manual de botanica anatomica

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Universidade Zambeze Faculdade de Engenharia Agronómica e Florestal Manual de Botânica Anatómica. Aplicável Para Estudantes Do 1 o Nível Page 1 Botânica Botânica (do grego "botáne" que significa planta vegetal) é a parte da Biologia que se encarrega pelo estudo e classificação dos vegetais com mais destaque para a forma, estrutura e composição incluindo seu agrupamento em categorias segundo as suas características semelhantes. Classificar é sem dúvidas, a ciência que consiste em agrupar as plantas em unidades taxonómicas. Células e tecidos vegetais Células vegetais As células que formam os tecidos dos meristemas, apresentam núcleos grandes, organitos pouco desenvolvidos, citoplasma abundante, vacúolos ausentes, ou se presentes, pequenos e com paredes celulares finas. Estas células, possuem capacidade de divisão celular, sofrendo constantemente mitoses que possibilitam a origem de tecidos definitivos da planta. Depois de ocorrer a germinação, a semente passa para um novo estágio e vida e nesta fase, ela é denominada plântula. A germinação se inicia com a absorção de água pelo embrião e termina com a emissão da radícula. É dentro do embrião onde se inicia o processo de diferenciação dos tecidos. Diferenciação é o processo pelo qual as células se diferenciam entre si e das células meristemáticas originárias, começa quando a célula ainda está aumentando. Dependendo do local em que as células formadas pelo meristema estejam, elas poderão, por exemplo, se diferenciar em células de sustentação, condutoras ou revestimento. Na maturidade, quando a diferenciação já está completa, algumas células ficam vivas, ao passo que outras morrem.

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Manual de Botânica Anatómica. Aplicável Para Estudantes Do 1o Nível Page 1

Botânica

Botânica (do grego "botáne" que significa planta vegetal) é a parte da Biologia que se encarrega

pelo estudo e classificação dos vegetais com mais destaque para a forma, estrutura e composição

incluindo seu agrupamento em categorias segundo as suas características semelhantes.

Classificar é sem dúvidas, a ciência que consiste em agrupar as plantas em unidades

taxonómicas.

Células e tecidos vegetais

Células vegetais

As células que formam os tecidos dos meristemas, apresentam núcleos grandes, organitos pouco

desenvolvidos, citoplasma abundante, vacúolos ausentes, ou se presentes, pequenos e com

paredes celulares finas. Estas células, possuem capacidade de divisão celular, sofrendo

constantemente mitoses que possibilitam a origem de tecidos definitivos da planta.

Depois de ocorrer a germinação, a semente passa para um novo estágio e vida e nesta fase, ela é

denominada plântula. A germinação se inicia com a absorção de água pelo embrião e termina

com a emissão da radícula. É dentro do embrião onde se inicia o processo de diferenciação dos

tecidos.

Diferenciação é o processo pelo qual as células se diferenciam entre si e das células

meristemáticas originárias, começa quando a célula ainda está aumentando. Dependendo do local

em que as células formadas pelo meristema estejam, elas poderão, por exemplo, se diferenciar

em células de sustentação, condutoras ou revestimento. Na maturidade, quando a

diferenciação já está completa, algumas células ficam vivas, ao passo que outras morrem.

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Tecidos vegetais

Tecidos são grupos de células que possuem forma e funções distintas. Os tecidos vegetais têm

sua origem nos meristemas. Os tecidos formados por apenas um tipo celular são denominados

tecidos simples, já os tecidos compostos por dois ou mais tipos de células são denominados

tecidos complexos. Por exemplo: parênquima, colênquima e esclerênquima são tecidos simples,

enquanto xilema, floema e epiderme são tecidos complexos.

Meristema é um tecido não diferenciado que dá origem a novas células. Isto significa que uma

célula meristemática pode originar qualquer tipo de célula especializada do corpo do vegetal. As

células meristemáticas, como já foi referenciado, possuem parede celular delgada, citoplasma

abundante, núcleo grande, vacúolos ausentes ou, se presentes, pequenos. Os meristemas são

considerados tecidos complexos e podem ser classificados de acordo com diversos critérios,

nomeadamente localização e origem.

Classificação dos Meristemas

Quanto à localização

No início do desenvolvimento vegetal podem ser observados dois tipos de meristemas:

Meristemas apicais - que têm a função de causar o crescimento longitudinal da planta. Esse tipo

de crescimento é chamado de crescimento primário e é responsável pela formação dos tecidos

primários. Estes meristemas estão divididos em:

Meristema apical radicular (na raíz);

Meristema apical caulinar (no caule).

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Meristemas laterais (câmbio vascular e câmbio da casca) – localizados em anel ao longo da

raíz e do caule. São responsáveis pelo crescimento em espessura também denominado

engrossamento da planta (crescimento secundário), formando os tecidos secundários da planta.

O câmbio vascular origina os tecidos condutores secundários e o câmbio da casca produz os

tecidos de revestimento secundários.

A divisão celular não se encontra limitada aos meristemas apicais e laterais. Por exemplo, a

protoderme, o procâmbio e o meristema fundamental, que são até certo ponto, tecidos

diferenciados, são denominados meristemas primários por duas (2) razões que são: 1) originam

os tecidos primários e; 2) muitas de suas células se dividem várias vezes antes de começarem a

se diferenciar em tipos celulares específicos.

Meristemas intercalares - são meristemas temporários, responsáveis pela origem e formação de

novos ramos e folhas.

Quanto à sua origem

Meristemas primários

Têm sua origem nas células embrionárias e são responsáveis pelo alongamento da raíz e do

caule, bem como pela formação dos tecidos definitivos primários. Existem três tipos de

meristemas primários que são:

Protoderme;

Meristema fundamental;

Procâmbio.

A protoderme sofre um processo de diferenciação dando origem a epiderme. Enquanto que com

a diferenciação, o procâmbio dá origem ao xilema e floema, sendo parênquima, esclerênquima e

colênquima provenientes da diferenciação do meristema fundamental.

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Meristemas secundários

São meristemas com sua origem em células já diferenciadas e com a capacidade de divisão. São

responsáveis pelo engrossamento das estruturas e pela formação dos tecidos definitivos

secundários. Existem dois tipos de meristemas secundários que são:

Câmbio Vascular - com origem em células do procâmbio ou em células parenquimatosas e

localiza-se no cilindro central, exteriormente ao xilema primário e interiormente ao floema

primário. Em corte transversal as suas células parecem pequenos quadrados mas em corte

longitudinal pode perceber-se que existem dois tipos de célula, uma longa e fusiforme que

origina as células vasculares e uma curta que origina os raios medulares;

Câmbio Suberofelogénico - com origem em células do córtex, epiderme ou mesmo do floema,

localiza-se na zona cortical, geralmente logo abaixo da epiderme. As suas células apresentam um

corte transversal rectangular e forma para o exterior súber e para o interior feloderme. Ao

conjunto, súber, câmbio suberofelogénico e feloderme, chama-se epiderme.

Figura 1: Principais Meristemas numa Planta. À esquerda se encontra o caule e à direita a raíz. Fonte: Biologia das Plantas.

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Classificação dos Tecidos

Os principais tecidos das plantas vasculares encontram-se organizados em unidades maiores,

situados em todas as partes da planta. São em número de três e denominados sistemas de

tecidos:

Sistema de tecido fundamental - consiste dos denominados tecidos de sustentação:

parênquima, colênquima e esclerênquima, sendo o primeiro o mais comum;

Sistema de tecido vascular - consistindo dos dois tecidos condutores, o xilema e o

floema;

Sistema de tecido de revestimento - representado pela epiderme e, mais tarde, pela

periderme (através de crescimento secundário).

Tecido fundamental

No tecido fundamental se encontram os tecidos parenquimatosos ou parênquimas. Estes

tecidos são encontrados em praticamente todas as partes da planta. São formados por células

vivas, dotadas apenas de parede primária. Embora sejam às vezes chamados de tecidos de

preenchimento, os parênquimas também desempenham outras funções importantes, além de

preencher espaços entre tecidos internos.

Nas folhas, o espaço entre as epidermes superior e inferior é preenchido por um parênquima

cujas células são ricas em cloroplastos. Esse parênquima é chamado parênquima clorofiliano

ou simplesmente assimilador e sua função é realizar a fotossíntese.

Em raízes e caules subterrâneos existem parênquimas que acumulam amido e outras substancias

de reserva, sendo por isso denominados parênquimas de reserva ou amilíferos.

Certo tipo de parênquima apresenta grandes espaços cheios de ar entre as células, sendo por isso

chamado parênquima aerífero ou aerênquimas. Esse tipo de parênquima se encontra presente

em certas plantas aquáticas, permitindo sua flutuação.

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Também existe um tipo de parênquima, presente em certas plantas de clima seco e árido, que

armazena água, recebendo por isso a denominação de parênquima aquífero.

Tecidos vasculares ou condutores

As plantas vasculares possuem tecidos que transportam substâncias, genericamente chamados

tecidos condutores que são:

Xilema

Lenho ou xilema – é um tecido que transporta água e sais (seiva bruta) das raízes para as folhas.

Tem também a função de armazenar substâncias alimentares (no parênquima axial e radial) e a

sustentação. Os primeiros elementos do xilema a se diferenciarem a partir do meristema apical

do caule e subapical da raíz são chamados protoxilema.

O xilema pode se formar no crescimento primário ou secundário. O xilema primário se origina

do procâmbio enquanto que o xilema secundário se origina do câmbio vascular.

O xilema é constituído por elementos de vaso e traqueídes que são responsáveis pela condução

da seiva bruta.

Os elementos de vaso são as principais estruturas condutoras de seiva bruta nas plantas

angiospermas. Eles se originam a partir de células cilíndricas dotadas de paredes reforçadas, que

morreram durante a diferenciação. Os elementos de vaso dispõem-se em sequência de modo a

formar cordões celulares que se estendem desde as raízes até as folhas.

Traqueídes – são células mortas, dotadas de paredes reforçadas, também dispostas em sequência

de modo a formar cordões, como os elementos de vaso. As paredes transversais das traqueídes,

porem, não desaparecem durante a diferenciação.

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Floema

Liber ou floema – é um tecido condutor que transporta substâncias orgânicas produzidas nas

folhas (seiva elaborada) para o caule e as raízes. O floema é o principal tecido de condução de

alimentos das plantas vasculares e está associado ao sistema vascular do xilema.Os primeiros

elementos do floema a se diferenciarem são denominados protofloema.

O floema consiste de vários tipos celulares e pode ser classificado em tecido primário e

secundário quanto a seu desenvolvimento. O floema primário se origina do procâmbio e o

floema secundário se origina do câmbio vascular. Ele é menos esclerificado, ou seja, menos

duro, e não é tão persistente quanto o xilema. Além disso, possui localização periférica nas raízes

e caules, enquanto que o xilema ocupa porções mais internas.

O floema é também composto por células parenquimáticas, fibras e esclereídeos. Portanto, assim

como o xilema, o floema é um tecido complexo e tanto o floema primário quanto o secundário

são compostos pelos mesmos tipos celulares. A única diferença entre o floema primário e o

secundário é a ausência de raios no floema primário.

O floema é constituído fundamentalmente por dois tipos de células que são: tubos crivados e

células companheiras.

Figura 2: Corte Transversal de um Caule mostrando o Xilema.

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O termo crivado refere-se aos grupos de poros (áreas crivadas) através dos quais os protoplastos

de elementos crivados adjacentes estão inter-conectados. Nas células crivadas os poros são

estreitos e as áreas crivadas possuem estrutura bastante uniforme sobre todas as paredes. A

maioria das áreas crivadas concentra-se nas extremidades adjacentes das células longas e

delgadas.

Tecidos de revestimento

Epiderme

A epiderme é a camada celular mais externa do corpo primário da planta e constitui o sistema de

tecido de revestimento das flores, frutos e sementes, bem como raízes e caules até o início do

crescimento secundário, quando é substituída pela periderme. Esta é uma camada de células

achatadas e bem encaixadas, sem cloroplastos.

Figura 3: Vasos condutores mostradas na estrutura secundária do caule

de uma dicotiledônea

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Funções da epiderme

Isolar e proteger os tecidos internos da planta – protecção mecânica;

Proteger a planta contra o dessecamento;

Permitir trocas gasosas (estômatos) e absorção de água em determinadas partes da planta

(pêlos).

A epiderme vegetal pode apresentar especializações, entre as quais se destacam os estômatos, os

pêlos e os hidatódios.

Estômatos – se localizam nas folhas, geralmente na epiderme inferior. Um estômato é formado

por um par de células encaixadas chamadas células estomáticas. As células estomáticas são as

únicas que epidérmicas que apresentam cloroplastos. As celulas estomáticas deixam entre si um

orifício denominado ostíolo, através do qual os gases atmosféricos podem entrar e sair da planta.

Pêlos – são projecções epidérmicas constituídas por uma ou várias células. Na raíz existem pêlos

absorventes, que aumentam a área epidérmica capaz de absorver água e sais minerais do solo.

Nas folhas, os pêlos têm geralmente a função de diminuir a perda de água por evaporação. Se

forem abundantes e entrelaçados, os pêlos aprisionam uma camada de ar saturada de vapor de

água, o que reduz a transpiração.

Há plantas nas quais os pêlos servem de protecção contra ataques de animais. A urtiga, por

exemplo, tem pêlos perfurados como agulhas de injecção, que ao serem tocados, os pêlos perdem

sua porção terminal arredondada e tornam-se pontiagudos. Se penetrarem na pele de um animal,

esses pêlos urticantes injectam substâncias tóxicas que produzem forte irritação.

Hidatódios – são estômatos modificados, especializados em eliminar excessos de líquidos na

planta. Os hidatódios estão geralmente presentes nas bordas das folhas, onde, pela manhã, é

possível observar as gotas de líquidos que eles eliminam, fenómeno conhecido por gutação.

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Cutícula

As células epidérmicas secretam para o exterior substâncias impermeabilizantes, que formam

uma película de revestimento denominada cutícula. O principal componente da cutícula é a

cutina, um polímero feito de moléculas de ácidos graxos. A função da cutícula é de evitar a perda

de água pela planta, proteger a planta contra infecções e traumas mecânicos.

Periderme

A periderme é um tecido complexo que reveste caules e raízes de plantas que crescem em

espessura, sendo formado por três camadas distintas denominadas feloderme, felogênio e súber.

O felogênio é constituído por células com grande capacidade de divisão e origina todas as

células da epiderme. As celulas que o felogênio produz para o interior da planta constituem a

feloderme, e as que são produzidas para o exterior formam o súber, ou cortiça, um tecido

formado por células mortas.

A periderme é composta por três tecidos diferentes: um tecido suberoso (súber ou felema), o

câmbio da casca (felogênio) e a feloderme. O câmbio da casca é um tecido meristemático que

forma o súber externamente e a feloderme internamente. Dos tecidos formados pelo câmbio da

casca o súber é morto na maturidade e a feloderme é um tecido parenquimático que permanece

vivo na maturidade.

A periderme possui funções semelhantes à epiderme na planta. Para as trocas gasosas, ao invés

dos estômatos, a periderme possui lenticelas. O súber é o responsável pela proteção mecânica e

pela proteção contra a perda de água.

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A morte das células no súber é decorrente da formação e do depósito de suberina nas paredes

celulares. A suberina é impermeável, de modo que a célula suberificada morre por não ser mais

capaz de receber água e nutrientes de suas vizinhas, mas suas paredes suberificadas formam um

revestimento resistente, que protege a parte interna da planta contra traumas mecânicos e contra

a perda de água.

Endoderme

A endoderme - é formada por uma única fiada de células apertadas umas com as outras, sem

espaços intercelulares. As suas células apresentam espassamentos de suberina ou lenhina em

alguns locais da parede celular, permitindo ainda a passagem de substâncias. A endoderme

localiza-se nas raízes separando a zona medular onde se encontram os tecidos condutores da

zona cortical (em alguns caules raramente nas folhas). As suas células apresentam espessamentos

de suberina ou lenhina em alguns locais da parede celular, permitindo ainda a passagem de

substâncias.

Figura 4: À esquerda: Corte de Embrião de Planta da Seda. No

centro: Epiderme Coberta por Cutícula (corada de vermelho) mostrando Estoma. À direita: A Flor do Algodão.

Figura 5: Epiderme foliar, destacando um estômato aberto. A. Vista frontal; B. Corte transversal. Note

que as células-guarda são portadoras de cloroplastos.

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Sumário dos tecidos e tipos celulares

Tecidos Tipos de células

Epiderme

Células parenquimáticas;

Células-guarda e tricomas;

Células esclerenquimáticas.

Periderme

Células parenquimáticas;

Células esclerenquimáticas.

Xilema

Traqueídes;

Elementos de vaso;

Células esclerenquimáticas;

Células parenquimáticas.

Floema

Células crivadas;

Elementos de tubos crivados;

Células companheiras;

Células parenquimáticas;

Células esclerenquimáticas.

Parênquima Células parenquimáticas.

Colênquima Células colenquimáticas.

Esclerênquima Fibras ou esclerócitos.

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Organização anatómica das plantas

Histologia da Raíz

Conceito

A raíz é um órgão da planta que se desenvolve a partir do promeristema (meristema apical) do

embrião e que se localiza na parte subterrânea (a parte da planta que fica no solo).

Origem das raízes

A raíz primária de uma planta com semente é originada pela radícula do eixo embrionário para o

caso de plantas dicotiledóneas e várias radículas para as monocotiledóneas. Nos dois casos o

sistema radicular é designado seminal. As plantas podem ter dois tipos de sistemas radiculares.

Nas plantas não monocotiledôneas como a cenoura, alface, couve e outras, o sistema radicular é

chamado axial (pivotante) pelo facto de possuir uma raíz principal. E nas plantas

monocotiledôneas como cebola, alho, milho, o sistema radicular é chamado fasciculado uma vez

que não possui raíz principal.

Nas plantas monocotiledôneas, a primeira raíz vive apenas por um curto período de tempo e o

sistema radicular da planta é formado pelas raízes adventícias que se originam no caule,

frequentemente em conexão com as gemas axilares. Nas gramíneas, a formação de numerosos

caules a partir de gemas e raízes a eles associadas, é conhecida como brotação (tillering). As

raízes adventícias também se ramificam, porém formam um sistema radicular relativamente

homogêneo, chamado sistema fasciculado.

Em geral, o sistema radicular pivotante penetra mais profundamente o solo, do que o sistema

fasciculado, mas este (fasciculado) une com mais firmeza as camadas superficiais do solo.

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Funções da raíz

A raíz desempenha várias funções, como as que abaixo estão mencionadas:

Fixação da planta no solo;

Absorção de água, sais;

Transporte de substâncias nutritivas para a planta;

Armazenamento de substâncias de reserva;

Produção de hormonas vegetais através dos seus meristemas.

Note que:

Existem plantas que não possuem raízes, ou as raízes não têm alguma destas funções. Em

algumas bromélias, as raízes só servem para fixação, enquanto outras nem possuem raízes

As raízes mais especializadas para armazenamento e fixação são as que apresentam uma

estrutura carnosa como é o caso da cenoura (Daucus), beterraba (Beta), batata-doce (Ipomoea) e

outras.

Água e sais minerais absorvidos pela raíz são levados até as outras partes da planta pelo xilema.

As substâncias orgânicas sintetizadas pelas partes aéreas fotossintetizantes do vegetal (açúcares)

são transportadas, via floema, para os tecidos de reserva da raíz, onde são geralmente

armazenadas na forma de amido. Parte do alimento armazenado é utilizado localmente pelas

raízes, mas a maior parte deste é quebrado em moléculas menores (açúcares) que serão

novamente transportadas, via floema, para as partes aéreas onde serão utilizadas. Nas plantas

bienais, (vegetais que completam seu ciclo de vida em dois anos), como a beterraba, por

exemplo, as grandes reservas de alimento acumuladas na raíz durante o primeiro ano são

utilizadas no segundo para produzir flores, frutos e sementes.

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As raízes adventícias são as que se formam nos nós do caule e das folhas. Tem sua origem nos

tecidos profundos localizados nos caules com origem endógena ou a partir de botões localizados

nos nós basais do caule, neste caso exógena.

Figura 6: Raízes adventíceas das monocotiledóneas.

Figura 7: Raízes adventíceas da planta Philodendron.

Figura 8: Raíz pivotante

Figura 9: Raízes adventíceas em Coleus

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Constituição da raíz

A raiz é constituida por várias partes, cada uma com suas funções específicas. Duma forma mais

resumida, a raíz é constituída pelas seguintes partes:

Coifa ou caliptra;

Zona lisa (de crescimento);

Zona polífera (dos pêlos absorventes);

Zona suberosa (de ramificação);

Colo (ou coleto).

Coifa (ou caliptra) - é uma espécie de capuz que protege a ponta da raíz. Nessa região, existem

células pequenas e relativamente delicadas que se multiplicam duma forma intense e continua

promovendo o crescimento vertical da raíz. A coifa envolve e protege essas células contra o

atrito com as partículas do solo e contra o ataque de microrganismos diversos.

Região lisa (ou de crescimento) - é a região onde ocorre o alongamento das células que foram

produzidas na ponta protegida pela coifa. O grande alongamento das células, nessa região,

permite o crescimento da raiz. Assim, para que uma raiz cresça bem, deve haver: multiplicação

de células (na ponta) e alongamento celular (na região lisa).

Região polífera (dos pêlos absorventes) - nessa região existem pêlos absorventes, que retiram

do solo água e sais minerais, que vão formar a seiva bruta. É também chamada zona de absorção;

Região suberosa (ou de ramificação) - região na qual a raíz se ramifica, originando as raízes

secundárias, que auxiliam a fixação da planta no solo e aumentam a superfície da absorção;

Colo (ou coleto) - ponto de encontro da raíz com o caule.

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Características Gerais das Raízes

A raíz apresenta várias características, a mencionar:

Corpo não segmentado, sem folhas e gemas;

Subterrânea e aclorofilada (na sua maioria);

Presença de coifa e pêlos absorventes;

Geotropismo positivo;

Fototropismo negativo.

Figura 10: Estrutura externa da raíz. Fonte

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Classificação da raíz

As raízes das plantas podem ser classificados de acordo com vários critérios como:

Quanto à origem

Quanto à origem as raízes podem ser classificadas em pivotantes (normais) e adventícias.

Raíz pivotante ou normal – é aquelaque se desenvolve a partir da radícula primária do embrião.

Raíz adventícia – éaquela que se desenvolve a partir do caule ou das folhas.

Figura 11: a) Raíz pivotante; b) Raízes adventíceas.

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Quanto ao habitat

Quanto ao habitat as raízes podem ser classificadas em:

Subterrâneas;

Aéreas;

Aquáticas.

Raízes Subterrâneas

São aquelas que crescem enterradas no solo. As raízes subterrâneas pode ser subdivididas em:

Raíz aprumada (axial ou pivotante) – são raízes mais comuns em plantas dicotiledôneas. São

formadas por uma única raiz primária e várias ramificações. Exemplo: Pinus pinaster (pinheiro),

Phaseolus vulgaris (feijão).

Raíz fasciculada – são raízes encontradas com muita frequência nas plantas monocotiledôneas

e são dotadas de raízes que saem do mesmo ponto, ficando embaraçadas. Exemplo: Zea mays.

Raíz tuberose – são raízes tuberosas, especializadas em acumular reservas nutricionais para a

planta. Exemplo: Ipomoea batata.

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As raízes tuberosas podem ser subdivididas em:

Axial tuberosa – são as que contêm reservas acumuladas no eixo principal. Exemplo: Daucus

carota.

Fasciculada tuberosa – são as que contêm as reservas acumuladas nas raízes secundárias.

Exemplo: Manihot esculenta.

Figura 12: Raízes subterrâneas.

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Raízes aéreas

Raízes aéreas são mais frequentes nas plantas tropicais epífitas, ou plantas que vivem sobre

outras plantas (parasitismo). Estas raízes podem ser classificadas em:

Raízes grampiformes (aderentes) – este tipo de raízes tem uma ligação muito forte com o

substrato. Permite a afixação (aderência) dovegetal em locais com declives denominados

suportes. Como exemplo pode-se destacar a Hedera helix (Hera, hera-miúda) e em algumas

epífitas.

Raízes estrangulantes – estas raízes possuem uma grande quantidade de ramificações que usam

troncos das árvores como suporte para se enrolarem. Esse tipo de raíz dificulta o

desenvolvimento pleno da árvore. Como exemplo das raízes estrangulantes pode-se citar a Ficus

spec (cipós – mata – pau).

Figura 13: Axial-tuberosa (Daucus carota)

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Raízes sugadoras ou haustórios – são raízes típicas de plantas parasitas. Estas raízes possuem

órgãos de contacto chamados apressórios e no seu interior se encontram raízes finas (haustórios)

que facilitam sua penetração nas plantas hospedeiras. Exemplo: raízes de Struthanthus spec (erva

– de – passarinho). As raízes sugadoras podem ser classificadas em:

Hemiparasitas – quando a sua raíz penetra no caule de outra planta atingindo o tecido lenhoso e

absorvendo a seiva inorgânica (bruta).

Holoparasitas – quando suas raízes penetram no caule de outra planta atingindo o tecido

leberiano e absorvendo a seiva orgânica.

Figura 14: Raízes aéreas encontradas em algumas plantas

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Raízes - suporte (escora) – são raízes que têm sua origem no caule e vão até ao solo servindo de

suporte para as plantas. Exemplo: gramíneas: Zea mays.

Raízes - cintura (velame) - estas raízes são aquelas que se desenvolvem ao redor de um suporte.

Suas paredes celulares são fortalecidas com lignina e com velame, que se trata de uma epiderme

pluriestratificada e que absorve toda a água existente no caule (da planta hospedeira). Este tipo

de raiz é comum nas epífitas.

Raízes tabulares (sapopema) – são raízes que se desenvolvem na horizontal sobre a superfície

do solo, e exercem a função de respiração e fixação. Sua principal característica é a forma

aplanada. Exemplo: Ffigueiras.

Raízes respiratórias ou pneumatóforos - são raízes encontradas em ambientes aquáticos e

estéreis. Estas raízes têm ramificações aéreas e apresentam geotropismo negativo, e possuem

pneumatódios, que são poros apropriados para captar oxigênio;

Raízes trepadeiras – são raízes que se encontram em plantas trepadeiras.

Raízes fotossintéticas - são raízes que possuem órgãos fotossintéticos e com as folhas reduzidas

a pequenas escamas castanhas e os caules pouco desenvolvidos. Exemplo: Genéro Microcelia

(orquídea).

Figura 15: Raízes aéreas encontradas em algumas plantas

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Raízes Aquáticas

São aquelas que se desenvolvem em plantas que habitam no meio aquatic flutuando na água.

Portanto, sua função, diferente das subterrâneas, não é de fixação, mas de absorção de água e sais

minerais. Possuem uma estrutura protectora para o meristema apical que impede o ataque de

herbívoros a estes tecidos jovens. Exemplo: Eichohornia crassipe (jacinto de água).

Figura 16: Raízes aquáticas de Eichohornia crassipe (jacinto de ]aguat).

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Quanto à Forma

As raízes quanto à forma podem ser classificadas em:

Raíz aprumada

A raíz aprumada, apresenta uma raíz principal muito desenvolvida (raíz principal) de onde

partem ramificações (raízes secundárias ou ramificações) de menor desenvolvimento em relação

a raíz principal. Como exemplo pode-se citar raízes de gimnospérmicas e das dicotiledóneas.

Raíz fasciculada

É aquela que apresenta um feixe de raízes sem raíz principal. O feixe de raízes é proveniente das

radículas secundárias do embrião e de formações adventíceas na base do caule. Todas têm a

mesma espessura. Este tipo de raíz é comum nas monocotiledóneas.

Figura 17: Raíz aprumada

Figura 18: Raíz fasciculada

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Quanto à Inserção

Quanto a inserção as raízes podem ser classificadas em:

Terminais – são as raízes que se encontram no prolongamento do caule.

Laterais – são raízes que nascem e se encontram dispostas lateralmente. Podendo ser primárias,

secundárias ou terciárias.

Quanto à duração das raízes

Anuais – são raízes que podem ser conservadas por apenas um ano (no processo de conservação

de raízes) ou in vivo. Exemplos: Zea mays, Lactua sativa (alface).

Bienais – são raízes que podem ser conservadas pelo menos durante 2 anos e continuarem com

suas qualidades (no processo e conservação e uso de raízes) ou in vivo. Exemplos: Daucus

carota L. e Brassica olaracea (couve).

Perenes (vivaz) – são raízes que podem ser conservadas durante muitos anos e continuarem com

suas propriedades e qualidades em óptimas condições, ou que podem viver mantendo suas

funções plenas por muitos anosou até milhares. Lembre-se que muitas árvores são de

crescimento indefinido. Exemplo: todas as árvores.

Quanto à Consistência

Quanto à consistência as raízes podem ser classificadas em:

Lenhosas – são raízes rígidas ou pouco flexíveis e com bastante resistência à acção mecânica

(predomina esclerênquima).

Sub-lenhosas – são raízes com uma consistência (intermédia) inferior à lenhosa.

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Carnuda – são raízes volumosas e ricas em água.

Tuberculosas – são raízes volumosas e ricas em substâncias de reserva.

Fistulosas - raízes que apresenta um canal principal.

Herbáceas – são raízes tenras, carnosas e com pouca consistência.

Sub-herbáceas - raízes de consistência (intermédia) maior do que a herbácea.

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Histologia do Caule

Conceito de caule

O caule é órgão da planta que suporta os ramos, folhas, flores e frutos. É a parte aérea do vegetal

e que sustenta as folhas, flores e frutos.

Constituição do caule

Os caules são constituídos por nós, internós e gemas:

Nós - são as regiões caulinares geralmente dilatadas onde se inserem os órgãos apendiculares

(folhas, estípulas, etc.).

Internós - são as regiões caulinares situadas entre dois nós consecutivos. Muitas dicotiledôneas

não apresentam diferença entre nó e internó, especialmente em plantas adultas. Nas

monocotiledôneas os nós são geralmente mais salientes que os internós.

Gemas - são rudimentos de ramos, geralmente formadas na axila de uma folha. Geralmente

gemas terminais aparecem protegidas por catáfilos (folhas modificadas para a protecção).

Gemas terminais - produzem ramos terminais, formação análoga ao caule.

Gemas foliares - produzem folhas quando se desenvolvem.

Gemas floríferas - produzem flores quando se desenvolvem.

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Origem de caule

A organização do meristema apical do caule mostra-se mais complexa que a da raiz. O

meristema apical do caule, além de produzir células para o corpo primário da planta, está

também envolvido na formação de primórdios foliares e, muitas vezes, primórdios de gemas os

quais formam os ramos laterais.

Figura 19: Diferentes partes que formam o caule Estrutura interna do caule

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Entretanto, assim como na raiz, seu crescimento se dá pelo meristema apical, que sofre mitoses

originando a protoderme (tecido ainda meristemático que dá origem à epiderme), o procâmbio

(produz os tecidos condutores primários) e o meristema fundamental (origina o córtex e a

medula).

O meristema apical do caule não possui um revestimento protector como a coifa no meristema

apical da raiz.

Características Gerais do Caule

O caule de uma planta apresenta as seguintes características:

Corpo dividido em nós e entrenós;

Presença de folhas e botões germinativos;

Geralmente aclorofilados (com excepção de caules herbáceos);

Geralmente aéreos (excepção bulbos e rizomas);

Geotropismo negativo;

Fototropismo positivo.

Funções do Caule

O caule tem as seguintes funções:

Dar à folha uma disposição favorável para a realização das suas funções;

Estabelecer comunicação entre a raíz e as restantes partes da planta (folhas, flores e

frutos);

Permitir a circulação das seivas (bruta e elaborada);

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Acumular substâncias de reserva da planta;

Crescimento e propagação vegetativa;

Realização da fotossíntese (em algumas plantas).

Classificação do Caule

Quanto ao número

Unicaules - quando a planta apresenta um único caule;

Multicaules - quando a planta tem mais de um caule.

No entanto, as plantas multicaules formam-se devido à ramificação das bases do caule. Os novos

caules formados são chamados de filhos ou rebentos (tillers), o processo de formação de

afilhamento ou rebentação (tillering). As plantas multicauladas cujos caules estão dispostos em

tufos muito densos, são chamados de cespitosas.

Quanto ao Habitat

Quanto ao habitat ou localização, os caules podem ser divididosem 3 grupos, a mencionar:

Caules aéreos

São caules que se localizam na parte aérea e podem ser subdivididos em:

Erectos (troncos e etc);

Rastejantes (sarmentosos) - Cucurbita pepo (abóbora);

Trepadores - hera (raízes adventíceas), volúveis (sinistrosos ou dextrosos), madressila;

Estolões - morango.

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Erectos

Erectos - os que se desenvolvem na posição vertical, podendo ser:

Tronco (árvores).

Haste (herbáceo).

Estipe (palmeira, mamão);

Colmo (milho e bambú);

Escape (agave).

Figura 20: Caules erectos: tronco, haste e estipe, respectivamente.

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Figura 21: Classificação dos caules: Colmo, escape, rastejante e trepador, respectivamente.

Figura 22: Classificação dos caules: Volúveis, tubérculo, estolão e pseudobulbo, respectivamente.

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Caules Subterrâneos

São caules com hábitos subterrâneos, isto é, vivem enterrados no solo e podem ser classificados

em:

Rizoma – as plantas representativas com este tipo de caule são bananeira, polipodium e etc.

Bulbo – as plantas com este tipo de caule são várias, podendo se exemplificar com as seguintes:

cebola, alho e lírio.

Pseudobulbo – como exemplo pode se citar as orquídeas.

Caules Aquáticos

Os caules aquáticos são aqueles que se desenvolvem na água. E como exemplo pode se citar o

caso de todas as plantas aquáticas.

Figura 23: Diferentes tipos de caules bulbos.

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Quanto à Ramificação

Quanto à ramificação os caules podem ser classificados em:

Indivisos – são caules que não apresentam ramificações. Pode-se citar como exemplo os

seguintes vegetais: colmo (milho), espique (coqueiro).

Ramificados – são caules que apresentam ramificações (ramos laterais).

Tipos de Ramificação

Os caules podem apresentar três tipos de ramificações, a mencionar:

Monopodial;

Simpodial;

Dicásio.

Ramificação Monopodial – neste caso, o ramo principal é dominante em relação aos ramos

laterais, que vão surgindo. A gema terminal é persistente, havendo um predomínio do eixo

principal sobre os ramos laterais que surgem abaixo da extremidade. O eixo principal é

constituído por tecidos formados pela mesma gema terminal, onde o crescimento do caule se dá

pela actividade de uma única gema apical, que persiste por toda a vida da planta.

Portanto, neste sistema, o eixo caulinar primário formado por tecidos derivados de uma única

gema apical, é mais desenvolvido que os demais e cresce verticalmente, enquanto, os ramos

laterais têm crescimento oblíquo e são menos desenvolvidos, como se pode observar na maioria

dos pinheiros. Exemplo: Araucaria angustifólia (Araucariaceae), Casuarina, Araucaria, Pinus.

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Ramificação Simpodial - quando cada novo broto formado assume a função de promover o

crescimento da planta, como no Ficus spec, a ramificação é denominada simpodial. A gema

terminal é curta, sendo substituída por uma gema lateral que passa a ser principal. Esta é depois

substituída por uma gema lateral, e assim sucessivamente. O eixo principal da planta é formado

por tecidos originados de diversas gemas. Exemplo: Mangueira, cajueiro, goiabeira e as árvores

em geral.

Figura 24: Ramificação monopodial

Figura 25: Ramificação monopodial

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Ramificação Dicásio – este tipo de ramo é comum em plantas inferiores e ocorre quando dois

brotos laterais do caule principal assumem o papel de alongamento do vegetal, ou seja, quando

duas gemas laterais ou secundárias crescem mais do que a sua gema terminal, formando ramos.

Depois duas gemas em cada um desses ramos e assim por diante. Como exemplo pode se citar

todas as plantas inferiores.

Figura 26: Ramificação Simpodial

Figura 27: Ramificação Dicásio

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Quanto à Direcção

Os caules obedecem, em geral um geotropismo negativo, que pode ser absoluto, crescendo na

vertical, ou relativo quando toma outros sentidos (geralmente laterais).

Quanto ao Porte

O porte ou hábito resulta, da direcção de crescimento, sendo classificados em:

Erecto - quando a planta cresce, aproximadamente na vertical;

Suberecto - quando os ramos-filhos se dispõe entre a vertical e os 45º;

Subprostrados - quando a planta no afilhamento cresce formando com o plano

horizontal ângulo inferior a 45º;

Prostrado - quando a planta no afilhamento se dispõe estendendo-se mais ou menos na

horizontal (muito prostrado quando acompanha a superfície);

Rastejante - caules prostrados que emitem raízes adventíceas, ao nível dos nós, que as

fixa no solo;

Ascendente - em que o caule ou caules apresentam-se primeiro prostrados ou

subprostrados e depois vão crescendo mais ou menos na vertical. Nas gramíneas quando

isso sucede os nós inferiores muito distintos, dobram-se e denominam-se geniculados;

Difuso - quando o caule muito ramificado, geralmente desde a base toma várias

direcções;

Decumbente - se o caule ou as suas ramificações primeiro se elevam e depois invertem o

crescimento e tocam no solo;

Trepador (escandente) - quando toma direcções variáveis conforme os suportes que

encontra e aos quais se segura. Estes tipos de caule podem ser:

Volúvel: quando descreve uma hélice sobre si mesmo ou sobre um suporte;

Gavinhoso: quando trepa por meio de gavinhas de origem caulina (videira) ou de

origem foliar (ervilheira);

Aculeado: quando trepa por meio de acúleos;

Espinhoso: quando trepa por meio de espinhos (Buganvíleas);

Raízes: quando trepa por meio de raízes.

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Quanto à forma

Quanto à forma os caules podem ser:

Cónicos - caules de eixo muito comprido, mais ou menos largos na base. São caules encontrados

em grande parte das árvores;

Cilíndricos - caules de eixo muito comprido, de secção transversal de contorno circular, e tão

largos na base bem como na extremidade superior;

Achatados ou compridos – apresentam um formato achatado;

Piramidais – apresentam-se em forma de pirâmide;

Delgados – possuem uma largura delgada (aproximadamente com mesmo diâmetro na base e no

ápice superior);

Filamentosos – caules filamentosos.

Na classificação do caule segundo a forma, considera-se também a secção transversal, sendo

através desse critério classificados em:

Circular ou arredondando - secção dos caules cónicos e cilíndricos;

Elíptico ou lenticular - secção dos caules achatados ou comprimidos;

Poligonal ou angulosa - secção dos caules piramidais ou prismáticos (Ciperáceas).

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Tipos de Caule

Existem vários tipos de caules e nem todos possuemdesignação específicade acordo com os

aspectos por eles apresentados. Em algumas plantas o caule é muito reduzido, tem entrenós

muito curtos e as folhas ficam dispostas em roseta, estas plantas são chamadas de acaules.

Os principais tipos de caules são os seguintes:

Rizomas - caule subterrâneos que se distingue da raíz por possuír folhas escamiformes

(catáfilos) e gemas com disposição regular. Os rizomas apresentam os seguintes aspectos:

Delgado ou grosso;

Curto ou alongado;

Horizontal ou oblíquo;

Raramente vertival.

Quando o rizoma é grosso, com um diâmetro maior em relação ao comprimento e com

substâncias de reserva e consistência carnosa recebe a designação de tuberoso ou tuberculoso.

Tubérculo - caule volumoso, não muito alongado e com parênquima abundante em reserva

(batata-reno). O tubérculo distingue-se do rizoma tuberoso por não emitir directamente raízes,

possuem gemas localizadas nas axilas de folhas escamiformes, a partir das quais de desenvolvem

os brotos que emitem raízes na base. O tubérculo está ligado a base do caule aéreo por meio de

ramificações subterrâneas delgadas. O ponto de união destas ao tubérculo denomina-se hilo e a

zona polar oposta do tubérculo coroa.

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Estolhoso - caule prostrado rastejante que enraiza nos nós e assegura a multiplicação da planta;

Prato (disco dos bolbos) - caule muito curto, subterrâneo, revestido de folhas escamiformes

(catáfilos), das quais em particular as mais internas são espessas e ricas em reserva, e que emitem

na base numerosas raízes adventíceas que formam, no seu conjunto raízes fasciculadas.

Os bolbos conforme o aspecto das escamas podem ser:

Entunicados (tunicados) - quando as escamas são largas e se cobrem completamente umas às

outras. Exemplo: Allium cepa (cebola);

Escamosos - se as escamas são também numerosas, mas dispostas umas às outras, como as

telhas de um telhado. Exemplo: Lilium candidum (açucena);

Sólidos - quando compactos e rodeados de escamas delgadas. Exemplo: Gladiolus italicus

(gladíolos);

Escapo (hástea) - caule florífero, próprio das plantas que em parte do seu ciclo vegetativo são

acaules, até a floração. Em geral, é desprovido de folhas propriamente ditas, estas são quase

todas basilares;

Colmo - caules com os nós bem marcados, por vezes, salientes e a que correspondem tabiques

internos e que tem entrenós cobertos pela baínha das folhas (folhas que se dizem invaginantes).

O colmo pode ser:

a) Fistuloso: quando apresenta um espaço central vazio (oco) e largo relativamente ao

diâmetro total de um corte transversal

b) Meduloso: quando o espaço central está preenchido pelo parênquima meduloso.

Exemplo: cana-de-açúcar.

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c) Espique: caule de forma geralmente cilíndrica, coroado por um tufo de folhas, que só

engrossa quando a planta é nova e depois mantêm de ordinário o mesmo diâmetro.

Exemplo: Palmeiras.

d) Tronco: caule lenhoso, que engrossa com idade, geralmente cónico e despido de

ramificações na parte inferior.

e) Sarmento: caule ou ramo lenhoso, delgado, muito alongado e flexível. Exemplo:

Videira.

Quanto à Superfície dos Caules

Nas plantas anuais, o aspecto da superfície do caule não sofre grande alteração

independentemente da idade. As características principais dizem respeito a:

Regularidade da Superfície

Lisa: superfície completamente regular, sem rugosidades;

Rugoso: superfícies com pequenas saliências e sulcos irregulares;

Estriado: com sulcos finos longetudianais ou transversais dispostos regularmente;

Sulcados: com sulcos profundos;

Canelados: com caneluras.

Indumento (revestimento constituído por pêlos, glândulas ou escamas)

Indumento se refere ao revestimento dos caules e que pode ser com pêlos, glândulas ou escamas.

Os indumentos podem estar regularmente distribuído ou podem encontrar-se apenas nas partes

mais novas, na base dos entrenós, nós, no interior das estrias, sulcos ou caneluras.

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Coloração

Os caules novos são geralmente de cor verdes, mas pode apresentar-se junto aos entrenós e nas

partes mais expostas à luz, de cor arroxeadas ou avermelhada, devido a um pigmento que está

dissolvido no suco celular das células superficiais e que em geral, é antociacina.

A cor dos caules pode ainda ser: branca, cinzenta, castanha, castanho-avermelhado ou vermelho-

acastanhado. Nas plantas perenes as modificações nas características da superfície do caule são

profundas em particular quando o caule engrossa com a idade, nos caules perenes adultos a

epiderme é substituída e em seu lugar fica a parte mais externa do ritidoma (casca seca).

Na superfície do caule distinguem-se:

Lentículas: pequenas saliências que constituem produções de tecido súbero frouxo, que

substituem os poros ou estômas da epiderme. São considerados nas descrições quanto à sua

forma, distribuição e dimensões.

Sub-herbácea: de consistência (intermédia) maior do que a herbácea.

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Figura 28: estrutura primária do caule de

dicotiledônea

Figura 29: corte transversal de um caule de

monocotiledônea

Figura 30: detalhe de um feixe do caule de milho

(monocotiledônea)

Figura 31: detalhe de um feixe do caule de uma

dicotiledônea (mamona)

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Sumário da classificação dos caules quanto ao habitat

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A Botânica é uma ciência que exige muita

leitura, dedicação e criatividade por parte do

estudante e de todos os profissionais que

desejam abraçar esta área. Um bom

Engenheiro Agrónomo e Florestal precisa

conhecer com muita solidez a anatomia das

plantas, uma vez que esta (planta), é o

instrumento básico da área da sua formação.

Para conhecer com muita profundidade todas

as particularidades que os caules apresentam,

é necessário lidar muito com a prática através

de colecta de várias plantas, sua análise

profunda e detalhada e por fim a sua

classificação. Faça isso por favor. Sucessos.

Figura 32: Esquemas ilustrativos de alguns tipos de caule especializados. (Modificado a partir de Stern, 79).

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Histologia da Folha

Folha

É um órgão que está presente em quase todos os vegetais superiores, com raras exceções, como

acontece nas Cactaceae onde as folhas transformaram-se em espinhos.

A folha faz parte do sistema caulinar e, no sentido mais amplo da palavra, é um órgão altamente

variável em estrutura e função. Nenhum órgão vegetativo das plantas apresenta tão grande

polimorfismo e adaptação a diferentes meios e funções.

Origem da Folha

A folha tem origem exógena nos caules e ramos, a partir da região periférica do ápice caulinar.

Forma-se como uma expansão lateral do caule, sendo que em sua estrutura aparecem todos os

tecidos equivalentes aos do caule.

A folha é caracterizada por apresentar crescimento determinado, tendo por isso seu meristema

apical de curta duração. Este tecido logo se transforma em tecido permanente, ao passo que a

base foliar pode continuar por mais tempo a actividade meristemática (crescimento intercalar).

Algumas Pteridófitas tem crescimento apical foliar de longa duração.

As folhas diferem na forma, textura, grau de cutinização, quantidade de tecidos mecânicos

presentes, em seus padrões de distribuição no caule, em sua nervação (distribuição das nervuras).

Em resumo, a origem das folhas pode nos conduzir à seguinte classificação:

Folhas primárias (primórdios) - são folhas que provêm directamente do embrião (caule

embrionário);

Folhas normais – são folhas que derivam dos gomos que se formam lateralmente nos caules.

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Funções da Folha

Em geral, a folha evidencia com clareza sua especialização para as seguintes funções:

Realização da fotossíntese pela forma laminar;

Transpiração e eliminação de substâncias desnecessárias na planta;

Absorção de gases atmosféricos através dos estômatos;

Condução e distribuição da seiva;

Reserva de nutrientes.

As plantas, com relação às folhas, podem ser classificadas em:

Sempre-verdes – plantas que permanecem com folhas em qualquer estação do ano e durante

toda a sua vida (nunca ficam completamente sem folhas).

Decíduas – são plantas que eliminam suas folhas periodicamente.

Estrutura Química da Folha

A folha é constituída, fundamentalmente, pelos mesmos sistemas de tecidos encontrados na raiz

e no caule, ou seja, sistema dérmico (epiderme), sistema fundamental (parênquima e tecido de

sustentação) e sistema vascular (tecido de condução). O sistema vascular pode ser considerado

uma extensão dos feixes vasculares do caule ou de suas ramificações, através do pecíolo, para o

interior do limbo foliar.

As folhas apresentam uma grande variação em sua estrutura interna, variação esta relacionada

com vários aspectos como posição taxonômica e adaptações evolutivas aos diferentes habitats.

Uma vez que a folha geralmente não apresenta crescimento secundário, a epiderme persiste

como sistema de revestimento. Pode - se observar, de forma genérica, os seguintes tecidos na

folha:

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Epiderme - com células dispostas compactamente. Presença de cutícula, estômatos e tricomas.

Mesófilo - tecido parenquimático situado entre a epiderme dorsal e ventral da superfície foliar. É

essencialmente fotossintetizante, caracterizado pela presença de cloroplastos em suas células e

um grande número de espaços intercelulares.

Para melhor perceber de que forma as folhas realizam a fotossíntese, é indispensável o estudo

apurado dos estômatos.

Estômatos da Folha

Os estômatos são estruturas existentes na epiderme das folhas, constituídas de duas células

especiais, as células-guardas:

Entre as células – guardas, existe uma abertura chamada ostíolo que tem a função de estabelecer

comunicação entre o interior da folha com o ambiente externo.

Através dos ostíolos, as folhas fazem as trocas gasosas entre a planta e o meio externo.

O controlo de abertura e fechamento dos ostíolos é feito pelas células-guardas (veja

figura 33).

Quando as células em referência se enchem de água, elas empurram a parede oposta ao

ostíolo para as laterais e abrem o orifício. Quando falta água, elas murcham e fecham o

ostíolo (veja figura 33).

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Figura 33: Visão estereoscópica de uma secção de folha típica (segundo K. R. Stern, 79).

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Constituição Anatómica da Folha

Uma folha completa é composta por:

Pecíolo

É a extensão que sustenta a folha e se insere no caule. Tem forma subcilíndrica e na face superior

uma “goteira” que percorre o sentido do comprimento. Em certas folhas a base do pecíolo se

alarga, constituindo a bainha, que permite à folha uma inserção mais firme no caule.

Limbo

É a parte achatada e dilatada da folha, especializada para receber a luz do sol e para realizar as

trocas gasosas com o ambiente. Portanto, o limbo é a região mais larga da folha. Nele

encontram-se os estômas e as nervuras, que contêm pequenos vasos por onde correm a seiva

bruta e a seiva elaborada. Constitui o sistema assimilador e sua organização está perfeitamente

adaptada para o melhor aproveitamento dos raios luminosos, do ar e da água, necessários a

fotossíntese.

O limbo pode ser formado por uma única unidade (folha simples) ou de várias unidade

separadas, chamadas folíolos (folha composta). A forma da folha é dada pela forma geral do

limbo.

Baínha

É a expansão achatada do pecíolo para aumentar a fixação da folha ao caule. Quando a bainha

envolve o caule, a folha é denominada invaginante. A bainha é mais desenvolvida e mais

comum nas folhas de monocotiledôneas. Nas bananeiras, as bainhas muito desenvolvidas, uma

sobre as outras, formam o pseudocaule desses vegetais.

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Estípulas

São apêndices laminares espinhosos ou lineares em algumas folhas na base do pecíolo. As

estípulas podem se transformar em espinhos como ocorre em certas espécies de Euphorbia

(coroa-de-cristo).

As folhas incompletas são as que não possuem uma ou duas das suas partes constituintes. Os

exemplos mais comuns de folhas incompletas são de:

Folha séssil (ou rente) - folha destituída de bainha e pecíolo, estando reduzida ao limbo;

Folha subséssil - folha sem bainha e com pecíolo muito curto;

Filódio - folha reduzida ao pecíolo o qual toma a forma laminar (acácias australianas).

Figura 34: Constituição de Diferentes Tipos de Folhas

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Heterofilia

É o caso em que em um vegetal existem diversos tipos de folhas, surgindo cada tipo em um

ambiente diferente. Um exemplo importante é o caso da Sagitária, em que existem três tipos de

folhas a mencionar:

As submersas (que são alongadas);

As flutuantes (que são arredondadas);

As aéreas (que têm forma de ponta de flecha).

Figura 35: Heterofilia e Anisofilia

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Características Gerais da Folha

De uma forma geral, as folhas apresentam as seguintes características:

Apresentam estruturas capazes de captar a luz solar;

São as principais estruturas fotossintéticas da planta;

Geralmente apresentam cor verde (são estruturas clorofiladas);

As folhas têm crescimento limitado (excepto as folhas das samambaias).

Tipos de Folhas

Folhas incompletas - são aquelas em que falta ou pecíolo, ou estípulas ou baínha.

Folha invaginante - é a que têm bainha grande para aumentar sua fixação.

Folha séssil - é a que apenas o limbo fixa directamente ao caule.

Folhas com ócrea - são folhas em que as estípulas são grandes e se abraçam ao redor do

caule (ver figura 34).

Folheatura

A folheatura ou prefoliação, é a forma como as folhas se acomodam nos botões foliares. Os

principais tipos de folheatura são:

Conduplicada - as folhas estão dobradas pela nervura média com as suas abas

aproximadas;

Convuta (enrolada) - as folhas estão enroladas sobre si mesmas, de modo que em corte

transversal se aproxima a uma espiral (folha de milho);

Involuta - as margens das folhas estão enroladas para a página superior;

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Revoluta - as margens da folha estão enroladas para página inferior;

Imbricada - com as folhas dispostas como as telhas de um telhado, isto é, cobrindo-se

parcialmente umas as outras;

Equitante - uma folha dobrada pela nervura principal inclui, no intervalo das suas abas,

as abas de outra folha e assim, sucessivamente;

Mutuamente equitante - as folhas dobradas pela nervura média têm entre as suas abas

apenas uma das abas da outra;

Valvar - quando as folhas estão colocadas tocando-se apenas pela margem;

Plicada - as folhas apresentam-se dobradas em várias pregas longitudinais (palmeiras);

Inflectidas - quando dobrada transversalmente e voltada para dentro;

Circinada - com a extremidade enrolada em forma de báculo (fetos).

Filotaxia

É a forma como as folhas estão dispostas sobre o caule, incluindo a inserção e a divergência. A

filotaxia pode ser classificada em:

Alternada – quando existe apenas uma folha em cada nó.

Oposta – quando os pares das folhas estão dispostas de uma forma oposta.

Oposta – cruzada – quando cada par de folhas se cruza com o outro par em ângulo recto.

Como exemplo pode-se citar o cafezeiro.

Geminada – quando um par de folhas se encontra em cada nó, num mesmo ponto;

Fasciculada – quando três ou mais folhas se encontram num mesmo ponto no nó,

exemplo: Pinus spec;

Verticilada – quando três ou mais folhas se encontram em cada nó, exemplo:

espirradeira.

Rosulada (rosetada) - quando as folhas, dispostas na base ou no ápice do caule, estão

próximas pelo facto de os entrenós estarem próximos uns dos outros.

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Figura 36: Filotaxias Alternada

Figura 37: Filotaxias Oposta

Figura 38: Filotaxias Oposta - cruzada

Figura 39: Filotaxias Verticilada (Casuarina

equisetifolia)

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Classificação das Folhas

Quanto à Composição

Folhas Compostas:

Considera-se folha composta aquelas que apresentam limbo dividido em folíolos. Quanto ao

número de folíolos, a folha pode ser classificada em:

Unifoliolada (simples) - quando a folha tem um folíolo;

Bifoliolada – folha com dois folíolos;

Trifoliolada – folha com três folíolos;

Pinuladas (Penada) – quando a folha termina por um folíolo ou por folíolo duplo;

Palmada – folha com três ou mais folíolos saindo do ápice;

Recomposta (bipinulada) - quando os folíolos são duplamente compostos.

Figura 40: Filotaxias Rosuladas (rosetadas)

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Quanto ao Pecíolo

Quanto ao pecíolo a folha pode ser:

Peciolada;

Séssel;

Invaginante;

Peltada.

Quanto à Forma do Limbo

Alabardina (hastada) - em forma de ferro, terminada em ponta e com aurículas basilares

divergentes, como na corriola (Convolvulus arvensis), campainha (Ipomoea purpurea).

Cordiforme - em forma convencional de coração, como na videira, na violeta, na tília (Tilia

grandifolia);

Deltóide (triangular) - em forma de triângulo, lembra a letra delta maiúscula do alfabeto grego,

possuindo os dois ângulos laterais mais próximos da base.

Figura 41: Classificação das Folhas quanto ao Pecíolo

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Elíptica - em forma de uma elipse, como é o caso da folha de laranjeira.

Ensiforme – folha em forma de lâmina de espada alongada e um pouco curva, estreitando para

extremidade.

Espátula - estreita na base larga e arredondada na região apical, como uma espátula.

Lanceolada - em forma de ferro de lança mais larga no meio e estreitando gradualmente para a

extremidade.

Oblonga - de base e extremidade obtusa.

Orbicular (arredondada) - quando a forma é mais ou menos circular.

Falcata (falciforme) - em forma de foice como nas folhas do eucalipto adulto e Acacia falcata;

Ovada - com a forma do contorno de um ovo e o pecíolo inserido na extremidade mais larga.

Rombea (romboidal) - com forma semelhante a um losango ou rombo.

Reniforme - com a forma de um corte longitudinal mediano de um rim.

Flabeliforme - com a forma de um leque aberto.

Figura 42: Alabardina Cordiforme Deltóide

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Figura 43: Elíptica Ensiforme Espátula

Figura 44: Lanceolada Oblonga Orbicular

F. 45 Ovada Rombea Reniforme Flabeliforme Falcata

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Quanto à Nervação

Nervação é a disposição das nervuras no limbo da folha ou dos folíolos. Há casos, em que as

nervuras não são aparentes, como na babosa (Aloe socotrina), e outras folhas carnosas, sendo por

isso chamadas de folhas enervadas. Inúmeras são as folhas que apresentam apenas a nervura

mediana, como as do craveiro e, também, em muitas folhas suculentas ou carnosas.

A grande maioria das folhas é multinervada ou pluminervada, isto é, há uma nervura mediana ou

principal que frequentemente está situada na parte mediana do limbo e o divide em duas metades

iguais, e é sempre mais volumosa que as outras, excepto quando há três, cinco ou sete nervuras

da mesma proporção, como se verifica nas folhas trinérveas, quinquenérveas e heptanérveas

onde da principal, partem as secundárias, destas as terciárias e assim por diante, sendo as últimas

nervuras muito delicadas e finas, denominadas vênulas.

Quanto à nervação, as folhas podem ser classificadas em:

Paralelinérveas

Quando possuem mais ou menos o mesmo diâmetro, e se dispõem, lado a lado, desde a base até

o ápice do limbo. São frequentes entre as monocotiledóneas, como nas folhas da cana-de-açúcar,

do milho, servindo de um modo geral, de distinção com as dicotiledóneas.

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Curvinérveas

Quando as nervuras são curvas desde a base do limbo até ao ápice, e simétricas em relação a

nervura principal ou mediana.

Figura 46: Folha paralelinérvea

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Peninérveas

São folhas encontradas na maioria das dicotiledôneas. Neste tipo de folhas, as nervuras

secundárias e terciárias têm sua origem na nervura principal. Para entender melhor a

particularidade deste tipo de folha, basta lembrar a disposição das plúmulas (pêlos) de uma pena

de ave.

Figura 47: Folha Curvinérvea

Figura 48: Folha Peninérvea

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Palminérveas

As folhas são consideradas palminérveas ou digitinérveas quando as nervuras se irradiam do

ponto de inserção do pecíolo, distribuindo-se, no limbo, sempre em número ímpar, como os

dedos separados da mão, encontradas na figueira e na mandioqueira.

Peltinérveas

São folhas com as nervuras partindo do ponto de inserção do pecíolo no limbo das folhas

peltadas, como no capuchibha ou folha-de-chagas.

Figura 49: Folha Paralelinérvea

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Quanto à Margem

Bordo ou margem é o contorno que delimita o limbo. Quando o limbo não apresenta recortes,

isto é, sem reentrâncias ou saliências nas margens, a folha denomina-se inteira. No caso em que

ocorram cílios, ou seja, pêlos direitos guarnecendo os bordos, a margem denomina-se ciliada.

Podemos considerar dois tipos de recortes:

Marginal - em que as reentrâncias não se afastam muito da linha de contorno ou da margem,

originando, assim, recortes de várias formas. Neste caso, se os recortes são agudos, chamam-se

dentes, e quando os recortes são arredondados ou obtusos são denominados crenos.

Em qualquer dos dois pode existir o mucrão, quer dizer, uma ponta pequena e curta, aguda, bem

distinta. Assim, pois, temos os seguintes exemplos de bordos ou margens:

Crenado - quando o recorte é arredondado ou obtuso. Se os recortes são pequenos, o bordo

denomina-se crenulado.

Denteado - quando os recortes são agudos. Há casos porém, que os dentes se apresentam muito

finos, sendo por isso chamado de denticulado.

Figura 50: Folha Crenada Folha Denteada Folha Denteada

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Espinescente

Sãofolhas quese apresentam com espinhos nas suas margens.

Serreado

São folhas que se apresentam como os dentes de uma serra. Quando os dentes são de tamanho

pequeno, a respectiva folha é chamada de serrilhada.

Figura 51: Folha Espinescente Forma da Folha Espinescente

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Sinuado

Diz-se sinuada quando a folha possui recortes e sulcos arredondados. No caso de os recortes

serem miudamente recortados, diz-se que são duplamente crenados, duplamente denteados,

duplamente serrados e duplamente sinuados.

Profundo

Os recortes são profundos quando as reentrâncias são mais pronunciadas, afastando-se bem da

linha de contorno ou margem. Os recortes profundos são divididos em:

Lirado – quando os recortes conferem ao limbo a forma de lira.

Figura 52: Folha serreada

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Lobado - quando o recorte não atinge a metade da distância que vai da margem até ao nervura

principal.

Partido - quando o recorte atinge quase a nervura principal ou o ponto peciolar.

Fig. 53:Sinuado Sinuado Profundo

Figura 54: Lobado Lirado

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Quanto ao Ápice

As folhas quanto ao ápice podem ser classificadas em:

Acuminada – quando termina com uma ponta prolongada e com os lados côncavos.

Aguda – quando termina também com uma ponta e com os lados rectos ou levemente

convexos.

Aristada – termina com ápice bem alongado, em forma de seta rígida.

Arredondada – quando a folha termina por um segmento de círculo.

Cuspidado – quando a folha termina com um ápice muito pontiagudo.

Chanfrado (emarginado) - quando possui uma reentrância pouco profunda, no vértice.

Retuso - quando o recorte apical é pequeno e muito aberto.

Truncado - quando o ápice se apresenta como se estivesse cortado por uma linha recta.

Obtuso - quando o ápice é quase arredondado e o ângulo formado é maior que 90º.

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Fig. 55: Acuminado Agudo Aristado Arredondado

Fig. 56: Chanfrado Cuspinado Retuso Truncado

Fig.56: Obtuso

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Quanto ao Número de Limbos

Para além dos critérios de classificação da folha atrás mencionados, pode-se considerar também

a classificação da folhaem relação ao número de limbos que possui. Nesta classificação se

considera os folíolos.

Folíolo

Refere-se a cada uma das partes individuais, laminares, dotadas de articulação e que constituem

uma folha composta. As folhas quanto ao número de limbos podem ser:

Simples – quando a folha possui apenas um limbo. Esta, não apresenta folíolos, tem um pecíolo

ligado ao caule ou ramo por meiode uma gema. Exemplo: folha de mangueira.

Composta – quando a folha possui mais de um limbo. É o tipo de folhas que apresenta vários

folíolos geralmente flexíveis. Exemplo: folha de mafureira.

Figura 57: Folha simples Figura 58: Folha composta

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As folhas compostas podem ser subdivididas em paripinadas, imparipinada, trifoliada, palmada e

bipinada.

Paripinada – é uma folha composta que apresenta um número par de folíolos.

Imparipinada – é uma folha composta que apresenta um número ímpar de folíolos.

Trifoliada – é uma folha composta e que apresenta apenas 3 folíolos.

Palmada – é uma folha composta que apresenta-se em forma da palma da mão

(geralmente possui 5 folíolos).

Bipinada – é uma folha composta que apresenta vários pecíolos secundários geralmente

dispostos aos pares. Cada um destes pecíolos possui vários folíolos.

Fugura 59: Folha paripinada Folha imparipinada Folha bipinada

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Quanto à Consistência

A folha recebe denominações diferentes quanto a sua consistência:

Carnosa ou suculenta - quando as folhas são espessas, com reserva de água e outras

substâncias.

Coriácea - quando as folhas são espessas, consistentes, rígidas mas flexíveis, lembrando couro.

Membranácea - finas e resistentes.

Folhas das Gimnospermas – folhas acículas. Adaptadas ao habitat seco, não têm lâmina foliar.

A epiderme apresenta paredes engrossadas coberta por uma espessa cutícula que se interrompe

ao nível dos estômatos. Apresentam mesófilo sem diferenciação celular e canais resiníferos. O

sistema vascular está formado por um ou dois feixes com xilema na face superior e o floema na

face inferior.

Figura 60: Folha trifoliada Folha palmada

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Nota: como se pode perceber com muita clareza, as folhas têm vários critérios de classificação

e, dentro desses critérios existem subdivisões convista a especificar mais a classificação. É

importante notar que nem todos os critérios e/ou subcritérios foram mencionados neste pequeno

manual, sendo por isso indispensável consultar outras fontes de informação botânica.

Adaptações das Folhas

São folhas que têm funções especiais e, por essa razão, suas formas se adaptam a essas

especializações. Como exemplos pode-se citar:

Espinho - folha modificada para economia de água.

Escama - folha geralmente subterrânea e modificada. Tem a função de proteger brotos, como,

por exemplo, no lírio.

Catáfilo - folha subterrânea e modificada. Especializada proteger o broto nos bulbos tunicados,

como na cebola.

Figura 61: Espinhos Escamas Catáfilos

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Gavinha - folha modificada para permitir a fixação dos caules sarmentosos.

Bráctea - folha modificada que acompanha as flores com função de protegé-las (flores) ou para

atrair os agentes polinizadores uma vez que as suas flores brilham pouco (geralmente).

Espata - bráctea especial que protege as inflorescências de danos mecânicos.

Figura 62: Gravinhas

Figura 63: Brácteas Espata

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Carnívorora (insectívora) - folha adapatada para atrair, capturar e digerir pequenos animais que

vão ser utilizados como adubo.

Figura 64: Folhas carnívoras Folhas carnívoras

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Herbário

Construção do Herbário

Introdução

Embora a colecta e a identificação botânicas possam parecer tarefas simples, são muitas as

implicações de uma boa colecta e, consequentemente, de uma identificação precisa. A

identificação botânica possui um papel central tanto do ponto de vista científico como para o

maneio dos recursos naturais. A taxonomia, ciência relacionada à nomeação e identificação das

espécies, é essencial no contexto do reconhecimento das diferentes espécies, e, portanto, serve de

base para estratégias de conservação.

Por outro lado, é fundamental obter informações precisas quanto às espécies que ocorrem em

determinada área, como forma de subsidiar as análises referentes à sustentabilidade do maneio

florestal.

Neste capítulo, serão apresentadas as técnicas relacionadas com procedimentos de colecta. Serão

também descritos equipamentos, materiais e procedimentos de campo e de laboratório a serem

utilizados na colecta, armazenamento e preparação de material botânico para sua identificação e

a incorporação destas amostras de plantas em herbários.

A descrição de metodologia de colecta e manaio de material botânico tem como objectivo a

padronização da colecta e maneio de plantas a fim de garantir a qualidade do material colectado.

Assegurar qualidade nas colectas é essencial para a correcta identificação de uma planta, além de

possibilitar directa ou indirectamente estudos taxonómicos, trabalhos científicos sobre a flora,

garantir a qualidade de inventários florestais, a correcta identificação de plantas medicinais,

dentre outros.

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Equipamento de Campo

Para a correcta colecta de material de campo, recomenda-se o uso de seguinte equipamento:

Exemplares de folhas (frescas) de plantas (ou partes de plantas);

Prensas provisórias de trabalho (cartolina grossa);

Papel simples ou jornal,

Cola ou fitacola;

Marcador ou caneta de filtro;

Catálogo de taxonomia e nomenclatura vegetal;

Etiquetas de papel em branco para compor as etiquetas para anotações de campo tais

como, nome popular, local, coletor, data de coleta, etc.);

Podão;

Tesoura de poda manual;

Escada de alumínio;

Envelopes de papel;

Recipientes plásticos para armazenar frutos ou outros materiais vegetais;

Mochila para carregar equipamentos;

Fitas ou tinta para marcação da árvore;

Prensas de madeira para transferir material colectado das prensas provisórias;

Figura 65: Cartolina grossa e jornal Figura 66: Prensagem com jornal e cartolina grossa

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Procedimentos

1. Identificação e recolha de várias exemplares de material vegetal na natureza;

2. Identificação e registo de informações úteis sobre o material colhido;

3. Secagem do material vegetal colhido, primeiro com o auxílio de papel simples ou jornal

juntamente com a cartolina grossa, e depois colocando-o numa prensa de madeira. Esta operação

pode durar duas semanas ou um mês dependendo do tipo de material;

4. Classificação das diversas partes anatómicas das folhas ou partes da planta, com o auxílio de

chaves dicotómicas e recolha de informações importantes sobre as suas propriedades;

5. Execução ou montagem do herbário. Esta é a última fase e consiste na colagem das folhas

sobre as cartolinas e catalogação das folhas ou exemplares colhidos. No catálogo devem constar

as seguintes informação:

Parte da planta colhida;

Local, dia e hora da colheita;

Duração da secagem das folhas ou partes da planta;

Nomes científico e vulgar (vernacular) da planta onde se colheu o material;

Parte colhida, nome de quem colheu (o colector).

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Figura 69: Colocação do herb. na prensa de madeira Figura 70: Prensagem com prensa de madeira

Figura 67: Material amarrado com borracha Figura 68: Material amarrado com corda

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Regras a Observar

O material botânico das espécies arbóreas, arbustivas ou herbáceas deve conter, sempre que

possível, folhas, flores, frutos, esporos ou estróbilos, dependendo do organismo colectado. Este

material fértil é indispensável para a identificação confiável das espécies e fundamental para

compor o acervo do herbário em que é armazenado.

Caso não se obtenha nenhum tipo de material fértil (dependendo da época do levantamento

botânico em campo), deve-se colher, assim mesmo, somente as folhas, que se constituirão no

herbário de trabalho, útil para as futuras colectas das mesmas espécies (época em que estão

florescendo ou frutificando) para o procedimento de classificação botânica. Tais situações são

comuns em inventários florestais já que não necessariamente coincidem com as épocas de

floração e/ou frutificação das espécies, que podem variar entre as regiões de distribuição

geográfica;

Plantas como as pteridófitas, algumas epífitas, as herbáceas e rasteiras, além dos líquens, devem

ser preferencialmente colectadas inteiras, com as raízes e/ou substrato no qual estão inseridas.

Quando o material for maior que a cartolina, deve-se dobrar a extremidade (veja figura71).

Os ramos devem ser obtidos cortando-se os galhos com tesouras de poda ou outro instrumento

cortante afiado, evitando-se quebrar manualmente, para evitar danos ao material botânico ou

perda de frutos ou flores pelo movimento brusco de colecta (veja figura 72).

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Evitar fazer colheita de material muito húmido, para prevenir o ataque de fungos. Na colecta de

material húmido recomenda-se a troca mais frequente dos jornais durante a prensagem

provisória.

Plantas suculentas ou epífitas com folhas carnosas como, por exemplo, plantas das famílias

Orchidaceae, Bromeliaceae, Cactaceae, Crassulaceae e Clusiaceae, entre outras, devem ser

aspergidas com álcool 70 % (diluído do álcool 96 %) e mantidas em saco plástico fechado, para a

conservação das flores e para evitar a desidratação das folhas, e posteriormente são prensadas e

secas.

Fig. 71: Planta herbácea dobrada (colectada com raiz) Figura 72: Corte do material com tesoura

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Plantas com folhas delicadas devem ser prensadas no campo no acto da colecta, para evitar

deformações, dobras ou quebras indesejáveis. Este procedimento deveria ser o preferencial,

utilizado para todas as plantas colectadas (mesmo sem terem folhas delicadas), quando o factor

tempo não for o limitante para o andamento dos trabalhos. Assim se conservam melhor as

características originais do material.

Evitar colectar material botânico (flor, fruto, sementes) que estejam no chão ao pé da árvore ou

planta, pois podem não pertencer a essa árvore ou planta.

Os frutos que se destacam facilmente dos ramos devem ser imediatamente recolhidos em

envelopes de papel ou plástico, devidamente rotulados com a identificação correspondente à da

colecta da espécie.

O material muito volumoso ou de grandes dimensões deve ser desbastado ou diminuído para

melhor visualização das características da espécie e enquadramento nas prensas ou pastas de

armazenamento no herbário (veja figura 73).

Figura 73: Processo de desbaste de material de grandes dimensões

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No retorno do campo, o material colhido deve ser preparado para a secagem, onde adquirirá a

forma definitiva de armazenamento. Por isso, nesta fase, deve-se dar atenção para os

procedimentos de manipulação do material com a finalidade de melhorar o aspecto final, tais

como: retirar do saco plástico (se for o caso), melhorar o acondicionamento trocando as folhas de

jornal inicialmente utilizadas em campo, arrumar as folhas da planta para evitar que fiquem

dobradas, retirar o excesso de folhas, etiquetar com a identificação provisória adotada no campo.

Se o material vegetal colhido no campo for volumoso, é necessário que se faça um desbaste

muito cuidadoso como forma de permitir que este se encaixe melhor na cartolina. Lembre-se que

mesmo no campo este desbaste pode ser efectuado para adequar os tamanhos do vegetal com os

dos jornais, mas pode ser também necessário repetí-lo para desta vez, conjugar os tamanhos de

cartolina grossa com os do material vegetal.

Figura 74: Material volumoso Figura 75: Desbaste do material volumoso

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Os ramos colhidos devem ser manipulados com cuidado, para que fiquem na posição mais

natural possível, sem se dobrar ou quebrar, para que possam ser observadas as suas formas e

características próprias com melhor visibilidade. Pelo menos duas folhas dos ramos devem ter

seu verso virado para cima, para que possam ser examinadas as características de pilosidade,

presença ou ausência de glândulas, domáceas, pontuações, etc., sem a necessidade de virá-las.

Isso facilita a observação do material que, depois de seco, corre o risco de quebrar (folha) ou cair

do ramo.

Após a limpeza inicial do material botânico, os ramos são recolocados entre duas folhas secas de

jornal e empilhados em sequência, formando camadas da mesma espécie. Cada espécie pode ser

separada entre si por meio de uma cartolina grossa que confere maior rigidez à prensa e, ao

mesmo tempo, permite que o material fique arejado. Estas prensas devem ser bem apertadas para

que o material não enrugue nessa desidratação prévia. Posteriormente, serão melhor manuseado

em laboratório, na secagem definitiva.

Figura 76: Encaixe do material na cartolina grossa Figura 77: Material adequado ao tamanho da cartolina

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Figura 78: Fixação do material na cartolina grossa Figura 79: Fixação do material na cartolina grossa

Figura 80: Material com folha virada para cima Figura 81: Material com folha virada para cima

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Material botânico com frutos grandes, espinhos e estruturas que se salientam sobre as demais

podem deformar no processo de secagem devido às diferenças de volume. Para contornar este

problema, coloca-se ao lado dos frutos ou espinhos, e entre os pequenos ramos, folhas de jornal

ou outro material enrolado para que, ao fechar a pequena “pasta”, as capas fiquem niveladas.

Esses rolos de papel devem ser colocados sobre as folhas, auxiliando no processo de evitar que

estas se enruguem.

Procedimentos Básicos de Laboratório

No laboratório, será feita a secagem definitiva do material colhido, que será encaminhado para a

identificação botânica e servirá, também, para compôr o acervo do herbário da instituição, neste

caso a UNIZAMBEZE.

Figura 82: Prensagem de material com frutos Figura 83: Prensagem de material com frutos

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Nesta fase, deverá ser feita a limpeza final do material botânico, que consiste em retirar o

excesso de folhas e ramos secundários, as folhas danificadas e a operação de virar pelo menos

uma folha com a face inferior para cima, para que não seja necessário mexer nas folhas na

ocasião de se observar algumas características. Serão, então, montadas as prensas de madeira.

As prensas de madeira são encaminhadas às estufas de secagem, que possuem características

próprias para secagem de material botânico, sendo que as mais comuns podem ser compostas por

um jogo de 3 a 4 lâmpadas de 150W. O processo de secagem dura de 3 a 5 dias, podendo

prolongar-se em função da humidade do ar.

Figura 84: Prensagem com prensa de madeira Figura 85: Material prensado para secagem

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As lâmpadas fornecem o calor suficiente para secar suave e gradativamente o material, para não

prejudicar a cor das folhas e, se possível, das flores. Quanto mais lenta for a secagem, mais estas

características se mantêm inalteradas. Durante o processo de secagem, é conveniente fazer pelo

menos uma troca de jornais e o acompanhamento da fase da secagem do material verde.

O material pode ser considerado seco quando, ao se passar a mão, cuidadosamente, pelo limbo

das folhas, se constatar que estão meio quebradiças. Para plantas sem estruturas muito suculentas

e não colectadas em tempo húmido, leva-se três a quatro dias para a secagem, outras plantas

podem levar até uma semana.

Figura 86: Vista geral de estufa para secagem de material botânico

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A partir daí, elas são colocadas em pastas provisórias de armazenamento, protegidas por algum

processo de preservação da acção de fungos e insectos, e encaminhadas para a determinação

(identificação) por especialistas ou técnicos com capacidades para o efeito. Uma das amostras

colectadas deverá permanecer com o técnico que efectua a identificação, enquanto a outra

retorna com a respectiva identificação.

O material seco será fixado em papel cartolina ou similar com dimensões padronizadas pela

instituição, normalmente com a colocação de pequenas tiras de papel adesivo (com cola em um

dos lados) sobre pontos estratégicos dos ramos, o suficiente para fixar o ramo e não deixar

extremidades livres que possam se quebrar no maneio cotidiano do material. Algum material

solto, como sementes e/ou frutos, podem ser armazenados em envelopes de papel, que são

afixados na mesma cartolina e recebem o mesmo código de identificação, já que se referem ao

mesmo material botânico. Sempre que possível, deve-se padronizar o local de colocação da

etiqueta de identificação, que deve ter um padrão próprio da Instituição, após ter sido

identificado botanicamente.

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Informações Importantes que Constam num Herbário

Família: Rutaceae

Nome científico: Pilocarpus pennatifolius lemaire

Nome comum: Jaborandi

Local de colecta: Campo experimental da Estação Zootécnica da Chobela – Maputo

Colector: Haua Ussene Bay

Data de colecta: 25 de Agosto de 2012

Determinador: Edgar Tavares

Obs: Arbusto, 4 metros de altura, flor branca, anteras amarelas.

Modelo informative que deve acompanhar o herbário

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Histologia da Flor

Flor

A flor tem sido objecto de numerosas pesquisas, do ponto de vista morfológico e anatômico, mas

os pesquisadores são incapazes de chegar a um acordo quanto a sua natureza e às relações

filogenéticas com outras partes da planta. Alguns botânicos, provavelmente a maioria,

consideram a flor como um ramo modificado e suas partes componentes homólogas às folhas.

A flor é o sistema reprodutor de uma planta (gimnospermas e angiospermas). É nela que ocorre a

fecundação, ou seja, a união de uma célula sexual masculina com uma feminina. Depois da

fecundação, nas angiospermas, formam-se frutos e sementes. A semente contém o embrião, que

dará origem a uma nova planta, da mesma espécie daquela da qual se originou.

Origem da Flor

A flor é o órgão responsável pela reprodução da planta. Ela se origina a partir de uma gema

florífera que pode estar na axila da folha ou no ápice caulinar. Ela se constitui de folhas

modificadas chamadas antófilos.

Formação dos verticilos florais

Os antófilos se diferenciam dando origem aos quatro verticilos florais: cálice, corola, androceu

e gineceu. O perianto se diferencia precocemente, originando as sépalas e pétalas. Estas são

recobertas por epiderme e são altamente vascularizadas por vasos de pequeno porte.

As pétalas são nutridas a partir de um único feixe vascular, assim como os estames. Os vacúolos

das células das pétalas são preenchidos com metabólitos secundários que conferem a cor

característica.

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Os estames se iniciam como pequenas protuberâncias (primórdios estaminais) recobertos por

epiderme e recebendo apenas um feixe vascular. Na extremidade do primórdio estaminal, inicia-

se a formação de pequenas saliências. Estas saliências são divididas por uma camada de células

altamente vacuolizadas e cada metade origina uma teca.

Formaçãodos tecidos florais

Dentro de cada teca, ocorre a produção de um tecido esporogênico. dentro deste tecido existe

um tecido chamado tapete. Duas porções do tapete podem ser reconhecidas: o tapete parietal

(pertencente à planta-mãe) e o tapete interno. O tapete tem a função de nutrir o tecido

esporogênico e produzir a esporopolenina. Além disso, a auto-incompatibilidade esporofítica

ocorre devido à presença de genes incompatíveis no tapete (que são libertados junto ao grão de

pólen) e no estigma da flor receptora.

Após ocorrer a microesporogênese e microgametogênese, o grão de pólen está pronto para ser

libertado. Ele é revestido por um tecido chamado esporoderme, rico em esporopolenina.

A esporopolenina tem a função de impedir a dessecação do gametófito. A porção interna da

esporoderme é chamada de intina e a externa de exina

Esporogênese e gametogênese

As plantas (embriófitas) denominadas popularmente de briófitas, pteridófitas, gimnospermas e

angiospermas possuem um ciclo de vida com alternância de gerações. Isso quer dizer que

durante a vida de uma planta, ela possui duas gerações denominadas esporófito e gametófito.

Esporófito é a geração diplóide (2n) e forma esporos enquanto o gametófito é a geração

haplóide (n) e dá origem aos gâmetas.

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A esporogênese (sporo = esporo, gênese = geração) é o processo pelo qual as plantas produzem

esporos e a gametogênese é o processo pelo qual as plantas produzem gâmetas. Nas briófitas, a

geração predominante é o gametófito, sendo o esporófito reduzido. Durante a evolução dos

vegetais, houve uma tendência de redução do gametófito e dominância do esporófito. Tanto é,

que nas plantas mais derivadas, como as angiospermas por exemplo, o gametófito é considerado

por alguns autores como um parasita do esporófito, tal é o grau de redução que ele atingiu.

Microesporogênese e microgametogênese

Estes processos são referentes à formação de esporos e gâmetas masculinos, respectivamente. A

microesporogênese é o processo que leva à formação do tubo polínico e a microgametogênese

leva à formação dos núcleos espermáticos (microgametas). No final destes processos será

formado o microgametófito que é o grão de pólen.

Nas anteras, existem quatro regiões diferenciadas contendo células esporógenas. Estas regiões

são os microsporângios e nas angiospermas são denominadas sacos polínicos. Os sacos polínicos

contêm um tipo especial de célula chamada célula-mãe do micrósporo ou microsporócito. O

microsporócito divide-se, através de uma meiose originando em 4 células-filhas chamadas

micrósporos, que são haplóides.

Após uma divisão mitótica do micrósporo, ocorre a formação de dois núcleos e o microsporócito

passa a ser chamado de grão de pólen (microgametófito). O grão de pólen possui dois núcleos,

sendo o maior denominado de macronúcleo e exerce função vegetativa, pois realiza as funções

metabólicas para a manutenção da célula. Já o menor núcleo é denominado de micronúcleo e

tem função reprodutora, já que vai se dividir e dar origem aos dois núcleos espermáticos. Os

núcleos espermáticos são os gâmetas masculinos.

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Estrutura da Flor

A flor é constituída de um eixo (receptáculo) e apêndices laterais. Estas são partes florais ou

órgãos florais. Geralmente estão reunidas em órgãos estéreis e órgãos de reprodução. Sépalas e

pétalas compondo respectivamente cálice e corola, representam as partes florais estéreis e

estames e carpelos (livres ou unidos) representam as partes reprodutoras. Os estames em

conjunto constituem o androceu, os carpelos o gineceu.

Desta forma, pode-se referenciar as seguintes partes constituintes da flor:

Cálice

O cálice é formado por um conjunto de folhas modificadas, as sépalas, quase sempre verdes. Em

algumas flores, como o cravo, as sépalas são unidas, formando uma peça única. Em outras, como

a rosa, elas são separadas.

Corola

A corola é a parte geralmente mais bonita e colorida da flor. Constitui-se de folhas modificadas

chamadas pétalas. Como as sépalas, também as pétalas podem ser unidas (campânula) ou

separadas (cravo e rosa). O conjunto formado pelo cálice e pela corola é chamado perianto. Ele

envolve e protege os órgãos reprodutores da flor, o androceu e o gineceu.

Androceu

O androceu é o órgão masculino da flor. Compõe-se de uma ou várias pecinhas alongadas, os

estames. Os estames são folhas modificadas férteis que produzem grão-de-pólen. Cada estame é

formado de antera, filete e conectivo.

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Antera - região dilatada que se situa na ponta do estame. É nesta região onde se formam os grãos

de pólen. O pólen é o pozinho amarelo que você pode ver facilmente no miolo das flores e é uma

estrutura reprodutora masculina.

Filete - haste que sustenta a antera.

Conectivo - região onde se ligam o filete e a antera.

Gineceu

É o órgão feminino da flor. Constitui-se de um ou mais carpelos. Os carpelos são folhas

modificadas e possuem estigma, estilete e ovário.

Estigma - parte achatada do carpelo, situada na sua extremidade superior; possui um líquido

pegajoso que contribui para a fixação do grão de pólen.

Estilete - tubo estreito que liga o estigma ao ovário.

Ovário - parte dilatada do carpelo, geralmente oval, onde se formam os óvulos.

A flor que possui apenas o androceu é uma flor masculina. A flor feminina tem apenas o

gineceu. Se os dois órgãos reprodutores estiverem presentes na flor, ela é chamada

hermafrodita. As flores estão presas no caule ou nos ramos por uma haste denominada

pedúnculo, que se dilata na parte superior formando o receptáculo floral.

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No receptáculo prendem-se todos os verticilos florais. As vezes, as flores estão sozinhas no

caule. São flores solitárias, como as do mamão, da laranja, a violeta, a rosa, o cravo, etc. Outras

vezes, várias flores estão presas no mesmo lugar do caule. Neste caso, elas formam uma

inflorescência. As inflorescências são diferentes umas das outras.

Tipo de Flores

As flores podem ser classificadas de acordocom o número de sexos que possuem. De acordo com

este critério, elas podem ser:

Monóclinas (hermafroditas) – quando possuem dois sexos (masculino e feminino).

Díclinas – quando os sexos são encontrados em flores diferentes.

Figura 87: Composição da flor

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Plantas monóicas e dióicas

As plantas podem ser monóicas ou dióicas, conforme a esistência ou ausência de mesmos sexos

na mesma planta. As plantas são chamadas monóicos ou hermafroditas quando os dois sexos são

encontrados numa mesma planta, isto é, numa mesma flor (monóclina) ou em flores diferentes

(díclinas).

As plantas dióicas ou unissexuais são as que possuem apenas um sexo em pés diferentes, e suas

flores, portanto, só podem ser díclinas.

Figura 88: Flor hermafrodita Figura 89. Flor díclina feminina Flor díclina masculina

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Classificação das Flores

De acordo com a presença ou ausência de estruturas florais, as flores podem ser classificadas de

várias formas, utilizando diferentes critérios:

Quanto ao Pedúnculo

Pedunculada – quando a flor possui pedúnculo.

Séssil – quando a flor não possui pedúnculo.

Quanto ao Número de Peças

Aclamídea – quando a flor não apresenta cálice nem corola.

Monoclamídea – quando a flor apresenta cálice ou corola.

Diclamídea – quando a flor apresenta cálice e corola.

Fig. 90: Planta monóica Planta dióica Figura 91: Plantas díclinas

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Quanto a Homogeneidade

Homoclamídea – quando o cálice e a corola são iguais em forma e cor, sendo por isso chamadas

de tépalas, como no lírio.

Heteroclamídea – quando o cálice e a corola são diferentes em forma e cor, como se pode ver

na rosa.

Quanto a estruturas sexuais

Unisexual masculina – quando a flor apresenta apenas estames.

Unisexual feminina – quando a flor apresenta apenas o gineceu.

Estéril – quando a flor não apresenta nem androceu e nem gineceu.

Hermafrodita – quando a flor apresenta parte masculina e feminina.

Quanto ao número de estames

Oligostêmones – quando possui número de estames menor que o número de pétalas.

Isostêmones – quando o número de estames é igual ao número depétalas.

Diplostêmones – quando o número de estames é o dobro do das pétalas.

Quanto à posição do gineceu

Hipógina – flor com ovário acima da inserção de todas as peças florais. Neste caso diz-se que o

ovário é superior.

Perígina – flor com ovário semi-ínfero.

Epígina – flor com ovário abaixo da inserção de todas as peças florais. Neste caso diz-se que o

ovário é ínfero.

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Quanto à disposição das peças florais

Cíclica – quando possui peças florais em círculo, formando os verticilos.

Espiralada – quando possui peças florais em espiral no receptáculo floral.

Quanto ao número de sépalas ou pétalas

Trímero – quando a flor tiver 3 ou múltiplos de 3 sépalas ou pétalas, caracterizando a classe das

monocotiledôneas.

Tetrâmero – quando a flor possui 4 sépalas ou pétalas, caracterizando a classe das

eudicotiledôneas.

Pentâmero – quando possui 5 ou seus múltiplos de sépalas ou pétalas, caracterizando a classe

das eudicotiledôneas.

Figura 92: Classificação da flor quanto à posição do gineceu

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Quanto à simetria

Actinomorfo – quando a flor permitir vários planos de simetria, isto é, pode-se cortar de várias

maneiras e obter dois lados exactamente iguais.

Zigomorfo – quando a flor permitir apenas umplano de simetria.

Assimétrico – quando a flor não permitir nenhum plano de simetria.

Fertilização ou fecundação

É o processo que ocorre somente após a polinização e diz respeito à união dos gâmetas. Lembre-

se que nem sempre que ocorrer polinização, a fecundação ocorrerá. Após o estigma ter recebido

o pólen, nas condições ideais ele germina e forma o tubo polínico. O tubo polínico vai crescendo

e passa pelo estilete até atingir o ovário. Ele vai levando consigo os dois núcleos espermáticos.

Os núcleos espermáticos penetram no óvulo através da micrópila e um deles vai se fundir com a

oosfera. A oosfera e o núcleo espermático são haplóides (n), e sua fusão origina uma célula

diplóide (2n) – o zigoto.

Figura 93: Classificação da flor quanto à simetria

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O desenvolvimento do zigoto culmina na formação do embrião, que nada mais é do que o

esporófito jovem. O outro núcleo espermático se funde com os núcleos polares. Cada núcleo

polar é haplóide e sua fusão com o núcleo espermático origina um tecido triplóide (3n). Este

tecido é chamado de endosperma e serve de nutrição para o embrião. Devido à ocorrência de

duas fecundações, este processo é denominado dupla-fecundação.

Após a fecundação vai ocorrer a formação da semente, que é constituída pelo embrião (formado

pela união do núcleo espermático e oosfera), endosperma (formado pela união do núcleo

espermático e núcleos polares) e tegumento (desenvolvimento dos integumentos). O tegumento é

a casca ou revestimento da semente, que a protege contra a dessecação, predadores e parasitas.

Fica fácil perceber que o óvulo origina sementes, mas de onde vêm os frutos? Se recordarmos

que o óvulo está imerso dentro do ovário, poderemos perceber que é o desenvolvimento do

ovário que vai gerar o fruto. Por isso, todas as sementes estão envolvidas por frutos.

Entenda mais sobre a fecundação

A maioria dos vegetais possui os componentes reprodutivos masculinos e femininos na mesma

flor. A parte masculina da flor é chamada androceu. É no androceu onde ocorre a produção dos

grãos de pólen. A célula reprodutiva masculina se forma dentro do grão de pólen.

Para que haja fecundação, é necessário que o pólen chegue até o óvulo (polinização). Em geral, o

pólen de uma flor alcança o gineceu de outra flor.

A polinização pode ser realizada por factores físicos, como o vento e a água, ou por seres vivos,

como insectos, pássaros, morcegos, e etc. Os agentes polinizadores (vento, abelhas, e outros),

normalmente carregam muitos tipos de grãos de pólen, que são depositados no estigma da flor. A

fecundação só ocorre se o pólen alcança o estigma de uma flor da mesma espécie.

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As gramíneas, como o milho, capim e outras, são polinizadas com o auxílio do vento. Os grãos

de pólen do milho são muito leves e facilmente carregados pelo vento. Também são produzidos

em grande quantidade, garantindo que pelo menos uma parte deles chegue até o ovário das flores

de outros pés de milho. Quanto maior for o número de grãos de pólen produzidos por um

androceu, maior é a chance de ocorrer a fecundação de flores da mesma espécie.

Por outro lado, o gineceu das gramíneas também possui adaptações que aumentam a

possibilidade de polinização. Por exemplo, o estigma é longo (maior área de contacto) e

pegajoso, dando maior aderência do grão de pólen.

,

Sem a fecundação, o ovário se desprende e cai, não gerando fruto nem sementes. Os grãos de

pólen possuem alta taxa de uma hormona chamada auxina, que tem como função garantir a

manutenção e crescimento do ovário da flor. A auxina do pólen é importante para o

desenvolvimento normal do fruto. Em muitas plantas, a semente continua a produzir hormonas,

como a auxina, até o momento de amadurecimento do fruto.

Figura 94: Polinização das gramíneas

Você sabia que?

O pozinho amarelo, muito comum em áreas

com grande quantidade de flores

(principalmente de plantas polinizadas pelo

vento), é o grão de pólen?

E que o excesso de pólen no ambiente,

principalmente de gramíneas, pode provocar

reacções alérgicas em muitas pessoas (febre

do feno)?

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Dessa forma, os óvulos fecundados se transformam em sementes e o ovário se transforma em

fruto. O fruto do feijoeiro, por exemplo, é a vagem que protege as sementes até seu

amadurecimento. Quando as sementes do feijoeiro estão maduras, o fruto (vagem) seca, até se

romper elançar as sementes ao solo.

Nota: Estigma é a parte superior do gineceu das flores que serve paraa recepção do grão de

pólen.

Curiosidade: alguns ovários possuem alta taxa de auxinas e desenvolvem o fruto mesmo sem

ocorrer a fecundação. As bananas são exemplo desse tipo.

Importante

Frutos carnosos são todos os frutos capazes de acumularem substâncias nutritivas

durante seu processo de crescimento e amadurecimento, como é o caso de tomate,

pepino, laranja,melão, e outros. E os frutos secos são aqueles que, ao se

desenvolverem, não acumulam materiais nutritivos. Os frutos da mamona, algodão e

outros, são desse tipo.

A semente é composta por uma parte rica em materiais úteis para o crescimento do

embrião que lá se encontra. O tipo de substância presente na semente varia de

espécie para espécie. A semente pode ser rica em óleos, amido, celulose ou proteínas.

Quando comemos um abacate, não estamos a destruir o embrião da planta, uma vez

que o caroço continua intacto.

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Mapa resumo da flor

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Histologia do fruto

Fruto

É o ovário amadurecido.

Em geral, após a fertilização da oosfera, o ovário se desenvolve em fruto, enquanto o óvulo se

transforma em semente. Em muitos grupos de plantas, o ovário está estreitamente relacionado

com tecidos extracarpelares, os quais podem desenvolver-se conjuntamente, formando então

parte do fruto. Tais uniões, conduzem a dificuldades terminológicas no que concerne a definição

de fruto. Estritamente definido, o fruto é o ovário amadurecido.

A tendência é ampliar o termo fruto, de modo a incluir toda e qualquer parte extracarpelar que

possa estar associada ao ovário, na ocasião de sua maturidade. O termo também se refere aos

frutos desprovidos de sementes (chamados frutos partenocárpicos). É claro que, flores com mais

de um carpelo, mas fundidos originará um único fruto. Novamente a definição não é adequada.

Parede do Fruto

A “parede do fruto” é chamada pericarpo, isto é, a parede do ovário maduro ou o pericarpo com

partes extracarpelares que podem vir a unir-se ao ovário no fruto. A parede do fruto pode ser

mais ou menos marcadamente diferenciada e com frequência, o pericarpo mostra duas ou três

camadas distintas. Se estas forem reconhecíveis, serão denominadas, de fora para dentro:

epicarpo (ou exocarpo), mesocarpo e endocarpo. Estes termos são comumente empregues na

descrição de frutos, sem levar em conta a origem ontogênica das camadas.

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Parede dos frutos secos

Frutos deiscentes

Aqueles que abrem-se libertando as sementes quando maduros. Paredes de frutos deiscentes

ocorrem em frutos que contêm várias sementes. Um fruto deiscente pode desenvolver-se a partir

de um único carpelo (folículo, legume) ou de vários carpelos (cápsula).

Tanto a região de abertura quanto a maneira de abrir-se são muito variáveis. A abertura pode

ocorrer no lugar em que os bordos de um determinado carpelo se unem; ao longo da união de

dois carpelos; longitudinalmente, através de uma área horizontal, circular, envolvendo todos os

carpelos ou ainda através da formação de poros.

Histologicamente, a zona em que vai ocorrer a deiscência pode ser visível mais cedo ou mais

tarde durante o desenvolvimento do fruto. Divisões celulares podem preceder a deiscência; a

abertura então ocorre na faixa de células de paredes delgadas dessa região.

Figura 95: Partes de um fruto carnoso

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Nas leguminosas, o exocarpo pode ser constituído apenas pela epiderme ou pela epiderme e

camadas subepidérmicas, ambas compostas de células com paredes espessadas. O mesocarpo é

geralmente de natureza parenquimática apresentando suas células, paredes finas, enquanto o

endocarpo pode constituir-se de várias camadas de células de paredes espessadas.

Frutos indeiscentes

Aqueles que permanecem fechados mesmo depois de maduros. Um fruto indeiscente geralmente

resulta de um ovário no qual apenas uma semente se desenvolve, embora mais de um óvulo

possa estar presente. Nestes casos o pericarpo muitas vezes lembra a estrutura do tegumento de

uma semente, que pode apresentar-se destruído em considerável extensão (ex: aquênio de

girassol) ou fundido com o pericarpo (ex: cariopse das gramíneas).

Por exemplo, as camadas protectoras da cariopse do trigo, compreendem o pericarpo e restos do

tegumento da semente. As camadas do pericarpo, de fora para dentro, são, respectivamente:

epiderme externa, revestida de cutícula; uma ou mais camadas de parênquima parcialmente

comprimidas e restos da epiderme interna.

A cariopse das gramíneas possui grande quantidade de endosperma. A camada mais externa (ou

várias delas) do endosperma contém inclusões protéicas recebendo o nome de camada de

aleurona. As camadas internas de endosperma contêm amido. O farelo dos grãos de trigo é

constituído do pericarpo e dos tecidos externos de semente, incluindo a camada de aleurona.

Parede dos frutos carnosos

Os frutos carnosos, como os secos, podem derivar de gineceus monocarpelares ou

multicarpelares. A parede pode ser constituída apenas do pericarpo ou do pericarpo unido a

tecidos extracarpelares. A parte externa da parede do fruto ou a parede inteira podem tornar-se

carnosas por diferenciação em parênquima suculento e macio.

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Outras partes além da parede podem tornar-se carnosas, tais como a placenta e os tabiques dos

ovários multiloculares. O pericarpo, que deriva da parede de ovário, está composto pelas três

camadas já referidas: o epicarpo, mesocarpo e endocarpo.

Classificação do fruto

Quanto à disposição dos carpelos

O fruto é o ovário maduro, que pode ou não conter partes florais persistentes. Os frutos

geralmente se classificam em frutos simples, múltiplos ou agregados, de acordo com a

disposição dos carpelos a partir dos quais o fruto se desenvolveu.

Frutos simples – quando os frutos originam-se de 1 ou vários carpelos unidos.

Frutos agregados – quando consistem de uma série de carpelos separados numa mesma flor (de

um gineceu). Ex.: magnólia, framboesa, morango.

Frutos múltiplos – quando compõem-se de gineceus oriundos de mais de uma flor. Ex.: abacaxi,

fruto múltiplo formado por uma inflorescência com muitos ovários anteriormente separados que

se fundem sobre o eixo onde as flores estavam inseridas (as outras partes florais comprimem-se

entre os ovários em expansão).

Classificação de frutos carnosos

Baga – quando todo o tecido fundamental é carnoso, frequentemente com várias sementes

facilmente separáveis do fruto. Epicarpo delgado (pele), mesocarpo carnoso (polpa), endocarpo

suculento ou gelatinoso. Ex.: tomate, uva.

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A baga pode ser classificada em hesperídeo (tipo de baga) - Ex.: cítricos. Apresentam epicarpo

compacto, com glândulas de óleo, chamado flavedo (parte amarela da casca), mesocarpo

esponjoso o albedo (parte branca da casca) e um endocarpo compacto que origina bolsas cheias

de suco que são pêlos secretores, originados subepidermicamente.

Drupa – quando possui uma semente, epicarpo fino, mesocarpo carnoso e endocarpo pétreo, em

geral intimamente aderido à semente. Ex.: pêssego, ameixa, noz.

Pomo – quando a porção carnosa é constituída por parênquima derivado do receptáculo da flor.

(Em alguns livros pomo pode ser encontrado como um exemplo de pseudofruto, onde a estrutura

carnosa corresponde à outras partes da flor e não o ovário). Ex.: pêra, maçã.

Figura 96: Frutos carnosos - A: Baga (tomate); B: Pomo (maçã); C: Drupa (pêssego)

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Figura 97: Frutos carnosos – D e E: Fruto agregado (morango); G: fruto múltiplo (abacaxi)

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Principais grupos de plantas

Reino Plantae

Muitos cientistas defendem a ideia de que todas as plantas provavelmente evoluíram de

ancestrais protoctistas pluricelulares, como as algas verdes. Existem evidências de que, a partir

deles, as plantas se diversificaram em grupos e desenvolveram inúmeros mecanismos anatómicos

e fisiológicos, como sistemas de condução da seiva, produção de flores, frutos e sementes, entre

outros. Actualmente, há cerca de 280 mil espécies de plantas catalogadas e, com base em

características comuns, é possível dividí-las em quatro grandes grupos: briófitas, pteridófitas,

gimnospermas e angiospermas.

Características gerais

As plantas são organismos eucariontes, pluricelulares e autótrofos. Diversos pigmentos, como os

fotossintetizantes (clorofilas a e b) e os acessórios (carotenoides e ficobilinas, entre outros), estão

presentes nesses organismos. A realização da fotossíntese, fenômeno biológico crucial para a

vida na Terra, é uma das características mais marcantes das plantas. No entanto, a fotossíntese

também é realizada por representantes de outros reinos, como Monera e Protoctista.

A característica que distingue plantas de algas é que todos os membros do reino Planta possuem

embriões multicelulares e nutricionalmente dependentes das plantas que os originaram. Existem

representantes desse reino em praticamente todos os ambientes de nosso planeta, tanto terrestres

quanto aquáticos, incluindo algumas espécies marinhas e de água salobre. Entre as plantas que se

desenvolvem em ambientes terrestres, algumas árvores como o eucalipto australiano são os

maiores seres vivos em altura e biomassa da Terra.

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A variação de formas, cores e estruturas vegetativas e reprodutivas é imensa. Quanto ao

tamanho, a diferença entre as plantas é muito grande: eucaliptos australianos podem atingir mais

de 100 m de altura, enquanto certas espécies de plantas aquáticas são minúsculas e atingem

apenas 1 mm de comprimento.

Sistemas de classificação e grandes grupos deplantas

A classificação das plantas baseia-se em diversos parâmetros ou categorias, como anatomia,

embriologia, ecologia e, mais recentemente, genética molecular e bioquímica. Além de

padronizar um conjunto de dados relacionados a determinados grupos, a classificação é

importante para as demais áreas do conhecimento, como a ecologia, por exemplo. A

classificação é uma das áreas da Biologia continuamente actualizadas de acordo com as

contribuições resultantes de novas pesquisas.

Actualmente, as plantas estão divididas em quatro grandes grupos que são:

Briófitas - que incluem os musgos e as hepáticas;

Pteridófitas - que incluem as samambaias;

Gimnospermas - que incluem os pinheiros;

Angiospermas - que incluem as plantas com frutos.

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Nas briófitas, pteridófitas e gimnospermas, somente o subgrupo com com maior número de

espécies foi representado.

Dentro de cada grupo, existem subgrupos com muitas divisões, algumas das quais serão

estudadas neste capítulo. Mais importante, porém, que memorizar nomes complicados, é

conhecer as principais características de cada grupo e as relações entre eles. Por sua importância

tanto numérica quanto econômica, o grupo das angiospermas é o mais intensamente investigado.

Com os avanços da microscopia eletrónica e pesquisas detalhadas em filogenia (estudo das

linhas evolutivas entre os seres vivos, procurando suas relações de parentesco), novos sistemas

têm sido propostos para este grupo.

Figura 98: Esquema representativo dos grandes grupos de plantas e seus maiores subgrupos

Esquema representativo dos grupos de plantas e seus maiores subgrupos. Nas briófitas, pteridófitas e gimnospermas, somente o subgrupo com maior número

de espécies foi representado.

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Briófitas

As briófitas (do grego, bryo, “musgo”, e phyto, “planta”, “vegetal”) são plantas de tamanho

reduzido, frequentemente encontradas em ambientes húmidos, como o interior de matas e áreas

próximas a rios. Entretanto, algumas espécies também são encontradas em ambientes secos,

como desertos, e em regiões frias, muitas vezes ficando abaixo de camadas de neve durante o

inverno rigoroso. Há algumas espécies de água doce. Espécies marinhas, contudo, não foram

encontradas até o momento.

As plantas deste grupo foram as primeiras a se desenvolverem completamente em ambiente

terrestre, embora ainda dependam da água para a reprodução. São organismos vegetais muito

simples, desprovidos de um sistema condutor de seiva e, por essa razão, raramente ultrapassam

alguns centímetros de comprimento.

As briófitas são frequentemente encontradas sobre folhas, troncos e outras espécies de plantas.

Mas isso não significa que elas sejam parasitas: pelo contrário, são denominadas epífitas, ou

seja, plantas que utilizam outras plantas apenas para suporte e fixação, sem prejudicá-las. As

briófitas formam um grupo com aproximadamente 25 mil espécies distribuídas em todo o

mundo, sendo o grupo dos musgos o maior em número de espécies.

Os musgos também representam as briófitas mais conhecidas e mais comuns. Além dos musgos,

as hepáticas e os antóceros também são representantes das briófitas.

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Organização geraldo corpo das briófitas

As briófitas são plantas avasculares, ou seja, não dispõem de um sistema especializado que

conduza seiva. Assim, a água e os sais minerais absorvidos do ambiente passam de célula a

célula até atingir toda a planta. O mesmo ocorre com os produtos da fotossíntese. Esse processo é

relativamente lento e, por esse motivo, as briófitas são plantas de pequeno porte: a maioria não

ultrapassa poucos centímetros de altura, sendo muito raras as espécies cujos indivíduos alcançam

20 cm ou mais.

Em algumas espécies de musgos, porém, existe um cordão central de células condutoras que se

assemelham àquelas encontradas em plantas vasculares primitivas. Os termos raiz, caule e folha

não são aplicados às briófitas, já que são relacionados às plantas vasculares, como as pteridófitas.

Nas briófitas, as estruturas vegetativas que se assemelham à raiz são denominadas rizoides, que

são filamentos diminutos que prendem a planta ao substrato (rocha, solo, tronco de árvore, etc.).

Nos musgos, uma pequena haste geralmente vertical é bastante evidente. Essa estrutura é o

cauloide, em analogia ao caule das plantas vasculares. As estruturas em forma de folhas são

denominadas filoides (pequenas lâminas verdes e delgadas).

Figura 99: Representantes do grupo das briófitas: musgo (à esquerda), hepática (ao centro) e antócero (à direita)

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Ciclo de vida das briófitas

As briófitas dependem da água para se reproduzirem. Os gâmetas masculinos dessas plantas

somente alcançam os gâmetas femininos em meio aquoso. A reprodução de briófitas que habitam

locais mais secos depende da água da chuva ou do orvalho. Como nos demais grupos de plantas,

também entre as briófitas a reprodução ocorre através de um processo composto de duas fases,

uma sexuada e outra assexuada, denominado metagênese ou alternância de gerações. Observe

o esquema abaixo, representando a metagênese em um musgo.

Figura 100: Musgo preso ao solo por meio de filamentos chamados rizoides.

Cauloide

Filoide

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Reprodução das briófitas

A fase sexuada desse ciclo inicia-se com a produção dos gâmetas nos gametófitos, que são

haploides e geralmente dioicos. Somente em algumas espécies ocorrem gametófitos

hermafroditas. O gâmeta masculino, denominado anterozoide, é formado em uma estrutura

especial chamada anterídio. O anterozoide tem flagelos que o auxiliam na locomoção em meio

líquido. O gâmeta feminino, a oosfera, é formado no interior de uma estrutura pluricelular, o

arquegónio.

Figura 101: Representação da alternância de gerações em um musgo

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Em presença de água, o anterozoide locomove-se em direcção à oosfera, fecundando-a. Desse

processo surge um zigoto, que dá origem a um esporófito jovem diploide.

A fase assexuada inicia-se no esporófito maduro. Os esporos são formados dentro de estruturas

denominadas esporângios, cobertas por uma espécie de tampa chamada caliptra. Nos

esporângios ocorre meiose. Quando completamente maduros, os esporângios rompem-se,

liberando os esporos, que podem germinar e originar novos gametófitos, reiniciando o ciclo. Ao

germinarem, os esporos dos musgos originam pequenos filamentos que constituem o

protonema. Mitoses contínuas transformam, gradativamente, o protonema em um gametófito

masculino ou feminino desenvolvido.

Nas briófitas o gametófito persiste durante toda sua vida, por isso ele é a fase duradoura dessas

plantas. O esporófito, porém, é bastante efêmero. Assim, ele é a fase passageira ou efêmera

das briófitas.

Outras formas de reprodução das briófitas

O anterídio e o arquegônio, locais de produção de gâmetas, representam importantes avanços na

sobrevivência das briófitas em meio terrestre, pois evitam a dessecação dos gâmetas que ser

formam em seu interior. Mas as briófitas também se reproduzem vegetativamente, sem

envolvimento de gâmetas. Uma das formas mais comuns de reprodução vegetativa é a

fragmentação, pela qual fragmentos do corpo da planta desenvolvem- se em outro indivíduo. A

formação de gemas ou propágulos ocorre em estruturas especiais, em forma de taça, chamadas

conceptáculos. Essas estruturas são especialmente comuns entre as hepáticas. A partir delas, os

propágulos originam novos indivíduos.

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Importância das briófitas

As briófitas são consideradas plantas pioneiras, pois estabelecem-se em locais inóspitos, como

rochas nuas, colonizando-os. Além disso, mantêm a superfície do solo húmida pelo acúmulo de

água das chuvas em seus vacúolos e pela retenção da humidade. Algumas espécies servem de

combustível, e muitas são usadas comercialmente em floriculturas.

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Pteridófitas

Este grupo de plantas compartilha algumas características em comum com as briófitas, como a

dependência da água para a reprodução, e apresenta características evolutivas novas, como o

desenvolvimento completo de um sistema vascular.

A denominação do grupo é de origem grega (pterís ou pteridós, “feto”, e phyto, “planta”) e

possivelmente foi dada em razão de algumas espécies apresentarem as folhas jovens enroladas, à

semelhança da posição dos fetos humanos. Essas folhas jovens são denominadas báculos. As

pteridófitas também apresentam alternância de gerações, porém, ao contrário das briófitas, nas

pteridófitas a fase duradoura é o esporófito, que assume diferentes tamanhos e formas, e a fase

passageira ou efêmera é o gametófito.

Há aproximadamente 13 500 espécies de pteridófitas dispersas pelo mundo todo, nos mais

variados ambientes. São conhecidas espécies terrestres, aquáticas, trepadeiras e também epífitas.

Em relação ao tamanho, existem representantes pequenas, como a aquática Salvinia, e árvores de

mais de 10 m de altura, como algumas espécies de samambaias e samambaiaçus.

Organização geral do corpo das pteridófitas

As pteridófitas são plantas vasculares. O aparecimento dos sistemas especializados no transporte

da seiva é considerado uma grande novidade evolutiva, pois permitiu às plantas atingir tamanhos

maiores. Como a água não tem de passar de célula a célula por todo o corpo da planta, como

ocorre nas briófitas, há maior eficiência no fluxo de água e de nutrientes no interior do indivíduo.

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As pteridófitas diferenciam-se das outras plantas vasculares pela ausência de flores e

sementes. As estruturas presentes nas pteridófitas são raízes, caules e folhas, que, em alguns

subgrupos, encontram-se bastante desenvolvidos. Os caules das pteridófitas, denominados

rizomas, geralmente são subterrâneos. Há pteridófitas, principalmente do grupo das samambaias,

que possuem caules aéreos.

As folhas das pteridófitas podem apresentar uma grande variedade de formas, desde as mais

simples (sem divisão da lâmina foliar) às recortadas e compostas, em que a lâmina foliar pode

ser dividida em inúmeras partes, denominadas folíolos. A samambaia arborescente apresenta

folhas compostas. Algumas samambaias possuem folhas com mais de 2 m de comprimento.

Figura 102: Samambaia arborescente Figura 103: Avenca

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Ciclo de vida das pteridófitas

Assim como nas briófitas, os gâmetas das pteridófitas estão sempre protegidos no interior dos

arquegônios e anterídios. A alternância de gerações das pteridófitas pode ser observada na

ilustração abaixo. Observe como os processos de formação do esporófito, do gametófito, dos

esporos e dos gâmetas são semelhantes aos que ocorrem nas briófitas. Assim como acontece nas

briófitas, os anterozoides das pteridófitas também necessitam de um meio aquoso para poder

alcançar e fecundar a oosfera.

Uma diferença em relação à metagênese das briófitas é que, nas pteridófitas, o gametófito é

extremamente reduzido em relação ao esporófito. O gametófito, que recebe o nome de protalo, é

clorofilado e pode ser monoico ou dioico.

O esporófito, fase duradoura do ciclo, apresenta esporângios, nos quais são produzidos esporos.

Em algumas pteridófitas, os esporângios ficam reunidos em conjuntos chamados soros. As

pteridófitas são denominadas isosporadas quando os esporos produzidos são idênticos, e

heterosporadas quando os esporos são de dois tipos: um maior (megásporo) e outro menor

(micrósporo).

Reprodução vegetativa em pteridófitas

Em muitas espécies de pteridófitas, o rizoma que cresce paralelamente à superfície do solo pode,

em determinados pontos, desenvolver folhas e raízes. Dessa forma, novos indivíduos podem ser

originados. Ao apodrecer em certos pontos, o rizoma se parte e cada fragmento dá origem a

plantas independentes.

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Esquema resumo do ciclo das pteridófitas

Transporte de seiva e folhas especiais

A água e os sais minerais que são absorvidos do ambiente pelas pteridófitas fluem pelo interior

do corpo da planta em direção às folhas através de um sistema de células especializadas que

formam uma rede de pequenos tubos. Esse sistema é denominado xilema. Nas folhas, ocorre a

fotossíntese, cujo resultado é a produção de glicose. Saindo das folhas, a água e a glicose fluem

para todas as partes da planta no interior de outro sistema de vasos igualmente especializado,

denominado floema.

Figura 104: Representação da alternância de gerações em uma samambaia

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Entre as pteridófitas, as folhas podem desempenhar funções vegetativas e reprodutivas. Nas

folhas de samambaias e avencas, por exemplo, podem existir soros. Cada soro tem a aparência de

um ponto acastanhado ou da cor de ferrugem e apresenta diversos esporângios reunidos.

Samambaias, cavalinhas, licopódios e selaginelas

As pteridófitas são divididas em diversos subgrupos. O subgrupo das filicíneas inclui as plantas

conhecidas como samambaias, samambaiaçus, avencas, rendas-portuguesas e chifres-de-veado

(estas últimas possuem folhas simples e alongadas). As filicíneas formam o subgrupo mais

numeroso em espécies entre as pteridófitas. Muitas espécies aquáticas de pequeno porte, como

salvínia, azola e marsília, pertencem a este subgrupo. Muitas espécies de filicíneas são utilizadas

decorativamente em vasos, como a samambaia-de-metro.

As cavalinhas pertencem ao subgrupo das equisetíneas. São pteridófitas menos conhecidas e

possuem uma estrutura corporal bastante interessante, com folhas diminutas e semelhantes a

escamas. As licopodíneas formam um pequeno subgrupo, no qual se destacam as espécies

licopódio e selaginela. O licopódio é uma planta encontrada frequentemente em locais de altitude

moderada e em condições especiais de solo. As selaginelas são muito comuns em locais

sombreados e húmidos.

Existe, ainda, um subgrupo com características muito particulares, representado por espécies do

gênero Psilotum. Alguns pesquisadores consideram tais pteridófitas as mais primitivas ainda

existentes.

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Importância das pteridófitas

As pteridófitas são comercializadas devido à beleza de suas folhagens, compondo arranjos e

vasos vendidos em floriculturas e casas do gênero. Elas dominaram diversas áreas no mundo

inteiro durante o período Carbonífero e, sob condições especiais, transformaram-se em carvão

mineral (o chamado “carvão-de-pedra”), utilizado actualmente como combustível. De uma

espécie de samambaia, o feto-macho (Athyrium filix-mas), extrai-se uma substância empregue

contra certas verminoses.

Figura 105: Licopódio Figura 106: Chifre-de-veado Figura 107: Cavalinha

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Gimnospermas

As gimnospermas provavelmente foram as primeiras plantas com sementes que apareceram em

terra firme, há cerca de 350 milhões de anos. Originadas de plantas ancestrais com características

ainda comuns às das pteridófitas, as gimnospermas representam um importante passo evolutivo

das plantas, pois sua reprodução não depende mais directamente da água para ocorrer. Além

disso, o embrião desenvolve-se dentro de uma estrutura protectora - a semente.

O termo gimnosperma deriva de duas palavras gregas: gymné, “nua”, e sperma, “semente”. Essa

denominação se deve ao facto de as gimnospermas produzirem sementes, mas não frutos. Essas

plantas apresentam, em geral, árvores de médio e grande porte. As sequoias, uma espécie de

gimnosperma encontrada na costa oeste da América do Norte, estão entre as maiores árvores do

mundo.

As gimnospermas são plantas muito comuns nas regiões frias e temperadas. De facto, são as

árvores mais abundantes em alguns biomas terrestres como a taiga, localizada na Sibéria e no

Canadá, também conhecida como floresta de coníferas. As coníferas formam o maior grupo das

gimnospermas, representado principalmente pelos pinheiros. Além dessas regiões, as

gimnospermas também ocorrem, com menor frequência, em zonas subtropicais, e existe uma

espécie, a Welwitschia mirabilis, que é encontrada em desertos da África.

Figura 108: A Welwitschia mirabilis Figura 109: O pinheiro-do-paraná

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A Welwitschia mirabilis é uma gimnosperma encontrada em regiões desérticas da África. A

planta mantém-se viva absorvendo água do orvalho. E o pinheiro-do-Panamá é uma

gimnosperma nativa do Brasil.

A araucária, ou pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), é uma planta gimnosperma. De

suas pinhas originam-se, após a fecundação, o pinhão, uma semente comestível apreciada tanto

pelos seres humanos quanto por aves, em perigo de extinção devido ao desmatamento.

Organização geral do corpo

Assim como ocorre nas pteridófitas, o esporófito é a fase duradoura das gimnospermas. As

gimnospermas são plantas vasculares que se apresentam, em sua grande maioria, como árvores

com troncos fortes e resistentes. As gimnospermas não apresentam frutos nem flores, estruturas

exclusivas das angiospermas. As estruturas reprodutivas das gimnospermas reúnem-se

geralmente em estróbilos, conhecidos popularmente como pinhas ou cones. As folhas das

plantas deste grupo podem ter inúmeras variações de formato, tamanho e cor, porém as mais

comuns são as folhas alongadas e em forma de agulha, denominadas folhas aciculadas. De

algumas folhas se extraem óleos aromáticos e medicinais.

Ciclo de vida das gimnospermas

O ciclo vital das gimnospermas será explicado com base na reprodução do pinheiro-do-paraná

(araucária), espécie na qual as plantas são dioicas, ou seja, têm sexos separados. Algumas

gimnospermas possuem órgãos reprodutivos masculinos e femininos na mesma planta: são

monoicas. Observe a ilustração abaixo e acompanhe os detalhes do ciclo no texto a seguir.

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Os elementos reprodutivos das gimnospermas são formados em estruturas chamadas estróbilos.

Os estróbilos crescem no indivíduo adulto, que é o esporófito. No caso da araucária, esses

estróbilos são popularmente conhecidos como pinhas. No estróbilo masculino, que é menor que

o feminino, formam-se esporângios denominados microsporângios. Por meio da meiose, cada

saco polínico produzirá micrósporos, que se desenvolvem em grãos de pólen. No estróbilo

feminino, formam-se esporângios, denominados megasporângios, que originam, por meiose, os

megásporos.

Figura 110: Representação da alternância de gerações em uma araucária

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Note que, nas gimnospermas, há diferenças de tamanho nos estróbilos e também nos esporos

(micrósporos e megásporos). O megásporo fica retido no interior do esporângio feminino

formando uma estrutura pluricelular, o óvulo (que não é o gâmeta feminino). Este contém, em

seu interior, o gametófito feminino, denominado megaprótalo.

No interior do gametófito feminino será formada a oosfera, que é o gâmeta feminino. O

gametófito masculino é o grão de pólen em germinação e é chamado microprótalo. Essa

estrutura é responsável pela formação dos gâmetas masculinos da araucária, denominados

núcleos espermáticos. Na página seguinte é explicado como o encontro do tubo polínico com o

gametófito feminino levará à formação do embrião.

Figura 111: Estróbilos de pinheiro (o masculino) Figura 112: Estróbilo de pinheiro (o feminino)

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Polinização e fecundação

Polinização é o transporte do grão de pólen até o óvulo. O grão de pólen da araucária, assim

como em praticamente todas as gimnospermas, é leve e facilmente transportado de uma planta a

outra pelo vento. Uma vez junto ao óvulo, o grão de pólen desenvolve-se e dá origem ao tubo

polínico. Dentro do tubo polínico há dois gâmetas masculinos, que são núcleos gaméticos

haploides. Esses núcleos espermáticos são correspondentes aos anterozoides encontrados nas

briófitas e pteridófitas. Apenas um desses núcleos espermáticos irá fecundar a oosfera. O outro

núcleo gamético degenera e morre. A fecundação dá origem ao zigoto que, após sucessivas

mitoses, origina o embrião.

Germinação da semente

Após a fecundação e a formação do embrião, o óvulo converte-se em semente. A semente, como

visto anteriormente, é uma novidade evolutiva importante das gimnospermas, pois ela protege o

embrião, que dará origem ao futuro esporófito. A semente é formada por três partes (casca e

embrião e endosperma).

Casca ou tegumento - é uma parte externa, é geralmente dura e resistente.

Embrião - que dará origem ao esporófito. O embrião das gimnospermas apresenta folhas

especiais chamadas cotilédones.

O endosperma, tecido materno haploide utilizado como reserva nutritiva pelo embrião durante a

germinação. Por exemplo: a parte comestível do pinhão é formada pelo embrião e pelo

endosperma, que se torna mastigável após cozimento. As sementes das gimnospermas podem

cair no solo por gravidade ou ser dispersas pelo vento ou por animais. A disseminação das

sementes é um factor importante para a sobrevivência das espécies: se as sementes

continuamente caírem em locais inapropriados ou forem destruídas por quaisquer outros factores,

novos indivíduos não nascerão, colocando em risco a perpetuação da espécie.

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Ao encontrar condições ideais de humidade, temperatura e luz, a semente pode germinar,

originando o futuro esporófito. Dependendo da espécie e das condições ambientais, a semente

pode ficar em estado de latência, adormecida durante meses ou até anos. Atingidas as condições

adequadas, a germinação pode ocorrer. Muitas sementes tratadas em experimentos de laboratório

não germinam, mesmo que sejam mantidas as condições ideais ou próximas das encontradas nos

ambientes de origem da planta matriz, devido à morte do embrião ou inaptidão do ambiente de

laboratório para a germinação da semente.

Principais representantes das gimnospermas

O grupo das gimnospermas é formado por aproximadamente mil espécies, sendo subdividido em

coníferas, gnetáceas, gingkoáceas e cicadáceas. As coníferas formam o maior subgrupo, com

aproximadamente 550 espécies. O nome é dado em função da estrutura reprodutiva típica de seus

representantes que é o cone. Os pinheiros, ciprestes, abetos, cedros e sequoias são coníferas

bastante conhecidas e abundantes principalmente nas regiões ao norte do hemisfério Norte.

A Sequoiadendron giganteum, ou sequoia gigante, pode atingir mais de 100 m de altura.

Algumas dessas árvores possuem a maior biomassa, isto é, volume de madeira dentre todas as

árvores da Terra. As gnetáceas formam um subgrupo com características muito particulares. As

folhas e os estróbilos de seus representantes possuem semelhanças com as folhas e as flores

encontradas no grupo das angiospermas. Os gêneros Ephedra, Gnetum e Welwitschia fazem

parte das gnetáceas.

Actualmente há apenas uma espécie de gingkoácea, Gingko biloba, que cresce principalmente

na Ásia oriental (China, Japão, etc.). De diferentes partes da árvore se extraem compostos com

propriedades medicinais. As cicadáceas formam um importante subgrupo de gimnospermas,

com plantas cujas folhas se assemelham às de diversas samambaias. Os gêneros Cycas, Zamia e

Encephalartos são representativos desse subgrupo, havendo muitas espécies nas regiões

tropicais.

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Importância das gimnospermas

Muitas gimnospermas têm aplicação industrial. Papéis, gomas e colas, remédios e diversos

produtos antissépticos, como desinfectantes e bactericidas, podem ser obtidos de diversas

espécies, com destaque para os pinheiros. As gimnospermas também têm importância para a

reconstituição do passado da Terra. Uma substância viscosa produzida por diversas

gimnospermas, a resina, solidifica-se em contacto com a atmosfera, formando o âmbar. Há

milhões de anos, insectos e outros organismos agora extintos ficaram imersos nessas substâncias,

que se solidificaram, aprisionando-os e conservando-os.

Figura 113: Pinheiro Figura 114: Sequoia

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Algumas espécies, como os pinheiros, possuem resinas com aplicações terapêuticas. As árvores

de algumas gimnospermas apresentam madeira de boa qualidade, utilizada na indústria

madeireira e de mobiliário. Por outro lado, o rápido crescimento urbano e rural também tem

levado ao desmatamento da Matas de Araucárias. Além do pinheiro-do-paraná, principal

representante vegetal desse ecossistema, diversos animais também são afectados pelo

desmatamento.

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Angiospermas

As angiospermas ocupam praticamente todos os ambientes de nosso planeta, incluindo ambientes

aquáticos, sejam de água doce, salgada ou salobre. Elas podem ser árvores imensas, com várias

dezenas de metros de altura e vários metros de diâmetro, como a gigante sumaúma, ou então

plantas minúsculas como algumas espécies de água doce. As angiospermas também incluem

ervas, gramas, arbustos, trepadeiras e cipós. Evolutivamente, as angiospermas apresentam duas

estruturas muito importantes para sua adaptação e diversificação: a flor e o fruto. De facto, a

palavra angiosperma vem do grego angiós, “urna”, e sperma, “semente”. A urna, nesse caso,

refere-se ao fruto, que encerra em seu interior uma ou mais sementes.

As flores das angiospermas podem ser grandes ou pequenas, brancas ou multicoloridas; podem

possuir aromas perfumados, ou então odores fétidos que atraem moscas e besouros. Há milhares

de anos o ser humano parece manter uma relação estreita com as flores, usando-as para fins

decorativos ou como matéria-prima para perfumes, medicamentos e outros produtos.

A interdependência entre organismos polinizadores, como insectos e aves, e certas angiospermas

fez com que ambos evoluíssem concomitantemente. A especialização de certas flores é tão

grande que algumas orquídeas têm cores e formas que lembram vespas ou abelhas. Algumas

angiospermas, como as gramíneas, são polinizadas pelo vento.

Os frutos das angiospermas são igualmente variados em cores, formas, tamanhos, sabores e

texturas. São consumidos por insectos, aves, répteis, peixes e mamíferos.

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Organização geral do corpo

As angiospermas são consideradas plantas completas, pois possuem todos os órgãos vegetativos

(raiz, caule e folha) e todos os órgãos reprodutivos (flor, fruto e semente). Algumas espécies

apresentam ainda variações dessas estruturas, como estípulas, gavinhas, brácteas, etc. A

disposição de raízes, caules e folhas no corpo da planta é muito diversificada: algumas

angiospermas possuem raízes profundas e de grosso calibre, enquanto outras têm raízes

superficiais e finas. As folhas podem ser simples ou compostas, extremamente duras e

resistentes, ou então finas e frágeis. O caule pode ser aéreo, subterrâneo ou aquático. As flores e

os frutos das angiospermas apresentam uma extensa lista de tipos e subtipos.

Reprodução assexuada

As angiospermas podem reproduzir-se de forma assexuada utilizando mecanismos de

propagação vegetativa, envolvendo principalmente caules e folhas. O caule de plantas como a

grama, o morangueiro e outras cresce horizontalmente e, em certos pontos, toca o solo, enraíza-

se e dá origem a novas plantas.

Figura 115: Mamona - uma planta promissora para a

produção de biodiesel Figura 116: Um campo florido pode conter dezenas ou

centenas de espécies de angiospermas

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Esse caule é denominado estolho ou estolão e permite a propagação vegetativa, pois possui

gemas ou botões que podem originar novos indivíduos. Alguns caules subterrâneos, como os da

bananeira e do bambu, também podem originar novos indivíduos a partir do desenvolvimento

das gemas. Por exemplo: de uma única bananeira, diversos novos indivíduos podem se

desenvolver em um espaço amplo ao redor da planta-mãe devido ao desenvolvimento das gemas

presentes no caule subterrâneo.

Plantas como a fortuna e a begônia dão origem a novos indivíduos a partir de gemas localizadas

nas folhas. Ao atingir certo tamanho, os brotos destacam-se das folhas da planta-mãe,

desenvolvem raízes e crescem. Observando tais mecanismos naturais, o ser humano desenvolveu

técnicas para propagar vegetativamente as plantas. Essas técnicas incluem, entre outras, a

estaquia, a mergulhia e a enxertia. O objetivo dessas técnicas é melhorar o rendimento agrícola e

económico de certas espécies.

Figura 117: Morangueiro. Note que o caule lateral pode enraizar-se no solo, originando um novo morangueiro

Figura 118:Diversos enxertos em uma planta matriz

Estolho

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Flor

Assim como o fruto, a flor é uma estrutura característica das angiospermas, embora as

gimnospermas já apresentem estruturas compostas de folhas modificadas, os estróbilos, que

originam os gâmetas femininos e masculinos. As flores das angiospermas apresentam ampla

complexidade e variedade. Por esse motivo, as angiospermas são denominadas, também,

antófitas (do grego, anthós, “flor”, e phytos, “planta”).

A flor é um conjunto de folhas modificadas que podem ser agrupadas em subconjuntos

denominados verticilos, que podem ser de protecção (como pétalas e sépalas), ou de reprodução

(como estames e pistilos). Nem todas as flores possuem todos os verticilos; por exemplo, existem

flores sem pistilos ou sem estames. Os verticilos partem de um local geralmente mais largo,

denominado receptáculo, localizado na base da flor.

Nas flores de angiospermas, é possível ver sépalas e pétalas, que formam os verticilos de

protecção. O conjunto de sépalas de uma flor recebe o nome de cálice, ao passo que o conjunto

de pétalas recebe o nome de corola. Características específicas do cálice e da corola, como

formatos e cores, são importantes para atrair insectos polinizadores.

Os verticilos de reprodução incluem folhas muito modificadas e especializadas na produção

dos gâmetas masculinos e femininos, como veremos mais adiante no ciclo de vida dessas plantas.

Essas folhas são denominadas estame e carpelo:

Estame, que corresponde à estrutura que origina o gâmeta masculino. Algumas flores possuem

um único estame, embora a maior parte das angiospermas possua dois ou mais estames. O

estame é formado por um filamento denominado filete, na ponta do qual se encontra uma

estrutura dilatada, a antera. O conjunto de estames de uma flor recebe o nome de androceu.

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Carpelo, que corresponde à estrutura que origina o gâmeta feminino. Os carpelos são folhas

modificadas que, em algumas plantas, apresentam-se fundidas. Carpelos isolados ou fundidos

formam uma estrutura chamada pistilo. Cada pistilo é constituído de um estigma, um estilete e

um ovário, dentro do qual se encontram óvulos e, dentro destes, o gâmeta feminino (oosfera). O

conjunto de pistilos de uma flor é denominado gineceu.

Figura 119: Flor de lírio. Note os estames ao redor do gineceu

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Diversidade de flores e inflorescências

As angiospermas podem ser dióicas, quando cada indivíduo apresenta apenas um sexo, ou

monóicas, espécies nas quais o mesmo indivíduo apresenta ambos os sexos. Nas plantas dióicas,

cada indivíduo apresenta apenas flores masculinas ou femininas. Ou seja, há indivíduos que

produzem apenas flores com estames e outros que produzem apenas flores pistiladas, como

acontece com certas figueiras.

Nas plantas monóicas, a mesma planta produz gâmetas masculinos e femininos. Em algumas

espécies, como certas palmeiras, o mesmo indivíduo apresenta flores unissexuadas, masculinas e

femininas. Em outras, como a roseira, a planta produz flores hermafroditas, que têm estames e

pistilos na mesma flor. Em muitas angiospermas, as flores encontram-se reunidas em grupos

denominados inflorescências. As inflorescências das angiospermas são muito diversificadas.

Figura 120: Antera do estame com sua estrutura interna Figura 121: Visão geral do gineceu

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O espádice do antúrio (figura 123), é um tipo de espiga com eixo carnoso, protegida por folhas

especiais denominadas brácteas. Na figura 124, se pode observar a inflorescência do tipo espiga

encontrada na grama (Stryphnodendron sp.).

Fig. 122: Flor hermafrodita de hibisco

Fig. 123: Espádice do antúrio Fig. 124: Grama (Stryphnodendron

sp.)

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Ciclo de vida

O ciclo de vida das angiospermas é muito semelhante ao encontrado entre as gimnospermas. A

ilustração abaixo apresenta o ciclo em uma planta com flor hermafrodita.

Ao se tornarem maduras, as anteras dos estames produzem grãos de pólen. Cada grão de pólen

possui dois núcleos espermáticos haploides, que são os gâmetas masculinos das angiospermas.

Ao chegar ao estigma da flor, o grão de pólen desenvolve o tubo polínico, pelo qual os núcleos

espermáticos migram em direcção ao óvulo.

Figura 125: Representação da alternância de gerações em uma angiosperma

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O tubo polínico cresce por dentro do estigma e atravessa o estilete até alcançar a abertura do

megagametófito, representado por uma estrutura multicelular denominada saco embrionário e

localizado no interior do ovário da flor. No saco embrionário existem oito células, geradas por

meiose da célula-mãe do megásporo que são:

Uma oosfera, o gameta feminino das angiospermas;

Dois núcleos polares (secundários);

Cinco células, chamadas antípodas quando localizadas no lado oposto da oosfera e

sinérgides quando localizadas ao lado da oosfera.

Diferentemente das gimnospermas, em que um dos núcleos espermáticos degenera e morre, nas

angiospermas os dois núcleos são funcionais. Entre as angiospermas, ocorre um fenómeno

biológico exclusivo desse grupo de plantas chamado dupla fecundação. Um dos núcleos

espermáticos irá fecundar a oosfera, que é o gâmeta feminino das angiospermas, dando origem

ao embrião diploide.

O outro núcleo irá fundir-se aos dois núcleos polares, originando um tecido triploide (3n),

denominado albúmen ou endosperma, que nutre o embrião durante a germinação. As outras

células do saco embrionário degeneram e morrem. Após a fecundação, o ovário da flor ganha

volume e cresce, dando origem ao fruto das angiospermas, dentro do qual se encontra a

semente, originada do desenvolvimento do óvulo. Assim, nas angiospermas, o fruto é originário

do ovário, e a semente é originária do óvulo.

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Polinização

Na polinização, os grãos de pólen são transportados dos estames até os estigmas das flores. A

polinização é fundamental para que ocorra a fecundação e a formação do zigoto. Embora pareça

ser um processo simples, a polinização das flores das angiospermas envolve estratégias muito

variadas e por vezes complexas.

Estames, pétalas, sépalas e outras estruturas adaptaram-se a mecanismos específicos de

polinização, como ocorre com espécies polinizadas exclusivamente por um tipo de polinizador.

A autopolinização ocorre quando o grão de pólen alcança o estigma da mesma flor ou de flores

situadas na mesma planta. Esse processo é pouco frequente entre as angiospermas. O mecanismo

mais comum é o da polinização cruzada, no qual o grão de pólen alcança o estigma de flores

pertencentes a outros indivíduos. Essa estratégia aumenta a variabilidade genética das

populações de plantas.

Muitas plantas apresentam mecanismos que evitam a autopolinização. Um deles é o

desenvolvimento de pistilos e anteras em momentos diferentes: enquanto o pistilo está maduro,

as anteras ainda estão imaturas. A polinização cruzada envolve diversos agentes polinizadores,

como vento, aves, insectos e mamíferos. Abelhas, beija-flores e outros seres vivos transportam

grãos de pólen ao visitar diversas plantas em busca de néctar, seu alimento. O néctar é um

líquido açucarado produzido em nectários, órgãos presentes em certas plantas.

As estratégias de polinização recebem nomes específicos, dependendo do agente polinizador

envolvido, como se pode ver:

Anemofilia - o vento é o agente polinizador.

Entomofilia - a polinização é realizada por insectos, como borboletas, moscas, abelhas.

Ornitofilia - as flores são polinizadas por aves, como os beija-flores.

Mastofilia - mamíferos, como morcegos, realizam a polinização.

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Figura 126: Representação de autopolinização e polinização cruzada

Figura 127: Representação de uma flor de trigo (muito ampliada), na qual ocorre anemofilia

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Estrutura e germinação das sementes

As sementes das angiospermas são formadas por três partes. A parte mais externa, geralmente

dura e resistente, é denominada casca ou tegumento. É essa estrutura que protege o embrião

contra possíveis choques mecânicos, evitando também que ele fique desidratado. Para que o

embrião germine, porém, é necessário que a casca se rompa. Isso pode ocorrer em contacto com

água ou humidade no solo, ou então por algum mecanismo traumático (por exemplo, quebra,

raspagem ou trituração por algum animal), químico (contacto com enzimas digestivas no interior

do trato digestório de aves, por exemplo) ou mesmo físico (em diversas plantas do Cerrado, o

tegumento das sementes se rompe após incêndios ou temperaturas altas no solo).

Fig. 128: Abelha polinizando flor. Ao sugar o

néctar, o insecto roça nos estames da flor, e grãos de pólen aderem ao seu corpo

Figura 129: Entomofilia: abelha transporta grãos de pólen de

uma flor a outra, fecundando-a

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No interior da semente está o embrião. É ele que, ao germinar, dará origem ao esporófito jovem

ou plântula. Se encontrar condições favoráveis de temperatura, humidade, nutrientes

necessários, entre outros, a plântula cresce e desenvolve um novo indivíduo. A parte entre o

tegumento e o embrião é denominada albúmen ou endosperma. Essa parte é responsável pela

nutrição do embrião nos primeiros estágios de desenvolvimento, até que a plântula se desenvolva

e passe a realizar fotossíntese. Em geral, o endosperma é rico em óleos, amido e proteínas. A

concentração de cada nutriente varia de acordo com a espécie. O endosperma é reduzido em

algumas sementes, como o feijão. Nesse caso, a reserva nutritiva fica armazenada em folhas

especiais, os cotilédones.

Os cotilédones são formados durante o desenvolvimento do embrião. Eles são bem visíveis

durante a germinação do feijoeiro. Em outras espécies, os cotilédones ficam enterrados durante a

germinação. Algumas angiospermas possuem apenas um cotilédone, como as monocotiledôneas

(milho, arroz e trigo); outras (dicotiledóneas), como feijão, soja e amendoim, possuem dois

cotilédones.

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Figura 130: Representação da germinação de uma semente de feijão

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Fruto

Os frutos das angiospermas originam-se do desenvolvimento do ovário da flor. São

extremamente variados em formas, cores, sabores e texturas: há frutos carnosos, com polpa doce

e líquida, e frutos duros e secos. Alguns frutos possuem espinhos na parte externa.

Juntamente com a flor, o fruto é uma grande novidade evolutiva das angiospermas. Fósseis

demonstram uma transição entre gimnospermas primitivas que possivelmente apresentavam

estruturas semelhantes a frutos.

No fruto, a semente permanece protegida e pode também ser dispersa para locais distantes da

planta-mãe, o que reduz a competição por água e nutrientes e permite que a espécie colonize

outros lugares. Os frutos podem ser disseminados por diversos mecanismos: eles podem cair

junto à planta-mãe por acção da gravidade, flutuar na água, aderir-se ao corpo de diversos seres

vivos, ser ingeridos por animais ou simplesmente se abrir e expulsar as sementes de seu interior.

Qualquer que seja a estratégia desenvolvida, o fruto é uma importante estrutura presente em

todas as angiospermas.

Importância das angiospermas

Cruas, cozidas, refogadas ou fritas – as angiospermas estão nos pratos do mundo inteiro. Boa

parte dos alimentos de origem vegetal que consumimos todos os dias inclui frutos, folhas, raízes

e caules comestíveis de angiospermas. Milho, arroz, soja, feijão, amendoim, batata e cereais

como aveia, trigo e centeio são apenas alguns exemplos.

A pecuária depende directamente das angiospermas para existir, pois o gado alimenta-se

principalmente de plantas desse grupo, como as gramíneas. A indústria farmacêutica fabrica

medicamentos variados tendo como matéria-prima diversas angiospermas. Cosméticos e

perfumes são produzidos a partir das propriedades medicinais e aromáticas dessas plantas. As

flores das angiospermas são utilizadas decorativamente em ambientes internos e externos.

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Classificação das angiospermas

As angiospermas podem ser actualmente divididas em três grandes subgrupos com base em

características evolutivas e filogenéticas. Esses subgrupos já estiveram classificados de maneiras

muito distintas, e mesmo hoje ainda há intenso debate entre os pesquisadores a respeito de como

interpretar a classificação desse imenso grupo de plantas. O subgrupo das monocotiledôneas

recebe esse nome porque suas sementes possuem apenas um cotilédone, como o milho e as

orquídeas. Algumas de suas características são citadas a seguir.

Folhas com nervuras paralelas;

Raízes sem um ramo principal, mas formadas por inúmeras raízes finas que se

assemelham a fios ou cabelos;

Flores com cálice, corola e elementos reprodutivos baseados em múltiplos de três (por

exemplo, três estames, três ou seis pétalas, etc.).

Figura 131: Carrapicho - fruto que se prende ao pelo

dos animais ou às roupas dos seres humanos Figura 132: Os frutos, as raízes, os legumes e as hortaliças

que fazem parte de nossa alimentação são, na maioria,

angiospermas

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Entretanto, há excepções a todas essas regras. A maior parte das orquídeas, por exemplo,

apresenta um único estame unido ao estilete. As magnoliídeas formam um subgrupo grande,

com representantes presentes em diversos ecossistemas. Louro, pimenta e magnólia são

exemplos de plantas pertencentes a esse subgrupo. As principais características das magnoliídeas

são mencionadas a seguir.

Folhas com nervuras que não seguem um padrão paralelo.

Raízes que não se assemelham a fios; predominância de uma raiz principal e presença de

raízes secundárias.

Nem todas as magnoliídeas possuem flores grandes e vistosas: algumas, como as canelas e o

jaborandi, possuem flores pouco vistosas e praticamente sem nenhum odor. Também há grande

variação no número de pétalas, sépalas e demais estruturas da flor.

As eudicotiledôneas formam o maior subgrupo de angiospermas, com representantes no mundo

inteiro. As eudicotiledôneas são representadas por plantas como, trepadeiras, cipós, margarida,

feijão, etc. A variação no número e disposição de elementos florais, formas e cores das flores e

folhas, entre outras características, fazem deste subgrupo o mais diversificado entre todos os

grupos de plantas existentes. Tanto magnoliídeas quanto eudicotiledôneas possuem sementes

com dois cotilédones.

Fig. 133: A magnólia apresenta

muitos estames e verticilos de protecção

Fig. 134: A orquídea é uma

angiosperma do grupo das monocotiledôneas

Fig. 135: O girassol possui

sementes com dois cotilédones

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Adaptações específicas dos orgãos vegetais

Conceito de Adaptação

De acordo com Rizzini (1997), adaptação é a harmonia que existe entre o organismo e o meio.

Quando as plantas estão naturalmente ajustadas às condições ambientais, todas as características

estruturais e funcionais capazes de atenderem a tal ajustamento serão adaptativas.

Segundo Combes (1946), adaptação é o conjunto de modificações provocadas na constituição de

um organismo pela acção contínua de um meio diferente daquele onde, inicialmente, este se

desenvolveu ou o local onde os seus parentais se desenvolveram.

Os factores morfogenéticos são aqueles que influenciam a forma e a estrutura dos vegetais. São,

portanto, condições de clima e de solo capazes de determinarem ou modificarem a organização

vegetal. Embora para cada ser vivo haja um padrão de desenvolvimento estabelecido e

comandado pelo seu património genético (genótipo), os factores abióticos actuam sobre os genes,

modificando a sua expressão em vários sentidos.

As plantas podem ser distribuídas em grupos ecológicos, com base nos tipos de habitats e nas

estruturas e funções envolvidas em cada caso. As adaptações podem envolver as partes

vegetativas e/ou reprodutivas de uma planta e podem ser classificadas conforme a situação a ser

enfrentada.

Adaptações vegetativas

Adaptações vegetativas são aquelas que ocorrem nos órgãos não reprodutivos de uma planta,

denominados de vegetativos, isto é, raízes, caules e folhas.

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Adaptações contra a perda de água

Adaptações de órgãos ou estruturas relacionadas com a prevenção ou redução à perda de água.

Esta adaptação é comum em plantas de ambientes secos (xéricos) ou que vivem sobre as rochas.

Os orgãos vegetais possuem tecidos e factores especializados para proteger a planta contra perda

de água. Desses tecidos e factores pode-se citar os seguintes:

Cutícula

A parede das células epidérmicas apresenta cutina, principalmente nas partes aéreas da planta,

como as folhas. A cutina é um composto de lipídios, impermeável à água, que se encontra

impregnada às paredes epidérmicas ou se apresenta como camada separada, denominada de

cutícula, na superfície da epiderme. Sua função é de protecção contra a perda de água.

Figura 136: Melocactus spec: Cactaceae, com adaptações para sobreviver em climas secos

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Pilosidade densa

Na superfície das plantas podem ocorrer apêndices de origem epidérmica, comumente

denominados tricomas, muito variáveis na sua estrutura. Como apresentam grande variedade de

formas, podem ser classificados de diversas maneiras, a mencionar: tectores (não glandulares) e

glandulares. Os tricomas tectores possuem função protectora, evitando a transpiração excessiva.

Posição dos estômatos na folha

Nas folhas, os estômatos podem ser encontrados apenas na face superior (adaxial), sendo a folha

classificada como epiestomática, como ocorre na folha da ninféia e outras plantas aquáticas

flutuantes, somente na face inferior (abaxial), sendo a folha classificada como hipoestomática; ou

ocorrer em ambas as faces e sendo denominada de folha anfiestomática.

Estômatos inseridos na epiderme

Os estômas estão relacionados com a entrada e saída de ar no interior dos órgãos em que se

encontram ou, ainda, com a saída de água na forma de vapor. São encontrados frequentemente

nas partes aéreas fotossintetizantes, principalmente nas folhas, e podem também ser encontrados,

em menores quantidades, nos pecíolos, caules jovens e partes florais.

Células buliformes

As células buliformes são maiores que as demais epidérmicas e possuem parede celular fina e

grande vacúolo. Constituem a epiderme adaxial inteiramente ou ocupam áreas isoladas entre as

nervuras. Em secção transversal, as células buliformes são facilmente reconhecidas pela forma

de leque, cuja célula central é a mais alta. Não possuem cloroplastos e o seu vacúolo armazena

água. Denominam-se também células motoras, por estarem, acredita-se, envolvidas no

mecanismo de enrolamento e desenrolamento das folhas.

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Suculência

Algumas espécies apresentam um tecido especializado no armazenamento de água, no caule ou

folhas, como nas Cactaceae, e em folhas e raízes de plantas epífitas e xerófitas. As células são

volumosas, com grande vacúolo e paredes finas e geralmente desprovidas de cloroplastos. As

células aquíferas são ricas em mucilagem, o que aumenta sua capacidade de reter água, pois a

mucilagem é hidrófila.

Adaptações contra o excesso da radiação solar

Adaptações de órgãos ou estruturas relacionadas com a protecção contra o excesso da radiação

solar; comum em plantas de ambientes secos (xéricos), que habitam áreas abertas ou sobre as

rochas. Para o efeito, as plantas possuem certos tecidos e factores especializados para protegé-las

contra o excesso de radiação solar.

Cutícula

Sabe-se que as plantas desenvolvem uma espessa camada cerosa, a cutícula e que a sua presença

pode ter um papel significante na fotoprotecção. Existem evidências de importância da cutícula

na determinação quantitativa e qualitativa da radiação que chega ao mesófilo. Por se tratar de

uma camada brilhante e reflectora, actua também na protecção contra o excesso de luminosidade

ou radiação solar.

Periderme

Nos órgãos que sofrem crescimento secundário, principalmente nos caules, ocorre

desenvolvimento da periderme como tecido de revestimento, em substituição à epiderme. A

formação da periderme está relacionada não só com a idade do órgão mas, também, com as

condições ambientais e com possíveis lesões na superfície do órgão.

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Este tecido é de revestimento externo e protege a planta contra temperaturas extremas,

provocadas, por exemplo, por fogo, geada e radiação solar. Evita super-aquecimento das

estruturas internas, constituindo-se num isolante térmico. Em geral, o isolamento é directamente

proporcional à espessura da casca.

A cor externa da casca tem importante papel na protecção à intensidade luminosa, sendo as cores

claras as que conferem à planta maior grau de adaptação às condições tropicais, por refletirem a

luz, evitando o super-aquecimento dos tecidos internos.

Adaptações para viver em Ambiente Aquático

Há vegetais que posseum uma superfície permeável ao líquido circundante e circulação interna

do ar. As folhas das plantas aquáticas submersas são geralmente muito finas e recortadas,

apresentando internamente poucas camadas de células, de formato homogêneo, e muitos espaços

aeríferos.

Figura 137: Vista externa da casca das seguintes espécies: a - Quercus macrocarpa Michx. (Fagaceae); b- Carya ovata (Mill.) K. Koch (Juglandaceae); c - Pinus resinosa Ait. (Pinaceae); d - Betula papyrifera Marsh. (Betulaceae)

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As folhas delgadas constituem adaptações importantes para a planta suportar turbulências ou

oscilações da água, evitando a dilaceração do órgão. Na margem das folhas submersas podem

ocorrer fibras que apresentam certa elasticidade, as quais oferecem resistência à dilaceração.

Adaptações para viver sobre as árvores

Caules trepadores

Os caules trepadores, pela sua fragilidade ou pela deficiência em tecidos de sustentação, não

conseguem se manter erectos, necessitando de suporte para seu desenvolvimento. Os caules

volúveis não apresentam órgão de fixação à superfície do suporte, eles simplesmente se enrolam

nele. Conforme o enrolamento se procede da direita para a esquerda, ou da esquerda para a

direita, eles recebem o nome, respectivamente, de dextroso e sinistroso.

Figura 138: Aspecto geral de Egeria densa Planch. – Hydrocharitaceae. As bolhas de oxigênio são resultantes da

fotossíntese

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Caules Trepadores Providos de Órgãos Fixadores

Algumas espécies de plantas trepadeiras podem apresentar órgãos especializados (ou caules

escandentes) na fixação ao suporte, que pode ser uma árvore ou no ambiente urbano pode ser um

muro, poste, etc.

Elas podem ter:

Raízes grampiformes - raízes aéreas com forma de grampos que têm por função a fixação dos

vegetais em suportes.

Figura 139: Caule volúvel, enrolado sobre o substrato

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Raízes estranguladoras - raízes que envolvem o caule da planta suporte, causando sua morte.

Estas raízes apresentam crescimento em espessura e ficam com consistência lenhosa, podendo

comprimir a planta suporte, impedindo o seu desenvolvimento. Essas raízes também são

chamadas mata-paus, quando causam a morte da planta.

Após a morte, começa a decomposição da planta suporte. Exemplos de raízes estranguladoras

ocorrem em certas espécies de figueiras (Ficus spec).

Raízes cinturas - raízes aéreas, tenras, que abraçam o caule da planta suporte.

Gavinhas - modificações caulinares ou foliares que servem de órgão de fixação enrolando-se no

suporte. As gavinhas têm irritabilidade por contacto, geralmente é o contacto de um suporte que

provoca curvatura e enrolamento da parte irritada, em direcção ao suporte.

Figura 140: Raízes grampiformes de Hedera helix L. – Araliaceae

Figura 141: Raízes cinturas de arácea em tronco de Syagrus roman-zoffiana Glassman – Arecaceae.

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Plantas Providas de Órgãos Sugadores de Seiva

As plantas denominadas de parasitas são aquelas que devem estar ligadas à hospedeira através de

estruturas especiais (haustórios) que penetram no interior da planta, e actuam como órgãos

sugadores.

Dependendo do produto retirado da planta elas podem ser classificadas em:

Hemiparasitas

Hemiparasitas ou parasitas facultativas – são vegetais que têm aparência de uma planta verde

normal, porém não são auto-suficientes e dependem parcialmente do hospedeiro, necessitando de

água e sais minerais e, portanto, os haustórios ficam em contacto com o xilema e o floema.

Como têm clorofila, realizam a fotossíntese utilizando a seiva bruta obtida do hospedeiro.

Figura 142: Erva-de-passarinho, exemplo de uma hemiparasita

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Holoparasitas

Holoparasitas ou parasitas totais - devido à ausência de clorofila não realizam a fotossíntese,

não podem viver de outra forma a não ser de pender completamente da planta hospedeira em

relação à água, sais minerais e matéria orgânica já pronta. Os haustórios ficam em contacto com

o floema.

Velame

Em raízes aéreas de algumas orquídeas, aráceas, epífitas, entre outras, há uma epiderme múltipla

constituída de células mortas com paredes espessadas denominada velame, que dá protecção

mecânica ao córtex e reduz a perda de água.

Figura 143: Cipó-chumbo (Cuscuta sp. ─ Convolvulaceae), exemplo de uma holoparasita

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Escamas

As bromélias apresentam folhas longas e dispostas em uma roseta formando um tanque que

armazena a água da chuva. Na superfície das folhas existem estruturas especializadas na

absorção da água e sais minerais. Essas estruturas são chamadas de escamas e são formadas por

várias células. As raízes têm função só de fixação na casca da árvore.

Figura 144: Aspecto geral de uma bromélia epífita

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Adaptações para a Reserva de Água e de Substâncias Nutritivas

Alguns orgãos com esta especialização são: tubérculos aquíferos e amiláceos, bulbos, rizomas

As células desses órgãos apresentam parênquima amilífero. Estas células reservam grão de

amido, sendo este carbohidrato depositado nos amiloplastos. O parênquima amilífero ocorre nos

caules da batata-inglesa, na raiz da batata-doce e da mandioca, nos rizomas de várias espécies de

monocotiledôneas, e outros órgãos subterâneos, tanto de dicotiledônea como de

monocotiledônea.

Essas reservas, contidas nas células do parênquima amilífero, podem servir de alimento a

diversas espécies de animais ou constituir estratégia para sobrevivência de plantas que habitam

ambientes com sazonalidade bem definida. Nesse caso, os órgãos subterrâneos permanecem

ricos em amido durante o período em que o ambiente possuir algum factor limitante para a

propagação da espécie, sendo utilizado pela planta quando as condições ambientais estiverem

favoráveis.

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Adaptações reprodutivas

São aquelas que ocorrem nos órgãos reprodutivos de uma planta, isto é, nas flores, frutos e

sementes. Uma das principais adaptações envolvendo órgãos reprodutivos é a que envolve a

dispersão de sementes. Os frutos evoluíram em relação a seus agentes dispersores, num sistema

de co-evolução com muitas modificações em relação aos diferentes agentes dispersores.

Algumas adaptações dos frutos em relação aos seus agentes dispersores:

Figura 145: Exemplos de adaptações para a reserva de substâncias nutritivas

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Frutos e Sementes Dispersos pelo Vento

Os frutos e sementes são leves, em algumas espécies os frutos apresentam alas, as quais podem

ser formadas por partes do perianto, sendo deste modo capazes de flutuar de um lugar para outro.

Outras plantas lançam suas sementes. Contrastando com estes métodos activos de dispersão, as

sementes ou frutos de muitas plantas simplesmente caem no solo, sendo dispersos mais ou

menos passivamente (ou são dispersos por agentes esporádicos, como correntes de água).

Frutos e Sementes Dispersos pela Água

Os frutos e sementes de muitas plantas, especialmente aquelas que crescem próximasnde água,

são adaptados para a flutuação. Os frutos podem conter ar armazenado em seu interior, ou o fruto

pode possuir um tecido que inclui grandes espaços entre as células.

Figura 146: Exemplos de fruto (Acer saccharum Marsh. - Aceraceae)

Figura 147: semente (Asclepias spec - Asclepiadaceae)

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Frutos e Sementes Dispersos por Animais

A evolução de frutos carnosos doces e frequentemente coloridos está claramente envolvida no

processo de co-evolução de animais e plantas com flores. A maioria dos frutos, em que a maior

porção do pericarpo é carnosa, acaba sendo comida por animais vertebrados. Quando esses frutos

são comidos por aves e mamíferos, as suas sementes são espalhadas após passarem intactas pelo

trato digestivo, ou, no caso das aves, podem também ser regurgitadas a alguma distância do local

de ingestão. Algumas vezes a digestão parcial das sementes facilita sua germinação, por agir

sobre a cobertura destas.

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Informações Adicionais

As plantas são frequentemente classificadas de acordo com seus ciclos de crescimento

estacional. De acordo com este critério de classificação, elas podem ser anuais, bienais ou

perenes.

Plantas anuais

Nas plantas anuais, todo o ciclo (desde a sementeira até a floração e produção de novas

sementes) ocorre dentro de uma única estação podendo durar somente poucas semanas, somente

a semente dormente atravessa o intervalo entre uma estação e a que se segue.

Plantas bienais

Nas plantas bienais, são necessárias duas estações desde a germinação até a produção de novas

sementes. A primeira estação de crescimento termina com a formação de raiz, caule curto e de

uma roseta de folhas próxima a superfície do solo. Na segunda estação de crescimento ocorrem

floração, frutificação, formação de semente e morte do vegetal, completando o ciclo de vida.

Nas regiões temperadas, as plantas anuais e bienais raramente se tornam lenhosas, embora caule

e raízes possam sofrer crescimento secundário.

Plantas perenes

As plantas perenes, são plantas nas quais as estruturas vegetativas vivem anos após anos. As

herbáceas perenes atravessam as estações desfavoráveis mediante raízes, rizomas, bulbos ou

tubérculos, todos subterrâneos e dormentes. As perenes lenhosas sobrevivem acima do solo, mas

em geral param de crescer durante as estações desfavoráveis. Elas florescem apenas quando

adultas, o que pode levar muitos anos.

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Muitas plantas lenhosas são decíduas, isto é, perdem todas as suas folhas ao mesmo tempo, e

desenvolvem folhas novas quando a estação torna-se favorável novamente. Nas árvores e

arbustos sempre verdes, as folhas também são perdidas e repostas, mas não de modo simultâneo.

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Referências Bibliográficas

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