manual de acidentes de consumo

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Manual elaborado em parceria com a PROTESTE que trata sobre acidentes de consumo e abre discussão sobre projeto de lei do deputado federal Dimas Ramalho (PPS) que cria legislação no setor.

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Page 1: Manual de Acidentes de Consumo
Page 2: Manual de Acidentes de Consumo

PREFÁCIO

É com grande satisfação que apresentamos a presente cartilha, que foi elaborada pela

PRO TESTE - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, e pela Associação Médica

Brasileira (AMB).

Ao elaborar um projeto que identificasse os acidentes de consumo, nossa intenção foi mapear

a incidência e as causas desses acidentes, decorrentes de riscos provocados por práticas no

fornecimento de produtos e serviços, que levam os consumidores a procurar atendimento

médico-hospitalar.

O resultado da pesquisa demonstrou a necessidade de que esses produtos e serviços sejam

adequadamente regulamentados, e de que haja mecanismos eficientes de controle social e

outros que facilitem ao médico a missão de reconhecer esses acidentes e de notificá-los.

Revela, igualmente, a necessidade de conscientização de todos nós acerca do assunto.

É preciso reduzir o número de acidentes de consumo, pois é inadmissível a exposição de seres

humanos a falhas que podem ser solucionadas pelo processo produtivo e pela prestação de

serviços. E até para que o sistema público de saúde, que atualmente trabalha com verbas

escassas, possa usar os recursos para outros fins.

Como resultado do trabalho, tramita na Câmara Federal o projeto de lei nº. 4.302/04, de

autoria do deputado Dimas Ramalho, que cria o Sistema Nacional de Acidentes de Consumo

(SINAC). Ele prevê a notificação compulsória desses acidentes, com reflexo direto no

panorama atual das lesões a consumidores.

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Page 3: Manual de Acidentes de Consumo

Eleuses Vieira de PaivaPresidente da Associação Médica

Brasileira (AMB)

João Dias AntunesDiretor Executivo da PRO TESTE - Associação

Brasileira de Defesa do Consumidor

Este trabalho, primeiro do gênero na América Latina, resulta de uma parceria inédita e

bem-sucedida. Esperamos que possa servir de exemplo a outros segmentos da sociedade,

e que ajude a consolidar o sentido de cidadania em nosso país.

Esta cartilha contribui para que os consumidores e os médicos possam ter mais informações,

a fim de identificar e prevenir acidentes de consumo. E para que, assim, sejam notificados,

sistematicamente, os casos atendidos nos prontos-socorros, consultórios, clínicas, e na

comunidade. O objetivo é estruturar um sistema de coleta de informações sobre os

acidentes ocorridos com produtos e serviços que apresentam defeitos. Haverá, dessa forma,

maior agilidade nas providências dos fornecedores para alterar produtos e serviços que

comprometam a saúde e a segurança do consumidor.

Será possível conhecer melhor, dentro do sistema de saúde, a origem destes acidentes,

com as informações dos bancos de dados baseadas nos relatos médicos ou nos prontuários.

E com a iniciativa do consumidor em solicitar as anotações nas situações nas quais for vítima.

Por outro lado, dará ferramentas ao consumidor para se certificar de que o seu problema

decorre de um acidente de consumo, e exigir os seus DIREITOS, todas as vezes que o produto

ou o serviço seja inseguro, ou colocar em risco a vida, a saúde e a segurança.

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Page 4: Manual de Acidentes de Consumo

É aquele que ocorre quando um

produto ou serviço, ainda que utilizado

corretamente, causa danos à saúde ou

à segurança dos consumidores.

É provocado por defeitos dos

produtos, ou na prestação de serviços.

O prejuízo do consumidor não se

restringe somente ao defeito do

produto ou do serviço, mas engloba

outros danos, como tratamento

médico e medicamentos.

Nesses e em outros casos de acidente

de consumo, o consumidor tem direito

à indenização de todos os danos

materiais e morais.

O QUE É UM ACIDENTEDE CONSUMO?

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Page 5: Manual de Acidentes de Consumo

O QUE CAUSA UMACIDENTE DE CONSUMO?

� Falha na informação quanto ao uso correto do produto ou serviço.

� Falta de adequação de produtos ou serviços às normas de fabricação.

� Defeitos nos produtos ou prestação inadequada de serviços.

� Ausência de atuação preventiva dos fornecedores (fabricantes, vendedores,

importadores etc).

Nesses casos, os produtos ou serviços são considerados

defeituosos, quando não oferecem a segurança

que deles, legitimamente, se espera. O fornecedor

pode ser responsabilizado por não ter informado

adequadamente sobre a utilização dos produtos e

serviços, e sobre os riscos que oferecem.

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Page 6: Manual de Acidentes de Consumo

Alimentos � ingestão que causa intoxicação ou contaminação.

Medicamentos � contaminação do produto; conteúdo; composição;

concentração diversa da indicada na bula; rótulo; gosto e cheiro de

doce; acarretando ingestão ou atraindo crianças.

Produtos de higiene � sabonetes que causam problemas de pele,

como alergia; hastes de algodão que se soltam do bastão e causam

danos ao ouvido; xampus ou tinturas que provocam queda de

cabelo.

Embalagens em geral � cortes; perfurações; falta de informação

sobre o uso; concentração; explosão; abertura inadequada ou sem

trava em produto perigoso; falta de informação sobre como

descartar a embalagem.

Eletroeletrônicos/eletrodomésticos � choques; incêndio;

queda de peças de aparelhos; lesões por queda ou explosão de

aparelho de TV, de vídeo, de churrasqueira, de vidro de forno ou

tampa de fogões.

Exemplos de acidentes decorrentes de defeitos dePRODUTOS e SERVIÇOS

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Page 7: Manual de Acidentes de Consumo

Brinquedos � peças que são engolidas; contaminação pela tinta que se solta;

enchimentos com sujidades, partes pontiagudas e rígidas.

Cosméticos � alergia; sem registro na Anvisa.

Outros � estouro de panela de pressão; veículos (peças; itens que comprometem a

segurança: cinto, airbag, freios, pneus, aquecimento, incêndios, explosões,

vazamentos); móveis (lesões por quebra de cadeiras, de camas, de armários etc);

queda em supermercados, em lojas, em hospitais, no transporte coletivo,

danos em calçados (quebra de salto).

Transportes � acidentes causados por falhas em equipamentos nos metrôs,

em trens, em aeronaves, em ônibus e no transporte escolar.

Reformas em geral � queda de teto, de parede; choques em instalação elétrica;

pisos escorregadios ou com desníveis.

Dedetização � intoxicação por aplicação de produto; falta de informações sobre a

composição e advertências de uso; iscas em forma de alimento; contaminação .

Serviços essenciais � gás (inalação, incêndio); água (estouro de cano); energia

(choques e incêndio).

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Page 8: Manual de Acidentes de Consumo

OS ACIDENTES DECONSUMO E O CDC

Os direitos dos consumidores, em especial no que dizem respeito à saúde e à

segurança, estão assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor

(CDC, Lei no. 8.078/90).

O CDC determina que a proteção da vida, da saúde e da segurança contra riscos

provocados por práticas no fornecimento de produtos e de serviços é um

direito básico do consumidor.

Informações no CDC

Os produtos ou serviços devem trazer informações claras e

completas em língua portuguesa sobre: características;

qualidade; quantidade; composição; preço; garantia;

prazo de validade; nome do fabricante e endereço;

riscos que possam acarretar à saúde e à segurança do

consumidor.

Assim, por exemplo, um alimento não pode conter

uma substância que faça mal à saúde, nem uma

dedetização ser tóxica ao consumidor.

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Page 9: Manual de Acidentes de Consumo

Quando um produto ou serviço causar acidente, os responsáveis podem ser: o fabricante,o produtor, o construtor, o prestador de serviços e o importador. Eles respondem,independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aosconsumidores por defeitos decorrentes do projeto, fabricação, construção, montagem,fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem comopor informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Já o comerciante é responsável pelos danos quando:

� o fabricante, construtor, produtor ou importador não forem encontrados;

� o produto não tiver a identificação clara do fabricante, produtor, construtor ou importador;

� não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não serão responsabilizadosquando provarem:

� que não colocaram o produto no mercado;

� que, embora tenham colocado o produto no mercado,o defeito inexiste;

� a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Atenção: os fornecedores respondem solidariamente eindependentemente da existência de culpa. Isto é, se o consumidorsofrer dano provocado por produto ou serviço defeituoso, podecobrar reparação de qualquer um dos profissionais envolvidos nacadeia de consumo.

A RESPONSABILIDADE PELOACIDENTE DE CONSUMO

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Page 10: Manual de Acidentes de Consumo

Se o fornecedor, depois que colocou o produto no mercado, descobrir que ele faz mal à saúde,deve alertar os consumidores sobre o perigo. Esse comunicado deve ser feito por meio de jornais,rádio e televisão. Além disso, o fornecedor também tem a obrigação de retirar o produto domercado para reparar o defeito, trocar os que já foram vendidos ou devolver o valor pago peloconsumidor. É o que se chama recall.

O fabricante é o responsável pela colocação de produtos seguros no mercado, que não acarretemriscos ao consumidor, com exceção daqueles considerados previsíveis. Riscos potenciais dautilização do produto ou serviço devem ser alertados, com instruções de uso e manuseio.

Quais são as obrigações dos fornecedores de produtos e serviços

� Observar a segurança do planejamento do produto ou serviço até o seu descarte.

� Elaborar produtos e serviços, respeitando a saúde e a segurança dos

consumidores;

� Informar adequadamente sobre os riscos efetivos e potenciais de

seus produtos;

� Reparar os danos provocados;

� Fazer recall, assim que tiver conhecimento do perigo que o

produto e/ou o serviço acarrete;

� colocar no mercado de consumo produtos e serviços de

acordo com as normas técnicas.

O que garante a segurança?

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Page 11: Manual de Acidentes de Consumo

Para prevenir os acidentes de consumo, cabe aos órgãos governamentais e às

entidades de defesa do consumidor atuar para o aperfeiçoamento de normas e

regulamentos técnicos, com requisitos mínimos para garantir a segurança dos

produtos e serviços.

Conseqüências dos acidentes de consumo

PARA O CONSUMIDOR

Lesões, demorados e dispendiosos tratamentos de saúde, redução de

capacidade produtiva, e até mesmo a morte.

PARA O FORNECEDOR

Gastos com indenizações, recall, comprometimento da imagem do produto ou serviço,

e ou da empresa.

PARA O PODER PÚBLICO

Gastos e prejuízos sociais causados pelo atendimento médico e hospitalar.

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Page 12: Manual de Acidentes de Consumo

O PROJETO ACIDENTES DECONSUMO

É essencial que se desenvolvam no Brasil mecanismos para a melhoria de produtos

e serviços. Mais ainda, é preciso reduzir o número de acidentes de consumo.

Em 2004, a PRO TESTE e a AMB mapearam e registraram esses acidentes em quatro

prontos-socorros da cidade de São Paulo. Isso só foi possível graças à bem-sucedida

parceria com os hospitais apoiadores do projeto inicial: Hospital São Paulo

(Unifesp), Hospital das Clínicas (USP), Santa Casa de Misericórdia e o Centro de

Controle de Intoxicações da Prefeitura. Durante três meses, os pesquisadores

fizeram 2.021 entrevistas com os consumidores/pacientes, e registraram os

acidentes de consumo.

Entre os acidentes de consumo com produtos, constatou-se que as maiores

vítimas são as crianças de até cinco anos. Os

medicamentos são as principais causas desses

acidentes, seguidos por produtos de limpeza.

Na área de serviços, os meios de transporte

são os maiores causadores de acidentes.

A pesquisa constatou que as crianças (60%)

são as principais vítimas dos casos de

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Page 13: Manual de Acidentes de Consumo

obstrução aérea (nariz e ouvido), e que se machucam com seus brinquedos (38%) ou com

outros itens (material escolar).

Os adultos são vítimas, principalmente, de queimaduras, conseqüência de acidentes com

produtos de limpeza (álcool, cloro) e com utensílios domésticos (panelas). Eles são, também,

as maiores vítimas de acidentes que provocam lesões ou ferimentos, principalmente no

ouvido (43%). Devido às quedas de escadas portáteis e em pisos cerâmicos, também sofrem,

com maior freqüência, entorses e contusões, que lesionam membros inferiores (54%).

Faça valer os seus direitos

Tente um acordo: entre em contato com a empresa, fabricante ou fornecedor. Exponha o

caso com clareza e busque uma solução negociada. Mas fique atento, dê prazo para resposta.

Se a empresa não atender, demonstrando má-fé, busque atendimento em entidades de defesa

do consumidor.

Proteja seus direitos: em qualquer situação, junte provas. Se precisar entregar

um produto para perícia da empresa, por exemplo, fotografe-o.

Junte documentos de comprovação, como prospectos e folhetos de

publicidade, rótulos, embalagens, ordens de serviço, orçamentos,

notas fiscais de medicamentos, consultas, internações , exames etc.

Entre em contato com as autoridades públicas para que sejam tomadas

as providências cabíveis. Registre Boletim de Ocorrência (BO).

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Page 14: Manual de Acidentes de Consumo

Formalize sua reclamação: faça a reclamação por escrito.

Uma carta com exposição clara do pedido � e com justificativa

legal que lhe dê sustentação � é uma arma eficaz para a negociação a

seu favor.

Caso a negociação direta com o fornecedor não dê resultados,

reclame nos órgãos de defesa do consumidor e, se for o caso,

entre na Justiça.

Recorra ao Judiciário: pode ser necessário ir à Justiça para solicitar

reparação de danos morais e patrimoniais. Em algumas situações, isso

pode ser feito por meio do Juizado Especial Cível (JEC), antigo Juizado

de Pequenas Causas. Se a causa tiver valor inferior a

20 salários mínimos, não será obrigatória a presença

do advogado. Caso o valor seja acima de 20 e até 40

salários mínimos, ainda será possível recorrer ao

JEC, mas com a assistência de um advogado.

Outra opção é procurar a Justiça comum.

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Page 15: Manual de Acidentes de Consumo

A Associação Médica Brasileira (AMB),

fundada em 26 de janeiro de 1951, é uma

entidade sem fins lucrativos, representativa

dos médicos do seu país.

Atua no sentido de aprimorar os conheci-

mentos técnicos-científicos de seus asso-

ciados, promover educação continuada,

defender os direitos dos médicos no exer-

cício profissional e acompanhar de forma

crítica e propositiva as políticas públicas e

privadas de saúde, buscando a melhoria do

atendimento à população

São inúmeros os benefícios que a AMB

garante a seus associados, mas orgulha-se,

antes de tudo, de atuar, reconhecidamente,

em defesa de todos os médicos do Brasil,

e não apenas daqueles que integram seu

quadro associativo.

A PRO TESTE � Associação Brasileira de Defesa do Consumidor

é uma Organização Social de Interesse Público � OSCIP. Conta

com cerca de 150 mil associados em âmbito nacional. Criada

com o objetivo de informar, orientar, representar e defender os

interesses do consumidor, a entidade é mantida pelas contribui-

ções de seus associados. É filiada à Euroconsumers � a segunda

maior organização mundial de defesa do consumidor, que reúne

mais de 1,2 milhão de associados, na Europa. Integra a

Consumers International � a maior organização mundial de

entidades de defesa do consumidor, e o Internacional Consumers

Research and Testing (ICRT), organismo independente, criado há

mais de 30 anos para articular os testes e pesquisas do movi-

mento de defesa dos consumidores.

 No seu trabalho de defesa do consumidor, a PRO TESTE faz

testes comparativos, publicados mensalmente na Revista PRO

TESTE, e fornece aos associados informação e orientação

necessárias para que exerçam a cidadania, chegando à

intermediação de conflitos e ao ajuizamento de ações coletivas.

QUEM SOMOS

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Page 16: Manual de Acidentes de Consumo

COORDENAÇÃO E TEXTOMaria Inês Dolci � PRO TESTEMaria Inês Fornazaro � AMB

AGRADECIMENTOS� Elisete Rodrigues Miyazaki� Chico Damaso� Vera Lúcia Ramos� Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de

Medicina - Dr. José Roberto Ferraro, Dr. Gaspar de Jesus Lopes Filho,Dr. Carlos Buchalla e Sra. Célia Maria Vieira da Costa;

� Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -Dr. Marcos Boulos, Dr. Waldemir Washington Rezende, Alfredo Fernandes;

� Hospital Universitário da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia deSão Paulo - Dr. Valdyr Golin, Cláudio Santilli, Maria Tereza Gutierrez,Dra. Silvia Soldá;

� Centro de Intoxicações da Prefeitura de São Paulo - Edna Maria MieloHernandez, Dra. Darciléia Alves do Amaral.

REVISÃOAiram Lima Júnior � PRO TESTE

COLABORAÇÃO E CAPAMarcus Vinícius Pinheiro � PRO TESTE

CRIAÇÃO E DIAGRAMAÇÃOSollo Comunicação & Designwww.sollocom.com.br

ILUSTRAÇÃOMaurício Morini

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