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REPÚBLICA DE CABO VERDE
Ministério das Finanças e do Planeamento
Direcção-Geral do Planeamento
MANUAL DO PROCESSO E DAS TÉCNICAS DEPLANEAMENTO SÓCIO-ECONÓMICO
Metodologias de apoio à elaboração e implementação do Programa Nacional deDesenvolvimento de Cabo Verde
1 de Março de 2002
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO, OBJECTIVOS E ENQUADRAMENTO........................................10
2. LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA ANTERIOR ..............................................................14
3. O QUADRO INSTITUCIONAL E ORGÂNICO DO SISTEMA DE PLANEAMENTO 19
4. O SISTEMA DE PLANEAMENTO E A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS.............30
4.1 O modelo de planeamento: situação actual e perspectivas de evolução............... 31
4.2 O processo e os instrumentos de Planeamento, Programação e Orçamentação.. 40
4.3 Metodologia de Elaboração de Diagnóstico e Cenários sectoriais/regionais........ 464.3.1 Análise de Diagnóstico......................................................................................... 474.3.2 Análise de Cenários.............................................................................................. 50
4.4 As agências internacionais de cooperação e financiamento face ao planeamento eao desenvolvimento................................................................................................................ 56
4.4.1 A abordagem das Nações Unidas ......................................................................... 604.4.2 A abordagem do Banco Mundial .......................................................................... 644.4.3 A abordagem da União Europeia .......................................................................... 68
5. O SISTEMA DE PROGRAMAÇÃO .......................................................................70
5.1 Métodos de participação ........................................................................................ 71
5.2 A metodologia e o processo de programação ........................................................ 795.2.1 A estrutura do Quadro Lógico do PND................................................................. 79
5.2.1.1 Análise de Problemas ....................................................................................... 805.2.1.2 Análise dos objectivos ...................................................................................... 815.2.1.3 Análise das estratégias...................................................................................... 82
5.2.2 As hipóteses e as condições prévias...................................................................... 915.2.3 Os factores de sustentabilidade............................................................................. 935.2.4 Avaliação dos recursos e dos custos de um projecto ............................................. 98
5.3 A consideração da dimensão regional no processo de programação ................... 99
5.4 A calendarização da elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento...........104
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5.5 A implementação do PND e o Programa Plurianual de Investimentos Públicos(PPIP). 108
5.5.1 Ciclo anual de preparação do Programa de Investimento Público (PPIP) ............1085.5.2 O ciclo do projecto (na perspectiva do PPIP).......................................................116
5.6 As organizações internacionais e o ciclo do projecto ...........................................1195.6.1 A abordagem do Banco Mundial .........................................................................1195.6.2 A abordagem da União Europeia .........................................................................121
6. O SISTEMA DE GESTÃO E ACOMPANHAMENTO DE EXECUÇÃO...............126
6.1 A abordagem integrada com base no Quadro Lógico: o formato de base dosrelatórios do ciclo do projecto..............................................................................................127
6.2 Os indicadores de acompanhamento....................................................................139
6.3 A integração dos indicadores nos instrumentos de planeamento e programação 146
6.4 Instrumentos de gestão da despesa pública (integrando a óptica financeira).....1486.4.1 Um modelo de gestão da despesa pública ............................................................1486.4.2 A contabilidade pública no contexto de um Orçamento por Programas................151
7. METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS E PROJECTOS ..........152
7.1 A avaliação de desempenho de programas ..........................................................154
7.2 A avaliação social e económica de projectos ........................................................1577.2.1 Metodologia de avaliação de projectos relativos a produtos valorizáveis .............1637.2.2 Metodologia de avaliação de projectos relativos a produtos não valorizáveis.......165
7.2.2.1 Esquema geral .................................................................................................1657.2.2.2 Determinação dos resultados do projecto .........................................................1687.2.2.3 Análise da viabilidade do projecto...................................................................1687.2.2.4 Análise de eficiência .......................................................................................1727.2.2.5 Análise dos efeitos económicos .......................................................................1747.2.2.6 Análise da relevância do projecto ....................................................................177
7.2.3 Avaliação do impacto macro-económico (método dos efeitos) ............................179
8. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO PARA O PLANEAMENTO ...............................182
8.1 Enquadramento e questões metodológicas...........................................................183
8.2 A organização institucional do Sistema de Informação para o Planeamento.....184
8.3 O sistema de Informação do PPIP........................................................................195
8.4 Sistema de Informação para a Gestão Orçamental .............................................197
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8.4.1 A arquitectura geral do sistema de informação orçamental ..................................1978.4.2 A organização da informação no sistema de gestão orçamental ...........................202
ANEXOS.....................................................................................................................206ANEXO 1: Metodologia de Organização de um Workshop sobre a utilização o QuadroLógico. ...........................................................................................................................207ANEXO 2: Classificadores Orçamentais.........................................................................218ANEXO 3: Modelo de Proposta de Financiamento para Projectos Financiados pela UniãoEuropeia (Fundo Europeu de Desenvolvimento) .............................................................224ANEXO 5: Check-list do Desenho de um Projecto .........................................................233ANEXO 6: Modelo de Orçamento de Projectos de Investimento Público ........................235Anexo 7: Sistema de indicadores de desempenho............................................................237ANEXO 8: Glossário ......................................................................................................244
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................247
CAIXAS
CAIXA 3-1: Programa de Investimento Sectorial (PIS) e Programa Sectorial Integrado (PSI) . 26CAIXA 3-2: Revisão da Despesa Pública (RDP) ..................................................................... 29CAIXA 4-1: Os objectivos estratégicos das GOP’s de 2002-2005 como base para o................ 32CAIXA 4-2: Estratégia de Redução da Pobreza (PRSP)........................................................... 42CAIXA 4-3: Quadro de Despesa Pública a Médio Prazo.......................................................... 44CAIXA 4-4: Princípios do DAC sobre os instrumentos de programação das agências de
cooperação em cada país. ................................................................................................. 59CAIXA 4-5: Características e conteúdo do Country Assistance Strategy (CAS)....................... 64CAIXA 5-1: A estrutura de objectivos de um programa.......................................................... 84CAIXA 7-1: Diferenças fundamentais entre a análise financeira e a análise económica de
projectos.........................................................................................................................162CAIXA 7-2: Exemplos de políticas de recuperação de custos .................................................170CAIXA 7-3: Indicadores associados ao cálculo dos custos recorrentes....................................171CAIXA 7-4: Método de cálculo dos conteúdos de valor acrescentado ............................................180CAIXA 8-1: Elementos de um Sistema de Informação para o Planeamento (SIP) ...................185CAIXA 8-2: Módulos do SIPIP ..............................................................................................195
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DIAGRAMAS
DIAGRAMA 4-1: O modelo de Planeamento-Programação-Orçamentação............................. 31DIAGRAMA 4-2: Modelo de planeamento (situação actual) ................................................... 34DIAGRAMA 4-3: Modelo de planeamento (possível esquema de referência) .......................... 36DIAGRAMA 4-4: Sequência de políticas e de instrumentos de política .................................. 40DIAGRAMA 4-5: Articulação entre o PND e o PRSP............................................................. 46DIAGRAMA 4-6: Sequência analítica da elaboração do Plano Nacional de............................. 47DIAGRAMA 4-7: Método dos cenários .................................................................................. 51DIAGRAMA 4-8: Esquema Global de Desenvolvimento ........................................................ 57DIAGRAMA 4-9: Processo de planeamento............................................................................ 63DIAGRAMA 5-1: Matriz de estratégias dos actores ................................................................ 78DIAGRAMA 5-2: O processo analítico e o método de programação ...................................... 80DIAGRAMA 5-3 Árvores de Problemas ................................................................................. 81DIAGRAMA 5-4: Árvore de objectivos .................................................................................. 82DIAGRAMA 5-5: Análise de estratégias ................................................................................. 83DIAGRAMA 5-6: Objectivos estratégicos e estrutura programática ........................................ 88DIAGRAMA 5-7: A estrutura programática do PND............................................................... 89DIAGRAMA 5-8: PND 2002-2005 – Exemplo de estrutura de Programa ................................ 89DIAGRAMA 5-9: Condições prévias e pressupostos............................................................... 91DIAGRAMA 5-10: Modelo de articulação entre os níveis sectorial/programático e o nível
regional ..........................................................................................................................102DIAGRAMA 5-11: Cronograma de elaboração das Grandes Opções de Médio Prazo ............105DIAGRAMA 5-12: Faseamento da elaboração do PND..........................................................106DIAGRAMA 5-13: Cronograma da programação do PPIP .....................................................110DIAGRAMA 5-14: Cronograma de execução anual do PND: a nível macroeconómico ..........111DIAGRAMA 5-15: Cronograma de elaboração do PPIP (proposta)........................................112DIAGRAMA 5-16: Cronograma de execução do PPIP (proposta) ..........................................113DIAGRAMA 5-17: Cronograma do ciclo do projecto.............................................................117DIAGRAMA 5-18: Abordagem convencional do ciclo do projecto segundo o Banco Mundial
.......................................................................................................................................119DIAGRAMA 5-19: Uma nova abordagem do ciclo do projecto ..............................................120DIAGRAMA 5-20: O ciclo do projecto segundo a União Europeia ........................................122DIAGRAMA 6-1: A lógica de intervenção (Matriz de enquadramento lógico) .......................140DIAGRAMA 6-2: A hierarquia de objectivos e de efeitos .....................................................141DIAGRAMA 7-1: Modalidades de avaliação de desempenho de ............................................154DIAGRAMA 7-2: O processo de avaliação: as questões centrais da avaliação........................155DIAGRAMA 7-3: Métodos de avaliação de projectos ............................................................159DIAGRAMA 7-4: Metodologia da avaliação custo-benefício .................................................163DIAGRAMA 7-5: Metodologia de avaliação de projectos sociais...........................................166DIAGRAMA 7-6: Relevância de um programa ou projecto....................................................177DIAGRAMA 8-1: Fontes institucionais do Sistema de Informação Estatística para o
planeamento em Cabo Verde ..........................................................................................186DIAGRAMA 8-2: Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado ....................................200
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QUADROS
QUADRO 3-1: Modelo orgânico de planeamento e respectivas atribuições ............................. 21QUADRO 3-2: Modelos orçamentais ...................................................................................... 24QUADRO 4-1: Comparação entre o actual modelo de gestão orçamental e um modelo de
Orçamento-programa de referência .................................................................................. 37QUADRO 4-2: Proposta de domínios a incluir na análise de diagnóstico................................. 48QUADRO 4-3: Procedimento metodológico para a elaboração de cenários de desenvolvimento
sócio-económico.............................................................................................................. 52QUADRO 4-4: Variáveis-chave no fecho do modelo pelo “sector privado”............................. 54QUADRO 4-5: Matriz dos pré-requisitos ao crescimento sustentado e à redução da pobreza ... 67QUADRO 5-1: Métodos de participação ................................................................................. 74QUADRO 5-2: A arquitectura de base da matriz de enquadramento lógico.............................. 85QUADRO 5-3: O conteúdo da matriz de enquadramento lógico .............................................. 86QUADRO 5-4: Interdependência dos objectivos e estrutura de programação em .................... 90QUADRO 5-5: Relação entre objectivos e pressupostos (um exemplo) ................................... 93QUADRO 5-6: Matriz de indicadores de sustentabilidade ....................................................... 96QUADRO 5-7: Repartição dos programas entre a..................................................................103QUADRO 5-8: Os intervenientes no ciclo do projecto e os documentos de base....................125QUADRO 6-1: A estrutura de base do dossier de projecto......................................................128QUADRO 6-2: A estrutura e composição dos relatórios do ciclo do projecto..........................135QUADRO 6-3: Categorias de indicadores ..............................................................................142QUADRO 6-4: Projecto de desenvolvimento de Recursos Humanos ......................................143QUADRO 6-5: Projecto de desenvolvimento de apoio ao sector produtivo num município ....143QUADRO 6-6: Projecto de reabilitação de terrenos urbanos degradados ................................144QUADRO 6-7: Projecto de construção de um parque industrial..............................................144QUADRO 6-8: Projecto de construção de uma estrada municipal...........................................145QUADRO 6-9: Medidas de eficácia e de eficiência ................................................................146QUADRO 6-10: Definição de um indicador de desempenho ..................................................147QUADRO 6-11: Domínios a incluir no exercício de Revisão da Despesa Pública..................149QUADRO 7-1: Métodos e técnicas de avaliação.....................................................................156QUADRO 7-2: A avaliação no ciclo do projecto ...................................................................157QUADRO 7-3: Natureza dos projectos públicos .....................................................................160QUADRO 7-4: Métodos de avaliação de projectos segundo a sua natureza.............................161QUADRO 7-5: Orçamento do projecto (antes de financiamento)............................................169QUADRO 7-6: Estrutura de despesas recorrentes ...................................................................170QUADRO 7-7: Indicadores de custos unitários correntes (exemplos) .....................................172QUADRO 7-8: Check-list de recursos para a análise custo-eficácia.......................................173QUADRO 7-9: Receitas e despesas adicionais induzidas por um novo ...................................175QUADRO 7-10: Efeitos sobre a conta externa (saldo adicional de divisas) .............................176QUADRO 7-11: Critérios para análise de relevância de um projecto ......................................178
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QUADRO 8-1: Sistema de Informação para o Planeamento ...................................................187QUADRO 8-2: Indicadores das Nações Unidas ......................................................................191QUADRO 8-3: Entidades integrantes do Sistema de Informação de Gestão Económica e .......198QUADRO 8-4: Actividades e projectos públicos ....................................................................204QUADRO 8-5: Relação entre a natureza das actividades e as categoria .................................205
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SIGLAS E ABREVIATURAS
CAP Consolidated Appeal Process (ONU)
CAS Country Assistance Strategy (Banco Mundial)
CCA Common Country Assistance (ONU)
CDF Comprehensive Development Framework (Esquema Global de Desenvolvimento)
CE Comissão Europeia
CSDRMS Commonwealth Secretariat Debt Reporting and Management System
CSN Country Strategy Note
DAC Development Assistance Committee (OCDE)
DGCI Direcção-Geral da Cooperação Internacional
Direcção-Geral das Contribuições e Impostos
DGCP Direcção-Geral da Contabilidade Pública
DGP Direcção-Geral de Planeamento
DGT Direcção-Geral do Tesouro
EBE Excedente Bruto de Exploração
GEO Gabinete de Estudos e Orçamento
GEP Gabinete de Estudos e Planeamento
INE Instituto Nacional de Estatística
IOV Indicador Objectivamente Verificável
MDG Millennium Development Goals (MDG)
PIB Produto Interno Bruto
PND Plano Nacional de Desenvolvimento
PPBS Planning, Programming, Budgeting System (Sistema de Planeamento, Programação eOrçamentação)
RDP Revisão da Despesa Pública
PPIP Programa Pluri-anual do Investimento Público
PRSP Poverty Reduction Strategy Paper (Documento de Estratégia de Redução da Pobreza)
PSI Programa Sectorial Integrado
RDP Revisão da Despesa Pública
RAFE Programa “Reforma da Administração Financeira do Estado”
SIP Sistema de Informação para o Planeamento
SIPIP Sistema de Informação do Programa de Investimento Público
SWAP Sector-wide approach (Abordagem sectorial integrada)
SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats (Forças, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças)
UNDAF United Nations Development Assistance Framework (Quadro de Ajuda ao Desenvolvimento das
Nações Unidas)
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1. Introdução, objectivos e enquadramento
O processo de planeamento em Cabo Verde encontra-se no início de um novo ciclo com a
elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento de 2002-2005, dando assim continuidade ao anterior
Plano Nacional de Desenvolvimento que cobriu o período de 1997-2000.
Justifica-se por isso a criação das condições, no plano dos métodos, das técnicas e dos processos de
planeamento, que apoiem a elaboração do referido plano, bem como a clarificação dos instrumentos de
programação e de execução que lhe estão associados. A elaboração do presente Manual visa justamente
esse objectivo, enquadrando-se para além disso na necessidade de assegurar a transição metodológica
do anterior para o próximo ciclo de planeamento, recuperando do anterior as suas potencialidades, e
procurando ao mesmo tempo corrigir as insuficiências que se revelaram durante o anterior processo de
execução.
Uma questão central que ainda se coloca neste momento em Cabo Verde é a da natureza do
modelo de planeamento, programação e orçamentação que se pretende implantar e desenvolver
no futuro. Embora se tenha partido da premissa de que o anterior modelo de gestão dos recursos
públicos (correntes e de investimento) vai continuar a ser o modelo de referência, não se pode omitir o
facto de esse modelo não estar ainda verdadeiramente consolidado, pelo que deve ser ainda
considerado como incompleto e em fase de desenvolvimento. Nestas condições, importa esclarecer qual
a configuração final do modelo pretendido, ou seja, qual o desenho final do modelo de
referência para o que se pretende progressivamente evoluir.
A transição entre os dois ciclos de planeamento faz-se assim em simultâneo com o processo de
aprofundamento de modelo de planeamento e programação do tipo Sistema de Planeamento,
Programação e Orçamentação habitualmente reconhecido pela sigla PPBS (da designação anglo-
saxónica Planning, Programming, Budgeting System). Nestas condições, os métodos e os instrumentos a
desenvolver e a utilizar têm, em alguns casos, um cariz provisório, devendo evoluir à medida que se
consolidem os elementos essenciais do novo sistema de planeamento.
O presente Manual propõe um conjunto de métodos e de instrumentos técnicos visando o
próximo exercício de planeamento, embora sujeitos a um trabalho de aferição às condições
concretas de implementação, as quais deverão decorrer do contexto institucional e orgânico que se vier
a instituir de forma definitiva. Os referidos métodos e procedimentos técnicos embora tenham um
carácter universal, têm em conta a especificidade de Cabo Verde, e por isso mantém-se
necessariamente abertos aos ajustamentos que os seus utilizadores queiram propor.
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Por outro lado, num contexto de globalização das relações internacionais, e tendo em conta as
necessidades estruturais de financiamento externo para o desenvolvimento de Cabo Verde, não se pode
ficar indiferente às posições assumidas pelas agências externas de cooperação e de financiamento, quer
no domínio das respectivas concepções sobre o desenvolvimento, sobre a redução da pobreza e o
processo de planeamento, quer no que se refere à natureza e à aplicação dos instrumentos de análise e
de financiamento geridos por essas instâncias. Por essa razão, o Manual identifica os domínios mais
relevantes em que importa considerar aquelas perspectivas e apresenta e discute alguns dos
instrumentos propostos.
O Manual não visa objectivos de formação, embora possa ser utilizado como uma referência,
sobretudo no enquadramento e na divulgação de determinados domínios técnicos específicos. Na
verdade, os métodos e os procedimentos analíticos são apresentados nas suas características gerais,
modalidades e finalidades de aplicação, sem se descer ao detalhe dos aspectos técnicos1, os quais
podem ser consultados recorrendo à Bibliografia que consta em anexo e onde se indicam os manuais de
referência que cobrem os vários domínios tratados.
A abordagem do ciclo do projecto, e as técnicas inerentes a cada uma das suas fases, tem um lugar
central no presente Manual. Esta opção decorre do facto de se considerar que, na prática, a figura do
programa e do projecto assume um papel essencial no desenho dos programas de desenvolvimento
e ainda que a sua boa implementação é uma condição necessária para o sucesso dos programas de
desenvolvimento.
O Manual está estruturado de acordo com a sequência lógica da abordagem PPBS, ou seja
Planeamento → Programação → Orçamentação, e que serviu de referência geral à metodologia de
planeamento adoptada em Cabo Verde no anterior ciclo de planeamento. Assim, após um capítulo (Cap.
2) onde se discutem as principais lições do anterior processo de planeamento, resultante da
implementação do PND 1997-2000, levantam-se, no Cap.3, algumas questões sobre quadro institucional
que envolve o processe de planeamento e de programação em Cabo Verde.
No Capítulo 4 apresenta-se a arquitectura geral do sistema de planeamento de Cabo Verde, e da
formulação de políticas, no quadro da abordagem PPBS. Nesse contexto apresenta-se um esquema que
pode servir de referência para uma melhor articulação e sequenciação das políticas ligadas aos
processos de planeamento e orçamental, seguindo-se a descrição de alguns métodos utilizados na
análise de diagnóstico e de construção de cenários.
O Capítulo 5 debruça-se sobre os princípios e os procedimentos que enquadram a programação da
despesa pública, com particular ênfase para a despesa de investimento. Como esta é sobretudo
1 Por exemplo, o conteúdo do sub-capítulo da Avaliação Económica e Social de Projectos centra-se sobretudo nadescrição e sequência dos procedimentos analíticos e não nos métodos de cálculo.
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organizada sobre a forma de Programas e projectos, dá-se a esta figuras uma relevância especial neste
manual. Assim, o capítulo inicia-se com a apresentação dos Métodos de Participação (evidenciando-se
assim a importância que as novas abordagens de planeamento atribuem à participação dos agentes,
sobretudo dos beneficiários, em todo o processo de preparação de programas e projectos). Segue-se
uma apresentação da metodologia de programação com base na metodologia do quadro lógico (Project
logical framework) a qual é orientada para o desenho de programas e projectos de investimento público.
Neste capítulo cabe também a apresentação de um modelo global de articulação entre os níveis
global/sectorial/regional de planeamento. Finalmente, apresentam-se as perspectivas das principais
agências internacionais (Nações Unidas, Banco Mundial e Comissão Europeia) sobre a problemática do
desenvolvimento e do planeamento, as quais se traduzem em procedimentos específicos relativos à
organização do ciclo do projecto.
O capítulo 6 concentra-se sobre os procedimentos e técnicas de gestão e de acompanhamento de
execução dos programas e projectos. Em concreto, o capítulo começa por apresentar um método
integrado para o acompanhamento de programas e projectos, com base na metodologia preconizada
pela Comissão Europeia no seu Manual de Gestão do Ciclo do Projecto2, no qual se propõem
instrumentos normalizados de preparação de dossiers de projecto e de elaboração de relatórios de
acompanhamento. Seguidamente aborda-se a problemática dos indicadores de desempenho e de
acompanhamento e conclui-se com a apresentação dos instrumentos de gestão da despesa pública que
poderão ser associados ao sistema de planeamento.
No capítulo 7 aborda-se o tema da avaliação de programas e projectos numa dupla perspectiva. Em
primeiro lugar, na perspectiva da avaliação de desempenho dos programas, nas várias formas e
modalidades que a avaliação assume ao longo do ciclo de vida de um programa (avaliação ex-ante,
avaliação intercalar, avaliação final e avaliação ex-post). Esta problemática é muito vasta e não caberia
aqui uma apresentação exaustiva dos métodos preconizados, pelo que se opta por uma apresentação
das questões centrais que se colocam em cada uma daquelas formas de avaliação, bem como de alguns
aspectos de natureza metodológica mais relevantes.
Em segundo lugar, aborda-se a avaliação na perspectiva da verificação dos resultados dos projectos
em termos do seu custo-benefício ou custo-eficácia. Também neste caso, no presente Manual opta-se
pela apresentação das características dos vários métodos existentes com a finalidade de ajudar o
utilizador a escolher o método de avaliação que mais se adequa a um determinado programa ou
projecto.
2 Commission of the European Communities (2001), Manual of Project Cycle Management, EuropeAid Co-operation Office, Luxembourg
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Finalmente, o último capítulo do Manual (Capítulo 8), refere-se aos sistemas de informação que
deverão constituir a infra-estrutura de todo o sistema decisional que inclui as esferas do planeamento,
do sistema orçamental, do sistema de programas, e do sistema de investimento público. O objectivo
desta abordagem é a de apresentar a arquitectura geral de um tal sistema, discutindo sobretudo a lógica
de integração de cada um daqueles sistemas, e evidenciando quais os domínios que ainda estão por
preencher.
O presente Manual é acompanhado por uma apresentação em PowerPoint (disponível em
diskette) que contém a generalidade das ilustrações contidas no texto (Diagramas, Quadros, etc) e que
pode ser assim utilizado na sua divulgação e disseminação.
Finalmente, importa sublinhar que o presente documento deverá ser interpretado como um
documento aberto, de modo a poder adaptar-se às orientações que vierem a ser tomadas no futuro
quanto à orgânica de planeamento, ao modelo de gestão financeira do Estado, à
descentralização/desconcentração, e naturalmente às sugestões que os seus utilizadores entenderem
fazer como resultado da sua utilização prática.
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2. Lições da experiência anterior
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O actual processo de planeamento em Cabo Verde não pode deixar de ser analisado no quadro de
uma avaliação crítica da experiência adquirida no processo de implementação dos anteriores planos.
A metodologia a utilizar para a preparação do próximo PND poderá por isso beneficiar das ilações que
podem ser deduzidas das experiências anteriores de planeamento. Na verdade, embora se reconheçam
as importantes inovações que a preparação e gestão do PND 1997-2000 incorporaram no processo de
planeamento em Cabo Verde, sobretudo no domínio conceptual com a introdução da abordagem por
programas , a sua implementação veio a revelar algumas fragilidades, que foram aliás identificadas na
Avaliação a Meio Percurso, que teve lugar em meados de 1999. Naturalmente que tais insuficiências
deverão ser levadas em conta na instituição do novo sistema e na concepção dos novos instrumentos de
planeamento, devendo sobretudo contribuir para uma reflexão aprofundada sobre a viabilidade efectiva,
e as condições reais de implementação, do modelo de planeamento e de programação adoptado no PND
1997-2000.
Igualmente, importa ter em consideração os aspectos inovadores trazidos pela anterior experiência
de planeamento, materializada em significativos desenvolvimentos na instalação de métodos e
procedimentos e na formação de recursos humanos especializados que, no conjunto, constituem um
importante capital num domínio onde habitualmente escasseiam competências e experiências.
De um modo geral os constrangimentos à realização do PND 1997-2000 podem sistematizar-se
em torno dos seguintes domínios:
§ A ausência de estruturas de coordenação dos programas, bem como de mecanismos e métodos de
acompanhamento e avaliação
§ A falta de integração das despesas correntes e de investimento público no seio de um modelo
integrado de gestão e execução orçamental
§ A escassez de recursos humanos qualificados, particularmente no domínio da gestão de programas e
projectos
§ Uma estrutura de programas sobredimensionada, com uma excessiva decomposição em sub-
programas
§ Alguns problemas de inconsistência na arquitectura do Plano, designadamente no que se refere à
hierarquização de programas/sub-programas/medidas
§ Dificuldades na coordenação da ajuda e do financiamento externos.
Muitos daqueles problemas permanecem ainda por resolver e constituem um desafio para a gestão
do novo ciclo de planeamento, justificando que se dê uma atenção muito particular à criação das
condições de viabilização e de sustentabilidade dos novos instrumentos de planeamento e de
programação.
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No que se refere ao modelo de coordenação e gestão do PND, a generalidade dos relatórios de
avaliação produzidos pelos responsáveis dos programas, evidenciaram como grande constrangimento a
falta de coordenação efectiva dos Programas que compunham o Plano. Formalmente, as unidades de
coordenação dos programas não foram nomeadas, e por isso, na realidade não chegou a ser feito um
verdadeiro teste às capacidades de gestão dos programas. Como resultado, as intervenções e os
projectos previstos no PND acabaram por ser implementados a partir das estruturas administrativas e de
planeamento já existentes na Administração Pública, cuja orgânica tem um recorte marcadamente
sectorial. Neste caso foram particularmente penalizados os programas de cariz multisectorial dado que
não existiam estruturas administrativas que os pudessem assumir e gerir de um modo consensual entre
os ministérios envolvidos.
Paradoxalmente, as deficiências de coordenação raramente foram identificadas pelos
responsáveis contactados como estando na base dos problemas de execução que alguns programas
enfrentaram. Provavelmente aquela perspectiva decorre do facto de, como se referiu, os programas
terem sido executados pelas estruturas ministeriais convencionais, e na base de métodos tradicionais de
gestão de projectos individuais onde faltava claramente uma abordagem de programa. Na verdade, a
execução dos programas acabou por ser assegurada pelas direcções sectoriais que assumiram como
suas as responsabilidades de execução das medidas programadas. Como resultado, acabou por
prevalecer uma lógica atomística na gestão de projectos, quase sempre desligados da gestão da despesa
corrente ( despesas de funcionamento ) por eles induzida. Um exemplo paradigmático é dado pelo
Programa de Segurança Alimentar, o qual, pelos seus objectivos e natureza, reunia todas as
condições para se constituir como um verdadeiro programa pluridisciplinar e multisectorial, integrando
componentes com objectivos específicos diferentes mas concorrendo para o mesmo objectivo global.
Porém, não foi possível instituir a estrutura de coordenação do programa, e a prevista Agência Nacional
de Segurança Alimentar também não foi constituída; como resultado, não foi possível implementar o
programa tal como estava previsto no PND.
O modelo de programação e gestão orçamental do PND que na prática acabou por se
estruturar, explica só por si muitas das dificuldades encontradas. Na verdade, e em coerência com o que
foi acima exposto, o sistema de programação orçamental que tem sido efectivamente seguido
corresponde a uma solução híbrida, onde a abordagem de programação de tipo incremental
orçamentação por categorias de despesa ), centrada nas chamadas despesas de funcionamento 3
tem coexistido com uma gestão autónoma do investimento, o qual incorpora todavia um valor
indeterminado de despesa corrente. Deste modo, o Orçamento do Estado acaba por assumir uma
3 Cada um daqueles grandes grupos de despesa (investimento e corrente) explica cerca de 50% do orçamento total.
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estrutura dualista, materializada na distinção e na separação dos orçamentos de investimento e de
funcionamento.
Por outro lado, se a programação do PND obedeceu a uma abordagem programática, já a execução
foi feita segundo uma óptica de carteira de projectos. Na verdade, o Programa Plurianual de
Investimento Público (PPIP), que decorre da anualização do PND, centrou-se na figura do projecto ,
que em teoria estava enquadrado num determinado Sub-Programa, mas que na prática assentava numa
unidade orçamental de cariz sectorial, correspondendo na realidade a uma abordagem de programação
orçamental estritamente sectorial. Em suma, a execução da despesa de investimento acabou, na
prática, por adoptar o modelo de programação financeira convencional, e mesmo assim sem se dispor
dos instrumentos de gestão típicos desse modelo. Os esforços de compatibilização com o PND foram
meramente formais e de natureza contabilística sem correspondência com uma verdadeira prática de
orçamentação/implementação por programas, perseguindo objectivos e gerindo os projectos em
conformidade.
A generalidade dos responsáveis dos programas que foram avaliados no exercício de Avaliação a
Meio Percurso referiu a existência de problemas de financiamento e de execução financeira como
uma das maiores limitações à implementação das medidas previstas. Em particular referiram as
restrições orçamentais a que foram sujeitos (alguns logo à partida, outros durante o processo de
execução), o que se traduziu num sub-financiamento crónico dos respectivos programas. Em concreto,
foram tipificadas as seguintes situações como podendo estar na base dos problemas de financiamento:
§ Restrições orçamentais registadas logo na fase inicial de lançamento dos projectos
§ Dificuldades na coordenação e mobilização da ajuda externa
§ Deficiências na prestação de contas por parte dos sectores (perspectiva dos órgãos centrais)
§ Atrasos na libertação de verbas (perspectiva dos órgãos sectoriais)
Na realidade, as dificuldades encontradas na coordenação da ajuda e do financiamento
externo explicam muitas das situações identificadas. A grande dispersão dos doadores, a multiplicidade
de métodos de gestão e de acompanhamento, a falta de informação sobre algumas intervenções
directas junto dos beneficiários, são alguns dos factores que explicam aquelas dificuldades.
Apontam-se na verdade situações em que os financiamentos escapam à programação
macroeconómica e orçamental devido ao facto de serem canalizados directamente para os sectores e
grupos-alvo beneficiários, sem informação às instâncias centrais de planeamento e de gestão financeira.
Estes problemas requerem da administração uma capacidade de coordenação que as frágeis estruturas
existentes não têm conseguido dar. Este é por isso um dos domínios que importa reforçar, clarificando,
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em concreto, quais os órgãos que devem estar envolvidos na coordenação da ajuda, bem como as
respectivas atribuições.
A disponibilidade e a formação de Recursos Humanos foram também importantes
constrangimentos, identificados no processo de avaliação intercalar. Os responsáveis pela generalidade
dos Programas referiram que uma das principais restrições à implementação das medidas decorreu da
escassez de recursos humanos qualificados em particular no domínio da gestão de projectos. Na
verdade, a gestão de projectos é muito exigente em qualificações técnicas específicas que habitualmente
não se encontram na administração pública. A formação desses recursos deveria por isso passar por
programas de formação específicos sendo as competências desenvolvidas e consolidadas no próprio
contexto real de gestão dos programas.
Registaram-se dificuldades em assegurar a coerência entre os objectivos de política e a
definição da política orçamental e de investimento público. Na verdade, os objectivos de
política deveriam ser anualmente considerados, e eventualmente revistos, no início de cada ciclo
orçamental, ou seja, na fase inicial da preparação de cada OGE e de cada PPIP. A evidência de que não
tem havido uma adequada articulação entre os objectivos de política e as opções orçamentais
está patente no facto de os limites orçamentais por sector/ministério não serem fixados a priori, com
base nas prioridades de política. Nestas condições, não é possível fazer-se uma programação financeira
consistente no início do ciclo orçamental, o que deveria implicar eventualmente a definição de
prioridades face à escassez de recursos financeiros. Na prática, e no caso do Programa de
Investimentos, as prioridades acabem por ser condicionadas pelos compromissos anteriores e pela
disponibilidade de financiamento, a qual todavia só se torna evidente já em plena fase de execução dos
projectos.
No caso do orçamento de funcionamento, a rigidez que decorre dos compromissos
anteriormente assumidos, bem como o peso elevado das despesas obrigatórias (salários e serviço da
dívida), implica que só depois de garantida a cobertura destas despesas se procede à repartição por
sectores, pelo que na prática o valor a repartir é um valor residual, não reflectindo por isso escolhas
prioritárias.
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3. O quadro institucional e orgânico do sistema deplaneamento
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A arquitectura jurídica do planeamento em Cabo Verde carece ainda de uma lei-quadro do
planeamento que explicite o quadro conceptual que deve ser tomado como referência, que estabeleça
uma orgânica a vários níveis, que defina as atribuições das entidades do sistema e que estabeleça as
normas de funcionamento. Nesse contexto caberia ainda definir o modelo de desconcentração ou de
descentralização a prosseguir, a articulação dos Planos Anuais com o Orçamento do Estado, a articulação
dos Planos Anuais com o Plano de Desenvolvimento, bem como as condições de promoção da
participação social.
O modelo deveria consagrar a estrutura e os instrumentos que o Governo pode mobilizar para
definir, apresentar e realizar as políticas públicas segundo um modelo que integra o planeamento
estratégico e a política económica conjuntural. Deveria incorporar por outro lado, um conjunto de
domínios a que as novas concepções de planeamento dão um grande relevo, designadamente, a
vertente do ambiente, a desconcentração regional do processo de planeamento e ainda a
participação social em todos as fases do processo de planeamento.
Um modelo orgânico de planeamento típico contempla as entidades e respectivas atribuições
descritas no QUADRO 3-1. Note-se que, na realidade, muitas das atribuições descritas já são na
realidade assumidas pelos órgãos respectivos, faltando todavia uma integração global dessas funções e a
respectiva consagração num quadro jurídico unificado, que poderá ser materializado numa Lei de bases
do planeamento.
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QUADRO 3-1: Modelo orgânico de planeamento e respectivas atribuições
Órgãos Atribuições
Assembleia legislativa Aprovar a estratégia de desenvolvimento proposta pelo Governo (emCabo Verde materializam-se nas Grandes Opções)
Apreciar os relatórios de execução anuais e finais do plano dedesenvolvimento
Órgãos políticos
Governo Elaborar e apresentar à Assembleia legislativa uma proposta de Leicontendo a estratégia de desenvolvimento do país
Elaborar e apresentar à Assembleia legislativa uma proposta contendoas linhas de política de horizonte anual (pode assumir a figura deGrandes Opções anuais)
Aprovar o Plano Nacional de Desenvolvimento
Implementar as medidas previstas no Plano Nacional deDesenvolvimento
Elaborar e apresentar à Assembleia legislativa os relatórios anuais efinal do Plano Nacional de Desenvolvimento
Órgão consultivo Conselho agrupando agenteseconómicos, sociais e derepresentação territorial
Dar parecer sobre as propostas de estratégia de desenvolvimentosubmetida pelo Governo
Dar parecer sobre a proposta de linhas de política anual submetidapelo Governo
Órgãos técnicos Órgão central de planeamento
(Direcção-Geral doPlaneamento4)
Coordenar e elaborar as Grandes Opções do Plano
Coordenar tecnicamente na elaboração, execução, acompanhamentoe avaliação do Plano Nacional de Desenvolvimento, dos ProgramasSectoriais e na promoção da elaboração descentralizada dos PlanosRegionais
Promover e elaborar estudos sobre os problemas de desenvolvimentoe a estratégia nacional de desenvolvimento
Promover o desenvolvimento e a divulgação de metodologias deplaneamento adequadas à realidade nacional, na perspectiva darenovação e do reforço da democraticidade do processo de elaboraçãodo PND
Assegurar a articulação entre a política de desenvolvimento e a deformação e qualificação dos recursos humanos
Participar na concepção, implementação e manutenção de um sistemade informação adequado ao melhor desempenho do sistema deplaneamento e gestão macro-económica
Acompanhar a Coordenação Económica em articulação com odepartamento governamental que dirige a área da CooperaçãoInternacional
Elaborar, gerir e seguir o Programa Pruri-anual de Investimentos
Elaborar, gerir e acompanhar o Orçamento de Investimento, emestreita colaboração com a Direcção-Geral do Orçamento do Estado
4 As atribuições descritas estão definidas no Decreto-Lei nº 30/2001 de 26 de Novembro de 2001 e que aprova oestatuto orgânico do Ministério das Finanças e do Planeamento.
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Órgãos Atribuições
Órgãos sectoriais
(Gabinetes de Estudos ePlaneamento5)
Assegurar as ligações à Direcção-Geral do Planeamento no processode elaboração dos planos nacionais de desenvolvimento e de controleda sua execução.
Promover, em colaboração com outros serviços centrais do Ministério,a realização de estudos técnicos, pesquisas e projectos nos domíniosda competência do sector
Promover, em colaboração com outros serviços centrais do Ministério,planos estratégicos de desenvolvimento, nas áreas de competência dosector, bem como o acompanhamento das tendências dedesenvolvimento do sector privado, identificando e propondo soluçõesde parceria entre o sector público e o sector privado
Promover, em colaboração com outros serviços centrais do Ministério,diagnósticos sectoriais periódicos das áreas e sectores sob tutela doMinistério
Promover a integração, coordenação e acompanhamento dos serviçoscentrais do Ministério e das actividades destes, contribuindo para adefinição de orientações a prosseguir pelo Ministério na gestão dosrecursos humanos, financeiros e patrimoniais, no quadro deprogramas de base anual e plurianual
Promover, em colaboração com outros serviços centrais do Ministério,a elaboração de planos orçamentais de funcionamento e investimento,bem como dos planos pluri-anuais de desenvolvimento.
Promover a divulgação de estudos, publicação e informaçãorespeitantes ao Ministério
Promover a coordenação, compatibilidade e integração dos sistemasde informação e documentação, bem como a gestão eficiente eexpansão das redes de comunicação
Promover o apoio jurídico, técnico e administrativo do Gabinete, bemcomo de Comissões, Grupos de Trabalho e estruturas de missão quefuncionem no âmbito do Ministério
Acompanhar e coordenar as actividades de cooperação internacionalem que o Ministério esteja envolvido
Promover a ligação do Ministério com os organismos nacionais deestudos, planeamento, documentação e estatística
Promover, em colaboração com outros serviços centrais do Ministério,os relatórios de actividade, tendo em vista a avaliação dos resultadosdos planos e da execução orçamental.
5 A título de exemplo recorre-se ao diploma orgânico do Ministério do Turismo, Indústria e Comércio (Decreto-Leinº 31/2001 de 26 de Novembro, onde se identificam as atribuições relacionadas com o processo de planeamento.Estas funções estão complementadas com mais algumas atribuições que reforçam justamente as responsabilidadesdos GEPs na estrutura de planeamento.
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Órgãos Atribuições
Órgãos territoriais6
(por definir)Assegurar a interlocução com a Direcção-Geral do Planeamento nosdomínios referentes ao processo de planeamento
Coordenar a participação no processo de planeamento dos organismospúblicos e privados, sedeados na sua área geográfica, tendo em contaas normas, metodologias e calendários estabelecidos pela Direcção-Geral de Planeamento
Promover formas de participação das organizações da sociedade civilem todas as fases do processo de planeamento
Recolher e sistematizar, dentro da sua área geográfica, a informaçãoindispensável ao processo de planeamento
Estudar e elaborar as perspectivas de desenvolvimento regional e deordenamento do território
Assegurar a coerência territorial das intervenções sectoriais
Assegurar que, no quadro do planeamento regional, se salvaguarde apreservação do equilíbrio ecológico e a defesa do meio ambiente
Identificar os investimentos públicos a integrar no PPIP
Gerir e acompanhar a implementação dos projectos de investimentopúblico de acordo com as atribuições que lhes sejam confiadas nestedomínio
Importa aprofundar e clarificar a natureza do sistema de planeamento. A Constituição de 1992,
aponta para o carácter indicativo do planeamento no que respeita ao sector privado, assumindo uma
forma imperativa para as políticas públicas que têm tradução do Programa de Investimento Público.
Desse modo, o processo de planeamento acomoda as medidas e as intervenções que o Governo assume
como suas (através designadamente do referido Programa de Investimentos), bem como as que
preconiza para o sector privado, quer se trate de intervenções autónomas quer de intervenções em
parceria com o sector público. Em particular, o PND deverá contemplar as intervenções do sector público
(que podem ser organizadas sob a forma de programas, ou de linhas de política devidamente
estruturadas em medidas e projectos), bem como as linhas de orientação visando a mobilização do
sector privado, juntamente como os mecanismos e medidas que permitirão viabilizar essa participação.
Nesta ordem de ideias, o PND assume um figurino que incorpora os objectivos de desenvolvimento
sócio-económico, as estratégias que se propõe seguir para os alcançar, o enunciado das políticas a
desenvolver nos diferentes domínios, particularmente a política de desenvolvimento regional, bem como
o respectivo enquadramento macroeconómico.
Num segundo plano, cabe a identificação dos Programas sob os quais se estrutura e organiza a
intervenção do sector público, em coerência com os objectivos sócio-económicos previamente definidos,
e viabilizados pelo quadro macroeconómico que enquadra o financiamento não inflacionário do
6 Dado que não está clarificado qual o modelo de planeamento territorial que deverá ser edificado em Cabo Verde,as atribuições dos órgãos territoriais de planeamento são definidas de um modo muito genérico, e de um modo nãovinculado a nenhum tipo de planeamento.
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Programa. Cada programa (elaborado segundo a metodologia do quadro lógico 7) é decomponível em
subprogramas, os quais por sua vez deverão explicitar as medidas, concretizadas através de projectos e
acções orientados por objectivos.
O planeamento regional, previsto na Constituição da República, só adquirirá o seu verdadeiro
estatuto quando for o produto de uma estrutura territorial de planeamento, representativa das
comunidades locais, e com um mandato para conduzir um processo de planeamento sistemático. Não
existindo uma tal estrutura em todos os territórios considera-se que a perspectiva regional deve ser vista
como um processo de regionalização do PND no contexto da dimensão sectorial. Assim, o PND
assume uma arquitectura programática na base da qual a dimensão sectorial/programática se
traduz necessariamente numa dimensão territorial, o que implicará que as políticas de afectação
de recursos tenham essa dupla dimensão.
O desenvolvimento do sistema de planeamento pressupõe uma opção de base quanto ao modelo de
gestão orçamental dos recursos, perfilando-se, no limite, dois sistemas de referência: a abordagem por
programas (que integra a despesa de investimento e a despesa corrente no mesmo quadro orçamental)
e a abordagem incremental (organizado por rubrica de despesa, segundo o classificador económico, e
que no caso específico de Cabo Verde dissocia a despesa corrente da despesa de investimento e que se
traduz numa forma dual de construção do orçamento do Estado: orçamento corrente e orçamento de
investimento).
QUADRO 3-2: Modelos orçamentais
Modelo Definição Vantagens DesvantagensIncremental O orçamento do ano anterior é
ajustado com base em factoresde política (Ex: aumento devencimentos) ou em factoresexógenos (inflação)
Baseia-se em elementosrelativamente controláveis.
Fácil operação
Minimiza os choques
Visão de curto prazo
Não relacionado com objectivos
Não contempla as prioridadesorçamentais
Orçamento por programas(PPBS)
Orçamento de longo prazorelacionado com objectivosestratégicos, na base de umaavaliação das opções de políticaem termos de custos
Objectivo
Participativo
Estratégico
Burocrático e consumidor de tempo
Inflexível
Requer suporte de orçamentos decurto prazo
Orçamento zero Construção do orçamento apartir de uma avaliação inicialde necessidades
Objectivo
Questiona o orçamento debase
Evita o incrementalismo
Consumidor de tempo
Complexo
Pode produzir uma alteração radical
Restrição de recursos Afectação de recursosfundamentais tendo em vistasatisfazer as restrições
Objectivo
Questiona as prioridades aonível operacional
Resultados previsíveis
Negativo
Descendente
Pode ocasionar conflitos
7 Ver Capítulo 5
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A abordagem por programas constituiu a grande inovação introduzida pelo PND 1997-2000,
embora, como atrás se referiu, tenha enfrentado grandes dificuldades de implementação. Como questão
central levanta-se o processo de elaboração dos programas, e a evolução para um sistema onde
esta abordagem seja eventualmente dominante. A evolução da actual situação para uma programação
total e abrangendo conjunta e integradamente a despesa de investimento e a despesa corrente, deverá
ser gradual, acompanhada da formação e preparação de quadros, já que é muito grande o risco de
rupturas caso se adopte uma estratégia mal concebida.
A abordagem por programas apresenta na verdade evidentes potencialidades como sistema de
programação da despesa pública, mas antes de uma decisão no sentido da sua continuidade deveria
haver uma clarificação sobre o modelo efectivo que se pretende implementar. Uma abordagem
por programa implica quatro condições: i) uma estrutura de coordenação central, ii) uma gestão
integrada descentralizada e flexível, iii) a integração do orçamento corrente com o orçamento de
investimento, iv) de um modo geral, uma natureza multisectorial na configuração dos programas de
despesa pública8.
Importa neste contexto fazer um amplo debate sobre o significado e as implicações do
planeamento e a orçamentação por programas , designadamente sobre as estruturas de gestão que
devem ser constituídas, sobre os métodos de gestão orçamental, sobre a descentralização e a autonomia
de decisão. Na verdade, importa esclarecer se o objectivo é i) a implementação de um sistema do tipo
PPBS integral, ii) a implementação de Programas Sectoriais Integrados (PSI), ou iii) a continuidade do
modelo do PND baseado na organização dos projectos sob a forma de programas. Em suma, deveria ser
definida uma estratégia de implementação que seguramente deveria ser gradual e a partir da
transformação da actual estrutura sectorial. A programação e a orçamentação por actividades poderão
constituir um ponto de partida, sobretudo nos sectores que têm uma estrutura de despesa mais estável.
8 Entre os vários responsáveis da área do planeamento sectorial é consensual a opinião de que o desenho dosprogramas deve decorrer das estruturas sectoriais existentes e dos objectivos de política dos sectores. Embora estaposição possa ser interpretada como uma resistência dos sectores à modificação do status quo, não é menos verdadeque dificilmente se levará a cabo uma alteração dos métodos de planeamento e de gestão sem o seu envolvimentodirecto e empenhado.
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CAIXA 3-1: Programa de Investimento Sectorial (PIS) e Programa Sectorial Integrado(PSI)9
O Programa de Investimento Sectorial (PIS) assegura, a nível sectorial, a ligação entre a política e a estratégia definidas para osector e as despesas de desenvolvimento necessárias para a sua implementação. O seu enquadramento por um Quadro deDespesa de Médio Prazo (MTEF) assegura-lhe a necessária sustentabilidade financeira e orçamental.
Um programa sectorial deverá resultar de um acordo entre o Governo e os doadores, na base do qual fique claro que o governoassume a liderança do processo, quais as responsabilidades de financiamento assumidas por cada parceiro, e quais osprocedimentos de acompanhamento e controlo a implementar, sendo naturalmente desejável que os procedimentos de gestãoorçamental e contabilidade pública do país sejam consistentes, credíveis, transparentes, e como tal reconhecidos por todos osdoadores.
Cabo Verde não implementou ainda esta abordagem, embora ela se inscreva na concepção de planeamento actualmenteassumida. Justifica-se por isso a formulação de algumas regras que foram delineadas sob a forma de recomendações num estudorealizado pela Agência de Cooperação do Reino Unido, e de que se apresenta um resumo:
É fundamental fazer uma abordagem deste sistema na base de uma adequada compreensão de outras experiências e doreconhecimento da necessidade de realismo e de compromissos sobre os objectivos que são viáveis;
Deve reforçar-se a ligação entre os programas de despesa sectorial
Todas as actividades desenvolvidas pelo sector devem estar sob um único programa, totalmente orçamentadas e integradas numquadro de despesa de médio prazo. Experiências: em muitos casos verificam-se tenta-se orçamentar os programas e fazer aintegração dos recursos internos com os recursos externos. Todavia, poucos casos conseguem uma total integração (programasda Etiópia, programas de educação e população do Bangladesh). Alguns projectos mantém-se fora dos programas. O quadro dedespesa pública a médio prazo tem assumido uma importância crescente em programas sectoriais deslizantes (Gana, Uganda,Tanzânia e Moçambique).
No âmbito do PND, a identificação de programas e projectos deverá decorrer da convergência
de duas linhas de intervenção e participação: uma linha de orientação descendente, segundo a qual,
o órgão central de planeamento, interpretando as opções estratégicas a nível da esfera política, identifica
os grandes programas ou eixos principais; uma linha de intervenção directa dos sectores, traduzindo
uma linha de orientação ascendente, tendo em conta os objectivos sectoriais (e territoriais),
coerentes com as grandes opções de política económica e social do Governo, e dando resposta aos
problemas identificados pelo próprio sector.
As propostas de programas e projectos a formular pelos sectores deverão decorrer da análise de
problemas (segundo a metodologia do quadro lógico ), podendo ser fundamentada na análise de
diagnóstico sócio-económico, exercício que deverá ter uma dimensão macro-económica, sectorial e
territorial.
A coerência entre o processo de planeamento, enquanto mecanismo de afectação de recursos
face aos objectivos de desenvolvimento económico e social, e o sistema de gestão financeira e
orçamental do Estado, carece ainda de ser reforçada. A orçamentação por programas é uma via
adequada para assegurar aquela coerência, mas a abordagem gradualista acima recomendada implica
que, durante um período de transição mais ou menos longo, coexistirão dois modelos de gestão da
despesa pública, com as implicações daí decorrentes em termos da utilização de sistemas de informação
harmonizados.
9 Na literatura especializada e nos documentos das organizações internacionais são referenciados como SectorInvestment Programs (SIP) e Sector-wide Programs (SWAP).
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A proposta de Lei de Bases assume o princípio da desconcentração da estrutura e do processo
de planeamento, o que determina que o conceito de planeamento regional é considerado como
enquadrado num figurino institucional baseado na desconcentração de poderes e responsabilidades a
partir das estruturas administrativas presentes. Ou seja, a linha de decisão
sectorial/programática10 apresenta-se como dominante no processo de afectação dos recursos
visando o desenvolvimento. Porém, a natureza insular do país, onde as ilhas/regiões são unidades
territoriais descontínuas, obriga a perspectivar o desenvolvimento regional numa base que elege cada
ilha como uma unidade geográfica de planeamento, num contexto de integração
regional/nacional das intervenções e dos investimentos do Estado, no qual a questão central que se
coloca é a da distinção entre as intervenções que são de natureza regional ou nacional .
O conceito de planeamento regional que parece realista propor nesta fase, enquanto não há
uma clarificação sobre as estruturas de planeamento e de decisão regionais, parte das estruturas de
decisão centrais de cariz sectorial ou programático. Nestas condições, e tendo em consideração o grau
de desenvolvimento dos sistemas de informação, toma-se o sector/programa como unidade básica
do planeamento, mas incorporando necessariamente a dimensão regional. Ou seja, o enfoque
é colocado sobre o sector, ou sobre o programa, mas implica obrigatoriamente a perspectiva regional
das necessidades e da implementação das políticas públicas, o que deverá ter uma tradução na
repartição regional dos recursos.
Esta opção pode estruturar-se quer sobre uma organização do planeamento na base de Programas,
quer sobre uma lógica sectorial, implicando em ambos os casos a consideração da vertente regional nos
critérios de repartição dos investimento, e que permitirá regionalizar o programa de investimento público
bem como o conjunto das acções públicas da iniciativa da administração central11.
A arquitectura geral do sistema reside efectivamente nas Grandes Opções de Política Social e
Económica a Médio Prazo, que deverá ser um documento sintético sobre a visão prospectiva e
estratégica do país num futuro de médio prazo, e, usando metodologias claras e consensuais. Este
documento enquadra o Plano Nacional de Desenvolvimento (conjunto das intervenções nacionais não
regionalizáveis) e a respectiva decomposição regional, formada pelo conjunto das intervenções regionais
e regionalizadas.
10 Utiliza-se neste Manual a expressão “sectorial/programática” de modo a acomodar duas situações distintas masque podem coexistir no mesmo sistema de planeamento: por um lado, uma lógica de planeamento e programaçãocentrada nos Sectores (aqui identificados com Ministérios); por outro lado, uma lógica centrada em Programas cujaestrutura de gestão não se confunde com a orgânica ministerial.11 No ponto 5.3 propõe-se um método de articulação entre os níveis sectorial/programático e regional centrado nadelimitação das intervenções públicas.
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Reconhece-se hoje de forma inequívoca que o desenvolvimento económico e social ocorre apenas se
for criado um adequado ambiente para o desenvolvimento, e que este decorrerá, entre outros
factores, do envolvimento da estrutura técnica da administração e dos agentes económicos nacionais e
locais. Nesse sentido, o sistema de planeamento deverá promover estas ligações em todas as fases do
processo dando lugar a formas de concertação permanente entre a administração e os parceiros
económico-sociais da sociedade civil.
Concentrando agora a atenção no planeamento de médio prazo, conclui-se que a elaboração do
Programa Nacional de Desenvolvimento enquadra, ou pelo menos interliga-se com um conjunto de
outros exercícios e que incluem:
§ A Avaliação do PND 1997-2000
§ A elaboração do Diagnóstico Social e Económico que deverá fundamentar as opções estratégicas
a seguir no novo Plano
§ A elaboração de cenários de desenvolvimento na dupla perspectiva sector/região.
§ A definição de uma estratégia de redução da pobreza (PRSP).
§ Análise da despesa pública
A análise precedente constitui um ponto de partida essencial para a análise de Diagnóstico sobre a
qual se deverá estruturar o próximo Plano. Para a elaboração do diagnóstico, sectorial ou regional,
preconiza-se a utilização de uma grelha de análise normalizada, comum à generalidade dos sectores,
quer tenham um cariz mais económico (Turismo), ou mais social (Educação). A grelha de análise
proposta pelo Esquema Global de Desenvolvimento12 propõe um conjunto de domínios que poderão
eventualmente ser tomados como referência. São eles: as questões estruturais e institucionais (Boa
governação, Sistema de justiça, Sistema financeiro, aspectos sociais), questões relativas ao
desenvolvimento do factor humano (Demografia, Migrações, Educação, Saúde, Cultura, Pobreza),
infra-estruturas físicas (Água e Saneamento, Energia, Transportes e Comunicações, Ambiente) e
domínios específicos (Urbanismo, Sector produtivo e sector Privado). A estrutura e composição dos
estudos de diagnóstico deverão ser configurados de modo a facilitarem a transição para a análise de
cenários e a correspondente definição de objectivos estratégicos.
No capítulo relativo ao sistema financeiro, deveria estabelecer-se uma relação com a Revisão da
Despesa Pública (RDP). Para o efeito, poderá partir-se da metodologia já anteriormente testada em
Cabo Verde nos sectores da Educação e Saúde, e que poderá ser estendida a todos os sectores, com o
12 Ver sub-capítulo 4.4 e a documentação bibliográfica indicada no anexo bibliográfico.
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objectivo de analisar a eficiência face aos objectivos com que os recursos financeiros que têm vindo a
ser despendidos. Este exercício será um passo importante para uma correcta identificação de Programas
e Projectos em fase posterior.
CAIXA 3-2: Revisão da Despesa Pública (RDP)
O objectivo de uma Revisão da Despesa Pública (RDP) é de contribuir para a reestruturação e melhoria da despesapública. A avaliação da despesa pública pretende-se interligada com o ciclo orçamental, como rotina sistemática egeneralizada. Este exercício iniciou-se em Cabo Verde com a análise da despesa pública referente ao ano fiscal de1999, e abrangendo os sectores da Educação e da Saúde, para além da análise global, na base de metodologiasainda não satisfatoriamente integradas e normalizadas.
A RDP compreende habitualmente uma análise das receitas, a determinação do nível e composição da despesapública, uma análise inter e intra-sectorial, uma abordagem das empresas públicas financeiras e não financeiras, aestrutura de governação, e o funcionamento e eficácia das instituições públicas.
A RDP pode ser global focando sobre a eficiência e a eficácia na afectação dos recursos públicos, ou centrada numsector, designando-se então por RDP sectorial.
Em geral, a análise centra-se nos seguintes domínios:
§ Determinação da combinação de oferta de bens e serviços entre os sectores público e privado;
§ Avaliação das prioridades da despesa pública , intra e inter-funções, tendo em conta as restrições orçamentaise os objectivos de política;
§ Análise da relação entre os inputs (despesa) e os resultados alcançados;
§ Apreciação do quadro institucional de modo a fundamentar a formulação de recomendações visando amelhoria da eficácia da despesa pública.
A partir daquela análise, e com base nas opções estratégicas do Governo (Grandes Opções de Médio
Prazo) balizadas com o quadro de sustentabilidade macroeconómica, inicia-se a fase de elaboração do
Programas sectoriais e regionais, da responsabilidade dos sectores e das Regiões. Ao órgão de
planeamento competirá a coordenação da arbitragem dos documentos sectoriais / regionais face às
restrições dadas pela imposição dos equilíbrios macroeconómicos e pelas orientações estratégicas
assumidas que, no final, conduzem à consolidação do Plano Nacional de Desenvolvimento.
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4. O sistema de planeamento e a formulação de políticas
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4.1 O modelo de planeamento: situação actual e perspectivas de evolução
A metodologia de programação dos investimentos públicos depende do modelo global de
programação e do modelo orçamental vigente. O PND 1997-2000 introduziu em Cabo Verde o conceito
de Orçamento-programa como sistema de referência para a gestão dos recursos públicos. Todavia, esse
modelo ainda não está verdadeiramente instituído em toda a sua extensão, pelo que importa aprofundar
alguns dos conceitos básicos que o informam, e daí derivar os métodos e os procedimentos aplicáveis à
situação específica de Cabo Verde.
O modelo de orçamento-programa baseia-se no modelo PPBS (Planning, Programming, Budgeting
System), cuja arquitectura de base está apresentada no seguinte diagrama:
DIAGRAMA 4-1: O modelo de Planeamento-Programação-Orçamentação
Este modelo introduz o conceito de planeamento estratégico, na base do qual se estabelece o
quadro de referência para a afectação dos recursos públicos, a médio prazo, os quais são repartidos
segundo os objectivos estratégicos definidos no quadro das políticas estruturais. A definição e a
implementação das políticas públicas decorre dos mesmos objectivos estratégicos, e correspondem às
iniciativas que a Administração Pública assume como suas, através de iniciativas directas ou indirectas.
As Grandes Opções (GOPs) constituem o quadro programático onde se definem as principais prioridades
assumidas pela esfera de decisão política.
A experiência recente de Cabo Verde revela um avanço importante no sentido daquela integração,
embora esteja ainda muita circunscrita ao investimento público, e este por sua vez muito dependente do
financiamento externo. A consequência prática desta abordagem parcial tem seguramente
consequências negativas ao nível do desajustamento entre os valores programados e os valores
executados.
Planeamento Programação Orçamentação Controlo
Grandes Opções (GOPs)Estratégia de Redução
Pobreza( PRSP)PND/Programas
PND/Sub-programasProg. Invest.
Público (PPIP)Quadro de Despesa aMédio Prazo (MTEF)
Orçamento doEstado (OGE)
CorrenteInvestimento
Contabilidade PúblicaRevisão despesaPública (RDP)
Auditoria
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Na verdade, este modelo visto em toda a sua dimensão permite integrar, de um modo coerente, a
formulação de políticas públicas, o processo de planeamento, o desenho de programas e a respectiva
incidência sobre a despesa pública e, consequentemente, sobre o Orçamento do Estado. Permite por isso
ultrapassar, ou minimizar, aqueles desajustamentos, reorientando os recursos financeiros para os
sectores realmente prioritários no quadro das orientações estratégicas de política definidas.
A CAIXA 4-1 mostra os objectivos estratégicos consagrados nas GOPs 2002-2005, a partir das quais
se deverá estruturar o PND.
CAIXA 4-1: Os objectivos estratégicos das GOP’s de 2002-2005 como base para o desenho de Programas1.ª Opção: Promover a boa governação como factor de desenvolvimento, reformando o Estado, intensificando aDemocracia e reforçando a cidadania.
2ª Opção: Promover a capacidade empreendedora, a competitividade e o crescimento; alargar a base produtiva
3.ª Opção: Desenvolver o capital humano e orientar o sistema de ensino/ formação para as áreas prioritárias dodesenvolvimento
4.ª Opção: Promover uma política global de desenvolvimento social, combatendo a pobreza e reforçando a coesão e asolidariedade
5.ª Opção: Desenvolver infra-estruturas básicas e económicas e promover o ordenamento do território para umdesenvolvimento equilibrado
O exercício de programação corresponde à operacionalização das políticas, através da definição da
estratégia de intervenção, que inclui a definição de objectivos específicos, a identificação dos
correspondentes resultados a alcançar, bem como o desenho das actividades a empreender e,
finalmente, os recursos a mobilizar. Neste contexto os Programas são desenhados e estruturados em
Sub-programas, e estes em Medidas.13 Os Projectos e as Acções fazem por sua vez parte das
Medidas, devendo os seus objectivos ser pertinentes face aos objectivos dessas Medidas.
A orçamentação processa-se a vários níveis (nível de projecto, de acção, de sub-programa e de
programa), mas converge para um orçamento sintético e unificado a nível global, ou seja o
Orçamento do Estado sob forma programática. Actualmente, o Orçamento do Estado, em particular na
sua componente de despesa corrente, é ainda elaborado numa base convencional, coexistindo
paralelamente com o orçamento de investimento, o qual decorre directamente da anualização do PND.
A função de controlo assume um papel essencial no modelo do tipo PPBS, tendo em vista
assegurar a sua eficácia e mesmo a sua viabilidade. Compreende todos os procedimentos de
acompanhamento e avaliação apoiados num sistema de informação de apoio à gestão dos
13 No ponto 5.2.1 descreve-se a metodologia relativa a este exercício.
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programas e capaz de produzir informação que permita o controlo global e central da afectação e
dispêndio dos recursos financeiros do Estado.
Como atrás se referiu, o modelo de gestão dos recursos públicos adoptado em Cabo Verde assenta,
parcialmente, no modelo PPBS, cuja decomposição por fases é a seguinte:
O processo (vide DIAGRAMA 4-1) inicia-se com a fase de Planeamento que inclui as seguintes
actividades:
§ Diagnóstico global do sistema
§ Avaliação dos recursos disponíveis e potenciais
§ Estabelecimento de objectivos estratégicos (grandes opções de médio prazo)
A segunda fase é a da Programação, que consiste nas seguintes actividades:
§ Elaboração dos Programas, numa perspectiva plurianual, com base nos objectivos estratégicos
atrás definidos. Em princípio cada objectivo estratégico deve dar origem a um Programa;
§ Avaliação dos meios e recursos necessários à implementação dos Programas
§ Concepção e montagem de um sistema de informação para a gestão dos Programas
§ Desenho do sistema de controlo e acompanhamento dos Programas, incluindo o sistema de
indicadores de execução (realização, resultado e impacto)
§ Escolha de alternativas e prioridades, no caso de os recursos serem escassos
§ Aprovação do sistema de programas a implementar
A terceira fase é da Orçamentação, que inclui as seguintes actividades:
§ Elaboração do Orçamento-Programa a nível de cada Programa, numa base anual, a partir
das prioridades definidas definidas
§ Elaboração do Orçamento-Programa global, a partir da agregação dos Orçamentos-Programa
parciais, e da necessária arbitragem, feita centralmente, face à disponibilidade de recursos
financeiros para o financiamento dos programas.
Finalmente, a última fase é a do Acompanhamento e Controlo, que compreende as seguintes
actividades:
§ Acompanhamento sistemático da implementação dos Programas
§ Revisão dos Orçamentos dos Programas face à evolução da situação real. A Revisão da Despesa
Pública é o instrumento mais adequado para dar resposta metódica e sistemática a esta
necessidade.
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Cabe aqui introduzir a dimensão da formulação e implementação das políticas públicas. Na
realidade, estas decorrem dos objectivos estratégicos antes definidos (ao nível das Grandes Opções de
Médio Prazo). O processo inicia-se, pelo estabelecimento das linhas estratégias (objectivos, recursos,
actores, processos), prossegue com o planeamento das intervenções, numa perspectiva de médio/longo
prazo (incluindo a avaliação dos meios, as opções na alocação de recursos), seguindo-se a concepção
dos programas e a respectiva orçamentação (numa base anual mas tendo como referência uma
perspectiva plurianual). A implementação pode ser assumida de forma mais ou menos desconcentrada
ou descentralizada, em função das opções tomadas a este respeito.
No caso do Cabo Verde importa distinguir entre a situação actual (que no essencial corresponde
ao modelo que resulta ainda da anterior experiência de implementação do PND) e a situação-
objectivo ou situação de referência (como é designada no presente Manual) e para a qual o actual
sistema tende a evoluir. Esta situação de referência carece ainda de uma orientação, quer no que se
refere à configuração do modelo global a construir quer no que se refere ao processo de transição
(cronologia, prioridades, mecanismos transitórios).
Conforme mostra DIAGRAMA 4-2 o actual sistema de programação corresponde a um sistema
híbrido entre um modelo de programação por objectivos, com uma perspectiva temporal de médio
prazo (embora a sua implementação prática não tenha sido totalmente conseguida) e um modelo
convencional marcado pela dualidade orçamental entre a despesa corrente e a despesa de investimento.
DIAGRAMA 4-2: Modelo de planeamento (situação actual)
Programa Nacionalde Desenvolvimento(PND)
ProgramasOrçamento Geraldo Estado (OGE)
Programa deInvestimentoPúblico (PPIP)
Sub-Programas/Medidas Corrente
Investimento
GrandesOpções doPlano (GOPs)
Estratégia deRedução daPobreza (PRSP)
Cooper.Externa RDP
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O actual modelo de planeamento/programação assenta numa estrutura lógica onde faltam ainda
alguns elementos e onde algumas relações estão por estabelecer. Desde logo, a figura das Grandes
Opções de Médio Prazo carece de suporte legal, o que não tem todavia impedido que informalmente se
tenham elaborados linhas programáticas com um horizonte de médio prazo nas quais se baseou o PND
anterior.
O diagrama revela a hierarquia de instrumentos de planeamento e de programação que esteve na
base do PND 1997-2000, mas mostra também a natureza dualista do Orçamento do Estado que se
traduz numa deficiente articulação entre o orçamento corrente e os Programas.
O Diagrama DIAGRAMA 4-3 mostra um modelo alternativo que pode decorrer da evolução natural do
modelo anterior, podendo por isso ser considerado como sistema de referência, ilustrando a situação
de chegada quando todo o modelo de programação estiver completado. Tem como característica central
a unificação do Orçamento-Programa anual, agregando a despesa corrente e de investimento de
cada Programa (de cariz sectorial ou multisectorial), e consagrando alguns elementos que faltam ainda
no modelo actual. Em concreto:
§ A introdução da figura das Grandes Opções Anuais (que correspondem às principais linhas de
orientação de política económica tendo em vista o enquadramento de cada ciclo orçamental);
Esta figura cria assim condições para a definição anual das linhas de orientação da política
económica, exercício essencial à elaboração e implementação mais rigorosa das políticas
orçamental e monetária. Permite, ao mesmo tempo, concretizar os objectivos expressos no PND,
assegurando a respectiva consistência com as políticas de regulação da conjuntura. Importa
todavia, clarificar o modo como se materializa e operacionaliza a figura das Grandes Opções
Anuais. Na verdade, mais do que a elaboração de um plano (no sentido convencional do termo),
o conceito de grandes opções de política económica tem um carácter sobretudo
orientador, explicitando as linhas de orientação política que o Governo se propõe seguir em cada
exercício orçamental, ao mesmo tempo que transmite aos agentes económicos o necessário
enquadramento em termos de política orçamental, fiscal, monetária e de preços. O conceito de
grandes opções coexiste bem com os instrumentos de política de que o Governo dispõe e que
consistem essencialmente no Orçamento do Estado e no Programa de Investimentos.
§ A coordenação da ajuda externa, que tem tido grandes dificuldades de implementação, mas
cuja consolidação é fundamental para aumentar a previsibilidade dos recursos de investimento;
§ A explicitação da vertente regional dos Programas, através da identificação das acções
regionalizadas ou regionalizáveis14; no limite poderão elaborar-se Programas Regionais com base
14 No ponto 5.3 propõe-se uma metodologia para atacar esta problemática.
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na articulação das intervenções de iniciativa central com as intervenções de iniciativa local face a
objectivos regionais de desenvolvimento.
O QUADRO 4-1 permite visualizar de um modo sintético as diferenças entre os dois modelos, o que
permite também identificar os domínios que carecem de desenvolvimento e em que é necessário
introduzir alterações.
DIAGRAMA 4-3: Modelo de planeamento (possível esquema de referência)
PRSP
ProgramaNacional deDesenvolvimento
Programas
Grandes Opçõesdo Plano
Cooper.Externa Orçamento
Programa
Grandes OpçõesAnuais
RDP
MTEF
Sub-Programas
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QUADRO 4-1: Comparação entre o actual modelo de gestão orçamental e um modelo de Orçamento-programa de referência
DOMÍNIOS MODELO DE REFERÊNCIA MODELO ACTUAL
1. Planeamento Estratégico e Programação Macroeconómica
Planeamento estratégico Existe um quadro de referência com objectivosestratégicos de desenvolvimento. Esse quadro dereferência é estabelecido nas Grandes Opções deMédio Prazo. Estas por sua vez devem articular-se comobjectivos de desenvolvimento a longo prazo
O PND 1997-2000 estava orientado por um conjunto deobjectivos estratégicos, embora não sustentados na figurade GOPs de Médio Prazo
Programação macroeconómica a médioprazo
Estabelece-se um cenário macroeconómico com umhorizonte de médio prazo, que contém uma previsão dadespesa pública com o mesmo horizonte temporal.
O cenário macroeconómico enquadra o Programa deDesenvolvimento e garante as condições do seufinanciamento numa base de estabilidade económica.
Estabelece-se uma rotina visando a actualização docenário macroeconómico à medida que se alterem ospressupostos internos e externos que o fundamentam.
O modelo RMSM-X é actualizado e adoptado comomodelo de referência para a geração de cenários, e oSistema de Informação para o Planeamento éconfigurado de modo a alimentar o modelo.
O enquadramento macroeconómico definido no início daimplementação do PND 1997-2000 não foi actualizado ouajustado ao longo do processo de implementação do plano.
Não existe uma rotina que garanta a actualização regulardo cenário macroeconómico, embora se disponha de ummodelo gerador de cenários (Modelo RMSM-X) jáutilizado em várias circunstâncias.
Estrutura do Programa deDesenvolvimento
Os objectivos estratégicos devem materializar-se emeixos prioritários de intervenção das políticaspúblicas, a partir dos quais se desenha toda a estruturade programação (Programas/Sub-programas/Medidas).
A escolha de projectos e a preparação de acções éenquadrada pelos objectivos programáticos.
A estrutura programática do PND tem constituído umareferência fundamental para a escolha de projectos eacções públicas, embora a experiência do PND 1997-2000tenha revelado insuficiências.
Gestão económica integrada O sistema de gestão económica e financeira do Estadoé integrado, o que pressupõe uma estreita articulação
A anterior experiência de implementação do Planomostrou algumas deficiências na articulação entre o
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DOMÍNIOS MODELO DE REFERÊNCIA MODELO ACTUALentre a função de planeamento e a função de gestãofinanceira e orçamental.
Ministério das Finanças e o órgão de planeamento central.
Tais limitações estenderam-se à relação entre este e osGEPs sectoriais
Cooperação externa A cooperação externa é enquadrada pelos objectivosestratégicos e pelas prioridades definidas no PND.Neste contexto, os programas de ajuda externaarticulam-se estreitamente com os domínios deintervenção estabelecidos no Plano Nacional deDesenvolvimento.
O actual sistema de coordenação da ajuda revela algumaslimitações, decorrentes da falta de clareza sobre ainstituição que deve assegurar a coordenação, a reduzidatroca de informação, as orientações específicas dosdoadores, a desorçamentação de alguns financiamentos.
.
Enquadramento legal O quadro legal é globalmente coerente, sendoconstituído por uma Lei de Bases do Planeamento, umaLei-Quadro do Orçamento Geral do Estado e uma LeiQuadro do Ordenamento do Território.
A Lei-Quadro do Orçamento está aprovada, enquanto quea Lei-Quadro do Planeamento aguarda aprovação. A Leido Ordenamento do Território carece de revisão.
2. Programação e orçamentação da despesa pública (no contexto do PND)
Horizonte temporal da programação A programação da despesa pública é plurianual, e estáem consonância com a programação macroeconómica.
O cenário de despesa de médio prazo assume-se comoum instrumento essencial para a gestão dos programas.
A programação plurianual do PPIP no anterior ciclo deplaneamento enfrentou algumas dificuldades devido àimprevisibilidade dos financiamentos, a problemas detesouraria, à falta de instrumentos de gestão eficazes.
Preparação do PND e do PPIP O Plano Nacional de Desenvolvimento e os respectivosProgramas são parte integrante do processo deplaneamento do desenvolvimento e da programaçãofinanceira dos recursos públicos.
A programação do PPIP durante o PND 1997-2000 não foisuficientemente enquadrada pelo PND devido aos factoresde rigidez que afectaram o plano, e às dificuldades naimplementação dos Programas.
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Elaboração do Orçamento de Estado O Orçamento do Estado é elaborado por objectivos(objectivos estratégicos, de política, sectoriais,provinciais).
Orçamentação por programas/sub-programas/medidas/projectos
Estabelecimento de uma nova metodologia deprogramação orçamental
As Revisões da Despesa Pública são exercíciosregulares, sistemáticos e generalizados.
Orçamento de funcionamento é elaborado segundo ummétodo convencional (por rubrica de despesa) sem umaclara identificação com objectivos.
A relação entre o Orçamento Corrente e o PPIP não éclara.
3. Acompanhamento de execução da despesa pública (no contexto do PND)
Sistema de execução Integração da execução da despesa corrente e deinvestimento
Procedimentos de execução diferentes.
Gestão Orçamental Flexibilidade na reprogramação de actividades
Adaptabilidade baseada em capacidade e iniciativa degestão e num sistema de informação
As normas de programação apresentam uma granderigidez
A execução não produz informação em tempo real quepermita introduzir ajustamentos de forma oportuna
Sistema de avaliação Incorpora um sistema de avaliação ao longo de todo ociclo do Programa
O sistema de contabilidade pública está orientado paraa gestão fornecendo informação em tempo real.
Não existe sistema de avaliação.
Alterações ao Orçamento do Estado Flexibilidade de reafectação de recursos dentro doprograma
As normas de execução orçamental são alteradas fora doquadro da aprovação de alterações orçamentais.
Cabimentação Não existe um mecanismo de cabimentação ex-ante,mas existe um rigoroso processo de avaliação ex-post
Rigidez das normas da Contabilidade Pública
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4.2 O processo e os instrumentos de Planeamento, Programação eOrçamentação
O processo de planeamento assenta numa sequência de decisões e acções que obriga a uma
metodologia e a uma calendarização globalmente coerentes. O DIAGRAMA 4-4. representa a sequência
de formulação de políticas públicas, planeamento, programação e orçamentação.
DIAGRAMA 4-4: Sequência de políticas e de instrumentos de política
1. Revisão de políticas
GRANDESOPÇÕES
ESTRATÉGICAS
2. Definição de objectivosestratégias, políticas
e prioridades dedespesa pública
3. Mobilização eafectação
de recursos
4. Implementação dasactividades
programadas eorçamentadas
5. Monitorização dasactividades e
controlo e contabilizaçãoda despesa
6. Avaliação e auditoria
In World Bank (1998), Public Expenditure Management Handbook
O processo inicia-se com a definição de opções estratégicas como primeiro passo do processo de
planeamento. As Grandes Opções, que traçam as linhas de orientação estratégica que o país seguirá
durante cada legislatura, deverão em concreto fundamentar a formulação e desenho das políticas a nível
global e sectorial.
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Em cada ano deveria haver uma revisão das políticas preconizadas e das condições efectivas da sua
execução (no DIAGRAMA 4-4 corresponde ao passo 1.) . Na verdade, deveria haver um mecanismo que
faça a sistemática aferição da correspondência e da coerência entre a estratégia a médio prazo e as
condições reais da sua implementação em cada exercício orçamental. O momento em que tal aferição
pode e deve ser feita deverá anteceder o início da preparação do Orçamento do ano seguinte, e poderá
assumir a forma de um documento de opções de política anual .
Esse documento, que deverá concretizar o passo 2. do diagrama, deverá dar as orientações ou
reorientações de política (a nível global e sectorial), que a realidade justificar, e deverá
consequentemente permitir fazer o enquadramento da política orçamental e facilitar a articulação entre a
elaboração do Orçamento do Estado e a preparação do PPIP, através de uma clara definição de
prioridades.
A mobilização de recursos, passo 3. faz-se através da elaboração da Política Orçamental, na qual se
determina a distribuição dos recursos públicos financeiros, de acordo com as prioridades de política
estabelecidas. Neste contexto cabe fixar os limites de despesa pública por sector, e segundo critérios de
equidade territorial, distinguindo entre a despesa corrente e a despesa de investimento. A elaboração
do Orçamento Geral do Estado faz-se actualmente a partir das propostas de orçamento formuladas
pelas várias unidades orçamentais, chegando-se à proposta de orçamento, tendo em conta uma
estimativa dos recursos previsíveis, através de algumas iterações entre a entidade responsável pelo
orçamento (DGO) e as unidades orçamentais a nível sectorial. Note-se que não se evoluiu ainda para um
processo, mais eficaz, de fixação de limites a priori para cada sector, a partir de uma avaliação
macroeconómica de recursos e empregos, o que pode acarretar como consequência uma discrepância
entre a despesa orçamentada e os recursos financeiros efectivamente disponíveis.
A elaboração do Programa de Investimento Público enquadra-se no processo orçamental, e de
acordo com o actual modelo de gestão do investimento público, decorre de modo paralelo à elaboração
do orçamento de despesa corrente.
A fase de Execução do OGE e do PPIP (passo 4. do diagrama) tem sido feita segundo procedimentos e
circuitos autónomos. Cabe assinalar o processo de reforma da contabilidade pública, actualmente em
curso, e que viabilizará um melhor controlo da execução orçamental (passo 5. do DIAGRAMA 4-4).
O actual processo de planeamento em Cabo Verde é naturalmente determinado pelo modelo de
planeamento vigente e a sua eficiência é condicionada pelas lacunas que o referido modelo ainda
apresenta. Na descrição que segue identificam-se os instrumentos de planeamento actualmente
existentes, bem como os que não foram ainda adoptados embora façam parte integrante de um modelo
de planeamento com as características do que vigora actualmente em Cabo Verde.
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O DIAGRAMA 4-2 evidencia os instrumentos de planeamento e de programação actualmente existentes,
ou fase de desenvolvimento, no sistema de planeamento de Cabo Verde.
§ Grandes Opções (GOPs), que contém a formulação das grandes opções estratégias,
projectadas sobre o período correspondente ao da legislatura. Constitui-se como o quadro de
referência para a definição das políticas públicas em todos os domínios em que o Estado intervém
directa e indirectamente.
§ Plano Nacional de Desenvolvimento, materializa as Grandes Opções em termos
programáticos, assentando numa estrutura hierarquizada de Programas/Sub-
programas/Mediadas/Acções-Projectos. O PND define as políticas, os objectivos e os programas
que traduzem as intervenções que o Estado se propõe levar a efeito em coerência com a
estratégia definida nas grandes opções de médio prazo.
§ Estratégia de Redução da Pobreza (PRSP),15 que está agora a entrar na arquitectura de
planeamento de Cabo Verde, estabelece a estratégia de combate à pobreza numa perspectiva
transversal e plurisectorial, num determinado enquadramento macroeconómico (ver CAIXA 4-2).
CAIXA 4-2: Estratégia de Redução da Pobreza (PRSP)
O Documento de Estratégia de Redução da Pobreza, conhecido pela sigla PRSP (de Poverty Reduction StrategyPaper) visa dar uma resposta integrada e consistente à problemática da pobreza, num horizonte de médio prazo.
O documento de base que materializa a Estratégia de Redução da Pobreza deve assumir-se como um documentoanalítico e com uma perspectiva transversal, integrando as esferas macroeconómica, social e sectorial, focando emparticular os sectores prioritários na luta contra a pobreza.
A sua génese teve lugar em Dezembro de 1999, quando os Conselhos de Administração do FMI e do BancoMundial aprovaram uma nova linha de orientação para cobrir as respectivas operações de crédito. O PRSP foiinicialmente concebido para servir de base ao perdão da dívida dos Países Pobres Altamente Endividados(conhecidos pela sigla HIPC). Este documento foi assumido como uma condição prévia para a nova facilidade doFMI, designada por Poverty Reduction and Growth Strategy (PRGS), bem como para a aprovação dos créditosconcessionais da Associação de Desenvolvimento Internacional (IDA) do Banco Mundial.
Os pressupostos em que assenta a estratégia é a da sua assumpção por parte do país que a adopta, e deve serelaborado de acordo com um método participativo.
O PRSP é elaborado em duas fases: numa primeira fase, é elaborado o PRSP Interino, que assume um âmbito maislimitado, de modo a permitir aos países beneficiarem de um mais rápido alívio da dívida (ou seja o chamado“ponto de decisão). Segue-se depois o PRSP completo que deverá viabilizar que o país beneficiário alcance ochamado “ponto de finalização”, o qual permite a redução da sua dívida externa oficial.
O PRSP é crescentemente assumido como o quadro de referência e de coerência para a formulação das estratégiasde cooperação por parte dos doadores e financiadores internacionais.
15 No momento em que este Manual é elaborado, está em fase de preparação a Estratégia de Redução da Pobrezadefinitiva para Cabo Verde, com um horizonte de três anos.
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§ Orçamento do Estado. Na sua actual configuração o OGE assenta num sistema dual, com um
orçamento corrente e um orçamento de investimento, sendo esta a anualização do PPIP.
§ Associado ao Orçamento do Estado está o exercício de Revisão da Despesa Pública (RDP)
que começa a entrar gradualmente na rotina da gestão orçamental em Cabo Verde. Estão já em
desenvolvimento os exercícios de RDP a nível global e a nível de alguns sectores, confirmando
assim um trabalho já anteriormente iniciado e ao qual cabe sobretudo dar continuidade e integrar
nas rotinas da programação e gestão orçamental.
§ Programa Plurianual de Investimento Público16, que está estreitamente interligado com o
PND, na medida em que faz a sua tradução em termos de despesa pública. Deverá ter um
carácter plurianual, em coerência com a natureza da programação da despesa de investimento
que requer por norma um horizonte temporal que excede um único exercício orçamental.
No actual sistema de planeamento em Cabo Verde estão ainda ausentes alguns instrumentos de
apoio à formulação de políticas e de gestão dos recursos públicos. Todavia, num sistema de
planeamento completo e integrado, deveriam estar presentes mais dois instrumentos, referenciados no
DIAGRAMA 4-3 como Grandes Opções Anuais e MTEF (Quadro da Despesa Pública a Médio Prazo):
§ Formulação de políticas numa base anual (que poderia ser designada por Grandes Opções
Anuais), no âmbito da qual se deveria definir ou redefinir, as linhas de orientação de política
económica e das políticas públicas para o exercício seguinte, e que deverá servir de referência
para a elaboração do Orçamento do Estado desse mesmo ano. Em concreto caberia aqui a
definição, de um modo globalmente coerente, das políticas orçamental, monetária, de
rendimentos e preços. Este exercício deveria basear-se num cenário macroeconómico que
revelasse os equilíbrios económicos fundamentais (saldo orçamental, saldo da balança de
transacções correntes). Igualmente deveria ser explicitado o quadro de equilíbrio recursos-
empregos, na base do qual seriam visíveis as necessidades de financiamento da economia. Daí
deverá decorrer a fixação de um limite global para a despesa pública (decomposta em despesa
corrente e em despesa de investimento) e que sirva de base à formulação da política orçamental.
§ Quadro de Despesa Pública a Médio Prazo, (Ver DIAGRAMA 4-3), que constitui um valioso
instrumento de previsão e racionalização da despesa pública gerada pelo plano de
desenvolvimento (no case de Cabo Verde pelo PND). O Quadro de Despesa a Médio Prazo é
enquadrado por um cenário macro-económico, no âmbito do qual se determinam as restrições
financeiras previsíveis num horizonte de médio prazo. Por outro lado, o MTEF enquadra o
Programa de Investimento Público, fornecendo-lhe um quadro de viabilidade, na medida em que
16 Não tem sido esta a prática em Cabo Verde nos últimos anos, mas torna-se urgente instituí-la quanto antes comoforma de introduzir uma maior racionalidade nas opções de investimento e na programação da despesa pública.
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explicita a restrição financeira da economia em geral e do sector público em particular. Acresce
que, ao incluir também a despesa corrente, incluindo a que é gerada pelo investimento público,
permite também verificar a sua sustentabilidade. Em suma, o MTEF constitui assim um
instrumento de programação estratégica, coerente com o plano de desenvolvimento e com o
conjunto das políticas globais e sectoriais.
CAIXA 4-3: Quadro de Despesa Pública a Médio Prazo
O Quadro de Despesa Pública a Médio Prazo, conhecido na literatura especializada como Medium TermExpenditure Framework (MTEF), trata-se de um instrumento de planeamento que visa integrar de um modoglobalmente coerente as diferentes fases do processo de formulação de políticas, de programação da despesapública e da respectiva orçamentação. Poderíamos também designá-lo por Programa de Despesa de Médio Prazo,mas para evitar a utilização em vários sentidos da expressão “Programa” parece preferível optar por aqueladesignação.
Num país como Cabo Verde, que não integrou ainda este mecanismo no seu sistema de planeamento, coloca-se aquestão de como fazer essa integração após a sua aceitação pela esfera de decisão política. Basicamente há doismétodos diferentes: i) uma abordagem de cima para baixo, segundo a qual o sistema é montado a nível de todos ossectores da administração; ii) uma abordagem de baixo para cima, segundo a qual o processo começa por serimplementado em sectores-piloto antes de ser generalizado a todos os sectores. Em ambos os casos o ponto dechegada será sempre um sistema de previsão da despesa pública a médio prazo, integrando o conjunto dos sectoresque dependem da mobilização de recursos públicos.
O MTEF integra a despesa corrente e de investimento e pode por isso ser um primeiro passo para solucionar oactual problema de que padece o sistema orçamental cabo-verdiano. Neste sentido, o MTEF pode constituir-secomo o método de previsão e racionalização da despesa pública associada aos Programas do PND, na medida emque permite aferir se essa despesa é compatível com a evolução macro-económica do país. A utilização de ummodelo de previsão macro-económica, do tipo do RMSM-X, pode fornecer cenários de evolução económica amédio prazo, que enquadrem a despesa associada aos Programas do PND.
Numa fase mais avançada, quando todos os sectores estiverem integrados neste exercício, o MTEF poderá serutilizado como um método regular de afectação de recursos inter e intra-programas, e nesse sentido indissociável dametodologia de programação económica a médio prazo. O financiamento dos Programas assumirá assim uma maiorcoerência e visibilidade, na medida em que se tornará mais evidente a efectiva capacidade financeira do país,contando com recursos internos e externos, para suportar os níveis de despesa decorrentes de cada Programa, nocontexto dos equilíbrios macro-económicos antecipados.
Na actual fase, importaria definir um método de introdução do MTEF, o qual poderá resultar do exercício deRevisão da Despesa Pública, no âmbito da qual se poderá discutir a viabilidade e as condições para odesenvolvimento daquele exercício.
A realização do MTEF obedece aos seguintes passos:
Passo 1: Desenho do quadro macro-económico, que deverá incluir projecções das receitas e das despesas nohorizonte do Plano Nacional de Desenvolvimento. Nesta fase, as tarefas a realizar concentram-se na análise macro-económica utilizando um modelo apropriado (por exemplo o RMSM-X), de modo a assegurar-se a consistênciafiscal agregada. Neste contexto, importa assegurar a coerência entre as metas fiscais e o equilíbrio macro-económico global. Este passo deverá ser feito de um modo interactivo com o Passo 2.
Passo 2: Análise sectorial, na base do qual cada sector procede a uma descrição dos seus objectivos, estratégia ecorrespondentes actividades, as quais são seguidamente orçamentadas. Na prática os procedimentos técnicospodem desdobrar-se em três fases: i) definição de objectivos, resultados e actividades; ii) revisão/desenho deprogramas, sub-programas e medidas; iii) orçamentação dos programas/sub-programas seleccionados. No âmbitodeste exercício, cabe definir prioridades de modo a que os recursos disponíveis estejam equilibrados com osobjectivos alcançáveis. A análise de impacto baseada em indicadores de desempenho contribui para validar aquele
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exercício e é um instrumento útil de negociação para justificar os recursos solicitados. A análise da despesa deveráser global, isto é, deverá integrar a despesa de investimento e a despesa corrente. Na despesa corrente deverádestacar-se a que é gerada pelo investimento. Deste modo será possível distinguir entre a despesa que relacionadacom o funcionamento da administração e a despesa que está directamente associada à implementação do programasectorial. A análise sectorial pode ser feita na base de um cenário mínimo (hipótese pessimista de obtenção derecursos) e um cenário máximo (hipótese optimista de captação de recursos). Deverá ter-se em conta a repartiçãoterritorial da despesa com base (no caso de Cabo Verde, vide critérios apresentados no QUADRO 5-7). Igualmenteimporta repartir a despesa segundo a sua focagem no combate à pobreza (vide DIAGRAMA 4-5).
Passo 3: Apresentação e justificação de propostas e discussão sobre objectivos e prioridades entre Ministério dasFinanças e Ministérios sectoriais.
Passo 4: Elaboração de um quadro estratégico de despesa pública e estabelecimento de limites orçamentais.Neste passo, e tomando como referência o quadro macro-económico bem como as propostas dos Ministériossectoriais, o Ministério das Finanças desenvolve um quadro de despesa a médio prazo, que permite fazer análise dealternativas de realização de despesa entre os sectores, e na base do qual se estabelecem limites de despesa paracada sector, num horizonte de médio prazo.
Passo 5: Aprovação dos limites orçamentais pelo governo, ou seja, indicação do valor do envelope financeiro aafectar a cada Ministério num horizonte correspondente ao do plano de desenvolvimento. Este procedimento deveráser feito na base de critérios que, entre outros, permitam eliminar a despesa que não tenha aderência aos objectivosde política, que considere medidas de recuperação de custos, que identifique e quantifique os custos recorrentes.
Passo 6: Revisão dos programas pelos sectores, tendo em conta os limites aprovados. A partir da fixação delimites pelo governo, cada Ministério procede à revisão dos respectivos programas, podendo eventualmenteredefinir algumas prioridades.
Perante a diversidade de instrumentos de planeamento e de programação dos recursos públicos
acima descritos, levanta-se inevitavelmente o problema da sua articulação e integração. A este
respeito, uma situação inteiramente nova que actualmente requer uma solução é da integração do
PRSP no sistema de planeamento. Para o efeito, pode configurar-se um modelo que passa pela
identificação, ao nível das Medidas do PND, das que têm um impacto mais efectivo sobre a redução da
pobreza. Tais medidas devidamente classificadas e codificadas estão sujeitas às prioridades definidas, e
as que são programadas podem ser agrupadas de acordo com a sua incidência orçamental. No final do
exercício de classificação das medidas será possível destacar, no Orçamento do Estado, as despesas
públicas mais orientadas para o combate à pobreza. O DIAGRAMA 4-5 evidencia o método proposto,
distinguindo as medidas que têm um maior enfoque sobre a pobreza, relativamente às que não têm essa
característica.
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DIAGRAMA 4-5: Articulação entre o PND e o PRSP
4.3 Metodologia de Elaboração de Diagnóstico e Cenários sectoriais/regionais
Este capítulo centra-se sobre os processos que conduzem à elaboração de um Plano de
Desenvolvimento, bem como os respectivos métodos e procedimentos técnicos. O processo inicia-se com
os estudos de Diagnóstico Sócio-económico, com base nos quais se fundamentam os Cenários Sócio-
económicos. No primeiro caso, a análise SWOT permite identificar as forças/fraquezas do sistema sócio-
económico (e dos sub-sistemas que o compõem), bem como as potencialidades/riscos associados ao
processo de transformação que se preconiza.
Os objectivos estratégicos decorrem simultaneamente da análise dos problemas estruturais e da
vontade e motivação políticas para os resolver. Esses objectivos dão origem a eixos de intervenção que
correspondem a vectores de política (política de desenvolvimento dos recursos humanos, política de
reabilitação de infra-estruturas de transporte, política visando a melhoria da competitividade
empresarial). Os eixos de intervenção estão na base do Programa, cuja estrutura (hierarquia de sub-
programas/medidas/projectos/actividades) pode ser desenvolvida recorrendo à matriz de
enquadramento lógico.
Medidas com maiorenfoque
sobre a pobreza
PROGRAMA 1 PROGRAMA 2 PROGRAMA N
Outras medidas
PRSP Objectivos doPRSP
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DIAGRAMA 4-6: Sequência analítica da elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento
4.3.1 Análise de Diagnóstico
A análise de diagnóstico no âmbito do novo Plano de Desenvolvimento deverá pôr em evidência os
factores e os constrangimentos que condicionam o processo de desenvolvimento económico e social de
Cabo Verde. O país apresenta à partida um conjunto de condicionalismos muito particulares que
justificam uma abordagem não convencional e que tenha em devida conta o impacto daqueles factores
sobre os indicadores de desenvolvimento. Desde logo o seu carácter periférico em relação aos
grandes mercados de exportação, e a natureza insular da sua geografia, justifica uma metodologia de
análise que capte as implicações sobre o desenvolvimento do país, que passa sobretudo pelo
desenvolvimento das ilhas.
Os domínios de análise a incluir nos estudos de diagnóstico poderão obedecer à estrutura
proposta no quadro seguinte.
DiagnósticoSócio-Económico
CenáriosSócio
Económicos
ObjectivosEstratégicos
Programa deDesenvolvimento
PROCESSO
AnáliseSWOT
Análise deCenários
Matriz de enquadramento lógico
Metodologias de avaliação ex-ante
MÉTODOS
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QUADRO 4-2: Proposta de domínios a incluir na análise de diagnóstico
1. Tendências geo-económicas e a inserção de Cabo Verde na economia mundial
Neste domínio analisam-se as tendências ao nível da globalização bem como os movimentos de criação deblocos económicos regionais. Em concreto, importa averiguar quais as mudanças estruturais que se estão aoperar na geografia económica mundial, designadamente nos aspectos que afectam mais directamente aeconomia cabo-verdiana.
A emergência de novos actores na cena mundial, designadamente as empresas globais, as ONGs.
A emergência de um novo paradigma tecnológico e os novos factores de competitividade, bem como acriação de novas vantagens comparativas no comércio mundial.
Em particular, importa considerar as perspectivas de evolução das economias com as quais Cabo Verde maisse relaciona directamente (comércio externo, investimento estrangeiro, emigração).
A posição geográfica de Cabo Verde pode ser analisada não só na perspectiva da sua perifericidade (daídecorrendo custos que penalizam a sua competitividade no mercado externo), mas também daspotencialidades associadas à sua inserção nas rotas de transporte marítimo e aéreo internacionais.
7. Administração Pública, Justiça, Segurança.
O papel do Estado na promoção da coesão social e do desenvolvimento económico pode ser aqui objecto deuma análise que ponha em evidência as linhas de política que têm sido seguidas e quais os seus resultados.
Em concreto, importa salientar as reformas institucionais já realizadas
2. Demografia e recursos humanos
Com base no Censo Demográfico de 2000 pode estudar-se a dinâmica demográfica recente bem como a suaevolução futura. Importa sobretudo determinar as variáveis-chave que explicam as tendências pesadas dademografia cabo-verdiana e que possam ser consideradas nos cenários.
A estrutura da população activa, incluindo a sua composição deve ser analisada.
A caracterização dos recursos humanos quanto às suas qualificações e competências deverá constituir umdomínio central nos estudos de diagnóstico.
O perfil da pobreza em Cabo Verde
3. Ordenamento do território e povoamento
Caracterização do território; os problemas associados à insularidade e descontinuidade territorialTendências recentes de ocupação e abandonoO processo de urbanizaçãoQuadro legal existente
4. Modelo de crescimento económico e dinâmica da estrutura produtiva
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Neste capítulo estuda-se o padrão de especialização produtiva de Cabo Verde, na perspectiva de abertura aomercado mundial (articulação com o capítulo 1), evidenciando os sectores de actividade que revelam umpotencial de crescimento.
Esta abordagem permite caracterizar o modelo de crescimento económico que foi adoptado em Cabo Verdena última década.
Análise da competitividade do país.
5. Gestão económica e desempenho macroeconómico
A análise da evolução macroeconómica ao longo dos últimos anos deverá indicar onde se situam as maioresvulnerabilidades da economia cabo-verdiana, bem como os principais desequilíbrios que tem requeridointervenções de política no sentido do ajustamento.
A apreciação do perfil da política económica que tem sido seguida num passado recente, bem como a suaeficácia relativamente aos resultados esperados, deverá dar indicações de grande utilidade para o desenhodas políticas de suporte à estratégia de desenvolvimento subjacente ao próximo plano de médio prazo.
No domínio da gestão económica e financeira importa analisar que reformas foram feitas, quais as que estãoainda em curso, e que resultados são já eventualmente visíveis.
6. Modelo de desenvolvimento social
Este domínio pode ser abordado de uma forma integrada, sem prejuízo de uma análise mais desenvolvidapor sub-domínio. A perspectiva que está subjacente a esta abordagem é a de que o desenvolvimento não sereduz à esfera económica, visando em última análise a promoção da coesão social com base no plenodesenvolvimento cultural, sanitário e educativo da população.
Para esta finalidade concorrem vários domínios onde o Estado tem particular responsabilidade: educação,saúde, segurança social, emprego, combate à pobreza, segurança alimentar, protecção a apoio aos gruposvulneráveis.
Neste contexto cabe fazer uma análise do papel dos agentes que intervém no processo de desenvolvimentoem Cabo Verde. Em concreto o papel do Estado e dos agentes da sociedade civil, em particular as ONGs,deveria ser objecto de uma caracterização, focando em particular as experiências da última década: meiosenvolvidos, estratégias adoptadas, resultados alcançados.
As dimensões sectorial e regional entram neste esquema, na base de estudos específicos,
situados a montante da análise mais global aqui representada. Cada sector/região deveria integrar-se
neste esquema com base numa grelha de análise uniforme, de modo a facilitar a agregação e a
consolidação da informação.
Como metodologia de base a análise SWOT 17 é particularmente útil na análise de diagnóstico de
sistemas sócio-económicos. A principal finalidade da análise de diagnóstico consiste justamente em
analisar as fraquezas face às potencialidades, e as oportunidades face às ameaças com que o país, e
17 SWOT do inglês Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats (Pontos fortes, pontos fracos,
Oportunidades e Ameaças
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cada região em particular, se defrontam. Neste contexto cabe fazer uma avaliação das necessidades
socioeconómicas, a partir da qual se possam posteriormente definir as prioridades estratégicos
pertinentes.
Com efeito, cada região, cada sector ou Cabo Verde na sua globalidade tem os seus pontos fortes e
pontos fracos e, estando numa economia aberta e globalizada, tem uma maior exposição a
oportunidades e riscos que importa conhecer e avaliar.
A análise de diagnóstico deve por isso incluir uma análise detalhada das condições económicas e
sociais de cada sector e cada ilha/região. Por razões que decorrem da actual estrutura de planeamento,
a análise centra-se no sector, a partir do qual se decompõe a análise regional, por ilha. O exercício de
quantificação deve incidir, se possível sobre um conjunto de dados históricos, com base em séries
estatísticas de carácter socio-económico.
Os pontos fracos mais relevantes devem ser particularmente aprofundados tendo em vista uma
melhor compreensão das causas e das soluções possíveis. Esta análise deve ser complementada com
uma análise da evolução do contexto externo do país, bem como dos seus principais sectores.
A experiência que se pode retirar de estudos e análises feitas no passado, sobretudo a que decorreu
do anterior PND, pode fornecer elementos de grande utilidade para a análise socio-económica presente.
4.3.2 Análise de Cenários
A análise de cenários decorre necessariamente da análise de diagnóstico. Na verdade, apenas por
razões de ordem prática as análises são separadas, devendo antes fazer parte de um mesmo processo
analítico integrado. O esquema que adiante se propõe integra ambas as fases da análise.
A análise de cenários a realizar no âmbito do PND enquadra as escolhas estratégicas feitas no
contexto das Grandes Opções de Médio Prazo. As questões-chave a abordar do processo de elaboração
dos cenários incluem questões-chave a abordar do processo de elaboração dos cenários, como a
evolução dos valores, o papel do Estado, os limites do Estado-providência, os problemas específicos da
insularidade e da dimensão territorial e demográfica, a inserção no mercado internacional, o perfil de
especialização produtiva, os factores e os limites do crescimento da economia cabo-verdiana.
Num outro plano, faz-se também uma análise de cenários para afeitos da definição do
enquadramento macro-económico do PND. A expressão análise de cenários é feita com
frequência de modo indistinto, pelo que importa clarificar de que tipo de análise se trata. Na prática,
ambas as análises devem ser feitas em complementaridade.
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O exercício de cenarização pode basear-se no DIAGRAMA 4-7, onde se esquematizam as principais
fases.
DIAGRAMA 4-7: Método dos cenários
In: Godet, M, (1993), Manual de Prospectiva Estratégica, Pub. D. Quixote, Lisboa
Soc. e Economia(var. internas)
Meio envolvente(var. externas)
Variáveis-chave
RetrospectivaMecanismosTendências
Actores principais
Situação actualGermes de mudançaProjectos dos actores
Estratégias dos actores
CenáriosTrajectórias
ImagensPrevisões
Estratégiasalternativas
Plano de acção-Programas-
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QUADRO 4-3: Procedimento metodológico para a elaboração de cenários dedesenvolvimento sócio-económico
Enquadramento geral do exercício de cenarização
Meio envolvente: variáveis externas
As tendências da geografia política e económica a nível internacional: do Estado-nação ao Estado-região.
Os factores de transição: as fronteiras económicas já não correspondem às fronteiras políticas; o Estado-nação já não controla os instrumentos de política económica, emergindo outros decisores: empresasglobais, ONGs. As consequências deste fenómeno sobre os pequenos países periféricos.
A emergência de um novo paradigma de desenvolvimento. O esgotamento do paradigma tradicional comoresultado do falhanço das estratégias de desenvolvimento seguidas no pós-guerra; princípios do modelotradicional e do novo paradigma e implicações do novo paradigma
As posições das agências internacionais face à problemática do desenvolvimento.
A cooperação internacional: modelos, tendências actuais. O Acordo de Cotonou e o novo quadro decooperação entre a União e Europeia e Cabo-Verde.
A Poverty Reduction and Growth Strategy Facility do Fundo Monetário Internacional e a nova Estratégiade Redução da Pobreza preconizada pelas instituições de Bretton Woods
Enquadramento geral do exercício de cenarização
Sociedade e economia: variáveis internas
(Podem retomar-se os tópicos pertinentes atrás identificados no capítulo de Análise de Diagnóstico)
Variáveis-chave
Identificação das varáveis “pesadas”, susceptíveis de determinar ou influenciar a evolução do sistemasócio-económico cabo-verdiano no médio prazo. São habitualmente variáveis que escapam ao controlodirecto dos poderes públicos, mas que afectam sobremaneira a estratégia de desenvolvimento do país.Exemplos (sujeitos a um maior aprofundamento):
Dinâmica demográfica: população residente, repartição etária e por sexos; emigração
Constrangimentos de ordem social e humana: níveis de qualificação da população, dinâmica empresarial
Constrangimentos naturais e físicos: insularidade, escassez de recursos naturais
Constrangimentos económicos: escassa poupança interna; serviço da dívida pública
Factores de competitividade: infra-estruturas económicas e insularidade (ausência de economias de escalae de aglomeração implica baixa rentabilidade económica e social dos investimentos).
Retrospectiva: mecanismos, tendências, actores principais
(Podem retomar-se os tópicos pertinentes atrás identificados no capítulo de Análise de Diagnóstico)
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Situação actual: germes de mudança
A potencialidade dos factores intangíveis (sistemas de informação, telecomunicações, sociedade deinformação) como factores de desenvolvimento que podem contornar os constrangimentos de ordem físicae que minimizam a perifericidade do território de Cabo Verde.
Emergência de uma classe empresarial mais dinâmica e qualificada.
Tendências para a urbanização: consequências e desafios: reforço das economias de aglomeração edesagregação da família tradicional
Reformas institucionais: administração do Estado; novos métodos de gestão pública e de gestão económicae financeira; a descentralização e a desconcentração político-admiinistrativa.
Novas formas organizativas de associação entre o sector público e o sector privado: promoção de parcerias.
Abertura e integração no mercado mundial: reforço dos factores de competitividade.
Estratégias dos actores
Através da elaboração de uma Matriz de Estratégia dos Actores, identificam-se os agentes institucionais eprivados que se considera relevantes e influentes no processo de desenvolvimento e de transformação dasociedade cabo-verdiana.
O papel do sector público e do sector privado. O capital externo. Sistemas de incentivos aodesenvolvimento do sector privado.
Outros actores influentes: ONGs, agências internacionais.
Cenários: trajectórias, imagens, previsões, estratégias alternativas
Caracterização da estratégia de desenvolvimento assumida pela esfera de decisão política; linhasprogramáticas de política económica, a nível global e sectorial
Opções de estratégia a nível sectorial e regional; factores de crescimento dos sectores e ilhas com maioresvantagens competitivas. Sectores prioritários e estratégia de intervenção do sector público na promoção doseu desenvolvimento.
Cenário de evolução macroeconómica: PIB, emprego, produtividade, contas do sector público, contasexternas, dívida externa e interna, o financiamento da economia.
Construção de um cenário de referência (cenário central, a que se atribui elevada probabilidade deconcretização e que reflecte as opções estratégicas escolhidas); paralelamente, construção de cenáriosalternativas que acomodem hipóteses mais optimistas (cenário optimista), ou mais pessimistas (cenáriopessimista) relativamente às hipóteses de referência.
Plano de acção: PND
Objectivos do PND (coerentes com as grandes opções estratégicas traduzidas no cenário de referência)
Estrutura programática do PND
Recursos financeiros e humanos a mobilizar (plano de financiamento do programa)
Calendário de realização: marcos principais.
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A estratégia de desenvolvimento a definir deve estar enquadrada num quadro macroeconómico
que valide a sua viabilidade e sustentabilidade, através da análise das condições de estabilidade e de
ajustamento económico. Essa validação passa pela verificação das condições de financiamento global
da estratégia, pela análise dos efeitos sobre o equilíbrio das contas públicas e sobre o equilíbrio das
contas externas.
A construção do cenário macro-económico que sustenta o PND deve traduzir as linhas de
política económica estabelecidas para um horizonte de médio prazo. Este exercício recorre ao modelo
RMSM-X construído pelo Banco Mundial e que tem sido já utilizado em Cabo Verde em anteriores
trabalhos de cenarização macro-económica. Uma das vantagens da utilização deste modelo reside na
possibilidade de se utilizar a base de dados do Banco Mundial sobre Cabo Verde, pelo que a utilização do
modelo na preparação do PND requere a actualização da referida base de dados.
O modelo RMSM-X tem três tipos de soluções:
§ Solução de fecho do modelo através do sector privado
§ Solução de fecho do modelo através do sector público
§ Solução de fecho de política .
A análise do cenário de crescimento com base na solução de Fecho através do sector privado ,
implica a definição de algumas variáveis-chave cuja base estatística deverá ser assegurada pelo Sistema
de Informação para o Planeamento (adiante referida). Essas variáveis-chave estão representadas no
quadro seguinte:
QUADRO 4-4: Variáveis-chave no fecho do modelo pelo “sector privado”.
Domínios Variáveis-chave
Crescimento económico e estrutura de produçãoe de procura
Crescimento do PIB (real e nominal)
Transformação da estrutura produtiva (estrutura dovalor acrescentado por sectores)
Contribuição para o crescimento dos agregados daprocura.
Evolução da composição da procura (analisarevolução da despesa pública)
Preços Evolução do índice de preços
Taxas de câmbio real e nominal (desvalorização ?)
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Contas públicas Endividamento público (verificar a evolução face aoperíodo anterior ao Plano)
Défice público (verificar se o défice globalultrapassa 17% em 2000).
Receitas fiscais (verificar se atingiram 25% do PIBa partir de 1998).
Contas externas Endividamento externo induzido pelo crescimentoproposto
Nível e evolução das reservas
A solução Fecho através do Sector Público implica a definição das seguintes variáveis-chave:
§ Consumo Privado e Consumo Público
§ Investimento Privado e Investimento Público
§ Dívida pública
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4.4 As agências internacionais de cooperação e financiamento face aoplaneamento e ao desenvolvimento
Começa a formar-se um consenso cada vez mais alargado na comunidade internacional sobre a
necessidade de coordenação de esforços na promoção do desenvolvimento, quer por parte das
autoridades nacionais quer por parte da comunidade internacional.
Neste contexto, o Banco Mundial tomou a iniciativa designada por Comprehensive Development
Framework CDF , lançada em Janeiro de 1999, e que visa constituir-se como um quadro de referência
para a coordenação da ajuda externa ao desenvolvimento. Este novo esquema apoia-se sobre os
seguintes pilares:
§ Visão holística do processo de transformação a longo prazo de estruturas complexas e
interdependentes (esferas social, económica e política). Esta nova abordagem permite integrar no
mesmo processo as diferentes facetas do processo de desenvolvimento designadamente, os
domínios macroeconómico, financeiro, estrutural e social, no contexto da qual se priorizam os
contributos de todos os parceiros.
§ Apropriado pelo país da sua própria estratégia de desenvolvimento e de transformação,
orientando e promovendo a sua própria agenda de desenvolvimento, com o apoio da comunidade
de doadores. Em termos de processo, isto significa a construção de um consenso sobre a
estratégia nacional de desenvolvimento na base de consultas, conduzidas pelo governo, com a
sociedade civil, o sector privado e os parceiros externos.
§ Partenariado, permitindo a partilha de objectivos a que correspondem também responsabilidades e
esforços partilhados, na base de uma análise racional das forças e fraquezas relativas das
diferentes organizações (governo central e local, doadores, organizações não governamentais, e o
sector privado). A adopção desta abordagem contribui para se eliminar uma competição geradora
de sobreposições, e por isso de desperdício, na medida em que o apoio das agências
internacionais se passa a fazer na base das respectivas vantagens comparativas. Por outro lado, o
governo tem uma posição de liderança na coordenação e na gestão da ajuda externa.
§ Orientação determinada pelos resultados, o que implica o investimento em indicadores de
desenvolvimento apropriados, e a ligação destes indicadores com o processo de aprendizagem e
de prestação de contas.
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O DIAGRAMA 4.8. ilustra e sintetiza os elementos principais do esquema proposto, bem como as
relações entre eles.
Em coluna descrevem-se os pré-requisitos necessários ao crescimento sustentado e à redução da
pobreza. São eles a reforma institucional e a adopção de medidas de carácter estrutural, o
desenvolvimento dos sectores sociais, o desenvolvimento das infra-estruturas de apoio ao
desenvolvimento, e por fim mas não menos importante, a criação de um quadro macroeconómico e
financeiro estável.
Em linha listam-se os parceiros do processo de desenvolvimento, desde logo a Administração do
país, tendo em conta cada um dos níveis existentes (central, regional e local), bem como as instituições
internacionais, bilaterais e multilaterais envolvidas no apoio ao desenvolvimento, bem como as várias
organizações da sociedade civil (com particular destaque para as ONGs), e finalmente, o sector privado.
Na última coluna do lado direito identificam-se os principais instrumentos de que dispõe cada uma
das entidades identificadas, tendo em vista a prossecução dos objectivos de desenvolvimento. Assim, no
caso do governo, o PRSP surge como o instrumento de política fundamental, associado a um cenário de
despesa de médio prazo.
DIAGRAMA 4-8: Esquema Global de Desenvolvimento
Esquema Global de Desenvolvimento
Diagnósticos do paísAvaliação da pobreza
Análises sociais e institucionaisAnálise da despesa pública
ObjectivosInternacionais deDesenvolvimento
Parcerias
Estratégiado País/Estratégia de Redução da PobrezaInstrumentos
Resultados DesenvolvimentoApropriação NacionalVisão Holística Longo Prtzo
MATRIZDE ACTIVIDADES Prog.1 . .
GOVERNOParceiros bilateraisNações Unidas
BAD
Banco MundialFMI
União Europeia
ONGs/ Sociedade Civil
Banco MundialFMI
União EuropeiaSector Privado
ONGs/ Sociedade Civil
PND/PRSP
CAS
PRGF
Plano acção
UNDAF
Planos de acção
Prog. Cooper.
Investimentosos
CSS/PIN
Prog.2 Prog.3 Prog.4
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As questões do desenvolvimento e do planeamento estão presentes nas agendas das principais
organizações internacionais e a leitura que essas instituições fazem desses problemas condiciona todo o
quadro de relações com os países que recorrem aos esquemas de financiamento oferecido. Na
perspectiva de Cabo Verde importa conhecer as tendências mais recentes e as actuais orientações
seguidas pelas instituições de Bretton Woods na medida em delas depende a utilização dos instrumentos
de financiamento de que o país precisa para o desenvolvimento.
O FMI (que assume a responsabilidade pela estabilidade macroeconómica e financeira) e o Banco
Mundial (que se orienta para os aspectos estruturais e sociais do desenvolvimento) têm assumido um
papel de liderança na supervisão das políticas económicas conduzidas pelos países que recorrem ao
financiamento externo. A proposta acima referida18, apresentada pelo Presidente do Banco Mundial no
sentido de uma abordagem mais integrada das políticas de desenvolvimento, vem colocar a problemática
do desenvolvimento num patamar de discussão que até aqui não era admitido por estas organizações,
ao mesmo tempo que atribui ao planeamento19 um protagonismo que havia claramente perdido.
Por outro lado, propõem-se objectivos e estratégias de intervenção e introduzem-se instrumentos de
financiamento que criam condições para o reforço da coordenação da ajuda externa, até aqui sujeita a
intervenções atomísticas e desarticuladas por parte da generalidade das agências de cooperação. Neste
contexto, a estratégia de redução da pobreza, materializada através do PRSP, assume uma posição
central, enquanto quadro de referência para a definição das estratégias de cooperação por parte dos
países doadores e financiadores.
O DAC da OCDE é um fórum onde convergem as posições das principais instâncias internacionais
que lidam com as questões do apoio ao desenvolvimento. As linhas de orientação recomendadas pela
OCDE/DAC são assim uma incontornável referência para a compreensão das posições e das orientações
das diferentes agências, pese embora a especificidade de cada uma delas. Parece por isso oportuno
referir as principais recomendações feitas pelo DAC às agências internacionais em particular no desenho
dos programas de ajuda e assistência técnica e financeira aos países em desenvolvimento.
18 Carta de Janeiro de 1999, dirigida ao Conselho de Administração e ao pessoal do Banco, na qual lança o conceitode Esquema de Desenvolvimento Global (Comprehensive Development Framework).19 Ver World Bank (2000), New Approaches to Planning, OED Working Paper Series, nr. 14, Washington
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CAIXA 4-4: Princípios do DAC sobre os instrumentos de programação das agências decooperação em cada país.
Com o objectivo de traduzir os seus objectivos de redução da pobreza em programas mais efectivos, as agênciasinternacionais deviam utilizar os documentos de estratégia dos próprios países parceiros, bem como umacombinação judiciosa de instrumentos de ajuda e um conjunto de boas práticas.
1. Os programas das agências internacionais deveriam basear-se nas estratégias de desenvolvimentodos países. Nas suas diferentes adaptações nacionais, os instrumentos de planeamento promovidos pelacomunidade internacional (tais como o PRSP, NSSD, CDF e UNDAF/CCA) assumem uma funçãoestratégica na conversão dos Objectivos de Desenvolvimento Internacional em instrumentos de política ede acção nacionais. Porém, os documentos estreitamente relacionados (e frequentemente articulados)deviam ser racionalizados de modo a reduzirem a carga dos seus países parceiros na adesão a múltiplosinstrumentos de planeamento. Idealmente, os diferentes documentos deveriam fundir-se num únicodocumento de estratégia nacional visando a redução da pobreza e integrando as prioridades económicas,sociais e ambientais.
2. As estratégias nacionais de redução da pobreza deviam tornar-se o ponto de partida para a ajudaexterna. Estas estratégias deviam ser conduzidas pelo próprio país, ser participadas, abrangentes eorientadas por resultados. Deviam estar conscientes da frequente sub-capacidade dos países, dandotempo para que a apropriação local se reforce. Deviam estabelecer metas realistas, tendo em conta acapacidade local para implementar estratégias e reconhecer que a redução sustentada da pobreza nãopode ser alcançada de modo imediato.
3. As agências deviam afinar o foco e o impacto dos programas de país. Em coerência com a tendêncianos países parceiros para o desenvolvimento de estratégias de redução da pobreza, os programas dasagências para cada país deviam focar principalmente sobre os objectivos de redução da pobrezaidentificados pelo país parceiro. As agências podem jogar um papel crucial na promoção dos processosde formulação das políticas locais através da troca de informação, análises, estudos de diagnóstico,inquéritos e informação com os parceiros locais. Os programas deviam reflectir o melhor conhecimentopossível da pobreza no país. Deviam ainda reflectir as vantagens comparativas de cada agência, tendo emconsideração a actuação das outras agências presentes no país.
4. O programa de ajuda a cada país devia consistir numa combinação de instrumentos de ajuda,tirando partido das sinergias existentes. Estes instrumentos incluem o apoio financeiro aos programase projectos nacionais, regionais e sectoriais. Estes são frequentemente utilizados em combinação com odiálogo político, apoiados pela cooperação técnica a qual está frequentemente integrada com osprogramas e projectos relevantes. Cada instrumento tem as suas vantagens e inconvenientes, dependendode cada país parceiro. Porém, de modo a assegurar a apropriação nacional e a sustentabilidade, acomunidade de desenvolvimento devia evoluir de actividades promovidas pela própria agência, paramodalidades de cooperação de apoio a programas conduzidos pelo país parceiro. Isto implica uma maioratenção à juda a programas e a sectores, embora muito possa ainda ser feito através de projectos, todoscoordenados no apoio à liderança pelos países parceiros. A escolha de instrumentos e o equilíbrio entreacções direccionadas ou indirectas deveriam resultar de uma análise das necessidades do país, com basenum diálogo com o Governo e outros parceiros.
5. A ajuda baseada em programas abre o caminho para um diálogo contínuo sobre as políticas afavor dos pobres. O apoio a programas permite que os recursos financeiros sejam dispendidosminimizando os custos de transacção. Dando ao país parceiro a total responsabilidade pelas decisõesfinanceiras e de gestão, o apoio reforça os princípios do partenariado e da apropriação. Num adequadoambiente político, económico e institucional, o apoio a uma estratégia de redução da pobreza através doapoio a programas é susceptível de obter um maior impacte. Porém, devido à fungibilidade dos recursosfinanceiros, é importante assegurar que o apoio numa base programática suporta um programa robusto,consensual e monitorado.
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Nos pontos que seguem faz-se uma apresentação sumária das novas abordagens propostas pelas
principais organizações internacionais (Nações Unidas, Banco Mundial e Comissão Europeia) e que têm
repercussões sobre a forma como os países definem as suas estratégias de desenvolvimento e elaboram
os seus instrumentos de planeamento.
4.4.1 A abordagem das Nações Unidas
O apoio das Nações Unidas aos governos nacionais é orientado pelas recomendações das
conferências internacionais dos anos 90 e que culminaram na Declaração do Milénio (Millenium
Declaration), aprovada em Setembro de 2000, onde na base da evidência da relação entre a pobreza e
o desenvolvimento, se definiram os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (Millennium Development
Goals MDGs), com o horizonte temporal de 2015.
Numa perspectiva operacional, foi adoptado20 o mecanismo de assistência ao desenvolvimento
designado por United Nations Development Assistance Framework (UNDAF)21 partir de uma
resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas de 1998.
O UNDAF estabelece um enquadramento ao processo de planeamento de apoio às operações do
Sistema das Nações Unidas a nível de cada país. Contém um conjunto de objectivos e estratégias de
cooperação comuns, um quadro de recursos, e um conjunto de propostas de implementação,
acompanhamento e avaliação.
Estabelece-se assim um enquadramento para a cooperação das organizações das Nações Unidas
vocacionadas para o apoio ao desenvolvimento com os governos e outras agências de desenvolvimento,
na base da participação em programas e projectos numa base de complementaridade.
O UNDAF é precedido pela elaboração do Common Country Assessment (CCA), documento que
deverá expressar uma compreensão comum das causas e factores específicos de desenvolvimento do
país, bem como das necessidades e prioridades a ter em conta. Estabelecido este consenso estão então
criadas as condições para as organizações das Nações Unidas estabelecerem a sua estratégia de apoio
através do UNDAF.
O UNDAF tem como princípios orientadores:
20 Resolução GA A/53/19221 Os documentos de referência referidos neste capítulo são designados de acordo com a sua designação anglo-saxónica , o que pode facilitar a sua mais fácil identificação nas fontes internacionais e facilitar o diálogo com acomunidade internacional globalmente familiarizada com as referidas designações.
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§ Pressupõe apropriação e capacidade institucional, na base dos quais o governo beneficiário
assume a liderança do processo de desenvolvimento e mobiliza para o efeito a cooperação
externa de um modo globalmente coerente. Neste sentido são as prioridades e necessidades
nacionais que devem marcar a agenda da cooperação externa e da mobilização de recursos
financeiros em coerência com os objectivos de desenvolvimento.
§ Orienta-se pelos resultados da cooperação, e centra-se nos domínios onde as Nações Unidas têm
uma vantagem comparativa como parceiros do desenvolvimento;
§ Suporta um desenvolvimento baseado na assumpção de direitos, incorporando explicitamente o
princípio da participação pelos beneficiários nos programas e projectos de desenvolvimento, a
qual deve decorrer do reforço da sua participação nos processos de decisão em geral, e focar na
defesa dos direitos dos grupos mais vulneráveis.
§ Unifica os objectivos de intervenção do conjunto das organizações das Nações Unidas, sobretudo
nas questões transversais como direitos humanos , segurança alimentar , sustentabilidade
ambiental , população , igualdade do género , governação , SIDA/HIV , protecção dos
direitos das crianças .
Apoia-se no diálogo e na promoção de parcerias e alianças com agentes e agências de
desenvolvimento, designadamente a sociedade civil, o sector privado, os doadores bilaterais, o Banco
Mundial e outras agências de financiamento, bem como a Comissão Europeia; para o efeito o Esquema
Global de Desenvolvimento (esquematizado no .
§ DIAGRAMA 4-8) constitui-se como um importante instrumento de coordenação.
§ Assume uma abordagem multisectorial à estratégia de redução da pobreza, o que inclui (embora
não esgote), medidas no domínio macroeconómico e da repartição do rendimento, exigindo além
disso análises desagregadas (por género, idade, etnicidade, região, urbano/rural).
§ Incorpora explicitamente os mecanismos de acompanhamento e avaliação nos programas de
desenvolvimento. Na prática trata-se de adoptar métodos de gestão que tenham em conta aquele
objectivo, adoptando para o efeito instrumentos de avaliação e indicadores de desempenho
adequados. Na óptica das Nações Unidas tais indicadores devem permitir verificar se os
Objectivos de Desenvolvimento do Millenium são de facto atingidos, o que implica uma adequada
articulação entre todos os instrumentos de planeamento e de programação (PND, PRSP, RDP,
PPIP) no sentido de se assegurar a maior complementaridade e racionalidade na selecção,
compilação e análise dos indicadores.
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O UNDAF propõe-se estabelecer uma articulação com outros instrumentos de planeamento, incluindo
os que são produzidos por outras agências internacionais. Explicitamente são considerados os seguintes:
§ Country Strategy Note (CSN) que deverá explicitar a estratégia de desenvolvimento do país
e que possa servir de base à elaboração do UNDAF. Esse documento tem um carácter facultativo,
sendo assumido por todas as agências, que deverá decorrer da iniciativa de cada país;
§ Consolidated Appeal Process (CAP) nos países que emergem de um complexo processo de
emergência, onde o sistema de apoio das Nações Unidas é programado com base no CAP, o
UNDAF deverá ser baseado nos esforços de recuperação encetados através do CAP. De igual
modo, em países onde o processo de desenvolvimento e de recuperação são ameaçados for
factores de instabilidade ou de vulnerabilidade, nos casos em que exista, o CAP deve aproveitar
da experiência do UNDAF.
§ Country Assistance Strategy- CAS (do Banco Mundial) relativamente ao qual o UNDAF se
pretende posicionar como complementar. Nestas condições, UNDAF das Nações Unidas e CAS do
Banco Mundial, deveriam concorrer em simultâneo, e em complementaridade, para os objectivos
comuns de desenvolvimento de cada país. De modo mais geral, o UNDAF deve ter em conta, o
conjunto de documentos de política que cada país se compromete a elaborar e a submeter às
instituições de Bretton Woods (como o Policy Framework Paper e outros).
§ Comprehensive Development Framework (CDF) Embora se assuma com objectivos
distintos do CDF (patrocinado pelo Banco Mundial), o UNDAF constitui-se como uma base de
diálogo entre as agências das Nações Unidas e o Banco Mundial sobre a problemática do
desenvolvimento.
§ Sector-wide Approaches (SWAPs) and Sector Investiment Programmes (SIP) O
UNDAF pode constituir-se como base para articular a estratégia de apoio das organizações das
Nações Unidas aos instrumentos de programação sectorial como os SWAPs ou os SIPs adoptados
pelo Governo. Neste contexto considera-se que os programas sectoriais, organizados segundo
uma daquelas modalidades, são uma parte de uma abordagem programática mais ampla, que é
sobretudo justificada em contextos onde as intervenções assumem um carácter multi-sectorial.
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DIAGRAMA 4-9: Processo de planeamento
Processo dedesenvolvimento
Análise de diagnóstico eavaliação prévia
Planeamentoe afectação de
recursos
CCA
UNDAFCAS
CSS/PINPRSPPRGF
Relatóriosde
acompanhamentoe avaliação
PND/PRSPMTEF
Implementação
Monitoring eavaliação
Instrumentos de gestão:OGE/PPIP/RDP
Fonte: UNDP Guidance Note to UN Country Teams on the PRSP
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4.4.2 A abordagem do Banco Mundial
A estratégia de assistência financeira do Banco Mundial, veiculada através da International
Development Association (IDA) e da International Bank for Reconstruction and Development
(IBRD) é traduzida num documento de base intitulado Country Assistance Strategy (CAS).
O CAS descreve a estratégia do Banco Mundial com base na avaliação das necessidades do
país e explicita o nível e composição da assistência a ser assegurada com base na estratégia e no
desempenho do país beneficiário. A sua elaboração conta com a participação do Governo, sendo
os seus aspectos fundamentais discutidos previamente antes da sua aprovação pela
Administração do Banco. Não é todavia um documento sujeito a negociação, pelo que as
eventuais diferenças de orientação estratégica entre o Governo e o Banco são explicitadas no
próprio documento.
CAIXA 4-5: Características e conteúdo do Country Assistance Strategy (CAS)
1. Focagem no cliente – Um bom CAS baseia-se no contexto político, económico e social do país.Inicia-se com uma discussão sobre as condições do país e as prioridades e a estratégia de desenvolvimentodo Governo. Inclui uma avaliação da implementação e efectividade dos programas de reformas em curso,as suas implicações para o desenvolvimento do sector privado, para o crescimento e o desenvolvimentosustentado, e para o seu impacto social. É levado a cabo através de uma forte apropriação pelo Governo euma consulta alargada a todos os intervenientes (após acordo geral dado pelo Governo), mas ao mesmotempo reflecte abertamente as diferenças entre o Banco e as Autoridades do país.
2. Selectividade estratégica – Um bom CAS é o veículo central para a realização de escolhasestratégicas no âmbito do desenho do programa do país e da estratégia de afectação de recursos do Banco,com o objectivo de maximizar o impacto sobre o desenvolvimento. Isto implica: i) avaliar a magnituderelativa e a verosimilhança do impacto de actividades alternativas do Banco no terreno; ii) ter em conta avantagem comparativa do Banco relativamente a outros parceiros, bem como os correspondentes custos,experiências e riscos; dar prioridade às actividades entre e intra-sectores, associadas aos respectivosinstrumentos (mix de resultados).
3. Focagem na pobreza. Um bom CAS inclui um diagnóstico de elevada qualidade sobre o perfil e ascausas da pobreza no país. Liga claramente a proposta de programa do Banco com a avaliação da pobreza eexplica como os serviços chave de crédito (e outros) contribuem para a redução da pobreza.
4. Um quadro macroeconómico e externo – Um bom CAS é baseado numa forte análise dodesempenho macroeconómico, perspectivas e riscos. Discute o ambiente externo e as implicações querpara a agenda de desenvolvimento do país e para o Programa do Banco.
5. Governação e Instituições. Um bom CAS diagnostica domínios como a governação/corrupção,efectividade institucional, capacidade de implementação, e quando relevante, procura dar-lhes resposta naproposta de programa do Banco (de crédito e não crédito).
6. Auto-avaliação e lições da experiência. Um bom CAS inclui uma franca discussão da anteriorexperiência de envolvimento do Banco, uma análise aberta da carteira de projectos, bem como as “lições daexperiência”. Integra totalmente as recomendações do Operations Evaluation Department (OED), Quality
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Assurance Group (QAG), e dos estudos de auto-avaliação.
7. Vantagem comparativa e papel do Banco. Um bom CAS é baseado numa forte coordenação ecolaboração com os parceiros externos (FMI, Bancos de Desenvolvimento Multilaterais, cooperaçãobilateral, sector privado, ONGs, etc). Inclui um programa do Banco (de crédito e não crédito), e envolveuma divisão de tarefas com outros parceiros, tendo em conta as vantagens comparativas de cada um noapoio ao país cliente.
8. Colaboração no interior do Grupo do Banco. Um bom CAS integra uma estratégia do IBRD/IDAnuma estratégia global consistente, no quadro da qual as operações do IBRD/IDA, da International FinanceCorporation (IFC), da Multilateral Investment Guarantee Agency (MIGA), se complementam entre si napromoção do sector privado.
9. Cenários de Programas e Indicadores de Acompanhamento. Um bom CAS inclui: i) cenários bemdiferenciados para a Assistência do banco (hipóteses baixa, de base, alta), com um elo muito forte entre odesempenho e a eficácia da ajuda e o nível de apoio do Banco; ii) dispositivos específicos e monitoráveisque permitam escolher entre cenários que foquem os desafios principais da reforma; iii) indicadores deacompanhamento claros para avaliação da eficácia do programa do Banco na promoção dodesenvolvimento
10. Riscos. Um bom CAS trata cuidadosamente os riscos para o país (sob o ponto de vista económico-financeiro, tanto interno como externo, político, social e ambiental) e para o Banco (exposição, tantofinanceira como sobre a sua reputação), e propõe medidas para mitigar esses riscos, e claramente reconheceos riscos.
In: www.worldbank.com
A focagem do CAS na problemática da pobreza e do crescimento materializa-se na articulação
com a Estratégia de Redução da Pobreza conduzida pelo país beneficiário, e mais concretamente
pela adopção do Documento de Estratégia de Redução da Pobreza22 .
O PRSP descreve os programas e as políticas macroeconómica, estruturais e sociais visando a
promoção do crescimento e a redução da pobreza numa base alargada, bem como a avaliação
das necessidades de financiamento e as respectivas fontes. A implementação da estratégia pode
ser apoiada pelo dispositivo de crédito conhecido por Crédito de Apoio à Redução da Pobreza
(CARP)23 que se apoia num trabalho analítico que fornece as bases para a avaliação da prontidão
do país e para identificar os marcos principais do processo de implementação do programa.
A experiência anterior da aplicação de programas de ajustamento estrutural demonstrou que o
recurso à condicionalidade para impulsionar as reformas nos países em desenvolvimento é
habitualmente ineficaz. Isto significa que a internalização da estratégia nacional de
desenvolvimento está no centro do processo de elaboração do PRSP e no qual os países em
22 Conhecido como Poverty Reduction Strategy Paper (PRSP)23 Poverty Reduction Support Credits (PRSC)
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desenvolvimento estabelecem as suas prioridades económicas e sociais, e nas quais o Banco
Mundial, o Fundo Monetário Internacional e os doadores assumem um papel de apoio.
A iniciativa designada por Poverty Reduction Strategy Paper (PRSP) foi lançada conjuntamente
pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional e é preconizado para os países que se
candidatam às iniciativas Enhanced Heavily Indebted Poor Countries (HIPC) e Poverty Reduction
and Growth Strategy (PRGS). Á medida que cada país submete os seus documentos PRSP, o
Banco Mundial procura adequar o respectivo CAS a essa estratégia de modo a reflectir as
prioridades do país.
Neste quadro, o Banco Mundial procura expandir a facilidade Poverty Reduction Support Credits
(PRSCs) como um instrumento do apoia financeiro da IDA às estratégias de redução da pobreza
dos países de baixo rendimento mas com um elevado desempenho. Este programas incluem por
norma uma série de dois ou três créditos anuais, cobrindo o período do PRSP, de modo que ao
longo do tempo, o PRSC tende a assumir uma importância crescente no mecanismo global de
apoio do Banco Mundial às estratégias de redução da pobreza dos países de baixo rendimento
com um bom desempenho.
Existe a expectativa de que o processo PRSP não se limite ao diálogo entre os países e o Banco
Mundial, mas que se torne de modo crescente um modelo de enquadramento global da ajuda
externa por parte dos parceiros externos e internos, tornando-se por isso um instrumento da
coordenação da ajuda. Assim, de um modo geral, há uma disposição de princípio no sentido de
as agências de cooperação (incluindo as agências das Nações Unidas, a UE e muitas ONGs
aderirem àquele novo dispositivo.
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QUADRO 4-5: Matriz dos pré-requisitos ao crescimento sustentado e à redução da pobreza
Estrutural Humano Físico Estratégias específicas
Actividades dosparceiros
Boagovern.
Sistemade justiça
Sistemafinanceiro
Program.sociais
Educação Saúde epopulação
Água esaneam.
Energia Transport.Comun.
Questõesambient. eculturais
Estratégiarural
Estratégiaurbana
Estratégiado sectorprivado
Domíniosespecíficodo país
Governo
Nacional
Regional
Local
Instituiçõesbilaterais emultilaterais
Sociedade civil
Sector privado
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4.4.3 A abordagem da União Europeia
O Acordo de Cotonou assinado em 2000 entre o conjunto de países da África, Caraíbas e Pacífico
(ACP), a Comissão Europeia e os Estados Membros da União Europeia veio dar um novo enquadramento
à cooperação entre a União Europeia e os países ACP. Nos termos do referido Acordo, cada país
signatário deverá elaborar, conjuntamente com a União Europeia, uma estratégia de cooperação,
que deverá ser traduzida num documento de estratégia do país designado por Country Strategy
Paper (CSP)24. A produção deste documento deverá ser o resultado de um processo de consultas
envolvendo os principais actores que protagonizam o processo de desenvolvimento do país. A referida
estratégia deverá reflectir as necessidades de cada país signatário e atender à sua situação específica,
de tal modo que o documento de base deve identificar os eixos prioritários dos vários domínios da
cooperação, tendo como finalidade fundamental a redução da pobreza.
O Country Strategy Paper deverá contemplar os seguintes elementos:
§ Uma descrição dos objectivos da cooperação UE/CE;
§ O quadro de políticas do país beneficiário;
§ Uma análise da situação política, bem como da situação económica e social, incluindo a
sustentabilidade das políticas correntes e dos desafios de médio prazo;
§ Uma apreciação da cooperação passada e corrente da Comissão Europeia (lições e experiência), bem
como informação sobre os programas de cooperação dos países membros da UE e de outros
doadores;
§ A estratégia de resposta da UE, em coerência e complementaridade com as políticas da UE e de
outros doadores.
A definição da estratégia de cooperação deve, finalmente, abrir o caminho à preparação do
Programa Indicativo Nacional (PIN), de tal modo que no final do processo deverão constituir um
único documento.
Deve referir-se a existência de uma sintonia entre, por um lado, o enquadramento, os objectivos e a
estratégia de implementação que as instituições de Bretton Woods dão aos programas de ajustamento
estrutural e, por outro lado, as linhas gerais da cooperação da União Europeia com os países ACP. Neste
contexto, o Acordo de Cotonou estabelece que os objectivos da parceria entre a UE e os países ACP
devem incluir o alívio e a redução da pobreza. Na verdade, a Comissão Europeia reconhece que o
objectivo prioritário de redução da pobreza introduz importantes alterações no desenho das políticas de
24 European Commission, The 9th EDF Programming Process,
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desenvolvimento, e nesse sentido aquele objectivo deve constituir-se como o quadro de referência para
o desenho das políticas de cooperação.
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5. O Sistema de Programação
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Este capítulo inicia-se pela abordagem da participação, atendendo à relevância que esta assume
actualmente nos procedimentos de identificação e gestão de programas e projectos. A temática da
participação é aqui apresentada na perspectiva dos métodos de organização da participação mais
habitualmente utilizados. Para o efeito, considera-se a sistematização feita pelo staff do Banco Mundial,
baseada nas experiências resultantes dos programas e projectos apoiados por esta instituição25.
Introduz-se de seguida um instrumento de análise, a Matriz de Estratégias dos Actores, que
pode ser utilizada em diferentes contextos designadamente em seminários de identificação e de
planeamento de programas e projectos, ou em estudos de diagnóstico e de cenarização, conduzidos a
nível dos órgãos de planeamento aos vários níveis (central, sectorial e regional).
No sub-capítulo 5.2 apresenta-se uma metodologia de programação, a Metodologia do
Enquadramento Lógico de Programas e Projectos que pode também ser utilizada a vários níveis:
diferentes níveis de planeamento e gestores de programas e projectos. Esta metodologia assume neste
manual uma particular relevância na medida em que é proposta para o desenho do PND.
5.1 Métodos de participação
É incontestável que a participação dos beneficiários dos programas e projectos de desenvolvimento é
uma condição sine qua non para o seu sucesso. Neste sentido, a participação garante aos vários actores
relevantes o exercício da influência sobre as decisões que em última análise os afectam. Em formas mais
avançadas, a participação deverá permitir a partilha de controlo das iniciativas e das decisões sobre a
afectação dos recursos que lhes dizem respeito.
A participação dos beneficiários na formulação, na implementação e no acompanhamento dos
projectos e acções é pois um meio eficaz para garantir o sucesso dos projectos. Em concreto, a
participação contribui para comprometer os grupos-alvo dos projectos na sua implementação. Contribui
ainda para assegurar a formação de parcerias entre as diferentes entidades envolvidas nas decisões
relacionadas com o projecto, num contexto de maior transparência e responsabilização de todas os
participantes.
A participação pode e deve fazer-se a vários níveis:
§ Na fase da decisão, e em concreto nos momentos de formulação dos problemas, na identificação
de alternativas, no planeamento de actividades, e na definição dos critérios de afectação de
recursos;
25Vide World Bank, Participation Source Book , Washington.
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§ Na fase de implementação, a participação tem lugar em actividades como a gestão e operação
dos programas; na afectação dos benefícios económicos, sociais, culturais e outros;
§ Na fase de avaliação do projecto, da responsabilidade da gestão do projecto ou de uma entidade
independente, os beneficiários têm uma palavra essencial na análise dos resultados alcançados e
das condições de implementação das actividades do projecto.
Aqueles pressupostos são tomados em consideração pelo projecto de Lei-Quadro do Planeamento de
Cabo Verde, o qual justamente consagra no seu Art. 5º o princípio da participação social, como um dos
princípios fundamentais do processo de planeamento.
As formas de participação, e as técnicas e abordagens que podem ajudar a organizar e a
racionalizar a sua organização, são muito variadas. As formas de participação incluem a disseminação da
informação, a colaboração, a coordenação, a consulta, a representação política, e a investigação
participativa.
Naturalmente que as condições políticas e sociais, bem como a estrutura social de cada país é
determinante nas opções a tomar quanto às abordagens a seguir. Em Cabo Verde as experiências que
resultaram dos programas de luta contra a pobreza poderão servir de referência para uma maior
expansão dos métodos de participação.
Os seminários ou ateliers participativos são uma via efectiva de recolha de informação, visando o
desenho e acompanhamento dos projectos (de preferência com base na matriz de enquadramento
lógico) a partir de informação relativa aos beneficiários. Estes seminários devem ser efectivamente
representativos dos vários grupos envolvidos, ou a envolver no projecto, de modo a evitar situações de
enviesamento em termos de representatividade. Com frequência, os organizadores destas reuniões têm
relutância em incluir elementos críticos da qualidade dos serviços prestados e da organização dos
projectos, mas não se pode contornar o facto de os beneficiários serem por norma as entidades mais
credíveis para avaliação dos resultados de um projecto.
No ANEXO 1: Metodologia de Organização de um Workshop sobre a utilização o Quadro Lógico.
apresentam-se os vários passos da organização de um Atelier de planeamento de um programa ou
projecto. O atelier pode ter diferentes níveis de complexidade. Na sua forma mais simples, pode ter
como objectivo tomar uma decisão sobre se uma ideia de projecto deve evoluir para a fase de
identificação. Na sua forma mais complexa pode visar a elaboração de um Programa complexo, ou de
um subprograma. Os participantes nestes ateliers são naturalmente diferentes consoante a natureza da
reunião.
Os ateliers de preparação de projectos devem realizar-se no próprio local de implementação do
projecto, envolvendo todas as partes interessadas, assegurando assim que o projecto corresponde às
necessidades efectivas dos beneficiários e que conta com o seu envolvimento. Deverão também
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participar representantes das entidades a nível nacional/ sectorial, regional e local, dos financiadores ou
doadores, e por especialistas no domínio do projecto. Finalmente, uma figura indispensável deste tipo de
atelier é a figura do moderador/facilitador, especialista na metodologia do quadro lógico. Este
especialista deverá ser independente quer do financiador quer da Administração do país.
Os quadros que se seguem sintetizam os métodos de participação que têm sido mais utilizados. Esta
sistematização está incluída no Source Book on Participation do Banco Mundial.
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QUADRO 5-1: Métodos de participação
Tomada de Decisão Cooperativa: Métodos baseados em Workshop
Reconhecimento-Persuasão-Control (RPC)RPC é uma técnica baseada em Seminário que encoraja os actores ater em consideração os factores de natureza social, política e cultural,a par dos factores técnicos e económicos, que influenciam umadeterminada política ou projecto.
O método RPC ajuda os participantes a identificar um objectivocomum, encoraja a identificar os actores relevantes naqueleprocesso, e cria um ambiente favorável para o desenvolvimento deuma colaboração cooperativa.
As actividades orientam-se para a construção do reconhecimento, napersuasão através do diálogo, e no controlo através da acção.
Matriz de Enquadramento Lógico de Projectos(MELP)Corresponde a uma técnica de planeamento de projectos com base naqual os participantes no Workshop, protagonistas do processo deinvestimento, estabelecem prioridades e estabelecem o processo deimplementação e acompanhamento.
O principal resultado de um Workshop MELP é uma matriz deplaneamento do projecto. O objectivo do workshop é o de permitirum programação participativa, orientada por objectivos, abrangendoa vida do projecto e as respectivas políticas, ao mesmo tempo que seassegura o compromisso e a capacidade dos actores através de umasérie de workshops.
TeamUpO método TeamUp é construído sobre a Matriz de EnquadramentoLógico, mas reforça a componente de trabalho de equipa.Habitualmente apoia-se num programa de computador (PC/TeamUp)que orienta os actores na investigação baseada no trabalho de equipa,no desenho do projecto, no planeamento, na implementação e naavaliação. Permite ao grupo de trabalho empreender uma actividadede planeamento e de acção orientados por objectivos, criando umaatmosfera de “aprender fazendo”.
Vantagens:• Encoraja a “aprendizagem social”• Promove a apropriação• Fornece uma matriz visual do projecto• Os actores estabelecem as “regras do jogo”• Os actores estabelecem as relações de trabalho
Riscos:• A matriz do projecto não deve ser considerada
imutável• Nem todos os actores se sentem à vontade num
ambiente de “Workshop”• Deviam ser tomadas medidas no sentido de dar voz
aos participantes menos experientes• A escolha do local do Workshop deve ser acessível
aos participantes locais
In: World Bank (1996), The Source Book on Participation, Washington
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Tomada de Decisão Cooperativa: Métodos baseados nas Comunidades
Avaliação Rural Participativa (ARP)A ARP é um método que enfatiza o conhecimento da realidade locale permite aos participantes fazerem a sua própria avaliação, análise eplaneamento. O método baseia-se na animação e em exercícios degrupo de forma a facilitar a troca de informação, de análises e deactividades entre os participantes.
Embora tenha sido inicialmente desenvolvido em áreas rurais (e daí adesignação que o método adquiriu), o método tem vindo a serutilizado em diferentes contextos.
A utilização do método permite aos especialistas dedesenvolvimento, aos funcionários da Administração e às populaçõeslocais trabalharem conjuntamente em programas de desenvolvimentodevidamente integrados no seu contexto.
ADDPAREsta abordagem participativa, orientada especialmente para aformação de formadores/animadores locais, baseia-se noconhecimento local e procura reforçar as capacidades locais paraavaliar, priorizar, planear, criar, organizar e avaliar. O métodopromove cinco atributos que dão origem à sua designação: Auto-estima, Dinâmica Associativa, Desenvoltura, Planeamento da Acçãoe Responsabilidade.
O método ADDPAR tem três grandes finalidades: i) forneceruma abordagem multisectorial, e multinível ao trabalho deequipa através da formação; ii) encorajar os participantes aaprender mais da experiência local do que com os peritosexternos, iii) dar poder aos agentes locais e às comunidadeslocais para tomarem iniciativas práticas.
Vantagens:• Baseados em instrumentos inter-activos que
facilitam a participação, independentemente donível de literacia.
• Desmistifica os processos de investigação e deplaneamento ao recorrer às experiências locais
• Os participantes sentem que têm capacidade deintervenção e desenvolvem o sentido de que a suaparticipação é relevante
Riscos a evitar:• O método ARP e a formação só por si não dão às
comunidades rurais autoridade de decisão oupossibilidade de intervenção na gestão do projecto.Estas condições devem ser preenchidas no contextodo próprio projecto.
• Estas técnicas criam uma determinada dinâmicaque rapidamente se perde no caso de não setraduzirem em programas e tarefas efectivas.
• É necessária a intervenção de facilitadoresexperientes que orientem a aplicação do método.
In: World Bank (1996), The Source Book on Participation, Washington
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Métodos de Consulta dos Actores
Avaliação dos Beneficiários (AB)Este método visa compreender as percepções dos beneficiários eoutros actores, do modo a assegurar-se que as suas preocupações sãolevadas em conta e incorporadas na formulação dos projectos e daspolíticas. Os objectivos do método são: i) empreender um processode consulta permanente de modo a “dar voz” aos pobres e a outrosbeneficiários habitualmente difíceis de alcançar, evidenciando assimos constrangimentos à participação dos beneficiários; ii) obter asreacções ao desenvolvimento das intervenções.
Participação Sistemática dos Clientes (PSC)Este método visa melhorar a comunicação entre os financiadores, osbeneficiários directos e indirectos, bem como agênciasgovernamentais e fornecedores de serviços, de tal modo que osprojectos e as políticas sejam mais orientados pela procura. Ométodo procura: i) uma audição sistemática das atitudes epreferências dos clientes, ii) desenhar um processo de comunicaçãopermanente, iii) actuar sobre as conclusões incorporando as opiniõesdos clientes nos procedimentos e no desenho dos projectos.
Vantagens:• A auscultação sistemática implica uma interacção
mais prolongada, mais sistemática e maisrepresentativa entre os actores
• Ambos os métodos são baseados em trabalho decampo, exigindo a presença de gestores deprograma ou de projecto, ou os seus representantesque visitem as comunidades e que estejamconscientes das realidades locais.
Riscos a evitar:• A simples audição e consulta não garantem só por
si uma maior capacidade ou facilitação daparticipação dos actores nas tomadas de decisão ouna acção.
• A eficácia destas técnicas reside frequentemente nacapacidade dos gestores e dos seus representantespara interpretar as exigências dos clientes emactividades pertinentes.
In: World Bank (1996), The Source Book on Participation, Washington
Métodos de Análise Social
Avaliação Social (AS)Trata-se de uma análise sistemática dos processos e factores sociaisque influem sobre os resultados e os impactos no desenvolvimento.Assim, os objectivos da Avaliação Social são: i) identificar osprincipais actores e estabelecer o enquadramento adequado à suaparticipação; ii) assegurar que os objectivos e os incentivos àmudança são apropriados e aceitáveis para os beneficiários; iii)avaliar os impactos sociais e os riscos; iv) minimizar ou mitigar osefeitos adversos.
Análise de Género (AG)Esta análise centra-se na compreensão das diferenças entre os papeis,as actividades, as necessidades e as oportunidades associadas aogénero num determinado contexto. A análise de género implica adesagregação da análise quantitativa segundo o género. Ela sublinhaos diferentes papeis e os comportamentos socialmente adquiridos doshomens e das mulheres baseados em atributos de género, os quaisvariam de acordo com a cultura, a classe social, a etnicidade, orendimento, a educação e o tempo. Assim, a AG não trata asmulheres como um grupo homogéneo, nem considera os atributos degénero como imutáveis.
Vantagens:• Estes métodos fornecem um processo que permite
converter a informação em planos e os planos emacção
• A análise social sistemática identifica aquilo que ascomunidades consideram que necessitam eestabelece os meios de comunicar estasnecessidades às agências de implementação
Riscos a evitar:• A análise e a recolha de dados deve centrar-se nas
questões prioritárias, evitando tornarem-seexercícios de recolha de informação genérica, quenão está necessariamente ligada a preocupaçõesrelativas a projectos e políticas.
• O envolvimento de consultores locais experientes,especialistas num conjunto de disciplinas, criacapacidade interna para a análise social orientadapara a acção.
In: World Bank (1996), The Source Book on Participation, Washington
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Um elemento comum na generalidade dos métodos de participação é a presença de uma grande
diversidade de actores que se posicionam de modo diferente e com estratégias distintas nas
intervenções em que participam. Importa por isso dispor de uma técnica que permita ao decisor discernir
quem são os participantes relevantes, quais os seus objectivos, que estratégias poderão eventualmente
adoptar e de que meios dispõem. O diagrama DIAGRAMA 5-1 proporciona um método de análise, a
matriz de estratégias dos actores, que ajuda o decisor a compreender aqueles aspectos.
A sua construção e utilização é de uma grande simplicidade, mas ao mesmo tempo de grande
utilidade na organização e condução de um método participativo. Na diagonal principal da matriz faz-
se a caracterização de cada um dos principais protagonistas. Em concreto identificam-se os seus
problemas, os objectivos que lhe devem fazer face e que se presume orientem o actor em causa, a
estratégia que se presume ele venha a seguir, e os recursos de que dispõe.
Nem sempre aqueles elementos são evidentes, na medida em que raramente os actores explicitam
as suas estratégias de forma clara, pelo que cabe ao organizador de um exercício de participação a
capacidade para interpretar, a partir dos escassos elementos disponíveis, as formas de intervenção de
cada protagonista.
As restantes células da matriz fornecem informação útil sobre a natureza das relações entre cada um
dos actores. A leitura em linha traduz a influência que as decisões de cada actor tem sobre todos os
outros. Por outro lado, a leitura em coluna, traduz, para cada actor, a forma como é influenciado pelas
decisões dos restantes protagonistas.
Consideram-se como actores as entidades que assumem um papel relevante no sistema de
planeamento. Os actores não tem habitualmente uma liberdade total, possuindo antes algum grau de
liberdade, que lhe permitem influenciar as decisões dos outros actores intervenientes num dado
processo decisional.
Uma análise mais aprofundada do quadro de relações entre os actores deverá permitir discernir que tipo
de relação eles estabelecem entre si. Essas relações podem ser de concorrência, de cooperação, de
dependência ou de troca, e podem ser identificadas no âmbito da matriz de estratégias dos actores.
No quadro real do processo de planeamento existe uma multiplicidade de actores que se associam em
alianças, tácitas ou expressas, e que evoluem ao longo do tempo. Tais alianças fazem-se e desfazem-se
à medida que evolui o contexto sócio-económico.
Importa por fazer isso uma delimitação dos actores por grupos de interesses próximos e de acordo com
a natureza dos problemas.
A aplicação prática da matriz de estratégias dos actores pode fazer-se a vários níveis. No caso da
elaboração do PND, os actores principais que desde já se podem identificar são:
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• Na área da administração central: órgãos de coordenação e gestão económica (Direcção-Geral dePlaneamento, Gabinete de Estudos e Orçamento); órgãos de planeamento sectorial (GEPs)
• Na área da administração local: autarquias.
DIAGRAMA 5-1: Matriz de estratégias dos actores
OBJECTIVOSMEIOSRECURSOSPROBLEMAS
OBJECTIVOSMEIOSRECURSOSPROBLEMAS
OBJECTIVOSMEIOSRECURSOSPROBLEMAS
A B C
A
B
C
B CB C
A CA CA BA B
B AB A
C AC A C BC B
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5.2 A metodologia e o processo de programação
5.2.1 A estrutura do Quadro Lógico do PND
O desenho de programas e de projectos é um processo complexo, para o qual concorrem factores
de natureza muito diversa e envolvendo actores, por vezes com interesses complementares e solidários,
e por vezes com interesses divergentes. O Método do Enquadramento Lógico (MEL)26 de
programas e projectos constitui um poderoso instrumento analítico e de gestão que visa justamente
responder àquele conjunto de questões de um modo integrado e internamente consistente. Por essa
razão, este método é proposto neste Manual como o quadro de referência principal quer para os
trabalhos de programação e acompanhamento conduzidos a nível central (nível de
programa/subprograma), quer para a gestão do ciclo do projecto, conduzida a nível desconcentrado
pelas unidades que implementam os projectos.
O processo analítico que está na base da utilização do quadro lógico no desenho de um programa ou
de projecto pode sintetizar-se em quatro passos, conforme ilustra o DIAGRAMA 5-2. A cada fase do
processo estão associados os métodos específicos que permitem a sua concretização. No ANEXO 1:
Metodologia de Organização de um Workshop sobre a utilização o Quadro Lógico. descreve-se de forma
exaustiva, uma metodologia que pode ser utilizada na preparação participada de projectos públicos.
O processo inicia-se com a análise da participação, a qual pode ser feita com base nos métodos
de participação atrás referidos, e que poderão constituir, na base da escolha do método específico
mais apropriado a cada situação, um veículo para a análise de problemas que requerem uma
intervenção. A análise de problemas pode ser feita através da construção de uma árvore de
problemas que, no plano do desenvolvimento social e económico, deverá traduzir os grandes
constrangimentos que a economia de Cabo Verde enfrenta. A utilização desta metodologia deve
associar-se estreitamente à análise de diagnóstico sócio-económica da economia cabo-verdiana, atrás
esquematizada, de tal modo que os problemas aí identificados podem ser estruturados segundo uma
relação de causa-efeito semelhante à que é utilizada na árvore de problemas.
26 O Método do Quadro Lógico ou do Enquadramento Lógico de Projectos, é actualmente um método adoptado pelageneralidade das agências de cooperação internacional, e constitui por isso um excelente instrumento que facilita odiálogo entre todos os actores da cooperação e da ajuda ao desenvolvimento. O mérito do método torna-orecomendável mesmo para a gestão de projectos de investimento público financiados com recursos internos.
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DIAGRAMA 5-2: O processo analítico e o método de programação
A partir da análise de problemas desenvolve-se a análise de objectivos, os quais no âmbito da
formulação do PND, constituem o exercício de definição dos objectivos estratégicos que o Plano deverá
procurar alcançar. A árvore de objectivos corresponde ao espelho da árvore de problemas, e constitui
o instrumento analítico por excelência para a estruturação do programa ou do projecto a que diz
respeito.
O processo conclui-se com a análise de estratégias alternativas ou complementares e a respectiva
análise de viabilidade.
5.2.1.1 Análise de Problemas
A determinação clara dos objectivos de um programa ou de um projecto é um elemento essencial
para uma boa formulação e posterior implementação. O ponto de partida do desenho de uma estratégia
sectorial (como fase prévia à concepção de um programa de acção sectorial) é a de definição da árvore
de problemas que resulta da análise de diagnóstico.
Análise daParticipação
Análise deProblemas
Análise deObjectivos
Análise deAlternativas
PROCESSO
Matriz deEstratégias dos
Actores
Métodos deParticipação
Árvore deProblemas
Árvore deObjectivos
Análise deViabilidade
AvaliaçãoEconómica e
Social
MÉTODOS
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Neste contexto estabelece-se a hierarquia dos problemas de acordo com a sua relevância. Trata-se
de um exercício algo complexo, o de estruturar os problemas identificados de acordo com as relações de
causa-efeito
DIAGRAMA 5-3 Árvores de Problemas
PROBLEMACENTRAL
EFEITOS
CAUSAS
5.2.1.2 Análise dos objectivos
A árvore de problemas é convertida directamente numa árvore ou hierarquia de objectivos,
sobre a qual se estruturam as estratégias possíveis. A árvore de objectivos é o espelho da árvore de
problemas, na medida em que o problema principal se converte no objectivo específico. Ou seja, o
objectivo específico corresponde à solução do problema identificado. Por exemplo se o problema for
enunciado como Baixa produtividade devido à baixa qualificação dos recursos humanos o objectivo
específico correspondente é enunciado como Qualificação dos recursos humanos aumentada .
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DIAGRAMA 5-4: Árvore de objectivos
OBJECTIVOESPECÍFICO
CAUSAS RESULTADO 1 RESULTADO 2 RESULTADO 3
RESULTADO 2.1 RESULTADO 2.2
5.2.1.3 Análise das estratégias
A análise das estratégias, e a escolha de estratégias alternativas, deriva directamente da árvore de
objectivos. O objectivo específico pode ser alcançado através de um conjunto de estratégias
complementares (se houver recursos para isso), ou através de estratégias alternativas e seleccionadas
(se os recursos forem escassos e obrigarem a fazer escolhas).
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DIAGRAMA 5-5: Análise de estratégias
OBJECTIVOESPECÍFICO
RESULTADO 1 RESULTADO 2
RESULTADO 1.1 RESULTADO 1.2 RESULTADO 2.1 RESULTADO 2.2
Estratégia 1 Estratégia 2
Cada objectivo estratégico dá origem a um Programa Principal, o qual por sua vez se decompõe em
Sub-programas. Esta decomposição prossegue até se chegar ao nível operacional de actividades e
projectos. As actividades correspondem às operações contínuas, de rotina, enquanto que os projectos
correspondem a operações delimitadas no tempo.
Todas as intervenções são programadas num contexto específico, em referência a um objectivo
global determinante. Este último decorre dos objectivos estratégicos do sector (estabelecidos na política
sectorial) ou da região/ilha (estabelecidos na política de desenvolvimento regional) e deve inspirar a
estratégia das intervenções. (por exemplo, a melhoria da situação alimentar).
O objectivo global dá origem a vários objectivos específicos, que se podem traduzir, de um modo
geral, em acções e projectos prioritários. Cada objectivo específico é, assim, implementável através de
um projecto concreto (por exemplo, a reabilitação de um perímetro agrícola).
Num projecto mais complexo definem-se ainda objectivos operacionais relacionados com as
diferentes actividades do projecto (por exemplo, reconstrução dos canais de irrigação e formação dos
camponeses). Num projecto simples o objectivo específico confunde-se com o objectivo operacional.
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CAIXA 5-1: A estrutura de objectivos de um programa
De acordo com aquela hierarquia de objectivos, os diferentes conceitos de objectivos assumem os seguintes
significados:
§ os objectivos globais são expressos em termos de impactes (por exemplo, a redução da taxa de desemprego),
§ os objectivos específicos são expressos em termos de resultados (por exemplo, a melhoria, através da formação,
da empregabilidade dos desempregados de longa duração)
§ os objectivos operacionais são expressos em termos de realizações (por exemplo, a organização de cursos de
formação dirigidos a desempregados de longa duração).
A descrição dos objectivos deve obedecer aos seguintes critérios:
1. Os objectivos devem ser formulados na base de uma situação positiva
2. Devem ser formulados com clareza e precisão, sendo o seu significado compreendido e aceite pelos
actores principais
3. Devem ser realistas e realizáveis, tendo em consideração os recursos disponíveis, as condições
económicas e sociais, os riscos e os constrangimentos.
4. Devem ser mensuráveis e verificáveis, através de indicadores objectivamente verificáveis,
5. Devem conter prazos realistas, eventualmente associados a metas intermédias.
Os projectos são implementados por administrações, organismos ou operadores que utilizam vários
meios ou recursos (financeiros, humanos, técnicos ou organizativos).As despesas efectivas dão origem
a uma série de realizações físicas (por exemplo, quilómetros de canais reconstruídos, número de
acções de formação realizadas, etc.), que demonstram os progressos alcançados na execução do
projecto.
Os resultados são os efeitos (imediatos) para os beneficiários das acções financiadas (por exemplo,
aumento da produção agrícola na área irrigada, camponeses capacitados com novas técnicas de
produção). Estes resultados podem ser expressos em termos dos seus impactos sobre o cumprimento
dos objectivos globais do projecto e constituem as principais bases da avaliação do êxito ou do insucesso
da intervenção em questão. Os impactos globais dizem respeito ao objectivo último das intervenções e
estão associados aos objectivos estratégicos de desenvolvimento.
Como resultado deste exercício chega-se à construção da Matriz de Enquadramento Lógico (MEL)
cuja estrutura fundamental está representada no seguinte quadro.
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QUADRO 5-2: A arquitectura de base da matriz de enquadramento lógico
LÓGICA DEINTERVENÇÃO
INDICADORESOBJECTIVAM.VERIFICÁVEIS
MEIOS DEVERIFICAÇÃO HIPÓTESES
OBJECTIVOSGLOBAIS
OBJECTIVOESPECÍFICO
RESULTADOS
ACTIVIDADES MEIOS CUSTOSCONDIÇÕESPRÉVIAS
LÓGICA DEINTERVENÇÃO
INDICADORESOBJECTIVAM.VERIFICÁVEIS
MEIOS DEVERIFICAÇÃO HIPÓTESES
OBJECTIVOSGLOBAIS
OBJECTIVOESPECÍFICO
RESULTADOS
ACTIVIDADES MEIOS CUSTOSCONDIÇÕESPRÉVIAS
LÓGICA DEINTERVENÇÃO
LÓGICA DEINTERVENÇÃO
INDICADORESOBJECTIVAM.VERIFICÁVEIS
INDICADORESOBJECTIVAM.VERIFICÁVEIS
MEIOS DEVERIFICAÇÃO
MEIOS DEVERIFICAÇÃO HIPÓTESESHIPÓTESES
OBJECTIVOSGLOBAISOBJECTIVOSGLOBAIS
OBJECTIVOESPECÍFICOOBJECTIVOESPECÍFICO
RESULTADOSRESULTADOS
ACTIVIDADESACTIVIDADES MEIOSMEIOS CUSTOSCUSTOSCONDIÇÕESPRÉVIASCONDIÇÕESPRÉVIAS
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QUADRO 5-3: O conteúdo da matriz de enquadramento lógico
Lógica de intervenção Indicadoresobjectivamente verificáveis
Pressupostos
OBJECTIVOS GLOBAIS
Objectivos ao mais alto nívelpara o qual se espera que oprojecto concorra
Medidas (directas ou indirectas)que permitem verificar se osobjectivos globais foramatingidos
OBJECTIVOESPECÍFICO
Efeito que se espera o projectovenha a produzir
Medidas (directas ou indirectas)que permitem verificar se oobjectivo específico foiatingido
Acontecimentos relevantes,decisões, ou condições, fora docontrolo da gestão do projecto,cuja verificação é necessária àconcretização dos objectivosglobais
RESULTADOS
Os resultados que a gestão doprojecto deverá assegurar.
Medidas (directas ou indirectas)que permitem verificar se osresultados foram atingidos
Acontecimentos relevantes,decisões, ou condições, fora docontrolo da gestão do projecto,cuja verificação é necessária àconcretização do objectivoespecífico
ACTIVIDADES
As actividades que deverão serrealizadas para que se alcancemos resultados previstos
RECURSOS
Bens e serviços necessários àrealização das actividades
Acontecimentos relevantes,decisões, ou condições, fora docontrolo da gestão do projecto,cuja verificação é necessária àconcretização dos resultadosprevistos
Condições prévias
Decisões ou condiçõesnecessárias ao arranque doprojecto.
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O quadro lógico é um instrumento de trabalho muito conveniente para se apresentar de uma forma
sistematizada e organizada todos os elementos relevantes de um projecto. Aí figuram (na primeira
coluna), os objectivos do projecto, os resultados a alcançar com a sua implementação, bem como as
actividades a desenvolver para se alcançarem esses resultados.
Cada um destes aspectos pode ser verificado através de um conjunto de indicadores (2ª coluna),
relativamente aos quais se devem indicar as respectivas fontes (3ª coluna). Finalmente, na 4ª coluna,
descrevem-se os pressupostos que condicionam a verificação de cada uma daqueles domínios.
O quadro lógico pode utilizar-se nas diferentes fases do ciclo do projecto, desde a fase de
identificação (ou preparação inicial), até às fases de avaliação. Mesmo que na fase inicial ele não possa
ser totalmente preenchido, a informação recolhida nas fases seguintes, deverá permitir a sua conclusão.
É justamente nas fases de formulação (ou avaliação preliminar ou ex-ante), de financiamento, de
implementação e de avaliação ex-post que o quadro lógico será completado progressivamente para
servir de base à gestão de cada fase do ciclo do projecto. Além disso o quadro lógico é o ponto de
partida, o instrumento de base , para elaborar outros instrumentos, nomeadamente o orçamento
pormenorizado, a repartição das responsabilidades, o calendário de execução e um plano de operações.
Uma das vantagens mais evidentes deste método de concepção de programas e projectos é a sua
aplicação quer a intervenções de natureza material quer a intervenções de natureza imaterial. Por vezes
os projectos não atingem os seus objectivos porque se dirigem apenas para o investimento na
componente material (construção, equipamento) e descuram a sua componente imaterial relacionada
com as actividades de funcionamento e de manutenção, onde o modelo de gestão assume um papel
decisivo.
O presente método permite assim integrar na mesma arquitectura de projecto as componentes
imaterial e material, e os diferentes níveis de intervenção (programa-projecto-componente). Em concreto
o método permite focar a atenção não tanto sobre a oferta, mas sobre a procura dos serviços
disponibilizados pelo projecto, e que são na realidade os resultados do projecto. Os serviços de
natureza complementar que viabilizam ou potenciam os serviços prestados directamente pelo projecto
são incluídos nos pressupostos do projecto e eventualmente fornecidos por outras agências ou
departamentos. O método do quadro lógico permite verificar a coerência do conjunto dos serviços
prestados.
A aplicação da metodologia do quadro lógico à programação do PND facilita a definição dos
principais eixos estratégicos de intervenção que deverão constituir a arquitectura de base dos
Programas Principais.
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DIAGRAMA 5-6: Objectivos estratégicos e estrutura programática
Conforme mostra o Diagrama, o PND deve estruturar-se a partir da definição dos objectivos globais
de desenvolvimento, tendo em conta, as restrições impostas pela necessidade de assegurar a
estabilidade macro-económica.
Cada objectivo estratégico dá origem a um Programa Principal, cujo conteúdo decorre por sua vez
do respectivo objectivo específico. Os Programas Principais decompõem-se em Sub-programas, que pela
sua dimensão podem ter unidades de gestão próprias. Descendo ao longo da árvore de objectivos,
definem-se as Medidas que representam as formas de intervenção de base, a partir das quais se
estruturam os projectos e as acções.
Este método analítico aplica-se tanto ao nível da programação global como ao nível do ciclo do
projecto. A metodologia de base inspira-se nos mesmos princípios e nos mesmos processos analíticos.
Neste manual recomenda-se que a referida metodologia de base seja aplicada àqueles dois níveis de
intervenção.
Com base nos elementos que atrás foram definidos, pode agora propôr-se a estrutura de base para
o PND de acordo com o seguinte diagrama.
Objectivos Estratégicos / Eixos Estratégicos
Programas
Sub-programas
Medidas
B C D
A1 A2
A11 A12 A13
A121 A122 A123 A124
A
A1211 A1212Projectos/Acções
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DIAGRAMA 5-7: A estrutura programática do PND
Program aPrincipal 1
Sub-program a 1.2
Sub-program a 1.1
Projecto1.1.2.1
Projecto1.1.2.3
Projecto1.1.2.2
Sub-programa 1.3
M edida 1.1.1 M edida 1.1.2
DIAGRAMA 5-8: PND 2002-2005 – Exemplo de estrutura de Programa
Objectivos Estratégicos/Eixos estratégicos
B C DA
Promover boagovernação como
factor dedesenvolvimento,
reformando o Estado,intensificando a
democracia
Promover capacidadeempreendedora,competitividade,e crescimento;Alargar a base
produtiva
Desenvolver o capitalhumano e orientar osistema de ensino eformação para asáreas prioritárias
do desenvolvimento
Promover umapolítica global dedesenvolvimento
social, combatendopobreza e reforçandocoesão e solidariedade
Desenvolver infra-estruturas básicas
económicas epromover o
ordenamento doterritório
E
Desenvolver o sistema deformação profissional Desenvolver o sistema
educativo
C1 C2
Programas
Desenvolver o sistemapré-escolar
Sub-Programas Aprofundar a reformado ensino básico
Reformar o ensinosecundário
...
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A relação entre os objectivos dos diferentes níveis programáticos torna-se mais evidente no seguinte
quadro.
QUADRO 5-4: Interdependência dos objectivos e estrutura de programação em
cascata
OBJECTIVOS
ESTRATÉGICO
PROGRAMAS
Objectivos específicos Objectivo global
(impactes)
SUB-
PROGRAMAS
Objectivos
específicos
(Resultados)
Objectivo global
(Resultados)
MEDIDAS
Objectivos
específicos
(Resultados)
Objectivo global
(Impactes)
OPERAÇÕES:
ACTIVIDADES/
PROJECTOS
Objectivos
específicos
(Resultados)
Objectivo global
(Impactes)
Objectivos
específicos
(Resultados)
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5.2.2 As hipóteses e as condições prévias
O sucesso de um Programa ou Projecto depende, com muita frequência, de factores que escapam
ao seu gestor por mais experiente e competente que ele seja. Esses factores externos introduzem
elementos de incerteza na implementação do projecto e que podem inviabilizar os seus objectivos se
não for possível ultrapassá-los. Esses factores manifestam-se a vários níveis, conforme mostra o
DIAGRAMA 5-9.
DIAGRAMA 5-9: Condições prévias e pressupostos
OBJECTIVOSGLOBAIS
Projectpurpose
Results
Activities
RESULTADOS
Projectpurpose
PRESSUPOSTOS
Projectpurpose
Results
ActivitiesProjectpurpose
OBJECTIVOESPECÍFICO
ACTIVIDADES
PRESSUPOSTOS
PRESSUPOSTOS
CONDIÇÕESPRÉVIAS
+
+
+
RECURSOS
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O DIAGRAMA 5-9 pode ler-se da seguinte forma:
• Uma vez reunidos os recursos e verificadas as Condições Prévias necessárias ao arranque do Programaou do Projecto, podem iniciar-se as respectivas actividades;
• Se as actividades forem implementadas e se os pressupostos, equacionados a este nível, se verificarem,então é possível alcançar os resultados esperados;
• Mediante os resultados esperados, se os pressupostos equacionados a este nível se verificarem, então oobjectivo especifico do Programa/projecto será alcançado;
• Se se atingir o objectivo específico e se pressupostos equacionados a este nível se verificarem entãopoderão alcançar-se os objectivos globais.
Na fase de preparação do programa é essencial analisar em que medida os factores externos são
importantes na determinação do sucesso da intervenção. Se são importantes mas não podem ser
integrados na lógica de intervenção, então devem ser considerados como Pressupostos.
No entanto, se se quiser minimizar o risco, e se tal for possível, talvez se justifique incorporar os
pressupostos como elementos da intervenção e nesse caso eles passam a ser controlados pela gestão do
projecto.
O QUADRO 5-5 ajuda a clarificar este conceito. Assim, define-se como objectivo específico do
projecto o Acesso a serviços de saúde melhorado . Um dos resultados do projecto (ou seja um dos
serviços a prestar aos beneficiários) é a construção de um hospital. Mas para alcançar o objectivo de
Acesso a serviços de saúde melhorado isso não é necessário mas não suficiente.
Na verdade, importa assegurar um conjunto de resultados adicionais (alcançáveis dentro do âmbito
do projecto) e ter em conta um conjunto de pressupostos (ou seja resultados que estão fora do controlo
do projecto). Os primeiros incluem um Sistema de funcionamento e de manutenção operacional , e
ainda Água suficiente e de qualidade assegurada . Os factores que não dependem do projecto, mas que
devem ser previstos são, neste exemplo, o Fornecimento de água potável à população (assegurada por
outras entidades) e uma Gestão adequada do hospital (na medida em que esta depende da
intervenção do Ministério da Saúde e da correspondente garantia de meios de funcionamento.
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QUADRO 5-5: Relação entre objectivos e pressupostos (um exemplo)
OBJECTIVOSGLOBAIS
Estado sanitárioda populaçãomelhorado
PRESSUPOSTOSOBJECTIVOSESPECÍFICOS
Acesso aserviços desaúdemelhorado
O fornecimento deágua potável àpopulação estáassegurado
RESULTADOS Centro deSaúdeconstruído eequipado
Sistema defuncionamentoe demanutençãooperacional
Água suficientee de qualidadeassegurada
A gestão adequadado hospital estáassegurada.
ACTIVIDADES 1. Construir eequipar ohospital
2. Estabeleceruma unidade deorganização emanutenção
3. Construir osistema deabastecimentode água aohospital
Os meiosfinanceiros sãodisponibilizados eos recursoshumanosmobilizados
Fica assim evidenciado que nem todos os factores que asseguram a sustentabilidade do projecto são
assegurados pelos seus próprios resultados, e nesse caso eles devem ser considerados como
pressupostos. Estes devem ser naturalmente tidos em conta no desenho e na preparação do projecto
visando a sua sustentabilidade. Uma análise rigorosa desses factores conduz com frequência à
modificação do desenho inicial do projecto, e pode traduzir-se, na prática, na incorporação desses
factores no próprio projecto através da internalização de actividades que inicialmente estavam fora do
âmbito do projecto.
Finalmente, a análise dos pressupostos de um programa ou projecto pode implicar a definição ou
ajustamento de medidas de política da parte do governo, as quais podem ser consideradas como uma
pré-condição para o início do programa ou do projecto.
5.2.3 Os factores de sustentabilidade
Um programa ou um projecto só é sustentável se os seus benefícios, apropriados pelo grupo alvo,
perdurarem durante um longo período, depois da sua conclusão e de ter cessado a ajuda externa
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eventualmente prestada pelos doadores.27 A sustentabilidade dos programas e projectos deve ser
encarada logo na fase do seu desenho considerando o conjunto de factores que podem afectar a sua
continuidade para além do período de execução.
À partida oferecem-se duas alternativas para a análise da sustentabilidade de um projecto. A
primeira, proposta pelo Banco Mundial, baseia-se na Taxa Económica de Rentabilidade (TER), e
aplica-se sobretudo a projectos que geram um cash-flow financeiro, em norma associado a um esquema
de recuperação de custos através do pagamento de tarifas por parte dos utilizadores.
A segunda alternativa baseia-se num indicador compósito, o qual agrega diferentes critérios de
apreciação. Em termos metodológicos pode enquadrar-se numa metodologia multicritério.
Os factores que estão na base da sustentabilidade de um projecto podem agrupar-se do seguinte
modo
1. política(s) de apoio;
2. tecnologia apropriada;
3. protecção do ambiente;
4. aspectos socio-culturais;
5. mulheres e desenvolvimento;
6. capacidades institucionais e de gestão;
7. factores económicos e financeiros
Estes factores traduzem os principais domínios cujo conteúdo deve ser adaptado ao contexto e às
características específicas do projecto.
A observação destes factores deve ocorrer quer na fase de desenho e de avaliação prévia do
programa ou projecto, e neste caso pode ser um instrumento de determinação da elegibilidade de um
projecto, quer na fase de avaliação intermédia, altura em que poderão ser introduzidos ajustamentos
caso se verifiquem desvios relativamente ao que tinha sido inicialmente previsto.
A tabela que a seguir se propõe pode ser usada como instrumento de trabalho na avaliação (inicial
ou intercalar) dos factores de sustentabilidade do projecto. O seu preenchimento deve ser feito pela
entidade avaliadora (o que garante uma apreciação independente do proponente) ou pela entidade que
decide sobre a aceitação do projecto.
Na prática constrói-se um Índice de Sustentabilidade28 que traduz uma média das pontuações
atribuídas a cada um dos atributos presentes na tabela.
27 Princípios do CAD para a avaliação de projectos, OCDE, Paris 1988.
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A sua utilização prática processa-se da seguinte maneira:
8. Reelaboração da tabela à luz das características do programa ou do projecto na fase de
avaliação prévia (fase do estudo de viabilidade)
9. Pontuação de 1 a 5 de cada um dos factores identificados (Chave de codificação: 1-Muito
fraco; 2-Fraco; 3-Médio; 4-Bom; 5-Muito Bom).
10. Apuramento da pontuação de cada grupo (mínimo de 5 e máximo de 25).
11. Apuramento global na base de uma média simples ou de uma média ponderada (atribuindo
pesos diferentes a cada grupo)
28 World Bank, Case Studies of Project Sustainability, EDI Seminar Series
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QUADRO 5-6: Matriz de indicadores de sustentabilidade
Pontuação
Rubricas1 2 3 4 5
A. Políticas de apoio
A1 Força e estabilidade do apoio do governo nacional
A2 Base de apoio político ao projecto
A3 Força e estabilidade do apoio dos responsáveis municipais
A4 Força e estabilidade do apoio das comunidades locais
A5 Força e estabilidade do apoio das agências internacionais
B. Tecnologia apropriada e manutenção das infra-estruturas
B1 Verifica-se a adequação das técnicas e materiais de construção àscondições locais
B2 Verifica-se a adequação dos equipamentos às condições locais
B3 Estado da infra-estrutura física
B4 Estado do equipamento afecto à infra-estrutura
B5 Está assegurado o envolvimento dos beneficiários na manutenção dainfra-estrutura
C. Protecção do ambiente
C1 Existe um estudo de impacto ambiental nos projectos que ojustifiquem
C2 As entidades responsáveis pela política ambiental foram consultadassobre o projecto
C3 As medidas de correcção ou minimização de impactos ambientaisnegativos estão tomadas
D. Aspectos sócio-culturais e consideração do género
D1 Houve efectiva participação dos beneficiários na concepção doprojecto
D2 Estão definidos mecanismos de coordenação com as organizações eos beneficiários da comunidade visando o acompanhamento doprojecto
D3 O projecto incorpora uma análise de impacto sobre a melhoria dascondições de vida das mulheres
D4 O projecto incorpora uma análise de impacto sobre a melhoria das
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condições de vida de outros grupos vulneráveis
E. Capacidades institucionais e de gestão
E1 O modelo de gestão do projecto está definido e é estável
E2 Existe capacidade técnica e está bem definido o mandato dasprincipais agências de execução
E3 A Administração possui mecanismos de coordenação da ajudaexterna
E4 Está verificada a adequação da coordenação inter-agências doadoras
E5 Estão previstos procedimentos que garantam flexibilidade ecapacidade para adaptar o desenho e a implementação do projecto àmudança das circunstâncias
F. Factores económicos e financeiros
F1 A avaliação económica do projecto está realizada
F2 A distribuição de benefícios entre os diferentes grupos sociais estáanalisada
F3 Estão definidos os procedimentos de mobilização de recursosfinanceiros para manutenção e conservação
F4 Há estabilidade do pessoal e do orçamento das agências de execução
F5 Está demonstrada e eficiência do mecanismo de recuperação decustos e adequação do orçamento corrente
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5.2.4 Avaliação dos recursos e dos custos de um projecto
Os recursos de um projecto são constituídos pelos meios físicos e não físicos necessários para levar
a cabo as actividades do projecto. Convém estabelecer uma distinção entre recursos humanos, materiais
e financeiros.
Os custos de um projecto são a tradução em termos financeiros de todos os meios considerados. A
apresentação do Orçamento do projecto, em particular os que se destinam a integrar o PPIP, deverá
obedecer a uma forma normalizada, contendo a identificação do projecto, as fontes de financiamento,
e a decomposição dos custos segundo a classificação económica do OGE.
Há duas dimensões que deverão ser contempladas no orçamento de um projecto. A dimensão
temporal e a dimensão do próprio projecto na perspectiva da sua decomposição. No que se refere à
dimensão temporal, o quadro do orçamento deve contemplar o número efectivo de anos em que haverá
investimento. O horizonte temporal do PPIP deverá consequentemente ser flexibilizado de modo a
acomodar as situações possíveis.
As actividades devem ser suficientemente detalhadas de modo a permitir a elaboração de
estimativas de recursos e dos respectivos custos. Em alguns casos este exercício implica que as
actividades sejam descritas com um maior detalhe de modo a permitir uma mais clara identificação de
inputs e a avaliação dos respectivos custos.
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5.3 A consideração da dimensão regional no processo de programação
Em termos orgânicos assume-se que as estruturas de planeamento regional são uma emanação do
poder central, e nesse caso, são colocadas na dependência de um órgão de planeamento central,
cabendo-lhe coordenar as intervenções sectoriais em cada ilha, e conferindo uma coerência face aos
objectivos de desenvolvimento de cada ilha.
O quadro lógico desta arquitectura aponta para diferentes formas de coordenação e de gestão,
podendo estabelecer-se uma primeira linha de demarcação entre as acções nacionais e as acções de
natureza regional, cabendo as primeiras (programas, projectos, etc.) à administração central (através
dos respectivos sectores ou unidades de gestão dos programas), e podendo as segundas caber à
administração regional/local, segundo modalidades que ainda estão por definir.
Saliente-se desde logo que a não existência de órgãos intermédios de decisão entre o Governo
Central e os Municípios, (ou, por outras palavras, a falta de uma orgânica de planeamento regional)
coloca desde logo o problema de coordenação das acções que têm incidência sobre todo o território das
ilhas com mais do que um município. Assim, nas actuais condições de ausência de estruturas de decisão
intermédias, e de reduzida capacidade técnica e financeira dos órgãos de poder local, uma parte
relevante das decisões de investimento deverão ser tomadas a nível central, podendo todavia
desconcentrar-se a respectiva execução.
Não estando ainda definido um quadro legal da descentralização em Cabo Verde, assumem-se aqui
alguns princípios gerais, seguidos de um possível modelo de articulação dos níveis
nacional/sectorial/regional, sobre os quais poderá assentar a metodologia de elaboração do Plano
de Desenvolvimento Nacional numa regionalmente desconcentrada.
Tais princípios são:
12. Subsidiariedade, segundo o qual as decisões só devem ser tomadas a nível nacional/sectorial
se não poderem ser tomadas de forma mais eficiente a nível regional (de cada ilha);
13. Complementaridade, na base da qual as intervenções de âmbito regional complementam as
acções de âmbito nacional tendo como referência os objectivos de desenvolvimento nacionais e
de cada ilha;
14. Equidade, segundo a qual a afectação dos recursos financeiros nacionais deve contribuir
para assegurar níveis de desenvolvimento económico e social idênticos em todas as ilhas.
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Podem definir-se várias famílias de critérios de descentralização/desconcentração, dependendo a
escolha da configuração das estruturas de decisão que se vierem a definir. Na repartição de
atribuições entre os órgãos centrais e locais importa distinguir duas situações bem diferentes:
15. Decisões que relevam do ciclo individual do projecto, e que se referem às situações típicas
da gestão de projectos. Neste caso, podem ser descentralizadas ou desconcentradas as
decisões sobre:
• o interesse de um projecto, situação que se levanta habitualmente na fase de
identificação
• o mérito individual do projecto (fase de formulação)
• celebração de acordos de financiamento (fase de negociação com doadores ou
financiadores)
• celebração de contratos com operadores (na realização de estudos e na fase
de implementação dos projectos)
• gestão dos projectos na fase de implementação
Decisões no âmbito da Programação do Investimento Público:
• Afectação de recursos para a realização de estudos de pré-viabilidade e de
viabilidade
• Criação e gestão da carteira de projectos
• Afectação de recursos para a realização dos projectos
Em complemento destes critérios pode estabelecer-se uma lista pré-definida de domínios cujos
projectos ou acções são, por natureza, da competência dos órgãos de decisão locais. Finalmente, pode
admitir-se o princípio da desconcentração apenas da fase de execução dos projectos, sendo a sua
aceitação da responsabilidade do nível central.
Num território insular como é o cabo-verdiano, esta questão equaciona-se de um modo muito
diferente do que se verifica em territórios de natureza continental. Com efeito, a falta de continuidade
geográfica não permite a instalação de infra-estruturas de rede, cobrindo a totalidade do território, e
o consequente benefício resultante das economias de escala e de aglomeração daí resultantes. Por
exemplo, as infra-estruturas de distribuição de energia têm de ser repartidas por cada ilha, na base de
um sistema próprio e autónomo. Na prática, o elevado nível dos custos de investimento e de
manutenção necessários dificultam a desconcentração das decisões de investimento, remetendo para os
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__________________________________________________________________________101
órgãos centrais a responsabilidade de tais decisões, ainda que a sua incidência seja típica e
exclusivamente regional.
A opção por uma dupla dimensão sector/ilhas como unidade básica de programação procura dar
respostas, em diferentes fases do processo de planeamento, aos problemas atrás identificados na
relação entre os diferentes níveis de planeamento. Preconiza-se assim um método de abordagem que
permite a distinção, com a maior objectividade possível, das intervenções que têm carácter
nacional das que têm uma incidência regional. Nas primeiras incluem-se as acções que contribuem
para o reforço da coesão nacional, e os seus resultados e efeitos deverão ser visíveis em todo o território
nacional, independentemente da localização física das infra-estruturas de base. (Por exemplo, a infra-
estrutura aeroportuária do Sal está localizada nessa ilha mas serve todo o território nacional). Na
verdade, o carácter nacional da intervenção é-lhe conferido pelo facto de os seus efeitos abrangerem o
conjunto do território nacional. As acções de carácter regional caracterizam-se pelo facto de os
respectivos resultados e efeitos terem uma incidência marcadamente regional (por exemplo, uma infra-
estrutura de produção e distribuição de energia eléctrica).
Em relação às primeiras deverá ser possível identificar as intervenções nacionais regionalizáveis
das intervenções não regionalizáveis . Este conceito comporta alguma ambiguidade pelo que
importa esclarecer melhor o seu significado, na base de um critério de diferenciação o mais objectivo
possível. Uma primeira aproximação passa por considerar o critério da localização física das infra-
estruturas. Neste caso é estatisticamente viável proceder à repartição regional do valor das acções de
investimento, através dos indicadores de realização29. Uma segunda aproximação, consiste na
regionalização dos efeitos, o que implica o recurso a indicadores mais difíceis de medir e de quantificar,
designadamente os indicadores de resultados e de efeitos. Em conclusão, estas dificuldades conduzem
por norma à consideração do critério de regionalização apenas com base nos indicadores de realização.
29 Ver definição no 6.2
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DIAGRAMA 5-10: Modelo de articulação entre os níveis sectorial/programático e o nívelregional
REGIÃO/ILHA A
PROGRAMA 1 PROGRAMA 2
ComponenteRegional
ComponenteRegional
ComponenteNacional
Regionalizável
ComponenteNacional
Regionalizável
ComponenteNacional
ComponenteNacional
REGIÕES/ILHAS
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A partir do modelo de repartição de recursos explicitado no DIAGRAMA 5-10 será possível elaborar
um quadro estatístico de repartição das despesas de desenvolvimento, com a seguinte estrutura:
QUADRO 5-7: Repartição dos programas entre a administração central e regional
Programa 1 ....... Programa N Total daRegião/Ilha
Componentenacional doPrograma 11ocalizável naRegião/Ilha 1
Componentenacional doPrograma N1ocalizável naRegião/Ilha 1
Total dascomponentesnacionaislocalizáveis naRegião/Ilha 1
Componenteregional doPrograma 1 daRegião/Ilha 1
Componenteregional doPrograma N daRegião/Ilha 1
Total dascomponentesregionais daRegião/Ilha 1
Região/Ilha 1
Total doPrograma 1relativo àRegião/Ilha 1
Total doPrograma Nrelativo àRegião/Ilha 1
Total doPrograma Nrelativo àRegião/Ilha 1
.........
Componente nacionalnão regionalizável
Componentenãoregionalizáveldo Programa 1
Componentenãoregionalizáveldo Programa N
Total dascomponentesnãoregionalizáveis
Total do Programa Total doPrograma 1
Total doPrograma N
Total geral
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5.4 A calendarização da elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento
O processo de planeamento proposto tem dois ciclos fundamentais: um ciclo de médio prazo (5
anos) correspondente à legislatura, e um ciclo anual que se materializa com o Orçamento do Estado e
com o Programa Plurianual de Investimento Público (PPIP).
O primeiro ciclo corresponde à elaboração e aprovação das Grandes Opções de Médio Prazo, na
qual se explicitam os objectivos estratégicos, as correspondentes linhas de acção governativa, e as
medidas de política económica estrutural que sustentam as opções tomadas. O segundo ciclo decorre
das linhas de orientação de política visando a preparação do Orçamento do Estado e do PPIP do ano
seguinte. Essas orientações têm como referência estratégica as Grandes Opções de Médio Prazo, e
definem com mais detalhe os objectivos de política a seguir no ciclo orçamental a que dizem respeito.
Na programação de médio prazo distingue-se entre a elaboração das Grandes Opções de Médio
Prazo (cuja aprovação compete à Assembleia Nacional) e a elaboração do Plano Nacional de
Desenvolvimento, cuja aprovação depende do Governo (ver DIAGRAMA 5-11). Cada um daqueles
processos poderá decorrer ao longo de 6 e 9 meses respectivamente, embora muitas das fases
respectivas podem decorrer em simultâneo.
A preparação das Grandes Opções de Médio Prazo inicia-se com a emissão de orientações pelo
Ministério das Finanças e Planeamento à Direcção-Geral de Planeamento, órgão técnico de planeamento
com responsabilidades a nível global. O conteúdo dessas orientações é basicamente composto pelas
prioridades políticas do governo e pelas linhas de orientação estratégica a seguir.
As linhas de política a seguir têm em conta o Programa do Governo, os compromissos estabelecidos
a nível internacional e os constrangimentos de recursos, bem como as opções estratégicas para a
legislatura. Até final do Mês n+1, o órgão central de planeamento deverá apresentar ao Ministério das
Finanças e do Planeamento, um documento sistematizando as orientações do Governo, e explicitando
as implicações técnicas das opções avançadas (com base em cenários macroeconómicos de médio
prazo onde se apresentam as necessidades e as condições de financiamento da estratégia proposta).
Um ou mais cenários de evolução macroeconómica poderão ser elaborados tendo em vista analisar a
sustentabilidade das opções feitas. A análise da economia internacional, sobretudo nos aspectos que
podem influenciar a economia cabo-verdiana deverá ser tida em conta. O governo poderá assim rever
eventualmente alguns objectivos se estes forem considerados inatingíveis dentro do horizonte das
Grandes Opções.
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Na elaboração do documento técnico o órgão central de planeamento deverá consultar os órgãos
sectoriais de planeamento (GEP s) com a finalidade de obter as linhas de orientação estratégica
propostas por cada sector. Até ao final do Mês n+2, o documento de Grandes Opções de Médio Prazo
deverá estar aprovado pelo Conselho de Ministros, e pronto para ser discutido com os parceiros sociais.
O Governo poderá querer introduzir eventuais alterações, repetindo eventualmente o ciclo anterior.
O documento de base deverá ser enviado à Assembleia legislativa, o mais tardar até ao final do Mês
n+5, que deverá discuti-lo e aprová-lo até fim do Mês n+6.
DIAGRAMA 5-11: Cronograma de elaboração das Grandes Opções de Médio Prazo
DGPGOVERNOPARCEIROS
SOCIAISGEPsSECTORIAIS
(1) Orientações
(4) Projecto GOPs(3) Proposta deGOPs sectoriais
(7) Proposta de GOPs
(8) Aprovação GOPs
CONSELHODE
MINISTROS
(5) Projecto de GOPs
(6) Parecer
(2) Orientações/Metodologia
ASSEMBLEIANACIONAL
A preparação do Programa Nacional de Desenvolvimento (PND) (DIAGRAMA 5-12) decorre
naturalmente das Grandes Opções (GOPs) pelo que a sua preparação deverá estar a jusante deste
processo. Assim, a preparação do PND inicia-se com a emissão das orientações respectivas por parte do
Ministério das Finanças e Planeamento. Tais orientações são fundamentalmente as mesmas que foram
produzidas para a preparação do documento de Grandes Opções, embora devam incidir sobretudo sobre
questões de natureza programática (principais eixos estratégicos, principais programas, eventuais
programas especiais a considerar, etc). O órgão técnico responsável pela elaboração do Plano (DGP)
prepara então as orientações que deverão ser seguidas pelos responsáveis sectoriais e regionais na
elaboração das respectivas propostas.
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DIAGRAMA 5-12: Faseamento da elaboração do PND
Os órgãos de planeamento sectoriais submetem as suas propostas de Programa, incluindo os
Subprogramas e Medidas. Uma distinção deve ser feita entre projectos em curso (decorrentes de
compromissos já assumidos) e novos projectos propostos.
O órgão central procede à síntese das propostas recebidas, para as enquadrar no Programa e para
negociar com os órgãos sectoriais eventuais ajustamentos. Concluído este processo deverá ser
submetida ao Ministério das Finanças e do Planeamento uma proposta global de Plano Nacional de
Desenvolvimento, o qual após aprovação deverá ser apresentado ao Conselho de Ministros que lhe dará
força legal.
A elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento deverá decorrer de um conjunto de exercícios
que incluem a elaboração do Diagnóstico Social e Económico que deverá fundamentar as opções
estratégicas a seguir no próximo Plano de Desenvolvimento, bem como a elaboração de cenários de
desenvolvimento na dupla perspectiva sector(programa)/região.
Para a elaboração do diagnóstico, seja sectorial, seja a nível da região, será utilizada uma grelha de
análise normalizada cujo conteúdo poderá obedecer ao esquema proposto no QUADRO 4-2.
A elaboração dos cenários de desenvolvimento, sobre os quais se deverá posteriormente estruturar o
novo Plano de Desenvolvimento, implica que se tenha em conta as dimensões nacional,
sectorial/programática e regional. Assim, e na sequência das fases anteriores, e após serem conhecidas
as opções estratégicas do Governo (Grandes Opções) balizadas com o quadro de sustentabilidade
macroeconómica, inicia-se a fase de elaboração dos Programas sectoriais e regionais. De acordo com o
esquema adiante proposto, os sectores devem distinguir, nas suas propostas de programa, as acções e
projectos que são regionalizáveis. Ao órgão central de planeamento competirá a coordenação da
arbitragem dos documentos sectoriais / regionais face às restrições dadas pela imposição dos equilíbrios
DGPGOVERNOPARCEIROS
SOCIAISGEPsSECTORIAIS
(1) Orientações
(4) Projectode Programa
(3) Propostas deprogramas sectoriais
(7) Proposta de PND
(8) Aprovação PND
CONSELHODE
MINISTROS
(5) Projecto de PND
(6) Parecer
(2) Orientações/Metodologia
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__________________________________________________________________________107
macroeconómicos e pelas orientações estratégicas sobre prioridade. Compete-lhe ainda a elaboração de
uma proposta de Plano Nacional de Desenvolvimento, explicitando as intervenções de incidência e
localização regionalizáveis.
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__________________________________________________________________________108
5.5 A implementação do PND e o Programa Plurianual de InvestimentosPúblicos (PPIP).
O Programa Plurianual de Investimento Público (PPIP) continua a ter expressão, enquanto
instrumento de implementação do Plano Nacional de Desenvolvimento, antes de se evoluir para um
modelo plena de Orçamento-programa. Quando se atingir esse estádio, o PPIP perde expressão, e o
PND passa a ser executado através da execução anual dos respectivos programas/subprogramas.
Assim, na fase actual, em que domina ainda a lógica de carteira de projectos, distingue-se entre o
ciclo de programação do investimento público e o ciclo do projecto. No primeiro caso, o
processo situa-se ao nível do órgão central de planeamento responsável pela gestão global do
investimento público (em concreto a Direcção-Geral de Planeamento), enquanto que no segundo caso o
processo situa-se a nível dos promotores dos projectos sob a coordenação dos órgãos sectoriais de
planeamento (ou seja os GEP s).
Apresenta-se de seguida uma breve descrição das fases principais de cada um destes ciclos, numa
perspectiva que aponta para a identificação das acções concretas que devem ser asseguradas no
processo de programação do PPIP.
5.5.1 Ciclo anual de preparação do Programa de Investimento Público(PPIP)
O Programa de Investimento Público tem vindo a ser elaborado em Cabo Verde no contexto do
Programa Nacional de Desenvolvimento, segundo um figurino que corresponde mais a uma abordagem
do tipo dual (coexistência de um Orçamento Corrente com um Orçamento de Investimento) do que
propriamente a uma abordagem programática.
Nestas condições, se o objectivo a prazo é o de evoluir para um modelo de programação da despesa
pública na base do Orçamento-Programa generalizado, então deve considerar-se a presente metodologia
como transitória.
Segundo o actual modelo de gestão do Programa de Investimentos, o ciclo do PPIP engloba os
processos de identificação, selecção e implementação dos projectos de investimento público. ste
processo está por sua vez integrado num sistema de planeamento e de gestão financeira do Estado mais
amplo conforme atrás se referiu. Na verdade, a elaboração do Investimento Público enquadra-se no
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processo mais geral de planeamento do desenvolvimento sócio-económico, de programação, e de
orçamentação, no qual o Plano Nacional de Desenvolvimento é o quadro de referência fundamental. Fica
assim evidenciado que todo o exercício orçamental (incluindo a gestão da despesa corrente, ou de
funcionamento, e a gestão do investimento público) faz parte de um processo mais amplo que em última
análise remete para as grandes opções de política e para as prioridades que se estabelecem a esse nível.
Assim, e conforme mostra o DIAGRAMA 5.12 o ciclo de preparação do PPIP desenvolve-se ao longo de 8
meses e culmina com a sua aprovação na Assembleia Nacional juntamente com o Orçamento do Estado.
As fases desse processo são:
§ Definição das orientações de política económica para o ano de referência;
§ Elaboração de um cenário macroeconómico contendo os objectivos de política e o equilíbrio
recursos-empregos consistente
§ Definição da política orçamental e fiscal que enquadra a elaboração do OGE e do PPIP do ano
seguinte
§ Orientações aos órgãos sectoriais de planeamento tendo em vista a preparação da respectiva
proposta de orçamento corrente bem como do programa de investimentos
§ Preparação das propostas de programa de investimento por sector
§ Elaboração da proposta de Programa Plurianual de Investimento Público, em consonância com o
Orçamento do Estado
§ Aprovação das propostas de OGE e PPIP em Conselho de Ministros e envio à Assembleia Nacional
para aprovação.
O processo inicia-se com a definição das orientações de política económica por parte do órgão do
Governo responsável pela condução da política económica (Ministério das Finanças e Planeamento), na
base de um cenário macroeconómico elaborado pelo órgão técnico de planeamento (Direcção-Geral de
Planeamento). Essas orientações visam o ano de referência orçamental, ou seja o ano seguinte em
relação ao qual decorre este exercício.
O referido cenário decorre de um exercício técnico, envolvendo os principais departamentos
responsáveis pela política económica (incluindo o Banco de Cabo Verde) e tomando como base de
trabalho o modelo de previsão económica de médio prazo RMSM-X.
Enquadrada no cenário económico seleccionado, define-se a política orçamental e fiscal para o
ano de referência, na qual são fixados os limites de despesa pública que são comportáveis face aos
recursos financeiros disponíveis identificados no modelo. Estes limites deverão corresponder aos valores
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máximos disponíveis para a despesa corrente e a despesa de investimento, e deverão ser divididos por
sectores. Na verdade, o limite máximo de despesa por sector (ou por Programa) deve ser previamente
comunicado aos respectivos responsáveis com base nos quais estes preparam as respectivas propostas
de programa de investimento.
O órgão de coordenação global procede seguidamente à consolidação das propostas dos sectores, e
submete-a de seguida ao Ministro de tutela antes do envio para Conselho de Ministros para aprovação
da proposta de lei orçamental a remeter à Assembleia Nacional, e da qual deverá fazer parte o
Orçamento de Investimento.
Note-se finalmente que, no contexto de um Orçamento-Programa completo (que engloba a despesa
pública sem uma distinção dicotómica entre as componentes corrente e de capital) a distribuição dos
recursos financeiros orçamentais (incluindo as fontes externas) deve ser feita por Programa, com base
nas prioridades de política anteriormente definidas. Neste caso, os limites orçamentais a indicar aos
gestores dos Programas integram a totalidade da despesa.
DIAGRAMA 5-13: Cronograma da programação do PPIP
A implementação anual do PND, através da execução do PPIP, deve obedecer a um calendário
regular. Nos diagramas que seguem apresenta-se uma possível cronologia das diferentes da elaboração
e execução do PPIP:
DGPGOV.
(1) Orient. Política.
(2) Cenários Macro
(3) Orient. Orçamento
(1): Mês m + 4 (3): Mês n+6 (4): Mês m + 7 (7): Mês m+10
ASSEMBLEIANACIONAL
(6) Proposta PPIP
(8): Mês m+11
(4) Orientações
(5) PPIP sect.
(7) Proposta OGE e PPIP
(9) Aprovação
GEPs
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__________________________________________________________________________111
DIAGRAMA 5-14: Cronograma de execução anual do PND: a nível macroeconómico(proposta)
Fixação limites orçamentaisMinistério Finanças e Plan.
31 MarçoElabor. Cenário Macroecon.Direcção-Geral de Planeamento
31 Março
. 30 Junho
Elaboração Directrizes PPIPDirecção-Geral de Planeamento
15 Julho
Circular Orçamental/PPIPMinistério das Finanças e Plan.
31 Julho
Aprovação OGEConselho de Ministros
15 Set.
Apreciação proposta PPIPConselho de Ministros
Manual do Processo de Planeamento Sócio-Económico____________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________112
DIAGRAMA 5-15: Cronograma de elaboração do PPIP (proposta)
Análise de elegibilidadeMinistério Finanças e Plan.
28 FevPropostas projectos novosGEPs
20 Maio
Apreciação proposta PPIPConselho de Ministros
30 Junho
Elaboração Directrizes PPIPDirecção-Geral de Planeamento
15 Julho
Circular Orçamental/PIPMinistério Finanças e Plan
31 Julho
Propostas sectoriaisGEPs
15 Agosto
Manual do Processo de Planeamento Sócio-Económico____________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________113
DIAGRAMA 5-16: Cronograma de execução do PPIP (proposta)
Relatório de Execução
GEPs
nª Semana antes inícioTrimestreProgramação Financeira
GEPs
30 dias após fim Trimestre
Relatório Execução Trimest.
Ministério Finanças e Plan.
45 dias após fim Trimestre
Relatório Execução Anual
Conselho MinistrosMarço ano seguinte
Relatório Execução Anual
Ministério Finanças e Plan.Fevereiro ano seguinte
Manual do Processo de Planeamento Sócio-Económico____________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________114
O actual sistema de gestão do investimento público carece ainda de consolidação, identificando-se
de seguida os pontos mais críticos:
§ Os projectos deverão ser rigorosamente enquadrados nos programas do Plano Nacional de
Desenvolvimento; nesse contexto, deverá ser assegurada a pertinência entre os objectivos
específicos de cada projecto e os objectivos globais do Programa onde está inserido. O
mecanismo de programação e orçamentação deve assegurar a coerência entre os objectivos
estratégicos, os objectivos de política e os objectivos dos projectos.
§ O processo de elaboração do PND deve abranger todos os níveis, desde o nível de Programa
Principal, passando pelo nível de Subprograma, até ao nível de Medida. Os projectos em curso
podem ser reclassificados e inseridos na nova estrutura programática, enquanto que os projectos
novos devem ser objecto de uma candidatura devidamente fundamentada na base de um dossier
de projecto (ver conteúdo e estrutura no QUADRO 6-1).
§ Uma preparação adequada do PND é uma condição necessária para o seu bom desempenho,
justificando-se um bom investimento de tempo e recursos na fase preparatória, sobretudo no
desenho da estrutura do programa e nas suas articulações com o sistema orçamental.
§ As prioridades do PND devem ser objecto de uma revisão anual, antecedendo a preparação do
PPIP do ano seguinte, e no âmbito da qual os novos projectos possam ser priorizados, e os
projectos em curso possam ser reprogramados; a revisão anual deverá em todo o caso tomar
como referência o cenário de médio prazo da despesa pública.
§ A preparação do PPIP deve ser enquadrada no processo de planeamento e orçamental.
Nesse contexto, o PPIP deve ser concebido, documentado e implementado como parte do ciclo de
planeamento e de orçamentação.
§ O modelo de orçamento por programa é muito exigente em coordenação. Por essa razão, no
plano institucional importa é necessário reforçar a cooperação entre as instâncias de coordenação
global e as instâncias sectoriais, no quadro dos processos de planeamento e fiscais.
§ O PPIP deve ser preparado numa base plurianual e revisto anualmente visando a sua
incorporação no Orçamento Geral do Estado. A revisão do PPIP deverá estar associada à revisão
do programa plurianual. A pluri-anualidade do PPIP tanto pode ser fixa (por exemplo 3 anos), ou
variável de modo a acomodar a diferente temporalidade dos investimentos.
§ O primeiro ano do PPIP plurianual deve originar o orçamento de investimento que se integra por
sua vez no Orçamento Geral do Estado.
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__________________________________________________________________________115
§ A melhoria da coordenação da ajuda externa (envolvendo os principais órgãos de
coordenação económica) é uma condição necessária para a melhoria do sistema de gestão do
investimento público, designadamente no que se refere à escolha dos investimentos.
§ Os projectos de investimento só devem ser admitidos no PPIP após serem submetidos a um
processo de selecção, na base de uma metodologia multicritério, cujos critérios devem traduzir
os objectivos bem como as condições de implementação dos projectos. Só deverão ser aceites
projectos que preencham condições mínimas de implementação, devidamente explicitadas
através dos critérios de selecção.
§ Na fase de transição para um modelo de programação integral, deverá proceder-se ao cálculo
dos custos recorrentes associados aos projectos de investimento público inscritos no PPIP. Tal
exercício deverá ter lugar no contexto da previsão da despesa pública a médio prazo, sendo
a respectiva informação derivada dos dossiers de projectos, a partir das respectivas contas de
exploração. Estas despesas recorrentes são assim integradas no Orçamento Corrente de cada
ano. No contexto do Orçamento-Programa, as despesas correntes são integradas no programa a
que pertencem.
§ Os projectos de investimento inscritos no PPIP devem constar obrigatoriamente da Base de
Dados SIPIP.
§ O processo de elaboração do Programa de Investimentos deve ser apoiado por uma base
documental bem fundamentada e estruturada, embora sempre sujeita às adaptações que
todos os anos podem ocorrer. De preferência deverá ter a forma de Manual de Procedimentos o
qual, sempre que sofra alterações, deverá acompanhar a circular anual visando a preparação do
PPIP.
§ As metodologias de programação deverão ser uniformizadas em todo o sistema de
planeamento e de programação. O presente Manual inscreve-se nessa linha de orientação, pelo
que todos os documentos técnicos dele derivados ou associados deverão ser metodologicamente
coerentes entre si.
§ A capacidade técnica staff técnico dos órgãos de planeamento, qualquer que seja o nível
a que se encontrem precisa de ser urgentemente reforçada sobretudo no domínio dos
instrumentos de programação e de gestão de programas e projectos. O staff do órgão central de
planeamento deverá, em particular, estar habilitado a dar orientações de natureza técnica em
metodológica aos técnicos de outros órgãos.
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__________________________________________________________________________116
5.5.2 O ciclo do projecto (na perspectiva do PPIP)
Quando se fala em ciclo do projecto convém desde logo precisar em que contexto nos situamos.
Na verdade esta designação é frequentemente utilizada embora remeta para contextos por vezes muito
diferentes. No contexto do sistema de gestão do investimento público, naturalmente que o ciclo do
projecto de investimento público assume o papel central e é portanto esta perspectiva que é
seguidamente desenvolvida. Todavia, deve ter-se em linha de conta que um número significativo dos
projectos de investimento público em Cabo Verde são financiados por agências externas (Banco Mundial,
União Europeia, Banco Africano de Desenvolvimento, etc), as quais desenvolveram metodologias
próprias de acompanhamento dos projectos. Esta circunstância coloca desde logo problemas de
articulação e de coordenação entre o ciclo (interno) dos projectos de investimento público e o ciclo (com
elementos de intervenção externa) dos projectos com financiamento externo. No ponto seguinte faz-se
uma breve descrição das abordagens da União Europeia e do Banco Mundial.
A gestão do ciclo do projecto de investimento público é da responsabilidade dos órgãos sectoriais de
planeamento (ou dos gestores de Programas e Sub-Programas quando estes estiverem instituídos). As
acções que têm lugar nesse âmbito dependem da natureza centralizada ou descentralizada do sistema
de decisão. Em Cabo Verde, verifica-se ainda uma significativa centralização na escolha dos
investimentos, embora a iniciativa de submeter propostas caiba aos sectores.
O Diagrama 3.8 mostra as fases do ciclo do projecto desde fase de identificação até à fase de
conclusão, embora nem sempre na prática as etapas intermédias sejam rigorosamente respeitadas.
Assim, o presente cronograma deve ser interpretado como um esquema de referência que deverá ter
tradução num regulamento normativo que implique os organismos responsáveis na sua implementação
efectiva.
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DIAGRAMA 5-17: Cronograma do ciclo do projecto
Momentos de Referência Processos
Submissão do projecto
Aprovação do projecto
Início contratual
Início efectivo do projecto
1º desembolso
Conclusão contratual .
Conclusão efectiva
Análise do projecto de acordo com critérios de selecção
Montagem do projecto
Implementação do projecto
Projecto concluído no plano contratual
Acordo de financiamento
Preparação da proposta de inscrição do projecto no PPIP
Identificação do projecto
Preparação do dossier do projecto edo acordo de financeiamento
Instrução do projecto
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Os momentos de referência devem ser traduzidos em datas regulares. A fixação dessas datas de
referência (milestones) na programação e execução dos projectos constitui um factor essencial para a
utilização do SIPIP como instrumento de gestão. Importa sobretudo identificar as datas de referência
que traduzem mudanças de estado do projecto. Com essa datas devidamente identificadas e
informatizadas torna-se possível obter da aplicação informática, relatórios sobre a situação global dos
projectos e acções do PPIP. No DIAGRAMA 5-17 faz-se a descrição das datas actualmente definidas.
No diagrama distingue-se entre o conceito de data e o conceito de período estando este
associado ao processo. As datas, que devem ser obrigatoriamente inscritas no sistema,
correspondem aos momentos em que o projecto assume uma nova situação ao longo do período de
execução. Os períodos identificam as situações entre as datas. Esta clara delimitação permite extrair do
sistema listagens de projectos que se encontrem em fases determinadas do processo. Por exemplo:
§ Projectos que já foram aprovados mas cujo início contratual ainda não se verificou (ou seja os
projectos cuja data de aprovação do projecto já foi registada, mas que não alcançaram ainda a
data de início contratual ;
§ Projectos já aprovados mas que não receberam ainda o primeiro desembolso (isto é, projectos
cuja data de aprovação do projecto já foi inserida no sistema, mas que não atingiram ainda a
data 1º desembolso ;
§ Projectos efectivamente em curso, ou seja os projectos que já ultrapassaram a data início
efectivo e ainda não alcançaram a data conclusão efectiva .
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__________________________________________________________________________119
5.6 As organizações internacionais e o ciclo do projecto
5.6.1 A abordagem do Banco Mundial
Uma outra dimensão em que importa ter em conta a perspectiva das agências internacionais, e
neste caso, do Banco Mundial, é a respectiva abordagem no domínio do ciclo do projecto. Neste
domínio denota-se uma evolução significativa desde que nos anos 60 esta organização impôs um
padrão que foi de um modo geral adoptado por outras agências internacionais de cooperação. Tal
padrão está representado no DIAGRAMA 5-18.
DIAGRAMA 5-18: Abordagem convencional do ciclo do projecto segundo o BancoMundial
Assiste-se actualmente a um processo de evolução da abordagem convencional para uma nova
abordagem, com contornos ainda pouco definidos mas cujos pressupostos de base são os seguintes:
§ Os objectivos e o desenho do projecto devem ser centrados no beneficiário
IDENTIFICAÇÃO
PREPARAÇÃO
AVALIAÇÃO
AVALIAÇÃOEX-ANTE
NEGOCIAÇÃOE APROVAÇÃO
IMPLEMENTAÇÃO
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§ A participação dos beneficiários do projecto, e de outras partes envolvidas, está assegurada
§ A análise do risco deve ser incorporada na análise dos projectos.
DIAGRAMA 5-19: Uma nova abordagem do ciclo do projecto
O diagrama evidencia as quatro fases principais nas quais se estrutura o novo ciclo do projecto:
§ Consulta a audição, na qual se evidencia o papel central desempenhado pelo país beneficiário e
pelos grupos-alvo do projecto. Esta abordagem cria condições para que o projecto seja
determinado pela procura.
§ Acção piloto, estágio no qual as alternativas identificadas na fase anterior são exploradas,
acompanhadas de uma análise de risco. Nestas condições são seleccionados projectos piloto, que
permitem testar um conjunto de condições de sustentabilidade como, a capacidade de liderança
local, os métodos de gestão, bem como as alternativas de financiamento. Esta fase inclui ainda a
formação de gestores e a elaboração das técnicas de participação bem como a análise dos
aspectos institucionais, sociais, físicos, culturais e ambientais relacionados com o projecto.
§ Demonstração, fase durante a qual o projecto é implementado numa escala mais representativa,
na base da qual seja possível confirmar as hipóteses levantadas na fase anterior. A informação
CONSULTA
DEMONSTRAÇÃO
DIFUSÃOACÇÕES PILOTO
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obtida nesta fase, bem como a evidência dos benefícios alcançados reforça o potencial do
projecto para ser reproduzido numa escala mais alargada.
§ Disseminação, durante a qual os métodos, técnicas e programas desenvolvidos nas fases de
acção-piloto e de demonstração são adoptadas em larga escala. A transformação de um
programa ou projecto de demonstração num projecto sustentado à escala nacional requer bases
muito sólidas, bem como a implementação de métodos de gestão mais descentralizados.
5.6.2 A abordagem da União Europeia
A Comissão Europeia adoptou a metodologia do quadro lógico em 199330 e desde então tem-na utilizado
como um instrumento de referência na concepção e na gestão dos projectos em cujo financiamento
participa. Uma recente actualização dessa metodologia31, mentem os princípios gerais, e introduz uma
visão mais articulada entre o nível de programa e o nível de projecto.
Dando uma orientação prática àquela metodologia, a Comissão desenvolveu o conceito de Project Cycle
Management (Gestão do Ciclo do Projecto) que aplicou como formato normalizado a todos os projectos
que são apoiados. Deste modo, preconiza-se que todos os documentos sejam estruturados na base do
referido formato normalizado, facilitando a transparência e a consistência de todas as fases do ciclo do
projecto, desde o estudo de pré-viabilidade, passando pelo estudo de viabilidade, pela preparação da
proposta de financiamento, pelo programa de actividades, até aos relatórios de acompanhamento e de
avaliação. De modo a assegurar a clareza de todo o processo, também os Termos de Referência do
projecto devem ser elaborados com base na mesma metodologia.
Este sistema de documentos normalizados, designado por Abordagem Integrada facilita uma definição
mais clara dos objectivos a alcançar pelos projectos, na base de uma maior participação dos
beneficiários, e de uma melhor avaliação dos riscos envolvidos na respectiva implementação.
30 Commission of the European Communities (1993), Project Cycle Management – Integrated Approach andLogical Framework,31 European Commission, EuropeAid Co-operation Office, Manual Project Cycle Management, March 2001.
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DIAGRAMA 5-20: O ciclo do projecto segundo a União Europeia
Relatórios de AvaliaçãoRelatórios de Avaliação
Relatórios periódicosRelatórios periódicos
Compromisso/Acordode Financiamento
Compromisso/Acordode Financiamento
PropostaFinanciamento
PropostaFinanciamento
Estudo Pré-viabilidadeEstudo Pré-viabilidade
EstudoViabilidade
EstudoViabilidade
PROGRAMASECTORIAL
(PND)
AVALIAÇÃO
IMPLEMENTAÇÃO
IDENTIFICAÇÃO
FINANCIAMENTO
FORMULAÇÃO
GOPs
Cada uma daquelas fases assenta sobre um conjunto de procedimentos normalizados
materializados numa sequência de intervenções quer da parte do país beneficiário, quer da parte dos
serviços da Comissão Europeia. Segue-se uma breve caracterização de cada um deles.
i) Programação indicativa
Nesta fase tem lugar a definição geral das orientações e princípios da cooperação com a UE.
A preparação do Programa Indicativo Nacional deve beneficiar da metodologia da Gestão do Ciclo
do Projecto atrás apresentada. Na verdade, com base na aplicação dessa metodologia, o programa
indicativo poderá focar mais claramente os objectivos do programa de cooperação em termos
macroeconómicos e sociais, na medida em que se torna mais fácil associar os objectivos dos programas
e projectos aos objectivos das políticas sectoriais, no quadro da política macroeconómica do país, e daí
derivar os objectivos de cooperação da União Europeia. Este mesmo conceito é naturalmente aplicável a
todos os sistemas de cooperação externa.
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ii) Identificação
Nesta fase procede-se a uma primeira elaboração da ideia do projecto, expressa em objectivos,
resultados e actividades, com vista a determinar se é necessário, ou não, proceder a um Estudo de
Viabilidade. Se for necessário, definem-se os Termos de Referência desse estudo. Em todo o caso,
recomenda-se a aplicação da metodologia do Quadro Lógico desde esta fase.
Na fase de identificação de projectos, sobretudo quando se trata de projectos complexos,
recomenda-se a organização de ateliers específicos com o objectivo de se identificarem os problemas
que devem ser atacados bem como a formulação das soluções possíveis. Estes ateliers têm a vantagem
adicional de reforçar o empenhamento dos beneficiários e das agências de implementação nas
actividades do projecto. Finalmente, uma vantagem destas reuniões é a de proporcionarem a recolha
da informação de base necessária à elaboração da proposta financeira do projecto.
iii) Instrução
Aqui tem lugar a determinação, de uma forma mais pormenorizada, de todos os aspectos de
um projecto com base num Estudo de Viabilidade. Segue-se uma apreciação interna, por parte dos
serviços da Comissão, sobre a oportunidade do projecto e sobre a sua coerência com as políticas
sectoriais. Cabe aqui tomar a decisão de se proceder, ou não, à redacção da Proposta de Financiamento
(fundamentada numa avaliação ex-ante).
De acordo com as normas vigentes, todas as propostas financeiras apresentadas no final desta fase
devem ser formuladas com base no formato normalizado.
iv) Financiamento
Redacção da proposta de financiamento. Exame pela Comissão de Financiamento, opinião
favorável da Comissão e decisão de financiamento da Comissão; redacção e assinatura pelas duas
partes, ACP-CE, da Convenção de Financiamento.
v) Implementação
Execução do projecto através da afectação dos meios previstos na Convenção de Financiamento
com vista a atingir os resultados e o objectivo específico do projecto; tem lugar a elaboração do Plano de
Actividades e dos Relatórios de Acompanhamento.
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Os detalhes da implementação do projecto podem ser elaborados num atelier de planeamento
participativo na fase inicial do projecto. Como eventualmente terá decorrido algum tempo entre a fase
de formulação e a presente fase de implementação, a situação existente e as partes envolvidas podem
ter mudado consideravelmente. O Programa de Actividades bem como a identificação das
responsabilidades de gestão e execução do projecto deverão fornecer informação específica sobre os
objectivos a alcançar e o sistema de indicadores de suporte ao processo de acompanhamento.
Uma vez que os projectos são definidos mais em termos de objectivos (expressos como indicadores),
o método da Gestão do Ciclo do Projecto torna-se um instrumento fundamental para o acompanhamento
do projecto. Em princípio, o acompanhamento consiste em avaliar os progressos alcançados de acordo
com o sistema de indicadores que está a ser utilizado, na base dos objectivos e dos resultados do
projecto.
Os relatórios de acompanhamento devem ser elaborados, na base de um calendário pré-
estabelecido, pela equipa de gestão do programa ou projecto. Os referidos relatórios, elaborados com
base no formato normalizado, e deverão produzir informação relevante para a avaliação do desempenho
do projecto, e deverão indicar os ajustamentos que é necessário considerar.
vi) Avaliação ex-post
Esta modalidade de avaliação consiste na análise dos resultados e dos efeitos (impactes) do
projecto durante e após a sua implementação, e poderá conduzir à sua reorientação eventual e/ou à
formulação de recomendações para a orientação de projectos semelhantes no futuro. No caso em que se
prevejam várias fases de realização do projecto, o lançamento de uma nova fase dependerá em princípio
dos resultados da avaliação da fase precedente. Como se referiu atrás, a metodologia da Gestão do
Ciclo do Projecto pode ser utilizada desde a formulação dos Termos de Referência, até à realização das
várias modalidades de avaliação (ex-ante, intercalar e ex-post). Verifica-se com muita frequência que os
problemas que se encontram na avaliação de um programa ou projecto resultam justamente do facto de
este não ter sido formulado segundo a metodologia do quadro lógico, e neste contexto, a falta de
clareza na definição dos objectivos e dos respectivos indicadores de verificação. Na prática, estes
problemas só são ultrapassados mediante a reformulação do quadro de objectivos do projecto, ou seja,
na base da reelaboração de um quadro lógico.
Essas intervenções têm como resultado a produção e aprovação de alguns documentos de
referência, conforme a seguir se refere. Cada documento está associado a um secta que simboliza o
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facto de se tratar de um documento de output (→), isto é, resultante da própria fase, ou de um
documento de input (←), ou seja, necessário à concretização da fase.
QUADRO 5-8: Os intervenientes no ciclo do projecto e os documentos de base
Fases Documentos de Suporte Intervenientes
Programação Indicativa Estratégia do país (←)
Programa Indicativo Nacional (→).
Governo do país beneficiário
Comissão da UE
Identificação Termos de referência do estudode viabilidade (→)
Estudo de viabilidade/Avaliaçãoex-ante (→)
Governo do país beneficiário
Formulação Estudo de avaliação ex-ante (←)
Proposta de financiamento (→)
Governo do país beneficiário
Comissão da UE
Financiamento Proposta de financiamento (←)
Convenção de financiamento (→)
Comissão de Financiamento (UE)
Governo do país beneficiário
Implementação Plano de actividades (←)
Relatórios de acompanhamento (→)
Estudo de avaliação intercalar (↔)
Governo beneficiário
Avaliação ex-post Estudo de avaliação ex-post (→) Comissão da UE
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6. O sistema de gestão e acompanhamento de execução
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6.1 A abordagem integrada com base no Quadro Lógico: o formato de base dosrelatórios do ciclo do projecto
Neste capítulo propõe-se uma metodologia de identificação e de acompanhamento de projectos que
poderá ser integrada no quadro normativo do PPIP, assumindo-se como um método orientador e
normalizador na apresentação dos projectos de investimento público para efeitos de elegibilidade,
assegurando assim um efeito disciplinador na apresentação e análise das propostas de projecto de
investimento.
O conceito de abordagem integrada na gestão e acompanhamento de projectos de
desenvolvimento apoia-se na metodologia do Quadro Lógico32. A ideia central é que o dossier de base
de um projecto deve ser formatado de um modo uniforme, logo na fase inicial do seu desenho e deve
acompanhar toda a vida do projecto. Assim, o formato de base será utilizado nos vários relatórios de
acompanhamento a elaborar (relatórios trimestrais, anuais e de avaliação), naturalmente com a devida
adaptação a cada situação. Os tópicos e os conteúdos de base dos relatórios derivam da metodologia do
enquadramento lógico de projectos (explicada sinteticamente no Subcapítulo 5.2 deste manual),
aproveitando os conceitos e as relações inerentes a essa metodologia.
O dossier do projecto deverá pois obedecer a um modelo normalizado, seguido por todos os
proponentes, sem prejuízo da especificidade de cada sector. A fase de identificação do projecto deve
dar origem a um Dossier de Projecto, cujo conteúdo normalizado está descrito no QUADRO 6-1.
32 Esta metodologia é proposta pela União Europeia em CEC, Project Cycle Management.
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QUADRO 6-1: A estrutura de base do dossier de projecto
1. Contexto 1.1 Política do governo/política sectorial 1.2 Características do sector 1.3 Beneficiários e actores principais 1.4 Problemas para resolver 1.5 Outras intervenções relacionadas com o projecto (em curso ou em estudo) 1.6 Documentação disponível (estudos anteriores ou actuais relacionados com o sector e o projecto)
2. Lógica da intervenção 2.1 Objectivos globais 2.2 Objectivo específico 2.3 Resultados 2.4 Actividades
3. Pressupostos que condicionam a implementação do projecto 3.1 Factores externos que condicionam o projecto 3.2 Riscos e flexibilidade
4. Realização do projecto/programa 4.1 Meios físicos e não físicos 4.2 Organização, procedimentos e modalidades de execução 4.3 Calendário de execução 4.4. Custos e plano de financiamento 4.5 Condições especiais: medidas de acompanhamento do governo e dos financiadores externos
5. Factores que asseguram a sustentabilidade do projecto 5.1 Políticas de apoio 5.2 Tecnologias e técnicas apropriadas 5.3 Impactos ambientais 5.4 Aspectos sócio-culturais/Igualdade de oportunidades 5.5 Capacidades institucionais e de gestão (públicas e privadas) 5.6 Análise económica e financeira
6. Acompanhamento e avaliação 6.1 Indicadores de acompanhamento 6.2 Análises/Relatórios de Avaliação
7. Conclusões e propostas
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__________________________________________________________________________129
Segue-se uma breve explanação do conteúdo do quadro.
1. CONTEXTO
Neste capítulo define-se o contexto geral no qual se insere o projecto e analisam-se os problemas
para cuja resolução este deve contribuir. Em concreto procura-se compreender e analisar:
1.1. Política do governo/política sectorial
Este ponto destina-se a uma análise do contexto macroeconómico de preferência tal como está
definido no Plano Nacional de Desenvolvimento. Deve ser complementado com um resumo da política
oficial traçada pelo governo para o sector em que se integra o projecto.
1.2. Características do sector
Descrevem-se as características do sector consideradas necessárias para se compreender a natureza
dos problemas que o projecto pretende resolver.
1.3. Beneficiários e actores principais
Procede-se à análise dos interesses do ou dos grupos-alvo, se possível em colaboração com eles,
como elemento essencial para se definirem correctamente os problemas a resolver, os objectivos e as
acções a realizar.
1.4. Problemas a resolver
A elaboração de uma árvore de problemas permite identificar os problemas e estruturá-los
logicamente nos seus diferentes níveis, na base de uma relação de causa-efeito.
1.5. Outras intervenções
Neste capítulo devem ser identificados os projectos que estejam em curso (ou previstos) e que tenham
alguma relação com o projecto que está a ser preparado. Devem também ser referidos projectos
anteriores que tenham antecedido o projecto em causa.
1.6. Documentação disponível
Deverá mencionar-se a documentação disponível sobre o sector designadamente a que tenha sido
utilizada na preparação do projecto. Os estudos de pré-viabilidade e as avaliações anteriores devem ser
indicadas.
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2. LÓGICA DE INTERVENÇÃO
Após a análise dos problemas, definem-se os objectivos a atingir, os resultados do projecto e as
actividades que permitem realizar esses resultados. Explica-se igualmente qual a estratégia que foi
adoptada (entre as várias alternativas possíveis) e qual a justificação da escolha feita.
2.1. Objectivos globais
Descrevem-se os objectivos mais gerais do desenvolvimento para os quais o projecto deverá
contribuir. No caso do PND, estes objectivos devem coincidir com as Grandes Opções de Médio Prazo,
traduzidas em eixos estratégicos de intervenção.
2.2. Objectivo específico
Deve ser definido apenas um objectivo específico por projecto, e deveria construir-se um
quadro lógico para cada objectivo específico. Vários objectivos específicos (de um programa ou de um
projecto muito complexo, por exemplo) deverão dar origem a vários quadros lógicos. Deve verificar-se
sempre se o objectivo específico é coerente com os objectivos globais.
O objectivo específico é a formulação positiva de um problema anteriormente identificado. Por isso,
deve ser considerado como um fluxo sustentável de benefícios para o grupo-alvo, e deve estar sempre
ligado a um resultado, expresso através de indicadores apropriados.
Nesse sentido é fundamental definirem-se os indicadores objectivamente verificáveis e as
fontes de verificação correspondentes, para comprovar se o objectivo específico pode ser atingido.
2.3. Resultados
Devem-se especificar os resultados físicos e não físicos do projecto necessários para atingir o
objectivo específico. Definem-se igualmente indicadores objectivamente verificáveis e as respectivas
fontes de verificação.
2.4. Actividades
Neste ponto são identificadas as actividades principais necessárias para se atingir os resultados.
Para cada resultado, poderá haver um conjunto de actividades.
3. PRESSUPOSTOS EXTERNOS
Este capítulo identifica os factores externos que escapam à influência directa do projecto, mas que
são importantes para o seu êxito. Devem por isso ser previstos e analisados.
3.1. Pressupostos em diferentes níveis
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Em primeiro lugar devem identificar-se as condições prévias ao arranque do projecto. As
condições prévias constituem as iniciativas ou decisões que devem ser tomadas antes do lançamento do
projecto (por exemplo: decisões de ordem administrativa como a instituição de uma política de preços,
etc.). Incluem-se aqui os aspectos de natureza institucional e contratual sem os quais o projecto não
deverá ter início. Depois de se terem clarificado e assegurado as condições prévias, identificam-se os
principais factores externos, ou pressupostos, ou hipóteses, cuja verificação positiva é crucial para o
sucesso do projecto. Estes factores não são controlados pelo gestor do projecto, mas devem ser
conhecidos e acompanhados. Em alguns casos é possível internalizar alguns desses factores,
incorporando-se como componentes dos projecto, o que significa a mobilização de recursos adicionais.
Outra solução poderá passar por desenhar projectos complementares que permitam ultrapassar os
problemas identificados.
3.2. Riscos
Todos os projectos estão sujeitos a riscos de ordem natural, política, social, financeira, económica,
etc., que devem ser evidenciados, na medida do possível. Para enfrentar situações imprevistas ou
factores não controláveis, o projecto deverá dispor de mecanismos flexíveis e adaptativos para os quais
se deverá prever financiamento.
4. REALIZAÇÃO DO PROJECTO
Neste capítulo descrevem-se os aspectos internos relativos à organização da execução do projecto.
4.1. Meios físicos e não físicos
Neste contexto precisam-se as despesas a realizar incluindo a assistência técnica eventualmente
necessária. Tais despesas podem incluir infra-estruturas, equipamentos, funcionamento, pessoal local,
serviços (estudos, assistência técnica para a execução dos projectos, acompanhamento, avaliação), bem
como fundos especiais (linhas de crédito) e imprevistos.
4.2. Organização, procedimentos e modalidades de execução
Neste ponto definem-se os procedimentos e as responsabilidades das entidades públicas e privadas
que participam no projecto. Cabe apresentar aqui um plano de acção para a execução do projecto,
incluindo os mecanismos de acompanhamento e de fiscalização, bem como o compromisso da
apresentação de relatórios periódicos de acompanhamento. Prevê-se, no caso do PPIP, a apresentação
de relatórios trimestrais e anuais.
4.3. Calendário de execução
O calendário de execução deverá ser realista e verificável.
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4.4. Custos e plano de financiamento
Os custos devem ser explicitados por componente do projecto e por categoria económica (utilizando
o classificador económico orçamental) de modo a assegurar a compatibilidade com o Orçamento do
Estado (Ver ANEXO 2: Classificadores Orçamentais). Os custos devem ser sempre que possível
discriminados em moeda local e em divisa estrangeira, com indicação das fontes e modalidades de
financiamento.
4.5. Condições especiais e medidas de acompanhamento do governo
Este ponto reveste uma importância particular porque resume os compromissos do governo quanto
ao projecto. As medidas de acompanhamento referem-se às acções que o Governo deve executar
durante e depois da instalação do projecto. A formulação de todas estas medidas deve ser acompanhada
por um calendário verificável de execução.
5. FACTORES DE SUSTENTABILIDADE
A experiência ensina que a viabilidade de um projecto depende essencialmente de um conjunto de
factores tipificados que devem ser analisados logo na fase de preparação do projecto. Esses factores,
que seguidamente se descrevem, devem ser acompanhados durante todo o ciclo do projecto.
5.1. Política de apoio
Trata-se aqui das políticas de apoio que enquadram as medidas especificamente ligadas ao projecto.
O estabelecimento deste quadro implicará frequentemente a aprovação de actos legislativos ou
regulamentares. Nenhum projecto é viável num ambiente político desfavorável.
5.2. Técnicas apropriadas
É necessário definir os métodos e os meios técnicos que permitem realizar as actividades do
projecto, tendo em conta, nomeadamente, as necessidades e as capacidades existentes.
5.3. Protecção do ambiente
A tomada em consideração do ambiente tornou-se uma questão cuja importância é largamente
reconhecida. A relevância dos factores ambientais não é idêntica em todos os projectos. Em alguns casos
podem ser negligenciáveis, noutros são importantes, e noutros são fundamentais. Por isso, cada
projecto deve ter uma forma própria de abordar esta questão. Caso sejam necessárias medidas de
protecção do ambiente, elas deverão ser definidas neste ponto.
5.4. Aspectos socio-culturais e igualdade de oportunidades.
Reconhece-se actualmente que motivação sócio-cultural suscitada pela participação activa e pela
responsabilização dos grupos interessados é essencial para o sucesso de um projecto. Se forem
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necessárias medidas para incentivar essa participação, elas deverão ser definidas aqui. A participação
das mulheres na execução e nos benefícios do projecto, nomeadamente o acesso aos factores de
produção e aos serviços de apoio deve ser objecto de uma atenção especial.
5.5. Capacidades institucionais e de gestão (públicas e privadas)
A avaliação de outros projectos mostra que a debilidade das instituições é a causa mais importante
de fracasso dos projectos, sobretudo no sector primário. As actividades de criação de capacidades
institucionais e de gestão desempenham, por conseguinte, um papel importante na maior parte dos
casos. A capacidade das instituições de se dirigirem às mulheres e de garantirem a sua participação
deverá ser objecto de uma atenção particular. A escolha entre formas de organização pública ou privada
deve ser expressamente analisada.
5.6. Análise económica e financeira
Em alguns projectos, particularmente os que têm uma natureza produtiva, deve realizar-se uma
análise custo-benefício, no âmbito da qual se determine a respectiva taxa interna de rendibilidade
económica e financeira. Já para outros projectos, designadamente os de natureza social deve fazer-se
uma avaliação custo/eficácia. É essencial prever de forma realista a viabilidade económica e financeira
do projecto depois da sua realização (cobertura das despesas de funcionamento, de manutenção e de
depreciação) e a repartição dos rendimentos suplementares entre os grupos e instituições alvo, incluindo
o Estado.
6. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
6.1. Indicadores de acompanhamento
O acompanhamento de um projecto deve fazer-se na base de indicadores apropriados, de modo a
poder comparar-se os objectivos com as realizações efectivas aos diferentes níveis. O método utilizado
para recolher os dados correspondentes deve ser precisado.
6.2. Revisões / avaliações
Devem prever-se avaliações independentes para determinados projectos, sobretudo os de grande
dimensão ou os que apresentem problemas sérios de execução. Tais avaliações deverão verificar todos
os aspectos da preparação e da concepção do projecto, o seu contexto, os seus objectivos e os seus
resultados, as hipóteses e os riscos, a sua realização, o seu funcionamento e os seus impactes
(desejados ou não), à luz dos critérios de sustentabilidade.
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7. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Neste último capítulo sintetizam-se os principais aspectos caracterizadores do projecto, e fazem-se
as recomendações pertinentes tendo em vista a sua implementação.
Os relatórios de acompanhamento dos projectos do PPIP devem basear-se naquela
metodologia. No QUADRO 6-2 faz-se uma descrição pormenorizada do seu conteúdo com a finalidade de
se analisar a sua relação com os relatórios a elaborar ao longo do ciclo do projecto. No mesmo quadro
indicam-se os métodos e as técnicas que são sugeridos no presente manual33 e que podem ser
utilizados em alguns dos domínios acima referidos. Distingue-se entre as fases da Formulação ou da
Instrução do Projecto, e da Implementação.
33 Para se poder estabelecer uma melhor relação com as técnicas propostas no presente Manual, elas estãoidentificadas com maiúsculas.
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QUADRO 6-2: A estrutura e composição dos relatórios do ciclo do projecto
Formulação do projecto Implementação/Relatórios trimestrais Implementação/Relatórios anuais
CONTEXTO DO PROJECTO
Descrição do contexto macroeconómico e daspolíticas públicas dirigidas ao sector de actividadeno qual se enquadra o projecto.
Diagnóstico do sector de actividade em que seinsere o projecto, de preferência na base doMÉTODO SWOT.
Identificação dos beneficiários do projecto bemcomo dos actores relevantes com base naMATRIZ E ESTRATÉGIA DOS ACTORES.
Identificação e descrição dos problemas que oprojecto pretende enfrentar, recorrendo aoMÉTODO DA ÁRVORE DE PROBLEMAS naqual se hierarquizam os problemas identificadossegundo uma relação causa-efeito.
Apresentação dos objectivos do projecto,recorrendo à técnica da ÁRVORE DEOBJECTIVOS, e explicitação da relação entre osobjectivos do projecto e os objectivos de políticadefinido pelo governo para o sector no qual seinsere o projecto (Nota: a árvore de objectivosobtém-se a partir da árvore de problemas).
Cabe assinalar aqui a existência de outrosprojectos que estejam em curso ou em estudo e
Breve análise da evolução recente dos factores quepodem influenciar a evolução do projecto.
Evolução do contexto macro-económico do ano emanálise, em particular no que se refere àimplementação das políticas que condicionaram arealização do projecto.
A partir da análise SWOT, observação sobre se severificaram os factores aí descritos.
Análise sobre a evolução dos problemasidentificados na fase de identificação e de instruçãodo projecto, e a sua repercussão sobre a actualidadedos objectivos formulados.
Confirmação das estratégias dos actores principais,cuja previsão havia sido feita nos estudos iniciais doprojecto.
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Formulação do projecto Implementação/Relatórios trimestrais Implementação/Relatórios anuais
que tenham alguma relação com o projecto queestá a ser proposto.
Deve indicar-se a documentação existente sobre osector de actividade em causa.
LÓGICA DE INTERVENÇÃO
Apresentação da sequência lógica:
o Objectivos globais
o Objectivo específico
o Resultados
o Actividades
o Meios
(Ver MÉTODO DO QUADRO LÓGICO)
O relatório trimestral deve identificar as actividadesque estão em curso, bem como as eventuaisdificuldades que estejam a ser encontradas de modo aintroduzirem-se os mecanismos de correcçãonecessários.
O relatório anual deverá explicitar a lógica deintervenção subjacente ao projecto, evidenciandoquais as realizações que foram alcançadas, asactividades que foram empreendidas e os meios queforam mobilizados.
PRESSUPOSTOS QUE CONDICIONAM A EXECUÇÃO DO PROJECTONeste capítulo do relatório procede-se àidentificação e à análise dos factores externos aoprojecto que podem condicionar a sua realização.Igualmente devem ser identificadas as condiçõesprévias a reunir para que o projecto se possainiciar. Finalmente, importa enunciar os riscosassociados à implementação do projecto e quepodem comprometer a sua execução caso nãosejam controlados.
Devem acompanhar-se os factores externos que podemafectar negativamente a execução do projecto. Estesfactores devem ter sido previstos na fase de desenho ede concepção do projecto e importa verificar se elesestão de facto a manifestar-se. Se for esse o caso, entãoimporta accionar os mecanismos que minimizem osefeitos negativos.
Deve indicar-se se os factores externos que tinhamsido previstos na fase de instrução do projecto,efectivamente se verificaram. Caso se tenhamverificado, importa explicar que meios foramutilizados para os ultrapassar, e se eles continuam aser um obstáculo à implementação do projecto.
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Formulação do projecto Implementação/Relatórios trimestrais Implementação/Relatórios anuais
Em função daquela análise devem seridentificados eventuais mecanismos de adaptaçãoe de flexibilidade que contribuam para seultrapassarem os referidos riscos.
REALIZAÇÃO DO PROJECTODeve clarificar-se qual o plano de acção que deveorientar a execução do projecto, nomeadamente aindicação dos recursos humanos, materiais efinanceiros, a definição dos procedimentos, aidentificação das responsabilidades aos váriosníveis (decisão, execução, avaliação).
Cabe aqui a inclusão de um cronograma deexecução do projecto com indicação do caminhocrírico.
Deve incluir-se um orçamento e as fontes definanciamento, enquadradas num plano definanciamento.
O relatório trimestral deverá dar conta do grau deexecução através dos indicadores de realização (verAnexo 2: SISTEMA DE INDICADORES).
Os constrangimentos eventualmente verificados naexecução do projecto deverão ser explicitados, comindicação das causas e das soluções preconizadas.
De acordo com o cronograma inicialmenteestabelecido, o relatório anual deverá indicar o nívelde realização do projecto recorrendo aos indicadoresde realização respectivos.
FACTORES DE SUSTENTABILIDADEA sustentabilidade do projecto deve ser garantidarecorrendo a um conjunto de INDICADORES DESUSTENTABILIDADE (ver QUADRO 5-6)
Não se aplica Neste capítulo analisam-se os factores desustentabilidade e a respectiva incidência no ano dereferência.
ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃONeste capítulo descrevem-se os mecanismos deacompanhamento que deverão ser postos emacção tendo em vista a execução do projecto.
Tais mecanismos incluem a estrutura decoordenação, bem como os métodos eprocedimentos de acompanhamento.
O funcionamento do sistema de acompanhamento doprojecto deverá ser objecto de análise, identificando-se os eventuais problemas e propostas de solução.
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Formulação do projecto Implementação/Relatórios trimestrais Implementação/Relatórios anuais
Os métodos de acompanhamento devem apoiar-senum sistema de informação, o qual por sua vezassenta num conjunto de indicadores de execução.
Os procedimentos de avaliação previstos devemtambém ser apresentados neste contexto.
CONCLUSÕES E PROPOSTASResumo dos principais problemas com a implementação do projecto, incluindo propostas e recomendações visando a sua solução.
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6.2 Os indicadores de acompanhamento
O acompanhamento dos Programas deverá ser feito a partir de um sistema de informação de
apoio à gestão, o qual deve incorporar um sistema de indicadores de acompanhamento. Um
indicador é uma grandeza, definida em termos de quantidade, qualidade, grupo-alvo, tempo e
localização, que permite verificar os objectivos e os resultados de uma intervenção. Para terem interesse
operativo como instrumentos de gestão de um programa ou de um projecto, devem preencher um
conjunto de características, isto é, devem ser:
§ Específicos em termos de quantidade e de qualidade;
§ Pertinentes, isto é, devem centrar-se sobre o essencial do problema em causa;
§ Independentes e diferentes uns dos outros
§ Únicos, isto é, cada indicador deve estar associado a um só objectivo ou resultado;
§ Verificáveis, isto é, baseados em dados acessíveis
§ Fiáveis, isto é, devem traduzir fielmente o fenómeno que visam caracterizar
Os indicadores devem permitir-nos caracterizar com precisão as características dos objectivos e
dos resultados de uma intervenção ou de um projecto, e nessa medida eles são de grande utilidade na
verificação da pertinência e da viabilidade do projecto. Eles têm por isso uma incontestável utilidade na
gestão e acompanhamento dos programas e projectos, permitindo verificar se os objectivos estão
a ser alcançados conforme tinha sido previsto quando o programa/projecto foi concebido.
A definição dos indicadores decorre directamente da forma como se estrutura e desenha uma
determinada intervenção (programa ou projecto), estabelecendo-se uma estreita relação entre a lógica
de intervenção e a estrutura de indicadores, como ilustram os quadros seguintes. Deste modo, os
indicadores devem ser definidos na fase de formulação de cada programa ou projecto, no mesmo
momento em que se desenha a lógica de intervenção no contexto da matriz de enquadramento lógico na
qual ela se inscreve.
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DIAGRAMA 6-1: A lógica de intervenção (Matriz de enquadramento lógico)
OBJECTIVOSGLOBAIS
OBJECTIVOESPECÍFICO
OBJECTIVOSOPERACIONAIS(RESULTADOS)
ACTIVIDADESExecução financeira
Realização física
Resultados imediatos edirectos da intervenção
Benefício resultante daintervenção
Efeitos de nível superior para osquais a intervenção contribui
EXEMPLO: PROJECTO DE MELHORIADA REDE VIÁRIA
Rede municipal de estradasresponde à procura
Manutenção das estradasmelhorada
Capacidade produtiva daeconomia provincial aumentada
1. Elaborar estudos prévios2. Clarificar competências3. Estudar condições de participação
do sector privado4. Elaborar Termos de Referência5. Organizar equipas de manutenção
envolvendo comunidades locais6. Monitorar trabalhos de
manutenção
A interpretação da lógica de intervenção compreende-se melhor lendo o diagrama de baixo para
cima: as Actividades do projecto viabilizam as realizações que sob o ponto de vista da gestão do
projecto são vistas como realizações físicas (por exemplo, construção de uma estação de tratamento de
águas residuais), a que corresponde uma execução financeira (na base do orçamento do projecto).
As realizações permitem chegar a resultados e que são justamente o produto final da intervenção
(naquele exemplo, o resultado é a própria estação de tratamento). Mas os resultados da intervenção não
devem ser confundidos com o objectivo (o qual é medido em termos de um benefício efectivo, medido
através de um indicador apropriado).
O diagrama seguinte mostra a relação estreita entre cada categoria de indicador e cada nível de
objectivo.
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DIAGRAMA 6-2: A hierarquia de objectivos e de efeitos
IMPACTOS
RESULTADOS
REALIZAÇÕES
LÓGICA DEINTERVENÇÃO
OBJECTIVOESPECÍFICO
OBJECTIVOSOPERACIONAIS
OBJECTIVOSGLOBAIS
SISTEMA DEINDICADORES
Fonte: Comissão Europeia, Indicadores de Acompanhamento e Avaliação: Uma Metodologia Indicativa,Documento de Trabalho Nº3.
Numa lógica de intervenção os indicadores estão associados a cada uma dos níveis dahierarquia de objectivos: objectivos globais → objectivos específicos → resultados (vide
DIAGRAMA 6-2 ). Os indicadores associados ao objectivo global têm normalmente uma
natureza mais qualitativa, enquanto que os indicadores que exprimem os resultados e as realizações
devem ter um cariz sobretudo quantitativo.
No quadro seguinte faz-se uma breve descrição de conteúdo do conjunto de indicadores de que dispõe o
gestor de um Programa para fazer o respectivo acompanhamento.
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QUADRO 6-3: Categorias de indicadores
Indicadores de recursos financeiros São utilizados para acompanhar o processo de pagamentosrelativos a cada intervenção.
Indicadores de realização Dizem respeito às realizações que são o produto dasactividades do projecto ou da intervenção. São medidos emunidades físicas ou monetárias (p.ex., extensão de estradaconstruída, número de empresas que receberam apoiofinanceiro, etc.)
Os indicadores de resultados Referem-se ao efeito directo e imediato causado por umPrograma ou projecto. Fornecem informações sobre asalterações, por exemplo, no comportamento, na capacidadeou no desempenho dos beneficiários directos. Taisindicadores podem ter um carácter físico (redução do tempode viagem, número de formandos bem sucedidos, número deacidentes rodoviários, etc.) ou financeiro (efeito de alavancasobre os recursos do sector privado, diminuição dos custosdos transportes).
Os indicadores de impacto Referem-se às consequências do Programa para além dosefeitos imediatos sobre os seus beneficiários directos. Épossível definir dois conceitos de impacto. Os impactosespecíficos são os efeitos que ocorrem ao fim de umdeterminado lapso de tempo, mas que estão directamenteligados à acção empreendida. Os impactos globais são efeitosa mais longo prazo que afectam uma população mais vasta. Éevidente que a medição deste tipo de impacto é complexa,sendo muitas vezes difícil estabelecer relações causaisevidentes.
A escolha dos indicadores bem como das respectivas fontes de verificação levanta quase sempre
um problema de custos, dado que a sua elaboração requer habitualmente um moroso processo de
recolha e tratamento estatístico. Assim, se os indicadores forem demasiado complexos ou numerosos
podem provocar custos de obtenção elevados. Por vezes justifica-se o recurso à obtenção de
indicadores indirectos, mais fáceis de obter em termos de tempo e de custos. Por exemplo, se se
considera que a determinação do nível de rendimento per capita numa dada comunidade é difícil de
determinar, pode-se definir um indicador indirecto baseado na utilização de determinados bens de
consumo (veículos de transporte, aparelhos electrodomésticos) mais facilmente determináveis através de
um inquérito simples.
Na escolha dos indicadores tem de se ter em conta as fontes de verificação. Estas são os meios
de informação que permitem obter os indicadores: relatórios, boletins estatísticos, resultados de
inquéritos específicos, etc.
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O acompanhamento da execução de um programa ou de um projecto e a avaliação do
seu desempenho face aos objectivos estabelecidos, requer uma clara interpretação dos indicadores em
função do que se pretende obter ou analisar com o indicador. Descrevem-se a seguir alguns exemplos
sobre a forma como se definem os indicadores de acompanhamento em ligação com as respectivas
lógicas de intervenção:
QUADRO 6-4: Projecto de desenvolvimento de Recursos Humanos
Intervenção Descrição Indicadores
Realização Programa de formaçãoprofissional
Número de cursos realizados
Número de formandos
Resultados Número de beneficiários queterminaram a formação comêxito
Objectivo específico Perfil profissional melhoradaptado às necessidades domercado
Redução da taxa de desempregodos jovens
Aumento da taxa departicipação da força de trabalhona formação
Objectivo global Desenvolvimento sócio-económico do município
Aumento do emprego e daprodutividade
Aumento da competitividade
Aumento do VAB
QUADRO 6-5: Projecto de desenvolvimento de apoio ao sector produtivo num município
Intervenção Descrição Indicadores
Realização Construção de um centro deconferências
Centro construído
Resultados Realização de seminários,conferências e congressos
Nº de eventos realizados/ano
Objectivo específico Informação dos agenteseconómicos e sociais maisdifundida
Nº de artigos em jornais e revistassobre a actividade económica nomunicípio
Objectivo global Desenvolvimento sócio-económico do município
Aumento do emprego e daprodutividade
Aumento da competitividade
Aumento do VAB
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QUADRO 6-6: Projecto de reabilitação de terrenos urbanos degradados
Intervenção Descrição Indicadores
Realização Terrenos urbanos degradadosreabilitados
Área reabilitada
Resultados Melhoria do perfil sócio-profissional dos habitantes da áreareabilitada
% de habitantes comdeterminadas profissões
Objectivo específico Fixação e aumento da populaçãodo município
Percentagem de habitantes quedesejam permanecer na cidade
Nº de habitantes que seestabeleceram no município
Objectivo global Desenvolvimento sócio-económico do município
Aumento do emprego e daprodutividade
Aumento da competitividade
Aumento do VAB
QUADRO 6-7: Projecto de construção de um parque industrial
Intervenção Descrição Indicadores
Realização Ordenamento e infra-estruturação
Área ordenada e infra-estruturada
Resultados Atractividade da zona emcomparação com as zonasvizinhas
Nº de empresas instaladas
Objectivo específico Aumento do emprego na zona deinfluência do município
% de aumento do emprego
Objectivo global Desenvolvimento sócio-económico do município
Aumento do emprego e daprodutividade
Aumento da competitividade
Aumento do VAB
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QUADRO 6-8: Projecto de construção de uma estrada municipal
Intervenção Descrição Indicadores
Realização Extensão construída Financeiros
Físicos: Nº de kilómetrosconstruídos
Resultados Redução do tempo de percurso
Redução dos custos detransporte
Melhoria da segurança
% de novo tempo depercurso/tempo anterior
% novos custos/custos anteriores
Nº de acidentes (viatura/km) emrelação à anterior situação
Objectivo específico Aumento dos fluxosintermunicipais de pessoas ebens
% de aumento:
Das viaturas em circulação
Do nº de toneladas transportadas
Das pessoas transportadas
Objectivo global Desenvolvimento sócio-económico do município
Aumento do emprego e daprodutividade
Aumento da competitividade
Aumento do VAB
Com base nestes indicadores pode medir-se34:
§ A eficácia da intervenção, isto é, o que se fez em relação ao que se queria fazer, o que se pode
medir através dos resultados ou dos impactos obtidos face aos resultados/impactos previstos;
§ A eficiência da intervenção, isto é, as realizações, os resultados e os impactos obtidos em
relação aos recursos mobilizados, designadamente financeiros
O quadro seguinte ilustra as fórmulas de base que permitem o cálculo da eficácia e da eficiência:
34 Commission Européene, Orientations Communes Pour le Suivie et les Évaluations Intermédiaires, 1995.
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QUADRO 6-9: Medidas de eficácia e de eficiência
Indicadores Medida de eficácia Medida de eficiência
Realização De realização:
Execução financeira
Realização física
Execuçãorealizada/prevista
Realizaçãoefectiva/prevista
Realizações em relaçãoaos custos
Resultados De resultados Resultadosobtidos/resultadosprevistos
Resultados obtidos emrelação aos custos
Objectivo específico De impactoespecífico
Impacto obtido/previsto Impacto obtido em relaçãoaos custos
Objectivo global De impacto global Impacto obtido/previsto Impacto obtido em relaçãoaos custos
6.3 A integração dos indicadores nos instrumentos de planeamento eprogramação
A utilização dos indicadores de acompanhamento nos instrumentos de planeamento, programação e
avaliação deverá fazer-se de um modo globalmente coerente e integrado de modo a evitar situações de
sobreposição e de lacunas de informação. Como atrás se referiu o cálculo de indicadores tem implicações
em termos de custos de obtenção e processamento de informação, que importa minimizar.
A Direcção-Geral de Planeamento está bem posicionada para assumir um papel central na definição
do quadro metodológico e processual da construção e difusão dos indicadores de acompanhamento, de
um modo normalizado e sistemático. Tal iniciativa permitiria integrá-los de um modo globalmente
coerente nos vários instrumentos de planeamento e de programação em cujo desenho e implementação
a DGP participa directa ou indirectamente.
Tais instrumentos incluem no essencial o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), a Estratégia de
Redução da Pobreza (PRSP), o Programa Plurianual de Investimento Público (PPIP) e a Revisão da
Despesa Pública (RDP) quer a nível global quer a nível sectorial. Estes documentos, embora
respondendo a finalidades diferentes e com âmbitos de intervenção próprios, deverão estar integrados e
articulados entre si. No quadro que se segue sugere-se uma abordagem possível para o desenho da
metodologia de definição e construção de indicadores, e que pode ser generalizada ao universo de
indicadores utilizados no desenho e acompanhamento de programas e projectos.
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QUADRO 6-10: Definição de um indicador de desempenho
Indicador: Taxa líquida de escolarização no ensino primário (TLE)
Objectivo:
Melhorar o nível de escolaridade
Objectivo quantitativo:
Nacional:Internacional: 99% em 2015 (UNESCO)
Definição:
A taxa líquida de escolarização é definida como a percentagemdas crianças em idade apropriada que estão inscritas no ensinoprimário
TLE = total dos alunos inscritos em idade apropriada / total das crianças no estrato etário X 100
Dimensão apropriada:
A extensão da participação no ensino primário das crianças emidade apropriada
Unidade de medida:
% da população em idade escolar no ensino primário
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informação estatísticaentre o momento actual e o momento de observação
Fonte, método e periodicidade:
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério daEducação
Determinação sistemáticaPeriodicidade anual
Comentários:
Por idade apropriada compreende-se a idade oficial relativa a este nível de ensino, que em Cabo Verde está fixada no intervalo6-11 anos. O cálculo dos indicadores para 2000/2001 tem já em conta os dados demográficos do Censo de 2000.
É necessária uma abordagem regional de modo a identificar algumas disparidades.
O horizonte temporal limitado não permite ter em conta a terceira dimensão da universalidade do ensino primário, traduzida pelataxa de alfabetização de adultos.In: Cape Verde Programme d appui au ajustement structurel - Indicateurs de performance dans les secteurs de l éducation et dela santé, Note Métodologique, Octobre 2001.
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6.4 Instrumentos de gestão da despesa pública (integrando a óptica financeira)
6.4.1 Um modelo de gestão da despesa pública
A integração das funções de planeamento e de orçamento, que resultará do aprofundamento
da abordagem PPBS, e em vias de materialização através das reformas em curso, viabiliza:
§ A coerência entre os objectivos da política de desenvolvimento e as orientações de política
assumidas no Orçamento anual, intermediadas pelas Grandes Opções Anuais (cuja elaboração
está prevista no âmbito do desenvolvimento do sistema de planeamento);
§ A afectação dos recursos de uma forma mais integrada e global, acabando a dicotomia actualmente
existente entre despesa corrente e a despesa de investimento;
§ A construção de um sistema de acompanhamento que integra a perspectiva financeira (através da
contabilidade pública) e a perspectiva da realização física (através de um sistema de indicadores,
conforme se propõe no presente Manual).
No plano dos instrumentos de análise e de gestão, importa distinguir entre a perspectiva de
gestão corrente e a perspectiva de planeamento de médio prazo. No primeiro caso cabe salientar:
§ O Sistema de Contabilidade Pública, que assenta num Plano de Contas
§ Revisão da Despesa Pública
No segundo caso destaca-se como instrumento fundamental:
§ Cenário de Despesa Pública de Médio Prazo
Estes instrumentos assentam na adopção de um sistema comum de classificação da despesa
pública (em fase de introdução no âmbito da reforma do sistema de gestão orçamental), e que deverá
ser adoptada pelos vários elementos do sistema de informação de gestão da despesa pública. No Anexo
5, apresentam-se os classificadores actualmente propostos, a que falta todavia juntar o Classificador que
vier a resultar da nossa estrutura programática do PND.
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O objectivo último da Revisão da Despesa Pública é a de avaliar, de forma sistemática e periódica, a
coerência entre os objectivos da política de desenvolvimento do país e as orientações da política
orçamental, na base da afectação eficaz dos recursos públicos financeiros.
A revisão da despesa pública constitui um exercício, normalmente de periodicidade anual, que visa
assegurar que as despesas orçamentais correspondem aos objectivos de política definidos pelo governo,
e inscritos no Plano de Desenvolvimento. A partir de 1999, Cabo Verde encetou um processo de revisão
da despesa pública, a nível do orçamento global, com uma experiência piloto nos sectores da Educação e
da Saúde. Desses exercícios resultou uma experiência que poderá ser integrada como uma rotina do
processo de acompanhamento e controlo do Orçamento do Estado e do PND no que se refere às
despesas de desenvolvimento.
No quadro seguinte propõe-se a lista dos domínios que tipicamente fazem parte de um exercício de
revisão da despesa pública. Os itens incluídos na primeira coluna poderão constituir os capítulos de um
relatório de análise da despesa pública.
QUADRO 6-11: Domínios a incluir no exercício de Revisão da Despesa Pública
Domínio Descrição do conteúdo
1. Quadro legal e normativo, e sistemainstitucional e orgânico
O quadro legal relativo ao sistema orçamental está completamenteestabelecido, aprovado e em vigor?
Em caso afirmativo, as regras estabelecidas garantem os princípiosinternacionalmente consagrados da transparência, responsabilidadee de prestação de contas? Em caso negativo, o que falta completar,ou rectificar, e que medidas estão a ser tomadas?
O sistema orgânico previsto está já operacional?
2. Cobertura e estrutura orçamental Qual a cobertura que o orçamento faz do conjunto dos recursos edespesas públicos?
Como se caracteriza e qual a dimensão das receitas/despesas extra-orçamentais?
Como se caracteriza e explica a composição despesascorrentes/despesas de capital?
As despesas recorrentes são tomadas em consideração naprogramação do investimento?
Como são consideradas as empresas públicas no OGE?. Emparticular como são tratados os subsídios e transferências?
3. Política e planeamento orçamental Como se articulam as políticas macroeconómica e orçamental?
A estrutura programática do Plano Nacional de Desenvolvimentoserve de referência à elaboração do orçamento?
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A análise da dívida externa e interna está devidamente consideradano Orçamento?
4. Elaboração do orçamento O processo e as rotinas de elaboração do orçamento estão bemdefinidas e normalizadas? As rotinas são claras e transparentes paratodos os intervenientes?
O processo de elaboração do orçamento estabelece uma relaçãoentre as restrições (disponibilidades) que resultam da políticamacroeconómica e as necessidades dos sectores?
A programação da despesa têm em conta as prioridades de política? Que procedimentos decisionais e técnicos asseguram essarelação?
5. Execução orçamental A execução orçamental é consistente com a programação? Em casonegativo quais as razões?
Quais os processos de execução dos Programas do PND?
Como se ajusta a afectação de recursos quando se verificamalterações no fluxo de recursos previstos?
6. Gestão da ajuda externa De que modo a ajuda externa é considerada na programação e naexecução orçamental?
Como funciona o sistema de informação da ajuda externa?
7. Sistema de contabilidade O sistema de contabilidade responde às necessidades de gestãoorçamental em tempo real?
O sistema de informação existente é adequado?
8. Auditoria Quais os mecanismos de auditoria interna e externa existentes?
9. Sistema de informação Como se caracteriza o sistema de informação (ou os subsistemas deinformação) do ciclo orçamental?
10. Avaliação e análise de desempenho Existem práticas de avaliação de Programas?
Os programas têm associados indicadores de análise dedesempenho? São utilizados?
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6.4.2 A contabilidade pública no contexto de um Orçamento porProgramas
A perspectiva da execução dos programas do PND e do programa de investimento deve estar
presente já mesmo na fase de planeamento e de programação das intervenções, na perspectiva, atrás
defendida, de um sistema integrado de planeamento e de orçamento.
A contabilidade pública está tradicionalmente ligada ao modelo de orçamentação por rubrica de
despesa, e o sistema que está em fase de implementação em Cabo Verde está dentro dessa linha de
orientação. Importa por isso reflectir sobre as ligações entre o actual modelo de planeamento (que está
numa fase de transição para um sistema de programação mais avançado) e os sistemas de gestão que
estão a ser implementados, no sentido de assegurar a coerência global do sistema de gestão das contas
públicas.
Uma importante orientação que pode ser tomada vai justamente no sentido da adequação do
sistema de contabilidade pública à implementação do novo Plano Nacional de Desenvolvimento. Essa
adaptação justifica-se por várias razões:
§ O novo sistema de Contabilidade integra todas as despesas (correntes ou de investimento) no
mesmo processo de execução;
§ A contabilidade produz informação útil para o próprio processo de planeamento, na medida em
que pode fornecer custos unitários de referência de evidente utilidade na avaliação financeira
das intervenções, em particular para estimar custos de investimento, e para verificar a
verosimilhança das estimativas de custos submetidas pelos promotores;
§ Na mesma linha de utilidade, a contabilidade fornece informação relevante para a estimativa de
custos recorrentes associados ao investimento público;
§ Finalmente, mas não menos importante, a Contabilidade Pública pode produzir relatórios
periódicos sobre os pagamentos efectuados, produzindo assim indicadores de execução
financeira (que devem ser comparados com os indicadores de execução física). Para garantir este
resultado importa interligar os sistemas de informação das entidades responsáveis pelos vários
domínios de gestão da despesa pública (Direcções de Planeamento, Orçamento, Tesouro e
Contabilidade).
Este conjunto de resultados cria condições mais favoráveis aos exercícios de programação e
orçamentação futuros, designadamente na elaboração de orçamentos plurianuais integrando a despesa
de investimento e a despesa corrente das intervenções e das actividades dos Programas.
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7. Metodologias de avaliação de programas e projectos
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A avaliação de um programa ou de um projecto tem interpretações nem sempre inequívocas pelo
que importa esclarecer os conceitos adoptados neste Manual.
Uma primeira distinção que convém fazer é a que se estabelece entre a avaliação de programas,
que por norma têm uma estrutura complexa, e englobam conjuntos de projectos e acções, e a
avaliação de projectos que requerem outros métodos de abordagem aliás já consagrados numa
extensa literatura.
Quando o objecto de avaliação é um projecto, o método de avaliação depende da natureza do
projecto, se é um projecto público ou privado35, ou sendo público, se é um projecto valorizável ou não
valorizável.
No contexto da carteira de projectos de investimento público do PPIP, a avaliação de cada projecto
insere-se no próprio ciclo do projecto. Neste caso, a avaliação tem como objectivo a análise de
viabilidade do projecto, a sua elegibilidade para ingressar na carteira de projectos do PPIP, e
eventualmente, a decisão de o seleccionar para ingressar no Programa de Investimentos. A avaliação
tem neste caso como objectivo sancionar a passagem do projecto de uma fase para outra. Em
determinados projectos pode justificar-se uma análise de impacte social e económico.
Neste capítulo consideramos as duas abordagens uma vez que ambas estão presentes no sistema
PPBS embora em níveis diferentes de decisão e de complexidade. Começa-se pela abordagem da
avaliação de programas (subcapítulo 7.1.) e conclui-se com a avaliação de projectos (capítulo 7.2.). O
objectivo desta abordagem não é tanto o de desenvolver as técnicas específicas de cada método (o que
se remete para os manuais consagrados e editados), mas sim para as condições em que eles são
utilizados no processo de planeamento e de programação.
35 A avaliação de projectos empresariais não é objecto de análise neste manual.
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7.1 A avaliação de desempenho de programas
Quando o objecto da avaliação é um Programa (de desenvolvimento global36, sectorial,
multisectorial ou regional), a questão central é a análise do seu desempenho (antecipado ou
verificado), mediante a aplicação de um conjunto de critérios cuja aplicação depende do momento em
que decorre a referida avaliação. Em concreto, aplicam-se os conceitos de avaliação a priori ou ex-
ante (que ocorre antes do programa se iniciar), a avaliação intermédia, intercalar ou de meio
percurso (que ocorre a meio do período de implementação), e a avaliação final ou ex-post (que tem
lugar no final do Programa) 37. O DIAGRAMA 7-1 mostra que a sequência destes exercícios de avaliação
se inscreve no ciclo de vida normal de um Programa, ou Subprograma.
DIAGRAMA 7-1: Modalidades de avaliação de desempenho de
programas e projectos
36 Como é o caso do PND,37 No caso do PND 1997-2000 apenas se realizou a Avaliação Intercalar.
AVALIAÇÃO DEDESEMPENHO
Avaliação ex-ante
Avaliaçãointercalar
Avaliação ex-post
CICLO DE VIDADO PROGRAMA
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DIAGRAMA 7-2: O processo de avaliação: as questões centrais da avaliação
Fonte: Comissão Europeia (1999), Indicadores de Acompanhamento e Avaliação: Uma Metodologia Indicativa, Bruxelas
A leitura do DIAGRAMA 7-2 permite colocar as questões centrais do processo de avaliação e que
podem ser equacionadas em torno das seguintes questões fundamentais, que deverão ser
necessariamente objecto de consideração nos exercícios de avaliação de programas de desenvolvimento.
§ Relevância: em que medida os objectivos do Programa são relevantes face às prioridades nacionais
e sectoriais ?
§ Eficiência: quais os resultados obtidos com os recursos utilizados ?
§ Eficácia: que objectivos foram alcançados face aos resultados previstos ?
§ Utilidade: o Programa teve impacto nos grupos-alvo tendo em conta as suas necessidades efectivas
?
§ Sustentabilidade: em que medida os benefícios vão perdurar para além do projecto ?
Os exercícios de avaliação são habitualmente operações tecnicamente complexas e financeiramente
custosas, pelo que importa avaliar a sua oportunidade e viabilidade. Os métodos geralmente seguidos
estão descritos no quadro seguinte, de modo a ter-se uma melhor noção das implicações que decorrem
de uma avaliação.
NECESSIDADES
OBJECTIVOS INPUTS ACTIVIDADESDO PROJECTO
REALIZAÇÕES(OUTPUTS)
RESULTADOS
IMPACTES
RELEVÂNCIA
UTILIDADE E SUSTENTABILIDADE
EFICIÊNCIAEFICÁCIA
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QUADRO 7-1: Métodos e técnicas de avaliação
Vertentes da função de avaliação Instrumentos
Delimitação dos contornos do programa Árvore de objectivos
Matriz de objectivos/medidas
Construção de instrumentos preliminares deavaliação
Tipificação de projectos e promotores
Indicadores de caracterização, de realização física efinanceira e de impacte Identificação de actores e deobservadores
Organização do sistema de informação Planos de apuramento de fontes estatísticas(incluindo fontes administrativas)
Painel de actores e observadores
Guiões de entrevista e de questionário
Avaliação de desempenho Apuramento e interpretação de indicadores derealização física e financeira
Avaliação da preparação, implementação e gestãodo programa
Realização de entrevistas
Análise dos promotores e dos conteúdos dosprojectos
Análise da estratégia dos actores
Avaliação de impacte Apuramento e interpretação de indicadores deimpacte
Análise da matriz de objectivos/medidas
Construção dum modelo explicativo
Apoio à reflexão e gestão estratégica Apuramento e interpretação de indicadores decaracterização, visando o diagnóstico
Análise da matriz de objectivos/medidas
Construção de um modelo explicativo
Análise da estratégia dos actores
Construção de cenários, visando a prospectiva
In Rodrigues, M.J. (1993)
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7.2 A avaliação social e económica de projectos
QUADRO 7-2: A avaliação no ciclo do projecto
Fase Objecto de avaliação Tipo de avaliação
Iden
tific
ação Nesta fase avalia-se a própria ideia de
projecto, na base de um documento deidentificação do projecto.
Esta avaliação tem lugar a nível do sector.
Avaliação da ideia do projecto
O GEP do sector decide da aceitação da ideia deprojecto, confrontando os seus objectivos com asnecessidades ou problemas a que o projectopretende dar resposta.
Prep
araç
ão
O projecto é avaliado com base noDossier do Projecto.
Análise de elegibilidade do projecto
Com base numa grelha de critérios deelegibilidade, o decisor (a nível do GEP ou daDGD) decide sobre a aceitação do projecto, talcomo ele é proposto no Dossier de Projecto. Aanálise a fazer consiste em verificar se o projectoapresenta a solução mais eficiente e adequadapara resolver o problema identificado, tendo ematenção os critérios de elegibilidade.
Neg
ocia
ção
Avaliação externa, do decisor da afectaçãode recursos, do dossier do projecto quereúne toda a documentação preparada,incluindo os requisitos específicos dosfinanciadores.
Selecção e hierarquização do projecto
Avalia-se se o projecto satisfaz as condições paraingressar no PPIP, na base de critérios queassentam sobretudo na disponibilidade definanciamento, mas também se tem suficienteprioridade e pertinência face aos objectivos dedesenvolvimento e às prioridades do sector.
Exec
ução
eA
com
panh
ame
nto
O projecto é avaliado através de relatóriostrimestrais e anuais de execução física efinanceira. Se se verificarem situaçõesanómalas fazem-se avaliações específicas.
Acompanhamento do projecto
O projecto é objecto de acompanhamento regular,verificando-se a eficiência e eficácia no uso dosrecursos. Em situações particulares pode implicara revisão do projecto.
Ope
raçã
o
A avaliação do projecto visa verificar oseu impacto efectivo.
Análise de impacte
Procura-se avaliar o impacto efectivo doinvestimento realizado, incluindo asustentabilidade e se o projecto atingiu osobjectivos pretendidos.
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O conceito de avaliação de projectos adoptado neste ponto é o da avaliação económica e financeira,
que se distingue por isso da avaliação de desempenho, tratada no sub-capítulo anterior.
A avaliação de projectos na óptica económica e social engloba diferentes metodologias que importa
analisar. Não considerando a avaliação financeira de projectos que se aplica habitualmente a projectos
de natureza empresarial, a panóplia de métodos ao dispor do analista de projectos inclui, como mostra o
DIAGRAMA 7-3, inclui a análise custo-benefício, a análise custo-eficácia, o método dos efeitos e a
análise multicritério.
Todos estes métodos se aplicam a projectos de investimento público, cabendo ao decisor escolher o
método que se aplica de forma mais adequada a cada situação concreta. Importa definir neste Manual
os critérios gerais que apoiam essa escolha, remetendo-se o leitor para a leitura das obras de referência
bibliográficas em anexo que desenvolvem as técnicas específicas de cada método. Desde logo se
estabelece uma distinção entre os métodos designados por unicritério e os métodos multicritério.
Os primeiros, que incluem as análises custo-benefício e custo-eficácia, e ainda o método dos efeitos,
permitem determinar o mérito intrínseco de um projecto, na base de um único indicador, eventualmente
complementado com outros indicadores de cariz semelhante. Assim, a análise custo-benefício aplica-
se em geral a projectos que geram um rendimento monetário, e visa determinar a respectiva
rentabilidade económica e social, aferida pela comparação entre a taxa interna de rentabilidade (TIR) do
projecto e uma taxa de desconto de referência macro-económica que indica o limiar de rentabilidade
económica para o país em questão. Assim se a taxa de desconto macroeconómica para o país for, por
exemplo, de 10%, então todos os projectos que apresentem uma TIR inferior e este valor, estão a
utilizar recursos que poderiam ter uma aplicação alternativa mais rentável sob o ponto de vista da
economia em questão.
A análise custo-eficácia aplica-se a projectos não valorizáveis em termos monetários e visa avaliar
a relação entre os outputs do projecto e os respectivos custos.
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DIAGRAMA 7-3: Métodos de avaliação de projectos
No sentido de clarificar as situações a que se aplicam aqueles métodos, faz-se uma distinção entre
projectos de produtos valorizáveis e de produtos não valorizáveis. Esta distinção está na base
de duas linhas metodológicas fundamentais na avaliação de projectos de desenvolvimento e que
seguidamente se apresentam:
§ Avaliação de projectos de produtos valorizáveis. Neste caso consideram-se os projectos
relativos a produtos ou serviços que são susceptíveis de assumir um valor de mercado, ou porque
são objecto de comercialização (exemplos: produtos de projectos de desenvolvimento
industrial, agrícola, turístico), ou porque são fornecidos gratuitamente aos beneficiários numa
base não comercial mas que concorrem indirectamente para a viabilização de actividades
de natureza comercial (projectos de infra-estruturas viárias, de formação profissional, de
vulgarização agrícola). Nestes casos a avaliação do projecto deverá fazer-se recorrendo à
análise custo-benefício.
§ Avaliação de projectos de produtos não valorizáveis. Os projectos de natureza social,
que correspondem habitualmente a bens de natureza pública fornecidos pelo Estado, e que são
MÉTODOS DEAVALIAÇÃO DE
PROJECTOS
MÉTODOS DEAVALIAÇÃO DE
PROJECTOS
AVALIAÇÃOFINANCEIRAAVALIAÇÃOFINANCEIRA
ANÁLISECUSTO-
EFICÁCIA
MÉTODO DOSEFEITOS
ANÁLISE CUSTOBENEFÍCIO
AVALIAÇÃOECONÓMICA
E SOCIAL
ANÁLISEMULTICRITÉRIO
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fornecidos gratuitamente ou por um preço simbólico, são objecto de uma avaliação que pretende
sobretudo analisar a relação entre o custo e os resultados. São exemplos os projectos no domínio
da saúde pública, da educação nacional, da preservação do ambiente, etc.
A maior parte dos investimentos públicos são de natureza não valorizável, isto é, não são objecto de
comercialização e não têm por isso um valor de mercado. O QUADRO 7-3 sintetiza aqueles dois tipos de
projectos.
QUADRO 7-3: Natureza dos projectos públicos
Projectos de produtos ou serviços valorizáveis
(sob forma monetária)
Projectos de produtos ou serviços nãovalorizáveis
Projectos de desenvolvimento visando a produção debens e serviços:
• que são objecto de comercialização, ou paraos quais existe um mercado (projectos dedesenvolvimento industrial, energético,artesanal, agrícola, turístico, crédito àsempresas)
• fornecidos gratuitamente aos beneficiários(ou a baixo custo), cuja venda não obedece auma lógica comercial, mas que concorrempara a viabilização de actividades mercantis(projectos rodoviários)
Projectos de natureza social (cujos produtos são“alunos formados”, “doentes tratados”), depreservação do ambiente, de natureza cultural.Exemplos:
• Saúde pública
• Educação nacional
• Ordenamento urbano
• Preservação do ambiente
• desenvolvimento cultural
• Desenvolvimento institucional
A distinção que acaba se ser feita é importante porque está na base da opção metodológica a
fazer quanto ao método de avaliação. Na verdade, aos projectos que produzem bens e serviços não
valorizáveis aplicam-se de preferência métodos centrados na avaliação dos recursos financeiros
mobilizados pelo projecto e dos respectivos custos (Análise orçamental, Análise de eficiência e Impacte
económico). Os indicadores de avaliação que se aplicam a este caso são habitualmente medidos em
unidades físicas, de preferência associados aos custos envolvidos (Exemplo: nº de formandos formados,
custo por formando).
Aos projectos que produzem bens valorizáveis preconiza-se em geral a análise custo-benefício como
método de avaliação. Os indicadores de avaliação têm neste caso uma base monetária (Taxa interna de
rentabilidade, período de recuperação do investimento, etc)38 e assumem-se como critérios de análise da
rentabilidade dos projectos.
38 Ver em Anexo os
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QUADRO 7-4: Métodos de avaliação de projectos segundo a sua natureza
PRODUTOS NÃOVALORIZÁVEIS
PRODUTOSVALORIZÁVEIS
MÉTODOS APLICÁVEIS • Análise orçamental• Análise custo-eficácia• Impacte económico
(método dps efeitos)
• Análise custo-benefício
NATUREZA DOSINDICADORES
Indicadores em unidades físicas Indicadores em termosmonetários
Em termos práticos podemos distinguir os projectos de desenvolvimento em duas grandes
categorias39:
§ Projectos de produtos valorizáveis sob o ponto de vista monetário, que no essencial
compreendem projectos que geram bens e serviços:
â Que são objecto de uma comercialização efectiva ou para os quais existe um mercado.(Exemplos: projectos de desenvolvimento industrial, energético, artesanal, agrícola, turístico, desistemas de crédito às empresas, etc.)
â Fornecidos gratuitamente aos beneficiários, ou cuja venda não obedece a uma lógica comercial,mas que concorrem principalmente para actividades cuja valorização é possível; é o caso deprojectos rodoviários, relativamente aos quais é possível calcular os efeitos económicos sobre oscustos de transporte e o volume de tráfego existente e induzido, bem como outros parâmetrostais como os ganhos em matéria de segurança e de redução dos tempos de percurso.(Exemplos: projectos de desenvolvimento de infra-estruturas rodoviárias, projectos de formaçãoprofissional ou de extensão agrícola).
§ Projectos de produtos não valorizáveis monetariamente de forma fiável. É o caso dos projectos
de natureza social, onde não se procura valorizar a utilidade económica, mas onde existe uma
preocupação pela minimização dos custos. Incluem-se a título de exemplo projectos nas áreas da
Saúde Pública, Educação, Redes de Saneamento Urbano, Serviços Sociais, Preservação do
Ambiente, Desenvolvimento Cultural, Apoio Institucional). Nestes projectos os seus outputs e
resultados medem-se em termos de alunos formados , doentes tratados , vidas preservadas ,
laços sociais reforçados , instituições reforçadas
39 Ver Commission Européenne (1997), Manuel de Analyse Financière et Économique des Projects deDeveloppement,Luxembourg
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A delimitação entre aquelas categorias de projectos não deve ser vista de forma rígida, dado que a
opção por um critério ou outro depende com frequência dos recursos que se podem afectar à valorização
das suas vantagens. Por exemplo, os projectos rodoviários podem ser avaliados segundo uma
abordagem custo-benefício se se dispuser de recursos para a realização de inquéritos de tráfego.
Finalmente há a registar o facto de muitos projectos de desenvolvimento terem componentes que
são susceptíveis de valorização a par de outras componentes que não podem ser valorizadas
monetariamente. É o caso de alguns projectos de desenvolvimento rural que geram produtos mercantis,
mas que ao mesmo tempo incorporam elementos de natureza social. Igualmente os projectos de
natureza ambiental integram por vezes componentes de exploração de recursos (valorizáveis no
mercado) e de preservação de recursos (que não têm um valor de mercado, mas sobretudo um valor
social).
Uma questão que habitualmente suscita dúvidas tem a ver com a opção entre a análise financeira e
económica. Na análise financeira o principal objectivo é maximizar o benefício privado, da empresa,
na base dos preços de mercado. Aplica-se por isso a projectos do sector privado.
Na análise económica pretende-se alcançar a eficiência económica, a nível nacional, visando-se a
maximização do consumo da sociedade; neste caso a avaliação faz-se com base em preços-sombra.
Todavia, a avaliação económica pressupõe uma avaliação financeira, que numa primeira fase é feita a
preços de mercado antes da respectiva transformação em preços de referência.
CAIXA 7-1: Diferenças fundamentais entre a análise financeira e a análise económica deprojectos
Escala: a análise financeira faz-se, habitualmente, a nível de um projecto empresarial; a análise económicafaz-se a nível de vários projectos, e tem incidências a nível macroeconómico
Taxa de desconto: na análise financeira usa-se a taxa de juro de mercado; na análise económica usa-se a taxade desconto macroeconómica
Sistema de preços: na análise financeira usam-se os preços de mercado; na análise económica usam-se ospreços-sombra
Efeitos externos: na avaliação económica, as definições de custos e benefícios são alteradas de modo a teremem conta os efeitos externos ao projecto, mas por ele induzidos (efeitos ambientais e infra-estruturas)
Transferências: na análise financeira, são consideradas como componentes dos benefícios ou dos custos; naanálise económica são omitidas devido ao seu carácter neutro para a colectividade
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7.2.1 Metodologia de avaliação de projectos relativos a produtosvalorizáveis
A análise económica de um projecto pode representar-se segundo os passos expressos no Diagrama
seguinte:
DIAGRAMA 7-4: Metodologia da avaliação custo-benefício
EficiênciaViabilidadeRetorno do Investimento
UNIDADE A
Cálculo dos efeitosmultiplicadores na
economiaParidade internacional
UNIDADE B UNIDADE C
EFEITOS TOTAIS(valor acrescentado,divisas, orçamento
CONTACONSOLIDADA
SALDO EMPREÇOS SOMBRA
Impacto nos objectivoseconómicos
Viabilidade internacional
RETORNO DOINVESTIMENTOPreços de mercado
RETORNO DOINVESTIMENTOPreços-sombra
Eficiência económica
Relevância económica
SÍNTESEObjectivos de políticaeconómica
In: Commission Européenne (1997), Manuel de Analyse Financière et Économique des Projects de Développement, Luxembourg
Sob o ponto de vista da sua utilização enquanto indicador de avaliação, o Prazo de Recuperação
do Investimento é dado pelo ano a partir do qual o cash flow acumulado (calculado sem os capitais
próprios) se torna positivo. O prazo calculado indica o período ao fim do qual a imobilização do capital é
recuperada.
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As vantagens da utilização deste indicador decorrem da sua significação clara e do seu cálculo fácil.
Por outro lado, quando há restrições de financiamento ou elevado risco o investidor quer recuperar
rapidamente o capital investido.
A Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) constitui um indicador mais robusto. O cálculo da TIR
evita ter de determinar uma taxa de actualização dado que resulta internamente dos fluxos do
projecto. A ordem de grandeza da taxa de actualização deve ser conhecida para se apreciar o valor da
TIR.
Na análise financeira, a TIR pode ser interpretada como a taxa de juro máxima que o agente pode
suportar para equilibrar as suas contas, se todos os investimentos fossem cobertos por um empréstimo.
Na análise financeira, a TIR é uma medida do rendimento do capital investido. Pode ser
comparada à taxa média do mercado financeiro. Na análise económica é comparada com a taxa de
actualização da economia.
Na sua utilização prática, este indicador compara-se com a taxa de actualização i da economia.
assim, o investimento é aceitável se r > i. Uma TIR elevada não significa uma rentabilidade maior do
projecto, mas apenas que se a preferência pelo presente aumentar (ou seja se i aumentar) então o
projecto continua a ser aceitável. A TIR não serve para comparar projectos entre si. Uma TIR mais
elevada não significa uma maior rentabilidade.
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7.2.2 Metodologia de avaliação de projectos relativos a produtos nãovalorizáveis
7.2.2.1 Esquema geral
Os projectos de produtos ou serviços não valorizáveis correspondem normalmente a projectos de
natureza social, em cuja categoria cabem habitualmente os projectos de investimento público. Na
avaliação destes projectos importa sobretudo verificar se os recursos, normalmente públicos, são
utilizados de um modo eficiente (relação recursos/resultados) e relevante (isto é, pertinentes face aos
objectivos de política sectorial ou regional).
Os projectos não valorizáveis caracterizam-se por terem uma estrutura de custos elaborada em termos
monetários, enquanto que os benefícios são expressos em termos descritivos (resultados físicos
quantificados e resultados qualitativos).
Ao contrário da análise custo-benefício, neste tipo de avaliação não é objectivo principal verificar se os
benefícios são superiores aos custos, até porque não são habitualmente comparáveis numa mesma base
monetária. Importa sim verificar se os recursos financeiros (custos) estão a ser utilizados para se
alcançarem os objectivos desejados, e que resultados efectivamente são alcançados. Com este tipo de
avaliação pretende-se assegurar a melhor utilização possível dos recursos financeiros
disponíveis. Isso será possível se:
16. Do lado dos benefícios se alcançarem os objectivos de desenvolvimento pretendidos;
17. Do lado dos custos se conseguir minimizar as despesas para um determinado resultado do
projecto.
O DIAGRAMA 7-5 mostra a metodologia de avaliação preconizada para esta categoria de projectos.
Assim, se estiverem várias organizações envolvidas na implementação do projecto, o primeiro passo é
determinar o orçamento de cada uma delas e, proceder seguidamente à respectiva consolidação. A partir
daí aplicam-se os procedimentos que a seguir se explicitam.
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DIAGRAMA 7-5: Metodologia de avaliação de projectos sociais
In: European Commission, Manual of Financial and Economic Analysis
Segundo a metodologia proposta no Manual de referência que estamos a considerar, o método de
avaliação assenta nos seguintes passos (acima ilustrados no diagrama):
18. Determinação dos resultados a obter com a implementação do projecto
19. Análise da viabilidade do projecto, com base nos critérios indicados na. Esta fase inclui a
elaboração do orçamento do projecto, bem como as modalidades de financiamento dos custos
recorrentes. Inclui ainda a análise da sustentabilidade do projecto
20. Realização de cálculos de eficiência. Inclui a estimativa de custos unitários.
ASSISTÊNCIAFINANCEIRA
ORGANIZAÇÃO A ORGANIZAÇÃO B ORGANIZAÇÃO C
ORÇAMENTOInvestimentoExploração
EFICIÊNCIA
Relevância
SÍNTESEObjectivos de políticaSectorial/programática
INDICADORESDE RESULTADOS
VIABILIDADE
Efeito líquido:
Balança Trans. Corr.
Orçamento EstadoRendimentos
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21. Determinação dos efeitos sobre os objectivos económicos, designadamente sobre as
finanças públicas, o comércio externo e a distribuição do rendimento.
22. Avaliação da relevância ou pertinência económica do projecto em relação aos objectivos
de política do sector (ou em relação aos objectivos do Programa em que se insere o projecto).
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7.2.2.2 Determinação dos resultados do projecto
Tomando o Quadro Lógico como referência, cada projecto assenta num encadeamento lógico de
Actividades-Resultados-Objectivo Específico-Objectivo Global , no qual o objectivo específico traduz a
razão de ser e a justificação do projecto. Por sua vez o objectivo específico e os correspondentes
resultados devem ser verificáveis através de indicadores verificáveis (e mensuráveis em termos de
quantidade, qualidade, grupos-alvo, tempo e localização). No ponto 6.2 desenvolve-se a temática dos
indicadores de acompanhamento.
7.2.2.3 Análise da viabilidade do projecto
No contexto da análise de viabilidade importa desde logo distinguir entre as novas actividades que
resultam da implementação do projecto, daquelas que são já correntemente levadas a cabo pelos
serviços públicos centrais ou locais. Esta clarificação é importante na medida em que permite ter em
conta as novas despesas recorrentes geradas pelo projecto e que se vão adicionar às despesas
correntes já anteriormente assumidas.
Neste ponto cabe ter em conta três aspectos:
23. Elaboração do Orçamento do Projecto
24. Financiamento dos custos recorrentes gerados pelo projecto
25. Análise da sustentabilidade do projecto
A elaboração do orçamento deverá respeitar o quadro normativo estabelecido, no quadro do
sistema de gestão orçamental em vigor, tendo por consequência em conta o conjunto dos classificadores
legais. Nesse sentido deverá ser sempre feita a conversão do orçamento do projecto de acordo com as
rubricas do Orçamento do Estado de modo a facilitar a respectiva integração e articulação. No QUADRO
7-5 apresenta-se o modelo de orçamento normalizado utilizado na elaboração dos projectos de
investimento público.
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QUADRO 7-5: Orçamento do projecto (antes de financiamento)
Anos 0 1 2 n
ReceitasVendas e serviços prestados
Tarifas cobradas (recebidasdirectamente)
Total das receitas
DespesasInvestimento
Investimento inicial
Investimento de reabilitação
Fundo de maneio
Despesas de funcionamento
Matérias-primas
Despesas de manutenção
Serviços gerais
Despesas de pessoal
Impostos indirectos e directos
Total das despesas
Saldo
A preparação do orçamento do projecto deve ter em conta os seguintes aspectos:
26. O orçamento deve ter um carácter previsional, o que implica uma previsão quer das receitas
quer das despesas, cobrindo o período de vida previsível do projecto;
27. Os custos devem ser calculados de forma detalhada, rubrica por rubrica, evitando o recurso
à utilização de coeficientes associados a estimativas;
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28. A política de custos recorrentes, ou seja, as despesas de funcionamento geradas pelo
funcionamento do projecto deverá ser definida na fase de formulação do projecto;
29. O custo do projecto deve ser estimado a partir do respectivo descritivo técnico
O financiamento dos custos recorrentes gerados pelo projecto é habitualmente considerados
como um dos principais, senão o principal, factor de sustentabilidade, particularmente num contexto de
grandes restrições orçamentais. Neste contexto as políticas de recuperação de custos são habitualmente
uma das questões centrais nas decisões de investimento.
CAIXA 7-2: Exemplos de políticas de recuperação de custos
• Pagamento de uma taxa moderadora por parte dos utentes de um novo Centro de Saúde,independentemente dos custos reais de operação do Centro. Neste caso, a parte restante dos custos é cobertapelo Orçamento central ou local (consoante a política de descentralização em vigor)
• Determinação das tarifas de consumo de água da rede pública com base nos custos médios incrementais
• Fixação das tarifas de consumo de electricidade com base nos custos marginais de longo prazo(metodologia recomendada particularmente para investimentos de grande dimensão com um longo período devida)
O conceito habitual de custo recorrente corresponde às despesas de exploração, ou à diferença
entre as receitas cobradas e as despesas totais de exploração. De acordo com esta definição, as
despesas recorrentes não incluem as despesas de investimento. A estrutura típica das despesas
recorrentes está expressa no quadro seguinte:
QUADRO 7-6: Estrutura de despesas recorrentes
AnosRubricas de custo
0 1 2 n
Operação
Despesas de operação e manutenção do equipamento
Despesas de manutenção de instalações
Serviços prestados por entidades privadas e públicas
Rendas
Pessoal
Salários
Despesas com a segurança social
Outras despesas (indemnizações, etc)
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__________________________________________________________________________171
Serviço da dívida
Amortizações de créditos
Juros
TOTAL
A política de recuperação de custos que se adoptar é decisiva na fase de desenho do projecto, e de
avaliação da sua sustentabilidade, na medida em que determina o montante de receitas a cobrar, e
portanto a percentagem dos custos de operação que pode ser financiada com recursos próprios, mas
também porque pode influenciar o próprio nível da procura do serviço.
Uma metodologia possível pode ser a seguinte:
30. Cálculo da tarifa de equilíbrio, isto é, o valor que permite igualar os custos totais de
exploração (incluindo a amortização do investimento) com o montante total de receitas.
31. Estabelecer a tarifa a pagar pelos utentes do serviço, a qual deverá depender da política social
adoptada e dos níveis de cash-flow que se pretende assegurar. Os factores que habitualmente
estão presentes nesta decisão incluem os objectivos de equidade no acesso aos serviços
independentemente do nível de rendimento dos utilizadores, objectivos de contenção do
consumo (sobretudo se se tratar de um bem escasso), redução do défice público através da
contenção da procura (caso seja elevado o contributo do orçamento público)
CAIXA 7-3: Indicadores associados ao cálculo dos custos recorrentes
A elasticidade preço da procura permite quantificar a variação do volume de procura de um dado bem ouserviço em função do respectivo preço.
E = Variação relativa da procura medida em quantidade (em %) = dQ/Q Variação do preço relativo (em %) dP/P
O coeficiente r relaciona as despesas correntes (na hipótese de pleno funcionamento do projecto) com oinvestimento realizado; este indicador deve ser estimado para cada categoria de equipamento ou infra-estrutura.
Pode ser obtido estatisticamente, na base de um estudo comparado envolvendo projectos da mesma natureza afuncionar em rotina, calculando a correlação estatística entre o volume de despesas recorrentes e o volume deinvestimento que gerou aquelas mesmas despesas.
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7.2.2.4 Análise de eficiência
A eficiência na análise de projectos significa que os benefícios são obtidos através da aplicação
de um mínimo de recursos. Através desta análise verifica-se se os recursos afectos ao projecto são
utilizados de forma eficiente, comparando os custos com os resultados obtidos. Para o efeito, devem ser
calculados custos unitários que devem ser confrontados com custos de referência relativos a
operações com as mesmas características, de modo a concluir-se se os valores propostos correspondem
a grandeza normais.
Estes custos unitários, calculados com base nos indicadores de realização ou de resultado, estão na
base das abordagens adoptadas na estimativa das despesas correntes orçamentais:
32. Utilização do coeficiente r que relaciona as despesas correntes (na hipótese de pleno
funcionamento) com o investimento realizado; este indicador deve ser estimado para cada
categoria de equipamento ou infra-estrutura. Este coeficiente deve ser entendido como um
último recurso nos casos em que não seja possível estimar de forma mais rigorosa o valor da
despesa recorrente.
33. Determinação da variante de menor custo , segundo o qual se determina o valor do
investimento, ou a despesa de funcionamento, por unidade física (por quilómetro de estrada
construída, por cama de hospital, por carteira escolar, etc). Esta é a abordagem típica da
análise custo-eficácia, e recorre também à comparação com valores equivalentes de referência.
A utilização de indicadores de realização, comparados com os custos, tem uma evidente
aplicação neste método. O QUADRO 7-7 mostra alguns exemplos significativos de custos
unitários de investimento e de custos unitários de funcionamento.
QUADRO 7-7: Indicadores de custos unitários correntes (exemplos)
Tipo de investimento Custos unitários deinvestimento
Custos unitários de funcionamento
Infra-estruturas de transporte Custo de construção/km Custo de manutenção/km
Custo de manutenção periódica (reportadoao ano)/km
Custo do passageiro/km
Custo de funcionamento/custo deinvestimento (coeficiente r)
Infra-estruturas urbanas Custo médio de km de conduta
Custo de uma estação de
Custo por m3 de água produzida
Custo do coeficiente M4 (m3 x nível de
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bombagem bombagem manométrica)
Custo de funcionamento/custo deinvestimento (coeficiente r)
Saúde Custo do investimento/per capita(a nível de distrito ou região desaúde)
Custo de investimento/cama dehospital
Custo de funcionamento per capita (a nívelde distrito ou região de saúde)
Custo médio por dia de hospitalização
Custo salarial/cama de hospital
Apoio às PMEs Custo médio de investimento poremprego criado
Custo médio por dossier
Custo médio de seguimento anual de umdossier
Custo médio anual por promotor
European Commission, Manual of Financial and Economic Analysis of Development Projects.
A análise da eficiência é vista segundo dois ângulos analíticos: o da suficiência dos recursos e o
da necessidade dos recursos.
A avaliação da suficiência dos recursos pode verificar-se com base na seguinte check-list. A lista
reflecte rubricas que tendem com frequência a ser subestimadas na avaliação dos recursos do projecto.
QUADRO 7-8: Check-list de recursos para a análise custo-eficácia
Stock inicial de recursos
Custos de formação iniciais
Necessidades de fundo de maneio
Despesas de transporte e combustíveis
Manutenção, reparações e substituição de veículos
Manutenção das instalações
Receitas suplementares
A avaliação de se os recursos mobilizados são de facto necessários, numa perspectiva de
minimização dos custos, remete para o conhecimento do sector em que se insere o projecto, numa
perspectiva mais técnica do que económica. Por exemplo, as necessidades de equipamento médico-
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cirúrgico para equipar uma nova unidade hospitalar implicam o parecer técnico dos especialistas de
medicina.
Esta análise deve apoiar-se na análise da lógica de intervenção, e em particular na relação entre as
actividades e os meios inventariados.
7.2.2.5 Análise dos efeitos económicos
Os programas ou projectos públicos, devido à sua significativa dimensão, têm habitualmente
impactos económicos relevantes que importa avaliar. Esses impactos são importantes sobre:
§ As Contas Públicas
§ Contas Externas
§ Distribuição do Rendimento
No que se refere às Contas Públicas, os projectos públicos têm uma tendência para agravar o
défice orçamental sobretudo se não puderem recorrer a políticas de recuperação de custos, efeito que
tanto se faz sentir sobre as contas do governo central como dos governos locais, dependendo de quem
tem a responsabilidade de gestão do projecto.
Aquele efeito pode ser directo e indirecto. O efeito directo resulta de:
Défice público = Custo total do projecto Taxas pagas pelos utilizadores
Em conclusão, o défice público adicional corresponde ao valor total dos subsídios de exploração pagos à
agência que gere o projecto. Num contexto de ajustamento estrutural, ou de política fiscal restritiva, a
implementação destes projectos enfrenta habitualmente dificuldades. No sentido de minimizar o impacto
sobre os orçamentos públicos, preconiza-se a implementação de medidas de recuperação de custos
viabilizando assim esses projectos mesmo num contexto de política fiscal restritiva.
Todavia, deve ter-se também em conta os efeitos indirectos gerados pelo programa ou projecto Os
efeitos indirectos incluem as receitas recebidas pelo governo sob a forma de impostos sobre os
rendimentos adicionais distribuídos como consequência do programa bem como os efeitos induzidos a
montante. Assim, o balanço total adicional para as contas públicas pode ser determinado da seguinte
forma:
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Saldo público adicional = Custo do projecto Despesas + Impostos Subsídiosindirectos Encargos financeiros públicos + Resultados de exploração públicos
A contabilização dos efeitos sobre o Orçamento do Estado pode ser feita com base no seguinte
quadro:
QUADRO 7-9: Receitas e despesas adicionais induzidas por um novo programa ou projecto
Anos 0 1 2 n
ReceitasTaxas e direitos aduaneiros
• Sobre os investimentos
• Sobre a operação do programa
Sobre as entidades públicas
• Excedente de exploração
Doações e créditos directos
• Receitas
Total das receitas
DespesasInvestimentos directos
Taxas dos utilizadores
Subsídios
• Sobre bens e serviços
• Exploração
Entidades públicas
• Défices de exploração orçamentados
Serviço da dívida pública
Total das despesas
Saldo público adicionalNOTA: O número de anos corresponde à duração do programa ou projecto
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O efeito sobre as Contas Externas decorre de dois efeitos diferentes:
§ Um efeito directo, relativamente aos bens e serviços importados pelas agências gestoras do
projecto; estes efeitos podem ser obtidos no orçamento consolidado;
§ Um efeito indirecto, resultante das aquisições de bens e serviços, feitas a montante, pelo projecto.
QUADRO 7-10: Efeitos sobre a conta externa (saldo adicional de divisas)
Anos 0 1 2 n
EntradasEmpréstimos externos
• De curto, médio e longo prazo
• Sobre a operação do programa
Doações externas
ENTRADA DE DIVISAS
SaídasImportações totais
• Bens de investimento
• Despesas correntes (de operação)
Serviço da dívida externa
• Amortização de créditos
• Juros
Outras transferências
• Dividendos e lucros
Serviço da dívida pública
SAÍDAS DE DIVISAS
SALDO DE DIVISASNOTA: O número de anos corresponde à duração do programa ou projecto
Os rendimentos distribuídos resultantes dos projectos não valorizáveis podem constituir um
elevado contributo para as políticas sociais que visam a redução da pobreza.
§ Tais efeitos podem ser directamente gerados pelo projecto, através dos postos de trabalho criados
pela agência de execução;
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§ Ou indirectos, através das actividades que fornecem os bens e serviços procurados pelo projecto.
Estes efeitos indirectos são tanto mais significativos quanto maior for a capacidade de oferta
interna desses bens e serviços. Caso contrário esses efeitos traduzem-se em importações
adicionais e aumentam a pressão sobre a balança externa.
7.2.2.6 Análise da relevância do projecto
A análise de relevância de um projecto de desenvolvimento pode fazer-se com base no esquema
seguinte:
DIAGRAMA 7-6: Relevância de um programa ou projecto
Fonte: Commission Européenne (1997), Manuel de Analyse Financière et Économique des Projects de Développement,Luxembourg
As estratégias dos sectores deverão concorrer para os objectivos económicos globais, pelo que a
análise da relevância faz-se a dois níveis: a nível macroeconómico, e a nível dos sectores envolvidos. O
QUADRO 7-1 evidencia os aspectos mais relevantes a considerar na análise da relevância do programa
em termos macro-económicos.
RELEVÂNCIA SECTORIAL= Prioridades + Consistência
OBJECTIVOSSECTORIAIS
OBJECTIVOSMACRO-
ECONÓMICOS
RELEVÂNCIAECONÓMICA
= Eficiência+Viabilidade+ Efeitos
RESULTADOS
Política EconómicaReformas Estruturais
Estratégia SectorialProgramas Sectoriais
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QUADRO 7-11: Critérios para análise de relevância de um projecto
Domínios Principais indicadores
Política de crescimento
Avaliação dos recursos internos
Estratégias sectoriais
Taxa de câmbio
Crescimento do consumo
Competitividade económica
Valor acrescentado (incremental)
Taxa de integração na economia (valoracrescentado/valor bruto de produção)
Saldo em divisas (incremental)
Salários pagos
Variação do consumo
Rentabilidade do projecto
Política cambial
Equilíbrio das contas e estabilização
Taxa de câmbio
Sustentabilidade das intervenções previstas
Eficiência na utilização de recursos escassos
Competitividade no mercado externo
Saldo em divisas (incremental)
Transferências de capital
Rentabilidade do projecto
Política orçamental
Equilíbrio orçamental e estabilização
Ajustamento estrutural, desinvestimento público eprivatizações
Eficiência na utilização de recursos públicos
Eficiência das empresas públicas
Sustentabilidade das intervenções previstas
Saldo orçamental (incremental)
Taxa global de imposição dos factores (saldoorçamental/VAB)
Coeficiente de custo real para o governo (saldoorçamental/subsídios)
Retorno por unidade monetária investida
Política de rendimentos
Redução da pobreza
Equidade
Política de consumo
Emprego
Desenvolvimento nacional e regional
Aumento dos rendimentos
Benefício do consumidor
Empregos criados
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7.2.3 Avaliação do impacto macro-económico (método dos efeitos)
Os projectos de investimento de investimento público são habitualmente projectos que mobilizam
recursos financeiros elevados, pelo que o seu impacto directo e indirecto na economia pode ser muito
significativo.
Justificando-se a sua medição (em projectos de grande dimensão), os efeitos medem-se sobre:
§ Crescimento económico (variação da taxa de crescimento do PIB)
§ Contas externas (saldo em divisas)
§ Contas públicas (efeito sobre o saldo)
§ Distribuição do rendimento (rendimentos adicionais distribuídos)
A análise e medida dos efeitos deve captar dois tipos de efeitos:
§ Efeitos directos: sobre salários, sobre a procura adicional de bens e serviços intermédios, sobre o
consumo privado (via preços ou quantidades);
§ Efeitos indirectos: os rendimentos distribuídos pressionam o consumo que por sua vez induz
aumento da oferta (produção nacional ou importações)
O cálculo destes efeitos requer uma base estatística considerável, e em concreto é desejável a
disponibilidade de uma matriz de relações intersectoriais. A não existência de uma tal matriz não
inviabiliza a análise dos efeitos, mas obriga a um cálculo por iterações, com resultados menos rigorosos.
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CAIXA 7-4: Método de cálculo dos conteúdos de valor acrescentado
Seja a matriz A dos coeficientes técnicos obtida através da divisão de todas as células de cada coluna da Matrizde Relações Intersectoriais pela produção total do ramo de actividade correspondente.
O equilíbrio recursos-empregos pode ser escrito algebricamente da seguinte forma:
Produção interna = CI + Procura Final (dirigida à procura interna)
X = AX + Y 1)
Onde:
X: Vector – coluna das produções locais
Y: Vector – coluna da procura final de bens e serviços locais
Da expressão 1) deduz-se,
X = (I – A)-1 Y 2)
Onde:
(I – A)-1 é a matriz dos coeficientes de produção, e é a matriz inversa da matriz (I – A);
I é a matriz identidade.
Na análise ex-ante esta relação exprime qual deve ser o crescimento da produção local X para satisfazer umanova procura final Y, no caso de esta nova procura não alterar a estrutura de produção.
Por outras palavras, a matriz (I – A)–1 indica para cada ramo (em coluna) o acréscimo de produção (directa eindirecta) nos vários ramos da economia induzido por uma variação unitária da procura final dirigida àqueleramo.
Conhecendo-se, a partir da matriz de relações intersectoriais, os coeficientes directos de importaçõesintermédias e de valor acrescentado, inerentes às produções locais, podemos então deduzir:
o valor das importações associadas à produção local:
m. x = (I – A)–1 Y 3)
onde:
m é o vector – linha dos coeficientes de importação directa
o valor acrescentado relacionado com a produção local:
v. x = (I – A) –1 Y 4)
Por outro lado, o produto matricial
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m (I – A) –1 5)
dá o vector linha dos conteúdos de importação (Tmi) de cada ramo de produção i, isto é, as importações directase indirectas induzidas por cada unidade do ramo i.
Igualmente, a expressão:
v (I – A)–1 6)
dá o vector linha dos coeficientes de valor acrescentado Tvi, para cada ramo i, isto é, a soma dos valoresacrescentados gerados directa e indirectamente pela produção de uma unidade do ramo i.
Note-se que:
v(I – A)–1 + m (I – A) –1 = 1
Ou seja, cada unidade de produção do ramo i decompõe-se num conteúdo de valor acrescentado e num conteúdode importação, que adicionados totalizam 1.
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8. Sistemas de informação para o planeamento
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8.1 Enquadramento e questões metodológicas
O modelo PPBS requer um sistema de informação integrado, articulando as diferentes fases do
processo de gestão dos recursos públicos. Esse sistema deverá ser constituídos por um sub-sistema de
planeamento, um sub-sistema de programação e um subsistema de gestão e controlo (nas vertentes
financeira e de acompanhamento físico).
Actualmente existe um sistema de gestão orçamental (na vertente financeira) e um sistema de
gestão do investimento público (com algumas limitações) e que deverá evoluir para um sistema de
programação mais abrangente. Estão assim por desenvolver o sistema de planeamento e o sistema
de gestão e controlo (na vertente do acompanhamento físico dos programas e projectos).
Descreve-se de seguida, em primeiro lugar, a arquitectura de base dos sistemas existentes, e
seguidamente a arquitectura do sistema de referência, discutindo-se alguns elementos fundamentais que
deverão estar presentes na sua construção. Na CAIXA 8-1 do ponto seguinte apresentam-se os
elementos fundamentais de um Sistema de Informação para o Planeamento, cuja construção é
fundamental para estruturar toda a arquitectura decisional no domínio da gestão económica e financeira
do Estado40.
A montagem de um sistema de informação é uma operação complexa que implica a mobilização de
um conjunto de entidades com interesses nem sempre convergentes. A prestação de informação
acarreta custos para o seu fornecedor pelo que deverão ser previstos mecanismos que assegurem a sua
participação (legais, contrapartidas no acesso à informação, etc.). As regras de ouro que se recomendam
são:
§ O fornecedor de informação deve receber uma contrapartida;
§ O sistema de informação deve ser compreendido não como um custo adicional mas como uma
vantagem mesmo para os fornecedores (por exemplo, os gestores das empresas ficam a
conhecer melhor o seu sector);
§ O sistema de informação não deve ser percepcionado pelos fornecedores de informação como um
mecanismo de controlo superior, pelo que a legislação deve garantir o sigilo da informação
individual.
40 O conteúdo da CAIXA 8-1 pode ser útil na preparação dos Termos de Referência tendo em vista a construção
dos subsistemas de informação ainda em falta no sistema de planeamento e de gestão económica em Cabo Verde.
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8.2 A organização institucional do Sistema de Informação para o Planeamento
A CAIXA 8-1 contem os elementos fundamentais que deverão fazer parte de um Sistema de
Informação para o Planeamento, que no essencial está por construir em Cabo Verde, mas de que
existem já alguns elementos que poderão ser ajustados e incorporados no futuro sistema.
O sistema de planeamento é sobretudo utilizador de informação, dependendo por isso da oferta de
informação dos respectivos produtores. A nível da informação macroeconómica a sua produção
distribui-se por três entidades:
§ O Instituto Nacional de Estatística que produz a informação do sistema de Contas Nacionais,
da responsabilidade, é elemento nuclear do subsistema de informação para a gestão económica.
Está em fase de desenvolvimento, e a sua finalização permitirá estabelecer um quadro de
referência global para a identificação das necessidades de informação em vários subsistemas.
§ O Ministério das Finanças e do Planeamento (através das suas direcções) produz
informação sobre as Finanças Públicas (orçamento, tesouro e contabilidade pública) necessária à
preparação e à condução da política fiscal
§ O Banco de Cabo Verde produz informação sobre a esfera monetária, cambial e de relações
com o exterior, necessária à execução das políticas monetária e cambial.
Situando-se no fim da cadeia de produção de informação, o órgão responsável pelo sistema de
planeamento global pode preencher um importante papel de síntese da informação relevante
produzida pelas diferentes fontes, necessária à condução da política económica em geral, na base de um
tableaux de bord elaborado para o efeito41.
41 A elaboração de Protocolos entre as principais entidades produtoras de troca de informação macroeconómicapode facilitar a rápida difusão e compilação da informação necessária à gestão económica e financeira.
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CAIXA 8-1: Elementos de um Sistema de Informação para o Planeamento (SIP)
Domínios DescriçãoGestor, fornecedores deinformação e utilizadores doSistema de Informação
Identificam-se três tipos de agentes com responsabilidades e direitos diferentes: i) a entidadegestora do sistema de informação; ii) as entidades que assumem o compromisso de fornecer ainformação de uma forma regular e sistemática, ii) os utilizadores ou clientes do sistema.
No Sistema de Informação para o Planeamento, a entidade gestora deverá ser o órgãocentral de planeamento (no caso presente a Direcção-Geral do Planeamento), osfornecedores de informação são essencialmente as entidades representadas noDIAGRAMA 8-1, (elementos do Sistema Estatístico Nacional), enquanto que osutilizadores são todos os órgãos do sistema de planeamento, os fornecedores de informação,os diferentes órgãos da administração pública, as empresas, as organizações internacionais eo público em geral, na base de direitos de acesso diferenciados.
Objectivos do sistemaOs objectivos do SIP devem ser definidos em função da procura (necessidades dos elementosdo sistema de planeamento aos vários níveis).
Tipificação da informaçãoque deverá fazer parte dosistema
Neste contexto define-se a informação de input, que entra no sistema, e a informação deoutput, que depois de processada internamente, é disponibilizada pelo SIP. Por exemplo, osistema de informação pode calcular e fornecer indicadores em função dos objectivos dosutilizadores.
Concepção, configuração emontagem e organização dosistema
Deverão ser elaborados protocolos de troca de disponibilização ou de troca de informação.
Deverão ser identificadas as formas de recolha da informação: Inquéritos censitários,inquéritos por amostragem, inquéritos regulares, aproveitamento de dados recolhidos comoutra finalidade, estudos e monografias, fontes internacionais.
Formato do sistemaNo desenho do formato do SIP deverão considerar-se os seguintes aspectos:
• Identificação das fontes disponíveis ou a criar.
• Definição dos métodos de recolha da informação
• Definição dos métodos de tratamento da informação
• Definição dos fluxos de informação (frequência, categorias de informação, origem edestino)
• Definição dos indicadores de desenvolvimento (e que deverão ser calculados no âmbitodo sistema de informação)
Custo de construção eoperação do sistema Na orçamentação dos custos do SIP importa distinguir entre a estimativa dos custos de
construção do sistema de informação e a estimativa dos custos de operação
A elaboração de um Plano de Implementação é um elemento fundamental para uma adequadaorçamentação e para uma clara repartição de responsabilidades.
Necessidade de identificar as fontes de financiamento (fases de montagem e de manutenção)
Definição da plataforma dehardware e de software quedeve sustentar o SIP.
Elaboração de um estudo para determinação das características do hardware (sistemainformático e de comunicações) e de software (plataforma de programação para a construçãoda base de dados)
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No que se refere à informação sectorial, o actual Sistema Estatístico de Cabo Verde dá já uma
resposta importante, embora ainda limitada, à edificação de um Sistema de Informação para o
Planeamento. Em termos orgânicos a produção estatística está descentralizada por um conjunto de
entidades (DIAGRAMA 8-1) que cobrem os principais domínios que deverão alimentar o sistema.
DIAGRAMA 8-1: Fontes institucionais do Sistema de Informação Estatística para oplaneamento em Cabo Verde
A tipificação da informação que deverá fazer parte do SIP depende no essencial da configuração
final do sistema de planeamento (objectivos, estrutura orgânica, atribuições). Todavia, apesar de este
não estar ainda completamente clarificado, podem identificar-se desde já as categorias de informação
necessárias para a gestão económica e financeira.
Na verdade o Sistema poderá ser construído por módulos, configurados segundo os domínios de
política mais representativos (gestão económica e financeira, demografia e recursos humanos, saúde,
etc.).
Instituto Nacionalde Estatística (INE)
Conselho NacionalDe Estatística (CNEST)
Conselho NacionalDe Estatística (CNEST)
GEP MinistérioAgricultura e
Pescas
GEP Ministérioda Saúde
GELD Ministérioda Justiça
Instituto NacionalDesenvolvimento
das Pescas
GEP Ministérioda Educação
DEEEBanco Cabo Verde
Instituto deEmp. e Formação
Profissional
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__________________________________________________________________________187
A informação de base a incluir no sistema deverá ser formatada de modo a permitir a determinação
automática de indicadores de caracterização do estado demográfico e sócio-económico da população e
do país42.
QUADRO 8-1: Sistema de Informação para o Planeamento
MÓDULO DE DEMOGRAFIA E RECURSOS HUMANOS
Item/Variável Fonte Observações
População residente
População segundo situação deresidência, por sexo, por númerode agregados familiares
INE, Recenseamento Geral daPopulação e Habitação - 2000
Em fase de apuramento definitivo
Emigração e retorno INE, Recenseamento Geral daPopulação e Habitação - 2000
Em fase de apuramento
População activa Inquérito ao Emprego
Desemprego Inquérito ao Emprego
Emprego por sectores (incluindoAdministração Pública)
Inquéritos específicos
MÓDULO DE INFORMAÇÃO MACROECONÓMICA
Item/Variável Fonte Observações
FINANÇAS PÚBLICAS
Despesa Pública Orçamento Geral do Estado
Conta Geral do Estado
Organizada segundo osclassificadores “Económico”,“Funcional” e “Orgânico”
Receitas Públicas Orçamento Geral do Estado
Conta Geral do Estado
Dívida pública Ministério das Finanças
42 A Base de Dados que contém a informação sócio-económica deverá produzir como outputs os indicadores dedesenvolvimento definidos no âmbito do SIP.
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__________________________________________________________________________188
PRODUÇÃO, CONSUMO E INVESTIMENTO
Valor Acrescentado Bruto INE, Contas Nacionais Na base do Sistema SCN 1993
Consumo Público INE, Contas Nacionais Na base do Sistema SCN 1993
Consumo das Famílias INE, Contas Nacionais Na base do Sistema SCN 1993
Formação de Capital (SectorPúblico)
INE, Contas Nacionais Na base do Sistema SCN 1993
Formação de Capital (SectorPúblico
INE, Contas Nacionais Na base do Sistema SCN 1993
SISTEMA MONETÁRIO
Agregados monetários e decrédito
Banco de Cabo Verde
Activos líquidos sobre o exterior Banco de Cabo Verde
Crédito interno, distribuição docrédito do sistema bancário
Banco de Cabo Verde
Taxas de juro de referência Banco de Cabo Verde
RELAÇÕES EXTERNAS
Exportações e importações debens e serviços
Instituto Nacional de Estatística,Estatísticas do Comércio Externo
Banco de Cabo Verde (óptica daBalança de Pagamentos)
Importações e Exportaçõessegundo o Sistema Harmonizado
A informação não publicadainclui comércio externo porpaíses e por Grandes CategoriasEconómicas
Transferências correntes, comdestaque para as remessas deimigrantes
Banco de Cabo Verde, Balançade Pagamentos
Créditos externos, serviço dadívida, doações
Banco de Cabo Verde, Balançade Pagamentos
Reservas externas Banco de Cabo Verde, Balançade Pagamentos
Taxas de Câmbio nominais eefectivas
Banco de Cabo Verde
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__________________________________________________________________________189
Assistência Internacional em bensalimentares e não alimentares
Banco de Cabo Verde
Investimento estrangeiro Banco de Cabo Verde
Stock da dívida externa Banco de Cabo Verde
RENDIMENTOS E PREÇOS
Índice de Preços no Consumidor Instituto Nacional de Estatística Nacional, Praia, S. Vicente,Zonas Rurais
Salário mínimo da FunçãoPública
Legislação própria
INDICADORES DE CONJUNTURA
Consumo de Energia Eléctrica demédia e baixa tensão
Organismos de regulação
Índice de produção industrial Organismos de regulação
Consumo de cimento Organismos de regulação
Consumo de combustíveis Organismos de regulação
Tráfego portuário e aeroportuário Organismos de regulação
Matrículas de novas viaturas Organismos de regulação
Ocupação hoteleira Organismos de regulação
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__________________________________________________________________________190
MÓDULO DE INFORMAÇÃO SOBRE A ACTIVIDADE ECONÓMICA E OSISTEMA PRODUTIVO
Item/Variável Fonte Observações
Empresas activas INE, Recenseamento Empresarialde 1997
Pessoal ao serviço nas empresas INE, Recenseamento Empresarialde 1997
Estabelecimentos hoteleirosexistentes
Inquéritos ao turismo
MÓDULO DOS SECTORES SOCIAIS
Item/Variável Fonte Observações
EDUCAÇÃO
Estabelecimentos de ensino Ministério da Educação Distribuição regional e segundoos vários graus de ensino
Salas de aula por Concelho Ministério da Educação Cobrindo os vários graus deensino
Nº de alunos por Conselho Ministério da Educação Cobrindo os vários graus deensino
Nº de professores por Conselho Ministério da Educação Cobrindo os vários graus deensino
Taxas de reprovação e abandono Ministério da Educação Cobrindo os vários graus deensino
Pessoal não docente Ministério da Educação
SAÚDE
Estabelecimentos de saúde Ministério da Saúde Repartição das estruturas desaúde tipo de estabelecimento epor concelho
Pessoal de saúde Ministério da Saúde Repartição por função e porconcelho
Indicadores de saúde Ministério da Saúde Repartição por concelho
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__________________________________________________________________________191
O sistema de informação deverá dar resposta às necessidades do sistema de planeamento,
designadamente na elaboração dos indicadores associados aos objectivos de desenvolvimento. A este
respeito é inequívoco que o sistema de informação para o planeamento é a sede mais adequada para a
gestão do sistema de indicadores de desenvolvimento.
No quadro seguinte sugere-se uma sistematização de indicadores de desenvolvimento,
recomendados pelas várias Conferências especializadas das Nações Unidas e que poderão constituir um
output do SIP.
QUADRO 8-2: Indicadores das Nações Unidas
POBREZA
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Níveis de pobreza reduzidos Proporção em pobreza extrema em 1990reduzida de ½ em 2015
Rácio de pobreza (% da populaçãoabaixo de US$1,00 por dia)
Rácio de pobreza (% da populaçãoabaixo da linha de pobreza do país)
Rácio do desnível de pobreza
Quintil mais pobre da população
SEGURANÇA ALIMENTAR
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Nutrição infantil melhorada Mal nutrição severa/moderada infantil
< 5 ½ do nível de 1990 em 2000
% de crianças abaixo dos 5 anossofrendo de mal nutrição
Segurança alimentar aumentada Número de mal nutridos reduzido ametade em 2015
% da população abaixo do nível de dietaalimentar
% do consumo em alimentação do quintilmais pobre da população
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__________________________________________________________________________192
SAÚDE E MORTALIDADE
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Cuidados de saúde melhorados Acessibilidade universal aos cuidadosprimários de saúde
% da população com acesso aoscuidados primários de saúde
Níveis de HIV/AIDS reduzidos Acesso universal aos serviços de saúde einformação em 2015
Taxa estimada de prevalência do HIV napopulação adulta
Prevalência do HIV nas mulheresgrávidas com menos de 25 anos querecebem cuidados de saúde pré-nataisnas grandes cidades/grandes áreasurbanas
Mortalidade infantil reduzida Redução da taxa de mortalidade infantilem 1/3 (nível de 1990) e abaixo dos 35por 1000 em 2015
Taxa de mortalidade infantil
Mortalidade das crianças reduzida Taxa de mortalidade das crianças commenos de 5 anos reduzida de 2/3 donível de 1990 em 2015
Taxa de mortalidade das crianças commenos de 5 anos
SAÚDE REPRODUTIVA
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Saúde maternal melhorada e mortalidadematernal reduzida
Taxa de mortalidade maternal reduzidade ½ do nível de 1990 em 2000 e demais ½ em 2015
Taxa de mortalidade maternal
% de nascimentos assistidos por pessoalde saúde especializado
Acesso ao planeamento familiaraumentado
Acesso universal aos métodosanticoncepcionais seguros
Taxa de prevalência das medidasanticoncepcionais
SAÚDE E BEM-ESTAR INFANTIL
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Saúde infantil melhorada Imunização universal contra o sarampo % de crianças com 1 ano de idadeimunizada contra o sarampo
Trabalho infantil reduzido Eliminação do trabalho infantil % de crianças com menos de 15 anosque trabalham
EDUCAÇÃO
OBJECTIVOCONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES(Desagregados por sexo)
Acesso à educação básica aumentado Acesso universal e finalização daeducação primária em 2016
Rácio de participação escolar
% de alunos que iniciam o grau 1 eatingem o grau 5
Literacia aumentada Iliteracia adulta reduzida 2015 em ½ ao Taxa de literacia dos adultos
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__________________________________________________________________________193
nível de 1990 Taxa de literacia no grupo etário 15-24anos
IGUALDADE DO GÉNERO
OBJECTIVOCONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES(Desagregados por sexo)
Igualdade do género na Educação Eliminação das disparidades na educaçãoprimária e secundária em 2005
Rácio de rapazes e raparigas naeducação secundária
Igualdade do género no Emprego Eliminação de práticas discriminatórias noemprego
% de mulheres em empregosremunerados fora do sector primário
Acesso político das mulheres Acesso equitativo às instituições políticas % de lugares assegurados por mulheresno governo e no parlamento
EMPREGO
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Criação de emprego completo Acesso universal a emprego remunerado Rácio da população empregada emrelação à população com idade paratrabalhar
Taxa de desemprego
% do emprego formal comopercentagem do emprego total
HABITAÇÃO E ACESSO A SERVIÇOS BÁSICOS
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Habitação adequada para todos Disponibilização de espaço parahabitação, sem sobre-ocupação
Nº de pessoas por quarto ou
Área média coberta por pessoa
Acesso a água potável melhorado Acesso universal a água potável
Cobertura total da oferta de água potávelem 2025
% da população com acesso(sustentável) a água potável
Acesso ao saneamento básico melhorado Disponibilidade universal de saneamento % da população com acesso aosaneamento básico
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__________________________________________________________________________194
AMBIENTE
OBJECTIVOCONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES(Desagregados por sexo)
Ambiente melhorado Ambiente limpo e saudável e
Reversão da actual tendência de reduçãodos recursos ambientais
Emissões de Dióxido de Carbono porpessoa
Biodiversidade: Área protegida
PIB por unidade de energia gasta
Terra arável per capita
% de variação da área de floresta (km2)nos últimos 10 anos
% da população dependente das fontesenergéticas tradicionais
CONTROLO DE DROGAS E PREVENÇÃO DO CRIME
OBJECTIVO
CONFERÊNCIAS ONU
META INDICADORES
(Desagregados por sexo)
Controlo da droga melhorado Resultados mensuráveis na redução docultivo, do fabrico, do tráfico e doconsumo de droga em 2008
Área ocupada com o cultivo de coca, ópioe canabis
Apreensão de drogas ilícitas
Prevalência do abuso da droga
Prevenção do crime melhorada Eliminação/Redução significativa do crimeviolento
Nº de crimes por 100000 habitantes
INDICADORES DO CONTEXTO SÓCIO-ECONÓMICO
Demografia Dimensão da população
Taxa média de fertilidade
Esperança de vida à nascença
Economia PNB per capita (US$ e PPP)
Dívida externa (US$ em % do PNB
Crescimento do PNB per capita (em cada década)
Poupança interna bruta em % do PNB
Quota das exportações (%) no PNB
Quota do Investimento Directo Estrangeiro (%) no PNB
% da despesa pública aplicada em serviços sociais
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8.3 O sistema de Informação do PPIP
A gestão do investimento público é apoiada por um Sistema de Informação para o Investimento
Público (SIPIP), assente numa Base de Dados relacional programada em Access. A referida base permite
acompanhar a trajectória de um projecto, desde a sua identificação até à sua finalização.
O SIPIP contém os seguintes módulos:
• Projecto
• Pesquisa
• MEC
• Administração
• Base de Dados
O sistema está concebido para permitir o acesso de vários níveis de utilizadores. Assim, embora o
SIPIP seja gerido a nível central, pode ser acedido pelos GEPs dos sectores aos módulos Projecto e
Pesquisa .
Os módulos do sistema têm as seguintes características gerais
CAIXA 8-2: Módulos do SIPIPMódulo Central (DGP)
Tem como finalidade apoiar a elaboração do PPIP ao nível do órgão central responsável pela sua
apresentação. As suas potencialidades incluem:
• Recolher informação dos doadores;
• acompanhar os projectos de investimento dos diferentes Ministérios, analisar asnecessidades dos vários programas e priorizar os projectos de investimento
• Analisar as fontes de financiamento
• Afectar novos projectos de investimento aos Programas existentes
• Introduzir novos projectos de investimento, logo desde a sua concepção
• Seguir a trajectória de cada projecto desde a sua concepção até à sua conclusão
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__________________________________________________________________________196
Módulo de Pesquisa
Este módulo permite aos utilizadores fazer pesquisas estruturadas com base nos seguintes critérios:
• Estádios do Projecto, Tipo de projecto, Programas, Sub-programas, Sectores, Sub-sectores, ZonasGeográficas, Municípios, Tipo de financiamento, Fontes de Financiamento, Estádios dofinanciamento, Empreiteiros, Datas, Valores
Cruzando estes items de informação, podem obter-se vários relatórios para análise e caracterização doinvestimento público.
Módulo de Projecto
Este módulo permite aos GEPs prepararem os seus planos de investimento para submissão e negociação
com a DGP.
O historial dos projectos pode ser analisado uma vez que a base de dados contem a respectiva informação
desde a fase de identificação até à sua conclusão.
Módulo de Administração
O módulo de Administração permite ao Administrador da Base de Dados fazer a respectiva
gestão, através do conjunto de tabelas que ajudam a sistematizar a informação. As tabelas são as
seguintes: Categorias de despesa, Capítulos, Financiadores, Municípios, Câmbios, Freguesias,
Zonas geográficas, Ministérios, Programas, Tipos de projecto, Relatórios, Sectores, Estádios de
Financiamento, Estádios do projecto, Sub-programas, Sub-sectores, Utilizadores.
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8.4 Sistema de Informação para a Gestão Orçamental
8.4.1 A arquitectura geral do sistema de informação orçamental
O actual modelo orçamental de Cabo Verde é do tipo dual, onde o Orçamento Corrente é distinto do
Orçamento de Investimento.
No DIAGRAMA 8-2 representa-se um esquema geral que pode enquadrar a construção de um
sistema de informação para a Gestão Orçamental em Cabo Verde. Antes de mais, importa sublinhar a
importância de se proceder a uma abordagem sistémica quando está em causa o processo orçamental.
Na verdade, estamos perante processos interligados (programação-execução-contabilização) que só
podem ganhar coerência se forem apoiados por um sistema de informação globalmente coerente. O
diagrama revela justamente os principais elementos do sistema e os respectivos pontos de articulação.
No eixo horizontal do diagrama representam-se as principais funções relacionadas com o
processo orçamental:
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QUADRO 8-3: Entidades integrantes do Sistema de Informação de Gestão Económica e
FinanceiraMinistério/Entidade Direcção Funções
Banco de Cabo Verde (BCV) Modelização e programaçãoeconómica
Gestão monetária e cambial
Gestão da Dívida Pública
Gabinete de Estudos (GE) Modelização e programaçãoeconómica
Gestão da informação económica efinanceira
Direcção-Geral de Planeamento(DGP)
Modelização e programaçãoeconómica
Gestão do Investimento Público
Participação na gestão dainformação económica e financeira
Direcção-Geral do Orçamento(DGO)
Programação e Gestão doOrçamento
Direcção-Geral de OrçamentoDirecção de Contabilidade Pública(DGO/DCP)
Execução orçamental
Contabilização da despesa pública
Direcção-Geral do Tesouro (DGT) Gestão da Tesouraria do Estado
Gestão da Dívida Pública
Gestão das Operações Financeiras eFinanciamento do Estado
Direcção-Geral de Património doEstado (DGPE)
Gestão do património do Esatdo
Ministério das Finanças e doPlaneamento (MFP)
Direcção-Geral das Contribuições eImpostos (DGCI)
Gestão dos impostos e receitastributárias
Ministério dos NegóciosEstrangeiros, Cooperação eComunidades (MNEC/DGCI)
Direcção-Geral da CooperaçãoInternacional (DGCI)
Coordenação da ajuda externa
MIN SECT – Ministérios sectoriais Gabinetes de Estudos e Planeamento(GEPs)
Gestão do Investimento Público
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Cada função é representada de uma forma autónoma, sendo possíveis várias combinações possíveis
para a constituição de um sistema orgânico. Por exemplo, o mesmo organismo pode assimilar mais do
que uma função. No eixo vertical do diagrama estão representadas as diferentes fase do processo
orçamental, desde a fase de programação macro-económica até à fase de auditoria.
No eixo vertical do Diagrama representam-se as várias fases do processo orçamental:
• Previsão macroeconómica
• Elaboração (Programação) orçamental
• Execução
• Contabilização
• Gestão de Tesouraria
• Gestão da dívida
• Auditoria
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DIAGRAMA 8-2: Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado
Sist. Info e Prog. Macroeconómica
BCV MFPGE
MFPDGP
MFPDGO
MFPDGT
MFPDGO/CP
MINIST.SECTOR.
MFPDGCI
MNECDGCI
Cenário Macroecon.
PrevisãoMacro-económica
Directrizes Orçamentais
Sistemas ProgramaçãoOrçamental
Elaboração doOrçamento
SIPIPProgram. Corrente
Orçamento
Investim. Corrente
Sistemas de ExecuçãoOrçamental
SistemaCont.Púb.
Execução Orçam.e ContabilidadePública
SIPIPAcomp.
Sist.AcompOrç.Corr.
Gestão deTesouraria
Gestão daDívida Pública
Sist.Gest.Tesouraria
Sistema de Gestãoda Dívida Pública
Interna Externa
SistemaElab. Orç
SIPIP
SistemasGest. Fiscal
Coorden.Ajuda
Externa
SistemaExec OE.
SistemaExec. PPIP
BANCACOM.
Contas dosdoadores
Relatório
RelatórioRelatório
Relatório
Relatório Relatório
MFPDGPE
Sistema deInformaçãoPatrimonial
SistemaInfo Coop
Gestão doPatrimónio Relatório
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No corpo do Diagrama, as caixas a amarelo simbolizam os sub-sistemas de informação,
enquanto que as caixas a verde representam os outputs respectivos (que assumem em geral a forma
de relatórios).
No início do processo, está o Sub-Sistema de Programação Macro-económica necessário à
definição das políticas associadas a cada uma das funções/organismos com responsabilidades na
política macro-económica (Banco de Cabo Verde na política monetária e cambial bem como na
política de gestão da dívida pública, Ministério das Finanças e do Planeamento na política orçamental
e na gestão da dívida pública, e Direcção-Geral de Planeamento na gestão do Investimento Público.
Estes sistemas apoiam-se em bases de dados de informação económica que alimentam
modelos de simulação macro-económica vocacionados para a produção de cenários de
evolução económica a médio prazo. Em concreto, a DGP dispõe de um modelo de programação
macro-económica que tem vindo a ser utilizado naquele tipo de exercício mas que carece de
actualização.
A projecção da despesa global deve enquadrar a despesa pública (corrente e de investimento)
face aos recursos disponibilizáveis no horizonte temporal do PND. Nesse sentido, o DIAGRAMA 5-17
põe evidência a relação entre o exercício de enquadramento macroeconómico da despesa pública e a
elaboração das orientações para a elaboração do Orçamento do Estado.
A fase seguinte do processo consiste na utilização do Sistema de Programação Orçamental,
onde coexistem actualmente dois sub-sistemas em Cabo Verde, e que persistirão como tal durante o
processo de transição para um modelo de orçamentação por programas. Neste contexto, o SIPPIP
corresponde ao sistema de informação para a programação do investimento, enquanto que o
orçamento corrente disporá de um sistema próprio.
A execução orçamental, quer na componente de despesa corrente quer na componente de
despesa de investimento deverá também estar apoiada em sub-sistemas de informação,
devidamente articulados com os sub-sistemas que apoiam a fase de programação. No caso do
SIPPIP esta função pode ser realizada utilizando a base de dados proposta. Como princípio geral
preconiza-se a integração do processo de execução orçamental, isto é, a consideração conjunta das
despesas correntes e das despesas de investimento e de desenvolvimento. Esta solução pressupõe
uma aplicação informática comum aos dois tipos de despesa. O Diagrama 3 mostra esta solução
através do bloco Sistemas de Execução Orçamental o qual é alimentado com a informação que foi
produzida nos Sistema de Programação Orçamental , bem como pela informação relativa à
execução derivada do processo de cabimentação. A ligação ao Sistema de Contabilidade Pública
assegura a adequada contabilização da despesa.
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__________________________________________________________________________202
8.4.2 A organização da informação no sistema de gestão orçamental
A lei que enquadra o Orçamento do Estado estabelece que a especificação das despesas deve
reger-se por códigos de classificação orgânica, funcional e económica (ver Anexo 5), mesmo
no caso de o orçamento ser estruturado, no todo ou em parte, por programas. Estas classificações
deverão abranger quer as despesas de funcionamento quer as despesas de investimento.
Algumas nomenclaturas são comuns quer à componente do orçamento corrente quer à
componente dos programas. São os casos da classificação orgânica e económica. Já a classificação
funcional perde relevância na orçamentação por programas, sendo então substituída por um
classificador programático, com a estrutura codificada de
programas/subprogramas/medidas/projectos43.
Por outro lado, deve ter-se em conta que as Contas Nacionais são alimentadas também pela
informação que resulta da prestação das contas públicas. Assim, justifica-se um trabalho de
harmonização das nomenclaturas, em particular daquelas que são objecto de utilização comum.
Na actual fase da reforma orçamental, este deverá constituir um objectivo prioritário e deveria
envolver todos os organismos que produzem informação com base naquelas nomenclaturas
(Ministério das Finanças e do Planeamento, Direcção-Geral de Planeamento, Instituto Nacional de
Estatística).
A capacidade do módulo de pesquisa do SIPIP para produzir informação relevante e fiável para
análise depende crucialmente da qualidade e da estabilidade da informação registada nas referidas
tabelas.
O conceito de projecto considerado no PPPIP merece uma clarificação. Na verdade a
designação de projecto é habitualmente atribuída a um conjunto de intervenções, no âmbito do
PND, e que na realidade correspondem a intervenções com objectivos e com conteúdos muito
distintos. Na verdade, coexistem no mesmo plano classificativo categorias como o Projecto das
Reformas Económicas , Inquérito às Empresas , Assistência Técnica a , Construção de Escola ,
etc.
Na verdade, estamos perante situações que configuram intervenções com um diferente nível de
complexidade, mobilizando recursos financeiros, humanos e materiais de amplitude também muito
diferente. A solução para este problema passa por um exercício de categorização, hierarquização e
classificação das intervenções, na base de uma árvore de objectivos devidamente hierarquizada, e na
43 Mesmo neste caso o classificador funcional pode ser mantido para efeitos de comparações internacionais epara fornecimento de informação a organizações internacionais. Uma forma prática pode ser a elaboração deuma tabela de correspondência entre o classificador programático e funcional.
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qual se estabeleça uma clara distinção entre os conceitos de programa, sub-programa, medida,
projecto e componente de projecto.
As situações-tipo que podem ser identificadas no Orçamento do Estado podem tipificar-se do
seguinte modo (QUADRO 8-4).
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QUADRO 8-4: Actividades e projectos públicos
Natureza da Actividade Descrição
Categoria 1:
Actividades de natureza contínua
Correspondem às actividades correntes da Administração Pública, com carácterde rotina, e que são financiadas pelo orçamento corrente. Identificam-se com asfunções legalmente atribuídas aos órgãos da administração pública.
Por vezes estas actividades são apoiadas ou reforçadas através de intervençõesque adquirem, por sua vez, a natureza de despesas de investimento (porexemplo, instalação de uma rede informática), ou de uma despesaextraordinária, de natureza corrente (por exemplo, a realização de um programade formação tendo como alvo o pessoal de uma direcção). Estas duas categoriasde despesa podem ser incluídas no Programa de Investimentos, embora só aprimeira corresponda a uma despesa de formação de capital.
Categoria 2:
Acções ou projectos de naturezaintangível
São habitualmente consideradas com despesas de desenvolvimento, na medidaem que correspondem tipicamente a intervenções associadas à prossecução deobjectivos de desenvolvimento. Cobrem um leque muito vasto de situações:intervenções no domínio da saúde, da promoção externa do país, de reforço dasinstituições, etc.
São de natureza eminentemente intangível e são organizadas sob a forma de“projecto”, assumindo todas as características e formas organizativas típicas deum projecto: têm objectivos bem definidos, são realizadas de acordo com umcalendário definido, têm um limite temporal, mobilizam recursos específicos ededicados e são realizadas segundo um orçamento.
Por vezes, estes “projectos” têm associadas despesas de natureza corpórea (porexemplo, veículos), adquiridos especificamente para viabilizar a suaimplementação, e que podem ser classificados como formação de capital.
No Orçamento do Estado estas despesas fazem habitualmente parte doOrçamento de Investimento (com base na concepção de despesas dedesenvolvimento) embora em rigor devam ser classificadas como despesascorrentes.
Estes “projectos” não dão origem a despesas recorrentes, isto é, a despesacorrente futura.
Categoria 3:
Projectos de natureza tangível
Nesta categoria consideram-se as intervenções que têm um caráctereminentemente tangível, onde predominam consequentemente as despesas queconstituem formação de capital (construção de estradas, de portos, de centrosde saúde).
Podem ter associadas despesas de natureza imaterial (por exemplo, a formaçãode pessoal relacionada com o funcionamento de um novo centro de saúde, aassistência técnica, etc).
O orçamento do projecto inclui habitualmente despesas de natureza material eimaterial.
Estes projectos dão habitualmente origem a despesas recorrentes, isto é,despesa corrente futura associada à exploração dos novos equipamentos e infra-estruturas.
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Cada uma das categorias atrás tipificadas deverá ser susceptível de autonomização e de uma clara
identificação no sistema de informação SIPPIP. Na verdade, elas correspondem às situações mais típicas
de organização da actividade dos serviços públicos, representando cada uma delas formas organizativas
e de gestão bem diferenciadas. Por essa razão dão origem a formas também distintas de orçamentação
e de gestão dos recursos públicos e que requerem um tratamento diferenciado no sistema de
informação.
A correspondência das anteriores categorias de actividades com as categorias orçamentais pode
sintetizar-se do seguintes modo:
QUADRO 8-5: Relação entre a natureza das actividades e as categoria de despesa orçamental
Natureza das
Actividades
Despesa corrente Despesa de capital Geração de
despesas
recorrentes
Categoria 1 Dominante Secundária Não
Categoria 2 Dominante Secundária Não
Categoria 3 Secundária Dominante Sim
De um modo geral, o PPIP contempla as Categorias 2 e 3, sendo a Categoria 1 coberta pelo
Orçamento corrente.
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ANEXOS
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ANEXO 1: Metodologia de Organização de um Workshop sobre a utilização o Quadro Lógico44.
Passo 1 - Análise dos actores influentes
1.1. Apresentar sucintamente o objectivo e o conteudo do passo. Análise do grupo-alvodo projecto e dos actores influentes envolvidos na problemática do projecto, tais comoinstituições, entidades, grupos de interesse e pessoas-chave. Expor também oprocedimento a seguir.
1.2. Convidar os participantes a registar nos cartões distribuídos os nomes de todas asentidades, grupos de interesses, outros projectos, etc. que actuem na area ou regiãoem que se insere o projecto e que detenham uma posição de influência ou possam vir aser afectados pelo projecto.
1.3. Recolher os cartões e listar todos os actores identificados (entidades, grupos,pessoas), analisando em que medida cada cartão representa uma unidade homogéneaou uma sub-unidade ou sub-grupo com problemas específicos ou interessessusceptíveis de serem separadamente identificados e enunciados.
1.4. Classificar os actores influentes por categorias (entidades ou instituições, grupos deinteresses, pessoas-chave), seguindo o seguinte procedimento sequencial:
-Recolher
-Classificar
-Descrever
-Analisar
-Avaliar
1.5. Dividir as instituições e grupos de interesses em participantes e não-participantes(envolvidos ou não-envolvidos ) no projecto.
1.6. Se for considerado útil solicitar à equipa de planeamento que distinga os actoresparticipantes em actuantes, benefiários e afectados.
1.7. De modo semelhante, diferenciar os actores classificados como não-participantesou não envolvidos de acordo com as seguintes categorias: com potencial de apoio aoprojecto: com potencial de oposição.
44 Elaborado por SIMÕES, J.A. (1993), O Planeamento de Projectos por Objectivos, mimeo.
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Passo 2 - Análise de problemas: identificação do problema central
2 .1 Apresentar o objectivo e o conteúdo do passo: Identificação pelo grupo departicipantes do problema central da problemática em análise e na qual se encontra ouvai ser inserido o projecto. De seguida explanar o procedimento a ser adoptado.
2.2 Convidar os participantes a formular o problema central. Cada participante deveinscrever a sua formulação do problema central num único cartão. O problema centraldeve descrever de forma adequada o ponto central da problemática global em análise.O problema central não tem necessariamente de ser transformado de modo mais oumenos automático no objectivo do projecto. Os problemas apresentados pela equipa deplaneamento devem ser descritos em termos de condições negativas, ou seja,exprimindo situações negativas.
2.3 Solicitar uma breve justificação para cada uma das contribuições dos participantes,procurando ao mesmo tempo ir restringindo o quadro de opções. Seguidamente,introduzir uma discussão mais geral no sentido de conseguir alcançar um acordo ouconsenso sobre a formulação do problema central. Neste ponto, os diferentesinteresses, perspectivas e problemas mais caros aos participantes podem constituir umobstáculo ou barreira que, eventualmente, impeça a construção de um rápido consenso.
2.4 No caso de se verificarem dificuldades em estabelecer um consenso, adoptar oseguinte procedimento:
-Estruturar os problemas centrais propostos em termos de causas e de efeitos.
-Tentar novamente obter um consenso sobre o problema central agora que existe umavisão global dos problemas propostos e das suas inter-relações
No caso de, ainda desta vez, não ter sido possível alcançar uma posição comum econsensual, então há que procurar gerar um consenso através de outras vias, entre asquais, se sugerem as seguintes:
-Introduzir um processo de apoio à tomada de decisão como um brainstorming,brainwriting ou jogo de simulação.
-Estabelecer um processo de decisão baseado numa votação ou atribuição de pontos.
-Tomar uma decisão provisória sobre os dois ou três possíveis problemas centrais eprocurar avançar na análise dos problemas, mas tendo em linha de conta que o grupodeverá voltar à discussão do problema central antes de concluir a construção da árvorede problemas.
Por via de regra, será de evitar uma escolha baseada num processo formalizado devotação (decisão maioritária).
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Passo 3 - Análise de problemas: construção da Árvore de Problemas
3.1 Apresentar de forma sucinta o objectivo, conteúdo a procedimento do passo:identificar e analisar as causas e efeitos do problema central, construindo uma Árvorede Problemas.
3.2 Identificar e analisar as causas directas do problema central. As contribuições dosparticipantes são colocadas debaixo do problema central e paralelamente umas àsoutras. Seguidamente é analisada a consistência lógica das respectivas relações decausa-efeito.
3.3 Identificar e analisar os efeitos do problema central. Os efeitos identificados pelosparticipantes são colocados por cima do problema central e paralelamente uns aosoutros. Na sequência é analisada a lógica das relações causa-efeito estabelecidas.
3.4 De acordo com o princípio enunciado, identificar e analisar as causas das causasdirectas anteriormente definidas, desenvolvendo a análise até um ponto que permitaobter uma representação gráfica das diversas ramificações de problemas e respectivasrelações causais.
3.5 De modo semelhante, identificar os efeitos dos efeitos directos do problema central.
3.6 Efectuar uma revisão da lógica das relações causa-efeito e da formulação dosproblemas e, seguidamente, desenhar a árvore de problemas. Este passo é concluídoquando a equipa de planeamento considerar que já dispõe de informações suficientessobre os problemas essenciais a suas inter-relações.
3.7 Se desejável e possível, estabelecer indicadores para descrever de forma precisaos diferentes problemas.
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Passo 4 - Análise de objectivos: construção da Árvore de Objectivos
4.1 Apresentar de forma sintética o objectivo, conteúdo e procedimento do passo:construir uma Árvore de Objectivos a partir da Árvore de Problemas gerada no passoanterior pelo grupo de participantes e proceder à análise dos objectivos definidos.
4.2 Reformular, de cima para baixo, os problemas inscritos na árvore de modo atransformá-los em objectivos. Dado que um problema descreve uma condição ousituação negativa, procura-se formular a respectiva condição positiva ou a situaçãodesejada que se pretende futuramente alcançar. O problema central é tambémtransformado em objectivo, não merecendo, no entanto, a partir de agora, qualquerênfase especial. Deste modo, a lógica causal da Árvore de Problemas é transformadanuma lógica meios-fins.
4.3 Verificar, de cima para baixo, a formulação dos objectivos, bem como a consistêncialógica das relações meios-fins estabelecidas. Com efeito, nem sempre a transformaçãode um problema em objectivo pode ser operada de forma tão mecânica ou automáticacomo a sugerida no procedimento acima apresentado. Por motivos óbvios, a lógica dasrelações meios-fins deve ser plausível. Pontos a considerar na verificação:
- Objectivos mal formulados ou dificuldades experimentadas na sua formulação podemconstituir sintomas de uma deficiente Análise de Problemas; sempre que necessárioserá de retomar a discussão de problemas relativamente aos ramos da árvore menosclaros.
- Os objectivos devem ser plausíveis. Se um problema descrito é, por exemplo, umainsuficiente precipitação , então o objectivo correspondente não pode ser formuladocomo suficiente pluviosidade atmosférica porque simplesmente não é plausível.Nestas circunstâncias deverá ser procurado um objectivo alternativo plausível ou sermantido o problema inalterado na árvore, pois pode indicar um futuro pressuposto.
- Analisar em que medida a formulação de um objectivo é suficiente para alcançar onível de objectivos seguinte; complementarmente, verificar se para cada nível deobjectivos se encontram estabelecidos todos os objectivos (meios) para atingir o nívelde objectivos imediatamente superior.
Assegurar que as relações de causa-efeito da Árvore de Problemas se tornaramrelações meios-fins. Assim, se causa A então efeito B passará a significar A um meiopara atingir B .
4.5 Desenhar a versão final da Árvore de Objectivos.
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Passo 5 - Análise de Alternativas
5.1 Apresentar resumidamente o objectivo, conteúdo e procedimento do passo:identificar e avaliar estratégias de solução alternativas que possam ser adoptadas peloprojecto ou programa.
5.2 Identificar os ramos da árvore de objectivos que configurem possíveis estratégiasalternativas para materializar um projecto. É prática recomendável fazer um círculo emtorno de cada cadeia meios-fins da árvore correspondente a uma possível alternativa demodo a que o grupo de participantes tenha uma percepção clara do leque de opçõesem presença para atingir os níveis de objectivos de ordem superior. Sempre quepossível, atribuir uma designação às alternativas: abordagem produtiva , abordagemcapital-intensiva , abordagem de formação .
5.3 Quando necessário, procurar comparar ou avaliar com os participantes, de formasintética, as alternativas identificadas à luz de diferentes critérios. Exemplificando:
-custo
-probabilidade de sucesso
-custo-benefício
-horizonte temporal
-risco social
-disponibilidade de recursos
5.4 Ter presente que as alternativas são avaliadas e a consequente escolha é feitatendo em linha de conta os seguintes pontos:
-Estudos de viabilidade, análises custo-benefício, planeamento de alternativas.
-Contribuição para os objectivos de desenvolvimento de ordem superior.
-Análise dos interesses envolvidos, expectativas do grupo-alvo.
-Prioridades e opções políticas.
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Passo 6 - Matriz de enquadramento lógico: Hierarquia de Objectivos
6.1 Introduzir o conceito da Matriz de Enquadramento Lógico (MEL) aos participantes eapresentar o objectivo, conteúdo e procedimento do presente passo: formulação dahierarquia de objectivos do projecto a planear, ou seja, da estratégia a adoptar no seudesenho.
6.2 Derivar a estratégia a adoptar pelo projecto a partir da Árvore de Objectivos,transferindo a cadeia de meios-fins escolhida para a primeira coluna da Matriz -Hierarquia de Objectivos. Procurar definir, em primeiro lugar, os Objectivos Globais eEspecíficos do Projecto. Como regra, definir apenas um Objectivo Específico porprojecto. Sempre que necessário, reformular os objectivos descritos na árvore,tomando-os mais adequados.
A hierarquia de objectivos da MEL compreende três níveis de objectivos (ObjectivosGlobais, Objectivo Específico e Resultados) e um nível de Actividades. Dos três níveisde objectivos, o nível designado como Objectivo Específico do Projecto serve paradescrever o impacto desejado, isto é, o que se pretende realmente atingir ou osbenefícios esperados com o projecto. Corresponde assim ao conceito generalizado deobjectivo de um projecto45. No entanto, o objectivo formulado para o projecto deveconstituir um contributo para alcançar os Objectivos Globais os quais, na lógica verticalda matriz, representam o objectivo de ordem superior ou geral do projecto (46).
6.3 Após a definição do Objectivo Específico e dos Objectivos Globais, formulam-se osResultados47 que devem ser planeados pelo projecto. Os Resultados são formuladosem termos de objectivos e representam os resultados que deverão necessariamente seralcançados para que o projecto atinja o seu Objectivo Específico. Os resultados hão-deser formulados de modo a que o impacto resultante seja adequado, necessário esuficiente para concretizar o Objectivo Específico do Projecto. Os resultadosconstituem, assim, condições necessárias que devem ser conseguidas e asseguradaspelo projecto para que este atinja o seu Objectivo Específico. Em numerosos projectose programas, os Resultados correspondem às respectivas componentes.
6.4 Definidos os Resultados necessários para conseguir o Objectivo Específico doProjecto, identificar as Actividades básicas que o projecto deverá planear e realizar paraobter cada um dos Resultados planeados. Neste passo não se pretende proceder a umplaneamento muito detalhado das actividades, mas tão somente estabelecer o sistemade objectivos e a estratégia do projecto, qual a sua razão de ser, o que se visaconcretamente atingir, como vai ser alcançado o seu objectivo.
6.5 Rever a lógica vertical da Hierarquia de Objectivos, de baixo para cima, analisandoa consistência das relações meios-fins.
-Se as actividades planeadas forem eficientemente realizadas, então os Resultadosplaneados serão alcançados.
-Se os Resultados planeados forem conseguidos; então é provável que o ObjectivoEspecífico seja alcançado
45 Corresponde ao conceito de “project purpose na literatura anglo-saxónica sobre este assunto.46 “Overall goal na literatura anglo-saxónica47 “Outputs na terminologia anglo-saxónica
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-Se o Objectivo Específico do projecto for alcançado, então isso constituirá umacontribuição para atingir os Objectivos Globais.
Passo 7 - Matriz de enquadramento lógico: Pressupostos
7.1 Apresentar o conceito de Pressupostos, assim como o objectivo, conteúdo eprocedimento do passo 7: identificar e explicitar os factores externos ao projecto, cujaocorrência em relação a cada nível de objectivos concorre para o sucesso desejado.
7.2 Identificar, em primeiro lugar, os factores externos que conjunta e adicionalmentese devem verificar com a realização de cada bloco de actividades para que o respectivoResultado seja alcançado com segurança. Importa aqui analisar se as actividadesprevistas são adequadas e suficientes para permitir atingir directamente o respectivoResultado ou se, pelo contrário, paralelamente à sua realização se torna necessário queocorra algum acontecimento ou facto exterior ao projecto.
As relações meios-fins dos ramos da Árvore de Objectivos que não foram incluídas naHierarquia de Objectivos do Projecto constituem, por excelência, uma fonte de possíveispressupostos.
7.3 Efectuar o mesmo procedimento para os restantes níveis de objectivos da Matriz,seguindo um percurso ascendente e assegurando a consistência lógica da estratégia doprojecto. Para cada nível da MEL deverão ser identificadas e reunidas as condiçõesnecessárias e suficientes (incluindo os pressupostos) para alcançar o nível deobjectivos imediatamente superior.
7.4 Inscrever os Pressupostos identificados na quarta coluna da MEL e nocorrespondente nível. Fazer notar que os pressupostos que se devem verificar paraatingir um determinado objectivo da hierarquia se situam sempre no nívelimediatamente abaixo. Atender às seguintes regras na formulação dos pressupostos:
- Expressar os pressupostos em termos de objectivos, ou seja, de condições positivas.
- Descrever, sempre que possível, os pressupostos em termos objectivamenteverificáveis.
- Explicitar apenas pressupostos importantes que correspondam a condições adicionaislogicamente necessárias.
7.5 Ter em linha de conta que pressupostos importantes, mas com uma probabilidadede ocorrência reduzida, funcionam como pressupostos fatais, isto é, afectando aprobabilidade de sucesso do projecto.
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Passo 8 - Matriz de enquadramento lógico: Indicadores Objectivamente Verificáveis
8.1 Expor sucintamente o conceito de Indicadores Objectivamente Verificáveis, bem como oobjectivo, conteúdo e procedimentos a adoptar no presente passo: identificar e formular para cadanível de objectivos os respectivos indicadores de sucesso, formulando-os em termosobjectivamente verificáveis, ou seja, em termos de metas quantificadas, especificadas ecalendarizadas.
8.2 Identificar os Indicadores respeitantes aos Objectivos Globais e Específico do Projecto,procurando que todos os aspectos importantes contidos na descrição dos objectivos sejamespecificados em termos de Indicadores. Verificar se os IOV's são objectivamente verificáveis,plausíveis e independentes.
8.3 Identificados os Indicadores do Objectivo do Projecto, explicitar os IOV's correspondentes acada resultado planeado. Verificar se os indicadores são objectivamente verificáveis, plausíveis eindependentes.
8.4 Definir os indicadores identificados em termos de metas, utilizando a fórmula QQT(Quantidade, Qualidade e Tempo):
-Quantificar o indicador.
-Especificar características e aspectos qualitativos.
-Estabelecer prazos.
Se necessário, estabelecer a localização do indicador e incorporar referências ao grupo-alvo a quese destina.
8.5 Rever os Indicadores, identificando lacunas de informação e pontos obscuros a clarificarposteriormente. Analisar em que medida certas lacunas de informação ou uma eventualdificuldade em encontrar um Indicador adequado não resulta de um objectivo mal formulado. Senecessário, (1) clarificar e redefinir a formulação genérica do objectivo em causa, e/ou (2)identificar indicadores especiais ou indirectos.
8.6 Formular os Indicadores por extenso, procurando estabelecer uma versão o mais final possíveldo Indicador.
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Passo 9 - Matriz de enquadramento lógico: Meios de Verificação
9.1 Apresentar o objectivo, conteúdo e procedimento do passo: identificar as fontes deinformação adequadas para verificar cada Indicador.
9.2 Identificar os Meios de Verificação para cada Indicador Objectivamente Verificável,procurando clarificar qual a informação requerida, em que forma é necessária, quando énecessária e quem a deve fornecer.
9.3 Analisar as fontes de verificação externas ao projecto em função dos seguintesitens:
- Qual a informação disponível específica da área de actuação e dos grupos-alvo doprojecto.
- Qual a sua fiabilidade, actualidade e acessibilidade.
- Qual a sua composição ou conteúdo e como são obtidas.
9.4 Quando as fontes de informação externas e adequadas não se encontraremdisponíveis, analisar em que medida o projecto poderá recolher, tratar e analisar ainformação necessária para verificar o Indicador. Nos casos em que essa tarefa foratribuída ao projecto, incorporar no planeamento das actividades a recolha epreparação da informação e incluir uma especificação dos inputs e custos envolvidos.
9.5 Substituir os Indicadores para que não é possível identificar fontes de verificaçãoadequadas. Substituir também os Indicadores que, atendendo a uma análisecusto-benefício, sejam considerados demasiado dispendiosos por outros mais simples esuportáveis.
Passo 10 Análise de Pressupostos
10.1 Apresentar primeiramente o objectivo, conteúdo e procedimento do passo:clarificar os Pressupostos e analisar a sua importância, bem como os riscos envolvidosde modo a aumentar a probabilidade de sucesso do projecto.
10.2 Clarificar os pressupostos identificados, construindo, se necessário, indicadorespara cada pressuposto. A quantificação dos objectivos e dos inputs requeridos peloprojecto conduz normalmente à formulação de novos pressupostos.
10.3 Estabelecer as pré-condições de viabilidade da realização de cada actividade.
10.4 Analisar a importância de cada pressuposto. Apenas os pressupostosabsolutamente essenciais para atingir o nível seguinte de objectivos devem ser inscritosna MEL
10.5 Analisar a probabilidade de ocorrência de cada pressuposto importante. Se a
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probabilidade de ocorrência de um pressuposto importante for baixa, então estamosperante um pressuposto fatal que pode afectar negativamente o sucesso do projecto.
10.6 No caso de terem sido identificados pressupostos fatais, analisar em que medidaestes são influenciáveis ou se é possível reformular o projecto de modo a torná-los nãofatais. As actividades, resultados e objectivos devem ser reformulados de forma amelhorar a probabilidade de sucesso do projecto.
10.7 No caso de ainda subsistirem pressupostos fatais, analisar as possibilidades decancelar o projecto e de aplicar os recursos que lhe estavam destinados noutrosprojectos alternativos.
10.8 Identificar possíveis impactos negativos não planeados pelo projecto.
Passo 11 – A responsabilidade da gestão
11.1 Apresentar o objectivo e conteúdo do passo: analisar em que medida osresponsáveis pela gestão do projecto são capazes de assegurar os resultadosplaneados.
11.2 Identificar os factores que podem ser geridos pela unidade de gestão do projecto eaqueles que estão para além do seu controlo. Os factores geríveis devem seridentificados tendo em conta a própria situação em que se insere o projecto, os seusobjectivos e os riscos envolvidos.
11.3 Quando a responsabilidade de gestão do projecto se encontra repartida por váriasentidades ou parceiros, procurar estabelecer o que compete a cada um assegurar. Nocaso das entidades ou partes envolvidas virem a estabelecer um contrato deimplementação, a responsabilidade da gestão deve ser aí estipulada.
11.4 Se possível, avaliar em que medida os responsáveis pela gestão do projecto estãoempenhados em concretizar os resultados e a assumir responsabilidade pelosresultados planeados.
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Passo 12 - Orçamentação
12.1 Apresentar o objectivo, conteúdo e procedimento do passo: determinar asespecificações de cada actividade básica, designadamente no que respeita aos inputsnecessários e respectivos custos, estimando assim o orçamento do projecto.
12.2 Identificar, de um ponto de vista quantitativo, as necessidades de bens eequipamentos, de pessoal e recursos financeiros para realizar cada actividade básica.Para efectuar estimativas mais seguras, determinar primeiramente as necessidadesfísicas de dado input por actividade, utilizando critérios adequados:
- Calcular os inputs relativos ao pessoal em termos de homens/mês.
- Listar os equipamentos requeridos e, se necessário, afectá-los a cada actividade deacordo com uma percentagem.
- Estimar as necessidades de fundos para ocorrer a outras despesas.
12 .3 Rever a concepção do projecto na sequência da estimativa preliminar doorçamento e dos inputs requeridos, atendendo nomeadamente aos seguintes pontos:
- Determinar os inputs necessários a cada output.
- Analisar e ordenar, em termos do respectivo custo-benefício, os vários outputsplaneados.
- Determinar a contribuição de cada output para a realização do Objectivo.
- Estimar os inputs eventualmente necessários face às conclusões retiradas no decursoda análise dos riscos envolvidos.
12.4 Rever a concepção do projecto do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Se aespecificação dos inputs se tornar algo problemática devido à insuficiente capacidadede resposta da equipa de planeamento, procurar que algumas questões qualitativassejam examinadas em conjunto, por exemplo: o consumo energético é excessivo, sãonecessárias divisas externas, dependência futura de importações, despesas deoperação são elevadas, actividades não são suficientemente do tipo trabalho-intensivo,capacidade de absorção das entidades executoras é bastante limitada.
12.5 Concluído o processo típico de um Workshop de Planeamento de Projectos PorObjectivos (PPO), o processo de planeamento prossegue, orientando-se normalmentepara a elaboração de um Plano Operacional do Projecto. Esta fase pode ser aindarealizada no quadro de um Workshop PPO ou dentro das tarefas de um grupo maisrestrito e encarregado do planeamento do projecto.
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ANEXO 2: Classificadores Orçamentais
Anexo 2.1. Classificação Económica das DespesasCLASSIFICAÇÃO
Capítulo Grupo ArtigoCOD.ECON
DESIGNAÇÃO DAS DESPESAS COD.POC
Despesas Correntes
1 1 Despesa com Pessoal 611 1.1 Vencimentos e Salários 611
1 1.1.1 Pessoal do quadro especial 61112 1.1.2 Pessoal do quadro aprovado por lei 61123 1.1.3 Pessoal contratado 61139 1.1.9 Encargos previsionais p/ vencimentos e salarios 6119
2 1.2 Remuneracoes acessorias de caracter permanentes 6121 1.2.1 Gratificações certas e permanentes 61212 1.2.2 Subsídios certos e permanentes 61223 1.2.3 Despesas de representação 61239 1.2.9 Encargos previsionais p/ remuneracoes permanentes 6129
3 1.3 Remuneracoes variaveis de caracter não permanente 6131 1.3.1 Gratificações variavéis ou eventuais 61312 1.3.2 Horas extraordinarias 61323 1.3.3 Alimentação e alojamento 61334 1.3.4 Vestuários e artigos pessoais 61345 1.3.5 Subsídio de instalação 61358 1.3.8 Outros abonos 61389 1.3.9 Encargos previsionais p/ remuneracoes não permanentes 6139
4 1.4 Seguránça social p/ agentes do Estado 6141 1.4.1 Encargos com a saúde 61412 1.4.2 Abono de família 61423 1.4.3 Contribuções para a segurança social 61434 1.4.4 Pensões 61445 1.4.5 Outras despesas de segurança social 61459 1.4.9 Encargos previsionais p/ a seguranca social 6149
2 2 Aquisicao de bens não duradouros 621 2.1 Material militar 621
1 2.1.1 Material militar e de seguránça 62112 2.1.2 Material militar de aquartelamento e alojamento 62123 2.1.3 Munições e explosivos 62138 2.1.8 Outros 6218
2 2.2 Matérias primas e subsidiárias 6223 2.3 Produtos semi-acabados 6234 2.4 Produtos alimentares 6245 2.5 Roupas e calçados 6256 2.6 Produtos e equipamentos para saúde 626
1 2.6.1 Medicamentos 62612 2.6.2 Pequenos equipamentos 62628 2.6.8 Outros produtos para saúde 6268
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8 2.8 Outros bens não duradouros 6283 3 Fornecimentos e servicos de terceiros 63
1 3.1 Fornecimentos 6311 3.1.1 Agua 63112 3.1.2 Electricidade 63123 3.1.3 Combustivéis e lubrificantes 63134 3.1.4 Material de conservação e manutenção 63145 3.1.5 Material de publicidade e propaganda 63156 3.1.6 Consumo de secretaria 63168 3.1.8 Outros fornecimentos 6318
2 3.2 Servicos 6321 3.2.1 Rendas e alugueres 63212 3.2.2 Representação dos serviços 63223 3.2.3 Conservação e manutenção 63234 3.2.4 Comunicações 63245 3.2.5 Seguros 63256 3.2.6 Vigiléncia e segurança 63267 3.2.7 Deslocações e estadias 63278 3.2.8 Serviços diversos 6328
3 3.3 Servicos especializados 6331 3.3.1 Auditória 63312 3.3.2 Assistencia técnica 6332
4 4 Transferencias correntes 641 4.1 Transferencia ao sector publico 641
1 4.1.1 Fundos e serviços autónomos 64112 4.1.2 Institútos públicos 64123 4.1.3 U.C. projetos 64134 4.1.4 Municípios 64145 4.1.5 Missões diplomáticas - Fundo de gestao 64158 4.1.8 Outras transferencias 6418
2 4.2 Transferencias ao sector privado 64181 4.2.1 Partidos políticos 64212 4.2.2 Outras instituições privadas 64223 4.2.3 Indemnizações compensatórias 64234 4.2.4 Evacuações de doentes 64245 4.2.5 Formaçao 64256 4.2.6 FAIMO 64268 4.2.8 Outras transferéncias ao sector privado 6428
3 4.3 Transferencias para o exterior 6431 4.3.1 Quotas a organismos internacionais 64318 4.3.8 Outras transferéncias para o exterior 6438
5 5 Custos Financeiros 651 5.1 Juros da dívida interna 651
1 5.1.1 Juros da dívida interna de curto prazo 65112 5.1.2 Juros da dívida interna de medio e longo prazo 6512
2 5.2 Juros da dívida externa 6521 5.2.1 Juros da dívida externa de curto prazo 65212 5.2.2 Juros da dívida externa de medio e longo prazo 6522
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3 5.3 Serviços bancários - comissões e juros 6534 5.4 Diferénças de cambio desfavoraveis 6548 5.8 Outros encargos financeiros 658
6 6 Outras despesas corrente 661 6.1 Restituções de Imposto 6612 6.2 Indemnizações 6719 6.9 Dotação provisional para encargos imprevistos 679
Despesas de Capital
7 7 Aquisição de bens de investimento1 7.1 Bens de capital fixo ( imobilizações corpóreas ) 42
1 7.1.1 Terreno 4212 7.1.2 Infra-estruturas 422
7.1.2.1 Estradas 42217.1.2.2 Redes 4222
3 7.1.3 Construção 4237.1.3.1 Habitações 42317.1.3.2 Edifícios 42327.1.3.3 Outras construções 4233
4 7.1.4 Equipamentos básicos 4245 7.1.5 Ferramentas e utensílios 425
7.1.5.1 Material técnico 42516 7.1.6 Equipamentos de carga e transporte 4267 7.1.7 Equipamentos Administrativos 427
2 7.2 Imobilizações incorpóreas 431 7.2.1 Patentes, marcas e licenças 4312 7.2.2 Estudos investigação e desenvolvimento 432
7.2.2.1 Estudos 43217.2.2.2 Investigação e desenvolvimento 4322
8 7.2.8 Outras imobilizações incorpóreas 4388 8 Divida Publica 52
1 8.1 Amortização da divida interna 5212 8.2 Amortização da divida externa - Emp normal 522
Amortização da divida externa - Emp retrocessão 5239 9 Imobilizações Financeiras
1 9.1 Participações 411 9.1.1 Instituições Financeiras 4112 9.1.2 Empresas Publicas 4123 9.1.3 Sociedades de capitais mistos 4134 9.2.4 Organismos internacionais 414
2 9.2 Empréstimos concedidos 415
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ANEXO 2.2 Classificação Funcional da Despesa Pública
1- Órgãos executivos elegislativos
1- Presidência da República2- Assembleia Nacional3- Gabinetes membros governo
2- Serviços financeiros eorçamento
Serviços do Ministério dasFinanças e do Planeamento(DGT, GEO, DGCI, DGA, IGF )
3- Negócios estrangeiros Serviços do Ministério NegóciosEstrangeiros (incluindo asembaixadas e consulados). Incluio IAPE
4- Serviços gerais de pessoal Serviços de gestão de pessoalrelativos a recrutamento,promoções, política de emprego,regulamentações, etc.
5- Serviços gerais deplaneamento e de estatísticas
Serviços de planeamento eestatísticas económicas e sociais( INE )
6- Descentralização Serviços da descentralização dosmunicípios, transferências paraos municípios
1- SERVIÇOS GERAISDE ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA
7-Outros serviços gerais Serviço de gestão do patrimóniodo Estado, serviços de arquivo ede imprensa nacional e outrosnão classificados anteriormente.
1- Exército Pessoal e material militar dasforças armadas
2- DEFESA NACIONAL
2- Guarda Costeira Pessoal e material da guardacosteira
3- SEGURANÇA EORDEM PÚBLICA
1- Polícia Polícia da ordem pública, políciajudiciária, Polícia de fronteira,Polícia da capitania dos portos, erespectivos equipamentos emateriais
2- Protecção civil e luta contraincêndios
Serviços de protecção civil e lutacontra incêndios
1- FUNÇÃOGERAL
3- JustiçaServiços de administração egestão dos tribunais, inspecçãode serviços penitenciários,prisões, etc.
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1- Ensino Pré-primário Serviços de gestão e docência deensino de nível pré-primário
2- Ensino Básico Serviços de gestão e docência deensino de nível básico
3-Ensino Secundário Serviços de gestão e docência deensino de nível secundário
4- Ensino Superior Serviços de gestão e docência deensino de superior (IP,ISE,ISECMAR,ISCEE)
5 – Ensino não definidos por um nível Alfabetização6- Serviços auxiliares de ensino ICASE,FAEF,Radio-Educativa,
Instituto CV de acçao social7-Serviços gerais de ensino Serviços de administração e inspecção
de ensino8 – Outros serviços de ensino, nc Serviços de pesquisa de ensino,
estatísticas e planeamento de ensino eoutros na classificados.
1 - EDUCAÇÃO
9- Juventude Serviços de politica de juventude1-Estabelecimentos e serviços desaúde
Hospitais nacionais, Delegacias desaúde
2- Farmácia3- Serviços gerais da saúde Serviços da Administração,
regulamentação , investigação einspecção de saúde
2 - SAÚDE
4- Outros serviços de saúde, nc Programa de saude publica, protecçãomaterno-infantil, planeamentofamiliar, desenvolvimento sanitário,escolas de enfermagem.
1-Segurança social Despesas referentes a doenças,maternidade, invalidez temporária,pensões de pessoal da administraçãopublica civis e militares, outrosserviços de segurança socialexceptuando o INPS
2- Assistência social Serviços de promoção social, InstitutoCabo-verdiano de menores, Institutode condição feminina
3-Serviços gerais de assistência social Serviços da administração eregulamentação, etc
3 - SEGURANÇA eASSISTÊNCIASOCIAL
4- Luta contra a pobreza1- Habitação Serviços de execuçao de politicas de
habitaçao (IFH)4 - HABITAÇÃO EEQUIPAMENTOSURBANOS 2- Higiene e Saneamento
1-Desporto Serviços ligados ao desenvolvimentodo desporto (FUNDESP)
2-Conservação do PatrimónioServiços de bibliteca e museus,monumentos e sitios históricos,Instituto nacional decultura,AHN,INIC.
3-Serviços de cultura e comunicação Radio-Televisao,ICCLD,IPC,Inforpress
2 - FUNÇÃOSOCIAL
5 - CULTURA
4 –Serviços gerais de cultura
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1 – Combustível2 – Electricidade
1 - ENERGIA
3 – Outros serviços de energia1- Agricultura Serviços do INIDA,
INGRH, INC, INFA2- Silvicultura3- Pecuária4- Pesca Serviços do INDP5 – Recursos hídricos6 – Ambiente
2 - AGRICULTURA,SILVICULTURA,PECUÁRIA E PESCAS
7 – Outros serviços , na1 – Indústria transformadora3 – INDÚSTRIA2 – Promoção de exportações1- Estradas2-Portos3-Aeroportos4-Outros meios de comunicação
4 – TRANSPORTES ECOMUNICAÇÕES
5- Serviços gerais de infra-estruturas e comunicações
1- Comércio, distribuição ehotelaria2-Turismo PROMEX
3 – Artesanato Centro Nacional deartesanato
4 – Outras actividadeseconómicas
IADE
3 – FUNÇÃOECONÓMICA
5 - OUTROSSERVIÇOSECONÓMICOS
5 – Serviços gerais relativas àmão-de-obra
DG Trabalho
4 – FUNÇÕESDIVERSAS
1 - OUTRASFUNÇÕES NÃOCLASSIFICADAS
1- Operações da Dívida Pública Despesas referentes ajuros e emissão detítulos da dívida pública
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ANEXO 3: Modelo de Proposta de Financiamento para Projectos Financiados pela União Europeia(Fundo Europeu de Desenvolvimento)
RESUMO (Máximo de 1 página)
A - PERTINÊNCIA
1. Compatibilidade com os objectivos globais
A finalidade desta secção é a de inserir o projecto no quadro da cooperação com o país e a região a que
diz respeito e de assegurar a compatibilidade com os objectivos mais gerais da ajuda da Comissão Europeia
(resoluções do Conselho, Comunicações, etc.)
1.1. Prioridades e objectivos políticos da ajuda da CE
1.2. Objectivos do PIN/PIR (sector de concentração)
1.3. Ligação com a análise anual do país
2. Análise sectorial
Esta secção deverá descrever as características gerais do sector no qual o projecto se insere e a política
sectorial do país beneficiário.
2.1. Características do sector
2.2. Estado/situação da política nacional/regional
3. Análise do problema
Esta secção proporciona uma análise dos problemas que exigem a intervenção da CE e são a base da
lógica de intervenção.
3.1. Grupos-alvo, beneficiários e outros intervenientes
Aqui os beneficiários principais deverão ser identificados (se possível quantificados) por exemplo:
agricultores, operadores económicos, mulheres, crianças, a parte mais pobre da população, etc. Mesmo se,
em certos casos, os grupos-alvo coincidem com os beneficiários, é talvez imperativo que eles sejam
especificamente identificadas (por exemplo, fazendo parte da administração, dos professores).
3.2. Esta secção deveria indicar os problemas que foram identificados, tal como o acesso aos serviços de
saúde ou de água potável, a inacessibilidade às zonas centrais, a falta de recursos humanos eficazes, etc.
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4. Origens e preparação do projecto
Esta secção descreve como o projecto foi elaborado (por exemplo, na sequência de um pedido do
governo, ou de uma ONG, através de ateliers de identificação de projectos que reúnem os representantes
dos grupos beneficiários.
B VIABILIDADE
5. Descrição do projecto
Esta secção descreve o projecto e a respectiva lógica de intervenção
5.1 Objectivo(s) global(is)
Esta secção explica porque o projecto é importante para a sociedade no seu conjunto; descreve os
objectivos nacionais ou sectoriais do programa para cuja concretização ele deve contribuir. Por outro lado,
esta secção descreve os benefícios de longo prazo que podem ser alcançados pelo projecto. Para atingir os
objectivos globais, será necessária a intervenção de outros projectos.
5.2. Objectivo específico
Este objectivo deve constituir o objectivo central do projecto em termos dos benefícios duráveis a prestar
aos beneficiários. Ele é uma função directa dos problemas essenciais que o projecto procura abordar e define
o sucesso do projecto. O objectivo do projecto não deverá ser a descrição dos serviços que criam os
benefícios, mas os próprios benefícios que a população poderá obter da utilização dos serviços
proporcionados pelo projecto.
5.3. Resultados
Esta secção descreve os serviços acima mencionados a fornecer pelo projecto ao grupo alvo; o projecto
deve evidentemente produzir os resultados previstos. Há uma relação estreita entre os resultados e o
objectivo: o que o projecto fornecerá (resultados) e os benefícios que daí resultarão para o grupo-alvo (o
objectivo específico do projecto).
5.4. Actividades
Esta secção descreve o que o projecto realizará concretamente a fim de produzir os resultados
projectados
5.5. Indicadores
Os indicadores-chave são essenciais para se avaliar o sucesso do projecto. Os métodos visando recolher
as informações apropriadas devem ser específicos e confinados dentro do quadro lógico
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6. Análise do projecto
Esta secção fornece uma apreciação analítica do contexto do projecto, os factores que influenciaram o
seu desenvolvimento, bem como os factores que contribuíram para a sua viabilidade e para a concretização
do seu objectivo.
6.1. Lições das experiências anteriores
Deverá fazer-se uma descrição da maneira como os resultados das avaliações precedentes foram
tomados neste projecto. As lições extraídas de outros projectos já acabados ou em curso de realização, quer
seja nos mesmos sectores do país ou outros, deveriam ser aqui incluídos.
6.2. Relação com outras intervenções
Esta secção deveria conter os elementos de projectos financiados por outros financiadores, pela
Comunidade Europeia ou pelo Governo beneficiário, elementos que completem este projecto e o ajudem a
alcançar o seu objectivo.
6.3. Resultados das análises económicas e transversais
Um certo número de avaliações terão tido lugar na fase dos estudos de viabilidade dos projectos (análise
económica, questões de género, incidências sócio-culturais e sobre o ambiente, a luta contra a pobreza, etc).
Os resultados destes estudos deverão ser descritos neste contexto (ou num anexo mais detalhado), de modo
a tornar explícita a sua influência e a sua contribuição para a viabilidade e a implementação do projecto.
6.4. Riscos e hipóteses relativas à execução
Determinados riscos devem ser avaliados bem como devem explicitados os pressupostos sobre a
viabilidade de execução do projecto. Esta secção deverá descrever os elementos mais importantes sobre
aquela problemática, explicando o modo como devem ser abordados. Será talvez possível remeter para a
secção sobre as condições especiais e para as medidas de acompanhamento (7.5).
7. Execução do projecto
Esta secção expõe os meios técnicos de implementação dos projectos. Constitui a base das Disposições
Técnicas e Administrativas e, igualmente, da futura convenção de financiamento.
7.1. Meios físicos e não físicos
Os meios e os dados, mais particularmente os investimentos no sentido mais amplo do termo, incluindo
a assistência técnica, devem ser especificados em detalhe.
7.2. Procedimentos organizacionais e de execução
Aqui descrevem-se os procedimentos de execução e as responsabilidades das pessoas e dos organismos
privados implicados. Deveria igualmente fazer-se aqui uma descrição das medidas a tomar para assegurar a
Manual do Processo de Planeamento Sócio-Económico____________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________227
coordenação com os estados membros e outros doadores. É fortemente sugerido que os aspectos de
adjudicação e contratuais sejam examinados com a unidade SCR/E/4 antes da submissão da proposta.
7. Tecnologia apropriada
Esta rubrica cobre os meios e disposições técnicas para a realização das actividades previstas. Com esta
finalidade, deveria assegurar-se a escolha dos meios mais adequados e que as possibilidades mais credíveis
tenham sido analisadas tendo em vista a procura da melhor solução.
7.4. Calendário, custo e plano de financiamento
Esta secção deve indicar as datas de início e de fim assim como a data de arranque efectiva da acção.
Uma fórmula proposta neste contexto pode ser: Com a finalidade do Artigo 3 Duração do projecto) as
condições especiais da convenção de financiamento, o projecto começará o mais tardar (dia, mês, ano) e
terminará em (dia, mês, ano). A (acção específica a precisar) será considerada como marcando o arranque
do projecto no sentido e para as necessidades do Artigo 3 acima mencionado . Deve ser incluído um quadro
sumário indicando os principais sectores beneficiários do financiamento Uma repartição dos custos mais
detalhados pode ser incluído em anexo.
7.5. Condições especiais e medidas de acompanhamento a emprender pelo governo
Este ponto retoma os compromissos assumidos pelo governo beneficiário para assegurar o sucesso do
projecto. Estes compromissos serão com frequência ligados aos riscos e às hipóteses de trabalho a fim de
reduzir a eventualidade de insucesso para o projecto.
7.6. Acompanhamento
Um planeamento apropriado e um acompanhamento regular durante a execução (relatórios periódicos)
são essenciais para o sucesso do projecto. Esta secção deverá detalhar as medidas a implementar e a definir
as entidades responsáveis.
7.7. Revisões/avaliações/Auditorias: procedimentos e relatórios
Deverão ser previstas disposições para a realização de uma avaliação independente durante a execução
(revisão a meio-percurso) bem como no final do projecto. Será igualmente desejável prever uma auditoria
independente ao projecto.
C SUSTENTABILIDADE
8 Medidas que asseguram a sustentabilidade
Esta secção descreve os factores que deverão assegurar que o projecto continue a produzir os benefícios
aos grupos-alvo, mesmo para além do fim do apoio da CE.
8.1. Envolvimento dos beneficiários
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Esta secção deverá descrever as medidas que foram tomadas para assegurar o envolvimento necessário
dos beneficiários, assegurando a sustentabilidade do projecto para além do financiamento da CE.
8.2. Sustentabilidade e aspectos transversais
Esta secção deverá descrever as medidas previstas a fim de assegurar a sustentabilidade do projecto
após a intervenção da CE. Espera-se a análise do seu impacto sobre as questões de género entre os grupos
beneficiários, sobre os aspectos sócio-culturais e a protecção do meio cultural (desenvolvimento sustentável).
Se as questões de sustentabilidade foram já tratadas na secção 6.3. , será suficiente fazer uma referência a
esta secção.
8.3. Políticas nacionais e medidas tomadas
Estas medidas são o contexto político no qual o projecto se insere. O contexto político pode compreender
as estratégias sectoriais, a nova legislação ou o quadro regulamentar.
8.4. Capacidade institucional e de gestão
Os relatórios de avaliação mostram que as instituições fracas são o factor determinante no insucesso dos
projectos orientados para as pessoas. Por consequência, as actividades com carácter institucional e as que
visam criar capacidade de gestão, quer no sector público quer no sector privado, são essenciais para
assegurar os benefícios a longo prazo do projecto.
8.5. Complementaridade e coordenação sectorial entre os doadores
Esta secção deverá indicar todos os elementos de complementaridade e de coordenação não
mencionados algures e que se consideram como contributos para a sustentabilidade do projecto.
8.6. Sustentabilidade económica e financeira
É essencial prever com realismo a sustentabilidade económica e financeira do projecto após a sua
entrada em execução. Para se proceder a uma tal análise há diferentes métodos (relação custo-benefício,
taxa de rentabilidade) que têm em conta diferentes factores. Mesmo para os projectos que não revestem
tradicionalmente um carácter financeiro , uma certa análise pode se deve ser feita.
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ANEXO 4: Exemplo de uma Matriz de Enquadramento Lógico Aplicada a um Programa de Saúde
Árvore de Problemas
Baixos níveis de higiene epouca atenção do pessoal
de saúde
EFEITOS
CAUSAS
Elevadas taxas demortalidade infantil e
materna
Elevada incidência deinfecções em bébés e
crianças
Elevada incidência deinfecções pós-parto
Baixas taxas devacinação
Cobertura decentros de saúde
melhorada
Pressões comerciaispara uso de leites
artificiais
Reduzida oferta dealimentos com elevado
conteúdo proteico
Oferta demedicamentos
melhorada
Oferta demedicamentos
melhorada
Nível dequalificação do
pessoal aumentado
Complicações do partomal diagnosticadas
Elevada incidência decomplicações no parto
Pobre estadonutricional
de bébés e crianças
Baixa frequência doscentros de saúde
Mães desmotivadaspara utilizar serviços de
saúde
Árvore de Objectivos
Número de bébés ecrianças vacinadas
aumentado
Número de bébés ecrianças vacinadas
aumentado
Standard de higiene ede atendimento
melhorado
FINS
MEIOS
Taxas de mortalidadematerna e infantil
reduzidas
Incidência deinfecções em bébés e
crianças reduzida
Incidência deinfecções pós-parto
reduzida
Nº de bébésalimentados ao
peito aumentados
Nº de bébésalimentados ao
peito aumentados
Oferta de alimentoscom elevado conteúdo
proteico aumentada
Oferta de alimentoscom elevado conteúdo
proteico aumentada
Cobertura decentros de saúde
melhorada
Oferta deMedicamentos
aumentada
Nível dequalificação do
pessoal aumentado
Diagnóstico precoceaumentado
Incidência decomplicações no parto
reduzida
Estado nutricionalde bébés e crianças
melhorado
Frequência doscentros de saúde
aumentada
Mães motivadas parautilizar serviços de
saúde
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Escolha da estratégia de intervenção
Standard de higiene ede atendimento
melhorado
Taxas de mortalidadematerna e infantil
reduzidas
Incidência deinfecções em bébés e
crianças reduzida
Incidência deinfecções pós-parto
reduzida
Número de bébés ecrianças vacinadas
aumentado
Má cobertura decentros de saúde
Pressões comerciaispara uso de leites
artificiais
Reduzida oferta dealimentos com elevado
conteúdo proteico
Reduzida oferta demedicamentos
Baixo nível dequalificação do
pessoal
Diagnóstico precoceaumentado
Incidência decomplicações no parto
reduzida
Estado nutricionalde bébés e crianças
melhorado
Baixa frequência doscentros de saúde
Mães motivadas parautilizar serviços de
saúde
Estratégia secundáriade cuidados de saúdeEstratégia preventiva
de cuidados de saúde
Estratégia de nutriçãoe saúde
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DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE SAÚDE MATERNO-INFANTILLÓGICA DE INTERVENÇÃO IOV FONTES DE
VERIFICAÇÃOPRESSUPOSTOS
Objectivo global:
Taxas de mortalidade materna einfantil reduzidas
Taxas de mortalidadereduzidas para o gruposetários inferior <1 ano, e < 5,e mulheres grávidas de X paraY até 20XX.
Estatísticas do Departamentode Saúde, analisadas ex-ante,a meio termo e ex-post.
Objectivo específico:
O estado sanitário das mulheresgrávidas e em período dealeitação, e dos bebés e criançasmelhorado.
Incidência de infecções pós-parto e pós-natal reduzida deX para Y até 20XX.
Taxas de doenças infecciosas(polio, sarampo, tétano) demenores de 5 anos reduzidas,de X para Y até 20XX.
Incidência de complicaçõesno parto reduzidas de X paraY até 20XX.
Registos hospitalaresanalisados ex-ante, e meiotermo e ex-post
Inquérito por amostragem aogrupo-alvo levado a cabo nosanos 1, 3 e 5 do programa.
Incidência das doençasinfecciosas nas famíliasreduzida.
Resultado 1:
Serviços de cuidados de saúdeprimários instalados
Número de bairros equipadoscom serviços de cuidadosprimários aumentados de Xpra Y até 20XX
Percentagem de criançasmenores de 5 anos vacinadascontra a polio, sarampo etétano, aumentada de X paraY até 20XX
Número de complicações departo diagnosticadas eassistidas com sucessoaumentadas de X para Y até20XX
Percentagem de utentessatisfeitos com os cuidados desaúde prestados.
Registos de atendimentos nosCentros de Saúde analisadostrimestralmente
Registos de vacinasanalisados trimestralmente
Inquérito à satisfação dosclientes conduzidoanualmente
Resultado 2:
Qualidade e eficiência doscuidados secundários de saúdemelhoradas.
Número de utentes tratadosaumenta de X para Y em20XX
Custo médio do tratamentopor doente reduzido de X paraY em 20XX
Número de utentes satisfeitoscom padrões de assistênciamédica
Registos hospitalaresanalisados trimestralmente
Inquéritos à satisfação dosutentes realizado anualmente
As mães estão motivadas pararecorrer aos Centros de Saúde
Nutrição ao nível das famíliasmelhorada através de umamaior segurança alimentar ede um aumento doaleitamento ao peito
Mães grávidas e em fase dealeitamento com condiçõespara pagar os tratamentos
Actividades:
1.1. Desenhar programa de
Meios:
Assistência técnica nacional e
Custos: Todas as instituições estão deacordo e mobilizadas para onovo sistema de planeamento
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LÓGICA DE INTERVENÇÃO IOV FONTES DEVERIFICAÇÃO
PRESSUPOSTOS
equipas móveis de saúde
1.2. Reabilitar/substituirequipamento dos Centros deSaúde
1.3. Recrutar e formar pessoal desaúde
estrangeira
Equipamento
Inputs médicos correntes
Orçamento do programa descentralizado
As fontes de financiamentoestão asseguradas
2.1. Reabilitar as instalações do pessoal2.2. Recrutar novo pessoal2.3. Desenhar e implementar novos procedimentos para gestão de pessoal, manutenção de equipamento e veículos, Armazenagem e controlo de medicamentos, Controlo financeiro e recuperação de custos2.4. Desenho e implementação de um programa de formação de pessoal para tratar pacientes, cuidados de higiene, contabi- lidade básica, recolha de in- formação e análise
O Departamento de Saúdemantém um nível definanciamento adequado
Pessoal qualificado, ou comcondições de elegibilidade,disponível.
Condições prévias:
O Departamento da Saúderecebe garantias de coberturaorçamental para financiar oprograma, e assina protocolosde cooperação externa queassegura uma parte dofinanciamento.
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ANEXO 5: Check-list do Desenho de um Projecto
O processo de desenho de um projecto deverá ser objecto de uma verificação final, cujo exercício se
pode basear no esquema que seguidamente se propõe. A utilização desta matriz de verificação parte do
princípio que o projecto foi desenhado com base na metodologia do quadro lógico.
Check-list do desenho do projecto
Assinalar com uma X os casos que se verificam
1 O projecto tem apenas um objectivo específico
2 O objectivo específico não é uma reformulação dos resultados
3 O objectivo específico está fora do controlo de gestão directa da equipa do projecto
4 O objectivo específico está claramente estabelecido
5 Todos os resultados são necessários para se alcançar o objectivo
6 Os outputs estão claramente estabelecidos
7 Os outputs são definidos como resultados
8 As actividades definem a acção estratégica para alcançar os resultados
9 O objectivo global está claramente definido
10 A relação se/então entre o objectivo específico e o objectivo global é lógica e nãoevita passos
importantes
11 As hipóteses ao nível de actividade não incluem condições precedentes. Se existiremsão
listadas separadamente
12 Os resultados e as hipóteses definidas a esse nível produzem as condiçõesnecessárias e
suficientes para alcançar o objectivo específico
13 O resultados e as hipóteses a esse nível descrevem as condições críticas para se
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alcançarem os objectivos globais
14 A relação entre o resultado e o objectivo específico é realista
15 A relação entre as actividades e os inputs/recursos é realista
16 A lógica vertical entre actividades, resultados, objectivo específico e objectivoglobal é
realista e globalmente coerente
17 Os indicadores ao nível do objectivo específico são independentes dos resultados.Eles não são
um resumo dos resultados mas uma medida do objectivo específico.
18 Os indicadores do objectivo específico medem o que é de facto importante
19 Os indicadores do objectivo específico incluem medidas de quantidade, qualidade etempo
20 Os indicadores de resultados são objectivamente verificáveis em termos dequantidade, qualidade
e tempo
21 Os indicadores a nível global são objectivamente verificáveis em termos dequalidade,
quantidade e tempo
22 Os inputs descritos ao nível da actividade definem os recursos e custos necessáriospara
alcançar o objectivo específico
23 A coluna Meios de Verificação identifica onde se pode colher a informaçãonecessária para
verificar que cada indicador pode ser determinado
24 As actividades identificam acções necessárias para garantir a recolha de informaçãoem caso
de necessidade
25 Os resultados definem a responsabilidade de gestão do projecto
26 O plano de avaliação do projecto pode fazer-se a partir da análise do Quadro Lógico
27 Os indicadores do objectivo específico medem o impacte do projecto que deve sersustentado
28 A estratégia de output inclui a descrição do sistema de gestão do projecto
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ANEXO 6: Modelo de Orçamento de Projectos de Investimento Público
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INFRA-ESTRUTURAS DE TRANSPORTESBens de Capital Fixo Imobilizações Incorpóreas
Terrenos
Infra-estruturas Construção Equipam.
Ferramentas
Equipam.
Equipam. Patentes
Estudos e
Total Estradas Redes Total Habitações
Edifícios Outrasconstruç
ões
Básicos Utensílios Carga eTransp
Administrat.
eMarcas
Investigação
Outras
Classificador Económico do OGE
Estrutura de custos do projecto.
CONSTRUÇÕESConstrução ou reabilitação de estaleirosConstrução ou reabilitação de edificíos
EQUIPAMENTOSMaterialMáquinasEquipamento de oficinaEquipamento de serviços geraisEquipamento informático e software
EQUIPAS DE MANUTENÇÃO DE ESTRADASRemuneraçõesPartes e peças separadasAssistência técnica
ESTUDOS TÉCNICOSCriação de uma agência de regulaçãoFundo de ManeioFormação
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237
Anexo 7: Sistema de indicadores de desempenho
Sistema de indicadores propostos no âmbito da Revisão da Despesa Pública parageneralização e adopção nos instrumentos de planeamento em Cabo Verde
Indicador: Parte do orçamento da educação destinado às administrações locais
Objectivo:
Melhorar a coerência e a equidade orçamental noensino primário
Objectivo quantitativo:
Nacional: a definirInternacional: n.e.
Definição:
Despesas de funcionamento das administraçõesdesconcentradas da educação em percentagem doorçamento total de funcionamento no sector daeducação.
Por estruturas desconcentradas podem definir-se asestruturas fora da Praia e do Mindelo. Para estas últimaspode considerar-se o conjunto dos municípios.
O conceito rural/urbano é de aplicação difícil
Dimensão apropriada:
Análise da equidade, sabendo-se que a falta de acesso áeducação é um importante factor de pobreza.Trata-se de analisar a equidade na afectação dosrecursos públicos da educação.
Unidade de medida:
% do orçamento de funcionamento da educação
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informaçãoestatística entre o momento actual e o momento deobservação: cerca de 9 meses
Fonte, método e periodicidade:
Ministério das Finanças e PlaneamentoMinistério da Educação
Periodicidade anual
Comentários:
Este indicador procura medir a coerência do orçamento da saúde no que se refere à sua afectação territorial,traduzindo desse modo a equidade na repartição dos recursos financeiros do Estado
Limitações do indicador: i) determinação exacta das despesas com o ensino primário ; ii) definição do conceito de“estruturas desconcentradas”
A determinação efectiva e regular deste indicador depende da capacidade de resposta do novo sistema decontabilidade pública.
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238
Indicador: Taxa líquida de escolarização no ensino primário (TLE)
Objectivo:
Melhorar o nível de escolaridade
Objectivo quantitativo:
Nacional:Internacional: 99% em 2015 (UNESCO)
Definição:
A taxa líquida de escolarização é definida como apercentagem das crianças em idade apropriada queestão inscritas no ensino primário
TLE = total dos alunos inscritos em idade apropriada / total das crianças no estrato etário X 100
Dimensão apropriada:
A extensão da participação no ensino primário dascrianças em idade apropriada
Unidade de medida:
% da população em idade escolar no ensino primário
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informaçãoestatística entre o momento actual e o momento deobservação
Fonte, método e periodicidade:
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério daEducação
Determinação sistemáticaPeriodicidade anual
Comentários:
Por idade apropriada compreende-se a idade oficial relativa a este nível de ensino, que em Cabo Verde está fixadano intervalo 6-11 anos. O cálculo dos indicadores para 2000/2001 tem já em conta os dados demográficos doCenso de 2000.
É necessária uma abordagem regional de modo a identificar algumas disparidades.
O horizonte temporal limitado não permite ter em conta a terceira dimensão da universalidade do ensino primário,traduzida pela taxa de alfabetização de adultos.
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239
Indicador: Número de alunos por professor no ensino primário
Objectivo:
Melhorar a eficácia e a qualidade do ensino primário
Objectivo quantitativo:
Nacional:Internacional:
Definição:
Número total de alunos inscritos no ensino primáriodividido pelo número total de professores no mesmo Ciclo
NEP = número total dos alunos / número total deprofessores
Dimensão apropriada:
O ratio alunos/professor procura apreender a qualidadedo ensino primário
Unidade de medida:
Número de alunos
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informaçãoestatística entre o momento actual e o momento deobservação: 6-9 meses
Fonte, método e periodicidade:
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério daEducação
Determinação sistemáticaPeriodicidade anual
Comentários:
Dois indicadores são calculados ao mesmo tempo na medida em que devido à monodocência (cada professor segueuma classe durante um ano), o ratio aluno/professor coincide com o ratio aluno por classe
O ratio alunos por sala de aula é falseado pelas salas de aula em regime de aluguer
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240
Indicador: Taxa de professores qualificados
Objectivo:
Melhorar a eficácia e a qualidade do ensino primário
Objectivo quantitativo:
Nacional:Internacional:
Definição:
A taxa de professores qualificados no ensino primário éa proporção de professores com um perfil adequado(perfil 1) expresso em percentagem do total deprofessores.
Perfil 1: os professores diplomados pelo InstitutoPedagógico ou que tenham realizado a segunda fase deformação em exercício.
TPQ = número de professores com perfil 1/ total dosprofessores x 100
Dimensão apropriada:
A taxa de professores qualificados procura medir aqualidade do ensino primário
Unidade de medida:
% de professores
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informaçãoestatística entre o momento actual e o momento deobservação: 6-9 meses
Fonte, método e periodicidade:
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério daEducação
Determinação sistemáticaPeriodicidade anual
Comentários:
O esforço realizado no domínio da qualificação dos professores do ciclo de ensino primário é prejudicado pelaforte mobilidade do corpo docente no sistema (mobilidade horizontal) e para fora do sistema
A taxa de professores qualificados (P1) era de 38,3% em 2000. Se se juntam os professores que receberam umaformação que confere o Perfil 2, então a taxa passa para 70,6% no mesmo ano. O perfil P3, professores semnenhuma formação pedagógica, representa 29,4% do total
Este indicador apresenta grandes disparidades regionais.
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241
Indicador: Taxa de repetência no ensino primário
Objectivo:
Melhorar a eficácia e a qualidade do ensino primário
Objectivo quantitativo:
Nacional:Internacional:
Definição:
A taxa de abandono é a proporção dos alunos inscritosnum ano t e que estão ainda na mesma classe no anot+1.
TA = Número de abandonos no ano t+1 / número dealunos inscritos no ano t x 100
Dimensão apropriada:
A taxa de abandono procura apreender a eficácia dosistema de ensino primário. De um modo geral osabandonos afectam sobretudo os mais pobres
Unidade de medida:
% de alunos inscritos
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informaçãoestatística entre o momento actual e o momento deobservação: 6-9 meses
Fonte, método e periodicidade:
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério daEducação
Determinação sistemáticaPeriodicidade anual
Comentários:
Podem utilizar-se quatro indicadores para medir a qualidade e a eficácia do ensino primário:i) Taxa de abandonoii) Taxa de repetênciaiii) Taxa de professores qualificadosiv) Ratio alunos por professor
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242
Indicador: Taxa líquida de escolarização no último ano de ensino
Objectivo:
Medir a melhorar o nível de escolaridade e verificar auniversalidade do sistema de ensino primário
Objectivo quantitativo:
Nacional:Internacional:
Definição:
A taxa líquida de escolarização no último ano édefinida como a percentagem de crianças em idadeapropriada que estão inscritos no sexto ano do ensinoprimário
TLE = Número total dos alunos em idade apropriadainscritos no sexto ano / Número total das crianças naclasse etária X 100
Dimensão apropriada:
A taxa de escolarização no último ano procuraapreender a universalidade do ensino primáriorelativamente à finalização da educação de base. Estaestá associada a um certo número de indicadores desucesso social e profissional. Por isso constituihabitualmente um objectivo na luta contra a pobreza.
Unidade de medida:
Em % do total alunos da classe etária apropriada
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informaçãoestatística entre o momento actual e o momento deobservação: 6-9 meses
Fonte, método e periodicidade:
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério daEducação
Determinação sistemáticaPeriodicidade anual
Comentários:
Podem considerar-se dois conceitos de universalidade do ensino primário:i) a participação na educação medida pela taxa de escolarização no
primárioii) A finalização do ciclo de ensino primário
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243
Indicador: Parte do orçamento da saúde destinado às administrações locais
Objectivo:
Melhorar a coerência e a equidade orçamental
Objectivo quantitativo:
Nacional: a definirInternacional: n.e.
Definição:
Despesas de funcionamento das administraçõesdesconcentradas em percentagem do orçamento total defuncionamento no sector da saúde.
Por estruturas desconcentradas podem definir-se asestruturas fora da Praia e do Mindelo. Para estas últimaspode considerar-se o conjunto dos municípios.
O conceito rural/urbano é de aplicação difícil
Dimensão apropriada:
Análise da equidade, sabendo-se que a falta de acesso ásaúde é um importante factor de pobreza.Trata-se de analisar a equidade na afectação dosrecursos públicos da saúde.
Unidade de medida:
% do orçamento de funcionamento da saúde
Referência:
Ano mais recenteDesfasamento habitual na publicação da informaçãoestatística entre o momento actual e o momento deobservação: cerca de 11 meses
Fonte, método e periodicidade:
Ministério das Finanças e PlaneamentoMinistério da Saúde
Periodicidade anual
Comentários:
Este indicador procura medir a coerência do orçamento da saúde no que se refere à sua afectação territorial,traduzindo desse modo a equidade na repartição dos recursos financeiros do Estado
Limitações do indicador:v) Dificuldade na determinação da parte do orçamento atribuído às delegações de saúde nas
regiõesvi) Sistema duplo de contabilidade: uma parte das despesas das delegações é gerida pela
Direcção do Património do Ministério das Finanças e outra parte pelo Ministério daSaúde, sem uma afectação precisa a cada delegação
vii) Dificuldade em definir o conceito de “estrutura desconcentrada”
A determinação efectiva e regular deste indicador depende da capacidade de resposta do novo sistema decontabilidade pública.
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ANEXO 8: Glossário
Abordagem Integrada A abordagem integrada é um método de gestão das diferentes fasesdo ciclo do projecto. Toma em consideração as seis fases do cicloanalisando o conjunto dos elementos mais importantes a observardurante cada fase e os critérios de coerência e de viabilidade aaplicar ao longo do ciclo. Descreve os documentos-tipo a produzirem cada fase para tomar decisões. Esses documentos utilizam umformato de base único.
Actividade Tarefa realizada no âmbito do projecto tendo em vista a obtençãodos resultados esperados. A actividade transforma recursos(humanos, financeiros) em resultados.
Análise das estratégias Exame crítico de diferentes possibilidades para atingir osobjectivos, permitindo escolher pelo menos uma para a intervençãoa planificar.
Análise dos objectivos Exame que visa identificar e verificar as situações positivas,prioritárias para os grupos a que dizem respeito, que são de esperarno futuro.
Análise dos problemas Exame que visa identificar os estados e as situações negativas, osobstáculos reais, importantes e prioritárias para os gruposconsiderados
Avaliação Exame sistemático e independente a um projecto (feito antes,durante ou depois da sua implementação) com a finalidade de sedeterminar a sua eficiência, eficácia, impacto, sustentabilidade epertinência dos seus objectivos.
Benefício do consumidor Poupança realizada pelos consumidores como resultado de umaredução do preço de um bem ou serviço como resultado daimplementação de um projecto.
Fundo de maneio Capital necessário para cobrir o diferencial de tempo entre omomento da necessidade de financiamento das actividades deprodução (matérias-primas, salários) e o momento em que se iniciao recebimento de receitas da actividade.
Ciclo de intervenção As seis fases sucessivas duma intervenção: programação indicativa(ideia), identificação (pré-viabilidade); formulação (viabilidade);financiamento; realização; avaliação (pode ser intermédia, no fimdo projecto e ex-post).
Coeficiente r Relação entre o valor dos custos recorrentes (num empreendimentofuncionando a plena capacidade) e o valor do investimento.
Condições prévias Iniciativas ou decisões que devem ser tomadas antes do lançamentodo projecto, constituindo condições necessárias para o seu início.
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Custos recorrentes Custos derivados de um novo projecto e que devem ser objecto deintegração no Orçamento do Estado.
Diagrama dos objectivos Estabelecimento das relações meios-fim entre estados positivosatingidos numa situação futura.
Diagrama dos problemas Estabelecimento das relações causa-efeito entre estados negativosduma situação existente.
Estudo de viabilidade Estudo efectuado com base nos termos de referência elaborados naaltura da identificação ou da pré-viabilidade e que deve permitir, seas conclusões forem positivas, a formulação da proposta definanciamento, sem estudos suplementares.
Fontes de verificação Indicam de onde provêm - e em que forma - as informações sobre arealização dos objectivos e resultados (operacionalizados emindicadores objectivamente verificáveis).
Formulação Determinação de todos os aspectos pormenorizados de um projectona base de um estudo de viabilidade; análise interna levada a cabopelos serviços do doador/investidor sobre os méritos do projecto esobre a sua coerência com as políticas sectoriais.
Gestão do Ciclo de Projecto(GCP)
Método de gestão de seis fases do ciclo de projecto por meio dastécnicas da Abordagem Integrada e do Quadro Lógico.
Hipóteses (ou Pressupostos) Condições importantes para o êxito da intervenção mas nãodominadas pelo próprio projecto; a definir para as actividades, osresultados e o objectivo específico.
Identificação Primeira elaboração duma ideia de projecto, expressa globalmenteem objectivos, resultados e actividades, para determinar se se deveou não proceder ao estudo de viabilidade do projecto.
Implementação Fases desde a assinatura da convenção até à entrega do projecto.
Indicador ObjectivamenteVerificável (IOV)
Grandeza, definida em termos de quantidade, qualidade, grupo-alvo, tempo e localização, que permite verificar os objectivos e osresultados de uma intervenção.
Lógica de intervenção (lógicavertical):
Conjunto das fases internas para a intervenção que têm de serrealizadas para contribuírem para os objectivos globais(actividades-resultados-objectivo específico-objectivo global).
Meios Diferentes tipos de contribuição (inputs) necessários para executaras actividades planificadas. Distinguem-se os recursos humanos,físicos e financeiros.
Objectivo específico Estado futuro positivo caracterizado por benefícios duradouros parao grupo alvo visado pela intervenção e cujas premissas devemmanifestar-se enquanto a intervenção durar.
Objectivo global Estado futuro positivo a nível elevado, devendo a intervençãocontribuir para o atingir. Outros projectos ou actividades
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contribuem igualmente para a realização do objectivo global.
Orçamento de Caixa ou deGerência
Orçamento que regista as receitas a cobrar e as despesas a realizardurante o respectivo período financeiro. Constitui por isso umaprevisão referente à fase terminal da cobrança ou do pagamento
Orçamento de Compromisso oude Exercício
Orçamento que regista uma previsão das receitas a cobrar e dasdespesas a realizar em função dos créditos e dos débitoscomprometidos durante o período financeiro de referência. Nestecaso, a previsão refere-se ao momento em que são contraídos oscompromissos (e portanto na fase inicial do ciclo orçamental).
Pressupostos Ver Hipóteses
Princípios orçamentais Unidade – segundo a qual as receitas e despesas devem serespecificamente previstas
Especificidade – Segundo a qual as receitas e despesas devem serespecificamente previstas
Universalidade – segundo a qual as receitas e despesas devem serinscritas sem qualquer desconto ou compensação, e todas devem serorçamentadas.
Não consignação – as receitas devem ser inscritasindiscriminadamente para o conjunto das despesas
Programação indicativa Definição geral das orientações e princípios da cooperação com aUE; evoca a concentração sectorial e temática ao nível de um país(região) e pode conter um certo número de ideias deprojectos/programas.
Quadro Lógico Conjunto de conceitos interdependentes que descrevem operacionale matricialmente os aspectos mais importantes duma intervenção.
Resultados Produtos das actividades empreendidas, que conduzirãoconjuntamente ao objectivo específico.
Sustentabilidade Capacidade institucional para conseguir a perseguir o objectivo doprojecto para além da fase de assistência externa
Viabilidade Um projecto / programa é viável quando é capaz de produzir umnível aceitável de benefícios ao grupo alvo durante um períodobastante longo, uma vez terminada a assistência financeira e técnicade um investidor.
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