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Manual de Mediacao Teoria e Pratica e outras tecnlcas de solucao de conflitos: conciliacao, neqoclacao e arbitragem > Orqanlzacao: V < Fernanda Maria Dias de Arau]o Lima Rosane Maria Vaz Fagundes Vania Maria Vaz Leite Pinto /\. <

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Manual de MediacaoTeoria e Pratica

e outras tecnlcas de solucao de conflitos:conciliacao, neqoclacao e arbitragem >

Orqanlzacao: V <Fernanda Maria Dias de Arau]o LimaRosane Maria Vaz FagundesVania Maria Vaz Leite Pinto

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Embaixador do Canada

Se 0 Quebec lidera em materia de mediacao, isso se deve em grande parte a juiza Otis. Foi

ela quem instaurou, na Corte do Quebec, em 1998, um dos primeiros sistemas de conciliacao

judicial do mundo fundado na neqociacao. 0 Canada se orgulha, hoje, de compartilhar esta

experiencia com 0 Brasil. Esperemos que a pubtlcacao dos trabalhos da juiza Otis marque 0

inlcio de uma longa e produtiva colaboracao entre os nossos parses em materia de justice.

Guillermo Rishchysnki, Embaixador do Canada no Brasii de 2005 a 2007.

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Se 0 Quebec /idera em materia de meateceo, isso se deve em grandeparte a juiza Otis. Foi ela quem instaurou, na Corte do Quebec, em 1998,um dos primeiros sistemas de concllieceo judicial do mundo fundado nanegociar;ao. 0 Canada se orgulha, hoje, de compartilhar esta experienciecom 0 Brasil. Esperemos que a publicar;ao dos traba/hos da juiza Otismarque 0 infcio de uma longa e produtiva coleborecso entre os nossosparses em materia de justice.

Guillerrno Rishchysnki

Ernbaixador do Canada no Brasii de 2005 a 2007.

A conclflacao judicial no Tribunal de Segunda lnstancia doQuebec

Louise Otis

Revista de prevencao e de resotucao das controversias, Faculdade de Direito. Unlversidade de

Sherbrooke, Volume 1, Nurnero 2, primavera 2003, Edir;ae5 Yvcn Blais.

Reproduzido corn a gentil autonzacao ·:::;5 edrtores.

o programa de conciliacao judicial no Tribunal de segunda instancia do Quebec tem por

objetivo reinvestir as partes do seu poder decis6rio e reduzir as falhas insntucicnais do

sistema classico de justica civil. Fundamentada numa abordagem empfrica e wolvendo a

presidencia de 300 sess6es de conciliacao judicial, a autora nos apresenta as motivacoes

organizacionais, as caracteristicas e as consideracoes previas inerentes a conciliacao judicial.

Alem disso, 0 desenrolar do processo de conciliacao, bem como 0 papel do juiz conciliador,

sac explicados de' urn ponto de vista pratico. 0 novo rnetodo de resolucso dos conflitos,

instaurado no Tribunal de segunda instancla do Quebec, quer estabelecer uma nova relacao

com 0 direito e um enriquecimento da rnissao tradicional dos rnagistrados.

Antes de tudo, 0 conciliador e um negociador neutro, formado pelo uso e pela pratica. Ele

escolheu 0 caminho da neqociacao e do dialoqo para suscitar a resolucao de conflitos atraves

da conclusao de um acordo. E claro que as teorias de conflito, a aqulslcao conceitual dos

modos de neqoclacao e a teorizacao dos metodos de solucao dao ao negociador 0

distanciamento necessario a compreensao de sua experiencia. Essa conceitualizacao permite

ao negociador validar sua intervencao empirica e interiorizar, de modo consciente e sensate,

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MANUAL DE MEDIA~AO: TEORIA E PRATICA

a qualidade de sua experiencia.

Esse texto nao pretende ser uma teoria da concntacao judicial, nem tampouco uma apresentacao

exaustiva sobre 0 funcionamento do programa institufdo no Tribunal de segunda instancia do

Quebec. 0 texto considera antes 0 papel do juiz conciliador atraves do andamento da instancia

conciliadora vista de fora. Nao se trata, portanto, de um exerdcio acadernico, mas antes da

apresentacao de uma experiencia profissional, resultado de 300 sessoes de conciliacao

realizadas no Tribunal de segunda instancia. Essa experiencia evidencia a irnportancia, para

o juiz negociador, nao apenas de dominar 0 direito substancial, mas tarnbern de possuir um

profundo conhecimento da alma humana, para poder captar, com realismo e empatia, os

conflitos, sua complexidade e sua humanidade.

As razoes que orientaram a lnstauracao da conciliacao judicial.

Em 1998, a instauracao de um sistema de conciliacao judicial no Tribunal de segunda

instancia do Quebec demonstrava uma responsabilizacao judicial frente a crise de eflciencia

do sistema classico de justice civil. Precisava-se - com a maxima urqencia - diminuir a

distancia entre a ordem de autoridade, representada pelo judicia rio, e a ordem social.

As consideracoes que inspiraram a criacao do primeiro sistema de concillacao judicial ao

nfvel do Tribunal de segunda instancia advem, entre outras, das deficiencies do sistema

tradicional: prazos institucionais, custas judiciais e extrajudiciais ligadas ao debate contraditorio,

agency costs resultando, muitas vezes, na sobreposlcao dos interesses, traumas flsicos e

psicoloqicos associados ao longo conflito judicial. Alern disso, 0 julgamento - que constitui 0

resultado do debate contraditorio - nem sempre traz uma solucao integral ao litigio. Em

alguns casos, a aplicacao da regra de direito e os limites do contrato judicial limitam a

criatividade juridica indispensavel a uma solucao completa do litfgio. Assim por exemplo, no

Tribunal de segunda instancla, acontece que as (micas solucoes judicialmente posslveis no

final de uma audicao nao sejam mais aquelas que convent a evolucao do litfgio, cuja dimensao

mudou diametralmente no decorrer do tempo. 0 Presidente Aydalot, do Tribunal de segunda

instancia da Franca, acertadamente ressaltava que 0 tempo ja passou, quando os jufzes

podiam "der respostas mortas a questiies vivas".

Finalmente, quando for 0 caso, os reus quebequenses estao, de agora em diante, prontos

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As caracteristicas inerentes a concillacao judicial

para assumir seu destino judicial. A maturidade coletiva das sociedades ocidentais possibilita

que, doravante, os reus tomem parte a elaboracao das solucoes judicia is destinadas a encerrar

os litigios com os quais estao confrontados. Essa justice participativa que possibilita a expressaode uma solucao consensual, judicialmente negociada, e, hoje em dia, objeto de um impulso

consideravel, firmando-se em nome da essencialidade.

Geralmente, a conciliacao judicial inspira-se das regras da rnediacao privada no que diz

respeito, entre outros, ao consentimento, a elaboracao do mandado, a cornunicacao, aneqociacao (dependendo do campo de aplicacao) assim como a redacao de uma decisao

esclarecida.

Todavia, a conciliacao judicial envolve caracteristicas inerentes que a distinguem

~ fundamentalmente da medlacao extrajudicial.t

/ntegrar;ao dentro do sisterna de juetice

A conciliacao judicial entra no arnbito do processo acusat6rio e contradit6rio enq ento 0 litigio

ja esta pendente perante uma instancia judiciaria. 0 Tribunal de segunda instancia do Quebec

e, mais recentemente, os tribunais de primeira lnstancia e os tribunais administrativos,

integraram duas vias de sotucao judicial (conciliacao e audicao) numa estrutura hibrida de

solucao dos litigios, unica, harmoniosa e funcional. Portanto, a conciliacao judicial nao constitui

uma medida de natureza preventiva para solucionar conflitos, mas ela se insere realmente

dentro do sistema de justica classica.

o conciliador e urn juiz

Em certos aspectos, essa qualidade restringe seu leque de intervencoes, mas. por outro

lado, Ihe outorga uma autoridade moral indubitavel considerando seu status de decisor imparcial

e independente. Pela sua qualidade de juiz, 0 conciliador judicial atua numa faixa mais

estreita do que 0 mediador extrajudicial: ele nao pode obrigar 0 Tribunal ou comprometer sua

autoridade ao expressar suas opinioes juridicas, nem tampouco alterar 0 futuro desenrolar da

audicao caso a conciliacao fracasse.

lndependencie dos sisternas processua/ e conciliat6rio

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MANUAL DE MEDIAC;;Ao: TEORIA E PRATICA

A confidencialidade insere-se no cerne da conciliacao judicial a fim de garantir a

impenetrabilidade dos dois sistemas (processual e conciliatorio) e de assegurar sua

independencia. A esse respeito, um acordo de confidencialidade deve ser assinado pelas

partes, junto com 0 pedido conjunto de conciliacao. Alern disso, numa recente reforma que

veio oficializar a conciliacao judicial, 0 Codiqo de processo civil preve um dispositivo que

torna confidencial "tudo aquilo que for dito ou escrlto" no decorrer da sessao (Artigo 151.21

L.R.Q. c. C-25, tal como aprovado pela L.Q., 2002, c. 7, art.19).

No intuito de garantir a confidencialidade dos dialogos;o processo de concitiacao judicial fica

guardado, 0 tempo todo, no gabinete do juiz conciliador. Nenhum processo de concitiacao,

ainda que sumario, fiea guardado no cartorio do tribunal.

Utiliza980 parcimoniosa do tempo do juiz conciliador

o juiz nao pode dedicar a uma sessao de conciliacao mais tempo do que teria investido para

decidir acerca do litfgio no arnbito do sistema acusatorio e contraditorio. Os recursos humanos

e materia is concedidos ao sistema judicierio sac limitados. Em consequencia, 0 Tribunal de

segunda instancia do Quebec desenvolveu um metodo de conciiiacao eficiente, 0 qual possibilita

resolver em media 80 % dos processos no final de uma (mica sessao de conciliacao, com

duracao de cerca de quatro horas. Oesse modo, assegura-se uma utilizacao otimizada do

tempo dos decisores. Focalizando sua intervencao na solucao do litfgio, 0 conciliador poupa

tempo, recursos e energia, nao apenas em relacao ao sistema judiciario, mas tarnbem de

todas as partes envolvidas no litigio. Um dos metodos empregados para maximizar 0 usa do

tempo do juiz conciliador consiste na avaliacao previa do processo. No Tribunal de segunda

instancia, como 0 litigio ja foi objeto de uma decisao judicial, 0 juiz podera, apos exame dos

autos, das provas documentais e da sentence proferida, estabelecer os para metros jurfdicos

do processo em concillacao. Sem se afastar do direito substancial, 0 juiz ira avaliar a legitimidade

das respectivas pretensoes das partes, numa perspectiva transacional ao inves de decisoria.

Separa980 dos papeis

Quando a concitiacao nao resultar em acerto final do processo, 0 juiz conciliador sera,

necessariamente, exclufdo da formacao encarregada de julgar posteriormente a apelacao.

Essa caracterfstica constitui um dos fundamentos do sistema, uma vez que ela assegura a

integridade dele ao garantir a independencia e a imparcialidade dos decisores. Mais ainda, 0

conhecimento pelas partes da separacao dos papeis possibilita fluidez e comodidade aos

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entendimentos, encorajando a abertura de neqociacoes sem reserva.

Conslderacoes previae para a conclllacao judicial

Certos fatores devem ser prioritariamente levados em consideracao, antes das partes

engajarem-se no caminho da conciliacao judicial, para nao comprometer seu exito.

A evolu9ao do conflito

Muitas vezes, observou-se que um certo nlvel de tensao deve ser atingido antes da conciliacao

ser vista pelas partes como uma medida de solucao viavel, Elas tern que ter definido sua

posicao em relacao ao conflito antes de buscar 0 caminho do compromisso. Essa observacao

e muito relevante quanto ao momento oportuno de realizar uma sessao de concihacao.

A complexidade do conflito

A natureza e a extsnsao do conflito podem tornar diffcil 0 exercfcio da conciliacao. Assim,

alguns conflitos colocam frente a frente varias partes ou levantam quest6es juridicas bastante

complexas. Essas observacoes devem ser cuidadosamente avaliadas antes da realizacao da

sessao de conciliacao para nao alterar 0 seu desenrolar. Hoje em dia. a neqoclacao entre

varias partes e cada vez mais frequente e existem tecnicas de apoio que permitem simplificar

o processo, conservando-Ihe a agilidade. Essas neqoclacoes nao apresentam dificuldades

maiores que as negociac;:6es duais, se 0 processo for cuidadosamente preparado e 0 juiz

conciliador compreender bem 0 que esta em jogo e os interesses da cada uma das partes

litigantes.

Se 0 juiz conciliador chegar a ter certeza que a complexidade do processo ira impedir a

conclusao de qualquer transacao, Ihe e sempre facultado limitar a concihacso a determinadas

partes litigantes ou a certas quest6es em litiqio e deixar 0 sistema de justice contraditoria

resolver os demais aspectos do conflito. Desse modo, ele podera desatar pelo menos parte

do litrgio judicial.

A vontade real de resolver 0 conflito

Certas partes podem, inconscientemente, desejar a conciliacao judicial com 0 unico intuito de

manter e de prolongar a relacao conflituosa que existe com a outra parte, e nao de encontrar

uma solucao definitiva para 0 litigio. Acontece, tarnbem, que uma parte enceta 0 caminho da

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MANUAL DE MEDIA~AO: TEORIA E PRATICA

neqociacao com 0 unico objetivo de reforcar seu dossie factual para consolidar sua posicao

jurldlca. Esses casos sac raros, porem, eles devem ser rapidamente detectados pelo juiz

conciliador. No intuito de garantir 0 exito da conciliacao e a gestao eficiente do seu tempo, 0

juiz conciliador deve prontamente assegurar-se da real vontade das partes em encontrar uma

solucao final para 0 lit/gio que as op6e. A esse respeito, a conferencia telef6nica constituiuma ferramenta impar.

A rela9ao de iorces

o equiHbrio da forcas conflituosas constitui um elemento de vital irnportancia nas neqoclacoes

que visa m El procura de uma conciliacao, Determinados fatores podem prejudicar esse equilfbrio

e comprometer 0 desenrolar da concillacao. 0 juiz conciliador deve conhecer bem a dinarnica

relacional que existe entre as partes antes de iniciar 0 processo de conciliacao judicial.

o papel do juiz conciliador

o juiz conciliador e chamado a desempenhar diversos papeis no decorrer da conclliacao. Ele

pode ser, ao mesmo tempo, moderador, avaliador, investigador, negociador, conselheiro e

facilitador. No ambito da sua intervencao, 0 conciliador deve permitir que as partes examinem

o lit/gio sob todos seus angulos, definam as quest6es inerentes ao litfgio bem como os

interesses subjacentes a uma solucao. Ele deve oferecer as partes a oportunidade de explorar

mutuamente todas as opcoes que possibilitam uma solucao satisfat6ria. A esse respeito, 0

conciliador deve possuir cumulativamente as seguintes qualidades:

Agente de reeproximecso

Uma vez que as partes estao mergulhadas num conflito judicial, elas podem ter reservas para

concordar em se engajar no processo de conciliacao. A primeira tarefa do conciliador e de

levar as partes a aceitar a conciliacao, a combinar um mandado, a encontrar um desejo

comum de negociar de boa fe e a chegar a um entendimento.

o conciliador tem que ajudar as partes a determinar as regras de base que irao fundamentar

a conciliacao. Ele deve, tarnbern, levar as partes a entrar em acordo sobre todas as questoes

litigiosas suscetiveis de serem examinadas no decorrer do processo de conciliacao.

Agente de gestao do processo

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No inlcio da sessao de conciliacao ou por oportunidade de uma conterencia telef6nica, 0

conciliador dever delimitar com precisao 0 mandado que as partes Ihe outorgarem e a qualidade

dos participantes a sessao de conciliacao. Por exemplo, pode acontecer que uma das partes

requeira a presence de pessoas nao diretamente envolvidas no litigio, para Ihe dar conselho,

assistencia ou apoio. 0 conciliador tera que administrar essa situacao com delicadeza e

rapidez, para nao comprometer 0 desenrolar da sessao. 0 mesmo vale para as questoes

jurfdicas levantadas pela primeira vez no contexto da concuiacao.

Agente de comunicecso

o conciliador deve conhecer suas qualidades de negociador para levar a bom termo seu

mandado de reaproximar as partes e de leva-las a concluir um acordo. 0 conciliador deve ter

capacidade para ouvir atenta e ativamente. Ele deve ter lnteliqencia e perspicacia para

penetrar no coracao do conflito, no intuito de descobrir as motivacoes ocultas. Ele ouvira nao

apenas aquilo que for dito, mas ele tera que perceber os interesses nao revelados que

podem dificultar a solucao do conflito. Muitas vezes, 0 silencio e a reserva encerram uma

linguagem que carrega uma mensagem muito mais importante do que aquela traduzida em

palavras. Como escreveu Fernando Pessoa, "Ha duas maneiras de dizer: fafar e ester".

Muitas vezes, 0 conclliador devera expor em detalhes 0 conflito que opoe as partes para

leva-Ias a priorizar determinados interesses, deixando de lado as questoes secundarias

suscetiveis de solapar a comunicacso e a negociacao. Ele tera de lembrar as partes 0

contexto da sua intervencao, formular as observacoes pertinentes, fazer as perguntas chaves,

no momento oportuno, e formular os cornentarios suscetiveis de levar as partes a continuar

sua reflexao dentro do processo de conciliacao, Antes de realizar uma intervencao direta, ele

tera de conferir atentamente suas percepcoes, guardando em mente que a intulcao pode ser

contraproducente quando seguida sem discernimento. Do mesmo modo. as reacoes puramente

emocionais das partes nunca devem distraHo do cerne do litigio. 0 conciliador deve criar um

ambiente seguro que permita as partes engajar-se espontanea e sinceramente no processo

de neqociacao, sem que a relacao de forces seja alterada.

Atuando qual um maestro, 0 conciliador conduz sutilmente a neqociacao que esta ocorrendo

. entre as partes. Com habilidade, ele devera, muitas vezes, trazer as partes de volta no

terreno do litfgio principal e temperar as discuss6es suscetfveis de levar a ruptura da

cornunicacao. Atraves de um controle sem inqerencia, ele ira levar as partes a permanecerem

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MANUAL DE MEDIAyAO: TEORIA E PRATICA

focalizadas, de modo construtivo, no problema ao qual estao confrontadas.

Agente de equilibrio

Durante 0 desenrolar da sessao, 0 conciliador tera, de vez em quando, de contrabalancar a

relacao de forcas entre as partes, no intuito de manter a equidade do processo. Ele vai agir,

por assim dizer, como um arbitro. Uma parte que tern um estilo de neqociacao mais agressivo

ou que possui maiores habilidades pode criar insequranca, frustracao e levar ao recuo da

outra parte e, por conseguinte, dirninuir as chances de se chegar a um acordo. 0 conciliador

podera intervir sutilmente para reforcar a posicao da parte desestabilizada e reduzir a influencia

preponderante da outra parte. A esse respeito, os encontros individuais (caucuses - petits

comites) podem ser uma ferramenta importante para facilitar 0 desenrolar da neqoclacao,

AlE3mdisso, a suspensao da sessao no momento oportuno pode ser um instrumento importante

quando se trata de permitir a parte vuineravel verificar determinadas inforrnacoes, contatar os

recursos necessarios ou receber conselhos uteis. Trata-se sempre de reduzir a disparidade

da relacao de forcas entre as partes.

Agente da realidade

o conciliador e, tarnbern, um agente da realidade. Ele orienta as partes sobre a natureza real

de suas controversies e as auxilia na analise praqrnatica do iitigio. Muitas vezes, 0 sofismo e

a conjectura sac utilizados por uma ou outra parte no intuito de potencializar suas propostas.

Cabe ao concillador, atraves de uma intervencao direta, trazer rapidamente as partes de

volta para uma abordagem realists, com 0 objetivo de garantir a credibilidade do processo.

Agente de solu980

A posicao privilegiada do conciliador enquanto facilitador neutro Ihe possibilitara - no devido

tempo - apresentar opcoes de solucoes as partes. E precise lembrar-se que as partes que

escolheram a via judicial muitas vezes deixaram de lado sua percepcao objetiva do conflito.

Com uma visao mais ampla, 0 conciliador devera permitir que elas abandonem 0 quadro

estreito do litfgio judicial para enveredar por caminhos suscetfveis de representar opcoes

validas de solucao,

o conciliador e integralmente responsavel pelo desenrolar do processo de conciliacao.

Entretanto, a responsabilidade da decisao depende inteiramente das partes. 0 conciliador

nunca deve substituir-se as partes, privando-as do seu poder decis6rio.

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Corn a pratlca, 0 conciliador ira desenvolver urn estilo de neqociacao proprio, correspondendo

a sua personalidade. Ele vai privilegiar as tecnicas que domina melhor e manter urn modo de

intervencao flexfvel e eficiente. Nao se pode aventurar no terreno da neqociacao ou da

mediacao procurando espontaneamente tecnicas de intervencao sofisticadas. nas quais fixar

sua personalidade atraves de uma busca identitaria daquilo que e percebido coma "um bom

negociador". Pelo contrario, e partindo de si mesmo - conhecido e aceito - que se entra

nessa arte plural da neqociacao, para apreender 0 conflito e entender. sem jufzo moral, os

atores que se encontram no meio dele. Alern do domfnio da sua proflssso, 0 profunda

conhecimento de si constitui, corn certeza, urn caminho eficiente para a excetencia, que

muitas vezes se revela na aprendizagem da lucidez e na presence no insta te.

Se for preciso falar de tecnica de intervencao, sugere-se que 0 dese la. da sessao de

conciliacao judicial obedec;:a a determinadas eta pas no intuito de fa ilitar 0 domfnio da

cornunicacao e da neqociacao. Em geral, seis etapas sao sequidas ese rolar das sess6es

de conciliacao judicial no Tribunal de segunda instancia do Q ebsc: sentimento, a

abertura, a cornunicacao, a neqociacao, a decisao e 0 encerrarnent .

Cada uma dessas eta pas tern urn objetivo, implica uma acao positi '& 2 ,2 a a urn resultado.

Trata-se, corn algumas variacoes, do metodo STAR, desenvolvido pe 2 Pepperdlne University,

Escola de Direito, Instituto Strauss para Solucao de Conftitos>. e a &;J:ad pelo Tribunal de

segunda instancia do Quebec para atender as necessidades da 0 inacao judicial.

o consentimento

Esta etapa diz respeito a vontade comum de conciliacao. Caso 0 egi;'l8 seja obtiqetotio e a

conclliacao imposta, essa etapa tern menos irnportancia.

Caso 0 regime seja facultativo, coma e 0 caso do Tribunal de segunda instancia, 0 juiz

conciliador devera, quando requerido, averiguar a qualidade do consentimento e podera, as

vezes, suscitar, grac;:as a sua intervencao, urn consentimento esclarecido para uma solucao

arniqavel dos conflitos.

Conseguir 0 consentimento para a conciliacao e dar vida ao proprio processo.

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MANUAL DE MEDIAC;Ao: TEORIA E PRATICA

No Tribunal de segunda instancia do Quebec, 0 consentimento emana de uma demanda

conjunta, assinada pelas partes litigantes e, se for 0 caso, pelos seus advogados. As vezes,

uma das partes ou seu advogado dirigir-se-a diretamente ao responsavel do service de

conciliacao para conseguir, atraves da intervencao de urn juiz, que a outra parte consinta a

demanda conjunta. Se 0 juiz conciliador julgar que 0 objeto da controversia e passivel de

solucao amiqavel do confiito, ele podera realizar uma conferencia telef6nica para recomendar

a conciliacao, Muitas vezes, a recusa em aceitar uma demanda conjunta resulta simplesmente

do desconhecimento do procedimento, de reservas quanto a sua confidencialidade ou, ainda,

de intorrnacoes incorretas. Assim, a conferencia telef6nica constitui uma ferramenta simples

e privilegiada que permite (1) esclarecer as interroqacoes e dissipar os temores; (2) informar

as partes acerca dos objetivos da conciliacao: e, se for 0 caso, (3) reforcar sua vontade de

consentir a uma demanda conjunta e de engajar-se corn determinacao no processo de

conciliacao.

Essa etapa do consentimento inclui tarnbern a verificacao pelo juiz conciliador de urna vontade

comum de conciliacao. Por oportunidade das primeiras conversas visando a definicao de

prazos, as partes serao levadas a ente der a dinarnlca do processo. Logo na primeira etapa,

as partes e seus advogados ficarao sabendo que a conciliacao nao tem por objetivo conseguir

uma opiniao juridica ou uma pre-decisao. mas antes visainstaurar um processo transacional

no intuito de chegar a conclusao de um acordo. Em outras palavras, 0 juiz conciliador deve

notar a firme intencao das partes em transigir.

Nessa etapa de consentimenio. 0 juiz conciliador assegura-se tambem da presence de todos

os interlocutores indispensaveis para uma solucao completa do litigio. Muitas .vezes, a presence

de peritos (rnedicos, engenheiros. agrimensores, etc.) ou de terceiros neutros revelar-se-a

indispensavel ao desenvolvimento das opcoes que possam levar a um acordo.

A abertura

Em geral, sera 0 primeiro encontro entre 0 juiz conciliador, as partes e os advogados. No

decorrer dessa etapa, as partes e seus advogados deverao experimentar um ambiente jurfdico

tranquilizador e alimentar a esperanca de urn acordo.

Durante 0 processo de acolhida, 0 juiz conciliador vai expor as partes e aos advogados, em

sessao plenana, 0 objetivo da conciuacao e 0 desenrolar da sessao. Ele os tranquilizara

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ruanto cl confidencialidade da conciliacao e os convidara a expor seu ponto de vista, de

,aneira preliminar.

; abertura da sessao de concillacao reveste-se de uma importancia determinante. Ap6s

apresentar suas consideracoes de abertura, 0 juiz conciliador deter-se-a para determinar os

'Ji8Z0S da sessao de conciliacao e, em particular, para elaborar 0 mandado detalhado da

lsgociar,:ao. A tarefa mais importante a realizar no decorrer dessa etapa de abertura e. corn

csrteza, a neqociacso do mandado. Caso este ja tenha sido acordado. eta-se entao de

eonsolidar e de explicar a ordem prioritaria de discussao das rnaterias _ 0 objeto

o mandado. Caso 0 mandado ainda nao tenha sido negociado, trata-se e :20 e rnbina-

lo e de determinar a sua orqanizacao. No final da sessao de abertura. 0 ••eg -'ac ....r devera

'er recebido urn mandado claro e organizado. Obviamente, esse mandad '12:::e ;1: 'vel e

a criatividade do processo podera fazer aparecer novas questoes no decorrer C20S I~ iacoes.

Conforme a natureza dos litfgios judiciais, 0 juiz conciliador pedira as p":ss .CJ a seus

advogados) que apresentem uma declaracao de abertura no intuito de e :: 'cc'. :3 gClisa de

preambulo, a natureza e 0 objeto do litigio. Essa etapa permanece facuim:; ..a.9 csos de da

extensao do conflito existente entre as partes.

Finalmente. durante a sessao de abertura, 0 juiz conciliador decidira 5'9 C:'- .3-, nao

promover urn encontro corn os advogados. Essa etapa e particularmente i ,;:::":2-:9 e' tifera

em materia de conciliacao judicial. Uma vez que 0 conciliador nao oods ::-ss'j: arias

sessoes de conciliacao (salvo nos casos de excepcional complexidade) e _6 SSLS recursos

de tempo sac limitados, ele deve potencializar suas chances de se cheqar 2 _- a rdo ap6s

uma ou duas sessoes, otimizando assim os meios a seu dispor. A esse :25::e::::. cs ad gados

constituem, corn certeza, auxiliares de justica indlspensaveis. Eles ~2C; sc : ssuem um

profundo conhecimento do seu caso, coma tarnbern ja mediram com ~'&::;isa 20 exte sac do

conflito e 0 nfvel de acrim6nia existente entre as partes litiqantes".

Muitas vezes, 0 encontro preliminar corn os advogados, na a sencia das partes. permite

determinar se a sessao de conciliacao ocorrera em sessao plenaria ou i di id al. Ele tornecera

tarnbern indicacoes acerca da maneira de se comunicar corn as partes e de controlar a

neqociacao corn maior eficiencia,

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MANUAL DE MEDIAC;Ao: TEORIA E PRATICA

A comuniceceo

Nessa etapa da sessao de conciliacao, as partes, em sessao individual ou plenaria, irao

transmitir ao juiz conciliador as intormacoes que julgam indispensaveis, 0 que possibilitara

medir corn exatldao a natureza do conflito que as op6e (conflitos de dados, conflitos de

interesses, conflitos estruturais, conflitos de valores, conflitos relacionais etc.).

Muitas vezes, a etapa da comunicacao consiitui uma sesseo de intormscso linear, onde cada

urn explana sua posicso, sua force, sua sequranca, suas certezas. 0 seu trace dominante e

a expressao. Cada parte tenta validar seu posicionamento. Trata-se de uma etapa

aparentemente narcisista uma vez que ela raramente ultrapassa a esfera pessoal do interlocutor.

Cada parte delimita suas fronteiras e as comunica. Essa e a etapa onde se coleta

cuidadosamente as mformacoes que servirao para enriquecer a neqociacao e, tarnbem, para

medir 0 tamanho do conflito.

Nessa etapa linear, 0 conciliador se lirnitara a fazer perguntas, a ouvir as respostas numa

atitude de empatia, a marcar pausas (effective pausing), de modo a possibilitar a expressao

do conflito.

Durante a cornunicacao, podera ter-se a impressao de que 0 discurso e improdutivo e,

especialmente, inesqotavel, Todavia, trata-se de uma das etapas mais relevantes do processo

de concihacao. A titulo de exemplo, antes de fabricar urn rnovel, como urn armario cavilhado,

o marceneiro vai dedicar um tempo a recortar e juntar suas pecas: cavilhas de madeira,

pecas torneadas, etc. Quando todas as pecas estao espalhadas de modo linear na mesa de

montagem, enxerga-se apenas uma massa sem forma e, em aparencia, totalmente sem

harmonia. Todavia, para 0 marceneiro, 0 arrnario inteiro ja Ihe aparece diante dos olhos,

peca por peca, ate que ele finalmente faca a montagem. Do mesmo modo, essa etapa da

comunicacao, ainda que aparente ser desordenada e esterll, constitui efetivamente a etapa

onde 0 juiz conciliador experiente ja enxerga 0 acordo em potencial a elaborar-se diante dos

seus olhos, clausula por clausula.

A negociar;ao

A neqociacao e a etapa da inovacao ou da criatividade. Quando as partes confrontadas corn

urn conflito aparentemente insoluvel se apresentam na sessao de conciliacao, elas, muitas

vezes, se sentem premidas, de pes e macs atados. Em particular, na etapa da apetacao, 0

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litfgio ja se encontra altamente "judicializado": houve um processo, uma sentence proferida

deixou uma parte insatisfeita ou insegura e, muitas vezes, os advogados ja tentaram antes a

nsqociacao ou ate a rnediacao. Na verdade, a realidade do litfgio dissipou-se na exacerbacao

do conflito. As partes abandonaram sua perspectiva objetiva do litiqio, substituindo-o pelo

antagonismo judicial e a polarizacao das suas poslcoes, Em consequencia, elas realizaram

que estao se movimentando num terreno que nao Ihes oferece mais seguranc,;a nenhuma.

Para escapar desse beco sem saida, as partes vao ter de ser criativas: elas deverao ter

imaqinacao e criar uma saida. Terao que se mexer, se empenhar, caso contra rio, elas vao

ficar estratificadas no litigio judicial! Uma tabula do Mali, citada por Aminate Tra ore , narra

que nos Bamawanw, existe uma lenda chamada de "a pequena dence indencevet". Se 0

dancarino der um passo para tras, seu pai morre, se der um passo para frente, sua rnae

falece e, se ele nao dancer, ele morre. Ele esta preso numa armadilha. 0 que vai fazer 0

dancanno condenado a morte? Ele tera que ser criativo, ele tera que voar.

Eis, portanto, a essencia da neqociacao: a busca por uma solucao viavel e. as vezes, vital

para ambas as partes. Quando a neqoclacao e iniciada, as palavras sac raras. ;::,ica dosamente

medidas, 0 fluxo e lento e 0 movimento se inicia. Com prudsncla, as partes c ,e!;e;:; lentamente

a voar para elevar-se acima do terreno minado do conflito.

As vezes, no decorrer da neqoclacao, as partes tern que voltar para tras, ree,;uilibrar-se,

retroagir, focalizar-se novamente, permanecendo sempre no caminho do comcrcm.sso. Quando

as partes se reaproximam, porern mergulhadas na inseguranc,;a ou peGir,~J >"::7\ tempo para

refletir em silencio, e precise deixa-las ir, sem tentar controlar 0 processo. l 2 conciliador

deve permitir que as partes deliberem sobre sua propria sorte. No ar.,:;;io do processo de

conciliacao judicial, a responsabilidade da decisao esta inteiramente baseada nas partes.

Trata-se de uma verdadeira transferencia judicial, onde 0 juiz conciliador encoraja as partes

a assumir os riseos para acabar corn 0 conflito que as opoe, sem nunca as privar do seu

poder de decisao. Trata-se realmente de tomar seu destino judicial em suas proprias macs.

Por outro lado, as solucoes criativas concebidas pelas partes apresentam varies aspectos

que nao deixam de surpreender: reconfiquracao dos locais em litigio, troca de propriedades,

construcao conjunta de infra-estruturas, redacao em comum de uma carta corn pedido de

desculpas, redeflnicao das convencoes de acionistas etc.

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MANUAL DE MEDIAC;;AO:TEORIA E PRATICA

A declsso

Essa etapa visa colocar a decisiio em pratica, ou seja, a redacao do acordo que sera depols

homologado pelo Tribunal. Essa etapa de fundamental irnportancia e entregue :\

responsabilidade dos advogados e 0 juiz conciliador deixara a sala de ccnclliacao ate que 0

acordo seja concluido. Acontece, no decorrer da redacao do acordo, que medidas transitorias

tenham que ser acomodadas para aprimorar a oeciseo das partes e, caso esse fato ocorra,

o juiz conciliador volta a seu papel de facilitador.

o encerramentoEssa ultima etapa marca 0 final da sessao de conciliacao. 0 juiz conciliador procede a leiturn

da decisao das partes, assegura-se de que 0 consentimento ainda esta vivo e que SU:1

expressao foi juridicamente tracluzida na redacao do acordo, que e entao assinado pelas

partes.

A leitura da decisao sera feita em sessao plenaria. Ela vai permitir que as partes tornem

consciencia da sua capacidade inerente de encontrar, por si mesmas, uma solucao para sua

controversia. Quando do encerramento da sessao, as partes vao perceber que as poucas

horas que juntas passaram, durante as quais negociaram 0 mandado, comunicaram e

negociaram as questoes litigiosas e, finalmente, conciuiram um acordo, fizeram-nas descobrir

um modo eficiente de solucao dos conflitos, que pode ser favoravelmente importado para a

sua comunidade, seu ambiente de trabalho e, sobretudo, sua familia. Na realidade, 0 juiz

conciliador, ao mesmo tempo em que atuou como intermediario na sotucao do litigio judicial,

tera ensinado as partes uma maneira de resolver os conflitos que podem surgir no seu dia-

a-dia.

Conclusao

Eis, sem entrar nos pormenores, esse rnetodo praqrnatico de solucao dos conflitos que quer

apresentar, para os litigantes, uma nova relacao para com 0 direito e, para os magistrados,

um enriquecimento da sua rnissao tradicional de fazer justlca atraves da construcao de um

dialogo judicial ate entao desconhecido.

A instauracao do primeiro programa de conciliacao judicial no Tribunal de segunda instancia

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I 1 Hili," 1 lil tlvarnente uma rnudanca consideravel na maneira de conceber e de fazer

\I. I '",',1)1;'111' Cljustil;a participativa, encarnada na solucao negociada, a justic« de autoridade,

I ''''!lIIIIIII.I<I" no ate de julgar, precisava de urn ato de re na maturidade coletiva dos litigantes

11' '11111<11:1.;:50 indefectivel do mundo judicial.

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"Renova tua mente, .renovaras tua v

Ademar Figueiro SouzaAdriana Alves DinizAdriano da Silva RibeiroAdriano Stanley Rocha SouzaAna Paula FariaAnderson EvangelistaAstried Brettas GrunwaldBruno Cesar FonsecaCarla Cristina MouraCaroline HoffmannCaroline Pereira MarquesClayton Ricardo da Silva

Dulcilene Regina GomesEdimarcos Souza lopesEduardo Caldeira Gomes LlduarioEric Albert de Souza GuedesErica MaltaFernanda Maria Dias de Araujo LimaFlavia Montenari BarbosaGeraldo de Freitas M. JuniorGuilherme CunhaGuiomar Marotti DumontIsabella Sanf Ana CardosoKeylla Priscilla Diniz

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la!gor,us

Emmanuel

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