e que tenha

significado; isso pode ser levado também para pensar a saúde lá no

Todas as Idades e nas Comunidades Tradicionais, mesmo que eu não

fale: “Vou promover a saúde agora”, porque o principal do PELC é

trabalhar com a questão do esporte e lazer. Não é um programa de

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promoção à saúde, mas já que a promoção da saúde está junto nisso,

queremos também estar olhando lá na frente como incentivar isso nos

diferentes núcleos, diferentes formatos dentro do PELC.

L.A. – E você já fez alguma visita a núcleo ou participou de formação,

exceto aquele projeto piloto?

S.C. – Sim. Eu participei da formação do Módulo Introdutório I, em

Balsa Nova no Paraná. A formadora era a Silvana8 e era uma formação

do Programa Vida Saudável, e tive a oportunidade, no primeiro

momento, de estar auxiliando as pessoas a conversarem um pouco

sobre a promoção da saúde, sobre tudo isso que eu falei de pensar na

saúde de forma ampliada. Então eu participei de uma formação e isso

foi no começo desse ano.

L.A. – E como é que você acha que foi a apropriação dos agentes,

desses conceitos, dessas ideias?

S.C. – A gente percebe que ele, ao falar sobre o conceito ampliado da

saúde, principalmente, é algo que ajuda com que eles visualizem as

possibilidades de atividade... [INTERRUPÇÃO NA GRAVAÇÃO] 156

L.A. – Agora eu me perdi.

156

A entrevista foi interrompida para troca do local em função de

ruídos externos que estavam atrapalhando a gravação.

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S.C. – Estávamos falando sobre a questão da apropriação. Nós falamos

das pessoas que participaram do que eu pude intervir um pouco...

Meu objetivo naquela formação era mais um acompanhamento da

formação, mas eu tive a oportunidade de falar um pouco sobre

promoção da saúde. E aí que a gente teve... Porque aí se preocupou em

perceber essa questão de falar do conceito ampliado de saúde, falar em

diferenciar. Eu lembro que na fala que eu tive, principalmente,

diferenciei promoção da saúde de prevenção de doença. É importante

falar na questão de prevenção de doenças, mas a gente não olhar para

as pessoas só a partir da doença, e aí abriu um pouco mais os

horizontes de pensarem em qual o público que eles querem atingir.

Nós queremos pessoas às vezes que nem estejam doentes, ou que a

gente nem saiba que estão doentes, ou que as próprias pessoas nem 8

Silvana Regina Echer sabem que estão doentes, o nosso objetivo é

trazê-las pro Programa para incentivá-las a ter uma vida mais

saudável, ter uma vida mais alegre, mais feliz, ampliar as condições de

vida delas, e isso, ao falar do conceito ampliado de promoção da saúde

acho que ajudou a visualizar um pouco mais esse público e as

atividades que podem ser desenvolvidas nesse sentido.

L.A. – E em que pontos você acha que o PELC tem que avançar no que

tange a sua participação mais ligada na questão da saúde?

S.C. –Acho que uma das coisas seria pensar, por isso estamos fazendo

esse esforço, tentar fazer essa aproximação com as outras políticas

públicas. É um esforço que não demanda só do PELC, mas a gente

pode estar falando um pouco mais para eles sobre essas políticas e aí,

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lá na ponta, eles podem se motivar ou não, porque no final das contas,

acreditamos que as coisas acontecem mesmo lá no núcleo, é lá que

tem que chegar a informação e as iniciativas, então a gente só pode

estimular isso. Então eu acho que a minha participação aqui, falando

um pouco mais das políticas públicas, pode ajudar. E principalmente,

acho também, falar sobre essa questão do conceito ampliado de saúde,

ou seja, na produção de materiais didáticos ou em formações que

participarmos, esperamos que os agentes envolvidos possam se

atentar para dois aspectos importantes deste olhar ampliado: Primeiro

aspecto - ter clareza de que os determinantes sociais da saúde

influenciam fortemente no processo saúde-doença. Isto quer dizer que

as ações de esporte e lazer planejadas e desenvolvidas devem levar em

consideração o contexto social que os beneficiários estão envolvidos,

pois este contexto é carregado de determinantes e condicionantes que

influenciam a condição de saúde das pessoas, tais como, segurança,

transporte, saneamento, ambiente para a prática de atividades físicas,

moradia, emprego, entre outros. Por exemplo, um bairro seguro com

uma praça bem cuidada que fica num local de fácil acesso para a

população, pode facilitar o envolvimento dos beneficiários às ações do

Programa. Se a ideia for boa, mas não considerar estes determinantes,

a mesma pode fracassar. E um segundo aspecto – ter consciência de

que a saúde não pode ser somente entendida como ausência de

doenças. Sobre este aspecto, quando falamos com os agentes nas

formações, eles demonstrar que tem este entendimento, esta

consciência, mas, muitas vezes, programam e pensam as ações em

função de grupos de agravos ou doentes, como por exemplo,

diabéticos, hipertensos, obesos. Pensar em ações para estes grupos é

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importante, no entanto outros aspectos ligados a uma visão mais

positiva de saúde também devem ser considerados como, por exemplo:

participar de uma atividade de dança pela satisfação de conhecer

melhor o seu corpo; caminhar ou correr para superar seus limites

pessoais e pelo desafio que a atividade proporciona; participar de um

grupo de reflexão sobre algum tema importante para a vida como

forma de se sentir acolhido e pertencente a um grupo; participar de

um grupo de dança pelo prazer de estar junto com as pessoas. Enfim,

pretendo agregar ao Programa trazendo conceitos oriundos da saúde

coletiva para sustentar as ações desenvolvidas pelos convênios, pois

tenho certeza que muitos dos nossos convênios, para não dizer todos,

realizam ações que trazem benefícios à saúde das pessoas, mas

quando são questionados sobre esta dimensão acabam por destacar

somente o fato de alguma pessoa “doente” que melhorou do sintoma

específico daquela doença, desconsiderando outros benefícios

importantes que aquela ação proporcionou, como já foi citado

anteriormente.

L.A. – Acho que é isso Silvano. Tem alguma coisa que a gente não

perguntou e que você gostaria de trazer?

S.C. – Não me recordo. Acho que acabei introduzindo algumas coisas

fora do que você perguntou que eu fui falando, quando fiquei mais

tempo falando. Eu acho que não, eu acho que é isso, é pensar nisso. A

gente espera que... As coisas estão muito... São dois direitos essenciais

das pessoas, direito ao esporte e lazer, o direito a uma saúde, a gente

só quer estar auxiliando de alguma forma que essas políticas

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possam... As pessoas podem ir pensando nisso e esses programas

possam auxiliar as pessoas a viverem melhor. Acho que é isso. L.A. –

Muitíssimo obrigada.

[FINAL DA ENTREVISTA]

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